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VIII Colóquio Internacional de Filosofia e Educação Rio de Janeiro, 03 a 07 de outubro de 2016 DELEU-GUATTA-ARTISTAR A EDUCAÇÃO Ivânia Marques Secretaria Municipal de Educação – Americana/SP [email protected] Davina Marques Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo [email protected] Resumo Entre arte e filosofia, entendemos a educação como imanência, como promotora de agenciamentos, como experimentação, como promotora de movimentos que desterritorializam, reterritorializam, rizomáticos e que afetam nossas rostidades (MARQUES, 2007). Nesta escrita experimentação, ensaística, seguindo caminhos tresloucados, a la Guimarães Rosa, trazemos uma experiência realizada com crianças da Secretaria de Cultura no Museu de Arte Contemporânea de Americana (MAC). Neste trabalho descrevemos uma intervenção com um grupo de alunos de 9 anos da Rede Municipal. Iniciamos descrevendo o museu e conversando sobre arte e arte contemporânea. Falamos sobre alguns artistas que se destacaram nos momentos de renovação da arte. Visitamos a exposição de nosso acervo e em seguida convidamos o grupo de alunos para intervirem no espaço físico do museu. Uma ação política. Depois do estranhamento inicial, as crianças resolveram a sua maneira o impasse: uns pintaram como queriam; outros misturaram os seus desenhos com o do outro; outros se surpreendiam a cada pincelada brincando de desconstruir; alguns apenas procuravam espaços vazios e únicos para sua obra. O museu, espaço de com-viver, permite múltiplas entradas a múltiplas linguagens. Pode servir de inspiração para experiências na educação. Se a arte tem potência de deslocamento, também assim é a educação. Nos movimentos do des-igual, algo acontece e, depois, fica. Fica um rastro, um fio, um anel aberto em rizoma a se conectar e conectar e conectar. Transparências, nebulosidades, fluxos. Nada se fez rígido aqui. Ao contrário: no liso do plástico, algo aconteceu. Trazemos algumas imagens do momento da descoberta e da captura. Palavras-chave: educação-experimentação; imanência; agenciamento. Abstract Between art and philosophy, we propose we understand education as immanence, as a promoter of assemblages, as experimentation, as a starter of movements of deterritorialization, reterritorialization, rhizomatic and affecting our facialities (MARQUES, 2007). This is the presentation of an experimentation, following derangement ways, as Guimarães Rosa would put it. We tell about the experiments with children at Secretaria de Cultura no Museu de Arte Contemporânea de Americana (MAC). Here we describe an intervention with a group of 9-year-old students of the City. We begin by describing the museum and talking about art and contemporary art. We talk about artists that stood out in art movements. We guide the visitof our collection and then invite the group of students to intervene in the physical space of the museum. A political action. After the initial awkwardness, the children decidehow to deal with the impasse: some painted just like they wanted; others mixed their drawings with the others’; some were surprised at every brushstroke they were trying to deconstruct; some just explored the void and the unique spaces in their own work. The museum, as a space to be lived in, allows multiple inputs to multiple languages. It can serve as inspiration for experimentation in education. If art entails the possibility of

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VIII Colóquio Internacional de Filosofia e Educação Rio de Janeiro, 03 a 07 de outubro de 2016

DELEU-GUATTA-ARTISTAR A EDUCAÇÃO

Ivânia Marques

Secretaria Municipal de Educação – Americana/SP [email protected]

