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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009 Versão Online ISBN 978-85-8015-054-4 Cadernos PDE VOLUME I

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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOSDA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE

2009

Versão Online ISBN 978-85-8015-054-4Cadernos PDE

VOLU

ME I

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AÇÕES PRÁTICAS E INOVAÇÕES TECNOLÓGICAS

VOLTADAS AO ENSINO DE ASTRONOMIA DO ENSINO FUNDAMEN TAL.

Iracilda dos Santos Araújo1

Dr. Anderson Reginaldo Sampaio2

RESUMO: O presente artigo descreve o processo de implementação do projeto “O uso de softwares simuladores 3D e atividades práticas e lúdicas no ensino aprendizagem de Astronomia”, de acordo com as exigências do Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE – junto aos alunos do ensino fundamental do Colégio Estadual Marechal Costa e Silva – E. F. M, em Cidade Gaúcha. O referido processo foi dividido em duas etapas. A primeira etapa foi dirigida a todos os alunos do ensino fundamental deste colégio e foi marcada por atividades de divulgação, incentivo e preparação destes alunos, com o intuito de estimulá-los a participar da XIII Olimpíada de Astronomia, Astronáutica e Energia. A segunda etapa, restrita somente aos alunos regularmente matriculados na 5a Série do período matutino, composta por 32 alunos na faixa etária entre 10 e 12 anos, contou com a utilização de novas tecnologias associadas a atividades práticas e lúdicas voltadas ao ensino de astronomia. Objetivou-se valorizar o ensino de Astronomia, desmistificando concepções tradicionalistas errôneas, contribuindo para um ensino em que a ênfase seja colocada na compreensão, no desenvolvimento de diversas formas de raciocínio e na resolução de problemas, reconhecendo o trabalho em grupo como forma de socialização do conhecimento e desenvolvendo estratégias de interações dialógicas mais sistemáticas, visando levar o aluno ao maior questionamento e à manifestação de suas opiniões. Conclui-se que os envolvidos na prática das ações demonstraram curiosidade e interesse pelos fenômenos estudados. Participaram do processo de aprendizagem mais ativamente, através do debate e da exposição de idéias, bem como desenvolveram a compreensão e assimilação dos conceitos astronômicos, registraram melhoras no relacionamento social, no trabalho em equipe, na criatividade e na responsabilidade, a fim de se tornarem cidadãos críticos, autônomos e éticos.

Palavras-chave: ensino, ciências, astronomia, lúdico.

1. INTRODUÇÃO

Na atualidade, educadores e pesquisadores em educação do mundo todo

vêm desencadeando discussões sobre os problemas contemporâneos da escola e

do ensino de ciências. O modelo atual de ensino nas nossas escolas tem se

1Professora de Ciências do Colégio Estadual Marechal Costa e Silva – Ensino Fundamental e

Médio.Cidade Gaúcha, Paraná 2 Professor Doutor da Universidade Estadual de Maringá – Campus Regional de Goioerê, Departamento de Ciências. Goioerê, Paraná.

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caracterizado, muitas vezes, por atividades pedagógicas desarticuladas e

distanciadas da realidade do educando e, principalmente, baseado na memorização

das informações. Este saber se torna abstrato, caracterizando um aluno como ser

receptivo e passivo, realizando tarefas sem questionamentos (BEHRENS, 2000,

p.72).

O ensino da Astronomia, assim como o ensino de ciências, passa pelas

mesmas discussões.

Após as diversas reformas educacionais, a criação da Lei de Diretrizes e

Bases nº 5692/71(LDB), as profundas transformações no ensino de Ciências na

década de 80, e a construção do Currículo Básico para a Escola Pública do Estado

do Paraná, em 1990, o ensino de astronomia passou a ser contemplado desde a

pré-escola à 8a série do Ensino Fundamental.

Em 1996 foi promulgada a LDB 9394/96 e surgiram os Parâmetros

Curriculares Nacionais (PCNs), que substituíram o Currículo Básico do Estado do

Paraná, causando a descaracterização da disciplina de Ciências. Neste período, o

ensino de astronomia passou a fazer parte de um dos eixos temáticos dos PCNs:

TERRA E UNIVERSO, apenas no 3º e 4º Ciclos do Ensino Fundamental que

correspondia às 5a e 6a séries e 7a e 8a séries, respectivamente.

Em 2003, iniciou-se no Paraná um processo de discussão coletiva, com o

objetivo de produzir novas Diretrizes Curriculares, para estabelecer novos rumos e

uma nova identidade para o ensino de Ciências. Esse processo culminou com a

elaboração das Diretrizes Curriculares da Educação Básica do Estado do Paraná,

DCEB – SEED-PR, em 2008. Atualmente, conforme estas Diretrizes Curriculares da

disciplina de Ciências, a Astronomia é um conteúdo estruturante e tem um papel

muito importante no Ensino Fundamental, pois é uma das ciências de referência

para os conhecimentos sobre a dinâmica dos corpos celestes e deve ser trabalhado

de forma interdisciplinar, possibilitando estudos e discussões sobre a origem e

evolução do Universo. Os fenômenos celestes são de grande interesse dos

estudantes porque, por meio deles buscam-se explicações para acontecimentos

regulares da realidade, como o movimento aparente do sol, as fases da lua, as

estações do ano, as viagens espaciais, entre outros.

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A Astronomia, apesar de ser considerada a mais antiga das ciências, é a

“grande desconhecida” de nossos alunos nas escolas e da população em geral

(LANGHI, 2004; PEDROCHI e NEVES, 2005).

Assim a define Mourão (1997, p. 22): “a Astronomia é, na sua essência, a

ciência da observação dos astros. Seu objetivo é situá-los, no espaço e no tempo,

explicar os seus movimentos e as suas origens, descobrir a sua natureza e as suas

características”.

O ensino de astronomia nas escolas de Ensino Fundamental e Médio tem

rendido diversas pesquisas na área de educação em Ciências, destacando os

estudos feitos por Caniato (1987), Leite (2002), Neves & Pedrochi (2005), Langhi &

Nardi (2005), e Oliveira (2007). Estas pesquisas comprovam os diversos problemas

enfrentados pelos professores, ao ministrarem os conteúdos de astronomia sem

uma base metodológica adequada.

Buscar meios para trabalhar os conteúdos básicos em astronomia citados

nas DCEs de Ciências (universo, sistema solar, movimentos celestes e terrestres,

astros, origem e evolução do universo, gravitação universal), de maneira a envolver

os conceitos científicos necessários para o entendimento de questões astronômicas,

é um desafio para o professor. Isso nos leva aos questionamentos:

1. Através de atividades práticas e lúdicas, aliadas ao uso de softwares de

simulação 3D, é possível despertarmos o interesse e a curiosidade dos

alunos pela Astronomia, em busca de uma visão crítica com relação à

maneira como os conteúdos dessa Ciência são apresentados nos livros

didáticos?

2. Com o auxílio dos recursos tecnológicos, podemos desenvolver uma ação

pedagógica voltada à criatividade, para uma aprendizagem significativa

de conceitos astronômicos, modificando as concepções alternativas

defendidas pelos alunos para concepções científicas?

