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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOSDA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE
2009
Versão Online ISBN 978-85-8015-054-4Cadernos PDE
VOLU
ME I
RESUMO
Este artigo tem por objetivo salientar a importância da leitura crítica no contexto escolar,
utilizando como recurso didático o gênero textual crônica para o desenvolvimento intelectual,
acadêmico e social do educando, levando-o a refletir sobre as práticas sociais, envolvendo os
aspectos ideológicos que refletem na vida das pessoas e da coletividade. Neste trabalho,
utilizamos a metodologia que se insere no campo da Análise do Discurso com interface na
semiótica, fundamentado no pensamento de Orlandi (2009) e Brandão (1998. Dessa forma,
acompanhamos o desenvolvimento escolar de um grupo de alunos da 8ª série do ensino
fundamental no decorrer do ano letivo de 2010. Nossas intervenções se fizeram a partir de
material impresso e eletrônico que foi selecionado, lido, citado, discutido e analisado, proporcionando assim as
informações necessárias para a obtenção de conhecimentos sobre o tema e seus conteúdos. Justifica-se a escolha
deste tema pela importância que tem a leitura no desenvolvimento cognitivo e na formação do aluno capaz de criar e
cultivar hábito de leitura, tendo como foco a visão do cotidiano social, como o caso dos textos do gênero crônica que
refletem os fatos que influenciam na vida das pessoas. A crônica é um dos gêneros que acompanha a vida da
sociedade há séculos, tendo sido muito utilizada para destacar acontecimentos que retratassem sequências de
fatos, dando o sentido de tempo cronológico. Os jornais, as revistas, os famosos folhetins
onde eram publicadas obras literárias importantes deram lugar aos textos compactos que
chegam em alta a nossos dias destacando nomes como Luís Fernando Veríssimo e Fernando Sabino, que
aparecem nos meios de comunicação com sua crítica social produzida com linguagem afinada e argumentos
onde predominam a observação, a imaginação e a criatividade. Através de técnicas adequadas para o incentivo à
leitura, percebemos como resultado final, alunos mais críticos e estimulados.
Palavras-Chave: Contexto escolar. Análise do discurso. Crônica.
ABSTRACT
This article has to emphasise the importance of critical reading in the school context, using as a didactic genre
textual resource chronic, to the intellectual development, academic and business of educating, leading him to
reflect on social practices, involving the ideological aspects, which reflect on the lives of people and
collectivity. In this work we use the methodology that is inserted in the field of the Analysis of the Speech with
interface in the semiotics, based on the thought of Orlandi (2009) and Brandão(1998). In this way we follow
the school development of a group of students of the 8th grade of primary education in the course of the year
2010. Our interventions were done from printed and electronic material that was selected, read, quoted,
discussed and analysed, providing so the necessary informations for the acquisition of knowledge on the
subject and its content. The choice of this subject is justified by the importance that has the reading in the
cognitive development and in the formation of the student able to create and to cultivate habit of reading,
taking as a focus the vision of the social daily life like the case of the texts of the type chronicle that refelts the
facts what they influence the life of the person. The Chronicle is one of the genres that accompanies the life of
society for centuries, having been very used to highlight events which elucidate facts strings, giving the sense
of time chronological. Newspapers, magazines, where the famous serials were published literary works, gave
rise to important texts compact arriving on high our days as names as Luís Fernando Veríssimo and Fernando
Sabino that appearing in the media with their social criticism produced with refined language and
arguments where predominates observation, imagination and creativity. By means of appropriate
techniques for the incentive to reading, we understand the end result, students more critical
and stimulated.
Keywords: Context school. Discourse analysis. Chronic.
2
A CRÔNICA E A FORMAÇÃO DO LEITOR CRÍTICO
Tânia Inês Weizenmann Pereiral1
Orientador: Prof.Dr.Adilson do Rosário Toledo2
1 Introdução
Este artigo é o resultado de um trabalho de pesquisa voltado aos estudos da linguagem,
mais especificamente da leitura, desenvolvido no Programa de Desenvolvimento Educacional
da Secretaria de Estado da Educação do Paraná (SEED), em parceria com a Faculdade
Estadual de Filosofia, Ciências e Letras de Paranaguá (FAFIPAR). O PDE – é uma política
educacional inovadora de formação continuada das professoras e professores da rede pública
estadual e propõe um conjunto de atividades organicamente articuladas, definidas a partir das
necessidades da Educação Básica. O programa busca no Ensino Superior a contribuição
solidária e compatível com o nível de qualidade desejado para a educação pública no Estado
do Paraná.
O presente estudo foi desenvolvido entre 2009–2011 no Colégio Estadual Hélio
Antônio de Souza, pertencente ao município de Pontal do Paraná, jurisdicionada ao Núcleo
Regional de Educação de Paranaguá. O projeto foi aplicado aos alunos da 8ª série, do turno
vespertino com idades entre 14 e 17 anos.
Verificamos que os alunos do Ensino Fundamental e Médio, encontram dificuldades
para realizar leitura crítica. Isso ocorre porque a maior parte do tempo destinado às aulas de
língua portuguesa é consumida com atividades que envolvem a gramática. Assim, o aluno vai
ficando longe do processo de leitura e elaboração de textos.
Por outro lado, a falta de leitura desse público encontra-se influenciada pela
interferência dos meios de comunicação, como por exemplo, a internet e a televisão. Enquanto
educadores, percebemos o quanto os alunos do Ensino Fundamental vêm rejeitando a prática
de leitura e produção de textos. Não é preciso muita vivência para logo compreenderrmos que
a forma como vem sendo praticada a leitura na sala de aula não desperta no aluno o interesse
por qualquer gênero textual.
1 SEED-PR, [email protected]
2 FAFIPAR, [email protected]
3
Como resultado disso, temos um contingente de alunos que já no Ensino Médio não
conseguem elaborar um pensamento com clareza, muito menos realizar uma leitura crítica. O
quadro se agrava ainda mais quando constatamos, através de observações empíricas, que
graduandos demonstram ainda não ter desenvolvido aquela última habilidade de leitura.
