DE_2011-10-31

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ELEITO O MELHOR JORNAL DE ECONOMIA

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SEGUNDA-FEIRA, 31 DE OUTUBRO 2011 | N 5291 PREO (IVA INCLUDO): CONTINENTE 1,60 EUROS

DIRECTOR ANTNIO COSTA DIRECTOR EXECUTIVO BRUNO PROENA SUBDIRECTORES FRANCISCO FERREIRA DA SILVA, PEDRO SOUSA CARVALHO E HELENA CRISTINA COELHO

ENTREVISTA JOS MARIA RICCIARDI

Descubra 16 formas para aumentar as poupanas*O Econmico mostra-lhe como poupar em todas as aces do dia. Desde a prestao da casa at ao combustvel do carro, passando por todos os gastos.

Os bancos vo questionar se a dvida pblica vale a penaO presidente do BES Investimento critica as solues europeias para a banca. A partir de agora, os bancos vo interrogar-se antes de comprarem dvida soberana, afirma. P4 A 7PUB

PSI 20 IBEX 35 FTSE 100 Dow Jones Euro Brent

-0,78% -0,5% -0,2% 0,18% -0,30% -1,94%

5.945,63 9.224,4 5.702,24 12.231,11 1,4147 109,91

Antes de sair de casa, desligue os electrodomsticos, evitando o stand by, para poupar energia.

A hora de almoo aproveitada para ir ao banco para renegociar as condies do crdito habitao.

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Com os impostos a subir, verifique todas as maneiras de optimizar a factura fiscal.

Aproveitar a poca baixa para fazer frias uma boa opo de poupana pois os preos so mais baixos.

*

E saiba que as famlias s poupam 93 cntimos em cada 10 euros que ganham

2 Dirio Econmico Segunda-feira 31 Outubro 2011

A NO PERDER

SOCIEDADE ABERTAJoo Marques de AlmeidaProfessor universitrio

31.10.11 Aumentos na energia limitados a 1,5% at 2020. O Ministrio da Economia quer garantir a sustentabilidade dos preos da energia tendo como baliza o ano de 2020 e confirmou a inteno de limitar os aumentos a 1,5%. P25 Portugueses mais pessimistas que nunca. Segundo a sondagem da Marktest para o Dirio Econmico e a TSF, o ndice de expectativa caiu significativamente em Outubro, para 13,65%, o valor mais baixo de sempre. P26

Francisco Murteira NaboEconomista

O oramentoSe o Partido Socialista votar contra o oramento, ser um dos actos mais irresponsveis da histria da democracia portuguesa. O oramento de 2012 constitui um acto de salvao nacional. E necessrio, por um lado, por causa da crise global, mas em grande medida porque os governos socialistas no tomaram as decises correctas durante os seis anos que estiveram no poder. Ou seja, um oramento que resulta da desgovernao socialista. Atribu-lo a preferncias ideolgicas no mais do que uma tentativa de branquear as responsabilidades do PS. No meio da tanta discusso e de muito rudo, parece que muita gente esqueceu os factos. Portugal foi obrigado a pedir um emprstimo para evitar a falncia. Falncia significa incapacidade imediata de honrar os compromissos salariais, oramentais e sociais. E a ameaa da falncia foi o resultado dos mercados, de cujos emprstimos o Estado portugus precisava para funcionar, terem perdido confiana no nosso pas. Claro que podemos discutir se os mercados avaliaram justamente a situao portuguesa, mas nenhuma resposta altera a realidade. Seria mais benfico perguntar por que razo o Estado portugus no parou de se endividar durante os ltimos vinte anos. Ou por que razo ficmos inteiramente dependentes dos mercados (foi por isso que perdemos a nossa soberania financeira). Como contrapartida ao emprstimo que evitou a falncia, Portugal assumiu compromissos que deve absolutamente respeitar. fundamental diminuir a dvida e o dfice em 2012 e em 2013, caso contrrio volta a ameaa da falncia. So estes os factos que explicam o oramento do prximo ano.

A importncia da bancaFinalmente os lderes europeus perceberam que s seria possvel alterar a perigosa situao existente na Europa com medidas estruturais, que conduzam a uma efectiva implementao do projecto da unio econmica e monetria europeia. Ainda bem. Ser agora necessrio acompanhar com rigor a execuo plena das decises tomadas. Gostaria de me concentrar na deciso que considero mais urgente, em termos nacionais: a da recapitalizao dos bancos, por se tratar de uma medida que poder pr fim falta de liquidez e de crdito existente no mercado empresarial.

Zon admite manter dividendos em 2012. A operadora, que fechou o terceiro trimestre com 9,1 milhes de euros de lucro, mais 5,8% que no mesmo perodo de 2010, dever continuar a pagar dividendos aos accionistas em 2012. P40 Galp decide venda de activos de gs em Novembro. O negcio est condicionado ao sucesso do aumento de capital da Petrobras Brasil, a concluir em Novembro, e que render Galp mais de dois mil milhes de euros. P42 Empresas de golf querem IVA a 6%. A Associao de Campos de Golfe, que pediu audincias aos grupos parlamentares do PS e PSD, alega que o IVA no golfe tem alinhado desde 1986 com o do alojamento turstico, que se mantm nos 6%. P44 PSI 20 beira do primeiro ms positivo desde Fevereiro. O ndice de referncia da bolsa portuguesa acumula ganhos de 0,9% em Outubro. Se hoje o desempenho se mantiver, ser o primeiro ms de ganhos desde Fevereiro. P48

bem-vinda a nova atitude de Bruxelas. Aleluia! Mas sem a economia estar a funcionar, e sem haver crescimento a longo prazo, no h medidas de austeridade que evitem o nosso definhamento.A banca portuguesa enfrenta a curto prazo vrios desafios. Por um lado, sofre as presses resultantes de potenciais imparidades no balano, que resultam da eventual existncia de activos sobrevalorizados, em especial na rea imobiliria. Por outro lado, a forte exigncia de reforo dos capitais prprios imposta pelo Banco de Portugal, ir obrigar a banca a vender activos e, eventualmente, a recorrer ao fundo de doze mil milhes de euros para o efeito j negociado com a Europa/BCE/FMI. Se a isto acrescentarmos o risco relacionado com eventuais incumprimentos existentes na carteira de clientes, da eventual existncia de produtos txicos, o potencial efeito na conta de resultados da exposio divida grega e, finalmente, a provvel necessidade de fundear os fundos de penses dos bancrios, podemos de facto constatar que a banca nacional enfrenta, em termos genricos, a curto prazo, um conjunto de dificuldades e obstculos que, para serem ultrapassados, requerem a mobilizao de todos os responsveis, a comear pela compreenso dos nossos cidados. S que apesar das importantes medidas tomadas na quarta-feira passada em Bruxelas, a economia portuguesa, como qualquer economia do mundo, no recuperar a longo prazo se no houver rapidamente medidas que aumentem a competitividade externa da nossa economia e, a curto prazo, se no houver a liquidez mnima para que as empresas possam recorrer ao crdito em condies competitivas. Se tal no acontecer o efeito recessivo das medidas de austeridade previstas ser incontrolvel, conduzindo o Pas a uma espiral de risco elevado e de onde teremos grande dificuldade em sair. bem-vinda a nova atitude de Bruxelas. Aleluia! Mas sem a economia estar a funcionar, e sem haver crescimento a longo prazo, no h medidas de austeridade que evitem o nosso definhamento. E a liquidez e o crdito, tal como o investimento, so o sangue de qualquer economia.

Sob a liderana da Comisso Europeia, h sinais de que a Unio Europeia ter abertura para certos compromissos que permitam o crescimento da economia. Mas para que isso acontea ser essencial cumprir o Oramento.As vozes mais crticas consideram que Portugal caminha inevitavelmente para a situao da Grcia. Ningum fala da Irlanda. Os irlandeses tinham uma dvida e um dfice superiores aos de Portugal, esto a passar por sacrifcios e dificuldades semelhantes, mas o pas est a recuperar. A tendncia portuguesa para nos compararmos aos piores exemplos e ignorarmos os melhores desesperante. Por que razo no nos enchemos de brio e orgulho e no dizemos que se a Irlanda est a conseguir, ns tambm havemos de conseguir? H um ponto, contudo, onde os crticos esto certos. O crescimento econmico indispensvel. S a austeridade no chega. Em 2012 ser necessrio encontrar o equilbrio entre a consolidao oramental e o crescimento econmico. Sob a liderana da Comisso Europeia, h sinais de que a Unio Europeia ter abertura para certos compromissos, que permitam o crescimento da economia. Mas para que isso acontea, ser essencial cumprir o oramento.

Day traders ganham peso na bolsa. A volatilidade da bolsa nacional leva cada vez mais investidores a adoptarem estratgias de risco em busca de ganhos dirios. No terceiro trimestre, o valor negociado em day trading subiu 55%. P50 Volvo Ocean Race arrancou sbado em Alicante e envolve um oramento de 50 milhes de euros. A prova de vela volta do mundo larga no prximo dia 5 para a frica do Sul, e passar por Lisboa e Aores entre Maio e Junho. P60/61 EDP reavalia redes sociais. A empresa decidiu suspender a pgina do Facebook, para contornar a multiplicao de comentrios negativos. Para os peritos, esta nunca a melhor soluo, mas a reactivao da conta no tem data. P62

A FRASE

O NMERO

Estamos a falar de corrupo e de trfico de influncias.Marinho e Pinto, bastonrio da Ordem dos AdvogadosO bastonrio garante que h deputados que representam, enquanto advogados, interesses econmicos que beneficiam das leis feitas no Parlamento. uma promiscuidade absoluta, sublinha Marinho e Pinto. POLTICA - P32

348 milhesO total das verbas que o Governo deixa de transferir para as Universidades at 2014, em resultado da alegada quebra do Contrato de Confiana, de 348 milhes de euros. Em causa esto o reforo financeiro anual de 100 milhes e mais 16 milhes de euros tambm anuais destinados aco social escolar. P30/31

Segunda-feira 31 Outubro 2011 Dirio Econmico 3

EDITORIALJoo Cardoso RosasProfessor universitrio

As opes do PS de SeguroSe a vida no est fcil para o Governo de Pedro Passos Coelho, o lder da oposio tambm no vive dias felizes. A liderana de Antnio Jos Seguro tarda em arrancar, o que tem sido notado nas sondagens onde o PS aparece longe do PSD que, apesar de todas as medidas de austeridade, mantm a preferncia dos portugueses. Primeiro que tudo, Seguro ainda no conseguiu arrumar a casa. A herana e a sombra de Jos Scrates pesam e tm dificultado a afirmao do novo secretrio-geral dos socialistas. Sem a pacificao interna, dificilmente Seguro conseguir conquistar os portugueses pois surgiro sempre criticas a provocar rudo. A votao do Oramento do Estado para 2012 vai ser um momento importante para Seguro mostrar quem manda. J se percebeu que os herdeiros de Scrates querem votar contra a proposta do Governo que vai alm das negociaes com a troika, preconizadas por alguns desses herdeiros que na altura eram ministros. Antnio Jos Seguro parece preferir uma opo mais construtiva como a absteno. J o Pas precisava de um voto a favor dos socialistas para confirmar a imagem de unio volta do plano de austeridade, que tanto tem agradado aos credores e troika. Ainda cedo para antecipar o resultado da votao mas nestes momentos decisivos que as lideranas montam alicerces fortes. Seguro tem a aco e a palavra.

