Demanda Oferta Tranp Coletivo SIG Anpet 2

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RELAO ENTRE DEMANDA E OFERTA DE TRANSPORTE PBLICO COLETIVO: UMA ANLISE ESTRATGICA UTILIZANDO SIG E ESTATSTICA ESPACIAL Erika Cristine Kneib Paulo Cesar Marques da SilvaPrograma de Ps Graduao em Transportes - Doutorado em Transportes Universidade de Braslia

RESUMO No contexto do planejamento de transportes, cogente o conhecimento do nmero de viagens geradas em uma determinada rea de estudo, de forma a compatibilizar a oferta e a demanda por transportes. Com relao ao transporte pblico coletivo, tal compatibilizao imperiosa, pois refletir diretamente na qualidade do sistema. Destarte, o objetivo deste trabalho consiste em verificar a relao entre a demanda e a oferta de transporte pblico coletivo, em uma anlise estratgica, em nvel de zonas de trfego. Posteriormente ao referencial terico, discute-se um estudo de caso com as zonas de trfego do municpio de Manaus, em que, a partir da montagem das bases de dados e clculo dos ndices determinados, utilizada a estatstica espacial. A estatstica espacial, em conjunto com o SIG, possibilita a comparao entre as variveis, que relatada e analisada na ltima parte, permitindo atingir o objetivo deste trabalho. ABSTRACT In the context of transport planning, knowing the number of trips generated in a given study area is an essential task, as a means of making transport supply and demand compatible. As for public transport, such compatibility is mandatory, because of the consequent quality of the system. Therefore, this article aims at verifying the relationship between public transports demand and supply analysed strategically at the level of traffic zones. After a theoretical review, a case study with traffic zones of Manaus is discussed, in which the spatial statistics is used to deal with the databases produced and the indexes calculated. The spatial statistics, together with GIS, allows the comparison of variables, which is reported and analysed in the last part of the article, leading to achievement of the established aims.

1. INTRODUO No mbito do planejamento de transportes, existe uma necessidade primordial de se conhecer o nmero de viagens geradas em uma determinada rea de estudo, de forma a compatibilizar a oferta e a demanda por transportes nessa rea, seja com relao aos servios, seja com relao infra-estrutura. No que tange ao transporte pblico coletivo, tal compatibilizao cogente, pois refletir diretamente na operao do sistema e em seus ndices de qualidade e de utilizao, impactando a mobilidade da populao, a acessibilidade de determinadas reas e a qualidade do ambiente urbano de uma forma geral. Nesse contexto insere-se a temtica deste trabalho, cujo objetivo principal consiste em identificar, em um estudo de caso especfico, quais so as reas que se destacam em termos de demanda e oferta de transporte pblico coletivo - TC, para depois fazer uma comparao entre elas. Como justificativa ressalta-se que, em sistemas existentes, essa informao permite avaliar reas com equilbrio, com oferta excedente, ou com carncia de TC, merecendo, nos dois ltimos casos, uma anlise mais detalhada. Para o planejamento de novos sistemas, tais anlises podem contribuir de forma relevante para embasar a configurao do modelo funcional que, de acordo com EBTU (1988), Silveira (1999) e Taco et al.(2006), necessita de um diagnstico do sistema em operao e dos usurios sob o ponto de vista de sua distribuio espacial e de suas concentraes, a partir de um contraponto da oferta em relao demanda, em especial sua distribuio geogrfica numa rea urbana. Como objetivo secundrio pretende-se averiguar a aplicabilidade dos Sistemas de Informao Geogrfica -

