61
UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ ALDONY ANTONIO FERNANDES JUNIOR DELAÇÃO PREMIADA COMO INSTRUMENTO DE CELERIDADE NA AÇÃO PENAL CURITIBA 2016

DELAÇÃO PREMIADA COMO INSTRUMENTO DE …tcconline.utp.br/media/tcc/2017/05/DELACAO-PREMIADA-COMO... · vir a contrariar algum princípio constitucional, as obrigações do judiciário,

  • Upload
    dokiet

  • View
    216

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ

ALDONY ANTONIO FERNANDES JUNIOR

DELAÇÃO PREMIADA COMO INSTRUMENTO DE CELERIDADE NA

AÇÃO PENAL

CURITIBA

2016

ALDONY ANTONIO FERNANDES JUNIOR

DELAÇÃO PREMIADA COMO INSTRUMENTO DE CELERIDADE NA

AÇÃO PENAL

Monografia apresentada ao Curso de Direito da Faculdade de Ciências Jurídicas da Universidade Tuiuti do Paraná, como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Direito.

Orientador: Prof. Dr. Jorge de Oliveira Vargas.

CURITIBA

2016

TERMO DE APROVAÇÃO

ALDONY ANTONIO FERNANDES JUNIOR

DELAÇÃO PREMIADA COMO INSTRUMENTO DE CELERIDADE NA

AÇÃO PENAL

Este Trabalho de Conclusão de Curso foi julgado e aprovado para obtenção do

título de Bacharel no Curso de Direito da Universidade Tuiuti do Paraná.

Curitiba, ______de ______________ de 2016.

____________________________________

Prof. Dr. Eduardo de Oliveira Leite

Coordenador do Núcleo de Monografias

Universidade Tuiuti do Paraná

Orientador: ______________________________________

Prof. Dr. Jorge de Oliveira Vargas

Faculdade de Ciências Jurídicas

Universidade Tuiuti do Paraná

Prof. _____________________________________

Faculdade de Ciências Jurídicas

Universidade Tuiuti do Paraná

Prof. _____________________________________

Faculdade de Ciências Jurídicas

Universidade Tuiuti do Paraná

AGRADECIMENTOS

Agradeço aos meus pais, pelo apoio incondicional, mesmo distante, estão sempre

perto. Minhas irmãs, pela atenção em tudo o que precisei. Minha noiva, pelo carinho

e amor nas horas difíceis e pela paciência nas minhas diversas ausências. Ao

mestre, professor, orientador e amigo, Dr. Jorge de Oliveira Vargas, pelos preciosos

ensinamentos e conselhos certos nas horas certas.

Agradeço principalmente à Deus, por permitir trilhar meu caminho até aqui e me

ajudar a ultrapassar os desafios.

“O homem que perde a riqueza perde muito. Aquele que perde um amigo, perde mais. Mas o que perde a coragem, perde tudo. ”

Miguel de Cervantes

RESUMO

O presente trabalho tem por objetivo analisar amplamente o instituto da Delação Premiada no Brasil, que faz parte do rol das colaborações premiadas, e de que forma essa ferramenta pode contribuir para a busca da verdade, elucidação dos fatos e, principalmente, a celeridade da ação penal. Será analisada a base histórica, desde sua criação e utilização em outros países até a vinda para o Brasil. No decorrer da história do instituto será feito uma revisão de todas as leis nacionais que admitem sua utilização, de que forma e quais são os prêmios concedidos, quais os requisitos necessários, conceitos da delação, conceitos do crimes que admitem o uso da delação, limites legais para a aplicação deste instituto e se tal aplicação pode vir a contrariar algum princípio constitucional, as obrigações do judiciário, as obrigações do delator, o dever de sigilo, proteção de quem delata e quais são os tipos de benesses e prêmios, além de entendimento do STJ e STF acerca de pontos duvidosos na aplicação da delação. Finalizando, será realizado uma relação entre a delação premiada e a operação lava-jato, o que é e de que forma a operação vem escrevendo a história da justiça no Brasil e qual o papel da delação nessa investigação. Palavras-chave: Colaboração Premiada, Benefícios, Operação Lava-Jato, Ministério Público Federal, Polícia Federal.

ABSTRACT

This present study aims to broadly analyze the plea bargain institute in Brazil, which is part of the list of reward collaboration, and how this tool can contribute to the search for truth, elucidation of the facts, and especially the speed of action criminal. It will be analyzed the historical basis, since its creation and use in other countries before coming to Brazil. Throughout history of this institute a review will be made of all the national laws which allow its use, how and what are the plea bargain, including the requirements, the plea bargain concepts, concepts of crimes that allows plea bargain, legal limits for the application of this institute and if such application may prove to contradict any constitutional principle, the obligations of the judiciary, the bargain owner's obligations, the duty of confidentiality, protection of who denounces and what kinds of waiver and prizes, as well as understanding STJ and STF about doubtful points in the implementation of plea bargain. Finally, there will be a relationship between the plea bargain and the Lava-Jato operation, what it is and how the operation has been writing the history of justice in Brazil and the role of this bargain in this investigation. Keywords: Plea Bargain, Benefits, Lava-Jato Operation, Federal Public Ministry, Federal Police.

LISTA DE SIGLAS

CF Constituição Federal

CP Código Penal

CPP Código de Processo Penal

STF Supremo Tribunal Federal

STJ Superior Tribunal de Justiça

MP Ministério Público

PF Polícia Federal

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 9

2 DELAÇÃO PREMIADA.......................................................................................... 11

2.1 DELAÇÃO PREMIADA E COLABORAÇÃO PREMIADA .................................... 11

2.2 CONCEITO ......................................................................................................... 12

2.3 ÉTICA NA DELAÇÃO PREMIADA ...................................................................... 12

2.4 NATUREZA JURÍDICA........................................................................................ 14

2.5 CONCEITO HISTÓRICO ..................................................................................... 15

2.6 DIREITO ITALIANO ............................................................................................ 17

2.7 DIREITO NORTE AMERICANO .......................................................................... 19

2.8 DIREITO ALEMÃO .............................................................................................. 20

2.9 DIREITO COLOMBIANO ..................................................................................... 21

3 DELAÇÃO PREMIADA NO ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO ............. 23

3.1 LEI DOS CRIMES HEDIONDOS (Lei 8.072/90) .................................................. 23

3.2 CRIMES CONTRA O SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL (Lei 7.492/86), ORDEM TRIBUTÁRIA, ECONÔMICA E RELAÇÕES DE CONSUMO (Lei 8.137/90) .................................................................................................................................. 26

3.3 LEI DE PROTEÇÃO ÀS TESTEMUNHAS (Lei 9.807/99 .................................... 28

3.4 LEI DE DROGAS (Lei 11.343/06) ....................................................................... 30

3.5 LEI DE LAVAGEM DE CAPITAIS (Lei 9.613/98) ................................................ 32

3.6 LEI DE CRIME ORGANIZADO (Lei 12.850/13) .................................................. 33

3.6.1 O DIREITO DE NÃO PRODUZIR PROVA CONTRA SI MESMO: “NEMO TENETUR SE DETEGERE” ...................................................................................... 36

4 BREVE RELATO SOBRE ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA .................................... 39

5 BREVE RELATO SOBRE O CRIME DE CORRUPÇÃO ....................................... 42

5.1 CORRUPÇÃO PASSIVA ..................................................................................... 42

5.2 CORRUPÇÃO ATIVA .......................................................................................... 43

5.3 A CORRUPÇÃO NO BRASIL .............................................................................. 44

6 DELAÇÃO PREMIADA NO ENTENDIMENTO DO STJ ........................................ 45

7 OPERAÇÃO LAVA-JATO ..................................................................................... 47

7.1 A POSSIBILIDADE DE PRISÃO DE CONDENADOS EM 2ª INSTÂNCIA .......... 49

8 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................... 52

REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 54

9 1 INTRODUÇÃO

A delação premiada recentemente ganhou muito espaço na mídia nacional,

sendo comentada em todos os jornais impressos e televisivos. Até então

desconhecido pela população brasileira, e por alguns operadores do direito também,

o termo agora é popular, comentado amplamente em conversas informais país a

fora. Notícias e mais notícias circulam com o mesmo tema, a delação premiada que

algum investigado na operação Lava-Jato realizou e suas consequências no âmbito

da investigação.

Neste momento de reviravoltas políticas e em meio ao, por vezes, infinito e

cansativo, combate contra a corrupção e crime organizado, eis que a delação

premiada surge como uma importante ferramenta jurídica na mão do Ministério

Público e Polícia Federal na busca de obter novas provas e elucidar aos poucos o

quebra-cabeça criminoso e corrupto que plaina sobre o território político nacional.

A delação nada mais é do que o fato de oferecer uma determinada

recompensa pelo ato de expor os demais coautores e autores de crimes e auxiliar a

justiça na busca da verdade real, ela faz parte de uma ideologia recente de

modernização e atualização da legislação criminal, tão defasada em relação às

práticas criminais no Brasil, focando principalmente em crimes de organizações

criminosas e formação de quadrilha.

Apesar de parecer ser um termo recente, a utilização da delação como

forma de obtenção de novas provas, informações e benefícios ao réu é uma

aplicação cogitada há tempos no ordenamento jurídico brasileiro. Deu-se inicio na

Lei dos Crimes Hediondos (Lei 8.072/90), feito isso, algumas outras leis passaram a

aceitar a delação como forma de premiação ao réu, sendo elas a antiga lei de Crime

Organizado (Lei 9.034/95), a lei que define os Crimes Contra o Sistema Financeiro

Nacional, (Lei 7.492/86), em específico no art. 25, §2º, inserido pela Lei nº 9.080/95,

Lei 9.269/96, que ampliou as hipóteses de delação ao § 4° do art. 159 do Código

Penal (CP), Lei de Proteção às Testemunhas (Lei 9.807/99), Lei de Drogas (Lei

11.343/06) Lei 12.683/12, que deu nova redação ao §5º do art. 1º da Lei de

Lavagem de Capitais, lavagem de dinheiro, (Lei 9.613/98) e, por fim, a nova Lei de

Crime Organizado (Lei 12.850/13), que trouxe inovações e deu maior atenção ao

instituto, ampliando tanto sua utilização quanto sua forma de premiação ao réu pelas

informações (delações) prestadas.

10

Percebe-se então que a delação é uma ferramenta que vem causando

alterações em leis já estabelecidas e sendo previamente elencadas em leis

consideradas novas, ou seja, isso prova que de algum modo sua utilização vem

causando efeitos no modo de condução de investigações criminais.

Sua ampla utilização na operação Lava-Jato (investigação criminal realizada

pelo Ministério Público em conjunto com a Polícia Federal) vem sendo criticada por

uns e agraciada por outros, sendo cogitada até mesmo sua inconstitucionalidade,

que será um assunto abordado também no presente trabalho.

Cabe então apresentar neste trabalho o instituto da delação premiada como

um todo, desde seu feito histórico; o que motivou sua criação; chegada ao Brasil;

modificações ao longo do tempo; citação no ordenamento jurídico e os comentários

atinentes; utilização nas investigações da Operação Lava-Jato; constitucionalidade

ou inconstitucionalidade e as posições contrarias e favoráveis da doutrina brasileira

e internacional.

11 2 DELAÇÃO PREMIADA

Sobre a Delação Premiada, o professor Geraldo Brindeiro (2016) comenta:

No Brasil a adoção da delação premiada superou resistências culturais e acadêmicas, anacrônicas, contrárias a acordos com criminosos (apesar de existir a possibilidade de acordos em praticamente todos os ramos do Direito), mas resistências sobretudo políticas, por óbvias razões, pois o crime organizado por vezes tem raízes encravadas no próprio Estado.

2.1 DELAÇÃO PREMIADA E COLABORAÇÃO PREMIADA

No universo jurídico não é difícil encontrar as expressões “Delação

Premiada” e “Colaboração Premiada” sendo tratadas por vezes como sinônimos e

em outras vezes como antônimos. Fato é que tais termos são tão ligados e citados

que podem sim confundir. Na própria Doutrina não existe unanimidade quanto ao

fato de tais institutos serem sinônimos ou não.

Rejane Alves de Arruda, no livro Organização Criminosa – comentário à lei

12.850/13 (2013, p.73), comenta que “Embora a nova lei tenha utilizado a expressão

“colaboração premiada”, a maior parte da doutrina emprega o termo “delação

premiada”, que podem ser considerados sinônimos para fins didáticos”. Ou seja, a

nobre doutrinadora supracitada entende as expressões como sendo sinônimas para

fins didáticos, não vendo motivo para criar divisões. Analisando o dicionário,

entende-se que a palavra Delatar significa: Denúncia; ação de delatar, de denunciar

um crime cometido por alguém ou por si mesmo; revelação de um crime, delito ou

ação ilegal.

Observando o significado da palavra, resta claro que existem diferenças

entre delatar e colaborar, no que tange ao ato, à ação. No entendimento de Renato

Brasileiro (2015, p. 525), que de forma clara e precisa conceitua tal diferença,

podemos concluir que:

O imputado, no curso da persecutio criminis, pode assumir a culpa sem incriminar terceiros, fornecendo, por exemplo, informações acerca da localização do produto do crime, caso que é tido como mero colaborador. Pode, de outro lado, assumir culpa (confessar) e delatar outras pessoas – nessa hipótese é que se fala em delação premiada (ou chamamento de corréu). Só há falar em delação se o investigado ou acusado também confessa a autoria da infração penal. Do contrário, se a nega, imputando-a a terceiro, tem-se simples testemunho. A colaboração premiada funciona, portanto, como gênero, do qual a delação premiada seria espécie.

12

Mesmo com esse estudo sobre as diferenças existentes entre as

expressões, o termo Delação Premiada é largamente mais utilizado e encontrado na

Doutrina, Jurisprudência e mídia, de forma geral.

2.2 CONCEITO

Segundo Fernando Capez, delação premiada “consiste na afirmativa feita

por um acusado, ao ser interrogado em juízo ou ouvido na polícia. Além de

confessar a autoria de um fato criminoso, igualmente atribui a um terceiro a

participação como seu comparsa” (2010, p. 255).