Entre o crime e o votoA JSD entregou ao procurador-geral da Repblica uma carta de acusao aos polticos que endividaram o pas. Segundo a JSD, a conduta desses polticos do Partido Socialista, no o dr. Jardim ou outros do PSD - susceptvel de criminalizao. Toda a gente percebe que este intento no para levar a srio. A preocupao dos jotinhas no est na defesa do bem comum mas apenas na luta partidria mais mesquinha. Eles so um veculo para as atitudes menos srias que a direco do seu partido no pode ou no quer tomar. No entanto, a questo que subjaz a esta agitao realmente importante. Aqueles que alcanam o poder no quadro de um Estado reconhecido internacionalmente tm a prerrogativa de, entre muitas outras coisas, endividar o seu pas at ao limite permitido pelos mercados que , como sabemos, excessivamente elevado. Esta prerrogativa aceite e protegida pelo direito interno e internacional e, como tal, insusceptvel de criminalizao. O grande problema da prerrogativa de recurso a emprstimos que o seu efeito se prolonga no tempo, geralmente muito para alm da estadia no poder daqueles que a utilizaram. Ou seja, quem detm o poder endivida-se e quem paga so as geraes futuras. Mesmo quando no existe dolo, h aqui um problema bvio de responsabilidade poltica e injustia intergeracional. Quando os Governos que actuam irresponsavelmente no mercado da dvida so ditatoriais o problema parece irresolvel. Eles podero pagar pelo sangue se algum os apear do poder, mas no h nenhum outro mecanismo para os responsabilizar e apontar a injustia da sua conduta. Em democracia, as coisas so diferentes. Quando existe liberdade de imprensa e a competio poltica aberta, os que prevaricaram podem ser penalizados pela opinio pblica e expulsos do poder pelos eleitores. Mas aquilo que gostaria de ressaltar que, entre o crime que geralmente no existe e o voto que por vezes no penaliza, h uma outra possibilidade. Naqueles pases que passaram por situaes traumticas na sua histria recente estabelecem-se muitas vezes comisses de reconciliao, ou outras instncias de justia de transio situadas para alm do foro criminal e da luta poltica. Para que funcionem bem, estas comisses tm de ser verdadeiramente independentes. No caso da anlise dvida portuguesa, uma comisso deste tipo teria de situar as nossas dificuldades no contexto europeu e mostrar que o problema est longe de ser exclusivamente portugus. Mas teria tambm de mostrar de que forma a despesa do Estado ficou fora de controle, tanto em Governos do PS como em Governos do PSD. Uma comisso desse tipo seria bem-vinda. Mas com gente sria e sem jotinhas. Andrea Comas/Reuters

Quem detm o poder endivida-se e quem paga so as geraes futuras. Mesmo quando no existe dolo, h aqui um problema bvio de responsabilidade poltica e injustia intergeracional.

Presidente Nuno Vasconcellos Vice-presidente Rafael Mora Administradores Paulo Gomes, Antnio Costa e Gonalo Faria de Carvalho Director Geral Comercial Bruno Vasconcelos Assinaturas 213 236 771 / 213 236 816 [email protected] Para mais informaes v a www.economico.pt Redaco Rua Vieira da Silva, n45, 1350-342 Lisboa, Telf. 21 323 67 00/ 21 323 68 00 - Fax 21 323 68 01 Delegao Porto Exponor- Feira Internacional do Porto 4450-617 Lea da Palmeira Porto Telf. 22 543 90 20 - Fax 22 609 90 68

[email protected] Antnio Costa Director-executivo Bruno Proena Subdirectores Francisco Ferreira da Silva, Helena Cristina Coelho, Pedro Sousa Carvalho Editores Executivos Gisa Martinho e Renato Santos Editor de Fecho Antnio de Albuquerque Grandes Reprteres Ana Maria Gonalves, Filipe Alves, Francisco Teixeira, Hermnia Saraiva, Lgia Simes, Lus Rego, Maria Teixeira Alves, Miguel Costa Nunes e Nuno Miguel Silva Destaque Mnica Silvares (Editora) Economia Marta Moitinho Oliveira e Mariana Adam (coordenadoras), Cristina Oliveira da Silva, Denise Fernandes, Lus Reis Pi-

res, Margarida Peixoto e Paula Cravina de Sousa Poltica Ins David Bastos (coordenadora), Catarina Duarte, Catarina Madeira, Mrcia Galro e Ana Petronilho Mundo Pedro Duarte (coordenador) e Brbara Silva Empresas Patrcia Silva Dias (coordenadora), Ana Baptista, Carlos Caldeira, Ctia Simes, Marina Conceio e Sara Piteira Mota Finanas Tiago Freire (editor), Alexandra Brito e Lus Leito (coordenadores), Catarina Melo, Maria Ana Barroso, Marta Reis, Marta Marques Silva, Rui Barroso, Sandra Almeida Simes e Tiago Figueiredo Silva Desporto Paulo Pereira (editor), Filipe Garcia (coordenador), Eduardo Melo e Alberto Teixeira (estagirio) Media Rebeca Venncio Universidades & Emprego Madalena Queirs (editora) Carla Castro (coordenadora), Andrea Duarte, Pedro Quedas Fora de Srie Rita Ibrico Nogueira (editora), Ana Filipa Amaro e Rita Saldanha da Gama (coordenadoras), Ins Queiroz e Lurdes Ferreira (secretariado), Ins Maia (paginao) Outlook Isa-

bel Lucas (editora), Joo Pedro Oliveira (coordenador), Antnio Sarmento, ngela Marques, Joana Moura e Cristina Borges (assistente) Projectos Especiais Irina Marcelino (editora), Ana Cunha Almeida (coordenadora), Drcia Lopes, e Raquel Carvalho Opinio Ricardo da Costa Nunes (editor) e Madalena Leal DE online Pedro Latoeiro (coordenador), Rogrio Junior (webdesigner), Cristina Barreto, Eudora Ribeiro, Mafalda Aguilar, Margarida Vaqueiro Lopes, Nuno Barreto e Rita Paz Infografia Susana Lopes (coordenadora), Mrio Malho e Marta Carvalho Fotografia Paulo Figueiredo (editor), Cristina Bernardo, Joo Paulo Dias, Paula Nunes e Paulo Alexandre Coelho Assistente de Direco Rita Rodrigues Secretariado Geral Dulce Costa Redaco do Porto Elisabete Felismino (coordenador), Antnio Freitas de Sousa, Elisabete Soares, Snia Santos Pereira e Mira Fernandes (secretria) Correspondentes Alfredo Prado (Brasil), Cristina Krippahl (Colnia) e Joo Francisco Pinto (Macau)

Tradutores Ana Pina e Carlos Sousa Departamento Grfico Paulo Couto (director de arte), Maria de Jesus Correia, Pedro Fernandes e Rute Marcelino (coordenadores), Ana Antunes, Carla Carvalho, Jaime Ribeiro, Patricia Castro, Sandra Costa e Vanda Clemente Exclusivos Corriere della Sera, El Mundo, Expansin e Financial Times Colunistas Antnio Correia de Campos, Antnio Bago Flix, Antnio Gomes da Mota, Antnio Ramalho, Carlos Marques de Almeida, Daniel Amaral, Daniel Proena de Carvalho, Fernando Gabriel, Francisco Murteira Nabo, Joo Adelino Faria, Joo Duque, Joo Ferreira do Amaral, Joo Marques de Almeida, Joo Paulo Guerra, Joaquim Ferreira do Amaral, Jos Eduardo Moniz, Jos Reis Santos, Marco Antnio Costa, Marta Rebelo, Miguel Coutinho, Nuno Cintra Torres, Paulo Lopes Marcelo, Pedro Ado e Silva, Raul Vaz, Vtor da Conceio Gonalves, Centro de Documentao Manuela Rainho

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4 Dirio Econmico Segunda-feira 31 Outubro 2011

DESTAQUE

DESTAQUE CRISE FINANCEIRA

ENTREVISTA JOS MARIA RICCIARDI Presidente do BES Investimento

Jos Maria Ricciardi recebeu o Dirio Econmico na sede do BES Investimento, em Lisboa.

Quem perde dinheiro a emprestar, dificilmente volta a emprestarO presidente do BESI considera que a Grcia corre o risco de ficar afastada dos mercados durante muito tempo.Pedro Sousa Carvalho e Filipe [email protected]

Como que um banqueiro olha para as concluses da cimeira de 23 de Outubro? Jos Maria Ricciardi aplaude o reforo do fundo de resgate, mas tem muitas dvidas sobre o futuro da Grcia. No que toca s decises para a banca, bastante crtico. Qual sua opinio sobre as decises da cimeira europeia? Sobre o aspecto do reforo do fundo de capitalizao da banca, que ainda est para se saber com quem ser feito, acho extremamente positivo. Sobre a questo da Grcia, ser positivo clarificar a situao, pois no h nada pior do que a falta de clareza, pois a incerteza ainda pior do que a m certeza. S que esta certeza mesmo muito m. Quem perde dinheiro a emprestar, dificilmente voltar a emprestar. Ser muito difcil Grcia voltar a financiar-se. Isso aconteceu com a Argentina h cerca de uma dcada e ainda hoje esse pas tem muita dificuldade em financiar-se nos mercados. Os bancos caram numa espcie de armadilha, por assim dizer, ao serem convencidos a emprestar dinheiro aos Estados e agora os governos tiram-lhes o tapete? No utilizaria a palavra armadilha, porque os bancos no foram obrigados a comprar dvida grega. Compraram porque supostamente os juros eram interessantes. O caso especfico da Grcia um pouco diferente. Os bancos no se podem desculpar de terem sido empurrados para aqui ou para ali Mas considera que a Grcia vai ficar muito tempo fora dos mercados? Isso no lhe consigo prever, mas acho difcil que os bancos, que perderam muito dinheiro com o valor que emprestaram, l voltem to cedo Isto passa-se num Pas como numa empresa ou numa famlia. E portanto,

resta saber como que, sem os mercados, a Grcia vai to cedo arranjar formas de se financiar e como que conseguir um desempenho que ponha a economia a crescer, nesta situao. Sem financiamento no h soluo para nenhum pas, incluindo o nosso, e portanto a Grcia s poder sair desta situao to difcil se conseguir financiamento. Isto uma opinio minha, pode estar errada, mas eu no vejo, com um prejuzo deste montante, como que o mercado l volta. E quanto s outras decises da cimeira? O reforo do fundo tem uma mensagem muito forte, que a de que o Euro tem de ser defendido, incluindo para os prprios

Ser muito difcil Grcia voltar a financiar-se. Isso aconteceu com a Argentina h cerca de uma dcada e ainda hoje esse Pas tem muita dificuldade em financiar-se nos mercados.

HD

No canal 16 da ZON e Meo, no canal 200 do Vodafone Casa TV, Optimus Clix e na posio 9 da Caboviso

alemes, que j compreenderam que tambm tm muito a ganhar com isso. J interiorizaram que o euro foi um belssimo negcio para eles. Sem euro teramos provavelmente um marco mais valorizado e uma peseta, um franco ou um escudo menos valorizado e isso traria facilidades de competitividade a estas economias e dificultaria as exportaes alems, mesmo com a sua produtividade. Com o euro, o que aconteceu, foi exactamente o contrrio: foi uma moeda que ficou barata para os alemes e carssima para os outros pases com economias menos competitivas. Basta ver que a maioria das exportaes dos alemes so para a Zona Euro e que bastou a Zona Euro comear a ter problemas para o PIB da Alemanha desacelerar consideravelmente A mim, o que me parece muito complicado resolver um problema to difcil com dois lderes que esto to fragilizados nos seus pases. Refere-se a Merkel e Sarkozy Se fossem dois lderes acabados de eleger em eleies democrticas, com grandes maiorias, estariam em melhores condies para tomar certas decises mesmo que elas fossem, ainda que a curto prazo, relativamente duras para os prprios pases, europeus, do que na situao em que esto hoje, fragilizados. Portanto, a cimeira teve aspectos positivos, mas tem dvidas sobre o futuro da Grcia... Esta cimeira teve a vantagem de, em certos aspectos, mostrar o empenho na sustentao do Euro, no reforo que se vai dar ao fundo de capitalizao e de clarificao em relao situao da Grcia. Mas que tem, em minha opinio, dois pontos que podem ser complicados. Um, como que os mercados, depois de perderem metade da dvida da Grcia, vo lidar com a Grcia no futuro. E o segundo que este aspecto da alterao das regras de contabilizao da dvida soberana de uma forma retroactiva.

