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O design só se preocupa com as aparências Daniel Portugal 1 Ao se ler textos, artigos e livros sobre design, é mais do que comum encontrar asserções do tipo: o design é muito mais do que apenas estética; o design não pensa apenas em um produto mais bonitinho, mas mais funcional; ou qualquer outra equivalente a o design não se preocupa apenas com as aparências. Esse apenas, claramente pejorativo, atesta que as aparências continuam, ainda hoje, a sofrer muitas infundadas discriminações. Nesse estudo, queremos discutir tal menosprezo, criticáͲlo, e argumentar que a aparência é o próprio coração do design. Em uma perspectiva evidentemente parcial, alçaremos a aparência a princípio e fim do design, e por ela o definiremos: o design é a atividade que trabalha as aparências visando as aparências. Definição simples e direta: boa para começar um texto, mas que pode parecer um tanto disparatada para aqueles que nunca se puseram a refletir sobre esse termo tão importante: aparência. Normalmente, entendemos "aparência" como aquilo que se mostra a nós através da visão. Mas, se os objetos do mundo aparecem também através dos outros sentidos, por que privilegiar apenas um? Não há motivo para desconsiderar, digamos, uma aparência olfativa. Se, por exemplo, alguém aparecer em uma festa com visual impecável, porém exalando odores inapreciáveis, diremos que tal pessoa "se preocupa com as aparências"? De maneira alguma, porque além de não se incomodar com o próprio fedor, importaͲse menos ainda com a imagem que outras pessoas fazem dela. O episódio nos faz perceber, então, que usamos o termo "aparência" para nos referirmos tanto às imagens sensoriais (no caso, o cheiro ruim), quanto a qualquer coisa que influencie a formação de imagens mentais, ou ideias a respeito de algo (no 1 Daniel Portugal é mestre em Comunicação e Práticas de Consumo pela ESPMͲSP e designer gráfico pela UFRJ. SócioͲfundador da forma elementar, empresa de branding, design e análise do consumo.

Daniel Portugal. O Design Só Se Preocupa Com as Aparências

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Reflexão sobre o design.

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  • Odesignssepreocupacomasaparncias

    DanielPortugal1Aose ler textos,artigose livrossobredesign,maisdoquecomumencontrarasseresdo

    tipo: o design muitomais do que apenas esttica; o design no pensa apenas em um

    produtomaisbonitinho,masmaisfuncional;ouqualqueroutraequivalenteaodesignno

    sepreocupaapenascomasaparncias.Esseapenas,claramentepejorativo,atestaqueas

    aparncias continuam, aindahoje, a sofrermuitas infundadasdiscriminaes.Nesse estudo,

    queremosdiscutirtalmenosprezo,criticlo,eargumentarqueaaparnciaoprpriocorao

    dodesign.

    Emumaperspectivaevidentementeparcial,alaremosaaparnciaaprincpioefimdodesign,

    e por ela o definiremos: o design a atividade que trabalha as aparncias visando as

    aparncias.Definiosimplesedireta:boaparacomearumtexto,masquepodeparecerum

    tanto disparatada para aqueles que nunca se puseram a refletir sobre esse termo to

    importante:aparncia.

    Normalmente, entendemos "aparncia" como aquilo que semostra a ns atravs da viso.

    Mas, se os objetos do mundo aparecem tambm atravs dos outros sentidos, por que

    privilegiarapenasum?Nohmotivoparadesconsiderar,digamos,umaaparnciaolfativa.Se,

    porexemplo, algum apareceremuma festa com visual impecvel,pormexalandoodores

    inapreciveis,diremosque talpessoa"sepreocupacomasaparncias"?Demaneiraalguma,

    porquealmdenoseincomodarcomoprpriofedor,importasemenosaindacomaimagem

    que outras pessoas fazem dela. O episdio nos faz perceber, ento, que usamos o termo

    "aparncia"paranosreferirmostantosimagenssensoriais(nocaso,ocheiroruim),quantoa

    qualquercoisaqueinfluencieaformaodeimagensmentais,ouideiasarespeitodealgo(no

    1DanielPortugalmestreemComunicaoePrticasdeConsumopelaESPMSPedesignergrficopelaUFRJ.Sciofundadordaformaelementar,empresadebranding,designeanlisedoconsumo.