Guilherme de Souza Nucci (2007, p. 1024), define Delação como:

Delatar significa acusar ou denunciar alguém, no sentido processual, utilizando o termo quando um acusado, admitindo a prática criminosa, revela que outra pessoa também o ajudou de qualquer forma. O valor da delação, como meio de prova, é difícil de ser apurado com precisão. Por outro lado, é valioso destacar que há, atualmente, várias normas dispondo sobre a delação premiada, isto é, sobre a denúncia, que tem como objeto narrar às autoridades o cometimento do delito e, quando existente, os coautores e partícipes, com ou sem resultado concreto, conforme o caso, recebendo, em troca, do Estado, um benefício qualquer, consistente em diminuição da pena ou, até mesmo, em perdão judicial.

É uma forma de oportunidade apresentada pelo Estado ao réu que queira

de modo voluntário, auxiliar nas investigações delatando os demais comparsas

visando alguns benefícios. Tais benefícios podem ser a redução da pena, a

substituição de pena privativa de liberdade por pena restritiva de direitos, o perdão

judicial e nos casos envolvendo a Lei Nº 12.850/13 (Lei de Crime Organizado)

também existe a possibilidade do não oferecimento de denúncia por parte do

Ministério Público.

“Delação”, segundo o dicionário significa (Denúncia; ação de delatar, de

denunciar um crime cometido por alguém ou por si mesmo; revelação de um crime,

delito ou ação ilegal.) e “Premiada” (aquele que obteve um prêmio), ou seja, de um

modo geral é o prêmio por uma denúncia delituosa.

2.3 ÉTICA NA DELAÇÃO PREMIADA

13

Reforçando o conceito de delação premiada, temos a brilhante definição

trazida por Guilherme de Souza Nucci em seu livro Manual de Direito Penal: Parte

Geral: Parte Especial (2007, p. 716),

Significa a possibilidade de se reduzir a pena do criminoso que entregar o(s) comparsa(s). É o ‘dedurismo’ oficializado, que, apesar de moralmente criticável, deve ser incentivado em face do aumento contínuo do crime organizado. É um mal necessário, pois trata-se da forma mais eficaz de se quebrar a espinha dorsal das quadrilhas, permitindo que um de seus membros possa se arrepender, entregando a atividade dos demais e

proporcionando ao Estado resultados positivos no combate à criminalidade.

A ideia de que o ato de delatar é moralmente criticável, como cita Nucci, vem

do fato de que existe, direta ou indiretamente, uma forma de incentivo à traição

promovida pelo Estado. Ou seja, visto de uma forma ética, Delação Premiada nada

mais é do que o réu trair seu(s) comparsa(s) visando uma premiação, ou seja, ser

premiado por ter sido “dedo duro”, assim o Estado passa a valer-se da traição como

forma de obtenção de justiça. Com a legislação premiando a traição, obtem-se um

ponto positivo e um ponto negativo, que são, respectivamente, o aumento da

perspectiva da elucidação criminal e a oficialização da traição como meio de

bonificação legal.

A ética é muito discutida jurisprudencialmente, causando muitas

controvérsias. Há juristas que apoiam a ideia que os fins não justificam os meios. No

caso não há que se falar em predominância do interesse público frente ao método

antiético empregado na obtenção de provas e linhas de pensamento investigativo.

Outros juristas defendem fielmente que não importa se o “atalho” investigativo é

antiético e coloca o Estado como “negociador de informações”, o que realmente

importa é a sensação de justiça causada. Neste ponto, o Professor David Teixeira

de Azevedo (1999, p.6) explica:

O agente que se dispõe a colaborar com as investigações assume uma diferenciada postura ética de marcado respeito aos valores sociais imperantes, pondo-se debaixo da constelação axiológica que ilumina o ordenamento jurídico e o meio social.

Resta claro que quem delata o faz para obter algum tipo de benefício, caso

contrário não o faria. A delação premiada consegue fazer com que os réus pensem

14 em se entregar e entregar os demais, quebrando a “ética do crime”. Sobre a relação

entre delação premiada e ética do crime, Eugênio Bucci (2015) comenta que:

Ela quebra a falsa “ética” do crime (uma “ética” essencialmente antiética), que se resume à lealdade irracional entre bandidos. Essa lealdade se funda no medo, não na virtude. Não é por ser virtuoso que os criminosos não se delatam jamais – é por medo de morrer. Os corruptos notórios que posam de heróis impolutos só porque “não entregam” ninguém não calam por virtude, mas por medo pusilânime. Nesse quadro, o que a “delação premiada” consegue fazer é dissolver essa “ética” do crime. Se o ladrão “leal” só é leal porque tem medo, nada mais ético do que levá-lo a colaborar com a Justiça democrática por uma motivação tão mesquinha quanto o medo: o interesse de ter a pena abrandada.

Mas a questão é: existe ética no cometimento de um crime? Se a resposta

for positiva, porque esperar do Estado a maior ética possível na elucidação dos

fatos?

Independe de existir ética ou não na delação premiada, o importante é que a

verdade real apareça, fazendo com que a justiça corra judiciário afora. Justiça, esse

termo sim é ético.

2.4 NATUREZA JURÍDICA

Sobre Natureza Jurídica de um modo geral, em um rápido conceito, a

Professora Maria Helena Diniz (2005, p. 66) que: "afinidade que um instituto tem em

diversos pontos, com uma grande categoria jurídica, podendo nela ser incluído o

título de classificação".

Definir de forma clara e concreta a Natureza Jurídica deste instituto é muito

difícil, pois além de inexistir uma legislação específica, o ordenamento jurídico

comporta um grande número de dispositivos legais que possibilitam sua utilização.

Soma-se a isso o fato de existir tipo criminal variado, partindo de uma mera redução

de pena até mesmo o perdão judicial e extinção da punibilidade, em casos em que o

réu é primário.

O Professor Walter Barbosa Bittar (2011, p.35) afirma que:

Difícil é definir qual seja realmente a natureza jurídica desse instituto, na medida em que a lei, ao estabelecer regras para a concessão de benefícios, não mostra com clareza as demais características relevantes para a aplicação do instituto. Isto porque, o legislador usou diversas expressões

15

para tratar da delação, nas várias legislações, o que, em um primeiro momento, dificulta ainda mais a ubiquação sistemática.

Marcelo Batlouni Mendroni (2002, p.47), Promotor de Justiça especialista no

trabalho contra o Crime Organizado, sobre a Natureza Jurídica da delação

premiada, explica que:

A delação tem sua natureza jurídica decorrente do consenso, uma variação do princípio da legalidade, sendo permitido às partes que entrem em um consenso sobre o destino do acusado que, por qualquer motivo, concorda com a imputação que lhe será determinada, tendo em vista que está disposto a revelar dados de extrema importância às autoridades.

Em 2010, o Superior Tribunal de Justiça (STJ), na decisão do HC de nº

97.519, (2010, p.5) afirmou que: “A delação premiada, a depender das

condicionantes estabelecidas na norma, assume a natureza jurídica de perdão

judicial, implicando a extinção da punibilidade, ou de causa de diminuição de penal”.

Percebe-se a alternância entre os entendimentos doutrinários e

jurisprudenciais. Enquanto não existir uma legislação específica que trate

amplamente sobre o referido instituto, a natureza jurídica continuará sendo uma

incógnita.

2.5 CONCEITO HISTÓRICO

A história do instituto da Delação Premiada no Brasil provém desde os

tempos das Ordenações Filipinas, época em que o Brasil ainda era colônia de

Portugal. Tal legislação vigorou de janeiro de 1603 até a entrada em vigor do Código

Criminal do Império de 1830, sendo o diploma legal que vigorou por mais tempo no

Brasil. Encontram-se dois dispositivos elencados nas Ordenações que fazem

referência a delação premiada, o primeiro está no livro V, Título VI, chamado “Do

Crime de Lesa Majestade” (Traição cometida contra a pessoa do Rei). Tal item trata

do perdão a ser concedido ao delator, desde que ele não tenha sido o principal

criminoso e que sua informação seja realmente útil ao deslinde do crime.

Cabe ressaltar que tal item entrou na história do Brasil sendo utilizado no

caso de Joaquim José da Silva Xavier, também conhecido como Tiradentes, quando

o Coronel Joaquim Silvério dos Reis, onde nessa situação ambos eram integrantes

16 do movimento denominado Inconfidência Mineira, delatou os planos do referido

movimento de tornar Minas Gerais um pais independente de Portugal em troca do

perdão sobre o crime e também do perdão de dívidas que tinha junto à Coroa

Portuguesa.

O segundo dispositivo encontra-se também no livro V, Título CXVI, chamado

de “Como se perdoará aos malfeitores, que derem outros á prisão”, neste caso o

referido dispositivo tratava do perdão aos delatores que confessassem o crime e

entregassem seus comparsas, aos moldes do que existe atualmente na legislação

brasileira vigente, ou seja, avaliando a importância da informação prestada e assim

valorando o benefício a ser concedido ao réu.

Outra utilização nacional da delação premiada foi durante o regime militar,

mesmo sem legislação específica. O doutrinador José Alexandre Marson Guidi

(2006, p. 111) explica que: “Mais recentemente, a delação premiada foi usada no

Golpe Militar de 1964 com o fim de descobrir supostos “criminosos” que não

concordavam com o regime militar repressivo”.

A última utilização da delação com previsão em lei foi nas Ordenações

Filipinas, sendo deixada de lado devido sua questionável ética, conforme explica o

Jurista Damásio E. de Jesus (2015): “Em função de sua questionável ética, à medida

que o legislador incentivava uma traição, acabou sendo abandonada em nosso

Direito, reaparecendo em tempos recentes”.

Quase 400 anos após ter sido deixado de existir, o instituto da delação

retornou ao ordenamento brasileiro, em 1990, na lei que tratava dos Crimes

Hediondos (Lei 8.072/90), feito isso, algumas outras leis passaram a aceitar a

delação como forma de premiação ao réu, sendo elas a antiga lei de Crime

Organizado (Lei 9.034/95), a lei que define os Crimes Contra o Sistema Financeiro

Nacional, (Lei 7.492/86), em específico no art. 25, §2º, inserido pela Lei nº 9.080/95,

Lei 9.269/96, que ampliou as hipóteses de delação ao § 4° do art. 159 do Código

Penal (CP), Lei de Proteção às Testemunhas (Lei 9.807/99), Lei de Drogas (Lei

11.343/06) Lei 12.683/12, que deu nova redação ao §5º do art. 1º da Lei de

Lavagem de Capitais, lavagem de dinheiro, (Lei 9.613/98) e, por fim, a nova Lei de

Crime Organizado (Lei 12.850/13), que trouxe inovações e deu maior atenção ao

instituto, ampliando tanto sua utilização quanto sua forma de premiação ao réu pelas

informações (delações) prestadas.

17

Recente no Brasil, a delação é utilizada há muito tempo também em

diversos países como Itália, Estados Unidos, Espanha, Colômbia, Alemanha,

Portugal, dentre outros, como forma de repressão ao crime organizado, sendo

decisivo em cada nação, do mesmo modo que vem sendo para o Brasil. Em seguida

veremos um pouco de como este instituto foi utilizado em outros países e de que

forma serviu para auxiliar na busca pela justiça e combate a instituições criminosas.

Servirão de analise história os países: Itália, Estados Unidos, Alemanha e Colômbia.

2.6 DIREITO ITALIANO

Com muitos problemas envolvendo a máfia, o governo Italiano lançou a

operação Mãos Limpas, ou Mani Pulite, (que muitos dizem ser a inspiração da

Operação Lava-Jato brasileira), que foi uma das maiores operações contra o crime

de corrupção da história da Europa, envolvendo investigações sobre pagamento de

propinas e desvio de recursos para campanhas políticas.

Os suspeitos recebiam incentivos para cada colaboração, semelhantes aos

utilizados na delação premiada brasileira.

Conforme explica o professor José Alexandre Marson Guidi (2010, p. 102):

“A máfia surgiu na Itália, após a perda dos latifundiários de manter suas milícias privadas. Para restabelecer a ordem e a paz social no país, foi criada em 1982, a Lei misure per la difesa dell ordinamento constituzionale, que trouxe ao ordenamento italiano o instituto da delação premiada, bem como a proteção às famílias daqueles que colaborassem com a justiça. A delação na Itália divide-se em duas formas: Pentiti e Dissociati. Na primeira forma, "Pentiti", antes da sentença condenatória, o criminoso que se retira da organização, fornece informações relativas à estrutura, que será checada pela justiça, e se porventura comprovada, o criminoso terá o benefício de ter extinta a sua punibilidade. Já na segunda forma "Dissociati", se porventura o criminoso, antes da sentença, vier a impedir ou a diminuir as consequências do fato, pode obter a diminuição de um terço da pena ou da substituição da pena de prisão perpétua pela reclusão de 15 a 21 anos.

De modo mais organizado, a legislação italiana abrange amplamente o

institutito da delação premiada em todos os seus níveis, utilizando aumento das

penas para coibir os crimes e, em contrapartida, aumento das benesses que seriam

utilizadas como prêmio, visando criar um ambiente favorável à prática da delação,

conforme explica Walter Barbosa Bittar (2011, p.15):

18

“Diante de tal situação e em contrapartida do posicionamento brasileiro com relação ao instituto premial, os legisladores italianos disciplinaram em sua totalidade o conteúdo do contemplado instituto a fim de se obter efeitos efetivos em cima do crime organizado. A abordagem buscada por aquele país para o conteúdo normativo da delação buscou tanto o enrijecimento das normas penais existentes, como o aumento de penas, quanto pelo aumento das benesses garantidas pela lei”.

Esse enrijecimento das normas penais seria uma forma de estímulo forçado

para a atuação do pentinismo, que seria a figura do criminoso arrependido pelo ato

que cometeu, pretendendo livrar-se de uma condenação pesada, passava a auxiliar

com a justiça.

José Alexandre Guidi (2006, p. 102) comenta sobre o arrependimento na

legislação italiana:

“Na Itália, quando o agente se arrepender depois da prática de algum crime, sendo este em concurso com organizações criminosas, e se empenhar para diminuir as consequências desse crime, confessando-o ou impedindo o cometimento de crimes conexos, terá o benefício de diminuição especial de um terço da pena que for fixada na sentença condenatória, ou da substituição da pena de prisão perpétua pela reclusão de 15 a 21 anos”.

