55
O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009 Produção Didático-Pedagógica Versão Online ISBN 978-85-8015-053-7 Cadernos PDE VOLUME I I

DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009 - … · propostas” cuja finalidade é ajudar na compreensão dos conteúdos estudados. Procurou ... Trilha ”Colônia Cecília ... as bandeiras

Embed Size (px)

Citation preview

O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOSDA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE

2009

Produção Didático-Pedagógica

Versão Online ISBN 978-85-8015-053-7Cadernos PDE

VOLU

ME I

I

SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO

SUPERINTENDÊNCIA DA EDUCAÇÃO

PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL – PDE

MATERIAL DIDÁTICO PEDAGÓGICO

AS EXPERIÊNCIAS ANARQUISTAS NO BRASIL:

DA COLÔNIA CECÍLIA AO MOVIMENTO OPERÁRIO

PARANAVAÍ-PR

2009/2010

DADOS DE IDENTIFICAÇÃO

PROFESSORA PDE: Argentina Zorzato Matos

ÁREA: PDE: História NRE: Paranavaí-PR

PROFESSOR ORIENTADOR: Maurílio Rompatto

IES: FAFIPA (Faculdade Estadual de Educação Ciências e Letras de Paranavaí)

IES VINCULADA: UEM (Universidade Estadual de Maringá)

ESCOLA DE IMPLEMENTAÇÃO: Colégio Estadual Costa Monteiro-Ensino Regular

e Supletivo - Nova Esperança – PR

PÚBLICO OBJETO DE INTERVENÇÃO: 7ª Série

OBJETIVO GERAL

• Subsidiar a complementação das Diretrizes Curriculares para o Ensino de

História, percebendo as diferentes abordagens em torno do fato histórico, o

anarquismo e a Colônia Cecília, valorizando os temas que envolvam o estudo do

Paraná e do Brasil.

OBJETIVOS ESPECÍFICOS

• Identificar as idéias e os conceitos anarquistas como proposta de

transformação social;

• Conhecer a experiência anarquista Colônia Cecília a fim de valorizar a sua

importância para a Historiografia do Paraná;

• Analisar a Colônia Cecília como a prática da ideologia anarquista;

• Compreender as idéias anarquistas e a sua contribuição para a História dos

movimentos operários no Brasil.

METODOLOGIA

A implementação deste material será no Colégio Estadual Costa Monteiro de

Nova Esperança para os alunos da 7ª Série do Ensino Fundamental, cujo projeto

pedagógico será apresentado para a Direção e a Equipe Pedagógica da escola. O

encaminhamento desta proposta será desenvolvido em 32 horas/aulas considerando

o momento da preparação do material didático e a execução das idéias em sala de

aula.

Para o desenvolvimento e compreensão do título, o mesmo foi dividido em

unidades com textos informativos adaptados com conceitos, idéias e interpretação

do fato histórico. Buscou-se assim estimular os alunos com questionamentos, fotos,

documentos históricos e curiosidades sobre o tema promovendo a leitura, a análise

e a interpretação do texto.

As atividades estão sugeridas no final de cada unidade como “atividades

propostas” cuja finalidade é ajudar na compreensão dos conteúdos estudados.

Procurou-se diversificar as atividades considerando a autonomia aos alunos, na

realização das tarefas colaborando assim, para a sua aprendizagem.

Como proposta para a assimilação dos conteúdos apresentados foi elaborado

também alguns jogos educativos, uma forma lúdica de desenvolver a aprendizagem

nos quais temos primeiramente o Jogo da Memória ”Considerações sobre o

Anarquismo”, (apêndice A) com fotos e informações sobre a ideologia anarquista,

onde o aluno aprende a observar as imagens e as informações corretas. O Jogo da

Trilha ”Colônia Cecília” (apêndice B), o aluno terá que chegar até a região de

Palmeira no Estado do Paraná para se tornar o vencedor. No tabuleiro há relatos e

fotos sobre este episódio histórico, bem como, algumas fichas onde o jogador

deverá ler as informações contidas para o grupo. E por fim o Jogo da Trilha: “O

Movimento Operário”, (apêndice C) nesta mesma perspectiva, o vencedor será

aquele que alcançar primeiro a chegada. Neste tabuleiro há relatos e fotos sobre o

Movimento Operário no Brasil, as bandeiras representando os países envolvidos nos

movimentos operários anarquistas e as cartas contendo as informações sobre este

momento histórico. Cabe ressaltar que em cada jogo segue as instruções de como

jogar, bem como, as cartas para os Jogos da Trilha contendo as informações sobre

o tema estudado.

A execução deste material faz parte da proposta do projeto de Intervenção

Pedagógica do PDE elaborado pela professora Argentina Z. Matos, como material

de apoio para os professores de História. Se necessário, o professor poderá dividir

os textos em aulas, acrescentando novas atividades a seu critério observando e

conversando com os alunos sobre o projeto, enfatizando a sua importância como

saber histórico.

• Recursos: Textos impressos, projeção de slides, filmes, imagens históricas,

pesquisa no laboratório de Informática e Jogos educativos.

• Avaliação: A avaliação deve estar relacionada com os objetivos propostos como

um processo contínuo, observando a capacidade e o desenvolvimento do

educando como um todo.

Os textos e as atividades apresentadas neste material didático permitem ao

professor avaliar o aluno sob diferentes aspectos, respeitando o seu desempenho na

construção de idéias e conceitos históricos. É preciso associar o resultado da

avaliação com a aprendizagem do aluno.

Como uma prática contínua, a avaliação também implica em acompanhar o

processo de ensino-aprendizagem, auxiliando e reforçando a percepção dos

conteúdos históricos adquiridos pelos alunos.

SUMÁRIO 1 APRESENTAÇÃO..................................... .......................................................... 01 2 CONSIDERAÇÕES GERAIS SOBRE O ANARQUISMO.......... ......................... 03 2.1 Atividades Propostas........................... .......................................................... 06 3 A EXPERIÊNCIA ANARQUISTA: COLÔNIA CECÍLIA....... .............................. 09 3.1 Antecedentes................................... ................................................................ 09 3.2 Os Anarquistas no Paraná....................... ....................................................... 11 3.3 A Colônia Experimental Anarquista.............. ................................................. 13 3.4 Colônia Cecília: Um Sonho e uma Realidade...... .......................................... 16 3.5 Atividades Propostas........................... ........................................................... 20 4 O ANARQUISMO NO MOVIMENTO OPERÁRIO............... ................................ 23 4.1 A Imprensa Operária............................ ........................................................... 25 4.2 Os Congressos Operários........................ ...................................................... 27 4.3 As Greves Operárias............................ ........................................................... 29 4.4 Atividades Propostas........................... ........................................................... 32 5 REFERÊNCIAS................................................................................................... 34 APÊNDICES Apêndice A......................................... ................................................................... 37 Apêndice B......................................... ................................................................... 42

11 AAPPRREESSEENNTTAAÇÇÃÃOO

Este material consiste em uma Unidade Didática que servirá de apoio para os

professores e alunos da 7ª Série do Ensino Fundamental da Rede Pública Estadual

como suporte para as aulas de História. O desenvolvimento deste material tem por

base privilegiar o saber do aluno, a ação do professor em promover o conhecimento e

por fim a aprendizagem do conteúdo.

Uma das grandes metas tem sido elaborar uma proposta que contemple a

superação dos impasses na aprendizagem dos alunos. É preciso buscar alternativas

para que o conhecimento histórico seja realmente apreendido em sua totalidade.

Sob este ponto de vista, o papel dos professores neste momento é fundamental,

abrange uma dimensão que expressa, de forma plena, sua condição de educador

sendo necessário um novo olhar para o aluno.

As novas Diretrizes Curriculares apontam para esta mudança contribuindo para

que os professores possam efetivamente refletir sobre a sua prática pedagógica,

atendendo às necessidades dos alunos e promovendo assim a sua aprendizagem.

Algumas dificuldades encontradas pelos professores da rede pública estadual tem

sido a falta de material didático, como suporte para organização e realização de

sua prática de ensino em sala de aula.

Partindo deste princípio, este material didático visa apresentar os estudos

sobre as experiências anarquistas no Brasil durante o século XIX ao início do século

XX, como suporte para as aulas de História.

A participação dos anarquistas foi fundamental para a história brasileira tanto

na concretização da Colônia Cecília no Paraná, quanto na participação dos

movimentos operários do Brasil. A proposta é apresentar a ideologia anarquista

resgatando a sua historicidade, proporcionando uma reflexão e novos

conhecimentos que nos permitam entender este conteúdo histórico. A organização

deste material consiste em leituras, análise, pesquisa de documentos históricos em

arquivos públicos e visita a região de Palmeira. É importante que o aluno perceba a

existência dos ideais anarquistas como uma proposta libertária de sociedade dentro

do contexto histórico cujo resultado é a ação dos diferentes grupos naquele

momento. Tornar possível que o aluno conheça as idéias, noções e conceitos

próprios da ideologia anarquista e que permita sua compreensão.

01

As idéias e experiências libertárias foram amplamente divulgadas no início do

século no Brasil, através de jornais, panfletos, artigos, livros, organizados e

editados pelos próprios anarquistas. Sendo, portanto, esse material de divulgação e

seu conteúdo anarquista nosso objeto de pesquisa, estudo e intervenção didático-

pedagógica na escola.