Mandato do BCEO presidente do BESI defende que no pelo facto de os bancos se capitalizarem que vo ter ratings superiores.

Esta nova soluo que foi encontrada no contempla nada que ajude a libertar liquidez dos bancos para darem dinheiro economia. Concorda? Isso uma das perguntas mais importantes e vou explicar porqu. Quando vm alguns opinion makers dizer que se os bancos forem capitalizados os mercados vo-se abrir esto a mentir! Porque os bancos no podem, e sobretudo numa altura igual a esta, ter um rating superior ao da Repblica. E enquanto a Repblica continuar a ter os ratings que tm algumas agncias j nos puseram num nvel inferior ao do in-

vestment grade, ou seja, j estamos no chamado junk ou lixo - no pelo facto de os bancos se capitalizarem que vo ter ratings superiores. Isso passase em Frana, na Inglaterra, ou Espanha - onde os ratings das suas repblicas ou reinos com triple A - onde os bancos, se forem capitalizados, podem ter um rating perto do da respectiva repblica ou reinado. No caso portugus, isso no abre os mercados para os bancos. uma pura falcia vir com essa conversa. Sendo uma pura falcia, no resolve o problema. Porque se se reabrissem os mercados, obviamente o problema de liquidez comeava a resolver-se. No reabrindo os mercados, o problema de liquidez, que o fundamental para a economia portuguesa, fica por resolver. E o que preciso nesta altura

Segunda-feira 31 Outubro 2011 Dirio Econmico 5

PONTOS-CHAVE

Jos Maria Ricciardi diz que mesmo que os bancos em Portugal sejam recapitalizados no vo conseguir ter um rating superior ao da Repblica.

No se trata de uma ameaa, mas o presidente do BESI avisa que nas novas emisses de dvida, os bancos vo interrogar-se se vale a pena investir em dvida pblica.

Ricciardi sugere uma renegociao do programa da troika: prazos, taxas e se calhar de algum dinheiro adicional para poder acorrer s empresas pblicas.

Paulo Figueiredo

Mark to market da dvida abrir caixa de PandoraRicciardi diz que o mark to market da dvida soberana pe em risco novos emprstimos ao Estado.

devia ser alteradopara a economia mais liquidez e no tanto capital, certo? Muita gente nem sequer consegue perceber a diferena entre capital e liquidez. O capital, como os ingleses lhe chamam, um buffer, uma almofada para fazer face aos riscos que os bancos incorrem na sua actividade. Dou um exemplo simplista: se eu emprestar 100 euros a uma entidade e se essa entidade for falncia ou no me conseguir pagar ou s me pagar metade, se eu no tivesse capital, eu tinha de ir buscar os 50 que tinha pedido aos depositantes. Isto numa viso simplista. O capital existe exactamente para ser o amortecedor e uma garantia que aqueles que esto do lado do passivo do banco, aqueles que emprestam dinheiro ao banco, seja atravs de depsitos, seja atravs de outros instrumentos que os bancos tm ao seu dispor para se financiar, no se prejudica com isso. E como que se consegue isso? A minha opinio que o mandato do BCE devia ser alterado. Penso que isso envolve alteraes aos tratados e penso que se devia fazer com que os critrios para fornecer liquidez, seja pelo BCE, seja pelo Banco de Portugal, fossem alterados no caso de pases como Portugal para que os bancos conseguissem aumentar a sua capacidade de financiar a economia real. No vamos mais longe. Nos EUA, o Fed tem esse mandato. Quando houve a crise da falncia do Lehman, o Fed chegou ao p dos bancos norteamericanos e forneceu-lhes a liquidez toda, com critrios de colaterizao ou de redesconto muito mais latos, com a condio de os bancos continuarem a fornecer liquidez economia a um ritmo razovel para no deixar a economia afundar, para no haver um credit crunch. Depois, quando os mercados normalizaram, eles devolveram a liquidez e foram retomar os activos que tinham l posto ou colaterizado. P.S.C. e F.A.

Uma das medidas que saiu da cimeira e que mais afecta o sector da banca a obrigatoriedade de os bancos fazerem o mark to market da dvida soberana. Ou seja, de a contabilizarem a preos de mercado, o que vai obrigar o sector a ter de reforar os capitais para cobrir o reconhecimento das perdas do investimento feito em dvida dos pases perifricos, incluindo Portugal. O presidente do BESI diz que insuspeito a falar sobre o assunto, j que o BES no se prejudicou com isto, porque s tem dvida portuguesa de curto prazo. Portanto sou insuspeito em dar esta minha opinio. E a opinio de Ricciardi sobre o mark to market bastante critica. Primeiro explica o mecanismo: Os bancos no s tero reforar os rcios de capital como ainda reconhecer os ttulos de dvida soberanos e isto ainda no est tecnicamente definido, se s para efeitos de capital ou se lanado na conta de resultados. Os bancos tm dois livros - o trading book e o banking book - sendo que o segundo um livro de longo termo, onde colocada dvida que no para negociar, ou seja, para manter at maturidade. E, portanto, considerava-se que mesmo que o preo dessa dvida oscilasse no mercado, como ia at maturidade, os bancos no precisavam de fazer nenhum ajustamento. E agora de repente, necessrio mudar toda esta estrutura que est considerada h anos e que tem uma razo de ser.... A seguir vm as crticas: Se e a partir de agora a Europa comear a crescer, os bancos engolem este ajustamento... mas se no

Quando vm alguns opinion makers dizer que se os bancos forem capitalizados os mercados vo-se abrir, esto a mentir!

As novas regras j estavam previstas em Basileia III, embora de forma faseada at 2019. Ricciardi inventou uma denominao curiosa: Basileia 2,5. E deixa o alerta: O impacto de uma s vez perigoso.

for possvel e tivermos de fazer novos ajustamentos de capital, esta caixa de Pandora pode fazer com que, perante, novas emisses de dvida, os bancos se interroguem se vale a pena investir em dvida pblica. E agora quem que financia isso? Estamos em presena de financiamentos avultadssimos em grandes economias europeias... falo j de duas, que o caso da italiana e da espanhola. E a deciso de fazer o mark to market tem por detrs uma certa perverso do conceito de risco e maturidades. Aqueles bancos que optaram por ter em carteira dvida de mais longo prazo, em detrimento do curto prazo, so os mais prejudicados pelas novas regras. E a sentena de Ricciardi: Faz com que se prejudiquem os bancos que investiram a longo prazo, porque so os que levam os ajustamentos maiores. Enquanto os outros como o nosso caso, do BES o impacto foi menor. Ora isto o inverso do que a Europa precisa.... E porque que o BES, entre os grande bancos nacionais, o menos penalizado? O Presidente do BESI e administrador do BES explica: Porque se entendeu, na gesto financeira, que do ponto de vista do risco que o banco estava a tomar, esta era a melhor opo que se podia tomar. Foi uma opo da gesto financeira do banco, corporizada no nosso CFO, o Dr. Amlcar Pires. De facto, no quero fazer auto-elogios do BES, mas significa que foi uma boa opo. Mas muitas dessas regras novas j estavam previstas em Basileia III, embora de forma faseada at 2019... Ricciardi inventou uma denominao curiosa: Basileia 2,5. E deixa o alerta: O impacto de uma vez que perigoso. Digerir isto gradualmente muito mais gervel, at porque at 2019 muitos desses emprstimos que esto agora a ser considerados, muitas dessas dvidas soberanas j se teriam vencido. Portanto, perante isso no haveria que fazer qualquer imparidade. E no final uma dvida, ou melhor, uma palavra de esperana: Eu acho que passar-se a contabilizar a valor de mercado tem esse efeito perverso. S no ter se isto for considerado uma espcie de uma limpeza, em que passamos o conta-quilmetros a zero e partimos para uma nova etapa em que isto no volta a acontecer. Para isso preciso ter um ambiente de crescimento... P.S.C e F.A.

6 Dirio Econmico Segunda-feira 31 Outubro 2011

DESTAQUE

DESTAQUE CRISE FINANCEIRA

ENTREVISTA JOS MARIA RICCIARDI Presidente do BES Investimento

fcil bater nos bancos. Isso desculpa muita incompetnciaO presidente do BES Investimento, Jos Maria Ricciardi, diz que a soluo para crdito economia passa pelo alargamento do prazo da desalavancagem.Pedro Sousa Carvalho e Filipe [email protected]

Ricciardi defende que s h um caminho para financiar as empresas pblicas e a economia: renegociar com a troika. Mas para isso preciso cumprir risca a austeridade. Em relao s empresas pblicas, acha que existe alguma soluo para que o Governo pague as dvidas banca? Eu j vi notcias a dizer que algum do Governo disse que no preciso dinheiro adicional para as empresas pblicas. Eu no vejo como? Acho que preciso. Posso estar a ver mal, mas acho que a sada para estes problemas das empresas pblicas Portugal ser de tal maneira cumpridor e disciplinado no programa que est a implementar infelizmente com consequncias sociais duras para conseguir com isso ganhar credibilidade suficiente para renegociar o pacote que foi negociado. E a estamos a falar de prazos, taxas e se calhar de algum dinheiro adicional para poder acorrer s empresas pblicas. Uma soluo de renegociao seria estender o prazo de desalavancagem dos bancos? Tambm, mas para alm disso h tambm esse travo que os bancos terem de atingir num espao curto de tempo uma desalavancagem forte, o que limita bastante o crescimento do crdito. claro que, ao contrrio da Grcia e da Irlanda, os depsitos em Portugal tem crescido. E isso ajuda consideravelmente em no ter de se descer o

Passou-se a bater nos bancos. politicamente uma forma oportunista, demaggica e fcil de utilizar para desculpar as suas incompetncias. S se fala dos bancos. E ainda por cima em Portugal, eles no tm qualquer responsabilidade na situao a que chegamos. Sada para os problemas das empresas pblicas Portugal ser de tal maneira cumpridor para conseguir renegociar o pacote com a troika. Estamos a falar de renegociar prazos, taxas e se calhar de algum dinheiro adicional para poder acorrer s empresas pblicas.

