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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE Produção Didático-Pedagógica 2007 Versão Online ISBN 978-85-8015-038-4 Cadernos PDE VOLUME II

DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2007 · 2011-11-23 · Os primeiros habitantes da América e do Brasil vieram da Ásia e Oceania, em várias viagens,há cerca de 40 mil anos atrás

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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOSDA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE

Produção Didático-Pedagógica 2007

Versão Online ISBN 978-85-8015-038-4Cadernos PDE

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Autora: Rosângela Perini de Godoy

NRE: Londrina

Orientadora: Marlene Rosa Cainelli

Escola: Colégio Estadual Albino Feijó Sanches EFM

Disciplina: História Ensino Fundamental (X) 5ª série Ensino Médio ()

Disciplina de Relação Interdisciplinar: Geografia

Disciplina de Relação Interdisciplinar: Artes

Disciplina de Relação Interdisciplinar: Matemática

Conteúdo estruturante: Cultura

Conteúdo específico: Significados culturais presentes no artesanato e nas pinturas corporais indígenas Título: A pintura e o artesanato indígena podem explicar a História dos índios Kaingang

Disciplina de relação interdisciplinar: Matemática Professor: Reinaldo Santos de Almeida RG 7547013-4 [email protected] O projeto sobre a temática Kaingang tem pertinência na área de Matemática no que se refere a noção de figuras geométricas planas combinadas (mosaico), formando assim polígonos quadrangulares regulares e irregulares. Outra noção contemplada, a de hectare, refere-se a uma unidade de medida que se alterna de acordo com os padrões do INCRA para cada Estado do Brasil. Sabendo-se que a unidade referência é em torno de 10.000m2 o hectare. Ambos os conteúdos estão previstos nas Diretrizes Curriculares nacionais e no planejamento de matemática. Sendo assim sou favorável a aplicação deste projeto na quinta série do Ensino Fundamental. Disciplina de relação interdisciplinar: Artes Professora: Sandra Zanini Marur RG: 1349595-5 [email protected] As atividades práticas desenvolvidas e materiais didáticos usados têm pertinência com a disciplina de Artes, pois contempla a linguagem das artes visuais, tendo como conteúdo especifico a Arte Pré-histórica (Arte Rupestre). A articulação da teoria com a prática, possibilita momentos de criação que vão levar os alunos a estabelecer uma conexão da arte com as necessidades do dia-a-dia dos índios Kaigang. Disciplina de relação interdisciplinar: Geografia Professor: Ailton Ap.Lopes RG: 5109810-2 [email protected] O projeto sobre a temática Kaingang tem pertinência na área de Geografia, visto que sua abordagem leva em consideração a ocupação do espaço pelos Kaingang: suas migrações, as características naturais da região, os aspectos demográficos, culturais e econômicos. Inclusive houve a preocupação de realizar a localização das terras indígenas através de mapa, um instrumento didático muito importante no ensino de geografia, principalmente nas séries iniciais, como a quinta série.

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A PINTURA E O ARTESANATO INDÍGENA PODEM EXPLICAR A

HISTÓRIA DOS ÍNDIOS KAINGANG ?

A ARQUEOLOGIA EXPLICA O PASSADO KAINGANG Graças aos estudos de lingüistas, arqueólogos, geógrafos, historiadores... e

seus achados de objetos, imagens desenhadas nas cavernas - arte rupestre -, restos

de fogueiras e fósseis humanos e de animais, devidamente catalogados e datados

através do carbono 14, chegou-se a algumas conclusões sobre os povos primitivos

que habitaram todo o mundo.

Os primeiros habitantes da América e do Brasil vieram da Ásia e Oceania, em

várias viagens,há cerca de 40 mil anos atrás. São várias as teorias (ou hipóteses) da

chegada dos homens à América, algumas indicam que da Ásia vieram pelo Estreito

de Bering, outras que da Oceania vieram pelas ilhas do Oceano Pacífico.

