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Informativo do Camp Ano 5 março de 2007 número 13 IMPRESSO CAMP - Centro de Assessoria Multiprofissional Pça. Pereira Parobé, nº 130 - 9º andar - Centro CEP 90030-170 - Porto Alegre/RS Camp 24 anos Criado para apoiar a construção de instrumentos de organização dos trabalhadores urbanos e rurais e auxiliar na qualificação das suas lutas e na capacitação das suas lideranças, o CAMP comemora junto com vocês mais um ano de boa luta. Página 12 Jóias delicadas e originais, produzidas com escamas de peixe e prata, por um grupo de artesãs da Ilha da Pintada, prometem se transformar num produto de sucesso internacional. Páginas 8 e 9 Mulheres da Ilha da Pintada fazem arte com escamas de peixe Quebec e Cuba, Duas Américas A educadora Daniela Zílio,do CAMP teve a oportunidade de ter experiências diferentes nas duas Américas. Num breve período de tempo realizou duas viagens e teve a oportunidade de vivenciar formas de desenvolvimento local em Montreal e Havana. Páginas 6 e 7 Fundos Solidários Movimento popular, entida- des da sociedade civil e go- verno federal estão deba- tendo a criação de Fundos Solidários Não Retornáveis. Página 3 Orçamento Participativo perde espaço na Prefeitura de Porto Alegre O que estava bom, ficou ruim. E o que já era ruim, tornou-se ainda pior. Páginas 14 e 15 A morte brutal de um menino no Rio de Janeiro trouxe de volta a discussão sobre a redução da maioridade penal e a mídia em vez de descrever a situação e Jogar jovens na cadeia de adultos não resolve a violência problematizá-la apela para a emoção e o sensacionalismo e o resultado quase sempre é de conotação fascista. Página 13 Espantados ficamos conhe- cendo o relatório da ONU que trata do aquecimento global. Mas se o problema é mundial e as questões ecológicas pre- Atraso e distorções prejudicam gestão ambiental do Rio Grande cisam ser tratadas localmen- te o nosso estado que já foi vanguarda na questão am- biental, hoje está totalmente atrasado. Páginas 4 e 5

de 2007 Mulheres da Ilha da Pintada março fazem arte com ...camp.org.br/files/2014/02/vento-sul-13.pdf · mais um ano de boa luta. Página 12 ... também à fome, sede, ... e não

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IMPRESSOCAMP - Centro de Assessoria Multiprofissional

Pça. Pereira Parobé, nº 130 - 9º andar - Centro CEP90030-170 - Porto Alegre/RS

Camp 24 anosCriado para apoiar a construçãode instrumentos de organizaçãodos trabalhadores urbanos erurais e auxiliar na qualificaçãodas suas lutas e na capacitaçãodas suas lideranças, o CAMPcomemora junto com vocêsmais um ano de boa luta.Página 12

Jóias delicadas e originais, produzidascom escamas de peixe e prata, por umgrupo de artesãs da Ilha da Pintada,prometem se transformar num produto desucesso internacional. Páginas 8 e 9

Mulheres da Ilha da Pintadafazem arte com escamas de peixe

Quebec e Cuba,Duas AméricasA educadora Daniela Zílio,doCAMP teve a oportunidade de terexperiências diferentes nas duasAméricas. Num breve período detempo realizou duas viagens e tevea oportunidade de vivenciar formasde desenvolvimento local emMontreal e Havana. Páginas 6 e 7

FundosSolidáriosMovimento popular, entida-des da sociedade civil e go-verno federal estão deba-tendo a criação de FundosSolidários Não Retornáveis.Página 3

OrçamentoParticipativo perdeespaço na Prefeiturade Porto AlegreO que estava bom, ficou ruim. Eo que já era ruim, tornou-se aindapior. Páginas 14 e 15

A morte brutal de um menino noRio de Janeiro trouxe de volta adiscussão sobre a redução damaioridade penal e a mídia emvez de descrever a situação e

Jogar jovens na cadeia deadultos não resolve a violência

problematizá-la apela para aemoção e o sensacionalismoe o resultado quase sempreé de conotação fascista.Página 13

Espantados f icamos conhe-cendo o relatório da ONU quetrata do aquecimento global.Mas se o problema é mundiale as questões ecológicas pre-

Atraso e distorções prejudicamgestão ambiental do Rio Grande

cisam ser tratadas localmen-te o nosso estado que já foivanguarda na questão am-biental, hoje está totalmenteatrasado. Páginas 4 e 5

a palavra as notas

Como acreditar que o ser humanopudesse ameaçar algo tão gigantescoe imponente como a terra? O maiorencontro de cientistas sobre mu-danças climáticas chegou a umaconclusão: o planeta ficará irreconhe-cível nas próximas décadas. De acordocom o mais importante estudo járealizado sobre o aquecimento global,um painel formado pelos maisrespeitados especialistas em clima,conclamados pelas Nações Unidas,declarou que não há mais dúvidas:nosso planeta está esquentando.Ostermômetros deverão subir entre 2 e 4,5graus até o fim deste século. E o níveldo mar poderá subir entre 18 e 59centímetros.

Assim nós, humanos que já somosresponsáveis pelas desigualdadessociais teremos na nossa contatambém à fome, sede, inundações,furacões e extinções de espécies. Paraevitar as piores conseqüências dasmudanças climáticas teremos demudar profundamente nosso estilo devida, mas se o problema é mundial, asquestões ecológicas precisam serenfrentadas localmente. E nisso o RioGrande do Sul está totalmente atra-sado. Se o Estado um dia já foi vanguar-da na questão ambiental hoje estamosquase no fim da fila.

No fundo é falso o debate que oopõe desenvolvimento e meio am-biente – muito comum aqui no RioGrande. A questão ambiental é detodos nós, e não está separada decada um no seu dia-a-dia, no ar querespiramos, na água que consumimos,na comida que ingerimos, no lixo queproduzimos em tudo. Certamente aquestão do meio ambiente poderia serencaminhada com mais benefíciospara a humanidade com mais demo-cracia e participação popular.

Enquanto um debate mais amplo euma maior participação popularpoderiam ajudar a resolver grandesquestões como o meio ambiente, porexemplo - o Orçamento Participativo dePorto Alegre – reconhecido mun-dialmente também está ameaçado decontinuidade. A atual administração dacidade está tentando asfixiar aqueleque é – até o momento – uma das maisimportante demonstração da vontadeda maioria e da participação popular.

Falamos também da importância dodesenvolvimento local sustentável –numa ação de um grupo de mulheres -num bonito espaço da cidade que é oarquipélago das ilhas que cercamnossa cidade. Fundos RotativosSolidários Reforma Política, Criança eMenor Idade Penal e uma bela ex-periência vivenciada em Quebec eCuba fazem parte do nosso Vento Sulde março.

Boa leitura.

Filiado à Associação Brasileira de OrganizaçõesNão Governamentais e Associación Latinoamericanade Organizaciones de Promoción

VVVVVento Sulento Sulento Sulento Sulento Sul é uma publicação bimestral do CampCentro de Assessoria Multiprofissional - março de 2007 - nº 13Jornalista Responsável: Guaracy Cunha - Reg.Mtb/RS 4140Repór teres: José Antônio Silva, Délia Porto, Maurício Farias, Wálmaro PazDiagramação: Agência de Arte - [email protected]: Ana Arigoni, Leandro Marques, Ayr ton Centeno, Padre Martinho Lenz,Daniela Zilio, Beto Fagundes e Ivo Gonçalves/PMPATiragem: 2 mil exemplaresEndereço: Praça Parobé, 130, 9º andar - CentroCep: 90030-170 - Porto Alegre - RS - BrasilFone/fax: (51) [email protected] - www.camp.org.br

Direção do CampDireção do CampDireção do CampDireção do CampDireção do CampPresidente: Lauro Wagner MagnagoVice-presidente: Domingos ArmaniSecretária: Luciane SchommerTesoureiro: Celso Stefanoski

CoordenaçãoCoordenaçãoCoordenaçãoCoordenaçãoCoordenaçãoMauri CruzHelena Bins ElyJosé Inácio KonzenGuaracy Cunha

Educadores PEducadores PEducadores PEducadores PEducadores PopularesopularesopularesopularesopularesLeonardo Toss, Márcia Falcão, DanielaZílio, Rosimar Matos, Beatriz Hellwig eJoão Maurício Farias

Equipe de ProjetosEquipe de ProjetosEquipe de ProjetosEquipe de ProjetosEquipe de ProjetosLuíza Schafer e Suzana Guatimozin

Apoio AdministrativoApoio AdministrativoApoio AdministrativoApoio AdministrativoApoio AdministrativoJorge LeónAna ArigoniSofia de Castro SoutoVanessa Rauter

VVVVVoluntáriosoluntáriosoluntáriosoluntáriosoluntáriosCarmen PetryCindy Oilet

Mulheres da ViaCampesina celebram diada mulher ocupandoáreas no Estado

Cerca de 200 mulheres da Via Cam-pesina ocuparam na último dia 8 de março,dia internacional da mulher,quatro áreas deplantação de eucaliptos no estado. Nasocupações participaram 1300 mulheres,todas assen tadas do Mov imen to dosTrabalhadores Rurais sem Terra (MST). Alémda área da Stora Enso em São Francisco,elas entraram em Canguçu, numa área daVotorantim; em Livramento, outra plantaçãoda Stora Enso e em Eldorado do Sul, numaplantação da Boise Cascade.

No município de São Francisco de Assis.Elas entraram na fazenda, a 15 quilômetrosda cidade pela RS-377, às cinco horas damanhã e saíram depois do almoço paraparticiparem do enterro do bispo Dom IvoLorscheister em Santa Maria.

Conforme a dirigente da Via CampesinaTeresinha da Rosa, “esta foi a forma queencontramos de protestar contra o agro-negócio que desta forma inv iab i l i za areforma agrária na Metade Sul, ao mesmotempo em que degrada o meio ambiente ecompromete os mananciais de água, quegarantirão a vida das gerações futuras”.

Estas empresas já compraram 400 milhectares na Metade Sul do Rio Grande doSul e pretende alcançar a meta de um mi-lhão de hectares de monoculturas florestaisna região. Logo em seguida começarão aconstrução de fábricas de celulose que ser-virão “para dar alguns empregos, mas, prin-cipalmente, farão alterações ambientaisseveras nas nascentes de água e nos riosda região”.