crdito porque melhora o rcio pelo crescimento dos depsitos. E os portugueses, de facto, tm poupado mais e tem acreditado na banca portuguesa. O que no o caso da Grcia onde a sada de depsitos tem sido colossal e da prpria Irlanda. Eu acho que esta questo dos depsitos fundamental, mas se a gente conseguir alargar o prazo da desalavancagem, isso vai ajudar a que se possa aumentar a capacidade acorrer economia real e s pequenas e mdias empresas. O Governo tem mostrado abertura nesse sentido? Isto no o Governo. Isto um aspecto da negociao que se fez com a troika. Chegar a 2014 com um rcio, no mximo, de 120%. E portanto, semelhana de outras coisas ter de ser renegociado o alongamento do prazo para poder permitir que os bancos ganhem outra capacidade na concesso do crdito. H bancos estrangeiros que esto a cortar o crdito s empresas pblicas e nestes casos tm sido os bancos portugueses chamados para substituir esses emprstimos. Sabe se h tambm casos de empresas privadas onde isto est a acontecer? Eu no vou-lhe falar de casos especficos. Mas h casos porque para as empresas privadas tambm caiu o rating. E os bancos estrangeiros tm um conjunto de regras que a partir de certos ratings no renovam os emprstimos. E portanto, uma parte do dinheiro das empresas pblicas para, de facto, para pagar aos bancos estrangeiros. Mas tambm tem impacto nos bancos portugueses. Mas com o agravar da crise,

muitos bancos estrangeiros abandonaram o barco. Os bancos portugueses tm de desalavancar at 2014, tm que emprestar dinheiro s empresas pblicas, tem que ter mais requisitos de capital. O que eu pergunto como que se empresta dinheiro economia real? Como que se faz esse passe de mgica? E nenhuma economia cresce sem uma banca forte? Sim, por mais que no gostem dos bancos, e eu percebo que seja fcil bater nos bancos, e eu at j tive a oportunidade de dizer que os polticos arranjaram j uma explicao para tudo que est mal que os bancos, S se fala dos bancos. Eles no tm qualquer responsabilidade na situao a que chegamos. E ainda por cima em Portugal. No caso da Irlanda at foram os bancos. Agora no caso de Portugal foi exactamente o contrrio. Os bancos que esto a sofrer a quebra do rating da repblica. Porque os bancos portugueses, qualquer um deles, se estivesse noutra repblica, com o seu perfil actual, teriam um rating muito melhor. Mas pronto, passou-se a bater nos bancos. fcil, desculpa muita incompetncia e arranja-se uma entidade, que vista politicamente com grande desconfiana. politicamente uma forma oportunista, demaggica e fcil de utilizar para desculpar as suas incompetncias. Ora os bancos em qualquer parte do mundo so o corao de uma economia. Se os bancos, sejam quais forem, no tiverem oportunidade de financiar a economia, pra tudo.

Fuso da banca em Portugal seria uma asneira tremendaO Presidente do BESI diz que juntar bancos nesta altura no resolve nada e prejudicial concorrncia. E deixa uma alternativa: a banca deve apostar na internacionalizao. Acha que devia haver fuses na banca portuguesa? No, acho uma asneira tremenda. Porque os bancos portugueses tm que usar os meios que tiverem ao seu alcance para aumentarem os nveis de internacionalizao e no para estarem a consolidar-se. Primeiro porque comeava-se a criar um problema de concorrncia: temos cinco bancos em Portugal que dominam praticamente a totalidade do mercado. As nossas reformas estruturais, exigidas pela troika, para que em todos os sectores se aumente a concorrncia e no se diminua. E alm disso, num mercado como este, nesta altura estar a fazer fuses no adianta absolutamente nada. Juntar dois bancos com rcios baixos no cria propriamente um banco com o rcio alto. No. Eu acho que a funo dos bancos portugueses tentarem internacionalizar-se. Ns apresentmos os nossos resultados e, no quero agora errar, mas cerca de 90% dos nossos resultados foram conseguidos na nossa actividade internacional. O que preciso reforar isso nos locais onde temos valor acrescentado como o caso da Amrica latina, da frica e da prpria sia onde tambm temos relaes histricas importantes. Portugal tem essa vantagem de ter esta relao com muitos pases importante no mundo h muito tempo. Portanto, essa a estratgia que eu daria a um banco portugus e no andar a consumir-se em fuses dentro de um mercado que est com as dificuldades. muito mau para toda a gente, incluindo para os bancos. Com a recapitalizao dos bancos, acha que corremos o risco de uma estatizao da banca portuguesa? Ainda no saiu a regulamentao da utilizao dessa linha para os bancos. O que dito, e o que a gente houve, que sero aces preferncias, sem direito a voto, e que o Estado no ir para a gesto dos bancos. Pedindo naturalmente que, enquanto os dinheiros dos contribuintes estiverem nesses bancos, no haja a distribuio de dividendos nem bnus aos seus gestores. Estou expectante a ver o que isso vai dar. P.S.C e F.A.

Jos Maria Ricciardi conseguiu colocar o BESI em segundo lugar no ranking de M&A no Brasil.

Segunda-feira 31 Outubro 2011 Dirio Econmico 7

Paulo Figueiredo

BES quer evitar capitalizao com dinheiro dos contribuintesO banco no pretende recorrer, para j, linha de capitalizao da troika, porque acredita que conseguir reforar o capital por meios prprios.

A Europa, com as novas regras, est a empurrar os bancos para a linha de recapitalizao dos 12 mil milhes, o que dever implicar a entrada do Estado na estrutura accionista de alguns bancos. Mas para o Grupo Esprito Santo esta no , para j, uma opo. E Jos Maria Ricciardi explica porqu: J foi dito publicamente que no inteno do banco... enfim, h um conjunto de circunstncias em aberto que no nos deixa dizer de forma peremptria que no o faremos, mas nossa inteno firme no o fazer. Ns achamos que para a nossa estratgia, para o nosso futuro, temos de evitar a capitalizao com o dinheiro dos contribuintes. S sairemos a ganhar se evitarmos essa soluo. E se tiver que ser? Se tiver que ser Ricciardi diz que evidente que se voc disser, que a alternativa entre ter insuficincia de capital ou ter dinheiro do Estado no capital, qual a menos m? evidente que a segunda. Mas para ns no a soluo que ns procuramos. E qual ento o caminho para evitar esse accionista indesejado? Para o BES a soluo passa por aumentar a base dos accionistas, sem perder o controlo do banco. O administrador do BES lembra que o ncleo duro accionista, tal como disse o Dr. Ricardo Salgado, j respondeu a sete aumentos de capital e ser tambm graas a ele que contamos poder ultrapassar toda esta fase final sem ter de recorrer a dinheiro do Estado. Mas se pudermos trazer novos accionistas para a base do banco e acrescentar mais accionistas isso para ns extremamente positivo. Actualmente, os accionistas de referncia do BES so a BESPAR (40%) e o Crdit Agricole (20%) e Jos Maria Ricciardi nem sequer encara a possibilidade de perder o controlo do grupo: Voc pode alargar o nmero de accionistas sem perder a participao relativa que tem no banco. E como ns dissemos, ns vamos agora ter uma transformao de dvida em capital, que no sabemos qual ser o nvel de adeso esperemos que seja alto e depois tambm faremos um aumento de capital. E s depois de tudo isso estar decidido e feito que poderemos fazer as contas finais. Sobre o negcio da banca de

investimento, o Presidente do BESI tambm est optimista. Diz que o BESI tem mostrado grande resilincia no seu produto bancrio e mesmo fazendo menos crditos nalgumas regies do mundo, noutras est a fazer mais, como o caso do Brasil. Apesar da recente aposta na internacionalizao do grupo Hong Kong, Mumbai, frica o Brasil um dos mercados mais acarinhados pelo BESI. No Brasil tambm temos crescido muito na actividade de crdito especializado dos bancos de investimento: os crditos sindicados, os estruturados, os project finance, etc. E recorda, com especial orgulho, que no Brasil, no primeiro semestre, em montante, no em nmero de operaes, o BESI ficou em segundo lugar no ranking das M&A. S fomos batidos pelo Citibank. Garanto-lhe que se lhe dissesse h uns anos que o banco ia ficar num semestre em segundo lugar num pas da importncia do Brasil, numa das actividades core da banca de investimento que o M&A, diziam para me internarem num hospcio que eu tinha enlouquecido. P.S.C e F.A.

evidente que se voc disser, que a alternativa entre ter insuficincia de capital ou ter dinheiro do Estado no capital, qual a menos m? evidente que a segunda. Mas para ns no a soluo que ns procuramos. Ns vamos agora ter uma transformao de dvida em capital, que no sabemos qual ser o nvel de adeso esperemos que seja alto e depois tambm faremos um aumento de capital.

8 Dirio Econmico Segunda-feira 31 Outubro 2011

DESTAQUE

DESTAQUE CRISE FINANCEIRA

BES, BPI e Santander Totta perdem mais de 600 milhesA queda de receitas e o aumento das provises prejudicaram as contas dos bancos.Maria Ana [email protected]

Nos fundos de penses da banca o capital para pagar as reformas foi acumulado e existe, tir-lo um confisco, disse Fernando Ulrich sobre os reformados da banca que vo passar para o Estado e que sofrero os mesmo cortes da Funo Pblica.

RESULTADOS DO BPIOs banco liderado por Ulrich apresentou as contas na 6feira.3T2011 101,5 442 219,7 22.900 Var. -29,80% -9,80% -6,40% 5% -3,98% -4,80% 0,60% + 0,8 pp -11p.p.

vertiginosa a queda dos resultados dos bancos nos primeiros nove meses de 2011. Em doze meses, ou seja, de Setembro de 2010 a Setembro deste ano, BES, BPI e Santander Totta, trs das maiores instituies do mercado, perderam mais de 600 milhes de euros em lucros. Para a queda de 67% quase tudo ajudou. De positivo houve, em algumas instituies, o contributo internacional, que ajudou a equilibrar as contas. Entre os problemas de liquidez hoje existentes, a urgncia de cumprir as metas da troika, o menor volume de negcio da resultante, para o qual contribuiu tambm a negativa conjuntura econmica, e a necessidade de reforar em alguns casos provises, no tem fim a lista de justificaes para a perda de 605 milhes de euros em Setembro. O resultado uma rentabilidade dos capitais prprios que vai caindo a pique. O return on equity mdio dos trs bancos, que na ltima semana divulgaram contas, de 3,46%, com dois deles, BES e Totta, a apresentarem rcios de cerca de 2%. A actividade internacional salvou a honra do convento ao BES e ao BPI, que em Portugal quase nada ganharam ou at perderam no terceiro trimestre do ano. O banco liderado por Ricardo Salgado teve mesmo, no trimestre, um prejuzo de mais de 60 milhes na operao domstica e o BPI ganhou quase zero, ou seja, um milho de euros. No caso do banco liderado por Ricardo Salgado, nem a actividade internacional impediu que no perodo entre Julho e Setembro, a instituio registasse um prejuzo global de cerca de 18 milhes de euros. Ainda assim, olhando para os nove primeiros meses do ano, o

Lucro Mg.Financeira Comisses Depsitos

Crdito 28900 Provises 142,9 Malparado 2,50% Core Tier 1 9% R.Transformao 115%Fonte: BPI valores em milhes de euros

RESULTADOS DO SANTANDER TOTTAO Banco liderado por Nuno Amado viu os lucros carem 83%3T2011 60,2 438,1 268,3 15.256 31.026 9,60% Var. -83% -20,80% -0,50% 12,80% -12,60% 2,40% 0,46 pp -49,7pp

Lucro Mg.Financeira Comisses Depsitos Crdito Core Tier 1

Provises 152,8 Malparado 1,84% R.Transformao 145%Fonte: Santander Totta valores em milhes de euros

RESULTADOS DO BESAs provises do banco subiram 88,3% em Setembro.Lucro Mg. Financeira Comisses Depsitos 3T2011 137,8 874,2 598,2 33.854 Var. -66% -2,10% -1,10% 13,10% -1,40% 0,2 p.p. 88,30% 0.70p.p. -25 p.p.

