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1 DELIBERAÇÃO DO CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO DA ENTIDADE REGULADORA DA SAÚDE (VERSÃO NÃO CONFIDENCIAL) Considerando que a Entidade Reguladora da Saúde, nos termos do n.º 1 do artigo 4.º dos seus Estatutos, aprovados pelo Decreto-Lei n.º 126/2014, de 22 de agosto, exerce funções de regulação, de supervisão e de promoção e defesa da concorrência respeitantes às atividades económicas na área da saúde nos setores público, privado, cooperativo e social; Considerando as atribuições da Entidade Reguladora da Saúde conferidas pelo artigo 5.º dos seus Estatutos, aprovados pelo Decreto-Lei n.º 126/2014, de 22 de agosto; Considerando os objetivos da atividade reguladora da Entidade Reguladora da Saúde estabelecidos no artigo 10.º dos seus Estatutos, aprovados pelo Decreto-Lei n.º 126/2014, de 22 de agosto; Considerando os poderes de supervisão da Entidade Reguladora da Saúde estabelecidos no artigo 19.º dos seus Estatutos, aprovados pelo Decreto-Lei n.º 126/2014, de 22 de agosto; Visto o processo registado sob o n.º ERS/035/2015; I. DO PROCESSO I.1. Origem do processo 1. Em 29 de setembro de 2014, o utente A. apresentou na Entidade Reguladora da Saúde (doravante ERS) uma reclamação eletrónica, alegando dificuldades no acesso à realização de exames gastroenterológicos concretamente uma endoscopia digestiva alta e uma colonoscopia com anestesia , no Hospital de Santo António dos Capuchos. Cfr. fl. 10 dos autos; 2. A sobredita reclamação foi registada no Sistema de Gestão de Reclamações (doravante SGREC) da ERS, tendo sido inicialmente tratada no âmbito do processo de reclamação n.º REC/9918/2014.

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DELIBERAÇÃO DO CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO DA

ENTIDADE REGULADORA DA SAÚDE

(VERSÃO NÃO CONFIDENCIAL)

Considerando que a Entidade Reguladora da Saúde, nos termos do n.º 1 do artigo 4.º

dos seus Estatutos, aprovados pelo Decreto-Lei n.º 126/2014, de 22 de agosto, exerce

funções de regulação, de supervisão e de promoção e defesa da concorrência

respeitantes às atividades económicas na área da saúde nos setores público, privado,

cooperativo e social;

Considerando as atribuições da Entidade Reguladora da Saúde conferidas pelo artigo

5.º dos seus Estatutos, aprovados pelo Decreto-Lei n.º 126/2014, de 22 de agosto;

Considerando os objetivos da atividade reguladora da Entidade Reguladora da Saúde

estabelecidos no artigo 10.º dos seus Estatutos, aprovados pelo Decreto-Lei n.º

126/2014, de 22 de agosto;

Considerando os poderes de supervisão da Entidade Reguladora da Saúde

estabelecidos no artigo 19.º dos seus Estatutos, aprovados pelo Decreto-Lei n.º

126/2014, de 22 de agosto;

Visto o processo registado sob o n.º ERS/035/2015;

I. DO PROCESSO

I.1. Origem do processo

1. Em 29 de setembro de 2014, o utente A. apresentou na Entidade Reguladora da

Saúde (doravante ERS) uma reclamação eletrónica, alegando dificuldades no

acesso à realização de exames gastroenterológicos – concretamente uma

endoscopia digestiva alta e uma colonoscopia com anestesia –, no Hospital de

Santo António dos Capuchos. – Cfr. fl. 10 dos autos;

2. A sobredita reclamação foi registada no Sistema de Gestão de Reclamações

(doravante SGREC) da ERS, tendo sido inicialmente tratada no âmbito do

processo de reclamação n.º REC/9918/2014.

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3. Posteriormente, aquele processo foi arquivado, tendo sido aberto o processo de

avaliação n.º AV/027/2015, onde foi efetuada uma análise preliminar da situação

subjacente à reclamação.

4. Todavia, face à potencial gravidade da situação denunciada e à necessidade de

uma investigação mais pormenorizada do caso, ao abrigo das atribuições e

competências da ERS, o respetivo Conselho de Administração deliberou, por

despacho de 17 de junho de 2015, proceder à abertura do presente processo de

inquérito, registado sob o n.º ERS/035/2015 (cfr. fls. 1 a 9 dos autos).

5. O Hospital de Santo António dos Capuchos, visado na reclamação que está na

origem dos presentes autos, está registado no Sistema de Registo de

Estabelecimentos Regulados (SRER) da ERS sob o n.º 113564 e integra o Centro

Hospitalar de Lisboa Central, E.P.E. (doravante CHLC) – cfr. fl. 17 dos autos;

6. Já este Centro Hospitalar é titular do NIPC 508080142, tem sede na Rua José

António Serrano, 1150-199 Lisboa, e encontra-se inscrito no SRER da ERS sob o

n.º 19062, sendo responsável por mais 5 estabelecimentos prestadores de

cuidados de saúde registados na ERS, para além do Hospital de Santo António

dos Capuchos (cfr. fl. 16 dos autos).

I.2. Diligências

7. No âmbito da investigação desenvolvida pela ERS, realizaram-se, entre outras, as

diligências consubstanciadas em:

(i) Pesquisa no SRER da ERS sobre a entidade e o estabelecimento hospitalar

visados na reclamação do utente A. (cfr. fls. 16 e 17 dos autos);

(ii) Esclarecimentos prestados pelo CHLC ao reclamante, em sede do processo

de reclamação (cfr. fls. 13 a 15 dos autos);

(iii) Pedidos de elementos enviados ao CHLC, por ofícios datados de 16 de

março e de 25 de junho de 2015, e análise das respetivas respostas (cfr. fls.

18 a 21, 25 a 32, 35, 36, 45 a 55 dos autos);

(iv) Pedido de informações dirigido ao reclamante, por ofício datado de 25 de

junho de 2015, e análise da resposta concedida (cfr. fls. 33, 34, 40 e 41 dos

autos);

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(v) Pedido de cooperação enviado à Administração Regional de Saúde de

Lisboa e Vale do Tejo, I.P., (doravante ARS LVT), por ofício datado de 25 de

junho de 2015, e apreciação das informações prestadas (cfr. fls. 37 a 39, 56

e 57 dos autos).

II. DOS FACTOS

II.1. Do teor da reclamação apresentada

8. Em 29 de setembro de 2014, o utente A. apresentou na ERS uma reclamação

eletrónica, cujo teor se passa a transcrever:

“Após uma tentativa de me fazerem uma endoscopia sem resultados a 20 de

Maio [de 2014], continuo à espera de marcação para a endoscopia e uma

colonoscopia que, derivado ao meu estado de nervos, terão de ser feitas com

anestesia geral. Será que 3 análises […] não são motivo suficiente para uma

marcação, apesar do meu médico ter considerado urgente? Que mais será

preciso para fazer o exame antes de estar morto? […].” – Cfr. fl. 10 dos autos;

II.2. Dos esclarecimentos concedidos pelo prestador ao reclamante

9. Em sede do processo de reclamação que correu termos na ERS sob n.º

REC/9918/2014, por carta datada de 13 de janeiro de 2015, o CHLC prestou ao

reclamante os esclarecimentos que se seguem:

“[…] Vº Exª teve os seus exames Endoscópicos (Endoscopia Digestiva Alta e

Colonoscopia) marcados para o dia 19/06/2014, o pedido destes exames tinha

sido feito em 08/05/2014.

Vº Exª não tolerou a punção venosa nem a realização dos exames pelo que

aguarda a respectiva marcação com apoio da equipa de Anestesiologia.

Devido aos múltiplos pedidos para a realização de Colonoscopia e Endoscopia

Digestiva Alta sob anestesia, foram estabelecidos critérios clínicos de prioridade

para a marcação destes exames.

Assim, tal como todos os outros doentes os exames Endoscópicos de Vº Exº

serão marcados de acordo com os critérios clínicos de prioridade

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estabelecidos[1] e de acordo com os recursos disponíveis não só do Serviço de

Gastrenterologia mas também e principalmente neste caso do Serviço de

Anestesiologia.

A terminar gostaríamos ainda de referir que esta especialidade avalia e

acompanha todos os doentes provenientes dos diferentes pólos deste Centro

Hospitalar (Hospital Santo António Capuchos, São José, Santa Marta, Curry

Cabral, Santa Marta, Dona Estefânia e Maternidade Alfredo da Costa), o que

obriga a uma gestão rigorosa dos agendamentos dos exames dos doentes

internados e dos doentes em regime de ambulatório. […]”. – Cfr. fls. 13 a 15 dos

autos;

II.3. Dos pedidos de elementos enviados ao prestador e das respetivas respostas

10. Em sede do processo de avaliação n.º AV/027/2015, por ofício datado de 16 de

março de 2015, a ERS solicitou ao CHLC as seguintes informações:

“a) qual a classificação atribuída ao utente A., de acordo com os critérios clínicos

de prioridade fixados por V. Exas., com indicação, documentalmente suportada,

da data em que tal avaliação ocorreu, e do agendamento à data feito dos

MCDT[2] em causa;

b) indicação sobre se entretanto já foram realizados os exames pretendidos, em

tempo útil e adequado, atenta a situação clínica do utente;

c) em caso de resposta negativa ao ponto anterior, informação sobre se foi

assegurada a sua realização através da subcontratação de entidades externas;

d) descrição, apoiada nos suportes documentais respetivos, dos critérios clínicos

de prioridade [fixados] para a marcação destes exames, indicados na resposta

de V. Exas. ao utente;

e) os demais procedimentos definidos por esse estabelecimento hospitalar para

a realização de MCDT, aptos a assegurar, de modo permanente e efetivo, o

acesso aos cuidados de saúde, mediante a sua capacidade instalada, ou então

1 No entanto, o CHLC não presta informações ao reclamante sobre esses critérios, nem sequer

sobre a prioridade clínica concretamente atribuída ao caso deste. 2 A sigla MCDT, que será usada diversas vezes ao longo da deliberação, significa Meio(s)

Complementar(es) de Diagnóstico e Terapêutica.