No processo histórico pelo qual o Brasil estava passando as idéias anarquistas

vinham de encontro aos anseios dos indivíduos que não aceitavam as mudanças

sociais e ou políticas impostas pelo Estado em nome da “ordem e do progresso”

esses ideais promoveram discussões e reflexões para os trabalhadores.

Cabe a nós professores apontar a existência de diferentes pontos de vista, as

ações, o modo de pensar e agir, integrando como um sujeito histórico do seu

tempo. É importante que as noções e conceitos históricos sejam desenvolvidos

principalmente a partir da leitura de diversas fontes, permitindo que o aluno

consiga fazer uma análise da sociedade observando a ação humana nos mais

diferentes aspectos.

O anarquismo como um movimento libertário, quer seja na Colônia Cecília ou

entre os movimentos operários, nos permite estudar, observar e analisar a História

do Brasil sob um novo ponto de vista: o de luta contra as opressões em um

momento em que a sociedade brasileira se firmava como sociedade capitalista.

A necessidade de promover o conhecimento através deste episódio nos leva a

reflexão histórica, despertando o senso crítico em todos aqueles que acreditam que

o homem é um ser “livre” por natureza.

Buscar novos conceitos, através de fontes históricas nos permite uma nova

metodologia, refletindo sobre a importância da pesquisa no ensino de História.

02

2 CONSIDERAÇÕES GERAIS SOBRE O ANARQUISMO

Entender as idéias anarquistas

torna-se um desafio quando nos

deparamos com conceitos que sugerem

uma mudança de sociedade, sem Estado,

sem autoridade, sem religião cujo

princípio fundamental é a Liberdade.

O anarquismo aparece como uma

doutrina social contrária ao sistema

capitalista. Porém, ela se aproxima do

marxismo na medida em que ambos

contestam o capitalismo, a propriedade

privada e a exploração do trabalhador.

O tema Anarquismo provoca polêmica e quase sempre nos remete a idéia de

“anarquia ou desordem”, no entanto de maneira simples quer dizer apenas a

negação da autoridade. Para Caio Túlio Costa (1981) existem vários

“anarquismos”, mas é necessário entendê-los historicamente. A palavra vem do

grego anarchos que pode ser usada para definir “desordem na falta de um governo

ou quando não existe a necessidade dele” (COSTA, 1981, p.12).

Em um estudo mais recente, o professor Márcio Luiz Carreri (2008) contesta

afirmando que o termo originário tem dupla raiz grega, ou seja, archon

(governante) junto do prefixo an (não) anarquismo significa ser ou estar “SEM

GOVERNO”. O autor ainda define o anarquismo como “Liberalismo ou Socialismo

Libertário”, ressaltando a idéia de que há uma má interpretação do termo

encontrado nos dicionários de grande domínio público (IDEM, 2008, p.15).

As origens do pensamento anarquista já foram identificadas na Grécia

antiga, na Antiga China entre as seitas medievais. Porém o anarquismo moderno

começou durante as Revoluções Francesas e Americanas no século XVIII.

Figura 1 – Símbolo do Anarquismo Reprodução - Fonte: Arquivo – Museu de Palmeira

03

O anarquismo como ideologia surgiu no final do século XVIII, através dos

comentários de Willian Godwin (1756-1836) que não aceitava a autoridade do

Estado propagava a razão e o equilíbrio em busca de liberdade política sendo

possível apenas em sociedades comunitárias sem a propriedade privada.

No início do século XIX, os pressupostos

teóricos sobre a Liberdade tornaram-se típicos

da discussão anarquista. Dentre os principais

teóricos podemos citar: Pierre Proudhon (1809-

1865) que assumiu ser um anarquista, quando

escreveu o livro “A propriedade é um roubo”,

onde ataca os proprietários acusando-os de

ladrões, considerando-os culpados pela

desigualdade social. Para o autor, a

propriedade considerada um “direito civil”, por

aqueles que a ocuparam e regularizada por lei,

é um roubo, pois exclui o trabalho dos

indivíduos que não a possui. Proudhon definia o

anarquismo da seguinte forma:

Anarquia, ausência do senhor, de soberano, tal é a forma de governo que nos aproximamos todos os dias e que o hábito inveterado de tomar o homem por regra e sua vontade por lei nos faz olhar como o cúmulo da desordem e a expressão do caos. (PROUDON, 1997, p. 29).

Como todo anarquista Proudhon pregava a destruição do Estado e defendia a

liberdade como um direito de igualdade social. Acreditava em uma sociedade sem

classes, sem exploração, de homens livres e iguais.

As idéias anarquistas inspiraram nos adeptos: Mikhail Bakunin (1814 – 1876),

Max Stiner (1806 – 1856), Eurico Malatesta (1853 – 1932), Peter Kropotkin (1842 –

1921), Leon Tolstoi (1823 – 1910), Emma Godman (1869 – 1940), dentre outros.

O teórico russo Mikhail Bakunin foi o precursor dos movimentos anarquistas

por toda a Europa. Considerado um revolucionário anarquista, Bakunin apontava a

violência como à única maneira de se alcançar a uma sociedade sem Estado e sem

desigualdades.

O movimento anarquista em suas teorias defende que o homem deve viver

sem Estado, a partir de uma ação comunitária, isto é, por meio da cooperação,

assim seriam capazes de produzir e distribuir a riqueza de acordo com as suas

necessidade, sem precisar de nenhuma intervenção do Estado.

Figura 2 - Pierre Joseph Proudhon (1809-1865) Fonte: Wikipédia - Domínio Público

01/proudhon1.jpg

04

Os anarquistas acreditam que o homem possui por natureza todos os atributos

necessários para viver em sociedade. A imposição de leis criadas pelo Estado é

vista como autoridade e concentração de poder. Assim, o Estado deve ser

combatido, pois não permite o homem se desenvolva plenamente na sociedade.

A propriedade e autoridade são os responsáveis pela desigualdade social. A

propriedade privada permite que uma pessoa que possua terras retenha a

autoridade que sobrepõe aos indivíduos que não possuem terra.

Nesta perspectiva, o anarquismo critica a sociedade de classes repudiando a

qualquer autoridade, seja política, econômica, militar, religiosa, etc. Sugere uma

sociedade coletiva, com o trabalho organizado por todos, cuja produção é dividida

igualmente, evitando com isso a miséria e a divisão social.

AALLGGUUNNSS

PPEENNSSAAMMEENNTTOOSS

AANNAARRQQUUIISSTTAASS......

“Os grandes só parecem grandes porque estamos ajoelhados”

(Joseph Proudhon)

“Quem quer, não a liberdade, mas o Estado, não deve brincar de Revolução.

(Mikail Bakunin)

“… Anarquia, este sonho de justiça e de amor entre os homens…”

(Errico Malatesta)

“Aquele que botar as mãos sobre mim, para me governar, é um usurpador, um

tirano. Eu o declaro meu inimigo” (Pierre-Joseph Proudhon)

“Anarquista é, por definição, aquele que não quer ser oprimido, nem deseja

ser opressor; é aquele que deseja o máximo bem-estar, a máxima liberdade,

o máximo desenvolvimento possível para todos os seres humanos.”

(Errico Malatesta)

Fonte: Clip-art do Microsoft Word

05

22..11 AATTIIVVIIDDAADDEESS PPRROOPPOOSSTTAASS

1) Escolha dois teóricos anarquistas mencionados no texto e faça uma pesquisa em livros ou na internet sobre o conceito de anarquismo defendido por cada um deles.

2)2)2)2) CCAAÇÇAA--PPAALLAAVVRRAASS: Encontre o nome de 5 teóricos anarquistas.

XX AA PP CC OO BB LL BB ZZ II RR KK NN AA TT II GG RR OO NN LL KK SS OO TT AA UU EE II UU MM TT GG OO DD MM AA NN AA SS NN UU HH SS TT II EE LL PP SS OO II OO NN II OO RR EE NN II TT SS OO TT

3) 3) 3) 3) Responda:

A) Que idéias são defendidas por Caio Túlio costa e Márcio Carreri sobre a origem da palavra Anarquismo?

____________________________________________________________

____________________________________________________________

____________________________________________________________

B) Quando surgiu o Anarquismo Moderno? ___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

C) Que teórico assumiu ser um anarquista por contestar o Estado e a propriedade privada?

___________________________________________________________________

D) Que ideais anarquistas eram defendidos por Proudhon?

