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2 JORNAL DA FENPROF ABRIL 2005 DUAS PALAVRAS Propriedade, Redacção e Administração Federação Nacional dos Professores Rua Fialho de Almeida, 3 1070-128 LISBOA Tels.: 213819190 - Fax: 213819198 E-mail: [email protected] Home page: http://www.fenprof.pt Director: Paulo Sucena Chefe de Redacção: Luís Lobo Conselho de Redacção: António Avelãs e Manuel Grilo (SPGL), António Baldaia (SPN), Fernando Vicente (SPRA), Nélio de Sousa (SPM), Luís Lobo (SPRC), Manuel Nobre (SPZS), Teresa Chaveca (Ensino Superior) Coordenação: José Paulo Oliveira [email protected] | [email protected] Paginação e Grafismo: Tiago Madeira Composição: Idalina Martins e Lina Reis Revisão: Inês Carvalho Impressão: SOCTIP - Sociedade Tipográfica, S.A. Estrada Nacional, nº 10, km 108.3 - Porto Alto 2135-114 Samora Correia Tiragem média: 68 000 ex. Depósito Legal: 3062/88 ICS 109940 O “JF” está aberto à colaboração dos professores, mesmo quando não solicitada. 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Os processos eleitorais são sempre escolhas, apaixonadas umas vezes, mais “racionais” outras. São, no entanto, momentos essenciais da vida democrática de que ninguém se pode alhear. Depois dos processos eleitorais há que construir condições de participação para todos. A democracia não se esgota nas eleições, é necessário encontrarmos os mecanismos de participação que levem a que um número cada vez maior de pessoas se sinta envolvido na vida pública, seja da sua escola ou agrupamento, do seu sindicato, da sua associação. Só assim se afirma e melhora a democracia. Com a participação empenhada e generosa, de todos. Manuel Grilo preço do petróleo mantém-se acima dos 50 dólares e de repente toda a gente começa a gritar que estão em causa os fundamentos da nossa civilização. Não sei se é, em rigor, verdade, mas que o tipo de vida baseado, em grande medida, no desperdício e no uso desregrado dos recursos está em causa, isso parece-me já hoje irrecusável. A China entrou no clube dos consumidores sendo já hoje responsável pelo consumo de 8% do petróleo mundial e com tendência para subir. Afinal está ali cerca de 1/4 da população mundial. Algo a que ninguém pode ficar insensível, até porque a realidade acabará por se impor. Em Portugal perante a falta de chuva realizaram-se procissões e esperou-se pela intervenção do divino em vez de se exigir a quem podia medidas acertadas de poupança de água e de racionalização dos seus usos. Não podemos continuar a aguardar que as coisas se resolvam por si, porque não se resolvem. É tempo de começarmos a exigir escolhas racionais e opções corajosas (mesmo que dolorosas), neste como noutros domínios, sob pena de as decisões que nos afectam serem tomadas totalmente à nossa revelia. Vale a pena começarmos a reflectir (e a agir) sob um ponto de vista ambiental, de justiça social e de inclusão de todos nas decisões como forma de garantirmos as melhores opções. Aos que se mostram cépticos, desiludidos, aos que vão deixando cair os braços, aos que nos afirmam que já não vale a pena lutar é preciso contrapor uma atitude de esperança, de empenhamento, a afirmação de que todos juntos vamos ser capazes de construir um futuro melhor em que caibam todos, uma sociedade mais justa e fraterna. É imperioso construir e viver a dimensão da utopia. O petróleo ou o modo de vida “ocidental” O

Democracia A - fenprof.pt · Vicente (SPRA), Nélio de Sousa (SPM), Luís Lobo (SPRC), Manuel Nobre (SPZS), Teresa Chaveca ... O “JF” está aberto à colaboração dos professores,

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2 JORNAL DA FENPROF ABRIL 2005

DUAS PALAVRAS

Propriedade, Redacção e AdministraçãoFederação Nacional dos ProfessoresRua Fialho de Almeida, 31070-128 LISBOATels.: 213819190 - Fax: 213819198E-mail: [email protected] page: http://www.fenprof.pt

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Chefe de Redacção: Luís Lobo

Conselho de Redacção: António Avelãs e ManuelGrilo (SPGL), António Baldaia (SPN), FernandoVicente (SPRA), Nélio de Sousa (SPM), Luís Lobo(SPRC), Manuel Nobre (SPZS), Teresa Chaveca(Ensino Superior)

Coordenação: José Paulo [email protected] | [email protected]

Paginação e Grafismo: Tiago Madeira

Composição: Idalina Martins e Lina Reis

Revisão: Inês Carvalho

Impressão: SOCTIP - Sociedade Tipográfica, S.A.Estrada Nacional, nº 10, km 108.3 - Porto Alto2135-114 Samora CorreiaTiragem média: 68 000 ex.Depósito Legal: 3062/88ICS 109940

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Membrosda FENPROF

Democracia

Ademocracia exige a participação de todos. Um amigomeu dizia que só as ditaduras são “perfeitas”. Ademocracia pode sempre ser melhorada. Uma dascondições para esta melhoria é a participação deum número cada vez maior de cidadãos na vida

pública.As escolhas que vamos fazer neste último período lectivo,

no domínio da administração e gestão das escolas eagrupamentos serão tanto melhores quanto pudermosefectivamente escolher entre projectos diferentes. Significariaisso que muitos se mobilizaram, reflectiram e agiram.

Os processos eleitorais são sempre escolhas, apaixonadas umas vezes, mais “racionais”outras. São, no entanto, momentos essenciais da vida democrática de que ninguém sepode alhear.

Depois dos processos eleitorais há que construir condições de participação para todos. Ademocracia não se esgota nas eleições, é necessário encontrarmos os mecanismos de participaçãoque levem a que um número cada vez maior de pessoas se sinta envolvido na vida pública, sejada sua escola ou agrupamento, do seu sindicato, da sua associação. Só assim se afirma emelhora a democracia. Com a participação empenhada e generosa, de todos.

Manuel Grilo

preço do petróleo mantém-se acima dos 50 dólarese de repente toda a gente começa a gritar que estãoem causa os fundamentos da nossa civilização. Nãosei se é, em rigor, verdade, mas que o tipo de vidabaseado, em grande medida, no desperdício e no

uso desregrado dos recursos está em causa, isso parece-mejá hoje irrecusável. A China entrou no clube dosconsumidores sendo já hoje responsável pelo consumo de8% do petróleo mundial e com tendência para subir. Afinalestá ali cerca de 1/4 da população mundial. Algo a que ninguém pode ficar insensível, atéporque a realidade acabará por se impor.

Em Portugal perante a falta de chuva realizaram-se procissões e esperou-se pelaintervenção do divino em vez de se exigir a quem podia medidas acertadas de poupançade água e de racionalização dos seus usos. Não podemos continuar a aguardar que ascoisas se resolvam por si, porque não se resolvem. É tempo de começarmos a exigir escolhasracionais e opções corajosas (mesmo que dolorosas), neste como noutros domínios, sobpena de as decisões que nos afectam serem tomadas totalmente à nossa revelia. Vale apena começarmos a reflectir (e a agir) sob um ponto de vista ambiental, de justiça sociale de inclusão de todos nas decisões como forma de garantirmos as melhores opções.

Aos que se mostram cépticos, desiludidos, aos que vão deixando cair os braços, aosque nos afirmam que já não vale a pena lutar é preciso contrapor uma atitude de esperança,de empenhamento, a afirmação de que todos juntos vamos ser capazes de construir umfuturo melhor em que caibam todos, uma sociedade mais justa e fraterna.

É imperioso construir e viver a dimensão da utopia.

O petróleo ou o modode vida “ocidental”

O

JORNAL DA FENPROF 3ABRIL 2005

SUMÁRIO

CONSTITUIÇÃO EUROPEIA, NON!Euromanifestação de 19 de Março em Bruxelas(Henrique Borges)26

ABRIL 2005

FENPROF REÚNE COM MINISTRAExige respeito pelo direito à negociaçãoDefende resolução de questões urgentes4ESTUDOO agravamento das desigualdades regionais e concelhias(Eugénio Rosa)14EM DEFESA DOS SERVIÇOS PÚBLICOSFórum Internacional reafirma necessidadede aprofundar a luta16ESTABILIDADE DE EMPREGOProfissionalização de docentes contratados:Uma medida ainda longe do razoável!1731 ANOS DE ABRIL20OPINIÃOO 1º Ciclo e a Língua Estrangeira(José Orlando Strecht-Ribeiro)24

ENSINO PROFISSIONALNovas regras de financiamento para as escolas profissionaisde Lisboa e Vale do Tejo28

6

18

O programa do Governo na área daEducação não apresenta grandesnovidades relativamente ao quetinham sido algumas das posiçõesdefendidas pelo PS durante odebate que visava alterar a Lei deBases do Sistema Educativo, ou doque foram os seus compromissoseleitorais.

ENSINO SUPERIORO que se destacou da Conferência Nacionaldo Ensino Superior e da Investigação? (João Cunha Serra)29INTERNACIONAL• FENPROF e FE CC.OO: Reunião em Madrid• Federação Europeia de Jornalistas aprova Moção em Bilbau32

Destaques, preocupaçõese disponibilidades

Educação

Seminário organizadopela FENPROF e pelo IIL

Uma reflexão enriquecida epartilhada por um conjunto deinvestigadores de prestígio, numdebate que envolveu dezenas deeducadores e professores de todasregiões do País…

Percursos e desafiosda formaçãode professores

4 JORNAL DA FENPROF ABRIL 2005

EM FOCO

Decorreu no dia 18 de Abril aprimeira reunião entre aFENPROF e a equipa do Minis-tério da Educação do novogoverno.

FENPROF alertou a equipa ministe-rial para a necessidade de relaçõesclaras e transparentes entre o ME eas estruturas sindicais. Nessesentido a FENPROF reiterou a sua

exigência de participação negocial em todasas matérias que respeitem à Educação e ao

Ensino, dando como exemplo do que nãodeve acontecer o facto de as maisrecentes medidas tomadas já por estegoverno terem sido à margem daparticipação dos sindicatos. Foisalientada pela FENPROF a necessi-dade de respeitar a representatividadedos diversos sindicatos existentesnesta área, matéria em que a FENPROFpretende que sejam dados passosclarificadores. Entre as questõesestruturantes do sistema educativo

para as quais a FENPROF entende sernecessário negociar alterações, a dele-

gação sindical destacou a tomada demedidas que potenciem o sucesso escolar ea criação de medidas que viabilizem areforma do secundário em curso. A FENPROFreiterou a defesa dos princípios da gestãodemocrática, nomeadamente o princípio daelegibilidade dos órgãos.

