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INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DO RN MESTRADO PROFISSIONAL EM EDUCAÇÃO PROFISSIONAL E TECNOLÓGICA PROFEPT - POLO MOSSORÓ Mossoró Concepções Divergentes: o Movimento Escola Sem Partido e as Bases Conceituais da Educação Profissional e Tecnológica Geraldo Bruniak/ANPk Geraldo Bruniak/ANPk Geraldo Bruniak/ANPk DAGMA REGO DE QUEIROZ PROF. DR. FÁBIO ALEXANDRE ARAUJO DOS SANTOS PROF. DR. ALEKSANDRE SARAIVA DANTAS

dagma rego de queiroz - educapes.capes.gov.br

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INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DO RNMESTRADO PROFISSIONAL EM EDUCAÇÃO PROFISSIONAL E TECNOLÓGICA

PROFEPT - POLO MOSSORÓ

Mossoró

Concepções Divergentes: o Movimento Escola Sem Partido e as Bases Conceituais

da Educação Profissional e Tecnológica

Geraldo Bruniak/ANPkGeraldo Bruniak/ANPkGeraldo Bruniak/ANPk

DAGMA REGO DE QUEIROZPROF. DR. FÁBIO ALEXANDRE ARAUJO DOS SANTOS

PROF. DR. ALEKSANDRE SARAIVA DANTAS

https://creativecommons.org/licenses/by/4.0/

INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DO RNMESTRADO PROFISSIONAL EM EDUCAÇÃO PROFISSIONAL E TECNOLÓGICA

PROFEPT - POLO MOSSORÓ

Mossoró

DAGMA REGO DE QUEIROZPROF. DR. FÁBIO ALEXANDRE ARAUJO DOS SANTOS

PROF. DR. ALEKSANDRE SARAIVA DANTAS

Mossoró/RN - 2021

Concepções Divergentes: o Movimento Escola Sem Partido e as Bases Conceituais

da Educação Profissional e Tecnológica

FICHA CATALOGRÁFICABiblioteca IFRN – Campus Mossoró

Autor

Dagma Rego de Queiroz

Prof. Dr. Fábio Alexandre Araújo dos Santos

Prof. Dr. Aleksandre Saraiva Dantas

Projeto Gráfico e diagramação

Israel Sousa da Silva

Revisão de texto

Márcio Vinícius Barreto da Silva

INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DO RNMESTRADO PROFISSIONAL EM EDUCAÇÃO PROFISSIONAL E TECNOLÓGICA

PROFEPT - POLO MOSSORÓ

Mossoró

Concepções Divergentes: o Movimento Escola Sem Partido e as Bases Conceituais

da Educação Profissional e Tecnológica

Queiroz, Dagmá Rego de. Concepções divergentes : o movimento escola sem partido e as bases conceituais da educaçãoprofissional e tecnológica / Dagmá Rego de Queiroz, Fábio Alexandre Araújo dos Santos, Aleksandre

Saraiva Dantas. – Mossoró, RN, 2021. 59 p. : il. color.

Produto Educacional integrante da Dissertação: A educação profissional e tecnológica comocontraposição à ideologia do movimento escola sem partido: uma proposta interventiva comprofessores do IFRN/Campus Mossoró. (Mestrado em Educação Profissional e Tecnológica) – Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte, Programa de Pós-Graduação em Educação Profissional e Tecnológica, 2021.

1. Movimento escola sem partido. 2. Educação profissional e tecnológica. 3. Produto educacional. I. Santos, Fábio Alexandre Araújo dos. II. Dantas, Aleksandre Saraiva. III. Título.

CDU: 377(0.078)

Q3

Ficha catalográfica elaborada pela bibliotecária Viviane Monteiro da Silva CRB15/758

E Não Sobrou Ninguém

Primeiro levaram os comunistas,

Mas não falei, por não ser comunista.

Depois, perseguiram os judeus,

Nada disse então, por não ser judeu,

Em seguida, castigaram os sindicalistas

Decidi não falar, porque não sou sindicalista.

Mais tarde, foi a vez dos católicos,

Também me calei, por ser protestante.

Então, um dia, vieram buscar-me.

Nessa altura, já não restava nenhuma voz,

Que, em meu nome, se fizesse ouvir.

Martin Niemöller, pastor luterano,

que passou sete anos preso em campos

de concentração

Figura 3 – A criação de adão.....................................................................................................15

Figura 1 – A bancada evangélica e a homofobia............................................................;............15

Figura 2 – IV Marcha Nacional Contra a Homofobia..............................................................15

Figura 4 – Inquisição sem Partido.............................................................................................19

Figura 5 – O professor e o jovem inocente...............................................................................19

Figura 6 – Tempos modernos nas escolas..................................................................................20

Figura 7 – Manifestantes do MBL a favor do MESP................................................................21

Figura 8 – Escola sem partido, recatada e do lar.......................................................................22

Figura 9 – A discussão de gênero: o dito, o não dito e o interdito............................................22

Figura 10 – Deputada pede que alunos denunciem professores...............................................23

Figura 11 - Quem defende a liberdade?....................................................................................23

Figura 12 – Paulo Freire, o brasileiro mais citado e referenciado no mundo...........................24

Figura 13 – Paulo Freire, um dos melhores educadores da nossa História...............................24

Figura 14 – Fragmento de Mafalda...........................................................................................24

Figura 15 – Sala de aula............................................................................................................25

Figura 16 – Escola sem Partido.................................................................................................25

Figura 17 – O partido da Escola Sem Partido...........................................................................25

Figura 18 – O conhecimento é uma ponte para acessar novos caminhos.................................25

Figura 19 – Escola sem Partido.................................................................................................25

Figura 20 - O MESP, o militarismo e a religião: retorno ao tradicionalismo...........................25

Figura 21 – Miguel Nagib, fundador do MESP........................................................................25

Figura 22 – O MESP propõe a assepsia política da escola.......................................................25

Módulo II

Figura 1 – Roubaram o giz, professora!....................................................................................31

Figura 2 – Ronai Rocha, educador brasileiro simpático à ideologia do MESP.........................33

Figura 3 – Hannah Arendt e Max Weber...................................................................................34

Figura 4 – Professores e estudantes mobilizados contra o MESP.............................................36

Figura 5 – O movimento estudantil se mobiliza contra as leis do MESP.................................37

Figura 6 – Imagem da Frente Escola sem Mordaça..................................................................37

Figura 7 – Cartaz Carta Aberta.................................................................................................37

Módulo III

Figura 1 – A alienação do trabalho............................................................................................44

Figura 2 – Educação em Marx e Engels: politecnia e emancipação humana...........................45

Figura 3 – A politecnia em Pistrak (1888-1937), educador soviético.......................................45

Figura 4 – Riqueza e Miséria do Trabalho no Brasil: trabalho digital, autogestão e expro-

priação da vida..........................................................................................................................45

Figura 5 - O fetichismo da mercadoria.....................................................................................46

Figura 6 - Alienação do trabalho e fetichismo da mercadoria..................................................47

Módulo I

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 7 – O homem confere qualidades humanas à mercadoria e a mercadoria coisifica

o homem....................................................................................................................................47

Figura 8 – Imagens de meninas em trabalho análogo à escravidão..........................................47

Figura 9 – Antonio Gramsci (1891-1937), o sardo que renovou o marxismo..........................48

Figura 10 – Gramsci, a escola unitária e o trabalho como princípio educativo........................48

Figura 11 – Dermeval Saviani, referência brasileira em educação...........................................49

LISTA DE TABELAS

Módulo I

Tabela 1 – Movimento Escola Sem Partido: origem e conceitos..............................................13

Módulo II

Tabela 1 – Os epígonos e os críticos associados ao MESP.......................................................30Tabela 2 – Aproximações e distanciamentos discursivos entre MESP e PCESP......................38

Módulo III

Tabela 1 – As bases conceituais da EPT....................................................................................43

SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO.......................................................................................................................................

INTRODUÇÃO...........................................................................................................................................

MÓDULO I - Movimento Escola Sem Partido: origem e conceitos.....................................

1. Antecedentes e origem histórica do MESP...............................................................................

2. Neutralidade política e imparcialidade ideológica................................................................

2.1. Matemática sem partido..............................................................................................................

2.2. Português sem partido.................................................................................................................

3. A legislação como instrumento de pressão político-pedagógico do MESP................

3.1. A doutrinação é um problema grave?....................................................................................

3.2. A doutrinação esquerdista apontada pelo MESP está de fato acontecendo?........

3.3. Qual é o poder dos professores sobre os alunos?............................................................

3.4. Os professores formam um “exército de militantes”?......................................................

3.5. O Escola Sem Partido é apartidário?.......................................................................................

3.6. As propostas do MESP defendem a pluralidade no ensino?........................................

3.7. É correto impedir a discussão de gênero, como quer o MESP?...................................

3.8. O marxismo é um método de doutrinação esquerdista?...............................................

3.9. Há base para dizer que Paulo Freire faz “proselitismo ideológico” e

“doutrinação marxista”?.......................................................................................................................

3. 10. O marxismo é um método de doutrinação esquerdista?...........................................

3. 11. Resumo do Módulo I.................................................................................................................

4. Referências...........................................................................................................................................

5. Sugestões de vídeos para assistir...............................................................................................

6. Exercícios...............................................................................................................................................

MÓDULO II - Os epígonos e os críticos associados ao MESP................................................

1. O MESP e a questão da ética docente.......................................................................................

2. As demandas do MESP na visão de um defensor.................................................................

3. “Professores contra o Escola Sem Partido”...............................................................................

4. Resumo do Módulo II.......................................................................................................................

5. Referências...........................................................................................................................................

6. Sugestões de vídeos para assistir.................................................................................................

7. Exercícios................................................................................................................................................

MÓDULO III - As bases conceituais da EPT...................................................................................

1. Politecnia e omnilateralidade: o trabalho como princípio educativo...........................

2. A Escola Unitária e o trabalho como princípio educativo.................................................

3. Pedagogia histórico-crítica............................................................................................................

4. Resumo Módulo III............................................................................................................................

5. Considerações finais.........................................................................................................................

6. Referências...........................................................................................................................................

7. Sugestões de vídeos para assistir................................................................................................

8. Exercícios...............................................................................................................................................

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Este e-book apresenta um apanhado histórico acerca do Movimento Escola Sem

Partido (MESP), cujo material foi utilizado na aplicação do meu produto educacional, um

curso de formação pedagógica para os professores do Instituto Federal de Educação,

Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte, Campus Mossoró - IFRN/MO. Este produto

educacional é um requisito exigido pelo Programa de Pós-Graduação em Educação

Profissional e Tecnológica (PROFEPT) que foi aplicado aos docentes do IFRN/MO, por

intermédio de um curso de formação pedagógica. O PROFEPT é um mestrado profissional,

ofertado em rede, cujo objetivo é proporcionar formação acadêmica em Educação

Profissional e Tecnológica (EPT) aos profissionais da Rede Federal de Educação Profissional,

Científica e Tecnológica (RFEPCT) e aos demais profissionais que se interessem pela

temática.

A formação, em nível de mestrado, tem como requisito (para a obtenção do título de

mestre) a escrita de uma dissertação e a elaboração de um produto educacional (ou

didático) que abordando a relação da educação profissional com o mundo do trabalho,

objetivando a produção de conhecimentos e a formação continuada dos profissionais da

RFEPCT. Por sua vez, a área de concentração do Profept é em Educação Profissional e

Tecnológica – EPT, compreendendo processos educativos em espaços formais e não

formais relacionados ao mundo do trabalho e à produção de conhecimento, numa

perspectiva interdisciplinar, visando à integração dos campos do Trabalho, da Ciência, da

Cultura e da Tecnologia. Compreende ainda os espaços educativos em suas dimensões de

organização e implementação, com um enfoque de atuação visando a promover a

mobilização e a articulação de todas as condições materiais e humanas necessárias para

garantir a formação integral do estudante.

O programa de mestrado em análise possui duas linhas de pesquisa: 1 – Práticas

educativas em educação profissional e tecnológica; 2 - Organização e memórias de

espaços pedagógicos na educação profissional e tecnológica, sendo nesta primeira linha

que nossa pesquisa e produto educacional estão inseridos .

O e-book está dividida em três módulos, em consonância com o formato do Curso

de Formação Pedagógica “Duelo de Concepções: o movimento Escola Sem Partido e as

bases conceituais da Educação profissional e Tecnológica”. O primeiro módulo aborda a

origem histórica e os conceitos defendidos pelo MESP. O segundo módulo, por sua vez,

aborda os autores associados ao MESP, bem como os críticos do Movimento dentro do

Brasil, mais especificamente o blog Professores Contra o Escola Sem Partido - PCESP. Por

fim, no terceiro módulo, abordamos as bases conceituais da EPT, mais especificamente: a

relação entre a politecnia e a omnilateralidade; a escola unitária e o trabalho como princípio

educativo; a pedagogia histórico-crítica e a EPT.

Nosso intuito, com este material digital, é subsidiar estudantes e demais

pesquisadores que buscam informações concentradas acerca dessa temática. Como

complemento ao texto, colocamos diversos vídeos e exercícios que ajudarão na

compreensão do tema abordado.

