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ESCOLA SUPERIOR DE GUERRA DEPARTAMENTO DE ESTUDOS CAEPE 2011 MONOGRAFIA (CAEPE) Escolha de Integrantes dos Tribunais Regionais pelo Presidente da República: extrapolação do sistema de checks and balances Código do Tema: 09/301 Juiz do Trabalho Adilson Maciel Dantas

DANTAS, Adilson Maciel. Escolha dos integrantes dos Tribunais

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ESCOLA SUPERIOR DE GUERRA

DEPARTAMENTO DE ESTUDOS CAEPE 2011

MONOGRAFIA (CAEPE)

Escolha de Integrantes dos Tribunais Regionais pelo Presidente da República: extrapolação do sistema de checks and balances

Código do Tema: 09/301

Juiz do Trabalho Adilson Maciel Dantas

ESCOLA SUPERIOR DE GUERRA ADILSON MACIEL DANTAS

ESCOLHA DE INTEGRANTES DOS TRIBUNAIS REGIONAIS PELO PRESIDENTE DA REPÚBLICA:

extrapolação do sistema de checks and balances

Rio de Janeiro 2011

ESCOLA SUPERIOR DE GUERRA ADILSON MACIEL DANTAS

ESCOLHA DE INTEGRANTES DOS TRIBUNAIS REGIONAIS PELO PRESIDENTE DA REPÚBLICA:

extrapolação do sistema de checks and balances

Trabalho de Conclusão de Curso – Monografia apresentada ao Departamento de Estudos da Escola Superior de Guerra como requisito à obtenção do diploma do Curso de Altos Estudos de Política e Estratégia. Orientador: Prof. Guilherme Sandoval.

Rio de Janeiro 2011

C2011 ESG Este trabalho, nos termos de legislação que resguarda os direitos autorais, é considerado propriedade da ESCOLA SUPERIOR DE GUERRA (ESG). É permitido a transcrição parcial de textos do trabalho, ou mencioná-los, para comentários e citações, desde que sem propósitos comerciais e que seja feita a referência bibliográfica completa. Os conceitos expressos neste trabalho são de responsabilidade do autor e não expressam qualquer orientação institucional da ESG _________________________________ Juiz do Trabalho Adilson Maciel Dantas

Biblioteca General Cordeiro de Farias Dantas, Adilson Maciel.

Escolha de Integrantes dos Tribunais Regionais pelo Presidente da República: extrapolação do sistema de checks and balances / Juiz do Trabalho Adilson Maciel Dantas - Rio de Janeiro: ESG, 2011.

53 f. Orientador: Prof. Guilherme Sandoval Trabalho de Conclusão de Curso – Monografia apresentada ao

Departamento de Estudos da Escola Superior de Guerra como requisito à obtenção do diploma do Curso de Altos Estudos de Política e Estratégia (CAEPE), 2011.

1. Política Judiciária. 2. Nomeação de Desembargadores. 3. Critério constitucional. 4. Independência dos Poderes. 5. Sistema de freios e contrapesos. 6. Desenvolvimento do país. I.Título.

A minha mulher Maria Dantas, fonte de

minha inspiração e energia de minha vida,

pelo incansável apoio e suporte em todos

os momentos.

A minha gratidão, pela paciência que

tiveram, aos meus amadíssimos filhos Lygia

e Vinícius, pelos inúmeros momentos em

que estive mais presente em suas memórias

do que sob seus olhos.

Aos meus pais, início de tudo, luzeiros de

minha jornada.

A Deus, Sabedoria e Misericórdia infinitas,

Alfa e Ômega.

AGRADECIMENTO

Aos palestrantes e conferencistas da melhor de todas as Escolas

fomentadoras do pensamento político e estratégico brasileiro, a Escola Superior de

Guerra.

Aos estagiários das duas melhores Turmas do CAEPE de todos os

tempos (Vontade Nacional – 2004 e Segurança e Desenvolvimento – 2011) pelo

convívio harmonioso de todas as horas e pelo privilégio e honra insuperável de tê-

los comigo ao longo das jornadas.

A Sua Excelência, General de Brigada Orlando, Diretor do CAEPE,

pela lhaneza de trato e pela dedicação ímpar aos altos interesses de nossa

inesquecível Escola.

“ O verdadeiro perigo não vem de fora: é um

lento esgotamento interno das consciências,

que as torna aquiescentes e resignadas; uma

crescente preguiça moral, que à solução

justa prefere cada vez mais a acomodadora,

porque não perturba o sossego e porque a

intransigência requer demasiada energia”.

PIERO CALAMANDREI

RESUMO

Esta monografia aborda a o sistema de nomeação de juízes dos Tribunais Regionais

do Trabalho e Tribunais Regionais Federais pelo Presidente da República,

consoante expressa a dicção Constitucional. O objetivo deste estudo é, a partir do

diagnóstico da situação dessa sistemática de nomeações, fornecer elementos que

sirvam para o aprimoramento do modelo até então vigente, na medida em que sua

manutenção tem gerado transtornos das mais diversas ordens na organização

interna dos Tribunais Regionais. A metodologia adotada comportou uma pesquisa

bibliográfica sobre os fundamentos da divisão da República na tripartição dos

Poderes, desde os fundamentos teóricos de Montesquieu se sobrepondo ao

absolutismo, com abordagem sobre o chamado sistema de freios e contrapesos

(checks and balances). No caso específico deste trabalho, pretende se demonstrar

que a obrigatoriedade de nomeação de juízes de carreira dos Tribunais Regionais

pelo Poder Executivo Federal gera indisfarçável turbação dessa independência e

tisna a harmonia que obrigatoriamente deve viger entre eles; para tanto, além das

formulações teóricas sobre o tema, busca-se demonstrar a plausibilidade da tese

com exemplos práticos que bem demonstram a necessidade de encontrar-se novo

caminho para o conserto dessa situação que muitas vezes beira à raia do esdrúxulo.

O campo de estudo delimitou-se ao Poder Judiciário Federal brasileiro, embora no

decorrer do trabalho outros modelos judiciários alienígenas tenham sido

mencionados. Discorre sobre a atual organização constitucional das nomeações

com o intuito de mostrá-las sob a ótica de suas diretrizes legais. Por último, analisa

criticamente a situação atual, destacando os pontos fracos do modelo e dos

transtornos que gera à própria independência do magistrado, além de buscar

demonstrar que a manutenção desse modelo gera transtornos ao próprio

desenvolvimento do país pela fragilidade imposta ao Poder Judiciário federal,

provocando seu descrédito junto aos jurisdicionados. A conclusão sugere a reforma

imediata do modelo constitucional até então vigente, formulando de uma proposta de

projeto de emenda constitucional capaz de atender às necessidades do próprio

Poder Judiciário Federal, servindo de alavanca para o desenvolvimento do país pela

impressão de um modelo eficaz de gestão pública.

Palavras chave: Política Judiciária. Nomeação de Desembargadores. Critério

constitucional. Independência dos Poderes. Sistema de freios e contrapesos.

Desenvolvimento do país.

ABSTRACT

This monograph discusses the system of appointing judges of the Regional Labor

Courts and the Federal Regional Courts by the President, pursuant to express

constitutional diction. The objective of this study is based on the diagnosis of the

situation of this system of appointments, provide elements that serve to improve the

model until then in effect, to the extent that their maintenance has generated orders

from various disorders in the internal organization of the Regional Courts. The

methodology involved a literature search on the foundations of the Republic in the

tripartite division of powers, since the theoretical foundations of Montesquieu

overlapping absolutism, with approach to the so-called system of checks and

balances (checks and balances). In the specific case of this work intends to

demonstrate that the mandatory appointment of career judges of regional courts by

the Federal Executive Branch that generates unmistakable disturbance soot

independence and the harmony that should necessarily be in effect between them,

for both, in addition to theoretical formulations about the theme, aims to show the

plausibility of the thesis with practical examples that clearly demonstrated the need to

meet new way to fix this situation that often borders on the whimsical streak. The

field narrowed to the Brazilian federal judiciary, though during the study other models

have been referred. Discusses the current constitutional arrangements of

appointments in order to show them the perspective of their legal guidelines. Finally,

critically analyzes the current situation, highlighting the weaknesses of the model and

the disturbances that generates the very independence of the magistrate, and seek

to demonstrate that the maintenance of this model generates disorders of the

developing country by the weakness imposed on the Federal Judiciary, causing their

disbelief at the courts. The conclusion suggests the immediate reform of the

constitutional model prevailed until then, formulating a project proposal for a

constitutional amendment can meet the needs of the Federal Judiciary, serving as a

lever for development of the country by the impression of an effective model of public

management.

Keywords: Judicial Policy. Appointment of justices. Constitutional criterion.

Separation of powers. System of checks and balances. Development of the country.

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO..................................................................................................9 2 DO PROBLEMA TRAZIDO À DISCUSSÃO: O DESEQUILÍBRIO DE

SISTEMA DE FREIOS E CONTRAPESOS PELA NOMEAÇÃO DE DESEMBARGADORES FEDERAIS PELO PRESIDENTE DA REPÚBLI CA ..13

3 BREVÍSSIMO BOSQUEJO HISTÓRICO DA NOMEAÇÃO DE JUÍZ ES

FEDERAIS NAS CONSTITUIÇÕES BRASILEIRAS ........................................16 4 O SISTEMA CONSTITUCIONAL DE ACESSO DE DESEMBARGAD ORES

AOS TRIBUNAIS REGIONAIS NO BRASIL ....................................................18 5 A INDEPENDÊNCIA DO JUIZ COMO FATOR PRIMORDIAL DE SUA

ATUAÇÃO E DE SUA CREDIBILIDADE INSTITUCIONAL ............................24 5.1 CASO CONCRETO: RECUSA DA PRESIDENTE DA REPÚBLICA EM

NOMEAR JUIZ INTEGRANTE DE LISTA TRÍPLICE PELA TERCEIRA VEZ CONSECUTIVA. EXCESSO DE ATUAÇÃO DO PODER EXECUTIVO...........33

6 DEMORA NA NOMEAÇÃO DE JUÍZES POR PARTE DO PRESIDE NTE DA

REPÚBLICA – MENOSCABO AO PRINCÍPIO DA EFICIÊNCIA E VIOLAÇÃO DA GARANTIA FUNDAMENTAL DE UM JULGAMENTO CÉLERE ...........................................................................................................36

7 O CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA ENQUANTO EXPRESSÃO D O

SISTEMA DE FREIOS E CONTRAPESOS ......................................................40 7.1 O PODER JUDICIÁRIO, O CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA E O

DESENVOLVIMENTO DO BRASIL ..................................................................43 8 CONCLUSÃO ...................................................................................................50 REFERÊNCIAS ................................................................................................52

9

1 INTRODUÇÃO

Com o passar da idade média e o alcance da chamada idade

contemporânea, os Estados passaram a reger-se por ideais mais iluminados de

atuação de seus entes internos, abrindo-se caminho para que uma divisão eficiente

das atividades estatais se sucedesse ao império absoluto do Rei, até então o chefe

de governo comum nas hostes ocidentais. Nessa época medieval, a movimentação

do Estado era feita de forma confusa, onde o soberano detinha, em última análise, o

controle absoluto sobre as atividades do legislativo, do executivo e do que se pode

afirmar ser o judiciário de então. Todas essas vertentes estatais estavam

subordinadas à vontade do Rei, que poderia ignorá-las ou desafirmá-las, conforme

melhor conviesse aos seus interesses, daí porque afirmar-se ser confuso o exercício

dos poderes amalgamados como estavam na figura do soberano.

Certamente inspirados nos ideais aristotélicos – e também de Heródoto e

Cícero – sobre a atividade estatal, eis que surge a teoria da necessidade de

separarem-se claramente os poderes estatais em executivo, legislativo e judiciário,

onde cada um pudesse exercer seus munus com a independência necessária para

que suas decisões finais não se quedassem submetidas ao tacão de uma única

pessoa que, por ser o chefe estatal, pudesse alterar essas decisões ao seu mero

talante.

Desnecessária aqui a abordagem da discussão doutrinária sobre as

verdadeiras origens dessa teoria tripartite de poder, por não fazer parte da

problemática trazida à análise, preferindo-se seguir a idéia predominante do papel

fundamental de MONTESQUIEU1 na sistematização de várias outras formulações

teóricas, dentre as quais a de John Locke, fonte inspiração do Barão, sem dúvida

alguma.

Por essa teoria montesquiana – ou pela sistematização das demais teorias

procedida por Montesquieu, como se queira – resta perfeitamente observado que

um Estado deve organizar-se de tal forma a permitir que seus cidadãos possam nele

divisar um ente confiável e ao mesmo tempo justo, exercendo suas atividades ínsitas

1 MONTESQUIEU, Charles Louis de Secont, Baron de. O Espírito das Leis: As formas de governo. A

Federação. A divisão dos poderes / Montesquieu; introdução, tradução e notas de Pedro Vieira Mota. 8ª Ed., São Paulo, Editora Saraiva, 2004. p. 73.

10

em respeito a balizas colocadas de forma a impedir que o ente estatal avance

demasiadamente sobre os direitos e garantias fundamentais (individuais e coletivas).

Dessa formulação é que nasce a idéia de tripartição do Estado em poderes,

sendo Legislativo o poder de editar os atos normativos de regência da vida em

sociedade, Executivo o poder de executar a aplicação dos éditos normativos com

vistas ao alcance dos objetivos societários e Judiciário o poder de dirimir os conflitos

nascidos nas relações estado-indivíduo e nas relações interpessoais, como sói

acontecer em todos os agrupamentos humanos.

