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Simposio: Estrategias productivas y transformaciones del espacio en el mundo rural. Uruguay, Brasil y Argentina (siglos XIX y XX). Coordinadores: Adrián Gustavo Zarrilli y María Verónica Secreto. De chão religioso à terra privada: o caso da Fazenda de Santa Cruz Fania Fridman Introdução A Fazenda de Santa Cruz no Rio de Janeiro, organizada pela ordem jesuítica em 1656, originou-se de três parcelas de terras: a primeira, de 8 léguas pertencentes desde 1567 a Cristovão Monteiro, ouvidor-mór do Rio de Janeiro, cuja viúva doou aos padres, em 1589, a metade da propriedade localizada entre a ilha de Itacurussá e Guaratiba. A outra metade foi obtida, em 1654, através de permuta por terrenos em Bertioga, na capitania de São Vicente. Quanto às demais parcelas, os religiosos adquiriram 1 em 1616 as terras doadas a Manoel Velloso de Espinha com quinhentas braças de testada por mil e quinhentas de sertão, posteriormente seis léguas de uma sesmaria nas cabeceiras do Guandu dos herdeiros de Manoel Correia 2 e mais outras de Francisco Frazão de Souza. Santa Cruz, o que totalizava aproximadamente 10 léguas em quadra (2.167 km 2 ), 3 e incluía as ilhas de Guaraqueçaba (em Guaratiba) e de Itingussu 4 (em Mangaratiba), a serra de Mata-Cães (em Vassouras) e o rio Paraíba do Sul, incluindo a Baixada do maciço da Pedra Branca. Limitava-se ao norte com a freguesia de Sacra Família do Tinguá, a leste com a linha do Curral Falso, a ilha de Guaraqueçaba, os frades do Carmo em Guaratiba, a mata da Paciência e com Marapicu, a oeste chegava à ilha de Itingussu e na direção sul, ao mar. 5 Tratava-se de uma região estratégica pois ao permitir o acesso às capitanias do sul, acompanhava parte da rota da prata vinda de Buenos Aires e, do ponto de vista militar, era 1 Segundo Leite (1938) pelo preço de 60$000. 2 Foram compradas em 1654 três léguas de Correa por 400$000. Manoel Correa era parente da família Correia de Sá. 3 Há autores como Leite (op.cit.) que afirmam que a área total da Fazenda era de 1.800 km². 4 O rio Itinguçu divide o território de Angra dos Reis daquele da freguesia de Itaguaí e do qual dista uma légua e meia a ilha da Madeira, onde principiava o termo da vila de Itaguaí. 5 A fazenda pertencia à Província do Rio de Janeiro (termo) e extrapolava os limites da cidade: ocupava todo o atual bairro de Santa Cruz no município do Rio de Janeiro e parte de dez municípios fluminenses (Itaguaí, Barra do Piraí, Mendes, Nova Iguaçu, Paracambi, Paulo de Frontin, Piraí, Rio Claro, Vassouras e Volta Redonda).

De chão religioso à terra privada: o caso da Fazenda de Santa Cruz

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Simposio: Estrategias productivas y transformaciones del espacio en el mundo rural. Uruguay, Brasil y Argentina (siglos XIX y XX).

Coordinadores: Adrián Gustavo Zarrilli y María Verónica Secreto.

De chão religioso à terra privada: o caso da Fazenda de Santa Cruz

Fania Fridman

Introdução

A Fazenda de Santa Cruz no Rio de Janeiro, organizada pela ordem jesuítica em 1656, originou-se de três parcelas de terras: a primeira, de 8 léguas pertencentes desde 1567 a Cristovão Monteiro, ouvidor-mór do Rio de Janeiro, cuja viúva doou aos padres, em 1589, a metade da propriedade localizada entre a ilha de Itacurussá e Guaratiba. A outra metade foi obtida, em 1654, através de permuta por terrenos em Bertioga, na capitania de São Vicente. Quanto às demais parcelas, os religiosos adquiriram1 em 1616 as terras doadas a Manoel Velloso de Espinha com quinhentas braças de testada por mil e quinhentas de sertão, posteriormente seis léguas de uma sesmaria nas cabeceiras do Guandu dos herdeiros de Manoel Correia2 e mais outras de Francisco Frazão de Souza. Santa Cruz, o que totalizava aproximadamente 10 léguas em quadra (2.167 km2),3 e incluía as ilhas de Guaraqueçaba (em Guaratiba) e de Itingussu4 (em Mangaratiba), a serra de Mata-Cães (em Vassouras) e o rio Paraíba do Sul, incluindo a Baixada do maciço da Pedra Branca. Limitava-se ao norte com a freguesia de Sacra Família do Tinguá, a leste com a linha do Curral Falso, a ilha de Guaraqueçaba, os frades do Carmo em Guaratiba, a mata da Paciência e com Marapicu, a oeste chegava à ilha de Itingussu e na direção sul, ao mar. 5 Tratava-se de uma região estratégica pois ao permitir o acesso às capitanias do sul, acompanhava    parte da rota da prata vinda de Buenos Aires e, do ponto de vista militar, era passagem das expedições que dirigiam-se à Colônia de Sacramento dos espanhóis.6

Uma porção da Fazenda, a planície mais a faixa litorânea (na Pedra, em Sepetiba e na ilha da Pescaria), foi dividida em arrendamentos,7 pois os religiosos, contrariamente aos demais proprietários fundiários, preferiram este sistema para manter o controle absoluto sobre suas propriedades. Ainda assim eram chamados de foreiros. Em 1729 achavam-se instalados no litoral 26

1 Segundo Leite (1938) pelo preço de 60$000.2Foram compradas em 1654 três léguas de Correa por 400$000. Manoel Correa era parente da família Correia de Sá. 3 Há autores como Leite (op.cit.) que afirmam que a área total da Fazenda era de 1.800 km².4 O rio Itinguçu divide o território de Angra dos Reis daquele da freguesia de Itaguaí e do qual dista uma légua e meia a ilha da Madeira, onde principiava o termo da vila de Itaguaí.5A fazenda pertencia à Província do Rio de Janeiro (termo) e extrapolava os limites da cidade: ocupava todo o atual bairro de Santa Cruz no município do Rio de Janeiro e parte de dez municípios fluminenses (Itaguaí, Barra do Piraí, Mendes, Nova Iguaçu, Paracambi, Paulo de Frontin, Piraí, Rio Claro, Vassouras e Volta Redonda).6"(...) O litoral de Sepetiba (...) era outrora frequentado por falluas que o punham em contato com a Corte, tornando-se por isso mesmo bastante conhecidos os portos locais por onde saíam para a Europa, em tempos idos, o pau-brasil cortado nas matas da região" (Silva, 1961:87). A baía de Ilha Grande foi descoberta em 1502 por André Gonçalves. A região era ocupada por índios tamoios e tupinambás que viviam da caça, pesca, coleta de frutos e agricultura de milho, mandioca e algodão no continente (de Cabo Frio até Bertioga). Havia trocas entre as aldeias do litoral e aquelas do interior. A baía de Ilha Grande tornou-se ponto de corsários e piratas (ingleses, flamengos e franceses) atraídos pelo fluxo de riquezas: incialmente o comércio do pau-brasil e posteriormente no tráfico de escravos, cana de açúcar, ouro, diamantes. Realizavam escambos com os indígenas e atacavam as embarcações portuguesas. O porto de Angra dos Reis, reconhecido oficialmente em 1560, de excelente localização, tornou-se importante ponto de colonização com seus engenhos de açúcar e de aguardente instalados no século XVII. No século XVIII, era o maior escoadouro do ouro de Minas Gerais, e o segundo porto da região sul do país. Com a decadência da mineração passou a exportar açúcar e posteriormente café do Vale do Paraíba até sua decadência a partir da metade do século XIX com o fim do tráfico negreiro. Itaguaí, Taguaí, itaguá-y ou itauá-y (rio das barreiras ou dos tauás, ou rio da pedra furada ou pedra da enseada) é um rio que nasce na serra do Gericinó e desemboca na baía de Sepetiba onde havia um porto defronte da ilha da Madeira.7Como os locatários estavam autorizados a criar gado, muitos autores interpretam os arrendamentos como “aluguel de terras para pastos.”

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arrendatários8 com a finalidade de controlar o porto. Da Vala do Piloto (Peri-Peri) até o rio Paraíba do Sul, passando pelos brejos, era considerada reserva.

A produção econômica dedicava-se à pecuária, às atividades agrícolas (açúcar, arroz, feijão, mandioca, guaxima,9 anil, fumo, algodão, cochonilha, legumes, frutas, cacau e café) e manufatureiras. Na Fazenda havia olaria, ferraria, carpintaria, serraria, fábricas de cerâmica, de canoas, de móveis e de artigos de couro, um estaleiro em Piranema (às margens do rio Guandu para a construção de embarcações e reparos das naus dos jesuítas e dos seus vizinhos), tanoaria, atividades de ourives, de prateiros e de tecelagem,10 forno de cal, hospital, botica, casa de farinha, engenhos, prisão de escravos, moradias dos foreiros, armazéns e senzalas. Os bens eram escoados pelo rio Guandu e pelos canais do Itá e de São Francisco11 (Lamego, 1964), até a Baía de Sepetiba onde estava o seu porto, em frente à ilha da Madeira.12 Por Sepetiba os jesuítas mandavam para o porto dos padres da Companhia, na praia Dom Manuel, 500 bois anuais, verduras e legumes para a manutenção do Colégio (Gerson, 1965). Neste ancoradouro podiam ainda ser carregadas quarenta caixas de açúcar (Santos, 1965) procedentes dos engenhos Novo, de Fora, do Morgado, da Ilha, da Bica e da Pedra, localizados em Guaratiba. Havia uma outra vala de derivação das águas do Guandú para o Itaguaí, aberta pelos jesuítas, a Valinha, por onde era feito o transporte das mercadorias das freguesias de Marapicu, Jacutinga e Campo Grande. Um canal artificial, chamado de Vala do Trapiche, foi aberto pelos padres13 antes do engenho de Itaguaí. Uma comunicação por terra,14 entre Santa Cruz e São Cristovão, passava pelas terras jesuíticas de Inhaúma, Irajá e Iguassú.

Os padres utilizavam a mão de obra indígena e escrava. Os trabalhadores podiam casar-se livremente e recebiam auxílio em dinheiro além de carne seca, farinha, feijão, arroz, sal e aguardente. Possuíam roças para as quais dedicavam dois dias por semana,15 e seus filhos eram alimentados, vestidos e educados pelos religiosos. As senzalas eram na realidade moradias unifamiliares. Além disso, as crianças aprendiam música e um ofício. Àqueles com boa conduta era permitido criar até dez cabeças de gado16 e os castigados, remetidos aos fortes da barra do rio Itaguaí ou ao porto de Sepetiba. Os escravos e índios que fugiam formavam quilombos nas matas próximas - Guandu, Bacaxá, Palmares, do Garcia no Valão da Areia e o Mundéo dos Pretos na serra do

8 O foro anual era de três galinhas para os índios e quatro para os demais foreiros. Posteriormente, uma dobra (antiga moeda portuguesa). Do ponto de vista do desenho, havia em frente à sede da Fazenda de Santa Cruz, como nos aldeamentos e missões, uma praça retangular cujo entorno era dedicado a quatro usos: o culto religioso, o ensino e trabalho, a residência e a subsistência. Na praça da Fazenda estabeleceram-se a Igreja, o convento, o hospital, a ferraria, as oficinas, as senzalas nas laterais que formavam dois bairros distintos, a serraria, a casa de farinha e o armazém. À esquerda da igreja, fora da praça, a hospedaria, carpintaria, prisão dos escravos, e atrás da Igreja, o cemitério, reservatório de água e a horta (Telles, s.d.). O projeto para qualquer construção jesuítica era submetido a Roma que o apreciava segundo normas. Tais regras, estabelecidas em 1558 na primeira Congregação Geral (Acta in Congregationis Generalis, I, Decretum 34, De ratione aedifitiorum) e que ficavam a cargo do Geral da Ordem, implicavam em uma uniformização (Carvalho, 1982 e Carvalho, s.d).9O plantio de guaxima, planta de fibras utilizada na fabricação de corda para fogo nos canhões, localizava-se na área definida pelas atuais ruas Álvaro Alberto, Marquesa Ferreira, Pindaré e Martinho de Campos.10Estas três atividades eram proibidas pela Coroa, com exceção dos jesuítas (Telles, op.cit.). Em Santa Cruz a “Casa do Tesouro” ficava em frente ao Paço (Freitas, op.cit.).11O canal de São Francisco saía do rio Guandu e desaguava no rio Itaguaí (Taguaí, itaguá-y ou itauá-y que significa o rio das barreiras ou dos tauás, ou rio da pedra furada ou pedra da enseada) que nasce na serra do Gericinó e desemboca na baía de Sepetiba. Os rios Itaguaí e Guandu eram navegáveis por embarcações à vela de pequeno porte através de um canal artificial.12“Sepetiba (çapé-tyba ou çapé-tyua, sítio dos sapés, sapezal) designa a baía que começa nos limites do município, corresponde à parte do litoral que vai da foz do rio Itaguaí até a barra de Guaratiba, com penetração na restinga da Marambaia (...) O litoral de Sepetiba (...) era outrora frequentado por faluas que o punham em contato com a Corte, tornando-se por isso mesmo bastante conhecidos os portos locais por onde saíam para a Europa, em tempos idos, o pau-brasil cortado nas matas da região”(Silva, 1961:87).13á controvérsias entre os autores se esta vala tenha sido construída pelos jesuítas.14 Foi por esta estrada que os franceses, aportados em Guaratiba em 1710, chegaram à cidade. Havia uma trilha que ligava o Curral Falso ao porto da praia de Sepetiba, em frente à ilha da Pescaria, hoje ilha dos Marinheiros.15 A carta régia de 31 de janeiro de 1701 obrigou aos senhores dar os sábados livres aos escravos.16"(...) isto afim de viverem contentes, poderem vestir-se e manterem as mulheres, ficando a subsistência dos filhos por conta da Fazenda" (Reis,1843:165).

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Caçador.17 Para seu sustento vendiam madeiras. Os parentes dos escravos fugidos que permaneciam na Fazenda eram castigados. Pode-se afirmar que Santa Cruz constituía-se em um grande centro agrário-fabril, autônomo, cujo excedente era escoado por caminhos (estradas, valas, canais e rios navegáveis) tanto em direção ao mar para chegar à Corte, quanto para os outros engenhos das redondezas. Estes canais, obras hidráulicas consideradas bastante importantes para a época, além de vias de comunicação eram utilizados também para conter as inundações. Os vários campos assim formados - Roma, Maranhão, Prainha, Santo Agostinho, São Miguel, São Paulo, São Luís, São José, São Marcos, Campo Bonito, do Papagaio ou Paraguai depois Jaqueirão, Saquassu, Leme, Frutuoso e Jacareí -    serviam para plantações ou como pasto.18

No período da mineração foram erguidos na Fazenda os registros de Itaguaí, Piranema, Curral Falso, da Ponte, do Pouso Frio, do Morro da Onça e das Caveiras. Ali os viajantes deviam apresentar uma licença para viajar. O ouro e as pedras preciosas das regiões auríferas vinham pelo Caminho dos Guaianases, trilha aberta pelos índios que passava pelas baías de Angra e Sepetiba, Parati, São Paulo, Santos, Ubatuba e as Minas, seguindo o Caminho Velho, considerado perigoso por causa dos piratas.19 Com o fechamento do porto de Santos pela Carta Régia de 1711, cujo objetivo era o término do contrabando com as províncias do Prata através da Colônia de Sacramento, o Rio de Janeiro assumiu o papel de único porto do ouro e dos diamantes para a metrópole e de responsável pelo envio de gêneros para as Minas. Garcia Rodrigues Paes obteve autorização para abrir o Caminho Novo, ligação direta entre o Rio de Janeiro e Minas Gerais, concluído pelo Coronel Domingos Rodrigues em 1723. Ambos receberam, em troca dos serviços prestados, sesmarias e ao primeiro coube ainda cinco mil cruzados anuais (Silva, op.cit.). 20 Dada a importância estratégica das freguesias rurais o Rei aprovou, em 1725, a demanda do coronel general de São Paulo, Rodrigo Cesar de Meneses, de efetivar a comunicação terrestre entre São Paulo e Rio de Janeiro. A abertura desta estrada suscitou protestos dos habitantes de Parati, dos jesuítas da Fazenda de Santa Cruz e dos proprietários de terras. Todos alegavam prejuízos pela estrada cortar suas terras, ainda que a ocupação da localidade tenha sido estimulada com a doação de sesmarias nas picadas abertas (Silva, op.cit.). É interessante assinalar que os índios da aldeia de Itaguaí abriram os trechos da estrada, concluída em 1754, que passavam pelas terras dos jesuítas. Elucidemos agora o papel desempenhado pelos aldeamentos.

