20
Universidade Presbiteriana Mackenzie 1 REQUALIFICAÇÃO DE RIOS URBANOS E SUAS PAISAGENS Daniel Grisotto (IC) e Ricardo Hernan Medrano (Orientador) Apoio: PIVIC Mackenzie Resumo Este trabalho tem o propósito de estudar o desenvolvimento urbano a partir dos rios e demonstrar como o processo de desenvolvimento e crescimento das cidades interferiu na alteração das paisagens ribeirinhas. A partir de estudos de casos de revitalização a beira rio em várias cidades do mundo, este trabalho visa analisar os métodos aplicados nos projetos de requalificação e sua relação com a melhoria da paisagem urbana. Tendo como o caso especial o projeto de revitalização do rio Piracicaba na cidade homônima, o trabalho irá mostrar como essa área foi resgatada e reintegrada à cidade. Palavras-chave: rios, paisagens, recuperação Abstract This work aims to study the urban development from the rivers and demonstrate how the development process interfered with the growth of cities change in riverine´s landscapes. From case studies of the riverfront revitalization in cities around the world, this work aims to analyze the methods used in rehabilitation projects and their relation to the improvement of the urban landscape. Taking the special case as the revitalization project in the city of Piracicaba river of the same name, the work will show how this area was rescued and reintegrated into the city. Key-words: rivers, landscape, recovery

Daniel grisotto

Embed Size (px)

DESCRIPTION

Em parceria com a Professora Helena Abascal, publicamos os relatórios das pesquisas realizados por alunos da fau-Mackenzie, bolsistas PIBIC e PIVIC. O Projeto ARQUITETURA TAMBÉM É CIÊNCIA difunde trabalhos e os modos de produção científica no Mackenzie, visando fortalecer a cultura da pesquisa acadêmica. Assim é justo parabenizar os professores e colegas envolvidos e permitir que mais alunos vejam o que já se produziu e as muitas portas que ainda estão adiante no mundo da ciência, para os alunos da Arquitetura - mostrando que ARQUITETURA TAMBÉM É CIÊNCIA.

Citation preview

Page 1: Daniel grisotto

Universidade Presbiteriana Mackenzie

1

REQUALIFICAÇÃO DE RIOS URBANOS E SUAS PAISAGENS

Daniel Grisotto (IC) e Ricardo Hernan Medrano (Orientador)

Apoio: PIVIC Mackenzie

Resumo

Este trabalho tem o propósito de estudar o desenvolvimento urbano a partir dos rios e demonstrar como o processo de desenvolvimento e crescimento das cidades interferiu na alteração das paisagens ribeirinhas. A partir de estudos de casos de revitalização a beira rio em várias cidades do mundo, este trabalho visa analisar os métodos aplicados nos projetos de requalificação e sua relação com a melhoria da paisagem urbana. Tendo como o caso especial o projeto de revitalização do rio Piracicaba na cidade homônima, o trabalho irá mostrar como essa área foi resgatada e reintegrada à cidade.

Palavras-chave: rios, paisagens, recuperação

Abstract

This work aims to study the urban development from the rivers and demonstrate how the development process interfered with the growth of cities change in riverine´s landscapes. From case studies of the riverfront revitalization in cities around the world, this work aims to analyze the methods used in rehabilitation projects and their relation to the improvement of the urban landscape. Taking the special case as the revitalization project in the city of Piracicaba river of the same name, the work will show how this area was rescued and reintegrated into the city.

Key-words: rivers, landscape, recovery

Page 2: Daniel grisotto

VII Jornada de Iniciação Científica - 2011

2

INTRODUÇÃO

Os rios são de extrema importância para o desenvolvimento as cidades – sabe-se que

desde a antiguidade elas eram fundadas às suas margens. Isso acontecia porque as terras

próximas às suas margens eram mais férteis para o cultivo de alimentos e tinham caça em

maior abundância. Estar próximo a um rio significava acesso fácil aos recursos mais

importantes para a sobrevivência humana: água e alimento. Os rios sempre foram, além

disso, vias naturais de circulação, o que permitia às populações driblar outro desafio – o

isolamento. Os rios desempenharam ao longo da história papel de fundamental relevância

para diferentes grupos de pessoas, que estabeleceram com suas águas relação de

dependência, respeito e até veneração.

Com o passar do tempo, a relação do homem com os rios foi se transformando, sobretudo

após o início da Revolução Industrial, no final século XVIII, com o uso de novas técnicas

produtivas. Os rios e suas margens foram sofrendo as conseqüências de um

desenvolvimento econômico: poluição, crescimento desordenado, ocupação em áreas de

várzea, desaparecimento da mata ciliar, entre outros problemas físicos de degradação

ambiental.

No Brasil, em conseqüência do desenvolvimento industrial, principalmente após a década de

1930, com o avanço da técnica de produção e o êxodo rural, as cidades – sobretudo na

região sudeste - cresceram muito rapidamente impactando de forma negativa o meio físico.

A degradação dos rios e das áreas ribeirinhas se deu de forma acentuada nas últimas

décadas já que qualquer ação ou idéia de preservação dos recursos hídricos tinha como

preocupação exclusivamente o abastecimento – era preciso cuidar para que a água

continuasse chegando à população e para que não faltasse insumo à produção. Havia

preocupação com o abastecimento de água, não com os rios. Os aspectos ecológicos do

ambiente, como dinâmica hidrológica, preservação de matas ciliares, etc. foram sempre

degradados devido aos efeitos das intervenções urbanas nos cursos d’água. Como

conseqüência desse mau trato aos rios, as problemáticas ecológica e epidemiológica, como

enchentes, transmissão de doenças e escassez para o abastecimento se tornaram cada vez

mais presentes no contexto urbano. Isso levou a um novo arranjo das encostas, que

passaram a ser um ambiente urbano degradado e inseguro, sendo um problema para a

gestão pública e para os cidadãos.

