Deficiência Intelectual

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PS-GRADUAO LATO SENSU

DEFICINCIA INTELECTUAL

MDULO - 4

Editorao e Reviso: Editora Prominas e Organizadores

Coordenao Pedaggica INSTITUTO PROMINAS

APOSTILA RECONHECIDA E AUTORIZADA NA FORMA DO CONVNIO FIRMADO ENTRE UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES E O INSTITUTO PROMINAS.

Impresso e Editorao

2

SUMRIO

UNIDADE 1 - INTRODUO........................................................................... 03

UNIDADE 2 - HISTRIA, CONCEITO, ETIOLOGIA....................................... 06

UNIDADE 3 - CARACTERIZAO E CLASSIFICAODAS DEFICINCIAS ....................................................................................... 16

UNIDADE 4 - ABORDAGENS: PSICANALTICA E A EPISTEMOLOGIA GENTICA PARA DEFICINCIA INTELECTUAL.......................................... 28

UNIDADE 5 - DEFICINCIA INTELECTUAL NO CONTEXTO ESCOLAR: PERCEPO DE PAIS, ESCOLA E O PAPEL DOS EDUCADORES NO PROCESSO DE INCLUSO ........................................................................... 33

UNIDADE 6 - ATENDIMENTO EDUCACIONAL ESPECIALIZADO (AEE) E A AVALIAO.................................................................................................... 40

UNIDADE 7 - ATIVIDADES FSICAS E FATORES DE RISCODE DOENAS ................................................................................................. 45

UNIDADE 8 - A TERMINALIDADE ESPECFICA E A INSERO DE PESSOAS COM DEFICINCIA NO MERCADO DE TRABALHO .................................... 49

REFERNCIAS ............................................................................................... 55

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UNIDADE 1 - INTRODUO

A incluso social tem sido um desafio para todas as esferas da sociedade,

principalmente para as pessoas portadoras de necessidades especiais que, muito alm de poderem exercer a cidadania, deparam com a dificuldade de acesso em todos os sentidos.

Segundo Mantoan (2006), a incluso escolar est articulada a movimentos

sociais mais amplos, que exigem maior igualdade e mecanismos mais equitativos no acesso a bens e servios. Ligada a sociedades democrticas que esto pautadas no mrito individual e na igualdade de oportunidades, a incluso prope a desigualdade de tratamento como forma de restituir uma igualdade que foi rompida por formas segregadoras de ensino especial e regular.

A questo poltica e social da incluso assunto que rende muitas

discusses, assim como entender que o tratamento dispensado diferena no quer dizer trat-los como iguais, ao contrrio, a diferena prope o conflito, o dissenso, a imprevisibilidade, a impossibilidade do clculo. O certo jamais desvalorizar e inferiorizar os cidados/alunos por suas diferenas, seja nas escolas comuns ou nas especiais.

Vale enfatizar que a incluso de indivduos com necessidades educacionais

especiais na rede regular de ensino no consiste apenas na permanncia junto aos demais alunos, nem na negao dos servios especializados queles que deles necessitem. Ao contrrio, implica uma reorganizao do sistema educacional, o que acarreta a reviso de antigas concepes e paradigmas educacionais na busca de se possibilitar o desenvolvimento cognitivo, cultural e social desses alunos, respeitando suas diferenas e atendendo suas necessidades (GLAT; NOGUEIRA, 2002, p. 26).

A deficincia, outrora conhecida como deficincia mental, no uma

doena, no pode ser contrada pelo contato com uma pessoa sadia ou outra com a deficincia. No uma doena mental, portanto, no h cura e para entender melhor a diferena entre doena e deficincia, a OMS props trs nveis para esclarecer todas as deficincias, a saber: deficincia, incapacidade e desvantagem social:

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Deficincia perda ou anormalidade de estrutura ou funo psicolgica, fisiolgica ou anatmica, temporria ou permanente. Incluem-se nessas a ocorrncia de uma anomalia, defeito ou perda de um membro, rgo, tecido ou qualquer outra estrutura do corpo, inclusive das funes mentais. Representa a exteriorizao de um estado patolgico, refletindo um distrbio orgnico, uma perturbao no rgo;

Incapacidade restrio, resultante de uma deficincia, da habilidade para desempenhar uma atividade considerada normal para o ser humano. Surge como consequncia direta ou resposta do indivduo a uma deficincia psicolgica, fsica, sensorial ou outra. Representa a objetivao da deficincia e reflete os distrbios da prpria pessoa, nas atividades e comportamentos essenciais vida diria;

Desvantagem prejuzo para o indivduo, resultante de uma deficincia ou uma incapacidade, que limita ou impede o desempenho de papis de acordo com a idade, sexo, fatores sociais e culturais. Caracteriza-se por uma discordncia entre a capacidade individual de realizao e as expectativas do indivduo ou do seu grupo social. Representa a socializao da deficincia e relaciona-se s dificuldades nas habilidades de sobrevivncia.

Em 2001, essa classificao foi revista e reeditada no contendo mais uma

sucesso linear dos nveis, mas indicando a interao entre as funes orgnicas, as atividades e a participao social (BATISTA; MANTOAN, 2006).

O importante dessa nova definio que ela destaca o funcionamento global da pessoa em relao aos fatores contextuais e do meio, re-situando-a entre as demais e rompendo o seu isolamento. Essa definio motivou a proposta de substituir a terminologia pessoa deficiente por pessoa em situao de deficincia (ASSANTE, 2000 apud BRASIL, 2006). Mais recentemente tem-se visto o uso do termo deficincia intelectual.

O desejo de trabalhar com os portadores de deficincia intelectual requer

num primeiro momento conhecer os caminhos percorridos pela sociedade desde os primeiros conceitos sobre excluso, incluso e deficincia, para num segundo momento manter avivado nos interessados e envolvidos, o desejo de lutar e buscar uma escola melhor, um espao onde todos sejam vistos por suas habilidades, possibilidades e no por suas deficincias.

O caminho que percorreremos ser este: promover uma breve evoluo

histrica da deficincia mental at a intelectual ao longo dos ltimos sculos;

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conceituar e definir as deficincias, caracteriz-las e classific-las de acordo com a CID-10 e DSM-IV e outros institutos; abord-las nas perspectivas orgnica, psicanaltica e de acordo com a epistemologia gentica; descrever sucintamente as declaraes mundiais e a legislao pertinente; analisar a deficincia intelectual no contexto escolar pela tica dos pais, da prpria escola e dos educadores no processo de incluso.

O Atendimento Educacional Especializado (AEE), as atividades fsicas e os fatores de risco de doenas, principalmente cardiovasculares e por fim os limites da terminalidade especfica e a insero de pessoas com deficincia no mercado de trabalho completam nossos estudos sobre o trabalho com os portadores de deficincia intelectual.

Vale a pena ler na ntegra a Conveno 159 (que trata da reabilitao

profissional e emprego de pessoas com deficincia) da OIT ratificada por meio do Decreto n 129, de 18 de maio de 1991, sendo, portanto, lei no Brasil desde esta data.

Por ora, deixamos uma mensagem inicial para aqueles que buscam

capacitao para trabalhar as diferenas e as deficincias, com foco na deficincia intelectual (DI): os espaos escolares no devem ser lugares de discriminao, e mesmo que o grau de deficincia se imponha como limite da capacidade de aprendizagem e adaptao ao mundo, todos so cidados de pleno direito, considerando as vrias dimenses como a dignidade humana.

Ressaltamos em primeiro lugar que embora a escrita acadmica tenha como premissa ser cientfica, baseada em normas e padres da academia, fugiremos um pouco s regras para nos aproximarmos de vocs e para que os temas abordados cheguem de maneira clara e objetiva, mas no menos cientficos. Em segundo lugar, deixamos claro que este mdulo uma compilao das ideias de vrios autores, incluindo aqueles que consideramos clssicos, no se tratando, portanto, de uma redao original.

Ao final do mdulo, alm da lista de referncias bsicas, encontram-se

muitas outras que foram ora utilizadas, ora somente consultadas e que podem servir para sanar lacunas que por ventura surgirem ao longo dos estudos.

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UNIDADE 2 - HISTRIA, CONCEITO, ETIOLOGIA

Dessen e Silva (2000) realizaram uma pesquisa acerca da produo cientfica na rea de deficincia mental e constataram que no perodo de 1985 a 1999, a produo aumentou consideravelmente, embora ainda tenhamos muito a pesquisar, descobrir e entender sobre esse universo das deficincias humanas.

Veremos que evolutivamente o conceito de deficincia mental tem uma estreita relao com as concepes socioeconmicas e ideais que nortearam cada perodo da histria do homem. Conhecer essas ideias abre um horizonte para se compreender a deficincia mental, clarear o conceito que, por conseguinte, permite oferecer melhores servios de atendimento para esse pblico.

2.1 Histria

Em Pessoti (1984) encontramos uma ampla reviso histrica a respeito da

deficincia mental, destacando as concepes adotadas, em cada perodo, que influenciaram as atitudes da sociedade em relao deficincia.

Aranha (1991) tambm se reporta histria para descrever como a

integrao social do deficiente foi associada concepo de deficincia, a qual merece destaque. Na sociedade antiga, as crianas deficientes eram deixadas ao relento para que morressem. Essa atitude era fruto dos ideais morais da poca em que a eugenia1e a perfeio do indivduo eram considerados valores preponderantes. J no final do sculo XV, com os ideais burgueses vigentes nesse perodo, imperou a viso de que a deficincia era um atributo do indivduo, tendo, portanto, uma relao direta com o capital, ou seja, o deficiente era considerado improdutivo, do ponto de vista econmico (ARANHA, 1991, 1995; GLAT, 1995; SCHWARTZMAN, 1999a, 1999b).

1 Cincia que estuda as condies mais propcias reproduo e melhoramento gentico da espcie humana.

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At cerca de 1800, a Dl no era considerada um problema cientfico, embora de acordo com Woolfson (s.d. apud MORATO, 1993), se devam considerar algumas referncias, segundo as quais a Dl era analisada criteriosamente como distinta da doena mental com rigor descritivo de diferentes tipos, diagnsticos, prognsticos e teraputicos.

