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DELIBERAÇÃO DO CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO DA
ENTIDADE REGULADORA DA SAÚDE
(VERSÃO NÃO CONFIDENCIAL)
Considerando que a Entidade Reguladora da Saúde, nos termos do n.º 1 do artigo 4.º
dos seus Estatutos, aprovados pelo Decreto-Lei n.º 126/2014, de 22 de agosto, exerce
funções de regulação, de supervisão e de promoção e defesa da concorrência
respeitantes às atividades económicas na área da saúde nos setores público, privado,
cooperativo e social;
Considerando as atribuições da Entidade Reguladora da Saúde conferidas pelo artigo
5.º dos seus Estatutos, aprovados pelo Decreto-Lei n.º 126/2014, de 22 de agosto;
Considerando os objetivos da atividade reguladora da Entidade Reguladora da Saúde
estabelecidos no artigo 10.º dos seus Estatutos, aprovados pelo Decreto-Lei n.º
126/2014, de 22 de agosto;
Considerando os poderes de supervisão da Entidade Reguladora da Saúde
estabelecidos no artigo 19.º dos seus Estatutos, aprovados pelo Decreto-Lei n.º
126/2014, de 22 de agosto;
Visto o processo registado sob o n.º ERS/035/2015;
I. DO PROCESSO
I.1. Origem do processo
1. Em 29 de setembro de 2014, o utente A. apresentou na Entidade Reguladora da
Saúde (doravante ERS) uma reclamação eletrónica, alegando dificuldades no
acesso à realização de exames gastroenterológicos – concretamente uma
endoscopia digestiva alta e uma colonoscopia com anestesia –, no Hospital de
Santo António dos Capuchos. – Cfr. fl. 10 dos autos;
2. A sobredita reclamação foi registada no Sistema de Gestão de Reclamações
(doravante SGREC) da ERS, tendo sido inicialmente tratada no âmbito do
processo de reclamação n.º REC/9918/2014.
2
3. Posteriormente, aquele processo foi arquivado, tendo sido aberto o processo de
avaliação n.º AV/027/2015, onde foi efetuada uma análise preliminar da situação
subjacente à reclamação.
4. Todavia, face à potencial gravidade da situação denunciada e à necessidade de
uma investigação mais pormenorizada do caso, ao abrigo das atribuições e
competências da ERS, o respetivo Conselho de Administração deliberou, por
despacho de 17 de junho de 2015, proceder à abertura do presente processo de
inquérito, registado sob o n.º ERS/035/2015 (cfr. fls. 1 a 9 dos autos).
5. O Hospital de Santo António dos Capuchos, visado na reclamação que está na
origem dos presentes autos, está registado no Sistema de Registo de
Estabelecimentos Regulados (SRER) da ERS sob o n.º 113564 e integra o Centro
Hospitalar de Lisboa Central, E.P.E. (doravante CHLC) – cfr. fl. 17 dos autos;
6. Já este Centro Hospitalar é titular do NIPC 508080142, tem sede na Rua José
António Serrano, 1150-199 Lisboa, e encontra-se inscrito no SRER da ERS sob o
n.º 19062, sendo responsável por mais 5 estabelecimentos prestadores de
cuidados de saúde registados na ERS, para além do Hospital de Santo António
dos Capuchos (cfr. fl. 16 dos autos).
I.2. Diligências
7. No âmbito da investigação desenvolvida pela ERS, realizaram-se, entre outras, as
diligências consubstanciadas em:
(i) Pesquisa no SRER da ERS sobre a entidade e o estabelecimento hospitalar
visados na reclamação do utente A. (cfr. fls. 16 e 17 dos autos);
(ii) Esclarecimentos prestados pelo CHLC ao reclamante, em sede do processo
de reclamação (cfr. fls. 13 a 15 dos autos);
(iii) Pedidos de elementos enviados ao CHLC, por ofícios datados de 16 de
março e de 25 de junho de 2015, e análise das respetivas respostas (cfr. fls.
18 a 21, 25 a 32, 35, 36, 45 a 55 dos autos);
(iv) Pedido de informações dirigido ao reclamante, por ofício datado de 25 de
junho de 2015, e análise da resposta concedida (cfr. fls. 33, 34, 40 e 41 dos
autos);
3
(v) Pedido de cooperação enviado à Administração Regional de Saúde de
Lisboa e Vale do Tejo, I.P., (doravante ARS LVT), por ofício datado de 25 de
junho de 2015, e apreciação das informações prestadas (cfr. fls. 37 a 39, 56
e 57 dos autos).
II. DOS FACTOS
II.1. Do teor da reclamação apresentada
8. Em 29 de setembro de 2014, o utente A. apresentou na ERS uma reclamação
eletrónica, cujo teor se passa a transcrever:
“Após uma tentativa de me fazerem uma endoscopia sem resultados a 20 de
Maio [de 2014], continuo à espera de marcação para a endoscopia e uma
colonoscopia que, derivado ao meu estado de nervos, terão de ser feitas com
anestesia geral. Será que 3 análises […] não são motivo suficiente para uma
marcação, apesar do meu médico ter considerado urgente? Que mais será
preciso para fazer o exame antes de estar morto? […].” – Cfr. fl. 10 dos autos;
II.2. Dos esclarecimentos concedidos pelo prestador ao reclamante
9. Em sede do processo de reclamação que correu termos na ERS sob n.º
REC/9918/2014, por carta datada de 13 de janeiro de 2015, o CHLC prestou ao
reclamante os esclarecimentos que se seguem:
“[…] Vº Exª teve os seus exames Endoscópicos (Endoscopia Digestiva Alta e
Colonoscopia) marcados para o dia 19/06/2014, o pedido destes exames tinha
sido feito em 08/05/2014.
Vº Exª não tolerou a punção venosa nem a realização dos exames pelo que
aguarda a respectiva marcação com apoio da equipa de Anestesiologia.
Devido aos múltiplos pedidos para a realização de Colonoscopia e Endoscopia
Digestiva Alta sob anestesia, foram estabelecidos critérios clínicos de prioridade
para a marcação destes exames.
Assim, tal como todos os outros doentes os exames Endoscópicos de Vº Exº
serão marcados de acordo com os critérios clínicos de prioridade
4
estabelecidos[1] e de acordo com os recursos disponíveis não só do Serviço de
Gastrenterologia mas também e principalmente neste caso do Serviço de
Anestesiologia.
A terminar gostaríamos ainda de referir que esta especialidade avalia e
acompanha todos os doentes provenientes dos diferentes pólos deste Centro
Hospitalar (Hospital Santo António Capuchos, São José, Santa Marta, Curry
Cabral, Santa Marta, Dona Estefânia e Maternidade Alfredo da Costa), o que
obriga a uma gestão rigorosa dos agendamentos dos exames dos doentes
internados e dos doentes em regime de ambulatório. […]”. – Cfr. fls. 13 a 15 dos
autos;
II.3. Dos pedidos de elementos enviados ao prestador e das respetivas respostas
10. Em sede do processo de avaliação n.º AV/027/2015, por ofício datado de 16 de
março de 2015, a ERS solicitou ao CHLC as seguintes informações:
“a) qual a classificação atribuída ao utente A., de acordo com os critérios clínicos
de prioridade fixados por V. Exas., com indicação, documentalmente suportada,
da data em que tal avaliação ocorreu, e do agendamento à data feito dos
MCDT[2] em causa;
b) indicação sobre se entretanto já foram realizados os exames pretendidos, em
tempo útil e adequado, atenta a situação clínica do utente;
c) em caso de resposta negativa ao ponto anterior, informação sobre se foi
assegurada a sua realização através da subcontratação de entidades externas;
d) descrição, apoiada nos suportes documentais respetivos, dos critérios clínicos
de prioridade [fixados] para a marcação destes exames, indicados na resposta
de V. Exas. ao utente;
e) os demais procedimentos definidos por esse estabelecimento hospitalar para
a realização de MCDT, aptos a assegurar, de modo permanente e efetivo, o
acesso aos cuidados de saúde, mediante a sua capacidade instalada, ou então
1 No entanto, o CHLC não presta informações ao reclamante sobre esses critérios, nem sequer
sobre a prioridade clínica concretamente atribuída ao caso deste. 2 A sigla MCDT, que será usada diversas vezes ao longo da deliberação, significa Meio(s)
Complementar(es) de Diagnóstico e Terapêutica.
5
com recurso a entidades externas, que se apresentem como necessários e
adequados à satisfação das necessidades dos utentes, em tempo útil;
f) considerando o relatado por V. Exas., sobre os “[…] múltiplos pedidos para a
realização de Colonoscopia e Endoscopia Digestiva Alta sob anestesia […]”,
informação sobre o número total de pedidos rececionados no serviço de
gastroenterologia e número total de pedidos pendentes de realização dos
referidos MCDT sob anestesia, informação esta que deverá ser reportada aos
últimos três meses até ao presente, e desagregada por:
(i) tipo de MCDT (colonoscopia ou endoscopia digestiva alta);
(ii) grau de prioridade clínica atribuída;
g) quaisquer outros esclarecimentos complementares que julguem necessários e
relevantes para a análise do caso concreto.” – Cfr. fls. 18 a 21 dos autos;
11. Em resposta ao solicitado, por carta recebida na ERS em 12 de maio de 2015, a
qual foi depois complementada por mensagem de correio eletrónico rececionada
no dia 14 do mesmo mês, o CHLC veio prestar as seguintes informações,
discriminadas em função das alíneas constantes do pedido desta Entidade
Reguladora:
“a) O caso do utente A., com pesquisa de […], foi classificado como prioritário,
de acordo com o protocolo de triagem clinica e a que correspondem os tempos
de espera aí mencionados (anexo[3]);
b) e c) O exame do Utente A. esteve marcado em 19 de Junho de 2014, contudo
não tolerou o exame, tendo este sido reagendado, com apoio anestésico, para 5
de maio de 2015. Contudo a 21 de Abril de 2015 o exame foi desmarcado,
porque o doente estava fora de Portugal. Neste momento, aguarda-se contacto
do utente ou do seu Médico Assistente para reagendamento.
d) Segue em anexo informação relativa ao "protocolo da triagem da
colonoscopia"[4];
e) A capacidade de resposta, no bloco de Meios Complementares de
Diagnostico, para colonoscopias com anestesia, consta nos quadros em anexo,
3 O protocolo de triagem clínica, a que o CHLC se refere, corresponde ao “Protocolo da
Triagem da Colonoscopia” junto aos autos por aquele, em anexo ao seu e-mail de 14 de maio de 2015, constando da fl. 29 dos autos. 4 Ver referência anterior.
