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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009 Versão Online ISBN 978-85-8015-054-4 Cadernos PDE VOLUME I

DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009 · tecnológicos como: vídeo, TV, pendrive, computador, slides, entre outros) de modo a beneficiar não só os alunos surdos como também os ouvintes,

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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOSDA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE

2009

Versão Online ISBN 978-85-8015-054-4Cadernos PDE

VOLU

ME I

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O ENSINO DA ÁLGEBRA PARA ALUNOS SURDOS E OUVINTES: as

possibilidades pedagógicas da História da Matemática

Geralda de Fatima Neri Santana*

Clélia Maria Ignatius Nogueira**

Resumo

Este artigo apresenta reflexões e a socialização de resultados obtidos mediante a Implementação do Projeto de Intervenção Pedagógica do Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE) da Secretaria de Estado da Educação do Paraná (SEED), aplicado no Colégio Estadual Lúcia Alves de Oliveira Schoffen – Ensino Fundamental e Médio em Altônia-PR. Consta de embasamento teórico que deu sustentação à pratica pedagógica, o relato das ações de implementação que foram planejadas e desenvolvidas durante todo o processo deste estudo e aplicabilidade, e a sequência de atividades e suas respectivas considerações conforme ocorreu na implementação da proposta.Para dar conta de um ensino que contribua para quebrar as barreiras da transição entre Álgebra e Aritmética, também a barreira da comunicação com o aluno surdo (mesmo com intérprete de libras), a proposta constou da elaboração de uma sequência de atividades, buscando por meio das tendências em Educação Matemática utilizar a História da Matemática. A discussão se inicia com os porquês da origem do uso das letras, focalizando a equação do 2º grau. Na implementação pedagógica foram utilizados diversos recursos visuais e os resultados obtidos indicaram que as estratégias utilizadas em sala de aula visando a aprendizagem de alunos surdos materializa-se como meio eficaz de alcançar a aprendizagem de todos, contrariando portanto, a freqüente justificativa de que o elevado número de alunos em sala de aula os impedem de ofertar um atendimento diferenciado a estudantes inclusos.

Palavras - chave: Linguagem Algébrica; Dificuldades de Aprendizagem; Alunos

Surdos; Contextualização Histórica.

______________________

* Graduação em Ciências/Matemática e Pedagogia, pós-graduação em Ensino Especial: Visão Integradora - Ens.

Especial/Ens. Regular; Professora do Colégio Lúcia A. de O. Schoffen – E.F.M – Altônia/PR.

** Professora do Programa de Pós-graduação em Educação para a Ciência e a Matemática da UEM – Mestre em Matemática

pela USP e Doutora em Educação pela UNESP.

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1 Introdução

A escolha do tema surgiu de situações do cotidiano escolar, pois, ao abordar

os conteúdos da Álgebra, muitas vezes, este é tratado como um ramo da

matemática desprovido de significado e sem contextualização. Constata-se um

descontentamento tanto por parte dos alunos, que não vêem um sentido para essa

linguagem, quanto para professores que refletem sobre sua prática. Os estudantes

em geral, e especialmente alunos surdos inclusos, numa visão ingênua, utilizam a

Álgebra simplesmente como uma troca de números por letras. Esta situação também

não agrada aos professores, cujo ensino descontextualizado e sem conhecimento

das concepções trazidas pelos alunos, não apresenta a aprendizagem como retorno

do processo de ensino. Outro aspecto relevante a este estudo foi a prática de um

ensino “conteudista”, descontextualizado e sem uma abordagem reflexiva,

fortemente acentuado pelo desafio de ensinar álgebra para surdos.

A intervenção realizada abordou os conteúdos por meio de uma das

tendências metodológicas da Educação Matemática, utilizando-se da História da

Matemática como estratégia didática, pois, a abordagem histórica favorece a

integração dos novos conhecimentos com os anteriores. Para tanto, foi elaborado

uma sequência de atividades priorizando o ensino de equações do 2º grau de forma

a apresentar o conteúdo de maneira gradativa, conforme sua construção e

desenvolvimento dentro do contexto historicamente construído no decorrer do

tempo.

Devido ao conteúdo equação do 2º grau ser específico da 8ª série do Ensino

Fundamental, a implementação foi direcionada a 8ª série A, do período matutino,

com 36 alunos, na qual estudam duas alunas surdas – que, dentre outras questões,

foi o que fundamentou a pesquisa. Neste texto, no que se refere ao embasamento

teórico, apresentamos os estudos realizados para investigar as relações entre a

surdez e a elaboração dos conceitos matemáticos, no caso, conteúdos de Álgebra,

aspectos da educação dos surdos, aspectos da abordagem histórica no ensino de

Matemática. Descrevemos, também, a parte referente à implantação da proposta.

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2 Surdos e sua educação

O Surdo não é mudo, não é deficiente, não é alienado mental e também não é uma cópia mal feita do ouvinte. Ele é Surdo , humano, autor e ator de inúmeros personagens, capaz de fala (às vezes também de oralidade) e diferente numa diferença importante que se não for compreendida e atendida nas suas necessidades pode levá-lo, aí sim, a todos os predicativos depreciativos já citados (MOURA, 2000, p.144).

Buscar compreender o sujeito surdo é colocar-se a disposição para

conhecer a trajetória histórica deste grupo minoritário, bem como se deu o início a

educação dos surdos. Muitas questões necessitam de uma resposta, quando os

educadores, se deparam com um aluno surdo. Nesse sentido, MOURA (2000, p.

139) argumenta:

Afinal qual é o papel da escola? E especificamente da educação do Surdo? É oferecer uma situação onde ele possa se construir e se constituir como indivíduo capaz de comunicação, onde ele possa buscar o conhecimento, a compreensão de um mundo, que, em geral, está pouco acessível para ele. Este é também o papel da família, que está cada vez mais passando para a escola esta função na nossa sociedade, mas que no caso do Surdo se vê muitas vezes impedida de poder concretizá-la. Afinal onde está a intermediação entre ela e o Surdo? Sem acesso a uma língua que possibilite esta ponte, a realidade só pode ser apresentada de forma fragmentada. É na instituição (escolas, hospitais, Postos de Saúde) que a família pode conseguir informações sobre a forma de sobrepujar a barreira de língua ente ela e o filho Surdo. Se a escola se nega a nomear, explicar e tornar o conhecimento objeto da reflexão do Surdo, se ela não fornece para a família esta possibilidade de comunicação, ela não cumpre o que lhe é atribuído como papel.

A história da educação de surdos é de antecedentes carregados de

discussões em vários campos: literário, científico, religioso, social e político.

