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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA CAMPUS DE CURITIBANOS CENTRO DE CIÊNCIAS RURAIS CURSO DE MEDICINA VETERINÁRIA Thauany Maffini de Souza DEBICAGEM POR RADIAÇÃO INFRAVERMELHA E DEBICAGEM HOLANDESA EM POEDEIRAS LEVES Curitibanos 2020

DEBICAGEM POR RADIAÇÃO INFRAVERMELHA E DEBICAGEM …

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA

CAMPUS DE CURITIBANOS

CENTRO DE CIÊNCIAS RURAIS

CURSO DE MEDICINA VETERINÁRIA

Thauany Maffini de Souza

DEBICAGEM POR RADIAÇÃO INFRAVERMELHA E DEBICAGEM HOLANDESA

EM POEDEIRAS LEVES

Curitibanos

2020

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Thauany Maffini de Souza

DEBICAGEM POR RADIAÇÃO INFRAVERMELHA E DEBICAGEM HOLANDESA

EM POEDEIRAS LEVES

Trabalho de Conclusão do Curso de Graduação em

Medicina Veterinária, do Centro de Ciências Rurais da

Universidade Federal de Santa Catarina como requisito

para a obtenção do título de Bacharela em Medicina

Veterinária.

Orientadora: Profª. Drª Aline Félix Schneider Bedin

Curitibanos

2020

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Thauany Maffini de Souza

DEBICAGEM POR RADIAÇÃO INFRAVERMELHA E DEBICAGEM HOLANDESA

EM POEDEIRAS LEVES

Este Trabalho de Conclusão de Curso foi julgado adequado para obtenção do Título de

Médico Veterinário e aprovado em sua forma final pelo curso de Medicina Veterinária.

Curitibanos, 21 de setembro de 2020.

___________________________________

Prof. Dr. Malcon Andrei Martinez-Pereira

Coordenador do Curso

Banca Examinadora:

___________________________________

Profª. Drª. Aline Félix Schneider Bedin

Orientadora

Universidade Federal de Santa Catarina

___________________________________

Prof. Dr. Álvaro Menin

Avaliador

Universidade Federal de Santa Catarina

___________________________________

Profª. Drª. Francielli Cordeiro Zimermann

Avaliadora

Universidade Federal de Santa Catarina

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Dedico, com todo meu amor,

aos meu pais, Jair e Adriana!

Page 6: DEBICAGEM POR RADIAÇÃO INFRAVERMELHA E DEBICAGEM …

AGRADECIMENTOS

Primeiramente aos meus pais, Jair de Souza e Adriana M. de Souza, por me ensinarem

os verdadeiros valores da vida, por acreditarem e investirem nesse meu sonho de criança,

sempre me incentivando a crescer cada vez mais. E que nos momentos de minha ausência

dedicados ао estudo, principalmente em datas especiais, sеmprе fizeram entender quе о futuro

é feito а partir dа constante dedicação nо presente. Vocês são meu maior exemplo!

Ao meu irmão, Hátran, por estar ao meu lado e trazer alegria aos meus dias. À minha

irmã, Monique, que sempre se fez presente com suas mensagens de afeto. Aos meus avós, por

todo carinho e incentivo oferecido durante minha trajetória. Sem vocês, nada seria possível!

À todos os animais que despertaram minha paixão pela medicina veterinária, em

especial a minha filha de quatro patas, Tita, comigo desde sempre, demonstrando amor,

amizade e lealdade incondicionais.

À todas as pessoas que conheci nessa etapa e partilharam momentos bons e

inesquecíveis comigo. Principalmente a Sabrina Arruda, Morgana Grobe, Ananda Dresch,

Natalia Martinazzo, Andreia Hausmann e Edivaldo Dognani, que se tornaram a minha família

em Curitibanos durante a faculdade. Obrigada por todo apoio, amizade e companheirismo

todos esses anos, vocês fizeram dessa etapa muito mais incrível do que poderia ter sido!

Às minhas companheiras de apartamento, Raquel Ludwig, Manoela Rossi e Andressa

Figueiredo, pela parceira do começo ao fim, desde os momentos de tensão até os de conforto,

morar longe de casa não teria sido tão bom sem vocês! E às minhas amigas Mayara Costa e

Tayara Machado, que mesmo de longe estiveram ao meu lado, me ajudando nas dificuldades

e comemorando as conquistas.

Ao Guilherme Modena, por ser meu porto seguro, por toda paciência e carinho, por

sempre estar ao meu lado, me apoiando e incentivando nos momentos que mais precisei,

tornando meus dias mais leves. Obrigada por compartilhar a vida comigo e voar ao meu lado.

Você é meu ponto de equilíbrio!!

À Universidade Federal de Santa Catarina, por ter sido meu segundo lar durante esses

cinco anos e me proporcionar todo o necessário para me tornar uma Médica Veterinária. À

todos os professores, que sempre deram o melhor de si para transmitir seus conhecimentos,

em especial minha orientadora, Profª. Drª. Aline Félix Schneider Bedin, por quem eu tenho

uma enorme admiração desde que cruzei seu caminho, obrigada por todos os ensinamentos,

contribuições e paciência durante a realização do trabalho.

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À Granja Mantiqueira, pela oportunidade de estagiar na maior produtora de ovos da

América do Sul, foi extremamente incrível! Obrigada pela recepção, pelos ensinamentos e

pelas amizades conquistadas nesse período, todo o apoio foi essencial nessa fase, foi um

prazer estagiar ao lado de excelentes profissionais.

E, por fim, a todos que de alguma forma contribuíram para que eu concluísse essa

etapa tão importante!

Muito obrigada!

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“A mente que se abre a uma nova ideia

jamais voltará ao seu tamanho original”

(Albert Einstein)

Page 9: DEBICAGEM POR RADIAÇÃO INFRAVERMELHA E DEBICAGEM …

RESUMO

A debicagem ou amputação parcial do bico da ave é uma prática comum e necessária na

avicultura industrial brasileira. Tendo como principal objetivo inibir o canibalismo e

consequentemente a mortalidade, além de favorecer o consumo de ração balanceada,

uniformidade do lote e redução da quebra de ovos, melhorando o desempenho e as condições

de bem-estar das aves durante a vida produtiva. Apesar de ser uma prática indispensável na

indústria avícola ainda é um dos assuntos mais discutidos e contestados referente ao bem-estar

animal. Diante disso, é necessário o estudo de métodos alternativos que sejam aceitáveis e, ao

mesmo tempo, eficientes do ponto de vista produtivo. O objetivo deste estudo foi avaliar a

influência da debicagem através do tratamento por radiação infravermelha e do método de

debicagem holandesa, nas fases de cria e recria. As aves foram distribuídas nas baterias de

gaiolas conforme o método utilizado, sendo aplicados três tipos de debicagem: aves com

tratamento por radiação infravermelha com placa 24/23, radiação infravermelha com placa

23/23 e debicagem holandesa. As variáveis analisadas foram peso corporal das aves (g),

uniformidade (%), crescimento do bico (mm) e calo de bico (no). De acordo com os

resultados, as aves com debicagem por radiação infravermelha (24/23) obtiveram melhores

valores para as variáveis analisadas, além disso, não necessitou de uma segunda debicagem,

dessa forma, torna-se uma alternativa viável e garante um maior bem-estar às aves.

