Upload
luizfcbs
View
2.772
Download
1
Embed Size (px)
DESCRIPTION
MASTER´S DEGREE PRESENTATION
Citation preview
DO CÁLICE QUE CALA À ESCUTA QUE LIBERTA: AS
EXPRESSÕES INICIAIS DA DEMANDA DE SUJEITOS
ABUSADORES E DEPENDENTES DE ÁLCOOL NO
CONTEXTO DO ACOLHIMENTO DE UM CAPS AD
NO DISTRITO FEDERAL
Mestrando: Luiz Felipe Castelo Branco da SilvaOrientadora: Dra. Profª. Maria Fátima Olivier Sudbrack
2009
ERRATA:
LISTA DE ANEXOS (p. xii)
Anexo I – Círculo dos Estágios da Mudança ............................... 270 (Lê-se “... 279”)
Anexo II – Ficha de Acolhimento do CAPS ad II ........................ 271 (Lê-se “... 280”)
Anexo III – Emenda à Lei Orgânica do Distrito Federal nº. 53 .... 272 (Lê-se “... 281”)
Anexo IV – Entrevista Semi-estruturada .......................................274 (Lê-se “... 283”)
Anexo V – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido .............276 (Lê-se “... 285”)
LISTA DE TABELAS (p. xiii)
Quadro 1 – Estrutura da equipe do CAPS ad de dezembro de 2008 a julho de 2009.....
89 (Lê-se “... 91”)
Quadro 2 – Características dos participantes da pesquisa ..............102 (Lê-se “... 104”)
Elementos preambulares
1) Circuito contínuo de re/acolhimentos,
mimetizando a imagem mitológica do rei Sísifo;
2) A tensão do silêncio e seu esvaziamento pelo riso.
Elementos preambulares
3) A presença dos “enCAPSsulados” .
Prefixo grego “en”: ideia de movimento para dentro , posição interior (Cunha, 1997);
Vocábulo “cápsula”: do latino capsŭla, significando espécie de “caixinha ou cofrezinho” (Cunha, 1997, p. 152);
Sufixo vernáculo “ado”: formador de substantivos que exprimem ação realizada (Almeida, 2005).
Elementos preambulares
4) Ser um “enCAPSsulado” como forma de pseudo identidade alternativa ao estigma de “bebum”, de “pé inchado”;
5) O cálice com bebida alcoólica como prolegômeno de uma metáfora interna.
Relação entre continente (cálice) e conteúdo (aquilo eclipsado pela bebida alcoólica)
Elementos preambulares
6) Interesse em escutar para além da díade sujeito-bebida alcoólica;
7) Cálice= cale-se;
8) Oferta escuta que oferecesse acolhimento àquilo que fora silenciado pelo amordaçamento imposto;
Elementos preambulares
9) Dados estatísticos:
I Levantamento Nacional sobre os Padrões de Consumo de Álcool na População Brasileira, realizada entre 2003 e 2007, apontou que 12% da população brasileira possui algum problema com o álcool;
Em 2001, pesquisa do IPEA revelou que os acidentes de trânsito geraram despesas em torno de 5,3 bilhões de reais;
Em 2003, DATASUS apontou gastos em torno de 70 milhões de reais com questões relacionadas ao consumo de álcool.
Objetivos da pesquisa
Objetivo geral:
Conhecer como se expressa a demanda
espontânea de sujeitos abusadores e dependentes
de álcool, no contexto de acolhimento de um Centro
de Atenção Psicossocial em Álcool e outras Drogas
localizado no Distrito Federal.
