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Esta publicação oferece ao leitor uma visão geral dos prêmios realizados nas cidades anteriores, com destaque à cidade do Rio de Janeiro. Um mapa ilustra a distribuição das iniciativas pela cidade, sugerindo um rico reservatório de iniciativas comunitárias que atualmente melhoram o espaço urbano e as vidas de residentes na escala local, fazendo uso de recursos disponíveis e adotando uma abordagem prática. Também descreve o processo de organização do prêmio no sentido de que, desde São Paulo, desenvolveu-se uma plataforma de pesquisa que mapeia e organiza iniciativas sistematicamente. E lista os quatro finalistas da Região Metropolitana do Rio de Janeiro.

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“O espaço urbano como lugar de criação e expressão de inteligências coletivas precisa ser estimulado, como propõe este prêmio, para que os projetos se multipliquem, tornem-se cada vez mais visíveis e exemplares. Num processo contínuo e dinâmico esta iniciativa encoraja o mais importante patrimônio coletivo de uma cidade: sua imaginação criativa.” CristiNa Freire

editorial

A sexta edição do Deutsche Bank Urban Age Award, criado para encorajar iniciativas que aprimorem a qualidade de vida em ambientes urbanos, recebeu 170 inscrições da região metropolitana do Rio de Janeiro. Lançado em Mumbai, em 2007, o Prêmio foi realizado em por São Paulo (2008), Istambul (2009), Cidade do México (2010) e Cidade do Cabo (2012).

Este prêmio foi iniciado para reconhecer e celebrar respostas criativas aos problemas e oportunidades enfrentados por mais da metade da população mundial nas cidades hoje. Por esta razão, enfoca projetos que beneficiam comunidades e residentes locais que estejam aprimorando seus ambientes urbanos. Destina-se a estimular cidadãos, formadores de políticas públicas, empresas privadas e organizações não governamentais a assumirem um papel pró-ativo para forjar responsabilidades partilhadas em cidades no século 21 – a primeira era verdadeiramente “urbana” da humanidade.

Depois de um processo de inscrição aberto, um júri internacional independente concede o prêmio, no valor de 100.000 USD, ao projeto vencedor. O prêmio é organizado pela Alfred Herrhausen Society do Deutsche Bank em associação a LSE Cities (London School of Economics and Political Science).

Esta publicação oferece ao leitor uma visão geral dos prêmios realizados nas cidades anteriores, com destaque à cidade do Rio de Janeiro. Um mapa ilustra a distribuição das iniciativas pela cidade, sugerindo um rico reservatório de iniciativas comunitárias que atualmente aprimoram o espaço urbano e as vidas de residentes na escala local, fazendo uso de recursos disponíveis e adotando uma abordagem prática. Também descreve o processo de organização do prêmio no sentido de que, desde São Paulo, desenvolveu-se em uma plataforma de pesquisa que mapeia e organiza iniciativas sistematicamente. E lista os quatro finalistas da Região Metropolitana do Rio de Janeiro, apresentados pelos membros do júri deste ano.

Todos dividimos a responsabilidade pelo sucesso de nossas cidades, para assegurar um futuro urbano. Com o Deutsche Bank Urban Age Award visamos encorajar as pessoas a trabalharem juntas para assumirem essa responsabilidade por suas cidades.

Queremos tornar visível o invisível, queremos mostrar o potencial que existe nas slums, townships, barrios, gecekondus ou favelas deste mundo, queremos fazer um lobby por aqueles que nunca foram ouvidos.

Ute elisabeth Weiland é vice-diretora da Alfred Herrhausen

Society, fórum internacional do Deutsche Bank, desde 2007, é

membro da Diretoria Executiva das séries de conferência Urban

Age na London School of Economics desde 2004, e desde 1º de

janeiro de 2010 é membro da Diretoria Governante de LSE Cities.

sumário

alfred Herrhausen society Thomas Matussek

Lse Cities Ricky Burdett

O prêmio em seis cidades Mumbai, 2007 São Paulo, 2008 Istambul, 2009 Cidade do México, 2010 Cidade do Cabo, 2012

rio de Janeiro, 2013

iniciativas no mapa Região metropolitana do Rio de Janeiro

rio 2013

Iniciativas selecionadas pelo júri

trabalho de campo Marcos L. Rosa

8

11

15

26

27

28

32

Créditos

Edição

Marcos L. Rosa para a Alfred Herrhausen SocietyDesign

Thomas Manss & CompanyPublicação

Alfred Herrhausen Society

Organizado por

Em associação com

8 Deutsche Bank Urban Age Award Rio 2013

aLFred HerrHaUseN sOCietythomas matussek

Diretor executivo da

Alfred Herrhausen Society

A Alfred Herrhausen Society, uma organização sem fins lucrativos, é o fórum internacional do Deutsche Bank. Seu trabalho é voltado para novas formas de governança como resposta aos desafios do século 21.

A Alfred Herrhausen Society busca traços do futuro no presente, e conceitualiza temas relevantes para análise e debate. Funciona com parceiros internacionais em diversos campos que incluem política, academia e negócios, para organizar fóros para discussão no mundo todo. Forja redes internacionais e constrói instituições temporárias para ajudar a encontrar soluções melhores aos desafios globais. Tem como alvo os futuros tomadores de decisão, mas também tenta tornar seu trabalho acessível a um público mais amplo.

A Society dedica-se ao legado de Alfred Herrhausen, ex-porta-voz do conselho de diretoria do Deutsche Bank, que defendeu a liderança responsável, a responsabilidade social corporativa e a boa governança de maneira exemplar até o seu assassinato por terroristas em 1989. A Alfred Herrhausen Society é uma expressão

do compromisso mundial do Deutsche Bank com a sociedade civil.

O senhor poderia explicar por que o

deutsche Bank Urban award foi criado

para reconhecer alianças feitas para

enfrentar os desafios mais urgentes,

localizados exatamente nas cidades?

Em quarenta anos, dois terços da população mundial viverá em cidades. Em 2020, prevê-se que 1.4 bilhões de pessoas viverão em favelas. E os problemas tornam-se mais concentrados em áreas urbanas. Neste cenário, cidades tornam-se um grande desafio assim como um motor que dirige o desenvolvimento humano.

Depois de Mumbai, São Paulo, Istambul, Cidade do México e Cidade do Cabo, este ano apresentamos o Deutsche Bank Urban Award no Rio. O prêmio homenageia alianças dedicadas a aprimorar a qualidade de vida nas cidades e que permitem aos residentes se tornarem ativos participantes na vida urbana. As cidades são uma construção social, nós damos forma a ela, assim como somos formados por ela.

de que parcerias você está falando?

O prêmio comemora parcerias que compartilham responsabilidade entre residentes, empresas, ONGs, universidades, órgãos públicos etc.

Com base nas edições anteriores

do prêmio, poderia se dizer que ele

procura identificar pessoas que

estão construindo as cidades?

O prêmio enfoca como as alianças podem fazer possíveis transformações nas vidas de pessoas bem como no espaço urbano onde vivem. As atividades desenvolvidas por grupos com frequência estão relacionadas ao tópico da cultura e da cidade, bem como da educação e do lazer. Isto também é válido para o Rio. Muitas das iniciativas que encontramos são realizadas por residentes locais em seus bairros ou comunidades, com suas próprias mãos e recursos. Isto começa com os residentes reconhecendo um problema, seguido pela realização ativa de uma ideia para resolver essa questão imediata. Nesse sentido, eles se tornam responsáveis por aprimorar suas próprias cidades, enquanto se tornam envolvidos nesse processo.

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em sua opinião, o que é realizado

pelo dBUa award?

No Rio recebemos 170 inscrições para o prêmio, que é uma demonstração impressionante dos cidadãos que não estão esperando ajuda, mas usam sua criatividade para superar os problemas de suas vidas diárias. A criatividade que encontramos aqui no Rio revela uma rede que já ajuda os cidadãos a superar seus problemas atuais. Esta rede, que é estruturada por iniciativas locais, tem um potencial enorme enquanto está sendo complementar à rede representada pela tradição do planejamento topdown (de cima para baixo).

de modo geral, como o senhor vê

a importância da cultura – e as

iniciativas que organizam atividades

culturais como encontradas no rio –

para as cidades que estão crescendo,

especificamente em localidades

menos favorecidas?

