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UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALFENAS RODOLFO CAMILO VIEIRA DA LIBERDADE NATURAL AO EXERCÍCIO DA CIDADANIA ALFENAS/MG 2013

Da Liberdade Natural Ao Exercício Da Cidadania

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Artigo redigido como parte de avaliação metodológica na disciplina de Ciência Política III do curso de Ciências Sociais da Universidade Federal de Alfenas.

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Page 1: Da Liberdade Natural Ao Exercício Da Cidadania

UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALFENAS

RODOLFO CAMILO VIEIRA

DA LIBERDADE NATURAL AO EXERCÍCIO DA CIDADANIA

ALFENAS/MG

2013

Page 2: Da Liberdade Natural Ao Exercício Da Cidadania

RODOLFO CAMILO VIEIRA

DA LIBERDADE NATURAL AO EXERCÍCIO DA CIDADANIA

ALFENAS/MG

2013

Artigo redigido como parte de

avaliação metodológica na

disciplina de Ciência Política III do

curso de Ciências Sociais da

Universidade Federal de Alfenas.

Prof. Dr. Sandro Amadeu Cerveira

Page 3: Da Liberdade Natural Ao Exercício Da Cidadania

SUMARIO

Sumario ................................................................................................................................... 3

Introdução ............................................................................................................................... 4

Da liberdade natural à Soberania ............................................................................................ 4

O exercício da cidadania......................................................................................................... 6

Considerações finais ............................................................................................................... 7

Referências ............................................................................................................................. 8

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INTRODUÇÃO

O presente artigo tem por objetivo apresentar como se dá o exercício da cidadania

dentro da teoria política rousseauniana, porém, antes de qualquer coisa, vejo-me obrigado a

explicitar alguns conceitos chave para uma maior compreensão, visto que os conceitos

rousseaunianos aparecem, de forma bastante sofisticada, interligados e interdependentes.

Num primeiro momento apresentarei o conceito de liberdade em Rousseau, fazendo

distinção entre liberdade natural e liberdade civil. Depois, discorrerei de forma um pouco

mais detalhada, porém sucinta sobre liberdade natural e estado de natureza.

Em seguida, os motivos que levaram, de acordo com Rousseau, os indivíduos do

estado natural ao estado de civilização, bem como o surgimento da liberdade civil e o que a

diferencia da liberdade natural.

Feito isso, discutirei brevemente a relação entre soberania, Estado, vontade geral e

formulação das leis. E, para concluir, tentarei analisar apenas o conceito de cidadania dentro

dessa estrutura montada por Rousseau n’O Contrato Social.

DA LIBERDADE NATURAL À SOBERANIA

Em O Contrato Social, Rousseau erige sua teoria política a partir da premissa de que

a liberdade é inata ao homem e renunciá-la seria renunciar a própria humanidade. Contudo,

Rousseau distingui aí dois tipos de liberdade: a liberdade natural e a liberdade civil.

A liberdade do primeiro tipo aparece enquanto o homem se encontra ainda no estado

de natureza, no qual indivíduo é seu próprio juiz e dispõe livremente de sua própria vida. Sua

liberdade encontra limite apenas em sua força. Força e liberdade são, portanto, para Rousseau,

os primeiros instrumentos de conservação do homem.

Entretanto, quando as dificuldades encontradas ultrapassam os limites de sua força,

impossibilitando-o de manter-se, este não vê outra alternativa senão associar-se à outros

indivíduos para que, somando forças, estes possam superar as adversidades tendo como

objetivo comum a autopreservação.

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Todavia, como encontrar uma forma de associação que garanta a defesa dos bens de

cada um ao passo que nenhum dos associados perca sua liberdade e não obedeça outro senão

a si próprio?