Desde seu início, de maneira mais sistemática, por volta do século XV, em

todo mundo, as principais discussões sobre o ensino de surdos sempre foram se

este deveria ou não se sustentar na oralidade. No Brasil a educação dos surdos teve

início em 1857, com a criação, por D.Pedro II, do Instituto Nacional de Educação de

Surdos (INES), na cidade do Rio de Janeiro. Em 1990, o estado do Paraná iniciou a

discussão sobre o uso do bilingüismo na educação do surdo e é esta a proposta

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adotada nos dias atuais. Em relação à educação do surdo, a Lei Estadual nº 12095

de 11/03/1998, em seu artigo 2º estabelece que:

A rede pública de ensino, através da SEED (Secretaria de Estado de Educação), deverá garantir acesso à educação bilíngue (Libras – Língua Brasileira de Sinais - e Língua Portuguesa) no processo ensino-aprendizagem, desde a educação infantil até os níveis mais elevados do sistema educacional, a todos os alunos portadores de deficiência auditiva (PARANÁ -LEI Nº 12.095/1998).

Em qualquer discussão sobre educação no momento atual, a questão da

inclusão está presente e embora seu principal pressuposto seja educação de

qualidade para todos, a inclusão de educandos com necessidades especiais se

destacam. Dentre esses educandos, os surdos são o segmento para o qual, a

inclusão ainda não é um tema pacífico. Afinal, se toda ação pedagógica ainda se

sustenta na transmissão oral, certamente os processos de ensino e de

aprendizagem para alunos surdos, precisa de maior atenção.

É fato que toda aprendizagem é mediada pela linguagem, entretanto, isso

não significa que essa linguagem seja exclusivamente a oral. Assim, é fundamental

que o professor, mesmo sem dominar a língua de sinais, dê atenção especial a

outras formas de linguagem que não a oral, priorizando a comunicação visual

(gestos naturais, dramatização, mímica, desenho, escrita, fotografias, recursos

tecnológicos como: vídeo, TV, pendrive, computador, slides, entre outros) de modo a

beneficiar não só os alunos surdos como também os ouvintes, facilitando a

comunicação entre professor e estudantes, de modo a favorecer os processos de

ensino e de aprendizagem. No caso específico da Matemática, sua própria

linguagem simbólica estabelece uma comunicação que atende, indistintamente a

surdos e ouvintes.

Segundo Nogueira (2009, notas de aula), é “evidente que os surdos

possuem dificuldades em absorver informações, pois as informações acústicas que

acompanham as imagens, não lhes são acessíveis”. Assim, é fundamental “interagir,

cotejar, experimentar junto aos ouvintes para entender as informações e expandi-

las”. Para isso, afirma a autora, as aulas devem sempre partir de algo que é comum

a todos os alunos e professores.

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Como fazer isso? Ainda segundo a autora, ao começar uma aula, o

professor deve conversar com seus alunos, para diagnosticar o conhecimento prévio

dos mesmos e contextualizar o conteúdo a ser ensinado; durante a aula, apresentar

muitos exemplos; questionar; instigar para conseguir a motivação necessária.

Ao final da aula, Nogueira (2009) recomenda a construção conjunta

(professor e aluno surdo ou com a turma toda) de um texto sobre a matéria

trabalhada, pois dificilmente o surdo compreenderá o conteúdo na forma como vem

apresentada no livro didático. Este texto deve ser necessariamente produzido após o

entendimento do assunto, independentemente da forma de comunicação adotada:

língua portuguesa falada, libras, dramatizações, mímicas, pantomimas, etc.

Além disso, recursos visuais como objetos, gravuras, desenhos, fotos,

vídeos, etc., desde que adequadamente utilizados são poderosos auxiliares para o

entendimento de um determinado tema.

Quando falamos na educação de surdos é necessário pensar sobre as

atitudes do professor perante estes alunos. Se ele conhecer a língua de sinais

certamente a aula tomará forma compartilhada e haverá maior interação entre

surdos e ouvintes. Mas na realidade, a maioria dos docentes desconhece a libras e,

mesmo com a presença de intérprete de língua de sinais, a utilização de recursos e

estratégias visuais que acompanham a oralidade é recomendada para favorecer a

aprendizagem do aluno surdo.

É assegurado, segundo as Diretrizes Curriculares da Educação Especial

Para a Construção de Currículos Inclusivos (2006, p.54), o direito ao “profissional

intérprete de libras/língua portuguesa para surdos” como apoios especializados. A

atuação do profissional intérprete caracteriza suporte pedagógico e não o exercício

de docência; portanto, a responsabilidade pela aprendizagem do aluno é do

professor regente.

De acordo com o exposto cabe ao educador o comprometimento com a

educação do aluno surdo, não como ouvinte deficiente, mas sim como ser íntegro

respeitado em sua diferença e especificidades.

Ao percorrer a trajetória histórica do educando surdo, o que se constata é

que, mesmo com os avanços legais em favor deste grupo minoritário, a exclusão

escolar persiste como um dos problemas pedagógicos e sociais.

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O atendimento educacional a estudantes surdos em uma escola que, a

princípio foi pensada para ouvintes, não depende somente da boa vontade deste ou

daquele professor em ações isoladas, é necessário um redimensionamento do

projeto da escola, na totalidade.

3 Transição entre Aritmética e Álgebra

Como proceder diante desses entraves?

O trabalho com a Álgebra é comumente realizado de forma dissecada, sem

que se apresente o contexto das situações-problema. Um ano escolar não dá

sequência às ideias já desenvolvidas em anos anteriores, desconsiderando que a

principal dificuldade do ensino da Álgebra é a compreensão dos diferentes

significados atribuídos às letras nas expressões algébricas e que esta compreensão

necessita de tempo para se efetivar. Sendo assim, prevalecem os conceitos da

Aritmética que expressam valores numéricos específicos, enquanto a Álgebra

procura expressar o que é genérico e, portanto, relativo a vários valores numéricos

sejam eles quais forem.

Os estudos teóricos realizados indicam alguns pontos que precisam ser

abordados com bastante cuidado nas aulas de Álgebra:

• O trabalho deve ser iniciado com a “tradução” da linguagem

algébrica para a linguagem natural, ou, melhor dizendo, na “interpretação do

texto algébrico”, na leitura adequada, como no exemplo a seguir: a expressão

5b+3= 18 significa “qual é o número que multiplicado por 5 e somado com 3

resulta 18?” Dito de outra forma e é aí que a História nos é útil, apesar da

expressão se apresentar na forma simbólica, a leitura, pelo menos no início

da aprendizagem, deve ser na forma retórica.

