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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ RODRIGO TRAJANO DOS SANTOS DA POSSIBILIDADE JURÍDICA DA UTILIZAÇÃO DA PROVA AUDIOVISUAL NO DIREITO DESPORTIVO BRASILEIRO EM RELAÇÃO AOS EVENTOS DO FUTEBOL Biguaçu 2009

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ

RODRIGO TRAJANO DOS SANTOS

DA POSSIBILIDADE JURÍDICA DA UTILIZAÇÃO DA PROVA AUDIOVISUAL NO DIREITO DESPORTIVO BRASILEIRO EM

RELAÇÃO AOS EVENTOS DO FUTEBOL

Biguaçu 2009

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RODRIGO TRAJANO DOS SANTOS

DA POSSIBILIDADE JURÍDICA DA UTILIZAÇÃO DA PROVA AUDIOVISUAL NO DIREITO DESPORTIVO BRASILEIRO EM

RELAÇÃO AOS EVENTOS DO FUTEBOL

Monografia apresentada à Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI, como requisito parcial a obtenção do grau em Bacharel em Direito. Orientador: Profº. Renato Heusi de Almeida

Biguaçu 2009

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RODRIGO TRAJANO DOS SANTOS

DA POSSIBILIDADE JURÍDICA DA UTILIZAÇÃO DA PROVA AUDIOVISUAL NO DIREITO DESPORTIVO BRASILEIRO EM

RELAÇÃO AOS EVENTOS DO FUTEBOL

Esta Monografia foi julgada adequada para a obtenção do título de bacharel e

aprovada pelo Curso de Direito, da Universidade do Vale do Itajaí, Centro de

Ciências Sociais e Jurídicas.

Área de Concentração: Direito Desportivo

Biguaçu, dia 01 de dezembro de 2009.

Prof. MSc. Renato Heusi de Almeida

UNIVALI – Campus de Biguaçu

Orientador

Prof. MSc. Joseane Aparecida Correa

UNIVALI – Campus Biguaçu

Membro

Prof. MSc. Eunice Anisete de Souza Trajano

UNIVALI – Campus Biguaçu

Membro

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Dedico este trabalho aos meus pais Antônio Carlos e Dailva

por todo esforço, incentivo e dedicação.

Aos meus irmãos Marcelo e Camila pelo apoio no decorrer

desta jornada.

A minha namorada Giselle por estar ao meu lado, dando apoio

e incentivando com seu amor, carinho e dedicação.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus, por ter me dado força e vontade de lutar em

busca dos meus objetivos.

Aos meus pais Antônio Carlos e Dailva, pelo amor e paciência

que sempre me dedicaram.

Aos meus irmãos Marcelo e Camila, por toda ajuda que me

deram.

À minha cunhada Katiusse estando sempre à disposição.

A Simone pelo apoiou, colaborando na busca de material

necessário para a elaboração do presente trabalho.

A professora e prima Eunice pela orientação dispensada ao

longo deste trabalho.

À minha namorada Giselle, que amo muito, fonte de minha

inspiração durante a elaboração deste trabalho, também pelo

carinho e compreensão nos momentos mais difíceis no

decorrer do curso.

Ao meu orientador professor Renato Heusi de Almeida, pela

atenção, pelo apoio, pelas sugestões, correções e incentivo

durante a elaboração desta Monografia.

Por fim, agradeço a todos os professores e amigos que direta

ou indiretamente colaboraram para a elaboração deste trabalho

e para a conclusão do curso.

.

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TERMO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE

Declaro, para todos os fins de direito, que assumo total responsabilidade pelo

aporte ideológico conferido ao presente trabalho, isentando a Universidade do Vale

do Itajaí, a coordenação do Curso de Direito, a Banca Examinadora e o Orientador

de toda e qualquer responsabilidade acerca do mesmo.

Biguaçu, 01 de dezembro de 2009.

Rodrigo Trajano dos santos

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RESUMO

O presente trabalho tem por objetivo apresentar e analisar os aspectos jurídicos que

envolvem a utilização dos recursos audiovisuais como meio de prova na Justiça

Desportiva. Inicialmente, no primeiro capítulo, abordou-se a evolução da prática

esportiva, dando ênfase maior ao futebol no Brasil e no Mundo, desde sua origem

nas primeiras civilizações até os tempos modernos. A partir da popularização do

futebol, deu-se a necessidade de criar mecanismos regulatórios para a sua prática.

Iniciou-se então, o processo de positivação das regras do esporte, com a fundação

de entidades competentes com o objetivo de organizar competições, preservar e

unificar as regras aplicáveis ao esporte. No Brasil a primeira legislação oficial que

regulou a prática desportiva surgiu em 1941, sendo neste ano também a criação da

primeira entidade organizadora do esporte brasileiro. Posteriormente novas leis

foram promulgadas, instituindo regras gerais para o desporto. O segundo capítulo

abordou o desporto como um todo, tendo seu ápice com a promulgação da

Constituição Federal de 1988, que em seu art. 217, reconheceu a Justiça Desportiva

como órgão autônomo, com competência própria para dirimir conflitos estabelecidos

no âmbito desportivo. Destaca-se ainda, a Lei Pelé, instituída em 1998 que

revolucionou o Desporto no Brasil, e o Código Brasileiro de Justiça Desportiva que

finalmente unificou a legislação desportiva no Brasil. O terceiro capítulo mostrou que

a Justiça Desportiva é competente para julgar litígios que envolvam infrações

disciplinares, sendo o processo desportivo o instrumento de atuação da jurisdição

desportiva. As provas são os instrumentos que servem para formar a convicção dos

julgadores sobre a ocorrência ou não de infração disciplinar. Os meios audiovisuais

são tidos como meios de provas relevantes, pois reconstroem fatos que podem

implicar a condenação ou absolvição de infratores disciplinares.

Palavras chaves: Futebol. Direito Desportivo. Justiça Desportiva. Provas.

Meios Audiovisuais.

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ABSTRACT

This paper aims to present and analyze the legal aspects involving the use of

audiovisual resources as evidence in court Sport. Initially, the first chapter, discussed

the evolution of sports, giving greater emphasis to football in Brazil and the world,

from its origins in the earliest civilizations to modern times. From the popularity of

football, there was the need to establish regulatory mechanisms for its practice. Then

began the process of positive rules of the sport, with the founding of the competent

authorities in order to organize competitions, preserve and unify the rules governing

the sport. In Brazil the first official legislation that regulated the sport came in 1941,

and this year also the creation of the first organizer of the Brazilian sport.

Subsequently, new laws were enacted, establishing general rules for the sport. The

second chapter covered the sport as a whole, reaching its height with the

promulgation of the Constitution of 1988, which in his art. 217, the Court recognized

as an autonomous organ Sport, with its own powers to resolve conflicts out of sports.

Note also, the Pelé Law, established in 1998 that revolutionized the sport in Brazil

and the Brazilian Code of Sports Justice finally unified sports legislation in Brazil. The

third chapter shows that the Sports Justice has jurisdiction over disputes involving

disciplinary infractions, and the process is the instrument of sports performance of

the jurisdiction sport. The tests are the tools used to form the conviction of the judges

on the presence or absence of disciplinary infraction. The media are seen as means

of relevant evidence, because reconstruct events that could cause the conviction or

acquittal of disciplinary offenders.

Key words: Football. Sports Law. Sports Justice. Evidence. Audiovisual means.

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ROL DE ABREVITURAS E SIGLAS

CBF – Confederação Brasileira de Futebol

CBD – Confederação Brasileira de Desportos

CBDF – Código Brasileiro Disciplinar do Futebol

CBJD – Código Brasileiro de Justiça Desportiva

CD – Comissão Disciplinar

COB – Comitê Olímpico Brasileiro

CONMEBOL – Confederação Sul-Americana de Futebol

CND – Conselho Nacional de Desportos

DOU – Diário Oficial da União

FBS – Federação Brasileira de Sports

TJD – Tribunal de Justiça Desportiva

STJD – Superior Tribunal de Justiça Desportiva

FIFA – Federação Internacional de Futebol

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 12

1. DA ATIVIDADE DESPORTIVA DO FUTEBOL .................................................... 14

1.1 Da Prática Esportiva ........................................................................................... 14

1.2 Histórico do Futebol ............................................................................................ 16

1.2.1 Os chineses e o tsu-chu .............................................................................. 17

1.2.2 Os japoneses e o kemari ................................................................................. 18

1.2.3 Os gregos e o epyskiros .................................................................................. 18

1.2.4 Os romanos e o harpastum ............................................................................. 19

1.2.5 Os franceses e o soule ou choule .................................................................... 19

1.2.6 Os italianos e o cálcio ...................................................................................... 20

1.2.7 Os ingleses e o football ................................................................................... 20

1.2.8 Os brasileiros e o futebol ................................................................................. 21

1.3 Da Organização Internacional ............................................................................ 23

1.4 Estrutura Nacional .............................................................................................. 25

1.4.1 Da Confederação Brasileira de Futebol – CBF ................................................ 26

1.4.2 Das federações estaduais ............................................................................... 26

1.5 Das Competições ............................................................................................... 27

1.5.1 As Copas do Mundo – As competições e a participação do Brasil .................. 27

1.5.2 Copa Libertadores ........................................................................................... 30

1.5.3 Campeonato Brasileiro .................................................................................... 30

1.5.4 Copa do Brasil ................................................................................................. 32

2. DA JUSTIÇA DESPORTIVA ................................................................................ 34

2.1 Conceito ............................................................................................................. 34

2.2 Histórico da Justiça Desportiva........................................................................... 35

2.3 Dos órgãos Julgadores ....................................................................................... 37

2.4 Da Competência ................................................................................................. 40

2.5 Da Subordinação Legal ...................................................................................... 42

2.6 Da subordinação aos princípios constitucionais ................................................. 44

2.6.1 Princípio da autonomia desportiva................................................................... 45

2.6.2 Princípio do esgotamento das instâncias da justiça desportiva ....................... 45

2.6.3 Princípio da destinação prioritária de recursos públicos .................................. 47

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2.6.4 Princípio do tratamento diferenciado entre o desporto profissional e o não

profissional ............................................................................................................... 48

2.7 Dos Processos da Justiça Desportiva ................................................................ 49

2.7.1 Da acusação .................................................................................................... 51

2.7.2 Da Defesa ........................................................................................................ 53

2.7.3 Da Secretaria ................................................................................................... 55

3. DOS JULGAMENTOS E DOS MEIOS DE PROVA ............................................. 56

3.1 Dos Julgamentos ................................................................................................ 56

3.2 Dos Recursos ..................................................................................................... 60

3.3 Meios de Provas na Justiça Desportiva .............................................................. 64

3.3.1 Súmula ............................................................................................................ 66

3.3.2 Depoimento Pessoal ................................................................................... 66

3.3.4 Prova Documental ........................................................................................... 68

3.3.5 Da Exibição de Documentos ou Coisas ........................................................... 69

3.3.6 Prova Testemunhal .......................................................................................... 70

3.3.7 Prova Pericial................................................................................................... 71

3.3.8 Inspeção .......................................................................................................... 72

3.3.9 Os meios Audiovisuais ................................................................................. 73

3.4 Das Gravações Audiovisuais como Prova Documental nos processos

Desportivos em Relação aos Atos Disciplinares ................................................. 74

3.5 Dos riscos Inerentes à utilização das gravações Audiovisuais como Prova

Principal nos Processos Desportivos .................................................................. 77

CONCLUSÃO .......................................................................................................... 79

REFERÊNCIAS ........................................................................................................ 82

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INTRODUÇÃO

O presente trabalho de pesquisa jurídica foi direcionado para o campo do

Direito Desportivo brasileiro, e dentro deste, insere-se a Justiça Desportiva,

instituição de direito privado dotada de interesse público, a qual tem a atribuição de

dirimir as questões de natureza desportiva definidas pelo Código de Justiça

Desportiva.

A Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 assegura a todos

os cidadãos o direito ao desporto, sendo dever do Estado à fomentação de práticas

desportivas.

Nesta pesquisa será utilizado o método dedutivo, em que será apresentado

uma noção geral, desde o surgimento da prática desportiva, especificamente o

futebol, até a regulamentação e procedimento processual das infrações disciplinares

cometidas em âmbito desportivo, para depois adentrar nos instrumentos de provas

que embasam as convicções dos julgadores, principalmente as provas audiovisuais.

Neste ínterim, o presente trabalho tem por objetivo, estudar dentro do direito

desportivo, mais precisamente a Justiça Desportiva e especialmente analisar o

processo desportivo e a possibilidade jurídica de serem utilizadas gravações

audiovisuais como instrumento de prova, nos processos abertos perante a Justiça

Desportiva relativas às infrações disciplinares.

Para tanto, faz-se necessário que o estudo seja dividido em três capítulos,

sendo que, no primeiro capítulo tratar-se-á das atividades desportivas,

especificamente o futebol, iniciando com sua evolução histórica até o processo de

positivação, deixando de ser um esporte praticado por minorias, para se tornar o

esporte de aceitação popular em grande parte do planeta. Além disso, se enfatizará

as entidades organizacionais do esporte e as principais competições de futebol

disputadas na atualidade.

No segundo capítulo, estudar-se-á a evolução histórica da Justiça

Desportiva, da legislação inerente a ela; também será feita uma abordagem da

organização, estrutura e composição dos órgãos judicantes da Justiça Desportiva no

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Brasil; jurisdição e competência dos referidos órgãos; a subordinação aos princípios

constitucionais; e, ainda, discorrer-se-á sobre o processo desportivo, destacando-se

as atribuições dos membros dos Tribunais de Justiça Desportiva

No último capítulo, apontar-se-á ainda, os procedimentos de julgamento do

processo desportivo e seus recursos. E, finalmente, versará sobre os meios de

provas admitidos no processo, e especificamente a utilização dos meios

audiovisuais como prova relevante na condenação ou absolvição dos infratores

disciplinares e as dúvidas que ainda existem sobre a sua aceitação pela Justiça

Desportiva.

O presente trabalho de conclusão de curso se encerra com a conclusão, em

que serão apresentados os principais pontos do trabalho, para se chegar ao objetivo

pretendido e a possibilidade de incentivo ao aprofundamento da análise aqui feita

para novos estudos acadêmicos.

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1. DA ATIVIDADE DESPORTIVA DO FUTEBOL

No primeiro capítulo, a pesquisa será direcionada na busca da análise sobre

a evolução do esporte, dando ênfase maior ao futebol, seu surgimento, as alterações

das competições e as estruturas das entidades gestoras, nos âmbitos internacional e

nacional, que regem a prática oficial desse esporte.

1.1 Da Prática Esportiva

Os primatas já praticavam uma atividade física, só que com o passar do

tempo essas atividades foram evoluindo, sendo que as primeiras atividades físicas

praticada pelos os seres humanos foram às fugas de animais predadores e lutas por

domínios de áreas. 1

Esse tipo de atividade física foi o inicio do que se conhecesse hoje por

esporte. Sendo que se acredita que os pioneiros da prática esportiva foram os

gregos e os persas. 2

Como expõe Marcelo Duarte:

Os gregos, que com certeza começaram as disputas esportivas dentro de cada cidade, encontraram nos jogos uma forma pacífica de reunir suas populações, que viviam em guerra, apesar de falarem a mesma língua e serem da mesma religião. 3

Não só na Grécia, no Egito Antigo há também relatos da prática esportiva,

como também, mais tarde, na Idade Média, como expõe a seguir:

1 Disponível em: <http://www.rgnutri.com.br/sqv/curiosidades/heene.php> Acesso em: 13 novembro de 2009. 2 Disponível em: <http://www.rgnutri.com.br/sqv/curiosidades/heene.php> Acesso em: 13 novembro de 2009. 3 DUARTE, Marcelo. O Guia dos Curiosos: olimpíadas. São Paulo. Panda, 2004. p. 12.

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A luta corpo a corpo e com espadas, surgiu entre os egípcios por volta de 2.700 a.c. Na época, esse tipo de exercício tinha fins militares. As Cruzadas, organizadas pela Igreja durante os séculos XI, XII e XIII, exigiam um preparo militar que era constituído por exercícios corporais, ou seja, exercício físico. Entre as práticas, constavam alguns exercícios úteis para as guerras, tais como a luta, o manejo do arco e flecha, a escalada, corrida e saltos. 4

Nessa época, os jogos tinham um caráter religioso, sendo que, tinha como

objetivo engrandecer o homem, fazendo-o forte e hábil. 5

Para Maria Amalia Longo Tsuruda a primeira competição se deu na cidade

Ilíada.

Na Ilíada, como já dissemos anteriormente, é feito o primeiro relato de uma competição esportiva. Essa narração toma uma grande parte do canto XXIII do poema. Depois de ter cremado o corpo de seu amigo Pátroclo e enterrado as suas cinzas, Aquiles manda vir de seus navios bens preciosos, que servirão como prêmio das provas: “caldeiras e trípodes, mulos, cavalos e bois de cabeça robusta, bem como servas formosas de porte elegante e, assim, ferro luzente” (versos 258-260); pede aos mais velhos que atuem como juízes (verso 360) e convoca os guerreiros para “celebrar jogos” (versos 256-257), isto é, competir em modalidades esportivas. 6

Existem, relatos de que a primeira competição esportiva se deu no ano de

776 a.C, sendo uma corrida. 7

Para Marcelo Duarte no ano de 776 a.C, foi o primeiro ano dos jogos

olímpicos, expondo:

Tudo começou na Grécia Antiga. Os gregos queriam fazer uma homenagem a Zeus, Apolo, Afrodite e a todos os seus deuses, adorados em um templo especialmente construído em Olímpia. Por isso, instituíram uma grande festa, batizada de Jogos Olímpicos. Os Grandes Jogos da Grécia foram disputados pela primeira vez em 776

4 Disponível em: <http://www.rgnutri.com.br/sqv/curiosidades/heene.php>. Acesso em 13 novembro de 2009. 5 Disponível em: <http://www.rgnutri.com.br/sqv/curiosidades/heene.php>. Acesso em 13 novembro de 2009. 6 Disponível em: <http://www.hottopos.com/mirand18/amalia.pdf>. Acesso em 13 novembro de 2009. 7 Disponível em: <http://www.rgnutri.com.br/sqv/curiosidades/heene.php>. Acesso em 13 novembro de 2009.

