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1 Mod.016_01 DELIBERAÇÃO DO CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO DA ENTIDADE REGULADORA DA SAÚDE (VERSÃO NÃO CONFIDENCIAL) Considerando que a Entidade Reguladora da Saúde nos termos do n.º 1 do artigo 4.º dos Estatutos da ERS, aprovados pelo Decreto-Lei n.º 126/2014, de 22 de agosto exerce funções de regulação, de supervisão e de promoção e defesa da concorrência respeitantes às atividades económicas na área da saúde nos setores privado, público, cooperativo e social; Considerando as atribuições da Entidade Reguladora da Saúde conferidas pelo artigo 5.º dos Estatutos da ERS, aprovados pelo Decreto-Lei n.º 126/2014, de 22 de agosto; Considerando os objetivos da atividade reguladora da Entidade Reguladora da Saúde estabelecidos no artigo 10.º dos Estatutos da ERS, aprovados pelo Decreto-Lei n.º 126/2014, de 22 de agosto; Considerando os poderes de supervisão da Entidade Reguladora da Saúde estabelecidos no artigo 19.º dos Estatutos da ERS, aprovados pelo Decreto-Lei n.º 126/2014, de 22 de agosto; Visto o processo registado sob o n. º ERS/037/2016; I. DO PROCESSO I.1. Origem do processo 1. Em 30 de maio de 2016, a Entidade Reguladora da Saúde (ERS) tomou conhecimento de factos, através de notícias veiculadas pelos meios de comunicação social, visando a atuação do Centro Hospitalar e Universitário do Algarve, EPE. (CHUA), entidade prestadora de cuidados de saúde inscrita no Sistema de Registo de Estabelecimentos Regulados (SRER) da ERS sob o n.º 22789.

DELIBERAÇÃO DO CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO DA … · prestadora de cuidados de saúde inscrita no Sistema de Registo de Estabelecimentos Regulados (SRER) da ERS sob o n.º 22789

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1 Mod.016_01

DELIBERAÇÃO DO CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO DA

ENTIDADE REGULADORA DA SAÚDE

(VERSÃO NÃO CONFIDENCIAL)

Considerando que a Entidade Reguladora da Saúde nos termos do n.º 1 do artigo 4.º dos

Estatutos da ERS, aprovados pelo Decreto-Lei n.º 126/2014, de 22 de agosto exerce

funções de regulação, de supervisão e de promoção e defesa da concorrência respeitantes

às atividades económicas na área da saúde nos setores privado, público, cooperativo e

social;

Considerando as atribuições da Entidade Reguladora da Saúde conferidas pelo artigo 5.º

dos Estatutos da ERS, aprovados pelo Decreto-Lei n.º 126/2014, de 22 de agosto;

Considerando os objetivos da atividade reguladora da Entidade Reguladora da Saúde

estabelecidos no artigo 10.º dos Estatutos da ERS, aprovados pelo Decreto-Lei n.º

126/2014, de 22 de agosto;

Considerando os poderes de supervisão da Entidade Reguladora da Saúde estabelecidos

no artigo 19.º dos Estatutos da ERS, aprovados pelo Decreto-Lei n.º 126/2014, de 22 de

agosto;

Visto o processo registado sob o n.º ERS/037/2016;

I. DO PROCESSO

I.1. Origem do processo

1. Em 30 de maio de 2016, a Entidade Reguladora da Saúde (ERS) tomou conhecimento

de factos, através de notícias veiculadas pelos meios de comunicação social, visando a

atuação do Centro Hospitalar e Universitário do Algarve, EPE. (CHUA), entidade

prestadora de cuidados de saúde inscrita no Sistema de Registo de Estabelecimentos

Regulados (SRER) da ERS sob o n.º 22789.

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2. As mencionadas notícias referem que a utente A.F. sofreu uma queda da cama

enquanto se encontrava internada no Hospital de Faro, no seguimento de uma

operação a uma fratura no colo do fémur, tendo acabado por falecer dois dias depois.

3. Para uma averiguação preliminar dos factos denunciados, e ao abrigo das atribuições

e competências da ERS, procedeu-se em 30 de maio de 2016 à abertura do processo

de avaliação registado sob o número n.º AV/089/2016.

4. No entanto, face aos elementos recolhidos no referido processo de avaliação e

atendendo à necessidade de uma averiguação mais aprofundada dos factos relatados,

ao abrigo das atribuições e competências da ERS, o respetivo Conselho de

Administração deliberou, por despacho de 5 de julho de 2016, proceder à abertura do

presente processo de inquérito, registado internamente sob o n.º ERS/037/2016, com

o intuito de se avaliar se, no caso concreto, foram garantidos os direitos e interesses

legítimos da utente, em especial o direito de acesso a cuidados de saúde de

segurança e com qualidade, e, por outro lado, aferir da efetiva implementação de

procedimentos internos de avaliação do risco de queda e de prevenção da ocorrência

destes incidentes no estabelecimento visado.

I.2. Diligências

5. No âmbito da investigação desenvolvida pela ERS, realizaram-se as seguintes

diligências instrutórias:

(i) Pesquisa no SRER da ERS relativa à inscrição do Hospital de Faro,

constatando-se que o mesmo é um estabelecimento prestador de cuidados de

saúde registado no SRER da ERS sob o n.º 1109679, pertencente ao Centro

Hospitalar e Universitário do Algarve, EPE., entidade registada no SRER da

ERS sob o n.º 22789.

(ii) Pedido de elementos enviado ao CHUA em 30 de maio de 2016, e análise da

resposta endereçada à ERS, rececionada em 25 de julho de 2016;

(iii) Notificação de abertura de processo de inquérito enviada à exponente em 29 de

agosto de 2016;

(iv) Notificação de abertura de processo de inquérito enviada ao CHUA em 29 de

agosto de 2016, insistência enviada em 28 de outubro de 2016, e análise da

respetiva resposta endereçada à ERS, rececionada em 7 de novembro de 2016

(v) Pedido de relatório de apreciação clínica a perito consultor da ERS a 13 de

junho de 2016, e análise do respetivo parecer.