A FENPROF fez questão de reafirmar asua oposição à realização de exames no 9ºano de escolaridade, conforme se encontraprevisto para o final deste ano, bem comoa exigência de um calendário escolar igualpara a educação pré-escolar e o ensino,sustentando, pois, a ilogicidade de umcalendário específico para o pré-escolar. Foiainda apresentada uma listagem de ques-tões a negociar urgentemente, entre asquais: os concursos que estão a decorrer, a

que deve associar-se a questão da esta-bilidade e emprego e profissional dosdocentes; a situação de financiamento dasescolas profissionais, a viverem situaçõesinsustentáveis; as questões eternamenteadiadas do ensino artístico e do ensinorecorrente; a redefinição lógica da rede es-colar. Também o ensino português noestrangeiro foi objecto das apreensõesapresentadas à equipa ministerial. A

Exige respeito pelo direito à negociaçãoFENPROF reúne com o ME

Defende resolução de questões urgentes

A A FENPROF reiterou a suaexigência de participaçãonegocial em todas asmatérias que respeitem àEducação e ao Ensino,dando como exemplo doque não deve acontecer ofacto de as mais recentesmedidas tomadas já poreste governo terem sido àmargem da participaçãodos sindicatos.

FENPROF exigiu que sobre estas matériasse iniciem de imediato negociações.

Da parte da Ministra da Educação,depois de ter confirmado o seu interesseem avançar com a concretização dalegislação em vigor nos diversos domíniosdo sector e de ter admitido ser sua intençãoreavaliar alguns processos relacionados comos currículos de ensino, ficou clara a friezade um olhar tecnocrático para os problemasda educação e do ensino, não tendo ficadoclara a intenção de estabelecer com aFENPROF uma relação de abertura aodiálogo e à negociação dos diversos proble-mas que afectam o sistema educativo.

JORNAL DA FENPROF 5ABRIL 2005

Paulo Sucena (Secretário Geral da FENPROF)EDITORIAL

JORNAL DA FENPROF 5ABRIL 2005

Ouvir não é em si bastante

Realizou-se, no passado dia 18 de Abril, a primeirareunião entre a FENPROF e a Ministra da Educaçãoe a sua equipa. A audiência, marcada sem ordemde trabalhos, decorreu de acordo com essarealidade uma vez que a Ministra da Educação deu,

desde logo, a palavra à FENPROF que a utilizou para,sucintamente, informar a governante de que a nossaFederação avaliava negativamente procedimentos, dealgum modo habituais na 5 de Outubro, caracterizadospor inusitados ímpetos de legislar ou de tomar decisõesrespeitantes às escolas, ao processo educativo e aosdocentes sem qualquer consulta às organizações sindicaisque os representam.

Deste modo, foram colocadas à equipa ministerial comoexigências incontornáveis a de um verdadeiro plano denegociações no âmbito não só sócio-profissional mastambém no das políticas educativas; a de uma hierar-quização das matérias a negociar e a da fixação dorespectivo calendário negocial. A transparência e aseriedade deste processo é, no entender da FENPROF,essencial para a criação e manutenção de um bom climade diálogo entre o Governo e a comunidade educativa.

A FENPROF afirmou ainda ser uma norma indispensávelao rigor e à seriedade de qualquer negociação, mesmoque mínima a sua relevância, a que distingue, aceita econsidera haver diferentíssimos índices de represen-tatividade sócio-profissional entre as entidades queconstituem o imenso enxame das organizações sindicaisdocentes. O respeito por esse tópico da vida sindical deviaobrigatoriamente ser acrescido pela aceitação e criação decondições para que todos os direitos sindicais constitucionale legalmente fixados possam ser exercidos sem quaisquerconstrangimentos artificialmente engendrados para pôr emcausa velhíssimas reivindicações dos democratas portu-gueses que a Revolução de Abril consagrou.

A FENPROF apresentou depois as questões inseridasna Resolução político-sindical, intitulada “Lutar porMudanças/Construir a Esperança”, aprovada peloSecretariado Nacional na sua reunião de 10 de Março. Aequipa ministerial foi informada também das questõessobre as quais a FENPROF lhe iria fazer chegar osrespectivos memorandos. Tomou ainda conhecimento da

firme oposição da FENPROF à realização de exames àsduas disciplinas do 9º ano, bastamente anunciados, bemcomo à produção de um calendário escolar para oseducadores de infância desligado do calendário do 1º ciclodo ensino básico de que a educação pré-escolar é “aprimeira etapa”.

As questões prioritárias de que a FENPROF vai enviardossiers prendem-se com “concursos, estabilidade deemprego e profissional”; “ensinos profissional, artístico erecorrente”; “reordenamento da rede”; “ensino dePortuguês no estrangeiro”; “escola multicultural einclusiva”; “acção social escolar” e ainda um memorandosobre as diversificadas e complexas matérias relativas aoensino particular, cooperativo e IPSS.

Da parte da Senhora Ministra obtivemos a informaçãode dois dos seus grandes objectivos gerais: o de melhoraras qualificações dos portugueses; o de melhorar ascondições de trabalho e os processos de ensino e deaprendizagem nas escolas. É também uma sua preo-cupação o ensino da Matemática.

Esta foi uma daquelas reuniões de que não é legítimoretirar conclusões positivas ou negativas mas tão sóperguntar perante a vaguidão do discurso ministerial: eagora? Agora há que aguardar mas não de formaacomodada antes de forma inteligente e activa esuficientemente acutilante para obrigar o Ministério daEducação a mostrar com clareza que “jogo” está dispostoa “jogar”. Pela parte da FENPROF mais uma vez se afirmapublicamente a inteira disponibilidade, lealdade efrontalidade para discutir e negociar todas as matérias,por mais complexas que sejam, com a seriedade e a firmezade há muito conhecidas, com o objectivo primordial dedotar o país com um sistema educativo da mais altaqualidade, propiciador do aumento do sucesso escolar eda melhoria das qualificações da população activa,acompanhado de um outro objectivo essencial – o darevalorização profissional e social dos educadores eprofessores portugueses.

Do regaço da Ministra Maria de Lurdes Rodrigues nãoalmejamos ver fluir a retórica das rosas antes ansiamosver sair a substância para o fabrico do pão indispensávelao aprofundamento da democracia.

6 JORNAL DA FENPROF ABRIL 2005

OEducação

PROGRAMA DO GOVERNO

6 JORNAL DA FENPROF ABRIL 2005

Destaques, preocupações e disponibilidades

programa doGoverno naárea da Edu-cação nãoa p r e s e n t a

grandes novidadesrelativamente ao quetinham sido algumasdas posições defen-

didas pelo PS durante o debate que visavaalterar a Lei de Bases do Sistema Educativo,ou do que foram os seus compromissoseleitorais.

Considera-se positiva a intenção degarantir percursos escolares ou de formaçãoprofissional a todos os jovens menores de18 anos (falta saber se esta será umaposição que substituirá a escolaridadeobrigatória de 12 anos. Nesse caso esta-ríamos perante um retrocesso em relação aposições anteriores). Também positivamentedeve registar-se o anunciado combate aoabandono escolar, a intenção de alargar aEducação Pré-Escolar a todas as criançasem idade adequada ou a cobertura a 100%de todas as do grupo etário dos 5 anos. Porfim, é de destacar, será sempre de destacar,um programa de Governo que refereexplicitamente:

“Só é possível avançar no caminho dainclusão e da igualdade de oportunidades,defendendo e valorizando o serviço públicode educação e a escola pública, aberta atodos”.

No plano dos princípios e das intenções,o programa de Governo, na área daEducação, não é muito questionável emerece, em alguns aspectos, concordânciatotal. Contudo, já no plano das medidasconcretas, alguns enunciados deverãomerecer reservas, algumas sérias, que sócomeçarão a ser desfeitas depois de serealizar a primeira reunião com a novaequipa ministerial e de se conhecer a suadisponibilidade para o diálogo e a nego-ciação e as suas propostas concretas.

É preciso compreender se a afirmação“Prosseguir a racionalização das redes pré--escolar e das escolas do ensino básico” querdizer dialogar com as comunidades edu-cativas, ter em conta realidades concretase elevar a qualidade as respostas educativase sócio-educativas, ou apenas encerramentode escolas e jardins de infância tendo porúnico critério o número de alunos.

É preciso compreender se a afirmação“O Governo estimulará a celebração decontratos de autonomia entre as escolas e

a administração educativa” quer dizer maiorresponsabilização do poder central nacriação de condições para que as escolaspossam, de facto, exercer a sua autonomiaou, pelo contrário, significa uma gradual eprogressiva desresponsabilização do Estadoface às escolas públicas em domíniosfundamentais como o seu financiamento oua colocação de docentes.

Relativamente à gestão das escolas, eporque se fala de colegialidade da direcçãoestratégica, participação da comunidadelocal e gestão executiva a cargo deprofissionais da educação, é preciso saberse o programa exclui, ou não, o respeito porprincípios democráticos como o da elegibi-lidade, da participação e da colegialidadena escolha e prática dos órgãos de gestãodas escolas.

“Descentralizar gradualmente”

Quanto à colocação de professores e aosconcursos, aí o programa do Governo nãodeixa margem para qualquer dúvida ouincompreensão. Referir, como se refere, queserão introduzidas “medidas que permitamdescentralizar gradualmente (para asescolas individualmente ou em agrupamen-

Mário Nogueira (Membro do Secretariado Nacional da FENPROF)

JORNAL DA FENPROF 7ABRIL 2005 JORNAL DA FENPROF 7ABRIL 2005

to por áreas ou municípios) o sistema derecrutamento e colocação…”, não querdizer outra coisa que não seja aquilomesmo. Nessa matéria a FENPROFdiscorda em absoluto do Governo, poisdefende a existência de concursosnacionais e assentes em regras e critériosuniversais e de transparência

De salientar ainda, e nesses aspectos,sendo omisso, o programa de Governonão pode merecer uma apreciaçãopositiva, a ausência de referências clarasao financiamento dos jardins de infânciae das escolas básicas e secundárias, oque significa que continuaremos semuma lei de financiamento para aquelessectores de educação e ensino; aausência de medidas concretas para apromoção da estabilidade de emprego eprofissional dos docentes; a ausência depropostas precisas e claras sobre a formade, com eficácia, reduzir drasticamenteo abandono escolar precoce e o insu-cesso escolar, ou de combater o analfa-betismo ou a iliteracia.