• As expressões algébricas carecem de significado aos alunos

principiantes em Álgebra, assim, devem ser apresentadas como traduções

matemáticas de problemas escritos em linguagem natural, que é o processo

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inverso da leitura retórica da expressão anteriormente descrito, e evidenciar

que resolver a expressão algébrica significa solucionar o problema;

• A correção de tarefas, problemas e exercícios deve ser realizada

na presença dos alunos, questionando sobre o “seu raciocínio” para tal

resposta, independentemente de acertos ou erros; pois “falar sobre” o que se

está fazendo é uma das melhores formas de consolidar os conceitos

nascentes;

• Apresentar diferentes tipos de situações-problema para achar a

expressão algébrica e apresentar expressões algébricas para que os alunos

formulem problemas que possam ser representados por elas.

Lins e Gimenez (1997) destacam que a Álgebra e a Aritmética são parte da

mesma atividade, e exploram a inter-relação do ensino e aprendizagem entre elas,

pontuando a necessidade em efetuar transformações nas abordagens pedagógicas

relativas a educação matemática escolar. Os autores propõem o “desenvolvimento

de um senso numérico”, substituindo a “aprendizagem de Aritmética”, assim como, a

“produção de significados para a Álgebra em vez de “aprendizagem da Álgebra”.

4 A Matemática hoje

Onde estão sendo desenvolvidos e conservados os conhecimentos de

Matemática hoje?

A matemática hoje envolve um enorme número de pessoas fazendo muitas coisas diferentes. Em universidades e institutos de pesquisa, pesquisas altamente poderosas continuam a ampliar os limites de nosso conhecimento. Fora dos meios acadêmicos, muitas pessoas usam e desenvolvem técnicas matemáticas todo dia. Os desenvolvimentos mais excitantes, porém são talvez os ligados a outros campos. Avanços recentes da física matemática trouxeram novas e profundas questões matemáticas. A biologia matemática começa a oferecer visões interessantes e significativas. Os computadores criaram muitas questões relacionadas com codificação, criptografia e algoritmos. De um lado a matemática é vista como isotérica, amedrontadora. De outro, é tida como parte essencial da prosperidade, segurança e confortos modernos, de modo que os hábeis em matemática são tomados como recursos humanos valiosos (BERLIGHOFF, 2008, pp. 59, 60).

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Na atualidade a solução da equação do 2º grau é apresentada com a

utilização de sua fórmula resolutiva:

xb b 4ac

2a

2

=− ± −

Para Imenes e Lellis (2006), em relação a “fórmula de Bhaskara” é essencial

apresentar a dedução da mesma, pois, para eles, “ [...] sem dúvida, a manipulação

algébrica necessária é complexa para os alunos de 8ª série e a compreensão

limitada [...]”. E ainda mais, para os referidos autores, “Fórmulas que caem do céu

sem justificativa, contrariam o espírito da Matemática e não contribuem para

desenvolver o pensamento matemático dos alunos” (IMENES, L. M. P; LELLIS,

M.C., 2006, p.45).

5 Implementação da proposta: ações desenvolvidas

A apresentação da proposta para a equipe pedagógica da escola foi

realizada com o auxílio de slides durante a semana pedagógica. Foi comunicado,

também, que a implementação seria acompanhada por um aluno doutorando da

UEM (Universidade Estadual de Maringá), cujo tema de pesquisa é o ensino e

aprendizagem de Matemática para alunos surdos, mediados pelo intérprete de

língua de sinais. A proposta teve boa aceitação.

A aplicação do projeto previa aulas conjugadas, devido à utilização de

diversos recursos visuais, pois possibilitam um tempo maior, permitindo iniciar uma

atividade e, possivelmente, concluí-la.

Foi apresentado aos professores da turma o projeto de intervenção e como

se daria a implementação. Após a exposição dos objetivos do projeto, foi solicitado

permissão da presença do aluno doutorando da UEM para acompanhar em

algumas aulas o desempenho e participação das alunas surdas, sendo que a

comunicação sempre se dava por intermédio de intérprete de Libras. A

apresentação do projeto, bem como a aula inaugural, esta última com a presença de

todos os alunos envolvidos no projeto, aconteceram no Salão Nobre do colégio. O

objetivo da aula inaugural foi levar o aluno a perceber que tudo que nos cerca tem

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uma história, a começar pelo seu próprio nome. Foram apresentados slides sobre

alguns episódios da História da Matemática, com o objetivo de mostrar que também

a Matemática tem sua história, e está continuamente em construção.

A turma em que foi desenvolvido o projeto, a 8ª série A, possui 36 alunos,

dos quais duas alunas são surdas. A escola possui intérprete de língua de sinais

como apoio aos professores.

A implementação constou de 14 atividades, sendo que todas foram

desenvolvidas, alcançando os objetivos propostos. Houve tarefas individuais e

coletivas. Foram utilizados variados recursos: fita métrica, material dourado,

barrinhas cusinaire, régua, caderno quadriculado, balança de dois pratos, sites

educacionais, leitura de textos históricos, desenhos, cartazes, livros paradidáticos,

dicionário de matemática e diversos outros objetos que generalizamos como sucata.

Além da sala de aula, as atividades, dependendo de suas especificidades, foram

desenvolvidas no pátio da escola, no Salão Nobre e Laboratório de Informática.

Durante o desenvolvimento das atividades do projeto foi construído coletivamente

um “diário de classe”. A cada aula o relato ficava sob a responsabilidade de um

aluno, podendo buscar colaboração entre os colegas.

Para comemorar o dia nacional do surdo, data celebrada em 26/09, foi

organizado um encontro que contou com diversos momentos, entre eles o

depoimento das alunas surdas da 8ª série A, e de uma surda oralizada convidada.

Nos depoimentos foram ressaltadas as conquistas dos surdos e ainda as

dificuldades impostas pela barreira da comunicação. O evento contou com a

presença de professores do colégio, representantes do Núcleo Regional de

Educação, Escola de Surdos de Umuarama, surdos adultos e adolescentes

acompanhados de seus familiares, alunos da 8ª série A e seus pais. Neste evento, a

intérprete de Libras teve participação fundamental, “interpretando” os depoimentos

dos surdos, apresentados em sua língua natural, a Libras – Língua Brasileira de

Sinais.

No decorrer do desenvolvimento das atividades de implementação, o aluno

doutorando da UEM acompanhou as aulas, observando as mediações feitas pela

intérprete de Libras, que buscava transmitir às alunas surdas os conceitos

matemáticos, no caso, a equação do 2º grau.

