4
35 Física na Escola, v. 5, n. 1, 2004 Resenhas Um guia para formação de professores de Ciências E nsino de Ciências: Fundamentos e Métodos é um livro destinado aos docentes que atuam nos cursos de formação de professores de Ciências da Natureza, Física, Quími- ca, Biologia e afins, e aos que lecio- nam a disciplina de Ciências na Educação Fundamental. A sua con- sulta é recomendada também aos pro- fessores responsáveis pelas disciplinas de caráter pedagógico mais amplo, fornecendo-lhes informações sobre pesquisas no ensino de Ciências, além de realizar um trabalho articula- do na melhoria da formação de professores nessa área. Uma de suas propostas se dá no sentido de desmis- tificar o conceito de que a Ciência é só para os cientistas. Assim, trabalha sobre a necessidade de elaboração de um conhecimento científico que se aproxime da produção contempo- rânea, levando em conta a sua relação com outras áreas do conhecimento, sua relevância social e sua produção histórica. O livro está organizado em seis partes, cada uma dividida em dois capítulos. No pri- meiro, um texto elaborado tanto para alunos como para professores dos cursos de for- mação, trabalha os pontos fundamen- tais de eixos básicos para a formação e atuação docente. No segundo, são propostas, em itens, atividades que, articuladas ao texto, solicitam trabalho compartilhado de professo- res e alunos, mediante distintas iniciativas. Nas suas seções, aspectos mencionados no texto são retomados para detalhamento, são sugeridas referências básicas para melhor desenvolvimento dos temas, são apre- sentadas situações típicas que possi- bilitam a discussão, o planejamento e aplicação das proposições, nos diver- sos ambientes onde se possa ensinar e aprender Ciências, buscando esti- mular a participação ativa e criativa dos envolvidos no enfrentamento de situações específicas e, por fim, apre- senta listas de leituras complemen- tares. Os temas desenvolvidos nas seis partes são “Educação em Ciências e Prática Docente”, “Ciência e Ciências na Escola”, “Aluno, Conhecimentos Escolares e Não-Escolares”, “Aborda- gem de Temas em Sala de Aula”, “Te- mas de Ensino e a Escola”e “Temas para Estudo e Bibliografia” que, ape- sar de estarem interligados, podem ser lidos independentemente, de acordo com alguma demanda específica, uma vez que cada tema aborda algum aspecto de uma concepção para o ensino de Ciências. Entretanto, é bom explicitar que o conjunto total oferece uma visão estruturada dessa concep- ção. O livro é escrito na forma de hipertexto, criando víniculos, seme- lhantes à forma empregada na Internet, ou seja, quando os autores querem destacar ou comentar algum assunto em separado, abre-se um vín- culo exatamente no local do texto onde o comentário se insere, que remete a uma nota impressa na mar- gem da própria página. Essa forma facilita a leitura, primeiro porque evita as maçantes notas ao final de cada capítulo ou as notas de rodapé nume- radas e, segundo, porque trata-se da aplicação de uma forma cada vez mais em uso nos dias atuais. Além do amplo espectro de refe- rências bibliográficas (segundos capí- tulos de cada parte), o livro apresenta, ao longo dos textos, muitos endereços eletrônicos na Internet, ampliando as possibilidades de consultas. O único cuidado a se tomar aqui, é a “alta rotatividade” na renovação desse tipo de referenciamento. Por se tratar de uma forma fácil e econômica de divulgação, alguns endereços indica- dos podem já ter saído do ar, ou esta- rem desatualizados. Para finalizar, os autores, cujas fichas curriculares sobre o assunto dispensam comentários, são pesqui- sadores e educadores empedernidos, com visões e propostas sempre atuali- zadas, atuando de forma responsável pela melhoria do ensino e, com esse livro, presenteiam-nos com uma leitura agradável porém densa em conceitos e proposições. Ensino de Ciências: Fundamentos e Métodos, por Demétrio Delizoicov, José André Angotti e Marta Maria Pernambuco (Editora Cortez, 2002), 365 pp. Carlos Alberto Olivieri Departamento de Física/UFSCar Introdução Elementar ao Universo de Einstein Dois fatos aparentemente anta- gônicos chamaram a minha atenção quando recebi o livro pelo correio, presente do meu irmão que é médico, porém aficionado pelos textos de