Considerando-se esse quadro, bem como a constatação da necessidade de formarmos pessoas
com consciência crítica, decidimos operacionalizar atividades com os alunos do Ensino
Fundamental, da Escola Pública envolvendo a investigação educacional na leitura, por
imaginarmos que os problemas de leitura começam no Ensino Fundamental.
Se para o aluno as aulas de Língua Portuguesa carecem de sentido, para nós,
educadores, passou a ser fundamental buscar meios de tornar claro esse sentido.
A escola, ao mesmo tempo em que se coloca como instituição socialmente responsável
pela formação de leitores, naturaliza uma concepção histórico-social de leitura que,
paradoxalmente, implica interdição do próprio trabalho de interpretação constitutivo de todo
processo de significação.
Neste artigo fazemos uma análise teórico-prática sobre o tema em questão, utilizando,
como ponto de partida o gênero crônica e, escolhemos os autores Luis Fernando Veríssimo e
Fernando Sabino para este estudo. A partir da leitura crítica das crônicas desses autores,
através de uma estratégia de ação planejada para uma intervenção didática na escola,
retiramos os subsídios para nossas análises. Os dados foram obtidos pela participação efetiva
dos alunos diante dos textos apresentados para leitura, como também diante da produção de
seus próprios textos.
Nestes momentos, priorizamos a linguagem escrita padrão, de forma clara e objetiva.
A participação efetiva do leitor leva-o a atribuir significação ao texto e, no caso do texto
literário, de concretizá-lo esteticamente, preenchendo os espaços em branco deixados pelo
autor no momento da criação literária.
É importante que todo ambiente ao redor do aluno o incentive à leitura, não tendo
apenas a escola como único local de acesso aos livros. Por este motivo, ressaltamos a
importância do incentivo à leitura e que esse hábito seja desenvolvido de uma maneira
adequada, prazerosa, útil e enriquecedora ao universo escolar e à realidade social do aluno.
4
2 A história da crônica no Brasil
O primeiro documento escrito sobre o Brasil, pelos portugueses que chegaram ao
Novo Mundo, não poderia ser outro senão uma crônica, pois tratava-se de um momento
histórico relevante, que precisava ser descrito e marcaria não apenas a coroação do êxito das
conquistas lusas, mas também o nascimento de uma colônia que se tornaria , mais tarde,
nação.
Segundo Lima, (2005), a carta de Pero Vaz de Caminha é considerada pelos historiadores como a
primeira crônica brasileira, e igual a ela aconteceram outros relatos de cronistas que também
deram notícias da nova terra aos europeus. Caminha registra e relata fielmente as
circunstâncias do Descobrimento num misto de concretude e magia, pelo fato de encontrar-se,
principalmente, diante de um povo cujos costumes eram totalmente estranhos aos
portugueses.
Conforme Jorge de Sá (1985 apud Ferreira 2008, p.364), o texto de Caminha partiu da
observação direta dos fatos, o que é condição essencial para que os acontecimentos efêmeros
ganhem concretude e passem a integrar a realidade dos leitores [...].
Bender e Laurito (1993), destacam que no século XIX, a crônica passa a ter uma conotação diferente
do relato histórico, passando a fazer parte do jornal, na época conhecido como folhetim de variedade.
Das duas espécies de folhetins publicados na imprensa do século XIX, a que
deu origem ao gênero crônica – tal como o concebemos modernamente – foi
o folhetim de variedades. E o que era este...? Nos rodapés dos jornais, ao
mesmo tempo que cabiam romances em capítulos, também cabia – ainda
quando em outras folhas – aquela matéria variada dos fatos que registravam
e comentavam a vida cotidiana da província, do país e até do mundo.
(BENDER; LAURITO,1993, p. 16) .
Segundo esses autores, os cronistas daquela época eram conhecidos como
folhetinistas, ou seja, aqueles que escreviam os folhetins de variedades. Tinham como
objetivo conquistar o público à proporção em que este tomava gosto por esse tipo de texto e, a
partir daí, adquiria a prática da leitura. Grandes nomes do Romantismo e do
Realismo/Naturalismo brasileiro também escreveram folhetim de variedades: José de Alencar,
Joaquim Manuel de Macedo, Machado de Assis, Aluísio de Azevedo, Raul Pompéia (desse
autor vale lembrar a obra O Ateneu, também conhecida como crônica de saudades), entre
outros. Machado de Assis, por exemplo, trabalhava no jornal Marmota Fluminense, ao mesmo
tempo em que cuidava de sua produção literária.
Ferreira (2008, p. 365) afirma que Machado,
5
ao misturar notícia e ficção, encontrou meios para a produção de crônicas,
escritas com uma linguagem num tom coloquial, como se o autor estivesse
conversando com o leitor, a exemplo do que acontece em seus romances.
Muitas vezes, sua crítica vinha desferida indiretamente através de histórias
fictícias ou anedotas.
Ferreira (2008) destaca ainda que, enquanto o folhetim do século XIX tratava de
assuntos variados, além de tomar quase metade da página do jornal, a crônica moderna
encurtou e trata apenas de um assunto, já que o jornal de hoje tem várias seções e cada uma
delas, um assunto diferente.
Lima (2005), afirma que grande parte dos escritores (poetas e romancistas) que se
iniciaram na carreira literária no início do século XX também escreveram crônicas; desse
período podemos destacar Lima Barreto, com suas crônicas sobre a cidade do Rio de Janeiro;
Mário de Andrade e Carlos Drummond de Andrade. Dentre os cronistas atuais, podemos citar
Stanislaw Ponte Preta, Luís Fernando Veríssimo, Rubem Braga, Fernando Sabino. Estes
inclusive têm crônicas que já se eternizaram, foram publicadas em livros, inclusive os
didáticos.