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    caso,aimagemdefedorentaqueamoabemvestidatransmiteatodosospresentesnafestae

    comaqualaparentementeelanoseimporta).

    Assim,digamos,deummodomaisgeral,queaparnciatudooqueapareceparansoupara

    os outros, seja atravs de ginsticas imaginrias, seja atravs dos sentidos. A aparncia, a

    imagem,oprincpiode todanossaexperinciacomomundo,emesmocomnossoprprio

    eu, como prova Geng, personagem do livro Um, Nenhum e cemmil2: um belo dia, sua

    mulheroencontrade frenteparaoespelhoe lhepergunta seeleestadmirando seunariz

    torto. Geng, que sempre encarou seu nariz como reto, descobre, assim, uma nova

    caractersticadesuapessoaecomeaaperceberquenooumquese imaginava.Pensa

    ser,ento,nenhum,jquetodasascaractersticasquepercebeemsimesmosodistintasna

    percepodeoutraspessoas.Concluidepois,entretanto,quenolhefaltaumaessncia,mas

    queestaseencontraexatamentenamultiplicidadedesuas imagens,desuasaparncias.Ele

    no,portanto,um,nemnenhum,masvrios,cemmil.

    Nietzsche3diz,dosgregos,quesosuperficiaisporprofundidade.AssimsepercebeGeng.E

    assim somos todos e so tambm, demaneiras diferentes, todas as coisas. Comomostra

    Nietzsche,aradicalseparaoentreaparnciaeessnciaeadegradaodaprimeiraemprol

    dasegundadasuperfcieemproldaprofundidadenopassadeumpreconceitosustentado

    pela prpria lngua: por que superficial o que de pouca profundidade e no demuita

    superfcie,eoqueprofundodemuitaprofundidadeenodepoucasuperfcie?Tratase,

    aqui, puramente de um problemade gramtica, inflado pela fora do sensocomum: quem,

    afinal,nuncaouviudizerqueasaparnciasenganam?Que"quemvcaranovcorao"?

    E, entretanto, quem v cara pode ver, atravs de sua imaginao, um oumais coraes,

    enquantoquemolhaparao corao,nada v.Epodeat serqueasaparnciasenganem,

    mas,desdequenosencantem,queimportaquenosecomprometamcomaverdadeesse

    talpontodevistaquetema infundadapretensodesesuporonico?precisoconstatar,

    2Pirandello,Luigi.Um,nenhumecemmil.SoPaulo:CosacNaify,2000.3Nietzsche,F.AGaiaCincia.SoPaulo:CompanhiadasLetras,2001.

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    inclusive, que a incerteza s intensifica a seduo: tudo o que se coloca como certo,

    verdadeiro, , alm de pretensioso, pouco sutil forado e reforado demais para ser

    interessante,jqueumpontodevistaqueprecisouficarendurecidoparasubirnopedestal.

    Eaquelesqueveneramaverdade,portornaremseigualmenteempedernidos,perdemtodaa

    graciosidade.

    Diro alguns que a graciosidade e a beleza so apenas aparncias, que no podem ser

    comparadasverdade,essasupostaessnciaintocvel.Voltaro,assim,aproferirasentena

    preconceituosadequetratvamosequerefutamos.Porqueverasaparncias,talcomoofaz

    ametafsicaplatnica,semprecomoumadegeneraodasIdeias,dasessncias,daverdade?

    Porquenoexperimentlastambmnoqueelastmdeprpriasporquenoencarlas

    esteticamente? As aparncias no so uma ponte para outra coisa, so um centro. Elas

    podematserummeio,massotambmumfim.

