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Sua Santidade, o DALAI LAMA Uma Ética para o Novo Milênio Cada uma de nossas ações conscientes e, de certa forma, toda a nossa vida podem ser vistas como resposta !rande per!unta "ue desafia a todos# $Como posso ser feli%&$  No entanto, estran'amente, min'a impress(o ) "ue as pessoas "ue vivem em pa*ses de !rande desenvolvimento material s(o de certa forma menos satisfeitas, menos feli%es do "ue as "ue vivem em pa*ses menos desenvolvidos+ sse sofrimento interior est- claramente associado a uma confus(o cada ve% maior so.re o "ue de fato constitui a moralidade e "uais s(o os seus fundamentos+ A meu ver, criamos uma sociedade em "ue as pessoas ac'am cada ve% mais dif*cil demonstrar um m*nimo de afeto aos outros+ m ve% da no ç(o de co mun idade e da sensaç(o de fa%e r pa rt e de um !r up o, encontramos um alto !rau de solid(o e perda de laços afetivos+ / "ue !era essa situaç(o ) a ret0rica contempor1nea de crescimento desenvolvimento econ2mico, "ue reforça intensamente a tendência das  pessoas para a competitividade e a inve3a++ com isso vem a percepç(o da necessidade de manter as aparências 4 por si s0 uma importante fonte de  pro.lemas, tensões e infelicidade+ / descaso pela dimens(o interior do 'omem fe% com "ue todos os !r andes mo vi me nt os dos 5lti mo s ce m an os ou ma is 4 de mocracia , li.eralismo, socialismo 4 ten'am dei6ado de produ%ir os .enef*cios "ue deveriam ter proporcionado ao mundo, apesar de tantas id)ias maravil'osas+

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Sua Santidade, o DALAI LAMA

Uma Ética para o Novo Milênio

Cada uma de nossas ações conscientes e, de certa forma, toda a nossavida podem ser vistas como resposta !rande per!unta "ue desafia atodos# $Como posso ser feli%&$

 No entanto, estran'amente, min'a impress(o ) "ue as pessoas "uevivem em pa*ses de !rande desenvolvimento material s(o de certa formamenos satisfeitas, menos feli%es do "ue as "ue vivem em pa*ses menos

desenvolvidos+

sse sofrimento interior est- claramente associado a uma confus(ocada ve% maior so.re o "ue de fato constitui a moralidade e "uais s(o osseus fundamentos+

A meu ver, criamos uma sociedade em "ue as pessoas ac'am cadave% mais dif*cil demonstrar um m*nimo de afeto aos outros+ m ve% danoç(o de comunidade e da sensaç(o de fa%er parte de um !rupo,encontramos um alto !rau de solid(o e perda de laços afetivos+

/ "ue !era essa situaç(o ) a ret0rica contempor1nea de crescimentodesenvolvimento econ2mico, "ue reforça intensamente a tendência das pessoas para a competitividade e a inve3a++ com isso vem a percepç(o danecessidade de manter as aparências 4 por si s0 uma importante fonte de pro.lemas, tensões e infelicidade+

/ descaso pela dimens(o interior do 'omem fe% com "ue todos os!randes movimentos dos 5ltimos cem anos ou mais 4 democracia,li.eralismo, socialismo 4 ten'am dei6ado de produ%ir os .enef*cios "uedeveriam ter proporcionado ao mundo, apesar de tantas id)iasmaravil'osas+

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Meu apelo por uma revoluç(o espiritual n(o ) um apelo por umarevoluç(o reli!iosa+

Considero "ue a espiritualidade este3a relacionada com a"uelas

"ualidades do esp*rito 'umano 4 tais como amor e compai6(o, paciência,toler1ncia, capacidade de perdoar, contentamento, noç(o deresponsa.ilidade, noç(o de 'armonia 4 "ue tra%em felicidade tanto para a pr0pria pessoa "uanto para os outros+

 É por isso "ue s ve%es di!o "ue talve% se possa dispensar a reli!i(o+O que não se pode dispensar são essas qualidades espirituais básicas.

UMA É7ICA 8A9A / N/:/ MIL;NI/

Sua Santidade, / Dalai Lama

UMA É7ICA 8A9A / N/:/ MIL;NI/

<= diç(o

Se6atante

> 7en%in ?@atso, o d)ci mo "uarto Dalai Lama do 7i.et, BBB> traduç(o, 7en%in ?@atso, o d)cimo "uarto Dalai Lama do 7i.et, 7*tulo da ediç(o ori!inal em in!lês# t.ics for t.e neE millennium

7raduç(oMaria Lui%a NeElands

8reparo de ori!inais9e!ina da :ei!a 8ereira

9evis(oFos) 7edin 8intoS)r!io Gellinello Soares

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Capa9aul Hernandes

HotolitosMer!ul'ar Serviços ditoriais Ltda+

Impress(o e Aca.amentoDonnelle@4Coc'rane ?r-fica e ditora do Grasil Ltda+

CI84G9ASIL+ CA7AL/?AJ/4NA4H/N7SINDICA7/ NACI/NAL D/S DI7/9S D LI:9/S, 9F+

D K e Dalai Lama, BK4Uma )tica para o novo milênio Sua Santidade, o Dalai LamaO

traduç(o Maria Lui%a NeElands+ 4 9io de Faneiro# Se6tante, +

7raduç(o de# t'ics for t'e neE millenniumISGN 4P<BP4P4

+ Ética+ + Ética .udista+ I+ 7*tulo+4<K CDD BQ+K

  CDU BQ+K+

7odos os direitos reservados, no Grasil, por ditora Se6tante R?M7 ditores Ltda+Av+ Nilo 8eçan'a, 4 ?r+ K 4 Centro4 4 9io de Faneiro 4 9F7el+# R Q4P<P 4 Ha6# R Q4P<

Central de Atendimento# 44PKP4mail# atendimentoTese6tante+com+.r EEE+ese6tante+com+.r 

NDIC

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8ref-cio <I 4 / Hundamento da ÉticaCap*tulo A Sociedade Moderna e a Gusca da Helicidade

Cap*tulo Sem M-!ica, sem Mist)rio BCap*tulo KA /ri!em Dependente e a Nature%a da 9ealidade QPCap*tulo Q9edefinindo o /.3etivo Cap*tulo A Suprema moç(o <

 II 4 Ética e o Indiv*duoCap*tulo PA Ética da Contenç(o BQCap*tulo <A Ética da :irtude Cap*tulo A Ética da Compai6(o KCap*tulo BÉtica e Sofrimento QCap*tulo A Necessidade de Discernimento B

III 4 Ética e SociedadeCap*tulo 9esponsa.ilidade Universal <PCap*tulo

 N*veis de Compromisso Cap*tulo KÉtica na Sociedade BQCap*tulo Q8a% e Desarmamento Cap*tulo

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/ 8apel da 9eli!i(o na Sociedade Moderna KPCap*tulo PUm Apelo

V<

89HWCI/

8or ter perdido meu pa*s com a idade de de%esseis anos e me tornadoum refu!iado aos vinte e "uatro, enfrentei muitas dificuldades no decorrer de min'a vida+ Xuando reflito so.re essas dificuldades, ve3o "ue !rande parte delas era insuper-vel+ N(o s0 eram dificuldades inevit-veis, como

n(o eram pass*veis de resoluç(o favor-vel+ Apesar disso, no "ue se refere min'a pa% de esp*rito e sa5de f*sica, posso afirmar "ue as supereira%oavelmente .em+ Assim, ten'o conse!uido fa%er frente s adversidadescom todos os meus recursos# mentais, f*sicos e espirituais+ u n(o tin'aoutra alternativa+ Se me dei6asse dominar pela ansiedade e medesesperasse, min'a sa5de teria sido pre3udicada+ 7am.)m me sentiriatol'ido em meus atos+

/l'ando em torno, ve3o "ue n(o somos apenas n0s, os refu!iadosti.etanos e os mem.ros de outras comunidades e6patriadas, "ueenfrentamos dificuldades+ m toda parte e em todas as sociedades, as pessoas passam por sofrimentos e infort5nios 4 at) as "ue !o%am deli.erdade e de prosperidade material+ De fato, parece4me "ue uma !rande porç(o do sofrimento "ue nos afli!e ) na verdade criada por n0s mesmos+m princ*pio, portanto, somos ao menos capa%es de evitar essa porç(o+Constato ainda "ue, de modo !eral, as pessoas cu3a conduta ) eticamenteV positiva s(o mais feli%es e satisfeitas do "ue a"uelas "ue se descuidam da

)tica+ Isso confirma min'a convicç(o de "ue, se pudermos reorientar nossos pensamentos e emoções e reordenar nosso comportamento, n(o s0aprenderemos a lidar mais facilmente com o sofrimento, como seremoscapa%es tam.)m, acima de tudo, de impedir o sur!imento de uma porç(osi!nificativa dele+

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7entarei mostrar neste livro o "ue "uero di%er com a e6press(o$conduta )tica positiva$+ Ao fa%ê4lo, admito "ue n(o s0 ) muito dif*cil!enerali%ar com sucesso, como ser a.solutamente preciso a respeito de)tica e de moralidade+ 9aramente, talve% 3amais, uma situaç(o consiste

apenas em e6tremos+ Um mesmo ato pode ter diferentes nuances ediferentes !raus de valor moral so. diferentes circunst1ncias+ Ao mesmotempo, ) essencial "ue c'e!uemos a um consenso so.re o "ue constituiconduta positiva e o "ue constitui conduta ne!ativa, o "ue ) certo e o "ue )errado, o "ue ) apropriado e o "ue n(o )+ No passado, o respeito "ue as pessoas tin'am pela reli!i(o si!nificava "ue a pr-tica da )tica era mantida por meio de uma maioria "ue se!uia uma ou outra reli!i(o+ Mas isso n(o )mais assim+ Precisamos, Portanto, encontrar alguma outra maneira de

estabelecer princípios éticos básicos. N(o "ue o leitor deva supor "ue eu, como Dalai Lama, ten'a al!uma

soluç(o especial a oferecer+ N(o '- nada nestas p-!inas "ue ainda n(oten'a sido dito antes+ Na verdade, sinto "ue as preocupações e id)ias "uee6presso a"ui s(o compartil'adas por muitos da"ueles "ue pensam aVBrespeito do assunto e tentam encontrar soluções para os pro.lemas esofrimentos "ue n0s 'umanos enfrentamos+ Ao atender su!est(o deal!uns de meus ami!os e oferecer este livro ao p5.lico, min'a esperança )dar vo% "ueles mil'ões de pessoas "ue, n(o tendo a oportunidade dedivul!ar seus pontos de vista, continuam sendo mem.ros do "ue c'amo de$maioria silenciosa$+

O leitor deve, entretanto, ter em mente que meu aprendizado

formal foi inteiramente de caráter religioso e espiritual+ Desde a min'a 3uventude, meu principal Re cont*nuo campo de estudo tem sido a filosofia .udista e a psicolo!ia+ m especial, estudei as o.ras dos fil0sofosreli!iosos da tradiç(o ?aluY a "ue, se!undo a tradiç(o, os Dalai Lamas

 pertenceram+8or acreditar firmemente no pluralismo reli!ioso, tam.)m estudei as

 principais o.ras de outras tradições .udistas+ Mas tive comparativamente pouco contato com o pensamento secular moderno+ No entanto, este n(o )

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um livro reli!ioso+ Muito menos ) um livro so.re .udismo+ Meu objetivo

foi despertar o interesse por uma abordagem da ética baseada mais

eatamente em princípios universais do que religiosos.

8or esta ra%(o, produ%ir uma o.ra para o p5.lico em !eral !erou

muitos desafios e foi o resultado do tra.al'o de uma e"uipe+ Um pro.lemaem especial sur!iu da dificuldade em transpor para uma lin!ua!emmoderna v-rios termos ti.etanos "ue parecia essencial utili%ar+ Como estelivro n(o pretende de modo al!um ser um tratado filos0fico, tentei e6plicar esses termos de forma "ue pudessem ser prontamente compreendidos por Vleitores n(o4especiali%ados e tam.)m tradu%idos com clare%a para outrasl*n!uas+ Ao fa%ê4lo, por)m, e ao tentar comunicar4me com leitores cu3a

l*n!ua e cu3a cultura podem ser .em diferentes da min'a, ) poss*vel "ueal!uns mati%es de si!nificado da l*n!ua ti.etana se ten'am perdido eoutros, n(o premeditados, ten'am sido acrescentados+ Xuando taisdistorções vierem lu%, conto em corri!i4las numa ediç(o su.se"Zente+ Neste *nterim, por sua assistência nessa -rea, por sua traduç(o para oin!lês e por suas inumer-veis su!estões, dese3o a!radecer ao doutor 7'upten Finpa+ 7am.)m dese3o a!radecer ao sen'or A+9+ Norman, por seutra.al'o de preparaç(o para pu.licaç(o+ Hinalmente, !ostaria de dei6ar re!istrados os meus a!radecimentos a todas as outras pessoas "uea3udaram a tornar este livro dispon*vel+

D'aramsala, fevereiro de BBBV

I

/ HUNDAMN7/ DA É7ICA

VCap*tulo

A S/CIDAD M/D9NA A GUSCA DA HLICIDAD

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Sou relativamente um rec)m4c'e!ado ao mundo moderno+ Apesar deter fu!ido de meu pa*s em BB, e em.ora min'a vida na ndia comorefu!iado ten'a me proporcionado um contato muito maior com a

sociedade contempor1nea, passei meus anos de formaç(o .astanteafastado das realidades do s)culo [[+ Isso se deveu em parte min'adesi!naç(o como Dalai Lama# tornei4me mon!e "uando tin'a muito poucaidade+ Isso tam.)m reflete o fato de n0s, ti.etanos, termos optado 4erradamente, na min'a opini(o 4por permanecer isolados atr-s das altascadeias de montan'as "ue separam nosso pa*s do resto do mundo+ \o3e, por)m, via3o .astante e ten'o a sorte de constantemente encontrar novas pessoas+

Al)m disso, pessoas de todas as posições sociais vêm visitar4me+Uma .oa "uantidade delas 4 em especial a"uelas "ue fa%em o esforço devia3ar at) a sede do !overno ti.etano nas colinas indianas de D'aramsala,onde vivo no e6*lio 4 c'e!a .uscando al!uma coisa+ ntre essas pessoas '-diversas "ue passaram por !randes sofrimentos#VKal!umas perderam os pais ou os fil'os, outras tiveram ami!os ou parentes"ue cometeram suic*dio, outras est(o doentes, com c1ncer ou comenfermidades relacionadas AIDS+ ainda '-, ) claro, meus compatriotasti.etanos com suas 'ist0rias pessoais de privações e padecimentos+Infeli%mente, muitas têm e6pectativas pouco realistas e ima!inam "ue possuo poderes de cura ou "ue l'es posso dar al!um tipo de .ênç(o+ Massou apenas um ser 'umano comum+ / mel'or "ue posso fa%er para a3ud-44las ) compartil'ar seu sofrimento+

De min'a parte, encontrar tantas outras pessoas do mundo inteiro e"ue ocupam tantas posições diferentes na sociedade me fa% lem.rar nossai!ualdade fundamental como seres 'umanos+ De fato, "uanto mais coisas

ve3o no mundo, mais claro fica para mim "ue, n(o importa "ual se3a anossa situaç(o, se3amos ricos ou po.res, instru*dos ou n(o, "ual"uer "uese3a a nossa raça, se6o ou reli!i(o, todos dese3amos ser feli%es e evitar ossofrimentos+ Cada uma de nossas ações conscientes e, de certa forma, todaa nossa vida 4 como escol'emos vivê4la dentro do conte6to das limitações

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"ue as circunst1ncias nos impõem ] podem ser vistas como resposta !rande per!unta "ue desafia a todos# $Como posso ser feli%&$

/ "ue nos sustenta nessa intensa .usca da felicidade, penso eu, ) aesperança+ Sa.emos, mesmo se n(o "uisermos admitir, "ue n(o pode 'aver 

!arantia de uma vida mel'or e mais feli% do "ue a "ue estamos vivendo'o3e+ Como di% um vel'o prov)r.io ti.etano, $a pr06ima vida VQou o dia de aman'(# nunca se pode sa.er com certe%a "ual vir- primeiro$+Mas temos sempre a esperança de continuar vivendo+ 7emos a esperançade, por meio de tal ou tal aç(o, conse!uir o.ter felicidade+ 7udo o "uefa%emos, n(o s0 como indiv*duos mas tam.)m como sociedade, pode ser visto em termos dessa aspiraç(o fundamental+ Na verdade, ) umaaspiraç(o comum a todos seres sens*veis+ / dese3o ou inclinaç(o para ser 

feli% e evitar os sofrimentos n(o con'ece fronteiras+ Ha% parte da nossanature%a+ Como tal, n(o necessita de 3ustificativa e ) le!itimado pelosimples fato de ser o "ue n0s natural e corretamente "ueremos+

É o "ue vemos tanto em pa*ses ricos "uanto em pa*ses po.res+ mtoda parte, de todas as maneiras ima!in-veis, as pessoas procurammel'orar suas vidas+ No entanto, estran'amente, min'a impress(o ) "uea"uelas "ue vivem em pa*ses de !rande desenvolvimento material, apesar de toda a sua atividade e dili!ência, s(o de certa forma menos satisfeitas,menos feli%es e, at) certo ponto, sofrem mais do "ue as "ue vivem em pa*ses menos desenvolvidos+ Se compararmos os ricos com os po.res,muitas ve%es parece "ue a"ueles "ue têm "uase nada s(o menos ansiosos,apesar de atormentados por sofrimentos f*sicos+ Xuanto aos ricos, al!uns poucos sa.em como usar sua ri"ue%a de modo inteli!ente 4ou se3a,compartil'ando4a com os necessitados, e n(o em uma vida de lu6os 4, masmuitos n(o sa.em+ st(o de tal forma envolvidos com a id)ia de ad"uirir ainda mais ri"ue%as "ue n(o dei6am espaço para "ual"uer outra coisa emV

suas vidas+ /.cecados, dei6am at) de son'ar com a felicidade "uesupostamente as ri"ue%as deveriam tra%er+ / resultado ) "ue est(o semprean!ustiados, divididos entre a incerte%a so.re o "ue pode acontecer e aesperança de !an'ar mais, afli!idos por sofrimentos mentais e emocionais,em.ora as aparências façam supor "ue levam uma vida de sucesso e .em44estar a.solutos+ É o "ue comprovam o alto !rau e a fre"Zência

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in"uietante, nas ,populações dos pa*ses desenvolvidos materialmente, daansiedade, do descontentamento, da frustraç(o, da inse!urança e dadepress(o+ Al)m de tudo, esse sofrimento interior est- claramenteassociado a uma confus(o cada ve% maior so.re o "ue de fato constitui a

moral idade e "uais s(o os seus fundamentos+ste parado6o ocorre4me sempre "ue via3o para o e6terior+ Acontece

muito "ue, ao c'e!ar em um pa*s "ue ainda n(o con'eço, de in*cio tudome pareça muito a!rad-vel, muito .onito+ 7odos "ue encontro s(o muitosimp-ticos+ N(o '- nada do "ue se "uei6ar+ nt(o, dia ap0s dia, escuto o"ue as pessoas di%em e descu.ro "uais s(o os seus pro.lemas, seusinteresses e preocupações+ So. a superf*cie '- muitos "ue se sentemapreensivos e insatisfeitos com suas vidas+ 7êm uma sensaç(o de

isolamento, e a ela se se!ue a depress(o+ / "ue resulta na atmosfera pertur.ada "ue ) um traço t(o caracter*stico do mundo desenvolvido+A princ*pio, isso me surpreendeu+ Apesar de nunca ter ac'ado "ue ari"ue%a material por si s0 pudesse 3amais eliminar o sofrimento, ao ol'ar VPeliminar o sofrimento, ao ol'ar para o mundo desenvolvido "uando estavano 7i.et, um pa*s sempre muito po.re materialmente, devo admitir ter  pensado "ue a ri"ue%a poderia fa%er mais do "ue realmente fa% paradiminuir o sofrimento+ Ima!inava "ue, com menos provações de ordemf*sica, como ) o caso para a maioria das pessoas "ue vivem em pa*sesdesenvolvidos industrialmente, a felicidade seria muito mais f-cil dealcançar do "ue para as "ue viviam em condições mais duras+ m ve%disso, os e6traordin-rios avanços da ciência e da tecnolo!ia parecem ter tra%ido pouca coisa al)m de mel'orias num)ricas+ m muitos casos, o pro!resso n(o si!nificou muito mais do "ue um maior n5mero de casasopulentas em mais cidades com mais carros circulando entre elas+ Decertoal!uns tipos de sofrimento diminu*ram, principalmente com relaç(o a

determinadas doenças+ Mas ten'o a impress(o de "ue n(o 'ouve nen'umamel'oria si!nificativa !eral+

Ao di%er isto, lem.ro4me .em de uma ocasi(o em particular duranteuma de min'as primeiras via!ens ao /cidente+ u estava 'ospedado comuma fam*lia muito a.astada "ue vivia em uma casa ampla e .em4decorada+7odos eram encantadores e muito delicados+ \avia empre!ados para

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atender s menores necessidades e comecei a pensar "ue ali, talve%,estivesse a prova de "ue a ri"ue%a pode ser uma fonte de felicidade+ Meusanfitriões tin'am ine!avelmente um ar de se!urança descontra*da+ntretanto, "uando vi dentro do .an'eiro, pela porta entrea.erta de um

arm-rio, um esto"ue de tran"Zili%antes e p*lulas para dormir, fui o.ri!adoV<a recordar "ue muitas ve%es e6iste uma !rande diferença entre os sinaise6teriores e a realidade interior+

ste parado6o 4 o fato de encontrarmos com tanta fre"Zênciasofrimento interior, psicol0!ico ou emocional, em meio ri"ue%a material4 ) al!o "ue lo!o se perce.e em !rande parte do /cidente+ Na verdade, )um aspecto t(o comum, "ue ca.eria "uestionar se e6iste al!uma coisa na

cultura ocidental "ue predispõe as pessoas "ue vivem nesses lu!ares a taltipo de sofrimento+ Creio "ue n(o+ \- fatores demais envolvidos+ Éevidente "ue+ o pr0prio desenvolvimento material tem um papel adesempen'ar na "uest(o+ Mas podemos tam.)m responsa.ili%ar aur.ani%aç(o crescente da sociedade moderna, em "ue !randesconcentrações de pessoas vivem muito pr06imas umas das outras+ Nesteconte6to, temos de considerar "ue, 'o3e em dia, em ve% de dependermosuns dos outros para a3uda e apoio, costumamos contar com m-"uinas eserviços+ Anti!amente, os fa%endeiros convocavam todos os mem.ros dafam*lia para o tra.al'o da col'eitaO 'o3e, telefonam para um empreiteiro+ Avida moderna est- or!ani%ada de modo a e6i!ir "ue a dependência diretados outros se3a a menor poss*vel+ A am.iç(o mais ou menos universal parece ser todos terem sua pr0pria casa, seu pr0prio carro ou seu pr0priocomputador para serem o mais independentes "ue puderem+ Isto ) naturale compreens*vel+ 7am.)m podemos assinalar a crescente autonomia de"ue as pessoas desfrutam em conse"Zência dos avanços da Vciência e da tecnolo!ia+ De fato, 'o3e ) poss*vel sermos muito mais

independentes dos outros do "ue em "ual"uer outra )poca+ 8or)m, 3untocom esses pro!ressos, sur!iu a noç(o de "ue meu futuro n(o depende demeu vi%in'o e sim de meu empre!o ou, no m-6imo, de meu patr(o+ isto, por sua ve%, leva4nos a supor "ue, pelo fato de os outros n(o seremimportantes para a min'a felicidade, a felicidade deles passa a n(o ser importante para mim+

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A meu ver, criamos uma sociedade em "ue as pessoas ac'am cadave% mais dif*cil demonstrar um m*nimo de afeto aos outros+ m ve% danoç(o de comunidade e da sensaç(o de fa%er parte de um !rupo, umacaracter*stica "ue ac'amos t(o reconfortante nas sociedades menos

afluentes R!eralmente nas sociedades rurais, encontramos um alto !rau desolid(o e perda de laços afetivos+ Apesar de mil'ares de pessoas viveremem !rande pro6imidade, parece "ue muita !ente, principalmente os vel'os,n(o tem com "uem falar a n(o ser com seus .ic'os de estimaç(o+ Asociedade industrial moderna s ve%es me d- a impress(o de ser umaimensa m-"uina autopropulsionada+ Ao inv)s de os seres 'umanosacionarem a m-"uina, cada indiv*duo torna4se um pe"ueno componenteinsi!nificante sem outra opç(o a n(o ser mover4se "uando a m-"uina se

move+/ "ue !era essa situaç(o ) a ret0rica contempor1nea de crescimentoe desenvolvimento econ2mico, "ue reforça intensamente a tendência das pessoas para a competitividade e a inve3a+ com isso vem a percepç(o danecessidade de manter as aparências 4por si s0 uma importanteVBfonte de pro.lemas, tensões e infelicidade+ Ainda assim, e6iste a pro.a.ilidade de "ue esse tipo de sofrimento psicol0!ico e emocional t(ocomum no /cidente reflita antes uma tendência 'umana latente do "ueuma deficiência cultural+ 7en'o verificado "ue formas semel'antes desofrimento interior tam.)m s(o vis*veis fora do /cidente+ m al!umas partes do sudoeste da Wsia pode4se o.servar "ue, com o aumento pro!ressivo da prosperidade, as crenças tradicionais começaram a perder seu poder de influência so.re as pessoas+ , em conse"Zência, o "ue seconstata ali ) uma in"uietaç(o !enerali%ada muito semel'ante "ue seesta.eleceu no /cidente+ / "ue indica "ue o potencial e6iste em todos n0se, da mesma forma "ue uma doença f*sica reflete o am.iente em "ue vive

a pessoa, o sofrimento psicol0!ico e emocional sur!e dentro de umconte6to de determinadas circunst1ncias+ Assim, nos pa*sessu.desenvolvidos do \emisf)rio Sul, ou $7erceiro Mundo$, encontramosenfermidades .astante restritas "uela parte do mundo, como as "uedecorrem de condições sanit-rias insuficientes+ m contraposiç(o, nassociedades industriais ur.anas vemos doenças manifestarem4se so. formas

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"ue s(o coerentes com a"ueles am.ientes+ m ve% de doençasrelacionadas -!ua, encontramos doenças relacionadas ao estresse+ 7udoisso su!ere "ue '- fortes ra%ões para supor "ue e6iste uma li!aç(o entre aênfase desproporcionada "ue ) dada ao pro!resso e6terior e a infelicidade,

a ansiedade e o descontentamento da sociedade moderna+V

É uma avaliaç(o "ue pode parecer muito som.ria+ Contudo, semrecon'ecer a e6tens(o e a nature%a de nossos pro.lemas, n(o ser- poss*velnem ao menos começar a tratar deles+

Indiscutivelmente, uma das principais ra%ões da verdadeira devoç(o"ue a sociedade moderna dedica ao pro!resso material ) o pr0prio sucessoda ciência e da tecnolo!ia+ mais do "ue isso, a maravil'a desses tipos de

atividade 'umana ) o fato de tra%erem satisfaç(o imediata+ S(o nessesentido diferentes da oraç(o, cu3os resultados s(o, na maior parte,invis*veis 4 se ) "ue na realidade as orações funcionam mesmo+ osresultados do pro!resso material s(o inevitavelmente impressionantes+ 8or isso, ) normal "ue, lamentavelmente, essa devoç(o nos faça ima!inar "ueas c'aves da felicidade s(o, por um lado, o .em4estar material e, por outro,o poder conferido pelo con'ecimento+ Hica 0.vio para "uem refleteseriamente so.re o assunto "ue o primeiro por si s0 n(o nos tra%felicidade, mas talve% se3a menos evidente "ue o se!undo tam.)m n(otra%+ / con'ecimento por si s0 n(o proporciona a felicidade resultante dodesenvolvimento interior, "ue independe de fatores e6ternos+ m.ora ocon'ecimento muito detal'ado e espec*fico dos fen2menos e6ternos se3auma not-vel reali%aç(o, a insistência em torn-4lo o.3etivo principal denos4 sos esforços, lon!e de nos tra%er felicidade, pode na verdade ser  peri!osa+ 8ode fa%er4nos perder o contato com a realidade mais ampla dae6periência 'umana e, de modo especial, com a nossa dependência dosoutros+

V8recisamos tam.)m recon'ecer o "ue acontece "uando atri.u*mos

um peso e6cessivo s con"uistas das ciências+ 8or e6emplo, medida "uedeclina a influência da reli!i(o, aumenta a confus(o a respeito do pro.lema "ue ) sa.er "ual a mel'or maneira de proceder em nossas vidas+ No passado, a reli!i(o e a )tica estavam intimamente entrelaçadas+ \o3e

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em dia, muita !ente, ac'ando "ue a ciência $desacreditou$ a reli!i(o,conclui "ue, pelo fato de aparentemente n(o 'aver nen'uma provadefinitiva de "ual"uer autoridade espiritual, a pr0pria moralidade deve ser uma "uest(o de preferência individual+ en"uanto, no passado, cientistas

e fil0sofos sentiam uma necessidade premente de encontrar fundamentoss0lidos para esta.elecer leis imut-veis e verdades a.solutas nesse campo,atualmente esse tipo de pes"uisa ) considerado in5til+ Como resultado,vemos uma completa invers(o, uma tendência para o e6tremo oposto, em"ue afinal nada mais e6iste, em "ue a pr0pria realidade ) posta em d5vida+Isto s0 pode levar ao caos+

Ao di%er isto, n(o ) min'a intenç(o criticar a atividade cient*fica+Aprendi muita coisa em meus encontros com cientistas e n(o ten'o

nen'uma dificuldade em dialo!ar com eles, mesmo "uando sua perspectiva ) de um materialismo a.solutamente radical+ 7anto "uanto melem.ro, sempre fui fascinado pelas desco.ertas cient*ficas+ Xuandomenino, 'ouve uma )poca em "ue me interessava muito mais pelamec1nica de um vel'o pro3etor de filmes "ue encontrei em um dosalmo6arifados da residência de ver(o dos Dalai Lamas do "ue por meusVestudos reli!iosos e escolares+ / "ue me preocupa ) a tendência para n(olevar em conta as limitações da ciência+ Ao su.stituir a reli!i(o na opini(o popular como fonte definitiva de con'ecimento, a pr0pria ciência começaa ficar parecida com uma outra forma de reli!i(o+ Com isso, sur!e maisum peri!o na fi!ura dos sect-rios "ue acreditam ce!amente em seus princ*pios e s(o a.solutamente intolerantes com pontos de vista diferentes+Mas, se levarmos em conta as e6traordin-rias reali%ações da ciência, n(oc'e!a a surpreender "ue seu prest*!io ten'a suplantado o da reli!i(o+Xuem n(o ficaria impressionado com a capacidade de levar pessoas Lua& No entanto, um fato permanece# se formos, por e6emplo, a um f*sico

nuclear e dissermos "ue estamos enfrentando um dilema moral e per!untarmos o "ue devemos fa%er, ele s0 poder- sacudir a ca.eça erecomendar "ue procuremos a resposta em outro lu!ar+ De modo !eral, umcientista n(o est- em mel'or posiç(o do "ue um advo!ado em "uestõesdesse tipo+ 8ois, apesar de tanto a ciência "uanto as leis poderem a3udar a prever as prov-veis conse"Zências de nossas ações, nen'uma delas )

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capa% de nos di%er como a!ir numa "uest(o de nature%a moral+ Al)m domais, precisamos aprender a recon'ecer os limites da pr0pria investi!aç(ocient*fica+ 8or e6emplo, mesmo sa.endo '- milênios "ue e6iste umaconsciência 'umana, mesmo "ue esta ten'a sido um constante o.3eto de

investi!aç(o atrav)s da \ist0ria e apesar de todo o esforço dos cientistas,VKestes ainda n(o compreendem o "ue ela ) realmente, ou por "ue e6iste,como funciona ou "ual vem a ser a sua nature%a+ A ciência n(o sa.e di%er "ual ) a causa material da consciência nem "uais s(o seus efeitos+ É claro"ue a consciência pertence "uela cate!oria de fen2menos sem forma,su.st1ncia ou cor+ N(o ) pass*vel de investi!aç(o por meios e6ternos+ /"ue n(o si!nifica "ue tais fen2menos n(o e6istam, mas apenas "ue a

ciência n(o pode e6plic-4los+Dever*amos, ent(o, a.andonar a investi!aç(o cient*fica so. o prete6to de "ue nos fal'ou& Certamente "ue n(o+ 7am.)m n(o pretendoinsinuar "ue a meta de prosperidade para todos se3a in3ustificada+ Devido nossa nature%a, a e6periência material e f*sica desempen'a papel predominante em nossas vidas+ As con"uistas da ciência e da tecnolo!iarefletem claramente nosso dese3o de alcançar uma e6istência mel'or, maisconfort-vel+ Isso ) muito .om+ Xuem poderia dei6ar de aplaudir muitosdos pro!ressos da medicina moderna&

Ao mesmo tempo, ) ine!-vel "ue mem.ros de certas comunidadesrurais e tradicionais desfrutam de maior 'armonia e tran"Zilidade do "ueos de nossas cidades modernas+ Na re!i(o Spiti, no norte da ndia, por e6emplo, a populaç(o local ainda mant)m o costume de n(o trancar suascasas ao sair+ spera4se "ue o visitante "ue encontrar a casa va%ia entre efaça uma refeiç(o en"uanto a!uarda o retorno da fam*lia "ue mora ali+ Isson(o si!nifica "ue n(o e6istam crimes nesses lu!ares+ No 7i.et, antes daocupaç(o, essas coisas tam.)m aconteciam de ve% em "uando+

VQXuando aconteciam, por)m, as pessoas er!uiam as so.rancel'as,surpresas+ ram acontecimentos raros e pouco 'a.ituais+ Ao contr-rio, emal!umas cidades modernas, "uando se passa um dia sem um assassinato,este sim ) um acontecimento surpreendente+ Com a ur.ani%aç(o veio adesarmonia+

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É preciso cuidado, entretanto, para n(o ideali%armos as vel'asmaneiras de viver+ / alto n*vel de cooperaç(o "ue encontramos emcomunidades atrasadas pode estar .aseado mais em necessidade do "ueem .oa vontade+ m !eral, a cooperaç(o a* ) vista como uma alternativa a

maiores privações+ o contentamento "ue o.servamos pode na verdadeter mais a ver com i!nor1ncia do "ue com outra coisa+ ssas pessoastalve% n(o se3am capa%es de perce.er ou ima!inar "ue se3a poss*vel e6istir outra maneira de viver+ Se ima!inassem, ) muito prov-vel "ue aadotassem com !rande entusiasmo+ / desafio "ue enfrentamos ), portanto,encontrar meios de desfrutar do mesmo !rau de 'armonia e tran"Zilidadedessas comunidades mais tradicionais e, ao mesmo tempo, nos .eneficiarmos inte!ralmente dos pro!ressos materiais do mundo desta

aurora do novo milênio+ 8ensar de outra forma seria pressupor "ue a"uelascomunidades n(o deveriam nem mesmo tentar mel'orar seu padr(o devida+ Sim, ten'o certe%a de "ue, por e6emplo, os n2mades do 7i.etficariam muito contentes se possu*ssem o "ue '- de mais moderno emmat)ria de roupas t)rmicas para o inverno, com.ust*vel sem fumaça paraco%in'ar, televisões port-teis em suas tendas, e se tivessem acesso svanta!ens da medicina moderna+ n(o seria eu "uem iria ne!ar4l'es isso+V

A sociedade moderna, com todas as suas vanta!ens e defeitos,formou4se dentro de um conte6to de muitas causas e condições diversas+Ima!inar "ue resolver*amos todos os nossos pro.lemas sea.andon-ssemos o pro!resso material seria ver a situaç(o de uma perspectiva limitada+ Seria so.retudo i!norar as causas su.3acentes+ Al)mdo "ue, ainda '- muitas ra%ões para sermos otimistas com relaç(o aomundo moderno+

6istem in5meras pessoas nos pa*ses mais desenvolvidos ru3a preocupaç(o pelos outros se manifesta de maneira ativa+ 8enso na enorme

 .ondade com "ue n0s, os refu!iados ti.etanos, fomos tratados por a"uelescu3os recursos pessoais eram tam.)m .astante redu%idos+ 8ara citar ume6emplo, nossas crianças se .eneficiaram imensamente da assistência!enerosa de seus professores indianos, muitos dos "uais foram o.ri!ados aviver so. condições dif*ceis lon!e de suas casas+ m uma escala maisampla, temos tam.)m de levar em conta a crescente valori%aç(o dos

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direitos 'umanos fundamentais em todo o mundo+ A meu ver, issorepresenta um avanço muito positivo+ A forma como em !eral acomunidade internacional rea!e aos desastres naturais com a3uda imediatatam.)m ) uma maravil'osa caracter*stica do mundo moderno+ /

recon'ecimento cada ve% maior de "ue n(o podemos continuar parasempre maltratando o nosso am.iente natural sem incorrer em s)riasconse"Zências ) i!ualmente um motivo de esperança+ Al)m disso, acreditoVP"ue, !raças em !rande parte comunicaç(o moderna, as pessoas parecemestar a!ora aceitando mel'or a diversidade+ os padrões de alfa.eti%aç(oe educaç(o em todo o mundo s(o em !eral mais altos do "ue 3amais foram+:e3o essas evoluções positivas como uma indicaç(o da"uilo de "ue n0s

'umanos somos capa%es+9ecentemente, tive a /portunidade de encontrar a rain'a4m(e daIn!laterra+ la 'avia sido uma fi!ura familiar para mim durante toda amin'a vida, e assim o encontro me deu muito pra%er+ / "ue ac'ei particularmente encora3ador, por)m, foi ouvir uma mul'er t(o idosa"uanto o pr0prio s)culo [[ afirmar "ue as pessoas se tornaram muitomais conscientes da e6istência das outras do "ue "uando ela era 3ovem+ Na"uela )poca, disse ela, as pessoas praticamente s0 se interessavam por seu pr0prio pa*s, en"uanto 'o3e '- muito mais preocupaç(o com os'a.itantes de outros pa*ses+ Xuando l'e per!untei se sentia otimismo comrelaç(o ao futuro, respondeu4me, sem 'esitar, com uma afirmativa+ É semd5vida verdadeiro "ue podemos apontar uma profus(o de tendênciasfortemente ne!ativas na sociedade moderna+ N(o '- como ne!ar oaumento pro!ressivo dos casos de assassinato, violência e estupro anoap0s ano+ m acr)scimo, ouvimos falar constantemente de e6ploraç(o ea.uso nos relacionamentos familiares e, em esferas mais amplas dacomunidade, do n5mero crescente de 3ovens viciados em dro!as e -lcool e

da forma como a alta proporç(o de casamentos "ue terminam em div0rcioV<afeta as crianças nos dias de 'o3e+ Nem mesmo nossa pe"uena comunidadede refu!iados escapou do impacto de al!uns desses efeitos da marc'a dosacontecimentos+ Antes, "uase n(o se tin'a not*cia de suic*dios nasociedade ti.etana, mas ultimamente ocorreram um ou dois tr-!icos

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incidentes desse tipo em nossa comunidade de e6ilados+ Da mesma forma,'- uma !eraç(o n(o e6istiam 3ovens ti.etanos viciados em dro!as, masa!ora temos al!uns casos 4 principalmente, ) preciso di%er, nos lu!ares em"ue eles est(o e6postos ao estilo de vida ur.ano moderno+

Contudo, ao contr-rio dos sofrimentos derivados da doença, davel'ice e da morte, nen'um desses pro.lemas ) por nature%a inevit-vel+ Nem se devem a "ual"uer falta de con'ecimento+ Xuando os e6aminamos,verificamos "ue s(o todos pro.lemas )ticos+ Cada um deles reflete o "uecompreendemos como sendo certo e errado, positivo e ne!ativo,apropriado ou n(o+ Mas, acima de tudo, pode4se apontar para uma causaainda mais fundamental# o descaso por a"uilo "ue c'amo de nossadimens(o interior+

/ "ue "uero di%er com isso& A meu ver, nossa ênfase e6cessiva em!an'o material reflete a suposiç(o de "ue a"uilo "ue se pode comprar )capa% de, por si s0, nos proporcionar toda a satisfaç(o "ue esperamos+ntretanto, por nature%a, a satisfaç(o "ue o !an'o material nos ofereceest- limitada aos sentidos+ Isto seria 0timo se n0s, seres 'umanos,f2ssemos i!uais aos animais+ 8or)m, dada a comple6idade de nossaesp)cie 4 em especial o fato de termos pensamentos e emoções, .em comoVa capacidade de ima!inar e de criticar 4, ) 0.vio "ue nossas necessidadestranscendem o "ue ) meramente sensual+ A ansiedade, o estresse, aconfus(o, a inse!urança e a depress(o "ue prevalecem entre a"ueles cu3asnecessidades .-sicas foram satisfeitas s(o uma clara indicaç(o desse fato+ Nossos pro.lemas, tanto a"ueles "ue enfrentamos e6ternamente 4 como as!uerras, os crimes e a violência 4 "uanto os "ue enfrentamos internamente4 nossos sofrimentos emocionais e psicol0!icos 4, n(o podem ser solucionados en"uanto n(o cuidarmos do "ue foi ne!li!enciado+ / descaso pela dimens(o interior do 'omem fe% com "ue todos os !randes

movimentos dos 5ltimos cem anos ou mais 4 democracia, li.eralismo,socialismo ] ten'am dei6ado de produ%ir os .enef*cios "ue deveriam ter  proporcionado ao mundo, apesar de tantas id)ias maravil'osas+ Umarevoluç(o se fa% necess-ria, com toda a certe%a+ Mas n(o uma revoluç(o pol*tica, ou econ2mica, ou mesmo tecnol0!ica+ F- tivemos e6periênciasdemais com todas elas durante o 5ltimo s)culo para sa.er "ue uma

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a.orda!em meramente e6terna n(o .asta+ / "ue propon'o ) umarevoluç(o espiritual+

VB

Cap*tulo

SM MW?ICA, SM MIS7É9I/

Ao pre!ar uma revoluç(o espiritual, estaria eu afinal defendendouma soluç(o reli!iosa para nossos pro.lemas& N(o+ stou pr06imo dossetenta anos de idade na ocasi(o em "ue isto est- sendo escrito e 3-acumulei .astante e6periência para ter a.soluta certe%a de "ue os

ensinamentos do Guda s(o relevantes e proveitosos para a 'umanidade+Xuando s(o praticados, sem d5vida tra%em .enef*cios n(o s0 para "uem os pratica como para os outros+ Meus encontros com in5meros tipos de pessoas pelo mundo afora, por)m, a3udaram4me a perce.er "ue '- outrascrenças e outras culturas "ue, tanto "uanto as min'as, podem fa%er com"ue os indiv*duos levem vidas construtivas e satisfat0rias+ mais# c'e!uei conclus(o de "ue n(o importa muito se uma pessoa tem ou n(o umacrença reli!iosa+ Muito mais importante ) "ue se3a uma .oa pessoa+

Di!o isso diante do fato de "ue, em.ora a maioria dos seis .il'ões deseres 'umanos da 7erra afirme se!uir uma ou outra tradiç(o de f), ainfluência da reli!i(o nas vidas das pessoas ) !eralmente mar!inal, principalmente no mundo desenvolvido+ Ca.e duvidar se, em todo o!lo.o, ao menos um .il'(o de pessoas se3a o "ue eu c'amaria deVKdedicados praticantes reli!iosos, a"ueles "ue, todos os dias, tentam se!uir fielmente os princ*pios e preceitos de sua f)+ / resto continua sendo, nestesentido, n(o4praticante+ os "ue s(o dedicados praticantes se!uem uma

multiplicidade de camin'os reli!iosos+ A partir da*, torna4se claro "ue,tendo em vista a nossa diversidade, uma 5nica reli!i(o n(o pode satisfa%er toda a 'umanidade+ 8odemos tam.)m concluir "ue n0s, 'umanos,conse!uimos viver muito .em sem recorrer f) reli!iosa+

stas declarações podem parecer estran'as, vindas de um persona!em reli!ioso+ 8or)m, sou ti.etano antes de ser Dalai Lama, e sou

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'umano antes de ser ti.etano+ 8ortanto, ao mesmo tempo "ue como DalaiLama ten'o uma responsa.ilidade especial para com os ti.etanos, e comomon!e ten'o a responsa.ilidade especial de promover a 'armoniainter4reli!iosa, como ser 'umano ten'o uma responsa.ilidade muito maior 

 para com toda a fam*lia 'umana 4 uma responsa.ilidade "ue na verdadetodos n0s temos+ como a maioria n(o pratica a reli!i(o, estou preocupado em tentar encontrar uma forma de servir a toda a 'umanidadesem apelar para a f) reli!iosa+

Se considerarmos as reli!iões mais importantes do mundo so. uma perspectiva mais ampla, desco.riremos "ue todas elas 4 .udismo,cristianismo, 'indu*smo, islamismo, 3uda*smo, si"uismo, %oroastrismo eoutras 4 visam a3udar o 'omem a alcançar uma felicidade duradoura+

todas, na min'a opini(o, s(o capa%es de proporcionar tal coisa+VK Nessas circunst1ncias, ) ao mesmo tempo dese3-vel e 5til "ue 'a3a

uma !rande variedade de reli!iões promovendo os mesmos valores .-sicos+

 N(o "ue eu sempre ten'a pensado assim+ Xuando era mais 3ovem evivia no 7i.et, acreditava de todo o coraç(o "ue o .udismo era o mel'or camin'o+ Di%ia a mim mesmo "ue seria maravil'oso se todos seconvertessem a ele+ ntretanto, isso se devia min'a i!nor1ncia+ N0s,ti.etanos, sa.*amos, ) claro, da e6istência de outras reli!iões+ Mas o pouco"ue con'ec*amos delas vin'a de traduções ti.etanas de fontes secund-rias, .udistas+ Naturalmente, estas versões se concentravam nos aspectos dasoutras reli!iões "ue, de uma perspectiva .udista, s(o mais a.ertos aode.ate+ N(o por"ue seus autores .udistas "uisessem deli.eradamentecaricaturar os anta!onistas, mas por n(o terem necessidade de a.ordar osaspectos "ue n(o precisavam de.ater, 3- "ue, na ndia, onde escreviam, aso.ras "ue discutiam estavam dispon*veis na *nte!ra+ Infeli%mente, n(o era

o caso do 7i.et+ N(o 'avia ali traduções dispon*veis desses outros livrossa!rados+

Xuando cresci, aos poucos pude aprender mais so.re as outrasreli!iões do mundo+ Depois de ir para o e6*lio, principalmente, comecei aencontrar pessoas "ue, tendo dedicado a vida inteira a diferentes crenças

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4al!umas atrav)s da oraç(o e da meditaç(o, outras servindo aos outrosativamente 4, tin'am ad"uirido uma vasta e6periência a respeito das tradições pr0prias a cada uma dessas crenças+ ssas trocas pessoais de

con'ecimentos a3udaram4me a recon'ecer o enorme valor das !randesVKtradições de f) e levaram4me a respeit-4las profundamente+ 8ara mim, o .udismo continua sendo o camin'o mais precioso+ Corresponde mel'or min'a personalidade+ Mas isto n(o si!nifica "ue eu acredite ser a mel'or reli!i(o para todas as pessoas, da mesma forma como n(o acredito ser necess-rio "ue todos ten'am uma crença reli!iosa+ Como ti.etano e comomon!e, fui criado e educado de acordo com os princ*pios, preceitos e

 pr-ticas do .udismo+ N(o posso ne!ar, portanto, "ue toda a min'a maneirade pensar foi moldada pela min'a compreens(o do "ue ) ser um se!uidor de Guda+ ntretanto, min'a preocupaç(o neste livro ) tentar alcançar o "ueest- al)m das fronteiras formais de min'a f)+ Xuero mostrar "ue e6istemde fato al!uns princ*pios )ticos universais "ue poderiam a3udar "ual"uer  pessoa a alcançar a felicidade a "ue todos n0s aspiramos+ Al!uns podemac'ar "ue, dessa forma, estou tentando propa!ar o .udismosu.4repticiamente+ Mesmo sendo dif*cil para mim contestar terminantemente tal ale!aç(o, n(o se trata disso+

 Na realidade, creio "ue '- uma importante distinç(o a ser feita entrereli!i(o e espiritualidade+ Ful!o "ue a reli!i(o este3a relacionada com acrença no direito salvaç(o pre!ada por "ual"uer tradiç(o de f), crençaesta "ue tem como um de seus principais aspectos a aceitaç(o de al!umaforma de realidade+ metaf*sica ou so.renatural, incluindo possivelmenteuma id)ia de para*so ou nirvana+ Associados a isso est(o ensinamentos oudo!mas reli!iosos, rituais, orações, e assim por diante+ Considero "ue aespiritualidade este3a relacionada com a"uelas "ualidades do esp*rito

VKK'umano tais como amor e compai6(o, paciência, toler1ncia, capacidade de perdoar, contentamento, noç(o de responsa.ilidade, noç(o de 'armonia4"ue tra%em felicidade tanto para a pr0pria pessoa "uanto para os outros+9itual e oraç(o, 3unto com as "uestões de nirvana e salvaç(o, est(odiretamente li!ados f) reli!iosa, mas essas "ualidades interiores n(o

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 precisam estar+ N(o e6iste portanto nen'uma ra%(o pela "ual um indiv*duon(o possa desenvolvê4las, at) mesmo em alto !rau, sem recorrer a"ual"uer sistema reli!ioso ou metaf*sico+ É por isso "ue s ve%es di!o "uetalve% se possa dispensar a reli!i(o+ / "ue n(o se pode dispensar s(o essas

"ualidades espirituais .-sicas+A"ueles "ue praticam a reli!i(o teriam decerto ra%(o em afirmar "ue

tais "ualidades, ou virtudes, s(o fruto de um !enu*no empen'o reli!ioso e"ue, portanto, a reli!i(o tem tudo a ver com o seu desenvolvimento e como "ue pode ser c'amado de pr-tica espiritual+ Mas vamos esclarecer .emeste ponto+ A f) reli!iosa e6i!e pr-tica espiritual+ No entanto, parece 'aver muita confus(o ] fre"Zente n(o s0 entre os "ue têm uma crença reli!iosa"uanto entre os "ue n(o têm 4 so.re o "ue ) realmente pr-tica espiritual+

8ode4se di%er "ue a caracter*stica "ue unifica as "ualidades "ue c'amei deespirituais se3a um certo !rau de preocupaç(o com o .em4estar dos outros+m ti.etano, falamos de s'en4pen Y@i4sem si!nificando $a id)ia de ser deal!uma a3uda para os outros$+ , "uando refletimos so.re essas "ualidades,vemos "ue cada uma delas se caracteri%a por uma preocupaç(o impl*citaVKQcom o .em4estar dos outros+ Al)m do mais, "uem ) compassivo, amoroso, paciente, tolerante, clemente, etc+, de certa forma recon'ece o impacto potencial de suas ações so.re os outros e pauta sua conduta de acordo comisso+ Assim, se!undo essa descriç(o, a pr-tica espiritual envolve, por umlado, a!ir preocupando4se com .em4estar dos outros e, por outro, acarretaa nossa pr0pria transformaç(o, de modo "ue nos tornamos mais prontamente dispostos a fa%ê4lo+ Halar so.re pr-tica espiritual em termosdiferentes desses n(o tem sentido+

Meu apelo por uma revoluç(o espiritual n(o ) portanto um apelo por uma revoluç(o reli!iosa+ Nem ) uma referência a uma maneira de viver relacionada de al!uma forma a outro mundo, nem muito menos a al!o

m-!ico ou misterioso+ Antes de mais nada, ) um apelo por umareorientaç(o radical "ue nos distancie da preocupaç(o 'a.itual com anossa pr0pria pessoa+ É um apelo para nos voltarmos para a amplacomunidade de seres com os "uais estamos li!ados, para a adoç(o de umaconduta "ue recon'eça os interesses dos outros paralelamente aos nossos+

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A"ui, o leitor poderia o.3etar di%endo "ue a transformaç(o de car-ter "ue uma tal reorientaç(o e6i!e ) certamente dese3-vel+ "ue desenvolver sentimentos de compai6(o e de amor ) certamente .om+ Mas umarevoluç(o do seria a soluç(o ade"uada para a variedade e a ma!nitude de

 pro.lemas "ue enfrentamos no mundo moderno+ Al)m disso, poderiaar!umentar "ue teri%a por uma preocupaç(o impl*cita com o .em4estar VKQdos outros+ Al)m do mais, "uem ) compassivo, amoroso, paciente,tolerante, clemente, etc+, de certa forma recon'ece o impacto potencial desuas ações so.re os outros e pauta sua conduta de acordo com isso+ Assim,se!undo essa descriç(o, a pr-tica espiritual envolve, por um lado, a!ir  preocupando4se com .em4estar dos outros e, por outro, acarreta a nossa

 pr0pria transformaç(o, de modo "ue nos tornamos mais prontamentedispostos a fa%ê4lo+ Halar so.re pr-tica espiritual em termos diferentesdesses n(o tem sentido+