Como se vê, a crônica no Brasil, desde a carta de Pero Vaz de Caminha até os escritos
dos cronistas atuais sofreu mudanças; isso se deve às diferenças sociais e culturais existentes
em cada povo, cada raça, em cada época. Com o passar do tempo, a crônica brasileira passou
a ter um caráter mais literário, fazendo uso de uma linguagem mais leve e envolvendo lirismo,
poesia e fantasia.
3 O conceito de crônica
Segundo Azevedo e Tavela (2009), a palavra “crônica”, em sua origem, está associada
à palavra grega “khrónos”, que significa tempo. De khrónos veio chronikós, que quer dizer
“relacionado ao tempo”. No latim existia a palavra “chronica”, para designar o gênero que
fazia o registro dos acontecimentos históricos, verídicos, numa sequência cronológica, sem
um aprofundamento ou interpretação dos fatos.
Na língua portuguesa existem muitos termos cujo radical, etimologicamente, está
ligado ao sentido original de tempo. Além disso, diferentes dicionários definem o termo
“crônica” referindo-o ao sentido original de “cronos”. Segundo Massaud Moisés (2003), o
termo crônica vem do grego chronikós, relativo a tempo (chrónos), pelo latim chronica.
6
Caminhando no tempo, o vocábulo “crônica” passou a designar, uma lista ou relação de
acontecimentos ordenados segundo a marcha do tempo, isto é, em sequência cronológica.
A acepção moderna de crônica passou a ser empregada no século XIX, quando este
vocábulo revestiu-se de sentido estritamente literário. De acordo com Massaud Moisés (2003),
a ampla difusão da imprensa beneficiou o vocábulo crônica que então, rapidamente passou a
ser uma narrativa histórica presente nos jornais impressos. Nos dias atuais, o gênero crônica,
possui um sentido claro e inequívoco como um texto breve, relacionado à atualidade e
publicado em jornal ou revista. Para Melo (1985), somente no Brasil a crônica tem a feição de
relato poético do real, situado na fronteira entre a informação de atualidade e a narração
literária.
3.1Tipos de crônica
A característica principal do estilo crônica está no fato de ser uma narrativa breve, com
abordagem reflexiva, subjetiva e comunicativa que conta ou comenta histórias da vida
cotidiana.
Na leitura de algumas crônicas, podemos notar como esse tipo de narração ganha um
interesse especial. O desenvolvimento da crônica está intimamente ligado ao espaço aberto,
principalmente na imprensa. Pode apresentar-se ora humoristicamente, ora dramaticamente,
mas quase sempre com sátiras, porque revela a intimidade de diferentes personalidades do
mundo, sobre quem o leitor sempre quer saber alguma coisa.
A crônica literária começou a despertar interesse no Brasil na época do Romantismo,
quando se referia à vida urbana de nossos maiores centros ou tratava de matéria política.
Porém, a renovação de seu conceito se fez sentir mais modernamente. Além de ser artigo de
jornal, registra os fatos e aborda problemas psicológicos e assuntos da vida mundana das
diversas camadas sociais. Dentre os principais tipos de crônica destacam-se:
a) Crônica narrativa - conta episódios cativantes cuja trama envolve muita ação,
poucas personagens e um desfecho imprevisível. Esse tipo de crônica pode
apresentar teor anedótico, crítico ou lírico.
b) Crônica descritiva – tem como característica essencial, o fato de não haver uma
progressão lógico-temporal. A descrição poderá ser subjetiva (feita a partir das
impressões de quem a fez, inclusive com uso de linguagem figurada) ou objetiva
(qualquer um que veja a mesma imagem pode perceber os mesmos elementos).
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c) Crônica dissertativa – discute e questiona a respeito de um determinado tema,
expressando o ponto de vista de quem escreve. Normalmente o autor emite
opiniões de maneira que elas sejam compreendidas e aceitas pelo leitor. Tais
opiniões normalmente se apresentam bem argumentadas, explicitadas e
exemplificadas.
d) Crônica lírica – Apresenta uma linguagem poética e metafórica. Expressa o estado
de espírito e as emoções do cronista diante de um fato, de uma pessoa ou
fenômeno.
e) Crônica reflexiva – O autor tece reflexões filosóficas, isto é, analisa os mais
variados assuntos do cotidiano através de impressões e inferências.
f) Crônica metalinguística – é a crônica que fala do próprio ato de escrever, o fazer
literário, o ato da criação.
g) Crônica humorística – Apresenta uma visão irônica ou cômica dos fatos
apresentados. São sátiras da vida em sociedade, ampliando seus problemas de
forma caricatural para reduzi-los ao humor.
h) Crônica jornalística - tem como tema fatos ou ideias da atualidade. Estes podem ser
de teor artístico, político, esportivo, etc ; ou simplesmente relativos à vida
cotidiana.
i) Crônica histórica – baseada em fatos reais, ou fatos históricos.
4 Os gêneros textuais
As Diretrizes Curriculares de Educação do Paraná (2008), fundamentam-se, em parte,
na teoria da enunciação de Bakhtin (1992), em que os gêneros textuais desempenham função
importante.
O conceito de gênero textual refere-se às formas típicas de enunciados – falados ou
escritos – que se realizam em condições e com finalidades específicas nas diferentes situações
de interação social. De acordo com Bakhtin (1992, p. 279):
a riqueza e a variedade dos gêneros dos discursos são infinitas, pois a
variedade virtual da atividade humana é inesgotável, e cada esfera dessa
atividade comporta um repertório de gêneros do discurso que vai
diferenciando-se e ampliando à medida que a própria esfera se desenvolve e
fica mais complexa.
8
Para ele, os gêneros textuais discursivos circulam em mais de uma esfera, podendo ser
de linguagem mais simples como é o caso dos gêneros cotidianos, a saber: receita de
alimentos, talão de luz, água, ou telefone; bilhete, cartas pessoais, ou nas produções de
linguagem; ou estilo mais formal onde a linguagem não varia, como no caso dos gêneros da
esfera burocrática (ofício, memorando), esfera científica (teses, livros), esfera jornalística
(jornal, charge).
