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M.A.Malajovich – 2008 – Homenagem a Darwin – Darwin na Patagônia DARWIN NA PATAGÔNIA TEXTOS EXTRAÍDOS DO DIÁRIO DE CHARLES DARWIN, ESCRITO DURANTE A VIAGEM DO H.S.M.BEAGLE EM REDOR DO MUNDO (1831-1836) HOMENAGEM A DARWIN SEMANA NACIONAL DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA 2008 Fotos e seleção dos textos por M.A.Malajovich INSTITUTO DE TECNOLOGIA ORT DO RIO DE JANEIRO

Darwin na Patagonia - Ensino e divulgação · Quando nos encontramos no meio de uma destas planícies desertas e olhamos em direção do interior do país, as desigualdades de outra

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M.A.Malajovich – 2008 – Homenagem a Darwin – Darwin na Patagônia

DARWIN NA PATAGÔNIA

TEXTOS EXTRAÍDOS DO DIÁRIO DE CHARLES DARWIN, ESCRITO DURANTE A VIAGEM DO H.S.M.BEAGLE

EM REDOR DO MUNDO (1831-1836)

HOMENAGEM A DARWIN

SEMANA NACIONAL DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA 2008

Fotos e seleção dos textos por M.A.MalajovichINSTITUTO DE TECNOLOGIA ORT DO RIO DE JANEIRO

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PATAGÔNIA

Desembarcar pela primeira vez neste país tem sempre um interesse muito vivo, e muito mais quando, como acontece aqui, a paisagem apresenta caracteres especiais e muito marcados.

(...)

Entre 200 a 300 pés de altura, sobre algumas massas de pórfido, se estende uma imensa planície característica da Patagônia.

(...)

Esta meseta é perfeitamente plana e sua superfície se compõe de cantos rodados misturados com uma terra branquicenta. De tanto em tanto, manchões de erva parda e coriácea e alguns, poucos, arbustos espinhosos. O clima é seco e agradável, o céu azul rara vez escurecido pelas nuvens.

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Foto: Meseta patagónica

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PATAGÔNIA

Quando nos encontramos no meio de uma destas planícies desertas e olhamos em direção do interior do país, as desigualdades de outra planície um pouco mais elevada limitam nossa vista; porém todo é plano, todo árido e desolado. Em todas as outras direções parece que a mirada levanta da superfície e o horizonte se torna confuso.

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Foto: Lago Argentino

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PATAGÔNIA

Em toda a paisagem não há mais que solidão e desolação; não se vê uma única árvore, e salvo algum guanaco que parece guardar o lugar, sentinela vigilante sobre o vértice de alguma colina, apenas se vê nenhum animal nem um pássaro; porém sente-se um prazer intenso, ainda que não bem definido, em percorrer essas planícies onde nem um sóobjeto atrai nossas miradas e nos perguntamos: desde quando existirá assim esta planície? Quanto tempo duraráainda esta desolação? Quem pode responder? Todo o que hoje nos rodeia parece eterno. E, no entanto, o deserto faz ouvir vozes misteriosas que evocam terríveis dúvidas.

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Foto: Meseta patagónica

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PATAGÔNIA

Estas massas imensas de neve, que não derretem jamais, e que parecem destinadas a durar tanto como o mundo, apresentam um grande, que digo?, um sublime espetáculo. A silhueta da montanha se destaca clara e bem definida. A quantidade de luz refletida sobre a superfície branca e lisa impede que se vejam sombras em todo o monte: não podemos, por tanto, distinguir mais relevo.

Muitos ventisqueiros baixam serpenteando desde estes campos de neve até a costa; poder-se-iam comparar a imensos Niágaras congelados, e talvez estas cataratas de gelo azulado sejam tão belas como as de água corrente.

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Foto: Geleira Spegazzini

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Foto: Geleira Onelli

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TERRA DO FOGOUm único olhar sobre a paisagem me bastou para entender que iria ver ali coisas diferentes das que tinha visto até então.

Foto: Lago Escondido e lago Fagnano

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TERRA DO FOGO

O canal do Beagle tem umas 120 milhas de comprimento por um largo médio que difere pouco de 2 milhas.

Em quase toda sua extensão é reto até tal ponto, que, limitada a vista a cada lado por uma linha de montanhas,

se perde na distância.

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Foto: Canal do Beagle (Direção Oeste-Leste)

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TERRA DO FOGO

Este canal atravessa a parte meridional da Terra do Fogo, em direção do leste ao oeste; perto de sua parte média,

formando um ângulo reto, vem se unir a ele outro canal irregular chamado o estreito de Ponsonby:

ali é onde residem a tríbu e a família de Jemmy Button.

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Foto: Canal do Beagle (Direção Leste-Oeste)

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TERRA DO FOGO – CANAL DO BEAGLE

A medida que avançamos no canal do Beagle, a paisagem toma um aspecto magnífico e muito original; porém perdemos boa parte do efeito de conjunto, porque nos encontramos muito baixos para ver a sucessão de montanhas e nossa vista não se estende mais que pelo vale.