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a.C.,quando aparece em documentos e monumentos a primeira lista de heróis e vencedores olímpicos. No começo, era disputada uma única prova: a corrida de 170 metros. Aos poucos, os antigos gregos, foram incluindo nos jogos o boxe, a luta, a corrida de bigas e o pentlato. 8

Esses jogos tiveram uma duração de mais de mil anos, indo até o ano de

393 d.C., pois o imperador romano Teodósio I, resolveu da fim nos jogos dando a

desculpa que se tratava de uma festa “pagã” 9

Os jogos só voltaram a ser realizados no ano de 1896, com nove

modalidades diferentes, sendo elas: atletismo, ciclismo, esgrima, ginástica, natação,

tênis, luta, levantamento de peso e tiro. 10

Nessa época, o futebol não tinha um reconhecimento maior como prática

desportiva de caráter internacional, restrito a poucos países.

1.2 Histórico do Futebol

A história não sabe definir ao certo como a atividade desportiva foi criada,

mais há relatos que a prática desportiva teve início há muitos séculos a.C., conforme

relata Roberto Ramos:

Há resquícios do futebol na pré-história. O homem das cavernas possuía o hábito de chutar um objeto arredondado, semelhante a uma bola. O antropólogo suíço Johan Jakobs o encontrou mais tarde, no interior de uma gruta na Nova Guiné (enciclopédia Mundial do Futebol – verbete futebol) 11

Segundo Carrano, estudos de alguns doutrinadores supostamente afirmam

que os primórdios do futebol tiveram origem nas civilizações primitivas, desde essa

8 DUARTE. Marcelo, O Guia dos Curiosos: olimpíadas. p. 12 9 DUARTE. Marcelo, O Guia dos Curiosos: olimpíadas. p. 13. 10 DUARTE. Marcelo, O Guia dos Curiosos: olimpíadas. p. 52. 11 RAMOS, Roberto. Futebol: ideologia do Poder. Rio de Janeiro. Vozes, 1984. p. 25.

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época já há registro de jogos com bola. Na civilização maia havia a prática de um

jogo de bola com a cabeça dos adversários derrotados; na civilização Egípcia havia

brincadeira que era de chutar bolas. 12 Ocorre, todavia, que não existe nenhum dado

comprobatório exato.

Ainda, sobre a história do futebol destaca-se a seguir os vários lugares e os

vários tipos de práticas desportivas que mais se assemelham ao futebol moderno.

1.2.1 Os chineses e o tsu-chu

Na China Antiga, por volta de 2.500 a. C., sob o império de Huang-Ti,

praticava-se um esporte parecido com o futebol, o tsu-chu, cuja bola era os crânios

dos inimigos abatidos na guerra, substituída posteriormente por bolas de couro

recheada de crina, como relata Marco Aurélio:

Na China, vinte e cinco séculos antes de nosso tempo, se praticava um jogo rude e violento, no qual dois grupos disputavam a posse de uma espécie de bolão de couro, recheado de crina de cavalo, usando as mãos e os pés. Constam da história chinesa registros que apontam a presença nestas “partidas” do Imperador Cheng-Ti, como espectador, e até mesmo, como jogador. Este mesmo registros mostram que durante a dinastia Ming grandes riquezas eram apostadas e os perdedores severamente punidos. 13

Para Orlando Duarte, o futebol teve sua origem em 2.600 a.C., na China:

O País é a China. O Sr. Yang-Tsé inventa o KEMARI. Oito jogadores de cada lado, campo quadrado, de 14 metros, duas estacas fincadas no chão, ligadas por um fio de seda, bola redonda, como 22 centímetro de diâmetro. Dentro da bola colocavam-se cabelos e crinas para que ficasse cheia. Os jogadores sem deixar a bola cair e com os pés, tentam passá-la além das estacas. Aí começa a idéia do futebol. 14

12 CARRANO, Paulo Cesar Rodrigues (org.). Futebol: paixão e política. Rio de Janeiro. DP&A, 2000. p. 13. 13 KLEIN, Marco Aurelio. O Almanaque do Futebol Brasileiro. São Paulo. Escala, 1996. p. 22. 14 DUARTE, Orlando. Futebol Histórias e Regras. São Paulo. Makron Books, 1997. p. 4.

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1.2.2 Os japoneses e o kemari

Ainda no Oriente, a resquícios da prática do esporte no Japão, onde criou o

kemari, tendo características diferentes do tsu-chu praticado na China. “A bola era

feita de pele de cervo e recheada com serragem”. 15

Conforme relata Roberto Ramos:

No Japão, a característica era um pouco diferente. Não existia nenhuma manifestação de violência nem preparação para a guerra. Predominavam um clima de lazer. Ocorriam inúmeras interrupções para confraternização dos jogadores durante os jogos. As regras, também, permitiam o uso indiscriminado dos pés e mãos. 16

1.2.3 Os gregos e o epyskiros

Na Grécia Antiga, o Epyskiros, como era conhecido o jogo de futebol grego,

a disputa se dava com uma bola feita da bexiga do boi e era coberta com uma capa

de couro. 17

Borsari relata sobre as caracteristicas do epyskiros:

No ocidente os gregos, no ano 776 A. C. já conheciam um jogo de bola, o “epyskiros”, que integrava o programa de educação atlética da juventude elênica. Consistia em disputar, com os pés a posse de uma bexiga cheia de ar, por duas equipes de quinze jogadores.18

Celso Unzelte complementa as informações de Borsari que sobre ser o

epyskiros o antecessor do futebol:

15 POLI, Gustavo/CARMONA, Lédio. Almanaque do futebol sportv. Rio de Janeiro: Casa da Palavra: COB Cultural, 2009. p. 22. 16 RAMOS, Roberto. Futebol: ideologia do Poder. p. 26. 17 DUARTE, Orlando. Futebol Histórias e Regras. p. 03. 18 BORSARI, José Roberto. Futebol de Campo. São Paulo. EPU, 1989. p. 11.

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O parente mais próximo do futebol era o epyskiros, disputado com os pés, em um campo retangular, por duas equipes de nove jogadores. Em campos maiores – como acontecia em Esparta, onde o epyskiros era praticado no século I a. C. –, podiam-se posicionar até 15 jogadores de cada lado. Feita de bexiga de boi e recheada com ar e areia, a bola deveria ser arremessada para as metas localizada no fundo de cada lado. 19

1.2.4 Os romanos e o harpastum

Depois da conquista da Grécia por Roma, os romanos acabaram

assimilando a cultura grega implementando o epyskiros, porém o esporte tomou

conotação mais violenta. “Latinizado para ‘harpastum’ era, na Roma antiga, de

pleno agrado dos soldados devido à violência das jogadas e ao espírito de

combatividade”. 20

Muito parecido com o epyskiros, o harpastum (ou “jogo da bola pequena”) foi à versão romana do jogo criado pelos gregos por volta de 200 a.C., o haspartum era disputado em campo retangular, dividido por uma linha e com duas linhas como meta. A bola de uns 20cm de diâmetro, também feita de bexiga de boi, era chamada de follis. Os jogadores, que podiam usar os pés e as mãos, tinha como objetivo ultrapassar a linha final do adversário, em partida que duravam muitas horas.21

1.2.5 Os franceses e o soule ou choule

Na França, no decorrer da Idade Média, praticava-se um esporte muito

assemelhado com o futebol, chamado “soule ou choule”, conforme destaca Marco

Aurélio:

19 UNZELTE, Celso. O livro de ouro do futebol de Campo. São Paulo: Ediouro, 2002. p. 12-13. 20 BORSARI, José Roberto. Futebol de Campo. p. 11. 21 FREITAS, Armando. O que é futebol. Rio de Janeiro: Casa da Palavra: COB, 2006. p. 14.

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Normandos e bretões jogaram, durante a baixa Idade Média, um jogo chamado Choule pelos normandos e Soule pelos bretões. Estas palavras eram derivadas do celta e significava sol, a bola. No início, a bola era jogada para o alto para que tomasse contato com as divindades e quando era tocado ao chão era disputado pelos dois grupos, postados em cada lado do campo. Eram grupos bastante numerosos e a luta pela posse de bola encarniçada. A meta poderia ser um muro, uma árvore ou a praça de uma cidade vizinha. A disputa se dava por bosques, riachos e estradas e podia demorar dias. No século XI, o jogo passou a ser disputados em campos delimitados e com uma parede à guisa de meta. As mãos poderiam ser usadas para receber a bola, mas ela tinha que ser impulsionada com o pé. Quem conseguisse colocar a bola na meta indicada, se tornava o “dono” do Choule, ou Soule. Muito praticado pelos soldados, durante algum tempo esteve proibido pelos reis porque se considerava que era responsável por certo relaxamento da disciplina militar. 22

1.2.6 Os italianos e o cálcio

Ainda na Idade Média, por volta de 1500 apareceu em Florença na Itália o

“cálcio”, de que era palco obrigatório a Praça de Santa Cruz. Jogado com os pés e

com as mãos entre equipes de 27 jogadores, disputava-se em um campo de duas

metades iguais, e o objetivo era levar a bola, cheia de ar e coberta com uma capa de

couro, até dois postes situados nas extremidades. 23

1.2.7 Os ingleses e o football

Foi na Inglaterra do século XIX que o futebol surgiu com as características

do esporte praticado nos tempos modernos. O “football” - denominação inglesa- foi

se popularizando, tornando-se organizado e estabelecendo um sistema de regras

para a prática do esporte, sendo muitas delas vigentes nos dias atuais, como

discorre Marco Aurélio:

22 KLEIN, Marco Aurelio. O Almanaque do Futebol Brasileiro. p. 22. 23 BORSARI, José Roberto. Futebol de Campo. p. 11.

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Foi na Inglaterra, entretanto que o futebol foi, como dito anteriormente, organizado, sistematizado e popularizado, em meados do século passado. O futebol foi aperfeiçoado nas escolas. A primeira grande questão na regulamentação, foi, é claro, se era um esporte para ser praticado predominantemente com as mãos e com os pés. O caminho natural, à falta de acordo entre duas correntes, foi o surgimento de dois jogos distintos: o futebol e o rugby. Os alunos da cidade de Rugby, em 1842, decidiram pelo jogo em que, com os pés ou com as mãos, o importante era chegar até a meta adversária. Seguindo outro caminho, em 1846, os alunos de Cambridge optaram pelo jogo com os pés e elaboraram as primeiras regras para a prática do “football”. Nestes primeiros tempos, surge a cobrança de lateral, da mudança de campo no intervalo e da punição com falta aos golpes de um jogador sobre o outro, selando definitivamente qualquer semelhança com o rugby. 24

No ano de 1860, na Inglaterra, foi definido os caminhos do “football”, quando

tentou-se organizar campeonatos colegiais ou entre clubes, tendo a necessidade de

padronizar as regras. Em 1862 formou-se uma comissão em que elaboraram o “the

simplest play”; precisamente em 26 de outubro de 1863, foi realizada uma histórica

reunião, na Taberna Freemason, em Londres, sendo que nessa reunião se

encontravam os representantes de onze clubes e escolas onde definiram as leis,

fundando a “The Football Association”. 25

Enfim, em 1863 foi fundada na Inglaterra a Football Association, fazendo com que se criasse regras para a prática do jogo entre as equipes. Formavam-se assim tabelas, datas dos jogos, ou seja, controlava-se a prática.26

1.2.8 Os brasileiros e o futebol

O surgimento do futebol no Brasil não se sabe ao certo como chegou, sendo

várias as teses sustentadas por alguns doutrinadores, em que falam que foram os

24 KLEIN, Marco Aurelio. O almanaque do futebol brasileiro. p. 23. 25 BORSARI, José Roberto. Futebol de Campo. p. 12. 26 LIMA, Marcos Antunes. Disponível em: <http://www.klepsidra.net/klepsidra14/futebol.html> Acesso em 18 outubro 2009.

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marinheiros ingleses que chegaram com uma bola e introduziram o futebol no país,

no ano de 1872. Outros sustentam que o primeiro jogo aconteceu em São Paulo. 27

Duarte sobre a evolução do futebol no Brasil comenta:

No Brasil o futebol chegou por intermédio de marinheiros ingleses, holandeses e franceses, na segunda metade do século passado. Eles jogavam em nossas praias, na parada dos navios. Iam embora e levavam as bolas. Para os nossos brasileiros só restava admirar o esporte, sem saber que esse seria o nosso esporte nacional. Fala-se também que funcionários de São Paulo Railway, de Jundiaí, teriam aprendido a jogar em 1882. 28

A tese mais aceita é de que o futebol foi introduzido no Brasil por Charles

Miller, tendo este em 1894 trazido da Inglaterra, onde passou anos estudando, duas

bolas e algumas camisas, promovendo as primeiras partidas entre os associados do

São Paulo Athletic Club. 29

Borsari aprofunda:

No Brasil o futebol foi introduzido por um paulista, Charles Miller, que estudara na Inglaterra. Em 1894, tomado de um grande entusiasmo por tal esporte, Miller trouxe duas bolas, camisas e demais materiais indispensáveis à prática desse jogo. No ano seguinte, já se realizavam os primeiros jogos, no campo da Companhia Aviação Paulista e na Várzea do Carmo. O primeiro jogo oficial foi realizado por Charles Miller entre os associados do São Paulo Athletic Club. 30

E nesse mesmo sentido Duarte expõe:

O que vale é que 1894, o paulista Charles Miller, nascido no Brás, em 1874, e que estudava na Inglaterra, trouxe de lá duas bolas que permitiram aos brasileiros praticar o futebol regularmente. Charles Miller estudava no Banister Court School, de Southampton, jogando futebol e gostando da modalidade. 31

27 RAMOS, Roberto. Futebol: ideologia do Poder. p. 26. 28 DUARTE, Orlando. Futebol Histórias e Regras. p. 05. 29 RAMOS, Roberto. Futebol: ideologia do Poder. p. 27. 30 BORSARI, José Roberto. Futebol de Campo. p. 13. 31 DUARTE, Orlando. Futebol Histórias e Regras. p. 05.

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Em Santa Catarina o futebol foi inserido oficialmente no ano de 1910,

conforme relata Celso Unzelte:

O futebol chegou no estado oficialmente em 1910, com a vitória dos alunos do Gymnásio Catharina (atual Colégio Catarinense, de Florianópolis) sobre um grupo de amadores paulistas, por 2 a 1, no primeiro jogo realizado em Santa Catarina. 32

1.3 Da Organização Internacional

Com a prática do futebol difundida em todos os continentes, inclusive com a

realização de jogos entre equipes de nacionalidades diferentes, surgiu a

necessidade de se criar uma federação internacional que pudesse organizar

competições, preservar e unificar as regras aplicáveis ao esporte. 33

Em 21 de maio de 1904 na França, foi constituida uma entidade suprema do

futebol mundial, a FIFA – Fédération Internationale de Football Association.

Thais Pacievitch conceitua a entidade máxima do futebol como:

A sigla FIFA significa originalmente Fédération Internationale de Football Association (Federação Internacional de Futebol), é a entidade que supervisiona diversas federações, confederações e associações relacionadas com o futebol ao redor do mundo. A Federação tem sua sede em Zurique, na Suíça, e é submetida às leis daquele país. A FIFA promove várias competições entre diversos países, sendo a mais conhecida a Copa do Mundo de Futebol, realizada a cada quatro anos. 34

32 UNZELTE, Celso. O livro de ouro do futebol de Campo. p. 12-13. 33 FREITAS, Armando. O que é futebol. p. 14. 34 PACIEVITCH, Thais. Federação Internacional de Futebol – FIFA. Disponível em: <http://www.infoescola.com/esportes/federacao-internacional-de-futebol-fifa/>. Acesso em: 18 outubro 2009.

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O Comitê Executivo da FIFA é composto pelo Presidente, Vice-Presidente

Senior, 6 Vice-Presidentes e 16 membros. 35

A Presidência da entidade máxima do futebol foi exercida pelo brasileiro

João Havelange que, eleito em 1974, permaneceu por 24 anos à frente da FIFA.

O futebol brasileiro não está ligado somente a FIFA, mas também a

CONMEBOL, que é a Confederação Sul-americana de Futebol, está também

subordinada àquela Confederação.

Segundo dados colhidos junto ao site www.conmebol.com, a CONMEBOL

teve sua origem na Argentina em 09 de julho 1916, que na época estava em

comemoração o centenário da sua independência, sendo as confederações do

Brasil, Chile e Uruguai convidadas para participar de um torneio de futebol, como

parte dos festejos. 36

O idealizador da idéia em ter uma Confederação Sul Americana de futebol,

era o uruguaio Héctor Rivadavia Gómez, que viu este torneio, para materializar sua

idéia, sendo os fundadores, Argentina, Brasil, Chile e Uruguai, e em 15 de dezembro

de 1916 em Montevidéu, solenizou o Congresso Constitucional, aonde fora ratificada

a criação da Confederação Sul-Americana. Após alguns anos todas associações

nacionais do continente, estavam a elas filiadas: Paraguai (1921), Perú (1925),

Bolívia (1926), Equador (1927), Colombia (1936) e Venezuéla (1952). 37

Hoje a CONMEBOL tem a competência de organizar os torneios Sul-

americanos, sendo eles a Copa Santander Libertadores, a Copa Nissan Sul-

americana, a Recopa e a Copa América, sendo este último o campeonato disputado

pelas seleções da América do Sul.

35 MACHADO, Rubens Approbato et alii (coordenação), NUZMAN, Carlos Arthur. Curso de Direito Desportivo Sistêmatico. São Paulo. Quartier Latin 2007. p. 59. 36 Disponível em: <http://www.campeoesdofutebol.com.br/historia_da_conmebol.html>. Acesso em: 18 outubro 2009. 37 Disponível em: <http://www.campeoesdofutebol.com.br/historia_da_conmebol.html>. Acesso em: 18 outubro 2009.

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1.4 Estrutura Nacional

O início do século XX aumentou a difusão do futebol no Brasil, após a

realização dos primeiros jogos e conseqüentemente a organização dos primeiros

campeonatos. Com isso, tornou-se necessária a criação de uma instituição para

administração mais sólida da prática do esporte.

Em 1914, foi constituída a primeira entidade representativa do futebol

brasileiro, a Federação Brasileira de Sports (FBS). Foi esta entidade que organizou,

no mesmo ano, a primeira seleção brasileira de futebol.