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As atividades avaliativas ocorreram durante a implementação, de forma a

fornecer subsídios para a ação seguinte. Foram de caráter investigatório e também

para averiguação de aprendizagem do conteúdo. Para a comunidade escolar e

também aos pais dos alunos foi organizada uma apresentação utilizando slides

versando sobre o desenvolvimento histórico da equação do 2º grau, desde sua

forma retórica, até a dedução da fórmula resolutiva. Além de slides, houve

encenações, com personagens à caráter, retratando épocas, atividades de interação

com o público e resolução de situações-problema.

6 Sequência de Atividades

Atividade 1: Eu e muitas histórias...

Cada acontecimento, fato, situa-se dentro de um contexto histórico, a

começar pela própria existência. Reflita e procure saber:

a) O que você conhece a respeito de seu próprio nome? Quem o escolheu,

qual significado?

b) Sua família tem uma tradição? Comemoram alguma data, algum

acontecimento, costumes, como por exemplo, usar roupa branca no primeiro dia do

ano? Existem tradições na sua família que você pretende dar continuidade?

História do lápis

Na internet, no site <www.faber-castell.com.br>, ou em outro correlacionado

ao assunto, podemos encontrar vários links que relatam a origem do lápis, objeto

popular, que mesmo em tempos de tecnologia moderna, garante seu espaço,

atendendo diversas necessidades de escrita.

a) Acesse o site, faça a leitura sobre a história do lápis;

b) Após a leitura, escreva sobre o que mais lhe chamou atenção;

c) Discuta com seus amigos sobre a importância de se ter uma história.

Esta foi a atividade inicial, considerada a aula inaugural do projeto. Houve

participação bastante significativa de todos, tanto dos alunos como dos convidados.

Após calorosa discussão sobre a origem e história do próprio nome e aspectos

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históricos da família, foi apresentado um conjunto de slides intitulado “Grandes

episódios da História da Matemática”, adaptado do epílogo do livro A Rainha das

Ciências, de Gilberto Garbi. Em seguida, a aula teve continuidade no Laboratório de

Informática. Foi solicitada uma consulta na internet, a fim de que os alunos

conhecessem aspectos relevantes da origem e utilidade do lápis. Neste mesmo

ambiente, reunidos em pequenos grupos, foi discutida a questão de se ter uma

história. Na socialização com o grande grupo, chegou-se a conclusão de que tudo

tem um início e sucessão de fatos; e que, na disciplina de Matemática não é

diferente. Nesta aula, a professora PDE declamou a poesia “Nome da gente, de

Pedro Bandeira”, ressaltando a importância de se ter um nome, e o zelo por este

nome.

Atividade 2: Aprender Aritmética, Geometria e Álgebra de lá pra cá

Contexto histórico: O desenvolvimento da Matemática ao longo da história

sempre esteve ligado às necessidades da vida em sociedade. Não se sabe ao certo

quando o homem começou a fazer Matemática, os escritos mais antigos que se tem

notícia vêm do Egito. Evidências históricas demonstram que toda civilização que

desenvolveu a escrita, apresenta também algum conhecimento matemático. Estudos

de antropólogos identificaram que objetos pré-históricos interpretados como

matemáticos datam de 35 mil anos e que a Matemática, por volta do ano 5000 a.C,

já se apresentava como uma atividade específica. De lá pra cá as contribuições no

campo da Matemática se tornaram cada vez mais expressivas, e hoje, progressos

tecnológicos avançam, utilizando e aplicando cada vez mais as ideias matemáticas.

O texto apresentado aos alunos fazia uma abordagem da utilização da

Matemática na vida cotidiana, e de sua aplicação nas diversas áreas do

conhecimento humano. Uma das tarefas solicitadas foi a construção “do dicionário

de Matemática”. Cada aluno organizou este dicionário a seu critério: (no próprio

caderno, em forma de apostila, outros preferiram utilizar material já existente), de

modo que todos tinham a seu alcance, conforme a necessidade, para consulta da

definição de cada novo vocábulo específico. Este trabalho foi pensado para as

alunas surdas, que por terem a interação com o meio prejudicada, apresentam

dificuldades na construção de seu vocabulário, entretanto, ganhou a adesão

entusiasmada dos alunos ouvintes.

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Atividade 3: Álgebra: Seus significados e funções

(Seguindo sugestões de Souza&Diniz, 2003 e Andrini,2002)

1ª) Descubra a regra da sequência abaixo e continue desenhando.

a) Escreva a regra da sequência.

b) Qual o 8º elemento da sequência?

c) Qual o 14º elemento da sequência?

d) Sem desenhar, qual o elemento que ocupa o 20º lugar da sequência?

e) Qual a figura que ocupará a 71ª posição?

2ª) Observe a sequência das figuras abaixo:

a) Qual a próxima figura da sequência? Desenhe.

b) E a seguinte? Desenhe.

c) Escreva a regra de formação dessa sequência.

d) Observando a sequência, quantos quadradinhos tem cada figura?

e) Quantos quadradinhos tem a 6ª figura da sequência?

f) E a 7ª? E a 8ª? E a 15ª?

g) Quantos quadradinhos tem uma figura numa posição qualquer?

O que se buscou desenvolver com esta atividade e a seguinte foi a ideia

básica da Álgebra, que é a generalização de padrões pela identificação de

regularidades em sequências, no caso, de figuras geométricas. No início os alunos

registravam o que percebiam, com suas próprias palavras, a intervenção se dava

para que fizessem este registro utilizando linguagem matemática, ou seja, a

linguagem algébrica.

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Atividade 4: Álgebra, generalizando

1ª) O número estacionado de carros é y. Quantos serão depois de se

colocar outro carro?

Nesta atividade o aluno vai perceber que “a letra” pode ser substituída por

um valor numérico, e que o que fazemos é uma representação simbólica. No

exemplo trabalhado, a letra representa uma variável. É necessário e importante

frisar que a letra substitui um número, partimos de uma generalização, que serve

para uma quantidade qualquer a ser calculada.

Atividade 5: Integrando Álgebra, Geometria e Aritmética.

Contexto histórico: Em 1808, no Brasil, o ensino da Matemática foi

subdividido nas disciplinas Aritmética, Álgebra, Geometria e Trigonometria. Anos

depois com a Reforma Educacional Francisco Campos em 1931, sob influência de

Euclides Roxo, (1890 – 1950), o ensino de Aritmética, Álgebra, Geometria e

Trigonometria foi unificado, na disciplina Matemática e, era desta forma que

apareciam nos livros didáticos da época. Mas, a partir de 1960 com o advento do

movimento Matemática Moderna, a Geometria ficou esquecida, de modo que fica a

impressão, para os alunos, de que os conteúdos matemáticos não se relacionam, o

que é reforçado pela apresentação fragmentada de conteúdos, perdendo a ideia do

todo. Esta situação perdura até os dias atuais, independente de recomendações

existentes nos documentos oficiais. A integração de conteúdos deve ser feita,

respeitando-se, porém as características de cada uma das partes, ou seja, o

vocabulário, a simbologia, as regras específicas, os conceitos, definições e as

normas e modos como se apresentam.