Segundo Morato (1993), a investigao sobre a Dl pode resumir-se a trs

perodos.

O primeiro perodo teve incio em 1800, perdurando um sculo, e

caracterizou-se por ser um perodo de grande desenvolvimento cientfico ao nvel da biologia e da psicologia, cujo impacto social constatvel pela evidncia das propostas de identificao e classificao da Dl relativamente a outras deficincias, em particular, na distino da doena mental (DETTERMAN, 1983: 1987; PERRON, 1976; RYNDERS, 1987; apud MORATO, 1993).

O segundo perodo, que se estendeu desde os finais do sc. XIX at 2

grande guerra, compreendeu uma fase caracterizada pelas preocupaes de definio e classificao da Dl, donde emergiram posies e contraposies tericas de conturbadas consequncias sociais e educacionais.

O terceiro e ltimo perodo, com incio no ps-guerra prolongando-se at atualidade e caracterizado por uma atitude de mudana marcada pela evoluo cientfica e pelo reforo do movimento humanitrio em prol dos direitos pela reivindicao em defesa dos grupos minoritrios na sociedade, pelos deficientes de guerra, e pelos movimentos associativos de pais de crianas e jovens com deficincia (MORATO, 1993).

Desde 1959, a referncia ao comportamento adaptativo surge como elemento de definio da Dl da American Association on Mental Retardation (AAMR) sendo a entidade cientfica mais antiga e prestigiada na abordagem da problemtica da Dl (AAMR, 2002).

Posteriormente, a Organizao Mundial de Sade (OMS) reforou a relao entre adaptao e aprendizagem (MORATO et al., 1996).

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A classificao publicada pela AAMR, em 1983, classificava a Dl, at ento DM, em funo do Coeficiente de Inteligncia (Q.l) - obtido a partir da multiplicao por cem do quociente obtido pela diviso da idade mental, pela idade cronolgica da seguinte forma:

1. Deficincia Mental Leve - Q.l entre 55 e 50;

2. Deficincia Mental Moderada - Q.l entre 55/50 e 40/35;

3. Deficincia Mental Severa - Q.l entre 40/35 e 25/20;

4. Deficincia Mental Profunda - Q.l menor que 25/20.

Com o passar dos sculos, as concepes sobre DM foram se ampliando,

em parte como consequncia das mudanas ocorridas nas sociedades e no campo cientfico. Mas, foi somente no sculo XIX que se percebeu uma postura de responsabilidade pblica com relao s necessidades dos deficientes.

No sculo XX, as aes se tornaram mais concretas, havendo uma

multiplicidade de modos de encarar a DM, acarretando o surgimento de vrios modelos explicativos, como o metafsico, o mdico, o educacional, o da determinao social e o scio-construtivista ou scio-histrico (ARANHA, 1995).

Para esta autora, a deficincia mental deve ser encarada como uma construo social, no alheia concepo de homem e de sociedade vigentes e deve ser tratada como um fenmeno multideterminado. Contudo, segundo Nunes e Ferreira (1994), a DM ainda continua sendo considerada como estando dentro do indivduo, descontextualizada e sem nexo social como mostra o discurso da maior parte dos rgos pblicos.

A conceituao e caracterizao da DM adotada no Brasil pelo Ministrio da Educao (MEC) segue o modelo proposto pela Associao Americana de Deficincia Mental (AAMR), divulgado em 1992, segundo o qual, a DM se caracteriza pelo:

funcionamento intelectual geral significativamente abaixo da mdia, oriundo do perodo de desenvolvimento, concomitante com limitaes associadas a

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duas ou mais reas da conduta adaptativa ou da capacidade do indivduo em responder adequadamente s demandas da sociedade, nos seguintes aspectos:comunicao,cuidadospessoais,habilidadessociais, desempenho na famlia e comunidade, independncia na locomoo, sade e segurana, desempenho escolar, lazer e trabalho (BRASIL, MEC, 1997, p. 27).

Este conceito serve como ponto de partida para a implementao de polticas pblicas pelo governo brasileiro, que visa um atendimento especializado a estas crianas. Contudo, o prprio governo tem revelado um atendimento precrio s pessoas deficientes, em diversas partes do pas, apesar de salientar a importncia deste tipo de atendimento desde a mais tenra idade da criana. Para o governo brasileiro, o trabalho precoce com crianas deficientes tem o objetivo de [...] proporcionar criana, nos seus primeiros anos de vida, experincias significativas para alcanar pleno desenvolvimento no seu processo evolutivo (BRASIL, MEC, 1995, p. 11).

Voltando um pouco evoluo do conceito, antigamente a prpria denominao desvalorizava os sujeitos com deficincia. As atribuies de nomes depreciativos como idiota, imbecil, oligofrnico, anormal, dbil mental, invlido, atrasado mental, entre outros, eram comuns para distingui-los dos indivduos com desenvolvimento tpico (COELHO; COELHO, 2001; ALONSO; BERMEJO, 2001). Conforme Morato (1998), a populao em geral negligenciava-os por no se enquadrarem no ideal de perfeio.

Na Idade Mdia assistiu-se a um tratamento ambivalente para com estes

indivduos, pois, por um lado, com base na crena crist, a deficincia era vista como algo divino e estes eram acolhidos e protegidos em instituies de caridade. Por outro lado, eram considerados demnios e sofriam de prticas de ostracismo (MORATO; 1998, SILVA; DESSEN, 2001).

O sculo XV marcou o incio de uma mudana de paradigma em relao a estes indivduos que foi consolidada nos sculos XVII e XVIII, sendo a institucionalizao destes uma realidade (SILVA; DESSEN, 2001). Em paralelo, no sculo XVIII surgiram as primeiras classificaes referentes s causas de morte. Este o marco histrico para o incio das classificaes das doenas e transtornos mentais (OMS, 2001).

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A partir do sculo XIX at meados do sculo XX, os estudos sobre a deficincia intelectual tornaram-se de carter mais cientfico e verificou-se uma sistematizao do conceito, apesar da rotulagem negativa subjacente ao mesmo. O autor Pinel caracterizou a deficincia intelectual de idiotismo, com conotao de carncia ou insuficincia intelectual (CARVALHO; MACIEL, 2003).

Na mesma linha de pensamento, Esquirol referiu que a imbecilidade e o

idiotismo devem-se a causas maturacionais e que os rgos responsveis pela atividade intelectual apresentam um desenvolvimento atpico. Empiricamente. comea-se a diferenciar a doena mental da deficincia intelectual (MORATO; 1998). Esta perspectiva reforada por Beaugrand que considerou idiota um estado de insuficincia de algumas aptides intelectuais e morais, sendo as suas causas de ordem orgnica e/ou congnita com origem enceflica e, consequentemente, suscitavam um desenvolvimento deficitrio.

Nesta altura, a concepo de deficincia intelectual estava associada

perspectiva organicista de origem neurolgica, identificada pelo atraso no desenvolvimento dos processos cognitivos (CARVALHO; MACIEL, 2003).

2.2 Conceito

Segundo Sarno (2006), os termos deficincia e pessoa deficiente

apresentam diferentes conotaes na literatura acadmica. Alm disso, tais conceitos mudam ao longo da histria, segundo os valores particulares de cada cultura e, at mesmo, em funo de valores individuais.

Para Ribas (2003), a deficincia um estado fsico ou mental eventualmente

limitador que deve ser entendido a partir do ambiente sociocultural e fsico em que o indivduo est inserido e, tambm, de como a prpria pessoa se v. Segundo a Declarao dos Direitos das Pessoas Deficientes, elaborada pela Organizao das Naes Unidas (ONU), em 1975, pessoa com deficincia aquela incapaz de assegurar por si mesma, total ou parcialmente, as necessidades de uma vida individual ou social normal, em decorrncia de uma deficincia congnita ou no, em suas capacidades fsicas ou mentais.

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A pessoa com deficincia mental conceituada como aquela que tem necessidades para atuar nas dez reas de habilidades adaptativas: 1) da comunicao, 2) do autocuidado, 3) das habilidades sociais, 4) da vida familiar, 5) do uso comunitrio, 6) da autonomia, 7) da sade e 8) segurana, 9) da funcionalidade acadmica, 10) do lazer e trabalho.

A ideia da deficincia como uma caracterstica do indivduo que pode ter

graus diferentes de limitao, a depender da interferncia do ambiente, reflete o conceito usado no cotidiano. Segundo Carreira (1992), as instituies de profissionalizao de deficientes e administradores de empresas brasileiros entendem o deficiente mental como a pessoa portadora de distrbios de aprendizagem e adaptao global.

Alm de Pessoti e outros, Lancillotti (2003) e Marques (2001) tambm

demonstraram como a deficincia mental vem sendo rodeada de preconceitos desde a Grcia Antiga.

Segundo Veltrone e Mendes (2011), a deficincia intelectual uma condio bastante complexa no que se refere a sua definio conceitual e tambm nomenclatura. O termo deficincia intelectual de uso recente na literatura e veio substituir os termos deficincia mental e retardo mental. Possivelmente esta mudana atende a mltiplas demandas, pois retrata mudanas conceituais mais recentes e um termo mais preciso para denominar a condio, alm dessa ser uma reivindicao de associaes dos prprios indivduos com este tipo de deficincia.

A deficincia intelectual uma categoria dos diferentes tipos de deficincia

existentes. Surge num contnuo da normalidade e no como um estado qualitativamente diferente desta, em que os indivduos apresentam um conjunto de caractersticas comuns, enquadradas no baixo desempenho nos testes psicolgicos, nas dificuldades de aprendizagem escolar, nas reaes imaturas aos estmulos ambientais e no desempenho social abaixo de mdia (ALONSO; BERMEJO, 2001; COELHO; COELHO, 2001).

2.3 Etiologia

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Os fatores etiolgicos da Deficincia Mental podem ser de origem gentica,

ambiental, multifatorial e de causa desconhecida.