Após uma excursão pela Argentina, o Exeter City, representante da terceira divisão do futebol inglês, aceitou um convite da FBS (Federal Brasileira de Sports) para realizar um amistoso contra o “selecionado nacional”. Nascia a primeira seleção brasileira. O ano 1914. A FBS representada pool de cartolas, chamou os melhores jogadores do Rio e de São Paulo, entre eles o lendário goleiro Marcos Carneiro de Mendonça e o artilheiro Friedenreich. Não havia técnico oficializado e, dentro de campo, a equipe foi liderada pelo capitão Rubens Salles e por Sylvio Lagreca.38

Posteriormente, foi constituída a Confederação Brasileira de Desportos

(CBD), fundada em 1916, com a competência de ser a entidade responsável pela

organização de todo o esporte no país, sendo reconhecida pela FIFA no ano de

1923.

Atualmente, cada modalidade tem a sua própria confederação, sendo que a

entidade que faz o papel de desenvolver o esporte hoje através de uma estratégia

global e a articulação com todas as modalidades é o Comitê Olímpico Brasileiro, o

COB.

Mais tarde, no Brasil ocorreu o desmembramento da Confederação

Brasileira de Desportos (CBD), em entidades nacionais direcionais a cada

modalidade esportiva específica. Com o futebol não foi diferente, com a criação, em

1979 a Confederação Brasileira de Futebol – CBF.

38 POLI, Gustavo/CARMONA, Lédio. Almanaque do futebol sportv. p. 37.

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1.4.1 Da Confederação Brasileira de Futebol – CBF

A Confederação Brasileira de Futebol - CBF, com sede no Estado do Rio de

Janeiro, é a entidade máxima do futebol no Brasil, filiada à FIFA e membro da

CONMEBOL, sendo responsável pela organização dos campeonatos nacionais,

como o Campeonato Brasileiro das séries A, B, C e D e a Copa do Brasil, e ainda

administra as Seleções Brasileiras de Futebol Masculino e Feminino.

A CBF está estruturada, pelo Presidente e 5 Vices-Presidentes, sendo estes

últimos, cada um responsável por uma das 5 regiões do país.

1.4.2 Das federações estaduais

As federações estaduais são filiadas à Confederação Brasileira de Futebol -

CBF, sendo responsáveis pela organização de campeonatos estaduais. É nos

campeonatos estaduais que se encontram as mais tradicionais disputas e a origem

dos grandes clássicos do futebol brasileiro, conforme relato de Gustavo Poli:

A TRADIÇÃO DO FUTEBOL BRASILEIRO COMEÇA COM OS CAMPEONATOS ESTADUAIS. Disputas mais antigas do país, algumas dessas competições chega a ter um século ou mais de história, como na Bahia, São Paulo e no Rio de Janeiro. E, ao longo dos anos, estabeleceram as rivalidades caseiras e, graças a elas a paixão dos torcedores. Os clássicos nasceram com os estaduais. E cresceram, temporada a temporada. Fla-Flu, Vasco x Botafogo, Corinthians x Palmeiras, São Paulo x Santos, Atlético x Cruzeiro, Grêmio x Internacional, Atlético x Coritiba, Sport x Santa Cruz, Avaí x Figueirense, Bahia x Vitória, Ceará x Fortaleza, ABC x América, Remo x Paysandu, Fortaleza x Ceará, Goiás x Vila Nova e outros tantos do elos históricos. Grandes jogos, grande ídolos, grandes momentos (nem sempre felizes: depende do lado em que você se encontra). Não é exagero: quem gosta de futebol tem sempre uma boa e deliciosa história de futebol para contar. 39

39 POLI, Gustavo/CARMONA, Lédio. Almanaque do futebol sportv. p. 198.

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O futebol catarinense teve a fundação de sua Federação em 12 de abril de

1924, que ao longo de sua história teve 16 presidentes, sendo o último deles o

itajaiense Delfin Pádua Peixoto Filho, que permanece a frente das ações

administrativas do futebol catarinense desde 1985. 40

1.5 Das Competições

Para os fins da presente pesquisa acadêmica, respeitando o âmbito dos

estudos, destaca-se que, com a popularização do futebol em todos os continentes,

várias competições foram sendo organizadas, as quais destacam-se como

principais: a Copa do mundo, a Copa Libertadores da América, o Campeonato

Brasileiro de Futebol e a Copa do Brasil.

1.5.1 As Copas do Mundo – As competições e a participação do Brasil

Desde a sua fundação em 1904, a FIFA mantinha a idéia de preparar uma

competição mundial de futebol. 41

A idéia da FIFA era ter realizado a primeira competição mundial em 1906 na

Suíça. Mais o clima tenso na política mundial com o desencadeamento da Primeira

Guerra Mundial, reprimiu a iniciativa da entidade. Jules Rimet, presidente da

Federação Internacional, em 1921, voltou a estudar o projeto principalmente logo

após a realização dos Jogos Olímpicos de Paris em 1924, aonde o futebol se tornou

um grande sucesso de público. 42

40 Disponível em: <http://www.fcf.com.br/federacao/historia.php>. Acesso em: 18 outubro 2009. 41 FREITAS, Armando. O que é futebol. p. 36. 42 POLI, Gustavo/CARMONA, Lédio. Almanaque do futebol sportv. p. 46.

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No dia 05 de fevereiro de 1927, a proposta de realização do primeiro

campeonato mundial apresentada à comunidade do futebol foi aprovada, tendo a

apresentação das candidaturas de seis países para realizar o evento, são eles:

Suécia, Itália, Espanha, Hungria, Holanda e Uruguai.43

Assim, em 1929, durante um congresso da FIFA em Barcelona, foi decidido

que o primeiro país a sediar uma Copa do Mundo seria o Uruguai, bicampeão

olímpico de futebol 1924 e 1928. 44

Assim explica Gustavo Poli e Lédio Carmona:

Prestigiado pela grande fase da Celeste Olímpica, bicampeã nos Jogos de 1924 e 1928, o país sul-americano levou a melhor. Até porque seus dirigentes se comprometeram a custear as passagens e hospedagem para as seleções que aceitassem o convite. Com lugar garantido como novidade no calendário e beneficiado por essa facilidade econômica, a Copa do Mundo estava viabilizada. Era o início da trajetória da mais importante competição da história. 45

A primeira Copa do Mundo realizada em 1930 no Uruguai, contou com

apenas treze seleções, tendo o grande idealizador deste evento futebolístico,

recebido a homenagem com a inscrição da taça de campeão em seu nome – Taça

Jules Rimet. Ao final da competição a seleção Uruguaia sagrou-se campeã do

primeiro campeonato mundial disputado.

Lédio Carmona e Gustavo Poli discorrem:

A primeira Copa do Mundo foi marcada por problemas políticos e geográficos. Os europeus, na maioria desistiram de disputá-la por causa da distância. A seleção brasileira não tinha jogadores paulistas. Houve um racha entre a CBD e a APEA (Associação Paulista de Esportes Atléticos), que desejava pelo menos um representante na comissão técnica comandada pelo técnico Píndaro de Carvalho. Não houve acordo e o Brasil, com um time à base de cariocas, foi eliminado na primeira fase. Restou o consolo de ver o atacante Preguinho, filho do escritor Coelho Netto, marcar o primeiro gol brasileiro em Copas. Mas a campeã foi a Celeste Olímpica. Bicampeão os Jogos de 1924 e 1928, o Uruguai mostrou que era

43 POLI, Gustavo/CARMONA, Lédio. Almanaque do futebol sportv. p. 46. 44 FREITAS, Armando. O que é futebol. p. 36. 45 POLI, Gustavo/CARMONA, Lédio. Almanaque do futebol sportv. p. 47.

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mesmo forte e conquistou uma Copa que teve apenas 18 jogos, todos eles disputados numa única cidade: Montevidéu. 46

Posterior a Copa de 1930, foram realizadas mais 16 edições, somente sendo

interrompida entre 1942 e 1946, por causa da Segunda Guerra Mundial. Destas,

destaca-se a Copa de 1950, realizada no Brasil, sendo construído para o evento, o

maior estádio de futebol do mundo – o Maracanã. Todavia, foi marcado pela maior

derrota da história do futebol brasileiro, a final da Copa de 50 para o Uruguai.

A copa de 1958, realizada na Suécia, foi marcante para o futebol brasileiro,

pois foi nesta Copa que a Seleção brasileira conquista seu primeiro titulo mundial,

considerada por muitos como a seleção de todos os tempos. 47

Quatro anos depois, na Copa de 1962 no Chile, o Brasil consagrou-se

bicampeão mundial em cima da Tchecoslováquia.

O campeonato mundial de 1970, no México, foi considerado inesquecível na

memória de todos, principalmente pela presença de grande público nos Estádios e

também marcada por belas disputas e gols. O Brasil entrou para a história como

tricampeão mundial, trazendo para casa definitivamente a taça Jules Rimet.

A Copa de 1994, nos Estados Unidos, quebrou um jejum de 24 anos sem

conquista de um campeonato mundial pelo Brasil. Numa disputa emocionante nos

pênaltis contra a Itália, o Brasil consagrou-se como o primeiro tetracampeão

mundial.

Do outro lado do mundo, a Copa de 2002, foi a primeira a ser disputada no

continente asiático e em dois países – Japão e Coréia do Sul. O Brasil, com um

futebol brilhante, tornou-se pentacampeão mundial.

Ressalta-se ainda, que o Brasil será o país sede da Copa do Mundo de

2014.

46 POLI, Gustavo/CARMONA, Lédio. Almanaque do futebol sportv. p. 51. 47 POLI, Gustavo/CARMONA, Lédio. Almanaque do futebol sportv p. 60.

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1.5.2 Copa Libertadores

Com o objetivo de interagir a competição entre clubes da América do Sul, foi

organizado em 1948, o primeiro campeonato sul-americano – o Campeonato Sul-

Americano de Campeões, consagrando-se como primeiro campeão o clube

brasileiro Vasco da Gama.

Criada em 1960, a Copa Libertadores da América, é um dos mais

importantes torneios do futebol mundial, sendo “[...] marcada pela tradição, pela

rivalidade e, principalmente, pelo duelo entre Argentina, Brasil e Uruguai, países que

a dominam desde seu surgimento”. 48

O campeonato sul-americano é considerado de extrema importância para os

clubes participantes, tendo em vista o respaldo de o campeão poder disputar o

Campeonato Mundial de Clubes da FIFA realizado em dezembro de cada ano.

Os clubes argentinos são os mais vezes campeões da Copa Libertadores.

Já, pelos os clubes brasileiros, foram conquistados 13 títulos.

1.5.3 Campeonato Brasileiro

O campeonato Brasileiro surgiu em 1971, sucedendo outros torneios

nacionais como a Taça Brasil, o Torneio Roberto Gomes Pedrosa e o Torneio Rio-

São Paulo.

A primeira tentativa de uma competição interestadual aconteceu em 1933, com a criação do Torneio Rio-São Paulo. Durou apenas um ano. Depois de uma longa interrupção o torneio voltou a ser disputado em 1950 e manteve o formato até 1966. Em 1967, surgiu a idéia de convidar clubes gaúchos e mineiros. No mesmo ano, se juntaram ao grupo também times da Bahia e de Pernambuco. Encorporada, a competição trocou de nome – passou a ser chamada Torneio Roberto Gomes Pedrosa, ou simplesmente Robertão, numa

48 POLI, Gustavo/CARMONA, Lédio. Almanaque do futebol sportv. p. 246.

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homenagem ao ex-goleiro da seleção brasileira na Copa de 1934 e ex-presidente da Federação Paulista de Futebol. O campeonato foi disputado apenas quatro anos, sendo que na última edição, em 1970, ficou conhecido como também Taça de Prata. No ano seguinte surge o Campeonato Brasileiro. 49

O Brasileirão – apelidado pelos torcedores – é considerado o campeonato

mais importante do País, tendo em sua primeira edição o Clube Atlético Mineiro

como vencedor.

Atualmente, o Campeonato Brasileiro é composto pela disputa de clubes em

quatro divisões, sendo elas: série A (elite do futebol), série B, série C e série D.

A Primeira Divisão do Campeonato Brasileiro é formado por 20 clubes, que

se enfrentam em turno e returno, sendo campeão o clube que obtiver o maior

número de pontos. Ainda, os quatros primeiros colocados conquistam uma vaga

para disputar a Copa Libertadores da América do ano seguinte e os quatros últimos

colocados são rebaixados para a série B.

O Campeonato da série B só começou a despertar o interesse nos

torcedores a partir do ano de 1990, quando o campeão e o vice começaram a subir

para a série A. 50 Atualmente, o Campeonato da Segunda Divisão, tem o mesmo

molde de disputa da Primeira Divisão, também formado por 20 clubes que se

enfrentam em turno e returno, sendo campeão o clube que alcançar o maior número

de pontos corridos. Da mesma forma, os quatro primeiros colocados sobem para a

série A e os quatro últimos caem para a série C, Terceira Divisão.

A Terceira Divisão do Campeonato Brasileiro passou a ser disputado em

1981. Atualmente, a série C é disputada por 20 clubes divididos em 2 grupos de 10,

com partidas de ida e volta, classificando oito times, sendo quatro de cada grupo. Os

oito clubes classificados passam a jogar o sistema de mata-mata em jogos de ida e

volta, até a decisão do título, classificando-se quatro clubes, que além de disputar

entre si o título da Série C, já terão acesso a Série B do ano seguinte, em

contrapartida os dois últimos de cada grupo serão rebaixados para a Série D.51

49 FREITAS, Armando. O que é futebol. p. 41. 50 POLI, Gustavo/CARMONA, Lédio. Almanaque do futebol sportv. p. 246. 51 Disponível em: <http://www.cbf.com.br/seriec/>. Acesso em: 24 outubro 2009.

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O Campeonato da Série D entrou no cenário do futebol brasileiro neste ano,

dando-se a disputa, conforme relata Lédio Carmona, da seguinte forma:

E, em 2009, entra em cena a série D. Encabeçado pelo Santa Cruz, o torneio equivalente a quarta divisão do Campeonato Brasileiro e contará com a participação de quarenta clubes e terminados a partir da classificação dos torneios estaduais. As Federações mais bem colocadas no ranking da CBF terão direito a mais times participantes. A competição será disputada em turno e returno e se dividirá em oitos grupos de cinco times. Classificam-se os dois melhores de cada grupo. Na segunda fase, os 16 remanescentes se enfrentam em jogos de ida e volta no sistema mata-mata. Garantem o acesso os quatro semifinalistas. 52

1.5.4 Copa do Brasil

A Copa do Brasil foi criada em 1989, e é considerada a competição mais

democrática do futebol brasileiro por reunir clubes de todos os Estados do Brasil. No

início da competição participavam apenas 32 clubes, sendo os campeões de todos

os Estados e os vices dos cincos estados com melhor média de público nos

estádios. 53

Contudo, atualmente, participam da competição 64 clubes, cujos os critérios

para obter a classificação são estabelecidos pela Confederação Brasileira de

Futebol.

A forma de disputa da Copa do Brasil consiste em jogos de ida e volta em

caráter eliminatório. Todavia, o regulamento desta competição apresenta algumas

peculiaridades nas primeiras fases, conforme discorre Celso Unzelte:

Nas primeiras fases, o clube que alcançar vitória igual ou superior a dois gols atuando fora de casa classifica-se automaticamente para a etapa seguinte, eliminando a necessidade de um segundo jogo. Além disso, em caso de igualdade na diferença de gols nos dois confrontos, classifica-se o time que mais gols marcou fora de casa. 54

52 POLI, Gustavo/CARMONA, Lédio. Almanaque do futebol sportv. p. 246. 53 POLI, Gustavo/CARMONA, Lédio. Almanaque do futebol sportv. p. 203. 54 UNZELTE, Celso. O livro de ouro do futebol de Campo. p. 435.

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Além da popularidade desta competição entre os torcedores brasileiros, a

Copa do Brasil a partir de 1995 foi ganhando prestígio pelos clubes participantes,

face a classificação do campeão para a disputa da Copa Libertadores da América.

No próximo capítulo a pesquisa será direcionada para a análise da justiça

desportiva criada e mantida para dirimir as questões e os casos de desrespeito aos

regulamentos das competições e de toda a legislação vigente sobre o futebol e sua

prática.

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2. DA JUSTIÇA DESPORTIVA

O segundo capítulo tem o objetivo de pesquisar sobre as finalidades da

Justiça Desportiva brasileira, definindo seus objetivos, estrutura e competência, bem

como a análise dos princípios que norteiam a área de atuação.

2.1 Conceito

A Justiça Desportiva no Brasil é um ramo da estrutura judiciária de caráter

privado, voltada para apreciar e julgar as demandas oriundas da prática esportiva

quer seja ela amadora ou profissional.

Scheyla Decat conceitua a Justiça Desportiva:

Trata-se de uma instituição de direito privado dotada de interesse público tendo como atribuição dirimir as questões de natureza desportiva definidas no Código de Justiça Desportiva formada por um conjunto de instâncias autônomas e independentes das entidades de administração do desporto. 55

Segundo Paulo Schmitt:

Justiça desportiva é o conjunto de instâncias desportivas e independentes, consideras órgãos judicantes que funcionam junto a entidade dotadas de personalidade jurídica de direito público ou privado, com atribuições de dirimir os conflitos de natureza desportiva e competência limitada ao processo e julgamento de infrações disciplinares e procedimento especiais definidos em código desportivo.56

55 DECAT, Scheyla Althoff. Direito Processual Desportivo. Belo Horizonte. Del Rey 2008. p. 20. 56 SCHMITT, Paulo Marcos. Curso de Justiça Desportiva. São Paulo. Quartier Latin 2007. p. 59.