1ª) Escreva a expressão algébrica que permite calcular o perímetro.

(Seguindo sugestões de Andrini,2002 e Lorenzato,2006 com adaptações)

Utilizando essa expressão, calcule o perímetro, sendo a figura um hexágono

regular:

a = 1,5 cm a

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2ª) Observe a figura

Nela vemos três retângulos, e as medidas do comprimento de cada um

deles, ou seja:

• O primeiro retângulo mede x cm de comprimento

• O segundo retângulo mede 32 cm de comprimento

• O terceiro retângulo mede 47 cm de comprimento

a) Que interpretação você faz da figura?

b) O que representa esta letra x?

c) Como você pode calcular o valor numérico de x ?

Atividade 6

1ª) Como representar em um quadriculado: 3 x (2 + 5)? . (Esta, e as

atividades que seguem, foram retiradas de Souza e Diniz, 2003)

Então, utilizando o papel quadriculado, fica fácil verificar que:

3 x (2 + 5) = 3 x 2 + 3 x 5.

2ª) Faça um desenho representando a expressão:

a) n. (2 + 5) =

3ª) Roberto estava pesquisando um assunto de História numa enciclopédia.

Distraído em sua tarefa observou que a soma dos números da página que ele

estava lendo mais as duas páginas seguintes era 612. Qual o número da página que

Roberto estava lendo?

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a) Como você descobriu?

b) Escreva uma expressão que indique o número pensado.

4ª) Escreva a equação correspondente ao equilíbrio da balança e depois

resolva a equação, sabendo que o saco de milho pesa 12 quilos e o de arroz pesa

18 quilos.

Os exercícios explorados fazem uma integração da Álgebra, da Geometria e

da Aritmética. O contexto histórico traz uma referência de aspecto social, em que os

meios encontrados em 1808 para diferenciar os salários entre os mestres era a

abordagem dos conteúdos a ser ensinada. A utilização de material manipulável foi

importante nas duas primeiras atividades, pois os alunos fizeram medidas utilizando

a régua e a fita métrica, uma aluna surda desenvolveu estas tarefas no quadro,

demonstrando compreensão do resultado obtido. Foi possível por meio deste

exercício, justificar a operação inversa quando resolvemos uma equação do primeiro

grau. Desta forma não há necessidade de decorar regras, pois permite ao aluno

elaborar as conclusões esperadas. Além do material citado, também foram utilizados

as barrinhas cuisenaire, o caderno quadriculado, a balança de dois pratos. A

realização de tarefas com utilização de situações concretas oferecem espaço para

questionamentos por parte dos alunos, e a possibilidade de chegarem aos conceitos

matemáticos fundamentais, transferindo para linguagem matemática (linguagem

algébrica) o que aprenderam. A visualização com auxílio do papel quadriculado,

permite ao aluno “enxergar” o porquê da propriedade distributiva da multiplicação em

relação a adição, pois a não compreensão desta propriedade é uma das dificuldades

aritméticas que impedem a manipulação de expressões algébricas.

Atividade 7: Interpretando gráficos

(Seguindo sugestões de Bordeaux et tal, 1999 com adaptações)

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1ª) No gráfico abaixo estão registrados os pesos de uma gestante durante

os 5 primeiros meses de gravidez:

Observando o gráfico,

responda:

a) Nessa situação que grandezas

estão variando?

b) Com as informações que o gráfico

oferece, você pode prever o peso

que a gestante terá no 6º mês? E no

9º mês? Justifique.

c) Existe uma correspondência entre

cada mês que passa e o peso da

pessoa? Dê um exemplo.

d) É possível escrever uma

expressão que relacione o número de meses transcorridos e o peso da gestante?

Justifique sua resposta.

e) Quantos quilos a pessoa tinha quando engravidou?

O trabalho com gráficos, abre espaço para discussões que oportunizam

ações muito interessantes. Entre elas, coleta de dados de assuntos do interesse do

próprio aluno. Neste caso, as atividades eram de caráter interpretativo, ou seja,

leitura de gráficos.

Atividade 8: Da Fatoração à Equação do 2º Grau

Contexto histórico: A Aritmética é pontual e numérica, enquanto o termo

Álgebra é generalista e literal, e por sua vez a Geometria ocupa-se do estudo de

curvas, figuras planas e espaciais, isto é, das formas geométricas. Nesta atividade

iremos abordar de modo especial o estudo da equação do 2º grau, um conteúdo do

ensino de Álgebra, mas que apresenta no decorrer da História da Matemática,

maneiras diversas de resolução envolvendo a Aritmética, a Álgebra e a Geometria.

Você pode saber mais, consultando os sites: <www.matematica.br> e

<www.somatematica.com.br>

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1ª) Utilizando papel quadriculado encontre as medidas dos lados do

polígono representado por somas algébricas. (Atividades adaptadas da Coleção

Cadernos do Ensino Fundamental, nº 12, 1994)

Instruções:

a) Recorte três quadrados de medida x;

b) Recorte dois retângulos com lados medindo 1 e x;

c) Cole as peças recortadas formando um retângulo.

x

x x x 1 1

Observando a figura responda:

a) Qual o resultado da soma da área de três quadrados de lado x e dois

retângulos de lados 1 e x?

b) Qual o comprimento da figura?

c) Qual a largura da figura?

d) Então, conforme a definição de área de retângulo que expressão

algébrica podemos escrever?

2ª) Forme dupla com um colega para realizar a atividade a seguir:Instruções:

Recorte quatro retângulos, sendo:

Um retângulo de lados a (com 6 unidades de medida) e o lado x (3 unidades

de medida); Veja o desenho:

a

Um retângulo de lados b (com 2 unidades de medida) e o lado x ( com 3

unidades de medida); Veja o desenho:

X2 X

2 1x 1x X

2

x

18

b a b

Figura 1: lado congruente: x

Um retângulo de lados a (com 6 unidades de medida) e o lado y (com 1

unidade de medida); Veja o desenho:

a

Um retângulo de lados b (com 2 unidades de medida) e o lado y ( com 1

unidade de medida); Veja o desenho:

b

lado congruente: y

Figura 3 Figura 4

b

lado congruente: a lado congruente: b

Monte um retângulo maior e represente a soma dessas quatro figuras não

congruentes, mas que possuem duas a duas, um lado congruente: Veja o desenho:

y

Figura 2

a b

19

a b

Observe e responda, pela definição de área e escreva que expressão

temos:

a) na figura 1?

b) na figura2 ?

c) na figura 3 ?

d) na figura 4 ?

e) se fizermos: figura 1 + figura 2 ?

f) se fizermos figura 3 + figura 4 ?

g) se fizermos comprimento x largura ?