APRESENTAÇÃO

9

Com este produto educacional – sob o formato de e-book -, pretendemos

apresentar os aspectos históricos, políticos, sociais e ideológicos do Movimento Escola

Sem Partido(MESP), esclarecendo, ao mesmo tempo, em que se constituiu o Programa

de Mestrado Profissional em Educação Profissional e Tecnológica – PROFEPT.

Ao se constituir em um contraponto ao MESP - que defende o cerceamento à

liberdade de cátedra e a censura à liberdade de expressão - este projeto de pesquisa

pretende contribuir para desmistificar a ideologia conservadora do MESP, recorrendo

para isso a uma investigação dos docentes do IFRN/MO, com base no tema “A Educação

Profissional e Tecnológica como Contraposição à Ideologia do Movimento Escola Sem

Partido: Uma Proposta Interventiva com Professores do IFRN/Campus Mossoró”,

tentando responder ao seguinte problema: como podemos contribuir para a percepção

crítica e autônoma dos docentes do IFRN/Campus Mossoró, face ao ideário do MESP e

seus impactos na proposta de Ensino Médio Integrado?

Em resposta ao problema proposto, este produto educacional visa a contribuir

para uma educação pública de qualidade, laica e socialmente referenciada,

fundamentada nas bases conceituais da EPT, cujo objetivo é articular educação,

trabalho, ciência e tecnologia, mostrando comprometimento com uma formação

omnilateral dos educandos, capaz de desenvolver cidadãos e profissionais críticos-

reflexivos, que tenham conhecimentos técnicos e políticos, empenhados na superação

da sociedade do capital.

Por conseguinte, este produto educacional tem o objetivo de facilitar a

compreensão do MESP e de sua ideologia, que se contrapõe às bases conceituais da

Educação Profissional e Tecnológica brasileira. Neste e-book digital, trazemos à tona

discussões referentes às relações existentes entre o MESP e o Ensino Médio Integrado à

Educação Profissional e Tecnológica, nomeadamente por meio de uma intervenção

pedagógica, envolvendo os docentes do IFRN, campus Mossoró.

Julgamos que esta intervenção pedagógica, ocorrida por intermédio de um

curso de formação pedagógica e continuada, cujo material didático utilizado está

expresso neste e-book, possa ser reproduzida em outras instituições da Rede Federal

de Educação Profissional, Científica e Tecnológica – RFEPCT, e servindo como subsídios

para outros estudos e pesquisas acerca dessa temática.

Em síntese, nosso objetivo é discutir o MESP e sua relação com a educação

profissional e tecnológica, ressaltando alguns aspectos em particular, a saber: os

antecedentes e a origem histórica do movimento; a questão da suposta doutrinação

ideológica e da “ideologia de gênero”; o papel do marxismo como teoria crítica do

MESP; além da definição das bases conceituais da EPT, dentre as quais selecionamos

estas como as mais relevantes para nossa pesquisa e nosso produto educacional:

politecnia e omnilateralidade: o trabalho como princípio educativo; a escola unitária e o

trabalho como princípio educativo; a pedagogia histórico-crítica.

INTRODUÇÃO

10

Em tempos obscuros, como os que nos afligem na presente quadra histórica, são

necessárias coragem para resistir e disposição para lutar, face os imensos e urgentes

desafios que se nos apresentam. Este texto pretende dar sua pequena contribuição

nesse sentido, tentando apressar a vinda de uma sociedade mais livre, menos desigual e

mais pluralista.

11

Movimento Escola Sem Partido: origem e conceitos

Objetivo: Avaliar as possíveis consequências que o ideário do MESP acarretaria para

o Ensino Médio Integrado à Educação Profissional e Tecnológica

Atividades assíncronas: ler os textos, assistir aos vídeos e responder o exercício

Tempo disponível: 06 h

Atividades síncronas: palestras e debates ao vivo, mediante a Plataforma Microsoft

Teams

Tempo disponível: 02 h

© Conteúdo sob licenciamento Creative Commons Atribuição 4.0

Tabela 1 – Movimento Escola Sem Partido: origem e conceitos

Fonte: elaboração própria em 2021

13

1. Antecedentes e origem histórica do MESP

O Movimento Escola Sem

Partido (MESP) tem tido, nos últimos

anos, uma visibilidade acadêmica

substancial, em virtude de suas

propostas de cerceamento da

liberdade de cátedra dos docentes

em todo o país.

Sob as alegações de que os

docentes e a s e sco la s e s tão

realizando doutrinação política e

ideológica, realizando uma espécie

de “lavagem cerebral” em alunos

“indefesos” e “inocentes”, à mercê de

professores “maléficos” e “mal-

i n tenc ionados ”, o MESP tem

mobilizado amplos setores da direita

brasileira - alguns moderados, outros

radicais –, no sentido de aprovarem

legislação restritiva à liberdade de

cátedra e de fala dos professores.

A principal alegação para que

os professores não tenham liberdade

de expressão em sala de aula é que os

alunos são uma “audiência cativa”

dos professores, ou seja, os alunos

não dispõem da opção de não

escutar os professores¹ (CARA,

2016).

O Movimento Escola Sem

Partido (MESP), nascido em 2004,

mediante ação de Miguel Nagib,

Procurador de Justiça do Estado de

São Pau lo , é c l a ramente um

movimento político e educativo de

i n s p i r a ç ã o n e of a s c i s t a ³ . S u a

linguagem remete a uma semântica

de conotação nazi-fascista, ao

comparar professores a “parasitas

ideológicos” que contaminam o

ambiente educacional e que, por isso

mesmo, precisariam ser desinfetados

(ALGEBAILE, 2017, p. 64).

O MESP tem suas inspirações

teóricas e práticas em movimentos

norte-americanos como o Now

Indoctrination e o Creation Studies

Institute³, defensores de uma

concepção ultraconservadora de

mundo, na política e nos costumes. O

primeiro faz uso da mesma pauta

ideológica do MESP para combater as

ideias de esquerda e a liberalização

de costumes e comportamentos

(CREATION STUDIES INSTITUTE,

2021).

1 - Em nossa pesquisa, utilizamos a nomenclatura de "movimento" para denominar o que se convencionou chamar de Escola Sem Partido. Dessa forma, estamos em sintonia com a maioria dos autores que estudam este movimento. Ressaltamos, todavia, que alguns autores, a exemplo de Algebaile (2017), denominam o movimento de "organização", o que de fato acabou ocorrendo a partir de 2015, quando o MESP se tornou de fato e de direito uma organização.

2 - O neofascismo é uma ideologia surgida após a II Guerra Mundial que inclui elementos significativos do fascismo como o nacionalismo, o anticomunismo e oposição ao sistema parlamentarista e à democracia liberal (NEOFASCISMO, 2021).

3 - Instituto de Estudos da Criação é uma instituição que defende o criacionismo, sediada em Dallas/EUA, promotora e realizadora de uma interpretação literal da criação, no livro de Gênesis, como um evento científico e histórico Missão (CREATION STUDIES INSTITUTE, 2021).

3

14

Segundo Teitelbaum (2020a), tais

movimentos resistem às mudanças

cul tura is as quais as soc iedades

capitalistas, sobretudo as desenvolvidas,

passaram a sofrer a partir dos anos 1960 do

século XX, propondo um retorno aos

valores das sociedades tradicionais. Apesar

de se dizerem liberais em matéria

econômica, estes movimentos são

profundamente conservadores em matéria

de costumes e educação.

Em linhas gerais - e com base em

autores como Penna (2018, p. 36) -,

percebemos que o MESP defende quatro

linhas de atuação referentes à educação

brasileira: a) a primeira traduz-se em uma

concepção de escolarização meramente

instrucional, reducionista e mecanicista; b)

a segunda é uma desqualificação do

professor enquanto profissional; c) a

terceira é o uso de estratégias discursivas

neofascistas; d) a quarta é a defesa do

poder total dos pais sobre os filhos.

O segundo, por sua vez, defende a

interpretação literal da Bíblia e se dedica a

combater a Teoria da Evolução⁴ no sistema

educacional nor te-americano. Esse

combate é estendido à diversidade de

gênero e ao multiculturalismo⁵, vistos

como instrumentos de degeneração da

sociedade cristã americana. Defende

também que a educação deve sair da

esfera pública para a esfera privada, a partir

do que é conhecido como homeschooling,

em por tuguês educação fami l i a r

(ESPINOSA; QUEIROZ, 2017; SILVEIRA,

2019).

Ainda segundo Teitelbaum (2020b),

chegam mesmo a cultivar valores e modos

de vida de sociedades pré-capitalistas,

chegando a não aceitar avanços científicos,

como a Teoria da Evolução, as vacinas e os

métodos anticoncepcionais. O MESP

comunga dos mesmos valores dos

referidos movimentos americanos, ao se

proc lamar l ibera l na economia e

conservador em matéria de costumes e

educação.

https://www.fronteiras.com/artigos/o-criacionismo-nao-e-uma-teoria

https://vamoscontextualizar.wordpress.com/2016/07/12/parem-de-nos-matar/

4 - É a mudança das características hereditárias de uma população de seres vivos de uma geração para outra. Este processo faz com que as populações

de organismos mudem e se diversifiquem ao longo do tempo geológico (EVOLUÇÃO, 2021).

5- É um termo que descreve a existência de muitas culturas numa região, cidade ou país, com no mínimo uma predominante.

http://candidoneto.blogspot.com/2014/10/congresso-

eleito-e-o-mais-conservador.html

Figura 2 – IV Marcha Nacional Contra a Homofobia

Figura 3 – A criação de adão

Figura 1 - A bancada evangélica e a homofobia

15

Em resposta a esta situação, esta

pesquisa visa a contribuir para uma

educação pública de qualidade, laica e

s o c i a l m e n t e r e f e r e n c i a d a ,

fundamentada nas bases conceituais da

EPT, cujo escopo é articular educação,

trabalho, ciência e tecnologia, havendo

havendo compromisso com uma

formação omnilateral⁶ dos educandos,

capaz de desenvolver cidadãos e

profissionais críticos-reflexivos, que

tenham conhecimentos técnicos e

políticos, empenhados na superação da

sociedade do capital (MÉSZÁROS, 2005).

6- Refere-se a uma formação humana que desenvolve todas as dimensões e amplas capacidades do ser humano (PEREIRA; LIMA, 2008).

7. Também chamado de “enclosure” ou “fechamento”: era o processo legal na Inglaterra de cercar pequenas propriedades em fazendas maiores, a partir

do século XIII em diante. Uma vez cercada, o uso da terra tornou-se restrito e disponível apenas para o proprietário e deixou de ser terra comum para

uso comunitário. O historiador marxista E. P. Thompson argumenta que "enclosure” foi um caso bastante claro de roubo de classe. Disponível em:

https://en.wikipedia.org/wiki/Enclosure. Acesso em: 15/01/2021.

2. Neutralidade política e imparcialidade ideológica

16

2.1. Matemática sem partido

Ao utilizarmos os dois textos satíricos

que seguem, retirados de Candido

(2016), apresentamos o aspecto surreal e

nonsense que preside as intenções e

alegações do MESP. Com a propaganda

de retirar da escola as ideologias e

influências de esquerda, o que este

movimento quer mesmo é colocar a

escola sob a influência da ideologia e dos

partidos da direita, cerceando o debate,

a liberdade de pensamento e expressão.

Proc lamando a neutra l idade da

educação, os defensores do MESP se

colocam à serviço dos interesses dos

pa r t idos da d i re i t a , imped indo

educadores e educandos de atuarem de

forma autônoma e crítica na sociedade.

O objetivo é ajustá-los melhor à

sociedade do capital, aceitando as

condições de dominação às quais estão

submetidos.

– Bom dia, professor, aqui é Luíza, do

departamento de desideologização de

material didático da editora.

– Bom dia, Luíza. Em que posso ajudar?

– É sobre algumas modificações que

precisamos que sejam feitas no seu livro.

– Mas eu sou professor de matemática,

filha... – Sim, mas tem uns problemas.

– M e u l i v r o é p a r a o e n s i n o

fundamental... – Então, o seu caso é

simples. O senhor vai ver.

– Fale...

– Logo no início, nos exercícios de

adição. Tem o exercício 6 na página 23,

“João não conseguia dormir então

começou a contar os carneirinhos que,

na sua imaginação, pulavam uma cerca”.

– E qual o problema?

– O problema é que os carneirinhos

pulando a cerca são uma crítica velada

aos enclosements ingleses e uma

referência à acumulação primitiva do

c a p i t a l . P ro p o m o s m u d a r pa ra

“franguinhos entrando no navio, que o

pujante agronegócio brasileiro exporta

para a Europa”.

– Ninguém conta frangos para dormir.

– Justo, por causa da ideologia que

sataniza os produtores rurais que põem

comida na nossa mesa. Tem outro, mais

para frente. Na página 32, o exercício 7

diz que “Rita tinha 18 bananas e comeu

7

4”. Bananas é uma referência ao Brasil

como uma Banana Republic, não pode.

– Troca por laranjas.

– Aí seria uma crítica aos prestadores de

serviços financeiros que ajudam o

empresário a escapar do fisco estatal,

impedindo que o Governo tome seu

dinheiro na forma dos impostos.

Trocamos por abacaxis.

– Abacaxis? Ninguém come quatro

abacaxis.

– Sim, também trocamos “comeu 4” por

“vendeu 4 livremente realizando um

justo lucro por seu esforço”.

– As crianças de 8 anos vão entender

isso?