Se você olhar para cultura, precisamos vê-la em um contexto mais amplo.

Cultura não se limita às artes no sentido clássico. Mas cultura é o que liga o espírito, a criatividade, e o caráter humano das pessoas. Desde tempos antigos, a cultura é o que faz a essência da civilização urbana. E isto é o que é importante: que não só as necessidades físicas das pessoas em cidades grandes estão sendo satisfeitas, mas, o que é ainda mais importante, as necessidades intelectuais, criativas e civilizacionais. Portanto, é aí que reside a cultura e esta é uma ferramenta excelente para se usar. Vimos no Rio alguns exemplos concretos disso, por exemplo, no espaço que foi liberado da dominação de estruturas semelhantes à máfia, um vácuo apareceu. E se esse vácuo for preenchido com atividades culturais, tornará as comunidades um lugar onde vale a pena se viver, e tornará as comunidades mais unidas do que qualquer outra forma de estrutura formal.

Você vê essas iniciativas em

pequena escala como facilitadoras

entre a cidade e os governos? elas

estão fazendo política por si mesmas?

A política é a polis. É a cidade onde os

cidadãos interagem entre si e onde os cidadãos tentam aprimorar, juntos, a vida de todos. Logo, pensamos o que estamos tentando fazer é altamente político. Precisamos ver que é político em um sentido construtivo e que isto não é usado como ferramenta para aumentar as diferenças existentes e jogar um grupo de pessoas contra outro, mas para lutarem juntos por melhores soluções de vida na cidade; isto é política no sentido mais puro e elevado, e eu acho que o DBUA Award pode oferecer uma contribuição ativa.

Várias iniciativas no rio começaram

com jovens empreendedores.

O senhor acha que a liderança jovem

é importante para o desenvolvimento

das cidades? Como o senhor acha

que o prêmio aponta em direções

possíveis que podem se desenvolver

a partir daí?

Onde quer que as pessoas tentem fazer algo juntas, é importante que elas tenham o tipo certo de liderança. Não quero me referir a uma abordagemde cima para baixo, mas a indivíduos motivados que colocam o bem-estar da comunidade à frente do seu.

Alfred Herrhausen Society

10 Deutsche Bank Urban Age Award Rio 2013

Nesse sentido vimos alguns exemplos encorajadores no Rio. A liderança precisa ser disputada sempre e provar-se no ambiente real. Erros serão cometidos, erros são cometidos, mas serão corrigidos se tudo isto acontecer de uma forma democrática, e por democracia quero me referir ao governo feito pelo povo em seu sentido mais puro e original.

Com base nestes três pontos – cultura,

política e liderança – e sua conexão

com o “fazer” (quem faz a cidade),

qual poderia ser a visão possível do

prêmio e os projetos do prêmio para

o futuro?

Acho que existem tantos projetos bons e interessantes que não se tem condição de premiar todos eles. Mas o que podemos fazer é dar o exemplo, destacar, sinalizar e honrar e admirar, o que pode abrir caminho para os outros fazerem isso. Mas o que é importante é que em processos que surgem das bases, as pessoas se tornam ativamente envolvidas em seus  mundos, em suas comunidades, para criarem, realmente juntas, o futuro para as pessoas. Espero que

esta rede sirva como encorajamento não só no Rio, mas em todo o Brasil. Eles são os embaixadores de soluções melhores para todas as megacidades no mundo, com base em sua própria experiência.

O embaixador thomas Matussek fez carreira diplomática durante 37 anos.

Atuou nesse ínterim como Ministro em

Washington, Embaixador em Londres,

trabalhou para as Nações Unidas em

Nova York e na Índia. Como Diretor

Geral para Assuntos Políticos assumiu a

responsabilidade pelas relações com o

Brasil de 1999-2002. Em 2011 juntou-se

ao Deutsche Bank e assumiu a Chefia da

Alfred Herrhausen Society em 2013.

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Lse Citiesricky burdett

Professor de Urban Studies na

London School of Economics

LSE Cities é um centro internacional em London School of Economics and Political Science apoiado pelo Deutsche Bank que realiza atividades de pesquisa, educação e outras em Londres e no exterior. Sua missão é estudar como as pessoas e as cidades interagem em um mundo em rápida urbanização, enfocando como o design das cidades influi na sociedade, cultura e no ambiente. Através de pesquisas, conferências, ensino e projetos, o centro visa a modelar novos pensamentos e práticas sobre como tornar as cidades mais justas e sustentáveis para a próxima geração de moradores urbanos, que irão compor mais de 70 por cento da população global por volta de 2050.

em sua opinião, o que os projetos

associados ao dBUa award atingem?

Que similaridades e diferenças se

destacam entre os projetos em

diferentes cidades?

No Urban Age, temos observado desde 2005 inúmeras cidades importantes que estão sofrendo níveis sísmicos de mudança pelo globo. Temos olhado para elas a um nível “Google”, a certa

distância. Descrevemos e captamos padrões de crescimento urbano e populacional, migração, renda e distribuição de desigualdade, diversidade étnica e social, e níveis de energia e poluição – todos numa escala metropolitana. Mas sentimos que precisávamos descer para uma escala diferente que fosse mais humana; próxima do indivíduo, da família e da comunidade local. Os projetos associados com o Deutsche Bank Urban Age são sobre sentir na pele o que está acontecendo na cidade. O fio comum que corre por centenas de projetos que analisamos como parte do processo de premiação é que mudanças relativamente pequenas no espaço podem ter um importante impacto na qualidade de vida de residentes urbanos, principalmente aqueles que estão na base da escala social. Elas têm o efeito máximo com recursos mínimos. Muitos projetos oferecem às pessoas a dignidade de terem um lugar decente, limpo e seguro, enquanto outros revelam o poder da vida associativa na cidade, principalmente para aqueles que são deixados de fora dos sistemas formais de poder e responsabilidade democrática.

de modo geral, você acha que estas

iniciativas têm sido bem-sucedidas?

em caso afirmativo, quais as

principais lições que poderíamos

aprender com elas?

Quando iniciamos o prêmio, não sabíamos o que iríamos encontrar. Ao longo dos últimos cinco anos, encontramos evidências de verdadeira engenhosidade sobre o assunto. Em face das circunstâncias mais difíceis – que incluem a falta de infraestrutura, dinheiro ou voz política – existe um nível notável de resiliência entre populações urbanas. A gama de iniciativas descobertas pelo processo de premiação dá uma noção de otimismo baseada na realização de que ações individuais realmente fazem uma diferença enorme. Na Cidade do Cabo, por exemplo, um ex-gangster foi capaz de usar sua autoridade notória para mudar a atitude de jovens do sexo masculino, tirando-os da violência das ruas e fazendo-os usar suas energias para construir uma fábrica de roupas para crianças em idade escolar, e um jardim lindo para a comunidade. Contribuiu para uma noção de valor

LSE Cities

12 Deutsche Bank Urban Age Award Rio 2013

próprio dos indivíduos e ajudou a criar empregos para as pessoas locais. O que estes projetos têm em comum é uma noção de propósito e dignidade para os indivíduos ou grupos envolvidos, o que é facilitado e reforçado através de uma intervenção espacial. Portanto, somos capazes de concluir que o design é um ato social tão importante quanto sanitização, educação e nutrição. É importante pensar em questões sociais de maneiras espaciais. O espaço importa e é tão essencial quanto a formação da capacidade humana e do capital social das cidades. Em certo sentido, esses projetos nos fazem repensar o que precisamos aprender. Eles nos ensinam algo sobre colaboração e sua importância para estabelecer um terreno comum, tanto em termos literais quanto metafóricos.

O que você acha do potencial para o

desenvolvimento de tais projetos que

impactam as cidades no futuro? As cidades atualmente estão sendo feitas e refeitas a um ritmo mais rápido e a uma escala maior do que nunca e a realidade urbana cotidiana está sendo definida muitas vezes por um conjunto

de processos e atores informais. De acordo com a UN Habitat, um terço da população urbana total no globo vive em “condições semelhantes a favelas”. Dada a intensidade de churn urbano sendo experimentado em grande parte ao Sul do globo, esses projetos têm enorme potencial para impactar as cidades no futuro. Eles demonstram como as pessoas habitam e se adaptam a novas realidades urbanas. Levam à integração social e ao engajamento democrático de residentes urbanos excluídos socialmente. Conseguem unir pessoas e comunidades. Há um potencial imenso.

eles são praticáveis em outra escala

e/ou replicáveis? Muitos desses projetos foram impulsionados por indivíduos criativos e fortes que são capazes de animar e atrair a comunidade local e outras partes interessadas. Poderia parecer que esses projetos são únicos e não são replicáveis em outros locais. Logo, tomamos muito cuidado para assegurar que os vencedores do prêmio ofereçam modelos que possam ser seguidos e implementados por outros.