SIG e da estatstica espacial para identificar a relao entre a demanda e a oferta de transporte coletivo, em um nvel estratgico. A estrutura metodolgica adotada composta por trs etapas bsicas. A primeira contm um referencial terico que aborda aspectos relativos ao transporte pblico coletivo - TC, caracterizao da oferta e demanda de TC, anlise e estatstica espacial. Em uma segunda etapa apresentado o estudo de caso, com as zonas de trfego - ZT do municpio de Manaus, onde, a partir da montagem das bases de dados e clculo dos ndices determinados, utilizada a estatstica espacial. A estatstica espacial, em conjunto com o SIG, possibilita a comparao entre as variveis, que acontece na terceira e ltima etapa, em conjunto com as anlises, permitindo atingir o objetivo deste trabalho. 2. REFERENCIAL TERICO 2.1 Transporte pblico coletivo A estrutura e a configurao dos sistemas de transporte tm grande influncia na ocupao e uso do solo, impactando a eficincia econmica das cidades e a qualidade de vida da populao. Assim, de fundamental importncia o planejamento adequado do sistema de transportes de uma cidade, com nfase no sistema de transporte pblico coletivo, devido a seu carter estruturador do espao urbano. Segundo Ferraz e Torres (2004) o planejamento do transporte pblico envolve os trs nveis convencionais de planejamento: estratgico, ttico e operacional. O estratgico, com caractersticas macro, engloba a definio dos modos de transporte pblico coletivo a serem utilizados, a localizao geral dos traados ou itinerrios, das estaes e terminais. O nvel ttico trata da escolha do tipo de veculo, definio dos itinerrios, etc; enquanto o operacional aborda questes mais detalhadas, e concentra-se na programao da operao do sistema. De acordo com essa classificao, as anlises deste trabalho referem-se ao nvel estratgico, ou macro, pois avaliam a cidade como um todo e permitem que os resultados sejam obtidos em nvel de zona de trfego, os quais podem embasar anlises tticas e operacionais. Ainda com relao ao planejamento de transporte pblico, a EBTU (1988) enfatiza que este deve concentrar-se na avaliao do equilbrio entre a demanda e a oferta das linhas j existentes, variveis enfocadas neste trabalho, e na recomendao de adequaes para melhoria do sistema. Dessa forma, a seguir, so apresentadas as caractersticas da oferta e demanda de transporte coletivo. 2.2 Caracterizao da oferta e demanda de TC De acordo com EBTU (1988), a lgica operacional de um sistema de transporte pblico coletivo consiste na formulao de uma filosofia de prestao de servios, de forma a aumentar a eficincia do sistema e reduzir seus custos. A principal preocupao na formulao de uma lgica operacional a adequao das condies de oferta s caractersticas de demanda, em especial do atendimento espacial dessa demanda. Com relao demanda, ou desejo de realizar deslocamentos, a ANTP (1997) ressalta ser imprescindvel conhec-la para o desenvolvimento de planos e aes de transporte e trnsito. J a EBTU (1988) trabalha com o termo demanda manifesta e demanda potencial. Define como demanda manifesta o nmero de usurios que j utilizam o sistema de transporte em

anlise. A demanda potencial seria a que reflete um possvel incremento, ou surgimento, de novos usurios no sistema. Em consonncia com os conceitos da EBTU apresentados, este trabalho concentra-se na demanda manifesta, pois considera o nmero de usurios que j utilizam o sistema de transporte em anlise, adicionando a isto as caractersticas espaciais dessa demanda. Assim, a varivel utilizada para a caracterizao espacial da demanda baseia-se na densidade de gerao de viagens pelo modo nibus, obtida em pesquisas origem-destino, que representa, em sua quase totalidade, as viagens realizadas por transporte pblico coletivo, expressa pela equao 1.

