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Revista de Direito das Faculdades Integradas de Jaú ISSN 2318-566X DANO MORAL E A PESSOA JURÍDICA JORGE SHIGUEMITSU FUJITA 1 RESUMO O presente artigo objetiva colocar em pauta a discussão referente aos danos morais causados à pessoa jurídica, a qual pode sofrer a violação de alguns de seus direitos da personalidade amparados pelo art. 52 do Código Civil. PALAVRAS-CHAVE Pessoa jurídica; Dano moral; Direitos da personalidade; Reparação. 1 INTRODUÇÃO Etimologicamente, dano provém do latim damnum, que significa todo mal ou ofensa que uma determinada pessoa haja causado a outrem, da qual possa decorrer uma deterioração, destruição ou prejuízo a seu patrimônio ou a valores de ordem moral. O vocábulo moral se origina do latim moralis, que traduz “relativo aos costumes”. Já a pessoa jurídica 2 , que é um grupo de pessoas ou de bens, voltado a um fim comum, cuja natureza jurídica é decorrente da construção da 1 Professor Titular de Direito Civil do Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas FMU (São Paulo). Assistente Doutor no Curso de Pós-Graduação stricto sensu da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo. Professor do Curso de Pós-Graduação lato sensu em Direito Civil e Processo Civil da Universidade Estadual de Londrina. Doutor em Direito Civil pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo. Membro do Instituto Brasileiro de Direito de Família - IBDFAM. Associado e colaborador do Instituto dos Advogados de São Paulo - IASP e da Associação dos Advogados de São Paulo - AASP. Advogado, consultor, parecerista e autor de livros jurídicos.

DANO MORAL E A PESSOA JURÍDICA

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Revista de Direito das Faculdades Integradas de Jaú ISSN 2318-566X

DANO MORAL E A PESSOA JURÍDICA

JORGE SHIGUEMITSU FUJITA1

RESUMO

O presente artigo objetiva colocar em pauta a discussão referente aos danos morais

causados à pessoa jurídica, a qual pode sofrer a violação de alguns de seus direitos

da personalidade amparados pelo art. 52 do Código Civil.

PALAVRAS-CHAVE

Pessoa jurídica; Dano moral; Direitos da personalidade; Reparação.

1 INTRODUÇÃO

Etimologicamente, dano provém do latim damnum, que significa todo

mal ou ofensa que uma determinada pessoa haja causado a outrem, da qual possa

decorrer uma deterioração, destruição ou prejuízo a seu patrimônio ou a valores de

ordem moral.

O vocábulo moral se origina do latim moralis, que traduz “relativo

aos costumes”.

Já a pessoa jurídica2, que é um grupo de pessoas ou de bens,

voltado a um fim comum, cuja natureza jurídica é decorrente da construção da

1Professor Titular de Direito Civil do Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas – FMU (São

Paulo). Assistente Doutor no Curso de Pós-Graduação stricto sensu da Faculdade de Direito da Universidade de

São Paulo. Professor do Curso de Pós-Graduação lato sensu em Direito Civil e Processo Civil da Universidade

Estadual de Londrina. Doutor em Direito Civil pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo. Membro

do Instituto Brasileiro de Direito de Família - IBDFAM. Associado e colaborador do Instituto dos Advogados de

São Paulo - IASP e da Associação dos Advogados de São Paulo - AASP. Advogado, consultor, parecerista e autor

de livros jurídicos.

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técnica jurídica, pode ser lesada em seus direitos da personalidade, resultando, em

consequência, danos morais, ante os expressos termos do art. 52 do Código Civil de

2002, que estende à pessoa jurídica, no que couber, os direitos da personalidade.

2. CONCEITO DE DANO MORAL

Várias são as conceituações lançadas por ilustres juristas.

Wilson Melo da Silva 3 conceitua os danos morais como sendo

“lesões sofridas pelo sujeito físico ou pessoa natural de direito em seu patrimônio

ideal, entendendo-se por patrimônio ideal, em contraposição a patrimônio material, o

conjunto de tudo aquilo que não seja suscetível de valor econômico”.

Para Carlos Alberto Bittar4, danos morais são aqueles qualificados

“em razão da esfera da subjetividade, ou do plano valorativo da pessoa na

sociedade, em que repercute o fato violador, havendo-se, portanto, como tais

aqueles que atingem os aspectos mais íntimos da personalidade humana (o da

intimidade e da consideração pessoal, ou o da própria valoração da pessoa no meio

em que vive e atua (o da reputação ou da consideração social)”.

Para Sílvio de Salvo Venosa5, dano moral “é o prejuízo que afeta o

ânimo psíquico, moral e intelectual da vítima”.

2 A expressão “pessoa jurídica”, consoante Pontes de Miranda (Tratado de Direito Privado, 2ª ed.,

atualizada por Vilson Rodrigues Alves, Campinas :Bookseller, 2000, p. 349 e 350, v. 1), provém do

início do século XIX, tendo sido empregada, primeiramente, por Heise em 1807, mas divulgada por

Savigny e adotada pelo BGB.

Não há denominação única para essa unidade de pessoas naturais ou de patrimônios, tanto que são

designativos: pessoas morais (direito francês e direito suíço), pessoas coletivas (direito português),

pessoas civis, pessoas místicas, fictícias, abstratas, intelectuais, de existência ideal, universais,

compostas, universidades de pessoas e de bens, pessoas sociais e pessoas jurídicas. A mais difundida

é pessoa jurídica. A denominação “pessoa jurídica” é a adotada pelo Código Civil do Brasil (arts. 40 a

69) e pelos Códigos da Alemanha (§§ 21 a 89 do BGB), Itália (arts. 11 e seguintes) e da Espanha (art.

35).

3 SILVA, Wilson Melo da.O Dano Moral e a sua Reparação. 3. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1983, p. 13.

4 BITTAR, Carlos Alberto. Reparação Civil por Danos Morais. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 1993, p.

41. 5 VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito Civil – Responsabilidade Civil. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2003, v. 4, p. 33.

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Orlando Gomes6, entendendo que a “expressão dano moral deve ser

reservada exclusivamente para designar o agravo que não produz qualquer efeito

patrimonial”, conceitua como sendo “o constrangimento que alguém experimenta em

consequência de lesão em direito personalíssimo, ilicitamente produzida por

outrem”.

Miguel Maria de Serpa Lopes7 afirma apresentar-se o dano moral

sob duas espécies, uma no sentido lato e outra no sentido restrito. O dano moral, de

caráter lato, “também denominado parte social do patrimônio moral, está sempre

ligado mais ou menos a um dano material, patrimonial, como o ser alguém obrigado,

em consequência do evento danoso, a demitir-se de uma função elevada, a

comprometer o seu futuro e o de seus filhos. Em tais casos, a ideia de reparação

quase não sofre contestação”. Já o dano moral, de caráter restrito, é aquele que

existe quando não se produz nenhum efeito sobre o patrimônio, “senão sobre a

pessoa em seus interesses morais tutelados pela lei”8.

Maria Helena Diniz9 assim se expressa a respeito do dano moral: “é

a lesão de interesses não patrimoniais de pessoa física ou jurídica, provocada pelo

fato lesivo”.

Podemos, então, conceituar o dano moral como sendo toda e

qualquer lesão sofrida pela pessoa natural ou pessoa jurídica em seus direitos da

personalidade10.

6 GOMES, Orlando. Obrigações. 11. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1997, n. 195, p. 271.

7 LOPES, Miguel Maria de Serpa. Curso de Direito Civil - Fontes das Obrigações: Contratos. 6. ed. rev. e

atualizada por José Serpa Santa Maria. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 1995, v. 2, p. 392.