6
correspondendo a 15% do total; Anexamos tabela relativa à capacidade
instalada no bloco de exames para realização de Endoscopia Digestiva Alta e
Colonoscopia com anestesia[5];
f) Segue, em anexo, tabelas com: "lista com tempo de espera dos MCDTS de
Gastroenterologia", "lista de espera - outras técnicas Gastroenterológicas
diagnosticas e/ou terapêuticas", "Total anual - Bloco Exames Gastro - 2013",
"Total Anual - Bloco Exames Gastro - 2014", "Total geral anual 2015"[6];
g) O número de solicitações tem aumentado em face do reconhecimento, por
parte dos Médicos e restantes cidadão[s], da importância do rastreio e do
esclarecimento dos sintomas de risco do Cancro Colo Rectal. Os referidos
tempos de espera, no Centro Hospitalar Lisboa Central (CHLC) agravam-se
significativamente, quando se trata de exames sob anestesia, uma vez que
existe uma reconhecida carência de Anestesistas. Actualmente, a maioria dos
pedidos requisita o apoio anestésico e o Serviço de Gastroenterologia do CHLC
não consegue em tempo garantir o apoio à maioria dos doentes. Além disso,
prevê-se o agravamento da situação a curto prazo, atendendo às normas da
DGS (vide NOCS) baseada em pareceres da SPED e do Colégio da
Especialidade da Ordem dos Médicos, que condicionam muito a possibilidade do
Gastroenterologista efectuar a sedação não anestesia, tornando cada vez mais
indispensável a presença do Anestesista.” – Cfr. fls. 25 a 32 dos autos;
12. Com interesse para os presentes autos, dos documentos juntos pelo prestador ao
seu ofício de resposta decorre que:
(i) No CHLC foi criado um protocolo para a realização da triagem do exame
de colonoscopia, com identificação expressa dos casos que devem ser
considerados clinicamente muito prioritários, prioritários ou não prioritários
e também com a previsão dos rastreios;
(ii) Em 2013, no CHLC, foram efetuados 883 exames de endoscopia digestiva
alta e colonoscopia com anestesia; em 2014, esse número subiu para 929;
e, em abril de 2015, havia já uma lista de espera com 935 utentes,
verificando-se que 13 utentes aguardavam a realização do(s) exame(s)
desde o ano 2012, e 211 utentes aguardavam desde 2013;
5 Cfr. frente da fl. 30 dos autos.
6 Cfr. verso da fl. 30 e fls. 31 e 32 dos autos.
7
(iii) O CHLC dispõe de uma lista na qual indica os tempos médios de espera
para a realização de exames de Gastroenterologia (onde estão,
naturalmente, incluídos a endoscopia digestiva alta e a colonoscopia),
verificando-se que, na lista referente a março de 2015, os prazos médio e
máximo para a realização de endoscopias em situações prioritárias são,
respetivamente, de 42 e 56 dias; já no caso das colonoscopias, esses
prazos aumentam um pouco, sendo de 56 dias o prazo médio e de 112
dias o prazo máximo.
13. Cumpre, ainda, referir que, no seu site7, o CHLC publicita e, supostamente,
mantém atualizada, com uma periodicidade trimestral, a informação relativa aos
MCDT realizados nos estabelecimentos prestadores de cuidados de saúde por si
explorados, e respetivos tempos de espera.
14. Já no âmbito do presente processo de inquérito, por ofício datado de 25 de junho
de 2015, a ERS dirigiu um novo pedido de elementos ao CHLC, tendo requerido:
“a) Cópia dos pedidos de marcação dos exames complementares de diagnóstico
para o utente A. (portanto, do primeiro e do segundo pedido, respetivamente,
sem e com recurso a anestesia);
b) Cópia de documento onde conste o resultado da aplicação do protocolo de
triagem clínica ao caso do utente em questão e, portanto, a prioridade que lhe foi
atribuída pelo Hospital de Santo António dos Capuchos;
c) Indicação do número de utentes que, em finais de junho de 2014, estavam à
frente do utente na lista de espera para a realização de endoscopia digestiva alta
e/ou colonoscopia com anestesia, com envio do respetivo suporte documental;
d) Informação sobre as medidas que tenham sido eventualmente adotadas pelo
CHLC com o objetivo de reduzir a lista de utentes que aguardam a marcação de
endoscopia digestiva alta e/ou colonoscopia com anestesia.” – Cfr. fls. 35 e 36
dos autos;
15. Por ofício recebido na ERS, em 31 de julho de 2015, o CHLC veio responder às
questões acima elencadas nos seguintes termos:
7 In http://www.chlc.min-saude.pt/content.aspx?menuid=466&localid=466.
8
“a) Segue em anexo cópia comprovativa do único pedido efectuado pelo Médico
assistente do doente8;
b) A aplicação SONHO, como é do conhecimento de Vº Exª, no agendamento e
marcação de MCDT não disponibiliza informação de lista de espera, conforme
acontece nos módulos da consulta (LEC) e da cirurgia (LIC). Como tal não é
possível obter do Sistema documento comprovativo da inscrição e atribuição de
prioridades.
[…]
c) Tal como referido no ponto b) a aplicação SONHO no que se refere [ao]
agendamento e marcação de MCDT não disponibiliza informação de lista de
espera, conforme acontece nos módulos da consulta (LEC) e da cirurgia (LIC).
Como tal não é possível obter do Sistema documento comprovativo dos utentes
em lista de espera para MCDT.
O Bloco de exames de Gastro recebe requisições de exames com proveniência
da consulta [externa] e do internamento das diversas especialidades.
[…]
A gestão das requisições obedece à seguinte metodologia:
a) As requisições feitas para doentes internados não são incluídas na lista de
espera de exames, existe uma "via verde" para agendamento destes doentes
(evita dias de internamento desnecessários, permite um diagnóstico rápido)
b) As requisições provenientes da consulta externa, são entregues pelo próprio
utente no Bloco de Exames de Gastro.
Tal como referido anteriormente não existe uma aplicação informática para
gestão de inscritos para MCDT, tal como existe para inscritos para cirurgia (LIC)
e inscritos para consulta externa (LEC).
Mas o Bloco de Exames de Gastro criou uma base de dados em excell, na qual
regista, no momento em que o utente entrega a requisição de exames: a data da
entrega da requisição; o nome do doente e outros dados pessoais como o n°
utente Centro de Saúde; o exame requisitado; a especialidade que faz a
requisição /data.
8 Cfr. fl. 51 dos autos.
9
Posteriormente e como é referido no ponto b.1) o médico triador, à semelhança
dos critérios de prioridade clínica que existem para o SIGIC, faz a triagem dos
pedidos e de acordo com a história clínica do doente classifica as requisições de
urgente, muito prioritário, prioritário, normal e rastreio.
De acordo com a prioridade clínica atribuída são feitos os agendamentos dos
exames, que não seguem a ordem cronológica de entrada da requisição.
Após a triagem é registada na lista de espera a data de agendamento, bem
como a data da notificação ao doente, por escrito ou por telefone.
No dia que o exame é realizado, os registos da efetivação do mesmo são feitos
no sistema informático SONHO e no sistema de registos clínicos DOC BASE.
No caso concreto do utente A. a requisição da Endoscopia Alta e da
Colonoscopia foi entregue pelo utente no Bloco de Exames em Maio /2014[9]. Os
2 exames foram agendados para 19.06.2014, neste dia o doente iniciou a
Endoscopia Alta e não tolerou fazer sem anestesia[10]. Por isso ambos os
exames foram cancelados, ficando a aguardar nova marcação com apoio
anestésico.
O Bloco de Exames de Gastro só tem apoio anestésico para todo o tipo de
exames, 2 a 3 manhãs por semana, às vezes apenas uma manhã, devido à
carência de Anestesistas.
Por isso só foi possível remarcar os exames para 05/Maio/2015.
O doente recebeu a notificação por escrito e telefonou a informar (em
21/Abril/2015), que não aceitava a data por estar ausente no estrangeiro.[11]
Neste momento, aguarda-se contacto do utente ou do seu Médico Assistente
para reagendamento, motivo pelo qual os exames continuam por realizar.
d)Apesar da escassez de recursos humanos a especialidade de
Gastroenterologia conseguiu aumentar a produção em colonoscopia total em
11% e em endoscopia alta em 14%, com algumas medidas adoptadas.
A especialidade de Gastroenterologia tem trabalhado com a especialidade de
Anestesiologia no sentido de optimizar recursos e alertar as entidades
9 Cfr. documento junto pelo CHLC, a fls. 53 dos autos.
10 Cfr. documento junto pelo CHLC, a fls. 52 dos autos.
11 Cfr. documento junto pelo CHLC, a fls. 49 e 50 dos autos.
10
competentes para a importância, cada vez maior, desta especialidade, no
contexto das técnicas de Gastroenterologia.
A especialidade reviu a metodologia e o protocolo de triagem de novos doentes.
Implementou um "care pathway" com o objectivo de diminuir a desmarcação e
falta dos doentes aos exames com a consequente perda de tempos úteis. […].” –
Cfr. fls. 45 a 55 dos autos.
II.4. Do pedido de informações dirigido ao reclamante e da resposta concedida
16. Por ofício datado de 25 de junho de 2015, a ERS solicitou ao utente que viesse
aos presentes autos prestar os seguintes esclarecimentos:
“a) Indique o Centro de Saúde onde V. Exa. está inscrito e a respetiva morada;
b) Indique a data em que foi feito o pedido dos exames (endoscopia digestiva
alta e colonoscopia) ao Hospital de Santo António dos Capuchos e informe se,
na altura, lhe foi facultado algum documento comprovativo desse pedido, com
envio da respetiva cópia, em caso de resposta afirmativa;
c) Informe se o pedido em questão foi feito pelo seu médico assistente, vulgo
médico de família, ou se foi feito por algum médico do próprio Centro Hospitalar;
d) Informe se foi notificado, pelo CHLC, do facto da realização dos exames
(agora com anestesia) ter sido agendada para o dia 05 de maio de 2015 e, em
caso de resposta afirmativa, informe se V. Exa., ou alguém a seu pedido,
procedeu à sua desmarcação, e qual o fundamento apresentado;
e) Informe se mantém o interesse na realização dos exames em questão e, em
caso de resposta afirmativa, informe se já pediu a remarcação dos mesmos junto
do Hospital de Santo António dos Capuchos.” – Cfr. fls. 33 e 34 dos autos;
17. Em resposta enviada à ERS a 6 de julho de 2015, através de mensagem de
correio eletrónico, o utente informou que já havia realizado a endoscopia digestiva
– possivelmente a título particular –, “pois o médico necessitava dos dados para
poder providenciar uma medicação adequada”;
18. Já quanto à colonoscopia esclareceu que:
“[…] [o] exame foi-me marcado para 05/05/2015 data em que, por motivos
profissionais me encontrava no estrangeiro. Contactado o serviço do Hospital logo
11
que tomei conhecimento do agendamento, fui informado que teria de voltar a ser
solicitado o exame e que iria para a fila de espera (prevendo-se seguramente mais
um ano até á possibilidade de ser efectuado o exame).