Quando os portugueses chegaram ao Brasil, nestas terras havia cerca de 6

milhões de habitantes, distribuídos por todo o território. Havia povos agricultores e

nômades - estes se deslocavam para manter sua subsistência, através da caça,

pesca e coleta. Seu modo de vida é muito diferente do europeu e ainda hoje lutam

para mantê-lo. Os grupos indígenas são classificados de acordo com a língua e

costumes comuns. No Brasil são: o tronco Tupi (oito famílias e 26 línguas), macro-Jê

(cinco famílias e 16 línguas) e aruaque (duas famílias e treze línguas).

Devido ao fato de que os europeus achavam que haviam chegado à Índia

Oriental, denominaram "índios" aos habitantes encontrados. E assim permanece esta

denominação até hoje.

No caso do nosso Estado, o Paraná, os Kaingang têm origem no grupo

lingüístico Jê, nas nascentes dos rios São Francisco e Araguaia. Que migraram para

São Paulo e depois para o Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Argentina.

Isso há três mil anos atrás. No Paraná, o grupo Jê dividiu-se em dois grupos:

Kaingang e Xokléng. Hoje os Xokléng estão no Posto Indígena de Ibirama em Santa

Catarina, são conhecidos como botocudos.

Podemos chamar os achados arqueológicos de artefatos líticos (feitos de

pedra) que são a mão-de-pilão, lâminas de machado polidas, talhadores, raspadores

e lascas. Eles utilizavam esses artefatos para moer grãos, derrubar árvores, cortar

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animais e vegetais, raspar couro, madeira, e pedras, caçar, pescar, colher alimentos,

etc.

Há também, nos Museus Históricos, vestígios arqueológicos de cerâmica

pertencentes aos Kaingang e Xokleng. Outros vestígios são os cemitérios indígenas e

as pinturas rupestres encontradas nos abrigos de pedra nas Serras que

freqüentavam por todo o Sul do Brasil, no Planalto Central. No Paraná, temos sítios

arqueológicos diversos: no litoral predominam os sambaquis*, nos abrigos de pedra

foram encontrados fósseis, restos de fogueiras e as pinturas rupestres**.

Estes artefatos foram guardados como provas de que já havia habitantes no

Brasil antes da chegada do homem branco. Graças à consciência do valor histórico

desses objetos é que hoje temos amostras desses artefatos. O conhecimento faz

diferença na compreensão de outras maneiras de viver que existem, mesmo que

sejam em outras épocas e lugares.

E O BRANCO VEIO PARA FICAR...

O branco, assim chamado o europeu pelos índios, iniciou a conquista das

terras Kaingang do Paraná i em 1770, e até a virada do século a maioria dos grupos

existentes estava aldeada, o último grupo foi conquistado em 1930.

*SAMBAQUI: monte de conchas que chega a ter 30 metros de altura. Feito pelo homem primitivo no litoral e próximo a rios do país. São encontrados vestígios de utensílios para o preparo de alimentos, ferramentas, adornos, restos de fogueiras, fósseis humanos e animais. **PINTURA RUPESTRE: a palavra rupestre deriva do termo grego "rupes" que significa rocha. São manifestações artísticas de épocas remotas realizadas principalmente nas paredes rochosas dos abrigos (cavernas) , nos quais o homem primitivo morava ou só passava algum tempo. Ocorrem em diversos pontos do planeta, mostrando seu modo de vida com símbolos. São documentos não-escritos, documentos arqueológicos.

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Com a apropriação deste território pelos colonizadores, foi-lhes imposto à

fixação em espaços delimitados e administrados por brancos (missionários, civis e

militares). Esses espaços são as reservas indígenas.

Depois da destruição das Reduções Jesuíticas*, em 1759, muitos grupos

voltaram à vida livre nas florestas, empurrados para o interior do Estado do Paraná,

em direção ao Rio Paraná. A maioria foi levada como mão-de-obra escrava pelos

bandeirantes**.