DGVi =

Vi Ari

(1)

Onde: DGVi = densidade de gerao de viagens, por nibus, na Zona de Trfego i; Vi = nmero de viagens geradas, por nibus, na Zona de Trfego i; Ar = rea, em km2, da Zona de Trfego i. Para caracterizao da demanda, a EBTU (1988) sugere determinao do fluxo de passageiros, ocupao crtica, ndice de renovao e fator de desequilbrio. Neste trabalho, sugere-se que esse tipo de informao, de carter mais operacional, seja utilizado para avaliar com maior nvel de detalhe as zonas indicadas pelo resultado do procedimento proposto. Com relao oferta, o sistema de transporte pblico de uma cidade constitui, geralmente, um sistema complexo em termos de concepo, organizao e funcionamento, no existindo uma metodologia nica para todas as situaes (EBTU, 1988). O trabalho sugere analisar a oferta com base na presena e caracterstica das linhas; localizao dos terminais, pontos de parada e estaes; forma de explorao dos servios. Dessa forma, para a caracterizao da oferta de TC, neste trabalho so utilizados dois ndices: o nmero e a densidade de linhas de transporte pblico coletivo, em nvel de zona de trfego, expressas pela equao 2.DLi = NLi Ari

(2)

Onde: DLi = densidade de linhas de transporte coletivo (nibus) na Zona de Trfego i; NLi = nmero de linhas de transporte coletivo (nibus) que passam na Zona de Trfego i; Ar = rea, em km2, da Zona de Trfego i. 2.3 Anlise e Estatstica Espacial A anlise espacial o estudo quantitativo de fenmenos que so possveis de serem localizados no espao, e procura avaliar se o fenmeno estudado possui uma referncia espacial ou geogrfica. Para Cmara et al. (2002), a nfase da anlise espacial quantificar as propriedades e os relacionamentos dos dados espaciais que so definidos como quaisquer dados que possam ser caracterizados no espao em funo de algum sistema de coordenadas. Assim, a idia central da anlise espacial incorporar o espao anlise a que se deseja fazer. Desta forma, a anlise espacial est centrada nos processos que ocorrem no espao, buscando descrever e analisar como interagem e se correlacionam esses processos (Krempi, 2004). Em

complementao, o conjunto amplo de tcnicas que incluem mtodos estatsticos e que procuram descrever a variao espacial do fenmeno em estudo, a partir de amostras disponveis, denominado Estatstica Espacial (Lopes, 2005). Anselin (1996, apud Cmara et al., 2002) divide as ferramentas de anlise espacial em seleo, manipulao, anlise exploratria e anlise confirmatria. Os processos de anlise exploratria, focos deste trabalho, permitem descrever e visualizar as distribuies espaciais globais e locais, descobrir padres de associao espacial (clusters), sugerir instabilidades espaciais (no-estacionariedade) e identificar situaes atpicas (outliers). Em complemento, destaca-se que as observaes dos dados, dentro do campo de anlise espacial, podem ser classificadas e em trs grupos distintos, segundo o padro de como os respectivos dados esto distribudos no espao geogrfico em padres pontuais, anlise de superfcies e anlise de reas (Teixeira, 2003 e Cmara et al., 2002), sendo esta ltima o foco deste trabalho. A anlise exploratria de dados em reas consiste em ferramentas estatsticas descritivas e grficas, com a inteno de detectar padres nos dados aplicveis a objetos rea e sugerir hipteses por meio da imposio de um mnimo de estrutura possvel. Este processo em reas pode ser executado utilizando algumas tcnicas e ferramentas, dentre as quais destacam-se a visualizao de dados, grficos de mdias e medianas, e a anlise de autocorrelao espacial. Uma etapa importante na anlise exploratria de reas identificar a estrutura de autocorrelao espacial que pode descrever, da melhor forma possvel, os dados, a fim de estimar a magnitude da autocorrelao espacial entre as reas. As ferramentas usadas neste caso, normalmente, so os indicadores globais de autocorrelao espacial, os indicadores locais de autocorrelao espacial, e o diagrama de espalhamento de Moran, que tambm pode ser visualizado por meio do Boxmap (Teixeira, 2003, Cmara et al., 2002, Lopes, 2005, Silva, 2006). Neste trabalho, visando identificar reas cuja dependncia espacial apresenta maior intensidade relacionada gerao de viagens por transporte coletivo e s demais variveis analisadas, so focados o diagrama de espalhamento de Moran e o Boxmap. O diagrama de espalhamento de Moran definido como um grfico bidimensional dividido em quatro quadrantes (Figura 1), que permite analisar o comportamento da variabilidade e dependncia espacial. O diagrama construdo com base nos valores normalizados (valores de atributos subtrados de sua mdia e divididos pelo desvio padro), no eixo das abscissas encontram-se os valores normalizados (z) e no eixo das ordenadas tm-se as mdias dos vizinhos (wz) (Cmara et al., 2000). O mecanismo de funcionamento do diagrama se baseia na comparao dos valores normalizados do atributo em uma rea com a mdia dos seus vizinhos. Conforme ressaltado, uma outra forma de apresentar o Diagrama de Espalhamento de Moran pode ser por meio do Boxmap, que definido como um mapa temtico bidimensional onde cada polgono indica seu quadrante no diagrama de espalhamento. Os quatro quadrantes so representados por cores diferentes para facilitar a identificao (Silva, 2006).

