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SAUL, O REI LEVANTADO PELA CARNE OS MOTIVOS que levaram à eleição de um rei em Israel são claros e facilment e ent endidos por todos aqueles que conhecem, de qualquer modo, a história humilhant e do cora- ção humano. No primeiro capítulo do I Livr o de Samuel é apresen- tado um quadro suntuoso e instrutivo da situação em que se encontrava Israel. A casa de Elcana é tomada pelo escri- tor sagrado como uma ilustração notável de Israel segundo a carne e de Israel segundo o Espírito. «E est e tinha duas mulher es: o nome de uma era Ana e o nome da outra Pe- ninna: e Penina tinha filhos, porém Ana não tinha filho. Temos, assim, na família dest e Efrateu outra vez as mes- mas cenas de Sara e Hagar. Ana era estéril- o que, als, ela era obrigada a sentir profundament e, pois «a sua compe- tidora excessivament e a irritava, para a embravecer: por- quant o o Senhor lhe tinha cerrado a madre». Nas Escrituras Sagradas a mulher estéril é sempre apre- sentada como uma figura da condição da natureza humana arruinada e sem esperança. Não tem poder de fazer seja o que for para Deus, nem energia para dar fruto para o Senhor - é uma cena de morte e desolação. Esta é a con- dição em que se encontram todos os descendent es de Adão: não podem fazer coisa alguma para Deus nem para si pró- prios no tocant e ao seu destino et erno. Acham-se enfática- ment e «sem forças» e são como «uma árvor e seca», «uma tamargueira no deserto» (Jer. 17:6). Esta é a lição a tirar da mulher est éril.

Davi e Sua Vida de Fé

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Exemplos da vida de fé na vida de Davi e época de Davi - C. H. Mackintosh

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  • SAUL, O REI LEVANTADO PELA CARNE

    OS MOTIVOS que levaram eleio de um rei em Israel so claros e facilmente entendidos por todos aqueles que conhecem, de qualquer modo, a histria humilhante do cora- o humano.

    No primeiro captulo do I Livro de Samuel apresen- tado um quadro suntuoso e instrutivo da situao em que se encontrava Israel. A casa de Elcana tomada pelo escri- tor sagrado como uma ilustrao notvel de Israel segundo a carne e de Israel segundo o Esprito. E este tinha duas mulheres: o nome de uma era Ana e o nome da outra Pe- ninna: e Penina tinha filhos, porm Ana no tinha filhos.

    Temos, assim, na famlia deste Efrateu outra vez as mes- mas cenas de Sara e Hagar. Ana era estril- o que, alis, ela era obrigada a sentir profundamente, pois a sua compe- tidora excessivamente a irritava, para a embravecer: por- quanto o Senhor lhe tinha cerrado a madre.

    Nas Escrituras Sagradas a mulher estril sempre apre- sentada como uma figura da condio da natureza humana arruinada e sem esperana. No tem poder de fazer seja o que for para Deus, nem energia para dar fruto para o Senhor - uma cena de morte e desolao. Esta a con- dio em que se encontram todos os descendentes de Ado: no podem fazer coisa alguma para Deus nem para si pr- prios no tocante ao seu destino eterno. Acham-se enftica- mente sem foras e so como uma rvore seca, uma tamargueira no deserto (Jer. 17:6). Esta a lio a tirar da mulher estril.

  • Contudo, o Senhor fez com que a Sua graa abundasse sobre toda a fraqueza e necessidade de Ana, e ps um cn- tico de louvor na sua boca. Ela pde dizer, O meu poder est exaltado no Senhor: a minha boca se dilatou sobre os meus inimigos, porquanto me alegro na tua salvao. uma das prerrogativas de Deus fazer com que a estril se regozije: Canta alegremente, estril, que no deste luz: exulta de prazer com alegre cntico, e exclama, tu que no tiveste dores de parto; porque mais so os filhos da soli tria do que os filhos da casada, diz o Senhor (Isa. 54:1).

    Ana compreendeu tudo isto, e Israel entend-lo- tam- bm em breve: Porque o teu Criador o teu marido; o Se- nhor dos Exrcitos o Seu nome; e o santo de Israel o teu Redentor (Isa. 54:5).

    O cntico de Ana o grato reconhecimento de uma alma pelo tratamento de Deus para com Israel. O Senhor o que tira a vida e a d: faz descer sepultura e faz tornar a subir dela. O Senhor empobrece e enriquece: abaixa e tambm exalta. Levanta o pobre do p e desde o esterco exalta o necessitado, para o fazer assentar entre os prn- cipes, para o fazer herdar o trono de glria (I Samuel 2 :7, 8). Nos ltimos dias isto ser inteiramente exemplifi- cado em Israel; e agora exemplificado na pessoa de todo aquele que, mediante a graa, levantado da sua condio de runa na natureza para a bem-aventurana e paz em Jesus.

    O nascimento de Samuel encheu um vazio no s no cora- o de Ana, mas, incontestavelmente, no corao de todo o israelita fiel, que suspirava pelos verdadeiros interesses da casa do Senhor e a pureza das ofertas ao Senhor - am- bas as coisas eram igualmente espezinhadas e negligenciadas pelos sacerdotes infiis, filhos de Eli.

    No desejo de Ana por um filho vemos no apenas o desejo do corao de uma me, mas dum corao israelita. Ela havia sem dvida visto e deplorado a runa de tudo que era ligado com o templo do Senhor. Os olhos obscurecidos

  • de EIi, os atos vis de Hofni e Fineas, a lmpada apagada, o templo ao abandono, o sacrifcio descurado, tudo contri- bua para que Ana compreendesse que havia uma falta que s podia ser suprida por um dom do Senhor de um filho varo. Por isso ela diz a seu marido: Quando o menino for desmamado, ento o levarei para que aparea perante o Senhor e l fique para sempre,

    Para sempre! Nada seno isto podia satisfazer o corao de Ana. No era apenas o fato de tirar o seu oprbrio que tornava Samuel to precioso para ela. No! ela ansiava ver um sacerdote fiel perante o Senhor; e, pela f, viu em Samuel aquele que havia de estar ali para sempre. Que f preciosa, esse princpio santo que eleva a alma acima da influncia desanimadora das coisas visveis e temporais luz das coisas invisveis e eternas!

    No captulo 3 de I Samuel temos a predio da queda terrvel da casa de Eli. E sucedeu naquele dia que, estando Eli deitado no seu lugar (e os seus olhos se comeavam j a escurecer, que no podia ver), e estando tambm Samuel j deitado, antes que a lmpada de Deus se apagasse no templo do Senhor, em que estava a arca de Deus, o Senhor chamou a Samuel. Tudo isto era muito significativo- solenemente significativo. Os o lhos de Eli escurecidos e a chamada de Deus a Samuel, ou, por outras palavras, a casa de Eli vai passar, e o sacerdote fiel est prestes a tomar o seu bispado.

    Samuel corre para Eli, mas, ah! tudo que este podia dizer era torna a deitar-te. Nada tinha a dizer quele jovem. Encanecido, e de vista fraca, Eli podia passar o seu tempo a dormir e nas trevas, enquanto que a voz de Deus soava to perto de si! Que aviso solene para todos ns! Eli era sacerdote do Senhor, mas falhou em ser vigilante- falhou em ordenar a sua casa segundo a vontade de Deus: no imps restrio aos seus filhos e por isso vemos o triste fim que teve. E disse o Senhor a Samuel: Eis aqui vou Eu fazer uma coisa em Israel, a qual, todo o que a ouvir lhe

  • tiniro ambas as orelhas. Naquele mesmo dia suscitarei con- tra Eli tudo quanto tenho falado contra a sua casa: come- -lo-ei e acab-lo-ei. Porque j Eu lhe fiz saber que jul- garei a sua casa, para sempre, pela iniqidade que ele bem conhecia, porque fazendo-se os seus filhos execrveis no os repreendeu (I Samuel 3:11 a 13).

    Tudo o que o homem semear, diz o apstolo Paulo, isso tambm ceifar (C!. 6 :7). Como isto verdadeiro, no apenas com cada filho de Ado mas peculiarmente com cada filho de Deus! A nossa ceifa ser de acordo com a nossa sementeira. Assim sucedeu com Eli e assim suceder tanto com o leitor como com o autor destas linhas. Existe muito mais realidade prtica e solene neste relato divino do que muitos imaginam. Se nos deixarmos levar por uma corrente de pensamento errneo, se adotarmos o hbito da m conversao, se seguirmos uma conduta m de ao, teremos inevitavelmente de colher os frutos de tudo isso mais cedo ou mais tarde (1).

    (') Esta afirmao no texto, desnecessrio dizer, no interfere de modo nenhum com a estabilidade eterna da graa divina e a aceitao perfeita do crente, em toda a aceitao de Cristo perante Deus. uma grande verdade fundamental. Cristo a vida do crente, c Cristo a sua justia. Por isso, o fundamento da sua paz nunca poder ser tocado. Pode perder o gozo dele, porm o prprio fun- damento est fora do seu alcance. Deus estabeleceu-o sobre uma base indestrutvel, e primeiro que possa ser tocado ter de ser posto em causa o fato da ressurreio de Cristo, porque, evidentemente, Ele no poderia estar onde est se a paz do crente no houvesse sido perfeitamente estabelecida. Afim de ter perfeita paz, eu preciso ter o conhecimento de perfeita justificao; e afim de conhecer a minha perfeita justificao, devo conhecer, pela f na Palavra de Deus, que Cristo fez expiao perfeita. Eis a ordem divina: expia- o perfeita como fundamento da minha justificao, e perfeita jus- tificao como fundamento da minha paz. Deus uniu estas trs coisas; que no as desligue o corao incrdulo do homem.

    Por isso, a afirmao no texto no ser, creio, mal compreendida ou mal aplicada. O princpio nela contido pode ser ilustrado do se-

  • Que esta reflexo nos leve a uma maior vigilncia nos nossos caminhos; possamos ns ser mais cuidadosos em se- mear no Esprito, para que assim possamos ceifar a vida eterna.

    O captulo 4 deste mesmo Livro de Samuel apresenta-nos um quadro humilhante da situao de Israel, em ligao com a casa de Eli. Israel saiu ao encontro, peleja, aos filisteus e se acamparam junto a Ebenezer: e os filisteus se acamparam junto a Afek. E os filisteus se dispuseram em ordem de batalha para sair ao encontro de Israel; e, esten- dendo-se a peleja, Israel foi ferido diante dos filisteus, por- que feriram na batalha, no campo, uns quatro mil homens. Neste combate Israel teve que sentir a maldio de haver transgredido a lei (veja-se Deuteronmio 28 :25), pois no pde prevalecer diante do inimigo, e teve de sentir a sua fraqueza e impotncia por causa da desobedincia.

    E note-se a natureza e fundamento da sua confiana neste tempo de necessidade e opresso: E tornando o povo ao arraial, disseram os ancios de Israel: Porque nos feriu o Senhor hoje, diante dos filisteus? Tragamos de Silo a arca do concerto do Senhor e venha no meio de ns, para que nos livre da mo de nossos inimigos. Ah! que miservel fundamento de confiana! No pensaram no Senhor, a ori- gem do seu poder, nem pronunciaram uma palavra a Seu respeito! J no se escudavam n'Ele. No, confiaram na arca e pensaram que ela podia salv-los. Mas que vaidade! como podia a arca valer-lhes de alguma coisa se no era acompanhada da presena do Senhor dos Exrcitos - Aquele que era o Deus dos exrcitos de Israel? O Senhor j no

    guinte modo: se o meu filho se aproximar muito do fogo, pode queimar-se e causar-me aflio; mas continua a ser meu filho.

    A afirmao apostlica to ampla quanto possvel: Aquilo que o homem semear, isso tambm ceifar. Ele no diz se isto se refere a um homem convertido ou inconvertido ; e portanto a passa- gem tem ele Ler a sua plena aplicao. No pode possivelmente tocar a questo da graa pura C absoluta.