Objetivos específicos
I – Investigar sobre o processo decisório de buscar
ajuda em um CAPS ad II realizado pelos abusadores e
dependentes de álcool, buscando identificar quais os
eventos mais marcantes que influenciariam no
processo de solicitação de ajuda especializada ou no
adiamento deste pedido por ajuda;
Objetivos específicos
II – Conhecer qual é a narrativa principal que conduz ao
pedido de ajuda e como esse pedido se organiza em
relação ao sintoma manifestado no uso prejudicial de
bebidas alcoólicas e ao sofrimento manifestado pelo
sujeito;
III – Discutir as narrativas que versam sobre temáticas
além da restrita díade sujeito-bebida alcoólica, no
intuito de apreender as significações subjacentes ao
sintoma da bebida e as expectativas subjacentes no
processo pela busca do serviço especializado.
Procedimentos preliminares à pesquisa
1) Escolha de um Centro de Atenção Psicossocial em
Álcool e outras Drogas no Distrito Federal após contatos
com os gestores responsáveis pelos serviços;
2) Submissão do Projeto de Pesquisa ao Comitê de Ética
de Pesquisas com Seres Humanos da Fundação de
Ensino e Pesquisa em Ciências da Saúde (FEPECS);
3) Início da pesquisa após aprovação por escrito emitida
pelo Comitê de Ética da FEPECS (Processo 337/2008 );
Orientações epistemológicas
- Opção Epistemológica:
Epistemologia Qualitativa (González Rey, 2002/2005)
a) O conhecimento é uma produção construtivo-interpretativa, não sendo a somatória de fatos definidos por constatações imediatas do momento empírico (importância do diálogo);
b) A produção do conhecimento possui um caráter
interativo do processo de produção de conhecimento (pesquisador e pesquisado como co-autores);
c) A significação da singularidade como nível legítimo da produção do conhecimento.
Orientações teóricas
- Opções teóricas:
Teoria Sistêmica (Bowen, 1961, 1978; Krestan & Bepko, 1989/1995; Neuburger, 1984; Steinglass, 1987/1997; Sudbrack, 2001, 2003, 2004)
Sujeito- substância- contexto de consumo
Modelo Transteórico dos Estágios da Mudança (Prochascka & DiClemente, 1982)
Pressupostos da Entrevista Motivacional (Miller & Rollnick, 1991/2001)
Opções metodológicas
- Método de apreensão da informação:
a) Entrevista semi-estruturada gravadas mediante
autorização por meio de termo de livre consentimento esclarecido;
Permite a vinculação a certos aspectos a serem abordados de
acordo com os objetivos pactuados, sem engessar o processo, o
que permite uma abertura para os elementos novos surgidos no
empírico.
Método de processamento da informação
- Processo de construção da informação:
- Degravação de todas as entrevistas;
- Construções de indicadores de sentido (González Rey, 2002/2005);
- Emersão de Zonas de Sentido (González Rey, 2002/2005).
Participantes da pesquisa
Nove sujeitos, do gênero masculino, com idade
variando entre 30 e 51 anos, de distintas situações sócio-
econômicas e culturais, abusadores ou dependentes de
bebidas alcoólicas e que buscaram o serviço do CAPS ad
II volitivamente (demanda espontânea).
Participantes da pesquisa
Critérios de escolha:
1) Histórico de abuso ou dependência de bebida alcoólicas nos últimos dois anos;
2)Não ter associado ao problema com o álcool outro tipo de consumo de drogas ilícitas nos últimos 10 anos;
3) Demanda espontânea e ter assinado o termo de consentimento livre e esclarecido.
Informações apreendidas nos espaços conversasionais
1) Perdas relacionadas à saúde física, aos vínculos familiares (separação de pais e filhos e descasamentos) e sociais (trabalho, amizades, estudos, etc.);
2) Perdas financeiras e de bens materiais (casa, carro, etc.) e bens simbólicos ( “credibilidade”, “confiança da família”)
3) Alcoolismo e violência na família atual;
4) Histórico de alcoolismo e violência intrafamiliar em gerações anteriores;
5) Ausência da figura paterna e pais com saudade dos filhos que se foram com a separação conjugal.