Figura 1: Exemplo do Diagrama de Espalhamento de Moran. Fonte: Silva (2006) A dependncia espacial apresenta maior intensidade medida que mais pontos se aglomeram no primeiro e no terceiro quadrante, enquanto que a existncia de pontos no segundo e quarto quadrante descaracteriza esse fato. Ou seja, os quadrantes Q1 (alto-alto) e Q3 (baixo-baixo) indicam pontos de associao espacial positiva, no sentido que uma localizao possui vizinhos com valores semelhantes. Enquanto que os quadrantes Q2 (baixo-alto) e Q4 (altobaixo) indicam pontos de associao espacial negativa, no sentido que uma localizao possui vizinhos com valores distintos. Neste trabalho, com o objetivo de destacar as zonas com relao demanda e oferta de transporte coletivo, so bastante ressaltados os valores alto-alto, para identificar zonas de trfego com valores elevados das variveis, dentre vizinhos tambm com valores elevados; e os valores alto-baixo, para identificar zonas de trfego com altos valores da varivel dentre zonas vizinhas com baixos valores, ou seja picos de demanda ou oferta de transporte coletivo. 3. CASOS DE ESTUDO: AS ZONAS DE TRFEGO DE MANAUS Para atingir o objetivo deste trabalho foi realizado um estudo de caso no municpio de Manaus, capital do estado do Amazonas, no Brasil, que apresenta uma populao estimada de 1.592.000 habitantes para o ano de 2004 (IBGE, 2000). Com relao s caractersticas da cidade e de seu sistema de transporte, cabe destacar que o crescimento descontrolado e a exploso demogrfica nos ltimos 15 anos da cidade de Manaus originaram bairros novos em regies no atendidas pelo Sistema de Transportes. Como forma de contornar o problema e adaptar-se nova configurao urbana, foram criadas linhas de atendimento a estes novos bairros e aglomerados urbanos. No entanto, este processo ocorreu sem um planejamento global e estas linhas muitas vezes competiam entre si. Em muitos casos os itinerrios possuam desnecessariamente trechos coincidentes e o Sistema tornou-se preponderantemente radial, no qual a maioria das linhas possua ponto final ou de retorno no centro da cidade. Estes itinerrios resultaram do prprio desejo da populao de ir para o centro, em funo das atividades ali localizadas. Um outro motivo para viagens com esse destino o terminal de integrao localizado muito prximo ao centro, ocasionando deslocamentos negativos dos usurios (Taco et al., 2006). Como base para as anlises foi utilizado o material fornecido pela Prefeitura de Manaus e CEFTRU (2006), que inclui a pesquisa domiciliar (formando a matriz origem-destino) e a