8 Idem, p. 392.

9 DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro – Responsabilidade Civil. 17. ed. São Paulo: Saraiva, 2003,

v. 7, p. 84. 10 Daisy GOGLIANO conceitua os direitos da personalidade como sendo “os direitos subjetivos

particulares, que consistem nas prerrogativas concedidas a uma pessoa pelo sistema jurídico e

assegurada pelos meios de direito, para fruir e dispor, como senhor, dos atributos essenciais da sua

própria personalidade, de seus aspectos, emanações e prolongamentos, como fundamento natural

da existência e liberdade, pela necessidade da preservação e resguardo da integridade física,

psíquica, moral e intelectual do ser humano, no seu desenvolvimento” (Direitos Privados da

Personalidade, Dissertação de Mestrado apresentada no Curso de Pós-Graduação Stricto Sensu,da

Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, São Paulo, 1982, p. 404).

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2.1 Espécies de Dano Moral

O dano moral pode ser direto ou indireto.

Consoante Eduardo Zannoni 11 , o dano moral direto é aquele

consistente “na lesão a um interesse que visa a satisfação ou gozo de um bem

jurídico extrapatrimonial contido nos direitos da personalidade (como a vida, a

integridade corporal, a liberdade, a honra, o decoro, a intimidade, os sentimentos

afetivos, a própria imagem) ou nos atributos da pessoa (como o nome, a

capacidade, o estado de família)”.

Já o dano moral indireto consiste “na lesão a um interesse tendente

à satisfação ou gozo de bens jurídicos patrimoniais, que produz um menoscabo a

um bem extrapatrimonial, ou melhor, é aquele que provoca prejuízo a qualquer

interesse não patrimonial, devido a uma lesão a um bem patrimonial da vítima.

Deriva, portanto, do fato lesivo a um interesse patrimonial”12. P. ex.: perda de coisa

com valor afetivo, ou seja, de um anel de noivado13.

Entendemos plausível a ocorrência de danos morais à pessoa

jurídica, quer na forma direta, quer na forma indireta.

3 HISTÓRICO

Pela pesquisa histórica, podemos depreender o reconhecimento dos

danos morais e da sua reparação, embora ainda de forma incipiente, em legislações

antigas.

Com efeito, no Código de Hamurabi, estabelece-se que, na hipótese

de bruxaria provocada a uma pessoa que não a merecesse, traduzindo-se, pois,

injusto o mal a ela causado, a reparação se fazia mediante a morte do enfeitiçador14.

O Código de Manu, vigente na antiga Índia, previa a imposição de

uma pena pecuniária àquele que desse em casamento uma donzela com “defeitos”,

sem o prévio aviso ao homem interessado em desposá-la.

11

ZANNONI, Eduardo. El Daño en la Responsabilidad Civil. 2. ed. Buenos Aires: Astrea, 1993, p. 287 e 288. 12

Idem, p. 287 e 288. 13

DINIZ, Maria Helena; op. cit., p. 86. 14

VITÓRIO, Teodolina Batista da Silva Cândido. Dano Moral – Princípios Constitucionais. Belo Horizonte: Del Rey, 2004, p. 41.

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De outra parte, impunha a famosa legislação o pagamento de cem

panas à pessoa que, de má-fé, afirmasse que determinada mulher não era detentora

da virgindade.

Já o condenado por seduzir uma mulher, era submetido a mutilações

desonrosas, seguidas de seu desterro.

Como se vê, a existência de danos morais dava lugar, quase

sempre, a uma reparação, que impunha ao seu autor uma pena punitiva corporal,

que, muitas vezes, culminava com a sua morte.

Todavia, embora mais antigo que o Código de Hamurabi e o Código

de Manu, informam os historiadores do direito que o Código de Ur-Nammu, datado

do ano 2000 a.C. aproximadamente, trazia soluções que afastavam a pena corporal,

utilizando, em seu lugar, a pena pecuniária.

Assim, na hipótese de uma pessoa ocasionar à outra, mediante uso

de arma, a quebra de seus ossos, seria ela condenada a pagar à vítima uma mina

de prata. Se houvesse decepado o nariz da outra, seu autor seria obrigado a pagar

ao mutilado 2/3 de minas de prata.

Na antiga Grécia, consoante relata Wilson Melo da Silva15, Homero,

em sua Odisséia (rapsódia 8ª, versos 266-367), descreve a realização de uma

assembleia de deuses pagãos, com o objetivo de examinar e decidir um caso de

reparação de danos morais resultantes de um adultério. A decisão foi no sentido de

que Hefesto, que flagrara sua esposa Afrodite mantendo colóquio amoroso com

Ares, deveria receber de Ares uma multa vultosa.

A Bíblia Sagrada, em seu Velho Testamento, fixa algumas normas

que foram seguidas pelos hebreus durante um longo período. Em Deuteronômio,

capítulo XXII, versículos 13-21, prevê-se um caso de difamação por parte do marido,

que alega, publicamente, não ser virgem a sua mulher. Produzidas as provas de

virgindade perante os anciãos da cidade, se fosse procedente a acusação do

marido, a mulher seria condenada à morte por apedrejamento. Caso contrário,

demonstrada a improcedência, ao marido, autor da difamação, eram impingidos

castigos corporais, além de uma pena pecuniária consistente no pagamento de 100

(cem) siclos de prata, destinados ao sogro. Ademais, ficava ainda obrigado a

continuar com a sua mulher.

15

SILVA, Wilson Melo da; op. cit., p.17.

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Em Deuteronômio, capítulo XXII, versículos 28-30, verifica-se a

hipótese em que um homem vem a ser flagrado mantendo relações sexuais com

uma jovem virgem não prometida para casamento. Além de ter de desposá-la

compulsoriamente, deveria pagar ao pai da jovem 50 (cinquenta) siclos de prata.

O Corpus Iuris Canonici oferece também uma passagem que dá

uma real ideia do seu reconhecimento quanto aos danos morais. Trata-se de

hipótese de rapto de uma mulher virgem, devendo o raptor se casar com a raptada.

Entretanto, não autorizando o pai a realização do matrimônio, deveria o raptor

promover o pagamento de uma importância em dinheiro equivalente ao valor de um

dote da época.

3.1 Direito Romano

O direito em Roma conhecia a figura da iniuria(injúria), que

significava o não direito, algo que se praticava sem o direito (in + ius, iuris). A injúria

se caracterizava, na época de Justiniano 16 , pelas seguintes hipóteses: a) pela

ofensa física traduzida por golpes de punho ou com varas; b) quando uma pessoa

alterava a sua voz contra qualquer outra; c) quando uma pessoa se apossava de

bens de outra que nada lhe devia; d) o ato de escrever, compor ou publicar, por si ou

por interposta pessoa, um libelo ou um livro infamante contra outrem; e) quando se

perseguia uma mãe de família, um jovem ou uma jovem, com ato atentatório contra

o pudor de qualquer deles; f) por uma infinidade de ações.

A pessoa ofendida nos casos elencados nos itens “a”, “b”, “c”, “e” e

“f”, poderia lançar mão da actioprevista na Lex Cornelia, cujo prazo prescricional era

de 30 (trinta) anos.

Tratando-se de caso preconizado no item “d”, ou seja, de escrita,

composição ou publicação, por si ou por interposta pessoa, de um libelo ou de um

livro infamante contra outra pessoa, poderia esta, a vítima, valer-se de uma ação

denominada actioiniuriarumaestimatoria, mediante a qual pleiteava uma reparação

em determinada quantia em dinheiro, que poderia ser acolhida pelo magistrado, ou

16

JUSTINIANO. Institutas, § 1º, De Iniuris, IV, 4.

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fixada em outro valor, de acordo com o seu critério. O prazo prescricional era de 1

(um) ano.