Ao vislumbrar essa separação das atividades estatais e apontar que as

mesmas devem ser exercidas dentro de balizas normativas, onde a atividade e o

alcance de cada Poder restem perfeitamente identificados, outra idéia nasce dessa

formulação: é o direito de todo cidadão de não ser constrangido a praticar atos que a

lei não o obrigue ou mesmo de deixar de fazer aquilo que lhe permite o ordenamento

jurídico. Eis aí, de forma clara, a idéia do que hoje se chama Estado Democrático de

Direito, entre nós recepcionado nos artigos 2º e 5º, III, da Constituição da República

Federativa do Brasil.2

Em sua formulação teórica, Montesquieu buscava declinar de forma clara

cada atividade essencial do Estado e, ao mesmo tempo, estabelecer que essas

atividades deveriam estar regradas, contidas, afastando-se o Leviatã e abrindo-se

lugar à democracia. Para tanto, cada um desses enfeixamentos de poder estatal

controlaria a atividade dos demais, permitindo, dessa forma, a harmonização das

ações com vistas ao alcance do chamado Bem Comum. A esse controle

interdependente é que se conveio chamar de “sistema de freios e contrapesos”, ou

ainda “checks and balances”, como o trata a doutrina americana desde a publicação

da obra “O Federalista” (Federalist Papers), coletânea de oitenta e cinco artigos que

serviram de ratificação e suporte à elaboração da Constituição dos Estados Unidos

da América, sendo seus principais articulistas Alexander Hamilton, James Madison e

John Jay. Madison pregava de maneira clara que “as funções estatais deveriam

estar perfeitamente disciplinadas de forma a permitir que se conduzissem de forma

interdependente”, daí a expressão “checks and balances”, que pode ser livremente

traduzida para “checagens e ajustes” – freios e contrapesos, como nossa doutrina o

consagrou.

2 Constituição da República Federativa do Brasil, Brasil, Saraiva, 2010, 3ª Edição).

11

A doutrina americana, contudo, não representa qualquer novidade na análise

da teoria de Montesquieu. Ao contrário, apenas deu a ela nova roupagem, já que na

própria obra O Espírito das Leis3 o Barão reconhece que os Poderes estatais, pelas

suas atividades ínsitas, naturalmente tenderiam a originar impasses decorrentes de

suas ações, levando à inação do Estado, mas que, pelo movimento natural das

coisas, são compelidos a caminhar, havendo de encontrarem o concerto para seus

atos. Assim, equivocada é a noção de que os Poderes do Estado são divisíveis,

separáveis, até porque essa separação levaria à própria desintegração da noção de

Estado! É basilar, nesse sentido, a lição do saudoso jus-administrativista Hely Lopes

Meirelles4, para quem foi deturpado o pensamento montesquiano pelos que a ele

“impuseram” a separação e divisão de poderes como se estanques fossem.

O que caracteriza, portanto, essa “independência” entre os poderes

(expressão posta entre aspas por ser mera figura de retórica, visto que a relação é

de interdependência entre os poderes) é a garantia de cada um deles dispõe de

determinadas garantias para que cada um possa bem exercer seu papel de agente

controlador e ajustador das atividades dos demais, ou seja, cada poder possui

função própria que não pode ser exercida pelos demais segmentos estatais senão

em regime de entrelaçamento para o alcance dos objetivos comuns, nunca

segmentados, de cada um desses poderes. Tem-se, nessas hipóteses máximas,

uma atuação concorrente, mas através de funções próprias, específicas e exercidas

de maneira independente. Dentro desse sistema, por exemplo, é permitido ao

Executivo legislar editando medidas provisórias; ao Legislativo é permitido julgar

seus próprios integrantes nas infrações de ordem ética; ao Judiciário é permitir

legislar através da criação de Regimentos Internos de tribunais e Resoluções dos

Conselhos de Justiça, executando a aplicação dos preceitos ai contidos. O mesmo

se dá, ainda a guisa de exemplo, quando é constitucionalmente assegurado ao

Judiciário o direito de editar norma a fim de suprir a lacuna legal, como nos casos de

Mandado de Injunção.

Exatamente por conta dessa harmonia, desse mútuo controle e da

imprescindibilidade da coexistência dos três segmentos (legislativo, executivo e

judiciário) para a formação do Estado Democrático de Direito é que a doutrina

3 MONTESQUIEU, Charles Louis de Secont, Baron de. Op. Cit. p. 77. 4 MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro, São Paulo, Ed. Revista dos Tribunais, 5ª

edição, 1998. p. 36.

12

moderna se afasta da concepção de “poderes” do Estado para “funções” do Estado,

adequando o termo à ideia de entrelaçamento e interdependência de que já falava

Montesquieu. São todas partes essenciais de uma mesma estrutura, de um mesmo

organismo voltado ao atingimento de objetivos gerais, o aqui repetido Bem Comum.

Assim como os órgãos do corpo humano, que embora individualizados na estrutura

corpórea do indivíduo, trabalham em regime de interdependência para a

manutenção do máximo de qualidade de vida que lhes for permitido.

Como mera referência acadêmica, deve ser salientado que ao longo deste

estudo trataremos o Legislativo, o Executivo e o Judiciário ora sob o epíteto de

Poderes do Estado, outras vezes como meras “funções” de Estado, sem jamais

diminuir-lhes a importância, mas apenas para fins de atendimento parcial da

moderna doutrina administrativista.

13

2 DO PROBLEMA TRAZIDO À DISCUSSÃO: O DESEQUILÍBRIO DE SISTEMA DE FREIOS E CONTRAPESOS PELA NOMEAÇÃO DE DESEMBARGADORES FEDERAIS PELO PRESIDENTE DA REPÚBLI CA

A par da imperiosa e imprescindível interação entre as funções estatais

intrínsecas (Legislativo e Judiciário) como forma de, harmonicamente, produzirem

um resultado de largo e positivo espectro na sociedade, algumas situações

específicas na materialização dessa proposição têm se mostrado como verdadeiros

aleijões na dinâmica sócio-estrutural, gerando problemas das mais diversas ordens.

Um deles é exatamente a que este estudo pretende demonstrar, qual seja, a

nomeação de Desembargadores (rectius: juízes) dos Tribunais Regionais do

Trabalho e dos Tribunais Regionais Federais por parte do Presidente da República

como nota dissonante dessa complexa sinfonia de interação entre os poderes

estatais.

Não se desconhece que a teoria de checks and balances não importa na

atuação conjunta dos três poderes estatais, ou seja, para que a teoria montesquiana

se materialize não é necessário que os três instrumentos (os poderes, in casu) da

cena estatal estejam simultaneamente presentes para que se produza a nota

harmônica de há muito preconizada.

No entanto, a peculiar situação brasileira de nomeação de Juízes

(“Desembargadores”) dos Tribunais Regionais (do Trabalho e Federais) por Sua

Excelência, o Primeiro mandatário da República, em muito extrapola o sistema de

equilíbrio entre os poderes Judiciário e Executivo na medida em que além de

implicar indevida intromissão na estrutura basilar daquele primeiro Poder pelo

segundo, gera também uma verdadeira romaria de magistrados aos gabinetes de

integrantes do Poder Legislativo (Federal, Estadual e até Municipal) em troca de

apoio político para a consecução de algo que deveria ser deveras ordinário na

carreira do magistrado, que é a sua promoção.

Tudo isso porque o atual sistema brasileiro retira do Poder Judiciário Federal

a possibilidade de escolha de seus próprios integrantes de segundo grau, limitando-

se aos processos seletivos de Juízes Substitutos através de concurso público de

provas e títulos. E essa deformidade, inegavelmente, produz fissuras no sentimento

objetivo de imparcialidade de que deve estar revestido o Juiz diante da comunidade,

seja ela a comunidade jurídica, seja ela a comunidade leiga.

14

No primeiro sentido do que afirmamos, convém lembrar aquilo que já

afirmamos na nota introdutória deste trabalho: um Estado deve organizar-se de tal

forma a permitir que seus cidadãos possam nele divisar um ente confiável e ao

mesmo tempo justo, exercendo suas atividades ínsitas em respeito a balizas

colocadas de forma a impedir que o ente estatal (em suas derivações, em suas

expressões de poder) avance demasiadamente sobre os direitos e garantias

fundamentais (individuais e coletivas), inclusive as garantias de ordem estritamente

ligadas a agentes políticos exercentes das próprias funções estatais.

Ora, as carreiras de Estado – sobremodo as carreiras ligadas ao Poder

Judiciário – são pautadas pela existência de critérios objetivos que visam imprimir

profunda transparência nos atos consecutórios da promoção de um juiz de um

patamar para outro, ainda que dentro da mesma instância (como só ocorrer nas

promoções de juízes substitutos para juízes titulares). Nesse sentido a Resolução

106//2010 do Conselho Nacional de Justiça5 que estabelece critérios objetivos para

a composição de listas tríplices à promoção e acesso de juízes (aqui englobados os

federais comuns, os federais do trabalho e os estaduais). Tanto o alcançar do cargo

de titular quanto o acesso ao segundo grau de jurisdição estão profundamente

marcados pela existência de critérios objetivos, segundo a norma advinda do

Conselho Nacional de Justiça.

Releva notar, ainda nesse sentido, que a própria composição do Conselho

Nacional de Justiça é, ela própria, uma forma materializada do sistema de freios e

contrapesos. Mesmo em se tratando de órgão integrante da estrutura do Poder

Judiciário, ex vi do artigo 92, I-A da Constituição Federal, estando em patamar

inferior apenas ao Supremo Tribunal Federal, tem esse órgão sua composição

marcada pela heterogeneidade representativa de seus membros, dele participando

integrantes do próprio Poder Judiciário de todas as instâncias (primeira, segunda,

especial e Supremo Tribunal Federal), representantes da advocacia, do Ministério

Público, indicados pelo Poder Executivo e indicados pelo Poder Legislativo. Nada

mais plural e multifacetado que tal órgão, portanto, que expressa de maneira ímpar a

teoria de controle de um ente (poder) estatal pelos demais, o que implica na ampla

desnecessidade da intervenção do Presidente da República na nomeação de

membros dos Tribunais Regionais.

5 BRASIL. Conselho Nacional de Justiça. Resolução nº 106, de 06 de abril de 2010.

15

Sendo as nomeações fundadas nos critérios de antiguidade e merecimento,

nenhum problema de grande relevo se vê no ato praticado pelo Presidente da

República em relação aos juízes indicados pelo primeiro critério (antiguidade), pois

que aí se tem mero ato administrativo complexo, com a participação vinculada do

primeiro mandatário ao indicado pelo respectivo Tribunal de origem, ainda que se

possa afirmar que a demora na expedição dos atos nomeatórios, em algumas

situações, gera transtornos significativos à boa ordem dos julgamentos.

A problemática maior se verifica – e que constitui objeto deste trabalho – na

nomeação dos juízes integrantes de listas tríplices encaminhadas à Presidência da

República para nomeação pelo critério de merecimento, o que tem causado

transtornos de diversas ordens, aí incluída a própria demora na escolha do que recai

que nas graças do poder político. Isso sem se falar, repita-se, no perigoso

comprometimento da imparcialidade do Juiz a se ver “refém” de um sistema político

que não prima pela meritocracia (os escândalos diários de nomeações calcadas em

questões subjetivas comprovam a afirmação), mas pelo apadrinhamento muitas

vezes além do admissível. Nesse sentido, a quebra dos cânones éticos que devem

reger a magistratura é de significativa importância para que bem se possa

compreender a dimensão do problema enfrentado pela prática constitucional até

aqui vigente, deturpada pela própria deformidade do modelo de condução política de

nosso país.

Eis aqui a temática sobre a qual este trabalho se propõe a debruçar, ainda

que de forma não exaustiva.

16

3 BREVÍSSIMO BOSQUEJO HISTÓRICO DA NOMEAÇÃO DE JUÍZ ES FEDERAIS NAS CONSTITUIÇÕES BRASILEIRAS

Na história constitucional brasileira, sempre esteve presente a figura do

Mandatário Maior do país a nomear os juízes federais para ocuparem cargos em

seus respectivos Tribunais.

Sem nenhuma pretensão de se traçar um panorama completo da

historicidade dessa participação, tem-se por evidente que a figuração do Primeiro

Mandatário sempre esteve presente por homenagem do legislador brasileiro ao

sistema de tripartição de poderes sistematizado por MONTESQUIEU.6

Na época do Império Brasileiro, em que eram quatro os Poderes do Estado

(aos três tradicionais somava-se o Poder Moderador, exclusivo e arbitrário do

Imperador), tem-se desde então a afirmação de independência dos Magistrados,

sendo certo que tal independência era de grau relativo, na medida em que os juízes

– ainda que gozassem da garantia de perpetuidade de seus cargos (hodiernamente

chamada de vitaliciedade), poderiam ter seus direitos removidos ou suspensos por

ordem do Imperador. Naquela época, o Poder Judiciário era de tal forma

enclausurado nas mãos do regente que a ele cumpria nomear, dentre os cidadãos

habilitados para tanto (portadores de conhecimento jurídico), todos os magistrados.

Não havia, portanto, o acesso concursal à Magistratura.

É somente com o advento da República que se instala no país uma

“dualidade” relativa no Poder Judiciário, passando a coexistirem a justiça estadual e

a federal. Essa dualidade, como destacado, é apenas relativa, na medida em que o

exercício do Poder Judiciário, da função judicante, não guarda relação de vínculo

com os municípios, estados-membros ou com a União, sendo, em verdade, um

Poder Nacional. A indivisibilidade do Judiciário é sua marca mais profunda mesmo

antes da instalação da República, já que una é a legislação fundante das relações

intrassocietárias.