Além da figura do arrependido, a legislação italiana criou mais duas

hipóteses de colaboradores da justiça, sendo elas a figura do “Dissociado” e do

“Colaborador”.

Cabe ressaltar que existe previsão legal para a distinção das três figuras

colaboradoras (Decreto-lei nº 625/79, convertido na Lei 15/80 e a Lei n. 304/82),

cada qual com seu grau de importância para a consecução penal e grau de

benesses estatais, porém ambos fundamentais para que o sistema delator

funcionasse conforme se esperava.

Ada Pelegrini Grinover (1995, p. 16) rapidamente explica o conceito de cada

uma das três situações encontradas na legislação italiana:

“Regime jurídico do “arrependido”, ou seja do concorrente que, antes da sentença condenatória, dissolve ou determina a dissolução da organização criminosa; retira-se da organização, se entrega sem opor resistência ou abandona as armas, fornecendo, em qualquer caso, todas as informações sobre a estrutura e organização das societas celeris; impede a execução dos crimes para os quais a organização se formou [...]” “Regime jurídico do “dissociado”, ou seja do concorrente que, antes da sentença condenatória, se empenha com eficácia para elidir ou diminuir as consequências danosas ou perigosas do crime ou para impedir a prática de crimes conexos e confessa todos os crimes cometidos [...]”

19

“Regime jurídico do “colaborador”, ou seja do concorrente que, antes da sentença condenatória, além dos comportamentos acima previstos, ajuda as autoridades policiais e judiciárias na colheita de provas decisivas para a individuação e captura de um ou mais autores dos crimes ou fornece elementos de prova relevantes para a exata reconstituição dos fatos e a descoberta dos autores. ”

Reforçando a ideia, José Alexandre Guidi (2006, p. 104), comenta que: “O benefício da liberdade provisória somente é permitido para as figuras do dissociado e a do colaborador desde que não sejam para as figuras típicas de terrorismo e de subversão, punidos com pena superior a quatro anos. Também os institutos da suspensão condicional da pena e o livramento condicional são facilitados para estes. ”

Analisando os requisitos acima, fica claro que o governo italiano investiu

pesado nas ações delatoras contra o sistema corrupto e mafioso que imperava na

Itália, com seus erros e acertos, foi fundamental para que o governo retomasse o

controle da situação e fizesse a justiça reinar naquele pais, aos moldes do que está

sendo pretendido aqui no Brasil.

2.7 DIREITO NORTE AMERICANO

A delação premiada existe, e é efetivamente utilizada, no direito Norte

Americano. Diferentemente do modo italiano, e por consequência brasileiro, o

modelo americano envolve uma sistemática negociável pura, ou seja, existe uma

negociação entre o Ministério Público, defensor e o acusado, chamado de “plea

bargaining”. Sobre o “plea bargaining” José Carlos Barbosa Moreira (2001, p. 97) diz

que é:

“... uma negociação entre acusação e defesa, na qual o prosecutor, em troca da concordância do réu em reconhecer-se culpado, lhe oferece vantagens como a promessa de não denunciá-lo por outra infração ou de pleitear a aplicação de pena mais branda. ”

Reforçando o conceito de “Plea Bargaining”, segue a explicação de Gabriel

Silveira de Queirós Campos, (2012, p. 4):

“Antes do julgamento, pode ocorrer a chamada plea bargaining, que consiste em um processo de negociação entre a acusação e o réu e seu defensor, podendo culminar na confissão de culpa (guilty plea ou plea of guilty) ou no nolo contendere, através do qual o réu não assume a culpa, mas declara que não quer discuti-la, isto é, não deseja contender. Costuma-

20

se mencionar que cerca de 90% (noventa por cento) de todos os casos criminais não chegam a ir a julgamento. ”

Esse processo de negociação acelera muito a consecução criminal, onde o

réu negocia livremente com o Ministério Público, que pode obter desde a confissão

até mesmo outras provas e como todo o plano se sucedeu.

Sobre a confissão de culpa (guility plea) e a não confissão (nolo contendere),

Gabriel Silveira de Queirós Campos (2012, p. 4) comenta:

“A guilty plea é, ao mesmo tempo, uma admissão de cometimento do delito e uma renúncia aos direitos que o réu teria caso decidisse ir a julgamento. Por isso mesmo, na audiência, o juiz deve advertir o acusado sobre seus direitos à assistência por advogado, à produção de provas, a ir a julgamento e à não-autoincriminação, dentre outros. Também deve ser avaliada a voluntariedade da decisão, bem como a ausência de coerção sobre o acusado. Apenas caso a decisão do réu seja consciente e voluntária é que o juiz aceitará sua confissão de culpa. Por sua vez, o nolo contendere possui o mesmo efeito da confissão de culpa, ou seja, o réu será imediatamente sentenciado no âmbito criminal. A única distinção é que, enquanto a guilty plea serve igualmente de confissão no campo da responsabilidade civil, o nolo contendere não produz qualquer efeito sobre eventual ação civil de reparação dos danos causados pelo crime”.

Existem algumas críticas contra esse tipo de sistema, dentre elas estão a

possibilidade de um inocente assumir a culpa visando uma pena mais branda em

caso de condenação; uma possível sensação de injustiça por parte da vítima; penas

desiguais entre réus, dentre outros.

Gabriel Silva de Queirós Campos (2012, p. 7) resume o sistema de delação

premiada norte americano, com seus elogios e defeitos, como:

“Parece claro, todavia, que a plea bargaining estadunidense encontra sua justificativa sobretudo em razões relacionadas ao eficientismo/utilitarismo do sistema punitivo estatal, com relativa abdicação de direitos e garantias do acusado. Pode-se dizer, assim, que, naquele país, a prática criminal é, ao menos no aspecto da solução consensual dos conflitos penais, mais próxima de um modelo “eficientista” ou “funcionalista” do sistema penal, em detrimento de reflexões próprias ao garantismo penal”.

2.8 DIREITO ALEMÃO

Na Alemanha o sistema jurídico é semelhante ao italiano, onde existe uma

colaboração por parte do réu em troca de um prêmio estabelecido em lei, diferente

do que é aplicado nos Estados Unidos.

21

Chamada de “Kronzeugenregelung”, ou “testemunhas da coroa”, é um

sistema basicamente voltado para a obtenção de um prêmio na ação de delatar a

prática de um crime e seus demais autores sendo possível a redução da pena e até

mesmo o perdão judicial.

Conforme explica Juliana Conter Pereira Kroben (2006):

”O Código Penal alemão trata do arrependimento post delictum em que há a exclusão da responsabilidade criminal em decorrência de uma colaboração eficaz do agente, ou seja, quando logra evitar que o resultado antijurídico se efetive. ”

O código alemão se preocupou em prever a possibilidade da utilização da

delação especificamente nos crimes envolvendo o terrorismo, dando uma atenção

maior para este tipo de crime, conforme cita José Alexandre Marson Guidi (2006, p.

107):

“Ainda a legislação alemã, pela lei de 9 de junho de 1989, modificada pela lei de 16 de fevereiro de 1993, prevê a possibilidade de se dispensar a ação penal, arquivar o procedimento já começado, atenuar ou dispensar a aplicação da pena no delito de terrorismo ou conexo”.

2.9 DIREITO COLOMBIANO

A Colômbia passou a utilizar a delação premiada nos mesmos moldes da

delação Italiana efetivamente contra crime de tráfico de drogas e contra os

narcotraficantes.

Nos ensinamentos de José Alexandre Marson Guidi (2006, p. 110), a

delação na Colômbia prevê a:

“[...] redução da pena em um terço em caso de confissão do imputado (art. 299). Por sua vez, o art. 369-A do CPP colombiano possibilitou um acordo e concessão de benefícios, tais como diminuição da pena, liberdade provisória, substituição de pena privativa de liberdade, inclusão no programa de proteção a vítimas e testemunhas, àquele que colaborar com a administração da justiça”.

Na delação colombiana não é necessário que o delator também confesse o

crime, diferentemente do que acontecem nas outras doutrinas. Nas palavras de José

Alexandre Marson Guidi, no livro Delação premiada: no combate ao crime

22 organizado (2006, p. 110): “O concorrente do delito receberá os benefícios da Lei,

simplesmente se preencher comitantemente dois requisitos: a) acusar os demais

concorrentes e b) fornecer provas eficazes”.

23 3 DELAÇÃO PREMIADA NO ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO

A delação premiada vem sofrendo uma evolução no ordenamento jurídico

brasileiro. O que iniciou somente como uma possibilidade elencada em um

parágrafo único (art. 8º da Le 8.072/90 que trata dos Crimes Hediondos). Em tempos

atuais já conta com um Título composto por quatro artigos e dezenas de parágrafos

que tratam exclusivamente do trâmite da então chamada Colaboração Premiada (Lei

1212.850/13 que dispõe sobre os crimes praticados por organizações criminosas). É

uma evolução constante que pretende acompanhar a crescente organização

criminosa e suas artimanhas.

3.1 LEI DOS CRIMES HEDIONDOS (Lei 8.072/90)

Publicada em 25 de Julho de 1990, a Lei dos Crimes Hediondos passa a

vigorar objetivando complementar e fazer cumprir a ordem elencada no art. 5º, inciso

XLIII, da Constituição Federal, o qual prevê:

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: [...]

XLIII - a lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou anistia a prática da tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o terrorismo e os definidos como crimes hediondos, por eles respondendo os mandantes, os executores e os que, podendo evitá-los, se omitirem;

Importante ressaltar o significado de Crime Hediondo que, segundo o

dicionário, significa (Que contém deformidade; que provoca horror; que causa

repulsa; repulsivo ou horrível), ou seja, algo que repulsa, que é repugnante. Esses

são crimes que, devido essa negatividade, são tratados com maior severidade pelo

ordenamento jurídico brasileiro. No Brasil, crimes hediondos são os crimes previstos

no art. 1º, absorvendo algumas exceções.

O art. 1º elenca os crimes hediondos, sendo eles:

Art. 1o São considerados hediondos os seguintes crimes, todos tipificados no Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal, consumados ou tentados:

24

I – homicídio (art. 121), quando praticado em atividade típica de grupo de extermínio, ainda que cometido por um só agente, e homicídio qualificado (art. 121, § 2o, incisos I, II, III, IV, V, VI e VII); I-A – lesão corporal dolosa de natureza gravíssima (art. 129, § 2o) e lesão corporal seguida de morte (art. 129, § 3o), quando praticadas contra autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e 144 da Constituição Federal,

integrantes do sistema prisional e da Força Nacional de Segurança Pública, no exercício da função ou em decorrência dela, ou contra seu cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo até terceiro grau, em razão dessa condição; II - latrocínio (art. 157, § 3o, in fine);

III - extorsão qualificada pela morte (art. 158, § 2o);

IV - extorsão mediante seqüestro e na forma qualificada (art. 159, caput, e §§ 1o, 2o e 3o);

V - estupro (art. 213, caput e §§ 1o e 2o);

VI - estupro de vulnerável (art. 217-A, caput e §§ 1o, 2o, 3o e 4o);

VII - epidemia com resultado morte (art. 267, § 1o). VII-A – (VETADO) VII-B - falsificação, corrupção, adulteração ou alteração de produto destinado a fins terapêuticos ou medicinais (art. 273, caput e § 1o, § 1o-A e § 1o-B, com a redação dada pela Lei no 9.677, de 2 de julho de 1998).

VIII - favorecimento da prostituição ou de outra forma de exploração sexual de criança ou adolescente ou de vulnerável (art. 218-B, caput, e §§ 1º e 2º).

Parágrafo único. Considera-se também hediondo o crime de genocídio previsto nos arts. 1o, 2o e 3o da Lei no 2.889, de 1o de outubro de 1956,

tentado ou consumado.

A diferença entre um crime “comum” e um crime dito “hediondo”, como visto,

é a severidade com que este é tratado. Dentre as maneiras de repreensão do

Estado estão a redução e até mesmo eliminação de alguns direitos disponíveis para

criminosos cujos crimes não são hediondos. Por exemplo: A pena inicial será

cumprida em regime fechado; a progressão de regime dar-se-á após o cumprimento

de 2/5 da pena em caso de réu primário e de 3/5 em caso de réu reincidente; O

prazo da prisão temporária é de 30 dias prorrogáveis por mais 30 dias; o condenado

não terá direito a anistia, indulto ou graça; o prazo para obter a condicional é de 2/3

em caso de réu primário, hipótese essa inexistente em casos de réu reincidente.

25

Essas são medidas tomadas pelo Estado para reprimir o cometimento

desses tipos de crime devido sua repugnância, servindo como impeditivo do

cometimento.

A Lei dos Crimes Hediondos trouxe em seu art. 8º, parágrafo único, o

primeiro caso de obtenção de prêmio através da delação, conforme segue:

Art. 8.o Será de três a seis anos de reclusão a pena prevista no art.288 do Código Penal, quando se tratar de crimes hediondos, prática de tortura, tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins ou terrorismo. Parágrafo único. O participante e o associado que denunciar à autoridade o bando ou quadrilha, possibilitando seu desmantelamento, terá a pena reduzida de um a dois terços.

Sobre a possibilidade de desmantelamento citada no parágrafo único,

conforme cita Mayara Maria Colaço Trombeta (2010, p. 38):

"Não se exige uma comprovação futura que a quadrilha ou bando tenha deixado de existir, ou seja, que a mesma tenha se desfeito, haja visto que não seria razoável para a concessão do benefício que fosse necessária a comprovação de um evento futuro incerto, sendo necessário apenas que as informações que tenham sido prestadas tornem possível o desmantelamento da organização criminosa. ”

O art. 7º da Lei de Crimes Hediondos implantou o §4º ao art. 159 do Código

Penal, que trata do crime de Extorsão Mediante Sequestro (crime hediondo)

trazendo o seguinte texto de lei:

Art. 7º Ao art. 159 do Código Penal fica acrescido o seguinte parágrafo: Art. 159 - Seqüestrar pessoa com o fim de obter, para si ou para outrem, qualquer vantagem, como condição ou preço do resgate: [...] § 4º Se o crime é cometido por quadrilha ou bando, o co-autor que denunciá-lo à autoridade, facilitando a libertação do seqüestrado, terá sua pena reduzida de um a dois terços."