Meu apelo por uma revoluç(o espiritual n(o ) portanto um apelo por uma revoluç(o reli!iosa+ Nem ) uma referência a uma maneira de viver relacionada de al!uma forma a outro mundo, nem muito menos a al!om-!ico ou misterioso+ Antes de mais nada, ) um apelo por umareorientaç(o radical "ue nos distancie da preocupaç(o 'a.itual com anossa pr0pria pessoa+ É um apelo para nos voltarmos para a amplacomunidade de seres com os "uais estamos li!ados, para a adoç(o de umaconduta "ue recon'eça os interesses dos outros paralelamente aos nossos+

A"ui, o leitor poderia o.3etar di%endo "ue a transformaç(o de car-ter "ue uma tal reorientaç(o e6i!e ) certamente dese3-vel+ "ue desenvolver sentimentos de compai6(o e de amor ) certamente .om+ Mas umarevoluç(o do esp*rito dificilmente seria a soluç(o ade"uada para avariedade e a ma!nitude de pro.lemas "ue enfrentamos no mundomoderno+ Al)m disso, poderia ar!umentar "ue os pro.lemas decorrentes

VKde, por e6emplo, violência dom)stica, v*cio de dro!as ou -lcool,dissoluç(o de fam*lias, e assim por diante, s(o mais .em compreendidos emais facilmente com.atidos de acordo com a nature%a de cada um+ Mesmoassim, se admitirmos "ue cada um desses pro.lemas poderia certamenteser resolvido se as pessoas demonstrassem mais amor e compai6(o umas

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 pelas outras, por mais improv-vel "ue isso se3a, concluiremos "ue eles podem ser tam.)m caracteri%ados como pro.lemas espirituais pass*veis deuma soluç(o espiritual+ Isso n(o "uer di%er "ue .asta cultivar valoresespirituais para "ue os pro.lemas desapareçam automaticamente+ 8elo

contr-rio, cada um deles necessita de uma soluç(o espec*fica+ Xuando adimens(o espiritual ) ne!li!enciada, por)m, n(o '- esperanças de seconse!uir uma soluç(o duradoura+

8or "ue ) assim& As m-s not*cias s(o um fato da vida+ Cada ve% "uea.rimos um 3ornal ou li!amos a televis(o ou o r-dio, deparamos comacontecimentos tristes+ N(o se passa um s0 dia sem "ue em al!um lu!ar domundo aconteça al!uma coisa "ue todos consideram um infort5nio+ Se3a"ual for a nossa nacionalidade ou filosofia de vida, todos nos

entristecemos, em maior ou menor escala, ao sa.er dos sofrimentos dosoutros+7ais acontecimentos podem ser divididos em duas !randes

cate!orias# a"ueles "ue se devem so.retudo a causas naturais 4 terremotos,secas, enc'entes 4 e os "ue s(o ori!inados pelo 'omem+ ?uerras, crimes,violência de todo tipo, corrupç(o, po.re%a, trapaça, fraude e in3ustiçaVKPsocial, pol*tica e econ2mica, todos s(o conse"Zência do comportamento'umano ne!ativo+ "uem ) respons-vel por tal comportamento& N0smesmos+ A reale%a, os presidentes, primeiros4ministros e pol*ticos, passando pelos administradores, cientistas, m)dicos, advo!ados,acadêmicos, estudantes, padres, freiras, mon!es como eu, industriais,artistas, lo3istas, t)cnicos, profissionais aut2nomos, tra.al'adores .raçais edesempre!ados, n(o e6iste uma 5nica classe ou setor da sociedade "ue n(ocontri.ua para nossa dose di-ria de m-s not*cias+

Heli%mente, ao contr-rio dos desastres naturais contra os "uais poucoou nada podemos fa%er, esses pro.lemas 'umanos, por serem

essencialmente pro.lemas )ticos, podem ser superados+ / fato de 'aver tanta !ente de todos os setores e n*veis da sociedade tra.al'ando para essefim reforça a 'ip0tese+ 6istem os "ue in!ressam em partidos pol*ticos para lutar por constituições mais 3ustas, os "ue se tornam advo!ados paralutar pela Fustiça, os "ue se aliam a or!ani%ações assistenciais para lutar contra a po.re%a, os "ue cuidam, como profissionais ou volunt-rios, das

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v*timas de des!raças+ Na verdade, muitos de n0s, cada um sua maneira ede acordo com sua pr0pria compreens(o, tentamos fa%er do mundo 4 ou aomenos de nossa porç(o dele 4 um lu!ar mel'or para se viver+

Lamentavelmente, verificamos "ue 4 n(o importa "u(o sofisticados

se3am nossos sistemas le!ais ou "u(o avançados se3am nossos m)todos decontrole e6terno 4, por si s0, esses recursos n(o s(o capa%es de erradicar oserros e maldades+ Ca.e o.servar "ue, 'o3e em dia, nossas forças policiaisVK<têm disposiç(o recursos tecnol0!icos "ue dificilmente poderiam ser ima!inados '- cin"Zenta anos+ Dispõem de m)todos de vi!il1ncia "ue l'es permitem ver o "ue antes era imposs*vel, podem utili%ar testes de DNA,la.orat0rios especiali%ados em medicina le!al, c(es fare3adores e,

evidentemente, pessoal altamente treinado+ Contudo, os m)todoscriminosos evolu*ram de forma e"uivalente, de modo "ue n(o estamos emmel'or situaç(o+ Xuando falta a contenç(o da )tica, n(o pode 'aver esperança de superar pro.lemas como o da escalada de crimes+ Sem essadisciplina interior, verificamos "ue os pr0prios meios "ue usamos pararesolvê4los tornam4se uma fonte de dificuldades+ A crescente sofisticaç(odos m)todos policiais e criminais ) um c*rculo vicioso e mutuamenteestimulante+

Xual ), ent(o, a relaç(o entre a pr-tica da espiritualidade e a da )tica&A relaç(o ) a se!uinte# como o amor, a compai6(o e todas as outras"ualidades supõem, por defmiç(o, al!um !rau de preocupaç(o pelo .em4estar dos outros, supõem tam.)m a contenç(o "ue a )tica e6i!e+ S0 podemos manifestar amor e compai6(o pelos outros se ao mesmo temporeprimirmos nossos impulsos e dese3os nocivos+

Seria compreens*vel "ue eu ao menos defendesse uma a.orda!emreli!iosa em relaç(o aos fundamentos da pr-tica da )tica+ É ine!-vel "uetodas as !randes tradições de f) têm um sistema )tico .em desenvolvido+

7odavia, a dificuldade em vincular nossa noç(o de certo e errado reli!i(o) "ue em se!uida precisamos per!untar# $Xue reli!i(o&$ Xual VKdelas apresenta o sistema mais acess*vel, mais aceit-vel& /s ar!umentosseriam infind-veis+ mais# n(o podemos i!norar o fato de muitas pessoasre3eitarem a reli!i(o .aseadas em convicções sinceras e n(o por simplesmente ne!li!enciarem as "uestões mais profundas da e6istência

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'umana+ N(o podemos presumir "ue tais pessoas n(o têm noç(o do "ue )certo ou errado, ou da"uilo "ue ) moralmente correto, s0 por"ue al!umasdas "ue s(o contra a reli!i(o têm atitudes imorais+ Al)m disso, crençareli!iosa n(o ) !arantia de inte!ridade moral+ 6aminando a 'ist0ria de

nossa esp)cie, vemos "ue entre os maiores respons-veis por conflitos 4 os"ue infli!iram violência, .rutalidade e destruiç(o a seus semel'antes ] 'avia muitos "ue professavam uma f) reli!iosa, muitas ve%es em alto e .om som+ A reli!i(o pode a3udar4nos a esta.elecer princ*pios )ticos .-sicos+ Contudo, pode4se falar de )tica e moralidade sem ter de recorrer reli!i(o+

Mais uma ve% seria poss*vel o.3etar "ue, se n(o aceitarmos a reli!i(ocomo fonte de )tica, teremos de admitir "ue a"uilo "ue as pessoas

entendem como .om e certo, mau e errado, moralmente correto eincorreto, o "ue consideram uma aç(o positiva e o "ue para elas vem a ser uma aç(o ne!ativa deve variar de acordo com as circunst1ncias e at)mesmo de pessoa para pessoa+ Mas nesse ponto permitam4me di%er "uenin!u)m deve ima!inar ser poss*vel formular um con3unto de re!ras ouleis capa%es de nos fornecer respostas para todos os dilemas )ticos,VKBmesmo "ue aceit-ssemos a reli!i(o como .ase da moralidade+ Um talcon3unto de f0rmulas nunca poderia pretender capturar toda a ri"ue%a ediversidade da e6periência 'umana+ tam.)m daria mar!em a "ue sear!umentasse "ue somos respons-veis apenas pelo "ue est- ri!orosamenteespecificado nessas leis, e n(o por nossas ações+

 N(o "ue se3a in5til tentar ela.orar princ*pios "ue possam ser compreendidos como al!o moralmente controlador+ 8elo contr-rio, sedese3armos ter "ual"uer esperança de resolver nossos pro.lemas, )essencial encontrarmos urna forma de ela.orar princ*pios assim+8recisamos 7er meios para 3ul!ar e decidir entre, por e6emplo, o

terrorismo como recurso para promover reformas pol*ticas e os princ*piosde resistência pac*fica de Ma'atma ?and'i+ 8recisamos ser capa%es demostrar "ue praticar a violência contra os outros est- errado+ aindaencontrar al!uma forma de fa%ê4lo "ue evite os e6tremos do a.solutismorudimentar, por um lado, e do relativismo .anal, por outro+

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Min'a opini(o pessoal, "ue n(o se .aseia unicamente em f) reli!iosae nem mesmo em uma id)ia ori!inal, ) "ue ) poss*vel esta.elecer  princ*pios )ticos controladores "uando tomamos como ponto de partida aconstataç(o de "ue todos n0s dese3amos a felicidade e "ueremos evitar os

sofrimentos+ N(o temos meios de distin!uir entre certo e errado se n(olevamos em conta os sentimentos dos outros, os sofrimentos dos outros+8or esta ra%(o, e tam.)m por"ue, como veremos adiante, ) dif*cil sustentar a noç(o de verdade a.soluta fora do conte6to da reli!i(o, a conduta )ticaVQn(o ) al!o com "ue nos comprometemos por ser apenas, de certa forma,al!o correto+ Al)m disso, se de fato o dese3o de ser feli% e evitar osofrimento ) uma disposiç(o natural, comum a todos, se!ue4se "ue todo

indiv*duo tem o direito de perse!uir esse o.3etivo+ Conse"uentemente, penso "ue uma das coisas "ue determinam se uma aç(o est- ou n(o deacordo com a )tica ) seu efeito so.re a e6periência ou a e6pectativa defelicidade dos outros+ Uma aç(o "ue pre3udica ou violenta essae6periência ou e6pectativa de felicidade ) potencialmente uma aç(oanti)tica+

Di!o potencialmente por"ue, em.ora as conse"Zências de nossasações se3am importantes, e6istem outros fatores a considerar, entre eles a"uest(o da intenç(o e a nature%a da aç(o+ 7odos n0s lem.ramos de coisas"ue fi%emos "ue pertur.aram os outros sem "ue tiv)ssemos al!umaintenç(o de fa%ê4lo+ 7am.)m n(o ) dif*cil lem.rar de atitudes "ue, apesar de parecerem constran!edoras, a!ressivas e capa%es de ferir, afinalaca.aram contri.uindo para a felicidade dos outros+ Colocar limites paracrianças com firme%a ) al!o "ue muitas ve%es se inclui nesta cate!oria+8or outro lado, o fato de nossas ações parecerem delicadas n(o si!nifica"ue se3am positivas ou )ticas se nossas intenções forem e!o*stas+ 8elocontr-rio, se, por e6emplo, nossa intenç(o ) iludir, ent(o fin!ir delicade%a

) uma das atitudes mais deplor-veis+ m.ora o uso da força possa n(oestar envolvido, ) uma atitude indiscutivelmente violenta+ 6erceviolência n(o s0 medida "ue pre3udica o outro, como pelo fato de trair aconfiança da pessoa e sua e6pectativa da verdade+VQ

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Mais uma ve% n(o ) dif*cil ima!inar um caso em "ue al!u)m ac'a"ue suas ações s(o .em4intencionadas e voltadas para o .em dos outros"uando na realidade s(o totalmente imorais+ Como o soldado "ue se!ue risca a ordem de e6ecutar sumariamente prisioneiros civis+ Acreditando

"ue a!e por uma causa 3usta, ele pode ac'ar "ue sua aç(o visa ao .em da'umanidade+ Contudo, se!undo o princ*pio de n(o4violência "uemencionei, matar ) por definiç(o um ato anti)tico+ Cumprir tais ordensseria uma atitude !ravemente ne!ativa+ m outras palavras, o conte5do, overdadeiro si!nificado de nossas ações, tam.)m ) importante paradeterminar se elas s(o )ticas ou n(o, 3- "ue certos atos s(o ne!ativos por definiç(o+

7alve% o fator mais importante para determinar a nature%a )tica de

uma aç(o n(o se3a nem seu conte5do nem seu resultado+ 9aras ve%es osfrutos de nossas ações s(o diretamente imput-veis apenas a n0s# e6emplodisso ) um timoneiro "ue conse!ue levar seu .arco em se!urança atrav)sde uma tempestade+ / sucesso de sua empreitada ) al!o "ue n(o dependeuapenas de suas ações+ 8or isso podemos admitir "ue o resultado de umaaç(o ) o fator menos importante+ m ti.etano, a e6press(o "ue caracteri%ao "ue ) mais importante para determinar o valor )tico de uma aç(o ) o Yunlon! do indiv*duo+ 7radu%ido literalmente, o partic*pio Yun si!nifica$completamente$ ou $das profunde%as$, e lon! REa indica o ato de fa%er al!o se levantar, sur!ir ou despertar+ No sentido em "ue ) usado a"ui,VQ por)m, Yun lon! ) compreendido como a"uilo "ue, de certo modo, motivaou inspira nossas ações 4 tanto as "ue praticamos deli.eradamente como as"ue s(o involunt-rias+ Lo!o, essa e6press(o indica o estado !eral docoraç(o e da mente do indiv*duo+ Xuando este estado ) sadio, dedu%4se"ue nossas ações ser(o Reticamente sadias+Com essa e6plicaç(o, vê4se lo!o "ue ) dif*cil tradu%ir Yun lon! de maneira

sucinta+ m !eral, a e6press(o ) tradu%ida apenas por $motivaç(o$, "ueclaramente n(o capta toda a e6tens(o de seu si!nificado+ A palavra$disposiç(o$, em.ora c'e!ue .em perto, n(o tem a mesma conotaç(o deatividade da e6press(o ti.etana+ usar a frase $estado !eral do coraç(o eda mente$ parece desnecessariamente lon!o+ 7alve% ela pudesse ser a.reviada para $estado de esp*rito$, ou $estado da mente$, mas seria

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i!norar o sentido mais amplo da palavra $mente$ na l*n!ua ti.etana+$Mente$ em ti.etano ) , "ue a.ran!e as noções de consciência e de percepç(o e, ao mesmo tempo, de sentimento e emoç(o, o "ue reflete acompreens(o de "ue emoções e pensamentos n(o podem vir separados+

m ti.etano, at) mesmo a percepç(o de uma caracter*stica, como a cor,tem uma dimens(o afetiva+ 7am.)m n(o e6iste uma id)ia de pura sensaç(osem uma e6periênçia co!nitiva correspondente+ Isto si!nifica, antes detudo, "ue podemos identificar diferentes tipos de emoç(o+ 6istem a"uelas"ue s(o .asicamente instintivas, como a repulsa ao ver VQKsan!ue, e as "ue têm um componente racional mais desenvolvido, como omedo da po.re%a+ 8eço ao leitor "ue ten'a tudo isso em mente sempre "ueeu me referir a $mente$, ou $motivaç(o$, ou $disposiç(o$, ou $estados de

esp*rito ou da mente$+É mais f-cil compreender "ue o estado !eral do coraç(o e da mente4ou motivaç(o 4 de uma pessoa no momento de uma aç(o ), em !eral, ac'ave para determinar a "ualidade )tica dessa aç(o se considerarmos comonossas ações s(o afetadas "uando estamos so. o poder de fortes emoções e pensamentos ne!ativos, como o 0dio e a raiva+ Nesse momento, nossamente Rlo e nosso coraç(o est(o contur.ados, o "ue nos fa% n(o s0 perder o senso de percepç(o e perspectiva, como tam.)m n(o en6er!ar o prov-vel impacto de nossas ações so.re os outros+ 8odemos c'e!ar a ficar aturdidos a ponto de i!norar os outros e seu direito felicidade+ So. taiscircunst1ncias, nossas ações 4 isto ), nossos atos, palavras, pensamentos,omissões e dese3os 4 ser(o certamente nocivas felicidade dos outros, semlevar em conta "uais ten'am sido nossas intenções para com os outros ouse nossas ações foram intencionais ou n(o+ :amos ima!inar uma situaç(oem "ue nos envolvemos em um desentendimento com um mem.ro denossa fam*lia+ A maneira como lidamos com a atmosfera pesada "ue seinstala vai depender em !rande parte da"uilo "ue inspira nossas ações no

momento ] em outras palavras, nosso Yun lon!+ Xuanto menos calmosficarmos, maior a pro.a.ilidade de rea!irmos ne!ativamente com palavrasVQQ-speras, de di%ermos ou fa%ermos coisas de "ue mais tarde nosarrependeremos amar!amente, mesmo "ue os nossos sentimentos de afeto por a"uela pessoa se3am profundos+ Ima!inemos ainda uma situaç(o em

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"ue incomodamos al!u)m de uma maneira pouco importante, comoes.arrar involuntariamente na pessoa ao passar por ela na rua, e ela !ritadi%endo "ue andemos com mais cuidado+ \- uma !rande possi.ilidade den(o darmos import1ncia a isso se nossa disposiç(o RYun lon! for sadia, se

nossos corações estiverem plenos de compai6(o 4 um sentimento "ueencerra compreens(o e ternura 4, do "ue se estivermos so. a influência deemoções ne!ativas+ Xuando a força motivadora de nossas ações ) sadia,nossos atos tendem automaticamente a contri.uir para o .em4estar dosoutros+ S(o, portanto, forçosamente )ticos+ "uando isso se torna o nossoestado 'a.itual, menor a pro.a.ilidade de rea!irmos mal "uando provocados+ Se perdermos a paciência, ser- uma e6plos(o desprovida de"ual"uer traço de rancor ou 0dio+ m min'a opini(o, portanto, o o.3etivo

da pr-tica espiritual e, conse"Zentemente, da pr-tica da )tica ) transformar e aperfeiçoar o Yun lon!+ É assim "ue nos tornamos pessoas mel'ores+Desco.rimos "ue, medida "ue conse!uimos transformar nossos

corações e mentes cultivando "ualidades espirituais, passamos a ser maiscapa%es de lidar com as adversidades e aumentamos as pro.a.ilidades denossas ações serem eticamente sadias+ Assim, se me permitirem citar meuVQ pr0prio caso como e6emplo, essa maneira de compreender a )tica si!nifica"ue, ao procurar sempre cultivar um estado de esp*rito positivo ou sadio,tento ser o mais 5til poss*vel aos outros+ Certificando4me, al)m disso, de"ue o conte5do de min'as ações ) i!ualmente positivo 4 medida "ue soucapa% de fa%ê4las serem assim 4, diminuo min'as c'ances de a!ir de formaanti)tica+ Xual ) a efic-cia desta t)cnica, ou se3a, "uais ser(o as suasconse"Zências relativamente ao .em4estar dos outros, a curto ou a lon!o pra%o, n(o '- como di%er+ 8or)m, se meus esforços forem constantes e seeu me mantiver atento, aconteça o "ue acontecer, dificilmente tereimotivos para arrependimento+ 8elo menos sa.erei "ue fi% o mel'or "ue

 pude+Min'a an-lise, neste cap*tulo, da relaç(o entre )tica e espiritualidade

n(o a.orda a "uest(o referente maneira como podemos resolver dilemas)ticos+ Halaremos disso mais adiante+ 8referi a"ui tratar da )ticaassociando o discurso )tico e6periência 'umana fundamental de felicida4

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de e sofrimento e evitando, assim, os pro.lemas "ue sur!em "uando seassocia a )tica reli!i(o+ A realidade ) "ue a maioria das pessoas 'o3e emdia n(o est- convencida da necessidade da reli!i(o+ Al)m do mais, e6istemcondutas "ue s(o aceit-veis em certas tradições reli!iosas mas n(o o s(o

em outras+ Xuanto ao "ue "uero di%er com a e6press(o $revoluç(oespiritual$, espero ter dei6ado claro "ue uma revoluç(o espiritual acarretanecessariamente uma revoluç(o )tica+

VQPCap*tulo K

A /9I?M D8NDN7

A NA7U9^A DA 9ALIDAD

m uma conferência "ue fi% no Fap(o '- al!uns anos, vi umas pessoas camin'arem em min'a direç(o carre!ando um ramo de flores+Levantei4me para rece.er a oferta, mas, para min'a surpresa, elas passaram direto por mim e depositaram as flores em um altar "ue estavaatr-s+ Sentei4me com uma !rande sensaç(o de em.araço+ , no entanto,mais uma ve% estava aprendendo "ue a maneira como as coisas eacontecimentos evoluem nem sempre coincide com as nossase6pectativas+ sse fato da vida 4 a lacuna "ue costuma 'aver entre o modocomo perce.emos os fen2menos e a realidade de uma determinadasituaç(o 4 ) ori!em de muita infelicidade+ Isso acontece principalrnente"uando, como no e6emplo "ue dei, fa%emos 3ul!amentos com .ase emuma compreens(o parcial "ue aca.a por n(o se 3ustificar por completo+Antes de considerar em "ue deve consistir uma revoluç(o espiritual e)tica, vamos refletir um pouco so.re a nature%a da realidade+ A estreitali!aç(o entre a percepç(o "ue temos de n0s mesmos em relaç(o ao mundo

"ue 'a.itamos e o nosso comportamento em funç(o disso mostra "ue aVQ<nossa compreens(o dos fen2menos tem um si!nificado decisivo+ Se n(ocompreendemos os fen2menos, nos ariscarnos a fa%er coisas "ue n(o s0nos pre3udicam como os outros+

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Xuando se e6amina o assunto verifica4se "ue n(o ) poss*vel separar "ual"uer fen2meno do conte6to de outros fen2menos+ 8odemos apenasfalar de relacionamentos+ Durante a nossa vida di-ria, nos envolvemos emin5meras atividades diferentes e rece.emos um enorme est*mulo sensorial

vindo de tudo com "ue nos deparamos+ / pro.lema dos erros de percepç(o, "ue, ) claro, tem !raus variados, costuma sur!ir por causa danossa tendência de isolar aspectos particulares de um acontecimento oue6periência e vê4los como se constitu*ssem uma totalidade+ Isso leva a umestreitamento da perspectiva e da* a falsas e6pectativas+ Se, por)m,consideramos a realidade, lo!o nos conscienti%amos de sua infinitacomple6idade e nos damos conta de "ue a maneira como a perce.emos'a.itualmente ) muitas ve%es incorreta+ Se n(o fosse assim, a noç(o de

en!ano n(o e6istiria+ Se as coisas e acontecimentos sempre evolu*ssem deacordo com as nossas e6pectativas, n(o ter*amos o conceito de ilus(o oude e"u*voco+

Como um recurso para compreender essa comple6idade, considero particularmente 5til o conceito de ori!em dependente Rem ti.etano, tendel formulado pela escola Mad'@amiYa RMeio 4 7ermo ou Moderada defilosofia .udista+ De acordo com esse conceito, podemos compreender como as coisas ocorrem de três maneiras diferentes+VQ Num primeiro n*vel, recorre4se ao princ*pio de causa e efeito, pelo "ualtodas as coisas e acontecimentos sur!em dependendo de uma comple6arede de causas e condições relacionadas entre si+ Sendo assim, nada nemnen'um acontecimento pode vir a e6istir ou permanecer e6istindo por sis0+ 8or e6emplo, se eu pe!ar um pun'ado de .arro e model-4lo, possofa%er um vaso vir a e6istir+ / vaso e6iste como resultado de meus atos+ Aomesmo tempo, ) tam.)m o resultado de uma mir*ade de outras causas econdições+ stas a.ran!em a com.inaç(o de .arro e -!ua "ue forma a

mat)ria4prima do vaso+ m acr)scimo, '- o a!rupamento das mol)culas,dos -tomos e outras diminutas part*culas "ue formam esses componentes+m se!uida, ) preciso levar em conta as circunst1ncias "ue levam min'adecis(o de fa%er um vaso+ e6istem ainda as condições "ue cooperam ouinterferem nas min'as ações medida "ue dou forma ao .arro+ 7odosesses diferentes fatores dei6am claro "ue meu vaso n(o pode vir a e6istir 

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independentemente de suas causas e condições+ /u se3a, ele tem umaori!em dependente, sua criaç(o est- su.ordinada a essas causas econdições+

 Num se!undo n*vel, ten del pode ser compreendido .em termos da

m5tua dependência "ue e6iste entre as partes e o todo+ Sem as partes, n(o pode 'aver o todo e, sem o todo, o conceito de partes n(o tem sentido+ Aid)ia de $todo$ implica partes, mas cada uma dessas partes precisa ser considerada como um todo composto de suas pr0prias partes+VQB

 No terceiro n*vel, pode4se di%er "ue todos os fen2menos têm umaori!em dependente por"ue, "uando os analisamos, verificamos "ue, emessência, eles n(o possuem uma identidade independente+ Isto pode ser 

compreendido mel'or se pensarmos na maneira como nos referimos acertos fen2menos+ 8or e6emplo, as palavras $aç(o$ e $a!ente$# uma pressupõe a e6istência da outra+ Assim como $pai$ e $fil'o$+ A pessoa s0 pode ser um pai se tiver fil'os+ um fil'o ou uma fil'a s(o assimc'amados apenas com referência ao fato de terem pais+ A mesma relaç(ode m5tua dependência ) vista na lin!ua!em "ue utili%amos para definir ramos de atividade ou profissões+ Determinados indiv*duos s(o c'amadosde fa%endeiros em funç(o de seu tra.al'o no campo+ /s m)dicos s(oassim c'amados por causa de seu tra.al'o na -rea da medicina+

De maneira mais sutil, as coisas e acontecimentos podem ser compreendidos em termos de ori!em dependente "uando, por e6emplo, per!untamos# o "ue ) e6atamente um vaso de .arro& Xuando procuramosal!o "ue possa ser definido como sua identidade final verificamos "ue a pr0pria e6istência do vaso de .arro 4 e, implicitamente, a de todos osoutros fen2menos 4 ), at) certo ponto, provis0ria e determinada pelasconvenções+ Xuando inda!amos se sua identidade ) determinada por suaforma, sua funç(o, suas partes espec*ficas Rou se3a, ser composto de .arro,

-!ua, etc+, constatamos "ue a palavra $vaso$ n(o passa de umadesi!naç(o ver.al+ N(o '- uma 5nica caracter*stica "ue se possa di%er "ueo identifica+VMuito menos a totalidade de suas caracter*sticas+ 8odemos ima!inar vasosde formas diferentes "ue n(o dei6am de ser vasos+ por"ue s0 podemos

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realmente falar de sua e6istência em relaç(o a uma rede comple6a decausas e condições, se o encaramos se!undo esta perspectiva, o vaso n(otem de fato nen'uma propriedade "ue o defina+ m outras palavras, n(oe6iste em si ou por si, mas ) antes de tudo ori!inariamente dependente+

 No "ue se refere aos fen2menos mentais, verificamos "ue mais umave% e6iste uma dependência+ Neste caso, entre a"uele "ue perce.e e a"uilo"ue ) perce.ido+ 7omemos como e6emplo a percepç(o de uma flor+ m primeiro lu!ar, para "ue se possa perce.er uma flor ) preciso 'aver um0r!(o sens*vel+ Se!undo, precisa 'aver uma condiç(o 4 neste caso, a pr0pria flor+ m terceiro, para "ue ocorra a percepç(o ) preciso 'aver al!o"ue direcione a atenç(o da"uele "ue perce.e para o o.3eto+ nt(o, atrav)sda interaç(o causal dessas condições, ocorre um acontecimento co!nitivo

a "ue c'amamos de percepç(o de uma flor+ A!ora vamos e6aminar em "ueconsiste e6atamente esse acontecimento+ Seria apenas o funcionamento dafaculdade sensorial& Seria apenas a interaç(o entre essa faculdadesensorial e a pr0pria flor& /u seria outra coisa& :emos "ue, no final, n(oconse!uimos compreender o conceito de percepç(o a n(o ser dentro doconte6to de uma intricada e imprecisa s)rie de causas e condições+

Uma outra maneira de compreender o conceito de ori!emdependente ) considerar o fen2meno do tempo+Vm !eral, presumimos "ue '- uma entidade com e6istência independentea "ue c'amamos de tempo+ Halamos de tempo passado, presente e futuro+ntretanto, "uando e6aminamos mel'or o assunto, vemos "ue esseconceito tam.)m ) uma convenç(o+ :erificamos "ue a e6press(o$momento presente$ ) apenas um r0tulo "ue indica a interface entre ostempos $passado$ e $futuro$+ N(o podemos na realidade locali%ar com precis(o o presente+ / passado est- apenas uma fraç(o de se!undo antesdo suposto momento presenteO apenas uma fraç(o de se!undo depois est-

o futuro+ No entanto, se dissermos "ue o momento presente ) $a!ora$,assim "ue aca.armos de pronunciar esta palavra ele 3- estar- no passado+Se sustent-ssemos "ue, mesmo assim, deve 'aver um 5nico momentoindivis*vel pelo passado ou pelo futuro, n(o 'averia nen'uma ra%(o parasepararmos presente, passado e futuro+ Se 'ouvesse um 5nico momentoindivis*vel, s0 ter*amos o presente+ Sem o conceito do presente, por)m,

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fica dif*cil falar de passado e futuro 3- "ue am.os sem d5vida dependemdo presente+ Al)m do mais, se nossa an-lise nos fi%esse concluir "ue ent(oo presente n(o e6iste, ter*amos de ne!ar n(o s0 uma convenç(o mundial,como tam.)m a nossa pr0pria e6periência+ De fato, "uando começamos a

analisar nossa e6periência com relaç(o ao tempo, vemos "ue o passadodesaparece e o futuro ainda est- para c'e!ar+ 6perimentamos apenas o presente+ o presente s0 toma forma como dependente do passado e dofuturo+V

Como isso nos pode a3udar& Xual ) o valor dessas o.servações&ncontramos nelas diversas implicações importantes+ 8rimeiro, "uandoconstatamos "ue tudo a"uilo "ue perce.emos e e6perimentamos ) o

resultado de uma s)rie indefinida de causas e condições correlacionadas,toda a nossa perspectiva muda+ Começamos a ver "ue o universo em "ue'a.itamos pode ser compreendido como um or!anismo vivo em "ue cadac)lula tra.al'a em cooperaç(o e"uili.rada com cada uma das outrasc)lulas para manter o todo+ Se apenas uma dessas c)lulas ) pre3udicada,como acontece "uando '- o ata"ue de uma doença, esse e"uil*.rio )afetado e o todo passa a correr peri!o+ sse racioc*nio, por sua ve%, su!ere"ue nosso .em4estar pessoal est- intimamente li!ado n(o s0 ao .em4estar dos outros como ao am.iente em "ue vivemos+ 7am.)m se torna evidente"ue nossas ações, feitos, palavras e id)ias, por mais insi!nificantes ouirrelevantes "ue possam parecer, têm uma implicaç(o n(o apenas para n0smesmos como tam.)m para as outras pessoas+

Al)m do mais, "uando encaramos a realidade em termos de ori!emdependente, dei6amos de lado nossa tendência 'a.itual para ver as coisase os acontecimentos como entidades uniformes, independentes e distintas+Isso ) muito proveitoso por"ue ) essa tendência "ue nos fa% e6a!erar uns poucos aspectos de nossa e6periência, tornando4os representativos da

realidade completa de uma determinada situaç(o e i!norando suacomple6idade mais ampla+VK

ssa compreens(o da realidade se!undo o conceito de ori!emdependente tam.)m põe diante de n0s um desafio si!nificativo+ ssedesafio consiste em ver as coisas e acontecimentos de maneira menos

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simplista, menos $.ranco ou preto$, e mais como um comple6oencadeamento de cone6ões dif*ceis de especificar+ 7am.)m passa a ser dif*cil falar em termos de a.soluto+ mais, se todos os fen2menosdependem de outros fen2menos, se nen'um fen2meno pode e6istir 

independentemente, devemos considerar "ue at) mesmo a nossa muito pre%ada individualidade n(o e6iste do modo "ue normalmente supomos+ Na verdade, se investi!armos analiticamente a identidade do eu,verificaremos "ue sua aparente solide% dissolve4se ainda mais depressa do"ue a do vaso de .arro ou a do momento presente+ 8ois, en"uanto um vasode .arro ) al!o concreto "ue podemos realmente tocar, o eu ) maiselusivo# sua identidade como constructo 4 uma s*ntese mental "ue sur!e deuma !ama de acontecimentos comple6os 4 lo!o se toma evidente+

desco.rimos "ue a n*tida distinç(o "ue fa%emos 'a.itualmente entre $eu$ e$os outros$ ) um e6a!ero+É ine!-vel "ue todo ser 'umano tem, 3usta e naturalmente, uma forte

noç(o do eu+ Ainda "ue n(o sai.amos .em por "ue ) assim, essa noç(o doeu sem d5vida est- presente+ 6aminemos, por)m, o "ue constitui overdadeiro o.3eto a "ue c'amamos $eu$+ Seria a mente& 8ode acontecer "ue a mente de uma pessoa se tome 'iperativa ou depressiva+ Nos doiscasos, um m)dico pode receitar rem)dios para proporcionar uma sensaç(oVQde .em4estar "uela pessoa+ Isto mostra "ue pensamos na mente como, _de certa forma, a posse, o dom*nio do eu+ , de fato, "uando refletimosmel'or, afirmações como $meu corpo$, $min'a fala$, $min'a mente$tra%em uma noç(o impl*cita de propriedade+ 8ortanto, ) dif*cil ver como amente pode constituir o eu+ / mesmo em relaç(o consistência+ Se o eu ea consciência fossem a mesma coisa, ter*amos conse"Zentemente oa.surdo de o ator e a aç(o serem um s0+ Desse ponto de vista, tam.)m n(o) f-cil conce.er de "ue modo o eu pode e6istir como fen2meno

independente fora do con3unto mente4corpo+ outra ve% isso me fa% ac'ar "ue nossa noç(o 'a.itual do eu ) de certa maneira um r0tulo para umarede comple6a de fen2menos correlatos+

 Neste ponto, vamos parar e analisar como normalmente a!imos comrelaç(o a essa id)ia do eu+ Di%emos# $sou alto$, $sou .ai6o$, $fi% isso$, $fi%a"uilo$ e nin!u)m nos "uestiona+ 7odos entendem o "ue "ueremos di%er e

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ficam satisfeitos com essas convenções "ue fa%em parte do discursocotidiano e s(o compat*veis com a e6periência comum+ Mas isso n(o "uer di%er "ue al!o e6ista apenas por"ue est- sendo dito ou por"ue e6ista uma palavra a "ue tal coisa se refere+ Nin!u)m 3amais encontrou um unic0rnio

e no entanto a palavra est- em todos os dicion-rios+8ode4se di%er "ue as convenções s(o v-lidas "uando n(o

contradi%em um con'ecimento ad"uirido e "uando servem de fundamento para um discurso comum no "ual situamos noções como falso eVverdadeiro+ Isto n(o nos impede de aceitar "ue, em.ora perfeitamentesatisfat0rio como mais uma convenç(o, o eu, como todos os outrosfen2menos, e6ista condicionado aos r0tulos e conceitos "ue aplicamos ao

termo+ Neste conte6to, considerem uma situaç(o em "ue, no escuro,ac'amos "ue uma corda enrolada ) uma co.ra+ Hicamos im0veis esentimos medo+ m.ora o "ue este3amos vendo se3a na verdade um pedaço de corda do "ual n(o nos lem.ramos, a ausência de lu% e nossainterpretaç(o errada nos fa%em pensar "ue a"uilo ) uma co.ra+ Narealidade, a corda enrolada n(o possui nen'um dos atri.utos de uma co.raa n(o ser a maneira como aparece para n0s+ A co.ra de verdade n(o est-ali+ Atri.u*mos sua e6istência a um o.3eto inanimado+ / mesmo se d- coma noç(o de e6istência independente do eu+

Desco.rimos "ue tam.)m o pr0prio conceito do eu ) relativo+Consideremos ent(o o fato de "ue muitas ve%es vivemos situações em "uenos culpamos+ Di%emos# $A', na"uele dia eu realmente n(o fui capa% deme controlar$ e falamos como se estiv)ssemos %an!ados com n0s mesmos+/ "ue parece revelar "ue e6istem de fato dois eus distintos, o "ue a!iu male o "ue critica+ De forma semel'ante, podemos ver "ue a identidade pessoal de um 5nico indiv*duo tem muitos aspectos diferentes+ m meu pr0prio caso, por e6emplo, e6iste a percepç(o de um eu "ue ) mon!e, de

um eu "ue ) ti.etano, de um eu "ue ) da re!i(o ti.etana de Amdo, e assim por diante+ Al!uns dos precedem outros# o eu ti.etano 3- e6istia antes doVPeu mon!e, pois s0 me tomei um noviço "uando tin'a sete anos+ / eurefu!iado s0 e6iste desde BB+ m outras palavras, '- muitas desi!naçõesem uma nica .ase+ +S(o todas ti.etanas, 3- "ue esse eu 4 ou Identidade ] 

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e6istia desde o meu nascimento+ Mas s(o nominalmente diferentes+ 8aramim, essa ) uma ra%(o a mais para ter d5vidas a respeito da e6istênciainerente do eu+ N(o podemos, # portanto, afirmar "ue "ual"uer uma dascaracter*sticas se3a o "ue decididamente constitui meu eu, ou, por outro

lado, "ue meu eu se3a a soma de todas+ 8ois mesmo "ue eu a.andonasseuma ou mais delas, a noç(o de eu ainda persistiria em mim+

ssa compreens(o da realidade permite4nos ver "ue a r*!idadistinç(o "ue fa%emos entre n0s e os outros ) em !rande parte o resultadode um condicionamento+ ainda assim ) poss*vel ima!inar "ue se forme o'-.ito de uma concepç(o ampliada do eu em "ue o indiv*duo situa seusinteresses dentro dos interesses dos outros+ 8or e6emplo, "uando uma pessoa pensa em termos de sua terra natal e di%# $n0s somos ti.etanos$ ou

$n0s somos franceses$, ela est- demonstrando uma compreens(o de suaidentidade de uma forma "ue est- al)m da identidade individual+Se o eu tivesse identidade intr*nseca, seria poss*vel falar de um

interesse pessoal isolado do interesse dos outros+ Mas como n(o ) assim,como o eu e os outros s0 podem ser compreendidos como uma relaç(o,vemos "ue o interesse pessoal e o interesse dos outros est(o estreitamenterelacionados+ Dentro desse "uadro de realidade dependente ori!inadaverificamos "ue n(o '- interesse pessoal completamente desli!ado doV<interesse dos outros+ ?raças interli!aç(o fundamental "ue est- nocoraç(o da realidade, o seu interesse ) tam.)m o meu interesse+ assimfica claro "ue o $meu$ interesse e o $seu$ interesse est(o intimamenterelacionados um ao outro+ m um sentido mais profundo, s(oconver!entes+

Aceitar uma forma mais comple6a de compreender a realidade, na"ual coisas e acontecimentos demonstram estar firmemente inter4relacionados, n(o si!nifica inferir "ue os princ*pios )ticos "ue

identificamos anteriormente dei6em de ser considerados moralmenteo.ri!at0rios+ 8elo contr-rio, o conceito de ori!em dependente o.ri!anos aconsiderar a realidade de causa e efeito com e6trema seriedade+ Xuerodi%er com isto "ue determinadas causas levam a determinados efeitos e"ue certas ações levam ao sofrimento, en"uanto outras levam felicidade+É de interesse comum fa%er o "ue leva felicidade e evitar o "ue leva ao

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sofrimento+ ntretanto, como 3- vimos, pelo fato de nossos interessesestarem ine6tricavelmente li!ar# dos somos impelidos a aceitar a )ticacomo uma interface indispens-vel entre o meu dese3o de ser feli% e o seu+

VCap*tulo Q

9DHININD/ / /GF7I:/

F- o.servei a"ui "ue ) da nature%a de todos n0s dese3ar a felicidade en(o "uerer sofrer+ Al)m disso, afirmei "ue este dese3o ) um direito e "ue,na min'a opini(o, pode4se concluir "ue um ato )tico ) a"uele "ue n(o pre3udica a e6periência ou a e6pectativa d) felicidade de outras pessoas+

apresentei uma forma de compreender a realidade "ue aponta parainteresses comuns no "ue se refere ao indiv*duo e aos outros+:amos a!ora considerar a nature%a da felicidade+ A primeira coisa aressaltar ) "ue esta ) uma "ualidade relativa+ É vivenciada por n0s demaneiras diferentes, de acordo com as nossas circunst1ncias+ / "ue tornauma pessoa feli% pode ser uma fonte de sofrimento para outra+ A maioriade n0s ficaria e6tremamente triste se fosse condenada a passar o resto davida numa pris(o+ No entanto, um criminoso so. ameaça de pena de morte provavelmente ficaria muito satisfeito com uma sentença de pris(o perp)tua+ m se!undo lu!ar, ) importante recon'ecer "ue usamos amesma palavra $felicidade$ para desi!nar estados muito diferentes,em.ora isso se3a mais claro em ti.etano, em "ue a mesma palavra, de wa,tam.)m ) utili%ada si!nificando $pra%er$+ Halamos so.re felicidadeVB"uando nos referimos a um .an'o de -!ua fria em um dia de intenso calor+Halamos so.re felicidade com relaç(o a al!uns estados ideais, como"uando di%emos# $Hicaria e6tremamente feli% se !an'asse na loteria+$

7am.)m falamos so.re felicidade "uando aludimos s ale!rias simples davida em fam*lia+

 Neste 5ltimo caso, felicidade ) mais um estado "ue persiste apesar dealtos e .ai6os e de intervalos ocasionais+ No caso do .an'o frio em dia decalor, por)m, por ser a conse"Zência de atividades "ue visam a!radar aossentidos, ) necessariamente um estado passa!eiro+ Se permanecemos na

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-!ua por tempo demais, começamos a sentir frio+ Na verdade, a felicidade"ue essas atividades nos proporcionam depende de tais atividades seremde curta duraç(o+ No caso de se !an'ar uma !rande "uantia de din'eiro, a"uest(o de sa.er se isso traria uma felicidade duradoura ou apenas uma

so.recar!a de dificuldades e pro.lemas "ue n(o podem ser resolvidossomente pela ri"ue%a dependeria de "uem !an'a o din'eiro+ Halando demodo !eral, por)m, mesmo "uando a ri"ue%a nos tra% felicidade, estacostuma ser a do tipo "ue o din'eiro pode comprar# coisas materiais ee6periências dos sentidos+ lo!o desco.rimos "ue estas, por sua ve%, setomam elas pr0prias uma fonte de sofrimentos+ No "ue se refere s nossas posses, por e6emplo, temos de admitir "ue costumam nos causar maisdificuldades do "ue outra coisa na vida+ / carro en!uiça, perdemos nosso

din'eiro, nossos .ens mais preciosos s(o rou.ados, nossa casa ) destru*daVP pelo fo!o, sentimos necessidade de nos cercarmos de dispositivos dese!urança+ /u tais coisas acontecem de fato ou vivemos preocupados "ueaconteçam+

Se n(o fosse assim 4 se essas ações e circunst1ncias na verdade n(otrou6essem consi!o a semente do sofrimento 4, "uanto mais nosentre!-ssemos a elas, mais feli%es ser*amos, da mesma forma "ue a dor aumenta "uanto mais persistem as causas da dor+ Mas n(o ) isso o "ueacontece+ A "uest(o ) "ue de ve% em "uando c'e!amos a pensar "ueencontramos essa esp)cie de felicidade perfeita, at) "ue a aparente perfeiç(o revela4se t(o efêmera "uanto uma !ota de orval'o em uma fol'a, .ril'ando intensamente num momento, no outro desaparecendo+

Isso e6plica por "ue depositar esperanças demais nodesenvolvimento material ) um en!ano+ / pro.lema n(o ) o materialismocomo tal, mas o fato de pensar "ue se pode o.ter satisfaç(o completaunicamente atrav)s da !ratificaç(o dos sentidos+ Ao contr-rio dos animais,

cu3a .usca da felicidade restrin!e4se so.revivência e !ratificaç(oimediata dos dese3os sensoriais, n0s, os seres 'umanos, temos acapacidade de e6perimentar a felicidade em um !rau mais profundo "ue,"uando atin!ido, tem o poder de so.repu3ar as e6periências adversas+Consideremos o caso de um soldado "ue luta em uma .atal'a+ le est-ferido, mas a .atal'a foi !an'a+ A satisfaç(o "ue sente com a vit0ria

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si!nifica "ue provavelmente sofrer- muito menos por causa dosferimentos do "ue um soldado "ue estiver do lado "ue foi derrotado e t(oferido "uanto ele+VP

ssa capacidade 'umana para e6perimentar n*veis profundos defelicidade e6plica tam.)m por "ue coisas como a m5sica e as artes pl-sticas oferecem um maior !rau de felicidade e satisfaç(o do "ue a meraa"uisiç(o de o.3etos materiais+ ntretanto, ainda "ue as e6periênciasest)ticas se3am uma fonte de felicidade, têm tam.)m um forte componentesensorial+ A m5sica depende dos ouvidos, as artes pl-sticas dependem dosol'os, a dança depende do corpo+ É um tipo de satisfaç(o ad"uirida em!eral atrav)s dos sentidos, assim como a "ue o.temos atrav)s do tra.al'o

ou da carreira+ 8or si s0, n(o nos pode oferecer a felicidade com "ueson'amos+Al!u)m poderia ar!umentar "ue est- muito .em "ue se faça a

distinç(o entre a felicidade passa!eira e a duradoura, entre a felicidadeefêmera e a verdadeira, mas "ue a 5nica felicidade so.re a "ual fa% sentidofalar "uando uma pessoa est- morrendo de sede ) o acesso -!ua+ Isso )in"uestion-vel+ Naturalmente, "uando se trata de so.revivência, nossasnecessidades tornam4se t(o prementes, "ue a maior parte de nosso esforço) direcionada para satisfa%ê4las+ 8or)m, como a 1nsia de so.revivênciavem de uma necessidade f*sica, se!ue4se "ue a satisfaç(o corporal est-invariavelmente limitada ao "ue os sentidos podem proporcionar+ Assim,concluir "ue dever*amos .uscar a imediata !ratificaç(o dos sentidos emtodas as circunst1ncias dificilmente se 3ustificaria+ Se refletirmos mel'or,veremos "ue a .reve e6altaç(o "ue sentimos "uando aplacamos osimpulsos dos sentidos talve% n(o se3a muito diferente da "ue o viciado emVPdro!as e6perimenta "uando se entre!a a seu '-.ito+ / al*vio tempor-rio )

lo!o se!uido pela avide% por mais+ assim como o uso de dro!as aca.atra%endo apenas pro.lemas, o mesmo acontece com muito do "ue fa%emos para satisfa%er os dese3os imediatos dos sentidos+ / "ue n(o "uer di%er "ueo pra%er "ue certas atividades nos proporcionam se3a errado+ Mas precisamos admitir "ue n(o ) poss*vel !ratificar permanentemente ossentidos+ Na mel'or das 'ip0teses, a felicidade "ue o.temos ao comer uma

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 .oa refeiç(o s0 dura at) a pr06ima ve% em "ue sentimos fome+ Comoo.servou um anti!o escritor indiano# $Satisfa%er nossos sentidos e .e.er -!ua sal!ada s(o coisas semel'antes# "uanto mais as fa%emos, maiscrescem nossos dese3os e nossa sede+$

desco.rimos "ue !rande parte da"uilo "ue c'amei de sofrimentointerior pode ser atri.u*da nossa forma impulsiva de .uscar a felicidade+ N(o paramos para considerar a comple6idade de uma situaç(odeterminada+ Nossa tendência ) de nos precipitarmos e fa%er o "ue promete ser o camin'o mais curto para a satisfaç(o+ "uase sempre nos privamos da oportunidade de uma reali%aç(o mais plena+ sse modo dea!ir ) de fato muito estran'o+ m !eral, n(o permitimos "ue nossascrianças façam tudo o "ue "uerem+ Sa.emos "ue, se as dei6armos livres,

 provavelmente passar(o todo o tempo .rincando sem nunca estudar+ fa%emos com "ue renunciem ao pra%er imediato da .rincadeira pelao.ri!aç(o de estudar+ Nossa estrat)!ia ) so.retudo de lon!o pra%o+ Émenos divertido para elas, mas confere4l'es uma .ase s0lida para seuVPKfuturo+ Xuando ficamos adultos, por)m, muitas ve%es nos descuidamosdesse princ*pio+ Como, por e6emplo, no caso em "ue um dos c2n3u!esdedica todo o seu tempo a interesses pr0prios+ / outro c2n3u!e sem d5vidasofre e, "uando isso acontece, ) inevit-vel "ue fi"ue cada ve% mais dif*cilmanter o casamento+ 7am.)m ) o caso de pais "ue se interessam apenasum pelo outro e se descuidam dos fil'os, o "ue certamente aca.a tendoconse"Zências ne!ativas+

Xuando a!imos para satisfa%er nossos dese3os imediatos sem levar em conta os interesses dos outros, solapamos a possi.ilidade de umafelicidade duradoura+ Se moramos num lu!ar onde '- de% outras fam*liasna vi%in'ança e nem se"uer nos ocorre pensar no .em4estar delas, perdemos a oportunidade de usufruir do seu conv*vio+ 8or outro lado, se

fi%ermos um esforço para sermos ami!-veis e nos preocuparmos com elas,estaremos promovendo a nossa pr0pria felicidade al)m da felicidade delas+/u ainda ima!inem uma situaç(o em "ue encontramos al!u)m "ue n(ocon'ec*amos antes+ 8odemos convidar essa pessoa para almoçar+ vamos!astar al!um din'eiro com isso+ Mas o resultado ) uma .oa c'ance deiniciar uma ami%ade "ue pode tra%er ale!rias por anos a fio+ Inversamente,

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se vemos uma oportunidade de en!anar al!u)m "ue encontramos e ofa%emos, podemos !an'ar din'eiro ou o "ue "uer "ue se3a na ocasi(o, mas provavelmente destruiremos por completo a possi.ilidade de umainteraç(o com a"uela pessoa, "ue a lon!o pra%o poderia nos ser .en)fica+

VPQ:amos refletir so.re a nature%a da"uilo "ue caracteri%ei como

felicidade !enu*na+ Min'a pr0pria e6periência pode servir para ilustrar oestado a "ue me refiro+ Como mon!e .udista, fui treinado para a pr-tica, afilosofia e os princ*pios do .udismo+ 8or)m, n(o rece.i "uase nen'umaeducaç(o pr-tica de "ual"uer esp)cie para lidar com as e e6i!ências davida moderna+ No decorrer de min'a vida tive assumir enormesresponsa.ilidades e enfrentar imensas dificuldades+ Aos de%esseis anos,

 perdi a li.erdade "uando o 7i.et foi ocupado+ Com vinte e "uatro anos, perdi meu pr0prio pa*s "uando vim para o e6*lio+ \- "uarenta anos, vivocomo refu!iado em um pa*s estran!eiro, apesar de ser meu lar espiritual+Durante todo esse tempo ven'o tentando servir a meus compan'eirosrefu!iados na medida do poss*vel, aos ti.etanos "ue ainda continuam no7i.et+ n"uanto isso, nosso pa*s natal con'eceu a destruiç(o e osofrimento de uma forma indescrit*vel+ , ) claro, perdi n(o s0 min'a m(ee outros parentes pr06imos como tam.)m ami!os muito "ueridos+ Apesar de tudo isso e apesar de sem d5vida ficar triste "uando penso nessas perdas, no "ue di% respeito min'a serenidade .-sica "uase sempre sinto44me calmo e satisfeito+ Mesmo "uando sur!em dificuldades, n(o sou muitoafetado por elas+ 8osso di%er sem 'esitaç(o "ue sou feli%+

Se!undo a min'a e6periência, a principal caracter*stica da felicidade!enu*na ) a pa%, a pa% interior+ N(o me refiro a "ual"uer sentimento parecido com o $estar num .arato`+ Nem estou falando de ausência desentimento+ Ao contr-rio, a pa% de "ue falo est- enrai%ada na consideraç(oVP

 pelos outros e envolve um alto !rau de sensi.ilidade e sentimento, em.oraeu pessoalmente n(o possa ale!ar "ue ten'a conse!uido ir muito lon!enesse aspecto+ Atri.uo min'a sensaç(o de pa% so.retudo ao esforço paradesenvolver meu sentimento de consideraç(o pelos outros+