Também poderia usar a actioiniuriarumaestimatoria a vítima, mãe de

família, um jovem ou uma jovem da alta sociedade romana, que tivesse sido

seguida, por repetidas vezes, nas ruas, por alguém com pretensões libidinosas

(Justiniano, Institutas, § 1º, De Iniuris, IV, 4). Assim, pleiteava perante o magistrado

romano o pagamento de uma importância em dinheiro, visando à sua reparação

moral.

4 DANO MORAL À PESSOA JURÍDICA

A questão correspondente ao dano moral sofrido pela pessoa

jurídica não é mansa e pacífica entre os doutrinadores, como também na

jurisprudência, pelo que podemos classificá-los em uma corrente desfavorável e

outra corrente favorável.

4.1. Corrente Negativista

Dentro da corrente negativista, Jorge Bustamante Alsina17 assevera

que inexiste a possibilidade de dano moral a uma pessoa jurídica, porquanto, por

não possuir um organismo físico, tal qual ocorre com o ser humano, não tem

sentimentos, emoção ou espírito, que possam ser passíveis de uma lesão. Para ele,

a pessoa jurídica não tem os direitos personalíssimos inatos às pessoas naturais.

Santos Cifuentes18 enfatiza a impossibilidade de a pessoa jurídica

sofrer danos morais, porquanto não reúne condições para refletir, raciocinar,

perceber, sentir, faculdades próprias da pessoa natural.

Wilson Melo da Silva 19 , da mesma forma, afirma que a pessoa

jurídica não pode ser indenizada por danos morais, uma vez que não possui um

17

ALSINA, Jorge Bustamante. Teoria General de la Responsabilidad Civil. 8. ed. Buenos Aires: Abeledo-Perrot, 1993, p. 251 e 252. 18

CIFUENTES, Santos. El Daño Moral y la Persona Juridica, in: Derecho de Daños. Primeira Parte. Buenos Aires: La Rocca, 1996, p. 393 a 413. 19

SILVA, Wilson Melo da; op., cit., p. 650 a 652.

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corpo físico dotado de um sistema nervoso, de capacidade sensorial, podendo

apenas existir como uma simples ficção jurídica. Entende que os danos morais

somente têm por base alicerces puramente espirituais, pelo que os danos ao

patrimônio ideal estão atrelados à capacidade afetiva e sensitiva presente apenas

nos seres humanos. As pessoas jurídicas, a seu ver, jamais teriam um sistema

nervoso próprio, uma alma, uma sensibilidade, enfim, um patrimônio ideal que

pudesse ser objeto de uma lesão.

Agostinho Alvim20 não vislumbra, igualmente, o dano moral à pessoa

jurídica. Na sua ótica, o dano não patrimonial equivale ao dano moral, consistindo

ambos na dor. Deste modo, critica os autores que sustentam o cabimento do dano

moral à pessoa jurídica sob a alegação de que não haveria coincidência entre o seu

caráter não patrimonial e a dor, podendo existir o dano não patrimonial

independentemente da dor.

Antônio Carlos Amaral Leão 21 entende ser inviável o pleito de

indenização por danos morais, a qual somente seria justificada, se a vítima fosse

uma pessoa física ou natural. Embora concorde que uma pessoa jurídica, cujo título

foi indevidamente protestado, tenha direito a perdas e danos, nega toda e qualquer

possibilidade de reclamo por danos morais.

Deste modo, as ideias dos juristas que negam a possibilidade de

reparação de danos morais causados à pessoa jurídica têm como cerne,

simplesmente, o fato de não vislumbrarem nela a ocorrência de fenômenos

biológicos e psicológicos próprios do ser humano, onde a dor, o sofrimento, a

decepção, a depressão, o constrangimento são decorrentes da sua mente, do seu

centro nervoso, ao contrário da pessoa jurídica, totalmente desprovida desses

elementos sensoriais.

20

ALVIM, Agostinho. Da Inexecução das Obrigações e suas Consequências. São Paulo: Saraiva, 1980, p. 219 e 220. 21

LEÃO, Antônio Carlos Amaral. Considerações em torno do Dano Moral e a Pessoa Jurídica. São Paulo: Revista dos Tribunais n. 689, 1993, p. 7 a 13.

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4.2 Corrente Favorável

Ao contrário da corrente atrás comentada, posiciona-se a maioria

doutrinária em sentido favorável à existência de danos morais e de sua

reparabilidade.

Adriano De Cupis 22 ensina que uma pessoa jurídica, como uma

sociedade comercial ou um instituto beneficente, pode sofrer um dano não

patrimonial, em hipóteses envolvendo uma campanha difamatória, denegrindo a sua

imagem, ou pela violação de sigilo de correspondência. Critica o argumento de que

a pessoa jurídica não é sujeito de dores físicas ou morais, entendendo que a pessoa

jurídica possa sofrer um dano não patrimonial distinto da dor percebida pela pessoa

natural.

Henri Mazeaud e Léon Mazeaud23, na década de 30 do século XX,

consideravam plenamente viável a possibilidade de as pessoas jurídicas sofrerem

danos morais relativamente à parte social de seu patrimônio não econômico.

Afirmam: “se uma pessoa moral não tem coração, ela tem honra e consideração”24.

Brebbia 25 assevera serem as pessoas jurídicas detentoras de

direitos extrapatrimoniais, com exceção dos direitos à vida, à integridade física e à

honestidade, próprios das pessoas físicas. Têm direito à honra, consideração e

fama, ao nome, à liberdade de ação, à segurança pessoal, à intimidade, ao direito

moral do autor sobre a obra intelectual. Conclui que essa relação não é taxativa,

uma vez que as pessoas jurídicas recebem, em princípio, a mesma proteção das

pessoas individuais.

Aguiar Dias 26 assim se pronuncia: “a pessoa jurídica pública ou

privada, os sindicatos, as autarquias, podem propor ação de responsabilidade, tanto

fundada no dano material como no prejuízo moral. Este ponto de vista, esposado

pela generalidade dos autores, é sufragado hoje pacificamente pela jurisprudência

22

DE CUPIS, Adriano. Il Daño – Teoria General de La Responsabilidad Civil. Tradução de Ángel Martinez Sarrión, Barcelona: Bosch, 1975, p. 124. 23

MAZEAUD, Henri et MAZEAUD, Léon. Traité Théorique et Pratique de la Responsabilité Civile, Délictuelle et Contractuelle. 4ème. ed. Paris: Recueil Sirey, 1947, t. I, p. 295. 24

MAZEAUD, Henri et MAZEAUD, Léon, Traité Théorique et Pratique de la Responsabilité Civile, Délictuelle et Contractuelle. 2ème. ed.. Paris: Recueil Sirey, 1934, t. III, p. 685. 25

BREBBIA, Roberto. Instituciones de Derecho Civil. Rosário: Juris, 1997, v. 2, p. 429. 26

DIAS, José de Aguiar. Da Responsabilidade Civil. 6. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1979, v. 2, p. 897.

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estrangeira. A nossa carece de exemplos, ao menos de nós conhecidos. Não há

razão para supor que não adote, ocorrida a hipótese, igual orientação”.

Walter Moraes27 consigna que “a doutrina, em geral, admite a tutela

da honra das pessoas jurídicas, distinta da proteção da dignidade dos indivíduos que

as compõem”.

Carlos Alberto Bittar 28 ensina que as pessoas jurídicas são

suscetíveis de danos morais, porquanto se lhes reconhecem direitos da

personalidade. Pontifica o saudoso jurista: “De fato, para a respectiva identificação e

de seus produtos, bem como para a sua individualização e a preservação de seus

valores básicos, inúmeros direitos dessa ordem compõem a sua essencialidade,

merecendo, pois, o amparo jurídico. Consequentemente, podem também sofrer

danos morais, seja de qualquer pessoa, vinculada, ou não, sócio, acionista ou

mesmo controlador (Lei 6.404, de 15.12.76, art. 117), ou, ainda, de concorrente,

hipótese em que se submete a repressão correspondente a regime legal próprio, ou

seja, o da concorrência desleal (C. Penal, art. 196)”29.