Vários fatores dificultam o ensino de astronomia almejado pelas DCEB –

SEED-PR. As dificuldades para se trabalhar os conteúdos de Astronomia começam

na formação acadêmica dos professores habilitados para o ensino de ciências, que

não cursaram nenhuma disciplina específica relacionada com essa ciência – como é

o caso dos licenciados em ciências biológicas. Dessa forma, como aponta Caniato

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(1987), o professor “deve possuir um conhecimento consistente do assunto a ser

abordado e promover uma maior interação e diálogo com seus alunos”.

Infelizmente, é comum o aluno, que foi mal preparado no ensino

fundamental, fazer uso de crendices e superstições para explicar fenômenos

astronômicos, usando concepções alternativas que muitas vezes são defendidas

pelo próprio professor, provocando um distanciamento entre o conteúdo proposto e o

conteúdo ensinado nos currículos escolares em geral.

Diante deste contexto, objetivamos com este trabalho valorizar o ensino de

Astronomia a partir do uso de novas tecnologias, como a utilização de softwares de

simulação 3D gratuitos, e atividades práticas e lúdicas, desmistificando concepções

tradicionalistas equivocadas, contribuindo para um ensino de astronomia em que a

ênfase seja colocada na compreensão, no desenvolvimento de diversas formas de

raciocínio e na resolução de problemas; reconhecendo o trabalho em grupo como

forma de socialização do conhecimento e desenvolvendo estratégias de interações

dialógicas mais sistemáticas, visando levar o aluno ao maior questionamento e à

manifestação de suas opiniões.

Vários professores reconhecem a importância das atividades práticas e

lúdicas como forma de interação entre o professor e o aluno de maneira divertida, na

busca dos melhores resultados na aprendizagem. Para Santos e Cruz (2002, p.12),

além de facilitar a aprendizagem, auxilia ainda o desenvolvimento pessoal, social e

cultural, oportunizando os processos de socialização, comunicação, expressão e

construção do conhecimento.

As atividades práticas e lúdicas como estratégias de ensino sempre se

destacaram como alternativa para minimizar as dificuldades de se aprender e de se

ensinar ciências. Além disso, funciona como um fator mobilizador do interesse do

aluno pelos assuntos trabalhados, o que se aplica diretamente ao ensino da

astronomia, uma vez que ela possui uma forte componente observacional e prática

(ARAÚJO & ABIB (2003) apud LANGHI (2009)).

Com o uso dos softwares simuladores 3D Stellarium e Celestia, podemos

investigar alguns fenômenos astronômicos como os dias, as noites e as estações do

ano, as fases da lua e os eclipses, a fim de desenvolver observações astronômicas

com os alunos e superar a simples constatação de resultados, passando para

construção de hipóteses que a própria observação possibilita.

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Mudar esta dura realidade do dia para a noite não é tarefa fácil, entretanto,

ao procurarmos despertar o interesse e a curiosidade dos alunos pela astronomia,

eles passarão a entender de maneira mais clara os avanços científicos que

vivenciamos no dia a dia. Além disso, passarão a ter uma visão mais crítica em

relação à maneira como os conteúdos desta ciência são apresentados nos livros

didáticos e poderão obter melhores resultados na Olimpíada de Astronomia,

Astronáutica e Energia (OBA). A OBA é organizada anualmente pela Sociedade

Astronômica Brasileira (SAB), em parceria com a Agência Espacial Brasileira (AEB)

e com a Eletrobrás Furnas, realizada na escola durante o mês de maio, com os

alunos inscritos para o evento.

Através do uso de softwares simuladores e atividades práticas e lúdicas no

ensino de astronomia, podemos estimular a curiosidade de nossos alunos e orientá-

los a formarem concepções aceitas pela comunidade científica acerca de diversos

temas em astronomia.

2. ASTRONOMIA: UMA CIÊNCIA PIONEIRA

A curiosidade dos seres humanos pelos céus é muito antiga e suas origens

se confundem com a origem das civilizações. Encontramos na história de diversas

culturas antigas, tais como grega, egípcia, inca, celta, chinesa e hinduísta,

evidências de que no passado de nossos ancestrais havia uma relação muito

próxima entre a vida destes povos e os céus. Por uma questão de sobrevivência, ao

longo dos sucessivos milênios, ao deixarem a vida nômade, fixando raízes em uma

determinada localização, eles foram aprimorando seu conhecimento a respeito das

fases da lua e das estações do ano, a fim de melhor determinar os períodos

apropriados à caça, à pesca, ao plantio e às colheitas.

Dentro deste contexto, entendemos que a Astronomia, isto é o estudo dos

fenômenos celestes, é uma ciência pioneira. Através dela surgiram campos inteiros

da Física, da Matemática, da Engenharia e de processamento de sinais. Conforme

esclarece o professor Marcos Danhoni (Revista Sem Fronteiras, 2009) “trata-se de

uma das primeiras ciências da história da humanidade, que abriu espaço para um

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campo gigantesco de discussões”.

Segundo Langhi (2004), “Uma deficiente preparação do professor neste

campo normalmente lhe traz dificuldades no momento de sua atuação em sala de

aula”. Canalle et al.(1997) confirmam:

A formação inadequada dos professores leva a inquietações, inseguranças e dificuldades que os conduzem a buscar informações em outras fontes, muitas vezes questionáveis, talvez procurando concepções alternativas, ou acabam seguindo orientações e sugestões dos autores de livros didáticos utilizados em sala de aula, os quais trazem muitos problemas quanto ao conteúdo de Astronomia (CANALLE et al., 1997).

O problema descrito acima é evidenciado através das diversas pesquisas de

Leite (2006), Langhi e Nardi (2005), Lima (2006), Caniato (1987), e Bretones (2006),

realizadas entre professores e alunos do ensino fundamental, que indicam a

utilização indiscriminada de concepções alternativas e equivocadas na explicação de

fenômenos dos mais diversos fenômenos relativos à Astronomia. As principais

concepções alternativas encontradas no ensino em geral são citadas por Langhi e

Nardi:

[...] as diferenças entre as estações do ano são causadas devido à distância da Terra em relação ao Sol; as fases da Lua são interpretadas como sendo eclipses lunares semanais; persistência de uma visão geocêntrica do Universo; existência de estrelas entre os planetas do Sistema Solar; desconhecem o movimento aparente das estrelas no céu com o passar das horas, incluindo o movimento circular das mesmas no pólo celeste; associam a presença da Lua exclusivamente ao céu noturno, admirando-se do seu aparecimento durante certos dias em plena luz do Sol; associam a existência da força de gravidade com a presença do ar, acreditando que só existe gravidade onde houver ar ou alguma atmosfera (LANGHI; NARDI, 2005).