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com recurso a entidades externas, que se apresentem como necessários e

adequados à satisfação das necessidades dos utentes, em tempo útil;

f) considerando o relatado por V. Exas., sobre os “[…] múltiplos pedidos para a

realização de Colonoscopia e Endoscopia Digestiva Alta sob anestesia […]”,

informação sobre o número total de pedidos rececionados no serviço de

gastroenterologia e número total de pedidos pendentes de realização dos

referidos MCDT sob anestesia, informação esta que deverá ser reportada aos

últimos três meses até ao presente, e desagregada por:

(i) tipo de MCDT (colonoscopia ou endoscopia digestiva alta);

(ii) grau de prioridade clínica atribuída;

g) quaisquer outros esclarecimentos complementares que julguem necessários e

relevantes para a análise do caso concreto.” – Cfr. fls. 18 a 21 dos autos;

11. Em resposta ao solicitado, por carta recebida na ERS em 12 de maio de 2015, a

qual foi depois complementada por mensagem de correio eletrónico rececionada

no dia 14 do mesmo mês, o CHLC veio prestar as seguintes informações,

discriminadas em função das alíneas constantes do pedido desta Entidade

Reguladora:

“a) O caso do utente A., com pesquisa de […], foi classificado como prioritário,

de acordo com o protocolo de triagem clinica e a que correspondem os tempos

de espera aí mencionados (anexo[3]);

b) e c) O exame do Utente A. esteve marcado em 19 de Junho de 2014, contudo

não tolerou o exame, tendo este sido reagendado, com apoio anestésico, para 5

de maio de 2015. Contudo a 21 de Abril de 2015 o exame foi desmarcado,

porque o doente estava fora de Portugal. Neste momento, aguarda-se contacto

do utente ou do seu Médico Assistente para reagendamento.

d) Segue em anexo informação relativa ao "protocolo da triagem da

colonoscopia"[4];

e) A capacidade de resposta, no bloco de Meios Complementares de

Diagnostico, para colonoscopias com anestesia, consta nos quadros em anexo,

3 O protocolo de triagem clínica, a que o CHLC se refere, corresponde ao “Protocolo da

Triagem da Colonoscopia” junto aos autos por aquele, em anexo ao seu e-mail de 14 de maio de 2015, constando da fl. 29 dos autos. 4 Ver referência anterior.

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correspondendo a 15% do total; Anexamos tabela relativa à capacidade

instalada no bloco de exames para realização de Endoscopia Digestiva Alta e

Colonoscopia com anestesia[5];

f) Segue, em anexo, tabelas com: "lista com tempo de espera dos MCDTS de

Gastroenterologia", "lista de espera - outras técnicas Gastroenterológicas

diagnosticas e/ou terapêuticas", "Total anual - Bloco Exames Gastro - 2013",

"Total Anual - Bloco Exames Gastro - 2014", "Total geral anual 2015"[6];

g) O número de solicitações tem aumentado em face do reconhecimento, por

parte dos Médicos e restantes cidadão[s], da importância do rastreio e do

esclarecimento dos sintomas de risco do Cancro Colo Rectal. Os referidos

tempos de espera, no Centro Hospitalar Lisboa Central (CHLC) agravam-se

significativamente, quando se trata de exames sob anestesia, uma vez que

existe uma reconhecida carência de Anestesistas. Actualmente, a maioria dos

pedidos requisita o apoio anestésico e o Serviço de Gastroenterologia do CHLC

não consegue em tempo garantir o apoio à maioria dos doentes. Além disso,

prevê-se o agravamento da situação a curto prazo, atendendo às normas da

DGS (vide NOCS) baseada em pareceres da SPED e do Colégio da

Especialidade da Ordem dos Médicos, que condicionam muito a possibilidade do

Gastroenterologista efectuar a sedação não anestesia, tornando cada vez mais

indispensável a presença do Anestesista.” – Cfr. fls. 25 a 32 dos autos;

12. Com interesse para os presentes autos, dos documentos juntos pelo prestador ao

seu ofício de resposta decorre que:

(i) No CHLC foi criado um protocolo para a realização da triagem do exame

de colonoscopia, com identificação expressa dos casos que devem ser

considerados clinicamente muito prioritários, prioritários ou não prioritários

e também com a previsão dos rastreios;

(ii) Em 2013, no CHLC, foram efetuados 883 exames de endoscopia digestiva

alta e colonoscopia com anestesia; em 2014, esse número subiu para 929;

e, em abril de 2015, havia já uma lista de espera com 935 utentes,

verificando-se que 13 utentes aguardavam a realização do(s) exame(s)

desde o ano 2012, e 211 utentes aguardavam desde 2013;

5 Cfr. frente da fl. 30 dos autos.

6 Cfr. verso da fl. 30 e fls. 31 e 32 dos autos.

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(iii) O CHLC dispõe de uma lista na qual indica os tempos médios de espera

para a realização de exames de Gastroenterologia (onde estão,

naturalmente, incluídos a endoscopia digestiva alta e a colonoscopia),

verificando-se que, na lista referente a março de 2015, os prazos médio e

máximo para a realização de endoscopias em situações prioritárias são,

respetivamente, de 42 e 56 dias; já no caso das colonoscopias, esses

prazos aumentam um pouco, sendo de 56 dias o prazo médio e de 112

dias o prazo máximo.

13. Cumpre, ainda, referir que, no seu site7, o CHLC publicita e, supostamente,

mantém atualizada, com uma periodicidade trimestral, a informação relativa aos

MCDT realizados nos estabelecimentos prestadores de cuidados de saúde por si

explorados, e respetivos tempos de espera.

14. Já no âmbito do presente processo de inquérito, por ofício datado de 25 de junho

de 2015, a ERS dirigiu um novo pedido de elementos ao CHLC, tendo requerido:

“a) Cópia dos pedidos de marcação dos exames complementares de diagnóstico

para o utente A. (portanto, do primeiro e do segundo pedido, respetivamente,

sem e com recurso a anestesia);

b) Cópia de documento onde conste o resultado da aplicação do protocolo de

triagem clínica ao caso do utente em questão e, portanto, a prioridade que lhe foi

atribuída pelo Hospital de Santo António dos Capuchos;

c) Indicação do número de utentes que, em finais de junho de 2014, estavam à

frente do utente na lista de espera para a realização de endoscopia digestiva alta

e/ou colonoscopia com anestesia, com envio do respetivo suporte documental;

d) Informação sobre as medidas que tenham sido eventualmente adotadas pelo

CHLC com o objetivo de reduzir a lista de utentes que aguardam a marcação de

endoscopia digestiva alta e/ou colonoscopia com anestesia.” – Cfr. fls. 35 e 36

dos autos;

15. Por ofício recebido na ERS, em 31 de julho de 2015, o CHLC veio responder às

questões acima elencadas nos seguintes termos:

7 In http://www.chlc.min-saude.pt/content.aspx?menuid=466&localid=466.

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“a) Segue em anexo cópia comprovativa do único pedido efectuado pelo Médico

assistente do doente8;

b) A aplicação SONHO, como é do conhecimento de Vº Exª, no agendamento e

marcação de MCDT não disponibiliza informação de lista de espera, conforme

acontece nos módulos da consulta (LEC) e da cirurgia (LIC). Como tal não é

possível obter do Sistema documento comprovativo da inscrição e atribuição de

prioridades.

[…]

c) Tal como referido no ponto b) a aplicação SONHO no que se refere [ao]

agendamento e marcação de MCDT não disponibiliza informação de lista de

espera, conforme acontece nos módulos da consulta (LEC) e da cirurgia (LIC).

Como tal não é possível obter do Sistema documento comprovativo dos utentes

em lista de espera para MCDT.

O Bloco de exames de Gastro recebe requisições de exames com proveniência

da consulta [externa] e do internamento das diversas especialidades.

[…]

A gestão das requisições obedece à seguinte metodologia:

a) As requisições feitas para doentes internados não são incluídas na lista de

espera de exames, existe uma "via verde" para agendamento destes doentes

(evita dias de internamento desnecessários, permite um diagnóstico rápido)

b) As requisições provenientes da consulta externa, são entregues pelo próprio

utente no Bloco de Exames de Gastro.

Tal como referido anteriormente não existe uma aplicação informática para

gestão de inscritos para MCDT, tal como existe para inscritos para cirurgia (LIC)

e inscritos para consulta externa (LEC).

Mas o Bloco de Exames de Gastro criou uma base de dados em excell, na qual

regista, no momento em que o utente entrega a requisição de exames: a data da

entrega da requisição; o nome do doente e outros dados pessoais como o n°

utente Centro de Saúde; o exame requisitado; a especialidade que faz a

requisição /data.

8 Cfr. fl. 51 dos autos.

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Posteriormente e como é referido no ponto b.1) o médico triador, à semelhança

dos critérios de prioridade clínica que existem para o SIGIC, faz a triagem dos

pedidos e de acordo com a história clínica do doente classifica as requisições de

urgente, muito prioritário, prioritário, normal e rastreio.

De acordo com a prioridade clínica atribuída são feitos os agendamentos dos

exames, que não seguem a ordem cronológica de entrada da requisição.

Após a triagem é registada na lista de espera a data de agendamento, bem

como a data da notificação ao doente, por escrito ou por telefone.

No dia que o exame é realizado, os registos da efetivação do mesmo são feitos

no sistema informático SONHO e no sistema de registos clínicos DOC BASE.

No caso concreto do utente A. a requisição da Endoscopia Alta e da

Colonoscopia foi entregue pelo utente no Bloco de Exames em Maio /2014[9]. Os

2 exames foram agendados para 19.06.2014, neste dia o doente iniciou a

Endoscopia Alta e não tolerou fazer sem anestesia[10]. Por isso ambos os

exames foram cancelados, ficando a aguardar nova marcação com apoio

anestésico.

O Bloco de Exames de Gastro só tem apoio anestésico para todo o tipo de

exames, 2 a 3 manhãs por semana, às vezes apenas uma manhã, devido à

carência de Anestesistas.

Por isso só foi possível remarcar os exames para 05/Maio/2015.

O doente recebeu a notificação por escrito e telefonou a informar (em

21/Abril/2015), que não aceitava a data por estar ausente no estrangeiro.[11]

Neste momento, aguarda-se contacto do utente ou do seu Médico Assistente

para reagendamento, motivo pelo qual os exames continuam por realizar.

d)Apesar da escassez de recursos humanos a especialidade de

Gastroenterologia conseguiu aumentar a produção em colonoscopia total em

11% e em endoscopia alta em 14%, com algumas medidas adoptadas.

A especialidade de Gastroenterologia tem trabalhado com a especialidade de

Anestesiologia no sentido de optimizar recursos e alertar as entidades

9 Cfr. documento junto pelo CHLC, a fls. 53 dos autos.

10 Cfr. documento junto pelo CHLC, a fls. 52 dos autos.

11 Cfr. documento junto pelo CHLC, a fls. 49 e 50 dos autos.

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competentes para a importância, cada vez maior, desta especialidade, no

contexto das técnicas de Gastroenterologia.

A especialidade reviu a metodologia e o protocolo de triagem de novos doentes.

Implementou um "care pathway" com o objectivo de diminuir a desmarcação e

falta dos doentes aos exames com a consequente perda de tempos úteis. […].” –

Cfr. fls. 45 a 55 dos autos.

