Daniela Fazzio

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  • Pontifcia Universidade Catlica Programa de Estudos Ps-Graduados em Psicologia Experimental:

    Anlise do Comportamento

    INTERVENO COMPORTAMENTAL NO AUTISMO E DEFICINCIAS DE DESENVOLVIMENTO: UMA ANLISE DOS REPERTRIOS PROPOSTOS EM MANUAIS DE TREINAMENTO

    Daniela F. Fazzio

    PUC/SP

    2002

  • Pontifcia Universidade Catlica Programa de Estudos Ps-Graduados em Psicologia Experimental:

    Anlise do Comportamento

    INTERVENO COMPORTAMENTAL NO AUTISMO E DEFICINCIAS DE DESENVOLVIMENTO: UMA ANLISE DOS REPERTRIOS PROPOSTOS EM MANUAIS DE TREINAMENTO

    Daniela F. Fazzio

    Dissertao apresentada Banca examinadora da Pontifcia Universidade Catlica de So Paulo, como exigncia para obteno do ttulo de MESTRE em Psicologia Experimental: Anlise do Comportamento, sob a orientao da Prof Dr Maria Amlia Pie Abib Andery

    Trabalho financiado pela Fapesp Processo 00/08381-3

    PUC/SP 2002

  • Banca examinadora

  • Autorizo, exclusivamente para fins acadmicos e cientficos, a reproduo total ou parcial

    desta dissertao por processos fotocopiadores ou eletrnicos.

    _____________________________________ Local e Data_______________________ Daniela F. Fazzio

  • Para minha me, que, espero, se orgulhe do amor que tenho pela Anlise do Comportamento. E se reconhea no sucesso dos meus projetos.

  • AGRADECIMENTOS

    ME, pelo seu amor incondicional, pela segurana que mantm no caminho

    que escolhi, por toda a sua dedicao a mim e minha felicidade,

    independentemente de ela coincidir ou no com as suas metas.

    CINDY tudo teria sido muito mais difcil sem voc. E essa empreitada de 2 anos s

    foi possvel porque voc apareceu e permaneceu na minha vida. Eu te amo.

    MARIA AMLIA por mais esse projeto realizado graas sua orientao, seu apoio,

    sua amizade, seu carinho e a tremenda esperteza em colocar meu repertrio sob o

    controle discriminativo certo.

    VERA, pelos incontveis momentos de acolhimento, a prestatividade ilimitada, pelos

    carinhos e a ateno de me. E entender a importncia desse projeto na minha

    vida como poucos.

    MARTINA pela amizade oferecida e conquistada e pela companhia especial em todas

    as interminveis horas de trabalho.

    DRI, pela amizade e pelo apoio, principalmente nesse final. Valeu pelas lies de

    cooperao, pelo reforamento capaz de me manter na tarefa naquele ltimo

    suspiro. Parabns pela sua competncia e pelo seu empenho.

    TIA e NILZA, pelos motivos de sempre, mas desta vez principalmente pela

    confiana e por terem gasto o seu tempo, junto com a Amlia, para me ajudar no

    momento mais difcil desses 2 anos.

    PAULA GIOIA, pela fora e os abraos de conforto pelos corredores do laboratrio. Foi

    legal te descobrir.

    GALERA DO 114B, meus novos amigos, pelo abrigo e o papo de todas as horas.

    MRCIA e ANDRA, pela competncia e rapidez dos primeiros-socorros.

    MAGGI, pela oportunidade, confiana, modelo, suporte, e colaborao para minha

    carreira no Brasil.

    Minha TURMA DO MESTRADO, que vai ficar na histria pelo esprito de equipe.

    CONCEIO, MAURICIO, NEUSA E DINALVA, pelo suporte e alguns galhos quebrados.

  • Fazzio, D. F.: Interveno comportamental no autismo e deficincias de

    desenvolvimento: uma anlise dos repertrios propostos em manuais de

    treinamento. Orientadora: Prof Dr Maria Amlia Andery, Dissertao apresentada

    banca examinadora da Pontifcia Universidade Catlica de So Paulo, como

    exigncia parcial para obteno do ttulo de mestre em Psicologia Experimental:

    Anlise do Comportamento.

    RESUMO Considerando a interveno comportamental na rea do autismo / deficincias de

    desenvolvimento um dos campos mais bem-sucedidos da Anlise do

    Comportamento, com intensa produo de conhecimento medida pela quantidade

    de publicaes na principal revista da rea aplicada, o The Journal of Applied

    Behavior Analysis (Northup, Vollmer e Serret, 1993) observa-se que a rea

    tambm foco de interesse de pais e profissionais de outras reas. Este estudo

    encontrou 15 manuais de treinamento de pais e profissionais publicados entre

    1981 e 2000. Destes, 6 foram selecionados com critrios mais estritos, consistindo

    de propostas de currculos. Destes, 4 foram analisados em relao aos repertrios

    propostos para ensino e a seqncia de treino das respostas em cada um dos

    repertrios. Para possibilitar a comparao entre os diferentes manuais, devido

    caracterstica de que apresentam suas propostas de maneira bastante distinta,

    todos os treinos, de cada repertrio, de cada manual, foram reclassificados de

    acordo com as classes verbais de Skinner, sistematizadas por Sundberg e

    Partington (1998). Os resultados so apresentados em trs partes: 1. apresentao

    geral dos manuais, descrevendo o contedo e a diviso em captulos e sees ; 2.

    repertrios, analisando a participao de treinos em cada repertrio para cada

    manual e comparando-os; 3. seqncia de treinos, comparando a nfase colocada

    no treino de cada repertrio. A anlise dos resultados mostra importantes

    caractersticas da interveno comportamental, dentre elas uma consistncia de

    procedimentos e comportamentos-alvo entre os manuais. Um dos produtos do

    estudo a apresentao de um modelo de avaliao de programas de interveno

    comportamental.

    Palavras-chave: autismo, deficincias de desenvolvimento, anlise do

    comportamento, treinamento de pais, treinamento de profissionais

  • ABSTRACT

    Considering behavioral intervention for autism / developmental disabilities one of

    the most successful fields in Behavior Analysis, measured by, although not only,

    the great number of publications in the Journal of Applied Behavior Analysis

    (Northup, Vollmer e Serret, 1993) it is observed that the field is a target of

    attention from parents and professionals of other areas. The present study found

    15 parent and professional training manuals published between 1981 and 2000.

    Among those, six, which consisted of a curriculum, were considered for analysis.

    Among those, four were analyzed in regards to the repertoires proposed for teaching

    and the sequence of implementation of the programs for each of the repertoires. In

    order to allow the comparative analysis of the manuals, as a consequence of

    distinct styles of presenting its proposals, every program, of every repertoire, was

    reclassified according to Skinners analysis of verbal behavior, as systematized by

    Sundberg e Partington (1998). Results are presented in three parts: 1. general

    presentation of the manuals, describing the contents and organization of contents;

    2. repertoires, analyzing the distribution of programs for each repertoire and

    comparing them; 3. sequence of programs, comparing emphasis on each verbal

    repertoire (i.e.class). The analysis shows important characteristics of behavioral

    intervention, among which a consistency of procedures and target behaviors among

    manuals. One of the products of the study is the presentation of a model to

    evaluating behavioral intervention programs.

    Key-words: autism, developmental disabilities, behavior analysis, parent training,

    professional training.

  • SUMRIO

    Introduo ................................................................................... 1

    Mtodo......................................................................................... 23

    Seleo das fontes de dados.............. 23

    Anlise do material........................... 29

    Resultados...................................................................................... 32

    I. Apresentao geral dos manuais... 34

    Lovaas......................... 35

    Maurice........................ 44

    Sundberg e Partington.. 50

    Leaf e McEachin . 57

    II. Repertrios. 69

    III. Seqncia de treinos. 99

    Discusso....................................................................................... 108

    Referncias bibliogrficas............................................................... 113

    Anexos........................................................................................... 115

  • AUTISMO

    A) ESPECTRO E DIAGNSTICO O autismo uma classificao diagnstica determinada a partir da observao de um

    conjunto de caractersticas comportamentais apresentadas por uma pessoa. uma deficincia

    de desenvolvimento1 muito importante, tanto em termos da severidade do quadro

    comportamental que em geral a caracteriza, quanto pela sua alta incidncia na populao. A

    primeira pessoa a descrever o autismo foi Leo Kanner. Schreibman, Koegel, Charlop e Egel

    (1990) apresentam a descrio de Kanner da seguinte forma: "Aquelas crianas no se

    relacionavam com as pessoas e com o ambiente normalmente, e Kanner chamou sua

    preferncia por estar sozinhas de 'solido extrema autstica'" (p. 764). As crianas de Kanner

    no tinham fala apropriada, apresentavam ecolalia e o uso incorreto de pronomes. Elas se

    engajavam em "movimentos e vocalizaes montonos e repetitivos, e tinham uma

    insistncia obsessiva na preservao da mesmice do ambiente, e manifestavam

    surpreendentes memrias rituais." (Schreibman, Koegel, Charlop e Egel, 1990, p.764)

    As trs categorias de comportamento consideradas caractersticas do autismo, ainda

    hoje em dia, so: a) uma falha grave em estabelecer contato social; b) anormalidades de

    linguagem e c) comportamentos ritualsticos ou compulsivos (Schreibman, Koegel, Charlop e

    Egel, 1990, pp.764-765). Porm, "h algumas variaes em nfase dependendo do(s)

    instrumento(s) diagnstico(s) aplicado(s)." (p. 764).

    Atualmente considera-se que o autismo faz parte de um espectro de transtornos do

    desenvolvimento que engloba, dentre outras categorias diagnsticas, o autismo infantil, cujo

    quadro o mais divulgado, possivelmente por ter maior prevalncia na populao.

    O conceito de espectro no abordado nos principais manuais de classificao

    diagnstica CID-10, publicado pela Organizao Mundial da Sade (1993) e DSM-IV,

  • publicado pela Associao Americana de Psiquiatria (1994). Parece, portanto, ser uma

    classificao recente e talvez informal.

    Os transtornos invasivos do desenvolvimento englobados sob o rtulo "espectro do

    autismo" so a Sndrome de Rett2, a Sndrome de Asperger e os transtornos invasivos sem

    outra classificao (aqueles que por algum motivo no se encaixam nos outros transtornos

    invasivos do desenvolvimento). Em cada um desses rtulos, basicamente, muda a idade do

    indivduo em que as caractersticas definidoras do diagnstico aparecem e a prevalncia em

    meninos ou meninas.