[…]
Entretanto, a requisição do exame caducou. Uma vez que tinha de se iniciar o
processo de raiz foi necessário um novo pedido por parte do médico de família.
Com nova receita dirigi-me a outro estabelecimento hospitalar para a realização
dos exames. […].” – Cfr. fls. 40 e 41 dos autos;
II.5. Do pedido de cooperação à ARS LVT
19. Finalmente, em sede do presente processo de inquérito, a ERS pediu também a
cooperação da ARS LVT, tendo requerido as seguintes informações,
acompanhadas, sempre que possível do respetivo suporte documental:
“a) Informação sobre o estádio de implementação, na área geográfica de
intervenção da ARS LVT, das orientações constantes da Recomendação da
ERS n.º 2/2014, sobre o acesso dos utentes do SNS aos MCDT nos
estabelecimentos hospitalares do SNS, que pode ser consultada em www.ers.pt;
b) Informação sobre se, em cumprimento do Despacho n.º 3756/2014, de 3 de
março, do Gabinete do Secretário de Estado da Saúde, a ARS LVT
contratualizou com o CHLC o aumento do número de colonoscopias a realizar
dali em diante, e quais os concretos termos desse acordo/contrato;
c) Em caso de resposta afirmativa à questão anterior, informação sobre a
concreta capacidade instalada e de resposta do CHLC, bem como informação
sobre se este Centro Hospitalar está a cumprir o contrato celebrado com a ARS
LVT;
d) Informação sobre as medidas e/ou procedimentos que têm sido
concretamente adotados pela ARS LVT, com o objetivo de reduzir a lista de
utentes que aguardam a marcação de endoscopias digestivas altas e/ou
colonoscopias com anestesia, nos estabelecimentos de saúde da sua área
geográfica de influência.
e) Esclarecimentos complementares julgados necessários e relevantes para a
análise do caso.” – Cfr. fls. 37 a 39 dos autos;
12
20. Assim, por ofício datado de 27 de julho de 2015, a ARS LVT veio aos autos prestar
as informações que se seguem:
“1. Nos finais de 2013, a ARSLVT, IP desenvolveu uma medida com o propósito
de rever os Acordos/Protocolos celebrados ao abrigo do Despacho n.º 3/89 de
20 de Janeiro, com vista a aferir junto das entidades hospitalares da área
geográfica de intervenção, a capacidade de atendimento disponível para efeitos
de convenção na área de gastroenterologia, nas condições em que o preço
estabelecido seria igual ao preço regido pela tabela dos convencionados.
2. A respetiva medida antecipou o Despacho n.º 3756/2014 de 11 de março do
SES, segundo o qual as Administrações Regionais de Saúde tinham até 31 de
março para contratualizar com os hospitais do SNS o aumento do número de
colonoscopias realizadas após prescrição do médico de família, tendo como
referência o pacote de cuidados de saúde e o preço estabelecido para o setor
convencionado, o que permitiu verificar junto das entidades hospitalares do SNS,
a existência ou não de capacidade de atendimento disponível para a realização
de colonoscopias ao exterior, possibilitando desta forma garantir um adequado
acesso a este tipo de exames, rentabilizando os recursos hospitalares, quando
existentes.
3. Nesse âmbito, no decorrer do ano de 2014 foram celebrados acordos de
convenção com três Centros Hospitalares/Hospitais da região, tendo como
referência o pacote de cuidados e o preço estabelecido para o setor
convencionado, com o Centro Hospitalar de Setúbal, EPE, Centro Hospitalar
Lisboa Ocidental, EPE e o Hospital Garcia de Orta, EPE.
4. Em complemento, em janeiro de 2014, a ARSLVT, IP promoveu uma reunião
conjuntamente com os conselhos de administração dos hospitais da sua área de
influência, com o intuito de avaliar a margem existente para a realização de mais
exames de colonoscopia, incluindo a produção interna (via CTH ou doentes
internados) e a produção externa (via Cuidados de Saúde Primários) por forma a
maximizar a capacidade instalada. Como resultado foi estabelecido o
compromisso de incrementar mais 5.500 exames de colonoscopia para o ano de
2014.
5. Nesse contexto, a ARSLVT, IP deliberou proceder à avaliação e monitorização
dos cuidados de saúde prestados nos serviços de colonoscopia aos utentes do
SNS da Região de Lisboa e Vale do Tejo, através da caraterização da situação
13
apresentada no último triénio 2012-2014 e exposição das medidas que até ao
momento têm vindo a ser desenvolvidas no decorrer da aferição das
necessidades nesse setor.
6. Constatou-se, que na ARSLVT, IP, em 2014 comparativamente ao período
homólogo, houve um aumento de aproximadamente 20,0% da atividade
assistencial do exame de colonoscopia, sendo que nos Hospitais do SNS o
aumento correspondeu a cerca de 17,0% (35.784 exames em 2013 face a
41.773 exames em 2014) e nas entidades convencionadas o aumento
correspondeu a cerca de 26,0% (30.687 exames em 2013 face a 24.407 exames
em 2014).
7. No que concerne ao Centro Hospital Lisboa Central, EPE, [este] assumiu a
possibilidade de aumentar a atividade assistencial em cerca de 1.000 exames
(produção interna). Porém verificou-se que manteve a sua atividade realizada
em 2014 face a 2013, tendo registado a realização de 4.538 exames de
colonoscopia em 2013 e 4.539 exames em 2014. O Centro Hospital Lisboa
Central, EPE no ano 2014 reduziu o número de anestesistas em 6,35 médicos
ETC.
8. Na generalidade o conjunto das medidas adotadas contribuíram para
aumentar o acesso aos utentes aos MCDT da especialidade de Endoscopia
Gastrenterológica na Região de Lisboa e Vale do Tejo, ainda que algumas
instituições hospitalares tenham manifestado dificuldades por saída de
profissionais de anestesiologia e/ou de gastroenterologia no decorrer do ano
2014.” – Cfr. fls. 56 e 57 dos autos;
III. DO DIREITO
III.1. Das atribuições e competências da ERS
21. De acordo com o preceituado no n.º 1 do artigo 4.º e no n.º 1 do artigo 5.º, ambos
dos Estatutos da ERS, aprovados pelo Decreto-Lei n.º 126/2014, 22 de agosto, a
ERS tem por missão a regulação, a supervisão e a promoção e defesa da
concorrência, respeitantes às atividades económicas na área da saúde dos setores
público, privado, cooperativo e social, e, em concreto, da atividade dos
estabelecimentos prestadores de cuidados de saúde.
14
22. Sendo que, nos termos do n.º 2 do artigo 4.º dos mesmos Estatutos, estão sujeitos
à regulação da ERS todos os estabelecimentos prestadores de cuidados de saúde,
do sector público, privado, cooperativo e social, independentemente da sua
natureza jurídica.
23. Ora, sendo o CHLC uma entidade pública empresarial detentora de vários
estabelecimentos prestadores de cuidados de saúde – entre os quais se inclui o
Hospital de Santo António dos Capuchos, especificamente visado na reclamação
que deu origem a estes autos –, então, ele está legalmente submetido aos poderes
de regulação e supervisão da ERS.
24. De acordo com o disposto nas alíneas b) e c) do n.º 2 do artigo 5.º dos seus
Estatutos, as atribuições da ERS compreendem a supervisão da atividade e
funcionamento dos estabelecimentos prestadores de cuidados de saúde, no que
respeita “à garantia dos direitos relativos ao acesso aos cuidados de saúde, à
prestação de cuidados de saúde de qualidade, bem como dos demais direitos dos
utentes” e também “à legalidade e transparência das relações económicas entre os
diversos operadores, entidades financiadores e utentes”.
25. De tal forma que as atribuições supra enunciadas encontram-se expressamente
incluídas no elenco dos objetivos regulatórios da ERS.
26. Com efeito, as alíneas b), c) e e) do artigo 10.º dos seus Estatutos fixam como
objetivos gerais da atividade reguladora da ERS, respetivamente: “assegurar o
cumprimento dos critérios de acesso aos cuidados de saúde, nos termos da
Constituição e da lei”, “garantir os direitos e interesses legítimos dos utentes” e
“zelar pela legalidade e transparência das relações económicas entre todos os
agentes do sistema”.
27. Na execução do objetivo contido na sobredita alínea b) do artigo 10.º dos Estatutos
da ERS, e conforme decorre das alíneas a) e d) do artigo 12.º do mesmo diploma
estatutário, incumbe a esta Entidade Reguladora assegurar o direito de acesso
universal e equitativo à prestação de cuidados de saúde, entre outros, nos serviços
e estabelecimentos do Serviço Nacional de Saúde (doravante SNS) e nos
estabelecimentos publicamente financiados, bem como zelar pelo respeito da
liberdade de escolha nos estabelecimentos prestadores de cuidados de saúde,
incluindo o direito à informação.
15
28. Ademais, em concretização do objetivo da atividade reguladora da ERS previsto
na alínea c) do artigo 10.º dos seus Estatutos, as alíneas a) e b) do artigo 13.º do
mesmo diploma estabelecem como sendo competências da ERS:
“a) Apreciar as queixas e reclamações dos utentes e monitorizar o seguimento
dado pelos estabelecimentos prestadores de cuidados de saúde às mesmas,
nos termos do artigo 30.º, […];
b) Verificar o cumprimento da «Carta dos Direitos de Acesso aos Cuidados de
Saúde pelos utentes do Serviço Nacional de Saúde», designada por «Carta dos
Direitos de Acesso» por todos os prestadores de cuidados de saúde, nela se
incluindo os direitos e deveres inerentes; […]”.
29. Finalmente, e a propósito do objetivo consagrado na alínea e) do artigo 10.º, a
alínea c) do artigo 15.º dos Estatutos da ERS prescreve que compete a esta
Entidade Reguladora “elaborar estudos e emitir recomendações sobre a
organização e desempenho dos serviços de saúde do SNS”.