delizoicov

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: delizoicov

35Física na Escola, v. 5, n. 1, 2004 Resenhas

Um guia para formação deprofessores de Ciências

Ensino de Ciências: Fundamentos eMétodos é um livro destinadoaos docentes que atuam nos

cursos de formação de professores deCiências da Natureza, Física, Quími-ca, Biologia e afins, e aos que lecio-nam a disciplina de Ciências naEducação Fundamental. A sua con-sulta é recomendada também aos pro-fessores responsáveis pelas disciplinasde caráter pedagógico mais amplo,fornecendo-lhes informações sobrepesquisas no ensino de Ciências,além de realizar um trabalho articula-do na melhoria da formação deprofessores nessa área. Uma de suaspropostas se dá no sentido de desmis-tificar o conceito de que a Ciência ésó para os cientistas. Assim, trabalhasobre a necessidade de elaboração deum conhecimento científico que seaproxime da produção contempo-rânea, levando em conta a sua relaçãocom outras áreas do conhecimento,sua relevância social e sua produçãohistórica.

O livro estáorganizado em seispartes, cada umadividida em doiscapítulos. No pri-meiro, um textoelaborado tantopara alunos comopara professoresdos cursos de for-

mação, trabalha os pontos fundamen-tais de eixos básicos para a formaçãoe atuação docente. No segundo, sãopropostas, em itens, atividades que,articuladas ao texto, solicitam

trabalho compartilhado de professo-res e alunos, mediante distintasiniciativas. Nas suas seções, aspectosmencionados no texto são retomadospara detalhamento, são sugeridasreferências básicas para melhordesenvolvimento dos temas, são apre-sentadas situações típicas que possi-bilitam a discussão, o planejamentoe aplicação das proposições, nos diver-sos ambientes onde se possa ensinare aprender Ciências, buscando esti-mular a participação ativa e criativados envolvidos no enfrentamento desituações específicas e, por fim, apre-senta listas de leituras complemen-tares.

Os temas desenvolvidos nas seispartes são “Educação em Ciências ePrática Docente”, “Ciência e Ciênciasna Escola”, “Aluno, ConhecimentosEscolares e Não-Escolares”, “Aborda-gem de Temas em Sala de Aula”, “Te-mas de Ensino e a Escola”e “Temaspara Estudo e Bibliografia” que, ape-sar de estarem interligados, podem serlidos independentemente, de acordocom alguma demanda específica, umavez que cada tema aborda algumaspecto de uma concepção para oensino de Ciências. Entretanto, é bomexplicitar que o conjunto total ofereceuma visão estruturada dessa concep-ção.

O livro é escrito na forma dehipertexto, criando víniculos, seme-lhantes à forma empregada naInternet, ou seja, quando os autoresquerem destacar ou comentar algumassunto em separado, abre-se um vín-culo exatamente no local do textoonde o comentário se insere, queremete a uma nota impressa na mar-gem da própria página. Essa forma

facilita a leitura, primeiro porque evitaas maçantes notas ao final de cadacapítulo ou as notas de rodapé nume-radas e, segundo, porque trata-se daaplicação de uma forma cada vezmais em uso nos dias atuais.

Além do amplo espectro de refe-rências bibliográficas (segundos capí-tulos de cada parte), o livro apresenta,ao longo dos textos, muitos endereçoseletrônicos na Internet, ampliando aspossibilidades de consultas. O únicocuidado a se tomar aqui, é a “altarotatividade” na renovação desse tipode referenciamento. Por se tratar deuma forma fácil e econômica dedivulgação, alguns endereços indica-dos podem já ter saído do ar, ou esta-rem desatualizados.

Para finalizar, os autores, cujasfichas curriculares sobre o assuntodispensam comentários, são pesqui-sadores e educadores empedernidos,com visões e propostas sempre atuali-zadas, atuando de forma responsávelpela melhoria do ensino e, com esselivro, presenteiam-nos com umaleitura agradável porém densa emconceitos e proposições.

Ensino de Ciências: Fundamentos eMétodos, por Demétrio Delizoicov,José André Angotti e Marta MariaPernambuco (Editora Cortez, 2002),365 pp.

Carlos Alberto OlivieriDepartamento de Física/UFSCar

Introdução Elementar aoUniverso de Einstein

Dois fatos aparentemente anta-gônicos chamaram a minha atençãoquando recebi o livro pelo correio,presente do meu irmão que é médico,porém aficionado pelos textos de

Page 2: delizoicov

36 Física na Escola, v. 5, n. 1, 2004Resenhas

divulgação científica que tratam dasteorias cosmológicas, relatividade,etc...