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(vi) Pedido de informação ao Departamento do Utente (DU) da ERS para pesquisa

de reclamações visando o CHUA, relativas a incidentes de quedas e

procedimentos existentes para avaliação desse risco e prevenção da sua

ocorrência, tendo sido possível concluir existirem mais 4 reclamações versando

sobre o mesmo tema, registadas internamente sob os n.ºs REC_48766/2016,

REC_12161/2017, REC_70059/2017, REC_71610/2017.

II. DOS FACTOS

6. Concretamente, era referido nas citadas notícias que a utente deu entrada no Hospital

de Faro a 10 de maio de 2016, sendo que, a 20 de maio “[…] caiu da cama quando

estava internada depois de uma operação ao colo do fémur. A doente acabou por

morrer dois dias depois”.

7. Assim, para esclarecimento cabal dos factos alegados foi remetido ao prestador, em 30

de maio de 2016, um pedido de informação da ERS, tendo sido solicitado o seguinte:

“1. Pronunciem-se, querendo, sobre todo o teor da notícia veiculada pela

comunicação social;

2. Identificação da utente (nome completo, morada e número de utente);

3. Descrição, pormenorizada e documentalmente suportada, dos protocolos e/ou

procedimentos internos em vigor nessa unidade para a avaliação do risco de queda

de utentes, bem assim confirmação da existência dessa avaliação de risco registada

no processo clínico da mencionada utente, caso tenha ocorrido, e medidas de

prevenção adotadas por V. Exas.;

4. Indicação, com envio do suporte documental respetivo, dos procedimentos em

vigor para o registo e comunicação de eventos adversos, aos serviços com

responsabilidades nas áreas de gestão de risco e/ou qualidade e segurança, seja a

nível interno, seja ao nível de entidades externas aos quais devam ser comunicados,

bem como se no caso concreto os mesmo foram seguidos e em que moldes;

5. Informação sobre a instauração de processo de averiguação interna para

apuramento dos factos ocorridos, e envio das conclusões alcançadas e disponíveis

até ao momento, acompanhado do respetivo suporte documental;

6. Esclarecimentos complementares julgados necessários e relevantes à análise do

caso concreto”.

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8. Na resposta ao pedido de elementos da ERS, datada de 7 de junho de 2016, o

prestador veio informar o seguinte:

“1. Teor da notícia veiculada pela comunicação social

No que a esta questão concerne, cumpre esclarecer que o teor da notícia veiculada

pela comunicação social, não corresponde à verdade dos factos, uma vez que das

diligências internas efectuadas, se conclui não ter havido qualquer acto negligente

por parte dos profissionais de saúde (por acção ou omissão), tendo os cuidados de

saúde e assistenciais sido prestados em cumprimento com a "legis artis", conforme

melhor se poderá aferir da documentação que se remete em anexo. (Docs. 1 a 4)

2. Identificação da Utente

[A.F.], residente em Rua […]. Numero de Utente do SNS : […]. (Doc. Nº5)

3. e 4. Relativamente aos procedimentos internos em vigor, respectivo

registos e medidas de prevenção, informamos que foram adoptadas as medidas

consideradas como adequadas, e efectuada a respectiva notificação, nos termos

dos registos constantes a fls. 1 a 3 do Documento n.º 3, que se anexa.

Mais transmitimos, que em matéria de registo e comunicação de eventos adversos,

seguimos os procedimentos definidos pela Organização Mundial de Saúde, no que

se refere à classificação internacional de incidentes e eventos adversos, através da

plataforma electrónica de registo de notificação - CRMS - da empresa Antares.

5. No que à informação sobre a instauração de processo de averiguação

interna para apuramento dos factos ocorridos diz respeito, clarificamos que por

Deliberação, de 31.05.2016, do Órgão de Gestão deste Centro Hospitalar foi

decidida a abertura de processo de inquérito, o qual se encontra concluído,

conforme documentos em anexo (Docs. 1 a 4), tendo sido designado como

Instrutor o Exmº Senhor Dr. […], Director do Serviço de Ortopedia.

Relativamente às conclusões alcançadas até ao momento, anexamos

informação elaborada pelo Instrutor designado, com respectiva documentação.

(Docs. 1 a 4)(…)”.

9. Em anexo à referida resposta ao pedido de elementos da ERS, o prestador dos autos

juntou cinco anexos, a saber:

(i) Doc. 1: Comunicação Interna de 6 de junho de 2016, elaborada pelo instrutor

designado, Diretor do Serviço de Ortopedia;

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(ii) Doc. 2: Nota de Serviço Interna de 2 de junho de 2016, elaborada pela

Enfermeira Chefe do Serviço de Ortopedia 1, da qual resulta, entre outras a

seguinte informação:

“(…)

Na tarde do dia 19/5 encontrava-se em pós operatório, hemodinamicamente

estável e calma durante o turno

Cerca das 23.15h por uma chamada por campainha da dte D. [C.M]., Cama 7, o

Sr. Enf. Responsável pela doente encontrou a doente de pé, apoiada à cama.

Em virtude desta situação e tendo em consideração um aumento de risco de

queda, foi efetuado contenção física dos membros superiores à cama, da

doente D. A.F.

Cerca da 1h da manhã, a D. A.F. consegue retirar a imobilização da mão

esquerda, roda para o lado direito e cai da cama, sobre o lado direito, batendo

com a face no chão, mantendo a mão direita imobilizada.

Contactado o médico de urgência, face às lesões apresentadas, hematoma

acentuado do hemiface, foi efetuada TAC.