II.4. Do pedido de informações dirigido ao reclamante e da resposta concedida

16. Por ofício datado de 25 de junho de 2015, a ERS solicitou ao utente que viesse

aos presentes autos prestar os seguintes esclarecimentos:

“a) Indique o Centro de Saúde onde V. Exa. está inscrito e a respetiva morada;

b) Indique a data em que foi feito o pedido dos exames (endoscopia digestiva

alta e colonoscopia) ao Hospital de Santo António dos Capuchos e informe se,

na altura, lhe foi facultado algum documento comprovativo desse pedido, com

envio da respetiva cópia, em caso de resposta afirmativa;

c) Informe se o pedido em questão foi feito pelo seu médico assistente, vulgo

médico de família, ou se foi feito por algum médico do próprio Centro Hospitalar;

d) Informe se foi notificado, pelo CHLC, do facto da realização dos exames

(agora com anestesia) ter sido agendada para o dia 05 de maio de 2015 e, em

caso de resposta afirmativa, informe se V. Exa., ou alguém a seu pedido,

procedeu à sua desmarcação, e qual o fundamento apresentado;

e) Informe se mantém o interesse na realização dos exames em questão e, em

caso de resposta afirmativa, informe se já pediu a remarcação dos mesmos junto

do Hospital de Santo António dos Capuchos.” – Cfr. fls. 33 e 34 dos autos;

17. Em resposta enviada à ERS a 6 de julho de 2015, através de mensagem de

correio eletrónico, o utente informou que já havia realizado a endoscopia digestiva

– possivelmente a título particular –, “pois o médico necessitava dos dados para

poder providenciar uma medicação adequada”;

18. Já quanto à colonoscopia esclareceu que:

“[…] [o] exame foi-me marcado para 05/05/2015 data em que, por motivos

profissionais me encontrava no estrangeiro. Contactado o serviço do Hospital logo

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que tomei conhecimento do agendamento, fui informado que teria de voltar a ser

solicitado o exame e que iria para a fila de espera (prevendo-se seguramente mais

um ano até á possibilidade de ser efectuado o exame).

[…]

Entretanto, a requisição do exame caducou. Uma vez que tinha de se iniciar o

processo de raiz foi necessário um novo pedido por parte do médico de família.

Com nova receita dirigi-me a outro estabelecimento hospitalar para a realização

dos exames. […].” – Cfr. fls. 40 e 41 dos autos;

II.5. Do pedido de cooperação à ARS LVT

19. Finalmente, em sede do presente processo de inquérito, a ERS pediu também a

cooperação da ARS LVT, tendo requerido as seguintes informações,

acompanhadas, sempre que possível do respetivo suporte documental:

“a) Informação sobre o estádio de implementação, na área geográfica de

intervenção da ARS LVT, das orientações constantes da Recomendação da

ERS n.º 2/2014, sobre o acesso dos utentes do SNS aos MCDT nos

estabelecimentos hospitalares do SNS, que pode ser consultada em www.ers.pt;

b) Informação sobre se, em cumprimento do Despacho n.º 3756/2014, de 3 de

março, do Gabinete do Secretário de Estado da Saúde, a ARS LVT

contratualizou com o CHLC o aumento do número de colonoscopias a realizar

dali em diante, e quais os concretos termos desse acordo/contrato;

c) Em caso de resposta afirmativa à questão anterior, informação sobre a

concreta capacidade instalada e de resposta do CHLC, bem como informação

sobre se este Centro Hospitalar está a cumprir o contrato celebrado com a ARS

LVT;

d) Informação sobre as medidas e/ou procedimentos que têm sido

concretamente adotados pela ARS LVT, com o objetivo de reduzir a lista de

utentes que aguardam a marcação de endoscopias digestivas altas e/ou

colonoscopias com anestesia, nos estabelecimentos de saúde da sua área

geográfica de influência.

e) Esclarecimentos complementares julgados necessários e relevantes para a

análise do caso.” – Cfr. fls. 37 a 39 dos autos;

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20. Assim, por ofício datado de 27 de julho de 2015, a ARS LVT veio aos autos prestar

as informações que se seguem:

“1. Nos finais de 2013, a ARSLVT, IP desenvolveu uma medida com o propósito

de rever os Acordos/Protocolos celebrados ao abrigo do Despacho n.º 3/89 de

20 de Janeiro, com vista a aferir junto das entidades hospitalares da área

geográfica de intervenção, a capacidade de atendimento disponível para efeitos

de convenção na área de gastroenterologia, nas condições em que o preço

estabelecido seria igual ao preço regido pela tabela dos convencionados.

2. A respetiva medida antecipou o Despacho n.º 3756/2014 de 11 de março do

SES, segundo o qual as Administrações Regionais de Saúde tinham até 31 de

março para contratualizar com os hospitais do SNS o aumento do número de

colonoscopias realizadas após prescrição do médico de família, tendo como

referência o pacote de cuidados de saúde e o preço estabelecido para o setor

convencionado, o que permitiu verificar junto das entidades hospitalares do SNS,

a existência ou não de capacidade de atendimento disponível para a realização

de colonoscopias ao exterior, possibilitando desta forma garantir um adequado

acesso a este tipo de exames, rentabilizando os recursos hospitalares, quando

existentes.

3. Nesse âmbito, no decorrer do ano de 2014 foram celebrados acordos de

convenção com três Centros Hospitalares/Hospitais da região, tendo como

referência o pacote de cuidados e o preço estabelecido para o setor

convencionado, com o Centro Hospitalar de Setúbal, EPE, Centro Hospitalar

Lisboa Ocidental, EPE e o Hospital Garcia de Orta, EPE.

4. Em complemento, em janeiro de 2014, a ARSLVT, IP promoveu uma reunião

conjuntamente com os conselhos de administração dos hospitais da sua área de

influência, com o intuito de avaliar a margem existente para a realização de mais

exames de colonoscopia, incluindo a produção interna (via CTH ou doentes

internados) e a produção externa (via Cuidados de Saúde Primários) por forma a

maximizar a capacidade instalada. Como resultado foi estabelecido o

compromisso de incrementar mais 5.500 exames de colonoscopia para o ano de

2014.

5. Nesse contexto, a ARSLVT, IP deliberou proceder à avaliação e monitorização

dos cuidados de saúde prestados nos serviços de colonoscopia aos utentes do

SNS da Região de Lisboa e Vale do Tejo, através da caraterização da situação

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13

apresentada no último triénio 2012-2014 e exposição das medidas que até ao

momento têm vindo a ser desenvolvidas no decorrer da aferição das

necessidades nesse setor.

6. Constatou-se, que na ARSLVT, IP, em 2014 comparativamente ao período

homólogo, houve um aumento de aproximadamente 20,0% da atividade

assistencial do exame de colonoscopia, sendo que nos Hospitais do SNS o

aumento correspondeu a cerca de 17,0% (35.784 exames em 2013 face a

41.773 exames em 2014) e nas entidades convencionadas o aumento

correspondeu a cerca de 26,0% (30.687 exames em 2013 face a 24.407 exames

em 2014).

7. No que concerne ao Centro Hospital Lisboa Central, EPE, [este] assumiu a

possibilidade de aumentar a atividade assistencial em cerca de 1.000 exames

(produção interna). Porém verificou-se que manteve a sua atividade realizada

em 2014 face a 2013, tendo registado a realização de 4.538 exames de

colonoscopia em 2013 e 4.539 exames em 2014. O Centro Hospital Lisboa

Central, EPE no ano 2014 reduziu o número de anestesistas em 6,35 médicos

ETC.

8. Na generalidade o conjunto das medidas adotadas contribuíram para

aumentar o acesso aos utentes aos MCDT da especialidade de Endoscopia

Gastrenterológica na Região de Lisboa e Vale do Tejo, ainda que algumas

instituições hospitalares tenham manifestado dificuldades por saída de

profissionais de anestesiologia e/ou de gastroenterologia no decorrer do ano

2014.” – Cfr. fls. 56 e 57 dos autos;

III. DO DIREITO

III.1. Das atribuições e competências da ERS

21. De acordo com o preceituado no n.º 1 do artigo 4.º e no n.º 1 do artigo 5.º, ambos

dos Estatutos da ERS, aprovados pelo Decreto-Lei n.º 126/2014, 22 de agosto, a

ERS tem por missão a regulação, a supervisão e a promoção e defesa da

concorrência, respeitantes às atividades económicas na área da saúde dos setores

público, privado, cooperativo e social, e, em concreto, da atividade dos

estabelecimentos prestadores de cuidados de saúde.

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22. Sendo que, nos termos do n.º 2 do artigo 4.º dos mesmos Estatutos, estão sujeitos

à regulação da ERS todos os estabelecimentos prestadores de cuidados de saúde,

do sector público, privado, cooperativo e social, independentemente da sua

natureza jurídica.

23. Ora, sendo o CHLC uma entidade pública empresarial detentora de vários

estabelecimentos prestadores de cuidados de saúde – entre os quais se inclui o

Hospital de Santo António dos Capuchos, especificamente visado na reclamação

que deu origem a estes autos –, então, ele está legalmente submetido aos poderes

de regulação e supervisão da ERS.

24. De acordo com o disposto nas alíneas b) e c) do n.º 2 do artigo 5.º dos seus

Estatutos, as atribuições da ERS compreendem a supervisão da atividade e

funcionamento dos estabelecimentos prestadores de cuidados de saúde, no que

respeita “à garantia dos direitos relativos ao acesso aos cuidados de saúde, à

prestação de cuidados de saúde de qualidade, bem como dos demais direitos dos

utentes” e também “à legalidade e transparência das relações económicas entre os

diversos operadores, entidades financiadores e utentes”.

25. De tal forma que as atribuições supra enunciadas encontram-se expressamente

incluídas no elenco dos objetivos regulatórios da ERS.

26. Com efeito, as alíneas b), c) e e) do artigo 10.º dos seus Estatutos fixam como

objetivos gerais da atividade reguladora da ERS, respetivamente: “assegurar o

cumprimento dos critérios de acesso aos cuidados de saúde, nos termos da

Constituição e da lei”, “garantir os direitos e interesses legítimos dos utentes” e

“zelar pela legalidade e transparência das relações económicas entre todos os

agentes do sistema”.

27. Na execução do objetivo contido na sobredita alínea b) do artigo 10.º dos Estatutos

da ERS, e conforme decorre das alíneas a) e d) do artigo 12.º do mesmo diploma

estatutário, incumbe a esta Entidade Reguladora assegurar o direito de acesso

universal e equitativo à prestação de cuidados de saúde, entre outros, nos serviços

e estabelecimentos do Serviço Nacional de Saúde (doravante SNS) e nos

estabelecimentos publicamente financiados, bem como zelar pelo respeito da

liberdade de escolha nos estabelecimentos prestadores de cuidados de saúde,

incluindo o direito à informação.

