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ESCOLA SUPERIOR DE ENFERMAGEM DA CRUZ VERMELHA PORTUGUESA 2º Curso de Licenciatura em Enfermagem GRUPOS E SUAS TERAPIAS Docente: Profª Cacilda Nordeste Ana Maria Pereira de Almeida Santos Dora Isabel Parreira Aragão Énio Dinarte Taboada Amaral José António França de Oliveira Mascarenhas Lisboa, Dezembro de 2001 “A arte de viver É simplesmente arte de conviver... Simplesmente, disse eu? Mas como é difícil!” Caudio Martines

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  • ESCOLA SUPERIOR DE ENFERMAGEM

    DA CRUZ VERMELHA PORTUGUESA

    2 Curso de Licenciatura em Enfermagem

    GRUPOS E SUAS TERAPIAS

    Docente:

    Prof Cacilda Nordeste

    Ana Maria Pereira de Almeida Santos

    Dora Isabel Parreira Arago

    nio Dinarte Taboada Amaral

    Jos Antnio Frana de Oliveira Mascarenhas

    Lisboa, Dezembro de 2001

    A arte de viver

    simplesmente arte de conviver...

    Simplesmente, disse eu?

    Mas como difcil!

    Caudio Martines

  • NDICE

    1. GRUPO

    1.1. COESO

    1.2. COALIZO

    1.3. COMUNICAO

    1.4. FORMAO DE NORMAS

    1.5. LIDERANA

    1.6. STATUS E PAPEL

    2. TERAPIA DE GRUPO

    2.1. CARACTERISTICAS DA TERAPIA DE GRUPO

    2.2. IDENTIFICAO DA FACTORES NA TERAPIA DE GRUPO

    2.3. APRENDIZAGEM INTERPESSOAL

    2.4. TAREFAS BSICAS DO TERAPEUTA NA TERAPIA DE GRUPO

    2.5. TCNICAS DO TERAPEUTA DE GRUPO

    2.5.1. Tcnicas do Aqui-e-Agora

    2.5.1.1. Importncia do Aqui-e-Agora

    2.5.1.2. Dinmica do grupo no Aqui-e-Agora

    2.5.1.3. Comportamento do terapeuta no Aqui-e-Agora

    2.5.2. Transferncia do terapeuta

    2.5.3. Transparncia do terapeuta

    3. MUDANA

    4. MTODOS DE ESTUDO E DE AVALIAO DO COMPORTAMENTO EM GRUPO

    5. ASSOCIAO COM A ENFERMAGEM

    6. C ONC LUS O

    7. B IB L IOGRA F IA

    0. INTRODUO

    O estudo dos grupos diz respeito ao campo da psicologia social. A psicologia social o campo da psicologia que estuda o

    comportamento social do Homem, o modo como reage aos outros e ao ambiente que o rodeia. A psicologia social , ento, o estudo

    do conjunto dos processos complexos inerentes interdependncia do indivduo e da sociedade. Desde o nascimento que o ser

    humano est marcado e marca a sociedade em que se encontra inserido. Desde que nascemos que estamos em interaco com os

    outros e o comportamento individual de cada um influenciado pelo contexto social. Na vida em sociedade o ser humano integrado

    em grupos. Cada um de ns pertence, simultaneamente, a vrios grupos: famlia, equipa de trabalho, amigos, recreativos... Em cada

    um destes grupos desempenhamos um papel diferente, papel este que fixado pelos estatutos do grupo e imposto pelo seu lder (pai

    de famlia, superior hierrquico profissional, presidente duma associao) ou que somos levados a assumir atravs do jogo das

    relaes mltiplas entre as diferentes personalidades que o compem. Estes e outros assuntos relevantes no estudo dos fenmenos

    psicossociais no grupo sero posteriormente referidos.

    Os objectivos deste trabalho so, ento, compreender os processos resultantes da dinmica dos grupos e a terapia que se poder

    efectuar no mesmo, tendo como finalidade a mudana de comportamentos e atitudes. Nesta terapia, as relaes interpessoais sero

    avaliadas pelo mtodo sociomtrico de Moreno.

    Esta pequena abordagem dos assuntos anteriormente referidos estruturada da seguinte forma: introduo, grupo e caractersticas

    inerentes, terapia no grupo e aspectos mais relevantes, mudana e o seu modo de avaliao (sociometria), aplicao enfermagem

    e por ltimo a concluso.

  • 1. GRUPO

    Grupo o conjunto estruturado de pessoas, definido pelas inter-relaes que se estabelecem entre os seus membros e pela

    conscincia que tm de pertencer a este conjunto. Deste modo, para que haja grupo, necessrio que se estabeleam interaces

    entre os membros do conjunto, ou seja, que os seus comportamentos tenham uma preponderncia recproca. necessrio tambm

    que este conjunto tenha uma estrutura definida, continuando a existir mesmo quando os seus membros no esto reunidos.

    Na classificao dos grupos considera-se um grupo primrio ou restrito, aquele que se baseia em motivaes afectivas, no se

    centrando essencialmente no alcanar de objectivos. Os membros destes grupos vivem sentimentos de solidariedade e de partilha

    de valores e crenas comuns. So exemplos deste tipo de grupos a famlia e a vizinhana. Grupos secundrios podem tambm ser

    designados de associao ou organizao e so um grupo colectivo mais alargado. So mais organizados, menos espontneos, e a

    sua comunicao mais formal e mais impessoal do que nos grupos primrios. Estes grupos so caractersticos do clube de

    jogadores e dos membros de um sindicato ou de um partido poltico. A famlia alm de grupo primrio um grupo natural, pois estes

    definem-se na relao de parentesco de sangue. Em oposio esto os grupos artificiais, como as empresas, que se baseiam em

    factores racionais.

    Para alm desta classificao, pode-se caracterizar um grupo, quanto sua dimenso, sua composio (homogneo ou

    heterogneo) e estrutura. A estrutura diz respeito organizao do poder, da autoridade e das influncias dentro do grupo.

