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DARLENE BIANCA AREND GOVERNANÇA COOPERATIVA E CONFIANÇA: UM ESTUDO QUANTITATIVO EM UMA COOPERATIVA DE CRÉDITO Novo Hamburgo 2019

DARLENE BIANCA AREND

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Page 1: DARLENE BIANCA AREND

DARLENE BIANCA AREND

GOVERNANÇA COOPERATIVA E CONFIANÇA: UM ESTUDO QUANTITATIVO

EM UMA COOPERATIVA DE CRÉDITO

Novo Hamburgo

2019

Page 2: DARLENE BIANCA AREND

DARLENE BIANCA AREND

GOVERNANÇA COOPERATIVA E CONFIANÇA: UM ESTUDO QUANTITATIVO

EM UMA COOPERATIVA DE CRÉDITO

Trabalho de Conclusão de Curso

apresentado como requisito parcial à

obtenção do grau de Bacharel em

Administração pela Universidade

Feevale.

Orientador: Dr. Serje Schmidt

Novo Hamburgo

2019

Page 3: DARLENE BIANCA AREND

DARLENE BIANCA AREND

Trabalho de conclusão do Curso Administração, com título GOVERNANÇA

COOPERATIVA E CONFIANÇA: UM ESTUDO QUANTITATIVO EM UMA

COOPERATIVA DE CRÉDITO, submetido ao corpo docente da Universidade

Feevale, como requisito necessário para obtenção do Grau de Bacharel em

Administração.

Inclui Termo de Consentimento da Empresa/Entrevistado: [X] Sim; [_] Não

Aprovado por:

__________________________________________

Orientador: Dr. Serje Schmidt

___________________________________________

Professor avaliador

___________________________________________

Professor avaliador

Page 4: DARLENE BIANCA AREND

Dedicatória

Dedico este trabalho à minha família, Vitor,

Maria Helena e Bruno, que estiveram me

apoiando e incentivando até a conclusão

da monografia.

Page 5: DARLENE BIANCA AREND

Agradecimentos

Agradeço ao meu orientador, que me

acompanhou e orientou durante a

realização do trabalho e à cooperativa de

crédito estudada, que permitiu que a

pesquisa fosse realizada com seus

associados.

Page 6: DARLENE BIANCA AREND

RESUMO

A governança corporativa é um elemento crucial na estratégia das organizações.

Trata-se de uma característica de sua cultura, na qual um conjunto de boas práticas

devem ser seguidas para alcançar o título de empresa com boas práticas de

governança corporativa. Porém, não são só empresas de capital aberto que devem

explorar essa característica, as cooperativas também devem utilizá-la para trazer

maior transparência na gestão e maior participação por parte do cooperado. Como o

associado é elemento fundamental da governança cooperativa, pois é dono da

instituição, esta monografia tem como objetivo analisar a relação entre a governança

cooperativa e a confiança dos associados da cooperativa XYZ, agência Rincão –

Estância Velha, já que a confiança é fator para gerar relacionamento e,

consequentemente, parceria entre as partes. Para alcançar o objetivo, optou-se por

fazer uma pesquisa quantitativa, aplicando uma survey junto aos associados da

agência Rincão – Estância Velha. Os resultados apontaram para forte relação entre

governança cooperativa e confiança na organização, visto que todas as dimensões

apresentam correlações. Mas é possível verificar que há um grupo de associados que

percebem de forma menos incisiva essa característica na organização, por conta

disso, a cooperativa deve enfatizar sua comunicação com esses cooperados, para

que essa situação possa ser contornada.

Palavras-chave: Governança. Cooperativa. Cooperativa de Crédito. Confiança.

Page 7: DARLENE BIANCA AREND

ABSTRACT

Corporate governance is a crucial element in organizations' strategy. It is a feature of

their culture, which a set of good practices must be followed to achieve the status of a

company with good corporate governance practices. However, not only public

companies must exploit this characteristic; cooperatives must also use it to bring

greater transparency in management and greater participation by the associates. As

the associate is a fundamental element of cooperative governance, since he owns the

institution, this monograph aims to analyze the relationship between cooperative

governance and the members’ trust of cooperative XYZ, Rincão agency - Estância

Velha, since trust is a factor for generate relationship and consequently partnership

between the parties. In order to reach the objective, it was decided to carry out a

quantitative research, applying a survey with the associates of the Rincão agency -

Estância Velha. The results pointed to a strong relationship between cooperative

governance and trust in the organization.

Keywords: Governance. Cooperative. Cooperative of credit. Confidence.

Page 8: DARLENE BIANCA AREND

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 - Evolução da quantidade de associados em milhões................................. 32

Figura 2 - Estrutura da governança cooperativa ........................................................38

Figura 3 - Estrutura básica de governança cooperativa ............................................41

Figura 4 - Construtos de governança cooperativa .....................................................54

Figura 5 - Estrutura da análise ...................................................................................69

Figura 6- Relação entre dimensões e confiança .......................................................93

Page 9: DARLENE BIANCA AREND

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 - 7 P's de governança corporativa.............................................................. 17

Quadro 2 - Funções da governança corporativa ........................................................18

Quadro 3 - Características de boas práticas de governança corporativa ..................24

Quadro 4 - Princípios OCDE de governança corporativa...........................................25

Quadro 5 - Princípios do cooperativismo ...................................................................30

Quadro 6 - Diferença entre bancos e cooperativas de crédito ...................................33

Quadro 7 - Finalidades da governança cooperativa ..................................................37

Quadro 8 – Estrutura de governança cooperativa ................................................39-39

Quadro 9- Princípios de governança cooperativa ......................................................46

Quadro 10 - Construtos do questionário ....................................................................61

Quadro 11 - Mudança no questionário .......................................................................62

Quadro 12-Questionário feito aos associados ......................................................63-64

Quadro 13 - Correlação variáveis de perfil .................................................................72

Quadro 14 - Variáveis de perfil ...................................................................................81

Quadro 15 - Variáveis de perfil e confiança ...............................................................87

Page 10: DARLENE BIANCA AREND

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Teste de KMO e Barlett............................................................................. 66

Tabela 2 – Comunalidades.........................................................................................67

Tabela 3 - Confiabilidade das informações ................................................................68

Tabela 4 - Respostas por gênero ...............................................................................70

Tabela 5 -Idade dos respondentes .............................................................................70

Tabela 6 - Escolaridade dos respondentes ...............................................................70

Tabela 7 - Renda dos respondentes ..........................................................................70

Tabela 8 - Tempo de conta dos respondentes ...........................................................71

Tabela 9 - Frequência de visita à agência..................................................................71

Tabela 10 - Correlação perfil da amostra ...................................................................71

Tabela 11 - Matriz rotacionada ...................................................................................74

Tabela 12 - Médias das dimensões............................................................................80

Tabela 13 - Correlação variáveis de perfil e governança cooperativa .......................80

Tabela 14 - Dimensões de governança e sua relação com gênero ...........................81

Tabela 15 - Correlação variáveis de perfil e confiança ..............................................86

Tabela 16 - Correlação construtos com confiança .....................................................89

Page 11: DARLENE BIANCA AREND

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 12

2 GOVERNANÇA CORPORATIVA .......................................................................... 16

2.1 ESTRUTURA DA GOVERNANÇA CORPORATIVA ....................................... 20

2.2 BOAS PRÁTICAS DE GOVERNANÇA CORPORATIVA ................................ 21

2.2.1 Código das Melhores Práticas da Governança Corporativa .............. 25

3 COOPERATIVISMO .............................................................................................. 29

3.1 COOPERATIVISMO DE CRÉDITO ................................................................ 31

4 GOVERNANÇA COOPERATIVA .......................................................................... 35

4.1 ESTRUTURA DE GOVERNANÇA COOPERATIVA ....................................... 38

4.2 DIRETRIZES DE GOVERNANÇA COOPERATIVA ....................................... 42

4.2.1 Representatividade e Participação ....................................................... 42

4.2.2 Direção Estratégica ................................................................................ 43

4.2.3 Gestão Executiva ................................................................................... 44

4.2.4 Fiscalização e Controle.......................................................................... 45

4.3 PRINCÍPIOS DE GOVERNANÇA COOPERATIVA ........................................ 45

4.4 GOVERNANÇA EM COOPERATIVAS DE CRÉDITO .................................... 46

4.4.1 Representatividade ................................................................................ 47

4.4.2 Estrutura da Alta Administração ........................................................... 48

4.4.3 Funções de fiscalização ........................................................................ 48

5 CONFIANÇA .......................................................................................................... 50

6 MÉTODO ................................................................................................................ 55

6.1 CLASSIFICAÇÃO DA PESQUISA .................................................................. 55

6.1.1 Quanto à sua natureza ........................................................................... 55

6.1.2 Quanto aos procedimentos técnicos.................................................... 56

6.1.3 Quanto aos seus objetivos .................................................................... 57

6.1.4 Quanto à abordagem do problema ....................................................... 58

6.2 UNIVERSO E AMOSTRA ............................................................................... 58

6.3 INSTRUMENTO(S) DE COLETA DE DADOS ................................................ 60

6.4 PROCEDIMENTOS DE COLETA DE DADOS ............................................... 65

6.5 PROCEDIMENTOS DE ANÁLISE .................................................................. 66

Page 12: DARLENE BIANCA AREND

7 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS .................................................... 69

7.1 PERFIL DA AMOSTRA ................................................................................... 69

7.2 DIMENSÕES DE GOVERNANÇA COOPERATIVA ....................................... 73

7.3 CORRELAÇÃO DAS DIMENSÕES DE GOVERNANÇA COOPERATIVA E

CARACTERÍSTICAS DE PERFIL DA AMOSTRA ............................................. 80

7.4 CORRELAÇÕES PERFIL DA AMOSTRA E CONFIANÇA ............................. 86

7.5 CORRELAÇÕES GOVERNANÇA COOPERATIVA E CONFIANÇA .............. 89

CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................... 94

REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 97

APÊNDICE A – QUESTIONÁRIO ........................................................................... 103

Page 13: DARLENE BIANCA AREND

12

1 INTRODUÇÃO

O entendimento e a prática da governança corporativa, embora sejam

necessidades recentes, constituem duas das mais desafiadoras ações da

administração de qualquer organização moderna. Diversas instituições, como a

Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico, Fundo Monetário

Internacional e G8, reconhecem que as boas práticas de governança são essenciais

para o crescimento econômico, além de se constituírem em um instrumento para

garantir os investimentos dos acionistas e evitar conflitos de interesses (ANDRADE;

ROSSETTI, 2011).

Segundo a Comissão de Valores Mobiliários (2002), na governança corporativa

encontram-se várias práticas que envolvem desde colaboradores até credores, com o

objetivo de melhorar o desempenho da organização e facilitar o acesso ao capital.

Para verificar a governança corporativa em uma empresa, necessita-se

principalmente observar sua transparência, prestação de contas, equidade no

tratamento dos acionistas e responsabilidade social.

Content (2017) apresenta uma pesquisa realizada pela Deloitte com 103

empresas de capital de origem estrangeira, na qual mais da metade delas afirma que

as práticas da boa governança corporativa acarretam diversos benefícios para a

organização. Além disso, a pesquisa demonstra que houve uma valorização muito

maior nas empresas que fazem parte do Índice de Governança Corporativa, do que

as que não fazem, o que mostra que os investidores estão cada vez mais preocupados

em implementar ações de empresas que praticam a boa governança.

No entanto, a governança corporativa não está presente somente em

sociedades e companhias de capital, ela é encontrada também em cooperativas. Um

dos ramos do cooperativismo é o de crédito. O Banco Central do Brasil (2018)

conceitua cooperativa de crédito como sendo uma organização que presta serviços

financeiros para seus cooperados, já que estes são donos da instituição e devem

monitorar a gestão da cooperativa, participando ativamente tanto na administração

quanto no uso dos produtos e serviços. Em cooperativas de crédito são oferecidos os

serviços essenciais de um banco, como, por exemplo, cartão de crédito e conta

corrente. Ao contrário de empresas de capital aberto, nesse tipo de organização, os

associados têm o mesmo poder de voto, não importando a quantidade de capital social

que cada um possua na instituição. O cooperativismo é diferenciado visto que ele não

Page 14: DARLENE BIANCA AREND

13

visa ao lucro, preza por uma gestão democrática e a adesão dos associados é livre e

voluntária.

De acordo com Mello (2017), o Rio Grande do Sul é responsável por 20% de

todo o cooperativismo de crédito no Brasil, e, dentro desse cenário a cooperativa

estudada recebeu o nome fictício de cooperativa XYZ. Seu sistema conta com mais

de 3 milhões de associados, estando presente em quase todos os estados do Brasil

e é representado por mais de 100 cooperativas singulares (COOPERATIVA XYZ,

2019).

A cooperativa XYZ foi uma das primeiras cooperativas de crédito fundadas no

Brasil e hoje é referência internacional. Conta com mais de 100 anos, em março de

2019 possuía entre 100-130 mil associados e tem constante preocupação com seu

cooperado, incentivando que ele participe no seu modelo de administração. Cada vez

mais, busca-se um relacionamento próximo, visando a confiança e parceria entre os

dois agentes (COOPERATIVA XYZ, 2019).

A prática da governança cooperativa na instituição começou entre 2009-2012

(COOPERATIVA XYZ, 2019), e ela permite que a instituição seja dirigida de forma

transparente, visando sempre seguir os princípios do cooperativismo, os interesses

sociais e dos associados. É importante o estudo desse tema, pois a partir dele, a

cooperativa pode mostrar para seus associados sua gestão transparente, tornar-se

mais competitiva, incentivar que o cooperado participe do processo de decisão,

promover uma gestão sustentável, melhorar seus resultados financeiros, atuar de

forma responsável e proporcionar melhoria contínua (ORGANIZAÇÃO DAS

COOPERATIVAS BRASILEIRAS, 2018).

Torna-se relevante analisar a visão do associado, através de sua percepção

sobre ações do dia a dia que remetem à governança cooperativa, visto que é ele que

irá se beneficiar das práticas de boa governança. Para Ventura (2009), o cooperado

é peça chave para a cooperativa e deve estar devidamente representado por seus

dirigentes. A governança, se percebida, pode gerar diversos benefícios como, por

exemplo, gestão comprometida com os interesses dos cooperados, produtos e

serviços diferenciados, relacionamento e possibilidade de participação na

administração, nos resultados e geração de confiança do associado perante a

cooperativa.

Visto que a cooperativa XYZ pode adquirir novas informações com o trabalho

e através dele poderá verificar de que forma os associados percebem a governança

Page 15: DARLENE BIANCA AREND

14

em seu cotidiano, o problema de pesquisa desta monografia é: qual a relação entre

os aspectos de governança cooperativa e a confiança dos associados da cooperativa

XYZ? Essa relação foi estudada pois a governança cooperativa, tem em seus

princípios, a transparência, a equidade, a prestação de contas e a responsabilidade

corporativa, características que se relacionam com confiança. Foi realizada uma

pesquisa para verificar quais aspectos da governança os associados mais percebem,

bem como sua relação com a confiança na cooperativa XYZ.

Este trabalho tem como objetivo analisar a relação entre a governança

cooperativa e a confiança dos associados da cooperativa XYZ, agência Rincão –

Estância Velha. Para atingir esse objetivo, foram estabelecidos os seguintes objetivos

específicos:

Contextualizar a governança corporativa tanto em empresas de capital aberto

quanto em cooperativas;

Identificar os elementos de governança cooperativa que podem ser percebidos

pelos associados;

Verificar na literatura de que forma a confiança pode ter relação com a

governança cooperativa;

Construir um instrumento de medição para verificar os elementos de

governança cooperativa e confiança do associado;

Identificar e analisar a relação entre os elementos da governança cooperativa

percebidos pelo associado e a confiança que este deposita na cooperativa XYZ.

A governança visa atender aos interesses de seus associados, defendendo

seus ideais, e é uma característica de instituições com uma gestão mais transparente,

respeitando os seus desejos. Se os associados identificarem aspectos de governança,

pode-se concluir que a cooperativa está aplicando a governança cooperativa em seu

modelo de gestão, trazendo benefícios para eles. Os aspectos percebidos pelos

associados poderão ser mensurados a partir de uma análise quantitativa dos dados

obtidos, e assim, poder-se-á responder à questão levantada inicialmente para essa

pesquisa.

Através dessa análise a cooperativa poderá verificar em quais pontos ela pode

melhorar para atingir um maior nível de governança, e em quais aspectos ela se

destaca, entendendo de que forma a governança é vista por seus associados, que

são os principais beneficiados dessa prática.

Page 16: DARLENE BIANCA AREND

15

Na visão da autora, o presente estudo serviu para o aprimoramento de

conhecimentos na área que é do seu interesse, principalmente pelo motivo de estar

trabalhando em uma cooperativa que aplica os modelos de governança cooperativa.

Do ponto de vista acadêmico, a pesquisa trará contribuições visto que na literatura, a

relação entra governança cooperativa e confiança é pouco explorada, além disso, hoje

pouco se encontra pesquisas com associados de cooperativas brasileiras,

relacionando os temas.

Para atingir os objetivos foi utilizada uma metodologia de abordagem

quantitativa por meio de um levantamento (survey), no qual foram aplicados

questionários, com questões fechadas junto aos associados da agência de Estância

Velha - Rincão, que foram tidos como amostra, com questões pertinentes a

governança cooperativa, para que posteriormente, se pudesse fazer uma análise

estatística dos resultados.

O trabalho está estruturado em sete capítulos, sendo eles: introdução,

governança corporativa, que está dividido em estrutura da governança e boas práticas

de governança; o próximo capítulo é o cooperativismo, que inclui o cooperativismo de

crédito; logo após apresenta-se a governança cooperativa, que contém a estrutura de

governança cooperativa, diretrizes de governança, princípios de governança e

governança em cooperativas; e o capítulo seguinte é sobre confiança; seguido pelo

método; e por último a análise e discussão dos resultados.

Page 17: DARLENE BIANCA AREND

16

2 GOVERNANÇA CORPORATIVA

No início do século XX, a maioria das empresas eram familiares, não possuíam

capital aberto e geralmente eram administradas por poucos proprietários. Mas, para

que essas empresas crescessem, foi necessário um incentivo financeiro, que veio

através da abertura de capital para novos investidores, tornando-os proprietários da

organização (VIERA; MENDES, 2004). Porém, com abertura de capital e a expansão

das organizações, torna-se uma tarefa muito difícil controlar o gerenciamento das

mesmas. Devido a diversos escândalos internacionais, nos quais os executivos

exerciam suas funções com propósito de atender suas necessidades pessoais, o tema

governança corporativa ganhou repercussão e hoje é objeto de diversos estudos

(FONTES FILHO; MARUCCI; OLIVEIRA, 2008).

Os estudos sobre governança corporativa iniciariam academicamente com as

pesquisas de Berle e Means, nas quais estudava-se a separação entre controle e

gestão (SILVA, 2006). A governança corporativa começou a ser praticada pelas

empresas para trazer mais transparência e confiabilidade na administração

(ALENCASTRO; ALVES, 2017).

De acordo com Alencastro e Alves (2017, p.18), “governança corporativa é [...]

o conjunto de processos, costumes, políticas, leis, regulamentos e instituições que

regulam a maneira como uma empresa é dirigida, administrada ou controlada.” Já o

Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (2015, p. 20) define-a como sendo:

o sistema pelo qual as empresas e demais organizações são dirigidas, monitoradas e incentivadas, envolvendo relacionamento entre sócios, conselho de administração, diretoria, órgãos de fiscalização e controle e demais partes interessadas.

Outra definição demonstrada por Silva (2006) é que a governança corporativa

busca maximizar o resultado da empresa através de um conjunto de métodos, que

melhoram a atuação da organização, protegem os acionistas e consequentemente

facilitam o acesso ao capital. Além do compromisso com os investidores, a companhia

com governança atinge todas as partes que nela estão interessadas, sejam

funcionários ou fornecedores.

Souza (2005, p. 23) define governança corporativa como sendo:

[...] um sistema de normas de estruturação da sociedade anônima, por meio do qual se atribuem responsabilidades aos participantes da atividade empresarial, como o grupo de controle, o conselho de administração, a

Page 18: DARLENE BIANCA AREND

17

diretoria, o conselho fiscal assegurando direitos aos acionista minoritários, aos empregados, fornecedores, clientes e à comunidade em que a empresa atua, permitindo a melhor identificação dos objetivos da empresa e dos meios de atingi-los e propiciando mais eficiente fiscalização do desempenho dos diversos órgãos da sociedade.

Andrade e Rossetti (2007) sintetizam o conceito da governança corporativa em

7P’s, no qual exploram várias dimensões da governança em organizações. São eles:

Quadro 1 - 7 P's de governança corporativa

Fonte: elaborado pela autora com base em Andrade e Rossetti (2007)

Os 7 P’s de governança corporativa, conforme Quadro 1, demonstram as

características que uma empresa deve ter quando quiser ter a governança como um

dos seus pilares. Os P’s “Princípios”, “Poder”, “Processos”, “Práticas” e “Perenidade”

remetem à benefícios que quando seguidos, valorizam a organização, já

“Propriedade” e “Propósito”, dizem respeito exclusivamente ao acionista.

Andrade e Rossetti (2007) também propõem que a governança corporativa tem

diversas funções, e que estas, podem ser definidas em quatro grupos principais,

conforme o Quadro 2.

7 P’s de Governança Corporativa

Conceito

Propriedade A companhia pertence aos acionistas, dessa forma,

deve-se evitar conflitos de interesses entre gestores e sócios.

Princípios São percebidos através da cultura da organização. São valores éticos que devem ser seguidos pela empresa.

Propósito Um dos maiores propósitos da empresa é que ela

maximize os retornos para os acionistas e trabalhe para ter uma vida de longo prazo.

Poder Deve haver uma separação clara de funções, assim

como hierarquia de poder, para que as decisões mais difíceis possam ser tomadas com mais clareza.

Processos Deve haver processos que visem monitorar, homologar e formular as estratégias da empresa assim como políticas

das operações e resultados causados.

Práticas

As práticas são um norte para que as empresas conduzam seus negócios de forma coerente com a

governança corporativa, elas são encontradas em cada um dos processos.

Perenidade Busca criar mecanismos para manter a longevidade e

saúde da empresa.

Page 19: DARLENE BIANCA AREND

18

Quadro 2 - Funções da governança corporativa

Funções da Governança Corporativa

Conceito

Assegurar os direitos dos acionistas

A organização deve ser transparente, ter ética nos negócios, responsabilidade social e traçar as diretrizes estratégicas da

organização.

Verificar a relação entre os cargos

A companhia tem a função de verificar a relação existente entre conselho de administração, gestores e demais envolvidos.

Controle da gestão A empresa pode ser considerada como um mecanismo, no qual

ela é gerida.

Controle das normas

A governança corporativa pode ser utilizada como ferramenta de controle que tem como objetivo constatar se as normas

estabelecidas estão sendo executadas.

Fonte: elaborado pela autora com base em Andrade e Rossetti (2007)

De acordo com o Quadro 2, quando há governança corporativa em uma

empresa, consequentemente esta terá que as quatro funções demonstradas

anteriormente. As funções demonstram os benefícios para acionistas e para a

organização, mostrando as vantagens que uma instituição pode ter quando as funções

são seguidas.

