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1 PROCESSO CIVIL Prof. Juliano Colombo DA INTERVENÇÃO DE TERCEIROS - Continuação Da Oposição Nos termos dos artigos 56 e seguintes do CPC: Art. 56. Quem pretender, no todo ou em parte, a coisa ou o direito sobre que controvertem autor e réu, poderá, até ser proferida a sentença, oferecer oposição contra ambos. É forma de intervenção de terceiro espontânea, facultativa, ad excludendum (exclusão da pretensão), exige controvérsia entre as partes. “Oposição é a demanda mediante a qual terceiro deduz em juízo pretensão incompatível com os interesses conflitantes de autor e réu de um processo cognitivo pendente. O que caracteriza a pretensão desse terceiro, aqui chamado opoente é o pedido de tutela jurisdicional em relação ao mesmo bem que as partes originárias disputam” (Cândido Rangel Dinamarco – Instituições de Direito Processual Civil, p. 282) Tem como fundamento a economia processual. Sendo verdadeiro exercício do direito de ação. Forma-se litisconsórcio passivo necessário entre autor e réu. Em verdade, não se busca a exclusão das partes, mas a exclusão da pretensão das partes. Natureza declaratória/executiva. A oposição é proposta contra demandante e demandado, estes figuram como réus na oposição. Almeja excluir a pretensão do autor e do réu sobre o bem litigioso. Típico processo de conhecimento. “Obviamente, como se tem por evidente, trata-se de duas ações conexas, que normalmente seriam distribuídas a um só juiz: porém, para facilitar ainda mais a solução integral da controvérsia, para além da conexão a oposição gera a reunião, em um único processo, de ambas as ações, julgando-se de uma só vez as pretensões exercidas sobre o objeto do processo” (Marinoni e Arenhart – Manual do Processo de Conhecimento, p. 190)

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PROCESSO CIVIL

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DA INTERVENÇÃO DE TERCEIROS - Continuação

Da Oposição Nos termos dos artigos 56 e seguintes do CPC: Art. 56. Quem pretender, no todo ou em parte, a coisa ou o direito sobre que controvertem autor e réu, poderá, até ser proferida a sentença, oferecer oposição contra ambos. É forma de intervenção de terceiro espontânea, facultativa, ad excludendum (exclusão da pretensão), exige controvérsia entre as partes. “Oposição é a demanda mediante a qual terceiro deduz em juízo pretensão incompatível com os interesses conflitantes de autor e réu de um processo cognitivo pendente. O que caracteriza a pretensão desse terceiro, aqui chamado opoente é o pedido de tutela jurisdicional em relação ao mesmo bem que as partes originárias disputam” (Cândido Rangel Dinamarco – Instituições de Direito Processual Civil, p. 282) Tem como fundamento a economia processual. Sendo verdadeiro exercício do direito de ação. Forma-se litisconsórcio passivo necessário entre autor e réu. Em verdade, não se busca a exclusão das partes, mas a exclusão da pretensão das partes. Natureza declaratória/executiva. A oposição é proposta contra demandante e demandado, estes figuram como réus na oposição. Almeja excluir a pretensão do autor e do réu sobre o bem litigioso. Típico processo de conhecimento. “Obviamente, como se tem por evidente, trata-se de duas ações conexas, que normalmente seriam distribuídas a um só juiz: porém, para facilitar ainda mais a solução integral da controvérsia, para além da conexão a oposição gera a reunião, em um único processo, de ambas as ações, julgando-se de uma só vez as pretensões exercidas sobre o objeto do processo” (Marinoni e Arenhart – Manual do Processo de Conhecimento, p. 190)

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É faculdade do terceiro. Caso não haja oposição não será o terceiro atingido pela coisa julgada, poderá propor ação autônoma. Ex.: Tem legitimidade ad causam o terceiro para propor oposição quando os opostos, em processo de conhecimento (Ação Declaratória de Nulidade), discutem acerca da validade jurídica do negócio que transferiu ao opoente a propriedade de um bem imóvel. Ainda, discussão sobre a propriedade de bens móveis. Visa assegurar o que é seu e está sendo disputado por outrem em juízo. Aplicável somente no processo de conhecimento. Há que se falar em oposição somente no primeiro grau de jurisdição, até a sentença. "É descabida a oposição em processo expropriatório, porque deve ser exercida contra autor e réu simultaneamente, o que não ocorre na desapropriação" (RT 505/53).

Distinção entre oposição e embargos de terceiro

Ambos podem ser utilizados por terceiro no processo de conhecimento, entretanto, os dois institutos guardam profunda distinção. É que os embargos de terceiro são cabíveis perante uma constrição judicial.

Assim, havendo constrição judicial que fira direito de terceiro, cabíveis embargos de terceiro e não oposição.

Nos embargos (art. 1.046 e seguintes do CPC), o embargante alega seu direito de dono ou possuidor sobre a coisa e postula decisão que afaste a constrição lançada sobre ela. Quer ver o seu bem livre.

Em suma, ocorrendo penhora, arresto, seqüestro, cabíveis os embargos de terceiro e não a oposição.

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Da Competência O conhecimento da ação de oposição compete ao juiz da causa principal, nos termos do artigo 109 do CPC1. A oposição será distribuída por dependência ao juízo perante o qual tramita o processo originário. Do Procedimento Somente poderá ser proposta a oposição até a sentença de primeiro grau. Na fase recursal, portanto, não haverá oposição. Art. 57. O opoente deduzirá o seu pedido, observando os requisitos exigidos para a propositura da ação (arts. 282 e 283). Distribuída a oposição por dependência, serão os opostos citados, na pessoa dos seus respectivos advogados, para contestar o pedido no prazo comum de 15 (quinze) dias. Parágrafo único. Se o processo principal correr à revelia do réu, este será citado na forma estabelecida no Título V, Capítulo IV, Seção III, deste Livro. Os requisitos exigidos são o da petição inicial, por tratar-se de uma nova ação, sendo exigidas custas judiciais e condenação em honorários. Citação e não intimação. Ressalte-se que a citação ocorrerá na pessoa dos advogados (discussão acerca da existência de poderes especiais). Serão citados ambos os opostos (autor e réu da ação principal). Prazo para contestação da oposição é prazo comum de 15 dias. Divergência doutrinária acerca da aplicação do art. 191 do CPC – prazo em dobro para contestar.