30. Para tanto, esta Entidade Reguladora pode assegurar tais incumbências mediante
o exercício dos seus poderes de supervisão, zelando pela aplicação das leis e
regulamentos e demais normas aplicáveis às atividades sujeitas à sua regulação,
no âmbito das suas atribuições, e emitindo ordens e instruções, bem como
recomendações ou advertências individuais, sempre que tal seja necessário, sobre
quaisquer matérias relacionadas com os objetivos da sua atividade reguladora,
incluindo a imposição de medidas de conduta e a adoção das providências
necessárias à reparação dos direitos e interesses legítimos dos utentes (cfr.
alíneas a) e b) do artigo 19.º dos Estatutos da ERS).
31. Atendendo à matéria em causa na reclamação que está na origem destes autos –
referente à realização de exames endoscópicos com anestesia, concretamente
uma endoscopia digestiva alta e uma colonoscopia, em tempo útil –, convirá referir
que, ao longo dos últimos anos, ao abrigo das suas atribuições e competências, a
ERS tem-se debruçado, em diversas ocasiões, sobre a necessidade de garantir a
realização de MCDT a utentes do SNS, em tempo considerado clinicamente
aceitável.
32. Verificando-se que, no que especificamente concerne às colonoscopias, desde
2008, têm sido emitidas diversas instruções a prestadores convencionados,
sobretudo da área de abrangência das Administrações Regionais de Saúde
(doravante ARS) do Norte e de Lisboa e Vale do Tejo.
16
33. Mais foi recomendado às cinco ARS o seguinte12:
(i) A adoção urgente de todas as medidas necessárias à identificação dos
prestadores convencionados com o SNS que efetivamente procedem à
realização de exames de colonoscopia nas áreas geográficas das suas
influências;
(ii) Uma vez identificados os prestadores convencionados em resultado das
diligências aptas à concretização do ponto anterior, a adoção urgente de
todas as medidas necessárias a aferir da real capacidade de resposta do
SNS e da rede nacional de prestadores de cuidados de saúde quanto à
realização de exames de colonoscopias;
(iii) A adoção urgente de todas as medidas julgadas necessárias e adequadas
à reposição de funcionamento de uma rede de entidades convencionadas
capaz de realização, em tempo útil, de exames de colonoscopia a utentes
do SNS nas áreas geográficas de sua influência;
(iv) A atualização das listas de entidades convencionadas para que,
permanentemente, transmitam a informação correta aos utentes do SNS
que dela necessitem.
34. Já em junho de 2014, a ERS recomendou ao Ministério da Saúde que adotasse as
medidas consideradas necessárias e adequadas à estipulação de tempos
máximos de resposta garantidos no que se refere ao acesso a MCDT, tendo em
conta referenciais temporais de orientação clínica, definidos ou a definir, de forma
a garantir que os prestadores de cuidados de saúde que passassem a ficar
abrangidos pela obrigação de cumprimento de tais tempos, permanentemente
acautelassem aos utentes a prestação de cuidados de saúde, in casu MCDT,
mediante a sua capacidade instalada ou com recurso a entidades externas, em
tempo considerado clinicamente aceitável para a condição de saúde de cada
utente13.
35. Considerando o teor da reclamação apresentada pelo utente A. e o
enquadramento supra exposto, revela-se necessário analisar a situação
denunciada e os elementos carreados para os autos na sequência das diligências
instrutórias realizadas, sob o prisma de uma eventual limitação do acesso à
12
Cfr. instruções e recomendações publicadas na página eletrónica da ERS, em www.ers.pt. 13
Vide Recomendação da ERS n.º 2/2014, publicada em 4 de agosto de 2014, na respetiva página eletrónica, em www.ers.pt.
17
prestação de cuidados de saúde, em tempo útil, bem como sob o prisma da
necessidade de proteção dos direitos e legítimos interesses dos utentes,
designadamente o direito à informação e à liberdade de escolha do prestador de
cuidados de saúde.
III.2. Das atribuições e competências das Administrações Regionais de Saúde
36. De acordo com o disposto nos n.os 1 e 2 da Base XVIII da LBS, a organização do
sistema de saúde baseia-se na divisão do território nacional em regiões de saúde,
que “são dotadas de meios de ação bastantes para satisfazer autonomamente as
necessidade correntes de saúde dos seus habitantes, podendo, quando
necessário, ser estabelecidos acordos inter-regionais para a utilização de
determinados recursos.”
37. Por conseguinte, o SNS detém essencialmente uma organização de caráter
regional, sendo administrado pelas cinco ARS (a saber, Norte, Centro, Lisboa e
Vale do Tejo, Alentejo e Algarve), cada uma com atribuições e competências sob
uma determinada região administrativamente organizada.
38. As ARS desempenham, assim, um papel fundamental na estruturação e
organização do SNS nas áreas sob sua influência e, in extremis, na definição dos
pontos de oferta, ou redes, de cuidados de saúde primários e de cuidados de
saúde diferenciados, como são os cuidados hospitalares, os continuados e os
paliativos
39. Com efeito, nos termos do n.º 1 do artigo 3.º do Decreto-Lei n.º 22/2012, de 30 de
janeiro, que aprovou a orgânica das Administrações Regionais de Saúde, I.P., as
ARS têm por missão garantir à população da respetiva área geográfica de
intervenção o acesso à prestação de cuidados de saúde, adequando os recursos
disponíveis às necessidades, bem como cumprir e fazer cumprir políticas e
programas de saúde nessa mesma área.
40. E é com vista a garantir o cumprimento de tal missão que as ARS são dotadas de
um extenso elenco de atribuições, como sejam assegurar, na respetiva área
geográfica, a prossecução das atribuições do Ministério da Saúde, executando a
política nacional de saúde, de acordo com as políticas globais e sectoriais, visando
o seu ordenamento racional e a otimização dos recursos; colaborar na elaboração
do Plano Nacional de Saúde e acompanhar a respetiva execução a nível regional;
18
participar na definição das medidas de coordenação intersectorial de planeamento,
tendo como objetivo a melhoria da prestação de cuidados de saúde; e assegurar a
adequada articulação entre os serviços prestadores de cuidados de saúde de
modo a garantir o cumprimento da(s) rede(s) de referenciação (cfr. n.º 2 do artigo
3.º do Decreto-Lei n.º 22/2012, de 30 de janeiro).
41. Do exposto resulta, então, que a organização do SNS assenta no princípio da
autossuficiência regional14, o que constitui, ademais, decorrência direta da opção
constitucionalmente consagrada no que se refere à imposição de uma gestão
descentralizada do SNS (cfr. n.º 4 do artigo 64.º da Constituição da República
Portuguesa - CRP).
42. Sem prejuízo, o referido princípio de gestão deve ser conciliado com as
características fundamentais da universalidade e generalidade do SNS,
consagradas na alínea a) do n.º 2 do artigo 64.º da CRP, donde decorre a
importância das ARS unirem esforços entre si e atuarem de forma concertada em
matérias chave da política nacional de saúde.
III.3. Do enquadramento legal da prestação de cuidados de saúde
III.3.1. Do direito de acesso aos cuidados de saúde em tempo clinicamente
aceitável
43. O direito à proteção da saúde, consagrado no artigo 64.º da Constituição da
República Portuguesa (doravante CRP), tem por escopo garantir o acesso de
todos os cidadãos aos cuidados de saúde, o qual será assegurado, entre outras
obrigações constitucionalmente impostas, através da criação de um SNS universal,
geral e, tendo em conta as condições económicas e sociais dos cidadãos,
tendencialmente gratuito.
44. Dito de outro modo, a CRP impõe que o acesso dos cidadãos aos cuidados de
saúde, no âmbito do SNS, deve ser assegurado com respeito pelos princípios
fundamentais plasmados naquele preceito constitucional, designadamente a
universalidade, generalidade e gratuitidade tendencial.
14
Para um completo enquadramento do Princípio da Autossuficiência Regional consultar o Estudo da ERS para a Carta Hospitalar, publicado na respetiva página eletrónica, em www.ers.pt.
19
45. Por sua vez, a Lei de Bases da Saúde (doravante LBS), aprovada pela Lei n.º
48/90, de 24 de agosto, em concretização da imposição constitucional contida no
preceito acima mencionado, estabelece no n.º 4 da sua Base I que “os cuidados de
saúde são prestados por serviços e estabelecimentos do Estado ou, sob
fiscalização deste, por outros entes públicos ou por entidades privadas, sem ou
com fins lucrativos”, sendo que o Estado deve promover e garantir o acesso de
todos os cidadãos aos cuidados de saúde, mas no limite dos recursos humanos,
técnicos e financeiros disponíveis (cfr. n.º 2 da Base I).
46. Nas diretrizes da política de saúde estabelecidas na Base II da LBS consagra-se
que “é objetivo fundamental obter a igualdade dos cidadãos no acesso aos
cuidados de saúde, seja qual for a sua condição económica e onde quer que
vivam, bem como garantir a equidade na distribuição de recursos e na utilização
de serviços”.
47. Neste sentido, o acesso aos cuidados de saúde deve ser avaliado, pelo menos,
numa quádrupla perspetiva, a saber, económica, geográfica, temporal e qualitativa.
48. Especificamente, a vertente temporal do direito de acesso surge associada à
necessidade de obtenção de cuidados de saúde em tempo razoável, por referência
ao à condição de saúde de cada doente.
49. Para tanto, os prestadores de cuidados de saúde devem conceder todos os
cuidados de saúde, a cada um dos utentes que a si se dirigem, dentro do tempo
considerado útil e necessário ao efetivo cumprimento de tal desiderato
constitucional.
50. A Lei n.º 15/2014, de 21 de março, que consolida os direitos e deveres dos utentes
dos serviços de saúde, e define os termos a que deve obedecer a Carta dos
Direitos de Acesso aos Cuidados de Saúde pelos Utentes do SNS (ou
abreviadamente, Carta dos Direitos de Acesso), determina, no n.º 1 do seu artigo
4.º, que “o utente dos serviços de saúde tem direito a receber, com prontidão ou
num período de tempo considerado clinicamente aceitável, consoante os casos, os
cuidados de saúde de que necessita.”
51. Com vista a assegurar aquele direito, o mesmo diploma legal estabelece como
objetivo da Carta dos Direitos de Acesso “garantir a prestação de cuidados de
saúde pelo SNS e pelas entidades convencionadas em tempo considerado
clinicamente aceitável para a condição de saúde de cada utente do SNS”, e impõe
como dever do Ministério da Saúde a fixação, “por portaria, dos tempos máximos
20
de resposta garantidos [TMRG] para todo o tipo de prestações sem carácter de
urgência, nomeadamente ambulatório dos centros de saúde, cuidados
domiciliários, consultas externas hospitalares, meios complementares de
diagnóstico e terapêutica e cirurgia programada” (cfr., respetivamente, o n.º 1 do
artigo 25.º e o n.º 1 do artigo 26.º da Lei n.º 15/2014).