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A Constituição Federal de 1988 consagrou a Justiça Desportiva, sendo este

órgão eficaz na solução das ocorrências que acontecem no âmbito desportivo, pois

soluciona os processos com rapidez e pouco custo, sempre devidamente

fundamentados e respeitando o devido processo legal.57

2.2 Histórico da Justiça Desportiva

Segundo dados colhidos junto ao site justiçadesportiva.com.br, o direito

desportivo surgiu com a intensa prática esportiva nas mais variadas modalidades,

tendo a necessidade de se criarem normas sociais e regras para a prática do

esporte.58

A primeira legislação oficial se deu em 1941, através do Decreto-Lei n.º

3.199, com a criação do Conselho Nacional de Desportos - CND. Nesse passo,

Marco Del Nero comenta:

[...] só em 1941 por Decreto-lei foi criado o Conselho Nacional de Desporto e aí passamos a assistir o Estado a ingerir, a se envolver criando normas desportivas de pequena extensão, tais como regulamentando o uso de símbolo nacional, ora instituindo normas para admissão de técnicos estrangeiros e até limitando o número de atleta estrangeiro em associações. Nesta mesma época tivemos o estado dando poderes ao Conselho Nacional de Desportos, e este fazendo intervenções nas entidades que não cumprissem suas determinações. 59

Em consequência à legislação de 1941 outras surgiram, conforme

prossegue Marco Del Nero:

Em 1945 é criado o Código Brasileiro de Futebol, muito precário diante das necessidades futuras, mas receptivo à época, tanto que

57 SCHMITT, Paulo Marcos (cood). Código Brasileiro de Justiça Desportiva Comentado. Quartier Latin 2006. p. 17-18. 58 Disponível em: <http://justicadesportiva.com.br/jdlegislacao_historico.asp>. Acesso em 27 outubro de 2009. 59 Del Nero, Marco Polo. Direito Desportivo. Campinas, SP. Mizuno, 2000. p. 96.

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teve vigência por 11 anos. Em 1956, no mês de janeiro o Estado, via CND – Conselho Nacional de Desportos novamente cria um único código para todos os esportes, Código Brasileiro de Justiça Desportiva – CBJDD, de tão complicado e inexeqüível para o futebol durou apenas um campeonato (seis meses). Já em julho do mesmo ano o Conselho Nacional dos Desportos decidiu dar a cada ramo do desporto legislação disciplinar própria, separou o profissionalismo do amador e adotou novamente o Código Brasileiro de Futebol. Em agosto de 1977 com o Decreto Federal 80.228, o Conselho Nacional de Desporto passou a ingerir no esporte de forma total, inclusive regulamentar normas estatutárias das entidades esportivas e associações, tais como o número máximo de sócios para a composição do Conselho Deliberativo, tempo de mandato, permitindo apenas uma reeleição seja do clube, da Federação ou da própria Confederação Brasileira, não poupou seguimento, todas as modalidades de esportes foram atingidas seja do futebol, do basquete, do vôlei e etc. 60

Com a promulgação da Carta Constitucional de 1988, a Justiça Desportiva

foi reconhecida como órgão autônomo, com competência própria para dirimir

conflitos estabelecidos no âmbito desportivo, conforme seu art. 217, in verbis:

Art. 217. É dever do Estado fomentar práticas desportivas formais e não-formais, como direito de cada um, observados: I - a autonomia das entidades desportivas dirigentes e associações, quanto a sua organização e funcionamento; II - a destinação de recursos públicos para a promoção prioritária do desporto educacional e, em casos específicos, para a do desporto de alto rendimento; III - o tratamento diferenciado para o desporto profissional e o não- profissional; IV - a proteção e o incentivo às manifestações desportivas de criação nacional. § 1º - O Poder Judiciário só admitirá ações relativas à disciplina e às competições desportivas após esgotarem-se as instâncias da justiça desportiva, regulada em lei. § 2º - A justiça desportiva terá o prazo máximo de sessenta dias, contados da instauração do processo, para proferir decisão final.61

Sobre o reconhecimento constitucional da Justiça Desportiva Paulo Schmitt

comenta:

60 Del Nero, Marco Polo. Direito Desportivo. p. 96. 61 BRASIL. Constituição (1998). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília: Senado Federal, 2009.

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O constituinte de 1988 reconheceu a Justiça Desportiva, configurando-se em mais um movimento de solução de alternativa de controvérsias, evitando os custos e a demora de um processo judicial. E foi além, estabeleceu um limite formal de conhecimento dos litígios desportivos perante o Poder Judiciário, vinculado ao esgotamento das instâncias da Justiça Desportiva.62

Com o estabelecimento de novos conceitos para o desporto e a prática

desportiva pela Constituição Federal de 1988, entrou em vigor à Lei n. 8.672/93,

também conhecida como Lei Zico, instituindo normas gerais sobre desporto, sendo

revogada posteriormente pela Lei Pelé.

Com a Lei Zico, Lei n.º 8.672 de 1993, dava-se cumprimento ao que dispunha o art. 217, em seus incisos, da Constituição Federal. O primeiro inciso do art. 217, da Constituição Federal fala em autonomia das entidades dirigentes e associações quanto à sua organização; a expressão “sua” é no sentido de ser dela, própria, interna “sua”; autonomia quanto a sua organização e funcionamento.63

Em 1998 foi sancionada a Lei 9.615/98, popularmente conhecida como Lei

Pelé, que trouxe normas gerais sobre o desporto, e mais recentemente entrou em

vigor o Código Brasileiro de Justiça Desportiva – CBJD, aprovado pela Resolução n.

1, do Conselho Nacional do Esporte (DOU de 24.12.2003), que veio substituir e

unificar a legislação desportiva.

E, finalmente, foi sancionada a Lei 10.671/2003, também chamada de

Estatuto de Defesa do Torcedor, o qual será tema do título “Da Subordinação Legal”,

item 2.5.

2.3 Dos órgãos Julgadores

Os órgãos julgadores da Justiça Desportiva estão dispostos no artigo 52 da

Lei nº 9.615/98 (Lei Pelé), que prevê uma estrutura orgânica e hierárquica, sendo

62 SCHMITT, Paulo Marcos (cood). Código Brasileiro de Justiça Desportiva Comentado. p. 17. 63 AIDAR, Carlos Miguel Castex. Direito Desportivo. Campinas, SP. Mizuno, 2000. p. 25.

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reconhecido como entes autônomos e independentes das administrações

desportivas de cada modalidade, atuando com absoluta independência decisória,

vedada qualquer intervenção por parte das entidades. 64

Art. 52. Os órgãos integrantes da Justiça Desportiva são autônomos e independentes das entidades de administração do desporto de cada sistema, compondo-se do Superior Tribunal de Justiça Desportiva, funcionando junto às entidades nacionais de administração do desporto; dos Tribunais de Justiça Desportiva, funcionando junto às entidades regionais da administração do desporto, e das Comissões Disciplinares, com competência para processar e julgar as questões previstas nos Códigos de Justiça Desportiva, sempre assegurados a ampla defesa e o contraditório.

Ao analisar a vinculação legal da Justiça Desportiva, Schmitt explica que:

Os órgãos judicantes constituem elementos despersonalizados incumbidos da realização das atividades previstas na Constituição Federal, da Lei n.º 9615/98, da codificação desportiva e dos regimentos internos. Assim, quem possui capacidade postulatória é respectiva entidade de administração ou, na hipótese de sistema desportivo público como adiante se verá, o órgão da Administração Pública promotora de eventos esportivos, o que afasta a suposta vinculação ou interesse do órgão judicante ou de seus membros em eventual debate no âmbito do poder judiciário. 65

As Comissões Disciplinares (CDs) são os órgãos que processam e julgam

os litígios em matéria desportiva previstas no CBJD em primeira instância,

ressalvadas as hipóteses de competência originária do STJD e TJD. As CDs

funcionam em nível regional junto aos Tribunais de Justiça Desportiva e nacional

junto ao STJD.

As Comissões Disciplinares, órgãos que funcionam como primeira instância junto ao STJD e TJD, devem ser compostas de 5 (cinco) membros indicados pelos Tribunais da respectiva modalidade, sendo certo que não podem ser componentes dos mencionados tribunais, conforme art. 6º do Código Brasileiro de Justiça Desportiva. Cada Tribunal poderá criar tantas Comissões Disciplinares que julgar necessário para agilizar as demandas desportivas. 66

64 DECAT, Scheyla Althoff. Direito Processual Desportivo. p. 24. 65 SCHMITT, Paulo Marcos. Curso de Justiça Desportiva. p. 59. 66 DECAT, Scheyla Althoff. Direito Processual Desportivo. p. 26.

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Em segunda instância são julgadores os Tribunais de Justiça Desportiva –

TJD, funcionando junto às entidades desportivas regionais e Superior Tribunal de

Justiça Desportiva – STJD, atuando sobre as entidades nacionais de desporto.

Schmitt discorre sobre a competência dos Tribunais de Justiça Desportiva do

Futebol, no âmbito das suas entidades. Para ele,

O STJD e os TJDs são órgãos judicantes, que via de regra (novamente fazendo a resalva da competência originária), atuam em grau de recurso (2ª instância -, ou até mesmo como 3ª instância nas situações de esgotamento da matéria no TJD e cabimento de recurso ainda do STJD). É importante destacar que a competência originária do STJD ou do TJD para processo e julgamento, via de regra, ocorre em razão da pessoa (foro privilegiado) ou em face da matéria a ser submetida à análise e julgamento. 67

A Composição dos órgãos superiores está prescrita no art. 55 da Lei

9.615/98:

Art. 55. O Superior Tribunal de Justiça Desportiva e os Tribunais de Justiça Desportiva serão compostos por nove membros, sendo: I - dois indicados pela entidade de administração do desporto; II - dois indicados pelas entidades de prática desportiva que participem de competições oficiais da divisão principal; III - dois advogados com notório saber jurídico desportivo, indicados pela Ordem dos Advogados do Brasil; IV - um representante dos árbitros, por estes indicado; V - dois representantes dos atletas, por estes indicados.

O STJD que é ligado a CBF é composto de acordo com o CBJD em seu art.

4º.

Art. 4º O Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) compõe-se de 9 (nove) membros, denominados auditores, sendo: I - 2 (dois) indicados pela entidade nacional de administração do desporto; II - 2 (dois) indicados pelas entidades de prática desportiva que participem da principal competição da entidade Nacional de administração do Desporto; III - 2 (dois) advogados indicados pelo Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil; IV - 1 (um) representante dos árbitros, indicado por entidade

67 SCHMITT, Paulo Marcos. Curso de Justiça Desportiva. p. 85.

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representativa; e V - 2 (dois) representantes dos atletas, indicados por entidade representativa.

O TJD que está ligado às federações estaduais é composto de acordo com o

art. 5º do CBJD:

Art. 5º Os Tribunais de Justiça Desportiva (TJD) compõem-se de 9 (nove) membros, denominados Auditores, sendo: I - 2 (dois) indicados pela entidade regional de administração de desporto; II - 2 (dois) indicados pelas entidades de prática desportiva que participem da principal competição da entidade regional de administração do desporto; III - 2 (dois) advogados indicados pela Ordem dos Advogados do Brasil, por intermédio da seção correspondente à territorialidade; IV - 1 (um) representante dos árbitros, indicado por entidade representativa; e V - 2 (dois) representantes dos atletas, indicados por entidade representativa.

A Comissão Disciplinar que trabalha como primeira instância do STJD e do

TJD está composta de acordo com o art. 6 do CBJD:

Art. 6º Junto ao Superior Tribunal de Justiça Desportiva, para apreciação de questões envolvendo competições interestaduais ou nacionais, como primeiro grau de jurisdição funcionarão tantas Comissões Disciplinares Nacionais quantas se fizerem necessárias, compostas, cada uma, por cinco auditores que não pertençam ao referido órgão judicante e que por este sejam indicados e, junto aos Tribunais de Justiça Desportiva para processar e julgar matérias relativas às competições regionais e municipais, funcionarão, como primeiro grau de jurisdição, tantas Comissões Disciplinares Regionais, quantas se fizerem necessárias, compostas, cada uma, por cinco auditores que não pertençam aos referidos órgãos judicantes e que por estes sejam indicados.

2.4 Da Competência

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A competência da Justiça Desportiva consiste no poder de processar e julgar

as infrações disciplinares e competições desportivas, e está prevista na Lei 9.615/98

em seu art. 50:

Art. 50. A organização, o funcionamento e as atribuições da Justiça Desportiva, limitadas ao processo e julgamento das infrações disciplinares e às competições desportivas, serão definidas em códigos desportivos, facultando-se às ligas constituir seus próprios órgãos judicantes desportivos, com atuação restrita às suas competições.

No Código Brasileiro de Justiça Desportiva, a competência da Justiça

Desportiva está definida em seu artigo 24, conforme se pode analisar:

Art. 24. Os órgãos da Justiça Desportiva, nos limites da jurisdição territorial de cada entidade de administração do desporto e da respectiva modalidade, têm competência para processar e julgar matérias referentes a infrações disciplinares e competições desportivas, praticadas por pessoas físicas ou jurídicas mencionadas no artigo 1o.

Embora, não sendo a Justiça Desportiva elencada como órgão do Poder

Judiciário, possui autonomia e independência para processar e julgar litígios em

âmbito da prática desportiva. Desta feita, constitui a Justiça Desportiva, delimitada

nos conflitos envolvendo disciplina e competições, pressuposto a ser esgotado antes

do ingresso ao Poder Judiciário.

Nessa seara, discorre Martinho Miranda:

[...] para que possa delimitar o campo da competência da Justiça Desportiva, deve-se primeiro verificar se a controvérsia diz respeito à aplicação de regras eminentes desportivas, o que afasta dessa seara um sem número de disposições emanadas das entidades dirigentes, o mesmo estatutárias das agremiações de prática, que cuidem de outras questões alheias ao universo de competição. 68

68 MIRANDA, Martinho Neves. O Direito no Desporto. São Paulo. Lumen Juris 2007. p. 153.

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Compete a Justiça Desportiva julgar os erros de direito e não os erros de

fato. No erro de direito o árbitro ignora ou não conhece a regra que regem a

modalidade, e o erro de fato o árbitro mostra que conhece o regulamento, mais

acaba se equivocando em um fato ocorrido. 69

A competência da Justiça Desportiva está distribuída entre seus órgãos

judicantes, conforme reza os artigos 25 a 28 do CBJD.

Sobre a competência de cada órgão judicante, Decat expõe:

O Superior Tribunal de Justiça Desportiva e o Tribunal de Justiça Desportiva, além de terem a competência para julgar os processos especiais, são órgãos judicantes que atuam em grau de recurso em 2ª instância como também em 3ª instância no caso de haver esgotamento da matéria no Tribunal de Justiça Desportiva. As comissões originárias do STJD e do TJD, são órgãos de 1ª estância, cabendo a eles processar e julgar as infrações disciplinares cometidas por pessoa física ou jurídica que estejam submetidas ao código brasileiro de Justiça Desportiva. 70

A Justiça Comum, portanto, somente será competente para julgar matéria

depois de esgotarem as instâncias desportivas, conforme art. 217, §1º:

Art. 217. É dever do Estado fomentar práticas desportivas formais e não-formais, como direito de cada um, observados: § 1º - O Poder Judiciário só admitirá ações relativas à disciplina e às competições desportivas após esgotarem-se as instâncias da justiça desportiva, regulada em lei.

2.5 Da Subordinação Legal

A Justiça Desportiva está consagrada na Constituição Federal de 1988 nos

artigos 5º e incisos XVII, XVIII, XXVIII, a, artigo 24, inciso IX, art. 217, inciso I, II, III,

IV, parágrafos 1º, 2º, 3º.

69 SCHMITT, Paulo Marcos. Curso de Justiça Desportiva. p. 154. 70 DECAT, Scheyla Althoff. Direito Processual Desportivo. p. 27.

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O artigo 5º XVII, e XVIII encontra-se no título "Dos Direitos e Garantias

Fundamentais" da Constituição Federal. Autoriza tal dispositivo a liberdade de

criação de associações para fins lícitos, sendo vedada a interferência estatal em seu

funcionamento.

Além do amparo constitucional, as atividades esportivas estão previstas em

instrumentos regulatórios infraconstitucionais, dentre elas, destaca-se: a Lei

9.615/98 (Lei Pelé), Lei 10.671/03, Lei 10.672/03 e o CBJD - Código Brasileiro de

Justiça Desportiva instituído pela Resolução nº 1, de 23 de dezembro de 2003 e

alterado pela Resolução n.º 11/2006.

A Lei 9.615/98 (Lei Pelé) instituiu normas gerais sobre desporto brasileiro,

dispondo em seu art. 1º:

Art. 1º - O desporto brasileiro abrange práticas formais e não- formais e obedece às normas gerais desta Lei, inspirado nos fundamentos constitucionais do Estado Democrático de Direito. § 1º - A prática desportiva formal é regulada por normas nacionais e internacionais e pelas regras de prática desportiva de cada modalidade, aceitas pelas respectivas entidades nacionais de administração do desporto. § 2º - A prática desportiva não-formal é caracterizada pela liberdade lúdica de seus praticantes.

Carlos Arthur Nuzman enfatiza que:

A Lei de Pelé define, ainda, o Sistema Nacional do Desporto, cujo o objetivo é promover a prática desportiva no Território Brasileiro. No Sistema do Desporto estão compreendidas as pessoas físicas e jurídicas de Direito Privado encarregadas da administração e prática do Desporto, além das incumbidas da Justiça Desportiva. 71

Em 2003, a Lei 10.671 veio estabelecer normas de proteção e defesa do

torcedor. Segundo enfatiza Décio Luiz José Rodrigues a Lei 10.671/03 veio:

[...] contemplar a defesa do torcedor já prevista, segundo entendemos no Código do Consumidor, conforme expusemos, estatuto este que se preocupou com os seguintes itens: transparência na organização dos jogos, regulamento da competição

71 MACHADO, Rubens Approbato et alii (coordenação), NUZMAN, Carlos Arthur. Curso de Direito Desportivo Sistêmatico. p. 51.