Sobre o §4º, Mariana Doernte Lescano (2010, p.3) comenta que “... o

benefício somente será concedido se o crime for praticado por quadrilha ou bando,

que exige mais de três integrantes. Assim, se cometido por número inferior de

pessoas, o delator não fará jus ao prêmio”.

Frente a essa incoerência jurídica, a Lei nº 9.269/96 passou a dar nova

redação ao §4º, passando a vigorar da seguinte forma:

26

Art. 159 - Seqüestrar pessoa com o fim de obter, para si ou para outrem, qualquer vantagem, como condição ou preço do resgate: [...] § 4° Se o crime é cometido em concurso, o concorrente que o denunciar à autoridade, facilitando a libertação do seqüestrado, terá sua pena reduzida de um a dois terços.

Conforme no explica Alberto Silva Franco (2005, p. 359):

“A denúncia precisa ser eficaz, ou seja, deve contribuir para facilitar a efetiva libertação do sequestrado, que corre risco de vida. Entretanto, se não ocorrer a libertação, apesar da colaboração do delator, e mesmo que por circunstâncias alheias à sua vontade, não receberá o direito ao benefício da delação premiada. ”

Importante ressaltar que o §4º afirma que o concorrente obrigatoriamente

terá sua pena reduzida, sendo facultativo ao magistrado a opção de reduzir de um a

dois terços e que tal benefício somente será concedido se a delação libertar o

sequestrado, ou seja, de nada adiantará a denúncia se o sequestrado por acaso já

estiver sem vida. Tal denuncia deverá ser realizada de modo voluntário.

Inaugura-se dessa forma a Delação Premiada no ordenamento jurídico

brasileiro, prevendo tal instituto somente nos crimes de Extorsão Mediante

Sequestro (Art. 159, CP) e crimes praticados em quadrilha ou bando (associação

criminosa), elencado no art. 288, do CP.

3.2 CRIMES CONTRA O SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL (Lei 7.492/86),

ORDEM TRIBUTÁRIA, ECONÔMICA E RELAÇÕES DE CONSUMO (Lei 8.137/90)

A lei 7.492/86, que define os crimes contra o sistema financeiro nacional

(conhecidos como crimes do “colarinho branco”) e a lei 8.137/90, que define os

crimes contra a ordem tributária, econômica e contra as relações de consumo

(conhecido como lei de sonegação fiscal), não detinham nenhuma possibilidade de

delação premiada como ferramenta de obtenção de provas e confissões.

Tais legislações somente passaram a tratar sobre o assunto após as

modificações realizadas pela lei nº 9.080/95, que acrescentou o §2º ao art. 25 da lei

do “colarinho branco” e acrescentou o Parágrafo Único ao art. 16 da lei de

sonegação fiscal.

27

Ambas as inclusões seguem o mesmo texto jurídico, passando cada uma a

vigorar desta maneira:

Art. 25, §2º, Lei 7.492/86:

Art. 25. São penalmente responsáveis, nos termos desta lei, o controlador e os administradores de instituição financeira, assim considerados os diretores, gerentes (Vetado). [...] § 2º Nos crimes previstos nesta Lei, cometidos em quadrilha ou co-autoria, o co-autor ou partícipe que através de confissão espontânea revelar à autoridade policial ou judicial toda a trama delituosa terá a sua pena reduzida de um a dois terços.

Parágrafo único do art. 16 da Lei 8.137/90:

Art. 16. Qualquer pessoa poderá provocar a iniciativa do Ministério Público nos crimes descritos nesta lei, fornecendo-lhe por escrito informações sobre o fato e a autoria, bem como indicando o tempo, o lugar e os elementos de convicção. Parágrafo único. Nos crimes previstos nesta Lei, cometidos em quadrilha ou co-autoria, o co-autor ou partícipe que através de confissão espontânea revelar à autoridade policial ou judicial toda a trama delituosa terá a sua pena reduzida de um a dois terços.

Como anteriormente citado, ambos os artigos receberam a mesma

modificação referente à delação premiada, que nestes casos é tratada como

“confissão espontânea”.

Como é possível observar, o legislador citou que a confissão, além de ser

espontânea (ou seja, não pode ser provocada), e realizada perante autoridade

policial ou judicial, deve, além de tudo, revelar toda trama delituosa. Sobre essa

revelação de toda trama delituosa, o Dr. Juliano Breda, em seu livro “Gestão

fraudulenta de instituição financeira e dispositivos processuais da Lei 7.492/86”

(2002, p. 190) comenta que:

“Para sua aplicação, a lei exige que o delator entregue ‘toda a trama delituosa’. Se o texto da lei for analisado literalmente, chega-se à absurda conclusão que somente os agentes hierarquicamente superiores teriam conhecimento de toda a engenhosa atividade criminosa, e só a eles poderia ser concedido o benefício da redução de pena, o que se demonstra inaplicável”.

28

Como o mesmo texto de lei foi utilizado também na lei 8.137/90, podemos

utilizar a mesma crítica citada pelo Dr. Breda por analogia.

O benefício da redução de pena demonstra-se “inaplicável”, conforme Breda,

pelo simples fato de pouquíssimos integrantes daquele grupo criminoso terem

acesso a todos os planos, projetos, crimes cometidos, dentre outras atividades

ilícitas, muitas vezes ficando tal conhecimento e decisões somente com os líderes

da quadrilha.

Subentende-se que se um integrante da quadrilha vier a conhecer apenas

uma parte da trama delituosa e quiser realizar a delação (ou confissão espontânea)

não o poderá fazer, o que acaba por restringir muito a utilização desta ferramenta

jurídica nos crimes que tais leis visam impedir e punir.

3.3 LEI DE PROTEÇÃO ÀS TESTEMUNHAS (Lei 9.807/99)

Com o passar dos anos alguns formatos de delação premiada foram

surgindo no ordenamento jurídico brasileiro, sendo prevista sua utilização

inicialmente na lei 8.072/90 (Lei de Crimes Hediondos) e, posteriormente, nas leis

7.492/86 (Crimes Contra o Sistema Financeiro Nacional) e lei 8.137/86 (Crimes

Contra a Ordem Tributária, Econômica e Relações de Consumo).

Com o advento destas leis e a previsão legal da utilização da delação como

peça investigatória sobreveio a necessidade de legislar e garantir a segurança dos

delatores que viessem a colaborar com a justiça, visando impedir que eles

sofressem algum tipo de violência ou grave ameaça por parte da quadrilha ou bando

por eles acusados, protegendo sua integridade física e, ao mesmo tempo, servindo

como forma de amparo e estimulo a novos delatores.

Nesta seara, em 13 de julho 1999 foi sancionada a lei nº 9.807 (BRASIL,

1999), que assim subscreve:

Estabelece normas para a organização e a manutenção de programas especiais de proteção a vítimas e a testemunhas ameaçadas, institui o Programa Federal de Assistência a Vítimas e a Testemunhas Ameaçadas e dispõe sobre a proteção de acusados ou condenados que tenham voluntariamente prestado efetiva colaboração à investigação policial e ao processo criminal.

29

A supracitada lei não trouxe tão somente meios estatais de prevenção à

integridade física dos colaboradores da justiça, mas também ampliou a possibilidade

de aplicação da delação premiada (estendendo o benefício a todos os crimes

envolvendo concurso de pessoas) e seus benefícios (artigos. 13 e 14), elencando

até mesmo a inédita possibilidade de obtenção do perdão judicial, prevista somente

no art. 13:

Art. 13. Poderá o juiz, de ofício ou a requerimento das partes, conceder o perdão judicial e a conseqüente extinção da punibilidade ao acusado que, sendo primário, tenha colaborado efetiva e voluntariamente com a investigação e o processo criminal, desde que dessa colaboração tenha resultado: I - a identificação dos demais co-autores ou partícipes da ação criminosa; II - a localização da vítima com a sua integridade física preservada; III - a recuperação total ou parcial do produto do crime. Parágrafo único. A concessão do perdão judicial levará em conta a personalidade do beneficiado e a natureza, circunstâncias, gravidade e repercussão social do fato criminoso.

Cabe elencar que o benefício do perdão judicial previsto no art. 13 exige a

presença de alguns requisitos, tais como: O réu deve ser primário, a colaboração

deve ser efetiva e voluntária e obtenha o resultado previsto nos incisos I, II e III.

Além destes requisitos, cabe ao Juiz levar em conta a personalidade do beneficiado

e a natureza, circunstâncias, gravidade e repercussão social do crime.

O art. 14 traz o seguinte texto:

Art. 14. O indiciado ou acusado que colaborar voluntariamente com a investigação policial e o processo criminal na identificação dos demais co-autores ou partícipes do crime, na localização da vítima com vida e na recuperação total ou parcial do produto do crime, no caso de condenação, terá pena reduzida de um a dois terços.

O indiciado ou acusado que colaborar voluntariamente, no caso de

condenação e cumprido os requisitos exigidos no caput, terá a pena reduzida de um

a dois terços a critério do Juiz. Ressalta-se que a colaboração continua sendo

voluntária e a vítima deve ser encontrada com vida.

Sobre a proteção efetiva dos colaboradores, o art. 15 assim escreve:

Art. 15. Serão aplicadas em benefício do colaborador, na prisão ou fora dela, medidas especiais de segurança e proteção a sua integridade física, considerando ameaça ou coação eventual ou efetiva.

30

§ 1o Estando sob prisão temporária, preventiva ou em decorrência de flagrante delito, o colaborador será custodiado em dependência separada dos demais presos. § 2o Durante a instrução criminal, poderá o juiz competente determinar em favor do colaborador qualquer das medidas previstas no art. 8o desta Lei. § 3o No caso de cumprimento da pena em regime fechado, poderá o juiz criminal determinar medidas especiais que proporcionem a segurança do colaborador em relação aos demais apenados.

Cabe frisar que a lei visa proteger as testemunhas que por ventura vierem a

colaborar com a justiça participando de processo acusatório contra criminosos,

porém trata seu capítulo III exclusivamente da proteção aos teus colaboradores,

frutos da delação premiada, fazendo com que sejam estendidos a tais colaboradores

os mesmos mecanismos de proteção cedidos ás testemunhas ameaçadas.

3.4 LEI DE DROGAS (Lei 11.343/06)

A lei 11.343 de 23 de agosto de 2006 pode ser considerada uma lei recente,

que surgiu com o propósito de substituir a antiga Lei de Tóxicos (Lei nº 10.409/02),

que foi revogada, mas que trazia também uma hipótese diferente de delação

premiada, no art. 32, que assim segue:

Art. 32. (Vetado) Antes de iniciada ação penal, o representante do Ministério Público ou o defensor poderão requerer à autoridade judiciária competente o arquivamento do inquérito ou o seu sobrestamento, atendendo às circunstâncias do fato, à personalidade do indiciado, à insignificância de sua participação no crime, ou à condição de que o agente, ao tempo da ação, era inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato e de determinar-se de acordo com esse entendimento, em razão de dependência grave, comprovada por peritos. § 1.º (Vetado) A solicitação, qualquer que seja a natureza ou a fase do processo, também poderá se basear em qualquer das condições previstas no art. 386 do Código de Processo Penal. § 2.º O sobrestamento do processo ou a redução da pena podem ainda decorrer de acordo entre o Ministério Público e o indiciado que, espontaneamente, revelar a existência de organização criminosa, permitindo a prisão de um ou mais dos seus integrantes, ou a apreensão do produto, da substância ou da droga ilícita, ou que, de qualquer modo, justificado no acordo, contribuir para os interesses da justiça. § 3.º Se o oferecimento da denúncia tiver sido anterior à revelação, eficaz, dos demais integrantes da quadrilha, grupo, organização ou bando, ou da localização do produto, substância ou droga ilícita, o juiz, por proposta do representante do Ministério Público, ao proferir a sentença, poderá deixar de aplicar a pena, ou reduzi-la, de 1/6 (um sexto) a 2/3 (dois terços), justificando a sua decisão.

31

Sobre essa hipótese, o professor Eduardo Araújo da Silva (2005), comenta

que:

“... dispõe apenas e tão-somente acerca da possibilidade de sobrestamento do processo — na verdade inquérito policial — ou a redução da pena, após acordo entre o Ministério Público e o indiciado (artigo 32, parágrafo 2º), o que é incompatível com a magnitude do instituto da colaboração processual”.

O art. 32 e seu §1º sofreram veto presidencial, desta forma surgiu a

necessidade de uma nova lei que tratasse sobre as drogas, mais atual e sem tantos

questionamentos, surgindo então a nova Lei de Drogas, que assim é definida:

“Institui o Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas - Sisnad; prescreve medidas para prevenção do uso indevido, atenção e reinserção social de usuários e dependentes de drogas; estabelece normas para repressão à produção não autorizada e ao tráfico ilícito de drogas; define crimes e dá outras providências”.

A referida lei também trata da possibilidade de delação, em seu Capítulo II,

denominado “dos crimes”, no art. 41, que diz:

Art. 41. O indiciado ou acusado que colaborar voluntariamente com a investigação policial e o processo criminal na identificação dos demais co-autores ou partícipes do crime e na recuperação total ou parcial do produto do crime, no caso de condenação, terá pena reduzida de um terço a dois terços.

Sobre esta nova lei, Guilherme de Souza Nucci (2007, p. 344) comenta:

“A previsão formulada no art. 41 da Lei 11.343/2006 possui redação muito superior à anterior hipótese de delação premiada, feita no art. 32, §§2º e 3º, da Lei 10.409/2002, ora revogada”.

Seguindo a mesma linha de raciocínio das leis anteriores, neste caso o

indiciado ou acusado será beneficiado desde que preencha dois requisitos: que

colabore voluntariamente e que essa colaboração culmine na identificação dos

demais co-autores ou partícipes do crime e na recuperação total ou parcial no

produto do crime. Em caso de condenação, e preenchidos os requisitos, o

colaborador terá direito à redução de pena, de 1/3 ou 2/3 a ser fixada pelo juiz, de

acordo com a efetividade da delação para a investigação.