– Vão entender se for explicado, se a

ideologia deixar de ocultar delas como

as relações comerciais fazem justiça a

quem produz.

– Ah, tá! Mais alguma coisa?

– Tem mais umas coisinhas, eu mando

por e-mail. Mas o mais grave é a parte

final do livro. Precisamos marcar uma

reunião para rever os capítulos 7 e 8.

– Divisão?

– Isso. Divisão é um conceito marxista

que não pode ser usado para doutrinar

as criancinhas.

– Mas como as crianças vão aprender

aritmética sem divisão? – Nossos

especialistas estão finalizando uma

proposta.

A ideia geral é mostrar que a

divisão pode ser correta, desde que a

operação reflita que, por exemplo,

R$100 divididos por 100 pessoas resulte

em 99 reais para uma e o real restante

dividido entre as outras 99.

– Mas isso acaba com a Matemática!

– Acaba com a Matemática igualitária e

comunista que imperou até hoje,

professor, e a substitui por uma

Matemática mais justa! Já temos até um

projeto de lei para ser apresentado ao

Congresso, tornando obrigatório o

ensino da Matemática Meritocrática!!

Ensino da Matemática Meritocrática!!

2.2. Português sem partido– Boa tarde, professora, aqui é Luíza, do

departamento de desideologização de

material didático da editora.

– Boa tarde, Luíza.

– A senhora recebeu a nova versão do

livro?

– Sim. Vocês cortaram um capítulo

inteiro, não foi?

– O de “linguagem coloquial”. Nossos

consultores disseram que isso é uma

bobagem sem tamanho.

– Como assim?

– Que a escola tem que ensinar ao aluno

o Português correto e pronto. O resto, eles

aprendem na rua.

– Mas não tem um português correto,

menina. A língua é uma coisa só, um

o r g a n i s m o v i v o … – D e s c u l p e ,

professora, mas isso de língua viva é

conversa dos esquerdistas da univer-

sidade para confundir a cabeça do povo.

– Mas, mas…

– Em todo caso, já foi cortado. Nossos

livros tratam só do português correto, a

norma culta. Meu assunto com a

senhora é outro.

17

– Qual?

– As recomendações de literatura.

– Ora, eu sigo mais ou menos o que o

ENEM pede.

– O ENEM sempre foi feito por

psicopatas de esquerda que querem

doutrinar as crianças. Agora isso vai

acabar e nós queremos nos preparar.

Doutrinar as crianças. Agora isso vai

acabar e nós queremos nos preparar.

– O que você quer que eu faça?

– Volte aos clássicos, professora.

– Ué, e os que estão lá não são?

– Não, só comunistas do século XX.

Queremos que os alunos leiam Camões,

Dom Diniz, os românticos do XIX, no

máximo um Eça.

– Castro Alves e tal?

– Mas sem as coisas abolicionistas, por

favor, porque a gente sabe que aquilo foi

um movimento subvers ivo para

derrubar o Império.

– Machado?

– A Mão e a Luva.

– Mas Memórias Póstumas e…

– De jeito algum. Esses romances mais

realistas dele são absolutamente

imorais e não é função da escola discutir

questões morais. Ou religiosas. Ou

familiares. Para falar a verdade, nem sei

por que colocar literatura no currículo.

Cada família devia poder controlar o que

seus filhos leem.

– Mas aí a educação universal acaba, né?

– Isso de educação universal é outro

mito. A senhora acha que o menino da

favela tem a mesma educação que o

menino rico?

– Claro que não!

– Pois então, a educação nunca foi

universal, seria melhor deixar isso

explícito. Quem tem mais estuda mais,

quem não tem vai trabalhar para ajudar

a família.

– Mas não seria melhor o menino pobre

estudar, para ter mais chance?

– Olha, não vamos polemizar. A senhora

pode mandar uma nova lista de

sugestões de leitura até sexta?

– Mando, sim.

- Lembre-se: nada do século XX.

Século passado só tinha autor

comunista no Brasil.

18

3. Os artifícios de pressão político-pedagógica do MESP

19

Este capítulo foi elaborado com o

objetivo de mostrar as pressões políticas

e ideológicas que o MESP procede sobre

a educação e a escola brasileiras.

Julgamos necessário darmos uma

resposta às agressões dirigidas aos

professores e às escolas pelo MESP. Este

movimento recorre a estratégias de

a taque , t íp i cas de mov imentos

reacionários que querem suprimir a

liberdade de ensino e o pluralismo de

concepções pedagógicas, princípios

caros ao Estado Democrático de Direito,

amparado em nossa Constituição

Federal de 1988.

Nosso intuito é debater e elaborar

respostas legítimas e adequadas às

alegações levantadas pelo MESP. Para

tanto recorremos a Ratier (2016), em um

texto no qual ele coloca as alegações do

MESP em forma de perguntas e as

rebate com argumentação sólida. Com

este capítulo, pensamos em dar nossa

contribuição para a luta contra violações

individuais sofridas por docentes,

estudantes e escolas, procurando

compreender o MESP em seu contexto

pol ít ico e ideológico de ataque

sistemático ao direito à educação de

crianças, adolescentes, jovens e adultos,

e colocarmo-nos na linha de frente da

afirmação e defesa dos princípios éticos,

políticos e jurídicos que dão suporte à

educação brasileira em suas diferentes

etapas e modalidades.

3.1. A doutrinação é um problema grave? Hoje, é impossível saber o quão

grave e disseminada é a doutrinação. O

projeto se baseia em relatos esparsos e

em uma pesquisa de 2008 encomendada

p e l a r e v i s t a Ve j a a o I n s t i t u t o

CNT/Sensus. A reportagem não detalha

a metodologia do levantamento ou a

margem de erro. Apenas diz que são três

mil entrevistados. É muito pouco para

configurar uma tendência.

C o m o f a l t a m e s t u d o s

sistemáticos sobre o tema, não é possível

saber se os resultados seriam os mesmos

se fossem aferidos hoje ou se outro

levantamento chegaria às mesmas

conclusões.

Figura 4 – Inquisição sem Partido

http://www.nanihumor.com/2016/08/escola-sem-partido.html

3.2. A doutrinação esquerdista apontada pelo MESP está de fato acontecendo?

Não há qualquer comprovação.

Ao contrário: uma pesquisa do Instituto

Datafolha, realizada em 2014, mostra

que há mais brasileiros afinados com

ideias defendidas pela direita (45%) do

que à esquerda (35%) em temas relativos

a comportamento, valores e economia.

Em relação a anos anteriores, há um

avanço da direita e um recuo da

esquerda.https://matematicaeafins.com.br/blog/2018/01/13/escola-sem-partido/

Figura 5 – O professor e o jovem inocente

Também há outras lacunas. Qual

seria o resultado se o foco fosse a

presença religiosa nas escolas? Afora

essa suposta pesquisa, o que existe são

os relatos individuais de quem diz ter

presenciado alguma doutrinação.

Embora o Escola Sem Partido diga

receber numerosas denúncias, a página

eletrônica do movimento registra

somente 33 denúncias. O Brasil possui

mais de 45 milhões de estudantes. É

preciso ter dados mais sólidos para

separar casos isolados de tendências,

além de ser necessária uma visão mais

clara sobre se, onde e em quais situações

o problema acontece.

3.3. Qual é o poder dos professores sobre os alunos?

Para o MESP, o poder dos

docentes sobre os alunos é imenso. A

ideia é de que o estudante estaria

“submetido à autoridade do professor”

e que educadores doutrinadores seriam

“ a b u s a d o r e s d e c r i a n ç a s e

adolescentes”.

A imagem de jovens submetidos

e passivos não encontra eco na

realidade das escolas brasileiras. Eles

são questionadores e não aceitam

facilmente o que se diz. Exemplo desse

protagonismo é a recente onda de

ocupações em escolas públicas de

Ensino Médio lideradas por estudantes.

Ao conceber c r ianças e jovens

manipuláveis, o MESP se inspira em

modelos teóricos ultrapassados há no

mínimo 50 anos.

Desde a década de 1960 ,

pesquisas mostram que as pessoas,

mesmo as mais jovens, escutam uma

m e n s a g e m e re fl e te m s o b re o

significado dela. Podem aceitá-la ou

não, depois de relacionarem o que

ouvem a influências da família, de outros

professores, de amigos, da mídia, na

Igreja e em outros grupos sociais dos

20

3.4. Os professores formam um “exército de militantes”?

Esse argumento é frágil, baseado

em apenas uma pesquisa de opinião e,

ainda assim, dependente de uma

associação controversa de ideias. O

Escola Sem Partido se refere aos

educadores brasileiros como um

“exército organizado de militantes

travestidos", com base em pesquisa

encomendada pela revista Veja ao

Instituto CNT/Sensus, em 2008.

N a s o n d a g e m , 7 8 % d o s

professores dizem que à principal

função da escola é “formar cidadãos”.

Para o MESP, isso equivale a doutrinação

ideológica e política de esquerda.

Tal definição não se enquadra nos

múltiplos significados dos termos

formação e cidadania.

Até o momento, as medições

sobre filiação a partidos políticos não

confirmam a tese do MESP. O IBGE

realizou dois levantamentos sobre o

tema. Ambos são bem antigos, de 1988

e 1996 . Na p r ime i r a , 10% dos

professores da Educação Básica dizem

ser filiados a partidos. Era um índice

superior à média brasileira (4%), mas,

ainda assim, muito distante de ser um

exército.https://vermelho.org.br/2016/07/28/escola-tem-que-ter-partido/

Figura 6 – Tempos modernos nas escolas

21

Outro equívoco é atribuir uma

força imensa à escola na formação do

pensamento das pessoas. Estudos

indicam que, na sociedade atual, a

escola perdeu força diante de outros

grupos e instituições.

quais participam.

3.5. O Escola Sem Partido é apartidário?

O MESP se apresenta como

“apartidário” e diz que “não defende e

não promove nenhum tópico da agenda

l ibera l [no sent ido econômico] ,

conservadora ou tradicionalista. Logo,

não é de direita”. Porém, os apoiadores

d o m o v i m e n t o v ê m q u a s e

exclusivamente desse espectro político.

O Movimento Brasil Livre (MBL), um dos

protagonistas dos protestos pelo

impeachment de Dilma Rousseff, se

autodefine como “liberal e republicano”,

e elegeu o MESP como uma de suas

bandeiras em sua marcha ao Congresso

Nacional no ano passado.

https://novaescola.org.br/conteudo/5352/ato-do-escola-sem-partido-reune-apenas-35-pessoas-em-sao-paulo

Fonte: Ratier (2016, p. 27-37).

Figura 7 – Manifestantes do MBL a favor do MESP

22

3.6. As propostas do MESP defendem a pluralidade no ensino?

Nem todas. Uma das principais

ações contradiz esse princípio. O modelo

de notificação extrajudicial, que ameaça

processar educadores que discutirem

sexualidade e gênero, se sustenta no

direito de as famílias escolherem as

ideias com que as crianças terão contato

na escola.

Muitos pais, por convicções

religiosas, são contra esse debate nas

aulas e o movimento invoca a Convenção

Americana sobre Direitos Humanos para

sustentar o direito dos pais a que seus

filhos recebam “a educação religiosa e

moral que esteja de acordo com suas

próprias convicções”. Esse tipo de

tratado internacional não está acima da

Constituição Brasileira, que atesta que o

Estado é laico (ou seja, não deve sofrer

influência de igrejas).

3.7. É correto impedir a discussão de gênero, como quer o MESP?

Esse não é o caminho escolhido

por países em que as crianças têm alto

desempenho. A Unesco, braço da ONU

para Educação, Ciência e Cultura,

r e c o n h e c e a e d u c a ç ã o p a r a a

sexualidade como uma abordagem

culturalmente relevante para ensinar

sobre sexo e relacionamento de uma

forma “cientificamente precisa, realista e

sem julgamentos”.

Figura 9 - A discussão de gênero: o dito, o não dito e o interdito

https://twitter.com/ltdathayde/status/1080939732006252546

Figura 8 – Escola sem partido, recatada e do lar

http://andarilhocanhoto.blogspot.com/2016/08/escola-sem-partido.html

23

Não há base científi c a n e m

qualquer pesquisa afirmando que a

orientação sexual seja influenciável por

alguém. É provável que essa definição se

dê pe la interação entre fa tores

biológicos (predisposição genética,

n íve i s hormona is ) e ambienta i s

(experiências ao longo da vida) ,

conforme assinala Hogenboom (2015).

https://blogdoaftm.com.br/charge-deputada-pede-que-alunos-gravem-videos-e-denunciem-professores/

3.8. O marxismo é um método de doutrinação esquerdista?

N a s c i ê n c i a s s o c i a i s , o

pensamento de Karl Marx é considerado

um dos mais influentes do século 20. Faz

sentido estudá-lo (o que não significa,

necessariamente, adotá-lo), como

reconhecem mesmo seus críticos. Há

várias pessoas que estudam Marx a

fundo que não aceitam suas ideias.

Raymond Aron, um dos maiores

intelectuais franceses do século 20, é

uma delas. Da mesma maneira, estudar

Adam Smith, um dos pais do liberalismo

econômico, não equivale a fazer

doutrinação liberal.

https://mariomarcos.wordpress.com/2018/11/01/duke-na-charge-do-dia/

Figura 10 – Deputada pede que alunos denunciem professores

Figura 11 - Quem defende a liberdade?