  • estava com eles; Ele estava entristecido com o pecado deles; era impossvel que qualquer smbolo ou ordenao tomasse o Seu lugar.

    Contudo, Israel julgou levianamente que a arca podia fazer tudo por eles, e grande foi a sua alegria, embora in- fundada, quando ela apareceu no arraial, acompanhada, no pelo Senhor, mas, pelos sacerdotes infiis - Hofni e Fineas. E sucedeu que, vindo a arca do concerto do Se- nhor ao arraial, todo o Israel jubilou com grande jbilo, at que a terra estremeceu.

    Tudo isto era grandioso; mas, ah! no deixava de ser um vcuo; o seu triunfo era to infundado como impr- prio; deviam ter-se conhecido melhor a si prprios para fazerem uma tal demonstrao. O seu jbilo de triunfo harmonizava-se mal com a sua baixa condio moral aos olhos de Deus; e todavia notar-se- sempre que aqueles que no se conhecem a si prprios so precisamente os que tm maiores pretenses e se arrogam a posio mais elevada. O fariseu, no evangelho, olhava com ar de orgulhosa indi- ferena para o publicano: julgava-se numa posio elevada e considerava o publicano muito abaixo do seu nvel; e contudo como eram diferentes os pensamentos de Deus acerca dos dois! Vemos assim que o corao contrito ser sempre o lugar de habitao de Deus, que, bendito seja o Seu nome, sabe como levantar e confortar todo o corao nestas condies como ningum pode faz-lo. Tal o Seu traba- lho - um trabalho em que Ele se deleita.

    Contudo, os homens deste mundo ligam sempre muita importncia s pretenses de altivez. Gostam delas, e, em geral, do um lugar importante nos seus pensamentos queles que presumem ser algum; enquanto que, por outro lado, procuram rebaixar ainda mais o homem que real- mente humilde. Assim, no caso que ternos perante ns, os filisteus prestaram no pouca importncia aos gritos dos homens de Israel. Assemelhavam-se a eles e por isso po- diam bem compreend-los e t-los na devida conta.

  • E os filisteus, ouvindo a voz do jbilo, disseram: Que voz de to grande jbilo esta no arraial dos hebreus? Ento souberam que a arca do Senhor era vinda ao arraial. Pelo que os filisteus se atemorizaram; porquanto diziam: Deus veio ao arraial (versculos 6 e 7). Pensaram natu- ralmente que o jbilo de triunfo era fundado na realidade - no compreendiam o significado de um sacerdcio po- ludo, do sacrifcio desprezado e do templo ao abandono. Viam um smbolo e pensavam que era acompanhado do poder, da o seu temor. Desconheciam que o seu temor e o triunfo de Israel eram igualmente infundados, Esforai-vos, e sede homens, filisteus., para que porventura no venhais a servir aos hebreus como eles serviram a vs; sede pois homens e pelejai.

    Eis o recurso dos filisteus: sede homens. Os israelitas no podiam fazer isto. Se eram privados devido ao pecado de contar com o recurso de Deus para as suas circunstncias, eram mais fracos do que os seus semelhantes; a nica espe- rana de Israel estava em Deus, e se Deus no estava com eles - se era apenas um conflito entre homens - ento um israelita no podia medir-se com um filisteu. A verdade a este respeito ficou plenamente comprovada na ocasio a que me refiro.

    Ento pelejaram os filisteus e Israel foi ferido. Como poderia ser de outra maneira? Israel podia apenas ser fe- rido e ter de fugir, visto que Aquele que era o seu escudo, o Prprio Deus, no estava entre eles. A glria de Deus dei- xara-os, eles foram feridos, a arca foi tomada, foram des- pojados da sua fora, o jbilo de triunfo foi substitudo pelos sofrimentos e os gritos de dor, a sua poro foi a derrota e a vergonha e o ancio Eli, a quem podemos con- siderar como o representante do sistema existente de coisas, caiu com esse sistema e foi sepultado nas suas runas.

    Os captulos S e 6 do I Livro de Samuel pertencem ao perodo em que ichahod foi escrito sobre a nao de Israel. Durante todo este tempo Deus deixou de agir phli-

  • camente por Israel e a arca da Sua presena foi transpor- tada de cidade em cidade dos filisteus incircuncisos. Este perodo cheio de instruo. A arca de Deus entre estra- nhos, e Israel, no tempo presente, posto de parte so cir- cunstncias que no podem deixar de interessar a mente e chamar a ateno de todo o estudioso inteligente e concen- trado das Sagradas Escrituras.

    Os filisteus, pois, tomaram a arca de Deus e a trouxe- ram de Ebenezer a Asdod. E tomaram os filisteus a arca de Deus e a meteram na casa de Dagon, e a puseram junto a Dagon. Nestas palavras vemos o resultado da infidelidade triste e humilhante de Israel. Com que negligncia e cora- o infiel haviam eles guardado a arca de Deus para vir assim a encontrar alojamento no templo de Dagon! Verda- deiramente Israel falhara e perdera tudo - cedera aquilo que era mais sagrado, para ser profanado e blasfemado pe I os incircuncisos!

    E note-se que a casa de Dagon foi considerada suficien- temente santa para a arca do Senhor, aquela arca que per- tencia ao lugar santssimo. A sombra de Dagon ia substituir as asas do Querubim e os raios de luz da glria divina. Tais eram os pensamentos dos prncipes dos filisteus; mas no eram os pensamentos de Deus. Israel tinha falhado, sem dvida, em defender a arca; falhara em reconhecer a grande verdade que a arca devia ser sempre ligada com a presena de Deus. Tudo isto era verdade; e, alm disso, os prncipes dos filisteus atreveram-se a insultar o smbolo sagrado da presena divina associando-o impiamente com o seu deus Dagon. Em resumo: os israelitas foram infiis e os filisteus profanos, porm o Deus de Israel tem de ser sempre verda- deiro e fiel Sua santidade; c por isso Dagon teve de cair prostrado perante a arca da presena do Senhor. Levan- tando-se porm de madrugada os de Asdod, no dia seguinte, pela manh, eis que Dagon jazia cado com o rosto em terra, diante da arca do Senhor; e a cabea de Dagon e

  • ambas as palmas das suas mos cortadas, sobre o limiar; srnente o tronco ficou a Dagon (I Samuel 5 :3,4).

    No possvel pensar em qualquer coisa mais humi- lhante, para todos os efeitos, do que o estudo de coisas, por essa poca, nesta crise da histria de Israel. Os israelitas viram como a arca fora arrebatada das suas mos: tinham-se mostrado incapazes de ocupar o lugar de testemunhas de Deus perante as naes sua volta.

    Quanto razo do triunfo dos inimigos da verdade, bas- tava-Ihes dizer, a arca est na casa de Dagon. Isto era terrvel - verdadeiramente terrvel- quando encarado s debaixo de um ponto de vista; mas, ah! como inefvel- mente glorioso quando visto do outro lado! Com efeito, J srael falhara, deixara tudo que era sagrado e precioso e permitira que o inimigo lanasse a sua honra pela lama e espezinhasse a sua glria; todavia Deus estava acima de tudo, para alm de tudo, e abaixo de tudo, e nisso estava a origem profunda de consolao para todo o corao fiel.

    Deus estava verdadeiramente ali, e manifestou-Se em poder maravilhoso e glria. Se Israel no procede em de- fesa da verdade de Deus, Deus deve- atuar, e assim o fez. Os prncipes dos filisteus tinham vencido Israel, porm os deuses dos filisteus tinham de cair diante da arca, que, na antiguidade, tinha feito parar as guas do Jordo. Era este o triunfo divino. Nas trevas e solido do templo de Dagon - onde no havia olhos para ver nem ouvidos para ouvir -, o Deus de Israel agiu em defesa daqueles grandes princ- pios de verdade que o Seu Israel tinha deixado de guardar e de manter. Dagon caiu, e, na sua queda, proclamou a honra do Deus de Israel. As trevas do momento apenas pro- porcionaram uma oportunidade para a glria divina brilhar em todo o seu resplendor. A cena foi de tal modo despida da criatura que o Criador pde mostrar-Se no Seu prprio carcter. O limite do homem foi a oportunidade de Deus, e o fracasso do homem deu lugar fidelidade divina. Os

  • filisteus tinham-se mostrado mais poderosos que Israel, mas o Senhor era mais forte do que Dagon.

    Bom. Tudo isto cheio de instruo e nimo numa poca como a actual, em que o povo de Deus est declinando to tristemente daquele tom de devoo e separao que devia caracteriz-lo. Devemos bendizer a Deus pela certeza da Sua fidelidade - Ele no pode negar-Se a Si Mesmo. O funda- mento de Deus fica firme, tendo este selo: O Senhor conhece os que so Seus, e qualquer que profere o nome de Cristo aparte-se da iniqidade (2 Tom. 2:13 e 19)_ Por isso nas horas mais sombrias Ele manter a Sua verdade e levan- tar um testemunho para Si, at mesmo se tiver que ser na casa de Dagon.

    Os cristos podem abandonar os princpios de Deus; porm esses princpios permanecem os mesmos, a sua pu reza, o seu poder e a sua virtude celestial no so de modo nenhum afetados pela inconstncia e a inconsistncia dos professos infiis; e, por fim, a verdade triunfar.

    Contudo, os esforos dos filisteus para conservarem a arca de Deus em seu poder redundaram num fracasso com- pleto. No puderam fazer com que o Senhor e Dagon habi- tassem juntos - como era terrivelmente blasfema esta ten- tativa! Que concrdia h entre Cristo e Belial? (11 Cor. 6:15). Nenhuma, absolutamente. O padro de Deus nunca pode ser rebaixado de maneira a acomodar-se aos princ- pios que governam o homem do mundo; e a tentativa de segurar Cristo com uma mo e agarrar o mundo com a outra deve resultar em vergonha e confuso de rosto. E, contudo quantos esto fazendo esse esforo! Quantos h que pare- cem levantar a grande questo de quanto podem reter do mundo sem sacrificarem o nome e os privilgios de cristos? Isto um pecado mortal -- um ardil terrvel de Satans- e pode, com propriedade estrita, ser chamado egosmo descarado.

    muito mau para um homem andar em libertinagem e corrupo de seu prprio corao; porm ligar o seu mal

  • com o santo nome de Cristo o cmulo da culpa. Assim diz o Senhor dos Exrcitos, o Deus de Israel: Eis que vs confiais em palavras falsas... Furtareis vs, e matareis, e cometereis adultrio, e jurareis falsamente, e queimareis incenso a Baal, e andareis aps outros deuses que no conhe- cestes, e ento vireis e vos poreis diante de mim nesta casa, que se chama pelo meu nome, e direis: Somos livres, pode- mos fazer todas estas abominaes? (Jer. 7: 3, 8, 9 e 10).

    Lemos tambm, como um dos caractersticos dos ltimos dias, que os homens tero forma de piedade, mas negaro a eficcia dela (2 Tim. 3:5). A forma de piedade satisfaz o corao mundano, porque serve para o manter sossegado, ao mesmo tempo que aproveita todas as atraes do mundo. Mas que iluso! Como oportuna a admoestao apost- lica, destes afasta-te (2 Tim. 3:5). A obra prima de Sa- tans o amlgama de coisas aparentemente crists com coisas que so decididamente impuras; consegue iludir me- lhor deste modo do que qualquer outro, e ns precisamos de verdadeira sagacidade espiritual para o podermos desco- brir. Que o Senhor nos d graa, pois Ele sabe quanto ne- cessitamos dela.

    Deixando de parte muita coisa valiosa nos captulos 5 e 6 de I Samuel, vamos agora, por um momento, considerar a restaurao de Israel em ligao com o sacerdote fiel, tal qual a encontramos no captulo 7, desse mesmo livro.

