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Medicina Interna Hoje 1 março de 2012 • Ano VII • N.º 23 • Trimestral 18.º Congresso Nacional de Medicina Interna em preparação CONTEXTO ATUAL NãO Dá MARGEM PARA FALHAR Luís Cunha Ribeiro Presidente da Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo

de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo CoNtexto atual Não dá ... · Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo 16 primeiros passos Pequenos passos, grandes conquistas Por Inês Rossio

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Medicina Interna Hoje 1

março de 2012 • Ano VII • N.º 23 • Trimestral

18.º Congresso Nacional de Medicina Interna em preparação

CoNtexto atual Não dá MargeM para falhar

luís Cunha ribeiroPresidente da Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo

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2 Medicina Interna Hoje

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Medicina Interna Hoje 3

de portas abertas

Downsizing com upgradingO tema que marca a atualidade na saúde continua a ser: fazer mais, por menos. Reformular, reajustar, agluti-nar, concentrar. O governo pretende “dar sustentabilidade ao sistema de saúde” como refere Luís Cunha Ribei-ro, presidente da ARS de Lisboa e Vale do Tejo, mas “sem sacrificar a quali-dade da resposta assistencial à nossa população”. Uma equação difícil mas que nos obriga a todos a reconhecer a necessidade de criar eficiências que compensem os cortes orçamentais, já que, como reconhece o entrevista-do desta edição, estes são uma ine-vitabilidade. Assistimos, não só na região de Lis-boa, mas em todo o país, a um re-pensar dos gastos e dos alegados desperdícios na gestão da saúde. A profunda alteração do mapa das uni-dades de saúde, a junção de hospitais sob uma mesma administração, a in-clusão de maternidades em Centros Hospitalares. Nesta reforma, importa sobretudo que gestores hospitalares e legisla-dores compreendam a importância do Internista como elemento central nos hospitais, de gestor do doente. Medidas recentes comprovam que

ponto por ponto

Faustino Ferreira

4 olho clínico“Doença e Morte na Dinastia

de Bragança” e Diagnosis numa harmonia perfeita

5 raio x Núcleo de Doenças Auto-Imunes

Por José Delgado Alves

6 Vox popEntrevista a Amaro Lourenço,

presidente da Comissão Organizadora do 18.º Congresso Nacional

de Medicina Interna

8 alta vozIatrogenia – Quando o pior acontece

Por Cristina Teixeira Pinto, Marta Eusébio e Carlos Cabrita

10 uma palavra a dizerEntrevista a Luís Cunha Ribeiro,

presidente da Administração Regional de Saúde de Lisboa

e Vale do Tejo

16 primeiros passosPequenos passos,

grandes conquistasPor Inês Rossio

17 do lado de cáQuem toma conta de mim?

Por Jorge Correia

este é um modelo para o qual “na-turalmente tendemos” como refere Cunha Ribeiro, que vê com “bom gra-do” o modelo adotado já no Hospital Beatriz Ângelo. Preocupa-nos a situação de impasse dos cuidados continuados em Portu-gal e a falta de orçamento destinado ao alargamento da rede que poderia resultar em ganhos económicos para o Estado. A gestão e visão a longo prazo permitiriam concluir que exis-tem vantagens inequívocas na aposta no cuidado ao doente crónico. Nos casos clínicos desta edição está em destaque um tema diferente: a iatrogenia que é frequentemente subvalorizada na prática clínica mas extremamente importante na sua atividade do internista porque ele é o principal diagnosticador das iatroge-nias medicamentosas. É frequente o doente sofrer de pequenas situações e prefere não “incomodar” o seu mé-dico, ou desvaloriza as reações por crer tratarem-se de efeitos secundá-rios “normais”. Compete ao Internis-ta despistar, esclarecer e reportar como lembram Cristina Teixeira Pinto e Marta Eusébio, internas do Hospital de Faro.

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4 Medicina Interna Hoje

Interpretação da peça “Nemésis”; “Ouvir-falar”; “Ver” e “Palpar”

Sessão de autógrafos de José Barata e Nuno Jacinto A peça musical oferecida pelo autor Nuno Jacinto

olho clínico

“A Doença e a Morte na Dinastia de Bragança” ao som de Diagnosis

Lançamento do livro

A obra “A Doença e a Morte na Dinas-tia de Bragança”, do médico internista e investigador José Barata, foi lança-da a 22 de Março, na Sacristia do Con-vento de S. Vicente de Fora, cedido para este efeito pelo Patriarcado de Lisboa. Através deste livro, os leitores terão acesso a aspetos menos conhecidos das personalidades que fizeram parte da Casa de Bragança e que não são habitualmente tratados na historio-grafia convencional. Uma investiga-

ção que resultou de dois anos de pes-quisa do autor. No lançamento, José Barata mencionou o gosto que teve em escrever esta obra e o desejo que aos leitores confira o mesmo inte- resse.Na mesma ocasião, foi apresentada a obra musical Diagnosis, composta por Nuno Jacinto para a SPMI. Nes-ta peça, o seu compositor procurou, através da harmonia dos sons, des-crever o ato médico e as suas diferen-tes fases.

Dividida em quatro atos – “Nemésis”, “Ouvir-falar”, “Ver” e “Palpar” – a obra faz o percurso desde a relação do in-ternista com o doente, ao culminar do encontro da solução, do diagnós-tico, que nem sempre é um percurso fácil, como lembrou António Mar-tins Baptista, presidente da SPMI, na apresentação do grupo de câmara que interpretou a peça. No final do evento, decorreu uma muito concorrida e participada ses-são de autógrafos.