/ fato de a pa% interior ser a principal caracter*stica da felicidadee6plica o parado6o de e6istir !ente "ue est- sempre insatisfeita, apesar de

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dispor de todas as vanta!ens materiais, en"uanto '- outros "ue est(osempre feli%es, a despeito das circunst1ncias mais penosas+ Lem.re4mos oe6emplo dos oitenta mil ti.etanos "ue, durante os meses "ue se se!uiram min'a fu!a para o e6*lio, dei6aram o 7i.et e aceitaram o asilo "ue l'es foi

oferecido pelo !overno indiano+ As circunst1ncias "ue enfrentaram erame6tremamente duras+ \avia pouca comida dispon*vel e ainda menosrem)dios+ /s campos de refu!iados s0 podiam oferecer .arracas de lona para acomod-4los+ A maioria das pessoas tra%ia pouca coisa al)m da roupado corpo com "ue 'avia sa*do de casa+ :estiam pesados chubas, o tra3eti.etano tradicional, apropriados para nossos invernos ri!orosos, "uando o"ue realmente precisavam na ndia era de roupas de al!od(o o mais leve poss*vel+ padeciam terrivelmente de doenças descon'ecidas no 7i.et+

ntretanto, 'o3e em dia, depois de todas a"uelas provações, osso.reviventes demonstram raros sinais de trauma+ Mesmo na"uela )poca, poucos perderam de todo a confiança+ pou"u*ssimos cederam aosVPPsentimentos de triste%a e desespero+ Diria mesmo "ue, uma ve% passado oimpacto inicial, a maioria se manteve .astante otimista e, sim, feli%+

Isso indica "ue nosso sentimento fundamental de .em4estar n(o ser-a.alado se pudermos desenvolver essa "ualidade de pa% interior, se3am"uais forem as dificuldades "ue enfrentarmos na vida+ tam.)m nos levaa concluir "ue, apesar de n(o podermos ne!ar a import1ncia dos fatorese6ternos para promover a felicidade, estaremos en!anados se acreditarmos"ue eles s(o capa%es de nos tornar completamente feli%es+

 Nosso temperamento, a maneira como fomos criados e ascircunst1ncias de nossa vida sem d5vida contri.uem para nossae6periência de felicidade+ todos concordamos "ue a falta dedeterminadas coisas fa% com "ue se3a mais dif*cil alcanç-4la+ :amos ent(oe6aminar essas coisas+ Sa5de, ami!os, li.erdade e uma certa prosperidade

s(o al!o muito valioso e 5til+ Sa5de, nem se fala+ 7odos a dese3amos+7odos tam.)m "ueremos e precisamos de ami!os, independente de nossasituaç(o e do sucesso "ue alcançamos+ Sempre fui fascinado por rel0!ios,e, apesar de !ostar muito do "ue costumo usar, ele nunca me demonstrou"ual"uer afeiç(o+ 8ara o.termos a satisfaç(o do amor precisamos deami!os "ue retri.uam nossa afeiç(o+ É claro "ue '- diversos tipos de

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ami!os+ \- os "ue s(o ami!os da posiç(o social de al!u)m, do seudin'eiro e fama, mas n(o s(o ami!os das pessoas "ue possuem essascoisas+ /s ami!os a "uem me refiro s(o os "ue est(o presentes para nosVP<

a3udar "uando nos encontramos em uma fase dif*cil da vida, n(o os "ue .aseiam seu relacionar mento conosco em atri.utos superficiais+

A li.erdade, no sentido de ter condições internas e e6ternas para .uscar a felicidade e manter e manifestar opiniões pessoais, contri.uii!ualmente para o nosso sentimento de pa% interior+ Nas sociedades em"ue isso n(o ) permitido '- espiões e censores "ue investi!am as vidas detodas as comunidades, at) das pr0prias fam*lias+ / resultado inevit-vel )"ue as pessoas começam a perder a confiança umas nas outras+ 7ornam4se

desconfiadas e suspeitam dos motivos al'eios+ Xuando o sentimento .-sico de confiança de uma pessoa ) destru*do, como se pode esperar "uese3a feli%&

A prosperidade tam.)m 4 n(o tanto no sentido de possuir !randeri"ue%a material e mais no de desenvolvimento mental e emocional 4 ) .astante si!nificativa para a nossa sensaç(o de pa% interior+ A"ui, maisuma ve%, r ca.e lem.rar o e6emplo dos refu!iados ti.etanos, pr0sperosapesar de sua falta de recursos materiais+

Cada um desses fatores desempen'a um papel importante para se ter uma sensaç(o de .em4estar individual+ Contudo, sem "ue 'a3a umsentimento .-sico de pa% e se!urança interiores, nen'um deles tra%"ual"uer proveito+ 8or "uê& 8or"ue, como 3- vimos, nossos .ens materiaiss(o uma fonte de ansiedade+ Assim como nosso tra.al'o ou nossoempre!o, medida "ue nos preocupamos com a possi.ilidade de perdê44los+ At) nossos ami!os e parentes s(o capa%es de tornar4se uma fonte deVP pro.lemas+ 8odem ficar doentes e necessitar de nossa atenç(o "uando

estamos ocupados com ne!0cios importantes+ 8odem at) mesmo se voltar contra n0s e nos pre3udicar, a!indo de maneira desonesta+ os nossoscorpos, por mais .em4dispostos e .onitos "ue este3am no momento, umdia aca.ar(o sucum.indo vel'ice+ 7am.)m n(o somos invulner-veis doença e dor+ 8ortanto, n(o '- esperança de alcançar uma felicidadeduradoura se n(o tivermos pa% interior+

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/nde, ent(o, encontraremos a pa% interior& N(o '- uma resposta5nica+ Mas uma coisa ) certa# nen'um fator e6terno pode produ%i4la+Muito menos adiantaria pedi4la a um m)dico+ No m-6imo, o "ue ele poderia fa%er seria receitar4nos um antidepressivo ou p*lulas para dormir+

De modo semel'ante, nen'um computador ou nen'uma outra m-"uina, por mais sofisticados ou poderosos "ue se3am, pode oferecer4nos essa"ualidade vital+ Na min'a opini(o, desenvolver a pa% interior, da "ual afelicidade duradoura4 e, portanto, a "ue tem sentido 4 depende, ) como"ual"uer outra tarefa da vida# temos de identificar suas causas e condiçõese em se!uida começar a cultiv-4las dili!entemente+ / "ue, como lo!o sevê, e6i!e uma dupla a.orda!em+ 8or um lado, temos de nos precaver contra os fatores "ue criam o.st-culos a nosso dese3o+ 8or outro,

 precisamos cultivar os "ue contri.uem para ele+ No "ue di% respeito s condições para a pa% interior, uma das maisimportantes ) a nossa atitude de modo !eral+VPB8ermitam4me "ue e6pli"ue isso dando mais um e6emplo pessoal+ Apesar de min'a serenidade 'a.itual de 'o3e, eu costumava ter !ênio e6altado eera dado a acessos de impaciência e s ve%es de raiva+ Ainda 'o3e, admito,'- ocasiões em "ue perco a compostura+ Xuando isso acontece, o menor a.orrecimento pode tomar proporções e6a!eradas e pertur.ar4meconsideravelmente+ 8osso, por e6emplo, acordar em uma man'( sentindo4me a!itado sem nen'uma ra%(o em especial+ Xuando estou assim, o.servo"ue at) mesmo o "ue de '-.ito me a!rada tem o poder de me irritar+ At)ol'ar para meu rel0!io me provoca uma sensaç(o de a.orrecimento+ :e3o44o somente como uma fonte de compromissos e, atrav)s deles, de maissofrimento+ Mas '- outros dias em "ue acordo e ve3o4o como al!o .onito,t(o comple6o e delicado+ No entanto, evidentemente, ) o mesmo rel0!io+/ "ue mudou& Ser- "ue meus sentimentos de repulsa num dia e de

satisfaç(o no outro s(o apenas fruto do acaso& /u e6iste em mim al!ummecanismo neurol0!ico em funcionamento so.re o "ual n(o ten'onen'um controle& É claro "ue nosso temperamento deve ter al!uma coisaa ver com esse tipo de coisa, mas o fator preponderante ) sem d5vida amin'a atitude mental+ Nossa atitude .-sica 4 o modo como nosrelacionamos com as circunst1ncias e6ternas 4 ) portanto o "ue se deve

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considerar primeiro "uando se analisam as formas de desenvolver a pa%interior+ Neste conte6to, o erudito e m)dico indiano S'antideva o.servoucerta ve% "ue n(o '- esperança de encontrarmos uma "uantidade suficienteV<

de couro "ue cu.ra toda a terra para "ue nunca espetemos nossos p)s emespin'os, mas na verdade isso n(o ) necess-rio# .asta um pedaço paraco.rirmos as solas de nossos p)s+ m outras palavras# nem sempre podemos mudar a nosso !osto a nossa situaç(o e6terna, mas podemosmudar nossa atitude

/utra !rande fonte de pa% interior e, conse"Zentemente, de felicidade!enu*na s(o, ) claro, os atos "ue reali%amos em nossa .usca de felicidade+8odemos classific-4los em três cate!orias# os "ue contri.uem

 positivamente para isso, a"ueles cu3o efeito ) neutro e os "ue têm umefeito ne!ativo so.re essa felicidade+ 9efletindo so.re o "ue diferencia osatos "ue promovem de fato a felicidade duradoura e os "ue propiciamsomente uma sensaç(o passa!eira de .em4estar, verificamos "ue, neste5ltimo caso, as atividades em si n(o têm valor positivo+ Dese3amos comer al!uma coisa doce ou comprar uma peça ele!ante de roupa oue6perimentar al!o novo+ N(o precisamos realmente de nada disso na"uelemomento+ Simplesmente "ueremos a"uilo, ou "ueremos desfrutar da"uelae6periência ou sensaç(o, e procuramos satisfa%er nossos dese3os sem pensar muito+ Gem, n(o estou insinuando "ue isto se3a errado+ Um apetite pelo concreto ) parte da nature%a 'umana# "ueremos ver, "ueremos tocar,"ueremos possuir+ No entanto, como 3- o.servei antes, ) essencialrecon'ecer "ue, "uando dese3amos as coisas sem outro motivo al)m do pra%er "ue elas nos oferecem, elas costumam aca.ar nos tra%endo mais pro.lemas+ desco.rimos "ue s(o t(o efêmeras "uanto a felicidade proporcionada pela satisfaç(o de tais necessidades+V<

8recisamos tam.)m tomar consciência de "ue essa mesma falta de preocupaç(o com as conse"Zências ) o "ue est- por tr-s de atos e6tremoscomo a!redir os outros e at) mesmo aca.ar com a pr0pria vida+ stes atoscertamente satisfa%em os dese3os da pessoa por um curto per*odo detempo, apesar de os dese3os "ue os movem serem intensamente ne!ativos+/u ainda, no campo da atividade econ2mica, perse!uir o lucro sem levar 

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em conta as conse"Zências potencialmente ne!ativas pode, sem d5vida,tra%er sentimentos de !rande ale!ria "uando se alcança o sucesso+ Mas, nofinal, '- sofrimento# o meio am.iente fica polu*do, nossos m)todosinescrupulosos levam outras pessoas falência, as .om.as "ue fa.ricamos

causam mortes e ferimentos+Xuanto s atividades "ue nos podem levar a uma sensaç(o de pa% e

felicidade duradoura, reflitam so.re o "ue acontece "uando fa%emos al!o"ue acreditamos ter valor+ 8or e6emplo# cultivar uma terra -rida "ue,depois de muito esforço, se torna fecunda+ Xuando analisamos atividadescomo essa, vemos "ue envolvem discernimento+ 8ressupõem "ue se pesemdiferentes fatores, inclusive as prov-veis e as poss*veis conse"Zências paranos mesmos e para os outros+ Nesse processo de avaliaç(o, a "uest(o da

moralidade 4 se as ações "ue pretendemos reali%ar s(o )ticas 4 sur!eautomaticamente+ Assim, mesmo "ue o impulso inicial se3a o de en!anar  para c'e!ar a um determinado o.3etivo, raciocinamos "ue, mesmo com aV< pro.a.ilidade de o.ter dessa maneira uma felicidade tempor-ria, asconse"Zências de nossos atos a lon!o pra%o podem tra%er pro.lemas+ deli.eradamente a.andonamos uma lin'a de aç(o em favor de outra+ Éatin!indo o nosso o.3etivo com esforço e sacrif*cio pessoal, levando emconta n(o s0 os .enef*cios de curto pra%o para n0s "uanto os efeitos delon!o pra%o so.re a felicidade dos outros e sacrificando os primeiros pelosse!undos "ue alcançamos a li.erdade "ue se caracteri%a pela pa% e pelasatisfaç(o !enu*nas+ Nossas diferentes reações s adversidades confirmamisso+ Xuando sa*mos de f)rias, nosso intuito .-sico ) o la%er+ Se, ent(o, omau tempo, as nuvens e a c'uva frustram o nosso dese3o de passar o diarela6ando ao ar livre, nossa felicidade desmorona rapidamente+ ntretanto,"uando o "ue .uscamos n(o ) a mera satisfaç(o tempor-ria, "uando nosesforçamos para atin!ir um o.3etivo ] a fome, a fadi!a ou o desconforto

nos incomodam muito menos+ /u se3a, o altru*smo ) um componenteessencial das ações "ue levam felicidade !enu*na+

\- portanto uma importante distinç(o a ser feita entre o "ue podemos c'amar de atos )ticos e atos espirituais+ Um ato )tico ) a"ueleem "ue nos a.stemos de pre3udicar a e6periência ou e6pectativa defelicidade dos outros+ 8odemos descrever os atos espirituais de acordo

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com a"uelas "ualidades mencionadas anteriormente# amor, compai6(o, paciência, capacidade de perdoar, 'umildade, toler1ncia, e assim por diante, "ue supõem um !rau de consideraç(o pelo .em4estar dos outros+V<K

Desco.rimos "ue as ações espirituais "ue reali%amos motivados n(o pelo interesse pessoal e!ocêntrico mas pela preocupaç(o com os outros narealidade tam.)m tra%em .enef*cios para n0s+ mais do "ue isso, essasações d(o sentido nossa vida+ 8elo menos, esta ) a min'a e6periência+/l'ando para tr-s e relem.rando a min'a vida, posso di%er com toda aconfiança "ue coisas como a funç(o de Dalai Lama, o poder pol*tico "ueessa funç(o confere e at) a relativa ri"ue%a "ue ela põe min'a disposiç(on(o representam nem uma pe"uena parcela do meu sentimento de

felicidade em comparaç(o com a "ue senti nas ocasiões em "ue pude prestar al!um serviço aos outros+Ser- "ue essa proposiç(o resiste a uma an-lise& Seria a conduta inspiradano dese3o de a3udar os outros a maneira mais efica% de o.ter felicidade!enu*na& Considerem o se!uinte+ N0s, 'umanos, somos seres sociais+:iemos ao mundo em conse"Zência de ações dos outros+ So.revivemosa"ui dependendo dos outros+ ?ostemos ou n(o, talve% n(o e6ista em nossavida um s0 momento em "ue n(o nos .eneficiemos das atividades dosoutros+ 8or esses motivos, n(o c'e!a a surpreender "ue a maior parte denossa felicidade este3a associada ao nosso relacionamento com os outros+ Nem ) t(o e6traordin-rio "ue nossas maiores ale!rias ocorram "uandoestamos motivados pela consideraç(o pelos outros+ Mas isso n(o ) tudo+:erificamos "ue n(o s0 os atos de altru*smo tra%em felicidade comotam.)m diminuem nossa sensaç(o de sofrimento+ / "ue <Qn(o si!nifica"ue o indiv*duo cu3as ações s(o motivadas pelo dese3o de proporcionar felicidade aos outros passe por menos infort5nios do "ue a"uele "ue n(o ofa%+ Doenças, vel'ice e adversidades de um tipo ou de outro acontecem

i!ualmente com todo mundo+ No entanto, os sofrimentos "ue corroemnossa pa% interior 4 a ansiedade, a frustraç(o, a decepç(o 4 s(ose!uramente menores+ Xuando nos preocupamos menos conosco, ae6periência de nosso pr0prio sofrimento ) menos intensa+

/ "ue tudo isso nos di%& 8rimeiro, pelo fato de cada uma de nossasações ter uma dimens(o universal, um impacto potencial so.re a felicidade

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al'eia, "ue a )tica ) necess-ria como um meio de !arantir "ue n(o pre3udi"uemos os outros+ Se!undo, "ue a felicidade !enu*na consistena"uelas "ualidades espirituais de amor e compai6(o, paciência,toler1ncia, capacidade de perdoar, 'umildade, e assim por diante+ S(o elas

"ue proporcionam felicidade tanto para n0s "uanto para os outros+

V<Cap*tulo

A SU89MA M/J/

m recente via!em "ue fi% uropa, aproveitei a oportunidade para

visitar os campos de concentraç(o na%istas em Ausc'Eit%+ Apesar de ter ouvido falar e lido .astante so.re esse lu!ar, desco.ri "ue estavacompletamente despreparado para a e6periência+ Min'a reaç(o inicial aover os fornos onde centenas de mil'ares de pessoas foram "ueimadas foide repulsa total+ Hi"uei estarrecido com a fria en!en'os idade e a ausênciade sentimentos de "ue a"ueles fornos eram um 'orripilante testemun'o+L-, no museu "ue fa% parte do centro de visitantes, vi uma coleç(o desapatos+ Muitos deles eram remendados ou pe"uenos, tendo o.viamente pertencido a pessoas po.res e a crianças+ Isso particulamente meentristeceu+ / "ue poderiam elas ter feito de errado, "ue mal poderiam ter feito& 8arei e, profundamente comovido, re%ei tanto pelas v*timas "uanto pelos "ue 'aviam perpetrado a"uela ini"uidade, e para "ue al!o comoa"uilo nunca voltasse a acontecer+ ainda, por sa.er "ue todos n0s tantotemos a capacidade de a!ir com !enerosidade em consideraç(o aos nossossemel'antes "uanto o potencial para sermos assassinos e torturadores, 3urei nunca e de nen'uma forma contri.uir para uma calamidade assim+V<P

Hatos como os "ue ocorreram em Ausc'Eit% s(o violentasadvertências so.re o "ue pode acontecer "uando os indiv*duos 4 e, por e6tens(o, sociedades inteiras 4 perdem o contato com os sentimentos'umanos .-sicos+ Sa.emos "ue ) necess-rio ter leis e tratadosinternacionais em vi!or como !arantia contra futuras des!raças desse tipo,mas tam.)m temos visto "ue as atrocidades continuam, apesar deles+

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Muito mais efica% e importante do "ue as leis ) o nosso respeito pelossentimentos dos outros de um simples ponto de vista 'umano+

Xuando falo de sentimentos 'umanos .-sicos, n(o estou pensandosomente em al!uma coisa efêmera e va!a+ 9efiro4me capacidade de

empatia rec*proca "ue todos possu*mos e "ue, em ti.etano, c'amamos de shen dug ngal wa ia mi sö pa+ 7radu%ida literalmente, a e6press(osi!nifica $a incapacidade de suportar a vis(o do sofrimento do outro$+Admitindo4se "ue ) isso "ue nos permite compreender e, at) certo ponto, participar da dor dos outros, pode4se afirmar "ue essa ) uma das nossascaracter*sticas mais si!nificativas+ É o "ue provoca o so.ressalto "uandoouvimos um !rito de socorro, ) o "ue nos fa% recuar instintivamente ao ver al!u)m ser maltratado, o "ue nos fa% sofrer ao presenciar o sofrimento dos

outros+ o "ue nos fa% fec'ar os ol'os "uando "ueremos i!norar ades!raça al'eia+Ima!ine4se camin'ando por uma estrada deserta onde '- somente

mais uma pessoa, uma pessoa idosa, se!uindo .em sua frente+ Derepente, a"uela pessoa tropeça e cai+ / "ue você fa%& N(o duvido "ue amaioria dos leitores se apro6imaria para tentar a3udar+ Nem todos, talve%+V<<8or)m, ao admitir "ue nem todos correriam para acudir al!u)m em apuros,n(o pretendo insinuar "ue a capacidade de empatia, "ue declarei ser universal, este3a de todo ausente nessas poucas e6ceções+ Ser- "ue n(oe6istiria nessa minoria ao menos o sentimento de preocupaç(o, por maisfraco "ue fosse, "ue teria motivado a maioria a oferecer a3uda& É poss*vel"ue e6istam pessoas "ue, depois de suportar anos de !uerra, n(o secomovam mais diante do sofrimento dos outros+ No mesmo caso podemestar a"uelas "ue vivem em lu!ares onde predomina uma atmosfera deviolência e de indiferença pelos outros+ É at) poss*vel ima!inar "ue 'a3auns poucos "ue e6ultam com a vis(o do sofrimento al'eio+ / "ue n(o

 prova "ue a capacidade de empatia este3a ausente nessas pessoas+ / fatode todos n0s, com e6ceç(o talve% dos mais pertur.ados, !ostarmos de ser tratados com .ondade e !entile%a pelos outros revela "ue a capacidade deempatia permanece, por mais empedernidos "ue nos tornemos+ssa caracter*stica de compreens(o dos pro.lemas al'eios ), creio eu, umrefle6o de nossa $incapacidade de suportar a vis(o do sofrimento do

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outro$+ Di!o isso por"ue, paralelamente nossa capacidade natural deempatia com os outros, tam.)m temos necessidade da .ondade deles, o"ue se estende ao lon!o de toda a nossa vida+ É mais aparente "uandosomos muito 3ovens e "uando ficamos vel'os+ Mas, mesmo em pleno

apo!eu de nossa vida, .asta ficarmos doentes para lem.rarmos como )V<importante "ue nos amem e cuidem de n0s+ Sa.er viver sem afeto pode sve%es parecer uma virtude, uma prova de cora!em, mas uma vida sem esse precioso componente deve ser muito triste+ Decerto n(o ) meracoincidência "ue as vidas da maioria dos criminosos ten'am sidomarcadas pela solid(o e pela falta de amor+

Constatamos esse apreço pelas demonstrações de .ondade em nossas

reações ao sorriso das pessoas+ 8ara mim, a capacidade de sorrir ) uma dasmais .elas caracter*sticas do ser 'umano+ É al!o "ue nen'um animal )capa% de fa%er+ C(es, .aleias ou !olfin'os, seres muito inteli!entes edotados de not0ria afinidade com os 'omens, n(o conse!uem sorrir comon0s+ 8essoalmente, sempre fico um pouco curioso "uando sorrio paraal!u)m e a pessoa permanece s)ria e impass*vel+ 8or outro lado, meucoraç(o se ale!ra "uando me retri.uem o sorriso+ Mesmo "uando se tratade al!u)m com "uem nada ten'o a ver, se a pessoa sorri para mim, a"uilome enternece+ 8or "uê& A resposta ) "ue um sorriso sincero toca al!o defundamental em n0s# o apreço natural pela .ondade+Contrariando o !rande n5mero da"ueles "ue sustentam "ue a nature%a'umana ) .asicamente a!ressiva e competitiva, meu ponto de vista ) "uenosso apreço pelo afeto e pelo amor ) t(o profundo "ue começa antesmesmo do nascimento+ Se!undo o "ue ouvi de al!uns cientistas ami!osmeus, '- fortes evidências de "ue o estado mental e emocional da m(edurante a !ravide% afeta !randemente o .em4estar da criança "ue aindan(o nasceu, e "ue seu .e.ê se .eneficia muito se ela mant)m um estado de

V<Besp*rito sereno e afetuoso+ A m(e feli% !era uma criança feli%+ Aocontr-rio, frustraç(o e raiva s(o pre3udiciais ao desenvolvimento saud-veldo .e.ê+ Da mesma forma, nas primeiras semanas depois do nascimento,ternura e afeiç(o continuam a desempen'ar um papel preponderante nodesenvolvimento f*sico do .e.ê+ Nesse est-!io, o c)re.ro cresce muito

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r-pido, uma atividade "ue os m)dicos acreditam ser de certa maneirafavorecida pelo contato f*sico constante da m(e ou de "uem a su.stitui+ /"ue comprova "ue o .e.ê pode n(o sa.er "uem ) "uem ou n(o se importar com isso, mas claramente tem necessidade f*sica de afeto+ 7alve% e6pli"ue

tam.)m por "ue at) as pessoas mais irasc*veis, a!itadas e paran0idesrea3am positivamente ao afeto e aos cuidados dos outros+ Xuando crianças,devem ter sido alimentadas e acalentadas por al!u)m+ Um .e.êne!li!enciado durante esse per*odo cr*tico com certe%a n(o so.reviveria+

8or sorte, isso raramente acontece+ Xuase sem e6ceç(o, o primeiroato da m(e ) oferecer ao .e.ê seu pr0prio leite como alimento 4 um ato"ue para mim sim.oli%a amor incondicional+ / afeto dela nesse momento) totalmente !enu*no e desinteressado# n(o espera nada em troca+ Xuanto

ao .e.ê, este ) naturalmente atra*do para o seio da m(e+ 8or "uê& É claro"ue se pode citar o instinto de so.revivência+ Mas, al)m disso, ac'oadmiss*vel supor um certo !rau de afeiç(o da criança pela m(e+ Se sentisseavers(o, iria "uerer mamar& talve% o leite da m(e n(o flu*sse livrementese ela pr0pria sentisse avers(o+ / "ue vemos, por)m, ) um relacionamentoV .aseado em amor e ternura m5tuos "ue ) inteiramente espont1neo+ N(o )aprendido com os outros, n(o ) e6i!ido por nen'uma reli!i(o nem imposto por nen'uma lei, nen'uma escola o ensina+ Sur!e de maneira natural+

A solicitude instintiva da m(e pelo fil'o 4 "ue tam.)m parece ser comum a muitos animais 4 ) decisiva por"ue d- a entender "ue, paralelamente necessidade do .e.ê de rece.er o amor "ue ) fundamental sua so.revivência, e6iste uma capacidade inata de dar amor por parte dam(e+ É al!o t(o poderoso "ue "uase permite afirmar a e6istência de umcomponente .iol0!ico em aç(o+ Al!u)m o.3etaria "ue esse amor rec*proconada mais ) do "ue um mecanismo de so.revivência+ 8ode muito .em ser+Mas isso n(o ne!a a sua e6istência+ Nem a.ala min'a convicç(o de "ue

essa necessidade e essa capacidade de amar indicam "ue somos, de fato,amorosos por nature%a+Se essa afirmaç(o parece improv-vel, vale lem.rar como rea!imos deforma diferente .ondade e violência+ 8ara "uase todos n0s, a violência) al!o "ue intimida+ Ao contr-rio, "uando nos tratam com .ondade e!entile%a, rea!imos com maior confiança+ De modo e"uivalente,

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consideremos a relaç(o entre a pa% 4 "ue, como 3- vimos, ) fruto do amor 4e a .oa sa5de+ 8elo "ue posso constatar, a pa% e a tran"Zilidade s(o maiscondi%entes com nosso 4 or!anismo do "ue a violência e a a!ressividade+7odos sa.emos "ue o estresse e a ansiedade causam elevaç(o da press(o

san!Z*nea e outros sintomas ne!ativos+ Na medicina ti.etana, dist5r.iosVmentais e emocionais s(o vistos como causas de muitas doenças f*sicas,inclusive do c1ncer+ Al)m disso, pa%, tran"Zilidade e cuidados prestados pelos outros s(o essenciais na recuperaç(o de doenças+ É poss*velidentificar tam.)m em todos n0s um anseio pela pa%+ 8or "uê& 8or"ue a pa% est- associada vida e ao crescimento, en"uanto a violência su!ereapenas morte e calamidades+ sta e a ra%(o por "ue a id)ia de uma 7erra

8ura, ou 8ara*so, nos atrai tanto+ Se nos fosse descrito como um lu!ar onde '- !uerras e disc0rdia intermin-veis, ir*amos preferir permanecer neste mundo+

9eparem, tam.)m, no modo como rea!imos aos pr0prios fen2menosnaturais+ Xuando termina o inverno e c'e!a a primavera, os dias tornam4semais lon!os, '- mais lu% do sol, a relva .rota de novo# automaticamentenosso 1nimo cresce+ 7odavia, "uando o inverno se apro6ima, as fol'as das-rvores começam a cair e !rande parte da ve!etaç(o em torno de n0s parece morta+ N(o ) de admirar "ue fi"uemos um pouco deprimidos nessa)poca do ano+ / "ue prova "ue nossa nature%a prefere a vida morte, ocrescimento decadência, a construç(o destruiç(o+8restem atenç(o ainda no comportamento das crianças+ :emos nelas o "ue) natural ao comportamento 'umano antes "ue se3a so.recarre!ado comid)ias aprendidas+ Ge.ês muito novos n(o sa.em realmente distin!uir uma pessoa da outra+ D(o muito mais import1ncia ao sorriso de "uem est-diante deles do "ue a "ual"uer outra coisa+ Xuando começam a crescer,n(o se interessam muito por diferenças de raça, nacionalidade, reli!i(o ou

Vantecedentes familiares+ Xuando encontram outras crianças, n(o param para discutir essas coisas# começam lo!o uma atividade muito maisimportante, "ue ) .rincar+ Isso n(o ) s0 sentimentalismo+ :e3o essarealidade sempre "ue visito um dos povoados de crianças na uropa, ondein5meras crianças refu!iadas ti.etanas têm sido educadas desde a d)cada

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de BP+ sses povoados foram fundados com o o.3etivo de cuidar decrianças 0rf(s vindas de pa*ses em !uerra+ 8ara !rande surpresa !eral,desco.riu4se "ue, apesar de suas diferentes ori!ens, essas crianças vivemem completa 'armonia entre si+

Mesmo admitindo "ue todos temos esse potencial de .ondade e .enevolência, ) poss*vel o.3etar "ue a tendência da nature%a 'umana )inevitavelmente reservar esse potencial para os mais pr06imos+ Damos preferência s nossas fam*lias e ami!os+ Nossos sentimentos deconsideraç(o pelos "ue est(o fora desse c*rculo dependem muito decircunst1ncias individuais# ) pouco prov-vel "ue os "ue se sentemameaçados demonstrem .oa vontade por a"ueles "ue os ameaçam+ 7udoisso ) verdadeiro+ 7am.)m n(o ne!o "ue, "uando nossa so.revivência est-

em risco, nossa capacidade de consideraç(o pelos nossos semel'antestalve% s0 raramente prevaleça so.re o instinto de so.revivência+ Aindaassim, isso n(o si!nifica "ue a capacidade ten'a desaparecido, "ue o potencial n(o su.sista+ At) os soldados, depois das .atal'as, muitas ve%esa3udam seus inimi!os a recol'er mortos e feridos+VK

m todas as min'as o.servações so.re a essência de nossa nature%a,n(o pretendi insinuar "ue n(o e6istem aspectos ne!ativos+ /nde '- umestado mental consciente, com certe%a o 0dio, a i!nor1ncia e a violênciasur!em naturalmente+ m.ora nossa nature%a se3a essencialmenteinclinada .ondade e compai6(o, todos somos capa%es de manifestar crueldade e 0dio+ É por isso "ue temos de lutar para mel'orar nossaconduta+ ) por isso tam.)m "ue compreendemos por "ue indiv*duoscriados em am.ientes ri!orosamente n(o4violentos transformaram4se nosmais 'orr*veis carrascos+ Lem.ro min'a visita, '- al!uns anos, aoas'in!ton Memorial, "ue presta 'omena!em aos m-rtires e 'er0is do\olocausto Fudeu perpetrado pelos na%istas+ / "ue mais me impressionou

no monumento foi o re!istro simult1neo de diferentes formas decomportamento 'umano+ De um lado est- a lista das v*timas de atos deindi%*vel atrocidade+ De outro, o momento recorda os cora3osos atos de .ondade de fam*lias crist(s e outras "ue por vontade pr0pria correramriscos terr*veis para a.ri!ar seus irm(os e irm(s 3udeus+ Ac'ei essa forma

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de apresentaç(o e6tremamente ade"uada e muito necess-ria# mostra osdois lados do potencial 'umano+

A e6istência desse potencial ne!ativo, todavia, n(o 3ustifica supor "ue a nature%a 'umana se3a inerentemente violenta ou mesmo ten'a uma

tendência o.ri!at0ria para a violência+ 7alve% uma das ra%ões da popularidade da crença de "ue a nature%a 'umana ) violenta este3a no fatode estarmos todo o tempo e6postos s m-s not*cias "ue nos vêm atrav)sVQdos meios de comunicaç(o+ Contudo, a verdadeira causa disto ) "ue semd5vida as .oas not*cias n(o s(o not*cia+

Declarar "ue a nature%a 'umana ) n(o4violenta e ainda firmar "uetem uma tendência para o amor e a compai6(o, para a .ondade, a

!entile%a, a afeiç(o, a criaç(o, etc+, ) al!o "ue evidentemente implica um princ*pio !eral "ue deve, por definiç(o, ser aplic-vel a todo ser 'umano+ /"ue di%er, ent(o, da"ueles indiv*duos cu3as vidas aparentemente sevoltaram por completo para a violência e a a!ress(o& / 5ltimo s)culo .asta para apresentar v-rios e6emplos 0.vios+ / "ue di%er de \itler e deseu plano para e6terminar toda a raça 3udia& de Stalin e seus  pogroms& do presidente Mao, o 'omem "ue c'e!uei a con'ecer e admirar, e a .-r.ara insanidade da 9evoluç(o Cultural& de 8ol 8ot, "ue ar"uitetou osCampos da Morte& o "ue di%er da"ueles "ue torturam e matam por  pra%er&

7en'o de admitir "ue n(o encontro uma 5nica e6plicaç(o "ue 3ustifi"ue os atos monstruosos dessas pessoas+ ntretanto, precisamoslevar em conta dois fatores+ 8rimeiro, essas pessoas n(o sur!iram do nada,mas de uma sociedade em especial, em uma ocasi(o e um lu!ar espec*fico+Sua ações precisam ser consideradas de acordo com essas circunst1ncias+, se!undo, temos de recon'ecer em suas ações o papel desempen'ado pela capacidade ima!inativa+ Seus planos foram e s(o levados adiante com

 .ase em uma vis(o, se .em "ue deturpada+ A despeito do fato de "ue nada pode 3ustificar o sofrimento "ue provocaram, a interpretaç(o "ue dariam aVseus atos ou as intenções positivas "ue \itler, Stalin, Mao e 8ol 8ot poderiam apresentar seriam de "ue tin'am o.3etivos pelos "uais estavamtra.al'ando+ Se e6aminarmos esses atos, "ue s(o e6clusivamente 'umanos

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e "ue os animais n(o podem reali%ar, conclu*mos "ue neles essacapacidade ima!inativa tem um papel vital+ A pr0pria capacidade em si 3-) um dom sin!uIar+ 8or)m, a maneira como ) utili%ada determina se osatos conce.idos por ela s(o positivos ou ne!ativos, )ticos ou n(o+ A

motivaç(o do indiv*duo Rkun long  ) portanto o fator dominante ao mesmotempo "ue uma vis(o ao corretamente motiva 4 a "ue recon'ece nos outroso direito felicidade e o dese3o de viverem livres de sofrimentos 4 podefa%er maravil'as, a"uela "ue se desli!a dos sentimentos 'umanosfundamentais tem um potencial para a destruiç(o "ue n(o deve 3amais ser su.estimado+

Xuanto aos "ue matam por pra%er ou, o "ue e pior, por nen'um ummotivo em especial, s0 podemos con3eturar "ue se trate de uma profunda

su.mers(o do impulso .-sico "ue .usca consideraç(o e afeto pelos outros+Como 3- disse, este impulso pode n(o estar de todo e6tinto+ A n(o ser talve% em casos e6tremos, e poss*vel "ue ate pessoas monstruosasapreciem "ue l'es demonstrem afeto+ A tendência permanece+ Na verdade,/ leitor n(o precisa concordar com min'a teoria so.re a .oa predisposiç(oda nature%a 'umana para perce.er "ue a capacidade para a empatia "ue asustenta ) de crucial import1ncia "uando se trata de )tica+VP

:imos anteriormente "ue um ato )tico ) um ato n(o4pre3udicial+ Mascomo determinar se um ato ) realmente n(o4pre3udicial& :erificamos "ue,na pr-tica, se somos incapa%es de nos comunicar com os outros, se n(oconse!uimos ao menos ima!inar o impacto potencial de nossas açõesso.re os outros, n(o temos meios de distin!uir entre certo e errado, entre o"ue ) correto e o "ue n(o ), entre o "ue ) pre3udicial e o "ue n(o )+Dedu%44se se, portanto, "ue, "uanto mais acentuarmos essa capacidade deempatia ou se3a, nossa sensi.ilidade para o sofrimento dos outros 4, menor ser- a nossa toler1ncia para com a vis(o da dor al'eia e maior o nosso

empen'o em !arantir "ue nen'uma de nossas ações pre3udi"ue "uem "uer "ue se3a+

/ fato de realmente sermos capa%es de aumentar essa capacidade deempatia torna4se 0.vio "uando consideramos sua nature%a+ N0s ae6perimentamos principalmente so. a forma de sentimento+ , como todossa.emos, podemos n(o s0 refrear nossos sentimentos por meio da ra%(o,

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em maior ou menor escala, como podemos intensific-4los da mesmaforma+ Nosso dese3o por um o.3eto 4 talve% um novo carro 4 intensifica4se"uando dei6amos "ue a id)ia dê voltas em nossa ima!inaç(o+ Se, de modosemel'ante, direcionamos nossas faculdades mentais para nossos

sentimentos de empatia, n(o s0 os aumentamos como os transformamosem amor e compai6(o+

 Nossa inata capacidade de empatia ) a fonte da mais preciosa detodas as "ualidades 'umanas, "ue em ti.etano, no c'amamos e nymg je+V<m !eral, o termo nytng   e tradu%ido simplesmente como $compai6(o$,mas tem uma ri"ue%a de si!nificado "ue ) dif*cil transmitir de maneirasucinta, em.ora as id)ias "ue cont)m se3am compreendidas em "ual"uer 

lu!ar+ 7em a conotaç(o de amor, afeiç(o, .ondade, !entile%a, !enerosidadede esp*rito e cordialidade+ É tam.)m em usado para e6pressar simpatia ecarin'o+ Um outro aspecto ) "ue nying je  n(o supõe $pena$,$comiseraç(o$, como pode ser o caso da palavra $compai6(o$+ N(o '-nen'uma conotaç(o de condescendência+ 8elo contr-rio, nying je e6primeum sentimento de li!aç(o com os outros, refletindo suas ori!ens naempatia+ Somos capa%es de di%er $!osto de min'a casa$, ou $ten'o !randeafeiç(o por esse lu!ar$, mas n(o podemos di%er $ten'o compai6(o$ por essas coisas+ Como os o.3etos n(o têm sentimentos, n(o podemos ter empatia com eles, e, portanto, n(o podemos di%er "ue temos compai6(o por eles+

ssa e6plicaç(o dei6a claro "ue nying je, ou amor e compai6(o, )compreendido como uma emoç(o+ 8or)m, pertence cate!oria e emoções"ue possuem um elemento co!nitivo mais desenvolvido+ Al!umasemoções, como a repulsa "ue costumamos sentir ao ver san!ue, s(o .asicamente instintivas+ /utras, como o medo da po.re%a, possuem essecomponente co!nitivo mais desenvolvido+ Deve4se portanto compreender nying je como uma com.inaç(o de empatia e ra%(o+ 8odemos pensar emempatia como a caracter*stica e uma pessoa multo 'onesta, e em ra%(ocomo a de al!u)m "ue ) muito pr-tico+ Xuando se 3untam as duas coisas, aVcom.inaç(o ) das mais efica%es+ Sendo assim, nying je ) .astante diferente

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da"ueles sentimentos casuais, como a raiva e a lu65ria, "ue, lon!e de nostra%erem felicidade, s0 nos pertur.am e destroem nossa pa% de esp*rito+

8ara mim, tudo isso mostra "ue, se refletirmos sempre e procurarmosnos familiari%ar com a id)ia de compai6(o, se a praticarmos e

e6ercitarmos, poderemos desenvolver nossa capacidade inata paraesta.elecer contato com os outros, o "ue ) de suprema import1ncia para aa.orda!em )tica "ue apresentei+ Xuanto mais desenvolvermos osentimento de compai6(o, mais !enuinamente )tica ser- a nossa conduta+Como 3- foi visto, "uando nossos atos s(o pautados pela consideraç(o pelos outros, nosso comportamento para com eles ) sempre positivo+8or"ue n(o '- lu!ar para desconfianças e reservas "uando nossos coraçõesest(o c'eios de amor+ É como se uma porta interior se a.risse e nos

 permitisse alcanç-4los+ 7er consideraç(o pelos outros e o "ue fa% cair a .arreira "ue impede a interaç(o saud-vel com o pr06imo+ n(o apenasisto+ Xuando nossas intenções para com os outros s(o .oas, verificamos"ue diminui muito "ual"uer timide% ou inse!urança de nossa parte+ bmedida "ue somos capa%es de a.rir essa porta interior, sentimos "ue nosli.ertamos de nossa preocupaç(o 'a.itual com nosso pr0prio eu+8arado6almente, constatamos "ue isso d- mar!em a uma forte sensaç(o deconfiança+ 8ortanto, se posso citar min'a pr0pria e6periência, ve3o "ue,VBcada ve% "ue encontro !ente nova e ten'o essa disposiç(o positiva, n(o '- .arreiras entre n0s+ N(o importa "uem ou o "ue se3am, se têm ca.eloslouros ou pintados de verde, sinto "ue estou apenas encontrando umsemel'ante com o mesmo dese3o de ser feli% e n(o "uerer sofrer "ue euten'o+ descu.ro "ue posso falar com eles como se f2ssemos vel'osami!os, mesmo sendo nosso primeiro encontro+ 7endo em mente "ue, em5ltima an-lise, somos todos irm(os e irm(s, "ue n(o '- nen'uma diferençasu.stancial entre n0s, "ue, como eu, todos os outros tam.)m "uerem ser 

feli%es e n(o sofrer, posso e6pressar meus sentimentos e opiniões comtanta espontaneidade "uanto faria com al!u)m "ue con'ecesseintimamente '- anos+ n(o apenas com al!umas poucas palavras ou!estos simp-ticos, mas realmente de coraç(o a.erto, sem fa%er caso da .arreira da l*n!ua+

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Desco.rimos ainda al!o mais "uando a!imos movidos pelaconsideraç(o pelos outros# a pa% "ue isso cria em nossos corações )transmitida para todos a"ueles com "uem nos relacionamos+ 7ra%emos pa% fam*lia, pa% aos nossos ami!os, ao am.iente de tra.al'o, comunidade

e, assim, ao mundo+ 8or "ue, ent(o, n(o nos empen'armos em desenvolver essa "ualidade& 8ode 'aver al!o mais su.lime do "ue a"uilo, "ue tra%felicidade e pa% para todos& De min'a parte, penso "ue s0 a tendência "uetodos n0s temos para o amor e a compai6(o 3- ) em si um dos dons mais preciosos a serem e6plorados+

Inversamente, nem mesmo o mais c)tico dos leitores ima!inaria "ue,VBso. "ual"uer prete6to, a pa% possa resultar de um tipo de comportamento

a!ressivo e desrespeitoso, ou se3a, anti)tico+ N(o '- possi.ilidade+ Lem.roat) 'o3e como aprendi esta liç(o "uando era .em pe"ueno, no 7i.et+ Umde meus acompan'antes, enra. 7en%in, tin'a um papa!aio "ue elecostumava alimentar com no%es+ Apesar de ser um 'omem .astantecarrancudo, com ol'os protu.erantes e um aspecto meio ameaçador, .astava "ue o papa!aio ouvisse o som de seus passos ou 4 o de sua tosse para mostrar sinais de animaç(o+ n"uanto o p-ssaro .eliscava a comidaem seus dedos, enra. 7en%in coçava4l'e a ca.eça, o "ue parecia levar a pe"uena ave a um estado de ê6tase+ u inve3ava muito a"uelerelacionamento entre os dois e "ueria "ue o papa!aio me demonstrasse amesma ami%ade+ Mas, nas poucas ocasiões em "ue tentei dar4l'e comida, areaç(o n(o foi das mel'ores+ nt(o, comecei a cutuc-4lo com uma vareta para ver se conse!uia o "ue dese3ava+ É desnecess-rio di%er "ue oresultado foi totalmente ne!ativo+ m ve% de forç-4lo a se comportar mel'or comi!o, assustei4o+ Destru* por completo "ual"uer remota possi.ilidade de esta.elecer uma relaç(o ami!-vel com ele+ Aprendi ainda pe"ueno "ue as ami%ades n(o sur!em da intimidaç(o, mas da .ondade e da

delicade%a+7odas as !randes tradições reli!iosas do mundo atri.uem papel

 primordial ao desenvolvimento da compai6(o+ 8or ser ao mesmo tempo afonte e o resultado da paciência, da toler1ncia, da capacidade de perdoar ede todas as .oas "ualidades, considera4se "ue a sua import1ncia a.ran!eVB

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todo o processo da pr-tica espiritual+ Contudo, mesmo sem uma perspectiva espiritual, a compai6(o e o amor s(o fundamentais para todos+8artindo da premissa .-sica de "ue a conduta )tica consiste em n(o fa%er mal s pessoas, conclui4se "ue ) necess-rio levar em consideraç(o os

sentimentos dos outros, e a .ase disso ) a nossa capacidade inata paraempatia+ b medida "ue transformamos essa capacidade em amor ecompai6(o, precavendo4nos contra os o.st-culos e cultivando oselementos favor-veis ao processo, nossa pr-tica da )tica se desenvolve+ todos !an'am em "ualidade de vida e em felicidade, os outros e n0s+

VBKII

É7ICA / INDI:DU/

VBQCap*tulo P

A É7ICA DA C/N7NJ/

8ara desenvolver o sentimento de compai6(o do "ual depende afelicidade ) necess-rio, por um lado, eliminar ou conter os fatores "ueini.em a compai6(o e, por outro, cultivar as "ualidades "ue adesenvolvem+ Como vimos, essas "ualidades s(o amor, paciência,toler1ncia, capacidade de perdoar, 'umildade e outras+ / "ue ini.e acompai6(o ) a falta de contenç(o interior "ue 3- identificamos como aori!em de toda conduta anti)tica+ 7ransformando nossos '-.itos e nossa*ndole, começamos a aperfeiçoar o nosso estado !eral de coraç(o e menteRYun lon! do "ual derivam todas as nossas ações+

A primeira coisa, ent(o 4 por"ue as "ualidades espirituais "ue levam

compai6(o acarretam necessariamente uma conduta )tica positiva 4, )cultivar o '-.ito de uma disciplina interior+ N(o ne!o "ue se3a uma tarefae tanto, mas pelo menos 3- con'ecemos esse princ*pio+ 8or e6emplo,sa.endo de seu potencial destrutivo, procuramos nos afastar e manter t#ossas crianças afastadas do uso das dro!as+ 8or)m, ) importanterecon'ecer "ue n(o .asta suprimir nossas emoções e pensamentos

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ne!ativos ara refrear a reaç(o a eles# ) indispens-vel decifrar a suanature%a destrutiva+ /uvir di%er "ue a inve3a, uma emoç(o muito poderosaVBe destrutiva, ) ne!ativa n(o .asta para desenvolvermos uma forte defesa

contra ela+ Se or!ani%amos nossa vida e6ternamente, mas i!noramos suadimens(o interior, ) inevit-vel "ue cresçam as d5vidas, ansiedades e outrasaflições, e a felicidade nos escape+ 8or"ue, ao contr-rio da disciplinaf*sica, a verdadeira disciplina interior 4 ou disciplina espiritual 4n(o seconse!ue por imposiç(o, mas somente atrav)s do esforço volunt-rio edeli.erado+ m outras palavras, a!ir eticamente n(o ) uma merao.ediência a leis e preceitos+

A mente indisciplinada ) como um elefante+ Se dei6ado sem

controle, andando s tontas, vai fa%er !randes estra!os+ 8ois os danos esofrimentos "ue nos acometem "uando dei6amos de controlar os impulsosne!ativos da mente superam de lon!e os estra!os "ue um elefante podecausar+ sses impulsos provocam n(o s0 a destruiç(o das coisas materiaiscomo podem ser a ori!em de sofrimentos prolon!ados para os outros e para n0s mesmos+ / "ue n(o "uer di%er "ue a mente R se3ainerentemente destrutiva+ So. a influência de uma emoç(o ou pensamentofortemente ne!ativos, pode parecer "ue a mente assume uma 5nica"ualidade+ Mas se, por acaso, a 'ostilidade fosse uma caracter*sticaimut-vel da consciência, esta deveria ser sempre 'ostil, o "ue n(o )verdade+ É preciso fa%er a distinç(o entre a consciência como tal e os pensamentos e emoções "ue ela e6perimenta+

Da mesma forma, '- ocasiões em "ue somos dominados por certase6periências muito intensas "ue, mais tarde, "uando as lem.ramos, n(oVBPnos a.alam mais+ Xuando eu era muito 3ovem, conforme o ano iaterminando, costumava ficar altamente e6citado diante da perspectiva do

 Montam Chenmo, o ?rande Hestival de /rações "ue assinalava o in*cio doano4novo ti.etano+ m min'a posiç(o como Dalai Lama, tin'a um papelimportante a desempen'ar e precisava deslocar4me do 8otala, o pal-cio deinverno dos Dalai Lamas, para um con3unto de aposentos no templo deFoY'an!, um dos santu-rios mais vener-veis do 7i.et+ b medida "ue o diase apro6imava, passava cada ve% mais tempo em devaneios so.re a"uele

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dia, ao mesmo tempo apavorado e e6ultante, e cada ve% estudando menos+Meu pavor era causado pela lon!a recitaç(o "ue tin'a de fa%er de mem0riadurante a cerim2nia principal e min'a animaç(o vin'a da id)ia de passar  pela imensa multid(o de pere!rinos e comerciantes "ue se a!lomerava na

 praça do mercado defronte ao con3unto de templos+ Na )poca, eu sentiaintensamente tanto a e6citaç(o "uanto o pavor, mas 'o3e c'e!o at) a ac'ar !raça dessas lem.ranças+ F- estou .astante 'a.ituado s multidões e,depois de muitos anos de pr-tica, a recitaç(o n(o me pertur.a mais+

8odemos conce.er a nature%a da mente comparando4a , com a -!uade um la!o+ Xuando uma tempestade a!ita a -!ua, o lodo do fundo fa%com "ue a -!ua fi"ue turva, parecendo opaca+ Mas, por nature%a, a -!uan(o ) su3a+ Xuando a tormenta passa, o lodo acomoda4se novamente no

fundo e a -!ua volta a ficar clara+ 8ortanto, ainda "ue se possa ver aVB<mente, ou a consciência, como uma entidade inerentemente imut-vel, umarefle6(o mais profunda tra% a constataç(o de "ue ela consiste em todo umespectro de acontecimentos e e6periências+ stes incluem nossa percepç(osensorial, relacionada diretamente a o.3etos, e nossos pensamentos esentimentos, intermediados pela lin!ua!em e pelos conceitos+ A mente )tam.)m din1mica# podemos efetuar mudanças em nossos estados mental eemocional atrav)s de esforço deli.erado+ Sa.emos, por e6emplo, como oapoio e a solidariedade podem a3udar a dissipar o medo+ perce.emos"ue certos tipos de aconsel'amento e terapia "ue proporcionam maior clare%a mental, com.inados solicitude e ao afeto, podem cola.orar paradiminuir a depress(o+

A constataç(o de "ue emoç(o e consciência n(o s(o a mesma coisamostra "ue n(o temos de ser forçosamente controlados pela emoç(o+ Antesde cada uma de nossas ações ) preciso "ue 'a3a um espaço paraavaliarmos as alternativas e escol'er com li.erdade a mel'or maneira de

lar+ É evidente "ue, en"uanto n(o aprendermos a disciplinar nossasmentes, teremos dificuldade para e6ercer essa li.erdade+ a maneiracomo rea!imos aos acontecimentos e e6periências ) "ue determina oconte5do moral de nossos atos+ m poucas palavras isso si!nifica "uenossos atos ser(o )ticos se rea!irmos positivamente, visando ao .em dacoletividade e n(o aos nossos interesses pessoais e e6clusivos+ Se

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rea!imos ne!ativamente, ne!li!enciando os outros, nossos atos ser(oanti)ticos+

De acordo com essa vis(o do assunto, podemos pensar na mente ouVB

consciência como um presidente ou monarca "ue ) muito 'onesto e puro eem nossos pensamentos e emoções como ministros de stado+ Uns d(o .ons consel'os, outros d(o maus+ Al!uns têm o .em4estar dos outroscomo seu o.3etivo principal, outros têm apenas seus pr0prios interesses+ Aresponsa.ilidade da consciência 4 do l*der 4 ) determinar "uais s(o ossu.ordinados "ue d(o .ons consel'os e "uais os "ue d(o os maus, "uaiss(o confi-veis e "uais n(o s(o, e a!ir se!undo a orientaç(o de um doslados, re3eitando a do outro+