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(campeonato), segurança do torcedor que participe do evento desportivo (torcedor particípe), ingressos do jogo, transporte para os jogos, alimentação e higiene nos estádios, relação com a arbitragem, relação com a entidade da prática desportiva (time de futebol), relação com a Justiça Desportiva e, por último, especifica as penalidades. 72

A Lei 10.672/03 veio alterar alguns dispositivos da Lei 9.615/98 (Lei Pelé), a

qual segundo leciona Paulo Marcos Schmitt enunciou os seguintes princípios:

• Gestão do desporto profissional: transparência financeira e administrativa;

• Moralidade na gestão desportiva; responsabilidade social de seus dirigentes;

• Tratamento diferenciado ao desporto não profissional; • Participação na organização desportiva do País. 73

2.6 Da subordinação aos princípios constitucionais

Em qualquer ciência, os princípios são o começo, o ponto de partida. É neles

que se encontram as diretrizes valorativas válidas para interpretação das normas

jurídicas. 74

Nesse sentido, vale ressaltar o entendimento de Paulo Schmitt:

E os princípios têm a função de auxiliar no processo interpretativo das regras, permitindo o adequado preenchimento das suas lacunas. As leis, normas e regulamentos em geral reconhecem, para solução de casos omissos, o uso da analogia, jurisprudência, costumes e princípios gerais de direito, Entretanto, embora não expresso formalmente pelo notório reconhecimento doutrinário e jurisprudencial que possui, o uso dos princípios precede qualquer omissão contida na lei. Vai além, os princípios informam a correta interpretação de todo a aparelho legal. 75

72 RODRIGUES, Décio Luiz José. Direito e temas polêmicos do futebol. São Paulo. Rideel 2003. p. 15. 73 SCHMITT, Paulo Marcos. Curso de Justiça Desportiva. p. 19. 74 SCHMITT, Paulo Marcos. Curso de Justiça Desportiva. p. 37. 75 SCHMITT, Paulo Marcos. Curso de Justiça Desportiva. p. 36.

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No direito desportivo, os princípios desempenham função essencial, servem

de alicerce e embasamento para interpretação das normas desportivas,

diferenciando-se dos demais ramos do direito “justamente porque está sob a égide

de um determinado regime jurídico, composto de um conjunto sistematizado de

princípios e normas, reunidos de forma coordenada e lógica, formadores de um todo

unitário-o “regime jurídico desportivo”.” 76

Cumpre ressaltar neste trabalho, os princípios primordiais que regem o

direito desportivo, quais sejam: autonomia desportiva, destinação prioritária de

recursos públicos, tratamento diferenciado entre o desporto profissional e o não

profissional, e o esgotamento das instâncias desportivas. 77

2.6.1 Princípio da autonomia desportiva

O princípio da autonomia desportiva é considerado de suma importância,

sendo uma garantia consagrada no art. 217, I, da Carta Magna e art. 2º, II, da Lei nº

9.615/98, que garante à autonomia às entidades dirigentes e associações

desportivas, tendo administração própria quanto à organização de sua estrutura e

funcionamento, respeitada a especificidade da codificação das entidades

desportivas nacionais e internacionais.

Nesse sentido, discorre Paulo Schmitt:

É imperioso que a autonomia das entidades diretivas seja exercida precipuamente interna corporis, ou seja, para preservar a organização internas das entidades e suas normas, não se prestando a justificar o descumprimento das leis ou a inovação de competência em matérias reservadas à apreciação da Justiça Desportiva, por exemplo. 78

2.6.2 Princípio do esgotamento das instâncias da justiça desportiva

76 SCHMITT, Paulo Marcos. Curso de Justiça Desportiva. p. 35. 77 SCHMITT, Paulo Marcos. Curso de Justiça Desportiva. p. 38-41. 78 SCHMITT, Paulo Marcos. Curso de Justiça Desportiva. p. 40.

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O princípio do esgotamento das instâncias da Justiça Desportiva,

consagrado no art. 217, § 1º da Constituição Federal, onde determina que quaisquer

litígios no âmbito desportivo sejam esgotados primeiramente nas instâncias

desportivas, antes de ingressar na Justiça Comum.

Paulo Schmitt, sobre o princípio constitucional comenta:

O constituinte de 1988 elegeu o esporte ao patamar constitucional, reconhecendo o amplo espectro de benefícios trazidos pela instituição da Justiça Desportiva, cujo limite de atuação encontram-se estabelecidos às ações relativas à disciplina e às competições desportivas. A Constituição Federal de 1988 foi ainda mais longe, reconhecendo o limite formal de conhecimento dos litígios desportivos perante o Poder Judiciário, vinculado ao esgotamento das instâncias da Justiça Desportiva. Desde uma abordagem imediata é possível alcançar a importância atribuída pela Constituição Federal à Justiça Desportiva, configurando em mais um movimento de solução alternativa de controvérsias evitando custos e demora de um processo judicial. 79

Nesse mesmo sentido, discorre Décio Rodrigues:

Esta norma constitucional não vai de encontro ao princípio do art. 5º, XXXV, da mesma Constituição Federal, segundo o qual “a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito”? Entendemos que não, pois, além de ambas as normas serem constitucionais, o artigo 217, parágrafo 1º, da Constituição Federal, “não” impede o acesso ao Poder Judiciário, tão-somente determina que se esgotem as instâncias da Justiça Desportiva antes disso. 80

Veja-se a linha de entendimento firmada nos pretórios brasileiros:

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO ANULATÓRIA DE ATO ADMINISTRATIVO C/C REPARAÇÃO DE DANOS. COMPETIÇÃO ESPORTIVA. NÃO EXAURIMENTO DAS INSTÂNCIA ESPORTIVAS.- Recebida uma demanda sobre questões relacionadas ao esporte, além da verificação da presença das condições da ação, há de se observar se o autor preenche o requisito específico previsto no § 1º, do artigo 217, da Constituição Federal, qual seja, o EXAURIMENTO das instâncias da Justiça

79 SCHMITT, Paulo Marcos. Curso de Justiça Desportiva. p. 41. 80 RODRIGUES, Décio Luiz José. Direitos do Torcedor e Temas Polêmicos do Futebol. p. 51.

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Desportiva como pré-requisito para o acesso ao Poder Judiciário. (Apelação Cível Nº 1.0271.07.111138-6/001(1), 9º Câmara Cível, Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais. 81

Corroborando a linha de entendimento quanto à possibilidade de somente

ingressar na Justiça Comum, depois de esgotadas as instâncias da Justiça

esportiva, foi à decisão do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, em que julgou

improcedente o Agravo de Instrumento impetrado por atleta, o qual requereu a

reforma da decisão proferida pelo juízo de 1º grau, que indeferiu a antecipação de

tutela, face não ter esgotado as instâncias da Justiça Desportiva.

AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO ANULATÓRIA DE ATO PUNITIVO DE ATLETA AMADOR. ANTECIPAÇÃO DE TUTELA. - Em se tratando de pedido de tutela antecipada não basta a demonstração do "fumus boni iuris". É que não se pode confundir tutela cautelar com tutela antecipada. - A apreciação do Poder Judiciário sobre fatos e infrações disciplinares relacionados ao desporto amador ou profissional, deve ser feita em última instância, isto é, após esgotadas as instâncias na justiça desportiva. AGRAVO DE INSTRUMENTO IMPROVIDO. (Agravo de Instrumento Nº 70004141388, Décima Terceira Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Marco Aurélio de Oliveira Canosa, Julgado em 17/12/2002). 82

2.6.3 Princípio da destinação prioritária de recursos públicos

Quanto ao princípio da destinação prioritária de recursos públicos, está

previsto na Constituição Federal em seu art. 217, II, e tem como finalidade a

aplicação de recursos para a promoção de práticas desportivas nas escolas, sendo

visto como um instrumento de desenvolvimento do ensino, bem como, de forma

excepcional, a aplicação de recursos para o desporto de alto rendimento, sendo

aqueles voltados para competições.

81 BRASIL. Tribunal de Justiça de Minas Gerais. Ap. Cível n. 1.027107.111138-6/001(1), Nona Câmara Cível, Relator Pedro Bernardes, julgado 02/12/2008. Disponível em: <http//www.tj.mg.gov.br>. Acesso em: 07 novembro 2009. 82 BRASIL. Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul. Ag. de Instrumento n. 70004141388, Décima Terceira Câmara Cível, Relator: Marco Aurélio de Oliveira Canosa, Julgado em 17/12/2002. Disponível em: <http//www.tj.rs.gov.br>. Acesso em: 07 novembro 2009.

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Dessa forma, o princípio da destinação prioritária de recursos ao desporto é uma opção político-legislativa que o constituinte preferiu colocar em ordem de precedência o desporto educacional e, apenas em casos específicos, a manifestação do desporto de rendimento. Saliente-se que a prática de atividade física no ambiente escolar, mediante a utilização de uma modalidade esportiva ou não, foi eleita com prioridade ao dispêndio de recursos financeiros. Demais disso, a Carta Constitucional traça uma linha específica de financiamento do desporto de rendimento, o fazendo através de “casos específicos”, com a participação de selecionados nacionais em competições internacionais ou competições internas e treinamentos preparatórios”.83

2.6.4 Princípio do tratamento diferenciado entre o desporto profissional e o

não profissional

O princípio do tratamento diferenciado entre o desporto profissional e o não

profissional, vem amparado na Constituição Federal em seu inciso III, art. 217, e

mais recentemente pelo Código Brasileiro de Justiça Desportiva, em seu art. 1º,

parágrafo único, e tem como intuito consubstanciar tratamento específico a cada

qual.

O desporto não profissional é o decorrente da prática desportiva, sem

vínculo contratual com qualquer entidade esportiva, estando regulamentado no § 4º,

do art. 29 da Lei 9.615/98, in verbis:

Art. 29. A entidade de prática desportiva formadora do atleta terá o direito de assinar com esse, a partir de dezesseis anos de idade, o primeiro contrato de trabalho profissional, cujo prazo não poderá ser superior a cinco anos. [...]; § 4o O atleta não profissional em formação, maior de quatorze e menor de vinte anos de idade, poderá receber auxílio financeiro da entidade de prática desportiva formadora, sob a forma de bolsa de aprendizagem livremente pactuada mediante contrato formal, sem que seja gerado vínculo empregatício entre as partes.

83 SCHMITT, Paulo Marcos. Curso de Justiça Desportiva. p. 34-35.

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Já o desporto profissional é o decorrente da prática desportiva praticada em

competições, existindo vínculo contratual entre atletas e entidades esportivas, sendo

o atleta remunerado, conforme prescrito no art. 26, parágrafo único:

Art. 26. Atletas e entidades de prática desportiva são livres para organizar a atividade profissional, qualquer que seja sua modalidade, respeitados os termos desta Lei. Parágrafo único. Considera-se competição profissional para os efeitos desta Lei aquela promovida para obter renda e disputada por atletas profissionais cuja remuneração decorra de contrato de trabalho desportivo.

2.7 Dos Processos da Justiça Desportiva

O direito processual desportivo serve para manter na prática desportiva uma

harmonia, utilizando o processo como meio indispensável à solução de litígios,

podendo ser denominado processo desportivo, e este subordina-se ao direito

material, onde independente do ramo do direito, os princípios processuais são

aplicáveis a todos, dentre eles destacando-se o contraditório, da ampla defesa e o

duplo grau de jurisdição. 84

Segundo Scheyla Decat complementa:

O Direito Processual Desportivo tem por objetivo principal resguardar a própria ordem jurídica, pois, ao solucionar as questões, a Justiça Desportiva cumpre uma função pública, assegurando o império da legislação brasileiro do desporto nacional e da paz social. Ao aplicar as regras e normas do Direito Processual Desportivo, define-se a vontade concreta da lei diante de uma infração disciplinar cometida. Assim, todos aqueles que no território nacional estiverem submetidos às entidades compreendidas pelo Sistema Nacional do Desporto e todas as pessoas física ou jurídica que lhes forem direta ou indiretamente filiadas ou vinculadas são passíveis de um procedimento desportivo. 85

84 DECAT, Scheyla Althoff. Direito Processual Desportivo. p. 3. 85 DECAT, Scheyla Althoff. Direito Processual Desportivo. p. 4.

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Desta feita, o Direito Desportivo, embora, não integrante do Poder Judiciário,

é reconhecido como ciência autônoma dos demais ramos do direito, sendo o

processo desportivo o instrumento de atuação jurisdicional pelo qual os órgãos da

Justiça Desportiva aplicam o Direito Desportivo ao caso concreto, processando e

julgando com normas semelhantes aos demais processos judiciais. 86

O processo desportivo tem como característica o impulso oficial, ou seja,

uma vez instaurado o processo, independentemente do procedimento adotado, seu

andamento não depende de iniciativa ou provocação de qualquer das partes87,

conforme previsão do Código Brasileiro de Justiça Desportiva – CBJD -, em seu art.

33:

Art. 33 O processo desportivo, instrumento pelo qual os órgãos judicantes aplicam o direito desportivo aos casos concretos, será iniciado na forma prevista neste Código e será desenvolvido por impulso oficial. Parágrafo único. O presidente do STJD ou TJD poderá declarar extinto o processo quando exaurida sua finalidade ou perda do objeto.

O processo desportivo possui dois ritos processuais, dependendo da

finalidade a que se destinam, conforme delineados no CBJD art. 34:

Art. 34. O processo desportivo observará os procedimentos sumário ou especial, regendo-se ambos pelas disposições que lhe são próprias e aplicando-se-lhe, obrigatoriamente, os princípios gerais de direito. § 1º. O procedimento sumário aplica-se aos processos disciplinares. § 2º. O procedimento especial aplica-se aos processos de: I. inquérito; II. impugnação; III. mandado de garantia; IV. reabilitação; V. dopagem; VI. infrações punidas com eliminação; VII. suspensão, desfiliação ou desvinculação imposta pelas entidades de administração ou de prática desportiva; VIII. revisão; IX. demais medidas admitidas no § 3º. do artigo 9o

86 MACHADO, Rubens Approbato et alii (coordenação), SCHMITT, Paulo Marcos. Curso de Direito Desportivo Sistêmatico. p. 381. 87 SCHMITT, Paulo Marcos (cood). Código Brasileiro de Justiça Desportiva Comentado. p. 70.

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Adiante, será estudado os aspectos seletivos de escolha dos membros que

atuam no processo desportivo e suas respectivas atribuições, os quais possuem

livre acesso a todos os locais públicos e particulares destinados a eventos

desportivos.

2.7.1 Da acusação

Junto à Justiça Desportiva atua a Procuradoria de Justiça Desportiva, o qual

desempenha um papel de extrema relevância no processo desportivo e demais

atividades relacionadas à Justiça Desportiva.

Compete aos Procuradores a função de promover a responsabilidade das

pessoas físicas e jurídicas que violarem as normas relacionadas ao Direito

Desportivo, conforme dispõe os arts. 21 e 22 do CBDJ.

Sobre as atribuições da Procuradoria de Justiça, Paulo Schmitt expõe:

A análise atenta das disposições dos códigos em geral permite reconhecer que o rol de atribuições da Procuradoria de Justiça Desportiva corresponde ao desempenho de um papel de máxima relevância dentro do Processo Desportivo e demais atividades inerentes à Justiça Desportiva. Ao procurador é atribuída a função de promover a responsabilidade das pessoas físicas ou jurídicas submetidas ao respectivo instrumento disciplinar (Código) que violarem as disposições contidas, conforme o caso, no próprio código, Regras ou Regulamentos, cabendo ainda fiscalizar o cumprimento e a execução das leis esportivas (fiscal da lei), zelando pela manutenção de paz no desporto. 88

88 SCHMITT, Paulo Marcos. Curso de Justiça Desportiva. p. 100.

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Os Tribunais Desportivos – STJD ou TJD – nomeiam para atuar nos

respectivos órgãos, dois procuradores, os quais competem oferecer denúncias nos

processos distribuídos aos Tribunais e Comissões Disciplinares, bem como, tem a

função precípua emitir pareceres e interpor recursos nos casos previstos em lei e no

Código Disciplinar, de acordo com o art. 21, e seus incisos I, II, III, IV, V VI e VII, do

CBJD.89

Paulo Schmitt, explica

O Procurador, como titular da denominada Ação Desportiva, comumente impulsiona o processo desportivo mediante a formulação da denúncia, razão pela qual a Procuradoria é popularmente conhecida como instituição acusadora. A denúncia constitui, portanto, o elemento essencial das atividades dos Procuradores e consiste na narrativa escrita concisa dos fatos e fundamentos que indicam a ocorrência de infração disciplinar, devendo conter, minimamente a exposição fática com a descrição sumária da infração, a qualificação do infrator e os dispositivos infringidos. Destaca-se, ainda, que a peça acusatória não pode ser considerada incorreta ou inepta quando não é confeccionada da maneira usual ou modelar, desde que contenha os elementos necessários acima delineados, e possibilite a ampla defesa do denunciado e a visualização dos fatos ocorridos. 90

No que tange a semelhança de funções de Procurador atuante na Justiça

Desportiva e a de Promotor do Ministério Público, Paulo Schmitt faz a seguinte

colocação:

A procuradoria junto aos órgãos judicantes pertencentes à Justiça Desportiva guarda inegável similitude com o Ministério Público, função essencial à Justiça; e exerce um munus similar ao exercido pelo Ministério Público na defesa da ordem jurídica. Esta quase identidade de atribuições entre Ministério Público e procuradoria dos tribunais desportivos é explorada por Marcílio Krieger (in Comentários ao CBDF, p. 14): ‘A Procuradoria, na Justiça Desportiva, é quem toma a iniciativa para que o processo se concretize – e o faz através da denúncia. É o órgão a quem incumbe intentar a ação penal/disciplinar correspondente à infração praticada, promovendo os termos acusatórios necessários. Compete-lhes,

89 DECAT, Scheyla Althoff. Direito Processual Desportivo. p. 35. 90 SCHMITT, Paulo Marcos. A Polêmica da Utilização de Imagens na Justiça Desportiva. Disponível em: <http://justicadesportiva.uol.com.br/artigo.asp?id=2298>. Acesso em 21 outubro 2009.

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igualmente, promover a fiscalização da execução das disposições legais e infralegais aplicáveis ao futebol. 91

2.7.2 Da Defesa

O exercício da função de defensor está prevista no art. 29 e seguintes do

Código Brasileiro de Justiça Desportiva:

Art. 29 Qualquer pessoa maior e capaz poderá funcionar como defensor, observados os impedimentos legais. Art. 30 A declaração formalizada pela parte habilita o defensor a intervir no processo, até o final e em qualquer grau de jurisdição, podendo as entidades de administração do desporto e de prática desportiva credenciar defensores para atuar em seu favor, de seus dirigentes, atletas e outras pessoas que lhes forem subordinadas, salvo quando colidentes os interesses. Parágrafo único. Ainda que não colidentes os interesses, é lícita a qualquer das pessoas mencionadas neste artigo à nomeação de outro defensor. Art. 31 O menor de 18 (dezoito) anos que não tiver defensor será defendido por pessoa designada pelo Presidente do órgão judicante. Art. 32. Os presidentes do STJD e do TJD poderão nomear advogados ou estagiários regularmente inscritos na OAB para o exercício da função de defensor dativo.

