Dark House - Karina. Halle

Embed Size (px)

Citation preview

  • 7/23/2019 Dark House - Karina. Halle

    1/202

  • 7/23/2019 Dark House - Karina. Halle

    2/202

    DADOS DE COPYRIGHT

    Sobre a obra:

    A presente obra disponibilizada pela equipeLe Livrose seus diversos parceiros,com o objetivo de oferecer contedo para uso parcial em pesquisas e estudosacadm icos, bem como o simples teste da qualidade da obra, com o fimexclusivo de compra futura.

    expressamente proibida e totalmente repudivel a venda, aluguel, ou quaisqueruso comercial do presente contedo

    Sobre ns:

    OLe Livrose seus parceiros disponibilizam contedo de dominio publico epropriedade intelectual de form a totalmente gra tuita, por acreditar que oconhecimento e a educao devem ser acessveis e livres a toda e qualquer

    pessoa. Voc pode encontrar mais obras em nosso site:LeLivros.siteou em

    qualquer um dos sites parceiros apresentados neste link.

    "Quando o mundo estiver unido na busca do conhecimento, e no mais lutando

    por dinheiro e poder, ento nossa sociedade poder enfim evoluir a um novonvel."

    http://lelivros.site/?utm_source=Copyright&utm_medium=cover&utm_campaign=linkhttp://lelivros.org/parceiros/?utm_source=Copyright&utm_medium=cover&utm_campaign=linkhttp://lelivros.site/http://lelivros.site/?utm_source=Copyright&utm_medium=cover&utm_campaign=linkhttp://lelivros.org/?utm_source=Copyright&utm_medium=cover&utm_campaign=link
  • 7/23/2019 Dark House - Karina. Halle

    3/202

  • 7/23/2019 Dark House - Karina. Halle

    4/202

  • 7/23/2019 Dark House - Karina. Halle

    5/202

    DiretoraRosely

    BoschiniAssistente

    Editorial

    CarolinaPereira daRocha

    Produtora

    EditorialRosngelade Araujo

    PinheiroBarbosa

    Controle deProduo

  • 7/23/2019 Dark House - Karina. Halle

    6/202

    FbioEsteves

    TraduoSantiagoNazarian

    PreparaoLuiza Thebas

    Projetog rfico e

    DiagramaoOsmane

    Garcia Filho

    RevisoVero Verbo

    ServiosEditoriais

    Ttulo original: D

    Copyrig ht 2011Halle

    Todos os direitosedio so reserv

    Editora Gente.

  • 7/23/2019 Dark House - Karina. Halle

    7/202

    CapaRetina 78

    Ilustrao deCapa

    Vero VerboServios

    Editoriais

    Produo doE-book

    SchfferEditorial

    Rua Pedro SoaresAlmeida, 114

    So Paulo, SP C030

    Tel.: (11) 3670-250

    Site:www.editoragent

    E-mail:

    gente@editorage

    Dados Internacionais de Catalogao na Publicao (CIP)

    (Cmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

    Halle, Karina

    Dark house / Karina Halle ; traduo Santiago Nazarian. So Paulo : Editora nica,2014.

    Ttulo original: Dark house.

    mailto:[email protected]://www.editoragente.com.br/http://www.studioschaffer.com/
  • 7/23/2019 Dark House - Karina. Halle

    8/202

    ISBN 978-85-67028-38-5

    1. Fico Literatura juvenil I. Ttulo.

    14-06225 CDD-028.5ndice para catlogo sistemtico:

    1. Fico : Literatura juvenil 028.5

  • 7/23/2019 Dark House - Karina. Halle

    9/202

    SUM RIO

    CAPTULO UM

    CAPTULO DOIS

    CAPTULO TRS

    CAPTULO QUATRO

    CAPTULO CINCO

    CAPTULO SEISCAPTULO SETE

    CAPTULO OITO

    CAPTULO NOVE

    CAPTULO DEZ

    CAPTULO ONZE

    CAPTULO DOZE

    CAPTULO TREZECAPTULO CATORZE

    CAPTULO QUINZE

    CAPTULO DEZESSEIS

    CAPTULO DEZESSETE

    CAPTULO DEZOITO

  • 7/23/2019 Dark House - Karina. Halle

    10/202

    Para meus pais Tuuli & Sven

  • 7/23/2019 Dark House - Karina. Halle

    11/202

    CAP TULO UM

    ESTAVA NUM CMODO CIRCULAR E BRANCO, com apenas uma claraboiaredonda para quebrar a monotonia. A vista l fora no era nada alm de um vazio retinto.O cheiro de poas da mar e de alga apodrecida penetrava entre as fendas onde o siliconese esfarelou. Eu no sabia onde estava nem por que estava ali, mas sabia que algo havia meatrado.

    Eu me virei, de repente consciente de uma porta, e vi um brilho cor de aafroderramando-se por debaixo da moldura da porta e iluminando levemente as austerasparedes. Ar frio fluiu com a luz e roou o dorso dos meus ps nus. O esmalte azul nodedo do meu p estava lascado, fazendo parecer que eu tinha apenas metade de umaunha. Isso atraiu mais a minha ateno do que o cho frio de madeira de lei e as sperasfarpas.

    As luzes se apagaram. A porta se abriu abruptamente, quase sem som, e um grandejorro de vento rtico atingiu meu corpo, fazendo a camisola esvoaar ao meu redor comouma bandeira rosa de polister.

    As placas do cho rangeram. Senti o peso de algo desconhecido viajar por seucomprimento at chegar aos meus ps. Eu no conseguia me mover, mas no tinha certezade que queria.

    As luzes de fora se acenderam de novo, iluminando abrasivamente o quarto escuro.Meus olhos ardiam. Um som de batida tomou meus ouvidos. Tampei-os com as mos atperceber que vinha do meu corao.

    Na porta, vi a silhueta de um homem.

    Meu corao e a batida pararam. O homem veio at mim, uma massa de imensurvelmalevolncia. Eu gritei e gritei at que as profundezas escuras dessa silhueta eram tudo o

    que eu podia ver. Eu ca nele, ca na escurido, num choro sem fim.At que

    Um par de mos agarrou meus braos e me puxou para cima. Elas me sacudiram atque a escurido atrs de meus olhos sangrasse num branco ofuscante.

    E de repente eu estava no meu quarto, deitada sob um banquete de lenisemaranhados com minha irm Ada olhando para mim. Sua testa estava franzida com arde preocupao, fazendo-a parecer anos mais velha do que seus quinze anos.

    Ela soltou meus braos e se afastou.

    Voc me matoude susto, Perry ela resmungou.

  • 7/23/2019 Dark House - Karina. Halle

    12/202

    Eu me apoiei nos cotovelos e olhei ao redor do quarto, para os psteres de shows demsica nas paredes e pilhas de LPs e CDs no canto, me reconfortando com suafamiliaridade. Minha guitarra eltrica, quase nunca tocada, descansava casualmente contraa bancada da janela, em um agradvel contraste com minha coleo de bichinhos depelcia.

    Olhei para o despertador. Dois minutos at ele tocar de modo descontrolado. Minha

    viso estava turva, como se eu ainda no estivesse propriamente no meu corpo. Ento? Ada disse, cruzando os braos. Ela ainda estava de pijama, mas sua

    carregada maquiagem j estava meticulosamente aplicada.

    Ento o qu? Eu repeti.

    Hum, al! No vai explicar por que seus gritos me fizeram largar meu rmel e vircorrendo para c?

    Porque voc tem um bom ouvido?

    Perry!

    Sua voz estava beira de um faniquito histrico. Ada estava sempre a um ou doisgraus de distncia de uma crise de adolescente.

    Bem, sei l. Tive um pesadelo, ou no sei o qu

    Havia sido um sonho, no? Minha lembrana estava se desvanecendo em fagulhas, equanto mais eu tentava relembrar, mais me dava branco. No entanto, aquela sensao,aquela terrvel sensao de medo ainda se prendia ao mago da minha mente como teiasde aranha pegajosas. Nem mesmo o claro sol de outono que brilhava atravs da janela eracapaz de limp-las.

    Ou no sei o qu zombou Ada. Parecia que voc estava sendo assassinada,sabe? Sua sorte que a mame no escutou.

    Ela inspecionou meu rosto mais de perto, em busca de sinais de doena mental. Elafazia isso com frequncia.

    Revirei os olhos e sa da cama, envergonhada das minhas coxas grossas queescapavam da minha longa camiseta do Bad Religion que se passava por pijama. Ada magra como um palito, mas da forma mais invejvel possvel. Ela tem toda uma belezasueca gostosa do lado da famlia da nossa me. Pele lisa, olhos claros, cabelonaturalmente loiro que ela clareou, por algum motivo, e uma estrutura alta e esguia.

    Com a sorte que tenho, puxei o lado italiano do meu pai. Sou baixinha (tenho ummetro e cinquenta e oito), tenho cabelo escuro e grosso e grandes olhos azuis/cinza quefuncionam como um indicador do meu humor ( o que me dizem). Tenho uma estruturacurvilnea pelo menos o que eu digo quando quero ser boazinha comigo mesma. Naverdade, eu costumava ter quase trinta quilos a mais, mas apesar de ter perdido peso, nofoi o suficiente. O fato que eu sempre boto a culpa de tudo nesses ltimos sete quilos.

    Caminhei at o espelho e averiguei meu rosto procurando por sinais contundentes deloucura. Eu estava uma merda, mas era comum ficar assim pela manh, antes de asminhas cinco xcaras de caf fazerem efeito.

    TRIIIIIM!

  • 7/23/2019 Dark House - Karina. Halle

    13/202

    Meu alarme despertou. Ada e eu demos um pulo. Ela levou a mo ao peito enquantoeu corria e desligava o alarme. Dei-lhe um olhar rpido.

    Estou bem, Ada. Foi s um sonho. Nem lembro mais o que foi.

    Ela levantou a sobrancelha desenhada para mim.

    T booom. Mas se eu for de novo chamada na escola porque voc teve umacidente vou ficar bem irritada.

    Ela se virou e saiu do quarto. Eu bufei.No, voc no vai ficar, pensei. Voc adorariaqualquer desculpa para sair da escola.

    E, de verdade, eu adoraria qualquer desculpa para sair do trabalho. Suspireiprofundamente. Senti uma pontada de uma esquisita tristeza pela empolgao do sonhoter terminado. O terror que havia bombeado pelas minhas veias desapareceu rapidamente luz da manh.

    Eu me aprontei para o dia e sa de casa, seguindo para minha moto que estava naentrada. Pelo menos meu meio de transporte ainda era empolgante.

    Eu sei, eu sei. Uma moto. J ouvi tudo isso: perigoso, vou morrer, vou pareceruma babaca. tudo verdade. Entretanto, eu no trocaria a Put-Put por nada no mundo.

    Put-Put no era uma moto como uma Harley (no sou esse tipo de babaca), masuma Fireblade 2004. Achei que era o suprassumo das motos. Elegante e rpida paradanar. Eu no era uma motorista impulsiva, e ficava na mesma velocidade que os outrosveculos da rua na maior parte do tempo. At que houvesse um congestionamento, da euultrapassava todo mundo pelo acostamento, gritando atravs do meu capacete: At maistarde, otrios!.

    Ganhei Put-Put quatro anos atrs, no meu aniversrio de dezoito anos. Eu estava na

    minha fase de dubl, quando pensei que ser uma dubl profissional era maisempolgante e lucrativo do que uma carreira em publicidade. Depois das aulas de moto,um ano de carat, algumas lies de skydiving e finais de semana aprendendo tiro ao alvopara usar armas, eu abandonei o navio e acabei com um diploma em comunicao. Noque ser dubl no fosse para mim, mas eu perdi o interesse. Minha me diz que souindecisa demais. Eu acho que sou apenas deliciosamente impulsiva.