/s acontecimentos mentais e emocionais "ue, nesse sentido, d(omaus consel'os podem ser descritos como uma forma de sofrimento+ Defato, "uando permitimos "ue eles se desenvolvam a um !rau si!nificativo,a mente fica so.recarre!ada de emoç(o e e6perimentamos uma esp)cie detur.ulência interna+ Isso tam.)m tem uma dimens(o f*sica+ Num momentode raiva, por e6emplo, nosso e"uil*.rio 'a.itual sofre uma pertur.aç(o t(ointensa "ue c'e!a a ser perce.ida por "uem est- perto de n0s+ 7odossa.emos como a atmosfera de uma casa pode ficar pesada "uando apenasum mem.ro da fam*lia est- de mau 'umor+ Xuando ficamos dominados pela raiva, at) os animais tendem a nos evitar+ bs ve%es essa tur.ulência )t(o forte "ue temos !rande dificuldade para contê4la+ Isso pode levar4nos aa!redir os outros, e6teriori%ando nosso conflito interior+

 Nem todos os sentimentos ou emoções "ue nos causam desconforto, por)m, s(o necessariamente ne!ativos+ / atri.uto prim-rio "ue distin!ueVBBas emoções comuns da"uelas "ue minam a pa% ) o componente ne!ativo"ue l'e acrescentamos+ Um momento de triste%a n(o e converte em dor 

 paralisante a menos "ue nos a!arremos a ele e l'e acrescentemos pensamentos e fantasias ne!ativos+ No caso da e6citaç(o "ue eu sentiacom relaç(o ao encontro com a"uela multid(o de pere!rinos e do medo"ue tin'a da lon!a recitaç(o 'avia um componente acrescentado aosentimento .-sico+ m meus repetidos devaneios di-rios, min'aima!inaç(o acrescentava al!o "ue ia al)m da realidade da situaç(o+ eram

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as 'ist0rias "ue eu contava para mim mesmo +a respeito do futuroacontecimento "ue pertur.avam min'a serenidade fundamental+

 Nem todos os medos s(o como o medo infantil "ue aca.ei dedescrever+ \- ocasiões em "ue sentimos um tipo de medo mais racional+

Lon!e de ser ne!ativo, pode na verdade at) ser 5til+ 8ode aumentar nossaatenç(o e fornecer a ener!ia de "ue precisamos para nos prote!er+ Na primeira noite de min'a fu!a de L'asa, em BB, "uanto sa* de casavestido de soldado, foi esse o tipo de medo "ue senti+ ntretanto, talve% por n(o ter tido tempo ou vontade de pensar a respeito, o medo n(o me pertur.ou muito+ Seu efeito principal foi dei6ar4me muito alerta ecuidadoso+ 8oder*amos di%er "ue, nesse caso, o medo n(o s0 era 3ustificado como foi muito 5til+

/ medo "ue sentimos com relaç(o a uma situaç(o delicada ou cr*ticatam.)m pode ser 3ustificado+ 9efiro4me a"ui ao "ue sentimos "uandotemos de tomar uma decis(o "ue ter- um impacto si!nificativo so.re aVvida de outras pessoas+ Um medo assim pode ser desnorteante+ / mais peri!oso e ne!ativo, por)m, ) o medo totalmente irracional "ue nosdomina e paralisa por completo+

m ti.etano, c'amamos essas e6periências emocionais ne!ativas denyong mong , si!nificando literalmente $o "ue afli!e vindo de dentro$, ou,como a e6press(o costuma ser tradu%ida, $emoç(o aflitiva$+ Se!undo essaconcepç(o, todos os pensamentos, emoções e e6periências mentais "uerefletem um estado de esp*rito Rkun long  ne!ativo ou desprovido decompai6(o a.alam inevitavelmente nossa pa% interior+ 7odas as emoções e pensamentos ne!ativos 4 como o 0dio, a raiva, o or!ul'o, a lu65ria, a!an1ncia, a inve3a 4 têm esse sentido de afliç(o, de in"uietaç(o+ ssasemoções aflitivas s(o t(o fortes "ue, "uando n(o se fa% nada para detê4las,s(o capa%es de levar a pessoa ao suic*dio ou loucura+ ntretanto, pelo

fato de tais e6tremos n(o serem comuns, costumamos encarar as emoçõesne!ativas como uma parte inte!rante de nossa mente a respeito da "ualn(o podemos fa%er muita coisa+ Mas, se n(o recon'ecermos seu potencialdestrutivo, n(o veremos a necessidade de enfrent-4las+ Na verdade, pelocontr-rio, c'e!aremos a aliment-4las e estimul-4las, o "ue l'es dar- espaço para crescer+ , no entanto, como veremos, sua nature%a ) inteiramente

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destrutiva+ S(o a verdadeira ori!em da conduta anti)tica+ S(o tam.)m a .ase da ansiedade, da depress(o, da confus(o mental e do estresse, traçost(o caracter*sticos da vida de 'o3e em dia+V

As emoções e pensamentos ne!ativos s(o o o.st-culo nossaaspiraç(o mais elementar# ser feli% e evitar o sofrimento+ Xuando a!imosso. sua influência, es"uecemos o impacto "ue nossas ações têm so.re osoutros# s(o portanto a causa de nosso comportamento destrutivo, n(o s0com relaç(o aos outros como a n0s mesmos+ Crimes, esc1ndalos e fraudes,todos têm como ori!em uma emoç(o aflitiva+ É isso "ue afirmo "ue amente indisciplinada 4 ou se3a, a mente "ue est- so. a influência desentimentos como a raiva, o 0dio, a !an1ncia, o or!ul'o, o e!o*smo 4 ) a

fonte todos os pro.lemas "ue n(o pertencem cate!oria de a.rimentosinevit-veis, como a doença e a morte+ Xuando controlamos nossa reaç(os emoções aflitivas, a.rimos a porta para o sofrimento, nosso e dosoutros+

Di%er "ue tam.)m sofremos "uando causamos sofrimento aos outrosn(o deve nos fa%er concluir "ue cada "ue a!redirmos al!u)m seremosa!redidos de volta+ / "ue "uero afirmar ) muito mais profundo+ Xuerodi%er o impacto de nossas ações, tanto positivas "uanto ne!ativas, ficare!istrado no fundo de n0s mesmos+ Se ) verdade "ue, em umdeterminado plano, todos temos capacidade para empatia, esse potencial precisa ser de al!uma forma so.repu3ado ou su.merso para "ue uma pessoa e mal a outra+ Como no caso de uma pessoa "ue tortura cruelmenteal!u)m+ Sua mente Rlo, em seu plano consciente, precisa estar fortementedominada por al!um pernicioso de pensamento ou ideolo!ia "ue a façaacreditar "ue sua v*tima merece tal tratamento+ ssa convicç(o 4 "ue at)Vcerto ponto deve ter sido deli.eradamente escol'ida 4 ) o "ue fa% a pessoa

cruel reprimir seus sentimentos+ Ainda assim, no fundo, a"uela aç(ocertamente causa al!um efeito+ A lon!o pra%o, '- uma !rande pro.a.ilidade de o torturador sentir desconforto+ Neste conte6toconsideremos o e6emplo "ue e6aminamos ante o de ditadores impiedososcomo \itler e Stalin+ Ao "ue tudo indica, no fim da vida, tornaram4se

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solit-rios, ansioso c'eios de temores e suspeitas, como corvos assustados pela pr0pria som.ra+

É claro "ue o n5mero de pessoas "ue c'e!a a esses e6tremos decrueldade ) muito pe"ueno+ Mas '- ações ne!ativas menos importantes

cu3o impacto ) muito mais sutil+ 8ara um e6emplo menos e6tremo damaneira como as ações ne!ativas afetam os outros e n0s mesmos, pensemem uma criança "ue sai para .rincar e .ri!a com outra criança+ Num primeiro momento, a criança vitoriosa pode e6perimentar uma sensaç(o desatisfaç(o+ Ao voltar para casa, a sensaç(o diminui e manifesta4se outroestado de esp*rito mais sutil# uma sensaç(o de desconforto+ 8oder*amos at)definir essa esp)cie de sentimento como uma sensaç(o de alienaç(o do eu#a pessoa se sente $fora dos ei6os$+ a criança "ue sai para .rincar e passa

uma tarde a!rad-vel com o compan'eiro de .rincadeiras sentir- n(o s0uma sensaç(o imediata de satisfaç(o como, ao voltar para casa e ae6citaç(o se dissipar, uma sensaç(o de calma e .em4estar+/utro e6emplo revelador da influência das ações ne!ativas est-VKrelacionado reputaç(o+ m !eral, todo ser 'umano 4 e, ao "ue parece,todo animal tam.)m 4 detesta maldades, a!ressividade, trapaças, e assim por diante+ Xuem se envolve em atividades "ue causam dano aos outrostalve% o.ten'a uma satisfaç(o tempor-ria de seus atos, mas passa a ser malvisto, encarado com apreens(o, nervosismo e suspeita por causa de suam- reputaç(o+ aca.a sem ami!os+ Uma .oa reputaç(o tam.)m ) umafonte de felicidade+

Com poucas e6ceções, os "ue vivem uma vida de e!o*smo, semconsideraç(o pelo .em4estar dos outros, costumam ser muito solit-rios einfeli%es+ 8odem estar cercados de pessoas "ue s(o ami!as de sua ri"ue%aou posiç(o, mas, assim "ue a pessoa e!o*sta e a!ressiva enfrenta "ual"uer tra!)dia pessoal ou perde prest*!io, n(o s0 desaparecem como s ve%es at)

se re!o%i3am secretamente+ ssas pessoas n(o costumam ser lem.radasdepois "ue morrem+ m certos casos, sua morte pode at) ale!rar os "ueficam, como deve ter acontecido com os so.reviventes dos campos dee6term*nio na%istas ao sa.er da su.se"Zente e6ecuç(o de seus captores+ vale o contr-rio+ /s "ue se ocupam ativamente do .em4estar al'eio s(orespeitados e at) venerados+ Sua morte ) lamentada e sua vida ) lem.rada+

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Como a do Ma'atma ?and'i+ 9ece.eu uma educaç(o ocidental "ue l'e permitiria levar uma vida confort-vel e tran"Zila, mas optou, por consideraç(o aos seus semel'antes, por viver na ndia "uase como ummendi!o para devotar4se ao tra.al'o de sua vida+ Seu nome 'o3e ) uma

VQlem.rança e mil'ões de pessoas ainda tiram conforto e inspiraç(o dano.re%a de seus atos+

 No "ue se refere s causas das emoções aflitivas, podemos assinalar v-rios fatores diferentes+ ntre eles, o '-.ito "ue todos temos de pensar  primeiro em n0s mesmos+ tam.)m nossa tendência para pro3etar caracter*sticas em coisas e acontecimentos, distorcendo a realidade#confundir, por e6emplo, uma corda enrolada com uma co.ra+ Al)m disso,

como nossos pensamentos e emoções ne!ativos n(o e6istemindependentemente de outros fen2menos, os pr0prios o.3etos eacontecimentos com os "uais entramos em contato podem provocar nossasreações+ Xual"uer coisa ) capa% de desencade-4las+ 7udo pode ser umafonte de emoç(o aflitiva 4 n(o s0 nossos advers-rios como tam.)m nossosami!os, nossos .ens mais valiosos e at) n0s mesmos+

8or isso, o primeiro passo para com ater nossos pensamentos eemoções ne!ativos e evitar as situações e atividades "ue normalmentedariam mar!em a eles+ Se, por e6emplo, al!u)m verifica "ue se %an!asempre "ue encontra determinada pessoa, o mel'or ) manter4se lon!e delaat) desenvolver mais seus recursos internos+ / se!undo passo ) evitar ascondições "ue levam a esses fortes pensamentos e emoções ne!ativos+ Isso pressupõe "ue ten'amos aprendido a recon'ecer as emoções aflitivas"uando elas sur!em em n0s+ / "ue nem sempre ) f-cil+ n"uanto ) muitof-cil recon'ecer o 0dio "uando atin!e o au!e, seus est-!ios iniciais, comoa avers(o relacionada a al!uma coisa ou acontecimento, podem ser  .astante sutis+ , mesmo em seus est-!ios mais avançados de

Vdesenvolvimento, as emoções aflitivas nem sempre se manifestam deforma dram-tica+ / assassino pode estar relativamente calmo no momentoem "ue pu6a o !atil'o+

8recisamos estar atentos ao nosso corpo e a suas ações, nossa fala eao "ue di%emos, aos nossos corações e mentes, ao "ue pensamos e

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sentimos+ 7emos de ficar atentos para o mais leve sinal de ne!atividade e per!untar4nos sempre# $Sou mais feli% "uando meus pensamentos eemoções s(o ne!ativos e destrutivos ou "uando s(o positivos&$ $Xual ) anature%a da consciência& la e6iste em si e por si ou sua e6istência

depende de outros fatores&$ 8recisamos pensar, pensar, pensar+ Devemosser como o cientista "ue, coleta dados, analisa4os para tirar a mel'or conclus(o poss*vel+ Con'ecer a fundo a pr0pria ne!atividade ) tarefa parauma vida inteira, e somos capa%es de um aprimoramento "uase infinito+ Sen(o assumimos essa tarefa, por)m, seremos incapa%es de desco.rir ondefa%er as mudanças necess-rias para a felicidade em nossas vidas+

Se cada um de n0s !astasse uma fraç(o do tempo e do esforço "ueconsome em atividades .anais 4 ta!arelice toa e coisas assim 4 para

refletir profundamente so.re essas emoções aflitivas, creio "ue o impactoem nossa "ualidade de vida seria imenso+ 7anto as pessoas pr06imas den0s "uanto a sociedade como um todo se .eneficiariam+ Uma das primeiras coisas "ue constatar*amos seria o poder de destruiç(o dasemoções aflitivas+ cada ve% menos nos dei6ar*amos levar por elas+VP

8ois as emoções e pensamentos ne!ativos n(o destroem apenasnossa sensaç(o de pa%, eles tam.)m pre3udicam a nossa sa5de+ Namedicina ti.etana, a raiva ) considerada uma das causas principais demuitas doenças, como as associadas press(o alta, ins2nia e aos processos de!enerativos 4 um conceito "ue tem tido uma aceitaç(ocrescente na medicina alop-tica+

/utra lem.rança de inf1ncia ilustra como as emoções aflitivas nosfa%em mal+ Xuando eu era adolescente, um dos meus passatemposfavoritos era tentar consertar os carros vel'os "ue meu antecessor, od)cimo terceiro Dalai Lama, comprara pouco antes de morrer em BKK+\avia "uatro deles# dois Austin pe"uenos fa.ricados na In!laterra, um

Dod!e e um 3ipe em pandarecos, am.os americanos+ ram praticamente os5nicos ve*culos motori%ados no 7i.et+ 8ara o 3ovem Dalai Lama, a"uelasrel*"uias empoeiradas eram uma atraç(o irresist*vel e eu ansiava vê4lasandando outra ve%+

Meu son'o secreto, na verdade, era aprender a diri!ir+ Mas foi s0depois de muito insistir com diversos funcion-rios do !overno "ue

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finalmente conse!ui encontrar al!u)m "ue sa.ia al!uma coisa a respeitode carros+ Seu nome era L'aYpa 7serin!, e vin'a de alimpon!, umacidade lo!o depois da fronteira da ndia+ Um dia, ele estava tra.al'ando nomotor de um dos carros "uando, tendo dei6ado cair sua c'ave in!lesa,

!ritou uma pra!a e levantou4se com *mpeto+ Infeli%mente, tin'a dei6ado ocap2 a.erto e .ateu com a ca.eça nele, fa%endo um .arul'o terr*vel+V<nt(o, para min'a !rande surpresa, em ve% de sair com cuidado, ficoumais enfurecido e, levantando o corpo de novo, .ateu com a ca.eça commais força ainda da se!unda ve%+ 8or al!uns instantes, fi"uei espantadocom a"uele a.surdo+ Depois, n(o conse!uia parar de rir,

A e6plos(o de L'aYpa 7serin! resultou em nada mais s)rio do "ue

dois !randes !alos na ca.eça+ Hoi apenas desa!rad-vel para ele+ Mas, comisso, vemos como uma emoç(o ne!ativa ) capa% de destruir uma dasnossas mais valiosas "ualidades, a capacidade de discernimento+ Xuanto perdemos a capacidade de 3ul!ar o "ue ) certo e o "ue errado, de distin!uir entre um .enef*cio duradouro e uma vanta!em apenas tempor-ria para n0se para os outros ou de avaliar "ual ser- o prov-vel resultado de nossasações nos i!ualamos aos animais+ N(o ) de espantar "ue, so. talinfluência, façamos coisas "ue em condições normais 3amais son'ar*amosfa%er+

A perda de nossas faculdades cr*ticas revela uma outra caracter*sticane!ativa desse tipo de e6periência mental e emocional+ As emoçõesaflitivas nos decepcionam+ 8arecem oferecer satisfaç(o, mas n(o o fa%em+Sur!em, como se fossem uma proteç(o, para nos dar aud-cia e força, masconstatamos mais tarde "ue essa ) uma ener!ia essencialmente ce!a+ Asdecisões tomadas so. sua influência s(o em !eral motivo dearrependimento+ Na maioria das ve%es essas e6plosões s(o na verdade umademonstraç(o de fra"ue%a, n(o de força+ Gasta ver as discussões

acaloradas em "ue a ar!umentaç(o se deteriora a ponto de uma dasV pessoas tornar4se ver.almente a!ressiva, um sinal claro da fra!ilidade desua posiç(o+ N(o precisamos raiva para criar cora!em e confiança+ Comoveremos adiante, '- outros meios para isso+

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A emoç(o aflitiva tam.)m tem uma dimens(o irracional+ Ha%4nossupor "ue as aparências s(o invariavelmente proporcionais realidade+Xuando estamos com raiva ou sentimos 0dio, nossa tendência ) ol'armos para os outros como se todas as suas caracter*sticas fossem imut-veis+

Uma pessoa pode nos parecer censur-vel do topo da ca.eça at) a pontados p)s+ s"uecemos "ue ) i!ual a n0s, com dese3os e medos+ , no fundo,o .om senso nos di% "ue a"uela pessoa vai nos parecer mel'or assim "uenossa raiva diminuir+ / mesmo acontece "uando a situaç(o se inverte eal!u)m se encanta por outra pessoa, "ue l'e parece totalmente dese3-velat) a emoç(o aflitiva perder força e o outro n(o parecer mais t(o perfeito+Xuando nossas pai6ões irrompem dessa forma, '- !rande peri!o de sedeslocarem para o e6tremo oposto+ A"uele "ue 'o3e ) idolatrado passa a

ser despre%*vel e detest-vel, em.ora continue sendo a mesma pessoa+As emoções aflitivas s(o tam.)m in5teis+ Xuanto mais cedemos aelas, menos espaço so.ra para nossas .oas "ualidades 4 para .ondade ecompai6(o 4 e menos capacidade para resolver nossos pro.lemas+ mnen'uma circunst1ncia, essas emoções e pensamentos pertur.adoresservem para "ual"uer coisa, tanto para n0s "uanto para os outros+ Xuantomais %an!ados estamos, mais as pessoas nos evitam+ Xuanto maisVBdesconfiados ficamos, mais solit-rios, por"ue todos nos a.andonam+Xuanto mais lascivos, menor a possi.ilidade de esta.elecer relacionamentos sadios e, outra @e%, mais solid(o+ Gasta o.servar as pessoas cu3as atividades s(o !uiadas principalmente por emoções aflitivas,ou, em outras palavras, por preferências e aversões i!n0.eis, como a!an1ncia, a am.iç(o inescrupulosa, a arro!1ncia+ 7ais pessoas podem setornar muito poderosas ou muito famosas+ Seu nome pode at) ficar na\ist0ria+ Mas, depois "ue morrem, seu poder se esvai e sua fama passa aser apenas uma palavra va%ia+ / "ue ent(o conse!uiram de fato&

A inutilidade das emoções aflitivas fica ainda mais evidente no casoda raiva, da c0lera+ Xuando estamos encoleri%ados, n(o sentimoscompai6(o, amor, !enerosidade, vontade de perdoar, toler1ncia /u paciência+ assim nos privamos de tudo em "ue consiste a felicidade+ Araiva n(o s0 destr0i nossa capacidade de discernimento como a.recamin'o para a f5ria, o rancor, o 0dio e a perversidade, todos eles

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ne!ativos por"ue s(o causa direta de dano aos outros+ A c0lera fa% sofrer+, no m*nimo, causa o desconforto do constran!imento+ 8or e6emplo,sempre !ostei de consertar rel0!ios de pulso+ Mas lem.ro4me de diversasocasiões em "ue, "uando menino, perdi completamente a paciência com

a"uelas peças diminutas e complicadas e atirei o mecanismo do rel0!io namesa, despedaçando4o+ É claro "ue, mais tarde, ficava muito arrependido eenver!on'ado com a min'a atitude, so.retudo em certa ocasi(o em "ueVtive de devolver o rel0!io para o dono em condições piores do "ue antes+

A 'ist0ria, por .anal "ue se3a, tam.)m ilustra o fato de "ue 8odemoster confortos materiais em a.und1ncia ] .oa comida, uma casa confort-vele .em4aparel'ada 4 e ainda assim perder a pa% interior num acesso de

raiva+ Aca.amos n(o sa.oreando nem mesmo um caf) da man'(+ "uando essas crises passam a ser 'a.ituais, mesmo se formos cultos, ricosou poderosos, as pessoas simplesmente se afastam de n0s+ Di%em# $A',sim, ele ) muito inteli!ente, mas ) !rosseiro demais+ $ /u ent(o# $la )e6tremamente talentosa, mas se irrita Com muita facilidade, tome cuidadocom ela+ $ Como diante de um c(o "ue est- sempre rosnando e mostrandoos dentes, Somos cautelosos com a"ueles cu3os corações est(o pertur.ados pela raiva+ 8referimos desistir de sua compan'ia do "ue correr o risco deenfrentar uma e6plos(o+

 N(o ne!o "ue, tal como no caso do medo, e6ista uma esp)cie deraiva produtiva, "ue nos vem como uma onda de ener!ia antedeterminadas situações+ É admiss*vel "ue esse tipo de raiva ten'aconse"Zências positivas+ 8ode4se conce.er a raiva e a indi!naç(o diante dain3ustiça, "ue al!u)m a!ir de maneira altru*stica+ A raiva "ue nos fa% correr em socorro de al!u)m "ue est- sendo atacado na rua pode ser caracteri%ada como 8ositiva+ 8or)m, "uando raiva se torna pessoal e setransforma em vin!ança ou perversidade, ent(o sur!e o peri!o+ Xuando

n0s mesmos fa%emos al!o ne!ativo, somos capa%es de distin!uir entreVa nossa pessoa e o ato ne!ativo+ Mas, "uando se trata dos outros, em !eraln(o conse!uimos fa%er essa distinç(o+ / "ue mostra "ue n(o se deveconfiar nem mesmo na raiva 3ustificada+

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Se parece e6a!ero afirmar "ue a raiva ) uma emoç(o inteiramentein5til, ser- "ue al!u)m 3amais ouviu falar "ue ter raiva torna al!u)m feli%& Nin!u)m+ Xue m)dico prescreve a raiva como tratamento para al!umadoença& Nen'um+ A raiva s0 nos fere+ N(o '- nada "ue a recomende+

8er!unte a si mesmo# "uando est- com raiva, fica mais feli%& Sua mente seacalma e seu corpo rela6a& /u ) o contr-rio, seu corpo fica tenso e amente a!itada&

Se a "uest(o ) manter nossa pa% de esp*rito e, conse"Zentemente,nossa felicidade, conclu*mos "ue, al)m de ser importante tomar consciência de nossas emoções e pensamentos ne!ativos, precisamoscultivar o firme '-.ito de nos contermos ao rea!ir a eles+ As emoções e os pensamentos ne!ativos s(o o "ue nos fa% a!ir de modo anti)tico+ Al)m

disso, tendo em vista "ue a emoç(o aflitiva ) tam.)m a fonte de nossosofrimento interior 4 por !erar frustraç(o, confus(o, inse!urança,ansiedade e at) a perda de respeito pr0prio "ue corroem a autoconfiança 4,dei6ar de control-4la ser- permanecer em estado de perp)tuo desconfortomental e emocional+ A pa% interior ser- imposs*vel+ m ve% de felicidade,'aver- inse!urança+ A ansiedade e a depress(o estar(o sempre rondando por perto+

Al!umas pessoas ac'am "ue, em.ora o ideal se3a reprimir essessentimentos de intenso rancor "ue podem levar violência e at) ao crime,Vcorre4se o risco de perder a independência "uando se cont)m as emoções ese investe em disciplinar a mente+ Na realidade, o oposto ) "ue )verdadeiro+ Assim como o amor e a compai6(o, a raiva e a emoç(o aflitivanunca se es!otam+ Ao contr-rio, tendem a aumentar, como a -!ua de umrio no ver(o "uando a neve se derrete, e de tal maneira "ue, em ve% deindependentes, nossas mentes ficam escravi%adas e indefesas so. seudom*nio+ Xuem se entre!a a emoções e pensamentos ne!ativos

inevitavelmente se acostuma com eles+ o resultado ) ficar cada ve% mais propenso sua irrupç(o e ser cada ve% mais controlado por eles+ A pessoase 'a.itua a e6plodir sempre "ue enfrenta circunst1ncias desa!rad-veis+7orna4se escrava deles+

A pa% interior 4 "ue ) a principal caracter*stica da felicidade 4 e araiva n(o podem coe6istir sem "ue uma arru*ne a outra+ Na verdade, as

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emoções e pensamentos ne!ativos arru*nam as pr0prias causas da pa% e dafelicidade+ N(o '- l0!ica em .uscar felicidade se n(o se fa% nada paraconter sentimentos de c0lera, rancor e a!ressividade+ Xuando estamosencoleri%ados, "uase sempre usamos palavras -speras "ue põem em risco

os relacionamentos pessoais+ como a felicidade sur!e dentro do conte6tode nosso relacionamento com os outros, pre3udicamos uma das condiçõesfundamentais para con"uist-4la+

9eprimir a raiva e nossas emoções e pensamentos ne!ativos n(osi!nifica ne!ar nossos sentimentos+ \- uma importante distinç(o a ser feita entre ne!aç(o e contenç(o+ A contenç(o consiste em adotar VKdeli.eradamente uma disciplina "ue se .aseie em uma avaliaç(o das

vanta!ens em a!ir desse modo+ É muito diferente de al!u)m reprimir emoções como a raiva por"ue ac'a necess-rio demonstrar autocontrole ou por receio do "ue os outros possam ac'ar+ 7al comportamento e"uivale aco.rir uma ferida "ue ainda est- infectada+ Mais uma ve% n(o se trata a"uide se!uir re!ras+ Xuando a pessoa ne!a ou reprime indiscriminadamente,corre o risco de acumular rancores e ressentimentos+ , no futuro, podec'e!ar a um ponto em "ue desco.re n(o ser mais poss*vel reprimir essessentimentos+ e6plode, sem controle nem li.erdade+

m suma, e6istem pensamentos e emoções "ue ) conveniente e at)importante e6pressar a.ertamente 4 inclusive os ne!ativos 4, se .em "ue'a3a maneiras mais ou menos ade"uadas de fa%ê4lo+ É muito mel'or enfrentar uma situaç(o ou uma pessoa do "ue esconder a raiva, remoê4la ealimentar ressentimentos no coraç(o+ ntretanto, se e6pressamosindiscriminadamente pensamentos e emoções ne!ativos so. o prete6to de"ue precisam ser formulados, '- uma forte possi.ilidade, por todas asra%ões citadas, de perda de controle e reaç(o e6a!erada+ Sendo assim, )imprescind*vel ter crit)rio, n(o s0 "uanto aos sentimentos "ue se

e6pressam como maneira como s(o e6pressos+ No meu entender, a felicidade !enu*na caracteri%a4se pela pa%

interior e sur!e dentro do conte6to de nossos relacionamentos com osoutros+ 8ortanto, depende de uma conduta )tica+ / "ue, por sua ve%,VQconsiste em atos "ue levem em conta o .em4estar dos outros+ / nosso

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!rande o.st-culo a esse tipo de conduta ) a emoç(o aflitiva+ Se ent(o"uisermos ser feli%es, precisamos controlar nossas reações aos pensamentos e emoções ne!ativos+ o "ue "uero di%er "uando me refiro necessidade de domar o elefante .ravio "ue ) a mente indisciplinada+

Xuando dei6amos de conter nossas reações s emoções aflitivas, nossasações tornam4se anti)ticas e o.struem os canais de nossa felicidade+ N(oestamos falando de .udismo, n(o estamos falando de alcançar a uni(o comDeus+ stamos apenas recon'ecendo o fato de "ue nossos interesses enossa felicidade futura est(o intimamente li!ados aos dos outros etentando aprender a a!ir de acordo com isso+

V

Cap*tulo <A É7ICA DA :I97UD  Su!eri anteriormente "ue, se "uisermos ter uma felicidade !enu*na,a contenç(o interior ) indispens-vel+ 7odavia, n(o se pode parar por a*+Apesar de nos impedir de cometer atos fla!rantemente ne!ativos, acontenç(o so%in'a ) insuficiente para se c'e!ar felicidade "ue secaracteri%a pela pa% interior+ 8ara "ue nos transformemos, modificandonossos '-.itos e nossa *ndole de modo "ue nossas ações e6pressemcompai6(o, ) necess-rio desenvolver o "ue se pode c'amar de uma )ticada virtude+ Al)m de evitar os pensamentos e emoções ne!ativos, precisamos cultivar e reforçar nossas "ualidades positivas+ Xuais s(o essas"ualidades positivas& Nossas "ualidades 'umanas, ou espirituais, .-sicas,como o amor e compai6(o, paciência, toler1ncia, 'umildade+

Depois da compai6(o Rnying je, a principal delas ) a "ue c'amamosem ti.etano de sö pa+ Mais uma ve%, temos a"ui uma e6press(o "ue parecen(o ter nen'uma e"uivalente dispon*vel em outras l*n!uas, em.ora asid)ias "ue transmite se3am universais+ Muitas ve%es,  sö pa  ) tradu%ida

simplesmente como $paciência$, apesar de seu sentido literal ser $capa% desuportar$ ou $capa% de resistir$+ Contudo, s pa tam.)m encerra umanoç(o de resoluç(o, de cora!em+ 8ortanto, e6prime uma reaç(o deli.eradaVPRao contr-rio de uma reaç(o impensada aos fortes pensamentos e emoções"ue costumam sur!ir "uando al!o de mal nos acontece+ Sendo assim,  sö

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 pa ) o "ue nos d- forças para resistir ao sofrimento e nos a3uda a n(o perder a compai6(o, mesmo por a"ueles "ue nos fa%em mal+

7udo isso me fa% lem.rar o e6emplo de Lopon4la, um mon!e de Nam!@al, o mosteiro dos dalai lamas+ Depois da min'a fu!a do 7i.et,

Lopon4la foi um dos muitos mil'ares de mon!es e funcion-riosaprisionados pelas forças de ocupaç(o+ Xuando finalmente o li.ertaram, permitiram4l'e "ue viesse para a ndia e ele voltou para seu anti!omosteiro+ Mais de vinte anos depois de vê4lo pela 5ltima ve%, encontrei"uase o mesmo Lopon4la de "ue me lem.rava+ stava mais vel'o, ) claro,mas n(o mudara fisicamente, e mentalmente as provações n(o o tin'am demodo al!um afetado+ Sua delicade%a e serenidade permaneciam intocadas+ Nossa conversa revelou, todavia, "ue ele fora tratado com e6trema

crueldade durante a"ueles lon!os anos na pris(o+ Funto com todos osoutros, fora su.metido a uma $reeducaç(o$, tendo sido forçado a condenar sua reli!i(o e, em muitas ocasiões, fora tam.)m torturado+ Xuando l'e per!untei se sentira medo, ele admitiu "ue 'avia uma coisa "ue oamedrontava# a possi.ilidade de perder a compai6(o e a consideraç(o por seus carcereiros como seres 'umanos+ A"uilo me emocionou muito etam.)m me animou+ A 'ist0ria de Lopon4la confirmava al!o em "ue eusempre tin'a acreditado+ N(o ) s0 a constituiç(o f*sica de uma pessoa, ouV<sua inteli!ência, sua educaç(o ou at) seu condicionamento social "ue l'e permitem resistir s provações+ Seu estado espiritual ) muito maissi!nificativo+ en"uanto al!uns s(o capa%es de so.reviver apenas custade força de vontade, os "ue sofrem menos s(o os "ue atin!em um alto!rau e sö pa+

Autocontrole e força moral Rcora!em frente adversidade s(o duasdefinições "ue c'e!am .em perto de sö pa em seu !rau inicial+ 8or)m,"uando mais desenvolvida, essa "ualidade confere serenidade diante da

adversidade, uma sensaç(o de n(o se dei6ar pertur.ar, refletindo umaaceitaç(o volunt-ria da provaç(o para atin!ir um o.3etivo espiritual maisalto+ / "ue envolve aceitar a realidade de determinada situaç(orecon'ecendo "ue, so. sua sin!ularidade, e6iste uma vasta e comple6arede de causas e condições relaciona as entre si+

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Sö pa  ) portanto o meio pelo "ual praticamos a verdadeira n(o44violência+ É o "ue nos permite n(o s0 controlar nossas reações f*sicas"uando somos provocados como dei6ar de lado nossos pensamentos eemoções ne!ativos+ N(o se trata de sö pa "uando cedemos de m- vontade

e !uardando rancor+ Se o c'efe no tra.al'o l'e causa um a.orrecimento evocê ) o.ri!ado a su.meter4se opini(o dele apesar de seus sentimentos,isso n(o ) sö pa+ A essência de sö pa ) um autocontrole paciente e resolutodiante da adversidade+ /u se3a, a"uele "ue pratica esse tipo deautocontrole est- determinado a n(o ceder a impulsos ne!ativos R"ue s(oe6perimentados como emoções aflitivas so. a forma de raiva, 0dio, dese3oVde vin!ança, e assim por diante, a n(o se entre!ar ao ressentimento e a

n(o revidar altura+ Nada disso si!nifica "ue n(o e6istam ocasiões em "ue) apropriado rea!ir s atitudes dos outros com medidas en)r!icas+ Nemesse tipo de pr-tica da paciência si!nifica "ue devemos aceitar "ual"uer coisa "ue os outros nos fa%em e simplesmente ceder+ Nem "ue n(odevemos rea!ir "uando enfrentamos o mal+ Sö pa n(o deve ser confundidocom passividade+ \- momentos na vida de "ual"uer pessoa em "ue as palavras duras 4 e at) a intervenç(o f*sica 4 podem ser necess-rias+ Ao prote!er nossa serenidade interior, por)m,  sö pa  coloca4nos em uma posiç(o mais se!ura para avaliar se uma reaç(o n(o4violenta ) maisapropriada do "ue "uando estamos dominados por pensamentos e emoçõesne!ativos+ Com isso, vemos "ue ) e6atamente o oposto da covardia+ Acovardia ) o "ue acontece "uando o medo nos fa% perder toda a confiança+/ autocontrole paciente si!nifica "ue permanecemos firmes mesmosentindo medo+

Da mesma forma, "uando falo de aceitaç(o, n(o "uero di%er "ue n(odevemos fa%er todo o poss*vel para resolver nossos pro.lemas sempre "ue puderem ser resolvidos+ No caso de um sofrimento presente 4 a"uele pelo

"ual se est- passando 4, por)m, a aceitaç(o pode evitar "ue se acrescenteao fardo do momento o sofrimento mental e emocional+ 8or e6emplo, n(o'- nada "ue se possa fa%er para evitar a vel'ice+ É muito mel'or aceitar asituaç(o do "ue se in"uietar a respeito+ De fato, sempre me parece umVB

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 pouco tolo o esforço de certas pessoas idosas para tentar manter umaaparência de 3uventude+

/ autocontrole paciente, portanto, ) a "ualidade "ue n(o dei6a os pensamentos e emoções ne!ativos tomarem conta de n0s+ 8reserva a nossa

 pa% de esp*rito diante das adversidades+ Atrav)s desse tipo de pr-tica da paciência, nossa conduta toma4se eticamente *nte!ra+ Como 3- vimos, o primeiro passo para a pr-tica da )tica ) conter nossa reaç(o aos pensamentos e emoções ne!ativos medida "ue sur!em+ / passo se!uinte4 o "ue fa%emos depois de pisar no freio 4) conter essa e6asperaç(o com paciência+

/ leitor poder- o.3etar "ue s ve%es isso ) imposs*vel+ / "ue di%er "uando al!u)m pr06imo de n0s, "ue con'ece todas as nossas fra"ue%as,

usa esse con'ecimento para nos ferir& A raiva "ue sentimos pode derru.ar completamente todas as nossas defesas+ Nessas circunst1ncias, talve% se3amesmo dif*cil conse!uir manter o sentimento de compai6(o pelo outro,mas ) necess-rio ao menos ter o cuidado de n(o rea!ir de modo violentoou a!ressivo+ / mel'or a fa%er ) sair da sala para dar uma volta, de preferência na nature%a, ou respirar vinte ve%es antes de responder# precisamos encontrar uma maneira de nos acalmarmos um pouco+ 8or issodevemos introdu%ir a pr-tica da paciência em nosso dia4a4dia+ É uma"uest(o de nos familiari%armos com ela, em seu !rau mais profundo, demodo "ue, diante de uma situaç(o dif*cil, mesmo tendo de fa%er umesforço maior, sai.amos o "ue est- em causa+ Ao contr-rio, se i!norarmosa pr-tica da paciência at) o momento em "ue realmente passamos por Vdificuldades, ) muito prov-vel "ue n(o consi!amos resistir irritaç(o+

Uma das mel'ores maneiras para nos familiari%armos com a virtudeda paciência, ou sö pa, ) nos dedicarmos a refletir sistematicamente so.reseus .enef*cios+ Sö pa ) a fonte do perd(o+ ) o "ue '- de mel'or para

 preservar nossa consideraç(o pelos outros, n(o importa como secomportem conosco+ Xuando sö pa se com.ina com nossa capacidade dedistin!uir entre aç(o e a!ente, o perd(o pode vir de modo natural+8ermite44nos manter nossa capacidade de 3ul!ar o ato e de ter compai6(o pelo indiv*duo "ue o pratica+ Da mesma forma, "uando desenvolvemos acapacidade de toler1ncia, verificamos "ue desenvolvemos tam.)m uma

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reserva correspondente de calma e de tran"Zilidade+ 7endemos a ser menos anta!2nicos e mais a!rad-veis no conv*vio, o "ue cria umaatmosfera positiva nossa volta, de modo "ue se torna mais f-cil para osoutros o relacionamento conosco+ A pr-tica da paciência tra% uma

esta.ilidade emocional "ue n(o s0 nos fa% mais fortes mental eespiritualmente como mais saud-veis fisicamente+ Sem d5vida, atri.uo a .oa sa5de de "ue desfruto a uma mente em !eral calma e serena+

ntretanto, o .enef*cio mais importante de  sö pa, ou paciência,consiste em sua aç(o como um ant*doto poderoso ao mal da raiva, a maior ameaça nossa pa% interior e, conse"uentemente, nossa felicidade+ A paciência ) o mel'or recurso de "ue dispomos para nos defendermosinternamente dos efeitos destrutivos da raiva+ 8ensem .em# a ri"ue%a n(o

V prote!e nin!u)m da raiva+ Nem a educaç(o, por mais talentosa ouinteli!ente "ue a pessoa se3a+ A lei, muito menos, pode ser de "ual"uer a3uda+ a fama ) in5til+ S0 a proteç(o interior do autocontrole pacienteevita "ue e6perimentemos o tumulto das emoções e pensamentosne!ativos+ A mente, ou esp*rito Rlo, n(o ) f*sica+ N(o pode ser tocada ouferida diretamente+ S0 as emoções e pensamentos ne!ativos podem feri4la+8ortanto, s0 a "ualidade positiva correspondente pode prote!ê4la+

/ se!undo passo para nos familiari%armos com a virtude da paciência ) pensar na adversidade n(o tanto como uma ameaça nossa pa%de esp*rito, mas como o pr0prio meio pelo "ual se ad"uire paciência+ Senos colocarmos nessa perspectiva, veremos a"ueles "ue nos podem pre3udicar como sendo, de certa forma, professores de paciência+ ssas pessoas nos ensinam o "ue 3amais aprender*amos simplesmente ouvindoal!u)m falar, por mais s-.ios ou santos "ue fossem+ Muito menos o leitor  pode esperar aprender a ser virtuoso meramente lendo este livro 4 a n(o ser "ue o ac'e t(o tedioso "ue e6i3a perseverança Com a adversidade, por)m,

 podemos aprender o valor da paciência, da toler1ncia+ a"ueles "ue nos pre3udicam s(o, em especial, os "ue nos oferecem oportunidades sem paralelo para praticar a disciplina de nosso comportamento+

/ "ue n(o "uer di%er "ue as pessoas n(o se3am respons-veis por seusatos+ É .om lem.rar "ue elas podem estar a!indo movidas so.retudo pelai!nor1ncia+ Uma criança "ue cresceu em um am.iente violento talve% n(o

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con'eça outra maneira de a!ir+ / resultado ) "ue a "uest(o da culpatorna44se muito redundante+ A reaç(o apropriada a al!u)m "ue nos fa%sofrer 4Vn(o me refiro a"ui, ) evidente, s situações em "ue al!u)m se opõe a n0s

le!itimamente, como no caso de recusar4se a ceder s nossas e6i!ênciasdesca.idas 4 ) recon'ecer "ue, ao pre3udicar4nos, a pessoa est- pondo emrisco sua pa% de esp*rito, seu e"uil*.rio interior+ o mel'or "ue temos afa%er ) ter compai6(o por a"uela pessoa, at) por"ue o simples dese3o detam.)m feri4la n(o vai ser eficiente+ Mas vai nos ferir, sem a menor d5vida+

Ima!inem dois vi%in'os "ue est(o .ri!ando por al!um motivo+ Umdeles conse!ue encarar a disputa com tran"Zilidade+ / outro est- o.cecado

 por ela e fica o tempo todo procurando inventar maneiras de pre3udicar oadvers-rio+ o "ue acontece& N(o demora muito e o "ue rumina maldadescomeça a sofrer as conse"Zências disso+ 8rimeiro perde o apetite, depois osono+ A sa5de começa a mostrar4se a.alada+ 8assa os dias e as noitesatormentado por a"uela id)ia fi6a e aca.a, ironicamente, reali%ando osdese3os do advers-rio+

de fato, "uando se pensa mel'or a respeito, '- um aspecto n(ototalmente racional em escol'er as pessoas como o.3eto de nossa raiva+:amos fa%er um pe"ueno e6erc*cio de ima!inaç(o+ Supon'amos "ueal!u)m nos ofende ver.almente+ Se sentimos raiva por causa da m-!oa"ue isso nos causa, ser- "ue o foco de nosso sentimento n(o deveria estar nas pr0prias palavras ofensivas, uma ve% "ue s(o elas "ue de fatoVKcausaram a m-!oa& No entanto, ficamos %an!ados com a pessoa "ue asdisse+ A 3ustificativa seria "ue a pessoa "ue di% as ofensas ) moralmenterespons-vel por elas, o "ue n(o dei6a de ser verdade+ Ao mesmo tempo, sedevemos ter raiva do "ue de fato causou a m-!oa, suas palavras ) "ue s(o

a causa mais imediata de nossa reaç(o+ Mel'or ainda, ser- "ue n(odever*amos direcionar nossa raiva para a"uilo "ue fe% com "ue a pessoanos ofendesse, ou se3a, suas emoções aflitivas& 8or"ue, se a pessoaestivesse calma e em pa%, talve% n(o a!isse da"uela maneira+ Contudo,desses três fatores ] as palavras "ue ma!oam, a pessoa "ue as di% e os

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impulsos ne!ativos "ue motivam a pessoa 4, ) para a pessoa "ue diri!imosnossa raiva+ \- uma certa incoerência nisso+Se ale!armos "ue a verdadeira causa de nossa m-!oa ) a nature%a da pessoa "ue nos ofende, ainda assim n(o seria ra%o-vel ter raiva dela+ 8ois

se a sua nature%a fundamental ) ser 'ostil a n0s, ela seria incapa% de a!ir de outra maneira+ Nesse caso, ter raiva dela n(o faria sentido+ Se nos"ueimamos, n(o fa% sentido ficar %an!ado com o fo!o+ da nature%a dofo!o a capacidade de "ueimar+ 8ara nos lem.rarmos "ue o conceito de'ostilidade inerente e de mal inerente ) falso, ca.e o.servar "ue, em outrascircunst1ncias, a mesma pessoa "u# nos est- ma!oando poderia tornar4seum .om ami!o+ comum ouvir falar de soldados "ue lutam em ladosopostos durante os conflitos e depois se tornam ami!os em tempos de pa%+

certamente 3- tivemos a e6periência de encontrar al!u)m "ue n(oVQapreci-vamos muito no passado e "ue aca.amos desco.rindo ser naverdade .em a!rad-vel+

É claro "ue n(o podemos pensar dessa maneira com relaç(o a todasas situações+ Xuando somos fisicamente ameaçados, ) mel'or n(o perder tempo com tais id)ias e concentrar as ener!ias em sair correndo Mas ) de!rande a3uda "ue nos familiari%emos com os v-rios aspectos e .enef*ciosda paciência+ 8ermite4nos enfrentar os desafios apresentados pelasadversidades de uma forma construtiva+

/.servei anteriormente "ue sö pa, ou paciência, a!e como uma forçacontr-ria raiva+ De fato, para cada estado ne!ativo, e6iste um outro "ue podemos identificar como oposto+ A 'umildade se opõe ao or!ul'oO asatisfaç(o, !an1nciaO a perseverança, indolência+ Se, ent(o, "ueremossuperar o estado de esp*rito pernicioso "ue se instala "uando li.eramos pensamentos e emoções ne!ativos, o prop0sito de refrear nossa reaç(o semoções aflitivas deve ser acompan'ado do prop0sito de cultivar as

virtudes+ Am.os camin'am 3untos+ por isso "ue a disciplina da )tica n(o pode ser confinada mera contenç(o dos aspectos ne!ativos ou meraafirmaç(o de "ualidades positivas+

8ara ver como funciona esse processo de contenç(o com.inado afirmaç(o das "ualidades, vamos ver o "ue acontece com a ansiedade, "ue) uma forma de medo ampliada+ 7odos n0s forçosamente nos defrontamos

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com e6periências e acontecimentos "ue nos preocupam+ A preocupaç(o setransforma em ansiedade "uando começamos a ruminar so.re o assunto edei6amos "ue a ima!inaç(o l'e acrescente id)ias ne!ativas+ A partir da*V

sentimos ansiedade e in"uietaç(o+ "uanto mais nos entre!amos in"uietaç(o, mais ra%ões encontramos para 3ustific-4la+ c'e!amos afinala um estado de afliç(o permanente+ A medida "ue esse estado evolui,diminui a nossa capacidade de rea!ir e com.atê4lo de al!uma forma, e elese intensifica+ Uma refle6(o mais cuidadosa, por)m, mostranos "ue o "ue'- por tr-s desse processo ) uma vis(o limitada e uma falta de perspectivaade"uada+ isto nos fa% i!norar o fato de "ue as coisas e acontecimentoss0 ocorrem como resultado de inumer-veis causas e condições+ Nossa

tendência ) nos concentrarmos e6clusivamente em um ou dois aspectos do"ue est- acontecendo+ Ao a!ir assim, inevitavelmente nos limitamos a procurar meios para superar apenas a"ueles aspectos+ / pro.lema ) "ue,"uando n(o os encontramos, corremos o risco de cair em total des1nimo edesorientaç(o+ / primeiro passo para superar a ansiedade ), ent(o,desenvolver uma perspectiva ade"uada da situaç(o+

8odemos fa%er isso de diversas maneiras diferentes+ Uma das maisefica%es ) procurar desviar o foco da atenç(o de n0s para os outros+ Seconse!uimos, verificamos "ue a intensidade de nossos pro.lemas diminui+ N(o se trata de i!norar as nossas necessidades, mas de lem.rar das dosoutros paralelamente, mesmo "ue as nossas se3am prementes+ Xuandonossa preocupaç(o pelos outros se tradu% em aç(o, nossa confiança pessoal aumenta de imediato e a preocupaç(o e a ansiedade passam a umse!undo plano+ desco.rimos "ue "uase todo o sofrimento mental eVPemocional caracter*stico da vida moderna, "ue inclui as sensações dedesesperança e de solid(o, entre outras, diminui "uando nos envolvemos

em atividades motivadas pela consideraç(o pelos outros+ Acredito "ue se3a por isso "ue n(o .asta reali%ar ações "ue s0 s(o positivas e6ternamente para redu%ir a ansiedade+ Xuando verdadeira motivaç(o ) atin!ir nossoso.3etivos imediatos, isso apenas aumenta nossos pro.lemas+

/ "ue di%er, por)m, da"uelas ocasiões em "ue ac'amos toda a nossavida insatisfat0ria, "uando nos sentimos a ponto de e6plodir de tanto

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sofrimento, como acontece de ve% em "uando com todo mundo de maneiramais ou menos intensa& Xuando isso acontece, ) vital empre!ar todos osesforços para encontrar uma forma de mel'orO o 1nimo+ Uma delas ) pensar nos nossos tesouros# ser amado por al!u)m, ter certos talentos, ter 

rece.ido uma .oa educaç(o, ter as necessidades .-sicas satisfeitas ] alimento para comer, roupas para vestir, um lu!ar para morar 4, ter a!idocom altru*smo em al!uma ocasi(o no passado+ Como o .an"ueiro "uerecol'e os 3uros at) do menor empr)stimo "ue fa%, temos de levar emconta at) o mais insi!nificante aspecto positivo de nossas vidas+ N(o podemos dei6ar "ue a sensaç(o de +impotência tome conta de n0s,levando4nos a crer "ue somos incapa%es de reali%ar al!o positivo, o "ue s0fa% criar condições para o desespero, para um .eco sem sa*da, sem outra

alternativa a n(o ser a morte+V< Na maioria dos casos de desesperança, de e6tremo de samparo, o

 pro.lema ) a percepç(o "ue a pessoa tem de sua pr0pria situaç(o e n(o arealidade do "ue est- ocorrendo+ / pro.lema talve% n(o possa ser resolvido sem a cooperaç(o de outras pessoas e, nesse caso, deve4se 4 pedir a3uda+ ntretanto, s ve%es '- circunst1ncias irremedi-veis+ É a* "uea crença reli!iosa pode ser reconfortante, uma fonte e al*vio+ Mas isso )outro assunto+

m "ue mais pode consistir a )tica da virtude& Como princ*pio .-sico, ) essencial evitar os e6tremos+ Da mesma forma "ue comer demaise t(o peri!oso "uanto comer e de menos, e preciso ter com senso na .uscae na pratica a virtude+ At) as causas no.res, "uando levadas ao e6tremo, podem causar males+ Como a cora!em "ue, levada ao e6cesso e sem adevida avaliaç(o das circunst1ncias, transforma4se em imprudência etemeridade+ / e6cesso, de fato, pre3udica um dos principais o.3etivos da pr-tica da virtude, "ue ) e"uili.rar nossa tendência para reações mentais e

emocionais dr-sticas em relaç(o aos outros e aos acontecimentos "ue noscausam sofrimentos inevit-veis+

É importante tam.)m perce.er "ue transformar o coraç(o e a mente para "ue nossas ações se tomem espontaneamente )ticas e6i!e "uecolo"uemos a .usca a virtude no centro e nossa vida di-ria+ Isto por"ue oamor, a compai6(o, a paciência, a !enerosidade, a 'umildade e as outras

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"ualidades s(o todas complementares+ como ) t(o dif*cil erradicar aemoç(o aflitiva, ) necess-rio "ue nos 'a.ituemos a seus opostos antesmesmo "ue os pensamentos e emoções ne!ativos sur3am+ 8or e6emplo,V

cultivar a !enerosidade ) essencial para com.ater nossa tendência de prote!er demais nossos .ens e at) mesmo a nossa ener!ia f*sica+ A pr-ticada !enerosidade a3uda a com.ater o '-.ito da mes"uin'e%, "uecostumamos 3ustificar di%endo# $/ "ue vai so.rar para mim se eu começar a dar tudo "ue ten'o&$