Deve ser ressaltado, no entanto, que com o surgimento da República abre-

se uma divisão meramente competencial no Poder Judiciário, sendo claramente

distinguíveis a justiça estadual e a justiça federal. No caso da primeira, os juízes

eram nomeados pelo Governador dos estados-membros dentre os cidadãos de

6 MONTESQUIEU, Charles Louis de Secont, Baron de. Op. Cit.

17

ilibada reputação, enquanto que na segunda incumbia ao Presidente da República

designar aqueles que exerceriam o nobre mister da Magistratura.7

Essa “dualidade”, como se disse, é aparente: ainda que divisíveis os ramos

competenciais do Poder Judiciário, inegável é constatar-se sua unidade processual

e procedimental, tudo com vistas à garantia dos direitos, deveres e prerrogativas

necessárias ao Estado Federal, ou seja, em homenagem à própria federação.

No exame das Constituições que se sucederam à do Império, a figura do

Primeiro Mandatário sempre esteve presente nas nomeações dos juízes integrantes

da segunda instância da estrutura federal do Poder Judiciário. Assim foi nas

Constituições de 1891, 1934, 1937, 1946 (quando a Justiça do Trabalho passou

oficialmente a integrar o Poder Judiciário), 1967, 1969 e 1988. Há quem afirme que

o Brasil marchou, nesse rumo, para uma federalização mitigada da Justiça8. A

crítica, com a devida venia, não se sustenta, na medida em que a universalidade da

federação se consubstancia não pelas normas de competências divididas dos entes

federativos, mas pela universalidade das formas e procedimentos do contencioso

judicial.

7 ARRUDA, Antônio. A estrutura Judiciária do Brasil. Rio de Janeiro, ESG, 1969, p. 38. 8 ROMANO, Rafael. Instituições Políticas e o Poder Judiciário na Democracia Brasileira. Rio de

Janeiro, ESG, 1998. p. 69.

18

4 O SISTEMA CONSTITUCIONAL DE ACESSO DE DESEMBARGAD ORES AOS TRIBUNAIS REGIONAIS NO BRASIL

De início, antes mesmo de apontar-se a dogmática constitucional acerca do

acesso dos juízes de primeiro grau aos Tribunais Regionais do Trabalho e Tribunais

Regionais Federais, cumpre aqui desde logo apresentar uma crítica à nomenclatura

utilizada neste capítulo deste trabalho quanto aos ocupantes de cargo de

magistratura de segundo grau de jurisdição, a quem rotulamos de Desembargadores

por uma mera questão de contextualização geral.

Tal crítica não tem outro objetivo senão o de chamar a atenção a uma

impropriedade de ordem constitucional que vem sendo perpetrada Brasil afora, com

honrosas exceções, quando se refere aos integrantes da carreira judiciária que

ascendem aos Tribunais Federais, sejam os do Trabalho, sejam os Federais. Assim,

os integrantes do segundo grau de jurisdição desses indigitados Tribunais Regionais

vêm sendo chamados com cada vez mais ênfase de “Desembargadores”, cargo

esse inexistente na estrutura organizacional de ditas Cortes.

Com efeito, somente os integrantes dos Tribunais de Justiça dos Estados -

Membros da Federação detêm, verdadeiramente, o título de Desembargadores,

nomenclatura essa que data desde mesmo da época do Império (quando ainda

sequer estávamos divididos na atual estrutural tripartite de poderes), sendo assim

chamados os emissário de El-Rei que tinham por incumbência resolver as

pendengas aduaneiras e desembargar o processo de bloqueio das mercadorias que

haviam sido trazidas de outros portos. Daí ter-se aproveitado, com o surgimento da

República, do termo “Desembargador” para aqueles que, em dicção próxima do final

(somente abaixo de El-Rei, no caso, o Supremo Tribunal Federal, vivendo a nação já

sob o pálio da formulação Monstequiana) desembargavam os óbices estatais e

punham fim às contendas nascidas da simples vivência em sociedade.

Com a edição da Lei Complementar 35, de 14 de março de 1979 (também

conhecida como LOMAN – Lei Orgânica da Magistratura), o termo “Desembargador”

mereceu ratificação em diversos de seus dispositvos atinentes à Judicatura nos

Tribunais de Justiça dos Estados, como, por exemplo, os artigos 16, parágrafo único;

artigo 22, I, “e”; artigo 63; et cetera.

No caso dos integrantes dos Tribunais Regionais (Federais e do Trabalho),

no entanto, a nomenclatura “Desembargador” representa, com as devidas venias,

19

verdadeira excrescência jurídica que, pela repetição, está tomando ares de verdade,

numa trágica repetição da máxima goebbeliana.

Com efeito, relativamente aos Tribunais Regionais Federais, sua

composição repousa na dicção do artigo 107 da Constituição Federal da República

do Brasil:

Art. 107. Os Tribunais Regionais Federais compõem-se de, no mínimo, sete juízes , recrutados, quando possível, na respectiva região e nomeados pelo Presidente da República dentre brasileiros com mais de trinta e menos de sessenta e cinco anos, sendo:

Já em relação aos Tribunais Regionais do Trabalho, assim afirma o artigo

111-A, inciso II do texto Magno (destaques meus):

Art. 111 - A. O Tribunal Superior do Trabalho compor-se-á de vinte e sete Ministros, escolhidos dentre brasileiros com mais de trinta e cinco e menos de sessenta e cinco anos, nomeados pelo Presidente da República após aprovação pela maioria absoluta do Senado Federal, sendo:

..........................................................................................................................

II os demais dentre juízes dos Tribunais Regionais do Trabalho, oriundos da magistratura da carreira, indicados pelo próprio Tribunal Superior.

E completa o artigo 115 da mesma Constituição (destaques meus):

Art. 115. Os Tribunais Regionais do Trabalho compõem-se de, no mínimo, sete juízes , recrutados, quando possível, na respectiva região, e nomeados pelo Presidente da República dentre brasileiros com mais de trinta e menos de sessenta e cinco anos, sendo:

Assim, a toda vista, a nomenclatura “Desembargador” utilizada para os

integrantes dos Tribunais Regionais Federais e Tribunais Regionais do Trabalho se

encontra inapelavelmente dissociada do texto constitucional, se consubstanciando

em uma alteração abusiva, inconstitucional e de conteúdo meramente fútil (pela

vaidade nele encerrada) que não encontra guarida no seio da letra Magna, tanto

assim que a mudança na nomenclatura se deu apenas por obra e graça dos próprios

Tribunais Regionais, através de alteração de ordem Regimental. O mais estranho é

notar que operadores do Direito ignoram que nenhuma edição normativa pode

superar a norma constitucional, principalmente um regimento de um tribunal, que se

destina a assuntos de ordem meramente internas.

20

Ultrapassada essa questão – que nem de longe se configura de somenos

importância porque o desrespeito ao texto constitucional está na raiz da imensa

maioria dos problemas atravessados pelo país – é curial destacar que os critérios de

nomeação dos integrantes dos Tribunais Regionais de que ora falamos já se

encontram nas transcrições dos dispositivos constitucionais feitas ao norte, apenas

devendo transpor-se o destaque para o termo “juízes” para a parte do caput dos

respectivos dispositivos que afirmam ser do Presidente da República a tarefa de

nomeação dos novos juízes de tais Tribunais. Remete-se, portanto, o leitor aos

dispositivos constitucionais sem a nova transcrição como forma de não se incorrer

em bis in idem.

Nesse diapasão, traz-se aqui a dicção da Lei Orgânica da Magistratura –

LOMAN9 que disciplina sobre a participação do Presidente da República na tarefa de

nomeação dos novos juízes dos Tribunais Regionais (Federais e do Trabalho). São

eles:

Art. 80 - A lei regulará o processo de promoção, prescrevendo a observância dos critérios ele antigüidade e de merecimento, alternadamente, e o da indicação dos candidatos à promoção por merecimento, em lista tríplice, sempre que possível.

Art. 84 - O acesso de Juízes Federais ao Tribunal Federal de Recursos far-se-á por escolha do Presidente da República dentre os indicados em lista tríplice, elaborada pelo Tribunal.

Art. 86 - O acesso dos Juízes do Trabalho President es de Juntas de Conciliação e Julgamento ao Tribunal Regional do Tr abalho, e dos Juízes do Trabalho substitutos àqueles cargos, far- se-á, alternadamente, por antigüidade e por merecimento, este através de lista tríplice votada por Juízes vitalícios do Trib unal e encaminhada ao Presidente da República.

Pelo exposto, cumpre destacar que a redação da Lei Orgânica da

Magistratura está em desalinho com a nova dicção Constitucional, posto que não

mais existe em nosso ordenamento o Tribunal Federal de Recursos (que deu origem

ao Superior Tribunal de Justiça e aos Tribunais Regionais Federais) e nem

tampouco existe hoje a figura do Juiz Presidente de Junta de Conciliação e

Julgamento, já que a jurisdição de primeiro grau tornou-se monocrática pela extinção

dos chamados juízes classistas através da Emenda Constitucional 24/1999.

Tem-se, pois, que os integrantes da magistratura de primeiro grau da Justiça

do Trabalho e da Justiça Federal guardam perfeita similitude na forma de acesso ao 9 (BRASIL. Lei Orgânica da Magistratura – LOMAN. Lei Complementar 35, de 14 de março de 1979),

21

Tribunal, qual seja, ou são promovidos mediante antiguidade (e aí registre-se a

possibilidade de somente o Tribunal de origem do magistrado recusar essa

antiguidade por voto da maioria de seus membros efetivos) ou por merecimento,

nesse caso compondo-se lista tríplice dentre os integrantes da quinta parte mais

antiga e encaminhando-se tal lista ao crivo do Presidente da República, que pode

livremente nomear qualquer um de seus integrantes. Não faz parte deste estudo o

acesso pela via de antiguidade.

É exatamente aí que reside o foco principal de nossa abordagem, seguindo

o raciocínio adiante exposto iniciando pela justificativa dessa sistemática à luz do

sistema tripartite de poderes.

Em uma leitura romântica da necessidade de participação do Presidente na

nomeação dos integrantes dos Tribunais Regionais Federais e do Trabalho, poder-

se-ia afirmar, sem muito esforço, que isso corresponderia à concretização do

sistema de freios e contrapesos sobre o qual já abordamos em capítulos ao norte. A

interação do Poder Executivo nessas nomeações serviria de ponto equilíbrio a não

permitir que o Judiciário se agigantasse ao ponto de tornar-se um poder maior que

os demais, uma espécie de Leviatã moderno.

No entanto, da mesma forma que a ciência econômica afirma e prova que

não existe almoço grátis, também a vivência do Direito tem demonstrado aos seus

operadores os efeitos desastrosos dessa ingerência externa na carreira do Poder

Judiciário federal.

Consoante dissemos alhures, os Tribunais Regionais, ao terem vago um

cargo de juiz no âmbito da Corte, promovem a abertura de processo interno através

de circulação de edital comunicando a abertura de inscrições ao preenchimento

dessa vaga. Todo e qualquer juiz de primeiro que detenha a condição de titular pode

concorrer a esse processo, sendo certo que somente são passíveis de escolha os

integrantes da primeira quinta parte mais antiga, salvo situações excepcionais como

quinta parte inferior a três, recusa dos mais antigos na participação do certame et

cetera.

Concluído o prazo de inscrições, é feito um completo levantamento de todos

os inscritos no que diz respeito a itens como produtividade, presteza na atividade

jurisdicional, inexistência de punições desabilitantes à concorrência, tudo com

22

fundamento na Resolução 106/2010 do Conselho Nacional de Justiça que, por sua

vez, tem lastro no artigo 93, II, “c”, da Constituição Federal.10

Feito esse levantamento, é ele distribuído entre os integrantes efetivos dos

Tribunais para que bem possa conhecer os nomes dos concorrentes e seus perfis de

atuação na atividade judicante de primeiro grau. Com isso, é designada sessão

específica do Tribunal Pleno para a escolha dos que integrarão uma lista tríplice.

Tal sessão é pública, assim como público e fundamentado deve ser o voto

de cada julgador de segundo grau na escolha dos seus preferidos à composição da

lista tríplice. Registre-se, por necessário, que o termo “preferido” deve ser

interpretado à luz da mesma Resolução 106/CNJ que trata de critérios objetivos para

a escolha dos integrantes da lista tríplice, buscando evitar votos que apenas revelem

preferências de ordem íntima como amizade, compadrio et cetera. Do mesmo modo,

a objetividade e a publicidade da escolha também diminuem – embora não

consigam evitar na totalidade – os votos diminutivos do mérito do Magistrado por

conta de desafetos por vezes feitos durante a carreira, notadamente quando se

contrariam interesses escusos ou pouco ortodoxos.

Homologada a lista tríplice, então, é ela encaminhada ao Tribunal Superior

equivalente ao Tribunal Regional (no caso dos Tribunais Regionais do Trabalho, o

Tribunal Superior do Trabalho; no caso dos Tribunais Regionais Federais, o Superior

Tribunal de Justiça), que encaminha a lista ao Ministério da Justiça e este a

reencaminha à Casa Civil da Presidência da República, de onde se originará o

decreto de nomeação do novo integrante do respectivo Tribunal Regional.

Como já se disse anteriormente, pode até ser feita uma leitura romântica e

apaixonada desse sistema à luz da formulação montesquiana.

No entanto, o que mais se tem visto é uma corrida desenfreada de juízes

que integram tais listas aos gabinetes de Deputados Federais, Senadores, Ministros

da República, presidentes de partidos políticos, enfim, qualquer pessoa de alto

coturno que possa, de uma maneira ou de outra, influenciar na escolha do nome

daquele que, com um currículo vital em mãos, corre para pedir as bênçãos de um

outro agente político (do Legislativo ou do Executivo) para ascender de nível em sua

carreira. Um ato que deveria ocorrer por simples consequência da carreira da

magistratura, portanto, fica nas mãos de um agente político, sem que seja

10 BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil, op. cit.

23

necessário aqui abordar-se sobre o funcionamento e os meandros da máquina

política em nosso país, já que os escândalos diários envolvendo políticos e afilhados

políticos falam de maneira deveras eloquente em direção ao silêncio que ora nos

propomos.