base vetorial do municpio. Aps montadas as bases de dados e calculados os ndices de densidade de gerao de viagens por TC por zona de trfego (demanda), nmero e densidade de linhas por zona de trfego (oferta), de acordo com equaes 1 e 2, foram calculados os valores do Diagrama de Espalhamento de Moran e do Boxmap no software Terraview 3.1.4 (INPE, 2006), procurando descrever a variao espacial do fenmeno em estudo. Dessa forma, a partir de uma anlise exploratria utilizando o Boxmap, com o objetivo de destacar as zonas com relao demanda, so trabalhados, prioritariamente, os valores alto-alto e os valores alto-baixo. Posteriormente, este procedimento repetido para as variveis nmero e densidade de linhas por zona de trfego (oferta). 3.1 Densidade de gerao de viagens por transporte coletivo - demanda Conforme ressaltado anteriormente, no item 2.2, este trabalho concentra-se na demanda manifesta, pois considera o nmero de usurios que j utilizam o sistema de transporte em anlise, e adicionam-se as caractersticas espaciais dessa demanda. Destarte, a varivel utilizada para a caracterizao espacial da demanda baseia-se na densidade de gerao de viagens pelo modo nibus, calculada conforme equao 1 apresentada no item 2.1, a partir dos dados da pesquisa origem-destino do municpio, conforme apresentado na Figura 2.

Figura 2: Densidade de gerao de viagens de TC (nibus) por ZT Posteriormente, foram calculados os valores do Diagrama de Espalhamento de Moran e do Boxmap. Como resultado obteve-se a Figura 3, com 9 zonas de trfego de valor alto-alto e que se destacam com relao densidade de gerao de viagens de transporte coletivo (modo nibus) por zona de trfego (zonas 101, 103, 104, 106, 107, 109, 111, 114 e 201); e 8 as que se destacam com valor alto-baixo (105, 206, 303, 403, 404, 406, 504, 610). O centro comercial da cidade representado pela zona 101, o que permite observar que grande parte das zonas com valor alto-alto situam-se prximas ao centro comercial.

Figura 3: Boxmap densidade de gerao de viagens de TC por nibus 3.2 Nmero de linhas de transporte coletivo por zona de trfego - oferta O nmero de linhas de transporte coletivo por zona de trfego foi calculado a partir de uma base vetorial do municpio, utilizando-se o software Transcad (Caliper Corporation, 2002), obtendo-se, assim, o nmero de linhas de TC (nibus) que passam em cada ZT (Figura 4). Analogamente aos mapas anteriores, foram calculados os valores do Diagrama de Espalhamento de Moran e do Boxmap, apresentados na Figura 5.

Figura 4: No de linhas de TC (nibus) por ZT

Figura 5: Boxmap no de linhas de TC (nibus) por ZT

3.3 Densidade de linhas de transporte coletivo por zona de trfego - oferta A densidade de linhas de TC (nibus) por ZT foi calculada como descrito na equao 2, apresentada no item 2.2, a partir de uma base vetorial do municpio, utilizando-se o software Transcad, obtendo-se, assim, densidade de linhas de TC (nibus) por ZT (Figura 6).

Analogamente aos mapas anteriores, foram calculados os valores do Diagrama de Espalhamento de Moran e do Boxmap, apresentados na Figura 7.