A !enerosidade ) considerada uma virtude em todas as !randesreli!iões e em todas as sociedades civili%adas e claramente tra% .enef*ciostanto para "uem d- "uanto para "uem rece.e+ "ue rece.e ) aliviado das

dificuldades !eradas pela necessidade+ "ue d- ) revi!orado pela ale!ria"ue sua d-diva proporciona aos outros+ Ao mesmo tempo, temos derecon'ecer "ue e6istem diferentes tipos e !raus de !enerosidade+ Xuandose ) !eneroso com o intuito de mel'orar a ima!em "ue os outros fa%em den0s 4 para !an'ar fama ou lev-4los a ac'ar "ue somos .ondosos 4,desvirtuamos o ato+ N(o ) !enerosidade "ue se pratica, ) auto44en!randecimento+ Da mesma forma, a"uele "ue d- muito pode n(o estar sendo t(o !eneroso "uanto a"uele "ue d- pouco+ 7udo depende dosrecursos e da motivaç(o de "uem d-+

m.ora uma coisa n(o su.stitua a outra, doar nosso tempo e ener!ia pode representar uma ordem mais elevada de !enerosidade do "ue dar  presentes+ 9efiro4me em especial dadiva de serviços prestados aosdeficientes f*sicos e mentais, aos desa.ri!ados, aos solit-rios, aos "ueest(o e aos "ue estiveram na pris(o+ sse tipo de d-diva inclui tam.)m aVBdos professores, "ue transmitem seus con'ecimentos aos alunos+ , emse!uida, no meu entender, a mais compassiva forma de !enerosidade )

a"uela praticada sem nen'um pensamento ou e6pectativa de recompensa e .aseada em !enu*na preocupaç(o pelos outros+ 8or"ue "uanto maise6pandimos nossa intenç(o e aç(o para 3untar os interesses os outros aosnossos, mais firmemente edificamos os fundamentos de nossa pr0priafelicidade+

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Di%er "ue a 'umildade ) um componente essencial de nossa .usca detransformaç(o pode parecer conflitante com o "ue falei a respeito danecessidade de auto4confiança+ ntretanto, assim como e6iste uma claradiferença entre a autoconfiança v-lida, no sentido de auto4estima, e a

 presunç(o 4 "ue podemos definir como uma e6a!erada noç(o deimport1ncia .aseada em uma ima!em falsa do pr0prio eu 4, tam.)m )essencial distin!uir entre a 'umildade !enu*na, "ue ) uma esp)cie demod)stia, e a falta de autoconfiança+ N(o s(o a mesma coisa, apesar emuitos confundirem uma com a outra+ / "ue talve% e6pli"ue em parte por "ue 'o3e em dia a 'umildade muitas ve%es se3a vista como uma fra"ue%a en(o como uma indicaç(o de força interior, particularmente na -rea dosne!0cios e da vida profissional+ A sociedade moderna certamente n(o

confere 'umildade a posiç(o de import1ncia "ue ela ocupava no 7i.et"uando eu era 3ovem+ Na"uela )poca, nossa cultura e o natural respeito 'umildade de nosso povo criaram uma atmosfera prop*cia em "ue essaVKfloresceu, en"uanto a am.iç(o R"ue se deve distin!uir da aspiraç(ointeiramente le!*tima de o.ter ê6ito em tarefas construtivas e .en)ficasera vista como uma caracter*stica "ue leva com facilidade a um modo de pensar e!ocêntrico+ No entanto, na vida contempor1nea, a 'umildade )mais importante do "ue nunca+ Xuanto mais .em4sucedidos formos emnosso desenvolvimento cient*fico e tecnol0!ico, n(o s0 como indiv*duosmas como uma fam*lia comum, tanto mais essencial ) preservar a'umildade+ 8ois o crescimento de nossas reali%ações temporais nos fa%mais vulner-veis ao or!ul'o e arro!1ncia+

Um m)todo efica% para desenvolver a autoconfiança e a 'umildadeverdadeiras ) refletir so.re o e6emplo da"ueles cu3a presunç(o os tornao.3eto de rid*culo para os outros+ 8odem n(o ter consciência de como parecem tolos, mas isso ) evidente para todo mundo+ N(o se trata a"ui de

 3ul!ar os outros, mas de e6aminar de perto as conse"Zências ne!ativasdesse estado emocional e mental "ue ) a presunç(o+ / mau e6emplo dosoutros nos estimula a "uerer evitar esse tipo de fra"ue%a+ De certa forma,estamos invertendo o princ*pio de n(o pre3udicar os outros se n(o"uisermos ser pre3udicados, al)m de estarmos utili%ando o fato de ser muito mais f-cil identificar os erros dos outros do "ue recon'ecer suas

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virtudes+ É tam.)m muito mais f-cil ac'ar defeitos nos outros do "ue emn0s mesmos+7alve% eu deva acrescentar "ue 'umildade n(o pode ser confundida comfalta de autoconfiança e tam.)m n(o tem nada a ver com o sentimento de

falta de valor pessoal+ N(o recon'ecer os pr0prios m)ritos ) sempreVKnocivo e pode levar a um estado de paralisia mental, emocional eespiritual+ So. tais circunst1ncias, a pessoa pode c'e!ar a se detestar+Xuero a"ui me deter para admitir "ue o conceito de 0dio de si mesmo pareceu4me incoerente "uando me foi primeiro e6plicado por psic0lo!osocidentais+ Aparentemente, contradi%ia o princ*pio de "ue nosso dese3ofundamental ) ser feli% e evitar o sofrimento+ \o3e consi!o compreender 

"ue, "uando al!u)m perde toda a noç(o de perspectiva, corre o peri!o deter 0dio por si mesmo+ Ainda assim, todos temos capacidade de empatia+7odos temos, portanto, potencial para adotar uma conduta saud-velmesmo "ue se3am apenas pensamentos positivos+ Ima!inar "ue n(o temosnen'um valor pessoal ) simplesmente incorreto+ /utra maneira de evitar essa diminuiç(o de perspectiva "ue pode levar a e6tremos como o 0dio por si mesmo e o desespero ) re!o%i3ar4se com a sorte dos outros, "ual"uer "ue se3a+ Como parte dessa pr-tica, ) .astante 5til aproveitarmos todas asoportunidades para mostrar nosso respeito pelos outros, at) mesmoanim-44los com elo!ios "uando for apropriado+ Se 'ouver risco de taiselo!ios serem rece.idos como .a3ulaç(o ou est*mulo presunç(o, ser-mel'or suspender sua e6press(o e apenas pensar positivamente so.re a pessoa+ "uando formos elo!iados, n(o devemos nos inc'ar de or!ul'o eimport1ncia e sim recon'ecer a !enerosidade do outro ao apreciar nossas .oas "ualidades+VK Xuando ferirmos os outros ou preterirmos seus o.3etivos emfavor de nossos pr0prios interesses e dese3os, provocando sentimentos

ne!ativos contra n0s, a forma de superar esses sentimentos ) e6pressar onosso arrependimento e pesar pelo acontecido+ / leitor n(o deve supor "ueeu este3a defendendo o sentimento de culpa de "ue falam muitos dos meusami!os ocidentais+ Ac'o "ue n(o temos uma palavra em ti.etano "ue possa tradu%ir $culpa $ com e6atid(o+ , por causa de suas fortesassociações culturais, n(o estou certo de ter compreendido o conceito em

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toda a sua e6tens(o+ Mas parece4me "ue, mesmo sendo natural e esperado"ue ten'amos sentimentos de desconforto com relaç(o aos nossos erros do passado, no caso do sentimento de culpa e6iste s ve%es um elemento deautocomplacência+ N(o '- sentido em remoer ansiosamente as m-s ações

"ue cometemos no passado a ponto de ficarmos paralisados+ st(oterminadas, aca.ou+ Se a pessoa acredita em Deus, o mel'or a fa%er ) procurar meios de se reconciliar com le+ No .udismo '- v-rios ritos e pr-ticas de purificaç(o+ Xuando a pessoa n(o tem crenças reli!iosas, por)m, o "ue precisa ) recon'ecer e aceitar "uais"uer sentimentosne!ativos com relaç(o ao acontecido e, atrav)s da refle6(o, arrepender se elamentar o "ue 'ouve+ Mas, em ve% de parar apenas no arrependimento, )importante utili%ar o fato como .ase para uma decis(o, para o s0lido

compromisso de empen'ar4se para 3amais ferir os outros e manter o dese3odeterminado de direcionar suas ações para o .enef*cio dos semel'antes+VKKHalar so.re nossos atos ne!ativos a uma pessoa a "uem respeitemos e em"uem confiemos pode ser de !rande a3uda nesses casos+ Acima de tudo,n(o devemos es"uecer "ue, en"uanto mantivermos a consideraç(o pelosoutros, nosso potencial de transformaç(o permanecer-+ staremos erradosse recon'ecermos apenas interiormente a !ravidade de nossas ações edepois, em ve% de enfrentarmos nossos sentimentos, desistirmos e n(ofi%ermos nada+ Isso e"uivaleria a aco.ertar o erro+

7emos um ditado no 7i.et "ue di% "ue praticar a virtude ) t(o dif*cil"uanto fa%er um .urro su.ir uma colina, en"uanto "ue se envolver em"ual"uer atividade destrutiva ) t(o f-cil "uanto fa%er rolar !randes pedrascolina a.ai6o+ 7am.)m se di% "ue os impulsos ne!ativos sur!em t(onaturalmente "uanto a c'uva e !an'am *mpeto como as !otas d-!ua "uecaem atra*das pela !ravidade+ / "ue piora as coisas ) a nossa tendência para nos entre!armos aos pensamentos e emoções ne!ativos mesmo

ac'ando "ue n(o dever*amos+ 7emos, portanto, de com.ater de imediatoessa tendência de dei6ar tudo para depois, de desperdiçar o tempo ematividades sem sentido, fu!indo do desafio de mudar nossos '-.itos so. aale!aç(o de "ue a tarefa ) !rande demais+ , em especial, n(o podemosdesanimar diante da ma!nitude do sofrimento al'eio+ As des!raças de

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mil'ões de pessoas n(o s(o motivo de pena+ S(o a oportunidade para sedesenvolver compai6(o, um sentimento "ue implica solidariedade+VKQ

8recisamos, al)m disso, recon'ecer "ue dei6ar de a!ir "uando uma

aç(o ) claramente indispens-vel pode tam.)m ser um ato ne!ativo+Xuando a inaç(o se deve raiva, perversidade ou inve3a, a causa )indiscutivelmente uma emoç(o aflitiva+ Isso vale n(o s0 para as situaçõesmais simples como para as mais comple6as+ Se o marido n(o avisa mul'er "ue o prato "ue ela vai pe!ar est- "uente, por"ue "uer "ue ela se"ueime, ) prov-vel "ue uma emoç(o aflitiva este3a presente+ Xuando, por)m, a inaç(o ) apenas resultado da indolência, talve% o estado mental eemocional do indiv*duo n(o se3a t(o !ravemente ne!ativo+ Mas as

conse"Zências ainda assim podem ser s)rias, em.ora a omiss(o se3a maiscausada pela falta de compai6(o do "ue por pensamentos ne!ativos+ 8or isso ) t(o importante com.ater com determinaç(o a nossa tendência'a.itual pre!uiça "uanto conter nossas reações s emoções aflitivas+

 N(o ) tarefa das mais f-ceis, e os "ue s(o reli!iosos devem entender "ue n(o e6iste .ênç(o nem iniciaç(o 4 "uem dera pud)ssemos rece.er 4ou "ual"uer f0rmula, mantra ou ritual m-!ico 4 "uem dera pud)ssemosdesco.rir 4 capa% de conse!uir transformar4nos instantaneamente+ Atransformaç(o ) al!o "ue vem pouco a pouco, 4 como um edif*cio "ue )constru*do ti3olo por ti3olo, ou, como se di% no 7i.et, como um oceano "uese forma !ota a !ota+ , ainda, como as emoções aflitivas nunca perdem ovi!or, ao contr-rio e nosso corpo "ue adoece, envel'ece e se des!asta,devemos levar em conta "ue lidar com elas ) tra.al'o para uma vidaVKinteira+ N(o estamos falando a"ui de mera a"uisiç(o de con'ecimento+ N(o se trata nem mesmo de desenvolver uma convicç(o "ue seriadecorrente desse con'ecimento+ stamos falando de ad"uirir uma

e6periência de virtude atrav)s de uma pr-tica e familiari%aç(o constantes,de modo "ue essa virtude se incorpore a n0s e se torne espont1nea+ Xuantomais desenvolvida for nossa consideraç(o pelo .em4estar dos outros, maisf-cil ser- a!ir em seu interesse+ Com o '-.ito, o esforço e6i!ido diminui+ aca.a se tornando uma se!unda nature%a+ Mas n(o e6istem atal'os, ) preciso percorrer todo o camin'o+

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Comprometer4se com atividades virtuosas ) um pouco como criar uma criança pe"uena+ \- uma !rande "uantidade de fatores envolvidos+ , principalmente no começo, precisamos ser prudentes e 'a.ilidosos emnossas tentativas para transformar nossos '-.itos e temperamentos+

7am.)m temos de ser realistas a respeito da"uilo "ue esperamosconse!uir+ Levou muito tempo para ficarmos do 3eito "ue somos e n(o semudam '-.itos do dia para a noite+ É .om ol'ar para cima medida "uese pro!ride, mas ) um en!ano 3ul!ar nosso comportamento utili%ando oideal como padr(o, assim como seria tolice avaliar o desempen'o de umfil'o no primeiro ano da universidade a partir dos crit)rios de umformando+ A formatura ) o ideal, mas n(o ) o padr(o+ 8or isso, ) muitomais efica%, em ve% de alternar .reves rompantes de esforço 'er0ico com

 per*odos de rela6amento, tra.al'ar com const1ncia, como um rio fluindoVKPem direç(o a um o.3etivo de transformaç(o+

Um m)todo muito 5til para nos dar alento nessa tarefa de toda umavida de transformaç(o ) adotar uma rotina di-ria "ue pode ser a3ustada deacordo com o nosso pro!resso+ É claro "ue, tal como no e6erc*cio davirtude de modo !eral, isso ) al!o "ue a pr-tica reli!iosa incentiva+ Masn(o '- nen'uma ra%(o para "ue os n(o4crentes dei6em de utili%ar al!umasdas id)ias e t)cnicas "ue serviram t(o .em 'umanidade no decorrer dosmilênios+ Ha%er da consideraç(o pelo .em4estar dos outros um '-.ito, e!astar al!uns minutos ao acordar pela man'( refletindo so.re aimport1ncia de condu%ir a pr0pria vida de uma forma eticamentedisciplinada, ), sem d5vida, uma .oa maneira de começar o dia, se3a "ualfor a nossa crença ou a ausência dela+ Assim como reservar al!um tempoao final de cada dia para avaliar como nos sa*mos ) uma disciplina "uecontri.ui .astante para estimular a nossa determinaç(o e evitar umcomportamento indul!ente+

Se essas su!estões parecem um tanto e6a!eradas para o leitor "uen(o est- procura do nirvana ou da salvaç(o, mas da simples felicidade'umana, vale lem.rar "ue o "ue nos tra% as maiores ale!rias e a maisintensa satisfaç(o na vida s(o as coisas "ue fa%emos por consideraç(o aosoutros+ podemos ir ainda mais lon!e+ 8ois as inda!ações fundamentaisda e6istência 'umana 4 tais como# por "ue estamos a"ui&, para onde

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vamos& e ser- "ue o universo teve um começo& 4 produ%iram respostasdiversas em diferentes tradições filos0ficas+ Mas ) indiscut*vel "ue umVK<coraç(o !eneroso e ações *nte!ras levam a uma pa% maior+ É i!ualmente

claro "ue seus opostos têm conse"Zências indese3-veis+ A felicidade prov)m de causas virtuosas+ Se a dese3amos de fato, n(o '- outra maneirade proceder a n(o ser atrav)s da virtude# ela ) o m)todo pelo "ual sealcança a felicidade+ podemos acrescentar "ue a .ase da virtude, o soloonde est(o suas ra*%es, ) a disciplina )tica+

VKCap*tulo

A É7ICA DA C/M8AI[J/

F- mencionamos anteriormente "ue todas as !randes reli!iões domundo salientam a import1ncia de se cultivar o amor e a compai6(o+ Natradiç(o filos0fica ] .udista isto se efetua em diferentes n*veis+ No plano .-sico, a compai6(o Rnyíng je ) compreendida principalmente comoempatia 4 nossa capacidade de participar e, de certa forma, partil'ar dosofrimento al'eio+ Mas os .udistas 4 e talve% outros ] acreditam "ue isso pode ser desenvolvido a um ponto em "ue n(o apenas nossa compai6(odesperta sem esforço nen'um, como passa a ser incondicional,indiscriminada e de alcance universal+ Horma4se um sentimento deintimidade com todos os seres sens*veis, inclusive com os "ue podem nosferir, comparado na literatura ao "ue a m(e e6perimenta por um fil'o5nico+

ntretanto, essa noç(o de e"uanimidade para com todos n(o ) vistacomo um fim em si mesma, mas como um trampolim para um amor aindamaior+ 8elo fato de nossa capacidade de empatia ser inata e por"ue a

capacidade de raciocinar tam.)m ) uma aptid(o inata, a compai6(o tem asmesmas caracter*sticas da pr0pria consciência+ / potencial "ue temos paradesenvolvê4la ) portanto est-vel e cont*nuo+ N(o ) um recurso "ue sees!ota, como a -!ua, "ue se consome "uando a fervemos+ , em.ora possaVKBser definida em termos de atividade, n(o ) i!ual a uma atividade f*sica

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 pass*vel de treinamento 4 como pular 4 "ue, "uando atin!imos um certoest-!io, n(o podemos mais ultrapass-4lo+ Ao contr-rio, "uandoestimulamos nossa sensi.ilidade para o sofrimento dos outros atrav)s deuma a.ertura pessoal deli.erada, acredita4se "ue se3amos capa%es de

ampliar !radualmente essa compai6(o+ la atin!e um ponto em "ue somost(o tocados pelo sofrimento al'eio, mesmo em sua forma mais sutil, "ue sedesenvolve em n0s uma irresist*vel noç(o de responsa.ilidade por todos ossemel'antes+ Isto fa% com "ue a pessoa compassiva se dedi"ueinteiramente a a3udar os outros a superarem tanto o sofrimento "uanto ascausas do sofrimento+ m ti.etano, esse plano mais elevado ) c'amado denying je chenmo, ou se3a, literalmente, $!rande compai6(o$+ N(o ) min'a intenç(o insinuar "ue todas as pessoas ten'am de atin!ir 

esses est-!ios avançados de desenvolvimento espiritual para levar umavida eticamente *nte!ra+ Descrevi o "ue ) nying je chenmo n(o por"ue se3aum pr)4re"uisito para a conduta )tica, mas por"ue acredito "ue apresentar a l0!ica da compai6(o em seu mais alto !rau pode servir como uma poderosa inspiraç(o+ Se conse!uirmos apenas manter como idealdesenvolver nying je chenmo, ou a !rande compai6(o, isso naturalmenteter- um impacto si!nificativo em nosso movimento interior+ Ser- umlem.rete constante contra o e!o*smo e a parcialidade e nos far- tomar consciência de "ue '- pouco a !an'ar "uando se ) .om e !eneroso apenasVQ para al!o em troca+ Xue as ações motivadas pelo dese3o de ad"uirir um .om nome, de formar uma ima!em favor-vel s(o tam.)m ações e!o*stas, por mais "ue pareça atos de .ondade+ Xue n(o '- nada de e6cepcional praticar a caridade para com os "ue nos s(o pr0 a3udando4nos a recon'ecer "ue nossa tendência para concentrar a atenç(o em nossa fam*lia e emami!os ), na verdade, um fator muito pouco confi-vel "ual .asear aconduta )tica+ Se reservamos a pr-tica uma conduta )tica para a"ueles de

"uem nos sentimos pr06imos, e6iste o risco de ne!li!enciarmos nossaresponsa.ilidades para com os "ue est(o fora desse c*rculo+ 8or "ue issoacontece& 8or"ue, en"uanto as pessoas de acordo com as nossase6pectativas, tudo vai .em+ Xuando dei6am de fa%ê4lo, al!u)m "ue um diasideramos um ami!o "uerido pode transformar4se no inimi!o+ Como 3-vimos, temos a tendência de rea!ia todos os "ue ameaçam a reali%aç(o de

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nossos mais caros dese3os, mesmo "ue a ameaça ven'a de al!u)m pr06imo+ 8or esse motivo, a compai6(o e o respeito m5tuo s(o uma .asemuito mais s0lida para nossos relacionamentos com os outros+ Isso vale para os relaciomentos amorosos+ Se nosso amor por al!u)m est-

!randemente .aseado na atraç(o, se3a por causa da aparência da pessoa ou por al!uma outra caracter*stica superficial, nossos sentimentos por elatendem a desaparecer com o tempo+ Xuando a pessoa perde a "ualidade"ue ac'amos atraente, ou "uando verificamos "ue a"uela "ualidade n(oVQmais nos satisfa%, a situaç(o pode mudar inteiramente, ainda "ue a pessoacontinue sendo a mesma+ É por isso "ue os relacionamentos .aseadose6clusivamente na atraç(o s(o "uase sempre inst-veis+ 8or outro lado,

"uando começamos a aperfeiçoar nosso sentimento de compai6(o, aaparência da pessoa ou o seu comportamento n(o afetam nosso sentimentointerior+

Consideremos, tam.)m, "ue 'a.itualmente nossos sentimentos pelosoutros dependem muito de sua situaç(o+ A maioria das pessoase6perimenta sentimentos de .ondade ou de solidariedade "uando se vêdiante de al!u)m "ue sofre de al!uma deficiência f*sica ou mental ou est-em situaç(o desvanta3osa+ Mas "uando encontra al!u)m em mel'or situaç(o financeira, ou "ue rece.eu uma educaç(o mais aprimorada, ou"ue ocupa uma situaç(o social mel'or, os sentimentos de inve3a oucompetitividade s(o imediatamente despertados+ /s sentimentos ne!ativosn(o nos dei6am en6er!ar "ue somos todos i!uais# afortunados ou n(o, pr06imos ou distantes, todos "ueremos ser feli%es e n(o sofrer+

A dificuldade est- ent(o em superar esses sentimentos de parcialidade+ É certo "ue desenvolver compai6(o !enu*na por a"ueles "ueamamos ) o ponto de partida mais 0.vio e apropriado+ / impacto denossas ações so.re os "ue nos est(o pr06imos ) em !eral muito maior do

"ue so.re os outros e, portanto, nossas responsa.ilidades para com eless(o maiores+ 7odavia, devemos recon'ecer "ue, em 5ltima an-lise, n(o seVQ 3ustifica dar preferência a eles, por"ue ficamos na mesma posiç(o de umm)dico diante de de% pacientes com a mesma doença !rave+ 7odosmerecem i!ualmente ser tratados+ 8or)m, o leitor n(o deve, supor "ue se

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defende a"ui um estado de imparcialidade indiferente+ / desafio se!uinte,"uando começamos a estender nossa compai6(o a todos os outros, )manter por estes o mesmo !rau de pro6imidade "ue sentimos pelo "ueest(o mais li!ados a n0s+ /u se3a, o "ue est- sendo su!erido ) uma

a.orda!em e"uitativa, imparcial, um terreno uniforme onde possamos plantar a semente de nyin je chenmo, do !rande amor e compai6(o+

Xuando o nosso relacionamento com os outros est- .aseado nessae"uanimidade, nossa compai6(o +n(o depender- mais do fato de a"uela pessoa ser o marido ou a mul'er, o parente ou +o ami!o+ Desenvolvemosum sentimento de pro6imidade com relaç(o a todas as outras pessoas aorecon'ecermos "ue, como n0s, todas têm o mesmo anseio .-sico defelicidade e pa%+ m outras palavras, começamos a nos relacionar com os

outros levando em conta sua nature%a sens*vel fundamental+ Mais umave%, isso pode ser encarado como um ideal, um ideal imensamente dif*cilde atin!ir+ Mas, a meu ver, profundamente inspirador e de !rande au6*lio+/ pr0prio movimento em sua direç(o, com todos os avanços e recuos, )importante+

Consideremos a!ora o papel do amor compassivo e da .ondade emnossa vida di-ria+ Ser- "ue o ideal de desenvolvê4los para "ue se3amincondicionais si!nifica "ue devemos a.andonar inteiramente nossosVQK pr0prios interesses& De modo al!um+ Na verdade, esta ) a mel'or maneirade servir aos nossos interesses, a maneira mais sensata+ 8ois se ) verdade"ue "ualidades como o amor, a paciência, a toler1ncia e a capacidade de perd(o s(o o "ue constitui a felicidade, e se tam.)m ) verdade "ue nying 

 je, ou compai6(o, de acordo com a definiç(o "ue apresentei, ) ao mesmotempo a fonte e o fruto dessas "ualidades, dedu%4se "ue "uanto maiscompai6(o tivermos mais estaremos promovendo a nossa pr0priafelicidade+ 8or isso mesmo, a id)ia de "ue a consideraç(o pelos outros,

apesar de ser uma "ualidade no.re, deve se restrin!ir apenas nossa vida privada ) uma vis(o estreita da "uest(o+ A compai6(o ) aplic-vel a todaesfera de atividade, inclusive ao am.iente de tra.al'o+Xuanto a esse ponto, entretanto, devo assinalar a e6istência da opini(o,aparentemente partil'ada por muitos, de "ue a compai6(o ) irrelevante navida profissional "uando n(o constitui de fato um o.st-culo+

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8essoalmente, "uero afirmar "ue n(o s0 a considero relevante comoacredito "ue as nossas atividades correm o peri!o de se tornaremdestrutivas "uando n(o e6iste compai6(o+ Xuando i!noramos o impacto denossas ações so.re o .em4estar dos outros, inevitavelmente os ferimos+ A

)tica da compai6(o proporciona os fundamentos e a motivaç(o necess-riostanto para o controle dos impulsos ne!ativos "uanto para o cultivo davirtude+ A valori%aç(o !enu*na da compai6(o acarreta automaticamenteuma nova maneira de ver o outro e de a!ir+ Isto ) fundamental naVQQconduç(o de nossa vida profissional, tanto para afastarmos as tentaçõesveladas "ue se apresentam a cada dia, capa%es de en!anar e pre3udicar outras pessoas, "uanto para evitar "ue o fruto do nosso tra.al'o ten'a

aplicações eticamente impr0prias+ Como um cientista "ue, ao constatar "ue o resultado de suas pes"uisas pode vir a ser uma fonte de sofrimento,a.andona o pro3eto, a.rindo m(o do lucro "ue poderia auferir+

É ine!-vel "ue sur!em pro.lemas "uando nos dedicamos ao ideal dacompai6(o+ A atitude do cientista "ue a.andona sua pes"uisa provavelmente teria !raves conse"Zências para a sua vida profissional edom)stica+ Da mesma forma, a"ueles cu3a profiss(o ) tratar dos outros4como os m)dicos, terapeutas, assistentes sociais 4 e os "ue em casadedicam toda a vida a cuidar de al!u)m ficam s ve%es t(o e6auridos por seus deveres, "ue se sentem prostrados+ A e6posiç(o constante aosofrimento, com.inada ocasionalmente com a sensaç(o de n(o ter seuesforço ou valor recon'ecido, pode provocar sentimentos de impotência eat) de desespero+ /u levar as pessoas a desempen'arem tarefasindiscutivelmente !enerosas de maneira indiferente, sem pensar, apenascomo rotina+ / "ue, sem d5vida, ) mel'or do "ue nada+ Mas pode levar insensi.ilidade diante do sofrimento dos outros+ Xuando isso tudo começaa acontecer, o mel'or ) afastar4se por al!um tempo e fa%er um esforço

deli.erado para reavivar essa sensi.ilidade+ Nesses momentos ) sempre .om lem.rar "ue o desespero nunca ) a soluç(o+ 8elo contr-rio, ) oVQfracasso final+ 8ortanto, como di% o ditado ti.etano, mesmo "ue a corda serompa nove ve%es, precisamos emend-4la uma d)cima ve%+ Assim, sefracassarmos, sa.eremos "ue es!otamos todos os recursos e n(o teremos

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do "ue nos arrepender+ "uando, al)m dessa percepç(o, tomarmosconsciência do nosso potencial para .eneficiar os outros veremos "ue ) poss*vel recuperar a esperança e a confiança+

Al!umas pessoas podem o.3etar ale!ando "ue participar da dor dos

outros ) tra%er sofrimento para si pr0prio+ De certa forma, isso ) verdade+Mas '- uma importante distinç(o "ualitativa a ser feita entre e6perimentar seu pr0prio sofrimento e sofrer ao partil'ar o sofrimento al'eio+ No casodo pr0prio sofrimento, por este ser involunt-rio, '- uma sensaç(o deopress(o# ele parece vir de fora de n0s+ m contraposiç(o, partil'ar osofrimento de outros envolve um movimento volunt-rio "ue demonstrauma força interior+ 8or essa ra%(o, a pertur.aç(o "ue pode causar temmuito menos pro.a.ilidade de paralisar4nos do "ue nosso pr0prio

sofrimento+u n(o ten'o d5vida de "ue, apesar de se tratar de um ideal, a id)iade desenvolver um sentimento incondicional de compai6(o ) al!oassustador+ A maioria das pessoas, eu inclusive, precisa lutar at) mesmo para c'e!ar a colocar os interesses dos outros lado a lado com os seus+Mas n(o devemos dei6ar "ue isso nos desanime+ 8or"ue, se por um ladosa.emos das dificuldades e o.st-culos para desenvolver um sentimento decompai6(o !enu*no, '- tam.)m o intenso consolo de estarmos criandoVQPcondições para a nossa pr0pria felicidade+ Como mencione anteriormente,"uanto mais dese3amos verdadeiramente fa%er .em aos outros, maior aforça e a confiança "ue ad"uirimos e maior a pa% e a serenidade "uee6perimentamos+ Se isto ainda parece improv-vel, vale a pena per!untar se e6istiria /utra maneira de a!ir+ Atrav)s da violência da a!ress(o& Claro"ue n(o+ Com din'eiro& 7alve%, mas talve% s0 at) certo ponto+ CertamenteCom amor, partil'ando o sofrimento dos outros, identificando4nosclaramente com todos, especialmente com os "ue est(o em condições

desfavor-veis e com a"ueles cu3os direitos n(o s(o respeitados, a3udando44os a ser feli%es+ Atrav)s do amor, da .ondade e da compai6(oesta.elecemos a compreens(o s(o entre os outros e n0s+ É assim "ue seconstr0i a unidade e a 'armonia+

A compai6(o e o amor n(o s(o arti!os de lu6o+ Como ori!em da pa%interior e e6terior, s(o fundamentais para a so.revivência de nossa esp)cie+

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8or um lado, s(o a n(o4violência em aç(o+ 8or outro, s(o a fonte de todasas "ualidades espirituais# a capacidade de perd(o, a toler1ncia e todas asdemais virtudes+ Al)m disso, s(o o "ue de fato d- sentido s nossasatividades e as torna construtivas+ N(o '- nada de e6traordin-rio em ter 

rece.ido uma educaç(o primorosa e n(o '- nada de e6traordin-rio em ser rico+ É s0 "uando a pessoa tem um coraç(o .ondoso e compassivo "ueesses atri.utos passam a ter valor+

nt(o, para a"ueles "ue disserem "ue o Dalai Lama n(o est- sendoVQ<realista ao defender esse ideal de amor incondicional, insisto para "uemesmo assim o e6perimentem+ :(o desco.rir "ue o coraç(o se enc'e deforça "uando se conse!ue ultrapassar os limites do interesse pessoal

e!o*sta+ A pa% e a ale!ria tornam4se compan'eiras constante 9ompem4se .arreiras de todos os tipos e, no final, desaparece a noç(o do interesse pr0prio independente do interesse al'eio+ No "ue se refere )tica,contudo, o mais importante ) "ue, onde o amor pelo pr06imo, a afeiç(o, .ondade e a compai6(o est(o vivos, verificamos "ue conduta )tica )espont1nea+ A pr-tica de ações eticamente *nte!ras ) natural onde '-compai6(o+

VQÉ7ICA S/H9IMN7/

F- falei a"ui "ue todos dese3amos a felicidade+ Xue a felicidade!enu*na ) caracteri%ada pela pa%, e "ue esta ) mais se!uramentecon"uistada "uando nossas ações s(o motivadas pela consideraç(o pelossemel'antes+ Xue esta consideraç(o, por sua ve%, implica disciplina )tica elidar de maneira positiva com as emoções aflitivas+ 7am.)m disse "ue, emnossa .usca de felicidade, ) 3usto e natural "ue procuremos evitar o

sofrimento+ :amos a!ora e6aminar essa "ualidade, ou estado, de "uedese3amos t(o intensamente nos li.ertar, mas "ue est- situada no pr0prio1ma!o de nossa e6istência+

Dor e sofrimento s(o fatos inalien-veis da vida+ / ser sens*vel, comocostumo definir, ) o "ue tem capacidade para e6perimentar dor esofrimento+ 8oder*amos tam.)m di%er "ue ) nossa e6periência de

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sofrimento "ue nos une a nossos semel'antes+ É a .ase de nossacapacidade para a empatia+ ntretanto, al)m disso, podemos o.servar "ueo sofrimento est- dividido em duas cate!orias "ue se relacionam+ 6istemas formas evit-veis, "ue sur!em em conse"Zência de fen2menos como

!uerras, po.re%a, violência, crime e at) coisas como o analfa.etismo ecertas doenças+ e6istem as formas inevit-veis "ue incluem os pro.lemasVQBrelacionados a doenças em4 !eral, vel'ice 4 "uando ) vivida de forma penosa 4 e morte+ At) a"ui, temos falado principalmente de lidar com asformas de sofrimento evit-veis, criadas pelo 'omem+ A!ora, !ostaria deol'ar mais de perto a"uelas "ue s(o inevit-veis+

/s pro.lemas e dificuldades "ue enfrentamos na vida n(o s(o todos

como os desastres naturais+ N(o podemos prote!er4nos deles por meioapenas das precauções ade"uadas, como estocar comida+ No caso dasdoenças, por e6emplo, mesmo mantendo .oa forma e uma dietacuidadosa, nosso corpo de ve% em "uando passa por pro.lemas f*sicos+Xuando isso acontece, o impacto so.re nossas vidas pode ser muito s)rio,su.vertendo e pertur.ando a nossa rotina+ , em situações mais !raves,ainda se tem de suportar dias e noites se!uidos de dor e desconforto, "ues ve%es fa%em a possi.ilidade da morte parecer um al*vio+

 No "ue se refere ao envel'ecimento, desde o dia em "ue nascemostemos diante de n0s a 8erspectiva de envel'ecer e perder o viço da 3uventude+ Com o passar do tempo, nosso 4 ca.elo cai, os dentes seenfra"uecem, a vis(o e a audiç(o se deterioram+ N(o di!erimos mais t(o .em nossos alimentos preferidos+ Aca.amos desco.rindo "ue n(o noslem.ramos direito de acontecimentos "ue antes eram t(o v*vidos em nossamem0ria, e s ve%es at) dos nomes da"ueles "ue est(o mais pr06imos den0s+ Se nossa vida se prolon!a muito, podemos atin!ir um estado dedecrepitude capa% de causar avers(o em "uem ol'a para n0s, em.ora se3a

esse precisamente o tempo em "ue mais precisamos de outras pessoas+V

nt(o vem a morte 4 um assunto "ue parece ser "uase um ta.u nasociedade moderna+ Mesmo "ue a encaremos como um al*vio e n(o nosimportemos com o "ue vem depois, a morte si!nifica a separaç(o da"ueles

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"ue amamos, o a.andono de nossos .ens materiais mais preciosos, emsuma, de tudo a"uilo "ue nos ) mais caro+

A essa .reve enumeraç(o dos sofrimentos inevit-veis precisamos,todavia, acrescentar uma outra cate!oria# a do sofrimento decorrente do

encontro com o indese3-vel ] as adversidades e os acidentes+ \- osofrimento de nos tirarem o "ue amamos 4 como n0s, os refu!iados, "ue perdemos nossos pa*ses, muitos sendo separados força de seus entes"ueridos+ \- o sofrimento causado por n(o o.termos o "ue dese3amos,mesmo tendo investido !rande esforço para isso# perder a col'eita depoisde es!otar4se tra.al'ando no campoO ver um pro3eto fracassar, apesar deter tra.al'ado nele dia e noite+ Ainda '- o sofrimento da incerte%a, denunca sa.ermos "uando e onde vamos encontrar a adversidade+ 8or 

e6periência pr0pria, todos sa.emos como isso pode !erar inse!urança eansiedade+ , solapando tudo o "ue fa%emos, '- o sofrimento dainsatisfaç(o, "ue sur!e at) "uando conse!uimos a"uilo por "ue lutamos+7odas essas coisas s(o parte da nossa e6periência di-ria como seres'umanos "ue dese3am ser feli%es e n(o sofrer+

, como se n(o .astasse, e6istem e6periências "ue costumamosac'ar "ue s(o a!rad-veis e aca.am se revelando uma fonte de sofrimento+8arecem ser !ratificantes, mas de fato n(o o s(o, um fen2meno "ue 3-e6aminamos "uando falamos so.re a felicidade+ ssas e6periências nosVd(o uma sensaç(o de pra%er "uando contra.alançam um sofrimento maise6pl*cito, como, por e6emplo, "uando comemos para saciar a fome+n!olimos uma porç(o, duas, três, "uatro, cinco ve%es, e !ostamos dae6periência+ Mas lo!o, apesar de ser a mesma pessoa e a mesma comida,começamos a n(o ac'ar tanta !raça em comer+ Se n(o pararmos, a"uilonos far- mal, assim como praticamente todo pra%er mundano nos fa% mal"uando levado ao e6tremo+

7odas essas manifestações de sofrimento s(o essencialmenteinevit-veis e constituem fatos naturais da e6istência+ / "ue n(o "uer di%er "ue nada se possa fa%er a respeito+ /u "ue esses fatos n(o este3amenvolvidos na "uest(o da disciplina )tica+ É verdade "ue, de acordo com o .udismo e outras filosofias reli!iosas indianas, o sofrimento ) visto comouma conse"Zência do karma+ É totalmente errado supor, por)m, como

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fa%em muitos, tanto ocidentais "uanto orientais, "ue isso si!nifica "uetudo o "ue vivemos ) predeterminado+ Muito menos pode servir dedesculpa para al!u)m se e6imir de suas responsa.ilidades, se3a "ual for asituaç(o em "ue se encontrar+

F- "ue o termo karma parece ter entrado no voca.ul-rio cotidiano,talve% val'a a pena esclarecer um pouco o conceito+ Karma ) uma palavras1nscrita "ue si!nifica $aç(o$+ Desi!na uma força ativa, si!nificando "ue oresultado dos acontecimentos futuros pode ser influenciado por nossasações+ Supor "ue karma  ) uma esp)cie de ener!ia independente "ue predestina o curso de toda a nossa vida ) incorreto+ Xuem cria o karma& N0s mesmo "ue pensamos, di%emos, fa%emos, dese3amos e omitimos criaV

o karma+ b medida "ue escrevo, por e6emplo, a pr0pria aç(o cria novascircunst1ncias e causa al!um outro acontecimento+ Min'as palavrascausam uma reaç(o na mente do leitor+ m tudo o "ue fa%emos e6istecausa e efeito, sempre causa e efeito+ m nossa vida di-ria, a comida "uein!erimos, o tra.al'o "ue reali%amos e o nosso descanso, tudo ) a funç(oda aç(o# nossa aç(o+ Isso ) o karma+ N(o podemos, portanto, sacudir osom.ros sempre "ue nos defrontarmos com o sofrimento inevit-vel+ Di%er "ue todo infort5nio ) mero resultado do karma e"uivale a di%er "ue somostotalmente impotentes diante da vida+ Se isso fosse verdade, n(o 'averiamotivo para se ter "ual"uer esperança+ / mel'or seria re%ar pelo fim domundo+

Uma avaliaç(o apropriada de causa e efeito indica "ue lon!e desermos impotentes, '- muito o "ue fa%er para alterar nossa e6periência desofrimento+ A vel'ice, as doenças e a morte s(o inevit-veis+ No entanto,como no caso do sofrimento causado por emoções e pensamentosne!ativos, podemos escol'er a forma de rea!ir+ Gasta o.servar em tornode n0s# podemos tratar da situaç(o de maneira mais desapai6onada e

racional e assim disciplinar nossa reaç(o ao sofrimento+ /u podemosapenas c'oramin!ar so.re nossos infort5nios+ ficar frustrados+ dei6ar "ue as emoções aflitivas destruam nossa pa% de esp*rito+ Se n(o refrearmosnossa tendência a rea!ir ne!ativamente ao sofrimento, este se transformanuma fonte de emoções e pensamentos ne!ativos+ Isto nos fa% concluir "ueVK

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'- uma relaç(o evidente entre o impacto "ue o sofrimento e6erce so.renosso coraç(o e nossa mente e a nossa disciplina interior+

 Nossa atitude fundamental diante do sofrimento fa% uma !randediferença na maneira como o e6perimentamos+ Ima!inem, por e6emplo,

duas pessoas sofrendo de uma forma idêntica de c1ncer terminal+ A 5nicadiferença entre esses dois pacientes ) a maneira como cada um delesencara a situaç(o+ Um ac'a "ue deve aceit-4la e, se poss*vel, transform-4lanuma oportunidade para desenvolver a força interior+ / outro rea!e scircunst1ncias com medo, amar!ura e ansiedade a respeito do futuro+m.ora o sofrimento f*sico se3a o mesmo, '- uma diferença profunda nae6periência dessas duas pessoas# no caso da 5ltima, em acr)scimo aosofrimento f*sico, e6iste a dor do sofrimento interior+

Isso mostra "ue o !rau em "ue somos afetados pelo sofrimentodepende em !rande parte de n0s mesmos e "ue ) essencial manter uma perspectiva correta de nossa e6periência de sofrimento+ Xuando ol'amosum pro.lema muito de perto, ele enc'e todo o nosso campo de vis(o e parece enorme+ b dist1ncia, o mesmo pro.lema ) comparado a outrascoisas e fica relativi%ado+ sse recurso simples fa% uma tremendadiferença+ 8ermite4nos verificar "ue, em.ora uma determinada situaç(o possa ser verdadeiramente tr-!ica, at) o mais infeli% dos acontecimentostem inumer-veis aspectos e pode ser a.ordado de muitos 1n!ulosdiferentes+ Na realidade, ) muito raro, se n(o imposs*vel, encontrar umasituaç(o "ue se3a totalmente ne!ativa em todos os seus aspectos+VQ

Xuando a tra!)dia ou o infort5nio cru%am o nosso camin'o, podea3udar .astante fa%er uma comparaç(o com outro acontecimento, ourelem.rar uma situaç(o semel'ante ou pior "ue ten'a ocorrido conosco oucom outros antes de n0s+ Se conse!uirmos realmente desviar o foco deatenç(o de n0s mesmos para os outros, o efeito ) uma sensaç(o

li.ertadora+ 6iste al!uma coisa na din1mica da preocupaç(o e6cessivaconsi!o mesmo "ue tende a ampliar nosso sofrimento+ Inversamente,"uando o relacionamos com o sofrimento al'eio, ele passa a ser maissuport-vel+ , na medida do poss*vel, torna4se mais f-cil manter a pa% deesp*rito do "ue se nos concentrarmos em nossos pro.lemas e6cluindo tudoo mais+

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 No "ue di% respeito min'a pr0pria e6periência, verifico "ue, por e6emplo, "uando rece.o m-s not*cias do 7i.et 4 e, lamento di%er, issoacontece com .astante fre"Zência 4, naturalmente min'a reaç(o imediata )de !rande triste%a+ ntretanto, "uando situo o assunto em um conte6to e

di!o a mim mesmo "ue a tendência 'umana fundamental para a afeiç(o,li.erdade, verdade e 3ustiça dever- aca.ar prevalecendo, ve3o "ue metorno mais capa% de tolerar tudo ra%oavelmente .em+ Mesmo depois deouvir as piores not*cias, ) raro sur!irem sentimentos de raiva impotente,"ue s0 servem para envenenar a mente, amar!urar o coraç(o e enfra"uecer a vontade+

:ale a pena tam.)m lem.rar "ue ) "uando enfrentamos as maioresdificuldades "ue temos mais oportunidade de crescer em termos de

sa.edoria e força interior+ Com a a.orda!em certa 4 e a"ui vemos maisVuma ve% a import1ncia de desenvolver uma atitude positiva 4, ae6periência do sofrimento pode a.rir nossos ol'os para a realidade+ Min'a pr0pria e6periência de vida como refu!iado a3udou4me a perce.er o"uanto o infind-vel protocolo uma parte t(o importante de min'a vida no7i.et, era desnecess-rio+ Constatamos tam.)m "ue nossa autoconfiança ese!urança podem desenvolver4se e nossa cora!em ser fortalecida comoconse"Zência do sofrimento+ Gasta ol'ar o mundo nossa volta+ m nossacomunidade de refu!iados e6istem al!uns so.reviventes de nossos primeiros anos de e6*lio "ue, apesar de terem sofrido de forma terr*vel,est(o entre as pessoas mais fortes espiritualmente, mais ale!res edespreocupadas "ue 3- tive o privil)!io de con'ecer+ Inversamente,e6istem pessoas "ue têm tudo e, diante de contratempos relativamenteinsi!nificantes, perdem as esperanças e o 1nimo+ É uma tendência naturalda ri"ue%a estra!ar4nos+ / resultado ) "ue fica pro!ressivamente maisdif*cil suportar os pro.lemas "ue todo ser 'umano enfrenta de tempos em

tempos+:amos a!ora e6aminar "uais s(o as opções "ue se oferecem "uando

de fato nos defrontamos com um determinado pro.lema+ 8odemos dei6ar "ue ele nos domine+ 8odemos sair para um passeio ou tirar f)rias ei!nor-44lo+ A erceira possi.ilidade ) enfrentar a situaç(o imediatamente, o

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"ue envolve e6amin-4la, analis-4la, determinar suas causas e desco.rir como lidar com ela+

ssa terceira opç(o pode aumentar nosso sofrimento a curto pra%o,VP

mas ) claramente prefer*vel s outras duas+ Se tentarmos evitar ou ne!ar um determinado pro.lema simplesmente i!norando4o, .e.endo, usandodro!as, at) mesmo utili%ando al!umas formas de meditaç(o ou oraç(ocomo .usca de um al*vio imediato, o pro.lema permanecer-+ Xual"uer dessas a.orda!ens ) uma forma de se es"uivar, n(o de resolver+ , umave% mais, al)m do pro.lema, 'aver- o desassosse!o mental e emocional+As aflições da ansiedade, do medo e da d5vida se acumular(o+ podemlevar raiva e ao desespero, Com todo o potencial para causar sofrimento

pr0pria pessoa e aos outros+Ima!inem a des!raça de levar um tiro no est2ma!o+ A dor )lancinante+ / "ue se deve fa%er& claro "ue ) preciso remover a .alasu.metendo4se a uma cirur!ia, o "ue ) mais um trauma+ 8or)m, oaceitamos para superar o pro.lema inicial+ Da mesma forma, '- situaçõesem "ue se toma necess-rio perder um 0r!(o ou um mem.ro para ter a vidasalva+ De novo, aceitamos essa forma menor de sofrimento "ue nos poupar- do !rande sofrimento da morte+ É apenas "uest(o de .om sensosu.meter4se voluntariamente a uma provaç(o para evitar um mal pior,apesar de nem sempre ser uma decis(o f-cil+ Xuando eu tin'a seis ou seteanos, vacinaram4me Contra a var*ola+ Se eu sou.esse antes como seriadoloroso, duvido "ue al!u)m pudesse convencer4me de "ue a vacina eraum sofrimento menor do "ue a doença+ Senti dor durante de% dias e aindaten'o "uatro !randes cicatri%es como resultado $

Se a perspectiva de ol'ar de frente o sofrimento parece s ve%esV<atemori%ante, ) .om lem.rar "ue nen'uma das coisas "ue costumamos

e6perimentar ) permanente+ 7odos os fen2menos est(o su3eitos a mudançae a decl*nio+ Al)m disso, como 3- disse antes "uando falei da realidade,n0s nos en!anaremos sempre "ue ac'armos "ue nossa e6periência desofrimento 4 ou de felicidade 4 pode ser atri.u* da a uma 5nica fonte+ Deacordo com a teoria da ori!em dependente, todas as coisas acontecemdentro de um conte6to de inumer-veis causas e condições+ Se isso n(o

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fosse verdadeiro, ficar*amos feli%es sempre "ue entr-ssemos em contatocom al!o "ue consideramos .om e automaticamente tristes "uando nosdepar-ssemos com al!o "ue consideramos mau+ As causas da ale!ria e dador seriam f-ceis de identificar e a vida seria muito simples+ 7er*amos sem

 pre .ons motivos para nos ape!ar a um tipo de pessoa ou coisa ea.orrecer4nos com outras ou "uerer evit-4las+ Mas isso n(o ) a realidade+

8essoalmente, considero e6tremamente valioso o consel'o a respeitode sofrimento "ue o !rande estudioso e santo indiano S'antideva nos deu+É essencial, disse ele, "uando se enfrentam dificuldades de "ual"uer esp)cie, n(o se dei6ar paralisar+ Xuando isso acontece, corremos o risco dese totalmente esma!ados por elas+ m ve% disso, utili%ando nossasfaculdades cr*ticas, devemos e6aminar a nature%a do pro.lema em si+ Se

desco.rimos "ue e6iste a possi.ilidade de resolvê4la por al!um meio, aansiedade ) desnecess-ria+ A atitude racional deve ser ent(o dedicar toda aener!ia para .uscar esse meio e em se!uida a!ir+ Se, ao contr-rio,verificamos "ue a nature%a do pro.lema n(o admite soluç(o, n(o '- por "ue se preocupar a respeito+ Se nada pode mudar a situaç(o, preocupar4ses0 piora as coisas+ A a.orda!em de S'antideva pode parecer um tantosimplista fora do conte6to da "uest(o filos0fica em "ue aparece como ponto alto de uma comple6a s)rie de refle6ões+ Mas sua verdadeira .ele%aest- nessa mesma simplicidade+ nin!u)m contestaria seu a.soluto .omsenso+

Xuanto possi.ilidade de o sofrimento ter realmente al!um prop0sito, n(o vamos falar disso a"ui+ Mas .asta pensar "ue, se a nossae6periência de sofrimento nos a3uda a compreender a e6periência desofrimento al'eio, ele serve como um poderoso est*mulo para se praticar acompai6(o e evitar causar dor aos outros+ , medida "ue o sofrimentodesperta nossa empatia e nos une aos outros, ele pode servir como .ase para a compai6(o e o amor+ Isso me fa% lem.rar o e6emplo de um !rande

estudioso e reli!ioso ti.etano "ue passou mais de vinte anos na pris(osuportando um tratamento dos mais terr*veis, sendo at) torturado, depoisda invas(o de nosso pa*s+ Na"uela )poca, al!uns dos seus alunos "uetin'am escapado para o e6*lio Costumavam contar4me "ue as cartasescritas por ele e levadas clandestinamente para fora da pris(o contin'amos mais profundos ensinamentos so.re amor e compai6(o "ue 3- tin'am

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visto+ /s acontecimentos infeli%es, apesar de serem potencialmente umafonte de raiva e desespero, podem da mesma forma transformar4se emfonte de crescimento espiritual+ / resultado vai depender de nossa formade rea!ir+

VCap*tulo

A NCSSIAD DDISC9NIMN7/

m nosso estudo a respeito de )tica e desenvolvimento espiritual,

falamos muito so.re a necessidade de disciplina+ Isso pode parecer umtanto anti"uado, at) implaus*vel, em uma )poca e uma cultura "ueenfati%am tanto a !ratificaç(o pessoal+ Creio, por)m, "ue a ima!emne!ativa "ue se tem de disciplina deve4se so.retudo forma como a palavra ) em !eral compreendida+ As pessoas tendem a associar adisciplina a al!uma coisa "ue l'es ) imposta contra a vontade+ 8or isso"uero repetir "ue a disciplina )tica de "ue falamos a"ui ) al!o "ue se adotavoluntariamente, levando em conta o pleno recon'ecimento de seus .enef*cios+ ste conceito n(o ) nada fora do comum+ Nin!u)m 'esita emaceitar a disciplina "uando se trata da sa5de f*sica+ Xuando os m)dicosrecomendam uma adieta, evitamos alimentos "ue nos fa%em mal ] mesmo"uando s(o os nossos favoritos 4 e comemos os "ue nos fa%em .em+ apesar de ser verdade "ue a autodisciplina em seu est-!io inicial, mesmo"uando adotada voluntariamente, pode envolver privações e at) umesforço e6pressivo, com o tempo isso diminui atrav)s da aplicaç(odili!ente e dos .enef*cios "ue começam a ser perce.idos+ É mais ouVP

menos como desviar o curso de um rio+ 8rimeiro, ) preciso cavar paraa.rir o canal e construir as ri.anceiras+ Depois, "uando a -!ua ) li.erada,fa%er a3ustes a"ui e ali+ Xuando o curso do rio est- inteiramenteesta.elecido, por)m, a -!ua flui na direç(o dese3ada+

A disciplina )tica ) indispens-vel por"ue ) o recurso mediador nadisputa entre as e6i!ências do nosso direito felicidade e o direito dos