    O Departamento de Sade e Servios Humanos dos Estados Unidos (U.S. Department

    of Health and Human Services, 2001) inclui no espectro do autismo as mesmas categorias

    que o DSM-IV classifica como Transtornos Invasivos do Desenvolvimento. So cinco

    diagnsticos: Transtorno Autstico, Transtorno Invasivo do Desenvolvimento sem outra

    especificao (com deficincias menos significativas que as do autismo nas reas social e de

    comunicao), Sndrome de Asperger (com desenvolvimento normal da linguagem e uso

    gramatical adequado, habilidade intelectual acima da mdia; seria uma das formas de autismo

    de alto desempenho), Sndrome de Rett (transtorno degenerativo que atinge apenas mulheres,

    entre seis e 18 meses de idade, que apresentam degenerao do desenvolvimento, com

    retardo mental profundo), e Transtorno Desintegrativo da Infncia (perda das habilidades

    adquiridas at aproximadamente dois anos de idade).

    Apesar da importncia que hoje se atribui ao autismo, tanto pela sua alta incidncia

    na populao, quanto pela intensidade do impacto do diagnstico nas famlias, impacto esse

    permanente em toda a vida do indivduo, o diagnstico do autismo sempre foi uma questo

    1 Algumas reas de desenvolvimento do repertrio comportamental so consideradas deficientes em indivduos

    com autismo. 2 Em algumas fontes de informao sobre o autismo, a Sndrome de Rett no considerada como parte do

    espectro do autismo. (Centers for Disease Control and Prevention, 2000).

  • controvertida, principalmente pela ausncia de critrios biolgicos que baseassem a

    classificao de um indivduo dentro da sndrome: fossem eles exames de sangue, exames de

    substrato anatmico, ou o uso das mais avanadas tcnicas de anlise do crebro e do cdigo

    gentico. O diagnstico, portanto, tem sido realizado com base na histria do

    desenvolvimento do indivduo e na observao de seus comportamentos. Em um documento

    intitulado "O Estado da Cincia em Autismo: Relatrio para os Institutos Nacionais de

    Sade" (Bristol, Cohen, Costello, Denkla, Eckberg, Kallen, Kraemer, Lord, Maurer,

    McIlvane, Minshew, Sigman e Spence, 1996), publicado nos Estados Unidos, os autores

    afirmam que os critrios de classificao diagnstica presentes nos manuais DSM-IV

    (Associao Americana de Psiquiatria, 1994), e CID-10 (Organizao Mundial da Sade,

    1993), fornecem, pela primeira vez, critrios consistentes para o diagnstico dos transtornos

    do espectro do autismo.

    O DIAGNSTICO SEGUNDO CID-10 Segundo a Classificao de Transtornos Mentais e de Comportamento do CID-10

    (OMS, 1992), o autismo, infantil e atpico, classificado como um transtorno invasivo3 do

    desenvolvimento, uma subclassificao dos transtornos do desenvolvimento psicolgico. H

    outros transtornos que dividem a classificao de transtornos invasivos com o autismo,

    alguns deles englobados nas conceituaes de espectro do autismo, outros no.

    De acordo com este manual de critrios diagnsticos, CID-10, as caractersticas que

    definem os transtornos invasivos do desenvolvimento so:

    (...) anormalidades qualitativas em interaes sociais recprocas e em

    padres de comunicao e um repertrio de interesses e atividades restrito,

    estereotipado e repetitivo (...) usual, mas no invarivel, haver algum grau

    de comprometimento cognitivo, mas os transtornos so definidos em termos

    3 Do ingls pervasive.

  • de comportamento que desviado em relao idade mental (seja o

    indivduo retardado ou no. (pp. 246, 247).

    E, em conseqncia disso:

    (...) o transtorno deve ser diagnosticado com base nos aspectos

    comportamentais, independente da presena ou ausncia de quaisquer

    condies mdicas associadas (...) (p. 247).

    O DIAGNSTICO SEGUNDO DSM-IV A classificao do DSM-IV (1994) mais detalhada na descrio das reas do

    desenvolvimento e outras caractersticas do repertrio comportamental que devem estar

    deficientes para que seja feito o diagnstico de autismo. mais precisa, tambm, no

    critrio de quais e quantas caractersticas de cada 'rea do desenvolvimento' so necessrias

    para o diagnstico.

    Os critrios diagnsticos para autismo do DSM-IV so divididos em trs grupos: 1.

    impedimento em interaes sociais, caracterizado por respostas "anormais" de contato visual,

    expresses faciais, relao com os pares, compartilhamento de satisfaes, reciprocidade

    emocional; 2. Impedimento na comunicao, caracterizado por respostas deficientes em

    linguagem oral, iniciao e manuteno de conversas, linguagem repetitiva e estereotipada,

    brincadeiras de faz-de-conta; 3. Padres de comportamento, interesses e atividades

    estereotipados, repetitivos e restritos, caracterizados por obsesso anormal em intensidade e

    foco, resistncia a mudanas na rotina, estereotipia motora repetitiva e preocupao excessiva

    com partes de objetos.

    Para que seja confirmado o diagnstico atravs do DSM-IV, devem estar presentes no

    mnimo seis 6 das caractersticas citadas, que devem ser distribudas da seguinte maneira:

    pelo menos duas caractersticas de impedimento em interaes sociais, uma caracterstica de

    impedimento na comunicao e uma caracterstica de padres estereotipados, repetitivos e

  • restritos. Para se falar em autismo infantil, estas caractersticas devem estar presente antes

    dos trs anos de idade. Do contrrio, deve haver a hiptese de autismo atpico ou transtorno

    desintegrativo da infncia, segundo o DSM IV.

    B) PREVALNCIA DO AUTISMO

    Estudos de prevalncia so raros, e estudos epidemiolgicos mais ainda. A

    metodologia deste tipo de estudo extremamente complexa, o que acaba por prejudicar a

    validade e a generalidade dos resultados. Alm disso, sua implementao demanda alto

    investimento financeiro.

    No h estatsticas oficiais brasileiras sobre a prevalncia do autismo na populao.

    Nos Estados Unidos, h poucos estudos abrangentes sobre a questo. Os estudos mais

    recentes foram conduzidos na dcada de 80, porm nunca com amostras que permitissem

    concluses precisas (Centers for Disease Control and Prevention, 2000; National Institute

    of Child Health and Human Development, 2000).

    Costello (1996) afirma que as estatsticas canadenses, de mais de 10 sujeitos

    diagnosticados com autismo para cada 10.000 indivduos, poderiam ser extrapoladas para os

    Estados Unidos, ainda que os estudos do Canad tambm no tenham contado com um

    nmero significativo de sujeitos.

    O DSM-IV (1994) afirma uma prevalncia de dois a cinco casos por 10.000

    indivduos.

    H indicaes, nos Estados Unidos, de que a prevalncia de autismo vem

    aumentando. Porm, impossvel afirmar se isto se deve a mudanas nos critrios

    diagnsticos, ou ao aumento do reconhecimento dessa condio, ou ainda a um real aumento

    na incidncia do autismo (California Health and Human Services Agency, 1999).

    Investigaes em andamento na rea de prevalncia em Atlanta e na Califrnia sugerem que

  • a taxa de autismo nos Estados Unidos substancialmente maior do que as estimativas

    anteriores (Centers for Disease Control and Prevention, 2000b).

    Em meio inconsistncia dos dados sobre a prevalncia do autismo na populao so

    fatos:

    "O autismo quatro vezes mais prevalente em meninos do que em meninas e no

    conhece fronteiras raciais, ticas ou sociais. O estilo de vida, a renda e os nveis

    educacionais familiares no afetam a chance da ocorrncia de autismo" (Autism

    Society of America, 2001).

    C) ETIOLOGIA DO AUTISMO: GENTICA E MECANISMOS CEREBRAIS

    A despeito da dificuldade do estudo da etiologia do autismo, Bristol, Cohen, Costello

    e cols. (1996) e Folstein, Haines e Santangelo (1998) afirmam que h consenso na

    comunidade mdica de que h causas genticas para a condio. H consenso, tambm, para

    dificuldade dos pesquisadores, em relao heterogeneidade de loci envolvidos na etiologia

    do autismo, o que determinaria a responsabilidade de diferentes genes em diferentes famlias

    afetadas (Centers for Disease Control and Prevention, 1996; Folstein, Haines e Santangelo,

    1998).

    Segundo Folstein, Haines e Santangelo (1998), um fator de evidncia da etiologia

    gentica do autismo o risco de recorrncia em uma mesma famlia, entre 6% e 8%, isto ,

    60 a 160 vezes maior do que o acaso, considerando uma prevalncia de cinco a dez casos por

    10.000 indivduos.

    Grupos multidisciplinares de estudo do autismo j afirmaram, no entanto, que fatores

    ambientais que interagem com os genes tambm devem ser estudados em relao etiologia

    do autismo, pois podem ser determinantes de diferenas entre indivduos de mesma carga

    gentica (Bristol, Cohen, Costello e cols. 1996).

  • Na rea de estudos neuropatolgicos, os resultados das pesquisas indicam que h

    anormalidades em algumas regies cerebrais em indivduos autistas (Denckla 1996).

    A ANLISE APLICADA DO COMPORTAMENTO COMO FORMA DE

    INTERVENO

    A anlise aplicada do comportamento, com sua pouca idade, j produziu uma

    tecnologia eficaz para o tratamento de pessoas com deficincias de desenvolvimento, entre

    estas o autismo. Desde as, e principalmente nas, primeiras publicaes da rea, os

    comportamentos da populao chamada "mentalmente" deficiente foram privilegiados como

    objeto de interveno. Martin e Pear (1978) as chamaram, "populaes resistentes (como

    mentalmente retardados, crianas autistas, psicticos com regresso severa)" (p. 415),

    populaes para quem a psicologia tradicional no havia trazido muitos resultados efetivos.

    Segundo diferentes autores, entre eles Martin e Pear (1978), as aplicaes da Anlise

    Experimental do Comportamento, nos anos 50, foram caracterizadas por:

    (...) demonstraes de que reforamento positivo e extino afetam o

    comportamento de maneiras previsveis, e/ou demonstraes de caso em que a

    aplicao de um programa comportamental poderia resultar em mudana

    comportamental desejada. (p. 214)

    Estas demonstraes teriam como objeto de modificao de respostas simples, com

    sujeitos pertencentes a "populaes resistentes". O ambiente onde estas primeiras aplicaes

    mais comumente ocorreram foram instituies, o local onde a populao alvo se encontrava.

    Estes ambientes ainda forneciam a possibilidade de maior controle experimental.

    Esta caracterstica demonstrativa das aplicaes da anlise do comportamento

    verdadeira para o incio dos anos 60 tambm, porm sofreu uma modificao no decorrer da

    dcada. Segundo Martin e Pear (1999), este perodo caracterizou-se por grande disseminao

    da teoria operante na Amrica do Norte. Os dados que os autores apresentam para justificar

  • esta afirmao so a abertura de centros de treinamento e cursos de modificao do

    comportamento4 nas universidades, a publicao de livros que descreviam a pesquisa

    aplicada em diversas reas e com diferentes populaes, agora no mais restritas quelas

    populaes "resistentes", e o lanamento do Journal of Applied Behavior Analysis, em 1968.