Um exemplo, e objeto de estudo deste trabalho, é o caso de Piracicaba, às margens do rio

homônimo. Em 2001, após anos de depredação e esquecimento do poder público, parte da

área ribeirinha do rio Piracicaba, na Região da Rua do Porto foi alvo de um projeto de

revitalização. O projeto, chamado de Plano de Ação Estruturador (PAE), foi elaborado por

Page 3: Daniel grisotto

Universidade Presbiteriana Mackenzie

3

renomados profissionais de diversas áreas, entre historiadores, sociólogos, arquitetos e

urbanistas, paisagistas e engenheiros agrônomos, entre outros. O principal objetivo do PAE

era resgatar a qualidade natural da área e implantar espaços públicos de uso cultural, tendo

como fundamento, equacionar desenvolvimento urbano com respeito à natureza. Passados

dez anos do projeto original, que foi implantado apenas em parte, este estudo propõe uma

nova ação na área, com um projeto de requalificação mais abrangente do que o implantado

em 2001 – contemplando pontos que não foram abordados no projeto inicial.

Para o desenvolvimento deste trabalho, realizou-se uma pesquisa que passou pela análise

da importância dos rios para as cidades, desde sua importância como paisagem urbana

ampliando os espaços físicos de recreação e lazer para a população até melhoria de todo o

sistema ecológico do centro urbano. Como será explicada no trabalho a requalificação

desses espaços verdes melhoram a qualidade de vida da população em quesitos como

melhoria da qualidade do ar e controle da temperatura, além de alguns casos resgate da

cultura local, já que muitas vezes o rio está diretamente relacionado à cultura local.

REFERENCIAL TEÓRICO

No decorrer da história, as civilizações escolheram margens de rios, mares e lagos para

assentamento e instalação de seus núcleos urbanos. Essa proximidade se dava ao fato de

as águas servirem para abastecer as habitações, para a ativação de maquinários de

engenharia, como o monjolo ou a roda d’água, para o lazer, e atividades extrativistas como

a pesca, a mineração areia, argila e pedras. Após o período da Primeira Revolução

Industrial e o fim do sistema feudal, grandes cidades surgiram em decorrência deste

processo. Pode-se observar tal fato nesta passagem de O Manifesto do Partido Comunista

de Marx e Engels:

A burguesia submeteu o campo à cidade. Criou grandes centros urbanos; aumentou prodigiosamente a população das cidades em relação à dos campos e, com isso, arrancou uma grande parte da população do embrutecimento da vida rural

As cidades passaram então, a alojar toda a esfera produtiva baseada no sistema de

manufaturas com produção em escala. Logo, todos os detritos gerados tanto pelas novas

industrias como pela sua população tinham como destino final as águas dos rios, que agora

estavam inseridos nesses novos centros urbanos. A partir desse processo iniciasse o longo

período de descaso e poluição dos rios , que começaram com o passar do tempo e do

crescimento ainda maior dessas cidades, a serem vistos como obstáculos a serem

rompidos.

Page 4: Daniel grisotto

VII Jornada de Iniciação Científica - 2011

4

No Brasil essa relação do rio com seus habitantes, ocorre desde as sociedades indígenas

que aqui viviam. Para eles o respeito com as águas dos rios fazia parte de uma questão

cultural e de sobrevivência, pois era de onde retiravam seus alimentos através da pesca, do

uso da água para o cultivo agrícola, além, é obvio, de servirem de fonte de água pura. No

período colonial os rios ofereciam para as cidades brasileiras, além de água, controle de

território, alimentos, possibilidade de circulação de pessoas e bens sendo a principal

maneira de chegarem a outros territórios abrangendo assim, seu deslocamento a outras

regiões ribeirinhas e ampliando as terras conquistadas. (COSTA, 2000)

Além disso, eles delimitam a configuração urbana os rios contribuem para melhoria da

paisagem urbana, e em alguns casos possuem fortes relações culturais com o local e seus

habitantes. Como no caso das cidades nordestinas de Juazeiro (BA) e Petrolina (PE) no rio

São Francisco ou nas cidades ribeirinhas da região Amazônica, que para compensar o

isolamento a população está fortemente vinculada aos rios que servem para uso de

logística, retirada de alimentos e também para fins festivos e comemorativos. (FRANCO,

2002)

O rio atua, ainda como coadjuvante de outros elementos para a formação da paisagem natural e cultural, como a topografia, solo, modelagem do relevo, vegetação. (GORSKI, 2010)

Sob o aspecto físico da forma urbana, os rios são fortes elementos da paisagem e,

geralmente, estruturam o tecido urbano que lhes é adjacente, tornando-se muitas vezes

eixos de desenvolvimento do desenho da cidade, sendo em alguns casos considerados as

“espinhas dorsais” do tecido urbano. A definição de paisagem no entanto é um tema muito

abrangente, pois as definições de paisagem, citadas por diversos autores, entre eles

geógrafos, biólogos, urbanistas e sociólogos são diversas de acordo com o foco estudado.

No entanto nesse trabalho será estudada a idéia de paisagem relacionada ao meio urbano.

Como o processo de desenvolvimento econômico e espacial alterou as paisagens naturais

dos rios.