Programas, eleitorais ou de Governo,são sempre programas. Deles se retiramalgumas coisas, geralmente poucas,alguns indícios… mas nunca dizem tudo,no que dizem nem sempre são explícitose as omissões, por vezes, apenas signi-ficam o adiamento de alguns debates ea apresentação de algumas propostasque, no entanto, estão no rol dasintenções.

Por essa razão, importantes mesmoserão as opções políticas do próximoGoverno e a prática da equipa ministe-rial da Educação. Daí dependerá, comoafirmou a FENPROF no documento queo seu Secretariado Nacional aprovou em9 de Março de 2005 (entretantoenviado à ministra Lurdes Rodrigues),se o tempo será ou não de “relaçãoactiva de cooperação com o Governo nadefinição das políticas educativas e naexecução de todas as medidas quecontribuam para a melhoria do fun-cionamento das escolas, da qualidadedo ensino, do sucesso escolar dos alunose do êxito profissional e social dosdocentes”.

Como termina o documento daFENPROF, “se as políticas que vierem aser desenvolvidas contrariarem a von-tade de mudança expressa pela maioriado povo português e não visarem adefesa da qualidade da escola pública”,então a FENPROF terá de erguer “comfirmeza e determinação as bandeiras daluta”.

programa dogoverno re-fere que “se-rão adopta-das medidas

que contribuam parafavorecer a perma-nência dos trabalha-dores mais idosos

nos seus postos de trabalho, aproveitandoas vantagens decorrentes da sua expe-riência, e minimizando os custos para acomunidade da antecipação da idade dereforma” e concretiza, de seguida: “Nestequadro, é condição essencial que a idadede reforma vá acompanhando a evoluçãoda esperança média de vida”.

Ora, a concretizar-se esta intenção dogoverno, não está garantida, por suainiciativa, a reposição do tempo paraaposentação nos termos em vigor antes de2004, como aliás pareceu ser intenção doPS, enquanto oposição, tendo chegado apedir a verificação da constitucionalidadedo diploma de Manuela Ferreira Leite.

Da leitura do programa do governo PSfica claro o desejo de uniformizar, “pro-gressivamente, os diversos regimes deprotecção social (Segurança Social, CaixaGeral de Aposentações, etc.), nomea-damente no que respeita à idade dereforma” havendo mesmo a ameaça de que“todos os novos funcionários públicospassem a integrar o Regime Geral deSegurança Social”.

Em matéria de segurança social ficamosesclarecidos: os regimes serão unifor-mizados pelo pior; a idade para aposentaçãoaumentará, podendo vir a ser aprovadasmedidas que incentivem a permanência dosmais idosos.

A FENPROF tem declarado, por diversasformas a sua oposição ao aumento da idadee do tempo para a aposentação dosprofessores. Tem mesmo defendido a suaredução. Dirão alguns que, no tempo dopoliticamente correcto, será despropositadaesta referência. Porém, convém dizer que o

problema da segurança social não é decapitalização, mas sim de cobrança. De boacobrança.

Assim, no caso da Educação, entender- se--ia que o governo julga que é mais vantajosoter professores idosos na profissão, cansados edesmotivados do que jovens professores, ávidosde contribuir com o seu saber e com vontadede exercer a sua profissão.

A FENPROF, considera, ainda, que otempo de serviço e a idade não devem serconsiderados cumulativamente para aaposentação voluntária dos trabalhadoresda administração pública. É muito impor-tante que o governo aceite discutir aredução do tempo de serviço para aaposentação voluntária dos professores semperda de vencimento, tendo em conta ascaracterísticas da profissão docente deelevado desgaste, grande exigência econstante pressão social.

Retomado o piorda política de Durão

Aposentação dos Professores

Luís Lobo (Membro do Secretariado Nacional da FENPROF)

O

8 JORNAL DA FENPROF ABRIL 20058 JORNAL DA FENPROF ABRIL 2005

PROGRAMA DO GOVERNO

Programa doGoverno con-tém medidasp o s i t i v a smas insufi–

cientes, apresentan-do contradições, am-biguidades e omis-sões em várias áreas.

O Plano Tecnológico que é ambiciososobre a inovação e a investigação edesenvolvimento, para dar resultados exigeuma aposta forte no sector produtivo e umapolítica industrial que, tomando as reali-dades do tecido empresarial, nomea-damente o peso das médias, pequenas emicro empresas, impulsione a sua moder-nização.

E como componente de uma estratégiade desenvolvimento, requer medidas queassegurem qualificação dos trabalhadores,aprendizagem ao longo da vida, formaçãodos empresários, investimento público emI&D com igual esforço das empresas e umaestratégia de educação não restringida avisões de estrita competitividade.

Em várias destas áreas, as propostas doPrograma estão longe de dar garantias e,no que respeita ao ensino e à educação,vamos ter que fazer intenso trabalho deesclarecimento e mobilização para que oeconómico e financeiro não se sobreponhaà necessidade de priorizar o combate aoinsucesso e abandono escolar e de valorizarda Escola Pública.

Quanto às políticas na área do empregoe do trabalho, vemos excessivas indefiniçõese omissões.

O Governo compromete-se a criar 150mil empregos e a atingir um crescimentoeconómico de 3%, usando como instru-mentos principais o Plano Tecnológico e oinvestimento, tornando este mais eficiente.Mas os resultados do Plano Tecnológico nãosão imediatos e a elevação da produtividadetem que ser suportada em políticas queincorporem preocupações sociais, sob pena dese agravar o desemprego. E não há soluçõespara o emprego, sem combate à precariedade,tema que o Programa não aborda.

É imperdoável a omissão de compro-missos quanto aos salários. A valorizaçãodo trabalho é indispensável para resolveros problemas do emprego, o Estado é umgrande empregador e o Salário MínimoNacional (SMN) tem grande impacto, quernos salários em geral, quer nas políticassociais. Numa política de crescimentoeconómico que vise o desenvolvimento, oSMN não pode ter apenas função de“imunidade à pobreza” como avança oPrograma, tem que ser também, instru-mento de justiça na distribuição da riquezae factor dinamizador da procura paraimpulsionar o crescimento económico.

A formação profissional tem, formal-mente, tratamento destacado no Programamas, ao nível da efectivação do direito àformação para os activos, pouco concretiza,nem assume, em pleno, o que já está na lei.

O desenvolvimento e o emprego

OCarvalho da Silva (Secretário Geral da CGTP-IN)

Não há também compromissos sobre oreconhecimento e certificação das qualifi-cações e das competências adquiridas pelostrabalhadores em contexto de trabalho.

Sobre a Administração Pública, a tónicaé posta na “modernização” e não nareforma, como o fazia o anterior Governo,mas não parece existir ruptura com algumasdas fundamentais linhas de força antesadoptadas.

O Programa aponta para a redução dosefectivos (75 mil no prazo da legislatura),através de aposentações ou outras formasde desvinculação. Em que áreas? Com quefundamento? A proposta simplista desubstituir por uma entrada, cada duassaídas, pode levar a dificuldades graves nofuncionamento de serviços essenciais (p. ex.funcionamento de escolas) e a situaçõespontuais de ruptura em muitos outros porescassez de funcionários.

Prossegue-se a política do Governo an-terior sobre o regime do contrato individualde trabalho, o que é inaceitável. O contratoindividual é, e será, uma realidade emmuitos serviços da Administração, mas deveser entendido como excepção, sendo a regrao vínculo público, sob pena de direitosfundamentais, como o direito ao ensino ouà saúde, deixarem de ser universais.

No início deste novo ciclo político,temos que contribuir, de forma dinâmica,para a implementação de políticas positivasque possam surgir, mas não descuramos osentido crítico e a acção reivindicativa.

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“É prioritário ter ideias claras sobre uma estratégiade médio e de longo prazo que seja mobilizadorados cidadãos e das instituições”

CGTP-IN:

posição é ainda mais ambíguaquanto à revisão do Código deTrabalho. Diz-se que o Governopromoverá a sua revisão com basenas “propostas de alteração apre-

sentadas na Assembleia da República”, masacrescenta-se que se terá em conta aavaliação do novo regime legal, o que podeenviar para as calendas a sua revisão”,acrescenta a Intersindical.

Como salienta também a CGTP-IN, oExecutivo “não deve subordinar a Educaçãoa visões de estrita competitividade, porqueo seu objectivo deve ser a formação inte-gral dos indivíduos”.

Para a Central, o Governo do PartidoSocialista apresentou ao País um “programaambicioso sobre a inovação e a investigaçãoe desenvolvimento (plano tecnológico)”. Poroutro lado, denota-se nas propostasgovernamentais uma “indefinição quanto àpolítica orçamental e ao financiamento daspolíticas públicas”, revelando ainda umapostura de “continuidade em aspectosessenciais das políticas para a Admi-nistração Pública”, um conjunto de “inde-finições e omissões importantes nas

questões do emprego e do trabalho” e aindauma afirmação de continuidade em matériade “políticas sociais importantes”.

A apreciação da Comissão Executiva doConselho Nacional da Inter, sintetizada ecomentada pelo secretário-geral no diálogocom os jornalistas em finais de Março, emLisboa, recorda que a Central “há muito quevem insistindo na ideia de que é vitalconcretizar uma estratégia de desenvol-vimento económico e social”, que tem sidopormenorizada em diferentes momentos,nomeadamente no X Congresso (Janeiro de2004), no Plenário Nacional de Sindicatosda Inter, órgão máximo entre Congressos(o último teve lugar no passado dia 30 deMarço, na Aula Magna da Reitoria daUniversidade de Lisboa), nos encontros, de-bates, conferências, seminários e outrasiniciativas de debate e reflexão e também,naturalmente, nas reuniões regulares dosórgãos dirigentes da CGTP-IN, a começarpelo seu Conselho Nacional.

“O País encontra-se num situação decrise que atravessa as várias esferas dasociedade. A solução não pode ser encon-trada nem em medidas pontuais nem em

“O Código do Trabalho é alei que mais mexe com avida das famíliasportuguesas”, sublinhouManuel Carvalho da Silvana conferência deimprensa em que a CGTP--IN divulgou àcomunicação social umatomada de posição maisabrangente sobre oPrograma do Governo PS,apresentado naAssembleia da República.“Na legislação detrabalho”, observa a Cen-tral, o Programa doExecutivo liderado peloengº Sócrates“ fala na sua“transformaçãomodernizadora” o quepode não augurar nada debom, já que a capa da“modernização” temservido para enfraqueceros direitos individuais ecolectivos dostrabalhadores.”

