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Exercício Etnográfico David Conceição

David conceição: exercício etnográfico

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Apresentação do 1º exercício etnográfico de Metodologias de Investigação I, Mestrado em Design da Imagem, FBAUP.

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Exercício Etnográfico David Conceição

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Palavra-Chave visual: Sagacidade

Análise Preliminar: A imagem é um busto de uma raposa, que surge de um fundo escuro. O tenebrismo da cena leva-nos a procurar distinguir mais detalhes, embora apenas possamos ver a parte frontal do animal. Não é possível perceber se a raposa está sentada ou de pé. Vemos apenas o necessário para a identificarmos como tal e o resto dos elementos dissolvem-se na escuridão.

Narrativa Interna: As raposas demonstram um engenho e uma astúcia natural, que deu azo à construção da sua simbologia como um ser astuto. Na heráldica medieval simboliza alguém com grandes recursos intelectuais e com a capacidade de os utili-zar eficazmente. Podemos estabelecer um paralelo entre a Raposa e a personalidade do herói grego Ulisses, ou a figura manhosa e brincalhona do Arlequim. Embora esta ilustração represente uma raposa de modo realista e concreto, não conseguimos deixar de retirar essa sensação do carácter ardiloso do animal pela sua fisionomia: as orelhas, o nariz fino e acima de tudo os grandes olhos frontais, típicos de um animal predador. A elaboração detalhada e subtil da pelagem remete-nos também para a ele-gância desta criatura, uma aparente mistura de canídeo e de felino.

Narrativa Externa: Ilustração Científica de um espécime “Vulpes Vulpes” (Raposa Comum) executada para o IllustraCiéncia – Prémio de Ilustração Científica, catego-ria de Estudante. Material: Tinta-da-china e aguarela sobre scratchboard. Dimensões: 297×420mm. Data: 2015

Conclusão: Embora não tendo uma mente racional como a nossa, a raposa sabe dominar. É um ser que evoluiu para sobreviver a todo o custo explorando e caçando de forma oportunista no seu habitat. Não procura condições ideais no seu habitat – cria-as intuitivamente. Neste sentido a raposa poderá ser um símbolo do génio estra-tégico, que faz uma gestão criativa dos recursos.

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Palavra-Chave visual: Curiosidade

Análise Preliminar: De modo semelhante ao exemplo anterior, vemos agora um guaxinim espreitar para nós de um buraco numa árvore. Novamente, reconhecemos o animal como tal pelos elementos essenciais da sua cabeça e focinho, estando o res-to ocultado na escuridão.

Narrativa Interna: Os guaxinins têm um temperamento inquisitivo e irrequieto. Não se afastam do contacto humano ao contrário das outras espécies , “invadem” e “pilham” frequentemente o território humano em busca de comida. Através desta ilustração temos a impressão do carácter curioso do animal pelo seu olhar. Sendo uma imagem imperfeita, podemos considerar também que a face incompleta e obs-curecida da esquerda, em conjunto com a face direita detalhada estabelecem uma dualidade na personalidade da criatura – ou poderá ainda reportar-nos à ligação do consciente com o inconsciente, raciocínio v.s impulso.

Narrativa Externa: Ilustração Científica de um espécime “Procyon Lotor” (Guaxi-nim ou Urso-Lavador) executada em scratchboard. Produzido sob orientação de Pedro Salgado no seu workshop de Ilustração Científica. Material: Tinta-da-china sobre scratchboard. Dimensões: 229×152 mm Data: 2012

Conclusão: O guaxinim não possui simbologia subjacente, portanto podemos inscrevê-lo na simbologia de uma mente curiosa e inquisitiva, que explora e estuda continuamente o seu ambiente em busca de algo.

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Palavra-Chave visual: Organicismo

Análise Preliminar: É uma imagem “de abertura”, concebida para marcar o tempera-mento visual da banda-desenhada. Imagem densa, com cenas dentro de cenas – micronarrativas paralelas. Emaranhado de formas ondulantes, floridas e orgânicas. O protagonista e restantes personagens relevantes surgem como um dramatis personae; jogam-se com as escalas e o grau de detalhe.