Paisagem é o local onde reside, e do qual faz parte o homem. É composto pelos bens

naturais, como a água, o solo, a fauna e a flora. Sendo assim, seu planejamento, sua

proteção, seu desenho e os moldes de intervenção devem objetivar a composição do

ambiente humano. (LUZOTA, 2001)

A natureza (descrita como a situação que não foi alterada pelo homem) se converte em paisagem, no que se refere aos componentes naturais, suas peculiaridades fisiográficas e ambientais. Pode também se transformar, de acordo com as influências históricas, culturais e tecnológicas do homem, refletindo conseqüentemente nos sistemas climáticos, naturais e sociais. (LUZOTA, 2001, 53)

Page 5: Daniel grisotto

Universidade Presbiteriana Mackenzie

5

A paisagem pode ser ordenada tanto por forma fixas, como colinas e morros, ou por fluxos,

como correntes climáticas, correntes hídricas de superfície. Essas formas presentes na

natureza e criadas por ação antrópicas não são apenas volumes, mas também movimentos,

cores, odores e sons, como são os rios, que há tempos inspiram respeito e muitas vezes

aguçam a percepção e a contemplação. Recriar essas formas (que foram degradadas)

como elementos de continuidade é fundamental para a melhoria do espaço urbano.

(FRANCO, 2002)

Em relação à melhoria da paisagem, um dos elementos básicos que configuram o desenho

urbano é o espaço livre, como áreas verdes, praças, largos, pátios, parques, jardins,

margens de rios, lagos e córregos e outros, onde são desenvolvidas as atividades de lazer e

convívio público. Devido a isso a preservação do verde existente nas margens dos rios

serve como atrativo para passeios públicos e lazer, aumentando assim a vitalidade de áreas

ribeirinhas. Por isso é muito importante e fundamental a preservação do curso d’água e seu

entorno, pois, como dito este é um meio de aproximação das pessoas.

MÉTODO

As cidades sofreram nas últimas décadas com os problemas sociais, econômicos e

ambientais decorrentes da errônea ocupação e uso do solo o que gerou degradações

contínuas no meio físico, principalmente no que se refere à preservação de ambientes

verdes dentro dos centros urbanos. O que ao longo do tempo gerou alterações visíveis em

seu espaço físico.

A degradação da qualidade ambiental ocorrida nos recursos hídricos afeta, direta ou indiretamente, a saúde, a segurança e o bem estar da população, assim como, as atividades sociais e econômicas, a fauna e a flora, tornando-se evidente através das paisagens [...] Nesse sentido, deve-se considerar que a gestão desses recursos deve valorizar não só o processo sócio-econômico relacionado ao meio ambiente, mas também associá-lo a outros fatores fundamentais à vida do homem, que são os valores sócio–culturais. (MELLO, 2009)

Esses malefícios restringiram os rios, a sintomas perturbadores para a vida humana como

mau cheiro, obstáculo à circulação, degradação e desvalorização das áreas periféricas a

eles. Um dos casos de degradação é do rio Capibaribe, na cidade de Recife (PE), que com

o decorrer do processo de urbanização teve suas margens alteradas devido a contínuos

processos degradativos como despejo de esgotos domésticos e do lixo, retificação e

canalização do rio. Hoje, no entanto, algumas áreas já receberam revitalização e são áreas

de convívio público, porém ainda existem locais onde o rio é margeado por casas de

palafitas sem nenhuma infra-estrutura como água e esgoto.

Page 6: Daniel grisotto

VII Jornada de Iniciação Científica - 2011

6

Figura 1 - Casas de palafita sobre o rio Capibaribe, Recife/PE. Fonte: Ricardo Hernan Medrano

A melhoria do uso e requalificação de regiões ribeirinhas visa a melhora da paisagem e da

qualidade de vida populacional em todas as dimensões da vida urbana. Um exemplo da

forte atuação dos rios nas paisagens urbanas, e de como esse resgate é importante para

toda a população, tanto como aumento da qualidade de vida, como por questões culturais

foi a requalificação do rio Chenggyechon, que atravessa de leste a oeste a cidade de Seul,

capital da Coréia do Sul.

O rio antes canalizado, poluído e segregado sob uma via expressa elevada foi reintegrado à

paisagem com projetos e planos de ação de despoluição e renovação urbana, deixando a

população de Seul em pleno contato com suas águas.

Figura 2 - Rio Cheonggeychen antes da requalificação urbana. Fonte: http://mundopossivel.com.br/?p=1782

O projeto incluía não só a melhoria das águas do Chenggeychon, mas também a criação de

ciclovias, parques, áreas de lazer e passeio. A recuperação resultou em melhoria do ar, hoje

mais limpo, diminuição da temperatura local, que chega a ficar até 3,6 graus abaixo do

restante da cidade, o surgimento de novos habitats de vida selvagem, reestruturando assim

a cadeia alimentar local e ampliação da área verde. Sobre os aspectos ecológicos a

revitalização do rio Cheonggeycheon e suas margens adjacentes cumprem a função de

defesa contra inundações. A mobilidade da população melhorou muito, gerando vida aos

distritos vizinhos antes degradados e marginalizados que receberam pesados investimentos

privados na melhoria das edificações periféricas aos rios e hoje abrigam centros comerciais

Page 7: Daniel grisotto

Universidade Presbiteriana Mackenzie

7

e empresarias, criando-se assim, uma diversidade de transeuntes, tanto para consumir,

fazer negócios e principalmente visitar o novo cartão postal da cidade de Seul.

Figuras 3 e 4 - Rio Cheonggeycheon após a requalificação urbana. Fonte: http://mundopossivel.com.br/?p=1782

O projeto do rio Cheonggeycheon serviu de exemplo para o país que hoje promove mais

uma requalificação de rios urbanos, com o projeto de despoluição e reestruturação das

margens do rio Han, maior, e principal rio da capital sul coreana.

Outros exemplos dessa possível transformação de áreas ribeirinhas com benefícios para o

meio ambiente, para a cidade e para a sua população são os casos dos rios estrangeiros

que serão citados agora:

Rio Emscher, na Alemanha

O rio Emscher é um rio afluente do rio Reno e localiza-se a Oeste da Alemanha. Por mais

de um século, o rio e seus afluentes receberam as mais pesadas cargas de poluentes que

se tem notícia. Com o passar dos anos e com a crise do aço em 1970, muitas empresas e

indústrias da região do Emscher fecharam as portas, gerando um alto índice de

desemprego. Antigas instalações da indústria pesada ficaram abandonadas durante anos.