As montanhas alcançam aqui uma elevação de perto de 3000 pés e terminam em vértices agudos ou ponteados. Crescem em não interrompida pendente desde a beira do mar e uma floresta sombria as cobre por completo até os 1400 ou 1500 pés de altura.

Até onde nossa vista pode se estender, distinguimos a linha perfeitamente horizontal em que as árvores deixam de crescer, o que resulta um espetáculo muito curioso. Esta linha parece muito com a que deixa a maré alta quando deposita as plantas marinhas na costa.

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Foto: Ilhota do Canal do Beagle

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TERRA DO FOGO

No dia seguinte tentei penetrar a alguma distância do interior do país, e posso descrever a Terra do Fogo em 4 palavras: um país montanhoso, em parte submerso, de tal modo que profundos estreitos e extensas baías ocupam o lugar dos vales profundos; e um imenso bosque que se estende desde as cimas das montanhas até a beira das águas, cobrindo as vertentes, a exceção da ocidental.

Crescem as árvores até uns 1 000 a 1500 pés sobre o nível do mar; segue depois uma faixa de turfeiras, coberta de plantas alpestres muito pequenas; e por último a linha das neves perpétuas, que segundo o capitão King baixa no estreito de Magalhães a uma altura de 3000 a 4000 metros.

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Foto: Paisagem perto de Ushuaia

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Foto: Paisagem perto de Ushuaia

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Foto: Paisagem perto de Ushuaia

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Foto: Paisagem perto de Ushuaia

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TERRA DO FOGO

A profundidade sombria do barranco corria junto com os signos de violência que por todas as partes se observavam. A um lado e outro se viam massas irregulares de rocas e árvores arrancadas; outras, ainda em pé, estavam apodrecidas até o coração e a ponto de cair.

Esta confusa massa de árvores robustas e de árvores mortas me lembrou os bosques dos trópicos, apesar da imensa diferença que os separa: nestas tristes solidões parece que em lugar da vida reina a morte como soberana.

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Foto: Estância Túnel, Ushuaia

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Foto: Estância Túnel, Ushuaia

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TERRA DO FOGO

No interior mesmo dos bosques o solo desaparece debaixo de uma massa de matérias vegetais em lenta putrefação, que embebidas sempre em água cedem baixo os pés.

Fotos: Estância Túnel, Ushuaia

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TERRA DO FOGO

Todas as árvores pertencem á mesma espécie, o Fagus betuloides, havendo um pequeno número de espécies

diferentes destes Fagus.

Esta árvore conserva suas folhas o ano todo, mas apresenta uma cor verde pardusco com uma tonalidade amarela muito particular. Toda a paisagem reveste o mesmo tom, o que lhe dá um aspecto triste e sombrio; sendo muito raro que os raios

do sol lhe dêem um pouco de alegria.

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Foto: Estância Túnel, Ushuaia

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Foto: Estância Túnel, Ushuaia

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Foto: Estância Túnel, Ushuaia

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TERRA DO FOGO

Na Terra do Fogo há uma produção marinha que por sua importância merece uma menção especial. Há uma alga, Macrocystis pyrifera, que cresce em todas as rocas até

grandes profundidades, tanto em costas exteriores como em canais interiores. Durante as viagens do Adventure e do

Beagle acredito que não se tenha descoberto uma única roca perto da superfície que não tenha sido indicada por esta

planta flutuante.

O número de seres vivos de todas as ordens cuja existência está ligada à destas algas é, em verdade, surpreendente. Poder-se-ia encher um gordo volume só descrevendo os

habitantes destas plantas marinhas.

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Fotos: Estância Túnel, Ushuaia

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TERRA DO FOGO

Seguramente a destruição de um bosque em qualquer país, não surpreenderia tanto com a morte de tantas espécies animais como a desaparição do Macrocystis.

Entre as folhas desta planta vivem muitíssimas espécies de peixes que em nenhum outro lugar poderiam encontrar abrigo e alimento, e se estes desaparecessem, os cormorães e demais peixes pescadores, as lontras, as focas, as marsopaspereceriam também logo; por último, o selvagem fueguino, o miserável dono deste miserável pais, redobraria seus festins de canibal, diminuiria em número e tal vez deixaria de existir.

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Foto: Canal do Beagle

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Foto: Canal do Beagle

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Foto: Canal do Beagle

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Foto: Canal do Beagle

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• Paisagens da Patagônia e da Terra do Fogo –• Fotos de M.A.Malajovich, Janeiro 2008

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BIBLIOGRAFIA

Darwin Charles. Diario de la Patagonia. Notas y reflexiones de um naturalista sensible. Buenos Aires, Ediciones Continente, 2006

Darwin's Beagle diary (1831-1836). EH Beagle Diary. Disponível em THE COMPLETE WORK OF CHARLES DARWIN ONLINEhttp://darwin-online.org.uk

DARWINhttp://www.amnh.org/exhibitions/darwin/ Em inglêshttp://www.darwinbrasil.com.br/darwin/rj/index.asp Em português