Sergio Cavalieri Filho30, argumentando não existir mais o porquê de

se fazer a exigência injustificada de dor e sofrimento por parte da pessoa jurídica, no

que concerne à honra, para que houvesse o reconhecimento do dano moral,

promove uma diferenciação entre a honra subjetiva e a honra objetiva. A honra

subjetiva, consistente na dignidade e na auto-estima, é presente apenas na pessoa

física ou natural. Já a honra objetiva se funda na reputação e na imagem

desfrutadas no meio social tanto pela pessoa natural, como também pela pessoa

jurídica.

Observa Sergio Cavalieri Filho31 que “o fundamento da reparação do

dano moral não é apenas aquela ideia de compensação – substituir a tristeza pela

alegria, etc.; a par do sentido compensatório, a indenização pelo dano moral tem de

assumir um caráter punitivo, conforme salientado”.

27

MORAES, Walter. Direito à Honra. InEnciclopédia Saraiva do Direito. São Paulo: Saraiva, 1977, v. 25, p. 208. 28 BITTAR, Carlos Alberto. Reparação Civil por Danos Morais. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais,

1993, p. 146 e 147.

29 Idem, p. 147.

30 CAVALIERI FILHO, Sergio. Programa de Responsabilidade Civil. 2. ed., 2ª tiragem, São Paulo: Malheiros, 1999,

p. 83. 31

Idem, p. 84.

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A pessoa jurídica é detentora de uma honra objetiva, que, uma vez

atingida, merece uma reparação por dano moral, a qual, caso fosse negada,

efetivamente traduziria um verdadeiro acinte, soando como apologia à impunidade.

4.3 Nossa Posição

Embora existam opiniões discordantes a respeito da existência de

danos morais perpetrados em desfavor de uma pessoa jurídica, alegando não

possuir existência psicofísica e ética 32 , ou um substrato biológico, psíquico e

espiritual, desprovida de quaisquer sentimentos, entendemos que a atual

Constituição Federal e, sobretudo, o Código Civil de 2002 não dão margem a

qualquer dúvida a esse respeito. Ademais, a Súmula 227 do Superior Tribunal de

Justiça é taxativa:“A pessoa jurídica pode sofrer dano moral”.

Com efeito, pela leitura do art. 5º, incisos V, X, XII, XVII e XXIX, da

Constituição Federal, que preconizam o direito de resposta, proporcional ao agravo,

além da indenização por dano material, moral ou à imagem (V); a inviolabilidade da

intimidade, da vida privada, da honra e da imagem das pessoas, assegurado o

direito à indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação (X); a

inviolabilidade do sigilo da correspondência e das comunicações telegráficas, de

dados e das comunicações telefônicas, exceto por ordem judicial (XII); a liberdade

de associação (XVII); o direito de autoria de inventos industriais e a proteção às

criações industriais, à propriedade das marcas, aos nomes de empresas e a outros

signos distintivos (XXIX); assim como, pela exegese do art. 52, combinado com os

arts. 11 a 21 do Código Civil (aplicação, no que couber, dos direitos da

personalidade à pessoa jurídica) e art. 186 do mesmo diploma civil (comete ato ilícito

aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar

direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral), temos como

plenamente possível o reconhecimento dos danos morais e a sua reparabilidade

dentro do direito brasileiro.

32

ALSINA, Jorge Bustamante; op. cit., p. 251.

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Aliás, no que concerne à reparação por danos morais perpetrados

em prejuízo da pessoa jurídica, entendemos ser ela devida independentemente da

existência de danos patrimoniais.

5. DIREITOS DA PERSONALIDADE DA PESSOA JURÍDICA QUE, VIOLADOS,

PODEM CONFIGURAR DANO MORAL

Levando em consideração o ensinamento de Eduardo Zannoni33,

que alude a existência de dano moral indireto, o qual é aquele que provoca prejuízo

a qualquer interesse não patrimonial, devido a uma lesão a um bem patrimonial da

vítima, podemos também afirmar a configuração de dano moral direto, consistente

“na lesão a um interesse que visa a satisfação ou gozo de um bem jurídico

extrapatrimonial contido nos direitos da personalidade”34.

Conquanto haja evidente diferença entre a pessoa natural e a

pessoa jurídica, sendo esta o resultado de uma construção da realidade técnica

jurídica, estabeleceu o novo ordenamento jurídico civil, em seu art. 5235, dispositivo

reconhecendo a aplicabilidade dos direitos da personalidade à pessoa jurídica.

Levando em conta a expressão “no que couber”, teremos que

considerar, por meio da análise sistemática, quais os direitos da personalidade se

traduzem aplicáveis à pessoa jurídica.

Deste modo, em primeiro lugar, não poderemos falar do direito à

vida e o direito à integridade física, mesmo reconhecendo que a vida da pessoa

jurídica (de direito privado) tem início com a inscrição do ato constitutivo no registro

respectivo, precedida, quando necessário, de autorização ou aprovação, do Poder

Executivo (CC, art. 45, caput). Não teria sentido falarmos em indisponibilidade ou

intransmissibilidade da pessoa jurídica durante a sua “vida”.

Entretanto, Manoel Gonçalves Ferreira Filho 36 entende existir um

direito à vida por parte de associações, ao interpretar os termos do art. 5º, XIX, da

Constituição Federal, que dispõe a respeito da impossibilidade da dissolução ou

33

ZANNONI, Eduardo. El DañoenlaResponsabilidad Civil, p. 287 e 288. 34

Idem, p. 287 e 288. 35

CC, art. 52: “Aplica-se às pessoas jurídicas, no que couber, a proteção dos direitos da personalidade”. 36

FERREIRA FILHO, Manoel Gonçalves. Comentários à Constituição Brasileira de 1988. São Paulo: Saraiva, 1988, v. 1, p. 44.

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suspensão compulsória das atividades das associações, exceto por decisão judicial

transitada em julgado. Assevera o eminente constitucionalista que as associações

têm assegurado o direito à livre constituição, independentemente da boa vontade do

Poder Executivo, a menos que exista um objeto ilícito.

5.1 Direito à Honra Objetiva e à Imagem

O reconhecimento do direito à honra da pessoa jurídica, para Carlos

Alberto Bittar37, se prende “à necessidade de defesa da reputação da pessoa (honra

objetiva), compreendendo o bom nome e a fama de que desfruta no seio da

coletividade”. A honra pode ser violada pela falsa atribuição de um crime ou pela

imputação de fato ofensivo à reputação da pessoa jurídica dentro do meio social.

Walter Moraes38 comenta que a “doutrina, em geral, admite a tutela

da honra das pessoas jurídicas, distinta da proteção da dignidade dos indivíduos que

as compõem”. Entretanto, faz uma objeção: “não se pode porém confundir esse

direito, no mais das vezes de interesse patrimonial, com direito de personalidade – a

nosso ver apanágio da pessoa humana”39.

Sergio Cavalieri Filho40 promove uma diferenciação entre a honra

subjetiva e a honra objetiva.

A honra subjetiva tem como base a dignidade, decoro e auto-estima,

sendo exclusiva do ser humano, e não da pessoa jurídica.

Porém, a honra objetiva, que tem como supedâneo a reputação, a

imagem, a fama, o bom nome perante o meio social, é comum não apenas à pessoa

natural ou física, como também à pessoa jurídica.

A violação da honra pode se verificar, dentro da coletividade, por

qualquer meio de comunicação, seja ela escrita (livro, jornal, artigos na internet,

etc.), sonora (por meio da rádio, televisão, por gravações eletromagnéticas, em

37

BITTAR, Carlos Alberto. Os Direitos da Personalidade, p. 129. 38 MORAES, Walter. Direito à Honra. InEnciclopédia Saraiva do Direito. São Paulo: Saraiva, 1977, v. 25,

p. 208.