    Israel teve de chorar por muitos dias a ausncia da arca; as suas almas vergavam-se sob a influncia destruidora da idolatria, e por fim as suas afeies comearam por buscar ao Senhor. Contudo, neste despertamento, vemos quo pro- fundo eles haviam cado na morte.

    Este sempre o caso. Quando Jac, na antiguidade, foi chamado para ir a Betel e deixar as contaminaes de Siqum, fazia apenas uma pequena idia da maneira como ele e sua famlia tinham sido apanhados pelas malhas da idolatria. Porm, a chamada para ir a Betel despertou as suas energias entorpeci das, vivificou a sua conscincia e

  • aguou a sua percepo moral. Por isso ele diz aos seus familiares: Tira i os deuses estranhos que h no meio de vs, e purificai-vos, e mudai os vossos vestidos (Cn. 35:2). A prpria idia de Betel, em contraste com Siqum, exer- ceu uma influncia vivificadora na alma de Jac; e ele prprio, havendo sido vivificado, pde levar outros tam- bm com novo poder.

    Assim aconteceu com os descendentes de Jac, neste captulo. Ento falou Samuel a toda a casa de Israel di- zendo: se com todo o vosso corao vos converterdes ao Senhor, tirai de entre vs os deuses estranhos e os astarotes, e preparai o vosso corao ao Senhor, e servi a Ele s, e vos livrar da mo dos filisteus. Vemos nesta passagem o curso decadente que Israel havia seguido em ligao com a casa de Eli. O primeiro passo dado no caminho do mal pr a confiana num rito sem Deus - afora tambm aqueles princpios que tornam o rito valioso. O segundo passo levantar um dolo. Por isso encontramos Israel di- zendo da arca: para que nos livre, e, depois, tirai os deuses estranhos e os astarotes de entre vs.

    Prezado leitor, no existe em tudo isto uma admoesta- o para a igreja professa? Certamente h. O tempo pre- sente por excelncia um dia de ritos sem poder. O esp- rito do formalismo frio est-se movimentando sobre as guas encapeladas da Cristandade, e em breve ser estabe- lecido na calma mortfera da falsa profisso, a qual ser apenas perturbada pela voz de arcanjo e a trombeta de Deus (I Tess. 4:16).

    Todavia, a atitude tomada por Israel, no captulo j re- ferido, forma um perfeito contraste com a cena no cap- tulo 4. Disse mais Samuel: Congregai a todo o Israel em Misp: e orarei por vs ao Senhor. E congregaram-se em Misp, e tiraram gua, e a derramaram perante o Senhor, e jejuaram aquele dia, e disseram ali: Pecmos contra o Senhor. Isto obra boa. Podemos dizer, Deus est neste lugar: no existe confiana num mero smbolo ou rito morto

  • no existe pretenso vazia, ou v presuno; nem dvida ou jactncia -, tudo realidade solene e profunda. A con- fisso sincera, a gua derramada, o jejum, tudo fala da grande mudana que teve lugar na condio moral de Israel. Agora entregam-se ao sacerdote fiel; e, por intermdio dele, ao Prprio Senhor. No falam em trazer a arca; no, as suas palavras so: No cesses de clamar ao Senhor nosso Deus por ns, para que nos livre da mo dos filisteus. Ento tomou Samuel um cordeiro de mama, e sacrificou-o inteiro, em holocausto ao Senhor; e clamou Samuel ao Senhor por Israel, e o Senhor lhe deu ouvidos. Neste holocausto estava a origem do poder de Israel. O cordeiro de mama deu um novo aspecto s suas circunstncias; era o ponto de revira- volta na sua histria, nesta ocasio. E, note-se, os filisteus parecem ter ignorado em absoluto tudo que se estava passando entre o Senhor e Israel. Pen- savam, incontestavelmente, que, visto no ouvirem clamor de triunfo, os israelitas estavam, possivelmente, numa con- dio mais pobre do que nunca. No fizeram estremecer a terra outra vez, como aconteceu no captulo 4, mas, ah! havia um trabalho, que estava sendo feito, que olhos filis- teus no podiam ver, nem o corao de um filisteu podia compreender. Que podia um filisteu saber quanto ao grito de penitncia, a gua derramada, ou o cordeiro de mama oferecido em sacrifcio? Nada. O homem do mundo s pode tomar conhecimento daquilo que est vista - o exterior, a pompa e o brilho, a presuno de poder e grandeza da carne, so bem entendidos pelo mundo -, mas nada sabe das profundezas maravilhosas de uma alma exercitada pe- rante Deus. E contudo, este ltimo estado o que os cris- tos deveriam procurar mais sinceramente. Uma alma exer- citada preciosa vista de Deus; com ela que Ele pode habitar, em todas as ocasies. No presumamos ser coisa alguma, mas tomemos simplesmente o no'3SO prprio lugar vista de Deus, e Ele ser certamente a nossa fonte de poder e energia, segundo a medida da nossa necessidade.

  • E sucedeu que, estando Samuel sacrificando o holo- causto, 05 filisteus chegaram peleja contra Israel: e tro- vejou o Senhor aquele dia, com grande trovoada, sobre os filisteus, e os aterrou, de tal modo que foram derrotados diante dos filhos de Israel (versculo 10). Tais foram os felizes resultados de dependncia simples no Deus dos Exrcitos de Israel; era qualquer coisa comparada com a manifestao gloriosa do poder do Senhor nas praias do Mar Vermelho. O Senhor varo de guerra quando o Seu povo necessita d'Ele, e a f pode servir-se d'Ele, nesse ca- rcter. Sempre que Israel consentiu que o Senhor lutasse por eles, Ele esteve sempre pronto a aparecer com uma espada desembainhada na Sua mo; porm a glria tem de ser toda Sua. O grito vazio de triunfo de Israel tem de ser aquietado a fim de que o rugido do trovo do Senhor possa ser distintamente ouvido; e oh! como maravilho- samente bem-aventurana estar-se silencioso, e deixar falar o Senhor! Que poder o da Sua voz! Poder para trazer paz ao Seu povo, e para deitar terror nos coraes dos Seus inimigos.

    Quem te no temer, Senhor, e no magnificar o teu nome? (Apoc. 15:4).

    Agora no captulo 8, de I Samuel, vemos como foi dado um passo decisivo para a eleio de um rei em Israel. E sucedeu que, tendo Samuel envelhecido, constituiu a seus filhos por juzes sobre Israel... porm seus filhos no anda- ram nos caminhos dele, antes se inclinaram avareza, e tomaram presentes e perverteram o juzo.

    Que quadro triste! Como prprio do homem em todos os tempos!

    Porque eu sei isto, que, depois da minha partida, en- traro no meio de vs lobos cruis, que no perdoaro ao rebanho (Atos 20:29). To depressa Israel se reps dos efeitos da imoralidade dos filhos de Eli, teve de sentir os

  • efeitos terrveis da avareza dos filhos de Samuel, e assim apressam-se na carreira que terminou com a rejeio do Senhor e a eleio de Saul. _ tendo Samuel envelhecido, constituiu a seus filhos por juzes. .. Contudo, isto era uma coisa inteiramente diferente duma nomeao de Deus. A fi- delidade de Samuel no era garantia para os seus filhos; precisamente como vemos na teoria de jactncia da suces- so apostlica; e qual a qualidade de sucessores que te- mos visto? At onde se tm eles parecido com os seus pre- decessores? Paulo podia dizer, De ningum cobicei o ouro (Atos 20:33); podem os chamados sucessores dizer o mesmo? Samuel podia dizer, Eis-me aqui, testificai contra mim, perante o Senhor, e perante o Seu ungido, a quem tomei o boi, c a quem tomei o jumento, e a quem defraudei, e a quem tenho oprimido, e de cuja mo tenho tomado presente e com ele encobri os meus olhos? (I Sam. 12:3)_ Mas, ah! os filhos e sucessores de Samuel no podiam dizer isto; para eles a avareza era o seu motivo principal de aco.

    Bom. Vemos neste captulo que Israel faz deste mal dos filhos de Samuel a razo ostensvel- para pedir um rei. Eis que j ests velho, e teus filhos no andam pelos teus ca- minhos: constitui-nos, pois, agora, um rei sobre ns, para que ele nos julgue, como tm todas as naes. Que terrvel inclinao! Israel contente por descer ao nvel das naes sua roda, e tudo porque Samuel estava velho, e os seus filhos eram ambiciosos. O Senhor posto de parte. Se eles tivessem olhado para Deus no teriam necessidade de pensar em se colocarem sob a guarda de um pobre mortal seme- lhante a eles. Mas ah! quo pouco contaram com a sabe- doria de Deus para os guardar e guiar em toda esta cena! No podiam ver nada para l de Samuel e seus filhos; se no possvel encontrar auxlio neles, ento tm que descer imediatamente da sua elevada posio, e tornarem-se seme- lhantes s naes sua roda. A atitude da f e dependncia

  • muito difcil para ser mantida por muito tempo; nada seno a compreenso de necessidade nos pode fazer perma- necer em Deus.

    No captulo 7 no se ouve nada acerca de um rei; Deus era tudo para Israel nessa ocasio: porm agora j no assim; Deus posto de parte, e um rei o assunto absor- vente. Veremos em breve os tristes resultados de tudo isto.

    Os captulos 9 a 13, do mesmo Livro de Samuel, do-nos o carter de Saul, juntamente com o relato da sua uno, e princpio do seu domnio. No pretendo demorar-me em consideraes sobre este assunto, visto ser meu desejo apenas chamar a ateno do leitor para os passos que levaram eleio de um rei em Israel.

    Saul era enfticamente o homem segundo o corao de Israel; tinha tudo o que a carne poderia desej ar; era um mancebo to belo que, entre os filhos de Israel, no havia outro homem mais belo do que ele; desde os ombros para cima sobressaa a todo o povo (I Sam. 9 :2). Era tudo grandioso para aqueles que s podiam ver as aparncias; mas oh! que situao para o corao, parte este exterior atractivo! Toda a carreira de Saul foi assinalada pelo mais profundo egosmo e vaidade, sob o disfarce da humildade. Quando Saul se esconde apenas para que possa desta- car-se mais proeminentemente. Com o seu corao cheio da ideia do reino, ele mantm absoluto segredo para com o seu tio a esse respeito; com os pensamentos ocupados com a coroa, ele esconde-se entre a bagagem, apenas para poder ser objeto mais notvel, para ser admirado por toda a multido. Com efeito, em todas as cenas em que Saul apa- rece perante ns, vemos nele um homem inteiramente egosta, vaidoso e indomvel. verdade que o Esprito de Deus veio sobre ele como sendo ele aquele que era sepa- rado para ser o chefe do povo de Israel; todavia, ele era, em todo o sentido, um egosta e apenas usou o nome de

  • Deus para os seus prprios fins, e as coisas de Deus como pedestal para mostrar a sua prpria glria (1).

    A cena de Gilgal verdadeiramente caracterstica do princpio de ao de Saul. Impaciente para esperar pelo tempo de Deus, ele esfora-se e oferece um holocausto e tem de ouvir, dos lbios de Samuel, estas palavras solenes: Obraste nesciamente, e no guardaste o mandamento que o Senhor teu Deus te ordenou; porque agora o Senhor teria confirmado o teu reino sobre Israel para sempre. Porm agora no subsistir o teu reino: j tem buscado o Senhor para Si um homem segundo o Seu corao, e j lhe tem ordenado o Senhor que seja chefe sobre o Seu povo, por- quanto no guardaste o que o Senhor te ordenou (I Sam. 13:13,14). Este o resumo do assunto, tanto quanto diz respeito a Saul: Obraste nesciamente, e no guardaste 0 mandamento que o Senhor teu Deus te ordenou: agora no subsistir o teu reino.