Preocupados com a péssima qualidade dos rios de toda a região, a ausência de parques e

praças de uso publico e coletivo, e as precárias condições das habitações existentes,

fizeram com que o governo tomasse medidas de revitalização da área.

As novas intervenções tiveram como objetivo solucionar um problema hídrico da região,

melhorando o seu desempenho, como também valorizar os cursos d`água como elementos

de uma paisagem em transformação. Para isso foi criado o IBA (Internationale

Bauausstellung) - Exposição Internacional de Construção. Esse projeto teve como medidas

principais a criação de um novo zoneamento na região visando a recuperação da paisagem

e de seus elementos, tendo os cursos d’água como o eixo da paisagem. (ALVEZ, 2002)

O projeto tinha como principais objetivos:

Page 8: Daniel grisotto

VII Jornada de Iniciação Científica - 2011

8

• Renovação da estrutura econômica,

• Recuperação da paisagem e de seus elementos, tendo os cursos

d’água como o eixo da paisagem.

• Implantação de distritos industriais, agora para indústrias com

tecnologias limpas, em antigas áreas de mineração.

• Urbanização e construção de moradias com atuação também no

campo social.

Figura 5 – À esquerda, o rio antes da intervenção. No centro da foto, um córrego canalizado para o carregamento dos esgotos e resíduos químicos; a foto mostra a insalubridade do local. Foto da região do

Emscher. Fonte: IBA – Internationale Bauausstellung Emscher-Park. Figura 6 - À direita, vista atual de parte da bacia do Emscher, Alemanha. Fonte: ALVEZ, Maristela Pimentel. A recuperação de rios degradados e sua

inserção na paisagem urbana – A experiência do rio Emscher na Alemanha. São Paulo, Fauusp, 2002. (dissertação de mestrado)

Rio Los Angeles, Estados Unidos da America

Com 94,45 Km, dos quais, 82 Km atravessam áreas urbanas (sendo 52 Km na cidade de

Los Angeles), o rio Los Angeles localizado no estado da Califórnia (EUA), nasce no vale São

Fernando seguindo até o oceano Pacífico, onde deságua na baia de Long Beach.

Abastecido pelas águas que escoam das montanhas de Santa Monica, Verdugo, Santa

Suzana e São Gabriel, ele corre no sentido noroeste-sudeste, mantendo em alguns trechos

sua morfologia original. Suas margens começaram a ser habitadas durante o século XIX

(1850) devido ao ciclo da mineração. O rio serviu de apoio como provedor de água e

transporte, sendo considerado um importante corredor fluvial de fluxo de pessoas e

mercadorias, gerando desenvolvimento econômico e crescimento urbano. Durante o

processo de desenvolvimento econômico da região, foram construídas estradas marginais,

linhas férreas de transporte, armazéns e barracões industriais nas áreas lindeiras ao rio.

Esse processo renegou e isolou o rio da maioria dos bairros adjacentes.

Page 9: Daniel grisotto

Universidade Presbiteriana Mackenzie

9

No entanto, após essas intervenções humanas desordenadas e da retificação e

impermeabilização das áreas de várzeas (ver figura 7), somadas ao despejo de resíduos

químicos e de esgoto tratado ocasionaram problemas com inundações e poluição a jusante

(rio abaixo) ao longo das praias vizinhas. A união desses fatores (inundações e poluição das

águas), gerou problemas de salubridade, o que levou em 1990 a movimentos de

reivindicação pró-revitalização do rio. Segundo Alva (1997), esse processo da degradação

ambiental, visível na maior parte das grandes cidades do mundo, é o reflexo de uma crise

social, econômica e política que se reflete na desintegração progressiva dos espaços do

tecido urbano. (GORSKI, 2010)

Figura 7 - Imagem do rio Los Angeles, na cidade de Los Angeles, pré-intervenção.

Fonte:http://ladpw.org/wmd/watershed/la/.

Em 2002 iniciou-se o processo de recuperação do Los Angeles River, com a aprovação do

Comitê de Revitalização, implantando em 2005 o Plano Diretor de Recuperação do Rio Los

Angeles (The Los Angeles Master Plan). O projeto de reestruturação urbana do rio Los

Angeles, oficialmente desenvolvido e aplicado em 2005 e finalizado em 2007, aborda

questões relacionadas à preservação de inundações, recuperação e proteção ambiental

destinadas ao desenvolvimento sócio-econômico.

Essas propostas têm como objetivos principais, requalificar as margens do rio

transformando-as em um longo “corredor” verde que atravessa a cidade, privilegiando a

vitalidade dos espaços livres (ver figura 8) existentes aumentando a identidade dos locais

por onde esse cinturão verde passa. Esse processo gerou uma melhor qualidade de vida da

população local com a criação espaços agradáveis para trabalhar, viver e descansar,

ampliando locais com espaço de lazer e áreas institucionais.

Page 10: Daniel grisotto

VII Jornada de Iniciação Científica - 2011

10

Figura 8 - Proposta de requalificação dos espaços das margens do rio Los Angeles: Fonte: GORSKI, Maria

Cecilia Barbieri. Rios e Cidades: Ruptura e Reconciliação. São Paulo, Senac, 2010.

O objetivo principal do Plano é resgatar, além da função ecológica do rio, sua identidade em

relação à cidade, pontuando melhorias no acesso da população ao rio, a segurança e saúde

pública. A partir dos objetivos gerais, foram definidas as diretrizes principais para o Plano,

que foram divididas em quatro metas, melhoria do rio, diretrizes para bairros verdes,

diretrizes relativas à captação de oportunidades para a comunidade e diretrizes relativas à

valorização socioeconômica e ambiental.