____________________________________________________________________________

06

OOBBSSEERRVVEE OOSS TTEEXXTTOOSS AABBAAIIXXOO::

PPAARRAA OO HHIISSTTOORRIIAADDOORR EERRIICC HHOOBBSSBBAAWWNN,, AASS IIDDÉÉIIAASS AANNAARRQQUUIISSTTAASS PPRROOVVOOCCAAMM

CCUURRIIOOSSIIDDAADDEE AATTÉÉ HHOOJJEE,, AAPPEESSAARR DDEE NNÃÃOO TTEERR OOBBTTIIDDOO MMUUIITTOO ÊÊXXIITTOO EENNTTRREE OOSS

IINNTTEELLEECCTTUUAAIISS FFOORRMMAADDOORREESS DDEE OOPPIINNIIÃÃOO::

TTEEXXTTOO NNºº 11

JJÁÁ GGEEOORRGGEE WWOOOODDCCOOKK ((11991122--11999955)) OO AANNAARRQQUUIISSMMOO FFOOII UUMM MMOOVVIIMMEENNTTOO DDEE

PPRROOTTEESSTTOO,, DDEE RREEVVOOLLTTAA ÀÀ SSOOCCIIEEDDAADDEE VVIIGGEENNTTEE,, CCUUJJOOSS PPRRIINNCCÍÍPPIIOOSS MMAATTEERRIIAALLIISSTTAASS

SSUUBBMMEETTEEMM OO IINNDDIIVVÍÍDDUUOO AA AAUUTTOORRIIDDAADDEE DDOO EESSTTAADDOO::

TTEEXXTTOO NNºº 22

“Deve ficar claro que, em minha opinião, o anarquismo não tem qualquer

contribuição significativa a fazer à teoria socialista... Para ser mais preciso

se os anarquistas desejam contribuir de forma significativa terão que

desenvolver uma reflexão mais séria do que a maioria deles desenvolveu até

recentemente”. (HOBSBAWN, 2003, p. 96).

“A crítica implacável ao presente sempre foi a grande força dos anarquistas.

Foram seus anseios em relação ao passado e ao futuro que os enfraqueceram

como um movimento, pois buscavam seu apoio principalmente naquelas classes

sociais que não se afinavam com a tendência histórica dominante.” (...)

(WOODCOK, 2006, p.258).

Fonte: Clip-art do Microsoft Word

07

AAPPÓÓSS AA LLEEIITTUURRAA DDOOSS TTEEXXTTOOSS,, EESSCCRREEVVAA::

A) Quem são os autores mencionados nos textos? Que autor é a favor do

Anarquismo e que autor é contra?

____________________________________________________________

____________________________________________________________

____________________________________________________________

B) Segundo Eric Hobsbawn, o que é preciso para que as idéias anarquistas sejam

concretizadas na sociedade?

____________________________________________________________

____________________________________________________________

C) Que grupo social não se afinava como tendência histórica dominante, segundo

George Woodcok?

____________________________________________________________

____________________________________________________________

D) Em sua opinião, é possível praticar as idéias anarquistas em uma sociedade de

ideais capitalistas?

__________________________________________________________________________________________

__________________________________________________________________________________________

__________________________________________________________________________________________

EEMM GGRRUUPPOO,, PPAARRTTIICCIIPPEE DDOO JJOOGGOO DDAA MMEEMMÓÓRRIIAA ((AAPPÊÊNNDDIICCEE AA))..

Fonte: Clip-art do Microsoft Word

08

33 AA EEXXPPEERRIIÊÊNNCCIIAA AANNAARRQQUUIISSTTAA:: CCOOLLÔÔNNIIAA CCEECCÍÍLLIIAA

33..11 AAnntteecceeddeenntteess

No Brasil, os anarquistas fizeram história sendo suas idéias divulgadas e

defendidas pelos imigrantes, principalmente, os italianos. A imigração européia foi

uma solução alternativa para problema da escassez da mão-de-obra escrava. Muito

antes da independência já começava por iniciativa e financiamento do governo

imperial, a organização de grupos de povoamento com a finalidade de “povoar” o

território brasileiro definidas como colônias.

Essas colônias fracassaram, devido a sua precariedade, pois não tinham

condições de produzir para exportação sem transportes para escoamento de seus

produtos.

No início, a maior parte das imigrações tinha como objetivo ocupar as

regiões pouco povoadas. Só por volta de 1840 é que a imigração assumiu um

caráter econômico como mão-de-obra assalariada.

A imigração européia tornou-se uma

opção para a lavoura de café, organizada em

grandes plantações e voltadas para o mercado

externo. Portanto, era comum a chegada de

imigrantes na colônia, bem como, a vinda de

um inusitado grupo de italianos, liderado por

Giovanni Rossi para formar uma colônia

experimental no Paraná.

O pensamento anarquista tornou-se a

aspiração de muitos que sonhavam com a

liberdade de expressão. A contribuição desses

anarquistas deparando com preconceitos, nos

revela até que ponto à ideologia de uma teoria

pode ser colocado em prática.

Figura 3 - Giovanni Rossi, depois da experiência da Colônia Cecília Fonte: Acervo Fotográfico Livro Cândido de Mello Neto – Museu de Palmeira

09

Rossi já havia tentado colocar o seu

projeto em prática na Itália na aldeia se

Stagno Lombardo, em propriedade

chamada Cittadella que durou 2 anos.

A decepção fez com que Rossi desejasse

ir para as terras de “Novo Mundo”. Suas

experiências foram descritas em um

romance chamado “Un Comune Socialista”

escrito em 1891.

A Colônia Cecília no Paraná nos mostra a tentativa do engenheiro agrônomo

Giovanni Rossi e seus companheiros de realizar uma experiência anarquista

baseados nos princípios de liberdade.

Giovanni Rossi (1856-1943), anarquista convicto de seus ideais, desde jovem

queria criar uma comunidade livre. Escritor de vários jornais italianos, sempre

publicava em seus artigos os projetos de uma comunidade experimental. Rossi

acreditava que poderia colocar em prática suas ideologias libertárias concretizando

as propostas anarquistas, observando a sua eficácia no propósito de transformação

social.

Agnaldo Kupper (1993), em seu livro descreve Rossi com as seguintes

palavras. “Anarquista fervoroso tinha duas idéias fortes: acreditava na capacidade

do homem para autogovernar-se dispensando a tutela de um Estado e no trabalho

como fonte de realização humana” (KUPPER, 1993, p. 08).

Rossi era, portanto um anarquista ativista que acreditava em seus ideais de

liberdade. Assinava seus discursos, cartas e anotações com o pseudônimo de

“Cárdias”. Sua proposta era um projeto de “socialismo experimental” o que

provocou muitas críticas, inclusive de anarquistas e socialistas que consideravam

utópico este pensamento, pois acreditavam em uma Revolução Social capaz de

transformar a sociedade.

Figura 04 – Capa do livro “Un Comune Socialista” Reprodução - Fonte: Acervo Fotográfico Livro Cândido de Mello Neto – “O Anarquismo Experimental de Giovanni Rossi” – Museu de Palmeira

CCUURRIIOOSSIIDDAADDEE......

10

33..22 OOss AAnnaarrqquuiissttaass nnoo PPaarraannáá

A questão que envolve a doação de terras feita pelo Imperador D. Pedro II é

apresentada sob diferentes pontos de vista.

Para Edgar Rodrigues,

o imperador sentia-se

“envergonhado” com o fracasso

dos imigrantes em terras

brasileiras, as injustiças praticadas

pelos seus conselheiros fazia-o

adoecer. O Imperador era um

homem liberal, amigo da ciência

que aceita a idéia de uma colônia

experimental: Desta maneira, “D.

Pedro II, convidava o Anarquismo,

na pessoa de Rossi, a implantar-se

livremente no Brasil” (RODRIGUES,

1984, p. 23).

Porém, para o escritor e historiador Newton Stadler de Souza (1970), é

preciso ter cautela, pois não há documentos históricos que justificam a atitude do

imperador, apenas hipóteses que podem ser contestadas a qualquer momento. O

autor ainda sustenta que a idéia mais provável foi à tentativa do Imperador em

salvar a política imigratória que devido a tantos insucessos poderia afetar a

imagem do país. Desta maneira, com cautela, D. Pedro II tentava provar o contrário

até mesmo para um grupo de anarquistas, pois de acordo com o autor: 1º) que o

nosso País tinha condições para efetuar politicamente imigratória idônea; 2º)

agradaria ao governo italiano e seria fator de êxito para nossa diplomacia (SOUZA,

1970, p.11).

Já o autor Cândido Mello Neto (1998) contesta até mesmo a doação de terras

feita pelo Imperador. Segundo ele não há nenhuma referência ou menção nos

escritos do anarquista Rossi, ou seja, não há registros históricos. Através de uma

análise documental o autor buscou esclarecer este fato concluindo que são apenas

hipóteses divulgadas entre os populares, sem nenhuma veracidade:

Figura 05 – Integrantes da Colônia Cecília Fonte: Arquivo/Museu Histórico de Palmeira

11

“O local que abrigou a Colônia Cecília não foi predeterminado. Em Curitiba, a Inspetoria de Terras e Colonização procurada pelos pioneiros, deu-lhes a conhecer os vários locais destinados à colonização (...) O terreno não foi doado. A área foi escolhida por Rossi e Benedetti, após alguns dias de exploração e adquirida ao preço de L 15 (quinze libras) por hectare, pagável em prestações”. (NETO, 1998, p.106).

Assim, em abril de 1890 foi

criada a Colônia Cecília, em

Palmeira no Paraná. A experiência

anarquista era vista como uma nova

forma de organizar as relações

sociais e amorosas, provocando

interesses em várias pessoas

simpatizantes do anarquismo por ser

a única. Para Rossi era uma maneira

de colocar em prática as idéias

anarquistas de uma sociedade

comunitária, daí a necessidade de

trazer mais famílias italianas para a

colônia e através de propagandas,

cartas arregimentaram várias

famílias.

O grupo de cinco idealistas embarcou no navio “Cittá di Roma”, no porto de

Gênova em 20 de fevereiro de 1890. Após uma cansativa viagem chegaram ao Rio

de Janeiro, onde foram instalados em uma hospedaria para imigrantes. Depois de

alguns dias, foram embarcados em um navio a vapor chamados “Desterro” em

direção ao Sul do país, passando pelo porto de Santos e depois em Paranaguá.