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outros+ Naturalmente, '- sempre os "ue d(o tanta import1ncia pr0priafelicidade "ue n(o fa%em caso da dor al'eia+ Mas isso ) ter uma vis(oestreita+ Se o leitor aceita min'a definiç(o de felicidade, concorda "uenin!u)m se .eneficia verdadeiramente ao pre3udicar os outros+ Xual"uer 

vanta!em imediata "ue se o.ten'a s custas de al!u)m ) forçosamentetempor-ria+ A lon!o pra%o, pre3udicar os outros e pertur.ar sua pa% efelicidade !eram ansiedade+ 8elo fato de nossas ações e6ercerem umdeterminado impacto tanto em n0s mesmos "uanto nos outros, a falta dedisciplina aca.a produ%indo sensações de ansiedade e in"uietaç(o "ue seinsinuam aos poucos no fundo de nossa mente+ m contraposiç(o,"ual"uer "ue se3a o esforço e6i!ido, disciplinar nossa reaç(o aos pensamentos e emoções ne!ativos nos causa menos pro.lemas a lon!o

 pra%o do "ue dar va%(o ao e!o*smo+:ale a pena reafirmar "ue a disciplina )tica envolve mais do "ue apenascontenç(o+ nvolve tam.)m cultivar a virtude, as "ualidades essenciais aum car-ter *nte!ro+ Xuando essas "ualidades est(o presentes em nossaVPvida, tudo o "ue fa%emos se transforma em um instrumento "ue .eneficiatoda a fam*lia 'umana+ Mesmo em termos de nossas ocupações di-rias4se3a cuidando dos fil'os em casa, tra.al'ando em uma f-.rica ouservindo comunidade como m)dico, advo!ado, 'omem ou mul'er dene!0cios, professor 4, nossas ações contri.uem para o .em4estar de todos+ como ) a disciplina )tica "ue torna dispon*veis as "ualidades "ue d(osentido e valor nossa e6istência, n(o '- d5vida de "ue ) al!o "ue se deveadotar com entusiasmo e esforço consciente+

Antes de falar so.re como devemos aplicar essa disciplina interior nossa interaç(o com os outros, talve% se3a interessante rever as premissas para definir a conduta )tica no "ue se refere a n(o pre3udicar+ Como 3-vimos, em funç(o da nature%a comple6a da realidade, ) muito dif*cil di%er 

"ue um determinado ato ou tipo de aç(o ) certo ou errado+ A conduta )tican(o ), portanto, al!o "ue adotamos por"ue ) correta, mas por"uerecon'ecemos "ue os outros, tal como n0s, dese3am ser feli%es e n(osofrer+ 8or essa ra%(o, ) dif*cil conce.er um sistema )tico si!nificativo "uen(o este3a li!ado nossa e6periência de sofrimento e de felicidade+

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É claro "ue se "uisermos entrar no campo da metaf*sica e começar afa%er per!untas comple6as, o discurso )tico pode tornar4se e6tremamentecomplicado+ Mas como a pr-tica da )tica n(o pode ser redu%ida a um meroe6erc*cio de l0!ica ou simples o.ediência s re!ras, aca.amos voltando

s "uestões fundamentais da felicidade e do sofrimento+VP

8or "ue a felicidade ) .oa e o sofrimento ) mau para n0s& 7alve% n(o'a3a uma resposta conclusiva+ Mas sa.emos "ue ) da nossa nature%a preferir a felicidade ao sofrimento, assim como ) natural preferir o mel'or ao "ue ) apenas .om+ Aspiramos felicidade, n(o "ueremos o sofrimento,) s0+ Se "uis)ssemos ir mais lon!e e per!untar por "ue, certamente aresposta teria de ser al!o como $) assim "ue s(o as coisas$ ou, para os

de*stas, $Deus nos fe% assim$+ No "ue se refere ao car-ter )tico de uma determinada aç(o, 3- vimoscomo depende de in5meros fatores+ / tempo e as circunst1ncias têm um peso importante na "uest(o+ A li.erdade individual ou a falta dela tam.)m+videntemente, um ato ne!ativo ) mais s)rio "uando "uem o comete !o%ade plena li.erdade, ao contr-rio do "ue ) cometido por al!u)m forçado aa!ir contra a vontade+ A falta de remorso fla!rante num ato ne!ativo "uese repete torna4o mais !rave do "ue um ato isolado+ É preciso considerar tam.)m a intenç(o por tr-s da aç(o, assim como o seu conte5do+ / ponto principal, por)m, refere4se ao estado espiritual da pessoa, o estado de seucoraç(o e de sua mente Rkun long  no momento da aç(o+ 8or ser, de modo!eral, a -rea so.re a "ual temos maior controle, ) o elemento maissi!nificativo para se determinar o car-ter )tico de nossos atos+ Xuandonossas intenções est(o impre!nadas de e!o*smo, de 0dio, de vontade deen!anar, por mais "ue nossos atos pareçam ser construtivos,inevitavelmente seu impacto ser- ne!ativo, para n0s e para os outros+

Como, ent(o, aplicar o princ*pio de n(o pre3udicar "uando se est-

VPKdiante de um dilema )tico& É a* "ue entram o nosso 3u*%o cr*tico, oudiscernimento, e a nossa capacidade ima!inativa, a "ue 3- me referi comosendo dois de nossos mais preciosos recursos e os "ue nos distin!uem dosanimais+ F- vimos como as emoções aflitivas os destroem e como eles s(oimportantes para se aprender a lidar com o sofrimento+ No "ue di% respeito

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pr-tica da )tica, s(o essas "ualidades "ue nos permitem fa%er distinç(oentre os .enef*cios tempor-rios e os duradouros, determinar o !rau deconveniência )tica das diferentes lin'as de aç(o a.ertas diante de n0s eavaliar o prov-vel resultado de nossas ações, dei6ando de lado o.3etivos

menores para alcançar os mais elevados+ No caso de um dilema, precisamos em primeiro lu!ar considerar a peculiaridade da situaç(o lu%da"uilo "ue na tradiç(o .udista ) c'amado de $uni(o de recursos '-.eis ediscernimento$+ $9ecursos '-.eis$ ) al!o "ue pode ser compreendidocomo os esforços "ue fa%emos para !arantir "ue nossos atos se3ammovidos pela compai6(o+ $Discernimento$ refere4se s nossas faculdadescr*ticas e maneira como somos capa%es de considerar os diferentesfatores envolvidos para ade"uar o ideal de n(o pre3udicar o outro ao

conte6to da situaç(o+ 8oder*amos c'amar isso de faculdade dediscernimento s-.io+ mpre!ar essa faculdade 4 especialmente importante"uando n(o se recorre crença reli!iosa 4 implica e6aminar sempre anossa perspectiva e "uestionar se nossa vis(o ) lar!a ou estreita+ Ser- "uelevamos em conta a situaç(o !eral ou estamos considerando apenas seusVPQaspectos espec*ficos& Do ponto de vista de curto ou lon!o pra%o& N(odistin!uimos .em ou en6er!amos a situaç(o com clare%a& Nossamotivaç(o ) !enuinamente compassiva e estendida totalidade dos seres&/u limita4se s nossas fam*lias, nossos ami!os e a"ueles com "uem nosidentificamos mais& N(o e simples, mas conse!uiremos discernir sedispusermos a pensar, pensar e pensar+

É claro "ue nem sempre ser- poss*vel ter tempo para umdiscernimento cuidadoso, bs ve%es temos de a!ir de imediato+ por isso"ue nosso desenvolvimento espiritual tem papel crucial para !arantir "uenossos atos se3am eticamente s0lidos+ /s atos espont1neos refletem nos'-.itos e disposiç(o na"uele momento+ Se estes n(o forem sadios, nossos

atos ser(o forçosamente destrutivos+ Ao mesmo tempo, acredito "ue ) de!rande au6*lio ter um con3unto de preceitos )ticos .-sicos para orientaç(ovida di-ria+ sses preceitos a3udam4nos a formar .ons '-.itos, em.oradeva acrescentar "ue, na min'a opini(o ) mel'or encar-4los menos comouma le!islaç(o moral e mais como uma forma de lem.retes para "ue os

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interesses dos outros este3am sempre presentes em nossa mente em nossocoraç(o+ No "ue se refere ao conte5do de tais preceitos, talve% n(o e6ista mel'or opç(o do "ue recorrer s diretri%es )ticas formuladas n(o s0 por cada uma

das !randes reli!iões do mundo, como pela maior parte da tradiç(ofilos0fica 'umanista+ / consenso "ue e6iste entre elas, apesar dasdiferenças de opini(o "uanto aos fundamentos metaf*sicos, ) a meu ver VPadmir-vel+ 7odas est(o de acordo "ue n(o se deve matar, rou.ar, mentir ouadotar m- conduta se6ual+ Al)m disso, do ponto de vista dos fatoresmotivacionais, todas concordam "ue ) necess-rio evitar o 0dio, o or!ul'o,a intenç(o maldosa, a co.iça, a inve3a, a !an1ncia, a lu65ria, as ideolo!ias

nocivas Rcomo o racismo, e assim por diante+7alve% al!umas pessoas ac'em "ue as diretri%es relativas condutase6ual n(o se3am realmente necess-rias nestes tempos de m)todoscontraceptivos simples e efica%es+ ntretanto, todos n0s, seres 'umanos,somos naturalmente atra*dos para o.3etos e6ternos, se3a por meio dosol'os, "uando somos atra*dos pelas formas, dos ouvidos, "uando a atraç(ose relaciona aos sons, ou por meio de "ual"uer dos outros sentidos+ Cadaum deles tem potencial para ser uma fonte de dificuldades para n0s+ aatraç(o se6ual envolve todos os cinco sentidos+ Como resultado, "uando odese3o e6tremo acompan'a a atraç(o se6ual, pode causar4nos enormes pro.lemas+ Creio "ue ) este o fato recon'ecido pelas diretri%es )ticascontra os desvios de conduta se6ual formulados pelas !randes reli!iões+ , pelo menos na tradiç(o .udista, lem.ram4nos a tendência "ue tem o dese3ose6ual de tornar4se o.sessivo, podendo c'e!ar a um ponto em "ue n(odei6a de 'aver lu!ar na vida da pessoa para "ual"uer atividade construtiva+ Neste conte6to, e6aminemos, por e6emplo, um caso de infidelidade+Considerando4se "ue a conduta )tica *nte!ra implica em levar em conta

VPPimpacto de nossas ações n(o apenas em n0s mesmos, mas tam.)m nosoutros, ) preciso pensar nos sentimentos de terceiros+ Al)m da violênciacom "ue a infidelidade afeta o parceiro, dada a confiança "ue est-su.entendida no relacionamento, e6istem os efeitos "ue essa reviravoltafamiliar pode ter nos fil'os+ \o3e ) "uase universalmente aceita a tese de

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"ue s(o eles as principais v*timas da desinte!raç(o das fam*lias e dasrelações pouco saud-veis em casa+ Da perspectiva da pessoa "ue comete oato, deve4se ainda considerar a possi.ilidade da desinte!raç(o !radual dorespeito pr0prio+ A infidelidade pode ainda acarretar diretamente outras

atitudes ne!ativas !raves, sendo a mentira e o en!ano talve% as menoresdelas+ Uma !ravide% inesperada, por e6emplo, pode levar uma pessoa emdesespero a tentar um a.orto+

:istos assim, ) 0.vio "ue os pra%eres moment1neos proporcionados pelo adult)rio têm peso muito inferior aos riscos de seu poss*vel impactone!ativo na pr0pria pessoa e nos outros+ 8ortanto, em ve% de encarar arepress(o m- conduta se6ual como limite li.erdade, devemos vê4lacomo uma forma sensata de lem.rar "ue tais ações afetam o .em4estar de

todos os envolvidos+Ser- "ue isto si!nifica "ue apenas se!uir preceitos ) mais importantedo "ue ter um s-.io discernimento& N(o+ A conduta eticamente *nte!radepende de aplicarmos o princ*pio de n(o pre3udicar+ Contudo, fatalmentee6istem situações em "ue "ual"uer lin'a de aç(o parece o.ri!ar "ue.rade um preceito+ So. tais circunst1ncias, temos de usar a inteli!ência para 3ul!ar "ual dessas lin'as de aç(o ser- menos pre3udicial a lon!o pra%o+VP<Ima!inem uma situaç(o em "ue vemos al!u)m fu!indo de um !rupo de pessoas armadas com facas "ue pretendem claramente atacar o fu!itivo+:emos este 5ltimo entrar por uma porta e desaparecer+ Momentos depois,um dos perse!uidores apro6ima4se e per!unta se sa.emos para "ue ladoele foi+ N(o "ueremos mentir para n(o faltar com a verdade ou trair aconfiança de "uem nos per!unta+ Mas, por outro lado, se dissermos averdade, podemos contri.uir para a morte ou dor f*sica de um semel'ante+Xual"uer "ue se3a a nossa decis(o, a atitude correta parece sempre ter umaspecto ne!ativo+ m uma situaç(o dessas, evitar "ue se faça mal a

al!u)m ) o prop0sito mais elevado, e talve% 3ustifi"ue di%er $N(o o vi$ ou,mais va!amente, $Ac'o "ue foi pelo outro lado$+ 7emos de levar em contaa situaç(o como um todo e pesar as vanta!ens de di%er uma mentira efa%er o "ue consideramos menos danoso+ m outras palavras, o valor moral de um determinado ato deve ser 3ul!ado n(o s0 em relaç(o aotempo, ao lu!ar e s circunst1ncias, como aos interesses de todos os

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envolvidos no e6ato momento e no futuro+ 7odavia, ) conce.*vel "ue umdeterminado ato se3a eticamente *nte!ro so. certo con3unto especial decircunst1ncias e n(o o se3a em outro tempo e lu!ar e em circunst1nciasdiferentes+ / "ue devemos fa%er, ent(o, "uando se trata dos outros& / "ue

fa%er "uando al!u)m parece estar claramente envolvido em ações "ueconsideramos erradas& A primeira coisa a lem.rar ) "ue, a menos "ueVPcon'eçamos cada detal'e de todas as circunst1ncias, tanto e6ternas "uantointernas, 3amais poderemos distin!uir com clare%a suficiente uma situaç(oindividual a ponto de 3ul!ar com certe%a a.soluta o conte5do moral dasações al'eias+ É evidente "ue e6istem situações e6tremas em "ue o car-ter ne!ativo do atos dos outros ser- fla!rante+ Mas n(o ) o "ue acontece na

maioria das ve%es+ É por isso "ue vale muito mais a pena ficarmos atentosa uma 5nica deficiência nossa do "ue s mil deficiências de uma outra pessoa+ 8or"ue, "uando o defeito ) nosso, temos condições de corri!i4lo+

Ainda assim, lem.rando "ue '- uma distinç(o a ser feita entre uma pessoa e seus atos, podemos nos deparar com circunst1ncias em "ue )conveniente tomar uma atitude+ Na vida cotidiana, ) normal e apropriadoadaptar4se at) certo ponto aos ami!os e con'ecidos e respeitar seusdese3os+ A 'a.ilidade para fa%ê4lo ) considerada uma .oa "ualidade+ Mas"uando nos relacionamos com !ente "ue indiscutivelmente tem umcomportamento ne!ativo, "ue .usca apenas vanta!ens pessoais e i!nora osoutros, corremos o risco de perder nosso senso de direç(o+ nossacapacidade de a3udar os outros fica ameaçada+ \- um prov)r.io ti.etano"ue di% "ue, "uando nos deitamos numa montan'a de ouro, um pouco doouro fica a!arrado em n0s, e "ue o mesmo acontece "uando nos deitamosnuma montan'a de imund*cies+ A!imos certo evitando o conv*vio com tais pessoas, apesar de ser preciso ter o cuidado de n(o afast-4lascompletamente de nossas vidas+ \aver- certamente al!uma ocasi(o em

VPB"ue pode ser necess-rio tentar impedi4las de continuar a!indo mal 4 desde"ue, ) , claro, nossos motivos se3am puros e nossos m)todos n(o causemmal+ Mais uma ve%, os princ*pios norteadores devem ser a compai6(o e odiscernimento+

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/ mesmo se aplica aos dilemas )ticos "ue est(o relacionados sociedade,em especial s "uestões levantadas pela ciência e pela tecnolo!iamodernas, "ue oferecem !randes dificuldades e desafios+ No campo damedicina, por e6emplo, 3- ) poss*vel prolon!ar vidas em casos "ue '-

 poucos anos seriam considerados sem esperança+ / "ue ), sem d5vida,motivo de !rande ale!ria+ Mas ) .astante fre"Zente, por)m, sur!irem da*"uestões complicadas e muito delicadas acerca dos limites dos cuidados prestados aos pacientes+ 8enso "ue n(o deve 'aver nen'uma re!ra !eral arespeito e sim uma multiplicidade de considerações ca.*veis "ue possamser avaliadas lu% da ra%(o e da compai6(o+ Xuando ) necess-rio tomar uma decis(o dif*cil em nome de um paciente, deve4se levar em conta todosos diversos elementos, diferentes em cada caso+ Ao prolon!ar a vida de um

 paciente em estado cr*tico, mas ru3a mente permanece l5cida, por e6emplo, d-4se "uela pessoa a oportunidade de pensar e sentir de umaforma "ue apenas os seres 'umanos s(o capa%es+ 8or outro lado, ) precisoavaliar se as medidas e6tremas para mantê4la viva resultar(o em !randesofrimento f*sico e mental+ 8or)m, esse n(o ) um fator priorit-rio+ Comoal!u)m "ue acredita na continuaç(o da consciência depois da morte doV<corpo, eu ar!umentaria "ue ) prefer*vel sentir dor com este corpo 'umano+8elo menos desfrutamos das vanta!ens dos cuidados dos outros en"uanto"ue, optarmos por morrer, podemos desco.rir "ue ) preciso suportar sofrimentos so. outra forma+

Se o paciente n(o est- consciente e portanto n(o participa do processo de tomada de decis(o, a "uest(o ) outra+ , ainda por cima, deve4se levar em conta os dese3os dos mem.ros da fam*lia, pois os cuidados prolon!ados podem causar imensos pro.lemas para eles+ 8or e6emplo "ualdo a despesa para manter uma vida afeta outros pro3etos "ue .eneficiariammuitas outras+ Se ) "ue e6iste um princ*pio !eral a se!uir, penso "ue se3a

simplesmente recon'ecer a suprema preciosidade da vida e procurar fa%er com "ue, "uando c'e!ar a 'ora, a pessoa se v- t(o serena e pacificamente"uanto poss*vel+

 No caso do tra.al'o em -reas como a !en)tica e a .iotecnolo!ia, o princ*pio de n(o pre3udicar toma especiais proporções pelo fato de 'aver vidas em 3o!o+ Xuando motivaç(o por tr-s dessas pes"uisas ) apenas lucro

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e fama, ou "uando s(o levadas adiante sem nen'uma ra%(o si!nificativa,est(o muito a.ertas a "ue se "uestione at) onde v(o c'e!ar+ stou pensando particularmente no desenvolvimento de t)cnicas paramanipulaç(o de atri.utos f*sicos em reproduç(o 'umana, tais como se6o e

at) cor dos ca.elos e dos ol'os, t)cnicas "ue podem ser usadacomercialmente para e6plorar os preconceitos dos pais+ Neste ponto, permitam4me di%er "ue, em.ora se3a dif*cil colocar4se cate!oricamenteV<contr-rio a todas as formas de e6periências !en)ticas, esta ) uma -rea t(odelicada, "ue ) essencial "ue todos os envolvidos prossi!am com cautela e profunda 'umildade+ ssas pessoas devem ter plena consciência do potencial "ue e6iste para o mau uso de suas e6periências+ É vital "ue

ten'am em mente as implicações mais amplas de suas atividades e, maisimportante, "ue seus motivos se3am !enuinamente compassivos+ 8or"ue,se o princ*pio !eral por tr-s desse tra.al'o ) apenas a utilidade, e se o "ue) considerado in5til pode ser le!itimamente utili%ado para .eneficiar o "uese considera 5til, ent(o nada nos impede de su.ordinar os direitos dos "ue pertencem primeira cate!oria aos dos "ue fa%em parte da 5ltima+ /atri.uto de utilidade 3amais poder- 3ustificar a privaç(o dos direitosindividuais+ ste ) um terreno altamente peri!oso e escorre!adio+

Assisti recentemente na televis(o a um document-rio da GGC so.reclona!em+ Utili%ando ima!ens !eradas por computador, o filme mostravauma criatura na "ual cientistas tra.al'avam, uma esp)cie de ser semi4'umano, com ol'os !randes e v-rios outros traços 'umanosrecon'ec*veis, deitado em uma 3aula+ É claro "ue isso 'o3e n(o passa defantasia, mas, e6plicaram eles, pode4se prever um tempo em "ue ser- poss*vel criar seres assim+ Ao se desenvolverem, seus 0r!(os e outras partes de sua anatomia seriam usados como $peças de reposiç(o$ emcirur!ias para .enef*cio dos seres 'umanos+ Hi"uei a.solutamente

estarrecido com a"uilo+ A', "ue coisa terr*vel N(o seria levar ao e6tremoV<o empen'o cient*fico& A id)ia de "ue al!um dia possamos de fato criar seres sens*veis com essa finalidade espec*fica ) al!o "ue me 'orrori%a+Diante dessa possi.ilidade, tive a mesma sensaç(o "ue e6perimento"uando me defronto com e6periências com fetos 'umanos+

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Hica dif*cil sa.er como ) poss*vel impedir tais coisas se as pessoasn(o disciplinam suas pr0prias ações+ Sim, podemos promul!ar leis+ Sim, podemos ter c0di!os internacionais de conduta 4 e dever*amos ter am.asas coisas+ No entanto, se os cientistas, individualmente, n(o tiverem a

menor noç(o de "ue a"uilo "ue est(o fa%endo ) !rotesco, destrutivo ee6tremamente ne!ativo, ent(o n(o '- nen'uma e6pectativa real de secolocar um fim nessas atividades in"uietantes+

o "ue di%er de assuntos como a vivissecç(o, em "ue a rotina )su.meter animais vivos a terr*veis sofrimentos antes de mat-4los a prete6to de promover os con'ecimentos cient*ficos& Xuanto a isso, s0ten'o a di%er "ue, para um .udista, essas pr-ticas s(o i!ualmentec'ocantes+ S0 me resta esperar "ue os r-pidos pro!ressos "ue se têm

verificado na tecnolo!ia de computaç(o contri.uam para "ue 'a3a cadave% menos necessidade de e6periências com animais nas pes"uisascient*ficas+ Um ponto positivo na evoluç(o da sociedade moderna, 3untocom o crescente recon'ecimento da import1ncia dos direitos 'umanos, e amaneira como as pessoas se preocupam mais com os animais+ \-, por e6emplo, uma consciência cada ve% maior da crueldade "ue se pratica nasV<Kfa%endas dedicadas criaç(o industrial+ 8arece, tam.)m, "ue mais e mais pessoas interessam4se pelo ve!etarianismo e est(o diminuindo seuconsumo de carne+ Sa5do isso com ale!ria+ Min'a esperança ) "ue, nofuturo, esse cuidado se estenda at) as menores criaturas do mar+

 Neste ponto, por)m, talve% cai.a uma palavra de advertência+ Ascampan'as para prote!er a vida 'umana e animal s(o causas no.res+ Mas) essencial "ue, ao nos envolvermos nas !randes causas, n(o percamos devista os direitos cotidianos dos "ue est(o mais pr06imos de n0s+8recisamos ter certe%a de "ue estamos usando nosso discernimento demaneira sensata na .usca de nossos ideais+

6ercer nossa faculdade de 3ul!amento no dom*nio da )tica implicaassumir responsa.ilidades tanto por nossos atos "uanto por suasmotivações+ Se n(o nos responsa.ili%amos pelas ra%ões "ue motivamnossos atos, se3am elas positivas ou ne!ativas, o potencial para o dano )muito maior+ Como sa.emos, as emoções ne!ativas s(o a ori!em docomportamento anti)tico+ Cada um de nossos atos afeta n(o s0 as pessoas

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mais pr06imas de n0s como se reflete em nossos cole!as de tra.al'o, nosami!os, na comunidade e, em 5ltima an-lise, no mundo em "ue todosvivemos+

V<III

É7ICA S/CIDAD

Cap*tulo

9S8/NSAGILIAD UNI:9SAL

Acredito "ue cada um de nossos atos tem uma mens(o universal+ 8or causa disso, a disciplina )tica, a conduta *nte!ra e um discernimentocuidadoso s(o elementos decisivos para uma vida feli% e si!nificativa+:amos a!ora e6aminar essa proposiç(o no "ue refere comunidade em!eral+

 No passado, as fam*lias e as pe"uenas comunidades podiam e6istir de forma mais ou menos independente umas das outras+ Se levassem emconta o .em4estar dos vi%in'os, tanto mel'or, mas eram capa%es deso.reviver .astante .em isoladas+ N(o ) mais assim+ A realidade atual t(ocomple6a e, ao menos no plano material, t(o claramente interli!ada, "ue ) preciso ver as coisas so. novo 1n!ulo+ A economia moderna ilustra isso demodo si!nificativo+ Uma "ue.ra na .olsa de valores de um dos lado do!lo.o pode ter conse"Zências diretas so.re as economias de pa*sessituados do lado oposto+ De maneira semel'ante, nossas con"uistastecnol0!icas s(o a!ora de tal ordem, "ue nossas atividades têm um efeitoindiscut*vel no meio am.iente+ o pr0prio taman'o da populaç(o mundialremete para o fato de n(o podermos mais nos permitir i!norar os interesses

dos outros+ sses interesses est(o na realidade t(o entrelaçados, "ue, aoV<<atender aos nossos interesses, estamos .eneficiando os dos outros, mesmo"ue n(o ten'a sido essa a nossa intenç(o+ Xuando duas fam*lias utili%am amesma fonte de -!ua, cuidar para n(o fi"ue polu*da ) uma atitude "ue .eneficia am.as+

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m vista disso, estou convencido de "ue ) imprescind*velcultivarmos o "ue c'amo de responsa.ilidade universal+ 7alve% n(o se3aesta a traduç(o e6ata do termo ti.etano "ue ten'o em mente, chi sem, "uesi!nifica, literalmente, $consciência$ R sem universal Rchi+ m.ora em

ti.etano a id)ia de responsa.ilidade este3a mais impl*cita do "ue e6pressaformalmente, n(o '- d5vida de "ue est- presente+ Xuando di!o "ue,atrav)s da consideraç(o pelo .em4estar dos outros, podemos 4 e devemos4desenvolver uma noç(o de responsa.ilidade universal, n(o estoufirmando "ue cada um se3a diretamente respons-vel pela ocorrência de 4 para citar um e6emplo 4 !uerras e fome em diferentes partes do mundo+ Éverdade "ue fa% parte da pr-tica do .udismo lem.rarmos constantementenosso dever de servir a todos os seres sens*veis de todos os universos+ De

modo semel'ante, os de*stas recon'ecem "ue a devoç(o a Deus implicadevotar44se tam.)m ao .em4estar de todas as Suas criaturas+ Mas )evidente "ue certas coisas, como a po.re%a de uma 5nica aldeia a de% mil"uil2metros de dist1ncia, est(o completamente fora do alcance de um s0indiv*duo+ A "uest(o n(o ), portanto, admitir culpa, mas, outra ve%,reorientar nossos corações e mentes para os outros+ Desenvolver umanoç(o de responsa.ilidade universal 4 da dimens(o universal de cada umde nossos atos e do i!ual direito de todos os outros felicidade 4 )desenvolver uma disposiç(o de esp*rito na "ual preferimos aproveitar "ual"uer oportunidade de .eneficiar os outros do "ue apenas cuidar denossos restritos interesses pessoais+ apesar de sermos apenas capa%es denos preocuparmos com o "ue est- fora de nosso alcance, aceitamos issocomo parte das limitações da vida e nos concentramos em fa%er o "ue podemos+

Uma das !randes vanta!ens de desenvolver essa noç(o deresponsa.ilidade universal ) nos tornarmos sens*veis a todos os seres 4 en(o s0 aos "ue est(o mais perto de n0s+ 8assamos a ver mel'or a

necessidade de cuidar antes de tudo da"ueles mem.ros da fam*lia 'umana"ue sofrem mais+ 9econ'ecemos a necessidade de procurar n(o causar diver!ências entre nossos semel'antes+ nos tornamos mais conscientesda import1ncia imensa de promover um estado de satisfaç(o+

Xuando ne!li!enciamos o .em4estar dos outros e i!noramos adimens(o universal de nossos atos, fa%emos uma distinç(o entre nossos

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interesses e os interesses dos outros+ N(o nos damos conta dauniformidade da fam*lia 'umana+ Sem d5vida, ) f-cil apontar numerososfatores "ue se opõem a essa noç(o de unidade# diferenças de crençareli!iosa, de l*n!ua, de costumes, de culturas, etc+ Se, por)m, damos

demasiada ênfase a diferenças superficiais e por causa delas fa%emosr*!idas discriminações, n(o '- como evitar um acr)scimo de sofrimento edes!aste para n0s e para os outros+ / "ue n(o fa% sentido+ F- temosV<B pro.lemas demais neste mundo+ 7odos, sem e6ceç(o, temos de enfrentar amorte, a vel'ice e as doenças, sem falar nas perdas e decepções+ stas n(otemos mesmo como evitar+ N(o ) o .astante& 8ara "ue criar pro.lemasdesnecess-rios por causa de maneiras diferentes de pensar ou peles de

cores diferentes&Avaliando essas realidades, vemos "ue a )tica e a necessidade pedemuma mesma reaç(o+ 8ara superar nossa tendência de i!norar asnecessidades e direitos dos outros, precisamos continuamente lem.rar an0s mesmos o "ue ) 0.vio# "ue .asicamente todos somos i!uais+ u ven'odo 7i.et, e a maioria dos leitores deste livro n(o ser- de ti.etanos+ Se euencontrasse cada leitor em pessoa e ol'asse para ele com cuidado,verificaria "ue "uase todos têm de fato caracter*sticas superficialmentediferentes das min'as+ Se me concentrasse nessas diferenças, iria comcerte%a ampli-4las e transform-4las em al!o importante+ Mas o resultadoseria ficarmos mais distantes do "ue pr06imos+ Se, ao contr-rio, eu ol'asse para cada um como al!u)m de min'a pr0pria esp)cie 4 um ser 'umanocomo eu, com um nari%, dois ol'os, etc+ 4, i!norando diferenças de for4mae cor, a noç(o de dist1ncia automaticamente se dissiparia+ u veria "uesomos feitos da mesma carne 'umana e "ue, al)m disso, assim como eu"uero ser feli% e n(o sofrer, todos eles tam.)m "uerem+ Ao recon'ecer isso, eu me sentiria naturalmente inclinado para eles+ a consideraç(o por 

seu .em4estar viria "uase "ue espontaneamente+V

ntretanto, em.ora a maioria das pessoas este3a disposta a aceitar anecessidade de unidade dentro de seu pr0prio !rupo e, 3unto com isso, anecessidade de levar em consideraç(o o .em4estar dos outros, a tendência) descuidar4se do resto da 'umanidade+ Ao fa%ê4lo, dei6amos de lado n(o

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s0 a nature%a interdependente da realidade mas a pr0pria realidade denossa situaç(o+ Se fosse poss*vel um !rupo, ou uma raça, ou uma naç(o,ad"uirir satisfaç(o e reali%aç(o completas mantendo4se totalmenteindependente dentro dos limites de sua pr0pria sociedade, ent(o talve% se

 pudesse ar!umentar "ue a discriminaç(o dos forasteiros ) 3ustific-vel+ Masn(o ) o caso+ Na realidade, neste nosso mundo moderno, n(o se consideramais "ue os interesses de uma comunidade em particular este3amconfinados a suas pr0prias fronteiras+

Cultivar a noç(o de satisfaç(o ), portanto, crucial para "ue semanten'a uma coe6istência pac*fica+ A insatisfaç(o tra% a co.iça, "uenunca pode ser saciada+ Se o "ue o indiv*duo procura ) por nature%ainfinito, como a "ualidade da toler1ncia, a satisfaç(o passa a ser 

irrelevante# "uanto mais estimulamos nossa capacidade para a toler1ncia,mais tolerantes nos tornamos+ No "ue se refere a "ualidades espirituais, asatisfaç(o n(o ) necess-ria, pois ) dese3-vel "ue este3amos sempre em .usca de crescimento+ Mas se o "ue .uscamos ) finito, o peri!o ) "ue, aocon"uist-lo4, n(o fi"uemos satisfeitos+ No caso do dese3o da ri"ue%a, ainda"ue a pessoa conse!uisse tomar conta da economia de todo um pa*s, )muito prov-vel "ue em se!uida começasse a pensar em con"uistar a deVoutros pa*ses+ / dese3o pelo "ue ) finito nunca ) de fato satisfeito+ 8or outro lado, "uando desenvolvemos a satisfaç(o, nunca nos decepcionamosnem nos desiludimos+

A falta de satisfaç(o 4 "ue vem a ser a !an1ncia 4 planta a semente dainve3a e da competitividade a!ressiva e leva a uma cultura de e6cessivomaterialismo+ A atmosfera ne!ativa "ue esta.elece cria um conte6to prop*cio a todos os tipos de doenças sociais "ue tra%em sofrimento aosmem.ros da comunidade+ Se a !an1ncia e a inve3a n(o tivessem efeitoscolaterais, talve% fossem um pro.lema a ser resolvido por apenas a"uela

comunidade+ 8or)m, mais uma ve%, este n(o ) o caso+ m particular, afalta de satisfaç(o ) uma das ori!ens da destruiç(o de nosso meioam.iente e, conse"Zentemente, dos males causados a outros+ Xue outros&8rincipalmente os po.res e os fracos+ m uma mesma comunidade, osricos podem mudar de endereço, di!amos, para evitar os efeitos dos altosn*veis de poluiç(o, mas os po.res n(o têm escol'a+

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7am.)m os povos de nações mais po.res, "ue n(o têm recursos paralidar com este tipo de pro.lema, sofrem por causa dos e6cessos das naçõesricas, al)m de terem de enfrentar os pro.lemas resultantes da poluiç(o!erada por sua tecnolo!ia atrasada+ As pr06imas !erações certamente v(o

sofrer+ n0s tam.)m+ Como& 7emos de viver em um mundo "ue estamosa3udando a criar+ Se a nossa opç(o ) n(o modificar nosso comportamentocom relaç(o i!ualdade de direitos dos outros, muito em .revecomeçaremos a sofrer as conse"Zências ne!ativas dessa atitude+ Ima!inema poluiç(o produ%ida por mais dois .il'ões de carros, por e6emplo+V

Afetaria todos+ Sendo assim, a satisfaç(o n(o ) meramente uma"uest(o )tica+ Se dese3amos evitar o aumento do sofrimento, isto ) uma

"uest(o de necessidade+ sta ) uma das ra%ões por "ue acredito "ue acultura de incessante crescimento econ2mico precisa ser "uestionada+ Domeu ponto de vista, ela promove insatisfaç(o e acarreta um !rande n5merode pro.lemas, tanto sociais "uanto am.ientais+ A devoç(o irrestrita aodesenvolvimento material costuma vir acompan'ada pelo descaso por suasimplicações para a comunidade mais ampla+ Mais uma ve%, a "uest(o n(o) 'aver uma defasa!em entre o 8rimeiro e o 7erceiro Mundos, Norte e Sul,desenvolvidos e su.desenvolvidos, ricos e po.res, se ) imoral e errada+S(o as duas coisas+ De certa forma, o mais si!nificativo ) o fato de essadesi!ualdade ser uma fonte de dificuldades para todos+ Se a uropa, por e6emplo, constitu*sse o mundo inteiro e n(o um lu!ar onde vivem de% por cento da populaç(o mundial, a ideolo!ia predominante de crescimentosem fim talve% fosse 3ustific-vel+ 8or)m, o mundo n(o ) s0 a uropa, e emoutros lu!ares '- !ente passando fome+ onde e6istem dese"uil*.rios t(o profundos as conse"Zências s(o ne!ativas para todos, mesmo "ue n(ose3am diretas, 3- "ue os ricos tam.)m sentem os sintomas da po.re%a emsuas vidas di-rias# as c1meras de vi!il1ncia e as !rades protetoras nas

 3anelas denunciam a perda de tran"Zilidade+VK

A responsa.ilidade universal tam.)m nos leva a um compromissocom o princ*pio da 'onestidade+ / "ue "uero di%er com isso& 8odemos pensar em 'onestidade e desonestidade nos, mesmos termos da relaç(oentre aparência e realidade+ As ve%es eles s(o concomitantes, mas muitas

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ve%es n(o+ 8or)m, "uando s(o, isso ) 'onestidade como a entendo+ Somos'onestos "uando nossas ações s(o o "ue parecem ser+ Xuandoaparentamos ser o "ue na realidade n(o somos, despertamos suspeitas "uese transformam em medo+ o medo ) al!o "ue todos "ueremos evitar+

Inversamente, "uando nossa interaç(o com os "ue nos est(o pr06imos )a.erta e sincera em tudo o "ue di%emos, pensamos e fa%emos, nin!u)m precisa ter medo de n0s+ Isso vale tanto para as pessoas "uanto para ascomunidades+ Xuando compreendemos a import1ncia da 'onestidade emtudo o "ue fa%emos, constatamos "ue, em 5ltima an-lise, n(o '- diferençaentre as necessidades individuais e as necessidades de toda a comunidade+/s n5meros diferem, mas o dese3o e o direito de nin!u)m ser en!anados(o os mesmos+ 8ortanto, "uando assumimos o nosso compromisso

 pessoal com a verdade, a3udamos a diminuir o n*vel de desentendimentos,d5vidas e temores da sociedade+ De uma forma modesta mas si!nificativa,criamos condições para um mundo mais feli%+

A "uest(o da 3ustiça est- intimamente li!ada tanto responsa.ilidade universal "uanto "uest(o da 'onestidade+ A 3ustiçaimplica a o.ri!aç(o de a!ir "uando se tem consciência da in3ustiça+ N(o ofa%er ) um erro, se .em "ue n(o se3a um erro "ue nos torneVQintrinsecamente maus+ Se a 'esitaç(o prov)m do e!ocentrismo, por)m,temos a* um pro.lema+ Se nossa reaç(o in3ustiça ) per!untar# $/ "ue vaiacontecer comi!o se eu me manifestar& 7alve% isso indispon'a as pessoascontra mim$, nossa atitude ) anti)tica por"ue n(o estamos levando emconta as implicações mais amplas de nosso silêncio+ É tam.)minade"uado e pouco salutar no "ue se refere ao direito dos outros de evitar o sofrimento e serem feli%es+ mesmo se aplica 4 talve% com mais propriedade 4 "uando !overnos ou instituições afirmam "ue $isso ca.e an0s$ ou $essa ) uma "uest(o interna$+ Nessas circunst1ncias, manifestar4se

) n(o s0 um dever pessoal como so.retudo um serviço "ue se presta aosoutros+

8ode4se ale!ar "ue nem sempre ) poss*vel a!ir assim, "ue precisamos ser $realistas$+ Nossa situaç(o talve% n(o nos permita a!ir emtodas as ocasiões de acordo com nossas responsa.ilidades+ Nossas fam*lias podem ser pre3udicadas se, por e6emplo, protestarmos contra al!uma

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in3ustiça+ Contudo, mesmo tendo de considerar a realidade di-ria de nossasvidas, ) imprescind*vel manter uma perspectiva mais a.ran!ente+ 7emosde avaliar nossas necessidades individuais com relaç(o s necessidadesdos outros e e6aminar como nossas ações e omissões v(o afet-4las a lon!o

 pra%o+ É dif*cil criticar a"ueles "ue temem por seus entes "ueridos+ Mas deve% em "uando ser- necess-rio correr riscos para .eneficiar a comunidadeem !eral+

A noç(o de responsa.ilidade pelos outros tam.)m si!nifica "ue,Vcomo indiv*duos e como uma sociedade de indiv*duos, temos o dever de%elar por cada mem.ro de nossa sociedade+ Indistintamente, se3a "ual for asua capacidade f*sica ou mental+ Como n0s, eles têm direito felicidade e

a n(o sofrer+ É preciso evitar a todo custo "ue a"ueles "ue padecemcruelmente se3am isolados como se fossem um estorvo+ / mesmo se aplicaaos doentes e mar!inali%ados+ Afast-4los seria acrescentar4l'es maissofrimento+ Se estiv)ssemos na mesma situaç(o, !ostar*amos de contar com a a3uda dos outros+ 8recisamos, portanto, criar !arantias para "ue osenfermos e incapacitados 3amais se sintam desamparados, re3eitados oudesprote!idos+ Creio, na verdade, "ue a afeiç(o "ue demonstramos a tais pessoas ) a medida de nossa sa5de espiritual n(o s0 no plano individualcomo no da sociedade como um todo+

8osso parecer irremediavelmente idealista com toda essa conversaso.re responsa.ilidade universal+ Se3a como for, ) uma id)ia "ue ven'oe6pondo pu.licamente desde min'a primeira visita ao /cidente, em B<K+ Na"uela )poca 'avia muito ceticismo a respeito+ Nem sempre era f-cildespertar o interesse das pessoas para o conceito de pa% mundial+ Hicosatisfeito ao o.servar "ue, 'o3e em dia, uma "uantidade cada ve% maior de pessoas começa a rea!ir de modo favor-vel a essas id)ias+

Sinto "ue os muitos acontecimentos e6traordin-rios "ue a

'umanidade vivenciou no decorrer do s)culo [[ deram4l'e maismaturidade+ Nas d)cadas de e P, e em al!uns lu!ares maisrecentemente, muita !ente ac'ava "ue os conflitos deveriam ser resolvidosVPcom !uerras+ \o3e, apenas uma minoria ainda pensa assim+ n"uanto noin*cio do s)culo muitos acreditavam "ue o pro!resso e o desenvolvimento

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dentro da sociedade deveriam ser o.tidos custa de estrita e opressivaarre!imentaç(o pol*tica, o colapso do fascismo, se!uido mais tarde pelodesaparecimento da c'amada Cortina de Herro, revelou "ue o pro3eto erainvi-vel+ Hoi mais uma liç(o da \ist0ria provando "ue a ordem imposta

 pela força tem vida curta+ Al)m disso, o consenso Rtam.)m entre al!uns .udistas de "ue ciência e espiritualidade s(o incompat*veis 3- n(o semant)m com tanta firme%a+ Atualmente, medida "ue se aprofundam oscon'ecimentos cient*ficos so.re a nature%a da realidade, essa percepç(ovai mudando+ 8or causa disso, as pessoas est(o começando a demonstrar mais interesse por a"uilo "ue c'amei de nosso mundo interior, ou se3a, adin1mica e as funções da consciência, ou esp*rito# nossos corações ementes+ \ouve tam.)m em todo o mundo um aumento da conscienti%aç(o

am.iental e um recon'ecimento cada ve% maior de "ue nem os indiv*duosnem as nações podem resolver seus pro.lemas so%in'os, de "ue precisamos uns dos outros+ 8ara mim, tudo isso s(o avanços encora3adores"ue decerto ter(o conse"Zências de !rande pro3eç(o+ Um outro fato "uemuito me estimula ) "ue, se3a "ual for o m)todo de implementaç(o, aomenos 3- se admite claramente a necessidade de .uscar soluções n(o44violentas para os conflitos dentro de umesp*rito reconciliador+ \-V<tam.)m, como 3- o.servamos, uma aceitaç(o crescente da universalidadedos direitos 'umanos e da necessidade de admitir a diversidade em -reasde import1ncia comum, como a das "uestões reli!iosas, por e6emplo+Acredito "ue isso reflete a percepç(o de "ue ) imprescind*vel ampliar a perspectiva devido diversidade da pr0pria fam*lia 'umana+ Comoresultado de todas essas coisas, e apesar do sofrimento "ue continua sendoimposto a pessoas e povos em nome de ideolo!ias, de reli!iões, do pro!resso, do desenvolvimento ou da economia, uma nova esperança est-sur!indo para os oprimidos+ N(o '- d5vida de "ue ser- dif*cil produ%ir pa%

e 'armonia !enu*nas, mas perce.e4se nitidamente "ue isso pode ser feito+/ potencial est- a*+ seu fundamento ) a noç(o da responsa.ilidade decada indiv*duo por todos os outros+

VCap*tulo

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 N:IS D C/M89/MISS/

É desenvolvendo uma atitude de responsa.ilidade pelos outros "ue

começamos a criar o mundo mais .ondoso e compassivo com "ue todosson'amos+ / leitor pode ou n(o concordar com min'a defesa daresponsa.ilidade universal+ ntretanto, se ) correto "ue, por causa danature%a interdependente da realidade, a distinç(o "ue costumamos fa%er entre o eu e o outro ) de certa forma e6a!erada, e por isso nossa meta deveser estender a nossa compai6(o a todos, a conclus(o inevit-vel ) "ue acompai6(o 4 "ue leva conduta )tica 4 est- no centro de todas as nossasações, pessoais e sociais+ Al)m do mais, apesar de evidentemente

 podermos discutir os detal'es, estou convencido de "ue responsa.ilidadeuniversal si!nifica ainda "ue a compai6(o pertence tam.)m arena pol*tica+ A responsa.ilidade universal ) uma inspiraç(o para a nossamaneira de condu%ir a vida di-ria se "uisermos ser feli%es, no sentido "uedefini felicidade+ spero "ue ten'a ficado claro "ue n(o estou pedindo anin!u)m para a.andonar sua maneira de viver atual e adotar al!uma novare!ra ou modo de pensar+ Min'a intenç(o ) dar a entender "ue as pessoas,mantendo sua vida costumeira de todos os dias, podem mudar, tornando4seVBmel'ores, mais compassivas e mais feli%es+ assim começarmos aimplementar nossa revoluç(o espiritual+

/ tra.al'o de uma pessoa em "ual"uer ocupaç(o modesta ) t(orelevante para o .em4estar da sociedade "uanto ode um m)dico, um professor, um mon!e ou uma freira+ 7oda atividade 'umana ) potencialmente valiosa e no.re+ Xual"uer tra.al'o motivado pelo dese3ode contri.uir para o .em4estar dos outros ser- sempre um .enef*cio paratoda a comunidade+ Xuando falta consideraç(o pelos sentimentos e .em4

estar dos outros, nossas atividades aca.am se corrompendo+ Xuandofaltam sentimentos 'umanos .-sicos, a reli!i(o, a pol*tica, a economia etudo o mais podem se transformar em al!o s0rdido+ m ve% de servirem 'umanidade, tornam4se a!entes de sua destruiç(o+

8or isso, n(o .asta desenvolver uma noç(o de responsa.ilidadeuniversal, precisamos na verdade ser pessoas respons-veis+ n"uanto n(o

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 pusermos nossos princ*pios em+ pr-tica, eles continuar(o sendo apenas princ*pios+ Assim, por e6emplo, o pol*tico "ue ) de fato uma pessoarespons-vel a!e com 'onestidade e inte!ridade+ / 'omem ou mul'er dene!0cios "ue ) uma pessoa respons-vel leva em conta as necessidades dos

outros em cada ne!0cio "ue reali%a+ / advo!ado respons-vel usa seuscon'ecimentos e talento para lutar pela 3ustiça+

É claro "ue ) dif*cil esta.elecer com precis(o como o nossocomportamento deve moldar4se para corresponder ao compromisso com o princ*pio da responsa.ilidade universal+ N(o ten'o nen'um padr(o emespecial a su!erir+VBMin'a esperança ) "ue, se você leitor se sensi.ili%ar com o "ue est-

escrito a"ui, vai procurar ser compassivo em seu dia4a4dia e, movido pelanoç(o de responsa.ilidade pelos outros, far- o poss*vel para a3ud-4los+Mesmo com pe"uenos !estos+ Xuando passar por uma torneira a.erta,você a fec'ar-+ Se vir uma lu% acesa inutilmente, você a apa!ar-+ Seencontrar al!u)m "ue pratica uma f) diferente da sua, vai demonstrar4l'e omesmo respeito "ue espera "ue l'e demonstrem+ /u se for um cientista edesco.rir "ue a pes"uisa em "ue est- tra.al'ando pode de al!uma formacausar mal aos outros, vai a.andon-4la levado por sua noç(o deresponsa.ilidade+ De acordo com seus pr0prios recursos e recon'ecendoas limitações de suas circunst1ncias, você far- o "ue puder+ Afora isso, n(oestou pedindo "ue nin!u)m assuma "ual"uer outro compromisso+ se emal!uns dias suas ações forem mais compassivas do "ue em outros, aceiteeste fato como normal+ Al)m disso, se o "ue eu di!o n(o l'e parece 5til,n(o importa+ / importante ) "ue "ual"uer coisa "ue façamos pelos outros,"ual"uer sacrif*cio, se3a volunt-rio e motivado pela compreens(o do .enef*cio "ue sua aç(o vai proporcionar+

m uma recente visita a Nova gorY, um ami!o contou4me "ue o

n5mero de .ilion-rios na Am)rica do Norte aumentou em poucos anos dede%essete pessoas para v-rias centenas delas+ Simultaneamente, os po.rescontinuam po.res e em al!uns casos est(o ficando ainda mais po.res+Considero tal coisa completamente imoral+ tam.)m uma fonte de pro.lemas+ n"uanto mil'ões de pessoas n(o dispõem do m*nimoVB

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necess-rio para viver 4 alimentaç(o ade"uada, moradia, educaç(o etratamento m)dico 4, a desi!ualdade da distri.uiç(o de ri"ue%a ) umesc1ndalo+ Se todos tivessem o suficiente para suprir as suas necessidadese um pouco mais, ent(o talve% um estilo de vida lu6uoso fosse admiss*vel+

Se a pessoa realmente dese3asse viver assim, seria dif*cil ale!ar "uedeveria conter4se, pois ela teria o direito de viver como ac'a mel'or+ Masn(o ) assim "ue as coisas se passam+ Neste mundo em "ue vivemos '-lu!ares em "ue se 3o!a comida fora e '- !ente por perto 4 nossossemel'antes, com crianças inocentes em seu meio 4 "ue ) o.ri!ada arevolver o li6o em .usca de alimento, e muitos passam fome+ 8ortanto,em.ora n(o possa di%er "ue a vida de lu6o dos ricos este3a errada, desde"ue eles !astem seu pr0prio din'eiro e o !an'em 'onestamente, insisto em

afirmar "ue ela n(o tem valor, "ue ) um tipo de vida "ue estra!a as pessoas+/utra coisa "ue me c'ama a atenç(o ) o estilo de vida dos ricos ser 

muitas ve%es a.surdamente complicado+ Um ami!o meu "ue ficou'ospedado na casa de uma fam*lia muito rica contou4me "ue, sempre "ueiam tomar .an'o de piscina, rece.iam um roup(o "ue era trocado por umlimpo cada ve% "ue usavam a piscina, mesmo "ue o fi%essem diversasve%es por dia+ 6traordin-rio 9id*culo, at)+ N(o ve3o em "ue isso torna avida de al!u)m mais confort-vel+ N0s 'umanos temos apenas umest2ma!o+ \- um limite para a "uantidade do "ue podemos in!erir+ 7emostam.)m apenas de% dedos, de modo "ue n(o podemos usar cem VBan)is+ Xual"uer "ue se3a o ar!umento a favor da escol'a, os "ue temos eme6cesso n(o têm nen'um prop0sito no momento em "ue estamos de fatousando um 5nico anel+ / resto fica !uardado nas cai6as sem utilidadenen'uma+ Como e6pli"uei certa ve% para o mem.ros de uma fam*liaindiana imensamente rica, o uso correto da ri"ue%a est- nas contri.uições para atividades filantr0picas+ Na"uele caso em particular, su!eri 4 3- "ue

eles per!untaram 4 "ue talve% !astar seu din'eiro em educaç(o fosse omel'or "ue poderiam fa%er+ / futuro do mundo est- nas m(os de nossascrianças+ Se "uisermos 7er uma sociedade mais compassiva 4 e portantomais 3usta 4, ) essencial educarmos nossas crianças para serem adultosrespons-veis e %elosos+ Xuando al!u)m nasce rico ou ad"uire ri"ue%a por "ual"uer outro meio, tem uma formid-vel oportunidade para .eneficiar os

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outros+ Xue desperd*cio "uando tal oportunidade ) es.an3ada come6trava!1ncias para satisfa%er os pr0prios dese3os

stou fortemente inclinado a ac'ar "ue a vida lu6uosa )despropositada, tanto "ue me sinto muito pertur.ado sempre "ue estou

'ospedado em um 'otel confort-vel e ve3o as pessoas comendo e .e.endocoisas caras en"uanto, do lado de fora, sei "ue '- outras "ue n(o têm nemmesmo onde passar a noite+ 9eforça meu sentimento de "ue n(o soudiferente nem dos ricos nem dos po.res+ Somos i!uais, "uerendo ser feli%es e n(o sofrer+ temos todos o mesmo direito a essa felicidade+Como resultado dessa convicç(o, ten'o a impress(o de "ue se visse passar VBKuma passeata de tra.al'adores reivindicando seus direitos, eu certamente

os acompan'aria+ , no entanto, a pessoa "ue l'es di% essas coisas est-desfrutando do conforto de um 'otel+ Na verdade, preciso ir ainda maislon!e nessa "uest(o+ É verdade "ue possuo muitos rel0!ios de pulsovaliosos+ mesmo sa.endo "ue se os vendesse talve% pudesse construir al!umas casas simples para os po.res, at) a!ora n(o o fi%+ Da mesmamaneira, estou certo de "ue, se se!uisse uma dieta ri!orosamenteve!etariana, n(o s0 estaria dando um .om e6emplo como a3udaria a salvar a vida de animais inocentes+ At) a!ora n(o o fi% e, portanto, ten'o deadmitir "ue e6iste uma discrep1ncia entre meus princ*pios e a min'a pr-tica em Oal!umas -reas+ Ao mesmo tempo, n(o acredito "ue todos possam ou devam ser como o Ma'atma ?and'i e passem a viver comocamponeses po.res+ Uma dedicaç(o assim ) maravil'osa e deve ser !randemente admirada+ Mas o lema )# $7anto "uanto pudermos$ 4 semc'e!ar a e6tremos+

