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Mudanças na Educação Profissional no Brasil Adriano Larentes da Silva Instituto Federal de Santa Catarina – Campus Chapecó Desde 2003 mudanças importantes vêm ocorrendo em escolas que ofertam educação profissional e tecnológica no Brasil. Dois grandes marcos dessas mudanças foram o Seminário Nacional Ensino Médio: Construção Política e o Seminário Nacional de Educação Profissional: Concepções, Experiências, Problemas e Propostas, ambos realizados em Brasília, em junho de 2003, pela Secretária da Educação Média e Tecnológica (MEC/SEMTEC). A partir destes dois seminários toda a política de educação profissional no Brasil foi repensada e explicitada em novas leis, pareceres e documentos e debatida em seminários, congressos e conferências. Um dos primeiros documentos que resultou dos debates realizados em 2003 foi o decreto 5154/2004, que revogou o decreto 2208/1997, abrindo a possibilidade de oferta do Ensino Médio Integrado pelas escolas de educação profissional e pelas demais escolas de ensino médio. A partir desse decreto, considerado por Frigotto, Ciavatta e Ramos (2005) como um documento de “travessia”, nasceram os decretos 5478/2005 e 5840/2006, ambos tratando da oferta da Educação Profissional Integrada para Jovens e Adultos. Com o decreto 5840/2006 foi instituído o Programa de Integração da Educação Profissional com a Educação Básica na Modalidade de Educação de Jovens e Adultos, o PROEJA, que passou a ser

Decreto 5840 - 2006

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Mudanças na Educação Profissional no Brasil

Adriano Larentes da Silva

Instituto Federal de Santa Catarina – Campus Chapecó

Desde 2003 mudanças importantes vêm ocorrendo em escolas que ofertam

educação profissional e tecnológica no Brasil. Dois grandes marcos dessas

mudanças foram o Seminário Nacional Ensino Médio: Construção Política e o

Seminário Nacional de Educação Profissional: Concepções, Experiências,

Problemas e Propostas, ambos realizados em Brasília, em junho de 2003, pela

Secretária da Educação Média e Tecnológica (MEC/SEMTEC).

A partir destes dois seminários toda a política de educação profissional no

Brasil foi repensada e explicitada em novas leis, pareceres e documentos e

debatida em seminários, congressos e conferências. Um dos primeiros

documentos que resultou dos debates realizados em 2003 foi o decreto

5154/2004, que revogou o decreto 2208/1997, abrindo a possibilidade de oferta

do Ensino Médio Integrado pelas escolas de educação profissional e pelas

demais escolas de ensino médio. A partir desse decreto, considerado por

Frigotto, Ciavatta e Ramos (2005) como um documento de “travessia”,

nasceram os decretos 5478/2005 e 5840/2006, ambos tratando da oferta da

Educação Profissional Integrada para Jovens e Adultos. Com o decreto

5840/2006 foi instituído o Programa de Integração da Educação Profissional

com a Educação Básica na Modalidade de Educação de Jovens e Adultos, o

PROEJA, que passou a ser ofertado compulsoriamente pelos CEFETs -

Centros Federais de Educação Profissional e Tecnológica.

No mesmo ano da publicação do decreto 5840/2006 foram realizadas nos

estados e no Distrito Federal as Conferências Estaduais de Educação

Profissional e Tecnológica, as quais foram preparatórias para a 1ª Conferência

Nacional de Educação Profissional e Tecnológica que ocorreu de 05 a 08 de

novembro de 2006, em Brasília, reunindo milhares de delegados, entre

educadores, educandos, gestores, pais e outros segmentos ligados ao debate

da educação profissional. O evento foi organizado pelo MEC em conjunto com

o Fórum Nacional de Gestores Estaduais de Educação Profissional e teve

como tema “Educação Profissional e Tecnológica como Estratégia para o

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Desenvolvimento e a Inclusão Social”. A conferência teve como objetivo

principal a definição de diretrizes para uma nova política nacional de Educação

Profissional e Tecnológica, através do diálogo entre os diversos atores.

Após a 1ª Conferência Nacional de Educação Profissional de 2006, novas

conferências foram realizadas em 2008 (1ª Conferência Nacional de Educação

Básica – CONEB) e 2010 (Conferência Nacional de Educação – CONAE).

Neste contexto de mudanças, outras duas medidas importantes foram

adotadas pelo MEC. A primeira foi o acordo fechado com o Sistema S (SENAI,

SESC, SENAC, SESI, SENAR, SENAT) visando a ampliação de vagas em

cursos técnicos e a gratuidade dos serviços de educação ofertados por esse

sistema. A segunda medida foi a criação, em dezembro de 2008, dos Institutos

Federais de Educação, Ciência e Tecnologia, substituindo grande parte dos

antigos CEFETs.