    Verdades solenes! Saul, o homem segundo o corao do homem, posto de lado, para dar lugar ao homem se- gundo o corao de Deus. O povo de Israel teve bastante oportunidade para provar o carter do homem que haviam escolhido para os conduzir, e bata1har as suas guerras_ A eana em que eles tanto se desejavam encostar quebrara-se,

    (') O leitor precisa de fazer a distino correta entre o Esprito Santo repousar sobre uma pessoa e habitar e agir nela. A passagem de I Samuel 10:6 pode representar uma dificuldade para alguns: E o Esprito do Senhor se apoderar de ti, e profetizars com eles, e te mudars em outro homem, No se trata de o Esprito produzir um novo nascimento, mas sim de habilitar Saul para exercer o governo. Se fosse o caso da regenerao o Esprito no se apoderaria apenas da pessoa, mas atuaria nela. Entre Saul o rei e Saul o homem h uma grande diferena, e esta diferena tem de ser tomada em conta a respeito de muitos vultos das Escrituras, tanto do Velho como do Novo Testamentos.

    Deve notar-se tambm a grande diferena que existe entre as operaes do Esprito antes e depois da ressurreio de Cristo.

  • e estava prestes a ferir as suas mos. O rei escolhido pelo homem, que era ele? que poderia ele fazer? deixai-o numa emergncia, e como se conduz ele? o rudo de altivez marca todos os seus atos. No vemos nele dignidade, nem con- fiana santa em Deus; no age sob os princpios da ver- dade. A individualidade, isto at no meio das cenas mais solenes, e atuando aparentemente por Deus e o Seu povo. Tal foi o rei escolhido pelo homem.

    No maravilhoso captulo 14 vemos um contraste notvel entre a eficcia do expediente de Israel e aquele antigo princpio de f simples em Deus. Saul est debaixo de uma romeira, uma manifestao perfeita de pompa vazia sem uma partcula de verdadeiro poder; ao passo que seu filho J natas, agindo no esprito de f, torna-se no feliz instru- mento de salvao de Israel. Israel, em incredulidade pedira um rei para guerrear as suas guerras, e sem dvida, os israelitas pensavam que, sendo abenoados com um rei, ne- nhum inimigo poderia opor-se-lhes; mas foi assim? Uma frase do captulo 13 d-nos a resposta: todo o povo veio atrs dele tremendo.

    Que mudana! Como tudo era diferente das hostes po- derosas que, antigamente, haviam seguido J osu contra as fortalezas de Cana! E, contudo eles tinham agora com eles o rei que tonto desejavam; mas, ah! Deus no estava l, da a razo porque tremiam. Deixai que os homens tenham as mais belas ordenaes, sem o sentido da presena de Deus, e o homem a prpria imagem da fraqueza. Deixai que ele tenha a presena de Deus, em poder, e nada se lhe poder opor. Moiss, antigamente, fez maravilhas com uma simples vara na sua mo; mas agora Israel, com o homem segundo o seu prprio corao vista, nada podia fazer seno tremer na presena dos seus inimigos. todo o povo veio atrs dele, tremendo. Como isto humilhante! No; mas haver sobre ns um rei... e o nosso rei nos julgar, e sair adiante de ns e far as nossas guerras (I Samuel Captulo 8 :19,20). Na verdade,

  • do que confiar nos prncipes (Salmo 118:9). Jnatas deu prova maravilhosa disto quando foi ao encontro dos filis- teus no poder daquelas palavras, para com o Senhor ne- nhum impedimento h de livrar com muitos ou com poucos (versculo 6). Era o Senhor Quem enchia a sua alma, e, tendo-O, muitos ou poucos no faziam diferena. A f nunca afetada pelas circunstncias: ou Deus ou nada.

    E note-se a transformao que teve lugar nas circuns- tncias de Israel, logo que a f comeou a operar entre eles. Agora j no eram os israelitas que tremiam, mas sim os filisteus; E houve tremor no arraial, no campo, e em todo o povo; tambm a mesma guarnio e os destruidores tre- meram, e at a terra se alvoroou, porquanto era tremor de Deus (versculo 15). A estrela de Israel era decidida- mente ascendente, simplesmente porque Israel agia segundo o princpio da f. Jnatas no esperou libertao por seu pai, mas sim do Senhor; ele sabia que o Senhor era varo de guerra, e n'Ele se encostou por libertao de Israel no dia da angstia. Bendita dependncia! Nenhuma h seme- lhante a ela. As ordenaes humanas acabam, os recursos humanos desfazem-se; mas aqueles que confiam no Senhor sero como o Monte de Sio, que no pode remover-se mas permanece para sempre. E houve tremor no arraial; sim, porque Deus enviava o terror aos coraes dos filisteus, e enchia Israel de alegria com o triunfo. A f de Jnatas foi reconhecida por Deus na confirmao daqueles que previa- mente haviam fugido do campo de batalha para as monta- nhas. Assim acontece sempre; nunca podemos andar no po- der da f sem darmos um impulso aos outros; pelo con- trrio, o corao covarde suficiente para deter muitos. Alm disso, a incredulidade afasta-nos sempre do campo do servio ou da luta, enquanto que a f nos conduz para ela.

    Mas quanto a Saul? Como coopera ele com o homem de f? era simplesmente incapaz de tal atitude. Assentou-se debaixo da amoreira, incapaz de inspirar coragem nos cora- es daqueles que o haviam escolhido para seu chefe; e

  • quando teve a coragem de se mover, ou antes, de sair, nada mais pde fazer seno impedir os resultados da f por meio da sua precipitao e loucura. Mas temos de terminar estas consideraes.

    Mas vejamos agora a ltima experincia e o afastamento deste rei escolhido pelo homem. VAI POIS AGORA E FERE A AMALEC. Este o teste que realmente mostrou o estado moral do corao de Saul.

    Se ele andasse em retido perante Deus a sua espada nunca teria sido embainhada at que os descendentes de Amalec tivessem deixado de respirar. Porm os resultados mostraram que ele tinha muito de comum com Amalec, para poder dar cumprimento determinao divina de sua destruio. Assim diz o Senhor dos exrcitos: Eu me recor- dei do que fez Amalec a Israel; como se lhe ops no ca- minho, quando subia do Egito (I Samuel 15 :2,3). Numa palavra, Amalec aparece perante a mente espiritual como o primeiro grande obstculo ao progresso dos resgatados da escravido do Egito para Cana; e sabemos o que que enche um lugar semelhante com referncia queles que agora se dispem a seguir o Senhor Jesus.

    Saul tinha-se mostrado como um obstculo decidido no caminho do homem de f; com efeito, toda a sua carreira fora de hostilidade aos princpios de Deus. Como, pois, poderia ele destruir Amalec? Era impossvel. Ele perdoou a Agag. Assim mesmo. Saul e Agag entendiam-se muito bem, nem to-pouco Saul tinha poder para executar o juzo de Deus sobre este grande inimigo do seu povo. E note-se a ignorncia e indulgncia deste homem infeliz: Veio pois Samuel a Saul; e Saul lhe disse: Bendito tu do Senhor; executei a palavra do Senhor. Como isto triste! Executou a Palavra do Senhor, enquanto Agag, rei dos amalequitas, estava ainda vivo! Oh! A que terrveis excessos de v iluso possvel chegar-se quando se no anda retamente na presena de Deus! Que balido pois de ovelhas este nos meus ouvidos? Eis uma pergunta que esquadrinha o cora-

  • o. Como era vo o seu recurso quanto ao assunto plausvel de oferecer ao Senhor. Expediente miservel para os cora- es desobedientes! Como se Deus aceitasse um sacrifcio de algum que andasse em rebelio positiva contra o Seu mandamento. Quantos desde os dias de Saul no tm pro- curado encobrir um esprito desobediente com o manto plausvel de oferecer ao Senhor.

    Contudo, a resposta de Samuel a Saul de aplicao universal: Tem porventura o Senhor tanto prazer em holo- caustos e sacrifcios como em que se obedea palavra do Senhor? Eis que o obedecer melhor do que o sacrificar; e o atender melhor do que a gordura de carneiros. Porque a rebelio como o pecado de feitiaria, e o porfiar como iniqidade e idolatria. No importa qual possa ser o preo do sacrifcio, um simples ato de obedincia voz do Se- nhor infinitamente mais precioso para Ele. a Senhor no busca ofertas, mas obedincia; o corao obediente e o esp- rito condescendente glorific-Lo-o mais do que milhares de animais sacrificados.

    Como importante acentuar este grande princpio sobre as conscincias, nestes dias em que tantos encobrem toda a sorte de desobedincia com a palavra sacrifcio, sacri- fcio! Mas obedecer melhor do que sacrificar. muito melhor ter a vontade em sujeio a Deus do que sobrecarre- gar o Seu altar com os mais dispendiosos sacrifcios. Quando a vontade se acha em sujeio, tudo o mais tomar o seu pr- prio lugar; mas para todo aquele cuja vontade est em rebelio contra Deus, falar em Lhe oferecer sacrifcios no passa de uma mera iluso. Deus olha no para o volume do sacrifcio, mas para o esprito donde ele emana. Alm disso, ver-se- que todo aquele que, no esprito de Saul, fala de sacrificar ao Senhor encobre algum motivo egosta- poupa algum Agag ou coisa semelhante, o melhor das ove- lhas, ou alguma coisa atraente para a carne, que exerce mais influncia que o servio de adorao ao bendito Deus.

  • Possam todos os que lem estas pginas buscar conhecer a verdadeira bem-aventurana de uma vontade inteiramente submetida a Deus, pois nisso ser achado aquele bendito re- pouso que o humilde e santo Jesus prometeu a todos que andavam cansados - o repouso que Ele Prprio encontrou em poder dizer Graas te dou, Pai... porque assim te aprouve_ a agitado e ambicioso Saul no conhecia isto. A sua vontade no se harmonizava com a vontade de Deus a respeito de Amalec. Deus desejava que ele destrusse Ama- lec, porm o seu corao desejava poupar alguma coisa que, para ele, pelo menos, parecia ser boa e agradvel: estava pronto a cumprir a vontade de Deus a respeito de tudo que era vil e abjeto; todavia, julgou que podia fazer algumas excees, como se a linha de distino entre o que era o despojo e o que era bom devesse ser feita segundo o seu juzo, e no pelo juzo infalvel d' Aquele que olhou para Amalec do verdadeiro ponto de vista, e nada viu na cor- tesia refinada de Agag seno o que era vil e desprezvel. Viu nele aquele que, com toda a sua delicadeza, se oporia a Israel tanto quanto sempre o havia feito, e isto foi o fundamento da Sua controvrsia com Amalec; um funda- mento, podemos dizer, que Saul no podia compreender.

    a fim deste captulo mostra-nos, plenamente, a corrente dos pensamentos e desejos de Saul. Acabava de ouvir o apelo de Samuel, e a denncia de Deus contra si, resumidos nestas palavras: a Senhor tem rasgado de ti, hoje, o reino de Israel, e o tem dado ao teu prximo, melhor do que tu. Estas palavras, que eram de atordoar, acabavam de soar aos seus ouvidos, e contudo ele estava to cheio de si prprio que podia dizer, honra-me, porm, agora, diante dos ancios do meu povo, e diante de Israel. Este era Saul. O povo, disse ele, perdoou ao que devia ter sido des- trudo - foi a sua falta - mas honra-me. Ah! que vaidade! Um corao ensopado de iniqidade pedindo honra aos vermes seus semelhantes! Rejeitado por Deus, como homem de governo, ele encosta-se honra humana. Parece

  • que, desde que pudesse manter o seu lugar na estima do seu povo, pouco lhe interessava o que Deus pensasse dele. Porm ele era rejeitado de Deus e o reino rasgado de suas mos; nem to-pouco de nada lhe valeu que Samuel esti- vesse a seu lado enquanto adorou ao Senhor, com o fim de no perder o seu lugar e influncia entre o seu povo.