32

3.5 LEI DE LAVAGEM DE CAPITAIS (Lei 9.613/98)

Conhecida também nacionalmente como Lei de Lavagem de Dinheiro, conforme nos

explica João Carlos Castellar, em seu livro “Lavagem de dinheiro: a questão do bem

jurídico” (2004, p.210) nos ensina que:

“A expressão lavagem de dinheiro originou-se, historicamente, no costume das máfias norte americanas, na segunda década do século 20, de usar lavanderias para ocultar a procedência ilegal de seu dinheiro. Deve-se observar que em muitos países, inclusive Portugal, em vez de ‘lavagem de dinheiro’ é usado o termo “branqueamento de dinheiro”. Internacionalmente, a expressão “Money laudering” é utilizada para designar esta atividade. Esta terminologia vem recebendo algumas críticas no meio jurídico pela sua falta de rigor técnico devido sua origem popularesca, e, inclusive, à expressão branqueamento, é atribuída à pecha de racista. Alguns doutrinadores preferem utilizar o termo Lavagem de Capitais, pelo seu caráter mais

abrangente”.

No caso da lei 9.613/98 a delação premiada veio elencada no §5º do art. 1,

assim sendo:

§ 5º A pena será reduzida de um a dois terços e começará a ser cumprida em regime aberto, podendo o juiz deixar de aplicá-la ou substituí-la por pena restritiva de direitos, se o autor, co-autor ou partícipe colaborar espontaneamente com as autoridades, prestando esclarecimentos que conduzam à apuração das infrações penais e de sua autoria ou à localização dos bens, direitos ou valores objeto do crime.

O supracitado parágrafo manteve sua redação original até 2012, quando a

lei 12.683/12 trouxe alterações na lei de Lavagem de Capitais e, dentre elas, alterou

o texto do §5º, art. 1, que passou a ser da seguinte maneira:

§ 5o A pena poderá ser reduzida de um a dois terços e ser cumprida em regime aberto ou semiaberto, facultando-se ao juiz deixar de aplicá-la ou substituí-la, a qualquer tempo, por pena restritiva de direitos, se o autor, coautor ou partícipe colaborar espontaneamente com as autoridades, prestando esclarecimentos que conduzam à apuração das infrações penais, à identificação dos autores, coautores e partícipes, ou à localização dos bens, direitos ou valores objeto do crime.

Dentre as alterações, há a possibilidade do regime inicial de cumprimento de

pena, anteriormente somente em aberto, iniciar em regime aberto ou semiaberto.

Outra alteração foi a inclusão da expressão “a qualquer tempo”, possibilitando ao

juiz a substituição da pena no regime aberto ou semiaberto para a restritiva de

33 direito a “qualquer tempo”, dando mais uma possibilidade de prêmio, dependendo da

importância da colaboração.

Diferente de outras leis, onde o colaborador precisava cumprir dois

requisitos, quais são a identificação dos demais co-autores ou partícipes do crime e

a recuperação total ou parcial no produto do crime, aqui a colaboração pode-se dizer

que é “fracionada”, podendo ser beneficiário do prêmio o autor, coautor ou partícipe

que prestar “... esclarecimentos que conduzam à apuração das infrações penais, à

identificação dos autores, coautores e partícipes, ou, a à localização dos bens,

direitos ou valores objeto do crime”. O emprego da conjunção “ou” significa que

aquele que por ventura não souber quem são os demais autores, coautores ou

partícipes, mas souber a localização dos bens, direitos ou valores, poderá ser

beneficiário, e vice-versa. Não exige a possibilidade de o colaborador saber de toda

trama para delatar.

Porém, no que tange á apuração das infrações penais, deve

obrigatoriamente o colaborador prestar informações que levem à identificação dos

autores, coautores e partícipes, devido à utilização da expressão conjuntiva “e”, não

admitindo informações de somente um dos citados.

Mais uma alteração foi o requisito da espontaneidade, diferente de outras

leis que exigem a voluntariedade. Cabe ressaltar que ambos são oriundos da

vontade livre, porém o que os diferencia é a fonte de onde surgiu essa vontade, se

foi provocada por terceiros, é voluntária, se foi por ato próprio é espontâneo.

3.6 LEI DE CRIME ORGANIZADO (Lei 12.850/13)

A lei 12. 850/13, chamada de Nova Lei de Crime Organizado, que revogou a

antiga lei de Crime Organizado (Lei nº 9.034/95) é a lei mais atual no ordenamento

jurídico a tratar sobre a Delação, também é a que mais abrange tal instituto.

Cabe neste ponto do estudo ressaltar as principais mudanças trazidas por

esta lei, que sem sombra de dúvidas é um divisor de águas no que tange ao

emprego da delação premiada. Adiante então veremos as principais revoluções

trazidas pela lei e sua utilização.

A lei inicia prevendo a Colaboração Premiada como meio de obtenção de

provas, no capítulo II, art. 3º, inciso I, qual segue:

34

Art. 3o Em qualquer fase da persecução penal, serão permitidos, sem prejuízo de outros já previstos em lei, os seguintes meios de obtenção da prova: I - colaboração premiada

Também é a única lei que destinou uma seção inteira, com 4 artigos e

diversos parágrafos e incisos, somente para regulamentar e tratar sobre as

possibilidades de aplicação da Colaboração Premiada. Diz o art. 4º de tal seção:

Art. 4o O juiz poderá, a requerimento das partes, conceder o perdão judicial, reduzir em até 2/3 (dois terços) a pena privativa de liberdade ou substituí-la por restritiva de direitos daquele que tenha colaborado efetiva e voluntariamente com a investigação e com o processo criminal, desde que dessa colaboração advenha um ou mais dos seguintes resultados: I - a identificação dos demais coautores e partícipes da organização criminosa e das infrações penais por eles praticadas; II - a revelação da estrutura hierárquica e da divisão de tarefas da organização criminosa; III - a prevenção de infrações penais decorrentes das atividades da organização criminosa; IV - a recuperação total ou parcial do produto ou do proveito das infrações penais praticadas pela organização criminosa; V - a localização de eventual vítima com a sua integridade física preservada.

Desde já se pode extrair que dentre os prêmios elencados estão o perdão

judicial, redução em até 2/3 da pena privativa de liberdade, já elencados em leis

anteriores, ou sua substituição por restritiva de direitos, que, apesar de ter já ter sido

tratada no §5º do art. 1º da Lei de Lavagem de Capitais, aqui ganha maior

notoriedade.

Uma das várias evoluções dessa lei foi o fato de ocorrer a individualização

da colaboração, ou seja, para que o colaborador mereça a obtenção do prêmio ele

deve colaborar efetiva e voluntariamente com a investigação e com o processo

criminal e desta colaboração deve surgir no mínimo um dos resultados elencados

nos incisos I a V do art. 4º. Como visto, as legislações anteriores previam como

resultado, dentre eles, a identificação dos demais coautores ou partícipes do crime e

a recuperação total ou parcial do produto do crime (no exemplo a Lei nº 11.343/06 –

Lei de Drogas); a identificação dos coautores e partícipes, ou a localização dos

bens, direitos ou valores objeto do crime (no exemplo da Lei nº 9.613/98, alterada

35 pela Lei nº 12.683/12). A nova lei não exige mais esse grupo de resultados para

aplicação da benesse, sendo necessário no mínimo um. Fica claro que quanto mais

resultados, maior é a benesse a ser recebida pelo colaborador, porém fica claro

também que por menor que seja o resultado já é um grande avanço no processo de

investigação criminal e desmantelamento da organização criminosa.

O §2º do art. 4º elenca que:

§ 2o Considerando a relevância da colaboração prestada, o Ministério Público, a qualquer tempo, e o delegado de polícia, nos autos do inquérito policial, com a manifestação do Ministério Público, poderão requerer ou representar ao juiz pela concessão de perdão judicial ao colaborador, ainda que esse benefício não tenha sido previsto na proposta inicial, aplicando-se, no que couber, o art. 28 do Decreto-Lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941 (Código de Processo Penal).

Abre importante porta para a celeridade do processo penal essa atuação em

conjunto do Delegado de Polícia e representante do Ministério Público, que poderão

requerer ou representar ao juiz pela concessão de perdão judicial ao colaborador e,

caso seja negado, aplica-se no que couber o art. 28 do CPP.

Outra hipótese destinada ao MP é a de nem sequer oferecer denúncia ao

acusado que não sendo líder da organização criminosa for o primeiro a prestar

efetiva colaboração, conforme cita o §4º do art. 4º:

§ 4o Nas mesmas hipóteses do caput, o Ministério Público poderá deixar de oferecer denúncia se o colaborador: I - não for o líder da organização criminosa; II - for o primeiro a prestar efetiva colaboração nos termos deste artigo.

É uma espécie de acordo também, acordo este que sequer chegará ao

conhecimento do Juiz.

A referida lei previu também casos de acordos realizados após a sentença

ter sido transitada em julgado, ou seja, após a condenação. Casos em que o

condenado acaba por buscar uma vantagem, existindo a possibilidade de delatar o

que sabe mesmo após ser preso, conforme §5º do art. 4º:

§ 5o Se a colaboração for posterior à sentença, a pena poderá ser reduzida

até a metade ou será admitida a progressão de regime ainda que ausentes os requisitos objetivos.

36

Uma das mais importantes alterações elencadas nesta lei encontra-se no

§6º do art. 4º, que diz:

§ 6o O juiz não participará das negociações realizadas entre as partes para a formalização do acordo de colaboração, que ocorrerá entre o delegado de polícia, o investigado e o defensor, com a manifestação do Ministério Público, ou, conforme o caso, entre o Ministério Público e o investigado ou acusado e seu defensor.

O supracitado parágrafo se faz tão importante para a clareza dos fatos, no

momento em que deixa a capacidade de negociação entre o delegado de polícia,

investigado e defensor, com manifestação do MP, ou entre o MP e o investigado se

seu defensor. Fazendo isso, retira o magistrado da fase de negociação e acusação,

deixando para este somente verificar os trâmites que tal negociação veio a seguir,

sua legalidade, voluntariedade e requisitos para a homologação do acordo e

posterior julgamento. Deste modo, a capacidade de julgamento, independência e

imparcialidade, pilares do princípio do juiz natural.

Conforme explica Stephan Gomes Mendonça (2014):

“... se faz imperioso o afastamento do julgador deste acordo, sob pena de macular a própria validade da prova obtida, conquanto ao juiz compete apenas a posição de terceiro que o Estado ocupa no processo, sem participar da obtenção de provas, o que deve ficar a cargo das autoridades policiais e do Ministério Público, dentro dos limites legais”.

Nessa seara de delação versus prêmio concedido, é muito possível que o

acusado venha a criar delações e imputar falsamente crimes a terceiros visando

obter uma vantagem ilícita, tirando proveito dessa possibilidade. Nesse pensamento,

toda e qualquer delação não terá como base somente as palavras do acusado, mas

terá de ser cercada por outras provas e fatos que embasem as delações. Sobre

essa hipótese, o §16 do art. 4º prevê que:

§ 16. Nenhuma sentença condenatória será proferida com fundamento apenas nas declarações de agente colaborador.

3.6.1 O DIREITO DE NÃO PRODUZIR PROVA CONTRA SI MESMO: “NEMO

TENETUR SE DETEGERE”

37

Previsto na Carta Magna, no Título II, denominado Dos Direitos e Garantias

Fundamentais, art. 5º, inciso LXII, o princípio de não produzir provas contra si invoca

o direito do acusado em permanecer em silêncio independente das circunstancias,

devendo se pronunciar somente quando achar conveniente, conforme segue:

Art. 5.o Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: [...] LXIII - o preso será informado de seus direitos, entre os quais o de permanecer calado, sendo-lhe assegurada a assistência da família e de advogado;

A Lei vista anteriormente, que trata do combate ao crime organizado

(12.850/13), por meio do art. 4º, §14, prevê que para dar início ao processo de

colaboração premiada o acusado, antes de tudo, deve, na presença do seu

defensor, renunciar ao direito de permanecer em silêncio, deste modo:

Art. 4.o O juiz poderá, a requerimento das partes, conceder o perdão judicial, reduzir em até 2/3 (dois terços) a pena privativa de liberdade ou substituí-la por restritiva de direitos daquele que tenha colaborado efetiva e voluntariamente com a investigação e com o processo criminal, desde que dessa colaboração advenha um ou mais dos seguintes resultados: [...] § 14. Nos depoimentos que prestar, o colaborador renunciará, na presença de seu defensor, ao direito ao silêncio e estará sujeito ao compromisso legal de dizer a verdade.

Tamanha é a crítica a este parágrafo no que tange à sua constitucionalidade

por ser aparentemente contrário ao elencado na carta magna. Diversos autores são

contrários á sua validade e utilização, já que garantias fundamentais são

irrenunciáveis.

Dentre as opiniões contrárias ao instituto, declarando ser totalmente

inconstitucional, temos o pensamento de Cezar Roberto Bitencourt (2014):

Ora, o dispositivo legislativo é claramente inconstitucional enquanto obriga (ou condiciona, o que dá no mesmo) o réu a abrir mão de um direito seu consagrado não apenas na constituição, como em todos os pactos internacionais de direitos humanos, dos quais o Brasil é signatário. Afinal, o réu simplesmente não está obrigado a fazer prova contra si em circunstância alguma, mesmo a pretexto de “colaborar” com a Justiça, ou seja, na condição de colaborador. Afinal, lhe interessa muito mais (lhe é

38

muito mais benéfico) uma sentença absolutória, que a aplicação dos benefícios decorrentes da colaboração.

Em sentido contrário, temos os ensinamentos de Eugênio Pacelli (2013):

Se a colaboração depende de ato voluntário do agente, e, se, para sua eficácia, dependerá também de determinadas informações/declarações a serem prestadas por ele, não há que se falar em renúncia ao direito ao silêncio. E, mais, o dever de dizer a verdade na hipótese, tal como previsto no referido dispositivo, decorreria unicamente de ato voluntário do colaborador e não como imposição da norma legal! Se antes dessa decisão pessoal ele não era obrigado a depor – direito ao silêncio – não se pode dizer que ele tenha renunciado a esse direito, mas, sim, que resolveu se submeter às consequências de sua confissão.