    Neste estudo dos grupos, consideramos um grupo como o ntegro conjunto de pessoas, que buscam atingir metas comuns e que

    possuem crenas e costumes semelhantes. Neste grupo as pessoas a que ele pertencem, conhecem-se e frequente a interaco e

    dinmica entre elas. De seguida falaremos de processos que ocorrem em grupos, como a coeso, a comunicao, o status, o papel,

    as normas sociais, a liderana e o poder, isto , estudaremos as interaces, as actividades e os sentimentos das pessoas em

    atmosfera de grupo. Esta atmosfera no esttica, sendo alterada progressivamente medida que o grupo evolui.

    1.1. COESO

    Coeso o conjunto de foras, de esforos e de presses que so exercidas ou infludas sobre o grupo, para que os seus membros

    nele permaneam, isto , tudo o que actua e intervm sobre um determinado indivduo para que ele persista no grupo.

    Segundo Back, podem ser diversos os aspectos que levam o indivduo a sentir alguma afinidade em relao a um certo grupo,

    nomeadamente o facto de se verificar uma atraco pessoal entre os membros do grupo, ou uma atraco pela tarefa a

    desempenhar. Pode ainda acontecer que o indivduo tenha esperana em adquirir um elevado prestgio por pertencer a esse grupo.

    Daqui pode-se concluir que diferentes atraces podem conduzir a comportamentos semelhantes.

    A coeso do grupo, segundo outros autores (Thibaut e Kelley), est relacionada com o grau de satisfao dos seus membros, no que

    diz respeito proporo entre resultados obtidos e as respectivas recompensas.

    Pode-se dizer que, a coeso do grupo, proporcional ao grau de satisfao dos seus membros, quantidade de comunicao e

    influncia entre os mesmos e ao nvel de produtividade.

    1.2. COALIZO

    Ocorre coalizo, quando alguns membros de um determinado grupo se juntam com o objectivo de atingir melhores resultados.

    Segundo Caplow, quando em termos de distribuio de poder A>B e B=C e A

  • todas as variveis acima enunciadas, a mais significativa , sem dvida, o tipo de tarefa. As estruturas centralizadas, isto , aquelas

    em que existe um membro que tem maior possibilidade de comunicar do que os restantes, so mais eficazes quando a tarefa se

    baseia na colheita de dados em determinado lugar. As estruturas descentralizadas, que so aquelas em que todos os membros tm

    igual oportunidade de comunicao, so mais eficazes, quando a tarefa requer a colheita de dados e a realizaes de operaes

    adicionais.

    1.4. FORMAO DE NORMAS

    Um grupo s consegue sobreviver se nele existirem normas, que o rejam e que conduzam as linhas do comportamento dos seus

    membros. Estas normas podem ser consideradas padres e expectativas acerca do desempenho dos membros do grupo, julgando

    os sentimentos, percepes e comportamentos dos mesmos. Caso estas normas no sejam cumpridas os membros do grupo

    sofrem as consequncias dos seus actos.

    O estabelecimento de normas pode substituir o lder. Muitas vezes a existncia de um lder provoca tenso, contudo este pode no

    usufruir constantemente da sua superioridade e poder sobre os outros, caso exista um sistema organizado de normas que lhe facilite

    o trabalho. No entanto, quando o grupo no coeso torna-se difcil o consenso de interesses no estabelecimento das normas.

    A alterao ou manuteno das normas definidas, diz respeito deciso do prprio grupo. Grupos em que alguns membros so no-

    conformistas, isto , quando agem de forma oposta s expectativas ou no concordam com as normas, tendem a desorganizar-se.

    1.5. LIDERANA

    A liderana resultado da interaco entre os membros de um grupo e, como tal, quase todos os grupos possuem um lder, isto , um

    elemento coordenador da actividade colectiva que se centra essencialmente no atingir dos objectivos definidos e na afirmao do

    prprio grupo. importante que caractersticas como a inteligncia, a autoconfiana, a sociabilidade, a persistncia, a dominncia e

    a criatividade se conjuguem de uma forma harmoniosa com as finalidades e a atmosfera do grupo.

    Um aspecto importante o facto de existirem estilos diferentes de liderana, isto , diferentes formas de o lder exercer a sua

    influncia e poder e de se relacionar com os elementos do grupo.

    No caso do lder autoritrio ele que toma decises, sendo estas efectuadas sem consultar o grupo. O mesmo fixa as tarefas de

    cada um e o modo de as concretizar, isto , no h espao para a iniciativa pessoal. Sendo assim, este tipo de liderana gerador

    de conflitos, de atitudes de agressividade, de frustrao, de submisso e de desinteresse. A realizao das tarefas no

    acompanhada de satisfao, mas contudo a produtividade elevada.

    No lder laissez-faire, o lder funciona como elemento do grupo e s intervm se for solicitado. O grupo no dispe realmente de um

    lder. o grupo que levanta problemas, discute solues e decide. Neste caso, o lder no intervm na discusso das tarefas,

    limitando-se a fornecer informaes se a sua interveno for solicitada. Quando o grupo no tem capacidade de auto-organizao,

    podem surgir discusses com o desempenho de tarefas pouco satisfatrias.

    Por ltimo, existe o lder democrtico. O grupo participa na discusso da programao do trabalho, na diviso das tarefas, sendo as

    decises tomadas colectivamente. O lder assume uma atitude de apoio, integrando-se no grupo, sugerindo alternativas sem as

    impor. Este lder procura ser objectivo nas observaes que faz do desempenho do grupo e capaz de sentir o que se est a passar

    no mesmo e de o ajudar a ultrapassar os problemas. A produtividade boa e a satisfao e a criatividade no desempenho das

    tarefas elevada, bem como a interveno pessoal e a solidariedade entre os membros do grupo.

    Pode-se ento concluir que por mais diferentes que sejam os grupos, isto , por mais que o tipo de tarefas, a estrutura, a organizao

    e as normas varie de grupo para grupo, h um facto que comum a quase todos eles: a existncia de um lder. sempre

    extremamente complicado escolher uma pessoa que se considere que ser um lder eficaz e, como tal, este ter de emergir do grupo,

    da interaco entre os membros.

    1.6. STATUS E PAPEL

    Em todos os grupos cada membro tem um determinado estatuto e um determinado papel a desempenhar.