A dirigente reclamou ainda da ação daBrigada Militar do governo Yeda Crusius, quenão cumpriu acordos de desocupação e

Fórum sul e a CPI dasOngs

“É com grande apreensão que estamosacompanhando o desenrolar da criação dadenominada CPI das ONGs pelo SenadoFederal. A apreensão se justifica porque,primeiro a imprensa noticia diariamente quea oposição ao atual governo busca de todasas formas abr i r uma t r inchei ra paradesgastar e se possível emparedar ogoverno Lula, segundo porque a legislaçãonacional não dis t ingue ent idades tãodispares como uma associação filantrópicamantenedora de uma grande universidadeque possui mais de 25 mil alunos pagantes,de outra criada por políticos que servem defachada para negócios escusos ou ainda deuma outra que funciona com base novoluntariado e que acompanha pessoasportadoras do vírus HIV. Tudo no mesmosaco serve para manchar o nome deinstituições sérias que trabalham e muitopara o desenvolvimento social e político doBrasil”, esta é a síntese da manifestação queMauri Cruz, diretor da Abong, AssociaçãoBrasi leira de Ongs, faz com relação àcriação da CPI das Ongs pelo Senado.Federal.

No documento emitido pela Abong, ficaa preocupação de que o foco da CPI nãoserá anal isar o universo de todas asentidades que acessam recursos públicos,mas sim, aquelas que realizam ações deeducação e c idadania, que buscamcontribuir para a organização da sociedadebrasileira e, principalmente, para o em-poderamento do povo no cotidiano processode lutas por seus direitos.

revistou as mulheres tomando-lhes facas demesa “para criminalizar o nosso protesto”,concluiu ela lembrando que a governadoratambém é uma mulher e o 8 de março é umdia de lutas e não de frivolidades.

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o investimento social

Fundos SolidáriosUma das mais importantes alter-

nativas para a emancipação eco-nômica de comunidades pobres éos Fundos Rotativos Solidários, quefuncionam como uma espécie depoupança coletiva e comunitária.Pensando no aprimoramento e naexpansão dos fundos, os partici-pantes do Seminário Nacionalsobre Fundos Solidários,realizadoem Brasília de 6 a 8 de fevereiro,apresentaram as seguintes pro-postas ao governo federal: acriação de um fundo nacional cujosrecursos destinados devem ser decaráter não-reembolsáveis pelafonte financeira de origem; gestãocompartilhada entre governo esociedade civil organizada; o pú-blico alvo deve ser os beneficiáriosdos programas de transferência derenda do Governo Federal, osresgatados do trabalho escravo esafristas (trabalhadores temporá-rios do campo), entre outros; e acriação de um grupo de trabalhocom a participação de gestorespúblicos e movimentos sociais paraser um canal permanente de diá-logo sobre os fundos.

Os Fundos Rotativos Solidáriosfuncionam como uma espécie depoupança comunitária. Os recur-sos são aplicados em obras deinfra-estrutura e projetos de ge-ração de trabalho, renda e inclusãosocial na própria comunidade. “NoBrasil temos um estado de pobrezahistórico que vai diminuindo ossonhos da população carente, porisso os fundos têm uma importância

as 18 comunidades atendidas pelaação. “A previdência social antiga-mente não atendia os agricultoresque queriam se aposentar ou asmulheres que necessitavam doauxílio-maternidade, pela falta dedocumentos como a comprovaçãode renda, tempo de serviço ou con-tribuição. Isto mudou com a cons-trução da Casa. Agora o INSS acei-ta a documentação da Casa, poistodos os beneficiados têm a suaficha comprovando que estão emsituação regular com as obriga-ções”, disse Vasconcelos. Mais umobjetivo alcançado pela Casa,cidadania.

A construção de 175 mil cister-nas no semi-árido também é um

fundamental para quebrar estacadeia”, disse o ministro PatrusAnanias, do Ministério do Desen-volvimento Social, MDS.

Fundo de sucessoÉ senso comum que todo

esforço é válido para que, porexemplo, uma criança aprenda aler, uma vida seja salva, um detentoseja recuperado. Imagine quandoesse esforço eleva a auto-estima etraz dignidade a 180 famílias. Esteé o exemplo de sucesso da Casade Sementes Solidárias, no Ceará.

O empreendimento, que come-çou a funcionar com recursos deum fundo solidário que teve inves-timento do Banco do Nordeste doBrasil, tem por objetivo garantir asegurança alimentar e nutricionalde comunidades na região doSemi-Árido nordestino. A Casafunciona da seguinte forma: quemprecisa de sementes para o plantiovai até o local e faz a roça. Depoisda colheita, o que for excedentepode ser comercializado.

José Vasconcelos, representan-te da Casa de Sementes Solidáriase que esteve presente ao seminá-rio, afirma que a agricultura familiaré o que deve ser destacado naconstrução da Casa e não o lucro.Segundo ele, as sementes são“crioulas”, isto é, são da região doSemi-Árido mesmo, próprias paraenfrentar os longos períodos deestiagem da região e pragas.

Vasconcelos também contouque a Casa trouxe dignidade para

Fundo de Mini Projetos da Região SulEnfrentar o desemprego, re-

forçar a solidariedade, combatera exclusão esses são os desa-fios do Fundo de Mini Projetos daregião Sul que repassou re-cursos para mais de 700 expe-riências de geração de trabalhoe renda no Sul do Brasil nosúltimos 15 anos.

O Fundo de Mini Projetos daregião Sul (FMPSUL) abriu novasperspectivas de vida e trabalhopara milhares de trabalhadoresdo Rio Grande do Sul, Santa Ca-tarina e Paraná. Unidos em em-preendimentos solidários, gaú-chos, catarinenses e paranaen-

ses tiveram no Fundo um parceirosempre presente.

A instituiçãoO Fundo de Mini Projetos surgiu em

1992, no Rio Grande do Sul, ex-pandindo-se, dois anos depois, paraos demais estados do sul. O públicoalvo do Fundo são agricultores fami-liares, recicladores urbanos, índios,desempregados, artesãos, sem-teto,atingidos por barragens e outros. Osvalores financiados podem ser deR$ 1 mil a R$ 8 mil com prazo decarência de um ano e modalidadesde devolução e retorno adequadas àscondições de cada grupo.

Os parceirosAs agências internacionais que

apoiaram o Fundo de Miniprojetosnesses últimos anos foram aChristian Aid, da Inglaterra, aOrganização Intereclesiástica paraa Cooperação ao Desenvolvimento(ICCO) e a Solidaridad, ambas daHolanda, e a Pão para o Mundo, daAlemanha. No Brasil, o Conselho doFundo é formado pelo Centro deEducação Popular (Camp), Asso-ciação de Pequenos Agricultores doOeste Catarinense (APACO), De-partamento de Estudos Sócio-Econômicos Rurais (DESER), AçãoSocial Arquidiocesana (ASA),

Associação de Estudos, Orien-tação e Assistência Rural(ASSESSOAR) e o Centro deFormação Urbano Rural IrmãAraújo (CEFURIA). Tambémintegram o conselho o Movi-mento Nacional de Luta pelaMoradia, Movimento Nacionaldos Catadores e o Movimento deMulheres Trabalhadoras Rurais.E ainda as seguintes organiza-ções: ADS-CUT/SC, CPT, Avesol,MPA, IEEP, MNLM, CEAP, MAB,Fetraf/Sul, MRI, CEPO, MNCMR,MTD, CNBB e o Fórum Metro-politano e Conselho Estadual deEconomia Solidária.

exemplo de Fundo Solidário queestá dando certo.

O Seminário Nacional sobreFundos Rotativos Solidários teve oapoio do Ministério do Desenvolvi-mento Social e do Ministério doTrabalho, através da Secretaria deEconomia Solidária, Senaes, daArticulação no Semi-Árido Brasi-leiro (ASA) - rede de entidades dasociedade civil; do Fórum Brasi-leiro de Economia Solidária, doFórum Brasileiro de SegurançaAlimentar e Nutricional, do Bancodo Nordeste do Brasil, BNB, doMutirão Nacional para a Supera-ção da Miséria e da Fome e doCamp - Centro de EducaçãoPopular.

Jovens são capacitados

Atraso e distorções prejudicamgestão ambiental do Rio Grande

Espantado frente à TV, o mundoassistiu o relatório recente da ONU,preparado por 2.500 cientistas,alertando para os riscos do aque-cimento global. Ficamos sabendoque o futuro já chegou – e em ter-mos ambientais é altamente amea-çador. Mas se o problema é mun-dial, as questões ecológicas tam-bém precisam ser enfrentadaslocalmente. “Neste sentido, pode-mos dizer que o Rio Grande do Sulestá totalmente atrasado”, denun-cia o professor Jefferson CardiaSimões, do Departamento de Geo-grafia da Ufrgs. Coordenador doNúcleo de Pesquisas Antárticas eClimáticas, ele é o primeiro glacio-logista brasileiro. “Até hoje, não te-mos estudos abrangentes sobre asmudanças climáticas que vêmocorrendo, e nem sobre suas con-seqüências para o meio ambientedo Estado e para a população gaú-cha”.

Citando os casos de Paraná eSanta Catarina, que possuem nú-cleos estaduais de ponta em cli-matologia, Simões diz que no RioGrande a Fepagro e o 8º Distrito deMeteorologia fazem o que podem,mas sempre lutando com poucosrecursos. “Não existe, por parte doEstado do Rio Grande, nenhumapolítica conseqüente sendo desen-volvida para estudar e enfrentar asmudanças climáticas, embora emoutras regiões e em nível federalestes temas mereçam grande aten-ção, como a Comissão Interminis-terial de Mudança Global do Clima,ou o Fórum Brasileiro de MudançasClimáticas”.

Comunidades litorâneasSobre o que vem acontecendo

com o planeta, o glaciologista info-rma que, com o aquecimento doplaneta, as geleiras situadas na pe-riferia dos pólos estão derretendo,provocando aumento do nível domar em até 60 centímetros, no de-correr deste século, o que pode tra-zer problemas diretos às comuni-dades do litoral gaúcho. Aqui no RioGrande, também, os climatolo-gistas já sabem que houve um au-mento na média das temperaturas:“Nossas manhãs estão cada vezmais quentes”, resume o cientista.“As evidências de modificaçõesvêm se acumulando, como a pas-sagem do Catalina, há poucos

anos, que teria sido o primeirofuracão a formar-se no sul do Brasil.Nada disso, no entanto, motivou asautoridades gaúchas a investiremconcretamente no estudo dessesfenômenos e em suas conseqüên-cias sociais e econômicas para oEstado”, reclama Jefferson Simões.

O fato é que o Rio Grande,referência histórica na luta ambien-talista brasileira através de nomescomo os pioneiros HenriqueRoessler (já nos anos 40 do séculopassado) e José Lutzemberger,hoje está na retaguarda do proces-so, no que toca à ação dos seusadministradores. “Estamos vivendouma inversão”, afiança o geólogoe ambientalista Sérgio Cardoso,membro do Conselho Estadual doMeio Ambiente e presidente doCoredes Delta do Jacuí. “Em 1994a Fundação Estadual de ProteçãoAmbiental (Fepam) tinha cerca de600 funcionários. Hoje, quando to-dos os problemas ambientais seagravaram, ela conta com menosde 200”, afirma.