Art. 58. Se um dos opostos reconhecer a procedência do pedido, contra o outro prosseguirá o opoente.

1 Art. 109. O juiz da causa principal é também competente para a reconvenção, a ação declaratória incidente, as ações de garantia e outras que respeitam ao terceiro interveniente.

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O processo prossegue entre opoente e o oposto remanescente. A decisão do juiz será interlocutória. Tanto a desistência da ação originária ou mesmo a extinção sem julgamento do mérito não obsta o prosseguimento da oposição.

Art. 59. A oposição, oferecida antes da audiência, será apensada aos autos principais e correrá simultaneamente com a ação, sendo ambas julgadas pela mesma sentença.

É a chamada oposição interventiva, efetivada antes da audiência.

A audiência aqui tratada é a de instrução e julgamento.

Entendimento doutrinário dominante:

- Sendo indeferida liminarmente a oposição interventiva (ajuizada antes da audiência), será cabível Agravo de Instrumento.

- Caso seja processada será julgada juntamente com a demanda anterior por sentença.

Art. 60. Oferecida depois de iniciada a audiência, seguirá a oposição o procedimento ordinário, sendo julgada sem prejuízo da causa principal. Poderá o juiz, todavia, sobrestar no andamento do processo, por prazo nunca superior a 90 (noventa) dias, a fim de julgá-la conjuntamente com a oposição.

É a chamada oposição autônoma, depois da audiência.

Entendimento doutrinário dominante:

- Sendo indeferida liminarmente a oposição autônoma (ajuizada após a audiência), estar-se-á diante de sentença, cabível o recurso de apelação.

Art. 61. Cabendo ao juiz decidir simultaneamente a ação e a oposição, desta conhecerá em primeiro lugar.

Isto porque a oposição é matéria prejudicial do julgamento da ação principal. Isto é, sendo reconhecida a procedência da oposição terá efeito direto sobre a causa principal.

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“A oposição é ação autônoma, independente da ação primitiva, pois com ela o opoente quer fazer valer direito próprio, incompatível com o das partes. Dessa forma, a extinção de uma não obsta ao prosseguimento da outra” (RTTJSP 599/63). “Possessória. Não cabe oposição de conteúdo dominial em ação possessória, porque nela o objeto do litígio é fundado na posse e não no domínio” (RT 529/60) “Oposição. O opoente é litigante singular, não se lhe aplicando o benefício do CPC 191 (RT 502/78). Os opostos são litisconsortes passivos necessários na ação de oposição, de sorte que têm sempre a prerrogativa de prazo do CPC 191, pois, como são adversários na ação principal, normalmente têm advogados diferentes”2

ASSISTÊNCIA Conceito da Assistência Simples Dá-se quando alguém, que não é parte, espontaneamente, procede intervenção no processo para auxiliar uma das partes que quer ser vitoriosa (autor ou réu), em razão de interesse jurídico seu. Exemplo: sublocatário ingressa no processo como assistente do locatário, pois havendo despejo, haverá extinção automática da sublocação. É colaboração voluntária do assistente à parte original. Marinoni e Arenhart conceituam Assistência Simples como “a forma exata de intervenção de terceiro. Nela, um sujeito que se vê na contingência de ser indiretamente prejudicado por uma sentença, é autorizado a ingressar no processo em que ela será proferida para auxiliar uma das partes, e com isso tentar evitar tal prejuízo”. Atua de forma a complementar a atuação do assistido, nunca de forma antagônica. Poderá ser atingido de forma reflexa pela sentença, deverá o assistente simples demonstrar interesse jurídico. Por exemplo, tabelião como assistente na ação em que discute a validade da escritura realizada.

2 Nelson Nery Junior e Rosa Maria de Andrade Nery – Código de Processo Civil Comentado e legislação extravagante – 11ª edição 2010, pg.416

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O Assistente Simples deve demonstrar interesse jurídico, visto que a relação jurídica que participa será afetada reflexamente. Não será mero interesse moral, econômico ou religioso. Ementa: AGRAVO DE INSTRUMENTO. NEGÓCIOS JURÍDICOS BANCÁRIOS. EXECUÇÃO. INTERVENÇÃO DE TERCEIROS. CABIMENTO DA ASSISTÊNCIA. AUSÊNCIA DE INTERESSE JURÍDICO A LEGITIMAR O INGRESSO DE TERCEIRO NO FEITO. PRESCRIÇÃO INTERCORRENTE. INVIABILIDADE DO PLEITO. 1. Do cabimento da assistência simples. Interesse jurídico e não meramente econômico: mesmo que a assistência simples tenha cabimento em qualquer fase do processo, ainda que em sede de execução, o agravante deve demonstrar legítimo interesse jurídico no deslinde da causa, o que inocorre no caso dos autos. O interesse meramente econômico não se subsume à espécie do instituto da assistência. 2. Do exame "ex officio" da prescrição intercorrente: em sendo indeferido o pedido de intervenção do agravante, ao feito executivo, na qualidade de assistente, descabe a análise do pedido de reconhecimento da prescrição do direito do exeqüente. Agravo de instrumento desprovido. (Agravo de Instrumento Nº 70039945159, Décima Segunda Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Umberto Guaspari Sudbrack, Julgado em 17/03/2011)

Do Procedimento Faz-se necessário a entrega de petição devidamente instruída com a prova do interesse jurídico em atuar como interveniente No silêncio, nos termos do artigo 51 do CPC, será deferida a intervenção sob forma de assistência simples. Em havendo impugnação, será instaurado incidente processual em apenso aos autos da ação principal, que versará sobre o interesse jurídico do assistente. Art. 53. A assistência não obsta a que a parte principal reconheça a procedência do pedido, desista da ação ou transija sobre direitos controvertidos; casos em que, terminando o processo, cessa a intervenção do assistente.