    Cada um ocupa uma posio diferente no grupo a que pertence e esta sua posio vai determinar o seu estatuto. Sendo assim,

    estatuto o conjunto de comportamentos que um indivduo espera por parte dos outros tendo em conta a sua posio no grupo.

    Como tal, pode-se dizer que o estatuto est relacionado com o prestgio que o indivduo adquire no grupo. Quando o indivduo

    considera que atingiu bons resultados em relao aos outros, adquire um status subjectivo. Quando no est estabelecida uma

    proporo entre o status subjectivo de um indivduo e as recompensas por ele obtidas podem ocorrer perturbaes no grupo, como

    conflitos e insatisfao. O status subjectivo pode ou no corresponder ao status social, que se verifica quando h um consenso de

    todo o grupo em relao ao mesmo indivduo, no que diz respeito s vantagens que ele poder trazer no alcanar de satisfao para

    todo o grupo. importante que se estabelea no grupo um sistema de status. Um sistema de status existe quando todos os membros

    de um grupo concordam com o status de cada indivduo. Este proporciona um funcionamento mais adequado, mais eficiente e mais

    harmonioso do grupo.

    Em respeito ao papel de cada indivduo pode dizer-se que este est relacionado com as normas que coordenam o comportamento

    do mesmo. O papel de determinado indivduo , assim, o conjunto de comportamentos que os outros esperam do indivduo tendo em

    conta a sua posio no grupo. Sendo assim, a cada estatuto corresponde um papel social. Um conjunto de pessoas podem ter todas

    o mesmo papel. Tal como em relao ao status, tambm existe um papel subjectivo, que o papel que o indivduo atribui a si mesmo.

    de extrema importncia que os restantes membros do grupo concordem com o papel definido pelo indivduo, de modo que o grupo

    funcione harmoniosamente. Para alm disto, como cada pessoa desempenha simultaneamente vrios papis podem ocorrer

    conflitos. Estes conflitos geram-se frequentemente quando as pessoas pertencem a dois grupos diferentes. Neste caso, cria-se um

    conflito interpapel, quando a satisfao das expectativas relativas a um papel implica a incapacidade de responder s expectativas

  • do outro. Gera-se um conflito intra papel em casos em alguns membros do grupo no concordam com o papel de determinado

    indivduo. Existem muitos factores que influenciam o estabelecimento de papis de cada indivduo, como a idade, o sexo, o nvel

    educacional, as normas culturais, o status e o tipo de grupo.

    2. TERAPIA DE GRUPO

    Aps tudo o que foi dito atrs sobre o relacionamento entre os seres humanos, faz sentido abordar o tema Terapia de Grupo, visto

    que pode ser um meio til para solucionar problemas inter-relacionais.

    Foi uma expresso introduzida em 1930 por J. Moreno, inspirada no teatro, desde a sua infncia, proporcionando o uso da crucial

    tcnica de grupo do psicodrama, bastante difundido e praticado na actualidade.

    Ao longo dos tempos esta forma de psicoterapia tem sido largamente praticada, vindo a ser empregue numa enorme quantidade de

    settings clnicos com elevada eficcia clnica. praticamente pacfico com constatao de evidncias de pesquisa que diversos tipos

    de terapia de grupo so favorveis a todos os intervenientes que nela participam. Alguns investigadores ao fim de vrios anos

    verificaram que o tratamento de grupo to eficaz quanto a terapia individual no tratamento de transtornos psicolgicos.

    A terapia de grupo comeou por ter uma vertente prtica facilitando o tratamento de um grande nmero de indivduos (20/30) no caso

    de tuberculosos, realizando-se uma a duas vezes por semana. Esta massificao teraputica, deu-se no virar do sculo em Boston

    por Joseph Pratt sendo denominado por encontros de grupo. Estes aspectos de economia de tempo, de convenincia, bem como,

    de outros recursos so mantidos nos dias de hoje. Esta frmula revelou-se vantajosa tambm no ps Segunda Grande Guerra onde o

    nmero de doentes (psiquitricos) era grande e o de pessoal especializado era escasso. Em 1986 um estudo feito por Toseland e

    Siporin concluiu que o tratamento de grupo mais consistente, eficiente e com melhor custo benfico.

    2.1. CARACTERSTICAS DA TERAPIA DE GRUPO

    Actualmente, na terapia de grupo consideram-se trs caractersticas que se inter-relacionam, e que so, o setting do grupo, a sua

    durao e os seus objectivos.

    O setting reveste-se de extrema importncia j que consiste no estabelecimento das regras do jogo, ou seja, a soma de todos

    os procedimentos de organizao, normas que possibilitam o funcionamento do grupo. Assim resulta da juno das regras

    atitudes e combinaes, como o caso, do local das reunies, os horrios, a frequncia, o nmero de participantes e outros

    aspectos que se revelem importantes.

    No entanto o setting no se restringe a uma forma passiva ele um elemento tcnico que representa importantes funes como

    por exemplo:

    1. uma forma de estabelecer uma indispensvel restrio de papis e de posies, de direitos e deveres, entre o desejvel e o

    possvel;

    2. Os principais elementos a ter em linha de conta na configurao de um setting so: se o grupo homogneo ou heterogneo,

    se fechado ou aberto, se a sua durao limitada ou ilimitada, se o seu nmero de participantes reduzido ou alargado,

    assim como, a sua frequncia (semanal / mensal) e a durao de cada sesso, bem como tudo aquilo que for estipulado.

    A durao varivel no tempo podendo ser limitada quando a terapia de grupo elaborada para ter um determinado nmero de

    sesses, sendo ilimitada quando independentemente dos seus membros elas se realizam.

    Os objectivos esto directamente relacionados com o tipo de grupo para o qual esto traados, isto , podemos considerar

    diferentes tipos de objectivos, uns mais imediatos e outros a longo prazo. Os imediatos baseiam-se no funcionamento

    psicossocial e a longo prazo procuram o alvio sintomtico e mudana de carcter, no entanto entre estes situam-se os objectivos

    da larga maioria dos grupos teraputicos, como so os casos de bulimia, toxicodependncia e alcoolismo. So de aplicao

    comportamentalista tendo como objectivo a mudana de comportamentos. Embora o objectivo de extrema relevncia seja a

    manuteno do funcionamento psicossocial adequado.

