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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009 Versão Online ISBN 978-85-8015-054-4 Cadernos PDE VOLUME I

DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009 · história, que é parte da história do povo brasileiro, é necessário que a diversidade humana seja tratada como um componente de nossa formação

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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOSDA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE

2009

Versão Online ISBN 978-85-8015-054-4Cadernos PDE

VOLU

ME I

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NARRATIVAS AFRO- BRASILEIRAS: RESGATANDO A DIGNIDADE

ATRAVÉS DA LITERATURA

Mariliza da Silva1

Cristian Pagoto2

RESUMO: Este artigo, parte da implementação do projeto PDE, tem como objetivo apresentar uma intervenção realizada num colégio da rede pública estadual de ensino, percebendo-se a relevância de trabalhar com o tema Narrativas afro-brasileiras, utilizando textos, músicas e filmes que abordam o tema do preconceito racial no ambiente escolar e também fora dele. As turmas do 1º ano do Ensino Médio, leram, pesquisaram e debateram sobre obras literárias e outras linguagens. Os resultados obtidos demonstram que o racismo deve ser banido do espaço escolar e que os alunos afrodescendentes podem e devem resgatar a sua dignidade.

Palavras-chave: Dignidade; racismo; preconceito.

ABSTRACT: This article, part of project implementation PDE, aims to present an intervention in a college public school education, perceiving the importance of working with the theme Narratives African-Brazilian, using text, music and films that address the theme of racial prejudice at school and also outside it. The classes in the 1st year of high school, read, researched and debated literary and other languages. The results demonstrate that racism should be banished from the school and that students of African descent can and must redeem his dignity.

Key Words: Dignity; racism; preconceptions.

1 Mariliza da Silva é graduada em Letras Português/Inglês, é professora do quadro próprio do magistério do Estado do Paraná e possui especialização em Interdisciplinaridade em Educação.

2 Cristian Pagoto é Mestre em Estudos Literários e professora da FAFIPAR (Paranaguá)

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1 Considerações iniciais

Este artigo tem como objetivo principal relatar as experiências vivenciadas na

escola durante a implementação do projeto PDE, Programa de Desenvolvimento

Educacional, organizado pela SEED- Secretaria Estadual de Educação. Tivemos

como meta principal resgatar a dignidade dos alunos negros e também de outras

etnias que sofrem algum tipo de preconceito, tanto no ambiente escolar como fora

dele. Sendo assim, vimos a possibilidade de transformar o ambiente escolar do

Colégio Estadual Avelino Antônio Vieira, na cidade de Curitiba, em um lugar onde os

alunos possam se respeitar convivendo harmoniosamente. A intenção é formar

cidadãos críticos, conscientes e capazes de compreender que fazem parte de uma

sociedade multicultural, bem como de todo esse leque de nação mestiça.

E assim, com certeza, nossos alunos terão um novo olhar para o seu

pertencimento, para a sua etnia e, sentindo-se parte integrante da mesma, se

orgulharão de sua própria raça.

A escola é um espaço de diversidade, formada por indivíduos com diferentes

histórias de vida, opiniões, culturas e posição social. É no âmbito escolar que se

estabelecem as relações sociais de forma harmônica ou conflituosa, pois por um

lado encontra-se arraigado o discurso de igualdade e respeito ao próximo e por

outro se revelam os preconceitos e discriminações que às vezes acontecem de

forma implícita no cotidiano escolar.

A discriminação racial, em particular do negro, não acontece só no ambiente

escolar, mas também na vida social. Para que não exista um alheamento da própria

história, que é parte da história do povo brasileiro, é necessário que a diversidade

humana seja tratada como um componente de nossa formação ética.

Temos certeza de que a literatura pode contribuir para que levemos nossos

educandos a refletir a respeito da temática sobre a desigualdade étnico-racial,

preconceito e discriminação. Bem sabemos que juntos, professores e alunos,

conseguiremos conscientizar nossa comunidade escolar, para a valorização da

diversidade e da pluralidade cultural que permeiam a sala de aula.

Assim, é de suma relevância, resgatarmos e valorizarmos toda essa

diversidade cultural que é legado do nosso povo, que não mais existe, mas que deve

permanecer entre as futuras gerações. Queremos trazer para o universo cultural de

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nossos educandos afro descendentes, histórias míticas, que possam aproximá-los

da cultura de nossos ancestrais.