Este é o potencial deles. Ao mesmo tempo, eu tenho visões mistas sobre replicabilidade/scaling up. Nenhuma cidade é exatamente a mesma e toda cidade tem suas forças e fraquezas. Não podemos tomar um projeto e simplesmente replicá-lo da maneira exata em outras cidades. Uma solução que resolve problemas em uma cidade pode não necessariamente funcionar em outra, ou mesmo em outras partes da mesma cidade. Há lições a serem aprendidas a partir desses projetos locais que podem ser levadas de volta para a governança municipal e mesmo central como exemplares positivos do que pode ser atingido. Este é o aspecto da formação de capacidades que pode ser replicado de formas mais interessantes.

Você pode imaginar cenários

resultantes do pioneirismo exibido

nesses projetos? Toda cidade deve ter um órgão atento a esse tipo de iniciativas de base, para identificar, recompensar e cultivar o potencial local. Isto não significa, de modo algum, que devemos eliminar planejamentos ou planejadores que se

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preocupem com visões em larga escala e objetivos de longo prazo. De fato, precisamos ir além do velho debate "de baixo pra cima" em oposição a "de cima pra baixo". Esses projetos exigem um entendimento mais cuidadoso sobre ruptura e ação incremental. Para mim, é essa abordagem multiescalar que pode oferecer uma mudança urbana sustentável: o macro e o micro, o metropolitano e o local, a vizinhança e o nível de rua; e sua resposta às reais necessidades dos residentes bem como sua adaptabilidade a ambientes socioculturais que levarão a melhores cenários futuros.

ricky Burdett é Professor de Urban

Studies na London School of Economics

and Political Sciences e Diretor da LSE

Cities e do programa Urban Age. Ele

também é Global Distinguished Professor

em New York University e membro da

Royal College of Art. Foi Conselheiro

Chefe de Arquitetura e Urbanismo para

a Olimpíada de 2012 em Londres e do

prefeito de Londres. Integrou o júri do

Deutsch Bank Urban Age Award durante

mais de cinco anos e foi presidente do júri

em Mumbai, São Paulo, e Istambul.

LSE Cities

O prÊMiO eM seis CidadesMumbai, 2007

São Paulo, 2008

Istambul, 2009

Cidade do México, 2010

Cidade do Cabo, 2012

Rio de Janeiro, 2013

“Os atributos do projeto dBUaa que merecem ser seguidos envolvem o desenvolvimento bottom-up; foco nos resultados; boas relações com as autoridades governamentais e atenção às reais necessidades, em vez de ambições abstratas.” aNtHONy WiLLiaMs

16 Deutsche Bank Urban Age Award Rio 2013

MUMBai2007número de inscritos 74

vencedores

Triratna Prerana Mandal (TPM),

Mumbai Waterfronts Centre

menção honrosa

Urban Design Research Institute (UDRI)

o júri de mumbai 2007

shabana azmi Atriz e ativista social; embaixadora da boa

vontade do United Nations Population Fund.

ricky burdett, presidente

Acadêmico e pesquisador; professor de

estudos urbanos em London School of

Economics e Ciência Política (LSE); diretor

da LSE Cities e do programa Urban Age.

rahul mehrotra Arquiteto e acadêmico; fundador da

Rahul Mehrotra Associates; professor de

Urban Design and Planning and chefe do

Departamento de Design e Planejamento

Urbano, Harvard University.

suketu mehta Jornalista e autor; professor associado de

jornalismo em New York University.

enrique norten Arquiteto e acadêmico; fundador da TEN

Arquitectos & Miller; chair de arquitetura

em University of Pennsylvania.

anthony williams Empresário e político; ex-prefeito de

Washington DC e CEO da Primum Public

Realty Trust.

Situada na costa oeste da India, no estuário do Rio Ulhas, Mumbai é o principal centro comercial e cultural da India. A cidade, que é o lar da indústria cinematográfica e da bolsa de valores do país, arrecada quase 40% de impostos da nação. A superpopulação crônica e a pobreza urbana são um traço comum da vida diária em Mumbai. Mais da metade da população de Mumbai vive em favelas e ocupa menos 10% das terras da cidade. A maior favela da cidade, Dharavi, tem densidades populacionais de 82.000 pessoas por km2. As favelas de Mumbai caem em duas categorias: autorizadas, que possuem infraestrutura, e os assentamentos ilegais, bem mais numerosos (60%), sem energia nem água e que estão sujeitos a demolição. A primeira edição do Prêmio escolheu dois projetos transformadores que demonstraram como os cidadãos de Mumbai aprimoraram a vida de residentes locais e a

qualidade do ambiente urbano através de parcerias inovadoras.

Vencedores

triratna prerana Mandal (tpM)

Fundada em 1985 por um grupo de jovens que se reuniam em um clube de críquete no bairro de Santa Cruz em Mumbai, essa organização comunitária sem fins lucrativos supervisiona uma ampla gama de atividades com parceiros do governo local. Foi destacada por seu programa inovador de saneamento da favela, que aumentou a disponibilidade de

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banheiros públicos para residentes em Mumbai. Em parceria com a Corporação Municipal da Grande Mumbai financiada pelo Banco Mundial, que construiu os novos banheiros, a TPM usou-os como pontos estratégicos para criar espaços dinâmicos que oferecem aulas de informática, ensino da língua inglesa, creches e grupos de auto-ajuda e qualificação para mulheres. A TPM também atua na gestão de resíduos sólidos e administra um programa que ensina a coleta de lixo, a seleção de materiais coletados e a compostagem aos residentes.

Mumbai Waterfronts Centre

Historicamente, a orla de 34 km de comprimento situada na zona oeste de Mumbai foi devastada pelo despejo indiscriminado de lixo e pelo desenvolvimento sem planejamento. Frustrado com o estado da orla marítima da cidade, um grupo de residentes de Bandra uniu forças para melhorar e reivindicar uma expansão de 7 km do litoral, incluindo o passeio em Bandra Carter Road, o passeio na Bandra Bandstand, o Bandra Land’s End e a Praia Juhu. O projeto criou um espaço público acessível a todas as classes (castas) da populosa Mumbai.

Significativamente, o projeto de requalificação, que é mantido pelos residentes, ajudou a estimular uma iniciativa maior em toda a orla na parte oeste da cidade. O MWC tem se envolvido em um projeto semelhante na área da praia Dadar-Prabhadevi, uma área pública com 4 km de comprimento que inclui dois jardins municipais.

Menção honrosa

Urban design research

institute (Udri)

Estabelecido como um consórcio para enriquecer o conhecimento público sobre o distrito histórico do Fort em Mumbai, o trabalho do UDRI tem aumentado a consciência sobre a história e a herança arquitetônica da cidade. Seu lobbying resultou na aprovação de uma lei de preservação da herança urbana, e possibilitou a restauração do Elphinstone College, uma das faculdades mais antigas da Universidade de Mumbai, que é sediada em uma construção de estilo transicional Romanesco. A UDRI trabalhou com associações do entorno e com o governo local para assegurar a restauração e a regeneração do distrito Fort, um símbolo tangível

da memória coletiva e da herança da Índia usado por milhões de passageiros diariamente.

O prêmio em seis cidades

18 Deutsche Bank Urban Age Award Rio 2013

sãO paULO2008número de inscritos 133

vencedor

Do Cortiço da Rua Solón ao Edif icio União

menção honrosa

Cooperativa Nova Esperança, BioUrban,

Instituto ACAIA

o júri de são paulo 2008

tata amaral

Diretora de cinema, escritora, produtora

e atriz.

ricky burdett, presidente

Acadêmico e pesquisador; professor de

estudos urbanos em London School of

Economics e Ciência Política (LSE); diretor

da LSE Cities e do programa Urban Age.

lisette lagnado

Crítica de arte, curadora e professora

historiadora na Faculdade Santa Marcelina,

São Paulo; curadora-chefe da 27 Bienal de

São Paulo, 2006.

fernando de mello franco

Arquiteto e acadêmico; fundador da MMBB

arquitetos, professor de arquitetura da

Universidade São Hudas Tadeu, São Paulo.

enrique norten

Arquiteto e acadêmico; fundador da TEN

Arquitectos & Miller; Chefe da cadeira

de arquitetura da Universidade de

Pennsylvania.

raí souza vieira de oliveira

Jogador de futebol e ativista social;

fundador e diretor da Fundação Gol de

letra, um modelo da UNESCO para apoiar

crianças em situação de risco.

anthony williams

Empresário e político; ex-prefeito de

Washington DC e CEO da Primum Public

Realty Trust.