    2.2. IDENTIFICAO DE FACTORES NA TERAPIA DE GRUPO

    Se considerarmos que uma psicoterapia individual de extrema complexidade compreenderemos facilmente que ao trabalhar com

    um grupo essa complexidade colossal. Num grupo cada indivduo tem os seus ais, as suas necessidades e problemas ou seja um

    carcter distinto. um trabalho de tal forma gigantesco que por vezes aos olhos do terapeuta assustador.

    medida que o tempo passa os elementos do grupo comeam a relacionar-se com os outros membros da mesma maneira, tal

    como, com as pessoas fora dele, criando assim um mundo idntico ao exterior.

    Devagar, mas, previsivelmente os membros do grupo comeam a revelar a sua arrogncia, impacincia, narcisismo, grandiosidade,

    sexualidade e outros traos. O comportamento no grupo permite dados claros e imediatos.

    necessrio levantar a questo: de todos os acontecimentos desconcertantes e complexos das transaces de um grupo, quais

    verdadeiramente ajudam o paciente?. Na terapia de grupo devemos reconhecer a mecnica real da mudana, separando assim o

    principal daquilo que aparente.

    Como frente se ir ver a mudana a razo da existncia da terapia de grupo, sendo esta o meio para alcan-la.

    Foi preciso quase meio sculo para compreender o que realmente promove a mudana, chegando-se concluso que os

    mecanismos de mudana so os factores curativos ou teraputicos. Vrios investigadores prope diferentes sistemas de

    classificao, podemos referir o de Yalom, que inclui onze factores que interferem nos mecanismos operantes da terapia de grupo,

    tais como:

    1. Instilao de esperana

  • 2. Universalidade

    3. Troca de informaes

    4. Altrusmo

    5. Desenvolvimento de tcnicas de socializao

    6. Comportamento imitativo

    7. Catarse

    8. Reconstituio correctiva do grupo familiar primrio

    9. Factores existenciais

    10. Coeso do grupo

    11. Aprendizagem interpessoal

    Estamos assim na presena de factores teraputicos que se constituem como um princpio central de organizao.

    2.3. APRENDIZAGEM INTERPESSOAL

    Um dos mecanismos fundamentais, se no o mais importante que contribui para a mudana em grupo a aprendizagem

    interpessoal, o que alis normalmente expresso pelos elementos do mesmo. No entanto, nem todas as terapias de grupo se

    baseiam neste tipo de aprendizagem mas apesar disso ela ocorre naturalmente sempre que um grupo se rene.

    Existem trs motivos reformadores que podem actuar sobre os mecanismos teraputicos do grupo, so eles:

    Tipo de grupo

    Estudos h que demonstram que os elementos de grupos ambulatrios interactivos de longo prazo elegem um conjunto de trs

    factores como os mais importantes, so eles: aprendizagem interpessoal, catarse e auto-entendimento. J no caso de sujeitos

    hospitalizados, do especial relevncia: introduo de esperana e auto-reconhecimento de responsabilidade. Estes ltimos

    grupos esto sujeitos a grandes oscilaes de membros e a uma enorme variedade de identidades. Temos ainda os grupos de auto-

    ajuda, como o caso dos alcolicos annimos que se regem pelas regras de universalidade, orientao, altrusmo e coeso.

    Estgio de terapia

    Durante o perodo em que decorre o processo de terapia as necessidades, objectivos e factores teraputicos do grupo alteram-se no

    intuito de se tornarem mais benficos. Numa primeira fase o grupo tem como prioridade a manuteno dos seus elementos, a

    introduo de esperana, a orientao e a universalidade. No caso do altrusmo e coeso do grupo estes factores esto presentes ao

    longo das sesses no entanto modificam-se com o decorrer das mesmas.

    Diferenas entre os pacientes:

    Como atrs foi dito, cada indivduo tem a sua especificidade prpria e como tal ter que haver diferentes tipos de abordagem

    teraputica de acordo com aquele a quem esta dirigida. Podemos comparar uma terapia de grupo a um supermercado, onde os

    motivos de mudana so variados e cada um pode escolher aquele que melhor lhe convir para satisfazer as suas necessidades e

    problemas. Aquele que passivo e reprimido pode experimentar e expressar emoes fortes, tal como, aquele que impulsivo pode

    beneficiar de um auto-control.

    2.4. TAREFAS BSICAS DO TERAPEUTA NA TERAPIA DE GRUPO

    Muito antes das terapias de grupo comearem j o terapeuta est a trabalhar para esta na procura de um local para a sua realizao.

    Ento o terapeuta rene o grupo disponibilizando-se profissionalmente, o que se constitui como a razo para iniciar a terapia. O

    terapeuta tem como tarefas bsicas para estabelecer e manter o grupo e para resolver os problemas tpicos encontrados no setting

    grupal, seleccionar os seus membros e estabelecer o tempo, lugar para os encontros.

    Uma das tarefas do terapeuta o estabelecimento de um grupo de terapia. Para o estabelecimento de um grupo de terapia, o

    terapeuta dever criar um setting importante que oferea a ausncia de distraces, devendo tomar ainda em linha de conta o

    tamanho do espao e o conforto do mobilirio. A disposio dos assentos dever ser circular permitindo que todos os indivduos se

    vejam uns aos outros. O tamanho ideal de um grupo ter que ter em linha de conta os seus objectivos teraputicos.

    Ao contrrio do que se passava h algumas dcadas atrs, hoje em dia preconizam-se sesses teraputicas de grupo entre 60

    120 minutos, j que geralmente so necessrios 20 30 minutos para que o grupo aquea e cerca de 60 minutos para a

    abordagem dos principais temas da sesso. Um aspecto fundamental a reter que se d um decrscimo de rendimento e que

    aproximadamente aps 2 horas os terapeutas manifestam sinais de cansao; e os grupos tornam-se aborrecidos e repetitivos. Por

    regra, grupos com encontros mais frequentes rendem mais com sesses com mais breves, e grupos que se encontram

    esporadicamente necessitam de sesses com pelo menos 90 minutos.