José BarataMédico e Investigador

Aspetos menos conhecidos das personalidades que fizeram parte da Casa de Bragança, e habitualmente não tratados na historiografia convencional, desvendados em livro

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Medicina Interna Hoje 5

raio x

As doenças auto-imunes resultam de uma disfunção mais ou menos glo-bal de um dos sistemas mais impor-tantes na manutenção do equilíbrio e da defesa do nosso organismo: o sistema imunológico. Por esta razão, as manifestações destas doenças não são exclusivas de um órgão, afectan-do um número muito significativo de sistemas. Para além disso, as opções terapêuticas que existem (particular-mente as mais recentes) apresentam frequentemente efeitos acessórios que correspondem, na maior parte dos casos, a infecções, doença car-díaca, pulmonar ou renal, alergias ou ainda problemas hematológicos, frequentemente presentes em simul-tâneo, cuja abordagem médica deve passar inexoravelmente por um inter-nista. O Núcleo de Doenças Auto-Imunes resulta assim da conjugação de dois factores: o interesse e experiência re-colhidos por um número significativo de especialistas de Medicina Interna que, ao longo das suas carreiras se dedicaram ao tratamento destes do-entes, e a constatação da importância que uma abordagem global, caracte-rística da Medicina Interna, pode ter.

 José delgado alvesCoordenador do NEDAI

Núcleo de Estudos de Doenças Auto-Imunes

O NEDAI promove apoio logístico e científico às unidades hospitalares que se dedicam a esta área, aos mais variados níveis nomeadamente na consulta, internamento, hospital de dia. Pretende ainda, através do apoio técnico e consultadoria, o desenvolvi-mento do conhecimento científico e clínico nesta área.Assim, o NEDAI divide os seus objecti-vos em três grandes grupos de inter-venção: divulgação e apoio à prática médica nas várias instituições hospi-talares e centros de saúde de todo o país; formação clínica e científica a to-dos os membros e investigadores do núcleo, quer ao nível de constituição de redes de intervenção e colabora-ção entre diferentes instituições, quer no apoio directo para a formação pós-graduada; apoio aos doentes em colaboração com as respectivas associações; apoio técnico e de con-sultadoria às autoridades de saúde no sentido de defender os interesses do Sistema Nacional de Saúde e dos seus utentes.

Artigo escrito segundo as regras anteriores ao acordo ortográfico

Este texto não foi incluído na revista edição especial do 60.o Aniversário da SPMI

O NEDAI promove apoio logístico e científico às unidades hospitalares que se dedicam a esta área, aos mais variados

níveis nomeadamente na consulta, internamento,

hospital de dia. Pretende ainda, através do apoio

técnico e consultadoria, o desenvolvimento do

conhecimento científico e clínico nesta área

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6 Medicina Interna Hoje

vox pop

Uma nova comissão organizadora prepara, desde há vários meses, o Congresso Nacional de Medicina In-terna, que irá, no final de Maio, rea-lizar a sua 18.ª edição, desta vez em Vilamoura, no Algarve. Pela terceira vez, o evento acolhe o Congresso Ibérico de Medicina In-terna, um projeto de debate e troca de ideias entre Portugueses e Espa-

nhóis, que se tem revelado numa forma interessante de partilha de saberes, de conhecimentos e de prá-ticas da Medicina Interna entre os dois países.Manuel Amaro Lourenço, que en-cabeça a organização destes dois eventos, partilha com a Revista Me-dicina Interna Hoje as expectativas desta jovem comissão organizadora.

Quais os temas em destaque neste 18.º Congresso Nacional de Medici-na Interna?É muito difícil destacar alguns temas num programa que consideramos muito equilibrado e que “toca” todas as áreas da Medicina Interna.Para além da componente científica/clínica, este ano contamos com várias conferências dedicadas a questões

Entrevista a Amaro Lourenço, presidente da Comissão Organizadora

18.º Congresso Nacional de Medicina Interna

Partilha de saberes

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Medicina Interna Hoje 7

18º Congresso Nacional de Medicina Interna

3º Congresso Ibérico de Medicina Interna23-26 | Maio | 2012Tivoli MarinotelVilamoura

Presidente: Amaro LourençoSecretária Geral: Susana Neves Marques

SECRETARIADO CIENTÍFICO

SECRETARIADO

Calçada de Arroios, 16 C, Sala 31000-027 LisboaT: +351 21 842 97 10F: +351 21 842 97 19E: [email protected]: www.admedic.pt

SOCIEDADE PORTUGUESADE MEDICINA INTERNAR. da Tobis Portuguesa, nº 8, 2º, Sala 7. 1750-292 Lisboa. A/c Adelina ClaudinoTelf.: [email protected]

políticas, económicas, de qualidade e de administração hospitalar.

Quais são as suas expectativas para este encontro que reúne centenas de profissionais e é já um marco na investigação e na partilha de saberes na Medicina portuguesa e Ibérica?Estes dois Congressos têm fundamen-talmente dois objetivos. Por um lado, o Congresso Nacional ser um evento científico de grande nível tal como os Congressos anteriores, e por outro a exaltação da Medicina Interna como “especialidade vital” nos dias de hoje.Por outro, o Congresso Ibérico onde as línguas portuguesa e castelhana constituem, hoje, um elo de ligação universal, faladas por milhões de seres humanos de crescente influência atra-vés dos países emergentes com ma-triz ibérica. É um capital que não pode ser desperdiçado e este congresso pretende congregar esforços para que voltemos a ser um farol da ciência e da civilização. Desde já, lanço o repto para trans-formar estes Congressos em espaços abertos à Medicina dos povos da luso-fonia e aos hispânicos, a fim de serem, no futuro, grandes congressos mun-diais a competir com os de expressão anglo-saxónica.