Os gêneros textuais são produzidos por pessoas nas diferentes situações discursivas e
são nomeados em razão de suas características de função (objetivo), conteúdo (tema),
organização (estrutura) e estilo (linguagem).
Justifica-se, então, desde o ensino fundamental, o trabalho com os diferentes gêneros
que circulam na sociedade. Segundo Marcushi (2001), vivencia-se uma explosão de novos
gêneros e novas formas de comunicação na oralidade e na escrita, sobretudo na atual fase da
cultura eletrônica. Imersos num universo textual, não se podemos ficar alheios a este
processo. Assim, o aluno precisa conhecer esse universo textual e interagir nele e com ele;
precisa saber que existem gêneros que emanam das esferas jornalística, escolar, religiosa,
literária, cientifica, publicitária, burocrática, cotidiana e artístico-cultural, cada um com suas
especificidades, atendendo a necessidade, a atividades sócio-culturais repletas de intenções,
sutilmente proferidas nos discursos.
A partir dos gêneros textuais, podemos organizar uma proposta de ensino-
aprendizagem que permite ao professor a observação e a avaliação das capacidades de
linguagem dos alunos, antes e durante sua realização, fornecendo-lhe orientações mais
precisas para sua intervenção didática. Para os alunos, o trabalho com gêneros constitui, por
um lado, uma forma de se confrontar com situações sociais efetivas de produção e leitura de
textos e, por outro, uma maneira de dominá-los progressivamente.
Dessa forma, cabe também à escola, permitir a seus educandos o contato com os
diversos gêneros e, antes de tudo, construir com eles a competência sócio- comunicativa para
que possam interagir nas esferas sociais e ter uma postura crítico-reflexiva em relação aos
discursos nelas produzidos.
A crônica é um gênero textual privilegiado. Para entendermos o gênero crônica, é
fundamental que se analise também, o que é texto e discurso, suas tipologias para
entendimento com maior clareza.
9
5 Fundamentação teórica e metodologia desenvolvida no trabalho
Este trabalho se insere no campo da Análise do Discurso com interface na semiótica,
fundamentado no pensamento de Orlandi (2009) e Brandão (1998) Metodologicamente,
faremos pequenas incursões na teoria semiótica do texto baseado em Fiorin (2009) e Barros
(2001).
A leitura é um ato comunicativo, por isso, na atividade de leitura, autores como
leitores posicionam-se social, cultural e historicamente, projetando seus valores e crenças na
construção do significado do texto. Assim, produzir ou ler texto, é estar envolvido em uma
prática social. Esta prática social proporciona a análise crítica do texto, tendo em vista que a
linguagem reflete as relações de poder expressas pelo embate entre a classe dominada e a
classe dominante, armadilhas que podem não estar claras no texto.
Nesse sentido Orlandi (2009) demonstra o papel que a linguagem desempenha ao
expressar não só uma simples mensagem proposicional, mas também uma mensagem
ideológica subjacente ao texto, que pode passar despercebida pelo leitor. Por isso, a
necessidade de uma compreensão mais profunda do processo comunicativo, o que exige
procura do que está implícito ou nas entrelinhas, em outras palavras, uma leitura crítica em
relação ao conteúdo veiculado na mensagem.
A postura ideológica do autor pode ser evidenciada, entre outros recursos, através das
escolhas lexicais, por meio de construções e estratégias linguísticas. Esses recursos,
empregados através da linguagem são verdadeiras armadilhas para a maioria dos leitores
menos familiarizados com a força ideológica expressa pela linguagem.
Para Orlandi (2009), nem os sujeitos, nem os sentidos, nem os discursos estão prontos
e acabados, estão sempre se fazendo, em movimento, na tensão entre paráfrase e polissemia. E
essa incompletude é que condiciona a linguagem e cria os diferentes sentidos de um discurso.
O discurso é o meio pelo qual a ideologia se manifesta. É por meio do discurso que o
sujeito revela suas marcas pessoais, construídas na sua relação com o meio. Dessa forma,
compreendemos que as relações sócio-histórico-ideológicas que se materializam no discurso,
vão constituir as formações discursivas, determinando assim, o que pode ou não ser dito a
“partir de um lugar sócio historicamente determinado”, conforme revela Brandão (1998, p.
90). Assim sendo, vemos que os enunciados mudam de sentido segundo o lugar ideológico, as
posições defendidas por quem os empregam.
10
Orlandi (2009), ao afirmar que a presença da ideologia no discurso se dá através da
interpretação, demonstra que, tanto os sentidos quanto os sujeitos de um discurso, também
dependem da ideologia que adotam e, ao mesmo tempo são constantemente influenciados pela
linguagem e pela história em que se inserem.
Considerando as afirmações da autora pode-se observar que o sentido que percebemos
nos dizeres de outros também estão sujeitos a deslocamentos, apesar de muitas vezes
parecerem inalterados. Daí a importância, no caso da prática escolar de o professor promover,
não só atividades linguísticas e metalinguísticas, mas também atividades epilinguísticas, que
façam o aluno refletir sobre as diversas funções e formas de uso da linguagem, que vão além
da mera informação, descrição ou relato. Ao contrário, pressupõem convencimento e
persuasão.
Desse modo, cabe aos profissionais da área (s) da linguagem (ns), mudar a atual
conjuntura de ensino, desvelando junto aos alunos, as armadilhas que o uso ambíguo da
linguagem pode construir, alienando ou seduzindo ideologicamente alguns leitores que, por
desconhecerem o poder da linguagem, deixam se persuadir ou enganar. Para tanto, é
necessária uma leitura subjacente de tal forma que comece pelo emprego de estratégias de
leitura que favoreçam ao aluno leitor uma tomada de postura consciente diante do discurso,
desenvolvendo assim, a habilidade de ler nas entrelinhas.