52. Por seu turno, a alínea b) do n.º 2 do artigo 25.º da Lei n.º 15/2014, determina que
a Carta dos Direitos de Acesso deve definir o direito do utente à informação sobre
os TMRG.
53. Com vista a assegurar esse direito, o artigo 27.º do diploma legal em análise fixa
as seguintes obrigações dos prestadores:
“a) Afixar em locais de fácil acesso e consulta pelo utente a informação
atualizada relativa aos tempos máximos de resposta garantidos por patologia ou
grupos de patologias, para os diversos tipos de prestações;
b) Informar o utente no ato de marcação, mediante registo ou impresso próprio,
sobre o tempo máximo de resposta garantido para prestação dos cuidados de
que necessita;
c) Informar o utente, sempre que for necessário acionar o mecanismo de
referenciação entre os estabelecimentos do SNS, sobre o tempo máximo de
resposta garantido para lhe serem prestados os respetivos cuidados no
estabelecimento de referência, nos termos previstos na alínea anterior;
d) Informar o utente, sempre que a capacidade de resposta dos
estabelecimentos do SNS estiver esgotada e for necessário proceder à
referenciação para os estabelecimentos de saúde do sector privado, nos termos
previstos na alínea b);
e) Manter disponível no seu sítio da Internet informação atualizada sobre os
tempos máximos de resposta garantidos nas diversas modalidades de prestação
de cuidados; […].”
54. Ora, procedendo à regulamentação dos artigos 25.º a 27.º da Lei n.º 15/2014,
entrou recentemente em vigor a Portaria n.º 87/2015, de 23 de março.
55. Sucede, contudo, que, em relação aos MCDT, a referida Portaria só estipula
TMRG para alguns exames de Cardiologia (cfr. ponto 2.3. do Anexo I da Portaria
n.º 87/2015).
21
56. Não significando, porém, essa ausência de regulamentação que não seja
necessário assegurar a realização de outros tipos de exames pelo SNS, e pelas
entidades convencionadas, em tempo considerado clinicamente aceitável.
57. Pelo contrário, o direito dos utentes do SNS acederem à prestação de cuidados,
em tempo considerado clinicamente aceitável para a sua condição de saúde,
consta expressamente da alínea 1) do § I da Carta dos Direitos de Acesso,
publicada no Anexo II da Portaria n.º 87/2015.
58. Já o direito dos utentes a serem informados sobre os TMRG aplicáveis, e os
correspondentes deveres dos estabelecimentos prestadores de cuidados de
saúde, encontram-se previstos, respetivamente, no Anexo II (onde é publicada a
Carta dos Direitos de Acesso) e no artigo 4.º, ambos da Portaria n.º 87/2015.
III.3.2. Do Despacho do Secretário de Estado da Saúde n.º 10430/2011, de 1 de
agosto15
59. O Despacho do Secretário de Estado da Saúde n.º 10430/2011, de 1 de agosto,
assume no seu preâmbulo que deve ser assegurada uma utilização mais racional
e eficiente dos recursos disponíveis no sistema de saúde, mas sempre sem
prejuízo da garantia do acesso efetivo dos cidadãos aos cuidados de saúde
necessários, com elevada qualidade;
60. Encontrando-se ainda estabelecido, no preâmbulo do referido despacho, que, em
conformidade com o disposto na LBS e na regulamentação do regime de
celebração das convenções, o recurso aos serviços prestados através de
convenção não pode colocar em causa o racional aproveitamento e rentabilização
da capacidade instalada no setor público, pelo que “é exigível que as instituições
hospitalares do Serviço Nacional de Saúde (SNS), atendendo à sua capacidade
instalada, física e de recursos humanos, otimizem a sua capacidade disponível em
[MCDT], contribuindo, desta forma, para a rentabilização da instituição e para
satisfação da procura”;
61. Destacando a importância de existir uma concertação de esforços entre o nível
hospitalar e os cuidados primários, no sentido de “reforçar este nível de cuidados
por forma a evitar o recurso a outros níveis mais dispendiosos, e,
15
Publicado na 2.ª Série do Diário da República n.º 158, de 18 de agosto de 2011.
22
simultaneamente, promover a criação de condições que possibilitem uma melhor
gestão e articulação efetiva das instituições”.
62. Assim, aquele diploma determinou a obrigação das instituições do SNS realizarem
internamente, com os recursos técnicos e humanos disponíveis, os MCDT
necessários à satisfação da procura.
63. O predito despacho considera essencial delinear um “conjunto de procedimentos
necessários à introdução de ajustamentos no modelo atual de prescrição de
MCDT”, nesse sentido, é ali determinado que as instituições hospitalares
integrantes do SNS devem, em suma, assegurar a realização dos MCDT aos seus
utentes, por regra, através da sua capacidade instalada ou, em segunda linha, com
recurso à subcontratação de entidades externas do setor público, do setor privado
ou social.
64. Além disso, devem os mesmos prestadores promover a devida articulação com
unidades de cuidados primários no sentido de “possibilitar a realização de MCDT
aos utentes do SNS, com o aproveitamento da sua capacidade instalada” (cfr. § 5
do Despacho em análise).
65. Todavia, o comportamento assumido por diversos prestadores hospitalares
integrados no SNS, de procederem à centralização/internalização de MCDT, não
pode colocar em causa ao acesso, a qualidade e a eficiência dos cuidados
prestados aos utentes.
66. Com efeito, no entendimento da ERS, da internalização de MCDT não pode
resultar uma desvantagem para os utentes, como seja a sujeição a maiores
tempos de espera entre a consulta, a realização do exame e a informação sobre
os resultados obtidos.
67. Tendo a ERS concluído, já por diversas vezes, que quando se constate possuir
capacidade instalada para efetuar os exames prescritos, a entidade pública
integrada no SNS deve utilizar os seus recursos técnicos e humanos disponíveis –
nos termos do disposto no Despacho do Secretário de Estado da Saúde n.º
10430/2011, ora em análise –, evitando assim a utilização de requisições de
prescrição para as entidades com convenção com as Administrações Regionais de
Saúde.
68. Porém, a contrario naquelas situações em que não tenha capacidade para
responder em tempo útil, o prestador apenas respeitará o regime jurídico (legal e
23
regulamentar) analisado supra se assegurar a realização dos MCDT aos seus
utentes, em segunda linha, “pelo recurso à subcontratação de entidades externas
especializadas do sector público, tendo como referência a tabela de preços do
SNS, ou do sector privado e social, tendo como referência a tabela de preços do
sector convencionado” (cfr. o estabelecido no § 4 do mesmo Despacho)16.
69. Por fim, com vista a assegurar o direito dos utentes à informação e a transparência
sobre a capacidade de produção hospitalar, em matéria de MCDT, o § 6 do
Despacho n.º 10430/2011 determina que “os hospitais que integram o SNS devem
publicitar e manter atualizados, com uma periodicidade trimestral, nos respetivos
sítios da Internet, a informação relativa aos MCDT realizados e respetivos tempos
de espera.”
III.3.3. Do Despacho do Secretário de Estado da Saúde n.º 3756/2014, de 3 de
março17
70. A propósito da importância que reveste a colonoscopia para o rastreio e
diagnóstico precoce de lesões malignas ou pré-malignas, e, nessa medida, da
necessidade de garantir um acesso adequado a este exame, inclusive com
analgesia do utente, foi mais recentemente publicado o Despacho n.º 3756/2014,
de 3 de março, do Gabinete do Secretário de Estado da Saúde.
71. No preâmbulo do Despacho em apreço estabelece-se, desde logo, que “antes de
ser referenciado para uma unidade hospitalar, é desejável que o médico de família
proceda a uma avaliação clínica do doente, evitando a sobre-referenciação
hospitalar e o consequente aumento dos tempos e doentes em espera para a
consulta de gastrenterologia e exames de diagnóstico.”
72. Assumindo o legislador que “o número atual de prestadores convencionados do
Serviço Nacional de Saúde (SNS) é insuficiente para permitir um alargamento
desejado da deteção precoce do cancro colorretal”, motivo pelo qual “até à
conclusão do procedimento de contratação de convenções ao abrigo do Decreto-
Lei n.º 139/2013, de 9 de outubro, resulta necessário garantir um adequado
acesso” aos exames de rastreio do cancro colorretal e às colonoscopias.
73. Assim, tendo em vista aquele objetivo, o Despacho n.º 3756/2014 determina que:
16
Vide, sobre esta matéria, a Recomendação da ERS n.º 2/2014, de 4 de agosto, publicada em www.ers.pt. 17
Publicado na 2.ª Série do Diário da República n.º 49, de 11 de março de 2014.
24
“1. Até 31 de março de 2014, a Direção-Geral da Saúde publica o percurso
clínico do doente (regras de referenciação hospitalar) e as normas de orientação
clínica para o rastreio do cancro colorretal e para a realização de colonoscopia.
2. Até 31 de março de 2014, as Administrações Regionais de Saúde, I.P.
contratualizam com os hospitais do SNS o aumento do número de colonoscopias
realizadas após prescrição do médico de família, tendo como referência o pacote
de cuidados e o preço estabelecido para o setor convencionado, bem como os
exames de anatomia patológica eventualmente necessários.
3. O gastrenterologista responsável pela realização da colonoscopia deve fazer
uma avaliação da necessidade de seguimento do doente na consulta de
Gastrenterologia e, se for caso disso, agendar a respetiva consulta, observando-
se o disposto na Portaria n.º 1529/2008, de 26 de dezembro18.
[…]
5. As instituições devem publicitar nos respetivos sítios da internet, a informação
relativa às colonoscopias realizadas e respetivos tempos de espera, em
conformidade com o disposto no despacho n.º 10430/2011, de 1 de agosto,
publicado em Diário da República, 2.ª série, n.º 158, de 18 de agosto de 2011.
[…]”.
74. Em cumprimento do § 1 do Despacho supra citado, a Direção-Geral de Saúde
(doravante DGS) emitiu, em 31 de março de 2014, a Norma n.º 003/2014, alterada,
pela última vez, em 6 de novembro de 2014, sobre “Rastreio Oportunístico do
Cancro do Cólon e Reto”.