    (pp. 416-418).

    A breve anlise histrica de Martin e Pear (1978) fornece poucos dados sobre a

    dcada em cujos anos finais foi publicado o livro destes autores sobre modificao do

    comportamento. Mas afirma que a "orientao operante cresceu tremendamente." (p. 418),

    com aplicaes caracterizadas por abranger diversas reas da psicologia, a saber as reas

    "social, do desenvolvimento, da personalidade, anormal e clnica" (p. 417); e pela adoo dos

    procedimentos de modificao do comportamento por muitas outras "profisses de apoio",

    como a medicina, o servio social, a enfermagem. As publicaes de ento, dizem os autores,

    refletiam estas aplicaes, apresentando-se com a caracterstica de faa-voc-mesmo (Martin

    e Pear, 1978).

    Dentre as publicaes que surgiram nos anos 70, na rea de modificao do

    comportamento, estavam, assim, manuais de ensino deste tipo de interveno. Alguns

    manuais eram abrangentes, podendo ser utilizados em qualquer rea de aplicao (Martin e

    Pear, 1978). Outros, focalizavam um tipo de comportamento a ser modificado, como, por

    exemplo, o treino de toalete (Foxx & Azrin, 1975), a resposta de comprar (Greene, Clark e

    Risley, 1977), respostas de agresso (Patterson, Reid, Jones e Conger (1975). Outros, ainda,

    ensinavam a modificao de comportamento especfica para a aplicao com indivduos com

    deficincias de desenvolvimento.

    4 O termo modificao de comportamento tem sido usado intercambiavelmente com o termo terapia

    comportamental e parece estar sendo cada vez menos usado. Segundo Martin e Pear (1978), o termo modificao do comportamento chegou a ser usado diferencialmente por alguns autores, referindo-se a uma abordagem operante. E terapia comportamental, apesar de ter sido usado pela primeira vez em artigo de Lindsley, Skinner e Solomon (1953), acabou sendo adotado pelos autores de orientao Pavlov-Hulliana.

  • Antecipando a afirmao de Martin e Pear sobre o crescimento da orientao

    operante, Kazdin (1978), falando sobre a dcada de 70, sinaliza a importncia do lanamento

    de diversas revistas, nos Estados Unidos e em outros pases, que se no eram exclusivamente

    voltadas para as publicaes de anlise aplicada do comportamento, tambm as continham.

    So exemplos citados pelo autor: Journal of Behavior Therapy and Experimental Psychiatry,

    Behavior Modification, Revista Mexicana de Anlisis de la Conduta, European Journal of

    Behavioral Analysis and Modification.

    As publicaes dessa poca indicavam que intervenes baseadas nos princpios da

    anlise do comportamento, utilizando o paradigma do sujeito nico, eram capazes de reduzir

    e at eliminar comportamentos considerados problemticos, alm de instalar comportamentos

    importantes que comumente esto ausentes no repertrio de crianas com deficincias de

    desenvolvimento. Porm, apesar do impacto positivo dos resultados que vinham sendo

    obtidos pelos analistas do comportamento, tais publicaes j expunham dificuldades

    encontradas na implementao de programas de anlise aplicada do comportamento. De

    especial relevncia aqui, so os problemas encontrados na generalizao dos resultados

    obtidos em ambientes fortemente controlados para o ambiente natural do indivduo. (Lovaas,

    Koegel, Simmons e Long, 1973).

    (...) tem havido pouco avano no desenvolvimento de uma tecnologia comportamental

    para manter comportamento e assegurar a transferncia dos resultados no ambiente de

    treino para ambientes onde as contingncias no sejam rigidamente controladas.

    Realmente at hoje no chegamos a uma tecnologia comportamental que garanta a

    transferncia dos efeitos da interveno num ambiente escolar, por exemplo, para

    ambientes naturais. Mas temos uma proposta, que de estender o treino para o ambiente

    natural. Ou seja, garantir as mesmas fontes de controle para as respostas em ambos os

    ambientes. (Hersen, Eisler e Miller, 1975)

  • A) A QUESTO DA GENERALIZAO E O SURGIMENTO DOS MANUAIS

    DE TREINAMENTO

    Sobre o tpico da generalizao dos efeitos da interveno comportamental, Baer,

    Wolf e Risley (1968), em um dos mais importantes artigos de toda a Anlise Aplicada do

    Comportamento o artigo que inaugurou e tornou-se o mais citado do Journal of Applied

    Behavior Analysis (Laties e Mace, 1993) -, definem generalidade e examinam esta questo na

    pesquisa aplicada:

    Pode-se dizer que uma modificao comportamental tem generalidade se ela se prova

    durvel ao longo do tempo, se ela aparece em uma ampla variedade de ambientes

    possveis, ou se ela se espalha para uma ampla variedade de comportamentos

    relacionados. (Baer, Wolf e Risley, 1968, p; 96)

    Os autores enfatizam que a generalizao no automtica, devendo ser planejada,

    por exemplo, por meio da repetio da aplicao de um procedimento, em outros ambientes

    para os quais se deseja que a mudana comportamental se estenda.

    Algumas estratgias foram propostas na rea da anlise do comportamento para

    promover generalizao. Schreibman, Koegel, Charlop e Egel (1990) salientam algumas:

    tornar o ambiente onde acontece a interveno o mais semelhante possvel ao ambiente

    natural; usar de esquemas intermitentes de reforamento; usar de contingncias em que o

    reforamento seja natural; a "modificao seqencial" na qual a "generalizao programada

    em cada condio no generalizada (entre pessoas, ambientes, estmulos)" (p. 777); e a

    "generalizao mediada" em que comportamentos que so provveis de ocorrer tanto no

    ambiente controlado quanto no ambiente natural e que so ocasio para a ocorrncia de

    respostas alvo da interveno so utilizados (p. 777). No por acaso, no texto, o tpico que

    segue ao de 'generalizao', o tpico 'treinamento de pais'.

  • Provavelmente a partir dessa preocupao com a generalizao e tambm com a

    manuteno dos resultados aps a retirada da interveno comportamental aplicada por

    profissionais, muitos estudos foram realizados com o objetivo de ensinar interveno

    comportamental para os familiares dos indivduos que apresentavam quaisquer problemas

    comportamentais na viso da sua comunidade.

    A tendncia de transferir o controle do analista do comportamento para terceiros, que

    fossem mais significativos no ambiente natural dos indivduos em tratamento, no caso do

    tratamento de comportamentos problema, significou o treinamento no s de pais, mas de

    profissionais de outras reas. A relevncia do tema da transferncia do controle para terceiros

    pode ser exemplificada no livro de Bijou e Ribes-Inesta (1972), intitulado Modificao de

    Comportamento: Questes e Extenses. Ali um captulo inteiro (Ayllon e Wright, 1972) foi

    dedicado a esta questo.

    Parece ser, em parte, como uma conseqncia da dificuldade de obteno de

    generalizao de resultados de intervenes comportamentais em ambientes controlados,

    aliada s constataes de que o treinamento de agentes como aplicadores da anlise do

    comportamento poderia configurar uma soluo para esse problema, que se originou a

    publicao de manuais de treinamento para esses agentes. Outras vantagens do uso de

    manuais incluem o custo reduzido da aplicao quando feita por agentes sociais, alm da

    ampliao da ao, uma vez que o analista do comportamento no o nico agente e assim

    pode atender a mais famlias ao mesmo tempo (Whindholz, 2000).

    Andrasik e Murphy (1977) encontraram 29 manuais de modificao do

    comportamento, em relao aos quais avaliaram a facilidade de leitura (readability). Dentre

    os 29 ttulos avaliados pelos autores, apenas um trazia, no ttulo, a indicao de que se dirigia

    especificamente ao tratamento da populao diagnosticada com autismo ou algum tipo de

    retardo.

  • Bernal e North, em um artigo de reviso publicado em 1978, j encontraram 26

    manuais de treinamento de pais em modificao do comportamento, comercialmente

    disponveis. Dentre os 26 ttulos, 7 eram direcionados a pais de pessoas com retardo ou

    autismo. Em sua anlise, as autoras afirmam que a produo deste tipo de literatura seguiu

    uma tendncia particularmente forte na anlise do comportamento, a do uso de pais como

    agentes da interveno para seus filhos, por conta justamente da preocupao com a

    generalizao e durabilidade dos resultados de intervenes, somada a uma diminuio da

    oferta de profissionais da rea da sade mental nos Estados Unidos na dcada de 70 . Os

    manuais seriam, segundo as autoras, o resultado dos esforos para desenvolver tecnologias

    de tratamento que tornassem os procedimentos de tratamento necessrios operacionalizveis

    (p.533).

    Em um estudo mais recente, Neef, Parrish, Egerl e Sloane (1986), defenderam a

    promoo do treinamento de outros agentes de aplicao da anlise do comportamento,

    visando principalmente a possibilidade de manuteno das mesmas condies de controle

    asseguradas no ambiente artificial em que so aplicados procedimentos para aquisio,

    fortalecimento ou enfraquecimento de comportamentos no ambiente natural da criana. Esse

    treinamento promoveria a generalizao das alteraes comportamentais.

    B) AUTISMO - ANLISE APLICADA DO COMPORTAMENTO

    A Anlise do Comportamento tem hoje com inmeras alternativas de atendimento

    para indivduos com autismo e parte importante do que se tem a oferecer em termos de seu

    tratamento. Nos Estados Unidos h diversos programas consolidados de interveno

    comportamental, em diferentes tipos de instituies e com diferentes formatos, atendendo a

    diferentes necessidades da populao com autismo. Dentre os tipos de instituies -pblicas,

    privadas e filantrpicas - esto escolas de educao especial que o aluno freqenta

    diariamente; instituies residenciais - algumas que oferecem apenas moradia, e outras que

  • tambm so escola- ; instituies que oferecem profissionais para ensino realizado nos lares;

    entre outras. Elas oferecem atendimento individualizado para os indivduos com autismo,

    com programas direcionados para o atendimento das diferentes necessidades de cada um.

    O autismo, por sua vez e, talvez como conseqncia do sucesso tecnolgico da

    abordagem, uma importante rea de pesquisa em Anlise Aplicada do Comportamento.

    Para muitos dos problemas especficos j foram feitas investigaes segundo a Anlise do

    Comportamento e, a partir delas, foram propostas intervenes para eliminar ou melhorar

    aqueles problemas. As reas de investigao do autismo na Anlise do Comportamento

    abordam, para citar algumas questes, aquelas relativas aprendizagem formal,

    aprendizagem de comportamentos mais adaptativos em relao cultura onde est inserido o

    indivduo, inclusive a profissionalizao, e a eliminao de comportamentos bizarros ou que

    ameaam sua sade.