Davina Marques Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo

[email protected] Resumo Entre arte e filosofia, entendemos a educação como imanência, como promotora de agenciamentos, como experimentação, como promotora de movimentos que desterritorializam, reterritorializam, rizomáticos e que afetam nossas rostidades (MARQUES, 2007). Nesta escrita experimentação, ensaística, seguindo caminhos tresloucados, a la Guimarães Rosa, trazemos uma experiência realizada com crianças da Secretaria de Cultura no Museu de Arte Contemporânea de Americana (MAC). Neste trabalho descrevemos uma intervenção com um grupo de alunos de 9 anos da Rede Municipal. Iniciamos descrevendo o museu e conversando sobre arte e arte contemporânea. Falamos sobre alguns artistas que se destacaram nos momentos de renovação da arte. Visitamos a exposição de nosso acervo e em seguida convidamos o grupo de alunos para intervirem no espaço físico do museu. Uma ação política. Depois do estranhamento inicial, as crianças resolveram a sua maneira o impasse: uns pintaram como queriam; outros misturaram os seus desenhos com o do outro; outros se surpreendiam a cada pincelada brincando de desconstruir; alguns apenas procuravam espaços vazios e únicos para sua obra. O museu, espaço de com-viver, permite múltiplas entradas a múltiplas linguagens. Pode servir de inspiração para experiências na educação. Se a arte tem potência de deslocamento, também assim é a educação. Nos movimentos do des-igual, algo acontece e, depois, fica. Fica um rastro, um fio, um anel aberto em rizoma a se conectar e conectar e conectar. Transparências, nebulosidades, fluxos. Nada se fez rígido aqui. Ao contrário: no liso do plástico, algo aconteceu. Trazemos algumas imagens do momento da descoberta e da captura. Palavras-chave: educação-experimentação; imanência; agenciamento. Abstract Between art and philosophy, we propose we understand education as immanence, as a promoter of assemblages, as experimentation, as a starter of movements of deterritorialization, reterritorialization, rhizomatic and affecting our facialities (MARQUES, 2007). This is the presentation of an experimentation, following derangement ways, as Guimarães Rosa would put it. We tell about the experiments with children at Secretaria de Cultura no Museu de Arte Contemporânea de Americana (MAC). Here we describe an intervention with a group of 9-year-old students of the City. We begin by describing the museum and talking about art and contemporary art. We talk about artists that stood out in art movements. We guide the visitof our collection and then invite the group of students to intervene in the physical space of the museum. A political action. After the initial awkwardness, the children decidehow to deal with the impasse: some painted just like they wanted; others mixed their drawings with the others’; some were surprised at every brushstroke they were trying to deconstruct; some just explored the void and the unique spaces in their own work. The museum, as a space to be lived in, allows multiple inputs to multiple languages. It can serve as inspiration for experimentation in education. If art entails the possibility of

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displacement, so does education. In the movements of the un-equal, something happens and then it stays. It is a trail, a line of flight, an open ring of a rhizome to connect and to be connected and connect. Transparencies, cloudiness, flows. Nothing became hard here. On the contrary, in the smooth of the plastict, something happened. We bring some images of the moment of discovery and capture. Keywords: experimentation-education; immanence; assemblage.

Espaço-museu, lugar de conviver com arte em diferentes linguagens e visitantes

de idades variadas. O museu é uma máquina de possibilidades. Em encontros com arte,

linhas se se esticam e se conectam a procurar algo. As experimentações e intervenções

aconteceram nas áreas internas e externas do MAC. Seria possível construir um

ambiente de questionamentos acerca da arte, um disparador de experiências?

E de que maneira isso se conectaria a uma ideia de educação?

Entendemos a arte como potência de deslocamento para outros territórios, viva,

capaz de proporcionar distintos modos de ver. Em instalações, sem barreiras de idades,

apostamos nas singularidades dos gestos de cada um que se aproxima e faz. Exploramos

uma sensação de liberdade, buscamos o des-igual.

O MAC é um museu de uma cidade do interior do estado de São Paulo que

resiste com arte contemporânea há trinta anos.

As perguntas que moveram muitos dos projetos foram de várias ordens. Como

levar a arte para todos? O que é arte? O que e quem nos in-forma sobre arte? O que os

visitantes experimentam/vivenciam no museu? Nos educativos, buscamos divulgar o

museu, a arte e o mundo em imagens. (cf. MARTINELLI, 2015).

As imagens estimulam o olhar e a percepção do espectador e as experimentações

provocam desconfiança e fascínio diante do desconhecido. Nas experimentações

entramos em sintonia com espaço, em uma viagem inspiradora para novas descobertas

autorais – outras maneiras de ver.

Neste trabalho descrevemos uma intervenção com um grupo de alunos de 9 anos

da Rede Municipal. Iniciamos descrevendo o museu e conversando sobre arte e arte

contemporânea. Falamos sobre alguns artistas que se destacaram nos momentos de

renovação da arte. Visitamos a exposição de nosso acervo e em seguida convidamos o

grupo de alunos para intervirem no espaço físico do museu. Uma ação politica.

Com um enorme plástico limitamos a passagem das pessoas provocando a

entrada no museu. Todos os que passassem pelos espaços do museu seriam conduzidos,

pela demarcação do plástico, a entrar. A ideia era essa mesma.