24

5 A INDEPENDÊNCIA DO JUIZ COMO FATOR PRIMORDIAL DE SUA ATUAÇÃO E DE SUA CREDIBILIDADE INSTITUCIONAL

Como Poder de Estado que é, goza o Judiciário de certas prerrogativas

indispensáveis ao seu bom funcionamento.

O artigo 99 da Constituição Federal, a guisa de exemplo, afirma que ao

Poder Judiciário é assegurada autonomia administrativa e financeira. Nesse último

aspecto, é evidente que essa “autonomia” deve ser largamente relativizada,

conquanto não se conceda cheque em branco ao Judiciário para elaborar sua

proposta orçamentária e gastar além dos limites impostos pelos incisos do mesmo

artigo 99 da Constituição Federal.

Aos juízes, enquanto exercentes do papel de agentes políticos do Estado,

também são asseguradas condições especiais inerentes à função – e nunca à

pessoa do Magistrado.

Giza a Constituição Federal nesse particular:

Art. 95. Os juízes gozam das seguintes garantias:

I - vitaliciedade, que, no primeiro grau, só será adquirida após dois anos de exercício, dependendo a perda do cargo, nesse período, de deliberação do tribunal a que o juiz estiver vinculado, e, nos demais casos, de sentença judicial transitada em julgado;

II - inamovibilidade, salvo por motivo de interesse público, na forma do art. 93, VIII;

III - irredutibilidade de vencimentos, observado, quanto à remuneração, o que dispõem os arts. 37, XI, 150, II, 153, III, e 153, § 2º, I.

III - irredutibilidade de subsídio, ressalvado o disposto nos arts. 37, X e XI, 39, § 4º, 150, II, 153, III, e 153, § 2º, I.

Repita-se aqui serem essas garantias voltadas ao exercício da Magistratura,

e não especificamente ao Magistrado. São proteções constitucionalmente

asseguradas para que o exercício da função judicante possa ser desempenhado

sem peias e sem a possibilidade de intervenção de ações de terceiros (dotados de

poder político e/ou de forte porte econômico).

A inexistência da garantia da vitaliciedade, por exemplo, seria uma

oportunidade a ser explorada por todo aquele ente (público ou particular) poderoso

que se visse contrariado por uma sentença ou um acórdão desfavorável. Aliás, não

raramente se ouvem afirmativas raivosas quando de sentenças contrárias a interesses

poderosos, geralmente atribuindo-se ao prolator da decisão o epíteto de “juizinho”.

25

Nesses casos, sem dúvidas que se o digno proferidor de palavras tais pudesse

exercer seu poder político e/ou econômico para demitir aquele “juizinho”, certamente o

faria. A consequência natural é que o Poder Judiciário seria ocupado por juízes

medrosos, tíbios, curvados ao poder econômico/social pela necessidade de

manutenção de seus “empregos”. Não é a vitaliciedade, portanto, uma garantia do

Magistrado; ela é uma garantia da Magistratura que se reveste de longuíssimo

alcance social, pois que permite aos ocupantes do Judiciário exercerem suas funções

sem estarem preocupados com possíveis vinditas dos que foram contrariados.

Mas nem só de prerrogativas se ocupa a Constituição Federal.

O mesmo artigo 95 assim disciplina:

Art. 95....................

Parágrafo único. Aos juízes é vedado:

I - exercer, ainda que em disponibilidade, outro cargo ou função, salvo uma de magistério;

II - receber, a qualquer título ou pretexto, custas ou participação em processo;

III - dedicar-se à atividade político-partidária.

IV - receber, a qualquer título ou pretexto, auxílios ou contribuições de pessoas físicas, entidades públicas ou privadas, ressalvadas as exceções previstas em lei; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)

V - exercer a advocacia no juízo ou tribunal do qual se afastou, antes de decorridos três anos do afastamento do cargo por aposentadoria ou exoneração. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)

As vedações de ordem funcional também são instrumentos de proteção da

Magistratura, muitas vezes contra o próprio Magistrado. Isso porque o exercício de

tal mister deve ser encarado como de natureza especialíssima, diferente das

funções legislativas e executivas. O Judiciário não é um Poder melhor que os

demais, mas, estreme de dúvidas, é diferenciado, seja pelo afastamento de seus

membros de atividades que possam prejudicar o andamento de seus trabalhos, seja

porque suas decisões têm por objetivo maior pacificar os conflitos interpessoais

nascidos da vida em sociedade, muitas vezes dando à lei a dimensão social que

nem sempre se encontra estampada de forma clara no texto legal.

E como pensar em exercício da atividade judicante sem independência, sem

a garantia da imparcialidade dos julgamentos? O comprometimento da

independência do Magistrado também abala o seu dever de imparcialidade, gerando

descrédito do Magistrado e da Magistratura perante a sociedade.

26

A função precípua do Juiz é dizer o que é verdadeiro e o que é falso, o que

está certo e o que está errado, o que deve e o que não deve ser juridicamente

valorado, o que está e o que não está conforme a lei e ao direito, o que é justo e o

que é injusto. E esta função não se compadece com a vontade da maioria seja ela

qual for, diferentemente de atos emanados dos Poderes legislativo e Executivo, por

exemplo, onde muitas vezes o clamor popular é o combustível a alimentar a edição

do ato normativo ou da conduta executiva. A atividade jurisdicional é a única cujos

atos normativos têm por fundamento a verdade (processual, evidentemente, mas a

verdade: A fez isto e B aquilo, cuja consequência de direito é esta e não aquela). O

poder judicial é, pois, o único poder onde a verdade, e não a autoridade, determina a

sua decisão (veritas et non auctoritas fecit ius). Daí que a sua legitimação deva ser

democraticamente diferente da dos demais poderes políticos, cujos atos são de

autoridade.

A imparcialidade constitui uma característica própria (e uma obrigação

deontológica) do Juiz face às partes de um dado processo. A legitimidade do Juiz

reside, precisamente, no fato da sua sujeição, apenas, à lei e esta só é conseguida

se aquele detiver uma posição estranha (externa, alheia) quer em relação aos

sujeitos da causa, quer em relação ao poder político. Estranha quer em relação aos

interesses particulares de uns, quer em relação ao interesse geral do outro. Ser

imparcial é não estar comprometido com as partes. Imparcial é o que não tem par.

Que está fora das partes. Por isso, não tem que ser um sujeito representativo (não

faz justiça em representação de ninguém) uma vez que nenhum interesse ou

vontade, que não seja o da tutela dos direitos subjetivos lesados, deve condicionar a

sua decisão, nem sequer o interesse da maioria constitui fundamento de decisão.

São muitos os exemplos de decisões tomadas por juízes em direção contrária ao

clamor popular, aos ataques da mídia ou quaisquer outros fatores, sendo certo que o

dever constitucional de fundamentar as decisões e seu livre direito de fazê-lo devem

ser os únicos nortes do Magistrado. A esse nível somente se chega com isenção na

tarefa de julgar, por óbvio.

A isenção, que tem uma dupla vinculação à lei e ao sentido de Justiça do

Magistrado, pressupõe a imparcialidade deste, assegurada por uma independência

armada de todas as garantias necessárias à sua concretização. A independência

não é um atributo do ato decisório do Juiz, constitui um complexo conjunto de meios

legais (estatutários, processuais), técnicos, logísticos, organizacionais que operam

27

antes, durante e depois da decisão judicial. O Juiz tem (sob pena de denegação de

justiça) o dever de ser isento e imparcial e o Estado o dever de proporcionar

(também sob pena de denegação de justiça) àquele e ao sistema em geral todas as

garantias de independência.

No entanto, torna-se complexa a tarefa de imaginar-se a imparcialidade e a

isenção do Magistrado integrante de um Tribunal Regional diante da constatação de

que sua nomeação estará sujeita a um ato do Presidente da República – que em

quase cem por cento dos casos nunca antes ouviu sequer falar daquele Magistrado

ou dos que com ele integraram a lista tríplice.

Só para se ter um exemplo do que falamos, cinco são os Tribunais

Regionais Federais. O da Primeira Região possui vinte e sete (27)

“desembargadores” (juízes, in factum); o da Segunda Região, vinte e quatro (24); o

da Terceira Região, quarenta (40); o da Quarta Região, trinta e um (31); o da Quinta

Região, quinze (15).11 Ora, cada “Desembargador” desses participou de uma lista

tríplice para lograr ser nomeado, ou seja, competiu com mais dois outros. Somados

os números totais, tem-se cento e trinta e sete (137) magistrados nomeados em um

universo de quatrocentos e onze (411) originalmente “competindo”.

No caso dos Tribunais Regionais do Trabalho (TRT), os números são ainda

mais impactantes, na medida em que são vinte e quatro esses Tribunais.

Eis o número de juízes de segundo grau de cada um dos Tribunais

Regionais do Trabalho, conforme suas respectivas competências geográficas:

1ª Região: cinquenta e quatro (43)

2ª Região: noventa e quatro (94)

3ª Região: trinta e quatro (34)

4ª Região: quarenta e oito (48)

5ª Região: vinte e nove (29)

6ª Região: dezoito (18)

7ª Região: catorze (14)

8ª Região: vinte e três (23)

9ª Região: vinte e oito (28)

10ª Região: dezessete (17)

11 Dados extraídos dos sítios dos respectivos Tribunais regionais Federais na internet.

28

11ª Região: quatorze (14)

12ª Região: dezessete (17)

13ª Região: dez (10)

14ª Região: oito (08)

15ª Região: cinquenta e cinco (55)

16ª Região: oito (08)

17ª Região: doze (12)

18ª Região: doze (12)

19ª Região: oito (08)

20ª Região: oito (08)

21ª Região: oito (08)

22ª Região: oito (08)

23ª Região: oito (08)

24 Região: oito (08)12

Mais uma vez, a conta espanta: são um total de quinhentos e quarenta e três

(543) juízes que competiram com outros dois, totalizando um mil, seiscentos e vinte

e nove (1.629) “competidores”.

E esses números todos foram submetidos a um ou a mais de um Presidente

da República ao longo dos anos e envolvendo cidadãos de todos os recantos do

país, do Caburaí ao Chuí.

Acolhidas as exceções que sempre ajudam a confirmar as regras, é evidente

que os nomeados jamais sequer chegaram perto do Presidente da República ou o

contrário, indo exercer suas jurisdições nos locais que lhes competem. Dessa forma,

claro fica que a nomeação se afasta por completo dos aspectos técnicos que

conduzem à formação das listas tríplices (aspectos técnicos esses que ainda são

falhos, porque vagos e imprecisos) e descamba em uma competição de prestígio

político do Magistrado para que venha alcançar a sua nomeação.

Ao longo dos vinte e três anos de carreira do autor no Tribunal Regional do

Trabalho da 11ª Região, nenhum dos processos nomeatórios de juízes de segunda

instância foi diferente da realidade dos demais TRTs do país: colegas juízes

entregando currículos para Deputados, Senadores, assessores, conhecidos,

12 Dados extraídos dos sítios dos respectivos Tribunais Regionais do Trabalho na internet.

29

empresários, advogados, enfim, quaisquer pessoas que possam interferir no

processo de bendição do interessado pelo Presidente da República.

Essa prática, conforme já se asseverou em muitas linhas ao norte, tisna a

independência do Magistrado. Como poderá ele se sentir á vontade para julgar

causas envolvendo interesses de agentes políticos que o conduziram ao cargo de

juiz de segunda instância? Ainda que seja possível ao Magistrado declarar-se

suspeito por motivo de foro íntimo e com isso distanciar-se do julgamento de uma

causa (ex vi do artigo 135, parágrafo único, do Código de Processo Civil), essa

própria declaração de suspeição gera mal estar no Magistrado e certamente pode

desencadear ressentimentos e dissabores nos que o apoiaram “politicamente”.

Possível é, ainda, que o Magistrado sequer consiga livrar-se da amarra política e da

cobrança que lhe será feita, mais cedo ou mais tarde, por conta de uma bem

sucedida estratégia politiqueira de nomeação.

Tal sistema nem de longe se constitui exercício de política. A realidade tem

demonstrado que se trata de politicagem, com acertos de bastidores, redes de

intrigas, estratégias de diminuição dos méritos dos demais competidores, enfim,

nada que se coadune com a missão precípua do juiz que é julgar. E julgar de forma

transparente, isenta, imparcial, digna de credibilidade. Relembre-se, mais uma vez, a

assertiva de César, para quem sua mulher deveria não apenas ser honesta, mas

também parecer honesta.

Também o Juiz precisa ser imparcial e isento, mas deve também parecer

imparcial e isento. Nesse sentido é brilhante a frase de CALAMANDREI13, para

quem “os juízes são como membros de uma ordem religiosa: é preciso que cada um

deles seja um exemplo de virtude, se não quiser que os crentes percam a fé”.

Embora nem de longe se pretenda afirmar ou mesmo minimamente sugerir

qualquer irregularidade em sua atuação perante o Superior Tribunal de Justiça, traz-

se aqui, como exemplo, a impactante entrevista da Ministra Eliana Calmon à Revista

Veja de 29 de setembro de 201014 onde, abordando sobre a corrupção no Judiciário,

aponta de forma clara o sistema deformado de nomeações de Magistrados pelo

Presidente da República e da politicagem que se instala ao redor desse sistema.

Adiante, seguem trechos da entrevista:

13 CALAMANDREI, Piero. “Eles , os Juízes, vistos por um advogado”. Editora Martins Fontes. São

Paulo. 2000. 14 Revista Veja. Editora Abril. São Paulo, 29.09.2010.