    Como indicativo da importncia dessa rea podem ser apresentados alguns dados de

    publicao do Journal of Applied Behavior Analysis. "Atualmente, aproximadamente metade

    dos artigos aparecendo no JABA tm foco na avaliao ou no tratamento de desordens de

    aprendizagem ou comportamentais em deficincias de desenvolvimento." (Iwata, Bailey,

    Neef, Wacker, Repp e Shook, 1995). A revista j publicou uma edio especial com 907

    pginas e 82 artigos selecionados de suas publicaes em deficincias de desenvolvimento

    entre 1968 e 1995. A mesma revista preparou uma seleo de artigos exclusivamente sobre o

    tema autismo para as consultas pela Internet, que conta com 128 artigos publicados entre

    1968 e 1992, selecionados pela revista. A disponibilizao destes dados j filtrados pela

    palavra-chave autismo provavelmente reflete uma grande quantidade de consultas com este

    critrio ao banco de dados da revista.

    O autismo , portanto, um tema importante e presente na Anlise do Comportamento,

    h pelo menos quatro dcadas. Os analistas do comportamento encontram no tema autismo

  • uma fonte importante de problemas para pesquisa e importante campo de aplicao da

    tecnologia da Anlise do Comportamento para tornar a vida de indivduos com autismo e de

    suas famlias mais regular.

    H diversos estudos que caracterizam a atuao do pesquisador aplicado e que

    mostram, inclusive, como ela vem variando durante os anos. Estes estudos fornecem bons

    dados sobre a prevalncia de temas, participantes, ambientes, entre outros, das pesquisas

    publicadas. Outras anlises sobre as publicaes do Journal of Applied Behavior Analysis

    fornecem um retrato do cenrio passado e atual da Anlise Aplicada do Comportamento.

    Em um artigo publicado em 1993, Northup, Vollmer e Serret (1993) fazem um levantamento

    de todas as publicaes do JABA, durante seus primeiros 25 anos - de 1968 a 1992. A partir

    dos dados coletados, os autores descrevem tendncias nas publicaes em relao a seis

    categorias: tipo de artigo, participantes, agente da modificao de comportamento, ambiente

    da aplicao, comportamento alvo e princpios e procedimentos. Trs categorias analisadas

    por Northup e cols (1993) so principalmente pertinentes aqui: as categorias de participantes,

    agentes da modificao e ambiente. Na categoria 'participantes', os resultados mostraram que

    a partir de 1989 crianas com problemas de desenvolvimento tornaram-se os sujeitos

    privilegiados nas intervenes relatadas, chegando muito perto de 50% do total de artigos de

    1988 e crescendo ininterruptamente at atingir 75% no ltimo ano analisado, 1992.

    Na categoria 'agente da modificao do comportamento', de Northup e cols (1993), durante

    todo o perodo pesquisado 1968 a 1992 - o experimentador foi o agente da modificao

    mais freqente dentre todos os agentes identificados, ainda que com uma pequena queda

    entre 1979 e 1983. Os experimentadores lideraram na posio de agentes da modificao

    participando em mais de 50% dos estudos (em 17 dos 25 anos analisados). Professores

    estiveram sempre em segundo lugar no ranking de quem manipulou as variveis de controle

    do comportamento a ser modificado, porm com percentual muito abaixo dos

  • experimentadores. Os professores foram agentes da modificao em menos de 25% dos

    estudos entre 1975 a 1991 e nunca chegaram a 50%. Os pais participaram muito pouco

    enquanto agentes da modificao, nunca atingindo mais do que 9% dos estudos em qualquer

    dos anos analisados, ainda que tantas crticas aos problemas de generalizao dos resultados

    tenham sido feitas nos primeiros anos de aplicao.

    Finalmente, a anlise de Northup e cols. (1993) em relao aos ambientes em que a

    aplicao ocorreu nos estudos publicados nos Journal of Applied Behavior Analysis entre

    1968 e 1992, mostra que a escola foi o ambiente privilegiado, enquanto que a casa, apesar de

    apresentar-se como uma tendncia crescente de ser o ambiente para a interveno no

    comportamento, sempre foi o segundo ambiente mais freqente, participando com menos de

    30% das publicaes at 1985.

    As consideraes de Northup e cols (1993) sobre participantes e ambientes de

    interveno do apoio e valorizam as pretenses do presente estudo - de analisar manuais

    sobre atendimento de autismo - enquanto se relacionam com as argumentaes colocadas ao

    longo deste texto, no tocante aos problemas de generalizao dos efeitos da interveno

    comportamental no repertrio das crianas.

    Essas concluses sobre importncia do autismo enquanto rea de atuao da anlise

    do comportamento, em certo sentido, so confirmadas quando se , utiliza um outro filtro na

    consulta eletrnica s paginas do Journal of Applied Behavior Analysis; a palavra-chave

    parent training (treinamento de pais). Fazendo uma busca com este filtro, apenas 34

    artigos so encontrados. Uma anlise mais minuciosa dos ttulos desses 34 artigos (entre

    1972 e 1998) mostra que a grande maioria envolve interveno sobre uma topografia

    especfica do repertrio dos sujeitos. H apenas um artigo de reviso de manuais de

    treinamento de pais, de 1978, citado anteriormente (Bernal e North, 1978).

  • C) MANUAIS DE TREINAMENTO EM INTERVENO

    COMPORTAMENTAL COM CRIANAS AUTISTAS E COM OUTRAS

    DEFICINCIAS DE DESENVOLVIMENTO

    Na dcada de 80, nos Estados Unidos, um autor se destacou, dentre os produtores de

    tecnologia em anlise do comportamento no tratamento de crianas com deficincias de

    desenvolvimento, na tarefa de transformar em livro sua experincia institucional de

    tratamento de indivduos autistas. Este autor O. Ivar Lovaas. Aproveitando sua vasta

    experincia na rea, adquirida durante os anos em que se dedicou, com seus colaboradores, a

    implementar programas de anlise aplicada do comportamento em instituies, o autor

    publicou, em 1981, um manual de treinamento para pais de crianas com autismo, que

    abrange todas as reas abordadas no tratamento feito nas instituies onde trabalharam.

    tamanha a importncia da questo da generalizao, j abordada aqui, que Lovaas

    (1981) prefacia seu livro, dedicado a ensinar interveno comportamental a pais de crianas

    com deficincias de desenvolvimento, indicando aos leitores um artigo seu (Lovaas, Koegel,

    Simmons e Long, 1973), em que ele e seus colaboradores analisam esta questo da

    generalizao dos efeitos da interveno. Ainda no Prefcio, o autor relata os erros que ele e

    sua equipe cometeram no de seu trabalho com essa populao. Lovaas destaca como um dos

    erros a institucionalizao versus tratamento em ambiente natural da criana. Na introduo

    ao mesmo trabalho de 1981, o autor enumera cinco mudanas que ele considera terem sido

    essenciais em relao quelas primeiras aplicaes, dentre as quais est que [o] ensino foi

    colocado nas mos dos professores e pais das crianas (p. x)

    No Brasil, um nico manual de treinamento de pais e professores foi publicado. A

    autora, Margarida Windholz, transformou, em 1988, sua extensa experincia institucional em

    um manual de ensino da implementao de um programa de interveno comportamental

    para a populao com deficincias de desenvolvimento.

  • Na dcada de 90, muitos manuais foram publicados nos Estados Unidos, dirigidos a

    pais e profissionais, para o ensino da interveno comportamental baseada na anlise

    Aplicada do Comportamento.

    O presente estudo analisou material de instruo para implementao de programas

    de interveno comportamental, restringindo-se a: 1) programas de treinamento em

    interveno comportamental comercialmente disponveis em forma de manuais; 2) que

    fossem dirigidos a pais e/ou professores; 3) que tivessem como populao alvo da

    interveno indivduos com diagnstico de autismo e outras deficincias de desenvolvimento.

    Nem todos os textos com estas caractersticas foram analisados neste estudo. Para tornar

    factvel o trabalho foram selecionados alguns trabalhos apenas.

    Os livros analisados aqui, receberam o nome de manuais. Este termo usado para

    especificar um texto que se classifica como de literatura comercialmente disponvel, de

    treinamento de pais e profissionais na implementao de programas comportamentais de

    interveno em forma de pacotes de instruo.

    O material impresso foi lido e categorizado com o objetivo de se fazer um

    levantamento sistemtico do que os manuais de treinamento em interveno comportamental

    para crianas com deficincias de desenvolvimento selecionados ofereciam. Com esta

    avaliao, informao relevante sobre de que constam as intervenes comportamentais deste

    carter foram produzidas e sistematizadas. O desmembramento da anlise em categorias e

    subcategorias visou detalhar o contedo do material e permitir a comparao entre os

    mesmos.

    Esta informao, extrada dos manuais e cuidadosamente sistematizada, poderia servir

    de modelo para outras avaliaes de propostas de programas de interveno

    comportamental, tanto apresentadas em livros quanto em servios oferecidos em escolas e

    outros tipos de instituies, e at em prticas mais particulares, como as de home training.

  • Esta , ento, a caracterstica do presente estudo que lhe concede alguma relevncia:

    dada a enorme oferta de programas de interveno e de estudos na rea, a produo de um

    material at certo ponto padronizado - com critrios de levantamento e avaliao dos dados -

    que sirva de guia para a caracterizao e para a avaliao de propostas de interveno

    comportamental na rea das deficincias de desenvolvimento, parece importante.

    Um outro aspecto do presente estudo que parece relevante o olhar para um tipo de

    literatura to especfico. H manuais tradicionais de anlise aplicada do comportamento, que

    abordam a rea de maneira abrangente, apresentando e discutindo a produo dos analistas do

    comportamento na rea aplicada, conceitos e procedimentos bsicos, instrues de aplicao,

    reas especficas:

    Parenting, educao, problemas severos (deficincias de desenvolvimento,

    autismo infantil e esquizofrenia), terapia clnica, auto-gerenciamento e problemas

    pessoais, cuidados mdicos e de sade, gerontologia, psicologia comportamental

    comunitria, negcios, indstria e governo, psicologia do esporte. (Martin &

    Pear, 1999, pp. 12-23)

    Um bom exemplo desse tipo de publicao o manual de Martin e Pear, editado seis

    vezes entre 1978 e 1999. No entanto, apesar da retirada de nfase em questes de diagnstico

    tradicionais de transtornos comportamentais, e migrao da nfase para a avaliao das

    condies comportamentais de adequao e desempenho independente no ambiente natural,

    que caracteriza a anlise aplicada do comportamento, a quantidade de publicaes em uma s

    dessas reas de aplicao justifica o olhar to cuidadoso para seu contedo e proposta.