A governança corporativa procura diminuir os conflitos entre os stakeholders,

reduzindo os custos de capital e gerando mais valor para seus acionistas, através de

boas práticas e princípios condizentes (SILVA, 2006). Para a Comissão de Valores

Mobiliários (2002), no momento que os investidores decidem comprar ações de

determinada companhia, os mesmos correm o risco de apropriação indevida por parte

dos gestores da organização. Uma empresa que possui como um de seus valores a

governança corporativa, trará mais segurança a esse investidor, já que terá condições

que protegem de irregularidades feitas por sujeitos que gerenciam a organização.

Segundo a Comissão de Valores Mobiliários (2002), a governança corporativa

nas empresas deve conter principalmente transparência, equidade no tratamento dos

acionistas e prestação de contas. Esses três pilares servirão de suporte para decisão

de possíveis novos investidores, que tendem a valorizar mais as empresas no qual

sabem que estarão protegidos de escândalos e fraudes, e que façam a gestão para

maximizar o potencial da organização.

Para Ventura (2009), a governança mudou paradigmas relacionados aos seus

enfoques. Na teoria clássica, buscava-se ver a organização sob a perspectiva de seus

gestores, os quais são responsáveis por aumentar o valor da firma. Com a

Page 20: DARLENE BIANCA AREND

19

governança, esse enfoque passou a ser por parte dos proprietários ou financiadores,

que buscam obter valor no investimento que fizeram na organização.

A governança corporativa procura diminuir os conflitos entre os stakeholders,

reduzindo os custos de capital e gerando mais valor para seus acionistas, através de

boas práticas e princípios condizentes (SILVA, 2006). Para a Comissão de Valores

Mobiliários (2002), no momento que os investidores decidem comprar ações de

determinada companhia, eles correm o risco de apropriação indevida por parte dos

gestores da organização. Uma empresa que possui como um de seus valores a

governança corporativa, trará mais segurança a esse investidor, já que terá condições

que protegem de irregularidades feitas por sujeitos que gerenciam a organização.

De acordo com Rodrigues e Mendes (2004), o principal objetivo da governança

corporativa é assegurar que os interesses dos acionistas estão servindo de base para

a gestão da empresa. Porém, a governança corporativa, atualmente, não tem somente

preocupação com os ideais dos acionistas, tem também preocupações com a

sociedade, desenvolvendo a responsabilidade social corporativa. Desta forma, a

governança faz com que a empresa dê atenção para todos seus stakeholders, que

podem ser tanto shareholders, quanto agentes internos, externos e de entorno

(ANDRADE; ROSSETI, 2007).

Andrade e Rossetti (2007) conceituam shareholders como sendo os

proprietários e investidores da organização. Esses indivíduos têm ações ou cotas,

podem ou não ter direito ao voto e fazer parte da gestão da organização. Os

shareholders têm participação no resultado da organização e buscam que seu

investimento valorize com o passar do tempo. Os stakeholders internos são tanto o

conselho de administração e direção executiva, quanto empregados; já os externos

são clientes, credores e fornecedores. Os agentes de entorno são a comunidade, o

governo e a sociedade em geral.

A partir disso, é possível verificar a importância das organizações para a

responsabilidade social. Alencastro e Alves (2017) ressaltam que uma empresa com

responsabilidade social, é aquela que além de satisfazer seus interesses próprios,

também contribui para atender os interesses dos seus stakeholders e o público que

está ao seu redor. As organizações têm um importante papel de construir uma

sociedade melhor e trabalhar em função disso, além de respeitar as leis que está a

mesma impõe.

Page 21: DARLENE BIANCA AREND

20

O próximo subcapítulo será sobre a estrutura da governança corporativa,

demonstrando quais órgãos são necessários para que a esta exista dentro da

empresa.

2.1 ESTRUTURA DA GOVERNANÇA CORPORATIVA

De acordo com Alencastro e Alves (2017), um dos objetivos da governança

corporativa é garantir uma gestão eficiente e transparente, sempre maximizando o

retorno para o acionista. O gerenciamento responsável é imprescindível para obter a

condição de empresa com boas práticas de governança corporativa, sendo assim,

deve-se ter bem delineadas as funções e responsabilidades que competem a isso.

Dentro de uma organização, a governança corporativa está presente através

do Conselho de Administração, Diretoria Executiva, Auditoria Externa e Conselho

Fiscal (SILVA, 2006).

O Conselho de Administração é responsável por toda a parte estratégica da

instituição, considerando sempre um horizonte de longo prazo, ele que irá pesquisar,

decidir e analisar os projetos que devem ser seguidos. O Conselho de Administração

é escolhido pelos acionistas em assembleia-geral e deve ser composto por no mínimo

três membros (SILVA, 2006). O Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (2015,

p. 39) trata o conselho de administração como:

[...] órgão colegiado encarregado do processo de decisão de uma organização em relação ao seu direcionamento estratégico. Ele exerce o papel de guardião dos princípios, valores, objeto social e sistema de governança da organização, sendo seu principal componente.

Como citado anteriormente, é função do Conselho de Administração traçar as

diretrizes estratégicas da instituição, tanto que Rodrigues e Mendes (2004) destacam

que a boa atuação desse conselho é o que garantirá e aumentará o valor da

organização, para isso, torna-se necessário que os conselheiros tenham

preferencialmente experiência em gestão e muito conhecimento sobre a empresa. É

o Conselho de Administração que irá eleger a Diretoria Executiva, mas o mesmo não

deve gerir as operações cotidianas.

A Diretoria Executiva (gestão operacional) é responsável por executar as

estratégias traçadas para a organização, a fim de atingir seus objetivos. Ela cria as

metas, planos operacionais e atividades do cotidiano, além de monitorar e corrigir

Page 22: DARLENE BIANCA AREND

21

ações decorrentes de atividades operacionais (INSTITUTO BRASILEIRO DE

GOVERNANÇA CORPORATIVA, 2015). A gestão operacional não cria valor para

uma organização, entretanto, se a mesma não for realizada de forma adequada,

causará impactos negativos, desvalorizando ao ponto de até chegar a falência

(RODRIGUES; MENDES, 2004).

Segundo Silva (2006, p. 76), “toda sociedade deve ter auditoria independente

que expresse opinião sobre as demonstrações financeiras elaboradas pela diretoria”.

O principal objetivo da auditoria, que faz parte da estrutura de governança

cooperativa, é fiscalizar se a gestão da empresa está de acordo com os interesses

dos acionistas (DALBOSCO, 2014).

A diferença entre conselho fiscal e auditoria independente é que a última se

subordina ao conselho de administração, enquanto o conselho fiscal é o órgão

escolhido pelos sócios para fiscalizar. O conselho fiscal pode ou não existir dentro da

organização, sendo que seu principal papel é reportar para os sócios sobre a

administração dos gestores. O conselho fiscal não deve substituir a auditoria

independente (INSTITUTO BRASILEIRO DE GOVERNANÇA CORPORATIVA,

2015).

O subcapítulo seguinte abordará o que são consideradas as boas práticas de

governança corporativa, assim como, os benefícios trazidos para a organização que

as adota.

2.2 BOAS PRÁTICAS DE GOVERNANÇA CORPORATIVA

Ventura (2009) descreve que o código que impulsionou e deu relevância ao

tema de boas práticas foi criado pelo Comitê Cadbury, em 1992, no qual continha

contribuição do Banco da Inglaterra, Bolsa de Valores Inglesa e Conselho de

Contadores. O código reforçava principalmente as funções de controle e prestação de

contas por parte dos Conselheiros.

No Brasil, o primeiro código de boas práticas de governança corporativa foi

criado em maio de 1999, pelo Instituto Brasileiro de Governança Corporativa, que

contava com diversos profissionais qualificados e os incentivava para operarem em

conselhos para aperfeiçoar a administração das companhias. Até hoje, o órgão

responsável por regulamentar as boas práticas de governança no Brasil é o Instituto

Brasileiro de Governança Corporativa (SILVA, 2006).

Page 23: DARLENE BIANCA AREND

22

As práticas recomendadas pelo Instituto Brasileiro de Governança Corporativa

foram elaboradas de acordo com os princípios e boas práticas da Organização para a

Cooperação e Desenvolvimento Econômico, esses, por sua vez, são considerados

referência no mundo (ANDRADE; ROSSETTI, 2011).

Segundo Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (2009), no Brasil as

boas práticas de governança corporativa surgiram devido a mudanças que ocorreram

em função da incorporação e fusão de novas companhias, juntamente com uma crise

econômica que afetou o mundo todo e revelou algumas fragilidades nos sistemas de

governança dentro das organizações.

As boas práticas de governança corporativa têm como objetivo aumentar e

preservar o valor econômico da organização, para que esta funcione com qualidade e

longo prazo, além de melhorar sua gestão (INSTITUTO BRASILEIRO DE

GOVERNANÇA CORPORATIVA, 2015). Para Silva (2006), a governança corporativa

sempre irá visar aprimorar o desempenho da companhia e tornar mais fácil o acesso

ao seu capital.

De acordo com Berton (2003), para uma empresa ser considerada com boa

governança corporativa, precisa aderir as regras societárias mais rígidas que a

legislação, no qual melhoram a prestação das informações, garantem e aumentam os

direitos dos acionistas e resolvem seus conflitos de acordo com uma câmara de

arbitragem. Tudo isso repercute em maior confiança por parte do investidor, que verá

essas ações como fatores muito importantes no momento de adquirir uma nova ação.

Jacques et al. (2011) abordam que as boas práticas de governança não são

necessárias somente para os acionistas, mas sim para os novos investidores também.

Para investir em uma empresa, os indivíduos terão uma preocupação muito grande,

já que precisarão ter confiança de que seu investimento trará um retorno satisfatório.

A governança corporativa surge como um índice que será crucial na tomada de

decisão. No Brasil, diversas empresas praticam a governança como um meio para

captar novos investidores.

Para Andrade e Rossetti (2007), as boas práticas de governança visam ter

maior controle da diretoria executiva, proporcionar um melhor relacionamento entre

conselho de administração, diretoria executiva e proprietários, traçar diretrizes

estratégicas da organização e alinhar objetivos da organização, porém, para que se

consiga fazer isso, é necessário que se possua indivíduos competentes, qualificados,

ativos e envolvidos com a companhia.

Page 24: DARLENE BIANCA AREND

23

Para a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (2005

apud JESUS, 2016), a empresa tem diversos compromissos com os acionistas, entre

eles estão, garantir que estes possam votar em assembleia geral de cotistas, fazer

com que o processo de nomeação de conselheiros seja claro e transparente, ter um

controle dos dirigentes da organização e tratar os acionistas de forma igualitária.

A ética também conta como um dos elementos cruciais para a governança

corporativa. Enquanto diversas empresas argumentam que os fins justificam os meios,

uma empresa ética e íntegra faz seu trabalho buscando o bem-estar de seus parceiros

e comunidade em geral, mantendo respeito e seguindo valores para conseguir atingir

seus objetivos. Os resultados são mais positivos dessa forma, já que a organização

crescerá com qualidade. O código de boas práticas de governança corporativa prevê

que cada companhia tenha também um código de ética, que norteie seu trabalho

(ALENCASTRO; ALVES, 2017).

Jesus (2016) caracteriza as boas práticas de governança corporativa, em oito

tópicos, são eles:

Page 25: DARLENE BIANCA AREND

24

Quadro 3 - Características de boas práticas de governança corporativa

Práticas de Governança Corporativa

Conceito

Participação

Consiste no direito que, tanto homens e mulheres, tem em participar igualmente nas atividades da organização. Essa participação pode ser direta, ou através de representantes

legais para que eles possam expressar suas opiniões.

Estado de direito Uma empresa que possui boa governança corporativa, assim como os agentes envolvidos com ela, precisa seguir as leis impostas, não importando cargo, raça, gênero ou riquezas.

Transparência A companhia deve divulgar para todas as partes interessadas os relatórios referentes às ações tomadas pela organização,

assim como todas as informações que forem do seu interesse.

Responsabilidade A empresa deve estar atenta não só com seus acionistas, mas

também com a sociedade em geral, para que a organização contribuía para o crescimento da comunidade.

Orientação por consenso

As decisões tomadas pela organização devem levar em consideração os desejos dos diferentes grupos de acionistas,

assim como, na divergência de opiniões, devem ser levados em conta o crescimento da sociedade.

Igualdade Na governança corporativa todos devem ter tratamento

igualitário. Além disso a empresa deve tomar decisões que favoreçam todos os interessados.

Efetividade e eficiência

O trabalho da instituição deve ser feito de maneira que a mesma produza resultados satisfatórios que supram as

necessidades dos acionistas. Também deve fazer bom uso dos recursos que estão à sua disposição.

Prestação de contas

Os dirigentes da organização devem prestar contas das suas atividades para os interessados de forma a provar que os

mesmos estão agindo em conformidade com os objetivos da organização.

Fonte: elaborado pela autora com base em Jesus (2016)

O Quadro 3, apresenta oito aspectos que devem ser seguidos para uma

organização obter o título de empresa com boas práticas de governança corporativa.

Essas ações além de assegurar os direitos dos acionistas, melhoram os resultados

da organização, contribuindo para que ela se destaque e aumente seu valor

econômico.

A seguir, o subcapítulo do código das melhores práticas de governança

corporativa será apresentado, com enfoque em alguns pontos específicos. Esse

código é um norteador para as organizações que desejam ter a governança

corporativa como um de seus valores.

Page 26: DARLENE BIANCA AREND

25

2.2.1 Código das Melhores Práticas da Governança Corporativa

Diversos códigos foram criados a fim de estimular as boas práticas de

governança corporativa. Um dos mais reconhecidos no mundo é o da Organização

para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico, que contêm princípios que foram

criados em 1999 e se tornaram referência internacional. Esses princípios foram

reformulados e, em 2004, uma nova versão foi apresentada (ANDRADE; ROSSETTI,

2007).

Em síntese, o Quadro 4 demonstra os Princípios da Organização para a

Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) de Governança Corporativa de

acordo com a versão de 2004:

Quadro 4 - Princípios OCDE de governança corporativa

Princípios Conceito

Enquadramento das empresas

As empresas devem buscar seu eficaz enquadramento e contribuir na geração de condições institucionais para as

boas práticas de governança corporativa.

Direitos dos shareholders

A governança corporativa deve proteger os direitos dos acionistas.

Tratamento equânime dos shareholders

A estrutura da governança deve assegurar tratamento equânime a todos os acionistas majoritários/minoritários,

nacionais/estrangeiros.

Direitos dos stakeholders

A estrutura da governança deve reconhecer direitos legalmente consagrados de outras partes interessadas na

criação de riqueza e na sustentação das corporações economicamente sólidas.

Divulgação e transparência

A governança corporativa deverá assegurar a divulgação oportuna e precisa de todos os fatos relevantes referentes à

empresa.

Responsabilidade do conselho de

administração

A governança deverá definir as responsabilidades dos conselhos, envolvendo orientação, fiscalização e prestação

de contas das corporações. Fonte: adaptado de Andrade e Rossetti (2007 p. 174)

No Brasil, também há códigos que são base para uma empresa com

governança corporativa. Destacam-se especialmente o Código das Melhores Práticas

do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa, Cartilha de Governança

Corporativa da Comissão de Valores Mobiliários, mudança na Lei das S.A. e criação

por parte da Bolsa de Valores de São Paulo (BOVESPA) de níveis para empresas que

possuem maior padrão de governança corporativa (JACQUES et al., 2001).

A maioria das organizações faz uso do código do Instituto Brasileiro de

Governança Corporativa, e este, por sua vez, relata que há quatro princípios que

Page 27: DARLENE BIANCA AREND

26

norteiam a boa governança corporativa para as empresas (INSTITUTO BRASILEIRO

DE GOVERNANÇA CORPORATIVA, 2009).

O primeiro é a transparência, que se refere a repassar além das informações

que são exigidas por leis para as partes interessadas. A abertura das informações

causa confiança entre todos os envolvidos. Não só informações sobre o resultado da

empresa devem ser passadas, mas sim sobre ações gerenciais e fatores que

aumentam o valor da organização (INSTITUTO BRASILEIRO DE GOVERNANÇA

CORPORATIVA, 2009).

Marques (2007) ainda ressalta que a transparência nas informações gerenciais

gera mais confiança ao acionista. Os stakeholders devem estar envolvidos com a

empresa, auxiliando e controlando a administração, e esta, por sua vez, deve ter uma

comunicação ampla e aberta para com todos os interessados a fim de explicar as

ações que estão sendo tomadas. Quando os administradores aderem ao princípio da

transparência, demonstram que são responsáveis e tem zelo por suas ações.

Segundo Lauretti (2013), a transparência pode ser considerada como um

princípio ético, no qual a partir das informações prestadas pela empresa, os futuros

investidores poderão decidir se irão assumir ou não o risco de investimento, assim

como também servirá de parâmetro para verificar se os atuais irão querer continuar

com suas ações na organização. Mas a transparência só é legitima quando, além de

comunicar as forças, apresenta também as fraquezas, estas, por sua vez, devem vir

acompanhadas de soluções para melhorá-las. Ao contrário do que se pode imaginar,

quando uma empresa apresenta fraquezas, demonstra que não tem nada a esconder

e pode acabar ganhando a confiança do indivíduo.

Para Malacrida e Yamamoto (2006), quando se busca investir em algum novo

negócio, a transparência de determinada empresa gera confiança e credibilidade e

pode ser considerada um fator de vantagem, em relação a outras companhias. A

transparência gera diversos benefícios para empresa além da melhor visibilidade.

Pode-se considerar como vantagens a menor volatilidade dos seus preços de

mercado, custo de captação mais baixo e maiores retornos.

Alencastro e Alves (2017) abordam que a transparência também se dá através

da utilização dos canais certos para difundir as informações. Vale ressaltar que as

informações devem ser evidentes e entregues conforme prazos acordados. A

Comissão de Valores Mobiliários (2002) expõe em sua cartilha, que a organização

tem o dever se disponibilizar informações para qualquer membro do conselho fiscal,

Page 28: DARLENE BIANCA AREND

27

independente do ano, e que seja de interesse dos associados, desde que não viole o

sigilo imposto por lei.

Laranzana (2004) destaca que uma empresa que adere à prática da

transparência e que divulga informações adicionais voluntariamente,

consequentemente reduz seu risco de liquidez, visto que está propícia a adquirir cada

vez mais capital e recursos de outros investidores.

O segundo princípio de governança corporativa apresentado pelo Instituto

Brasileiro de Governança Corporativa é a equidade, onde os privilégios dentro da

organização não devem existir, sendo que as informações devem ser disponibilizadas

para todo o público, não podendo haver nenhum tipo de informação privilegiada, que

possa beneficiar determinados indivíduos (ALENCASTRO; ALVES, 2017).

A equidade é o tratamento igualitário para todos os stakeholders, ações

discriminatórias são inaceitáveis (INSTITUTO BRASILEIRO DE GOVERNANÇA

CORPORATIVA, 2009). Para a Comissão de Valores Mobiliários (2002), as decisões

de maior importância, devem ser aprovadas pela maioria dos sócios que compõem o

capital, e cada um destes, terá direito a um voto por ação.

Outro princípio é a prestação de contas, na qual os gestores e executivos que

fazem parte da governança devem assumir os riscos e consequências de suas ações,

necessitam prestar contas aos acionistas e zelar pelo seu trabalho (INSTITUTO

BRASILEIRO DE GOVERNANÇA CORPORATIVA, 2009). Os relatórios contábeis,

que são de responsabilidade dos administradores e executivos, se tornam um

instrumento muito importante não só para os acionistas, como também para novos

investidores, principalmente os estrangeiros, pois demonstram a situação real da

empresa (JACQUES et al., 2011).

Marques (2007) afirma que, cada envolvido deve ser responsável por suas

ações, e deve-se ter bem delineadas a quem compete cada função. Os stakeholders

devem sentir confiança nos responsáveis pela gestão da organização, isso só é

possível quando há compromisso por parte dos envolvidos pela administração da

companhia. Além disso, os gestores devem ser íntegros e todas as decisões devem

ser tomadas em prol da empresa, para que, desta forma, possa se ter credibilidade

na instituição.

E por fim, encontra-se a responsabilidade corporativa, o último princípio de

governança corporativa apresentado pelo Instituto Brasileiro de Governança

Corporativa. Esta, por sua vez, afirma que os gestores e executivos devem prezar

Page 29: DARLENE BIANCA AREND

28

pelo valor da empresa, tomando as decisões sempre em favor da organização e dos

acionistas. Os administradores da instituição devem trabalhar para que as dificuldades

externas não impactem a organização a fim de trazer prejuízos ou desvantagens no

desenvolvimento de algum dos seus processos e devem captar oportunidades para

alavancar a empresa, tanto no curto, quanto no médio e longo prazo. Seu papel é

garantir a sobrevivência da organização a longo prazo, fazendo seu trabalho de

acordo com considerações de ordem social e ambiental. (INSTITUTO BRASILEIRO

DE GOVERNANÇA CORPORATIVA, 2009).

De acordo com Magalhães (2012), atualmente a governança corporativa não

visa atender as necessidades somente dos acionistas. Há uma preocupação muito

grande em atender os diversos stakeholders que estão envolvidos com a companhia.

Por exemplo, em diversas empresas francesas, deve haver representantes dos

trabalhadores ocupando cargos de conselheiros na organização. Quando uma

instituição tem relacionamento efetivo e duradouro com seus stakeholders, assim

como com organizações públicas e comunidade, esses pontos são uma forma

estratégica para manter a saúde da empresa a longo prazo.

A seguir, o próximo capítulo trará aspectos importantes referentes ao

cooperativismo, tais como um resumo de sua história, conceitos, princípios e seu

contexto no cenário econômico.

Page 30: DARLENE BIANCA AREND

29

3 COOPERATIVISMO

De acordo com Martins (2017), o cooperativismo teve seu início a partir do

século XVIII, quando os trabalhadores eram donos dos seus instrumentos e resultados

do seu trabalho. Na época, o cooperativismo surgiu como forma contrária ao

capitalismo.

Segundo Organização das Cooperativas Brasileiras (2018), a primeira

cooperativa moderna do mundo surgiu em Rochdale, no ano de 1844, quando 28

tecelões fundaram a Sociedade dos Pioneiros de Rochdale, com o objetivo de

melhorar a qualidade dos trabalhadores, além de aumentar seus salários. A

Sociedade foi um sucesso, sendo que logo já havia se expandido e contava com

muitos associados para a época.

No Brasil, a primeira cooperativa de consumo registrada foi em Ouro Preto,

Minas Gerais, no século XIX. A mesma visava atender às necessidades de

funcionários públicos, profissionais liberais, operários e militares. Logo após, outras

cooperativas foram criadas, como, por exemplo, a primeira cooperativa de crédito do

Brasil, no ano de 1902, no município de Nova Petrópolis – RS. A partir de 1906,

começaram a surgir as cooperativas rurais, fundadas por imigrantes italianos e

alemães, que trouxeram para o Brasil o espírito cooperativista (ORGANIZAÇÃO DAS

COOPERATIVAS BRASILEIRAS, 2018).