    Por mais estranho que parea, eu meio que me arrependi desse diploma. Dizem ques vezes voc tem de passar pela faculdade para descobrir o que voc no quer versus oque voc quer fazer. E adivinhe s? Aps quatro anos na Universidade de Oregon eu

    decidi que publicidade no era para mim.Entretanto, o que posso fazer? Depois de terminar a faculdade e me mudar de Eugene

    de volta para casa, em Portland, a economia foi pro fundo do poo, e eu ainda tive sortede arrumar um emprego, ainda mais um relacionado ao meu diploma. Fui contratada poruma agncia em Portland, o que no poderia ter deixado meus pais mais felizes.

    Eu, em contrapartida, poderia estar mais feliz. Fui uma droga de recepcionista porquase um ano. No entanto, como meus pais gostam de lembrar, toda vez que reclamo,pelo eu menos tenho um emprego. Um emprego que suga minha alma e que eu odeiocom toda a fora do meu ser, mas, pelo menos, eu tenho um emprego. Eles tm razo; realmente o nico senso de identidade que tenho no momento.

  • 7/23/2019 Dark House - Karina. Halle

    14/202

    Enfim, eu estava indo para o meu trabalho naquela manh. Desci a Put-Put pelolongo percurso que levava entrada de casa e pensei em dirigir minha moto na direooposta. Ir a leste seria legal; eu poderia passar por Columbia River at chegar em Idaho, eento talvez juntar-me aos caubis em Montana ou seguir ao sul, para os desertos, ondemeu corao decolaria como as guias que sobrevoavam os pastos. Mas, como eu haviafeito na maior parte da semana at hoje, afastei a fantasia da cabea e rugi pela rua emdireo ao centro e responsabilidade. Ter uma moto era uma provocao daquelas.

    Boa tarde, Allingham & Associados, Perry eu dizia ao telefone. Estava chegandoa hora do almoo, e eu queria desesperadamente que essa manh mundana acabasse.Transferi a ligao para o devido ramal e olhei para o relgio do computador fazendocontagem regressiva para Alana chegar e assumir meu posto.

    Alana costumava ser a recepcionista antes de eu chegar, e acho que a garota odiava oemprego tanto quanto eu. Ela foi promovida a gerente administrativa e se ressentecompletamente pelo fato de que por dois intervalos de quinze minutos e uma hora do

    almoo ela tenha de cobrir a recepo para mim. Perdi as contas de quantas vezes euvoltei e encontrei gente com raiva na linha. Algo me diz que ela s vezes atende o telefoneusando meu nome e trata as pessoas como lixo para me arrumar problema, apesar de euainda no ter como provar isso.

    Sim, sou a primeira a admitir que no sou exatamente a melhor recepcionista domundo. Eu sinto que a recepo est abaixo de mim, mas por ser uma agncia reputada eeu ter acabado de pegar meu diploma, terei de cumprir minha pena. Achei que eu poderiacomear na recepo e ir subindo.

    Dito isso, espero que meus dias de provao estejam chegando a um

    misericordioso fim. Estou aqui h quase um ano sem nem um vislumbre de avano, e aeconomia no est tornando as coisas nem um pouco mais fceis.

    Estou presa. Ainda que eu more em casa no meu quarto de infncia e tenha boasrefeies caseiras todas as noites, queria cair logo fora de Dodge.

    Sei que s tenho vinte e dois anos, mas eu realmente achava que j teria chegado lnessa idade. muito ambicioso, porm no consigo evitar. Cresci sentindo sempre queeu era especial, como se fosse destinada a fazer algo de fato incrvel com minha vida e terum impacto na das pessoas. Esse provavelmente o motivo pelo qual eu passei por tantasatividades diferentes com o decorrer dos anos. De lies de guitarra a dubl, paraacampamento de fotografia, equitao, aulas de pintura e escultura no ymca, para, porltimo, mas no pior, escrever. Tentei todas as coisas para encontrar a minha coisa, massa com nada concreto para mostrar no fim das contas. Talvez se eu tivesse insistido eficado em apenas uma coisa, algo poderia ter acontecido, mas meu medo de que tudopossa passar direto por mim.

    Obviamente eu pensei que publicidade seria o meio perfeito para demonstrar minhacriatividade e fazer algo impactante no mundo, mas assim como os comerciais, nada oque parece.

    Pronto, cheguei.

  • 7/23/2019 Dark House - Karina. Halle

    15/202

    A voz nasalada de Alana atravessou meus pensamentos como uma furadeira. Levanteios olhos para ela enquanto tirava o fone e dava um sorriso. Um sorriso falso, masmesmo assim era um sorriso.

    Levantei e mostrei orgulhosamente a mesa com meus braos.

    Toda sua!

    Ela me lanou um rpido olhar de desdm antes de se jogar na cadeira giratria com

    um suspiro exagerado.Agarrei minha bolsa e segui rapidamente pela porta antes de ela decidir usar o

    banheiro ou algo do tipo. Desci de elevador e fui para meu costumeiro banco ao lado deum caf e tirei meu iPhone para filar o Wi-Fi grtis.

    Era um belo dia de outono, com um sol daqueles que aquece os braos, e no haviauma folha seca vista. O Noroeste Pacfico aproveitou um vero indiano este ano, e atagora a chuva havia tirado frias de grande parte de setembro. Em geral, nessa poca doano diabos, em todas as pocas do ano somos diariamente castigados pela chuva,uma umidade generalizada e um vento que gosta de virar seu guarda-chuva do avesso.

    Aps bisbilhotar o Facebook por dez minutos sem descobrir absolutamente nadade interessante sobre as pessoas que fazem parte da minha vida (mas nem tanto, comoparece ser no caso do Facebook), mudei meu statuspara a letra de uma msica e comeceia ler o blog da minha irm.

    Ada comeou seu blog de moda h cerca de seis meses, e ele est indo de fato muitobem. Ela sempre foi bastante ligada em moda. E como ela poderia no ser quando entraem todas as roupas que foram da nossa me? Nossa me era modelo h uns bons temposatrs, ento ela tem toneladas de peas de grife guardadas. Claro, com minhas fartas coxas,

    bunda gorda e estrutura corpulenta, no visto as roupas to bem quanto minha irm. Dequalquer maneira, no so meu estilo.

    Entretanto, admiro o jeito como minha irm consegue arrasar, usando coisas de grifecom elementos vintage, e aparentemente todo mundo gosta tambm. S de postar umafoto de si mesma todos os dias e escrever algumas linhas sobre o que est usando, ela jrecebe toneladas de cliques no blog, o suficiente para comear a ganhar dinheiro compublicidade.

    engraado, eu e minha irm praticamente crescemos separadas quando eu fui paraa faculdade. Acho que a diferena de idade era bem discrepante e, para ser honesta, eu

    no tinha a menor ideia de como me relacionar com ela. Ela era pr-adolescente quandoeu sa, e quando eu voltei ainda queria trat-la como minha irmzinha fofa.

    Agora, por estarmos h um ano confinadas novamente na mesma casa, eu me sintomais prxima. Ela comeou a se tornar mais uma amiga, o que de certa forma timo,mas s vezes eu me pergunto quando eu deveria fazer o papel de irm mais velha. Noconsigo entender o que ela quer quando posa espalhafatosa usando um traje curto demaispara o mundo inteiro ver. Eu no me sentiria confortvel me expondo assim. Da ltimavez, porm, que eu mencionei que ela poderia se tornar alvo de perseguidores (ou decoisa pior) ela apenas me desprezou e disse que nossa me aprovava.

    Admito que tenho um pouquinho de inveja, o que meio ridculo, uma vez que soua irm mais velha, mas ela j achou o prprio caminho e est progredindo.

  • 7/23/2019 Dark House - Karina. Halle

    16/202

    Exatamente o oposto de mim.

    Meu telefone tocou, afastando esse pensamento deprimente da minha cabea.

    Oi, docinho minha me disse em sua voz meldica. Ela ainda tinha um levesotaque sueco, mas nunca consegui perceb-lo.

    Oi, me respondi com um suspiro, sabendo que ela s estava ligando para verse eu estava inteira.

    Como voc est? Algum problema?

    No. Estou bem.

    Como est o trabalho? Ainda est no emprego, certo?

    Eu bufei novamente e murmurei:

    Sim. Essa era a pergunta diria dela. O lembrete dirio de nem sequer pens arem largar meu emprego. como se ela soubesse.

    Escute ela continuou , o que voc e a Ada iro fazer neste final de semana?Tio Albert est torcendo para que todos ns pudssemos nos reunir.

    O irmo do meu pai, Albert, morava num grande terreno beira-mar na neblneacosta de Oregon, e graas nossa proximidade ns dirigamos at l com frequncia. Eleera divorciado e vivia sozinho com seus meninos gmeos, Matthew e Tony, doisencrenqueiros de dezenove anos.

    Eu no tinha nada planejado para o final de semana. Se no fosse para o litoral,acabaria prostrada em casa assistindo a uma maratona de Lostsozinha.

    Depois de dizer a ela que iria e desligarmos o telefone, eu me estiquei no banco, como sol aquecendo minha legging marrom, e belisquei sem empolgao uns vegetais picados.

    Quase sucumbi ao chamado de um sanduche de bacon derretido do Subway ali ao lado,mas resisti.

    Terminei e voltei para o escritrio, derrotada pela vida de labuta. O sol provocava assardas no meu nariz, e a leve brisa bagunava meu cabelo, ento eu podia ver o tomvioleta da tintura nas minhas mechas pretas. Eu queria ficar l fora, cercada pelospeculiares prdios, pelas rvores verde-douradas, pelas pessoas indo e vindo de vidasmais empolgantes do que a minha. E eu s queria que esses ltimos raios de verodurassem para sempre. Contudo, o dever chamava e, como sempre, chamou.

    Entrei no saguo e esperei o elevador. Enquanto estava nos ladrilhos frios e duros,

    senti a presena de algum atrs de mim. Estranho, eu no havia visto ningum quandoentrei, nem ouvi a porta se abrir ou fechar atrs de mim.

    Um sentimento assustador tomou conta de mim. Eu me lembrei do sonho que tive.De repente, me senti inexplicavelmente apavorada.

    Hesitei em me virar. Na minha imaginao frtil achei que iria me deparar com algoterrvel, mas me virei mesmo assim.

    Havia de fato algum sentado no sof branco do saguo. Era uma velha senhora queparecia estar desajeitadamente se esforando em ser uma jovem senhora. Ela devia ter uns

    oitenta anos, estava usando um vestido de tafet vermelho enfeitado com pequenospompons e usava uma excntrica maquiagem borrada. Ela estava com um delineador roxo

  • 7/23/2019 Dark House - Karina. Halle

    17/202

    exagerado, clios postios, uma pincelada laranja sobre as murchas mas do rosto e, omais perturbador, o batom vermelho metade em seus lbios e metade em seus dentes. Elaestava l sentada, com um sorriso largo para mim. Parecia congelada, ou presa no tempo.

    Tentei disfarar meu choque no sei como no vi essa pea quando entrei e deia ela um rpido sorriso e me virei prontamente. Eu me senti aliviada quando as portas doelevador por fim se abriram.

    Entrei depressa e apertei o boto de fechar antes de qualquer outro. Olhei para elaenquanto as portas se fechavam. Ela permanencia imvel, com um sorriso perturbadorainda estampando seu rosto. Seus olhos, vazios e sem piscar, no combinavam comaquele sorriso.

    As portas se fecharam e eu soltei um profundo suspiro de alvio. Eu estava at meiotrmula. Aquela sensao terrvel durou por mais uns cinco minutos, at eu colocar meuheadsete o bombardeio dirio de ligaes mal-educadas e visitantes impacientes varrerema cena da minha cabea.

  • 7/23/2019 Dark House - Karina. Halle

    18/202

    CAP TULO DOIS

    ISSOQUEVOCVAIUSAR?MINHAme perguntou.

    Eram dez da manh de sbado, e eu estava cansada demais para lidar com qualquercoisa vinda da boca da minha me.