O primeiro, foiquanto à forma naqual o livro é apre-sentado. Comoocorre com todosos livros que mecaem nas mãos,antes de proceder àleitura, costumodar uma folheada

no mesmo. Ao fazer isso, deparei comilustrações desenhadas à mão, noestilo de história em quadrinhos, queà primeira vista, levou-me a pensarque se tratava de apenas mais umlivro escrito para crianças e que, por-tanto, faltaria muito com o rigor dosconceitos da Física. O segundo foi aconstatação de que o mesmo fora pu-blicado pela Companhia das Letras,editora conhecida e respeitada pelaseriedade na escolha dos textos porela editados. Assim, iniciei a leituracom um olhar bastante crítico e logoapós as primeiras páginas a dúvidaquanto ao rigor científico foi sedesfazendo e, como detalharei emseguida, apesar de não usar basica-mente nada das ferramentas da mate-mática, o livro é bastante rigoroso.

Na ficha de catalogação, o livrose classifica como um texto de litera-tura infanto-juvenil. Porém ele nãosó pode, como deve, ser lido e enten-dido também por indivíduos de outrasfaixas etárias, mesmo aqueles quenão são físicos. Os únicos requisitosbásicos para entendê-lo e, por conse-guinte, se deliciar com a leitura, é tercuriosidade a respeito das leis danatureza, ter um mínimo de conhe-cimento das principais leis da Físicae, principalmente, não ter medo deentender coisas que não fazem partedo cotidiano da maioria dos seres hu-manos, ou seja, coisas que não sãointuitivamente assimiladas.

O livro trabalha concomitante-mente dados biográficos de AlbertEinstein, a quem o autor chama sim-plesmente de Beto, e as teorias porele desenvolvidas, passando pelasTeorias Especial e Geral da Relativi-dade, com suas aplicações na Físicadas altas velocidades e nas teorias

cosmológicas, assunto atualmenterecorrente em diversas revistas e jor-nais de divulgação científica.

A seqüência apresentada peloautor segue a ordem cronológica dosfatos, de forma que são apresentadasnão apenas as grandes descobertas dogênio, mas também os contextos his-tórico-políticos vigentes nas ocasiõesem que elas se deram. Desta forma,os conflitos pessoais de Einstein sãoapresentados intercaladamente comas propostas e soluções dos grandesproblemas da Física, bem como comas questões políticas mundiais.Einstein não apenas presenciou, mas,em diversas ocasiões foi protagonistanas duas grandes guerras mundiaisdo século XX, como também viveunos Estados Unidos durante o períodoem que guerra fria com a UniãoSoviética atingia o seu ápice.

Permeando o texto principal, paratornar a leitura mais fácil e para evi-tar que o leitor se perca em explicaçõesauxiliares, o autor utiliza-se de umartifício que consiste em criar caixasde textos que separam dados essen-ciais. Tais caixas de textos auxiliamna compreensão das idéias globais dolivro. Para tanto, os assuntos de cunhopessoal do próprio Einstein sãocolocados em caixas com o título“Diário Perdido do Beto”, enquanto osassuntos políticos são tratados nascaixas “Tribuna do Universo”. Já paraos assuntos científicos, cada caixapossui o seu próprio título.

Tudo isso torna o livro, que tratade assuntos extremamente complexosde uma forma lúdica porém rigorosaem relação aos conceitos científicos,numa leitura instrutiva e, sobretudo,agradável, de modo que podemosrecomendá-lo como livro auxiliarpara estudantes e professores desde oEnsino Médio até o ensino universi-tário, sem excluir a possibilidade dese indicar para indivíduos não direta-mente relacionados com a escola for-mal.

Albert Einstein e seu UniversoInflável, por Mike Goldsmith (SérieMortos de Fama, Cia. das Letras,2002), 192 pp.

Carlos Alberto OlivieriDepartamento de Física/UFSCar

Einstein, uma ave dearribação

Ave de arriba-ção, penúltimo ca-pítulo de Einsteinem Berlim, livrorecentemente pu-blicado por Tho-mas Levenson, éuma síntese extra-ordinariamente

apropriada de toda a vida desta ge-nial personalidade. Do seu nasci-mento, em 1879, até sua morte, em1955, Einstein jamais permaneceumais do que 22 anos na mesma ci-dade. Este recorde pertence a Prin-ceton, onde ele viveu os últimos anosda sua vida.