III.3.4. Da Norma da DGS n.º 003/2014 sobre “Rastreio Oportunístico do Cancro
do Cólon e Reto”19
75. De acordo com o disposto no § 2 da Norma da DGS n.º 003/2014, “não são
incluídos no rastreio [oportunístico do cancro do cólon e reto], devendo ser
submetidos a colonoscopia total, os utentes que apresentam sinais e/ou sintomas
sugestivos da existência de patologia do cólon ou do reto (consultar a Norma
“prescrição de Colonoscopia”) […]”.
18
A Portaria n.º 1529/2008, de 26 de dezembro, foi revogada pela Portaria n.º 87/2015, de 23 de março, que a substituiu. 19
A Norma da DGS n.º 003/2014 pode ser consultada em https://www.dgs.pt/directrizes-da-dgs/normas-e-circulares-normativas/norma-n-0032014-de-31032014.aspx.
25
76. Já segundo o § 7 da mesma Norma, “o prazo para a realização da colonoscopia
total após a sua prescrição deve ser, no máximo, de oito semanas. O médico
prescritor deve verificar se a colonoscopia foi realizada, através da marcação e
consulta de controlo.”
77. Finalmente, a alínea a) do § 10. da Norma em questão determina que, caso a
colonoscopia total não seja realizada por “intolerância do utente ou por preparação
incompatível com a realização do exame, é mandatório ponderar, respetivamente,
a colonoscopia com sedação/anestesia ou colonoscopia com outra preparação , no
prazo de 90 dias […]”.
III.3.5. Da liberdade de escolha do prestador de cuidados de saúde
78. Por liberdade de escolha do médico ou do estabelecimento prestador de cuidados
de saúde deve-se entender a possibilidade dos utentes escolherem livremente o
seu médico e a instituição ou serviço de saúde onde pretendem ser atendidos,
tendo em vista a prevenção, cura e reabilitação do seu estado de saúde.
79. Importa, no entanto, realçar que o exercício da liberdade de escolha por parte dos
utentes varia necessariamente conforme a natureza pública ou privada do serviço
de saúde a que, em cada momento, pretendam recorrer.
80. O direito a escolher livremente os prestadores de cuidados de saúde encontra-se
plasmado na alínea a) do n.º 1 da Base XIV da LBS, onde se estabelece que os
utentes têm direito a “escolher, no âmbito do sistema de saúde e na medida dos
recursos existentes e de acordo com as regras de organização, o serviço e
agentes prestadores”.
81. Acrescenta ainda o n.º 5 da Base V da LBS, que “é reconhecida a liberdade de
escolha no acesso à rede nacional de prestação de cuidados de saúde, com as
limitações decorrentes dos recursos existentes e da organização dos serviços”.
82. No que especificamente respeita aos cuidados hospitalares, o Regime Jurídico da
Gestão Hospitalar, aprovado pela Lei n.º 27/2002, de 8 de novembro20, estabelece,
20
A Lei n.º 27/2002, de 8 de novembro, aprovou o Regime Jurídico da Gestão Hospitalar, que se aplica aos hospitais integrados na rede de prestação de cuidados de saúde, a qual abrange os estabelecimentos do SNS, os estabelecimentos privados que prestem cuidados aos utentes do SNS e outros serviços de saúde, nos termos de contratos celebrados ao abrigo do disposto no Capítulo IV do regime em questão, e, ainda, os profissionais em regime liberal com quem sejam celebradas convenções (cfr. artigo 1.º).
26
no seu artigo 4.º, os princípios gerais que devem ser acautelados na prestação de
cuidados de saúde, entre os quais consta, o princípio da liberdade de escolha do
estabelecimento hospitalar por parte do utente, em articulação com a rede de
cuidados de saúde primários (cfr. alínea a) do referido artigo 4.º).
83. Por sua vez, o artigo 5.º do mesmo diploma legal acrescenta que os hospitais
devem pautar a sua gestão com respeito, entre outros, pelo princípio da garantia
aos utentes da prestação de cuidados de saúde de qualidade com um controlo
rigoroso dos recursos, e pelo princípio da promoção da articulação funcional da
rede de prestação de cuidados de saúde (cfr., respetivamente, alíneas b) e e)).
III.4. Da análise do caso concreto
84. Conforme acima se expôs, atenta a reclamação apresentada pelo utente A., as
questões que importa analisar no âmbito dos presentes autos são as seguintes:
(i) Eventual impedimento do prestador em garantir o acesso dos utentes a
exames gastroenterológicos com anestesia (em concreto, endoscopia
digestiva alta e colonoscopia), em tempo clinicamente aceitável;
(ii) Eventual insuficiência da informação facultada pelo prestador aos utentes,
sobre a prioridade clínica atribuída aos seus casos, o tempo estimado para a
realização dos exames acima referidos e sobre a sua posição relativa na
lista de pessoas inscritas para a realização dos mesmos, o que, a verificar-
se, poderá coartar o exercício da liberdade de escolha do prestador de
cuidados de saúde;
85. Portanto, o objeto de análise dos presentes autos consiste em apurar se, no caso
concreto, o CHLC observou os direitos e interesses legítimos do reclamante e se
aquele prestador dispõe de procedimentos aptos e adequados a garantir, em geral,
esses mesmos direitos, prevenindo a ocorrência de outros casos semelhantes ao
denunciado.
86. Ora, da análise dos elementos carreados para os presentes autos resulta que o
pedido de marcação dos exames gastroenterológicos que o utente A. necessitava
de realizar terá sido efetuado, junto do respetivo serviço do CHLC – Hospital de
Santo António dos Capuchos, em Maio de 2014 (cfr. fl. 53 dos autos).
27
87. Verificando-se que, numa primeira fase, os exames em questão (concretamente,
uma endoscopia digestiva alta e uma colonoscopia) foram agendados com
brevidade, para o dia 19 de junho de 2014 (cfr. fls. 25, 26 e 52 dos autos).
88. Todavia, o utente não conseguiu fazer a endoscopia digestiva alta, por intolerância
à entubação (cfr. fl. 52 dos autos).
89. Nesse seguimento, e prevendo igual (ou até maior) dificuldade na realização da
colonoscopia, os médicos responsáveis cancelaram os dois exames e requisitaram
a realização dos mesmos com anestesia (cfr. fl. 52).
90. Sucede, porém, que, apesar do caso do utente A. ter sido classificado como
“prioritário”, em resultado da aplicação do protocolo de triagem clínica, em vigor no
serviço de gastroenterologia do CHLC, a realização dos exames (agora com apoio
anestésico) só foi reagendada para 5 de maio de 2015, na sequência da
intervenção desta Entidade Reguladora, em sede de processo de avaliação (cfr.
fls. 25, 26, 49 a 51 dos autos).
91. No entanto, em abril de 2015, o utente desmarcou os exames em causa, na
medida em que, por motivos profissionais, não estaria em Portugal na data
programada (cfr. fls. 25, 26 e 41 dos autos).
92. Entretanto, o utente não requereu nova marcação dos exames, porquanto,
segundo informações prestada à ERS pelo próprio, este já realizou a endoscopia
digestiva alta, a título particular, e requisitou a realização da colonoscopia noutro
estabelecimento hospitalar (o qual, contudo, não identifica). – Cfr. fl. 41 dos autos;
93. Conclui-se, assim, que a situação do utente foi resolvida, mas graças à sua
diligência em encontrar alternativas ao CHLC – Hospital de Santo António dos
Capuchos, e não por intermédio deste Centro Hospitalar, que não terá atuado em
conformidade com o regime jurídico vigente.
94. Em primeiro lugar o prestador não observou o tempo médio de espera por ele
mesmo fixado, para a realização dos exames gastroenterológicos em causa nos
autos.
95. Com efeito, segundo a tabela publicada e revista trimestralmente pelo CHLC (em
cumprimento do disposto no § 6 do Despacho n.º 10430/2011, de 1 de agosto), os
prazos médio e máximo para a realização de endoscopias em situações prioritárias
são, respetivamente, de 42 e 56 dias.
28
96. Já no caso das colonoscopias, para o mesmo tipo de situações (prioritárias), esses
prazos aumentam um pouco, sendo de 56 dias o prazo médio e de 112 dias o
prazo máximo.
97. Acresce que a Norma da DGS n.º 003/2014 fixa o prazo geral de 90 dias para a
realização de colonoscopias com sedação/anestesia, após uma primeira tentativa
falhada por intolerância do utente, conforme aconteceu no caso sub judice (cfr. §
10).
98. Todavia, no caso dos presentes autos, todos os prazos acima indicados foram
ultrapassados em larga medida, tendo os exames sido reagendados para cerca de
um ano depois de se ter frustrado a primeira tentativa de realização dos mesmos,
com claro desrespeito pelo direito de acesso do utente à prestação de cuidados de
saúde (in casu, MCDT) em tempo clinicamente aceitável.
99. Neste ponto, importa recordar que o utente foi referenciado para realizar os
exames gastrenterológicos por ter tido três pesquisas de […], com resultado
positivo (cfr. fls. 10 e 52 dos autos).
100. Ademais, nos esclarecimentos prestados à ERS, em maio e, depois, em julho
de 2015, o CHLC admitiu a existência de dificuldades no respetivo serviço de
gastroenterologia, sobretudo quando estão em causa a realização de exames com
apoio anestésico, devido à carência de médicos anestesistas21, reconhecendo que
o serviço em questão “não consegue em tempo garantir o apoio à maioria dos
doentes” (cfr. fl. 26 dos autos).
101. E destacou, ainda, o provável “agravamento da situação a curto prazo,
atendendo às normas da DGS (vide NOC’s) baseada em pareceres da SPED e do
Colégio da Especialidade da ordem dos Médicos, que condicionam muito a
possibilidade do Gastroenterologista efetuar a sedação não anestesia, tornando
cada vez mais indispensável presença do Anestesista.” (cfr. fl. 26 dos autos).
102. Para obviar à reduzida capacidade do serviço de gastroenterologia, por
comparação com os elevados níveis de procura do mesmo, o CHLC refere ter
tomado algumas medidas, que lhe terão possibilitado “aumentar a produção em
colonoscopia total em 11% e em endoscopia alta em 14%”.
21
Esta dificuldade é genericamente admitida pela ARS LVT para todos os hospitais do SNS que estão situados na sua área de influência geográfica, no ofício de resposta dirigido à ERS, em 27 de julho de 2015 (cfr. fls. 56 e 57 dos autos).
29
103. No entanto, nenhuma das medidas elencadas pelo CHLC, na resposta dirigida
à ERS, é relativa à contratação de mais profissionais de saúde, em especial na
valência de anestesiologia que, alegadamente, será a especialidade com maior
carência de recursos humanos.