Ana Célia da Silva (1987, p.96-98), professora assistente do departamento de

educação da Universidade do Estado da Bahia – UNEB, afirma que precisamos

“Conhecer para entender, respeitar e integrar, aceitando as contribuições das

diversas culturas, oriundas das várias matizes culturais presentes na sociedade

brasileira”.

2 Mas afinal, qual é o papel do professor?

O preconceito racial é uma constante em nossa sociedade e já está

impregnado dentro dos padrões de comportamento. E a criança e o jovem negro

sofrem com o preconceito não só em sala de aula, mas também no ambiente onde

vivem. Essas posturas racistas precisam ser desmontadas, banidas, pois elas

interferem no aprendizado e no desenvolvimento do educando negro, uma vez que

ele se sente inferiorizado, físico e intelectualmente, prejudicando assim, sua auto-

estima.

Não podemos culpar os professores ou a escola por essas práticas racistas,

mas é necessário refletir sobre o papel de cada um, para a transformação dessas

posturas. O professor tem a função de proporcionar o conhecimento e a

sociabilidade entre os educandos. Para isso, ele precisa estar preparado e saber

como lidar com essa situação, que é polêmica e delicada: o racismo no ambiente

escolar.

Sabemos que é uma situação que gera conflitos, no entanto, as escolas

devem adotar uma metodologia de ensino, visando à capacitação dos profissionais

em educação, para que sejam sensibilizados e sintam-se preparados para assegurar

o respeito e a dignidade entre os alunos. É preciso excluir do espaço escolar as

posturas racistas e discriminatórias, que, se não solucionadas, estaremos omitindo

ao não dar a devida importância, ou seja, estaremos nos calando diante de uma

causa tão importante que é o combate ao racismo. O silêncio pode contribuir para

reforçar o preconceito e assim gerar novas ações preconceituosas. Mas é possível

assegurarmos o respeito e a dignidade entre os alunos, e excluirmos do espaço

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escolar as posturas racistas e discriminatórias?

3 Um pouco de história

Relatos do século XV já apontavam para a discriminação racial sofrida pelo

negro e pelo índio quando eram tratados como seres inferiores. Os colonizadores

europeus racistas, destruíam sua cultura e julgavam os negros e os índios como

seres inferiores.

Segundo Alves Filho (2008, p.192),

A longa duração do escravismo marcou profundamente a formação brasileira, e nossa vida de todos os dias. Ela é responsável perante a História, de alguma forma, pela marginalização da população negra, da qual amplos setores sobrevivem em condições infra-humanas nos milhares de favelas e bairros proletários espalhados por todo o país. (…) Vez por outra, determinados setores dirigentes do Estado dão a impressão de estar tomando consciência desses problemas, mas isto não significa que lhes dêem soluções.

Após a Abolição dos Escravos, os negros sentiram a necessidade de se

organizar, criando associações para combater o preconceito e a discriminação racial.

A partir da segunda década do século XX, foi criado o jornal O Clarim da Alvorada

que era o canal de expressão do grupo negro. Por volta de 1930, foi fundada a

Frente Negra Brasileira, cujo objetivo era integrar o negro, estimulando-o ao

trabalho, ao estudo e à aquisição da casa própria.

De acordo com Valente (1994, p.63),

Para melhor divulgar suas ideias, a Frente Negra criou um jornal próprio, de nome A Voz da Raça. Em 1936, foi transformada em partido político: Partido Frente Negra Brasileira. Não foi fácil obter o registro de partido. Muitas discussões sobre a constitucionalidade ou não da criação de um partido político negro marcaram o episódio. A Constituição brasileira, declara que todos são iguais perante a lei. Por isso questionava-se a

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existência de um partido que apontava para a diferença e, por que não dizer, para a desigualdade.

Sendo assim, uma raça não deveria ser superior à outra, ou seja, é

necessário que se faça valer a constituição.

Sabemos que o racismo é uma constante não só nas salas de aula, como

também em outros ambientes frequentados por pessoas negras. Quando o assunto

é o “racismo”, a primeira imagem que nos remete é a do negro, mas por quê? Qual é

a origem do racismo? Por que a raça negra? Por que existe desigualdade de valores

entre raças?

De acordo com Bonicci (2055, p.51),

Há um consenso entre antropólogos e geneticistas de que, a rigor, o termo raça, como sinônimo de subespécies, não pode ser aplicado aos seres humanos modernos, e que em muitos países pós-coloniais, como do Caribe e da América do Sul, a classificação morfológica dos humanos significa muito pouco em termos de genoma, embora a aparência física seja socialmente salientada”. Estudiosos ressaltam que não há nenhum fundamento cientifico que nos autorize a falar em superioridade ou inferioridade raciais, pois o que existe, afirmam, é diversidade cultural ou geográfica climáticas,e não diferenças biológicas, que seriam inerentes a diferentes etnias.