    Mas o que dizer de manuais especficos para o atendimento de autistas? Um dos

    objetivos deste estudo caracterizar a especificidade dos manuais de treinamento em

    interveno comportamental na rea especfica do autismo / deficincias de desenvolvimento.

  • Como possibilidade de discusso dos resultados obtidos, colocam-se, ento, as

    perguntas:

    - Considerando as caractersticas de repertrio - designadas como deficincia - comuns

    ao pblico-alvo das intervenes analisadas, as propostas contidas ns manuais

    oferecem meios de intervir nas contingncias e modificar estas caractersticas? Isto,

    tendo em vista que, sob a tica da anlise do comportamento, uma boa interveno

    consistiria da identificao dos comportamentos envolvidos na instalao e na

    manuteno desses padres comportamentais atpicos e na manipulao das condies

    ambientais como meios de instalar novos repertrios mais adaptativos, ou normais.

    - A publicao de manuais, como os analisados, pode contribuir para a atuao do

    analista do comportamento na rea especificada?

    - Os manuais analisados contribuem efetivamente para que pais possam estabelecer

    seus prprios programas de interveno?

    - Uma vez que os manuais propem programas que sistematizam uma certa prtica, a

    sua anlise sistemtica poderia contribuir para a formulao de problemas de

    pesquisa?

    - a pesquisa se aproveitar desse material para valid-lo e/ou propor aperfeioamento?

    MTODO

    A. SELEO DAS FONTES DE DADOS

    A revista The Journal of Applied Behavior Analysis (JABA) foi consultada via website

    em busca de artigos de reviso de manuais de treinamento em interveno comportamental

    para crianas com autismo e outras deficincias de desenvolvimento.

    A revista JABA foi selecionada para a busca deste tipo de material de reviso por ser a

    revista de maior publicao de pesquisas comportamentais aplicadas. E por ter

    representatividade significativa de artigos da rea de deficincias de desenvolvimento. No

  • foram encontrados artigos de avaliao sistemtica de programas de interveno

    comportamental completos, para essa populao especfica. Completos no sentido de que

    tratavam de diversas habilidades e no apenas focalizavam uma ou duas delas como, por

    exemplo, treino de toalete, ou respostas inadequadas como agresso.

    Foi, ento, feito um levantamento direto das publicaes de manuais comercialmente

    disponveis, com o objetivo instruir pais e professores na implementao de uma interveno

    comportamental com crianas com autismo e outras deficincias do desenvolvimento. O

    levantamento foi feito por meio de:

    1. Levantamento bibliogrfico dos artigos de treinamento de pais nas referncias

    bibliogrficas de alguns manuais e dos artigos encontrados; alm da prpria JABA.

    2. Levantamento dos ttulos disponveis por meio de busca eletrnica em livrarias que

    mantm sites na Internet (Livraria Cultura, Amazon e Barnes and Noble).

    3. Indicao de profissionais da rea.

    4. Consulta a duas listas de discusso sobre o tema Anlise Aplicada do Comportamento /

    Autismo na Internet: Me-List e AutismABA.

    B. SELEO DOS MANUAIS

    A partir do levantamento inicial dos manuais j publicados foi feita uma segunda

    seleo com os seguintes critrios.

    1. Pblico alvo.

    1.1. do treinamento: pais e professores.

    1.2. da interveno: indivduos com autismo ou outras deficincias do desenvolvimento..

    Todos os livros que atenderam a esses critrios foram pr-selecionados. Tambm foram

    selecionados livros sobre os quais as informaes obtidas com as resenhas disponveis no

    permitiam a deciso prvia a respeito da incluso ou no no material a ser analisado. Neste

    caso, o critrio de seleo foi:

  • a) Ttulo: quando o ttulo indicava que a publicao se insere nos critrios acima.Autor:

    quando os autores apareceram nas outras selees.

    b) Informaes contidas em material de divulgao.

    Estes critrios originaram a seguinte lista de livros:

    1. O. Ivar Lovaas (1981). Teaching developmentally disabled children: The Me Book.

    Texas: PRO-ED, Inc..

    2. Richard M Foxx (1982). Increasing behaviors of persons with severe retardation and

    autism. Illinoi: Research Press.

    3. Raymond G. Romanczyk (1981) How to create a curriculum for autistic and other

    handicapped children. Texas: PRO-ED, Inc.

    4. Margarida H. Windholz (1988). Passo a passo, seu caminho: Guia curricular para o

    ensino de habilidades bsicas. So Paulo: Edicon.

    5. Robert L. Koegel & Lynn K. Koegel (1995). Teaching children with autism: strategies for

    initiating positive interactions and improving learning opportunities. Baltimore: Paul H.

    Brookes.

    6. Kathleen Ann Quill (1995). Teaching children with autism: strategies to enhance

    communication and socialization. Delmar Publishers Inc.

    7. Catherine Maurice (Ed.) (1996) Behavioral intervention for young children with autism.

    Texas: PRO-ED, Inc.

    8. Lorelei B. A. Dake, Sabrina Freeman & Isaac Tamir (1996). Teach me language: A

    language manual for children with autism, Asperger's Syndrome and related

    developmental disorders. SKF Books.

    9. Bruce L. Baker, Alan J. Brightman, Jan B. Blacher, Louis & J. Heifektz (1997). Steps to

    Independence: teaching everyday skills to children with autism. Baltimore: Paul H.

    Brookes.

  • 10. Martin A. Kozlof (1998). Reaching the autistic child: A parent training program.

    Brookline Books, Inc.

    11. Karen L. Sewell (1998). Breakthroughs: How to reach students with autism. Attainment

    Company, Inc.

    12. Sandra Harris & Mary Jane Weiss (1998). Right from the start: behavioral intervention

    for young children with autism. A guide for parents and professionals. Bethesda:

    Woodbine House.

    13. Lynn E. McClannahan & Patricia J. Krantz (1998). Activity schedules for children with

    autism: teaching independent behavior. Woodbine House.

    14. Ron Leaf, John McEachin, Jaisom D. Harsh (1999). Work in progress: behavior

    management strategies & curriculum for intensive behavioral treatment of autism. D R L

    Book, LLC.

    15. Kathleen McConnel Fad, James R. Patton & Edward A. Polloway (2000). Behavioral

    intervention planning: completing a functional behavioral assessment and developing a

    behavioral intervention plan. Texas: PRO-ED, Inc.

    16. Kathleen Ann Quill (2000). Do-Watch-Listen-Say: social and communication

    intervention for children with autism. Paul H. Brookes

    C. SELEO FINAL DAS FONTES DE DADOS

    Dentre os livros listados alguns j estavam disponveis e foram selecionados

    definitivamente. Estes livros eram The Me-Book, de Ivar Lovaas, os manuais de Catherine

    Maurice e Margarida Windholz. Estes trs livros serviram como modelos do que se definiu

    como critrio de seleo:

    pblico-alvo do manual: pais e professores;

    pblico-alvo da interveno: crianas autistas ou com outras deficincias de

    desenvolvimento;

  • contedo: currculo para instalao de respostas.

    Foi necessria a definio do que seria considerado um currculo. Da leitura dos trs

    manuais disponveis, decidiu-se considerar-se como um currculo uma proposta de ensino da

    qual constassem, no apenas o contedo a ser ensinado, ou analisando

    comportamentalmente, e as respostas que deviam ser instaladas, mas tambm a maneira pela

    qual se instalaria as respostas alvo, comportamentalmente falando, os procedimentos de

    instalao. Windholz (1988) define, nas palavras de Romanczyc e Lockshin (1981):

    A palavra currculo definida formalmente como uma seqncia de matrias que

    compem um curso de estudos, como por exemplo o currculo do curso de

    Medicina, de Psicologia, Do SENAI. Em muitas escolas primrias e secundrias o

    currculo uma compilao seqenciada de materiais e livros que o aluno deve

    superar. Dentro do contexto da educao especial e da educao pr-primria, o

    currculo pode especificar os tipos das seqncias de atividades e os materiais aos

    quais uma criana ser exposta. No entanto, segundo nossa proposta, um

    currculo um documento, que especifica em detalhe a seqncia de

    comportamentos que uma criana deve adquirir para obter proficincia em vrias

    reas de desenvolvimento. (p. 21).

    Neste estudo, utilizamos um conceito de currculo que um pouco mais amplo do a

    definio acima. Com base nos manuais j disponveis, Lovaas (1981), Windholz (1988) e

    Maurice (1996), ampliamos o critrio de seleo que o currculo, alm de apresentar a

    seqncia de comportamentos a serem ensinados, expusesse os componentes metodolgicos

    da interveno.

    Em conseqncia disso, alguns dos livros listados foram excludos da proposta de

    anlise por no preencherem um ou mais destes critrios de seleo. Considerando, ento, os

  • critrios de seleo definidos e a disponibilidade dos manuais (a possibilidade d obt-los) ,

    foram selecionados os seguintes livros, listados no Quadro 1.

    Quadro 1. Seleo dos manuais para anlise.

    Autor Ano de

    publicao Editora Edio

    1

    O. Ivar Lovaas

    1981

    PRO-ED

    1a.

    2

    Margarida Windholz*

    1988

    Edicon

    1a.

    3

    Catherine Maurice

    1996

    PRO-ED

    1a.

    4

    Bruce Baker e Alan Brightman*

    1997

    Paul Brooks

    1a.

    5

    Mark Sundberg e James Partington

    1998

    Behavior

    Analysts

    1a.

    6

    Ron Leaf e James McEachin

    1999

    DRL

    1a.

    No entanto, aps alguns meses de coleta de dados, uma nova deciso sobre a adoo

    dos manuais listados como fonte de dados teve de ser tomada. Por questes de restrio de

    tempo, dois manuais tiveram que ser abandonados, aps a descrio geral efetuada. No

    houve outro critrio, para a excluso dos manuais de Windholz e de Baker e Brgihtman, alm

    da ordem em que acabaram sendo analisados os manuais.

  • Assim, no presente estudo foram analisados os quatro manuais destacados no Quadro

    1.

    E. ANLISE DO MATERIAL

    Durante a leitura dos manuais selecionados, instalou-se um longo processo de

    investigao de possveis maneiras de caracterizar cada livro, mas tambm de caracterizar a

    interveno comportamental na rea de autismo/ deficincias de desenvolvimento, com base

    neles.

    Aps cuidadosa leitura dos manuais, mais de uma vez cada um, ficou definido que a

    unidade de anlise deste estudo seria o programa de ensino. O programa de ensino, como

    aqui estabelecido, o agrupamento de alguns treinos, de determinadas respostas, em uma

    mesma unidade (em geral definindo um captulo do manual).

    Identificados os programas de ensino agrupamento de treinos de cada um dos

    quatro autores analisados, procedeu-se com a anlise de cada programa, feita desmembrando-

    se cada treino em termos de contingncias.