Fundada em 1554, São Paulo atingiu o status de cidade em 1711. Com um rápido crescimento das exportações e da imigração no final dos anos 1800, aumentou significativamente sua prosperidade econômica, alterando definitivamente seu caráter. Descrita como a segunda cidade, São Paulo conseguiu evitar o ciclo de crescimento e falência de capitais semelhantes como Manchester, Chicago, Xangai – e atualmente é a destacada potência econômica do Brasil. A acentuada riqueza da cidade abriga 30.000 milionários – mas tem níveis comparavelmente altos de pobreza urbana. Embora as condições de vida em São Paulo não sejam comparáveis àquelas de favelas de Nairobi ou Mumbai, estima-se que mais de quatro milhões de cidadãos vivem em favelas, nas ruas, em moradias irregulares ou abaixo do padrão, com frequência situadas na periferia urbana. O desenvolvimento urbano errático de São Paulo

é marcado por uma dicotomia pronunciada centro-periferia.

Vencedor

do Cortiço da rua solón ao edifício União

Edifícios abandonados são comuns em muitas cidades brasileiras. Em 2007, 619.915 unidades habitacionais vagas mas habitáveis existiam na área urbana de São Paulo. Construído na década de 1970, o edifício à rua Solon completou parcialmente uma estrutura de vários andares, próximo ao centro de São Paulo. Foi ocupado por famílias na década de 1980 e confiado a um sistema precário de fornecimento de energia elétrica e água. Trabalhando com diversos parceiros, a Faculdade de Arquitetura de São Paulo iniciou um projeto para diminuir a densidade do edifício. Mais de 30 das 73 famílias que se apertavam no edifício foram realocadas. O local foi limpo, novas

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cozinhas e banheiros foram adaptados, uma rede coletiva de energia foi instalada e a fachada externa do edifício foi melhorada. O projeto foi premiado por causa da forma como estabeleceu um método para interação entre o social e o físico, entre o construído e o vivido, direto no coração da cidade, perto de empregos, escolas e equipamentos sociais.

Menção honrosa

Cooperativa Nova esperança

Não é incomum os residentes de favelas que não dispõem de serviços públicos despejarem lixo em valas e córregos que fluem para o rio principal da cidade, o Rio Tietê. Essa iniciativa recicladora visa reduzir o volume do lixo depositado em córregos e em vias públicas, enquanto gera renda para seus participantes que coletam lixo. Uma iniciativa dirigida por coletores,

o projeto foi testado pela Companhia  de Habitação e Desenvolvimento Urbano do Estado de São Paulo e desenvolvido sob o Programa Integrado de Urbanzação da Favela Pantanal.

BioUrban

Liderado pelo jovem estudante de sociologia Jeff Anderson na favela Mauro, uma área degradada da cidade de São Paulo, este projeto ajudou a implementar uma série de medidas que transformaram a qualidade espacial do entorno num curto espaço de tempo. Inclui a limpeza de pequenos espaços e áreas em frente das casas das pessoas, criando canteiros de

flor no lugar de guias de concreto, usando cor e materiais reciclados para humanizar as fachadas de construções e infraestruturas expostas, criando trabalhos de arte públicos e cenários de atividades coletivas como sessões de pintura. Todos os materiais usados no projeto vêm do descarte e do lixo encontrados na vizinhança.

instituto aCaia

Estabelecido em 1998, este projeto começou com o estabelecimento

de uma oficina de artesanato com instalações de treinamento intensivo abertas a crianças carentes das favelas do entorno. O sucesso da iniciativa levou o ACAIA a expandir suas iniciativas para as próprias atividades. Trabalhando junto a associações de moradores que ajudou a formar, o ACAIA iniciou em 2006 planos de desenvolvimento estratégicos e fez aprimoramentos espaciais na Vila Leopoldina, uma favela assentada perto do mercado atacadista de alimentos que abriga 960 famílias. Além da construção de um novo sistema de esgoto e de ruas pavimentadas, a iniciativa criou um novo espaço público com equipamentos de lazer e um galpão de arte usado pelas crianças que moram no local.

O prêmio em seis cidades

20 Deutsche Bank Urban Age Award Rio 2013

istaMBUL2009número de inscritos 87

vencedor

Music for peace

menção honrosa

The Foundation for Support of Women's

Work, Children of Hope Foundation –

Bakirköy Youth House

o júri de istambul 2009

behiç ak Cartunista, autor, dramaturgo e diretor de

documentários.

ricky burdett, presidente

Acadêmico e pesquisador; professor de

estudos urbanos em London School of

Economics e Ciência Política (LSE); diretor

da LSE Cities e do programa Urban Age.

ça lar keyder

Escritor e acadêmico; professor de

sociologia em Bogazici University, Istambul

e SUNY-Binghamton, Nova York.

enrique norten

Arquiteto e acadêmico; fundador da TEN

Arquitectos & Miller; chair de arquitetura

em University of Pennsylvania.

han tumertekin

Arquiteto e diretor acadêmico em Mimarlar

Tasarim Danismanlik; professor visitante

em Graduate School of Design, Harvard

University.

anthony williams Empresário e político; ex-prefeito de

Washington DC e CEO da Primum Public

Realty Trust.

arzuhan do an yalçinda

Empresária; chairperson da Dogan TV

Holding; Istambul.

A principal cidade da Turquia é uma das 23 cidades globais que deve alcançar mais de 10 milhões de habitantes até 2015. “A cidade não cresceu – explodiu, sem dar conta de um surto de imigrantes pobres de Anatclia, no Leste da Turquia e região do Mar Negro”, relatou Spiegel em 2007. Trabalhadores migrantes muitas vezes apelam para morar em moradias provisórias conhecidas como gecekondus, muitas delas nas margens de Istambul. Embora ilegais, são toleradas por um governo municipal que luta para lidar com a dinâmica exclusionária crescente da cidade. “Estruturas estatais de bem-estar insuficientes juntamente com o colapso de mecanismos de incorporação informais baseados na identidade criaram uma dinâmica excludente na cidade que opera numa escala muito maior do que antes”, escreve Asu Aksoy (Living in the Endless City, 2011). Muitos dos projetos trataram de alguns dos

problemas críticos enfrentados pelas comunidades mais frágeis de Istambul – novos imigrantes, mulheres isoladas, criancas carentes e jovens sem teto, e deficientes – enquanto outros focaram inadequações espaciais dessa cidade que cresce rapidamente: tráfego congestionado, falta de espaços abertos e restauração de parcerias inovadoras da herança da cidade.

Vencedor

Music for peace

Este projeto em Edimekap, uma das vizinhanças mais desprivilegiadas de Istambul, oferece educação musical gratuita para crianças locais em idade escolar, entre 7 e 14 anos. O projeto permite a jovens meninos e meninas passar tempo com músicos voluntários dedicados. Ao adaptarem criativamente o porão não utilizado da escola estadual local em um espaço

21

claro e arejado onde as crianças passam as horas após a escola tocando acordeon, aprendendo composição, consertando instrumentos, interpretando e comendo juntos, a iniciativa desempenha um importante papel social. Além de seu impacto social óbvio sobre as crianças e suas famílias, muitas delas imigrantes recentes de regiões mais pobres da Turquia, o projeto representa um compromisso com uma área mais central da cidade que sofre de desinvestimento e de crescente privação. O projeto é um investimento inovador em capital social e humano, que usa as artes e a cultura de um modo altamente pragmático e não sentimental, a fim de promover a regeneração urbana.