24

3.9. Há base para dizer que Paulo Freire faz “proselitismo ideológico” e “doutrinação marxista”?

Não. Essa é uma leitura distorcida

da obra dele. Para o MESP, Paulo Freire

vê o trabalho de ensinar “como uma

simples modalidade de proselitismo

ideológico ao qual ele dá o nome de

conscientização dos alunos”.

Em sua acepção o r ig ina l ,

prosel i t ismo é um esforço para

converter pessoas para alguma causa ou

r e l i g i ã o . O c o n c e i t o d e

“conscientização”, conforme utilizado

por Freire, é o oposto disso: “Ao ouvir

pela primeira vez a palavra percebi

imediatamente a profundidade de seu

s i g n i fi c a d o , p o r q u e e s t o u

absolutamente convencido de que a

Educação, como prática da liberdade, é

um ato de conhec imento , uma

aproximação crítica da realidade”,

explica ele no livro Conscientização –

Teoria e Prática.

Em diversos momentos, Freire

combateu o proselitismo – fosse o da

Igreja ou o da Educação. Outra crítica

que o MESP subscreve se refere à

suposta “doutrinação marxista” de

Freire. Trata-se de leitura distorcida,

como opina Fernando José de Almeida

na biografia de Paulo Freire: “Ele faz

constantes citações de Karl Marx [...] Mas

isso em nada ameaça o firme bloco

ideológico de seu pensamento: o

pacifismo e um socialismo não radical

nem v io lento – à época , muito

abominado por alguns setores da

esquerda”.

Figura 12 – Paulo Freire, o brasileiro mais citado e referenciado no mundo

https://br.pinterest.com/pin/338192253260253474/

http://www.jornalcontato.com.br/home/index.php/o-partido-da-escola-mestre-jc-sebe-bom-meihy/

Figura 13 – Paulo Freire, um dos melhores educadores da nossa História

Figura 14 – Fragmento de Mafalda

25

http://www.nanihumor.com/2016/08/escola-sem-partido.htmlhttp://www.nanihumor.com/2016/08/escola-sem-partido.html

3.10. O marxismo é um método de doutrinação esquerdista?

Nas ditaduras, os debates são

sufocados. Nas democracias, eles são

acolhidos e estimulados – sem restrição.

Se um g rupo de pes soas acha

importante levantar uma discussão e

defender os seus pontos, ele tem todo o

direito de fazer isso.

Certamente o MESP acredita ter

suas razões e ignorá-lo ou desprezá-lo

não é o melhor caminho. Nossa opção

deve ser pelo debate desarmado, focado

em ideias e evidências.

http://www.nanihumor.com/2016/08/escola-sem-partido.html

https://br.pinterest.com/pin/402650022911007288/

https://www.google.com/search?q=escola+sem+partido+charges&tbm=isch&ved

https://i.ytimg.com/vi/U5PaGjCY22o/maxresdefault.jpg

https://p2.trrsf.com/image/fget/cf/940/0/images.terra.com/2019/07/19/1563506875887.jpg

http://www.seuguara.com.br/2018/11/escola-sem-partido-charge-do-agrepinus.html

Figura 18 – O conhecimento é uma ponte para acessar novos caminhos

Figura 21 – Miguel Nagib, fundador do MESP

Figura 22 – O MESP propõe a assepsia política da escola

Figura 15 – Sala de aula Figura 16 – Escola sem Partido

Figura 17 – O partido da Escola Sem Partido

Figura 19 – Escola sem Partido

Figura 20 - O MESP, o militarismo e a religião: retorno ao tradicionalismo

26

3.11. RESUMO DO MÓDULO I

O MESP fez sua estreia no cenário

político e pedagógico brasileira primeira

década do século XXI. Tributário de

movimentos análogos nos EUA, como o

Now Indoctrination, o MESP continua

atuante, embora tenha perdido um

pouco de sua força original. A partir da

eleição de um candidato conservador à

presidência da República em 2018, o

M E S P to m o u u m n o vo f ô l e g o ,

sobretudo em sua defesa da chamada

pau ta de cos tumes . E s te novo

direcionamento, em direção à pauta de

costumes, deveu-se em grande parte à

posição adotada pelo teórico, inspirador

do governo Bolsonaro, o filósofo Olavo

de Carvalho. Embora ultraconservador,

em suas proposições polít icas e

educacionais, ele postula que a escola

deve ser palco de todas as ideologias e

de todos os partidos. Assim, à fórmula

“escola sem partido”, ele propõe “escola

de todos os partidos”, o que veio

enfraquecer a pauta original do MESP, tal

qual proposta por Miguel Nagib

(FERNANDES, 2018).

Em todo caso, ocorreu

apenas uma migração da pauta original

do Nagib para a pauta do Olavo de

Carvalho, segundo a qual a direita deve

pregar abertamente seus valores e suas

concepções políticas e educacionais

dentro das escolas, disputando espaço

com a esquerda. Ou seja, Olavo de

Carvalho não quer uma escola neutra e

imparcial, ela quer uma escola que

p r e g u e e d e f e n d a o s v a l o r e s

conservadores da ultradireita. Nesse

sentido, ele é mais sincero que o MESP

que propunha uma pauta supostamente

neutra e imparcial que não pregaria nem

os valores da esquerda nem direita,

quando, na verdade, todos nós

sabemos, que o movimento era e é

eminentemente de direita. Portanto, em

virtude dessa diferença entre o Olavo de

Carvalho e o MESP, este último deixou de

ter a visibilidade que tinha anterior-

mente. As pautas do MESP, no entanto,

continuam vigentes sob o encargo do

bolsonarismo, mesmo que este adote

outras formas de estratégia de expansão

e veiculação de seu ideário político-

pedagógico, como as redes sociais.

Com base no que vimos nesse

módulo, nosso entendimento é que,

embora momentaneamente o MESP

não ocupe a visibilidade que ocupava

anteriormente, ele continua atuante,

mesmo que sua pauta de valores esteja

sob o encargo de outros movimentos

políticos e sociais, como o bolsonarismo

e seus mov imentos sa té l i te s e

adjacentes. Logo, a pauta conservadora

continuará atuante na condenação do

mundo moderno e de seus valores. Esta

pauta sempre foi e continua contrária

aos direitos dos LGBTQ+ e a discussão

das questões de gênero, ao divórcio e ao

aborto, à Teoria da Evolução, a favor do

encarceramento em massa como

s o l u ç ã o p a r a a q u e s t ã o d a

criminalidade, contrária à descrimina-

lização de drogas psicoativas, a favor da

27

família nuclear burguesa como único

modelo aceitável de família, dentre

tantas outras posições adotadas pelos

conservadores em todos os tempos.

28

REFERÊNCIAS

BUBNIAK, Geraldo. Governo adota novas medidas para combate ao abandono escolar. O secretário de Educação Renato Feder em visita na Escola Estadual São Cristóvão no início do ano letivo. Curitiba, 2019. Disponível em: https://www.presentenaescola.pr.gov.br/Noticia/Governo-adota-n o v a s - m e d i d a s - p a r a - c o m b a t e - a o -abandono-escolar. Acesso em: 20 set. 2021

CANDIDO, Paulo. Conheça o departa-

mento de desideologização de material

didático da nossa editora. In: SOUZA, Ana

Lúcia Silva et al. A ideologia do

Movimento Escola Sem Partido: 20

autores desmontam o discurso. São Paulo:

Ação Educativa, 2016. p. 23-28.

CARA, D. O programa "escola sem partido"

quer uma escola sem educação. In:

SOUZA, Ana Lúcia Silva et al. A ideologia

do Movimento Escola Sem Partido: 20

autores desmontam o discurso. São Paulo:

Ação Educativa, 2016. p. 43-48.

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ESPINOSA, B. R. S.; QUEIROZ, F. B. C. Breve

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Partido. In: FRIGOTTO, G. (org.). Escola

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enciclopédia livre. Flórida: Wikimedia

Foundation, 2020. Disponível em:

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8598. Acesso em: 03 mar. 2020.

FERNANDES, Douglas. O certo é a escola com todos os partidos, diz filósofo Olavo de Carvalho. Blog do Jamildo. [S.l.], 12 nov. 2018. Disponível em: https://jc.ne10.uol. com.br/blogs/jamildo/2018/11/12/o-certo-e-a-escola-com-todos-os-partidos-diz-filosofo-olavo-de-carvalho/index.html. Acesso em: 29 set, 2021.

FEDERAÇÃO dos Trabalhadores no Serviço Público Municipal do Estado do Ceará - FETAMCE. Ceará diz não ao PL “Escola sem Partido” de Bolsonaro. F o r t a l e z a : 2 0 1 8 . D i s p o n í v e l e m : https://www.supremamaracanau.org.br/ceara-diz-nao-ao-pl-escola-sem-partido-de-bolsonaro/. Acesso em: 20 set. 2021.

FRIGOTTO, Gaudêncio (org.). Escola

"sem" partido: esfinge que ameaça a

educação e a sociedade brasileira. Rio de

Janeiro: UERJ, LPP, 2017. p. 63-74.

FRIGOTTO, Gaudêncio. "Escola Sem

Partido" é desautorização da profissão

docente, afirma educador. [Entrevista

cedida a] Júlia Dolce. Brasil de Fato, São

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MÉSZÁROS, I. A educação para além do

capital. São Paulo: Boitempo, 2005.

29

MOURA, Fernanda Pereira de. MESP:

origens e ideologias. Revista Ciência

Hoje/SBPC, Rio de Janeiro, 06 fev. 2019.

Disponível em: Ciência Hoje | Escola Sem

P a r t i d o : o r i g e n s e i d e o l o g i a s

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RATIER, Rodr igo. 14 Perguntas e

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110 f. D i s se r tação (Mes t rado em

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TE I TELBAUM, B . R . Guer ra pe la

eternidade: o retorno do tradicionalismo

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Campinas: Editora da Unicamp, 2020a.

T E I T E L B AU M , B . R . B e n j a m n i n .

“ D e s t r u i ç ã o é a a g e n d a d o

Tradicionalismo, a ideologia por trás de

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2020b. Disponível em: https://brasil.el

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teitelbaum-destruicao-e-a-agenda-do-

tradicionalismo-a-ideologia-por-tras-de-

bolsonaro-e-trump.html. Acesso em: 04

mar. 2020.

30

SUGESTÕES DE VÍDEOS PARA ASSISTIR

1. Vídeo (2 min): MESP https://www.youtube.com/watch?v=yEJ0I7D-VAI

2. Vídeo (20min): UNICAMP/MESP: https://www.youtube.com/watch?v=_MJqnAfrkz8

3. Vídeo (4 min): Frigotto/MESP: https://www.youtube.com/watch?v=3PBCbmXnTJA

4. Vídeo (5 min): Karnal/MESP: https://www.youtube.com/watch?v=IfIH3WaJPLc

5. Vídeo (10 min) Safatle/MESP: https://www.youtube.com/watch?v=FrZaAIjH3nk

6. Poodcast sobre neutralidade na educação: https://soundcloud.com/

profscontraoesp/pcesp-10-neutralidade-na-educacao

7. Diversos Podcasts realizados pelo Movimento Professores Contra o Escola Sem

Partido (PCESP). Você pode escutar o PCESP pelo Soundcloud, através do link abaixo, no

S p o t i f y , I t u n e s , D e e z e r, e o u t r o s a g r e g a d o r e s d e p o d c a s t s e m :

https://profscontraoesp.org/podcasts/

8. Vídeo muito engraçado sobre o MESP, disponível pelo blog charges.com.br

https://www.youtube.com/watch?v=2F4CwhCyQ2M

EXERCÍCIOS

1. Com base nas leituras realizadas e nos vídeos assistidos no módulo II, escreva uma

pequena síntese e emita sua opinião sobre a origem e os antecedentes históricos do

MESP.

2. Emita sua opinião, com base nas leituras realizadas no módulo II, sobre a

possibilidade da existência de neutralidade política e imparcialidade ideológica dentro

da sala de aula, quando o professor aborda conceitos, temas, ideias, debate e explica

conteúdos diversos. O professor pode exercer o seu direito de opinião acerca de um

tema ou de uma questão abordada? Ou ele deve simplesmente se abster de dar sua

opinião e permanecer calado? Reflita, leia, pesquisa e responda essa questão.

31

Os epígonos e os críticos associados ao MESP

Objetivo: Identificar aspectos relevantes na obra dos epígonos e críticos associados ao

MESP, relacionando-os com o Ensino Médio Integrado à Educação profissional e

Tecnológica

Atividades assíncronas: ler os textos, assistir aos vídeos, responder o exercício e o

questionário

Tempo disponível: 06 h

Atividades síncronas: palestras e debates ao vivo, mediante Plataforma Microsoft

Teams

Tempo disponível: 02 h

© 2021 Adufmat. All Rights Reserved. Designed by InfoSize.Com

Tabela 1 – Os epígonos e os críticos associados ao MESP

Fonte: elaboração própria em 2021

33

1. O MESP e a questão da ética docente

desse código de ética docente (SILVA et

al., 2020).

Os programas de formação

docente, quer seja para a educação

básica, quer seja para a superior, têm

priorizado o domínio cognitivo e técnico

do exercício do magistério, ignorando

questões do domínio afetivo e ético,

própr ias do cot id iano escolar e

acadêmico.