39 Alerte-se que a afirmativa de Walter Moraes foi feita em 1977, porquanto o Código Civil de 2002 preconiza,

em seu art. 52, a possibilidade de se aplicar às pessoas jurídicas, no que couber, a proteção dos direitos da personalidade. 40

CAVALIERI FILHO, Sergio; op. cit., p. 83.

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discos, etc.) ou verbal. Pode se verificar de maneira ostensiva ou sutil, ou, até

mesmo, dissimulada, objeto de percepção por terceiros41.

Quanto ao direito à imagem, este significa o direito que a pessoa

tem sobre a sua expressão externa. Em se tratando de pessoa física ou natural, ele

se exterioriza pela forma plástica e por seus respectivos componentes, como a boca,

os olhos, os braços, o tronco, as pernas, etc., com destaque para a sua divulgação

em propaganda e publicidade de produtos e serviços42.

Embora o direito à honra seja distinto do direito à imagem, podemos

afirmar, com base em Bittar43, na seara da pessoa jurídica, que a sua imagem,

atrelada à ideia de sua reputação ou consideração social, corresponde à honra.

Assim, quando alguém, indevidamente, promove o protesto de um

título emitido contra uma pessoa jurídica, o qual já se encontra pago, está violando o

seu direito à honra objetiva, maculando a sua imagem junto à sociedade como um

todo, não apenas comprometendo a sua credibilidade de que desfruta no meio

comercial, como também a sua boa reputação e fama perante o meio social. Nesse

caso, indubitável a possibilidade de pleito de indenização por danos morais.

5.2 Direito à Intimidade

Esse direito vem preconizado no art. 5º, X, da Constituição Federal,

e no art. 21 do Código Civil. Violado, ensejará o direito à indenização por danos

morais.

Segundo obtempera Rui Stoco 44 , a pessoa jurídica possui

personalidade e imagem próprias, tendo “a sua própria identidade, que não se

confunde com a dos sócios dela integrantes”.

O direito à intimidade que possui a pessoa jurídica significa, segundo

Carlos Alberto Bittar45, aquele ligado “à preservação de sua vida interna, vedando-

se, pois, a divulgação de informações de âmbito restrito. Há, inclusive, normas legais

41

BITTAR, Carlos Alberto. Os Direitos da Personalidade, p. 130. 42

Idem, p. 90. 43

Idem, p. 130. 44

STOCO, Rui. Tratado de Responsabilidade Civil. 5. ed. revista, atualizada e ampliada. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2001, p. 1.351. 45

BITTAR, Carlos Alberto. Os Direitos da Personalidade, p. 110.

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que proíbem a difusão de dados de cunho confidencial na empresa (assim, no

âmbito societário; no plano da publicidade; das comunicações)”.

Podemos dar alguns exemplos de violação do direito à intimidade: 1)

violação de domicílio; 2) violação a gavetas ou arquivos existentes no

estabelecimento; 3) a divulgação geral não autorizada de dados cadastrais obtidos,

para seus próprios fins, por um determinado estabelecimento de crédito, oferecendo

a terceiros, de maneira indesejada, o perfil econômico da pessoa jurídica; 4)

grampeamento telefônico; 5) tirar fotografias, mediante teleobjetivas ou por

minicâmeras, do interior do estabelecimento administrativo ou fabril, devassando a

sua intimidade.

5.3 Direito ao Sigilo

Embora com certa semelhança com o direito à intimidade, o direito

ao sigilo é ligado aos interesses documentais, profissionais, industriais ou

comerciais, caracterizando-se, segundo Patrícia Guerrieri Barbosa Viana46, como

transgressão a esse direito “os atos de intromissão, divulgação e uso indevido, em

proveito próprio ou alheio, dos fatos considerados confidenciais”.

Enquanto o direito à intimidade se refere a fatos mais abrangentes

do campo privado, compreendendo a pessoa em sua vida interna, o direito ao sigilo

é relativo a fatos específicos, mantidos de forma reservada, nos limites estreitos da

pessoa jurídica, em virtude de sua atividade profissional, industrial ou comercial.

Exemplos: 1) haverá violação de segredo profissional, se o

advogado revelar detalhes contados por sua cliente, pessoa jurídica; 2) configurará

violação de segredo documental, se o extrato bancário da pessoa jurídica vier a ser

objeto de conhecimento de terceiros, sem autorização judicial; 3) violação ao sigilo

comercial ou fiscal: obtenção não autorizada do conteúdo de livros comerciais ou

fiscais; 4) violação ao sigilo industrial: experiências obtidas pela aplicação de técnica

ou pela exploração de empresa, as quais, por sua natureza, não podem ser

registradas para proteção específica na seara da propriedade industrial (marcas e

46

VIANA, Patrícia Guerrieri Barbosa. Dano Moral à Pessoa Jurídica. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2002, p. 86.

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patentes)47; 5) violação de segredo de fábrica ou de negócio: ato de concorrência

desleal; 6) violação de sigilo de proposta de concorrência pública.

Transgredido o direito ao sigilo da pessoa jurídica, terá esta

legitimidade para a propositura da ação indenizatória por danos morais.

5.4 Direito à Liberdade

O direito à liberdade é classificado por Roberto Senise Lisboa 48

dentro dos direitos psíquicos da personalidade, sendo conceituado como o direito “à

autodeterminação de se conduzir nas relações sociais”. É o direito de fazer ou de

fazer alguma coisa na conformidade com a lei, é a faculdade “que tem a pessoa de

desenvolver, sem obstáculos, suas atividades no mundo das relações” (Carlos

Alberto Bittar49).

Seus aspectos mais proeminentes são, conforme Bittar 50 , os da

“liberdade de associação e de exercício de atividade, que permitem o

desenvolvimento privado de empreendimentos diversos, respeitada a intervenção do

Estado, quando necessária, dentro dos modelos criados pelo neoliberalismo”.

Exemplos: a) violação do direito à liberdade de exercício de

atividade de jornalismo: exclusão de uma emissora de televisão, com privilégio de

uma outra empresa televisiva, numa entrevista coletiva do Presidente da República;

2) violação do direito à liberdade de associação: ato de uma federação de um

determinado segmento da indústria de impedir que uma sociedade empresária, a

qual preenche todos os requisitos estatutários, possa ingressar em seu quadro

associativo.

A violação desse direito, em detrimento da pessoa jurídica, configura

danos morais, independentemente da existência de danos materiais ou patrimoniais.

47

BITTAR, Carlos Alberto. Os Direitos da Personalidade, p. 121. 48

LISBOA, Roberto Senise. Manual de Direito Civil. 3. ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2003, p. 275. 49

BITTAR, Carlos Alberto. Os Direitos da Personalidade, p. 101. 50

Idem, p. 105.

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5.5 Direito à Identidade: Nome, Título e Signo Figurativo

A pessoa jurídica tem direito à identidade, a qual se exterioriza por

meio do nome, que, consoante Alexandre Ferreira de Assumpção Alves 51, é “a

identificação legal de toda e qualquer associação de pessoas dedicadas à indústria,

ao comércio ou à prestação de serviços, com ou sem fins lucrativos”.

A proteção ao nome da pessoa jurídica resulta do seu respectivo

registro no órgão correspondente (sociedade simples ou associação no Registro

Civil das Pessoas Jurídicas; sociedade de profissionais liberais no órgão em que se

encontre enquadrada; sociedade empresária na Junta Comercial). Havendo violação

ao nome da pessoa jurídica, esta poderá pleitear a supressão do uso impróprio do

nome ou a indenização por danos morais52. O uso indevido de nome comercial

poderá configurar o crime de concorrência desleal53, sem prejuízo da propositura da

ação cível, inclusive por danos morais (Lei n. 9.279, de 14-5-1996, arts. 207 e 209).