“E mais ainda: nos últimos quatroanos tivemos quatro secretários demeio ambiente, um por ano, o quedemonstra falta de uma política comcontinuidade”, lembra ele. Cardosodiz que no governo de Olívio Dutra

e industriais, esgotos domésticos,agrotóxicos, entre outras formas depoluição, além de represamentos ebarragens irregulares e o uso a-busivo por indústrias e para irri-gação de lavouras, especialmentede arroz.

Mortandade dos peixesNo caso da mortandade de

peixes no Sinos, apenas uma em-presa – a Utresa, que deveria fazero tratamento do lixo tóxico naregião – foi denunciada por 17 cri-mes ambientais. Outras seis ga-nharam na justiça, por liminar, o di-reito de não terem seus nomesdivulgados. O diretor da Utresa,Luiz Rupenthal, segue foragido. “Éimpressionante observar quenenhuma empresa foi fechada pararegularizar a situação, como prevêa lei diante de situações graves”,nota o doutor em Ecologia daPaisagem e professor do Institutode Geociências da Ufrgs, RualdoMenegat.

Não é só isso: com a experiên-cia de quem trabalha há muito naárea e já foi diretor-técnico da Fun-dação Municipal de Meio Ambiente(Fmma) de Gravataí, Sérgio Car-doso revela que “essas multas emgeral não chegam a ser pagas

houve uma maior atenção àquestão, com a criação da Se-cretaria Estadual de Meio Am-biente, já que a Fepam ocupava-se mais de processos de licencia-mento e não com a criação e im-plantação de políticas para o setor.

Mas 1994 também foi o ano emque criaram-se duas leis de grandeimportância para o equilíbrio eco-lógico do estado: uma que criou oSistema Estadual de Meio Am-biente, e outra instituindo o Sistemade Recursos Hídricos do Rio Gran-de do Sul. Hoje, quando o estado eo país são sacudidos pela notíciada mortandade de 86 toneladas depeixes no Rio dos Sinos há poucosmeses, lamenta-se que nenhumdos planos de manejo das 24 ba-cias hidrográficas do Rio Grande –de responsabilidade do governoestadual – tenham sido implan-tadas.

“É nítido que tratar dos nossosrios ainda não é uma prioridade dosgovernos”, lamenta Sérgio Cardo-so. Assim, mananciais importantescomo o Sinos e o Gravataí – quebanham cerca de 50 municípios deelevada população na RegiãoMetropolitana de Porto Alegre –seguem recebendo, em troca, gran-des descargas de dejetos químicos

o meio ambiente

2007 março 5

pelas empresas”. Segundo ele, asindústrias costumam recorrer emtodos os escalões, culminando como Conselho Estadual de MeioAmbiente, que na maioria doscasos perdoa a multa. Ou seja, nãoé difícil entender porque o poucocaso com os cuidados ambientaisainda viceja no território riogran-dense.

Até agora, as conseqüênciasnegativas mais visíveis do episódio– além da podridão das águas dorio - foram a demissão do diretor daFepam (nomeado no início do anopela nova governadora, YedaCrusius), Renato Breuing, e de seudiretor-técnico, Jackson Muller.Ambos se viram envolvidos numatroca de acusações, a partir dadenúncia de que Breuing já haviatrabalhado como consultor, para amesmíssima Utresa, multada porMuller.

Arno Kayser, ecologista doMovimento Roessler, de NovoHamburgo, afirma: “A praga demosquitos que se abate pelo valedo rio dos Sinos pode ser um efeitoretardado da morte dos peixesocorrida na região. Como morrerammilhares de peixes antes do perío-do de desova nos banhados esta-mos com um grande déficit de for-mas jovens de peixes nestes am-bientes para controlar as popula-ções de insetos. Com as chuvas ecalor e o grande acúmulo de focosde lixo nas zonas urbanas os ex-cedentes de mosquitos, não con-trolados nos banhados, estão in-vadindo a cidade em busca desobrevivência. Como nos temposbíblicos uma forma de alerta paraos humanos

Avanço das reflorestadorasA falta de políticas claras de

desenvolvimento sustentável do RioGrande do Sul, no entanto, não selimita à questão fundamental daságuas. O ritmo acelerado com queo atual governo vem tocando oprojeto de três grandes empresasde florestamento no Rio Grande –em especial, na Metade Sul – pare-ce desconhecer a complexidadedo problema e a necessária discus-são sobre todos os efeitos, inclu-sive os ambientais, que a imposi-ção da silvicultura em enormes ex-tensões pode causar.

Para a doutora em biogeografiae bióloga da Fepam, Luiza Cho-menko, “a questão do cultivo demonoculturas, independente doque seja plantado, é sempre umrisco”. Ela aponta a ameaçaambiental à biodiversidade, e alertaque é necessário mais cuidado como que se denomina “bioma pampa”,

típico da Metade Sul, e a conclusãodos estudos necessários: “Quemtrabalha com meio ambiente sabeque em dadas situações, após umcerto impacto ser produzido, podenão haver remediação daquelasituação”.

Luiza Chomenko põe ênfase noconceito de desenvolvimento sus-tentável, que leva em conta asespecificidades naturais, econô-micos e culturais de cada região.“Os ditos modelos ‘globais’ não sãosustentáveis, e poderão ser embreve um fator adverso à economiabrasileira. Uma das grandes moe-das de troca no planeta vem sendoa questão ambiental, e o Brasil nãotem o direito de desperdiçar imen-sas reservas de recursos naturaissem pensar no amanhã”.

Quanto aos três grandesprojetos de reflorestamento –alardeados como geradores de 100mil empregos, e representandoinvestimentos de 4,4 bilhões dedólares -, tudo parece indicar queo trabalho sério dos técnicos daFepam sofre a pressão econômicadas empresas, através do própriogoverno. “A falta de políticas dedesenvolvimento sólidas e de umaverdadeira política ambiental, fazcom que cada governo encontreum mote para esta área”, acreditao geógrafo Sérgio Cardoso. “Nocaso do atual governo, o mote é asilvicultura. Ela até poderá funcio-nar bem em algumas áreas, mas o

processo está errado, vindo decima para baixo, como uma im-posição à sociedade. Já se sabeque há restrições para esse cultivoem algumas das 45 unidades deplanejamento já escolhidas pelasempresas – que não é possívelpartir para uma monocultura dessetipo em certos locais sem colocarem risco o meio ambiente”.

No entender de Cardoso, não háexagero em dizer que a discussãoainda é dominada por uma visãopuramente econômica. “Eles nãovalorizam corretamente a questãoambiental, mesmo com todos ossinais de decadência ecológica doplaneta”, adverte. E a própria ale-gação de que seriam criados 100mil empregos na região não sesustenta: “É mais do que sabidoque, após um período inicial deplantio, o manejo da floresta plan-tada gera um número mínimo deempregos”, diz.

Falso debateNo fundo, acredita Sérgio Car-

doso, é falso o debate que opõedesenvolvimento e meio ambiente.“A questão ambiental é de todosnós, e não está separada de cadaum no seu dia-a-dia, no ar que res-piramos, na água que consumi-mos, na comida que ingerimos, nolixo que produzimos – em tudo”.

Apesar dos problemas ambien-tais do Rio Grande exibirem naessência a falta de gerenciamento

melhor e mais equilibrado, Cardosovê com otimismo os resultados daLei de Saneamento, em nível fede-ral, aprovada em 2006. “A questãoambiental bota em relevo o aspectoda regionalização, e esta lei diz queos municípios têm dois anos – ouseja, até 2008 – para criarem seusplanos de saneamento, que por suavez precisam ser integrados à baciahidrográfica de suas regiões”,explica. “O dinheiro é federal, maspara recebê-lo, os municípiosprecisarão se agilizar. Isso é umavanço porque reforça o conceitode regionalização, ao mesmotempo em que acaba com a idéiado município como uma célulaisolada do mundo”.

Ainda sobre os recursos hídri-cos, ele também enxerga progres-sos no modo como os produtoresrurais passam a encarar a questão.“Hoje a água é mais escassa, emuitos plantadores sabem queprecisam se adaptar aos novostempos, incluindo o uso de novastecnologias na forma de plantararroz, utilizando menos água”. Eainda mais: o presidente do Core-des, Delta do Jacuí, acredita que autilização dos recursos hídricos pelaagricultura e pela indústria deverãoser pagas: “Hoje eles não pagamnada aqui no estado, mas em SãoPaulo a cobrança já está sendo feita,e é correta, pois os recursos hídricostêm valor econômico e precisam terretorno para a sociedade”.

Quebec e Cuba, Duas Américasvista econômico. Então foram atéa prefeitura negociar um apoiofinanceiro, pedindo o mesmo queera gasto anteriormente com acoleta e incineração do material,mas receberam apenas a metade.Trabalharam mais seis meses edecidiram que ainda não dava, porisso pararam as atividades efizeram um estudo para levantarsoluções. Decidiram se especia-lizar no ramo do papel, através dadestruição de documentos confi-denciais, coleta, separação evenda somente deste material.Hoje também capacitam pessoassem experiência ou escolaridade,como dizia o cartaz na porta.

Já na cidade de Gatineau(cidade vizinha a Ottawa, a capitalpolítica do Canadá) visitei o Dé-panneur Sylvestre, uma coopera-tiva com uma proposta comple-tamente diferente de tudo queconhecia até então, combinandoum restaurante com um brechó eum espaço para venda de produ-tos orgânicos, ecológicos, de pro-dução local e do comércio justo.

As refeições não têm um preçoestipulado, pedem apenas umacontribuição voluntária, mas tam-bém se pode ajudar a cozinhar e alavar a louça. Utilizam o espaçopara eventos culturais como apre-sentação de filmes alternativos,conferências, oficinas, mini mer-cado solidário, etc; sempre preo-cupados em formar e informar apopulação sobre a importância dese criar uma cultura solidária ecooperativa em relação ao con-sumo, às relações com as pessoase ao meio ambiente.

CUBA E A EDUCAÇÃO POPULAREm fins de janeiro deste ano, fui

a Cuba participar da AssembléiaIntermediária do CEAAL (Conse-lho de Educação de Adultos daAmérica Latina), onde se reunirameducadores de toda América La-tina e Caribe para debater e refletirsobre os desafios da educaçãopopular. Aproveitei a viagem paraconhecer experiências cubanas dedesenvolvimento local, visitandoduas comunidades. Sempre quisver como vive o povo cubano,conversar com a gente de lá parasaber como se sentem por ser oúnico país não capitalista da terra.Claro que em dez dias era umamissão quase impossível, masacredito que fui muito feliz e quefoi a melhor viagem que já fiz atéhoje.

Ficamos hospedados num cen-tro de eventos do HospitalOrtopédico na cidade de La Lisa,longe do centro turístico de Hava-

66 mil pessoas (eram 100 mil em1950), o Sudoeste conta com umaalta taxa de desemprego (11,4%,comparativamente a 9,2% emMontreal) e baixa escolarização(20% da população com mais de20 anos tem menos que o 9º anode escolaridade). Outra caracte-rística da região é o grande númerode imigrantes, que representam18,6% da população do Sudoeste.