Diversas áreas profissionais

possuem códigos de ética próprios,

todavia, no que se refere à docência,

quando existentes, eles estão vinculados

às instituições nas quais o professor

exerce sua profissão, diferentemente de

outras profissões, que os têm de forma

própria, sem vínculo com a instituição na

qua l t r aba lham. Em tempos de

compliance , são cada vez mais exigidas

de corporações e profissões condutas

eivadas de forte componente ético e

moral (SILVA et al., 2020).

Dentre os autores que justificam

as demandas do MESP, Ronai Rocha é um

autor que claramente compartilha da

visão de mundo (educação, escola e

sociedade) do MESP – embora de uma

maneira bem mais soft que a maioria dos

fundamentalistas religiosos e políticos

do movimento - uma vez que, depois de

expor e analisar o código de deveres dos

professores, a ser fixado em sala de aula,

defendido pelo MESP, ele chega à

conclusão de que:

os deveres indicados pelo Escola sem Partido são

chocantemente razoáveis. Eles são trivialmente corretos e nos

obrigam a perguntar: qual é mesmo o problema do Escola sem

Partido. [...] Se deixamos de lado os exageros, devemos

reconhecer que, nesses anos que se passaram desde seu

surgimento, a mobilização do Escola sem partido foi no sentido

de fazer com que os professores cumprissem um código de ética

profissional trivial (ROCHA, 2020, p. 30).

V imos que, ao defender a

necessidade de um código de ética

docente , e le jus t ifica a postura

autoritária do MESP, que reclama a

fixação de um rol de deveres a ser

seguido pelos professores e que deveria

ser afixado na porta das salas de aulas.

Evidentemente, a defesa dessa postura

autoritária do MESP por parte do autor

não exime a categoria docente da

necessidade de um código de ética no

exercício de sua profissão. Todavia, a

instituição menos indicada para elaborá-

lo seria o MESP, haja vista sua conduta

persecutória aos docentes brasileiros.

Julgamos que a feitura de um

código de ética docente cabe às

associações e sindicatos docentes, em

parceria com a família, os alunos e a

comunidade escolar. Os governos

federal, estadual e municipal, por meio

de seus respectivos órgãos educativos,

também poderão participar da feitura

8

8 - Compliance é o conjunto de medidas e procedimentos instituídos com o objetivo de evitar, detectar e remediar a ocorrência de

irregularidades, fraudes e corrupção. Adotar posturas éticas está entre as principais preocupações de uma corporação que almeja o

sucesso, seja uma empresa privada, uma empresa pública ou mesmo instituições associativas sem fins lucrativos. Nos últimos anos,

temos visto até mesmo partidos políticos preocupados com o tema (DONELLA, 2019).

http://www.abo-sc.org.br/a-lei-anticorrupcao-e-a-leitura-atual/

Figura 1 – Roubaram o giz, professora!

34

Categorias profissionais como

advogados, médicos, engenheiros

possuem códigos éticos próprios, pois

estão vinculados a autarquias públicas,

como os conselho federais e regionais

de suas respect ivas profissões ,

regulamentadas por leis específicas.

Com raras exceções, os docentes não

possuem um código de ética específico

que trate de sua atuação profissional.

Sabemos que são escassas as

pesquisas dedicadas a estudar os

problemas éticos decorrentes do

exercício da profissão docente. Segundo

Silva et al. (2020), um destes autores

A maioria das categorias profissionais

costuma ter seu próprio código de ética

que regula o exercício do desempenho

profissional.

A pesquisa de Denisova-Schmidt

(2016) destaca a necessidade de um

comportamento ético dos docentes

face às situações concretas do chão da

sala de aula, tais como: não fraudar a

frequência às aulas ou integralização do

conteúdo programático; não realizar a

substituição indevida por colegas, ou

pessoas estranhas, na realização de

aulas, provas ou trabalhos; não receber

propina para facilitar aprovação de

alunos; não permitir a utilização, por

parte dos alunos, de materiais ou

ferramentas não autorizados durante

exames e avaliações.

Revela-se, assim, a necessidade

de uma conduta ética dos docentes,

mesmo quando inexiste um código

escrito regulamentando sua conduta

em sala de aula.

Com relação a códigos de

conduta ética no serviço público federal,

temos a Lei 8.112/1990, que regula o

regime administrativo e disciplinar do

servidor público federal civil. Todavia, é

uma lei ampla e abrangente que não

especifica nem detalha categorias

profissionais em particular. Além dela,

temos o Decreto n. 1.171/1994, que

trata do Código de Ética Profissional do

Ser vidor Públ ico Civi l do Poder

Executivo Federal. Por ser um decreto e

não uma lei, o Código de Ética instituído

pelo Decreto nº 1.171/94 não é aplicável

aos demais entes federados (Estados,

Distrito Federal e Municípios), nem aos

poderes Judiciário e Legislativo, bem

como às Forças Armadas (BRASIL, 1990;

1994).

O Decreto nº 1.171/94 é aplicável

somente aos servidores públicos

ligados ao Poder Executivo Federal

(Administração Direta e Indireta).

Mesmo assim, não especifica a conduta

em particular de categoriais profissio-

nais, como a dos docentes, apenas

e d i t a n d o n o r m a s d e c o n d u t a

generalistas para os servidores públicos

como um todo (BRASIL, 1994).

Via de regra, códigos de ética

docente estabelecem princípios e

padrões para avaliar a conduta dos

educadores, que, em casos extremos,

podem provocar até a exoneração do

profissional e perda de seu certificado

para lecionar. Dependendo da sua

origem, os códigos de ética têm

características diferentes.

Os das instituições governa-

mentais são rígidos e estipulam sanções

aos infratores, mediante medidas

disciplinares para os comportamentos

fora dos padrões estabelecidos no

código. Por sua vez, os das associações

profissionais possuem caráter educativo

e buscam manter um padrão técnico e

acadêmico , não tendo por fim

35

2. As demandas do MESP na visão de um defensor

Ao analisar as demandas do

MESP, Rocha (2020), como que para

ratificar sua afirmação, e ao mesmo

tempo no intuito de angariar adeptos

para sua visão, despretensiosamente

indaga ao leitor: [...] seria então razoável pensar que os simpatizantes do

Escola Sem Partido são apenas extremistas à beira de um

ataque de nervos? Ressentidos com os pequenos avanços e

as inclusões sociais feitas sob o signo da aliança PT-PSDB?

Não há nas colinas do movimento sequer um cisco de

verdade? Não seria prudente, por amor ao debate, seguir a

sugestão de John Mill, que desconfia que uma opinião

dominante ou geral sobre um assunto nunca constitui toda a

verdade? (ROCHA, 2020, p. 30).

Para Rocha (2020), o MESP possui

certa razão em suas afirmações e

preocupações acerca da existência de

doutrinação ideológica e política em

sala de aula. A este respeito, o autor cita,

reiteradamente, um texto do sociólogo

alemão Max Weber, fruto de uma

palestra em 1917, na Universidade de

Munique, intitulado "A ciência como

vocação", cujo trecho podemos ler em

seguida. Diz-se, e subscrevo, que a política não tem

cabimento nos auditórios universitários. Ela não se ajusta

bem aos estudantes [...]. Mas a política também não incumbe

ao professor. [...] A tomada de posição político-prática e a

análise científica das estruturas e dos partidos políticos são

duas coisas muito distintas. Se, numa assembleia popular, se

fala de democracia, não se faz então nenhum segredo da

posição pessoal: pois tomar partido de uma forma clara é aí

o maldito dever e a obrigação. [...] Em contrapartida, utilizar

assim a palavra numa aula ou numa conferência seria um

sacrilégio. [...] O genuíno docente coibir-se-á de forçar, do

alto da cátedra, a qualquer tomada de posição, quer de

expressamente, quer por sugestão – pois esta seria, sem

dúvida, a forma mais desleal, se é que se trata de ‘deixar falar

os factos’ (WEBER, 1917, p. 21).

Este trecho da palestra do

eminente sociólogo alemão é o

referencial teórico mais consistente,

i n v o c a d o p e l o M E S P, c o m o

fundamentação teórica de suas teses,

estando estas ideias presentes em

muitos documentos e material de

propaganda do movimento, divulgados

na internet e na imprensa de modo

geral.

Além de Max Weber, Hannah

Arendt é uma autora resgatada pelo

MESP, a qual, em virtude de sua conduta

liberal e conservadora face à educação,

é i n v o c a d a p e l o m o v i m e n t o

conservador.

https://www.amazon.com.br/Quando-Ningu%C3%A9m-Educa-Questionando-Freire/dp/

8552000172 http://feiradolivrosm.com.br/escritor-homenageado-da-feira-professor-ronai-

rocha-lanca-obra-sobre-etica-e-politica-em-sala-de-aula/

estabelecer sanções administrativas

(SILVA et al. 2020).

Julgamos que a ausência de

códigos de ética para o exercício do

magistério no Brasil deve ser discutida na

comunidade acadêmica e tratada,

também, como um dos conteúdos a

serem abordados na formação de

professores, em suas respectivas

licenciaturas.

Portanto, a existência de um

código de ética pode suscitar reflexões

sobre a prática profissional e a conquista

de uma identidade para a profissão

docente, identificando valores e

princípios que devem orientar o

exercício profissional do magistério.

Figura 2 – Ronai Rocha, educador brasileiro simpático à ideologia do MESP

36

Rocha enxerga na crise iniciada

em “Maio de 1968” a causa primeira e

última das concepções (e valores de vida

e mundo) da política, da economia, da

arte e da educação que questionaram a

sociedade capitalista, seu establishment

e status quo.

Na visão dele, esse alvoroço pelas

questões pol í t icas e soc ia is em

detrimento da prática educativa,

impediu o progresso e o estudo das

teorias educacionais que abordavam as

práticas pedagógicas, didáticas e

metodológicas , impedindo uma

educação pública de qualidade e uma

progressiva equalização social, deixando

de lado o alcance positivo das atitudes

reformistas na educação, o que na visão

do autor é contraproducente, se

queremos uma educação e uma escola

que ensine mais e politize menos.

O sequestro de Hannah Arendt

pelo pensamento conservador – e,

especificamente, no caso brasileiro, pelo

MESP – deveu-se, deveu-se, dentre

outras razões, a um ensaio escrito por ela

em 1954, intitulado “Reflexões Sobre

Little Rock” e outro escrito em 1957, “A

Crise na Educação”.

No texto, ela aborda o caso da

aluna Elizabeth Eckford, de 15 anos, que

no dia 04 de setembro de 1957, na

cidade de Little Rock, capital do Estado

do Arkansas, nos Estados Unidos da

América, teve sua fotografia exposta em

todos os jornais do país ao ser

perseguida e agredida verbalmente por

um grupo de jovens supremacistas

brancos, na Escola Little Rock Central

High School, porque havia adquirido

mediante ação judicial o direito de

assistir aulas em uma escola frequentada

por brancos, o que antes era proibido

pelas leis dos Estados do Sul.

A passagem, até hoje polêmica,

q u e a colocou como uma das inspira-

doras do MESP, é esta que se segue: A minha primeira pergunta foi: o que eu faria, se

fosse uma mãe negra? Resposta: em nenhuma

circunstância exporia meu filho a condições que

dariam a impressão de querer forçar a sua entrada

num grupo em que não era desejado. Se eu fosse

uma mãe negra no Sul, sentiria que a decisão da

Suprema Corte, involuntária, mas inevitavel-

mente, colocara o meu filho numa posição mais

humilhante do que aquela em que ele se

encontrava antes. A minha segunda pergunta foi:

o que eu faria se fosse uma mãe branca no Sul?

Novamente tentaria impedir que meu filho fosse

arrastado para uma batalha política no pátio da

escola. Além disso, sentiria ser necessário o meu

consentimento para quaisquer mudanças

drásticas não importando qual fosse a minha

opinião a esse respeito. Concordaria que o

governo tem uma participação na educação de

meu filho na medida em que essa criança deve

crescer e se tornar cidadã, mas negaria que o

governo tenha o direito de me dizer em que

companhia o meu filho deva receber a sua

instrução. Os direitos de os pais decidirem essas

questões para os filhos até eles se tornarem

adultos só são questionados pelas ditaduras

(ARENDT, 2004, p.261-262, grifos nossos).

Essa sua posição foi duramente

criticada à época e ainda é hoje por

movimentos de direitos civis dos Estados

U n i d o s e d e t o d o o m u n d o

(BURROUGHS, 2015, p. 52). Na visão

dela, a escola seria um lugar indevido

para se iniciar uma reforma do mundo,

pois essa obrigação seria dos adultos, a

ser empreendida na esfera política, entre

cidadãos iguais, não devendo começar a

partir das crianças e dos jovens. http://www.novospensadores.com/o-que-e-politica-de-hannah-arendt-frags-1-2b-e-parte-do-3b/

https://brasilescola.uol.com.br/sociologia/introducao-teoria-max-weber.htm

Figura 3 – Hannah Arendt e Max Weber

37

Para ela, a questão principal deve

ser a igualdade perante as leis do país,

reconhecendo que a igualdade é violada

pelas leis da segregação. Na concepção

dela, são as leis que impõem a

segregação racial entre brancos e

negros. Portanto, o que se precisa

mudar são as leis e não os costumes

sociais dos pais ou as maneiras de se

educar as crianças.