A habilidade de ler nas entrelinhas está ligada à ideologia do discurso. Ao discorrer
sobre ideologia Fiorin (1988, p. 28) apresenta a seguinte definição: “[...] a essas representações , que
servem para justificar e explicar a ordem social, as condições de vida do homem e as relações
que ele mantém com os outros homens ,é o que comumente se chama ideologia”.
Partindo desse entendimento, podemos dizer que ideologia é uma visão de mundo, a maneira como um
indivíduo ou uma classe social observa a realidade ou, o modo como uma classe interpreta a
ordem social. Mesmo que em uma formação social existam tantas visões de mundo quantas
forem as classes sociais, a ideologia predominante será a da classe dominante. Segundo o
mesmo estudioso, não existem ideias desvinculadas da linguagem.
Linguagem e pensamento não se apresentam de forma pura, são fenômenos distintos,
porém indissociáveis, isto é, o pensamento existe porque há uma linguagem que o elabora e
pode ou não expressá-lo. Devido a essa associação entre pensamento e linguagens, conclui-se
que o discurso concretiza as representações ideológicas. As formações ideológicas
materializam-se nas formações discursivas (conjunto de temas e figuras). Portanto, as
influências sociais presentes na linguagem são encontradas no nível do discurso.
11
A aplicação pedagógica dos estudos discursivos estão presentes em Barros (2001) e,
em Fiorin (2009), que apresentam princípios relevantes para o estudo do discurso, através do
percurso gerativo de sentido.
Para Fiorin (2009), todo texto pode ser entendido como a união de um plano de
expressão e um plano de conteúdo. Este precisa ser veiculado por aquele, ou seja, quando há a
manifestação de um plano de conteúdo por meio de um plano de expressão, tem-se o discurso.
Esse conteúdo pode ser expresso por diferentes formas de expressão, isso quer dizer que o
plano de expressão pode ser de distintas naturezas: verbal, gestual, entre outras.
Segundo Barros (2001, p. 14), para interpretar “o que o texto diz e como o diz , a
semiótica trata, assim, de examinar os procedimentos da organização textual e, ao mesmo
tempo, os mecanismos enunciativos de produção e de recepção do texto”. A teoria semiótica
busca explicar o sentido de um texto, examinando, em primeiro lugar, o conteúdo veiculado
por ele.
Segundo Fiorin (2009), e Barros (2001), analisar o plano do conteúdo de um discurso
(ou texto), é compor o seu sentido, e a semiótica concebe um modelo teórico para isso: o
percurso gerativo do sentido. Esse percurso é composto por três etapas: a primeira, a mais
simples e abstrata, denominada nível fundamental ou das estruturas fundamentais. Nessa fase,
surge a significação como uma oposição semântica mínima; nela se observam as categorias
fundamentais que são determinadas como positivas ou eufóricas e negativas ou disfóricas. A
segunda etapa recebe o nome de nível narrativo ou das estruturas narrativas, em que a
narrativa é organizada do ponto de vista de um sujeito. E o último patamar do percurso
gerativo é o do discurso ou das estruturas discursivas. Nesse nível, a narrativa é assumida
pelo sujeito da enunciação. Em resumo, o percurso gerativo do sentido vai do simples ao
complexo, do abstrato ao concreto.
No desenvolvimento desse trabalho, é importante retomar esses conceitos
fundamentais.
O que nos propomos nesse estudo prático, em sala de aula com alunos da 8ª série do
Ensino Fundamental, é fazer leitura crítica das crônicas, mais especificamente, das crônicas de
Luis Fernando Veríssimo e Fernando Sabino, seguindo as premissas do percurso gerativo de
sentido presentes em Fiorin (2009) e Barros (2001), pelo menos no nível fundamental ou das
estruturas fundamentais.
Utilizamos a metodologia de pesquisa bibliográfica sobre crônicas, suas origens,
leitura , análise, reflexões a partir de textos selecionados e seus autores. Em tais leituras
12
mostramos ao aluno o unânime entendimento de que consagrados escritores da literatura
brasileira, de ontem e de hoje, usaram do espaço destinado às crônicas como meio eficaz para
a conquista dos leitores. Assim, enfatizamos os potenciais deste gênero textual opinativo. A
percepção de que uma crônica não é um gênero menor da Literatura – como também não se
resume ao universo literário, pois é híbrida - foi a proposta de enfoque deste estudo.
Após a apresentação de gêneros textuais diversificados, partiu-se para o atendimento,
oferecendo aos alunos a leitura de crônicas, proporcionando prazer, e o riso ao ler os textos
humorísticos.
A partir da análise que será proposta aqui, queremos ressaltar alguns aspectos que
tornam a abordagem semiótica uma grande aliada no desenvolvimento do processo de leitura
e que desperta o aluno para a experiência estética, estimulando a imaginação e a análise
crítica, tanto na recepção quanto na produção textual.
Metodologicamente apresentamos elementos para a leitura do poema “O bicho”de
Manuel Bandeira (1958), que foi trabalhado juntamente com a crônica “O lixo” de Luis
Fernando Veríssimo (1981). Também analisamos a crônica “Segurança “do mesmo autor
(2001) bem como as crônicas “o Homem Nu e a Última Crônica” de Fernando Sabino (1965),
durante o desenvolvimento do nosso projeto na escola.
6 Procedimentos em sala de aula
As etapas de desenvolvimento do projeto foram as seguintes: primeiro, fizemos a
leitura superficial das crônicas; num segundo momento, utilizamos os recursos semióticos
presentes no percurso gerativo de sentido e finalmente, realizamos a releitura e reescrita do
texto.
6.1 Trabalho com o poema “O bicho”
“O bicho”
Vi ontem um bicho
Na imundície do pátio
Catando comida entre os detritos.
Quando achava alguma coisa,
Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade...
13
Após a primeira leitura do texto, o professor pode, sem muita dificuldade, enfocar o
nível das estruturas fundamentais. Esse patamar determina o mínimo de sentido para a
construção do discurso, portanto o nível mais simples e abstrato do percurso gerativo. Em O
bicho, a oposição de termos predominante é o de animalização versus humanização. Desde a
escolha do título e durante todo o poema, o enunciador narra um fato como se estivesse
falando de um animal. Essa expectativa é quebrada no último verso, quando ficamos sabendo
que se tratava de um homem.