    Ada e eu estvamos carregando as malas para o carro dos meus pais quando minhame notou meu modelito do dia. Pelo tom, supus que no fosse apropriado para a

    famlia, apesar de ser o que eu usava praticamente todo dia. Coturnos, legging preta e umablusa felpuda de angor propositalmente desfiado.

    Eu suspirei e joguei minha mala no carro. Coloquei as mos na cintura e olhei paraela. Ela entrou no banco do passageiro lenta e educadamente, usando um tubinho pretocom alcinhas amarelas e um sobretudo combinando. Seu cabelo loiro com luzes perfeitasestava preso num coque frouxo no topo da cabea e emoldurado pelos enormes culosde sol Chloe. Ela parecia uma herona perfeita de Hitchcock, e eu me perguntava se erapor isso que eu tinha tanta afinidade com os filmes dele. Notei a decepo no rosto dela epercebi quanto ela estava vestida inapropriadamente (estvamos indo para a praia, faa-meo favor), ento lembrei que eu gostava dos filmes do Hitchcock por causa da macabraviso de humanidade que eles tinham.

    Por que, o que h de errado com a minha roupa? Perguntei a ela enquantotrocava olhares com Ada, que deu de ombros com cara de no me meta nisso.

    O seu suter est rasgado, querida. Seus primos vo achar que no podemoscomprar roupas novas para voc.

    Ai, que seja, me! Disse Ada, que sensatamente vestia calas jeans skinny emtom pastel, sapatilhas e um colete peludo preto sobre uma camiseta encolhida do Alice inChains (que era minha, claro, como se ela soubesse quem era o aic). O preo original

    da blusa da Perry era bem mais de cem dlares; felizmente ela comprou por quarentadlares.

    Franzi o cenho para ela enquanto entrvamos no banco de trs do carro. Eu notinha ideia de como ela sabia dessas coisas aleatrias da minha vida.

    Sabendo o que eu estava pensando, ela acrescentou:

    Vi para vender na internet. Sabia que voc iria comprar, bem o tipo de coisabagaceira que voc curte.

    Ok, l vamos ns! Nosso pai disse com seu vozeiro e sacudiu o carro quando

    sentou no banco da frente. Ele ajustou o retrovisor e deu uma piscadela para a gente. Por

  • 7/23/2019 Dark House - Karina. Halle

    19/202

    sorte ele no ouviu a conversa, sempre que dinheiro era mencionado na nossa famliahavia uma briga.

    Meu pai um homem grandalho que tem uma risada autntica e um apetite maisautntico ainda (da aquela barriga de chope crescendo sem parar) e que se identificaafetuosamente com sua herana italiana. Apesar de ele e seus irmos serem uma segundagerao de italianos, voc jamais saberia. Eles falam italiano fluentemente, em especial com

    as mos. perigoso fazer meu pai falar quando ele dirige, ou a qualquer hora, naverdade. Eu me lembro de quando Ada e eu compramos para ele uma coleo de filmesitalianos clssicos e, no entusiasmo, ele acertou meu rosto. Acho que minha me ficoubem puta da cara com isso, provavelmente porque meu pai tem tambm umtemperamento daqueles. No me leve a mal, meu pai nunca me bateu de propsito nemem ningum da famlia, mas quando seu rosto fica vermelho e ele comea a inflar asbochechas, sua pequena estatura de repente parece ganhar trs metros de altura, e ele setorna a criatura mais assustadora da face da Terra.

    Ele tambm workaholic, o que no ajuda muito. Por ser professor de Histria e de

    Teologia na Universidade de Portland no passamos tanto tempo com ele quantoprovavelmente deveramos.

    Tenho mais traos do meu pai do que da minha me. Ns dois somos muitosensveis, mas eu no consigo disfarar. s vezes sinto que sou uma gigante rbita devibraes e sentimentos que derruba todos minha volta, enquanto meu pai conservaessa energia em outro lugar (como combustvel para uma exploso posterior). Uma dasmaiores diferenas entre ns sua f inabalvel. Ele aceita as coisas e segue em frente, e eusempre preciso questionar, discutir, sempre preciso perguntar por que at ficar roxa.Queria conseguir deixar as coisas passarem com a mesma facilidade que ele.

    Por exemplo, nesse dia, enquanto meu pai nos levava tranquilamente at a I-5, eu noconseguia parar de pensar em outro sonho que tive, enquanto ele apenas deixaria passarcomo um pesadelo comum e seguiria em frente. Contudo, desde que eu existo, comum um termo raramente aplicado a mim.

    A noite anterior foi como qualquer sexta-feira. Eu pratiquei algumas msicas naminha guitarra (eu me sinto culpada por t-la deixado de lado), coloquei a roupa paralavar e assisti a um ou dois episdios de Uma famlia da pesadaantes de dormir. Talveztenha sido o caf que eu tomei to perto de deitar; no consegui dormir por um bomtempo, fiquei me revirando enquanto meus ouvidos apanhavam os mais leves rudos de

    Ada roncando que vinham do corredor e o leve farfalhar de rvores fora da janela. Atmesmo os nmeros brilhantes do meu despertador faziam meu quarto parecer umasupernova.

    Eu devo ter pegado no sono em algum ponto da noite, porque acordei com umsobressalto. Meu corpo estava gelado de dentro para fora, como se soro estivessepenetrando nos ossos e me preenchendo com um terror lquido. Minha respirao estavacongelada. Todos os membros estavam fora do lenol, duros como uma tbua. Pareciamexpostos e nus, e eu tinha vises de monstros que vinham mord-los, talvez pequenasmos que vinham de baixo da cama e decepavam meus dedos das mos e dos ps. Eu s

    queria enfiar meus braos e minhas pernas nos lenis e mant-los seguros. O medo eramuito real.

  • 7/23/2019 Dark House - Karina. Halle

    20/202

    No entanto, eu no conseguia me mexer. No porque era fisicamente impossvel, masporque eu no queria.

    Algum estava em frente minha porta. No comeo achei que fosse meu roupopendurado no gancho. O quarto estava mais escuro do que nunca, e, sem virar a cabea,eu sabia que a luz do meu relgio havia se apagado. Conforme meus olhos se ajustavam sprofundezas, me lembrei de que meu roupo ainda estava na secadora e que essa coisa

    tinha dimenses e largura maiores.Eu fiquei ali observando, pelo que pareceu ser vrios minutos. Acho que no

    respirei uma nica vez por medo de chamar ateno para mim. Eu no sabia o que era,mas permaneceu bem parado, o que era ainda mais perturbador. Mrbidos arrepiosarranharam minha espinha.

    Um holofote piscou repentinamente no meu quarto como uma rajada, iluminandotudo com uma intensidade precisa. Por um quarto de segundo eu vi a coisa. Um casacocom capuz feito de pele oleosa e mida e, ento, um rosto, sem olhos, mas um sorrisolargo, branco. O sorriso se partiu. Gengivas negras. Um abismo.

    EntoTRIIIIIIM!

    Meu alarme tocou.

    E num instante era de manh. O sol forte tomava o quarto, expondo seus inofensivosburacos e fendas. No havia nada na porta e tudo estava como eu deixara. Suavesfragrncias de bacon e caf vinham do andar de baixo. Foi apenas mais um sonho.

    A lembrana me fez tremer. Minha me me olhou desconfiada pelo espelhoretrovisor.

    isso que voc ganha com um suter esburacado.O ar-condicionado que meu pai ligara toda definitivamente no ajudava, mas eu

    suspirei e apoiei a cabea na janela fria. Carros passavam em todas as direes. Os camposna rodovia eram de um verde vivo sob o cu claro limpo, desafiando o tom frio dooutono. Prxima semana j seria outubro, mas ainda estava um clima fresco como um diade junho.* Pelo menos isso. Meus sonhos teriam sido muito mais pesados no climatpico de outono, com o cu escuro, ventos uivantes e chuva forte. Normalmente eu amavaas tempestades e a atmosfera soturna que seguia com o Halloween e todas as coisasassustadoras, mas os dois sonhos extremamente realistas, a inquietante desconhecida no

    saguo e essa sensao de ansiedade que vinha me acompanhando me deixaram no limite.Olhos perfuraram um buraco na lateral da minha cabea. Ao me virar, encontrei Ada

    me encarando. Em suas mos, havia uma revista de moda; em suas orelhas, o iPod.

    Notei quo perfeitas estavam suas unhas feitas, o brilho do esmalte vermelho e apreciso da aplicao. Eu nem precisava olhar para as minhas mos para saber como elasestavam.

    Ela espremeu os olhos azul-celeste.

    O que voc tem ultimamente?

    Qu? Perguntei, um pouco na defensiva demais.

  • 7/23/2019 Dark House - Karina. Halle

    21/202

    No te vejo area assim desde que ela no completou.

    Dei a ela um olhar atravessado e no ousei espiar minha me no espelho retrovisor.Eu sabia que ela estaria me observando cuidadosamente.

    Estou bem disse com firmeza.

    Ela se inclinou um pouco mais perto e abaixou a voz.

    Voc teve outro sonho?

    Eu suspirei e assenti.

    O mesmo?

    No, diferente. Ainda assim foi fod me interrompi, me lembrando de ondeeu estava foi to bizarro quanto.

    Eu no te ouvi gritando feito louca dessa vez.

    Foi o suficiente para minha me se meter. Eu sabia que ela estava apenas esperandopor uma deixa.

    Do que vocs esto falando? Ela se virou no assento, olhou para ns e focouem mim com uma preocupao maternal. Est tendo pesadelos, Perry?

    No sei se so exatamente pesadelos respondi de maneira to casual quantopossvel.

    A ltima coisa que eu queria era que minha me se preocupasse que eu estivesseficando maluca. Ela sempre estava a postos para tirar concluses precipitadas.

    Ada bufou.

    Ela me acordou ontem berrando, acabou com a minha manh. Sorte sua estarcorrendo na hora, me; ela estava zoada. Pssima.

    Lancei um olhar a Ada, mais irritada com o uso da palavra pssima do quequalquer coisa.

    Minha me me olhou triste.

    Berrando, Perry, srio?

    Revirei os olhos e foquei na paisagem que passava pela janela.

    No foi nada. Nem lembro mais o que era.

    Mentira deslavada. Eu lembrava mais claramente a cada hora. Detalhes ntidos, sem

    sentido, como as salincias que percorriam a renda da minha camisola. Podia sentirminha me e Ada ainda me encarando. Estavam preocupadas. Era a ltima coisa que euqueria.

    Sabe, no tornei a vida fcil para minha famlia. Apesar da minha criaorelativamente normal, eu sempre fui uma criana problema de certa forma. Quando euera nova, ainda com apenas um dgito de idade, tinha um monte de amigos imaginrios (einimigos tambm, o que bem assustador). Ok, na verdade eu achava que eles eram reais(meu cavalo imaginrio, Jeopardy, era o mais legal), mas acontece que eu tinha umaimaginao extremamente frtil, e meus amigos no eram reais no fim das contas. Meus

    pais surtaram por causa disso e me mandaram para vrios tipos de psiclogos paraencontrar alguma cura.

  • 7/23/2019 Dark House - Karina. Halle

    22/202

    Para ser honesta, eu no me lembro muito bem desse tempo. Talvez esteja tudoreprimido. Eu no sei, mas o que quer que tenham feito comigo funcionou. Meu cavalofugiu e nunca mais voltou, e meus pais se acalmaram.

    Isso at o ensino mdio, quando eu era a tpica infeliz. Eu era gorda (ou pelo menosacima do peso para os padres da escola). Tinha algumas amigas, mas ainda me sentiasozinha. As pessoas tiravam sarro de mim. As meninas eram ms, e os meninos bem,

    os malvados eram terrveis e os bonzinhos eram de certo modo ainda piores. Eu era acolega deles, a confidente, nunca a namorada. Eu tinha de ouvi-los falando sobre comoalgumas meninas eram lindas e me sentia o coc do cavalo do bandido.