Além do direito ao nome, há também o direito ao título de

estabelecimento, que significa o nome utilizado para promover a identificação do

lugar onde suas atividades são levadas a efeito. Pode consistir em um nome de

fantasia, cujo uso não autorizado pode resultar em danos, materiais e morais, que

poderão ser requeridos pela pessoa jurídica prejudicada.

Ainda existe o signo figurativo, representado pela marca, que é o

sinal ou expressão, que visa a individualizar os produtos ou serviços de uma

empresa, podendo se apresentar na forma nominal, emblemática ou figurativa, mista

ou complexa (marca envolvendo um nome e um sinal figurativo)54. O Código da

Propriedade Industrial (Lei n. 9.279, de 14 de maio de 1996, arts. 207 e 209) prevê a

possibilidade de indenização por perdas e danos, em hipótese de uso indevido de

marca alheia, pelo que podemos incluir os danos morais.

51

ALVES, Alexandre Ferreira de Assumpção. A Pessoa Jurídica e os Direitos da Personalidade. Rio de Janeiro: Renovar, 1998, p. 83. 52

VIANA, Patrícia Guerrieri Barbosa; op. cit., p. 81 e 82. 53

Lei n. 9.279, de 14-5-1996, art. 195, V. 54

ALVES, Alexandre Ferreira de Assumpção; op. cit., p. 94.

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5.6. Direito Moral do Inventor

Por força do Código da Propriedade Industrial (Lei n. 9.279, de 14-5-

1996), a pessoa jurídica é considerada, por via indireta, o titular da patente. Com

efeito, os artigos 88 e 91 estabelecem que a invenção ou o modelo de utilidade,

quando decorrerem de contrato de trabalho, cuja execução ocorra no Brasil e que

tenha por objeto a pesquisa ou a atividade inventiva, pertencerão exclusiva e

originariamente ao empregador. Nesse sentido, a lei não faz qualquer distinção entre

pessoa física ou pessoa jurídica.

É de se destacar, ainda, que haverá propriedade em comum entre o

empregador e o empregado, quando a criação do bem patenteável for obtida através

da contribuição pessoal do empregado e de recursos, dados, materiais, instalações

ou equipamentos do empregador, hipótese em que é garantido a este o direito

exclusivo de licença de exploração.

A Constituição Federal de 1988, em seu art. 5º, X e XXIX,

estabelece a possibilidade de indenização por danos morais pela violação do direito

moral do inventor. Com efeito, o inciso X, do art. 5º, assegura a reparação por dano

moral a um dos direitos da personalidade, cuja relação não é taxativa, mas

exemplificativa, ao passo que o inciso XXIX, do mesmo dispositivo legal, garante o

direito moral do inventor, pessoa natural ou pessoa jurídica.

6 TENDÊNCIA JURISPRUDENCIAL AO LONGO DO TEMPO

Comenta Antonio Jeová Santos55 que “bosquejando a jurisprudência

pátria, não é encontrado entendimento de que a pessoa jurídica deixe de padecer

dano moral. Parcela pequena de câmaras civis, ao rejeitar a possibilidade de a

pessoa jurídica padecer dano moral, reúne um aspecto interessante ao exigir a

prova de prejuízo para que exista, realmente, a lesão extrapatrimonial”. Cita

acórdãos em que os Tribunais, em posição minoritária, negam, pura e

simplesmente, o reconhecimento do dano moral à pessoa jurídica, ou o deferem

55

SANTOS, Antonio Jeová. Dano Moral Indenizável. 3. ed. São Paulo: Método, 2001, p. 156 e 157.

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condicionado somente à existência de prova do efetivo prejuízo patrimonial. Senão

vejamos:

Ementa: A pessoa jurídica não pode ser sujeito passivo de dano moral. O elemento característico do dano moral é a dor em sentido mais amplo, abrangendo todos os sofrimentos físicos ou morais, só possível de ser verificada nas pessoas físicas. O ataque injusto ao conceito da pessoa jurídica só é de ser reparada na medida em que ocasiona prejuízo de ordem patrimonial. Recurso desprovido. (Acórdão do TJRJ, 4º Gr. Cs.,EInfrs. 17/94, j. 27.4.1994, Rel. Des. Miguel Pachá - in RT 716/258). Ementa: A indenização por dano moral, dada a sua natureza, não alcança pessoas jurídicas. (Acórdão do TARS, 7ª C., Ap. 194.101.911, j. 26.4.1995, Rel. Juiz Leonello Pedro Paludo - in RT 717/249). Ementa: Para que a pessoa jurídica faça jus à indenização por dano material ou por dano moral, pelo protesto indevido de título de crédito, necessária se torna a demonstração do efetivo prejuízo econômico sofrido. (Acórdão do 1º TACSP, 10ª C., Ap. 570.388-0, j. 2.4.1996, Rel. Juiz Edgard Jorge Lauand - in RT 731/286).

A par desses acórdãos, podemos arrolar outros arestos

jurisprudenciais, que demonstram uma sensibilidade maior por parte do Poder

Judiciário, no que concerne ao dano moral provocado em prejuízo da pessoa

jurídica, a saber:

Ementa: A honra objetiva da pessoa jurídica pode ser ofendida pelo protesto indevido de título cambial. Cabível a ação de indenização, por dano moral, sofrido por pessoa jurídica, visto que a proteção dos atributos morais da personalidade não está reservada somente às pessoas físicas. (Acórdão do STJ, 3ª T., Resp 58.660-7-MG, j. 3.6.1997, Rel. Min. WaldemarZveiter – DJU 22.9.1997 – in RT 747/221). Ementa: O protesto indevido de título acarreta à pessoa jurídica forte abalo em sua imagem, em seu conceito, motivando que terceiros passem a ter fortes dúvidas sobre sua situação financeira, assim, tal abalo, apesar de não ter acarretado consequências patrimoniais, por si só, autoriza a condenação em indenização por dano moral correspondente a 10 vezes o valor atualizado do título. (Acórdão do 1º TACSP, 2ª Câm. Extraord. B, Ap. 716.708-2, j. 10.6.1997, Rel. Juiz Alberto Tedesco – inRT 747/289). Ementa: Quando a pessoa jurídica sofrer ofensa ao seu bom nome, fama, prestígio e reputação comercial e social, decorrente do protesto indevido de título, pode pleitear a indenização por dano moral, nos termos do art. 5º, X, da CF.

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(Acórdão do TJSP, 5ª C., Ap. 34.202.4/0, j. 18.6.1998, Rel. desig. Des. Silveira Netto – in RT 758/192). Ementa: No que tange à honra, protegida hoje com acento constitucional (art. 5º, X), não descaracteriza violação moral o fato de ser pessoa jurídica a atingida, vez que a honra, que relativamente à pessoa física define-se como dignidade pessoal, por estar vinculada ao valor ontológico intrínseco da pessoa, comporta uma avaliação objetiva, na medida em que está ela também ligada ao conceito que os outros fazem do nosso valor, ou seja, a reputação, a consideração, o bom nome, a boa fama, a estima. Não se pode negar que, por ato de outrem, essa dignidade externa possa ser depreciada, resultando daí ser possível que a pessoa jurídica, a despeito de desprovida de dignidade subjetiva – ante a ausência de sentimento de dignidade – possa ser atacada em sua reputação, no seu nome e boa fama, e, relativamente ao conceito alheio, possa ser lesionada. Essa a melhor exegese, em se considerando que a expressão patrimônio, no seu sentido mais amplo, comporta aspectos morais dos bens jurídicos, que podem sofrer diminuição em consequência de ataques de terceiros, porque a ofensa pode acarretar diminuição da posição jurídica de que desfruta o ente ideal, atingindo-lhe bens de natureza extrapatrimonial. (Acórdão do TRF 2ª Reg., 3ª T., Ap. 97.02.08886-0, j. 8.9.1998, Rel. Juíza Maria Helena, DJU 23.2.1999 – in RT 766/425). Ementa: A pessoa jurídica pode padecer de ataque à sua honra objetiva, pois goza de uma reputação junto a terceiros, passível de ficar abalada por atos que afetam seu bom nome no mundo civil ou comercial onde atua, circunstância que lhe dá o direito de ser indenizada pelo dano moral experimentado, que existe e pode ser mensurado através de arbitramento. (Acórdão do STJ, 4ª T., Resp 195.842-SP, j. 11.2.1999, Rel. Min. Ruy Rosado de Aguiar, DJU 29.3.1999 – in RT 767/210).