Considerando a propriedade comutativa, temos:

Portanto, ax + ay + bx + by = ( a + b ) . (x + y )

Foi necessário abordar as atividades de diversos modos e utilizando

materiais diferentes, sempre fazendo uma retomada do assunto, antes de

apresentar um novo conteúdo, até mesmo um novo vocábulo matemático. Para

tratar das somas algébricas, foi preciso atividades sobre área e perímetro, sempre

partindo do conhecimento aritmético, para depois o algébrico. O uso do

quadriculado, tanto para área quanto para perímetro foi importante nesta fase. Era

feito o cálculo, e a verificação “contando o número de quadradinhos”. As atividades

elaboradas em forma de situações-problema com solução geométrica inicialmente e

depois algébrica facilitaram a compreensão. Os alunos recebiam material para

montagem das figuras planas, primeiro traçavam, em seguida, recortavam e

colavam conforme as instruções . O interessante neste momento é que sabiam que

não havia uma medida determinada em centímetro, cada qual poderia utilizar do

material que dispunha, desde que as figuras apresentassem características comuns,

como por exemplo, lados congruentes.

20

Atividade 9: Produtos Notáveis

1ª) O quadrado da soma de dois números

Utilizando o material dourado, vamos determinar o valor da expressão (10 + 3 )2

Considere as seguintes figuras:

Vamos representar o número 169 com essas figuras, lembrando que 169 =

100 + 60 + 9 -= 1 centena + 6 dezenas + 9 unidades.

Assim, temos:

Aproximando essas figuras, obtemos um quadrado:

21

Observando que cada lado desse quadrado mede (10 + 3) unidades,

escrevemos:

(10 + 3)2 = 102 + 10 . 3 + 10 . 3 + 32 onde:

(10 + 3)2 é a área do quadrado

10 é o primeiro termo 3 é o segundo termo

2.(10 . 3) duas vezes o produto dos termos

A expressão (10 + 3)2 significa “ o quadrado da soma de dois termos,

no qual o primeiro é 10 e o segundo é 3”.

Observe, também, que (10 + 3)2 ≠ 102 + 32, onde: (10 + 3)2 = 132 = 169 e

102 + 32 = 109

2ª) O quadrado da soma de dois termos (Atividades adaptadas da Coleção

Cadernos do Ensino Fundamental, nº 12, 1994)

O quadrado da soma de dois termos a e b é indicado por ( a + b )2.

Pela definição de potência, temos:

(a + b)2 = (a + b) . (a + b)

Como (a + b) . (a + b) representa a área de um quadrado de lado a + b,

podemos representá-los geometricamente.

a b

a

b

22

Desmembrando temos:

A área do quadrado de lado (a + b) pode ser representada pela soma das

áreas das partes que o compõe, ou seja:

(a + b)2 = a2 + b.a + a.b + b2 ou a2 + a.b + a.b + b2 propriedade comutativa

ou a2 + 2ab + b2

Instruções: Com estas quatro figuras, monte um quadrado maior, usando os

dois quadrados e os dois retângulos sendo:

• O quadrado maior de lado a; o quadrado menor de lado b; os dois

retângulos de lados a e b

Analisando a figura formada, responda:

a) Como podemos obter a área do quadrado maior?

b) Represente esta área usando uma soma algébrica.

c) Indique a área usando uma notação de potência.

As tarefas foram primeiramente trabalhadas com enfoque aritmético e com

apoio do material dourado. O aluno, após manipular o material dourado, registrava

suas ações no papel quadriculado (demonstração geométrica) e em seguida fazia a

verificação através do cálculo e da contagem. Foi abordado o quadrado da soma de

dois termos e o quadrado da diferença de dois termos. As atividades algébricas

também representadas geometricamente por meio de diagramas possibilitam ao

aluno a construção de conceitos básicos como números e medidas. Também neste

momento, realizavam a medida dos segmentos, que podiam assumir um valor

qualquer desde que expressos na mesma unidade de medida. O uso de material

a

b

b a

a

b

a

a

b

b

b

23

com cores variadas deixava claro, a visualização do que se pretendia. Ao finalizar as

tarefas desta atividade, os alunos escreveram suas observações, pois certificaram

que havia uma regularidade, não sendo preciso “decorar” regras. Foram

apresentadas todas as formas de se obter os produtos notáveis, ou seja: utilizando

a propriedade distributiva da multiplicação em relação à adição; utilizando o

algoritmo; utilizando a regra prática (elaborada a partir das próprias palavras dos

alunos).

Atividade 10: O que a História conta...

Contexto histórico: A Álgebra não foi criada por uma única pessoa ou

sociedade. Ao longo da História da Humanidade, as ideias matemáticas foram e

continuam sendo experimentadas e aperfeiçoadas. O grego Diofante (325 – 409)

que viveu em Alexandria foi um dos primeiros a utilizar letras para representar

números desconhecidos, começando, portanto, a criar a notação algébrica. O jurista

francês François Viète (1540 – 1603) contribuiu significativamente para o

desenvolvimento da linguagem algébrica. E a notação que usamos hoje, quem

estabeleceu foi o matemático e também filósofo René Descartes (1596 – 1650).

Dentre os conteúdos abordados em Álgebra, a busca pela fórmula resolutiva

da equação do 2º grau, percorreu uma das mais interessantes descobertas e

contribuições na História da Matemática.

Hoje podemos traduzir por meio de uma equação (álgebra simbólica), o que

um antigo escriba da Mesopotâmia (“terra entre dois rios” ficava na Ásia, entre os

rios Tigre e Eufrates, onde hoje se localiza o Iraque), expressava somente em

palavras (álgebra retórica).

1ª) Complete o quadro, transitando entre a linguagem retórica e a linguagem

simbólica. Vamos acompanhar esta trajetória:

Linguagem retórica ou

verbal: (utilizando palavras)

Linguagem simbólica

(utilizando símbolos)

Um número cujo quadrado

é o dobro do próprio número.

x + 3x = 48

A diferença entre um

número e sua quinta parte.

24

Esta atividade de caráter informativo tem o seu valor histórico, pois

demonstra que a Equação do 2º grau, foi objeto de estudo de muitos e por longo

período, e se hoje utilizamos uma fórmula resolutiva, a História nos leva por

caminhos que muitas vezes não “queremos” trilhar, pois, sempre buscamos o

imediato.