Como tem sido planear e organizar um encontro com esta dimensão?Não tem sido muito difícil e isto por-que foi colocada à nossa disposição o apoio incondicional, a mobilização, o entusiasmo e o empenho de todos os profissionais do Serviço de Medicina Interna do Centro Hospitalar de Setú-bal na organização do seu Congresso. Além destes fatores, contamos com uma Comissão Organizadora jovem mas muito competente, motivada e donde é justo destacar a sua Secretária Geral Dr.ª Susana Marques, que tem de-senvolvido um trabalho extraordinário, com muito esforço e muita competência que nunca é por demais realçar.

A Sociedade Portuguesa de Medicina Interna, na pessoa do seu presidente Dr.º Martins Baptista, tem colocado à nossa disposição um empenho e uma disponibilidade total. Não podemos es-quecer o profissionalismo e a dedicação do secretariado da nossa Sociedade. E por fim, a disponibilidade e colabo-ração de todos os Núcleos de Estudo da nossa Sociedade que aceitaram entusiasticamente organizar várias mesas-redondas.Quero deixar desde já a todos o meu afetuoso agradecimento.

Qual a experiência que irá retirar da organização de um evento tão importante para a Sociedade portu-guesa de Medicina Interna?É prematuro pronunciar-me sobre um acontecimento de forma antecipada, por muito que estejamos seguros do seu êxito. De qualquer modo, este tipo de eventos dá uma noção dimen-são da organização e da capacidade de intervenção da nossa Sociedade Científica, não só no meio médico como também fora dele, o que se tra-duz numa expressão nacional de reco-nhecido mérito.Perante os factos que vivi sinto que o futuro da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna, sendo sempre um desafio, tem hoje uma invejável con-sistência.

de que forma, participar e orga-nizar um Congresso de uma espe-cialidade tão representativa, tem importância na sua carreira, quer pela dedicação aos colegas, quer à especialidade?Mesmo no ocaso da minha carreira médica, é uma honra ser o respon-sável por um evento científico desta dimensão. O contacto com os cole-gas de diversos grupos etários e de diferenciação profissional, animados, todos do mesmo entusiasmo e dedi-cação é uma lição de vida, que nunca é tarde para ser vivida.

Estes dois Congressos têm fundamentalmente dois objetivos. Por um lado, o Congresso Nacional ser um evento científico de grande nível tal, como os Congressos anteriores, e por outro a exaltação da Medicina Interna como “especialidade vital” nos dias de hoje

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8 Medicina Interna Hoje

alta voz

Em destaque nestes casos clínicos está a Iatrogenia. Trata-se, grosso modo, a um estado doença, efeitos adversos ou complicações causadas por, ou resultantes do tratamento médico. O termo deriva do grego ia-tros (médico, curandeiro) e genia (ori-gem, causa) e pode aplicar-se tanto a efeitos bons ou maus.A iatrogenia é uma presença constan-te e, muitas vezes, subvalorizada, no dia-a-dia do Internista. Na verdade, muitas vezes são acontecimentos mi-nor com que o doente prefere não “in-comodar” o seu médico, outras vezes, desvalorizamo-los por serem efeitos secundários “normais”, esquecendo o dever que nos compete de reportar estes acontecimentos às entidades competentes. No, entanto é quando a iatrogenia se manifesta em todas as

suas frentes que nos leva a ver para lá da “culpa” de quem prescreve e a agir na plenitude das nossas aptidões.

CASO 1

Homem de 59 anos, em seguimento na consulta de Medicina Interna após internamento por trombocitopenia grave, cujo estudo apontou para PTI, pelo que iniciou corticoterapia. Após início do desmame dos corticóides, houve recaída, com discrasia hemor-rágica e nova trombocitopenia gra-ve, com necessidade de aumento da dose dos corticóides. Após o início do tratamento, além do fácies cushingói-de e aumento do peso, houve descom-pensação da diabetes mellitus pré-exis-tente, com necessidade de associar insulina aos antidiabéticos orais. Dois

meses depois refere queixas compatí-veis com miopatia proximal dos corti-cóides. Aos 5 meses de corticoterapia, apresentava-se com quadro clínico e ra-diológico compatível com pneumonia do lobo superior direito. Realizou dois ciclos de antibioterapia com melhoria clínica, mas sem resolução radiológica completa. Fez broncoscopia para escla-recimento da situação, excluindo-se tu-berculose pulmonar. Nessa altura, tam-bém apresentava lombalgia intensa e acentuação de cifose, com imagiologia a comprovar colapso de vários corpos vertebrais por osteopénia. Dois meses depois é internado para controlo da dor e, por queixas de tosse persisten-te com expectoração mucopurulenta, pede-se nova imagem de toráx onde se pode observar abcesso pulmonar do apéx direito.

IatrogeniaQuando o pior acontece

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Medicina Interna Hoje 9

CASO 2

Mulher de 79 anos tinha recorri-do por duas vezes à urgência nas duas semanas anteriores por erite-ma pruriginoso generalizado com envolvimento palmo-plantar, na sequência de introdução de alopu-rinol uma semana antes do apareci-mento das lesões. O medicamento foi suspenso e a doente foi medica-da com corticóide e anti-histamíni-co. No entanto, uma semana depois, regressou por agravamento do qua-dro, com bolhas generalizadas, mui-to pruriginosas e dolorosas, com atingimento palmo-plantar e perda da integridade cutânea e ulcerações envolvendo as conjuntivas (síndro-me de Stevens-Johnson). Dada a gravidade do quadro, internou-se a doente para terapêutica de suporte. Ao segundo dia de internamento constatou-se pancitopenia grave, com neutropenia profunda. Neste contexto, a doente desen-volveu candidíase oral e vaginal e bacteriémia a S. aureus. A doente

Casos Clínicos apresentados por:

Cristina teixeira pintoInterna Complementar

de Medicina Interna, 3.º ano

Marta eusébioInterna Complementar

de Gastrenterologia, 2.º ano

Carlos CabritaAssistente Hospitalar de Medicina Interna

Hospital de Faro, E.P.E.