(iii) Doc. 3: Registo de incidente em 20 de maio de 2016, às 01h00m, do qual

resulta, inter alia, como circunstância da queda a “Queda em repouso Cama

sem guardas laterais” e o Score “Alto Risco (>50)”;

(iv) Doc. 4: Processo de enfermagem, destacando-se o seguinte:

- registo em 11 de maio de 2016 de “risco na queda, em grau elevado”;

- registo em 17 de maio de 2016 de “confusão, em grau moderado”;

- registo em 21 de maio de 2016, às 23:03, “colocar grades na cama”;

- registo em 21 de maio de 2016, às 23:03, “executar técnicas de imobilização

com colete”;

(v) Doc. 5: Print com a identificação da utente A.F.

10. Analisados todos os elementos carreados para os autos, verificou-se a necessidade

de averiguar com maior profundidade a situação em causa, pelo que em 29 de agosto

de 2016, foi o prestador notificado da abertura do processo de inquérito acrescido do

pedido de envio da seguinte informação:

“[…]

1. Informação sobre se o processo de inquérito aberto na sequência dos factos

ocorridos (e a que V. Exas fazem referência no ponto 5. da resposta datada de

6 Mod.016_01

22/07/2016) se encontra concluído, com envio de todos os elementos recolhidos

no âmbito desse processo e disponíveis até ao momento;

2. Informação pormenorizada sobre a causa da morte da utente Adélia Araújo

Fernandes;

3. Indicação sobre se a situação foi incorporada e obteve tratamento no âmbito do

Sistema de Informação dos Certificados de Óbito (SICO), remetendo cópia do

respetivo certificado de óbito;

4. Cópia do relatório do episódio de urgência (caso exista) e do relatório de

internamento da utente Adélia Araújo Fernandes;

5. Descrição, pormenorizada e documentalmente suportada, dos procedimentos

internos em vigor nessa unidade hospitalar para a avaliação do risco de queda de

utentes, bem como se no caso concreto os mesmos foram seguidos e em que

moldes;

6. Descrição, pormenorizada e documentalmente suportada, das medidas de

prevenção adotadas relativamente à utente Adélia Araújo Fernandes, na sequência

da avaliação do risco de queda, mais se solicitando que esclareçam,

concretamente:

i) Por que motivo se procedeu à imobilização apenas dos membros superiores

da utente, considerado o “risco de queda de grau elevado” e a

“confusão em grau moderado” da utente mencionados nos registos

remetidos por V. Exas.,

ii) Por que motivo apenas posteriormente à queda da utente de 20 de maio de

2016, às 01:00, há registo no processo de enfermagem, em 21 de maio

de 2016, às 23:03, de “colocar grades na cama” e “executar técnicas de

imobilização com colete”, considerando ainda que, de acordo com a

nota de serviço interna remetida, cerca das 23:15 do dia 19 de maio, a

utente foi encontrada pelo enfermeiro responsável de pé, apoiada na

cama;

7. Descrição, pormenorizada e documentalmente suportada, dos procedimentos de

registo das informações clínicas dos utentes implementados, bem como se no

caso concreto os mesmos foram seguidos e em que moldes, mais se solicitando

que esclareçam, concretamente:

i) Por que motivo na nota de serviço interna remetida é feita referência à

“contenção física dos membros superiores à cama, da doente D. Adélia

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Fernandes”, efetuada cerca das 23h15m do dia 19 de maio de 2016,

sendo que tal informação não consta do processo de enfermagem da

utente, antes constando a informação de 21 de maio de 2016, às 23:03,

(isto é, posteriormente, portanto, à queda da utente às 01h00m do dia

20 de maio), “colocar grades na cama” e “executar técnicas de

imobilização com colete”;

8. Descrição, pormenorizada e documentalmente suportada, dos procedimentos em

vigor para o registo e comunicação de eventos adversos, aos serviços com

responsabilidades nas áreas de gestão de risco e/ou qualidade e segurança, seja a

nível interno, seja ao nível externo, em cumprimento das normas e demais

orientações em vigor relativas a incidentes, quedas e eventos adversos,

designadamente, a Orientação da Direção-Geral da Saúde n.º 011/2012, de

30/07/2012, referente à Análise de Incidentes e de Eventos Adversos, bem como a

Norma da Direção-Geral da Saúde n.º 015/2014, de 25/09/2014 que apresenta o

Sistema Nacional de Incidentes – NOTIFICA.

9. Envio de cópia do regulamento interno, especificamente no que se refere ao direito

de acompanhamento dos utentes no serviço de internamento;

10. Esclarecimentos complementares julgados necessários e relevantes à análise do

caso concreto.”.

11. Em 7 de novembro de 2016, deu entrada na ERS a resposta do prestador, nos termos

da qual vem esclarecer que,

“1. Foi aberto um Processo de Averiguações que se encontra encerrado, dando

origem ao relatório de que se anexa cópia integral, tendo as conclusões propostas

sido homologadas pelo Conselho de Administração.

2. Foram revistas as normas em utilização que se mostraram ajustadas;

3. Irá o Conselho de Administração realizar todos os esforços no sentido de poder

cumprir todas as normas de em vigor que não foram cumpridas por grave falta de

equipamento;

4. O Conselho de Administração tomou agora conhecimento das carências

reportadas e da ausência de segurança dos doentes por falta grave de equipamento

adequado, tendo deliberado diligenciar no sentido de colmatar as falhas identificadas

com a maior celeridade possível”.

12. Em anexo à resposta, o prestador remeteu cópia de Processo de inquérito aberto na

sequência do incidente que deu origem aos presentes autos, bem como cópia da

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norma hospitalar n.º 23/CHBA de 17/04/2013 “Sistema de Prevenção e Monitorização

de Quedas”.

13. Resulta do referido processo de inquérito do CHUA, em suma e no que importa

considerar o seguinte:

“[…]

Face às declarações produzidas e coligidas nos autos em sede de instrução, cumpre

apreciar:

1 - O facto ocorreu.

2 - Por falta de meios para prevenção de risco de queda previamente destacados.