Palavras-chave: Aves de postura. Bem-estar. Calo de bico. Desempenho. Manejo.

Page 10: DEBICAGEM POR RADIAÇÃO INFRAVERMELHA E DEBICAGEM …

ABSTRACT

The beak or partial amputation of the bird's beak is a common practice and requires Brazilian

industrial agriculture. With the main objective of inhibiting cannibalism and consequently

mortality, in addition to favoring the consumption of balanced feed, batch uniformity and

reduction of egg breaks, better performance and welfare conditions of the birds during

productive life. Despite being an indispensable practice in the agricultural industry, it is still

one of the most discussed and contested issues related to animal welfare. Therefore, it is

necessary to study alternative methods that are acceptable and, at the same time, efficient in

the productive point of view. The aim of this study was to evaluate the influence of the debate

through the treatment by infrared radiation and the Dutch beak method, in the breeding and

rearing phases. As birds were distributed in the battery of cages, according to the type of beak,

three types of beak were used: birds treated with infrared injection with plate 24/23, infrared

radiation with plate 23/23 and Dutch. The analyzed variables were body weight of birds (g),

uniformity (%), beak growth (mm) and beak callus (no). According to the results, birds with

beak infrared radiation (24/23) obtained better values for the analyzed variables, in addition, it

did not need a second beak, thus, it becomes a viable alternative and guarantees a greater

welfare for the birds.

Keywords: Beak callus. Laying birds. Management. Performance. Welfare.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 - Classificação da intensidade de debicagem .......................................................... 16

Figura 2 - Distribuição das aves conforme a debicagem ....................................................... 24 Figura 3 - Mensuração do tamanho do bico .......................................................................... 26

Figura 4 - Mensuração do tamanho do bico .......................................................................... 26 Figura 5 - Ilustração do calo de bico ..................................................................................... 27

Figura 6 - Calo de bico em aves com 11 semanas de idade ................................................... 34

Quadro 1 - Interpretação dos resultados de uniformidade ..................................................... 30

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LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 - Peso médio das aves debicadas por RI 24/23, RI 23/23 e Holandesa ................... 28 Gráfico 2 - Uniformidade das aves debicadas por RI 24/23, RI 23/23 e Holandesa ............... 30

Gráfico 3 - Tamanho médio do bico das aves debicadas por RI 24/23, RI 23/23 e Holandesa 31 Gráfico 4 - Prevalência de calo de bico nas aves debicadas por RI 24/23, RI 23/23 e

Holandesa .......................................................................................................... 33

Page 13: DEBICAGEM POR RADIAÇÃO INFRAVERMELHA E DEBICAGEM …

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ............................................................................................... 13

1.1 JUSTIFICATIVA .............................................................................................. 14

1.2 OBJETIVOS ...................................................................................................... 14

1.2.1 Objetivo geral................................................................................................... 14

1.2.2 Objetivos Específicos ....................................................................................... 14

2 DESENVOLVIMENTO .................................................................................. 15

2.1 DEBICAGEM POR LÂMINA FRIA ................................................................. 16

2.2 DEBICAGEM CONVENCIONAL POR LÂMINA QUENTE ........................... 16

2.3 DEBICAGEM HOLANDESA OU EM “V” ...................................................... 17

2.4 DEBICAGEM POR TRATAMENTO DE RADIAÇÃO INFRAVERMELHA .. 18

2.5 DESGASTE NATURAL DA PONTA DO BICO .............................................. 19

2.6 ESTUDOS COMPARATIVOS DOS DIFERENTES MÉTODOS DE

DEBICAGEM ................................................................................................... 19

3 MATERIAL E MÉTODOS ............................................................................. 23

3.1 VARIÁVEIS ANALISADAS ............................................................................ 24

3.1.1 Peso corporal das aves (g) ................................................................................ 24

3.1.2 Uniformidade do lote (%) ................................................................................ 25

3.1.3 Crescimento do bico (mm) ............................................................................... 25

3.1.4 Calo de bico (no) ............................................................................................... 27

4 RESULTADO E DISCUSSÃO ........................................................................ 28

5 CONCLUSÃO .................................................................................................. 35

REFERÊNCIAS ............................................................................................... 36

Page 14: DEBICAGEM POR RADIAÇÃO INFRAVERMELHA E DEBICAGEM …

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1 INTRODUÇÃO

A produção avícola encontra-se em constante crescimento, e na busca por altos

índices produtivos nas linhagens de postura, o melhoramento genético, associado ao

desenvolvimento nas áreas de nutrição, manejo, sanidade e ambiência, permitiram a criação

intensiva de aves. Porém, as produções em larga escala trouxeram consigo não apenas

características positivas de crescimento e alta produção, mas também, problemas relacionados

ao bem-estar das aves, em função de alguns sistemas de criação e práticas de manejo

(ROCHA et al., 2008).

No Brasil, as preocupações com o bem-estar animal crescem concomitantemente ao

desenvolvimento sócio-econômico, o que tem levado a grandes reestruturações nesse setor,

em função da mudança de perfil do mercado consumidor (ROCHA et al., 2008). Este

segmento está cada vez mais preocupado com a qualidade do produto final e a segurança

alimentar, levando-os a busca por informações sobre as metodologias adotadas durante a

produção, principalmente aspectos relacionados a respeito ao meio ambiente e ao animal

(MARCHANT-FORDE; CHENG, 2010; ROCHA et al., 2008).

Na criação de poedeiras comerciais, a debicagem e a criação de aves em gaiolas são

os pontos mais contestados referentes ao bem-estar (ROCHA et al., 2008; SANTOS, 2014). A

debicagem é uma prática comumente empregada na criação de poedeiras comerciais. Apesar

da resistência a esta prática de manejo sob a perspectiva do bem-estar animal, faz-se

necessário ressaltar que o objetivo principal é evitar o canibalismo e consequentemente a

mortalidade e, além disso, reduz à quebra de ovos bicados, o arranque de penas e a

refugagem, ainda, melhora o desempenho produtivo, a conversão alimentar, reduz a

seletividade e o desperdício de ração e, aumenta a uniformidade do lote (ARAÚJO et al.,

2005; CLOUTIER et al., 2000; MARCHANT-FORDE; CHENG, 2010).

Pesquisas, através de seleção genética, vem tentando reduzir o canibalismo, no

entanto, o componente genético para redução deste comportamento é de difícil seleção

(RODENBURG et al., 2003; SU et al., 2005). Além disso, aves debicadas sofrem menor

estresse quando comparadas com aves que não foram debicadas, que sofrem com a

agressividade de suas companheiras (STRUWE; GLEAVES; DOUGLAS, 1992). Desse

modo, a forma mais eficiente de controle do canibalismo ainda é a debicagem (MAZZUCO,

2008). Diante disso, nos últimos anos, alguns métodos alternativos vêm sendo testados.

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1.1 JUSTIFICATIVA

O estudo dos diferentes métodos de debicagem é uma prática que se torna necessária

não apenas por questões de produtividade, mas também para garantir o bem-estar das aves e

consequentemente a qualidade do produto final.

Portanto, novos métodos de debicagem vêm sendo descritos com o intuito de reduzir

o desconforto causado às aves, quando comparados ao método da debicagem convencional,

sem, contudo, impactar os custos da produção (BARBOSA, 2019).