Reforçando a ideia da constitucionalidade do §14, o Professor Márcio

Alberto Gomes Silva (2013) dispõe que:

Anote-se da compatibilidade entre o dispositivo em estudo § 14, do artigo 4º, da Lei 12.850/13 e o inciso LXIII, do artigo 5º, da Constituição Federal. É que o que a Carta Magna proíbe é que o investigado/indiciado/réu seja compelido a falar (a CF, em nenhuma passagem, garantiu o direito à mentira, apenas ao silêncio). Se o colaborador quer falar (e a colaboração, repito, é ato voluntário), terá que ser a verdade, sob pena de cometer o crime citado (artigo 19, da Lei 12.850/13).

Ambos os ensinamentos possuem base jurídica e razão, devendo levar em

conta o peso entre a constitucionalidade da lei ou a eficácia e eficiência de sua

aplicação.

39 4 BREVE RELATO SOBRE ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA

Para dirimir qualquer dúvida, cabe explicar as diferenças técnicas dos

termos “organização criminosa” e “associação criminosa”. Ambos os conceitos

aparecem elencados no bojo da lei 12.850/13, Lei de Crime Organizado.

O §1º do art. 1º da Nova Lei de Crime Organizado define organização

criminosa como:

§ 1o Considera-se organização criminosa a associação de 4 (quatro) ou

mais pessoas estruturalmente ordenada e caracterizada pela divisão de tarefas, ainda que informalmente, com objetivo de obter, direta ou indiretamente, vantagem de qualquer natureza, mediante a prática de infrações penais cujas penas máximas sejam superiores a 4 (quatro) anos, ou que sejam de caráter transnacional.

Já o art. 24 da supracitada lei trouxe nova redação ao art. 288 do Código

Penal, estabelecendo o conceito de associação criminosa, que passou a vigorar com

a seguinte redação:

Art. 288. Associarem-se 3 (três) ou mais pessoas, para o fim específico de cometer crimes: Pena - reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos. Parágrafo único. A pena aumenta-se até a metade se a associação é armada ou se houver a participação de criança ou adolescente.

Notando as diferenças, temos na organização criminosa que o mínimo de

sua composição é de quatro pessoas ou mais, e a prática de infrações penais cujas

penas máximas sejam superiores a 4 (quatro) anos, ou que sejam de caráter

transnacional. Na associação criminosa o mínimo de sua composição é de três

pessoas ou mais e a prática de infrações penais cujas penas máximas sejam

inferiores a 4 (quatro) anos.

Resumindo, quatro pessoas ou mais e pena máxima superior a quatro anos,

de caráter transnacional, estaremos falando sobre organização criminosa. Três

pessoas ou mais e pena máxima inferior a quatro anos, estaremos falando de

associação criminosa.

Sobre o crime organizado no Brasil, o jornalista Carlos Amorim, em seu livro

“CV_PCC: A Irmandade do Crime”, (2005, p.15) comenta que:

“Agora não é mais uma ameaça. A sombra ganha contornos próprios. Porque o crime organizado no Brasil é uma realidade terrível. Atinge todas

40

as estruturas da sociedade, da comunidade mais simples, onde se instala o traficante, aos poderes da República. Passa pela polícia, a justiça e a política. A atividade ilegal está globalizada e o país é um mercado privilegiado no tabuleiro do crime organizado”.

A existência de um poder paralelo criminoso entrelaçado nas diversas

camadas sociais é uma realidade no Brasil. Esse poder organizado surge em meio a

uma série de deficiências do Estado em promover crescimento social, educação,

emprego, investimento em segurança pública e principalmente leis que consigam

acompanhar a eficiência de organização e estrutura do crime.

Marcelo Batlouni Mendroni (2002, p.10), Promotor de Justiça especialista no

trabalho contra o Crime Organizado, explica como funciona a evolução do crime

organizado em comparação com a capacidade da justiça de acompanhar tal

evolução, no trecho que segue:

“[...] elas evoluem em velocidade muito maior do que a capacidade da Justiça de percebê-las, analisá-las e principalmente combatê-las. Assim como a vacina sempre persegue a doença, os meios de combate à criminalidade organizada sempre correm atrás dos estragos causados pela sua atividade. Amanhã e depois seguramente surgirão outras formas novas, que, pela simples verificação de atividades organizadas para a prática de crimes, será considerada organização criminosa”.

Essa evolução trouxe características da organização criminosa, que atua em

forma de rede de agentes cumprindo funções e atividades previamente distribuídas.

Nessa seara, Luiz Flávio Gomes e Raul Cervini, no livro intitulado “Crime

Organizado: Enfoques Criminológico, Jurídico (Lei 9.034/95) e Político Criminal”

(1997, p.95), citam onze características próprias das organizações criminosas que

auxiliam na existência ou não de uma rede criminosa organizada, sendo elas:

1) previsão de acumulação de riquezas indevida ou de forma ilícita; 2) hierarquia estrutural; 3) planejamento empresarial envolvendo, por exemplo, custo das atividades, forma de pagamento do pessoal, programação do fluxo de mercadorias, planejamento dos itinerários, etc.; 4) uso dos meios tecnológicos sofisticados; 5) recrutamento de pessoas e divisão funcional de atividades; 6) conexão estrutural ou funcional com o Poder Público ou com agentes do Poder Público, a ponto de formar uma simbiose, decorrente do seu alto poder de corrupção e do seu poder de influência. Nessa relação se verifica tanto a participação direta de agentes do Poder Público nas associações, quanto atitudes de favorecimento para o funcionamento das organizações; 7) ampla oferta de prestações sociais, no âmbito da saúde publica, segurança, transportes, alimentação, alimentação e emprego; 8) divisão territorial das atividades ilícitas; 9) alto poder de intimidação; 10) real capacidade para fraude, de forma a lesar o patrimônio publico ou coletivo; 11) conexão local, regional, nacional ou internacional com outra organização criminosa.

41

Então tendo como base as características supracitadas, pode-se dizer que

as organizações criminosas então trabalham em forma estrutural, com hierarquia,

planejamento, investimento em tecnologia, divisão de pessoal, influência

governamental, poder de intimidação e conexões com outras organizações

criminosas. Todo esse aparato organizacional visa a obtenção da máxima eficiência

e lucro total, quase nos mesmos moldes organizacionais de uma empresa. Por isso

muitos doutrinadores utilizam essa relação para comparar a capacidade estrutural

da organização criminosa com a capacidade administrativa de uma empresa, dentre

eles está Guilherme Nucci (2012, p. 86), que assim ensina:

“[...] Não se pode discordar dessa visão empresarial do crime, que se molda como se fosse autêntica corporação, com “diretorias, gerências regionais e locais, funcionários”, na busca do lucro, em estrita hierarquia, com invasão nas entranhas dos órgãos estatais, dispondo de tecnologia de ponta, conexões variadas no mercado, atitudes de controle estrito de obediência, validando a violência como exemplo para a fidelidade de seus membros e espalhando-se, sempre e cada vez mais, não somente pelo território nacional, mas sobretudo para outros países”. [...] “Por isso, pode-se definir a organização criminosa como a atividade delituosa exercitada em formato ordenado e estruturado, podendo ser constituída por qualquer número de agentes, desde que, no mínimo, existam duas pessoas associadas para tanto”.

Cabe ressaltar que as organizações criminosas não somente as oriundas de

facções ou máfias. No Brasil, além das maiores e mais conhecidas organizações,

sendo elas o Comando Vermelho (CV) e o PCC (Primeiro Comando da Capital),

ainda agem sobre solo pátrio diversas redes de organizações criminosas voltadas

para a corrupção na política e na administrativa, envolvendo superfaturamento de

obras, licitações fraudulentas, dentre outros.

Com o intuito de correr atrás do tempo perdido, a lei de crime organizado,

anteriormente estudada, tem a missão de combater essa evolução do crime,

conforme o art. 1º preconiza:

Art. 1o Esta Lei define organização criminosa e dispõe sobre a investigação

criminal, os meios de obtenção da prova, infrações penais correlatas e o procedimento criminal a ser aplicado.

42 5 BREVE RELATO SOBRE O CRIME DE CORRUPÇÃO

Segundo o dicionário online (2016), corrupção é: Ação ou efeito de

corromper. Ação ou resultado de subornar (dar dinheiro) uma ou várias pessoas em

benefício próprio ou em nome de outra pessoa; suborno. Utilização de recursos que,

para ter acesso a informações confidenciais, pode ser utilizado em benefício próprio.

Roberto Livianu, em sua obra intitulada Corrupção e Direito Penal – Um

Diagnóstico da Corrupção no Brasil (2007, p. 31), explica resumidamente que

corrupção: “... é o seguinte: trata-se de toda e qualquer vantagem obtida pelos

agentes públicos no exercício das funções que cause prejuízo aos bens, serviços e

do interesse do Estado”.

Temos como a principal corrupção então o mau exercício da função ou do

cargo público, onde o sujeito se aproveita do poder que o cargo que ocupa lhe

fornece e age em proveito próprio, podendo ser pecuniário ou outro tipo de

benefício, em ato unicamente ambicioso.

O legislador ao tratar sobre o tema corrupção o separou em duas esferas, a

corrupção passiva e a corrupção ativa.

5.1 CORRUPÇÃO PASSIVA

Prevista no Código Penal brasileiro, no livro XI, intitulado dos Crimes Contra

Administração Pública, no art. 317, dispõe que a corrupção ativa é:

Art. 317 - Solicitar ou receber, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida, ou aceitar promessa de tal vantagem: Pena – reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa. § 1º - A pena é aumentada de um terço, se, em conseqüência da vantagem ou promessa, o funcionário retarda ou deixa de praticar qualquer ato de ofício ou o pratica infringindo dever funcional. § 2º - Se o funcionário pratica, deixa de praticar ou retarda ato de ofício, com infração de dever funcional, cedendo a pedido ou influência de outrem: Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa.

Nesse caso somente o funcionário público pode ser sujeito ativo, pois o

próprio capítulo trata somente dos crimes praticados por funcionário público contra

43 administração em geral. Como o funcionário público serve ao Estado, este é

considerado sujeito passivo.

O elemento subjetivo é o dolo, dividido nos atos de solicitar ou receber

vantagem, para si ou para outrem ou aceitar promessa de receber vantagem futura

em razão da função que ocupa. A ação penal é pública e incondicionada.

O crime pode ser agravado, segundo os agravantes previstos nos §§ 1º e 2º.

O Código Penal conceitua o que é considerado Funcionário Público, para

efeitos penais, no art. 327, que assim subscreve:

Art. 327 - Considera-se funcionário público, para os efeitos penais, quem, embora transitoriamente ou sem remuneração, exerce cargo, emprego ou função pública. § 1º - Equipara-se a funcionário público quem exerce cargo, emprego ou função em entidade paraestatal, e quem trabalha para empresa prestadora de serviço contratada ou conveniada para a execução de atividade típica da Administração Pública. § 2º - A pena será aumentada da terça parte quando os autores dos crimes previstos neste Capítulo forem ocupantes de cargos em comissão ou de função de direção ou assessoramento de órgão da administração direta, sociedade de economia mista, empresa pública ou fundação instituída pelo poder público.

5.2 CORRUPÇÃO ATIVA

Previsto no art. 333 do CP, no Capítulo II, que prevê os Crimes Praticados

Por Particular Contra a Administração em Geral, o crime de corrupção ativa é assim

descrito:

Art. 333 - Oferecer ou prometer vantagem indevida a funcionário público, para determiná-lo a praticar, omitir ou retardar ato de ofício: Pena – reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa. Parágrafo único - A pena é aumentada de um terço, se, em razão da vantagem ou promessa, o funcionário retarda ou omite ato de ofício, ou o pratica infringindo dever funcional.

Nesse caso o sujeito ativo pode ser qualquer pessoa, já que até mesmo o

funcionário público pode cometê-lo, quando não estiver no exercício da sua função.

O sujeito passivo continua sendo o Estado.

O crime de corrupção ativa visa preservar a integridade funcional do Estado,

mantendo seu funcionalismo em ordem. Subdivide-se em oferecer ou prometer

44 vantagem, ambas visando a pratica, omissão ou retardo de ato que seja

responsabilidade do funcionário, mesmo que este não aceite.

5.3 A CORRUPÇÃO NO BRASIL

A corrupção é um problema que se alastra cada vez mais no Brasil,

causando um enorme problema social. É um dos principais crimes investigados pela

Operação Lava-Jato, do Ministério Público em conjunto com a Polícia Federal. Todo

ano são desviados milhões de reais dos cofres públicos, dinheiro que faz muita falta

para a população, que poderia ser investido em saúde, educação, segurança, dentre

outras áreas públicas tão deficientes no Brasil.

Segundo Roberto Livianu (2007, p. 45), os altos custos desse crime

influenciam no desenvolvimento social de um país, assim relatando:

“Os custos econômicos desta criminalidade são suportados pelos cidadãos, motivo pelo qual determinam a instabilidade política e deterioração dos poderes. Há ainda outra consequência desta criminalidade que, além de atentar contra os direitos humanos e a dignidade da pessoa, pode atingir os próprios fundamentos da democracia”.

45 6 DELAÇÃO PREMIADA NO ENTENDIMENTO DO STJ

Dentro de algumas características da delação premiada, cabe ressaltar,

além dos comentários supracitados, algumas peculiaridades que foram surgindo e

se consolidando com jurisprudências do STJ.

No julgamento do HC 84.609-SP (2007) a Quinta Turma consolidou a

possibilidade de aplicação conjunta da delação premiada com a confissão

espontânea (Prevista no art. 65, III, “D”, que prevê a atenuação da pena ao réu que

confesse espontaneamente a autoria do crime, chamado de réu confesso).

A Turma ainda afirmou, no mesmo julgamento, a obrigatoriedade da

concessão dos benefícios da delação ao réu que preencher os requisitos, conforme

segue: “preenchidos os requisitos da delação premiada, sua incidência é

obrigatória”. Ou seja, não é facultativo ao magistrado conceder os benefícios

previstos em lei, é uma obrigação.