Atividade 11: Estudando no livro Al- Jabr

Contexto histórico: O matemático árabe Mahammed ibn-Musa Al Khowarizmi

(778-850) em seu livro “Hisab Al-jarb w’al - muqabalah,” considerado um clássico da

Matemática faz uma exposição direta e clara quanto à forma de resolver equações

do 2º grau, utilizando somente palavras. Seu método consistia em “completar o

quadrado”, que significa formar o trinômio quadrado perfeito e, segundo Imenes

(1992), é um método bastante engenhoso! Al Khowarizmi estudou a álgebra

geométrica de Euclides (matemático grego) para utilizar na resolução de equações

do 2º grau. O árabe Al Khowarizmi desconhecia os números negativos, então o

método que utilizava, determinava apenas as raízes positivas e o zero.

Para você saber: Dizemos que um número é raiz ou solução de uma

equação com uma incógnita quando, colocando esse número no lugar da incógnita,

a equação torna-se uma sentença verdadeira (Cavalcante et al, 2006).

Veja como funciona o método de “completar o quadrado”na equação +

10x = 39 Primeiro se desenha um quadrado cuja área representa o termo .

O termo 10x é interpretado como a área de um retângulo de lados 10 e x.

25

Al Khowarizmi dividia esse retângulo em quatro retângulos de áreas iguais.

Em seguida, aplicava cada um desses retângulos sobre os lados do

quadrado de área

A área da figura formada é igual a + 4.2,5x =

Como = 39, a área dessa figura é 39. Em seguida, Al Khowarizmi

completava o quadrado:

O lado do quadrado é dado por:

Raiz quadrada de 64 = 8

E finalmente Al Khowarizmi deduzia a raiz da equação:

2,5 + x + 2,5 = 8

x + 5 = 8

x = 8 – 5

x = 3 Portanto, colocando 3 no lugar de x e fazendo a soma

2,5 + x + 2,5 = 8

2,5 + 3 + 2,5 = 8 satisfaz a igualdade, porque 8vezes 8 é igual a 64, assim 3

é a solução procurada.

1ª) No Al- jabr, Al Khowarizni interpreta geometricamente equações do 2º

grau, mediante cálculos de figuras planas. Veja:

A área desse quadrado é igual

a : 39 + 4(2,5 . 2,5) =

39 + 4.6,25 =

39 + 25 = 64

A = 64

26

A área desta figura é 125.

a) Para Al Khowarizmi esta figura geométrica representa uma equação do 2º

grau. Que equação é esta?

b) Completando o quadrado, descubra a raiz positiva dessa equação.

2ª) Ao realizar as propostas você observou que as equações do 2º grau

encontradas, apresentam três termos. Essas equações são classificadas como

equações do 2º grau completas.

Diante do exposto, responda::

a) Como seria uma equação do 2º grau incompleta?

b) A ausência de qual termo mudaria o grau da equação?

Para o desenvolvimento desta atividade: “Descobrir a raiz positiva da

equação do 2º grau pelo método de completar quadrados” foi utilizada a TV pendrive

para que os alunos desenvolvessem a atividade passo a passo, ou seja, liam,

copiavam e executavam a tarefa, desse modo os alunos “visualizavam” e faziam a

leitura das informações e construíam em cartolina as figuras, os cálculos solicitados

só eram apresentados depois que os alunos resolviam as questões. As mediações e

intervenções da professora PDE foram muito cuidadosas. A montagem no quadro de

giz, acompanhando passo a passo a resolução dos alunos, utilizando figuras

recortadas em tamanho grande foi bastante significativa. Foram realizadas várias

atividades, para uma aprendizagem eficiente.

Atividade 12: Equação do 2º grau... Uma receita matemática?

Contexto histórico: As equações surgiram para atender necessidades da

vida prática. Os egípcios resolviam equação de 1º grau e os povos da Babilônia,

além das equações do 1º grau, também resolviam equações do 2º grau.

O registro mais antigo de uma equação quadrática é de uma placa de argila

da Mesopotâmia, de cerca de 1700 a.C e sua solução era realizada totalmente com

27

palavras (álgebra retórica). Os chineses, os gregos, os hindus, os árabes, enfim

desde o antigo Egito até os dias atuais, encontramos diversas formas de resolver

uma equação do 2º grau.

Nos dias de hoje, podemos resolver equações do 2º grau assim;

• Isolando a incógnita: (contribui para formar a ideia do que é uma

equação); Usando a fatoração: (são dois usos fundamentais: simplificar

as expressões algébricas e ajudar a resolver equações); Obtendo um

trinômio quadrado perfeito (encontrando uma raiz positiva)

E neste caso, o que fazer? 0

O contexto histórico necessário para dar continuidade ao assunto traz uma

reflexão, na qual um fato fundamenta o outro. E agora, diante de uma equação

cujos métodos até então apresentados não dão conta da solução, surge a

necessidade de prosseguir nesta busca em que se generaliza uma forma de

resolução para qualquer que seja a equação. É necessário um método, uma fórmula

que dê conta da solução.

Atividade 13: Aprendendo com o matemático hindu Bhaskara

Contexto histórico: No século XII o matemático hindu Bhaskara

Akaria,(c.1114-1185), baseado nos estudos deixados por Al Khowarizmi, apresentou

um processo em linguagem verbal que, aperfeiçoado por outros matemáticos,

culminou na fórmula que permite encontrar as raízes (solução) das equações do 2º

grau. Os hindus aceitavam a existência de raízes reais e negativas e admitiam que

as equações de 2º grau com raízes reais que apresentassem duas raízes.

Esta fórmula, fácil, rápida, certeira que estudantes do mundo inteiro em

poucos minutos conseguem resolver problemas que envolvem uma equação do 2º

grau, recebe o nome de Fórmula Resolutiva de Equações do 2º grau,

O Brasil é o único país que tem o costume de atribuir ao método resolutivo

de equações do 2º grau, o nome “Fórmula de Bháskara”. Este hábito, tipicamente

brasileiro teve sua manifestação por volta de 1960 no livro Curso de Matemática,

para 4ª série ginasial, dos autores Benedito Castrucci e Geraldo dos Santos Lima

Filho (CARVALHO et al, 2003).

Definição: Toda equação com uma incógnita x que pode ser escrita na

forma + bx + c = 0, com a, b e c números reais e a ≠ de 0, é chamada equação

28

do 2º grau. A igualdade + bx + c = 0 é chamada de forma geral da equação do

2º grau.

Conforme Imenes et al (1992, p. 29 ), “a estratégia usada para resolver as

equações de 2º grau é esta: primeiro, obtemos um quadrado perfeito em um dos

membros; depois encontramos as raízes quadradas. É como se a resolução de uma

equação de 2º grau fosse trocada pela resolução de duas de 1º grau”.