Podemos observar que isto também é reforçado por Stuart Hall, quando afirma que:

Contrariamente à crença generalizada -a raça não é uma categoria biológica ou genética que tenha qualquer validade cientifica. Há diferentes tipos e variedades, mas eles tão largamente dispersos no interior do que chamamos de “raças” quanto entre uma “raça” e outra. A diferença genética -o último refúgio das ideologias racistas- não pode ser usada para distinguir um povo do outro. A raça é uma categoria discursiva e não uma categoria biológica. Isto é, ela é a categoria organizadora daquelas formas de falar, daqueles sistemas de representação e práticas sociais (discursos) que utilizam um conjunto frouxo, frequentemente pouco específico, de diferenças físicas e corporais, etc. como nas marcas simbólicas, a fim de diferenciar socialmente um grupo de outro. (2006, p.62)

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Por isso, devemos respeitar os valores culturais das pessoas e aceitar as

diversidades, buscando um mundo mais igualitário e mais humano. Na verdade,

existem várias formas de racismo: contra os homossexuais, contra os nordestinos,

os índios etc.

A presença de palavras africanas que fazem parte do nosso vocabulário,

passam despercebidas e não são valorizadas como deveriam, bem como são

desconhecidas as personalidades negras que foram marcantes para a formação do

povo brasileiro, heróis que ajudaram a construir o Brasil (sua cultura, literatura,

dança, música, arte, culinária e religião). O negro não pode continuar à margem do

processo histórico-cultural, sendo tratado como ser inferior e discriminado na vida

pessoal e profissional como acontece hoje.

Segundo Sant’Ana (2005, p.59)

Essa insignificância, do ponto de vista biológico, não é levada em consideração nos relacionamentos do dia-a-dia dos racialmente oprimidos devido à cor negra de sua pele. O racismo que o negro sofre passa pela cor de sua pele. Este racismo tem um conteúdo cultural muito forte. Os mitos da sociedade ocidental em relação às diferenças entre os homens e mulheres surgem dentro de uma realidade inegável: a supremacia da raça branca. Por isso mesmo pode-se entender o fortíssimo mito em torno da cor do negro. Há uma violenta carga emocional em torno de sua cor. O negro vive em um mundo branco, criado à imagem do branco basicamente dominado pelo branco.

Infelizmente, percebemos que ainda se tem dificuldade de acesso à leitura

(de contos, lendas, poesias e dramatizações de textos) pelos educandos e também

à escola e à universidade independente dos sistemas de cotas.

De acordo com Munanga (2005, p.16),

O resgate da memória coletiva e da comunidade negra não interessa apenas aos alunos de ascendência negra. Interessa também aos alunos de outras ascendências étnicas, principalmente branca, pois ao receber uma educação envenenada pelos preconceitos, eles também tiveram suas estruturas psíquicas afetadas. Além disso, essa memória não pertence somente aos negros. Ela pertence a todos, tendo em vista que a cultura da qual nos alimentamos quotidianamente é fruto de todos os seguimentos étnicos que, apesar das condições desiguais nas quais se

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desenvolvem, contribuíram cada um de seu modo na formação da riqueza econômica e social e da identidade nacional.

Para Sant’Ana (2005, p.41), discorrendo sobre história e conceitos básicos

sobre o racismo e seus derivados, “O racismo é a pior forma de discriminação

porque não pode mudar as características raciais que a natureza lhe deu.”, ou seja,

o negro tem que lutar para vencer o preconceito racial, pois o mesmo não tem culpa

de ter nascido negro. Além do mais, ele precisa sentir orgulho de sua raça e procurar

sua identidade social. Para isso, é necessário fazer um trabalho de resgate, para

que se diminua o problema da desigualdade.

3.1 O negro e a mídia

Podemos também observar que existe preconceito quando se trata de um

personagem em um filme, ou em uma novela, por exemplo, pois para o negro, só

são escolhidos papéis de personagens de pouca importância. Observamos que é

muito comum vê-los encenando como coadjuvantes, onde os mesmos servem de

caricaturas do empregado doméstico, ou seja, aquele que tem uma posição social

inferior, sempre servindo às classes dominadoras. Este pensamento, no entanto,

parece estar mudando, mesmo que lentamente.