Embora esses fatores etiolgicos sejam muito variveis, podem ser, ainda,

subdivididos em fatores pr-natais (de origem gentica, ambiental e multifatorial), perinatais (ambiental) e ps-natais (ambiental). A ocorrncia da Deficincia Mental de etiologia desconhecida apresenta uma prevalncia de 28 a 30% dos casos.

Os fatores que atuam no perodo pr-natal envolvem causas genticas e

ambientais, consistindo nos fatores etiolgicos mais importantes no surgimento da DM, com cifras ao redor de 50% dessa populao.

Fatores genticos

Monognicos: 1 a 2% dos nascidos vivos.

Heranadominante:Neuroectodermatoses(Esclerosetuberosa, Angiomatoses cerebrais, Deficincias mentais com alteraes sseas, Disostose craniofacial, Oligrofeniacomacrocfalo,Oligrofeniacom aracnodactilia, Oligrofenia com discondroplasia).

Herana recessiva: Distrbio de metabolismo lipdico (Idiota amaurtica, Doena de Bielschowsky-Jansky, Doena de Spielmeyr-Vogt, Doena de Kufs, Doena de Normann-Wood, Sndrome de Niemann-Pick, Doena de Gaucher); Distrbio do metabolismo de mucopolissacardeo (Doena de Hurler, Doena de Morquio, Doena de Scheie, Doena de Sanfilipo, Doena deMatoteaux);Distrbiodometabolismoglicdio(Glicogenose, Galactosemia); Distrbios de metabolismo protdico (Fenilcetonria, Doena do carope de bordo, Cistationinuria, Doena de Wilson, Doena de Hartnup); Outras formas (Microcefalia familiar, Doena de Sjgren-Larson, Sndrome de Laurence Moon).

Herana ligada ao sexo: Doena de Hunter, Doena de Pelizaeus

Merzbacher.

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Fatores genticos ligados a vrios genes, Fatores cromossmicos.

Anomalias de nmero de cromossomos somticos: Trissomia do 21

(Sndrome de Down), Trissomia do 18 (Sndrome de Edward), Trissomia do 13-15 (Sndrome de Patau).

Anomalias do nmero de cromossomos sexuais: Sndrome de Klinefelter, Microcefalia com malformaes mltiplas e criptorquidia (Caritipo XXXY), Disgenesia gondica e oligofrenia (Sndrome de Turner), Superfmea (Caritipo XXX).

Fatores Ambientais

Fatores pr-natais: agentes infecciosos (citomegalovrus, toxoplasmose congnita, rubola congnita, sfilis congnita, varicela);

Fatores nutricionais;

Fatores fsicos: radiao;

Fatores imunolgicos;

Intoxicaespr-natais(lcooledrogas,gasesanestsicos,

anticonvulsivantes);

Transtornos endcrinos maternos: diabetes materna, alteraes tireoidianas;

Hipxiaintra-uterina(causadaporhemorragiauterina,insuficincia

placentria, anemia grave, administrao de anestsicos e envenenamento com dixido de carbono).

Fatores perinatais:

Anxia neonatal;

Traumatismo obsttrico (distcicos de parto com hipoxemia ou anoxemia);

Prematuridade (anxia, hemorragia cerebral).

Fatores ps-natais:

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Infeces: meningoencefalites bacterianas e as virais, principalmente por herpesvrus;

Traumatismos crnio- encaflicos;

Alteraes vasculares ou degenerativas enceflicas;

Fatores qumicos: oxignio utilizado na encubadeira;

Intoxicao pelo chumbo;

Fatores nutricionais: graves condies de hipoglicemia, hipernatremia, hipoxemia, envenenamentos, estados convulsivos crnicos.

Causas Multifatorial

As causas multifatoriais so desconhecidas (28 a 30% dos casos), mas o Citomegalovrus um dos agentes infecciosos mais comuns, podendo ocasionar retardo no crescimento intra-uterino, microftalmia, corioretinite, surdez, retardo no desenvolvimento neuropsicomotor e hepatoesplenomegalia.

A Sfilis apresenta como fator etiolgico o Treponema pallidum, e caso a gestante tenha contato at a 20 semana, pode acarretar a lues congnita, com malformaes fsicas (tbia em sabre, nariz em sela, fronte olmpica e dentes de Hutchinson). Alm disso, a sfilis pode acarretar outras alteraes, como por exemplo, a surdez, malformaes de dentes, alterao ssea, hidrocefalia e retardo no desenvolvimento neuropsicomotor.

Infeces por varicela podem acarretar, dependendo da idade gestacional,

alteraes musculares e retardo no desenvolvimento neuropsicomotor. Contato com Toxoplasma gondi pode ter como repercusso a toxoplasmose, e da mesma maneira, dependendo da idade gestacional, ter como consequncia a toxoplasmose congnita com a manifestao da ttrade de Sabin (deficincia mental, microcefalia, calcificaes intracranianas e corioretinite). Para a preveno da toxoplasmose deve-se evitar carne crua e o contato com animais.

A rubola congnita ocorre pelo efeito teratognico do vrus da rubola. A infeco do feto o resultado de infeco primria materna na gravidez ou at o

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terceiro ms antes do parto. A infeco durante as primeiras 8 semanas produz uma taxa de infeco fetal de 50%, depois disso, diminui progressivamente. As leses mais frequentes no momento do nascimento sos as cardiovasculares, hematolgicas, baixo peso ao nascer, alteraes esquelticas, hepticas, defeitos oculares (retinopatia, microftalmia, hipoplasia da ris, glaucoma congnito e cataratas), leses no Sistema Nervoso Central (perda da audio, deficincias intelectuais e motoras, meningoencefalite crnica), complicaes pulmonares. Os distrbios de audio so a manifestao mais comum, provavelmente por uma infeco no final do segundo ou terceiro ms de gestao.

Em relao ao uso de drogas, deve-se observar que o uso de substncias

alcaloides como a nicotina e cafena pela gestante, dependendo da quantidade e da idade gestacional, pode levar a retardo no crescimento intra-uterino pela anxia e uma maior probabilidade de parto prematuro (2 vezes mais) e baixo peso. O uso de lcool pela gestante afeta 1 a 2% das mulheres frteis, podendo acarretar a sndrome alcolica fetal, caracterizada pela deficincia mental, deficincia no crescimento pr e ps-natal, alteraes de Sistema Nervoso Central, anomalias craniofaciais como epicantus, ponte nasal baixa, filtrum hipoplsico e face achatada.

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UNIDADE 3 - CARACTERIZAO E CLASSIFICAO DAS DEFICINCIAS

3.1 Caracterizao

A deficincia fsica caracterizada pela alterao completa ou parcial de um ou mais segmentos do corpo humano, acarretando o comprometimento da funo fsica, apresentando-se sob a forma de paraplegia, paraparesia, monoplegia, monoparesia, tetraplegia, tetraparesia, triplegia, triparesia, hemiplegia, hemiparesia, ostomia, amputao ou ausncia de membro, paralisia cerebral, nanismo, membros com deformidade congnita ou adquirida, exceto as deformidades estticas e as que no produzam dificuldades para o desempenho de funes (Decreto n 5.296/04, art. 5, 1, I, a, c/c Decreto n 3.298/99, art. 4, I).

A Paralisia Cerebral leso de uma ou mais reas do sistema nervoso central, tem como consequncia alteraes psicomotoras, podendo ou no causar deficincia mental.

A leso causadora de Paralisia Cerebral no progressiva, mas o fato de

afetar o sistema nervoso em desenvolvimento vai dar origem a um conjunto complexo de sinais e sintomas, que vo tornar difcil o diagnstico.

As formas de Paralisia Cerebral apresentam uma grande diversidade de

perturbaes neuromotoras, cuja classificao proposta por Hagberg et al (1975 apud ANDRADA, 1997) a que rene maior consenso. Quanto aos efeitos funcionais, a Paralisia Cerebral classificada de tipo espstico, disquinsiaatetose, ataxia. Andrada (1997) refere que se pode considerar ainda uma forma rara de paralisia cerebral hipotnica ou atnica que referida por alguns autores.

Basil (1995) descreve que a espasticidade consiste num aumento do tnus

muscular, como consequncia de uma leso no feixe piramidal. As contraes musculares podem ser de dois tipos: a) ocorrendo em repouso, b) ocorrendo quando a criana faz um esforo, se emociona ou se surpreende. A criana ao tentar flexionar uma parte do corpo no o pode fazer sem flexionar todo o corpo o que vai interferir na execuo da tarefa. Nas crianas que apresentam este tipo de paralisia, quando seguras pelas axilas ou quando tentam caminhar, os membros inferiores

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encontram-se em extenso, os ps em ponta e pernas cruzadas em tesoura, os membros superiores apresentam, hipertonia, o brao em rotao interna, cotovelo semi-flexionado, o polegar unido palma da mo. Existem alteraes a nvel da expresso facial, ocorrendo por vezes ausncia de linguagem oral.

A atetose caracteriza-se pela dificuldade em controlar e em coordenar os movimentos. Os movimentos so espasmdicos e incontrolados, ocorrendo no nvel dos membros da cabea, msculos da respirao e deglutio. Estes movimentos podem ser atenuados pelo repouso, sonolncia e determinadas posturas, verificando-se o seu aumento em momentos de excitao, insegurana e posio de p. Estes indivduos apresentam um tnus muscular que varia entre o hipertnico e hipotnico.

Cahuzac (1985) define ataxia como uma perturbao da coordenao e da

esttica, onde observa-se instabilidade do equilbrio, mau controle da cabea, do tronco e dos membros.

Basil (1995) refere ser uma sndrome cerebelar, em que existe dificuldade em medir a fora, a distncia e a direo dos movimentos, que costumam ser lentos e torpes, desviando-se com facilidade do objetivo pretendido. Existe instabilidade no controle do tronco o que vai provocar dificuldade em coordenar os movimentos dos braos e como consequncia dificultar o caminhar que se apresenta inseguro, rgido e com quedas frequentes.