As aldeias indígenas

A 10 de setembro de 1611 foi promulgada uma lei que regulava o funcionamento das aldeias de repartição cujo objetivo era repartir a força de trabalho indígena. 21 Eram entidades cristãs cujas

17 Os dois últimos no atual município de Itaguaí.18 Nos campos do Curtume, de Itaguaí e do Guandu, entre outros, foram construídas pontes.19 Guaratiba, localizada no termo da cidade e onde Duclerc desembarcou, constituía-se em uma das mais importantes passagens do ouro vindo das Minas pelo Caminho Velho (Peixoto, 1906) que, com sua costa desamparada, era muito visitada por piratas.20 Os carregamentos passaram então a ser despachados pelo porto fluvial de Estrela ou Pilar, que ficava a uma légua para dentro do rio Inhomirim e de lá eram transportados para a cidade. Era o porto mais utilizado da baía pelos muleiros vindos de Minas Gerais, Mato Grosso e Goiás (Sarthou, 1964).21 O Papa Paulo III outorgou uma lei em 1570, confirmada em 1587, que ordenava que os índios fossem tratados como pessoas livres. Em 1596 foi promulgado um regimento que regularizava o modo pelo qual os jesuítas deveriam lidar com os índios. A lei de 1653, renovada pelo Alvará de 1755 que aboliu a escravidão indígena, obrigava aos religiosos das aldeias a se dedicaram apenas à vida espiritual dos índios. Com relação às questões temporais os silvícolas seriam livres e nas vilas, subordinados aos juízes ordinários. As aldeias independentes das vilas deveriam ser governadas pelos "principais e seus subalternos" (sargentos mores, capitães, alferes e meirinhos). A lei recomendava ainda suavidade nos castigos, a criação de escolas para os dois sexos, edificação de cabanas com repartições internas e melhor aparência no exterior, o uso de trajes "para fazer desaparecer a nudez" e a fixação dos dízimos sobre os possíveis rendimentos das roças. Tais rendimentos deveriam ser recebidos por um tesoureiro. Além disso, os índios poderiam trabalhar nas vilas (na realidade, eram obrigados). A lei determinava ainda que os silvícolas de sete até dez anos de idade seriam empregados nas oficinas do Arsenal da Marinha no Rio de Janeiro (um adendo: houve um Aviso de 1837 recomendou a contratação de índios para o serviço da armada nacional). Em 1698 ficou proibido o casamento entre índios escravos e de repartição. Em 1757 foi criado o Diretório dos Indios para regulamentar o trabalho compulsório ainda que

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funções incluíam a defesa do território através da constituição de uma força militar e os indígenas catequizados, denominados caboclos, trabalhavam compulsoriamente sob a guarda de missionários que os impedia de se comunicarem ou comerciar com os colonos. Na Província do Rio de Janeiro foram fundadas as aldeias de São Francisco Xavier de Itaguaí, de Nossa Senhora da Guia de Mangaratiba, de Nossa Senhora da Glória de Valença, de São Pedro de Cabo Frio, de São Lourenço e de São Barnabé. Por sua localização iremos tratar apenas das duas primeiras.

A aldeia de São Francisco Xavier de Itaguaí foi estabelecida, em 1615, na ilha de Itacurussá com o nome de Y-tinga (água branca)22 por Mem de Sá ou Martim de Sá ou pelos jesuítas, há controvérsias. Autores também discordam quanto à origem dos índios, é provável que os carijós tenham ocupado o terreno onde havia uma aldeia de tamoios, aliados dos franceses, e que foram massacrados pelo governador Antonio Salema. As terras de Itinga, doadas aos índios, não eram foreiras aos jesuítas. De acordo com a Carta Régia de 6 de dezembro de 1647 a aldeia foi transferida em decorrência dos constantes ataques dos moradores da Ilha Grande unidos aos piratas. Suspeita-se que o local escolhido tenha sido Sepetiba onde os índios fizeram roças e construíram suas cabanas. Aqueles que não aguentavam o cativeiro fugiram para as matas próximas. Os jesuítas, com o intuito de persuadirem os fugitivos, transferiram a aldeia, entre 1718 e 1725, para um terreno pertencente à Fazenda que partia ao norte pelo rio Itaguaí seguindo em direção ao sul até o rio Piassuguera. Aos índios era cobrado o foro anual de sete galinhas23 e lá foi erigida a igreja de São Francisco Xavier, concluída em 1729. Para patrimônio da igreja, parte da ilha de Itacurussá, pertencente a dona Maria do Alarcão e Quevedo, foi comprada em maio de 1718 pelo superior dos índios, o padre Nicolau de Siqueira.

Com a expulsão dos religiosos em 1759, Santa Cruz foi incorporada aos bens da Coroa tomando a denominação de Fazenda Real de Santa Cruz que, pela Carta Régia de 16 de outubro de 1761, ficou subordinada diretamente ao Vice-Rei.24 Nesta ocasião havia em Santa Cruz 16 currais25 para as 8.000 cabeças de gado vacum, 1.200 cavalos e burros e 200 carneiros. O desembargador Manoel Francisco da Silva Veiga Magro de Moura e o capitão Ignacio de Andrade Souto Maior Rondon, este considerado um amigo dos índios, ficaram encarregados da direção da aldeia de Itaguaí. O filho de criação do capitão Ignacio, José Pires Tavares, tornou-se capitão-mór da aldeia. Muitos dos índios que haviam fugido, retornaram e os demais foram recapturados. da aldeia. Os silvícolas aldeados tornaram-se vigias, nas redondezas, do transporte do ouro ou guias para aprisionar desertores das tropas ou negros quilombolas nas cabeceiras do rio Guandu. 26 Foi levantada uma escola para as crianças. Sessenta índios adultos eram enviados mensalmente para a cidade do Rio de Janeiro para trabalharem nas fortalezas, arsenais e demais obras públicas. Entretanto um conflito, iniciado em 1784, culminou com o aniquilamento da aldeia:

obtivessem a liberdade e a condição de vassalos portugueses (Flexor, 1998). Entretanto em 1798 o Diretório foi extinto e os silvícolas aldeados, emancipados, ainda que sob custódia do Estado. Os bens indígenas passaram à administração de juízes de órfãos em 1833 até 1845 quando da criação da Diretoria Geral dos Indios. Pela lei de 1850 as terras dos não aldeados foram incorporadas aos próprios nacionais. Em 1862 constitui-se, no Ministério da Agricultura, Comércio e Obras Públicas, a DIretoria de Terras Públicas que extinguiu os aldeamentos com a distribuição para os solteiros com mais de 20 anos pequenos lotes de terra para a lavoura.22 Itinga localizava-se entre os rios Itinguçu e Itaguaí. O rio Itaguaí nasce na serra do Gericinó e desagua na enseada de Sepetiba.23 Como posteriormente a área da aldeia foi diminuída, o foro caiu para 5 galinhas anuais.24 Em 1759 a primeira medida de Gomes Freire foi a de ensinar o português aos indígenas. Em 1760 foi criado o curato de Santa Cruz, confiado a um religioso franciscano do convento de Santo Antônio da cidade do Rio de Janeiro. Os franciscanos ficaram responsáveis por este curato até 1836. No século XIX havia as seguintes igrejas e capelas: Nossa Senhora da Glória do Curral Falso, do princípio do século XIX, São Benedito, na Areia Branca, benta em 1894 e São Pedro, em Sepetiba, fundada em 1896.25Curral Falso, de São João, de São Barnabé, de Todos os Santos, de São Luiz da Igreja, de São José da Cruz, da Casa, São Boaventura, São Marcos, São Paulo, São Francisco, Santo Estevão, Santo Ignácio, Santo Antonio, São Pedro e Nossa Senhora. Couto Reis (1843) afirma que no tempo do Vice-Rei Luiz de Vasconcelos (1779-1789) havia 22 currais para 13 mil cabeças.26 Em 1762 Gomes Freire ordenou ao capitão mor da aldeia de Itaguaí para atacar o quilombo nas cabeceiras do rio Guandu.

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Manoel Joaquim da Silva Castro, adquirente do Engenho Novo dos jesuítas e administrador da Fazenda,27 além de obrigar os índios a limparem as valas, os acusou de roubo e se apoderou das terras com o objetivo de erigir um engenho, o de Nossa Senhora da Conceição de Taguay. Castro obrigou os 400 índios a deixarem a aldeia no período de quinze dias, entretanto depois de alguns dias, apesar das ameaças, alguns retornaram e foram exterminados.28 José Pires Tavares viajou para Lisboa com a finalidade de se queixar junto à soberana. Dona Maria I recomendou ao conde de Rezende em 1790 a entrega das terras aos índios e sua medição. 29 Tais determinações não vingaram e o engenho foi inaugurado em 1793, movido a água e considerado "o mais perfeito do Brasil", para o qual foram deslocados 200 escravos. A escolha do local para o estabelecimento do engenho, em uma área de aproximadamente 108 km2 e que incluía o aldeamento, deveu-se à fertilidade da terra e à existência de portos.30 Neste momento alguns índios requisitaram seu patrimônio em Itacurussá entretanto o dono da outra parte da ilha conhecida por Cutiquara-Mirim (depois Cabeça de Boi), Antonio Alves de Oliveira, havia arrendado o patrimônio indígena desde 1756 a Antonio da Conceição e Manoel de Andrade. Em 1806 estas terras ainda encontravam-se arrendadadas e os índios para tomar posse deveriam, segundo as normas legais, pagar as benfeitorias. Em 1812 Dom João VI concedeu aos índios terras na Fazenda de Santa Cruz, "da parte esquerda do caminho novo, e em terrenos vizinhos uns dos outros" perto das terras de Thomas Lopes.

Quanto aos bens dos índios aldeados, desde 1798 emancipados, estes ficaram sob a custódia do Estado através dos ouvidores da Comarca.31 O Alvará de 5 de julho de 1818 criou a freguesia São Francisco Xavier de Itaguaí,32 em consequência do requerimento expedido pelo comendador Antonio Gomes Barroso, o novo proprietário do engenho. Seu território compreendia as freguesias de Itaguaí (do alto da serra para a vargem), de Marapicu (do rio Guandu, pela esquerda, ocupando o Ribeirão das Lages) e de Mangaratiba. Os limites da vila alcançavam a porção da ilha de Itacurussá pertencente aos índios que, neste sentido, passou a patrimônio de Itaguaí ao qual foi anexado ainda uma sesmaria de meia légua em quadra de terras devolutas. Com a finalidade de obter recursos para

27 Sucedeu a Furtado de Mendonça que, em função de graves denúncias, seus bens foram posteriormente usurpados.28 A esposa de José Tavares foi presa e aqueles que conseguiram fugir alcançaram as praias de Mangaratiba.29 Tavares, ao falecer em 1805 era acusado de desvio dos rendimentos das terras aforadas. Manoel Pimenta de Sampaio tornou-se capitão da aldeia.30A produção, de 255 caixas de açúcar mais a de aguardente, escoava pelos portos do Trapiche, próximo ao Trapiche do Sal, e do Casado ou da Casaca, ambos em Itaguaí nas imediações da atual estação ferroviária. Com a mesma finalidade, a de intensificar a produção de açúcar, um outro engenho, o de Piay (ou Piauhy, Piaí), foi inaugurado em 1796. Era movido a força animal e contava com 120 escravos trabalhando em suas terras com 21 km2 de extensão. A propriedade do Piaí ia do curral Falso até Sepetiba, onde também havia um bom porto. A 10 de junho de 1793 o Conde de Rezende enviou ao ajudante Miguel José (?) um ofício incumbindo-o a elaborar um plano de defesa da cidade no caso de desembarque de inimigos na praia de Sepetiba. Em 1797 o porto de Sepetiba e as costas vizinhas faziam parte da rota internacional de tráfico negreiro, o que voltaremos a discutir posteriormente. O ofício dizia: "Sendo de suma importancia defender a Estrada Geral, que de Santa Cruz vem desta cidade, quando os inimigos fazendo hum dezembarque na Praia de Sepetiba, pretendessem ganhar aquelle caminho, como mais facil, para fazerem hostilidades (...) Por esta cauza o escolhe a V.M., para esta importante diligencia, porque me tem dado provas suficientes da sua honra e do seo prestimo: V.M. principiará a sua Comissão, observando do sitio de São Christovão athé a Fazenda de Santa Cruz todos aquelles lugares defensaveis pela natureza, como tambem de outros, que inteiramente estejão dependentes da Arte para se repartirem as defensas a medida dos mesmos postos, como também de força, e de numero de combatentes, que os devão ocupar. Parece-me que V.M não despreze a Ponte de Inhauma, o sítio do Lamarão, o Mato da Paciencia, como tambem o caminho da Sepetiba, seja pela Fazenda de Santa Cruz, ou pela Fazenda da Pedra dos Padres do Carmo..." Biblioteca Nacional, seção de Manuscritos - 5,4,7.31 A partir de 1833 seus bens seriam tutelados aos juízes de órfãos até 1845 quando da criação da Diretoria dos Índios. Em 1850 as terras dos índios não aldeados foram incorporadas aos próprios nacionais que, em 1862, permaneceram sob a administração do Ministério da Agricultura, Comércio e Obras Públicas. Com a Diretoria das Terras Públicas extinguiram-se os aldeamentos e distribuiram-se pequenos lotes para a lavoura para os solteiros com mais de 20 anos.32(...) não só pelas proporções e vantagens, que para este fim oferece o seu local, fertilidade de terreno e já crescida a população, mas também pelo aumento da prosperidade e civilização dos habitantes da mesma aldeia, e comodidade de que gozariam nas suas dependências, não sendo obrigados a acudir aos chamamentos das justiças desta Corte (...).” Retirado do Alvará de Dom João VI de 5 de julho de 1818 encontrado no Arquivo Público do Estado do Rio de Janeiro, Inventário do Período Imperial, Presidência da Província, Coleção 27. Em 18 de outubro de 1819 a aldeia foi incluída na vila de São Francisco Xavier de Itaguahy.

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a vila foi permitido o aforamento perpétuo de pequenas porções.33 Os índios passaram a viver em Peri-Peri.34

Uma outra aldeia foi a de São Braz fundada pelo governador do Rio de Janeiro, Martim de Sá, e ocupada pelos índios tupiniquins trazidos de Porto Seguro e do rio de São Francisco do Sul. A aldeia, dirigida pelos jesuítas, localizou-se inicialmente na ilha da Marambaia. Em 1620, quando Martim de Sá deixou o governo, requereu em nome de seu filho Salvador Correia de Sá Benevides, de sua esposa Cecília de Benevides e Mendonça e dos índios João Sinel e Diogo Martins, as terras que iam de Yuna, junto à Itaguaí, até a praia de São Braz. Quando se tornou capitão-mór do Rio de Janeiro doou meia légua destas terras à aldeia, desde a ponta até o saco de Mangaratiba, próximo à Coroa Grande. Em 1688 a aldeia foi deslocada, mais uma vez, para o sítio onde ficava o antigo cemitério.35 No promontório foi erigido um templo sob a invocação de Nossa Senhora da Guia de Mangaratiba, em torno do qual os 400 índios se instalaram. Neste local, "aprazível e fértil", com muitos rios que podiam ser navegados por canoas, plantaram mandioca, feijão, arroz, legumes além de se dedicarem à pesca.36 Depois da expulsão dos jesuítas, os capuchinhos tornaram-se seus párocos logo substituídos pelos carmelitas que exigiram o pagamento da côngrua, instituída pela provisão de 16 de janeiro de 1764. Neste ano foi iniciada a construção de uma nova igreja paroquial pelo padre Francisco das Chagas Suzano. Em 1795 o padre Joaquim José da Silva Feijó, para terminar a igreja, obrigou os índios a trabalharem com a ameaça de castigos corporais.