A iatrogenia é uma presença constante e, muitas vezes, subvalorizada, no dia-a-dia do Internista. As necessidades terapêuticas dos doentes, colocam-nos, por vezes, em rota de colisão com situações graves de iatrogenia

encontra-se agora de regresso ao domicílio, a recuperar a sua autono-mia e com resolução completa do quadro.

CONCLUSãO

As necessidades terapêuticas dos doentes, colocam-nos, por vezes, em rota de colisão com situações graves de iatrogenia. O envolvimento multi-orgânico e as intercorrências daí resultantes podem comprometer a qualidade de vida ou ameaçar a sua sobrevivência, criando situações de profunda vulnerabilida-de. É neste contexto que a Medicina Interna se assume em toda a sua am-plitude, como cuidadora de excelên-cia. A visão e o saber holístico que comporta permite-nos abordar, com a mesma perícia, a trombocitopenia, a dor, a miopatia, a fractura patológica, o abcesso pulmonar, a diabetes des-compensada, o síndrome de Stevens--Johnson, a hipoplasia medular, a bac-teriémia, … porque, acima de tudo, abordamos o doente.

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10 Medicina Interna Hoje

uma palavra a dizer

Materializar uma reforma estrutural num contexto de forte constrangimento orçamental é o principal desafio que se coloca à ARSLVT, afirma o seu presidente. Luís Cunha Ribeiro fala à Revista Medicina Interna Hoje de como pretende fazer um “censos” da população de Lisboa e Vale do Tejo para melhorar o acesso de quem precisa à saúde. Apresenta ainda a sua visão sobre a Medicina Interna e de como a especialidade pode contribuir para melhorar a qualidade dos serviços prestados aos doentes.

tendo recentemente assumido a pre-sidência da arSlVt qual o principal desafio que tem pela frente?O meu objetivo é dar sustentabilidade ao sistema de saúde da região sem sacri-ficar a qualidade da resposta assistencial à nossa população. Por outras palavras, temos de ser capazes de induzir ganhos

Reformar sem sacrificar a qualidade

de eficiência que permitam acomodar e compensar os cortes orçamentais que teremos inevitavelmente que fazer.No atual contexto, não existe margem para falhar. Materializar uma reforma estrutural num contexto de forte cons-trangimento orçamental, é esse, indu-bitavelmente, o nosso principal desafio.

Sendo a arS com maior número de utentes por médico, como avalia o acesso dos utentes da arSlVt aos serviços de saúde, nomeadamente ao médico assistente?A questão do acesso dos utentes aos serviços de saúde, e ao médico de família em particular, está no topo

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Medicina Interna Hoje 11

das minhas preocupações desde o primeiro momento. Ainda antes de assumir as atuais funções, já tinha plena noção de que a correcção desta disfunção do sistema de saú-de era estruturante e prévia a qual-quer processo de reforma credível.Não é possível gerir recursos, inde-pendentemente da área de activi-dade, sem conhecermos os nossos “clientes”. Os utentes têm que estar no centro das nossas preocupações e como tal é impensável que o nú-mero de utentes do Serviço Nacio-nal de Saúde seja, desde há vários anos, superior ao número de resi-dentes.Neste sentido, procedeu-se a um diagnóstico objetivo da situação, tendo sido delineada uma estraté-gia de intervenção que, apesar da complexidade, pode ser sintetizada em 3 fases: expurgo dos óbitos que não foram suprimidos das listas de utentes; eliminação dos duplicados e gestão dinâmica e efectiva das lis-tas de utentes, por forma a garantir que a capacidade de resposta que temos com os profissionais de que dispomos é colocada ao serviço dos utentes. A situação que vivemos é incom-preensível: temos utentes com mé-dico de família atribuído e que não o procuram, ao mesmo tempo que temos doentes que necessitam de assistência médica nos cuidados de saúde primá-rios, mas que não têm acesso por falta de vaga. Ninguém sério ou responsável poderia ficar indiferente a esta proble-mática, a começar, estou certo, pelos próprios colegas da Medicina Geral e Familiar.

Que impacto poderá ter a limpeza dos “utentes adormecidos” das listas de médicos de família? Alguns destes utentes adormecidos estão a chegar à idade de precisar de médico.

Conforme referi, a estratégia de intervenção que estamos a imple-mentar foi precedida de uma avalia-ção exaustiva da situação em cada um dos ACES da região, tendo sido equacionados uma multiplicidade de cenários por forma a validar a metodologia. Foi possível concluir que a percentagem de utentes com médico de família atribuído e que não frequentaram o centro de saú-de nos últimos três anos tem um peso importante nas listas de uten-tes de alguns colegas, globalmente equivalente aos utentes utilizado-res sem médico de família.Isto significa que, se para efeitos de composição das listas de médicos, contabilizarmos apenas os frequen-tadores, a capacidade que temos de resposta altera-se significativamen-te, aproximando-se do objetivo de providenciar um médico para cada utente que dele necessita ou a ele entende recorrer. O que não faz

sentido é que, reconhecendo nós que os recursos médicos são escas-sos, ocupemos as listas de utentes com óbitos, duplicados ou não uti-lizadores. Outra conclusão a que chegámos é que esta população de “não frequentadores” se mantém relativamente estável independen-temente do horizonte temporal de análise. Isto é, analisado o compor-tamento desta população verifica--se que, quer ao longo dos anos, quer ao longo do próprio ano, não existem oscilações significativas. Podemos concluir que não é expec-tável que se verifique um acréscimo expressivo de utilizadores num de-terminado momento, pelo que os médicos de família não serão sobre-carregados. Ainda assim, tenciona-mos deixar sempre uma margem de segurança face ao limite da carteira de utentes para acomodar eventu-ais oscilações.