De acordo com o autor Cândido Mello Neto, o anarquista Rossi afirma em

seus escritos que o destino do grupo era Porto Alegre e que o desembarque em

Paranaguá aconteceu em razão de dois integrantes terem ficado doentes (NETO,

1998,114).

Em Paranaguá ficaram poucos dias na hospedaria dos imigrantes e seguem

para Curitiba onde se dirigem à Inspetoria de Terras e Colonização, órgão

encarregado de ajudar a escolher o local para a colonização. Giovanni Rossi

percorreu várias regiões, mas, em Palmeira encontrou-se com o médico local Dr.

Grillo que o ajudou a concretizar naquela região uma colônia experimental

Figura 06 - Família Agottani – Imigrantes Italianos Fonte: Arquivo/Museu Histórico de Palmeira

12

anarquista. O regime imperial no Brasil havia sido derrubado a 15 de novembro de

1889. D. Pedro II fora deposto e a República fora proclamada.

33..33 AA CCoollôônniiaa EExxppeerriimmeennttaall AAnnaarrqquuiissttaa

Sem muitos recursos

financeiros, nascia uma colônia

experimental idealizada por Giovanni

Rossi. Segundo Newton Stadler

(1970), a área destinada para

colonização não era demarcada, Rossi

não possuía nenhum documento, e

não houve nenhuma preocupação

jurídica por parte do anarquista em

medir o domínio da propriedade. Nela

simplesmente viveria com seus

companheiros.

Em 1891, chegaram várias famílias e a colônia atingiu 150 pessoas, com o

crescimento da população aumentaram também os problemas na Colônia. Muitos

anarquistas não entendiam de agricultura, todavia esta se tornou a principal base

econômica, sendo o milho o principal produto.

A chegada em novembro de 1892 do casal Éleda e Aníbal coloca em prova as

idéias anarquistas sobre o amor livre. Rossi afirma em seu depoimento que

conheceu Éleda durante a apresentação de seus discursos, descrevendo-a como

uma mulher simples, sofrida, frágil, ao mesmo tempo a exulta por sua

inteligência, bondade, e caráter. Torna-se evidente que esta admiração fez com

que ele se apaixonasse. Rossi assim relata: “... aí nasceu em uma simpatia, um

afeto delicado e atento cresceu em mim, que não era outro que o amanhecer do

amor.” (ROSSI, n/d, p. 41).

A concepção de amor livre de acordo com os relatos sempre fora bastante

discutida dentro e fora da colônia. Na colônia era vista como uma liberdade de

amar, sem a imposição de um casamento, onde uma pessoa é presa à outra sem ter

opção de escolha, sem amor.

Figura 07 – Arnaldo Agotanni e Cremene Artuzi com os filhos Luiz e Ivone Fonte: Acervo Fotográfico Livro Cândido de Mello Neto – Museu Histórico de Palmeira

13

Nos arredores estas idéias

confrontavam com os valores impostos pelas

ordens religiosas, sendo motivo de boatos e

má interpretação deste propósito. Os

autores analisados, contudo acreditam que o

amor livre defendido pelos anarquistas na

colônia era entendido como a liberdade de

escolher alguém para amar, sem os arranjos

familiares. Giovanni Rossi reconhece que o

assunto era polêmico até mesmo entre os

próprios membros da colônia, pois havia

muito preconceito sendo difícil rompê-los

imediatamente, a união do casal só ocorreu

após o consentimento de Aníbal, onde os

colonos entenderam.

Ao longo de sua existência, a colônia passou por várias dificuldades, no

entanto, a cobrança de impostos sobre a terra tornou a vida desses colonos mais

difícil. Neste período, o Brasil passava por transformações importantíssimas em sua

organização social, política e econômica. A população brasileira constituída em

grande parte por imigrantes tornou-se alvo de novas transformações.

Para Edgar Rodrigues, os republicanos formam os inimigos da experiência

anarquista. A instalação da República no Brasil, deixa nos evidente que não só

mudou a forma de governo (RODRIGUES, 1984, p. 33). Segundo Agnaldo Kupper,

também “fortaleceu” duas forças distintas: “o Exército e os fazendeiros” (KUPPER,

1993, p.24).

O Paraná, durante o governo imperial,

por ser pouco habitado foi favorecido na

implantação da política imigratória, com

diversos núcleos formados por imigrantes

espalhados por toda a província. Porém, em

31 de março de 1890, através do decreto 58,

atribuído pelo então governador Américo

Lobo Leite Pereira, os colonos passaram a

ser devedores do Estado do Paraná.

A cobrança dos impostos sobre

a exploração de terras chegou à Colônia

Figura 08 – Cartaz do filme “La Cecilia” Reprodução - Fonte: Arquivo/Museu Histórico de Palmeira

Figura 09 – Cartaz de Peça Teatral “Colônia Cecília: Um pouco de ideal e de polenta” Reprodução - Fonte: Arquivo/Museu Histórico de Palmeira

14

Cecília, causando impacto entre os migrantes, afinal, seus princípios estavam

desvinculados à riqueza. A produção conseguida pela colônia não era suficiente

para a manutenção da mesma e ainda saldar a dívida da terra. Convocados em

Assembléia, e embora contrariados, os colonos votaram pelo pagamento da dívida

com o dinheiro da colheita do milho. Edgar Rodrigues ressalta que muitos foram

procurar emprego em outros lugares.

Contrariando todas as adversidades, os anarquistas trabalhavam dentro e fora da Colônia para salvar a experiência. Muitos saíram trabalhando na abertura de estradas, rasgando florestas (...) na esperança de, com o dinheiro ganho, pagar os impostos... (RODRIGUES, 1984, p. 29).

A comunidade libertária

tentava sobreviver com

dificuldades, entretanto, outros

episódios serviram para abalar

seriamente a sua existência.

O primeiro foi quando a

Colônia abrigou uma pessoa

desonesta que ganhou a confiança

do grupo pelo seu temperamento

alegre e extrovertido. Responsável

pelas compras e vendas de

mercadorias, quando toda a

produção de milho fora

transportada, essa pessoa sumiu

com todo o dinheiro da colheita

destinada para saldar as dívidas do

Estado.

Alguns colonos viam no furto a destruição de seus ideais de liberdade e

confiança, não se acusavam, mas passaram a refletir sobre aquela situação. Crescia

o desinteresse em começar de novo, assim, alguns partiram em busca de trabalho

em outro lugar. A aceitação deste homem, sem indagações sobre o seu passado,

serviu para reforçar o despreparo desses colonos perante a sociedade que estava se

formando e a experiência que idealizaram.

Um outro fato que merece ser ressaltado foi a Revolução Federalista

que vinha ocorrendo no sul do país, colocando sem querer a Colônia Cecília neste

Figura 10 – Família Agottani Fonte: Arquivo/Museu Histórico de Palmeira

15

conflito. Por ocasião da fuga de Emilio Sigwalt (líder maragato que opunha ao

legalismo em Curitiba), aconselhado pelos amigos, foi buscar refúgio nas colônias

de imigrantes. O visitante passou pela Colônia Cecília.

Quando as tropas do

Exército estiveram na

Colônia para procurá-lo,

tiveram apenas o silêncio

dos anarquistas. Como não

conseguiram informações,

os soldados partiram para a

represália, inutilizaram o

moinho de fubá, destruíram

a plantação de milho, as

casas e equipamentos

agrícolas.

Alguns autores são unânimes ao afirmar que até então, os colonos não

haviam tomado nenhuma posição política frente a esta “revolução”, contudo a

ação violenta fez com que os sentimentos de indignação e de revolta viessem à

tona. Muitos anarquistas se alistaram no Batalhão Ítalo-brasileiro, criado em

Curitiba contra as tropas federais. Agnaldo Kupper destaca: “A brutalidade

provocou tanto ódio que um grupo de colonos engajou-se na luta contra Floriano

Peixoto, não por ideologia, mas por pura paixão...” (KUPPER, 1993, p. 28).

A Revolução Federalista contribuiu ainda mais para o desencanto da

experiência anarquista, havia uma contradição nos ideais que acreditavam e a

realidade que vivenciavam. Edgar Rodrigues faz uma análise dos fatos, que na sua

opinião foram os inimigos invisíveis que contribuíram para que a colônia deixasse

de existir.

Em março de 1894, a Colônia Cecília deixava de existir. Acabaram praticamente ao mesmo tempo: a revolução, que serviu de pretexto para a soldadesca da “República” investir contra a Colônia Cecília e a comunidade que, premida pelos seus inimigos, em absoluta impossibilidade de manter-se de pé, deixara de existir (RODRIGUES, 1984, p. 52).

33..44 CCoollôônniiaa CCeeccíílliiaa:: UUmm SSoonnhhoo ee uummaa RReeaalliiddaaddee

Aos poucos, os membros da comunidade foram partindo em busca de novos

rumos. A Colônia Cecília se desorganizava. Em 1894, restava pouca gente e muitas

Figura 11 – Inauguração da casa Família Mezzadri - Canta Galo Fonte: Arquivo/Museu Histórico de Palmeira

16

casas vazias. Nesse mesmo ano, Rossi, partiu com sua mulher para o Rio Grande do

Sul e depois para Santa Catarina levava consigo uma enxada como lembrança dessa

experiência.