    E, ao falar de meios e fins, tocamos, finalmente, em um ponto central e delicado da

    mentalidade ocidental contempornea. O ponto a que nos refirimos se evidencia no

    documentrio O equilibrista4, centrado nas aventuras de Phillipe Petit, que montou um

    complexoesquemaparaesticar ilegalmenteumcaboentreastorresgmeaseatravesslo.

    No final do filme, Phillipe declara, em uma entrevista, que o quemais o impressionou na

    reaoamericanaaoseufeitoforamosporqus.Todosqueoabordavamperguntavam:por

    que voc fez isso?Nohavia porqu:a travessiaeraum fimem simesma,eraum feito

    esttico. Como props Kant5, na experincia esttica, a finalidade est ligada prpria

    sensibilidadedosujeito,tratandosedeumafinalidadesemrepresentaodefim.Ouseja,a

    experinciaestticanoprocuraumfimalheioasi.Umaexperinciaquebastaseasimesma,

    entretanto, era algo que os americanos que interpelavam Phillipe simplesmente no

    conseguiamconceber.

    O filsofo Olavo de Carvalho6, ao comentar a desespiritualizao do ocidente, diz que a

    4Oequilibrista.Ttulooriginal:Manonwire.Direo:JamesMarch.E.U.A,ReinoUnido:Discoveryfilms,2008.5Kant,Immanuel.CrticadaFaculdadedoJuzo.2.ed.RiodeJaneiro,ForenseUniversitria,1995.6Carvalho,Olavo.Ojardimdasaflies.RiodeJaneiro:Topbooks,1998.

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    mentalidade laica que a substitui transforma o universo em uma gigantescamquina de

    desentortarbananas.Spodemos,entretanto,retorquir:antes fosseumamquinadessasa

    imagem do universo produzida por certa vertente dominante da mentalidade ocidental

    contempornea.Desentortar uma gigantesca quantidade de bananas no deixa de ter seu

    apelo esttico, seja pela inovao na forma, seja pela imagemsntese que talmonte de

    bananas desentortadas se tornaria de toda ao humana no mundo, transformandoo

    segundoosparmetrosdesuaintelignciaesensibilidade.

    Aocontrrio,avertentedamentalidadeocidentalcontemporneadequefalamostransforma

    o universo em uma gigantesca mquina de produzir mquinas de produzir mquinas de

    produzirmquinasetc.,emumadescomunal linhadeproduocrcular.Eomaiscurioso

    que,aoseeliminarosfins,osmeios,paradoxalmente,tornamse,emltimainstncia,inteis,

    jquesservemaoutrosmeiosqueservemaoutrosmeiosqueservemaoutrosmeiosad

    infinitum.

    claramente na mesma linha desse triste pragmatismo circular que se desenvolve uma

    doutrina funcionalista sejanodesign, subordinando a forma funo, sejademaneira

    generalizada,vendotodaatividadeunicamentecomoummeioparaarealizaodoobjetivo

    prticoeespecficoaqueelaseprope.

    MrioPerniola,aocomentarospensamentosdoestudiosochecoJanMukarovsky,evidenciaa

    contradioinerenteaofuncionalismoemostraondechegaquemopensaatofundo:

    [...] descobrirse ento que existe tambm uma funo esttica cujascaractersticas so diferentes de todas as outras funes, porque ela anegaodialticadaprprianoode funo,porque transparente,nopossuiumobjetivoprprioe remeteparauma imagempolifuncionaldo serhumano.7

    No campo do design, a doutrina funcionalista j foi amplamente dominante, fixando uma

    orientao grosseiramente materialista, hiperracionalista e pragmtica, voltada aos

    desenvolvimentos de uma indstria massificadora qual as pessoas que deveriam se

    7Perniola,Mrio.AestticadosculoXX.Lisboa:editorialestampa,1998.p.139.