Diretrizes relacionadas à revitalização do rio:

• Valorizar as várzeas, com recuperação da vegetação ripária;

• Restaurar a funcionalidade ecossistêmica, restabelecendo as funções

ecológicas e hidrológicas;

• Melhorar o tratamento e a qualidade da água

• Possibilitar o acesso público e seguro.

Esses processos estão diretamente ligados à idéia de melhoria da paisagem urbana, e

melhoria da qualidade de vida da população. A melhoria da qualidade da água dos rios

associado à tentativa de renaturalização da estrutura física destes ambientes têm

acarretado um aumento da biodiversidade local, na restauração da função ecológica, além

da utilização destes ambientes como áreas de lazer e valorização de espaços urbanos para

áreas urbanas degradadas. (BINDER, 1998)

Diretrizes relativas aos bairros verdes

1 Criar um caminho verde contínuo;

2 Conectar a vizinhança ao rio;

3 Ampliar os espaços públicos e de recreação;

4 Vincular a presença do rio à identidade dos bairros;

Page 11: Daniel grisotto

Universidade Presbiteriana Mackenzie

11

5 Incorporar elementos da arte pública ao longo do rio.

Diretrizes relativas à captação de oportunidades para comunidade:

1. Tornar o rio um foco de atividades com lugares acessíveis, seguros e

saudáveis;

2. Promover o sentido de cidadania;

3. Celebrar o rio como patrimônio cultural

4. Engajar a população local no processo de construção e planejamento do

bairro;

5. Adaptar as áreas industriais ao conceito de “eco-industrial”, de modo a

oferecer espaços abertos, segurança, limpeza e emprego para os moradores.

Diretrizes relativas à valorização socioeconômica e ambiental:

1. Promover a qualidade de vida;

2. Aumentar a oferta de emprego, moradia e comércio;

3. Criar um desenho urbano ambientalmente adequado e diretrizes para uso e

ocupação do solo;

4. Criar novas oportunidades de emprego, moradia e comércio

5. Concentrar esforços na requalificação das áreas subutilizadas e das

comunidades carentes, em desvantagem social assegurando a equidade de

acesso às áreas de lazer, ao trabalho, e a transporte.1

Figura 9 - Imagem das propostas de melhoria da paisagem do rio. Fonte: http://www.mlagreen.com

1 Todos os dados acima mencionados relacionados às intervenções e diretrizes foram retirados do “Los Angeles Master Plan”, e do livro GORSKI, Maria Cecilia Barbieri. Rios e Cidades: Ruptura e Reconciliação. São Paulo, Senac, 2010.

Page 12: Daniel grisotto

VII Jornada de Iniciação Científica - 2011

12

As propostas visam atuar em diversas escalas, de acordo com os objetivos acima

mencionados. Essas diversas escalas de abordagem dão uma visão ampla dos

condicionantes e determinantes que agem sobre a cidade e, ao mesmo tempo, permitem

uma percepção local mais coerente com as dinâmicas regionais que atuam na produção e

reprodução do espaço urbano. Assim, as cidades podem se adaptar às condições

geoambientais dos rios, equalizando os problemas ligados ao uso e ocupação dos leitos

fluviais e aproveitando suas potencialidades.Esses propósitos estão especificados no Plano.

Rio Piracicaba, Piracicaba (São Paulo, Brasil)

Figura 10 - Vista aérea da cidade de piracicaba. Fonte: Google Earth (04/12/2010 às 18h33min)

Desde a fundação da cidade nas margens do rio de Piracicaba, em 1767, a Vila Nova

Constituição , posteriormente chamada de Piracicaba, possui forte relaçao economica e

cultural com as águas do rio. O próprio nome da cidade tem relação com suas águas, o

nome Piracicaba em Tupi Guarani significa “lugar onde o peixe para”. Segundo relatos

históricos a cidade possui uma importante posição geografica servindo de apoio no século

XVIII às embarcações que descian o rio Tietê dando retaguarda ao abastecimento do Forte

Iguatemi na fronteira Brasil-Paraguai, antigo ponto de conquista territorial entre espanhois e

portugueses. No decorrer do século XIX a cidade passou a crescer e se desenvolver

economicamente, por meio do desenvolvimento agrícola representado pelo cultivo de cana-

de-açucar. Esse crescimento nas margens do rio acarretou obras aquitetonicas de

importante valor cultural e patrimonial como o Engenho Central, Complexo Industrial Boyes,

o Belvedere do Parque do Mirante, a casa do Povoador e a Capela do Divino muitos deles

tombados e destacados como Patrimônio Histórico e Cultural. Com isso a Rua do Porto se

tornou um importante local cultural e histórico, já que se trata de um dos mais antigos

Page 13: Daniel grisotto

Universidade Presbiteriana Mackenzie

13

tecidos urbanos da cidade representando o principal espaço de recreação para a

população.

Figura 2 - Casa do povoador, primeira construção da cidade. Fonte relatório do Plano de Ação Estruturador para a região de Piracicaba (2001). Fonte: http://www.ipplap.com.br/docs/br_pae-parte2de3.pdf

No entanto, a partir da década de 1950 a cidade sofreu com o processo de crescimento

desordenado, que seguia o modelo urbanístico dos grandes centros urbanos brasileiros, que

priorizava o desenvolvimento econônico e desqualificava ou pouco se preocupava com

questões ambientais. Nesse período, com a implantação de indústrias, principalmente do

setor sucro-alcooleiro e metalúrgico, a cidade voltou as costas para os rios e passou a

canalizar e retificar a maior parte de seus cursos em prol do desenvolvimento de malhas

viárias. O despejo de esgoto não tratado poluiram e depreciaram as margens dos rios,

tornando-as insalubres, degradando a paisagem.