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Você conhece o museu? Já visitou uma exposição?

Enquanto a intervenção conduzia os transeuntes, o grupo de alunos coloriam o

plástico.

O plastico transparente fez surgir a brincadeira do espelho. Um a um

estranhavam-se ver o outro do outro lado.

O mesmo se deu ao colorirem: o desenho de um se misturava com o do outro.

Depois do estranhamento inicial, as crianças resolveram a sua maneira o

impasse: uns pintaram como queriam; outros misturaram os seus desenhos com o do

outro; outros se surpreendiam a cada pincelada brincando de desconstruir; alguns

apenas procuravam espaços vazios e únicos para sua obra.

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Com essa coleção de imagens, nossa intenção é provocar um pensamento sobre

educação (cf. MARQUES, 2008): educação na imanência das experimentações, nos

agenciamentos de forças que desterritorializam e reterritorializam, em caminhos que

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nunca sabemos onde vai dar. Se a arte tem potência de deslocamento, também assim é a

educação. Nos movimentos do des-igual, algo acontece e, depois, fica. Fica um rastro,

um fio, um anel aberto em rizoma a se conectar e conectar e conectar. Transparências,

nebulosidades, fluxos. Nada se fez rígido aqui. Ao contrário: no liso do plástico, algo

aconteceu.

No educativo de um museu, falamos de arte instigando a falar, sem o estigma do

que é certo ou errado, do belo e do feio, do gostei e do não gostei. Quando as crianças

têm a idade de dois a quatro anos, ouvimos mais, especialmente com elas, ouvimos.

Elas têm mais a falar e perceber do que nós. No exercício de dar a ver, aprendemos a

ouvir, a ouvir e nos encantarmos com suas sensibilidades e sabedorias.

Entre as crianças as barreiras ainda não se solidificaram. Os limites, as bordas,

são flexíveis. Se há encantamento, participam plenamente. Se o contrário acontece, é

fácil percebermos.

A educação infantil nos inspira a explorar as brechas, a ousar, a dar espaço e

fugir das mesmices com práticas menores.“Conhecer as brechas dos nossos territórios

de atuação tem a ver com a constante busca por espaços em que algo possa ser feito,

realizado. Porque, todos já sabemos, o ser humano cria seus territórios, e untamente cria

amarras, regras, deixa tudo duro, difícil” (DELEUZE; GUATTARI, 1997). “Então

precisamos buscar o lugar da possível criação, para poder respirar e para que algo possa

acontecer, para além do mesmo [...]” (MARQUES; MARQUES, 2013, p.25).

Valorizamos uma educação que inventa maneiras de existir ou formas dere-

existir (cf. ASPIS, 2011) oude resistir em criações (OLIVEIRA JR., 2010).

Seria issocriancear o currículo?

Referências

ASPIS, Renata. Resistência e confabulações. In: AMORIM, Antonio Carlos; MARQUES, Davina; OLIVEIRA DIAS, Susana (org.). Conexões: Deleuze e Vida e Fabulação e…Petrópolis, RJ: De Petrus; Brasília, DF: CNPq; Campinas: ALB, 2011.

DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Félix. Kafka: por uma literatura menor. Tradução de Julio Castañon Guimarães. Rio de Janeiro: Imago, 1977.

______. Mil platôs: capitalismo e esquizofrenia. Tradução de Peter Pál Pelbart e Janice Caiafa. São Paulo: Ed. 34, 1997. 5 v.

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MARQUES, Davina. Experimentações: deleu-guata-roseando a educação. Dissertação (Mestrado em Educação) -Faculdade de Educação, Universidade Estadual de Campinas, Campinas. 2007.

MARQUES, Davina; MARQUES, Ivânia. Da imaginação ou uma borboleta saindo do bolso da paisagem. In: NOGUEIRA, A. L. H. (org.). Ler e escrever na infância: imaginação, linguagem e práticas culturais. Campinas/SP: Editora Crítica/ALB, 2013.

MARTINELLI, Ivânia Marques. Desnarrativas de um lugar: devires de fotografia na educação. 2015. Dissertação (Mestrado em Educação) - Faculdade de Educação, Universidade Estadual de Campinas, Campinas. 2015.

OLIVEIRA JUNIOR, Wenceslao M. Videos, resistências e geografias menores - linguagens e maneiras contemporâneas de resistir. Terra Livre, v. 1, 2010.p. 161-176