Dessa forma, destaca-se a importância de estudos direcionados para revisão e

aperfeiçoamento das diferentes metodologias, com o intuito de estimular mais pesquisas e o

desenvolvimento de novas técnicas que atendam às necessidades do mercado consumidor e,

ainda sim, mantenham os atuais padrões produtivos obtidos pela avicultura industrial.

1.2 OBJETIVOS

1.2.1 Objetivo geral

O presente estudo tem por objetivo avaliar a debicagem através do tratamento por

radiação infravermelha (RI) com dois protocolos (placa 24/23 e 23/23) e do método de

debicagem holandesa (HL), sobre o desempenho zootécnico, tamanho do bico e a incidência

de calos de bico em poedeiras leves, nas fases de cria e recria, através de análise descritiva.

1.2.2 Objetivos Específicos

1- Realizar uma análise descritiva quanto ao peso (g) e uniformidade (%) das aves

debicadas por RI e debicagem HL.

2- Comparar o crescimento do bico (mm) entre as aves com debicagem por RI e com

debicagem HL, com 11 semanas de idade.

3- Comparar o percentual de calo de bico (nº) entre as aves com debicagem por RI e

com a debicagem HL, com 11 semanas de idade.

4- Realizar uma revisão literária sobre os diferentes métodos de debicagem utilizados

em poedeira comerciais.

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2 DESENVOLVIMENTO

Um dos maiores problemas enfrentados pelos produtores de poedeiras comerciais é a

incidência de canibalismo no plantel, uma vez que sua ocorrência se torna imprevisível,

devido ao comportamento inato e de causas multifatoriais, como o ambiente, nutrição e os

programas de luz (MAZZUCO, 2008; RIGO et al., 2017). Em virtude disso, a debicagem ou

remoção e cauterização parcial da ponta do bico superior e inferior de poedeiras se torna o

método mais eficiente nos sistemas produtivos (RIGO et al., 2017).

O resultado dessa agressividade das aves gera não somente perdas econômicas ao

produtor, como também problemas relacionados ao bem-estar às aves. São exemplos, o

estresse e refugagem, o aumento na incidência de ovos bicados, o arranque de penas que leva

a problemas de mantença da temperatura corporal gerando um aumento no consumo

alimentar, além de elevada taxa de mortalidade (ARAÚJO et al., 2005; LEESON;

MORRISON, 1978). Já entre os benefícios obtidos com a realização da debicagem, estão a

redução de todos os fatores citados anteriormente, e pode-se ressaltar ainda, a melhoria na

eficiência alimentar, uma vez que a remoção de parte do bico impossibilita a seletividade de

ingredientes, assim a ave consome a dieta de maneira uniforme e balanceada (VIEIRA

FILHO, 2016).

O corte parcial do bico das aves é realizado por meio de equipamentos, chamados

“debicadores” compostos de lâminas quentes ou por radiação infravermelha, podendo ser

manuais ou automáticos (RIGO et al., 2017). Contudo, a debicagem é considerada uma

operação de precisão, onde sempre deve-se buscar ao máximo possível o corte adequado,

tamanho e formato ideal do bico, pois o estresse resultante do procedimento realizado com

falhas, pode comprometer a saúde e o bem-estar do plantel de aves, além de afetar a produção

inicial de ovos, se esta prática não for devidamente empregada (bicos desuniformes,

necessidade de uma segunda debicagem) (ARAÚJO et al., 2005; RIGO et al., 2017).

O bico da ave é um órgão funcional, usado na manipulação de alimentos, exploração

do ambiente e interação social (FREIRE; GLATZ; HINCH, 2008). Quando parte do bico é

removida tem-se também a danificação de receptores sensíveis do bico (nervo trigêmeo) que

provocam dor, podendo ser crônica ou aguda, com duração variável de acordo com o método

utilizado (FAHEY; MARCHANT-FORDE; CHENG, 2007; GENTLE, 2011). Dessa forma,

para realizar a debicagem, é necessário atentar-se a idade da ave, a temperatura da lâmina e a

quantidade de tecido removido (Figura 1) ou de bico tratado (radiação infravermelha), pois

são fatores que também vão levar a variação da percepção da dor na ave, podendo resultar na

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16

formação de calos, tornando a região sensível, dificultando a alimentação e anulando os

efeitos benéficos da debicagem (FAHEY; MARCHANT-FORDE; CHENG, 2007; VIEIRA

FILHO, 2016).

Figura 1 - Classificação da intensidade de debicagem

Fonte: Adaptado de Santos (2014)

Notas: (A) Bico intacto; (B) Leve: remove-se 1/3 da parte superior do bico e apenas a extremidade distal do bico

inferior; (C) Moderada: remove-se 1/2 da parte superior do bico e 1/3 da parte inferior; (D) Severa: remove-se

2/3 da parte superior do bico e 1/2 da parte inferior do bico.

Diante disso, com o passar dos anos surgiram métodos alternativos de debicagem, na

busca de atender o mercado consumidor, cada vez mais preocupado com o bem-estar animal,

sem contudo, prejudicar os atuais níveis de produtividade da indústria avícola. Dentre essas

estão a debicagem por lâmina fria, debicagem convencional por lâmina quente, debicagem

holandesa, debicagem a laser, debicagem por radiação infravermelha e o desgaste natural da

ponta do bico.

2.1 DEBICAGEM POR LÂMINA FRIA

A técnica de debicagem por lâmina fria (LF) não é de comum a utilização em escala

industrial. Este método consiste no uso de uma tesoura afiada para realizar o corte de 1/3 do

bico superior (ÁVILA; ROLL; CATALAN, 2008).

2.2 DEBICAGEM CONVENCIONAL POR LÂMINA QUENTE

A debicagem realizada por lâmina quente (LQ) é empregada há vários anos e é ainda

a mais utilizada no Brasil (ABREU; MAZZUCO; SILVA, 2018; SANTOS, 2014). Esse

método consiste em cortar e cauterizar o bico por meio de lâmina plana aquecida, porém as

especificações quanto à metodologia empregada e a idade variam de acordo com a literatura e

o guia de manejo das linhagens (DENNIS; CHENG, 2010; SANTOS, 2014).

Para realizar a debicagem recomendam-se utilizar debicador com lâmina bem

aquecida (temperatura entre 550°C a 750ºC), onde, a primeira debicagem deve ocorrer entre o

A B C D

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17

7º e o 10º dia de idade, havendo necessidade de uma segunda debicagem, entre a 10ª e 12ª

semana de vida (ABREU; MAZZUCO; SILVA, 2018; SANTOS, 2014; VIEIRA FILHO,

2016).

A quantidade de tecido removido e a temperatura da lâmina são fatores que também

vão variar em função da linhagem e das metodologias adotadas. A quantidade de tecido

removido pode variar de leve a severa. Já no caso da temperatura, há relatos de que lâminas

superaquecidas podem resultar na formação de bolhas no interior da boca e formação de

neuromas ou calos no bico, que se tornam muito sensíveis ao contato, reduzindo assim, o

consumo de alimento e desempenho das aves (VIEIRA FILHO, 2016).

Portanto, deve-se realizar o procedimento de forma correta, para que se evite o

sangramento e o crescimento posterior do bico, possibilitando que a ave se recupere e volte ao

consumo normal de alimento e água, fatores estes, que influenciam diretamente sobre a

uniformidade do lote e no potencial produtivo da linhagem (VIEIRA FILHO, 2016).