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Art. 52. O assistente atuará como auxiliar da parte principal, exercerá os mesmos poderes e sujeitar-se-á aos mesmos ônus processuais que o assistido. Parágrafo único. Sendo revel o assistido, o assistente será considerado seu gestor de negócios. O efeito da intervenção

Art. 55. Transitada em julgado a sentença, na causa em que interveio o assistente, este não poderá, em processo posterior, discutir a justiça da decisão, salvo se alegar e provar que:

I - pelo estado em que recebera o processo, ou pelas declarações e atos do assistido, fora impedido de produzir provas suscetíveis de influir na sentença;

II - desconhecia a existência de alegações ou de provas, de que o assistido, por dolo ou culpa, não se valeu.

“Justiça da decisão. São os fundamentos de fato e de direito da sentença. (...) Na prática, isto significa que o assistente não poderá, em processo futuro, rediscutir os motivos de fato e de direito da sentença proferida entre assistido e parte contrária. Salvo, é claro, se alegar e provar a exceção de má gestão processual, cujas hipóteses de incidência são apontadas nos incisos da norma ora comentada.” – Nelson Nery Junior – Código de Processo Civil Comentado, p. 274.

Conceito da Assistência Litisconsorcial “O assistente litisconsorcial é o titular do direito discutido em juízo - e, dessa forma, será atingido pela coisa julgada – que ingressa ulteriormente no processo.”3 Assim, o assistente litisconsorcial é parte no processo. Seu direito é atingido pela coisa julgada material, uma vez que adere ao pedido originário. Não poderá alterar o pedido ou a causa de pedir (princípio da estabilidade da demanda).

Art. 54. Considera-se litisconsorte da parte principal o assistente, toda vez que a sentença houver de influir na relação jurídica entre ele e o adversário do assistido.

3 Luiz Guilherme Marinoni e Sérgio Cruz Arenhart, “Processo de Conhecimento”, v.2, RT, p. 175.

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Parágrafo único. Aplica-se ao assistente litisconsorcial, quanto ao pedido de intervenção, sua impugnação e julgamento do incidente, o disposto no art. 51.

Art. 42. A alienação da coisa ou do direito litigioso, a título particular, por ato entre vivos, não altera a legitimidade das partes.

§ 1o O adquirente ou o cessionário não poderá ingressar em juízo, substituindo o alienante, ou o cedente, sem que o consinta a parte contrária.

§ 2o O adquirente ou o cessionário poderá, no entanto, intervir no processo, assistindo o alienante ou o cedente.

§ 3o A sentença, proferida entre as partes originárias, estende os seus efeitos ao adquirente ou ao cessionário.

Para o Assistente Litisconsorcial deverá existir relação jurídica de titularidade do assistente com o adversário do assistido. O direito posto na causa também deve ser de titularidade do assistente. Ementa: SERVIDOR PÚBLICO. EXECUÇÃO DE SENTENÇA. CESSÃO DE CRÉDITO ALIMENTAR JÁ REGISTRADO E OBJETO DE PRECATÓRIO. EC Nº 62/09. HABILITAÇÃO DA CESSIONÁRIA, NO CASO CONCRETO, NA CONDIÇÃO DE ASSISTENTE LITISCONSORCIAL. POSSIBILIDADE. É possível a habilitação, na ação executiva, do cessionário de crédito inscrito em precatório, ainda pendente de pagamento, diante das alterações constitucionais conferidas pela EC nº 62/09. Havendo cessão a habilitação deve acontecer na condição de assistente litisconsorcial. Precedentes desta Câmara e do Superior Tribunal de Justiça examinados. AGRAVO DE INSTRUMENTO PARCIALMENTE PROVIDO. DECISÃO MONOCRÁTICA. (Agravo de Instrumento Nº 70041053430, Terceira Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Nelson Antônio Monteiro Pacheco, Julgado em 01/02/2011)

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Ementa: AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO DE USUCAPIÃO. ALIENAÇÃO DO IMÓVEL NO DECORRER DA AÇÃO. PEDIDO DE INCLUSÃO DO ADQUIRENTE NA CONDIÇÃO DE ASSISTENTE LITISCONSORCIAL. CABIMENTO. A alienação da coisa ou do direito litigioso, a título particular, por ato entre vivos, não altera a legitimidade das partes, conforme o caput do artigo 42 do Código de Processo Civil. Contudo, havendo concordância da parte contrária da ação, pode o adquirente ingressar em juízo, sucedendo o alienante (§ 1º do art. 42). Não havendo o consentimento, abre-se a possibilidade de intervenção no processo por meio de assistência (§ 2º do art. 42), que, no caso, se trata do tipo litisconsorcial, permanecendo o alienante na ação somente em razão do princípio da perpetuatio legitimationis, não mais dotado de legitimidade para a causa (legitimatio ad causam), apenas de legitimidade para o processo (legitimatio ad processum). Aquele a quem foi vendido o imóvel, por possuir a legitimidade para a causa, será atingido pela coisa julgada (§ 3º do art. 42). Nessa linha, em ação de usucapião, alienado o imóvel usucapiendo no curso da demanda, cabível a inclusão do adquirente, promitente-comprador, como assistente litisconsorcial, pois, ingressando ou não na lide, será atingido pela eficácia direta da sentença, ficando vinculado, portanto, à coisa julgada. À UNANIMIDADE, DERAM PROVIMENTO AO RECURSO. (Agravo de Instrumento Nº 70038522694, Décima Sétima Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Liege Puricelli Pires, Julgado em 28/10/2010)

Parte do Voto: O Código de Processo Civil, em seu art. 42, caput, dispõe que “A alienação da coisa ou do direito litigioso, a título particular, por ato entre vivos, não altera a legitimidade das partes.” O adquirente ou cessionário só poderá ingressar em juízo, sucedendo o alienante ou o cedente, se consentir a parte contrária4. No entanto, não consentindo a parte contrária, fato aqui ocorrido, abre-se a possibilidade de intervenção no processo por meio de assistência, que, a meu ver, se trata da do tipo litisconsorcial, pois aquele que comprou o imóvel na pendência da ação de usucapião será quem, em sendo o pedido julgado procedente, obterá o domínio. Admiti-lo como assistente simples é insuficiente para tutelar sua posição jurídica diante do direito material e do processo.