A Paralisia Cerebral ainda referida quanto topografia corporal em

paraplegia, tetraplegia, monoplegia, diplegia, triplegia. Em relao topografia corporal, Basil (1995) menciona que a paraplegia se refere a situaes em que esto comprometidos os dois membros inferiores; a tetraplegia em que h compromisso dos membros inferiores e superiores, a monoplegia em que existe o comprometimento de uma extremidade; a diplegia refere-se a situaes em que existe maior comprometimento dos membros inferiores que superiores; a triplegia so situaes de comprometimento de trs membros, a hemiplegia o comprometimento da parte direita ou esquerda do corpo.

Basil (1995) chama a ateno para o fato de que raramente encontramos uma criana que apresente uma tipologia pura, mas antes quadros mistos.

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Os diferentes tipos clnicos referidos tm intervenes diferentes, e cada criana por si um ser individual com caractersticas muito prprias, com graus de deficincia e incapacidades diferentes, o que exige uma avaliao individualizada.

As crianas com Paralisia Cerebral apresentam com frequncia, alteraes

no seu desenvolvimento, devido a deficincias associadas, ou ao fato do seu comprometimento motor impedir a realizao de atividades motoras, como manipular, gatinhar, andar, falar, escrever, que esto dependentes da capacidade de efetuar determinados movimentos. A disfuno motora impede a criana de efetuar experincias e de provocar efeitos no ambiente de modo a produzirem respostas consistentes que a ajudem a estruturar o pensamento. Assim, determinadas fases do desenvolvimento vo emergir mais tarde, ou podem at no vir a surgir o que afeta a evoluo do desenvolvimento.

Segundo Bobaty e Bobath (1976,1987 apud BASIL, 1995), a leso cerebral

vai afetar o desenvolvimento psicomotor da criana, pela interferncia na maturao

normal do crebro e pelas alteraes no desenvolvimento devido permanncia de esquemas anormais de atitudes e movimentos, pela persistncia de reflexos primitivos que a criana incapaz de inibir. A rea da linguagem est quase sempre afetada na criana com Paralisia Cerebral, estando afetadas as formas de expresso como a mmica e o gesto, que precisam da coordenao de movimentos finos para se efetuarem, e a expresso oral.

A limitao ou impedimento da expresso oral vai impedir que os pais e

educadores estabeleam com a criana um processo interativo, em que se fornecem modelos e onde a criana no intervm apenas aprendendo, mas atravs das suas respostas mantm os pais ativos num processo de estimulao. Quando existem obstculos a este processo, gera-se um sentimento de incompetncia e de fracasso em ambas as partes, visto nenhuma conseguir responder s necessidades da outra.

Basil (1995) tambm ressalta que a leso cerebral afeta quase sempre os

rgos da fala, devido a uma perturbao mais ou menos grave no controle dos rgos motores bucofonatrios, que podem afetar o ato de falar ou at impedi-lo por completo. Esta dificuldade pode tambm manifestar-se no nvel da mastigao, deglutio, controle da saliva ou respirao. Estes problemas em nvel da linguagem

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expressiva no impedem a compreenso da linguagem, que em alguns casos no se encontra afetada. Contudo, se existirem problemas cognitivos ou de audio, o desenvolvimento da linguagem compreensiva pode ficar comprometido, tornando mais complexo e difcil o processo de aquisio da linguagem.

Nas situaes de paralisia cerebral nem sempre possvel avaliar com preciso a existncia ou no de atraso mental, porque na avaliao de crianas com perfis complexos de desenvolvimento, as medidas estandardizadas no so as mais adequadas, devido s limitaes motoras e de linguagem que dificultam a sua aplicabilidade.

Autores como Dalmau (1984 apud BASIL, 1995), baseando-se em

estatsticas efetuadas em Inglaterra, afirmam que 50% das crianas com paralisia cerebral deveriam ser consideradas deficientes mentais e que 40% destas apresentam dficits sensoriais associados, o que ir ter consequncias sobre o desenvolvimento cognitivo.

O fato destas crianas estarem impedidas de manipular e de agir fisicamente sobre o mundo que as rodeia, explorando-o livremente, vai interferir no desenvolvimento da inteligncia sensrio-motora e como consequncia influenciar negativamente o desenvolvimento do pensamento pr-operatrio, operatrio e formal. No entanto, h opinies que referem que a dificuldade de avaliao das reais capacidades da criana penaliza os resultados encontrados na aplicao de testes e provas.

A criana com leso cerebral vai ter, desde o incio, dificuldades na interao com os outros, pelo fato de no conseguir produzir os gestos e os sons a que o meio social d valor e reconhece como funes comunicativas. Segundo Basil (1995), a criana encontra dificuldades em produzir mudanas no comportamento das outras pessoas, no sentindo de as fazer interagir com elas e este dficit comunicativo limita a criana no desenvolvimento cognitivo e social e na construo da sua personalidade. Segundo o mesmo autor, a criana que experimenta o fracasso quando age sobre o meio, sente-se frustrada, diminui a motivao e o investimento necessrio a qualquer atividade. O fato de se sentir inapta pode lev-la a desistir, porque sente que no capaz ou que o prprio ambiente no lhe responsivo.

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Temos que concordar com Santos e Sanches (2005) quando dizem que o desenvolvimento do ser humano assenta na sua capacidade de interagir com os outros da sua espcie e de atuar sobre o mundo, sendo que a qualidade e a quantidade das interaes proporcionadas a uma criana so determinantes no seu desenvolvimento social e emocional. A criana com Paralisia Cerebral tem o seu desenvolvimento afetado quer pelas leses de que portadora quer pelas limitaes que da advm, impedindo-a de experimentar e aprender como os demais prejudicando o seu desenvolvimento.

importante ter em mente que o conceito de deficincia inclui a incapacidade relativa, parcial ou total, para o desempenho da atividade dentro do padro considerado normal para o ser humano, mas tambm preciso deixar claro que a pessoa com deficincia pode desenvolver atividades laborais desde que tenha condies e apoios adequados s suas caractersticas.

Sobre a Deficincia auditiva, o Decreto n 5.296/04, art. 5, 1, I, b, c/c

Decreto n 5.298/99, art. 4, II define como a pessoa que perdeu bilateral, parcial ou total a audio, o que corresponde a 41 decibis (dB) ou mais, aferida por audiograma nas frequncias de 500Hz, 1.000Hz, 2.000Hz e 3.000Hz .

De acordo com o Decreto n 3.298/99 e o Decreto n 5.296/04, conceitua-se como deficincia visual:

Cegueira na qual a acuidade visual igual ou menor que 0,05 no melhor olho, com a melhor correo ptica;

Baixa Viso significa acuidade visual entre 0,3 e 0,05 no melhor olho, com a melhor correo ptica;

Os casos nos quais a somatria da medida do campo visual em ambos os olhos for igual ou menor que 60;

Ou a ocorrncia simultnea de quaisquer das condies anteriores.

Ressaltamos a incluso das pessoas com baixa viso a partir da edio do

Decreto n 5.296/04. As pessoas com baixa viso so aquelas que, mesmo usando culos comuns, lentes de contato, ou implantes de lentes intraoculares, no conseguem ter uma viso ntida. As pessoas com baixa viso podem ter

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sensibilidade ao contraste, percepo das cores e intolerncia luminosidade, dependendo da patologia causadora da perda visual.

A Deficincia Mental conceituada pelo Decreto n 3.298/99, alterado pelo Decreto n 5.296/04, como o funcionamento intelectual significativamente inferior mdia, com manifestao antes dos 18 anos e limitaes associadas a duas ou mais reas de habilidades adaptativas, tais como:

a) comunicao;

b) cuidado pessoal;

c) habilidades sociais;

d) utilizao dos recursos da comunidade;

e) sade e segurana;

f ) habilidades acadmicas;

g) lazer; e,

h) trabalho (Decreto n 5.296/04, art. 5, 1, I, d; e Decreto n 3.298/99,

art. 4, I).

De acordo com o Decreto n 3.298/99, conceitua-se como deficincia

mltipla a associao de duas ou mais deficincias.

As caractersticas comportamentais mais evidentes nesta populao, referidas por Fonseca (2001) so:

1. Pessoais (falta de motivao, ansiedade, falta de autocontrole, perturbaes de personalidade, fraco controle interior e tendncia para evitar situaes de insucesso, mais do que para procurar os xitos);

2. Sociais (dificuldades em realizar funes sociais, em estabelecer ligaes

afetivas. Retardamento evolutivo em situaes de jogo, lazer e atividade sexual);

3. Fsicas (falta de equilbrio, dificuldades de locomoo, coordenao e

manipulao).

Destacam-se como caractersticas cognitivas mais relevantes:

Problemas de memria (ativa e semntica);

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Problemas de categorizao;

Dificuldades de ateno;

Autorregulao;

Dificuldades na resoluo de problemas; e,

Dficits lingusticos (PACHECO; VALNCIA, 1993).

3.2 Classificao

Coelho e Coelho (2001) afirmam que, a partir do sculo XX, iniciou-se uma

srie de tentativas para sistematizar o conceito de deficincia mental. Inicialmente, as principais definies contemplavam o dficit intelectual e do comportamento adaptativo, alm da imaturidade no que tange ao desenvolvimento e questo da incurabilidade.

Desde ento, as principais mudanas acerca da definio de deficincia mental foram realizadas pela American Association on Mental Deficiency (atualmente denominada de American Association on Intellectual and Development Disability AAIDD). Esta associao foi criada em 1876 e desde ento lidera o campo de estudos sobre o tema. A AAIDD tem influncia sobre os sistemas de classificao internacionalmente conhecidos como CID-10 e o DSM-IV.

A Classificao Estatstica Internacional de Doenas e Problemas Relacionados com a Sade, conhecida como Classificao Internacional de Doenas ou simplesmente CID, tem por objetivo categorizar as descries diagnsticas com base na organizao das sndromes. A CID publicada pela Organizao Mundial de Sade (OMS), sendo revista periodicamente e encontra-se na sua dcima edio.