2.3 DEBICAGEM HOLANDESA OU EM “V”

A debicagem holandesa (HL) ou em “V” é outra proposta de metodologia, porém

ainda são escassas as pesquisas sobre a realização dessa debicagem. Nesse método é utilizado

o debicador Verschuuren, em que se realiza o movimento de corte transversal do bico com

uma lâmina em formato de “V”, no momento do procedimento é recomendável que a lâmina

esteja aquecida a uma temperatura entre 750 a 800ºC, e deve ser realizado em aves entre 7 a

10 dias de idade (BUENO, 2017; OKA, 2016; RUSSO, 2018).

Esse corte é mais severo que o corte convencional por LQ, com tamanho

preconizado do bico de 1,00 mm a partir do orifício nasal, e caso o corte seja realizado de

maneira errônea, aumenta a chance de lesão no palato da ave dificultando o consumo e

consequentemente, o desempenho da mesma (ÁVILA et al., 2011; OKA, 2016). Porém, não

se faz necessário o emprego de uma segunda debicagem, o que pode ser benéfico do ponto de

vista do bem-estar animal, uma vez que há retirada de um manejo que causa mais estresse e

dor na ave, devido ao manuseio da equipe que realiza o procedimento e a idade da ave

(BUENO, 2017; OKA, 2016).

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18

2.4 DEBICAGEM POR TRATAMENTO DE RADIAÇÃO INFRAVERMELHA

O tratamento de bico realizado por meio de radiação infravermelha (RI) é um método

alternativo e menos agressivo que vem sendo estudado e testado para melhorar o bem-estar

das aves (RUSSO, 2018). Embora este método seja utilizado desde 2002 nos Estados Unidos

e países da União Europeia, esta tecnologia conhecida como Poultry Service Processor (PSP)

foi recentemente introduzida no Brasil em meados de 2012 (NOVA-TECH®

ENGINEERING, 2012 apud SANTOS, 2014).

Esta técnica é um processo automatizado e realizado no primeiro dia de vida da ave

no incubatório. Ela consiste em realizar a exposição do bico das aves à ação de um foco de

energia infravermelha de alta intensidade, que é utilizada para tratar o tecido córneo da ponta

do bico. A ponta do bico torna-se flácida e irá cair em até duas semanas após a realização do

tratamento (DENNIS; FAHEY; CHENG, 2009; GENTLE, 2011; RUSSO, 2018).

Por se tratar de um método automatizado, este oferece precisão no tratamento e uma

debicagem mais uniforme. É um método que apresenta inúmeros benefícios, como ausência

de cortes e sangramento que possam favorecer à infecções e inflamações, facilitando a

recuperação da ave. Proporciona ainda, tempo para o animal adaptar-se à alteração de

tamanho e forma do mesmo, gera menor estresse das aves e, também não são observadas

alterações no consumo de ração, já que traz menor dano ao tecido do bico, melhorando assim

seu bem-estar (ÁVILA; ROLL; CATALAN, 2008; MARCHANT-FORDE; CHENG, 2010;

VIEIRA FILHO, 2016).

Outra característica interessante desta metodologia é que o processo permite a

debicagem de um número elevado de aves, 4.000 aves/hora, quando comparado ao método de

debicagem convencional por LQ, em que um profissional experiente consegue debicar em

torno de 1.000 a 1.200 aves/hora (NOVA-TECH® ENGINEERING, 2012 apud SANTOS,

2014).

Ainda, o sistema infravermelho pode ser ajustado para usar várias configurações de

placa e energia (DENNIS; CHENG, 2012) e, dependendo do protocolo de tratamento

utilizado será necessária uma segunda debicagem, em torno de 70 dias de vida das aves

(RUSSO, 2018).

Page 20: DEBICAGEM POR RADIAÇÃO INFRAVERMELHA E DEBICAGEM …

19

2.5 DESGASTE NATURAL DA PONTA DO BICO

O desgaste natural do bico é um dos métodos menos invasivos, e consiste na

utilização de materiais abrasivos dentro dos comedouros, que promovem, com o decorrer do

tempo, o desgaste do bico a cada vez que as aves se alimentam, buscando reproduzir o que

acontece na natureza quando as aves bicam e ciscam o solo repetidamente em busca de

alimento. Em média, os resultados mostraram uma redução de 1 mm em comparação com os

bicos intactos (VAN de WEERD, 2006 apud ÁVILA; ROLL; CATALAN, 2008).

A ideia surgiu a partir de trabalhos de Tauson (1986), que objetivava atender

normativas da União Europeia em relação à presença de dispositivos de desgaste de unhas em

gaiolas para poedeiras. O bem-estar das aves é a principal vantagem do método, já que não

ocorre o corte do bico e dispensa a necessidade direta de intervenção humana para realizar o

manejo (ÁVILA; ROLL; CATALAN, 2008).

2.6 ESTUDOS COMPARATIVOS DOS DIFERENTES MÉTODOS DE DEBICAGEM

Nos últimos anos, diversas pesquisas vêm sendo realizadas com o objetivo de reduzir

os efeitos negativos da debicagem, avaliando entre elas as variáveis: número de realizações,

idade das aves submetidas ao processo, tamanho, tipo e formato do corte e seus impactos no

desempenho produtivo, bem como no bem-estar das poedeiras. Sendo assim, a debicagem é

um dos temas mais discutidos na atualidade (BARBOSA, 2019).

Oka (2016) avaliou a debicagem HL (realizada no oitavo dia de vida)

comparativamente ao método por RI e LQ (debicadas no primeiro dia de vida e no oitavo dia

de vida, respectivamente, sendo ambas redebicadas aos 70 dias de vida), na fase de cria e

recria, através do desempenho zootécnico, e na fase de produção, por meio da qualidade dos

ovos. Constatou que na fase de cria a debicagem por RI obteve melhores resultados para as

variáveis de peso médio final, ganho de peso médio e ganho de peso médio diário. Já na fase

de recria as aves debicadas por RI obtiveram melhores resultados no peso inicial. Todavia,

aves com debicagem HL tiveram melhor peso médio final, ganho de peso médio e ganho de

peso médio diário, e ainda, na fase de produção apresentaram melhores resultados para

resistência e espessura da casca do ovo. Para as variáveis de mortalidade, canibalismo,

viabilidade e uniformidade os três tratamentos mantiveram-se semelhantes.

Dennis, Fahey e Cheng (2009) compararam os métodos de debicagem por meio de

LQ e RI, aplicados em poedeiras comerciais da linhagem Bovans White e mostraram que a

Page 21: DEBICAGEM POR RADIAÇÃO INFRAVERMELHA E DEBICAGEM …

20

metodologia utilizando RI reduziu os danos causados por agressividade e bicadas,

proporcionando melhores condições de bem-estar, sem o comprometimento dos parâmetros

produtivos. Ainda, Dennis e Cheng (2010), ao comparar a debicagem por LQ e RI, em aves

da linhagem Bovans White, constataram que a debicagem por RI proporcionou redução da

agressividade e melhores condições de empenamento, e ainda que, as aves tratadas pelo

método de RI gastaram menos tempo se alimentando e apresentaram maior peso corporal, em

comparação às aves debicadas por LQ. Este resultado é reflexo de melhor eficiência

alimentar, em animais tratados por RI.