4 Conforme disposição do §1º do art. 42 do CPC e STJ, 3ª Turma, REsp 280.993/PR, rel. Min. Nancy Andrighi, j. em 5/9/2002.

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A assistência litisconsorcial é hipótese de litisconsórcio unitário facultativo ulterior5, intervenção espontânea pela qual o terceiro se transforma em litisconsorte do assistido, possuindo igual tratamento, isto é, “atua com a mesma intensidade processual, não vigorando as normas que o colocam em posição subsidiária”6. O alienante ou cedente que ajuizou a ação nela continuará em razão do princípio da perpetuatio legitimationis (estabilização das partes no processo), entretanto, não mais dotado de legitimidade para a causa (legitimatio ad causam), apenas de legitimidade para o processo (legitimatio ad processum). Aquele a quem foi vendido o imóvel, no caso, Adriano Rosa da Silva, tem a legitimidade para a causa, de forma que, por previsão expressa do §3º do dispositivo aqui estudado, será atingido pela coisa julgada. Nesse sentido, a lição doutrinária de Wambier, Talamini e Correia de Almeida: [...] se pendente demanda reivindicatória entre A (autor) e B (réu), e B vende o imóvel para C, isso não significa que C passe a figurar no pólo passivo da ação que A move contra B. Este continua sendo réu e aí se diz que está substituindo processualmente C. [...] Em face do não consentimento de A para que C integre o processo substituindo B, pode o cessionário ou o adquirente (C) passar a integrar o processo na condição de assistente litisconsorcial, já que este tem legitimidade ad causam (ligação direta com o objeto sobre o qual se discute), carecendo, todavia, de legitimidade processual. Como assistente litisconsorcial que é, em função de disposição legal expressa (art. 42, §2º) será atingido pela sentença proferida no processo que pendia entre A e B.7 Segue, também, trecho de acórdão do Egrégio Superior Tribunal de Justiça, prolatado em uma ação de usucapião: [...] o sistema legal, ainda que não haja vontade do alienante nem consentimento da parte contrária, prescreve que o adquirente ou cessionário poderá intervir no processo assistindo o alienante ou cedente. Fosse diverso o entendimento não se estaria diante de substituição voluntária, mas, sim, de substituição forçada,

5 MOREIRA, José Carlos Barbosa. Estudos sobre o novo código de processo civil. Rio de Janeiro: Líber Júris, 1974. p. 78-79. 6 DIDIER JR., Fredie. Curso de Direito Processual Civil: teoria geral do processo e processo de conhecimento Civil. v. I. Salvador: Podium, 2007. p. 309. 7 WAMBIER, Luiz Rodrigues; TALAMINI, Eduardo; ALMEIDA, Flávio Renato Correia de. Curso avançado de processo civil: teoria geral do processo e processo de conhecimento. 10 ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2008. p. 272-273. v. 1.

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porque ficaria na dependência exclusiva do acordo da parte contrária, que, uma vez manifestado, acarretaria a exclusão obrigatória do alienante ou cedente.8 Por fim, desnecessária a existência de acordo prévio entre o adquirente (promitente-comprador) e o alienante (promitente-vendedor), uma vez o primeiro, participando do processo ou não, será atingido pela eficácia direta da sentença, ficando vinculado, portanto, à coisa julgada (art. 42, §3º, do CPC9). Se há como incluir o adquirente no processo, como litisconsorte do autor (porque não houve concordância do réu para incluí-lo como sucessor do alienante), não há porque manter o alienante conduzindo o processo como mero substituto processual.

Procedimento Faz-se necessário a entrega de petição devidamente instruída com a prova do interesse jurídico em atuar como assistente litisconsorcial. Tratamento idêntico ao da parte.não interfere no pedido, se sujeita à coisa julgada.

Art. 52. O assistente atuará como auxiliar da parte principal, exercerá os mesmos poderes e sujeitar-se-á aos mesmos ônus processuais que o assistido.

Art. 53. A assistência não obsta a que a parte principal reconheça a procedência do pedido, desista da ação ou transija sobre direitos controvertidos; casos em que, terminando o processo, cessa a intervenção do assistente. (entendimento doutrinário: este artigo é inaplicável para a assistência litisconsorcial, uma vez que o assistido somente pode reconhecer a procedência do pedido, desistir da ação ou transigir com o assentimento do assistente).

“Poderes do assistente litisconsorcial. O direito em litígio pertence tanto ao assistido quanto ao assistente, razão pela qual pode este prosseguir na

8 REsp 152.978/SP, Rel. Ministro CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO, TERCEIRA TURMA, julgado em 18/02/1999, DJ 29/03/1999, p. 165. 9 Art. 42 do CPC: “A alienação da coisa ou do direito litigioso, a título particular, por ato entre vivos, não altera a legitimidade das partes. § 1o O adquirente ou o cessionário não poderá ingressar em juízo, substituindo o alienante, ou o cedente, sem que o consinta a parte contrária. § 2o O adquirente ou o cessionário poderá, no entanto, intervir no processo, assistindo o alienante ou o cedente. § 3o A sentença, proferida entre as partes originárias, estende os seus efeitos ao adquirente ou ao cessionário.” (grifo acrescido)