    Ento disse Samuel: Trazei-me aqui Agag, rei dos Amalequitas. E Agag veio a ele animosamente: e disse Agag: na verdade j passou a amargura da morte. Disse porm Samuel: Assim como a tua espada desfilhou as mulheres, assim ficar desfilhada a tua me entre as mulheres. Ento Samuel despedaou a Agag, perante o Senhor, em Gilgal. A delicadeza de Agag no podia iludir aquele que era ensi- nado de Deus. Como extraordinrio encontr-lo a despe- daar Agag em Gilgal! Gilgal era o lugar onde o oprbrio do Egito foi tirado a Israel; e, segundo a sua histria, veruos este lugar associado com muito poder ou mal. Foi aqui, pois, que este amalequita veio a ter o seu fim s mos justas de Samuel. Isto significativo. Quando a alma abenoada com a compreenso da sua liberdade plena do Egito, por meio do poder da morte e ressurreio, encon- tra-se na melhor das posies para triunfar sobre o mal. Se Saul tivesse sabido alguma coisa do esprito e princpio de Gilgal no teria perdoado a Agag. Estava pronto de todo a ir e renovar o reino, mas no para pr de lado tudo quanto cheirava a carne. Porm, Samuel, agindo na energia do Esprito de Deus, tratou Agag segundo os princpios da verdade; porque est escrito:

    Porquanto jurou o Senhor, haver guerra do Senhor contra Amalec, de gerao em gerao [xodo 17 :16).

    O rei de Israel deveria ter sabido isto.

  • DAVI UNGIDO

    VAMOS entrar agora no nosso assunto - um tema magnfico -, a vida e poca de Davi.

    Examinando as Escrituras Sagradas vemos como o ben- dito Deus tem sempre feito com que saia bem do mal. Foi causa de pecado Israel ter rejeitado o seu Rei Jeov e eleito um homem para reinar, e nesse homem, o primeiro a ma- nejar o cetro sobre Israel, eles tiveram de aprender como era vo o auxlio do homem. O Senhor ia agora fazer com que do pecado e loucura do Seu povo sassem ricas bnos.

    Saul fora deposto, segundo os desgnios de Deus; havia sido pesado na balana e fora achado em falta; o seu reino ia passar da sua mo" e um homem segundo o corao de Deus estava prestes a sentar-se no trono, para glria de Deus e bno do Seu povo. Ento disse o Senhor a Sa- muel: At quando ters d de Saul, havendo-o eu rejeitado para que no reine sobre Israel? (I Sam. 16:1). Estas palavras mostram o sofrimento secreto de Samuel por causa de Saul durante o longo perodo da sua separao dele. Lemos no ltimo versculo do captulo 15 do I Livro de Samuel, E nunca mais viu Samuel a Saul at ao dia da sua morte; porque Samuel teve d de Saul. Isto era natural. Havia muito de afeio (profundo afeto) para o corao na queda melanclica deste homem infeliz. Ele havia dado lugar uma vez ao brado de Israel: Viva o rei! Muitos, cheios de entusiasmo, indubitavelmente, haviam con-

  • DAVI UNGIDO

    fiado no homem que era mais alto do que todo o povo, mas agora tudo havia desaparecido; Saul fora rejeitado, e Samuel foi constrangido a tomar uma atitude de inteira separao dele, visto que Deus o havia posto de parte. Era o segundo magistrado que Samuel tinha a sorte de ver des- titudo do seu cargo: havia sido portador de ms novas para Eli, no princpio da sua carreira; e agora, no fim dela, fora chamado para anunciar a Saul o juzo do cu contra a sua carreira. Contudo, Samuel foi chamado para compreender os pensamentos de Deus quanto a Saul. At quando ters d de Saul, havendo-o eu rejeitado? A comunho com Deus leva-nos sempre a aquiescer com os Seus caminhos. O sentimentalismo pode lamentar a queda da grandeza, porm a f agarra-se grande verdade que o conselho d,: Deus permanecer infalivelmente, e o Senhor far toda a Sua vontade. A f no verteria uma lgrima por Agag, quando ele foi feito em pedaos perante o Senhor, nem to-pouco choraria por causa de Saul ter sido rejeitado, porque est sempre de harmonia com o propsito de Deus, quer esse propsito abandone ou exalte seja quem for. Mas, ah! existe uma grande diferena entre o sentimentalismo e a f; enquanto o sentimentalismo se deprime em lgrimas, a f eleva-se acima do sentimentalismo e mantm o corao em doce paz.

    conveniente ponderarmos este contraste. Estamos sem- pre prontos a ceder ao sentimentalismo, o qual por vezes verdadeiramente perigoso. Na verdade, visto ser da natureza, deve ser pecado na sua atuao, ou, pelo menos, deve flutuar numa corrente diferente dos pensamentos do Esprito de Deus. Ora, o remdio eficiente contra a atuao peca- minosa do sentimentalismo uma convico forte, profunda, e permanente na realidade dos propsitos de Deus.

    Em vista disto, o sentimentalismo murcha e morre, en- quanto que a f vive e floresce na atmosfera do propsito de Deus. A f diz, graas te dou, Pai, por todos os acontecimentos e circunstncias, propsitos e desgnios, os

  • DAVID UNGIDO

    quais, sob todos os aspectos, do o golpe de misericrdia em todas as emoes do sentimentalismo. Este princpio pre- cioso mostrado do modo mais impressionante no versculo j reproduzido, at quando ters d de Saul. .. enche o teu vaso de azeite, e vem; enviar-te-ei a Jess, o belemita; porque de entre os seus filhos me tenho provido de um rei. Sim, at quando ters d? Esta a questo. O sofri- mento humano tem de continuar at o corao encontrar repouso nos recursos preciosos do bendito Deus. Os muitos espaos vazios que os acontecimentos humanos deixam no corao s podem ser cheios pelo poder da f naquela pala- vra preciosa, tenho-me provido. Isto resolve realmente todas as coisas. Limpa as lgrimas, alivia as dores, e enche o vcuo do corao. Logo que o esprito descansa na provi- so do amor de Deus acabam todas as lamentaes. Pos- samos ns conhecer o poder e a aplicao desta verdade; possamos ns saber o que importa termos as nossas lgri- mas limpas, e o nosso vaso cheio da convico da poro sbia e misericordiosa do nosso Pai celestial. Isto uma bno rara; difcil chegar-se inteiramente acima da regio do pensamento e sentimentos humanos. At mesmo Samuel argumentou com a ordem divina e manifestou demora em seguir o caminho da simples obedincia. O Senhor disse, vai; porm, Samuel disse: Como irei eu? Que estranha pergunta! E todavia como ela revela inteiramente o estado do corao humano! Samuel tinha-se afligido por causa de Saul, e, agora, ao ser-lhe dito para ir ungir outro para ocupar o seu lugar, a sua resposta : Como irei eu? Ora, podemos estar certos de que a f nunca diz isto. A palavra como no existe no vocabulrio da f. No, to depressa a ordem divina marca a senda, a f voa atravs dela, em obedincia, indiferente s dificuldades.

    Todavia, o Senhor, em misericrdia terna, foi com o Seu servo nas suas dificuldades. Ento disse o Senhor: Toma uma bezerra das vacas em tuas mos, e dize: Vim para sacrificar ao Senhor.

  • DAVID UNGIDO

    De entre os filhos de Jess parece ter havido alguns dos mais belos exemplares da natureza - alguns que Samuel, se fosse autorizado a fazer o seu prprio juzo, teria esco- lhido para sucessores no trono de Israel. E sucedeu que, entrando eles, viu a Eliab, e disse: Certamente est perante o Senhor o seu ungido. Mas no era assim. O atrativo natural no tinha nada que ver absolutamente com a escolha do Senhor. Ele v o que est atrs da aparncia dos homens e das coisas, e julga segundo os Seus princpios infalveis. Vemos alguma coisa do esprito altivo e presunoso de Eliab no captulo 17 de I Samuel. Mas o Senhor no tem confiana nas pernas dum homem, e assim Eliab no era o Seu vaso escolhido. digno de nota vermos Samuel to ocupado neste captulo. A sua lamentao por Saul - a sua recusa, ou, antes, a sua hesitao para ir ungir David -, o seu engano acerca de Eliab, tudo mostra como ele estava afastado dos caminhos de Deus. Como solene a Palavra de Deus: No atentes para a sua aparncia, nem para a altura da sua estatura, porque o tenho rejeitado, porque o Senhor no v como v o homem, pois o homem v o que est diante dos olhos, porm o Senhor olha para o corao. H uma grande diferena entre a aparncia-exterior e o corao.

    At mesmo Samuel teria sido enredado por aquela se o Senhor no tivesse intervindo graciosamente para lhe ensi- nar o valor deste. No atentes para a sua aparncia. Pala- vras memorveis! Ento chamou Jess a Abinadab: e o fez passar diante de Samuel, o qual disse: Nem a este tem escolhido o Senhor. Ento Jess fez passar a Sama: porm disse: To-pouco a este tem escolhido o Senhor. Assim fez passar Jess a seus sete filhos diante de Samuel: porm Samuel disse a Jess: O Senhor no tem escolhido a estes. Assim a perfeio, de fato, da natureza passou perante o profeta, mas foi tudo em vo; a natureza no podia produzir coisa alguma para Deus ou o Seu povo. E, o que ainda mais estranho, Jess no pensou em David em tudo isto. O jovem rubro encontrava-se na solido das montanhas

  • DAVID UNGIDO

    com as ovelhas, e no foi lembrado nesta inspeo da descendncia da natureza. Mas, ah! os olhos do Senhor esta- vam postos neste jovem desprezado e viam nele aquele que havia de ficar na linha mediante a qual, segundo a carne, Cristo havia de vir, para ocupar o trono de David e reinar sobre a casa de Israel para sempre. Na verdade, o Senhor no v como v o homem, porque Deus escolheu as coisas fracas deste mundo para confundir as fortes; e Deus esco- lheu as coisas vis deste mundo, e as desprezveis, e as que no so, para aniquilar as que so: para que nenhuma carne se glorie perante Ele (I Cor. 1 :27 -29). Se Eliab, ou Samma, ou Abinadab, ou algum dos sete filhos de Jess tivesse tido o olio da uno derramado sobre a sua cabea, a carne podia gloriar-se na presena de Deus; porm, logo que David, o esquecido David, aparece em cena, vemos nele um que daria toda a glria quele que ia pr o cetro em sua mo. Numa palavra, David aparece perante ns como o smbolo assinalado do Senhor Jesus, que, quando apareceu entre os homens, foi desprezado, menosprezado e esquecido. E posso acrescentar, que veremos, medida que estudarmos a histria de David, o modo como ele simboliza notvel- mente o verdadeiro amado de Deus.

    Disse mais Samuel a Jess: Acabaram-se os mancebos? E disse, ainda falta o menor, e eis que apascenta as ovelhas. Disse pois Samuel a Jess: envia e manda-o chamar, por- quanto no nos assentaremos em roda da mesa at que ele venha aqui ... e era ruivo e formoso de semblante e de boa presena: e disse Senhor: levanta-te, e unge-o, porque ESTE MESMO . Ainda falta o menor! Certamente ele no podia ser o eleito, pensou Jess. O homem no pode compreender os caminhos de Deus. O prprio instrumento que Deus est prestes a usar esquecido ou desprezado dos homens. Levanta-te, unge-o, porque este mesmo . Pala- vras sublimes! perfeita resposta aos pensamentos de Jess e Samuel!