Com esta situação de desem-prego, baixa escolaridade e alto

o gerenciamento de recursospúblicos para o desenvolvimentode empresas que criam e mantémempregos no bairro, instituindonovos instrumentos de desenvol-vimento através do Fundo Local deInvestimentos, Fundo de Econo-mia Social e Fundo de IniciativasLocais.

Sempre buscava estabeleceruma relação das atividades queparticipava com o meu trabalho noCAMP. Um exemplo são as em-

Em junho de 2006 começaramas aulas de francês e as pre-parações para a viagem realizadaem 29 de setembro ao Quebec,única província francesa doCanadá. A proposta era realizar umestágio de 75 dias em Montreal(cidade da província do Quebec)para par t icipar do Programa“Québec sem Fronteiras”, criadopelo governo quebequense com afinalidade de proporcionar umaexperiência de estágio em inicia-ção à cooperação internacional,mas também de conhecer maissobre o país, sua cultura, seuscostumes, sua história.

Cheguei a Montreal no início dooutono, quando a paisagem re-cebe um colorido todo especial, asárvores com folhas em tonsavermelhados parecem saídas deuma pintura. Longe de casa, numpaís estranho, falando uma línguaque não era a minha, fui acolhidapor uma família formada pela uniãode uma quebequense com umperuano e seus dois filhos.

A organização escolhida pararealizar o trabalho foi a RESO(Reagrupamento Econômico eSocial do Sudoeste de Montreal),financiada pelo governo quebe-quense voltada para a revita-lização dos bairros do Saint-Henri,Petite-Bourgogne, Pointe Saint-Charles, Ville-Émard, Côte Saint-Paul et Griffintown.

Estranhei a frieza com que fuirecebida, lembrei da nossa hos-pitalidade gaudéria, logo ofere-cendo um chimarrão e um forteabraço para quebrar a frieza domomento, mas com o passar dotempo, percebi que este distan-ciamento é um traço cultural forteque com o passar dos dias foi semodificando positivamente.

Para entender o trabalho daRESO, precisei conhecer umpouco da história da comunidadena qual ela estava inserida, pois oSudoeste de Montreal foi, atémeados do século XX, o berço dodesenvolvimento do Canadá, porser uma região industrial estraté-gica em razão da passagem doCanal de Lachine, que era oprincipal meio de transporte demercadorias para o centro do país.Entretanto, a partir do fechamentodo canal em 1965 a região perdeu(ao longo de 30 anos) 13 milempregos, gerando uma quedasignificativa no índice populacio-nal. Hoje, com uma população de

índice de imigrantes, os atoressociais do local se organizam pararevital izar a região e frear adeterioração das condições devida da população do Sudoeste.Desta forma criam a primeiraexperiência de desenvolvimentoeconômico e comunitário em meiourbano com o objetivo de interven-ção social para ajudar as pessoasa se reinserirem no mercado detrabalho.

A RESO nasceu em 1989 com oobjetivo de criar serviços queapóiam o retorno dos cidadãos aomercado de trabalho, através deorientação escolar e profissional eda assessoria para a consolida-ção e desenvolvimento de empre-sas. Suas ações vão desde ajudana busca de emprego, estágios emempresas, formação profissional,formação geral, até o acompa-nhamento e formação para aconstituição de empresas adapta-das às necessidades das pessoasque querem criar seu próprioemprego.

Possui um projeto experimentalde desenvolvimento local atravésde um fundo de investimentos(RESO Investissements) onde faz

presas de economia social quebe-quenses que têm grande apoiofinanceiro do governo. Porém estarelação de Estado provedor nãopromove sua autonomia. A eficiên-cia organizativa e financeira, osserviços impecáveis e produtosfeitos com qualidade são a marcadestas empresas. Visando semprea capacitação dos desempre-gados com o objetivo de reinseri-los no mercado de trabalho semum questionamento quanto às rela-ções excludentes do sistemacapitalista.

ReciclagemEm Quebec, numa empresa de

economia social na área da reci-clagem, já na porta um cartazchamava a atenção: “Contratamospessoas sem experiência ouformação”, deixando visível sua fi-nalidade de inserir pessoas excluí-das do mercado de trabalho.Começou como muitas associa-ções de reciclagem daqui. Reco-lhiam o material reciclável do bair-ro, faziam a separação e vendiam.Porém ao fim de um ano de tra-balho chegaram à conclusão deque isto não era viável do ponto de

2007 março 7

na. Percebemos muita precarieda-de nas condições de habitação, detransporte público, ao mesmotempo em que no centro vimosônibus novos, com ar condicio-nado, levando e trazendo turistas.

Esta dualidade é muito presenteem Cuba: para os turistas existemuito luxo, nos hotéis, lojas erestaurantes, mas para o povo háuma série de restrições. Isto ficamuito claro porque existem duasmoedas circulantes, uma paraturistas e outra para o povo. O CUC(peso convert ível, disponívelsomente para o turista) foi criadona década de 90 durante a crisecubana (pela retirada dos subsí-dios da antiga União Soviética)quando a maior fonte de renda dopaís deixou de existir e o turismotornou-se o principal gerador daeconomia nacional. Porém porconta do embargo econômicoCuba tem dificuldades em lidarcom o consumismo desenfreadodo turista em relação à desva-lorização de sua moeda.

O salário mínimo é de cerca de300 pesos cubanos, que equivalea mais ou menos 12 dólares pormês (a grande maioria dos médi-cos ganha em média 600 pesoscubanos), mas todos têm direito auma cesta básica mensal distri-buída pelo governo, que não che-ga a suprir todas as necessidadesbásicas, mas que complementa arenda. Conversamos sobre isso

com muitos cubanos e as opiniõesme pareceram contraditórias.Alguns criticam a postura centra-lizadora do governo, outros sedizem satisfeitos.

Chamou-me a atenção a con-versa que tivemos com um senhorde meia idade, que encontramosnum fim de tarde de sábado,passeando com o filho e a nora.Perguntamos a ele, dentre outrascoisas, se tinha o sonho de um diater um carro (artigo de luxo, oscarros são cuidados com muitocarinho e geralmente ficam nafamília de uma geração para outra)e ele respondeu-nos que não,porque como jamais teria condi-ções de comprar, não tinha osonho de ter. A princípio pareciamuita resignação, conformismocom a situação, mas após refletirum pouco penso que jamais en-tenderemos o que realmente elequis dizer com isto. Percebi que osistema capitalista está tão incrus-tado dentro de nós que talvez nãosejamos capazes de apreciar umpasseio de fim de tarde com afamília como a realização de nos-sos sonhos.

Sobre as experiências de de-senvolvimento local, visitamos oCentro Memorial Dr. Martin LutherKing Jr. (CMMLK), que nasceu em1987 de um processo iniciado pelaigreja batista do município deMarianao (região metropolitana deHavana), ONG macro-ecumênica

cuja missão é de acompanhar,atender e participar da sociedadecubana sem perder de vista osprincípios socialistas.

O Centro busca a participaçãodos cidadãos de forma crítica everdadeiramente participativa,pois o modelo socialista autoritáriocriou a cultura de participaçãoapenas como presença física enão pela tomada de decisões.

Uma das comunidades que ocentro acompanha é o bairroPogolotti (13 mil habitantes), quepossui um forte sentido de perten-cimento, de identidade local. Compredominância negra, povo humil-de, praticante da religião africanaAbacuá, foi um dos primeiros bair-ros operários da América Latina(fundado em 1911) e sempre tevea fama de ser um bairro margi-nalizado, mas ao andar pelas ruasdo bairro percebemos sinais denovos investimentos para melhorianas condições de vida.

Lá visitamos o TTIB Pogolotti(Talher de Transformação Integraldo Bairro Pogolotti), uma institui-ção de desenvolvimento comuni-tário criada no final da década de80 com o objetivo de contribuircom a reanimação social, culturale material do bairro. O TTIB realizaformações para que a comunida-de deixe de ser objeto e passe aser sujeito na transformação dasociedade, reunindo os váriossetores que trabalham no local

(saúde, cultura, educação, meioambiente) criam instrumento dediagnóstico, visitando todas as fa-mílias do bairro. Depois fazem ofi-cinas com a comunidade para de-volver o diagnóstico, questionar osresultados obtidos e pensar solu-ções coletivas para os problemas.

Visitamos também a casa co-munitária do Conselho Popular(órgão de poder popular local,formado por 16 delegados, com afunção principal de promover aparticipação popular em iniciati-vas de integração da comunidade)onde realizam atividades principal-mente com idosos e possuemprojetos de reflorestamento, me-lhoria da iluminação, das con-dições de habitação, de recicla-gem, etc... Os idosos são incen-tivados a passarem a história dacomunidade para os jovens, deforma que estes se apropriem desua cultura e tenham sentido depertencimento do bairro, sintamorgulho de viver lá.

Outra organização que visita-mos no município de Playa (tam-bém na região metropolitana deHavana) foi o CIERIC (Centro deIntercâmbio e Referência – Iniciati-va Comunitária), uma ONG quetrabalha pelo desenvolvimentosócio-cultural apoiando iniciativaslocais que contribuam para elevara qualidade de vida, fortalecer apresença da arte e da culturacomo base do desenvolvimentohumano sustentável.

Sua principal atividade é arealização de um programa deformação de promotores culturaisque resgata a história do país, dacomunidade e como transversali-dade pensa o desenvolvimento co-munitário. Os participantes destaformação podem se inscrever emum concurso de projetos sócio-culturais, onde irão identificar osproblemas da comunidade eapontar sua solução. O objetivodeste concurso não é de incenti-var a competição, mas o aspectoeducativo e de reflexão dos pro-blemas da comunidade, mobili-zando assim os atores locais paraa solução dos próprios problemas.

Penso que a transformação dasociedade se dá num processoconstante que acontece de formapermanente. Num sistema socialistaa mudança não está acabada, masse faz no cotidiano, assim também odesenvolvimento local deve serencarado como um desafio perma-nente, em construção. Este é o gran-de desafio da educação popular:formar cidadãos críticos e cons-cientes na luta por uma sociedademais justa e igualitária.

o intercâmbio

Encontro reuniu mais de 400 pessoas de 140 empreendimentos do estado

Produção solidária

Mulheres da Ilha da Pintada fazemarte com escamas de peixe

Jóias delicadas e originais,produzidas com escamas depeixe e prata, por um grupo deartesãs da Ilha da Pintada, pro-metem se transformar num produ-to de sucesso internacional. Sãobrincos, colares e gargantilhasque usam escamas beneficia-dos, recortados e tingidos comprodutos naturais (ervas e flores),unidas por fios finos de prata 950.A coleção, preparada pelo grupoArt´Escama, formado por cercade 20 moradoras da ilha, foi apre-sentada em desfile no dia 7 demarço, no Armazém Gaúcho doArtesão, e atraiu a atenção decompradores locais. Amostras daprodução já foram levadas aosEstados Unidos, Canadá, Itália eFrança. O trabalho das artesãsgaúchas também deverá serapresentado na sede da ONU,levado por representante da Le-gião Brasileira da Boa Vontade.“Precisamos continuar a crescercom esse trabalho”, diz Teresi-nha Carvalho da Silva, educado-ra popular e coordenadora dogrupo.