Buttenbender (2010, p.106), descreve o cooperativismo como:

[...] uma filosofia do homem na sociedade em que vive, um pensamento que procura construir uma maneira de processar a economia baseando-se no trabalho e não somente no lucro; na ajuda mútua e não na concorrência e competição; nos valores e necessidades humanas e não na acumulação individual do dinheiro e na exploração do trabalho de homens e mulheres.

As cooperativas têm como objetivos oferecer produtos ou serviços para seus

associados, para que esses atendam às suas necessidades. Diferente das empresas,

essas organizações não têm fins lucrativos, e, tem como valores, principalmente, a

democracia, a solidariedade, a ajuda mútua, a equidade, a igualdade e a

responsabilidade (ORGANIZAÇÃO DAS COOPERATIVAS BRASILEIRAS, 2018).

Nas organizações cooperativas, os associados são donos do negócio. Eles

participam da tomada de decisões e partilham os lucros. No cooperativismo, as ações

são tomadas a fim de atingir as necessidades coletivas, desta forma, a solidariedade

é primordial para a organização ter sucesso (MARTINS, 2017).

Page 31: DARLENE BIANCA AREND

30

Conforme Geração Cooperação (2016), os princípios do cooperativismo foram

criados em 1995, pela Aliança Cooperativa Internacional, com o intuito de nortear as

pessoas e organizações quanto aos valores dessa prática. Para a Organização das

Cooperativas Brasileiras (2018), os sete princípios derivam do modelo de gestão da

primeira cooperativa em Rochdale, e nasceram com o objetivo de que os cooperados

possam praticar esses valores em seu dia a dia. Os sete princípios são:

Quadro 5 - Princípios do cooperativismo

Princípios do Cooperativismo

Conceito

Adesão livre e voluntária

Esse princípio significa que todas as pessoas, que tem interesse em fazer parte da cooperativa e que estejam aptas a utilizar os serviços da mesma, podem se associar, sem nenhum tipo de discriminação, desde que cumpram suas obrigações como

associados.

Gestão democrática

Nas cooperativas o controle da gestão é feito pelos próprios associados, que tem direito de decidir através de assembleia geral

os rumos da organização. Os associados também são responsáveis por eleger o conselho de administração, que tomará as decisões estratégicas. Cada associado tem direito a um voto,

independente do capital que possuir dentro da organização.

Participação econômica dos

membros

Os associados recebem sua distribuição de sobras de acordo com o resultado da cooperativa, assim como, se houver algum tipo de prejuízo, eles devem se comprometer para arcar com o mesmo. É comum que a cooperativa retire parte do seu resultado e destine

esse valor para fundos de reservas e para crescimento das comunidades onde está inserida, e são os membros que decidem

se isso irá ou não acontecer.

Autonomia e independência

As cooperativas são organização que possuem autonomia e podem fazer acordos com outras cooperativas ou agentes

externos, porém, ao se firmar esses acordos, é necessário que se mantenha a gestão democrática por parte dos associados.

Educação, formação e informação:

As organizações zelam pelo conhecimento e querem que esse seja disseminado para seus associados e colaboradores, de forma

com que os mesmos possam crescer e trazer ideias que possibilitem a valorização da cooperativa. Além disso, busca

difundir aspectos do cooperativismo para todos os interessados.

Intercooperação

As cooperativas podem fazer um trabalho melhor se trabalharem em conjunto, afinal a união coletiva possibilita melhores resultados. As parcerias entre cooperativas devem ser incentivadas, desde que não prejudiquem o associado.

Interesse pela comunidade

As organizações cooperativas têm grande interesse em desenvolver as comunidades nas quais estão envolvidas, por isso

trabalham para que seus associados possam viver em uma comunidade que proporcione melhor qualidade de vida.

Fonte: elaborado pela autora com base em Organização Das Cooperativas Brasileiras (2018)

Segundo Buttenbender (2010), atualmente as cooperativas estão crescendo e

cada vez mais, adotando estratégias tanto internas como externas para se diferenciar

Page 32: DARLENE BIANCA AREND

31

no mercado. Elas têm como principal objetivo satisfazer seus associados, visando a

democracia, a equidade, a transparência e a promoção da justiça social.

Um dos principais ramos do cooperativismo é o cooperativismo de crédito, no

qual estão a maioria das instituições de crédito. Esse, por sua vez, possui muita

expressividade no Brasil e no mundo. Serão apresentadas características dele no

próximo subcapítulo.

3.1 COOPERATIVISMO DE CRÉDITO

A primeira cooperativa de crédito do Brasil surgiu em 1902, em Nova Petrópolis

-RS. A mesma foi constituída por várias pessoas, sendo que a maioria eram

produtores rurais, e tinham como líder o padre Theodor Amstad. A cooperativa ainda

existe e é referência em seu ramo até hoje. Com o sucesso dela, logo outras

cooperativas de crédito foram surgindo no país ao longo dos anos (PAGNUSSAT,

2004).

As cooperativas de crédito do Brasil fazem parte do Sistema Financeiro

Nacional e são regidas pela Lei 5.764/71. Seus normativos são definidos pelo

Conselho Monetário Nacional e sua fiscalização por sua vez, é exercida pelo Banco

Central do Brasil. As cooperativas de crédito têm sua estrutura fundamentada em três

níveis. No primeiro encontram-se as cooperativas singulares, que tem contato

diretamente com o cooperado através da oferta de produtos e serviços; o nível

seguinte diz respeito às cooperativas centrais que prestam assistência para as

cooperativas singulares e integram suas atividades; e por fim, as confederações

caracterizam o terceiro nível que dão suporte e coordenam as atividades das

cooperativas centrais (FONTES FILHO; MARUCCI; OLIVEIRA, 2008).

As cooperativas de crédito começaram a ser competitivas em seu mercado a

partir de 1995, onde o Conselho Monetário Nacional a partir da Resolução nº 2.193,

permitiu a criação de bancos cooperativos, que poderiam atuar com os mesmos

produtos e serviços que outros bancos, além de serviços de compensação de cheques

(PAGNUSSAT, 2004).

As cooperativas de crédito são formadas através de um grupo de pessoas, que

buscam suprir suas necessidades através de produtos e serviços financeiros, sem ter

fins lucrativos (CARDOSO, 2014). No final de 2017, havia quatro sistemas no Brasil,

que possuíam tanto cooperativas singulares, centrais e confederações, que

Page 33: DARLENE BIANCA AREND

32

compunham o Sistema Nacional de Crédito Cooperativo. São eles: Cresol, Unicred,

Sicoob e Sicredi (BANCO CENTRAL DO BRASIL, 2017).

Hoje, as cooperativas de crédito estão cada vez mais se destacando no

mercado. Em 2016, mais de 8,5 milhões de brasileiros eram associados, e o

aumento por ano chegou a ser de até 13% (SERVIÇO NACIONAL DE

APRENDIZAGEM DO COOPERATIVISMO, 2016). Em 2017, o crescimento anual do

número de cooperados chegou a 8%, que representa em média 60 mil novos

associados por mês, fechando o ano com um total de 9,6 milhões de cooperados,

entre pessoas físicas e jurídicas, conforme a Figura 1 (BANCO CENTRAL DO

BRASIL, 2018).

Figura 1 - Evolução da quantidade de associados em milhões

Fonte: Banco Central do Brasil (2018)

Esses números são explicados devido às vantagens que essas instituições

trazem aos seus associados, visto que além de atender suas necessidades como, por

exemplo, pagamentos de contas, empréstimos e poupanças, há também

diferenciação nas taxas e preços de produtos. Além disso, boa parte do resultado

obtido pela cooperativa, volta para o associado em forma de sobras e pode ser

destinado também para o desenvolvimento da comunidade através de projetos.

(SERVIÇO NACIONAL DE APRENDIZAGEM DO COOPERATIVISMO, 2016).

Há uma grande diferença entre cooperativas de crédito e os bancos. Enquanto

as primeiras nascem a partir da vontade e necessidade de um grupo de pessoas para

suprir suas necessidades financeiras, os últimos, por sua vez, visam aumentar o lucro

dos donos do capital (MEINEN; PORT, 2012).

Hoje, de acordo com Cardoso (2014), as cooperativas de crédito oferecem os

mesmos produtos que os bancos tradicionais, porém, há diversas características que

Page 34: DARLENE BIANCA AREND

33

diferenciam uma cooperativa de um banco. O Quadro 6, demonstra as diferenças

encontradas.

Quadro 6 - Diferença entre bancos e cooperativas de crédito

Bancos Cooperativas de Crédito

Sociedades de capital Sociedade de pessoas

O poder é exercido na proporção do número de ações

O voto tem peso igual para todos

As deliberações são concentradas As decisões são partilhadas entre muitos

Os administradores são terceiros Os administradores-líderes são pessoas do meio

O usuário das operações é mero cliente O usuário é o próprio dono

O usuário não exerce influência nas decisões dos produtos e na sua precificação

Toda a política operacional é decidida pelos próprios usuários/donos

Poder tratar cada usuário distantemente Não podem distinguir; o que vale para um vale para todos

Preferem o público de maior renda e as maiores corporações

Não discriminam, servindo a todos os públicos

Priorizam os grandes centros Não restringem, tendo forte atuação nas áreas mais remotas

Têm propósitos mercantilistas A mercancia não é cogitada

A remuneração das operações e dos serviços não tem parâmetros/limites

Os preços das operações e dos serviços têm como referência os custos e como parâmetro as necessidades de reinvestimento

Atendem em massa, priorizando, ademais, o autosserviço

O relacionamento é personalizado/individual, com o apoio da informática

Não têm vínculo com a comunidade e o público-alvo

Estão comprometidas com a comunidade e o usuário

Avançam pela competição Desenvolvem-se pela cooperação

Visam ao lucro por excelência O lucro está fora do seu objetivo, seja pela natureza, seja por determinação

O resultado é de poucos donos

O excedente é distribuído entre todos na produção das operações individuais, reduzindo ainda mais o preço final pelos cooperados e aumentando a remuneração de seus investimentos

No plano societário, são regulados pela Lei das Sociedades Anônimas

São reguladas pela Lei Cooperativista e por legislação própria

Fonte: Cardoso (2014, p. 18)

Ser associado, traz diversos benefícios. Além de ser dono do negócio, os

cooperados podem usufruir dos produtos e serviços com um custo mais diferenciado.

Por exemplo, os créditos geralmente são oferecidos com uma taxa de juros reduzida,

os retornos sobre investimentos de depósito a prazo geralmente são maiores e os

associados podem contar com um atendimento diferenciado, no qual ao usufruir dos

Page 35: DARLENE BIANCA AREND

34

produtos e serviços, irão incentivar o crescimento da organização e receber sua parte

nas sobras da cooperativa (SEBRAE, 2017).

Além das vantagens nos produtos e serviços, de acordo com Cardoso (2014),

ser cooperado de uma cooperativa traz benefícios na questão de ser dono e ter o

direito de votar, escolher os rumos da organização e poder fazer parte do Conselho

de Administração e Diretoria.

De acordo com o Banco Central do Brasil (2017), a região Sul do Brasil é a

região que possui maior participação agregada no ramo cooperativista, destacando

principalmente as operações de crédito rurais e agroindustriais.

A seguir, o próximo capítulo abordará conceitos de governança dentro das

cooperativas e seus diferenciais em relação a governança das companhias de capital

aberto.

Page 36: DARLENE BIANCA AREND

35

4 GOVERNANÇA COOPERATIVA

Como visto anteriormente, a governança corporativa começou a ser aplicada

em empresas de capital aberto buscando harmonia entre sociedade anônima e

mercado acionário, porém, atualmente diversas organizações podem tirar benefícios

da governança, pois ela tem princípios baseados em ética e valor das instituições.

Mas para isso, se faz necessário uma adaptação para cada organização (SOUZA,

2005).

Conforme Fontes Filho, Ventura e Oliveira (2008), a governança corporativa se

aplica a diversos tipos diferentes de organizações, podendo ser elas de capital aberto,

estatais, cooperativas, filantrópicas, entre outras. A governança corporativa deve

existir sempre dentro de uma organização que possui separação entre proprietários e

administradores.

Segundo Ventura (2009, p. 35):

[...]embora a denominação governança corporativa seja orientada para o universo das corporações, sua proposta central de discriminar os papéis e as reponsabilidades entre proprietários e investidores ante a administração da empresa encontra a aplicação a amplo conjunto de organizações, que abrange organizações de governança democrática e de auto-gestão, a exemplo das cooperativas.

Em cooperativas, a governança tomou destaque, pois proporciona maior valor,

causa confiança, atrai novos associados e gera maior longevidade para a organização

que busca diminuir o conflito de interesses (INSTITUTO BRASILEIRO DE

GOVERNANÇA CORPORATIVA, 2015).

Para a Organização das Cooperativas Brasileiras (2018, p. 13), a governança

cooperativa:

[...]trata-se de um modelo de direção estratégica, fundamentado nos valores e princípios cooperativistas, que estabelece práticas éticas visando garantir a consecução dos objetivos sociais e assegurar a gestão da cooperativa de modo sustentável em consonância com os interesses dos associados.

De acordo com Treter e Kelm, (2004 apud PAIXÃO, 2015), o tema governança

cooperativa vem ganhando merecido destaque, pois os associados querem cada vez

mais que os administradores das cooperativas façam um trabalho que atenda às

necessidades e desejos dos cooperados, atingindo suas expectativas e garantido a

longevidade da organização. Fontes Filho, Ventura e Oliveira (2008) apontam que os

princípios do cooperativismo, que são base para o funcionamento de qualquer

Page 37: DARLENE BIANCA AREND

36

cooperativa, demonstram democracia e contradizem o modelo de gestão egoísta,

baseado em interesses próprios. Outro diferencial é que a cooperativa não tem fins

lucrativos, sendo assim, o principal objetivo é atender as necessidades de seus

associados, que são ao mesmo tempo donos da organização (MELO SOBRINHO et

al., 2009).

As cooperativas são organizações nas quais seus associados têm direito

unitário de voto, ou seja, cada cooperado possui direito a um voto, independente do

capital que tiver investido na instituição. Esse voto geralmente é utilizado na

assembleia geral, órgão supremo que define cargos da alta administração,

conselheiros e caminhos que a cooperativa deve seguir. Outra característica das

cooperativas é que o cooperado é ao mesmo tempo proprietário e consumidor dos

insumos que a cooperativa oferece (BIALOSKORSKI NETO; BARROSO; REZENDE,

2012).

Como as cooperativas são sociedade de pessoas, e não de capital, torna-se

incomum mudanças no controle desses tipos de organizações. Segundo Cook (1994

apud MAGRO et al., 2015), em diversos países como Estados Unidos e Holanda, não

são os cooperados que fazem a gestão, há um conselho de administração específico,

evitando problemas de separação de gestão e propriedade. No Brasil, na maioria das

vezes, os próprios administradores são os associados, além disso, o cooperado pode

ser, ao mesmo tempo, cliente e proprietário da organização, essa é uma característica

particular do segmento brasileiro (MACHADO FILHO, 2006). Para Hendrikse, (2005

apud MAGRO et al., 2015), o que separa propriedade e gestão é o Conselho de

Administração, que é escolhido em assembleia geral e que tem como função executar

decisões de controle.

Uma cooperativa com governança deve ter em sua gestão principalmente a

possibilidade de participação do associado e necessita ser profissional, e legítima, de

forma com que as decisões tomadas sempre beneficiem os cooperados e que aja de

acordo com os padrões éticos da sociedade (VENTURA, 2009). Também é destacado

que a governança em cooperativas deve basear-se em pilares de associativismo e

com visão de crescimento de longo prazo (MEINEN; PORT, 2012).

Com a participação dos associados nas decisões, eles poderão garantir seus

direitos e assegurar que seus interesses estão sendo cumpridos. Na governança

cooperativa, essa característica é pouco percebida, visto que os associados sentem

que sua contribuição individual pouco contribuirá para o resultado da organização.

Page 38: DARLENE BIANCA AREND

37

Dessa forma, é comum encontrar na governança cooperativa o “efeito carona”, no

qual os associados aderem a uma opinião pré-estabelecida, e por confiarem na

cooperativa, eles tendem a acompanhar muito pouco as decisões tomadas

(VENTURA, 2009).

De acordo com Fontes Filho, Ventura e Oliveira (2008), o efeito carona (free

rider – tradução nossa), ainda é um dos principais problemas na governança das

cooperativas, pois muitos cooperados não se sentem realmente donos da organização

e acham que sua participação nas decisões não terá grande importância e, por conta

disso, não trará muitos benefícios para os cooperados. Para melhorar isso é

necessário que a organização seja transparente e dê todo o suporte para que as

informações sejam disponibilizadas para seus associados, além disso, deve incentivar

a participação na tomada de decisões estratégicas (VENTURA, 2009).

A participação do associado é vista, principalmente na assembleia geral, que é

o maior órgão de tomada de decisão da cooperativa (VENTURA, 2009). Segundo

Fontes Filho, Ventura e Oliveira (2008), as cooperativas devem fazer suas

assembleias gerais anualmente de acordo com a Lei 5764, nas quais todos os

associados possam participar.

A assembleia tem como objetivo representar os interesses dos associados e

garantir que eles sejam postos em prática. Nas assembleias os assuntos mais

importantes são colocados em votação, além disso, são escolhidos os cargos dos

administradores, gestores executivos e conselheiros fiscais (VENTURA, 2009).

O Quadro 7 demonstra as finalidades da governança cooperativa de acordo

com a Organização das Cooperativas Brasileiras (2018).

Quadro 7 - Finalidades da governança cooperativa

Finalidade de Governança Cooperativa Conceito

Transparência na gestão

Visando sempre transparecer as informações da organização, de modo que

o associado tenha o conhecimento necessário para tomada de decisão.

Vantagem Competitiva Ampliar a vantagem para que se possa

melhorar o resultado financeiro da organização.

Modelo Cooperativista Disseminando-o e incentivando os

princípios do cooperativismo.

Sociedade Contribuindo para a melhora constante da sociedade onde está inserida através da

responsabilidade social. Fonte: Organização das Cooperativas Brasileiras (2018)

Page 39: DARLENE BIANCA AREND

38

Em resumo, uma cooperativa com boa governança, de acordo com Meinen e

Port (2012), deve ter participação dos seus associados e estes devem se posicionar

como donos da organização; deve ter a assembleia geral como órgão supremo; o

conselho de administração necessita traçar estratégias para cumprir os desejos dos

associados; os dirigentes executivos devem trabalhar para que os objetivos sejam

realizados no dia a dia e o conselho fiscal deve ter o papel de monitorar a

administração.

O próximo subcapítulo descreverá a função da estrutura da governança

cooperativa, bem como os cargos que ela contém.

4.1 ESTRUTURA DE GOVERNANÇA COOPERATIVA

A estrutura da governança cooperativa deve ser formada por diversos órgãos,

que são responsáveis por administrar a organização, são eles: assembleia geral,

conselho de administração, conselho fiscal, conselho consultivo, comitês sociais ou

núcleos, comitês técnicos, auditoria independente e gestão executiva (SERVIÇO

NACIONAL DE APRENDIZAGEM DO COOPERATIVISMO, 2016).

Figura 2 - Estrutura da governança cooperativa

Fonte: Ventura (2009)

Na Figura 2 pode-se notar que quem é responsável pela estrutura de gestão é

o Conselho de Administração, onde os administradores são responsáveis por definir

as estratégias e objetivos da organização, maximizar o resultado da instituição e

atender aos desejos dos associados. O gestor deve ser responsável pelo crescimento

e zelar pela organização, porém, nas cooperativas, os cooperados devem ser

Page 40: DARLENE BIANCA AREND

39

responsáveis pelo acompanhamento do trabalho exercido pelos componentes do

conselho de administração e necessitam deliberar assuntos de distribuição de sobras

ou novos investimentos na organização (VENTURA, 2009).

Conforme a Organização das Cooperativas Brasileiras (2018), os agentes da

governança cooperativa, que compõem sua estrutura são:

Quadro 8 - Estrutura de governança cooperativa (continua)

Agentes de Governança Cooperativa Conceito

Cooperados

São os indivíduos que possuem participação no capital social da cooperativa, também são chamados de associados. Os mesmos, quando preencherem as categorias atribuídas pelo estatuto da cooperativa, tornam-se beneficiados por ela. Os associados são donos da organização e têm poder sobre ela.

Assembleia Geral

É o maior órgão de decisão dentro da cooperativa. É através da assembleia geral que os associados têm o poder de definir assuntos referentes ao objetivo da instituição, além de tomar decisões para melhorar a mesma. Nesta assembleia, todos os associados devem ser convidados e têm direito a voto, porém, as decisões são tomadas, mesmo que haja associados ausentes.

Conselho de Administração

É o órgão eleito em assembleia geral, responsável pelas decisões estratégicas da organização. Tem o dever de tomar as disposições de acordo com os interesses dos cooperados. O conselho deve prestar contas aos associados através da assembleia geral.

Conselho Fiscal

Assim como o conselho de administração, o conselho fiscal também é eleito em assembleia geral pelos associados e tem como função fiscalizar e monitorar as ações tomadas pela administração da cooperativa, para verificar se as mesmas estão de acordo com o interesse dos associados. O conselho fiscal se subordina apenas aos cooperados, sendo assim, é um órgão que não depende da administração.

Page 41: DARLENE BIANCA AREND

40

(conclusão)

Agentes de Governança Cooperativa Conceito

Conselho Consultivo

Esse conselho é facultativo para as cooperativas. É formado por agentes externos e independentes, que tem como principal função prestar suporte a administração na tomada de decisões, além de proporcionar uma melhora na governança cooperativa.

Comitês Sociais ou Núcleos

São órgãos que são divididos geograficamente e composto por associados com interesses comuns. Os núcleos geralmente têm um coordenador, que representa seu grupo. Esse órgão proporciona maior participação dos envolvidos para as definições de estratégia da organização.

Comitês Técnicos

Órgão responsável pelo suporte ao Conselho de Administração, nos assuntos que exigem mais cuidado e aprofundamento.

Auditoria independente

É formada por agentes externos e tem como principal função, verificar se as demonstrações econômico-financeiras estão de acordo com a realidade da cooperativa, além de dar sugestões de melhorias no que se refere os controles internos da organização.

Gestão executiva

Órgão responsável por cumprir as determinações do Conselho de Administração. Sua criação deve constar no estatuto da cooperativa. A Gestão executiva pode contar com o executivo principal, que tem como objetivo organizar e gerir as diretorias; e diretores ou superintendentes executivos, no qual suas funções são assegurar que os processos operacionais e financeiros estão sendo feitos de acordo com os objetivos estabelecidos pelo Conselho de Administração.

Fonte: elaborado pela autora com base em Organização Das Cooperativas Brasileiras (2018)

Cada agente tem uma função específica na cooperativa e torna-se

extremamente importante que ele tenha responsabilidade pelas suas ações. Há uma

hierarquia, conforme a Figura 3, a qual demonstra a estrutura básica da governança

das cooperativas, em que é observada a relação do poder entre os agentes.