O nível narrativo, pode ser caracterizado por uma transformação centrada em dois
estados sucessivos e diferentes. “Isso significa que ocorre uma narrativa mínima, quando se
tem um estado inicial, uma transformação e um estado final”. (FIORIN, 1989, p. 21). Esse
patamar se constitui de dois tipos de enunciados: o primeiro, o de estado, se caracteriza por
estabelecer uma relação de junção entre um sujeito e um objeto. Isto é, há um sujeito que está
disjunto ou conjunto com o seu objeto.
O Bicho é a história de um sujeito (homem) que está em disjunção de seu objeto valor:
a comida. Pressupomos isso, porque o texto nos diz que esse sujeito está “catando comida
entre os detritos”, e que, o que achava, “não examinava nem cheirava: engolia com
voracidade”. Podemos também afirmar que, em um certo momento, esse sujeito passa a estar
em conjunção com o seu objeto valor (comida), pois, o que encontrava, comia com avidez.
Nesse momento, podemos identificar o segundo enunciado: o de fazer. Esse tipo de enunciado
se caracteriza por mostrar transformações. No nosso caso, um sujeito, inicialmente, se
encontra em disjunção com o alimento e, num segundo momento, está em conjunção com o
alimento.
A articulação dos vários enunciados que constituem o texto formam as sequências
narrativas. Conforme Barros (1999, p. 53), “as estruturas narrativas convertem-se em
estruturas discursivas quando assumidas pelo sujeito da enunciação”. O sujeito da narrativa
faz uma série de escolhas de pessoa, tempo, espaço e figuras para contar a história.
Estabelece-se, também, um contrato no qual o enunciador determina como o enunciatário
deve interpretar o discurso: como sendo verdadeiro ou falso.
Bandeira é assumido pelo narrador que realiza um fazer persuasivo, levando o leitor a
crer na “verdade” do texto. Para isso, cria um efeito aproximação ao usar a primeira pessoa,
produzindo uma debreagem enunciativa, por manter anônimo o ator. O bicho apresenta um
discurso predominantemente figurativo, de forma que todos os temas presentes são
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representados por figuras do mundo real. Assim, os temas, cujos valores são abstratos,
concretizam-se por meio de recursos semânticos figurativizados pelo sujeito da enunciação
para criar os efeitos de realidade no texto.
O tema central do poema é a fome, situação vivida por milhares de serem humanos,
muitos dos quais em condição míseras. No texto, isso é figurativizado a partir das imagens
que o enunciador vai evocando ao confundir o homem com animais, primeiramente com o
cão, depois com o gato e, por fim, com o rato. No final do texto, percebemos que leitor e
enunciador participam de uma mesma conjunção com a verdade.
6.2 Trabalho com a Crônica – “O lixo”
A segunda crônica analisada foi o “O lixo” de Luis Fernando Veríssimo. Fizemos um
levantamento com os alunos se já conheciam textos do gênero crônica para provocar uma
desestabilização de hipóteses e/ou, ampliação dos conhecimentos. Em seguida, apresentamos
as principais classificações e características (espaciais, temporais e seu conteúdo político
social). Os alunos pesquisaram em dicionários, livros de teoria literária e na internet sobre o
histórico das crônicas no Brasil. Também, exibimos um vídeo com a biografia do escritor e
perguntamos se eles já o conheciam. Depois, escrevemos no quadro o título da crônica “O
lixo” e fizemos um levantamento de hipóteses sobre o assunto do texto. Anotamos no quadro
as hipóteses levantadas, em seguida, distribuímos o texto e pedimos para que os alunos
fizessem uma leitura silenciosa. Depois disso, escolhemos dois alunos para representarem os
personagens da crônica e um para ser o narrador. Observamos a entonação e o uso dos sinais
de pontuação.
No transcorrer das atividades, exploramos o texto a partir de algumas perguntas
dirigidas:
1) Você já conhecia este texto?
2) Qual foi sua primeira impressão ao ler o texto?
3) O que você compreendeu?
4) O que esse texto lhe fez lembrar?
Discutimos com a turma o conteúdo do texto, abordando a questão social do tema,
levando os alunos a refletir sobre o descaso em relação à disposição final dos resíduos, como
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também, à situação de perigo à saúde pública, ao meio-ambiente e ao desenvolvimento
econômico das regiões afetadas. Perguntamos aos alunos se o lixo na cidade onde residem é
reciclado ou não. Trabalhamos a questão semântica da palavra lixo: se o significado da
palavra está de acordo com o contexto que o envolve na atualidade? São realmente restos de
coisas inaproveitáveis? Como fica a questão da reciclagem? Solicitamos ainda, que
conceituassem um sentido mais atual da palavra lixo e, trabalhamos comparativamente com o
poema “o Bicho” de Manuel Bandeira, abordando o contraste fonológico “Bicho”x “Lixo”.
Foi intencional ou casual a escolha do título do poema? Promovemos uma socialização das
discussões e reflexões sobre o tema abordado.
Após a socialização das informações e reflexão sobre o gênero e atividades de análise
linguística, elaboramos para os alunos questões que tiveram como objetivo reforçar as
informações implícitas e explicitas , bem como, exploramos os aspectos linguísticos do texto.
Para o desenvolvimento da escrita, fizemos um pequeno debate dando continuidade à
história. E, para o aprimoramento da oralidade passamos o filme de Jorge Furtado, Ilha das
Flores, que trata da trajetória de um tomate, desde a plantação até o lixo.
6.3 Trabalho com a Crônica – “Segurança”
Na continuidade da intervenção didática, analisamos também, a crônica “Segurança”
de Luis Fernando Veríssimo. Fizemos a leitura e discutimos com a turma o conteúdo do texto.