1. PEDIDO PELO ROMPIMENTO DO CICLO DE PERDAS E RESGATE DAS COISAS PERDIDAS:
1.1“Eu já perdi tanta coisa nessa vida...”: ponderação das
perdas e pedido pela escuta que acolhe;
1.2) Pedido pela interrupção de novas perdas;
1.3 “Eu sou um morto que quer ressuscitar”: resgate de
coisas perdidas e realização de um novo projeto de vida
2. “FOI UMA EXPERIÊNCIA ASSIM HORRÍVEL! QUE EU NÃO DESEJO PRA NINGUÉM, POIS SÓ EU SEI O QUE EU
PASSEI”: CRENÇAS EM TORNO DA LOUCURA E AS ESTRATÉGIAS DE ENFRENTAMENTO DESTE ESTIGMA
2.1 “É, meu filho, tu tá doido mermo. Não tem ninguém aqui
não.”: medo de ficar louco em virtude dos sintomas de origem
desconhecida e as estratégias de enfrentamento adotadas
contra este sintoma.
2.1.1 Tentativa de compartilhamento daquilo que se percebe;
2.1.2 Busca de explicações e curas espirituais;
2.1.3 Busca do sistema de saúde (Hospitais Gerais) e depois
os CAPS ad.
2. “FOI UMA EXPERIÊNCIA ASSIM HORRÍVEL! QUE EU NÃO DESEJO PRA NINGUÉM, POIS SÓ EU SEI O QUE EU PASSEI”: CRENÇAS EM TORNO DA
LOUCURA E AS ESTRATÉGIAS DE ENFRENTAMENTO DESTE ESTIGMA
2.2 “É só eu beber, eu fico maluco, eu não enxergo
nada”: preocupação em torno da implicação do
sintoma da amnésia alcoólica na família;
Transtorno Amnéstico Persistente Induzido por Álcool.
2. “FOI UMA EXPERIÊNCIA ASSIM HORRÍVEL! QUE EU NÃO DESEJO PRA NINGUÉM, POIS SÓ EU SEI O QUE EU PASSEI”: CRENÇAS EM TORNO DA
LOUCURA E AS ESTRATÉGIAS DE ENFRENTAMENTO DESTE ESTIGMA
2.3 “‘Não! Isso não é lugar pra mim, não!”: medo do
tratamento, da internação e da loucura.
2.3.1 Medo de ficar dependente da medicação (doença crônica e
impossibilidade de cura instantânea);
2.3.2 Medo da internação e ser tratado como um louco (terapia de
choque, “sossega leão”);
2.3.3 Louco = “alguém sem futuro”, “tratado com indiferença”;
2.3.4 Medo de ficar dependente da instituição (“lavagem cerebral”)
3. DE ESCRAVO A HERDEIRO: UM PEDIDO PELA RUPTURA DE PADRÕES DESTRUTIVOS CONSTITUÍDOS E TRANSMITIDOS TRANSGERACIONALMENTE
3.1 “... o que me machuca mais é a lembrança”:
ruptura do ciclo de violência intrafamiliar
3.1.1 História de vida marcada por violências (física,
psicológica, negligência de pais alcoolistas e/ou imaturos para
cumprirem com o papel de protetores parentais);
3.1.2 Mimetismo do padrão alcoolista e violento entre
gerações como forma de lidar com os conflitos associado a um
pedido de ruptura da violência. (transmissão transgeracional)
3. DE ESCRAVO A HERDEIRO: UM PEDIDO PELA RUPTURA DE PADRÕES DESTRUTIVOS CONSTITUÍDOS E TRANSMITIDOS TRANSGERACIONALMENTE
3.1 “... o que me machuca mais é a lembrança”: ruptura do ciclo de violência intrafamiliar
3.1.2 Filhos pequenos tornados pais de seus pais imaturos (infância solapada e crianças com responsabilidades adultas)
Parentalização ou papel de filho parental (Boszormenyi-Nagy & Spark, 1973/2008; Penso, 2003; Penso & Sudbrack, 2004)
Triangulações (Bowen, 1976), onde um terceiro era eleito como reforço, como terceiro para apaziguar o nível de ansiedade da díade;
Lealdades invisíveis e lealdades clivadas (Boszormenyi-Nagy & Spark, 1973/2008); (processo de individuação paralisado)