Page 42: DARLENE BIANCA AREND

41

Figura 3 - Estrutura básica de governança cooperativa

Fonte: Organização das Cooperativas Brasileiras (2018)

Como é visto na Figura 3, em resumo, o órgão com mais poder na estrutura da

governança cooperativa é a assembleia geral dos associados, que é responsável por

decidir os objetivos da organização de acordo com os interesse dos cooperados;

seguida pelo Conselho de Administração, que busca traçar as estratégias para o

atingimento dos objetivos de acordo com os interesses dos associados que são

representados nos seus Núcleos; o Conselho de Administração, por sua vez tem o

suporte do Conselho Consultivo e é fiscalizado pelo Conselho Fiscal; abaixo fica a

Gestão ou Diretoria Executiva, que tem como papel cumprir, através de planos

operacionais, as estratégias definidas pelo Conselho de Administração.

Meinen e Port (2012) destacam que o tema governança cooperativa ainda é

muito recente nas organizações brasileiras, mas que é muito discutido atualmente.

Esse assunto merece destaque e já provoca diversas mudanças dentro das

instituições, sendo que cada vez mais, irá contribuir para o crescimento das mesmas.

No próximo subcapítulo será abordado as diretrizes de governança corporativa

criadas pelo Banco Central do Brasil em 2009, que têm como principais objetivos

contrapesar sistemas tanto internos, externos e controle, para a melhora da

efetividade; diminuir os custos e melhorar o processo de tomada de decisão; garantir

que a gestão seja feita de acordo com os interesses dos associados e assegurar uma

gestão que priorize a cooperativa.

Page 43: DARLENE BIANCA AREND

42

4.2 DIRETRIZES DE GOVERNANÇA COOPERATIVA

O Banco Central do Brasil criou diretrizes para as cooperativas de crédito, com

base em pesquisas feitas em diversas cooperativas brasileiras, com o objetivo de que

estas organizações possam aplicar as práticas de governança cooperativa de forma

correta. A aplicabilidade dessas diretrizes não é obrigatória, mas são o caminho para

que as cooperativas tenham êxito e usufruam dos benefícios da governança. A seguir,

nas quatro próximas seções, serão tradas as diretrizes da governança corporativa,

que foram formuladas por Melo Sobrinho et al. (2009) (BANCO CENTRAL DO

BRASIL) de forma sintetizada.

4.2.1 Representatividade e Participação

Segundo Melo Sobrinho et al. (2009), a administração da cooperativa deve

trazer o conhecimento sobre a assembleia geral para todos os associados, assim

como, local e data, e medir esforços para que os mesmos se façam presentes, já que

é o órgão soberano da cooperativa. Uma sugestão dada para melhorar o processo da

assembleia é a realização de pré-assembleias, para que se possa debater assuntos

pertinentes. Essa ação incentivará a presença e pró-atividade do associado. Além

disso, os associados podem designar um responsável, chamado de delegado, para

expressar as ideias de um determinado grupo de pessoas, no qual está representado.

Para uma melhor organização, é desejável que a cooperativa apresente uma

pauta com os assuntos que serão vistos. Essa pauta necessita ser detalhada, conter

linguagem acessível para os cooperados e devem ser incluídos temas trazidos por

associados para discussão na assembleia. Cada item deve ser votado e a cooperativa

é responsável por divulgar os resultados.

Após a assembleia, deve ser feita uma ata, contando todos os assuntos

debatidos e decisões tomadas, inclusive objeções e desistências. A cooperativa deve

incentivar a participação do associado em seus eventos, para que se possa ter

conhecimento dos interesses e ideias dos cooperados para a melhora constante da

organização. Para isso, a organização deve divulgar em diversos canais, informações

sobre a assembleia; promover encontros e pré-assembleias; estar aberta à críticas e

sugestões e desenvolver um canal próprio para isso.

Page 44: DARLENE BIANCA AREND

43

Os mesmos autores ainda ressaltam que com o intuito de melhorar o

conhecimento do associado, a cooperativa deve promover ações que melhorem sua

educação, para que, futuramente, os conhecimentos adquiridos possam ser usados

para o crescimento da instituição, criação de novas lideranças e participação na alta

gestão da cooperativa.

Os cargos de alta gestão devem ser escolhidos pelos associados através de

processo eleitoral, o qual deve ser feito de acordo com os normativos da cooperativa.

O responsável por dirigir o processo eleitoral é uma comissão, formada a partir de

cooperados, que tem como função planejar as eleições, escolher o local, organizar o

pessoal, apurar os votos e divulgar o resultado.

Os participantes do Conselho Fiscal são escolhidos por meio de voto

individualmente, sem predominância de chapas e não devem ter vínculos com a

eleição da administração estratégica. É desejável que os candidatos tenham

capacidades para assumir suas funções, tais como técnica, conhecimento do

mercado, participação na cooperativa, entre diversos outros atributos que podem

contribuir no desenvolvimento da sua função.

4.2.2 Direção Estratégica

Melo Sobrinho et al. (2009) entendem que as funções desenvolvidas pelo

Conselho de Administração e cargos executivos devem ser nitidamente separadas.

Os membros do Órgão de Administração são responsáveis por traçar as estratégias,

políticas e prestação de contas para os associados, essas funções devem ser

realizadas por pessoas que não façam parte do órgão executivo da cooperativa. Para

facilitar a tomada de decisão, é sugerido que o órgão de administração tenha políticas

tanto internas quanto externas e seja composto por associados em número ímpar.

Além disso, há suplentes para esse órgão, que devem ser ativos e estar a par dos

objetivos da cooperativa, para que, se necessário, sejam requisitados.

Todas as decisões tomadas devem ser condizentes com os objetivos da

cooperativa, sobrepondo qualquer decisão individual. O documento que apresenta

quais as atribuições das funções administrativas e executivas da cooperativa é o

estatuto, nele encontra-se também as responsabilidades de cada um dos cargos.

Se houver recurso para isso, sugere-se que haja comitês que têm como função

analisar questões estratégicas, como, por exemplo, crédito, risco, remuneração de

Page 45: DARLENE BIANCA AREND

44

administradores, etc. Todas as decisões tomadas por estes comitês devem ser

aprovadas pelo Conselho de Administração (MELO SOBRINHO et al., 2009)

4.2.3 Gestão Executiva

Conforme Melo Sobrinho et al. (2009), as pessoas incumbidas pela gestão

executiva da instituição devem ter esse trabalho em tempo integral e uma de suas

funções é colocar em prática as questões decididas pela administração. Outra função

que os membros devem ter é atestar a veracidade de documentos apresentado para

a diretoria, auditoria, associados e demais partes interessadas, verificando se tudo

está em ordem e sem esconder nenhuma informação relevante. Os atributos e nível

de conhecimento necessários para essa função são encontrados no estatuto.

Para auxiliar no controle das rotinas operacionais, o órgão executivo poderá

contar com o auxílio da auditoria interna e externa, que trará conhecimento sobre o

trabalho da cooperativa. Os executivos também devem prestar contas à diretoria,

esclarecendo dúvidas referentes à instalações, documentação e desempenho da

instituição. Desta mesma forma, o Conselho Fiscal deve ter fácil acesso a esses

documentos e com antecedência para proceder com a análise. Outra função dos

executivos é fazer análise de mercado, comparando a cooperativa com outras do

mesmo setor em diversos quesitos. Desta forma, será mais fácil mensurar o

desempenho.

Os mesmos autores destacam que os associados devem ter conhecimento

sobre a situação da cooperativa, sendo assim, a diretoria não deve medir esforços

para tornar as informações públicas e responder questionamentos se necessário.

Além disso, os cooperados têm o direito de saber os salários dos membros do órgão

executivo.

A cooperativa deve dispor de um código de conduta, no qual dê norte não só

para as funções executivas, como também estratégicas, para que seu trabalho seja

realizado de acordo com os interesses da organização. Outro documento importante

é a política de riscos, que envolve todos os riscos que a cooperativa pode ter, que

deve ser divulgada para todo o quadro funcional.

Page 46: DARLENE BIANCA AREND

45

4.2.4 Fiscalização e Controle

A instituição deve dispor de auditorias internas e externas independentes, que

devem prestar contas ao conselho de administração. Os documentos feitos por estas,

devem ser enviados para os órgãos estatutários da organização. Outro órgão

responsável pela fiscalização, mas que faz parte da cooperativa é o Conselho Fiscal.

Ele não faz parte do órgão de administração e tem como função assegurar que os

interesses dos cooperados estão sendo seguidos através da análise e fiscalização.

Sendo assim, os órgãos estratégicos e administrativos devem dispor de toda

informação necessária para realizar esse trabalho (MELO SOBRINHO et al., 2009).

No documento apresentado pelo Conselho Fiscal, deve haver recomendações,

forma de atuação, informações importantes e conexão com informações de auditores.

O Conselho Fiscal também pode passar informações de suas conclusões para os

associados.

De acordo com Melo Sobrinho et al. (2009), é sugerido que as cooperativas

façam parte de centrais que possam dar suporte e norte para as cooperativas. As

centrais incentivam a governança e evitam o conflito de interesses. Os membros da

gestão executiva devem garantir que existam canais para que os cooperados possam

visualizar a situação da instituição e controlar a mesma.

A seguir, o próximo subcapítulo descreverá os princípios que são encontrados

em cooperativas que possuem governança cooperativa de acordo com os preceitos

estabelecidos pela Organização das Cooperativas Brasileiras.

4.3 PRINCÍPIOS DE GOVERNANÇA COOPERATIVA

Segundo a Organização das Cooperativas Brasileiras (2018), há cinco

princípios de governança cooperativa que devem ser seguidos pelas instituições que

desejam seguir esse modelo de gestão. São eles:

Page 47: DARLENE BIANCA AREND

46

Quadro 9- Princípios de governança cooperativa

Princípios de Governança Cooperativa

Conceito

Autogestão

Os próprios associados, por determinação legal, têm a responsabilidade pela direção da organização e pelos controles de gestão da mesma. Os cooperados têm responsabilidade sobre as ações e atos tomados pela cooperativa, já que os mesmos têm a função de tomar as decisões relativas a ela.

Senso de Justiça Todos os associados devem ter tratamento igualitário, enfatizando o princípio de equidade perante a cooperativa e seus stakeholders.

Transparência

Com intuito de gerar confiança e eliminar a assimetria de informação, a transparência se faz necessária no sentido de disponibilizar as informações pertinentes aos associados, sempre que possível, além das informações que são determinadas por lei.

Educação

Forte estímulo para a formação de lideranças, para que o quadro social possa sempre trazer novas contribuições para a cooperativa de forma que a mesma continue crescendo e trazendo bons resultados.

Sustentabilidade

Procura por uma administração ética, visando atender aos interesses comuns, gerando valor e zelando pela cooperativa, ter impacto positivo para a sociedade, dos pontos de vista culturais, ambientais, sociais e econômicos.

Fonte: elaborado pela autora com base em Organização Das Cooperativas Brasileiras (2018)

Os princípios de governança cooperativa conforme Quadro 9, têm enfoque nos

associados, demonstrando seus direitos de propriedade, equidade, transparência,

sustentabilidade e estímulo para a educação. Nas cooperativas, além de todas as

características encontradas na governança corporativa de empresas de capital aberto,

há ainda preocupações com a responsabilidade social e formação de novas

lideranças, evidenciadas pela “Sustentabilidade” e “Educação” respectivamente.

O próximo subcapítulo tratará de uma pesquisa realizada em diversas

cooperativas de crédito brasileiras com o propósito de verificar seus níveis de

governança cooperativa. Essa pesquisa foi realizada pelo Banco Central do Brasil, em

2014.

4.4 GOVERNANÇA EM COOPERATIVAS DE CRÉDITO

O Banco Central do Brasil (2014) aplicou uma pesquisa entre agosto de 2013

e maio de 2014, em 1.143 cooperativas de crédito no Brasil, com o intuito de verificar

de que forma as cooperativas de crédito brasileiras praticam a governança

cooperativa. A pesquisa foi realizada através de um questionário respondido pelas

Page 48: DARLENE BIANCA AREND

47

cooperativas, no qual as principais variáveis eram representatividade, estrutura de alta

organização e funções de fiscalização.

Os resultados demonstraram que há diversos pontos que podem ser

melhorados na governança das cooperativas, conforme as respostas das instituições

que participaram da pesquisa. As três próximas seções, representadas por

representatividade, estrutura de alta gestão e funções de fiscalização, são os tópicos

abordados pela pesquisa realizada pelo Banco Central do Brasil de 2013 a 2014 em

diversas cooperativas brasileiras.

4.4.1 Representatividade

A pesquisa realizada pelo Banco Central do Brasil (2014) demonstra que há

pequena participação dos associados na assembleia geral, que é o maior órgão de

tomada de decisão das cooperativas. Na maioria das cooperativas em que não há um

coordenador de núcleo, a participação dos associados em assembleias chega a ser

igual ou menor que 10%. Segundo a administração das cooperativas, esse número se

deve a confiança que o associado tem na cooperativa, ou então, a falta de

conhecimento do associado sobre a importância da assembleia geral, já que 67,5%

das cooperativas afirmam que divulgam a assembleia através de diversos meios.

Quanto à transparência de informações, apenas 5,4% das cooperativas

declararam que não têm relatório sobre a administração, para que o associado tenha

conhecimento das ações tomadas. As demais organizações questionadas alegam que

quando há divulgação, ela é realizada, antes da assembleia, através de meio

eletrônico (10,1%), site da instituição (16,3%) ou mantinha-se na sede das

cooperativas (55,5%).

Um dos princípios do cooperativismo diz respeito à educação do associado,

para que o mesmo possa futuramente fazer parte da cooperativa através de posições

estatutárias e contribuir para o desenvolvimento da mesma. A respeito disso, a

pesquisa aponta que cerca de 25,3% das cooperativas não têm o programa de

educação para os cooperados formalizado, mas que oferecem outras formas de

aprendizagem através do Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo

(BANCO CENTRAL DO BRASIL, 2014)

Page 49: DARLENE BIANCA AREND

48

4.4.2 Estrutura da Alta Administração

A estrutura da alta administração é um fator muito importante para determinar

se uma instituição possui altos índices de governança cooperativa segundo o Banco

Central do Brasil (2014). Na governança corporativa é necessário que tenha

separação entre funções de conselho de administração e diretoria executiva, porém

nas cooperativas essa situação se mostra um pouco diferenciada. Cerca de 25% das

instituições entrevistadas afirmam que há segregação de cargos na alta gestão. O

restante das organizações que não possuem essa separação, pode ter problemas que

devem impactar negativamente em concentração de poder e incentivo a conflitos de

interesses por parte dos indivíduos que participam dos dois órgãos.

Um ponto curioso apresentado na pesquisa de 2014, é que 83,8% das

instituições não possuem política de sucessão de cargos da alta administração, e

apenas 25,7% afirmam que os associados são preparados para se tornarem futuros

dirigentes.

Os membros da diretoria executiva geralmente são escolhidos pelo conselho

de administração, sendo que cerca de 43% das cooperativas responderam que seus

diretores trabalham em tempo integral, e cerca de 56% afirmaram que há necessidade

de comprovação de preparo técnico para exercer a função (BANCO CENTRAL DO

BRASIL, 2014).

Em todas as organizações, a assimetria informacional é um preceito básico de

governança. Apenas 15% das diretorias executivas das cooperativas têm relatórios

sobre atividades operacionais que são voltadas exclusivamente para o associado e

somente 24% têm esses relatórios destinados ao Conselho Fiscal. A maioria das

cooperativas (77%) responderam que possuem um relatório em sua sede, que pode

ser consultado por associados. Apenas 40% das instituições questionadas possuem

site, que permite que o cooperado faça transações, além de conter diversas

informações relevantes da organização.

4.4.3 Funções de fiscalização

Das cooperativas questionadas na pesquisa do Banco Central do Brasil (2014),

94,4% delas declaram que seu conselho fiscal se reúne para fiscalizar as ações da

administração mensalmente e 63% possuem um regulamento específico para os

Page 50: DARLENE BIANCA AREND

49

conselheiros. Outro dado interessante, é que 56,2% das cooperativas não possuem

programas para formar conselheiros.

Quanto à questão dos associados, 88% das cooperativas afirmam ter

ouvidorias em cooperativa central ou confederação. Outro ponto percebido é que

33,6% das cooperativas singulares possuem o “Fale Conosco” em seus sites

institucionais.

Em relação às auditorias, a pesquisa revela que 78,9% das cooperativas que

fazem auditoria interna realizam a mesma através das suas centrais. Já em relação à

auditoria externa, os respondentes afirmam que 51,6% das organizações contratam

algum tipo de auditoria externa, de acordo com as normas da central (BANCO

CENTRAL DO BRASIL, 2014).

Meinen e Port (2012) admitem que ainda há muitas questões a serem

melhoradas na governança das cooperativas, entre elas estão a participação dos

associados, falta de independência de alguns órgãos, falta de segregação de funções,

falta de preparo dos conselheiros, falta de um código de ética que norteie a

organização, ausência de transparência na gestão e excesso de poder por parte de

alguns dirigentes.

O próximo capítulo trará conceitos de confiança e como a mesma tem sinergia

com a governança cooperativa, trazendo assim, uma relação visível entre essas

variáveis.

Page 51: DARLENE BIANCA AREND

50

5 CONFIANÇA

Fukuyama (1996) aborda que a confiança nasce a partir de um grupo de

pessoas que visam trabalhar para atingir determinado objetivo, e, a partir disso, são

compartilhadas ideias, conhecimentos e capacidades técnicas. Dessa forma, as

pessoas começam a se associar umas às outras, com o propósito de trabalhar em

sinergia e compartilhar trocas de experiências agregando valores para a organização,

para que se possa tornar a confiança uma característica de valor econômico.

Porém, a confiança deriva de um cenário de incertezas, no qual ao se confiar

em algum indivíduo, torna-se impossível saber ao certo qual ação ele procederá

futuramente, mas a expectativa esperada sempre é positiva em relação à outra parte,

sendo assim, o risco é fator crucial para a criação de oportunidade para confiar

(LUHMANN, 1979 apud TERRES et al., 2010).

A confiança começou a ser desenvolvida no meio econômico com o objetivo de

diminuir as incertezas nas parcerias, pois, a partir dela, pode-se ter uma perspectiva

de como os indivíduos poderão reagir em determinadas situações. A confiança gera

relacionamentos mais fortes, que podem ser vistos no presente e no passado das

organizações, mas que influenciarão, principalmente, no futuro (ZANINI, 2007).

Dessa forma, quando há confiança, diminui-se os riscos, tendo em mente, que

ambas as partes que compõem o acordo, não irão agir de forma oportunista e cumprir

sua palavra. A confiança dentro de uma empresa torna-se um instrumento que poderá

aumentar seu valor, mas a falta pode abrir brechas para estimular ações visando

interesses pessoais (ZANINI, 2007).

Segundo Fukuyama (1996), a confiança pode ser percebida sob dois aspectos.

O primeiro diz respeito aos princípios de uma organização, seu comportamento,

cultura ou quaisquer outras características relacionadas a valor. A outra perspectiva é

a confiança baseada nos exemplos profissionais, normas e formas de conduta.

Quando uma organização conta com confiança, ela torna seus processos mais

rápidos e simples, evitando gastos desnecessários com burocracias e evitando custos

operacionais.

A confiança não é algo que pode ser criado de uma hora para outra, ela exige

uma preocupação e precisa criar raízes para se consolidar. Ela pode ser percebida

através da cultura da organização, seu modo ético de agir e, claro, por sua

governança. (ALENCASTRO; ALVES, 2017).

Page 52: DARLENE BIANCA AREND

51

Um dos motivos do surgimento da governança corporativa é em virtude dos

diversos escândalos que envolveram empresas internacionais. Estas companhias não

faziam uma gestão visando ao crescimento organizacional, mas sim, procurando

sanar benefícios e necessidades próprias dos administradores. Dessa forma, a

governança surge com o papel de tornar a empresa mais confiável aos olhos do

investidor (ALENCASTRO; ALVES, 2017).

As boas práticas de governança corporativa, quando percebidas pelos

associados, fazem a organização ser vista de outra forma, pois sua adoção trará mais

segurança e confiança para seus cooperados e para terceiros envolvidos (INSTITUTO

BRASILEIRO DE GOVERNANÇA CORPORATIVA, 2015). Segundo Fontes Filho,

Ventura e Oliveira (2008), quando uma organização segue as diretrizes de boa

governança cooperativa, além de melhorar o relacionamento com seus associados,

ela traz mais segurança, pois seu modelo de gestão contradiz o modelo individualista

e consequentemente mostrará mais confiança de acordo com seu comportamento e

práticas de gestão.

Entre as diversas funções das boas práticas, pode-se notar que algumas

específicas remetem à confiança. Como, por exemplo, fazer uma gestão transparente,

garantir que as informações que sejam relevantes e de interesse dos associados

possam ser divulgadas a eles, além do tratamento igualitário para todos os

cooperados (INSTITUTO BRASILEIRO DE GOVERNANÇA CORPORATIVA, 2015).

Segundo Andrade e Rossetti (2011), mais do que informar, a empresa deve ter o

desejo de passar a todos os interessados as informações e seus relatórios contábeis.

Ao se estabelecer alguma relação de confiança, começa-se a confiar em

determinado indivíduo ou organização, pois acredita-se que esta parceria trará

retornos financeiros ou um relacionamento duradouro entre as partes. Ou seja, nem

sempre confiar traz benefícios imediatos, muitas vezes, as relações de confiança são

realizadas com o propósito de obter vantagem futuramente ou conseguir benefícios

conjuntamente e promover relacionamentos a longo prazo (ZANINI, 2007).

Ao entrar na cooperativa, o associado deve perceber que seus recursos serão

geridos da melhor forma possível, maximizando todo seu retorno, além disso, a

cooperativa deve ser a primeira opção assim que o cooperado desejar adquirir

determinado produto ou serviço. A imagem da instituição contribui muito para isso,

além, é claro, resultados sólidos e altos índices de governança (MEINEN; PORT,

2012).

Page 53: DARLENE BIANCA AREND

52

Outra vantagem destacada por Souza e Meinen (2010) é a proximidade de

relacionamento que a cooperativa tem com seu associado, que pode impactar

diretamente na confiança. A administração das cooperativas busca entender

exatamente a visão do associado e ajudar caso aconteça alguma situação que fuja

dos padrões, para que seja solucionada o mais rápido possível. Isso mostra que o

associado poderá confiar na cooperativa nos momentos mais decisivos e para a

resolução dos seus problemas financeiros.

As cooperativas devem estabelecer uma relação de confiança com seus

associados, visto que, por serem cooperados e donos da instituição, espera-se que

este indivíduo tenha a cooperativa como única ou principal instituição para sanar suas

necessidades financeiras. Porém, pode-se perceber que alguns associados se

utilizam da cooperativa apenas como mais uma instituição e que muitas vezes se

perde negócios para concorrentes (MEINEN; PORT, 2012).