Rousseau nos apresenta como resposta a esse dilema o contrato social, cujas cláusulas

ele reduz a apenas uma,

[...] a alienação total de cada associado, com todos os seus direitos, em favor de toda

comunidade, porque, em primeiro lugar, cada qual se entrega por completo e sendo a

condição igual para todos, a ninguém interessa torna-la onerosa para os outros [...]

cada qual dando-se a todos, não se dá a ninguém,e, como não existe um associado

sobre quem não se adquira o mesmo direito que lhe foi cedido, ganha-se o

equivalente de tudo o que se perde e maior força para conservar o que se tem

(ROUSSEAU, 2014, p. 30-31).

Há de se destacar que essa associação não é feita de modo deliberado entre os

indivíduos, é, antes de tudo, um ato natural, processual e irreversível. Além disso, cabe

salientar que, como observa Bobbio (1998, p.1207), num primeiro momento, “a Sociedade

civil de Rousseau é a sociedade civilizada, mas não necessariamente ainda a sociedade

política, que surgirá do contrato”.

A partir de então, tendo o homem se tornado um ser coletivo, torna-se também um ser

moral, substituindo apetites e instintos, por direitos e deveres. Perdem-se várias das vantagens

das quais possuía quando gozava da liberdade natural, como o de tomar tudo o que se quer, no

entanto, ganha o direito de possuir tudo o que se tem, e esse é o segundo tipo de liberdade, a

saber, liberdade civil.

Enquanto a liberdade natural é limitada pela força, a liberdade civil é limitada pela

liberdade geral. O que antes aparecia nos indivíduos como diferença de forças, após o

contrato aparece como igualdade de direitos entre os associados, posto que, para Rousseau,

liberdade e igualdade são indissociáveis.

Ao fruir da liberdade civil o indivíduo se vê constrangido apenas pela força da lei,

contudo, tendo em conta que ele participou também da formulação dessa lei, ele não obedece

a outro senão a si mesmo e este é, para Rousseau, o pressuposto maior da liberdade.

Isso se dá pelo fato de que agora o indivíduo faz parte do corpo político originário do

contrato social - ao que se denomina soberano -, aquele que é o porta-voz da vontade geral.

Esta, por sua vez, não deve ser confundida com a soma das vontades particulares, mas sim, a

vontade do corpo político em si.

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Ao fazer uma análise sobre a constituição do corpo político n’O Contrato Social de

Rousseau, Durkheim caracteriza a vontade geral como sendo

[...] aquela de todos os particulares, na medida em que eles querem o que melhor

convém, não a um ou a outro dentre eles, mas a cada cidadão em geral, dados o

estado civil e as condições determinadas da sociedade. Ela existe a partir do

momento em “que todos querem a felicidade de cada um deles (II, 4); e ela tanto

tem o indivíduo como objeto que ela não é desprovida de egoísmo. Pois “não há

ninguém que não se aproprie da palavra cada um e que não pense em si mesmo ao

votar por todos” (Ibid.) (Durkheim 2003, p. 421).

Como afirma Rousseau nos dois primeiros capítulos do livro II d’O Contrato Social, a

soberania é inalienável e indivisível. Inalienável por ser a soberania “o exercício da vontade

geral, jamais pode alienar-se, e que o soberano, que nada mais é senão um ser coletivo, não

pode ser representado senão por si mesmo” (2014, p.41). E indivisível pelo mesmo motivo,

pois ou “é a vontade do corpo do povo, ou apenas de uma de suas partes” (Ibid, 42).

A estrutura idealizada por Rousseau ele sintetiza, antes de ater-se às partes, desta

forma:

A pessoa pública, formada assim pela união de todas as outras, [...] ou corpo

político, o qual é chamado por seus membros de Estado, quando é passivo;

soberano, quando é ativo; autoridade quando comparado a seus semelhantes. No que

concerne aos associados, adquirem coletivamente o nome de povo e se chamam

particularmente cidadãos, na qualidade de participantes na autoridade soberana, e

vassalos, quando sujeitos às leis do Estado (ROUSSEAU, 2014, 31).