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    adaptarenoocontrrio.Aindahoje,essadoutrinaexerceinfluncia,emborapercaterreno

    cada vez mais para outras teorias centradas na experincia humana com as coisas e as

    imagens, tal como a filosofia do design de Klaus Krippendorff8. Esta focase na dimenso

    simblicaousignificantedodesigne,emboramantenhaemsegundoplanosuadimenso

    esttica, lida com a questo da finalidade sem representao de fim que caracteriza a

    experincia esttica atravs do conceito de motivao intrnseca. Um comentrio

    apropriadodessarobustateoriaexigiriaumartigo inteiro,maselanodesempenharpapel

    centralemnossaargumentao.

    Oquenos interessanomomentoa insuficincia radicalquecorrio funcionalismodesde

    suasbases.Vejamos:mesmoosqueachamquea forma concebidapelodesignerdeva ser

    escravadeumafuno,teroqueadmitirqueodesign,namedidaemqueatuanaforma

    das coisas, uma atividade esttica. Pode ser, por outro lado, que os funcionalistasmais

    radicalmente pragmticos no aceitem, a princpio, que a fruio esttica seja um dos

    objetivosoufinsdodesign.

    Entretanto,seobservamosqueafunodegrandepartedosobjetosserealizanocontato

    comohomem,noserdifcilconcluirquepromoverumcontatoagradvelentreohomeme

    oobjetofazpartedaprpriafuno.Umachaleira,porexemplo,quelevaaguaebulio

    emtrintassegundos,masqueimaamodequemapega,maisfuncionaldoqueoutraque

    demoraquarentasegundosparaferveragua,masmaisagradveldesegurar?

    Scomesseexemplobanal,jpodemosconcluirqueimpossvelnoincluircomopartedo

    objetivo do design, se no proporcionar prazer esttico no sentido mais elevado da

    expresso,aomenosproporcionarconfortosensorial.Mas,semdvida,poderemos irmuito

    alm se notarmos que a proposta funcionalista para o design, em uma reviravolta to

    contraditriaquantoinevitvel,nodeixadesertambm,elaprpria,umapropostaesttica,

    mesmoquedisfarada.Talconstatao,naverdade,bastanteevidente,nemquesejapelo

    simplesfatodequeafunonopodedeterminarporsimesmaaformadealgumacoisa.

    8Krippendorff,Klaus.Thesemanticturn:anewfoundationfordesign.BocaRaton:CRCPress,2005.

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    Emumareflexoumpoucomaisdemorada,poderamosembasarnossaposiomostrando,

    por exemplo, que a escola paradigmtica da tendncia funcionalista, a Bauhaus, abrigava

    tambm artistas e que as experincias grficas levadas a cabo por Klee, MoholyNagy,

    Mondrian,dentreoutros, ligavamse intimamente s formaselaboradaspelosdesignersda

    escola. Basta comparar, digamos, as formas de uma das conhecidas composies de

    Mondrian(figura01)sformasdafamosacadeiraWassily(figura02)paranotarqueasduas

    seguemumamesmapropostaesttica.

    Figuras01e02Composiocomvermelho,amarelo,azulepreto(Mondrian,1921)eCadeiraWassily(Breuer,1926).

    Aconclusoaquesechega,dequalquermodo,equenoparecenenhumanovidade,queo

    designer,aotrabalharaformadealgumacoisa,sepreocupaaomesmotempotantocom

    suasutilidadesquantocomaexperinciaestticaqueelaproporciona.Ouseja,eleenxergaa

    forma que imagina tanto como ummeio para um fim diverso quanto como um fim em si

    mesma. E, do mesmo modo, ao interagir com as formas imaginadas pelos designers, os

    observadores/usuriosseinteressaroporelastantonamedidaemqueelassoteisquanto

    namedidaemqueainteraoproporcionadiretamenteprazeresttico.

    A ttulodeexemplo,observemosnovamenteuma chaleira:devidoa suas formasqueela

    servefunodeesquentargua.Mas,nessesentido,comotudomaisoquetilisto,

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    ummeioparaumfimdiverso,elanosinteressaapenasindiretamente.Oquenosinteressa

    diretamenteaguaquente,oumelhor,oefeitoqueaguaquentemisturadaaochproduz

    emnossossentidossuaaparncia,portanto.Masachaleiratambmpodesetornarumfim

    em simesma se nos agradar diretamente por suas formas: podemos considerla bela, ou

    gostardesegurla.