Narrativa Interna: As formas assimétricas reportam-nos à harmonia e variabilidade da natureza, à teoria do caos, o fractal, o sentido de ordem “imprevisível ” no mundo natural. As frutas e flores são tradicionalmente símbolos de prosperidade e abundân-cia – os recursos infinitos da natureza. Também nos reportam ao carácter cíclico das plantas e dos seres-vivos, as estações. Personagens principais surgem como os “heróis” da composição, são flanqueados pelos arabescos e surgem de modo quase “triunfal” do conjunto. O Japonismo do traço poderá ser entendido como um diálogo com o Outro, o Incógnito, através do desenho Orientalista executado por uma consciência Ocidental. Surgem ainda pequenas figuras bélicas, reflexo talvez de conflitos interiores ou do confronto entre a razão humana e a intuição animal.

Narrativa Externa: Narrativa Externa: Frontispício Inicial produzido para a banda--desenhada auto-iniciada “Black Bird”. Narrativa Visual que cruza o barroco italiano, o rococó francês, a manga japonesa e a ligne-claire franco-belga. Material: Tinta-da-china sobre papel Bristol. Dimensões: 297×420mm Data: 2013

Conclusão: É uma imagem de cariz humanista, concebe a Natureza como um siste-ma vivo e mutável e inscreve o ser humano na sua hierarquia. Revela também a ten-são entre ambos.

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Palavra-Chave visual: Microcosmo

Análise Preliminar: Após o plano aproximado das flores, imediatamente somos con-frontados com uma mulher e uma idosa, que se encontram entre nós e as flores. Vemo-las depois, no interior de uma loja de rua. Porém na cena seguinte a loja situa--se de facto num canal. Por fim, descobrimos que a loja faz parte de uma vista de Amsterdão num museu, com o público a olhar simultaneamente para a obra e para nós. O castanho reporta-nos a Rembrandt, à memória colectiva e cultural neerlandesa.

Narrativa Interna: Existe em toda a imagem um desdobramento visual crescente. Se no início a enfâse é nas flores, vemos depois as mesmas como adereço de um con-junto humano que por sua vez não passam dos minúsculos habitantes de um fragmen-to do Universo. A construção de imagem dentro de imagem lembra-nos a ideia de microcosmo e macrocosmo. A mulher e a idosa podem também ser entendidas como elementos geracionais da espécie humana, novamente o carácter cíclico da Nature-za e dos seres vivos. O público que se interpõe entre nós e a cena do quadro criam um mecanismo brechtiano que joga com a ambivalência e multidimensionalidade de olhares e pontos de vista. Eles são o público, mas e nós?

Narrativa Externa: Prancha integrante da narrativa visual Amster/Douro. Utiliza um artifício visual de cena dentro de cena. A composição parte de uma referência foto-gráfica (Heloísa Barreira) que é assumida como mote da cena. Material: Tinta-da-

-china e tinta de Anilina castanha sobre papel Vellum. Dimensões: 210×297mm

Conclusão: Embora o mundo nos pareça um “theatrum mundi”, um palco onde nós somos intervenientes, não será mais correcto dizer que somos apenas um pormenor elementar da composição universal? O ser humano é observador ou agente?

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Cruzamento de Conclusões: O universo natural surge como modelo nas primei-ras três imagens. Encontram-se criaturas com uma semiótica rica, alusiva à capacida-de intelectual e cognitiva do ser-humano – o carácter curioso, astuto e exploratório da nossa espécie, a nossa capacidade de podermos potenciar o nosso conhecimento pela nossa incessante perscrutação do Universo e de todas as suas partes. Esta relação todo/partes surge também nas duas últimas imagens, onde se explora a relação entre a Humanidade e a Natureza, o lugar dos seres humanos no Universo. Estaremos no centro? Ou seremos apenas mais um elemento? Na tensão entre Microcosmo e Macrocosmo, pode o esforço de vários indivíduos ser reflexo de uma harmonia uni-versal? Podemos considerar o indivíduo como elo activo de um conjunto orgânico e esse conjunto de indivíduos ser por sua vez integrado num sistema variável mas harmonioso. Deste modo podemos inferir que um espaço como o INESC se pode conceber como um organismo vivo, um ecossistema onde todas as suas partes são activas e geradoras e onde todos indivíduos agenciam e potenciam novos paradig-mas e novos benefícios para toda a Humanidade – Um espaço laboratorial poderá assim ter o carácter livre, aberto e operativo do atelier e não o do ambiente opressi-vo de uma fábrica ou o vazio de um não-lugar.

Balizas de Investigação: INDIVÍDUO, SINERGIA, MICROCOSMO, SISTEMA