Atualmente, os representantes Kaingang, Xetá e Guarani realizam reuniões

regionais e estaduais para o diálogo para reinvidicar direitos de interesse da

coletividade.

Reinvidicam para suas reservas, uma educação bilíngüe, uma política

indigenista mais adequada à realidade e aos interesses das comunidades, bem como

melhorias na assistência à saúde.

Para manter sua subsistência, praticam três atividades: agricultura de

subsistência, assalariamento temporário e o comércio de artesanato.

Atividade 01 Pesquisa:

TEMA: Os Jesuítas.

Roteiro : Quando ouvimos falar em missões, logo vêem a nossa mente pensamentos

ligados a tarefas difíceis de realizar. E missão tem a haver com isto mesmo, mas para

compreendermos a ligação das Missões Jesuíticas com os indígenas, vamos buscar

informações.

O conteúdo pesquisado deverá conter os seguintes tópicos:

a) A religião católica no Brasil Colonial

b) Os jesuítas e o ensino

c) As reduções indígenas no Sul do Brasil (como funcionava, o trabalho, o dia-a-dia,

ECT)

d) Expulsão dos Jesuítas do Brasil, em 1759

*REDUÇÕES JESUÍTICAS: Aldeias fundadas por padres jesuítas para catequizá-los. Aprendiam a religião católica, a agricultura, pecuária e artesanato. E se protegiam dos bandeirantes. **BANDEIRANTES: paulistas que realizavam incursões pelo interior do Brasil, além do Tratado de Tordesilhas para traficar índios, explorar ouro e "limpar" os sertões. Com isso cometeram o genocídio das nações indígenas, achavam que estes fossem animais.

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e) A imagem do índio hoje (o que as pessoas pensam sobre o índio)

f) Observando as relações do governo brasileiro com os grupos indígenas Kaingang,

o que podemos perceber acerca do respeito às tradições e diversidade cultural deste

povo?

Organize o seu trabalho seguindo o seguinte formato :

I- Capa (contendo seu nome, série, bimestre, disciplina, ano, professor, título

do trabalho, etc.)

II- Introdução (contendo informações rápidas sobre o conteúdo pesquisado)

III- Conteúdo Pesquisado ou desenvolvimento (deverá conter informações

detalhadas sobre o conteúdo pesquisado, verifique os tópicos da pesquisa

acima)

IV- Conclusão (aqui você deverá colocar a sua opinião sobre o conteúdo

pesquisado, baseando-se na seguinte questão: "As missões não só

existiram no passado, existem missões e missionários no mundo atual".

Qual o mérito das missões hoje e no passado?As igrejas devem realizar

trabalho social? Explique.)

V- Bibliografia (livros, sites de pesquisa, jornais, etc.) . Siga o modelo abaixo,

quando citar o livro pesquisado. Sugestão para pesquisa no livro:

SCHMIDT, Maria Auxiliadora - História do cotidiano paranaense - Curitiba,

Letraviva, 1996.

O trabalho é individual, e o conteúdo deverá ser manuscrito. Fica a critério do

educando digitar os outros itens propostos no trabalho (Capa, Introdução, Conclusão

e Bibliografia) Ilustre seu trabalho com imagens, recortes, desenhos, etc.

Você sabia? Cada povo tem uma maneira de contar o tempo. Os Kaingang contam de acordo com o florescimento da taquara. Esta floresce a cada 30 anos do nosso calendário, ela morre com o aparecimento de um bicho, chamado VUGÁ, em seu interior. Existem outros calendários no mundo: o cristão (inicia-se a partir do nascimento de Cristo), islâmico (inicia-se no ano de 622 d.C.) e judaico (inicia-se em 3.760). Contamos o tempo de com diversos instrumentos, mas o mais preciso é o relógio. Podemos contar o tempo de dez em dez anos (década), de cem em cem anos (século), de mil em mil anos (milênio). Os séculos são representados em algarismos romanos.