    As coisas iam de mal a pior, e minha sade mental levou uma bela surra. Ento fiz aestupidez de me meter com drogas. Muita maconha, muita bebida, analgsicos quelarapiava da minha me, s vezes cido. Tentei cocana tambm, com a ideia estpida eabsolutamente vazia de que me faria perder peso. Eu no perdi peso nenhum s fiqueimais gorda e com mais raiva. Eu tento no me arrepender de muitas das coisas que fiz,mas me arrependo de ter usado drogas. S piorou minha condio, a ponto de eu sentir

    como se tivesse perdido contato com a realidade.Para melhorar, eu tambm comecei a cortar os braos para chamar ateno, escreverterrveis poemas trgicos e s me alegrava na escurido total. Sei que soa egosta admitir,mas aceito esse perodo como uma fase terrvel pela qual tive de passar. Eu odiava tudo etodo mundo, especialmente meus pais e, acima de tudo, a mim mesma.

    Ainda tenho cicatrizes dos cortes nos braos. Esto desbotando quase sumiram mas esto l, assim como as cicatrizes no meu corao. Minha histria no l todiferente da histria de outras pessoas, mas s vezes me pergunto se eu ainda me sentiriato sozinha e com raiva se no tivesse passado por tudo isso.

    Olho para Ada. Ela s tem quinze anos e tem tudo. Claro, ela fica emburrada a maiorparte do tempo, mas muito popular, tem o guarda-roupa mais desejvel do mundo e jtem certa fama. Eu era aquela que esperava (no fundo e em segredo) que de algumamaneira fosse puxada das massas e me tornasse um exemplo. Olhe a Perry agora. Ela era

    erdida, uma gorda zoada, e agora est no topo do mundo.

    No entanto, no aconteceu ainda, e eu perco minha f e meu otimismo medida quefico mais velha. Ainda no tenho certeza de que um dia vou chegar l. Ada, porm, j estl e, apesar de eu ser mais velha que ela, ainda estou sombra. Minha irm um lembretede quo injusta a vida . No toa que nosso relacionamento complicado.

    Olhei para minha me e dei a ela o sorriso mais sincero. Estou bem, me, srio. S estou cansada, s isso.

    Ela balanou a cabea e virou para a frente, mas eu podia ver um peso no seusemblante.

    todo aquele caf que voc bebe, Perry. No faz bem!

    Eu queria contar a ela que, pelo contrrio, pesquisadores recentemente descobriramfortes indcios de que o caf de fato previne uma infinidade de doenas, mas contiveminha necessidade de inform-la e me encostei novamente naquele pesadelo de ar-

    condicionado enquanto seguamos em direo costa.

  • 7/23/2019 Dark House - Karina. Halle

    23/202

    Chegar casa do meu tio sempre um alvoroo. Sendo um solteiro, Al nuncasoube preparar bem a casa ou agir como anfitrio, ento geralmente as reunies sopouco convencionais.

    Meus primos, Tony e Matt, estavam preguiosamente sentados no sof jogandovideogame enquanto Al acendia a churrasqueira no quintal. A cozinha estava umacompleta zona.

    Meu tio e seus filhos no viviam numa propriedade comum. Pelo contrrio, elesmoravam num terreno incrvel perto do mar ao sul do vilarejo turstico de Cannon Beach.Era uma fazenda de laticnios que pertencia ex-mulher de Al, mas ela a abandonou (e osfilhos) quando fugiu com um piloto para o Brasil ou algum lugar do tipo. As vacas seforam h muito tempo, e a terra hoje apenas um campo rido de grama alta e implacvelcom um grande celeiro que me encantava quando eu era pequena (eu adoro vacas), masque agora me d calafrios.

    No tanto, porm, quanto a estrutura do lado oposto da propriedade de cem acres o farol. O quintal basicamente um longo gramado com dunas de areia vermelha e

    rochas que descem at o oceano revolto. esquerda da praia, subindo por um pequenopenhasco (fora da vista da casa) h um farol em runas. Eu no sabia direito quem eraresponsvel por ele antes, mas fazia parte da extensa propriedade do tio Albert. Pelo quesoube, estava desativado havia pelo menos cinquenta anos, e Al no tinha interesse emcuidar dele. Estava l, esquecido e sem luz, uma casa escura com vista para o mar.

    Na verdade eu nunca entrei no farol. Minha curiosidade e fascinao mrbida noeram preo para os limites que a minha famlia impunha. Eu sabia, porm, que Tony eMatt haviam entrado l algumas vezes com amigos.

    Tive uma vontade repentina de saber se Matt e Tony estariam dispostos a explor-lo

    mais tarde. Eu me sentia atrada a ele mais do que o comum, como se visitar o farol fossecolocar minha atual situao em outra perspectiva.

    Isso teria de esperar. Como de costume, minha me, Ada e eu fomos ajudar o tio Ale os meninos a organizar um churrasco minimamente funcional, limpando a cozinha emontando a mesa l fora para o banquete.

    Estava um dia excepcionalmente bonito l fora. Na verdade, fiquei meio decepcionadacom isso, acredite se quiser. O sol estava lindo, mas a falta de vento significava que o marrevolto, que geralmente ajudava a limpar minha mente de toda a porcaria, estava tranquiloe suave, as ondas batendo calmamente na praia distante. E meu fenmeno favorito aneblina no podia ser avistado.

    O terreno deles fica logo antes da parte mais elevada da rodovia Pacific Coast, e nesse trecho que o Oceano Pacfico manda em direo costa massas de nvoa e neblinaque se prendem de cada lado da propriedade. Assistir a essa neblina selvagem chegar erauma das coisas de que eu mais gostava quando visitava meus primos. Havia algo desobrenatural nesse nevoeiro e na maneira como ele lentamente se aproximava da terra,vindo mais a cada batida rtmica das ondas quebrando e pairando pouco acima dasuperfcie, como uma nave-me do tamanho de um continente.

    Quando o churrasco acabou, os meninos se juntaram a ns. Como descrever Matt eTony? Antes de tudo, eles no so gmeos idnticos, mas voc dificilmente saberia disso

  • 7/23/2019 Dark House - Karina. Halle

    24/202

    pela maneira como eles agem. So inseparveis, praticamente siameses. Uma vez ouvi poracaso minha me dizendo ao meu pai que isso um pouco estranho na idade deles.

    verdade, eles tinham dezenove e j haviam passado da fase fofa de gmeos, massempre foram um pouco mais imaturos para a idade que tinham. No apenas emaparncia, os dois tm mais ou menos a mesma altura e a mesma estrutura gorduchinha,olhos redondos e nariz achatado, mas tambm em comportamento. Dito isso, eu acho

    difcil encontrar um garoto de dezenove anos que no se comporte como se tivesse doze.Eles se aproximaram segurando cervejas e com um sorriso malandro. Bebida para

    menores nunca foi um problema na casa deles, mas de vez em quando deveria ter sido.Os meninos sempre foram um problema, mas s depois de certa idade comearam aarrumar encrenca pra valer. Tony foi pego dirigindo bbado ano passado, e sua carteira demotorista foi detida. Matt foi preso por invadir a piscina de um clube no comeo do ano(Tony tambm havia invadido, mas fugiu antes de os guardas o flagrarem) e ambos forampegos vrias vezes com maconha. Eu no sei direito como Al lida com tudo isso, maspelo recente e acelerado crescimento de cabelo branco em sua cabea, estava

    provavelmente pagando o preo. E a, prima? Matt disse e me deu um rpido abrao.

    Tony s me deu um tapo nas costas. Eles so uma dupla esquisita, mas eu noposso evitar sentir muito afeto por meus primos.

    Tudo certo, caras? Fugindo de encrenca? Eu pisquei para eles.

    Tentando Matt disse. Ele lanou um olhar terno para o pai e deu de ombroscasualmente para mim. Alguns amigos esto vindo noite para fazer uma fogueira napraia.

    Tenho uma lata de combustvel para levar Tony acrescentou.Ah, excelente. Gasolina, bebida e meus primos, o que poderia dar errado? A ideia defazer uma fogueira com um bando de garotos novos era mais empolgante do que as noitesna casa do meu tio, tentando jogar palavras-cruzadas com a famlia sem algum(geralmente eu ou meu pai) virando o tabuleiro com raiva.

    O resto do dia seguiu sem incidentes. Quando tudo estava preparado para a noite, eusegui para a habitual explorao do terreno com minha cmera slr.

    Depois de vagar pelos campos, com a minha legging mida de orvalho da noitepassada que ainda se prendia grama alta e marrom, acompanhei a bela cerca quebrada

    que separava a propriedade deles da fazendo de queijo do vizinho. Tirei a blusa e aamarrei na cintura; o sol estava prazerosamente quente.

    A atmosfera estava tomada pelos sons suaves de ondas, pssaros que voavam sobreminha cabea e o ocasional mu do gado distante. Atrs de mim havia as colinas depinheiros que se erguiam nas falsias prximas e o horizonte ondulado. frente haviauma cerca para as vacas, que meus coturnos atravessaram com facilidade e, alm disso, asdunas manchadas e a folhagem dura.

    Eu subi ao topo de uma pequena duna e olhei para minha esquerda. Entovislumbrei o farol, com sua cabea redonda e tinta descascada no telhado vermelhoenferrujado. O farol no era a tpica coisa erguida com aparncia flica. Em vez disso, eraconstrudo num prdio de dois andares que se erguia como uma torre de sino (eu achava

  • 7/23/2019 Dark House - Karina. Halle

    25/202

    que ele se parecia com a torre do sino de Um corpo que cai, do Hitchcock). O prdioestava lacrado, e a luz do farol no funcionava, mas parecia vivo para mim, como seestivesse apenas dormindo.

    Estava olhando para o farol quando a brisa aumentou. Veio de fora da costa, fazendoo ar mido e salgado varrer meus braos. Eu estremeci e vesti minha blusa de novo.Enquanto eu vestia, espiei por um dos buracos da frente. Vi um movimento na porta do

    farol, como se algum tivesse caminhando para a frente dela.Eu congelei. Ento rapidamente enfiei de vez a blusa para enxergar melhor.

    No havia ningum.

    Um calafrio percorreu minha espinha. Eu estava prestes a seguir para o farol quandoouvi minha me me chamando, sua voz fraca no vento profundo. Ponderei por uminstante e ento decidi que talvez entrar em casa, com os risos, a famlia e uma taa devinho deveria ser a melhor escolha. Observei o farol mais um pouco, at a falta demovimento amenizar minha curiosidade, e voltei para a casa.

    Era cerca de dez da noite quando nossos pais finalmente se retiraram para seusquartos. Ada e eu estvamos assistindo a um filme B dos anos 1950 (None of Them KnewThey Were Robots), mas no minuto em que eles disseram boa noite ns pegamos nossacaixa de vinho e fomos para a praia.

    Matt e Tony j estavam l, com vrios amigos. Como a praia no tinha uma cerca deproteo, eles saam com facilidade da estrada para a areia com seus 4X4 sujos.

    O vento aumentava medida que a noite avanava, e eu fiquei grata pela jaquetaquente e o cachecol que eu havia trazido. O cu da noite ainda estava claro com milhes

    de estrelas polvilhando a tela lisa acima. Ao longe, uma massa turva e cinza de neblinapodia ser avistada. No estava se aproximando, apenas pairando. Esperando longe dapraia.

    A fogueira estava toda, graas generosa contribuio da lata de gasolina do Tony,que eu acabei confiscando e mantendo longe de ns do outro lado de uma duna.

    A cena era aconchegante. Eu estava aninhada ao lado dos gmeos e de alguns de seusamigos num longo tronco que havia sido lanado pelo mar. Do outro lado da fogueirahavia mais pessoas, alm de Ada.

