28
UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA Mestrado em Teoria Literária Disciplina :Estudos Comparados de Literatura Docente: Betina Ribeiro Rodrigues da Cunha Roberto Daud

DA IMAGEM AO IMAGINÁRIO

Embed Size (px)

DESCRIPTION

Seminario para a disciplina Estudos comparados de literatura.Mestrado em teoria literária UFU. Ministrantes: Fernanda e Grégore.

Citation preview

Page 1: DA IMAGEM AO IMAGINÁRIO

UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA

Mestrado em Teoria Literária

Disciplina :Estudos Comparados de Literatura

Docente: Betina Ribeiro Rodrigues da Cunha

Roberto Daud

Page 2: DA IMAGEM AO IMAGINÁRIO

DA IMAGEM AO IMAGINÁRIO

Fernanda Pina dos Reis FaccinGregore Silva Braga

Page 3: DA IMAGEM AO IMAGINÁRIO

A consciência dispõe de duas maneiras de representar o mundo.

Uma, direta, na qual a própria coisa parece estar presente na mente, como na percepção ou na simples sensação. A outra, indireta, quando, por qualquer razão, o objeto não pode se apresentar à sensibilidade “em carne e osso”, como, por exemplo, nas lembranças de nossa infância, na imaginação das paisagens do planeta Marte, na inteligência da volta dos elétrons em torno

de um núcleo atômico ou na representação de um além-morte. Em todos esses casos de consciência indireta, o objeto ausente é re-(a) presentado à consciência por uma imagem, no sentido amplo do termo. (DURAND,1988, p.11)

Page 4: DA IMAGEM AO IMAGINÁRIO

Santiago, de João Moreira Salles (Brasil, 2007)

Page 5: DA IMAGEM AO IMAGINÁRIO

Gustav Klimt (1862 - 1918), Morte e Vida, 1916

Page 6: DA IMAGEM AO IMAGINÁRIO

• O estudo das imagens do estrangeiro num determinado texto, numa literatura ou mesmo numa cultura – ou, como se diz em francês, imagologie - é um dos métodos de investigação mais antigos em Literatura Comparada, tendo caracterizado muito especialmente a escola francesa de Jean-Marie Carré em por exemplo, Les escrivains français et le mirage allemand (1947). (p.55)

Page 7: DA IMAGEM AO IMAGINÁRIO

Os estudos imagológicos encontram-se dentro de um campo maior denominado Literatura Comparada, a qual tem por base a comparação, mas principalmente a relação entre duas ou mais literaturas e/ou culturas, sendo o elemento estrangeiro revelador do estágio da cultura de cada um dos países relacionados. (Katia Aily Franco de Camargo- Doutora em Língua e Literatura Francesa pela FFLCH-USP )

Page 8: DA IMAGEM AO IMAGINÁRIO

A imagologie teve ilustres inimigos como

• René Wellek num artigo publicado em 1953 no Yearbook of Comparative and General Literature, se manifesta frontalmente contra este tipo de estudos e “anuncia a “crise” da Literatura Comparada. Segundo esse autor, o estudo das imagens/ miragens proposto por Carré e Guyard extrapolava, em muito, o campo da Literatura Comparada, pois o objeto de estudo desta havia sido delimitado de maneira artificial, assim como de sua metodologia, colocando-a em risco, uma vez que poderia se tornar simplesmente uma ciência auxiliar a serviço das relações internacionais. Para Wellek, a obra de arte em si deveria ser o centro de toda a análise.”

Page 9: DA IMAGEM AO IMAGINÁRIO

Interdisciplinar avant la lettre, a imagologie caiu, sobretudo na França, em dois extremismos:

• Excessiva importância dada a textos literários separados da análise histórica e cultural;

• O excesso contrário, ou seja, uma leitura demasiado redutora de textos literários transformados em inventários de imagens do estrangeiro. (p.56)

Page 10: DA IMAGEM AO IMAGINÁRIO

• Assim concebida, a imagem literária pode ser definida como sendo um conjunto de ideias sobre o estrangeiro incluídas num processo de literarização e também de socialização, quer dizer, como elemento cultural que remete à sociedade. Esta nova perspectiva obriga o investigador a ter em conta não só os textos literários em si, mas também as condições da sua produção e da difusão, bem como de todo o material cultural com o qual se escreve, pensa e vive.(p.57)

Page 11: DA IMAGEM AO IMAGINÁRIO

Com tudo isso, é impensável que o investigador comparativista negue a especificidade do fato literário (frequentemente através da análise de narrativas de viagem, ensaios, romances, teatro, mais raramente da poesia). (p.57)

Page 12: DA IMAGEM AO IMAGINÁRIO

Imaginário

• A imagem do estrangeiro deve ser estudada como fazendo parte dum conjunto vasto e complexo: o imaginário. Ou melhor, o imaginário social (expressão que fomos buscar aos historiadores) numa das suas manifestações específicas) : a representação do Outro. Assim, é necessário tornar preciso o que se entende, em Literatura Comparada, por imagem. (p.58)

Page 13: DA IMAGEM AO IMAGINÁRIO

“O que será a imagem no sentido em que nós a concebemos?”