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Atividade 02. Observe o mapa.Em quais Estados do Brasil há Kaingang? Destaque, com a cor vermelha, o domínio do Paraná no mapa. No mapa, faça um círculo em torno do P.I.(Posto Indígena) Apucaraninha.

Observe no mapa as áreas de concentração das reservas indígenas. Pesquise sobre o relevo do sul do Brasil em um mapa físico. Escreva qual o tipo de relevo destas áreas de reservas:______________________________________________________________. Explique as razões da concentração das reservas Kaingang nestas áreas.

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QUE HISTÓRIA A PINTURA E O TRANÇADO PODEM NOS CONTA R? A PINTURA CORPORAL

História que os Kaingang contam:

"Os primeiros Kaingang chegaram com a velha, a mais velha que existe e não

morre. Ela saiu dum buraco da terra; logo chegaram os Kaingang. Os primeiros fizeram tudo:

criaram os bichos e as cobras e mandaram as cobras picar os outros seres. Criaram as

plantas, as serras e os campos. Fizeram tudo." (Hanke, 1950:137)

Esta é a explicação mítica para o surgimento desta cultura. Esta mãe

Universal é o símbolo da vida, da fertilidade, renovando-se continuamente e no seu

sentido espiritual do amor criador e infinito.

Esta é a explicação do surgimento das duas metades, no qual se

dividem os Kaingang:

A tradição dos Kaingang conta que os primeiros desta nação saíram do chão (...) saíram em dois grupos, chefiados por dois irmãos por nome Kañeru e Kamé, sendo que aquele saiu primeiro. Cada um já trouxe um número de gente de ambos os sexos. Dizem que Kañeru e sua gente toda eram de corpo fino, peludo, pés pequenos, ligeiros tanto nos seus movimentos, como nas suas resoluções, cheios de iniciativa, mas de pouca persistência. Kamé e os seus companheiros, ao contrário, eram de corpo grosso, pés grandes e vagarosos nos seus movimentos e resoluções." (Nimuendajú Apud VEIGA, 1994, p.60)

Por terem sido criados pelos "pais fundadores" Kamé e Kairu, todos os seres

da natureza pertenceriam às duas metades, com exceção da terra, do céu, da água e

do fogo.

Todos ainda manifestam sua descendência ou pelo seu temperamento ou pelos traços físicos ou pela pintura a que pertence o clã Kañeru é malhado, o que pertence ao clã Kamé é riscado. Os Kaingang reconhecem essas pintas tanto no couro dos animais, como nas penas dos passarinhos, como também na casca, nas folhas, ou na madeira das plantas. Das duas qualidades da onça pintada, o acanguçu é Kañeru, e por isso ela vai também adiante na piracema. O dourado é Kamé. O pinheiro é Kañeru, o Cedro é Kamé, etc. (Nimuendajú, [1913:59] 1993:60)

Os mitos revelam que são dois os elementos fundamentais da organização

social Kaingang: a divisão em metades e as festas. Sua sociedade é dual dividida em

metades exogâmicas, personificadas nos heróis míticos Kamé e Kairu,que se opõe e

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complementam.

Cada metade possui uma pintura corporal distinta. A metade Kamé possui

pintura de riscos e a Kairu, círculos.(ver figura 1)

Entre os Kaingang da Terra Indígena de Apucaraninha, as pinturas que

apresentam riscos são por eles denominadas de reoio e as de círculos de recutú. De

acordo com esta divisão é que se dão os casamentos. Segundo a tradição, Reoio

casa-se com Recutú, os filhos pintam-se de acordo com a pintura corporal do pai

(risco ou bolinha).

No sistema Kaingang, a filiação a uma metade é definida patrilateralmente, ou

seja, os filhos de ambos os sexos vão pertencer à metade do pai e não de sua mãe.

Este procedimento continuo é que vai estabelecer o caráter patrilinear da sociedade

Kaingang.