“A

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PROGRAMA DO GOVERNO

políticas desgarradas. O que é prioritário éter ideias claras sobre uma estratégia demédio e de longo prazo que seja mobili-zadora dos cidadãos e das instituições”,destaca a tomada de posição divulgada emMarço.

”É hoje pacífico que o País precisa deromper com um modelo de crescimentobaseado em baixos salários e em trabalhopouco qualificado. Para a CGTP-IN, aspolíticas fundamentais passam pela apostano sector produtivo; pela qualificação daforça de trabalho; pela inovação e inves-tigação e desenvolvimento; pela valorizaçãoe melhoria dos serviços públicos; por umamelhor redistribuição de rendimentos; pelocombate à economia paralela e à infor-malidade”, sublinha a CGTP-IN.

Para a Inter, “o Plano Tecnológico cons-titui uma componente essencial de umaestratégia de desenvolvimento, sendo desalientar o compromisso no sentido decombinar política de inovação, com políticasambiciosas para a sociedade de informação,a ciência e a tecnologia e a qualificaçãodas pessoas, nos exactos termos do Progra-ma do Governo”.

A direcção da CGTP-IN assinala aimportância da generalidade das medidaspropostas, fazendo contudo as seguintesobservações e reparos:

• O Plano Tecnológico só dará resultadoscaso se insira num quadro de uma estratégiade desenvolvimento (desenvolvimento e nãocrescimento, como faz o Governo). A CGTP--IN entende que deve ser valorizado oplaneamento de médio prazo e a suaarticulação com as Grandes Opções do Planoe com os Planos de DesenvolvimentoRegionais;

• É imprescindível fazer a aposta no sec-tor produtivo e definir uma política indus-trial que tenha em conta as realidades dotecido empresarial, nomeadamente o pesodas pequenas e micro empresas;

• A qualificação dos trabalhadores é umaspecto essencial, sendo de referir que oPrograma é excessivamente genérico. Essamesma generalidade observa-se m relaçãoà aprendizagem ao longo da vida;

• O Estado deve assegurar um esforçopara atingir metas para o investimentopúblico em I&D, mas as empresas têmigualmente que contribuir. Por isso, a CGTP-IN defende a criação de um Fundo de I&Dpara o qual todas as empresas passem acontribuir anualmente, numa percentagema definir do VAB anual, ou, em alternativaa criação de fundos sectoriais;

• O Governo não deve subordinar aeducação a visões de estrita compe-

titividade, porque o seu objectivo deve sera formação integral dos indivíduos.

Política orçamentale financiamento das políticas públicas

“O Programa recusa com veemênciapropostas que considera irresponsáveis debaixa de impostos e uma política decumprimento do Pacto de Estabilidade e deCrescimento (PEC) com base em receitasextraordinárias, como aconteceu nosúltimos anos. Mas o Governo não é claroquanto à questão de saber se há receitassuficientes para financiar as despesas,incluindo os compromissos eleitorais feitos,e para cumprir o PEC sem aumentar osimpostos, tanto mais que invoca que odéfice real em 2005 poderá ser superior a6%”, refere a tomada de posição da

Comissão Executiva do CN da IntersindicalNacional.

“O primeiro problema”, acrescenta aCentral, “respeita à situação actual dascontas públicas”. Assim, “o Governo pre-tende que haja uma comissão independenteque apure o défice real de 2004, mas faceao argumento de que a Comissão Europeiavalidou as contas desse ano, recuou epretende agora que a avaliação seja feita àsituação das contas em 2005. Entretantoinvoca que há despesas não orçamentadas(como as SCUT) ou suborçamentadas peloque o défice será muito superior”.

“Além disso”, prossegue a análise daCGTP-IN, “o Governo prevê agora umcrescimento em 2005 de 1,2% (metade doprevisto) o que tem efeitos na arrecadaçãode menos receitas fiscais e não aliviaalguma despesa social. Daqui resulta que o

Manuel Carvalho da Silva alertou no diálogo com os jornalistaspara as consequências de uma política que empurra os jovensmais qualificados para os caminhos do desemprego e daemigração. Ao mesmo tempo, o secretário-geral da CGTP-INestranhou que o Programa do novo Governo “seja omisso nasquestões relativas à precariedade de emprego, quando Portu-gal apresenta uma das mais altas taxas de precarização doemprego na União Europeia, apenas ultrapassado pela Espanha”

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défice será muito superior, pelo que oGoverno propõe a sua absorção de forma acumprir o PEC no final da legislatura.”

A segunda questão, avança a Inter, estárelacionada com o “financiamento depromessas eleitorais, que constam doPrograma do Governo”. “A mais importanterespeita aos investimentos no quadro doPlano Tecnológico. Mas haverá tambémmais despesa social nalgumas áreas comoa Prestação Extraordinária de Combate àPobreza dos Idosos que o Governo não dizcomo vai ser financiada”, destaca a CGTP-IN.

Chamando a atenção da opinião públicae dos trabalhadores para os caminhos e aspolíticas de concretização da consolidaçãoorçamental, a apreciação da Centralcomenta a dado passo:

”O que o Programa diz é demasiadogenérico. Pretende-se comprimir a despesacorrente, através da adopção de umprogramo plurianual, mas não se explicitamas consequências. E pretende-se actuar dolado da receita por via de mais receitasfiscais sem aumento de impostos, o queparece sobretudo passar por medidas decombate à fraude e à evasão fiscal. Estasmedidas são importantes, mas resta saberse são suficientes até porque há outraspolíticas anunciadas que determinarão umaumento da despesa fiscal. Assim, o actualGoverno pretende rever a medida tomadapelo anterior de eliminar alguns benefíciosfiscais (como os PPRs) e de criar ou dereforçar outros em matérias respeitantes àI&D, requalificação ambiental, inovaçãotecnológica e formação profissional.”

Lembrando que “a revisão do PEC vaifacilitar a vida do Governo”, a Inter sublinha:“As sanções deixam de ser automáticas,diversas despesas deixam de ser consi-

deradas para efeitos de apuramento dodéfice (como algumas que se inserem noâmbito do Plano Tecnológico) e é dadomaior tempo para a correcção dos dese-quilíbrios. Ainda assim, há que ter presenteque a situação de partida é a de um déficeque o Governo diz ser muito alto e de umcrescimento económico muito fraco. Nestecontexto, a CGTP-IN considera aindanegativo o facto do Governo recusar umareforma fiscal que ponha cobro a umasituação de injusta repartição do esforçofiscal.”

Indefinições e omissões importantesnas questões do emprego e do trabalho

“A parte do emprego e do trabalho” noPrograma do Governo “é sobretudo marcadapor omissões e por indefinições”, realça atomada de posição do Executivo da CGTP-IN, que esclarece mais adiante:

“O nível de emprego depende sobretudoda política económica. As “bandeiras doPrograma” são a criação de 150 milempregos perdidos na última legislatura eum crescimento económico de 3%. Osinstrumentos principais são o PlanoTecnológico e o investimento, tornando-omais eficiente. Deve porém ter-se em contaque os resultados do Plano Tecnológico nãosão imediatos e que a elevação da produ-tividade, ainda que imprescindível, pode terconsequências negativas para o emprego.Mas se não há alternativas à elevação daprodutividade, já se estranha que oPrograma seja omisso nas questões relativasà precariedade de emprego, quando Portu-gal apresenta uma das mais altas taxas deprecarização do emprego na União Euro-peia, apenas ultrapassado pela Espanha.”

Como explicou Carvalho da Silva“também há uma quase omissão quanto aossalários, ainda que estes dependam essen-cialmente da negociação colectiva e dasempresas.”

”Mas não deixa de ser verdade que oEstado é um grande empregador e que osalário mínimo nacional tem um grandeimpacto, quer nos salários em geral, quernas políticas sociais, já que constitui umpadrão de referência ao qual estão inde-xadas, de resto, diversas prestações”, refereo documento de análise da Central, queobserva ainda:

”Tudo o que se diz” naquela matéria “éque deve ter uma função de “imunidade àpobreza, o que é pouco, quando nosrecordamos que na vizinha Espanha oGoverno do PSOE prometeu e está aexecutar uma política de valorização dosalário mínimo.”

A CGTP-IN manifestou no diálogo coma imprensa sérias “preocupações quanto àcontratação colectiva, que o Governoreconhece estar em crise”. A tomada deposição da Central Sindical esclarece, apropósito:

”Essa é, em parte substancial, a conse-quência do Código do Trabalho, sobretudono que respeita às normas referentes àcaducidade das convenções colectivas. Ora,o PS apresentou na Assembleia da Repúblicapropostas no sentido de não haver cadu-cidade, por via da renovação do prazo devigência das convenções. Para ser coerente,deveria propor a alteração das normas naparte referente à contratação colectiva. Sóque o Governo, no Programa, aponta para acriação de uma comissão independente paraavaliar os impactos do Código de Trabalhonas relações de trabalho. E decide pôr afuncionar a arbitragem obrigatória em queum dos fundamentos é evitar a caducidadedas convenções. Ou seja, parece admitir acaducidade quando é esta a causa dobloqueio da contratação colectiva.”

Continuidades em políticassociais importantes

“Nas políticas sociais há linhas decontinuidade importantes”, alerta a CGTP--IN, que apresenta exemplos expressivos nasáreas da segurança social, da saúde e dajustiça.

Vejamos o caso da Segurança Social:“É incompreensível que o Programa

nada diga sobre a revisão da Lei de Basesda Segurança Social, aprovada pelo Governoanterior, e que subverteu a anterior Lei deBases, da responsabilidade do PS” (apoiada

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PROGRAMA DO GOVERNO

Para a CGTP-IN, as políticas fundamentais passam pela aposta no sector produtivo; pela qualificação da força detrabalho; pela inovação e investigação e desenvolvimento; pela valorização e melhoria dos serviços públicos; poruma melhor redistribuição de rendimentos; pelo combate à economia paralela e à informalidade.

por todos os parceiros sociais, comorecordou Carvalho da Silva).

”O objectivo”, regista a Central, “foi ode enfraquecer a segurança social pública,sendo previstas regras para a limitação decontribuições com vista a favoreceresquemas de poupanças privadas. É certoque o (agora) Ministro do Trabalho e daSolidariedade Social “(entrevista ao Jornalde Negócios, 10.2.05) afirmou que esta ideiairia ser abandonada, o que é positivo, masisso constitui mais uma razão para rever aLei de Bases.”