    Uma vez realizada essa descrio das contingncias envolvidas em cada treino, foi

    possvel definir que os comportamentos a serem treinados poderiam ser divididos em

    agrupamentos segundo um 'critrio funcional' que englobava todas as respostas envolvidas

    naquele grupo.

    A diviso em "classes funcionais' beneficiou-se da maneira de apresentao dos

    treinos de um dos manuais analisados, o de Sundberg e Partington, que serviu de base para

    esta classificao

    Desta maneira, todos os treinos apresentados pelos quatro autores foram agrupados,

    primeiro como treinos que envolviam o desenvolvimento de comportamento verbal ou no

    verbal. Os treinos que envolviam comportamento verbal foram, ento classificados segundo

  • conjuntos conjunto de comportamentos verbais distintos.cat Foi realizada, portanto, uma

    remontagem dos treinos de cada autor, agrupados por repertrio.

    Alm dos programas de ensino, os manuais forma analisados segundo seu contedo

    com relao a como apresentavam seus programas e sua proposta de interveno.

    Assim, foi possvel obter resultados sobre seis aspectos caractersticos dos manuais:

    (Quadro 2):

    Quadro 2. Definio dos aspectos analisados

    Aspectos Descrio

    1. Pblico-alvo

    do manual

    o tipo de leitor a quem se destina o material

    2. Pblico-alvo

    da interveno

    informaes sobre a especificidade da populao a quem o material atende

    3. Objetivos do

    manual

    definio do escopo de sua proposta

    4. Organizao

    do manual

    como o autor agrupa as informaes e quais so as informaes

    apresentadas em cada agrupamento

    5. Repertrios

    verbais

    como se agrupam os treinos apresentados e quais so as contingncias

    envolvidas em cada um

    6. Seqncia de

    treinos

    ordem sugerida de implementao dos treinos

    Na anlise dos manuais considerou-se, ainda:

  • a) a apresentao dos conceitos fundamentais da anlise do comportamento

    envolvidos na interveno;

    b) os principais procedimentos de instalao e eliminao de respostas;

    c) os cuidados com a preparao do ambiente fsico ideal para a interveno;

    d) a seleo de reforadores.

    No entanto, no so apresentados resultados relativos a estes aspectos, porque a sua

    anlise indicou que estas no eram caractersticas que diferenciavam estes manuais de

    tantos outros de anlise do comportamento. Considerou-se, assim, dado o escopo do

    presente trabalho, que estes no eram os aspectos mais relevantes a destacar.

    RESULTADOS

    Os resultados da anlise dos quatro manuais de treinamento de pais e professores em

    interveno comportamental especialmente dirigida a indivduos com deficincias de

    desenvolvimento, mostraram que possvel produzir uma descrio unitria que

    caracterize a interveno, porm com algumas restries.

    Uma primeira concluso possvel a de que h consistncia entre os quatro textos, no que se

    refere a:

    1. o contedo proposto em termos de habilidades a ensinar;

    2. as respostas cuja eliminao sugerida;

    3. os procedimentos propostos para instalao e eliminao de respostas.

    Estas trs frases poderiam ser assim reunidas: os quatro manuais propem promover a

    aquisio de repertrios e o estabelecimento de controle de estmulos para determinadas

    respostas - agrupadas em conjuntos chamados de programas de ensino - por meio de alguns

    procedimentos bsicos. Ainda apresentam propostas para lidar com comportamentos que se

    apresentem como problema para a criana e sua famlia.

  • Duas diferenas significativas entre os manuais so o modo de agrupamento dos

    programas de ensino e o universo de programas propostos. Numa tentativa de tornar

    comparveis as diversas propostas, optou-se por agrupar os treinos com os mais diferentes

    rtulos, com base (embora no exclusivamente) nos agrupamentos propostos por Sundberg e

    Partington (1988). Estes autores dividem os comportamentos para os quais propem

    procedimentos de instalao fundados na anlise de comportamento verbal de Skinner.

    Essa deciso metodolgica exigiu que todos os treinos dos outros autores fossem

    desmembrados e os comportamentos alvo reclassificados de acordo com a proposta de

    Sundberg e Partington. Para isto foi necessrio fazer uma anlise das contingncias

    envolvidas na instalao na proposta de cada programa de treino de cada um dos manuais

    apresentados. Para cada treino, ou programa, proposto, respeitando-se e registrando a ordem

    na seqncia de treinos proposta, registrou-se quais eram os antecedentes no verbais e

    verbais e qual a resposta alvo. (No se registrou a conseqncia porque sempre de liberao

    de reforo contingente emisso da resposta). Os treinos / programas, uma vez assim

    descritos, puderam ento ser classificados em conjuntos que chamamos de 'repertrios' a

    serem instalados. Para cada manual, construiu-se, ento, um quadro, que se encontra no

    Anexo 1.

    A partir destes quadros, procedeu-se anlise.

    Por questes de organizao da apresentao dos resultados, os comportamentos a

    serem instalados e os respectivos procedimentos sero apresentados separadamente daqueles

    que dizem respeito eliminao de comportamentos.

    Os treinos de respostas de autocuidado no foram includos na presente anlise. Alm

    de no constarem em todos os manuais analisados, o levantamento feito durante a coleta dos

    dados indicou que no h grandes diferenas entre os treinos quando foram propostos. Os

    manuais de Sundberg e Partington e de Maurice no apresentam programas especficos para

  • esse tipo de treino. Sundberg e Partington no abordam o assunto. E Maurice o faz apenas

    como exemplo de procedimento de encadeamento, apesar desse repertrio constar da diviso

    que faz das respostas a ensinar em currculos em trs nveis de dificuldade.

    I. APRESENTAO GERAL

    Os resultados so apresentados em trs partes. Na primeira parte os quatro manuais

    analisados so descritos detalhadamente em relao a:

    a) pblico-alvo do manual;

    b) pblico-alvo da interveno;

    c) objetivos do manual;

    d) organizao do manual.

    Ainda que o pblico-alvo, tanto da interveno quanto do manual, tenha sido um dos

    critrios de seleo do livro para anlise, sero apresentadas breves descries individuais

    dos manuais em relao a estes tpicos. Os objetivos dos manuais tambm foram um critrio

    para que o livro fizesse parte do estudo. Assim, apenas livros que apresentam propostas de

    interveno comportamental para o ensino de indivduos com deficincias de

    desenvolvimento poderiam ser analisados. Ainda assim, optou-se por apresentar uma

    pequena descrio individual.

    Na parte c, onde so apresentadas as caractersticas de organizao dos manuais,

    feita uma descrio dos assuntos apresentados em cada captulo e um pequeno resumo dos

    pontos mais importantes de cada um deles.

    Teaching The Developmentally Disabled Children The Me Book - IVAR LOVAAS

    (1981)

    Pblico-alvo do manual e Pblico - alvo da Interveno

    Lovaas (1981) afirma ter escrito seu manual, publicado em 1981, para um pblico-

    alvo de pais e professores de indivduos, de qualquer idade, diagnosticados com deficincias

  • de desenvolvimento, ou seja, pessoas retardadas no desenvolvimento comportamental, seja

    resultante de retardo mental, dano cerebral, autismo, afasia severa, transtorno emocional

    severo, esquizofrenia infantil, ou qualquer outro dentre diversos transtornos (p. 1).

    Objetivos do manual

    O objetivo do manual de Lovaas instruir pessoas que desejam aprender a realizar

    uma interveno comportamental com crianas diagnosticadas com deficincias de

    desenvolvimento. Mais especificamente, seu currculo direcionado para o estabelecimento

    de um programa residencial (home-based) de ensino de habilidades bsicas para a populao

    definida.

    Organizao do manual

    As 250 pginas do manual de Lovaas so organizadas em sete sees, que agrupam

    38 captulos. A primeira seo, denominada Informaes Bsicas, formada por 4

    captulos.

    No primeiro captulo (12 pginas) so apresentados os processos

    bsicos envolvidos no ensino. Lovaas aborda a seleo de reforadores5,

    reforadores positivos, esquiva, esquemas de reforamento e a questo da

    individualidade dos reforadores. O mesmo captulo ainda aborda os

    conceitos de aquisio e extino, punio estmulos aversivos, time-out,

    overcorrection, regras para o uso de punio-, e modelagem. O autor ressalva:

    Recompensas, punies, overcorrection, modelagem e dicas so apenas

    alguns dos conceitos que devem ser entendidos antes que voc possa ensinar

    SEO I

    INFORMAES

    BSICAS

    5 Lovaas utiliza o termo recompensa como sinnimo de reforador. Recompensas positivas , ou positivos,

    como s vezes as chamamos, so referidas como reforadores positivos na literatura tcnica. Ns usamos estes

    termos intercambiavelmente" (p. ..). 6 Do ingls tantruns

  • os programas para sua criana. (p. 11).

    No segundo captulo (5 pginas), Lovaas aborda a questo do uso da

    punio fsica, dos critrios na deciso de utiliz-la, e indica

    comportamentos especficos para os quais sugere seu uso.

    As caractersticas comportamentais do pblico-alvo da interveno,

    crianas com deficincias de desenvolvimento, so o assunto do Captulo 3 (07

    pginas). Os comportamentos apresentados so: birras6 excessivas, auto-

    estimulao os chamados comportamentos disruptivos-, problemas

    motivacionais, e problemas de ateno.

    O Captulo 4 (05 pginas) aborda o registro do comportamento, mais

    especificamente das respostas de auto-destruio e auto-estimulao, que o

    autor sugere serem registradas em termos de freqncia.

    Ao final da Seo 1, assim como ao final das outras, Lovaas apresenta

    as referncias bibliogrficas e sugere leituras adicionais sobre os temas

    discutidos. Estas leituras incluem tanto livros quanto artigos de revistas

    cientficas.

    PUNIO

    FSICA

    CARACTERS-

    TICAS DO

    PBLICO-ALVO

    REGISTRO

    A segunda seo do livro de Lovaas, com trs captulos, denominada

    Preparando-se para aprender. Um captulo dessa seo (Captulo 5, 03

    pginas) descreve, passo a passo, programas para ensinar o que o autor chama

    de comportamentos preparatrios (p. 43), que so aqueles que devem estar

    antes que quaisquer outras habilidades sejam selecionadas para: sentar,

    sentar direito e manter mos quietas.

    O Captulo 6 (03 pginas) apresenta um programa para direcionar e

    SEO II

    PREPARANDO-

    SE PARA

    APRENDER

    ATENO

  • manter a ateno do aluno (p. 49). O programa consiste em ensinar a criana

    a seguir duas instrues verbais orais dadas pelo professor olhe para mim

    e me abrace.