Em outro estudo, Dennis e Cheng (2012) avaliaram os efeitos de diferentes

protocolos de debicagem por RI sob o bem-estar e na fisiologia das aves. Foram utilizados

dois tamanhos de placas de proteção (27/23C, menos severo e 25/23C, mais severo) em três

configurações de potência: alta (52), moderada (48) e baixa (44). Ainda foi comparado com

aves debicadas por LQ. Constataram que as aves do protocolo 27/23C (48) foram as mais

pesadas em todas as idades, e as aves aparadas com protocolos 25/23C apresentaram bicos

mais curtos. O estudo forneceu evidências de que o comprimento da placa e a intensidade da

luz infravermelha podem ser ajustados para aprimorar o comprimento do bico, bem como os

parâmetros de produção e o bem-estar dos animais. Por fim, concluiu-se que o protocolo

27/23C (48) otimizou os parâmetros relevantes para a produção, além de reduzir a dor,

desconforto ou causar alteração de comportamentos.

Vieira Filho et al. (2016) avaliaram o efeito da debicagem por LQ ou por RI, sobre

os indicadores produtivos e de qualidade de ovos, em três linhagens de poedeiras (Lohmann

LSL, Hy-line W36 e Lohmann Brown) na primeira semana de vida, e se uma segunda

debicagem seria necessária na décima semana de idade. A debicagem por RI mostrou ser uma

alternativa viável, em substituição à debicagem convencional por LQ, para as três linhagens

avaliadas, proporcionando os mesmos resultados produtivos e de qualidade de ovos entre os

tratamentos. Além disso, não houve necessidade da realização de uma segunda debicagem, a

realização de uma única debicagem foi o suficiente para que não ocorresse o aumento na

incidência de canibalismo. Entretanto, nas aves sem a segunda debicagem, foi observado um

decréscimo de 8% na viabilidade à 63ª semana de idade.

Santos (2014) analisou os métodos de debicagem por RI e convencional por LQ,

ambos com intensidades moderada e severa, em aves na fase de cria, recria e postura. Na fase

de cria pode concluir que para ambos os tratamentos, a debicagem moderada apresentou

melhores valores no consumo de ração e peso corporal. Na fase de recria constatou que a

debicagem por RI promoveu resultados de desempenho às 16 semanas semelhantes aos

Page 22: DEBICAGEM POR RADIAÇÃO INFRAVERMELHA E DEBICAGEM …

21

obtidos com a debicagem por LQ, porém, a realização da segunda debicagem de forma severa

comprometeu o desempenho do lote. Na fase de postura concluiu que não houve diferença

significativa entre os dois métodos sob o desempenho produtivo e qualidade dos ovos quando

as aves são submetidas a uma única debicagem.

Araújo et al. (2000) avaliaram o desempenho de frangas de postura da linhagem Isa

Babcock submetidas a diferentes metodologias de debicagem por LQ (sem debicagem e com

debicagem leve ou severa). Foram avaliados consumo de ração, ganho de peso, uniformidade

e frequência de canibalismo. Os autores observaram que na fase de cria, as aves não debicadas

apresentaram maior consumo de ração, maior frequência de canibalismo e maior

desuniformidade. Já na fase de recria, as aves não debicadas apresentaram maior desperdício

de ração e maior peso corporal, embora esse peso tenha sido inferior aos padrões da linhagem.

E após a segunda debicagem, em ambos os métodos de debicagem, houve perda de peso

devido ao baixo consumo de ração pós-debicagem, não havendo posteriormente ganho

compensatório em relação às aves não debicadas.

Em outro estudo, Araújo et al. (2005), avaliando o efeito da debicagem leve, severa

e da não debicagem sobre o desempenho de poedeiras, mostraram que não ocorreu influência

da primeira debicagem sobre o peso médio, a conversão alimentar e a taxa de produção de

ovos, contudo, havendo menor consumo de ração para as aves que tiveram debicagem severa.

Sob os efeitos da segunda debicagem (leve e severa), houve uma diminuição no consumo de

ração, sendo que as aves severamente debicadas ainda tiveram reflexos negativos sobre a

conversão alimentar e taxa de postura. Já as aves que foram submetidas à debicagem leve

apresentaram uma melhor produção de ovos e uma melhor conversão alimentar. Não houve

diferença significativa na produção de ovos das aves severamente debicadas em comparação

as não debicadas.

Oda et al. (2000) analisaram o desempenho entre duas linhagens de poedeiras

comerciais debicadas por LQ em diferentes idades na fase de recria (primeira debicagem foi

realizada no 8º dia de idade e a segunda na 8ª, 10ª, 12ª ou 14ª semana de idade) e, verificaram

que os parâmetros produtivos foram mais influenciados pela linhagem do que pela idade de

debicagem. Porém, independente da linhagem, a prática da debicagem melhorou a

porcentagem de postura.

Baggio (2017) avaliou o desempenho e bem-estar de poedeiras submetidas a

diferentes métodos de debicagem (sem debicar, por LQ e RI) em dois sistemas de criação

(gaiola e piso). Foram avaliados o desempenho, qualidade de ovos, comportamento e

variáveis fisiológicas. O autor observou que, na fase de recria, as aves sem debicar e

Page 23: DEBICAGEM POR RADIAÇÃO INFRAVERMELHA E DEBICAGEM …

22

debicadas por LQ, apresentaram menor consumo de ração e melhor conversão alimentar.

Concluiu que no sistema de criação em pisos as aves não precisam ser debicadas, já no

sistema de gaiolas a debicagem é um manejo importante, evitando o estresse e bicagem de

penas.

Em outro estudo Baggio et al. (2018) avaliaram a seletividade alimentar de poedeiras

submetidas a diferentes métodos de debicagem (sem debicar, por LQ e RI) em dois sistemas

de criação (piso e gaiola). Os autores concluíram que os métodos de debicagem avaliados não

impediram a seleção de alimento pela ave. No entanto, na fase de recria a debicagem por LQ

reduz mais a capacidade de seleção quando comparado a debicagem por RI. Já o sistema de

criação em gaiolas influência e favorece a seleção de alimento na fase de recria e produção,

quando comparada a criação em pisos.

Bastos-Leite et al. (2016) estudaram a influência dos diferentes níveis de debicagem,

sobre o desempenho e qualidade dos ovos de poedeiras comerciais leves. Os tratamentos

utilizados foram: aves não debicadas, aves debicadas a 7 mm, aves debicadas a 6 mm e aves

debicadas a 5 mm, sendo essa distância tomada da narina ao bico. Os autores concluíram que

as aves não debicadas obtiveram consumo de ração e mortalidade significativamente maiores.

Já as variáveis de qualidade de ovos não foram influenciadas pelos tratamentos. Desse modo,

as debicagens a 5, 6 ou 7 mm de distância da narina ao bico podem ser utilizadas em

poedeiras leves sem causar prejuízos sobre o desempenho produtivo ou a qualidade dos ovos.

Angevaare et al. (2012), em seus estudos, avaliaram o efeito do cuidado materno e da

debicagem por RI sob o desenvolvimento, desempenho e comportamento das aves. Os autores

constataram que as aves com debicagem por RI apresentaram um impacto supressivo nos

parâmetros de produção e na eficiência de bicar, quando comparadas as aves não debicadas.