A questão da atuação da defensoria na Justiça Desportiva é um tanto quanto

controvertida na doutrina, em decorrência da não disposição em lei da exigência de

advogado regularmente inscrito na OAB. De um lado, doutrinadores sustentam que

“[...] a exigência de advogado poderia criar obstáculo ao direito de defesa, dada a

peculariedade do procedimento no meio jurídico-desportivo, diametralmente oposto

ao processo judicial.” 92

Em contrapartida,

[...] há parte da doutrina jurídico-desportiva que ressalta a aplicação do devido processo legal como suporte principiológico definitivo para

91 SCHMITT, Paulo Marcos, Curso de Justiça Desportiva. p. 100. 92 SCHMITT, Paulo Marcos. Curso de Justiça Desportiva. p. 102.

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exigir a participação obrigatória de advogados no exercício da função de defensor no âmbito da Justiça Desportiva. 93

Nesse sentido, Decat faz severas críticas ao artigo 29 do CBJD:

Considero frágil o mencionado dispositivo, uma vez que o legislador não atentou para o fato de que o defensor, necessariamente, para atuar junto aos Tribunais Desportivos, deve possuir um considerável conhecimento técnico-jurídico da matéria. Ter apenas o conhecimento jurídico não basta, faz-se necessário conhecer das normas e regras da modalidade em que vai atuar. Que me desculpe o legislador, “qualquer pessoa maior e capaz não estará apta a funcionar como defensor”, haja vista que até para os operadores profissionais do direito que militam na área desportiva demanda um estudo aprofundado da matéria a fim de suprir certas dificuldades. Pelo conhecimento da matéria, um defensor muitas vezes pode prejudicar irremediavelmente a parte. 94

Para que o defensor possa intervir no processo desportivo, o mesmo deve

estar habilitado por declaração formalizada da parte, conforme previsão do art. 30,

do CBJD, já citado anteriormente.

Schmitt explica:

Segundo a redação atual do CBJD, a habilitação de defensor para intervenção no processo depende de declaração formalizada pela parte, podendo, as entidades de administração do desporto e de prática desportiva, credenciar defensores para atuar em seu favor, de seus dirigentes, atletas e outras pessoas que lhes forem subordinadas, salvo quando colidentes os interesses, ressalvada a possibilidade de nomeação, nesse último caso, de novo defensor. 95

Cumpre ainda ressaltar, nos casos que estejam envolvidos menores de 18

anos, o Presidente dos órgãos judicantes poderá nomear defensor quando não tiver

conforme previsão do art. 31, do CBJD. Bem como, nos casos de necessidade de

defensoria dativa, os Presidentes do STJD e do TJD poderão nomear advogados ou

estagiários inscritos na OAB como defensores, segundo prescreve o art. 32, do

CBJD, ambos os artigos já citados anteriormente. 96

93 SCHMITT, Paulo Marcos. Curso de Justiça Desportiva. p. 102. 94 DECAT, Scheyla Althoff. Direito Processual Desportivo. p. 36-37. 95 SCHMITT, Paulo Marcos. Curso de Justiça Desportiva. p. 102. 96 SCHMITT, Paulo Marcos. Curso de Justiça Desportiva. p. 102.

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2.7.3 Da Secretaria

Cada órgão judicante da Justiça Desportiva dispõe de uma Secretaria, cujas

atribuições estão especificadas no art. 23 e incisos do CBJD, in verbis:

Art. 23 São atribuições da Secretaria, além das estabelecidas neste Código e no regimento interno do respectivo órgão judicante: I -receber, registrar, protocolar e autuar os termos da denúncia, queixa e outros documentos enviados ao órgão judicante e encaminhá-los, imediatamente, ao presidente do respectivo tribunal (STJD ou TJD), para determinação procedimental; II -convocar os auditores para as sessões designadas, bem como cumprir os atos de citações e intimações das partes, testemunhas e outros, quando determinados; III - atender a todos os expedientes do órgão judicante; IV- prestar às partes interessadas as informações relativas ao andamento dos processos; V - ter em boa guarda, todo o arquivo da secretaria constante de livros, papéis e processos; VI -expedir certidões por determinação do presidente; VII- receber, protocolar e registrar os recursos interpostos.

Sobre as atividades desempenhadas pelas Secretarias dos Tribunais da

Justiça Desportiva, comenta Paulo Schmitt:

As atividades mais comum de Secretaria recai sobre execução cartorial dos atos e termos processuais, que vai desde o simples recebimento e encaminhamento de documentos até o registro, autuação e realização material de atos processuais como atas, decisões, citações, intimações e etc., sendo, do mesmo modo, responsável também por questões de ordem administrativa das instâncias desportivas. 97

No presente Capitulo foi demonstrado a estrutura da Justiça Desportiva, sua

finalidade, competência e atribuições, o rito processual e os aspectos da acusação e

da defesa.

97 SCHMITT, Paulo Marcos. Curso de Justiça Desportiva. p. 103.

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3. DOS JULGAMENTOS E DOS MEIOS DE PROVA

O terceiro capitulo tem o objetivo de relatar a pesquisa realizada sobre os

julgamentos da Justiça Desportiva brasileira, e os meios de provas que podem ser

utilizados para o convencimentos dos auditores.

3.1 Dos Julgamentos

“Sessão de instrução e julgamento é ato uno, complexo e público (exceção –

motivos de segurança), inserido no procedimento processual”. 98

O Código Brasileiro de Justiça Desportiva trás em seu Capítulo III “Da

sessão de Instrução e Julgamento, e dispõe em seus arts. 120 e seguintes, sobre o

rito processual e o julgamento dos processos instaurados na esfera desportiva, mais

especificamente, no futebol brasileiro.

98 SCHMITT, Paulo Marcos (cood). Código Brasileiro de Justiça Desportiva Comentado. p. 150.

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Em relação ao desenvolvimento das sessões de instrução e julgamento,

Decat explica:

Com a conclusão do processo, a Secretaria do órgão judicante o incluirá em pauta de julgamento, seguindo uma ordem numérica dos processos, tendo a de Mandado de Garantia, quando a sessão for realizada no Tribunal de Justiça Desportiva ou no Superior Tribunal de Justiça Desportiva. 99

Para que a sessão de instrução e julgamento seja aberta, o Presidente

deverá verificar se há quorum, exigindo-se a maioria simples, ou seja, a presença de

no mínimo três auditores nas Comissões Disciplinares e cinco nos TJDs e no

STJDs. Não havendo a presença do mínimo exigido, a sessão será adiada, sendo

remarcada outra sessão o mais breve possível.100

Todavia, em caso de não comparecimento do auditor relator, Decat discorre:

No caso da impossibilidade de comparecimento do auditor relator designado para o feito e para evitar o adiamento do julgamento, o processo poderá ser redistribuído a outro auditor presente a sessão que se julgue apto a proceder com relatório, julgando-o na mesma sessão. 101

No que tange a publicidade das sessões, a regra é que devem ser públicas,

havendo exceções por motivo de ordem e a critério do Presidente do órgão

judicante, conforme expõe Paulo Schmitt:

Em regra, as sessões devem ser públicas, Isto é, permite-se a presença de todos e qualquer espectador. Cabe ao Presidente do Órgão manter a ordem e o decoro durante a audiência e, portanto, compete a ele ordenar a retirada daqueles que se comportarem inconveniente ou, em sendo necessário, requisitar a força policial. Entretanto, em casos mais extremos, por razões de ordem ou segurança, cabe ao Presidente determinar que a sessão seja realizada ‘a portas fechadas’, sempre garantida a presença das partes e seus respectivos representantes legais. 102

99 DECAT, Scheyla Althoff. Direito Processual Desportivo. p. 88. 100 SCHMITT, Paulo Marcos (cood). Código Brasileiro de Justiça Desportiva Comentado. p. 151. 101 DECAT, Scheyla Althoff. Direito Processual Desportivo. p. 89. 102 SCHMITT, Paulo Marcos. Curso de Justiça Desportiva. p. 169.

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Havendo quorum, a sessão de instrução e julgamento será aberta, sendo os

processos colocados a julgamento com observância da ordem cronológica da pauta

preestabelecida, esta é a regra. Contudo, haverá exceção, tendo prioridade os

processos em que a partes se encontrarem presentes e, principalmente aquelas que

residirem fora da sede do órgão judicante. 103

A fase instrutória inicia-se com a produção de provas, sendo indagado

primeiramente a Procuradoria quanto as provas que pretende produzir e em seguida

a Defensoria. As provas deferidas serão apresentadas na seguinte ordem:

documental, cinematográfica, fonográfica, depoimento pessoal, testemunhal e outras

pertinentes ao caso concreto. 104

Concluída a fase instrutória, Paulo Schmitt explica:

Finda a instrução, o Presidente concede a palavra para o Procurador e, posteriormente, ao Defensor, para que aduzam suas razões finais. O prazo é de 10 (dez) minutos para cada uma das partes. Na hipótese de dois ou mais denunciados representados pelo mesmo Defensor, dilata-se o prazo para ambas as partes, estipulando-se 15 (quinze) minutos. Se a causa apresentar questão complexa quando aos fatos ou ao direito, o Presidente pode conceder um prazo ainda maior para que as partes realizem suas alegações finais. Concluídos os debates, os auditores devem proferir suas sentenças.105

No entanto, nas questões em que qualquer auditor tiver dúvida antes de

proferir seu voto, poderá pedir vista do processo para exame até a formação de seu

convencimento. Ressalta-se que, se o pedido de vista estiver dentro do prazo

estipulado pelo Presidente, o julgamento do processo se dará na mesma sessão.

Contudo, se for concedido dilação do prazo para vista do auditor, o julgamento será

realizado na sessão subseqüente, em que não poderá ser reiniciada sem a presença

do auditor relator que pediu vistas do processo. 106 Tal entendimento vem

corroborado pelo art. 128 e parágrafos do CBJD.

103 NUNES, Inácio. Novo Código de Justiça Brasileiro Comentado. 1º ed. Rio de Janeiro. Lumen Juris 2004. p. 37. 104 SCHMITT, Paulo Marcos (cood). Código Brasileiro de Justiça Desportiva Comentado. p. 151. 105 SCHMITT, Paulo Marcos. Curso de Justiça Desportiva. p. 170. 106 DECAT, Scheyla Althoff. Direito Processual Desportivo. p. 91.

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Sanadas todas as diligências e esclarecimentos, tendo os auditores

condições de proferirem seus votos, inicia-se o julgamento pelo voto do auditor –

relator, o qual deve apresentar o relatório do processo e esclarecer pontos

controvertidos antes de proferir seu voto. 107

Na seqüência do voto do relator, a lei prevê a seguinte ordem de votação,

conforme Paulo Schmitt discorre:

Após o voto do relator, vota o Vice-Presidente e os demais auditores por antiguidade. Todos os auditores que seguem-se ao relator devem basear seus votos acompanhando ou discordando do voto daquele, podendo aduzir fundamentos eventualmente não explorados, utilizando-se da palavra por, no máximo, duas vezes, inclusive para modificação de seu voto. Isto ocorre porque é plenamente possível que o conteúdo do voto de um auditor possa explorar pontos ou fundamentos que passaram desapercebidos por outro, convencendo-o de tese diversa da adotada inicialmente. 108

Quanto ao Presidente nas sessões de julgamentos, complementa Schmitt:

O Presidente possui o voto de qualidade. Ou seja, quando houver empate na votação, considerado o voto do Presidente, é o seu voto que prevalecerá. A redação do art. 131 pode conduzir o equívoco na sua interpretação, ao partir-se da premissa, por exemplo, de que existindo duas condenações (incluída a do Presidente) e duas absolvições, a decisão penderia para o voto de absolvição (mais favorável ao denunciado). Tal não é verdade, pois o dispositivo codificado apenas determina, quando da imposição de pena disciplinar, que seja considerada mais branda a penalidade de multa em relação a pena de suspensão.109

Após apurados os votos e proclamado o resultado da decisão nos processos

disciplinares, em regra os efeitos da decisão terão aplicação no dia imediato,

independentemente da sua publicação ou presença das partes e seus defensores,

quando comprovadamente intimados para a sessão de julgamento, conforme dispõe

o art. 133 do CBJD.

107 SCHMITT, Paulo Marcos (cood). Código Brasileiro de Justiça Desportiva Comentado. p. 152-153. 108 SCHMITT, Paulo Marcos. Curso de Justiça Desportiva. p. 171. 109 SCHMITT, Paulo Marcos (cood). Código Brasileiro de Justiça Desportiva Comentado. p. 153.

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3.2 Dos Recursos

Para Decat, recurso é definido com um meio de se obter uma nova avaliação

da decisão, a fim de sanar qualquer controvérsia ou vício que por acaso possa

haver, sendo apreciado pelo mesmo órgão ou por outro hierarquicamente

superior.110

Schmitt conceitua o recurso:

Recurso é o meio de impugnação às decisões judiciais, visando (i) a reforma, mediante o alcance de solução diversa da adotada originariamente, (ii) o esclarecimento, solucionando pontos obscuros da sentença ou, (iii) a invalidação, através da anulação de uma decisão, tendo em vista a presença de vícios ou defeitos em um ato, ou no processo como um todo. Trata-se de instrumento que possibilita o reexame das decisões prolatadas em instâncias de jurisdição inferior (a quo) 111

Para interpor recurso exige-se o cumprimento dos pressupostos

processuais, que podem ser objetivos e subjetivos. Os pressupostos objetivos são:

cabimento, adequação, tempestividade, regularidade, preparo, fatos impeditivos,

fatos extintivos e os pressupostos subjetivos: interesse jurídico, legitimidade. 112

Dentre os pressupostos de admissibilidade do recurso, destaca-se a

legitimidade e o preparo. No que tange ao pressuposto da legitimidade, poderão

interpor recursos apenas os legitimados descritos no art. 137, e parágrafo único do

CBJD.

Sobre a legitimidade do terceiro interessado, discorre Decat:

No recurso de terceiro interessado existem certas peculiaridades, como no que se refere à forma ou à modalidade de intervenção de terceiro. Pode-se dizer que se equivale ao assistente para todos os

110 DECAT, Scheyla Althoff. Direito Processual Desportivo. p. 98. 111 SCHMITT, Paulo Marcos. Curso de Justiça Desportiva. p. 177. 112 DECAT, Scheyla Althoff. Direito Processual Desportivo. p. 101-102

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efeitos. Só não poderá funcionar como assistente da Procuradoria nos casos de queixa [...]. 113

O preparo consiste no recolhimento dos emolumentos devidos, sendo

exigência a prova do pagamento quando da interposição do recurso, sob pena de

deserção, conforme preceitua o § 1º do art. 138.

No âmbito da Justiça Desportiva, quando da instituição do Código Brasileiro

de Justiça Desportiva pela Resolução CNE n. 1 de 23.12.2003, estavam previstos

dois tipos de recursos: o necessário e o voluntário. Entretanto, os dispositivos que

tratavam do recurso necessário, foram revogados com as modificações que o CBJD

sofreu com a Resolução n. 11 de 29.03.2006. 114

Apesar de revogado, convém ressaltar sobre o recurso necessário, conforme

colação de Paulo Schmitt:

O recurso necessário ou ex-offício, é uma forma obrigatória de recurso, consoante hipóteses de incidência exaustivamente previstas em Código que, normalmente, decorrem da gravidade das infrações, penas cominadas ou condenação de pessoas de elevada hierarquia funcional na esfera das competições desportivas, casos em que o presidente do tribunal deve necessariamente remeter o processo para o reexame do tribunal em instância superior. 115

O recurso voluntário está previsto no art. 146 do CBJD:

Art. 146 Ressalvados os casos previstos neste Código, cabe recurso voluntário de qualquer decisão dos órgãos da Justiça Desportiva, salvo decisões do STJD, as quais são irrecorríveis.

O recurso voluntário tem cabimento sob todas as decisões em que não

existam recursos específicos ou obrigatórios, e consiste em devolver a matéria à

instância superior competente para reexame no todo ou em parte. 116

Decat fala sobre o recurso voluntário:

113 DECAT, Scheyla Althoff. Direito Processual Desportivo. p. 103. 114 DECAT, Scheyla Althoff. Direito Processual Desportivo. p. 105. 115 SCHMITT, Paulo Marcos. Curso de Justiça Desportiva. p. 182. 116 SCHMITT, Paulo Marcos. Curso de Justiça Desportiva. p. 183.

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Caberá recurso voluntário de qualquer decisão dos órgãos da Justiça Desportiva, salvo o previsto no § 1º do art. 136 do CBJD, que estabelece que as decisões do Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) são irrecorríveis, e no seu § 2º com nova redação dada pela resolução CNE n. 11 de 29.3.2006, que preceitua que “igualmente irrecorríveis as decisões do Tribunal de Justiça Desportiva (TJD) que impuserem multa até R$ 1.000,00 (mil reais)”. Poderão interpor recurso voluntário: o punido, a parte vencida, o terceiro interessado e a Procuradoria que não poderá desistir do recurso interposto.117

Apesar da ausência de previsão legal no CBJD, outro recurso cabível

perante os Tribunais Desportivos são os Embargos de Declaração, como discorre

Schmitt:

Inicialmente, convém destacar que os chamados embargos declaratórios são tratados pela codificação desportiva em geral, à exceção do CBJD, como espécie de recurso a ser intento junto a instância que proferiu a decisão. Já no CBJD, podem ser admitidos desde requeridos com fundamento no parágrafo 3º. do seu art. 9º. e consoante procedimento especial previsto pelo art. 119 (Demais Medidas), conquanto ausente sua previsão como espécie de recurso.118

Os embargos declaratórios tem a finalidade de possibilitar as partes postular

ao tribunal que proferiu a decisão, o esclarecimento de pontos obscuros,

complementação de partes omitidas ou reparar contradições existentes. 119

Os recursos na Justiça Desportiva poderão ser recebidos nos efeitos

devolutivo ou suspensivo. Em regra, os recursos são recebidos no efeito devolutivo,

sendo possível o recebimento pelo efeito suspensivo, quando houver previsão legal,

conforme preceitua o art. 147 do CBJD:

Art. 147 O recurso não terá efeito suspensivo, salvo quando houver previsão legal, ou concedido nos termos do disposto no inciso XII do artigo 9º do presente Código.