O conjunto de mudanças que ocorreram na Educação Profissional, desde

2003, trouxe inúmeros desafios para todos os envolvidos com a educação

profissional no Brasil. Ao mesmo tempo, estas mesmas mudanças, resultado

de grandes embates políticos e pedagógicos, devolveram a esperança a todos

aqueles que há várias décadas vem lutando por uma educação profissional

pública, gratuita, de qualidade, voltada ao aprendizado significativo e à

emancipação dos diferentes sujeitos envolvidos nos processos educativos.

Referências:

BRASIL. Ministério da Educação(MEC). Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica (Setec). Educação profissional técnica de nível médio integrada ao ensino médio: documento base. Brasília, 2007.

_______. Programa de Integração da Educação Profissional com a Educação Básica na Modalidade de Educação de Jovens e Adultos – Proeja – educação profissional técnica de nível médio, ensino médio: documento-base. Brasília, 2007. Disponível em: portal.mec.gov.br/setec/arquivos/pdf2/proeja_medio.pdf.

_______. Programa de Integração da Educação Profissional com a Educação Básica na Modalidade de Educação de Jovens e Adultos – Proeja – formação inicial e continuada, ensino fundamental: documento-base. Brasilia, 2007. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/setec/arquivos/pdf2/proeja_fundamental_ok.pdf.

FRIGOTTO, Gaudêncio; CIAVATTA, Maria; RAMOS, Marise (Orgs.). Ensino Médio

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Integrado: concepção e contradições. São Paulo: Cortez, 2005.

MOURA, Dante H. e PINHEIRO, Rosa A. Currículo e formação humana no ensino médio técnico integrado de jovens e adultos. In: Em Aberto, Brasília, v. 22, n. 82, p. 91-108, INEP, nov. 2009.

RAMOS, Marise. Concepção do Ensino Médio Integrado. 2008. Disponível em:http://tecnicadmiwj.files.wordpress.com/2008/09

Presidência da RepúblicaCasa Civil

Subchefia para Assuntos Jurídicos

DECRETO Nº 5.840, DE 13 DE JULHO DE 2006.

Institui, no âmbito federal, o Programa Nacional de Integração da Educação Profissional com a Educação Básica na Modalidade de Educação de Jovens e Adultos - PROEJA, e dá outras providências.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, no uso da atribuição que lhe confere o art. 84, inicso IV, da Constituição, e tendo em vista o disposto nos arts. 35 a 42 da Lei no

9.394, de 20 de dezembro de 1996, e no Decreto no 5.154, de 23 de julho de 2004, no art. 6o, inciso III, da Lei no 8.080, de 19 de setembro de 1990, e no art. 54, inciso XV, da Lei no 8.906, de 4 de julho de 1994,

DECRETA:

Art. 1o  Fica instituído, no âmbito federal, o Programa Nacional de Integração da Educação Profissional à Educação Básica na Modalidade de Educação de Jovens e Adultos - PROEJA, conforme as diretrizes estabelecidas neste Decreto.

§ 1o  O PROEJA abrangerá os seguintes cursos e programas de educação profissional:

I - formação inicial e continuada de trabalhadores; e

II - educação profissional técnica de nível médio.

§ 2o  Os cursos e programas do PROEJA deverão considerar as características dos jovens e adultos atendidos, e poderão ser articulados:

I - ao ensino fundamental ou ao ensino médio, objetivando a elevação do nível de escolaridade do trabalhador, no caso da formação inicial e continuada de trabalhadores, nos termos do art. 3 o , § 2 o , do Decreto n o 5.154, de 23 de julho de 2004 ; e

II - ao ensino médio, de forma integrada ou concomitante, nos termos do art. 4 o , § 1 o , incisos I e II, do Decreto n o 5.154, de 2004 .

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§ 3o  O PROEJA poderá ser adotado pelas instituições públicas dos sistemas de ensino estaduais e municipais e pelas entidades privadas nacionais de serviço social, aprendizagem e formação profissional vinculadas ao sistema sindical (“Sistema S”), sem prejuízo do disposto no § 4o deste artigo.

§ 4o  Os cursos e programas do PROEJA deverão ser oferecidos, em qualquer caso, a partir da construção prévia de projeto pedagógico integrado único, inclusive quando envolver articulações interinstitucionais ou intergovernamentais.