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28. Ademais, em concretização do objetivo da atividade reguladora da ERS previsto

na alínea c) do artigo 10.º dos seus Estatutos, as alíneas a) e b) do artigo 13.º do

mesmo diploma estabelecem como sendo competências da ERS:

“a) Apreciar as queixas e reclamações dos utentes e monitorizar o seguimento

dado pelos estabelecimentos prestadores de cuidados de saúde às mesmas,

nos termos do artigo 30.º, […];

b) Verificar o cumprimento da «Carta dos Direitos de Acesso aos Cuidados de

Saúde pelos utentes do Serviço Nacional de Saúde», designada por «Carta dos

Direitos de Acesso» por todos os prestadores de cuidados de saúde, nela se

incluindo os direitos e deveres inerentes; […]”.

29. Finalmente, e a propósito do objetivo consagrado na alínea e) do artigo 10.º, a

alínea c) do artigo 15.º dos Estatutos da ERS prescreve que compete a esta

Entidade Reguladora “elaborar estudos e emitir recomendações sobre a

organização e desempenho dos serviços de saúde do SNS”.

30. Para tanto, esta Entidade Reguladora pode assegurar tais incumbências mediante

o exercício dos seus poderes de supervisão, zelando pela aplicação das leis e

regulamentos e demais normas aplicáveis às atividades sujeitas à sua regulação,

no âmbito das suas atribuições, e emitindo ordens e instruções, bem como

recomendações ou advertências individuais, sempre que tal seja necessário, sobre

quaisquer matérias relacionadas com os objetivos da sua atividade reguladora,

incluindo a imposição de medidas de conduta e a adoção das providências

necessárias à reparação dos direitos e interesses legítimos dos utentes (cfr.

alíneas a) e b) do artigo 19.º dos Estatutos da ERS).

31. Atendendo à matéria em causa na reclamação que está na origem destes autos –

referente à realização de exames endoscópicos com anestesia, concretamente

uma endoscopia digestiva alta e uma colonoscopia, em tempo útil –, convirá referir

que, ao longo dos últimos anos, ao abrigo das suas atribuições e competências, a

ERS tem-se debruçado, em diversas ocasiões, sobre a necessidade de garantir a

realização de MCDT a utentes do SNS, em tempo considerado clinicamente

aceitável.

32. Verificando-se que, no que especificamente concerne às colonoscopias, desde

2008, têm sido emitidas diversas instruções a prestadores convencionados,

sobretudo da área de abrangência das Administrações Regionais de Saúde

(doravante ARS) do Norte e de Lisboa e Vale do Tejo.

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33. Mais foi recomendado às cinco ARS o seguinte12:

(i) A adoção urgente de todas as medidas necessárias à identificação dos

prestadores convencionados com o SNS que efetivamente procedem à

realização de exames de colonoscopia nas áreas geográficas das suas

influências;

(ii) Uma vez identificados os prestadores convencionados em resultado das

diligências aptas à concretização do ponto anterior, a adoção urgente de

todas as medidas necessárias a aferir da real capacidade de resposta do

SNS e da rede nacional de prestadores de cuidados de saúde quanto à

realização de exames de colonoscopias;

(iii) A adoção urgente de todas as medidas julgadas necessárias e adequadas

à reposição de funcionamento de uma rede de entidades convencionadas

capaz de realização, em tempo útil, de exames de colonoscopia a utentes

do SNS nas áreas geográficas de sua influência;

(iv) A atualização das listas de entidades convencionadas para que,

permanentemente, transmitam a informação correta aos utentes do SNS

que dela necessitem.

34. Já em junho de 2014, a ERS recomendou ao Ministério da Saúde que adotasse as

medidas consideradas necessárias e adequadas à estipulação de tempos

máximos de resposta garantidos no que se refere ao acesso a MCDT, tendo em

conta referenciais temporais de orientação clínica, definidos ou a definir, de forma

a garantir que os prestadores de cuidados de saúde que passassem a ficar

abrangidos pela obrigação de cumprimento de tais tempos, permanentemente

acautelassem aos utentes a prestação de cuidados de saúde, in casu MCDT,

mediante a sua capacidade instalada ou com recurso a entidades externas, em

tempo considerado clinicamente aceitável para a condição de saúde de cada

utente13.

35. Considerando o teor da reclamação apresentada pelo utente A. e o

enquadramento supra exposto, revela-se necessário analisar a situação

denunciada e os elementos carreados para os autos na sequência das diligências

instrutórias realizadas, sob o prisma de uma eventual limitação do acesso à

12

Cfr. instruções e recomendações publicadas na página eletrónica da ERS, em www.ers.pt. 13

Vide Recomendação da ERS n.º 2/2014, publicada em 4 de agosto de 2014, na respetiva página eletrónica, em www.ers.pt.

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17

prestação de cuidados de saúde, em tempo útil, bem como sob o prisma da

necessidade de proteção dos direitos e legítimos interesses dos utentes,

designadamente o direito à informação e à liberdade de escolha do prestador de

cuidados de saúde.

III.2. Das atribuições e competências das Administrações Regionais de Saúde

36. De acordo com o disposto nos n.os 1 e 2 da Base XVIII da LBS, a organização do

sistema de saúde baseia-se na divisão do território nacional em regiões de saúde,

que “são dotadas de meios de ação bastantes para satisfazer autonomamente as

necessidade correntes de saúde dos seus habitantes, podendo, quando

necessário, ser estabelecidos acordos inter-regionais para a utilização de

determinados recursos.”

37. Por conseguinte, o SNS detém essencialmente uma organização de caráter

regional, sendo administrado pelas cinco ARS (a saber, Norte, Centro, Lisboa e

Vale do Tejo, Alentejo e Algarve), cada uma com atribuições e competências sob

uma determinada região administrativamente organizada.

38. As ARS desempenham, assim, um papel fundamental na estruturação e

organização do SNS nas áreas sob sua influência e, in extremis, na definição dos

pontos de oferta, ou redes, de cuidados de saúde primários e de cuidados de

saúde diferenciados, como são os cuidados hospitalares, os continuados e os

paliativos

39. Com efeito, nos termos do n.º 1 do artigo 3.º do Decreto-Lei n.º 22/2012, de 30 de

janeiro, que aprovou a orgânica das Administrações Regionais de Saúde, I.P., as

ARS têm por missão garantir à população da respetiva área geográfica de

intervenção o acesso à prestação de cuidados de saúde, adequando os recursos

disponíveis às necessidades, bem como cumprir e fazer cumprir políticas e

programas de saúde nessa mesma área.

40. E é com vista a garantir o cumprimento de tal missão que as ARS são dotadas de

um extenso elenco de atribuições, como sejam assegurar, na respetiva área

geográfica, a prossecução das atribuições do Ministério da Saúde, executando a

política nacional de saúde, de acordo com as políticas globais e sectoriais, visando

o seu ordenamento racional e a otimização dos recursos; colaborar na elaboração

do Plano Nacional de Saúde e acompanhar a respetiva execução a nível regional;

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participar na definição das medidas de coordenação intersectorial de planeamento,

tendo como objetivo a melhoria da prestação de cuidados de saúde; e assegurar a

adequada articulação entre os serviços prestadores de cuidados de saúde de

modo a garantir o cumprimento da(s) rede(s) de referenciação (cfr. n.º 2 do artigo

3.º do Decreto-Lei n.º 22/2012, de 30 de janeiro).

41. Do exposto resulta, então, que a organização do SNS assenta no princípio da

autossuficiência regional14, o que constitui, ademais, decorrência direta da opção

constitucionalmente consagrada no que se refere à imposição de uma gestão

descentralizada do SNS (cfr. n.º 4 do artigo 64.º da Constituição da República

Portuguesa - CRP).

42. Sem prejuízo, o referido princípio de gestão deve ser conciliado com as

características fundamentais da universalidade e generalidade do SNS,

consagradas na alínea a) do n.º 2 do artigo 64.º da CRP, donde decorre a

importância das ARS unirem esforços entre si e atuarem de forma concertada em

matérias chave da política nacional de saúde.

III.3. Do enquadramento legal da prestação de cuidados de saúde

III.3.1. Do direito de acesso aos cuidados de saúde em tempo clinicamente

aceitável

43. O direito à proteção da saúde, consagrado no artigo 64.º da Constituição da

República Portuguesa (doravante CRP), tem por escopo garantir o acesso de

todos os cidadãos aos cuidados de saúde, o qual será assegurado, entre outras

obrigações constitucionalmente impostas, através da criação de um SNS universal,

geral e, tendo em conta as condições económicas e sociais dos cidadãos,

tendencialmente gratuito.

44. Dito de outro modo, a CRP impõe que o acesso dos cidadãos aos cuidados de

saúde, no âmbito do SNS, deve ser assegurado com respeito pelos princípios

fundamentais plasmados naquele preceito constitucional, designadamente a

universalidade, generalidade e gratuitidade tendencial.

14

Para um completo enquadramento do Princípio da Autossuficiência Regional consultar o Estudo da ERS para a Carta Hospitalar, publicado na respetiva página eletrónica, em www.ers.pt.

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45. Por sua vez, a Lei de Bases da Saúde (doravante LBS), aprovada pela Lei n.º

48/90, de 24 de agosto, em concretização da imposição constitucional contida no

preceito acima mencionado, estabelece no n.º 4 da sua Base I que “os cuidados de

saúde são prestados por serviços e estabelecimentos do Estado ou, sob

fiscalização deste, por outros entes públicos ou por entidades privadas, sem ou

com fins lucrativos”, sendo que o Estado deve promover e garantir o acesso de

todos os cidadãos aos cuidados de saúde, mas no limite dos recursos humanos,

técnicos e financeiros disponíveis (cfr. n.º 2 da Base I).

46. Nas diretrizes da política de saúde estabelecidas na Base II da LBS consagra-se

que “é objetivo fundamental obter a igualdade dos cidadãos no acesso aos

cuidados de saúde, seja qual for a sua condição económica e onde quer que

vivam, bem como garantir a equidade na distribuição de recursos e na utilização

de serviços”.

47. Neste sentido, o acesso aos cuidados de saúde deve ser avaliado, pelo menos,

numa quádrupla perspetiva, a saber, económica, geográfica, temporal e qualitativa.

48. Especificamente, a vertente temporal do direito de acesso surge associada à

necessidade de obtenção de cuidados de saúde em tempo razoável, por referência

ao à condição de saúde de cada doente.

49. Para tanto, os prestadores de cuidados de saúde devem conceder todos os

cuidados de saúde, a cada um dos utentes que a si se dirigem, dentro do tempo

considerado útil e necessário ao efetivo cumprimento de tal desiderato

constitucional.