Mas, mais do que sua vocação pa-ra retirante, Einstein viveu em Berlimmomentos extremos da sua vida. Dacompleta felicidade pelo desenvolvi-mento da relatividade geral e pela con-vivência em um ambiente científicode altíssimo nível intelectual, àdolorosa provação dos ataques anti-semitas, com sérias possibilidades deassassinato. Entre um extremo eoutro, registra-se o drama da sua vidaconjugal. Na década de 1920 ele erao cientista mais festejado em qualquerlugar do mundo civilizado, como con-tinua sendo até hoje. Não obstante,era submetido a enormes tensões emo-cionais. Uma singela demonstraçãodesse estado de espírito encontra-seem uma carta não enviada, que eleescreveu para Max Planck no verãode 1931. Na página 452 de seu livro,Levenson fala dessa carta. Einsteinrefere-se à sua cidadania alemã, queele aceitara retomar após a PrimeiraGuerra Mundial, mas “os aconteci-mentos dos últimos dias sugerem quenão é aconselhável manter esta situa-ção”. Era um drama pessoal de gran-des proporções; ele não desejava terque abandonar um país e uma insti-tuição que lhe proporcionaram “inve-jáveis condições de vida e de trabalhodurante os melhores anos de minhavida”. Alguns meses depois elesucumbiu. Precisamente no dia 6 dedezembro de 1931, a bordo de umnavio a caminho da Califórnia, eleescreveu em seu diário: “Resolvi hoje

Page 3: delizoicov

37Física na Escola, v. 5, n. 1, 2004

que renunciarei essencialmente àminha posição em Berlim e serei umaave de arribação pelo resto da vida”.

Mais uma vez Einstein balançavaentre a razão e o coração. Protelou oquanto pôde a decisão assinalada noseu diário. Em fevereiro de 1932,enquanto visitava o Caltech, recebeuconvite para trabalhar no recém-criado Instituto de Estudos Avançadosde Princeton. O contrato previa a per-manência de cinco meses por ano na-quela bela instituição nos bosques deNova Jersey. Mas em outubro eleainda continuava reticente, pelomenos publicamente: “não estouabandonando a Alemanha. (...) Minhacasa permanente continua sendo emBerlim”, declarou naquela oportuni-dade ao The New York Times. Emdezembro, partiu da Alemanha paranunca mais voltar. Na despedida dacasa de campo em Caputh, olhou parasua mulher e disse [1]: “Olhe bem paranossa villa.” “Por que?”, perguntouElsa. “Você nunca mais vai vê-la.” Éimpossível estimar a amargura da-quelas palavras.

De concreto, aquela cena encer-rava um período de 18 anos, ao longodos quais ele fora ligado pelos maisfortes laços científicos e humanos,embora nem sempre em paz de espí-rito. A ida da família Einstein paraBerlim, em abril de 1914, marcou ocolapso final do seu casamento comMileva Maric, uma situação antecipa-da quando, em 2 de dezembro de1913, Einstein escreveu para Elsa, suaprima, que viria a ser sua mulher peloresto da vida: “Trato minha mulhercomo uma empregada que não possodemitir.”

A chegada a Berlim e a proximi-dade de Elsa tornou a convivênciacada vez mais insuportável. Comodisse Levenson na página 37, “Aatitude de Einstein em relação à espo-sa passou de um afeto aparentementedistante a uma atitude de frieza e sur-preendente brutalidade”. Em 18 dejulho de 1914 ele estabelecia as condi-ções para continuarem juntos: “eladeveria desistir de ter relacionamentopessoal com ele, a menos que as cir-cunstâncias externas exigissem quemantivessem as aparências. Deveriacomprometer-se a manter arrumado

seu estúdio, lavar suas roupas e provi-denciar três refeições por dia no quar-to dele. Não viajariam juntos. (...)Parar imediatamente de falar com elequando ele mandasse, e sair do seuestúdio ou do quarto de dormir ime-diatamente, sem protestar, se euassim determinar”. Resignadamente,Mileva disse aceitar até mesmo essascondições, mas Einstein deu a enten-der que não acreditava nela. Em 29de julho, Mileva retorna para Zurique,acompanhada dos dois filhos, HansAlbert (10 anos) e Eduard (4 anos).Foi uma despedida dramática. Eins-tein acompanhou Mileva e os filhosaté à estação ferro-viária; no retornopara casa não con-teve as lágrimas [2].