Nesse sentido, discorre Paulo Schmitt:

117 DECAT, Scheyla Althoff. Direito Processual Desportivo. p. 107 118 SCHMITT, Paulo Marcos. Curso de Justiça Desportiva. p. 186. 119 SCHMITT, Paulo Marcos. Curso de Justiça Desportiva. p. 186.

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Como regra, os recursos na Justiça Desportiva devem ser recebidos no efeito devolutivo, a não ser que exista expressa previsão legal para que lhe seja atribuído o efeito suspensivo. O efeito devolutivo consiste na transferência da matéria analisada em primeira instância para que o tribunal superior possa tomar conhecimento dos fatos que são objetivo do recurso, não havendo que se falar em inaplicabilidade ou suspensão da pena quando se interpuser um recurso, ou seja, a pena deve ser cumprida até que se reanalise o caso. Já suspensividade (efeito suspensivo) é caracterizada pela impossibilidade de produção dos efeitos de uma decisão, até que o recurso seja julgado. 120

Sobre o recurso suspensivo Decat expõe:

Pela concessão do efeito suspensivo a um recurso interposto, a decisão não poderá ser executada até que ocorra o seu julgamento final. Funciona como condição suspensiva de eficácia da decisão, esta concedida nos termos do inciso XII do art. 9º do CBJD que dispõe: “conceder efeito suspensivo a qualquer recurso, em decisão fundamentada, quando a simples devolução da matéria possa causar prejuízo irreparável ao recorrente.” 121

Os recursos podem ter sua cessação antecipada em dois casos: a deserção,

quando o recurso não está com o seu preparo adequado; e a desistência, ou seja,

quando o recorrente manifesta a vontade de que o recurso não seja julgado,

podendo fazer desistir a qualquer tempo. 122

O procedimento de julgamento dos recursos está descrito nos arts. 148 e

seguintes do CBJD:

Paulo Schmitt explica a diferença entre o julgamento da primeira instância e

a do recurso:

O procedimento de julgamento dos recursos é diferenciado do julgamento em primeira instância, caracterizando-se notadamente pela inexistência de uma fase instrutória. Como regra, não é admitida a inovação no conteúdo probatório, entretanto, as provas produzidas na instância a quo podem ser produzidas em grau de recurso. 123

120 SCHMITT, Paulo Marcos. Curso de Justiça Desportiva. p. 184. 121 DECAT, Scheyla Althoff. Direito Processual Desportivo. p. 105. 122 DECAT, Scheyla Althoff. Direito Processual Desportivo. p. 109. 123 SCHMITT, Paulo Marcos. Curso de Justiça Desportiva. p. 185.

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3.3 Meios de Provas na Justiça Desportiva

Para Decat, “prova é o instrumento por meio do qual se forma a convicção

dos auditores julgadores a respeito da ocorrência ou inocorrência de uma infração

disciplinar”. 124

Sobre a importância das provas no processo desportivo, comenta Schmitt:

Toda a pretensão está ligada a algum fato ou fatos em que se fundamenta. Aquele que pretende em juízo deve demonstrar a ocorrência do fato e dela extrair conseqüências jurídicas, de onde resulta o pedido. As afirmações do fato feitas pelas partes podem corresponder ou não à verdade. Normalmente, estas afirmações feitas pelas partes demonstram fatos diferentes ou conseqüências jurídicas opostas. As questões de fato devem ser decididas pelos auditores, que devem ter em vista as provas dos fatos ocorridos apresentadas as partes. Portanto, a prova no processo desportivo, deve ser compreendida como instrumento pelo qual as partes buscam convencer os auditores sobre a ocorrência ou não de fatos relevantes e controversos no processo. 125

Os meios de provas admitidas no processo desportivo estão estabelecidos

no CBJD, em artigos 56 e seguintes:

Art. 56 Todos os meios legais, bem assim os moralmente legítimos, ainda que não especificados neste Código, são hábeis para provar a verdade dos fatos alegados no processo desportivo. Art. 57 A prova dos fatos alegados no processo desportivo caberá à parte que a requerer, arcando esta com os eventuais custos de sua produção. Parágrafo único. Independem de prova os fatos: I -notórios; II - alegados por uma parte e confessados pela parte contrária; III -que gozarem da presunção de veracidade.

124 DECAT, Scheyla Althoff. Direito Processual Desportivo. p. 61. 125 SCHMITT, Paulo Marcos. Curso de Justiça Desportiva. p. 124-125.

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Os auditores devem ter suas convicções estabelecidas, de acordo com as

provas juridicamente admissíveis, sendo elas: depoimento pessoal, prova

documental, exibição de documento ou coisa, prova testemunhal, por meios

audiovisuais, prova pericial e inspeção.126

126 DECAT, Scheyla Althoff. Direito Processual Desportivo. p. 62-63.

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3.3.1 Súmula

O CBJD prevê em seu artigo 58, e §1º, a utilização das súmulas como meio

de prova moralmente aceito, gozando de presunção relativa de veracidade, a não

ser que sejam descaracterizadas por outros meios de provas utilizadas no processo.

Art. 58 A súmula e o relatório dos árbitros, auxiliares e representantes da entidade ou aquele que lhes faça as vezes, gozarão da presunção relativa de veracidade. § 1º A presunção de veracidade contida no caput deste artigo servirá de base para a formulação da denúncia pela procuradoria ou como meio de prova, não constituindo verdade absoluta. § 2º Quando houver indício de infração praticada pelas pessoas referidas no caput, não se aplica o disposto neste artigo.

Paulo Schmitt aprofunda:

Súmulas são documentos oficiais que resumem dados técnicos de partidas, provas ou equivalente das mais variadas modalidades esportivas. O conteúdo desse breve resumo varia de modalidade para modalidade, mas algumas informações são comuns como a identificação da competição (evento, data, horário, local, equipes, participantes, etc.), relação nominal de atletas titulares suplentes, arbitragem, dirigentes, substituições, penalidades técnicas (advertências, expulsões, etc.), e informação de performance (placar, gols, pontos, cestas, tempo, recordes, etc.). 127

3.3.2 Depoimento Pessoal

O depoimento pessoal está previsto no CBJD, em seu art. 60 e parágrafos:

Art. 60 O Presidente do órgão judicante pode, de ofício, ou a requerimento da procuradoria ou da parte interessada, determinar o comparecimento pessoal da parte a fim de ser interrogada sobre os fatos da causa.

127 SCHMITT, Paulo Marcos. Curso de Justiça Desportiva. p. 126.

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§ 1º O depoimento pessoal deve ser, preferencialmente, tomado no início da sessão de instrução e julgamento. § 2º A parte será interrogada na forma determinada para inquirição de testemunhas.

Sobre a importância da utilização do depoimento pessoal, como meio de

prova, Decat alega:

Uma das principais provas no processo desportivo é o depoimento da parte a quem está sendo imputada a prática de uma infração disciplinar. É o momento em que o denunciado exercerá o seu direito de defesa e quando sustentará, oralmente, as razões por que improcedem os fatos narrados na súmula da competição, partida ou equivalente, ou na queixa que motivou a sua denuncia. Ao mesmo tempo, se os fatos forem verídicos, poderá alegar quais foram os motivos que o levaram a prática de um ato antidesportivo. Para tanto, é de suma importância a citação do denunciado, a fim de que tome ciência dos fatos. Trata-se, in casu, de um ato personalíssimo, não sendo admitido sequer um procurador com poderes expressos para prestar o depoimento em nome da parte. O depoimento pessoal pode ser determinado de ofício pelo Presidente do Tribunal ou da Comissão Disciplinar ou a pedido da Procuradoria ou da parte interessada. Deverá ser tomado no início da sessão de instrução e julgamento e será feito pelo auditor relator do processo diretamente ao denunciado, não sendo permitida a intervenção por parte de seu defensor. 128

O depoimento pessoal no começo da sessão não é obrigatório, porém

sempre que for possível, é preferível logo de início. É muito difícil que esta ordem de

depoimento seja seguida, por causa da característica da Justiça Desportiva.

Entretanto, caso aconteça à inversão não gera qualquer nulidade.129

Paulo Schmitt explica como o depoimento tem que ser seguido:

a) quanto ao acusado/denunciado – deve ser inquirido sobre seu nome, idade e atividade que exerce nas competições (atleta, técnico, árbitro, dirigente etc. ). Deve ser lida e, havendo necessidade, explicada a acusação. Após, perguntado se conhece o ofendido, se houver, e as testemunhas. Em seguida se é verdadeira a acusação que lhe foi imputada. Finalmente, demais fatos que digam respeito e sejam relevantes para a causa.

128 DECAT, Scheyla Althoff. Direito Processual Desportivo. p. 63-64. 129 SCHMITT, Paulo Marcos (cood). Código Brasileiro de Justiça Desportiva Comentado. p. 90.

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b) quanto ao ofendido – deve ser também perguntado sobre seu nome, idade e atividade que exerce nas competições. Posteriormente segue a advertência do falso testemunho (art. 222). Após, questiona-se acerca das circunstâncias da infração e sabe quem foi o autor. Em seguida, demais fatos relevantes c) quanto às testemunhas – nome, idade e atividade que exerce na competições (se exercer). Ato contínuo, adverte-se acerca do falso testemunho, deferindo-lhe o competente compromisso legal. Após, questiona-se acerca dos fatos inerentes ao caso. 130

3.3.4 Prova Documental

A utilização da prova documental está prevista no art. 61, do CBJD: “Art. 61.

Compete à parte interessada produzir a prova documental que entenda necessária”.

A competência para produzir a prova documental é da parte interessada,

quando esta entenda ser necessário. Pode ainda solicitar exibição de documento ou

de coisas que não tenha acesso ou não disponha. Sendo assim faz se necessário a

sua requisição para que se possam apurar os fatos. 131

Para as provas documentais serem exibidas, sua realização deve ser no

final da fase de instrução. Pois, o processo segue uma seqüência lógica até chegar

ao seu objetivo. Não é possível, que após iniciada a votação alguma parte pretenda

produzir provas. 132

Paulo Schmitt expõe:

Finalmente tendo em vista o princípio do contraditório, sempre que documentos sejam apresentados e juntados aos autos, o Presidente deve facultar as partes que se manifestem acerca do mesmo. Por exemplo: a Procuradoria apresenta o relatório e a súmula com a denúncia. Entretanto, toma contato posterior com um documento novo e importante para a causa. Assim, o Procurador apresenta o referido documento no início da sessão de instrução e julgamento, pedindo a sua juntada. O Presidente, concedendo a juntada,

130 SCHMITT, Paulo Marcos. Curso de Justiça Desportiva. p. 128. 131 DECAT, Scheyla Althoff. Direito Processual Desportivo. p. 64. 132 SCHMITT, Paulo Marcos. Curso de Justiça Desportiva. p. 128.

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permitirá que a parte contrária se manifeste, em momento oportuno, acerca da prova produzida. 133

3.3.5 Da Exibição de Documentos ou Coisas

A utilização da prova exibição de documentos ou coisas está prevista no art.

62, do CBJD: “Art. 62. O Presidente do órgão judicante poderá ordenar, de ofício ou

a requerimento motivado da parte, a exibição de documento ou coisa necessária à

apuração dos fatos”.

Quando houver a necessidade de apresentação de um documento ou coisa,

e que esteja com pessoas vinculadas ao evento, o Presidente poderá ordená-la. O

expediente poderá ser requerido de ofício pelo Presidente ou requerido pelas partes.

Sendo de interesse da parte, deve-se requer ao Presidente, especificando

precisamente o documento ou a coisa que almeja ser exibida e a razão de sua

apresentação. O Presidente desta hipótese irá analisar o requerimento para ver se

defere ou não o pedido, levando em conta o interesse do documento ou coisa para o

deslinde da causa. 134

Decat expõe os requisitos para o pedido:

1. a individualização completa do documento ou da coisa requerida; 2. mencionar a finalidade da prova, apontando os fatos que se relacione com o documento ou com a coisa; 3. dizer quais as circunstâncias que se funda a parte requerente para afirmar que a documentação ou a coisa pretendida existe e que está em poder de terceiro. 135

133 SCHMITT, Paulo Marcos (cood). Código Brasileiro de Justiça Desportiva Comentado. p. 92. 134 SCHMITT, Paulo Marcos. Curso de Justiça Desportiva. p. 129. 135 DECAT, Scheyla Althoff. Direito Processual Desportivo. p. 64.

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3.3.6 Prova Testemunhal

A utilização da prova testemunhal, está prevista nos art.s 63 e seguintes, do

CBJD:

Art. 63 Toda pessoa pode servir como testemunha, exceto o incapaz, o impedido ou o suspeito, assim definidos na lei. § 1º A testemunha assumirá o compromisso de bem servir ao desporto, de dizer a verdade sobre o que souber e lhe for perguntado, devendo qualificar-se e declarar se tem parentesco ou amizade com as partes. § 2º Quando o interesse do desporto o exigir, o órgão judicante ouvirá testemunha incapaz, impedida ou suspeita, mas não lhe deferirá compromisso e dará ao seu depoimento o valor que possam merecer. Art. 64 Incumbe à parte, até o início da sessão de instrução e julgamento, apresentar suas testemunhas. § 1º É permitido a cada parte apresentar, no máximo, 3 (três) testemunhas. § 2º Nos processos com mais de 3 (três) interessados, o número de testemunhas não poderá exceder a nove 9 (nove). § 3º As testemunhas deverão comparecer independentemente de intimação, salvo nos casos previstos nos procedimentos especiais. § 4º É vedado à testemunha trazer o depoimento por escrito, ou fazer apreciações pessoais sobre os fatos testemunhados, salvo quando inseparáveis da respectiva narração. § 5º Os auditores diretamente, a procuradoria e as partes por intermédio do presidente, poderão reinquirir as testemunhas. § 6º O relator ouvirá as testemunhas separada e sucessivamente; primeiro, as da procuradoria e, em seguida, as das partes, providenciando para que uma não ouça os depoimentos das demais.

Fica a critério da parte apresentar na sessão de instrução e julgamento, as

testemunhas que pretende ouvir, não podendo passar de nove. 136

Schmitt explica:

As partes que pretendem apresentar testemunhas para prestar depoimento devem arrolá-las em uma lista a ser entregue ao órgão judicante. Esta lista (rol) deve conter o nome das testemunhas, sua idade, profissão e atividade exercida no evento. O prazo para entrega do rol de testemunhas finda com o início da produção de provas durante a sessão de instrução e julgamento.137

136 DECAT, Scheyla Althof. Direito Processual Desportivo. p. 65. 137 SCHMITT, Paulo Marcos. Curso de Justiça Desportiva. p. 129.

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As testemunhas são indagadas pelo auditor relator, a Procuradoria e as

partes ou seus defensores fazem suas perguntas através do Presidente da sessão.

As testemunhas arroladas primeiro são a testemunhas da Procuradoria e após as

testemunhas da parte, as testemunhas devem ser ouvidas separadamente, não

podendo ouvir uma o depoimento da outra. 138

3.3.7 Prova Pericial

A utilização da prova pericial está prevista no art. 68 e seguintes, do CBJD:

Art. 68 A prova pericial consiste em exame e vistoria. Parágrafo único. O Presidente do órgão judicante indeferirá a produção de prova pericial quando: I -o fato não depender do conhecimento especial de técnico; II -for desnecessária em vista de outras provas produzidas ou passíveis de produção; III -for impraticável; IV -for requerida com fins meramente protelatórios. Art. 69 Deferida a prova pericial, o presidente do órgão judicante nomeará perito, formulará quesitos e fixará prazo para apresentação do laudo. § 1º É facultado às partes indicar assistente técnico e formular quesitos, no prazo de 24 (vinte e quatro) horas. § 2º A nomeação de perito deverá recair sobre pessoa com qualificação técnica comprovada. (ALTERADO) § 3º O prazo para conclusão do laudo será de 48 (quarenta e oito) horas, podendo o presidente prorrogá-lo a pedido do perito, em casos excepcionais.

A prova pericial só será deferida quando o exame de fatos probante,

depender de um conhecimento técnicos ou especiais e quando for de utilidade,

diante dos dados que já estão disponíveis e apresentados para exame. 139

Paulo Schmitt enfatiza:

138 DECAT, Scheyla Althoff. Direito Processual Desportivo. p. 65. 139 DECAT, Scheyla Althoff. Direito Processual Desportivo. p. 66.

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A perícia pode ser requerida pelas partes, pelos auditores ou pelo Presidente, de ofício. Como se vê, a realização da prova pericial consubstancia-se em direito da parte e só pode segada pelo Presidente nas Hipóteses do art. 68, parágrafo único. 140

O perito será intimado no prazo de 48 horas, para poder apresentar o laudo,

depois de 24 horas é conferido as partes indicar um assistente técnico.141

3.3.8 Inspeção

A utilização da prova de inspeção está prevista no art. 70, do CBJD:

Art. 70 O presidente do órgão judicante, de ofício, a requerimento da procuradoria ou da parte interessada, poderá promover a realização de inspeção, a fim de buscar esclarecimento sobre fato que interesse à decisão da causa. Art. 71 Concluída a inspeção, o presidente mandará lavrar auto circunstanciado, mencionando nele tudo quanto for útil ao julgamento da causa.

Decat explica sobre a possibilidade legal de se utilizar a inspeção como meio

de prova nos processos da esfera desportiva.

Existem determinados fatos que somente podem ser comprovados através da realização de uma investigação. Diante dessa circunstâncias, o Presidente do órgão judicante, a requerimento da Procuradoria ou da parte interessada, poderá promover a realização de inspeção com intuito de buscar esclarecimentos sobre os fatos que interessam à decisão da questão desportiva. 142

Sempre ocorre a inspeção na presença do Presidente e, na presença dos

demais auditores e partes quando possível, o Presidente irá realizar a inspeção, com

ou sem o auxilio da pessoa habilitada.

140 SCHMITT, Paulo Marcos. Curso de Justiça Desportiva. p. 138. 141 DECAT, Scheyla Althoff. Direito Processual Desportivo. p. 66. 142 DECAT, Scheyla Althoff. Direito Processual Desportivo. p. 66.