De acordo com Ana Lúcia Lopes (2006, p.25, grifo da autora),

A igualdade pressupõe semelhanças e diferenças, mas não contempla a inferioridade, que é a marca do preconceito e da discriminação racial. É preciso crer que as diferenças encontradas nos indicadores socioeconômicos, em relação à população não-branca, evidenciam apenas a falta de oportunidades e de acesso, e não a falta de capacidades e competências.

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Outro exemplo de discriminação racial está nos livros didáticos, onde são

atribuídos estereótipos e preconceitos. Segundo a Pesquisadora Professora Ana

Célia da Silva, da Universidade Federal da Bahia,

Constatou-se a existência de uma ideologia de inferiorização do negro que é fortalecida na escola através do livro didático e do professor, sob a forma de estereótipos e preconceitos. Constatou-se também que o professor, figura importantíssima na educação do aluno, lamentavelmente não percebeu a presença destes estereótipos, bem como o papel que exerce como o grande mediador no processo ideológico, reforçando a transmissão destes estereótipos. (SILVA, 1987, p. 91-98).

Por exemplo, no livro Caminho Certo, 3º série, (BRASIL, 1983, p.138),

aparece a seguinte frase no texto: “... querem ver que o demônio do negrinho tornou

a cair?”. A frase modificada por professores ficou assim: “... querem ver que o garoto

traquinas tornou a cair?”.

E a quadrinha popular “boi da cara preta, pega o menino que tem medo de

careta” foi modificada assim:

O boi da cara preta tem uma cara bonita, não é uma careta; o boi da cara preta é irmão do boi da cara branca, do boi da cara malhada. O boi da cara preta tem a cor do rosto da mamãe, o rosto que você, criança, se alegra quando olha... (ANDRADE, 1989, p.8).

Os cabelos crespos das crianças afro-descendentes são identificados como

cabelo “ruim”, primeiro pelas mães, que internalizaram o estereótipo; e, depois, na

escola, pelos coleguinhas, que põe os mais variados apelidos nas trancinhas e nos

cabelos crespos ao natural.

Trabalhar a razão de ser dos diferentes tipos de cabelo, ensinar como tratá-

los, realizar concursos de penteados afros, trazer trançadeiras para trançar na sala

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de aula, são algumas atividades que podem desconstruir a negatividade atribuída à

textura dos cabelos crespos.

Barbosa, citado por Munanga (2005, p.28), desconstrói o estereótipo através

da poesia:

Crespo cabelo trançado com a mais pura graça, (…) Apenas poesia e imaginação dos desenhos transborda Criando os mais belos caminhos na carapinha Sedutoramente tecido na raça das tranças

Os educadores podem ajudar a combater este tipo de preconceito que

infelizmente representa uma atitude negativa e pode promover a exclusão, a auto-

rejeição e a baixa autoestima do educando.

3.2 O professor pode ser um mediador

O professor pode ser um mediador criando atividades que sejam favoráveis às

diferenças étnicas e raciais. Se conseguirmos desconstruir ideias que desqualificam

a identidade étnica racial, não só no tocante à beleza, cor da pele, mas também no

que diz respeito à parte intelectual e moral, então temos certeza de que o educando

resgatará a sua autoestima e conquistará a sua cidadania.

De acordo com SILVA, (1987, p.96-98)

Identificar e corrigir a ideologia, ensinar que a diferença pode ser bela, que a diversidade é enriquecedora e não é sinônimo de desigualdade, é um dos passos para a reconstrução da auto-estima, do auto-conceito, da cidadania e da abertura para o acolhimento dos valores das diversas culturas presentes na sociedade.

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Para tanto, será interessante que os educadores, preocupados e engajados

com essa causa, participem mais e ajudem no sentido de verificar se os livros

didáticos estão de acordo com a lei. É muito importante observar se este material

não traz textos ou figuras que possam de alguma forma expor ao ridículo, não só o

aluno negro, que geralmente vem marcado pela estereotipia e caricatura, mas

quaisquer outros tipos de preconceito por gênero, raça ou diversidade.

De acordo com Munanga, (2005, p.15), Professor do Departamento de

Antropologia da USP,

Alguns professores, por falta de preparo ou por preconceitos neles introjetados, não sabem lançar mão das situações flagrantes de discriminação no espaço escolar e na sala como momento pedagógico privilegiado para discutir a diversidade e conscientizar seus alunos sobre a importância e a riqueza que ela traz à nossa cultura e à nossa identidade nacional.

O estímulo dos alunos de diferentes ascendências étnico-raciais ou sociais

vai depender de como o professor vai conduzir suas aulas, sabendo tratar dessa

polêmica de forma profissional, incentivando-os a lutar por seus ideais com

dignidade.