Para a Central, não se compreende “quese remeta a questão da sustentabilidadefinanceira para uma avaliação a realizar,sugerindo-se que não se conhece a actualsituação e justificando não se indicaremmedidas no Programa, quando é sabido quehá uma degradação financeira em resultadosobretudo de um menor crescimento dascontribuições e da autêntica explosãoverificada na despesa com o subsídio dedesemprego.”

Paralelamente, a CGTP-IN consideracomo “positivas algumas das medidas

inseridas no Programa, sendo de destacar acriação de uma Prestação Extraordinária deCombate à Pobreza dos Idosos, a aplicar noprazo da legislatura, mas entende que deviaser clarificado à partida o financiamento,indicando-se que a prestação se insere nosubsistema de solidariedade; bem como darevogação das normas que reduziram omontante do subsídio de doença, medidaque a CGTP-IN tem insistentementereclamado”.

No âmbito da ”Saúde Pública” notamosa ausência de referências à Saúde ocu-pacional e à implementação definitiva destavalência nos Programas e planos de saúdepública. As referências às medidas concretasno campo do combate à SIDA são mani-festamente muito parcas, atendendo a quePortugal é o país da Europa com taxas maiselevadas de novos diagnósticos de infecção.”

“Embora consideremos de extremarelevância a revogação do DL 60/2003relativo aos centros de saúde, entendemoscomo preocupante a insistência na possibi-lidade de gestão privada, por exemplo dasUnidades de Saúde Familiar. No entenderda CGTP-IN, a gestão ao nível dos cuidadosde saúde primários só pode ser pública,atendendo ao seu papel na promoção desaúde e na prevenção das doenças. No querespeita à articulação com os cuidadoshospitalares, pensamos que esta articulaçãodeve ser feita através da criação de sistemaslocais de saúde, os quais permitem umamaior acessibilidade por parte dos utentese também uma melhor gestão e aproveita-mento dos recursos técnicos, humanos efinanceiros”, realça o Executivo da Inter.

Ainda na esfera da saúde, “apesar deconsiderar que a transformação dos“Hospitais SA em Entidades Públicas Empre-sariais é um passo positivo, a CGTP-IN con-tinua a defender o seu regresso ao SectorPúblico Administrativo. Por outro lado,pensamos que é necessário reavaliar aconstrução de novos hospitais, equacio-nando a sua necessidade/prioridade; sempreque se considere que são necessários, deveráapostar-se em parcerias no âmbito do sec-tor público (por exemplo entre o Estado eas autarquias).”

Depois de salientar que “a medida maisimportante (não referida no Programa)”, nocaso dos medicamentos, “é a criação defarmácias hospitalares, que forneçammedicamentos aos utentes dos serviços,nomeadamente das urgências”, a Centralconclui que “a existência e actualização deuma Carta dos Equipamentos de Saúde éde extrema importância”, acrescentando: “Oseu objectivo fundamental deve ser a

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rentabilização dos equipamentos públicos,de forma a tornar o SNS o mais auto-suficiente possível no que respeita aos meiosdisponíveis. A Carta dos Equipamentos nãodeve, de modo algum, ter como objectivoou ser utilizada para prestar informaçõesao mercado no sentido de indicar aosoperadores privados onde se devem instalarcom a garantia de ter como clientes osserviços públicos.”

”PSD e CDS fizeram recuar a justiça”,afirmou Carvalho da Silva na conferênciade imprensa. Como sublinhou o secretário--geral da CGTP-IN “há que promover o

A formação profissional temum tratamento destacado noPrograma do Governo, querna parte económica,enquanto vector de umapolítica de inovação, quer naparte das políticas sociais.Para a Central, a questão defundo aqui é a de asseguraro cumprimento de normaslegais, sobretudo as querespeitam ao númeromínimo de horas deformação que todas asempresas devem cumprir (20horas este ano e 35 horasem 2006). Mas o Programaé, nas questões mais vastasda qualificação,excessivamente genérico(por exemplo, queprogressos se propõe oGoverno alcançar sobre oreconhecimento ecertificação dasqualificações e dascompetências adquiridaspelos trabalhadores emcontexto de trabalho?).

As perspectivas do Governo em relaçãoà Administração Pública

O Programa trata as questões da Administração Pública no capítulo da estratégiade crescimento. A tónica é posta na “modernização” e não na reforma como o fazia oanterior Governo, mas não parece existir uma ruptura com algumas das fundamentaislinhas de força antes adoptadas, que o Governo não se propõe rever, regista a tomadade posição da CGTP-IN, recentemente divulgada em Lisboa.

Para a Central, nas perspectivas do novo Executivo governamental em matériade Administração Pública destacam-se três aspectos:

1. O primeiro respeita à diminuição do emprego. O Programa aponta para aredução dos efectivos (75 mil no prazo da legislatura), através de aposentações ououtras formas de desvinculação. Admite-se, porém, que haja uma entrada por cadaduas saídas, o que é uma regra excessivamente rígida que pode levar a dificuldadesgraves no funcionamento de serviços fundamentais e a situações pontuais de rupturaem muitos outros serviços por escassez de funcionários;

2. O segundo refere-se à adopção do regime do contrato individual nas novasadmissões, desde que não se trate de funções de soberania. Pretende-se continuara política do Governo anterior terminando, a prazo, com os funcionários públicos,excluindo-se a própria possibilidade de reformar, onde necessário, o regime da funçãopública. A CGTP-IN considera que o contrato individual de trabalho é uma realidadeem muitos serviços da Administração mas ele deve ser entendido como excepção,sendo regra o vínculo público;

3. Finalmente, pretende-se estabelecer um acordo com os partidos políticosrepresentados na Assembleia da República sobre o regime de nomeação dosquadros dirigentes. O Governo anterior adoptou legislação prevendo que a nomeaçãode quadros dirigentes possa também abranger cargos de direcção intermédia, isto é,sem recurso ao concurso público, o que se traduziu na partidarização da AdministraçãoPública. A CGTP-IN recusa o prosseguimento desta prática e espera que o actualGoverno legisle nesse sentido.

A Central expressa anda reservas quanto a medidas que o Governo e propõeadoptar no que se refere ao regime de aposentação, designadamente pelasimplicações negativas que elas poderão ter.

acesso à justiça”, promovendo a “revisão donovo Regime do Apoio Judiciário e doCódigo das Custas Judiciais, de modo aconformá-los com a Constituição”. Sãoinadmissíveis os atrasos e as dificuldadesimpostas para os que necessitam de recorreraos tribunais, por exemplo, na área dotrabalho, acrescentou Manuel Carvalho daSilva, que chamou a atenção, também, para“o enorme prejuízo” que o Estado sofre, noquadro da fraude fiscal, devido à mo-rosidade e paralisia dos tribunais.

JPO

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Um dos pro-blemas maisgraves que oPaís enfrentaem termos de

desenvolvimento é ocontínuo agrava-mento das desigual-dades regionais. Isto

tem como consequência a desertificaçãode importantes regiões, a macrocefaliade outras com graves consequências parao bem estar das suas populações, e maisobstáculos ao desenvolvimento de todoo País. As causas deste agravamento dasassimetr ias regionais são, nomea-damente, a ausência de qualquer plane-amento efectivo a nível nacional, a falsacrença de que o mercado resolverá damelhor forma os problemas do desen-volvimento regional e a recusa daregionalização do País.

De acordo com o Instituto Na-cional de Estatística (INE), entre1995 e 2002, agravaram-sesignificativamente as assimetriasregionais em Portugal. Neste

período, a riqueza criada no nosso País(PIB) aumentou em 47.507 milhões deeuros. Deste acréscimo de riqueza, àregião Norte, com 35,3% da popu-lação, coube apenas 25,6%; à regiãoCentro , com 17,3% da população,coube somente 14,3%; à região deLisboa e Vale do Tejo, com 33,5% dapopulação do País, que já era a regiãomais desenvolvida, ficou com 46% doacréscimo da riqueza; ao Alentejo,com 5,1% da população, coube apenas3,8% do acréscimo de r iqueza; aoAlgarve , com 3 ,8% da população ,f i cou com 4 ,9% do acrésc imo deriqueza; aos Açores , com 2,6% dapopulação coube somente 2,1% doacréscimo de riqueza e, finalmente, àregião da Madeira, com 2,4% da popu-lação, ficou com 3,3% do acréscimoda r iqueza ve r i f i cado no per íodo1995-2002. (quadro I)

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O agravamento das desigualdadesregionais e concelhias

Eugénio Rosa (Economista e investigador)

Resumo das conclusões de um estudo

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34

ESTUDO

QUADRO IAumento do PIB e repartição pelas diferentes regiõesdo acréscimo de riqueza criada (PIB) entre 1995 e 2002

QUADRO IIAgravamento das desigualdades entre regiões do Paíscom governos PS

Como consequência desta repar-tição desigual do aumento do PIBentre 1995 e 2002, a parte dariqueza criada no País (PIB) quecabia à região Norte diminuiu de

30,1% para 28,4%; à região Centromanteve-se praticamente a mesma poispassou de 14,1% para 14,2%; à região deLisboa e Vale do Tejo aumentou ainda maisde 43,7% para 44,5%; à região do Alentejodesceu de 4,4% para 4,2%; à região doAlgarve aumentou de 3,5% para 4%; àregião dos Açores praticamente estagnou

pois passou de 1,8 para 1,9% e à região daMadeira aumentou de 2,4% para 2,7% doPIB do País (quadro I). Contrariamente aoque se poderá pensar, foi durante osgovernos do PS de Guterres que as desigual-dades regionais aumentaram mais em Por-tugal (quadro II).

Se a análise for feita por concelho,a conclusão que se tira, tambémcom base em dados do INE refe-rentes ao período 1995-2004, éque a diferença de poder de compra

JORNAL DA FENPROF 15ABRIL 2005

dos habitantes dos diferentes con-celhos se era grande em 1995, conti-nuou a ser significativa em 2004.Assim, em 1995, o poder de comprade um habitante do Concelho deLisboa (o mais desenvolvido) era 17vezes superior ao de um habitante doconcelho da Calheta/Madeira (omenos desenvolvido); em 2000, arelação entre o poder de compra doshabitantes desses mesmos dois con-celhos tinha baixado para 9 vezes. Em2002, o poder de compra médio de umhabitante do concelho de Lisboa era6,1 vezes superior ao de um habitantedo concelho de Celorico de Bastos(agora o concelho menos desenvolvidodo país) e, em 2004, essa diferença depoder de compra aumentou para 6,7vezes, invertendo o sentido de apro-ximação que até a este ano se estavaa verificar (quadro III).