Menção honrosa

the Foundation for support of

Women’s Work

Localizada em Nurtepe, uma área socialmente fragmentada e misturada com alta proporção de famílias imigrantes carentes, o Women and Children Centre fornece instalações educacionais e creche para emponderar as mulheres locais. Dirigido em base voluntária pela

First Step Women’s Environment, Culture and Enterprise Co-operative, o centro oferece aulas sobre liderança, empreendedorismo e violência doméstica, bem como oportunidades de networking para mulheres de todas as formações de modo a ajudá-las a superar a marginalização e a exclusão social.

Children of Hope Foundation

Bakirköy youth House

Homens e mulheres jovens, não têm mais direito ao apoio do estado se se tornarem marginalizados e sem teto após 18 anos de idade. Essa iniciativa que se estende por toda a cidade oferece um paraíso seguro principalmente para homens jovens envolvidos em violência familiar, crime e adição a drogas sem ter para onde ir. A Bakirkoy House para jovens fornece acomodações limpas e seguras para pessoas desprivilegiadas por um prazo curto, onde recebem aconselhamento

social e assistência médica, treinamento vocacional, o que as ajuda a se reintegrarem na sociedade.

O prêmio em seis cidades

22 Deutsche Bank Urban Age Award Rio 2013

Cidade dO MÉxiCO2010número de inscritos 193

vencedor

Asamblea Comunitaria de Miravalle

menção honrosa

Centro Cultural Consejo Agrarista

(CODECO), Recuperando Espacios

para la Vida

o júri da cidade do méxico 2010

vanessa bauche

Atriz e ativista social

ricky burdett

Acadêmico e pesquisador; professor de

estudos urbanos em London School of

Economics e Ciência Política (LSE); diretor

da LSE Cities e do programa Urban Age.

jose castillo, presidente

Arquiteto e acadêmico; co-fundador de

arquitetura 911sc; professor em School of

Architecture, Universidade Iberoamericana,

Cidade do México.

denise dresser

Escritora, analista política, acadêmica e

professora de ciência política no Instituto

Tecnológico Autónomo de México, Cidade

do México.

enrique norten

Arquiteto e acadêmico; fundador da TEN

Arquitectos & Miller; Chefe da cadeira de

arquitetura em University of Pennsylvania.

betsabeé romero

Artista Visual.

anthony williams

Empresário e político; ex-prefeito de

Washington DC e CEO da Primum Public

REalty Trust.

Nos anos 1970, os demografistas predisseram que a Cidade do México alcançaria 30 milhões de habitantes até 2000, um prognóstico que nunca se realizou. A população da cidade atingiu um pico com menos de 20 milhões, isto porque as pessoas buscam por melhores oportunidades em outras cidades como Guadalajara e Monterey, de acordo com a UN-Habitat. Apesar de algumas áreas históricas congestionadas no centro da cidade que estão tendo o declínio residencial, a cidade do México enfrenta inúmeros problemas. A expansão urbana acentuou a crescente incapacidade de infra-estrutura da cidade, enquanto alto índice de criminalidade resultou na cultura disseminada do medo. Fatores ambientais, como terremotos e poluição do ar – esta última exacerbada pela alta altitude da cidade e pelas montanhas – também são problemas. Emanando de uma variedade de formações geográficas

e sociais, as 193 inscrições para o quarto ciclo do prêmio sugeriram a existência de alianças fortes e diversas que visam aprimorar o ambiente urbano e a qualidade de vida. O apoio de universidades, autoridades locais e programas de governo, bem como a cooperação ou diferentes organizações comunitárias, têm sido fatores importantes para o sucesso desses projetos.

Vencedor

Miravalle Community Council Rodeado pelo distrito de Iztalapa – um bairro pobre no leste da cidade – por indígenas de diferentes origens étnicas que migraram recentemente para a cidade, Miravalle é um projeto comunitário que facilita parcerias entre organizações locais e metropolitanas e indivíduos locais. Supervisiona um projeto de gestão

23

de resíduos sólidos envolvendo a coleta e reciclagem de duas toneladas de plástico PET por semana, o que gera emprego para 30 jovens. Também supervisiona um projeto de cutivo que fornece hortaliças frescas, principalmente verduras, para um refeitório com baixo orçamento, assegurando a nutrição saudável. Um projeto abrangente, Miravalle também oferece uma ampla variedade de serviços culturais e esportivos – oficinas de arte, aulas de dança, uma pista de skate – e um programa educacional voltado para ajudar residentes a superar a defasagem tecnológica. Eles também transformaram um antigo lixão em espaço público para interação social.

Menção honrosa

COdeCO, Culture Centre Consejo

agrarista

Fundado em 1990 por 30 gangues do Iztapalapa, este projeto trata variavelmente dos problemas de marginalização, drogas, crime, violência e discriminação contra jovens, mulheres e pobres. Os fundadores do projeto, que reconhecem a existência de gangues

como meios legítimos de identidade coletiva, criaram instalações esportivas, espaços de trabalho, oficinas artísticas e uma biblioteca. Oferecem treinamento técnico para ampliar as oportunidades de emprego dos participantes e promover graffiti e trabalho artístico como alternativa a drogas, crime e violência. Eles tomaram várias iniciativas culturais e artísticas para estimular a integração da comunidade. O trabalho deles em Iztapalapa contribuiu para mudar percepcões do bairro, que já foi considerado uma “zona onde não se devia ir”.

recovering spaces for Life

Localizado em Santa Fé, uma área de marcante disparidade socioeconômica a oeste da cidade, este projeto concentra-se na recuperação de espaços públicos através de diversas iniciativas. Uma parceria entre a

Universidade Iberoamericana e membros da comunidade local, o projeto inclui educação ambiental, instrução tecnológica e treinamento técnico. A Universidade Iberoamericana oferece orientação sobre implementação de projetos e também facilita referências que permitem à comunidade local encontrar emprego em Santa Fé, um dos principais distritos da Cidade do México. Projetos adicionais incluem uma oficina para prevenir risco psicossocial, que é oferecida em várias escolas da área.

O prêmio em seis cidades

24 Deutsche Bank Urban Age Award Rio 2013

Cidade dO CaBO2012número de inscritos 254

vencedor

Mothers Unite

menção honrosa

Rocklands Urban Abundance

Centre, Thrive Recycling.

o júri da cidade do cabo 2012

andrew boraine

Administrador público e acadêmico; chefe

executivo da Cape Town Partnership;

professor adjunto no African Centre for

Cities, University of Cape Town.

ricky burdett

Professor de estudos urbanos em London

School of Economics and Political Science

(LSE) e diretor da LSE Cities e o programa

Urban Age.

malika ndlovu

Poeta, dramaturgo, performer e consultor

de artes.

enrique norten

Arquiteto e acadêmico; fundador da TEN

Arquitectos; chair de arquitetura na

University of Pennsylvania.

edgar pieterse, presidente

Acadêmico e pesquisdor; diretor de African

Centre for Cities. University of Cape Town.

nomfundo walaza

Defensor de direitos civis e psicólogo

clínico; chefe executivo de Desmond Tutu

Peace Centre.

anthony williams

Empresário e político; diretor do Corporate

Executive Board, Virginia; ex-prefeito de

Washington, DC.

Fundada em 1652 como parada para refeição e descanso de navios que faziam aquela rota, a Cidade do Cabo é altamente diferenciada e maleável; seu caráter urbano peculiar é um resultado visceral do planejamento espacial do apartheid e da engenharia social. Quase um quarto de seus cidadãos vive em bairros confortáveis, com todos os serviços, no extremo oposto da escala, 25% de seus habitantes enfrentam lutas rotineiras, que incluem falta de saneamento, abrigos precários, acesso intermitente a serviços básicos e a constante indignidade da pobreza opressiva associada ao desemprego. Um milhão de cidadãos moram em terrenos-abrigos altamente inadequados, em moradias informais, centros habitacionais públicos lotados – muitas vezes na periferia urbana, esse rápido crescimento urbano aumentou os desafios sociais e infrasestruturais da cidade. O rico conjunto de organizações inscritas no

Prêmio sugere que o futuro da cidade está sendo imaginado e definido pelos cidadãos, como também por formadores de políticas públicas. As iniciativas revelaram grupos de cidadãos engajados em enfrentar os diversos desafios urbanos da cidade.