    Eu estava bem de olho nela. Ela j tinha dado umas bicadinhas em vinho e cerveja anoite toda. Bom, eu definitivamente no podia falar nada; na idade dela eu estava fazendocoisa bem pior, mas que eu saiba, Ada no era de beber. Na verdade, eu nunca a haviavisto bbada antes, e ela obviamente estava agora. Agora estava bebendo Old English deuma garrafa de um litro envolta num saco de papel (porque era cool?) e alternando entreacariciar e dar uns malhos num cara seboso chamado de s, o que me irritava um pouco.

    s provavelmente era o menos palatvel de todos os amigos de Matt e Tony. Paracomear, eu j sabia que ele tinha namorada. Ele estava falando dela mais cedo e, comovoc pode imaginar, no eram belos elogios. Se isso no bastasse, uma vez ouvi Al dizerque os gmeos no se metiam em encrenca at conhecerem o s. O nome dele, por sinal,

  • 7/23/2019 Dark House - Karina. Halle

    26/202

    no tinha o menor sentido para mim. Ele devia ter metade do qi de algum desses realityshows babacas.

    Como sempre, o fato de que Ada parecia estar se divertindo horrores me atingia damaneira errada. Agora era porque eu no tinha um cara para dar uns amassos. No queeu pudesse querer relar no s ou em qualquer um dos amigos do Matt e Tony, isso nemem um milho de anos bem, ok, no exatamente assim. Havia um cara bonitinho do

    outro lado da fogueira em quem eu deveria estar dando em cima se eu no fosse umacompleta tapada com homens. Ele era meu tipo: alto, ombros largos, olhos claros e umcabelo castanho ondulado lindo que reluzia no brilho da fogueira.

    Apesar de estarmos trocando olhares de paquera atravs do fogo (pelo menos osmeus eram de paquera; ele provavelmente estava apenas com fumaa no olho), eu estava aquilmetros de algum tipo de iniciativa. Depois de anos sendo zoada por causa de suaaparncia, voc comea a se sentir bem insegura em relao ao sexo oposto.

    Suspirei e olhei para as ondas escuras que batiam na praia. Eu sabia que estava umpouco bbada com vinho vagabundo, mas sentar perto da fogueira e beber com um

    bando de adolescentes comeava a ficar sufocante. Eu queria me levantar e explorar,queria inspecionar o farol.

    Considerei convidar os gmeos ou Ada e seu novo brinquedinho, mas bastou umaolhada ao redor da fogueira para que algo me dissesse que era melhor essa molecada ficarperto da casa. A ltima coisa de que o tio Al precisava era de um bando de bbados indopara o farol no meio da noite. Eles provavelmente incendiariam o troo todo.

    Desci do tronco e bati a areia do bumbum. Me aproximei de Matt, tentando nochamar ateno, e disse a ele que ia dar uma volta e que os encontraria mais tarde.

    No v fazer nenhuma idiotice ele aconselhou.

    Eu adoraria ter perguntado o que uma pessoa como ele considerava idiotice, mas nofoi necessrio. Em vez disso, cochichei para ele ficar de olho na Ada. Felizmente pareciaser algo que ele poderia fazer.

    Eu me afastei da fogueira em direo ao mar at que a luz das chamas estivessedistante demais para iluminar o caminho, ento liguei o aplicativo de lanterna do meuIphone. Era um feixe de luz branca bem pattico, mas j me ajudava a seguir pela praia epelos pedaos de madeira vindos do mar. O farol estava visvel sob a luz oscilante do luar,esperando por mim.

  • 7/23/2019 Dark House - Karina. Halle

    27/202

    CAP TULO TR S

    ACAMINHADAATLFOIMAISDIFCIL do que eu esperava. O farolestava situado no topo de um pequeno penhasco, o que significava uma escalada quasevertical com mos e joelhos. Tentei segurar meu iPhone com a boca por um tempo atperceber que era melhor deixar meus olhos se ajustarem escurido.

    Com as mos midas pela grama borrifada pelo mar e sujas de terra grossa, eulentamente segui at o topo. Do outro lado, o penhasco se estreitava suavemente em dunasonduladas, e atrs do farol o cho coberto por um matagal rasteiro levava a uma florestaescura. Ventava mais ali e o barulho das ondas batendo contra as grandes rochas era maisalto. De tempo em tempo, o vento borrifava gua do mar no meu rosto.

    O contorno escuro do prdio do farol se agigantava minha frente. Foi o suficientepara me fazer parar para pensar por um segundo.

    Sei que s vezes sou impulsiva. Em algumas situaes chego ao ponto de meucrebro gritar para que eu pare. Essa foi uma dessas situaes. Eu estava com frio, otempo estava piorando, eu tinha bebido algumas taas de vinho, era tarde, ningum sabiaonde eu estava e, ainda assim, minha principal preocupao era tentar entrar num velho eassustador farol.

    Por mais que meu lado imprudente estivesse instigado a explor-lo, o lado racionalsabia que provavelmente era a ideia mais estpida que se possa imaginar, em especialporque eu tinha essa sensao de medo generalizado do lugar.

    Sei que disse antes que parecia como se o farol estivesse esperando por mim, e eraverdade. No sei se era o destino disfarado de medo, mas eu realmente queria que aquelapequena parte responsvel do meu crebro (a parte adulta, ouso dizer) pudesse medominar e me levar de volta casa do tio Al.

    Em vez disso, decidi pegar minha cmera. Coloquei a ala ao redor do pescoo eliguei o modo de vdeo. Uma gritante luz branca azulada iluminou o cho minha frente.Respirei fundo e mirei a cmera no farol. Comecei a gravao; seria bom ter algumregistro da minha breve explorao.

    O farol estava a poucos metros de mim, banhado por aquele soturno brilhoeletrnico. A maioria das janelas estava lacrada, mas havia uma vidraa ou outra noobstruda, quebrada ou lascada nos cantos. De perto o prdio era absurdamente alto eevocava uma sensao de densidade. A tinta branca estava descascando, com manchaspretas cintilantes atacando sua superfcie spera. Provavelmente era mofo; no escuro

    pareciam ndoas de sangue. Eu estremeci com esse pensamento e endireitei a cmera.

  • 7/23/2019 Dark House - Karina. Halle

    28/202

    Apontei-a para o segundo andar e examinei a torre. O topo estava escondido, e a luzda cmera agora s conseguia alcanar as nuvens da grossa neblina que estava chegando.Segui em direo frente do farol, onde os arbustos atacados pelo forte vento convergiamnos flancos do penhasco. Averiguei o prdio. Queria entrar, mas no tinha ideia de como;a porta enferrujada estava fechada com um cadeado que com certeza eu no conseguiriaabrir.

    Isso estupidez eu disse alto para mim mesma. O som da minha voz erareconfortante. Era estupidez mesmo. Eu devia ter dado meia volta.

    Em vez disso, continuei olhando ao redor. Caminhei o mais prximo possvel doprdio, sem confiar no solo ao redor, ento cheguei frente do farol. Parecia que a beirado penhasco estava a uma distncia suficientemente segura da fundao, talvez uns cincometros. Havia alguns arbustos na base da torre, e sobre eles uma grande janela redonda.Havia uma nica tbua vedando-a. Acima da janela do piso trreo havia outra janela,depois outra, depois outra, at o topo da torre de vigia. Caminhei at a janela e vi que atbua havia sido pregada por dentro. Eu sabia o que precisava fazer e estava bem animada

    para faz-lo.Forcei a placa para testar sua resistncia. Parecia que cairia sem muito esforo, o quepara mim era perfeito.

    Virei a cmera para que filmasse meu rosto num closeextremo.

    Chegamos ao nosso primeiro obstculo, uma janela lacrada. Eu disse cmera. Isso, porm, um desafio para Perry Palomino.

    Coloquei a cmera no cho apoiada a uma rocha, para que continuasse me filmando,e dei um passo atrs. Com as pernas em posio firme e minha postura alinhada, avancei.Meu corpo estava apoiado no ngulo exato, meu brao estendido com preciso at que apalma da minha mo encontrou a tbua. A fora foi o suficiente; os pregos sedesprenderam e a tbua caiu l dentro com um estrondo ecoante.

    Eu me virei, olhei para a cmera e murmurei minha melhor imitao de Bruce Lee:

    Movimento nmero quatro: Drago busca o caminho.

    Ento, me sentindo uma idiota, eu corri e peguei a cmera. Eu sabia bem que nomostraria esse vdeo a ningum. Mesmo que tivesse alcanado o objetivo, minha moestava doendo porque eu no havia feito tudo corretamente (j fazia um ano desde minhaltima aula), e eu tinha plena conscincia de que era uma pateta.

    Coloquei a cmera de volta no pescoo e enfiei a cabea l dentro do farol. Um fortecheiro de mofo me atingiu, irritando meus pulmes e tive uma crise de tosse. Apontei aluz para a escurido e vi tbuas quebradas no cho numa sala circular vazia. Ouvi umbarulho de pingos vindo de um ponto da sala e senti certa umidade. Perto dos fundos docmodo havia uma passagem, mas no tinha porta nas dobradias. Eu mal podiadistinguir o que havia alm dela; parecia ser uma escadaria que devia dar no topo datorre.

    Havia algo estranho nesse lugar, algo vagamente familiar. Revirei meu crebrotentando reconhecer algo mais tangvel, mas nada veio mente. Apesar do vento da costa,

    que ento entrava livremente, havia uma quietude densa no ar. Era estranhamente atraentee muito sobrenatural.

  • 7/23/2019 Dark House - Karina. Halle

    29/202

    Apoiei as mos no peitoril e me icei para dentro, meus msculos peitorais poucousados doeram com meu peso. Girei as pernas de modo desajeitado e ca l dentro. Meusps pousaram numa pequena poa, e uma gua gelada espirrou na minha cala. Eu mearrependi imediatamente de ter entrado.

    O ar l dentro era muito denso. Meu flego vinha mais lento e letrgico, como se umfluido estivesse entrando no meu pulmo. A presso tambm era diferente l dentro, fazia

    meus ouvidos pulsarem.Com a cmera, iluminei ao meu redor, mas o ar engolia a luz como se estivesse

    faminto. Essa analogia me fez estremecer. Estava frio, e eu odiava a maneira como aescurido me espreitava, como se uma rede estivesse prestes a me apanhar. Pensandonisso, me virei. No havia ningum ali, claro.

    Meu corao batia loucamente. Eu respirava lenta e profundamente, tentandocontrolar meus batimentos. Sentia como se eu simplesmente tivesse de vir a este lugar, eagora que eu estava aqui, a realidade me ocorria. Essa no era a melhor das ideias, era?

    Apontei a cmera ao redor do cmodo mais uma vez para absorver o mrbido

    cenrio. Eu estava prestes a fazer um comentrio espirituoso sobre minha precoce sadacovarde quando ouvi um tumacima de mim.

    Meu corao congelou. Minha respirao parou.

    Eu escutei atentamente, como se me esforar bastante pudesse fazer brotar orelhasbinicas.

    Outro tum l de cima. Vinha do cmodo logo acima da minha cabea. A nsia devmito viajou pelo meu corpo da ponta dos dedos at meus lbios. Foi aumentando noritmo dos tuns, que seguiam um padro de pegadas, como se algum estivesse andando

    pelo cmodo e pelo corredor.Meu primeiro pensamento no era de que seria um fantasma ou alguma coisaassustadora do tipo, mas algo pior, algo que poderia realmente ferir algum, como umnoia ou um estuprador que usava o farol como esconderijo ou como seu palcio deestupros.

    Olhei para trs, para a janela pela qual entrei. Sem dvida a pessoa ou coisa me ouviuarrombando-a. Deve ter escutado meu discursinho cafona para a cmera. Devia saber queeu estava ali. Minha nica opo era ir embora, mas eu poderia sair pela janela antes deser pega?

    Os passos continuaram, baixinhos, acima de mim, como se eles soubessem que euestava escutando. Segui cuidadosamente para a janela.

    Busquei o canto dela com a mo, e uma sombra sinistra passou l fora. Foi torpido que eu no vi o que era, mas parecia humano o suficiente. Eu me abaixei e meespremi contra a parede.