Crdito 52.033 Core Tier 1 8,10% Provises 660,7 Malparado 2,6% R.Transformao 146%Fonte: BES valores em milhes de euros

Totta no vai recorrer ajuda do EstadoO Santander Totta lucrou 60,2 milhes de euros nos primeiros nove meses do ano, menos 83% que em igual perodo do ano passado. O banco, que tal como o BPI (ver texto ao lado) apresentou resultados na sexta-feira, viu os seus lucros afectados pela quebra de receitas, pelas menos-valias na venda de carteira de crdito e pela constituio de provises extraordinrias. Sem as no recorrentes menos-valias e provises extraordinrias, o lucro teria sido 141,4 milhes, menos 49,4% que em Setembro de 2011, diz a instituio. A propsito das medidas da troika, o seu presidente, Nuno Amado, garante que o banco no pretende utilizar a ajuda do Estado e explica que, quanto s novas medidas para a banca europeia, o Totta no ser afectado, uma vez que os requisitos e metodologia do EBA so aplicveis s holdings dos grupos. Ainda ao Econmico, o responsvel diz que este novo pacote europeu de medidas tem o mrito de contrariar a incerteza e de definir um quadro de referncia para a actividade econmica, para os mercados e para a banca.

BES foi quem mais ganhou no exterior (130,9 milhes), o que no final permitiu um lucro de 137,8 milhes, menos 66% que em igual perodo do ano passado. O BPI lucrou 101,5 milhes, com a ajuda dos 68,7 milhes de Angola e Moambique, tendo registado uma descida de resultados de 29,8%. Ao Totta valeu-lhe ter sido de longe o que mais resultados teve em Portugal mas o facto de no poder contar com lucros com significado vindos do exterior ajudou ao tombo de 83% para os 60,2 milhes de euros. A queda de receitas, nomeadamente a margem financeira, e o reforo de provises, sobretudo para crdito, prejudicaram as contas das instituies. Em termos de balano, a evoluo reflecte as dificuldades de liquidez do sector e a necessidade de cumprir as exigncias da troika, que pede aos oito maiores bancos nacionais que atinjam em 2014 um rcio de transformao de 120%. O esforo de captao de poupanas reflectiu-se num crescimento geral nos depsitos (sobretudo Totta e BES). No crdito todos baixam. Em resultado, os rcios de crdito/depsitostmvindoaminguar a olhos vistos. O BPI j est mesmo abaixo dos 120% pedidos, com 115% de rcio, o BES baixou em um ano de 171% para os 146% e oTottados194,7%paraos145%. Outra meta a cumprir a de terminar 2011 com 9% de core tier 1. Totta e BPI j l esto (9,6% e 9%, respectivamente) e o BES est com 8,1% de rcio, mas tem prevista uma oferta de troca de emisses para reforar os fundos prprios. Para o ano, todos tero de chegar aos 10% de core tier 1. Entretanto, as novas exigncias da EBA, a autoridade bancria europeia, obrigaro a novos e considerveis ajustes, j que os bancos europeus submetidos a stress tests (caso do BPI neste grupo de trs) tero de avaliar a preos de mercado as suas carteiras de dvida soberana detidas a 30 de Setembro e reforar capitais no montante necessrio at Junho de 2012. Quanto ao recurso ao BCE, a recomendao das autoridades internacionais a de que se reduza o financiamento obtido junto do banco central e assim foi no caso do Totta e do BPI. O primeiro cortou para metade o recurso a bancos centrais e o segundo reduziu em cerca de meio milho. No BES, houve uma subida paramaisdoqueodobro. Esta semana, ser a vez de, na quarta-feira, o BCP apresentar as suas contas, depois do fecho do mercado.

Ulrich critica novas exignciasO presidente do BPI critica a penalizao da dvida pblica e do crdito a autarquias. Maria Teixeira [email protected]

Fernando Ulrich voltou ontem a deixar nas entrelinhas o seu desagrado em relao s medidas europeias de reforo de capital nos bancos. O presidente do BPI disse esperar que a deciso europeia de recapitalizao dos bancos tenha sucesso e leve a um aumento do rating das instituies de crdito e ao regresso dos investidores aos mercados de dvida desses bancos. Um tom de cepticismo atravessou o discurso de Ulrich na apresentao dos resultados trimestrais onde o BPI registou uma queda de lucros de 29,8%. O BPI precisa de 1,7 mil milhes de euros, entre a avaliao de dvida soberana a preos de mercado e as imparidades im-

postas no crdito s autarquias. Quando questionado se o BPI no se arrepende de ter investido tanto dos seus capitais em dvida pblica, sobretudo portuguesa (2,73 mil milhes de euros), Ulrich respondeu que fez os investimentos luz dos critrios de prudncia da altura. Mas no trocava esta carteira de activos do BPI pela de outros bancos que tm dez mil milhes de euros de crditos construo e actividades imobilirias. No quero criticar os outros bancos, quero criticar os reguladores, porque considero que no faz sentido nenhum o BPI levar um impacto de 40% no seu crdito a autarquias. O banqueiro est convencido que, no caso do BPI, o nico, entre os ttulos soberanos, em que vai registar perdas na Grcia (276 milhes). O CEO recusouse a avanar se vai continuar a investir em dvida pblica, o que no tem feito nos ltimos trimestres.

31 Outubro 2011 Dirio Econmico 9

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Paula Nunes

de capitalO BPI admite estar a analisar todas as alternativas para aumentar o capital para os 9% em Junho de 2012 de acordo com as exigncias da EBA. O que pode passar por aumentos de capital, por uma OPT da sua carteira de aces preferenciais, e pelo recurso linha dos 12 mil milhes do Estado. Neste momento, o BPI j cumpre o rcio da troika de 9%, incluindo o abatimento de 100,8 milhes de desvalorizao de 21% no valor da dvida grega, imposto pelo BdP. O presidente do BPI diz ainda que pode vir a registar-se um credit crunch na economia portuguesa por conta da exigncia dos bancos terem de cumprir um rcio de transformao de depsitos em crdito de 120% at 2014. O BPI j cumpre este rcio pois tem 115%. Apesar das crticas exigncia de capital Ulrich defendeu que as medidas tomadas na cimeira europeia so globalmente positivas para a zona euro.

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10 Dirio Econmico Segunda-feira 31 Outubro 2011

DESTAQUE CRISE FINANCEIRA

Bancos enfrentam uma mo cheia de alternativas para fortalecer capitalA nacionalizao da banca est longe de ser a nica opo dos bancos para cumprirem com os novos rcios.Lus [email protected]

1 DE ACTIVOS VENDAE DINHEIRO DE ACCIONISTAS

As necessidades de capital dos quatro bancos portugueses analisados pela autoridade europeia do sector (EBA) ascendem a 7.804 milhes de euros. De acordo com a EBA, este montante ter de ser angariado at Junho de 2012 e, para esse efeito, os bancos podero recorrer linha pblica de recapitalizao da banca no valor de 12 mil milhes de euros, prevista no programa de assistncia financeira da troika a Portugal. Fontes contactadas pelo Dirio Econmico salientam que existem vrias formas para tornar este instrumento uma realidade, desde a tomada de uma posio accionista por parte do Estado emisso de obrigaes subordinadas ou convertveis. Mas uma coisa parece certa: antes de ser accionada a linha de apoio banca, os banqueiros devero estudar todas as outras alternativas viveis, como a venda de activos ou mesmo, e por mais complicado que isso seja neste momento, chamar os seus accionistas a participarem num aumento de capital.

A alienao de alguns activos activos, como j anunciou a Caixa (que pretende privatizar parte da Caixa Seguros e Sade) e o BCP (que admite alienar as suas operaes na Polnia), ser sempre o primeiro passo dos bancos para suprimirem as necessidades de financiamento. Todavia, face aos valores avanados pela EBA e ao perodo actual dos mercados, esta alternativa, tal como contar com os accionistas de referncia para participarem em mais um aumento de capital, no dever chegar para evitar recorrer a outras opes.

em aces. As consequncias desta operao consistem, fundamentalmente, em perda do peso dos accionistas actuais e poder at levar entrada de novos accionistas. Tem a vantagem de evitar ou reduzir a presena do Estado no banco.

4 DE OBRIGAES EMISSOSUBORDINADAS

3 DE ACES EMISSOPREFERENCIAIS

2 TRANSFORMAO DA DVIDASUBORDINADA EM ACES

Esta soluo foi avanada pelo departamento de research do RBS, no contexto europeu. Seguindo esta opo, os bancos resolvem dois problemas de uma vez: reduzem o passivo (pois eliminam do seu balano as obrigaes) e aumentam o capital, por troca das obrigaes

A alternativa mais imediata, mas menos desejada pelos banqueiros, poder passar pela emisso de aces preferenciais que seriam adquiridas pelo Estado, ficando este como principal accionista dos bancos e com um controlo da gesto. Na prtica, esta operao, mesmo que fosse por um perodo temporrio, significaria uma nacionalizao da banca, com todas as consequncias que essa deciso acarreta. Nomeadamente polticas. Mas tambm em termos de estrutura accionista, dado que esta operao iria tambm traduzir-se numa perda de poder dos accionistas actuais na estrutura dos bancos, que veriam a sua posio diluda pela emisso destas novas aces.

Uma segunda via para dar uso linha de capitalizao da banca poder passar pela emisso de obrigaes perptuas subordinadas, por exemplo: os bancos ficam satisfeitos, porque no tm de ter o Estado como accionista e recebem dinheiro suficiente para garantir os rcios de capital e suprimir as necessidades de capital. Alm disso, no criam quezlias com os accionistas actuais, dado que esta operao no dilui a sua participao no capital. O Estado consegue gerar um ganho pelo recebimento de uma taxa de cupo confortvel das obrigaes. Porm, tem um custo poltico pois, ao adquirir obrigaes subordinadas, mais uma vez, o Estado fica atrs dos investidores institucionais na eventualidade dos bancos no pagarem, pois tratam-se de obrigaes subordinadas (so reembolsadas em ltimo lugar em caso de incumprimento do emitente).

5EMISSO DE OBRIGAES CONVERTVEIS

A capitalizao dos bancos pode tambm ser garantida pela emisso de obrigaes convertveis. Com esta operao, os bancos conseguem obter o financiamento, no colocam o Estado no conselho de administrao e os accionistas actuais no perdem peso na estrutura do banco. Do ponto de vista do Estado, esta alternativa no acarreta o peso poltico das obrigaes subordinadas, pois o Estado est a assumir um prazo para trocar os ttulos de dvida (obrigaes) por aces num prazo futuro, e ainda poder ter um ganho com a venda dos aces na maturidade das obrigaes, alm de receber o cupo dos ttulos de dvida ao longo deste perodo. O sucesso desta operao estar sempre dependente do rcio de converso das obrigaes por aces (que dever ser sempre feito com um prmio face ao valor actual das aces). Recorde-se que este foi, em grande medida, uma das opes seguidas pelo Tesouro norteamericano e britnico junto dos seus bancos, no rescaldo da crise do subprime. Yiorgos Karahalis/Reuters

Os principais ndices accionistas da Europa fecharam na sexta-feira em terreno negativo, com desvalorizaes inferiores a um por cento, enquanto a yield das obrigaes do Tesouro a 10 anos dos pases intervencionados pela troika corrigiram.

PLANOS DA BANCA NACIONAL QUE J ESTO A DECORRER

A CGD enfrenta necessidades de capital de 2.239 milhes mas o nico banco que no pode recorrer linha de apoio de 12 mil milhes. Assim, a Caixa ir alienar a Caixa Seguros e Sade e talvez outros activos. O ltimo reduto via a realizao de um aumento de capital com a contribuio do nico accionista do banco: o Estado.

As necessidades de capital do BES so as mais baixas entre os quatro bancos: 687 milhes. O montante dever ser garantido pela concretizao da operao de troca de obrigaes perptuas por aces no valor mximo de 791 milhes de euros seja um sucesso, que dever ser aprovada em assembleia-geral de accionistas extraordinria a 11 de Novembro.