104. Ora, se a capacidade instalada no serviço de gastroenterologia do CHLC –
Hospital de Santo António dos Capuchos não é suficiente para satisfazer as
necessidades da procura, e considerando que o direito de acesso dos utentes à
prestação de cuidados de saúde em tempo clinicamente aceitável não pode ser
coartado devido à falta de recursos, então, o CHLC deve dar cumprimento ao
disposto no § 4 do Despacho n.º 10430/2011, de 1 de agosto, recorrendo “à
subcontratação de entidades externas especializadas do sector público, tendo
como referência a tabela de preços do SNS, ou do sector privado e social, tendo
como referência a tabela de preços do sector convencionado”22.
105. Como foi já acima referido, atendendo à importância que reveste a
colonoscopia para o rastreio e diagnóstico precoce de lesões malignas ou pré-
malignas, e, nessa medida, à necessidade de garantir um acesso generalizado e
adequado dos utentes a este exame, inclusive com recurso a anestesia, em 3 de
março de 2014, foi aprovado o Despacho do Secretário de Estado da Saúde n.º
3756/2014.
106. Ali é claramente assumido que “o número atual de prestadores convencionados
do Serviço Nacional de Saúde (SNS) é insuficiente para permitir um alargamento
desejado da deteção precoce do cancro colorretal”, motivo pelo qual foram
adotadas algumas medidas com o objetivo de aumentar, a nível nacional, os
exames de rastreio e as colonoscopias, “até à conclusão do procedimento de
contratação de convenções ao abrigo do Decreto-Lei n.º 139/2013, de 9 de
outubro”.
107. Uma das mencionadas medidas era direcionada às ARS, por serem entidades
que têm por missão garantir à população da respetiva área geográfica de
intervenção o acesso à prestação de cuidados de saúde, adequando os recursos
disponíveis às necessidades, bem como cumprir e fazer cumprir políticas e
programas de saúde nessa mesma área23, e consistia no dever destas
contratualizarem com “os hospitais do SNS o aumento do número de
22
Vide, a este propósito, a Recomendação da ERS n.º 2/2014, de 4 de agosto, publicada em www.ers.pt. 23
Cfr. n.º 1 do artigo 3.º do Decreto-Lei n.º 22/2012, de 30 de janeiro.
30
colonoscopias realizadas após prescrição do médico de família, tendo como
referência o pacote de cuidados e o preço estabelecido para o setor
convencionado, bem como os exames de anatomia patológica eventualmente
necessários” (cfr. § 2 do Despacho do Secretário de Estado da Saúde n.º
3756/2014).
108. Os referidos contratos entre as ARS e as entidades hospitalares do SNS
deveriam ser celebrados até 31 de março de 2014.
109. Em cumprimento do dever imposto pelo Despacho do Secretário de Estado da
Saúde, a ARS LVT aferiu, junto das entidades hospitalares da sua área geográfica
de intervenção – onde se inclui o CHLC, visado nestes autos –, a capacidade
eventualmente existente para aumentar o número de colonoscopias realizadas, por
prescrição do médico de família, procurando rentabilizar ao máximo os recursos
disponíveis nos hospitais do SNS.
110. E, nesse seguimento, segundo informações prestadas à ERS pela ARS LVT,
“no decorrer do ano de 2014 foram celebrados acordos de convenção com três
Centros Hospitalares/Hospitais da região”, a saber, o Centro Hospitalar de Setúbal,
E.P.E., o Centro Hospitalar Ocidental, E.P.E., e o Hospital Garcia de Orta, E.P.E.
(cfr. fls. 56 e 57 dos autos).
111. Por outro lado, em janeiro de 2014, a ARS LVT “promoveu uma reunião
conjuntamente com os conselhos de administração dos hospitais da sua área de
influência, com o intuito de avaliar a margem existente para a realização de mais
exames de colonoscopia, incluindo a produção interna (via CTH ou doentes
internados) e a produção externa (via Cuidados de Saúde Primários) por forma a
maximizar a capacidade instalada.” – Cfr. fls. 56 e 57 dos autos;
112. Em resultado dessa reunião, terá sido estabelecido o compromisso, entre a
ARS LVT e todas as entidades hospitalares da região, para aumentar, no ano
2014, o número de colonoscopias em cerca de 5 500 exames (cfr. fls. 56 e 57 dos
autos).
113. Assim, na área de influência da ARS LVT, no ano 2014, “comparativamente ao
período homólogo, houve um aumento de aproximadamente 20,0% da atividade
assistencial do exame de colonoscopia, sendo que nos Hospitais do SNS o
aumento correspondeu a cerca de 17,0% (35.784 exames em 2013 face a 41.773
exames em 2014) e nas entidades convencionadas o aumento correspondeu a
31
cerca de 26,0% (30.687 exames em 2013 face a 24.407 exames em 2014).” – Cfr.
fls. 56 e 57 dos autos;
114. No entanto, essa tendência de aumento da produção que se verificou, em
geral, na região da ARS LVT, não foi seguida pelo CHLC, o qual manteve a sua
produção em 2014 (por comparação com o ano anterior), porquanto terá visto
reduzir substancialmente o seu número de anestesistas (cfr. fls. 56 e 57 dos
autos).
115. Sucede que a celebração de acordos de convenção com apenas três entidades
hospitalares da área de influência da ARS LVT, e um aumento não generalizado,
nem uniforme da produção (sobretudo da produção externa, cuja génese está nos
pedidos efetuados pelos cuidados primário), colocam em causa a desejável
equidade na prestação dos cuidados de saúde e afetam os princípios da
generalidade e universalidade que caraterizam o SNS.
116. Isto porque as garantias de acesso dos utentes ao exame de colonoscopia,
dentro da mesma região de saúde, vão ser distintas, em função da entidade
hospitalar de referência dos estabelecimentos de cuidados primários onde os
utentes estão inscritos.
117. Neste sentido, atendendo aos princípios fundamentais que norteiam a criação e
funcionamento do SNS, os quais se encontram, aliás, constitucionalmente
consagrados, e à necessidade de acautelar os direitos e legítimos interesses dos
utentes, a ARS LVT deve assegurar a distribuição equitativa dos pedidos de
colonoscopias oriundos dos cuidados de saúde primários pelas entidades
hospitalares da sua área de influência que apresentam maior capacidade de
resposta, com as quais, inclusive, a ARS LVT celebrou acordos de convenção ou
firmou outros tipos de compromissos.
118. Na hipótese contrária, estar-se-ão a fomentar discriminações injustificadas de
utentes, dentro da mesma região de saúde, e poderá estar-se a colocar em causa
o objetivo de rentabilização máxima dos recursos disponíveis nas instituições do
SNS, ínsito aos Despachos do Secretário de Estado da Saúde de 2011 e 2014,
pois as entidades hospitalares com maior capacidade instalada, e que se
comprometeram perante a ARS LVT a aumentar a produção externa, podem não
ser aquelas que, por aplicação das regras administrativas de referenciação
hospitalar, recebem mais pedidos dos cuidados de saúde primários e, nessa
32
medida, existir oferta de serviços que não esteja a ser totalmente absorvida pela
procura.
119. Isto posto, e agora a propósito do (des)respeito pelo direito do utente à
informação, nos autos não existem indícios de que o CHLC – Hospital de Santo
António dos Capuchos tenha prestado àquele informações concretas sobre a
prioridade clínica que foi atribuída ao seu caso, sobre a sua posição relativa na
lista de inscritos para realizar os MCDT gastroenterológicos com apoio anestésico,
nem sobre o tempo real/efetivo que ele iria ter esperar para o efeito.
120. Pelo contrário, em resposta enviada à ERS, por ofício datado de 24 de julho de
2015, o prestador repete, em diferentes momentos, que “a aplicação SONHO no
que se refere [ao] agendamento e marcação de MCDT não disponibiliza
informação de lista de espera, conforme acontece nos módulos da consulta (LEC)
e da cirurgia (LIC). Como tal não é possível obter do Sistema documento
comprovativo dos utentes em lista de espera para MCDT”, i.e., documento
comprovativo da inscrição e atribuição de prioridades. – Cfr. fls. 45 a 48 dos autos;
121. Sem prejuízo do supra exposto, no mesmo ofício, o CHLC refere que “o Bloco
de Exames de Gastro criou uma base de dados em excell, na qual regista, no
momento em que o utente entrega a requisição de exames”, uma série de dados
pessoais deste e a especialidade que fez a requisição do exame; depois, o médico
triador, aplicando os respetivos protocolos de triagem clínica internamente
aprovados, classifica os pedidos, com base na sua gravidade/urgência; de
seguida, é feito o agendamento dos exames, em função da classificação que lhes
tiver sido atribuída, registando-se, na base de dados em ficheiro excel, esse
agendamento, bem como a data de notificação ao utente, por escrito ou por
telefone (cfr. fls. 45 a 48 dos autos).
122. No entanto, segundo informação concedida à ERS pelo próprio prestador, a
mencionada base de dados não permite fazer a gestão da lista de utentes inscritos
para MCDT, de tal forma que não foi possível ao CHLC indicar à ERS o número de
utentes que, em finais de junho de 2014, estavam à frente do reclamante, na lista
de espera para a realização de endoscopia digestiva alta e/ou colonoscopia com
anestesia, conforme havia sido requerido por esta Entidade Reguladora, através
de ofício datado de 25 de junho de 2015 (cfr. fls. 35, 36 e 45 a 48 dos autos).
123. Por conseguinte, embora publique no seu site, com periodicidade trimestral,
informação relativa aos MCDT de gastroenterologia realizados e aos respetivos
33
tempos de espera (estimados), o CHLC não tem implementados mecanismos
necessários e adequados para assegurar integralmente o direito dos utentes à
informação, que se materializa também na prestação de informações sobre a
prioridade clínica que foi atribuída aos seus casos, na prestação direta de
informações reais e permanentemente atualizadas sobre a respetiva posição na
lista de inscritos para a realização dos MCDT em causa e, consequentemente,
sobre o tempo de espera real/efetivo, que deverá ser calculado, em cada
momento, em função da posição que os utentes ocupam nessa lista.
124. Verificando-se que o défice de informação prestada aos utentes pode inclusive
comprometer a sua liberdade de escolha, porquanto, se fossem convenientemente
esclarecidos sobre as matérias elencadas no parágrafo anterior, os utentes
poderiam fazer uma análise “custo/benefício” diferente e decidir realizar os MCDT
por outras vias, e não por recurso às entidades hospitalares do SNS.