O capitão Bernardo de Oliveira foi designado para dirigir a aldeia na ocasião em que se alastrava a bebida e a prostituição. Sua primeira medida foi a de instituir severas penas, o que deflagou importante revolta. O índio José, seu líder, foi preso e enviado ao Rio de Janeiro para trabalhos forçados nas galés. A índia responsável pela prostituição foi degredada para Santa Catarina. O capitão mor da aldeia José de Souza Verneck, que sucedeu a Bernardo, permitiu na sua gestão que os brancos se apoderassem das terras do aldeamento. Os índios requisitaram sua substituição, mas o fato de serem    atendidos implicou em outra revolta, ocorrida na gestão de José Pereira Barroso.37 Nesta luta as principais reivindicações eram a liberdade e a não-edificação de prédios em sua aldeia. Como Barroso não conseguiu controlar o motim, Pedro da Motta foi nomeado e imediatamente enviou soldados para debelá-lo. Os rebeldes foram enviados para trabalhos (forçados) em obras públicas no Rio de Janeiro.

Em 1820 a freguesia foi desanexada do termo da vila de Ilha Grande e passou a fazer parte da vila de Itaguaí até 1831 quando Mangaratiba foi elevada à categoria de vila.38 Quando a freguesia foi elevada à perpétua, sua jurisdição espiritual circunscrevia as terras da aldeia. Segundo Silva, "da tranquilidade nasceu o aumento da aldeia, elevaram-se edifícios com melhor aparência e asseio, e de construção de mais dura, arruados com alguma simetria, que lhe deram novo aformoseamento, desenvolveu-se o comércio e a agricultura e tudo prosperou" (1854:204). As primeiras construções do Saco de Mangaratiba datam desta época. Ali se instalaram em 1840 os armazéns de café da

33 A efetiva instalação de Itaguaí se deu em 11 de fevereiro de 1820. O decreto de 26 de março de 1832 desmembrou parte do território e a incorporou à vila de Mangaratiba. As datas de criação de dois distritos são, respectivamente, 8 de maio e 3 de junho de 1892. Havia em 1911 os distritos de Itaguaí, Bananal e Paracambi. Em 1933, Itaguaí, Seropédica (em 1997 se emancipou), Paracambi (que se emancipou em 1960), Caçador (atual Ibituporanga) e Coroa Grande (extinto em 1993 quando foi incorporado ao distrito de Itaguaí). Em 1998 Itaguaí possuía 2 distritos: Itaguaí e Ibituporanga.34 Em relação à baixada de Sepetiba, verificamos que a criação do povoado de Sepetiba em 1813, no fundo da antiga baía de Santa Cruz de Angra dos Reis, foi iniciativa de Dom João VI, com o objetivo de facilitar a comunicação entre os distritos marítimos da Ilha Grande e Piaí e a cidade do Rio de Janeiro.35 Onde hoje se encontra o centro urbano de Mangaratiba.36 Inclusive a de tubarão para a retirada do azeite para iluminação.37 Um dos episódios refere-se à chegada dos índios em sua casa na Praia Mansa, a uma légua de distância, onde o encontraram apavorado abraçado a seus familiares.38 "Dizem os moradores da Freguezia de N.S. da Guia de Mangaratiba, que elles requerão a Esta Augusta Camara para ser elevada em villa aquela freguezia, que alem de ter muita população, tem grande riqueza, ha 14 embarcaçoens que cada uma condus para esta Cidade cada anno, duas mil arrobas de caffe, que vem a fazer o (?) de duzentas e oitenta mil arrobas (...)" Ofício assinado por Francisco Chagas Silva do Amaral tratando do desejo que tem os moradores da Freguesia de Mangaratiba, de que a mesma seja elevada a categoria de vila (1830). Biblioteca Nacional, seção de Manuscritos II - 34, 18, 8. Em 1832 os moradores agradecem ao Imperador a elevação da dita localidade.

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família dos Breve e uma agencia de correios. No Saco havia os Armazens de café de Antunes e Cia que encerrou suas atividades em janeiro de 1865. No porto do Saí, a 7 km de Mangaratiba, na divisa das Praias do Saí e Saizinho, além do ancoradouro, foram instalados os trapiches, as senzalas e a casa do Barão. Em 1854 ali viviam uns poucos índios tupiniquins. O aforamento de suas terras rendia 401$760 réis anuais. (Silva, op.cit.:205).

Em 2 de outubro de    1855 a Câmara Municipal de Mangaratiba informou que naquele município "existe em completo abandono meia légua de terras, concedida outrora a certa porção de índios, que aqui se aldearam, cuja aldeia se acha de toda extinta e mais outra meia légua de que eles depois se apoderaram e estão de posse ... será de mais conveniência dar-se-lhes para patrimônio essa légua de terras pelo reconhecido benefício que daí pode resultar ao município, não só pelo engrandecimento de suas rendas, mas também, ajuntam os vereadores, porque ficando essa meia dúzia de índios que ainda restam sem esperanças de mesadas, se dedicarão ao trabalho, deixarão a vadiação e poderão ainda ser úteis a si e ao seu país" Como os arrendatários não cumpriam suas obrigações, a Câmara solicitava ao Presidente da Província tais terras para seu patrimônio.39

Do apresentado podemos concluir que as terras doadas em sesmarias aos aldeamentos indígenas foram invadidas por senhores de engenhos e de escravos. Tal processo é uma das características mais importantes da acumulação de capital na Província do Rio de Janeiro. Retornemos à situação fundiária das demais áreas da Fazenda de Santa Cruz.

A Fazenda de Santa Cruz na primeira metade do século XIX

A cultura da mandioca foi incentivada com a abertura de duas fábricas de farinha, uma no sítio do Facão e outra, o engenho de farinha de Santa Cruz, nos arredores do engenho de Piaí. O cultivo se estendia desde o Curral Falso em direção ao litoral e por todo a costa até Sepetiba. Além disso, as plantações do feijão, do milho (campo de São Marcos), do algodão, do café e do arroz40 foram retomadas. A olaria, próxima ao Frutuoso, foi reativada e construiu-se uma serraria “de água” no Ribeirão das Lages. Em 1794, sob a administração de Couto Reis, iniciou-se a industrialização do salitre (imprescindível para o fabrico de pólvora), plantaram-se milhares de pés de café no sítio da Serra e das olarias e fornos produziam-se a cal, telhas e tijolos. A plantação com maior interesse era de arroz, o que pode ser comprovado pela colheita de 1795 que atingiu 2.903 arrobas.

Em 1804 havia 7.159 cabeças de gado guardadas em doze currais remodelados. Contava-se com 1.448 escravos cujos filhos, que começavam a trabalhar com a idade de seis anos, continuavam a receber o aprendizado de ofícios mecânicos. Um tambor marcava as horas de trabalho, regresso e descanso. Havia 237 foreiros, dos quais 180 trabalhavam nas chamadas terras “incultas”. Segundo levantamento realizado junto ao Arquivo Nacional,41 no período de 1804 a 1813 encontramos declarações de 142 arrendamentos, dos quais apontamos 10 em Barro Vermelho, 10 em Piranema, 8 no Alto da Serra, 7 em Grimaneza, 6 em Chaperó, 6 na Lagoa do Bananal, 6 no Morro do Ar, 5 no Bom Jardim, 5 no Morro dos Coxos e 5 em Ribeirão das Lages. Entretanto em tais registros não estão assinalados a área nem o preço. Deste período obtivemos ainda a relação de rendeiros devedores da Fazenda42 (1804-1806), que chegavam a 86 foreiros cuja dívida somava 2:158$048. Este valor é relevante se o compararmos aos rendimentos dos foros ao final do século XVIII quando atingiam 3:783$755. O maior número de devedores encontravam-se na localidade de Sepetiba seguida por Barro Vermelho, Bom Jardim, Chapecó, Morro do Ar, Peri-Peri e Grimaneza. Os recursos obtidos com a produção de açúcar alcançavam 47:863$575, de aguardente 10:942$500 e de arroz, milho, feijão, farinha, café, couro, algodão e madeiras 7:924$885. Esta receita era utilizada para a compra de objetos religiosos, ferro, aço, cobre, além de azeite, sal, remédios, reses e

39 Arquivo Público do Estado do Rio de Janeiro, fundo PP, coleção 30.40Em 1795 foram colhidas 2930 arrobas. Em 1796, esse número alcançou 5000 arrobas.41 Notação física 6574 e notação lógica 164 (1830-1887); notação física 6575 e notação lógica 165 (1886-1887); notação física 6577 e notação lógica 167 (1881); notação física 6578 e notação lógica 168 (1882-1898); Caixa 507, pacote 2, pacotilha 20 (1804-1813), Caixa 507, pacote 2, pacotilha 20, doc.01 (1807-1813); Caixa 507, pacote 3, pacotilha 30, doc. 10.42 Arquivo Nacional, Caixa 507 pacote 2 pacotilha 20.

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o pagamento de mestres e oficiais.43 Nesta ocasião foi introduzida a cultura da linácea para a fabricação do linho.

No reinado de Dom João, dentre os foreiros da região encontramos José da Silva Braga, do 2° Regimento de Cavalaria de Milícias da Vila Nova de Caeté. Em Ribeirão dos Macacos, os Furtado de Mendonça e a fazenda da Posse, de Ana Francisca Joaquina de Oliveira da Horta Paes Leme, viúva de Pedro Dias Paes Leme, o Marquês de Quixeramobim (ou de São João Marcos ?). Além deles figurava José Ribeiro, que havia recebido terras em Sepetiba em 1770, e que em 1813 utilizava sua casa como hospedaria. Em 1823 possuía um engenho à foz do rio Guandu. Citemos Thomas Dogson, empreiteiro do calçamento das ruas da Corte, que em torno de 1826 era senhor de engenho em Itaguaí e o conde das Galvêas que no início do século XIX possuía terras na Tapada dos Veados. Existiam inúmeras fazendas entre as quais a Pompeba, São Paulo, Trindade, Santo Antônio, São Luis e São João Batista. Segundo documentação do Arquivo Nacional, 44 houve dois processos referentes a Santa Cruz: o primeiro, de 1817, de Manuel Caetano de Mattos, foreiro da Real Fazenda, contra Mariana Eugênia Carneiro que ao represar as águas do rio Guandumirim, inundava suas terras. O segundo, impetrado em 1823 por Manuel Antonio Salgado e Custódia (Clara?) Maria de Jesus, contrários ao embargo de obras solicitado por Domingos Carneiro de Andrade. Este alegou invasão de propriedade na localidade denominada rio de Sant'Ana. Não há referências sobre os resultados destes processos.

No decreto de 31 de agosto de 1808 o Príncipe Regente Dom João deu nova forma à administração da Fazenda de Santa Cruz que ficou subordinada à Mordomia da Casa Real, depois Imperial.45 Foram nomeados o superintendente Leonardo Pinheiro de Vasconcellos46 e seus auxiliares com vistas ao aumento do rendimento “ (...) e progresso da agricultura e ramos de industria de que é susceptível aquelle predio ... estabelecendo-se um cofre com tres chaves (...).” No decreto de 20 de setembro o príncipe aprovou as instruções provisórias para a administração da Fazenda e autorizou a venda de “ (...) todos os efeitos, gados, madeiras e mais produções da mesma fazenda (...).”47

A residência dos jesuítas foi transformada em palácio de veraneio real, a estrada sofreu melhoramentos e foram construídas as pontes de Piraquara, Bangu e Cabuçu. Em todo o percurso da então Estrada Real de Santa Cruz já havia povoados com casas e vendas de varanda (casas de comércio com hospedarias) que abrigavam os tropeiros.48 Antônio Dias Pavão, futuro Conde de Itaguaí, proprietário de armazéns na Pedra e em Sepetiba, possuía em 1807 (1822?) uma casa de secos e molhados no Curral Falso, “porta de entrada” e sede do posto de fiscalização da Fazenda, local de pouso preferido dos viajantes. Também conhecido por Rancho Real, mais tarde foi arrendado.

No período em que as epidemias assolavam Santa Cruz, o então administrador da Real Fazenda John Mawe Sidney Schmidt, mercador de pedras preciosas e comandante da esquadra inglesa que protegia o Rei conseguiu, com a intervenção do ministro Tomás Antonio, expulsar os invasores naquelas terras. Em troca de seus bons serviços foi-lhe concedida a sesmaria de Icaraí onde plantou linho. Uma de suas realizações foi a criação das manufaturas de queijo e manteiga com o leite proveniente dos currais de São Paulo, São Francisco, São Miguel e São Marcos. Nesta ocasião, em 1812, só havia 1.600 cabeças de gado e no curral da Conceição criavam-se ovelhas e cabras para o Paço. Dom Pedro proibiu posteriormente a fabricação de queijo e restringiu a de manteiga visando a reprodução do gado de corte. Durante todo o século XIX a atividade de criação tornou-se indispensável para o abastecimento de carne-verde para a cidade do Rio de Janeiro.

43 Viana (1974) nos apresenta a cifra, talvez superestimada, de 115:377$880 relativa aos rendimentos da produção de açúcar e aguardente em 1804. 44 Vide Fazenda Santa Cruz, caixa 14 pastas 317 fls. 1 a 9 e 318 fls. 1 a 8.45 Até o final do Império a Fazenda ficou subordinada à Mordomia Mor da Casa Real.46Cujos trabalhos perduraram de 1808 a 1815. Os vencimentos dos funcionários eram pagos em ouro.47Colleção de Leis do Brazil de 1808:124, 125, 136 e 137.48Como a Estrada Real de Santa Cruz costumava ser frequentada por salteadores e a viagem demorava em média de oito a dez horas, havia paradas em Campinho e Santo Antonio do Juari, em Campo Grande. No Engenho do Campinho eram oferecidos pouso e comida à comitiva real pelo proprietário Capitão Francisco Inácio.

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Com respeito à propriedade fundiária, o Alvará de 26 de julho de 1813 tornou os aforamentos à Coroa perpétuos e os demarcou - do litoral até a divisa com a Fazenda Paciência, de João Francisco da Silva e Souza, não incluídas as matas virgens mesmo quando excedessem 400 braças em quadra. O Alvará proibiu a derrubada de florestas no alto dos morros e serras e delimitou uma área de 78 hectares entre o mar, a fazenda de Santa Cruz e a Fazenda Piahy, em Sepetiba, para o estabelecimento de uma povoação. O terreno seria dividido entre os moradores que ali edificassem e que não pagariam um foro, mas “um módico reconhecimento para o senhorio direto”. Os terrenos foram doados    a Raymundo do Nascimento, Francisco Teophilo, Mano Velho, Pedro Evaristo da Silva, Manoel de Constâncio, Domingos Monteiro Ramalheiro, Maria da Terra e Afonso Boaventura. Este povoado tinha como função evitar o tráfico de negreiros e contrabando na ilha da Pescaria e nas costas vizinhas, que faziam parte de uma rota internacional, e facilitar a comunicação entre a ilha Grande, Parati e a cidade do Rio de Janeiro.

Entre 1816 e 1844 segundo os livros de registros havia na Fazenda 10 arrendamentos e 91 aforamentos. Os arrendamentos localizavam-se na Olaria, na Alfavaca, na feitoria do Peri-Peri, em Nazaré e 3 no Rancho do Andrade ou Salvador. Dos aforamentos não temos a localização precisa de 17, mas 15 encontravam-se na Olaria, 7 em Piranema, 6 em Ribeirão das Lages, 5 em Bom Jardim, 4 na Lagoa da Patiola e 4 em Limeira. Assinalemos que a maioria destes aforamentos possuíam extensão de 400 braças de frente por 400 braças de fundos (ou seja, uma de 400 braças quadradas era o prazo padrão), com o foro devido de 8$000.49 Na Olaria, Chaperó, feitoria de Peri-Peri, Povoação, rio de Itaguaí e Sepetiba entre outros, os aforamentos possuíam áreas bem menores (de poucas braças). Entretanto na rua do Comércio onde uma enfiteuse de 15 braças de frente por 20 de fundos pagava entre 100 reis e 2$000 por braça, o que demonstra uma valorização das terras urbanas comparativamente às rurais.

Observam-se, desde a expulsão dos jesuítas, mudanças na composição das classes sociais entre os foreiros da Fazenda de Santa Cruz . Nobres passaram a ocupar as terras das recém-fundadas feitorias de Bom Jardim, Santarém e Peri-Peri. Nesta última, como vimos, os índios expulsos de sua aldeia haviam se instalado. Ali foi construído um engenho de farinha às margens do rio Guandu, ao lado do engenho de aguardente que foi adquirido em 1822 (?) pelo Coronel Ignacio de Andrade Souto Maior Rondon, Comandante Geral das Milícias do Litoral. 50 O ex-marido da Marquesa de Santos, Felício Pinto Coelho de Mendonça, foi administrador da feitoria durante um breve período. Em 1834 terras em Peri-peri foram arrendadas ao coronel Ornelas que possuía 86 esravos e que de lá foi expulso sem que saibamos a razão. Nesta feitoria também se instalou o padre Francisco Moreira Correia da Silva que pagava de foro 1:472$000 anuais.51

A feitoria do Bom Jardim52 passou a ser administrada por Pedro Dias Paes Leme, Marquês de Quixeramobim e a de Santarém, cortada pela estrada da Pedreira que levava ao sertão adentro, tornou-se importante lavoura de café. Um de seus arrendatários na primeira metade do século XIX foi o filho do administrador Couto Reis.