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Quando julgar necessário para interpretação dos fatos pertinente à causa, o

Presidente deverá ir ao local para realizar a inspeção; quando a coisa não poder se

apresentar em juízo; ou, se for necessário para a reconstituição dos fatos. 143

Decat enfatiza sobre a finalidade da inspeção:

A inspeção pode ser relacionada: a) A pessoa – verificar as condições de saúde ou as condições que treinam os atletas e os desportistas em geral. b) A coisa – verificar as condições das raias ou azuleijos de determinada piscina. c) A lugares – verificar as condições de um campo de futebol ou de um parque aquático. 144

3.3.9 Os meios Audiovisuais

A utilização dos meios audiovisuais como prova no processo desportivo,

está prevista no art. 65 e seguintes, do CBJD:

Art. 65 As provas fotográficas, fonográficas, cinematográficas, de “vídeo tape” e as imagens fixadas por qualquer meio ou processo eletrônico serão apreciadas com a devida cautela, cabendo à parte que as quiser produzir o pagamento das despesas com as providências que o órgão judicante determinar. Art. 66 As provas previstas no artigo anterior deverão ser requeridas pela parte até o dia anterior ao da sessão de instrução e julgamento, quando serão produzidas. Art. 67 As provas referidas no artigo 65, quando não houver motivo que justifique a sua conservação no processo, poderão ser restituídas, mediante requerimento da parte, depois de ouvida a Procuradoria, desde que devidamente certificado nos autos.

As provas, fotográfica, fonográficas, cinematográficas, de vídeo tape e as

imagens por qualquer meio eletrônico, serão apreciadas com a devida cautela, tendo

que verificar sua procedência, contudo, ficando a cargo da parte que as queiram

produzir, o pagamento das despesas com as providências que o órgão judicante

143 SCHMITT, Paulo Marcos. Curso de Justiça Desportiva. p. 138. 144 DECAT, Scheyla Althoff. Direito Processual Desportivo. p. 66-67.

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determinar, este tipo de prova só pode ser requerida até ultimo dia antes da sessão

de instrução e julgamento. 145

Paulo Schmitt expõe:

Além disso, do ponto de vista formal, para o convencimento motivado dos auditores, importa, reitere-se, que a origem desta modalidade de prova seja mantida incólume. Fitas originadas de gravações clandestinas devem ser, em regra, desconsideradas. Fitas provenientes de gravações editadas devem receber apreciação precavida, especialmente em razão da ausência ou impossibilidade de avaliação de todos os contornos do lance analisado. Assim, em principio, é preferível a adoção de providências para a requisição das provas por intermédio de empresas especializadas por parte dos órgãos judicantes. 146

3.4 Das Gravações Audiovisuais como Prova Documental nos processos

Desportivos em Relação aos Atos Disciplinares

As provas fotográficas, fonográficas, cinematográficas, de vídeo tape e as

imagens por qualquer meio eletrônico, como foi visto no item anterior, poderá ser

admitida como meio de prova no processo desportivo que trate de infração

disciplinar, porém, gozam de presunção relativa de veracidade.

Atualmente, a Procuradoria da Justiça Desportiva, vem levando em

consideração, além das informações constantes nas súmulas e relatórios da

arbitragem, os meios audiovisuais como embasamento para a promoção da

denúncia contra os infratores, visando à manutenção da disciplina e da ordem

desportiva. 147

Contudo, a utilização dos meios audiovisuais como prova, deve ser admitida

apenas para subsidiar questões envolvendo infrações disciplinares.

Nesse sentido, discorre Valed Perry:

145 DECAT, Scheyla Althoff. Direito Processual Desportivo. p. 65. 146 SCHMITT, Paulo Marcos. Curso de Justiça Desportiva. p. 137-138. 147 SCHMITT, Paulo Marcos. A Polêmica da Utilização de Imagens. Disponível em: <http://justicadesportiva.uol.com.br/artigo.asp?id=9972>. Acesso em: 30 outubro 2009.

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A própria FIFA passou a admitir em matéria disciplinar o teipe ou o filme, não só para isentar como também para punir como houve até na Copa do Mundo agressões que não eram vistas pelo Juiz mas se o filme constatava o fato se a FIFA admitia; mas não em matéria de fato. Recentemente até a Federação Portuguesa e a Alemã foram advertidas pela FIFA, por ambas anularem uma partida, por que diante de um vídeo a bola não teria entrado num caso e na outra não teria sido pênalti. A FIFA advertiu a ambas que se elas não modificassem aqueles resultados poderiam sofrer pena de suspensão porque ela não admite em erro de fato do árbitro que se modifique de forma alguma, mas em matéria disciplinar não, ela admite e até ela mesmo usa. 148

Paulo Schmitt prossegue:

No entanto, mesmo diante de imagens, há diversas interpretações sobre o mesmo fato, sendo aconselhável a sua utilização (normalmente televisivas) para análise de infrações propriamente ditas e não para avaliação quanto à aplicação das regras das diversas modalidades, como gols que ultrapassam ou não linhas de meta, impedimentos, penalidades na área, que encerram interpretações mormente destoantes sobre os chamados erros de fato ou de direito. 149

As provas audiovisuais não têm o condão de retirar da arbitragem à

autoridade sob o desfecho das partidas de futebol, mas servem para reconstruir

fatos que podem ensejar infrações disciplinares, não perceptíveis pelo árbitro,

devido à velocidade dos lances nos jogos.

Do ponto de vista estritamente jurídico, não há que se falar em prerrogativa absoluta da arbitragem quanto a decisões definitivas sobre questões de natureza disciplinar. Muito pelo contrário, as normas nacionais asseguram à Justiça Desportiva a competência exclusiva sobre matéria relacionada à competição e à disciplina desportiva (art. 217 CF e art. 50 da Lei 9615/98). E não é apenas o ordenamento pátrio que confere suporte jurídico para tanto. O Código Disciplinar da FIFA – CDF (Edição 2009) [4], por exemplo, ressalva que apesar do árbitro adotar decisões definitivas no transcurso das partidas (art. 72, itens 1 e 2), isso se dá sem prejuízo da competência das autoridades jurisdicionais (art. 72, item 3) que

148 PERRY, Valed. Direito Desportivo. p. 140-141. 149 SCHMITT, Paulo Marcos. A Polêmica da Utilização de Imagens. Disponível em: <http://justicadesportiva.uol.com.br/artigo.asp?id=9972>. Acesso em: 30 outubro 2009.

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podem, inclusive, “retificar erros manifestos em que possa ter incorrido o árbitro ao adotar suas decisões disciplinares” (art. 77, b). Ademais, é incontestável que os árbitros encontram-se relativamente fragilizados perante o avanço tecnológico de transmissão de jogos. A visão humana do campo de jogo é linear, enquanto que os chamados “olhos eletrônicos”, na quantidade de câmeras e ângulos de cobertura televisiva, conseguem captar cenas que jamais um árbitro vislumbraria, notadamente considerando a velocidade que o desporto é praticado na atualidade. 150

Muito embora, serem as súmulas e relatórios da arbitragem considerados

meios de prova, apesar da veracidade relativa, podem embasar a Procuradoria de

Justiça Desportiva na formulação de denúncias. Contudo, independente da

colocação na súmula e nos relatórios da prática de infração disciplinar e, ficando

configurada a transgressão disciplinar, os meios audiovisuais devem ser utilizados

para confirmar ou desconstituir quaisquer parecer do árbitro a respeito da infração.

Sobre o assunto, Valed Perry afirma que:

É comum o uso de taipe para provar que o fato não foi tal como descrito pelo árbitro quando se consegue, porque nem todos os jogos, sobretudo os jogos de menor importância são televisionados, mas o vídeo tem servido muito para contestar os relatórios de árbitros, mesmo porque eles às vezes têm uma visão diferente do lance, não têm possibilidade de ver bem se houve a falta sobre o jogador ou jogada violenta ou as vias de fato, que é a agressão, então o teipe esclarece e os tribunais aceitam sem nenhuma reserva.151

Nesse sentido, Paulo Schmitt comenta sobre a possibilidade de não ter

observado determinada infração, ou pelo seu ângulo de visão, ter visto apenas

relativamente o lance:

Admitir a premissa (equivocada) de que decisões de árbitros são finais inclusive no aspecto disciplinar prejudicaria sobremaneira a mais ampla defesa, pois redundaria, exemplificativamente, na impossibilidade de produção de imagens que provem inexistência de infração e conseqüente absolvição de expulsão decorrente da apresentação de cartão vermelho direto ou no acúmulo de amarelos em uma mesma partida de futebol. E tal circunstância faz parte do

150 SCHMITT, Paulo Marcos. A Polêmica da Utilização de Imagens. Disponível em: <http://justicadesportiva.uol.com.br/artigo.asp?id=9972>. Acesso em: 30 outubro 2009. 151 PERRY, Valed. Direito Desportivo. p. 141.

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dia-a-dia de tribunais desportivos, ou seja, o defensor comparece ao julgamento muitas vezes munido de um vídeo para tentar descaracterizar uma infração anotada em súmula, competindo ao julgador valorar as provas contrapostas nos autos. Pretender engessar a Procuradoria sob o inconsistente argumento de que o vídeo é uma prova inválida para fins de denúncia e se estaria reapitando as partidas é dar um tiro no pé da Defesa. 152

E segue dizendo sobre não serem a súmula do jogo e o seu relatório aceitos

como absolutos e inquestionáveis:

Por tais razões as súmulas gozam de presunção relativa de veracidade não constituindo verdade absoluta e, assim sendo, as questões de natureza disciplinar não podem ser prerrogativas exclusivas dos árbitros, muito pelo contrário, ao árbitro compete aplicar a regra da modalidade conforme a visualização das jogadas. E à Justiça Desportiva é conferida a competência de processar e julgar as infrações disciplinares em Defesa da ética e moralidade do desporto. Mesmo porque os árbitros e auxiliares ainda que próximos dos lances não dispõem do mesmo nível de percepção que acabam captando as câmeras de vídeo. O que interessa, portanto, é saber se ocorreu uma agressão, ato de hostilidade, deslealdade, jogada violenta, ou seja, um determinado desvalor de conduta previsto nos mais de 90 tipos infracionais do CBJD, e não se o árbitro aplicou corretamente os cartões, amarelo ou vermelho. Inexiste, portanto, dupla punição a uma mesma situação fática porque uma decorre de normas específicas da modalidade (cartões vermelhos ou acúmulos de amarelos – impedimento automático), e outra advém da aplicação do código disciplinar podendo, inclusive, ocorrer até mesmo a detração ou compensação. 153

3.5 Dos riscos Inerentes à utilização das gravações Audiovisuais como Prova

Principal nos Processos Desportivos

152 SCHMITT, Paulo Marcos. A Polêmica da Utilização de Imagens. Disponível em: <http://justicadesportiva.uol.com.br/artigo.asp?id=9972>. Acesso em: 30 outubro 2009. 153 SCHMITT, Paulo Marcos. A Polêmica da Utilização de Imagens. Disponível em: <http://justicadesportiva.uol.com.br/artigo.asp?id=9972>. Acesso em: 30 outubro 2009.

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Apesar de serem os meios audiovisuais admitidos no processo desportivo

como meio de prova, o Código Brasileiro de Justiça Desportiva, ao mesmo tempo

em que prevê tal situação, determina que a prova deve ser apreciada com cautela.

Nesse sentido, discorre o advogado, especialista em Direito Desportivo,

Domingos Moro:

Por mais que se admita a possibilidade de uma imagem embasar uma denúncia, ela nunca terá o condão verdade absoluta – falar por si própria, devendo, forçosamente, ser analisada por julgadores que balancearão o fato, os argumentos de defesa, a intenção, a gravidade, a extensão e a repercussão desportiva.154

Henrique Domenici, presidente da Primeira Comissão Disciplinar do STJD

do Futebol, ao analisar a utilização das imagens de televisão, outras fontes

audiovisuais, se posiciona que tais fontes não devem, igualmente aos outros meios

de prova, ser considerado com a certeza do fato disciplinar ocorrido. Segundo ele:

[...] apesar de derivar de uma imagem, a denúncia feita com base em prova de vídeo não poderá jamais trazer em si a certeza de um resultado condenatório, sob pena de, assim o fazendo, comprometermos de vez e irremediavelmente o nosso sistema que, por sua vez, bom ou ruim, não importa, é o que existe de mais refinado em termos de um julgamento. Se o sistema é ruim, poderemos sempre melhorá-lo. Muito pior seria se somente uns poucos ou mesmo apenas uma pessoa nos dissesse quem sabe, quem não sabe, o que é certo, o que é errado, isto é moral, aquilo não é ético, etc. 155

154 MORO, Domingos. Denúncia por Prova de Vídeo. Disponível em: <http://justicadesportiva.uol.com.br/artigo.asp?id=11072>. Acesso em: 30 outubro 2009. 155 DOMENICI, Henrique. Prova de Vídeo Ainda Gera Debate. Disponível em: <http://justicadesportiva.uol.com.br/artigo.asp?id=10391>. Acesso em: 30 outubro 2009.

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CONCLUSÃO

O presente trabalho teve como objetivo principal apresentar por meio da

pesquisa feita na legislação e doutrina, os aspectos que envolvem a possibilidade

jurídica da utilização dos meios audiovisuais como prova hábil nos processos de

caráter disciplinar perante a Justiça Desportiva.

O interesse pelo tema deu-se em razão das gravações audiovisuais estarem

sendo usualmente utilizados pela Procuradoria da Justiça Desportiva para

fundamentar aberturas de processo contra atletas, árbitros, dirigentes de clubes e

entidades na Justiça Desportiva. É uma área em crescimento no direito, e o tema

está sendo muito discutido pelo direito desportivo.

O futebol surgiu já nos primórdios da civilização, na China Antiga, adquirindo

características do esporte praticado atualmente somente no século XIX na

Inglaterra. Segundo a corrente doutrinária majoritária o futebol para os brasileiros

começou em 1894, através de Charles Miller, um brasileiro que estudava na

Inglaterra e trouxe para o Brasil, camisas e bolas, que possibilitou o início da prática

desta modalidade.

Com a popularização do esporte e difusão de competições por todos os

continentes, deu-se a necessidade de se criarem entidades que pudessem

organizar, preservar e unificar as regras aplicáveis ao esporte. A partir daí surgiram

às entidades desportivas como a FIFA, CONMEBOL, CBF e etc.

Com a promulgação da Constituição Federal de 1988, a prática do desporto

no Brasil foi amparada como um direito de todos, e dever do Estado em incentivar

com a destinação de recursos a prática de atividades desportivas.

Há que ressaltar ainda, a importância dada pela Constituição no que tange

ao estabelecimento da autonomia das entidades desportivas, em que estas

adquiriram maior independência quanto a sua organização e funcionamento.

Outro marco importante na construção legislativa do desporto no Brasil foi à

instituição da Lei 9.615/98, conhecida como Lei Pelé, o qual revolucionou as regras

desportivas nacionais. Por fim, veio o Código Brasileiro de Justiça Desportiva, o qual

unificou todas as legislações desportivas existente no País.

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A justiça desportiva é composta de instâncias desportivas autônomas e

independentes, as quais possuem atribuições de processar e julgar conflitos

envolvendo matéria desportiva.

Apesar de não elencadas como órgãos do Poder Judiciário, os órgãos

judicantes da Justiça Desportiva são competentes para dirimir litígios de interesse,

tanto é verdade que a própria Constituição Federal somente admitirá a apreciação

de ações relativas à disciplina e às competições desportivas pelo Poder Judiciário,

após esgotarem-se às instâncias da justiça desportiva.

Diante de fatos concretos envolvendo questões disciplinares em âmbito

esportivo, a justiça desportiva aplicará sua jurisdição através do processo

desportivo, sendo este o instrumento de atuação cabível para solucionar os litígios.

Iniciado o processo, as partes litigantes, com o intuito de provar suas

alegações, utilizarão das provas, sendo estas os instrumentos que servem para

formar a convicção dos julgadores sobre a ocorrência ou não de infração disciplinar.

A legislação desportiva admite a utilização de vários tipos de prova no

processo, exceto as adquiridas por meio ilícito.

Dentre as provas admitidas, deve destacar os meios audiovisuais, os quais

são tidos como meios de provas relevantes, pois mostram imagens dos fatos

ocorridos que podem implicar a condenação ou absolvição dos acusados da prática

de infração disciplinar.

Trata-se de meio de prova que passou a ser utilizado há pouco tempo e

ainda provoca discussão na doutrina e artigos. Os meios audiovisuais vêm sendo

utilizados na maioria das vezes, como único meio de prova a embasar denúncias do

Procurador, mesmo diante da ressalva apontada pelo Código disciplinar, o qual

adverte que a utilização dos meios audiovisuais devem ser apreciados com cautela.

A utilização dos meios audiovisuais como prova nos processos, deve se

restringir apenas as questões envolvendo infrações disciplinares, e não para avaliar

e corrigir erros dos árbitros, pois caso fosse admitido tal possibilidade estaria criando

meios de anular jogos e alterar seus resultados.

As provas audiovisuais não têm o condão de retirar da arbitragem à

autoridade sob o desfecho das partidas de futebol, mas servem para reavaliar fatos

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que podem ensejar infrações disciplinares, não perceptíveis pelo árbitro, devido à

velocidade dos lances nos jogos.

Os questionamentos do presente tema estão direcionados nas situações em

que o Procurador de Justiça Desportiva tem a iniciativa da abertura do processo

junto à Justiça Desportiva exclusivamente com base nas provas audiovisuais,

mesmo nos casos em que as súmulas e relatórios deixam de apresentar o fato

disciplinar, transformando-se na única prova contra o atleta e o dirigente desportivo.

Em relação às hipóteses de utilização desse tipo de prova tem-se a

cobertura dos meios de comunicação com a gravação de vídeos e fotos que

mostram os fatos nos mais diversos ângulos, esclarecendo a ocorrência de infração

cometida.

Nestes casos essas provas podem mostrar, até com redução do tempo de

gravação, como foi cometida a infração e mensurar a possível culpa ou dolo do

acusado.

A análise do tema teve como fator principal de dificuldade de pesquisa a

pouca doutrina existente sobre o tema, por tratar de assunto recente na esfera da

Justiça Desportiva, e por ainda não ter a Justiça Desportiva brasileira sido matéria

de interesse dos doutrinadores para edição de novas obras jurídicas.

Ao término da pesquisa, espera-se que o tema sirva como incentivo a outros

acadêmicos para aprofundar o tema objeto do presente trabalho, numa área que

somente agora começa a despertar o interesse dos estudiosos do direito.

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