50. A Lei n.º 15/2014, de 21 de março, que consolida os direitos e deveres dos utentes

dos serviços de saúde, e define os termos a que deve obedecer a Carta dos

Direitos de Acesso aos Cuidados de Saúde pelos Utentes do SNS (ou

abreviadamente, Carta dos Direitos de Acesso), determina, no n.º 1 do seu artigo

4.º, que “o utente dos serviços de saúde tem direito a receber, com prontidão ou

num período de tempo considerado clinicamente aceitável, consoante os casos, os

cuidados de saúde de que necessita.”

51. Com vista a assegurar aquele direito, o mesmo diploma legal estabelece como

objetivo da Carta dos Direitos de Acesso “garantir a prestação de cuidados de

saúde pelo SNS e pelas entidades convencionadas em tempo considerado

clinicamente aceitável para a condição de saúde de cada utente do SNS”, e impõe

como dever do Ministério da Saúde a fixação, “por portaria, dos tempos máximos

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20

de resposta garantidos [TMRG] para todo o tipo de prestações sem carácter de

urgência, nomeadamente ambulatório dos centros de saúde, cuidados

domiciliários, consultas externas hospitalares, meios complementares de

diagnóstico e terapêutica e cirurgia programada” (cfr., respetivamente, o n.º 1 do

artigo 25.º e o n.º 1 do artigo 26.º da Lei n.º 15/2014).

52. Por seu turno, a alínea b) do n.º 2 do artigo 25.º da Lei n.º 15/2014, determina que

a Carta dos Direitos de Acesso deve definir o direito do utente à informação sobre

os TMRG.

53. Com vista a assegurar esse direito, o artigo 27.º do diploma legal em análise fixa

as seguintes obrigações dos prestadores:

“a) Afixar em locais de fácil acesso e consulta pelo utente a informação

atualizada relativa aos tempos máximos de resposta garantidos por patologia ou

grupos de patologias, para os diversos tipos de prestações;

b) Informar o utente no ato de marcação, mediante registo ou impresso próprio,

sobre o tempo máximo de resposta garantido para prestação dos cuidados de

que necessita;

c) Informar o utente, sempre que for necessário acionar o mecanismo de

referenciação entre os estabelecimentos do SNS, sobre o tempo máximo de

resposta garantido para lhe serem prestados os respetivos cuidados no

estabelecimento de referência, nos termos previstos na alínea anterior;

d) Informar o utente, sempre que a capacidade de resposta dos

estabelecimentos do SNS estiver esgotada e for necessário proceder à

referenciação para os estabelecimentos de saúde do sector privado, nos termos

previstos na alínea b);

e) Manter disponível no seu sítio da Internet informação atualizada sobre os

tempos máximos de resposta garantidos nas diversas modalidades de prestação

de cuidados; […].”

54. Ora, procedendo à regulamentação dos artigos 25.º a 27.º da Lei n.º 15/2014,

entrou recentemente em vigor a Portaria n.º 87/2015, de 23 de março.

55. Sucede, contudo, que, em relação aos MCDT, a referida Portaria só estipula

TMRG para alguns exames de Cardiologia (cfr. ponto 2.3. do Anexo I da Portaria

n.º 87/2015).

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56. Não significando, porém, essa ausência de regulamentação que não seja

necessário assegurar a realização de outros tipos de exames pelo SNS, e pelas

entidades convencionadas, em tempo considerado clinicamente aceitável.

57. Pelo contrário, o direito dos utentes do SNS acederem à prestação de cuidados,

em tempo considerado clinicamente aceitável para a sua condição de saúde,

consta expressamente da alínea 1) do § I da Carta dos Direitos de Acesso,

publicada no Anexo II da Portaria n.º 87/2015.

58. Já o direito dos utentes a serem informados sobre os TMRG aplicáveis, e os

correspondentes deveres dos estabelecimentos prestadores de cuidados de

saúde, encontram-se previstos, respetivamente, no Anexo II (onde é publicada a

Carta dos Direitos de Acesso) e no artigo 4.º, ambos da Portaria n.º 87/2015.

III.3.2. Do Despacho do Secretário de Estado da Saúde n.º 10430/2011, de 1 de

agosto15

59. O Despacho do Secretário de Estado da Saúde n.º 10430/2011, de 1 de agosto,

assume no seu preâmbulo que deve ser assegurada uma utilização mais racional

e eficiente dos recursos disponíveis no sistema de saúde, mas sempre sem

prejuízo da garantia do acesso efetivo dos cidadãos aos cuidados de saúde

necessários, com elevada qualidade;

60. Encontrando-se ainda estabelecido, no preâmbulo do referido despacho, que, em

conformidade com o disposto na LBS e na regulamentação do regime de

celebração das convenções, o recurso aos serviços prestados através de

convenção não pode colocar em causa o racional aproveitamento e rentabilização

da capacidade instalada no setor público, pelo que “é exigível que as instituições

hospitalares do Serviço Nacional de Saúde (SNS), atendendo à sua capacidade

instalada, física e de recursos humanos, otimizem a sua capacidade disponível em

[MCDT], contribuindo, desta forma, para a rentabilização da instituição e para

satisfação da procura”;

61. Destacando a importância de existir uma concertação de esforços entre o nível

hospitalar e os cuidados primários, no sentido de “reforçar este nível de cuidados

por forma a evitar o recurso a outros níveis mais dispendiosos, e,

15

Publicado na 2.ª Série do Diário da República n.º 158, de 18 de agosto de 2011.

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22

simultaneamente, promover a criação de condições que possibilitem uma melhor

gestão e articulação efetiva das instituições”.

62. Assim, aquele diploma determinou a obrigação das instituições do SNS realizarem

internamente, com os recursos técnicos e humanos disponíveis, os MCDT

necessários à satisfação da procura.

63. O predito despacho considera essencial delinear um “conjunto de procedimentos

necessários à introdução de ajustamentos no modelo atual de prescrição de

MCDT”, nesse sentido, é ali determinado que as instituições hospitalares

integrantes do SNS devem, em suma, assegurar a realização dos MCDT aos seus

utentes, por regra, através da sua capacidade instalada ou, em segunda linha, com

recurso à subcontratação de entidades externas do setor público, do setor privado

ou social.

64. Além disso, devem os mesmos prestadores promover a devida articulação com

unidades de cuidados primários no sentido de “possibilitar a realização de MCDT

aos utentes do SNS, com o aproveitamento da sua capacidade instalada” (cfr. § 5

do Despacho em análise).

65. Todavia, o comportamento assumido por diversos prestadores hospitalares

integrados no SNS, de procederem à centralização/internalização de MCDT, não

pode colocar em causa ao acesso, a qualidade e a eficiência dos cuidados

prestados aos utentes.

66. Com efeito, no entendimento da ERS, da internalização de MCDT não pode

resultar uma desvantagem para os utentes, como seja a sujeição a maiores

tempos de espera entre a consulta, a realização do exame e a informação sobre

os resultados obtidos.

67. Tendo a ERS concluído, já por diversas vezes, que quando se constate possuir

capacidade instalada para efetuar os exames prescritos, a entidade pública

integrada no SNS deve utilizar os seus recursos técnicos e humanos disponíveis –

nos termos do disposto no Despacho do Secretário de Estado da Saúde n.º

10430/2011, ora em análise –, evitando assim a utilização de requisições de

prescrição para as entidades com convenção com as Administrações Regionais de

Saúde.

68. Porém, a contrario naquelas situações em que não tenha capacidade para

responder em tempo útil, o prestador apenas respeitará o regime jurídico (legal e

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regulamentar) analisado supra se assegurar a realização dos MCDT aos seus

utentes, em segunda linha, “pelo recurso à subcontratação de entidades externas

especializadas do sector público, tendo como referência a tabela de preços do

SNS, ou do sector privado e social, tendo como referência a tabela de preços do

sector convencionado” (cfr. o estabelecido no § 4 do mesmo Despacho)16.

69. Por fim, com vista a assegurar o direito dos utentes à informação e a transparência

sobre a capacidade de produção hospitalar, em matéria de MCDT, o § 6 do

Despacho n.º 10430/2011 determina que “os hospitais que integram o SNS devem

publicitar e manter atualizados, com uma periodicidade trimestral, nos respetivos

sítios da Internet, a informação relativa aos MCDT realizados e respetivos tempos

de espera.”

III.3.3. Do Despacho do Secretário de Estado da Saúde n.º 3756/2014, de 3 de

março17

70. A propósito da importância que reveste a colonoscopia para o rastreio e

diagnóstico precoce de lesões malignas ou pré-malignas, e, nessa medida, da

necessidade de garantir um acesso adequado a este exame, inclusive com

analgesia do utente, foi mais recentemente publicado o Despacho n.º 3756/2014,

de 3 de março, do Gabinete do Secretário de Estado da Saúde.

71. No preâmbulo do Despacho em apreço estabelece-se, desde logo, que “antes de

ser referenciado para uma unidade hospitalar, é desejável que o médico de família

proceda a uma avaliação clínica do doente, evitando a sobre-referenciação

hospitalar e o consequente aumento dos tempos e doentes em espera para a

consulta de gastrenterologia e exames de diagnóstico.”

72. Assumindo o legislador que “o número atual de prestadores convencionados do

Serviço Nacional de Saúde (SNS) é insuficiente para permitir um alargamento

desejado da deteção precoce do cancro colorretal”, motivo pelo qual “até à

conclusão do procedimento de contratação de convenções ao abrigo do Decreto-

Lei n.º 139/2013, de 9 de outubro, resulta necessário garantir um adequado

acesso” aos exames de rastreio do cancro colorretal e às colonoscopias.

73. Assim, tendo em vista aquele objetivo, o Despacho n.º 3756/2014 determina que:

16

Vide, sobre esta matéria, a Recomendação da ERS n.º 2/2014, de 4 de agosto, publicada em www.ers.pt. 17

Publicado na 2.ª Série do Diário da República n.º 49, de 11 de março de 2014.

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24

“1. Até 31 de março de 2014, a Direção-Geral da Saúde publica o percurso

clínico do doente (regras de referenciação hospitalar) e as normas de orientação

clínica para o rastreio do cancro colorretal e para a realização de colonoscopia.

2. Até 31 de março de 2014, as Administrações Regionais de Saúde, I.P.

contratualizam com os hospitais do SNS o aumento do número de colonoscopias

realizadas após prescrição do médico de família, tendo como referência o pacote

de cuidados e o preço estabelecido para o setor convencionado, bem como os

exames de anatomia patológica eventualmente necessários.

3. O gastrenterologista responsável pela realização da colonoscopia deve fazer

uma avaliação da necessidade de seguimento do doente na consulta de

Gastrenterologia e, se for caso disso, agendar a respetiva consulta, observando-

se o disposto na Portaria n.º 1529/2008, de 26 de dezembro18.