a arSlVt é a região com menor número de camas disponíveis por habitante. a inexistência na práti-ca de uma rede é uma constante sobrecarga para os hospitais da região, sendo os serviços de Me-dicina Interna os principais “sacri-ficados”. Qual é o seu plano para enfrentar esta situação?Neste caso, o diagnóstico é eviden-te e a terapêutica - disponibilizar novas camas de cuidados conti-nuados -, também. Dá-se porém a circunstância de não estar prevista qualquer verba para esta função. Qual é então a solução ou, melhor, o desafio que enfrentamos nesta área?Minimizar os custos de forma a criar uma verba a alocar a este desidera-to. Como imagina, numa altura de cortes substantivos ao nível dos proveitos, não é tarefa fácil “pou-par” uma verba significativa para investir nos cuidados continuados.

“Os utentes têm que estar no centro das nossas preocupações e como tal é impensável que o número de utentes do Serviço Nacional de Saúde seja, desde há vários anos, superior ao número de residentes”

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12 Medicina Interna Hoje

Esse é mais um desafio que teremos de vencer, cientes que não será à velocidade de que gostaríamos, mas apenas à velocidade que nos é possível.

Reorganização Hospitalar

Concentrar e reduzir é a palavra de ordem do Ministro da Saúde dr. paulo Macedo. Como vê a fusão do hospital Curry Cabral e da Maternidade alfredo da Costa com o Centro hospitalar oriental de lisboa (S. José)?Maternidades isoladas não são aceitáveis nos dias que correm. To-dos estávamos conscientes disso, a começar pelos colegas da Materni-dade Alfredo da Costa. O problema não era integrar, mas sim onde.O Centro Hospitalar Lisboa Norte já dispunha de um serviço de obste-trícia, enquanto o Centro Hospita-lar Lisboa Central, não. A opção era evidente. O Hospital Curry Cabral contém um conjunto de especiali-dades omissas no Centro Hospitalar Lisboa Central. A opção era, pois, evidente.A existência de um centro hos-pitalar constituído por unidades envelhecidas e geograficamente dispersas acarreta um custo quase insuportável a um orçamento já em si contraído. Acresce a situação de os hospitais que constituem o Cen-tro Hospitalar Lisboa Central serem edifícios arrendados. Estas são, genericamente, algumas das razões que tornam desejável a construção do Hospital de Todos os Santos, assim a situação econó-mica e financeira do país o permi-tam. Não é também despiciente o modelo de governança previsto

para o Hospital de Todos os Santos: um hospital baseado no doente, centrado no doente e organizado para o doente, onde o lugar central não é o serviço ou o departamen-to. Uma cama que serve um doente constitui um desafio aos modelos existentes que não deveríamos des-perdiçar.

o caso do Centro hospitalar do oeste – Cirurgia e ortopedia em torres Vedras e Maternidade e pe-diatria nas Caldas da rainha – não é uma violência para as popula-ções?Como ponto prévio importa referir que a proposta de reorganização dos cuidados hospitalares da Re-gião Oeste visam o melhor aprovei-tamento dos recursos disponíveis, nomeadamente de recursos hu-manos, a racionalização de custos e a melhoria da qualidade dos cui-dados prestados às populações. A proposta de perfil do novo Centro Hospitalar Oeste aponta para uma concentração dos serviços Cirúrgi-cos de Ortopedia, Cirurgia Geral e ORL no Hospital de Torres Vedras, particularmente para a realização de cirurgia convencional. Está ainda proposto que ambas as instituições realizem cirurgia de ambulatório.No que respeita à Pediatria, quer o Hospital das Caldas, quer o Hospital de Torres Vedras, mantêm serviço de Pediatria com possibilidade de atendimento urgente também no Hospital de Torres Vedras. Aten-dendo a que o Serviço de Urgência Médico-Cirúrgico se concentra no Hospital das Caldas, incluindo aten-dimentos de obstetrícia/ginecolo-gia, os partos serão em consequên-cia concentrados nesta instituição. Por sua vez, a proximidade em re-

Luís Cunha Ribeiro nasceu em Lamego em 1955, é licen-ciado em Medicina e Cirurgia na Faculdade de Medicina pela Universidade do Porto e especialista em Imuno-he-moterapia. Destaca-se, no seu percurso, a direção clínica do Hospital S. João, a presidência do conselho diretivo do INEM, e a presidência da Comissão de Planeamento de Emer-gência e Saúde. Foi vogal do conselho de administração da Prevenção Rodoviária Portu-guesa, membro do Conselho Nacional de Planeamento Ci-vil de Emergência, Membro do Joint Medical Committee – Senior Civil Emergency Plan-ning Committee, NATO, entre outros cargos.

uma palavra a dizer

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Medicina Interna Hoje 13

lação a Lisboa também foi tida em conta.De qualquer modo, este facto não obsta a que as senhoras não sejam seguidas em consulta no Hospital de Torres Vedras e referenciadas para o local adequado para reali-zação do parto, dado que ao nível da consulta externa o novo Centro Hospitalar Oeste deve apresentar uma oferta de consultas de espe-cialidade idêntica em ambas as unidades hospitalares, com ajus-tamento da oferta em função das características e necessidades das populações.

Hospital Beatriz Ângelo

a abertura deste hospital vai ser uma das marcas da sua passagem à frente da arSlVt. Como estão as relações com administração (BeS saúde) deste hospital?Bem, como não poderia deixar de ser. A ARSLVT, como entidade con-tratante das diversas parcerias pú-blico-privadas da região tem uma relação normal mas exigente com as diferentes entidades gestoras. Não podemos esquecer que se tratam de unidades do Serviço Nacional de Saúde geridas por entidades pri-vadas, mas que no fim do contrato regressarão à posse plena do Estado.