Esta filósofa liberal, que foi aluna

e amante de Martin Heiddeger , acredita

que a educação progressista - e a escola

que esta defende - diminui a autoridade

dos adultos e nega a responsabilidade

destes sobre os filhos, ao delegarem à

esco la a responsab i l idade pe la

educação dos filhos, tese convergente

com o ideário liberal do MESP.

Confundir o mundo dos adultos

com o mundo da escola – levando os

conflitos e valores do primeiro para o

espaço ocupado pelo segundo seria um

passo para politizar a escola, alterando

suas regras, adaptando-a e inserindo-a

no mundo político e conturbado dos

adultos.

Tão logo estes movimentos

políticos chegam ao poder, retiram os

filhos aos pais e tratam de doutriná-los e

“a educação não pode desempenhar

nenhum papel na política porque na

política se lida sempre com pessoas já

educadas” (ARENDT, 1957, p. 3).

Assim, segundo a pensadora

alemã, o educador progressista recusa o

dever de guiar as crianças pelo mundo

da escola, do qual a política e outras

questões mundanas não devem fazer

parte, além de transferir para dentro da

escola (que é o mundo das crianças e

jovens) a tarefa de melhorar o mundo.

Essa tarefa deve pertencer aos

adultos e deve ocorrer fora dos muros

da escola. Seguindo esse raciocínio,

Rocha (2020) diz que as crianças são

transformadas em instrumento da luta

polít ica pelos professores, pelos

sindicatos, por governantes e por juízes,

o que ele considera um equívoco.

As batalhas políticas transferem-

se para o pátio das escolas, chegando ao

ponto em que se solicita às crianças e

aos jovens que mudem e melhorem o

mundo. Desta forma, a educação

progressista pretende ter as suas

batalhas políticas travadas no pátio das

esco las , a l te rando suas regras ,

adaptando-a e inserindo-a no mundo

político e conturbado dos adultos.

(ROCHA, 2020, p. 77).

38

3. “Professores contra o Escola Sem Partido”

Faremos uma apresentação

bastante sucinta do Movimento

Professores Contra o Escola Sem

Partido (PCESP). O (PCESP), que

nasceu como uma reação, uma

resistência à ofensiva empenhada

pelo MESP. Inicialmente surge como

uma página no Facebook em 22 de

agosto de 2015 (PROFESSORES,

c.2004) .

O objetivo dos organizadores

da página era aglutinar pessoas e

divulgar notícias contrárias às

atividades e ações do MESP. O PCESP

surge como oposição e como

resistência à atuação do MESP

(PROFESSORES, c.2004).

O PCESP começou como

umapágina no facebook de reunião e

divulgação de notícias relativas aos

avanços do movimento de mesmo

nome, “Escola Sem Partido”, criado

em 2004 por um advogado chamado

Miguel Nagib. Somos um grupo de

estudantes e professores que se

o p õ e m a o s p r o j e t o s d e l e i

incentivados por este movimento que

tramitam em várias casas legislativas

do país (PROFESSORES, c.2004).

Para combater este etrocesso, a

página e o blog do PCESP informam e

produzem conteúdos de análise e

reflexão sobre o crescimento e

organização do MESP, v isando

fundamentar argumentos para

desconstruir o apoio que eles

conquistaram nos últimos anos. O

email para contato do PCESP é

[email protected]

(PROFESSORES,c. 2004).

É da tomada de consciência

então (por parte de professores e

alunos), das proposições do ESP e da

amplitude de sua atuação que, no

segundo semestre de 2015, se

constitui o PCESP, tendo como um

dos criadores e principal articulador o

professor Fernando Penna, Doutor

em Educação pela Universidade

Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e

professor adjunto da Faculdade de

Educação da Universidade Federal

Fluminense (UFF).

O primeiro mapeamento dos

projetos de lei do MESP, e similares

no Brasil, foi feito por Fernanda

Moura¹ ² em seu mest rado no

ProfHistória-UFRJ, em 2016. Sua

dissertação consta com levanta-

mento extensivo de projetos de leis do

MESP, apresentados pelo país, visan-

do a investigar o MESP e suas

consequências a educação brasileira

e, em particular, para o ensino de

história. (VIGIANDO, c.2004).

Figura 4 – Professores e estudantes mobilizados contra o MESP

https://sindeducacao.org/nota-pelo-arquivamento-imediato-do-projeto-

escola-sem-partido-em-sao-luis

39

O trabalho da Fernanda Moura,

intitulado "Escola Sem Partido: relações

entre Estado, educação e religião e os

impactos no ensino de história", é uma

das primeiras grandes referências de

pesquisa a respeito do Movimento

Escola Sem Partido no Brasil. Ele pode

ser acessado no Portal da EUDCAPES no

link:https://educapes.capes.gov.br/bitstream/capes/1745

84/2/Disserta%C3%A7%C3%A3o%20Fernanda%20Pereira

%20de%20Moura.pdf.

Ao longo de 2017 e 2018, esse

mapeamento foi atual izado por

Fernanda Moura, Diogo Salles e Renata

Aquino, graças ao financia-mento do

ANDES, do Sinasefe e da Fasubra. A

última atualização no mapeamento, do

início do segundo semestre de 2019,

pode ser visitada no site do PCESP.

Ainda no primeiro semestre de 2020,

foram publicadas atualizações do

mapeamento dos projetos de leis

o r iundos com base nas ide ias

difundidas pelo MESP. (VIGIANDO,

c.2004).

O PCESP estrutura um website

que passa a oferecer seu material fixo, o

qua l busca reun i r pub l i cações

r e l a c i o n a d a s a o s t e m a s d e

enfrentamento ao MESP (doutrinação

ideologia, identidade de gênero,

material didático, etc.). Constitui, assim,

duas frentes virtuais de discurso e ação,

uma no facebook e outra em website.

(PROFESSORES, c2004).

Recentemente, o PCESP avan-

çou em sua organização criando uma

associação chamada Movimento

Educação Democrática (MED). O MED,

segundo a descrição em sua página no

Facebook, para além do enfrentamento

com o ESP, objetiva reunir pessoas e

grupos em todo o território nacional em

prol de uma educação democrática e

em de fesa da esco la púb l i ca .

(PROFESSORES, c.2004).

Todos os projetos colhidos pelo

PCESP foram reunidos em uma pasta

online a fim de que a consulta fosse

ofertada sem depender das páginas

eletrônicos das casas legislativas de

origem. Estes projetos foram reunidos

mediante downloads direto dos sites

das assembléias e câmaras legislativas

https://www.sindmetalsjc.org.br/arquivo/thumb/noticias/0db05fe675a1647828eb_990x500_0_0_1_1.jpg

https://www.anfope.org.br/wp-content/uploads/2018/07/cartaz-carta-aberta.png

Figura 5 – O movimento estudantil se mobiliza contra as leis do MESP

https://liberdadeeluta.org/node/481

Figura 6 – Imagem da Frente Escola sem Mordaça

Figura 7 - Carta em defesa da educação democrática

40

quando disponíveis, contato com as

casas legislativas e parlamentares, e

pela Lei de Acesso à Informação

(12.527/2011). O trabalho é público,

está disponível no site do PCESP na

internet (https://profscontraoesp.org/) e

pode ser citado nos mais diversos

materiais, desde que a autoria seja

mantida (VIGIANDO, c2004).

Fonte: Adaptado de PINHEIRO, 2017.

Tabela 2 – Aproximações e distanciamentos discursivos entre MESP e PCESP

41

4. Resumo do Módulo II

Neste módulo, nós estudamos os

autores associados ao MESP, os críticos e

os defensores. O MESP, como todo

movimento político e pedagógico novo,

necessita se autoafirmar face ao

presente e ao passado. Nesse sentido,

ao mesmo tempo, que invoca autores

do passado, ele também invoca autores

do presente para se contrapor as ideias

vigentes no meio social.

Dentre os autores invocados com

o objetivo de fundamentar seu ideário, o

MESP recorre a Hannah Arendt (2004) e

Max Weber (1917; 2004). A primeira,

com sua concepção de que a educação

possui uma função de conservação do

mundo, de amor ao mundo, e que a

escola não pode ser o local adequado

para disputas que pertence ao mundo

dos adultos, e o segundo, com sua deia

de que o espaço acadêmico não é o local

apropriado para disputas ideológicas e

políticas, fornecem um substrato teórico

para os epígonos do MESP em sua

cruzada contra a discussão e o debate

dentro das escolas.

Na mesma linha de pensamento

dos dois eminentes teóricos alemãs

citados acima, há autores menos

conhecidos do mundo acadêmico,

como o português Armindo Moreira,

com sua concepção de que a finalidade

da escola é única e exclusivamente

instruir e não educar, e o brasileiro Ronai

Rocha , fi lósofo e p rofes so r da

Universidade Federal do Rio Grande do

Sul, crítico da pedagogia libertadora de

Paulo Freire. Rocha atribui ao ideário de

Freire e às teorias crítico-reprodutivistas,

a excessiva politização do ambiente

acadêmico , em det r imento das

metodologias e das práticas de ensino.

Em linhas gerais, todos estes

autores defendem uma concepção de

educação e de escola, supostamente

mais técnica e pedagógica, com menos

ênfase nas discussões teóricas e

políticas as quais eles atribuem a crise da

educação e da escola no mundo

moderno . Em con t rapa r t ida , o

movimento Professores Contra o Escola

Sem Partido, cuja principal atuação dá-

se por meio das redes sociais e da

imprensa, postula que o ambiente

acadêmico não pode estar apartado das

questões políticas e sociais que dizem

respeito à vida dos educandos e

educadores.

42

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WEBER, Max. Ciência e política: duas

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2015. [recurso eletrônico, edição do

Kindle].

SUGESTÕES DE VÍDEOS PARA ASSISTIR

1. A crise na educação por Hannah Arendt. Um breve resumo do livro A Crise na Educação,

de Hannah Arendt, com Daniel Medeiros, professor de Filosofia e... Positivo (5 min.):

https://www.youtube.com/watch?v=896LXQqKvQk

2. Hannah Arendt e a crise na educação com Bruna L./UNICAMP (4 min.):

https://www.youtube.com/watch?v=DVeHfICTzLw

a L./UNICAMP (4 min.): https://www.youtube.com/watch?v=DVeHfICTzLw

4. Hannah Arendt e a crise na educação com Guilherme Freire, pensador católico (12 min.):

https://www.youtube.com/watch?v=jix8oRxogk0

5. Vídeo com Armindo Moreira, autor da obra “Professor não é educador”, considerada a

Bíblia do MESP (8 min.). https://www.youtube.com/watch?v=PRUJ_8RaUKg

6. Doutrinação nas escolas, origens do problema, uma defesa do tomismo católico contra

o m a r x i s m o e o l i b e r a l i s m o , c o m G u i l h e r m e F r e i r e ( 3 1 m i n . ) .

https://www.youtube.com/watch?v=KzXvV9-pomM

7. Podcast do “Professores Contra o Escola Sem Partido” fala sobre a neutralidade na

educação, com a participação de Diogo Salles, Fernanda Moura, Fernando Penna e Renata

Aquino. https://soundcloud.com/profscontraoesp/pcesp-10-neutralidade-na-educacao

8. Podcast do “Professores Contra o Escola Sem Partido” disseca a nova versão de projeto

de Lei do MESP, apresentado na Câmara dos Deputados em 2019, com os participantes

Renata Aqu ino , Fe rnanda Moura , Lu i za B randão e Fe rnando Penna .

https://soundcloud.com/profscontraoesp/extra-7-escola-sem-partido-20

9. Podcast educação democrática – parte 1 (52 min.).

44

1. Diante da temática abordada - o MESP e a EPT, especificamente no âmbito do Ensino

Médio Integrado do IFRN/Campus Mossoró - escreva breves considerações sobre a

possível influência e doutrinação política realizada pelos professores em sala de aula.

- Será que, em uma sociedade aberta e democrática, as escolas e as instituições

educacionais podem (ou devem) ater-se somente ao ensino dos conteúdos programáticos,

previstos no plano de ensino?

- O ensino dos valores, da ética e da cidadania deve ficar fora da sala de aula?

- As discussões e os debates sobre a realidade social, política e econômica não devem

adentrar os portões da escola?

- Há um meio-termo nessa tão difícil e instigante discussão acerca dos valores e das ideias

que podem ou não serem ensinados em sala de aula?

- Afinal, o professor deve ter mesmo liberdade de expressão e opinião diante de “uma

audiência cativa”?

2. Diante do que você leu e assistiu, neste módulo, qual sua opinião sobre a questão ética e

política dentro da sala de aula? Qual o limite do professor, o que ele pode e não pode fazer

dentro da sala de aula?

3. A que você atribui o fato de Hannah Arendt ser invocada como referencial teórico pelo

MESP, quando historicamente seu pensamento sempre foi associado à crítica do

autoritarismo e o repúdio à “banalidade do mal”? Em outras palavras, como se explica que

uma pensadora crítica do autoritarismo seja invocada por um movimento autoritário como

o MESP?