Resolveremos a equação do 2º grau genérica, isto é, a equação que

representa qualquer equação completa do 2º grau:

Transformar essa equação num trinômio quadrado

perfeito;

Multiplicam-se os dois membros da equação por 4a ; + 4abx + 4ac = 0

Subtrai-se 4ac dos dois membros da equação; + 4abx = - 4ac

Soma-se aos dois membros da equação; 4 + 4abx + = -

4ac

Fatora-se o 1º membro da equação; = - 4ac

Podemos escrever 2ax + b ±

Subtrai-se b dos dois membros da equação; 2ax = - b ±

Dividem-se os dois membros da equação por 2a . x =

O uso da Tv pendrive para apresentar o passo a passo da dedução da

fórmula resolutiva de equações do 2º grau foi um instrumento valioso. Essa

demonstração, mesmo com reprise ainda não ficou bem clara para alguns alunos,

mas, conforme Imenes e Lelis (2006), a manipulação algébrica para a dedução da

fórmula, sem dúvida é complexa para os alunos de 8ª série, porém é necessária.

Além de conhecer a fórmula, os alunos apreciarão o poder das fórmulas em geral.

Espera-se que sejam capazes de entender uma demonstração como sendo uma

argumentação lógica que justifica certo fato e perceber cadeias dedutivas (“ uma

coisa leva à outra, que leva à outra,...”).

Atividade 14: Jogando com a Matemática

1ª) Um salão retangular tem área de 204 e seu comprimento tem 5 m a

mais do que sua largura. Utilizando seus conhecimentos de Álgebra, Geometria e

Aritmética encontre as dimensões deste salão.

29

As atividades escolhidas para aplicação da fórmula, apresentadas através

de situações-problema, fazem uma integração entre Álgebra, Geometria e

Aritmética, finalizando deste modo todo o desenvolvimento das atividades resolvidas

até então, com objetivo de mostrar ao aluno que é possível buscar nestes conteúdos

estruturantes as respostas solicitadas.

7 Considerações Finais

O embasamento teórico que subsidiou este projeto, bem como sua

implementação foi resultado de muitas leitura e posteriores reflexões que se aliaram

ao desejo da professora PDE de aprender e oportunizar aos alunos maneiras

realmente eficazes de elaboração de conceitos matemáticos. Mesmo com alguns

anos de prática docente, esta experiência fez com que a Professora PDE afirmasse:

“nunca mais minhas abordagens pedagógicas sobre o conteúdo equação do 2º grau

serão as mesmas.”

Foi possível constatar que, com aulas bem planejadas e elaboradas dentro do

que se pretende atingir, no caso, identificar as possibilidades de uma sequência

didática elaborada utilizando a História da Matemática como estratégia didática, para

o fazer pedagógico com a linguagem algébrica e suas aplicações, particularmente

da equação do 2º grau, para alunos surdos e ouvintes, sem particularizar o trabalho

com o aluno surdo, muito contribui para o ensinar e, consequentemente, o aprender

Matemática de todos os alunos.

A abordagem do conteúdo deste estudo é inesgotável, pois, a busca da

fórmula resolutiva de equações do 2º grau constitui uma das mais belas conquistas

da História da Matemática.

Uma das fortes razões para centrar o ensino da Matemática em seu contexto

histórico reside no fato da Álgebra ter sido pensada ao longo do tempo até alcançar

sua estrutura moderna, partindo da forma retórica ao abstrato das fórmulas. A

maneira de apresentar as atividades favoreceu a compreensão, devido a elaboração

das mesmas serem apresentadas em sequência (obedecendo a cronologia),

estarem relacionadas entre si, ou melhor, para cada atividade a ser desenvolvida já

30

havia sido retomado os pré-requisitos necessários, em relação aos conteúdos de

Números, Álgebra e Geometria.

Com esta experiência, foi possível constatar que a utilização de vários

recursos e estratégias visuais que acompanham a oralidade (objetos, desenhos,

fotos, vídeos, TV pendrive, pesquisas em sites educativos, recortes em papel

quadriculado entre outros) favorece a compreensão do significado da linguagem

algébrica e a construção de conceitos matemáticos pelos alunos.

Os resultados obtidos evidenciaram a possibilidade de realizar um trabalho

de maneira satisfatória, mesmo envolvendo um conteúdo considerado difícil, no

caso, a Álgebra, pois, utilizando-se das diversas formas de comunicação é possível

que o aluno, ouvinte ou surdo, interprete e compreenda os conceitos matemáticos.

Referências

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FRANÇA, Elizabeth ...[et al.]. Matemática na vida e na escola / Elizabeth França... [et al.]. _ São Paulo: Editora do Brasil,1999. Outros autores: Ana Lúcia Bordeaux, Cléa Rubinstein, Elizabeth Ogliari, Gilda Portela. Obra em 4 v. Para alunos de 5ª a 8ª série.

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IMENES, Luiz Márcio Pereira, 1945. Matemática Paratodos: 8ª série: 9º ano do Ensino Fundamental / Luis Márcio Imenes & Marcelo Cestari Lellis. - São Paulo: Scpione, 2006. – (Coleção Paratodos).

LINS, Romulo Campos. Perspectivas em aritmética e álgebra para o século XXI/ Romulo Campos Lins, Joaquim Gimenez. – Campinas, SP: Papirus, 1997. – (Coleção Perspectivas em Educação Matemática). LORENZATO, Sergio. Para aprender matemática / Sergio Lorenzato. – Campinas, SP: Autores Associados,2006. ( Coleção Formação de professores). MOURA, Maria C. de. O surdo: Caminhos para uma nova identidade . Rio de Janeiro: Revinter, 2000.

OSCAR, Guelli. História da Equação do 2º Grau .São Paulo: Editora Ática,1994. – (Coleção Contando a História da matemática, vol 3)

PARANÁ. Secretaria de Estado da Educação. Superintendência de Educação. Departamento de Ensino de Primeiro Grau. Matemática: 5ª. A 8ª. Série / Secretaria de Estado da Educação. Departamento de Ensino de Primeiro Grau. Curitiba, 1994. – 100 p. – (Coleção Cadernos do Ensino Fundamental; 12).

PARANÁ. SEED. Departamento de Educação Especial. O Currículo e a educação especial: flexibilização e adaptações curriculares para atendimento às necessidades educacionais especiais. Curitiba, PR. Disponível em: <http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br>. Acesso em: 27 mar 2010.

PARANÁ. Leis, decretos, etc. Lei nº 12095/98, de 11 de março de 1998 : Reconhece oficialmente, pelo Estado do Paraná, a Língua Brasileira de Sinais – Libras. Curitiba, 1998.

Referências de sites

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