  • DAVID UNGIDO

    E como agradvel vermos qual era a ocupao de David: eis que apascenta as ovelhas. Isto lembrado mais tarde pelo Senhor, quando disse a David, Eu te tomei da malhada, de detrs das ovelhas, para que fosses o chefe sobre o meu povo, sobre Israel (II Sam. 7 :8). Nada pode exem- plificar to agradavelmente o exerccio real como o traba- lho dum pastor. Com efeito, quando no executado com o esprito de pastor, falha o seu objetivo. O rei David com- preendeu inteiramente isto, como pode ver- se nestas pala- vras tocantes: Estas ovelhas, que fizeram? (II Iam. 24: 17) . O povo eram ovelhas do Senhor, e ele, como o pastor do Senhor, guardava-as nos montes de Israel, do mesmo modo que tinha guardado as ovelhas de seu pai no retiro de Belem. O seu carter no foi alterado quando trocou a malhada das ovelhas pelo trono, e o cajado pelo ceptro. No; ele era ainda o pastor, e sentia-se responsvel pela proteco do rebanho do Senhor contra os lees e os ursos, que sempre rondam o rebanho. A aluso proftica ao ver- dadeiro David tocante e encantadora. Eu livrarei as mi- nhas ovelhas, para que no sirvam mais de rapina, e julga- rei entre gado mido e gado mido. E levantarei sobre elas um s pastor, e ele as apascentar: o meu servo David que as h de apascentar; ele lhes servir de pastor. E eu, o Senhor, lhes serei por Deus, e o meu servo David ser prncipe no meio delas: eu, o Senhor, o disse (Eze. 34 :2224). E, sem dvida, as palavras do Senhor, em Joo 6:39, diziam mais ou menos respeito ao Seu carter de pastor. E a vontade do Pai que me enviou esta: que nenhum de todos aqueles que me deu se perca, mas que o ressuscite no ltimo dia. um grande princpio da ver- dade, independentemente do Seu amor pessoal- to mara- vilhosamente manifestado na vida e na morte. O Senhor Jesus, na passagem memorvel acima reproduzida, apresen- ta-Se como aquele que responsvel - voluntriamente, sem dvida - para com o Pai, como guardador de cada membro do amado e valioso rebanho, atravs de todas as

  • DAVID UNGIDO

    vicissitudes da sua carreira, e at mesmo na prpria morte, e de apresent-lo na glria da ressurreio, no ltimo dia. Tal o Pastor em Cujas mos o Pai nos confiou; e oh! como Ele providenciou para ns para o tempo e a eterni- dade, colocando-nos nas Suas mos - as mos de um Pas- tor vivo, amoroso, e todo poderoso, Cujo amor as muitas guas no podem apagar, e Cujo poder nenhum inimigo pode transtornar -, que segura na Sua mo as chaves da morte e do inferno, e que estabeleceu o Seu direito tutela do rebanho dando a Sua vida por ele. Na verdade, podemos dizer, O Senhor o meu Pastor, nada me faltar. Como podemos ns ter falta de alguma coisa se Jesus Quem nos alimenta? Impossvel. Os nossos coraes nscios podem, por vezes, desejar alimentarem-se com pastagens nocivas, e o nosso Pastor pode ter de demonstrar o Seu cuidado gra- cioso negando-nos o seu uso, porm uma coisa certa, que queles a quem Jesus alimenta no faltar coisa alguma boa.

    Existe alguma coisa no carter do Pastor que parece estar em perfeita harmonia com a mente divina, tanto mais que encontramos o Pai, o Filho e o Esprito agindo todos nesse carter. O Salmo 23 pode ser encarado primeira- mente como sendo a experincia de Cristo deleitando-Se na certeza do cuidado pastoril de Seu Pai. E em Joo 10, ve- mos o Filho apresentar-Se como o bom Pastor. E por ltimo, em Atos 20 e I Pedro 5 encontramos o Esprito Santo atuando nessa bendita capacidade levantando e habilitando os pastores subordinados para a obra. edificante notar-se isto. prprio de Deus apresentar-Se num parentesco cari- nhoso e calculado para ganhar a nossa confiana e atrair as nossas afeies. Bendito seja para sempre o Seu nome! Os Seus caminhos so todos perfeitos; no h ningum como Ele.

    Quero chamar a ateno do leitor para o contraste entre as circunstncias em que Samuel encontrou David e aquelas em que achou Saul. O leitor lembrar-se- que Saul buscava as jumentas de seu pai, quando se encontrou com Samuel.

  • DAVID UNGIDO

    No pretendo interpretar este fato, mas apenas referi-Ia aqui. Creio que significativo, no sentido do mal; do mesmo modo que a ocupao de David, no redil, era expressiva da sua carreira futura como pastor de Israel. Quando vemos David apascentando as ovelhas de seu pai nas montanhas, esquecido ou pouco lembrado no crculo dos seus irmos, somos levados a procurar alguma coisa correspondente na sua futura carreira: e no ficamos desapontados. Precisa- mente do mesmo modo, quando vemos Saul em busca das jumentas de seu pai, somos levados a procurar alguma coisa correspondente no seu carter e hbitos, mais tarde.

    As circunstncias triviais ensinam-nos por vezes muito. A solicitude terna e afetuosa de David pelo rebanho, e o esquecimento de si prprio, podem ser vistos nas circuns- tncias em que, ele nos aparece; e, por outro lado, o esp- rito ambicioso e egosta de Saul pode ser visto no fim do seu encontro com Samuel. Contudo, deixo apenas estas su- gestes com o leitor para que as possa usar como o Senhor o guiar, lembrando-lhe apenas que nada que o Esprito tenha registrado acerca daqueles que nos aparecem em seme- lhante contraste pode ser insignificante; os quais, cada um no seu lugar, ocuparam um lugar no importante na his- tria do povo de Deus.

    Apenas podemos dizer: bendita a graa que levantou um para ser dominador do seu povo, cujos traos de ca- rter eram bem-aventuradamente adaptados ao seu trabalho. Ento Samuel tomou o vaso do azeite e ungiu-o, no meio de seus irmos; e desde aquele dia em diante o Esprito do Senhor se apoderou de David. Deste modo, pois, David aparece perante ns como o ungido do Senhor, e podemos agora segui-l o em todos os seus desvios e vicissitudes, ao mesmo tempo que era rejeitado dos homens e esperava pelo reino.

  • DAVI E O VALE DO CARVALHO

    Logo que o azeite da uno foi derramado sobre a ca- a de David, ele foi chamado da sua solido para estar pe- rante o rei Saul, agora abandonado de Deus e perturbado por um esprito mau. Este homem infeliz necessitava das notas calmantes da harpa de David para dissipar a influn- cia horrenda do esprito que agora o perseguia dia a dia. Desgraado homem! Recordao triste dos resultados duma carreira obstinada!

    Contudo, David no hesitou ocupar o lugar de servo, at mesmo na casa daquele que havia mais tarde de se reve- lar o seu maior inimigo. Era-lhe indiferente o lugar onde servia ou o que fazia: quer fosse guardar o rebanho de seu pai dos lees e dos ursos, ou afugentar um esprito mau de Saul. De fato, no prprio momento em que comea a his- tria de David, ele aparece como um servo, pronto para todo o servio, e o Vale do Carvalho d-nos um exemplo notvel do seu carter de servo.

    Saul parece no ter tido a mnima idia de quem era aquele que comparecia na sua presena, e cuja msica re- frescava o seu esprito perturbado: no sabia que tinha na sua presena o futuro rei de Israel. ... Saul... o amou muito, e foi seu pajem de armas. O egosta Saul empre- gava com alegria os servios de David, embora estivesse pronto a derramar o seu sangue quando compreendeu quem ele era.

  • O VALE DO CARVALHO

    Mas voltemos a nossa ateno para os acontecimentos profundamente interessantes do Vale do Carvalho.

    E os filisteus ajuntaram os seus arraiais para a guerra. Nestas palavras encontramos alguma coisa destinada are velar o verdadeiro carter e o valor de Saul e de David, o homem formal e o homem de poder. a provao que revela a realidade dos recursos do homem. Saul j havia sido experimentado, porque ... todo o povo veio atrs dele, tremendo (I Sam. 13 :7); nem to-pouco nesta ocasio ele ia mostrar-se um condutor enrgico. Um homem abando- nado por Deus e atormentado por um esprito mau estava pouco apto a conduzir um exrcito para a batalha, ou a en- frentar, por si s, o poderoso gigante Golias.

    A batalha do Vale do Carvalho tornou-se excessivamente peculiar pelo desafio, por parte de Golias, para se decidir a contenda por um combate individual; era o verdadeiro meio de um individuo se tornar notvel. No era, como em casos normais, uma luta de exrcito contra exrcito, mas sim uma questo de quem, de entre todo o arraial de Israel, se aventuraria a enfrentar o terrvel inimigo incircunciso. Com efeito, evidente que o bendito Deus estava prestes a mostrar a Israel, outra vez, que, como povo, eles eram intei- ramente impotentes, e que a sua nica libertao, como anti- gamente, era o brao do Senhor, que estava ainda pronto a actuar no Seu carter maravilhoso de varo de guerra, desde que a f o reconhecesse como tal.

    Durante quarenta dias consecutivos o filisteu apresen- tou-se vista do infeliz Saul e do seu exrcito atacado de terror. E notemos o seu insulto mordaz: - No sou eu filisteu e vs servos de Saul? Desgraadamente, isto era verdade; tinham descido da sua posio elevada de servos do Senhor para se tornarem apenas servos de Saul. Samuel tinha-os prevenido de tudo isto - havia-lhes dito que nada mais seriam seno soldados, padeiros, cozinheiros e confei- teiros do senhor da sua escolha; e tudo isto por no terem contado com o Senhor Deus de Israel, como seu Senhor e

  • O VALE DO CARVALHO

    Rei. Nada, porm, pode ensinar o homem como a amarga experincia; e o escrnio humilhante de Golias mostrava, sem dvida, outra vez a Israel a verdadeira natureza da sua condio debaixo do domnio esmagador dos Filisteus.

    Escolhei de entre vs um homem que desa a mim, disse o gigante. Como estava longe de saber quem estava prestes a ser o seu antagonista. Em toda a sua fora vaidosa da carne, imaginava que nenhum israelita podia enfrent-lo.

    E aqui podemos perguntar, onde estava Jnatas? Aquele que havia agido com f simples e energia (I Samuel 14), porque no estava agora pronto a descer contra este cam- peo? No tenho dvidas, se pensarmos principalmente nas suas aes, que a sua f no era daquele carcter simp Ies, independente, que pode conduzir um homem atravs de todas as dificuldades. O defeito da sua f parece estar nas pala- vras: Se nos disseram assim... A f nunca diz se; s trata com Deus. Quando Jnatas disse, para com o Se- nhor nenhum impedimento h, ele proferiu um princpio precioso da verdade, e que devia lev-lo avante sem ses. Se a alma de Jnatas tivesse descansado simplesmente na competncia de Deus, no teria procurado um sinal. ver- dade que o Senhor deu-lhe graciosamente um sinal, do mesmo modo que havia dado um a Gedeo, tempos antes, porque Ele sempre satisfaz todas as necessidades dos Seus servos.

    Todavia, Jnatas no fez o seu aparecimento no Vale do Carvalho; havia feito, assim parece, o seu trabalho, e agiu segundo a sua competncia; porm, no caso presente, havia necessidade de alguma coisa muito mais profunda do que tudo que Jnatas havia conhecido.

    Contudo, Deus estava preparando secretamente um ins- trumento para esta nova e mais difcil tarefa. E, prezado leitor, no podemos dizer que sempre assim que o bendito Deus procede? Ele treina em segredo aqueles que vai usar em pblico. Familiariza os Seus servos Consigo na soleni- dade do Seu santurio, e faz passar a Sua grandeza perante

  • O VALE DO CARVALHO

    eles, para que deste modo eles possam olhar para as difi- culdades da sua carreira. Aconteceu assim com David. Ele havia estado sozinho com Deus enquanto guardava as ove- lhas no deserto; e a sua alma estava cheia com o pensa- mento do Seu poder; e agora faz o seu aparecimento no Vale do Carvalho com toda a dignidade de renncia prpria de um homem de f. O fracasso humano fora inteiramente provado durante os quarenta dias de jactncia de Golias. Saul nada pde fazer; os trs filhos de Jess nada puderam fazer; at o prprio Jnatas nada pde conseguir. Tudo estava, ou parecia estar, perdido quando o jovem David entrou em cena, vestido do poder d' Aquele que ia deitar por terra a pompa e glria do orgulho do filisteu.