45

Disponível em: https://soundcloud.com/profscontraoesp/pcesp-1-educacao-

democratica-parte-1-o-que-e-uma-boa-educacao

10. Podcast educação democrática – parte 2 (46 min.).

Disponível em: https://soundcloud.com/profscontraoesp/pcesp-2-educacao-

democratica-parte2-democracia-radical

11. Vídeo do Porta dos Fundos sobre o MESP (02 min.).

Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=tNxCmR5OWe8

12. Vídeo sobre o MESP (1,5 min).Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=2F

4CwhCyQ2M

As bases conceituais da EPT

Objetivo: Aproximar os docentes dos conhecimentos referentes às bases

conceituais da EPT, avaliando as possíveis consequências do ideário político-

pedagógico do MESP para o Ensino Médio Integrado à Educação Profissional e

Tecnológica

Atividades assíncronas: ler os textos, assistir aos vídeos, responder o exercício

Tempo disponível: 06h

Atividades síncronas: palestras e rodas de conversas, mediante Plataforma

Microsoft Teams

Tempo disponível: 02h

© 2016 - Portal Acontece RN - Todos os direitos

Tabela 1 – As bases conceituais da EPT

Fonte: elaboração própria em 2021

47

1. Politecnia e omnilateralidade: o trabalho como princípio educativo

O conceito de omnilateralidade

guarda relação com o de politecnia,

ambos fundamentais para a análise e

compreensão do problema da formação

humana. O elemento que os distingue é

o fato de que a politecnia representa

uma proposta de formação educacional,

aplicável no âmbito da sociedade

capitalista, ar ticulada ao próprio

momento do trabalho abstrato , ao passo

que a omnilateralidade apenas se faz

possível no conjunto de novas relações,

no reino da liberdade, para além da

sociedade do capital, em uma sociedade

futura na qual não haja mais exploração

do homem pelo homem (SOUZA

JÚNIOR, 2009).

A politecnia é proposta para se

realizar já no presente, retirando os

trabalhadores da opressão a que estão

submetidos, a fim de prepará-los para o

mundo do trabalho e para o mundo

acadêmico. A politecnia não almeja

alcançar a emancipação humana,

formação plena do homem livre, mas a

formação técnica e política, prática e

teórica dos trabalhadores no sentido de

elevá-los na busca da sua transformação

em classe-para-si. Assim, sua realização

não exige a ruptura ou superação da

sociedade regida pelo capital. (SOUZA

JÚNIOR, 2009).

Mesmo ciente de que essa

emancipação humana não é possível nos

marcos do capitalismo, ela deve já ser

pensada e iniciada agora, no tempo

presente, no momento presente, mesmo

sob as circunstâncias sociais adversas

existentes para a classe-que-vive-do-

trabalho dentro da sociedade do capital

(ANTUNES, 2009; BOTTOMORE, 2012).

Todavia, a emancipação humana

só será plenamente alcançável em uma

sociedade futura, que já tenha abolido a

exploração e a divisão social do trabalho,

na qual a educação, o tempo livre e a

r i q u e z a e s t e j a m a m p l a m e n t e

disseminados.

https://colunastortas.com.br/o-que-e-alienacao-em-marx/

O diferencial fundamental entre os

dois conceitos é justamente o fato de que a

politecnia representa uma proposta de

educação que pode ser viabilizada nos

marcos da sociedade burguesa, articulada

ao trabalho abstrato que se expressa no

valor de troca das mercadorias, enquanto a

omnilateralidade só se faz possível em uma

sociedade futura, em que não haja mais a

exploração e alienação do trabalho (SOUZA

JÚNIOR, 2009; SAVIANI, 1989). Esta

sociedade futura, foi definida por Marx e

Engels (2007) como sendo aquela na qual

se está para além do reino da necessidade,

e na qual já é possível se adentrar no reino

da liberdade, onde:

[...] cada um não tem um campo de atividade

exclusivo, mas pode aperfeiçoar-se em todos os

ramos que lhe agradam, a sociedade regula a

produção geral e me confere, assim, a possibi-

lidade de hoje fazer isto, amanhã aquilo, de caçar

pela manhã, pescar à tarde, à noite dedicar-me à

Figura 1 – A alienação do trabalho

48

criação de gado, criticar após o jantar, exata-

mente de acordo com a minha vontade, sem que

eu jamais me torne caçador, pescador, pastor ou

crítico (ENGELS; MARX, 2007, p. 38).

As potencialidades de desenvol-

vimento da maquinaria e, em particular,

da automação e da robótica, sob

relações socializadas de produção,

tornando possível, pela primeira vez, um

verdadeiro reino da liberdade fora da

produção material adequado e favorável

àquele desenvolvimento da energia

humana que é um fim em si mesmo

( B OT TO M O R E , 2 0 1 2 ) . Po r t a n to ,

p o l i t e c n i a e o m n i l a t e r a l i d a d e

complementam-se no processo de

formação e emancipação humanas, com

vistas à superação da sociedade do

capital.

Se a omnilateralidade como

formação plena é impossível no seio das

relações sociais capitalistas, é preci-

samente no âmbito da sociedade capita-

lista que a politecnia aparece - e deve ser

instrumentalizada - pela classeque-vive-

do-t raba lho , como proposta de

educação, até o advento da futura

sociedade socialista (ANTUNES, 2009;

SOUZA JÚNIOR, 2009).

A superabundânciadas socieda-

des ricas e desenvolvidas nos mostra as

condições materiais objetivas para a

construção do socia-lismo, não como

uma quimera, mas como um fato

possível e necessário para a humanidade

(SOUZA JÚNIOR, 2009; SAVIANNI, 1989).

A pol i tecnia (ou educação

tecnológica) tem por objet ivo a

f o r m a ç ã o d e u m t r a b a l h a d o r

mul t i la tera l (não confundi r com

polivalente) que abarque todos os

ângulos da prática produtiva moderna,

na qual o educando-trabalhador

domine os princípios e fundamentos

científicos, técnicos e humanísticos que

estão na base da organização social e

produção moderna (ANTUNES, 2009;

CIAVATTA, 2005). .

A o a p r o p r i a r - s e d e s s e s

conhecimentos científicos, técnicos e

humanísticos – proporcionados pelas

ciências sociais e da natureza – os

educandos oriundos da classe-quevive-

do-trabalho estarão em condições

de tentar desenvolver aquelas ativida-

des específicas, necessárias à sua

(MACIEL, 2018). https://dialnet.unirioja.es/servlet/articulo?codigo=6399936

https://pt.slideshare.net/mcristinabortolozo/educacao-e-compromisso-8430398

http://www.dmtemdebate.com.br/o-mosaico-da-exploracao-do-trabalho/

Figura 2 – Educação em Marx e Engels: politecnia e emancipação humana

Figura 3 – A politecnia em Pistrak (1888-1937), educador soviético

Figura 4 – Riqueza e Miséria do Trabalho no Brasil: trabalho digital, autogestão e expropriação da vida

49

social e político, do qual todo cidadão

deve fazer parte (SAVIANI, 1989).

2. A Escola Unitária e o trabalho como princípio educativo

Toda sociedade precisa produzir

suas condições materiais e culturais de

sobrevivência, recorrendo para isso ao

trabalho para transformar a natureza e

produzir bens e serviços necessários à

vida em comunidade. Portanto, está

claro que há uma relação direta entre o

trabalho e a educação, em todas as

formas de sociedade.

No caso do trabalho como

princípio educativo, a afirmação

também remete à relação entre o

trabalho e à educação, na qual se afirma

o caráter formativo do trabalho e da

educação como ação humanizadora por

meio do ocorre o desenvolvimento de

todas as potencialidades do ser humano

(CIAVATTA, 2009).

Nesse texto, deixamos claro que

nosso campo de discussão teórica é o

materialismo histórico e dialético, no

qual se parte do trabalho como

produtor dos meios de vida, tanto nos

aspectos materiais quanto culturais, de

criação material e simbólica e suas

consequentes formas de sociabilidade.

Independentemente das formas

históricas que assume (escravidão,

servidão, assalariamento), o trabalho

p e r m a n e c e c o m o a a t i v i d a d e

fundamental da vida humana. O que

muda, ao longo da história, são a

natureza do trabalho, os instrumentos

de trabalho, as formas dos homens

interagirem entre si e com a natureza, as

formas de apropriação da riqueza

socialmente produzida (CIAVATTA,

1992).

Com o advento do capitalismo e

das sociedades industriais, a palavra

trabalho adquire um significado de

positividade, sobretudo entre os autores

liberais, como Adam Smith e John Locke.

Em Marx, para quem o trabalho é fonte

de toda a riqueza, ele é positivo e

negativo ao mesmo tempo. Negativo

porque dentro da sociedade capitalista

ele é sinônimo de exploração e

degradação, mas positivo porque é ele

que diferencia o homem dos animais e,

em uma sociedade futura socialista, ele

deve ser instrumento de humanização e

libertação.

Essa separação do trabalhador

dos meios e produtos do trabalho é o

que Marx (2011) chamou de alienação

(ou estranhamento), mediante a qual o

homem não se reconhece no produto

do seu próprio trabalho, pois nem o

fruto do seu trabalho lhe pertence nem

ele mesmo se pertence durante o

processo de produção.

https://racismoambiental.net.br/2016/12/04/nao-fetichismo-da-mercadoria-nao-e-ostentacao-saiba-o

-que-esse-termo-de-fato-significa/

Figura 5 - O fetichismo da mercadoria

50

No Brasil, ao final da ditadura

civil-militar, nos anos 1980, foram muito

discutidas as propostas da educação na

Assembleia Nacional Constituinte

instaurada em 1986, que resultou na

promulgação da Constituição de 1988 e,

poster iormente, na nova Lei de

Diretrizes e Bases da Educação Nacional

em 1996, a Lei 9.394, de 26 de dezembro

de 1996 (ASSEMBLEIA NACIONAL

CONSTITUINTE 1987, 2020; BRASIL,

1996).

Precisamos, enquanto classe-

que-vive-do-trabalho (ANTUNES, 2000),

nos organ izar, nos mobi l i za r e

empreender lutas objetivas e subjetivas

para apressar o fim da sociedade do

capital.

E o campo educacional é um

campo privilegiado para empreen-

dermos essa luta por novas relações

sociais e humanas de produção da

existência, face uma nova realidade

social, política e econômica.

A defesa da educação politécnica

e unitária pode ser vista embriona-

riamente já no Manifesto Comunista

(2005) , quando este recomenda

“educação pública e gratuita para todas

as crianças, abolição do trabalho das

crianças nas fábricas, tal como é

prat icado hoje . Combinação da

educação com a produção material etc.

(p. 79).

Figura 6 - Alienação do trabalho e fetichismo da mercadoria

http://geomaniacoss.blogspot.com/2014/03/capitalismo-comercial-essa-imagem.html

Figura 7 – O homem confere qualidades humanas à mercadoria e a mercadoria coisifica o homem

Figura 8 – Imagens de meninas em trabalho análogo

à escravidão

http://zeaugustoblog.blogspot.com/2017/04/turma-reconhece-dano-moral-

coletivo-na.html

https://pt.slideshare.net/lbrga/marx-32508965

51

Em O Capital, Marx (2011, p.

366), explicita a ideia de educação

politécnica ou tecnológica, ao dizer que

“o germe da educação do futuro [...]

combinará o trabalho produtivo de

todos os meninos além de uma certa

idade com o ensino e a ginástica,

constituindo-se em método de elevar a

produção social e de único meio de

produzir seres humanos plenamente

desenvolvidos”.

No Brasil, a dualidade estrutural

da educação e sua expressão política

refirmou-se, mais uma vez, nos anos

1990, com a publicação do Decreto n.

2.208/97, que, contrariando a Lei n.

9.394/96, implantou a separação entre

o ensino médio geral e a educação

profissional técnica de nível médio

(BRASIL, 1997).

Nos anos 2000, em condições

políticas adversas, o Governo Lula

promulgou o Decreto 5.154/04, que

revogou o anterior e abriu a alternativa

da formação integrada entre a

f o r m a ç ã o g e r a l e a e d u c a ç ã o

profissional técnica de nível médio

(BRASIL, 2004).

Entendemos, em acordo com

Saviani (1989, p. 15), que a politecnia

desenvolva o “trabalho [...] numa

unidade indissolúvel, os aspectos

manuais e intelectuais, [pois] todo

t r a b a l h o h u m a n o e n v o l v e a

concomitância do exercício dos

membros, das mãos e do exercício

mental, intelectual. Isso está na própria

origem do entendimento da realidade

humana, enquanto constituída pelo

trabalho.”

A introdução do trabalho como

princípio educativo na escola requer um

currículo baseado nas bases científicas e

tecnológicas da escola unitária e

p o l i t é c n i c a , o c o n h e c i m e n t o

humanístico das ciências sociais e a

crítica de como se dá o trabalho no

sistema capitalista, ressaltando-se as

lutas pelo direito ao trabalho e à

educação.

Figura 9 – Antonio Gramsci (1891-1937), o sardo que renovou o marxismo

https://blogdoims.com.br/o-alvorecer-do-fascismo/

Figura 10 – Gramsci, a escola unitária e o trabalho como princípio educativo

https://pt.slideshare.net/mcristinabortolozo/educacao-e-compromisso-8430398

52

3. Pedagogia histórico-crítica

Saviani propõe, no ano de 1979, a

Pedagogia Histórico-Crítica como uma

tentativa de não só criticar, como

também reso lver os problemas

educacionais, orientando “a prática

p e d a g ó g i c a e m u m s e n t i d o

transformador” (SAVIANI, 2010, p. 115).

Concebida como uma pedagogia

dialética justamente porque procura

levar em consideração o movimento da

realidade e suas contradições, é uma

teoria “atenta aos determi-nantes

sociais da educação e que permitisse

articular o trabalho pedagógico com as

relações sociais” (SAVIANI, 2012, p. 118).