Com vistas à transição do trabalho escravo para o livre, medidas de incentivo à imigração estrangeira foram promulgadas. Em Santa Cruz    foi criada uma colônia de chineses para a criação do bicho da seda logo substituída pela plantação de chá no terreno que ia do aterrado do Leme até a baixada de Saquassu. Os 45 chineses que vieram de Macau em 1815 instalaram-se no Morro dos Chinas, depois Morro do Chá, onde foi criado, em 1820, o Jardim do Cercadinho (ou do Cascarinho) com um horto de plantas medicinais que eram permutadas com o Jardim Botânico. Havia um lago artificial, labirinto e canteiros.53 Estavam próximos da lavoura dos espanhóis e das roças dos escravos. O Sítio/Morro do Chapecó na realidade lhes agradou mais, entretanto já estava ocupado por foreiros. Apesar das promessas, a relação de trabalho mantinha características escravocratas pois os chinas recebiam apenas cento e sessenta réis por dia, não podiam comerciar

49 Terrenos com 800 braças quadradas pagavam 32$000 e os 400 braças de frente por 800 braças de fundo, 16$000.50E proprietário do Morgado de Marapicu do qual já comentamos sua atuação junto à aldeia de Itaguaí.51 Em 1862 havia na região uma fábrica de notas falsas.52 Perto da futura freguesia São Pedro e São Paulo do Bananal de Itaguaí. Lá foi fundada a Companhia Seropédica.53O Jardim foi reformado em 1878 pelo engenheiro Frederico Groth orientado por Glaziou, Diretor dos Parques e Jardins da Casa Imperial. Ao nascer da República achava-se em completo abandono.

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nem ir à cidade, dormir fora da colônia ou receber visitas. Sua alimentação era composta por uma ração de arroz, carne, sal e toucinho. A partir de 1819 muitos fugiram e alguns foram recapturados em Guaratiba em 1822.54

Em 1815 chegaram oito famílias espanholas em um total de 145 pessoas, instaladas na localidade de Fructuoso55 construíram suas moradas - a Aldeia dos Espanhóis. Como a atividade agrícola não alcançou os resultados esperados muitos foram deslocados para a Olaria do Curtume que, por este motivo, passou a ser conhecida como Olaria dos Espanhóis. Ainda em 1817 chegaram os portugueses56 do Minho com a ajuda de custo de 2:400 réis a cada mulher com idade variando de 12 a 25 anos mais mil réis para cada filho, que estariam isentos do serviço militar. Além disso recebiam uma espingarda, enxadas, sementes, duas vacas, uma égua e um ano de ração. Estes agricultores trouxeram seus instrumentos de trabalho. Na década de 60 lavradores portugueses do Algarve dedicaram-se à fruticultura e horticultura no Frutuoso.

Em 1817 a Comissão de Melhoramentos, formuladora do Plano Quinquenal de reorganização da Fazenda e presidida pelo Superintendente Visconde do Rio Sêco57 deu instruções para o plantio de café em larga escala, cuja produção atingiu, em 1821, 128 mil pés. Tal empreendimento envolveu a desapropriação de grandes áreas, entre as quais o Morro do Leme. A plantação de arroz era realizada nos campos de São João Grande, São João Pequeno, nos brejais do Caçador - atualmente localizados em Itaguaí - e nos baixios do Curral Falso, nas terras de Piaí, campos de São Miguel e na baixada do Leme. Seu beneficiamento era realizado no Engenho do Cordeiro. Incentivou-se também a plantação de feijão, guando, amendoim, mamona, milho, anil, mandioca (a farinha era processada no antigo engenho dos jesuítas reformado pelo Visconde), legumes, hortaliças e amoreiras. Para facilitar o embarque e desembarque de mercadorias foi construído o Cais da Praça do Comércio no canal do Itá. O escoamento da produção de Santa Cruz se fazia, desde 1814, de Sepetiba até à Praia do Caju pelo Iate Conceição (ou Real) ou pelo caíque Bom Sucesso, pertencentes à Fazenda. Os passageiros eram conduzidos desde 1817 por um privado Serviço de Diligências entre o Palácio de São Cristovão e o Paço da Real Fazenda com fiscalização da Polícia. Em 1818 o decreto de 1° de outubro autorizou a Joaquim José de Melo o serviço em carros de seis assentos e três parelhas.58 A Superintendência da Fazenda, por sua vez, possuía veículos que se dirigiam a Sepetiba e Sapopemba.59

A ocupação residencial de caráter urbano em Santa Cruz iniciou-se com a presença de Dom João VI na Fazenda. O Inspetor Superintendente Leonardo Pinheiro de Vasconcelos escreveu: “A Fazenda de Santa Cruz não se pode considerar uma simples Fazenda, mas uma povoação” (Freitas, op. cit., vol.3:78). Na sua gestão foi elaborado um Plano de Remodelação do conjunto do Paço, aprovado em 1817, que permitiu a abertura das vias e o alinhamento dos lotes e que pressupôs normas de edificação das casas para não “embaraçar a vista das janelas do quarto de Sua Magestade”.60 Os lotes, com dez braças cada e com foro de cem réis por braça, foram concedidos aos alferes e aos criados da Casa Real (padeiros, carpinteiros e pedreiros construtores do Novo Palácio) e localizavam-se na rua Nova da Olaria, depois rua do Comércio.61 Nesta rua já havia se 54A plantação de chá, com o abandono dos chineses, passou à responsabilidade de escravos. Apesar de muitos terem sido enviados a São Paulo para se especializarem, já estava decadente em 1854. Uma nova tentativa foi feita no sítio do Leme, sem sucesso. Em 1869 não mais existia.55No tempo dos jesuítas havia plantação de cacau nas terras do Frutuoso, um grande pomar.56A vinda dos portugueses já estava legislada pelos Alvarás Régios de 31 de agosto de 1747 e 21 de abril de 1751 (Freitas, op. cit.).57Joaquim José de Azevedo foi um homem extremamente rico que emprestava dinheiro à Casa Real e que financiou as despesas para o retorno de Dom João a Portugal. Foi tesoureiro da Casa Real. Morava no Rio Comprido e possuía palácios no largo do Rocio e em Paquetá. Mais tarde tornou-se Marquês de Jundiahy.58Quando chegavam em Santa Cruz, os passageiros eram alojados em prédio próprio da companhia. Do Paço à Santa Cruz o bilhete custava 8$000. Outros nomes ligados ao transporte em Santa Cruz foram Sebastião Fábregas Surigué e Nicolau Viegas de Proença. O primeiro, gestor da Real Fábrica de Tecidos de Santo Agostinho e o último, que alugava carros apesar de não possuir concessão, era Secretário da Intendencia de Polícia e corretor da Igreja de Nossa Senhora da Conceição e Boa Morte.59O preço da passagem era de 25$000 réis. 60Aviso do Ministro Tomás Antonio de Vila Nova Portugal enviado ao Visconde do Rio Sêco.61Atual Senador Camará.

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instalado, desde 1816, Bonifácio José Pinto da Mota, com uma casa de negócios, hospedagem e banca de ferrador.

É possível, portanto, fazer referência, em 1818, a uma “área central da povoação” composta pelos alojamentos dos Ministros, a casa mandada construir pelo Visconde do Rio Sêco para seu uso privado na rua Nova da Olaria e a famosa residência do Conde dos Arcos na esquina da praça do Paço com a rua Direita, entre outros. Um dado sintomático deste "nobre" progresso urbano é a cobrança de impostos, neste mesmo ano, a favor do hospital dos Lázaros, coleta que incluiu os habitantes de Santa Cruz. No plano dos serviços, em 1820 já havia dez comerciantes locais, sendo nove portugueses.62 Dom Pedro I,    pelo Regimento de 8 de maio de 1823, mandou fechar todas as tabernas na praça do Paço, com quatro exceções: as de um parente do Brigadeiro Alpoim, aquela pertencente a dois portugueses “por já a terem antes da minha Ordem” e a taberna de um empregado da Fazenda.63 Entre as hospedarias, instaladas a partir de 1819, havia a de Pharoux (do mesmo proprietário do hotel do cais Pharoux) e a de João Damby, o mestre de equitação dos príncipes.

Nesse processo foi definida também uma classificação das terras da Fazenda para efeito de cobrança dos foros: a quadra urbana, nos limites da área do Paço, pertencia à primeira classe, a quadra suburbana à segunda, as terras rurais deveriam ser dedicadas à "lavoura grossa", os terrenos “de largueza” eram considerados devolutos e os alagadiços, sobejos. Percebemos aqui uma clara distinção entre “cidade e campo”. Em 1821 um lote-padrão, de "quatrocentas braças de testada mais umas tantas de fundo", pagava dois réis em dinheiro mais seis galinhas por ano.

A primeira disposição legal para a medição da fazenda de Santa Cruz foi o Decreto de 19 de outubro de 1820 e assim publicado:    “Por se achar apagada e confundida a planta dos rumos e terem desaparecido muitos dos marcos colocados por ocasião da primeira demarcação feita em 1720, nomeio o Desembargador da Casa da Suplicação e Juiz das Demarcações da Real Fazenda de Santa Cruz, João Inácio da Cunha, para juiz do Tombo e julgar as dúvidas porventura suscitadas na medição da mesma Real Fazenda." (Freitas, 1987:204). Após a Independência, a Constituição do Império, promulgada em 25 de março de 1824, incorporou a Fazenda de Santa Cruz ao patrimônio nacional e legou-a como serventia a Dom Pedro I e seus sucessores (Santos, 1981). Neste mesmo ano, pela Portaria de 9 de setembro, os índios tornaram-se cidadãos brasileiros e, portanto, obrigados a pagar o foro de suas terras em Santa Cruz. Com a finalidade de controlar a propriedade, uma medição foi exigida em 1825, entretanto seu tombo foi roubado.64 Em 1827 Boaventura Delfim Pereira, o Barão de Sorocaba, cunhado da Marquesa de Santos e Superintendente de Santa Cruz, iniciou uma nova medição da Fazenda.

Neste mesmo ano foi elaborada pelo Juiz da Coroa uma relação de 153 fazendeiros e lavradores que nunca reconheceram a Fazenda de Santa Cruz como senhorio de suas terras. Este não-reconhecimento provinha sobretudo de sua posição econômica e social: 14 destes fazendeiros possuíam entre 100 e 540 escravos e eram responsáveis por uma enorme produção. Outros 118 lavradores, que contavam com menos de 50 escravos cada, também alcançavam resultados econômicos significativos.65 Sentindo-se prejudicados pela Medição de 1827, que teria incluído as terras das freguesias de Valença, São João Marcos, Sacra Família do Tinguá, Curato das Dores, Piraí de Santana, 224 proprietários (de terras e de 7.681 escravos), formularam uma representação à Assembléia Geral solicitando sua anulação, fato que culminou com o Decreto de 25 de novembro de 1830 que definiu os limites da Fazenda: “Somente compreende terrenos em cuja efetiva e legítima posse se achava o senhor Dom Pedro I no dia 25 de março de 1824.” Os terrenos que

62Entre os quais citamos o Conde de Itaguaí, que, como vimos, possuía um negócio no Curral Falso desde 1808. Em 1834 até o cônsul da Prússia tornou-se comerciante.63 As casas de pasto permaneceriam abertas caso não vendessem aguardente.64Esta medição foi posteriormente encontrada no torreão do Palácio de São Cristovão.65Arquivo da Cidade, “Relação dos fazendeiros e lavradores que nunca reconheceram a Fazenda Nacional de Santa Cruz e que foram aparentemente incluídos na última e nova medição feita no ano de 1827 pelo Desembargador Juiz da Coroa Joaquim Ignácio Silveira da Mota, e número de escravos com quem trabalharam as suas terras.” Chama a atenção na listagem o grande número de sargentos, coronéis, tenentes, capitães e alferes. Há cinco padres donos de 116 escravos nas suas fazendas de café.

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haviam sido anexados por uma medição posteriormente feita “ficam pertencendo àquelles, que no referido dia 25 de março legitimamente os possuíam, ou a elles tinham direito, e a quaesquer seus legítimos sucessores, em favor dos quaes a nação renuncia qualquer direito (...) As pessoas que aproveitarem da presente renuncia, serão obrigadas a guardar os contractos de aforamento feitos pela Coroa até o referido dia 25 de Março de 1824; ficando somente com o dominio directo dos terrenos que assim tiverem sido aforados.”66 Na tentativa, desajeitada, de manter os bens públicos, José Maria Velho da Silva em sua rápida gestão (1830-1831), incorporou as casas na foz do rio Itaguaí ao patrimônio da Fazenda.

Pelo decreto de 30 de Agosto de 1831 a Fazenda, inclusive Sepetiba, e a freguesia de Marapicu pertenceriam ao termo da vila de Itaguaí.67 Em junho de 1832 Santa Cruz foi elevada a Curato cujos limites iam da Fazenda do Piaí ao rio Tingui e incluíam os “bairros” de Santa Efigênia, Cantagalo de Dentro e Curral Falso. O decreto de 4 de Novembro de 1833 determinou que no termo da vila de Itaguaí estariam incluídas as povoações denominadas Cantagalo e Canhangá que faziam parte da fazenda dos Religiosos do Carmo, visto que se achavam já anexadas, quanto ao espiritual, ao Curato da Fazenda Nacional de Santa Cruz. Entretanto pelo decreto de 30 de dezembro de 1833, assinado pela Regência Permanente depois de receber um memorial da população, a freguesia constituída pelas terras do Curato foi incorporada à Corte e desanexada do termo da vila de Itaguaí, a que pertencia desde janeiro.68 Em 1834 pelo Ato Adicional, o Rio de Janeiro tornou-se Município Neutro, independente da Província69 onde estava localizada a maior parte das terras da Fazenda de Santa Cruz. Tal medida, entretanto, não interferiu na sua unidade econômica e administrativa, naquele período possuía 1.524 escravos para uma produção de 3.822 arrobas de açúcar anuais.

Em maio de 1822, Dom Pedro I estabeleceu que a Fazenda deveria viver de seus próprios recursos. Neste momento a principal fonte de renda provinha dos aforamentos que atingiram o total de 3:488$005. O café rendeu 2:256$315. Neste ano, com a seca, restavam apenas 4.000 pés e era proposta a plantação de 40.000 pés. Como a fiscalização era precária consta que havia ocupações clandestinas sobretudo nas terras mais distantes. De 1822 a 1824, João da Cruz dos Reis geriu a Fazenda e conferiu títulos aos foreiros que lá estavam sem documentação. Este Superintendente permitiu a permanência dos intrusos, que chegavam a cinquenta e nove famílias que pagavam 580$000 e 435 galinhas anualmente. Entre eles estavam Plácido Antunes Pereira de Abreu, João Carlota, Paulo Bregaro70 e vários padres nas partes altas de Piranema, na feitoria de Bom Jardim, mediante o pagamento de taxas iguais às melhores terras da Fazenda. Plácido Antunes, possuidor de quatro prazos em Ribeirão dos Macacos, deveria pagar sessenta e quatro mil réis de foro anual. João da Cruz dos Reis procurou cobrar os foros devidos pelos arrendatários, sobretudo do grande criador e “latifundiário” Nuno da Silva Reis, dono da fazenda da Floresta com 14,5 prazos e localizada em Ribeirão das Lages, devedor de mais de novecentos contos de réis. O Superintendente foi demitido no ano seguinte.