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defesa de seu direito, ainda que o assistido tenha desistido, confessado ou transigido” (RT 530/133). Aplica-se a disciplina do litisconsórcio facultativo e unitário. Caso específico do CDC – denunciação da lide x chamamento ao processo. - a doutrina em regra entende como inadmissível a denunciação da lide em ações de consumo. (economia e celeridade processual – amparo no art. 88 do CDC) - ficou permitido pelo art. 101, II do CDC o chamamento ao processo do segurador – “O legislador criou uma nova figura de intervenção”!! Art. 101. Na ação de responsabilidade civil do fornecedor de produtos e serviços, sem prejuízo do disposto nos Capítulos I e II deste título, serão observadas as seguintes normas: I - a ação pode ser proposta no domicílio do autor; II - o réu que houver contratado seguro de responsabilidade poderá chamar ao processo o segurador, vedada a integração do contraditório pelo Instituto de Resseguros do Brasil. Nesta hipótese, a sentença que julgar procedente o pedido condenará o réu nos termos do art. 80 do Código de Processo Civil. Se o réu houver sido declarado falido, o síndico será intimado a informar a existência de seguro de responsabilidade, facultando-se, em caso afirmativo, o ajuizamento de ação de indenização diretamente contra o segurador, vedada a denunciação da lide ao Instituto de Resseguros do Brasil e dispensado o litisconsórcio obrigatório com este. Ocorre que a intervenção, em virtude de contrato de seguro será a denunciação da lide e não o chamamento ao processo. Para permitir a condenação direta da seguradora, foi criada a intervenção via “chamamento ao processo” da seguradora. Objetivo é a condenação direta da seguradora frente ao consumidor! Nas palavras de Kazuo Watanabe em sua obra “Código Brasileiro de Defesa do Consumidor comentado pelos autores do anteprojeto”:

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“O fornecedor demandado poderá convocar ao processo o seu segurador, mas não para o exercício da ação incidente de garantia, que constitui a denunciação da lide ..., e sim para ampliar a legitimação passiva em favor do consumidor, o que se dá através do instituo do chamamento ao processo ... Com a norma do art. 101 do Código, o elenco do art. 77, CPC, fica ampliado para nele ficar abrangido o segurador do fornecedor de produtos e serviços, que passa a assumir a condição de co-devedor perante o consumidor. (....) O chamamento ao processo, portanto, amplia a garantia do consumidor e ao mesmo tempo possibilita o fornecedor convocar desde logo, sem a necessidade de ação regressiva autônoma, o segurador para responder pela cobertura securitária prometida”

INTERVENÇÃO ANÔMALA – LEI 9.469/97

Art. 5º A União poderá intervir nas causas em que figurarem, como autoras ou rés, autarquias, fundações públicas, sociedades de economia mista e empresas públicas federais.

Parágrafo único. As pessoas jurídicas de direito público poderão, nas causas cuja decisão possa ter reflexos, ainda que indiretos, de natureza econômica, intervir, independentemente da demonstração de interesse jurídico, para esclarecer questões de fato e de direito, podendo juntar documentos e memoriais reputados úteis ao exame da matéria e, se for o caso, recorrer, hipótese em que, para fins de deslocamento de competência, serão consideradas partes.

DIREITO PROCESSUAL CIVIL E TRIBUTÁRIO. RECURSO ESPECIAL. VIOLAÇÃO AO ARTIGO 535 DO CPC. VÍCIOS NÃO CONFIGURADOS. DISCUSSÃO RELATIVA AO EMPRÉSTIMO COMPULSÓRIO SOBRE O CONSUMO DE ENERGIA ELÉTRICA. AÇÃO PROPOSTA APENAS CONTRA A ELETROBRÁS. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA ESTADUAL. PEDIDO DE INTERVENÇÃO NO FEITO FORMULADO PELA UNIÃO APÓS A PROLAÇÃO DA SENTENÇA. ART. 5º, DA LEI 9.469/97 E 50, DO CPC. DESLOCAMENTO DA COMPETÊNCIA PARA O TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL PARA APRECIAÇÃO DO PEDIDO DE INTERVENÇÃO E JULGAMENTO DOS RECURSOS. MANUTENÇÃO DA SENTENÇA. RECURSO SUBMETIDO AO REGIME PREVISTO NO ARTIGO 543-C DO CPC. 1. Demanda envolvendo questões referentes ao empréstimo compulsório sobre energia elétrica proposta unicamente contra a Eletrobrás, perante a justiça estadual. Na hipótese, a União requereu o ingresso no feito, com fundamento nos artigos 5º, da Lei 9.469/97 e 50, do CPC, após a prolação da sentença pela justiça estadual. 2. No que se refere à competência para dirimir questões referentes ao empréstimo compulsório sobre energia elétrica, a jurisprudência desta Corte se firmou no sentido que a competência da justiça federal é definida em razão das partes litigantes e não da matéria em discussão, de sorte que, sendo a demanda proposta unicamente em desfavor da Eletrobrás, a competência para sua apreciação é da justiça estadual, ao passo que, ingressando a União no feito, a competência passa

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a ser da justiça federal, por força do que determina o artigo 109, inciso I, da Constituição Federal. 3. O pedido de intervenção da União realizado após a prolação da sentença enseja tão somente o deslocamento do processo para o Tribunal Regional Federal, para que examine o requerimento de ingresso na lide e prossiga (se for o caso) seu julgamento, sem a automática anulação da sentença proferida pelo juízo estadual. 4. Recurso afetado à Seção, por ser representativo de controvérsia, submetido ao regime do artigo 543-C do CPC e da Resolução 8/STJ. 5. Recurso especial parcialmente provido, para determinar a manutenção da sentença de primeiro grau e a remessa dos autos para o competente TRF, a fim de que se proceda à apreciação do pedido de intervenção da União e, se aceito, se realize o julgamento das apelações. (REsp 1111159/RJ, Rel. Ministro BENEDITO GONÇALVES, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 11/11/2009, DJe 19/11/2009)