Vencedor

Mothers Unite

Este projeto em Lavender Hill, um bairro de baixa renda ao sudeste do centro da cidade com alto índice de desemprego e atividade de gangues, demonstra o poder da “acupuntura urbana”. Fundado em uma casa particular, oferece um refúgio da insegurança social, da cultura de gangues e da violência para crianças com idade entre 3 e 15 anos. Agora sediada em uma vila de infraestrutura composta de contêineres para expedição, em um galpão da prefeitura

25

reservado a várias atividades, o Mothers United reúne 120 crianças, oferecendo refeições três tardes por semana, bem como uma variedade de atividades educacionais e criativas em parceria com várias instituições educacionais e de desenvolvimento. Estas incluem a formação em informática, o cultivo de alimentos e habilidades em primeiros socorros. A infraestrutura do projeto cresceu para abranger uma biblioteca, cozinha, horta, sala de ioga/exercícios, playground e escritório de administração. Um oásis em sua vizinhança, o objetivo básico do projeto é recuperar a sagrada unidade familiar.

Menção honrosa

rocklands Urban abundance Centre

Localizado em uma Escola Primária em Rocklands em Mitchell’s Plain, esse oásis de permacultura educacional responde aos complexos desafios sócio-econômicos – empregos, segurança alimentar, educação, questões ambientais – enfrentados por essa comunidade da periferia. Dirigido pelo SEED, uma pequena organização de benefícios públicos, e com sete funcionários trabalhando em tempo integral, o centro é uma demonstração prática

da vida pós-carbono, de construção sensível à terra e de energia renovável e resiliente e modelos de agricultura urbana replicáveis. Cresceu, tornando-se um laboratório para várias atividades comunitárias. O centro, que abriga uma base genética de plantas produtivas, apoia a inclusão de hortas na área através de sementes subsidiadas e da venda de esterco; também oferece treinamento contínuo e apoia o cultivo e a permacultura. Os dias de plantio de árvores visam inculcar o orgulho nesse bairro desolador.

thrive recycling

Com sede em Hout Bay Drop off, uma instalação de resíduos da cidade na borda da vila Hout Bay e do assentamento da township Imizamo Yethu, este projeto de gestão de resíduos gira em torno de iniciativas de reciclagem residencial. Estabelecido em 2009, permite aos participantes ganhar renda tornando-se parte do ciclo de gestão de resídos. Os resíduos coletados são entregues a uma cooperativa com onze membros, que recuperam os itens reaproveitáveis, selecionam o restante e revendem recicláveis para serem transformados

industrialmente. Em paralelo, a Thrive também dirige um esquema de reciclagem que recompensa os residentes de Imizamo Yethu por levarem os resíduos para a cooperativa ao emitirem vales que podem ser trocados em lojas/oficinas locais informais e provedores de serviços. Além desse estúnulo, o projeto tem grandes benefícios ambientais, ajudando a reduzir o aterro sanitário e o lixo. A abordagem holística do projeto também pretende oferecer programas educacionais de gestão de resíduos sólidos nas escolas.

O prêmio em seis cidades

26 Deutsche Bank Urban Age Award Rio 2013

riO de JaNeirO2013número de inscritos 170

vencedores

Plano Popular Vila Autódromo,

Pontilhão Cultural.

menção honrosa

Censo Maré, Agência de Redes para

a Juventude.

o júri do rio 2013O júri, composto por especialistas

internacionais e locais, com expertise sobre

as diversas comunidades urbanas do

Rio de Janeiro, encontrou-se no Rio de

Janeiro, entre 25 e 27 de Setembro.

richard burdett Diretor, LSE Cities e do programa

Urban Age, professor de Estudos Urbanos

e Diretor do Departamento de Sociologia,

London School of Economics and Political

Science (LSE).

paola berenstein jacques

Arquiteta e urbanista, professora do

programa em artes visuais, Universidade

Federal da Bahia.

lívia flores

Artista, professora naEscola de

Comunicação e Programa de

Pós-Graduação em Artes Visuais,

Federal University of Rio de Janeiro.

cristina freire

Vice-diretora, curadora e professora

no Museu de Arte Contemporânea da

Universidade de São Paulo.

anna katharina herrhausen

Chefe de comunicações internas e externas,

All ianz4Good, All ianz SE, Munique.

fabiana izaga

Arquiteta, professora na Faculdade de

Arquitetura e Urbanismo, Universidade

Federal do Rio de Janeiro e vice-presidente

do Instituto dos Arquietos do Brasil,

Rio de Janeiro.

anthony williams

Prefeito de Washington, D.C. 1997-2006,

Washington, D.C., atual Diretor-Presidente

da Câmara Municipal Federal

(“Federal City Council”).

27

iNiCiatiVasNO Mapa Distribuição das iniciativas na região

metropolitana do Rio

Plano popular Vila Autódromo

Pontilhão Cultural

Censo Maré

Agência de Redes para a Juventude

1

2

3

4

Inicitaivas no mapa

28 Deutsche Bank Urban Age Award Rio 2013

riO 2013VeNCedOres

plano popular Vila autódromo

O “Plano Popular” desenvolvido pela comunidade da Vila Autódromo junto com especialistas em planejamento da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e da Universidade Federal Fluminense (UFF) é um exemplo de parceria entre diferentes constituintes para fornecer uma visão abrangente de como sua comunidade pode ser adaptada para aprimorar padrões de vida a todos os residentes. A Vila Autódromo ocupa um espaço delicado nas bordas do Parque Olímpico na Barra da Tijuca e tem sido tema de discussões com as autoridades públicas a respeito da retenção de parte e da possível demolição de várias unidades residenciais para dar lugar a estradas e a instalações para a Olimpíada.

A dinâmica do Plano Popular destina-se tanto a atuar como plata-forma de diálogo entre a comunidade, a universidade e as autoridades municipais e também a fornecer

um fórum para discussão de quais instalações são mais necessárias para elevar a qualidade do ambiente e a sustentabilidade do entorno. O júri ficou impressionado com o fato de a iniciativa ter sido iniciada há dois anos e, apesar de inúmeros contratempos, parecer motivada com os sucessos obtidos e aproveitá-los de uma maneira construtiva e pró-ativa.

O plano desenvolvido identificou inúmeros projetos e iniciativas que, se realizados, aprimorariam a dinâmica da vida urbana diária para residentes locais de todas as idades. Em particular, o júri reconheceu os benefícios que reverterão para a comunidade com a implementação de uma creche.

O júri elogiou o projeto por estabelecer um processo de trabalho entre diferentes atores na cidade, e identificar as principais necessidades espaciais para uma comunidade vulnerável e frágil, e endossou fortemente a construção da creche

como o primeiro passo na consolidação da próxima etapa do projeto.

associação de Moradores, pescadores

e amigos da Vila autódromo

www.facebook.com/vivaavilaautodromo

29

pontilhão Cultural

Localizado na comunidade da Maré, o Pontilhão Cultural é dirigido por um coletivo local e usa criativamente um “espaço encontrado” no centro de uma parte densa da cidade que oferece pouco lazer para os residentes mais jovens. O espaço fica sob uma via urbana movimentada – a Linha Amarela e muito próximo da Linha Vermelha – uma junção de vias urbanas muito importantes da cidade que não oferecem espaço para o pedestre usar, nem lazer. A iniciativa tornou esse território nada atraente, próximo ao Canal do Fundão, em um paraíso para eventos culturais e artísticos, que é usado por grupos de jovens em diferentes horários do dia e da semana, para se engajarem em lazer e atividades de aprendizagem bem-organizadas que incluem andar de skate, concertos, pintura e outras práticas artísticas.

Antes usado como área onde se jogava lixo, o Pontilhão Cultural

tornou-se um recurso bem-sucedido para atividades coletivas abertas aos residentes, associações vizinhas, ONGs, artes e grupos culturais. O projeto é dirigido pela Lona Cultural, um órgão municipal situado nas proximidades que dirige uma biblioteca, cozinha coletiva e eventos de teatro, e o projeto é organizado por dois jovens residentes no local, comprometidos, cujas atividades vão muito além de seus deveres diários.

A localização do projeto não só usa o espaço de forma imaginativa, mas também funciona como espaço integrador entre diferentes comunidades, transformando uma fronteira em um lugar de encontro. O coletivo Maré inclui músicos, produtores e ativistas culturais que organizam regularmente eventos abertos, representações, oficinas, vídeos, palestras, jogos, pista de skate e outros esportes, e atividades de lazer. Todos os eventos são gratuitos e respondem a demandas

e desejos locais. Esforços para aprimorar a qualidade do ambiente com iluminação, plantação, pista de skate e espaço para playground têm sido realizados.