O Art´Escama começou a nas-cer em 2001, com o apoio daColônia de Pescadores Z 5 everbas federais do FAT/ Fundo deAmparo ao Trabalhador, que per-mitiram a realização de um cursode artesanato para mulheres depescadores da Ilha da Pintada. Ouso das escamas – um rejeitodestinado ao lixo – retomou a cul-tura dos moradores da ilha, vin-culada à pesca e ao rio, além datradição açoriana de trabalho ar-tesanal, presente na formação dacultura portoalegrense. No anopassado, com a participação deuma rede de ongs e com verbasrepassadas pela Secretaria Espe-cial de Agricultura e Pesca/ Presi-dência da República o grupo co-meçou a tomar forma, com a rea-lização do curso “Design de jóiascom o diferencial de escamas depeixe”, pela designer DeniseRippel, que repassou técnicas demanipulação da prata e de dese-nho das peças. “Agora elas estãoqualificadas para produzir jóiasexclusivas e dar continuidade aotrabalho”, diz a professora. Daquipara frente este grupo de mulhe-res precisa fortalecer a organiza-ção do seu trabalho coletivo para

conseguir atender os pedidos denovos compradores, afirma BeatrizHellvig.

O artesanato fino com escamasde peixe é uma das alternativas degeração de trabalho e renda paraa população do arquipélago doGuaíba, de cerca de 8 mil pessoas,segundo o IBGE, distribuídas emalgumas das 30 i lhas que oformam. A maior concentraçãoestá em quatro delas: Ilha Grandedos Marinheiros, do Pavão, dasFlores e da Pintada. Nessapopulação há um contraste entrepessoas que vivem em extremacarência e moradores ocupandomansões na beira do rio.

O Camp, que é o executor doprojeto do Art´Escama, se prepa-ra para acompanhar a populaçãodas ilhas, atuando em programascapazes de desenvolver o poten-cial cultural e de trabalho de seusmoradores, mantendo sua identi-dade com o rio e com as ativida-des de pesca e sua capacidadede associação em gruposcooperativos para geração derenda. Já foi feito um trabalho dereconhecimento das característi-

cas da região e de seus habitan-tes. A observação dos técnicosna região mostrou que as ilhastêm marcas peculiares. Fazemparte de Porto Alegre, mas têmcaracterísticas não urbanas emfunção de sua relação com o rioe também por se tratar de áreade preservação ambiental. Háuma população que se con-sidera nativa e uma parte queocupou espaço depois daconst rução das pontes, queaproximaram a cidade e as ilhas.Muitas famí l ias vivem da se-paração do lixo, uma ocupaçãoque se origina no período emque a limpeza pública da cidadedespejava os resíduos nessaárea. Muitas ainda sobrevivemda pesca, mas esta atividadediminuiu com o crescimento dapoluição dos rios e em decorrên-cia de desastres como o quematou toneladas de peixes noRio dos Sinos, no final de 2006.Mas a cultura ligada à atividadeda pesca é bastante consolida-da.

Ao levantar as característicasda população e seu entorno e

discutir com as pessoas suasaspirações, surgiu no ano pas-sado à sugestão de realizaçãoda 1ª Mostra Cultural do Arqui-pélago, o que aconteceu emfevere i ro passado, na I lhaGrande dos Marinheiros – comapresentação de música, dançae teatro – como uma iniciativapara a in tegração ent re aspessoas por meio da cultura.Segundo Helena B ins E ly, oobjetivo do Camp é acompanhara população e estimulá-la paraque suas lideranças se articulemem diversos grupos e iniciativasde geração de trabalho e renda.“A iniciativa tem que ser deles”,d iz Rosimar Mat tos Teixei ra,educadora do Camp. “Só existedesenvo lv imento loca l se acomunidade se envolver”. ParaJoão Maurício Farias, também doCamp, o fato de se tratar de umaregião de extrema fragilidade,por ser área de preservaçãoambiental, um banhado amea-çado pela poluição, esta mesmacondição proporciona facilidadena busca de parcei ros e derecursos.

o desenvolvimento

2007 março 9

Artesãs da escamaElas trabalham e montam as

peças delicadas em torno deuma grande mesa na sala cedi-da pela Colônia de PescadoresZ-5, na Ilha da Pintada. O solfor te de verão esquenta oambiente. Soleni Teresa dosSantos, 44 anos, dois filhosadultos, em poucos minutosarma cinco escamas rosadas emtorno de uma conta, prende tudocom um fio fino de prata e estápronta uma flor. Ela é uma dasartesãs que no ano passadofizeram o curso de design dejóias e agora produzem nu-merosas peças para um mer-cado ainda em formação. Soleninasceu em Santa Maria, casoue veio para a Ilha da Pintada há23 anos. Sempre trabalhou comodoméstica e também ajudava arenda da família fazendo bor-dados e algum artesanato. Omarido repara peças dos barcosde pesca e de passeio queancoram na ilha. Com o curso,tornou-se uma artesã maisafiada, cria suas próprias peçase tem uma forte expectativa nosucesso do empreendimentocoletivo do Art´Escama.

Como ela, outra artesã, RosiTerezinha Santos da Silva, nas-cida e criada na Ilha da Pintadae mãe de quatro meninas, comidade de oito a 23 anos, e avóde um guri, já sabia lidar com as

escamas para trabalhos arte-sanais, mas no curso de designaprendeu outras coisas, comodesenhar as peças e lidar com asolda para prender os fios deprata. “Já fui merendeira, faxinei-ra e costureira”, conta ela. “Quemtem filhos precisar ir à luta ecorrer atrás. Espero que estetrabalho seja uma fonte de rendaestável”, deseja ela.

Elas ainda têm caminho a per-correr. Contando também com oapoio da Cooperativa dos Pes-cadores da Ilha da Pintada, ogrupo ainda assim luta comdificuldades. Faltam equipa-mentos e também capital de giropara a compra de material.Alguns tipos de escamas vêmde outros locais – como as demiraguaia, que vêm de RioGrande – e têm de ser compra-das. “A prata tem um custo altoe pagamos a terceiros paratransformá-la em fios”, diz JoanaMaria Flores Coelho, gerente doprojeto, e diretora administrativada Cooperativa de Pescadores.Segundo ela, ainda há difi-culdades para superar – comoo manejo da serra e de outrosequipamentos. E elas têmtrabalho pela frente: precisamformar estoques das peças jádescritas em catálogo e se pre-parar para atender um mercadoem formação.

O CAMP está concluindo aprimeira etapa do trabalho deacompanhamento de comunida-des para o Desenvolv imentoLocal-DL, tendo como base terri-torial o Arquipélago de Por toAlegre/Delta do Jacuí. Espaçoque engloba ao mesmo tempograndes fragilidades ambientais(APA-Área de Proteção Ambien-tal e Parque Estadual do Delta) esociais (parcela significativa depopulação com extremas carên-cias).

Nesta etapa de diagnósticoestão emergindo preocupantesconstatações, como: 51,78 % deum total de 7.619 pessoas (2006)tem de zero a 24 anos de idadeassim mais da metade da popula-ção do Arquipélago são crian-ças, jovens e adolescentes.

A região Ilhas/Humaitá/Nave-gantes está em 2º lugar na taxade mortalidade infantil entre asregiões do OP, com 20,4 por mile em 4º lugar na taxa de homicí-dios.

O tema da juventude é alar-mante e urgente devendo ser tra-tado por políticas públicas e pelasociedade civil, pois estão ex-postas ao desemprego, as faltasde oportunidades em gerar ren-das, em situações cotidianas deviolência doméstica, moradia nasruas, a drogadição, ao tráfico eaos homicídios entre jovens e

outros delitos.Já em relação aos nascimen-

tos: 67,26 % dos nascidos vivos,são filhos de mães com menos de20 anos, enquanto que 32,14 %dos nascidos vivos nascem commenos de 2,5 kg.

A mortalidade infantil elevadae os nascimentos com baixo pesopodem estar associados àgravidez na adolescência, já quea grande maior ia das mãespossui menos de 20 anos deidade.

O baixo peso das criançasnascidas também pode ser umindicador de desnutrição infantile um dos fatores que contribuipara a alta taxa de mortalidade.

Por outro lado, o arquipélagoapresenta potencialidades para odesenvolvimento local tanto nariqueza natural e principalmente,por estar localizado muito pró-ximo ao centro comercial de Por-to Alegre.

Até o momento as políticaspúblicas continuam fragmenta-das e pontuais e a integraçãoentre as lideranças também temsido frágil para o enfrentamentona busca de construir espaços degestão democráticos que arti-culem as iniciativas concretas dedesenvolvimento local sustentá-vel, em que o econômico não sejao hegemonizador de todas asrelações.

Desenvolvimentolocal no arquipélago

Mais de 50 movimentos sociaise organizações integrantes daAssembléia Popular Nacional:Mutirão por um Novo Brasil (AP) –entre elas a Abong – definiu em suaPlenária Nacional, o calendário pa-ra 2007. Entre as grandes mobili-zações programadas estão a reali-zação do Plebiscito pela Anulaçãodo Leilão a Vale do Rio Doce, emsetembro, e da II Assembléia Popu-lar Nacional, na primeira quinzenade outubro.

De acordo com José AntonioMoroni, integrante da diretoriaexecutiva colegiada da Abong e docolegiado de gestão do Instituto deEstudos Socioeconômicos (Inesc),a Assembléia Popular é um pro-

Plenária Nacional da AssembléiaPopular define calendário para 2007

cesso em que são realizadas, alémda articulação nacional e suasplenárias, assembléias popularesestaduais, municipais e locais. ”Oprocesso de construção da As-sembléia Popular reúne, hoje,grandes condições de articular as diferentes forças populares doBrasil” avaliam Moroni.

Temas conjunturaisNo calendário de 2007, estão a

Campanha pela redução da tarifade energia elétrica; a Luta pelaauditoria da Dívida e contra ainjustiça tributária; a Campanhapor Plebiscitos e Referendos; oLeilão do Petróleo; contra a trans-posição do Rio São Francisco; e a

Calendário Geral 2007 - Nacional

Marcha pela Valorização do Sa-lário Mínimo. “Além dessas lutasespecíficas, os temas e problemasconjunturais movem a AssembléiaPopular na sua luta por um paísque dê dignidade e promovajustiça social para o seu povo”,ressalta Moroni. A mudança napolítica econômica, a reforma dosistema polí t ico, as reformasagrária e urbana, o acompanha-mento, controle e fiscalização doorçamento público são algumasdas questões em pauta na As-sembléia.