Além disso o desenvolvimento de novos bairros dava indícios da divisão social que se

estabeleceria na cidade, gerando desvalorização dos terrenos do antigo núcleo colonial,

provocando um exôdo das classes mais abastadas para esses novos loteamentos.

As áreas próximas ao rio, principalmente as da região da Rua do Porto passaram a ser

locais violentos e degradados, deixando a cidade mais distante do rio que tão importante foi

para sua criação. Esse processo de degradação da região fez surgir a necessidade de

criação de um plano diretor de requalificação da área histórica da cidade, visando a melhora

da qualidade de vida da população e principalmente a utilização de forma racional dos

recursos naturais inerentes ao rio, visando a sustentabilidade ambiental, economica e

cultural – como fica evidente no trecho do Plano de Ação Estruturador (PAE):

O projeto não se baseia unicamente em embelezar as margens urbanas do rio ou solucionar problemas pontuais da região da rua do Porto, mas sim confrontar e solucionar problemas de questões diversas como ambiental (poluição, assoreamento e destruição das matas ciliares), socioeconômicas (violência, prostituição e tráfico de drogas), institucionais (fiscalização, restauração e conservação das edificações e do patrimônio histórico). (IPPLAP - Instituto de

Page 14: Daniel grisotto

VII Jornada de Iniciação Científica - 2011

14

Pesquisa e Planejamento de Piracicaba. Plano de Ação Estruturador. Piracicaba, 2000, 35)

O projeto Beira-Rio - Apresentação do Plano de Ação Estruturado (PAE)

Considerado um projeto pioneiro em recuperação de rio urbano no Brasil, o programa de

requalificação ambiental e urbanistica denominado Projeto Beira Rio, implantado em 2001,

visou a requalifcação ambiental e urbana da cidade de Piracicaba, como um primeiro

produto que visava eaquacionar os conflitos e potencialidades da relação rio-cidade. Após

estudos sociais, ecológicos, urbanisticos geológicos entre outros o programa chegou a um

resultado chamado de A cara de Piracicaba2, que pretendia ir além do ideal de implantação

de impactos paisagisticos mas também solucionar problemas do território físico, culturais e

socioeconômicos.

No entanto, com o diagnóstico estabelecido, o programa que anteriormente apenas visava

integrar o Plano diretor da cidade à orla do rio, evoluiu para uma proposta mais abrangente,

ampliando as diretrizes ambientais pontuais das margens para toda a cidade e

posteriormente visando a melhoria de toda a bacia hidrografica do Piracicaba, tornando-se

um modelo de referência nacional. Para isso foi criado um projeto denominado de Plano de

Ação Estruturador (PAE) que, auxiliando o Plano Diretor da cidade, define diretrizes gerais e

ações concretas a serem implementadas seguindo os padrões ambientalmente adequados.

Para alcançar os objetivos do projeto na escala urbana, o PAE setorizou o programa em oito

trechos poutuais (ver figura 12) de intervenção, que são:

- Projeto Trecho-1: Beira Rio-Central (que contém o Projeto Start), localizado entre a ponte

do Mirante e a ponte do Morato.

- Projeto Trecho-2: Lar dos Velhinhos, localizado entre a ponte do Mirante e a ponte Lar dos

Velhinhos.

- Projeto Trecho-3: Bongue, localizado entre a ponte do Morato e a Ponte do Caixão.

- Projeto Trecho-4: Corredor Eco-Social, localizado junto à av. Francisco de Souza.

- Projeto Trecho-5: Corumbataí, localizado entre a ponte do Caixão e o limite oeste do

perímetro urbano.

- Projeto Trecho-6: Esalq-USP, localizado entre a ponte do Lar dos Velhinhos e a ponte do

Rodoanel.

- Projeto Trecho-7: Monte Alegre, localizado entre a ponte do Rodoanel e o limite leste do

perímetro urbano. 2 No chamado “Plano de Ação Estruturador” (PAE), documento representativo da segunda fase do Projeto Beira-Rio, que continua o pensamento sobre a sustentabilidade por meio de diretrizes urbanísticas para a relação rio-cidade, expressa num termo denominado pelo antropólogo urbano Arlindo Stefani como “A cara de Piracicaba”. In: http://www.ipplap.com.br/docs/br_pae_parte1de3.pdf.

Page 15: Daniel grisotto

Universidade Presbiteriana Mackenzie

15

- Projeto Trecho-8: pedreira do Morato – localizada no Bairro do Morato e calha do ribeirão

do Enxofre. (IPPLAP - Instituto de Pesquisa e Planejamento de Piracicaba. Plano de

Ação Estruturador. Piracicaba, 2000)

Figura 12 - Imagem aérea do trecho urbano do rio Piracicaba. Proposta idealizada pelo PAE demonstra os oito pontos primordiais da intervenção do projeto na escala urbana. Imagem retirada do site

http://www.ipplap.com.br/docs/br_pae_parte1de3.pdf

Na essência o PAE propõe a implantação de projetos geológicos, hidrológicos, econômicos,

sociais , culturais e paisagisticos cuja meta é o equilibrio do binômio rio-cidade. Dentro do

perimetro urbano do rio o Plano de Ação Estruturador tinha como fundamentação melhorar

os aspectos degradados aplicando seis principais objetivos, que posteriormente seriam

implantados junto ao Plano Diretor. Os princípios são:

1. Recuperação da qualidade da água;

2. Preservação do cinturão meândrico;

3. Reestruturação do tecido urbano;

4. Intensificar o rio como caminho;

5. Conservar a paisagem;

6. Conectar o cidadão ao rio.

Para alcançar essas medidas a proposta estabelece algumas diretrizes aplicadas

relacionadas aos objetivos anteriormente mencionados que são:

1. Priorizar o saneamento, concluindo o sistema de interceptores paralelos ao rio e a

construção da Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) e implantação da coleta seletiva e a

Page 16: Daniel grisotto

VII Jornada de Iniciação Científica - 2011

16

reciclagem de lixo e a industrialização dos residuos sólidos , gerando uma diminuição do

escoamento do lixo e de resíduos para o leito do rio;

2. Para preservação do cinturão meândrico, foi proposta a criação do corredor biológico

chamado de “Eco-Social”, recuperando-o onde necessário e promovendo a conservação

ambiental na faixa territorial envolvente ao cordão mendrico dos rios, como pode ser visto na

figura 12;

3. Para reestruturação do tecido urbano, foi adotado o rio Piracicaba como curso

principal para a implantação de projetos e, posteriormente, os seus afluentes, e elaborado

um zoneamento ecológico-econômico do municipio, visando um novo paradigma de

ocupação. Criação de comportas ao lado do rio, para controle de enchentes; dinamização

dos usos da Rua do Porto (RDP) ; conexão da RDP com o Parque Beira Rio, como o Paço

Municipal e com o tecido urbano central; valorização do percurso dos percursos dos

pedestres; desenvolvimento de novos transportes urbanos, principalmente os movidos a

energia limpa- como trólerbus; implemetação de um circuito turístico de bonde; incentivar a

restauração das fachadas;

4. Para incentivar o rio como caminho: explorar a visão da cidade a partir do rio, com a

implementação da navegação fluvial, e criar novos sistemas de transporte urbano;

5. Para conservar a paisagem: proteger o patrimônio cultural e ambiental da cidade,

por meio de instrumentos de uso e ocupação do solo, diretriz de gabarito e densidade ao

longo da faixa de proteção do rio, prevenção e geração de emprego e renda, para evitar a

gentrificação3, manter e recuperar as paisagens memoráveis da cidade e implantar novas

obras de arte urbana;

6. Para conectar o cidadão ao rio: criar corredores verdes-chamados no projeto de

Corredores Eco-Sociais, incluindo trilhas urbana incetivando o percurso a pé, integração das

margens através de criação de passarelas de pedestres e trasposição por balsa, criação de

decks, mirantes entre a calçada e as margens do rio. As imagens abaixo de antes e depois

demostram a melhoria na paisagem urbana da região.

3 Neologismo usado no processo de caráter excludente e privatizador, para “enobrecimento” do espaço urbano, que, com ou sem intervenção governamental, ocorre em várias cidades do mundo, significando a expulsão de moradores tradicionais - geralmente pertencentes a classes sociais mais baixas- desse processo de valorização espacial e imobiliária. Fonte: GORSKI, Maria Cecilia Barbieri. Rios e Cidades: Ruptura e Reconciliação. São Paulo, Senac, 2010.

Page 17: Daniel grisotto

Universidade Presbiteriana Mackenzie

17

Figura 13 – À esquerda, implantação de espaços como decks e passarelas para aproximar o cidadão ao rio. Fonte:http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/projetos/05.058/2551. Figura 14 - À direita, corte feito pelos

autores do projeto. Fonte: http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/projetos/05.058/2551

Figura 15 - Restauração das residências ribeirinhas, prevalecendo a conservação do patrimônio arquitetônico. À direita antes, e à esquerda depois. Fonte: http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/projetos/05.058/2551

As principais medidas foram a preservação das edificações históricas da região, a

implantação de obras institucionais caracterizando a área como um pólo cultural,

fortalecendo a cultura local, incentivando o turismo e ampliação de espaço verde para uso

do público. Para isso foram aplicadas medidas que privilegiassem os pedestres, permitindo

o “caminhar” intencionalmente aproximando o cidadão do rio e incorporando o rio no

desenvolvimento da cidade, tendo a cultura como definidora de projeto. Sobre a questão

ambiental a preservação e “renaturalização” de áreas verdes degradas serviram para

equacionar problematicas socio-ambientais. O Projeto aplica a prevalência do pedestre, a

recuperação do patrimônio público natural e construído, e valoriza a cultura como elemento

definidor consolidando a reaproximação do cidadão com o rio pois ele parte do pressuposto

de que rio e cidade em Piracicaba conformam um único e amplo sistema “bio-cultural”.

Page 18: Daniel grisotto

VII Jornada de Iniciação Científica - 2011

18

Figura 16 - Foto aérea do trecho urbano do rio Piracicaba (2000). Proposta idealizada pelo PAE. Fonte: GORSKI, Maria Cecilia Barbieri. Rios e Cidades: Ruptura e Reconciliação. São Paulo, Senac, 2010.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

É muito antiga a relação que se estabelece entre rios e cidades, pois a partir de rios

(grandes, médios ou pequenos) que foram fundadas as cidades no decorrer da história das

civilizações. Isso ocorria pois os rios tinham muito a oferecer, fornecimento de água,

alimentos, controle de territórios, capacidade de circulação de bens e pessoas, etc..

No entanto no decorrer do progresso econômico e no processo de urbanização,

principalmente a partir do século XX os rios sofreram constantes degradações do seu meio

físico. Políticas públicas de intervenções sobre os ecossistemas, que estabeleciam medidas

impróprias e de domínio sobre eles sem nenhuma compreensão de sua importância e

complexidade, somados à industrialização e ao crescimento urbano desordenado sem leis

regulamentadoras do uso correto dos recursos hídricos, o uso e ocupação inadequadas do

solo às suas margens, com técnicas de engenharia de retificação e canalização começaram

a transformar a estrutura ambiental dos rios, chegando em alguns casos ao

desaparecimento dos cursos d’água na paisagem urbana.