Em Taquari, no Rio Grande do Sul, Rossi trabalhou como agrônomo. Neste

período, nasceram suas filhas, Hebe em 1895 e Pierina em 1897. Para Afonso

Schmidt, era um novo personagem que agora despontava.

Cárdias, o filósofo, o sonhador, o poeta, o pioneiro da Colônia Cecília, morre. Em seu lugar fica o Dr. Giovanni Rossi, agrônomo, escrito, pai de família, uma das personalidades estrangeiras mais interessantes do Brasil, dos fins do século passado (SCHMIDT, 1980, p. 103).

Após viver 15 anos no Brasil, cheio de sonhos e idealismo, Giovanni Rossi,

retorna para a Itália em 1904, onde passa a dirigir um jornal relatando sua

experiência em terras brasileiras.

Com a dissolução da

colônia, alguns colonos passaram

a produzir para simples

sobrevivência. Outros foram à

procura de áreas onde as

atividades econômicas

estivessem em expansão,

dirigiram para as regiões

afastadas da Colônia, Seguiram

para o Rio Grande do Sul, Santa

Catarina, São Paulo ou nas

regiões próximas à Curitiba.

Há relatos que muitos se tornaram operários participando ativamente das

organizações sindicais. Partindo deste princípio, a frase de Edgar Rodrigues vem de

encontro ao dizer que: “nascia pela mão dos anarquistas, um novo operário, mais

consciente de seus direitos e de seus deveres.” (RODRIGUES, 1984, p. 58).

O término dessa experiência é apresentado pelos autores que por sua vez, se

negam a usar a palavra fracasso no sentido de ruína ou falta de êxito. Há um

consenso sobre a importância desta experiência anarquista.

A determinação de Giovanni Rossi, tendo com base o idealismo anarquista

confrontou como controle de um Estado autoritário cuja finalidade naquele

momento, era manter a ordem em nome do progresso. Chega-se assim, a

conclusão de Newton Stadler de Souza:

Figura 12 - Integrantes da Colônia Cecília Fonte: Acervo Fotográfico Livro Cândido de Mello Neto – Museu Histórico de Palmeira

17

A Colônia Cecília, não foi um fracasso. Se, materialmente, não atingiu todos os escalões que se exigem de um aglomerado social, serviu pela ação doutrinária e pelo trabalho arregimentador de seus membros, para afirmar valores de cultura (...) Seu desaparecimento ajudou outras comunidades, outros homens de diversas comunidades, a afirmarem valores de civilização (SOUZA, 1970, p. 183).

Faz necessário

acrescentar que até

mesmo Giovanni

Rossi aborda este

assunto em uma

carta que escreveu

para um amigo

na Suíça. Rossi

justifica que foi

preciso um tempo

para analisar e até

mesmo compreender

as causas que

levaram a dissolução

da Colônia. Para Rossi, este fracasso não está vinculado à ideologia anarquista ou

comunista. Seus ideais anarquistas continuam ainda presentes como conceito de

sociedade ideal. “Desapareceu porque foi pobre, e foi pobre porque principiou

com pouquíssimos recursos, com pessoas incapazes para os trabalhos agrícolas e

porque se encontrava isolada do mundo, que lhe era economicamente estrangeiro”

(ROSSI, s/d, p. 86).

Rossi completa seu pensamento ao afirmar que todos eram livres na Colônia,

mas a falta de bens e recursos materiais incomodava aqueles que estavam

acostumados com o conforto que a sociedade capitalista proporciona. O anarquista

não culpa outros fatores como causas importantes para a dissolução da Colônia,

pois considera que alguns acontecimentos só contribuíram para fazê-lo

compreender que todos os homens possuem um lado bom, razoável; e um outro

mal, insensato. Admite que a sua experiência entrará para a História e considera

que “se o mundo inteiro tivesse convertido em ceciliano, sustento que ainda

subsistiria”. (Ibidem, p. 87).

Figura 13 – Túmulo da Família Rossi, em Pisa -Itália. Fonte: Acervo Fotográfico Livro Cândido de Mello Neto – Museu Histórico de Palmeira

18

O Município de Palmeira está localizado na região dos Campos Gerais, teve a sua origem no século XVII através do “Caminho das Tropas” que ligava a cidade de Vacaria no Rio Grande do Sul às feiras de gado na região de Sorocaba. Em

1878 pro incentivo do governo imperial começaram a chegar à região os imigrantes poloneses, italianos, alemães, russos, sírios - libaneses e japoneses.

A História ainda é preservada nos casarões da época e nas colônias dos descendentes de imigrantes.

O local onde se situava a Colônia

Cecília ficava num bosque próximo a

Santa Bárbara, a 18 quilômetros ao

sul no Município de Palmeira, hoje é

uma propriedade rural particular de

um descendente da 2ª geração dos

anarquistas que reside em Curitiba.

Existem ainda em Santa

Bárbara apenas três famílias

descendentes dos

anarquistas: a Família Artusi,

os Mezzadri e os Agottani.

Como uma forma de preservar a memória histórica da Colônia Cecília foi aprovada uma Lei Municipal nº 2.737 de 01/07/2008 que institui dia

comemorativo à fundação da Colônia Cecília para comemorar a vinda dos anarquistas italianos. A “Semana da Colônia Cecília” acontece sempre em abril, em comemoração a data da chegada dos primeiros imigrantes juntamente com

Giovanni Rossi (01 de abril de 1890). Os eventos comemorativos há esta semana conta com o apoio do Município de Palmeira e do Departamento da

Cultura através do Museu Municipal.

Fonte: Clip-art do Microsoft Word

RREEFFLLEEXXÕÕEESS SSOOBBRREE

AA CCOOLLÔÔNNIIAA CCEECCÍÍLLIIAA

Figura 14 – Museu Histórico de Palmeira Fonte: Acervo Pessoal

Figura 15 – Praça da cidade de Pa lmeira Fonte: Acervo Pessoal

19

OOBBSSEERRVVEE AASS IIMMAAGGEENNSS AABBAAIIXXOO::

Figura 16 – Região onde se localizava a colônia Cecília Fonte: Arquivo/Museu Histórico de Palmeira

Figura 17: Resquícios da atual colônia Cecília – Poço de Água Fonte: Arquivo/Museu Histórico de Palmeira / Foto: Vera Mayer

Que fato histórico estas imagens representam? Que informações você pode concluir com estas imagens? (semelhanças e diferenças) Que situação ela mostra? Quando estas imagens teriam sido produzidas?

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

33..55 AATTIIVVIIDDAADDEESS PPRROOPPOOSSTTAASS

20

�� AApprreesseennttaaççããoo ddoo ffiillmmee ((ddooccuummeennttáárriioo)):: ““UUnn'' UUttooppiiaa ddii nnoommee CCeeccíílliiaa””,,

ddiirreeççããoo AAddrriiaannoo ZZeeccccaa ((22000088)),, qquuee ppooddee sseerr eennccoonnttrraaddoo nnoo sseegguuiinnttee lliinnkk::

hhttttpp::////wwwwww..yyoouuttuubbee..ccoomm//wwaattcchh??vv==FFBBQQ00__mmhhNNFF44ww

1) Preencha os quadros abaixo com as seguintes informações:

a) Navio que trouxe os anarquistas italianos para o Brasil e o ano da sua chegada.

b) Nacionalidade dos imigrantes anarquistas.

c) Anarquista que fundou a comunidade experimental e seu pseudônimo.

d) Colônia formada por anarquistas italianos no Paraná.

e) Região onde foi realizada a experiência anarquista.

2) Segundo Rossi, a concepção de “amor livre” está na liberdade de amar alguém,

sem imposições. Copie do texto o comentário do filósofo sobre o amor livre.

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

__________________________________________________________________

3) Que problemas você percebeu no texto que serviram para abalar seriamente o

desenvolvimento da Colônia.

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

21

4) Para o autor Edgar Rodrigues quais foram os “inimigos invisíveis” que

contribuíram para o fim da Colônia?

___________________________________________________________________

5) Faça uma análise sobre como Rossi apresenta o término da Colônia Cecília.

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

Fonte: Clip-art do Microsoft Word.

6) Analise as seguintes questões e responda para a sala:

a) A Colônia Cecília foi um sonho ou uma realidade?

____________________________________________________________

____________________________________________________________

____________________________________________________________

b) Seria possível manter os ideais anarquistas em uma sociedade capitalista?

Justifique sua resposta.

____________________________________________________________

____________________________________________________________

____________________________________________________________

EEMM GGRRUUPPOO,, PPAARRTTIICCIIPPEE DDOO JJOOGGOO TTRRIILLHHAA::

CCOOLLÔÔNNIIAA CCEECCÍÍLLIIAA ((AAPPÊÊNNDDIICCEE BB))..

UUSSEE AA SSUUAA IIMMAAGGIINNAAÇÇÃÃOO::

EEssccoollhhaa uummaa ppaarrttee ddoo tteexxttoo

““AA eexxppeerriiêênncciiaa aannaarrqquuiissttaa:: CCoollôônniiaa CCeeccíílliiaa””,, ee eellaabboorree

uumm ddeesseennhhoo qquuee rreettrraattee oo mmoommeennttoo hhiissttóórriiccoo eessccoollhhiiddoo..