Por outro lado, este tipo de tratamento de bico não alterou o comportamento de sociabilidade,

medo ou aprendizado das aves. Mertens et al. (2009) constataram que em lotes não debicados

as taxas de mortalidade são consideravelmente mais elevadas quando comparados aos lotes

debicados. Desta forma, a debicagem mostra-se efetiva na prevenção do canibalismo e

mortalidade.

Diante disso, pode-se observar que há resultados contraditórios em relação a

utilização da debicagem, e por isso devem ser analisados com cautela. Pois, mesmo tendo

impacto sobre o bem-estar animal, é de extrema importância que se entenda o real motivo de

sua aplicação, bem como os efeitos negativos em plantéis que não foram submetidos a esta

prática (BARBOSA, 2019).

Page 24: DEBICAGEM POR RADIAÇÃO INFRAVERMELHA E DEBICAGEM …

23

3 MATERIAL E MÉTODOS

A pesquisa foi realizada na Granja Mantiqueira na unidade da cidade de Primavera

do Leste, Mato Grosso, onde os dados foram coletados e cedidos pelo setor de Cria e Recria.

O aviário em estudo, denominado “Recria 09”, é um aviário convencional de pressão

positiva (ventiladores e nebulizadores), com dimensões de 135 m de comprimento por 15 m

de largura. O aviário é equipado com gaiolas do tipo Zucami (74 cm x 60 cm), disposta

verticalmente em cinco baterias de quatro pisos/andares. O programa de luz adotado foi de 23

horas na primeira semana de vida, reduzindo 1 hora por semana até chegar a 13 horas de luz

por dia, na 11ª semana de idade, as quais foram mantidas até a 16 ª semana.

Há um silo com capacidade para 18 toneladas, abastecido sempre que necessário. Os

comedouros são do tipo calha, onde o número de arraçoamentos é programados em horas de

acordo com a idade e linhagem das aves, sendo realizado através de carrinhos automáticos. A

ração é a base de milho, farelo de soja, calcário, farinha de carne e óleo vegetal. O

fornecimento de ração totalizou em 514 toneladas, do 1o dia de vida até a 16ª semana de

idade.

O abastecimento de água é por uma caixa d’água externa (capacidade para 1.000

litros), sendo distribuída em caixas d’água menores presente no interior do aviário, e os

bebedouros são do tipo nipple, sendo três bebedouros por gaiola, com fornecimento ad

libitum.

Foram alojadas 104.000 aves, com um dia de idade, nos dias 17 e 18 de dezembro de

2019, da linhagem Lohmann® White LSL-Lite. Essas aves foram divididas em dois grupos,

os quais receberam diferentes métodos de debicagem, radiação infravermelha e holandês.

Ainda, nas aves com debicagem por RI foram utilizados dois tamanhos de placas de proteção,

sendo 24 ou 23 mm de comprimento por 23 mm de altura (24/23, moderado ou 23/23,

severo), ambos com alta intensidade de luz infravermelha.

Para realização da pesquisa, as aves foram distribuídas nas baterias de gaiolas

conforme o tipo de debicagem e protocolo utilizado. Nas baterias um e dois foram alojadas às

aves debicadas por radiação infravermelha de placa 24/23 (moderada), na bateria três as aves

debicadas por radiação infravermelha de placa 23/23 (severa), e na bateria quatro e cinco

aquelas debicadas pelo método holandês (debicagem severa) (Figura 2).

Page 25: DEBICAGEM POR RADIAÇÃO INFRAVERMELHA E DEBICAGEM …

24

Figura 2 - Distribuição das aves conforme a debicagem

Fonte: Elaborado pelo autor (2020)

Com as aves devidamente separadas, foram coletados dados de peso (g) e

uniformidade (%), semanalmente, durante toda a fase de cria e recria, e com 11 semanas de

idade foram avaliados o tamanho (mm) e calo de bico (no) nos diferentes métodos de

debicagem.

Destaca-se que, por questões de organização e manejo da empresa, os dados

coletados não permitiram a aplicação de testes estatísticos de comparação de médias, dessa

forma, foram realizadas apenas análises descritivas dos dados.

3.1 VARIÁVEIS ANALISADAS

3.1.1 Peso corporal das aves (g)

Para pesagem das aves foi utilizado uma balança eletrônica da Weltech International

Limited, modelo BW – 2050 Weigher, onde a aves são pesadas individualmente, sendo gerado

automaticamente a média de peso corporal, a uniformidade e o coeficiente de variação.

As aves foram pesadas semanalmente da 1ª semana até a 16ª semana de idade, a

pesagem foi realizada separadamente conforme o método de debicagem e a distribuição das

gaiolas de pesagem padrão do setor de Cria e Recria. Para obtenção do o peso padrão da

linhagem, foi consultado o Guia de Manejo Lohmann® LSL-Lite (2017).

Da primeira semana até a segunda semana de idade, as aves permaneceram alojadas

somente na parte da frente do aviário, com 50 pintos por gaiola, dessa forma foram pesadas

Page 26: DEBICAGEM POR RADIAÇÃO INFRAVERMELHA E DEBICAGEM …

25

250 aves por semana nesse período, onde 100 possuíam debicagem pelo tratamento de RI

placa 24/23, 50 pelo tratamento de RI placa 23/23 e 100 debicagem HL.

A partir da segunda semana as aves passam pelo processo de distribuição, onde são

distribuídas para o fundo do aviário, permanecendo 16 aves por gaiola, assim, pesando-se 160

aves semanalmente, onde 64 possuíam debicagem pelo tratamento de RI placa 24/23, 32 pelo

tratamento de RI placa 23/23 e 64 debicagem HL. Para avaliação final dos dados, os pesos

médios foram agrupados a cada quatro semanas.

3.1.2 Uniformidade do lote (%)

A uniformidade de um lote é expressa como percentual de aves que se enquadra em

uma determinada faixa (o ideal é de +/- 10%) em torno da média do peso corporal do lote.

Quanto maior o número de aves dentro dessa faixa de peso, maior a uniformidade do lote,

mais fácil é o manejo e menor a necessidade de uma subdivisão do lote (AVIAGEN, 2018).

Calculado pela fórmula:

Uniformidade = nº de aves dentro ± 10% do peso médio X 100

nº total de aves da amostra

A partir do peso médio, calcula-se 10 % para mais e 10% para menos, sendo estes os

limites superior e inferior do intervalo, respectivamente. Após, verifica-se a quantidade de

aves que ficaram dentro do intervalo de ± 10% do peso médio corporal. O resultado deve ser

dividido pelo número total de aves da amostra, transformado em percentual, e obtém-se a

uniformidade.

No presente trabalho, o valor de uniformidade foi gerado automaticamente pela

balança eletrônica e foram registrados em uma planilha, semanalmente, de acordo com a

pesagem das aves. Para avaliação final dos dados, os valores de uniformidade foram

agrupados a cada quatro semanas, conforme o peso médio das aves.

3.1.3 Crescimento do bico (mm)

Foi avaliado o tamanho do bico de 300 aves aleatórias (Figura 3), com 11 semanas

de idade, sendo 100 aves de cada um dos diferentes métodos de debicagem, para então,

estipular a média de crescimento do bico, uniformidade e o coeficiente de variação.