Como avalia o impacto na assistên-cia à população a que se destina?O Hospital Beatriz Ângelo é ainda um nascituro. Parece-nos estar dota-do de uma equipa dinâmica, jovem e motivada. O sucesso do Hospital será o sucesso na assistência às popula-ções a que se destina e, também por isso, um sucesso desta admi-nistração.

o diferendo com a Câmara Muni-cipal de loures sobre a população não coberta está definitivamente resolvido ou poderá, numa fase posterior, voltar a ser reequacio-nado?O Hospital foi construído com a dimensão adequada para dar res-posta a uma determinada popula-ção. Conforme a administração do mesmo já enfatizou, a dimensão atual não é compaginável com uma alteração de dimensão de referen-ciação.

Como vê a reorganização da carta hospitalar na zona de lisboa face à abertura deste hospital?Nas últimas décadas a região da Grande Lisboa foi palco de cons-trução de diversas estruturas hos-pitalares. Dos novos hospitais cons-truídos ou em fase de construção, apenas o Hospital de Vila Franca de

Xira ou o Hospital de Cascais se des-tinam a substituir um equipamento existente.O Hospital de Cascais, embora te-nha substituído o velho Centro Hospitalar de Cascais, fê-lo de uma forma maximalista, aumentando substantivamente o número de ca-mas. Assim, verifica-se que, nesta região, as tentativas de organização ou reorganização consistiram no somar de camas e de orçamentos.O Ministério da Saúde solicitou es-tudos que ajudem a redefinir a reor-ganização dos hospitais. A ARSLVT tem também efetuado uma análise reflexiva sobre esta temática. Não é o impacto do Hospital Beatriz Ân-gelo que está em causa, é toda a re-organização da maior zona do país que importa fazer. Durante anos reuniram-se grupos, pensaram-se soluções e produziram-se docu-mentos. Foi tempo de “think tanks”, agora chegou o momento de um “action tank”. Esperamos estar à al-tura do momento.

o hospital de Santa Maria perde 30 por cento da sua população e alguns quadros médicos. Num hospital universitário, esta redu-ção tem certamente um enorme impacto. Concorda?O Centro Hospitalar tem conheci-mento, há já alguns anos, do impac-to do Hospital Beatriz Ângelo na sua área de atração. A capacidade de adaptação e inovação são inerentes à inteligência dos seres. As organi-zações têm de adotar situações se-melhantes e estamos certos de que o Centro Hospitalar Lisboa Central o vai fazer. De uma coisa estamos certos: este centro hospitalar tem um papel essencial nesta região, quer do ponto de vista meramente

“Numa altura de cortes substantivos ao nível dos proveitos, não é tarefa fácil “poupar” uma verba significativa para investir nos cuidados continuados. Esse é mais um desafio que teremos de vencer, cientes que não será à velocidade de que gostaríamos, mas apenas à velocidade que nos é possível”

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assistencial, quer enquanto grande centro universitário. A ARSLVT está atenta e, em coordenação com a Ad-ministração do centro hospitalar, asse-gurará que aquele hospital continuará a ter a capacidade e o prestígio que todos lhes reconhecemos.

Que pensa do modelo organiza-cional adotado no hospital Beatriz Ângelo, nomeadamente quanto ao papel/função da medicina Interna?Diria que é um modelo para o qual naturalmente tendemos. A Medicina Interna, simultaneamente maestro e orquestrante, solicitando a presença e a intervenção de solistas para de-terminadas áreas, aumenta a entalpia da organização do sistema aberto que deve ser um hospital. Assim, vemos com agrado este modelo organizacional.

Medicina Interna

Num contexto de profunda rees-truturação do Serviço Nacional de Saúde, a Medicina Interna tem afir-mado querer fazer parte da solução, nomeadamente quanto ao seu papel de contribuir para o melhor aprovei-tamento dos meios existentes. Como vê o contributo da Medicina Interna, neste quadro?Entendo a Medicina Interna comum dos centros nevrálgicos do hospital, consubstanciando-se com um ali-cerce central de prestação de cuida-dos hospitalares. A Medicina Interna constitui o centro nevrálgico de um hospital e consubstancia-se como o alicerce central da prestação de cuida-dos hospitalares. Considero que a Me-dicina Interna tem aí um papel muito importante a desempenhar e que o papel do internista enquanto gestor do doente agudo em ambiente hospi-talar pode e deve ser posto ao serviço do esforço de racionalização, mas so-bretudo ao serviço da qualidade dos cuidados prestados aos doentes.

face à reconhecida falta de médicos nalgumas áreas como a Medicina Inter-na, prevê o reforço das vagas de inter-nato em Medicina Interna, nos hospi-tais da arSlVt? Em 2012, o número de internos que ini-ciou a sua formação foi idêntico ao de 2011. Para 2013, brevemente iniciaremos os trabalhos de planeamento do número de vagas a disponibilizar para formação em cada especialidade e, naturalmente, será feita uma análise detalhada, no con-texto da região, de quais as necessidades que há necessidade de suprir.

a valorização do desempenho da Medicina Interna necessita de ser reequacionada. a sua atividade tem sido subvalorizada donde resulta a frequente carência de meios (huma-nos e técnicos) com que desenvolve a sua atividade, fruto de um finan-ciamento baseado no “ato médico” e não em resultados de saúde. Quan-do pensa no financiamento dos hos-pitais, qual a fórmula que irá utilizar para evidenciar a custo-efetividade da Medicina Interna? É bem verdade que a atividade da Medicina Interna se baseia menos em

atos técnicos individualizáveis que outras especialidades. No entanto a questão do financiamento não se es-gota nestes termos, e o modelo atual de financiamento permite, teorica-mente, aferir também esta atividade desde que parametrizado adequada-mente. Por outro lado e como é bem sabido, a definição do modelo de financiamento é nacional. Baseá-lo em resultados em saúde em contex-to de atividade hospitalar significa uma mudança de paradigma sobre a qual vale a pena refletir. No entanto, sejamos claros, esta questão não é exclusiva da Medicina Interna e deve ser transversal a to-das as áreas do saber.