22

44 OO AANNAARRQQUUIISSMMOO NNOO MMOOVVIIMMEENNTTOO OOPPEERRÁÁRRIIOO

No Brasil Império, a

pequena classe de operários

que se formava reivindicava

seus direitos através de

Ligas que contavam com o

apoio de alguns jornais.

Após a Proclamação da

República é que os

movimentos operários

começaram a ter destaque

sendo representado pelo

Partido Socialista Brasileiro

e algumas organizações

operárias.

O anarquismo no Brasil tornou-se mais forte do que o socialismo sendo

influenciado pelas idéias de Bakunin, ganhando adeptos entre os imigrantes que se

tornaram operários no início da industrialização.

Os sindicatos oficiais no Brasil só começaram em 1907, mas antes, do final

do século XIX ao início do século XX, ou seja, até 1906, as lideranças operárias

eram constituídas em sua maioria por anarquistas. De acordo com Edgard Carone

(1984), o movimento operário brasileiro se apresenta como um “modelo

empacotado” do movimento europeu, com influência de várias ideologias, mas

precisamente dos anarquistas que por suas idéias de contrárias a concentração do

poder, fez com que a classe dominante européia e depois a brasileira, se voltasse

contra elas (CARONE, 1984, p. 05). Muitos imigrantes já haviam participado das

Os imigrantes vieram para o Brasil, incentivados pelo Governo Imperial, para trabalhar nas lavouras de café. Os europeus viam no país uma oportunidade de melhorar de vida. Porém,diante da realidade e da

dificuldade que encontraram em terras estrangeiras, muitos resolveram ir embora, outros, perseverantes acabaram instalando nas cidades e se

tornaram operários no início da industrialização brasileira.

Figura 18 - Memorial do Imigrante Fonte: Acervo Pessoal

23

lutas sindicais, reforçando a idéia de que algumas reivindicações trabalhistas no

Brasil já estavam engajadas nas lutas dos operários europeus (VALLADARES, 2000,

p. 38).

Para os autores Carone e

Valladares, é inegável que havia uma

diferença entre a forma de

organização do movimento operário

europeu comparado com o operário

brasileiro. Esta diferença pode ser

explicada na origem do proletário

brasileiro, que constituídos em sua

maioria de imigrantes para trabalhar

nas lavouras de café e encontraram um país passando por transformações políticas,

sociais e econômicas com poucos incentivos à industrialização.

É preciso considerar algumas particularidades brasileiras, principalmente no

desenvolvimento desigual das regiões, sendo as fábricas concentradas em São

Paulo, Rio de janeiro e na região sul; tornava difícil mobilizar os todos

trabalhadores “os estados mais adiantados lideram o processo e servem de modelos

aos de progresso mais lento.” (CARONE, 1984, p. 09).

As idéias anarquistas praticadas no

Brasil durante o século XIX e no princípio

do século XX apresentavam divididas em

duas concepções: o anarcomunismo e o

anarco-sindicalismo, esta última foi

divulgada entre os trabalhadores de São

Paulo e Rio de Janeiro (VALLADARES,

2000, p. 36). As contradições entre as

duas tendências ficavam evidentes

apenas nos jornais e debates, pois ambas

lutavam contra o Estado e a sociedade

capitalista.

O convívio entre patrões e empregados era marcado pelas atitudes

arbitrárias e injustas de quem controlavam o poder. O trabalho nas indústrias era

exaustivo, sem as mínimas condições de higiene e uma jornada excessiva que

variava entre 12 e até 15 horas por dia. Havia castigos e até mesmo agressões

físicas como uma forma de punir algum deslize do operário.

Figura 19 - Documentos Italianos Fonte: Arquivo/Museu Histórico de Palmeira

Figura 20 – Charge do jornal “A Plebe ” Fonte: Acervo Pessoal – Arquivo Público de São Paulo

24

Segundo Edgar Rodrigues: “Num abrir e fechar de olhos cresciam duas

classes distintas: a dos novos ricos – industriais – e a dos assalariados – um grande

contingente de produtores, cada vez mais pobre!” (RODRIGUES, 1984, p. 59).

As péssimas condições de trabalho aliado aos baixos salários, obrigavam

mulheres e crianças a trabalhar, reforçando o orçamento familiar, porém, seus

ganhos eram inferiores, embora realizassem as mesmas tarefas dos homens. Entre

os trabalhadores, muitos não aceitavam esta situação, então a esperança estava na

idéias libertárias.

44..11 AA IImmpprreennssaa OOppeerráárriiaa

As publicações operárias

se davam através de jornais,

panfletos, e periódicos. A

dificuldade de comunicação e o

número crescente de analfabetos

entre os operários fizeram com

que o trabalhador aprendesse

sozinho.

A imprensa operária foi

fundamental para a divulgação

do movimento operário sendo

considerada pelos anarquistas

como “essencial no processo educativo e associativo do proletário.” Preservando

e/ou promovendo a classe operária. Usavam da imprensa para reforçar a idéia de

resistência e união de classe (VALLADARES, 2000, p. 46).

Os jornais operários pregavam as idéias anarquistas convocando os

trabalhadores a enfrentar os patrões, o que por sua vez, fez com que governo

brasileiro resolvesse adotar algumas medidas como precaução, o que era comum os

operários anarquistas serem presos.

Os imigrantes operários divulgavam as doutrinas anarquistas, suas

experiências e organizações, principalmente nas fábricas de São Paulo.

Acreditavam em uma sociedade sem divisão de classes, queriam a liberdade de

expressão e combatiam qualquer forma de governo, a Igreja e os partidos

políticos.

Os jornais libertários eram muitas vezes de origem italiana, mas publicados no

Brasil, mantendo o idioma materno. Dentre estes jornais operários italianos temos

Figura 21 - Reportagem da Imprensa Operária Fonte: Acervo Pessoal – Arquivo Público de São Paulo

25

alguns que eram vendidos em São Paulo, tais como: “1º. Maggio” apareceu em 1º.

De maio de 1892; La Bataglia, (1904); La Barricata, (1612-1913). No Paraná, II

Lavotero, (1893) e o II Diritto, (1899-1902) periódico anarquista (RODRIGUES,

Edgar, 1984, p.168).

Alguns jornais e/ou periódicos passaram a fazer publicações em português

conseguindo assim ampliar o número de leitores. Dentre estes podemos citar: O

Amigo do Povo (1901) pregava união entre os anarquistas por todo o país, surgiu

com militante português Dr. Gregório Nanianzeno de Vasconcelos, que usava o

pseudônimo de Neno Vasco; A Lanterna (1907) sob a direção de Edgard Leuenroth.

A Plebe (1917) surge como uma continuação da Lanterna, No Paraná, O

Despertar, sob a direção dos italianos Gigi Damiani e J. Buzetti, em 15 de agosto

de 1904. (Idem, 1984, p.132).

Os anarquistas faziam uso dos jornais para

manifestarem suas idéias e convocar os operári os a

lutarem pelos seus direitos mesmo diante de uma

violenta repressão policial, o que por sua vez, só

aumentava a revolta contra os patrões.

O jornal “A Plebe”, era o instrumento de luta

operária, atuava com o propósito de esclarecer e

defender a organização sindical a fim de superar a

opressão dos patrões, propondo a ação direta que era

a greve. A Revista do Arquivo Público coloca que: “...a

imprensa operária é rica em denúncias e informações

sobre essas perseguições, intensificadas, sobretudo,

á partir do decreto de Lei Adolfo Gordo.” (Revista do

Arquivo Público, 2001, p. 39).

Edgard Frederico Leunroth(1861-1968) foi um jornalista e publicista das

idéias anarquistas. Fundou vários jornais e colaborou em diferentes

funções para tantos outros.Em 1917 foi julgado e condenado com o um

dos articuladores da Greve Geral.Foi o responsável direto pela

constituição de um dos maiores arquivos existentes sobre a memória dos

movimentos operários e anarquista que está hoje aos cuidados da

Universidade de Campinas.

Figura 22 - Jornal “A Plebe” Fonte: Arquivo Público de São Paulo

26

CCUURRIIOOSSIIDDAADDEE......