Segundo Amess e Howcroft, (2001 apud FONTES FILHO, VENTURA E

OLIVEIRA, 2008), em uma cooperativa, além de proprietários, os associados são

também clientes. As cooperativas apresentam diversos benefícios frente a seu

mercado, como, por exemplo, produtos e serviços com taxas reduzidas. Visto isso, há

cooperados que ingressam na instituição para somente usufruir de tais benefícios e

não por acreditarem nos valores cooperativistas. Desta forma, criar a confiança dentro

das cooperativas varia de acordo com seus costumes e comportamentos.

Para mudar esse cenário, torna-se necessário dar o exemplo para os

cooperados. Os próprios colaboradores, conselheiros e diretores devem possuir

relacionamento somente com a cooperativa, assim como incentivar pessoas próximas

para que façam o mesmo; criar produtos/serviços que sejam diferentes da

concorrência; verificar a demanda destes e incentivar a fidelização dos cooperados

(MEINEN; PORT, 2012).

A relação entre cooperativa e cooperado só existe quando o último deve

compreender na essência o que significa ser associado e precisa notar que há uma

grande diferença entre ser cliente e cooperado. A cooperativa pertence aos seus

associados e ela traz diversos benefícios a eles, que vão além de simplesmente sanar

soluções financeiras (MEINEN; PORT, 2012).

Mas como confiar em uma cooperativa sem conhecê-la? Segundo Delgado-

Ballester e Munuera-Alemán (2005 apud TERRES et al., 2010), um indivíduo pode

confiar em determinada organização através de sua marca. A marca possui diversas

Page 54: DARLENE BIANCA AREND

53

características, como, por exemplo, honestidade, responsabilidade e competência,

que podem influenciar para a construção de um relacionamento de longo prazo. Os

atributos trazidos pela marca devem satisfazer as necessidades do consumidor,

transparecer confiança e mostrar para o indivíduo que a organização é capaz de trazer

benefícios para ambas as partes.

Segundo Delgado-Ballester (2004 apud TERRES et al., 2010), a confiança na

marca faz com que o cooperado perceba que a cooperativa colocará seus interesses

à frente, que trabalhará em função de atender suas necessidades e não fará uso de

ações oportunistas em favor próprio.

O referencial teórico desse estudo buscou trazer conceitos relacionados à

governança corporativa, cooperativismo, governança cooperativa e confiança, para

verificar se há relação entre eles. A literatura aborda relação entre as características

encontradas, conforme a Figura 4:

Page 55: DARLENE BIANCA AREND

54

Fonte: elaborada pela autora

Assim, sendo consolidado o referencial teórico, será abordada a metodologia

utilizada na pesquisa, apresentada no próximo capítulo.

Figura 4 - Construtos de Governança Cooperativa

Page 56: DARLENE BIANCA AREND

55

6 MÉTODO

De acordo com Gil (2002), o método demostra os procedimentos que a

pesquisa deve seguir, sendo que cada estudo pode ter suas particularidades.

Prodanov e Freitas (2013 p. 126) descrevem método como sendo “o conjunto de

processos ou operações mentais que devemos empregar na investigação. É a linha

de raciocínio adotada no processo de pesquisa”. Outra definição dada por Andrade

(2007 p. 119), é que a metodologia “é o conjunto de métodos ou caminhos que são

percorridos na busca do conhecimento”.

Segundo Lakatos e Marconi (2010), o método é composto por atividades que o

pesquisador terá de fazer para conseguir alcançar seu objetivo, de forma com que os

conhecimentos adquiridos sejam verdadeiros e confiáveis. Além disso, o método

permite ao investigador obter subsídio para tomada de decisões.

6.1 CLASSIFICAÇÃO DA PESQUISA

Este estudo foi classificado quanto à sua natureza, objetivos, procedimentos

técnicos e abordagem do problema. A seguir, cada uma das classificações serão

apresentadas.

6.1.1 Quanto à sua natureza

De acordo com Prodanov e Freitas (2013), uma pesquisa aplicada é aquela que

trará soluções para problemas práticos e específicos, sendo que terá aplicabilidade

para solucionar algum tipo de problema em determinado local. Lakatos e Marconi

(1999) descrevem como pesquisa aplicada aquela que tem finalidade prática para

resolução de problemas que acontecem de fato. Este tipo de pesquisa visa adquirir

conhecimentos a partir de estudos já feitos, para que estes sirvam de subsídio para

solucionar fins práticos.

Está pesquisa pode ser classificada como aplicada, pois foram estudadas obras

já publicadas por autores renomados para obter informações sobre os temas

governança corporativa, cooperativas de crédito e confiança. A partir disso, foi

elaborado um questionário, que serviu de base para testar se esses conhecimentos

se aplicam em determinada cooperativa. O presente trabalho visa estudar como são

Page 57: DARLENE BIANCA AREND

56

percebidos os aspectos de governança corporativa dentro de uma cooperativa pelos

seus associados, com o intuito de analisar se os cooperados que percebem a

governança cooperativa, também percebem a confiança dentro da organização.

Sendo assim, a cooperativa poderá entender de que forma a governança corporativa

é vista pelos associados.

6.1.2 Quanto aos procedimentos técnicos

De acordo com Prodanov e Freitas (2013), os procedimentos técnicos são a

maneira pelo qual se obtém os dados para a pesquisa. Segundo Gil (2002), eles

também podem ser chamados de delineamento e este por sua vez leva em

consideração o ambiente onde os dados foram coletados e a análise deles.

Para a coleta de dados foi utilizada a survey, que de acordo com Prodanov e

Freitas (2013), trata-se de um levantamento no qual os dados são extraídos a partir

de questionários feitos a um grupo de pessoas que constituem uma parte da

população, da qual o pesquisador tem interesse em conhecer determinadas

características. Nesse tipo de estudo as análises são quantitativas, dependem de um

número considerável de respondentes e pode-se estabelecer conclusões através dos

dados coletados. Para Malhotra (2012), uma survey consiste em um questionário

estruturado, no qual os indivíduos respondentes manifestam suas opiniões sob vários

aspectos, podendo ser, por exemplo, conduta, atitude, atributos e estilo de vida

Malhotra (2012), ressalta que a vantagem desse tipo de pesquisa é que ela

pode ser facilmente aplicada e reproduz resultados que são confiáveis, visto que as

respostas se limitam a alternativas. A interpretação e análise de dados também são

consideradas fáceis, pois a maioria dos levantamentos utiliza-se de perguntas de

alternativa fixa, sendo assim, não haverá diversos tipos de respostas para serem

analisadas individualmente.

Para entender a percepção dos associados, foi necessário obter informações

através de questionário, que de acordo com Prodanov e Freitas (2013), é uma forma

de coletar dados primários, com objetivo de obter informações de diversas pessoas,

através de perguntas que devem ser feitas de forma clara e objetiva, para ter uma

visão do entendimento de determinado grupo que deseja-se retirar informações.

A survey teve como objetivo identificar o grau com que a governança

cooperativa é percebida por parte dos associados e verificar sua relação com a

Page 58: DARLENE BIANCA AREND

57

confiança. Neste estudo foram aplicados questionários para os associados da

cooperativa XYZ – Agência Estância Velha Rincão, para verificar se eles percebem

características de governança corporativa dentro da instituição, assim como, para

verificar o nível de confiança que os mesmos possuem na cooperativa. Desta forma,

foi possível atingir o objetivo da pesquisa.

6.1.3 Quanto aos seus objetivos

Do ponto de vista dos objetivos, para Prodanov e Freitas (2013, p.52), a

pesquisa descritiva é:

Quando o pesquisador apenas registra e descreve os fatos observados sem interferir neles. Visa descrever as características de determinada população ou fenômeno ou o estabelecimento de relações entre variáveis. Envolve o uso de técnicas padronizadas de coleta de dados: questionários e observação sistemática.

Malhotra (2012) define como pesquisa descritiva aquela que visa descrever

algo, que podem ser características ou funções de determinado ambiente. Pode ser

utilizada para traçar perfis de grupos ou indivíduos e através de amostras verificar

características de determinada população. Na pesquisa descritiva, espera-se que o

pesquisador já tenha um certo conhecimento do assunto tratado e seus objetivos

devem ser claramente definidos. Por exemplo, para Andrade (2007), esse tipo de

pesquisa é utilizado nos estudos para saber a opinião dos indivíduos e verificar o

mercado, sendo que geralmente os dados coletados são através de questionário e/ou

observação.

Segundo Gil (2002), as pesquisas descritivas podem ser utilizadas para

analisar relações entre variáveis e buscam evidenciar opiniões, crenças e atitudes.

Prodanov e Freitas (2013) ainda ressaltam que nessa pesquisa os dados geralmente

são coletados de forma estruturada. Esses dados são analisados pelo pesquisador,

porém ele não deve interferir neles, ou seja, não há manipulação. Nesse tipo de

estudo, os resultados têm como objetivo interpretar, classificar e explicar determinada

situação.

Neste trabalho, a pesquisa é descritiva, pois o investigador analisou a

percepção dos associados da cooperativa XYZ, quanto à sua governança cooperativa.

Dessa forma, pode-se traçar características dessa amostra para definir um

comportamento através da coleta de dados, que foi feita por meio de questionário.

Page 59: DARLENE BIANCA AREND

58

Sendo assim, esta pesquisa descreveu fatos que aconteceram e foram observados,

sem que haja manipulação de dados. Todos os dados obtidos dos associados no

questionário, foram analisados e houve possibilidade de fazer uma relação com a

confiança. Consequentemente, foi possível obter uma opinião da amostra.

6.1.4 Quanto à abordagem do problema

Prodanov e Freitas (2013), descrevem a pesquisa quantitativa como

interpretação e atribuição de significados para as informações estudadas, onde o

ambiente estudado é primordial para a execução do trabalho, visto que será dele que

as informações serão coletadas. Preocupa-se em analisar o máximo de informações

possíveis e é usada principalmente em pesquisas descritivas. Neste tipo de pesquisa,

todos os dados coletados podem traduzir-se em números, que serão analisados para

determinar alguma característica dos indivíduos estudados.

Segundo Sampieri, Collado e Lucio (2013), esses tipos de pesquisa visam

comprovar algum fenômeno, sendo que através da revisão teórica são extraídos

objetivos e a partir disso são criadas hipóteses e o investigador deve traçar um plano

para testar estas hipóteses. Gil (2002) complementa que geralmente utilizam-se de

métodos estatísticos, que ajudam a identificar precisamente o fenômeno estudado.

A presente pesquisa tem enfoque quantitativo, visto que foi aplicada uma

survey, na qual os associados da cooperativa XYZ responderam a um questionário,

para verificar se eles percebem aspectos de governança cooperativa e confiança

dentro da instituição. Dessa forma, o pesquisador pôde fazer uma análise de dados e

tirar conclusões acerca do tema.

O próximo subcapítulo descreverá qual foi o universo e amostra da pesquisa,

descrevendo as características deles e a sua importância para a realização da

pesquisa.

6.2 UNIVERSO E AMOSTRA

A população, de acordo com Malhotra (2012), se constitui através de todos os

elementos que possuem determinada característica ou pertencem a um determinado

ambiente. Esses indivíduos compõem o universo da pesquisa. Sampieri, Collado e

Page 60: DARLENE BIANCA AREND

59

Lucio (2013, p. 193) ainda complementam a ideia de população como sendo “o

conjunto de todos os casos que preenchem uma série e especificações”.

Mas, segundo Gil (2002), quando uma população é relativamente grande e o

pesquisador não tem possibilidade de obter dados de todos os participantes, é

recomendável que se use uma amostra. Malhotra (2012) descreve uma amostra como

sendo uma parte do universo, ou seja, um grupo extraído da população para

determinar características dela. Para Sampieri, Collado e Lucio (2013), a amostra

deve ser escolhida com muito cuidado, pois irá representar toda a população

escolhida. O investigador, quando coleta informações de uma amostra, busca que os

dados encontrados sejam generalizados e que simulem a opinião da população.

O sistema de cooperativa XYZ possui mais de 3 milhões de associados e se

faz presente em quase todos os estados brasileiros, contando com mais de 1.000

pontos de atendimento. Possui diversas cooperativas singulares espalhadas no Brasil

e tem entre 15-20 mil colaboradores que atendem cooperados pessoas físicas,

jurídicas e com perfil rural visando sempre o crescimento das comunidades onde está

inserida e a busca para trazer soluções financeiras para seus associados

(COOPERATIVA XYZ, 2018).

A população do estudo é caracterizada pelos associados da cooperativa XYZ,

que se caracteriza como uma das cooperativas singulares, das diversas encontradas

no sistema de cooperativas XYZ. É referência nacional e internacional sob a

perspectiva de modelo de gestão. Em maio de 2018 possuía entre 100-125 mil

associados e em abril de 2019, houve crescimento de 1% a 5% no número de seus

cooperados. Além disso, em 2017, seu resultado foi acima de 50 milhões, o que

representa um aumento de mais de 100% comparado ao ano de 2012. É uma

cooperativa que se preocupa muito com a responsabilidade social e com o bem-estar

da sociedade na qual está inserida (COOPERATIVA XYZ, 2019).

A área de atuação da cooperativa XYZ, que possui entre 20-40 agências, é

entre as cidades de Caxias do Sul e São Leopoldo. A cooperativa possui quase o

mesmo números de agências na Regional Serra, quanto na Regional Sinos.

(COOPERATIVA XYZ, 2018).

Como amostra, foram coletados 116 questionários de associados da agência

Estância Velha Rincão, uma das agências que compõe a cooperativa XYZ. A amostra

foi caracterizada como não probabilística pois, de acordo com Malhotra (2012), esse

tipo de amostra não é escolhido aleatoriamente e o investigador escolhe quais os

Page 61: DARLENE BIANCA AREND

60

indivíduos irão participar da coleta de dados. Sampieri, Collado e Lucio (2013) ainda

complementam que nas amostras não probabilísticas os indivíduos não são

escolhidos pela probabilidade e sim por conta de determinados atributos da pesquisa.

A amostra foi escolhida por acessibilidade, na qual de acordo com Prodanov e

Freitas (2013), os indivíduos selecionados para responder ao questionário são

escolhidos de acordo com o acesso que o pesquisador teve a eles. Malhotra (2012)

afirma que os elementos são escolhidos, pois se encontram na hora certa e no

momento certo e geralmente são de fácil acessibilidade.

A partir da survey que foi aplicada, pode ser feita uma análise para atingir o

objetivo geral do trabalho, que é analisar de que forma os associados da cooperativa

XYZ percebem aspectos de governança cooperativa na instituição e relacioná-los com

sua confiança. A governança ainda é um tema recente para a cooperativa, visto que

a adesão às Diretrizes de Boas Práticas de Governança Cooperativa foi feita entre

2009 e 2012.

O próximo subcapítulo trará informações sobre o instrumento de coleta de

dados, detalhando a forma como foi construído, construtos, escalas de respostas e

autores que foram utilizados como referência.

6.3 INSTRUMENTO(S) DE COLETA DE DADOS

Para coletar os dados dos associados foi utilizado um questionário elaborado a

partir do referencial teórico do trabalho. A base principal do questionário foi a pesquisa

realizada pelo Banco Central do Brasil, uma das únicas pesquisas que envolveram

governança cooperativa em âmbito nacional de cooperativas de crédito, na qual foi

realizado um projeto de governança cooperativa intitulado “Governança Cooperativa:

diretrizes e mecanismos para o fortalecimento da governança em cooperativas de

crédito no Brasil”. Nessa pesquisa foram coletadas respostas de vários associados de

diversas cooperativas do Brasil, para verificar se os mesmos percebem governança

cooperativa em suas instituições. Outras questões foram elaboradas pela autora com

base nos conceitos estudados.

Os construtos do questionário foram escolhidos devido à relevância que eles

possuem para governança, conforme o Quadro 10:

Page 62: DARLENE BIANCA AREND

61

Quadro 10 - Construtos do questionário

Construtos de Governança Cooperativa

Conceito

Propriedade Foi escolhido pois se trata de uma das características mais importantes de governança cooperativa e é um dos principais problemas encontrados dentro das cooperativas.

Estrutura

Em virtude de que os administradores e executivos devem gerir a organização de acordo com os interesses de seus stakeholders, essa é uma premissa da governança cooperativa.

Transparência, Equidade, Prestação de

Contas e Responsabilidade

Corporativa

São pilares de governança corporativa apresentados pelo Instituto Brasileiro de Governança Corporativa, e são base para definir governança corporativa dentro de uma organização.

Responsabilidade social

Foi utilizada pelo fato de que a cooperativa deve ter todo um cuidado com seus stakeholders, pois hoje uma organização não deve ter somente preocupação com seus acionistas, ou no caso, seus associados.

Participação

Foi escolhida pois também é um ponto fraco dentro das cooperativas no quesito governança corporativa. Nas pesquisas anteriores essa característica se mostrava pouco expressiva.

Confiança Visto que o trabalho visa verificar se os associados que percebem mais governança cooperativa, também confiam mais na cooperativa XYZ.

Fonte: elaborado pela autora

Para responder as questões foi utilizada uma escala de respostas para facilitar

e quantificar as opiniões dos respondentes. Para Malhotra (2012), quando um

questionário possui escala os indivíduos têm opções limitadas e devem escolher

aquela que melhor descreve seu posicionamento quanto à questão.

Nesta pesquisa foi utilizada a escala Likert, que segundo Malhotra (2012, p.

221) “exige que os entrevistados indiquem um grau de concordância ou discordância

com cada uma de uma série de afirmações sobre objetos de estímulo”. A escala tem

cinco categorias indo de “discordo totalmente” a até “concordo totalmente”.

O questionário dessa pesquisa foi submetido a pré-teste com cinco associados

da agência Rincão – Estância Velha, entre os dias 28 de novembro a 05 de dezembro

de 2018. Para verificar se as perguntas foram bem entendidas, o pesquisador leu as

perguntas e constantemente perguntava se o associado tinha alguma dúvida.

Somente um indivíduo questionado teve uma dúvida referente à questão nº 8, na qual

não entendeu o sentido da palavra “interesses”, desta forma, o pesquisador explicou

que o sentido da pergunta era que a cooperativa XYZ tomava decisões de acordo com

o que os associados desejam e o que é bom para eles, assim, o cooperado entendeu

Page 63: DARLENE BIANCA AREND

62

a pergunta e conseguiu responder à questão. Visto isso, no Quadro 11, será

demonstrada a mudança realizada no questionário.

Quadro 11 - Mudança no questionário Questões do questionário

Questão anterior 8. Sinto que as decisões que a cooperativa XYZ toma em relação a cooperativa atende

meus interesses.

Nova questão 8. Sinto que as decisões que a cooperativa XYZ toma em relação a cooperativa não me

prejudicam. Fonte: elaborado pela autora

O pesquisador fez essa troca, pois “atender meus interesses” pode ser muito

relativo e gerar dúvidas. O associado pode pensar em diversos tipos de interesses,

que podem ser bom atendimento, liberação de crédito, oferta de serviços conforme a

necessidade do associado, etc. Desta forma, quando substituída por “não me

prejudicam”, demonstra que as decisões tomadas não afetam os associados de forma

negativa.

Após coletados os dados, feito o pré-teste e ajustadas as informações, a versão

final do questionário ficou conforme o Quadro 12.

Page 64: DARLENE BIANCA AREND

63

Quadro 12-Questionário feito aos associados

(continua)

Construto Questão Tipo de variável

Referência

Perfil 1. Meu gênero é: 2. Minha faixa etária é: 3. Minha escolaridade é: 4. Minha renda é de: 5. Tenho conta na

cooperativa XYZ: 6. Com que frequência vou

até a agência:

Conforme apêndice A.

Contextualização da amostra para futuros estudos

Propriedade 7. Eu me sinto como proprietário da cooperativa

8. Sinto que as decisões que a cooperativa XYZ toma em relação à cooperativa não me prejudicam

9. Frequentemente participo de assembleias da cooperativa

Escala Likert de 5

pontos

Andrade; Rossetti, 2011

Andrade; Rossetti,

2011

Jesus, 2016

Estrutura governança cooperativa

10. Os diretores da cooperativa XYZ têm tomado decisões corretas para o crescimento da cooperativa

11. Tenho conhecimento sobre a função do Conselho Fiscal

12. Acredito que os diretores e conselheiros da cooperativa XYZ são capacitados para exercer suas funções

Escala Likert de 5

pontos

Melo Sobrinho et al., 2009

Melo Sobrinho et al., 2009

Melo Sobrinho et al., 2009

Transparência 13. Considero a cooperativa XYZ uma cooperativa transparente

14. Considero que a cooperativa XYZ divulga informações que são do meu interesse

15. A cooperativa XYZ tem boas formas de se comunicar comigo

Escala Likert de 5

pontos

Jesus, 2016

Jesus, 2016

Alencastro; Alves, 2017

Page 65: DARLENE BIANCA AREND

64

Construto Questão Tipo de variável

Referência

Equidade 16. A cooperativa trata seus associados da mesma forma

17. A cooperativa toma decisões para favorecer todos os associados da mesma maneira

18. A cooperativa XYZ toma decisões justas para seus associados

Escala Likert de 5

pontos

IBGC, 2009

Jesus, 2016

IBGC, 2009

Prestação de Contas

19. Frequentemente analiso relatórios da cooperativa

20. Os relatórios publicados pela cooperativa XYZ me fazem entender a situação da cooperativa

21. Acredito que se eu tiver alguma dúvida em relação à gestão da cooperativa XYZ, os responsáveis poderão esclarecê-la

Escala Likert de 5

pontos

Jacques et al., 2011

Melo Sobrinho et

al., 2009

IBGC, 2009

Responsabilidade Corporativa

22. Os diretores da cooperativa trabalham com o objetivo de melhorá-la constantemente

23. Os administradores, executivos e conselheiros defendem os interesses dos associados nas tomadas de decisões da cooperativa

24. Considero a cooperativa XYZ uma cooperativa ética

Escala Likert de 5

pontos

IBGC, 2009

IBGC, 2009

Andrade; Rossetti, 2007

Responsabilidade social

25. A cooperativa contribui para o crescimento da comunidade

26. Ensinar cooperativismo para os associados é importante para a cooperativa

27. Frequentemente participo de curso ou palestra oferecido pela cooperativa XYZ.

Escala Likert de 5

pontos

Andrade; Rossetti, 2011

Melo Sobrinho et al., 2009

Melo Sobrinho et

al., 2009

Page 66: DARLENE BIANCA AREND

65

(conclusão)

Construto Questão Tipo de variável

Referência

Participação 28. Frequentemente recebo um convite para participar da assembleia geral da cooperativa XYZ.

29. Na assembleia geral são tratados assuntos do meu interesse

30. Acredito que meu voto contribui para melhorar a cooperativa

Escala Likert de 5

pontos

Melo Sobrinho et al., 2009

Melo Sobrinho et

al., 2009 Melo Sobrinho et

al., 2009

Confiança 31. Eu confio nos diretores da cooperativa XYZ

32. A cooperativa XYZ cumpre o que promete

33. Eu acredito que a cooperativa XYZ é uma cooperativa confiável

Escala Likert de 5

pontos

Melo Sobrinho et al., 2009

Fukuyama, 1996

Fukuyama, 1996

Fonte: elaborado pela autora

O próximo subcapítulo detalhará a forma que os dados foram coletados para a

pesquisa, incluindo datas da coleta, forma que os questionários foram respondidos e

resistência encontradas.