Ementa: AGRAVO DE INSTRUMENTO - PROCESSUAL CIVIL - AÇÃO ORDINÁRIA DA AES SUL CONTRA A CEEE-D E A CEEE-GT - INTERVENÇÃO ANÔMALA DO ESTADO - DECLINAÇÃO DE COMPETÊNCIA - CONEXÃO COM AÇÃO DE IMPROBIDADE - INEXISTÊNCIA. 1. Intervenção do Estado. O parágrafo único do art. 5º da Lei 9.469/97 permite que o Estado, por interesse econômico (dispensa interesse jurídico), conste, não como assistente (figura do CPC), mas como interveniente (chamada intervenção anômala), nos processos em que é demandada economia mista da qual seja o acionista majoritário, como são os casos da CEEE-D e da CEEE-GT. Reforma parcial da decisão a quo, no ponto, a fim de admitir o Estado apenas como interveniente. 2. Deslocamento da competência. 2.1 - Se a intervenção da União Federal com base no art. 5º da Lei 9.469/97, por interesse econômico, não desloca a competência, no 1º Grau, para a Justiça Federal porque, conforme orientação do STJ, o art. 109, I, da CF, se refere a interesse jurídico, assim também ocorre na intervenção do Estado em relação à competência das varas cíveis comuns e das varas especiais da fazenda pública no Foro Central de Porto Alegre, isto é, não há deslocamento. 2.2 - Se a sociedade anônima, criada em razão de cisão parcial de sociedade de economia mista, devolve imóveis à cincida e ajuíza ação ordinária para obter a devolução do preço pago não obtida administrativamente, não se reconhece conexão entre esta demanda e outra, ação de improbidade administrativa, em que, em razão da devolução, tais imóveis deixaram de ser objeto. 3. Dispositivo. Por maioria, recurso provido em parte. (Agravo de Instrumento Nº 70035430420, Primeira Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Irineu Mariani, Julgado em 06/10/2010)

Parte do voto:

Por exemplo, novamente me valendo da douta peça recursal, pelo só

fato de a União ser acionista majoritária do Banco do Brasil (sociedade de

economia mista), podendo ser interveniente, e não assistente (figura do CPC), o

STJ não admitiu o deslocamento da competência para a Justiça Federal, conforme

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o REsp. 1097759-BA, da 4ª Turma, Rel. Min. Luís Felipe Salomão, em 21-5-09,

valendo ser transcrita a ementa:

RECURSO ESPECIAL. DIREITO PROCESSUAL CIVIL. INTERVENÇÃO ANÓDINA DA UNIÃO. ART. 5º DA LEI Nº 9.469/97. INTERESSE MERAMENTE ECONÔMICO. DESLOCAMENTO DA COMPETÊNCIA PARA A JUSTIÇA FEDERAL. IMPOSSIBILIDADE. RECURSO ESPECIAL NÃO CONHECIDO.

1. Conquanto seja tolerável a intervenção anódina da União plasmada no art. 5º da Lei nº 9.469/97, tal circunstância não tem o condão de deslocar a competência para a justiça federal, o que só ocorre no caso de demonstração de legítimo interesse jurídico na causa, nos termos dos arts. 50 e 54 do CPC/73.

2. A interpretação é consentânea com toda a sistemática processual, uma vez que, além de não haver previsão legislativa de deslocamento da competência mediante a simples intervenção anômala da União, tal providência privilegia a fixação do processo no seu foro natural, preservando-se a especial motivação da intervenção, qual seja, “esclarecer questões de fato e de direito, podendo juntar documentos e memoriais reputados úteis ao exame da matéria.”

3. Melhor exegese do art. 5º da Lei nº 9.469/97 deve ser aquela conferida pelo Supremo Tribunal Federal ao art. 70 da Lei 5.010/66 e art. 7º da Lei nº 6.825/80, porquanto aquele dispositivo disciplina a matéria, em essência, do mesmo modo que os diplomas que o antecederam.

4. No caso em exame, o acórdão recorrido firmou premissa à luz dos fatos observados nas instâncias ordinárias, que os requisitos da intervenção anódina da União não foram revelados, circunstância que faz incidir o Verbete Sumular nº 07/STJ.

5. Recurso especial não conhecido. Em suma, o art. 109, I, da CF, se refere ao interesse jurídico, quer

dizer, não basta o interesse econômico previsto no art. 5º da Lei 9.469/97.

1.4 – A expressão final do parágrafo único, onde refere deslocamento

de competência – não deixa dúvida –, é tão-só para fins de recurso, caso em que o

interveniente é considerado parte, quer dizer, envolve o 2º Grau, e não o 1º.

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LITISCONSÓRCIO Conceito Pluralidade de litigantes em um ou ambos pólos da demanda. Os litigantes denominam-se litisconsortes. O litisconsórcio se dá em razão do direito material disputado tocar a mais de um titular ou obrigado.Dessa forma, pode-se identificar certa afinidade entre os litisconsortes. Finalidade Segurança jurídica – decisão uniforme, celeridade e economia processual. (Único processo, economizando tempo, recursos humanos e material) Espécies de Litisconsórcio a) Quanto à possibilidade de dispensar ou recusar a formação da relação processual plúrima: Litisconsórcio Necessário (obrigatório): o que não pode ser dispensado, mesmo havendo acordo entre as partes, decorre da lei, da pretensão deduzida em juízo, da natureza da relação jurídica. Nos termos do artigo 47 do CPC, quando por disposição de lei ou pela natureza da relação jurídica, o juiz tiver de decidir a lide de modo uniforme para todas as partes. Ocorrerá quando: a lei o determinar expressamente (marido e mulher, nos termos do artigo 1.647 CC10); ou quando a lide tiver de ser decidida de modo uniforme para todas as partes (ação de anulação de contrato, alegando fraude, imóvel com vários co-proprietários).

10 Art. 1.647. Ressalvado o disposto no art. 1.648, nenhum dos cônjuges pode, sem autorização do outro,

exceto no regime da separação absoluta:

I - alienar ou gravar de ônus real os bens imóveis;

II - pleitear, como autor ou réu, acerca desses bens ou direitos;

III - prestar fiança ou aval;

IV - fazer doação, não sendo remuneratória, de bens comuns, ou dos que possam integrar futura meação.