30

Por que nos últimos anos pipocaram tantas denúncias de corrupção no Judiciário?

Durante anos, ninguém tomou conta dos juízes, pouco se fiscalizou, corrupção começa embaixo. Não é incomum um desembargador corrupto usar o juiz de primeira instância como escudo para suas ações. Ele telefona para o juiz e lhe pede uma liminar, um habeas corpus ou uma sentença. Os juizes que se sujeitam a isso são candidatos naturais a futuras promoções. Os que se negam a fazer esse tipo de coisa, os corretos, ficam onde estão.

A senhora quer dizer que a ascensão funcional na magistratura depende dessa troca de favores?

O ideal é que as promoções acontecessem por mérito. Hoje é a política que define o preenchimento de vagas nos tribunais superiores, por exemplo. Os piores magistrados terminam sendo os mais louvados. O ignorante, o despreparado, não cria problema com ninguém porque sabe que num embate ele levará a pior. Esse chegará ao topo do Judiciário.

Esse problema atinge também os tribunais superiores, onde as nomeações são feitas pelo presidente da República?

Estamos falando de outra questão muito séria. É como o braço político se infiltra no Poder Judiciário. Recentemente, para atender a um pedido político, o STJ chegou à conclusão de que denúncia anônima não pode ser considerada pelo tribunal.

Existe essa relação de subserviência da Justiça ao mundo da política?

Para ascender na carreira, o juiz precisa dos políticos. Nos tribunais superiores, o critério é única e exclusivamente político.

Mas a senhora, como todos os demais ministros, chegou ao STJ por meio desse mecanismo.

Certa vez me perguntaram se eu tinha padrinhos políticos. Eu disse: ´Claro, se não tivesse, não estaria aqui. Eu sou fruto de um sistema. Para entrar num tribunal como o STJ, seu nome tem de primeiro passar pelo crivo dos ministros, depois do presidente da República e ainda do Senado. O ministro escolhido sai devendo a todo mundo.

No caso da senhora, alguém já tentou cobrar a fatura depois?

Nunca. Eles têm medo desse meu jeito. Eu não sou a única rebelde nesse sistema, mas sou uma rebelde que fala. Colegas que, quando chegam para montar o gabinete, não têm o direito de escolher um assessor sequer, porque já está tudo preenchido por indicação política.15

Em entrevista anterior concedida a Rodrigo Haidar, as mesmas afirmações

foram feitas e em contexto até mais amplo, conforme pode ser visto de trecho

adiante transcrito:

A ministra Eliana Calmon fez a temperatura subir no Superior Tribunal de Justiça mesmo antes de sua posse. Na sabatina no Senado, surpreendeu ao criticar a forma de escolha dos ministros do Poder Judiciário. “O processo de escolha é muito político. Para um magistrado, fica difícil porque

15 Revista Veja. Editora Abril. São Paulo, 29.09.2010).

31

ele tem de aprender a jogar e fazer amizades políticas do dia para a noite”, disse. “Mas a senhora teve padrinhos?”, perguntou um senador. “Se eu não tivesse, não estaria aqui”, respondeu. “E quais foram?”, insistiu o parlamentar. “Edson Lobão, Jader Barbalho e Antonio Carlos Magalhães, nessa ordem”, replicou, para surpresa de todos na Comissão de Constituição e Justiça e de quem assistia à sessão pela TV Senado. “Meu irmão disse que pulou da cadeira e nem teve coragem de assistir ao restante da sabatina depois disso”, lembra Eliana, com um sorriso. O ato provocou as mais diversas reações. Houve quem dissesse à ministra que ela deu aos senadores, ali, um “atestado de imbecilidade”. Ao contrário. Eliana Calmon viu no ato a oportunidade de se livrar do constrangimento ao ter de rejeitar qualquer favor a quem a havia apoiado. “Naquele momento, eu declarei totalmente minha independência. Eles não poderiam me pedir nada porque eu não poderia atuar em nenhum processo nos quais eles estivessem. Então, eu paguei a dívida e assumi o cargo sem pecado original.” Para chegar ao STJ, Eliana Calmon teve uma ajuda e dois adversários muito bem definidos. O então presidente da República, Fernando Henrique Cardoso, pretendia entrar para a história ao nomear a primeira mulher para o STJ. A vaga aberta vinha a calhar. O quadro institucional era bom nesse sentido. Mas havia dois obstáculos a vencer. O primeiro era Ellen Gracie, então juíza do Tribunal Regional Federal da 4ª Região, que tinha o apoio de Nelson Jobim, ministro do Supremo Tribunal Federal e ex-ministro da Justiça de FHC. O segundo era o próprio Antonio Carlos Magalhães, o maior expoente político da Bahia na época, mas que apoiava o desembargador Lázaro Guimarães, da 5ª Região. Com a força de todos os santos, o candidato de ACM não foi incluído na lista sêxtupla da magistratura federal enviada ao STJ. Primeiro obstáculo vencido. Para vencer o segundo, a baiana usou o apoio do primeiro. Eliana Calmon soube que Ellen Gracie seria a escolhida. Então, resolveu apelar a Antônio Carlos Magalhães. Pediu a diversas pessoas para a levarem a ele. Todos respondiam que ajudariam, mas não davam retorno. E a angústia aumentando. A ministra decidiu, então, ligar para a casa de ACM. O senador não estava, mas seu secretário anotou o recado. Pouco antes das 19h de um domingo de março de 1999, o político baiano retornou a ligação. “Dra. Eliana, aqui é Antonio Carlos. Como vai a senhora? Está nervosa?”. A juíza respondeu: “Nervosíssima. A alma está saindo pela boca”. Depois de uma boa gargalhada, ACM a acalmou: “Pois fique tranquila. A senhora é uma mulher de muitos amigos, que já me procuraram. Eu falei ao presidente que ele tem um compromisso não com o Dr. Lázaro, mas sim com a Bahia. Independentemente do nome. Esse compromisso com a Bahia ele cumprirá. Vamos trabalhar”. Em junho daquele ano, Fernando Henrique a nomeou. Um ano e meio depois, Ellen Gracie tomou posse no Supremo Tribunal Federal.16

De registrar que a Ministra, integrante de um Tribunal Superior, é

conhecidíssima no meio jurídico por seu destemor e por dizer as coisas exatamente

como elas são, dando os nomes corretos ao que a ela é apresentado.

A entrevistada, no entanto, verbaliza algo que todos sabem, todos

comentam nos bastidores em rodas miúdas, mas pouco (ou nada) se faz para

combater – sequer se fala publicamente do tema: a influência da politicagem no

Poder Judiciário. É clara a Ministra quando diz, sem a menor cerimônia, que para

16 CALMON, Eliana. Brasil. Entrevista concedida a Rodrigo Haidar. Revista Consultor Jurídico –

CONJUR, edição de 08 de julho de 2009. Fonte: www.conjur.com.br.

32

ascender na carreira o Juiz precisa dos políticos, e que ela própria é um fruto desse

sistema. De notar, por importante ao estudo, que a mesma situação ocorrida com a

Ministra ocorre também com os que pretendem alcançar o segundo grau de

jurisdição dos Tribunais Regionais, exceto no que tange à sabatina pelo Senado.

Em um sistema equilibrado de harmonia entre os Poderes, nenhum sentido

tem um Magistrado precisar de um Deputado ou um Senador para ascender em sua

carreira. Precisa, sim, ser detentor de méritos que realcem sua carreira e o

conduzam pelo reconhecimento de seus pares a um posto mais alto na Magistratura.

Os Tribunais Superiores do Judiciário (Tribunal Superior do Trabalho,

Superior Tribunal de Justiça, Superior Tribunal Militar e Tribunal Superior Eleitoral)

não compõe o plano de ascensão natural aos integrantes da carreira do Judiciário.

Um Magistrado admitido por concurso público de provas e títulos em idade nova (o

que mais tem acontecido nos últimos anos, registre-se) possui grandes chances de

ascender ao Tribunal Regional a que se vincula, seja por merecimento, seja por

antiguidade (neste último caso, basta não ser tão relapso que possa fazer jus à

recusa de seu nome).

Já no caso dos Tribunais Superiores, o critério é exclusivamente político,

como já demonstrado pela transcrição da dicção Constitucional e reforçado nas

claras palavras da Ministra Eliana Calmon. Nesse caso, os Tribunais Superiores

elaboram listas tríplices que são encaminhadas ao Presidente da República, este

indica um nome e o submete ao Senado Federal que, em Sabatina, pode aprovar ou

recusar o indicado; se aprovado, então se dá a nomeação pelo Presidente da

República. Trata-se aqui de ato administrativo composto, onde cada ente estatal

possui poder de veto/escolha de forma independente.

O que justifica, diante de todos esses fatos, o Presidente da República

guardar para si o poder de nomear um integrante de um Tribunal Regional? A

resposta é uma só: nada!

Quem de melhor há de conhecer os méritos de um Juiz de primeiro grau que

seu próprio Tribunal de origem? O Presidente da República, certamente, é que não;

os políticos a quem o Juiz pedirá apoio, muito menos. Quanto mais comprometido

politicamente o Juiz, menos isentas e menos parciais tendem a serem suas

decisões, com desastrosos resultados para a comunidade jurídica e para os

jurisdicionados.

33

5.1 CASO CONCRETO: RECUSA DA PRESIDENTE DA REPÚBLICA EM NOMEAR JUIZ INTEGRANTE DE LISTA TRÍPLICE PELA TERCEIRA VEZ CONSECUTIVA. EXCESSO DE ATUAÇÃO DO PODER EXECUTIVO.

O sistema Constitucional até aqui consagrado no país de nomeação dos

“desembargadores federais” pelo Presidente da República apresenta hoje uma outra

distorção que pode ser tão danosa quanto às influências políticas a que se submete

o Magistrado: a tese de discricionarismo do Presidente da República na nomeação

de qualquer um dos componentes da lista tríplice, mesmo que este já tenha sido

pela terceira vez consecutivo integrante de uma delas.

Apoiado nos termos da Emenda Constitucional 45, de 31 de dezembro de

2004, a Advocacia Geral da União emitiu Parecer à Casa Civil da Presidência da

República afirmando que a nomeação de Juiz integrante de lista tríplice pela terceira

vez consecutiva somente é mandatória nas promoções ocorridas na própria

instância, quando o Juiz passa de Substituto para Titular; no caso do acesso ao

segundo grau de jurisdição, a regra não se repete, consoante entendimento da

Advocacia Geral da União, em uma leitura deveras distorcida do disposto no artigo

93, da Constituição, adiante transcrito nos trechos pertinentes ao assunto em foco:

Art. 93. Lei complementar, de iniciativa do Supremo Tribunal Federal, disporá sobre o Estatuto da Magistratura, observados os seguintes princípios:

..........................................................................................................................

II - promoção de entrância para entrância, alternadamente, por antigüidade e merecimento, atendidas as seguintes normas:

a) é obrigatória a promoção do juiz que figure por três vezes consecutivas ou cinco alternadas em lista de merecimento;

b) a promoção por merecimento pressupõe dois anos de exercício na respectiva entrância e integrar o juiz a primeira quinta parte da lista de antigüidade desta, salvo se não houver com tais requisitos quem aceite o lugar vago;

..........................................................................................................................

III - o acesso aos tribunais de segundo grau far-se-á por antigüidade e merecimento, alternadamente, apurados na última ou única entrância;

Entendeu a Advocacia Geral da República, portanto, que a Constituição não

mais guarda exigência de nomeação de um Juiz indicado pela terceira vez em uma

lista tríplice quando se tratar de acesso ao Tribunal. Sem pretender aqui discutir a

constitucionalidade desse entendimento – visto que não se configura como foco de

34

estudo – um simples, raso e claro questionamento que em tudo se relaciona à

promoção tem que ser feito: em se tratando de promoção pelo critério de

merecimento, quem mais o tem: um juiz por três vezes consecutivas escolhido ou

um que saiu na lista pela primeira vez? A pergunta pode parecer um tanto quanto

ingênua, mas não pode deixar de ser feita para demonstrar-se o espanto com a

recusa de Sua Excelência, a Presidente da República em nomear o Magistrado

Aluísio Gonçalves de Castro Mendes para o cargo de Juiz do Tribunal Regional

Federal da 2ª Região, a despeito de o mesmo ter integrado três listas consecutivas

para promoção por merecimento. São palavras de Ives Gandra Martins, autoridade

reconhecida no meio jurídico nacional e internacional as postas em Parecer

acostado aos autos do Mandado de Segurança impetrado junto ao Supremo

Tribunal Federal – e que recebeu liminar favorável suspendendo a posse do Juiz

nomeado pela Presidente da República (MS 30.585/2011):

Se se admitisse que um magistrado ― que sempre tenha sido bem avaliado pelo tribunal com competência para indicá-lo, único capaz de atestar seu merecimento ― ficasse indefinidamente em lista tríplice, nada obstante seu valor, por não agradar ao Executivo, haveria o ferimento direto à independência e à harmonia entre os poderes.17

E prossegue o ilustrado causídico:

A leitura que pretende amputar um critério aos requisitos do inciso II - que são três - de obrigatório seguimento na indicação de magistrado para a 2ª. instância, é pobre. Carece de lógica. Fere o sentido de justiça. Descompassa a organicidade do sistema. Amesquinha o Poder Judiciário perante o Executivo, pois, mesmo que haja a indicação por três vezes e mesmo que o nome constante seja o mais votado, o Poder Executivo poderá vetar indefinidamente a escolha de magistrado, que o próprio Judiciário reconheceu merecer figurar da lista tríplice e por mérito exclusivo do indicado. Tal subordinação do Poder Judiciário ao Executivo foi o que o constituinte objetivou evitar. O dispositivo tem um efeito profilático e intenta fazer prevalecer o artigo 2º da Constituição Federal, que tornou os três Poderes independentes e harmônicos, estando assim redigido:

“Art. 2º São Poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário.18

17 MARTINS, Ives Gandra. Parecer exarado a pedido da Associação dos Juízes Federais – AJUFE.

Brasil, 2011. 18 MARTINS, Ives gandra. Op. cit.