Devido ao colapso ambiental e social causados por essas ações de degradação contínua, a

partir de 1960 começaram os primeiros movimentos de questionamento e reflexão sobre a

relação entre sociedade e natureza. Nesse período foram criados órgãos e conselhos

governamentais e internacionais que estudavam e analisavam novas maneiras de

reestruturar e reintegrar áreas ambientais degradadas ao meio urbano. A importância

dessas intervenções de requalificação está não só na melhoria da qualidade ambiental mas

também em devolver aos rios sua importância como elementos históricos, culturais e

Page 19: Daniel grisotto

Universidade Presbiteriana Mackenzie

19

paisagísticos para os centros urbanos e para a população. No entanto os desafios

ambientais demandam não apenas a implantação de projetos pontuais e específicos mas

também, uma mudança de mentalidade dos agentes governamentais, privados, das

organizações sociais e institucionais e da sociedade para que se estabeleça uma

consciência madura da importância da proteção ambiental para um desenvolvimento

socioeconômico que melhore a vida de toda a população. Logo, os rios não devem ser

tratados apenas como um obstáculo à ocupação humana, mas sim como uma paisagem

natural, que atravessa a cidade – e, portanto, é parte o tecido urbano. É preciso integrar os

rios à cidade e à população, com ações que visam resgatar não apenas a qualidade das

águas, mas também a paisagem.

CONCLUSÃO

Procuramos com este trabalho apresentar e estabelecer uma relação entre o conhecimento

sobre o problema dos rios e a ocupação urbana, trilhando por alguns exemplos de projetos

realizados em diversos lugares, e com ênfase nas propostas feitas para a cidade de

Piracicaba. Procuramos mostrar a importância do conhecimento adquirido para a realização

dos projetos bem como o valor e os benefícios que as intervenções em áreas de rios podem

trazer.

REFERENCIAS

ALMEIDA, Maria Soares. Transformações Urbanas: atos, normas, decretos, leis na

administração da cidade Porto Alegre 1937 / 1961. São Paulo, Fauusp, 2007. (Tese de

doutorado)

ALVEZ, Maristela Pimentel. A recuperação de rios degradados e sua inserção na paisagem

urbana – A experiência do rio Emscher na Alemanha. São Paulo, Fauusp, 2002.

(dissertação de mestrado)

ASCELRAD, Henri. “Sentidos da Sustentabilidade urbana”. In ACSELRAD, H (org.) A

duração das cidades: sustentabilidade e risco nas políticas urbanas. Rio de Janeiro: DP&A

Editora: CREA-RJ, 2001. p. 27-55 (Coleção Espaços do Desenvolvimento)

BINDER, Walter. Rios e Córregos, Preservar-Conservar-Renaturalizar. Projeto PLANAGUA

SEMA/GTZ de cooperação técnica Brasil-Alemanha. Agosto de 1998.

BRASIL. Ministério do Meio Ambiente et al. Cidades Sustentáveis: subsídios à elaboração

da Agenda 21 brasileira. Brasília: MMA, 2000

Page 20: Daniel grisotto

VII Jornada de Iniciação Científica - 2011

20

CESP. Plano de desenvolvimento do Vale do Piracicaba. Empreendimento hídrico Santa

Maria da Serra – Viabilidade técnico-econômica. São Paulo, Diretoria de Hidrovias e

Desenvolvimento Regional da Companhia Energética de São Paulo,1996.

COSTA, Lúcia M. Os rios e a paisagem urbana. Rio de Janeiro, PROARQ-FAU/UFRJ, 2000.

DAEE/SVT. Planejamento da Bacia do Piracicaba. São Paulo, Consultoria

PACICON/Serviço do Vale do Tietê, 2008.

FRANCO, Maria de Assunção Ribeiro. Planejamento ambiental. São Paulo, Anablume:

Fapesp, 2002.

GORSKI, Maria Cecilia Barbieri. Rios e Cidades: Ruptura e Reconciliação. São Paulo,

Senac, 2010.

IPPLAP - Instituto de Pesquisa e Planejamento de Piracicaba. Plano de Ação Estruturador.

Piracicaba, 2000. Disponível em: http://www.ipplap.com.br/docs/br_pae_parte1de3.pdf

JACOBS, Jane. Morte e Vida de Grandes Cidades. 2°ed. São Paulo, Editora WMF Martins

Fontes, 2009.

KAHTOUNI, Saide. Cidade das águas. São Paulo, RiMa, 2004.

LUSTOZA, Regina Esteves. Análise da Paisagem Urbana e o Planejamento Ambiental em

Anna Florencia, Ponte Nova, Minas Gerais. Viçosa, Universidade Federal de Visoça, 2001.

(Dissertação de mestrado)

MELLO, Vera Lúcia Mayrinck de Oliveira. Gestão das Paisagens de Rios Urbanos: O Rio

Capibaribe na Cidade do Recife/Pe/Brasil. Trabalho apresentado no simposio “El acceso al

agua en América: historia, actualidad y perspectivas”, no 53 Congreso Internacional de

Americanistas, México, 2009.

MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE. Manual de valorização ambiental. Brasília, 2005.

Disponível em http://www.mmagov.br.

SILVESTRI, Graciela. El color del río. Historia cultural del paisaje del Riachuelo. Quilmes,

Universidad Nacional de Quilmes, 2003

SOUZA, Maria Adélia. Meio ambiente e desenvolvimento sustentável: as metáforas do

capitalismo. (mimeo). São Paulo, 2002.

TUCCI, C. E. M. “Águas urbanas”. In: TUCCI, C. E. M. & BERTONI, J. C. (org.). Inundações

urbanas da América do Sul. Porto Alegre, ABRH, 2003.

Contato: [email protected] e [email protected]