UUmm eeppiissóóddiioo ddeessccrriittoo ppoorr EEddggaarr RRooddrriigguueess ((11998844)),, ooccoorrrreeuu eemm 11ºº ddee mmaaiioo ddee 11889988,, nnaaqquueellaa ooccaassiiããoo ooss aannaarrqquuiissttaass rreessoollvveerraamm

ccoommeemmoorraarr aa ddaattaa pprroommoovveennddoo eemm vváárriiaass cciiddaaddeess,, ddiissccuurrssooss ssoobbrree aa eexxpplloorraaççããoo ddooss ppaattrrõõeess,, aapprroovveeiittaannddoo aa ppaarrttiicciippaaççããoo ddee aallgguunnss mmiilliittaanntteess iinntteelleeccttuuaaiiss rreemmaanneesscceenntteess ddaa CCoollôônniiaa CCeeccíílliiaa,, ddee

GGuuaarraarreemmaa ee aattéé ddaa EEuurrooppaa.. PPoorr eessttee aattoo,, aass aauuttoorriiddaaddeess eexxiiggiiaamm ddoo ggoovveerrnnoo cceennttrraall aattiittuuddee mmaaiiss rriiggoorroossaa ccoonnttrraa ooss eessttrraannggeeiirrooss

ccoonnssiiddeerraaddooss ccuullppaaddooss,, aa ssoolluuççããoo sseerriiaa eexxppuullssáá--llooss ddoo ppaaííss.. NNeessttee mmeessmmoo aannoo,, nnoo ddiiaa 2200 ddee sseetteemmbbrroo dduurraannttee uumm eevveennttoo nnaa PPrraaççaa ddaa RReeppúúbblliiccaa,, ooss ppoolliicciiaaiiss aaggiirraamm ccoomm vviioollêênncciiaa mmaattaannddoo oo aannaarrqquuiissttaa

PPoolliinniiccee MMaatttteeii.. EEddggaarr RRooddrriigguueess ccoommppaarraa PPoolliinniiccee MMaatttteeii ccoommoo oo ““11ºº mmáárrttiirr ddaass

iiddééiiaass aannaarrqquuiissttaass nnoo BBrraassiill”” ((RROODDRRIIGGUUEESS,, 11998844.. pp.. 5588)).. AAppeessaarr ddee nnããoo hhaavveerr ppuunniiççããoo ppaarraa ooss ccuullppaaddooss,, oo aattoo ccoonnttrriibbuuiiuu ppaarraa qquuee aauummeennttaassssee aass ppeerrsseegguuiiççõõeess ppoolliicciiaaiiss ccoonnttrraa ooss aannaarrqquuiissttaass,,

pprriinncciippaallmmeennttee ooss eessttrraannggeeiirrooss..

O jornal “A Plebe”, inserido neste contexto de lutas operárias e o

fortalecimento das idéias libertárias existiu até 1935, tendo sido fechado inúmeras

vezes durante o período de sua existência.

As idéias anarquistas questionando as ações dos patrões vinham de encontro

com as necessidades dos operários em geral.

44..22 OOss CCoonnggrreessssooss OOppeerráárriiooss

O anarquismo como um movimento organizado consolidou-se na época da 1ª

Internacional (Associação Internacional dos Trabalhadores/AIT), fundada em 1864,

tendo até a participação de Karl Marx. A AIT surgiu como um meio de comunicação

entre os trabalhadores em diferentes países com o objetivo de fortalecer o

operariado (VALLADARES, 2000, p. 23).

No Brasil, apesar de toda a dificuldade, o 1º Congresso Operário Brasileiro foi

realizado entre os dias 16 a 22 de abril de 1906, no Rio de Janeiro envolvendo os

trabalhadores de vários estados brasileiros. A finalidade desse Congresso foi de

orientar as manifestações operárias, bem como, as reivindicações da classe,

estabelecendo um contato com as manifestações que já havia sido ocorrido e seus

resultados por todo o país.

27

Este Congresso contou

a participação dos militantes

operários de vários estados e

a presença ilustre do

anarquista Giovanni Rossi,

que deslocou até o Rio de

Janeiro para fazer seu

discurso. Foram discutidos

vários temas, dentre os quais

a formação de sindicatos de

acordo com a ideologia

anarquista e a criação

da Confederação Operária Brasileira (COB), uma organização baseada nos

sindicatos franceses. Através da COB, foi criado em 1908 um jornal chamado “A

Voz do Trabalhador”, cuja finalidade era informar sobre os Congressos e /ou

movimentos dos operários por todo o país.

Os Congressos operários

cresciam por todo o país e a

participação dos anarquistas

italianos era numericamente

superior como nos mostra

Edgar Rodrigues: “... o

movimento operário de feição

revolucionária nasceu

praticamente com a chegada

dos anarquistas italianos e

cresceu com o dinamismo que

lhe imprimiram.” (IDEM, 1984,

p. 78).

O 2º Congresso Operário Brasileiro realizado entre os dias 8 e 12 de setembro

de 1913, há uma forte resistência ao sindicalismo católico dirigido pelo clero,

predominando as idéias e discursos do anarco-sindicalistas. Já no 3º Congresso

Operário Brasileiro de 1920 realizado no Rio de Janeiro, havia uma contenção dos

anarquistas diante da repressão policial que já vinha ocorrendo (VALLADARES,

2000, p. 5).

Figura 23 - Reportagem do jornal “A Plebe” Fonte: Acervo Pessoal – Arquivo Público de São Paulo

Figura 24 – Burguesia x Proletariad o Fonte: Acervo Pessoal – Arquivo Público de São Paulo

28

44..33 AAss GGrreevveess OOppeerráárriiaass

A greve era tática

usada pelos operários e

defendida pelos anarquistas.

Os anarquistas acreditavam

que a greve era uma maneira

do operário lutar pelos seus

direitos através de uma ação

direta, já que pacificamente

era quase impossível obter

algum benefício da

burguesia. A ação direta

proposta pelos anarquistas

tinham como finalidade

mobilizar os operários contra

a exploração capitalista.

As greves, embora tenham sido raras até o final do século XIX ocorreram em

várias partes do país, sendo, algumas vezes noticiadas na imprensa operária. Uma

das principais reivindicações era a jornada de oito horas diárias, o fim dos atrasos

salariais e o reconhecimento dos sindicatos.

As primeiras greves envolvendo uma categoria profissional começaram a

ocorrer no início do século XX, nas cidades do Rio de Janeiro, São Paulo e Santos.

As greves eram duramente combatidas com repressão policial e até mesmo com a

expulsão dos líderes estrangeiros, quase todos anarquistas. No período de 1908 á

1912, o movimento grevista enfraqueceu, porém em 1917, o país vivenciou uma

grande greve geral. (CÁCERES, 1997, p. 246).

A greve de 1917 historicamente esteve ligada a fatores externos tais como

a Revolução Russa de 1917 e a 1ª Guerra Mundial. No Brasil crescia a expectativa

com a implantação do socialismo na Rússia, bem como, a escassez e/ou carestia

de alimentos devido à guerra. Assim, a situação nacional e internacional

possibilitou que a greve de 1917, que teve início em São Paulo e se espalhou por

todo o país.

Figura 25 - Trabalhador Fonte: Clip-art do Microsoft Word

29

No ano de 1919 e no início de 1920 houve movimentos grevistas não só no Rio

de Janeiro e São Paulo, mas no Rio Grande do Sul e nas regiões do Nordeste

(CÁCERES, 1997, p. 247). Em 1919, a greve em São Paulo fez com que o governo

novamente, reagisse de forma violenta expulsando os anarquistas estrangeiros do

país, dentre estes, Gigi Damiani, Antonelli, Manuel Perdigão e Zanella (PARRA,

2003, p. 19).

Segundo Lúcia Silva

Parra (2003) em 1920, o

governo de Epitácio

Pessoa contrário ao

anarquismo apreendeu

vários exemplares dos

jornais A Plebe e

Spartactus. Além de

aprovar leis contrárias ao

movimento anarquista.

Essas medidas intolerantes marcam o início do declínio do movimento

operário brasileiro sob orientação anarquista. Entre as causas desse declínio

encontra-se a forte repressão do governo ao movimento. A greve sob qualquer

hipótese era vista como um crime, o que nos permite entender a célebre frase de

Washington Luís que “a questão social era caso de polícia”.

VVooccêê SSaabbiiaa?? A greve iniciou em junho de 1917, no Cotonifício Crespi, fábrica têxtil localizada no bairro da Mooca, em São Paulo. Os operários fizeram várias reivindicações,

resolvendo fechar a fábrica. Durante os comícios, outros operários passaram a aderir ao movimento e a greve se alastrou por outras empresas. Na tentativa de conter o caos total, os empresários entram em acordo com os sindicatos e aceitam algumas reivindicações operárias tais como o aumento salarial de 20% e a não dispensa dos grevistas. Apesar das manifestações, as causa dos operários ainda

ficaram sem solução.

Figura 27 – Greve Geral de 1917 Fonte: Wikipédia – Domínio Público

30

Em 1922 foi criado o Partido Comunista do Brasil formado por uma maioria de

intelectuais e alguns líderes anarquistas na tentativa de participar política nacional

como uma maneira de fortalecer e manter os sindicatos na ativa

Em 1924, foi criado em São Paulo o Departamento de Ordem Pública e Social

do Estado de São Paulo (DEOPS/SP), que chegou a funcionar até 1983. Com o

objetivo de fazer prevalecer à ordem pública, condenando e/ou prendendo os

cidadãos considerados “indesejáveis” para a sociedade. Os indivíduos condenados

eram em sua maioria estrangeiros, adeptos as idéias libertárias ou simplesmente

aqueles que possuíam jornais libertários em casa. Neste perfil, os indivíduos eram

identificados como anarquistas, sendo perseguidos e rotulados pelos policiais como

“cidadãos indigestos” (PARRA, 2003, p. 23).

Os anarquistas acreditavam em uma sociedade sem a intervenção do Estado.

Utopia ou não, conseguiram prevalecer seus ideais de liberdade em um

determinado momento da história brasileira, apesar de toda a repressão estatal.

Assumindo uma postura crítica, os anarquistas conseguiram muitos adeptos entre as

pessoas que buscavam mudanças na sociedade. É evidente que as ideologias

anarquistas esbarraram na autoridade do Estado. No entanto, seus ideais de

perseverança, de qualquer forma, permitiram unir e defender os direitos dos

cidadãos em uma constante luta para manter e garantir a liberdade social.