§ 5o  Para os fins deste Decreto, a rede de instituições federais de educação profissional compreende a Universidade Federal Tecnológica do Paraná, os Centros Federais de Educação Tecnológica, as Escolas Técnicas Federais, as Escolas Agrotécnicas Federais, as Escolas Técnicas Vinculadas às Universidades Federais e o Colégio Pedro II, sem prejuízo de outras instituições que venham a ser criadas.

Art. 2o  As instituições federais de educação profissional deverão implantar cursos e programas regulares do PROEJA até o ano de 2007.

§ 1o  As instituições referidas no caput disponibilizarão ao PROEJA, em 2006, no mínimo dez por cento do total das vagas de ingresso da instituição, tomando como referência o quantitativo de matrículas do ano anterior, ampliando essa oferta a partir do ano de 2007.

§ 2o  A ampliação da oferta de que trata o § 1o deverá estar incluída no plano de desenvolvimento institucional da instituição federal de ensino.

Art. 3o  Os cursos do PROEJA, destinados à formação inicial e continuada de trabalhadores, deverão contar com carga horária mínima de mil e quatrocentas horas, assegurando-se cumulativamente:

I - a destinação de, no mínimo, mil e duzentas horas para formação geral; e

II - a destinação de, no mínimo, duzentas horas para a formação profissional.

Art. 4o  Os cursos de educação profissional técnica de nível médio do PROEJA deverão contar com carga horária mínima de duas mil e quatrocentas horas, assegurando-se cumulativamente:

I - a destinação de, no mínimo, mil e duzentas horas para a formação geral;

II - a carga horária mínima estabelecida para a respectiva habilitação profissional técnica; e

III - a observância às diretrizes curriculares nacionais e demais atos normativos do Conselho Nacional de Educação para a educação profissional técnica de nível médio, para o ensino fundamental, para o ensino médio e para a educação de jovens e adultos.

Art. 5o  As instituições de ensino ofertantes de cursos e programas do PROEJA serão responsáveis pela estruturação dos cursos oferecidos e pela expedição de certificados e diplomas.

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Parágrafo único.  As áreas profissionais escolhidas para a estruturação dos cursos serão, preferencialmente, as que maior sintonia guardarem com as demandas de nível local e regional, de forma a contribuir com o fortalecimento das estratégias de desenvolvimento socioeconômico e cultural.

Art. 6o  O aluno que demonstrar a qualquer tempo aproveitamento no curso de educação profissional técnica de nível médio, no âmbito do PROEJA, fará jus à obtenção do correspondente diploma, com validade nacional, tanto para fins de habilitação na respectiva área profissional, quanto para atestar a conclusão do ensino médio, possibilitando o prosseguimento de estudos em nível superior.

Parágrafo único.  Todos os cursos e programas do PROEJA devem prever a possibilidade de conclusão, a qualquer tempo, desde que demonstrado aproveitamento e atingidos os objetivos desse nível de ensino, mediante avaliação e reconhecimento por parte da respectiva instituição de ensino.

Art. 7o  As instituições ofertantes de cursos e programas do PROEJA poderão aferir e reconhecer, mediante avaliação individual, conhecimentos e habilidades obtidos em processos formativos extra-escolares.

Art. 8o  Os diplomas de cursos técnicos de nível médio desenvolvidos no âmbito do PROEJA terão validade nacional,  conforme a legislação aplicável.

Art. 9o  O acompanhamento e o controle social da implementação nacional do PROEJA será exercido por comitê nacional, com função consultiva.

Parágrafo único.  A composição, as atribuições e o regimento do comitê de que trata o caput deste artigo serão definidos conjuntamente pelos Ministérios da Educação e do Trabalho e Emprego.

Art. 10.  O § 2 o do art. 28 do Decreto n o 5.773, de 9 de maio de 2006 , passa a vigorar com a seguinte redação:

“§ 2o  A criação de cursos de graduação em direito e em medicina, odontologia e psicologia, inclusive em universidades e centros universitários, deverá ser submetida, respectivamente, à manifestação do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil ou do Conselho Nacional de Saúde, previamente à autorização pelo Ministério da Educação.” (NR)

Art. 11.  Fica revogado o Decreto n o 5.478, de 24 de junho de 2005 .

Art. 12.  Este Decreto entra em vigor na data de sua publicação.

Brasília, 13 de  julho de 2006; 185o da Independência e 118o da República.

LUIZ INÁCIO LULA DA SILVAFernando Haddad

Este texto não substitui o publicado no D.O.U. de 14.7.2006