Figura 6: Densidade de linhas de TC (nibus) por ZT

Figura 7: Boxmap densidade de linhas de TC (nibus) por ZT

4. ANLISES E COMPARAO DA DEMANDA E OFERTA DE TRANSPORTE COLETIVO POR NIBUS Conforme ressaltado anteriormente, a principal anlise relacionada a este trabalho consiste em comparar a oferta e demanda de transporte coletivo, em nvel de zona de trfego. Dessa forma, os itens 4.1 e 4.2, a seguir, apresentam, primeiramente, as anlises das zonas de trfego com valores 1 (alto-alto) para densidade de gerao de viagens de TC, ou seja, as zonas que mais se destacam com relao a essa varivel, caracterizando as zonas que se destacam com relao demanda do sistema; comparando-as com as variveis nmero e densidade de linhas de TC por ZT, caracterizando as zonas com maiores ofertas. Em uma segunda anlise, so apresentadas as zonas de trfego com valores 3 (alto-baixo) para densidade de gerao de viagens de TC, procurando identificar zonas de trfego com elevada demanda de viagens por TC dentre zonas vizinhas com baixa demanda, ou seja, picos de demanda por TC. E, analogamente ao primeiro caso, identifica-se, dentre as zonas com valores alto-baixo, as que possuem maiores ofertas de TC. 4.1 Anlises das zonas de trfego com valores 1 (alto-alto) para densidade de gerao de viagens por transporte coletivo Na Figura 8 apresenta-se o grfico que ilustra os valores do Boxmap para as 9 zonas de trfego com valores 1 (alto-alto) para densidade de gerao de viagens por TC. O grfico permite visualizar, por exemplo, que as zonas 101, 103, 106, 107 e 109 e 201 apresentam valores alto-alto (1) para todas as variveis analisadas, ou seja, permitem avaliar, em um nvel macro, que compara as zonas de trfego entre si, que h um equilbrio entre a oferta e demanda de transporte coletivo nessas zonas.

Baixo-alto 4 (4) 3.5 Alto-baixo 3 (3) 2.5 Baixo-baixo 2 (2) 1.5 Alto-alto 1 (1) 0.5 0 ZT 101 103 104 106 107 109 111 114 201 Boxmap_DVG Boxmap_DL Boxmap_NL

DVG = Densidade de Viagens geradas pelo modo nibus; DL = Densidade de linhas de TC por ZT; NL = Nmero de linhas de TC por ZT

Figura 8: Grfico ilustrando os valores do Boxmap para as 9 zonas de trfego com valores 1 (alto-alto) para densidade de gerao de viagens por TC (nibus) Ainda de acordo com a Figura 8, observa-se que a Zona 104 apresenta alta demanda e baixa oferta, seja de nmero ou densidade de linhas de TC. As zonas 111 e 114 apresentam alta demanda e alta densidade de linhas, porm um baixo nmero de linhas de TC por ZT, merecendo uma anlise mais detalhada. Para uma visualizao da localizao das zonas de destaque apresentam-se as Figuras 9 e 10. Na Figura 9 observa-se que as Zonas de Trfego com equilbrio entre oferta e demanda de TC situam-se no Centro (zona 101) e nas reas prximas a ele, ratificando o comentrio de Taco et al. (2002) que caracteriza o sistema de Manaus como preponderantemente radial, no qual a maioria das linhas possui ponto final ou de retorno no centro da cidade.

Figura 9: Zonas de Trfego com equilbrio entre oferta e demanda de TC

Figura 10: Zona de Trfego com alta demanda e baixa oferta de TC

Na Figura 10 observa-se a zona 104, caracterizada por alta demanda (alta densidade de viagens geradas por TC) e baixa oferta. Em uma anlise mais detalhada sobre o uso do solo desta zona, observa-se a presena de vrias atividades no residenciais, inclusive plos geradores de viagens PGVs, como indstrias, escolas, igrejas, bancos, comrcios, dentre outros, o que pode gerar indcios da necessidade de novas linhas para atender a tais plos.