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2.1- O USO DE ATIVIDADES PRÁTICAS E LÚDICAS NO ENSI NO DE

ASTRONOMIA

Para contribuir com elementos que auxiliem os professores a promover um

ensino do conteúdo Astronomia em Ciências de maneira mais eficaz, o uso de

atividades práticas e lúdicas se torna uma importante estratégia de ensino e

aprendizagem. Esta deve ser mediada pelo professor, de forma a desenvolver o

interesse dos estudantes e criar situações de investigações para a formação de

conceitos de natureza investigativa. Entretanto, essas práticas não devem ser

apenas momento de comprovação de leis e teorias, ou meras ilustrações das aulas

teóricas (DCEB, 2008). Deve promover o questionamento, o debate, a investigação,

visando ao entendimento da ciência como construção histórica e como saber prático,

superando as limitações do ensino passivo, fundado na memorização de definições

e de classificações sem qualquer sentido para o aluno (PARÂMETROS

CURRICULARES NACIONAIS, 1998).

Conforme as DCEB de Ciências (2008):

O lúdico é uma forma de interação do estudante com o mundo, podendo utilizar-se de instrumentos que promovam a imaginação, a exploração, a curiosidade e o interesse, tais como jogos, brinquedos, modelos, exemplificações realizadas habitualmente pelo professor, entre outros. O lúdico permite uma maior interação entre os assuntos abordados e, quanto mais intensa for esta interação, maior será o nível de percepções e reestruturações cognitivas realizadas pelo estudante. O lúdico deve ser considerado na prática pedagógica, independentemente da série e da faixa etária do estudante, porém, adequando-se a elas quanto à linguagem, a abordagem, as estratégias e aos recursos utilizados como apoio.

Uma das formas de interação lúdica mais explorada pelos educandos em

sala de aula é o jogo pedagógico de caráter lúdico, pois ele favorece o

desenvolvimento físico, cognitivo, afetivo e moral. Através do jogo o aluno pode

testar hipóteses, explorar sua criatividade, estimular a criação de novos

conhecimentos, superar suas dificuldades de aprendizagem e melhorar sua

convivência social.

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Para Friedman (1996, p.41), devemos considerar que:

Os jogos lúdicos permitem uma situação educativa cooperativa e interacional, ou seja, quando alguém está jogando, está executando regras do jogo e, ao mesmo tempo, desenvolvendo ações de cooperação e interação, que estimulam a convivência em grupo.

As atividades práticas devem ser desenvolvidas em ambiente que permita

aos alunos despertar sua curiosidade, debater, refletir, elaborar hipóteses e

desenvolver seu senso crítico. Além disso, aprender sobre método científico e a

natureza das ciências.

Quanto às atividades práticas, segundo Turatti (2008, p.04):

O momento das abordagens práticas em sala permite verificar o nível conceitual dos alunos e perceber as dificuldades por eles apresentadas. Cabe ao professor mediar situações de aprendizagem diante das questões propostas pelos alunos e uma discussão em torno do assunto, trazendo a proposição de novos dados, que serão incorporados à questão e envolverão toda a turma na discussão. Assim, percebemos o significado de trabalhar Ciências Naturais, e que ser professor é ir além da simples exposição do conhecimento, é estimular a curiosidade, abrir caminhos para novas discussões, considerar o posicionamento dos alunos, enfim, problematizar.

As atividades práticas e lúdicas como estratégias de ensino sempre se

destacaram como alternativa para minimizar as dificuldades de se aprender e de se

ensinar ciências. Além disso, funciona como um fator mobilizador do interesse do

aluno pelos assuntos trabalhados, o que se aplica diretamente ao ensino da

astronomia, uma vez que ela possui uma forte componente observacional e prática

(ARAÚJO & ABIB (2003) apud LANGHI (2009)).

Assim sugerem Pereira, Fusinato e Neves (2009, p.09):

A proposta de atividades práticas de Astronomia para alunos oferecendo a oportunidade para atividades que envolvam trabalhos ao ar livre e que não exigem materiais ou laboratórios custosos, tais

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como construir instrumentos simples, semelhantes aos primitivos relógios de Sol, gnomos, observações do Sol, Lua, planetas, estrelas e meteoros, ou, a construção de jogos educativos que englobam esse conteúdo, podem trazer a tona, um interesse pela Astronomia há muito tempo perdido.

A utilização de diferentes metodologias experimentais, além de possibilitar a

formação de um ambiente propício ao aprendizado, sem desvalorizar os conceitos

prévios dos alunos, podem contribuir para o aprendizado de conceitos, à medida que

o professor faça uso de procedimentos que vão desde uma mera observação de

fenômenos até a criação de situações que permitam uma participação mais ativa

dos estudantes. Segundo Vigotsky (2004, p.455), “o método de ensino exige do

professor aquele dinamismo, aquele coletivismo nos quais deve estar mergulhado o

espírito da escola”.

É necessário que os alunos se sintam seduzidos pelo que lhes é

apresentado, para que possam desenvolver as atividades propostas com prazer e

significação e, como consequência, compreender os enunciados científicos e

produzir sua própria concepção de ciência.

2.2- OS SIMULADORES COMO RECURSO PEDAGÓGICO

O computador é um poderoso aliado na aprendizagem, como ferramenta

auxiliar no desenvolvimento cognitivo do aluno e grande parceiro na busca do

conhecimento. Para tanto, é necessário um ambiente favorável a professores e

alunos no desenvolvimento de uma aprendizagem colaborativa que propicie aos

aprendizes construir suas próprias interpretações acerca de um assunto.

Graças ao processo de Inclusão Digital, a informática tem ganhado espaço

cada vez maior no processo educacional. Dentro deste processo, o avanço

crescente da capacidade de armazenamento e processamento de dados tem

possibilitado o desenvolvimento de softwares de simuladores com interface humana

cada vez mais aprimorados, ou seja, mais realísticos. Tais softwares renderizam

cenários animados tridimensionais, com detalhes de texturização, sombreamento,

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iluminação e perspectiva, com o objetivo de provocar no usuário a sensação de que

ele se encontra diante de um cenário real.

A animação permite uma visualização concreta de conceitos abstratos,

apesar de ser um recurso pouco explorado no campo pedagógico. Educadores

estão buscando novos caminhos para prender a atenção de estudantes. O poder

dos computadores para simular ambientes e condições que seriam, em outro caso,

não disponíveis, faz das animações uma boa possibilidade de aprendizagem

(BYRNE et al., 1999).

As animações e simulações possuem um enorme potencial pedagógico e

têm sido utilizadas principalmente na compreensão de fenômenos que requeiram

alto grau de abstração do aluno. Elas possibilitam observar em alguns minutos a

evolução temporal de um fenômeno que levaria horas, dias ou anos em tempo real,

além de permitir ao estudante repetir a observação sempre que o desejar.

Porém, ao fazer uso dos simuladores, o professor deve ter o cuidado de não

centralizar sua aula em torno de tal recurso. As animações e simulações devem ser

utilizadas como ferramentas auxiliares, sempre aliadas a outros recursos

pedagógicos. O professor deve ter em mente que as inovações tecnológicas têm por

objetivo maximizar a eficiência do processo ensino-aprendizagem. Elas jamais irão

substituir a experiência, os valores e as relações humanas entre professor aluno. O

professor desempenha o papel de mediador entre o aluno e a máquina. Segundo

Heckler et al. (2007), o professor é quem controla o tempo de uso necessário para

cada recurso, além de criar um ambiente que possibilite ao aluno questionar,

debater, pesquisar, refletir, onde ambos assumam a responsabilidade pela

aprendizagem.