O programa do governo PS,relativamente a este graveproblema, enumera uma mul-tiplicidade de intenções,programas e planos - um

PNPOT (programa de ordenamento doterritório), uma ENDS (estratégia dedesenvolvimento sustentado), diver-sos PROT (planos regionais de ordena-mento territorial), diversos POOC(planos de ordenamento da orlacosteira) - “construir uma estruturacoerente de governabilidade dasvárias escalas territoriais”, “umsistema de participação de acom-panhamento institucional dos pla-nos”, a “atribuição às CCDR´s dafunção de balcão único”, etc.; por-tanto, estratégias, planos e medidasque se acotovelam, até se sobrepõem,no entanto não se clarificam nemobjectivos, nem como se fará a suaintegração e obterá a coerência en-tre todos eles, nem que entidadesserão responsáveis pela sua execução,nem que competências e meios quedisporão. Sintomaticamente não sefala nem de uma estratégia, nem deobjectivos, nem de um Plano deDesenvolvimento Regional queabranja de uma forma coerente eintegrada todo o País. Tudo isto épreocupante face ao agravamentodas desigualdades entre as diferentesregiões do País, como se mostrouneste estudo com base nos últimosdados divulgados pelo INE.

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QUADRO IIIPoder de compra por habitante de cada concelho em relação ao País

Em 2002, o poder de compra médiode um habitante do concelho deLisboa era 6,1 vezes superior ao deum habitante do concelho de Celoricode Bastos

16 JORNAL DA FENPROF ABRIL 2005

m 18 de Março reuniu em Lisboa oFórum Internacional “Serviços Pú-blicos — Motor de uma SociedadeDesenvolvida e Democrática”, inicia-tiva que reuniu mais de três centenas

de participantes em representação de 69organizações. A FENPROF também estevepresente, tendo Mário Nogueira, membro doseu Secretariado Nacional, referido asituação que hoje se vive na Educação e aluta que os docentes portugueses têmtravado em defesa de uma escola pública dequalidade, gratuita e para todos.

Na sua intervenção referiu situaçõesconcretas de subversão e desrespeito pelalei que pretendem objectivamente bene-ficiar os colégios privados, bem como apolítica de dois pesos e medidas que temsido seguida por diversos governos, parti-cularmente pelos dois últimos, em queapesar dos que cortes significativos definanciamento que são feitos às escolaspúblicas, se aumentam os já gordossubsídios atribuídos às privadas. Umproblema agravado pela falta de fiscalizaçãoadequada, por parte das instâncias devidas,sobre a utilização das verbas que os colégiosrecebem do erário público. Por fim, aintervenção da FENPROF referiu comsatisfação o veto presidencial que recaiusobre a Lei de Bases da Educação, aprovadaunilateralmente por PSD e PP, que repre-sentava um dos mais graves atentados àescola pública portuguesa no pós 25 deAbril. Foram, então, referidas as grandesacções em que a FENPROF e muitas outrasorganizações se envolveram em defesa daescola pública portuguesa, designadamentea Marcha Nacional que se realizou emLisboa, em Janeiro de 2004, e, maisrecentemente, o Fórum Nacional que tevelugar em Coimbra. Com estas ou outrasacções a FENPROF continua disponível paracombater as políticas neoliberais que seabatem também sobre o nosso país, seja porimposição da OMC, pretendendo impor aomundo um Mercado Global da Educação,seja decorrente de directivas comunitárias,como a proposta conhecida por DirectivaBolkenstein que pretendendo criar noespaço europeu um mercado de serviços emque a Educação (como a Saúde, a SegurançaSocial, entre outros sectores) passaria a ser

Fórum Internacional reafirmanecessidade de aprofundar a luta

EM DEFESA DOS SERVIÇOS PÚBLICOS

Econsiderada mercadoria, que sevende e compra (melhor oupior, consoante a condiçãoeconómica do interessado).Nesta lógica de mercado,Educação, Saúde, ou outrosserviços públicos deixariam deser considerados direitos a quetodos, em condições de igual-dade, deveriam aceder.

Para além das intervençõesde diversos dirigentes sindicais(da Saúde, do Jornalismo, doRegisto e Notariado, da Admi-nistração Local, entre outrossectores), intervieram o presi-dente do Movimento de Uten-tes de Serviços Públicos(MUSP), Luísa Tovar da Asso-ciação Água Pública e Fer-nando Gonçalves, Presidenteda Direcção-Geral da Asso-ciação Académica de Coimbra.

Eugénio Rosa, economista,provou, com a sua intervenção,que a privatização de serviçospúblicos não é sinónimo demenor despesa pública nem demais qualidade ao serviço doscidadãos. Já Rui NamoradoRosa se referiu aos aspectosnefastos que decorrem da faltade apoio e investimento pú-blico à Ciência, Tecnologia eInvestigação e das diversastentativas no sentido da sualiberalização, privatização econcentração.

O economista e ex-eurodeputado SérgioRibeiro também interveio, tendo, na suaintervenção, chamado a atenção para oconteúdo do relatório da Comissão Europeiasobre esta matéria em que a própriadesignação “Serviços Públicos” foi substi-tuída por “serviços de interesse geral”.

De outros países, para relatarem as suasexperiências (quer no que respeita àofensiva neoliberal contra os serviçospúblicos, quer sobre a luta de resistêncialevada a efeito pelos trabalhadores dosrespectivos países), estiveram presentesMichel Patard (Federação dos Ferroviáriosda CGT francesa), Fermim Paz (Secretário—

-Geral da Federação de Energia, Química ePetróleo da CIG galega), Leta Methoniou(Vice-Presidente da Federação Grega dosTrabalhadores dos Hospitais Públicos), BarbisVortelinos (Secretário—Geral da FederaçãoGrega dos Trabalhadores da Função Pública)e Margie Jaffe (Sindicato dos Trabalhadoresdos Serviços Públicos do Reino Unido).

No encerramento dos trabalhos PauloTrindade, membro da Comissão Executiva daCGTP-IN, referiu que esta iniciativa pre-tendeu abrir caminhos para novos espaçosna defesa dos serviços públicos e garantiuque se a ofensiva continuar, também a lutados trabalhadores vai ter de continuar.

MN

Mário Nogueira, membro do SN, representou a FENPROF no FórumInternacional “Serviços Públicos, motor de uma sociedadedesenvolvida e democrática”.

JORNAL DA FENPROF 17ABRIL 2005

Foi publicado no Diário daRepública de 24 de Março odespacho 6365/2005, aindaassinado por José ManuelCanavarro, com o qual sepretende resolver a profissio-nalização dos docentes comhabilitação própria com 5 oumais anos de serviço.

FENPROF tem vindo a fazer destamatéria – a profissionalização evinculação dos docentes contra-tados, enquadrada na questão maisampla da estabilidade do corpo

docente – um objectivo da sua intervençãosindical. A chamada à profissionalizaçãodestes docentes, bem como a vinculaçãode cerca de 6000 professores (envolvendoos que agora poderão ser objecto dechamada à profissionalização), tinham sidonegociadas pela FENPROF com O últimogoverno de António Guterres e foi reafir-

mada aquando da negociação do novo di-ploma de concursos.

A solução avançada por este despacho,embora se saúde, é uma medida parcelar eque não deixa de levantar questões que urgedesde já equacionar.

De facto, para ter acesso à profissio-nalização, o docente terá que ter 5 ou maisanos de serviço, 3 dos quais cumpridos nos4 anos imediatamente anteriores ao anolectivo 2005/2006 e vir a ser colocado porconcurso para o ano lectivo 2005/2006,“com efeitos a 1 de Setembro”. Por esta razãonão se conhece exactamente o alcancedesta solução tendo em conta que, previ-sivelmente, um número significativo dosentão abrangidos agora ficará de fora. AFENPROF exige, por isso, que esta expressão“com efeitos a 1 de Setembro” seja enten-dida como abrangendo todas as colocaçõesem horários para todo o ano lectivo de2005-2006, uma vez que a experiênciamostra que nem sempre os horários destanatureza são preenchidos até 1 de Setembropor responsabilidades unicamente atri-buíveis aos serviços ministeriais.

Por outro lado, o despacho não indica

Uma medida ainda longe do razoável!Profissionalização de docentes contratados:

ESTABILIDADE DE EMPREGO

qualquer prazo para a concretização destedireito agora conferido a estes docentes. AFENPROF exige que a chamada à profissio-nalização se faça no próximo ano lectivo.

A FENPROF exige que os docentes queeste despacho dispensa da profissio-nalização (os que tenham 45 anos de idadee 10 de serviço ou 15 anos de serviçoindependentemente da idade) sejamintegrados na carreira, com respeito totalpelo tempo de serviço, a partir de 1 deSetembro próximo.

Este despacho deve ser também apli-cado aos docentes de técnicas especiaisainda em exercício, com a salvaguarda deque não lhes pode ser exigida a”“habilitaçãoprópria” uma vez que ao longo de 30 anosos diferentes ministérios da Educação nãoforam capazes de as definir.

Por outro lado, a aquisição da habilitaçãoprofissional deverá ser acompanhada de medidaslegislativas que conduzam à vinculação.

Por último, a FENPROF denuncia que estasquestões teriam sido clarificadas e acauteladasse a Federação tivesse sido chamada pelo an-terior governo a negociar estas matérias, oque lamentavelmente não aconteceu.

A

18 JORNAL DA FENPROF ABRIL 2005

SEMINÁRIO ORGANIZADO PELA FENPROF E PELO IIL

nclino-me cada vez mais para defenderque a reflexão sobre a formação deprofessores deveria ser precedida dodebate sobre o perfil profissional aconstruir tendo em conta as funções

inerentes ao posto de trabalho ocupado pelodocente. Infelizmente, o País foi amputadopelo 1º Governo do PSD/PP do INAFOP cujotrabalho era decisivo nesta área”, referiuPaulo Sucena na sessão de abertura doseminário.

“Atendendo à complexidade crescenteda profissão parece-me imprescindívelclarificar com rigor os fins e os objectivosda formação inicial tendo em conta aperspectiva de uma formação profissionalao longo da vida de que a formação inicialé tão-só a primeira etapa”, observou osecretário-geral da FENPROF.

“De outro ângulo”, acrescentou, “nãoposso deixar de expressar a minha apreen-são sobre a “babel” das formações que hojeem dia se regista. Por exemplo, os pro-fessores do 3º ciclo do básico e os do ensinosecundário foram formados, ultimamente,só no sistema público, em 13 universidadescom 120 cursos. A isto acresce umarealidade compósita de formação – desdea especialidade do saber que se prende coma ciência a ensinar, até às ciências daeducação e à prática pedagógica – que émuitas vezes desenvolvida em contextosinegavelmente constrangedores.”