Após a Independência, a Constituição do Império, promulgada em 25 de março de 1824, incorporou a Fazenda de Santa Cruz ao patrimônio nacional e legou-a como serventia a Dom Pedro

66Colleção de Leis do Império do Brazil de 1830, Parte Primeira. No Morro do Redondo ou de Petrópolis foi criado em 1827 o Observatório Astronômico de Santa Cruz. Em 1885, em completo abandono, foi ocupado pelo 13° Batalhão de Infantaria da Guarda Nacional.67 Por este decreto os distritos da freguesia de Campo Grande, desde o Piraquamerim inclusive, até o “Curral Falso” foram anexados administrativamente à freguesia do Sacramento da cidade do Rio de Janeiro. 68 O Decreto de 15 de Janeiro de 1833, no seu artigo 8º, determinou que a vila de Itaguaí tivesse os limites que lhe foram assinalados pelo Alvará de 05 de Julho de 1818, com exceção do território desmembrado para a vila de Mangaratiba (Decreto de 26 de Março de 1832), contendo mais no seu termo todo o Curato da Fazenda Nacional de Santa Cruz, cujos limites seguiam a fazenda da Pedra dos carmelitas até a freguesia de Marapicu.69 Com a Constituição Imperial de 1824, o território foi dividido em províncias, governadas por um Presidente nomeado pelo Imperador e, em cada cidade ou vila haveria Câmaras às quais competiria a gestão econômica e municipal. Estas câmaras eram eleitas e definiam suas posturas e a aplicação das rendas. Pelo Ato Institucional de 1834 criaram-se as Assembléias Legislativas Provinciais em substituição aos Conselhos Gerais e separou-se a Província do Rio de Janeiro do município da Corte, consagrado com o município neutro.70O conhecido Correio da Independência.

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I e seus sucessores (Santos, 1981). Neste mesmo ano, pela Portaria de 9 de setembro, os índios tornaram-se cidadãos brasileiros e, portanto, obrigados a pagar o foro de suas terras em Santa Cruz. Com a finalidade de controlar a propriedade, uma medição foi exigida em 1825, entretanto seu tombo foi roubado.71 Em 1827 Boaventura Delfim Pereira, o Barão de Sorocaba, cunhado da Marquesa de Santos e Superintendente de Santa Cruz, iniciou uma nova medição da Fazenda. Foi elaborada pelo Desembargador Juiz da Coroa uma relação de 153 fazendeiros e lavradores que nunca reconheceram a Fazenda de Santa Cruz como senhorio de suas terras. Este não-reconhecimento provinha sobretudo de sua posição econômica e social: 14 destes fazendeiros possuíam entre 100 e 540 escravos e eram responsáveis por uma enorme produção. Outros 118 lavradores, que contavam com menos de 50 escravos cada, também alcançavam resultados significativos.72 Sentindo-se prejudicados pela Medição de 1827, 224 proprietários (com seus 7.681 escravos), formularam uma representação à Assembléia Geral solicitando sua anulação, 73 fato que culminou com o Decreto de 25 de novembro de 1830 que definiu os limites da Fazenda: “Somente compreende terrenos em cuja efetiva e legítima posse se achava o senhor Dom Pedro I no dia 25 de março de 1824.” Os terrenos que haviam sido anexados por uma medição posteriormente feita “ficam pertencendo àquelles, que no referido dia 25 de março legitimamente os possuíam, ou a elles tinham direito, e a quaesquer seus legítimos sucessores, em favor dos quaes a nação renuncia qualquer direito (...) As pessoas que aproveitarem da presente renuncia, serão obrigadas a guardar os contractos de aforamento feitos pela Coroa até o referido dia 25 de Março de 1824; ficando somente com o dominio directo dos terrenos que assim tiverem sido aforados.” 74 Ainda na tentativa, desajeitada, de manter os bens públicos, José Maria Velho da Silva em sua rápida gestão (1830-1831), incorporou as casas na foz do rio Itaguaí ao patrimônio da Fazenda.

Em junho de 1832 Santa Cruz foi elevada a Curato cujos limites iam da Fazenda do Piaí ao rio Tingui e que incluíam os “bairros” de Santa Efigênia, Cantagalo de Dentro e Curral Falso. Pelo decreto de 30 de dezembro de 1833, assinado por Dom Pedro I depois de receber um memorial da população, a freguesia constituída pelas terras do Curato foi incorporada à Corte e desanexada do município de Itaguaí, a que pertencia desde janeiro. Foram desmembradas as fazendas de Itaguaí, Cantagalo e Canhangá da grande propriedade de Santa Cruz que, naquele período, possuía 1.524 escravos para uma produção de 3.822 arrobas de açúcar anuais. No ano seguinte, pelo Ato Adicional, o Rio de Janeiro tornou-se Município Neutro, independente da Província onde estava localizada a maior parte das terras da Fazenda de Santa Cruz. Tal medida, entretanto, não interferiu na sua unidade econômica e administrativa.

A Fazenda também foi palco de experimentações industriais com a revogação do ato que proibia a indústria no Brasil pelo Alvará de 6 de outubro de 1810, ainda que várias manufaturas já existissem desde os tempos dos jesuítas. Entre elas fábricas têxteis (de algodão e de seda), de artigos de couro, serralheria, carvoaria e olaria.

A Real Fábrica de Tecidos de Santo Agostinho75 foi construída em 1815 pelos índios, nos campos de Santo Agostinho às margens do rio Guandu com frente para o Caminho Novo da Piedade.76 Era gerida por Sebastião Fábregas Surigué, Diretor do Real Colégio das Fábricas, 77 em um regime paraestatal com mão de obra cativa e livre que, mantendo a tradição jesuítica, trabalhava de

71Esta medição foi posteriormente encontrada no torreão do Palácio de São Cristovão.72Biblioteca Nacional, seção de Obras Raras. “Relação dos fazendeiros e lavradores que nunca reconheceram a Fazenda Nacional de Santa Cruz e que foram aparentemente incluídos na última e nova medição feita no ano de 1827 pelo Desembargador Juiz da Coroa Joaquim Ignácio Silveira da Mota, e número de escravos com quem trabalharam as suas terras.” Chama a atenção na listagem o grande número de sargentos, coronéis, tenentes, capitães e alferes. Há cinco padres com 116 escravos nas suas fazendas de café.73A medição teria incluído terras nas freguesias de Valença, São João Marcos, Sacra Família do Tinguá, Curato das Dores, Piraí de Santana (Freitas, op.cit. vol. 3).74Colleção de Leis do Império do Brazil de 1830, Parte Primeira. No Morro do Redondo ou de Petrópolis foi criado em 1827 o Observatório Astronômico de Santa Cruz. Em 1885, em completo abandono, foi ocupado pelo 13° Batalhão de Infantaria da Guarda Nacional.75Até 1814 havia uma Oficina de Teares com dez escravos-aprendizes fiando o algodão.76Depois estrada de Itaguaí.77Editor do Almanaque da Cidade e ligado aos serviços de transporte e de iluminação da cidade.

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segunda a sexta. O algodão era plantado no sítio do Veloso, ou Lavoura dos Prêtos, que contava com cinco mil pés. Era urdido por 10 fiadeiras em Sepetiba, em casas alugadas pela Superintendencia da Fazenda, 16 índias de Itaguaí e 13 da Ilha Grande. Esta produção era enviada à Real Fábrica, edificação ricamente decorada, com pintura em ouro e anil nas paredes. Posteriormente a empresa foi fechada e suas máquinas transferidas para a fábrica da Lagoa em 1819.78 A indústria têxtil em Santa Cruz foi preservada com a implantação, em 1820, da Casa dos Tecidos e Panos ou Fábrica de Fiação do Leme79 com a matéria prima (lã e algodão) vinda do sítio da Capoeira Velha, na localidade de Morro Grande, e com o pouco material e equipamentos restantes da Fábrica de Santo Agostinho.

Merece destaque a Companhia Seropédica Fluminense, na feitoria de Bom Jardim, que reativou a criação do bicho da seda na Fazenda. Foi fundada por José Pereira Tavares em terras que haviam pertencido a Antonio Gomes Barroso, que as vendeu. Os decretos 342 de 22 de maio de 1844 e o 388 de 13 de maio de 1846 autorizaram a criação, fiação e tecelagem e a concessão de seis loterias de cento e vinte e cinco contos cada uma (Gomes Filho, 1956). Mesmo que a indústria chegasse a contar com cerca de cento e vinte mil pés de amoreiras, seus resultados foram considerados insatisfatórios. Foi constituída uma comissão da qual faziam parte o Barão de Mauá e o visconde de Barbacena com o objetivo de criar uma emprêsa, a Imperial Seropédica Fluminense, cujo principal acionista seria Dom Pedro II. Nesta ocasião já estavam plantados 200 mil pés. Segundo o relatório da Companhia de 1858, lá trabalhavam 58 homens livres e 31 escravos que moravam em alojamentos da emprêsa. A produção da fábrica, que tinha a mesma qualidade das similares estrangeiras, foi interrompida em março de 1863 após graves problemas financeiros, por ordem do Presidente da Província.80 Em 1866 o capitão Luiz Ribeiro de Souza Rezende arrematou os direitos de foro e os vendeu em 1890 a uma Companhia que não prosseguiu com a produção.81

Outra importante produção, presente desde a época dos jesuítas e que não sofreu interrupção com a expulsão da ordem, era a de couro. Curtidores vindos com a Missão Francesa colaboravam com o seu trabalho quando em 1817 o curtume foi arrendado pelo holandês Antonio Dufles, o encarregado do corte de madeira da fazenda. Foram excelentes as condições do contrato: a concessão de um empréstimo de um conto e duzentos mil réis, mil e duzentas peças de couro e sete escravos. Ao se retirar, Dufles solicitou terras em Santa Cruz. Em 1831 o Curtume passou ao feitor José Inácio e, em 1836, para o francês João Grimes por 150$000 réis anuais e doze couros curtidos para a Fazenda. Em troca recebeu pedra, tijolo, telha e madeira para as benfeitorias. Houve um desabamento em 1874 que implicou em sua demolição. Neste lugar foi erigido o Matadouro.

Entre as atividades industriais deve-se mencionar, ainda, a ferradoria-serralheria e a carvoaria. A primeira possuía mais de dez escravos e produzia portões, foices, pinos de dobradiças, chaves, ferraduras, estribos e parafusos de todos os tipos. A partir de 1849 foi iniciada a fabricação de seges. A Carvoaria dos Paços Reais, criada pelo Visconde do Rio Sêco, empregava 18 homens, sendo 5 para o transporte. Localizava-se próxima a Piranema, em Itaguaí.

Na Olaria do Curtume havia dois fornos, um deles utilizado na feitura de louças finas. Em 1837 havia pelo menos 37 oleiros trabalhando na produção de telhas, tijolos, louças, manilhas e formas para açúcar. Em 1850 já eram 50, sendo a metade composta por crianças negras, "livres". No Segundo Império a fábrica, cujas máquinas vieram da Europa, passou a ser conhecida por Olaria da Fazenda onde já se fabricava também cerâmica doméstica de luxo.82 Em 1870 iniciou-se a manufatura de mercadorias mais simples como potes, canecas, copos, ladrilhos, vasos e fogareiros. Uma portaria da Mordomia Imperial de 1875 proibiu o funcionamento de qualquer fábrica de tijolos

78Criada pelo decreto de 27 de novembro de 1819 a “Fábrica de Fiação e tecidos de algodão e malha da Lagoa Rodrigo de Freitas” foi instalada atrás do Jardim Botânico, à rua Pacheco Leão, em local conhecido por Chácara do Algodão.79ão podemos precisar se era esta a fábrica que pertencia ao inglês Francis Wallis que solicitou ao governo em 1814 um empréstimo de dois mil contos de réis para estabelecer uma indústria de lã, com produção de massa através do emprego de tecnologia avançada. Wallis também era dono de uma fábrica em Lisboa.80Arquivo Público do Estado, PP 8.1, Coleção 78.81Em 1915 os direitos foram concedidos a Cassiano Caxias Santos que adquiriu outros lotes para a implantação da Fazenda de Santa Tereza ou Caxias. Suas terras pertencem hoje a uma emprêsa privada 82Os Palácios Imperial de Petrópolis e o da Quinta da Boa Vista, além das igrejas e capelas recebiam seus produtos.

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e louças nas terras de Santa Cruz visando o êxito da Olaria da Fazenda que, no entanto, foi demolida no ano seguinte. Todo o material foi vendido ao Barão da Taquara.

Retornemos às proposições dos vários Superintendentes a partir dos anos 30. O Coronel Francisco Gonçalves Fernandes Pires (1834-1846) procurou incrementar a lavoura do arroz e a criação de gado reprodutor cuja venda era bastante lucrativa. Se em 1832 cada braça pagava 2$000 multiplicados pelo número de escravos, em 1835 o foro diminuiu para 1$000. Evidenciando a dinâmica de Santa Cruz, foi ali instalada a primeira agência dos Correios83 do país em 1842. Outras preocupações revelaram-se na construção da ala direita do Palácio e do edifício do Curtume, obras superfaturadas segundo denúncias da época. O coronel Conrado Jacob Niemeyer (1846-1856) que o sucedeu além de ter se empenhado em obras no Paço e no Mirante Imperial 84 no morro da Pedreira, reconstruiu as pontes e o Aterrado de Itaguaí visando a circulação. Em 1850, os serviços urbanos de Santa Cruz já contavam com dois boticários, seis casas de secos e molhados, uma padaria e três ranchos. Por conta do decreto 409 de 1856 relativo ao melhoramento das culturas na Fazenda, o Superintendente incentivou as indústrias do chá (vinte e quatro mil pés foram plantados em Saquassú) e da seda. Nota-se também que a cultura do café passou por uma evolução. Em 1850, segundo Viana (op.cit.), a Fazenda contava com o total de setecentos foreiros, havia nove lavradores que se dedicavam à rubiácea, em 1857 eram doze e, em 1864, chegaram a quinze lavradores (Taunay, 1943). Foi criada a Imperial Coudelaria de Santa Cruz,85 cujos animais eram guardados no Campo de São Luís e alimentados pelo capim vindo de um capinzal-modelo localizado entre as ruas do Campeiro Mór e do Prado.86

A seguir veio o “Carrasco do Cruzeiro”, o mais violento dos administradores, Inácio José Garcia. Pelos maus tratos dirigidos aos escravos e funcionários da Fazenda, abandono dos prédios, armazéns, hospital, cais, currais e lavoura87 e, finalmente, pelos desvios de verba, foi assassinado em 1867. Em vida acumulou mais de quinhentas cabeças de gado vacum, cavalos e, para realizar suas encomendas como empreiteiro na Corte, utilizava trabalhadores e material de Santa Cruz. Foi ainda proprietário de terras e de imóveis na fazenda e em Sepetiba. Cabe registrar que a partir de 1862 escravos passaram a ser alugados para fazendas (como a de Gericinó), empresas (a Companhia do Gaz do Rio de Janeiro e a Imperial Companhia Seropédica Fluminense), para a remodelação dos jardins da Quinta da Boa Vista e a construção de Petrópolis (Lacombe, 1939). Entre 1865 e 1868, 691 escravos foram libertos para trabalharem nos hospitais da campanha do Paraguai. Em 1864, segundo os Livros de Receita e Despesa da Superintendência, os subúrbios da Fazenda eram o Morro do Chá, Cruz das Almas e outros lugarejos fora do centro do Paço.88 As rendas da Fazenda em 1862 eram provenientes de foros, laudêmios, impostos, venda de produtos, empreitadas de escravos, fretes de embarcações e de viaturas, aluguel de ranchos, rendas das feitorias, contratos das bandas de música e aluguel de pastos.

Os cinco anos posteriores, mais tranquilos, foram marcados por grandes obras de proteção contra as enchentes, a expansão da agro-indústria (que incluiu o plantio de cana de açúcar no campo do Paraguai) e o aluguel de pastos. Na segunda metade do século XIX, principalmente no Segundo Império, a renda da Fazenda era sobretudo recolhida da pastagem. Outra importante iniciativa do superintendente José Saldanha da Gama89 quando criou o Cadastro da Fazenda foi chamar os foreiros em débito. O Barão da Taquara, conhecido por suas propriedades em Jacarepaguá, não teve

83O primeiro concessionário foi o João dos Correios seguido por Manuel Gomes Arruda. Em 1829 os serviços postais foram organizados depois da extinção do ofício de correio-mor em 1797 (Freitas, op.cit. vol.3).84Nos tempos dos padres era chamado de Atalaia dos Jesuítas que, através de lunetas, tudo observavam. Foi transformado em Reservatório, “Castelo das Águas”, por Washington Luis.85Sua origem encontra-se nas Reais Cavalariças do Paço do Rio de Janeiro, do tempo de Dom João VI. Inicialmente localizadas na “casa da Guarda” pertencente ao comerciante João Ribeiro, foram mudadas para local próximo da Olaria na estrada de Itaguaí. Em 1868 foi construído um novo prédio para a Coudelaria. 86Hoje o Hospital de Dom Pedro II.87 Em 1862, guandu, aveia, cevada e ervilhas eram plantados na área da atual rua Alvaro Alberto até o Mirante por 16 escravos.88Apud Freitas, op.cit., vol.3.89Fidalgo da Casa Imperial, Dignitário da Ordem da Rosa, Comendador da Ordem de Cristo e Cavaleiro da Ordem do Cruzeiro, foi cunhado do Visconde de Algesur, último proprietário do Morgado de Marapicu.