2.3 - O USO DOS SOFTWARES STELLARIUM E CELESTIA NO ENSINO DE

ASTRONOMIA

O desenvolvimento tecnológico tem sido um grande diferencial, no que diz

respeito à nossa visão de universo. Atualmente, os telescópios amadores são

equipados com compensadores geoestacionários e sistemas de posicionamento

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global (GPS), o que torna possível a identificação, observação e rastreamento do

movimento de qualquer corpo celeste com muita rapidez (desde que ele esteja

dentro do limite visual do equipamento e sua trajetória tenha sido mapeada

previamente).

Este feito é possível graças a um circuito integrado que posiciona o tubo

refletor/refrator por meio de um sistema constituído por engrenagens e motores de

passo muito precisos. Na memória deste circuito integrado estão catalogados os

funcionais que descrevem a trajetória dos corpos celestes passíveis de serem

rastreados.

A idéia por trás de um simulador astronômico é aproveitar o banco de dados

contidos no sistema de compensação geoestacionária dos telescópios modernos,

para simular, por meio de cenários renderizados em 3D, sua visualização a partir de

um determinado referencial (por exemplo, nossa localização sobre o globo terrestre).

Encontramos nas bases de dados disponíveis na internet diversos programas com

esta finalidade. Dentre os mais utilizados estão o Stellarium e o Celestia.

O Stellarium, disponibilizado gratuitamente através do website

www.stellarium.org, software livre, desenvolvido por uma série de programadores,

coordenados por Fabien Chéreau e assessorados pela equipe de astrônomos do

European Southern Observatory. Com ele é possível simular a abóbada celeste em

tempo real, do ponto de vista de um observador posicionado em qualquer ponto

sobre o globo terrestre. Além disso, ele possibilita localizar, com boa precisão,

estrelas, constelações, planetas, aglomerados, nebulosas e cometas. As simulações

são ricas em detalhes. Além de exibir diversas informações acerca dos corpos

celestes pré-catalogados, o Stellarium permite ainda regredir ou avançar no tempo,

através de um sistema de datas e horários muito eficiente.

O Celestia, disponibilizado gratuitamente através do website

www.shatters.net/celestia/index.html, também é um software livre, criado e

supervisionado por Chris Laurel e Selden Ball. Ele simula viagens pelo universo,

exibindo, com grande riqueza de detalhes, a perspectiva de um observador que está

dentro de um veículo espacial, que orbita próximo a um determinado corpo celeste.

É possível visualizar todos os planetas do sistema solar e suas respectivas luas,

satélites artificiais, o telescópio espacial Hubble, a estação espacial internacional

(ISS) a sonda espacial Cassine (enviada para explorar Saturno) e, ainda, alguns

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satélites de comunicação.

Com estes dois softwares, podemos investigar alguns fenômenos

astronômicos como os dias, as noites e as estações do ano, as fases da lua e os

eclipses, a fim de desenvolver observações astronômicas com os professores e

alunos e superar a simples constatação de resultados, passando para construção de

hipóteses que a própria observação possibilita.

2.4 - O USO DOS SOFTWARES STELLARIUM E CELESTIA COM O RECURSO NA

MELHORIA DO RESULTADO DA OLIMPIADA BRASILEIRA DE AS TRONOMIA,

ASTRONÁUTICA E ENERGIA (OBA)

A Olimpíada Brasileira de Astronomia, Astronáutica e Energia é organizada

anualmente pela Sociedade Astronômica Brasileira (SAB), em parceria com a

Agência Espacial Brasileira (AEB) e com a Eletrobrás Furnas. A OBA é um evento

aberto à participação de escolas, públicas ou privadas, urbanas ou rurais, para

alunos do primeiro ano do ensino fundamental aos do último ano do ensino médio. A

OBA ocorre totalmente dentro da própria escola, com uma única fase e realizada

apenas uma vez durante o ano letivo. A participação dos alunos é voluntária e não

há obrigatoriedade de número mínimo ou máximo de alunos. Ao final da OBA, todos

os alunos participantes recebem certificados, bem como os professores e diretores

envolvidos no processo3.

No Brasil existem poucas instituições científicas como museus,

observatórios e centros de ciência, disponíveis para visitação de professores e

alunos. O estímulo à participação nestas olimpíadas é fundamental, para estimular o

aprendizado, não só de Ciências, como de outras disciplinas, contribuindo para

melhorar a cultura geral dos alunos.

O uso do Stellarium e do Celestia na preparação dos alunos inscritos na

OBA visa oferecer mais conhecimentos e informações sobre o espaço sideral e suas

maravilhas. Não só desperta o interesse dos alunos pela Astronomia e Astronáutica,

como também os motiva para o aprendizado de Ciências.

3 http://www.oba.org.br

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Segundo Requeijo e Carneiro (2009), a visualização digital por meio de

animações 3D facilita a transmissão de conteúdos complexos, principalmente para

pessoas não especialistas no assunto, como é o caso da grande maioria dos

professores e alunos das escolas públicas do Paraná.

3. METODOLOGIA

A implementação do projeto: O uso de softwares simuladores 3D e

atividades práticas e lúdicas no ensino aprendizage m de Astronomia , proposto

pela professora PDE - Programa de Desenvolvimento Educacional – do Governo do

Paraná, no Colégio Estadual Marechal Costa e Silva – E.F.M. em Cidade Gaúcha,

no período compreendido entre abril e novembro de 2009, obedeceu ao seguinte

cronograma:

ESTRATÉGIAS DE AÇÕES DATA HORÁRIO

/TURNO TURMA

Apresentação e discussão das ações previstas para implementação, com a Direção e Equipe Pedagógica (2h/a)

Abril Manhã Direção e

Equipe Pedagógica

Divulgação e preparação dos alunos inscritos na XIII Olimpíada de Astronomia, através de atividades sugeridas pelos coordenadores da OBA (8h/a)

Abril Manhã Tarde Noite

Inscritos na XIII OBA

Apresentação das ações previstas no projeto e o material didático produzido pelo professor PDE aos professores do Colégio na Semana Pedagógica (2h/a)

Agosto Manhã Professores

e Funcionários

Preparação do material didático para implementação com os alunos (4h/a) Agosto Manhã 5a Série

Implementação do projeto com os alunos participantes (16h/a)

Setembro a Novembro

Quintas-feiras, à tarde

5a Série

Tabela 1 : Cronograma de implementação do projeto Fonte: Elaborado pela autora.

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3.1- Apresentação e discussão das ações previstas p ara implementação com a

Direção e Equipe Pedagógica

Neste primeiro momento, de acordo com as orientações da coordenação do

PDE, discutiu-se, juntamente com a direção e equipe pedagógica, o projeto e as

ações propostas para sua implementação. Durante a discussão foi ressaltada a

relevância do tema proposto para atender à defasagem do ensino de astronomia no

ensino fundamental.