6.4 PROCEDIMENTOS DE COLETA DE DADOS

Os dados da pesquisa foram coletados através de questionários, aplicados em

116 associados da agência Rincão – Estância Velha, uma das agências que

pertencem a cooperativa XYZ. O questionário foi aplicado entre os dias 21 de

dezembro de 2018 a 15 de fevereiro de 2019, na qual os associados receberam uma

planilha, com papel e caneta, para que pudessem responder ao questionário

manualmente. Os associados foram abordados no balcão de atendimento e foi

perguntado a eles se seria possível responder ao questionário que tem fins

acadêmicos. A maioria dos associados respondeu enquanto aguardavam na fila do

caixa ou enquanto esperava atendimento do seu gerente.

Seis questionários foram respondidos através do Google Forms, onde

geralmente o pesquisador enviava o link via WhatsApp ou e-mail para ser respondido.

A coleta desses dados foi desta forma, pois esses associados não dispunham de

tempo para responder ao questionário na agência.

Page 67: DARLENE BIANCA AREND

66

Houve pouca resistência na aplicação dos questionários, apenas em alguns

casos específicos, no qual o associado não queria ou não sabia responder, ou não

tinha tempo para finalizar o questionário.

O subcapítulo seguinte demonstrará as ações que foram realizadas para que

pudesse ser feita a análise dos dados obtidos através dos questionários respondidos

pelos associados da agência Estância Velha – Rincão.

6.5 PROCEDIMENTOS DE ANÁLISE

Assim que os dados foram coletados, eles foram transferidos manualmente

para uma planilha de Excel para que a partir do programa IBM SPSS Statistics v23,

pudessem ser feitas uma análise fatorial exploratória e correlações entre governança

e confiança.

Para verificar a adequação da amostra à análise fatorial, foi realizado o teste

de KMO, que resultou em 0,906, ou seja, bem acima do valor de 0,5 estipulado por

Malhotra (2006). Da mesma forma, o teste de esfericidade de Bartlett, que visa

verificar se as variáveis não estão correlacionadas com sua população (MALHOTRA,

2012), retornou 1745,797 com 253 graus de liberdade e significância p=0,000,

indicando que a amostra é adequada para uso da Análise Fatorial.

Tabela 1 - Teste de KMO e Barlett

Medida Kaiser-Meyer-Olkin de adequação de amostragem. ,906 Teste de esfericidade de Bartlett Aprox. Qui-quadrado 1745,797

Gl 253

Sig. ,000

Fonte: elaborada pela autora com base em IBM SPSS Statistics v23

Também, a partir do IBM SPSS Statistics v23, foi possível verificar as

comunalidades encontradas na pesquisa, desta forma, foi possível identificar a

contribuição de cada questão para explicação de governança cooperativa como um

todo (HAIR et al., 2005). Analisando o compartilhamento de variância de cada questão

com outras questões, pode-se verificar que nenhuma variável apresentou valor abaixo

de 0,5, conforme estipulado por Hair et al. (2005).

Page 68: DARLENE BIANCA AREND

67

Tabela 2 – Comunalidades

Questão Inicial Extração

Q7 Eu me sinto como proprietário da cooperativa 1,000 ,660 Q8 Sinto que as decisões que a cooperativa XYZ toma em relação à cooperativa não me prejudicam

1,000 ,554

Q9 Frequentemente participo de assembleias da cooperativa 1,000 ,743 Q10 Os diretores da cooperativa XYZ têm tomado decisões corretas para o crescimento da cooperativa

1,000 ,682

Q12 Acredito que os diretores e conselheiros da cooperativa XYZ são capacitados para exercer suas funções

1,000 ,639

Q13 Considero a cooperativa XYZ uma cooperativa transparente

1,000 ,674

Q14 Considero que a cooperativa XYZ divulga informações que são do meu interesse

1,000 ,629

Q15 A cooperativa XYZ tem boas formas de se comunicar comigo

1,000 ,671

Q16 A cooperativa trata seus associados da mesma forma 1,000 ,794 Q17 A cooperativa toma decisões para favorecer todos os associados da mesma maneira

1,000 ,743

Q18 A cooperativa XYZ toma decisões justas para seus associados

1,000 ,740

Q19 Frequentemente analiso relatórios da cooperativa 1,000 ,574 Q20 Os relatórios publicados pela cooperativa XYZ me fazem entender a situação da cooperativa

1,000 ,563

Q21 Acredito que se eu tiver alguma dúvida em relação à gestão da cooperativa XYZ, os responsáveis poderão esclarecê-la

1,000 ,578

Q22 Os diretores da cooperativa trabalham com o objetivo de melhorá-la constantemente

1,000 ,573

Q23 Os administradores, executivos e conselheiros defendem os interesses dos associados nas tomadas de decisões da cooperativa

1,000 ,623

Q24 Considero a cooperativa XYZ uma cooperativa ética 1,000 ,672 Q25 A cooperativa contribui para o crescimento da comunidade 1,000 ,753 Q26 Ensinar cooperativismo para os associados é importante para a cooperativa

1,000 ,680

Q27 Frequentemente participo de curso ou palestra oferecido pela cooperativa XYZ Q28 Frequentemente recebo um convite para participar da assembleia geral da cooperativa XYZ

1,000

,706

1,000 ,596

Q29 Na assembleia geral são tratados assuntos do meu interesse

1,000 ,721

Q30 Acredito que meu voto contribui para melhorar a cooperativa

1,000 ,678

Fonte: elaborada pela autora com base em IBM SPSS Statistics v23 Nota: Método de Extração: Análise de Componente Principal. Nota: Variância total explicada: 66,283% apresentando-se adequada.

Quando mais próximo o valor de uma comunalidade de 1, melhor explicada é

a variável pelos fatores (HAIR et al., 2005). Como todos os valores deram acima de

0,5, pode-se perceber que as variáveis estão bem representadas. Também é

necessário verificar a confiabilidade da pesquisa, que é extremamente importante, já

Page 69: DARLENE BIANCA AREND

68

que é a partir dela que poderá ser visto se os resultados da pesquisa foram

consistentes, quando aplicados repetidas vezes (MALHOTRA, 2012). A técnica para

avaliar a confiabilidade da escala/construtos/dimensões utilizada foi a Alfa de

Cronbach, na qual cada dimensão de governança encontrada, foi analisada, conforme

a Tabela 3.

Tabela 3 - Confiabilidade das informações

Dimensões Alfa de Cronbach:

Propriedade e Estrutura 0,770

Equidade 0,835

Responsabilidade Social e Corporativa 0,801

Participação e Prestação de Contas 0,814

Confiança 0,885 Fonte: elaborada pela autora com base em IBM SPSS Statistics v23

Com os dados dos questionários, primeiramente buscou-se apresentar as

características da amostra de acordo com seu perfil. Após, os dados de perfil foram

correlacionados para obter variáveis. Depois, as questões do questionário foram

correlacionadas, ou seja, foram agrupadas as questões que mais apresentavam

correlação através de uma matriz rotacionada, para que se pudesse obter as

dimensões propostas pelas respostas dos questionários. Na matriz rotacionada, os

valores que apresentaram média de carga fatorial acima de 0,6, serviram de base para

calcular as correlações e obter a análise fatorial exploratória.

Em seguida, as questões de perfil foram correlacionadas com as dimensões

encontradas e com a confiança, para analisar variáveis e suas relações. Na última

análise foram correlacionadas as dimensões com a confiança, para que fosse

visualizado quais características influenciam mais na confiança do associado.

O próximo capítulo abordará a análise dos resultados obtidos através dos

questionários, trazendo embasamento teórico e percepções da autora, acerca das

informações adquiridas.

Page 70: DARLENE BIANCA AREND

69

7 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

Os subcapítulos seguintes demonstrarão as análises feitas na pesquisa.

Conforme a Figura 5, no subcapítulo 7.1 foi demonstrado o perfil da amostra, no

subcapítulo 7.2 foi realizada análise fatorial exploratória das questões do questionário,

para gerar as dimensões de governança cooperativa; a seguir, no subcapítulo 7.3 foi

verificada a correlação das questões de perfil da amostra e dimensões de governança

cooperativa; no subcapítulo 7.4 foi verificada a correlação entre perfil da amostra e

confiança; e por último no subcapítulo 7.5, foi verificada a correlação entre as

dimensões de governança cooperativa e a confiança dos associados.

Figura 5 - Estrutura da análise

Fonte: elaborada pela autora

7.1 PERFIL DA AMOSTRA

Esta pesquisa foi realizada com 116 associados da agência Rincão – Estância

Velha, umas das agências que compõem a cooperativa XYZ. As respostas coletadas

a partir do questionário, foram fundamentais para o atingimento do objetivo da

pesquisa. A seguir, serão demonstradas as características do perfil da amostra.

No quesito de gênero, a porcentagem de respostas ficou de acordo com a

Tabela 4:

Page 71: DARLENE BIANCA AREND

70

Tabela 4 - Respostas por gênero

Gênero Feminino Masculino

Respondentes 55 61

Percentual (%) 47,4137 52,5862 Fonte: elaborada pela autora

Em relação à faixa etária, pode-se observar que a maioria das respostas foram

obtidas de associados com idade entre 18 a 55 anos.

Tabela 5 -Idade dos respondentes

Idade

18 a 35 anos

36 a 45 anos

46 a 55 anos

56 a 65 anos

Mais de 65 anos

Respondentes 34 35 32 11 4

Percentual (%) 29,3103 30,1724 27,5862 9,4827 3,4482 Fonte: elaborada pela autora

Referente ao grau de ensino, a maioria dos associados possui ensino médio completo:

Tabela 6 - Escolaridade dos respondentes

Escolaridade

Ensino fundam. incomp.

Ensino fundam. comp.

Ensino médio

incomp.

Ensino médio comp.

Ensino superior incomp.

Ensino superior comp.

Respon-dentes

27 17 8 32 12 20

Percentual (%)

23,2758 14,6551 6,8965 27,5862 10,3448 17,2413

Fonte: elaborada pela autora

Sobre a renda dos associados, grande parte recebe até R$ 4.000,00 por mês

de rendimentos:

Tabela 7 - Renda dos respondentes

Renda

Abaixo de 2.000,00

De 2.000,00 a 4.000,00

De 4.001,00 a 6.000,00

Acima de 6.000,00

Respondentes 32 57 15 12

Percentual (%)

27,5862 49,1379 12,9310 10,3448

Fonte: elaborada pela autora

Quanto ao tempo de conta que o associado tem na cooperativa XYZ, quase

metade dos associados responderam que possuem mais de 8 anos de conta:

Page 72: DARLENE BIANCA AREND

71

Tabela 8 - Tempo de conta dos respondentes

Tempo de conta

Menos de 2 anos De 2 a 5 anos De 6 a 8 anos Mais de 8 anos

Respondentes 26 30 8 52

Percentual (%) 22,4138 25,8621 6,8966 44,8276

Fonte: elaborada pela autora

A frequência que o associado costuma vir até a agência é geralmente de uma

ou mais vezes por semana:

Tabela 9 - Frequência de visita à agência

Frequência

Menos de

uma vez ao mês

Uma vez ao mês

Duas vezes por mês

Uma vez por semana

Mais de uma vez por semana

Respondentes 14 18 16 29 39

Percentual (%)

12,0690 15,5172 13,7931 25,0000 33,6207

Fonte: elaborada pela autora

A primeira análise realizada foi em relação ao perfil da amostra. Através da

correlação – na qual se estabelece a relação entre as variáveis, e estas foram

agrupadas, conforme o alto grau de correlação (MALHOTRA, 2006) - apresentada a

seguir, foi possível obter os dados, conforme Tabela 10.

Tabela 10 - Correlação perfil da amostra

Perfil Correlação e significância

Faixa etária

Escolaridade Renda Tempo

de conta

Frequência na agência

Faixa etária Correlação 1 -0,300** 0,062 0,354** 0,194*

Sig. 0 0,001 0,508 0,00 0,036

Escolaridade Correlação 1 0,280** 0,14 -0,155

Sig. 0 0,002 0,880 0,97

Renda Correlação 1 0,122 0,166

Sig. 0 0,193 0,75

Tempo de conta

Correlação 1 0,88

Sig. 0 0,345

Frequência na agência

Correlação 1

Sig. 0 Fonte: IBM SPSS Statistics v23 (2019) Nota: **Correlação de Pearson é significativa no nível 0,01 (bilateral) Nota: *Correlação de Pearson é significativa no nível 0,05 (bilateral)

As variáveis de perfil, que apresentam correlação estão demonstradas

conforme o Quadro 13:

Page 73: DARLENE BIANCA AREND

72

Quadro 13 - Correlação variáveis de perfil

Idade Escolaridade

Quanto maior a idade do associado:

• Menor sua escolaridade;

• Maior seu tempo de conta;

• Maior a frequência com que visita a agência.

Quanto maior a escolaridade:

• Maior a renda.

Fonte: elaborado pela autora

A primeira variável encontrada, denominada “Idade” apresenta correlação de

perfil com escolaridade e frequência. A relação encontrada entre idade e escolaridade

é comprovada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no qual, de

acordo com uma pesquisa de 2016, mais de 66,3 milhões de pessoas, com idade

acima de 25 anos, possuem apenas ensino fundamental no Brasil, o que corresponde

a quase 51% da população do país (IBGE, 2016). No Rio Grande do Sul, a taxa de

escolaridade das pessoas com mais de 25 anos que possuem ensino fundamental

incompleto, mas são alfabetizadas é de 42,4%, sendo que somente 11,3% das

pessoas com essa idade possuem ensino superior completo (ATLAS DO

DESENVOLVIMENTO HUMANO NO BRASIL, 2010), o que demonstra que a

população com maior idade tende a ter menor escolaridade.

Uma pesquisa realizada por Melo Sobrinho et al. (2009) com diversas

cooperativas brasileiras, demonstra que quase 40% dos associados questionados,

possuem conta a mais de 20 anos nas suas cooperativas, o que demonstra algo grau

de fidelização. Apenas 2,9% dos respondentes afirmavam que o tempo de associação

era menor que dois anos. Sendo assim, pode-se verificar a relação entre idade e

tempo de conta, pois se o associado iniciou seu relacionamento quando era mais

jovem e fidelizou-se com a cooperativa, ele tende a ter uma média maior de tempo de

conta que um associado com menor idade. Desta forma, além de ser encontrada essa

característica nos associados da cooperativa XYZ, da agência Rincão – Estância

Velha, esse aspecto também é visto nos associados de diversas cooperativas

brasileiras.

Em relação a frequência, na mesma pesquisa de Melo Sobrinho et al. (2009),

48,6% dos respondentes afirmavam que usam praticamente todos os dias os serviços

Page 74: DARLENE BIANCA AREND

73

ofertados pela cooperativa. Referente a esses associados questionados, 60,5% deles

possui mais de 40 anos, o que demostra que esse público costuma utilizar mais os

serviços dispostos pela cooperativa e consequentemente, frequentam mais também.

Melo Sobrinho et al. (2009) aponta que a participação na cooperativa não é só vista

na Assembleia Geral, ela é percebida quando o associado tem contato com as

decisões e vivencia o dia a dia de sua cooperativa. Essa característica vai ao encontro

com a frequência que se relaciona com “Idade”.

A próxima variável nominada “Escolaridade”, apresenta relações com um perfil

de maior renda e maior escolaridade. Conforme Barros et al. (2007 apud PINTO,

2017), geralmente quando as pessoas têm maior nível educacional, elas recebem

melhores salários. Pinto (2017) traz em seu estudo uma pesquisa realizada pela

Pesquisa Nacional por Amostra a Domicílios (PNAD), na qual a remuneração de quem

possui nível superior cresce em torno 21% ao ano, enquanto para aqueles que

possuem somente ensino fundamental, esse crescimento chega a ser menor que a

metade, atingindo 8%, o que demonstra a relação entre escolaridade e renda.

Conforme Goldfajn et al. (2016), em uma pesquisa realizada pelo Banco Central

do Brasil em 2016, demonstrou que há relação entre renda e grau de escolaridade na

utilização de serviços financeiros, e essa relação é positiva. A pesquisa demonstra

que 100% das pessoas que possuem renda maior que 20 salários mínimos

movimentam sua conta diariamente ou uma vez por semana, enquanto somente 23%

da população que recebe menos de 2 salários mínimos, apresenta o mesmo

comportamento. Em relação à escolaridade, 62% dos respondentes que possuem

ensino superior fazem uso de sua conta diariamente ou pelo menos uma vez por

semana, em contrapartida, somente 29% das pessoas que tem ensino fundamental

completo possuem a mesma característica.

O próximo subcapitulo abordará as correlações que foram feitas entre as

questões respondidas do questionário para gerar as dimensões de governança

cooperativa.

7.2 DIMENSÕES DE GOVERNANÇA COOPERATIVA

Com objetivo de identificar como os construtos teóricos de governança

cooperativa são de fato percebidos pelos associados, procurou-se verificar as

dimensões de governança subjacentes aos dados coletados. Para isso, e também

Page 75: DARLENE BIANCA AREND

74

com o propósito de verificar a possibilidade de reduzir o número de dimensões e itens

de medição, realizou-se uma análise fatorial exploratória (AFE) (HAIR et al., 2005).

A análise fatorial exploratória é um tipo de técnica utilizada com intuito de

correlacionar dados, para que estes possam ser resumidos e interpretados

(MALHOTRA, 2012). Malhotra (2012, p. 478) aponta que nesse tipo de análise

“estudam-se as relações entre conjuntos de muitas variáveis inter-relacionadas

representando-as em termos de alguns fatores subjacentes”.

A matriz rotacionada, demonstrada a seguir, buscou evidenciar as correlações

entre as questões do questionário, e, desta forma, levou à identificação de quatro

dimensões de Governança Cooperativa, ao invés das oito propostas pela teoria. As

dimensões foram agrupadas conforme a correlação entre as variáveis, ou seja, uma

dimensão existe quando suas variáveis têm correlações altas entre si (MALHOTRA,

2006). A seguir, a Tabela 11, apresentará as correlações encontradas, que resultaram

nas dimensões:

Tabela 11 - Matriz rotacionada

(continua)

Const. Questão Componentes

Propried. Q8 Sinto que as decisões que a cooperativa XYZ toma em relação à cooperativa me favorecem

0,734

Propried. Q7 Eu me sinto como proprietário da cooperativa 0,716 0,38

Estrutura Q12 Acredito que os diretores e conselheiros da cooperativa XYZ são capacitados para exercer suas funções

0,658 0,372

Estrutura Q10 Os diretores da cooperativa XYZ têm tomado decisões corretas para o crescimento da cooperativa

0,602 0,447

Transp. Q14 Considero que a cooperativa XYZ divulga informações que são do meu interesse

0,582 0,486

Resp. corp.

Q23 Os administradores, executivos e conselheiros defendem os interesses dos associados nas tomadas de decisões da cooperativa

0,558 0,382 0,359

Resp. Corp.

Q22 Os diretores da cooperativa trabalham com o objetivo de melhorá-la constantemente

0,524 0,321 0,432

Equid. Q16 A cooperativa trata seus associados da mesma forma

0,843

Page 76: DARLENE BIANCA AREND

75

(conclusão)

Equid. Q17 A cooperativa toma decisões para favorecer todos os associados da mesma maneira

0,773 0,314

Prest. de Contas

Q21 Acredito que se eu tiver alguma dúvida em relação à gestão da cooperativa XYZ, os responsáveis poderão esclarecê-la

0,345 0,593 0,325

Transp. Q15 A cooperativa XYZ tem boas formas de se comunicar comigo

0,455 0,557 0,356

Particip. Q28 Frequentemente recebo um convite para participar da assembleia geral da cooperativa XYZ

0,556 0,499

Equid. Q18 A cooperativa XYZ toma decisões justas para seus associados

0,525 0,531 0,362

Resp. Social

Q26 Ensinar cooperativismo para os associados é importante para a cooperativa

0,435 0,691

Resp. Corp.

Q24 Considero a cooperativa XYZ uma cooperativa ética

0,367 0,668

Particip. Q30 Acredito que meu voto contribui para melhorar a cooperativa

0,643 0,487

Resp. Social

Q25 A cooperativa contribui para o crescimento da comunidade

0,587 0,604

Transp. Q13 Considero a cooperativa XYZ uma cooperativa transparente

0,524 0,553

Propried. Q9 Frequentemente participo de assembleias da cooperativa

0,851

Resp. Social

Q27 Frequentemente participo de curso ou palestra oferecido pela cooperativa XYZ

0,812

Prest. de Contas

Q19 Frequentemente analiso relatórios da cooperativa

0,305 0,688

Particip. Q29 Na assembleia geral são tratados assuntos do meu interesse

0,443 0,683

Prest. de Contas

Q20 Os relatórios publicados pela cooperativa XYZ me fazem entender a situação da cooperativa

0,459 0,517

Fonte: elaborada pela autora com base em IBM SPSS Statistics v23 Nota: Método de Extração: Análise de Componente Principal. Nota: Método de Rotação: Varimax com Normalização de Kaiser. A Rotação convergida em 14 iterações.

As correlações mais significativas encontradas estão representadas pelos

dados em negrito, gerando as quatro dimensões: Propriedade e Estrutura (D1),

Equidade (D2), Responsabilidade Social e Corporativa (D3) e Participação e

Prestação de Contas (D4).

Propriedade e Estrutura (D1): a primeira dimensão encontrada reúne

principalmente as variáveis relativas à propriedade e estrutura de governança

cooperativa, mas também demonstra relação das duas características com

transparência e responsabilidade corporativa.

Page 77: DARLENE BIANCA AREND

76

A questão “sinto que as decisões que a cooperativa XYZ toma em relação à

cooperativa não me prejudicam”, apresenta maior correlação com a questão “Eu me

sinto como proprietário da cooperativa”, isso demonstra a relação entre o sentimento

de pertencimento do associado com a gestão da cooperativa. Para Andrade e Rossetti

(2007), a satisfação dos donos do capital é essencial para uma boa governança

corporativa, visto que um dos principais objetivos é evitar o conflito de interesses,

encontrado entre dirigentes e donos do capital.

Relacionando estrutura com propriedade, conforme Andrade e Rossetti (2007),

o associado, dono da cooperativa, deve ter seus objetivos atendidos pela organização,

que deve ser gerida por seu Conselho de Administração. Este, por sua vez, é quem

define as estratégias da empresa. Ele é auxiliado pela Diretoria Executiva,

responsável pela execução destas estratégias. O Conselho Fiscal e Auditoria

Independente têm o dever de fiscalizar as ações dos administradores.

Partindo desse princípio, nessa dimensão também faz parte a responsabilidade

corporativa, em que de acordo com Instituto Brasileiro de Governança Corporativa

(IBGC) (2009), os gestores devem tomar decisões visando benefícios a longo prazo

para a organização. Ventura (2009) expõe que o crescimento da cooperativa, que é

do interesse dos associados, é responsabilidade dos gestores.

Sendo assim, há relação entre responsabilidade corporativa, propriedade e

estrutura, visto que os diretores, devem zelar pela cooperativa, atender aos interesses

dos associados e considerar a estrutura da organização, sempre respeitando a

segregação de cargos. Além disso, todos devem estar cientes de suas

responsabilidades e obrigações.