    Estes grupos podem ser abertos ou fechados. Os primeiros so flexveis no que diz respeito ao tamanho, os membros podero ser

    substitudos por outros membros, existindo nestes maior nmero de objectivos teraputicos. Em relao aos outros o numero de

    membros mantm-se inaltervel ao longo das sesses, estas por sua vez, tm um nmero limite (geralmente 8 a 12 sesses).

    Em alguns casos o terapeuta gosta de trabalhar com um assistente que pode ser denominado de co-terapeuta, isto porque permite

    que o terapeuta troque ideias, opinies e pontos de vista em relao aos utentes. importante que no haja divergncias acentuadas

    entre o terapeuta e os co-terapeutas, para evitar conflitos entre os elementos do grupo, e comprometer os objectivos teraputicos,

  • embora seja de salutar que cada um mantenha os seus pontos de vista e opinies.

    Quanto formao dos objectivos na terapia, primeiramente o terapeuta dever analisar cuidadosamente os factos clnicos, que se

    dividem em dois. Factos intrnsecos (comparecimento obrigatrio), so inalterveis devendo o terapeuta adaptar-se a eles. Factores

    extrnsecos so aqueles que se tornam normas do setting. De seguida, devero ser estabelecidos os objectivos clnicos do grupo, o

    que se reveste de extrema importncia j que objectivos desajustados podem resultar num fracasso teraputico. O grupo dever ser

    um sucesso, pois os pacientes entram nele sentindo-se desmoralizados e derrotados, e o que menos necessitam de um novo

    fracasso.

    O terapeuta dever procurar criar um ambiente de coeso, no h nada que ameace mais esta do que a presena de um elemento

    desviante, pois a integridade grupal deve ser a base para a seleco dos membros. O terapeuta quando exclui algum paciente

    porque considera que o paciente assumir um papel desviante ou porque no lhe encontra motivao para a mudana.

    A seleco dos membros deve ter em vista o compromisso teraputico, assim como, a viabilidade de permanncia no grupo.

    Tambm fundamental preparar o paciente para a terapia de grupo, diminuindo desta forma a taxa de abandono, aumentando a

    coeso e acelerando a dinmica.

    Sendo assim, o terapeuta responsvel pela construo e manuteno de um ambiente teraputico, sempre que um grupo de

    pessoas se rene, quer sejam familiares, pertenam ao mesmo estrato social ou rea profissional, desenvolvem-se regras

    normativas no escritas que determinam os comportamentos aceitveis dentro do grupo. Aquando da terapia de grupo cabe ao lder

    (terapeuta) criar uma cultura de grupo. Este desenvolve duas formas distintas de estabelecimento de regras:

    1. Durante a preparao da terapia no grupo pode actuar directamente moldando as regras inerentes, onde se incluem as regras de

    comportamento no seio do grupo;

    2. O terapeuta estabelece um modelo, as normas teraputicas. H uma regra base que devia ser incentivada em todos os tipos de

    grupos que a auto-monitorizao, que consiste em que o grupo aprenda a assumir a responsabilidade pelo seu funcionamento.

    2.5. TCNICAS DO TERAPEUTA DE GRUPO

    H tcnicas que so especficas da terapia de grupo, como o caso da tcnica do Aqui-e-Agora, do uso da transparncia e da

    transferncia do terapeuta e a aplicao de vrias normas adicionais que podem intensificar o desempenho do grupo.

    2.5.1. Tcnica do Aqui-e-Agora

    Trabalhar no Aqui-e-Agora e usar a aprendizagem interpessoal revela-se mais eficaz em grupo interactivos, o que no invalida que

    estas tcnicas sejam alteradas com intuito de poderem ser utilizadas noutros tipos de grupos e revestindo-se de uma importncia

    fundamental para o terapeuta.

    2.5.1.1. Importncia do Aqui-e-Agora

    A base desta tcnica a focagem no momento, no que se passa em cada minuto que respirado pelo grupo. A focagem no Aqui-a-

    Agora permite uma participao activa de todos os membros exponenciando a capacidade e eficcia, assim, reveste-se de menor

    importncia o passado histrico e a vida individual dos membros fora do grupo. Isto no significa menosprezar estas vertentes. Para

    uma terapia de grupo ter sucesso ter que ter uma componente afectiva e outra cognitiva. O Aqui-e-Agora consiste assim numa

    cadeia entre a recordao afectiva e a posterior anlise desse afecto. A terapia ficar comprometida se na utilizao da tcnica do

    Aqui-e-Agora no existirem os elementos cognitivos e afectivos. Nada se alterar se os elementos no assimilarem o que lhes ensina

    o Aqui-e-Agora, j que no podem transferir esses ensinamentos para o quotidiano. Na mesma linha lderes que intelectualizam

    excessivamente podem aniquilar qualquer contexto afectivo natural. A invocao do afecto e a sua anlise tero que ser

    consideradas como duas etapas distintas, mas com igual nvel de importncia. Na primeira, o da vivncia emocional, sero utilizados

    pelo terapeuta mtodos para estimular o grupo a interagir de uma forma imediata. Na segunda etapa, a anlise afectiva, o terapeuta

    recorre a tcnicas para que o grupo se ultrapasse analisando e avaliando a sua experincia. Avaliemos cada uma dessas etapas.

    2.5.1.2.Dinmica do grupo no Aqui-e-Agora

    Terapeutas de grupos, com experincia, focalizam com grande constncia o Aqui-e-Agora, assim quando se verificam desvios para o

    passado, vida exterior ou para a intelectualizao, estes devem ser interrompidos ou discretamente reorientados para o Aqui-e-

    Agora.

    Normalmente, h um membro que comea por partilhar com o grupo algo de importante da sua vida que desperta nos outros apoio e

    sentimentos de identificao, dando-se desta forma a interaco. Outros momentos h em que um qualquer elemento, no se sente

    vontade para falar sobre si nessa altura e ento, cabe ao terapeuta perguntar-lhe o que que ele pensa que se passaria se ele

    arriscasse partilhar algo que lhe fosse difcil. Se ele respondesse que temia risos ou crticas o terapeuta deveria ento perguntar-lhe:

    Quem aqui no grupo acha que iria rir-se de si?. Desta forma ele revelaria quem suponha que iria reagir, estando assim aberto o

    caminho para uma boa interaco.