    A forma, portanto, pode, como j dissemos, ser tanto ummeio quanto um fim. Enquanto

    meio, elapodeatuarsobreobjetosmateriaisou imateriais.Vimos,acima,queasformasda

    chaleiraalteramaaparncia(ttil)dagua,agindo,nessecaso,materialmenteofimdetal

    ao sendoaaparnciaalteradadagua.Emoutros casos,as formasdeumobjetoatuam

    imaterialmente,moldandoimagensimaginrias.

    Suponhamos,porexemplo,quealgummilionrioadquiraumaesculturapor74milhesde

    euros.Podeserqueeleo tenha feitoporqueaescultura lheagradavadiretamenteporsua

    formaisto,davalheprazeresttico.Maspodesertambmqueeleatenhacompradopara

    mostrar a outros que aprecia arte, ou que um milionrio que pode gastar somas

    astronmicasemobrasdearte;podeserqueeleatenhacomprado,pararesumir,emfuno

    da capacidadedaesculturaemalteraraaparnciadeleoudizendodeoutromodo,para

    moldar,deumamaneiraoudeoutra,asimagensdesiquecirculampelasmentesalheias.

    Vemos,assim,quea imagemsensorial,aformapalpveldascoisasestnocentrododesign,

    sendo, aomesmo tempo, fim ltimo, namedida em que experimentado esteticamente e

    meioemdoissentidos.Noprimeiro,visaoqueseconvencionouchamarfuno,isto,uma

    funomaterial. A forma tem, nesse caso, uma potnciamaterialmente ativa que altera a

    formaeaspossibilidadesdeaodeoutrosobjetosoudecorposporexemplo,aformade

    ummachadoquepermitealteraradequadamenteaformadarvoreeatornadeslocvelpara

    que possa ser transformada emmadeira de construo, um carro cuja forma aerodinmica

    ajudasualocomooeeconomizacombustveletc.Nooutrosentido,aformavisaumafuno

    simblica, ela tem uma potncia representativa quemodela imagensmentais vinculadas a

    certos objetos ou sujeitos por exemplo, a identidade visual de umamarca alterando sua

    imagem,aobradeartede74milhesdeeuroselevandoostatusdeseudonoesendosmbolo

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    debomgostoetc.

    Obviamente, a obra de artemencionada tambm tem um potencial esttico e uma funo

    material, assim como omachado tambm pode ser belo e possui vinculaes imaginrias

    diversas.Nenhumaformaesttotalmenteisentadefunesmateriaisesimblicas,mesmoum

    quadro tambm umamercadoria,mesmo ummictrio, como jmostrouDuchamp9, tem

    potencial esttico.O design, portanto, trabalha com a estrutura esboada na figura 03: no

    centro,aforma,deumlado,aaoparaaqualtalformacolabora,deoutro,asrepresentaes

    aqueelasevincula.

    Figura03

    Voltemos, agora, definio proposta para odesign atividade que trabalha as aparncias

    visandoasaparnciasevejamoscomoelaserelacionacomesseesquema.Odesignsempre

    atuaprimeiramentenaesferacentral,isso,elesempretrabalhaaforma,aaparncia.Ataa

    9Duchampumfamosoartistadadasta.Umadesuasobrasmaisfamosasummictrioqueeletomoujpronto,assinoueintitulouAfonte.Produziuassimoqueviriaasechamarumreadymade,umobjetoprexistentequeoartistatransformaemarteapenasrealizandoaaodedesloclodeseuambienteoriginal,evidenciando,comtalato,suapotnciaesttica.