Sendo a Medicina Interna determi-nante na prescrição dos doentes crónicos quer no internamento quer no ambulatório através das consultas e da urgência, como vê a sua ação em termos de uma correta utilização dos medicamentos e dos meios auxiliares de diagnóstico? Na minha opinião a Medicina In-terna desempenha aqui um papel fundamental. Uma atuação com economia de meios, no interesse do doente, quer ao nível de prescrição de medicamentos, quer de meios complementares de diagnóstico, tem uma influência mais relevante na continuidade dos cuidados dos do-entes crónicos que qualquer palestra ou documento orientador. É por isso muito importante aproxi-mar de forma marcada os diferentes prestadores de cuidados de saúde, seja dentro dos cuidados hospitala-res, seja entre estes e os cuidados de saúde primários. Desta forma, a visão integrada do doente e da sua patologia permitirá o combate à polimedicação abusi-va e ao uso excessivo e, sobretudo, redundante de meios auxiliares de diagnóstico.

uma palavra a dizer

“Baseá-lo [o financiamento] em resultados em saúde em contexto de atividade hospitalar significa uma mudança de paradigma sobre a qual vale a pena refletir”

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primeiros passos

Desde cedo percebi que tinha o sonho de ser médica, queria aprender a arte da cura para manter o bem estar de uma pessoa. Foi então, no 3.º ano do curso, altura em que iniciamos os anos clínicos, que me revi na Medicina Interna; na especialidade que vê o doente como o todo, capaz de tratar doenças de vários órgãos e nas suas várias formas mas mantendo a projeção de um doente na sua vida familiar, profissional e cultural. Por sua vez, o raciocínio clínico integrado na doença sistémica, a atualização científica alucinante e a troca de experiências baseada em evidência tornaram a Medicina Interna uma proposta apaixonante que decidi iniciar. Diariamente a vida de um jovem internista é uma rotina de novidades experienciada na consulta, na urgência e no internamento. Na consulta, avaliamos o doente no pré e pós hospitalar integrando-o na sua comunidade e orientando-o de uma forma curativa mas também preventiva. No serviço de urgência, a ideia de agir em perfeição e a obstinação em não errar são uma constante, especial-mente nas situações limite em que a morte pode ocorrer. Saber aceitar a morte é sempre dificil, mas ser capaz de tratar sem medidas fúteis, dando dignidade à vida humana e confortando uma familia em sofrimento é também ser internista. É no internamento que o internista passa a maioria do tempo, tecendo um plano de ação para diagnóstico e tratamento da do-

ença através da interseção dos diferentes saberes médicos e da colaboração estreita com outras especialidades. Os internistas são a base da Medicina Hospitalar, de todos os serviços, e isso é reconhecido por todos os profissionais. No entanto, actualmente tem-se trabalhado no limite e com pouco reconhecimento pelo esforço desenvol-vido numa especialidade em que o lucro económico não é possivel alcançar. O des-contentamento pela sobrecarga horária e laboral, bem como o abandono hospitalar por profissionais habilitados na formação de internos, em muito contribuiu para a desis-tência da especialidade. Como jovens inter-nistas temos de dar voz à Medicina Interna e mostrar a sua validade nestes tempos de dificuldades que se avizinham. Estamos com os doentes, trabalhamos para eles e é esse compromisso que temos que evidenciar. A possibilidade que temos em vivenciar a melhoria progressiva de um doente é uma conquista diária e não existem palavras que possam descrever a sensação de um bem estar de um ser humano. Mesmo quando a evolução não é favorável, a possibilidade de contribuir para um fim de vida digno e respeitoso é uma conquista. A principal con-quista é o doente, a pessoa.A medicina é mesmo assim, com desafios. Já começou assim quando iniciámos a aventu-ra de ser médicos, na especialidade é só um continuar.

Consultora ComercialSónia Coutinho

[email protected].: 96 150 45 80

Tel. 21 850 81 10 - Fax 21 853 04 26

Inês rossioInterna de Medicina Interna do Hospital de Cascais

Pequenos passos, grandes conquistas

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do lado de cá

Um hospital é um sítio importante. Nas-ci num hospital. Fui operado à apendicite num hospital. Fui tratado a uma cólica renal num hospital. Fui ao hospital depois de um acidente de viação. E com grande probabi-lidade morrerei num hospital. Um hospital é por isso um lugar central na minha vida. Sempre que preciso de “ir” ao hospital fico ansioso e preocupado mas sei que é o sítio certo para me ajudarem a voltar a restaurar a minha boa saúde. A minha confiança não é tanto centrada no fato da porta da urgência estar aberta ou no fato do hospital ser um sítio cheio de máquinas, computadores, ma-teriais e medicamentos que, em princípio veem e tratam quase tudo. A minha confian-ça vem, principalmente, da perceção de que nesse hospital existem pessoas altamente treinadas para me ajudar. Os médicos, os en-fermeiros e todas as outras pessoas que me acolhem são a fundação da minha confian-ça e esperança.Há dois anos uma terrível - e para mim assus-tadora - dor na zona lateral da barriga entre as costelas e a anca empurraram-me para a urgência mais próxima. Era uma dor que parecia um sismo. Um dor ondulante. Uma grande dor. E como hipocondríaco profissio-nal garanto-vos que aquela doía mesmo. En-trei na urgência do Hospital de S. Bernardo em Setúbal. A triagem deu-me uma pulseira amarela e fui visto em poucos minutos. Por quem? Não sei. Era médico? Seria enfermei-ro? Não soube. Não saber quem está “do ou-tro lado” é angustiante.Quando se está com dores, quando não se sabe porque dói, quando estávamos saudá-veis há duas horas e agora curvados e com vontade de trepar paredes, a noção de que somos vulneráveis sai de todos os poros.Nesse momento só pensava que precisava de um farol e de uma bóia salva-vidas. Na