Seguindo este padrão, os filhos (as) pertencem à mesma seção de seu pai e

devem casar repetindo o padrão de aliança contraído por seu pai. Neste sentido filhos

e filhas devem casar com a mesma metade de onde veio a sua mãe.

FIGURA 1 - Acervo Pessoal, com dados de Kimiye Tommasino

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Atividade 03.

Complete as faces abaixo com pintura corporal, de acordo com o que você leu sobre

as duas metades clânicas Kaingang: Kamé e Kairu

Pai Kamé + Mãe Kairu = Filho _________ ou Filha_________ Pai Kairu + Mãe Kamé = Filho _________ ou Filha________ O TRANÇADO As mulheres são as que trançam as cestas. Tecem balaios, cestas, peneiras,

baús, vasos...e repassam esse conhecimento para as filhas. Os homens ajudam

colhendo e preparando a taquara para ser utilizada no trançado.

Além do comércio de artesanato, fazem a agricultura de subsistência na

reserva e o assalariamento temporário nos roçados das fazendas da região.

Na agricultura, desde tempos imemoriais, fazem a roça de toco, ou roça de

coivara (queima do solo), que precisa de dois anos de descanso para reconstituição.

São pequenos roçados, no qual cada família planta o que deseja. Há a roça maior,

cultivada com máquinas, de milho e arroz. Praticam a pesca nos rios.

Na cestaria e nas pinturas corporais, são aplicados desenhos geométricos

ligados a sua metade clânica: comprido ou redondo. Mesmo quando não aplicam

cores ao trançado das cestas, balaios, peneiras, chapéus, representam os traços.

Veja o trançado deste objeto, representa a cobra (ti-rã-reroio) no meio do balaio e

outro motivo na parte superior, (elos de corrente) que se assemelha com a disposição

das pedras no calçadão de Londrina-PR, da Avenida Paraná, realizado na década de

1970.

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Fonte: Marlene de Oliveira Fonte: Acervo pessoal Atividade 04. O trançado Kaingang é feito utilizando diversos materiais: bambu, cipó imbé,

rami, taboa, urucum para tingir. Eles comercializam este produto.

Este trabalho se assemelha ao mosaico. (embutido de pedrinhas de várias cores,

formando desenhos).

Observe o efeito de mosaico de alguns desenhos feitos pelo Kaingang

João Katóg, aplicados a cestaria.

Fonte: Marlene de Oliveira Vamos fazer um mosaico? Recorte papéis de formas geométricas retangulares e quadradas. Monte sobre tiras de cartolina motivos Kaingang de decoração em seqüência, cole. Depois produza faixas decorativas com motivos de nossa cultura, que lembre objetos utilizados por nós.

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O MODO DE VIVER KAINGANG

Até a primeira metade do século XX, a sociedade Kaingang podia ser

caracterizada como povo de floresta, enquanto estas existiram. Viviam nas florestas

subtropicais do Brasil meridional (sul), era este o meio ambiente de onde conseguiam

manter sua sobrevivência. Praticavam a caça, coleta, cultivo, pesca por todo o

território de acordo com o período de produção de alimentos de cada região.

Locomoviam-se de acordo com o calendário natural da vida.

Construíam abrigos provisórios de madeira e cobertos de palha, muito simples.

Era seu costume queimar esses ranchos quando levantavam acampamento e iam

para outro lugar após diminuição (escassez) dos recursos naturais locais.

Todo território Kaingang portanto, era recortado por estradas e caminhos

periodicamente percorridos pelos indígenas durante os ciclos de atividades anuais,

deslocamentos condicionados pelo movimento da natureza, de acordo com os frutos

de cada época. A existência de caminhos no território é uma característica dos

grupos Jê, do qual o Kaingang é originário.