O DSM-IV, abreviatura de Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders - Fourth Edition (Manual Diagnstico e Estatstico de Doenas Mentais -Quarta Edio), publicado pela Associao Psiquitrica Americana (APA). Assim

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como a CID, usa um sistema categrico. No entanto, considera-se um modelo aterico, tendo por inspirao o modelo organicista.

Alm da CID, a OMS publicou, em 1976, a International Classification of Impairment, Disabilities and Handicaps (Classificao Internacional das Deficincias, Incapacidades e Desvantagens CIDID). Nesta, Impairment (deficincia) descrita como as anormalidades nos rgos e sistemas e nas estruturas do corpo; disability (incapacidade) caracterizada como as consequncias da deficincia do ponto de vista do rendimento funcional, ou seja, no desempenho das atividades; handicap (desvantagem) reflete a adaptao do indivduo ao meio ambiente resultante da deficincia e incapacidade (FARIAS; BUCHALLA, 2005, p. 189).

Posterior a vrias verses e inmeros testes, a OMS publicou, em 2001, a Classificao Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Sade CIF (International Classification of Functioning, Disability and Health).

A CIF baseada, portanto, numa abordagem biopsicossocial que incorpora

os componentes de sade nos nveis corporais e sociais. Assim, na avaliao de uma pessoa com deficincia, esse modelo destaca-se do biomdico, baseado no diagnstico etiolgico da disfuno, evoluindo para um modelo que incorpora as trs dimenses: a biomdica, a psicolgica (dimenso individual) e a social. Sendo que

(...) Os conceitos apresentados na classificao introduzem um novo paradigma para pensar e trabalhar a deficincia e a incapacidade: elas no so apenas uma consequncia das condies de sade/doena, mas so determinadas tambm pelo contexto do meio ambiente fsico e social, pelas diferentes percepes culturais e atitudes em relao deficincia, pela disponibilidade de servios e de legislao (FARIAS; BUCHALLA, 2005, p. 189-190).

Em 2002, a AAMR, atualmente AAIDD, definiu retardo mental (expresso adotada, poca, por seus proponentes) como sendo uma deficincia originada antes dos dezoito anos de idade, caracterizando-se por significativas limitaes no que tange ao funcionamento intelectual, ao comportamento adaptativo e s habilidades prticas, sociais e conceituais (CARVALHO; MACIEL, 2003).

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Os autores acima destacam que o Sistema 2002 da AAMR a referncia para a classificao da deficincia mental e tem influenciado ainda outros importantes documentos, no apenas internacionais como tambm nacionais.

A OMS lanou, em outubro de 2007, a Classificao Internacional de

Funcionalidade, Incapacidade e Sade em verso para crianas e jovens (CIF CJ). Esta uma verso derivada da Classificao Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Sade (CIF) desenvolvida para contemplar as caractersticas do desenvolvimento da criana e da influncia dos ambientes que a cercam. A CIF CJ pertence famlia das classificaes internacionais desenvolvidas pela OMS para aplicao em diversos aspectos relacionados sade.

Atualmente, a classificao da Dl baseia-se mais em critrios adaptativos, do que nos ndices numricos de QI.

O comportamento adaptativo tem-se revelado fundamental na avaliao e classificao da Dl, associando a participao na vida ativa com a vida escolar, sem descuidar o aspecto scio-emocional do deficiente intelectual (MORATO; SANTOS, 2002).

Este conceito alarga os aspectos a serem avaliados aps o diagnstico da Dl, uma vez que anteriormente se utilizava apenas o Q.I do indivduo como referncia que os classifica em leve, moderado, severo ou profundo (LUCKASSON et al. 1997 apud SOUSA, 2010).

Abaixo temos uma breve comparao das classificaes para deficiente

mental:

1)AAIDD

Definio: Deficincia caracterizada por limitaes significativas no funcionamento intelectual e no comportamento adaptativo - habilidades prticas, sociais e conceituais - originando-se antes dos dezoito anos de idade.

Tipos de Apoio:

Intermitente (Episdico) O apoio se efetua apenas quando necessrio. Caracteriza-se por sua natureza episdica, com durao limitada, ou seja,

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nem sempre a pessoa necessita de apoio, mas durante momentos, em determinados ciclos da vida. Limitado (Consistente) Apoios intensivos caracterizados por durao contnua, por tempo limitado, mas no intermitente. Como por exemplo, o treinamento do deficiente para o trabalho por tempo limitado ou apoios transitrios durante o perodo entre a escola, a instituio e a vida adulta. Extensivo (Contnuo) Trata-se de um apoio caracterizado pela regularidade, normalmente diria em pelo menos em alguma rea de atuao, tais como na vida familiar, social ou profissional. Nesse caso no existe uma limitao temporal para o apoio, normalmente se d em longo prazo. Permanente (Constante) o apoio constante e intenso, necessrio em diferentes reas de atividade da vida. Estes apoios exigem mais pessoal e maior intromisso que os apoios extensivos ou os de tempo limitado.

2)CID-10

Definio: F70-F79 - Parada do desenvolvimento ou desenvolvimento incompleto do funcionamento intelectual, caracterizados essencialmente por um comprometimento, durante o perodo de desenvolvimento, das faculdades que determinam o nvel global de inteligncia, isto , das funes cognitivas, de linguagem, da motricidade e do comportamento social. O retardo mental pode acompanhar um outro transtorno mental ou fsico, ou ocorrer de modo independentemente.

As categorias so:

F70 Retardo Mental Leve

F71 Retardo Mental Moderado

F72 Retardo Mental Grave

F73 Retardo Mental Profundo

F78 Outro Retardo Mental

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F79 Retardo Mental no Especificado.

3)DSM-IV

Definio:Acaractersticaessencial doRetardoMentalum funcionamento intelectual significativamente inferior mdia (Critrio A), acompanhado de limitaes significativas no funcionamento adaptativo em pelo menos duas das seguintes reas de habilidades: comunicao, autocuidados, vida domstica, habilidades sociais/interpessoais, uso de recursos comunitrios, autossuficincia, habilidades acadmicas, trabalho, lazer, sade e segurana (Critrio B). O incio deve ocorrer antes dos 18 anos (Critrio C).

Um funcionamento intelectual significativamente abaixo da mdia definido como um QI de cerca de 70 ou menos.

Inversamente, o Retardo Mental no deve ser diagnosticado em um indivduo com um QI inferior a 70, se no existirem dficits ou prejuzos significativos no funcionamento adaptativo.

Nvel de gravidade refletindo nvel de prejuzo intelectual:

F70.9 - 317 Retardo Mental Leve (QI de 50-55 a aproximadamente 70) F71.9 - 318.0 Retardo Mental Moderado (QI de 35-40 a 50-55) F72.9 - 318.1 Retardo Mental Severo (QI de 20-25 a 35-40)

F73.9 - 318.2 Retardo Mental Profundo (QI abaixo de 20 ou 25)

F79.9 - 319 Retardo Mental, Gravidade Inespecificada quando existe forte suposio de Retardo Mental, mas a inteligncia da pessoa no pode ser testada por instrumentos padronizados.

4)CIF

Definio: Deficincias so problemas nas funes ou nas estruturas do corpo, tais como, um desvio importante ou uma perda significativa (AMIRALIAN et al, 2000).

Classificao:

0 Sem deficincia;

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1-Deficincia leve;

2-Deficincia moderada;

3-Deficincia grave;

4-Deficincia completa;

8- Sem especificao;

9-Sem aplicao

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UNIDADE 4 - ABORDAGENS: PSICANALTICA E A EPISTEMOLOGIA GENTICA PARA DEFICINCIA INTELECTUAL

Acreditamos que tenha sido percebido que a deficincia mental uma questo complexa, cujas causas so mltiplas e diversas: umas esto ligadas prpria estrutura do sujeito; outras, a questes lesionais. O fato de elas se intricarem e agirem umas sobre as outras no ajuda em nada a compreenso do fenmeno, pois o resultado disso que cada um projeta seus fantasmas e inventa remdios.

A deficincia mental uma condio complexa. Seu diagnstico envolve a compreenso da ao combinada de quatro grupos de fatores etiolgicos-biomdicos, comportamentais, sociais e educacionais. A nfase em elementos dessas dimenses depende do enfoque e da fundamentao terica que orientam a concepo dos estudiosos (CARVALHO; MACIEL, 2003, p. 2).

Jerusalinsk (1999, p. 110) compara o que acontecia na antiguidade grega

quando as crianas deficientes eram lanadas desde as alturas do monte Taigeto, ao que acontece em nossa civilizao, ou seja, elas so igualmente lanadas a um vazio de significncia desde as alturas da Cincia.

Para sair desse caos, para existir de fato e de direito, para deixar de ser

esse outro, o deficiente mental tem de compreender o significado de si mesmo e o sentido de sua vida, ou seja, encontrar a ordem do mundo e o caminho de seu prprio desejo. O Outro aqui, segundo a teoria psicanaltica, seria o pai, a me ou qualquer ser humano que mantm um vnculo afetivo prximo com a criana. Para Silva (2006), possvel pensar esse Outro como figuras reais e concretas, mas tambm como imagens internas do psiquismo da criana.

Compreender , pois, uma operao que toca no mais essencial da constituio do ser, parte integrante da pulso de vida da qual falava Freud (1976).

Por essa razo, pode-se tornar uma paixo, a paixo de saber. Ao contrrio, pode existir a paixo ignorncia, que diz respeito pulso de morte. O sentido da deficincia mental do interesse da Psicologia, da Psicanlise, da Pedagogia, da

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Psiquiatria e da Neurologia. Entretanto, as diversas contribuies das vrias reas de conhecimento tm em comum um ponto: que este indivduo, o deficiente mental, traz uma interdio em relao ao saber. Segundo Santana (1995, p. 13), a conceituao da deficincia mental vem sustentada por uma avaliao mdica. A deficincia como termo de origem mdica, e por esse motivo dita orgnica, no encontrou amparo dentro da psicanlise.