Apresenta correlação menor nessa dimensão, a transparência, que conforme

Jesus (2016), consiste no fato da organização divulgar, tanto para associados, quando

para a comunidade em geral, informações que sejam do seu interesse e possuam

relevância. A transparência consiste em abrir informações referentes ao trabalho dos

dirigentes e suas decisões tomadas (IBGC, 2009), o que comprova que está ligada

com a estrutura. A responsabilidade corporativa está relacionada a transparência pois,

conforme Marques (2007), ela é vista quando os dirigentes concordam em repassar

suas informações, sem apresentar objeções a isso, desta forma comprovam que

zelam pela organização e que trabalham com o objetivo de melhorá-la

constantemente. Para a transparência existir, é necessário que haja comunicação

entre as partes. Os associados que são donos do capital, devem estar envolvidos nas

Page 78: DARLENE BIANCA AREND

77

decisões tomadas, assegurando que estejam corretas, já que esse é seu direito de

propriedade (MARQUES, 2007).

Equidade (D2): A segunda dimensão reúne conceitos principalmente ligados à

equidade, que se relacionam com prestação de contas, transparência e participação.

A questão que mais apresentou correlação foi “a cooperativa XYZ trata seus

associados da mesma forma”, o que vai ao encontro com a definição trazida pelo

IBGC, a qual aborda que o tratamento igualitário é característica da equidade, visto

que ações discriminatórias são inaceitáveis. As cooperativas são exemplo de

organizações que prezam a equidade, visto que trabalham pela democracia e

promoção da justiça social (BUTTENBENDER, 2010).

Também foi encontrada neste construto uma relação entre prestação de contas

e transparência. Pode-se verificar essa relação, a partir do momento em que as

informações, que devem ser repassadas para todos os associados, são transparentes

e não privilegiem um grupo específico de indivíduos (INSTITUTO BRASILEIRO DE

GOVERNANÇA CORPORATIVA, 2009). Jesus (2016) ressalta que uma empresa com

governança corporativa deve ter transparência na sua gestão, para que todos os

interessados estejam a par da real situação da instituição. Nas cooperativas cada

associado tem direito a um voto, independentemente do valor de capital que possui,

desta forma, as decisões tomadas pela área estratégica da cooperativa tendem a

atender aos desejos de todos os associados (COMISSÃO DE VALORES

MOBILIÁRIOS, 2002), apresentando a eles, sempre que necessário, as informações

que são do seu interesse.

Com menor ligação, mas ainda existente, a participação, caracterizada na

questão “frequentemente recebo convite para participar da assembleia geral da

cooperativa XYZ”, pode ser relacionada com a equidade no momento que as decisões

tomadas pela cooperativa devem beneficiar todos associados (ALECASTRO; ALVES,

2017), que devem estar presentes na assembleia para assegurar seus direitos. É na

assembleia que os dirigentes irão demonstrar as principais informações sobre o

gerenciamento da cooperativa e prestar contas dos seus atos (VENTURA, 2009).

Segundo o Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (2009), o envolvimento do

associado na gestão facilita a transparência e comunicação das informações, desta

forma, sua participação influência tanto na transparência como na equidade.

Responsabilidade social e corporativa (D3): a questão que apresentou maior

correlação foi “ensinar cooperativismo é importante para a cooperativa”, o que

Page 79: DARLENE BIANCA AREND

78

demonstra que disseminar o cooperativismo é importante para a organização, já que

futuramente, os próprios associados poderão fazer a gestão da cooperativa,

contribuindo para o crescimento constante da mesma (ORGANIZAÇÃO DAS

COOPERATIVAS BRASILEIRAS, 2018). Essa afirmação tem relação com a

participação, visto que, para formar novas lideranças é necessário que os associados

sejam ativos, participem e conheçam a organização a fim de tomar decisões que

sejam coerentes e atinjam os objetivos (INSTITUTO BRASILEIRO DE

GOVERNANÇA CORPORATIVA, 2015).

A participação do associado deve estar presente no momento que ele decide

que a cooperativa deve ajudar a sociedade. Uma cooperativa deve ter impacto positivo

com a comunidade, atendendo interesses comuns e possibilitando a participação de

todos stakeholders (INSTITUTO BRASILEIRO DE GOVERNANÇA CORPORATIVA,

2009). Mas, só é possível entregar bons resultados para a comunidade se os

dirigentes gerarem impacto positivo internamente na organização, proporcionando

lucro para que se possa fazer essas ações, isso se caracteriza como sendo a

responsabilidade corporativa (INSTITUTO BRASILEIRO DE GOVERNANÇA

CORPORATIVA, 2009). Para Jesus (2016), a cooperativa não deve se preocupar

somente com os interesses dos associados, mas sim com a comunidade em geral.

A transparência que apresenta menor correlação com as demais questões, visa

demonstrar que as informações sobre a gestão devem, além de ser repassadas para

os cooperados, ser repassadas também para a comunidade e demais interessados,

visto que, os não associados poderão ter interesse em investir na cooperativa, e, para

isso, é necessário que eles tenham acesso às informações (BERTON, 2003). Os

dirigentes da organização devem trabalhar com transparência, buscando atingir os

melhores resultados para a cooperativa, mas também devem prezar pelo

desenvolvimento da comunidade onde as instituições estão inseridas (ANDRADE;

ROSSETTI, 2007) o que traz a relação entre transparência, responsabilidade social e

corporativa. Andrade e Rossetti (2007), descrevem que uma empresa que possui

ética, transparência e responsabilidade social, assegura os direitos dos cooperados

trazendo confiança para eles.

Participação e prestação de contas (D4): abarca sobretudo itens que apontam

a participação do associado na gestão, ligada à propriedade, responsabilidade social

e prestação de contas. Essa dimensão traz relação com praticamente todos os

aspectos de governança corporativa, já que é a partir da participação do associado

Page 80: DARLENE BIANCA AREND

79

que ele poderá dar sugestões ou solicitar mudanças, assim como acompanhar o

desempenho da organização (VENTURA, 2009).

A participação do associado é percebida principalmente na assembleia geral,

que é o órgão máximo de decisão da cooperativa, nela são prestadas contas e

divulgados resultados da instituição (VENTURA, 2009). A questão “frequentemente

participo da assembleia geral da cooperativa XYZ”, que apresentou maior correlação

com as demais, mostra indícios disso. É a partir da participação, que os responsáveis

pela estrutura da governança cooperativa, saberão dos interesses e terão

possibilidade de melhorar cada vez mais a organização (MELO SOBRINHO et al.,

2009)

Para assegurar os direitos dos associados, deve haver participação, pois eles

têm de se posicionar como donos da instituição e exigir seus direitos de propriedade

(MEINEN; PORT, 2012). É por meio dessa característica que os associados poderão

acompanhar a prestação de contas por parte da estrutura da governança, para

verificar se realmente os conselheiros de administração e os diretores executivos

estão cumprindo seu papel, zelando pelo funcionamento da empresa, já que esse é

seu dever de acordo com a responsabilidade corporativa (INSTITUTO BRASILEIRO

DE GOVERNANÇA CORPORATIVA, 2009). Essa explicação demonstra a relação

entre participação, propriedade, prestação de contas e responsabilidade corporativa.

É encontrada também a ligação entre participação e responsabilidade social,

pois de acordo com Organização das Cooperativas Brasileiras (2018), são os

cooperados da organização que decidem, se houver recurso para isso, se serão

aplicados valores para melhorar as comunidades. As cooperativas, que se baseiam

em pilares de associativismo, tendem a ser muito democráticas e auxiliam, sempre

que possível, na melhora da comunidade onde estão inseridas (MEINEN; PORT,

2012).

As médias das quadro dimensões encontradas, estão presentes conforme a

Tabela 12, onde a dimensão que apresentou maior média foi “Responsabilidade

Social e Corporativa”, seguida por “Propriedade e Estrutura”, “Equidade” e por fim

“Participação e Prestação de Contas”.

Page 81: DARLENE BIANCA AREND

80

Tabela 12 - Médias das dimensões

Dimensão Médias Desvio Padrão

Propriedade e Estrutura 3,9849 0,61174

Equidade 3,9655 0,71846

Responsabilidade Social e Corporativa

4,2435 0,48952

Participação e Prestação de Contas

3,0841 0,98076

Fonte: elaborada pela aluna com base em IBM SPSS Statistics v23

A matriz rotacionada, vista anteriormente, apresenta variáveis somadas, que

correspondem à média dos itens com carga fatorial maior que 0,6 em cada dimensão.

As variáveis somadas encontradas que se referem à governança cooperativa,

serviram de base para analisar os demais resultados desta pesquisa.

Através da correlação foi possível agrupar características semelhantes de perfil

com a governança cooperativa, que serão apresentadas no subcapítulo 7.3.

7.3 CORRELAÇÃO DAS DIMENSÕES DE GOVERNANÇA COOPERATIVA E

CARACTERÍSTICAS DE PERFIL DA AMOSTRA

Neste subcapítulo as variáveis de perfil foram correlacionadas com as

dimensões de governança cooperativa. As variáveis que representam as escalas

foram correlacionadas por meio da correlação de Pearson, em que os dados que

possuem asterisco, apresentam correlações. Os dados apresentados são relativos,

não absolutos, conforme Tabela 13.

Tabela 13 - Correlação variáveis de perfil e governança cooperativa

Propriedade e Estrutura

Equidade Resp. Social e

Corporativa

Part. e Prestação de contas

Faixa etária Correlação 0,195* 0,001 0,064 0,138

Sig. 0,036 0,990 0,492 0,138

Escolaridade Correlação -0,346** -0,176 -0,146 -0,227*

Sig. 0,000 0,059 0,117 0,014

Renda Correlação -0,155 -0,070 -0,082 0,048

Sig. 0,096 0,454 0,379 0,609

Tempo de conta

Correlação 0,098 -0,127 0,090 0,182 Sig. 0,297 0,175 0,337 0,051

Frequência na agência

Correlação 0,214* 0,156 0,182 0,061 Sig. 0,021 0,095 0,051 0,517

Fonte: elaborada pela autora com base em IBM SPSS Statistics v23 (2019) Nota: **Correlação é significativa no nível 0,01 (bilateral) Nota: *Correlação é significativa no nível 0,05 (bilateral)

Page 82: DARLENE BIANCA AREND

81

Conforme a Tabela 14, pode-se observar que o gênero não possui relação com

as dimensões de Governança Cooperativa, visto que na coluna “Significância” todos

os valores de significância deram resultado maior que 0,05, o que significa que as

médias apresentadas na Tabela 14 são muito semelhantes, ou seja, o fator gênero

não impactou em nenhuma das variáveis.

Tabela 14 - Dimensões de governança e sua relação com gênero

Dimensões Governança Cooperativa

Significância Média Masc. Média Fem.

Propriedade e Estrutura 0,580 3,9549 4,0182

Equidade 0,777 3,9836 3,9455

Responsabilidade Social e Corporativa

0,474 4,2746 4,2091

Participação e Prestação de contas

0,621 3,1270 3,0364

Confiança 0,676 4,1913 4,2364 Fonte: elaborada pela autora com base em IBM SPSS Statistics v23

A partir do agrupamento das informações por perfil, foi possível relacionar a

governança cooperativa, de acordo com características semelhantes de determinadas

variáveis, conforme o Quadro 14.

Quadro 14 - Variáveis de perfil

Idade Escolaridade Frequência

Quanto maior a idade do associado:

• Mais percebe a si mesmo como beneficiado pelas decisões da cooperativa XYZ;

• Mais se sente dono.

Quanto maior a escolaridade:

• Menos percebe a si mesmo como beneficiado pelas decisões da cooperativa XYZ;

• Menos enxerga a responsabilidade social;

• Menos analisa a prestação de contas;

Quanto maior a frequência que visita a agência:

• Mais percebe a si mesmo como beneficiado pelas decisões da cooperativa XYZ;

• Mais se sente dono.

• Menos se sente como dono;

• Menos participa das assembleias.

Fonte: elaborado pela autora

A variável “Idade” apresenta correlação com propriedade e estrutura. Como

visto anteriormente, os associados com maior idade tendem a ser mais fidelizados e

utilizar-se mais dos produtos/serviços de cooperativas. Conforme Móglia et al. (2004

apud FERREIRA, 2014), quando os associados se utilizam mais dos serviços da sua

cooperativa e participam ativamente dela, esta se torna mais consolidada e sólida. Os

Page 83: DARLENE BIANCA AREND

82

mesmos autores trazem a percepção que a fidelidade é vista quando os associados

cumprem seus deveres e assumem suas obrigações como donos do negócio,

demonstrando a relação com a propriedade. Para Ferreira (2014) as cooperativas

nasceram para prestar serviços para seus associados, já que eles são donos dela, e

é a partir da fidelização que a organização poderá cumprir seu papel. Sendo assim,

Ferreira (2014), afirma que para haver fidelidade, o cooperado deve optar por

soluções financeiras dentro da sua cooperativa, visto que é dono da organização.

A correlação entre “Idade” e a estrutura de governança cooperativa demostra

que os associados sentem satisfação com as ações dos Conselheiros de

Administração e Diretores Executivos, visto que percebem os benefícios das decisões

tomadas pela cooperativa XYZ, o que aponta para uma boa estrutura de governança

cooperativa. Desta forma, as questões de pertencimento, e o fato de se beneficiar

pelas decisões tomadas pela cooperativa XYZ apontam para um fator muito

importante encontrado na governança das cooperativas, a propriedade, em que um

dos principais desafios, que é evitar o conflito de interesses entre administradores e

associados, é visto de forma satisfatória (ANDRADE; ROSSETTI, 2007).

A propriedade que se relaciona com a variável “Idade” demonstra que os

associados estão sendo bem representados pelos gestores, trazendo mais segurança

e melhorando o relacionamento entre as partes, evitando ações oportunistas e

decisões divergentes aos desejos dos cooperados, garantindo assim, para eles

retorno sobre seu capital investido (FONTES FILHO; VENTURA; OLIVEIRA, 2008).

A relação entre estrutura e a variável “Idade” é percebida, demostrando que os

associados com esse perfil acreditam que os responsáveis pela gestão da cooperativa

estão cumprindo suas obrigações, promovendo o crescimento e tornando a

cooperativa sólida. Alencastro e Alves (2017) entendem que uma estrutura de cargos

bem definida, que atenda às necessidades da organização, visando um

gerenciamento responsável é fator fundamental para uma empresa com boas práticas

de governança cooperativa, desta forma, sob a perspectiva dos associados pode-se

observar uma característica importante de organização que adota boas práticas de

governança cooperativa.

Entende-se que para a organização crescer e gerar retornos positivos é

necessário que ela possua uma estrutura de governança corporativa bem definida,

com gestores comprometidos e engajados com os propósitos da instituição

(ALECASTRO; ALVES, 2017). Porém a estrutura de governança não é só composta

Page 84: DARLENE BIANCA AREND

83

por seus administradores, ela envolve também os associados, conselho fiscal e

auditorias, que podem ser externas ou internas (ORGANIZAÇÃO DAS

COOPERATIVAS BRASILEIRAS, 2018), sendo assim, não só os conselheiros de

administração devem estar comprometidos com suas obrigações, mas os outros

agentes também.

Para firmar o sentimento de propriedade é necessário que a organização

incentive a participação do associado na tomada de decisões (ORGANIZAÇÃO DAS

COOPERATIVAS BRASILEIRAS, 2018). Porém, o cooperado somente poderá opinar

e contribuir se tiver todas informações a respeito da organização e sua prestação de

contas. Essas informações devem ser expostas pela estrutura da governança, mais

precisamente, por seus gestores (JESUS, 2016).

A próxima variável, denominada “Escolaridade”, apresenta baixa correlação

com a percepção de governança cooperativa na organização, evidenciada pela falta

de sentimento de propriedade, baixa percepção de responsabilidade social, prestação

de contas e menor participação.

Birchall e Simmons (2004 apud FONTES FILHO; MARUCCI; OLIVEIRA, 2008)

expõem que as cooperativas são um exemplo de organizações que devem ser geridas

por seus membros, mas quando os cooperados acreditam que o capital investido por

eles corre baixo risco, seu monitoramento costuma ser menor, o que explica a baixa

participação na prestação de contas da cooperativa. O sentimento de propriedade dos

associados começa a diminuir ao passo que sua responsabilidade como donos é

atribuída ao conselho de administração e executivos. Esse fenômeno, conhecido

como “efeito carona” (ou free rider, em inglês- tradução nossa) geralmente acontece

quando a quantidade de associados da cooperativa é grande, e desta forma torna-se

incomum por parte deles analisar e monitorar a gestão da cooperativa.

O free rider é uma característica de associados que não se percebem como

donos, e é muito comum ainda nas cooperativas brasileiras (FONTES FILHO;

MARUCCI; OLIVEIRA, 2008). Para Ventura (2009), o “efeito carona” ocorre quando o

cooperado associa que sua participação pouco influenciará no seu benefício individual

ou coletivo.

A variável “Escolaridade” apresenta correlação positiva/negativa com baixo

monitoramento, o fato de não se sentir como dono e a não participação em

assembleias e eventos, que são características do “efeito carona” (FONTES FILHO;

MARUCCI; OLIVEIRA, 2008). Ventura (2009) sugere que uma forma de evitar esse

Page 85: DARLENE BIANCA AREND

84

fenômeno é aumentando a transparência que a organização tem com seus

associados e incentivar a participação deles nas decisões, traços que são menos

evidenciados nesse grupo, ou seja, o “o efeito carona” influencia diretamente na

participação do associado. Fontes Filho, Marucci e Oliveira (2008) realizaram uma

pesquisa cujos resultados apontam que nas assembleias das cooperativas brasileiras,

há menos de 10% de participação dos seus associados, sendo que 48% deles

afirmam que nunca participaram de alguma assembleia.

Talvez um dos motivos para esses associados notarem menos a governança

cooperativa seja o fato de que por possuir maior renda, possibilita a eles ter diversas

contas em várias instituições financeiras, não existindo fidelização e o sentimento de

dono da organização. Assim, utilizam-se dos serviços da cooperativa apenas quando

trazem vantagens e benefícios específicos, visto que podem não usar somente a

cooperativa para sanar suas soluções financeiras.

Da mesma forma que os associados não se consideram donos da cooperativa,

eles tendem a não participar das decisões e nem analisar relatórios para que possam

compreender a real situação da organização. Esse fato contribui para não enxergar a

responsabilidade social dos administradores, frente às suas obrigações com a

organização, já que a participação do associado é um instrumento muito importante

para que ele possa assegurar seus direitos (TOSINI; BASTOS, 2008).

Uma pesquisa realizada por Melo Sobrinho et al., (2009) concluiu que

aproximadamente 41% dos associados conhecem parcialmente seus direitos e

deveres, sendo que 24% desconhecem totalmente. Assim, se o cooperado não

participar e não souber seus direitos e deveres, ele se torna cada vez menos

consciente do seu papel como dono da instituição.

A participação do cooperado exige informação, capacidade de decidir e

conhecimento. Quando na organização há transparência, as informações fluem, de

forma a melhorar a opinião do associado frente à cooperativa. Para resolver essa

questão, a organização deve adotar canais mais eficientes de comunicação com o

associado, de forma que ele fique mais ciente da situação da instituição (MELO

SOBRINHO et al., 2009).

Tosini e Bastos (2008) ressaltam que a falta de informação contribui para o não

sentimento de pertencimento do cooperado, assim, a não observação de relatórios e

não percepção da cooperativa XYZ como uma organização com interesses com a

Page 86: DARLENE BIANCA AREND

85

comunidade, pode ser um gap de comunicação que a cooperativa XYZ tem com seus

associados, fazendo que eles se sintam somente como “clientes de uma instituição”.

Hoje, não só na cooperativa XYZ, como em todo o mercado financeiro, existe

um forte apelo para uso de aplicativos bancários, que possibilitam acesso a conta e

contratação de produtos em qualquer lugar. Isso é uma forma de diferenciação, que

busca agilizar e facilitar a vida do usuário, que poderá fazer suas transações quando

lhe for conveniente (SIQUEIRA NETO; BARCELOS; COSTA, 2018). Siqueira Neto,

Barcelos e Costa (2018), apresentam dados que foram trazidos de sua pesquisa, onde

o perfil dos usuários de aplicativos ou serviço de Internet Banking (IB) se concentra

em jovens, entre 26 a 45 anos, onde possuem um grau de escolaridade e renda mais

altos.

A facilidade do uso de métodos digitais talvez faça com que o associado se

distancie da cooperativa, no sentido de estar presente nas decisões e verificar alguns

pontos de governança cooperativa de forma menos incisiva, já que a participação no

dia a dia, faz com que ele se sinta mais dono e beneficiado pelas decisões da

cooperativa XYZ.

O fato de o associado com maior escolaridade perceber menos a governança

cooperativa na organização, pode ser considerado um problema para a cooperativa

XYZ, visto que esse associado poderia trazer maior contribuições e auxílio na tomada

de decisões, fazendo parte do Conselho de Administração e Diretoria, para promover

o crescimento da cooperativa. Assim como, o cooperado que possuir maior renda,

poderá também trazer maiores retornos financeiros, visto que ele poderá contratar

mais soluções financeiras.

Em relação à “Frequência”, foi possível perceber que quanto maior a

frequência, mais consciente o cooperado está de seu papel como dono e mais ele

percebe os benefícios gerados a partir das decisões tomadas pela cooperativa XYZ.

Essa dimensão, também traz características de instituição que adota a governança

cooperativa.

A questão de os associados serem beneficiados com as decisões da

cooperativa, vai ao encontro com o fato dos mesmos se sentirem donos dela

(ANDRADE; ROSSETTI, 2007). Da mesma forma, demonstra a estrutura de

governança encontrada na instituição, já que o trabalho dos administradores e

gestores deve seguir os objetivos dos associados (MACHADO FILHO, 2006),

demonstrando transparência e responsabilidade na administração.

Page 87: DARLENE BIANCA AREND

86

A frequência com que o associado visita a agência gera proximidade entre

cooperativa e cooperado, e relacionado com a propriedade demonstra que os

associados mais presentes, se sentem mais representados e consequentemente

possuem maior relacionamento com os agentes de governança cooperativa (SOUZA;

MEINEN, 2010). Talvez essa frequência possa ser explicada, pois os associados que

possuem conta somente na cooperativa XYZ, sempre que necessário, utilizam-se dos

serviços da cooperativa, já que ser cooperado na essência é participar e ajudar a

definir os rumos da organização, pois ao passo que a cooperativa apresentar

crescimento, quem irá ganhar, tanto na distribuição de sobras, quanto no seu capital

investido, são os associados (MEINEN; PORT, 2012).

O subcapítulo seguinte abordará a relação entre o perfil dos respondentes do

questionário e a confiança destes na cooperativa.

7.4 CORRELAÇÕES PERFIL DA AMOSTRA E CONFIANÇA

As variáveis de perfil, também foram correlacionadas com a confiança. Os

valores com asterisco apresentam correlações, conforme a Tabela 15.