Essa observao pode significar ainda caractersticas de centralidade nessa zona (Kneib, 2004), caracterizando-a como um subcentro, o que demandaria a necessidade de maior oferta de transporte coletivo. Segundo a NTU (2005), em vrias cidades, a demanda de deslocamentos entre os subcentros est crescendo mais do que a demanda por ligaes radiais, sem que a capacidade da rede de TC seja ajustada a tal necessidade. Ou seja, as redes de transporte pblico continuam com sua configurao radial em torno dos centros histricos, sem ligaes adequadas com subcentros emergentes. Todavia, para caracteriz-la como um subcentro, so necessrias anlises mais detalhadas. 4.2 Anlises das zonas de trfego com valores 3 (alto-baixo) para densidade de gerao de viagens por transporte coletivo Em um segundo nvel de anlise, so identificadas zonas de trfego com elevada densidade de gerao de viagens por transporte coletivo dentre zonas vizinhas com baixa densidade, ou seja, picos de demanda. Com relao s 8 zonas que se destacam com valor alto-baixo (105, 206, 303, 403, 404, 406, 504, 610) para a varivel densidade de gerao de viagens por TC, observa-se que a nica zona que apresenta valores Alto (alto-alto ou alto-baixo) tanto para densidade de linhas quanto para nmero de linhas a zona 105, ou seja, a nica, de acordo com os parmetros adotados nesta anlise, que possui compatibilidade entre oferta e demanda de TC (Figura 11). Dentre as demais zonas, todas merecem uma anlise detalhada com relao oferta e demanda, com nfase nas zonas 303, 403 e 406, que possuem valores Baixos (baixo-alto ou baixo-baixo) tanto para densidade de linhas quanto para nmero de linhas de TC por ZT.4.5 Baixo-alto (4) 4 3.5 3 Alto-baixo (3) 2.5 Baixo-baixo (2) 2 1.5 Alto-alto (1) 1 0.5 0 ZT 105 206 303 403 404 406 504 610 Boxmap_DVG Boxmap_DL Boxmap_NL

DVG = Densidade de Viagens geradas pelo modo nibus; DL = Densidade de linhas de TC por ZT; NL = Nmero de linhas de TC por ZT

Figura 11: Grfico ilustrando os valores do Boxmap para as 7 zonas de trfego com valores 3 (alto-baixo) para densidade de gerao de viagens por TC Para uma visualizao da localizao das zonas de destaque apresentam-se as Figuras 12 e 13. Na Figura 12 observa-se que na ZT 105, com equilbrio entre oferta e demanda de TC, localiza-se um terminal de transporte coletivo.

Figura 12: Zona de Trfego com equilbrio entre oferta e demanda de TC

Figura 13: Zonas de Trfego com alta demanda e baixa oferta de TC

Com relao s zonas com alta demanda e baixa oferta de TC (Figura 13), que merecem uma anlise mais detalhada, destaca-se que todas esto distantes da rea central (zona 101); e que as zonas 504 e 610 localizam-se prximas a terminais de transporte coletivo. Essa observao pode significar que a grande demanda por TC provocada pela proximidade dos terminais, ou por caracterizarem-se como subcentros, analogamente zona 104 destacada no item 4.1, merecendo anlises mais detalhadas. 5. CONSIDERAES FINAIS Este trabalho procurou, atravs da anlise exploratria, comparar, em um nvel estratgico de anlise, a demanda e oferta de transporte coletivo. Para tal, a estatstica espacial foi utilizada tanto para identificar, para cada varivel, quais so as zonas que se destacam, quanto para fazer a comparao entre elas. Como concluses, observou-se, no estudo de caso, que as Zonas de Trfego com equilbrio entre oferta e demanda de TC situam-se no Centro e nas reas prximas a ele, ratificando a caracterstica radial do sistema de transporte coletivo de Manaus. Com relao s zonas com alta demanda e baixa oferta de TC, estas podem significar a existncia de caractersticas de centralidade, ou subcentros, nessas zonas, o que demandaria a necessidade de maior oferta de transporte coletivo, gerando a necessidade de se analisar, mais detalhadamente, se as redes de transporte pblico em Manaus continuam com sua configurao radial em torno dos centro histrico, ou se existe a necessidade efetiva de que sejam adequadas ligaes com subcentros emergentes. Como possibilidades de trabalhos futuros, sugere-se a coleta de dados mais detalhados de oferta, como freqncia, cobertura espacial das linhas e dos pontos de parada, visando aprofundar o estudo. E que, com base na anlise estratgica aqui apresentada, sejam realizadas avaliaes mais detalhadas entre a demanda e a oferta, nas zonas indicadas, seguindo metodologias j conhecidas, como a da EBTU. Por fim, assevera-se que o objetivo principal, que consiste em identificar em nvel estratgico quais so as reas que se destacam em termos de demanda e oferta de transporte coletivo, em um estudo de caso especfico, foi atingido, assim como o objetivo secundrio, pois os