    O Captulo 7 (05 pginas), descreve programas para eliminar

    comportamentos interferentes que devem ser eliminados antes que seu aluno

    esteja pronto para aprender (p. 43), definidos como comportamentos que o

    aluno usa para evitar trabalhar ou que interferem no ensino (p. 53). Os

    procedimentos propostos so extino, time-out e o uso do No como

    conseqncia aversiva, caso outros procedimentos no funcionem, ou sejam

    difceis de implementar.

    INSTRUO

    ELIMINAO

    DE RESPOSTAS

    A terceira seo do livro de Lovaas (50 pginas) introduz o ensino de

    duas habilidades bsicas: 1. imitao de movimentos (Captulo 8, 09 pginas),

    uma poderosa ferramenta de ensino, (...) provavelmente a primeira maneira

    pela qual crianas normais aprendem com a sociedade adulta. (p. 59); 2.

    Emparelhamento de estmulos (Captulo 9, 09 pginas).

    O Captulo 10 (08 pginas) delineado para ensinar seu aluno a

    entender algo do que lhe dito. (p. 81). Basicamente, o programa apresentado

    destina-se a ensinar a habilidade de seguir instrues verbais orais do

    professor, chamada por Lovaas de linguagem receptiva porque o aluno

    ensinado a receber sua mensagem verbal e a agir apropriadamente em

    resposta quela mensagem. (p. 81). Nos captulos da seo trs, comea a

    aparecer o conceito de pr-requisito. Isto , o autor comea a indicar que a

    aprendizagem de uma determinada habilidade depende do ensino prvio de

    uma outra habilidade.

    SEO III

    IMITAO,

    EMPARELHA-

    MENTO,

    LINGUAGEM

    INICIAL

    REPERTRIO

    DE OUVINTE

    ECOS

  • Dando seqncia ao ensino de linguagem inicial (pp. 59, 61), Lovaas

    apresenta um programa de imitao de sons e palavras (Captulo 11, 10

    pginas), os primeiros passos para ensinar seu aluno como falar. (p. 89)

    O Captulo 12 (09 pginas), ainda na seo trs Preparando-se para

    aprender delineia um programa que aproveita as habilidades adquiridas

    como base para o ensino (p. 99) para ensinar atividades recreacionais,

    como brincar com diferentes brinquedos, desenhar e escrever.

    O Captulo 13 (06 pginas) finaliza a seo trs, com explicaes e

    instrues sobre generalizao e manuteno e registro de progresso.

    importante salientar que, apesar deste captulo ser o dcimo terceiro, em todos

    os programas apresentados por Lovaas, h ao menos um pargrafo com

    instrues para generalizao do comportamento aprendido.

    BRINCAR

    GENERALIZA-

    O E

    MANUTENO

    A quarta seo do manual de Lovaas tem dezessete pginas e agrupa

    quatro captulos, todos sobre habilidades de auto-cuidado (p. 115). O

    primeiro captulo da seo sobre habilidades de auto-cuidado (Captulo 14, 02

    pginas) apresenta um programa de alimentao. O segundo captulo da seo

    (Captulo 15, 04 pginas) apresenta um programa de treino de toalete (p.

    119). Os Captulos 16 (04 pginas), 17 (02 pginas) e 18 (04 pginas)

    apresentam, respectivamente, programas para o ensino de vestir, pentear os

    cabelos e escovar os dentes. Segundo Lovaas, Os programas para ensinar

    habilidades de auto-cuidado neste livro so introdutrios, e muitos podem

    acabar sendo inadequados para seu propsito. (p. 115). Como alternativa para

    esse caso, Lovaas indica duas outras fontes de programas de ensino de auto-

    cuidado, que, segundo ele, foram usadas por ele e sua equipe.

    SEO IV

    HABILIDADES

    BSICAS DE

    AUTO-

    CUIDADO

  • Nas Sees cinco e seis, respectivamente, Lovaas volta a tratar em

    ensino de linguagem, em sua classificao, linguagem intermediria (p. 133)

    e linguagem avanada (p. 163). O autor aborda em dois aspectos da fala7,

    receptivo e expressivo (p. 133), que devem ser ensinados concomitantemente.

    O autor justifica a classificao da fala nesses dois aspectos: linguagem

    receptiva designaria linguagem como um input de informao, ns

    ensinamos [o aluno] a receber o que dito (p. 133). Ensinar linguagem

    expressiva definido por Lovaas como ensinar [o aluno] a expressar o que

    ele v. (p. 133).

    SEES V E

    VI:

    LINGUAGEM

    Os programas de linguagem intermediria abrangem o seguinte:

    Captulo 19 (04 pginas) - nomeao8 receptiva de objetos (p. 135), que

    nada mais do que a instalao de comportamentos de ouvinte; Captulo 20

    (04 pginas) nomeao expressiva de objetos (p. 139) -, ou seja, ensino de

    tatos; Captulo 21 (04 pginas) nomeao receptiva de aes (p. 143) -,

    continua a aquisio do repertrio de ouvinte, porm com a realizao de

    aes por parte do aluno que segue a instruo (mando) do professor.

    Posteriormente, o aluno deve ser ensinado a identificar aes em figuras. Ou

    seja, a resposta do ouvinte muda de desempenhar uma ao para apontar para

    um estmulo visual; Captulo 22 (02 pginas) nomeao expressiva de

    aes (p. 147).

    O Captulo 23 (04 pginas), ainda na seo de ensino de linguagem

    intermediria, apresenta um programa para remediar dois possveis

    repertrios verbais inadequados, definidos como ecolalia e fala psictica (p.

    149).

    SEO V

    LINGUAGEM

    INTERMEDI-

    RIA

    IDENTIFICAR

    TATOS

    SEGUIR

    INSTRUES

    ECOLALIA

    7 Do ingls spech.

    8 Do ingls naming

  • 149).

    O ltimo captulo da seo de ensino de linguagem intermediria,

    Captulo 24, apresenta consideraes sobre a linguagem de sinais vantagens,

    desvantagens e procedimento de ensino.

    LINGUAGEM

    DE SINAIS

    A parte do programa de Lovaas dedicada linguagem avanada,

    Seo VI, tem seis captulos. Em cada captulo Lovaas expe um programa

    para o ensino de repertrios verbais sob controle de dimenses especficas dos

    estmulos. O controle por dimenses simples e relacionais (cor, tamanho,

    forma) est no Captulo 25 (04 pginas. O Captulo 26 (03 pginas) prope um

    programa para instalao de respostas verbais que envolvem relaes espaciais

    entre objetos (embaixo, acima, dentro).

    Um programa para instalao de respostas verbais que envolvem

    relaes de posse (meu, seu), proposto no Captulo 27 (03 pginas), com o

    objetivo de ensinar (...) linguagem que lida com relaes pessoais. (p. 173).

    Estes programas tambm so divididos, assim como os demais programas de

    ensino de comportamento verbal, em treino receptivo (p. 165) e treino

    expressivo (p. 166)

    Os conceitos de tempo (p. 177) (primeiro, ltimo) Captulo 28 (02

    pginas) tambm so parte da seo de ensino de linguagem avanada.

    Sim e no e o uso de frases curtas so os alvos dos programas

    apresentados nos Captulo 29 (02 pginas) e Captulo 30 (04 pginas).

    Novamente Lovaas faz uma ressalva importante sobre os limites de seu

    manual: Lembre-se que o programa de linguagem neste livro uma

    introduo linguagem (...). Se voc sente que est fazendo progresso, e quer

    fazer mais do que sugerido aqui, ento voc pode querer ler sobre a extenso

    SEO VI

    LINGUAGEM

    AVANADA

    RELAES

    ESPACIAIS

    ENTRE

    ESTMULOS

    POSSE

  • fazer mais do que sugerido aqui, ento voc pode querer ler sobre a extenso

    deste programa num livro especificamente sobre o ensino de linguagem (...).

    (p. 134). Ele, ento, indica um livro de sua autoria.

    Finalmente, na Seo VII do manual de Lovaas, que ele classifica como a

    recompensa do professor, pela diverso que ensinar nesse nvel (p. 185),

    o ensino de comportamentos importantes em ambientes comunitrios (p.

    187) so propostos no Captulo 31 (04 pginas), bem como o manejo de

    problemas que os alunos podem apresentar quando nesses ambientes.

    No Captulo 32, denominado ensinando sobre sentimentos (p. 191), Lovaas

    prope que se ensine ao aluno identificar e descrever sentimentos (...) nos

    outros e neles mesmos (p. 191). O ensino de afeio (p. 193) justificado

    como: (...) exceto as mais rudimentares expresses de emoes, como raiva, e

    outros sentimentos tm que ser ensinadas; no mnimo, suas expresses devem

    ser modeladas por outras pessoas que se importem com o aluno. (p. 193). O

    treino de assertividade e a superao de medos, tambm so propostos.

    O Captulo 33 (04 pginas) versa sobre o ensino do mais avanado atributo

    da linguagem (p. 199), segundo Lovaas: a fantasia (p. 199): respostas de

    imaginar e interpretar. No Captulo 34 (05 pginas), Lovaas prope o ensino

    de aprendizagem observacional (p. 203), ou seja, ensinar a criana a

    aprender por observao (p. 204). O Captulo 35 (05 pginas) apresenta

    estratgias para construir espontaneidade (p. 209) e discute o controle do

    comportamento no sentido no tcnico da expresso.

    Os ltimos captulos do livro de Lovaas (Captulos 36, 37, 38), concentram-se

    SEO VII

    EXPANDINDO O

    MUNDO DO

    SEU FILHO

    EVENTOS

    PRIVADOS

    INTERPRETAR

    9 No original, home treatment model

  • na escolarizao da criana. Estes captulos so importantes, pois colocam a

    posio do autor sobre a educao em casa9 (modelo que ele apresenta no

    manual). No Captulo 36 (07 pginas), o autor aborda critrios para selecionar

    uma escola, salienta a questo da generalizao dos comportamentos

    adquiridos pela criana em outros ambientes para o ambiente escolar, entre

    outras questes. No Captulo 37 (11 pginas), Lovaas expe caractersticas que

    ele considera importantes em uma escola de educao especial.

    Lovaas encerra seu livro com um captulo (Captulo 38) (10 pginas) que

    sumariza alguns dos problemas comuns que podem ser encontrados nos

    programas de ensino comportamental para crianas com deficincias de

    desenvolvimento. (p. 235). Diversos aspectos que foram explorados ao longo

    do livro, em diferentes captulos so retomados.

    ESCOLA

    Behavioral Intervention For Young Children With Autism Maurice, Green and Luce

    (1996)

    Pblico-alvo do manual

    O manual de Catherine Maurice, coeditado por Gina Gren e Stephen Luce tem, como

    pblico-alvo, pais de crianas diagnosticadas com autismo. Os autores informam que

    pretendem oferecer aos pais informao sobre a questo da interveno precoce para

    autismo e resultados atuais de pesquisas. (p. 6). Na leitura da introduo, escrita por

    Maurice, fica claro seu pblico-alvo especifico leitores.