Outra questão de maior importância é fazer cumprir a lei 10.639/03, a qual

torna obrigatório o ensino da História Africana nos currículos em todas as escolas

públicas ou privadas.

A lei n.10.639, de 9 de janeiro de 2003, altera a lei n.9394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as Diretrizes e Bases da Educação Nacional, para incluir no currículo oficial, da rede de ensino a obrigatoriedade da temática “História e Cultura Afro-Brasileira, e dá outras providências”. “Art.1º A lei n.9.394/1996 passa a vigorar acrescida dos seguintes artigos 26-A, 79-A e 79-B. Art. 26-A Nos estabelecimentos de ensino fundamental e médio, oficiais e particulares, torna-se obrigatório o ensino sobre História e Cultura

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Afro-Brasileira. § 1o O conteúdo programático a que se refere o caput deste artigo incluirá o estudo da História da África e dos Africanos, a luta dos negros no Brasil, a cultura negra brasileira e o negro na formação da sociedade nacional, resgatando a contribuição do povo negro nas áreas social, econômica e política pertinentes à História do Brasil. § 2º Os conteúdos referentes à História e Cultura Afro-Brasileira serão ministrados no âmbito de todo o currículo escolar, em especial, nas Áreas de Educação Artística e de Literatura e Histórias Brasileiras”. [ grifos nossos]

De acordo com Lopes (2006, p.26),

A lei deixa nítida a obrigatoriedade do ensino de conteúdos sobre a matriz negra africana na constituição da nossa sociedade no âmbito de todo o currículo escolar e sugere as áreas de História, Literatura e Educação Artística como áreas especiais para o tratamento desse conteúdo, tanto no Ensino fundamental como no Ensino Médio.

A criança negra precisa se identificar e se aceitar dentro do seu espaço, de

forma positiva e com naturalidade, para que ela tenha orgulho de seus

antepassados. Quando isso acontece de forma contrária, ela pode sentir-se

rejeitada na fase adulta ou se envergonhar de sua própria raça, não aceitando sua

condição de “ser negra”. Portanto, se faz necessário que o professor estimule o

resgate da autoestima do aluno afro descendente, para que primeiramente, ele se

reconheça como negro, se aceite e lute por seus ideais.

Cabe à escola dar total importância ao fato de se trabalhar com temas

relacionados à questão do preconceito racial e da discriminação, pois se a escola é

uma instituição que deveria buscar soluções para o problema, ao invés de legitimar a

existência do mesmo. E os educadores devem estar preparados para receber o

aluno afro descendente zelando por sua segurança, para que o mesmo sinta-se

acolhido.

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3.3 Mudando o currículo

Depois da família, a escola é a segunda instituição responsável pelas

relações de sociabilidade do educando, portanto, é fundamental que ele sinta-se

acolhido para que melhore sua autoestima.

Cabe à escola transmitir visões de mundo, construir valores e participar na

formação do cidadão. E no caso do afro descendente, é preciso que se tragam para

o espaço escolar situações que elevem a autoestima e amplie sua compreensão do

problema.

Se toda a comunidade escolar estiver envolvida, (diretores, professores,

funcionários, pais e alunos), se cada um fizer a sua parte, então estaremos no rumo

certo, estaremos combatendo o preconceito e o racismo.

Acreditamos que através da literatura conseguiremos não só valorizar os

nossos alunos, mas também elevar sua autoestima. Queremos trabalhar

principalmente com textos de autores afro-brasileiros, para que os alunos se

identifiquem com essas narrativas e possam fazer um paralelo com outros autores

que também defendem esta causa.

É também relevante que se inclua no currículo, ações pertinentes ao combate

à discriminação e ao preconceito racial. Para isso, vemos a relevância de se fazer

algumas mudanças no currículo, por exemplo, por que não adotarmos um currículo

escolar que possa privilegiar negros e mestiços na sociedade e na cultura brasileira?

De acordo com Lopes (2006, p.16),

É preciso olhar mais de perto as experiências escolares que essas crianças e jovens vivenciam. A escola precisa aprender, para assim propor situações de aprendizagem que considerem a presença fundamental dos negros e mestiços em nossa sociedade e, com isso, proporcionar, no currículo cotidiano, outros encontros identitários, mas, dessa vez de inclusão, de sucesso e, portanto de aprendizagens positivas.