A região de seu habitat é a do Planalto Central, do Brasil Meridional. È a Serra

Geral (Serras Apucarana, Agudos, Esperança, da Pitanga...) com a qual mantêm uma

identificação étnica: é o lugar do qual saiu a velha que não morre (mito da criação),

ali' estão enterrados seus antepassados e é o lugar de onde eles vêm. - segundo

sua fala. As reservas indígenas atuais são fragmentos dos seus antigos territórios,

estes lugares acidentados eram seu refúgio, já que as terras cobiçadas pelos

colonizadores eram as planas e de campos, para criação de gado. Assim foram

perdendo essas terras de caça e coleta.

Faziam roças nas bordas da mata, cultivavam várias variedades de milho,

abóbora, feijão e mandioca brava. Mas, o medo dos brancos e a infertilidade do solo

da Serra fizeram com que abandonassem a agricultura. Para se manter, às vezes

faziam coleta nas roças dos brancos. Caçavam queixadas, veados, aves. Construíam

arco e flecha e armadilhas. Coletavam o pinhão da araucária e mel. Podemos chamá-

los de caçadores, coletores e cultivadores.

Hoje, no Posto Indígena de Apucaraninha, Londrina, há diferentes tipos de

habitação: casas de alvenaria, de madeira, ranchos. Algumas famílias vivem longe da

aldeia, distante das casas dos funcionários da FUNAI: chefes de posto, técnico

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agrícola e professores. Muitos rejeitam as casas construídas pelo governo, preferem

os ranchos, que são de terra batida, cobertos com folhas, sem divisão, retangulares.

A fogueira permanece acesa no centro do rancho dia e noite, dormem no chão com

os pés voltados para o fogo. Sem janelas e somente uma ou duas pequenas entradas

camufladas, o vento cruza toda a casa, o claro-escuro reproduz a penumbra da mata,

a transparência total que permite sentir o tempo e vigiar todas as direções. É uma

ligação com a terra, de onde acredita ser originário.

A maior parte das casas construídas pelo governo é utilizada como depósitos

de pertences Kaingang. E como prolongamento da casa, eles constroem um rancho e

acendem a fogueira, segundo seu costume.

Casa Tradicional Kaingang

Casa padrão Cohab Fonte: www.londrina.pr.gov.br Com a influência Guarani, os Kaingang conheceram e aceitaram o deus

dos Guarani: Tupá e modificaram seu nome para Tupé ou Topó. Há outros mitos

como o da origem das danças, do fogo e do milho. Hoje muitas famílias aderiram às

religiões pentecostais ou católica e freqüentam cultos e missas.

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Os Kaingang somam aproximadamente 25.000 pessoas, no Brasil. No Estado

do Paraná somam 10.000 e na Terra Indígena Apucaraninha (Londrina) representam

uma população de 1.350 indivíduos, todos falantes do dialeto Kaingang. Em duas

aldeias localizadas na porção sudoeste do município de Londrina, sendo a área

delimitada ao norte pelo rio Apucaraninha, a Sul pelo rio Apucarana, a Leste pelo Rio

Tibagi e a Oeste por trechos de alguns pequenos rios, estradas e represas.

Os Kaingang tinham como habitat desde São Paulo até o Rio Grande do Sul e

Argentina, migrando de acordo com suas necessidades e relações que mantinham

com outros grupos indígenas. Portanto seu território era contínuo e viviam na terra,

livremente. Era extenso seu território de caça e coleta. A lógica indígena é distante da

lógica de mercado, pois não acumulam bens para si. Não são seduzidos pela idéia

de consumo, para eles a riqueza só tem sentido enquanto apropriada pela

coletividade, principalmente nas festas.

O prestígio de cada um está vinculado à possibilidade de oferecer tais festas.

Os bailes são acompanhados por música de sanfona e principalmente para as

músicas e danças de origem gaúcha, como o vanerão, xote e bugio. Comemoram na

reserva o Dia do Índio, da Independência, da Páscoa, Natal e Ano Novo. Nestas

ocasiões toda a comunidade organiza a festa que, para ser completa, deve ter

comida em abundância, jogo de futebol e baile. No passado iam à floresta e rios em

busca de alimentos para a festa, hoje vão para suas roças, onde colhem milho, arroz,

batata doce, mandioca e também para a cidade adquirindo roupas, alimentos,

bebidas, rojões. Gostam de estar bem vestidos e calçados para o baile.