Abordamos a questão social do tema, levando os alunos a refletir sobre a falta de segurança
que a maioria dos cidadãos enfrenta em sua dia-a-dia. Identificamos os recursos lingüísticos
utilizados pelo autor e a estrutura do texto (como: o uso da conjunção “mas”, significado dos
vocabulários, etc).
Para socializar as discussões e reflexões sobre o tema, propusemos também atividades
com o objetivo de assimilar as informações implícitas e explicitas do texto. Desenvolvemos a
oralidade relativa ao tema proposto na crônica, sugerindo uma intertextualidade com a música
“Pelo avesso” do Titãs. Após ouvirem a música, os alunos opinaram e discutiram o assunto,
fazendo uma produção textual sobre o tema em questão.
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6.4 Trabalho com a Crônica – “O Homem Nu”
No desenvolvimento das atividades propostas, trabalhamos também a crônica “O
Homem Nu” de Fernando Sabino. Uma das mais famosas do escritor mineiro.
No primeiro momento, perguntamos aos alunos se já haviam lido algum texto do autor
ou se já o conheciam. Em seguida, apresentamos sua biografia e mostramos suas obras
disponíveis na biblioteca para leitura. Para viabilizar o contato com o texto, solicitamos aos
alunos formarem grupos de três ou quatro pessoas. Entregamos a crônica recortada em quatro
partes com o objetivo de que os alunos encontrassem a ordem correta do texto. Na sequência,
a leitura foi feita em voz alta pelo professor propondo as seguintes questões :
1. Em que espaço a crônica ocorreu?
2. Que tipo de personagens encontramos no texto?
3. Em que pessoa do discurso o texto foi narrado?
4. Se o assunto é corriqueiro ou não?
5. Em quanto tempo mais ou menos a história se passa?
Questionamos também, quais as concepções que os alunos têm sobre o “nu”.
Solicitamos que procurassem no dicionário suas significações. Foram produzidas frases com o
valor semântico da palavra nu e, os alunos investigaram sobre as diversas formas de nudez.
Em que situações nos sentimos nus e, como a mídia trata a nudez.
Também nesta crônica, trabalhamos com a análise linguística. O texto foi reescrito na
terceira pessoa e foi solicitado aos alunos que identificassem a que classe gramatical
pertenciam as palavras destacadas. (podem ser artigos, substantivos, adjetivos, numerais,
verbos, etc).
Para a análise do texto foram sugeridas e discutidas as seguintes questões:
1. Qual é o fator que gera o humor na crônica?
2. Quem é o narrador nesta crônica? A escolha deste narrador é proposital para o efeito
humorístico ou não? Justifique:
3. Caracterize o espaço das cenas da crônica. Caso o espaço fosse outro, alteraria o
efeito humorístico e de sufoco da personagem? Por quê?
4. Se a personagem fosse uma mulher, alteraria de algum modo o comportamento dos
envolvidos? Justifique:
5. Por que, em sua opinião, o autor deixou anônimo o homem nu?
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6. O homem não tinha dinheiro para pagar a conta, preferiu não atender ao cobrador.
Isso é ilegal ou legal perante a lei? Explique:
7. Sugira outro título ao texto.
E para a produção escrita, sugerimos aos alunos darem continuidade ao texto de
Fernando Sabino com o assunto: o cobrador da televisão. Porém, alguns preferiram dar outro
final para a crônica.
6.5 Trabalho com a crônica – “A Última Crônica”
Na análise da “última crônica” de Fernando Sabino, despertamos o conhecimento
prévio dos alunos quanto à crônica e, procuramos ampliá-lo pela oralidade, fazendo um
levantamento de hipóteses, provocando um debate em sala de aula, baseado nas questões que
se referem à temática:
1. De que forma você comemora seu aniversário?
2. O que você escolheria em seu aniversário?
3. Seus pais sempre se lembram de seu aniversário? Já aconteceu deles se esquecerem?
4. Se você fizesse uma festa quem não poderia faltar?
5. O que você mais gosta em uma festa de aniversário?
6. Vocês já comemoraram um aniversário de forma estranha? Diferente do tradicional
bolo com velinhas?
Discutidas as questões e observadas as respostas, apresentamos o texto “A Última
Crônica”, propondo uma leitura individual, depois a leitura oral em grupo, iniciando o
processo de caracterização do gênero estudado.
Após a socialização das informações, entregamos aos alunos questões escritas
referentes à relação autor/leitor/texto, à análise linguística e à estrutura composicional do
gênero e, à assimilação das informações implícitas e explicitas do texto (percurso gerativo de
sentido).
Nesta análise, os alunos perceberam a grande sensibilidade que o autor utiliza ao
relatar um fato do cotidiano, pois retrata a vida de certos tipos humanos e estabelece a
dimensão desse acontecimento, aprofundando-o a uma crítica social.
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Após a leitura e interpretação, os alunos representaram as crônicas através do teatro
para a comunidade escolar, o que agradou a todos, despertando interesse de outros colegas
para continuidade do projeto.
Em seguida, iniciamos a produção da versão escrita da crônica. Os alunos tiveram que
partir de um tema de seu cotidiano para a escrita do texto, de acordo com as condições de
produção típicas do gênero.
Primeiramente, foram selecionados, no quadro negro, vários acontecimentos do
cotidiano, a título de exemplo: uma situação pitoresca que presenciou na rua, uma resposta
inesperada de um amigo (a), um acidente provocado por descaso de alguém, etc., para uma
compreensão melhor do gênero.
Depois de orientados os alunos fizeram a primeira versão da crônica. Foram avaliados
quanto à adequação ao gênero textual, à organização da narrativa (se possuía coerência e
coesão) e à linguagem (clareza, vocabulário, estilo, desempenho gramatical).