VBQCap*tulo K

É7ICA NA S/CIDADDUCAJ/ MI/S D C/MUNICAJ/

:iver uma vida verdadeiramente )tica, em "ue colocamos em primeiro lu!ar as necessidades dos outros e cuidamos de sua felicidade, )

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al!o "ue tem e6traordin-rias implicações para a nossa sociedade+ Semudarmos internamente, desarmando4nos ao lidar de maneira construtivacom nossos pensamentos e emoções ne!ativos, poderemos literalmentetransformar o mundo inteiro+ F- temos prontas muitas ferramentas

 poderosas para criar nossa sociedade )tica e pac*fica+ ntretanto, o potencial de al!umas delas n(o est- sendo totalmente aproveitado+ A partir deste ponto, !ostaria de partil'ar al!umas de min'as opiniões so.re amaneira como podemos fa%er e os setores onde podemos começar arevoluç(o espiritual de .ondade, compai6(o, paciência, toler1ncia,capacidade de perd(o e 'umildade+

Xuando estamos comprometidos com o ideal da consideraç(o pelosoutros, este fato deve permear nossas medidas sociais e pol*ticas+ N(o di!o

isso por ac'ar "ue deste modo seremos capa%es de solucionar todos os pro.lemas da sociedade de um dia para outro+ Mas estou convencido deVB"ue, a menos "ue essa noç(o mais ampla de compai6(o na "ual ven'oinsistindo inspire nossa pol*tica de aç(o, elas provavelmente causar(odanos em ve% de servir 'umanidade como um todo+ Acredito "ue precisamos tomar medidas pr-ticas para assumir nossa responsa.ilidade para com todos os nossos semel'antes, n(o s0 a!ora como no futuro+ Isso) ine!-vel mesmo "ue 'a3a pe"uenas diferenças de ordem pr-tica entre os planos de aç(o motivados por esse tipo de compai6(o e os "ue s(omotivados pelo, di!amos, interesse nacional+

Se todas essas su!estões referentes compai6(o, disciplina interior,s-.io discernimento e cultivo da virtude fossem lar!amenteimplementadas, com certe%a o mundo passaria a ser um lu!ar mais .eni!no e pac*fico+ Ainda assim, acredito "ue a realidade nos o.ri!a aatacar nossos pro.lemas tanto no plano individual "uanto no dasociedade+ / mundo mudar- sempre "ue um indiv*duo tentar refrear seus

 pensamentos e emoções ne!ativos e "uando praticar a compai6(o por seussemel'antes, mesmo "ue n(o ten'a um relacionamento direto com eles+

m vista disso, penso "ue e6istem diversas -reas a "ue devemos dar uma atenç(o especial lu% da responsa.ilidade universal+ Incluem aeducaç(o, os meios de comunicaç(o, nosso meio am.iente, pol*tica eeconomia, pa% e desarmamento e 'armonia inter4reli!iosa+ Cada uma delas

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tem um papel vital a desempen'ar no processo de moldar o mundo em "uevivemos, e dispon'o4me a e6aminar cada uma sucintamente+VBP

Antes de fa%ê4lo, devo acentuar "ue os pontos de vista "ue e6presso

a"ui s(o pessoais+ S(o os pontos de vista de al!u)m "ue fa% "uest(o deafirmar "ue n(o ) perito em nen'um dos aspectos t)cnicos dessas"uestões+ Mesmo "ue o "ue eu disser se3a pass*vel de o.3eções, espero "ueao menos dê ao leitor a oportunidade de fa%er uma pausa para refle6(o+8ois ) .em poss*vel "ue sur3am diver!ências de opini(o "uanto ao modocomo podem ser tradu%idas em pol*ticas reais a necessidade decompai6(o, de valores espirituais .-sicos, de disciplina interior e aimport1ncia de uma conduta )tica+ Mas, na min'a opini(o, s(o valores

incontest-veis+A mente 'umana Rlo ) simultaneamente a fonte e, se orientada deforma apropriada, a soluç(o de todos os nossos pro.lemas+ /s "uead"uirem !rande erudiç(o mas n(o têm .om coraç(o correm o risco deserem atormentados por ansiedades e in"uietações "ue resultam de dese3os"ue n(o podem ser reali%ados+ Inversamente, a compreens(o !enu*na dosvalores espirituais tem o efeito oposto+ Xuando educamos nossas crianças para ad"uirirem con'ecimentos sem compai6(o, ) muito prov-vel "ue suaatitude para com os outros ven'a a ser uma com.inaç(o de inve3a da"ueles"ue ocupam posições superiores s suas, competitividade a!ressiva paracom seus pares e desd)m pelos menos afortunados, o "ue leva a uma propens(o para a !an1ncia, para a presunç(o, para os e6cessos e, muitorapidamente, perda da felicidade+ Con'ecimento ) importante+ Muitomais, por)m, ) o uso "ue l'e damos+VB<Isso depende do coraç(o e da mente de "uem o usa+

ducaç(o ) muito mais do "ue transmitir con'ecimentos e

'a.ilidades por meio dos "uais se atin!em o.3etivos limitados+ tam.)ma.rir os ol'os das crianças para as necessidades e direitos dos outros+8recisamos mostrar s crianças "ue suas ações têm uma dimens(ouniversal+ precisamos encontrar uma forma de estimular seussentimentos naturais de empatia para "ue ven'am a ter uma noç(o deresponsa.ilidade em relaç(o aos outros+ 8ois ) isso o "ue nos motiva a

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a!ir+ Se tiv)ssemos de escol'er entre con'ecimento e virtude, a 5ltimaseria sem d5vida a mel'or escol'a, pois ) mais valiosa+ / .om coraç(o"ue ) fruto da virtude ) por si s0 um !rande .enef*cio para a 'umanidade+/ mero con'ecimento, n(o+

Como, por)m, ensinar princ*pios morais s nossas crianças& 7en'o aimpress(o de "ue, em !eral, os sistemas educacionais modernosne!li!enciam a discuss(o de "uestões )ticas+ Isso provavelmente n(o )intencional, mas um su.produto da realidade 'ist0rica+ /s sistemaseducacionais seculares foram desenvolvidos numa )poca em "ue asinstituições reli!iosas ainda e6erciam !rande influencia em toda asociedade+ Como os valores )ticos e 'umanos eram ent(o e ainda s(ovistos como pertencentes esfera da reli!i(o, presumiu4se "ue esse

aspecto da educaç(o infantil seria atendido durante a sua formaç(oreli!iosa+ isso funcionou .astante .em at) a influência da reli!i(ocomeçar a declinar+ m.ora ainda e6ista, a necessidade n(o est- sendoatendida+ 8ortanto, temos de encontrar outra forma de mostrar s criançasVB"ue os vares 'umanos fundamentais s(o importantes+ tam.)m a3ud-4lasa desenvolver esses valores+

É claro "ue, em 5ltima an-lise, n(o se aprende a import1ncia daconsideraç(o pelos outros atrav)s de palavra mas atrav)s de ações# doe6emplo "ue se d-+ 8or essa ra%(o, o am.iente familiar ) um componentefundamental na educaç(o de uma criança+ Xuando n(o '- uma atmosferaafetuosa em casa, "uando os fil'os sofrem com descaso dos pais, ) f-cilrecon'ecer os pre3u*%os+ As crianças sentem4se indefesas e inse!uras eapresentam sintomas de mente a!itada+ Ao contr-rio, "uando rece.emafeiç(o e proteç(o constantes, mostram4se muito mais feli%es e confiantesem suas aptidões+ Sua sa5de f*sica tam.)m costuma ser mel'or+ nota4se"ue se preocupam n(o apenas consi!o mesmas mas tam.)m com os

outros+ / am.iente familiar ) tam.)m importante por"ue as criançasaprendem com os pais a incorporar um comportamento ne!ativo+ Se, por e6emplo, o pai est- sempre .ri!ando com as pessoas com "uem tra.al'a,se pai e m(e est(o sempre discutindo de maneira a!ressiva, a princ*pio acriança pode at) n(o !ostar, mas aca.a considerando a"uilo normal+ steaprendi%ado ) em se!uida levado de casa para o mundo e6terno+

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7am.)m n(o ) preciso di%er "ue a"uilo "ue as crianças aprendem so.reconduta )tica na escola deve antes de tudo ser praticado+ Xuanto a isso, os professores têm um responsa.ilidade especial+ Seu pr0prio comportamento pode fa%er as crianças lem.rarem4se deles pelo resto da vida+ Se esse

VBBcomportamento ) *nte!ro, disciplinado e .ondoso, seus valores ficar(o!ravados na mente das crianças, com repercussões em seucomportamento+ 8or"ue as lições ensinadas por um professor com umamotivaç(o positiva Rkun long , cu3as palavras correspondem ao seu modode a!ir, penetram mais fundo na mente do aluno+ Sei disso por e6periência pr0pria+ Xuando menino, era muito pre!uiçoso+ Mas se perce.ia afeiç(o ededicaç(o em meus mestres, suas lições !eralmente calavam mais fundo e

com muito mais sucesso do "ue nos dias em "ue al!um deles demonstravaaspere%a ou insensi.ilidade+ No "ue se refere aos aspectos espec*ficos da educaç(o, dei6o a

"uest(o para os especialistas+ :ou limitar4me, portanto, a al!umas poucassu!estões+ A primeira ) "ue, se "uisermos despertar a consciência dos 3ovens para a import1ncia dos valores 'umanos fundamentais, ) mel'or n(o apresentar os pro.lemas da sociedade atual como uma "uest(omeramente )tica ou reli!iosa+ É importante destacar "ue o "ue est- em 3o!o ) a manutenç(o de nossa so.revivência+ Dessa forma, passar(o asentir "ue o futuro est- em suas m(os+ m se!undo lu!ar, acredito "ue odi-lo!o pode e deve ser ensinado em sala de aula+ Apresentar aos alunosum assunto controvertido e estimular o de.ate entre eles ) uma e6celentemaneira de introdu%i4los ao conceito de resoluç(o n(o4violenta deconflitos+ Na realidade, seria muito .om se as escolas fi%essem desse tipode di-lo!o uma prioridade, pois isso traria .enef*cios para a pr0pria vidaVfamiliar+ Ao ver os pais .ri!ando, uma criança "ue compreendesse o valor 

do di-lo!o diria instintivamente# $N(o, n(o ) assim "ue se fa%, vocês têm"ue conversar, discutir as coisas da maneira certa,$

Hinalmente, ) imprescind*vel eliminar dos nossos curr*culosescolares "ual"uer tendência para apresentar os outros so. uma 0ticane!ativa, 6istem al!uns lu!ares do mundo em "ue o ensino de \ist0ria, por e6emplo, promove o fanatismo e o racismo contra outras

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comunidades+ / "ue est- errado, N(o contri.ui em nada para o .em da'umanidade, \o3e, mais do "ue nunca, precisamos mostrar s nossascrianças "ue as distinções entre $meu pa*s$ e $seu pa*s$, $min'a reli!i(o$ e$sua reli!i(o$ s(o secund-rias+ Antes de tudo, precisamos afrInar com

insistência "ue meu direito felicidade n(o tem mais peso do "ue o direitodo outro+ / "ue n(o si!nifica "ue as crianças devam a.andonar ou i!norar a cultura e a tradiç(o 'ist0rica do lu!ar em "ue nasceram+ 8elo contr-rio, )muito importante "ue se3am instru*das nesses fundamentos para "ueaprendam a amar seu pa*s, sua reli!i(o e sua cultura+ / peri!o ) "uandoisso evolui para um nacionalismo estreito, para o etnocentrismo e para aintoler1ncia reli!iosa+ / e6emplo do Ma'atma ?and'i ) pertinente a"ui+Mesmo tendo rece.ido uma educaç(o ocidental de alto n*vel, nunca

es"ueceu ou se afastou da rica 'erança de sua cultura indiana+Se a educaç(o ) uma de nossas armas mais poderosas na campan'a para um mundo mel'or e mais pac*fico, os meios de comunicaç(o demassa 4 a m*dia 4 s(o outra+V7odos os persona!ens pol*ticos sa.em "ue 'o3e n(o s(o mais os 5nicoscom autoridade na sociedade+ Al)m da influência dos 3ornais e livros, or-dio, o cinema e a televis(o 3untos e6ercem so.re as pessoas umainfluência "ue seria inima!in-vel '- cem anos+ ste enorme poder confere!rande responsa.ilidade a todos os "ue tra.al'am no setor+ Mas tam.)mconfere !rande responsa.ilidade a cada um de n0s "ue, como indiv*duos,escutamos, lemos e assistimos+ N0s tam.)m temos um papel adesempen'ar+ N(o somos impotentes diante da m*dia+ Afinal de contas, os .otões de controle ficam em nossas m(os+

 N(o estou defendendo a"ui notici-rios contidos ou distraçõesins*pidas+ Ao contr-rio, no "ue se refere ao 3ornalismo investi!ativo,respeito e aprecio a intervenç(o da m*dia+ Nem todos os funcion-rios dos

!overnos s(o 'onestos ao cumprir os seus deveres+ É muito conveniente, portanto, "ue e6istam 3ornalistas com nari%es t(o compridos "uantotrom.as de elefante .is.il'otando tudo e revelando as trans!ressões "ueencontrarem+ 8recisamos sa.er "uando e como essa ou a"uela pessoafamosa esconde um aspecto descon'ecido por tr-s de uma aparênciaa!rad-vel+ N(o deve 'aver discrep1ncia entre a aparência e6terna e a vida

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interior de uma pessoa+ É a mesma pessoa, afinal+ As discrep1nciasinsinuam "ue n(o s(o confi-veis+ Ao mesmo tempo, ) crucial "ue osmotivos de "uem investi!a se3am di!nos+ / m-6imo poss*vel deimparcialidade e o respeito pelos direitos do outro s(o indispens-veis para

n(o desvirtuar a investi!aç(o+V

Com relaç(o ao desta"ue dado pelos meios de comunicaç(o ao se6oe violência, '- muitos fatores a considerar+ m primeiro lu!ar, ) evidente"ue !rande parte do p5.lico !osta das sensações provocadas por esse tipode tema+ m se!undo, duvido muito "ue os "ue produ%em todoesse material contendo muito se6o e6pl*cito e violência ten'am a intenç(ode pre3udicar+ Seus motivos s(o com certe%a apenas comerciais+ Se isso )

 positivo ou ne!ativo importa menos na min'a opini(o do "ue se tem oun(o conse"Zências )ticas saud-veis+ Se assistir a um filme violentodesperta o sentimento de compai6(o em "uem o assiste, talve% a"uelarepresentaç(o da violência se 3ustifi"ue+ Se o ac5mulo de ima!ensviolentas aca.a levando indiferença ante o sofrimento, por)m, ac'o "uen(o ) recomend-vel+ ndurecer o coraç(o assim ) potencialmente peri!oso+ Leva facilmente falta de empatia+

Xuando os meios de comunicaç(o se concentram demasiado nosaspectos ne!ativos da nature%a 'umana, '- o peri!o de nos persuadirem"ue a violência e a a!ressividade s(o as principais caracter*sticas do'omem+ Creio "ue essa conclus(o ) um e"u*voco+ / fato de a violência ter tanto valor como not*cia su!ere e6atamente o oposto+ As not*cias positivasn(o c'amam tanto a atenç(o por"ue '- um e6cesso de not*cias positivas+ Num determinado momento deve 'aver se!uramente mil'ões de atos de .ondade acontecendo no mundo inteiro+ \- sem d5vida muitos atos deviolência sendo cometidos ao mesmo tempo, mas em n5mero muitomenor+ m conse"Zência, se a m*dia "uiser ser eticamente respons-vel,

VKdeve refletir so.re este simples fato É claramente necess-rio "ue os meiosde comunicaç(o se3am re!ulamentados+ / fato de impedirmos nossascrianças de assistirem a certas coisas indica "ue 3- fa%emos distinç(o entreo "ue ) e o "ue n(o ) apropriado de acordo com diferentes circunst1ncias+ntretanto, ) dif*cil sa.er se a le!islaç(o ) o mel'or camin'o para resolver 

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este pro.lema+ m todas as "uestões de )tica, a disciplina s0 realmenteefica% "uando vem de dentro+ 7alve% a mel'or maneira de nosasse!urarmos de "ue a"uilo "ue os meio de comunicaç(o produ%em )saud-vel este3a na maneira como educamos nossas crianças+ Se forem

educadas para serem conscientes de suas responsa.ilidades, ser(o maisdisciplinadas em seu contato com a m*dia+

7alve% se3a esperar demais "ue os meios de comunicaç(o promovamos ideais e princ*pios da compai6(o, mas ao menos podemos dese3ar "ueos profissionais desta -rea ten'am cuidado "uando 'ouver potencial paraimpacto ne!ativos+ Xue n(o 'a3a lu!ar para o est*mulo a atos ne!ativoscomo os de violência racial+ Al)m disso n(o sei di%er+ 7alve% pud)ssemosencontrar uma forma de li!ar mais diretamente os "ue criam 'ist0rias para

o setor de entretenimento e not*cias com o espectador, o leitor ou oouvinte+

VQ

/ MUND/ NA7U9AL

Se e6iste uma -rea em "ue tanto a educaç(o "uanto a m*dia têmespecial responsa.ilidade, esta ), secreio, nosso meio am.iente+ /utra ve%essa responsa.ilidade tem menos a ver com certo e errado do "ue "uest(oda so.revivência+ / mundo natural ) nosso lar+ N(o ) necessariamentesa!rado ou santo, ) simplesmente o lu!ar onde vivemos+ Sendo assim, )do nosso interesse cuidar dele+ 7rata4se apenas de .om senso+ S0 muitorecentemente o taman'o da populaç(o mundial e o poder da ciência e datecnolo!ia cresceram de tal modo, "ue passaram a ter um impacto diretoso.re a nature%a + m outras palavras, at) a!ora, a M(e Nature%aconse!uiu tolerar nosso desma%elo dom)stico, mas c'e!ou a um ponto em

"ue n(o pode mais aceitar nosso comportamento em silêncio+ /s pro.lemas causados pela de!radaç(o am.iental podem ser vistos como areaç(o da nature%a nossa irresponsa.ilidade+ st- avisando "ue at) a suatoler1ncia tem limites+

m nen'um outro lu!ar as conse"Zências de nossa falta de disciplinana maneira como nos relacionamos com a nature%a s(o mais aparentes do

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"ue no 7i.et atual+ N(o ) e6a!ero afirmar "ue o 7i.et em "ue cresci eraum para*so de vida selva!em+ 7odos os via3antes "ue o visitavam antes demeados do s)culo [[ o.servavam isso+ 9aramente se caçavam animais,e6ceto nas -reas mais remotas onde n(o era poss*vel plantar, por"ue nada

crescia ali+ /s funcion-rios do !overno costumavam lançar proclamaçõesanuais prote!endo os animais selva!ens cu3o te6to era# $Nin!u)m, se3ano.re ou ple.eu, far- mal ou praticar- violência contra as criaturas dasV-!uas ou das matas+$ S0 se fa%ia e6ceç(o aos ratos e aos lo.os+

Xuando rapa%, lem.ro4me de ter visto !randes "uantidades deanimais de diferentes esp)cies sempre "ue via3ava para fora de L'asa+ Alem.rança mais v*vida "ue ten'o da via!em de três meses atrav)s do

7i.et, de 7aYster, a leste, onde nasci, para L'asa, onde fui formalmente proclamado Dalai Lama aos "uatro anos de idade, ) a dos animaisselva!ens "ue encontr-vamos no camin'o+ Imensos re.an'os de kiang 

R.urros selva!ens e drong   Ria"ues va!avam livremente pelas !randes plan*cies+ De ve% em "uando avist-vamos as lustrosas  gowa, as t*midas!a%elas ti.etanas, ou os wa, os veados de .eiços .rancos, ou os tso, nossosimponentes ant*lopes+ Lem.ro ainda min'a fascinaç(o pelos pe"uenoschibi, ou la!2mios, "ue se reuniam nos relvados e "ue eram t(o ami!-veis+Adorava o.servar as aves, a ma3estosa gho R-!uia .ar.uda pairando nasalturas acima dos mosteiros encarapitados nas montan'as, os .andos de!ansos Rnagbar  e s ve%es, noite, ouvir o c'amado da wookpa, a coru3ade orel'as compridas+

Mesmo em L'asa, n(o nos sent*amos de modo al!um isolados domundo natural+ m meus aposentos no alto do 8otala, o pal-cio de invernodos dalai lamas, passei 'oras "uando criança estudando o comportamentodos khyungkar   de .ico vermel'o, "ue fa%iam nin'os nas fendas dasmural'as+ atr-s do Nor.ulin!Ya, o pal-cio de ver(o, via sempre casais detrung trung  R!arças 3aponesas de pescoço ne!ro, aves "ue para mim s(oum modelo de ele!1ncia e de !raciosidade, "ue viviam nos p1ntanos dali+VPtudo isso sem mencionar a !l0ria m-6ima da fauna ti.etana# os ursos eraposas das montan'as, os chanku Rlo.os, os sazik  R.el*ssimos leopardos .rancos, os  sik  Rlinces, "ue aterrori%avam os fa%endeiros n2mades, e os

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 pardas !i!antes com seu mei!o sem.lante, "ue s(o nativos da re!i(o dafronteira entre o 7i.et e a C'ina+

Lamentavelmente, essa profus(o de animais selva!em n(o pode maisser encontrada+ m parte devido caça, em parte devido perda do

habitat , o "ue resta meio s)culo depois da ocupaç(o do 7i.et ) apenas uma parcela do "ue e6istia antes+ Sem e6ceç(o, todos os ti.etanos com "uemfalei e "ue voltaram para visitar o 7i.et depois de trinta ou "uarenta anosde ausência mencionaram a surpreendente ausência de animais selva!ens+Antes esse animais costumavam apro6imar4se das casas e 'o3e em dia"uase n(o s(o vistos em lu!ar al!um+

I!ualmente in"uietante ) a devastaç(o das florestas ti.etanas+ Ascolinas, "ue eram co.ertas de .os"ues densos est(o lisas como ca.eças

raspadas de mon!es+ / !overno de Gei3in! admitiu "ue as terr*veisenc'entes no oeste da C'ina e arredores devem4se em parte a isso+ , noentanto, ouço constantemente relatos so.re com.oios de camin'ões "uese!uem na direç(o leste transportando madeira dia e noite para fora do7i.et+ / "ue ) tr-!ico, por causa do terreno montan'oso e do clima -sperodo pa*s+ Si!nifica "ue o reflorestamento e6i!iria cuidados e atençõessistem-ticos+ Infeli%mente '- poucos ind*cios disso+V<

 Nada disso si!nifica "ue n0s, ti.etanos, ten'amos sido 'ist0rica edeli.eradamente conservacionistas+ N(o fomos+ A id)ia de al!o c'amado$poluiç(o$ simplesmente nunca nos ocorreu+ N(o se pode ne!ar "ue fomos .astante mimados a esse respeito+ Ima!inem uma populaç(o redu%ida'a.itando uma !rande re!i(o com ar puro e seco e a.und1ncia de -!uacristalina das montan'as+ ssa atitude inocente com relaç(o limpe%arevelou4se "uando fomos e6ilados e desco.rimos, com surpresa, para citar um e6emplo, a e6istência de rios cu3a -!ua n(o era pot-vel Como no casode um fil'o 5nico, a M(e Nature%a tolerava nosso comportamento, n(o

importa o "ue fi%)ssemos+ / resultado ) "ue n(o t*n'amos umacompreens(o ade"uada das noções de 'i!iene e limpe%a+ As pessoascuspiam ou assoavam o nari% na rua sem pensar+ / "ue me fa% lem.rar umidoso 'amp#i, um anti!o mem.ro da escolta "ue costumava ir todos osdias andar em torno de min'a residência em D'aramsala Ruma devoç(o popular+ Lamentavelmente, ele sofria de uma forte .ron"uite, "ue era

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a!ravada pelo incenso "ue carre!ava+ A cada es"uina, parava para tossir ee6pectorar t(o furiosamente, "ue eu s ve%es me per!untava se ele teriavindo mesmo para re%ar ou s0 para cuspir

 No decorrer dos anos "ue se!uiram nossa vinda para o e6*lio,

interessei4me .astante por "uestões am.ientais+ / !overno ti.etano noe6*lio dedicou atenç(o especial a ensinar s nossas crianças as suasresponsa.ilidades como residentes deste fr-!il planeta+ nunca 'esito emmanifestar4me so.re o assunto todas as ve%es "ue ten'o oportunidade deVfa%ê4lo+ Sempre assinalo particularmente a necessidade de pensar comonossas ações podem afetar os outros "uando afetam o meio am.iente+Admito "ue isso Costuma ser dif*cil de avaliar+ Se n(o podemos prever 

com certe%a a.soluta, por e6emplo, "uais os efeitos finais "ue odesmatamento ter- so.re o solo e as c'uvas de um determinado local, "uedir- so.re Suas implicações para os sistemas clim-ticos do planeta+ A5nica certe%a ) "ue n0s 'umanos somos a 5nica esp)cie con'ecida com poder para destruir a terra+ As aves n(o têm esse poder, nem os insetos,nem "ual"uer mam*fero+ Contudo, se temos capacidade para destruir aterra, temos tam.)m para prote!ê4la+

É fundamental encontrar m)todos de fa.ricaç(o "ue n(o destruam anature%a+ 7emos de desco.rir formas de redu%ir o uso da nossa madeira ede outros recursos naturais limitados+ N(o sou especialista nesse campo en(o posso su!erir como isso deve ser feito+ Sei apenas "ue ) poss*vel se'ouver determinaç(o+ Lem.ro4me de ter ouvido, em uma visita astocolmo '- al!uns anos, "ue pela primeira ve% em muito tempo os pei6es estavam voltando ao rio "ue passa pela cidade+ At) pouco antes n(o'avia nen'um pei6e por causa da poluiç(o industrial+ essemel'oramento n(o ocorreu por"ue todas as f-.ricas locais tivessemfec'ado+ De modo semel'ante, numa visita Aleman'a, mostraram4me

um novo pro3eto industrial para evitar poluiç(o+ 8ortanto, decerto e6istemsoluções para limitar os pre3u*%os nature%a sem interromper as atividadesindustriais+

 N(o di!o isso por acreditar "ue 8odemos confiar na tecnolo!ia parasuperar todos /s nossos pro.lemas+ Mas tam.)m n(o creio "ue possamos permitir "ue as pr-ticas destrutivas Continuem en"uanto esperamos "ue

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al!u)m invente al!um 3eito de evit-4las+ Ali-s, n(o ) o meio am.iente "ue precisa de 3eito+ / nosso comportamento com relaç(o a ele ) "ue precisamudar+ 7en'o min'as d5vidas se, diante da ameaça iminente de umdesastre am.iental de !randes proporções, como o causado pelo efeito

estufa, seria poss*vel $dar um 3eito$, mesmo em teoria+ , supondo4se "uesim, ter*amos de per!untar se seria vi-vel aplic-4lo na escala e6i!ida+ asdespesas& o custo, no "ue refere aos recursos naturais& Ima!ino "ueseriam proi.itivos+ \- tam.)m o fato de 3- n(o e6istirem fundossuficientes para o tra.al'o "ue 8oderia ser reali%ado em muitos outrossetores como os de a3uda 'umanit-ria s v*timas da fome+ Ainda "ue sear!umentasse "ue os fundos necess-rios para a proteç(o am.iental poderiam ser levantados, seria "uase imposs*vel 3ustificar tal coisa,

moralmente falando+ Seria errado dispor de enormes "uantias parasimplesmente dei6ar as nações industriali%adas continuarem com suas pr-ticas nocivas en"uanto tantas pessoas em outros lu!ares n(o têm nemmesmo com "ue se alimentar+

7udo isso nos fa% voltar necessidade de recon'ecer a dimens(ouniversal de nossas ações e, Com .ase nisso, praticar a contenç(o+ ssaVnecessidade ) forçosamente comprovada "uando consideramos a propa!aç(o de nossa esp)cie+ m.ora o ponto de vista de todas as principais reli!iões se o de "ue "uanto mais seres 'umanos tivermos,mel'or, e apesar de al!unas pes"uisas indicarem uma prov-vel implos(o populacional da"ui a cem anos, ainda assim ac'o "ue n(o podemos dei6ar a "uest(o de lado+ Sendo um mon!e, talve% n(o se3a ade"uado comentar esses assuntos+ Mas acredito "ue o plane3amento familiar ) importante+ Éclaro "ue n(o estou insinuando "ue n(o se deva ter fil'os+ A vida 'umana) um recurso precioso e os casais devem te fil'os, a n(o ser "ue e6istamfortes ra%ões "ue os impeçam+ A id)ia de n(o ter fil'os s0 por"ue se "uer 

desfrutar uma vida plena sem responsa.ilidades ), a meu ver, .astantee"uivocada+ Ao mesmo tempo, no entanto, os casais têm o dever deconsiderar o impacto de uma populaç(o numerosa so.re o meio am.ienteem nosso mundo moderno+

Heli%mente, mais e mais pessoas recon'ecem a import1ncia dadisciplina )tica para asse!urar a e6istência de um lu!ar saud-vel onde

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viver+ 8or essa ra%(o, estou otimista "uanto possi.ilidade de se poder evitar um desastre+ At) relativamente pouco tempo n(o 'avia muita !entedando atenç(o aos efeitos da atividade 'umana em nosso planeta+Atualmente e6istem at) partidos pol*ticos cu3a maior preocupaç(o ) essa+

/ fato de o ar "ue respiramos, a -!ua "ue .e.emos, as florestas e osoceanos "ue a.ri!am mil'ões de diferentes formas de vida e os padrõesclim-ticos "ue !overnam nossos sistemas de tempo transcenderemVfronteiras nacionais 3- ) motivo para se ter esperança+ Si!nifica "uenen'um pa*s, n(o importa "u(o rico e poderoso ou "u(o po.re e fracose3a, pode dar4se o lu6o de n(o assumir uma posiç(o "uanto ao assunto+

 No "ue se refere responsa.ilidade individual, os pro.lemas "ue

resultam de nosso descuido do meio am.iente s(o uma severa advertência para lem.rarmos "ue todos temos uma contri.uiç(o a fa%er+ /s atos deuma 5nica pessoa podem n(o ter um impacto si!nificativo na nature%a,mas o efeito com.inado dos atos de mil'ões de pessoas certamente e6erce+/ "ue si!nifica "ue est- na 'ora de todos a"ueles "ue vivem em pa*sesdesenvolvidos industrialmente pensarem seriamente em modificar seuestilo de vida+ N(o ) apenas uma "uest(o de )tica+ / fato de a populaç(odo resto do mundo tam.)m ter direito de mel'orar seu padr(o de vida ) decerta forma mais importante do "ue os ricos poderem continuar mantendoseu estilo de vida+ 8ara "ue isso se3a feito sem causar danos irrepar-veis nature%a 4 com todas as conse"Zências ne!ativas para a felicidade de todos4, os pa*ses ricos precisam dar o e6emplo+ / custo para o planeta, e portanto para a 'umanidade, do aumento constante dos padrões de vida )simplesmente e6cessivo+

V8/L7ICA C/N/MIA

7odos son'amos com um mundo mais a!rad-vel e feli%+ Se"uisermos "ue o son'o se tome realidade, ) preciso "ue a compai6(oinspire todos os nossos atos+ Isso aplica de modo especial s nossasmedidas pol*ticas econ2micas+ Considerando4se "ue provavelmentemetade da populaç(o do mundo carece de recursos para suprir suas

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necessidades .-sicas de alimento, a.ri!o, cuidados m)dicos e educaç(o,ac'o "ue precisamos "uestionar se realmente estamos se!uindo o rumomais acertado a esse respeito+ N(o creio+ Se 'ouvesse "ual"uer ind*cio de"ue nos pr06imos cin"Zenta anos, continuando com os memmos m)todos,

conse!u*ssemos erradicar definitivamente a po.re%a, talve% a atualdesi!ualdade da distri.uiç(o da ri"ue%a se 3ustificasse+ Se, ao contr-rio, persistirem as tendências de 'o3e, ) certo "ue os po.res ficar(o ainda mais po.res+ Gasta um pouco do nosso senso fundamental de e"uidade e 3ustiça para sa.er "ue n(o ficar*amos satisfeitos se dei6-ssemos isso acontecer+

É claro "ue n(o con'eço muita coisa de economia+ Mas ac'o dif*cilevitar concluir "ue a fartura dos ricos mant)m4se com o descaso pelos po.res, especialmente atrav)s das d*vidas internacionais+ / "ue n(o "uer 

di%er "ue os pa*ses su.desenvolvidos n(o ten'am uma parcela deresponsa.ilidade por seus pro.lemas+ Nem "ue se deva atri.uir aos pol*ticos e funcion-rios dos !overnos a culpa por todos os males sociais e pol*ticos+ N(o ne!o "ue at) mesmo nas democracias mais est-veis domundo se3a comum ouvir promessas pouco realistas de pol*ticos "uealardeiam o "ue v(o fa%er "uando forem eleitos+ Mas essas pessoas n(ocaem do c)u por acaso+ 8ortanto, se ) verdade "ue os pol*ticos deVKdeterminado pa*s s(o corruptos, costumamos ac'ar "ue tam.)m asociedade da"uele pa*s ) imoral e os indiv*duos "ue formam a populaç(on(o levam a vida de maneira )tica+ Neste caso, n(o ) 3usto "ue o eleitoradocriti"ue seus pol*ticos+ 8or outro lado, "uando as pessoas têm valoressadios e praticam a disciplina )tica em sua vida pessoal por"ue têmconsideraç(o pelos outros, os funcion-rios do !overno "ue essa sociedade produ% respeitar(o naturalmente os mesmos valores+ Cada um de n0s, portanto, tem um papel a desempen'ar na criaç(o de uma sociedade em"ue o respeito e o cuidado pelos outros, .aseados na empatia, s(o a

 prioridade maior+ No "ue se refere aplicaç(o de pol*ticas econ2micas, as

considerações s(o as mesmas "ue valem para "ual"uer atividade 'umana+Uma noç(o de responsa.ilidade universal ) imprescind*vel+ Devo admitir,todavia, "ue ac'o um tanto dif*cil fa%er su!estões pr-ticas so.re aaplicaç(o de valores espirituais em uma -rea como a do com)rcio+ /

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motivo ) a concorrência ter a* uma funç(o t(o relevante, o "ue torna arelaç(o entre empatia e lucro necessariamente fr-!il+ Ainda assim, n(ove3o por "ue n(o se3a poss*vel e6istir concorrência construtiva+ / principalfator ) a motivaç(o dos envolvidos+ Xuando a intenç(o ) e6plorar ou

destruir os outros, evidentemente o resultado n(o pode ser positivo+8or)m, se a concorrência for efetuada dentro de um esp*rito de!enerosidade e .oas intenções, mesmo sendo desa!rad-vel para a"ueles"ue perdem, ao menos n(o causar- danos desnecess-rios+VQ

/utra ve% pode4se o.3etar "ue no mundo dos ne!0cio n(o seriarealista as pessoas terem prioridade so.re os lucros+ Mas precisamoslem.rar "ue a"ueles "ue diri!em as ind5strias e ne!0cios do mundo

tam.)m s(o pessoas+ At) o mais empedernido empres-rio n(o poderiadei6ar de admitir "ue n(o est- certo correr atr-s dos lucros sem seimportar com as conse"Zências+ Se fosse, n(o 'averia pro.lema emne!ociar com dro!as+ 8ortanto, o "ue se "uer ) "ue cada um de n0sdesenvolva o lado compassivo de seu car-ter+ Xuanto mais o fi%ermos,mais as empresas refletir(o os valores 'umanos fundamentais+

Se, ao contr-rio, esses valores forem ne!li!enciados, inevitavelmenteo mundo dos ne!0cios ir- ne!li!enci-4los tam.)m+ N(o se trata apenas deidealismo+ A \ist0ria mostra "ue muitos dos avanços positivos dasociedade 'umana ocorreram, pelo menos em parte, como resultado dacompai6(o+ Como a a.oliç(o do com)rcio de escravos+ Se e6aminarmos aevoluç(o da sociedade 'umana, constataremos a necessidade de se ser vision-rio para produ%ir mudanças positivas+ /s nossos ideais s(o o mais poderoso motor do pro!resso+ I!norar este fato e meramente di%er "ue precisamos ter pol*ticas $realistas$ ) um erro !rave+

 Nossos pro.lemas de disparidade econ2mica s(o um s)rio desafio para toda a fam*lia 'umana+ Ainda assim, ao entrarmos em um novo

milênio, acredito "ue temos .oas ra%ões para ser otimistas+ Durante oin*cio e em meados do s)culo #66 'avia um sentimento !enerali%ado de"ue o poder econ2mico estava acima da verdade+ Mas creio "ue isso est-Vmudando+ Mesmo as nações mais ricas e poderosas compreendem "ue n(ovale a pena dei6ar de lado os valores 'umanos .-sicos+ A noç(o de )tica

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nas relações internacionais tam.)m est- !an'ando terreno+ Se3am ou n(otradu%idas em ações si!nificativas, ao menos palavras como$reconciliaç(o$, $n(o4violência$ e $compai6(o$ est(o se incorporando aovoca.ul-rio dos pol*ticos, o "ue 3- ) um .om avanço+ 8erce.o "ue, "uando

via3o para o e6terior, pedem4me fre"Zentemente "ue fale so.re pa% ecompai6(o para !randes plat)ias 4 muitas ve%es, mais de mil pessoas+Duvido "ue esses t0picos atra*ssem tanta !ente '- "uarenta ou cin"Zentaanos+ 7ransformações assim indicam "ue, coletivamente, estamosatri.uindo mais peso a valores fundamentais como 3ustiça e verdade+

9econforta4me tam.)m ver "ue a economia mundial torna4sevisivelmente mais interdependente medida "ue evolui+ 7oda naç(odepende at) certo ponto de todas as outras+ A economia moderna, como o

meio am.iente, n(o tem fronteiras+ At) os pa*ses declaradamente 'ostisentre si precisam praticar a cooperaç(o para utili%ar recursos+ Muitasve%es, por e6emplo, depender(o dos mesmos rios+ "uanto maisinterdependentes forem nossas relações econ2micas, mais interdependentese torna nosso relacionamento pol*tico+ 8resenciamos, por e6emplo, ocrescimento da Uni(o urop)ia iniciada com um pe"ueno !rupo de parceiros comerciais e "ue se torna al!o pr06imo de uma confederaç(o deVPstados com um n5mero mem.ros "ue 3- atin!e dois d*!itos+ Constatamosa maç(o de !rupos semel'antes, se .em "ue at) o momento n(o t(odesenvolvidos, por todo o mundo# a Associaç(o das Nações do Sudeste daWsia RASAN, a /r!ani%aç(o da Unidade Africana R/AU, a/r!ani%aç(o dos 8a*ses 6portadores de 8etr0leo R/88, para citar apenas três+ Cada uma delas ) um testemun'o do impulso 'umano paraunir4se em prol do .em comum e reflete a cont*nua evoluç(o da sociedade'umana+ / "ue começou com relativamente pe"uenas unidades tri.ais pro!rediu atrav)s da fundaç(o das cidades4estados para as nações,

evoluindo a!ora para alianças, entre elas, a.ran!endo centenas de mil'aresde pessoas, transcendendo cada ve% mais divisões !eo!r-ficas, culturais e)tnicas+ Acredito "ue essa ) uma tendência "ue vai e deve persistir+

 No entanto, n(o podemos es"uecer "ue, paralelamente proliferaç(odessas alianças pol*ticas e econ2micas, perce.e uma 1nsia de maior fortalecimento no "ue se fere a etnias, l*n!uas, reli!iões e cultura ] 

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fre"Zentemente em um conte6to de violência posterior ao afrou6amentodos v*nculos "ue caracteri%am a condiç(o de naç(o+ Como compreender esse parado6o# de um lado, a tendência para a formaç(o de !rupos decooperaç(o transnacional e, de outro, o impulso para a descentrali%aç(o&

 Na verdade n(o ) preciso 'aver necessariamente uma contradiç(o entre asduas coisas+ Ainda assim ) poss*vel ima!inar comunidades re!ionaisunidas pelo com)rcio, pelas pol*ticas sociais e de se!urança e formadas deV<uma multiplicidade de !rupos )tnicos, culturais e reli!iosos aut2nomos+8oderia e6istir um sistema le!al para prote!er os direitos 'umanos .-sicoscomuns a todos e "ue desse li.erdade a cada !rupo para manter o modo devida dese3ado+ Ao mesmo tempo, ) importante "ue o esta.elecimento das

uniões entre pa*ses se3a volunt-rio e .aseado no recon'ecimento de "ue osinteresses dos envolvidos ser(o mais .em atendidos atrav)s dacola.oraç(o m5tua+ ssas uniões n(o podem ser impostas+ Se!uramente, odesafio do novo milênio ) encontrar meios de o.ter uma cooperaç(ointernacional 4 ou mel'or, intercomunit-ria 4 na "ual a diversidade 'umanase3a recon'ecida e os direitos de todos se3am respeitados+

VCap*tulo Q

8A^ DSA9MAMN7/

/ presidente Mao disse certa ve% "ue o poder pol*tico prov)m docano de uma arma+ É verdade "ue a violência pode ser um meio para seatin!ir al!uns o.3etivos de curto pra%o, mas n(o para alcançar metasduradouras+ Se e6aminamos a \ist0ria, vemos "ue, com o tempo, o amor da 'umanidade pela pa%, pela 3ustiça e pela li.erdade sempre aca.a

triunfando so.re a crueldade e a opress(o+ É por isso "ue acreditofervorosamente na n(o4violência+ :iolência !era violência+ si!nificaapenas uma coisa# sofrimento+ m teoria, ) poss*vel conce.er umasituaç(o em "ue a 5nica maneira de evitar um conflito em lar!a escala se3aatrav)s da intervenç(o armada no est-!io inicial+ / pro.lema ) "ue )muito dif*cil, se n(o imposs*vel, prever os efeitos da violência+ tam.)m

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nunca podemos estar se!uros de "ue sua causa ) 3usta+ Isso apenas ficaclaro "uando se pode avaliar mais tarde a situaç(o+ A 5nica certe%a ) "ue,"uando '- violência, sempre e inevitavelmente '- sofrimento+

Al!umas pessoas dir(o "ue a devoç(o do Dalai Lama n(o4violência

) louv-vel mas n(o ) pr-tica+ Mas, na realidade, ) muito mais in!ênuosupor "ue os pro.lemas criados pelo 'omem e "ue levam violênciaVB possam 3amais ser resolvidos atrav)s do conflito+ /.servem, por e6emplo,"ue a n(o4violência foi a principal caracter*stica das revoluções pol*ticas"ue se alastraram por tantas partes do mundo durante a d)cada de +

stou convencido de "ue a principal ra%(o para as pessoas ac'arem"ue o camin'o da n(o4violência ) pouco pr-tico deve4se ao fato de "ue

 parece n(o adiantar nada enveredar por ele, pois a sensaç(o ) de des1nimo+Apesar disso, vale a pena pensar "ue anti!amente .astava dese3ar a pa% para sua pr0pria terra, ou para a de seu vi%in'o, e 'o3e se fala de pa%mundial+ É compreens*vel+ A interdependência 'umana ) 'o3e t(ofla!rante "ue s0 fa% mesmo sentido falar de pa% mundial+

Um dos aspectos mais promissores da era moderna ) o sur!imento deum movimento internacional pela pa%+ Se temos a impress(o de "ue se falamenos deste assunto do "ue se falou a respeito do fim da ?uerra Hriatalve% se3a por"ue seus ideais foram incorporados como tendências predominantes da consciência coletiva+ 8or)m, a "ue me refiro "uandofalo de pa%& N(o seria a !uerra uma atividade 'umana natural, se .em "uedeplor-vel& Antes de responder, precisamos fa%er distinç(o entre duasformas de compreender a pa%+ la pode ser vista como uma simplesausência de !uerra ou como um estado de tran"Zilidade .aseado em uma profunda sensaç(o de se!urança, oriunda da compreens(o m5tua, datoler1ncia pelos pontos de vista dos outros e do respeito por seus direitos+ N(o foi este o tipo de pa% "ue vimos na uropa durante as "uatro d)cadas

Ve meia da ?uerra Hria, por e6emplo+ A premissa em "ue se .aseava era omedo, a desconfiar e a estran'a psicolo!ia da destruiç(o mutuamenteasse!urada Rem in!lês, a e6press(o mutually assured destructi  foiconvenientemente a.reviada para MAD, "ue "uer di%er $louco$,$insensato$+ Na realidade, a pa% "ue caracteri%ava a ?uerra Hria era t(o

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 prec-ria, t(o fr-!il, "ue "ue "ual"uer mal4entendido mais s)rio em um doslados pode ter tido conse"Zências desastrosas+ /l'ando para tr-s, principalmente com o con'ecimento "ue temos 'o3e como pode ser ca0tica a administraç(o dos setores de armamentos, ac'o "ue ) "uase um

mila!re termos escapado da destruiç(oA pa% n(o ) al!o "ue e6iste de modo independente de n0s, a !uerra

tam.)m n(o+ É certo "ue al!uns indiv*duos em especial 4 l*deres pol*ticos,respons-veis por pol*ticas, !enerais 4 têm s)rias responsa.ilidades no "uese refere pa%+ Contudo, essas pessoas n(o sa*ram do nada+ N(o nasceramnem foram criadas no espaço sideral+ Como n0s, foram alimentadas com oleite e o afeto de suas m(es+ S(o mem.ros de nossa fam*lia 'umana ecresceram dentro da sociedade "ue n0s a3udamos a criar+ A pa% do mundo

depende portanto da pa% do coraç(o das pessoas+ / "ue, por sua ve%,depende de todos n0s praticarmos a )tica, disciplinando nossas reações aos pensamentos e emoções ne!ativos e desenvolvendo "ualidades espirituaisfundamentais+

Se a verdadeira pa% ) al!o mais profundo do "ue fr-!il e"uil*.rio .aseado em m5tua 'ostilidade, se em 5ltima an-lise depende da resoluç(ode conflitos internosO o "ue di%er da !uerra& Apesar de, parado6almente, oo.3etivo da maioria das campan'as militares ser a pa%, na verdade a !uerra) como um incêndio na comunidade 'umana, um incêndio cu3ocom.ust*vel s(o pessoas vivas+ 8arece4se tam.)m com um incêndio namaneira como se propa!a+ Se o.servarmos a evoluç(o do recente conflitona anti!a Iu!osl-via, veremos "ue o "ue começou como uma disputalocali%ada cresceu rapidamente e en!olfou toda a re!i(o+ De modosemel'ante, se e6aminarmos uma .atal'a isoladamente, veremos "ue oscomandantes enviam reforços "uando perce.em "ue '- pontosenfra"uecidos na defesa ou no ata"ue+ / "ue ) e6atamente i!ual a 3o!ar !ente viva em uma fo!ueira+ / '-.ito nos fa% i!norar isso+ Dei6amos de

recon'ecer "ue a verdadeira nature%a da !uerra ) a fria crueldade e osofrimento+

A triste verdade ) "ue fomos condicionados a encarar os procedimentos de !uerra como al!o e6citante e at) !lamouroso# ossoldados marc'ando com uniformes vistosos Rt(o atraentes para ascrianças, com suas .andas militares tocando ao lado+ Apesar de vermos o

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assassinato como al!o terr*vel, n(o associamos a !uerra com acriminalidade+ 8elo contr-rio, a !uerra ) vista como uma oportunidade para as pessoas provarem a sua competência e a sua cora!em+ Halamosso.re os 'er0is "ue a !uerra produ% "uase como se o 'ero*smo do

indiv*duo fosse medido pelo n5mero de inimi!os mortos+ falamos so.reessa ou a"uela arma como uma invenç(o tecnol0!ica maravil'osa,es"uecendo "ue ser- usada para mutilar e matar pessoas vivas+ Seu ami!o,Vmeu ami!o, nossas m(es, nossos pais, nossas irm(s e nossos irm(os, vocêe eu+

/ "ue ) ainda pior ) o fato de, nas operações militares modernas, o papel da"ueles "ue as promovem ser desempen'ado .em lon!e do local

do conflito+ Ao mesmo tempo, o impacto dessas operações militares nosn(o4com.atentes cresce sempre+ /s "ue mais sofrem nos conflitosarmados de 'o3e em dia s(o os inocentes# n(o s0 as fam*lias dos "ue est(olutando, como, em n5meros cada ve% maiores, civis "ue fre"Zentementenem mesmo têm um papel ativo+ Mesmo depois do final da !uerra, o sofri4mento continua com os estra!os causados pelas minas terrestres e oenvenenamento causado pelas armas "u*micas, sem falar nas adversidadesecon2micas "ue tra%+ / "ue si!nifica "ue, mais e mais, mul'eres, criançase idosos est(o entre as principais v*timas das !uerras+

A realidade das !uerras modernas ) "ue o empreendimento inteirotornou4se "uase como um 3o!o de computador+ A sofisticaç(o crescente doarmamento ultrapassou a capacidade ima!inativa da m)dia das pessoaslei!as+ Seu poder de destruiç(o ) t(o espantoso, "ue os ar!umentos afavor das !uerras, "uais"uer "ue se3am eles, têm de ser consideravelmenteinferiores aos ar!umentos contra+ C'e!a a ser perdo-vel sentir nostal!ia pela maneira como as .atal'as eram reali%adas anti!amente+ Ao menos as4 pessoas lutavam cara a cara com as outras+ N(o 'avia como esconder o

sofrimento "ue as !uerras causavam+ , na"uele tempo, os diri!entesKcostumavam liderar suas tropas nas .atal'as+ Se o comandante fossemorto, !eralmente a "uest(o estava decidida+ ntretanto, medida "ue atecnolo!ia pro!rediu, os !enerais começaram a ficar mais distantes, l-atr-s+ \o3e, eles podem ficar a "uil2metros de dist1ncia em suas casamatas

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su.terr1neas+ m vista disso, c'e!o a ima!inar a invenç(o de uma .ala$inteli!ente$ "ue pudesse ir atr-s da"ueles "ue tomam as decisões defa%er !uerras+ 8arece4me "ue seria mais 3usto assim e talve% fosse .em4vinda uma arma "ue os eliminasse e dei6asse ilesos os inocentes+

8or causa das caracter*sticas desses instrumentos de destruiç(o, "uer ten'am sido pro3etados com prop0sitos ofensivos ou defensivos, precisamos admitir "ue as armas e6istem unicamente para ani"uilar seres'umanos+ Mas para "ue n(o se ima!ine "ue a pa% depende apenas dedesarmamento, ca.e ainda lem.rar "ue as armas n(o a!em so%in'as+Apesar de serem inventadas para matar, n(o causam nen'um dano f*sicoen"uanto est(o !uardadas nos dep0sitos+ Al!u)m tem "ue apertar um .ot(o para lançar um m*ssil, ou pu6ar um !atil'o para dar um tiro+ N(o )

nen'um $poder mali!no$ "ue fa% isso+ S(o os 'omens+ 8ortanto, acon"uista de uma !enu*na pa% mundial tam.)m re"uer "ue comecemos adesativar as forças militares "ue formamos+ N(o podemos ter esperançasde desfrutar a pa% em seu sentido pleno en"uanto e6istir a possi.ilidade deal!uns poucos indiv*duos ainda e6ercerem poder militar e imporem suavontade aos outros+ /u en"uanto 'ouver re!imes autorit-rios sustentadosVQ por forças armadas "ue n(o 'esitem em praticar a in3ustiça so. suasordens+ A in3ustiça solapa a verdade, e sem verdade n(o pode 'aver pa%duradoura+ 8or "ue n(o& 8or"ue "uando temos a verdade ao nosso ladotemos tam.)m fran"ue%a, a 'onestidade e a confiança "ue vêm 3unto comela+ Inversamente, "uando falta a verdade, a 5nica maneira de atin!ir nossas metas limitadas ) atrav)s da força+ "uando as decisões s(otomadas dessa maneira, ser levar em conta a verdade, as pessoas n(o sesentem .em 4 tanto os vencedores "uanto os vencidos+ sse sentimentone!ativo mina a pa% "ue ) imposta pela força+

É evidente "ue n(o se pode esperar "ue essa desativaç(o do aparato

militar se faça da noite para o dia+ 8or mais "ue se3a dese3-vel, seriae6tremamente dif*cil conse!uir um desarmamento unilateral+ Se dese3amosuma sociedade em "ue o conflito armado se torne uma coisa do passado,nosso o.3etivo final deve ser a.olir todo o aparato militar+ Mas ) "uerer demais "ue todas as armas se3am eliminadas, pois, afinal, at) nossos pun'os podem ser usados como armas+ 'aver- sempre !rupos de

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desordeiros e fan-ticos para pertur.ar os outros+ 7emos de admitir "ue,en"uanto e6istirem seres 'umanos, ser- necess-rio encontrar maneiras delidar com os canal'as+