Freud (1976) deu sua contribuio na pesquisa do deficiente mental, determinando um lugar para ele, a partir dos estudos sobre a sexualidade infantil. Delimitou esse saber propondo uma clnica onde, mesmo com as dificuldades vinculadas ao corpo, ocorre uma possibilidade via escuta. O pensamento freudiano no se situou face deficincia, mas em face de um ser de palavras, detendo uma verdade que lhe escondida, subtrada, ou que no lhe pertence mais (CORDI, 1996, p. 129 apud SILVA, 2006, p. 63). As discusses acerca das contribuies de Freud e Lacan iriam longe, mas torna-se necessrio um recorte e uma sntese para focar a abordagem em tela.

De acordo com a abordagem psicanaltica e tomando emprestadas as

contribuies de Mannoni (1981, p. 33), sabe-se que o deficiente mental traz sempre um discurso coletivo, o qual proveniente de suas relaes com a famlia, com a escola e com a sociedade. Para esse ser, muito difcil falar, pois ele falado. De acordo com a autora, ele cria uma situao dual, tornando-se objeto de um dos pais. Forma-se, em certos momentos, entre o deficiente mental e sua me, um s corpo, confundindo-se o desejo de um com o desejo do outro, impedindo-o, at certo ponto, de construir um conhecimento oriundo do outro.

Seguindo o pensamento dessa autora, a mensagem do pai, ou seja, a funo paterna nunca chega at o deficiente mental. Ele est fadado a permanecer numa certa relao fantasmtica com a me que, pela ausncia mesma do significante paterno, deixa o deficiente reduzido ao estado de objeto, sem esperana alguma de aceder ao nvel de sujeito. Pelo contrrio, a impossibilidade para o deficiente mental de estabelecer uma identificao significante deixa-o sem defesa contra as situaes de dependncia dual. Ele no tem a possibilidade de se interrogar sobre a sua falta de ser, porque essa falta, tomada em nvel da realidade

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pelos que o rodeiam, vai lev-lo a no sofrer e a preencher um vazio, o seu vazio intelectual, escolar, sem que nunca se coloque a questo de saber se esse vazio real no se duplica na me, pela sua prpria falta de ser, cujo acesso se acha raramente barrado para a criana pelo significante paterno (MANNONI, 1981, p. 40).

Observa-se, ento, que a leitura que a psicanlise faz sobre a deficincia mental relaciona-se com um ser sem o saber intelectual, numa relao de evidncia de nada compreender, mas sustentada por um saber, denominado de saber inconsciente. Esse esclarecimento da dimenso inconsciente contrrio crena em uma debilidade inscrita nos gens de um determinismo biolgico, mas indicativo do uso que o inconsciente faz dessa inscrio gentica.

Uma vez que sabemos que alm de ser imperativo ressignificarmos o lugar do deficiente mental, devemos ressaltar que existe um lugar do pseudodeficiente, e no somente da deficincia inscrita no corpo fsico (SILVA, 2006, p. 68).

O mesmo autor pondera que a leitura que a psicanlise faz da deficincia

tambm oportuniza aos docentes a explicao de que a educao tambm falha, como ns seres humanos; que se continuarmos a entender as prticas educativas como nicas para todos os alunos, sejam estes deficientes ou no, situaes de deficincias e dficits sempre iro aparecer, seja nos alunos, nos professores, nos mtodos ou nas prticas educativas.

O estudo por parte dos docentes sobre a teoria psicanaltica tambm imprescindvel, dado que a partir de alguns conceitos advindos dessa teoria que ser permitido que os docentes ressignifiquem seus valores e posicionamentos frente aos deficientes, entendendo que as deficincias no so somente orgnicas, mas estruturais tambm. Ai eles, os docentes, com toda sua formao e prticas educativas e a famlia, so implicados.

Quanto a abordagem da epistemologia gentica, esta trouxe uma nova possibilidade de prticas educativas mais eficazes aos docentes, pois permite um conhecimento cientfico de como se desenvolvem as estruturas cognitivas dos seres humanos e dos deficientes mentais e as possveis intervenes com os mesmos.

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Com a ampliao de matrculas na educao bsica, aumentou o nmero de pessoas com deficincia em busca de escolaridade, o que gerou a criao de classes e escolas especializadas.

Nesse contexto, surge tambm a concepo interacionista de inteligncia.

Essa concepo prev que as habilidades mentais sensoriais e motoras do sujeito resultam da quantidade e da qualidade das trocas efetuadas entre sujeitos e o meio-ambiente. A respectiva concepo est representada na abordagem da Epistemologia gentica de Jean Piaget e o Scio-Interacionismo de Lev Vygotsky.

A abordagem Piagetiana estabelece uma relao de interdependncia entre o sujeito e o meio, buscando superar a antiga dicotomia entre objetivismo e subjetivismo. A teoria comportamentalista preconiza que cada estmulo emite uma resposta, entretanto, Piaget (1983) diz que para que isso ocorra necessrio que o sujeito e seu organismo sejam capazes de fornecer tal resposta.

Na perspectiva Piagetiana o sujeito no uma tabula rasa, nem traz consigo

o conhecimento inato, mas um ser que interage com o meio para construir o conhecimento. Nesse sentido, o processo de desenvolvimento cognitivo do indivduo inicia ao nascimento e termina na fase adulta.

AteoriaPiagetianadenominadaEpistemologiaGenticaenvolve basicamente dois processos: assimilao e acomodao. A assimilao a incorporao de um novo conceito ou experincia em um conjunto de esquemas j existentes, atravs da prpria atividade do sujeito. E a Acomodao o processo pelo qual as crianas modificam suas aes, a fim de manejarem novos objetos ou experincias. Os processos de assimilao e acomodao so complementares e se mostram presentes toda a vida do sujeito, permitindo a adaptao intelectual (ALLEBRANDT-PADILHA, 2004).

Em linhas gerais, a adaptao consiste numa equilibrao contnua destas assimilaes e acomodaes. o processo de autorregulao que consiste numa passagem contnua de um estado de menor equilbrio para outro de equilbrio superior. Sendo assim, o desenvolvimento mental uma construo sucessiva.

No tocante a Educao, embora Piaget no tenha sido um educador, a sua teoria orienta em muito as questes educacionais. Inclusive na Educao Especial, a

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educadora Barbel Inhelder (1963), citada por Mantoan (1995) desenvolveu um estudo aplicando a teoria psicogentica em portadores de Deficincia Mental.

Conforme tal estudo, em sua evoluo intelectual, a criana com deficincia passaria pelos mesmos estgios da criana normal. Porm, enquanto na criana normal h uma acelerao progressiva do pensamento operatrio, na deficiente observa-se lentido ou at estagnao que conduz a viscosidade no raciocnio.

Segundo Mantoan (1997), todas as contribuies inovadoras indicam novas possibilidades na educao de pessoas com deficincia mental. Uma das implicaes a incluso educacional que contribui para o desenvolvimento das estruturas lgicas concretas.

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UNIDADE 5 - DEFICINCIA INTELECTUAL NO CONTEXTO ESCOLAR: PERCEPO DE PAIS, ESCOLA E O PAPEL DOS EDUCADORES NO PROCESSO DE INCLUSO

Um fator que provoca a resistncia e discriminao da escola frente aos

alunos com deficincia, segundo Batista e Mantoan (2006), o medo face diferena e ao desconhecido. Quanto a esse tema, o socilogo Erving Goffman (1982) props um conceito, o de estigmatizao, para descrever esta reao discriminatria perante o que diferente. Tambm citam que Freud (1969) nos seus estudos sobre o Estranho, tambm explica como os sujeitos evitam aquilo que lhes parece estranho e diferente, sobretudo a partir de questes e problemas pessoais e muito ntimos dos prprios sujeitos.

Estes estudos e mesmo nossa posio no mundo, no cotidiano, nos levam a

observar que a percepo que as pessoas tm de outras baseada em interesses, preconceitos, atitudes, esquemas sociais e cultura. Isso tambm ocorre em mbito escolar, onde se torna cada vez mais natural que professores, depois de certo tempo, tendam a classific-los em bons, regulares e fracos. Impresso esta, normalmente causada pelo desempenho e pelo comportamento dos alunos, podendo tambm derivar de atitudes preconcebidas do professor.

Implementar uma prtica pedaggica que elimine qualquer barreira aprendizagem, deslocando o foco da problemtica, das caractersticas do aluno, de suas condies orgnicas, psicossociais, o que o tem responsabilizado pelo seu fracasso na escola para outros fatores como o educador, a escola, o sistema educacional, as influncias das representaes sociais e os aspectos ideolgicos e polticos que determinam tal prtica. Esse o grande desafio do educador do sculo XXI.

Segundo Aquino (1997, p.93), necessrio retirar o foco diagnstico da

figura do aluno-problema, deslocando o olhar para as relaes conflitivas que o circunscrevem, das quais ele to somente porta voz. A interao professor-aluno possui caractersticas e reflete efeitos que surgem a partir desta interao no ambiente escolar, onde o desempenho est sendo constantemente avaliado.

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Conforme as ideias de Patto (1997, p. 287), a escola o lugar onde a interveno pedaggica intencional desencadeia o processo ensino-aprendizagem. O professor tem o papel explcito de interferir no processo, diferentemente de situaes informais em que a criana aprende por imerso em um ambiente cultural. E o aluno no somente o sujeito da aprendizagem, mas, aquele que aprende junto ao outro o que seu grupo social produz, tal como: valores, linguagem e o prprio conhecimento. Para Herrero (2000), os professores devem, como primeiro objetivo, desenvolver a aceitao e o respeito pelas diferenas, pois estabelece um clima positivo dentro da classe.