[…]

5. As instituições devem publicitar nos respetivos sítios da internet, a informação

relativa às colonoscopias realizadas e respetivos tempos de espera, em

conformidade com o disposto no despacho n.º 10430/2011, de 1 de agosto,

publicado em Diário da República, 2.ª série, n.º 158, de 18 de agosto de 2011.

[…]”.

74. Em cumprimento do § 1 do Despacho supra citado, a Direção-Geral de Saúde

(doravante DGS) emitiu, em 31 de março de 2014, a Norma n.º 003/2014, alterada,

pela última vez, em 6 de novembro de 2014, sobre “Rastreio Oportunístico do

Cancro do Cólon e Reto”.

III.3.4. Da Norma da DGS n.º 003/2014 sobre “Rastreio Oportunístico do Cancro

do Cólon e Reto”19

75. De acordo com o disposto no § 2 da Norma da DGS n.º 003/2014, “não são

incluídos no rastreio [oportunístico do cancro do cólon e reto], devendo ser

submetidos a colonoscopia total, os utentes que apresentam sinais e/ou sintomas

sugestivos da existência de patologia do cólon ou do reto (consultar a Norma

“prescrição de Colonoscopia”) […]”.

18

A Portaria n.º 1529/2008, de 26 de dezembro, foi revogada pela Portaria n.º 87/2015, de 23 de março, que a substituiu. 19

A Norma da DGS n.º 003/2014 pode ser consultada em https://www.dgs.pt/directrizes-da-dgs/normas-e-circulares-normativas/norma-n-0032014-de-31032014.aspx.

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76. Já segundo o § 7 da mesma Norma, “o prazo para a realização da colonoscopia

total após a sua prescrição deve ser, no máximo, de oito semanas. O médico

prescritor deve verificar se a colonoscopia foi realizada, através da marcação e

consulta de controlo.”

77. Finalmente, a alínea a) do § 10. da Norma em questão determina que, caso a

colonoscopia total não seja realizada por “intolerância do utente ou por preparação

incompatível com a realização do exame, é mandatório ponderar, respetivamente,

a colonoscopia com sedação/anestesia ou colonoscopia com outra preparação , no

prazo de 90 dias […]”.

III.3.5. Da liberdade de escolha do prestador de cuidados de saúde

78. Por liberdade de escolha do médico ou do estabelecimento prestador de cuidados

de saúde deve-se entender a possibilidade dos utentes escolherem livremente o

seu médico e a instituição ou serviço de saúde onde pretendem ser atendidos,

tendo em vista a prevenção, cura e reabilitação do seu estado de saúde.

79. Importa, no entanto, realçar que o exercício da liberdade de escolha por parte dos

utentes varia necessariamente conforme a natureza pública ou privada do serviço

de saúde a que, em cada momento, pretendam recorrer.

80. O direito a escolher livremente os prestadores de cuidados de saúde encontra-se

plasmado na alínea a) do n.º 1 da Base XIV da LBS, onde se estabelece que os

utentes têm direito a “escolher, no âmbito do sistema de saúde e na medida dos

recursos existentes e de acordo com as regras de organização, o serviço e

agentes prestadores”.

81. Acrescenta ainda o n.º 5 da Base V da LBS, que “é reconhecida a liberdade de

escolha no acesso à rede nacional de prestação de cuidados de saúde, com as

limitações decorrentes dos recursos existentes e da organização dos serviços”.

82. No que especificamente respeita aos cuidados hospitalares, o Regime Jurídico da

Gestão Hospitalar, aprovado pela Lei n.º 27/2002, de 8 de novembro20, estabelece,

20

A Lei n.º 27/2002, de 8 de novembro, aprovou o Regime Jurídico da Gestão Hospitalar, que se aplica aos hospitais integrados na rede de prestação de cuidados de saúde, a qual abrange os estabelecimentos do SNS, os estabelecimentos privados que prestem cuidados aos utentes do SNS e outros serviços de saúde, nos termos de contratos celebrados ao abrigo do disposto no Capítulo IV do regime em questão, e, ainda, os profissionais em regime liberal com quem sejam celebradas convenções (cfr. artigo 1.º).

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no seu artigo 4.º, os princípios gerais que devem ser acautelados na prestação de

cuidados de saúde, entre os quais consta, o princípio da liberdade de escolha do

estabelecimento hospitalar por parte do utente, em articulação com a rede de

cuidados de saúde primários (cfr. alínea a) do referido artigo 4.º).

83. Por sua vez, o artigo 5.º do mesmo diploma legal acrescenta que os hospitais

devem pautar a sua gestão com respeito, entre outros, pelo princípio da garantia

aos utentes da prestação de cuidados de saúde de qualidade com um controlo

rigoroso dos recursos, e pelo princípio da promoção da articulação funcional da

rede de prestação de cuidados de saúde (cfr., respetivamente, alíneas b) e e)).

III.4. Da análise do caso concreto

84. Conforme acima se expôs, atenta a reclamação apresentada pelo utente A., as

questões que importa analisar no âmbito dos presentes autos são as seguintes:

(i) Eventual impedimento do prestador em garantir o acesso dos utentes a

exames gastroenterológicos com anestesia (em concreto, endoscopia

digestiva alta e colonoscopia), em tempo clinicamente aceitável;

(ii) Eventual insuficiência da informação facultada pelo prestador aos utentes,

sobre a prioridade clínica atribuída aos seus casos, o tempo estimado para a

realização dos exames acima referidos e sobre a sua posição relativa na

lista de pessoas inscritas para a realização dos mesmos, o que, a verificar-

se, poderá coartar o exercício da liberdade de escolha do prestador de

cuidados de saúde;

85. Portanto, o objeto de análise dos presentes autos consiste em apurar se, no caso

concreto, o CHLC observou os direitos e interesses legítimos do reclamante e se

aquele prestador dispõe de procedimentos aptos e adequados a garantir, em geral,

esses mesmos direitos, prevenindo a ocorrência de outros casos semelhantes ao

denunciado.

86. Ora, da análise dos elementos carreados para os presentes autos resulta que o

pedido de marcação dos exames gastroenterológicos que o utente A. necessitava

de realizar terá sido efetuado, junto do respetivo serviço do CHLC – Hospital de

Santo António dos Capuchos, em Maio de 2014 (cfr. fl. 53 dos autos).

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87. Verificando-se que, numa primeira fase, os exames em questão (concretamente,

uma endoscopia digestiva alta e uma colonoscopia) foram agendados com

brevidade, para o dia 19 de junho de 2014 (cfr. fls. 25, 26 e 52 dos autos).

88. Todavia, o utente não conseguiu fazer a endoscopia digestiva alta, por intolerância

à entubação (cfr. fl. 52 dos autos).

89. Nesse seguimento, e prevendo igual (ou até maior) dificuldade na realização da

colonoscopia, os médicos responsáveis cancelaram os dois exames e requisitaram

a realização dos mesmos com anestesia (cfr. fl. 52).

90. Sucede, porém, que, apesar do caso do utente A. ter sido classificado como

“prioritário”, em resultado da aplicação do protocolo de triagem clínica, em vigor no

serviço de gastroenterologia do CHLC, a realização dos exames (agora com apoio

anestésico) só foi reagendada para 5 de maio de 2015, na sequência da

intervenção desta Entidade Reguladora, em sede de processo de avaliação (cfr.

fls. 25, 26, 49 a 51 dos autos).

91. No entanto, em abril de 2015, o utente desmarcou os exames em causa, na

medida em que, por motivos profissionais, não estaria em Portugal na data

programada (cfr. fls. 25, 26 e 41 dos autos).

92. Entretanto, o utente não requereu nova marcação dos exames, porquanto,

segundo informações prestada à ERS pelo próprio, este já realizou a endoscopia

digestiva alta, a título particular, e requisitou a realização da colonoscopia noutro

estabelecimento hospitalar (o qual, contudo, não identifica). – Cfr. fl. 41 dos autos;

93. Conclui-se, assim, que a situação do utente foi resolvida, mas graças à sua

diligência em encontrar alternativas ao CHLC – Hospital de Santo António dos

Capuchos, e não por intermédio deste Centro Hospitalar, que não terá atuado em

conformidade com o regime jurídico vigente.

94. Em primeiro lugar o prestador não observou o tempo médio de espera por ele

mesmo fixado, para a realização dos exames gastroenterológicos em causa nos

autos.

95. Com efeito, segundo a tabela publicada e revista trimestralmente pelo CHLC (em

cumprimento do disposto no § 6 do Despacho n.º 10430/2011, de 1 de agosto), os

prazos médio e máximo para a realização de endoscopias em situações prioritárias

são, respetivamente, de 42 e 56 dias.

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96. Já no caso das colonoscopias, para o mesmo tipo de situações (prioritárias), esses

prazos aumentam um pouco, sendo de 56 dias o prazo médio e de 112 dias o

prazo máximo.

97. Acresce que a Norma da DGS n.º 003/2014 fixa o prazo geral de 90 dias para a

realização de colonoscopias com sedação/anestesia, após uma primeira tentativa

falhada por intolerância do utente, conforme aconteceu no caso sub judice (cfr. §

10).

98. Todavia, no caso dos presentes autos, todos os prazos acima indicados foram

ultrapassados em larga medida, tendo os exames sido reagendados para cerca de

um ano depois de se ter frustrado a primeira tentativa de realização dos mesmos,

com claro desrespeito pelo direito de acesso do utente à prestação de cuidados de

saúde (in casu, MCDT) em tempo clinicamente aceitável.

99. Neste ponto, importa recordar que o utente foi referenciado para realizar os

exames gastrenterológicos por ter tido três pesquisas de […], com resultado

positivo (cfr. fls. 10 e 52 dos autos).

100. Ademais, nos esclarecimentos prestados à ERS, em maio e, depois, em julho

de 2015, o CHLC admitiu a existência de dificuldades no respetivo serviço de

gastroenterologia, sobretudo quando estão em causa a realização de exames com

apoio anestésico, devido à carência de médicos anestesistas21, reconhecendo que

o serviço em questão “não consegue em tempo garantir o apoio à maioria dos

doentes” (cfr. fl. 26 dos autos).

101. E destacou, ainda, o provável “agravamento da situação a curto prazo,

atendendo às normas da DGS (vide NOC’s) baseada em pareceres da SPED e do

Colégio da Especialidade da ordem dos Médicos, que condicionam muito a

possibilidade do Gastroenterologista efetuar a sedação não anestesia, tornando

cada vez mais indispensável presença do Anestesista.” (cfr. fl. 26 dos autos).

102. Para obviar à reduzida capacidade do serviço de gastroenterologia, por

comparação com os elevados níveis de procura do mesmo, o CHLC refere ter

tomado algumas medidas, que lhe terão possibilitado “aumentar a produção em

colonoscopia total em 11% e em endoscopia alta em 14%”.