    No fcil nem espontneo o envolvimento no Aqui-e-Agora. Este desconhecido e temvel, principalmente para aqueles que nunca

    experimentaram relacionamentos prximos e sinceros, ou que as suas vidas tm sido baseadas em pensamentos e sentimentos

    recalcados. O grupo deve ser consciencializado que o Aqui-e-Agora no significa confrontao e conflito. Muitos indivduos no tm

    problemas de raiva, mas sim de aprofundamento relacional e de ser honestidade. Desta forma, dever ser encorajada a expresso

    de sentimentos crticos e positivos.

    Dever haver ensinamento por parte do terapeuta para que os elementos do grupo saibam pedir e dar feed-back, devendo estes

    serem especficos e directos para serem eficazes.

  • 2.5.1.3. Comportamento do terapeuta no Aqui-e-Agora

    Se numa primeira fase o Aqui-e-Agora implica a experincia emocional do presente, numa fase posterior esta tcnica ter que ser

    reflectida explicada e interpretada.

    O terapeuta deve orientar a sua ateno para o decurso da comunicao, devendo avaliar a celeuma do grupo, forma como as

    palavras so trocadas entre eles. Depois da revelao de um membro, os outros incidiram as suas questes em jeito de revelao

    vertical que consiste, no pedido desta ser mais pormenorizada. Ao contrrio do terapeuta que est mais concentrado na obteno

    de uma revelao horizontal que se centra nos aspectos relacionais da revelao, que consiste em: Porqu hoje, e no noutro

    dia?, O porqu de correr esse risco hoje?, O que o impediu de no ter contado antes?, Como espera que o grupo reaja?.

    Para compreender o processo necessrio anotar diariamente a escolha dos lugares, quem so os atrasados, quem troca de

    olhares com quem, quem acompanha quem no final, como o grupo reage quando h ausncias.

    De grande importncia so as reaces do terapeuta, sentimentos de impacincia, frustrao ou tdio, que representam informaes

    valiosas e devem ser lidadas. Quando um terapeuta se sente envolvido e estimulado sinal de que o trabalho est a ser eficaz.

    2.5.2. Transferncia do terapeuta

    A actualizao de sentimentos e emoes como desejos, medos, cimes, invejas, dio, ternura e amor, que eram dirigidos famlia e

    aos amigos, so agora transferidos agora para o terapeuta. Este processo designa-se por processo de transferncia e quando o

    terapeuta sente e compreende esta passagem de sentimentos importante que devolva ao paciente a ligao desses sentimentos

    transferenciais com o que se passou na sua vida pessoal.

    Noutro aspecto frequente os pacientes considerarem os terapeutas como um ser com caractersticas sobrenaturais, com um saber

    colossal sobre a natureza humana, que ele usa como defesa em relao ansiedade da vida. visto aos olhos dos pacientes como

    um ser justo e sensato, realista e capaz de sentimentos poderosos, que ele conhece e compreende melhor que ningum, calmo nas

    apreciaes que profere, quer elas se baseiem na razo quer na intuio. Eles no podem ser destitudos, aumentar o nmero de

    membros, ou expulsar membros. Sendo ainda capazes de mobilizar todo o grupo em torno do que entenderem.

    2.5.3. Transparncia do terapeuta

    Os terapeutas podem, para desmistificar a imagem que os membros do grupo tm deles, partilhar sentimentos e experincias de

    uma forma sensata e responsvel. As revelaes do terapeuta podero ser importantes para a interaco do grupo.

    Para concluir, deve-se dizer que o terapeuta transparente e auto-revelador poder promover a estruturao cognitiva, s assim os

    elementos podero transportar as experincias grupais para o quotidiano.

    Tal como acontece com os membros tambm o terapeuta sofre alteraes graduais no desempenhar das suas funes.

    2.6. PROCEDIMENTOS AUXILIARES

    O terapeuta frequentemente tem a necessidade de se apoiar de meios que facilitam o curso da terapia, como caso dos resumos

    escritos, vdeos e exerccios estruturados:

    Resumos escritos

    O terapeuta regista de uma forma franca e resumida cada sesso, esses resumos podero ou no ser distribudos pelos

    elementos do grupo. uma forma de prever situaes indesejveis permitindo a sua minimizao e aumentando a coeso do

    grupo realando as semelhas entre os membros.

    Vdeos

    Estes oferecem feedback de uma forma directa. Ao se auto-observarem os pacientes so surpreendidos pelos seus

    comportamentos, e pela forma como os outros lhes reagem.

    Exerccios estruturados

    So actividades de grupo geralmente orientadas pelo terapeuta. frequente ser atravs destes exerccios que os elementos do

    grupo numa fase inicial se desinibem acelerando a interaco entre os indivduos. No h uma durao pr definidas, variando

    com o tipo de exerccio.

    3. MUDANA

    A mudana social acontece em grupos, sendo estes sistemas vivos, que possuem os seus prprios modos de ser. Este

    constantemente sujeito mudana, sendo esta resultado de factores externos e internos. As foras que impelem para a mudana so

    contrariadas por uma resistncia criada no seio do grupo. Contudo, o equilbrio das foras antagnicas acaba por se romper. D-se

  • lugar a uma segunda etapa, onde existe dois meios de alcanar essa mudana: quer aumentando as foras tendentes mudana at

    a resistncia ser vencida (a mudana efectua-se, mas acompanhada por tenses violentas), quer reduzindo as resistncias (

    geralmente mais aconselhvel j que ocorrem menos riscos de ruptura no seio do grupo).

    Este fenmeno tambm ocorre num grupo teraputico, sendo que neste caso um grupo de pessoas que se rene com o objectivo

    de alcanar, recuperar e melhorar a sua sade fsica, psicolgica e social.