3.2- Divulgação e preparação dos alunos inscritos n a XIII Olimpíada Brasileira

de Astronomia, Astronáutica e energia através de at ividades sugeridas pelos

coordenadores da OBA

O trabalho de divulgação da XIII Olimpíada de Astronomia foi realizado em

todas as turmas da escola, nos três períodos de aula (manhã, tarde e noite).

Consistiu em visita às salas de aula com o cartaz de divulgação da olimpíada, com

um mês de antecedência de sua realização, incentivando e destacando a

importância da participação dos alunos da escola na referida olimpíada. Os cartazes

foram fixados nas paredes da escola, como forma de relembrar os alunos da

ocorrência do evento. Na oportunidade, os alunos foram convidados a participar de

uma preparação ( minicurso) com o intuito de estimulá-los a participarem da XIII

Olimpíada de Astronomia, Astronáutica e Energia, promovendo a difusão dos

conhecimentos básicos em astronomia de uma forma lúdica e cooperativa.

As atividades desenvolvidas fizeram parte da primeira etapa da

implementação com os alunos.

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3.3- Apresentação, aos professores do Colégio, das ações previstas no projeto

e o material didático produzido pelo professor PDE na Semana Pedagógica

Ainda de acordo com as orientações da coordenação do PDE, as ações

previstas no projeto e o material didático produzido pela professora PDE, caderno

pedagógico: Os desafios de ensinar astronomia através dos softwares simuladores

3D Stellarium e Celestia foram apresentados aos professores da escola como forma

de articulação entre os profissionais envolvidos direta ou indiretamente na execução

das ações de implementação da proposta, convocando aliados para a busca de

soluções para os entraves encontrados.

3.4- Preparação do material didático para implement ação com os alunos

A partir das discussões com a direção e equipe pedagógica e contribuição

dos professores da escola e do Grupo de Trabalho em Rede - GTR, deu-se início à

preparação do material didático para implementação com os alunos, baseado no

caderno pedagógico já produzido pela professora PDE e avaliado pelo orientador da

Universidade Estadual de Maringá e pela equipe pedagógica do Núcleo Regional da

Educação de Cianorte, para posterior publicação no Portal da Educação da

Secretaria de Estado da Educação do Paraná.

3.5- Implementação do projeto com os alunos partici pantes

Todas as ações dirigidas aos alunos foram realizadas na ótica da pesquisa

participativa, de natureza interventiva, visando atuar pedagogicamente por meio do

conhecimento sistematizado, proporcionando aos alunos várias situações de

investigação, a fim de que eles possam, ao obter o conhecimento prévio de

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astronomia, ter o interesse despertado por ela. O referido processo foi dividido em

duas etapas.

4. ETAPAS DA IMPLEMENTAÇÃO COM OS ALUNOS

4.1- Primeira Etapa

A primeira etapa foi dirigida a todos os alunos do ensino fundamental deste

colégio e foi marcada por atividades de divulgação (Figura 01), incentivo e

preparação destes alunos, com o intuito de estimulá-los a participarem da XIII

Olimpíada de Astronomia, Astronáutica e Energia. Depois do trabalho de divulgação

junto às turmas matriculadas na escola, 123 alunos manifestaram interesse em se

inscrever para participar do evento.

As inscrições foram realizadas entre os dias 10 de abril e 14 de maio de

2010, data da realização da olimpíada. O processo de preparação destes alunos

aconteceu por meio do minicurso intitulado “Desmitificando a Astronomia”, ocorrido

no dia 10 de maio de 2010, com duração de 04 horas/aula, ministrado repetidamente

nos períodos matutino, vespertino e noturno. O evento contou com atividades

práticas sugeridas pelos coordenadores da Olimpíada (Figura 02), atividades

lúdicas, observações astronômicas e simulações computacionais utilizando o

Stellarium e o Celestia.

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Figura 01 - Divulgação da XIII Olimpíada de Astronomia na sala de aula Fonte: a autora

Figura 02 - Atividades práticas sugerida para a XIII OBA – visualização das distâncias médias dos planetas ao Sol (incluindo Plutão, o planeta anão) Fonte: a autora

4.2- Segunda Etapa

A segunda etapa, de acordo com a proposta original do projeto, foi restrita aos

alunos regularmente matriculados na 5a Série do período matutino, composta por 32

alunos na faixa etária entre 10 e 12 anos. Ela contou com a utilização de novas

tecnologias associadas a atividades práticas e lúdicas voltadas ao ensino de

astronomia. Estes alunos foram convidados a participar, no seu contraturno, de

encontros periódicos (ações) realizados nos meses de setembro e outubro de 2010.

Cada encontro teve duração de 04 horas aula e contou com a participação de alunos

com idades entre 10 e 12 anos.

4.2.1- Primeiro Encontro - 09 de setembro de 2010 - Atividade investigativa

Para Gasparin (2003, p.25), o professor deve desafiar os alunos a

demonstrar o que sabem teoricamente sobre o objeto de estudo, antes que a escola

sistematize este conhecimento. Partimos deste contexto para planejamento das

ações a serem desenvolvidas. Dentro deste contexto, as ações foram iniciadas com

a aplicação de um questionário, com questões norteadoras para o desenvolvimento

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da proposta, com o propósito de explorar o conhecimento prévio dos alunos sobre o

conteúdo de Astronomia. As questões apresentadas foram:

1) Como você faz para localizar os pontos/direções cardeais?

2) Em qual direção o Sol aparece no período da manhã e desaparece no

período da tarde?

3) a)A Terra realiza algum movimento? b)Quais são estes movimentos?

4) a)Quantas fases a Lua possui?b) Quais são elas?

5) O que são solstícios e equinócios?

6) Como acontecem as estações do ano?

A fim de levar o aluno a participar do processo de aprendizagem mais

ativamente, através do debate e da exposição de ideias, bem como desenvolver a

compreensão dos conceitos astronômicos citados no questionário apresentado,

após um breve intervalo o grupo foi novamente reunido e as respostas apresentadas

por eles foram discutidas.

Tornou-se evidente, que a maior parte dos alunos apresentava dificuldades

em relação à identificação das direções cardeais. Os alunos foram então convidados

a participar da construção de um gnômon4 no pátio da escola, com base nas

instruções da apostila Oficina de Astronomia, do Professor Doutor João Batista

Garcia Canalle, disponível no site http://www.telescopiosnaescola.pro.br/oficina.pdf.

Esta atividade foi iniciada no período da manhã e concluída à tarde, após um

momento de discussão a respeito da utilização da sobra dos objetos como

ferramenta auxiliar na identificação das direções cardeais.

4.2.2- Segundo Encontro – 16 de setembro de 2010 – Atividades em equipe.

Neste encontro foram realizadas atividades em equipe, visando maior

integração entre os alunos. Utilizando materiais alternativos para representar os

astros, os alunos construíram maquetes do Sistema Solar. As equipes foram

formadas por sorteio.