Portanto, se o professor promover essa mudança de postura e direcionar a sua

prática para novos rumos, com certeza conseguiremos transformar o espaço escolar

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em um ambiente de interação e comunicação, podendo dessa forma garantir a

participação social de todos. Por outro lado, bem sabemos da diferença existente

entre a teoria e a prática, mas precisamos acreditar fielmente na possibilidade da

mudança. É necessário fomentar em cada educador a esperança de dias melhores,

de uma sociedade mais humana, mais justa, e quem sabe, mais solidária com

aqueles que de uma forma ou de outra, sofram algum tipo de discriminação,

preconceito e injustiça, seja por cor, raça, condição social ou até mesmo religião.

O educador, além de educar, está em suas mãos a brilhante e árdua tarefa de

transformar o meio social. E para isso, não podemos nos calar. É necessário sim,

que se ensine ao aluno afro descendente, que ele tem as mesmas capacidades que

os alunos de outras etnias e o que ele precisa mesmo, é acreditar que é capaz.

3.4 Um professor comprometido

A SEED tem proporcionado cursos, seminários, fóruns e grupo de estudos

para tratar desta questão, mas percebemos que nem todos os professores se

sentem engajados, ou vamos dizer encorajados em buscar novos conhecimentos,

que com certeza mudariam sua postura.

Seria muito interessante que houvesse uma participação maior dos

educadores, pois a educação não é estática, pronta e não se tem fórmulas ou

receitas prontas de como resolver os problemas de preconceitos existentes no

ambiente escolar. É preciso que se busquem novas alternativas, que se aposte no

novo, e veja que o ato de ensinar deve ser compromissado e sempre colocando

como foco principal o bem estar e o desenvolvimento do educando. O que

podemos perceber claramente é que os adolescentes afrodescendentes, a maioria

deles sofre calada, com medo de represálias dentro do espaço escolar.

É muito comum ouvirmos os educadores dizerem que o momento é impróprio,

que tem provas para aplicar, livros de registros de notas e frequência para fechar, e

não participam. E percebe-se que na maioria das vezes, não há a interferência por

parte dos professores e educadores. Será que estes não percebem a existência

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deste conflito? Ou ainda, outra possibilidade, talvez seja o famoso “não querer se

envolver?” O silêncio pode contribuir para reforçar ainda mais o preconceito e gerar

novas ações preconceituosas.

E diante do processo de globalização, é preciso que tenhamos um cuidado todo

especial quando se trata de diversidade e cultura, uma vez que a escola está aberta

para todos, é um espaço público, logo, se faz necessário que todos se respeitem e

possam conviver de forma harmoniosa.

De acordo com Eliane Cavalheiro, (2005, p. 12), ”A globalização mundializou

o debate sobre racismo, preconceito e discriminação, em especial, nas sociedades

multiétnicas, como a brasileira”.

4 Implementação do Projeto Narrativas Afro-Brasileiras: Resgatando a

dignidade através da literatura

4.1 Diálogo e conscientização no chão da escola

E diante desta proposta, começamos a implementação, utilizando o texto

”Racismo é Burrice” do cantor Gabriel o Pensador, que primeiro foi feito a leitura e

depois ouvimos na íntegra, a música no CD. Logo em seguida foi mostrado um

vídeo com um clip da música e abrimos para um debate a respeito do preconceito

racial, onde se questionou o fato do aluno ou alguém da família ter sofrido algum tipo

de preconceito, seja por raça ou cor.

Este primeiro contato foi muito interessante, pois pude observar como temos

alunos que sofrem, são muito tímidos e tem como defesa, o hábito de sentar no

fundo da sala. Outros alunos lutam por se esconder em um capuz, ou não tiram o

boné de forma alguma para não mostrar o seu cabelo afro, ou seja, os alunos

afrodescendentes parecem envergonhar-se de sua aparência. Isso é muito comum

entre os adolescentes que estão naquela fase da formação de sua identidade, e não

só querem, como precisam se autoafirmar diante dos colegas e da comunidade

onde vivem e se relaciona socialmente. Não podemos deixar de dizer que a escola é

o principal espaço de convivência social entre os jovens, portanto, é na escola que

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ele vai construir sua identidade, e com certeza, isso requer um acolhimento por parte

da instituição.

Outro ponto importante a relatar, é que no que diz respeito à conscientização

dos educandos, no início e também durante a implementação do projeto, notou-se

que cada aluno, quando questionado a respeito do tema, via por ângulos diferentes

a questão do preconceito e da discriminação racial. Entretanto, os alunos

participantes produziram textos e também cartazes relacionados a esta temática,

dando sua opinião. Pode-se observar que a maioria são questionadores, e acreditam

na possibilidade de mudança.