Na revisão, o professor atuou como principal mediador do processo de criação do
texto. Coube a ele participar ativamente como leitor-revisor da produção do aluno,
contribuindo com elogios, críticas, sugestões de aperfeiçoamento, transformando-se em
verdadeiro parceiro na elaboração do texto. A última etapa foi a reescrita, que resultou na
versão final. O aluno recebeu o texto revisado, corrigido e procurou atender às solicitações
prescritas pelas interferências do professor.
Após a leitura e revisão dos textos produzidos pelos alunos, percebeu-se que parte
deles ainda não soube reconhecer a estrutura composicional, principalmente quanto à
temática, mostrando dificuldades em partir da observação de um fato do cotidiano. Mesmo
trabalhando todos os procedimentos para realização da escrita do gênero, os limites e a
dificuldade, neste momento, foram visíveis, pois muitos alunos apenas se preocuparam com a
descrição e não no registro próprio da crônica.
Depois de feita a correção e revisão dos textos, os alunos fizeram a escrita da versão
final da crônica produzida. Na sequência, o professor escolheu uma crônica que estava mais
adequada aos padrões da modalidade culta da Língua Portuguesa, bem como, a intenção,
público-alvo e gênero textual, para ser publicada no jornal “Folha do Litoral” de Paranaguá
com previsão de publicação no dia 17 de Dezembro/2010.
Quanto às demais crônicas produzidas, foram expostas em murais da escola, para que
alunos, professores, funcionários, pais, enfim, toda a comunidade escolar pudessem lê-las.
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7 Resultados
Transpondo a teoria para a prática e atendendo a proposta da SEED - Secretaria de
Estado de Educação do Paraná, as atividades foram realizadas na Escola Pública Helio
Antônio de Souza, no município de Pontal do Paraná, com alunos da 8ª série do Ensino
Fundamental, com um total de 50 alunos.
Em pesquisa realizada em sala de aula comprovou-se que 60% dos alunos
entrevistados não gostam de ler porque acham as histórias chatas, não tem paciência, não
sentem prazer, não entendem o que leem ou têm preguiça. Porém, 30% dos alunos privilegiam
leituras rápidas como jornais, revistas ou pesquisas na internet, ou seja, nada que lhes tome
muito tempo ou lhes desgaste muito. Somente 10% dos entrevistados apreciam leituras de
cunho mais literário como os romances.
Após esse trabalho fez-se um questionamento com os alunos sobre as expectativas em
relação aos escritores e textos analisados que apontou os seguintes resultados:
A grande maioria dos alunos responderam que foram as crônicas dos escritores
pesquisados que proporcionaram um maior nível de reflexão, por serem textos
simples e bem elaborados. Os maiores desafios que encontraram para entender os
textos foram os vazios, humor, os neologismos, marcas da fala, intertextualidade,
intencionalidade do autor e a situação de harmonia, conflito e desfecho nas
crônicas. Comentaram que nunca havia sido feita uma análise de textos abrangendo
os três níveis de entendimento ( fundamental, narrativo e discursivo).
Os alunos reconheceram que foram as crônicas dos escritores trabalhados que mais
contribuíram para o aumento de conhecimento, pois abordaram assuntos atuais,
trabalharam com coisas que não sabiam, dando oportunidade para uma reflexão
mais profunda, trazendo um nível de conhecimento mais abrangente sobre diversos
temas.
A participação dos alunos foi boa, deram opiniões, fizeram deduções, perguntas e
ajudaram para que perguntas fossem respondidas. Inicialmente, houve um certo
repúdio pelos alunos quando se tratou da representação das crônicas em forma de
teatro para um grande grupo, gradativamente, porém, a prática foi tendo uma
aceitação maior, na medida em que as atividades foram desenvolvidas. Houve
casos em que os alunos não se envolveram muito, estes, são os mesmos que não se
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envolvem em outras disciplinas e, se mostram apáticos para qualquer atividade
proposta.
Este trabalho desenvolvido para a prática da leitura, oralidade e escrita com o gênero
textual crônica atendeu aos objetivos propostos, viabilizando o estabelecimento de relações
entre gêneros textuais diversos, levando em conta o contexto sócio-histórico, provocando
reflexões sobre a literatura como manifestação cultural e sobre o papel do leitor como agente
do processo de leitura, uma vez que houve a participação da maioria dos alunos nas três
práticas.
8 Conclusão
Concluímos que a crônica é o tipo de texto que faz parte da origem da história da
humanidade, pois ambas (história e crônica) se fundem para a recíproca existência. Sem os
registros marcados na cronologia, dificilmente o homem teria a identidade social, cultural,
econômica e política que marca todos os povos no presente, pelo que foram, que são na
atualidade e que serão no futuro.
Percebemos também, que o conhecimento da crônica como gênero textual, passa pela
identificação deste, tanto no sentido como na tipologia. Isso se dá pela necessidade de facilitar
a identificação de cada um e, consequentemente do tipo de texto que é o núcleo do objeto
deste estudo.
No que refere à leitura como atividade que é decisiva no sentido de desenvolver a
capacidade intelectual do ser humano, principalmente na fase escolar, é também fator de
desenvolvimento da imaginação e por conseguinte da criatividade como elementos
fundamentais no processo principal da educação que é a busca de solução de problemas do
cotidiano. Desse modo, ler e analisar um texto através da abordagem semiótica, é tratar
justamente o todo num contexto discursivo, nos níveis que constituem o sentido. E, esta
possibilidade de leitura é de grande valia para os trabalhos em sala de aula, uma vez que
constituído um percurso de leitura é possível trabalhar como ocorre a significação do discurso.
Tratando-se do papel da crônica trabalhada na escola como texto para leitura e
discussão, os autores consultados permitem concluir tratar-se do tipo de conteúdo escrito que
se encontra mais próximo do cotidiano das pessoas, portanto capaz de despertar-lhes o
interesse.
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Na busca desta comprovação, concluímos que a estratégia em ação realizada como
prática com os alunos do Ensino Fundamental, utilizando-se da crônica contemporânea de
Luís Fernando Veríssimo e Fernando Sabino despertou interesse dos alunos e superou as
expectativas previstas inicialmente.
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