4 Em sua forma mais simples, consiste de uma vara fincada, geralmente na vertical, no chão. A observação da

sombra dessa vara, provocada pelos raios solares, permitia materializar a posição do Sol no céu ao longo do tempo.

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A maquete foi confeccionada sobre papel Kraft e pintada com tinta guache,

de acordo com as características do planeta (Figuras 03 e 04). Dentre os materiais

utilizados estão massinha de modelar, botões de diversos tamanhos e tampas de

diversos utensílios.

Durante a execução desta atividade foram discutidos vários temas

relacionados às principais características de cada astro (estrutura, cor, tamanho e

distâncias relativas). Associada ao procedimento de pintura dos astros, a resolução

de uma carta enigmática5 favoreceu a assimilação de novos conceitos, tais como a

classificação dos planetas em interiores e exteriores, os anéis de Saturno e Júpiter,

o gigante gasoso.

Figuras - 03 e 04 - Confecção de maquete do sistema solar, usando tampas de utensílios, massinha de modelar e botões Fonte: a autora

4.2.3- Terceiro Encontro - 23 de setembro de 2010 – Ludicidade através de

jogos

A realização das atividades lúdicas tem por objetivo desenvolver nos alunos

habilidades e conhecimentos de maneira prazerosa e divertida. As atividades lúdicas

foram exploradas através de jogos de cartas, tabuleiro e dominós, tais como Quiz do

Sistema Solar, a Corrida Maluca (Figura 05), O Dominó Planetário (Figura 06) e de

5 A carta enigmática é um jogo de linguagem que faz uso das relações entre palavras e figuras de objetos, de

forma a transformar a leitura de um texto em uma brincadeira interpretativa.

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jogos virtuais online. O Quiz do Sistema Solar é um jogo de cartas com perguntas e

respostas de múltipla escolha sobre as curiosidades mais interessantes do nosso

sistema solar. A Corrida Maluca é um jogo de tabuleiro que leva ao aluno a uma

viagem aos locais mais fantásticos do sistema solar. O Dominó Planetário é

equivalente ao jogo tradicional, entretanto, ao invés de numerais, são utilizadas as

imagens mais interessantes dos planetas do sistema solar e suas luas.

Os jogos virtuais utilizados são disponibilizados por membros da Sociedade

Brasileira de Astronomia, através do web site Observatório Nacional:

www.on.br/pequeno_cientista/conteudo/jogos.html. Dentre os diversos jogos online

acessados pelos alunos, o mais explorado foi o Jogo do Buraco Negro. Este jogo é

semelhante à tradicional brincadeira da Forca. No entanto, o indivíduo, preso a uma

corda, é substituído por uma nave que se aproxima de um buraco negro, e as

perguntas versam sobre astronomia.

Figura 05 - Alunos jogando a Corrida Maluca Fonte: a autora

Figura 06 - Alunos jogando o Dominó Planetário Fonte: a autora

4.2.4- Terceiro Encontro – 10 de outubro de 2010 - O uso de softwares

simuladores 3D – Stellarium e Celestia

Os simuladores Stellarium e Celestia (Figura 07) foram utilizados na

investigação de alguns vários astronômicos (estações do ano, fases da Lua,

eclipses, galáxias, constelações, planetas e outros), permitindo uma visualização

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concreta dos conceitos abstratos trabalhados nas aulas expositivas, com a finalidade

de amenizar as concepções alternativas dos alunos, contribuindo de forma

significativa na melhoria destas concepções. Para esta atividade foi necessário a

utilização de um de equipamento multimídia, acoplado a um computador.

Intercalados com as atividades lúdicas e práticas, foram realizadas aulas

expositivas exibidas em slides e vídeos explorando os assuntos Novo Sistema Solar

– origem, características, distâncias e tamanhos; Galáxias – Via Láctea, posição do

Sistema Solar; Constelações – posição no céu e identificação das principais

estrelas; Satélites – naturais e artificiais; Cometas – Halley e outros.

Foi estimulado o hábito de observação frequente do céu, utilizando os

recursos disponíveis a olho nu, com mapas celestes retirados de sites específicos da

internet e fornecidos aos alunos, como forma de popularização da astronomia entre

as famílias dos participantes.

Como atividades para desenvolvimento da leitura e escrita foram realizadas

leitura de poesias sobre o tema sistema solar, cartas enigmáticas e pinturas de

desenhos sobre o assunto discutido, pesquisa bibliográfica sobre a história da

astronomia e a coleta de notícias sobre fenômenos astronômicos atuais e da

exploração espacial para montagem de painéis, colocados em exposição na sala de

aula.

Figura 07 - Alunas exploram os softwares Stellarium e Celestia Fonte: a autora

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As discussões reflexivas promovidas pelos professores durante a realização do

Grupo de Trabalho em Rede6 (GTR) contribuíram muito para enriquecimento deste

trabalho, com ideias e sugestões.

5. RESULTADOS E DISCUSSÕES

Na primeira etapa do processo de implementação, todos os 123 alunos

inscritos na XIII Olimpíada de Astronomia, Astronáutica e Energia (OBA) foram

convidados a comparecer em um de seus contraturnos, para participar do minicurso

preparatório “Desmistificando a Astronomia”. Deste total, porém, 62 alunos

efetivamente compareceram ao minicurso preparatório. A distribuição destes alunos

relativa à sua participação em um dos períodos, matutino, vespertino ou noturno é

ilustrada na figura 08.

Figura 08 - Comparecimento dos alunos inscritos ao minicurso preparatório

“Desmistificando a Astronomia”.

6 Espaço de discussão criado pela Secretaria de Educação do Paraná, disponibilizado no site http:/

/www.diaadiaeducacao. pr.gov.br/, aberto para todos os professores inscritos no programa PDE

49.6%

14.6%

30.1%

5.69%

Matutino Vespertino Noturno Ausentes

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O elevado índice de ausência ao minicurso preparatório talvez possa ser

justificado pelo fato de que uma boa parte dos alunos inscritos reside na zona rural,

e a falta de transporte público regular impossibilita seu deslocamento até a escola no

contraturno. Em relação aos alunos ausentes, que moram nas imediações do

colégio, consideram-se ainda os vários compromissos pré-assumidos, tais como

catequese, afazeres domésticos, treino de esportes, aulas particulares. Infelizmente,

em alguns casos foram constatados ainda falta de comprometimento do aluno, e

porque também não dizer, dos pais, em assumir atividade extraclasse. Apesar de

tais empecilhos, observamos na figura 08 que o período de maior participação foi o

vespertino, haja vista que este, por sua vez, é contraturno dos períodos matutino e

noturno. Com base neste importante resultado, as demais atividades envolvendo os

alunos foram realizadas no período vespertino.

A utilização dos softwares Stellarium e Celestia favoreceu o processo de

assimilação de inúmeros conceitos astronômicos. Viabilizou a observação de

diversos astros, bem como o acompanhamento de suas posições relativas no céu, o

que, de certa forma, somente seria possível através da utilização de binóculos,

telescópios, filtros polarizadores7 (equipamentos que a escola em questão não

possui).