Page 27: DEBICAGEM POR RADIAÇÃO INFRAVERMELHA E DEBICAGEM …

26

Figura 3 - Mensuração do tamanho do bico

Fonte: Elaborado pelo autor (2020)

Para mensurar o tamanho do bico, utilizou-se um paquímetro digital, posicionando a

parte fixa do paquímetro na abertura nasal da ave, e a parte móvel na ponta do bico da ave

(Figura 4), todos os valores foram registrados em milímetros.

Figura 4 - Mensuração do tamanho do bico

Fonte: Adaptado de Santos (2014)

A uniformidade do tamanho do bico foi calculada com base na fórmula utilizada para

o cálculo da uniformidade do peso corporal, somente substituindo o peso médio por mm do

bico (±10%), conforme fórmula descrita no item 3.1.2.

Page 28: DEBICAGEM POR RADIAÇÃO INFRAVERMELHA E DEBICAGEM …

27

3.1.4 Calo de bico (no)

Das mesmas aves onde se aferiu o tamanho do bico, com 11 semanas de idade, foi

realizada a contagem de calo de bico (Figura 5), separadamente para cada tipo de debicagem.

Figura 5 - Ilustração do calo de bico

Fonte: Adaptado de Santos (2014)

Page 29: DEBICAGEM POR RADIAÇÃO INFRAVERMELHA E DEBICAGEM …

28

4 RESULTADO E DISCUSSÃO

No Gráfico 1 encontram-se os dados para peso corporal médio das aves submetidas

as diferentes debicagens, os dados para análise da curva de crescimento foram comparados a

cada quatro semanas. No gráfico a linha contínua expressa o peso médio padrão da linhagem

para a respectiva idade.

Gráfico 1 - Peso médio das aves debicadas por RI 24/23, RI 23/23 e Holandesa

Fonte: Elaborado pelo autor (2020)

Pode-se constatar que na 1ª e 5ª semana de idade (fase de cria) as aves obtiveram

pesos semelhantes em ambos os tratamentos e ainda obtiveram peso médio acima do peso

padrão da linhagem. Esses resultados diferem dos encontrados por Oka (2016), em que as

aves debicadas por RI obtiveram valores maiores para as variáveis de ganho de peso médio,

peso médio diário e peso médio final, comparativamente ao método de debicagem HL, que

possivelmente foi causado pelo estresse devido ao procedimento severo da debicagem ao 8º

dia de vida, o qual causou sensibilidade dolorosa no bico.

Já Vieira Filho (2016), ao comparar os efeitos da debicagem por LQ e RI, observou

que durante o período de cria, nas duas primeiras semanas houve diferença no consumo de

ração, onde possivelmente a debicagem por RI implicou em ligeira redução do consumo de

ração até que a porção tratada do bico caísse totalmente. Mas a partir da segunda e terceira

semanas de idade, a diferença de consumo entre as metodologias foi pouco evidente, de forma

85

34

2

664

95

7

11

03

88

34

8

65

3

96

1

10

83

79

34

2

64

7 9

05 10

87

70

334

712

1010

1160

0

200

400

600

800

1000

1200

1 5 9 13 16

Peso

Méd

io (

g)

Idade (semanas)

Peso médio (g)

RI 24/23

RI 23/23

Holandesa

Peso Padrão

Linhagem

Page 30: DEBICAGEM POR RADIAÇÃO INFRAVERMELHA E DEBICAGEM …

29

que, esses apresentaram consumo médio de ração semelhante, não ocasionando em redução

do peso corporal ao final do período de cria (6ª semana de idade).

Na fase de recria (6-16 semanas), considerando a 9ª e 13ª semana de idade, pode-se

dizer que as aves com debicagem por RI placa 24/23 e 23/23 obtiveram desempenho

semelhantes entre elas, e superiores ao de debicagem HL, porém ambos os métodos tiveram

queda de desempenho em relação ao peso padrão da linhagem. Já na 16ª as aves debicadas por

RI placa 24/23 apresentaram peso levemente superior às demais, porém é importante destacar

que o peso médio das aves, debicadas pelas três metodologias, foram muito próximos.

Nessa fase, Oka (2016) observou que a debicagem por RI proporcionou redução no

ganho de peso médio e peso médio diário, refletindo no peso médio final, comparativamente à

debicagem HL, porém provavelmente este fato ocorreu em consequência do estresse da

segunda debicagem realizada aos 70 dias nas aves com debicagem por RI. Entretanto, a

segunda debicagem não se aplicou no presente estudo, portanto não havendo a perda de peso

dessas aves, condizendo com os resultados obtidos.

Em outro estudo, ao comparar a debicagem por RI e LQ, a análise de comportamento

mostrou que as aves debicadas por RI passaram menos tempo se alimentando, no entanto,

essas aves eram consistentemente mais pesadas que as aves debicadas por LQ, sugerindo que

a debicagem por RI pode permitir um comportamento alimentar mais eficiente (DENNIS;

CHENG, 2010).

Ainda sugere-se que a debicagem por RI aumenta a percepção sensorial em função

de menor dano aos mecanorreceptores do bico, o que proporciona um consumo mais uniforme

da dieta e consequentemente maior peso corporal (DENNIS; CHENG, 2010).

A uniformidade das aves debicadas a partir dos diferentes métodos de debicagem

pode ser observada no Gráfico 2.

Page 31: DEBICAGEM POR RADIAÇÃO INFRAVERMELHA E DEBICAGEM …

30

Gráfico 2 - Uniformidade das aves debicadas por RI 24/23, RI 23/23 e Holandesa

Fonte: Elaborado pelo autor (2020)

A uniformidade de um lote é tão importante quanto alcançar a meta média de peso

corporal, pois indica o desenvolvimento normal do lote. Aves desuniformes apresentam

dificuldade de alimentação correta tanto no período de crescimento quanto no da postura, isso

reflete no início e extensão do pico de produção das aves e consequentemente na

uniformidade dos ovos (VALBUENA, 2018). Dessa forma, quanto maior a uniformidade das

aves, melhores os resultados produtivos (LARA, 2015). A intepretação da uniformidade pode

ser visualizada no Quadro 1.

Quadro 1 - Interpretação dos resultados de uniformidade

Uniformidade Caracterização

90 - 100% Ótima

80 - 90% Muito boa

70 - 80% Boa

60 - 70% Regular

< 60% Ruim Fonte: Adaptado de Ávila, Albino e Saatkamp (2007)

Com o gráfico pode-se observar uma brusca queda na uniformidade das aves com

debicagem da RI 23/23 na 9ª semana de idade, chegando a 65% de uniformidade (regular). Já

as aves debicadas por RI 24/23 obtiveram com uma uniformidade “muito boa” a “ótima”

durante todo o período, permanecendo sempre acima de 80%. As aves com debicagem HL

86

81

92

94

92

90

80

65

85

94

86

72

81

84 89

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

1 5 9 13 16

Un

iform

idad

e (%

)

Idade (semanas)

Uniformidade (%)

RI 24/23

RI 23/23

Holandesa

Page 32: DEBICAGEM POR RADIAÇÃO INFRAVERMELHA E DEBICAGEM …

31

apresentaram uma uniformidade entre “boa” e “muito boa”. Contudo, no final, as aves

debicadas por RI 23/23 recuperaram, e todos os tratamentos se equipararam, obtendo

uniformidades acima de 80% (muito boa) e 90% (ótima).