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renovado seu arrendamento no campo de Sapicu e sua gleba foi desapropriada. Cabe dizer que o Barão possuía uma das maiores extensões na Fazenda. Na esfera do trabalho e da mão de obra é interessante assinalar que em 1870 foi criada a Sociedade Três de Maio Protetora das Famílias dos Empregados da Imperial Fazenda de Santa Cruz e que Dom Pedro II alforriou setenta crianças escravas da Fazenda Imperial. Quanto aos serviços, os dois principais logradouros em frente ao Paço receberam iluminação pública a gás; o telégrafo lá chegou em 1872.

O Marechal Justiniano Galdino da Silva Pimentel (1876-78), o “superintendente urbanista” propôs mudanças nos transportes, na rede viária, na distribuição da mão de obra e na reforma do cemitério. Neste momento ainda havia 348 senzalas na Fazenda. O substituto do Marechal Justiniano, Conselheiro Antônio Henriques de Miranda Rêgo (1878-87), inaugurou o Matadouro no Campo de São José perto do arraial da Boa Vista, em 1881, cujos empregados moravam em 67 casas construídas a seu lado (Santos, op. cit.). Segundo o contrato de arrendamento assinado em 1874, pelo Matadouro pagar-se-ia uma taxa anual de 971$000, durante cinquenta anos. Foi feita uma medição na povoação de Sepetiba que contava agora com a área de 48 ha. Nessa época foi inaugurada ainda a Escola Imperial Dom João VI, pública, e implementadas obras de urbanização no leito das ruas, nivelamento das praças, abertura de bueiros e reforma de prédios. Tais esforços resultaram na abertura de mais hotéis, como o Progresso, Boa Vista e do Candó. Podemos nos referir aos povoados de Santa Cruz, Itaguaí, Sepetiba e o de Pedra de Guaratiba, à olaria, ao curtume, à pedreira, ao Matadouro, ao ramal da linha férrea e ao bonde para Sepetiba.

Nos anos seguintes (1887-1889) o Comendador Major Manoel Gomes Archer, responsável pelo reflorestamento da Floresta da Tijuca e de Petrópolis e que sucedeu Antônio Henriques, arborizou a Praça da Superintendência e suprimiu vários cargos com o intuito de, cortar despesas, o que talvez explique a campanha de difamação dirigida contra ele. Foi acusado da venda de madeira e de apropriação indevida de bois da Fazenda.

A questão fundiária na segunda metade do século XIX

Ao pesquisarmos o Registro de Terras da freguesia de São Francisco Xavier de Itaguaí de Itaguaí (1854/1855),90 encontramos 129 declarações de posses das quais 56 são foreiras à Fazenda Imperial da Santa Cruz e em 74 não está assinalada a origem das terras. As localidades eram: Matto do Rey, Boa Vista e Morro Grande, Fazenda Morro das Couxas, Casas Altas (situação), Espigão, Mineiro (na freguesia de Bananal), Monte Carmello, Lagoa Nova, Fazenda Chapecó, Três Morros, Fazenda Espigão (que pertencia a Domingos Diniz de Andrade), serra das Caveiras (freguesia de São José da Cacaria), morro do Guizón, Fazenda Santo Inácio (que possuía 1.540.942 braças quadradas sendo 803.492 foreiras à Santa Cruz e 734.150 desmembradas do engenho de Itaguaí), Rio Preto e na rua Direita, localizada no povoado de Itaguaí. Na maioria dos casos as informações dão conta de médias propriedades (as grandes propriedades eram poucas) e que no lugar chamado Alagado viviam pretos foros. Cada prazo possuía "400 braças de testada e outras tantas de fundo" que, como assinalamos anteriormente era o padrão. Há 48 registros de porções de terras compradas a vários índios ("perto da Estrada Geral que segue serra acima e fundos para a Guarda Grande"). Muitos dos documentos afirmam serem as terras próprias, adquiridas dos índios.    Destacamos a declaração da Câmara Municipal da Vila de Itaguaí que afirma ter recebido seu patrimônio através do Alvará Régio da criação da vila. Há ainda declarações dos próprios índios. Registros nos indicam a cadeia sucessória das terras do engenho de Itaguaí: o surgimento de fazendas, como a de Santo Inácio, Rio Prêto, Rodeio ou posses nas localidades de Três Barras, Grimaneza e Saco do Mazomba.

Há ainda documentos de Thomas Butter Dogson que comprou em 1853/55 a fazenda Arapucaia, “com frente na costa do mar, de frente à ilha da Madeira” e o de Robert Coats que adquiriu 330.000 braças quadradas de mangues e brejos também em frente à ilha da Madeira e ao Saco das Salinas. Encontramos ainda petições, de 1859, de medição de terrenos de marinha em frente às fazendas de Itaguaí, de propriedade de José    Pinto Tavares, e Arapucaia. Uma outra

90 Arquivo Público do Estado do Rio de Janeiro fundo PP, códice 49.

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demanda foi feita em 1872 pelo Barão de Mauá, deferida pelo Ministério dos Negócios da Fazenda, de aforamento de marinhas, entre as fazendas de Salinas e Arapucaia, ambas de sua propriedade. Em 1875 o Major Antonio de Oliveira Freitas requisitou o foro de terrrenos de marinha no lugar denominado Ponta de Areia de Coroa Grande em Itaguaí, fronteiriços às suas terras. Encontramos ainda pedidos de aforamentos de Bernardino de Souza Machado, Candido José Cardoso e Antonio Fereira da Cunha, fazendeiros em Mangaratiba.

Quanto à freguesia de São Pedro e São Paulo do Ribeirão das Lages encontramos 91 registros de terras foreiras à Fazenda de Santa Cruz feitos entre 1855 e 1856. Com relação às taxas pagas em réis, um dado interessante é o de que não há nenhuma conexão entre a superfície da propriedade e o    valor da contribuição. É provável que a diferença se deva à atribuição a um outro fator, por exemplo, fertilidade ou existência de rios nas posses. É interessante notar que os terrenos não registrados eram passíveis de multas. O Governo Provincial procurava manter controle sobre a propriedade e o parcelamento das terras. Há dados sobre os vários casos que, após o pagamento tinham 60 dias para regularizarem suas posses.

A Fazenda Piaí foi comprada, em 1856 (1858?), pelo comendador Antônio José Gomes Pereira Bastos com a finalidade de introduzir a cultura de lúpulo a ser fornecido à Imperial Fábrica de Cervejas. Em 1859, contando com o trabalho de 46 escravos, sua produção atingia 200 pipas de aguardente, 750 alqueires de farinha, 192 alqueires de feijão, dois de milho e 160 “litros” de arroz. Em 1861 o engenho recebeu novas prensas, moendas e caldeiras; seu canavial ia do morro dos Veados (hoje do Redondo) até o Campo do Paraguai, depois Jaqueirão. Em 1864 o comendador Antonio de Souza Ribeiro adquiriu todas as terras de Piaí para a implementação de um grande centro agrícola. Visando a ampliação do povoado, em 1873 apresentou um projeto para a abertura de três ruas em seus terrenos que contavam com 42 moradores. Sabe-se que Souza Ribeiro, em 1876, cobrava, indevidamente, os foros de duzentos lavradores que se organizaram e resolveram criar uma comissão para reclamar junto à Câmara. Conseguiram reverter a situação.91 Surgiu também nesse período uma proposta de criação de um Engenho Central que não foi adiante pois em 1878 a maquinaria foi vendida e as instalações utilizadas para isolamento de pacientes na epidemia.

Ainda segundo outros documentos92 as terras no Saco do Retiro, junto à foz do rio Guandu, cujo proprietário Braz da Silva Rangel as recebeu em 1763 (1793?) encontravam-se em 1856, ocupadas pelos posseiros Joaquim Manoel dos Anjos (três prazos), Maria Francisca da Conceição (uma situação com 76 braças de frente e 1.500 de fundos) e José Luiz Freire (162 braças de frente e 1.500 de fundos). No campo de Santo Agostinho,93 terras com aproximadamente 7,5 km2, estavam nas mãos de Eugenio Guilherme Magalhães de Carvalho94 desde 1847.

Antônio Barbosa de Araújo possuía em 1846 um prazo de 34 braças na Lagoa do Cocal e mais 2 prazos e meio na mesma localidade comprados em 1843 à viúva de Fortunato Pereira, propriedade que constituía a situação Bom Jardim na lagoa do Cocal. Houve uma Portaria da Imperial Fazenda de Santa Cruz expedida em 17 de novembro de 1845 para a remedição e aviventação de 4 prazos de terras de Antonio Barboza de Araujo no Serrote do Bom Jardim na Lagoa do Cocal. Estas terras confrontavam com a Imperial Feitoria de Periperi, com os herdeiros do capitão Bento Pereira de Lima (Fazenda Boa Vista), com a sesmaria do Marques de Quixeramobim, com o foreiro, ausente, Manoel Pereira de Alvarenga, com 2 prazos dos herdeiros de Felipe Brabo, o prazo de José Maria da Lapa e com os prazos de Antonio Castanheda (Rezende?).95

91Segundo o Memorial de Loteamento 440 do 40 Ofício de Registro de Imóveis a gleba 5-A da Fazenda de Piaí, em frente à Baía de Sepetiba possuía 2,3 km2 de extensão, dos quais 1,7 km2 eram terras próprias e 0,6 km2, no Saco do Piaí, eram terrenos de marinha e acrescidos. Segundo o Memorial de Loteamento 187, outras glebas do antigo engenho que pertenciam aos herdeiros de Antonio de Souza Ribeiro até 1903, foram vendidas a Giuseppe Labanca e esposa.92Arquivo Público do Estado do Rio de Janeiro, coleção PP códice 40. Segundo Freitas (1985) Brás da Silva Rangel exerceu as tarefas de vigia no rio Itaguaí, no local denominado Barra do Rio, guarda daquele posto e boticário do Hospital. Era pai de Antonio da Silva Rangel.93Nesta área encontra-se hoje a COSIGUA, a Companhia Siderúrgica da Guanabara.94Segundo o códice 39.3.62 do Arquivo da Cidade, em 1905 estas terras encontravam-se em mãos de seus herdeiros. 95 Ver códice 43.3.22 do Arquivo da Cidade do Rio de Janeiro.

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Entre 1845 e 1898 os documentos apontam 309 arrendamentos e 120 aforamentos. Dos primeiros havia 9 na avenida da Princesa Imperial, 8 na Boa Vista, 15 na rua Dom João VI, 11 na estrada do Curral Falso, 9 na rua da Imperatirz, 10 na feitoria de Santarém, 9 na estrada de Ferro, 25 nas imediações do Matadouro, 9 na Passagem do Gado, 11 nas proximidades de Petrópolis, 13 sem localização precisa, 10 na rua Sete de Setembro, 7 na rua da Olaria, 9 na rua do Campeiro-Mór,

Alguns dados são reveladores do processo de ocupação urbana. Em 1838 havia 237 prédios em Santa Cruz (37 na área interna do Paço), enquanto em 1888 já eram 1.332. Vários chalés e solares ali tinham sido construídos e o mais requintado deles, do ponto de vista artístico, pertencia ao Barão da Taquara, acionista majoritário da concessionária de bondes entre Santa Cruz e Sepetiba.96 O curato de Santa Cruz já mostrava, entre 1885 e 1892, claros indicadores de urbanização pois os logradouros públicos estavam devidamente delimitados, já havia uma rua do Comércio e serviços de abastecimento de água, além do transporte ferroviário e de bondes. Havia a a rua do Encanamento cruzando com a rua da Caixa d’Água, o “centro” definido pela presença do Palácio Imperial, da Praça da Coroa, dos equipamentos públicos e das senzalas. Surgiu na época, para este terreno, um projeto de divisão em prazos para aforamento. Nestas duas décadas (1870-1890) o crescimento populacional em Santa Cruz, atingiu mais de 200%, percentual justificado pela decisão do governo, de 1886, de estimular a imigração voltada para a produção agrícola na zona oeste da cidade.97 Tal posição visava contornar a crise de abastecimento iniciada em 1884.

Mesmo que em Santa Cruz os índices não tenham se modificado substancialmente entre 1870 e 1890, os escravos libertos dedicados às atividades urbanas, por falta de moradias, começaram a pagar aluguel no valor de dois mil réis.98 Santa Cruz, com iluminação a gás desde 1877, foi o primeiro “subúrbio” do Rio de Janeiro a receber luz elétrica, em 1889, fornecida pela usina geradora do Matadouro. Neste ano havia 348 senzalas. Em 1886, 3245 pessoas e 1235 libertos. O aumento populacional e de ocupação e a existência de alguns serviços de infra-estrutura geraram o decreto 7.051 de 18 de outubro de 1878 que regulamentou a arrecadação do imposto predial. Neste decreto estavam incluídas a área do Curato de Santa Cruz, em processo de urbanização. Em 1888 havia em Santa Cruz três fábricas - de sebo (indústria química), de cadeiras e de escovas.

A Fazenda Nacional de Santa Cruz

Com a República99 Santa Cruz com exceção do “centro” que se dedicou às atividades ditas urbanas, permaneceu rural ou laboratório de experimentações. A Fazenda passou ao domínio da União com a denominação de Fazenda Nacional de Santa Cruz cuja área somava 27,8 km². O então Ministro da Fazenda, Rui Barbosa, autorizou o Ministério da Guerra (50 Regimento de Artilharia de Campanha) a receber, em 1890, todos os prédios existentes no “centro urbano”, incluindo o Palácio Imperial e as senzalas. Segundo o Relatório da Comissão de Tombamento (1900) os imóveis mais valorizados da Fazenda foram ocupados pelo 5° Regimento. Leilões foram realizados para se

96Os outros sócios eram: o pintor Frederico Antonio Steckel, o grande proprietário de terras e produtor de café Joaquim José Souza Breves, José Leite de Figueredo, Barão de Juqueiros, Barão de Joatinga, o construtor Antônio Jannuzzi e o dono de terras em Sepetiba Comendador Antonio de Souza Ribeiro.97O Governo oferecia pouso e agasalho por oito dias e documentos de identidade brasileiros depois de dois anos. Para a formação de burgos o Governo oferecia juros de 6% para um capital de mil contos de réis dos bancos. Os banqueiros do Rio de Janeiro foram beneficiados.98Em 1886 a população urbana de Santa Cruz atingiu 3.245 habitantes sendo 1.235 libertos. Segundo o Livro 1 de compra e venda de escravos de Santa Cruz (Arquivo Nacional), entraram, entre novembro de 1861 a dezembro de 1879, cinquenta e seis escravos na freguesia.99De 1889 até 1914 a Fazenda esteve subordinada à Diretoria das Rendas Públicas, quando passou para a Diretoria do Patrimônio Nacional até 1962. Esta Diretoria em 1932 passou a denominar-se Diretoria da União e, em 1944, Serviço do Patrimônio da União. O Decreto 22.115 de 2 de março de 1935 transferiu as terras de Santa Cruz para o Departamento Nacional de Povoamento. A Fazenda foi transferida da União Federal ao IBRA, antecessor do INCRA pelo decreto 57.081 em 15 de outubro de 1965 que definiu áreas prioritárias de emergência para fins de reforma agrária. Para tanto o Serviço do Patrimônio da União transferiu ao Instituto Brasileiro de Reforma Agrária a Fazenda Nacional de Santa Cruz e outros imóveis rurais da União.