O BCP lidera nas necessidades de capital da banca (2.361 milhes). Para suprimir esta situao, o BCP j referiu que quer vender as suas operaes na Polnia e no descarta recorrer aos 12 mil milhes. Santos Ferreira disse que se necessrio recorrer a todos os instrumentos disponveis.

O BPI enfrenta necessidades de capital de 1.717 milhes de euros. Fernando Ulrich ainda no deu indicaes sobre que medidas tomar. Mas, o Econmico sabe que o BPI estar a estudar a colmatar parte das necessidades de capital pela troca de 227 milhes de euros de aces preferenciais por equity.

O Santander Totta o nico que j tinha rcios acima dos nveis exigido pela troika. Nesse sentido, Nuno Amado disse que no pretende usar a ajuda do Estado para reforar o seu capital. Todavia, poder ocorrer a alienao de carteiras de crdito ou outros activos para reforar o rcio de capital do banco em 2012.

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12 Dirio Econmico Segunda-feira 31 Outubro 2011

DESTAQUE

DESTAQUE CRISE FINANCEIRA

Passos Coelho vai propor reajustamento da dvida em NovembroPrimeiro-ministro quer concertar medidas de reajustamento com PS. Socialistas criticam Passos Coelho.Ana [email protected]

Pedro Passos Coelho admite que Portugal vai propor troika, durante o ms de Novembro, algumas alteraes ao plano de ajuda financeira externa para financiar as empresas pblicas. As negociaes vo ter como objectivoencontrar solues de maior flexibilidade afirmou no final da XXI Cimeira IberoAmericana no Paraguai. Tal como tinha revelado na Conferncia do Dirio Econmico pretende garantir-se um financiamento mais adequado economia portuguesa. Medidas que Pedro Passos Coelho espera conseguir concertar com o PS. No entanto, o secretariado nacional dos socialistas acusa o primeiro-ministro de revelar um preocupante voluntarismo ao anunciar sem qualquer enquadramento institucional ou consulta prvia a inteno de ajustar junto da troika o acordo de assistncia financeira a Portugal. O principal partido da oposio diz que estranha o momento e o local escolhido para esta declarao, por parte do primeiro-ministro, refere em comunicado, enviado s redaces. O PS quer saber junto do Governo que implicaes esta inteno pode ter no Oramento de Estado para 2012, de que alterao est a falar, de que montantes e quais as consequncias para os portugueses e para a nossa economia, refere o comunicado da direo do PS. No final da Cimeira IberoAmericana, Passos Coelho explicou que nas actuais circunstncias no possvel financiar a economia se no houver dinheiro para pagar a dvida das empresas pblicas. Iremos propor alguns ajustamentos ao nosso programa de assistncia economica e financeira, tendo em conta a realidade do cenrio macro-econmico e a evoluo das principais variveis, desde o momento em que o programa foi desenhado e aprovado at ao momento presente, afirmou Passos Coelho durante a conferncia de imprensa no final da XXI cimeira ibero-americana que se realizou no Paraguai. Questionado pelos jornalistas, o primeiro-ministro no desmentiu a notcia avanada pelo semanrio Expresso que refere que Portugal precisa de mais 25 mil milhes de euros alm dos 78 mil milhes que fa-

Iremos propor alguns ajustamentos ao nosso programa de assistncia economica e financeira, tendo em conta a realidade do cenrio macroeconmico e a evoluo das principais variveis.Pedro Passos Coelho Primeiro-ministro

PS nega presso de Scrates no OEA maioria dos membros da Comisso Poltica do PS e dos deputados vai defender na reunio de quinta-feira o voto contra no Oramento do Estado para 2012. Opo de voto que, segundo o jornal Pblico, est a ser pressionada por Jos Scrates mas que os ex-dirigentes Jos Lello e Andr Figueiredo negam. Antnio Jos Seguro, secretrio-geral do partido, defende a absteno na generalidade para deixar aberta a porta negociao na especialidade, mas pela frente ter uma crescente presso pelo voto contra na reunio alargada da comisso poltica - estaro presentes os deputados, os presidentes das federaes socialistas e os eurodeputados. Um dirigente nacional diz ao Dirio Econmico que as bases do partido defendem o voto contra. Mas dado certo entre os socialistas que ser difcil a Seguro votar contra se, na linha do que disse ser a estratgia poltica do PS, no apresentar uma alternativa s medidas de austeridade. I.D.B.

zem parte do programa acordado com a troika internacional. No tenho conhecimento de nenhumas declaraes do senhor ministro das Finanas nesse sentido e posso mesmo acrescentar que muito estranharia que fizesse declaraes nesse sentido, afirmou o primeiro-ministro. O chefe do Governo aproveitou ainda para reiterar que Portugal vai cumprir as metas do programa acordado com o Fundo Monetrio Internacional, Comisso Europeia e Banco Central Europeu, mas que no vai deixar de propor alguns ajustamentos a esse programa. O Presidente da Repblica, Cavaco Silva, que tambm esteve presente na cimeira que reuniu cerca de 18 chefes de Estado e de Governo, deixou algumas crticas aos mercados financeiros e apelou concertao internacional. Cavaco Silva defende que existe insuficincia de regulao e de transparncia que est a colocar tambm as economias mais desenvolvidas merc da volatilidade dos mercados. Alm disso, o chefe de Estado considera que as concluses da ltima cimeira da zona euro vo no sentido correcto, mas que h detalhes tcnicos por esclarecer, alertando que o diabo s vezes est nos detalhes. Em sua opinio, muito importante que, to rapidamente quanto possvel, se esclaream os detalhes que devem estar por detrs das concluses que apontam em sentido correcto, e pass-las prctica rapidamente. Medidas que tambm os dois principais lderes europeus, Van Rompuy e Duro Barroso, querem aplicar de forma rigorosa e em tempo til, apelando a um esforo conjunto entre o G20 e a Europa para uma resoluo rpida da crise. Para isso, os presidentes do Conselho Europeu, Van Rompuy, e o lder da Comisso Europeia, Duro Barroso, enviaram uma carta conjunta aos seus parceiros do G20 para resumir e explicar as decises de combate crise tomadas na reunio europeia da passada quartafeira. Recorde-se que os lderes mundiais exigiram no ms passado uma soluo credvel para a crise de dvida europeia at prxima reunio da cimeira das 20 potncias industrializadas e emergentes (G20), marcada para esta quinta e sexta-feira, em Cannes. com LUSA

Trichet apela aco paraGoverno chins avana que no pode ser o salvador da Europa. Marta Marques [email protected]

A um dia de terminar o seu mandato como presidente do Banco Central Europeu, JeanClaude Trichet diz que a crise ainda no est ultrapassada e chegou o momento de ver alguma aco. Numa entrevista ontem publicada num jornal alemo, o responsvel diz-se confiante quanto capacidade dos governantes da zona euro restaurarem a estabilidade financeira do bloco, desde que as regras do Pacto de Estabilidade sejam amplamente refora-

das e implementadas de forma mais dura. Trichet avana ainda que as decises alcanadas na semana passada pelos lderes da Unio Europeia tero de ser executadas de forma precisa e rpida: absolutamente decisivo que o faam, disse. O Banco Central Europeu (BCE), que passar a ser presidido pelo italiano Mario Draghi j a partir de amanh, ir acompanhar de perto o processo. O BCE tem tido um papel decisivo na actual crise da dvida soberana europeia, principalmente atravs do programa de compra de obrigaes do Tesouro dos principais pases afectados, que iniciou em Maio de 2010. E apesar das vozes dissonantes que continuam a emergir do seio do

PUB Segunda-feira 31 Outubro 2011 Dirio Econmico 13

Luis Filipe Catarino/Lusa

COLUNA VERTEBRAL

O CERP

JOO PAULO GUERRA

O Presidente da Repblica, Cavaco Silva, conversa com o primeiro ministro Pedro Passos Coelho e o vice-presidente do Brasil, Michel Temer, durante a XXI Cimeira Ibero-Americana

resolver a criseBCE, Mario Draghi j sinalizou que a instituio est preparada para continuar a comprar esses ttulos se necessrio. Um cenrio que se torna cada vez mais provvel depois de a China ter dito ontem que so os pases europeus que devem solucionar os seus prprios problemas. A nota surge um dia depois de o presidente do Fundo de Resgate Europeu ter visitado Pequim para pedir apoio chins. No meio desta crise sem precedentes na Europa, a China no pode adoptar nem o papel de salvador dos europeus, nem facilitar uma cura para a doena europeia, refere a agncia oficial de notcias Xinhua , considerada o rgo porta-voz do Partido-Estado.

Est a decorrer o CERP sabem o , que ? o PREC ao contrrio. Bem sabemos do entusiasmo do ento PPD e do ento CDS pelo verdadeiro PREC. O PPD sempre denunciou e continuar a denunciar e a condenar estes golpes () Viva o MFA, proclamava o PPD em cima dos acontecimentos porta do RALIS. Enquanto o CDS esperava pelo dia seguinte para se afirmar solidrio com o MFA, legtimo garante do processo de democratizao, e reprovar veementemente os violentos acontecimentos antidemocrticos ontem verificados. No dia 13 de Maro de 1975, o legtimo garante do processo de democratizao nacionalizou a banca e o PPD manifestou o seu apoio nacionalizao, alertando para que a medida no se limitasse a substituir um capitalismo liberal por um capitalismo de Estado. Para que conste, o PS no ficava atrs da euforia da direita: O capitalismo foi ferido de morte, mas no basta isso, proclamava Mrio Soares por esses dias. Trs dcadas e meia depois, apanhando-se com todo o poder nas mos e as costas quentes, o extremo-centro portugus arranca com o seu CERP o PREC lido da , direita para a esquerda. E a est, para comear, a interveno do Estado na banca, atravs de modalidade bem mais liberal que em 1975. O PREC expropriou os bancos a favor do Estado e em nome do povo. O CERP mete dinheiro do Estado e do povo nos bancos, assumindo assim o controlo da banca. um custo elevadssimo para as debilitadas finanas nacionais e para os empobrecidos contribuintes portugueses mas socorre a banca em geral e o BPN em particular. Tal como o PREC enfrentou a contestao dos elementos reaccionrios, assim denunciados pelo PDC, o CERP no agrada a todos e at indigna alguns. Mas sabe-se agora o que significa a sigla: Capitalismo de Estado Reconstitui o Passado. [email protected]

O PREC expropriou os bancos a favor do Estado e em nome do povo. O CERP mete dinheiro do Estado e do povo nos bancos, assumindo assim o controlo da banca.