Cada um de n0s tem uma funç(o a cumprir nessa "uest(o+ Xuando

nos desarmamos internamente ] refreando pensamentos e emoçõesne!ativos e cultivando "ualidades positivas 4, criamos condições para odesarmamento e6terno+ A pa% mundial !enu*na e duradoura s0 ser- poss*vel como resultado do esforço interno de cada um de n0s+ A emoç(oVaflitiva ) o o6i!ênio do conflito+ É essencial nos mantermos sens*veis aosoutros e, recon'ecendo seu direito felicidade, n(o fa%ermos nada "uecontri.ua para seu sofrimento+ 8ara a3udar4nos nessa tarefa, vale a pena

refletir na maneira como a !uerra ) realmente vivida por suas v*timas+8ara mim, .asta lem.rar min'a visita a \iro6ima para reavivar todo o seu'orror+ m um dos seus museus, vi um rel0!io "ue parou no e6atomomento "ue a .om.a e6plodiu+ 7am.)m vi um pe"ueno pacote dea!ul'as de costura "ue se 'aviam fundido com o seu calor+

/ "ue se e6i!e, portanto, ) o esta.elecimento de o.3etivos definidos para o desarmamento !radual+ promover 4 a vontade pol*tica parae6ecut-4lo+ Xuanto s medidas pr-ticas para desativar o aparato militar,temos "ue admitir "ue isto s0 pode ocorrer dentro do conte6to de umamplo compromisso com o desarmamento+ N(o .asta pensar somente emeliminar as armas de destruiç(o maciça+ É preciso criar condiçõesfavor-veis a nosso o.3etivo+ A forma mais simples de fa%ê4lo ) aproveitar e desenvolver as iniciativas 3- e6istentes, o "ue me fa% pensar no esforçode muitos anos para controlar a proliferaç(o de al!umas classes de armase, em al!uns casos, para elimin-4las+ Durante as d)cadas de < e  presenciamos os de.ates dos 7ratados para Limitaç(o de Armasstrat)!icas RSAL7 entre os .locos ocidental e oriental+ 7emos '- muitos

anos um vanta3oso tratado para a n(o4proliferaç(o de armas nucleares "ueVPconta com a ades(o de muitos pa*ses+ , a despeito da disseminaç(o dasarmas nucleares, a id)ia de uma interdiç(o mundial ainda est- presente+\ouve tam.)m pro!ressos animadores no "ue se refere condenaç(oformal das minas terrestres+ Na ocasi(o em "ue este livro est- sendo

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escrito, a maioria dos !overnos 3- assinou declarações renunciando suautili%aç(o+ Assim, mesmo sendo verdade "ue nen'uma dessas iniciativasalcançou todas as suas metas com sucesso, sua pr0pria e6istência indica"ue tais m)todos de destruiç(o s(o indese3-veis+ 7odas elas comprovam o

dese3o fundamental do ser 'umano de viver em pa%, al)m de proporcionarem um começo muito 5til com possi.ilidades dedesenvolvimento+

/utra forma de nos apro6imarmos do o.3etivo de desativar o aparatomilitar !lo.al ) aca.ar !radualmente com a ind5stria de armas+ 8aramuitos, essa su!est(o vai parecer a.surda e invi-vel+ Dir(o "ue, a menos"ue todos concordassem em fa%ê4lo ao mesmo tempo, isso seria umaloucura+ tam.)m "ue nunca vai acontecer+ "ue, ainda por cima, '- a

"uest(o econ2mica a ser considerada+ ntretanto, se ol'armos o assunto do ponto de vista da"ueles "ue sofrem as conse"Zências da violência armada,) imposs*vel "uerer se es"uivar da responsa.ilidade de procurar superar essas o.3eções de uma ou outra maneira+ Sempre "ue penso na ind5stria dearmas e nos sofrimentos "ue !era, lem.ro min'a visita ao campo dee6term*nio na%ista de Ausc'Eit%+ n"uanto ol'ava os fornos onde foram"ueimados mil'ares de seres 'umanos como eu 4 muitos deles ainda vivos,V<!ente "ue sofreria at) com a "ueimadura de um mero palito de f0sforoaceso 4, o "ue mais me impressionou foi o fato de esses fornos terem sidoconstru*dos com o cuidado e a atenç(o de art*fices talentosos+ Xuase podiaver os en!en'eiros Rtodos pessoas inteli!entes em suas pranc'etas, plane3ando meticulosamente o formato das c1maras de com.ust(o ecalculando o taman'o das c'amin)s, sua altura e capacidade de e6aust(o+8ensei nos oper-rios "ue reali%aram a o.ra de acordo com o pro3eto+ Semd5vida or!ul'aram4se de seu tra.al'o, como fa%em os .ons profissionais+ ocorreu4me "ue ) precisamente isso o "ue os pro3etistas e fa.ricantes de

armas modernos est(o fa%endo+ les, tam.)m, est(o criando os meios dedestruir mil'ares, mil'ões de semel'antes+ N(o ) uma id)ia pertur.adora&7endo isso em mente, todas as pessoas "ue reali%am esse tipo de tra.al'ofariam .em em refletir so.re seu envolvimento+ Sem d5vida, elassofreriam se sua ren5ncia fosse unilateral+ Sem d5vida, tam.)m, aseconomias dos pa*ses fa.ricantes de armas sofreriam se essas ind5strias

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fossem fec'adas+ Mas ser- "ue n(o valeria a pena pa!ar o preço& Al)mdisso, aparentemente e6istem muitos casos no mundo de compan'ias "uedei6aram de fa.ricar armas para produ%ir outros tipos de produtos+ 7emostam.)m o e6emplo de um pa*s desmilitari%ado, "ue ) interessante analisar 

comparando4o com seus vi%in'os# a Costa 9ica, "ue se desarmou emBQB, com enormes .enef*cios em termos de padr(o de vida, sa5de eeducaç(o+V

Xuanto ao ar!umento de "ue talve% fosse mais realista restrin!ir ae6portaç(o de armas a pa*ses considerados confi-veis e se!uros, devodi%er "ue isso reflete uma vis(o pouco perspica% do assunto+ F- ficourepetidamente provado "ue isso n(o d- certo+ 7odos con'ecemos a 'ist0ria

recente do ?olfo 8)rsico+ Durante a d)cada de <, os aliados ocidentaisarmaram o [- do Ir( para neutrali%ar a ameaça russa+ Xuando o clima pol*tico mudou, o pr0prio Ir( foi considerado uma ameaça aos interessesocidentais+ nt(o, os aliados começaram a armar o Ira"ue contra o Ir(+ "uando os tempos mudaram outra ve%, essas armas foram usadas contra osoutros aliados do /cidente no ?olfo RuEait+ Como resultado, os pa*sesfa.ricantes de armas viram4se em !uerra contra seus pr0prios clientes+ moutras palavras, n(o e6iste cliente $se!uro$ para o com)rcio de armas+

 N(o posso ne!ar "ue min'a aspiraç(o pelo desarmamento mundial e pela desativaç(o do aparato militar ) uma aspiraç(o idealista+ Masconstato "ue e6istem claras ra%ões para o otimismo+ Uma delas,ironicamente, ) ser muito dif*cil ima!inar uma situaç(o em "ue as armasnucleares e outras de destruiç(o em massa se3am 5teis+ Nin!u)m "uer cor4rer o risco de uma !uerra nuclear total+ ssas armas s(o o.viamente umdesperd*cio de din'eiro+ A produç(o ) cara, ) imposs*vel us-4las e s0 o "uese pode fa%er ) estoc-4las, o "ue tam.)m custa muito din'eiro+ S(o portanto inteiramente in5teis e servem apenas para consumir recursos+

/utro motivo de otimismo ) o firme entrelaçamento das economiasnacionais, criando um clima em "ue as noções de vanta!ens e interessesVB puramente nacionais tornam4se cada ve% menos si!nificativas+Conse"Zentemente, a id)ia da !uerra como meio de resolver conflitos est-começando a parecer decididamente anti"uada+ É verdade "ue onde '-

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 pessoas sempre 'aver- conflitos+ É inevit-vel "ue sur3am desacordos detempos em tempos+ Mas, devido pro!ressiva disseminaç(o das armasnucleares nos dias de 'o3e, temos de encontrar uma alternativa violência para resolver os conflitos 4 o "ue si!nifica a .usca de di-lo!o dentro de um

esp*rito de reconciliaç(o e compromisso+ Isso n(o ) um dese3o fantasiosode min'a parte+ A tendência !lo.al para a uni(o pol*tica internacional, de"ue a Uni(o urop)ia talve% se3a o e6emplo mais 0.vio, ) sintoma de "ue) poss*vel visuali%ar um tempo em "ue manter um e6)rcito permanenteapenas nacional parecer- desnecess-rio e antiecon2mico+ m ve% de pensar somente em prote!er as pr0prias fronteiras, ser- mais l0!icoraciocinar em termos de se!urança re!ional+ isso 3- est- começando aacontecer+ F- e6istem planos, se .em "ue e6perimentais, de inte!rar mais

as defesas europ)ias, e uma .ri!ada de e6)rcito franco4alem( 3- e6iste '-mais de de% anos+ 8arece ent(o poss*vel, pelo menos no "ue se refere Comunidade urop)ia, "ue a"uilo "ue começou sendo apenas uma aliançacomercial aca.e assumindo a responsa.ilidade pela se!urança re!ional+ ,se isso ) poss*vel dentro da uropa, '- ra%ões para se esperar "ue outros!rupos internacionais de com)rcio 4 "ue s(o muitos 4 possam um dia fa%er o mesmo+ 8or"ue n(o&VK

/ sur!imento de tais a!rupamentos para se!urança re!ionalcontri.uiria muito para "ue a atual preocupaç(o com as nações4estadosevolu*sse para a aceitaç(o !radual de comunidades menos ri!orosamentedefinidas+ les poderiam tam.)m preparar o camin'o para um mundo em"ue n(o 'averia e6)rcitos permanentes+ sse cen-rio teria naturalmente deevoluir em est-!ios+ As forças armadas nacionais dariam lu!ar a !ruposre!ionais de se!urança+ stes, em se!uida, poderiam ser pouco a poucodispersados, dei6ando apenas uma força policial administrada!lo.almente+ / principal encar!o dessa força seria prote!er a 3ustiça, a

se!urança comum e os direitos 'umanos em todo o mundo+ Seus deveresespec*ficos seriam por)m variados+ Um deles seria a defesa contra aapropriaç(o do poder por meios violentos no "ue di% respeito ao aspectooperacional, admitindo4se "ue 'ouvesse "uestões le!ais a serem resolvidasantes+ Mas ima!ino "ue essa força policial seria convocada preferencialmente por comunidades "ue estivessem so. al!um tipo de

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ameaça 4 de vi%in'os ou de al!uns de seus pr0prios mem.ros, como os pertencentes a facções pol*ticas e6tremamente violentas 4 ou pela pr0priacomunidade internacional "uando 'ouvesse !rande pro.a.ilidade deviolência decorrente de conflitos de ori!em reli!iosa ou ideol0!ica, por 

e6emplo+stamos lon!e dessa situaç(o ideal, por)m ela n(o ) t(o fantasiosa

"uanto parece primeira vista+ 7alve% esta !eraç(o n(o viva para assisti4la+Mas 3- nos acostumamos a ver as tropas das Nações Unidas tra.al'ando para manter a pa%+ 7am.)m 3- estamos começando a VK presenciar um consenso de "ue, so. certas circunst1ncias, pode ser  3ustific-vel utili%-4las de uma forma mais intervencionista+

Como um recurso para promover essa marc'a dos acontecimentos

 poder*amos considerar a formaç(o da"uilo a "ue c'amo de ^onas de 8a%+stas seriam uma ou mais partes desmilitari%adas de um ou mais pa*ses para criar o-sis de esta.ilidade, de preferência em -reas de import1nciaestrat)!ica+ Serviriam como far0is de esperança para o resto do mundo+Confesso "ue a id)ia ) muito am.iciosa, mas tem precedentes+ F- e6iste naAnt-rtida uma %ona desmilitari%ada internacionalmente recon'ecida+ N(osou o 5nico a su!erir "ue deveria 'aver outras+ / anti!o presidente russoMiY'ail ?or.ac'ev prop2s "ue a re!i(o situada na fronteira sino4russafosse elevada a essa cate!oria+ eu pr0prio levantei a id)ia de "ue sefi%esse o mesmo com o 7i.et+

6istem muitas outras re!iões no mundo al)m do 7i.et onde ascomunidades vi%in'as se .eneficiariam enormemente do esta.elecimentode uma %ona desmilitari%ada+ Assim como a ndia e a C'ina ] dois pa*sesainda relativamente po.res 4 poupariam uma parcela consider-vel de suarenda anual se o 7i.et se tornasse uma ^ona de 8a% internacionalmenterecon'ecida, '- muitos outros pa*ses em todos os continentes "ue seriamaliviados da tremenda e in5til car!a de despesas com a manutenç(o de

tropas em suas fronteiras+ Sempre ac'ei "ue a Aleman'a seria um lu!ar  .astante ade"uado para se esta.elecer uma ^ona de 8a%, por estar situadano centro da uropa e levando4se em conta a e6periência das duas !uerrasVKmundiais do s)culo [[+

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m tudo isso, creio "ue a /r!ani%aç(o das Nações Unidas tem um papel crucial a desempen'ar+ n(o ) o 5nico or!anismo dedicado a"uestões !lo.ais+ \- tam.)m muito a admirar nas id)ias "ue inspiram aCorte Internacional de \aia, o Hundo Monet-rio Internacional, o Ganco

Mundial e outros, como os "ue se dedicam a apoiar a convenç(o de?ene.ra+ Mas, no momento e para o futuro ima!inado, a /r!ani%aç(o das Nações Unidas ) a 5nica instituiç(o !lo.al capa% de ao mesmo tempoformular e influenciar pol*ticas em nome da comunidade internacional+ claro "ue muitos a criticam ale!ando "ue ) ineficiente, e ) verdade "uemuitas ve%es suas resoluções foram i!noradas, a.andonadas e es"uecidas+Ainda assim, apesar dessas fal'as, sou um dos "ue continuam a ter omaior respeito n(o s0 pelos princ*pios se!undo os "uais foi fundada, como

 por tudo "ue essa instituiç(o reali%ou desde o seu in*cio em BQ+ Gastanos per!untarmos se ) ou n(o verdade "ue a /NU salvou muitas vidas aodesativar situações potencialmente peri!osas para termos certe%a de "ueela ) muito mais do "ue a .urocracia desdentada "ue al!umas pessoas aacusam de ser+ Devemos tam.)m levar em consideraç(o o !rande tra.al'ode suas or!ani%ações su.sidi-rias, tais como UNICH, o AltoComissariado das Nações Unidas para os 9efu!iados RUN\C9, aUNSC/ e a /r!ani%aç(o Mundial de Sa5de+ N(o podemos ne!ar o seuvalor, ainda "ue al!uns de seus pro!ramas e pol*ticas e os de outrasVKKor!ani%ações mundiais similares ten'am fal'ado ou sido mal orientados+

Considero "ue a /r!ani%aç(o das Nações Unidas, se desenvolvida aom-6imo de seu potencial, deva ser o ve*culo mais apropriado para promover os dese3os da 'umanidade em !eral+ No momento, estainstituiç(o n(o est- preparada para fa%ê4lo com muita efic-cia+ 8or)m,estamos apenas começando a ver o sur!imento de uma consciência !lo.alR"ue a revoluç(o nas comunicações tornou poss*vel+ , apesar de

tremendas dificuldades, vimos a sua aç(o em diversas partes do mundo,mesmo se no momento talve% e6istam apenas uma ou duas naçõesservindo como ponta de lança dessas iniciativas+ / fato de estarem .uscando a le!itimidade conferida por uma in3unç(o das Nações Unidasindica uma percept*vel necessidade de se 3ustificarem atrav)s daaprovaç(o coletiva+ / "ue, por sua ve%, acredito ser revelador do

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sentimento crescente de "ue somos uma 5nica e mutuamente dependentecomunidade 'umana+

Uma das fra"ue%as das Nações Unidas, na forma como est-atualmente constitu*da, ) o fato de as pessoas n(o poderem ser ouvidas

individualmente ali, apesar de proporcionar um foro para !overnosindividuais+ A /NU n(o possui "ual"uer mecanismo por meio do "uala"ueles "ue "ueiram se manifestar contra seu pr0prio !overno possamfalar+ 8ara piorar as coisas, o funcionamento do sistema de vetoatualmente em vi!or ) vulner-vel manipulaç(o pelas nações mais poderosas+ S(o imperfeições muito s)rias+VKQ

Xuanto ao pro.lema de indiv*duos n(o terem direito palavra, talve%

ten'amos "ue pensar em al!o mais radical+ Assim como a democracia )asse!urada por três pilares independentes, o poder 3udici-rio, o e6ecutivo eo le!islativo, tam.)m precisamos ter um or!anismo !enuinamenteindependente no plano internacional+ 7alve% a /NU n(o se3a totalmenteade"uada para esse papel+ m reuniões internacionais, como naConferência de C5pula so.re Meio Am.iente RC/ B no Grasil,o.servei "ue os indiv*duos "ue representam seus pa*ses inevitavelmente põem os interesses de Sua naç(o em primeiro lu!ar, apesar de o assuntoem "uest(o transcender fronteiras nacionais+ Ao contr-rio, "uando as pessoas comparecem individualmente a reuniões internacionais 4 e estou pensando neste momento em !rupos Como o dos M)dicos Internacionais para a 8revenç(o das ?uerras Nucleares, ou o do movimento conntra ocom)rcio de armas promovido pelos a!raciados com o 8rêmio No.el da8a%, do "ual faço parte 4 '- uma preocupaç(o muito maior com a'umanidade em si+ / esp*rito fica muito mais a.erto e assume dimensõesverdadeiramente internacionais+ / "ue me leva a refletir "ue valeria a penafundar um or!anismo cu3a 8rincipal tarefa seria monitorar as "uestões do

mundo de acordo com a perspectiva da )tica, uma or!ani%aç(o "ue poderiaser c'amada de Consel'o Mundial do 8ovo Rem.ora, sem d5vida, talve%se pudesse encontrar um nome mel'or+ Seria formada por um !rupo de pessoas de procedências das mais variadas+ \averia artistas, .an"ueiros,VKam.ientalistas, advo!ados, poetas, acadêmicos, pensadores reli!iosos e

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escritores, .em como 'omens e mul'eres comuns com not0ria reputaç(ode inte!ridade e dedicaç(o a valores )ticos e 'umanos fundamentais+ 8or n(o ser uma or!ani%aç(o investida de poder pol*tico, seus pronunciamentos n(o teriam validade le!al+ Mas, em virtude de sua

independência e por n(o estar li!ada a nen'um pa*s ou !rupo de pa*ses e anen'uma ideolo!ia, essas deli.erações representariam a consciência domundo+ conse"uentemente teriam autoridade moral+

Sei "ue muita !ente vai criticar esta proposta, como tam.)m o "ue eudisse antes so.re desativaç(o militar, desarmamento e reforma das NaçõesUnidas, ale!ando "ue nada disso ) realista ou "ue ) simplista demais+ /u"ue n(o ) vi-vel no $mundo real$+ Contudo, em.ora muitas ve%es as pessoas se contentem apenas em criticar e culpar os outros pelo "ue n(o d-

certo, devemos ao menos tentar apresentar id)ias construtivas+ Uma coisa) !arantida+ ?raças ao amor do ser 'umano pela verdade, pela 3ustiça, pela pa% e pela li.erdade, criar um mundo mel'or e mais compassivo )uma possi.ilidade le!*tima+ / potencial est- a*+ Se com a a3uda daeducaç(o e o uso correto dos meios de comunicaç(o pudermos com.inar al!umas das iniciativas su!eridas a"ui com a implementaç(o de princ*pios)ticos, esta.eleceremos um clima em "ue o desarmamento e a desativaç(omilitar ser(o aceitos sem controv)rsias+ teremos criado condições parauma pa% mundial duradoura+

VKPCap*tulo

/ 8A8L DA 9LI?IJ/ NA S/CIDAD M/D9NA

É um triste fato da \ist0ria a reli!i(o ter sido uma !rande fonte de

conflitos+ At) 'o3e '- !ente sendo morta, comunidades sendo destru*das esociedades inteiras desesta.ili%adas em conse"Zência do 0dio e dofanatismo reli!ioso+ N(o ) toa "ue muitos "uestionam a posiç(o dareli!i(o na sociedade 'umana+ Contudo, se e6aminarmos .em a "uest(o,verificaremos "ue os conflitos em nome da reli!i(o têm duas ori!ens principais+ \- os "ue s(o simplesmente o resultado da diversidade

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reli!iosa 4 as diferenças doutrinais, culturais e pr-ticas entre uma e outrareli!i(o+ m se!uida, '- os conflitos "ue sur!em dentro de conte6tos pol*ticos, econ2micos e outros, mas so.retudo no plano institucional+ A'armonia inter4reli!iosa ) a c'ave para superar os conflitos da primeira

cate!oria+ No caso da se!unda, ) preciso encontrar outras soluções+ Aseculari%aç(o e, em especial, a separaç(o da 'ierar"uia reli!iosa dasinstituições do stado podem a3udar a redu%ir os pro.lemas+ Nestecap*tulo, por)m, vamos tratar da 'armonia inter4reli!iosa+

ste ) um aspecto importante da"uilo "ue c'amei deresponsa.ilidade universal+ ntretanto, antes de e6aminar o assunto emVK<detal'es, talve% val'a a pena analisar se a reli!i(o ) de fato relevante para

o mundo moderno+ Muitas pessoas afirmam "ue n(o )+ 7en'o o.servado"ue a crença reli!iosa n(o ) um pr)4re"uisito nem para a conduta )ticanem para a pr0pria felicidade+ F- disse tam.)m "ue, "uer a pessoa prati"ueou n(o uma reli!i(o, as "ualidades espirituais de amor, compai6(o, paciência, toler1ncia, !enerosidade, 'umildade e outras mais s(oindispens-veis+ Ao mesmo tempo, "uero dei6ar claro "ue, na min'aopini(o, essas "ualidades s(o desenvolvidas de modo muito mais f-cil eeficiente atrav)s da pr-tica reli!iosa+ 7am.)m acredito "ue '- um enorme .enef*cio pessoal "uando se pratica sinceramente uma reli!i(o+ 8essoas"ue desenvolveram uma f) s0lida, .aseada na compreens(o e aprofundadana pr-tica di-ria, em !eral lidam muito mel'or com as adversidades do"ue as "ue n(o têm essa f)+ Assim, estou convencido de "ue a reli!i(o temum potencial inenso para a3udar a 'umanidade a ser mel'or+ Xuando .emempre!ada, ) um instrumento e6tremamente efica% para esta.elecer condições "ue favoreçam a felicidade 'umana+ De modo espec*fico, poderepresentar um papel primordial ao estinular nas pessoas a noç(o deresponsa.ilidade pelos outros e a necessidade de disciplina )tica+

 Nesses termos, portanto, ac'o "ue a reli!i(o ainda ) relevante 'o3e+Mas pensem nisto tam.)m# '- al!uns anos, o corpo de um 'omem daIdade da 8edra foi res!atado do !elo dos Alpes europeus+ Apesar de ter mais de cinco mil anos, estava perfeitamente conservado+ At) suas roupasVKse encontravam "uase intactas+ Lem.ro4me de pensar na )poca "ue, se

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fosse 8oss*vel tra%ê4lo de volta vida por Um dia, desco.rir*amos o"uanto temos em comum Com ele+ Decerto sa.er*amos "ue ele tam.)m se preocupava com sua fam*lia e entes "ueridos, Com sua sa5de, e assim por diante+ A despeito das diferenças de cultura e de forma de e6press(o, ainda

assim ser*amos capa%es de nos identificar com seus sentimentos+ n(o'averia ra%(o para supor "ue 4 ele estivesse menos interessado do "ue n0sem "uerer ser feli% e n(o sofrer+ Se a reli!i(o, com sua ênfase em superar osofrimento Com a pr-tica da disciplina )tica e o cultivo do amor e dacompai6(o, foi Considerada relevante no passado, n(o ve3o por "ue n(o oseria tam.)m 'o3e+ É admiss*vel "ue no passado o valor da reli!i(o ten'asido mais evidente 8or"ue o sofrimento 'umano estava mais vis*vel, 3-"ue n(o e6istiam as comodidades e recursos modernos+ Mas, como o

sofrimento ainda e6iste 4 so.retudo o sofrimento mental e emocional 4 e8or"ue a reli!i(o, al)m de sua verdade salvadora, ale!a ser capa% dea3udar4nos a superar o Sofrimento, certamente ela ainda ) relevante+

Como ent(o conse!uir a 'armonia necess-ria para solucionar /sconflitos reli!iosos& A resposta ) a mesma "ue se d- para as 8essoas "ue"uerem aprender a Controlar suas reações aos pensamentos e emoçõesne!ativos e cultivar "ualidades espirituais# desenvolver a capacidade deCompreens(o+ 8rimeiro, temos de identificar os fatores "ue a o.struem+Depois, encontrar os meios de super-4los+VKB

7alve% um dos fatores "ue mais o.struem a 'armonia inter4reli!iosase3a a incapacidade de perce.er o valor das tradições de f) dos outros+ At) .em recentemente a comunicaç(o entre as diferentes culturas, e mesmoentre as diferentes comunidades, era lenta ou ine6istente+ 8or isso, acomplacência para com outras tradições de f) n(o era necessariamentemuito importante, e6ceto, ) claro, "uando mem.ros de diferentes reli!iõesviviam lado a lado+ Mas essa atitude n(o ) mais vi-vel+ No mundo de 'o3e,

cada ve% mais comple6o e interdependente, somos o.ri!ados a admitir ae6istência de outras culturas, !rupos )tnicos e decerto outros tipos de f)+?ostemos ou n(o, a maioria de n0s convive diariamente com essadiversidade+Creio "ue a mel'or maneira de c'e!ar compreens(o m5tua ) atrav)s dodi-lo!o com mem.ros de outras tradições de f)+ :e3o diversos camin'os

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 para isso+ S(o muito valiosas as reuniões com estudiosos nas "uais os pontos em comum e, o "ue ) mais importante, as diver!ências entre asdiferentes reli!iões se3am e6plorados e e6aminados+ m outro plano, s(omuito 5teis os contatos entre pessoas comuns "ue prati"uem reli!iões

diferentes para trocar e6periências e informações+ 7alve% se3a essa a formamais eficiente de con'ecer as doutrinas dos outros+ No meu caso, osencontros com o falecido 7'omas Merton, um mon!e cat0lico da /rdemCisterciense, foram e6traordinariamente inspiradores+ A3udaram4me adesenvolver uma profunda admiraç(o pelos preceitos crist(os+ 7am.)mac'o "ue os encontros de l*deres reli!iosos para re%arem 3untos por causasVQcomuns s(o muito proveitosos+ A reuni(o em Assis, na It-lia, em BP,

"uando representantes das maiores reli!iões do mundo se uniram parare%ar pela pa%, foi, creio eu, e6tremamente .en)fica para os fi)is de muitasreli!iões, pois sim.oli%ava a solidariedade e um compromisso com a pa%demonstrado por todos os "ue participaram+

Hinalmente, ac'o "ue as pere!rinações em con3unto de mem.ros dediferentes tradições de f) podem tam.)m ser de !rande utilidade+ Hoidentro desse esp*rito "ue, em BBK, fui a Lourdes e depois a Ferusal)m, umlocal sa!rado para três das maiores reli!iões do mundo+ :isitei tam.)mdiversos santu-rios 'indu*stas, isl1micos,  jain  e si"ue, tanto na ndia"uanto no e6terior+ Mais recentemente, em se!uida a um semin-rio paradiscutir e praticar a meditaç(o das tradições crist( e .udista, participei deuma pere!rinaç(o 'ist0rica com praticantes das duas reli!iões "ue incluiuum pro!rama de orações, meditações e di-lo!o so. a -rvore God'i, emGod' ?aia, na ndia, um dos mais importantes santu-rios do .udismo+

Xuando ocorrem trocas como essas, os se!uidores de uma reli!i(odesco.rem "ue os preceitos de outras crenças oferecem a mesmainspiraç(o espiritual e orientaç(o )tica a seus se!uidores+ Hica evidente

tam.)m "ue, se3am "uais forem as diferenças de doutrina, todas as principais reli!iões est(o preocupadas em a3udar as pessoas a se tornaremmel'ores seres 'umanos+ 7odas d(o relevo ao amor, compai6(o,  paciência, toler1ncia, ao perd(o, 'umildade, e todas s(o capa%es deVQa3udar os indiv*duos a desenvolverem essas "ualidades+ Al)m do mais, o

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e6emplo oferecido pelos fundadores de cada uma das !randes reli!iõesdemonstra claramente a intenç(o de a3udar os semel'antes a encontrar afelicidade atrav)s do desenvolvimento dessas "ualidades+ 7odos viveramsuas vidas pessoais com !rande simplicidade, tendo como traço distintivo

de seu comportamento a disciplina )tica e o amor por todos ossemel'antes+ N(o viveram faustosamente como reis ou imperadores+ 8elocontr-rio, aceitaram voluntariamente o sofrimento sem considerar as privações com a finalidade de .eneficiar a 'umanidade inteira+ m seusensinamentos, todos ressaltaram de modo especial a import1ncia do amor,da compai6(o e da ren5ncia aos dese3os e!o*stas+ cada um delese6ortou4nos a transformar nossos corações e mentes+ Sem d5vida, "uer ten'amos f) ou n(o, todos merecem a nossa admiraç(o mais profunda+

Al)m do di-lo!o com os se!uidores de outras reli!iões, devemoso.viamente introdu%ir em nossa vida di-ria a pr-tica dos ensinamentos denossa pr0pria reli!i(o+ 7endo e6perimentado os .enef*cios do amor, dacompai6(o e da disciplina )tica, recon'eceremos com facilidade o valor dos ensinamentos al'eios+ 8ara isso, contudo, ) indispen-vel estarmosconscientes de "ue a pr-tica reli!iosa implica muito mais do "ue apenasdi%er $eu creio$, ou, como no .udismo, $eu me a.ri!o$+ Implica tam.)mmuito mais do "ue apenas visitar templos, santu-rios ou i!re3as+ estudar reli!i(o n(o tra% !randes proveitos se o "ue se aprende n(o c'e!a aVQ penetrar no coraç(o e se mant)m somente no plano intelectual+ Contar somente com a f) sem compreens(o nem pr-tica dos ensinamentos n(o )suficiente+ Costumo di%er aos ti.etanos "ue tra%er consi!o a mala Ro.3eto parecido com um ros-rio n(o transforma nin!u)m em um praticantereli!ioso+ / esforço "ue fa%emos com sinceridade para nos transformamosespiritualmente ) o "ue nos toma verdadeiros praticantes de uma crença+

Uma das coisas "ue Comprovam o valor da !enu*na pr-tica reli!iosa

) a constataç(o de "ue, al)m da i!nor1ncia, outro fator preponderante "uecontri.ui para a desarmonia reli!iosa ) o relacionamento pouco saud-veldas pessoas com suas crenças+ ma ve% de aplicar os preceitos reli!iososna vida pessoal, muitos têm a tendência de utili%-4los como apoio paraatitudes autocentradas+ A reli!i(o funciona como al!o "ue se possui ou umr0tulo "ue distin!ue a pessoa dos outros+ Isto ) se!uramente uma distorç(o

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e um peri!o+ Neste caso, em ve% de usar o n)ctar da reli!i(o para purificar os elementos "ue envenenam nossos corações e mentes, usamos estes eelementos ne!ativos para envenenar o n)ctar da reli!i(o+

Mas ) preciso recon'ecer "ue isso reflete outro pro.lema, impl*cito

em todas as reli!iões+ 9efiro4me ao fato de cada uma delas ale!ar ser a5nica reli!i(o $verdadeira$+ Como resolver essa dificuldade& Admite4se"ue, do ponto de vista do praticante, se3a imprescind*vel ter umcompromisso espec*fico com sua pr0pria f)+ 7am.)m ) admiss*vel "ueVQKisso este3a li!ado profunda convicç(o de "ue seu camin'o ) o 5nico "ueleva verdade+ Mas ) preciso encontrar meios de conciliar esta convicç(ocom a das outras reli!iões+ m termos pr-ticos, os praticantes devem

 procurar ao menos aceitar a le!itimidade dos ensinamentos de outrasreli!iões, mantendo ao mesmo tempo um compromisso irrestrito com asua pr0pria+ No "ue toca le!itimidade das ale!ações de verdade metaf*sica de uma determinada reli!i(o, isso ) sem d5vida uma "uest(o internada"uela reli!i(o+

 No meu caso, estou convencido de "ue o .udismo me oferece aestrutura mais eficiente para apoiar meus esforços de desenvolvimentoespiritual atrav)s do cultivo do amor e da compai6(o+ Ao mesmo tempo,ten'o de admitir "ue en"uanto o .udismo representa o mel'or camin'o para mim 4 ou se3a, condi% com meu car-ter, meu temperamento, min'asinclinações e meus antecedentes culturais 4, assim tam.)m deve ser ocristianismo para os crist(os+ 8ara eles, o cristianismo ) o mel'or camin'o+ N(o posso, portanto, .asear4me em min'a e6periência pessoal paraafirmar "ue o .udismo ) mel'or para todos+As ve%es penso na reli!i(o como um rem)dio para o esp*rito 'umano+ 8ara 3ul!armos realmente a efic-cia de um rem)dio, ) necess-rio verificar seseu uso ) conveniente para uma determinada pessoa em determinadas

circunst1ncias+ N(o adianta di%er "ue tal rem)dio ) muito .om por"uecont)m tais e tais in!redientes+ Se eliminarmos da e"uaç(o o paciente e oefeito do rem)dio na"uela pessoa, este ar!umento n(o tem sentido+ / "ueVQKimporta di%er "ue no caso da"uele paciente em especial, com a"ueladoença em especial, a"uele rem)dio ) o mais efica%+ Acontece o mesmo

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com as diferentes tradições reli!iosas# podemos di%er "ue essa ) a maisconveniente para a"uela determinada pessoa+ N(o adianta lançar m(o dafilosofia ou da metaf*sica para ar!umentar "ue uma reli!i(o ) mel'or do"ue outra+ / importante ), se!uramente, a sua eficiência para cada pessoa+

Min'a maneira de resolver a aparente contradiç(o entre a certe%a deser $a 5nica reli!i(o e a 5nica verdade$ "ue cada reli!i(o manifesta e aine!-vel multiplicidade de crenças ) compreender "ue para um 5nicoindiv*duo isoladamente s0 pode 'aver de fato uma verdade e uma reli!i(o+ntretanto, do ponto de vista da sociedade em !eral, precisamos aceitar oconceito de $muitas verdades, muitas reli!iões$+ Continuando com a nossaanalo!ia m)dica, para a"uele paciente determinado o rem)dio ade"uado )de fato o 5nico rem)dio+ Mas isso n(o si!nifica "ue n(o e6istam outros

rem)dios ade"uados a outros pacientes+m meu modo de pensar, a diversidade "ue e6iste entre as v-riastradições reli!iosas ) e6tremamente enri"uecedora+ 8or isso, n(o ) dif*cilafirmar "ue, em princ*pio, todas as reli!iões s(o i!uais+ 7odas s(o i!uais"uando salientam "ue o amor e a compai6(o s(o indispens-veis dentro doconte6to da disciplina )tica+ Mas afirmar isto n(o "uer di%er "ue todas s(oessencialmente uma coisa s0+ As compreensões contradit0rias dosconceitos de criaç(o e ausência de in*cio formuladas pelo .udismo, peloVQcristianismo e pelo 'indu*smo, por e6emplo, revelam "ue teremos de nosseparar "uando entrarmos no terreno da metaf*sica, apesar das muitassimilaridades reais "ue sem d5vida e6istem+ ssas contradições podemn(o ser muito importantes nos est-!ios iniciais da pr-tica reli!iosa, mas, medida "ue avançamos no camin'o de uma tradiç(o reli!iosa, somoso.ri!ados a recon'ecer as diferenças fundamentais "uando c'e!amos adeterminados pontos+ 8or e6emplo, o conceito de renascimento no .udismo e em diversas outras anti!as crenças indianas pode ser 

incompat*vel com a id)ia crist( de salvaç(o+ Isso n(o precisa ser motivo dedes1nimo, por)m+ Dentro do pr0prio .udismo e6istem pontos de vistadiametralmente opostos no "ue se refere metaf*sica+ No m*nimo, todaessa diversidade nos mostra "ue temos escol'a diferentes estruturas ondesituar a disciplina )tica e o desenvolvimento de valores espirituais+ sta )a ra%(o por "ue n(o defendo uma super4reli!i(o ou uma nova reli!i(o

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mundial+ Seriam perdidas as caracter*sticas 5nicas das diferentes tradiçõesde f)+Al!umas pessoas, ) verdade, sustentam "ue o conceito .udista do

 shunyata, ou va%io, ) .asicamente i!ual a certas a.orda!ens para se

compreender o conceito de Deus+ Ainda assim, '- ressalvas a fa%er+ A primeira ) "ue podemos de fato interpretar esse concerto, mas ate "ue ponto ser- poss*vel manter fidelidade aos ensinamentos ori!inais se ofi%ermos& 6istem semel'anças irrefut-veis entre o conceito .udistamaaiana de harmakaya, e  !irmanakaya e o da trindade crist( de DeusVQPcomo 8ai, Hil'o e sp*rito Santo+ Mas da* a afirmar "ue o .udismo e ocristianismo s(o a mesma coisa ) ir um pouco lon!e demais, penso eu

Como di% um vel'o ditado ti.etano, $) preciso ter cuidado para n(o p2r aca.eça de um ia"ue no corpo de um carneiro$ 4 ou vice4versa+/ "ue se e6i!e, em ve% disso, ) o desenvolvimento de uma autêntica

noç(o de pluralismo reli!ioso+ Isto ) especialmente verdadeiro se levarmosmesmo a s)rio nosso respeito pelos direitos 'umanos como um princ*piouniversal+ Com relaç(o a esse pluralismo reli!ioso, ac'o muito atraente aid)ia de um parlamento mundial de reli!iões+ 8ara começar, a palavra$parlamento$ transmite uma sensaç(o de democracia+ e o plural $reli!iões$su.lin'a a import1ncia do princ*pio de uma multiplicidade de tradiçõesreli!iosas+ A vis(o verdadeiramente pluralista da reli!i(o "ue um parlamento como este proporcionaria seria, a meu ver, de !rande a3uda+Impediria os e6tremos do fanatismo reli!ioso e, simultaneamente, ainsistência em sincretismos desnecess-rios+Li!ada "uest(o da 'armonia inter4reli!iosa, creio "ue devo di%er al!umacoisa so.re convers(o reli!iosa+ ste ) um assunto "ue precisa ser tratadocom e6trema seriedade+ É fundamental ter consciência de "ue o fato de seconverter a al!uma reli!i(o por si s0 n(o torna uma pessoa mel'or, ou

se3a, mais disciplinada, mais compassiva ou de coraç(o mais a.erto+ Émuito mais proveitoso a pessoa concentrar4se em sua transformaç(oespiritual atrav)s da pr-tica da contenç(o, da virtude e da compai6(o+VQ<b medida "ue as refle6ões e pr-ticas de outras reli!iões s(o relevantes ou5teis nossa f), vale a pena aprender com os outros+ m al!uns casos,

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 pode at) ser interessante adotar al!umas delas+ Xuando isso ) feito comsa.edoria, ) poss*vel manter a firme%a do compromisso com nossa pr0pria f)+ ste ) um .om camin'o por"ue n(o oferece o risco daconfus(o, especialmente a respeito das diferentes maneiras de viver "ue

costumam acompan'ar diferentes tradições de f)+7endo em vista a !rande diversidade de seres 'umanos, ) forçoso "ue, emmeio a mil'ares de praticantes de uma determinada reli!i(o, al!uns delesconsiderem mais satisfat0ria a a.orda!em de outra reli!i(o )tica e aodesenvolvimento espiritual+ 8ara al!uns, os conceitos de renascimento ekarma parecer(o mais eficientes para estimular a aspiraç(o de desenvolver o amor e a compai6(o com maior responsa.ilidade+ 8ara outros, oconceito de um criador transcendente e amoroso parecer- ainda mel'or+

 Nessas circunst1ncias, ) imprescind*vel "ue essas pessoas se "uestionemrepetidamente# $stou atra*do por essa outra reli!i(o pelas ra%ões certas& N(o seriam apenas os aspectos culturais e rituais "ue me sedu%em& /useriam os ensinamentos fundamentais& Ser- "ue estou ac'ando "ue, se meconverter, a nova reli!i(o ser- menos e6i!ente do "ue min'a reli!i(oatual&$ Di!o isso por"ue sempre me c'amou a atenç(o o fato de al!umas pessoas, ao se converterem para uma reli!i(o "ue n(o fa% parte de suaVQ'erança cultural, adotarem com fre"Zência certos aspectos superficiais dacultura "ual sua nova crença pertence+ Mas sua pr-tica da nova f) n(ovai muito al)m disso+

Xuando a pessoa decide adotar uma nova f) depois de um processode lon!a e madura refle6(o, ) muito importante nunca es"uecer acontri.uiç(o positiva de cada tradiç(o reli!iosa i 'umanidade+ 8ois '- orisco de, ao procurar 3ustificar sua decis(o perante os outros, a pessoacriticar sua anti!a f)+ É preciso evitar isso+ / fato de uma reli!i(o n(o ser mais eficiente para um indiv*duo n(o si!nifica "ue ten'a dei6ado de

 .eneficiar a 'umanidade+ 8elo contr-rio, podemos estar certos de "ue"ual"uer uma das reli!iões serviu de inspiraç(o para mil'ões de pessoasno passado, inspira mil'ões 'o3e em dia e ainda vai inspirar mil'ões ase!uirem um camin'o de amor e compai6(o no futuro+

/ ponto "ue se deve ter sempre em mente ) "ue, em princ*pio, oo.3etivo da reli!i(o como um todo ) tomar mais f-cil o e6erc*cio do amor,

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da compai6(o, da paciência, da toler1ncia, da 'umildade, da capacidade de perd(o e de todas as outras "ualidades espirituais+ Se n(o l'es dermosimport1ncia, se dei6armos de pratic-4las em nossa vida di-ria, mudar dereli!i(o ou permanecer na nossa 4 ainda "ue se3amos crentes fervorosos 4

n(o valer- de nada+ Seria fa%er o mesmo "ue o doente !rave "ue apenas lêtratados so.re sua doença, mas dei6a de se!uir o tratamento prescrito+

Al)m do mais, se n0s, "ue praticamos uma reli!i(o, n(o somoscompassivos e disciplinados, como esperar "ue os outros o se3am& Se"uisermos esta.elecer uma verdadeira 'armonia nascida do respeito e dacompreens(o m5tuos, a reli!i(o tem um enorme potencial para falar comautoridade so.re "uestões morais de vital import1ncia como pa% edesarmamento, 3ustiça social e pol*tica, meio am.iente e muitas outras "ue

afetam toda a 'umanidade+ n"uanto n(o pusermos em pratca nossos pr0prios ensinamentos espirituais, nunca seremos levados a s)rio+ issosi!nifica, entre outras coisas, dar um .om e6emplo desenvolvendorelações 'armoniosas com outras tradições de f)+

VCap*tulo P

UM A8L/

7er c'e!ado s 5ltimas p-!inas deste livro fa% lem.rar atransitoriedade de nossa vida+ Como passa r-pido e como lo!o c'e!amosao nosso 5ltimo dia+ Dentro de menos de cin"Zenta anos, eu, 7en%in ?@at4so, o mon!e .udista, serei apenas uma lem.rança+ Na verdade, ) pouco prov-vel "ue "ual"uer uma das pessoas "ue este3am a!ora lendo estas palavras possa estar viva da"ui a cem anos+ / tempo passa

ine6oravelmente+ Xuando cometemos erros n(o podemos voltar os ponteiros do rel0!io para tentar outra ve%+ A 5nica coisa "ue podemosfa%er ) usar .em o presente+ nt(o, "uando nosso 5ltimo dia c'e!ar, poderemos ol'ar para tr-s e ver "ue vivemos vidas plenas, produtivas esi!nificativas, o "ue nos trar- al!um conforto+ Do contr-rio, a triste%a podeser muito !rande+ A escol'a entre as duas alternativas ca.e somente a n0s+

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A mel'or maneira de ter certe%a de "ue um dia nos apro6imaremos damorte sem remorsos ) a!indo de maneira respons-vel e manifestandocompai6(o pelos outros no presente+ Na verdade, isso ) de nosso pr0priointeresse e n(o apenas por"ue v- nos .eneficiar no futuro+ Como vimos, a

compai6(o ) uma das coisas "ue mais d(o sentido s nossas vidas+ É aVfonte de toda felicidade e ale!ria duradouras+ É o alicerce de um .omcoraç(o, o coraç(o da"uele "ue a!e motivado pela vontade de a3udar osoutros+ 8or meio da .ondade, da afeiç(o, da 'onestidade, por meio daverdade e da 3ustiça para com todos os outros ) "ue asse!uramos nossos pr0prios .enef*cios+ sta n(o ) uma "uest(o para ser de.atida comteori%ações complicadas+ É uma "uest(o simples, de .om senso+ N(o '-

como ne!ar "ue a consideraç(o pelos outros ) al!o valioso+ N(o '- comone!ar "ue a nossa felicidade est- ine6tricavelmente entrelaçada felicidade dos outros+ N(o '- como ne!ar "ue, se a sociedade sofre, n0stam.)m sofremos+ Nem '- como ne!ar "ue "uanto mais animosidade '-em nossos corações, mais infeli%es nos tomamos+ 8or isso, podemosre3eitar tudo o mais# reli!i(o, ideolo!ia, toda a sa.edoria rece.ida+ Masn(o podemos escapar necessidade de amor e compai6(o+sta, ent(o, ) a min'a reli!i(o verdadeira, min'a f) simples+ Nestesentido, n(o ) preciso e6istir templo ou i!re3a, mes"uita ou sina!o!a, n(o'- necessidade de filosofia, doutrina ou do!ma complicados+ Nosso pr0prio coraç(o e nossa pr0pria mente s(o o templo+ A doutrina ) acompai6(o+ Amor pelos outros e respeito por seus direitos e sua di!nidade,se3am eles "uem forem ou o "ue forem# ) s0 o "ue afinal precisamos ter+Se praticarmos isso em nossas vidas di-rias, n(o importa se somosinstru*dos ou i!norantes, se acreditamos em Guda ou em Deus, sese!uimos outra reli!i(o ou n(o se!uimos nen'uma+ Desde "ue ten'amosV

compai6(o pelos outros e se3amos capa%es de nos conter, motivados pelanoç(o de responsa.ilidade, n(o '- d5vida de "ue seremos feli%es+ 8or "ue,ent(o, se ) t(o simples ser feli%, ac'amos "ue ) t(o dif*cil&Lamentavelmente, apesar de "uase todos n0s nos considerarmoscompassivos, costumamos i!norar essas verdades .aseadas no puro .omsenso+ Dei6amos de enfrentar nossos pensamentos e emoções ne!ativos+

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Ao contr-rio do fa%endeiro "ue acompan'a as estações do ano e n(o 'esitaem começar a cultivar a terra "uando c'e!a a 'ora, desperdiçamos tempodemais em atividades sem sentido+ Sentimos profundo pesar com relaç(o aassuntos .anais como perder din'eiro e, ao mesmo tempo, somos

ne!li!entes com o "ue ) de fato importante sem "ue o menor sentimentode remorso nos pertur.e+ m ve% de nos ale!rarmos com as oportunidades"ue temos de contri.uir para o .em4estar al'eio, s0 pensamos em pra%eresf-ceis+ 9ecusamo4nos a pensar nos outros ale!ando "ue estamos muitoocupados+ Corremos para l- e para c- fa%endo c-lculos e dandotelefonemas e ac'ando "ue ) mel'or assim+ Ha%emos uma coisa 3- preocupados com ter de fa%er outra diferente caso al!o n(o saia comoesperamos+ em tudo isso utili%amos apenas os n*veis mais superficiais,

elementares e menos refinados do esp*rito 'umano+ Al)m do mais, por estarmos desatentos s necessidades dos outros, aca.amos inevitavelmentel'es causando mal+ Ac'amos "ue somos muito inteli!entes, mas como )"ue usamos nossos talentos& Com demasiada fre"Zência n0s os usamosVK para en!anar nosso pr06imo, aproveitar4nos dele e su.ir sua custa+ "uando as coisas n(o d(o certo, c'eios de 'ipocrisia, n0s o culpamos por nossos pro.lemas+

 No entanto, a a"uisiç(o de o.3etos materiais n(o proporcionasatisfaç(o duradoura+ N(o importa "uantos ami!os con"uistemos, n(oser(o eles "ue de fato v(o fa%er a nossa felicidade+ entre!ar4se aos pra%eres dos sentidos ) apenas um convite a v-rias formas de sofrimento+É como o mel lam.u%ado na l1mina de uma espada+ Nem por issodevemos despre%ar nosso corpo+ 8elo contr-rio, pois n(o podemos fa%er nada por nin!u)m nem por n0s mesmos sem "ue ele este3a .em+ Mas precisamos evitar os e6tremos "ue podem nos pre3udicar+

Xuando nos concentramos no "ue ) mundano, o essencial permanece

escondido de n0s+ É claro "ue se pud)ssemos ser verdadeiramente feli%esdessa maneira, este tipo de vida seria inteiramente ra%o-vel+ Mas n(o podemos+ Na mel'or das 'ip0teses, a vida vai transcorrendo sem !randesa.orrecimentos+ Mas os pro.lemas c'e!am, mais cedo ou mais tarde, enos encontram despreparados+ N(o sa.emos como lidar com eles+ nosdesesperamos, e nos lamentamos+

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8ortanto, uno min'as duas m(os e apelo a você, leitor, para "ue tome oresto de sua vida t(o si!nificativo "uanto poss*vel+ Haça isso atrav)s da pr-tica espiritual, se puder+ Como espero ter dei6ado claro, n(o '- nada demisterioso nisso+ Consiste apenas em a!ir levando os outros em

VQconsideraç(o+ se você o fi%er com sinceridade e persistência, pouco a pouco, passo a passo, ser- capa% de reordenar seus '-.itos e atitudes e pensar menos em seu pe"ueno mundo de interesses e mais nos interessesde todas as outras pessoas+ encontrar- pa% e felicidade para si mesmo+

A.andone a inve3a, desape!ue4se do dese3o de so.repu3ar os outros+m ve% disso, tente fa%er .em a eles+ Com .ondade e !entile%a, comcora!em e confiando "ue ) assim "ue ter- sucesso de fato, rece.a4os com

um sorriso+ Se3a se fossem ami!os muito pr06imos+ N(o di!o isso comoDalai Lama ou como al!u)m "ue ten'a poderes ou talentos especiais+ N(oos ten'o+ Halo como um ser 'umano, al!u)m "ue, como você, "uer ser feli% e n(o sofrer+

Mas se você por al!um motivo n(o puder a3udar as outras pessoas, procure ao menos n(o l'es fa%er nen'um mal+ Considere4se um turista+8ense no mundo como ) visto do espaço, t(o pe"ueno e insi!nificante, eainda assim t(o .elo+ \averia realmente al!uma coisa a !an'ar fa%endomal a al!u)m durante a nossa estada a"ui& N(o seria prefer*vel e maisra%o-vel divertir4se e aproveitar a ocasi(o tran"Zilamente como seestivesse visitando um lu!ar diferente& 8ortanto, se em seu passeio pelomundo você dispuser de um momento, tente a3udar, mesmo "ue de formamodesta, a"ueles "ue s(o oprimidos ou "ue por al!uma ra%(o n(o podemou n(o "uerem a3udar a si mesmos+ 7ente n(o dar as costas "ueles cu3aaparência ) pertur.adora, aos maltrapil'os e enfermos+ 8rocure nuncaV pensar neles como se fossem inferiores+ Se puder, n(o se considere mel'or 

do "ue nem mesmo o mendi!o mais 'umilde+ :ocês dois ter(o a mesmaaparência depois da morte+

8ara encerrar, !ostaria de compartil'ar com você uma .reve oraç(o"ue serve e !rande inspiraç(o para meu prop0sito de fa%er .em aosoutros+

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Xue eu me torne em todos os momentos, a!ora e sempre, um protetor para os desprote!idos, um !uia para os "ue perderam o rumo,um navio para os "ue tem oceanos a cru%ar, uma ponte para os "ue temrios a atravessarO um santu-rio para os "ue est(o em peri!o, uma l1mpada

 para os "ue n(o têm lu%, um ref5!io para os "ue n(o têm a.ri!o e umservidor para todos os necessitados+

VPINH/9MAhS S/G9 /S 89[IM/S LANAMN7/S

8ara rece.er infonnações so.re os pr06imos lançamentos da ditoraSe6tante, "ueira entrar em contato com nossa Central de Atendimento,

dando seu nome, endereço e telefone paraDI7/9A S[7AN7Av+ Nilo 8eçan'a, 4 ?r+ K ] Centro4 4 9io de Faneiro ] 9F7el+# R Q4P<P 4 Ha6# R Q4P<