3 - Confirmado que a falta de recursos materiais (camas com grades) foi

devidamente enfatizado junto da Direção do Hospital (anexo 5 de 13 fls.), sendo a

mesma Direção responsável pela não aquisição do número de camas considerado

por aquele serviço de Ortopedia.

4 - Por falta destes recursos (camas com grades), apesar dos excessivos avisos

dos familiares e dos profissionais do serviço, os meios utilizados para prevenção do

risco devidamente assinalado nesta doente, eram os disponíveis.

CONCLUSÃO

Assim, feita a análise comparativa dos factos participados com os depoimentos

registados, e destes com os documentos que integram os autos, concluiu-se que os

factos ocorreram, que o risco de queda foi devidamente assinalado, tal facto só

ocorreu por falta de recursos disponíveis na instituição”.

14. Tendo em conta a necessidade de avaliação técnica dos factos em presença, em 13

de junho de 2016, foi solicitado parecer a perito consultado pela ERS, cujas

conclusões, em suma, se reconduzem a:

“[…]

Por que foi efectuada contenção física apenas aos membros superiores?

Não foram colocadas grades na cama?

Os registos de enfermagem (pagina 7) são contraditórios: ora tem grades ora não

tem grades na cama.

A 11 de Maio (3h20) já tem referencia a risco elevado de queda (pagina 13) e a 17

de Maio risco de confusão em grau moderado.

Apenas a 21 de Maio existe referência a colocação de grades na cama (pagina 15).

9 Mod.016_01

Na prática temos registos que podem ser contraditórios, por um lado, e por outro o

risco terá sido identificado sem terem sido tomadas as medidas necessárias para o

prevenir”.

15. No decurso da instrução dos presentes autos, a ERS tomou conhecimento de duas

reclamações, visando a atuação do CHA que foram tratadas no âmbito dos processos

de reclamação registados sob os números REC/44281/2015 e REC/8673/2017.

16. As mencionadas reclamações referem-se concretamente às quedas da cama dos

utentes J.C. e B.R.

17. No âmbito da REC/44281/2015, é referido que “No dia 29-08-15 pelas 17:00 o auxiliar

levantou […] a cama 25 “com o doente [J.C.] deitado na mesma [nessa sequência a

cama partiu e] caiu bruscamente com o doente lá em cima […]”.

18. Em resposta à referida reclamação, o CHUA veio esclarecer que a queda da cama do

utente J.C. foi motivada por “uma avaria elétrica […] sem que na sua origem estivesse

um comportamento menos cuidado por parte do profissional interveniente”

19. No âmbito da REC/8673/2017, é referido que a utente B.R. deu entrada no serviço de

urgência do prestador em 23 de janeiro de 2017, tendo ficado internada por infeção

respiratória. Sucede que dia 25 de janeiro de 2017, ao tentar sair de uma maca sofreu

uma queda da qual resultou uma fratura do fémur.

20. Menciona o prestador no que concerne à queda da utente B.R., que “A maca onde a

doente se encontrava cumpria todos os procedimentos legais, com as grades de

proteção colocadas devidamente […alegando que] situações desta natureza são

imprevisíveis, e que não podem ser imputadas ao Hospital”.

21. Da análise das preditas reclamações foi possível concluir que a matéria denunciada é

semelhante à analisada no âmbito do presente processo de inquérito motivo pelo qual

as mesmas foram apensadas ao presente processo de inquérito em 22 de fevereiro de

2017 e 11 de abril de 2017, respetivamente.

22. Posteriormente, e para verificar da eventual ocorrência de outras situações de queda

de utentes, em momento posterior à abertura dos presentes autos, foi solicitado ao

Departamento do Utente (DU) da ERS, em 5 de março de 2018, através da

Comunicação Interna n.º 259/2018, a averiguação da existência de outras

reclamações visando o CHUA, diretamente relacionadas com incidentes de quedas de

utentes e procedimentos existentes para avaliação do risco de queda e prevenção da

sua ocorrência.

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23. Por Comunicação Interna, CI n.º 301/2018, de 9 de março de 2018, veio o DU

comunicar a existência de mais quatro reclamações, a saber:

a) REC_48766/2016 – na qual é referido pelo exponente que tinha sido informado por

uma enfermeira do serviço de ortopedia do Hospital de Faro, que a sua mãe

internada nesse serviço “tentou levantar-se, teria caído e fraturado uma perna”. Na

sua resposta ao reclamante, o prestador confirmou a queda, acrescentando que

“[…] a guardas laterais não existem para todas as camas, mas não são exclusivas

de um Serviço […] Na ausência de guardas, procede-se à imobilização do doente,

sempre que haja risco para o próprio.”.

b) REC_12161/2017 – na qual era referido pelo exponente que estando internado no

serviço de neurologia do Hospital de Faro teria sofrido uma queda por terem sido

deixadas abertas as grades da sua cama, bem como uma queda do cadeirão

“porque se esqueceram de colocar algo para agarrar”. Na sua resposta o prestador

apenas informou ter procedido à abertura de um processo de inquérito.

c) REC_70059/2017 – na qual era referido pelo exponente que a utente sua mãe,

tendo sido internada em 11 de maio de 2016, no Hospital de Faro, para ser

operada a uma hérnia, no dia seguinte. Antes da operação caiu e fraturou o colo

do fémur sem que a família fosse avisada, sendo que essa queda originou uma

outra cirurgia, agora no serviço de ortopedia do CHUA. O prestador confirmou os

factos e lamentou o sucedido.

d) REC_71610/2017 – na qual era referido pelo exponente que a utente, sua sogra,

que estava internada no serviço de ortopedia do Hospital de Faro, após uma

intervenção cirúrgica, sofreu uma queda da cama, da qual resultaram lesões na

face e no maxilar.

24. As referidas reclamações foram apensadas ao presente processo de inquérito, em 16

de março de 2018.