Sistemas de Informao Geogrfica - SIG e estatstica espacial mostraram-se aplicveis para tal identificao.REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ANTP (1997) Transporte Humano. Cidades com qualidade de vida. Associao Nacional de Transportes Pblicos. So Paulo. Caliper Corporation (2002) TransCAD. www.caliper.com. Cmara, G, Carvalho, M. S., Cruz, O. G., Correa, V. (2002) Anlise Espacial de Dados Geogrficos. Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, So Jos dos Campos. EBTU (1988) Gerncia do sistema de transporte pblico de passageiros STTP. Mdulos de Treinamento, Planejamento da Operao. Empresa Brasileira dos Transportes Urbanos. Volumes 1 a 8. Ferraz, A. C. C. P., Torres, I. G. E. (2004) Transporte Pblico Urbano. Editora Rima. So Carlos, So Paulo. IBGE (2000). Censo 2000. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica. Rio de Janeiro. Disponvel em www.ibge.gov.br. Acesso em junho de 2007. INPE (2006). Terraview 3.1.4. Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais. Disponvel em www.inpe.br. Krempi, A. P. (2004) Explorando Recursos de Estatstica Espacial para Anlise da Acessibilidade da Cidade de Bauru. Dissertao de Mestrado em Transportes. Escola de Engenharia de So Carlos. Universidade de So Paulo. Programa de Ps Graduao em Transportes. Kneib, E. C. (2004) Caracterizao de empreendimentos geradores de viagens: contribuio conceitual anlise de seus impactos no uso, ocupao e valorizao do solo urbano. Dissertao de Mestrado em Transportes. Departamento de Engenharia Civil e Ambiental, Faculdade de Tecnologia, Universidade de Braslia. Braslia. Lopes, S. B. (2005) Efeitos da Dependncia Espacial em modelos de previso de demanda por transporte. Dissertao de mestrado em planejamento e operao de sistemas de transporte. Escola de Engenharia de So Carlos. Universidade de So Paulo. NTU (2005) Construindo redes de transporte pblico com qualidade. Associao Nacional das Empresas de Transporte Urbano. Braslia, DF. Prefeitura de Manaus, CEFTRU (2006) Projeto de Reestruturao do Transporte Coletivo Urbano de Manaus RTC/MAO. Prefeitura de Manaus, Centro de Formao de Recursos Humanos em Transportes . Relatrio Final. Manaus. Silva, A. R. (2006) Avaliao de modelos de regresso espacial para anlise de cenrios do transporte rodovirio de carga. Dissertao de mestrado em transportes. Universidade de Braslia. Silveira, L. S. C. (1999) Metodologia para definio de itinerrios de nibus com auxlio do sistema de informao geogrfica. Dissertao de Mestrado em Transportes. Departamento de Engenharia Civil e Ambiental, Faculdade de Tecnologia, Universidade de Braslia. Taco, P. W. G., Tedesco, G. M. T, Guerra, H. O., Teixeira, G. L., Shimoishi, J. M., Orrico Filho, R. D. (2006) Reestruturao do Transporte Coletivo Urbano por nibus: um Modelo Funcional. Anais do XX Congresso de Pesquisa e Ensino em Transportes. Volume 1, p. 457 468. Teixeira, G. L. (2003) Uso de dados censitrios para identificao de zonas homogneas para planejamento de transportes utilizando estatstica espacial. Dissertao de Mestrado em Transportes. Departamento de Engenharia Civil e Ambiental, Faculdade de Tecnologia, Universidade de Braslia.

Erika Cristine Kneib ([email protected]) Paulo Cesar Marques da Silva ([email protected]) Programa de Ps Graduao em Transportes - Doutorado em Transportes Universidade de Braslia