A concessão é obrigatória, cabendo ao magistrado somente dosar os

benefícios a serem concedidos de acordo com o §1º do art. 4º da Lei 12.850/13 (Lei

de Crime Organizado), que são:

§ 1o Em qualquer caso, a concessão do benefício levará em conta a

personalidade do colaborador, a natureza, as circunstâncias, a gravidade e a repercussão social do fato criminoso e a eficácia da colaboração.

Tomará então sua decisão baseada nesses requisitos, porém toda decisão

deverá ser fundamentada. Sobre essa necessidade de fundamentação, no

julgamento do HC 90.509-MG (2007), a Quinta Turma entendeu que:

“ofende o princípio da motivação, consagrado no artigo 93, IX, da Constituição Federal, a fixação da minorante da delação premiada em patamar mínimo sem a devida fundamentação, ainda que reconhecida pelo juízo monocrático a relevante colaboração do paciente na instrução probatória e na determinação dos autores do fato delituoso”.

No HC 120.454-RJ (2007) a Relatora, Ministra Laurita Vaz, estava diante de

um caso de um delator que tinha se arrependido das delações que havia realizado e

decidiu pela retratação em juízo, retirando todas as acusações. No caso, a Quinta

Turma, acompanhando o voto da Relatora decidiu que: “as informações prestadas

pelo paciente perdem relevância, na medida em que não contribuíram, de fato, para

46 a responsabilização dos agentes criminosos”. Ou seja, o delator arrependido perde o

direito dos benefícios da delação, visto que, conforme palavras da Ministra Laurita

Vaz (2008), o juiz perde o poder de utilizar as informações anteriormente prestadas

para fundamentar sua decisão.

47 7 OPERAÇÃO LAVA-JATO

A Operação Lava-Jato é a maior operação contra os crimes de corrupção e

lavagem de dinheiro já realizada na história da justiça brasileira. Os números obtidos

até o momento são surpreendentes. O rombo nos cofres da Petrobrás pode chegar

a bilhões de reais segundo o site do Ministério Público Federal (2016).

É uma operação conjunta entre a Polícia Federal, Ministério Público Federal

e Justiça Federal. Á frente da operação encontra-se o Juiz Federal Sérgio Fernando

Moro, que atua nos julgamentos de 1ª instância na 13ª Vara Federal de Curitiba.

A operação deu início no ano de 2009 com a investigação sobre doleiros e

lavagem de dinheiro no interior do Paraná. Tal lavagem era realizada em um posto

de combustíveis e lava-jato de automóveis, daí sobreveio o nome “LAVA-JATO”.

Nesta operação um dos investigados era Alberto Youssef, doleiro que já havia sido

investigado pelo MPF e PF na operação que tratou de crimes de corrupção no então

Banco Banestado.

Outro doleiro investigado era Carlos Habib Chater, cujas interceptações

telefônicas levaram a identificação da existência de quatro organizações criminosas

que atuavam em conjunto. As interceptações telefônicas revelaram, além da

existência de tal organização comandada por doleiros, uma curiosa doação de um

utilitário esportivo importado modelo Land Rover Evoque feita pelo doleiro Youssef

ao então Diretor de Abastecimento da Petrobrás, Paulo Roberto Costa. Apesar de o

veículo estar registrado no nome do Diretor, o endereço que constava em

documento era de propriedade do doleiro Youssef.

Exatamente nesse ponto inicia-se a investigação do que seria descoberto

como o maior rombo aos cofres da maior empresa estatal do Brasil, a Petrobrás.

Em março de 2014 oficialmente iniciou-se a Operação Lava Jato sobre os

crimes de corrupção e lavagem de dinheiro envolvendo a Petrobrás, doleiros e o Ex-

Diretor Paulo Roberto Costa, com a implantação da primeira fase.

Com o advento da Lei de Crime Organizado, sancionado pela então

Presidente Dilma Rousseff, adentra ao processo investigatório a figura da

colaboração premiada.

Atualmente a operação se encontra na 35º fase (2016) sem perspectiva de

quando se encerrará. Dentre essas trinta e cinco fases, as mais importantes foram a

7ª fase, denominada “Juízo Final”, onde foram presos o ex-diretor de serviços da

48 Petrobrás, Renato Duque e executivos das empreiteiras envolvidas no esquema de

pagamento de propina envolvendo licitações e contratos. Foram cumpridos

mandados de busca e apreensão nas principais empreiteiras investigadas, Camargo

e Corrêa, OAS, Odebrechet, UTC, Queiroz Galvão, Engevix, Mendes Júnior, Galvão

Engenharia e Lesa.

Na 8ª fase a Polícia Federal cumpriu mandado de prisão contra o ex-diretor

da área internacional da Petrobrás, Nestor Cerveró.

Na 9ª fase, denominada “My Way”, João Vaccari Neto, tesoureiro do Partido

dos Trabalhadores (PT) foi conduzido para depor sobre doações que o PT recebia

de empresas envolvidas com o escândalo da Petrobrás. O tesoureiro seria preso em

seguida na 12ª fase.

Na 14ª fase, denominada “Erga omnes”, são expedidos mandados de prisão

para os presidentes das empreiteiras Odebrecht, Marcelo Odebrecht, e Andrade

Gutierrez, Otávio Marques de Azevedo.

A 17ª fase, denominada “Pixuleco”, aconteceu a prisão do ex-ministro José

Dirceu e de seu irmão Luiz Eduardo de Oliveira e Silva.

A “Operação Catilinárias”, que faz parte da operação lava-jato, cumpriu

mandados de busca e apreensão em residências de políticos com foro privilegiado,

dentre eles o então presidente da Câmara, Eduardo Cunha, dos Ministros Henrique

Eduardo Alves, Turismo, e Celso Pansera, Ciência e Tecnologia.

A 22ª fase recebeu o nome de “Trilo X” em alusão ao tríplex em situado na

cidade de Guarujá, cuja relação envolve o nome do ex-presidente Luiz Inácio Lula

da Silva. Essa mesma fase investigou a existência de empresas Offshore (empresas

abertas em paraísos fiscais cujas leis nacionais impedem que se identifiquem os

verdadeiros donos dessas empresas) e abertura de contas nesses mesmos paraísos

fiscais.

A 25ª fase foi marcada por ser a primeira fase da Lava Jato a agir em

território internacional. Nessa fase foi preso o Raul Schmidt Felippe Junior em seu

apartamento em Lisboa, Portugal, acusado por pagar propina a Renato de Souza

Duque, Nestor Cerveró e Jorge Luiz Zelada, todos ex-diretores da Petrobrás.

A 27ª fase teve a condução coercitiva (quando a PF leva o interrogado para

prestar esclarecimentos e logo em seguida o libera) do ex-tesoureiro do PT Delúbio

Soares para prestar esclarecimentos.

49

Operação Sepsis foi desencadeada logo após a delação do ex-presidente da

Caixa Econômica Federal, Fábio Cleto, que afirmou que Eduardo Cunha recebia

propina de grupos empresariais envolvendo o fundo de investimento do FGTS. A

mesma operação cumpriu mandado de prisão contra o doleiro Lúcio Bolonha

Funaro, supostamente ligado á Eduardo Cunha.

A 34ª fase foi marcada pela decretação da prisão preventiva do ex-ministro

Guido Mantega pelo Juiz Sergio Moro, que horas depois expediu mandado de

soltura alegando que Guido Mantega não ofereceria riscos em relação as provas.

A 35ª fase, batizada de Omertà, teve como marco a prisão do ex-ministro da

Fazenda e da casa Civil Antonio Palocci acusado de facilitação para a atuação da

construtora Odebrecht mediante recebimento de propina.

Segundo a página da Lava Jato (2016), disponível no site do Ministério

Público Federal, a Operação Lava Jato já teve, com dados atualizados até dia 19 de

Setembro de 2016, os seguintes números: 1.397 procedimentos instaurados; 654

buscas e apreensões; 174 conduções coercitivas; 76 prisões preventivas; 92 prisões

temporárias; 6 prisões em flagrante; 112 pedidos de cooperação internacional sendo

94 pedidos ativos para 30 países e 14 pedidos passivos com 12 países; 70 acordos

de colaboração premiada firmados com pessoas físicas; 6 acordos de leniência e 1

termo de ajustamento de conduta; 49 acusações criminais contra 239 pessoas,

sendo que em 22 já houve sentença; 7 acusações de improbidade administrativa

contra 38 pessoas físicas e 16 empresas; R$ 3,6 bilhões de reais recuperados por

acordos de colaboração premiada. Até o momento as 106 condenações

contabilizam 1148 anos, 11 meses e 11 dias de pena.

7.1 A POSSIBILIDADE DE PRISÃO DE CONDENADOS EM 2ª INSTÂNCIA

Foram analisadas no dia 05/10/2016 as Ações Declaratórias de

Constitucionalidade (ADC) interpostas pelo Conselho Federal da OAB e PEN

(Partido Nacional Ecológico) sobre a constitucionalidade de prisão oriunda de

condenação em segunda instancia, alegando que o princípio constitucional da

Presunção de Inocência afastaria a prisão enquanto houvessem recursos

disponíveis.

50

No caso, o STF admitiu a possibilidade de decretação de prisão por

condenação em segunda instancia, o que ocorreria antes do trânsito em julgado,

previsto no artigo 283, caput do CPP, que assim prescreve:

Art. 283. Ninguém poderá ser preso senão em flagrante delito ou por

ordem escrita e fundamentada da autoridade judiciária competente, em decorrência de sentença condenatória transitada em julgado ou, no curso da investigação ou do processo, em virtude de prisão temporária ou prisão preventiva.

Por seis votos a cinco o STF forneceu mais uma importante ferramenta para

a operação lava-jato, já que longos e intermináveis recursos postergavam a prisão

dos acusados, aumentando a sensação de impunidade.

Votaram contra a prisão os ministros Marco Aurélio, relator do caso, Dias

Toffoli, Rosa Weber, Celso de Mello e Ricardo Lewandowski. Por outro lado, os

votos vencedores favoráveis à prisão partiram dos ministros Gilmar Mendes, Teori

Zavascki, Roberto Barroso, Edson Fachin, Cármen Lúcia e Luiz Fux.

Segundo o site de notícias do Supremo Tribunal Federal (2016):

“O caso começou a ser analisado pelo Plenário em 1º de setembro, quando o relator das duas ações, ministro Marco Aurélio, votou no sentido da constitucionalidade do artigo 283, concedendo a cautelar pleiteada. Contudo, com a retomada do julgamento na sessão desta quarta-feira (5), prevaleceu o entendimento de que a norma não veda o início do cumprimento da pena após esgotadas as instâncias ordinárias”

7.2 DELAÇÕES NA OPERAÇÃO

Segundo o site do Ministério Público Federal destinado à publicidade da

Operação Lava Jato (2016), foram realizados até o presente momento “70 acordos

de colaboração premiada firmados com pessoas físicas”.

Algumas das principais colaborações premiadas, segundo o site UOL

Notícias Políticas (2016) e site da Operação Lava Jato disponível no Globo.com

(2016), o primeiro acordo de delação premiada na Operação Lava Jato foi realizado

pelo ex-diretor da Petrobrás, Paulo Roberto Costa, homologado pelo STF em 2014.

O doleiro Alberto Youssef também negociou acordo de delação premiada

reduzindo sua pena de 82 anos para 3 anos.

51

Figurando como primeiro político a negociar a sua delação, o Senador

Delcídio do Amaral recebeu o prêmio de poder continuar exercendo seu mandato,

além de ter seu máximo de pena previsto definido em 15 anos.

Otávio Mesquita de Azevedo, ex-presidente da Construtora Andrade

Gutierrez, relatando que ocorreram obras superfaturadas na Petrobrás, afirmando

ainda existir doações para campanhas políticas, incluindo a campanha política de

eleição e reeleição da então presidente Dilma Roussef.

Maria Lúcia Guimarães Tavares, ex-funcionária da Construtora Odebrecht

afirmou que a construtora tinha um departamento que tratava especificamente de

propinas, o que abriu muito espaço para a investigação da Lava Jato sobre a

referida construtora.

Eduardo Hermelino Leite afirmou que a Petrobrás aceitava variação de 20%

ou mais no valor das obras. Nessa variação, era fácil incluir o valor da propina.

Um dos acordos de colaboração mais esperados são as delações dos

executivos da Construtora Odebrecht, segundo o Jornal Extra (2016) “...as delações

vão atingir a reputação de mais de 130 deputados, senadores e ministros, e de

cerca de 20 governadores e ex-governadores”. Aproximadamente 50 funcionários

pretendem firmar acordos de Colaboração Premiada.

Muitas delações ainda correm com sigilo, visando preservar a integridade

dos delatores e sigilo das informações prestadas.

Conforme prevê o §3º do art. 7º da Lei de Crime Organizado (Lei nº

12.850/163) “o acordo de colaboração premiada deixa de ser sigiloso assim que

recebida a denúncia, observado o disposto no art. 5o”. Ou seja, somente após

recebida a denúncia.

52 8 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Resta necessário realizar algumas considerações sobre este trabalho de

pesquisa, onde o objetivo foi demonstrar a historiologia, avanços, modernizações e

diversas utilizações do instituto da delação premiada.

Passando pelo lado histórico, pretendi trazer algumas fontes de direito e a

utilização em outros países, visando o entendimento da origem da delação e seu

encaixe no ordenamento jurídico nacional. Sua importância para a busca de novas

provas e celeridade processual, além de modernizar o Código Penal e Código

Processual Penal.

Desde sua inicial aplicação na lei dos Crimes Hediondos, foi clara a

evolução da delação em seus quesitos técnicos, aplicação e nos prêmios

concedidos em cada legislação que passou a prever sua utilização.

Diante do desenvolvimento e crescimento nas atividades do crime

organizado no Brasil foi necessário que a legislação nacional sofresse uma alteração

e modernização à altura, com ferramentas que possibilitassem o embate direto a

esses crimes, satisfazendo o dever estatal de garantir a ordem pública e fazer com

que a justiça prevaleça, justiça essa tão contestada no Brasil.