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arrecadarem os prédios, animais e móveis da Fazenda, com a facilidade de uma linha de crédito de 100 contos de réis autorizada pelo decreto 1119 de 5 de dezembro de 1890.100

Por “medida de higiene”, os currais localizados atrás da Superintendência foram demolidos para dar lugar a uma plantação de alfafa e reconstruídos    no campo de São José. Os campos de São Marcos, Leme, Saquassu, Jacareí, Frutuoso, São Paulo, São Miguel e do Maranhão, os morros da Conceição e do Mirante e demais localidades101 tornaram-se enfiteuses perpétuas, de acordo com o Decreto 613 de 23 de outubro de 1891. Os campos de Roma e São Luis ficaram reservados para a solta do gado. O Decreto de 26 de novembro de 1891 revalidou os aforamentos concedidos no Império e, no ano seguinte, a lei 126B de 24 de novembro no seu artigo 14 concedeu a remissão dos foros situados no estado do Rio de Janeiro. A instrução de 26 de julho de 1893 regulou o preço da remissão em 20 vezes o valor da anuidadade e permitiu a transformação dos arrendatários em foreiros. Foram, por esta lei, revalidados os contratos de aforamentos concedidos após 1830. Foram, por esta lei, revalidados os contratos de aforamentos concedidos após 1830. Ainda em 1891 foi definida uma área adjacente ao Curato de Santa Cruz para ser dividida em lotes: neste momento foram distribuídos 291 títulos de aforamentos cuja frente era de 11.584,70 metros e fundo variável. Na feitoria de Santarém foram aforados a particulares 1,32 km² e na localidade de Bom Jardim 10,6 km². Antes de 1892 havia 874 foreiros e 476 arrendatários na Fazenda. Pela lei 360 de 30 de dezembro de 1895 os arrendatários passaram à condição de foreiros. Neste momento 9,41 km² foram remidos por 39:933$527. Em Bom Jardim 7,71 km² foram aforados (?). O decreto de 30 de dezembro de 1895 fixou a remissão em 40 vezes o valor do foro, mas a lei 652 de 23 de novembro de 1899 restabeleceu o preço em 20 vezes.

A partir dos aforamentos, sobretudo aqueles campos relacionados à Companhia Durish, percebe-se um decréscimo da área do Curato, pois os limites definidos pelo Decreto de 1891 ultrapassavam a oeste a Vala do Itá e ao norte o caminho do Furado. Ernesto Durisch criou a Companhia Agrícola e Pastoril Santa Cruz com 2.000 trabalhadores para a lavoura de arroz e a criação de gado. Em 1905 era posseiro dos campos de Maranhão (6,8 km2), São Paulo, São Miguel, Santo Agostinho, Prainha, Roma (9,08 km2), São Luis, São José, Bonito, Paraguai, Jacareí, São Marcos, Furtado, Candinho, Frutuoso (5,7 km²), Cercado Grande, Curtume, Leme, Morro do Ó, Olaria, Entre Dois Rios e Saquassú.102 O escritório da companhia localizava-se na Casa do Campeiro Mór que, até 1900, foi ocupada pelo 5° Regimento de Artilharia de Campanha. A partir de então passou a ser conhecida por Palacete do Durisch. Esta construção encontrava-se próxima ao Hospital Imperial e à sede da Fazenda. Em 1908 dois currais de pedra “fechados por muros no fundo do Hospital, um potreiro cercado (...) na praça Floriano Peixoto e o pasto chamado Cercadinho, rios e valas” foram entregues ao senhor Durisch.103

A lei 741 de 26 de dezembro de 1900 em seu artigo 3º permitiu o aforamento ou a venda de terras desocupadas ou daquelas com benfeitorias a posseiros e os arrendatários transformaram-se em foreiros cujas concessões fossem anteriores a 15 de novembro de 1889. A lei previu ainda a venda daquelas desocupadas ou ocupadas por intrusos, e estabeleceu um prazo nunca superior a 20 anos para o aluguel dos pastos.104 O fim da escravidão significou a desvalorização da propriedade rural (Canabrava, op.cit.), senão vejamos: em 1891 as terras arrendadadas, devolutas ou aforadas

100 Esta linha de crédito foi aberta para a compra dos prédios das escolas da Quinta da Boa Vista e da Fazenda Santa Cruz.101Os campos São José, com 2,1 km2 e São Luiz, com 5,4 km2 foram transferidos ao Ministério da Aeronáutica em 1936 para a construção de um campo de pouso de dirigíveis tipo Zeppelin. Depois da Segunda Guerra lá foi instalada a Base Aérea de Santa Cruz (BASA).102As terras do Potreiro dos Espinheiros e Bacia, entre o aterrado, a Vala do Sangue, o Curato e o canal do Itá, o antigo capinzal na Praça Floriano Peixoto tornado potreiro cercado e dois currais no fundo do Hospital também lhe foram arrendados.103Vide Registros Cadastrais 526 e 587 do SPU e o códice 39.3.62 do Arquivo da Cidade. 104 Os decretos 369 de 4 de janeiro de 1897 e o 504 de 31 de dezembro de 1897 estenderam o imposto predial sobre o valor locativo dos imóveis às freguesias suburbanas e rurais (Jacarepaguá, Santa Cruz, Campo Grande e Guaratiba). Por essas áreas não possuírem serviços de esgoto, a taxa fixada foi 6%, menor que o das freguesias centrais e suburbanas (com alíquotas de 12% e 10% respectivamente). Em Guaratiba, Campo Grande e Santa Cruz isentaram-se as propriedades isoladas de pequenos lavradores.

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totalizavam 1862,48 km² com preço de 3$612 cada hectare105 e em várias localidades remiram-se foros totalizando 31,83 km² no valor de 11:497$821. A dívida de foros e arrendamentos em 1894 chegava a mais de 200:000$000. Acompanhemos a receita arrecadada pela FNSC106 na tabela 1.

Tabela 1: Rendas patrimoniais arrecadadas na FNSC

Período Receita1890/1899 762:416$3001889/1898 631:001$1141900/1909 477:703$100fonte: Ministério da Fazenda (1938).

Registra-se que durante o século XIX, a ocupação na FNSC sofreu grande incremento, tendo em 1805, 237 foreiros, e em 1892, 874 foreiros e 476 arrendatários (Ministério da Fazenda, 1901). Citada como um dos imóveis de mais alto valor do Brasil, a FNSC neste período,    possuía no Distrito Federal os campos de criação e pequenas porções do terreno,    a maior parte destes aforado para cerca de 1.400 indivíduos. Tais aforamentos, antigos arrendamentos realizados pela extinta Casa Imperial107, não procederam à medição dos terrenos e após a crise decorrente da abolição da escravatura, achavam-se abandonados em sua    maior parte.

O início do século XX foi marcado pela crise decorrente da 1ª Guerra Mundial, que elevou o custo de vida com a redução das importações. Desta forma, as autoridades foram obrigadas a definirem políticas agrícolas e de transporte com o intuito de abastecer o mercado interno. O impacto deste processo na cidade do Rio de Janeiro foi a transformação da zona oeste, notadamente as terras que estavam localizadas na FNSC, em atrativo para investimentos agrícolas, muitas vêzes especulativos, e que causaram grande crescimento demográfico neste período. Sobrepõem-se, neste aspecto, dois processos: um, de expulsão das camadas baixas do centro da cidade à procura de moradia mais acessível na zona oeste, e outro, de valorização destas terras em função dos investimentos governamentais em infra-estrutura.

O Núcleo Colonial de Santa Cruz

O Núcleo Colonial de Santa Cruz foi institucionalizado em 1930 de acordo com o decreto 19.133 de 11 de março, do então presidente Washington Luis, e fazia parte do Plano de Colonização do Ministério da Agricultura. O decreto determinou a criação de um centro agrícola com colonos nacionais e estrangeiros visando uma melhor utilização das terras públicas. Ainda que o decreto 2.315 de 1° de junho de 1934 tenha definido que todas as terras da FNSC fariam parte do Plano - os próprios nacionais, as remidas, as regularmente aforadas e as sem saneamento, as glebas para colonização alcançaram, aproximadamente, 619 km² que correspondiam às terras devolutas, usurpadas e àquelas em comisso. Com o intuito de abastecer a cidade do Rio de Janeiro, procurava-se promover a ocupação das áreas abandonadas e solucionar os conflitos pela posse. Nesta ocasião a FNSC possuía 2.300 km². As áreas mais antigas foram emancipadas, tornando um bem privado e

105 A área total da fazenda era de 1919,05 km².106Em 1904 foram demolidas as ultimas senzalas e abertura de novas ruas. Os subúrbios da Fazenda eram o morro do Chá e Cruz das Almas. Com relação às atividades portuárias da cidade no início da República, 99% das exportações realizadas através do porto se reduziam a praticamente 6 espécies de produtos (café, couros, manganês, farelo, madeiras/jacarandá, metais velhos) sendo manganês e o café as mercadorias com maior exportação. Lembremos ainda do projeto de prolongamento do cais pela Empresa Melhoramentos do Brasil. A Empresa Melhoramentos do Brasil, a quem pertencia uma das concessões para o melhoramento deste porto foi contrada em 24 de setembro de 1903, ficando previsto o direito de alterar o governo o projeto, quando achasse conveniente. O novo projeto do porto foi aprovado através do decreto no.6.154, de 25 de setembro de 1906. Foram feitas modificações no contrato com as empreiteiras, por terem sido adotados mais três tipos de a muralha do caes. O Dec. 6.471aprovou uma modificação no projeto incial, visando o aproveitamento do dique da Saúde.107 Local utilizado para a administração da Fazenda Nacional de Santa Cruz, antes da Proclamação da República.

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outras foram indenizadas pelo Governo Federal para ampliação da Colônia Agrícola de Santa Cruz. Segundo Leite (1938) as divisas dos lotes ficariam estabelecidas pelas estradas.

A Gleba Guanabara do Núcleo Colonial ocuparia os campos de Maranhão, São Paulo, Jacareí, São Miguel, São Marcos, Cercado Grande e Saquassú e foram entregues ao Abrigo Cristo Redentor.108 Estas terras encontravam-se arrendadas a criadores de gado e plantadores de arroz. No final da década foi instalada a Comissão Revisora de Terras que, através do decreto 893/38, desapropriou grandes parcelas de terras para a implementação da gleba Guanabara assim como das seções Piranema (Itaguaí) e Santa Alice (Seropédica) pertencentes à FNSC e, posteriomente, para outras colônias agrícolas do estado do Rio de Janeiro como Tinguá (Nova Iguaçu), Papucaia (Cachoeiras de Macacu), Duque de Caxias, Magé e Macaé.109 O total das áreas dos núcleos no país era 49.096 ha, sendo a de Santa Cruz a mais importante com 19.140 ha.

Tal perspectiva vinha ao encontro da política de Vargas que buscava transformar a baixada fluminense em uma "nova região" restabelecendo as condições para sua ocupação. Lembremos que nos anos 30 o Serviço da Baixada Fluminense saneou grandes extensões de terras 110 na baixada onde, por sua topografia, ocorriam vários tipos de problemas que culminaram com a malária. A doença propiciou o abandono dos terrenos e a decadência econômica da localidade. Lembremos que a precária comunicação auxiliava em aumentar seu isolamento, sobretudo as áreas do litoral sul. Depois de abandonadas, as terras foram ocupadas por invasores ou posseiros. Depois das obras de saneamento, consolidadas a partir de 1937 e que implicaram em vultosos gastos, os conflitos fundiários se acirraram entre os agricultores, que possuíam áreas não valorizadas e sem registro de propriedade, empresas, cessionários e grileiros (Arezzo, op.cit.). Tais conflitos ocorreram principalmente nas áreas públicas e nas áreas abandonadas.

Segundo Goes (1942) previam-se para o Núcleo Colonial 230 pessoas (colonos e suas famílias) para a exploração de 3.700 hectares. Os lotes teriam 10 hectares e seriam vendidos a 10:000$000, cujo pagamento seria feito entre dez e quinze anos a partir do terceiro ano de posse. A partir de 1930 demarcaram-se 333 lotes (estando 11 lotes reservados e à disposição da Cooperativa Agrícola de Cotia) e foram recebidos 300 colonos. Em 1938, 1.175 ha até então abandonados, foram cedidos a colonos para dedicarem-se à horticultura. Não temos elementos para verificar o impacto do decreto lei 844 de 9 de novembro de 1938 onde estava prevista a concessão de lotes nos núcleos coloniais aos reservistas de 1ª categoria. Em 1939 estavam instalados no núcleo 27 famílias e entraram mais 32 que habitavam 239 casas construídas pelo governo.111 O relatório do Ministério da Agricultura (1939) mostra que grande parte dos colonos encontrava-se em débito. Em 1941 havia no núcleo 3.885 habitantes que ocupavam 3.279 ha e 214 casas. A maior produção era a de tomates.112

Ainda que tivesse como objetivo o abastecimento do mercado interno, Faissol (1950) em sua análise explicita os problemas, afirmando que o Núcleo não pode atingir sua finalidade já que muitos lotes destinavam-se à fruticultura (laranja) para exportação. O autor salienta ainda que a 108 Termo de entrega ao Abrigo Cristo Redentor, Diretoria do Domínio da União, 1943.109 Segundo Arezzo (1998) o conjunto dos núcleos coloniais teve 1.150 colonos na década de 40 com produção de legumes, verduras e frutas cítricas.110 Os trabalhos de drenagem consistiram na desobstrução de rios, construção de diques, drenagem subterrânea e abertura e retificação de canais.111 No núcleo havia 125 ranchos construídos pelos colonos e 3 prédios para a administração.112O Núcleo Colonial de Santa Cruz foi dividido em seções. A seção de Piranema situava-se no município de Itaguaí e com o processo de emancipação das diversas seções foi a única que restou. Segundo Alonso (op.cit.) em 1953 havia na seção Piranema 829 lotes encontrando-se 711 vendidos a pequenos sitiantes, dos quais 625 já ocupados (393 pelos colonos e o restante por agregados ou empregados). Nesta ocasião contava com 3.921 habitantes com domínio do pastoreio ainda que também fossem plantadas culturas temporárias e permanentes - verduras, cereais e frutas. O Ministério da Agricultura incentivava principalmente a citricultura, quando a principal produção era a da banana. Os colonos japoneses arrendavam parte de seu lote por 3 anos para a cultura do tomate, a mais rentável, e nas áreas inundáveis para o arroz. Havia mais 2 regimes: a meiação e o camarada. A primeira, previa a metade da produção para o dono da terra e o parceiro ainda tinha a obrigação de preparar o plantio e a colheita. O camarada era na realidade uma relação de trabalho assalariado cujo pagamento realizava-se diariamente. Esses dois regimes foram mais utilizados pelos colonos brasileiros. O escoamento da produção agrícola era feito por caminhões e raramente por via férrea, ramal Mangaratiba, explicitando o completo abandono do porto de Sepetiba.

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intenção de torná-lo um centro de agricultura também não foi alcançada. As causas destes descaminhos referem-se à falta de organização da Divisão de Terras e Colonização, ao "perfil do colono" e às rivalidades entre as diversas nacionalidades ali presentes. A questão fundamental era, entretanto, o controle de preços exercido pelos atravessadores do Mercado Municipal do Rio de Janeiro. Acompanhemos as rendas obtidas com a venda dos lotes na tabela 2.

Tabela 2 - Rendas provenientes de venda de lotes nos núcleos coloniais custeados pelo Governo

ano núcleo de Santa Cruz demais núcleos do país1937 4:026$100 57:280$7001938 - 56:338$7501939 30:518$500 171:972$300total 34:544$600 285:591$750fonte: Ministério da Agricultura, 1939.

A tabela mostra que os lotes sofreram uma grande valorização em apenas 2 anos, percentual muito superior à valorização ocorrida nos demais núcleos do país. Assinalemos que no Núcleo vários lotes foram adquiridos por um pequeno número de pessoas, iniciando-se um processo de reconcentração fundiária, o que justifica o aumento dos preços e os primeiros conflitos, dos quais nos referiremos adiante. Segundo Geiger e Mesquita (1956), já antes de 1952 lotes da Colônia Agrícola eram comprados por "pessoas de recursos". Muitas destas negociações eram irregulares, entre as quais é citada a Companhia Raisa que adquiriu várias parcelas. Os lotes eram vendidos a Cr$ 300.000,00 quando o preço inicial, como vimos, variava de 10.000,00 a Cr$ 12.000,00. Outra questão é a não obediência da determinação dos lotes possuirem matas tanto que em 1955 foi iniciada uma campanha de reflorestamento. Neste momento em todo o núcleo havia em torno de 900 famílias, inclusive na parte emancipada.