realidade precisava de um guia que me aju-dasse e que ao mesmo tempo me retirasse as dores e tratasse a doença de que nem sa-bia o nome.No meio do nevoeiro com que um doente vê as “urgências” precisa-se de identificar al-guém para confiar, para falar, para ouvir.Nesse dia nas urgências não apareceu nin-guém que dissesse “Olá eu sou o Doutor Manuel e vou tomar conta de si” - assim de forma simples. Por mim devia ser obrigatório a existência de um médico responsável por cada doente que entrasse na urgência, no hospital. Seria uma espécie de tutor daquele doente. Nesse dia nas urgências deram-me duas in-jeções. Ainda hoje nem sei o que continham. Sei que funcionaram porque me passaram as dores. E porque não morri. Mas deram-me duas injeções sem me perguntar se era alér-gico a qualquer coisa ou me anunciarem de que doença padecia.Três horas depois perguntei: “Quando é que o médico me vai ver?” Consultado o com-putador - instrumento que manda de facto na urgência - fui informado que o médico me tinha dado alta. E aí tudo fez sentido. Um médico que nem vi diagnosticou-me uma cólica renal, prescreveu-me duas inje-ções e deu-me alta. Quando disse à minha interlocutora que não tinha sido observado nenhuma vez, arregalou os olhos e cuidou de que fosse visto, ouvido, palpado e trata-do por uma médica atenciosa, competente e profissional.E, de súbito, tudo voltou a fazer sentido.Senti-me de novo uma pessoa. Da próxima vez que ficar doente vou chamar por ela. Um doente precisa de alguém que tome conta dele. E não só dos órgãos, dores, an-gústias ou doenças. Posso pedir tudo no mesmo Médico Internista?

Quem toma conta de mim?

Entrar num hospital é quase sempre um momento que me dá arrepios. Claro que se vou ao hospital para realizar uma reportagem ou entrevista é tão normal como ir aos correios, ao estádio ou a um auditório. Mas essa ida ao hospital não é verdadeiramente “ir” ao hospital, “precisar de ir” ao hospital.

Jorge CorreiaJornalista da Rádio Antena 1Editor de Saúde

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Com um percurso profissional intenso, que passou pela investigação, o ensino e a atividade médica, Levi Guerra con-quista um lugar de relevância também nas artes plásticas. O encerramento das Comemorações do 60.º Aniversário da SPMI, foi mais uma oportunidade para dar a conhecer a sua obra, depois de várias exposições individuais que tem realizado ao longo dos anos.Levi Guerra nasceu em Águeda, em

Exposições Individuais de Pintura

• 1984: “Pintar também é investigar”, Fundação Eng. António de Almeida• 1996: “Nos 50 anos da morte de Abel Salazar”, Reitoria da Universidade do Porto• 1999: “Homenagem a Águeda”, Fundação Dionísio Pinheiro• 2000: “Homenagem a Valença”, Casa da Cultura• 2001: “Aguarelas e Guaches” , Casa do Médico, Porto• 2007: “Rumo ao Terceiro Dia”, Museu PIO XII, Braga• 2010: Painel (2x7,5 m) “O Homem” , Entrada do Hospital de S. João, Porto• 2010: “Sintomas e Projeções”, Galeria do Palácio de Cristal • 2011: ”Retrospetiva recente”, Fundação A LORD, Lordelo do Douro-Paredes• 2011: ”Evocações natalícias”, Casa da Cultura da Junta de Freguesia de Paranhos, Porto • 2011: ”Exposição de Homenagem ao Prof. Thomas Andreoli”, Faculdade de Medicina

da Universidade do Porto • 2011: “Nos 60 anos da Sociedade de Medicina Interna” • 2012: Na Escola Secundária Diogo de Macedo, Vila Nova de Gaia

Levi Eugénio Ribeiro Guerra

1930. Terminou o Curso dos Liceus em 1947/48, e o Curso de Medicina, na Fa-culdade de Medicina do Porto, em 1955. Foi co-fundador dos Centros de Hemo-diálise da Prelada, Marco de Canavezes, Paredes, Régua e Águeda. Editou duas obras de poesia, foi distin-guido por diversas Sociedades Médicas, fundou e dirigiu revistas e publicações médicas e culturais e ainda colaborou em jornais como cronista. É professor catedrático jubilado de Medicina.

O Artista por trás do Médico

revelações

CurSo BaSeS farMaCológICaS da terapêutICa raCIoNal – aNtIBIoterapIa2.ª edição11 e 12 de Maio de 2012Escola de Ciências da Saúde,Universidade do Minho

18.º CoNgreSSo NaCIoNal de MedICINa INterNa3.º CoNgreSSo IBérICo de MedICINa INterNa23 a 26 de Maio de 2012Tivoli Marinotel, Vilamoura CurSo “o INterNISta e a urgêNCIa”8 e 9 de Junho de 2012Funchal(Inscrições encerradas) 7.º eNCoNtro NaCIoNal de INterNoS de MedICINa INterNa21 a 23 de JunhoCascaisOrganização: Núcleo de Internos de Medicina Interna

agenda

Eventos Médicos

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