A Lei de Crime Organizado só confirma a importância da utilização desse

instituto na elucidação de crimes envolvendo organizações criminosas e pratica da

corrupção, trazendo uma importantíssima inovação jurídica, além de ter um capítulo

destinado somente à sua aplicação e previsão, fazendo com que o paradigma de

que o Brasil é um País corrupto e impune venha ais poucos caindo.

Fica claro também a sua importância para o sucesso da operação lava-jato,

maior operação deflagrada contra a corrupção na história do Brasil. Servindo de

base para o fornecimento de novas informações e o encaixe no “quebra-cabeças” de

informações já obtidas para formar uma trajetória criminal.

Essa importância somente confirma que o instituto, mesmo sendo tão

criticado enquanto sua constitucionalidade, é uma arma fundamental e que a

probabilidade é que venham novas legislações também prevendo sua utilização, que

sendo bem proveitosa pode sim mudar o rumo das investigações e acelerar a

persecução criminal.

Definitivamente não é a solução para todos os problemas nacionais, mas

deu um importantíssimo passo no processo penal, servindo até mesmo para a

53 condenação de políticos pelo crime de corrupção, os crimes de colarinho branco,

mostrando que a justiça pode sim servir para todos, igualando os desiguais.

54

REFERÊNCIAS

AMORIM, Carlos. CV_PCC: A irmandade do crime. 6. Ed. Rio de Janeiro: Record,

2005.

ARRUDA, Rejane Alves de. Org. Ricardo Souza Pereira. Organização Criminosa –

comentário à lei 12.850/13. Rio de Janeiro: Editora Lumen Juris. 2013.

AZEVEDO, David Teixeira de. A colaboração premiada num direito ético. São Paulo:

Boletim IBCCrim., n. 83. 1999.

BITENCOURT, Cezar Roberto. Delação premiada na “lava jato” está eivada de

inconstitucionalidades. Consultor Jurídico, 04 dez. 2014 Disponível em:

<http://www.conjur.com.br/2014-dez-04/cezar-bitencourt-nulidades-delacao-

premiada-lava-jato>. Acesso em: 25 set. 2016.

BITTAR, Walter Barbosa. Delação Premiada: direito estrangeiro, doutrina e

jurisprudência. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2011.

BRASIL. Lei n.º 7.492, de 16 de junho de 1986. Dispõe sobre crimes contra o

sistema financeiro nacional, e dá outras providências. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L7492.htm>. Acesso em: 24 ago. 2016.

BRASIL. Lei n.º 8.072, de 25 de julho de 1990. Dispõe sobre os crimes hediondos,

nos termos do art. 5º, inciso XLIII, da Constituição Federal, e determina outras

providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/CCivil_03/Leis/L8072.htm>.

Acesso em: 24 ago. 2016.

BRASIL. Lei nº 8.137, de 27 de dezembro de 1990. Define crimes contra a ordem

tributária, econômica e contra as relações de consumo e dá outras providências.

Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8137.htm>. Acesso em: 19

set. 2016.

55 BRASIL. Lei n.º 9.080, de 19 de julho de 1995. Acrescenta dispositivos às leis nºs

7.492, de 16 de junho de 1986, e 8.137, de 27 de dezembro de 1990. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9080.htm>. Acesso em: 24 ago. 2016.

BRASIL. Lei n.º 9.269, de 2 de abril de 1996. Dá nova redação ao §4º do art. 159 do

Código Penal. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9269.htm>.

Acesso em: 24 ago. 2016.

BRASIL. Lei n.º 9.613, de 3 de março de 1998. Dispõe sobre os crimes de "lavagem"

ou ocultação de bens, direitos e valores; a prevenção da utilização do sistema

financeiro para os ilícitos previstos nesta Lei; cria o Conselho de Controle de

Atividades Financeiras - COAF, e dá outras providências. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9613.htm>. Acesso em: 24 ago. 2016.

BRASIL. Lei n.º 9.807, de 13 de julho de 1999. Estabelece normas para a

organização e a manutenção de programas especiais de proteção a vítimas e a

testemunhas ameaçadas, institui o Programa Federal de Assistência a Vítimas e a

Testemunhas Ameaçadas e dispõe sobre a proteção de acusados ou condenados

que tenham voluntariamente prestado efetiva colaboração à investigação policial e

ao processo criminal. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9807.htm>. Acesso em: 24 ago. 2016.

BRASIL. Lei n.º 11.343, de 23 de agosto de 2006. Institui o Sistema Nacional de

Políticas Públicas sobre Drogas - Sisnad; prescreve medidas para prevenção do uso

indevido, atenção e reinserção social de usuários e dependentes de drogas;

estabelece normas para repressão à produção não autorizada e ao tráfico ilícito de

drogas; define crimes e dá outras providências. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/lei/l11343.htm>. Acesso

em: 24 ago. 2016.

BRASIL: Lei n.º 12.683, de 9 de julho de 2012. Altera a Lei no 9.613, de 3 de março

de 1998, para tornar mais eficiente a persecução penal dos crimes de lavagem de

dinheiro. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-

2014/2012/lei/l12683.htm>. Acesso em: 24 ago. 2016.

56

BRASIL. Lei n.º 12.850, de 2 de agosto de 2013. Define organização criminosa e

dispõe sobre a investigação criminal, os meios de obtenção da prova, infrações

penais correlatas e o procedimento criminal; altera o Decreto-Lei no 2.848, de 7 de

dezembro de 1940 (Código Penal); revoga a Lei no9.034, de 3 de maio de 1995; e dá

outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-

2014/2013/lei/l12850.htm>. Acesso em: 24 ago. 2016.

BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. STJ. Habeas-Corpus nº 84.609-SP. Relator:

Ministra Laurita Vaz, Data de Julgamento: 04 fev. 2010. Disponível em:

<https://ww2.stj.jus.br/websecstj/cgi/revista/REJ.cgi/ATC?seq=8136121&tipo=91&nre

g=200701324100&SeqCgrmaSessao=&CodOrgaoJgdr=&dt=20100301&formato=PD

F&salvar=false>. Acesso em: 07 out. 2016.

BRASIL, Superior Tribunal de Justiça. STJ. Habeas-Corpus nº 97.509-MG. Relator

Ministro Arnaldo Esteves Lima, Data de Julgamento: 15 jun. 2010, 5ª TURMA.

Disponível em:

<https://ww2.stj.jus.br/websecstj/cgi/revista/REJ.cgi/ATC?seq=10276061&tipo=91&nr

eg=200703072656&SeqCgrmaSessao=&CodOrgaoJgdr=&dt=20100802&formato=P

DF&salvar=false>. Acesso em: 07 out. 2016.

BRASIL, Superior Tribunal de Justiça. STJ. Habeas-Corpus nº 120.454-RJ. Relator

Ministra Laurita Vaz. Data de Julgamento: 23 fev. 2010, 5ª TURMA. Disponível em:

<https://ww2.stj.jus.br/websecstj/cgi/revista/REJ.cgi/ATC?seq=8327527&tipo=91&nre

g=200802499170&SeqCgrmaSessao=&CodOrgaoJgdr=&dt=20100322&formato=PD

F&salvar=false>. Acesso em: 07 de out. 2016.

BREDA, Juliano. Gestão fraudulenta de instituição financeira e dispositivos

processuais da lei 7.492/86. Rio de Janeiro: Renovar, 2002.

BRINDEIRO, Geraldo. Delação premiada e ‘plea bargain agreement’. Estadão, 09

fev. 2016. Disponível em: <http://opiniao.estadao.com.br/noticias/geral,delacao-

premiada-e-plea-bargain-agreement,10000015508>. Acesso em: 05 set. 2016.

57 BUCCI, Eugênio. A ética do crime e a delação premiada. Época, 20 abr. 2015.

Disponível em: <http://epoca.globo.com/colunas-e-blogs/eugenio-

bucci/noticia/2015/04/etica-do-crime-e-delacao-premiada.html>. Acesso em: 02 set.

2016

CAMPOS, Gabriel Silva de Queirós. Plea Bargaining e justiça criminal consensual:

entre os ideiais de funcionalidade e garantismo. Custos Legis. Revista Eletrônica do

Ministério Público Federal, 2012. Disponível em:

<http://www.prrj.mpf.mp.br/custoslegis/revista/2012_Penal_Processo_Penal_Campo

s_Plea_Bargaining.pdf>. Acesso em: 12 set. 2016.

CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal – legislação penal especial. 5ª Ed., São

Paulo: Saraiva, 2010.

CASO Lava Jato. A Lava Jato em números. Disponível em:

<http://lavajato.mpf.mp.br/atuacao-na-1a-instancia/resultados>. Acesso em 07 de

out. 2016.

CASTELLAR, João Carlos. Lavagem de dinheiro: A questão do bem jurídico. Rio de

Janeiro: Revan, 2004.

DICIONÁRIO online de Português. Disponível em:

<http://www.dicio.com.br/delacao/>. Acesso em: 02 set. 2016.

DICIONÁRIO online de Português: Disponível em:

<https://www.dicio.com.br/corrupcao/>. Acesso em: 02 out. 2016.

DINIZ, Maria Helena. Direito Civil Brasileiro: Teoria Geral do Direito Civil. São Paulo:

Saraiva, 2005.

EXTRA, Globo. Executivos da Odebrecht começam a fechar acordos de delação.

Disponível em: <http://extra.globo.com/noticias/brasil/executivos-da-odebrecht-

comecam-fechar-acordos-de-delacao-20254470.html>. Acesso em: 09 de out. 2016.

FRANCO, Alberto Silva. Crimes hediondos. 5ª ed. São Paulo: RT, 2005.

58

GOMES, Luiz Flávio; CERVINI, Raul. Crime Organizado: enfoques criminológico,

jurídico (Lei 9.034/95) e político-criminal. 2. ed. São Paulo: RT, 1997.

GRINOVER, Ada Pellegrini. O crime organizado no sistema italiano. Volume 3:

críticas e sugestões, o crime organizado (Itália e Brasil): a modernização da lei

penal. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1995.

GUIDI, José Alexandre Marson. Delação Premiada no Combate ao Crime

Organizado. Franca: Lemos & Cruz, 2006.

JESUS, Damásio E. de. Estágio atual da "delação premiada" no Direito Penal

brasileiro. Jus Navigandi, 04 nov. 2005. Disponível em:

<https://jus.com.br/artigos/7551/estagio-atual-da-delacao-premiada-no-direito-penal-

brasileiro> . Acesso em: 11 set. 2016.

KOBREN, Juliana Conter Pereira. Apontamentos e críticas à delação premiada no

direito brasileiro. Revista Jus Navigandi, 15 mar. 2006. Disponível em:

<https://jus.com.br/artigos/8105>. Acesso em: 14 set. 2016.

LESCANO, Mariana Doernte. A Delação Premiada e sua (in) validade á luz dos

princípios constitucionais. PUC/RS. Disponível em:

<http://www3.pucrs.br/pucrs/files/uni/poa/direito/graduacao/tcc/tcc2/trabalhos2010_1/

mariana_lescano.pdf>. Acesso em: 16 set. 2016.

LIMA, Renato Brasileiro de. Legislação Criminal Especial Comentada. 3ª Ed.,

Salvador: Editora JusPodivm, 2015.

LIVIANU, Roberto. Corrupção e Direito Penal: um diagnóstico da corrupção no

Brasil. Coimbra: Editora Coimbra, 2007.

MENDONÇA, Stephan Gomes. A Lei 12.850/2013 e a nova delação premiada.

Justificando. Disponível em: <http://justificando.com/2014/09/15/lei-12-8502013-e-

nova-delacao-premiada/>. Acesso em: 25 set. 2016.

59

MENDRONI, Marcelo Batlouni. Crime Organizado: aspectos gerais e mecanismos

legais. São Paulo: Juarez de Oliveira, 2002.

MOREIRA, José Carlos Barbosa. O processo penal norte-americano e sua

influência. Revista de Processo. São Paulo: RT, 2001.

NOTÍCIAS, Supremo Tribunal Federal. STF admite execução da pena após

condenação em segunda instância. Disponível em:

<http://www.stf.jus.br/portal/cms/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=326754>.

Acesso em: 09 out. 2016.

NUCCI, Guilherme de Souza. Código Penal Comentado. 7ª Ed. Rev. Atual. e Ampl.

São Paulo: RT, 2007.

NUCCI, Guilherme de Souza. Leis penais e processuais penais comentadas. 2. ed.

rev., atual. e ampl. São Paulo: RT, 2007.

NUCCI, Guilherme de Souza. Manual de Direito Penal: parte geral: parte especial. 3ª

Ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2007.

NUCCI, Guilherme de Souza. Leis penais e processuais penais comentadas. 6ª Ed.

São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2012.

OPERAÇÃO Lava Jato. Relembre as fases e desdobramentos da Operação Lava

Jato. Disponível em: <http://noticias.uol.com.br/politica/listas/relembre-as-fases-da-

operacao-lava-jato.htm>. Acesso em: 07 out. 2016

PACELLI, Eugênio. Curso de processo penal –17a. edição –Comentários ao CPP –

5a. edição –Lei 12.850/13. Ministério Público do Estado do Paraná, 16 ago. 13.

Disponível em:

<http://www.criminal.mppr.mp.br/arquivos/File/ANEXOS/INF_264_Organizacoes_cri

minosas_pacelli.pdf >. Acesso em: 25 set. 2016.

60 SILVA, Eduardo Araújo da. Delação premiada é arma poderosa contra o crime

organizado. Revista Consultor Jurídico, 15 set. 2015. Disponível em:

<www.conjur.com.br/2005-set-15/delacao_premiada_arma_poderosa_crime_organiz

ado>. Acesso em: 24 set. 2016.

SILVA, Marcio Alberto Gomes. Breve ensaio sobre a lei 12.850/13. Associação dos

Delegados de Polícia Federal. Disponível em: <http://www.marcioalberto.com.br/wp-

content/uploads/2013/10/Breve-ensaio-sobre-a-Lei-12.850-13-ADPF.pdf>. Acesso

em: 25 set. 16.

TROMBETA, Mayara Maria Colaço. O crime organizado e o instituto da delação

premiada. Presidente Prudente: Revista Intertemas, 2010.