O júri indicou o projeto por trabalhar através de parcerias e por formarem um lugar que estimula a coesão social no Rio, e endossa a necessidade de mais investimento em equipamentos, instalações e materiais para estender suas atividades as distintas comunidade da Maré.

Coletivo Maré

www.facebook.com/ColetivoMare

Rio 2013 vencedores

30 Deutsche Bank Urban Age Award Rio 2013

riO 2013MeNçãO HONrOsa

Censo Maré

Localizado na comunidade da Maré desde 2010, o projeto gira em torno da criação e da implementação de uma pesquisa que descreve a realidade demográfica social de residentes locais cuja existência não seria captada por estatísticas oficiais realizadas por autoridades públicas. Organizada em parceria com as Redes da Maré, outras instituições e residentes locais, a pesquisa permite a identificacão das principais demandas sociais da comunidade e então promove a formulação de políticas e propostas que podem aprimorar a qualidade de serviços públicos.

Um subproduto da pesquisa é o desenvolvimento de um guia de ruas para a Maré que, literalmente, coloca as pessoas no mapa e fornece às famílias um endereço postal identificável. Isto tem levado à fabricação de placas de rua “adequadas” que remetem à história

e à presença da comunidade e de sua população.

O júri indicou o projeto por marcar efetivamente a presença espacial de comunidades por vezes esquecidas e encontrar maneiras de articular suas necessidades, reconhecendo que a iniciativa é um primeiro e importante passo para entender o que é necessário e tomar ações concretas para fazer as coisas acontecerem.

associação redes de desenvolvimento

da Maré

www.redesdamare.org.br

31

agência de redes para

a Juventude

A iniciativa trata da necessidade urgente de promover o empreendedorismo entre jovens residentes em áreas carentes para lhes dar a oportunidade de melhorar ao máximo suas vidas e se conectar a realizades sociais e econômicas mais amplas. Desenvolvida com o Observatório de Favelas e uma rede de universidades, a Agência oferece treinamento e acesso aos jovens para estimular a inovação e desenvolver as habilidades necessárias para transformar ideias em realidade.

A Agência reconhece que as comunidades jovens simples são o repositário de energia criativa entre os jovens cujas vidas têm se mostrado frágeis e vulneráveis a fatores externos. A rede opera em comunidades mais carentes da cidade, fortalecendo redes sociais e estimulando a criação de redes colaborativas por indivíduos emponderados.

O júri indicou o projeto por sua habilidade de promover a capacidade de construir entre jovens no Rio, reconhecendo e otimizando o potencial dos residentes das favelas do Rio para melhorar suas vidas.

avenida Brasil instituto

de Criatividade

www.agenciarj.org

Rio 2013 menção honrosa

32 Deutsche Bank Urban Age Award Rio 2013

traBaLHOde CaMpOmarcos l. rosa

Arquiteto e planejador urbano, coordenou

o Deutsche Bank Urban Age Award no Rio

e realizou o trabalho de campo junto à

designer Bruna Montuori.

Após o lançamento da sexta edição do Prêmio Deutsche Bank Urban Age, em maio de 2013, uma extensiva campanha de comunicação foi acompanhada de um trabalho de mapeamento que incluiu visitas a campo, além da organização de uma plataforma de mapeamento colaborativo. Em agosto recebemos 170 candidaturas.

São iniciativas de toda a Região Metropolitana do Rio de Janeiro, concentradas em áreas bem conhecidas como as comunidades dos morros da zona sul, assim como do Complexo do Alemão e Maré, além de outras comunidades da zona norte e oeste, em áreas de topografia plana e que concentram alguns dos maiores desafios urbanos do Rio.

A gama de candidaturas é similar às edições anteriores do Prêmio em Mumbai e São Paulo, com propostas relacionadas à falta de provisão de infraestrutura básica e equipamentos culturais e sociais, questões abordadas a partir de empreendedorismo social e ação coletiva. Delas resulta uma rede de atividades culturais, educacionais e de lazer que revela novas formas de se melhorar a qualidade dos

espaços e vida dos habitantes do Rio. Estas atividades caracterizam muitas das iniciativas que agem localmente, desenvolvidas por grupos da sociedade civil, organizações baseadas em comunidades, ONGs, associações, representantes do governo local, arquitetos, artistas e moradores, entre outros.

O prêmio, uma plataforma de pesquisa

Em cada edição do Prêmio um pesquisador local (do campo das ciências políticas, arquitetura ou planejamento urbano) realiza um estudo de campo. No começo deste ano, começamos o desenho de uma rede de diferentes atores que contribuiram para a comunicação do prêmio, assim como com a identificação de iniciativas alinhadas com seus critérios. Estivemos em campo buscando por pistas que revelassem novos projetos, em visita a inúmeras iniciativas, aprendendo sobre suas formas de operar, seus objetivos e documentando seu trabalho. Este trabalho inicia o desenho de uma plataforma de redes

que inclui diferentes agentes sociais ativos na construção do ambiente urbano. Esta plataforma foi desenhada para mobilizar a sociedade civil, assim como para circular a chamada da premiação. Entramos em contato com indivíduos, associações de residentes, movimentos sociais organizados, instituições governamentais e não-governamentais, instituições de educação, representantes da mídia, entre outros, com o objetivo de informar o prêmio amplamente. Tivemos o apoio de instituições de ensino superior, laboratórios de pesquisa, institutos culturais, que colaboraram com a comunicação do prêmio em suas redes, e com professores e pesquisadores que nos colocaram em contato com iniciativas locais. Contamos também com o apoio de secretarias que facilitaram o contato com grupos locais ativos em suas comunidades. Em campo, tivemos o apoio de agentes de diferentes programas de empreendedorismo do Rio de Janeiro. O Prêmio foi amplamente divulgado em vários meios de comunicação, incluindo televisão, rádio, jornal e plataformas online.

33

Estas imagens mostram

algumas das iniciativas que se

inscreveram no Rio de Janeiro.

Elas são uma amostragem maior

de projetos de natureza diversa,

sugerindo outras categorias

de práticas em que iniciativas

comunitárias atuam na região

metropolitana da cidade.

Trabalho de campo

34 Deutsche Bank Urban Age Award Rio 2013

35

Em março de 2013, iniciamos um mapeamento no Rio de Janeiro, com o objetivo de encontrar iniciativas segundo os critérios do Prêmio. Dividimos a Região Metropolitana de acordo com suas áreas administrativas, localizamos e contactamos em cada uma delas atores locais, associações e grupos ativos, que atuaram como facilitadores no acesso a informações de cada local  e na localização de iniciativas.

Em paralelo a este trabalho organizamos uma plataforma de mapeamento colaborativo, acessível online e disponível em nosso website, e fizemos uma chamada aberta para que iniciativas e situações alinhadas com os critérios da premiação fossem adicionadas.

Com base em nosso mapeamento de iniciativas organizamos uma série de visitas. Estas permitiram compreender com maior precisão as práticas organizadas por cada iniciativa. Mais do que isso, o contato direto com iniciativas comunitárias nos levou a descobrir outras iniciativas locais, com frequência desconhecidas fora de suas comunidades, e que desempenhavam importante papel em suas vizinhanças.

Com base em ambos, o plano de comunicação e o mapeamento, articulamos e convidamos iniciativas a participarem do Prêmio, o que complementou nossa lista inicial de projetos.

Este trabalho, desenvolvido em campo, forja o contato direto com uma rede de atores locais envolvidos em práticas coletivas. O processo todo de organização do prêmio tem enorme potencial para pesquisa de campo, assim como permite explorar a esfera local a partir de uma gama de projetos. A partir da observação imediata destas iniciativas, e do contato com lideranças locais, o pesquisador não mais contempla o mundo passivamente, mas começa a ter a experiência ativa a partir do contato com residentes ativos em seus ambientes urbanos.

a teoria dos momentos e a construção

de situações

Uma reflexão da Internacional Situacionista sobre a “Teoria dos Momentos”, de Henri Lefebvre (1960s), especula sobre uma rede

de práticas criativas em formação por toda a cidade, visível na construção de situações instantâneas e temporárias, baseadas nas chances oferecidas pela vida cotidiana. Esta teoria foca no ser humano e em sua ação e articulação com o meio que habita. “No nível da vida cotidiana, esta intervenção seria traduzida como uma melhor alocação de seus elementos e seus instantes como “momentos’, de forma a intensificar a produtividade vital do cotidiano, sua capacidade de comunicar e informar assim como e, acima de tudo, para o prazer na vida natural e social.” (Henri Lefebvre, La Somme et le Reste, tradução livre)

No Rio, tivemos contato com inúmeras iniciativas que aparentemente são organizadas como eventos temporais, instantemente construídas e dissolvidas. As situações que encontramos revelam o tecido urbano como um substrato poroso e aberto à ação humana, com base na organização coletiva. Revelam também a capacidade de espaços urbanos de receber novas articulações, recebendo novas atividades e encorajando o contato humano.