Parágrafo único. São válidas as doações nupciais feitas aos filhos quando casarem ou estabelecerem economia separada.

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Caso não seja observado o litisconsórcio necessário, nos termos do artigo 47, in fine, do CPC, a sentença final não produzirá efeitos nem em relação aos que participaram do processo, nem em relação aos que não participaram. Gera a extinção do processo sem julgamento do mérito.

O litisconsórcio necessário nem sempre será unitário.. Ora, existirão casos em que a lei obriga que os sujeitos figurem no feito, no entanto, a decisão poderá ser diferente para cada um deles. Exemplo: concurso de credores de devedor insolvente, ação popular – no pólo passivo todos os que participaram direta ou indiretamente do dano ao patrimônio público. Assim, nos termos do artigo 47 do CPC, para evitar que o processo se desenvolva inutilmente, o juiz ordenará ao autor que promova a citação de todos os litisconsortes necessários, sob pena de declarar extinto o processo.

Litisconsórcio Facultativo: o que estabelece pela vontade das partes, por conveniência das partes. Evidentemente, deverá ser demonstrado um vínculo entre as pretensões. O litisconsórcio facultativo, nos termos do artigo 46, em seu parágrafo único, poderá ser desmembrado, pois o Juiz tem o poder para controlar a formação e o volume do litisconsórcio facultativo.

b) Quanto à uniformidade da decisão perante os litisconsortes: Litisconsórcio Unitário (especial): a decisão da causa deve ser uniforme em relação a todos os litisconsortes. (ação de anulação de contrato, alegando fraude, imóvel com vários co-proprietários). Aqui os atos benéficos de uns favorecem os demais, os atos prejudiciais por um não lesam ninguém. Litisconsórcio Simples (comum ou não-unitário): a decisão pode ser diferente para cada um dos litisconsortes. A atuação dos litisconsortes é independente. Hipóteses Legais de Litisconsórcio (Artigo 46 do CPC) a) Comunhão de direitos ou de obrigações, art. 46, I do CPC: Decorre da comunhão de direitos posta no direito material que terá reflexo no processo.

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No caso de cônjuges, em demandas sobre bens imóveis ou direitos reais a eles relativos (Artigo 1.647 do CC). Ainda, o caso de devedor e fiador sendo demandados pela dívida; Súmula 268 do STJ: “O fiador que não integrou a relação processual na ação de despejo não responde pela execução do julgado”. b) Direitos ou obrigações derivados do mesmo fundamento de fato e de

direito, art 46, II do CPC: No caso de um ato ilícito gerar prejuízos para várias vítimas. Este primeiro exemplo trata de litisconsórcio facultativo, visto que poderão as vítimas ingressar individualmente. Ainda, a ação pauliana que tem como objeto a anulação de atos em fraude de credores, em que devem figurar adquirente e vendedor do bem. c) Conexão pelo objeto ou pela causa de pedir, art. 46, III do CPC: Duas pretensões se fundam no mesmo fato jurídico. Por exemplo, dois acionistas buscam a anulação de certa deliberação social. d) Afinidade de questões por um ponto comum de fato ou de direito Vários contribuintes ameaçados de sofrer um mesmo lançamento tributário inconstitucional ingressam conjuntamente, o que poderia ser em demandas individuais. O processo e o litisconsórcio “Art. 48 - Salvo disposição em contrário, os litisconsortes serão considerados, em suas relações com a parte adversa, como litigantes distintos, por isso atos e omissões de um não prejudicarão nem beneficiarão os outros.” No litisconsórcio simples, efetivamente, o ato de um não beneficia, nem prejudica aos demais litisconsortes; No entanto, quanto ao litisconsórcio unitário, atos benéficos alcançam a todos os litisconsortes. Exemplo: material probatório. Isto porque, no litisconsórcio unitário ‘os pares são considerados como uma unidade frente ao outro pólo da relação’11

11 Luiz Guilherme Marinoni, “Prcoesso de Conhecimento”., v.2, p. 171.

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Art. 320. A revelia não induz, contudo, o efeito mencionado no artigo antecedente: I - se, havendo pluralidade de réus, algum deles contestar a ação;. O artigo 509 do CPC preceitua que o recurso interposto por um dos litisconsortes a todos aproveita, salvo se distintos ou opostos seus interesses. A melhor doutrina conclui que somente quanto ao litisconsórcio unitário que incide esta regra.

Art. 350. A confissão judicial faz prova contra o confitente, não prejudicando, todavia, os litisconsortes.

Parágrafo único. Nas ações que versarem sobre bens imóveis ou direitos sobre imóveis alheios, a confissão de um cônjuge não valerá sem a do outro.

Cada litisconsorte, ainda que no caso de litisconsórcio unitário, tem direito de promover o andamento do processo, nos termos do artigo 49 do CPC. É o que dispõe o Código de Processo Civil, que determina que quando forem diferentes os procuradores dos vários litisconsortes, serão contados em dobro os prazos para contestar, recorrer e de modo geral falar nos autos, nos termos do artigo 191 do CPC.

QUESTÕES 01 - ( ) É admissível litisconsórcio por afinidade de questões de Direito, como no caso de diversos contribuintes que se unem para demandar em face da Fazenda Pública, com o fim de se prevenirem da cobrança de tributo cuja inconstitucionalidade se argúi. 02 - ( ) Na assistência simples, a intervenção não impede o assistido de praticar atos dispositivos, como renúncia, desistência e outros equiparados. 03 - ( ) Tratando-se de litisconsórcio unitário e necessário, seja ativo ou passivo, o requisito da legitimidade somente se aperfeiçoa se todos os litisconsortes integrarem o respectivo pólo da relação processual. Nesse litisconsórcio, a legitimidade é conjunta, mas a lide pode ser decidida de maneira diversa para eles.