Com a Plenária, a Assembléiatambém iniciou a formação de umacoordenação nacional, que con-tará com um(a) representante de

cada Estado. Desta forma, pre-tende-se ampliar e fortalecer asvárias assembléias populares queacontecem em diferentes períodosno território nacional. A realizaçãode plenárias regionais também estána programação deste processo. ”O processo de construção da Assembléia Popular é hoje o quetem mais condições políticas de aglutinar as forças populares nodebate sobre um novo projeto parao Brasil, um projeto em que,realmente, os interesses popula-res estejam no centro. Para isso, énecessário acumular forças,articulação com as bases dasociedade e formação política” dizMoroni.

a luta

Este é o calendário dos mo-vimentos populares e ongs,consolidado durante a reuniãoda Abong realizada em SãoPaulo no inicio de março queconclui com a realização da IIAssembléia Popular que vaiacontecer em outubro de 2007em São Paulo. Março1 a 8 – Visita em diversos estadosbrasileiros dos companheiros/asdo Haiti (debates programados).5 a 9 - Conferência Mundial pelaAbolição das Bases MilitaresEstrangeiras – organizado pelaRede Mundial Não Bases -Equador.08 de março – Dia Internacionalda Mulher - luta contra as transna-cionais, agronegócio e modeloalimentar, organizado pela Mar-cha Mundial de Mulheres e ViaCampesina.8 a 13 – Jornada de luta Fora Bushda América Latina, movimentossociais e centrais sindicais.14 a 22 – Jornada das Águas -jor-nada de lutas pela revitalizaçãodo Rio São Francisco, contra atransposição em favor do desen-volvimento do nordeste.

14 a 15 – Reunião de primavera doGrupo Banco Mundial e FMI, Wa-shington.17 – Dia Internacional de Luta pelaReforma Agrária – Jornada de luta daVia Campesina.- Mês dos Povos Indígenas.- Realização de encontro de forma-dores nos estados (utilizando os ei-xos: sobre a Vale, Livre Comércio,Dívida e Direitos Sociais) como partedo processo da Assembléia Popular.- Encontro Hemisférico dos Movimen-tos Sociais em Havana/Cuba. Maio1º Dia do Trabalhador/a - Jornada na-cional pela valorização do saláriomínimo e contra o modelo neoliberal.25 e 26 - Plenária Nacional da Cam-panha contra a ALCA e OMC paraaprofundar o debate sobre IntegraçãoRegional.- Encontro nacional sobre a Vale(plenária). Junho11 a 15 – V Congresso Nacional doMST Julho25 – Jornada de Luta Conjunta dosCamponeses (dia do agricultor).

20 – Seminário sobre Dívida Externae Interna e Auditoria Cidadã da Dívida- São Paulo.20 – Jornada Contra a Militarização(contra a guerra no Iraque), data indi-cativa.21 e 22 – Reunião Plenária daAssembléia Popular – São Paulo22 a 25 – Encontro Nacional dosArticuladores do Grito dos Excluídos– São Paulo.25 - Encontro Nacional para debateras Reformas – São Paulo (Ginásio doIbirapuera).27 – 29 - mobilização por uma refor-ma políticas amplas, democráticas eparticipativas. Congresso Nacional,Brasília.26 a 30 – Encontro Continental dosPovos Indígenas, Guatemala.16 a 20 - Reunião Anual da Assem-bléia de Governadores do BID, Gua-temala.Durante o mês de março e seguintes– Organização e realização de As-sembléias Populares locais, regionale estadual. Abril12 a 17 – Acampamento dos movi-mentos e organizações em favor daBacia do Rio São Francisco emBrasília.

AgostoAté agosto – Realizar as Assem-bléias Estaduais. Setembro01 a 07 – Semana da Pátria ePlebiscito sobre a Vale.07 – Grito dos/as Excluídos/as10 - Jornada Internacional Contraa OMC/ Transnacionais/Agro-negócio Outubro1a. quinzena – II AssembléiaPopu-lar Nacional: Mutirão por umNo-vo Brasil12 – Grito dos Excluídos/as Conti-nental15 a 21 – Semana Global de Lutacontra a Dívida2ª quinzena - Semana da Demo-cratização da Comunicação19 a 21 – Reunião Anual do GrupoBanco Mundial e do Fundo Mone-tário Internacional, Washington. Novembro20 - Dia da Consciência Negra

ASSEMBLÉIA POPULAR - Secre-taria OperativaTel. 55 11 3112 1524 / Fax. 55 1131059702

Plataforma da reforma dosistema político brasileiro

Democracia é muito mais que odireito de votar e ser votado. É pre-ciso democratizar a vida social, asrelações entre homens e mulheres,crianças e adultos, jovens e idosos,na vida privada e na esfera públicae as relações de poder na socieda-de civil. Democracia é muito maisque apenas um sistema político for-mal e a relação entre Estado e so-ciedade, é também a forma comoas pessoas se relacionam e se or-ganizam. Radicalização da demo-cracia, para enfrentar as desigual-dades e a exclusão, promover a di-versidade e fomentar a partici-pação cidadã. Esta é a síntese daproposta para reforma do SistemaPolítico Brasileiro que a Abong -Associação Brasileira de Organi-zações Não Governamentais e mais60 participantes, representando 21estados de diversas organizações,redes, fóruns, movimentos e arti-culações estão apresentando asociedade brasileira para debate.

Publicamos abaixo um resumodo documento que pode serencontrado na sua totalidade emwww.abong.org.br.

ReformaUma reforma efetiva do sistema

político brasileiro vai muito além dareforma do sistema eleitoral emtramitação no Congresso Nacional.Deve ser mais ampla, ultrapas-sando a vida partidária dando umacentralidade maior a participaçãopopular nas decisões políticas eeconômicas. A política não é mo-nopólio exclusivo de políticoseleitos e nem dos partidos, mas doconjunto da sociedade.

Outra condição imprescindívelda democracia brasileira é adefinição de uma nova regulamen-

tação das formas de manifestaçãoda soberania popular expressas naConstituição Federal (plebiscito,referendo e iniciativa popular). Aatual não só restringe a participa-ção, como a dificulta. A ampliaçãodas regras sobre plebiscito e refe-rendo é necessária para que a par-ticipação popular nas decisõespolíticas seja efetiva e não mera-mente simbólica.

Nesse sentido, propõe-se a ins-tauração de um sistema de demo-cracia direta, conjugado com osinstrumentos e mecanismos repre-

a política

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A qualidadeTambém temos muito a ver com o conceito decompetência técnica, de alta qualificação naprodução, captação e finalização de imagens paraos mais diversos objetivos: filmes institucionais,publicidade, reportagens, produção de conteúdoem ficção, documentários e programas paratelevisão. Um padrão de qualidade profissionalatestado através de tantos prêmios recebidos.

A identidadeQuando se fala em cidadania, justiçasocial, reforma agrária, democratização,diversidade, economia solidária, outromundo possível você pode contar com aCASANOVA FILMES.

sentativos e participativos já exis-tentes.

Propostas- Regulamentação e ampliação

dos mecanismos de democraciadireta prevista na ConstituiçãoFederal como plebiscitos, referen-dos e iniciativa popular.

- Participação na definição dasprioridades de pauta do Congres-so Nacional e demais CâmarasLegislativas. O direito da popu-lação em participar na definiçãodas prioridades das pautas legisla-

tivas. O primeiro ato de cadasessão legislativa (inicio do ano)deve ser a convocação de au-diência pública ou assembléiapopular para definição da pauta.

- Financiamento público dascampanhas eleitorais exclusiva-mente com dinheiro público.Doações de pessoas físicas e em-presas são proibidas e sujeitas àpunição tanto para o candidato quereceber como quem doar.

- - - - - Democratização da informa-ção e da comunicação.

O direito à comunicação é umdos pilares centrais de uma socie-dade democrática. Assumir a co-municação como um direito funda-mental significa reconhecer o di-reito de todo ser humano de ter voz,de se expressar.

Hoje no Brasil,apenas novefamílias controlam os principaisjornais, revistas e emissoras derádio e TV.

A comunicação, numa sociedadedemocrática, pertence ao povo. Seuespaço é necessariamente público eo único poder legítimo para regularsuas práticas emana da coletividade,que é quem deveria decidir sobre asquestões relacionadas ao tema.

Criação de um Sistema público decomunicação conforme determina aConstituição de 1988, prevendo acomplementariedade dos sistemasprivado, público e estatal de comu-nicação.

Controle publico da propriedadedos meios de comunicação. O com-bate à concentração da propriedadeé chave para a democratização daComunicação no Brasil. Um exemplode controle de propriedade é a proi-bição que um mesmo grupo mono-polize diferentes meios de comu-nicação.

Dia quente e abafado, numasala de aula do Colégio Rosário,no dia 27 de março de 1983,jovens, religiosos, sindicalistas eativistas dos movimentos sociaisrurais e urbanos reuniram-se parafundar o CAMP - Centro deAssessoria Multiprofissional, omultiprofissional“ era para des-pistar, não dar muita bandeira pa-ra a ditadura” que embora no seufinal, ainda pegava pesado comos movimentos sociais e opo-sições sindicais, contra todosaqueles que lutavam por um paísmais justo e democrático.

Criado para apoiar a constru-ção de instrumentos de organiza-ção dos trabalhadores urbanos erurais, auxiliar na qualificaçãodas suas lutas e na capacitaçãodas suas lideranças e dirigente –o CAMP nesses 24 anos de boaluta esteve presente na cons-trução da Central Única dosTrabalhadores (CUT), do Movi-mento dos Trabalhadores RuraisSem Terra (MST), do Movimentodos At ingidos por Barragens(MAB), da Central dos Movi-mentos Populares, na organiza-ção autônoma na base dos traba-lhadores urbanos e rurais.

Nesta caminhada, o CAMP viuo Brasil e o mundo mudar e mu-dou também. Reestruturou-separa acompanhar as mudançasdos movimentos sociais e dostrabalhadores e hoje a entidadecontr ibui na construção deprojetos de desenvolv imentoregional.

Não só o Estado e as insti-tuições oficiais têm a tarefa dodesenvolvimento, mas todas as

organizações e os movimentossociais podem e devem contribuirna construção de um projeto dedesenvolvimento social e econô-mico, sustentável economica-mente e socialmente justo.

Para marcar esta caminhada oCAMP vai promover, mensal-mente até o final do ano, às 8:30hum café para convidados. Serãoencontros com um ou dois convi-dados que tratarão de temasatuais , econômicos, socia is ,políticos, de participação popu-lar, etc. Para participar - serão 15vagas de convidados por evento -é só ligar ou enviar um e-mail proCAMP. Estes são os nossosprimeiros palestrantes:

CAMP 24 anos de luta solidária

a trajetória

Esperamos por você.