    Eu sabia que estava ferrada. Fui idiota de entrar num pico palcio do estuprocomandado por noias e carecas barbudos recentemente fugidos de prises prximas quetomaram o lugar para suas sesses de tortura com jovens mulheres infelizes queencontravam explorando a costa. E o pior, a infeliz que decidiu se infiltrar no quartel-general deles era eu.

  • 7/23/2019 Dark House - Karina. Halle

    30/202

    Na maioria dos filmes, a herona colocaria a cabea para fora da janela para ter umaviso melhor do que estava rolando, mas eu sabia que se fizesse isso, eu seriaimediatamente avistada.

    Ento, apesar de a janela representar a liberdade e uma maneira de escapar desseinferno, eu lentamente me afastei dela grudada na parede. A luz da cmera danava pelocmodo, ento notei que estava quase implorando para ser encontrada. Desliguei-a com

    um clique e fui rapidamente envolvida na escurido total. claro que eu sabia que mesmo desligando a luz ainda era possvel saberem onde eu

    estava, mas pelo menos no escuro eu poderia me esconder, se precisasse. Comecei apescar alguma arma nos meus bolsos. No havia nenhuma. Nem unhas afiadas eu tenho.Esperava que minha destreza no carat funcionasse bem com a adrenalina.

    Enquanto tentava controlar a vontade de passar pela janela, decidi que a melhor coisaseria seguir pelo corredor. De qualquer maneira, eu estava presa num cmodo mido eno tinha coragem o suficiente para fugir pela nica sada. Os passos no andar de cimahaviam cessado, apesar de eu no ter notado em que momento, e o corredor

    provavelmente tinha outra porta ou mais janelas para escapar.Eu me aproximei o mais silenciosamente possvel da porta e enfiei a cabea para

    espiar o corredor. claro que no consegui ver nada alm de um breu sombrio, masdepois de um tempo meus olhos se ajustaram.

    O ar no corredor parecia mais denso do que o de fora e cheirava a algas podres. Euforcei a vista para uma escadaria no final do curto corredor. Meu Deus, havia rastrosescuros de algas que seguiam do corredor at a escadaria. Era como se um monstro dealgas tivesse subido e deixado suas tripas para trs.

    Pare!Eu gritei na minha cabea. Eu estava surtando e precisava me acalmar antes quemeu crebro perdesse o controle, e isso no traria nenhuma vantagem. Meu objetivoprincipal tinha de ser sair de l rapidamente, em segurana e sem enlouquecer.

    Afastei os olhos da alga e olhei para o corredor. Pontos verde e preto danavamdiante de mim, tornando difcil focar a viso, mas finalmente eu avistei o que parecia seruma porta para outra parte do farol.

    Eu me arrastei pelo corredor, que por sorte s tinha meio metro, e alcancei a porta.Tateando, minhas mos acertaram a maaneta com um estrondo. Eu estremeci e congelei,mantendo minha respirao baixinha. No ouvi nada por alguns aterrorizantes segundos,ento virei-a cuidadosamente e puxei-a. A porta mal se moveu.

    Coloquei as mos no batente da porta e me deparei com um cadeado. Eu o sacudisilenciosa e inutilmente. A menos que por um milagre eu tivesse um alicate de corrente nacala, eu no sairia por aquela porta esta noite.

    Senti as lgrimas de frustrao correrem aos meus olhos e pisquei rapidamente paracont-las. Tirei minha mo da fechadura e respirei bem profundamente, como haviam meensinado para conter ataques de pnico. Todos os meus antigos ataques pareciam frvolosse comparados a esse. Uma morte iminente (ou algo pior) que era um excelente motivopara entrar em pnico.

    S me restava uma opo: voltar ao cmodo e escalar para fora da janela o maisrpido possvel. Se eu fosse rpida o bastante, talvez pudesse saltar para a noite sem ser

  • 7/23/2019 Dark House - Karina. Halle

    31/202

    notada e, mesmo se fosse, talvez minhas pernas gorduchinhas e meu talento para o gritobastassem para manter meus potenciais assassinos afastados.

    Eu me endireitei e fechei os olhos. Agulhas e alfinetes fluam pelas minhas veias,acionando um motor.

    Eu me virei e avancei em direo ao cmodo ao meu lado.

    BAM!

    Bati em algum.

    Ou em algo.

    Aaaai! Eu gritei.

    O choque foi forte, bati os dentes e fui lanada para trs. Senti um chacoalho e umsom de batida metlica. Minha cabea bateu contra o cho frio. No tive tempo sequer desentir a dor.

    Fiquei rapidamente de p e tentei correr de novo, mas meu p deslizou num trecogosmento e minha perna voou frente, me lanando mais uma vez ao ar.

    Desta vez ca no cho com ainda mais fora e senti meu corpo ficar imediatamentemole. Minha viso escureceu e comeou a girar e minhas plpebras se fecharambrevemente. Pensamentos de perigo e ameaa pareciam muito distantes, o quartocomeou a vibrar e a zunir, quase me embalando. Dormir parecia uma boa ideia.

    Mas eu no podia dormir. Uma luz forte se acendeu sobre meu rosto e interrompeuo torpor reconfortante atravs das minhas plpebras. Espremi os olhos pelo desconfortoe senti um par de mos na minha cabea. Uma tocava cuidadosamente o meu pescooenquanto a outra acariciava minha testa.

    Estupradores so gentis hoje em dia, pensei vagamente e ergui meu brao contra a luzque irradiava implacvel sobre mim.

    No se mexa uma voz rouca disse na escurido. Soava a milhes dequilmetros de distncia e com um vago tom de pnico.

    Obedeci e soltei as mos. Finalmente a luz saiu do meu rosto, e eu percebi que algohavia sido colocado no cho ao meu lado.

    Senti de novo mos no meu rosto. Estavam levemente trmulas. Tentei abrir mais osolhos, enquanto pensamentos coerentes entravam em minha cabea confusa. O pnicocomeou a se acentuar instintivamente pelo meu corpo.

    Ele se intensificou quando vi o contorno de um rosto masculino acima de mim.Tentei empurr-lo para longe, mas o homem estava segurando meu ombro, me apertandopara baixo.

    Srio, voc pode se machucar bastante. Por favor, no se mexa.

    Eu no conseguia ver o rosto do homem, salvo o contorno, ento me recosteinovamente, fechei os olhos e verifiquei mentalmente meu corpo. A parte de trs da minhacabea pulsava com uma dor incmoda. De resto, parecia estar tudo bem comigo. Dosdedos da mo aos dedos do p, meus msculos estavam despertos, funcionando e

    prontos para ao.

  • 7/23/2019 Dark House - Karina. Halle

    32/202

    Estou bem consegui dizer. Abri os olhos e tentei fazer contato visual com afigura sem rosto, mirando para onde seus olhos deveriam estar.

    Ele tirou as mos de mim e se afastou um pouco. Lentamente me levantei e meinclinei para a frente. Minha cabea estava realmente doendo, e o cmodo ainda girava naescurido sombria, mas eu no sentia nada de mais grave.

    Claro, isso significava que eu no tinha de me preocupar especificamente com isso e

    que podia me focar nesse potencial estuprador do farol.Consegui enxergar bem melhor quando minha viso se acostumou novamente

    escurido. O cara estava agachado a meio metro de mim. Eu s podia distinguir seucontorno, que estava iluminado por trs pela lua que vinha da janela e por uma fonte deluz no cho. Olhando melhor, parecia estar vindo de uma cmera de vdeo, no como aminha, mas como as que os cineastas usam. Aquela pequena informao acalmou meucorao, desacelerando as batidas. A maioria dos viciados tarados e noiados no temcmeras digitais de alta qualidade.

    Me desculpe o homem disse. Eu tentei reconhecer sua voz, mas alm de um

    tom profundo e rouco, como se sua garganta estivesse cheia de cascalho, no captei maisnada. No entanto, era estranhamente reconfortante.

    Ele continuou:

    Eu estava l em cima e ouvi essa batida bizarra aqui embaixo. Achei que talvezfosse a polcia ou sei l. Eu no sabia o que fazer. Achei que eu pudesse fugir pelo mesmolugar que entrei, mas vi voc a, e ento vi a janela, provavelmente ao mesmo tempo emque voc e me desculpe se bom, voc obviamente est bem.

    Eu sabia que havia vrios erros naquela frase absurdamente longa, mas no tinha

    cabea para dissec-la. O melhor que pude fazer foi perguntar: Quem voc?

    O homem no disse nada. Sua silhueta comeou a balanar levemente de um ladopara o outro.

    Isso depende de quem voc ele respondeu.

    Mas que inferno, nem eu sabia quem eu era agora. Abanei a cabea.

    Perguntei primeiro.

    Ele suspirou e buscou algo no bolso. Tirou um carto de visita e o entregou a mim.

    Pegou sua cmera e iluminou o papel preto. Dex Foray eu li a impresso branca e cintilante em voz alta. Produtor,

    operador de cmera, cinegrafista. Shownet.

    Eu virei o carto. No havia nada alm de um endereo de Seattle. Olhei o rosto queno conseguia enxergar.

    Voc corretora ou algo do tipo?

    Ele riu.

    Porra, no.

    Eu enfiei o carto no bolso e senti a fora voltando aos meus ossos e minha lngua.Fiquei feliz que a coragem no havia me abandonado.

  • 7/23/2019 Dark House - Karina. Halle

    33/202

    Bem, Dex Foray, algo me diz que o que quer que vocs estejam fazendo aqui, estofazendo sem autorizao do meu tio, que o dono do farol.

    No tem mais ningum aqui. S eu.

    Foi a minha vez de rir.

    Olha, no me importa. No vou te entregar. Eu mesma no deveria estar aqui.Apenas rena sua equipe ou o que seja e caia fora antes que vocs se metam em apuros.

    O cara, Dex, parou de se remexer.

    Sou s eu ele repetiu. Est vendo mais algum?

    A voz dele se tornou sombria. Algo nessa mudana de tom me alarmou.

    Sim eu disse lentamente. Eu te ouvi no segundo andar e ia sair pela janela,mas vi a sombra de algum passando l fora.

    Silncio. Ele se mexeu no escuro e se aproximou de mim. Eu queria poder verdireito sua expresso.

    Tem certeza de que viu algo? Ele perguntou.

    Comecei a duvidar de mim mesma com as perguntas, mas fiquei firme.

    Sim, vi algum. Algum passou pela janela, juro por Deus.

    De onde voc veio? Algum veio com voc?

    Balancei a cabea. Ele levou a luz ao meu rosto. Eu me encolhi.

    Desculpe ele disse, mas no soava nada arrependido. Eu bem, deixa pral.

    Deixa pra l? No pude evitar de rir ironicamente. Voc invadiu o farol do

    meu tio. No me diga para deixar pra l.Ento me dei conta de que provocar um completo estranho, especialmente no tendo

    conseguido ver o rosto dele e estando sozinha com ele num farol escuro e abandonado,poderia no ser uma boa ideia, mas

    Ele se endireitou, sua figura bloqueou a luz da lua, e estendeu a mo para me ajudara ficar de p. Ele no era muito alto, devia ter por volta de um metro e setenta e cinco.

    Segurei sua mo hesitantemente, e ele me colocou de p. Vacilei um pouco com amudana de altura e gravidade, e no mesmo instante ele colocou os braos ao meu redor.Tinha cheiro de loo de barbear Old Spice. Senti como se estivesse numa novela tosca.

    Voc est bem? Ele perguntou. Seu rosto no estava muito distante do meu. Eume virei para que minhas costas ficassem para a janela e a lua iluminasse o rosto dele.

    Ele era um cara surpreendentemente bonito. Talvez eu esperasse um careca barbudo,mas no era nada disso.

    Tinha o maxilar largo e arrendado, ele era bem aceitvel. Um bigode ralo a la ErrolFlynn marcava seu lbio superior, e seu queixo estava sombreado pela barba por fazer.Tinhas olhos escuros e insondveis, emoldurados por sobrancelhas diabolicamentearqueadas e baixas na testa. Uma argola simples adornava sua sobrancelha direita. Era um

    visual bem anos 1990. Meu tipo de cara, aparentemente. Ele lembrava Robert Downey Jr.nos tempos de drogadinho.