14 Dirio Econmico Segunda-feira 31 Outubro 2011

ESPECIAL DIA MUNDIAL DA POUPANA

Por cada dez euros ganhos as famlias poupam 93 cntimosOs portugueses j esto a poupar menos e no prximo ano o desafio vai ser ainda mais complicado.Margarida [email protected]

Por cada 10 euros que as famlias ganham, s conseguem poupar 93 cntimos, mostram os dados do Instituto Nacional de Estatstica. Construir um p-de-meia j tem sido uma tarefa difcil, mas para o prximo ano a presso sobre o oramento mensal ainda vai aumentar. So os preos que sobem, o desemprego que bate porta, a factura dos impostos que no tem fim. As razes para poupar cada vez menos so muitas e as contas no perdoam. Em Junho a taxa de poupana das famlias caiu para 9,3% do rendimento disponvel, o valor mais baixo dos ltimos dois anos. O mesmo dizer que em cada 10 euros ganhos, h menos de um euro que colocado de parte. Nestas contas inclui-se a amortizao, por exemplo, de emprstimos habitao - uma espcie de poupana forada a que muitas famlias esto obrigadas. Porque se o clculo for feito apenas poupana financeira lquida - ou seja, ao valor que colocado de parte em depsitos ou outros investimentos financeiros e que mais facilmente mobilizado em caso de necessidade - o cenrio ainda mais negro: por cada 10 euros, poupam-se 13 cntimos. Ainda assim, o desgnio nacional continua a ser poupar. Depois dos economistas e do Governo terem j apelado poupana por parte das famlias, empresas e Estado, at o Presidente da Repblica fez eco deste imperativo. A crise que atravessamos uma oportunidade para que os portugueses abandonem hbitos instalados de despesa suprflua, para que redescubram o valor republicano da austeridade digna, para que cultivem estilos de vida baseados na poupana e na conteno de gastos desmesurados, defendeu Cavaco Silva, no discurso dos 101 anos da Proclamao da Repblica. Porm, tudo indica que em 2012 as famlias vo poupar ainda menos. Vai existir menos rendimento disponvel, garante Rui Constantino, economista-chefe do departamento de research do San-

Para quem mantm o posto de trabalho, os salrios devero, na melhor das hipteses, estabilizar no prximo ano.

HD

Acompanhe a actualidade no canal 16 da ZON e Meo, no canal 200 da Vodafone Casa TV e Optimus Clix e na posio 9 da Caboviso

tander. Mesmo que se mantivesse a mesma taxa de poupana, em termos absolutos o volume ser mais baixo, explica. que as medidas de austeridade esto por todo o lado e difcil encontrar o caminho que resguarde os rendimentos mensais. Desde logo, o mercado de trabalho vai continuar a degradar-se. O Governo espera que a taxa de desemprego aumente para 13,4% e conta com uma destruio lquida de postos de trabalho de 1%. Estas famlias tero ainda de contar com subsdios de desemprego mais baixos e atribudos por menos tempo. Para quem mantm o posto de trabalho, os salrios devero, na melhor das hipteses, estabilizar. Do lado das empresas a diminuio da procura interna e a escassez do crdito bancrio obriga maior conteno de custos possvel. J para os funcionrios pblicos certo que descem: quem recebe acima de um salrio mnimo por ms (485 euros) perde, em mdia, um subsdio de frias, ou de Natal. E quem ganha mais de mil euros perde os dois. As contas so as mesmas para todos os pensionistas, sejam do sector pblico ou privado. A juntar a estes factores somase ainda o aumento dos impostos. As dedues no IRS vo diminuir e o imposto total que ser pago ao Estado aumenta. Alm disso, h fortes subidas na carga fiscal sobre o patrimnio e o consumo. Basta ver que o Estado vai arrecadar mais de dois mil milhes de euros por esta via. Por fim, h ainda a eroso dos rendimentos provocada pelo aumento dos preos. Por um lado, esta subida justifica-se pela subida do IVA para muitos produtos, mas por outro h tambm o impacto do aumento dos preos dos combustveis. A nica forma de manter a poupana diminuir fortemente o consumo, um comportamento que tanto os economistas, como o Governo esperam. No prximo ano o consumo privado deve recuar 4,8%. De qualquer modo, resta saber qual ser o efeito mais forte: se a queda do consumo, se a diminuio dos rendimentos.

Conhea o perfil doQuase 100.000 famlias no conseguem pagar crditos inferiores a 1.000 euros. Marta Marques [email protected]

Tem entre 31 e 50 anos de idade, o ensino secundrio, ficou desempregado ou sofreu uma reduo salarial, e no consegue pagar as prestaes mensais, dos seus um a trs crditos, h cerca de quatro meses. Em traos gerais, este o perfil-tipo do sobreendividado portugus, de acordo com os dados estatsticas da Deco. No entanto, a dimenso dos nmeros torna o perfil redutor. Hoje, em Portugal, necessrio falar em perfis. Quase 39% dos que contactam o Gabinete de Apoio ao So-

breendividado (GAS) da Deco tm quatro a sete crditos, 18,6% entraram em incumprimento devido a doena, 11% tm entre sete a 12 meses de prestaes em atraso, 31% tm entre 51 a 70 anos de idade, e 13,2% tm o ensino superior. Perfis insuspeitos que a crise banalizou. Ao GAS chegam os casos mais extremos. A maioria, casos perdidos. As pessoas acreditam que a situao vai melhorar, vo utilizando os cartes de crdito, vo pedindo mais crditos, e s quando deixam de ter acesso a crdito que decidem realmente enfrentar o problema, explicava Natlia Nunes, responsvel pelo GAS. S at Setembro, o GAS recebeu 17.347 pedidos de ajuda este ano, ultrapassando j os 11.468 contactos registados em todo o

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PONTOS-CHAVE

Ao contrrio do que se passa no resto da Europa, onde os consumidores tm vindo a poupar mais, em Portugal a poupana caiu para 9,3% do rendimento disponvel.

So vrias as iniciativas que os bancos, a Deco e o prprio Banco de Portugal realizam hoje para sensibilizar os portugueses para aumentarem as poupanas.

Apesar da crise, os depsitos captados pelos bancos tem vindo a crescer. Em Agosto, os portugueses tinham 127 mil milhes de euros aplicados nestes produtos.

ESPECIAL DIA MUNDIAL DA POUPANA

24 horas a poupar com o MiguelQuando acordou, o Miguel, como j hbito, foi ao quiosque comprar o Dirio Econmico. A primeira boa notcia do dia: a edio especial do Dirio Econmico hoje nas bancas grtis! E com isto o Miguel j poupou 1,60 euros. E para ajudar os portugueses a poupar que fizemos hoje uma edio especial dedicada ao Dia Mundial da Poupana. A ideia de uma data especial para a Poupana surgiu em Outubro de 1924, durante o I Congresso Internacional de Economia, em Milo. Mas este ano, e quase noventa anos volvidos, a ideia assume maior importncia j que existe um consenso, mais ou menos generalizado, entre polticos e economistas, de que poupar, no actual contexto de crise, uma emergncia nacional que pode ajudar o Pas e as famlias a sarem da crise. Prova disso so as palavras do Presidente da Repblica, Cavaco Silva, que no seu recente discurso na Cerimnia de Comemorao dos 101 anos da Proclamao da Repblica, fez um apelo para que os portugueses cultivassem estilos de vida baseados na poupana e na conteno de gastos desmesurados. E para ajudar os portugueses a criarem hbitos de poupana que fomos passar um dia com o Miguel, a mulher Paula e os dois filhos, Joo e Ins. So personagens fictcias, num estilo de banda desenhada, criadas pelo Dirio Econmico e que, durante 24 horas, vo passar por uma srie de situaes e peripcias do dia-a-dia e que os vai obrigar a pensar e a descobrir as melhores formas de poupar e de investir o dinheiro em segurana. O dia do Miguel comea logo pela manhzinha, s 7h00, na pgina 23 deste jornal.

Infografia: Mrio Malho | [email protected]

sobreendividado portugusano de 2010. No entanto, o GAS s actua nos casos onde ainda possvel tentar uma reestruturao. A larga maioria das situaes que nos chegam j esto em via judicial ou os passivos j so to grandes face aos rendimentos que no existe qualquer possibilidade de reestruturao, adianta Natlia Nunes. Ainda assim, a abertura de processos de sobreendividamento tambm bate recordes em apenas nove meses: foram abertos 3.238 processos at Setembro, mais do que os 2.837 processos do ltimo ano, e quase tantos quanto os abertos no acumulado de sete anos, entre 2000 e 2006. Nmeros simpticos quando comparados com o universo total de devedores com crdito vencido. Existem 715.200 portugueses em incumprimento junto da banINCUMPRIMENTO

38.762Nmero de portugueses que deixaram de conseguir pagar as prestaes dos seus crditos. No total, existem 715.200 famlias em incumprimento.

ca, mais 38.762 face h 12 meses. Deste universo total, 54.437 so empresas e 118.568 so empresrios em nome individual. Quase metade destas empresas, mais de 25.000, devem em mdia 7.000 euros. Quase 125.000 destas famlias no conseguem pagar crditos entre 1.000 e 5.000 euros. Quase 100.000 famlias no conseguem pagar crditos inferiores a 1.000 euros. Mais: o incumprimento comea a chegar ao crdito habitao, o ltimo que, por norma, as famlias deixam de pagar. O malparado na habitao encontra-se em mximos histricos: so 135.891 as famlias em risco de perder as suas casas. Um jorrar de nmeros insensveis, que do ares de problema matemtico ao que na realidade um problema humano.

NDICE07:30 Saiba como poupar na alimentao. P.25 07:45 Faa as operaes na Net e poupe dinheiro. P.26 07:55 Poupe na energia e no ambiente. P.29 07:59 Conhea os melhores depsitos do mercado. P.31 08:15 Truques para poupar no combustvel. P.33 09:00 Como se faz um oramento familiar. P.34 12:30 Corte nos gastos suprfluos. P.36 13:15 Como baixar a prestao da casa. P.39 13:30 Poupe 2.100 euros nos impostos. P.40 14:00 Dicas para evitar o sobreendividamento. P.42 16:40 Gaste menos com os telemveis. P.45 17:55 Sites que o ajudam a poupar. P.46 18:30 Livros que o ajudam a controlar os gastos. P.49 20:05 Onde investir sem correr muitos riscos. P.51 21:15 Prepare as frias sem gastar muito dinheiro. P.61 21:40 Os melhores PPR para a reforma. P. 63

Ilustrao: Paulo Cintra-Who

16 Dirio Econmico Segunda-feira 31 Outubro 2011

ESPECIAL DIA MUNDIAL DA POUPANAMARIA E ANICETO PRATESfrias so sempre passadas em Portugal, contam. O casal tem ainda outra estratgia para lidar com a crise: raramente sintoniza os canais de notcias quando est em casa. S ouvimos desgraas e, por isso, quase nem vale a pena ter a televiso ligada, diz Aniceto, de 73 anos. As desgraas so fceis de localizar. Primeiro, em Junho, o anncio de um imposto extraordinrio sobre o subsdio de Natal.Preocupados com os bancos

Pouparam toda a vida para garantir uma reforma tranquilaMesmo com o corte nos subsdios, este casal de reformados da funo pblica tem condies para manter o estilo de vida.Antnio [email protected]

O bancrio Henrique Silva fotografado em casa com a mulher e dois dos quatro filhos do casal.

ORAMENTO FAMILIAR So um casal de reformados da Funo Pblica, que vive numa moradia do concelho de Sintra. O rendimento mensal destes dois antigos professores superior a trs mil euros. Sempre pouparam uma parte do salrio mensal. A educao dos filhos foi a grande prioridade do casal. Mesmo com o corte nos subsdios de frias e de Natal, o casal poder continuar a ir a mdicos privados e no far cortes na alimentao.