Dia 2 de abril, CláudioNascimento, da SecretariaNacional de Economia Soli-dária (Senaes) que vai falarsobre empresas recupera-das e a Cooperativa Girasolsobre consumo consciente.

Dia 30 de abril, o econo-mista e pr ofessor, JoséAntonio Fialho Alonso vaiabordar o tema a crise doRio Grande do Sul.

Dia 30 de maio, a so-cióloga e educadora, MariaClara Bueno Fischer, comeducação e trabalho.

Dia 25 de junho, o ex-secretário da Fazenda doRio Grande do Sul, ArnoAugustin vai falar sobr efinanças pública e a crise doestado gaúcho.

Reprodução da ata de fundação do CAMP.

2007 março 13

A morte brutal do menino JoãoHélio Fernandes, no Rio de Janeiro,trouxe de volta a discussão sobre aredução da maioridade penal, hojeestabelecida em 18 anos pelaConstituição Federal. “Ele só vai ficartrês anos preso para depois sair ematar outro João”, disse emocionadaa mãe do menino, referindo-se aoúnico menor de idade entre os cincoque praticaram o assalto. A coberturada imprensa endossa a indignação dapopulação e passa também a exigirmudanças na lei que regula areponsabilização dos jovens. “Em vezde descrever a situação e pro-blematizá-la, ouvido opiniões paraque as pessoas possam formar seuponto de vista, a mídia fica tentandodar respostas, numa linha superficiale medíocre”, afirma Pedrinho Guares-chi, professor da área de psicologiasocial da PUC do Rio Grande do Sule pesquisador em comunicaçãosocial. “Sempre que se apela para aemoção e sensacionalismo, oresultado tem uma conotação fas-cista”, diz ele, advertindo para ocaráter educativo que cabe àimprensa. “Está na Constitução”, diz.

Para Valério Cruz Brittos, professordo Programa de Pós-Graduação emCiências da Comunicação daUnisinos, a cobertura dos fatos queevidenciam a violência existente nasociedade segue o modelo geral dedivulgação da indústria da cultura,que é um modelo capitalista. “Acon-

tece um episódio de extrema vio-lência como esse e a mídia passa acobrir tentando obter respostas muitorápidas e assumindo um espíritojulgador”, diz Brittos. Esse compor-tamento, segundo ele, não estádescolado da sociedade. “Os pro-blemas não estão na mídia porque amídia lida com a própria forma de verda sociedade”.

Enquanto a imprensa repercute aemoção popular, autoridades e es-pecialistas na área precisam tercautela em suas decisões. “O go-verno acolhe o debate, ouve espe-

cialistas, escutateses”, diz CarmemOliveira, da Subse-cretaria de Promo-ção dos Direitos daCriança e do Ado-lescente, órgão daSecretaria Especialdos Direitos Huma-nos, ligada à Presi-dência da Repúbli-ca. “Mas nosso en-tendimento, combase na experiênciade outros países, éque a redução damaioridade penalnão resolve a vio-lência juvenil”. Essamudança, além in-fringir a Convençãodos Direitos da Cri-ança e do Adoles-cente, da ONU, da

qual o Brasil é signatário, significariaentregar adolescentes infratores a umsistema penal falido como é o bra-sileiro. Significaria também superlotarainda mais as cadeias, já que dos 15mil jovens internados hoje em ins-tituições sócio educativas, 11 mil têm16 anos.

Com a aplicação da justiça instan-tânea prevista no ECA, o adolescentetem mais chance de ser responsa-bilizado por seus atos do que o adulto.Além disso, ao contrário do que asociedade acredita, o jovem é muitomais vítima do que autor de crimes,

na proporção de 10 para 1. As esta-tísticas policiais mostram que 48adolescentes são assassinados pordia no Brasil, o que significa que acada três anos há perdas equi-valentes a uma guerra do Vietnã, quedurou 12 anos. “Não existe nenhumamobilização social em relação a essejovem assassinado”, adverte a es-pecialista.

O crescimento da violência nopaís vem se acirrando desde adécada de 70 com o aumento daconcentração urbana. Na época,menos da metade da populaçãobrasileira vivia nas cidades. O últi-mo censo, em 2000, mostrou que,dos 169,8 milhões de brasileiros,137,9 milhões moravam em áreasurbanas e apenas 35,8 milhões naszonas rurais. Falta de investi-mentos públicos em infra-estrutura,educação, habitação e saúde, alémda concentração de renda,sucessivas crises econômicas eredução dos empregos igualmentepressionam a população. Alémdisso, houve um “boom” de nasci-mentos na metade dos anos 80,que foi chamada de “onda jovemdemográfica”. “Qualquer naçãomais cuidadosa deveria ter perce-bido isto como uma sinalização deque em 15 anos haveria uma gera-ção de jovens necessitando desaúde, escola, empregos”, diz Car-mem. “Mas apenas há quatro anoscomeçamos a falar em políticaspúblicas para a juventude”.

Jogar jovens na cadeia de adultos nãoresolve violência, dizem especialistas.

a juventude

Orçamento Participativo perde espaçona Prefeitura de Porto Alegre

O que estava bom, ficou ruim.E o que já era ruim, tornou-seainda pior. É nesta situação – exa-tamente oposta ao que prometiao slogan utilizado pela coligaçãoque conquistou a Prefeitura dePorto Alegre, nas eleições de 2004- que encontram-se hoje em diaos serviços e as demandasbásicas da cidade. A avaliaçãoé de quem acompanha há muitotempo, e bem de perto, tanto asrelações das comunidades com aPrefeitura quanto o modo como avontade popular é respeitada - ounão - pelo poder público. Naopinião de Irma Miranda da Rosa,conselheira da Região Nordestedo Orçamento Participativo (OP),líder comunitária e presidente daAssociação de Mães da Região,há um grande atraso não só naconclusão das obras e serviçosdecididos pela população, mastambém na análise técnica dasdemandas dentro da Prefeitura.

“Acho que há falta de expe-riência dos técnicos de agora,misturada com o pouco entrosa-mento que existe entre as secre-tarias”, diz ela. “Até tem gente quefala que são 12 prefeituras dife-rentes em Porto Alegre, porquecada partido que faz parte destegoverno parece que puxa para oseu lado e não para o bem detodos”. Para a conselheira do OP,“falta integração na Prefeitura, ea população é que paga por esterebuliço”. A análise de Irma -militante do Orçamento Participa-tivo desde 1998 – integra-se a umsentimento comum a quem tentaentender os motivos do esvazia-mento das decisões da popula-ção na administração de PortoAlegre.

Todo apoio à GovernançaA verdade é que hoje, passa-

dos dois anos do início da gestãode José Fogaça, o OP - que proje-tou a capital gaúcha e o próprioRio Grande do Sul para o mundotodo, como exemplo inovador decontrole popular sobre os recur-sos públicos - sofre um esvazia-mento mudo, a partir da alta cúpu-la do governo municipal. Este vempreferindo colocar todas suasfichas, e cada vez mais recursos,

na chamada Governança Solidá-ria Local (GSL).

Não se trata de impressãosubjetiva: o próprio site da Prefei-tura mostra, na Matriz Orçamen-tária 2007, a destinação de R$20.647.044,00 ao Programa Go-vernança Solidária Local. En-quanto isso, o histórico Orçamen-to Participativo foi contempladocom apenas R$ 1.831.470,00 -menos de 10% do que recebe oGSL, criado na atual gestão muni-cipal. Mas, segundo o titular daSecretaria Municipal de Coorde-nação Pol í t ica e GovernançaLocal (SMGL), Cezar Busatto, “aGovernança é um complementoque fortalece o OP, e não umaalternativa ou contraponto a esseprocesso”.

Ele explica: “Os princípiosfundamentais da GSL são respeitoà pluralidade, diálogo e constru-ção de consenso, de forma que apartir deste ambiente democráti-co seja possível a união de esfor-ços, energias e recursos para aformação de uma comunidade deiniciativa e projeto”. Deste modo,

conforme a elaboração de Bu-satto, “a visão de futuro e a reso-lução de problemas imediatos éconstruída não a partir das nos-sas diferenças, e sim a partir da-quilo que nos une”.

Despolitização dos espaçosA socióloga Daniela Tolfo, há

quatro anos atuando no Centro deAssessoria e Estudos Urbanos(Cidade), ong que acompanha deperto a trajetória do OrçamentoPart icipat ivo de Por to Alegredesde sua implantação, em 1989,avalia que a GSL é uma iniciativaque pretende sim, a longo prazo,substituir o OP. “Eles agregam ou-tros atores ao processo de deci-são e participação – como igre-jas, entidades, Ministério Público,sindicatos – e especialmente asgrandes empresas”, enumera Da-niela. “Mas ao contrário do queocorre no processo do orçamentoparticipativo, aqui termina haven-do uma despolitização dos espa-ços, e o papel do governo ficaminimizado, como mero media-dor”.

Não são poucos, dentro do OP,que reconhecem nestes movi-mentos - despolitização, a “buscade consensos”, o esvaziamentoda importância do governo e a en-trega de todo o processo na mãodos setores mais influentes dasociedade, como as empresas –uma orientação neoliberal. “Claroque o discurso de desideologi-zação que o pessoal da Gover-nança gosta de repetir é ele mes-mo completamente ideológico”,lembra a socióloga. Por isso, diz,“há muito enfrentamento entre opessoal do OP e o da Governan-ça”. Não faltam motivos concretospara isso – como mostra a imensadiferença de recursos destinadosa um e a outro dos programas.

Na avaliação de Busatto, umbom exemplo de que a GSL éeficiente quando há “união deenergias em prol de um objetivocomum” é o de uma creche de-mandada há vários anos no OP,pela comunidade da Região Nor-deste, e que agora foi concluídae encontra-se em pleno funciona-mento.

2007 março 15

a participação

De acordo com os Planos de Investimento de2005 e 2006, das 335 demandas do biênio,apenas 27 (8%) foram aprovadas. Das 141demandas de 2005, foram atendidas apenas 24e das 194 de 2006, foram concluídas apenas 3.

Recursos na Matriz Orçamentária 2007Recursos na Matriz Orçamentária 2007Recursos na Matriz Orçamentária 2007Recursos na Matriz Orçamentária 2007Recursos na Matriz Orçamentária 2007

Governança Solidária Local – R$ 20.647.044,00Orçamento Participativo – R$ 1.831.470,00

Os númerOs númerOs númerOs númerOs números da paros da paros da paros da paros da participação popularticipação popularticipação popularticipação popularticipação popular

2004 (Governo Verle) – 13.300 participantes2005 (Governo Fogaça) – 14 mil participantes2006 (Governo Fogaça) - 11 mil participantes

“Isso foi possível porque con-selheiros e delegados daquelaregião atenderam ao chamado dacomunidade e uma ação de go-vernança solidária foi posta emprática. Ali, o poder público, co-munidade local, iniciativa privadafirmaram o compromisso de colo-car para funcionar a creche daTimbaúva”, proclama. De fato,esta conquista vem sendo apre-goada inclusive em propagandasda Prefeitura na TV. Mas, na ava-liação da ong Cidade, dentro doquadro geral de demandas eobras que Porto Alegre precisa, osfrutos da GSL ainda não muitopoucos.