  • 7/23/2019 Dark House - Karina. Halle

    34/202

    Ele me observou com seus olhos cintilando sombriamente luz da lua, muitointensos. Fiquei aliviada por ele parecer uma pessoa normal e um pouco instigada por eletambm ficar me olhando.

    S estou um pouco tonta consegui dizer. Ele ainda me olhava nos olhos. Ficouum pouco irritante depois de um tempo. Devo ter deixado a irritao transparecer porqueele sorriu bem lentamente, exibindo os dentes brancos perfeitos.

    Bem, promete no me processar? Ele disse.Olhei-o receosa.

    Prometo, mas no posso falar pelo meu tio.

    Ele fez um biquinho e pareceu pensar a respeito, apesar de seus olhos continuaremimveis.

    O que voc est fazendo aqui? Ele enfim perguntou.

    Estvamos fazendo uma fogueira na praia. Cansei de ficar rodeada de adolescentese quis vir para c. Meu tio nunca me deixou vir aqui quando eu era mais nova. Eu no

    contei a ningum, s sa. Queria filmar umas paradas.Com minha meno de filmar, entrei em pnico. Minha cmera! Agachei-me para

    alcan-la e coloquei-a em frente ao meu rosto. Quando a liguei, as luzes se acenderam ese estabilizaram. Eu no conseguia enxergar a lente, mas Dex agarrou-a e segurou a lenteem frente luz. Ele espiou, com as sobrancelhas franzidas, e suavemente colocou acmera no meu pescoo.

    Est tudo bem. Achei que voc tinha detonado a minha cmera quando bateu emmim. Ele levantou a cmera e deu um tapinha nela. Eu imediatamente me senti culpada,mesmo que a culpa fosse dele por ter invadido o farol. Voc est certa ele

    continuou, lendo meu rosto. Eu provavelmente merecia ter minha cmera detonada.Eu estava prestes a dizer mais alguma coisa; no sei exatamente o que, mas tive a

    sensao de que deveria ter tentado faz-lo se sentir melhor, quando houve outro tum lem cima.

    Eu congelei. Senti-o congelando tambm. Olhei lentamente para ele. Ele estava meobservando com bastante ateno.

    Tem certeza de que voc veio sozinha? Ele cochichou. O fato de ele precisarperguntar isso de novo me arrepiou.

    E voc? Perguntei em resposta. Ele assentiu gravemente.Eu engoli em seco. Ns dois escutamos bem e ficamos inertes como cadveres.

    Outro estrondo. Minha mente comeou a bobinar freneticamente. Esse tal de Dexestava mesmo sozinho?

    Talvez este fosse mesmo um palcio do estupro e ele estivesse me encurralando aquienquanto caras maiores faziam o resto do trabalho sujo. Havia um ar de perigo iminentenele, mas isso poderia ser apenas a impresso pela situao ou por seu cabelo escuro

    jogado e desgrenhado e seu jeito de Lord Byron.

    Olhei para a janela. Dex captou meu olhar e balanou a cabea me alertando. Devolvia ele um olhar incrdulo.

  • 7/23/2019 Dark House - Karina. Halle

    35/202

    Ele se aproximou da minha orelha, e eu senti seus lbios roando o meu lbulo.Senti como se pequenos relmpagos viajassem pela minha pele em fria quente epenetrassem na minha cabea. A sensao me distraiu, e eu fechei os olhos paraaproveit-la.

    Tem certeza absoluta de que ningum mais veio com voc? Ele cochichou, suavoz baixa juntou-se esttica e viajou em ondas pela minha espinha.

    Abanei a cabea e tentei me concentrar. Mesmo se algum tivesse me seguido, nohavia como ter entrado no farol antes de mim. Mas que inferno, eu no sabia nem comoele havia entrado, uma vez que no foi pela janela. Deixei essa pergunta de lado porenquanto. As batidas continuaram.

    Olhei novamente a janela e comecei a me mover decididamente em sua direo, masDex parou bem ao meu lado e no cedeu.

    Precisamos subir ele cochichou.

    Eu quase ri alto, mas me contive. Ele estava louco? Eu no ia subir. Eu ia sair pelajanela e voltar para a casa do tio Al, onde eu poderia chamar a polcia. Se isso colocasseDex em apuros, problema dele.

    Ele puxou meu queixo para que o olhasse. Tudo bem, eu gostava de olhar pra ele.

    melhor voc no sair de perto de mim ele disse.

    Eu mal podia acreditar. Parte de mim queria por algum motivo ficar com ele, mas aparte racional sabia que algum motivo no era bom o suficiente. Balancei a cabeaviolentamente.

    De voc? Eu nem sei quem voc, caramba. Voc me d um cartozinho de visita ej acha que vou ficar aqui na sua torre de estupro? Eu disse a ltima parte alto demais.

    Ele levantou a sobrancelha e contraiu os lbios, acho que ficou um pouco chocado. Ento v ele disse lentamente. Mas quando sair por aquela janela, corra at a

    casa do seu tio. No pare por nada. Mesmo se topar com algo, continue correndo. melhor voc ficar de olhos fechados o tempo todo.

    Meu corpo foi tomado por calafrios. De repente eu fiquei com medo de sair de pertodele. Ele parecia saber muitas coisas que eu no sabia.

    O que h l em cima? Voc sabe? Perguntei.

    Diante da situao, ele deu de ombros.

    Tenho um palpite. por isso que estou aqui. Por quevoc est aqui?

    Vou te mostrar ele disse. Ele esticou o brao e segurou minha mo. Com aoutra, ele colocou a cmera no ombro e depois olhou a cmera pendurada no meupescoo.

    Talvez voc devesse ligar a sua. Quanto mais ngulos de gravao tivermos, melhor.

    Merda. Se haveria um momento que determinaria meu destino, tenho certeza de queera esse. Eu tinha duas opes mais ou menos simples. Eu poderia sair correndo e voltar

    para perto da casa do tio Al, para a fogueira onde meus primos e minha querida irmainda estariam bebendo e curtindo a normalidade de uma noite de sbado e me esquecer

  • 7/23/2019 Dark House - Karina. Halle

    36/202

    de que vim para esse lugar terrvel e desse cara estranho. Ou poderia ir com o tal caraestranho para o andar de cima nesse velho farol decrpito e perigoso e que,provavelmente, estava condenado em busca de algum (ou alguma coisa) que estavaandando por a, provavelmente esperando para nos matar de formas horrendas.

    No era uma deciso difcil. Na verdade, acho que 99,7% das pessoas em perfeitojuzo teriam escolhido a primeira opo e seguido felizes com suas vidas, mas por algum

    motivo bizarro achei que talvez, assim, s por acaso, eu poderia subir as escadas cheiasde algas com esse estranho para o covil de um terror inimaginvel. Sabe, apenas porqueera uma alternativa mais interessante.

    Eu liguei minha cmera e deixei Dex me guiar para longe do ar fresco e da liberdade,em direo monstruosa incerteza que esperava por ns l dentro.

  • 7/23/2019 Dark House - Karina. Halle

    37/202

    CAP TULO QUATRO

    DEX E EU PASSAMOS PELA PORTA ENQUANTO as finas teias de aranhaacima nos roavam. Caminhamos lentamente at a escadaria, escutando novos barulhosdo que quer que houvesse no andar de cima.

    As escadas no estavam bambas como eu achei que estariam, mas estavamescorregadias de mofo e infiltraes. As paredes da escadaria circular tambm estavammidas e escuras, e no havia corrimo para segurar. Eu segui Dex ao primeiro degrau, emeu p imediatamente comeou a escorregar. Por sorte, meus coturnos eram novinhos ebem antiderrapantes. Eu consegui me equilibrar sem precisar encostar naquelas paredesasquerosas.

    Tudo bem a? Dex cochichou e me apertou.

    Eu assenti e fiz sinal para ele ficar quieto, mesmo imaginando que seja l o queestivesse no segundo andar j sabia que estvamos a caminho.

    Dobramos o corredor. Fiquei feliz por Dex caminhar minha frente, ainda queduvidasse de que seu porte franzino fosse capaz de me proteger.

    Mas, oras, quando chegamos ao segundo andar e o iluminamos, no havia nada deassassino com machado. Devo dizer que foi um pouco frustrante.

    Havia duas portas fechadas diante de ns: uma que dava para outra parte do prdio,como a porta trancada no andar de baixo, e outra que eu supus que nos levaria salacircular que dava para o mar. Nenhuma das portas tinha fechadura, mas eu no tinha amnima vontade de ver se elas abriam, pois as maanetas estavam midas e nojentas.

    Dexparecia perplexo, mas no aliviado.

    De repente, a porta que dava para a sala circular se abriu e bateu contra a parede comum estrondo. Meu corao quase saiu pela boca, quase morri de susto.

    Meu Deus! Exclamei.

    Dex no pareceu se assustar. Ele soltou minha mo e entrou na sala. O caradefinitivamente tinha colhes, e no crebro.

    Eu vi a luz da cmera iluminando as paredes, e ento ele saiu novamente e apontoupara a porta.

    s uma porta.

    O qu?

    O barulho. Alarme falso. Mas eu ouvi passos, como quando voc estava aqui em cima.

  • 7/23/2019 Dark House - Karina. Halle

    38/202

    Ele deu de ombros.

    Eu sei. Achei que tinha escutado tambm, mas no h nada aqui, assim como nohavia nada mais cedo. Ele iluminou a escadaria. Mas nunca vim at aqui. Apostoque onde ele est.

    Ele? Perguntei, com um aperto no peito. Quem diabos era ele?

    O Velho Roddy Dex respondeu e seguiu para as escadas.

    Eu me estiquei e agarrei seu brao com firmeza. Interessante. E no que haviamsculo sob aquela manga?

    Quem diabos o Velho Roddy? Perguntei brava. Estava de saco cheio de sentirque no me contavam a histria toda.

    Dex ficou em silncio. Eu iluminei seu rosto, e ele espremeu os olhos.

    Se voc no sabe, no tenho tempo de explicar disse sarcasticamente sob aclaridade. Olhou para minha mo em seu bceps. Eu no o soltei.

    Arranje tempo eu disse.

    Outra batida l em cima. Desta vez muito mais alta do que antes. Definitivamente noera o barulho de uma porta batendo ao vento.

    Dex ficou tenso com o estrondo. Olhou atentamente para mim, ento relaxou. Solteiseu brao.

    Ele se inclinou e apontou para cima.

    O Velho Roddy o faroleiro.

    Eu no entendi.

    No tem faroleiro. Meu tio no emprega ningum; no h sequer uma droga deuma luz aqui eu disse.

    , bom, o boato que o Velho Roddy fica aqui o tempo todo.

    O tempo todo? H quanto tempo?

    Uns oitenta anos, talvez mais, talvez menos.

    Isso impossvel eu zombei.

    Eu sei. Como eu disse, por isso que estou aqui.

    Respirei lenta e profundamente. O que Dex estava dizendo no fazia sentido para

    mim e, para piorar, quanto mais eu tentava compreender, mais me sentia zonza edesorientada.

    Esta situao, esse tal de Dex, era coisa demais para eu processar. Infelizmente,quando minha cabea no consegue processar direito o que acontece ao meu redor, meusataques de pnico comeam a despontar e coisas bizarras acontecem.

    Preciso me deitar eu cochichei.

    Ele virou a cabea, curioso, e pegou minha mo.

    Ele no me deu um aperto reconfortante, como qualquer pessoa normal teria feito,apenas me puxou para mais perto dele e me conduziu para o prximo lance de escadas atchegarmos ao piso de cima, de onde vinham as ltimas batidas que escutamos.