21

Esta dificuldade é genericamente admitida pela ARS LVT para todos os hospitais do SNS que estão situados na sua área de influência geográfica, no ofício de resposta dirigido à ERS, em 27 de julho de 2015 (cfr. fls. 56 e 57 dos autos).

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103. No entanto, nenhuma das medidas elencadas pelo CHLC, na resposta dirigida

à ERS, é relativa à contratação de mais profissionais de saúde, em especial na

valência de anestesiologia que, alegadamente, será a especialidade com maior

carência de recursos humanos.

104. Ora, se a capacidade instalada no serviço de gastroenterologia do CHLC –

Hospital de Santo António dos Capuchos não é suficiente para satisfazer as

necessidades da procura, e considerando que o direito de acesso dos utentes à

prestação de cuidados de saúde em tempo clinicamente aceitável não pode ser

coartado devido à falta de recursos, então, o CHLC deve dar cumprimento ao

disposto no § 4 do Despacho n.º 10430/2011, de 1 de agosto, recorrendo “à

subcontratação de entidades externas especializadas do sector público, tendo

como referência a tabela de preços do SNS, ou do sector privado e social, tendo

como referência a tabela de preços do sector convencionado”22.

105. Como foi já acima referido, atendendo à importância que reveste a

colonoscopia para o rastreio e diagnóstico precoce de lesões malignas ou pré-

malignas, e, nessa medida, à necessidade de garantir um acesso generalizado e

adequado dos utentes a este exame, inclusive com recurso a anestesia, em 3 de

março de 2014, foi aprovado o Despacho do Secretário de Estado da Saúde n.º

3756/2014.

106. Ali é claramente assumido que “o número atual de prestadores convencionados

do Serviço Nacional de Saúde (SNS) é insuficiente para permitir um alargamento

desejado da deteção precoce do cancro colorretal”, motivo pelo qual foram

adotadas algumas medidas com o objetivo de aumentar, a nível nacional, os

exames de rastreio e as colonoscopias, “até à conclusão do procedimento de

contratação de convenções ao abrigo do Decreto-Lei n.º 139/2013, de 9 de

outubro”.

107. Uma das mencionadas medidas era direcionada às ARS, por serem entidades

que têm por missão garantir à população da respetiva área geográfica de

intervenção o acesso à prestação de cuidados de saúde, adequando os recursos

disponíveis às necessidades, bem como cumprir e fazer cumprir políticas e

programas de saúde nessa mesma área23, e consistia no dever destas

contratualizarem com “os hospitais do SNS o aumento do número de

22

Vide, a este propósito, a Recomendação da ERS n.º 2/2014, de 4 de agosto, publicada em www.ers.pt. 23

Cfr. n.º 1 do artigo 3.º do Decreto-Lei n.º 22/2012, de 30 de janeiro.

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colonoscopias realizadas após prescrição do médico de família, tendo como

referência o pacote de cuidados e o preço estabelecido para o setor

convencionado, bem como os exames de anatomia patológica eventualmente

necessários” (cfr. § 2 do Despacho do Secretário de Estado da Saúde n.º

3756/2014).

108. Os referidos contratos entre as ARS e as entidades hospitalares do SNS

deveriam ser celebrados até 31 de março de 2014.

109. Em cumprimento do dever imposto pelo Despacho do Secretário de Estado da

Saúde, a ARS LVT aferiu, junto das entidades hospitalares da sua área geográfica

de intervenção – onde se inclui o CHLC, visado nestes autos –, a capacidade

eventualmente existente para aumentar o número de colonoscopias realizadas, por

prescrição do médico de família, procurando rentabilizar ao máximo os recursos

disponíveis nos hospitais do SNS.

110. E, nesse seguimento, segundo informações prestadas à ERS pela ARS LVT,

“no decorrer do ano de 2014 foram celebrados acordos de convenção com três

Centros Hospitalares/Hospitais da região”, a saber, o Centro Hospitalar de Setúbal,

E.P.E., o Centro Hospitalar Ocidental, E.P.E., e o Hospital Garcia de Orta, E.P.E.

(cfr. fls. 56 e 57 dos autos).

111. Por outro lado, em janeiro de 2014, a ARS LVT “promoveu uma reunião

conjuntamente com os conselhos de administração dos hospitais da sua área de

influência, com o intuito de avaliar a margem existente para a realização de mais

exames de colonoscopia, incluindo a produção interna (via CTH ou doentes

internados) e a produção externa (via Cuidados de Saúde Primários) por forma a

maximizar a capacidade instalada.” – Cfr. fls. 56 e 57 dos autos;

112. Em resultado dessa reunião, terá sido estabelecido o compromisso, entre a

ARS LVT e todas as entidades hospitalares da região, para aumentar, no ano

2014, o número de colonoscopias em cerca de 5 500 exames (cfr. fls. 56 e 57 dos

autos).

113. Assim, na área de influência da ARS LVT, no ano 2014, “comparativamente ao

período homólogo, houve um aumento de aproximadamente 20,0% da atividade

assistencial do exame de colonoscopia, sendo que nos Hospitais do SNS o

aumento correspondeu a cerca de 17,0% (35.784 exames em 2013 face a 41.773

exames em 2014) e nas entidades convencionadas o aumento correspondeu a

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cerca de 26,0% (30.687 exames em 2013 face a 24.407 exames em 2014).” – Cfr.

fls. 56 e 57 dos autos;

114. No entanto, essa tendência de aumento da produção que se verificou, em

geral, na região da ARS LVT, não foi seguida pelo CHLC, o qual manteve a sua

produção em 2014 (por comparação com o ano anterior), porquanto terá visto

reduzir substancialmente o seu número de anestesistas (cfr. fls. 56 e 57 dos

autos).

115. Sucede que a celebração de acordos de convenção com apenas três entidades

hospitalares da área de influência da ARS LVT, e um aumento não generalizado,

nem uniforme da produção (sobretudo da produção externa, cuja génese está nos

pedidos efetuados pelos cuidados primário), colocam em causa a desejável

equidade na prestação dos cuidados de saúde e afetam os princípios da

generalidade e universalidade que caraterizam o SNS.

116. Isto porque as garantias de acesso dos utentes ao exame de colonoscopia,

dentro da mesma região de saúde, vão ser distintas, em função da entidade

hospitalar de referência dos estabelecimentos de cuidados primários onde os

utentes estão inscritos.

117. Neste sentido, atendendo aos princípios fundamentais que norteiam a criação e

funcionamento do SNS, os quais se encontram, aliás, constitucionalmente

consagrados, e à necessidade de acautelar os direitos e legítimos interesses dos

utentes, a ARS LVT deve assegurar a distribuição equitativa dos pedidos de

colonoscopias oriundos dos cuidados de saúde primários pelas entidades

hospitalares da sua área de influência que apresentam maior capacidade de

resposta, com as quais, inclusive, a ARS LVT celebrou acordos de convenção ou

firmou outros tipos de compromissos.

118. Na hipótese contrária, estar-se-ão a fomentar discriminações injustificadas de

utentes, dentro da mesma região de saúde, e poderá estar-se a colocar em causa

o objetivo de rentabilização máxima dos recursos disponíveis nas instituições do

SNS, ínsito aos Despachos do Secretário de Estado da Saúde de 2011 e 2014,

pois as entidades hospitalares com maior capacidade instalada, e que se

comprometeram perante a ARS LVT a aumentar a produção externa, podem não

ser aquelas que, por aplicação das regras administrativas de referenciação

hospitalar, recebem mais pedidos dos cuidados de saúde primários e, nessa

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medida, existir oferta de serviços que não esteja a ser totalmente absorvida pela

procura.

119. Isto posto, e agora a propósito do (des)respeito pelo direito do utente à

informação, nos autos não existem indícios de que o CHLC – Hospital de Santo

António dos Capuchos tenha prestado àquele informações concretas sobre a

prioridade clínica que foi atribuída ao seu caso, sobre a sua posição relativa na

lista de inscritos para realizar os MCDT gastroenterológicos com apoio anestésico,

nem sobre o tempo real/efetivo que ele iria ter esperar para o efeito.

120. Pelo contrário, em resposta enviada à ERS, por ofício datado de 24 de julho de

2015, o prestador repete, em diferentes momentos, que “a aplicação SONHO no

que se refere [ao] agendamento e marcação de MCDT não disponibiliza

informação de lista de espera, conforme acontece nos módulos da consulta (LEC)

e da cirurgia (LIC). Como tal não é possível obter do Sistema documento

comprovativo dos utentes em lista de espera para MCDT”, i.e., documento

comprovativo da inscrição e atribuição de prioridades. – Cfr. fls. 45 a 48 dos autos;

121. Sem prejuízo do supra exposto, no mesmo ofício, o CHLC refere que “o Bloco

de Exames de Gastro criou uma base de dados em excell, na qual regista, no

momento em que o utente entrega a requisição de exames”, uma série de dados

pessoais deste e a especialidade que fez a requisição do exame; depois, o médico

triador, aplicando os respetivos protocolos de triagem clínica internamente

aprovados, classifica os pedidos, com base na sua gravidade/urgência; de

seguida, é feito o agendamento dos exames, em função da classificação que lhes

tiver sido atribuída, registando-se, na base de dados em ficheiro excel, esse

agendamento, bem como a data de notificação ao utente, por escrito ou por

telefone (cfr. fls. 45 a 48 dos autos).

122. No entanto, segundo informação concedida à ERS pelo próprio prestador, a

mencionada base de dados não permite fazer a gestão da lista de utentes inscritos

para MCDT, de tal forma que não foi possível ao CHLC indicar à ERS o número de

utentes que, em finais de junho de 2014, estavam à frente do reclamante, na lista

de espera para a realização de endoscopia digestiva alta e/ou colonoscopia com

anestesia, conforme havia sido requerido por esta Entidade Reguladora, através

de ofício datado de 25 de junho de 2015 (cfr. fls. 35, 36 e 45 a 48 dos autos).

123. Por conseguinte, embora publique no seu site, com periodicidade trimestral,

informação relativa aos MCDT de gastroenterologia realizados e aos respetivos

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tempos de espera (estimados), o CHLC não tem implementados mecanismos

necessários e adequados para assegurar integralmente o direito dos utentes à

informação, que se materializa também na prestação de informações sobre a

prioridade clínica que foi atribuída aos seus casos, na prestação direta de

informações reais e permanentemente atualizadas sobre a respetiva posição na

lista de inscritos para a realização dos MCDT em causa e, consequentemente,

sobre o tempo de espera real/efetivo, que deverá ser calculado, em cada

momento, em função da posição que os utentes ocupam nessa lista.

124. Verificando-se que o défice de informação prestada aos utentes pode inclusive

comprometer a sua liberdade de escolha, porquanto, se fossem convenientemente

esclarecidos sobre as matérias elencadas no parágrafo anterior, os utentes

poderiam fazer uma análise “custo/benefício” diferente e decidir realizar os MCDT

por outras vias, e não por recurso às entidades hospitalares do SNS.