Ao analisar as teorias pedagó-

gicas ao longo da história, Saviani

valoriza a importância dos conteúdos

curriculares presentes na Pedagogia

Tradicional, mas critica seu formalismo e

autoritarismo. Segundo ele.

A prioridade de conteúdos é a única forma de

lutar contra a farsa do ensino. Por que esses

conteúdos são prioritários? Justamente porque o

domínio da cultura constitui instrumento

indispensável para a participação política das

massas. Se os membros das camadas populares

não dominam os conteúdos culturais, eles não

podem fazer valer os seus interesses porque ficam

desarmados contra os dominadores, que se

servem exatamente desses conteúdos culturais

para legitimar e consolidar a sua dominação. [...]

sem disciplina esses conteúdos relevantes não são

assimilados (SAVIANI, 1991, p. 66).

Ao mesmo tempo, ele realiza

uma crítica da Pedagogia Nova, na

medida em que não valoriza os

conhecimentos socialmente produzidos

(a cultura), artificializa o ensino ao tentar

transformá-lo em um processo de

pesquisa, além de ter sido responsável

pelo aumento da segregação no

universo escolar, valorizando alguns em

detrimento de outros visto que as

experiências propostas pela Escola Nova

foram restritas a pequenos grupos.

Assim, a Pedagogia Histórico-

Crítica precisa ser radical, mas essa

radicalidade consiste em realizar uma

síntese dialética (uma subsunção que

nega e incorpora ao mesmo tempo as

teorias que a precederam), pois o novo

só pode surgir a partir do velho

(SAVIANI, 2003).

A educação passou a ser vista,

por tanto, como instrumento de

l iber tação. Essa l iber tação seria

garantida a partir do domínio dos

conhec i m en tos h i s to r i c am ente

produzidos pela humanidade (ciência,

cultura, técnica, tecnologia) e da

compreensão e mudança da realidade

social e política (SAVIANI, 2003).

Figura 11 – Dermeval Saviani, referência brasileira em educação

https://ww2.unit.br/enfope2017/speakers/dermeval-saviani/

53

4. Resumo do Módulo III Neste módulo, estudamos as

bases conceituais da EPT, com um foco

mais acentuado sobre os conceitos de

politecnia e omnilateralidade, escola

unitária e trabalho como princípio

educativo e pedagogia histórico-crítica,

os quais constituem a base para a

compreensão do que se ja uma

formação humana integral. Nosso

intento foi aclarar estes conceitos para o

público de docentes que frequentou

nosso curso de formação pedagógica

continuada que teve como material

didático de apoio este e-book que ora

tornamos público.

No âmbito de uma instituição de

EPT, esta discussão sobre as bases

conceituais da educação profissional e

tecnológica é mais que necessária,

sobretudo quando estamos falando do

currículo do ensino médio integrado no

q u a l e s t ã o i n t e r c o n e c t a d a s e

interdependentes as bases científicas e

tecnológicas com a formação geral,

propedêutica e humanística, permitindo

aos educandos uma educação de base

ampliada, de qualidade e socialmente

referenciada.

Esperamos, portanto, que a

le i tura, anál ise e discussão dos

conceitos contidos neste módulo

permitam evidenciar e lutar contra o

dualismo estrutural da educação formal

brasileira, cada dia mais reforçado pelo

discurso da qualificação profissional, da

empregabilidade e da meritocracia, que

destina uma macdonaldização da

educação aos filhos da classe-que-vive-

do-trabalho (SILVA et al. 1996). A

formação educacional precária da

c l a s s e - q u e - v i v e - d o - t r a b a l h o ,

assoberbada de privações e trabalho

árduo, dispondo de pouco tempo livre,

derivada da divisão social do trabalho,

priva os membros desta classe da

aquisição de conhecimentos úteis e

socialmente necessários às lutas por

uma formação omnilateral. O acesso a

uma educação pública, laica e de

qualidade é condição sine qua non para

a assunção e o protagonismo da classe-

que-vive-do-trabalho à condição de

classe dirigente e hegemônica da

sociedade. Por isso que a EPT e o ensino

médio integrado, em particular, são tão

relevantes nessa empreitada por uma

educação e uma sociedade que

permitam o desenvolvimento integral

do ser humano.

54

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Estudar e pesquisar o Movimento Escola Sem Partido (MESP) e suas implicações

sobre a Educação Profissional e Tecnológica (EPT) – tendo por referência teórica o

materialismo histórico-dialético, como referência metodológica o método dialético, a

pedagogia histórico-crítica dos conteúdos, a técnica da análise de conteúdo e o método

da intervenção pedagógica – foi uma tarefa, ao mesmo tempo, árdua e prazerosa, que

exigiu disciplina misturada com amor e sedução por esta temática da qual nos ocupamos

nos últimos dois anos de vida. Como quase tudo na vida, a pesquisa exige do

pesquisador um misto de amor, sedução e encantamento pelo objeto de sua pesquisa,

que ele elegeu e com o qual passa a estar envolvido, a se encantar, a trabalhar na

lapidação e refinamento dela, com o intuito de lhe dar forma adequada.

Diante do prazer e da dor que foi trabalhar com a temática do MESP e sua relação

com a EPT, desejamos que, ao final deste trabalho, ao mesmo tempo penoso e prazeroso,

tenhamos alcançado alguns de nossos objetivos, a saber: refletir sobre o ideário político-

pedagógico do MESP para a educação brasileira, identificar os conhecimentos prévios

dos docentes acerca das bases conceituais da EPT e do ideário político-pedagógico do

MESP, avaliar as contribuições deste produto educacional para a construção de uma

percepção crítica e autônoma dos docentes sobre a EPT, o EMI e o ideário político-

pedagógico do MESP.

Face ao exposto, julgamos que desenvolver um curso de formação pedagógica

direcionado aos docentes, tendo como temática o ideário político-pedagógico do MESP,

com suas implicações sobre o EMI à EPT – relacionando este ideário às bases conceituais

da EPT – constituiu nossa humilde contribuição para um ensino médio integrado que

funcione como travessia rumo à uma educação polítécnica e unitária – que tenha no

trabalho um princípio educativo – e à uma sociedade socialista, onde não haja

exploração e alienação do trabalho humano. Tal é o horizonte que devemos divisar, tal é a

montanha que devemos conquistar. Todavia, estamos cientes de que esta educação e

esta sociedade só virão se lutarmos para transformá-las de desejo em uma realidade

concreta, diante de nosso devir histórico.

Estamos cientes de que este estudo sobre o MESP e a EPT, dadas sua

complexidade, amplitude e heterogeneidade, não conseguiu esgotar – nem foi esta

nossa pretensão – todos os conceitos e concepções acerca dessa temática. Faz-se

necessário que muitos outros pesquisadores se debrucem sobre este assunto e lancem

luz sobre as bases conceituais da EPT e o ideário político-pedagógico do MESP, nos

marcos da educação e sociedade brasileiras.

55

Aos que Vão Nascer - Brecht

I

Realmente, eu vivo num tempo sombrio.

A inocente palavra é um despropósito. Uma

fronte sem ruga

denota insensibilidade. Quem está rindo

é só porque não recebeu ainda

a notícia terrível.

Que tempo é este em que

uma conversa sobre árvores chega a ser falta,

pois implica silenciar sobre tantos crimes?

Esse que vai cruzando a rua, calmamente,

então já não está ao alcance dos amigos

necessitados?

É verdade: ainda ganho o meu sustento.

Porém, acreditai-me: é puro acaso. Nada

do que faço me dá direito a isso, de comer a

fartar-me.

Por acaso me poupam. (Se minha sorte acaba,

estou perdido.)

Dizem-me: – Vai comendo e vai bebendo!

Alegra-te com o que tens!

Mas como hei de comer e beber, se

o que eu como é tirado a quem tem fome, e

meu copo d’água falta a quem tem sede?

Contudo eu como e bebo.

Eu bem gostaria de ser um sábio.

Nos velhos livros consta o que é sabedoria:

manter-se longe das lidas do mundo e o tempo

breve

deixar correr sem medo.

Também saber passar sem violência,

pagar o mal com o bem,

os próprios desejos não realizar e sim esquecer,

conta-se como sabedoria.

Não posso nada disso:

realmente, eu vivo num tempo sombrio!

II

Às cidades cheguei em tempo de desordem,

com a fome imperando.

Junto aos homens cheguei em tempo de

tumulto

e me rebelei com eles.

Assim passou-se o tempo

que sobre a terra me foi concedido.

Minha comida mastiguei entre refregas.

Para dormir deitei-me entre assassinos.

O amor eu exercia sem cuidado

e olhava sem paciência a natureza.

Assim passou-se o tempo

que sobre a terra me foi concedido.

As ruas do meu tempo iam dar no atoleiro.

A fala denunciava-me ao carrasco.

Bem pouco podia eu, mas os mandões

sem mim sentiam-se mais garantidos, eu

esperava.

Assim passou-se o tempo

que sobre a terra me foi concedido.

Minguadas eram as forças. E a meta

ficava a grande distância;

claramente visível, conquanto para mim

difícil de alcançar.

Assim passou-se o tempo

que sobre a terra me foi concedido.

III

Vós, que vireis na crista da maré

em que nos afogamos,

pensai,

quando falardes em nossas fraquezas,

também no tempo sombrio

a que escapastes.

Vínhamos nós então mudando de país mais do

que de sapatos,

em meio às lutas de classes, desesperados,

enquanto apenas injustiça havia e revolta

nenhuma.

E, entretanto, sabíamos:

também o ódio à baixeza

endurece as feições,

também a raiva contra a injustiça

torna mais rouca a voz. Ah, e nós,

que pretendíamos preparar o terreno para a

amizade,

nem bons amigos nós mesmos pudemos ser.

Mas vós, quando chegar a ocasião

de ser o homem um parceiro para o homem,

pensai em nós

com simpatia.

REFERÊNCIAS

ANTUNES, R. Os sentidos do trabalho: ensaio sobre a afirmação e a negação do trabalho.

2. ed. São Paulo: Boitempo, 2009.

ASSEMBLEIA NACIONAL CONSTITUINTE DE 1987. In: WIKIPÉDIA, a enciclopédia livre.

F l ó r i d a : W i k i m e d i a F o u n d a t i o n , 2 0 2 0 . D i s p o n í v e l e m :

<https://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Assembleia_Nacional_Constituinte_de_1987

&oldid=58765346>. Acesso em: 27 fev. 2021.

BRASIL. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da

educação nacional. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9394.htm.

Acesso em: 01 mar. 2021.

BRASIL. Decreto nº 2.208, de 17 de abril de 1997. Regulamenta o § 2 º do art. 36 e os arts.

39 a 42 da Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da

e d u c a ç ã o n a c i o n a l . D i s p o n í v e l e m :

https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/D2208.htmimpressa.htm. Acesso em: 01

mar. 2021.

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SAVIANI, D. Educação: do senso comum à consciência filosófica. 13 ed. Campinas/SP:

Autores Associados, 2000.

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MARX, K.; Engels, F. Manifesto do partido comunista. São Paulo: Global Editora, 2013.

Edição do Kindle.

MARX, K. O Capital [Livro I]: Crítica da economia política. São Paulo: Boitempo, 2011.

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SUGESTÕES DE VÍDEOS PARA ASSISTIR

1.Vídeo (4 min .) : materialismo histórico-dialético. https://www.youtube.

com/watch?v=pGUhM-i3PK0

2.Vídeo (18 min.): materialismo histórico-dialético. https://www.youtube.

com/watch?v=cKOaLaTJKAU

3. Vídeo (22 min.): Gramsci, Marcuse e o “marxismo cultural”/Sabrina Fernandes/Tese

Onze. https://www.youtube.com/watch?v=crv-p9Rjhbo

4. Vídeo (12 min.): Gramsci para principiantes. https://www.youtube.com/watch?v=c8-

nyW0pZf4

5. Vídeo (5 min): Gramsci e a escola/Antônio Joaquim Severino. https://www.youtube.

com/watch?v=e7tb4ZdBXzE

6.Vídeo (20min): Dermeval Saviani/Pedagogia Histórica-Crítica. https://www.youtube.

com/watch?v=13ojrNgMChk

7. Vídeos: EPT/EMI/politecnia/omnilateralidade

7.1. (4 min.): O que é Educação Omnilateral? https://www.youtube.com/watch?v=6kKl

9AMHYCU

7.2. (4 min.): Ensino integrado, politecnia e educação omnilateral. https://www.youtu

be.com/watch?v=nUpJOWxiveU

8. (28 min.): Entrevista com Dante Moura sobre formação humana integral no ensino

médio. https://www.youtube.com/watch?v=lAcUIA-TQbs

EXERCÍCIOSCom base nas leituras realizadas e nos vídeos assistidos, escreva um pequeno texto e

emita sua opinião sobre:

1. Como seria uma formação humana integral, no âmbito do IFRN, que permitisse uma

educação pública de qualidade, emancipadora, reflexiva e crítica, que não descuidasse

do conhecimento científico e técnico, necessário a uma vida cidadã e ao exercício

prático de uma profissão; em seguida, diga se seria possível promover essa formação

humana integral e, ao mesmo tempo, atender às recomendações do Movimento Escola

Sem Partido.

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