  • 7/23/2019 Dark House - Karina. Halle

    39/202

    Eu estava com a respirao estancada e o corao na garganta. Dex iluminou o andar.Parecia igual ao de baixo, exceto por uma mesa num canto. As portas tambm estavamfechadas e no havia nenhum faroleiro.

    Basta dizer que tive um mau pressentimento. No sei se foi pela bizarrice da situaoou porque eu precisava voltar antes de as pessoas comearem a se preocupar comigo, nosei dizer. Alm do mais, eu estava comeando a questionar a sanidade de Dex procurando

    um faroleiro que obviamente no existia. Sabe eu comecei a dizer.

    BLAM!

    Fui interrompida pela porta, que se abriu (novamente sozinha) de supeto e ficouoscilando loucamente nas dobradias, batendo contra a parede numa srie de blans.

    Mas que droga? Eu gritei mais alto do que o rudo. Esse foi literalmente onico pensamento que me passou pela cabea.

    Dex deu um passo curioso em direo entusiasmada porta, e brisa que ela fazia

    enquanto agitava seu cabelo.Ele apontou a cmera para a porta por um momento, o brilho fantasmagrico

    acrescentou mistrio cena, ento virou a luz para mim.

    O que voc acha que ? Ele perguntou.

    A luz estava me cegando.

    Eu no acredito que voc est me filmando! Gritei.

    BLAM!

    O mesmo barulho de portas se abrindo e fechando veio do andar de baixo. O rudo

    era opressivo, e em segundos o farol todo estava vibrando sonoramente. Coloquei deimediato as mos sobre as orelhas. Eu podia sentir a vibrao reverberando nas minhasentranhas.

    Dei um passo trmulo em direo ao Dex, buscando conforto nessa situao mais doque aterrorizadora. Ele apenas apontou a cmera de volta para a porta, que ainda estavaabrindo e fechando como se algum adolescente raivoso invisvel a estivesse batendo. Elearrancou minhas mos das minhas orelhas e me entregou a cmera.

    Talvez voc queira filmar isso! Ele disse atravs do barulho.

    Filmar era o ltimo dos meus pensamentos, mas obedeci.

    Eu me certifiquei de que minha cmera ainda estava gravando e focando a porta eDex. Com minhas orelhas expostas, o som me fazia tremer por dentro.

    Eu consegui gravar pelo menos uns trinta segundos do fenmeno at minha visodesaparecer.

    Uma avassaladora luz branca tomou o cmodo. Minha mo desapareceucompletamente na frente de meu rosto, como se eu estivesse sendo pulverizada noesquecimento. Fechei os olhos pela dor e me agachei no cho; meus sentidos estavamabalados, completamente desequilibrados.

    A luz branca resplandecente, as batidas da porta e a vibrao ali dentro Era oapocalipse?

  • 7/23/2019 Dark House - Karina. Halle

    40/202

    Tentei ir para mais perto de onde eu supunha que Dex estava e abri os olhos entremeus dedos. Doa demais mant-los abertos por mais de um segundo, e eu no o via emlugar nenhum.

    Dex! Eu gritei o mais alto que podia. Olhei ao redor, mas s via o branco. Deonde vinha essa luz pavorosa? Eu estava morrendo?

    Meus olhos captaram um movimento na direo da escadaria. Havia uma sombra

    escura de um homem (ou criatura) balanando na luz. Estava se aproximando. Minhamente instantaneamente conjurou imagens de abduo aliengena. Cada episdio de

    Arquivo-Xcomeou a piscar na minha cabea.

    A sombra continuava vindo. Por algum motivo eu achei que deveria registrar a causada minha morte iminente em filme, ento mirei a cmera.

    Fechei meus olhos, rezei e me preparei.

    Mas silncio.

    O rudo e as vibraes pararam, e a luz frente das minhas plpebras doloridas

    rapidamente se apagou.Eu abri os olhos na escurido absoluta, com pontos nebulosos tomando minha

    vista. Era quase mais assustador do que toda aquela cegueira branca. Algum poderiaestar parado a centmetros de mim e ainda estar completamente indetectvel.

    Lentamente fiquei de p e liguei a luz da minha cmera, me preparando paraencontrar algo terrvel e tudo aquilo que havia abalroado minha noite.

    Nada. A escurido reinava. A cmera no respondia.

    Mas que merda! Xinguei para mim mesma. Tentei examin-la no escuro, mass podia imaginar que a bateria deveria ter acabado. Momento bom pra caramba.

    Respirei fundo e tentei no deixar a sensao desvairada se apoderar de mim, aquelepensamento de que a escurido estava viva e pronta a me comer.

    Dex eu chamei. Fiquei parada, escutando, mas no ouvia nada alm do som daminha voz ecoando pelo corredor. Onde diabos ele se meteu? Velho Roddy? Chamei brincando, meio esperando que algum faroleiro decrpito respondesse. Eramelhor do que esse silncio irritante.

    Ainda entrava um pouco de luz da lua pelas janelas, e aquela tnue iluminao era osuficiente para me fazer pensar em descer as escadas e cair fora dali.

    Eu me aproximei da escadaria e estava prestes a descer o primeiro degrau quandooutra luz veio de cima.

    O que era agora? Eu no aguentava mais isso.

    Entretanto no era como a bomba H apocalptica explodindo. Era apenas uma luzfraca, que danou pelas paredes da escadaria at se fixar num ponto. Se eu descesse,entraria diretamente no seu caminho.

    Lembrei-me da luz da cmera do Dex. Na verdade, tive certeza de que era isso. Masno estado de paranoia em que eu me encontrava, precisava de alguma garantia disso antes

    de comear a descer.

  • 7/23/2019 Dark House - Karina. Halle

    41/202

    Dex, voc? Eu perguntei bem alto. Sem resposta. Dex, estou vendo uma luza embaixo. voc? Dex, responda!

    Nada.

    Eu no sabia o que fazer. O medo era palpvel; estava fisicamente correndo para cimae para baixo de meus braos em arrepios, tomando meu corpo, estimulando meu corao

    j acelerado e minha cabea latejando.

    Eu devo ter ficado l por uns cinco minutos, apenas tentando ouvir qualquer som,aterrorizada com o que eu poderia encontrar escada abaixo. Minha imaginao estavacriando imagens das algas ganhando vida, como algum tipo de monstro. Onde Dex estava?Para onde ele tinha ido? Por que a luz da cmera estava ligada e no se movia? Uma partede mim acreditava que ele deveria estar fazendo uma brincadeira cruel. A outra parteachava que ele estava morto. Ou coisa pior.

    Com esse pensamento, desci lentamente as escadas. Estremeci com o ranger de cadadegrau, apesar de eu no saber por que eu ainda me importava em fazer silncio. A luzdesapareceu atrs das nuvens, fazendo a luz abaixo parecer mais definida e fria. Sombras

    traioeiras e arrepiantes corriam pelas paredes lgubres. Eu virei no patamar e segui peloresto da escadaria.

    A luz agora estava minha frente, no cho, apontada para os meus ps. Eu parei,desejando conseguir enxergar alm do brilho.

    Dex? Eu sussurrei. Por favor, me responda, Dex, isso no tem graa.

    Se ele estava tentando me apavorar, definitivamente havia conseguido, e eu sabia queele iria ouvir o terror na minha voz embargada, mas at agora nada.

    Respirei fundo e me abaixei para pegar a cmera. S que no era uma cmera. Era

    uma lanterna.Peguei-a, me sentindo confusa. Dex tinha uma lanterna? Eu estava revirando o

    crebro tentando lembrar quando ouvi um gemido baixo. No era o gemido de umapessoa (ou de alguma coisa), mas o rangido inanimado das dobradias de uma portaabrindo. Vinha da porta direita.

    Eu apontei a lanterna na escurido. Por uma frao de segundo tive medo de medeparar com algo horripilante, como Dex parado no canto do cmodo de frente para aparede, mas, em vez disso, o corredor estava vazio. No havia nada exceto a porta quedava para o quarto circular, que agora estava bem aberto.

    Eu me esgueirei em direo a ele e entrei.Era um quarto. Pelo menos havia sido. Agora restava apenas uma grossa armao de

    cama de madeira que parecia parcialmente queimada, uma mesinha de cabeceira com umapilha de livros e um guarda-roupa no canto. Em cima do guarda-roupa havia uma baciade gata com um espelho apoiado contra a parede. A luz da lanterna refletiu incisivamentenele.

    Havia uma janelinha redonda que dava para o oceano, coberta por uma grossacamada de gordura e sal. Algo na janela registrou-se no fundo de meu crebrosobrecarregado.

    Eu havia estado aqui antes? Isso era possvel?

  • 7/23/2019 Dark House - Karina. Halle

    42/202

    Dei mais alguns passos em direo janela, quando

    BLAM!

    A porta bateu, se fechando atrs de mim

    Eu gritei e derrubei a lanterna, e a luz se esparramou pelas paredes enquanto pousavano cho com um baque. Rapidamente a peguei, tremendo. A luz oscilou e comeou a seapagar. Em pnico, eu a balancei com fora, mas a lmpada havia sado um pouco do

    lugar com a queda. Ainda havia luz, mas ficava cada vez mais fraca. Ou ento a escurido que estava ficando mais forte.

    Foi quando aconteceu. Foi quando fui atingida.

    Uma luz se acendeu no corredor.

    Os cantos da porta brilharam em um tom mbar.

    A imagem penetrou na minha cabea e, como peas de um quebra-cabea, lentamentese encaixou a outra imagem que surgiu na minha lembrana.

    Meu sonho. Isso era meu sonho.Minha respirao entalou na minha garganta quando

    as peas do quebra-cabea se encontraram. A sala redonda, a janelinha redonda, a luz dooutro lado da porta. Claro, eu no estava de camisola e descala, mas era o mesmo lugar.No era possvel, mas ainda assim

    Eu tambm no tinha certeza do que isso significava. As coisas eram iguais, masdiferentes. Iria seguir a direo dos meus sonhos? A porta iria se abrir com uma ameaanegra, sombria me envolvendo at a morte certa? O homem dos meus sonhos era o VelhoRoddy?

    Ou Dex?

    Talvez, eu pensei rapidamente, isso fosse um sonho. Esse pensamento me deu umpouco de coragem.

    Eu engoli em seco e caminhei at a porta. Fiquei alerta, no conseguia escutar nadavindo do corredor. Agarrei a maaneta e tentei vir-la.

    No virava. Estava emperrada.

    Eu puxei a porta e senti pnico subindo dos meus ps ponta dos dedos das mos.Estava quase estrangulando a maaneta, minhas mos estavam suadas e escorregadias. Esseera o meu pesadelo. Meu pior pesadelo estava se tornando realidade. Eu estava trancadado lado de dentro. Algum, alguma coisa, havia me trancado ali dentro.

    Dex! Eu gritei e comecei a bater na porta. Por favor, algum me deixe sair,por favor! Por favoooor! Eu gritei essa ltima palavra, alto e agudo, fazendo at osmeus ouvidos doerem.

    Gritar parecia ser a nica coisa que eu poderia fazer.

    Eu gritei sem parar e me empurrei contra a porta, mesmo sabendo que ela abria paradentro. Minha cmera balanava no meu pescoo e batia contra a madeira, mas eu no meimportava. Eu tinha de sair. Segurei a maaneta e puxei-a at minhas mos perderem aaderncia e eu voar para trs e cair no cho duro. Uma dor aguda no osso da bacia, mas

    eu mal a senti.

  • 7/23/2019 Dark House - Karina. Halle

    43/202

    Ento tudo ficou escuro. A luz do lado de fora sumiu e o contorno da portadesapareceu num abismo.

    Os pelos na minha nuca se arrepiaram com uma preciso gelada. Eu sabia que haviaalgo esperando do outro lado da porta, escutando.

    Fiquei deitada no cho, observando, sem flego. Meu corpo tenso e preparado para aao.

    A porta rangeu, abrindo-se lentamente. Eu esperava ver a qualquer momento umafigura alta e negra na porta, vindo na mi