Na segunda etapa, tivemos, no primeiro encontro, designado como

“Atividade Investigativa”, o comparecimento de 09 alunos da turma selecionada para

a intervenção, ou seja 28,1% dos 32 alunos. O encontro foi marcado pela

apresentação do questionário descrito na subseção 4.2.1. Quantitativamente, o

percentual de acertos a este questionário é exibido na figura 09.

7 Filtro que só permite a passagem de luz polarizada em uma direção específica. Eles eliminam

reflexos e brilhos aumentando o contraste.

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Figura 09 - Percentual de acertos ao questionário apresentado pelos alunos no primeiro encontro.

Como mostra a figura acima, em relação às questões 01 e 02, os alunos

foram quase unânimes em afirmar que estendem o braço na direção em que o Sol

nasce, para localizar a direção ou o ponto cardeal Leste, depois é só “pensar”: na

frente é Norte, nas costas é Sul e do lado contrário do braço estendido é Oeste,

onde o Sol “some”. Assim, é possível localizar os pontos cardeais e saber a direção

em que o Sol nasce e se põe, conforme ilustração encontrada em vários livros

didáticos do ensino de ciências e geografia do ensino fundamental, citados por

Langhi e Nardi (2007) e Canalle (1997).

Os demais alunos (02) não mencionaram a existência do Sul e Norte em

suas respostas. A discussão se acirrou na escolha do braço certo a ser estendido na

direção do nascer do Sol (Leste). Finalizando a discussão, todos compreenderam

que o braço correto é o direito e a localização é da direção e não do ponto cardeal.

O aprofundamento dos conhecimentos quanto às direções e pontos cardeais se

concretizou com a conclusão do gnômon construído no pátio da escola, quando os

alunos concluíram a discussão.

Na questão 03a, todos os alunos participantes (100%) responderam que a

Terra apresenta movimento de rotação e translação, porém 04 alunos (44,4%)

responderam que rotação é o movimento que a Terra faz em torno do Sol e

1 2 3a 3b 4a 4b 5 60

20

40

60

80

100

Ace

rtos

(%

)

Questões

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translação o movimento feito pela Terra em torno de seu próprio eixo – questão 03b.

Após discussões e leitura de texto sobre o tema, admitiram que confundiram os

conceitos.

Na questão 04a todos os alunos (100%) responderam que a Lua apresenta

quatro fases, mas apenas 07 alunos (77,7%) lembraram quais os nomes destas

fases – questão 04b. Ficaram surpresos em saber que a Lua apresenta várias fases

distintas e que apenas nos referimos às quatro principais fases. Durante as

discussões, percebeu-se que alguns alunos acreditavam que a Lua só aparecia à

noite, pois neste momento a Terra estaria virada para a Lua.

A pergunta 05 foi a que mais surpreendeu os alunos, devido à dificuldade de

se pronunciar as palavras e o desconhecimento destes termos. Apenas 01 aluno se

propôs a responder que se “tratava de algo relacionado ao Sol, mas não sabia o

quê”. Supõe-se que houve uma dedução pelo nome solstício. Os demais alunos

(88,8%) não responderam a questão, alegando que não sabiam responder. Todos

se mostraram surpresos quando a professora esclareceu os termos usando imagens

fornecidas pelo simulador Stellarium.

As respostas à pergunta 06 revelaram que os alunos já tiveram contato com

esse conteúdo em anos anteriores da vida escolar. Observa-se este fato quando 05

alunos (55,5%) em suas respostas relacionaram as estações do ano ao fato de o

eixo da Terra ser inclinado. Percebe-se durante as discussões uma grande

dificuldade em explicar o fenômeno por parte dos alunos, manifestando-se com

muita superficialidade e usando concepções alternativas, na tentativa de responder

e justificar o fenômeno. Apenas 01 aluno não respondeu e 03 se referiram às

distâncias entre o Sol e a Terra como fator principal para ocorrência do fenômeno.

A atividade avaliativa expressou em seu resultado final o que já foi citado

anteriormente, com relação às concepções alternativas. De acordo com as

respostas dadas pelos alunos, percebe-se que o senso comum se confunde com as

concepções defendidas pela ciência e citadas por vários estudiosos em pesquisas já

citadas.

Nesta atividade investigativa percebeu-se certa resistência dos alunos em

aceitar o conhecimento mediado pelo professor, uma vez que sempre acreditaram

que as estações do ano aconteciam pela distância que a Terra está do Sol em

determinado período do ano, que a Lua está presente somente à noite ou que

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durante o dia a Terra está “virada” para o Sol e a noite está “virada” para a Lua. Os

termos solstícios e equinócios eram totalmente desconhecidos pelos alunos e

acreditavam que o Sol nasce e se põe sempre no mesmo lugar ou direção. Assim,

consideravam Leste o lugar em que o Sol nasce e o Oeste onde ele “some”.

Portanto, alguns esqueceram que existe o Norte e o Sul, não conseguindo

localizá-los satisfatoriamente. Foi realizada a construção do gnômon no pátio da

escola, para auxiliar a compreensão do tema pontos/direções cardeais. Apesar de

confundirem os nomes dos movimentos principais da Terra, todos tinham

conhecimento de que a Terra possuía pelo menos dois movimentos, porém não

relacionaram estes movimentos a outros astros. Alguns alunos sabiam que a Lua

apresenta fases, porém foram resistentes em aceitar que a Lua possui várias fases e

não somente quatro. Através da leitura e dramatização da poesia Gira Gira, que

descreve as características dos planetas, foi possível auxiliar no desenvolvimento da

imaginação e criatividade dos alunos.

Seguindo para a ação 02, percebemos um interesse maior na participação

dos alunos. Neste encontro, compareceram 17 alunos, ou seja, 53,1% dos 32 alunos

da turma da intervenção. Tal interesse foi motivado pela divulgação das atividades

desenvolvidas pelos alunos que participaram do encontro anterior.

A construção de maquetes do Sistema Solar objetivou contribuir para

melhorar e facilitar a aprendizagem de alguns conceitos astronômicos como a

posição, o tamanho e as distâncias entre os astros, a ausência de estrelas entre os

planetas, além de tornar o aprendizado mais prático, prazeroso e compartilhado.

Nesta atividade, foi observada a capacidade dos alunos de respeitar a

opinião do outro, a troca de informações, a criatividade e o comportamento diante de

situações desafiadoras, o que visa contribuir para o desenvolvimento de atitudes

positivas na resolução de conflitos.

A construção de maquete é uma atividade prática e dinâmica que teve boa

receptividade pelos alunos envolvidos, permitindo-lhes assumir o papel de

construtores de seu próprio conhecimento.

Na ação 03 tivemos 19 alunos (59,3%) participando da ludicidade através de

jogos. A opção pelos jogos pedagógicos sobre o tema foi um meio de utilizar um

recurso didático divertido, para facilitar a compreensão do conteúdo pelo aluno.

Porém, tivemos a preocupação de introduzir a prática de jogos pedagógicos,

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desvinculando a idéia de diversão e entretenimento, buscando o desenvolvimento do

pensar concreto do aluno. Esta prática oportunizou aos alunos maior interação com

os outros alunos e com os assuntos abordados, permitindo um aumento do nível de

percepção e reestruturação cognitiva, conforme sugere as DCE (2008).