III. DO DIREITO

III.1. Das atribuições e competências da ERS

25. De acordo com o preceituado no n.º 1 do artigo 4.º e no n.º 1 do artigo 5.º, ambos dos

Estatutos da ERS, aprovados pelo Decreto-Lei n.º 126/2014, de 22 de agosto, a ERS

tem por missão a regulação, a supervisão e a promoção e defesa da concorrência,

respeitantes às atividades económicas na área da saúde dos setores privado, público,

11 Mod.016_01

cooperativo e social, e, em concreto, à atividade dos estabelecimentos prestadores de

cuidados de saúde;

26. Sendo que estão sujeitos à regulação da ERS, nos termos do n.º 2 do artigo 4.º dos

mesmos Estatutos, todos os estabelecimentos prestadores de cuidados de saúde, do

setor público, privado, cooperativo e social, independentemente da sua natureza

jurídica.

27. Consequentemente, o Centro Hospitalar e Universitário do Algarve, EPE. (CHUA),

entidade prestadora de cuidados de saúde inscrita no Sistema de Registo de

Estabelecimentos Regulados (SRER) da ERS sob o n.º 22789.

28. As atribuições da ERS, de acordo com o n.º 2 do artigo 5.º dos Estatutos da ERS

compreendem “a supervisão da atividade e funcionamento dos estabelecimentos

prestadores de cuidados de saúde, no que respeita […entre outros] [ao] “cumprimento

dos requisitos de exercício da atividade e de funcionamento”, “[à] garantia dos direitos

relativos ao acesso aos cuidados de saúde”, e “[à] prestação de cuidados de saúde de

qualidade, bem como dos demais direitos dos utentes”.

29. Com efeito, são objetivos da ERS, nos termos das alíneas a), c) e d) do artigo 10.º dos

Estatutos da ERS, “assegurar o cumprimento dos requisitos do exercício da atividade

dos estabelecimentos prestadores de cuidados de saúde”; “garantir os direitos e

interesses legítimos dos utentes” e “zelar pela prestação de cuidados de saúde de

qualidade”.

30. No que toca à alínea a) do artigo 10.º dos Estatutos da ERS, a alínea c) do artigo 11.º

do mesmo diploma estabelece ser incumbência da ERS “assegurar o cumprimento

dos requisitos legais e regulamentares de funcionamento dos estabelecimentos

prestadores de cuidados de saúde e sancionar o seu incumprimento”.

31. Já no que se refere ao objetivo regulatório previsto na alínea c) do artigo 10.º dos

Estatutos da ERS, de garantia dos direitos e legítimos interesses dos utentes, a alínea

a) do artigo 13.º do mesmo diploma estabelece ser incumbência da ERS “apreciar as

queixas e reclamações dos utentes e monitorizar o seguimento dado pelos

estabelecimentos prestadores de cuidados de saúde às mesmas”.

32. Finalmente, e a propósito do objetivo consagrado na alínea d) do artigo 10.º dos

Estatutos da ERS, a alínea c) do artigo 14.º do mesmo diploma prescreve que

compete à ERS “garantir o direito dos utentes à prestação de cuidados de saúde de

qualidade”.

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33. Para tanto, a ERS pode assegurar tais incumbências mediante o exercício dos seus

poderes de supervisão, consubstanciado, designadamente, no dever de zelar pela

aplicação das leis e regulamentos e demais normas aplicáveis, e ainda mediante a

emissão de ordens e instruções, bem como recomendações ou advertências

individuais, sempre que tal seja necessário, sobre quaisquer matérias relacionadas

com os objetivos da sua atividade reguladora, incluindo a imposição de medidas de

conduta e a adoção das providências necessárias à reparação dos direitos e

interesses legítimos dos utentes – cfr. alíneas a) e b) do artigo 19.º dos Estatutos da

ERS.

34. Tal como configurada, a situação denunciada nos autos poderá consubstanciar não só

um comportamento atentatório dos direitos e legítimos interesses dos utentes

(concretamente, do direito à prestação de cuidados de saúde de qualidade e com

segurança), mas também na violação de normativos que à ERS cabe acautelar, na

prossecução da sua missão de regulação e supervisão da atividade dos

estabelecimentos prestadores de cuidados de saúde.

III.2. Do enquadramento legal da prestação de cuidados de saúde

III.2.1. Do direito à prestação de cuidados de saúde de qualidade e com segurança

35. A necessidade de garantir requisitos mínimos de qualidade e segurança ao nível da

prestação de cuidados de saúde, dos recursos humanos, do equipamento disponível e

das instalações, está presente no sector da prestação de cuidados de saúde de uma

forma mais acentuada do que em qualquer outra área.

36. As relevantes especificidades deste setor agudizam a necessidade de garantir que os

serviços sejam prestados em condições que não lesem os interesses nem os direitos

dos utentes.

37. Sobretudo, importa ter em consideração que a assimetria de informação que se verifica

entre prestadores e utentes reduz a capacidade destes últimos de perceberem e

avaliarem o seu estado de saúde, bem como, a qualidade e adequação dos serviços

que lhe são prestados.

38. Além disso, a importância do bem em causa (a saúde do doente) imprime uma

gravidade excecional à prestação de cuidados em situação de falta de condições

adequadas.

13 Mod.016_01

39. Por outro lado, os níveis de segurança desejáveis na prestação de cuidados de saúde

devem ser considerados, seja do ponto de vista do risco clínico, seja do risco não

clínico.

40. Assim, o utente dos serviços de saúde tem direito a que os cuidados de saúde sejam

prestados com observância e em estrito cumprimento dos parâmetros mínimos de

qualidade legalmente previstos, quer no plano das instalações, quer no que diz

respeito aos recursos técnicos e humanos utilizados.

41. Os utentes gozam do direito de exigir dos prestadores de cuidados de saúde o

cumprimento dos requisitos de higiene, segurança e salvaguarda da saúde pública,

bem como a observância das regras de qualidade e segurança definidas pelos códigos

científicos e técnicos aplicáveis e pelas regras de boa prática médica, ou seja, pelas

leges artis.