    Pblico-alvo da interveno

    O pblico-alvo da interveno so crianas com autismo, como o prprio ttulo

    esclarece. O ttulo do livro, alis, no deixa dvidas sobre a especificidade da interveno

    proposta, para um determinado diagnstico e uma dada idade da populao: crianas jovens.

  • Uma deciso-chave que eu e Stephen [Luce] tomamos logo cedo, foi

    concentrar nossos esforos na populao jovem . No que ns sustentemos

    que as necessidades de adolescentes ou adultos sejam menos urgentes. Esta

    uma rea de grande preocupao e a escassez de servios de qualidade

    para esta populao continua crtica. No entanto, ns sabamos que este

    manual se tornaria impraticavelmente amplo e diludo se tentssemos

    enfocar questes demais e abordar questes demais. (p. 7)

    Este comentrio indica que devemos ficar atentos para a adequao de programas

    propostos idade dos alunos, uma vez que sugere que a idade do aluno deve ser um fator

    determinante da interveno especfica.

    Objetivos do manual

    O manual de Maurice e colaboradores tem uma grande nfase na informao e na

    instrumentalizao dos pais para uma escolha de interveno para crianas autistas.

    Nossa estratgia bsica foi nos colocarmos no lugar de pais e nos fazermos

    perguntas-chave que pais fazem quando esto tentando buscar tratamento efetivo

    para seu filho recm-diagnosticado (p.7)

    Organizao do manual

    Maurice et al. tambm dividem seu livro em sees, que agrupam

    captulos. O manual, diferentemente dos outros trs manuais analisados, rene

    captulos de diversos autores. As 400 pginas do manual so divididas em

    nove sees. A primeira seo (10 pginas), tem apenas um captulo,

    Captulo 1, que aponta os objetivos do manual.

    SEO I

    INTRODU-O

    A segunda seo agrupa trs captulos. O primeiro deles, Captulo 2

    (14 pginas), Avaliando afirmaes sobre tratamentos efetivos para autismo:

    o que a pesquisa nos conta (p. 15), faz uma avaliao de diferentes propostas

    SEO II

    ESCOLHENDO

    UM

    TRATAMENTO

  • de tratamento para o autismo, alm de abordar os conceitos de cincia e

    pseudocincia, especulao e demonstrao, subjetividade e objetividade,

    medidas direta e indireta, controle experimental.

    No Captulo 3 (16 pginas) apresentada a interveno

    comportamental precoce para o autismo (p. 29). A autora deste captulo (Dra.

    Gina Gren) caracteriza a anlise aplicada do comportamento e apresenta dados

    de pesquisa sobre os resultados da interveno comportamental precoce.

    No Captulo 4 (15 pginas), Outros tratamentos so efetivos? (p.

    45), so revistos estudos cientficos de outras intervenes, que no a

    comportamental. (p. 45).

    TRATAMENTO

    EFETIVO

    A terceira seo do livro de Maurice et al. contm todos os programas

    de ensino propostos. No incio da seo, no Captulo 5, os autores instruem o

    leitor quanto aos critrios para seleo de programas e descrevem os itens que

    compem os programas.

    Antes ainda do incio dos programas propriamente ditos, os autores

    apresentam trs guias (04 pginas) para serem usados como critrio de seleo

    dos programas de ensino. Os guias so divididos em nveis de dificuldade,

    iniciante, intermedirio e avanado, onde so colocados os tipos de repertrio

    e as respostas envolvidas em cada um deles.

    Maurice et al. ainda apresentam quatro pginas de recursos (p. 70) de

    apoio com informaes sobre os materiais necessrios para a aplicao dos

    programas, com nome dos fabricantes.

    As 100 pginas seguintes do manual so de procedimentos de ensino.

    Os programas so apresentados de maneira diferente dos de Lovaas. Em

    SEO III O

    QUE ENSINAR

    PROGRAMAS

    MATERIAL

  • Maurice et al. no h um captulo para cada procedimento ou conjunto deles.

    Cada programa ocupa uma pgina e as instrues necessrias do apresentadas

    de maneira bastante sistemtica e sucinta. Em comparao aos programas de

    Lovaas, que so apresentados em forma de texto e separados em captulos.

    A quarta seo do livro de Maurice et al. contm captulos sobre a

    como ensinar (p. 180). No Captulo 6 (14 pginas), os autores apresentam

    alguns dos componentes da interveno comportamental, relacionados a o

    papel dos pais (p. 182), o desenvolvimento de um plano de instruo (p.

    183), que agrupa decises metodolgicas da interveno, tais como definio

    de resposta-alvo, materiais necessrios, seleo de reforadores, ambiente do

    treino, medida de progresso, planejamento de generalizao, entre outros.

    O Captulo 7 (23 pginas), intitulado Anlise e Avaliao do

    Comportamento, apresenta outros aspectos da metodologia comportamental:

    a importncia da individualizao do planejamento da interveno, da

    avaliao inicial de repertrio, das medidas de desempenho e de

    comportamento. Diversas folhas para registro so fornecidas neste captulo.

    No Captulo 8 (09 pginas) os autores discutem critrios, para que o

    leitor busque profissionais qualificados em anlise do comportamento (p.

    221), em relao ao tipo de formao, credenciais e experincia do

    profissional. Os autores ainda fornecem uma descrio detalhada das

    habilidades crticas e essenciais em anlise do comportamento (p. 224).

    No Captulo 9 (10 pginas) os autores continuam a instruir o leitor

    sobre a formao de uma equipe de ensino, fornecendo informaes sobre

    recrutamento, seleo e treinamento de assistente de ensino (p. 231).

    SEO IV

    COMO

    ENSINAR

  • O Captulo 10 (08 pginas) apresenta um servio de tratamento

    comportamental para autismo, o modelo de prestao de servio UCLA de

    autismo jovem (p. 241).

    Organizada em dois captulos, Captulo 11 e Captulo 12 (43 pginas),

    a sexta seo do livro de Maurice et al. instrui o leitor em relao

    organizao do fornecimento de servios de apoio para famlias que

    escolheram implementar e gerenciar uma interveno precoce residencial10

    para crianas com autismo. (p. 251).

    SEO VI

    SUPORTE

    PRTICO:

    ORGANIZAO

    E FOMENTO

    Em dez pginas, o Captulo 13, da seo sete, discute como

    incorporar uma terapia fonoaudiolgica em um programa de anlise aplicada

    do comportamento (p. 297). O Captulo 14 (13 pginas) apresenta

    estratgias para promover aquisio de linguagem em crianas com autismo

    (p. 307). H recomendaes gerais sobre o ensino de linguagem aes do

    professor e trs grupos de estratgias (p. 308), divididos segundo critrios

    de classificao do repertrio de linguagem da criana. O primeiro grupo tem

    como alvo o atendimento de crianas de nvel pr-verbal (...) que parecem

    no estar se comunicando intencionalmente, ou seja, no vocalizam, no

    gesticulam, no usa o olhar intencionalmente (...).. (p. 308). O segundo grupo

    tem como meta a ampliao da linguagem (p. 309) de crianas que estejam

    comeando a usar palavras; e a terceiro grupo, crianas que j falam frases

    com mltiplas palavras.

    SEO VII

    TRABALHANDO

    COM UM

    FONOAUDI-

    LOGO

    Maurice et al. apresentam um captulo (Captulo 15) de oito pginas

    sobre a responsabilidade das escolas pblicas na educao de crianas pr-

    escolares com autismo (...). (p. 323). O Captulo 16 (12 pginas) aborda a

    SEO VIII

    TRABALHANDO

    COM AS

    10 Do original in-home.

  • escolares com autismo (...). (p. 323). O Captulo 16 (12 pginas) aborda a

    questo da incluso.

    ESCOLAS

    Em quatorze pginas, o Captulo 17 esclarece perguntas que ns mais

    freqentemente ouvimos em relao interveno precoce com uma criana.

    (p. 345).

    Os Captulos 18, 19 e 20 (seis, sete e seis pginas, respectivamente)

    apresentam o relato de mes sobre a histria de seus filhos autistas, atendidos

    com interveno comportamental.

    SEO IX

    DA LINHA DE

    FRENTE

    Maurice et al. encerram com uma breve apresentao de cada autor que

    contribuiu com algum captulo para o manual.

    SOBRE OS

    AUTORES

    Teaching Language To Children With Autism Or Other Develpmental

    Disabilities - Sundberg & Partington (1998)

    Pblico-alvo do manual

    Os autores afirmam ter como pblico-alvo de seu manual pais e educadores: o

    propsito do presente livro ajudar pais e educadores a entender estes dficits de linguagem

    e fornecer-lhes um guia de treino e avaliao individualizados de linguagem. (p. 1). Apesar

    desta afirmao, os autores enfatizam, logo no incio do livro, que o uso das tcnicas bsicas

    da Anlise Aplicada do Comportamento (p. 7) exige habilidade por parte da pessoa que lida

    com o indivduo deficiente, (...) ou seja, cada membro da equipe deve saber como, por

    exemplo, usar as tcnicas bsicas de modelagem, dicas, fading, encadeamento e reforamento

    diferencial. Estas habilidades no so facilmente adquiridas e, no mnimo, requerem algum

    treino formal. (p. 7).

  • Pblico-alvo da interveno

    Como diz o prprio ttulo do livro, o manual de Sundberg e Partington dirigido

    interveno no comportamento de crianas com autismo e outras deficincias de

    desenvolvimento. O foco principal so crianas com autismo, mas os autores afirmam a

    efetividade dos procedimentos de avaliao e interveno propostos para uma ampla

    variedade de outras deficincias de desenvolvimento que envolvem dficits de linguagem

    (por exemplo, retardo mental, sndrome de Down, Sndrome do X Frgil, Sndrome de

    Asperger). (p. 1).

    Quanto especificidade da idade do pblico-alvo, apesar do ttulo indicar que a

    interveno dirigida a crianas, Sundberg e Partington tambm afirmam sua efetividade

    para adultos.

    Objetivos do manual

    Segundo Sundberg e Partington, o foco principal deste livro no uso da anlise do

    comportamento verbal de B. F. Skinner (1957) como um guia para avaliao e interveno

    em linguagem. (aknowledgements).

    Organizao do manual

    Em seu primeiro captulo (Captulo 1) Sundberg e Partington fazem uma

    breve apresentao dos pblicos alvo de seu livro e da interveno que

    propem, alertando para a importncia da identificao precoce de uma

    deficincia de linguagem e a ligao que se pode fazer entre este tipo de

    deficincia e a presena de comportamentos negativos (p. 5) nos indivduos.

    Por ltimo, os autores descrevem algumas das habilidades necessrias para

    que algum possa utilizar os procedimentos