    Sendo a famlia um grupo primordial na nossa sociedade decidimos estud-la em termos de mudana. A famlia no uma entidade

    esttica, pois encontra-se num processo de mudana constante. Observar uma famlia v-la como um organismo em

    desenvolvimento. Uma mulher e um homem juntam-se e formam uma entidade progenitora. Esta entidade desloca-se atravs de

    fases da vida que afectam cada indivduo at que as entidades progenitoras envelhecem e morrem, enquanto outros comeam o ciclo

    da vida. O sistema familiar tem a capacidade de evoluir e de se conservar. Contudo, os terapeutas ao analisarem as famlias,

    param no tempo para as melhor poderem entender. Assim, a mudana o resultado de uma actuao sobre o presente (aqui e

    agora). No entanto, esta mudana s se vai revelando, progressivamente, ao longo do tempo. A famlia uma unidade dinmica, que

    sofre flutuaes, que so o resultado de aspectos intrnsecos e extrnsecos. Estes levam o sistema a uma nova estrutura, devido

    instabilidade originada. Assim, a famlia sofre uma transformao, que resulta num diferente nvel de funcionamento, que torna as

    alteraes possveis, ou seja, a mudana.

    Para uma melhor compreenso e assimilao deste assunto, passamos a exemplificar o que foi anteriormente referido:

    O terapeuta, sendo um agente facilitador da mudana, escolhe os dados que so transmitidos pela famlia e reorganiza-os. A

    realidade conflituosa e estereotipada da famlia recebe um novo enquadramento. medida que os membros da famlia se

    experimentam a si mesmos e aos outros de maneira diferente novas possibilidades surgem. Assim, numa famlia composta por uma

    me e um pai de quarenta anos, com uma filha de quinze anos, procuraram a terapia devido sua filha padecer de anorexia nervosa.

    A apresentao do problema pela famlia foi de que eram uma famlia tpica, normal, com uma filha que estava perfeitamente bem,

    antes da enfermidade a transformar. Durante todo o ano anterior eles tentaram ajudar a sua filha, mudando a relao com ela,

    seguindo o conselho de amigos, do sacerdote, do pediatra e do psiquiatra infantil. Porm, agora sentiam-se impotentes e tinham

    muito medo. Um dia o terapeuta visitou a famlia na hora do almoo e comearam a comer todos juntos. Este pediu aos pais para

    ajudarem a sua filha a sobreviver, fazendo-a comer. A filha recusou-se a faz-lo e respondeu aos pais com uma variedade de insultos

    surpreendentemente sofisticados. O terapeuta focalizou-se nestes insultos, apontando a filha como sendo bastante forte e capaz de

    derrotar ambos os pais. A sua interveno produziu um reenquadramento. Os pais, que se envolvem, frequentemente, em conflitos

    triangulares no resolvidos com a filha, cerraram fileiras. Sentindo-se atacados e derrotados, aumentaram simultaneamente o

    distanciamento em relao filha, removendo a superproteo e o controlo excessivo. Os pais e terapeuta juntos pediram que a filha,

    percebida inesperadamente como forte, competente e obstinada, controlasse o seu prprio corpo. At ento a filha culpava os pais.

    Contudo, os pais uniram foras tornado-se num s e responsabilizaram a filha por no se querer tratar, sendo ela a partir de agora a

    nica responsvel pela sua sade. A mudana ocorreu, mas o resultado s poder ser avaliado daqui a um tempo. Este tipo de

    reconstruo pode afastar uma concepo surpreendentemente nova da realidade, em que se percebe repentinamente o potencial

    para a mudana.

    4. MTODOS DE ESTUDO E DE AVALIAO DO COMPORTAMENTO EM GRUPO

    Moreno foi o inventor do psicodrama e da sociometria, tendo os seus estudos como objectivo a ideia de espontaneidade e de

    criatividade. Este considera que o homem s se realiza verdadeiramente, quando, apesar das condicionantes sociais, se pode

    exprimir livremente.

    O psicodrama uma tcnica de improvisao dramtica. Nesta cada um dos protagonistas deve improvisar o seu papel partindo

    de uma situao fictcia, tendo este por objectivo desenvolver a espontaneidade dos indivduos. Apercebemo-nos, ento, de que o

    sujeito expressa no papel que desempenha as suas inquietaes, os seus afectos, as suas repulsas; assim, revela-as ao

    observador e liberta-se dos seus problemas exprimindo-os abertamente. Esta tcnica muito utilizada em psicoterapia de

    conflitos interpessoais.

    A sociometria procura medir as relaes de simpatia e de antipatia que existem num grupo, isto , um mtodo utilizado no

    estudo das preferncias de uns elementos do grupo em relao a outros. Esta tcnica deve permitir a um observador imparcial

    esclarecer os conflitos existentes nesse grupo. til em situaes amistosas e informais (sem hostilidade, dvida ou mistrio), em

    situaes nas quais a atmosfera seja pacfica e em grupos em que domine a liberdade de escolha. A sociometria fundamental

    para solucionar e analisar os problemas do grupo, sendo estes expressos por perguntas que devem ser cuidadosamente

    formuladas, objectivas e adequadas situao. Estas perguntas so utilizadas principalmente para encontrar os pontos fortes e

    fracos do grupo; encontrar os lderes e os no participantes; indicar os directores responsveis pelas comisses e distribuir as

    pessoas que trabalharam nelas; sugerir quando e como se reorganizam os grupos e indicar o fluir das opinies num grupo, para

    que este possa ser estruturado, segundo a representao das mesmas.

    Os dados recolhidos atravs das perguntas permitem estabelecer um sociograma que resume graficamente as interaces

    existentes no grupo, a rede de simpatias e de antipatias anteriormente referidas. O sociograma uma verdadeira radiografia afectiva

    do grupo, tendo pouco valor, quando as interrelaes no so baseadas num conhecimento ntimo dos indivduos. Este permite um

  • diagnstico da sociabilidade e fornece indicaes preciosas sobre o nvel de integrao dos membros do grupo.

    Demonstramos, em seguida, um sociograma, isto , uma representao sociomtrica de um grupo.