Foi trabalhado também o gênero textual poesia, dando ênfase a poemas de

autores afros para que nossos alunos pudessem identificar e conhecer esse

universo literário Afro, onde os alunos desenvolveram a leitura e em outro momento

confeccionaram cartazes com poemas deles mesmos ou de autores afros que foram

expostos e abertos à visitação para as demais turmas e para a comunidade escolar.

Fez-se também a leitura de contos, sendo que, logo após a leitura foi aberto

um espaço para debates e discussões, sempre fazendo um paralelo com a

realidade, onde percebemos que houve progresso nas intervenções, bem como,

um amadurecimento por parte dos alunos, quando se trata de explanar sua

opinião a respeito do assunto.

Foi mostrado o filme de curta metragem “O Xadrez das Cores”, que trata da

problemática do preconceito racial entre a empregada negra e a patroa branca. Os

alunos puderam assistir e logo após, fizemos uma análise das cenas que deixavam

claro não só o preconceito de raça, mas também de classe social, onde a

empregada consegue fazer uma comparação entre as peças do jogo de xadrez, “os

peões” e a sua condição de “empregada doméstica”. Em seguida, abrimos

primeiramente para um debate em grupo, depois foi colocado em discussão por toda

a turma, que discutiram e reproduziram um texto de opinião sobre o assunto.

Outro filme também trabalhado foi o curta “Vista minha pele”, que trata do

preconceito sofrido por uma personagem branca, que sofre na própria pele, tudo o

que a personagem negra sofre. Foi também, colocado em discussão, a cor, a

condição social e a hostilização sofrida pelas classes menos favorecidas. Por outro

lado, o filme deixa uma lição, mostrando que quando se quer vencer, não importa a

cor ou a condição social, mas acima de tudo, é preciso acreditar em si mesmo. Após

o filme, abrimos para uma discussão entre os alunos, abordando o tema do

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preconceito racial, numa visão que leva os alunos a se colocarem no lugar da

personagem, e em seguida os mesmos elaboraram uma sinopse, e também um

texto de opinião sobre o filme.

Foram mostrados também outros vídeos do Youtube que tratam da temática

“Racismo e Preconceito”, com cenas, clips, e poemas, sendo que, após o debate,

foi dado abertura para discussão e produção de textos, onde os alunos expuseram

sua opinião.

Trabalhamos também com o poema “Grito Negro” de José Craveirinha, que é

considerado o principal escritor africano de língua portuguesa. Um autor

Moçambicano que participou ativamente do processo de libertação do seu país.

Neste poema, foi feito a leitura e interpretação dos versos que estão em

sentido figurado e que estão relacionados à condição do negro como escravo e

vítima de um sistema.

Podemos observar que o negro é comparado ao carvão, pois ambos são

judiados e mesmo assim, continuam fortes: o carvão por sua combustão e o negro

por sua resistência e ousadia. Neste poema, o negro é comparado não só por sua

cor, mas também no sentido de “mina”, ou seja, é graças à força do negro que o

fazendeiro consegue enriquecer. Feita a interpretação, foi levantado um

questionamento a respeito da forma que o negro foi retirado de sua pátria e

simplesmente transformado em “coisa”, ou seja, um objeto de compra e venda do

seu patrão, que por um lado o transforma em fonte de renda e moeda de troca, e por

outro, o transforma em outro cidadão, mudando seus costumes, seu nome,

sobrenome (que na maioria das vezes, herdava o sobrenome do patrão) e até

mesmo a sua religião. Mas o negro é gente, é humano e tem consciência disso,

portanto, chega o momento em que ele decide viver sua própria vida e diz que não

servirá eternamente ao seu patrão.

Os alunos fizeram também pesquisas na internet, buscando textos e músicas

que tratavam do racismo e preconceito e fizeram uma comparação de fatos

ocorridos no passado, com fatos recentes, ou seja, notou-se que infelizmente, o

racismo e o preconceito ainda existem, embora, podemos observar que é de

forma velada.

Na Semana da Consciência Negra, tivemos a idéia de mostrar para toda a

escola, nos três turnos, os vídeos e filmes deste projeto. Foi executado o Hino da

África do Sul, que ensinei para os alunos participantes do projeto e também foi

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mostrado um clip da música africana. Podemos dizer que não só a implementação

do projeto, mas também o evento foi muito positivo, pois conseguimos abranger

assim, a todos os alunos e funcionários da escola, que se mobilizaram para o

acontecimento do evento.