Quanto ao uso de jogos em sala da aula, Flemming e Mello (2003, p.36)

alertam que os conhecimentos adquiridos através deste recurso lúdico, para serem

transformados em conhecimentos científicos, devem ser mediados pelo professor.

Assim, toda a ação foi mediada pela professora, proporcionando um trabalho

coletivo de cooperação e socialização.

Para Pozo (1998),

o professor é essencial no momento de auxiliar na tarefa de formulação e de reformulação de conceitos que demonstrem o conhecimento prévio do aluno, com uma introdução da matéria que articule esses conhecimentos à nova informação que está sendo apresentada( Pozo, p.284).

O jogo de quiz é um material didático importante para estimular a autonomia

e os diferentes aspectos de aprendizagem dos alunos. Todos os que participaram

desse tipo de jogo, em dupla, se mostraram interessados no assunto, apresentando

um bom aproveitamento da atividade. A corrida maluca Por dentro do Sistema Solar

e Passagem para a Lua foi uma atividade que oportunizou aos participantes o

desenvolvimento da concentração e atenção nas palavras e seus conceitos, o que

atendeu perfeitamente ao objetivo da proposta. O jogo de dominó com os planetas e

suas características foi bastante explorado pelos alunos. Por ser um jogo de fácil

manuseio e confecção, provocou grande interesse dos alunos nas descobertas e

aprendizagem do conteúdo proposto. Durante a realização destas atividades, os

alunos presentes se revezaram nas duplas, para que todos tivessem a oportunidade

de jogar.

Os jogos on-line foram mais uma opção, como recurso didático facilitador do

processo ensino e aprendizagem, explorado neste projeto interventivo. Através do

site http://www.on.br/pequeno_cientista/conteudo/jogos/jogos.html, os alunos tiveram

a oportunidade de aprender, de maneira divertida e desafiadora, obedecendo a

regras, usando a imaginação e o raciocínio. Nesta modalidade de jogos foi possível

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promover a interação entre o aluno e a tecnologia, desenvolver novas habilidades

como percepção visual, coordenação motora, observação, atenção e alfabetização.

Finalizando as ações previstas com os alunos do projeto de intervenção,

realizamos a ação 04, reunindo 23 alunos participantes da intervenção (71,8%). Os

softwares simuladores 3D – Stellarium e Celestia foram aplicados para investigação

de alguns fenômenos astronômicos já citados, e permitiram uma visualização

concreta dos conceitos abstratos trabalhados nas aulas expositivas, com a finalidade

de amenizar as concepções alternativas dos alunos, contribuindo de forma

significativa na melhoria destas concepções. Com a exploração do software

Stellarium foi possível simular os dias, as noites e as estações do ano de um

observador localizado em nosso município Cidade Gaúcha, usando as coordenadas

geográficas para essa localidade (Longitude: -52:56:56.60 Latitude: -23:22:28.68 e

Altitude em relação ao nível do mar: 404 metros).

Utilizando o simulador foi possível remover a camada atmosférica e mostrar

aos alunos que, durante o dia, o espalhamento da luz solar na atmosfera nos

impede de ver a Lua. Esta atividade permitiu também esclarecer que, durante a

noite, o Sol se encontra do lado oposto da superfície da Terra.

Configurando o Stellarium para exibir os pontos cardeais e usando o recurso

de aumentar a velocidade do tempo, foi possível perceber as mudanças ocorridas no

nascer e no pôr do Sol nos diversos períodos do ano, o que facilitou ao aluno a

visualização e aquisição dos conceitos de solstícios e equinócios e a percepção das

estações do ano.

O recurso de aceleração do tempo também foi usado para a percepção das

diferentes aparências da Lua durante o mês, o que configurou as diversas fases

graduais da Lua. Com a simulação de eclipses através dos simuladores Stellarium e

Celestia a visualização desse fenômeno em várias partes do mundo foi

proporcionada aos alunos.

Usando o simulador Celestia e o recurso de aproximação, foi possível

localizar e explorar diversas galáxias, suas formas e principais estrelas. A Via Láctea

foi a galáxia mais solicitada, uma vez que nela está localizado nosso Sistema Solar,

com a possibilidade de “visitar” cada astro de sua constituição.

Com estes softwares, o acesso às constelações do Cruzeiro do Sul, Órion e

as Constelações do Zodíaco tornou-se algo fascinante para os alunos, permitindo-

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lhes visualizar as linhas, as imagens e os nomes das principais estrelas participantes

da constelação, através dos recursos oferecidos pelos programas. Apesar dos

questionamentos baseados em concepções alternativas sobre os diversos

fenômenos astronômicos, foi possível esclarecer os alunos e convencê-los a aceitar

novas concepções com bases científicas.

6. CONCLUSÃO

Durante a execução do projeto, oportunizou-se aos alunos a exposição de

suas ideias de modo a compartilhar conhecimentos e vivências, contribuindo para a

integração e aprendizagem de todos. Assim, foram se apropriando de novas formas

de se expressar com criatividade e maior independência no momento de expor suas

ideias. Não basta apenas a mera observação de fenômenos para que o aluno

construa conceitos e os relacione aos fatos reais. Neste caso, as atividades práticas

levaram os alunos a participar do processo de aprendizagem mais ativamente,

através do debate e da exposição de ideias, bem como desenvolver a compreensão

e assimilação dos conceitos astronômicos, desmistificando determinadas

concepções alternativas. Durante o processo de implementação, percebeu-se nos

alunos o desenvolvimento de habilidades e conhecimentos de maneira prazerosa e

divertida, através das atividades lúdicas praticadas.

Constatou-se, ainda, o interesse e a curiosidade dos alunos quando

assimilaram concepções aceitas pela comunidade científica acerca de fenômenos

astronômicos que, até então, eram interpretadas pelo senso comum ou erros

induzidos pelos livros didáticos. Pode-se afirmar com certeza que as novas

tecnologias, como computadores, são ferramentas importantes na prática

pedagógica do professor, possibilitando a utilização de simuladores gratuitos 3D,

constituindo-se num excelente instrumento motivador de novas aprendizagens em

astronomia, permitindo aos participantes da intervenção a construção coletiva de

conhecimentos sobre astronomia e um melhor rendimento na Olimpíada Brasileira

de Astronomia, Astronáutica e Energia.

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A observação do interesse dos alunos por participar de todas as ações

propostas e discutidas no decorrer deste trabalho, demonstra a importância dos

procedimentos didáticos pedagógicos utilizados na mediação do processo ensino

aprendizagem, na melhoria do relacionamento social, no trabalho em equipe, na

criatividade e na responsabilidade, a fim de formar um cidadão crítico, autônomo e

ético.

Espera-se que este trabalho possibilite aos professores melhorar sua prática

pedagógica sobre os conteúdos de astronomia, para que exerçam com segurança

suas atividades, adequando-as com metodologias que facilitem a aprendizagem.

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