    Num sociograma as pessoas so representadas por crculos. As linhas contnuas designam a escolha de uma pessoa por parte de

    outra e as linhas tracejadas indicam rejeio. Quando a escolha recproca os crculos so colocados mais prximos uns dos outros

    do que quando uma pessoas escolhe outra que a rejeita. Quando a rejeio recproca os crculos so colocados ainda mais

    afastados do que na situao anterior. Caso uma pessoa no seja escolhida nem rejeitada nenhuma linha a une s demais.

    O sociograma permite-nos verificar a existncia de estrelas (pessoas que recebem um maior nmero de preferncias), cliques

    (conjunto de pessoas que se atraem reciprocamente) e isolados (os que no recebem nenhuma nomeao de atraco ou rejeio

    e que tambm no escolhem nem rejeitam os restantes membros do grupo). Permite tambm analisar o grau de coeso existente no

    seio do grupo, atravs de uma simples observao da proximidade dos crculos, isto , da proximidade de uns membros em relao

    aos outros.

    As escolhas e rejeies podem tambm ser representadas por uma matriz sociomtrica, em que os nmeros positivos indicam

    atraco e os negativos indicam rejeio.

    Existe ainda uma terceira forma de representar os dados obtidos atravs do mtodo de Moreno, que pelo clculo de um ndice de

    coeso (IC).

    Onde N igual ao nmero de pessoas no grupo. Pelo mesmo raciocnio podemos obter um ndice de coeso do grupo atravs da

    frmula:

    Conclumos, assim, que o mtodo sociomtrico de Moreno um importante instrumento no estudo e avaliao das relaes

    interpessoais , auxiliando a tomar medidas, por exemplo, em terapias de grupo.

    5. ASSOCIAO COM A ENFERMAGEM

    Numa situao clnica especfica, com um grupo de pacientes agudos hospitalizados, o terapeuta dever adaptar os princpios e

    tcnicas fundamentais da terapia de grupo, de acordo com as necessidades do mesmo. Dever ter como alicerces os seguintes

    pontos:

    1. A apreciao da situao clnica de extrema importncia, dada a dificuldade deste tipo de setting clnico, j que h uma

  • enorme volatilidade de elementos e uma grande variedade de psicopatologias.

    2. Desenvolver objectivos adaptados s necessidades existentes, tais como:

    Envolver os pacientes no processo teraputico

    Ensinar aos pacientes que falar ajuda

    Localizar o problema

    Diminuir o isolamento

    Criar condies para que os doentes sejam teis

    Avaliar a ansiedade relacionada com a hospitalizao

    3. Alterao da tcnica tradicional. Baseada em quatro alteraes fundamentais:

    Usar uma estrutura de tempo reduzida, um factor fundamental, devendo os terapeutas dar o mximo, j que a sesso pode

    ser nica para determinado paciente.

    Mostrar apoio directo, realando os aspectos positivos do comportamento. Uma outra forma de apoio a promoo de um

    grupo seguro j que os pacientes hospitalizados so por norma muito vulnerveis.

    Enfatizar o aqui-e-agora, que se reveste tambm aqui de extrema importncia, facilitando a aprendizagem das capacidades

    interpessoais dos pacientes hospitalizados.

    Fornecimento da estrutura, que deve ser construda pelo terapeuta das seguintes formas: explicar a finalidade do encontro, a

    sua natureza e quais os seus objectivos.

    A terapia de grupo para doentes agudos hospitalizados muito especfica e com estratgias e tcnicas nicas.

    6. CONCLUSO

    Os seres humanos vivem em sociedade em interaco constante. A interaco origina grupos, que so conjuntos de indivduos

    estruturados, com objectivos e interesses comuns e cujos membros estabelecem entre si relaes. Os indivduos pertencem a vrios

    grupos e em cada um deles representa vrios papis. Como Goffman disse: a vida um palco onde ns representamos vrios

    papis. Todos os grupos tm a sua prpria estrutura, as suas prprias normas, os seus prprios objectivos, sempre com a

    preocupao de se manterem coesos. A liderana tambm um aspecto importante que pode existir ou no nos grupos. O lder um

    elemento que coordena todas as actividades do grupo essenciais para que se atinja os objectivos. Para alm de todos estes

    fenmenos grupais, o que imperativo que um grupo funcione harmoniosamente, de uma maneira equilibrada. O que s vezes no

    acontece, podendo dar-se conflitos.

    ento que surge a terapia de grupo, terapia essa que usada como instrumento para a resoluo destes conflitos inter-relacionais.

    A terapia de grupo uma forma de tratamento largamente utilizada em inmeras situaes clnicas. Esta utiliza uma srie de tcnicas

    teraputicas para produzir a mudana. Os factores teraputicos normalmente encontrados em diferentes tipos de grupos so: a

    universalidade, o altrusmo, a catarse e a partilha de informaes, mas tambm a aprendizagem interpessoal que requer a superviso

    de um terapeuta. Ao terapeuta cabe entender o grupo e aplicar a estes diferentes factores teraputicos, de modo a que estes

    proporcionem a mudana. Algumas intervenes so especficas do terapeuta, como a tcnica do Aqui-e-Agora, bem como, a

    transparncia e a transferncia do terapeuta. As tcnicas fundamentais podem ser objecto de alteraes para se adaptarem a

    situaes de grupos especficos, como o caso de pacientes agudos hospitalizados. Na verdade o sucesso da terapia de grupo

    consiste na sua adaptabilidade. Outro aspecto importante a sociometria que permite avaliar as interaces dos membros do grupo.

    Permite perceber quem simpatiza com quem, se existe ou no lder...

    7. BIBLIOGRAFIA

    GAUQUELIN, Michel F. et al Dicionrio de psicologia, 1 ed. Lisboa: Verbo, 1987, 596 pp.

    MONTEIRO, Manuela. et al Psicologia, nova edio. Porto: Porto Editora, 1998, 351 pp.

    VALA, Jorge. et al Psicologia Social, 1 ed. Lisboa: Fundao Calouste Gulbenkian, 1993, 479 pp.

    ZIMERMAN, David E. et al Como trabalhamos com Grupos, 1 ed. Porto Alegre: Artes Mdicas Sul, 1997, 424 pp.

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