Habituados a poupar durante toda a vida, Maria e Aniceto, antigos funcionrios pblicos, no entraram em pnico quando o primeiro-ministro anunciou este ms o corte de subsdios na Funo Pblica. Com um rendimento mensal superior a trs mil euros, o casal de ex-professores no faz investimentos de risco e, apenas uma pequena parte do oramento gasta em lazer. Na alimentao ou na sade nunca cortamos na despesa. Mas, de resto, vivemos de forma humilde. s vezes vamos almoar fora, mas no frequentamos casinos nem passamos frias no estrangeiro, dizem. Maria e Aniceto trocaram h 14 anos um apartamento no Cacm por uma moradia no concelho de Sintra e nesta zona que passam grande parte do ano. por ali que passeiam ou visitam os amigos. O comboio o meio de transporte privilegiado e o carro, na maior parte das vezes, usado para viajar at Estremoz ou Viseu, onde tm casa de famlia. As

O segundo foi este ms, com a imposio de uma nova vaga de austeridade para os pensionistas e funcionrios pblicos. Fomos apanhados desprevenidos. Qualquer dia vo retirar-nos o resto da penso. Samos do 8 para o 80. Olhe, o meu marido quando ouviu o anncio dos cortes disse um nome feio, conta a professora reformada do ensino especial, que tambm est preocupada com a situao dos bancos. As nossas poupanas no esto guardadas debaixo dos colches. Sempre demos prioridade educao dos filhos. Tantos sacrifcios que fizemos para poupar. Agora sentimo-nos trados, acrescenta o marido. Mesmo com o oramento familiar mais apertado, h pequenos luxos que o casal de reformados no abdica. Se precisarmos de ir a um mdico particular iremos sem qualquer problema, afirma Maria Prates, de 64 anos. No entanto, os cortes nos subsdios impostos pelo Governo de Pedro Passos Coelho trazem uma desvantagem imediata. Sem necessidade premente de cortar nas despesas mais importantes, h uma medida que a famlia Prates tomar imediatamente: os pais avisam, desde j, que os dois filhos vo receber presentes de Natal mais modestos. Joo Paulo Dias

HENRIQUE SILVA E FAMLIA

Bancrio ensina filhos a gerir a mesada at ao final do msDesde muito cedo que Henrique Silva e a mulher, Teresa, ensinaram aos filhos a importncia de saber lidar com o dinheiro.No porta-luvas dos trs automveis da famlia Silva existe sempre um pequeno bloco de notas, onde todos os dias se apontam os quilmetros percorridos, o consumo e o dinheiro gasto em combustvel. Numa famlia com seis elementos, este o melhor mtodo para evitar gastos excessivos. O bancrio Henrique Silva conduz todos os dias 50 quilmetros para ir de casa, na Portela de Sacavm, at ao trabalho, no Tagus Park, em Oeiras. Depois, preciso contabilizar as viagens para ir levar ou buscar os filhos escola, s actividades desportivas, e os passeios em famlia ao fim-de-semana ou nas frias. Ando sempre atento aos melhores descontos na gasolina e aproveito todas as promoes. Tenho os registos dos meus consumos de gasolina nos ltimos 20 anos, diz Henrique Silva, de 51 anos. Em casa e nas compras do supermercado continua a privilegiar-se a poupana. Temos tarifa bi-horria e, portanto, s utilizamos as mquinas noite. Tambm espero reduzir a factura da gua para metade. Descobri agora que no meu concelho (Loures), os agregados familiares com mais de ORAMENTO FAMILIAR O rendimento familiar dos Silva, casal e quatro filhos, superior a 3.500 euros mensais. Henrique Silva tem 3 automveis e 1 moto. H 20 anos que aponta todos os consumos e o dinheiro que gasta para abastecer os veculos. A famlia gasta 900 euros mensais em alimentao. Compram alguns produtos de marca branca. Em casa, utilizam a tarifa bi-horria para gastar menos em electricidade.

Casal de antigos professores fotografados na moradia, situada no concelho de Sintra.

Segunda-feira 31 Outubro 2011 Dirio Econmico 17

Ana Brgida

PEDRO E CLUDIA

Casal sem filhos junta todos os meses 40% do salrioO dinheiro est aplicado em contas poupana com juros a dois anos e em certificados de aforro. No investem em produtos de risco.O engenheiro informtico Pedro Prates tem uma tctica infalvel para poupar: no dia em que recebe o salrio desvia imediatamente 30% para uma conta poupana e tenta, a todo o custo, no mexer nesse dinheiro. Tenho certificados de aforro e uma conta poupana com juros a dois anos. Nada de aplicaes de alto risco porque no quero perder dinheiro e tambm gosto de saber que o posso levantar a qualquer momento, se precisar, sem ser penalizado, diz o engenheiro, de 32 anos. Pedro vive h trs anos num apartamento em Benfica coma mulher, Cludia Sousa. No meu caso, o nvel de poupana bastante varivel, mas h meses em que consigo juntar 10%, afirma Cludia, de 33 anos, administrativa de uma universidade estatal. O casal controla sem dificuldade o oramento familiar. Tem apenas o crdito habitao para pagar - o spread da prestao da casa foi negociado para 0,35%). O ano ORAMENTO FAMILIAR O engenheiro informtico e a administrativa de uma universidade tm um rendimento familiar superior a dois mil euros. Pedro consegue poupar todos os meses 30% do salrio. Cludia no vai alm dos 10%. Sempre que vo s compras privilegiam alguns produtos de marca branca e os de origem portuguesa. Todos os anos fazem uma viagem para fora da Europa, mas a partir do prximo ano ser diferente: esto a pensar visitar cidades europeias e viajar em low cost.

passado tentmos vender a casa para irmos para outra melhor, mas depois acabmos por desistir. Esta no uma boa altura para vender, diz o engenheiro. Nas compras dirias, o casal tambm privilegia a poupana. Quando vai ao supermercado compra alguns produtos de marca branca e evita fazer muitas refeies fora de casa. Hoje em dia j no fao compras como antigamente. Antes ia s compras e no me importava de gastar dinheiro numa boa carne, peixe ou bom vinho. A situao do Pas mudou e fala-se da crise em todo o lado, admite Pedro.Passar frias em low cost

VOX POP

Mnica Macedo Assessora de imprensaHoje em dia j no se consegue poupar tanto como antigamente. Tento pr de parte, no mnimo, entre 100 a 150 euros. Levo sempre comida para o trabalho.

cinco pessoas podem usufruir de um desconto, diz o bancrio, que tem um rendimento mensal volta dos 3.500 euros. Em alimentao gastamos, em mdia, 900 euros por ms. Compramos alguns produtos de marca branca, desde que tenham qualidade, acrescenta a mulher, Teresa, de 48 anos, funcionria do INE.Filhos aprenderam a poupar

O casal sempre teve a preocupao de educar os quatro filhos (Ricardo, Gonalo, Sofia e Rafael, com idades compreendidas entre os 11 e os 22 anos) a lidar com o dinheiro. Tenho uma mesada para gerir at ao final do ms. Por exemplo, se durante o ms tiver muitos jantares com amigos, no posso ir a todos, conta Ricardo, o filho mais velho do casal. No valor da mesada no est includo o dinheiro gasto com material escolar, que depois acertado com os pais. Tambm no gasto muito dinheiro em comunicaes. Hoje em dia, tanto eu como os meus amigos mais prximos, temos os mesmos tarifrios no telemvel e, claro, tambm podemos comunicar atravs da Internet e das redes sociais, acrescenta Ricardo. No oramento da famlia Silva h ainda folga para passar frias ou fazer obras em casa este ano colocaram novas janelas na sala de jantar. No existe grande folga oramental para poupana, mas quando recebo o ordenado aplico uma parte num depsito a prazo a 15 dias e, se precisar dele, vou l busc-lo, afirma o bancrio. Apesar do controlo nas despesas domsticas, Henrique no consegue poupar nos hbitos de leitura. Todos os meses gasto entre 30 a 40 euros em livros, diz. A leitura um bom mtodo para variar das conversas sobre a crise. A.S.

O casal, que tem um rendimento mensal superior a dois mil euros, privilegia os produtos portugueses. Vejo sempre a origem das frutas e dos vegetais. S compramos os de origem nacional, dizem. Habituados a passar frias fora da Europa, Pedro e Cludia acharam que est na altura de ficar mais perto de casa. Adoramos viajar e a Europa vai passar a ser o nosso destino de eleio. Podemos visitar muitas cidades e viajar em low cost, diz o casal, que nos ltimos anos visitou alguns pases do continente americano e africano. Apesar de ser avesso a investimentos de risco, o engenheiro est a pensar arriscar no mercado dos vinhos. Para ele, mais interessante do que a bolsa, ttulos de dvida ou ETF. Estou a pensar fazer um investimento em vinhos num site online. Mas so decises que tm de ser levadas com muita calma, diz Pedro. Mesmo que o valor do vinho desvalorize h sempre uma opo: a garrafa pode ser enviada para casa e desfrut-la em famlia. A.S.Ana Brgida

Hugo Silva Engenheiro de telecomunicaesConsigo poupar entre 40 a 50% do salrio mensal. O dinheiro que poupo invisto em depsitos a prazo a um ou dois anos, sempre com capital garantido.

Lusa Miranda Agente de viagensH meses em que no mesmo possvel poupar. No dia-a-dia ando sempre com o carro porque o dinheiro que ia gastar no passe seria superior ao que gasto em combustvel.

O casal Pedro e Cludia fotografados no apartamento, situado em Benfica.

Manuel Santos Funcionrios dos CTTTento poupar uns 10% do salrio todos os meses. Opto sempre pelas contas a prazo porque com a instabilidade que se vive hoje no vou para investimentos de risco.

Veja o vdeo do Vox Pop sobre o Dia Mundial da Poupana em www.economico.pt

18 Dirio Econmico Segunda-feira 31 Outubro 2011

ESPECIAL DIA MUNDIAL DA POUPANAENTREVISTA JOS SILVA LOPES Economista e ex-ministro das Finanas

Temos andado a viver custa da poupana dos outrosNa situao actual impossvel conciliar a austeridade com uma subida da poupana das famlias.Lus Reis [email protected]

Foi ministro das Finanas h mais de 30 anos, numa altura em que Portugal tinha das maiores taxas de poupana da Europa. Desde ento, no se cansou de avisar para o problema da queda a pique da poupana na economia portuguesa. Silva Lopes afirma que a crise actual um problema de poupana insuficiente, j que Portugal andou a viver do dinheiro que lhe emprestavam. Agora, a reconstruo da poupana ter que partir do Estado, frisa, acrescentando que o Pas no ter no futuro tanto financiamento externo como na ltima dcada. A baixa poupana um problema crnico em Portugal, ou apenas do Portugal do euro e do crdito fcil? A poupana em Portugal h 20 anos era bastante alta, era at das mais altas da Europa. Ns tnhamos uma poupana de particulares muito alta, graas sobretudo s remessas dos emigrantes. O Estado tinha uma poupana provavelmente negativa, mas no to negativa como tem sido ultimamente. E as empresas normalmente tm uma poupana positiva, que corresponde aos lucros retidos. Mas essa tambm enfraqueceu muito. Actualmente, a taxa de poupana portuguesa das mais baixas de toda a Europa. A das famlias tambm baixa, mas o grande problema est na poupana negativa do Estado e na fraca poupana das empresas. E agora a reconstruo da poupana tem que vir essencialmente do Estado. Falou das empresas. Elas tambm devem aumentar a poupana, ou prefervel mais investimento? Se fosse possvel mas infelizmente no muito fcil -, o que se devia fazer era no tributar muito as empresas em termos de IRC e tribut-las muito nos dividendos. Significaria que havia um incentivo para as empresas no distribussem muito os dividendos, retendo os lucros, que uma forma de poupana. Mas, a partir do momento em que as empresas conseguem pr o dinheiro l fora, no se consegue tributar muito os dividendos. um problema do nosso sistema fiscal e tambm um problema que se criou com a globalizao. Enquanto o mundo for assim, no h soluo para ele, porque no h convergncia social.

Houve vrios fenmenos a prejudicar a poupana. As remessas dos emigrantes caram a pique, o dinheiro das empresas sai cada vez mais l para fora e tambm h muitos imigrantes a enviar dinheiro para fora Sim, mas isso dos imigrantes enviarem dinheiro l para fora no de criticar, esto a fazer o mesmo que ns fazamos h uns anos. A nica coisa que se pode observar que