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    definio semievidente,mas vejamos o resto. Enquanto a forma estiver principalmente

    voltadasobresimesma,centradanaexperinciaesttica,adefiniovaleporsimesma,poisa

    aparnciatambmfim.Namedidaemqueelaseentrelaamaisfortementecomoscrculos

    laterais,vejamosoqueacontece:seelaestivercentradanaexperinciasimblica,soaindaas

    aparnciastantoomeioquantoofim,poisseaformadeixadebastarse,elaserve,entretanto,

    saparnciasaomododeapariomentaldesujeitoseobjetos.

    Se ela estiver centrada na aomaterial, entretanto, a definio parece um pouco forada,

    pois, aqui, s podemos falar em aparncia na medida em que a ao atua no mundo

    emprico,sensriomundodasaparncias,enonoplanometafsicodasessncias.Por

    outrolado,podemosconsiderarqueaaomaterialprodutivapoisdessaquesetrataaqui

    nuncaumfimemsimesma,elaessencialmenteummeioe,pormaiorquesejaacorrente

    demeios,ela sempredesembocaremum fimquearticulaoutrasdimenses,dentreelas

    dimensessimblicaseestticas.Nossadefiniossedissolverrealmente,portanto,quando

    umdirecionamentoradicalparaaaodeixartotalmentede ladoasoutrasduasesferas.Mas

    serque,nessecaso,estaremosaindanoterrenododesign?

    Diremosqueno,e justificaremosnossaposiomostrandoquespodemos falaremdesign,

    comomostraa figura03,quandohumaarticulaodas trsesferas,mesmoqueumaesteja

    maisemevidnciaqueasoutras.Seconsiderarmoscadaesferaemseparado,namedidaemque

    elastendemasairdoesquemaproposto,veremosqueelasnodizemmaisrespeitoaodesign.

    Observemos, primeiro, a esfera da forma se a experincia esttica se afasta da ao e da

    representaoetentasuperarseasimesma,cainodomniodosublimeedomisticismo,vaipara

    ombitodecertotipodearteoudareligio,enomaisdodesign.Naesferadarepresentao,

    se ela se afasta das demais, cai no domnio da lngua e dos conceitos, entra em um plano

    totalmenteabstratoquenodizmais respeitoaodesign.Omesmoacontececomaesferada

    ao.Seelaseafastardasdemais,cairnosplanosdatcnicaedaengenharia,ou,emcasosmais

    primitivos,damaisbsicasustentaoorgnica,enoestarmaisnoterrenododesign.

    Concluindo, podemos dizer entoque, se nossa definio no propriamente universal

    dado que casos extremos nos quais o design se volta especialmente para a ao s so

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    abarcados tangencialmente,elapelomenosd contados aspectos centraisdodesign.Ao

    encarlo como atividade que lida com as aparncias, elaboramos uma espcie de anti

    funcionalismoquese,comodissemos,podeparecerumpoucoforadoemalgumassituaes

    limtrofes,mostrase,poroutrolado,especialmenteadequadoparalidarcomasdinmicasdo

    designemummundo cadavezmaisdesmaterializado.,afinal,noplanoqueelamelhor se

    aplicaquesepodecompreender,porexemplo,odesigndemarcas.Oqueobrandingseno

    uma atividade esttica e simblica, um esforo em orientar as ligaes entre os contatos

    materiaisdoconsumidorcomamarcasimagensmentaisaelarelacionadas?

    Enotambmprincipalmentenesseplanoqueliga,noesquemaacimaproposto,aforma

    representao que atua o design demoda to em voga atualmente? Pois, obviamente,

    emboratambmoperemessafuno,asvestesnasmileumavitrinesdeumshoppingcenter

    nosefocamprincipalmentenaregulaotrmicadocorpo.Eoquedizerdodesigndejias?

    Dodesignde interiores?Dodesignde superfcies? Fica claroque spodemos compreender

    todaasuapotnciapartindodeumpontodevistasemelhanteaoquepropusemosnesteartigo

    isto,umpontodevistaqueenxergueodesignprincipalmentecomoatividadeestticae

    simblica.