O que parece sermais notável nabiografia de Eins-tein é sua capaci-dade de superar essas tragédias da vi-da. Não bastassem as sucessivasfalências do seu pai, os problemasenfrentados com professores medío-cres, e por causa deles a falta de em-prego no início da sua carreira,Einstein enfrentou severas campa-nhas anti-semitas e enredou-senesses problemas conjugais insupe-ráveis para espíritos mais fracos. Sóum gênio seria capaz de produzir oque ele produziu tendo a vida que eleteve. E não foi pouco. Pelo contrário,foi muito, e em muito pouco tempo.

O prólogo da obra de Levensontem título, “A adoração”, e já na pri-meira frase ele dimensiona a estaturaintelectual de Einstein: “Tudo começacom uma história bem conhecida, ados reis magos”. A simbologia dispen-sa comentários, sobretudo depois deler a seqüência do capítulo:

“No verão de 1913, dois homenschegaram a Zurique, vindos do nor-deste, trazendo presentes. Amboseram reis na esfera de suas profiss-ões. Um deles, Walther Nernst,baixote, rubicundo, divertido e pensa-tivo, era brilhante pesquisador emQuímica. O outro, alto e esguio, deóculos e bigode bem aparado, manei-ras elegantes e exatas, era Max Planck,inventor da teoria quântica e o físicomais admirado da Alemanha.”

“Vinham de Berlim, a capital dokaiser, cidade progressista, centro domundo da ciência teórica. (...) Plancke Nernst vieram como suplicantes,viajando de trem para trazer seutributo. Vinham adorar um homemde 34 anos, de origem obscura, cujotrabalho havia explodido no mundoda Física como uma revelação.”

Albert Einstein, o objeto da ado-ração, não tinha mais do que oito anosde carreira como físico. Em 1905 eraum simples avaliador de patentes emBerna. Não tinha sequer o diplomade doutor, mas publicou cinco traba-lhos que revolucionaram a Física,

todos eles na presti-giosa revista alemãAnnalen der Physik(AdP). Na verdade,já havia publicadooutros cinco traba-lhos na AdP, entre1901 e 1904, mas,

comparados àqueles de 1905, osprimeiros trabalhos eram claramen-te de menor valor científico. Um dostrabalhos de 1905 lhe valeu a tese dedoutorado na Universidade de Zuri-que. Outro, sobre o efeito fotoelétrico,lhe valeria o Prêmio Nobel de 1921.Um terceiro tratava da teoria da rela-tividade restrita. No último trabalhode 1905 ele deduz sua famosa equa-ção E = mc2.

O primeiro emprego universitárioé obtido em 1909; em maio ele as-sume o cargo de professor extraordi-nário de Física Teórica na Universidadede Zurique. Já no mês de julho elerecebe o título de doutor honoris causada Universidade de Genebra. Em se-tembro é o convidado de honra do en-contro anual da Sociedade Alemã deCiências Naturais e Artes. Em 1911é nomeado professor catedrático naUniversidade de Praga. Em 1912volta para a ETH, agora como reno-mado cientista, não como o alunodesprezado pelos seus ex-professores.

Entre 1901 e 1913 Einstein já ti-nha publicado mais de 50 artigos, ejá tinha sido indicado para o PrêmioNobel de 1910, de 1912 e de 1913.Era esta máquina de produzir Ciênciaque os “reis magos” Planck e Nernstestavam tentando levar para Berlim.A “oferenda” não era pequena: seria

Resenhas

Entre 1901 e 1913 Einstein játinha publicado mais de 50

artigos, e já tinha sidoindicado para o Prêmio

Nobel de 1910, de 1912 e de1913

Page 4: delizoicov

38 Física na Escola, v. 5, n. 1, 2004

Faça Você

MESMOFaça Você

MESMO

o mais jovem membro da AcademiaPrussiana de Ciências, teria um cargode professor na Universidade deBerlim, sem obrigações docentes e di-reito de fazer conferências à sua von-tade, e seria nomeado diretor do seupróprio instituto de Física, a ser embreve organizado sob a égide dosInstitutos Kaiser Wilhelm.