As decisões mais recentes variam quanto ao reconhecimento do

direito à indenização por danos morais, dependendo ou não da prova de prejuízo

patrimonial. Assim:

Ementa: Dano moral. Pessoa Jurídica. Prova do dano. Protesto indevido de título. Súmula nº 227 da Corte. 1. Está alinhada a jurisprudência da Corte no sentido de que a pessoa jurídica pode sofrer dano moral (Súmula nº 227 da Corte). 2. Provado o fato gerador do dano moral, no caso, o indevido protesto, impõe-se deferir a indenização. 3. Recurso especial conhecido e provido. (Acórdão do STJ, 3ª T., REsp 538.687/RS; Rel. Min. Carlos Alberto Menezes Direito, j. 16.12.2003, publicado no DJ de 29.03.2004, p. 237). Ementa: Direito Comercial. Duplicata sem aceite e sem causa subjacente. Protesto pelo banco endossatário. Responsabilidade pela reparação dos prejuízos. Cabimento. Dano moral. Prova do prejuízo. Desnecessidade.

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I – Consoante entendimento da Corte, o banco endossatário que leva a protesto duplicata desprovida de causa ou não aceita responde pelos danos decorrentes do protesto indevido. II – O protesto indevido de duplicata enseja indenização por danos morais, sendo dispensável a prova do prejuízo (REsp 389.879/MG, DJ de 02/09/2002). Recurso Especial não conhecido. (Acórdão do STJ, 3ª T., REsp 254.433/SP; Rel. Min. Castro Filho; j. 19.02.2004, publicado no DJ de 08.03.2004, p. 248).

Segundo se deflui das referidas ementas da mesma Turma (3ª) do

Colendo Superior Tribunal de Justiça, houve um progresso entre o acórdão de

dezembro de 2003 e o de fevereiro de 2004, com diferença temporal de apenas 2

(dois) meses, porquanto o último decisório dispensou a prova do prejuízo

patrimonial.

7 ENTES DESPERSONALIZADOS

Segundo Carlos Alberto Bittar, 56 entes despersonalizados, como

condomínios, fundos, espólios, forças armadas, órgãos ou ministérios públicos e os

tribunais, também podem aparecer somo lesados na órbita dos danos morais.

Porém, em virtude de serem desprovidos de personalidade, “não se aceitava, quanto

a essas entidades, a possibilidade de obtenção, em Juízo, de indenização, no

regime tradicional. Isso não impedia, no entanto, que os integrantes, os associados,

ou componentes da entidade – cuja existência fática sempre se entendeu inegável –

pudessem pleitear reparação por efeitos negativos suportados individualmente”57.

Conclui, afirmando que “tais barreiras cederam com a coletivização

da defesa de interesses, possibilitando-se, igualmente, a esses entes a satisfação

de seus direitos, quando lesados injustamente, através da atuação, em Juízo, dos

legitimados e nas hipóteses previstas na legislação especial”58.

56 BITTAR, Carlos Alberto. Reparação Civil por Danos Morais. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais,

1993, p. 147.

57 Idem, p. 147.

58 Idem, p. 147.

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8 REPARAÇÃO DO DANO MORAL À PESSOA JURÍDICA

Conforme aponta Regina Beatriz Tavares da Silva,59 ao contrário do

que ocorre nos Estados Unidos, onde a fixação da indenização tem o caráter

punitivo (punitivedamagesou exemplarydamages), com montantes elevados e

inibidores, no Brasil, a indenização se funda na compensação e na punição.

De acordo com a teoria punitiva, a indenização por danos morais

deve representar uma quantia que soe como advertência ao agente causador e a

toda sociedade, no sentido de que não mais haja a sua repetição. A crítica que se

faz a essa teoria diz respeito à fonte de enriquecimento sem causa, que deve ser

objeto de combate e restrição por parte dos tribunais.

Outra teoria, a da punição e compensação, visa destinar à vítima

uma determinada quantia em dinheiro para compensar o dano moral sofrido.

Segundo Caio Mário da Silva Pereira, o ressarcimento pelo dano moral deve ter um

caráter punitivo, para que o causador da lesão seja castigado pelo que fez, como

também um caráter compensatório para a vítima, que deverá receber60 uma quantia

em dinheiro pelo dano sofrido.

Assevera Carlos Alberto Bittar61: a importância estabelecida deve ser

“compatível com o vulto dos interesses em conflito, refletindo-se, de modo

expressivo, no patrimônio do lesante, a fim de que sinta, efetivamente, a resposta da

ordem jurídica aos efeitos do resultado lesivo produzido. Deve, pois, ser quantia

economicamente significativa, em razão das potencialidades do patrimônio do

lesante”.

Para a fixação do quantum indenizatório, na doutrina brasileira,

apresentam-se duas correntes: uma, denominada sistema aberto, atribui ao

prudente arbítrio do juiz a fixação da indenização pelo dano moral; outra,

denominada sistema fechado ou tarifado, estabelece, segundo Rui Stoco62, que os

59 SILVA, Regina Beatriz Tavares da.Critérios de Fixação da Indenização do Dano Moral. In Questões

Controvertidas no Novo Código Civil. Coordenação de Mário Luiz Delgado e Jones Figueirêdo Alves.

São Paulo: Método, 2003, p. 267.

60 PEREIRA, Caio Mário da Silva. Responsabilidade Civil. 3. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1992, p. 55.

61 BITTAR, Carlos Alberto. Reparação Civil por Danos Morais, p. 220.

62 STOCO, Rui. Tratado de Responsabilidade Civil: Responsabilidade Civil e sua Interpretação Doutrinária e

Jurisprudencial. 5. ed. rev., atual. eampl. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2001, p. 1.400.

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valores sejam “predeterminados pela lei ou pela aplicação da analogia e da

integração analógica”.

No sistema aberto ou ilimitado, o juiz, ao fixar o quantum

indenizatório, deverá seguir o critério de examinar o nível cultural do agente

causador do dano moral, a condição sócioeconômica do ofensor e da pessoa

jurídica ofendida; a intensidade do dolo ou grau de culpa do agente causador; efeitos

do dano no contexto em que se encontra a ofendida.

Deverá, ainda, estabelecer o valor da indenização com o intuito de

desestimular a repetição de fatos lesivos semelhantes futuramente. Não poderá, no

entanto, determinar um valor que traduza um enriquecimento sem causa, nem

tampouco que represente algo inexpressivo63.

Conclui Carlos Alberto Bittar64: “Deve-se, em qualquer hipótese, ter

presentes os princípios básicos da satisfação integral dos interesses lesados e da

estipulação de valor que iniba novas investidas, como balizas maiores na

determinação da reparação devida”.