Assim, afirmar que a Colônia Cecília fracassou porque eram todos anarquistas

seria equivoco, porque o anarquismo como uma ideologia se firmou no propósito de

manter a liberdade individual. E por fim, a conscientização de que o homem é livre

por natureza, daí a nossa luta constante nesta atual sociedade para mantermos a

liberdade, quer seja na política, na religião ou simplesmente, a nossa liberdade de

expressão.

PPAARRAA RREEFFLLEETTIIRR......

““SSEE NNÃÃOO HHOOUUVVEERR FFRRUUTTOOSS,, VVAALLEEUU PPEELLAA BBEELLEEZZAA DDAASS FFLLOORREESS,,

SSEE NNÃÃOO HHOOUUVVEERR FFLLOORREESS,, VVAALLEEUU PPEELLAA SSOOMMBBRRAA DDAASS FFOOLLHHAASS;;

SSEE NNÃÃOO HHOOUUVVEERR FFOOLLHHAASS,, VVAALLEEUU PPEELLAA IINNTTEENNÇÇÃÃOO DDAA SSEEMMEENNTTEE..””

((HHEENNFFIILL))

31

1) Escolha o nome de um jornal anarquista mencionado no texto e elabore uma

manchete que envolva as lutas dos operários anarquistas.

2) Qual era a principal reivindicação da classe operária no início do século XIX?

E hoje, você conhece algumas conquistas da classe operária?

____________________________________________________________

____________________________________________________________

____________________________________________________________

3) Faça uma comparação sobre a greve: do ponto de vista dos operários

anarquistas, dos patrões e da polícia.

PPOONNTTOO DDEE VVIISSTTAA::

Dos Operários Anarquistas Dos Patrões Da Polícia:

4) O que dizia a Lei Adolfo Gordo? Por que ela foi implantada?

____________________________________________________________

____________________________________________________________

5) Comente sobre a imprensa durante o movimento operário?

____________________________________________________________

____________________________________________________________

____________________________________________________________

44..44 AATTIIVVIIDDAADDEESS PPRROOPPOOSSTTAASS

EEMM GGRRUUPPOO,, PPAARRTTIICCIIPPEE DDOO JJOOGGOO TTRRIILLHHAA:: OO MMOOVVIIMMEENNTTOO OOPPEERRÁÁRRIIOO ((AAPPÊÊNNDDIICCEE CC))..

32

Observe com atenção a descrição feita pelo militante operário e historiador Everardo Dias da cidade de São Paulo, em julho de 1917:

a) Que fato histórico este documento relata? Em que local ocorreu?

____________________________________________________________

____________________________________________________________

b) Como são descritas as pessoas? O que elas temem?

____________________________________________________________

____________________________________________________________

d) Qual é a reação da ação policial?

____________________________________________________________

e) Que bairros paulistas são citados no texto?

____________________________________________________________

f) O que você entende com esta frase: ”Os jornais saem cheios de notícias,

prenunciando dramáticos acontecimentos”.

____________________________________________________________

___________________________________________________________

�� PPEESSQQUUIISSEE SSOOBBRREE OO GGOOVVEERRNNOO QQUUEE GGAARRAANNTTIIUU AALLGGUUNNSS DDIIRREEIITTOOSS

TTRRAABBAALLHHIISSTTAASS NNOO BBRRAASSIILL..

“São Paulo é uma cidade morta: sua população está alarmada, os rostos de notam apreensão e pânico, porque tudo está fechado, sem o menor movimento. Pelas ruas afora, alguns transeuntes apressados, só circulavam veículos militares, requisitados pela Cia. Antárctica e demais indústrias, com tropas armadas de fuzis e metralhadoras. Há ordem de atirar sobre quem fique parado na rua. Nos bairros fabris do Brás, Mooca, Barra Funda, Lapa, sucedem-se tiroteios com grupos de populares; em certas ruas já começaram a fazer barricadas com pedras, madeiras velhas, carroças viradas e a polícia não se atreve a passar por lá, porque dos telhados e cantos partem tiros certeiros. Os jornais saem cheios de notícias, sem comentários quase, mas o que se sabe é sumamente grave, prenunciando dramáticos acontecimentos...” (MENDES JR & MARANHÃO, 1991, p.319).

TTEEXXTTOO CCOOMMPPLLEEMMEENNTTAARR

33

5 REFERÊNCIAS

BAKUNIN, Mikhail A. Textos Anarquistas. Porto Alegre: L&PM, 2006. CÀCERES, Florival. História do Brasil. São Paulo. Ed.Moderna, 1997. CARONE, Edgard. Movimento Operário no Brasil (1877-1944). São Paulo: Difel, 1984. CARRERI, Márcio Luiz. Agulha no Palheiro. Londrina: EDUEL, 2008. COSTA, Caio Túlio. O que é Anarquismo. São Paulo: Abril Cultural, Brasiliense, 1985. DOMINGUES, Joelza Ester. O Brasil em Foco. São Paulo: FTD, 1996. HOBSBAWN, Eric. Revolucionários: ensaios contemporâneos. São Paulo: Terra, 1985. JÚNIOR, Plínio Carnier. A Imigração para São Paulo: a viagem, o trabalho, as contribuições. São Paulo. CIP (Câmara Brasileira do Livro). KUPPER, Agnaldo. Colônia Cecília - uma experiência anarquista. São Paulo: FTD, 1993. MELLO NETO, Cândido de. O Anarquismo Experimental de Giovanni Rossi. Ponta Grossa: Editora da Universidade Estadual de Ponta Grossa, 1998. MENDES JR., Antônio & MARANHÃO, Ricardo (Org.) Brasil História - Texto & Consulta. República Velha (V.3). São Paulo: Hucitec,1991. PARANÁ, Diretrizes Curriculares da Educação Básica, História, 2008. Secretaria de Estado da Educação. PARRA, Lúcia Silva. Inventário DEOPS-Módulo VII-Anarquistas. São Paulo: Arquivo Público do Estado/Imprensa Oficial do Estado, 2003.

PROUDHON, Pierre-Joseph. A propriedade é um roubo-e outros escritos anarquistas. Porto Alegre: L&PM, 2006. REVISTA HISTÓRICA. Publicação trimestral do Arquivo do Estado de São Paulo. Nº 5, dezembro de 2001. REVISTA HISTÓRICA. Publicação trimestral do Arquivo do Estado de São Paulo. Nº 6, março de 2002. RODRIGUES, Edgar. Os Anarquistas-trabalhadores italianos no Brasil. São Paulo: Global, 1984. ROSSI, Giovanni (org). Um Episódio de amor Livre na Colônia Cecília. Rio de Janeiro: Achiamé.

34

35

SCHMIDT, Afonso. Colônia Cecília: Romance de uma Experiência Anarquista. São Paulo: Brasiliense, 1980. SOUZA, Newton Stadler de. O Anarquismo da Colônia Cecília. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1970. VALLADARES, Eduardo. Anarquismo e Anticlericalismo. São Paulo: Ed. Imaginário-2000. WOODCOCK, George. História das Idéias e Movimentos Anarquistas. Porto Alegre: L&PM, 2006.

35

APÊNDICES

APÊNDICE A

IINNSSTTRRUUÇÇÕÕEESS DDOO JJOOGGOO DDAA MMEEMMÓÓRRIIAA::

CONSIDERAÇÕES SOBRE O ANARQUISMO

• O objetivo do jogo é reunir um maior número de pontos possíveis; • Dividir os alunos em grupo (no mínimo 2 jogadores); • O Jogo consiste formar pares de cartas de acordo com os números indicados, observando as imagens e as informações correspondentes; • O jogador deverá fazer a leitura das informações contidas na carta para o grupo; • As cartas obtidas deverão obedecer estas regras: - Cartas pares com imagens = 1 ponto - Cartas pares com as informações= 2 pontos. • Vencerá o jogador que fizer mais pontos.

37

APÊNDICE B

IINNSSTTRRUUÇÇÕÕEESS DDOOSS JJOOGGOOSS

Trilha - Colônia Cecília e

Trilha - Movimento Operário • O objetivo do jogo é juntar o maior número de cartas e informações sobre a Colônia Cecília e/ ou o Movimento Operário. • Dividir os alunos em grupos de 2 a 4 pessoas. Cada aluno escolherá um marcador (cores: azul, vermelho, verde e alaranjado) e posicionar os quatro marcadores no ponto - largada. • A definição da ordem de participação dos quatro elementos do grupo, será definida pela pontuação dos resultados do jogo do dado por cada um, ficarão na frente os que obtiverem maior pontuação. A ordem de participação deverá seguir o sentido horário. • Cada jogador, na sua vez de acordo com o sorteio anterior, deverá jogar o dado para definir quantas casas deverá avançar ou retroceder (de acordo com a marcação do tabuleiro). • Quando o cair nas casas marcadas para pegar uma carta com o “Pegue Uma Carta”, o jogador deve a ultima do monte (embaralhada e empilhada em um monte sobre a mesa e com a frente para baixo). • Aquele que pegou a carta deve ler para o grupo as informações sobre a Colônia Cecília ou sobre o Movimento Operário. Esse ganhador ficará de posse da carta que foi lida. • Ganha o jogo aquele que alcançar a chegada e ler sobre as informações contidas nas cartas. Pois, será aquele que melhor terá memorizado as informações da Colônia Cecília ou sobre o Movimento Operário.

42

DADO PARA OS JOGOS

MARCADORES PARA OS JOGADORES

1

3 2 4

6

5