42. Os utentes dos serviços de saúde que recorrem à prestação de cuidados de saúde

encontram-se, não raras vezes, numa situação de vulnerabilidade que torna ainda

mais premente a necessidade dos cuidados de saúde serem prestados pelos meios

adequados, com prontidão, humanidade, correção técnica e respeito.

43. A este respeito encontra-se reconhecido na Lei n.º 48/90, de 24 de agosto, que

aprovou a Lei de Bases da Saúde (LBS), e, hoje, no artigo 4º da Lei n.º 15/2014, de 21

de março, o direito dos utentes a serem “tratados pelos meios adequados,

humanamente e com prontidão, correção técnica, privacidade e respeito” – cfr. alínea

c) da Base XIV da LBS.

44. Quando o legislador refere que os utentes têm o direito de ser tratados pelos meios

adequados e com correção técnica está certamente a referir-se à utilização, pelos

prestadores de cuidados de saúde, dos tratamentos e tecnologias tecnicamente mais

corretas e que melhor se adequam à necessidade concreta de cada utente.

45. Por outro lado, quando na alínea c) da Base XIV da LBS se afirma que os utentes

devem ser tratados humanamente e com respeito, tal imposição decorre diretamente

do dever dos estabelecimentos prestadores de cuidados de saúde de atenderem e

tratarem os seus utentes em respeito pela dignidade humana, como direito e princípio

estruturante da República Portuguesa.

46. De facto, os profissionais de saúde que se encontram ao serviço dos estabelecimentos

prestadores de cuidados de saúde devem ter “redobrado cuidado de respeitar as

pessoas particularmente frágeis pela doença ou pela deficiência”.

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47. E a qualidade dos serviços de saúde não se esgota nas condições técnicas de

execução da prestação, mas abrange também a comunicação e informação ao utente,

dos resultados dessa mesma prestação.

48. Para além destas exigências, os prestadores de cuidados de saúde devem ainda

assegurar e fazer cumprir um conjunto de procedimentos, que tenham por objetivo

prevenir e controlar a ocorrência de incidentes e eventos adversos, que possam afetar

os direitos e interesses legítimos dos utentes.

49. Em especial, devem ser observadas as regras constantes da Orientação da Direção-

Geral da Saúde (doravante DGS) n.º 011/2012, de 30 de julho de 2012, referente à

Análise de Incidentes e de Eventos Adversos1, bem como a Norma da DGS n.º

015/2014, de 25 de setembro de 2014, que cria o Sistema Nacional de Notificação de

Incidentes - NOTIFICA2.

50. Os sobreditos documentos, aplicáveis a todas as entidades prestadoras de cuidados

de saúde do Sistema de Saúde Português, estabelecem procedimentos que

constituem instrumentos eficazes para a deteção de eventos adversos e para

estimular a reflexão e o estudo sobre os mesmos, por forma a determinar a alteração

de comportamentos e a correção e retificação de erros, em prol da qualidade, eficácia,

eficiência e segurança dos cuidados de saúde a prestar aos utentes.

51. Assim, a Orientação da DGS n.º 011/2012, referente à Análise de Incidentes e de

Eventos Adversos, estabelece concretamente o seguinte:

“Sempre que se verificar a ocorrência de um incidente potencialmente grave ou de um

evento adverso, os serviços prestadores de cuidados de saúde devem:

1) promover a aprendizagem sobre as respetivas causas e prevenir a sua

recorrência;

2) identificar as causas raiz do evento e procurar atuar sobre essas causas, indo

além da mera resolução das manifestações dos problemas;

3) seguir a metodologia de desenvolvimento da Análise das Causas Raiz, elaborada

a partir das experiências internacionais nesta área, anexa à presente Orientação e

que dela faz parte integrante.”

1 A Orientação da DGS n.º 011/2012, de 30 de julho de 2012, pode ser consultada em

https://www.dgs.pt/directrizes-da-dgs.aspx. 2 A Norma da DGS n.º 015/2014, de 25 de setembro de 2014, procurou reconfigurar e melhorar a

estrutura e organização de conteúdos do antigo Sistema Nacional de Notificação de Incidentes e Eventos Adversos (SNNIEA), e pode ser consultada em https://www.dgs.pt/directrizes-da-dgs.aspx.

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52. Já relativamente à Norma da DGS n.º 015/2014, que cria o Sistema Nacional de

Notificação de Incidentes – NOTIFICA, a mesma estabelece que:

“1. Todas as Unidades do Sistema de Saúde devem possuir uma estrutura

responsável pela gestão e análise interna de incidentes de segurança do doente.

2. A indicação do gestor local e do seu substituto, junto desta Direção-Geral, deve

obrigatoriamente:

a. conter os seus nomes completos, endereços eletrónicos e contactos telefónicos

profissionais;

b. serem dirigidos ao endereço [email protected].

3. O gestor local ou o seu substituto ficam, obrigados a garantir:

a. que o acesso à sua página pessoal no NOTIFICA é intransmissível;

b. reporte periódico à administração da instituição;

c. o respeito e o cumprimento dos procedimentos previsto no “Manual do Gestor

local”, disponível na página www.dgs.pt.

4. Os incidentes reportados no NOTIFICA devem ser alvo de análise interna, pelo

gestor local, de forma a garantir:

a. a validação das notificações;

b. a identificação de medidas de correção, de implementação imediata, se aplicável;

c. a identificação dos fatores contribuintes;

d. a determinação de um plano de ação com medidas preventivas ou corretivas se e

conforme aplicável.

5. O gestor local deve dar retorno de informação ao notificador, acedendo à

plataforma NOTIFICA e transcrevendo para a notificação em análise, as medidas

preventivas e/ou corretivas definidas.