Trabalho de campo

36 Deutsche Bank Urban Age Award Rio 2013

Trata-se de iniciativas que enfrentam de forma gentil problemas críticos em comunidades que apresentam inúmeras fragilidades tais como a falta de serviços de educação de qualidade, acesso limitado à cultura e atividades de lazer, desenvolvidas a partir de parcerias estabelecidas pelas iniciativas comunitárias. Exemplos dessas situações construídas são oficinas nas ruas produzindo bens comuns e arte de rua, apresentações de teatro, música, dança, cinema a céu aberto, apresentações de arte e performances, atividades de gastronomia e atividades esportivas, todas as quais tem caráter temporário e são presentes na experiência do cotidiano no Rio. Como manifestações instantâneas, estas atividades tem com frequência estruturas bem organizadas como pano de fundo e que eventualmente geram melhora no ambiente urbano construído, de caráter mais duradouro. Com menor frequência, observamos outras iniciativas que focavam na desigualdade spacial do território – especificamente tratando de responder a questões urgentes tais como a falta de infraestrutura básica,

de espaços púlicos de qualidade e de alternativas de transporte.

revelando potencial, criando chances

para outras formas de planejar

A organização do mapeamento está relacionada à dimensão macro da cidade. Ele é uma chance para se revelar prátias, pontuar campos de oportunidade para ações e destacar sua importância na construção da cidade, assim como documentar e dividir tais informações. Qual o potencial revelado? Quais chances são criadas?

A visualização de um mapa que indica práticas locais revela uma rede caracterizada por práticas bottom-up (organizadas de baixo para cima). Trata-se de iniciativas que transformam seus espaços, desenvolvidas por residentes locais, em suas próprias vizinhanças e comunidades, com suas próprias mãos e recursos. O trabalho com frequência começa com o reconhecimento de um problema, seguido da realização da ideia para solucionar um problema urgente. Estas iniciativas comunitárias se desenvolvem a partir de ações pontuais

e dão suporte à participação ativa na escala local. Seus atos reconhecem chances em desafios, fazem uso criativo de recursos existentes e forjam parcerias e relacões para que se atinja um objetivo predefinido que responda às necessidades cotidianas e, eventualmente, se garanta a melhora de vida para as comunidades. Esta rede “bottom-up’, ligada à escala local, tem enorme potencial para complementar os esforços empregados pelas práticas tradicionais “top-down’, que caracterizam a implementação de planos de infraestrutura, por exemplo, pensados no longo prazo.

Na sobreposição destas duas redes há uma chance para se ampliar as ferramentas utilizadas para construir nossas cidades. Questões concretas estão ligadas à forma de se realizar pesquisa, projetar e pensar o ensino, à luz de uma abordagem prática e colaborativa para a questão urbana.

A construção de tais redes se relaciona a o que o sociólogo da ciência e antropólogo Bruno Latour descreve como a divisão de responsabilidade e uma forma de política participatória, experimentada em campo pelos cidadãos.

37

O sociólogo e historiador Richard Sennett recentemente desenvolveu o tema do “maker” (quem faz cidade), referindo-se ao empoderamento do artesão e pensando o possível impacto de iniciativas comunitárias no espaço urbano. Estes pensamentos apontam para a ideia de alocar fundos em escala local e para projetos auto organizados e baseados em redes sociais com a capacidade de melhorar a qualidade de espaços, assim como geri-los.

A forma como iniciativas comunitárias estão atualmente se desenvolvendo merece maior atenção da sociedade civil, de planejadores e políticos e pode influenciar ainda mais a forma como vivemos e construímos nossos espaços em um futuro próximo. A consolidação deste processo está cheia de oportunidades para a construção do bem comum.

Marcos L. rosa , nascido em São

Paulo, é um arquiteto e planejador

(FAU USP), Doutorando (TUM). Autor de

Microplanejamento: práticas urbanas

criativas (São Paulo, 2011) e editor de

Handmade Urbanism (Berlim, 2013).

Ele lecionou na TUM, Escola da Cidade

e ETH. Conceitualizou e coordenou a

plataforma de mapeamento colaborativo

no Rio e foi curador do Deutsche Bank

Urban Age Award em 2013.

Trabalho de campo

“O deutsche Bank Urban age award é um prêmio que envolve um extenso processo de pesquisa – da maior importância neste momento, nesta cidade – porque dá visibilidade a inúmeras iniciativas que estão inventando formas de vida e de linguagem valiosas ao pensamento e à ação na nossa era urbana.” LiVia FLOres

fontes

alfred herrhausen society’s archive;

handmade urbanism

Marcos L. Rosa e Ute Weiland (ed.), 2013;

endless city

Ricky Burdett e Deyan Sudjic (ed.), 2007;

living in the endless city

Ricky Burdett and Deyan Sudjic (ed.), 2011;

miniskirts meet minarets in the new istanbul

de Annette Grossbongardt, Spiegel;

mumbai’s quest for “world city” status,

panf leto emitido por UN-Habitat;

pk das & associates;

sao paulo: a tale of two cities

da série Cidades e Cidadões da

UNHabitat, 2010;

the world factbook

Agência Central de Inteligência – E.U.A.;

state of the world’s cities – trends in latin america & the caribbean: urbanization & metropolitanization

panf leto emitido por UN-HABITAT, 2004.

imagens

capa Pontilhão Cultural, Maré,

Marcos L. Rosa

pp. 2–3 Complexo do Alemão,

Marcos L. Rosa;

p. 4 Rocinha, Marcos L. Rosa;

p. 7 Borel, Marcos L. Rosa;

p. 10 Complexo do Alemão, Marcos L. Rosa;

p. 13 Complexo do Alemão, Marcos L. Rosa;

p. 14 Vidigal, Marcos L. Rosa;

pp. 16–17 Mumbai, Archive Alfred

Herrhausen Society: Robert Weiland,

Olaf Jacobs;

pp. 18–19 São Paulo, Archive Alfred

Herrhausen Society, Kristine Stiphany;

pp. 20–21 Istanbul, Archive Alfred

Herrhausen Society;

pp. 22–23 Mexico City, Archive Alfred

Herrhausen Society;

pp. 24–25 Cape Town, Archive Alfred

Herrhausen Society;

pp. 27 Mapping, Archive Alfred

Herrhausen Society;

p. 28 Plano Popular Vila Autódromo,

Olaf Jacobs;

p. 29 Pontilhão Cultural, Marcos L. Rosa;

p. 30 Censo Maré, Marcos L.Rosa;

p. 31 Agência de Redes para a Juventude,

Adair Aguiar;

p. 33–34Pontilhão Cultural, Marcos L. Rosa;

Boreart, Marcos L. Rosa;

Rocinha, Marcos L. Rosa;

Redes da Maré, Marcos L. Rosa;

Cidade de Deus, Marcos L. Rosa;

Complexo da Maré, Marcos L. Rosa;

Norte Comum;

Movimento Preserva Laboriaux;

Censo da Maré, Marcos L.Rosa;

Pontilhão, Maré, Marcos L. Rosa;

Rede Mulheres de Pedra;

Instituto Tear;

Movimento Preserva Laboriaux;

Placas de rua, Maré, Marcos L. Rosa;

Restauração do circuito Casas de Tela;

Mate com Angu.

pp. 38–39 Dona Marta, Marcos L. Rosa

“Os projetos associados ao Deustche Bank Urban Age Award estão muito relacionados com o que está acontecendo na cidade (...) mudanças relativamente pequenas no espaço urbano podem ter um impacto importante na qualidade de vida de residentes, principalmente aqueles situados na base da escala social.” Ricky BURDett