Deve-se considerar ainda que a debicagem é um dos fatores que influenciam na

uniformidade do lote e, que a debicagem por RI, por ser um processo automatizado, garante

maior homogeneidade no corte do bico, garantindo um consumo semelhante entre as aves, o

que ocorre diferentemente na debicagem HL, já que é um processo manual, passível de maior

número de erros.

Portanto, garantir que os lotes possuam desenvolvimento dentro dos limites padrões

de peso corporal da linhagem e, que alcancem uma uniformidade acima de 80% antes do

início da postura é o ideal, para que as aves atinjam a maturidade sexual a uma idade

fisiologicamente adequada, com maior pico de postura, maior uniformidade no tamanho dos

ovos, além de um número maior de ovos/ave alojada e diminuição de problemas de prolapso

(FERREIRA, 2019; PRADO; PRADO, 2012).

Dessa forma, a melhor forma de controlar o desenvolvimento corporal das aves é a

pesagem semanal, manejo que é fundamental para verificar a manutenção da uniformidade

dos lotes e, consequentemente, uma maior produtividade (PRADO; PRADO, 2012).

O Gráfico 3 compara a média de crescimento dos bicos, que foram mensurados na

11ª semana de idade.

Gráfico 3 - Tamanho médio do bico das aves debicadas por RI 24/23, RI 23/23 e Holandesa

Fonte: Elaborado pelo autor (2020)

10,54

8,86

7,79

RI 24/23 RI 23/23 Holandesa

Tamanho do bico (mm)

Média

CV = 9,16%

CV = 10,15%

CV = 17,03%

Page 33: DEBICAGEM POR RADIAÇÃO INFRAVERMELHA E DEBICAGEM …

32

Comparando-se as médias dos tratamentos obtidas para tamanho do bico (mm), com

11 semanas de idade, constata-se que as aves debicadas por RI placa 24/23 obtiveram maior

crescimento de bico quando comparada as aves severamente debicadas (RI placa 23/23 e HL),

o que condiz com a quantidade de tecido removido em cada uma das debicagens realizadas.

Resultados similares foram encontrados por Dennis, Cheng (2010) e Oka (2016),

onde verificaram que as aves debicadas por RI apresentaram maior comprimento de bico,

quando comparadas as aves com debicagem por LQ e HL.

Em relação à uniformidade do bico, a debicagem por RI 24/23 apresentou 72%, a

debicagem por RI 23/23 obteve 69% e a debicagem HL 45% de uniformidade. Oka (2016) ao

analisar o comprimento e uniformidade do bico, na fase de cria e recria, observou que a

debicagem HL e a debicagem por LQ apresentaram valor de 82,14% indicando menor

uniformidade em comparação a RI que apresentou 92,86% de uniformidade, corroborando

com os achados neste estudo.

Destacam-se ainda, os valores do coeficiente de variação, sendo o mais alto para a

debicagem HL, que por ser um método manual, o tamanho da apara do bico torna-se

desuniforme, refletindo em diferenças no consumo de ração das aves e, consequentemente em

seu desempenho zootécnico.

O tamanho do bico pode determinar a realização de uma segunda debicagem, o que

normalmente ocorre nos lotes debicados por RI placa 24/23, dependo da intensidade da luz, o

que não foi necessário nesse caso, pois se utilizou uma intensidade de luz infravermelha mais

alta. E a debicagem severa objetiva descartar a realização de uma segunda debicagem, dessa

forma, sem gerar mais um período de estresse, pelo manejo, e dor, pela idade da ave, fatores

que podem levar a futura queda na produção.

No Gráfico 4 encontram-se os dados de prevalência de calo de bico entre os

tratamentos.

Page 34: DEBICAGEM POR RADIAÇÃO INFRAVERMELHA E DEBICAGEM …

33

Gráfico 4 - Prevalência de calo de bico nas aves debicadas por RI 24/23, RI 23/23 e

Holandesa

Fonte: Elaborado pelo autor (2020)

As aves debicadas por RI 23/23 apresentaram a maior quantidade de calos de bico,

seguida das aves com debicagem HL. Portanto, considera-se que a prevalência de calos de

bico foi maior nas debicagens realizadas de forma severa, sugerindo que a apara severa do

bico, por causar maior dano ao tecido, leva a formação de calos de bicos, tornando a região

sensível ao contato com instalações e equipamentos, dificultando assim a alimentação e

anulando os efeitos benéficos da debicagem.

Isso se deve ao fato de que, durante a prática de debicagem há a remoção de

receptores sensoriais do bico, onde o nervo trigêmeo acaba sendo danificado e com isso,

ocorre à formação de calos ou neuromas na ponta do bico (Figura 6) como processo de

cicatrização, proporcionando dor aguda ou crônica, que posteriormente tendem a regredir

(HESTER; SHEA-MOORE, 2003; OKA, 2016).

6%

41%

15%

RI 24/23 RI 23/23 Holandesa

Prevalência de calo de bico (nº)

Quantidade

Page 35: DEBICAGEM POR RADIAÇÃO INFRAVERMELHA E DEBICAGEM …

34

Figura 6 - Calo de bico em aves com 11 semanas de idade

Fonte: Elaborado pelo autor (2020)

Porém, a presença e permanência do calo de bico vão variar bastante entre as aves,

em consequência de fatores como a idade, a quantidade de tecido removido e a temperatura da

lâmina do debicador (CHENG, 2006; SANTOS, 2020). Especificamente, os métodos de

debicagem severa podem levar a persistência desses neuromas com corpúsculos sensoriais e

nociceptores que, consequentemente, apresentará atividade ectópica que gera descargas

espontâneas e causará sensação dolorosa no local afetado (CRESPO; SHIVAPRASAD, 2013;

GENTLE et al., 1997; KUENZEL, 2007).

Ainda, segundo Kuenzel (2007), a remoção de 50% ou menos do bico da ave pode

impedir a formação de neuromas e permitir a regeneração do tecido queratinizado para evitar

bicos deformados e, consequentemente, afetar positivamente a qualidade de vida das aves.

Portanto, vale ressaltar que, a debicagem é um processo que deve ser empregado de

maneira correta, dado que, este manejo tem grande influência no consumo de ração, peso

corporal, uniformidade do lote e produção de ovos. Além disso, não há nenhuma maneira de

corrigir uma debicagem mal feita, inviabilizando a produção (SERRATOS, 1996 apud OKA,

2016).

Page 36: DEBICAGEM POR RADIAÇÃO INFRAVERMELHA E DEBICAGEM …

35

5 CONCLUSÃO

Pode-se concluir, de maneira geral, que não houve grande variação entre os

diferentes métodos de debicagem, para peso corporal e uniformidade das aves. Quanto ao

tamanho do bico, o método de debicagem por RI se mostrou com maior uniformidade. A

prevalência de calo de bico foi maior nas aves debicadas de forma severa, o que pode

impactar no desempenho zootécnico.

Dessa forma, o método de debicagem por RI, com nível de debicagem moderada

(24/23) e alta intensidade de luz infravermelha, mostra-se uma alternativa viável, uma vez

que, obteve melhores resultados de desempenho, não necessitou da segunda debicagem e

ainda garantiu um maior bem-estar às aves. Porém, ainda devem ser realizados mais estudos

para saber a influência dos diferentes métodos de debicagem sobre o desempenho das aves.

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