6. Sempre que se verificar a ocorrência de um incidente cujo grau de dano para o

doente é “grave” ou “morte”, o gestor local deverá:

a. promover a aprendizagem sobre as respetivas causas e prevenir a sua

recorrência;

b. identificar as causas raiz do evento e procurar atuar sobre essas causas, indo

além da mera resolução das manifestações dos problemas;

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c. seguir a metodologia de desenvolvimento da Análise das Causas Raiz, elaborada

a partir das experiências internacionais nesta área, no cumprimento da Orientação

n.º 011/2012 de 30 de julho de 2012. […]”.

10. A notificação de um incidente, ocorrido numa instituição prestadora de cuidados

de saúde exige a implementação de medidas corretoras sistémicas por parte da

administração da instituição, de forma a evitar que situações geradoras de dano,

real ou potencial, se venham a repetir. […]”.

53. Ainda com relevância para a matéria em análise, e no quadro da proteção dos direitos

e interesses dos utentes, de acordo com a alínea a) do artigo 14.º dos Estatutos da

ERS, incumbe a esta Entidade Reguladora “promover um sistema de âmbito nacional

de classificação dos estabelecimentos prestadores de cuidados de saúde quanto à

sua qualidade global, de acordo com critérios objetivos e verificáveis, incluindo os

índices de satisfação dos utentes”.

54. É neste enquadramento que a ERS se encontra a desenvolver o projeto SINAS

(Sistema Nacional de Avaliação em Saúde), que consiste num sistema de avaliação

da qualidade global dos serviços de saúde, em Portugal continental3.

55. Embora atualmente estejam apenas implementados os módulos relativos a

estabelecimentos de saúde com internamento (SINAS@Hospitais) e a

estabelecimentos prestadores de cuidados de saúde oral (SINAS@Saúde.Oral), existe

a pretensão de estender o sobredito sistema a todos os estabelecimentos de saúde

(públicos, privados, cooperativos e sociais) sujeitos à regulação e supervisão da ERS.

56. Atendendo às dificuldades em uniformizar o conceito de “qualidade”, em cada módulo

do SINAS são avaliadas diversas dimensões dos serviços prestados, algumas das

quais são transversais a todos os módulos, como é o caso, por exemplo, da dimensão

relativa à “segurança do doente”.

57. E nesta dimensão da “segurança do doente” incluem-se categorias de avaliação que

merecem destaque para a matéria em análise nos autos, designadamente a

implementação de planos, procedimentos, políticas ou protocolos para avaliação do

risco de quedas dos doentes, o registo no processo clínico destes dos resultados

dessa eventual avaliação, o registo de ocorrência de quedas e a avaliação do registo

de ocorrência de quedas numa ótica de melhoria contínua, entre outros.

III.3. Análise da situação concreta

3 Sobre o SINAS, consultar a página eletrónica da ERS, em https://www.ers.pt/pages/265.

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58. Analisados os factos apurados no decurso dos presentes autos, importa aferir se o

CHUA, quer na situação relatada na notícia que deu origem aos presentes autos, quer

nos demais casos relatados nas reclamações entretanto apensadas aos mesmos,

respeitou o direito dos utentes à prestação de cuidados de saúde de qualidade e com

segurança, e se, em geral, nesse mesmo estabelecimento de saúde, o mencionado

direito se encontra acautelado – concretamente, ao nível da avaliação e prevenção

adequadas do risco de queda dos utentes, designadamente determinando se o

prestador possui, implementou e/ou cumpre os respetivos procedimentos ou

protocolos, em observância e em estrito cumprimento dos parâmetros mínimos de

qualidade legalmente previstos.

59. Ora, das diligências encetadas no presente processo resultaram os factos que, de

seguida, resumidamente se enunciam, no que se refere à situação que deu origem à

abertura dos presentes autos:

(i) A utente A.F. realizou uma intervenção cirúrgica ao colo do fémur no CHUA;

(ii) Na tarde do dia 19 de maio de 2016 encontrava-se em pós-operatório;

(iii) “Cerca das 23.15h por uma chamada por campainha […], o Sr. Enf.

Responsável pela doente encontrou a doente de pé, apoiada à cama. Em

virtude desta situação e tendo em consideração um aumento de risco de queda,

foi efetuado contenção física dos membros superiores à cama, da doente D.

A.F.”.

(iv) Cerca da 1h da manhã, dia 20 de maio de 2016, a utente, alegadamente terá

conseguido retirar a imobilização da mão esquerda, e cai da cama;

(v) De acordo com o registo de Enfermagem da utente, apenas em 21 de maio de

2016, às 23:03, foi determinado “colocar grades na cama” bem como, “executar

técnicas de imobilização com colete”;

60. Ademais, recorde-se que, além do incidente verificado com a utente A.F., a ERS teve

conhecimento de mais reclamações, visando a atuação do CHUA, em matéria de

avaliação e prevenção de risco de queda, nas quais eram relatadas outras situações

de quedas de utentes durante a prestação de cuidados de saúde.

61. Das informações prestadas pelo CHUA, na sequência do inquérito aberto para

apuramento das circunstâncias em que ocorreu o incidente com a utente A.F., uma

assunção de a queda ter ocorrido “Por falta de meios para prevenção de risco de

queda previamente destacados.”.

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62. Tendo o prestador concluído que “[…] o risco de queda foi devidamente assinalado, tal

facto só ocorreu por falta de recursos disponíveis na instituição”.

63. Sendo assim possível concluir que o prestador possui um procedimento denominado

“Sistema de prevenção e monitorização de quedas”.

64. Não obstante o mesmo não tenha sido implementado por falta de recursos materiais

(designadamente camas com grades).

65. Assim, constatou-se que os procedimentos internos do CHUA para prevenção de

quedas, não se revelaram, em vários momentos, aptos a garantir a qualidade e a

segurança da prestação de cuidados de saúde;

66. Não só na situação do utente, cuja reclamação deu origem aos presentes autos;

67. Mas igualmente nas demais reclamações, entretanto apensadas ao presente processo

de inquérito, que constituem igualmente evidência do prestador não ter acautelado o

devido acompanhamento dos utentes em causa por forma a garantir uma permanente

e efetiva monitorização dos mesmos.