Era uma proposta irrecusável,mas Einstein pediu uma noite parapensar. Naquela noite do verão suíçode 1913, “dois homens, reis magosmodernos, aguardaram a decisão dojovem príncipe”, que ao final lhes seriafavorável.

Menos de uma década depois opríncipe descobriu que havia muitasujeira no reino da Física alemã. Oespinhento caminho foi sendo forjadopelo anti-semitismo. Não apenaspelos ignorantes, mas também pelosmembros das camadas esclarecidas,sobretudo alguns dos seus pares, co-mo os ganhadores de Prêmio Nobel

Johannes Stark e Philipp Lenard. Oprimeiro ataque direto contra Einsteinfoi patrocinado pelo Grupo de Traba-lho de Cientistas Alemães para a Pre-servação da Ciência Pura, numa reu-nião pública, realizada em agosto de1920. Os ataques seguiram-se conti-nuamente, até a definitiva partida deEinstein para os EUA.

Além da extraordinária descriçãodo contexto político alemão nos anosque antecederam a Segunda GuerraMundial, Levenson discute conceitosfísicos com razoável precisão. Porexemplo, é maravilhosa a apresenta-ção da idéia de simultaneidade. Toda-via, há pequenos equívocos, comoquando trata do modelo de Bohr, napágina 312. Também não apresentareferências para a colaboração entreEinstein e Wander Johannes de Haas,discutida na página 127. Trata-se deum estudo sobre magnetismo, cujosresultados Einstein publicou em doistrabalhos de 1915. Há um equívoco

quando fala da viagem de Einstein àAmérica do Sul, em 1925. Ao contrá-rio do que ele diz, Elsa não acompa-nhou o marido nessa viagem.

De forma geral, a menos dessespequenos deslizes, o livro de Levensoné maravilhoso, e pode ser colocado aolado das melhores biografias de Eins-tein.

Einstein em Berlim, por T. Levenson(Objetiva, Rio de Janeiro, 2003).

Carlos Alberto dos SantosInstituto de Física – UFRGS

Resenhas

O tubo de Venturi

Objetivo

Ilustrar o fenômeno de Venturi.

Material

• tubo de PVC (20 mm de diâ-metro e 30 cm de comprimen-to)

• canudo fino (com 10 cm decomprimento)

• balão de aniversário• vasilhame com água• cola instantânea• alicate universal• chave de fenda fina• luva térmica• fonte de calor

Procedimento

Ponha a luva e coloque o meiodo tubo sobre a fonte de calor,girando-o até amolecer. Em seguida,pegue rapidamente o alicate e es-

trangule a parte amolecida. Assimque ficar rígida, faça um pequenofuro, usando a chave de fenda, nolugar indicado na figura e insira,aproximadamente, 1 cm do compri-mento do canudo pelo furo. Cole ocanudo “nas paredes” do furo e vedeo local.

Prenda a “boca” do balão numaextremidade do tubo e comece a en-chê-lo pela outra, mantendo a pontado canudo fechada. Quando o balãoestiver bem cheio, aperte seu “pesco-ço”, para bloquear a saída do ar, elibere a ponta do canudo. Coloque ocanudo dentro d’ água e depois solteo “pescoço” do balão.

Observe que...

A água é aspirada.

Explicação

O fenômeno de Venturi mostraque o escoamento de um fluido nointerior de um tubo horizontal de se-ção transversal variável, nos pontosde estrangulamento, onde a veloci-dade de escoamento do fluido au-menta, a pressão diminui. Sendoassim, o ar, ao mover-se na regiãoestrangulada do tubo, ganha veloci-dade e perde pressão. A pressãoexterna, maior, faz com que a águasuba pelo canudo.

Tópicos de discussão

• Fenômeno de Venturi• Lei de Bernoulli

Fábio Luís Alves PenaInstituto de FísicaUFBA

[email protected]

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Notas[1] Levenson relata parcialmente o diá-

logo, cuja versão completa encon-tra-se em P. Frank, Einstein: his lifeand times. (Da Capo, New York,1947), p. 226.

[2] Esta informação não está contida nolivro de Levenson. Ela foi dada aAbraham Pais por Helen Dukas,secretária de Einstein a partir de 1928.Veja A. Pais, Einstein lived here (Cla-rendon Press, Oxford, 1994), p. 18.