Segundo o Ministério da Agricultura (1952) constavam 433 proprietários rurais registrados em Itaguaí dos quais 141 estavam presentes no Núcleo e apenas 22 (1/4 eram companhias imobiliárias cuja sede ficava no Rio de Janeiro) possuíam 75% do total das propriedades rurais do município. Os demais eram pequenos proprietários. Os grandes proprietários fundiários/companhias imobiliárias eram: José Antunes Couto (Núcleo Colonial de Santa Cruz, 9.448,64 ha), Garcia Rojas & Companhia (São Cristovão, 7.444 ha), José Vasco Júnior (Fazenda Bananal, 6.098 ha), Empresa Territorial Agrícola (Fazenda Mazomba, 4.854 ha), Antônio Rodrigues (Fazenda Arapucaia-Guassú, 2.792,68 ha), José Gonçalves Sá (Boa Vista, 1.790,80 ha), Irmãos Lemos e Companhia (Boa Vista, 1.529,44 ha), Benedicto Gonçalves Serra (Fazenda da Limeira, 1403,60 ha), Zeferino Ferreira Goulart (5 áreas em Itaguaí, entre as quais Casas Altas com 546,92 ha, Espigão com 668,57 ha), Abdul Nicolau Zarur (Bom Jardim, 1.061,52 ha), Belmiro Augusto Pinto (Fazenda da Barrinha, 1.040 ha), Rodrigues Alves de Moreira (Santo Inácio, 929,48 ha), Júlio Cesário de Mello (Santa Rita, 929,28 ha), Honório Freitas (Custaneira da Prata, 820 ha), José Ferreira da Silva (Vila Elza Maria, 800 ha), Fazenda Piranema Ltda. (791,15 ha), Lígio de Souza Mello (Fazenda Ramalho, 730,75 ha), Vicente Meggiolaro (Fazenda Patioba, 711,48 ha), Imobiliária Coroa Grande (Coroa Grande, 658,24 ha), Raisa Rural Agrícola (Fazenda do Leandro e Fazenda Itaguaí, 590,48 ha), Francisco Bavisi Lemos (Boa Vista, 470 ha), Juvenal Pereira da Costa (Fazenda da freguesia de Bananal, 434 ha), Evaristo Daltro de Castro (Chaperó, 387,20 ha), José Vieira de Oliveira (Retiro Mateus de Oliveira, 355 ha), Cassiano Caxias dos Santos (Fazenda Seropédica, 271,4 ha). Estranhamos que no Núcleo Colonial o relatório apresenta José Antunes Couto como possuidor de uma área de 9.448,64 ha. Não nos esqueçamos que a proposta do Núcleo eram lotes com superície média de 10 ha!

A Fazenda Nacional de Santa Cruz a partir dos anos 30

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Façamos uma breve recuperação das normas jurídicas em vigor na Fazenda no início dos anos 30: A lei 4.230 de 31 de dezembro de 1920 fixou normas para o aforamento entretanto o artigo 26 vedava o seu resgate. O decreto 21.115 de 2 de março de 1932 visando o término do regime do aforamento permitiu a transmissão do domínio pleno da propriedade, o que propiciou o surgimento de pequenos produtores independentes. Este dispositivo legal que também transferiu a Fazenda Nacional de Santa Cruz para o Departamento Nacional de Povoamento (Ministério do Trabalho). Pelo decreto 22.785 de 31 de maio de 1933 ficou vedado o resgate dos aforamentos dos terrenos pertencentes ao Domínio da União, além de determinar que os bens públicos não estariam sujeitos a usucapião. O decreto 24.606 de 1934 veio tentar solucionar o problema relativo a 50% das terras que nada rendiam: cerca de 10 mil alqueires encontravam-se em comisso, outros tantos invadidos e outros devolutos. A solução estaria na desapropriação destes terrenos e sua divisão em lotes, proposta de criação do Núcleo Colonial que acabamos de observar. Acompanhemos a evolução das rendas patrimoniais.

Tabela    5 - Rendas patrimoniais arrecadadas na Fazenda Santa Cruz

Período Receita1910/1919 335:250$3001920/1929 343:717$0001930/1939 565:682$200fonte: Ministério da Fazenda (1938).

Com a venda de lotes houve um importante acréscimo (pelo menos em termos nominais) na arrecadação da renda da Fazenda. Um dado suplementar, segundo o Ministério da Fazenda (1942) é a receita de apenas 630$400 em 1937 quando estavam instalados 1858 foreiros. Neste mesmo ano a renda total da fazenda foi de 61:023$768. No ano seguinte havia apenas 386 terrenos foreiros e outros tantos ocupados por muitos intrusos. A renda toal da Fazenda foi de 131:325$000.

O decreto lei 893 de 26 de novembro de 1938 no seu artigo 4º aprovou a Comissão Especial de Revisão de Títulos e Documentos da FNSC cujas decisões não poderiam ser contestadas judicialmente.

O decreto lei 2009 de 9 de dezembro de 1940 deu uma nova organização aos núcleos coloniais. O núcleo colonial de Santa Cruz foi estabelecido pelo decreto lei 3266 de 12 de maio de 1941. O sítio Chaperó, com 3,5 km foi definido em 1942 como área para o Plano de Colonização. A lei 2932 de 31 de outubro de 1956 tornou inalienáveis os lotes para colonização concedidos pelo Governo. As áreas mais antigas da Fazenda foram emancipadas, tornando-se um bem privado e outras foram indenizadas pelo Governo Federal para ampliação da Colônia Agrícola de Santa Cruz. Em 1961 no governo Janio Quadros procederam-se a várias emancipações dos núcleos coloniais da baixada fluminense113 dos quais podemos destacar a gleba Cacaria, situada nos municípios de Itaguaí e Piraí, e o Núcleo Colonial de Santa Cruz através do decreto 50.530 de 3 de maio de 1961.

Do ponto de vista do uso e ocupação em 1936 nos campos de São José    e São Luis, que totalizam somam 7,5 km², o Ministério da Aeronáutica construiu um campo de pouso para os dirigíveis tipo "zeppellin" que, durante a 2ª guerra, transformou-se na Base Aérea de Santa Cruz. O Morro do Redondo em 1965 tornou-se área residência para sargentos e oficiais. Segundo o SPU do Ministério da Fazenda114 como próprios nacionais na FNSC há três áreas: os campos Maranhão (6,8 km²), Santo Agostinho (13,5 km²) e Roma (9,08 km²) que totalizam 29,4 km².

Pelo decreto 57.081 de 15 de outubro de 1965 do general Castelo Branco foram definidas áreas prioritárias de emergência para fins de reforma agrária. Por este decreto o SPU deveria transferir ao Instituto Brasileiro de Reforma Agrária, atual INCRA, a Fazenda Nacional de Santa Cruz e outros imóveis. O SPU preparou um documento lavrado em 8 de julho de 1966 no 1° Ofício

113 Foram emancipados os Núcleos Coloniais de Duque de Caxias, o de Tinguá e o de São Bento.114 Ver pasta 1057.

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de Registro de Imóveis de Itaguaí (n° 6948) e, na parte referente à cidade do Rio de Janeiro, a gleba Guanabara, está lavrada no 4° Ofício do Registro de Imóveis.

O distrito industrial de Santa Cruz de 7,4 km², definido início da década de 70, foi estabelecido no campo do Maranhão com 6,8 km² e, no campo de Santo Agostinho, está a COSIGUA. De 1969 a 1993 a área urbana remida no bairro de Santa Cruz na cidade do Rio de Janeiro115 foi de 2,02 km².

Agradecimentos

Este trabalho não teria sido possível sem a participação dos bolsistas Bianca Coelho Nogueira, Carlos Augusto de Oliveira Ribeiro Junior, Emerson Paulino, Isabela Penna Firme Pedrosa, Marcele Monteiro de Sousa, Priscila Barreto Sampaio e da pesquisadora Maria Isabel de Jesus Chrysostomo. Agradecemos aos senhores Julio Cesario de Mello Neto e Daniel Figueiredo da Silva pela permissão e a ajuda irrestrita na pesquisa dos documentos existentes no Projeto Fundiário de Santa Cruz/INCRA.

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115 Ver INCRA - remissão de aforamentos no bairro de Santa Cruz.

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Fontes de dados primários

Arquivo da Cidade do Rio de JaneiroRelação dos fazendeiros e lavradores que nunca reconheceram a Fazenda Nacional de Santa Cruz e que foram presentemente incluídos na última e nova medição feita no ano de 1827 pelo Desembargador Juiz da Coroa Joaquim Ignacio Silveira da Mota; Aforamentos de terrenos de marinha: 1.2.32 e 1.2.33; Demarcação e derrota de situações: 43.3.22; Arrendamento dos    campos de pastagens da Fazenda Nacional de Santa Cruz e entrega de posse dos mesmos campos a Durish e Cia.: 39.3.62; Curato de Santa Cruz/ Fazenda do Piaí: 32.3.20.

Arquivo NacionalLivro de compra e venda de escravos da freguesia de Santa Cruz n°1 (1861 a 1879); População/estatística - mapa dos fogos, pessoas livres e escravos compreendidos nas freguesias da cidade e província do Rio de Janeiro em 1821 - microfilme 015.0 - 78 e 015.1 - 78, cod. 808; Caixa 130 (Mangaratiba n. 57); Código de Fundo EM seção de guarda SDE notação lógica 160 (FNSC cópias de informações dadas em processos sobre terras 1929); Código de Fundo EM seção de guarda SDE notação lógica 161 (FNSC cópias de informações dadas em processos sobre terras 1929/1930); Código de fundo EM e seção de guarda SDE notação lógica 162 (FNSC informações em processos sobre terras 1932-1933); Código de fundo EM e seção de guarda SDE notação lógica 163 notação física 6573 (FNSC processos sobre terras 1934-36); notação lógica 164 notação física 6574 (FSC período 1830/1887 aforamentos e arrendamentos); notação lógica 165 notação física 6575 (FSC 1866/1887 aforamentos e arrendamentos); notação lógica 167 notação física 6577 (1881 assentamentos de foreiros e arrendatários); notação lógica 168 notação física 6578 (1882-1898 assentamentos de foreiros e arrendatários); Código de Fundo EM seção de guarda SDE notação lógica 169 notação física 6579 (certidões de dívidas de foro 1913-1918); Código de Fundo Em e seção de guarda SDE notação lógica 170 notação física 6580 (FNSC escrituração de foros e laudêmios 1833); Código de Fundo EM seção de guarda SDE notação lógica 171 notação física 6581 (Demonstração de venda arrecadada com foro 1937-1938); Código de Fundo EM, seção de guarda SDE notação lógica 172 notação física 6582 (FNSC formulários de modificação de cadastro e transferência de terras 1941-1953) Caixa 507 (Fazenda Santa Cruz) - pacote 1, pacotilha 3, doc. 7; pacotilha 8, doc. 6; pacotilha 9; pacotilha 8, doc.6; pacote 2, pacotilha 15, doc.2; pacotilha 17, doc. 4; pacotilha 18, doc. 2; doc. 6; pacotilha 20 (relação dos rendeiros e relação dos rendeiros devedores, lançamento de foreiros de 1828), doc.1; doc. 21; doc.23; doc.24; doc. 43; pacote 3, pacotilha 30, doc. 10; pacotilha 33, doc.2; pacotilha 35, doc.1; doc.2. Livro 70 (termos de arrendamento e transferências 1866 a 1887). Mapoteca - MIPCT -DA 9/4 (Itaguaí); MVOP -EB (Mangaratiba); PD 3 (Mangaratiba); PD 168 (Mangaratiba); .234 (planta corográfica de uma planta da província do Rio de Janeiro); MVOP-A 50 (planta do povoado da Imperial Fazenda de Santa Cruz); MG-F 4/5 q (Campo de Instrução da Imperial Fazenda de Santa Cruz)

Arquivo Público do Estado do Rio de JaneiroCódices: fundo PP (Presidência da Província) coleções 02 e 06 (terrenos de marinha em Mangaratiba e Itaguaí); 8.1 coleção 78: Sobre as modificações das ordens dadas pelo PP no que se refere ao arrolamento, avaliação e entrega do estabelecimento Seropédico Itaguaí; 15.3 coleção 11: Correspondência enviada ao Presidente de Província sobre o não pagamento das dívidas da Imperial Cia. Seropédica Fluminense; coleção 27: Termos de criação da nova vila de Itaguaí; coleção 30 (documentos sobre limites de Mangaratiba); coleção 40: Livro de Registros de Terras da Vila de São Francisco Xavier de Itaguaí, Freguesia São Pedro e São Paulo do Ribeirão das Lages; Coleção 49: Registros de Terras da Freguesia de N. Sra. da Guia de Mangaratiba; e Coleção 50:    Livro de Registros de Terras da paróquia de Mangaratiba. Registro das Terras de Itaguaí; coleção 209: Concessão de faixa em poder dos índios e reclamação da Câmara Municipal de Itaguaí visando a sua anexação; coleção 213: Livro de Registros de Terras; 60, 86, 104 (Mangaratiba), 114 (Imperial Cia. Seropédica Fluminense), 125 (Itaguaí e Barra do Piraí), 127, 134, 165, 166, 209, 210, 211 (registros de portarias e ofícios de Itaguaí).

Biblioteca NacionalBens confiscados aos denominados jesuítas (1805-1807) - 10.2.6; Relação dos fazendeiros e lavradores que nunca reconheceram a Fazenda Nacional de Santa Cruz e que foram aparentemente incluídos na última e nova medição feita no ano de 1827 pelo Desembargador Juiz da Coroa Joaquim Ignácio Silveira da Mota, e número de escravos que trabalharam as suas terras.

Page 29: De chão religioso à terra privada: o caso da Fazenda de Santa Cruz

Seção de Manuscritos - II - 34, 18, 8; 34, 17,3; 34, 19, 31; 34, 21, 42; 5, 4, 7 (Mangaratiba, Itacurussá e Itaguaí).Mapoteca/iconografia - arc 1, g1 1(planta topográfica de comunicações das vilas de Itaguaí, Piraí, São João Marcos e Mangaratiba); arc 1, g1 12 (planta do caminho de Catumbi/estrada de Itaguaí); arc 1, g4 69 (plantas e perfis da ponta do Ribeirão das Lages).

Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)Mapoteca - MI 2744/3 folha SF 23-2-A-VI- 3 (Itaguaí), MI 2743/4 MC 45 (Mangaratiba)

Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB)Documento 773.3 (II): Curato de Santa Cruz.Lata 78, documento 5: engenho de Itaguaí.

Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA) Superintendência Regional do Rio de Janeiro, Unidade Avançada de Santa CruzRelação das áreas inscritas sob o regime de taxa de ocupação; Relação das áreas cadastradas no projeto fundiário - foro urbano e foro de marinha; Contratos de remissão de foro; Livro de contratos de cessão gratuita.Mapoteca - Mapa geral dos rumos da fazenda de Itagoay em 1836 (planta 4060); planta de um terreno sito no lugar denominado Fructuoso "Palmares" do Núcleo Colonial de Santa Cruz 1942 (planta 1474); planta de um terreno pertencente a José Borges D'Oliveira; fazendas Santarem e Coroação 1952 (planta 1620); Imperial Fazenda de Santa Cruz 1848 (planta 4080); planta geral do núcleo colonial de Santa Cruz (1057); planta de uma parte da Fazenda de Santa Cruz (planta 1537 A).

Ministério da Fazenda Divisão de Administração Patrimonial do Serviço de Patrimônio da União (SPU)Registros Cadastrais pastas:    16, 16A, 17, 45, 49, 52, 57, 58, 59, 67, 73, 74, 75, 164, 1737L, 314,    368, 383, 526, 541, 542, 567, 572, 574, 581, 587, 588, 602, 634, 726, 783, 785, 789, 798, 803, 824, 829, 914, 960, 976, 1007, 1010, 1011, 1057, 1061, 1078, 1090, 1097, 1107, 1108, 1119, 1132, 1179, 1184, 1313, 1314, 1503, 1512, 1546, 1586, 1599, 1624, 1629, 1630, 1640, 1646, 1647, 1670, 1742, 1777, 1786, 1794, 1804, 1814, 1826, 1840, 1844, 1857, 1867, 1884, 1892, 1901, 1916, 1917, 1918A, 1921,    1923, 1941.

Ofícios de Registros de Imóveis do Rio de JaneiroMemoriais de Loteamento depositados a partir de 1938 até 1988 nos onze ofícios da cidade a partir da Lei nº 58 de 1937 até 1988. 40 Ofício de Registro de Imóveis - Memoriais: 23, 24, 25, 26, 27, 28, 29, 31, 32, 34, 35, 36, 38, 39, 42, 43, 85,89, 101, 122, 128, 131,134, 156, 170, 187, 266, 287, 326, 424, 440, 488, 518, 525, 532, 541, 561, 570, 578, 583, 601, 618, 684, 685, 686, 688, 689, 696, 709, 732, 733. 90 Ofício de Registro de Imóveis - Memoriais: 1, 2, 9, 11, 12, 13, 15, 16, 17, 18, 20, 21, 22, 23, 24, 25, 26, 35, 61, 186, 205, 212, 215, 217, 218, 227, 309, 384, 501.