125. Nestes termos, o CHLC – Hospital de Santo António dos Capuchos deve criar e
implementar no respetivo serviço de gastroenterologia uma lista de espera para
MCDT, que, à semelhança da lista de inscritos para consultas (LEC) e da lista de
inscritos para cirurgia (LIC), permita a gestão dos utentes inscritos, em função da
data de entrega das requisições dos exames e da prioridade clínica atribuída aos
casos.
126. Mais deverá o CHLC – Hospital de Santo António dos Capuchos garantir, em
permanência, o direito dos utentes à informação em matéria de MCDT de
gastroenterologia, designadamente informação sobre a prioridade clínica atribuída
aos seus casos, informação real e permanentemente atualizada sobre a respetiva
posição na lista de inscritos para a realização dos MCDT em causa e informação
sobre o tempo de espera real/efetivo, que deverá ser calculado, em cada
momento, em função da posição que os utentes ocupam nessa lista.
IV. DA AUDIÊNCIA DE INTERESSADOS
127. A presente deliberação foi precedida de audiência escrita dos interessados,
nos termos e para os efeitos do disposto no n.º 1 do artigo 122.º do Código do
Procedimento Administrativo (CPA), aplicável ex vi da alínea a) do artigo 24.º dos
Estatutos da ERS, tendo sido chamados a pronunciarem-se, relativamente ao
projeto de deliberação, o utente, o CHLC e a ARS LVT (cfr. fls. 75 a 80 dos autos).
34
128. Decorrido o prazo legal concedido para o efeito, a ERS rececionou a pronúncia
do prestador, que foi enviada, primeiramente, por e-mail, em 19 de outubro de
2015, e, depois, por correio normal, recebido nas instalações da ERS, no dia 21 do
mesmo mês (cfr. fls. 81 a 89 dos autos).
129. A ERS não foi notificada da pronúncia do utente, nem da ARS LVT.
130. Assim, em sede de audiência dos interessados, veio o CHLC pronunciar-se nos
seguintes termos:
“[…]
Em resposta ao ofício e assunto acima mencionados, vimos informar V. Exa. que
a carência de médicos anestesiologistas é uma realidade que ultrapassa o
Centro Hospitalar de Lisboa Central, EPE e tem reflexos a nível nacional, de fato
uma das principais limitações para dar resposta aos exames de gastrenterologia
com anestesia é a ausência no CHLC e no mercado de anestesiologistas.
Nos últimos anos, o CHLC tem diligenciado no sentido de obter autorização para
a celebração de contratos com médicos desta especialidade, seja por Contrato
Individual de Trabalho seja em Prestação de Serviços, de forma a minimizar as
saídas que têm ocorrido por motivo de aposentação ou por rescisão [24],
correspondendo em muitas situações a saídas destes profissionais do SNS para
o setor privado, sem que exista, neste momento, instrumentos que possam
contrariar esta tendência.
O CHLC continuará a desenvolver todos os esforços ao seu alcance nesta
matéria.
Outra limitação prende-se com as condições estruturais do CHLC, com a
atividade dispersa por vários hospitais, o que dificulta a rentabilização dos meios
existentes. O CHLC aguarda a construção do novo hospital que resolveria este
problema, até lá, apresentou um projeto de financiamento para uma estrutura
que centralizasse toda a atividade de gastrenterologia [n]uma unidade de
exames e de ambulatório do CHLC, ao abrigo do programa SAMA Portugal
2020, estando a aguardar a decisão.
24
Para comprovar as diligências encetadas, o CHLC juntou aos autos cópia de uma carta dirigida, em 13 de fevereiro de 2015, à Chefe do Gabinete do Secretário de Estado da Saúde, com o assunto “Pedido de utilização de vaga de anestesia já utilizada”, bem como uma missiva remetida, em 4 de maio de 2015, ao presidente do Conselho Diretivo da ARS LVT, com o assunto “Produção adicional de anestesiologia”.
35
Relativamente às recomendações:
Recomendação I
O CHLC recorrerá a entidades externas para a realização de MCDT
gastrenterológicos, sempre que em tempo clinicamente aceitável não seja
possível a sua realização no CHLC.
Irá igualmente solicitar reunião à Administração Regional de Saúde de Lisboa e
Vale do Tejo, no sentido de obter informações sobre os acordos celebrados com
hospitais da Região de Lisboa e Vale do Tejo para a realização de
colonoscopias, bem como com outras entidades convencionadas do setor
privado.
Recomendações II e III
Relativamente ao desenvolvimento de um sistema de informação que possibilite
a gestão dos utentes inscritos em função da data das requisições, prioridade
clínica atribuída e posição na lista, à semelhança do que acontece com a
Consulta Externa e Cirurgia, o CHLC irá contactar os Serviços Partilhados do
Ministério da Saúde (SPMS), uma vez que é esta a entidade que gere as
aplicações informáticas SONHO e SCIinico, de modo a solicitar prioridade ao
desenvolvimento de um aplicativo que permita resposta à recomendação agora
formulada.
Recomendação IV
Todas as políticas e procedimentos do CHLC são divulgadas internamente e
auditados periodicamente de acordo com planos de auditoria anuais.
Recomendação V
Do resultado das diligências enunciadas será dado conhecimento à ERS. […]” –
Cfr. fls 82, 85 e 86 dos autos;
131. As declarações acima transcritas foram consideradas e ponderadas pela ERS.
132. Ora, o CHLC não contestou nem o quadro factual, nem o quadro jurídico
apresentados pela ERS no seu projeto de deliberação.
133. Antes pelo contrário, o CHLC enuncia um conjunto de medidas que pretende
adotar, tendo em vista o cumprimento da instrução projetada, manifestando, dessa
forma, a sua intenção de adequar a sua atuação ao projeto de deliberação desta
Entidade Reguladora.
36
134. Não obstante, no caso em apreço, importa garantir a execução das preditas
diligências, e assegurar a permanente adequação do comportamento do CHLC,
para que, no futuro, se possa aferir se as diligências propostas pelo prestador
efetivamente se coadunam com o objetivo da intervenção regulatória da ERS.
135. Por conseguinte, verifica-se a necessidade de manter integralmente os termos
da instrução, tal como projetada e regularmente notificada aos interessados.
V. DECISÃO
136. Tudo visto e ponderado, o Conselho de Administração da ERS delibera, nos
termos e para os efeitos do preceituado nas alíneas a) e b) do artigo 19.º e alínea
a) do artigo 24.º dos Estatutos da ERS, aprovados pelo Decreto-Lei n.º 126/2014,
de 22 de agosto, emitir a seguinte instrução ao Centro Hospitalar de Lisboa
Central, E.P.E.:
(i) O Centro Hospitalar de Lisboa Central, E.P.E., deve garantir o acesso dos
utentes à realização de MCDT gastroenterológicos, em tempo clinicamente
aceitável para a sua condição de saúde, devendo, para esse efeito e quando
necessário, recorrer à subcontratação de entidades externas especializadas
do sector público, tendo como referência a tabela de preços do SNS, ou do
sector privado e social, tendo como referência a tabela de preços do sector
convencionado, sempre que constate que a sua capacidade interna é
insuficiente para responder, em tempo útil, aos pedidos de realização dos
MCDT em questão, em cumprimento do disposto no § 4 do Despacho do
Secretário de Estado da Saúde n.º 10430/2011, de 1 de agosto;
(ii) O Centro Hospitalar de Lisboa Central, E.P.E., deve criar e implementar uma
lista de espera para MCDT gastroenterológicos, que permita a gestão dos
utentes inscritos, em função da data de entrega das requisições dos exames
e da prioridade clínica atribuída aos casos;
(iii) O Centro Hospitalar de Lisboa Central, E.P.E., deve adotar medidas e/ou
procedimentos concretos para assegurar o direito dos utentes à informação
em matéria de MCDT de gastroenterologia, designada, mas não
limitadamente, através da prestação de informação sobre a prioridade
clínica atribuída aos seus casos, da prestação de informação real e
permanentemente atualizada sobre a respetiva posição na lista de inscritos
37
para a realização dos MCDT em causa e da prestação de informação sobre
o tempo de espera real/efetivo, que deverá ser calculado, em cada
momento, em função da posição que os utentes ocupam nessa lista;
(iv) O Centro Hospitalar de Lisboa Central, E.P.E., deve emitir e divulgar ordens
e orientações claras e precisas, para que as medidas e/ou procedimentos
por si adotados para cumprimento do determinado nos pontos anteriores
sejam corretamente seguidos e respeitados por todos os seus
colaboradores;
(v) O Centro Hospitalar de Lisboa Central, E.P.E., deve dar cumprimento
imediato à instrução emitida, bem como dar conhecimento à ERS, no prazo
máximo de 30 dias após a notificação da deliberação final, das medias e/ou
procedimentos por si adotados para cumprimento do determinado nos
pontos anteriores.
137. A instrução emitida constitui decisão da ERS, sendo que a alínea b) do n.º 1 do
artigo 61.º dos seus Estatutos configura como contraordenação punível in casu
com coima de 1 000,00 EUR a 44 891,81 EUR, “[….] o desrespeito de norma ou
de decisão da ERS que, no exercício dos seus poderes regulamentares, de
supervisão ou sancionatórios determinem qualquer obrigação ou proibição,
previstos nos artigos 14.º, 16.º, 17.º, 19.º, 20.º, 22.º, 23.º ”.
138. O Conselho de Administração da ERS delibera, ainda, nos termos e para os
efeitos do preceituado nas alíneas a) e b) do artigo 19.º e alínea a) do artigo 24.º
dos Estatutos da ERS, aprovados pelo Decreto-Lei n.º 126/2014, de 22 de agosto,
emitir uma recomendação à Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do
Tejo, I.P., para que adote medidas e/ou procedimentos que garantam a
distribuição equitativa dos pedidos de colonoscopias oriundos dos cuidados de
saúde primários, pelas entidades hospitalares da sua área geográfica de influência
que apresentem maior capacidade de resposta e com as quais tenha celebrado
acordos de convenção, ou tenha eventualmente firmado outro tipo de
compromissos, com o objetivo de minimizar as dificuldades detetadas no acesso
dos utentes da sua região de saúde aos exames de colonoscopia, de assegurar o
acesso geral e universal àqueles MCDT e, bem assim, de promover uma
articulação de âmbito regional entre estabelecimentos prestadores de cuidados de
saúde do SNS, rentabilizando os recursos disponíveis no sistema público de
saúde.
38
139. A versão não confidencial da presente deliberação será publicitada no sítio
oficial da ERS na Internet.
O Conselho de Administração.
Porto, 4 de novembro de 2015.