    As palavras de Golias foram transmitidas a David, e nelas ele reconheceu imediatamente um desafio blasfemo ao Deus vivo. Quem, disse ele, , pois, este incircunciso filis- teu para afrontar os exrcitos do Deus vivo? A f de David reconheceu no exrcito amedrontado, que estava perante si, o exrcito do Deus vivo, e fez do caso imediatamente uma questo entre o Senhor e o filisteu. Este fato cheio de instruo. No h mudana alguma de circunstncias que possa roubar a dignidade que o povo de Deus tem aos olhos da f. Podem estar humilhados, aos olhos do homem, como no caso de Israel na presente ocasio, mas nunca podero perder aquilo que Deus lhes d; e por isso David, vendo desanimar os pobres irmos vista do seu terrvel inimigo, pde reconhecer aqueles com quem o Deus vivo Se havia identificado, e que no podiam, portanto, ser derrotados por um filisteu incircunciso.

    Quando a alma est em exerccio, pe-se em ligao di- recta com a graa e fidelidade de Deus, e os Seus prop- sitos para com o Seu povo. verdade que Israel tinha lan- ado toda esta tristeza e humilhao sobre si por meio da sua infidelidade; no era da vontade do Senhor que os israelitas desanimassem na presena do inimigo; era tudo resultado da sua prpria culpa, e a f deve sempre conhecer

  • O VALE DO CARVALHO

    e admitir isto. Ainda assim, a questo esta: quem este incircunciso filisteu? Esta a pergunta da f. No era o exrcito de Saul que ocupava a mente do homem da f. No, era o exrcito do Deus vivo - um exrcito sob o comando do mesmo Capito que havia conduzido as suas hostes atravs do mar Vermelho, pelo deserto terrvel, e por meio do Jordo, Nada menos, nada mais do que isto podia satisfazer a f.

    Porm, como so to pouco compreendidos ou apreciados os atos e as aes da f quando as coisas so humildes entre o povo de Deus! Isto evidente nas pginas da hist- ria de Israel, e, podemos dizer, nas pginas da histria da Igreja, tambm. A conduta de f simples, f infantil, est muito longe da vista humana; e se os servos do Senhor caem num estado baixo, carnal, nunca podero compreen- der o princpio de poder na alma de algum que se conduz realmente pela f. Uma tal pessoa nunca ser compreendida e ser-lhe-o atribudos motivos censurveis; ser acusada de se impor a si prpria ou de agir obstinadamente. Todas estas coisas devem ser esperadas por todo aquele que est na luta quando as coisas esto em declnio. Por falta de f, na maioria dos casos, um homem deixado s, e depois, quando guiado por Deus para atuar, certo ser mal compreendido.

    Foi assim no caso de David. No s foi deixado s numa ocasio de dificuldades, como teve que suportar o escrnio da carne, por meio de Eliab, seu irmo mais velho. E, ouvindo Eliab, seu irmo mais velho, falar queles homens, acendeu-se a ira de Eliab contra David, e disse: Porque desceste aqui? e a quem deixaste aquelas poucas ovelhas no deserto? bem conheo a tua presuno e a maldade do teu corao, que desceste para ver a peleja (I Samuel 17 :28). Este era o critrio de Eliab quanto ao procedimento de David. Ento disse David: Que fiz eu agora? porventura no h razo para isso? David foi levado por uma energia inteiramente desconhecida de Eliab, nem to-pouco teve ele

  • O VALE DO CARVALHO

    a preocupao de se justificar para com o seu orgulhoso irmo. Porque no tinha o prprio Eliab agido em defesa de seus irmos? Porque no tinham Abinadab ou Sama actuado? Simplesmente porque no tinham f. No somente estes trs homens se mostraram incapazes de agir, como toda a congregao estava aterrorizada na presena do ini- migo; e agora que aparecia no seu meio um a quem Deus estava prestes a usar maravilhosamente, ningum pde corn- preend-lo. E David disse a Saul: No desfalea o corao de nino gum por causa dele: teu servo ir, e pelejar contra este filisteu. F preciosa! no h dificuldade que a detenha. Nada pode impedir o seu caminho. O que era o filisteu para David? Nada. A sua imensa altura, a sua armadura formi- dvel, eram apenas circunstncias; e a f nunca olha para as circunstncias, mas espera em Deus. Se a alma de David no estivesse ancorada pela f, ele no teria podido pro- ferir as palavras o teu servo ir; porque, atendei s pala- vras daquele que devia ter sido o primeiro a enfrentar o terrvel inimigo de Israel: Contra este filisteu no poders ir para pelejar com ele. Que linguagem para o rei de Israel! Que contraste entre o homem de governo e o homem de poder! Certamente Saul deveria ter sado em defesa do rebanho que fora confiado ao seu cuidado: mas, ah! ele no se preocupava com Israel, a no ser naquilo em que Israel estava ligado consigo, e por isso o expor-se em favor deles nunca, podemos dizer sem receio, subiu ao seu cora- o egosta; e no somente era incapaz de agir 'e no tinha o desejo de o fazer, como embaraaria de bom grado as energias de quem, nesse mesmo momento, mostrava os frutos desse princpio divino implantado em si, e que em breve provaria estar apto para o cargo elevado que o propsito de Deus lhe havia dado, e para o qual o havia destinado.

    No poders. Sem dvida, mas Deus podia, e David apoiava-se apenas no poder do Seu brao. A sua f lanou mo da competncia d' Aquele que havia a parecido a Josu,

  • O VALE DO CARVALHO

    abaixo dos muros de Jeric, com uma espada desembainhada na Sua mo, como prncipe do exrcito do Senhor. David sentiu que Israel no tinha deixado de ser o exrcito do Senhor, embora tivesse baixado muito daquilo que era nos dias de Josu. No, eles eram ainda o exrcito do Senhor, e a batalha era tanto a batalha do Senhor como quando o sol e a lua pararam no seu curso, a fim de que Josu pudesse executar o juzo de Deus sobre os cananeus. Esta convico fortaleceu o esprito de David, embora Eliab o acusasse de vaidade, e Saul pudesse falar da sua falta de talento.

    Nada h que possa dar tanta energia e poder perseve rante como a compreenso de atuarmos por Deus e que Deus est atuando conosco. isto que remove todos os obstculos, eleva a alma acima das influncias humanas, e tr-Ia para a prpria esfera de poder onipotente. Tenha- mos somente a certeza de que estamos do lado do Senhor, e que a Sua mo est atuando conosco, e nada nos po- der afastar do caminho do servio e testemunho, leve-nos onde nos levar. Posso todas as coisas, disse o apstolo, n' Aquele que me fortalece. (Fil, 4:13). E tambm, De boa vontade, pois, me gloriarei nas minhas fraquezas, para que em mim habite o poder de Cristo (11 Cor. 12 :9).

    O crente mais fraco pode fazer todas as coisas por Cristo; porm se a ateno do homem for chamada para este crente fraco, pode parecer presuno falar de poder para fazer todas as coisas. Assim, quando Saul considera David, e o compara com Golias, julga bem quando diz, Contra este filisteu no poders ir para pelejar com ele: pois tu s ainda moo, e ele homem de guerra desde a sua mocidade. Era uma comparao de carne com carne, e, como tal, era per- feitamente correta. Comparar um moo com um gigante no deixa lugar para dvidas quanto aos resultados da compa- rao; contudo ele devia ter comparado a fora de Golias com o poder do Deus dos exrcitos de Israel. Foi isto que David fez.

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    Ento disse David a Saul: Teu servo apascentava as ovelhas de seu pai; e vinha um leo e um urso, e tomava uma ovelha do rebanho; e eu sai aps ele e o feri, e livrei-a da sua boca; e, levantando-se ele contra mim, lancei-lhe mo da barba, e o feri, e o matei. Assim feriu o teu servo o leo, como o urso: assim ser este incircunciso filisteu como um deles, porquanto afrontou os exrcitos do Deus vivo. Este era o argumento da f. A mesma mo que o havia libertado de uma dificuldade livr-lo-ia da outra. No h se em tudo isto. David no esperou por um sinal; ele disse sim- plesmente, teu servo ir. David tinha sentido o poder da presena de Deus com ele em segredo antes de se apresen- tar em pblico como servo do Deus de Israel; e, como algum disse, David no se havia gabado do seu triunfo sobre o leo e o urso; ningum jamais havia ouvido falar nisso antes, nem to-pouco ele teria falado no caso, sem dvida, se no fosse com o propsito de mostrar o funda- mento slido de confiana que tinha a respeito do grande trabalho que estava prestes a fazer.

    Estava desejoso por mostrar que no era na sua prpria fora que ia enfrentar o inimigo. Assim aconteceu com o arrebatamento de Paulo ao terceiro cu; durante catorze anos essa circunstncia permaneceu sepultada como um se- gredo na mente do apstolo, nem ele a teria jamais divul- gado, se os argumentos carnais dos Corntios no o tives- sem compelido a faz-lo.

    Ora estes dois casos so plenos de instruo prtica para ns. Com a maioria de ns, enfim, h uma prontido para falar dos nossos pobres feitos, ou, pelo menos, para pen- sarmos neles, A carne est pronta a gloriar-se em qualquer coisa que possa exaltar a personalidade; e se o Senhor, a despeito do mal em ns, consegue algum pequeno servio por nossa instrumental idade logo rpidamente apregoado num esprito de orgulho e vaidade. muito bom falar-se da graa do Senhor, e termos os nossos coraes cheios de

  • O VALE DO CARVALHO

    grata adorao por isso; porm isto diferente da jactncia quanto s coisas ligadas com a personalidade.

    David, porm, guardou o segredo do seu triunfo sobre o leo e o urso em seu corao, e no o revelou at ao mo- mento apropriado: nem to-pouco ele fala, at mesmo neste momento, de si como tendo conseguido um grande feito, mas diz simplesmente, O Senhor me livrou da mo do leo, e da do urso; ele me livrar da mo deste filisteu, Isto era f preciosa de renncia! - Aquela f que conta com Deus para tudo, e no confia na carne em coisa alguma -, f que conta com Deus em todas as dificuldades, e nos leva, com gratido profunda, a escondermos a personalidade e a dar a glria ao Senhor. Que as nossas almas conheam mais e mais desta bendita f,

    Contudo necessria freqentemente muita simplicidade para descobrir a grande diferena entre a linguagem da f e a linguagem formal e comum da religiosidade. Saul tomou a aparncia e a fraseologia da religio; vemos isto no s na sua histria, como na entrevista que teve com David. A mera religio e a f brilham aqui em contraste notvel. Quando David deu testemunho claro e inequvoco da sua f na presena do Senhor, Saul acrescentou, Vai-te embora, e o Senhor seja contigo. Mas ha! quo pouco ele sabia o que representava David ter o Senhor consigo! Saul parecia confiar no Senhor, mas, na realidade, confiava na sua arma- dura. Se ele tivesse compreendido o que dissera, porque havia de usar a sua armadura? O Senhor seja contigo era, nos lbios de Saul, uma expresso banal! na realidade nada queria dizer, porque no fazia a mnima idia de David ir com o Senhor.

    conveniente acentuarmos e frisarmos o mal do em- prego de palavras que, tanto quanto nos diz respeito, nada querem dizer, mas que apenas importam num gracejo com o nome do Senhor e a verdade. Quantas vezes falamos em confiar no Senhor, quando, na realidade, confiamos em qualquer circunstncia ou nas circunstncias. Quantas vezes

  • o VALE DO CARVALHO

    falamos em viver dia a dia em simples dependncia de Deus, quando a verdade que, se julgarmos a condio positiva das nossas almas diante de Deus, estamos esperando nal- guma origem humana ou terrena de suprimento. um mal triste, contra o qual devemos vigiar cuidadosamente. Foi isto precisamente que Saul mostrou, quando, depois de ter feito uso da expresso aparentemente devota O Senhor seja contigo, disps-se a vestir David dos seus vestidos, e ps- -lhe sobre a cabea um capacete de bronze: e o vestiu de uma couraa. No fazia outra idia seno de que David devia lutar do modo vulgar. Sem dvida, isto era feito em nome do Senhor; contudo, Sau1 pensou que David devia usar meios.