Triangulações justapostas (Andres, 1971) ou inbricadas (Bowen, 1976)
ATO DE BEBER COMO SINTOMA AUTOREGULADOR E O ESQUECIMENTO COMO FORMA DE LIDAR COM O INSUPORTÁVEL
DESSA CONDIÇÃO
3. DE ESCRAVO A HERDEIRO: UM PEDIDO PELA RUPTURA DE PADRÕES DESTRUTIVOS CONSTITUÍDOS E TRANSMITIDOS TRANSGERACIONALMENTE
3.2 Não ser como meu pai sem deixar de ser seu filho;
3.2.1 Fidelidade a padrões comportamentais de pais que nunca conheceram
(lealdades invisíveis associada com conflito em torno de trair a herança
recebida )
3.2.2 Lealdades pluriclivadas :
1) calar-se e nada perguntar sobre o pai biológico em lealdade à mãe
ao não fazê-la sofrer mais (evitar lembranças ruins);
2) Buscar conhecer as origens em lealdade a uma necessidade
existencial e pessoal de sentir-se afiliado à linhagem paterna;
3) Buscar saber sobre o pai em lealdade a memória deste.
3. DE ESCRAVO A HERDEIRO: UM PEDIDO PELA RUPTURA DE PADRÕES DESTRUTIVOS CONSTITUÍDOS E TRANSMITIDOS TRANSGERACIONALMENTE
3.3 Descasamento dos filhos-esposos e dos esposos-filhos: um pedido pela ruptura da maternagem conjugalizada e da conjugalidade parentalizada para individuar-se.
Processos de parentalização ( filhos-companheiros de suas mães protetores, provedores, maridos)
Tentativas de ruptura caracterizadas como pseudo-individuação
Filhos que casavam-se com mulheres que funcionavam como mães. Deste modo, eles permaneciam como filhos.
As tensões e conflitos nas famílias de origem eram reproduzidos, tendo o beber como amortecedor da ansiedade produzida por esta condição e denunciador da disfuncionalidade do sistema.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Apreende-se desta pesquisa:
1) O imperativo de considerar-se a dimensão sócio-familiar do sujeito bebedor;
2) A importância de acolher e ter a família como parceiro ativo no processo e não apenas aquele que transporta em si o “problema com a bebida”;
3) Considerar como importante a dimensão da transmissão transgeracional;
4) Possibilitar espaços de transmissão de informações respaldadas cientificamente para beneficiários do serviço incluindo os familiares, evitando-se atitudes em torno de conhecimentos equivocados que podem adiar a busca por ajuda e agravar a condição de saúde dos sujeitos envolvidos;
CONSIDERAÇÕES FINAIS
5) Adoção de uma visão ampliada e conjuntiva em contraponto à cosmovisão disjuntiva e simplista da lógica positivista, a começar pelos profissionais dos serviços;
6) Garantir maior publicidade dos trabalhos do CAPS ad II na comunidade, que muitas vezes desconhece a existência destes serviços;
Para pesquisas futuras:
1) Como materializar, a partir desses achados, ações na rotina do serviço que passem a contemplar a importância de um novo olhar, postura e intervenção?
2) Como lograr maior sinergia para que a equipe esteja mais sintonizada e com ações coadunadas em torno de uma atenção mais ampliada?
A mudança não é um final a ser
alcançado; é um processo
a ser percorrido, pois a beleza da
transformação não se
revela no destino, mas ao longo da
caminhada.
(Luiz Felipe, 2009)
MUITO OBRIGADO!