As reservas indígenas, são chamadas de Posto Indígena (P.I.). Para saírem da

área da reserva, os índios têm A GUIA DE TRÂNSITO (autorização). Nela são

descritas as razões da saída e o tempo de permanência fora, pelo prazo de dez dias,

no máximo. Caso precise ficar mais tempo, pede uma nova guia, emitida pelo cacique

ou chefe do Posto. Esta forma de controle é pública (institucionalizada), que mostra

que não há liberdade de ir e vir.

O território dessas reservas foram sendo reduzidas ao longo da nossa História.

No governo de Moisés Lupion, em 1949, as terras reservadas aos índios

Kaingang, em Apucaraninha, foram reduzidas de 80.000 hectares para 5.574 há,

aproximadamente. Ele se aproveitou de um Decreto Federal, de 1945, que permitia

esta redução para fins de colonização e localização dos imigrantes, colocando em

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prejuízo os povos indígenas da Reserva Apucaraninha, os quais ficaram confinados

nas terras da mais baixa fertilidade do Estado do Paraná.

Atividade 05. Observe as palavras abaixo:

KRE-(CESTO) + KYGFY (TRANÇANDO) = TRANÇANDO CESTO

a) Os Kaingang habitavam esta terra muito antes da chegada do homem branco.

Então por que não escrevemos e falamos como eles?

b) Agora, pense e escreva o que é importante para você sobre os costumes de sua

comunidade.

c) Como você representaria essas idéias, realizando pinturas corporais? Desenhe.

d) Pesquise, no dicionário, o significado da palavra liberdade e nômade.

e) Para o índio o que é a liberdade?

f) Os índios eram nômades, hoje vivem nas reservas. A maneira de viver do índio

mudou com a

criação da Guia de Trânsito? Explique.

g) Converse com outras pessoas sobre o assunto e registre as opiniões que você

ouviu.

Referências: GRUPIONI, Luis Donisete Benzi (organização), - Índios no Brasil - 4ª edição, São Paulo, MEC, 2000, p.95. MOTA, Lúcio Tadeu - As Guerras dos índios Kaingang . Ed.UEM, Maringá-PR, 1994. PINHEIRO, Niminon Suzei. Maneiras de perceber o mundo: o sincronismo homem e natureza entre os índios Kaingang . Terra indígena, Araraquara: Centro de Estudos Indígenas, v.11, n70, jan/mar 1994. OLIVEIRA, Marlene de . O Kaingang e a produção do artesanato mercantil. Monografia de graduação em Bacharelado UEL/89.

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OLIVEIRA, Marlene.- Folhetos explicativos dos projetos realizados e em realização pela Secretaria de Ação Social da Prefeitura Municipal de Londrina. 2007 SILVA, Sergio Baptista da - Etnoarqueologia dos Grafismos Kaingang: um modelo para a compreensão das sociedades Proto-Jê meridionais .- Tese de doutorado apresentada ao PPGAS da FFLCH da USP, São Paulo, 2001. SCHMIDT, Maria Auxiliadora M.S. - História do cotidiano Paranaense - Curitiba, Letra Viva, 1996. TOMASINO, Kimiye. A História dos Kaingang da bacia do Tibagi: Uma soc iedade Jê meridional em movimento. Tese de doutoramento, UNESP, SP, 1995. VEIGA, Juracilda. Org.Sociedade e cosmovização Kaingang: Uma introduçã o ao parentesco . Casamento e nominação em uma sociedade Jê Meridiona l, 1994. Dissertação/Mestrado em Antropologia Social. Universidade de Campinas. UNICAMP. Campinas. SP SITES: www.portalkaingang.org www.londrina.pr.gov.br www.webgeo.pr.gov.br