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04 - ( ) No pólo passivo da execução, deve figurar o obrigado principal e originário ou o responsável pelo cumprimento da obrigação. Se houver solidariedade passiva, qualquer devedor pode ser executado, ou todos, em litisconsórcio passivo. 05 - ( ) A assistência somente é admissível até o julgamento da apelação. 06 - ( ) O litisconsórcio formado entre os réus de uma ação anulatória de um mesmo negócio jurídico é unitário. 07 - ( ) As vítimas de um mesmo acidente de trânsito podem agir em litisconsórcio contra quem o causou, para exigir-lhe perdas e danos, sendo unitário o litisconsórcio assim formado. 08 - ( ) Consumidores que se dizem individualmente lesados em virtude do consumo do mesmo produto podem agir em litisconsórcio contra o produtor, para exigir-lhe perdas e danos, sendo necessário o litisconsórcio assim formado. 09 - ( ) Na assistência litisconsorcial, caso a intervenção ocorra antes da sentença, o assistente tem direito de deduzir o que lhe interessa e promover a renovação de provas de que não tenha participado. 10 - ( ) No litisconsórcio necessário, as partes não podem recusar a sua formação, isto é, desde que requerido por uma das partes, a outra não pode recusá-lo. No entanto, o juiz pode determinar o desmembramento do processo, quando não ocorrer afinidade de questões por um ponto comum de fato ou de direito. 11 - ( ) Na assistência litisconsorcial, a sentença vai influir na relação jurídica entre o assistente e o adversário do assistido, apesar de o direito em discussão pertencer apenas ao assistido. Esse assistente equipara-se ao litisconsorte, podendo praticar todos os atos necessários à defesa do direito da parte que assiste, todavia, à sua atividade processual é subordinada à vontade do assistido. 12 – (TJ/PR – JUIZ SUBSTITUTO 2006) Em tema de litisconsórcio e intervenção de terceiros, no sistema processual civil brasileiro, inclusive com as reformas processuais vigentes, assinale a alternativa INCORRETA:

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a) O juiz poderá limitar o litisconsórcio facultativo quanto ao número

de litigantes, quando este comprometer a rápida solução do litígio ou dificultar a defesa. O pedido de limitação interrompe o prazo para a resposta, que recomeça da intimação da decisão. b) Efetivada a denunciação da lide, cria-se uma cumulação objetiva

eventual de demandas no processo (principal e secundária), uma vez que se concebem duas ações no processo, onde a segunda somente será apreciada, caso a principal venha a resultar prejuízo para o denunciante. c) Cabe pedido de assistência com base em interesse econômico ou

moral do assistente. d) Responde por perdas e danos aquele a quem incumbia a

nomeação à autoria e deixa de fazê-lo. 13 – (TRF4 – XII Juiz Federal) Dadas as assertivas abaixo, assinalar a alternativa correta. I – Na oposição, o opoente deduz pretensão contrária ao direito do autor e ao do demandado da ação-base, e conexa com o objeto e a causa de pedir desta. II – Havendo litisconsórcio passivo facultativo simples, a contestação de um dos réus, fundada em fatos comuns, não impede, em relação ao réu revel, a presunção de veracidade dos fatos articulados pelo autor. III – Tratando-se de assistência litisconsorcial, a expressa concordância do assistido quanto à sentença que lhe é desfavorável impede o recurso do assistente. IV – Se um dos litisconsortes unitários interpôs recurso antes que o fizesse qualquer dos outros e, em seguida, dele desistiu, sendo ainda recorrível a sentença por algum dos restantes, o recurso porventura interposto por qualquer destes produz efeitos inclusive para o que haja formulado desistência recursal.

a) Está correta apenas a assertiva IV. b) Estão corretas apenas as assertivas I e III. c) Estão corretas apenas as assertivas I e IV. d) Estão corretas apenas as assertivas II e III.

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14 - (TJ/PR – JUIZ SUBSTITUTO 2008) Assinale a alternativa correta: a) Transitada em julgado a sentença, na causa em que interveio o

assistente simples, este sempre poderá, em processo posterior, discutir a justiça da decisão.

b) Na ação em que o fiador for réu, ele poderá chamar ao processo o devedor principal.

c) É admissível a denunciação da lide na fase de cumprimento de sentença,

d) Quem pretender, no todo ou em parte, a coisa ou o direito sobre que controvertem autor e réu, poderá, até ser proferida a sentença, pedir a denunciação à lide de ambos.

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Questão discursiva

Numa tarde de verão, João, acompanhado de Maria, pilotava lancha de passeio de propriedade de Carlos, a qual rebocava Paulo, este na prática de esqui aquático. A lancha se encontrava segurada por danos pessoais e patrimoniais pela Seguradora “X”. Em meio ao passeio, a lancha colidiu com veleiro conduzido por Flávio. Do evento, resultou a total destruição do veleiro, avaliado em R$ 25.000,00, tendo causado em Flávio fratura na coluna cervical que o deixou paraplégico. A lancha, por sua vez, avaliada em R$ 50.000,00, igualmente ficou destruída, tendo restado sem nenhuma lesão física seus ocupantes – João e Maria. Paulo, entretanto, teve a suas duas pernas quebradas, tendo expressivos gastos hospitalares e ficando incapacitado para o exercício da sua profissão de jogador de futebol profissional. Com base nos dados concretos acima fornecidos, pergunta-se (à resposta deve se seguir breve justificativa; a ausência de justificativa ou sua incorreção não mereça atribuição de grau):

a) A se supor que o culpado pelo evento tenha sido João, condutor da lancha, poderiam os demais lesados propor demanda de ressarcimento em litisconsórcio ativo? Admitindo-se a possibilidade de litisconsórcio, a ausência de algum dos lesados no pólo ativo da relação processual poderia acarretar a nulidade do processo? Ainda em sendo possível o litisconsórcio, é imperativo que o Juiz profira sentença que trate a todos os litisconsortes de modo uniforme?

b) A ação de Flávio visando o ressarcimento dos danos sofridos, pode ser adequadamente proposta contra quem?

c) A seguradora “X” poderia ser denunciada da lide? Não sendo a Seguradora “X” denunciada da lide, poderia ela intervir espontaneamente no processo?