Partindo do pressuposto acima, salienta-se que o professor deve ter

conscincia de suas atitudes, limitaes e valores prprios, para no rotular os alunos como bons ou ruins, capazes ou incapazes, como nas palavras de Piletti (2004, p.83): o comportamento do professor em relao aos alunos de fundamental importncia para que ocorra a aprendizagem, ou seja, se um aluno percebe indiferena e excluso por parte do professor, sua ateno estar voltada para a autodefesa, enquanto deveria estar focada no contedo a ser aprendido.

Herrero (2000, p. 12) enfatiza o exposto, ao afirmar que claro que no haver mudana na conduta e nas expectativas destes profissionais, sem uma mudana na concepo que tenham sobre incluso. claro que a conduta e as expectativas do professor determinam de forma decisiva o xito ou o fracasso do aluno.

Dessa forma, v-se que a postura ideal de um professor de manter a neutralidade diante de seus alunos, porm um processo um tanto difcil, pois, como Patto (1997, p. 287) salienta, o professor no neutro, sem sentimentos, frio e distante. uma pessoa e, como tal, tem sentimentos, simpatias, antipatias, amor, dio, medo, timidez, etc. e no est livre de ter sentimentos. Outro fator que contribui nossa vivncia numa sociedade competitiva que possui valores que classificam as pessoas como boas ou fracas, capazes e incapazes.

Importante salientar que, apesar da importncia da escola, Silva e Dessen

(2001) relembram a necessidade de participao da famlia no processo de desenvolvimento dos alunos com deficincia intelectual, inserindo-a no contexto

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escolar, visto que a famlia constitui o primeiro universo de relaes sociais da criana, podendo proporcionar-lhe um ambiente de crescimento e desenvolvimento, especialmente as crianas com deficincia intelectual, as quais requerem ateno e cuidados especficos. Sendo assim, o desenvolvimento do aluno com deficincia intelectual no pode ser isolado do desenvolvimento da famlia (SILVA; DESSEN, 2001).

Partindo da definio do dicionrio Aurlio sobre o preconceito ser conceito ou opinio formados antecipadamente, sem maior ponderao ou conhecimento dos fatos; ideia preconcebida, pode-se dizer que considerada como uma atitude j que a pessoa no fica indiferente ao alvo e, por estar ligada a emoes e valores resultam na formao de uma imagem positiva ou negativa de uma pessoa.

Vale observar que o aluno com deficincia intelectual ser mais facilmente

aceito e incluso quando assim o for dentro da prpria famlia e para que isso acontea, os pais tm que conhec-lo em suas limitaes e potencialidades.

Dessa forma, a famlia, apesar de no ser um dos maiores obstculos frente a incluso, constitui a base da educao e das interaes sociais do filho com deficincia intelectual. Dessa forma, Picchi (2002. p. 95) verifica a necessidade de desvendar e compreender a histria da famlia de forma a diminuir os preconceitos atribudos famlia, como a de maior parcela de culpa pelas dificuldades encontradas pelo aluno na escola.

Omote (1986, 1987) observa, tambm, em sua pesquisa sobre a aparncia

dos deficientes na interpretao de suas competncias, como o grau de importncia que a aparncia fsica tem no processo de interao entre aluno/aluno e aluno/professor, pois, dependendo da aparncia, o aluno pode ser julgado no nvel de competncia acadmica. Dessa forma, ser for atraente, ter um julgamento de competncia e a integrao social fluir de forma mais harmnica, ao contrrio, ou seja, ao apresentar aparncia fsica que no seja agradvel, ser julgado como possuidor de uma competncia inferior aos demais, sendo, portanto, tratado de forma diferenciada, ficando excludo das relaes sociais e acadmicas.

Neste caso, esteretipos e preconceitos, como enfatiza Rodrigues (1999), fazem parte de um pacote maior de normas sociais. E em decorrncia disso,

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esteretipos relativos raa, aparncia fsica, classe social, deficincia, podem predispor o professor a tratar seus alunos de forma que as expectativas derivadas desse esteretipo acabem de fato ocorrendo. E apesar de cada aluno ser diferente, com suas qualidades peculiares, so avaliados pelo mesmo padro, e so salientadas as qualidades, positivas ou negativas, com relao a essa dimenso de comportamento.

O ambiente escolar, caracteriza-se por ser um ambiente em que os alunos esto sendo constantemente avaliados. [...] O que o professor tem que se dar conta de que a situao escolar propicia constantes ameaas autoestima dos alunos e eles devem ser ajudados na maneira de enfrentar com xito tais ameaas. Deve tambm o professor esforar-se por aumentar a motivao de seus alunos a atribuir causalidade interna a seus comportamentos (RODRIGUES, 1999, p.421).

Deste modo, v-se que o aluno ao perceber essas rotulaes so conduzidos ao desnimo, depresso e, na situao escolar, ao abandono da escola ou perda de entusiasmo por assuntos acadmicos. Por isso, papel do professor evitar que os alunos atribuem isso aos seus fracassos escolares.

Tendo uma viso mais ampla, Patto (1997, p. 300) afirma que

esse processo no seria, talvez, to pernicioso, se os professores conseguissem manter uma atitude de neutralidade diante dos alunos, sem manifestar preferncias ou antipatias.

Contudo, percebe-se que manter a neutralidade um processo difcil, pois, de acordo com as ideias de Rodrigues (1999), quando observamos uma pessoa realizando uma ao, tendemos a fazer dedues acerca dos motivos que possam ter causado aquele comportamento. E o preconceito frequentemente contamina nossas percepes.

Por isso, necessrio que o professor esteja preparado para receber o

aluno com deficincia intelectual e poder auxiliar os pais, como forma de parceria, no desenvolvimento escolar do aluno em questo. Uma das maneiras proporcionar uma conversa com o aluno e sua famlia, explicando o que tem a oferecer e ter

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retorno do que o aluno j vivenciou, definindo as contribuies que podem oferecer para o desenvolvimento do aluno com deficincia intelectual.

Faz-se necessrio, tambm, que a escola, sensibilize e oriente os pais para que possam ser inseridos no processo educativo do aluno com deficincia intelectual, pois, segundo Picchi (2002, p. 95), alm de serem facilitadores para o bom desenvolvimento do aluno, so os que conhecem melhor e sero, com certeza, os primeiros beneficiados em relao a sua independncia e melhoria no convvio familiar. Assim, os pais assumiro o papel de corresponsveis no processo de incluso do filho com deficincia intelectual.

Quando a escola assumir a competncia de orientar e apoiar a famlia do

aluno, poder almejar um trabalho conjunto, que poder surgir atravs da mudana de postura do prprio aluno e da aproximao da famlia.

Diante do exposto, muito importante que o professor conhea as implicaes da percepo, bem como a existncia e as consequncias dos interesses, preconceitos, atitudes, esquemas sociais e cultura que constantemente influenciam nossas percepes e cognies. S assim ser possvel um julgamento mais objetivo e menos tendencioso dos outros sem distores grosseiras da realidade.

Estudos de Teles (2010) sobre a incluso de alunos com deficincia

intelectual mostraram que para os educadores, a educao entendida como um esforo coletivo de construo de conhecimento dentro do espao formal chamado escola, e que essa construo exige a constante interveno na zona de desenvolvimento proximal de seus alunos, pois os professores so os mediadores das prticas pedaggicas que podem contribuir ou no para o processo de aprendizagem de alunos.

A mesma pesquisadora lembra que este professor tambm est num constante processo de aprendizagem e que as relaes estabelecidas na escola tambm geram nele novas zonas de desenvolvimento proximal, seja pelas interaes em sala de aula com os alunos, seja pela interao com outros professores em trocas de experincias, seja pela formao continuada. Para o professor, o conhecimento continua sendo um construto realizado na coletividade.

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Neste estudo ela percebeu nas falas das professoras que o conceito de desenvolvimento e progresso da escolarizao dos alunos pauta-se numa ideologia dominante produzida por um sistema capitalista liberal que entende a igualdade de oportunidades como algo que cabe ao talento individual ascenso tanto no mbito educacional como social justificando a permanncia das desigualdades de oportunidade e a continuao da explorao das classes menos favorecidas e daqueles que por algum motivo no possuem as mesmas condies de desenvolvimento. A situao econmica e a posio social da famlia apontada como um fator causador das diferentes dificuldades dos processos de aprendizagem.

Em parte, concordamos com Teles (2010), quando infere que o iderio da escola obrigatria e gratuita que transformaria a sociedade dando condies para que todos tivessem as mesmas oportunidades, diminuindo as desigualdades sociais e a explorao da classe menos favorecida, ainda est para acontecer, pois a escola ainda est se constituindo enquanto um espao democrtico, mas o importante que ela est caminhando.

verdade que boa parte dos professores ainda se encontra num momento de transio entre prticas de excluso e prticas de incluso no contexto escolar possibilitada pela atuao pedaggica em sala de aula inclusiva e tambm verdade que por meios das polticas pblicas de incluso, dos cursos de formao continuada e capacitaes como esta ele est conseguindo alcanar novos conhecimentos para subsidiar um novo fazer pedaggico.

A prtica pedaggica se constitui enquanto processo de formao

continuada, pois possibilita ao professor confrontar suas angstias, dvidas com suas certezas e fazeres, levando a reflexo e construo de novas prticas (TELES, 2010).

Focando novamente a famlia, esta exerce um papel fundamental, na

medida em que propicia o crescimento e desenvolvimento dessas crianas atravs de um ambiente estimulador e de interaes e relaes saudveis. Segundo Kreppner (1992 apud DESSEN; SILVA, 2000), a famlia exerce este papel, principalmente, por meio de sua rede de relaes sociais.

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A famlia constitui o primeiro universo de relaes sociais da criana e [...] representa, talvez, a forma de relao mais complexa e de ao mais profunda sobre a personalidade humana, dada a enorme carga emocional das relaes entre seus membros (REY; MARTINEZ, 1989, p. 143 apud DESSEN; SILVA, 2000).

A complexa rede de relaes familiares apresenta caractersticas especficas de unicidade e complexidade, constituindo um contexto em desenvolvimento. Portanto, essa gama de interaes e relaes desenvolvidas no microuniverso da famlia mostra que o desenvolvimento do indivduo no pode ser isolado do desenvolvimento da famlia (DESSEN; LEWIS, 1998).