Uma reflexão enriquecida epartilhada por um conjuntode investigadores deprestígio, num debate queenvolveu dezenas deeducadores e professores detodas regiões do País,transformou o Seminário daFENPROF e do InstitutoIrene Lisboa “Percursos eDesafios da Formação deProfessores” numa iniciativade vincada actualidade paraa análise e, sobretudo, parao esboço e a perspectiva dasmudanças necessárias na(sensível) área da formaçãoinicial e contínua dosdocentes.O encontro decorreu nospassados dias 17 e 18 deMarço no auditório do Insti-tuto Franco-Português, emLisboa, e foi estruturado emquatro módulos temáticos:as competências científicas etécnicas, éticas eprofissionais dos docentes; aformação contínua –avaliação da situação; aformação inicial –perspectiva histórica e avalia-tiva da situação; e ainda ascompetências para o séculoXXI.

Após a intervenção do secretário-geralda FENPROF, o decano da UniversidadeAutónoma de Madrid, António MaldonadoRico, descreveu o modelo espanhol deformação, salientando as implicações doprocesso de Bolonha.

O debate prosseguiu com a análise àproblemática da formação inicial e contí-nua, sendo descrito e debatido o papeldas ESE’s e das Universidades e, finalmente,questionadas as competências necessáriasà profissão docente.

”Como manter essa” “chama”ao longo de uma vida de trabalho”

”A questão fundamental - como trans-formar o formando em professor, intelectualreflexivo, curioso e desperto para aprofissão, capaz de provocar o desejo deaprender e o espírito cívico de partilha desaber/es e de cooperação - e como manteressa “chama” ao longo de uma vida detrabalho, ocuparam estes dois dias dereflexão, debatendo“ percursos e lançandodesafios”, como sublinhou Ana Gaspar, doSecretariado Nacional da FENPROF, que feza intervenção de encerramento do semi-nário.

No primeiro dia do seminário (“For-mação Contínua – avaliação da situação”)a iniciativa registou as comunicações deÂngela Rodrigues , da Faculdade de

Percursos e desafiosda formação de professores

“I

JORNAL DA FENPROF 19ABRIL 2005

A FENPROF considera que o novo Governo deve pôr em prática, e não apenas naretórica do discurso, todo um conjunto de medidas orientadoras de uma forte valorizaçãoprofissional e social dos professores. Isto significa que a formação inicial e contínuados docentes deve ser com eles profundamente repensada de modo a tornar cadavez mais rica e evidente a sua qualidade profissional.O Estado tem de assumir a responsabilidade de tornar estes decisivos co-artífices dofuturo de Portugal cidadãos prestigiados e as escolas onde eles trabalham lugares derealização humana, profissional e social.

Do documento “Lutar por mudanças, construir a esperança”, Secretariado Nacional

da FENPROF, 10/03/2005

Psicologia e Ciências da Educação daUniversidade de Lisboa e presidente doIIL; David Rodrigues, da Faculdade deMotricidade Humana da UniversidadeTécnica de Lisboa; Maria José Sá Correia,do Departamento de Didáctica e TecnologiaEducativa da Universidade de Aveiro, noprimeiro dia do seminário (FormaçãoContínua – avaliação da situação”) ;

No segundo dia, no painel dedicadoà formação inicial, registaram-se as inter-venções de”João Pedro da Ponte, daFaculdade de Ciências da Universidade deLisboa; Luísa Veiga, vice-presidente doInstituto Politécnico de Coimbra; e deFátima Paixão, da ESE de Castelo Branco.

Manuela Esteves, da Faculdade dePsicologia e Ciências da Educação da UL;e Luísa Alonzo, da Universidade doMinho, que concedeu um depoimento ao“JF” em que aborda os conteúdos essen-ciais da sua intervenção neste seminário(ver pág. 22), apresentaram as suascomunicações no painel “Competênciaspara o Século XXI”.

Conceição Dinis, Isaura Madeira e AnaGaspar moderaram as sessões de trabalhodo encontro.

JPO

”Atendendo à complexidade cres-

cente da profissão parece-me impres-

cindível clarificar com rigor os fins e

os objectivos da formação inicial tendo

em conta a perspectiva de uma forma-

ção profissional ao longo da vida de

que a formação inicial é tão-só a

primeira etapa”

e forma telegráfica”, PauloSucena deixou no auditó-rio do Franco-Português

um conjunto de preocu-pações da FENPROF emforma de interrogação,

que acabaram por “atravessar” partesignificativa deste seminário:

• Professores para que Escola?• Que perfil profissional em face das

funções que têm de exercer?• Que estratégias para superar a

clivagem entre a desatada produçãoteórica das diferentes equipas do Ministérioda Educação (algumas vezes pseudo-teórica outras pobremente fundamen-tadas) e a sua confrangedora incapacidadepara transformar a realidade de modo apermitir eficazes e eficientes sinergias en-tre os planos teórico e prático?

• Para quando uma definição dashabilitações para a docência que aFENPROF e os professores aguardam hámais de uma década?

• Que atenção vai dar este Governo àimprescindível e urgente reflexão sobre aarticulação horizontal e vertical de programasque sucessivos governos nunca derammostras de perceber que pode ser umaimportante causa do insucesso escolar?

• Para quando a criação de um sistemade apoio aos jovens professores, prin-cipalmente no seu primeiro ano de activi-dade?

À luz de Bolonha

A terminar, e tendo como referência oprocesso de Bolonha, a FENPROF nãopode deixar de interrogar o Ministério daEducação sobre a realidade existente:

Em primeiro lugar, como vai resolveras contradições das heranças recebidas,caracterizadas pela aceitação da enormediversidade existente na formação deprofessores com o facto de depois todoseles estarem sujeitos ao cumprimento deum currículo único? Permitam que refira,

de passagem, que os Ministros da Edu-cação nunca se preocuparam em avaliarse as diferenças de formação dos pro-fessores têm alguma correlação com osresultados obtidos pelos alunos.

Em segundo lugar, é imperiosoconfrontar o Ministério da Educação comesta circunstância e perguntar-lhe o quesobre ela pensa: essa circunstância podedefinir-se pela diversidade das formaçõesque as várias instituições do ensino supe-rior promovem em confronto com o factode que os professores nelas formados vãoleccionar programas nacionais em escolasa que se deu uma falsa autonomia e que,na verdade, estão sujeitas a um modeloorganizacional centralmente estabelecidoe centralmente fiscalizado. Que tem isto aver com a flexibilização de currículos?

Preocupações da FENPROF

“D

20 JORNAL DA FENPROF ABRIL 2005

“Aqui Posto de Comando do Movimentodas Forças Armadas. As Forças ArmadasPortuguesas apelam a todos os habitantesda cidade de Lisboa no sentido de recolhe-rem a suas casas nas quais se devem con-servar com a máxima calma. Esperamossinceramente que a gravidade da hora quevivemos não seja tristemente assinalada porqualquer acidente pessoal para o queapelamos para o bom senso dos comandosdas forças militarizadas no sentido de seremevitados quaisquer confrontos com as ForçasArmadas. Tal confronto, além de desne-cessário, só poderá conduzir a sérios prejuízos

31 ANOS DE ABRIL

Há dias, um colega nosso, o AdelinoLopes, ao remexer numa das suas gavetasonde guarda algumas das suas recordações,encontrou meia dúzia de envelopes dentrodos quais, contava ele, “e já lá vão 31 anos,era colocado o dinheiro correspondente aovencimento. Esses envelopes eram entre-gues por uma funcionária da secretaria daescola”. Tal ocorria no final de cada mês.

A curiosidade da descoberta estáprecisamente no conteúdo de dois dos en-velopes. É que um continha o recibo devencimento de Março de 1974 e o outro ode Setembro do mês ano. Pelo meio ficavao marco histórico da democracia portuguesa— a Revolução dos Capitães de 25 de Abrilde 1974.

“Ao observá-los”, revelou o Adelino,“reparei particularmente em dois: um como vencimento de 3.800$00 (o de Março) eoutro com um vencimento de 8.800$00 (ode Setembro, apenas seis meses depois). Ouseja uma diferença para mais 5.000$00.Mais de 130% de aumento que se deveramà gloriosa mudança de regime”.

Para o Adelino Lopes e para todos osAdelinos deste país, fossem eles professores,operários ou trabalhadores agrícolas,aqueles momentos são inesquecíveis. Estavamaterializado o reconhecimento da impor-tância do Trabalho no desenvolvimento do

individuais que enlutariam e criariam divisõesentre os portugueses, o que há que evitar atodo o custo.

Não obstante a expressa preocupaçãode não fazer correr a mínima gota de sanguede qualquer português, apelamos para oespírito cívico e profissional da classemédica esperando a sua ocorrência aoshospitais, a fim de prestar a sua eventualcolaboração que se deseja, sinceramente,desnecessária.”

Cf. “Uma aventura Democrática”, CD-ROM,Centro de Documentação 25 de Abril, 1999

25 de Abril, sempre!

país, na emancipação social e económicados portugueses.

Pena é que alguns, como referiu esteprofessor e actualmente dirigente do SPRC,“usufruindo da Liberdade e da Democraciaentão alcançadas tentem hoje liquidar deforma raivosa todas as conquistas sociaisdo nosso Povo (basta ver o actual Códigode Trabalho!)”. São enormes as diferençasentre os dias coloridos dos primeiros tem-pos da revolução e a negritude com que os

actuais governos tratam os salários dostrabalhadores da administração pública,particularmente os dos professores eeducadores “que foram presenteados nosúltimos anos com reduções salariaissucessivas (- 10% em apenas 10 anos)”.

“Ao comemorarmos 31 anos de Abril,temos de ser firmes na luta por um Portu-gal de Abril. A justiça vencerá”

Luís Lobo, com Adelino Lopes

O primeiro comunicado do 25 de AbrilAntes das 4.00 horas(O MFA através do Rádio Clube Português)

20 JORNAL DA FENPROF ABRIL 2005

JORNAL DA FENPROF 21ABRIL 2005

Expirado o prazoinicial para a ren-dição, anunciadopor megafone peloCapitão SalgueiroMaia, e após algu-mas diligênciasfeitas por media-dores civis, Mar-celo Caetano faz

saber que está disposto a render-se e pedea comparência no Quartel do Carmo de umoficial do MFA de patente não inferior aCoronel.