68. O que determinaria que o prestador cumprisse, escrupulosamente, as medidas

preconizadas nos procedimentos que tem instituídos a este respeito, que tem como

objetivo, em suma “[…]

. Identificar os pacientes em risco de queda;

. Desenvolver estratégias de prevenção face ao risco detetado;

.Monitorizar a sua ocorrência.”

69. Assim, tendo presentes os factos apurados nos autos, constata-se que in casu os

procedimentos assistenciais empregues pelo CHUA não foram garantísticos do

cumprimento do dever prestação de cuidados de saúde de qualidade e com segurança.

70. Com efeito, e refira-se que, o direito à qualidade dos cuidados de saúde, que implica o

cumprimento de requisitos legais e regulamentares de exercício, de manuais de boas

práticas, de normas de qualidade e de segurança é, incontestavelmente, uma garantia

de um acesso aos cuidados qualitativamente necessários, adequados e em tempo útil;

71. Pois que, o cumprimento de procedimentos promove uma melhor coordenação e

articulação entre os serviços, bem como acautela qualquer impacto negativo na

condição de saúde dos utentes.

72. Sendo certo que nenhuma vantagem se retira da existência de procedimentos, nas

mais diversas áreas de intervenção, sem que se garanta, paralelamente, que os

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mesmos são efetivamente aplicados, em todos os momentos e em todas as dimensões

da atuação dos prestadores, nos cuidados que prestam aos utentes.

73. Por todo o vindo de expor, considera-se necessária a adoção da atuação regulatória

infra delineada, ao abrigo das atribuições e competências legalmente atribuídas à ERS,

de modo a evitar que situações como a dos presentes autos voltem a ocorrer, devendo,

por conseguinte, o CHUA adotar todos os comportamentos aptos a garantir uma

prestação de cuidados de saúde de qualidade e com segurança, nomeadamente

assegura o cumprimento do procedimento em vigor “Sistema de prevenção e

monitorização de quedas”, garantindo a existência de recursos materiais que permitam

o seu efetivo cumprimento.

IV. AUDIÊNCIA DOS INTERESSADOS

74. A presente deliberação foi precedida de audiência escrita dos interessados, nos termos

e para os efeitos do disposto no n.º 1 do artigo 122.º do Código de Procedimento

Administrativo (CPA), aplicável ex vi da alínea a) do artigo 24.º dos Estatutos da ERS,

tendo sido notificados para se pronunciarem relativamente ao projeto de deliberação da

ERS, no prazo de 10 dias úteis, o CHUA e a utente.

75. Certo é que no decurso do prazo legal para o efeito, e até ao presente momento, não

foi a ERS notificada das pronúncias dos interessados.

76. Não foi, assim, trazido ao conhecimento da ERS qualquer facto capaz de infirmar ou

alterar o sentido do projeto de deliberação da ERS tal como regularmente notificado e

que, por isso, se mantém na íntegra.

V. DECISÃO

77. Tudo visto e ponderado, o Conselho de Administração da ERS delibera, nos termos e

para os efeitos do preceituado nas alíneas a) e b) do artigo 19.º e alínea a) do artigo

24.º dos Estatutos da ERS, aprovados pelo Decreto-Lei n.º 126/2014, de 22 de agosto,

emitir uma instrução ao Centro Hospitalar e Universitário do Algarve, E.P.E. no sentido

de:

(i) Garantir o permanente cumprimento das normas aplicáveis e dos

procedimentos internos, com o objetivo de garantir a qualidade e a segurança

dos cuidados de saúde prestados, designada, mas não limitadamente, das

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medidas e/ou procedimentos de avaliação do risco de queda dos utentes e de

prevenção da ocorrência desse incidente;

(ii) Garantir de forma permanente a existência dos recursos materiais necessários

para a prevenção adequada do risco de queda dos utentes e,

consequentemente, para cumprimento dos procedimentos em vigor;

(iii) Garantir o permanente cumprimento das normas e orientações em vigor, a cada

momento, sobre incidentes de quedas e eventos adversos, nomeadamente no

que respeita "a metodologia de desenvolvimento da Análise das Causas Raiz”

de acordo com a Orientação da Direção-Geral da Saúde n.º 011/2012, de

30/07/2012, referente à Análise de Incidentes e de Eventos Adversos e sobre a

sua notificação ao organismo com competência para fazer a respetiva análise e

monitorização, nos termos da Norma da Direção-Geral da Saúde n.º 015/2014,

referente ao Sistema Nacional de Notificação de Incidentes, ou quaisquer

outras de conteúdo idêntico que sobre as mesmas matérias venham a ser

aprovadas;

(iv) Garantir em permanência, através da emissão e divulgação de ordens e

orientações claras e precisas, que os referidos procedimentos sejam

corretamente seguidos e respeitados por todos profissionais;

(v) Dar cumprimento imediato à presente instrução, bem como dar conhecimento à

ERS, no prazo máximo de 30 (trinta) dias úteis após a notificação da

deliberação final, dos procedimentos adotados para o efetivo cumprimento do

disposto em cada uma das alíneas supra.

78. A instrução ora emitida constitui decisão da ERS, sendo que a alínea b) do n.º 1 do

artigo 61.º dos Estatutos da ERS, aprovados em anexo ao Decreto-Lei n.º 126/2014, de

22 de agosto, configura como contraordenação punível in casu com coima de €

1000,00 a € 44 891,81, “[….] o desrespeito de norma ou de decisão da ERS que, no

exercício dos seus poderes regulamentares, de supervisão ou sancionatórios

determinem qualquer obrigação ou proibição, previstos nos artigos 14.º, 16.º, 17.º, 19.º,

20.º, 22.º, 23.º ”.

Porto, 26 de abril de 2018.

O Conselho de Administração.