Tabela 15 - Correlação variáveis de perfil e confiança

Perfil Correlação e Significância

Confiança

Faixa etária Correlação 0,168

Sig. 0,071

Escolaridade Correlação -0,238*

Sig. 0,010

Renda Correlação 0,031

Sig. 0,744

Tempo de conta Correlação 0,138

Sig. 0,140

Frequência na agência Correlação 0,218*

Sig. 0,019 Fonte: elaborada pela autora

As correlações encontradas entre as variáveis estão descritas conforme o

Quadro 15:

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87

Quadro 15 - Variáveis de perfil e confiança

Escolaridade Frequência

Quanto maior a escolaridade:

• Menos confiança na cooperativa XYZ.

Quanto maior a frequência que visita a agência:

• Mais confiança na cooperativa XYZ.

Fonte: elaborado pela autora

Quanto maior a “Escolaridade”, menor a confiança na cooperativa XYZ.

Lembrando que anteriormente, a variável nomeada “Escolaridade”, demonstrava

menor percepção de governança cooperativa, pois os associados notavam de forma

menos incisiva a responsabilidade social, menos participação nas assembleias,

menos análise da prestação de contas, menos sentimento de dono e percebimento

como beneficiado pelas decisões da cooperativa XYZ. Para Fontes Filho, Ventura e

Oliveira (2007), a baixa participação do associado nas decisões da cooperativa se

deve ao fato de confiarem e se sentirem tranquilos com a situação da instituição. Para

eles, o que traz tranquilidade são os mecanismos de controle da organização. Nesse

caso, “Escolaridade” contradiz a literatura, pois os associados que não se sentem

como donos, não participam, não monitoram e tendem a não confiar na cooperativa

XYZ.

Essa característica pode ser explicada por Fontes Filho, Marucci e Oliveira

(2008), no qual foi confirmado que há muitos associados no Brasil, que utilizam a

cooperativa de forma utilitária, sendo os principais motivos para sua associação, os

benefícios, especialmente econômicos que esse tipo de instituição trás. Fontes Filho,

Ventura e Oliveira (2007) ressaltam que os menores custos que as cooperativas

proporcionam para o cooperado são alguns dos motivos para a associação de alguns

indivíduos, desta forma, a construção de confiança, entre cooperado e cooperativa,

depende muito do conjunto de hábitos e crenças desse grupo.

Em “Frequência”, pode-se observar relação com a confiança. Lembrando que

essa variável se relacionou anteriormente com o fato do associado se sentir dono e

perceber que as decisões da cooperativa XYZ o beneficiam. Quando o associado

visita constantemente sua agência gera maior relacionamento e conforme Zanini

(2007), a confiança se baseia principalmente na parceria das partes envolvidas,

traduzidas em relacionamento. Quanto mais o associado acompanha a cooperativa,

estando presente na agência ou em eventos, mais ele terá ciência dos

acontecimentos, e mais respaldo ele terá para confiar, já que para confiar é necessário

Page 89: DARLENE BIANCA AREND

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criar raízes e consolidação (ALENCASTRO; ALVES, 2017). Souza e Meiner (2010)

entendem que a proximidade entre cooperativa e cooperado é instrumento

fundamental para a confiança, sendo assim, quanto mais próximo o associado é da

sua agência e da gestão, mas ele tende a confiar.

Analisando as correlações entre características da amostra com governança

cooperativa e com confiança, as informações encontradas em “Escolaridade”, em que

são percebidos de forma menos incisiva a governança cooperativa e a confiança

podem prejudicar a cooperativa XYZ em diversos aspectos. Primeiramente, o perfil

dos associados desse grupo, como visto anteriormente, é propício a utilizar mais os

serviços da cooperativa, e por possuir maior renda, poderá agregar mais soluções

financeiras (GOLDFAJN et al.,2016), trazendo maiores resultados para a cooperativa,

sendo assim, é de suma importância que eles se sintam donos da organização e

percebam nela características de governança cooperativa. Em segundo lugar, uma

cooperativa deve trazer traços distintos de um banco, demonstrando ser justa e

democrática para seus associados (CARDOSO, 2014), ou seja, seus cooperados

devem sentir e perceber as singularidades e benefícios de serem donos desse tipo de

organização, que visa os princípios cooperativistas.

O fato desses associados não perceberem a governança cooperativa, aponta

para uma lacuna na cultura da organização (ANDRADE; ROSSETTI, 2007), já que

eles não sentem um dos seus propósitos. Isso faz com que o relacionamento entre

cooperativa e cooperado se estreitem, já que uma das funções da governança é

assegurar os interesses dos associados (ANDRADE; ROSSETTI, 2007). A confiança,

menos percebida por esse grupo demostra a falta de parceria, que deve ser instigada,

pois a cooperativa pertence aos seus associados, que devem exigir que a

administração da organização seja realizada de forma com que garanta o bom

funcionamento desta a longo prazo. A falta de parceria pode abrir brechas para o

associado utilizar-se de serviços de outras instituições, não priorizando a cooperativa

XYZ (MEINEN; PORT, 2012).

Porém, os associados que mais frequentam e são mais fidelizados, conseguem

perceber aspectos de governança cooperativa na instituição, visualizando

características pertinentes a propriedade e estrutura. Nas variáveis “Idade” e

“Frequência”, percebe-se essa característica, demonstrando que a organização

possui sim, governança cooperativa na sua essência.

Page 90: DARLENE BIANCA AREND

89

E por último, em “Frequência” é evidenciada a relação entre governança

cooperativa e confiança, demonstrando que a frequência é fator chave para que esses

dois aspectos possam ser vistos simultaneamente. Pois é a partir da frequência que

o associado estará mais próximo da cooperativa, sendo assim, poderá exigir seus

direitos e monitorar a instituição, perceber seus diferenciais e verificar que a

cooperativa não só trabalha pelo interesse dos associados, mas sim pela comunidade

onde está inserida (MEINEN; PORT, 2012). Os associados devem sentir que sua

participação influencia na cooperativa e devem ter interesse em acompanhar a

cooperativa, monitorando e exigindo seus direitos (MEINEN; PORT, 2012).

O subcapítulo seguinte abordará a relação entre governança cooperativa,

representada por suas dimensões e a confiança que o associado possui na

cooperativa.

7.5 CORRELAÇÕES GOVERNANÇA COOPERATIVA E CONFIANÇA

Para identificar essa relação, cada dimensão encontrada foi correlacionada

com a confiança. A Tabela 16 demonstra os valores encontrados através da

correlação de Spearman, na qual os dados com asteriscos apresentam as

correlações.

Tabela 16 - Correlação construtos com confiança

Dimensões de Governança Cooperativa

Correlação e Significância Valores

Propriedade e Estrutura Correlação 0,671**

Significância 0,000

Equidade Correlação 0,611**

Significância 0,000

Responsabilidade Social e Corporativa

Correlação 0,762** Significância 0,000

Participação e Prestação de Contas

Correlação 0,404** Significância 0,000

Confiança Correlação 1

Significância 0,000 Fonte: elaborada pela autora com base em IBM SPSS Statistics v23

Nota: **Correlação é significativa ao nível 0,01 (bilateral)

Nota: *Correlação é significativa ao nível de 0,05 (bilateral)

Pode-se observar que as todas dimensões apresentam correlações com a

confiança, visto que os valores de significância foram menores que 0,05. A dimensão

“Responsabilidade Social e Corporativa” apresentou maior correlação (corr = 0,762,

p<0,01) com a confiança, indicando que a responsabilidade social e responsabilidade

Page 91: DARLENE BIANCA AREND

90

corporativa da cooperativa XYZ possuem a maior relação com a confiança do

associado. Em segundo lugar, a dimensão “Propriedade e Estrutura” apresentou a

segunda maior correlação (corr = 0,671, p<0,01) com a confiança, sugerindo que o

fato de o associado se perceber como beneficiado pelas decisões da cooperativa

também está relacionado à sua confiança na organização.

Berton (2003) afirma que uma organização que atende as regras societárias e

procura o bem-estar da comunidade, tende a ser melhor vista pelos indivíduos. Esse

fato ligado à transparência, na qual a instituição abre suas informações para os

cooperados, gera uma confiança, principalmente para os novos associados, que terão

como uma das principais preocupações, o retorno do capital que foi investido.

Melo Sobrinho et al. (2009) expõe que as experiências que o cooperativismo

traz para a comunidade, resulta em maior participação do associado, já que ao ver

que a cooperativa está trazendo maiores benefícios, o sujeito estará mais disposto a

se envolver, demonstrando a responsabilidade social e participação encontrada em

“Responsabilidade Social e Corporativa”.

Alguns dos aspectos que demonstram a confiança em uma organização é sua

cultura e seus valores (FUKUYAMA, 1996), a cooperativa XYZ (2019) busca em sua

visão ser parâmetro entre as instituições financeiras cooperativas, no âmbito de

gestão, priorizando o desenvolvimento social e econômico, sendo assim, a visão dos

associados sobre responsabilidade social vai ao encontro com o que é proposto pela

cooperativa XYZ.

O senso de propriedade, visto em “Propriedade e Estrutura”, que apresenta

grande correlação com confiança, deriva do fato de os associados se sentirem donos

da organização e perceberem que seus interesses estão sendo cumpridos, o que vai

ao encontro com a questão da estrutura da governança. Sendo assim, pode-se dizer

que os administradores e executivos da cooperativa XYZ estão cumprindo seu dever,

evitando o conflito de interesses e apoiando as decisões dos associados. O bom

relacionamento entre as partes gera parceria, que para Zanini (2007), é fator crucial

para que haja confiança, já que uma parte acreditará que a outra irá cumprir seu

papel, em outras palavras, os associados acreditarão que os administradores e

executivos irão desempenhar seu papel para maximizar os retornos da cooperativa.

Para Fontes Filho, Ventura e Oliveira (2008), em cooperativas, que demonstram um

modelo de gestão diferenciado em relação ao tradicional, as ações são tomadas de

acordo com o interesse de todas as partes, baseada em confiança e proximidade.

Page 92: DARLENE BIANCA AREND

91

Fukuyama (1996) aponta que a confiança deriva de duas partes que devem

trabalhar em sinergia para obter um objetivo comum, neste caso, como a propriedade

é fortemente apontada na “ Propriedade e Estrutura”, pode-se observar que o conflito

de interesses está sendo evitado, e consequentemente, a parceria entre

administradores/executivos e associados está trazendo retornos tanto financeiros

quando sociais para a organização.

Menos correlacionadas à confiança ficaram as dimensões “Equidade” e

“Participação e Prestação de Contas” (corr = 0,611 e corr = 0,404, respectivamente,

p<0,01). Isso indica que o fato de o associado perceber os demais associados como

tratados de maneira igualitária, e sua participação nas assembleias impactam de

forma menos incisiva na confiança, mas mesmo assim, ainda há relação com a

confiança que ele deposita na cooperativa XYZ.

Para que haja confiança entre cooperativa e cooperado, é necessário que o

último sinta na essência o que significa ser um associado, e é necessário que ele se

sinta dono da cooperativa. A participação e envolvimento do associado faz toda

diferença nesse processo, à medida que os associados menos participam e não

monitoram, menos enxergam a instituição como cooperativa, e mais se aproximam de

serem apenas clientes (MEINEN; PORT, 2012).

Como visto anteriormente, a participação é fator de motivação da confiança,

visto que com a participação, há mais envolvimento com o monitoramento e decisões

da organização e maior transparência tanto no trabalho dos gestores, que

corresponde na responsabilidade corporativa, quanto na divulgação de informações e

dados relevantes da cooperativa, repercutindo em maior confiança (VENTURA, 2009).

O fornecimento de informações evita escândalos, dos quais diversas empresas já

participaram, e faz com que o associado se sinta seguro de pertencer àquela

cooperativa (COMISSÃO DE VALORES MOBILIÁRIOS, 2002).

O Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (2015) aponta que a confiança

deriva das boas práticas de governança cooperativa. O fato de o associado verificar o

tratamento igualitário, que consiste em uma das práticas que o Instituto Brasileiro de

Governança Corporativa impõe, de forma menos incisiva na confiança demonstra

pontos de fragilidade na governança da cooperativa.

Sobre a equidade, talvez alguns associados se sintam somente como “clientes

de uma instituição”, e esse fato pode contribuir neste aspecto, visto que as

necessidade de um associado que visa ao bem-estar da cooperativa, gerando valor a

Page 93: DARLENE BIANCA AREND

92

ela, prezando pelos projetos sociais que melhorem a comunidade, é muito diferente

dos associados que buscam a cooperativa por ela apresentar maiores benefícios

perante outras instituições financeiras (MEINEN; PORT, 2012). Aqueles que buscam

somente soluções financeiras vantajosas, estreitam seu relacionamento com a

instituição, diminuindo consequentemente, sua confiança (ZANINI, 2007).

A cooperativa XYZ (2019) busca respeitar a individualidade de cada cooperado,

mas também, busca o desenvolvimento mútuo. Para uma boa governança

cooperativa, é necessário que a cooperativa busque atender, da melhor forma

possível, o interesse da maioria dos associados, tratando-os de forma igualitária

(ALECASTRO; ALVES, 2017).

Desta forma, a confiança é percebida principalmente quando a cooperativa

atende interesses da comunidade, dando suporte e auxílio para o crescimento dela

(CARDOSO, 2014); e é sentida através do trabalho dos seus dirigentes, que devem

zelar pela organização, trabalhando em sinergia com os interesses dos cooperados

(INSTITUTO BRASILEIRO DE GOVERNANÇA CORPORATIVA, 2009).

A Figura 6 demonstra que todas as dimensões apresentaram correlação com a

confiança, o que comprova que os associados da agência Rincão – Estância Velha,

relacionam a governança cooperativa com a confiança que têm na organização.

Fontes Filho, Marucci e Oliveira (2008) relatam que:

Por se configurarem como sociedades de pessoas, as cooperativas devem dispor de mecanismos internos de participação, confiança mútua e voluntarismo nas ações. Assim a existência de um modelo adequado de participação, de baixo custo e alta representatividade, mostra-se essencial para o sucesso das cooperativas de crédito e para os próprios fortalecimentos dos ideais cooperativistas.

Page 94: DARLENE BIANCA AREND

93

Figura 6- Relação entre dimensões e confiança

Fonte: elaborada pela autora

A partir das análises deste trabalho foi possível verificar através do perfil da

amostra, correlações com a governança cooperativa e após com confiança.

Posteriormente, governança cooperativa e confiança foram correlacionadas. Desta

forma, finalizado o capítulo de análises, a seguir serão apresentadas as

considerações finais da monografia.

Page 95: DARLENE BIANCA AREND

94

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente estudo teve como principal objetivo analisar a relação entre a

governança cooperativa e a confiança dos associados da cooperativa XYZ, agência

Rincão – Estância Velha. Para conseguir atingir esse objetivo, foi necessário atender

os objetivos específicos, que foram:

Contextualizar a governança corporativa tanto em empresas de capital aberto

quanto em cooperativas: o embasamento teórico para essa contextualização foi

desenvolvido nos capítulos 2, no qual foram apresentados conceitos de governança

cooperativa e seu funcionamento em empresas de capital aberto, assim como sua

estrutura e boas práticas; no capítulo 3, no qual pode ser encontrada uma

conceituação de cooperativas e instituições financeiras cooperativas; e no capítulo 4,

que diz respeito à governança cooperativa, assim como sua estrutura, diretrizes e

princípios.

Identificar os elementos de governança cooperativa que podem ser percebidos

pelos associados: esses elementos foram identificados a partir do capítulo 4, que traz

os conceitos de governança cooperativa. Algumas características também foram

retiradas do capítulo 2, intitulado governança corporativa, visto que possuem

abrangência tanto para empresas de capital aberto, como para cooperativas.

Verificar na literatura de que forma a confiança pode ter relação com a

governança cooperativa: essa relação pode ser vista no capítulo 5, confiança, em que

diversos autores trazem a relação entre governança cooperativa e confiança.

Construir um instrumento de medição para verificar os elementos de

governança cooperativa e confiança do associado: foi construído um questionário,

com base nos conceitos estudados, para coletar as informações e fazer as análises.

O questionário feito com os associados está presente no Quadro 12, no subcapítulo

6.3.

Identificar e analisar a relação entre os elementos da governança cooperativa

percebidos pelo associado e a confiança que este deposita na cooperativa XYZ: esta

análise está presente no capítulo 7, no qual foi realizada a análise fatorial exploratória,

para gerar as dimensões da governança cooperativa, a relação com as dimensões de

governança e a confiança do associado e a correlação entre características de perfil

com governança cooperativa e posteriormente com confiança.

Page 96: DARLENE BIANCA AREND

95

A partir dos dados coletados nos questionários na análise fatorial exploratória,

foi possível verificar que há sim, relação entre governança cooperativa e confiança,

visto que seus aspectos convergem com a confiança que o associado tem na

instituição. As variáveis de perfil encontradas apontam para associados que

percebem de forma menos incisiva a governança cooperativa e confiança na

organização. Essa realidade deve ser revista pela cooperativa e, com base no estudo,

acredita-se que possa ser solucionada com uma comunicação mais efetiva da

instituição com seus cooperados.

Acredita-se que esse trabalho teve contribuições tanto para o meio acadêmico,

quanto para a cooperativa e seus associados. Ele tem relevância acadêmica visto que

atualmente pouco se encontra materiais relacionados à confiança com a governança

cooperativa. Para a cooperativa, se mostra importante pois pode-se ter uma visão das

características que mais influenciam a governança da cooperativa XYZ e a confiança

dos associados da agência Estância Velha – Rincão, demonstrando quais fatores

estão de acordo com a governança cooperativa e quais pontos são necessários

melhorar. Para os associados, agrega-se valor pois são donos da cooperativa, e esse

trabalho poderá lhes dar respaldo para verificar a situação da governança na

organização.

Este estudo pode ter como limitação a não representatividade de todos os

associados da cooperativa XYZ, pois foram coletados dados somente de cooperados

da agência Estância Velha – Rincão, e a amostra caracteriza-se como não

probabilística. Pelo fato de a pesquisa ter sido feita em uma agência de grande porte,

em uma área urbana, a amostra pode não ser representativa para todos os associados

da cooperativa. É inevitável perceber as diferenças entre cidades do interior, que

possuem talvez só a cooperativa XYZ como instituição financeira na sua cidade; e

grandes centros urbanos, onde a cooperativa XYZ vem buscando cada vez mais

participação. A maioria das agências da cooperativa XYZ ainda são encontradas nas

cidades do interior, e como a autora já trabalhou tanto em grandes centros urbanos,

como no interior, não há como não notar as diferenças. Ou seja, o fato de a amostra

não ser probabilística, indica que talvez os dados encontrados não se apliquem a

todos os associados da agência, nem a todos os associados da cooperativa XYZ e

nem a todos associados de outras cooperativas.

Page 97: DARLENE BIANCA AREND

96

Como sugestão para pesquisas futuras, indica-se fazer um estudo comparativo

entre bancos e a cooperativa XYZ, para verificar se os associados que possuem

contas em ambos, confiam tanto nos bancos, quanto na cooperativa.

Page 98: DARLENE BIANCA AREND

97

REFERÊNCIAS

ALENCASTRO, Mario Sergio Cunha; ALVES, Osnei Francisco. Governança, gestão responsável e ética nos negócios. 3 ed. Curitiba, PR: Editora InterSaberes, 2017. 90 p.

ANDRADE, Adriana; ROSSETTI, José Paschoal. Governança corporativa: fundamentos, desenvolvimento e tendências. 3 ed. São Paulo, SP: Atlas, 2007.584 p.

______. Governança corporativa: fundamentos, desenvolvimento e tendências. 5 ed. São Paulo, SP: Atlas, 2011.596 p.

ANDRADE, Maria Margarida de. Introdução à metodologia do trabalho científico: elaboração de trabalhos na graduação. 8 ed. São Paulo, SP: Atlas, 2007. 160 p.

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APÊNDICE A – QUESTIONÁRIO

Questionário realizado com o propósito de coleta de dados para realização de trabalho de conclusão de curso para Bacharel em Administração.

1. Meu gênero é:

( ) Feminino ( ) Masculino

2. Minha faixa etária é:

( ) 18 a 35 anos ( )36 a 45 anos ( ) 46 a 55 anos ( ) 56 a 65 anos ( ) Mais de 65 anos

3. Minha escolaridade é:

( ) Ensino fundamental incompleto ( ) Ensino fundamental completo ( ) Ensino médio incompleto ( ) Ensino médio completo ( )Ensino superior incompleto ( ) Ensino superior completo

4. Minha renda é de:

( )Abaixo de R$ 2.000,00 ( ) De R$ 2.000,00 a R$ 4.000,00 ( ) De R$ 4.001,00 a R$ 6.000,00 ( ) Acima de R$ 6.001,00

5. Tenho conta na cooperativa XYZ:

( ) A menos de 2 anos ( ) de 3 a 5 anos ( ) de 6 a 8 anos ( ) mais de 8 anos 6. Com que frequência vou até a agência: ( ) Menos de uma vez ao mês ( ) Uma vez ao mês ( )Duas vezes por mês ( ) Uma vez por semana ( )Mais de uma vez por semana

Questão

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7. Eu me sinto como proprietário da cooperativa

8. Sinto que as decisões que a cooperativa XYZ toma em relação à cooperativa não me prejudicam

9. Frequentemente participo de assembleias da cooperativa

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Questão

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10. Os diretores da cooperativa XYZ têm tomado decisões corretas para o crescimento da cooperativa

11. Tenho conhecimento sobre a função do Conselho Fiscal

12. Acredito que os diretores e conselheiros da cooperativa XYZ são capacitados para exercer suas funções

13. Considero a cooperativa XYZ uma cooperativa transparente

14. Considero que a cooperativa XYZ divulga informações que são do meu interesse

15. A cooperativa XYZ tem boas formas de se comunicar comigo

16. A cooperativa trata seus associados da mesma forma

17. A cooperativa toma decisões para favorecer todos os associados da mesma maneira

18. A cooperativa XYZ toma decisões justas para seus associados

19. Frequentemente analiso relatórios da cooperativa

20. Os relatórios publicados pela cooperativa XYZ me fazem entender a situação da cooperativa

21. Acredito que se eu tiver alguma dúvida em relação à gestão da cooperativa XYZ, os responsáveis poderão esclarecê-la

22. Os diretores da cooperativa trabalham com o objetivo de melhorá-la constantemente

23. Os administradores, executivos e conselheiros defendem os interesses dos associados nas tomadas de decisões da cooperativa

24. Considero a cooperativa XYZ uma cooperativa ética

25. A cooperativa contribui para o crescimento da comunidade

26. Ensinar cooperativismo para os associados é importante para a cooperativa

27. Frequentemente participo de curso ou palestra oferecida pela cooperativa XYZ

28. Frequentemente recebo um convite para participar da assembleia geral da cooperativa XYZ

29. Na assembleia geral são tratados assuntos do meu interesse

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Questão

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30. Acredito que meu voto contribui para melhorar a cooperativa

31. Eu confio nos diretores da cooperativa XYZ

32. A cooperativa XYZ cumpre o que promete

33. Eu acredito que a cooperativa XYZ é uma cooperativa confiável