125. Nestes termos, o CHLC – Hospital de Santo António dos Capuchos deve criar e

implementar no respetivo serviço de gastroenterologia uma lista de espera para

MCDT, que, à semelhança da lista de inscritos para consultas (LEC) e da lista de

inscritos para cirurgia (LIC), permita a gestão dos utentes inscritos, em função da

data de entrega das requisições dos exames e da prioridade clínica atribuída aos

casos.

126. Mais deverá o CHLC – Hospital de Santo António dos Capuchos garantir, em

permanência, o direito dos utentes à informação em matéria de MCDT de

gastroenterologia, designadamente informação sobre a prioridade clínica atribuída

aos seus casos, informação real e permanentemente atualizada sobre a respetiva

posição na lista de inscritos para a realização dos MCDT em causa e informação

sobre o tempo de espera real/efetivo, que deverá ser calculado, em cada

momento, em função da posição que os utentes ocupam nessa lista.

IV. DA AUDIÊNCIA DE INTERESSADOS

127. A presente deliberação foi precedida de audiência escrita dos interessados,

nos termos e para os efeitos do disposto no n.º 1 do artigo 122.º do Código do

Procedimento Administrativo (CPA), aplicável ex vi da alínea a) do artigo 24.º dos

Estatutos da ERS, tendo sido chamados a pronunciarem-se, relativamente ao

projeto de deliberação, o utente, o CHLC e a ARS LVT (cfr. fls. 75 a 80 dos autos).

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128. Decorrido o prazo legal concedido para o efeito, a ERS rececionou a pronúncia

do prestador, que foi enviada, primeiramente, por e-mail, em 19 de outubro de

2015, e, depois, por correio normal, recebido nas instalações da ERS, no dia 21 do

mesmo mês (cfr. fls. 81 a 89 dos autos).

129. A ERS não foi notificada da pronúncia do utente, nem da ARS LVT.

130. Assim, em sede de audiência dos interessados, veio o CHLC pronunciar-se nos

seguintes termos:

“[…]

Em resposta ao ofício e assunto acima mencionados, vimos informar V. Exa. que

a carência de médicos anestesiologistas é uma realidade que ultrapassa o

Centro Hospitalar de Lisboa Central, EPE e tem reflexos a nível nacional, de fato

uma das principais limitações para dar resposta aos exames de gastrenterologia

com anestesia é a ausência no CHLC e no mercado de anestesiologistas.

Nos últimos anos, o CHLC tem diligenciado no sentido de obter autorização para

a celebração de contratos com médicos desta especialidade, seja por Contrato

Individual de Trabalho seja em Prestação de Serviços, de forma a minimizar as

saídas que têm ocorrido por motivo de aposentação ou por rescisão [24],

correspondendo em muitas situações a saídas destes profissionais do SNS para

o setor privado, sem que exista, neste momento, instrumentos que possam

contrariar esta tendência.

O CHLC continuará a desenvolver todos os esforços ao seu alcance nesta

matéria.

Outra limitação prende-se com as condições estruturais do CHLC, com a

atividade dispersa por vários hospitais, o que dificulta a rentabilização dos meios

existentes. O CHLC aguarda a construção do novo hospital que resolveria este

problema, até lá, apresentou um projeto de financiamento para uma estrutura

que centralizasse toda a atividade de gastrenterologia [n]uma unidade de

exames e de ambulatório do CHLC, ao abrigo do programa SAMA Portugal

2020, estando a aguardar a decisão.

24

Para comprovar as diligências encetadas, o CHLC juntou aos autos cópia de uma carta dirigida, em 13 de fevereiro de 2015, à Chefe do Gabinete do Secretário de Estado da Saúde, com o assunto “Pedido de utilização de vaga de anestesia já utilizada”, bem como uma missiva remetida, em 4 de maio de 2015, ao presidente do Conselho Diretivo da ARS LVT, com o assunto “Produção adicional de anestesiologia”.

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35

Relativamente às recomendações:

Recomendação I

O CHLC recorrerá a entidades externas para a realização de MCDT

gastrenterológicos, sempre que em tempo clinicamente aceitável não seja

possível a sua realização no CHLC.

Irá igualmente solicitar reunião à Administração Regional de Saúde de Lisboa e

Vale do Tejo, no sentido de obter informações sobre os acordos celebrados com

hospitais da Região de Lisboa e Vale do Tejo para a realização de

colonoscopias, bem como com outras entidades convencionadas do setor

privado.

Recomendações II e III

Relativamente ao desenvolvimento de um sistema de informação que possibilite

a gestão dos utentes inscritos em função da data das requisições, prioridade

clínica atribuída e posição na lista, à semelhança do que acontece com a

Consulta Externa e Cirurgia, o CHLC irá contactar os Serviços Partilhados do

Ministério da Saúde (SPMS), uma vez que é esta a entidade que gere as

aplicações informáticas SONHO e SCIinico, de modo a solicitar prioridade ao

desenvolvimento de um aplicativo que permita resposta à recomendação agora

formulada.

Recomendação IV

Todas as políticas e procedimentos do CHLC são divulgadas internamente e

auditados periodicamente de acordo com planos de auditoria anuais.

Recomendação V

Do resultado das diligências enunciadas será dado conhecimento à ERS. […]” –

Cfr. fls 82, 85 e 86 dos autos;

131. As declarações acima transcritas foram consideradas e ponderadas pela ERS.

132. Ora, o CHLC não contestou nem o quadro factual, nem o quadro jurídico

apresentados pela ERS no seu projeto de deliberação.

133. Antes pelo contrário, o CHLC enuncia um conjunto de medidas que pretende

adotar, tendo em vista o cumprimento da instrução projetada, manifestando, dessa

forma, a sua intenção de adequar a sua atuação ao projeto de deliberação desta

Entidade Reguladora.

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134. Não obstante, no caso em apreço, importa garantir a execução das preditas

diligências, e assegurar a permanente adequação do comportamento do CHLC,

para que, no futuro, se possa aferir se as diligências propostas pelo prestador

efetivamente se coadunam com o objetivo da intervenção regulatória da ERS.

135. Por conseguinte, verifica-se a necessidade de manter integralmente os termos

da instrução, tal como projetada e regularmente notificada aos interessados.

V. DECISÃO

136. Tudo visto e ponderado, o Conselho de Administração da ERS delibera, nos

termos e para os efeitos do preceituado nas alíneas a) e b) do artigo 19.º e alínea

a) do artigo 24.º dos Estatutos da ERS, aprovados pelo Decreto-Lei n.º 126/2014,

de 22 de agosto, emitir a seguinte instrução ao Centro Hospitalar de Lisboa

Central, E.P.E.:

(i) O Centro Hospitalar de Lisboa Central, E.P.E., deve garantir o acesso dos

utentes à realização de MCDT gastroenterológicos, em tempo clinicamente

aceitável para a sua condição de saúde, devendo, para esse efeito e quando

necessário, recorrer à subcontratação de entidades externas especializadas

do sector público, tendo como referência a tabela de preços do SNS, ou do

sector privado e social, tendo como referência a tabela de preços do sector

convencionado, sempre que constate que a sua capacidade interna é

insuficiente para responder, em tempo útil, aos pedidos de realização dos

MCDT em questão, em cumprimento do disposto no § 4 do Despacho do

Secretário de Estado da Saúde n.º 10430/2011, de 1 de agosto;

(ii) O Centro Hospitalar de Lisboa Central, E.P.E., deve criar e implementar uma

lista de espera para MCDT gastroenterológicos, que permita a gestão dos

utentes inscritos, em função da data de entrega das requisições dos exames

e da prioridade clínica atribuída aos casos;

(iii) O Centro Hospitalar de Lisboa Central, E.P.E., deve adotar medidas e/ou

procedimentos concretos para assegurar o direito dos utentes à informação

em matéria de MCDT de gastroenterologia, designada, mas não

limitadamente, através da prestação de informação sobre a prioridade

clínica atribuída aos seus casos, da prestação de informação real e

permanentemente atualizada sobre a respetiva posição na lista de inscritos

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para a realização dos MCDT em causa e da prestação de informação sobre

o tempo de espera real/efetivo, que deverá ser calculado, em cada

momento, em função da posição que os utentes ocupam nessa lista;

(iv) O Centro Hospitalar de Lisboa Central, E.P.E., deve emitir e divulgar ordens

e orientações claras e precisas, para que as medidas e/ou procedimentos

por si adotados para cumprimento do determinado nos pontos anteriores

sejam corretamente seguidos e respeitados por todos os seus

colaboradores;

(v) O Centro Hospitalar de Lisboa Central, E.P.E., deve dar cumprimento

imediato à instrução emitida, bem como dar conhecimento à ERS, no prazo

máximo de 30 dias após a notificação da deliberação final, das medias e/ou

procedimentos por si adotados para cumprimento do determinado nos

pontos anteriores.

137. A instrução emitida constitui decisão da ERS, sendo que a alínea b) do n.º 1 do

artigo 61.º dos seus Estatutos configura como contraordenação punível in casu

com coima de 1 000,00 EUR a 44 891,81 EUR, “[….] o desrespeito de norma ou

de decisão da ERS que, no exercício dos seus poderes regulamentares, de

supervisão ou sancionatórios determinem qualquer obrigação ou proibição,

previstos nos artigos 14.º, 16.º, 17.º, 19.º, 20.º, 22.º, 23.º ”.

138. O Conselho de Administração da ERS delibera, ainda, nos termos e para os

efeitos do preceituado nas alíneas a) e b) do artigo 19.º e alínea a) do artigo 24.º

dos Estatutos da ERS, aprovados pelo Decreto-Lei n.º 126/2014, de 22 de agosto,

emitir uma recomendação à Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do

Tejo, I.P., para que adote medidas e/ou procedimentos que garantam a

distribuição equitativa dos pedidos de colonoscopias oriundos dos cuidados de

saúde primários, pelas entidades hospitalares da sua área geográfica de influência

que apresentem maior capacidade de resposta e com as quais tenha celebrado

acordos de convenção, ou tenha eventualmente firmado outro tipo de

compromissos, com o objetivo de minimizar as dificuldades detetadas no acesso

dos utentes da sua região de saúde aos exames de colonoscopia, de assegurar o

acesso geral e universal àqueles MCDT e, bem assim, de promover uma

articulação de âmbito regional entre estabelecimentos prestadores de cuidados de

saúde do SNS, rentabilizando os recursos disponíveis no sistema público de

saúde.

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139. A versão não confidencial da presente deliberação será publicitada no sítio

oficial da ERS na Internet.

O Conselho de Administração.

Porto, 4 de novembro de 2015.