• Repare-se, antes de mais, que toda e qualquer imagem procede de uma tomada de consciência, por menor que ela seja; procede de um <<Eu>> em relação a um <<algures>>.

• A imagem é, portanto, o resultado de uma distância significativa entre duas realidades culturais.

• Ou melhor: a imagem é a representação de uma realidade cultural estrangeira através da qual o indivíduo ou o grupo que a elaboraram (ou que a partilham ou que a propagam) revelam e traduzem o espaço ideológico no qual se situam.(p.59)

Page 14: DA IMAGEM AO IMAGINÁRIO

Uma outra perspectiva errada, estéril, é a que consiste em determinar a <<falsidade>> de uma imagem, o grau de <<fidelidade>> de uma imagem em relação ao real observado.

Na verdade a imagem não é um duplicado ou um análogo do real e as imagens não são <<erros>> de percepção. A partir de que grau se pode considerar uma imagem falsa? O estudo da imagem deve dar menos importância ao grau de <<realidade>> duma imagem do que ao seu grau de conformidade com um modelo cultural previamente existente, de que importa conhecer os componentes, os fundamentos, a função social. (p.58)

Page 15: DA IMAGEM AO IMAGINÁRIO

• O estereótipo é um ponto de encontro entre uma sociedade determinada e uma das suas expressões culturais simplificada, reduzida a um essencial ao alcance de todos.

• (...)esse povo é assim...ou não é assim... Este povo sabe... Quer dizer: o estereótipo representa uma confusão essencial entre a Natureza, o Ser e a Cultura, o Fazer.

• Enfim, o estereótipo levanta o problema de uma hierarquia de culturas: ele distingue o Eu do Outro e, quase sempre, valoriza o primeiro termo em detrimento do segundo. (p.60)

Page 16: DA IMAGEM AO IMAGINÁRIO

• Compreende-se, assim, de que maneira o estereotipo é, afinal, a forma embrionária do mito no sentido em que o entendem os sociólogos ou o Roland Barthes de Mythologies.

• Eu <<olho>> o Outro – mas a imagem do Outro veicula também uma certa imagem de mim mesmo.

• Queremos dizer <<o Outro>> ( por imperiosas e complexas razões, quase sempre) e, ao dizer <<o Outro>> negámo-lo e dizemo-nos a nós próprios. (p.61)

Page 17: DA IMAGEM AO IMAGINÁRIO
Page 18: DA IMAGEM AO IMAGINÁRIO

• A imagem é, na verdade, uma língua segunda, uma linguagem. Entre todas as linguagens de que pode dispor uma sociedade para se dizer e se pensar, entre todas as linguagens simbólicas (lembremos, por exemplo, a da moda, estudada por Roland Barthes), a imagem é uma delas, original, tendo por função exprimir as relações inter-éticas, inter- culturais, as relações menos efetivas que repensadas, sonhadas entre a sociedade que fala (e que <<olha>>) e a sociedade <<olhada>>. (p.61)

Page 19: DA IMAGEM AO IMAGINÁRIO

• A imagem tem, para retomar as palavras de Roland Barthes em Éléments de sémiologie, uma <<função-signo>>. Porque a imagem é representação, portanto, substituto em lugar de outra coisa, não tem o caráter teoricamente polissêmico que é devido a toda a composição artística ou estética. (p.62)

• estas palavras, mas também, nos textos, estas constelações verbais, estes campos lexicais compõem o arsenal nocional, afetivo, comum, em principio, ao escritor e ao publico. (p.63)

Page 20: DA IMAGEM AO IMAGINÁRIO

• A estes elementos, ou núcleos lexicais, correspondem em geral processos de semantização bastante simples: a palavra, frequentemente, não está longe, pela sua natureza e pelo seu funcionamento, do estereotipo. Ela gera reflexos semânticos unívocos: é aquilo que designamos atrás por descodificação, mais ou menos imediata, pelo leitor. Todavia, trata-se de palavras-chave, autenticadas pela historia e pelo processo cultural de vários seculos. (p.65)