No sistema fechado ou tarifado, são estabelecidos valores mínimos

e máximos a título de indenização em favor da vítima, valores esses fixados pela lei

ou em virtude da analogia ou da integração analógica. No direito brasileiro, tenham-

se como exemplos as tarifas máximas previstas pela Lei de Imprensa (200 salários

mínimos), pela Lei de Direitos Autorais (3.000 exemplares), pelo Código Brasileiro

de Aeronáutica (3.500 OTN por morte e 150 OTN por morte) e pelo próprio Código

Civil de 2002, em seus art. 940 (aquele que demandar por dívida já paga deverá

pagar o dobro do que houver cobrado). Consoante pontifica Carlos Roberto

Gonçalves65, “o inconveniente desse critério é que, conhecendo antecipadamente o

valor a ser pago, as pessoas podem avaliar as consequências da prática do ato

ilícito e as confrontar com as vantagens quem, em contrapartida, poderão obter,

como no caso do dano à imagem, e concluir que vale a pena, no caso, infringir a lei”.

Entendemos ser melhor o sistema aberto ou ilimitado, inexistindo

para o magistrado um limite mínimo ou máximo, para a fixação do quantum

indenizatório, o qual terá sempre como base o justo critério do juiz, na apreciação de

cada caso levado ao seu conhecimento e apreciação.

63

STJ, 3ª T., Recurso Especial 355.392-RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 26.03.2002. 64

BITTAR, Carlos Alberto. Reparação Civil por Danos Morais, p. 225. 65 GONÇALVES, Carlos Roberto. Responsabilidade Civil. 8. ed. São Paulo: Saraiva, 2003, p. 569.

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9 CONCLUSÕES

1. Embora a discussão se faça presente ainda a respeito do dano

moral, verificamos, pela pesquisa histórica, que sua existência remonta à

Antiguidade, consoante fragmentos e documentos consistentes no Código de

Hamurabi, Código de Manu, Código de Ur-Nammu e na própria Bíblia Sagrada.

2. Em Roma, mais exatamente à época de Justiniano, presenciamos

o uso da actioiniuriarumaestimatoria, pela qual era possível requerer uma reparação

em determinada quantia em dinheiro, que poderia ser objeto de acolhimento por

parte do magistrado, ou fixada em outro valor, em conformidade com o seu justo

critério.

3. Embora o dano moral seja objeto de reconhecimento há muito

tempo, não a flagramos reconhecida, na história, no que concerne à pessoa jurídica

como vítima, nem mesmo na velha Roma, onde havia a figura das

Collegia66(chamadas também universitates, societates, sodalitates, corpora), ou de

Municipia67, ou coloniae, ou civitates; ou mesmo de entes unitários68 semelhantes às

fundações, constituídos por um complexo de bens destinados a um escopo

determinado.

4. Aliás, a discussão a respeito da existência ou não dos danos

morais à pessoa jurídica dividiu os juristas em duas grandes correntes doutrinárias,

uma negando-lhe o direito, por entender não haver a ocorrência de fenômenos

biológicos e psicológicos, sempre presentes aos seres humanos.

Outra corrente reconhece, de maneira taxativa, o dano moral

perpetrado contra uma pessoa jurídica, asseverando não haver necessidade de uma

lesão a um bem patrimonial para a configuração de um dano moral, no caso indireto.

É possível a existência de um dano moral direto, consoante bem afirma Zannoni,

consistente na lesão a um interesse “que visa a satisfação ou gozo de um bem

jurídico extrapatrimonial contido nos direitos da personalidade”69.

66

Collegiaeram corporações, isto é, associações de pessoas com um escopo comum, tais como de fins religiosos, corporações de artes e ofícios, sociedades com fins esportivos e com fins lucrativos. 67

Municipia,coloniaeoucivitateseram igualmente corporações de direito privado. Podiam ser proprietárias para adquirir bens por legado e fideicomisso, e em época tardia serem também instituídos herdeiros 68

Estes entes surgiram somente no período pós-clássico. 69

ZANNONI, Eduardo. El Daño en la Responsabilidad Civil, p. 287 a 288.

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5. Verificamos que o Código Civil de 2002 assinala, de modo

taxativo, em seu art. 52, que se aplica às pessoas jurídicas, no que couber, a

proteção dos direitos da personalidade. Assim, concluímos que a pessoa jurídica

pode sofrer danos morais, resultantes de violação aos seus direitos da

personalidade, consistentes na honra objetiva, na imagem, na intimidade, no sigilo,

na liberdade, na identidade e na invenção. Sua reparação poderá ser requerida com

base no art. 186 do Código Civil, que assevera cometer ato ilícito a pessoa que, por

ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano

a outrem, ainda que exclusivamente moral.

6. Assim, a pessoa jurídica pode sofrer dano moral decorrente da

violação do seu direito à honra objetiva e à sua imagem, na medida em que a sua

reputação, nome ou boa fama dentro do meio social se encontram prejudicados.

Essa violação poderá se verificar de várias maneiras, seja ela escrita, seja sonora ou

verbal.

7. A violação do direito à intimidade também poderá traduzir um

dano moral à pessoa jurídica, a qual possui a sua vida interna, que deverá ser

preservada, não podendo quem quer que seja devassar a sua privacidade.

8. Semelhante ao direito à intimidade, surge também o direito ao

sigilo. Esse direito diz respeito a notícias, informações ou dados sigilosos guardados

pela pessoa jurídica. Distingue-se o direito ao sigilo do direito à intimidade, uma vez

que, enquanto este se refere a fatos mais amplos da seara privada, considerando a

pessoa jurídica em sua vida interna, o direito ao segredo se encontra ligado a fatos

específicos, mantidos de maneira reservada, nos limites da pessoa jurídica, em

virtude de suas atividades. Sua violação traduzida, por exemplo, por uma divulgação

não autorizada do conteúdo de seus livros fiscais ou comerciais ou de seus

segredos industriais, poderá configurar um dano moral.

9. Assegura-se à pessoa jurídica outro direito da personalidade: o

relativo à sua liberdade. Nesse sentido, destacam-se a sua liberdade de associação

e a sua liberdade de exercício de atividades. No instante em que esse direito se

traduzir violado, indubitavelmente existirá dano moral.

10. A pessoa jurídica tem direito à sua identidade, compreendendo a

proteção ao nome, ao título de estabelecimento e ao signo figurativo. O seu uso

indevido ou não autorizado poderá provocar danos, inclusive na órbita moral.

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11. Ainda o Código da Propriedade Industrial (Lei n. 9.279, de 14-5-

1996), em seus arts. 88 e 91, preconiza o direito à invenção ou ao modelo de

utilidade decorrentes do contrato de trabalho, cuja violação dará ensejo a existência

de danos morais, cuja reparação poderá ser requerida, com base no disposto no art.

5º, X e XXIX, da Constituição Federal, e no art. 186 do Código Civil.

12. A jurisprudência brasileira ainda não se manifesta de maneira

inequívoca e unânime quanto ao reconhecimento da reparabilidade de danos morais

provocados em desfavor da pessoa jurídica. Há decisões que negam sua existência,

assim como outras em que seu reconhecimento se encontra ligado à necessidade

de ocorrência de danos patrimoniais. Mesmo assim, são uma realidade decisões

determinando a indenização por danos morais diretos, independentemente da

existência de danos patrimoniais. Essa tendência, por certo, terá maior progressão

nos próximos anos.

13. Não se reconhece direito à indenização por parte de entes

despersonalizados, porém isso não significa que seus integrantes ou associados

não possam obter a reparação dos danos morais sofridos por eles de modo

individual.

14. Por último, ao contrário do que ocorre nos Estados Unidos, onde

vige o entendimento de que a indenização por dano moral deva ter caráter punitivo

(punitivedamagesou exemplarydamages), no Brasil a indenização tem como base a

compensação e o desestímulo à repetição do evento lesivo, prevalecendo o sistema

aberto, atribuindo ao magistrado o poder discricionário, para estabelecer o quantum

indenizatório, de acordo com o seu discernimento e justo equilíbrio e critério.

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