35

Por fim, arremata o grande Advogado:

É de se lembrar, finalmente, que, ao não se respeitar os princípios do inciso II do artigo 93, em colégios judiciais com elevado número de magistrados, como o de São Paulo, poderia o Executivo exercer sobre o Judiciário indesejável controle, nunca indicando magistrados que constassem reiteradamente de listas por merecimento, sob a alegação de que não estaria jungido a nenhum limite. Isso acabaria, muitas vezes, por condenar juízes a nunca serem promovidos à 2ª Instância -à falta de uma improvável lista de antiguidade- por força do elevado número de julgadores.19

Os trechos acima transcritos traduzem exatamente aquilo que vimos

afirmando desde o início deste trabalho: a participação do Presidente da República

nos processos de nomeação dos Juízes integrantes dos Tribunais Regionais

Federais viola o sistema de harmonia e de independência entre os poderes

conhecido como freios e contrapesos. Essa independência, ainda que devendo ser

olhada de forma cautelosa, não pode ser vulnerada pelos quereres de um único

agente político em detrimento de todo um organismo administrativo complexo e que

deve funcionar em perfeita harmonia. Nesse sentido, Celso Ribeiro Bastos20 assim

pontua:

Assim, “independente” significa não subordinado, não sujeito. Significa ainda que se trata de órgão que tem condições de conduzir os seus objetivos de forma autônoma. De outra parte, a harmonia se impõe pela necessidade de evitar que esses órgãos se desgarrem, uma vez que a atividade última que perseguem, que é o bem público, só pode ser atingida pela conjugação de suas atuações. Assim, quando o Executivo cumpre uma lei do Legislativo, ele não está a quebrar o princípio da separação de Poderes, mas simplesmente cumprindo a sua parte no mecanismo de funcionamento do Estado.

19 MARTINS, Ives Gandra. Op. cit. 20 BASTOS, Celso Ribeiro. Comentários à Constituição do Brasil, 1º volume, Ed. Saraiva, São Paulo,

p. 484.

36

6 DEMORA NA NOMEAÇÃO DE JUÍZES POR PARTE DO PRESIDE NTE DA REPÚBLICA – MENOSCABO AO PRINCÍPIO DA EFICIÊNCIA E VIOLAÇÃO DA GARANTIA FUNDAMENTAL DE UM JULGAMENTO CÉLERE

A flagrante intromissão do Poder Executivo no Poder Judiciário, nas

situações ora apontadas, pode ser perfeitamente caracterizado como o que

Theodore de Bèze21 qualifica de “exercício injusto de um poder legítimo”.

Outro problema surge, no entanto, no cenário moderno: a demora nas

nomeações de Juízes para Tribunais Regionais do Trabalho e Tribunais Regionais

Federais.

O Tribunal Regional do Trabalho da 2ª Região (São Paulo) encaminhou lista

tríplice para nomeação por parte do Primeiro Mandatário do País em setembro de

2010; no entanto, nenhuma nomeação foi efetivada.

O Tribunal Regional do Trabalho da 11ª Região (Amazonas e Roraima)

também encaminhou, em 12 de dezembro de 2010, lista tríplice ao Tribunal Superior

do Trabalho, que a enviou ao Ministério da Justiça em 21 de dezembro e que a

enviou à Casa Civil da Presidência da República em fevereiro de 2011. A nomeação,

no entanto, também aguarda pela ação presidencial até o momento, seis meses

depois. E vários outros Tribunais Regionais do Trabalho e Federais aguardam

nomeação de juízes para comporem seus quadros de segunda instância.

Impende destacar que esse retardo na expedição dos atos nomeatórios

ofende, desde logo, o princípio da eficiência da administração pública. Nesse

sentido, assim afirma o artigo 37 da Carta Magna:

Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte:

O saudoso administrativista pátrio Hely Lopes Meirelles22 referiu sobre a

eficiência como um dos deveres da administração. Definiu-a como "o que se impõe a

todo agente público de realizar suas atribuições com presteza, perfeição e

rendimento funcional. É o mais moderno princípio da função administrativa, que já

não se contenta em ser desempenhada apenas com legalidade, exigindo resultados 21 BÈZE, Theodore in BOBBIO, Norberto. Direito e Estado no Pensamento de Emanuel Kant.

Brasília, Editora Universidade de Brasília, 1984, p. 25. 22 MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro. São Paulo: Malheiros, 1998. p. 43.

37

positivos para o serviço público e satisfatório atendimento das necessidades da

comunidade e de seus membros."

Para a ilustre professora Maria Sylvia Zanella Di Pietro23 o princípio

apresenta aspecto dúplice, podendo ser considerado tanto em relação à forma de

atuação do agente público (do qual se espera o melhor desempenho possível de

suas atuações e atribuições para alcançar os resultados melhores), quanto em

relação ao modo racional de organizar, estruturar, disciplinar a Administração

Pública, idem quanto ao intuito de alcance de resultados na prestação do serviço

público.

Ela acrescenta que a eficiência é princípio que se soma aos demais

princípios impostos à Administração, não podendo sobrepor-se a nenhum deles,

especialmente ao da legalidade, sob pena de sérios riscos à segurança jurídica e ao

próprio Estado de Direito.

Escrevendo sobre o tema eficiência na administração pública, assim se

referiu Michel Pinheiro24, ilustre Magistrado cearense:

Pelo que se percebe, pretendeu-se, com a inclusão do dever de eficiência dentre os princípios constitucionais aplicáveis às atividades da Administração Pública, tornar induvidosa que a atuação do administrador, além de ater-se a parâmetros de presteza, perfeição e rendimento, deverá se fazer nos exatos limites da lei, sempre voltada para o alcance de uma finalidade pública e respeitados parâmetros morais válidos e socialmente aceitáveis. E tudo isso mediante a adoção de procedimentos transparentes e acessíveis ao público em geral. Significa dizer que não bastará apenas atuar dentro da legalidade, mas que ter-se-á, ainda, necessariamente, que visar-se resultados positivos para o Serviço Público e o atendimento satisfatório, tempestivo e eficaz das necessidades coletivas.

Evidente fica, portanto, que o retardo nas demoras dos juízes é fator que

vulnera o princípio constitucional da eficiência da administração pública, na medida

em que a inação presidencial afeta a comunidade judiciária, que se vê ressentida da

presença de um juiz apto a bem exercer as suas funções em nível de segundo grau.

Ora, o resultado sequencial dessa demora afeta, como já disse, toda a

comunidade ligada ao Poder Judiciário, tanto em nível estrutural quanto em nível de

prestação jurisdicional.

23 PIETRO, Maria Sylvia Zanella Di. Direito Administrativo. São Paulo: Atlas, 1999, p. 39. 24 PINHEIRO, Michel. O princípio da eficiência na administração pública e o cidadão. Jus Navigandi,

Teresina, ano 5, n. 40, 1 mar. 2000. Disponível em: http://jus.uol.com.br/revista/texto/341.

38

Em nível estrutural, Os Tribunais Regionais têm sua composição afetada

pela ausência de um Magistrado cuja função precípua é atuar na condução e

solução de feitos, com vistas ao cumprimento de sua função de pacificador social.

Em nível de prestação jurisdicional, é evidente que a demora nas

nomeações atinge de maneira mais contundente os destinatários da atuação do

Poder Judiciário, quais sejam, os jurisdicionados, na medida em que também terão

suas vidas tocadas pela ausência de um Magistrado que de há muito já deveria

estar exercendo seu mister. O resultado imediato disso é o acúmulo de processos

por serem julgados, impedindo (rectius: violando) a concretização de um outro

princípio de ordem constitucional, insculpido no artigo 5º, LXXVIII da Constituição da

República, in verbis:

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:

..........................................................................................................................

LXXVIII a todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a razoável duração do processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação.

Em verdade, mais que princípio, cuida-se, em verdade, de garantia de

ordem constitucional que deve ser observada e respeitada não apenas pelos

exercentes da Magistratura, mas também pelos demais atores envolvidos no

processo de nomeação dos juízes dos Tribunais Regionais, até porque essa

garantia tem suas raízes fundantes no princípio da dignidade da pessoa humana,

estreme de dúvidas, um dos mais importantes de todos e de observância na quase

totalidade dos países ocidentais.

De notar que o texto constitucional ao garantir a razoável duração do

processo, também cuida de garantir sejam assegurados os meios para que se opere

a celeridade da tramitação; impossível tal se concretizar sem a ação eficiente do

Primeiro Mandatário na nomeação dos Juízes dos Tribunais Regionais, cuja inércia

pode conduzir à impetração de Ação Direta de Inconstitucionalidade por omissão,

visto que desprestigiado o comando constitucional antes apontado.

Não se desconhecendo o aspecto ingênuo da afirmação, na prevalência do

modelo constitucional vigente, também os apoiamentos políticos dados aos

39

magistrados devem estar marcados pela eficiência administrativa. Mas é evidente

que a afirmação não passa de ingenuidade.

Com alguma frequência são trazidos à imprensa notícias de projetos visando

implantar-se no Brasil o modelo americano de eleição de juízes para atuarem nos

juízos monocráticos e também nos Tribunais Estaduais e Federais.

O judiciário federal americano é composto por juizes, cujo recrutamento é de

livre escolha do Presidente da República, dependendo de confirmação do Senado

Federal, no caso dos Juízes Federais. Goza o cargo de vitaliciedade, não havendo

previsão legal de aposentadoria compulsória. O judiciário estadual, por seu turno, é

composto por juizes eleitos para um mandato curto ou nomeados pelo governador e

estes, em certos estados, estão sujeitos à eleição para continuar no cargo.

Trata-se, portanto, de um processo completamente distinto do modelo

brasileiro, até porque parte da afirmação de que o processo de escolha do

Magistrado é efetivamente político, embora a magistratura não o seja.

No entanto, cabe lembrar que as instituições políticas americanas têm grau

de maturidade superior às nossas, notadamente no que diz respeito ao balizamento

de todos às imposições da ética e da moralidade, o que lamentavelmente não pode

afirmar em idêntico sentido no caso brasileiro, sendo certo que os escândalos do

presente e do passado falam por si só. Ademais, cumpre notar que o sistema político

americano se encontra concentrado nas mãos de apenas dois partidos políticos

(Republicanos e Democratas), havendo respeito às ações de interesse institucional

de tais partidos, ou seja, os políticos agem na conformidade dos interesses difusos

do Partido.

Dessa forma, entendemos que o modelo americano se revela de todo

incompatível com o modelo político brasileiro, onde a profusão de partidos políticos e

a sua difusão pela chamada base aliada dos governos faz com que se percam de

vista os interesses globais, dando-se lugar a interesses segmentados, pequenos,

pouco ortodoxos. Os resultados da implementação desse sistema para a

Magistratura Nacional seriam rigorosamente desastrosos, com forte possibilidade de

destruição do sistema Judiciário pela quebra da independência do Magistrado.

40

7 O CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA ENQUANTO EXPRESSÃO DO SISTEMA DE FREIOS E CONTRAPESOS

A Lei Orgânica da Magistratura (Lei Complementar nº 35/1979) hoje se

revela um diploma legal rançoso, em completo desalinho com a modernidade que se

espera do Poder Judiciário.

No entanto, a Constituição Federal mereceu Emenda no sentido de buscar-

se o chamado controle externo do Judiciário, atendendo-se a uma reinvindicação de

parcela expressiva da sociedade que sempre viu no Poder Judiciário um sinônimo

de encastelamento e de autoproteção de seus membros.

Editou-se, assim, a Emenda Constitucional nº 45, de 31 de dezembro de

2004, criando o Conselho Nacional de Justiça, órgão de incumbências

administrativas e de composição multifacetada, integrado por membros da

Magistratura, do Ministério Público, da Advocacia e por cidadãos de notável saber

jurídico, um indicado pelo Senado Federal e outro pela Câmara dos Deputados. O

artigo 103-B da Carta Magna disciplina essa composição:

Art. 103-B. O Conselho Nacional de Justiça compõe-se de 15 (quinze) membros com mandato de 2 (dois) anos, admitida 1 (uma) recondução, sendo:

I - o Presidente do Supremo Tribunal Federal;

II - um Ministro do Superior Tribunal de Justiça, indicado pelo respectivo tribunal;

III - um Ministro do Tribunal Superior do Trabalho, indicado pelo respectivo tribunal;

IV - um desembargador de Tribunal de Justiça, indicado pelo Supremo Tribunal Federal;

V - um juiz estadual, indicado pelo Supremo Tribunal Federal;

VI - um juiz de Tribunal Regional Federal, indicado pelo Superior Tribunal de Justiça;

VII - um juiz federal, indicado pelo Superior Tribunal de Justiça;

VIII - um juiz de Tribunal Regional do Trabalho, indicado pelo Tribunal Superior do Trabalho;

IX - um juiz do trabalho, indicado pelo Tribunal Superior do Trabalho;

X - um membro do Ministério Público da União, indicado pelo Procurador-Geral da República;

XI um membro do Ministério Público estadual, escolhido pelo Procurador-Geral da República dentre os nomes indicados pelo órgão competente de cada instituição estadual;

XII - dois advogados, indicados pelo Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil;

XIII - dois cidadãos, de notável saber jurídico e reputação ilibada, indicados um pela Câmara dos Deputados e outro pelo Senado Federal.