    Mas o fato que ns muitas vezes falamos em usar meios, quando a verdade que pomos Deus inteiramente de parte; professamos empregar meios, em dependncia de Deus, e, na realidade, usamos apenas o nome de Deus em dependncia dos meios. Isto virtualmente, e segundo o juzo da f, fazer um deus dos nossos meios. O que isto seno idolatria? Em que depositava Saul mais confiana, no Se- nhor ou na armadura? Na armadura, sem dvida; e assim com todos aqueles que no andam verdadeiramente por f; apeiam-se nos meios, e no em Deus.

    O leitor perceber, incontestavelmente, como tudo isto est de acordo com o ttulo deste livro, isto : Exemplos da Vida da F.

    Dificilmente poderemos tratar de algum ponto do nosso assunto mais importante do que aquele que sugerido pela cena interessante que vamos agora considerar. O homem dos meios e o homem da f esto realmente diante de ns, e ns percebemos imediatamente como o ltimo est longe de agir segundo os meios. Os meios so para ser usados, sem dvida, mas s aqueles que so perfeitamente consistentes com a aco bendita e plena da f, e tambm com a glria ima- culada do Deus de todo o poder e graa. Ora David sentiu que os vestidos de Saul e a sua couraa no representavam

  • O VALE DO CARVALHO

    esses meios, e portanto recusou-os. Se ele tivesse partido com eles, a vitria no teria sido to claramente do Senhor. Mas David havia confessado a sua f na libertao do Se- nhor, e no na armadura de Saul. Verdade seja que deve- mos usar meios; porm tenhamos muito cuidado que os meios no ponham Deus de parte (1).

    E David cingiu a espada sobre os seus vestidos, e co- meou a andar; porm nunca o havia experimentado: ento disse David a Saul: No posso andar com isto, pois nunca o experimentei. E David tirou aquilo de sobre si. Liber- tao feliz dos estorvos miserveis do expediente humano! Tem-se dito, e muito bem, que o perigo para David no foi quando se encontrou com o gigante, mas quando se viu ten- tado a usar a armadura de Saul. Se o inimigo tivesse sido bem sucedido em o induzir a ir com ela, tudo estava per- dido; mas, mediante a graa, ele rejeitou-a, e assim entre- gou-se inteiramente nas mos do Senhor, e ns sabemos qual a segurana quc encontrou nelas. isto que a f sem- pre faz: deixa tudo, inteiramente, ao cuidado de Deus. No se trata de confiar no Senhor e na armadura de Saul, mas somente no Senhor.

    E no podemos ns aplicar este princpio ao caso de um pobre pecador desamparado, a respeito do perdo dos seus pecados? Creio que sim. Satans procura tentar o pecador a acrescentar alguma coisa obra consumada de Cristo- alguma coisa que diminua a glria do Filho de Deus como o nico Salvador de pecadores. Ora queles que assim fazem eu gostaria de dizer que seja o que for que se acrescente obra de Cristo s consegue inutiliz-la. Se fosse permitido juntar-lhe alguma coisa, ento certamente que a circunciso teria sido admitida, visto ser uma ordenao de instituio

    (') A f espera em Deus, e consente que Ele use quaisquer meios que lhe agradem. No pede a Deus para abenoar os nossos meios, mas consente que Ele use os Seus prprios meios.

  • O VALE DO CARVALHO

    divina; porm, o apstolo diz: Eis que eu, Paulo, vos digo que, se vos deixardes circuncidar Cristo de nada vos apro- veitar. E de novo protesto a todo o homem que se deixa circuncidar que est obrigado a guardar a lei. Separados estais de Cristo, vs, os que vos justificais pela lei; da graa tendes cado (Gal. 5:2 a 4,) _ Em resumo: devemos ter, por tanto, somente Cristo; e no Cristo e as nossas obras, mas simplesmente Cristo, porque Ele suficiente; no precisamos de nada mais, e no podemos passar com menos. Desonra- mos a suficincia do Seu sacrifcio expiatrio sempre que procuramos ligar alguma coisa nossa com ele, precisamente como David teria desonrado o Senhor indo ao encontro do gigante filisteu com a armadura de Saul.

    Sem dvida, muitos israelitas considerados como pru- dentes teriam condenado aquilo que lhes parecia precipi- tao descarada daquele moo; de fato, quanto mais expe- rimentado um homem fosse na arte da guerra tanto mais pronto estaria a condenar o modo de proceder do homem de f. Porm, David sabia em quem tinha crido - sabia que no era a precipitao que o impelia, mas a f simples na vontade e no poder de Deus para o socorrer. Talvez, poucos, no exrcito de Saul, conhecessem a fraqueza de David como ele prprio a conhecia nesse momento de provao. Embora os olhos de todos estivessem postos nele como aquele que tinha muita confiana em si mesmo, contudo ns sabemos o que era que sustinha o seu corao, e dava fir- meza aos seus passos, medida que avanava para enfren- tar o terrvel inimigo. Sabemos que o poder de Deus estava ali to real como quando as guas do mar foram divididas para abrir um caminho para os remidos passarem; e quando a f pe o poder de Deus em ao nada pode opor-se no caminho, nem por um momento.

    Eis a armadura de David. E tomou o seu cajado na mo, e escolheu para si cinco

    seixos do ribeiro, e p-los no alforje de pastor, que trazia, a saber: no surro, e lanou mo da sua funda: e foi-se che-

  • O VALE DO CARVALHO

    gando ao filisteu. Vemos, assim, que David usou meios; mas ah! que meios! Que desdm mostrou David pela arma- dura importante do seu inimigo! Como a sua funda devia ter sido um contraste com a lana do Golias, como se ela fosse a lana de um tecelo! De facto, David no podia ter infligido um golpe mais profundo no orgulho do filisteu do que vir contra ele com tais armas. Era simplesmente escarnecer da sua pesada armadura. Golias sentiu isto mesmo. Sou eu algum co ... ?, disse ele. No importa, no juzo da f, o que ele era; co ou gigante, ele era um ini- migo do povo de Deus, e David ia frit-lo com as armas da f.

    David, porm, disse ao filisteu: tu vens a mim com espada e com lana, e com escudo; porm eu venho a ti em nome do Senhor dos exrcitos, o Deus dos exrcitos de Israel, a quem tens afrontado. Hoje mesmo o Senhor te entregar na minha mo... e toda a terra saber que h Deus em Israel. E saber toda esta congregao que o Se- nhor salva, no com espada, nem com lana; porque do Senhor a guerra, e ele vos entregar na nossa mo (2). Aqui temos o verdadeiro objetivo do homem de f, a saber: que Israel e toda a terra possam ter uma prova gloriosa do poder e da presena de Deus no meio do Seu povo. O que alis nunca teriam tido se David tivesse usado a arma- dura de Saul. No teriam sabido que o Senhor salva no com espada nem com lana se ele as tivesse usado, e a sua luta teria sido apenas como qualquer outra. Porm, a funda e os seixos no deixaram lugar para dvidas quanto origem do poder da vitria (3).

    (') Veja-se o captulo 2 de Estudos sobre o Livro de Gnesis quanto distino das expresses Senhor e Deus - Jeov e Elohim.

    (') interessante notar as palavras de David. No diz, venho a ti com uma funda e uma pedra, mas, sim, em nome do Senhor dos exrcitos. Para si os meios nada representavam: mas Deus era tudo.

  • O VALE DO CARVALHO

    A f honra sempre a Deus, e Deus honra sempre a f. David, como tivemos ocasio de frisar, ps-se nas mos de Deus, e o feliz resultado disso foi a vitria completa e glo- riosa. Assim David prevaleceu contra o filisteu, com uma funda e com uma pedra, e feriu o filisteu, e o matou, sem que David tivesse uma espada na sua mo.

    Que triunfo magnfico! Fruto precioso de f simples em Deus! Como deve encorajar o corao a afastar de si toda a confiana carnal, e apegar-se verdadeira origem do po- der. David foi o feliz instrumento usado para libertar os seus irmos das ameaas atormentadoras e terrveis do filis- teu incircunciso; viera da vida pastoril ao seu meio, desco- nhecido e desprezado, embora fosse o rei ungido de Israel; fora com as mos vazias ao encontro do inimigo da congre- gao; prostrara-o e exibira-o publicamente; e tudo isto, no se esquea, como servo de Deus, e servo de Israel, na ener- gia da f que as circunstncias no podiam mover. Foi uma libertao gloriosa, ganha por um s golpe: sem manobras de exrcitos ou talento de generais ou proezas de soldados. No; um seixo de um ribeiro, arremessado pela mo de um pastor, arrumou todo o assunto. - Foi a vitria da f. ... Vendo ento os filisteus que o seu campeo era morto fugiram. Como so vs aquelas esperanas que so ba- seadas nos recursos falveis da carne, na sua maior fora e energia!

    Quem de entre aqueles que viram o gigante e o jovem prestes a entrarem em luta no teria tremido pela sorte deste? Quem poderia ter imaginado que toda aquela arma- dura nada seria para uma funda e uma pedra? E todavia vde o fim. O campeo dos filisteus caiu, e com ele caram todas as esperanas que acarinhava. Ento os homens de Israel e de Jud se levantaram c jubilaram, e seguiram os filisteus. Bem podiam eles jubilar, porque Deus ia adiante deles, para os libertar do poder dos seus inimigos. O Senhor havia operado poderosamente por mo daquele que eles no

  • O VALE DO CARVALHO

    conheciam, nem reconheciam, como seu rei ungido, mas cuja graa moral podia atrair os coraes.

    Porm, de entre os muitos milhares dos que viram a vitria, lemos de um cuja alma foi atrada em ardente afeio pelo vencedor. Os mais irrefletidos devem ter sido despertados com admirao pela vitria; e, sem dvida, a vitria atingiu os indivduos de modos diferentes. Podemos dizer dela, em certo sentido, que os pensamentos de muitos coraes foram revelados. Alguns tinham inveja, outros revelavam admirao; uns descansavam na vitria, outros confiavam, ainda, no instrumento da vitria; havia aqueles cujos coraes foram atrados para o Deus dos Exrcitos de Israel, que mais uma vez viera ao meio deles com uma espada desembainhada na Sua mo. Todavia, houve um corao dedicado que foi poderosamente atrado pela pessoa do vencedor, e este foi Jnatas. E sucedeu que, acabando ele de falar com Saul, a alma de Jnatas se ligou com a alma de David: e Jnatas o amou como sua prpria alma (I Samuel 18:1).

    Sem dvida Jnatas participou inteiramente da alegria de todos com o triunfo de David; contudo, no foi apenas o triunfo, mas a pessoa do vencedor que atraiu as afeies profundas da alma de Jnatas. Saul podia egoisticamente procurar reter David consigo, no porque sentisse amor por ele, mas simplesmente para se exaltar a si prprio. No aconteceu assim com Jnatas: ele amava realmente a David, e no era sem razo. David havia preenchido uma lacuna no seu corao, e tirara um fardo do seu esprito. Fora sentida uma grande falta. O desafio do gigante tinha, me- dida que era repetido diriamente, revelado a pobreza de Israel. Os olhos podiam percorrer de alto abaixo as fileiras em busca de algum que fosse capaz de enfrentar a neces- sidade urgente, mas no havia ningum.

    Ouvindo as palavras do gigante, todos os homens de Israel, vendo aquele homem, fugiam de diante dele, e temiam grandemente. Todos fugiam quando ouviam as suas pa-

  • O VALE DO CARVALHO

    lavras e viam a sua estatura. Era terrvel, portanto, o vazio deixado nos coraes nesta ocasio grave: e quando um en