Page 21: DA IMAGEM AO IMAGINÁRIO

• A fórmula pode aplicar-se com proveito à imagem. Mas note-se: relações hierarquizadas. É importante, antes de mais, identificar os grandes sistemas de oposições que estruturam o texto (Eu versus o Outro), as principais unidades temáticas que permitem determinar as grandes sequencias através das quais são descritas as características do estrangeiro. (p.67)

• Trata-se de ver se o texto literário está ou não em conformidade com uma certa situação social e cultural; ver também a que tradição cultural, ideológica, o texto corresponde (daqui a ligação inevitável entre literatura e história, (...) (p.70)

Page 22: DA IMAGEM AO IMAGINÁRIO

• Na verdade o imaginário que descobrimos é o lugar onde triunfa a intertextualidade, dado que é o lugar de arquivagens e de reatualizações possíveis de fragmentos, de sequencias, de pedações de textos, vindos ou não do estrangeiro.

• Ou seja: no interior duma sociedade e duma cultura estudadas em termos sistemáticos, o escritor escreve, escolhe o seu discurso sobre o Outro, por vezes em contradição total com a realidade politica do momento. (p.72)

Page 23: DA IMAGEM AO IMAGINÁRIO

• De facto em numerosos casos o intercambio é unilateral: é feito por um indivíduo, um grupo que se volta para o estrangeiro sem esperar nenhuma reciprocidade, nenhum efeito de ricochete, nenhum sentimento partilhado. Haverá, em todos estes casos, imagem, representação do Outro: o Outro será não só <<olhado>>, mas obrigado a calar-se. Consequentemente, importa distinguir, no próprio interior da historia cultural que interrogamos, as relações unilaterais e bilaterais, as relações unívocas e as relações reciprocas. Esta distinção leva-nos a determinar algumas atitudes fundamentais que regem a representação do Outro.

Page 24: DA IMAGEM AO IMAGINÁRIO

Poderão distinguir-se quatro atitudes fundamentais:

1. A realidade cultural estrangeira é tida pelo escritor ou pelo grupo como sendo absolutamente superior à cultura nacional de origem; esta superioridade afecta toda a parte da cultura estrangeira. Há, neste primeiro caso, aquilo a que poderemos chamar uma <<mania>>. A consequência, plano da cultura de origem, é que ela é tida por inferior, total ou parcialmente.(p.71)

Page 25: DA IMAGEM AO IMAGINÁRIO

2. A realidade cultural estrangeira é tida por inferior ou por negativa em relação à cultura de origem: há então <<fobia>> e esta atitude desencadeia, como reação, uma sobrevalorização de toda ou de parte da cultura de origem.(p.73)

3. A realidade cultural estrangeira é tida por positiva e situa-se no interior de uma cultura igualmente considerada de maneira positiva. Estamos então perante o primeiro e único caso de trocas bilaterais que procedem de uma admiração mutua: é a atitude a que chamaremos de <<filia>>. (p.75)

Page 26: DA IMAGEM AO IMAGINÁRIO

4. “É aquela que não se põe o problema do juízo positivo ou negativo, pelo aparentemente, de maneira imediata. É caso, por exemplo, do escritor ou do critico que se afirma <<cosmopolita>> e para o qual o estrangeiro, na sua singularidade, daria lugar a uma realidade mais ou menos uniforme que este letrado considerará, digamos, a sua republica das letras. O estudo deste caso leva-nos por vezes ao extremo limite quer da fobia, na medida em que esta ausência proclamada de juízo relativamente ao estrangeiro em si, como personalidade concreta, é compensada noutro plano por uma hierarquia ativa: (...) (p.76-77)

Page 27: DA IMAGEM AO IMAGINÁRIO

Referências • DURAND, Gilbert. A imaginação simbolica.

Tradução Eliane Fittipaldi Pereira. – São Paulo: Cultrix, Editora da Universidade de São Paulo,1988.

• MACHADO, A. M.; PAGEAUX, D.-H. Da literatura comparada à teoria da literatura. 2a. ed. rev. e aum., Lisboa: Editorial Presença, 2001.http://www.cei.unir.br/artigo92.html

• http://www.youtube.com/watch?v=dGzwJUqpMT4&NR=1

• http://www.youtube.com/watch?v=G832r4bW5ks&feature=related

Page 28: DA IMAGEM AO IMAGINÁRIO

MUITO OBRIGADO!

MUITO OBRIGADO!

Carla Bruni - Quelqu'un m'a dit (Alguém me disse )