O soberano, pois, sendo o corpo do povo e portador da vontade coletiva é quem vai

formular as leis do Estado, leis formuladas pelo povo para gerir a si próprio, além disso,

Rousseau assinala que “o objeto das leis é sempre geral [...] a lei considera os vassalos como

corpo e as ações como abstratas, jamais um homem como indivíduo, nem uma ação

particular” (Ibid, 53).

Na concepção rousseauniana, portanto, a sociedade não só precede o Estado, como é

ao próprio corpo social a quem deve pertencer o poder de legislar. Cabe agora olhar mais

pormenorizado como se dá o exercício da cidadania a partir do contrato social.

O EXERCÍCIO DA CIDADANIA

A ideia de cidadão e cidadania começa tomar forma somente após o estabelecimento

do contrato social, quando o homem começa a atribuir sentido moral e pautar suas ações em

algo que lhe é exterior. Haja vista que, para Rousseau, qualquer norma social é uma lei, a

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partir do momento em que os homens convencionam em relacionar-se com o todo

coletivamente e não mais como indivíduos isolados, eles tornam-se cidadãos. Todos os pactos

firmados depois do contrato, todas as leis sancionadas pelo soberano serão portanto

legitimadas.

Para Rousseau, o poder legislativo não pode pertencer senão somente ao povo e isso

exige que os cidadãos sejam efetivamente participantes, e, como aponta Jouvenel, “a palavra

“participar” é essencial; e tal participação deve ser real” (JOUVENEL, 2003, p.493).

Rousseau aponta ainda para a qualidade da representação, para ele, quanto menor o

número de cidadãos de um Estado, maior a liberdade individual. Ele diz:

Suponhamos que seja o Estado composto por dez mil cidadãos. O soberano não deve

ser considerado senão coletivamente e em corpo. Cada partícula; porém, na

qualidade de vassalo, é considerado indivíduo. Assim, o soberano está para o

vassalo na proporção de dez mil pra um, isto é, cada membro do Estado possui uma

decima milésima parte da autoridade soberana, embora esteja todo inteiro a ela

submetido (ROUSSEAU, 2014, 77).

Crescendo, pois, o número de cidadãos de um Estado, como o vassalo permanece

sempre um, ele vê sua liberdade diminuída, e, como observa Jouvenel, “a participação torna-

se menos real, menos ativa” (JOUVENEL, 2003, p.495).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Rousseau trata, sobretudo, da conciliação entre a liberdade e autoridade, indivíduo e

Estado, atribuindo ao Estado e a sociedade o papel de assegurar os direitos do indivíduo e sua

liberdade. Os cidadãos teriam, assim, o papel central na forma de organizar a sociedade, já

que estes seriam os responsáveis pela elaboração das leis de acordo com a vontade geral.

Assim sendo, a construção do Estado, bem como o exercício da cidadania está intimamente

ligada a vontade geral.

Cidadania, sob a perspectiva rousseauniana, não compreende a nenhum tipo de

servidão, exploração ou dominação, é condição compartilhada igualmente por todos e é

somente embasada nessa igualdade que a concepção rousseauniana de cidadania pode ser

concebida.

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REFERÊNCIAS

BOBBIO, N. et alli (org.). Dicionário de Política. 11 ed. Brasilia: Editora da Universidade de

Brasília, 1998.

DURKHEIM, É. “O ’Contrato Social’ e a Constituição do Corpo Político” in QUIRINO,

Célia Galvão; SADEK, Maria Tereza (org.). O Pensamento Político Clássico. São Paulo:

Martins Fontes, 2003.

JOUVENEL, B. “A Teoria de Rousseau Sobre as Formas de Governo” in QUIRINO, Célia

Galvão; SADEK, Maria Tereza (org.). O Pensamento Político Clássico. São Paulo: Martins

Fontes, 2003.

ROUSSEAU, Jean Jacques. Do Contrato Social. São Paulo: Hunterbooks, 2014.