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UNIDADE 6 - ATENDIMENTO EDUCACIONAL ESPECIALIZADO AEE E A AVALIAO

No contexto da incluso escolar defende-se a matrcula preferencial de

todos os alunos na rede regular de ensino. Para tanto, assegura-se o atendimento preferencial nas classes comuns e a oferta de servios de atendimento educacional especializado (AEE). Segundo a Resoluo n 4 de 2 de outubro de 2009, que instituiu as Diretrizes Operacionais para a Educao Especial, o AEE pode ser caracterizado enquanto um servio educacional que tem como funo:

Complementar ou suplementar a formao do aluno por meio da

disponibilizao de servios, recursos de acessibilidade e estratgias que eliminem as barreiras para sua plena participao na sociedade e desenvolvimento de sua aprendizagem (BRASIL, 2009).

O AEE na proposta da incluso escolar importante para garantir o

desenvolvimento dos alunos tanto nos espaos de atendimento especializado como nos espaos da classe comum da escola regular. Ainda com relao organizao do AEE, segundo o art. 5, ela proposta da seguinte maneira:

O AEE realizado, prioritariamente, na sala de recursos multifuncionais da prpria escola ou em outra escola, de ensino regular, no turno inverso da escolarizao, no sendo substitutivo s classes comuns, podendo ser realizado, tambm, em centro de atendimento educacional especializado da rede pblica ou de instituio privada, sem fins lucrativos, conveniada com a Secretaria de Educao ou rgo equivalente (BRASIL, 2009).

A Educao Especial (para toda sorte de deficinciaa, altas habilidades,

superdotados e alunos com transtornos globais de desenvolvimento), enquanto rea de conhecimento e proviso de servios, adquire um papel fundamental na medida em que possibilita que a diversidade do alunado seja contemplada com a oferta de recursos e materiais pedaggicos que permitam que todos os alunos tenham iguais oportunidades na escola, garantindo a aprendizagem e o desenvolvimento.

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A garantia do AEE importante na medida em que existe o reconhecimento poltico das diferenas, sendo este um aspecto fundamental para garantir o acesso, a permanncia e o sucesso do aluno dentro da escola.

Por outro lado, fica a questo de como ser feito a identificao deste

alunado. No campo da Educao Especial temos a considerar que o processo de identificao fundamental para embasar as decises a serem tomadas, para definir elegibilidade aos servios educacionais, alm das demandas de atendimento, organizao de recursos humanos, manejo de sala de aula, organizao curricular etc. (SALVIA; YSSELDYKE; BOLT, 2010 apud VELTRONE; MENDES, 2011).

Na poltica da incluso escolar, a identificao de uma condio de

deficincia deve ser voltada para propsitos educacionais, para a identificao das necessidades educacionais especiais. necessrio identificar para definir elegibilidade aos servios e apoios pedaggicos adequados (BRASIL, 2001, p. 48). Mais do que um processo de diagnstico clnico, um processo de avaliao pedaggica, que considera o desenvolvimento das relaes de ensino-aprendizagem, o nvel de desenvolvimento e condies pessoais do alunado, contexto educacional, instituio educacional, ao pedaggica e caractersticas do ambiente e convvio familiar (BRASIL, 2006).

A avaliao pedaggica com o objetivo de identificar as necessidades

educacionais especiais deve ser feita por aqueles que atuam diretamente com os alunos, uma equipe a ser formada no mbito da escola (BRASIL, 2001). No caso da rede pblica do estado de So Paulo, por exemplo, a deciso de encaminhar um aluno aos servios de apoio especializado passou a ser de responsabilidade da equipe pedaggica da unidade escolar a qual o aluno est matriculado.

Esta equipe pode ser composta pelo professor da classe comum, professor

da Educao Especial, professor coordenador, assistente tcnico pedaggico de Educao Especial e do Ensino Fundamental e supervisor de ensino, e devem ser envolvidos tambm os pais e os profissionais da rea da sade que prestam atendimento ao referido aluno (SO PAULO, 2002).

Os documentos legais e oficiais reconhecem a importncia da avaliao pedaggica ser realizada pelos prprios profissionais da escola, mas, por outro lado,

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tambm identificam que este um processo recentemente novo e que nesta fase de transio preciso considerar a ajuda dos profissionais do campo da Educao Especial na avaliao. Na medida em que a equipe da escola puder realizar sozinha a identificao das necessidades educacionais dos seus alunos, a Educao Especial deve contribuir como assessoramento especializado (BRASIL, 2006). Portanto, na avaliao para a identificao das necessidades educacionais especiais e provimento dos apoios ainda recomendada a equipe multiprofissional, composta de profissionais de diversos campos de conhecimento (BRASIL, 2001).

Salvia, Ysseldyke e Bolt (2010 apud VELTRONE; MENDES, 2011) tambm

ressaltam que os resultados de uma avaliao e seus objetivos no devem focar

somente nas caractersticas do estudante, mas sim em como estas caractersticas interagem no ambiente no qual o sujeito se encontra. Alm disso, a avaliao pedaggica deve possibilitar que se identifiquem mudanas a serem feitas e tambm avaliar os resultados das mudanas feitas para os estudantes.

A deficincia intelectual deve ser compreendida enquanto a interao entre uma pessoa com funcionamento intelectual limitado e seu ambiente. Por estar guiada por uma orientao funcional da condio de deficincia, existe um forte compromisso da necessidade de classificao baseada na intensidade dos apoios necessrios. A premissa bsica a de que, com os apoios individualizados certos, a pessoa geralmente vai melhorar a maneira como funciona na vida cotidiana.

Cirilo (2008) ressalta ainda que no possvel pensar a terminologia e

conceituao da deficincia intelectual sem situ-la no contexto social e cultural imediato no qual se encontra. A autora discute ainda que no campo de conhecimento e mesmo prtico no possvel estabelecer uma unanimidade do que seja a deficincia intelectual, e isto ocorre no campo da medicina, psicologia e pedagogia. Estudos sobre a temtica so sempre importantes de serem desenvolvidos para se compreender como estas mudanas vm sendo interpretadas para que possamos avanar nas discusses e compreenses sobre a deficincia intelectual.

Considerando a perspectiva de garantir a permanncia do aluno na classe comum, a identificao dos alunos com deficincia intelectual se faz necessria para

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o encaminhamento aos servios educacionais especializados (AEE). Alm disso, tendo em vista o nmero expressivo de alunos identificados na condio de deficincia intelectual nas estatsticas oficiais (BRASIL, 2006) e as dificuldades atreladas ao processo de como tal aluno pode ser identificado, parece importante questionar como e por quem estes alunos esto sendo identificados.

A legislao assegura a formao de professores especializados e

capacitados(BRASIL,2001).Aosprofessoresespecializadoscaberia, especialmente, identificar as necessidades educacionais especiais e trabalhar em colaborao com professores de sala comum para definir e implementar as flexibilizaes pedaggicas e adaptaes curriculares.

importante que a legislao assegure o profissional especializado, principalmente quando defende a importncia da Educao Especial enquanto modalidade de Educao que deve ser trabalhada junto com a educao regular, para proporcionar nveis mximos de aprendizagem e desenvolvimento para todos os alunos.

A capacitao do profissional um dos caminhos para identificao da

deficincia intelectual, portanto, que estejam envolvidos profissionais que tenham formao adequada para atuar na avaliao e proviso do atendimento educacional para os alunos com deficincia intelectual. Inclusive a delimitao e critrios mnimos para a formao desta equipe deveria ser um aspecto considerado.

Os procedimentos geralmente utilizados na identificao da deficincia

intelectual so variados, indo ao encontro da prpria composio das equipes. Geralmente comea-se com a entrevista com a famlia, em seguida ou concomitantemente, um diagnstico multidisciplinar. Os testes de QI so indicados para propsitos especficos e considerando-se o contexto imediato no qual se encontra o sujeito, e os seus resultados devem ser utilizados para aes prticas (NORONHA; PRIMI; ALCHIERI, 2005; BERGERON; FLOYD; SHANDS, 2008; HAMES, 2008; POLLOWAY, 2009 apud VELTRONE; MENDES, 2011).

A avaliao pedaggica tambm pode ser utilizada, geralmente para

identificar o perfil do aluno. Na escola regular, a busca pela identificao acaba

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sendo feita prioritariamente com os alunos que no acompanham as exigncias escolares, o que justifica a avaliao pedaggica (VELTRONE; MENDES, 2009).

Mesmo considerando a complexidade que envolve a deficincia intelectual e a impossibilidade de defini-la sem considerar seu contexto cultural, social e educacional imediato, os pesquisadores acima consideram que a composio da equipe para a identificao destes alunos, bem como os procedimentos utilizados, necessitam de critrios mnimos, para no cairmos no risco da transformao em um processo aleatrio e subjetivo, rotulando arbitrariamente os alunos como deficientes intelectuais.

Enfim, na proposta da incluso escolar, a discriminao positiva se faz

necessria para que os alunos tenham melhores oportunidades educacionais. A identificao da deficincia intelectual muito importante para que possamos organizaroatendimentoeducacionaldestesalunos,oportunizandoo desenvolvimento de prticas e servios educacionais especializados mais adequados s suas necessidades (VELTRONE; MENDES, 2011).

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UNIDADE 7 - ATIVIDADES FSICAS E FATORES DE RISCO DE DOENAS

As pesquisas e os noticirios nos mostram todos os dias que as atividades

fsicas so importantes para uma vida saudvel.

Para a maioria da populao, os benefcios de uma prtica desportiva regular, so unanimemente reconhecidos, quer seja uma criana, adolescente, adulto ou idoso. No entanto, e no que se refere populao com deficincia, a sensibilizao para as vantagens advindas da prtica de atividade fsica, surgiu ainda que muito recente, fruto da lenta, mas progressiva evoluo que este fenmeno tem assistido (CARVALHO; FARKAS, 2005).

A populao com def