41

É evidente que a composição majoritária dos integrantes do Conselho

Nacional de Justiça é de integrantes do próprio Poder Judiciário, na medida em que

sua missão precípua é a fazer com que a prestação jurisdicional seja prestada com

moralidade, efetividade e eficiência, compreendendo o Planejamento Estratégico e a

proposição de políticas judiciárias, promovendo a modernização do parque

tecnológico do Poder Judiciário, ampliando o acesso à justiça e promovendo a

pacificação e a responsabilidade social, em serviço da sociedade25. No entanto, não

se pode deixar de notar que a ele integram cidadãos de segmentos diversificados, a

exemplo dos Membros do Ministério Público (um da União e outro dos Estados), dois

Advogados e dois cidadãos de alto saber jurídico, indicados pelas Casas

Legislativas, sendo que todos nomeados pelo Presidente da República.

A competência do Conselho Nacional de Justiça, vazada no mesmo artigo

103-B da Constituição, também dá a exata dimensão de importância no contexto do

controle do Poder Judiciário, no que tange aos seus aspectos administrativos (sim,

porque o controle dos atos jurisdicionais somente é exercido pelo próprio Poder

Judiciário pelas vias recursais inter-estâncias, sob pena de inconstitucionalidade):

§ 1º O Conselho será presidido pelo Presidente do Supremo Tribunal Federal e, nas suas ausências e impedimentos, pelo Vice-Presidente do Supremo Tribunal Federal.

§ 2º Os demais membros do Conselho serão nomeados pelo Presidente da República, depois de aprovada a escolha pela maioria absoluta do Senado Federal.

§ 3º Não efetuadas, no prazo legal, as indicações previstas neste artigo, caberá a escolha ao Supremo Tribunal Federal.

§ 4º Compete ao Conselho o controle da atuação administrativa e financeira do Poder Judiciário e do cumprimento dos deveres funcionais dos juízes, cabendo-lhe, além de outras atribuições que lhe forem conferidas pelo Estatuto da Magistratura:

I - zelar pela autonomia do Poder Judiciário e pelo cumprimento do Estatuto da Magistratura, podendo expedir atos regulamentares, no âmbito de sua competência, ou recomendar providências;

II - zelar pela observância do art. 37 e apreciar, de ofício ou mediante provocação, a legalidade dos atos administrativos praticados por membros ou órgãos do Poder Judiciário, podendo desconstituí-los, revê-los ou fixar prazo para que se adotem as providências necessárias ao exato cumprimento da lei, sem prejuízo da competência do Tribunal de Contas da União;

III - receber e conhecer das reclamações contra membros ou órgãos do Poder Judiciário, inclusive contra seus serviços auxiliares, serventias e órgãos prestadores de serviços notariais e de registro que atuem por

25 Fonte: http://www.cnj.jus.br

42

delegação do poder público ou oficializados, sem prejuízo da competência disciplinar e correicional dos tribunais, podendo avocar processos disciplinares em curso e determinar a remoção, a disponibilidade ou a aposentadoria com subsídios ou proventos proporcionais ao tempo de serviço e aplicar outras sanções administrativas, assegurada ampla defesa;

IV - representar ao Ministério Público, no caso de crime contra a administração pública ou de abuso de autoridade;

V - rever, de ofício ou mediante provocação, os processos disciplinares de juízes e membros de tribunais julgados há menos de um ano;

VI - elaborar semestralmente relatório estatístico sobre processos e sentenças prolatadas, por unidade da Federação, nos diferentes órgãos do Poder Judiciário;

VII - elaborar relatório anual, propondo as providências que julgar necessárias, sobre a situação do Poder Judiciário no País e as atividades do Conselho, o qual deve integrar mensagem do Presidente do Supremo Tribunal Federal a ser remetida ao Congresso Nacional, por ocasião da abertura da sessão legislativa.

§ 5º O Ministro do Superior Tribunal de Justiça exercerá a função de Ministro-Corregedor e ficará excluído da distribuição de processos no Tribunal, competindo-lhe, além das atribuições que lhe forem conferidas pelo Estatuto da Magistratura, as seguintes:

I receber as reclamações e denúncias, de qualquer interessado, relativas aos magistrados e aos serviços judiciários;

II exercer funções executivas do Conselho, de inspeção e de correição geral;

III requisitar e designar magistrados, delegando-lhes atribuições, e requisitar servidores de juízos ou tribunais, inclusive nos Estados, Distrito Federal e Territórios.

§ 6º Junto ao Conselho oficiarão o Procurador-Geral da República e o Presidente do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil.

Como se vê, o espectro de atuação administrativa do Conselho Nacional de

Justiça lhe assegura o controle pleno das atividades administrativas de todos os

Tribunais brasileiros, exceto o Supremo Tribunal Federal, a quem cumpre o papel de

controlador da legalidade dos atos do Conselho. Repita-se aqui, por necessário, que

não cumpre ao Conselho ser revisor ou controlador do conteúdo jurisdicional das

decisões do Poder Judiciário, visto que a independência entre os Poderes assegura

a autonomia das decisões dos juízes, mormente quando existe todo um complexo de

dispositivos recursais que podem ser lançados em direção contrária a uma decisão

desfavorável aos interesses de uma parte. Ademais, a simples possibilidade de se

fazer o controle das decisões natas de um Poder estatal por outro esbarraria em

flagrante inconstitucionalidade, visto que rompido estaria o princípio da

independência dos Poderes no Estado Federativo Brasileiro.

43

De toda sorte, o Conselho Nacional de Justiça, pela sua composição

multifacetada e pelo alcance de sua missão funcional, é hoje a mais perfeita

materialização do sistema de freios e contrapesos em relação ao Poder Judiciário,

visto que deles participam membros oriundos da advocacia, do Ministério Público,

das Casas Legislativas federais e da Magistratura, todos nomeados pelo Presidente

da República. Tão larga é a competência e a função do Conselho Nacional de

Justiça no que tange ao chamado Controle Externo do Poder Judiciário que muitos

defendem mesmo a representação do quinto constitucional (composto pelo

Ministério Público e pela Ordem dos Advogados do Brasil) na composição dos

Tribunais estaduais e federais. O poder de nomeação por escolha discricionária de

Magistrados pelo Presidente da República, então, é algo que nunca se justificou em

nosso sistema político e hoje se justifica menos ainda depois da criação do Conselho

Nacional de Justiça, que exerce, dentro dos estreitos contornos do princípio da

separação e independência dos Poderes do Estado, o sistema de freios e

contrapesos.

7.1 O PODER JUDICIÁRIO, O CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA E O DESENVOLVIMENTO DO BRASIL

É fato que este simples tópico poderia, ele só, constituir todo um trabalho de

monografia.

No entanto, nosso escopo é apenas reafirmar, com outras palavras, as

idéias que já vêm sendo expostas ao longo de nossa escrita, no sentido de destacar

a importância do Poder Judiciário na estrutura que integra junto aos demais Poderes

federativos.

Não é o Judiciário melhor que os demais Poderes do Estado, mas é, como já

dissemos em linhas anteriores, diferente, peculiar. De início porque seus membros

não passam a integrar sua estrutura pela via do voto popular, como de resto sói

ocorrer com os integrantes do Executivo e do Legislativo. Aliás, essa participação

popular na escolha dos integrantes do Legislativo levou KANT26 a afirmar a

supremacia desse Poder sobre os outros dois, já que ele representa a vontade

coletiva. Todavia, tendo o Brasil adotado o princípio da unidade da federação e da

26 KANT, Emanuel. Metafísica dos Costumes apud BOBBIO, Norberto. Direito e Estado no

Pensamento de Emanuel Kant. Brasília, Revista Universidade de Brasília, 1987, p. 142.

44

separação e independência dos Poderes, é preciso a que a análise a ser feita sobre

os mesmos jamais perca de vista a rigorosa horizontalidade dos planos em que os

mesmos se encontram.

Não se desconhece, por óbvio, ser o Judiciário detentor de uma imagem

plasmada na sociedade de ser o mais hermético dentre os demais. Tal fato tem

origem, em rápido escorço histórico, na ausência de controle sobre os atos de seus

integrantes, notadamente na inexistência, até não muito tempo atrás, de

mecanismos que fizessem recair pessoalmente sobre o Magistrado a

responsabilidade de alguns de seus atos, mesmo que de conteúdo jurisdicional. O

Conselho Nacional de Justiça, consoante já demonstrado no tópico anterior, trouxe

uma nova realidade a esse quadro, mas é evidente que isso ainda demandará mais

alguns anos para que essa percepção possa ser generalizada.

Por sua função constitucional, é o Judiciário quem exerce a fiscalização do

cumprimento de todo ordenamento jurídico nacional, inclusive a fiscalização dos atos

dos demais Poderes, executando, em última e definitiva instância, o controle da

constitucionalidade. Ou seja, o Judiciário é quem, de fato, lê e soletra a Constituição

Federal.

Exatamente em razão desse fato é que se torna absolutamente fundamental

que o Poder Judiciário fique protegido do assédio de interesses de pessoas e

poderes. Afinal de contas, compete-lhe cumprir com zelo (eficiência) suas funções

institucionais, especialmente a guarda, em última instância, da Constituição Federal.

Por isso mesmo é que a Constituição da República vigente, em seu artigo

95, concedeu aos juízes, a bem de reforçar as prerrogativas que lhe são inerentes

(independência e imparcialidade), as garantias da vitaliciedade, inamovibilidade e

irredutibilidade de subsídio, como já tivemos a oportunidade de ver em linhas

pretéritas, provendo-lhes de liberdade para agir, aliviando-lhes de quaisquer

pressões internas e externas, até mesmo de ordem financeira.

Tudo isso não impede, contudo, sejam lançadas as críticas fundadas,

notadamente, na própria eficácia, na qualidade do próprio provimento jurisdicional.

Não tem sido incomum observar Juízes de Segundo Grau (e, por óbvio, de Tribunais

Superiores) que para se livrarem da pecha de haverem galgado o cargo apenas em

função de padrinhos políticos, produzem julgamentos cada vez mais tecnicistas,

muito mais preocupados com o rigor da lei do que com a preponderância do fato

social, sendo herméticos na interpretação dos casos que lhes são propostos e

45

comprometidos apenas com status quo; por isso mesmo, cada vez mais distantes

das necessidades sociais.

Tudo isso acaba por gerar uma nefasta conseqüência à sociedade, traduzida

em sentenças cada vez mais distantes da realidade constitucional, descompromisso

com o curso e a eficácia do processo (mormente com a celeridade), desinteresse do

Judiciário na execução das próprias decisões (ainda mais quando o pólo passivo é o

poder público – a quem compete nomear, via Presidente da República, os

integrantes dos Tribunais Regionais Federais.

JOSÉ DE ALBUQUERQUE ROCHA27 ao abordar o caráter dogmático dado

à Ciência do Direito, no Brasil, afirma, categoricamente, que “o resultado dessa

postura metodológica é a ausência de uma literatura capaz de analisar criticamente

o fenômeno jurídico na sua dimensão real”. Por isso, segundo ele, apesar de

ressalvadas exceções, faltam no país, “estudos sistemáticos sobre o Judiciário, que

o vejam como produto de determinações históricas refletindo certo estágio da

realidade social”.

A propósito, foi o próprio professor José de Albuquerque Rocha, ele mesmo

juiz aposentado do Tribunal de Justiça do Estado do Ceará, um dos expoentes da

criação de um Conselho para o Judiciário. A partir da análise do direito comparado,

defendeu a criação de um Conselho Superior da Magistratura:

Onde existe a instituição do Conselho, a independência do Judiciário tem sido garantida de uma maneira adequada. (...) É o que ocorre em países como Itália, Espanha, Portugal, França, Grécia, Alemanha, entre tantos outros, em que o funcionamento de órgãos dessa espécie logrou a desvinculação do juiz de toda dependência em relação aos núcleos de poder internos ao Judiciário e, bem assim, a respeito de outros poderes do Estado, ou, pelo menos, conseguiu reduzir a dependência ao menor grau possível.28

Em sua maneira de divisar o assunto, intuiu a ideia de um órgão com

composição verdadeiramente democrática, a partir da participação de membros do

judiciário e de representantes da sociedade civil, eleitos, respectivamente, dentre o

corpo da magistratura (para vagas proporcionais ao peso numérico de cada classe

de magistrados) e do legislativo, “a instância política por excelência”29. Para o jurista,

27 ROCHA, José de Albuquerque. Teorial Geral do Processo. São Paulo. Atlas, 2007, p. 37. 28 ROCHA, José de Albuquerque in Ob. Cit. Pg. 52. 29 ROCHA, José de Albuquerque in Ob. Cit. Pg. 53.

46

O conselho seria um mecanismo tendente a reforçar a independência do juiz no desempenho de suas funções jurisdicionais. (...). Logo, é inadmissível a idéia de um conselho como órgão de interferência no trabalho jurisdicional da magistratura. Por conseguinte, sua competência deve ser restrita à parte administrativa, relacionada com a gestão de pessoal e recursos material e financeiro do Judiciário30.

As críticas lançadas contra a ideia da criação do Conselho Nacional de

Justiça passaram a perder espaço com a edição de Resoluções que mostram

claramente a intenção de buscar-se a “despoliticalização” do Poder Judiciário,

dando-se a ele elementos para que sua missão institucional seja levada a efeito com

vistas a clara e rapidamente solucionar os conflitos sociais, eis que um país de

judiciário turbado é país subdesenvolvido.