Prioridade às áreas nobres“O que se nota é que houve

uma mudança de enfoque e deprioridades no atendimento dasnecessidades da cidade”, analisaa socióloga. “Pode se ver isso cla-ramente com a questão da pavi-mentação, que ao longo da histó-ria do OP sempre foi direcionadoprincipalmente para as periferiase regiões mais necessitadas.Agora, a grande maioria das obrasde pavimentação está dire-cionada para o Centro e as áreasnobres da cidade, como Moinhosde Vento, Petrópolis, Praia de Be-las – sem que essa decisão tenhapassado pelo Orçamento Partici-pativo”.

O vereador petista Adeli Sell,líder de seu partido na CâmaraMunicipal e ex-secretário munici-pal, é taxativo. “Sobre essa ques-tão da participação do empresa-riado nas melhorias da cidade,apregoada pela Governança Soli-dária, não vejo novidade nenhu-ma. Sempre tivemos essa prática,nos 16 anos de governo da FrentePopular em Porto Alegre. Umexemplo é o Carrefour da ZonaNorte, que se instalou na regiãomas construiu uma creche para osfilhos dos moradores carentes eainda constituiu um fundo deajuda às micro e pequenas em-presas de lá”. Ainda assim, eleadmite que talvez tenha faltado àsadministrações da Frente Popular,nos últimos anos, seguir aperfei-çoando o processo do OP, comojá tinha acontecido quando junta-ram-se as plenárias temáticas aoprocesso das assembléias regio-nais.

Ausência de serviços básicos“O problema mesmo é que a

atual gestão municipal está

precarizando todas as princi-pa is a t i v idades e se rv içosbás icos da c idade” , a le r ta .“Temos sér ios problemas delimpeza pública, a capina prati-camente não existe mais, mora-dores de rua aumentam diaria-mente e a exploração sexual in-fanto-juvenil cresce sem contro-le”, cita Adeli. Ele aponta aindao aumento da crise na saúde domunicípio, setor onde “houveuma queda notável no atendi-mento”. “O Postão de Saúde daCruzeiro do Sul está caindo. Hágoteiras, azulejos e pisos que-brados, pessoas dormindo noscorredores, a casa mortuáriaestá funcionando ao lado de umrefeitório... Olha, se a fiscali-zação da Vigilância Sanitária daprópria Prefeitura fosse lá, in-terditava o posto”, resume.

Já o historiador Tarson Nu-ñez, diretor da ONG Usina –Instituto de Políticas Públicas eGestão Local, e ex-coordenadordo Gaplan – Gabinete de Plane-jamento, durante a gestão deTarso Genro, entende que “umnúcleo central do atual governotem compromisso sincero com amanutenção do OP, mas estáclaro que este processo de par-ticipação popular não estruturamais as ações da Prefeitura, e asinalização política hoje em diapassa longe do orçamento par-ticipativo”.

Como exemplo, arrola gran-des projetos já anunciados comestardalhaço pela Prefeitura –como o “camelódromo aéreo”,ao lado do Mercado Público, eos “portais da cidade” (termi-

nais de ônibus longe do centro)– que sequer chegaram a serdebatidos dentro do OP. Nuñezacredi ta também que a GSLpoderia sim trazer acréscimosúteis ao processo de par t ici-pação, ao pretender integraroutros setores sociais ao de-bate da cidade, ao abrir a portaa recursos não só do orçamentomunicipal e ao contribuir comuma v isão de maior a lcancepara cada região.

Alto custo políticoNo entanto, diz que na prá-

tica a realidade é outra: “A gen-te vê que o governo dá toda aforça à Governança e cada vezmenos ao OP”. Mesmo assim,observa que prefeito Fogaça eo secretário Busatto – “que vi-vem viajando pelo mundo paradar palestras sobre esse pro-cesso” - , sabemque o OrçamentoPart icipativo trou-xe um eno r m eprest íg io in terna-cional a Porto Ale-gre, e que terminarcom o OP – comoquerem outros se-tores da Prefeitura– t e r i a um cus topolít ico muito ele-vado. “Não acredi-to que e les aca-bem com o OP, quecon t i nua sendoapoiado pela gran-de ma io r i a dospo r toa leg renses ,i nc lus i ve aque lapar te da popu la-

ção que não participa dessasdiscussões”.

O certo é que a imagem deum OP cada vez mais enfra-quecido e respirando com aajuda de aparelhos até o f imdes ta ges tão , não é ace i tapassivamente por seus conse-lheiros e delegados. “Mesmocom os atrasos, temos que con-t inuar real izando plenárias eseguir demandando, pois o OPé uma enorme conquis ta dopovo”, defende a conselheira daRegião Nordeste Irma Mirandada Rosa. “Agora nós queremoschamar um fórum regional ex-t raordinár io para que a Pre-feitura nos explique porque asanálises técnicas estão tão de-moradas, e por que motivo nãopodemos mais acompanhar odebate das demandas. Estáfaltando transparência”.

2007 março 16

o debate

O fim do pampa gaúcho

Estas empresas vieram para cápor causa do aceno feito pelaclasse dominante através dogoverno anterior e confirmado peloatual projeto para o nosso Estado.É contra toda a lógica do desen-volvimento sustentável que vinhasendo implantada e discutida pelasociedade. Até o projeto de Turismono Pampa que vinha sendo de-senvolvido termina, pois a paisa-gem que era o seu grande eixo serámodificada radicalmente.

Não, é por acaso que as entida-des ambientalistas não estão sen-do consultadas na tomada dedecisão e nem o resto da socieda-de. Somente a Farsul e Flossul,entidades que representam o quede mais conservador existe emtermos de estrutura social tiverama palavra ouvida pelas autorida-des. Pois sua prática conserva-cionista em relação à natureza élamentável. Primeiro envenenam osolo e agora tentam mudar apaisagem. Em nome de umcrescimento econômico cujo custosocial e ambiental é questionável.

Ao assinar o acordo sobre oálcool com Bush, o presidente Lulacolocou o Brasil no risco de setornar um imenso canavial. Quemafirmou isso foi o agrônomoEduardo Assad, da EmpresaBrasileira de Pesquisa Agro-

pecuária (Embrapa), durante umencontro de ambientalistas no Riode Janeiro. Lembrou que com atransformação do álcool emcomoditie supervalorizada osagricultores esquecerão a vocaçãodos solos e todo o país poderátransformar-se num imenso ca-navial.

Dois desertos verdes, um decana no Cerrado e talvez até naAmazônia e outro de eucalitpos epinus na Metade do Sul do RioGrande do Sul. No ultimo caso jáameaçam o fim do genoma pam-peano. E isto é uma ironia. Pois hátrês anos, um ex-presidente daAGAPAN, latifundiário de nascençae ambientalista de carteirinha, CelsoMarques, publicou num jornal dointerior que a reforma agrária erauma ameaça ao genoma do pampa.Hoje a história mostra o contrário.

Os agricultores assentados emPedro Osório, depois de umintenso debate interno, retiraram oseucaliptos que haviam plantadoem parceria com a empresaVotorantim. Sua preocupação:preservar o ambiente sem pensarno lucro fácil. Os universitários eprofessores da Fundação Uni-versidade de Rio Grande (FURG)também realizaram um protestocontra a plantação de eucaliptospara alimentação de fábricas de

A preocupação e ação das mu-lheres da Via Campesina realizadano dia 8 de março deve ser elogia-da. Ela foi contra a agressão repre-sentada pelas plantações de euca-liptos na Metade Sul do Estado.Além de uma mudança radical nogenoma do Pampa Gaúcho, asmultinacionais pretendem atingir aárea de um milhão de hectares,existe a poluição dos cursos d’águae do ar que será realizada pelasfábricas de celulose previstas paraos próximos anos.

A Stora Enso, a Votorantin, aBoise Cascade e a Aracruz Celu-lose já adquiriram 400 mil hectares,uma área cinco vezes maior do queo município de São Borja e nãoescondem a intenção de chegarema um milhão como já disseram paraa governadora Yeda Crusius. Esteprojeto mascarado de desenvolvi-mentista além de poluidor, destrui-dor da paisagem, é altamente anti-social. Pois ele é concentrador dapropriedade e da renda.

Só na área já ocupada daria paraassentar 16 mil famílias de cam-poneses e no total previsto, 40 milfamílias em lotes de 25 hectarescada um que poderiam ser apro-veitados para a produção dealimentos. Como se vê trata-se decontinuar a praga do latifúndio naMetade Sul do Rio Grande.

celulose na região. Segundo eles,isto trará, não somente o de-semprego, mas um desequilíbriomuito grande no ambiente com-prometendo inteiramente a paisa-gem.

No Nordeste da Argentina,próximo a fronteira, na provínciade Corrientes, grupos chilenos eamericanos estão comprandograndes extensões de terras paraa plantação de pinus. Porém opovo correntino já iniciou umaluta de resistência. Ameaçadoscom a instalação de uma pa-peleira 40 quilômetros acima noRio Uruguai, habitantes de SantoTomé reagiram incendiando ahacienda (casa da fazenda) dointendente municipal que au-torizou a venda de 15 mil hec-tares para o plantio de pinus.

Em Uruguaiana, correntinos egaúchos, fizeram uma aliança deentidades ambientais para lutarcontra este zoneamento feito peloneoliberalismo que transforma opampa úmido num grande depósitode lixívia resultante da produção depapel e celulose.

As empresas estão preocupa-das tão somente em arrumarcréditos de carbono determinadospelo protocolo de Kioto paracompensar o estrago que já cau-saram ao ambiente e à atmosferaem seus locais de origem. Oualguém tem alguma dúvida?

Acho que devemos refletir bemsobre o que isto representa para asgerações futuras. O capital vemdestruindo a Amazônia com o des-matamento e o extermínio de suaspopulações originais e sua biodi-versidade. Já havia destruído prati-camente todo o resto da paisagem doPaís (cerrado, mata de araucária,mata atlântica) para produzir grãospara o hemisfério norte. Desta formaaumentou o efeito estufa e acentuouas mudanças climáticas. Agora sevolta para a formação de desertosverdes que são as monoculturas deárvores exóticas para a produção depapel e celulose.

Por isso devemos aplaudir a co-ragem destas mulheres campo-nesas no dia em que as mulheresdo mundo inteiro comemoram suaslutas contra a dominação eco-nômica e de gênero (sexual). Elasmostram sua face de lutadoras edefensoras de seus descendentes.

Wálmaro Paz - Jornalista