5 Considerações finais

Acreditamos que este artigo possa contribuir, sendo um instrumento precioso,

em que outros profissionais da educação possam sanar suas dúvidas e também

buscar incentivo para trabalhar com esse tema que é o racismo e o preconceito em

sala de aula. E esperamos que isso possa levar outros professores a se

interessarem pelo assunto e sentirem o desejo de difundir novas práticas, ou seja,

ter um novo olhar para o seu aluno. Precisamos formar cidadãos mais críticos, que

tenham uma nova postura, um novo jeito de agir diante dos desafios apresentados

pela diversidade e temos certeza que as atividades desenvolvidas durante o curso,

todas tiveram enfoque em mostrar como lidar com essa questão. Como já dissemos,

nosso país é composto por um leque de nação mestiça. Já no que diz respeito à

implementação e aceitação do projeto na escola, observamos que toda a

comunidade escolar mostrou-se receptiva e a maioria colaborou para que tudo

saísse da melhor forma possível, desde a Direção, pedagogos, professores e

educadores, participaram enriquecendo a implementação do projeto, que foi um

momento de enriquecimento cultural para todos os participantes.

Observamos também que a implementação foi positiva no sentido de

sensibilização para o tema em questão, pois conseguiu não só envolver, mas

também conscientizar a todos os alunos, professores e funcionários da escola,

sobre a relevância de tratar dessa temática.

Uma questão relevante nesse artigo e que não posso esquecer-me de relatar,

é a contribuição valiosa dos professores que vieram a fazer parte do Grupo de

Trabalho em Rede, o GTR, um curso on line, curso o qual tive o prazer de ser tutora

em uma das etapas do curso, mesmo sendo à distância, e apoiados com os

recursos tecnológicos para que pudéssemos desenvolver as atividades propostas,

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para mim, foi muito gratificante, pois pude somar e trocar experiências com

professores de outras cidades, bem como, fazer novas amizades.

Cada participante, a seu modo, deu sua contribuição, que foi de total

importância para que tudo se concretizasse. Só posso agradecê-los e dizer que,

como diz o artista: “Sonho que se sonha só, é apenas um sonho. Mas sonho que se

sonha junto, é realidade” (Raul Seixas).

É importante dizer que muitos alunos, no final da implementação tiveram

idéias diferentes das apresentadas no início do projeto, ou seja, mesmo aqueles que

não tinham argumentos, ou demonstravam ser contrários à ideia de defender esta

causa, agora conseguiram não só falar, mas também discorrer com propriedade e

segurança.

Isso nos leva à certeza de que a semente foi semeada, ou seja, lançamos a

provocação, provocação essa que levará nossos educandos a ampliar seu universo

cultural e assim poder participar, exercer a cidadania e ser sujeito de sua própria

história. Como bem sabemos, o objetivo principal da educação é que o cidadão se

torne um agente social de mudança, mas para isso, é preciso que nós educadores

estejamos preparados para isso.

Podemos observar pelos relatos dos alunos, que a implementação foi muito

válida, uma vez que se trata de uma questão polêmica, mas que serve de impulso

para aqueles que não sabem se defender, que não sabem que tem a liberdade de

pensar, agir e falar, não importando a sua etnia ou o seu padrão social.

Foi dada a largada, ou seja, isso é apenas o início de uma nova etapa de luta,

agora esperamos que outros possam e queiram também fazer parte desta equipe de

sonhadores que não acreditam na utopia, mas sim, na conquista de dias melhores e

de cidadãos melhorados a partir do contato com o novo. Precisamos de profissionais

que não se conformam com a mesmice, que se inquietam e acreditam na

possibilidade de mudança.

E mudar, significa ousar, criar, buscar novos horizontes, novas perspectivas

do saber, mesmo que isso incomode os que não querem apostar na mudança.

Digo isso, porque bem sabemos da existência do profissional que não quer

mudar, sair da rotina ou experimentar algo novo, como por exemplo, um jeito

diferente de ministrar suas aulas, alegando que é perca de tempo ou que já está

cansado.

E como professora, posso dizer que valeu a pena provocar e estimular, pois

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nossos alunos precisam de nosso total apoio e entusiasmo, pois só assim,

conseguiremos auxiliá-los a buscar novos caminhos e dar segurança para que

possam resgatar sua dignidade, acreditando em si mesmos e também em seu

potencial.

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Referências

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MUNANGA, Kabengele. Superando o Racismo na Escola. 2. ed. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade, 2005.

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