Convém rememorar que no dia 30 de agosto de 2005 o Conselho Nacional

de Justiça decidiu, nos autos do Pedido de Providência n. 08/2005, requerido pela

Associação dos Magistrados Brasileiros, que a promoção por merecimento de juízes

deveria seguir critérios objetivos, sendo decidida por voto aberto, fundamentado,

realizado em sessão pública. A decisão repercutiu na Resolução CNJ nº 6, de 13 de

setembro de 2005. Importante salientar que, no dia 20 de outubro seguinte, o

Conselho Nacional de Justiça, mediante liminar expedida pelo conselheiro Cláudio

Godoy, suspendeu efeitos de decisão do Tribunal de Justiça da Paraíba que

promoveu magistrado por meio de votação secreta. O tribunal paraibano optou por

anular o próprio ato. Ainda naquele mês, e por iguais motivos, o conselheiro

Eduardo Lorenzoni expediu liminar suspendendo efeitos de promoção ocorrida no

Tribunal de Justiça do Piauí.

Em sessão histórica do dia 27 de setembro, o Conselho Nacional de Justiça

decidiu pôr fim a um dos mais terríveis males que assolam o Judiciário, o nepotismo.

A decisão, que gerou a Resolução CNJ nº 7, de 18 de outubro de 2005,

determinando a exoneração, em 90 dias, no âmbito de todos os tribunais, de

cônjuges, companheiros ou parentes em linha reta, colaterais ou por afinidade, até

terceiro grau, de juízes ou de servidores de direção e assessoramento (vedando,

inclusive, contratação cruzada entre magistrados). Tamanho foi o alcance da

medida, que restou proibida até mesmo contratação e manutenção de prestadoras

de serviço que possuam parentes de magistrados no quadro funcional.

30 ROCHA, José de Albuquerque in Ob. Cit. Pg. 54.

47

Esses dados revelam de maneira inexorável a contribuição que o Conselho

Nacional de Justiça e o Judiciário têm dado para o desenvolvimento do país,

emprestando aos demais Poderes de Estado exemplos claros de profunda atenção

ao primado da Carta Magna no ordenamento político-jurídico.

Procura o Judiciário, dessa forma, tornar-se cada vez mais claro, mais

transparente, mais eficiente e cada vez mais cônscio de sua responsabilidade para

com o desenvolvimento do país. Um país de Judiciário turbado, repita-se, é país

subdesenvolvido. Aliás, é característica de Estados e/ou agentes políticos pouco

afetos ao jogo democrático e ao desenvolvimento como meta geral a ser alcançada.

O Magistrado Carlos Henrique Abrão, do Tribunal de Justiça do Estado de

São Paulo, em artigo publicado no Consultório Jurídico31 se manifesta de forma

deveras ponderada e lúcida sobre ataques desferidos ao Judiciário por parte dos

detentores do poder político ou econômico, sempre em face da independência e da

autonomia das decisões ali proferidas. Desnecessário afirmar que tais ataques advêm

de potenciais candidatos a déspotas, desacostumados a lidar com o fato de que seu

poder pode muito, mas jamais adquirir a consciência de quem lidimamente se decida

à Magistratura, em particular, e ao Judiciário, em geral. Eis alguns excertos do texto:

O primeiro ministro italiano Silvio Berlusconi, ao se referir à magistratura, a definiu como um Câncer da Democracia. Pautado o seu intuito pessoal e subjetivo diante da diversidade de processos que responde perante a Justiça da Itália, temos que seu comportamento é, além de tudo, prepotente e arrogante. A democracia não é uma primazia, nem uma regalia, mas sim um conceito substancial que qualquer país desenvolvido pretende atingir. E não se estará aqui fazendo uma defesa corporativista ou deixando nas entrelinhas que a magistratura é perfeita e revestida de todos os predicamentos. Esse não é o caminho.

Vimos recentemente no Equador uma consulta popular plebiscitária para a Reforma do Judiciário, para combater a corrupção e a ineficiência, mera balela, diga-se de passagem.

Ao contrário do que vemos hoje na economia globalizada e recursos especulativos, o câncer não é o Judiciário, mas sim a corrupção e seu braço irmão, a impunidade.

Nenhum país emergente ou subdesenvolvido gosta de um Judiciário forte e eficiente. A transformação não se faz por decreto ou mediante plebiscito, mas por intermédio da autonomia e soberania.

Quando o Judiciário incomoda e começa a se transformar na pedra no sapato dos governantes é porque ele atinge sua função e apura as reponsabilidades e sujeiras jogadas debaixo do tapete. Quando ele funciona bem, o Judiciário torna-se implacável na corrupção que decai em razão do risco de ser pilhado em flagrante e, consequentemente, a impunidade é mínima. Acaso tivéssemos um Judiciário pleno, soberano, independente,

31 http://www.conjur.com.br

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com recursos suficientes e infraestrutura, o Brasil, não hesito em dizer, estaria no rol dos países do primeiro mundo.

A magistratura do Brasil e do mundo, é falha e comporta inúmeras alterações, na morosidade, letargia e falta de recursos. Talvez os EUA, que mais apresentam instituições fortes, tenham uma magistratura sólida, mas têm problemas na Suprema Corte e nas decisões macrocoletivas.

..........................................................................................................................

O mais importante é demonstrar uma magistratura independente e soberana para com os poderes econômico e político, de tal modo que os julgamentos sejam realizados de modo imparcial e submetam os culpados às penas legais.

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No Brasil, naturalmente, temos que rever a vetusta Lei Orgânica, da época ditatorial, implementar metas, e modernizar o Judiciário, rediscutir o quinto constitucional e a carreira como um todo. Não é cogitável mais nos perdermos em detalhes e não avançarmos conforme a realidade da globalização.

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Nenhum país moderno e que se autointitule democrático conseguiu conquistar plena liberdade e completa simpatia sem uma magistratura à altura. Basta citarmos os exemplos da Alemanha, dos países nórdicos, Japão, EUA, servindo de mapeamento para a América Latina, a qual passou por décadas de regime ditatorial, sem inclinação alguma para esse parâmetro.

..........................................................................................................................

Se a magistratura é o câncer da democracia, ao menos, com muita certeza, ninguém morrerá dele, ao contrário, prefirirá contrai-lo, seguro de que ruim com ele, mas mortal sem a decantação do Estado soberano pleno da independência e credibilidade institucional da magistratura mundial.32

Modernizar-se o Judiciário, pois, é dotá-lo de melhores meios de cumprir sua

missão precípua. E tal modernização passa não apenas pela dotação de

equipamentos tecnológicos capazes de processar uma quantidade de informações

cada vez maior; passa, fundamentalmente, pela implantação de mecanismos de

despoliticalização do Judiciário, ou seja, torná-lo cada vez menos infenso às ações

politiqueiras, sejam dos que pretendem valer-se da influência de um Juiz com

objetivos escusos, sejam dos próprios juízes carreiristas, assim entendidos os que são

capazes de adotar posturas pouco ortodoxas para o alcance de seus objetivos. O

Conselho Nacional de Justiça tem contribuído sobremaneira para que essa

modernização seja alcançada, tomando-se como exemplo intrinsecamente ligado ao

tema “nomeação de juízes” a escolha das listas tríplices em votações abertas e com

votos fundamentados, lastreadas em parâmetros como a produtividade do Magistrado.

32 ABRÃO, Carlos Henrique. Países subdesenvolvidos não gostam de Judiciário Forte. Brasil, artigo

disponível em www.conjur.com.br, edição de 10 de maio de 2011.

49

Esse mesmo exemplo pode ser tomado como paradigmático à alteração do

modelo constitucional vigente, visto que atende aos princípios informativos e

balizadores da administração pública. Para evitar-se qualquer insinuação no sentido

de que livre do poder de escolha de seus integrantes pelo Presidente da República,

o Judiciário poder-se-ia tornar um poder maior que os outros, desequilibrando a

harmonia que entre eles deve viger, propõe-se a reforma da Constituição para que

essa aptidão do Primeiro mandatário restrinja-se aos Tribunais Superiores,

deixando-se aos próprios Tribunais Regionais do trabalho e aos Tribunais Regionais

Federais escolherem e nomearem seus próprios integrantes, observadas – quiçá

melhoradas – as condições atuais de formação das listas tríplices. Nesse sentido,

aqui se apresenta proposta de alteração dos artigos 107 e 115 da Constituição

Federal, vazada nos seguintes termos:

Art. 107. Os Tribunais Regionais Federais compõem-se de, no mínimo, sete juízes, recrutados, quando possível, na respectiva região, dentre brasileiros com mais de trinta e menos de sessenta e cinco anos, sendo: I - um quinto dentre advogados com mais de dez anos de efetiva atividade profissional e membros do Ministério Público Federal com mais de dez anos de carreira, nomeados pelo Presidente da República. II - os demais, mediante promoção de juízes federais com mais de cinco anos de exercício, por antiguidade e merecimento, alternadamente, por ato do presidente do próprio Tribunal, com observância do que for decidido pelo Tribunal Pleno, no prazo máximo de dez dias. Art. 115. Os Tribunais Regionais do Trabalho compõem-se de, no mínimo, sete juízes, recrutados, quando possível, na respectiva região, dentre brasileiros com mais de trinta e menos de sessenta e cinco anos, sendo: I - um quinto dentre advogados com mais de dez anos de efetiva atividade profissional e membros do Ministério Público do Trabalho com mais de dez anos de efetivo exercício, nomeados pelo presidente da República, observado o disposto no art. 94; II - os demais, mediante promoção de juízes do trabalho por antiguidade e merecimento, alternadamente, por ato do presidente do Tribunal, com observância do que for decidido pelo Tribunal Pleno, no prazo máximo de dez dias.

Quanto menos infenso às ações politiqueiras, mais desenvolvido será o

Poder Judiciário; quanto mais desenvolvido o Poder Judiciário, maior será a

contribuição para o desenvolvimento do país, não só pela afirmação independente e

imparcial dos postulados jurídicos que o regem, mas também pelos exemplos

capazes de mudar o paradigma da ação do agente político até então vivenciada.

50

8 CONCLUSÃO

É tênue a linha que separa os marcos divisórios de cada um dos Poderes do

Estado, no que tange ao exercício de sua independência sem que com isso invada a

independência de seus congêneres. Uma das críticas lançadas ao Poder Judiciário,

por exemplo, é justamente a “possibilidade” que possui de efetivamente se imiscuir

na seara dos Poderes alheios e praticar atos típicos, ínsitos ao Poder faltante no

cumprimento de sua missão institucional. Prova disse se dá, por exemplo, nos

primeiros movimentos que fez o Supremo Tribunal no sentido de regulamentar o

artigo 7º, XI, da Constituição, que dispõe ser o aviso prévio proporcional ao tempo

de serviço do empregado. A regulamentação deste dispositivo somente se deu

através de projeto aprovado na Câmara dos Deputados em 21 de setembro de 2011

e encaminhado à sanção presidencial, e assim mesmo porque cuidou o Supremo

Tribunal Federal de tentar destacar-se à omissão legislativa e impor os parâmetros

necessários ao cumprimento da letra constitucional, visto que nenhum motivo

plausível existia para que mais de vinte e dois anos depois da promulgação da

chamada Constituição Cidadã, não tenha sido implementada medida atenuadora da

dispensa do empregado, que é idiopática (infundada, desmotivada) em 90% dos

casos.

Ao se deparar com situações dessa natureza, o Judiciário deve estar prenhe

de Magistrados independentes e capazes de emitir sentenças possam afrontar o

poder econômico de forma independente e imparcial – expressão essa que deve ser

compreendida cum granus salis, na medida em que o Sistema Judiciário possui

escassos meios de defesa contra as investidas contra os perigos ou as limitações de

eficácia de suas decisões Nesse sentido, aliás, convém lembrar BOBBIO33, para

quem “ele (o Sistema Judiciário) pode cumprir a sua missão com tanto maior

serenidade, imparcialidade e adesão às normas quanto mais institucionalmente

estiver separado do resto do sistema político, constituindo, dentro dele, um

subsistema autônomo.”

Imperiosa, portanto, a desvinculação da magistratura de carreira da alça de

nomeação por parte do Presidente da República, na medida em que as instâncias

ordinárias (primeira e segunda) são as que efetivamente apresentam os 33 BOBBIO, Norberto. Dicionário de Política. Trad. Carmen C. Varriale et AL; coord trad. João

Ferreira; ver. Geral João Ferreira e Luís Guerreiro Pinto Cacais. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 13ª Edição, 2007, p. 1162.

51

amoldamentos da jurisprudência a ser aglutinada perante os Tribunais Superiores.

Além disso, a autonomia dos Tribunais Regionais na escolha e nomeação de seus

próprios prestigiaria a regra constitucional da autonomia administrativa e financeira

do Poder Judiciário, enquanto que a permanência do sistema composto de

nomeação dos Ministros dos Tribunais Superiores e do Supremo Tribunal ainda

permaneceria em prestígio ao também princípio constitucional da harmonia dos

poderes, operando-se, em outro viés, o sistema de freios e contrapesos, além

daquele que já é naturalmente hoje exercido pelo Conselho Nacional de Justiça,

conforme demonstrado alhures.

Urge, pois, dotar-se o Judiciário Federal de carreira de instrumentos que

possam viabilizar o atendimento ao princípio da eficiência e do cumprimento da

garantia constitucional de julgamento célere, e torna-se evidente, à luz dos

argumentos expendidos, que isso passa pelo prestígio aos Tribunais Regionais do

Trabalho e aos Tribunais Regionais Federais quando da formação das listas tríplices

de seus integrantes à nomeação pelo critério de merecimento. Essa medida

possibilitará o andamento célere dos processos de seleção, ao mesmo tempo em

que espancará – ou ao menos reduzirá significativamente – a possibilidade de

ingerência política estranha ao desiderato judicial.

Implementada a reforma do modelo constitucional, os ganhos institucionais

serão de enorme monta, mas são poucos diante do ganho sociopolítico do próprio

país, cujo desenvolvimento somente pode ser completo se suas três vertentes

funcionais (Executivo, Legislativo e Judiciário) estiverem integral e intrinsecamente

ligadas e voltadas a tanto.

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