Cf. “Uma aventura Democrática”, CD-ROM,Centro de Documentação 25 de Abril, 1999

De tudo o que Abril abriuainda pouco se disseum menino que sorriuuma porta que se abrisseum fruto que se expandiuum pão que se repartisseum capitão que seguiuo que a história lhe predissee entre vinhas sobredosvales socalcos searasserras atalhos veredaslezírias e praias clarasum povo que levantavasobre um rio de pobrezaa bandeira em que ondulavaa sua própria grandeza!De tudo o que Abril abriuainda pouco se dissee só nos faltava agoraque este Abril não se cumprisse.Só nos faltava que os cãesviessem ferrar o dentena carne dos capitãesque se arriscaram na frente.

Na frente de todos nóspovo soberano e totalque ao mesmo tempo é a voze o braço de Portugal.

25 de Abril de 1974,16.00 horas

JORNAL DA FENPROF 21

Ouvi banqueiros fascistasagiotas do lazerlatifundiários machistasbalofos verbos de enchere outras coisas em istasque não cabe dizer aquique aos capitães progressistaso povo deu o poder!E se esse poder um diao quiser roubar alguémnão fica na burguesiavolta à barriga da mãe!Volta à barriga da terraque em boa hora o pariuagora ninguém mais cerraas portas que Abril abriu!

“As portas que Abril abriu”

De José Carlos Ary dos Santos

22 JORNAL DA FENPROF ABRIL 2005

SEMINÁRIO ORGANIZADO PELA FENPROF E PELO IIL

a comunicação que apresentei aoSeminár io o rgan izado pe laFENPROF e pelo Instituto IreneLisboa “Percursos e desafios daformação de professores”, inti-tulada “Competências para o Sec.

XXI: que desafios para a formação”, tenteiproblematizar as seguintes questões: quevisão de conhecimento escolar e profissionalestá subjacente a uma abordagem porcompetências; e, que desafios se colocampara a educação dos alunos e, conse-quentemente, para a formação dos pro-fessores.

O conceito de competência no currículoescolar surge na sequência e por influênciada sua utilização noutros campos, nomea-damente o da educação/formação deadultos, em que a necessidade de tornaresta formação relevante para a vida e paraa profissão, num contexto de formação aolongo da vida, como paradigma nuclear dasociedade do conhecimento, leva a colocarcomo foco central da formação a aquisiçãode competências-chave para a cidadania ea empregabilidade. Estes dois conceitosreclamam a centralidade do conhecimentona formação das pessoas, tornando-ascapazes de compreender e confrontar a

complexidade da sociedade da informaçãoe exigindo delas uma adaptação flexível,crítica e criativa, bem como a centralidadeda cidadania para ajudar as pessoas aconstruir uma sociedade mais justa esolidária, num mundo onde a desigualdadede oportunidades, a xenofobia, o indivi-dualismo e a exclusão social tendem aacentuar-se.

Tendo como referência este paradigmade aprendizagem ao longo da vida, que temna base uma concepção complexa, proble-mática e aberta do conhecimento, importaidentificar algumas competências que sãoessenciais ou nucleares, enquanto processoscognitivos e sociais que facilitam o aprendera aprender, tornando as pessoas maisautónomas no acesso ao conhecimento emais esclarecidas na participação social. Sãotambém denominadas de competênciastransversais, já que elas se encontram naintersecção das diferentes disciplinas,atravessando os diversos campos sociais epermitem a comunicação e transferência desaberes em contextos diversificados. Aflexibilidade, a reflexão sobre a experiênciapessoal, a abertura à inovação e à pesquisa,o aprender a aprender, o diálogo e o trabalhocolaborativo e o respeito pela diferença,

Depoimento

Competências para o Séc. XXI:que desafios para a formação?

Luísa Alonso (Universidade do Minho*)

revelam-se condições imprescindíveis paranavegar ou movimentar-se nesta sociedade,pelo que a sua integração no currículo éhoje considerada consensual, embora a suatradução em práticas consistentes ao longodo percurso formativo ainda seja uma uto-pia a perseguir.

“Aprender a aprender”

Parece urgente, então, mudar os am-bientes de aprendizagem, promovendo, nosprofessores e alunos, as competênciasbásicas ou essenciais necessárias paraaprender a aprender e aprender a continuaraprendendo. Assim, a comunicação, apesquisa e tratamento de informação, aresolução de problemas e tomada dedecisões, os métodos de estudo, a auto-nomia e criatividade e a colaboração são,entre outras, competências essenciais eestruturantes do perfil do aluno a serdesenvolvido ao longo da escolaridade eque, por isso, comprometem e responsa-bilizam a escola pela sua promoção, deforma consistente e continuada, tanto noplano vertical como no horizontal. É,também, incontornável que esta perspectivareclama novas identidades profissionais dosprofessores, capazes de construir umconhecimento profissional sustentado emprocessos reflexivos, investigativos, criativose participativos para se posicionar e interviractivamente nestas mudanças.

Em síntese, possibilitar experiências deformação ao longo da vida que favoreçama integração de saberes, o desenvolvimentoda compreensão e do pensamento crítico,o aprender a ser, o aprender a colaborar, oaprender a resolver problemas e o exercícioda cidadania é um desafio para a escolademocrática e de qualidade que entre todosqueremos construir.

*Docente da Universidade do Minho.Departamento de Ciências da Educação da

Criança. Instituto de Estudos da Criança

N

JORNAL DA FENPROF 23ABRIL 2005

correcto afirmar-se que a FormaçãoContínua (FC) tem hoje dois pontosfortes: por um lado, o facto determos um quadro normativo espe-cífico que a institui como um dever

e um direito e, por outro, a experiência demais de uma década de FC institucio-nalizada. Tal revela-se extraordinariamenteimportante para aferirmos das dificuldadesexistentes nesta área, também.

Correcta é a selecção feita por ÂngelaRodrigues1 de pontos fracos sobre os quaisse exige toda a atenção do actual governo.Caso contrário corre-se o risco de podermosvir a ter uma escola que se afaste darealidade, sem criatividade, interesse,responsabilidade e autonomia.

Assim, aqui deixo o seu diagnóstico paraque sobre ele pensemos e nos mobilizemos:

1. Hoje, apenas se exige dos centros deformação que sejam meras estruturas deoferta de formação e quase nada pro-motores de sinergias;

2. O financiamento da FC tornou-adependente de critérios pouco ligados àssuas verdadeiras finalidades;

3. A FC faz-se sem que antes tenhahavido um programa nacional de formaçãode formadores;

4. Se a FC tem influência na carreiradocente (e bem) então ela deveria sersempre de elevado interesse e qualidade;

5. Falta-nos uma cultura de rigor nosdiagnósticos da situação, estando ossucessivos governos mais preocupados emdefender estatísticas desinteressantes doque em apresentar soluções para osproblemas;

6. Há uma má avaliação interna daquiloque a FC vai produzindo de bom para os

próprios professores;7. Não se avaliando os efeitos que anos

de FC trouxeram para o interior das escolastambém não se consegue mudar o que estámal a este nível;

8. E o pior dos pontos fracos, a FC nãoestá centrada nas necessidades efectivasdas escolas e dos docentes, mas sim noutrosinteresses, por vezes supranacionais, quecondicionam todo o desenvolvimento daformação contínua.

Esta é uma avaliação possível dasituação. Importa agora dar às escolascondições orgânicas democráticas e aosprofessores a autonomia profissionalnecessária para que as mudanças produzambons resultados e para que valha a penafazer formação em Portugal.

1 Presidente do Instituto Irene Lisboa, SeminárioNacional sobre Formação de Professores, FENPROF, IIL, 14 e

15 de Março de 2005, Instituto Franco-Português, Lisboa

Formação Contínua de Professores e Educadores

A mudança necessária!Luís Lobo (Membro do Secretariado Nacional da FENPROF)

É

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24 JORNAL DA FENPROF ABRIL 2005

Actualmente, uma educaçãosem as línguas é uma edu-cação amputada e incompleta.Documentos oficiais criaramhá já algum tempo o contextolegal para a implementação doensino de línguas aos maisnovos no nosso país, consubs-tanciando o princípio de quea aprendizagem de L.E.s deve,numa sociedade democrática,moderna e inclusiva, integrara formação de todos, pelasoportunidades que essaaprendizagem proporciona.

multilinguismo generalizado é o fu-turo da Europa, talvez a chaveestratégica para a sua sobre-vivência, e a questão europeiadeixou de se restringir à esfera

política. A formação em Cidadania Europeiaterá de passar pela compreensão dasinterdependências económicas, ecológicas,culturais, sociais e também linguísticas quefaçam o cidadão sentir-se responsável pelacomunidade a que pertence, assim comopela erradicação duma mentalidade mono-lingue, traduzida em recomendações quesublinham a necessidade da inclusão deuma ou mais L.E.s desde muito cedo noensino obrigatório.

Para além dos pressupostos de ordemcultural, social e económica para essainclusão nos currículos, a aprendizagem daslínguas enfatiza a promoção do desen-volvimento pessoal e social que o reconhe-cimento e a estima por outras formasparticulares de interpretar o universalproporciona, não se limitando a dotar osalunos com um dispositivo de naturezaprofissional ou de utilidade turística. Oconhecimento de outras línguas permite,para além disso, a visão de outras culturase, através do conhecimento do outro,

ficamos a conhecer-nos melhor. Estaaprendizagem da intercompreensão irácontribuir para a aceitação da alteridadeno interior do nosso próprio país.

Dentro desta perspectiva, a apren-dizagem da L.E. serve cabalmente asfinalidades de um projecto educativomulticultural e multilingue, contribuindopara combater desde cedo o aparecimentode processos de etnocentrismo ou precon-ceito étnico e dos estereótipos que ocaracterizam. À educação para a literaciaintercultural baseada na aprendizagem deL.E.s cabe o papel de reconciliar a escolacom a vida social tal como ela é, complexae plural, sem produzir ou reforçar fenó-menos de marginalidade, de xenofobia oude exclusão. Uma língua é muito mais doque apenas uma forma de comunicação: elainforma e conforma os quadros de apre-ensão da realidade e a sua aprendizagemprefigura uma competenciação geral parao conhecimento de outras culturas epressupõe implicitamente o desenvolvi-mento do jovem como comunicador, comoaluno, e como personalidade individual esocialmente responsável. O reconhecimentodeste papel formativo das L.E.s é fundamen-tal e em defesa do seu ensino aos mais

novos concorrem ainda os seguintesprincípios:

- a sua plasticidade neuro-fisiológicapermite-lhes adquirir com facilidade ossons, a entoação, o ritmo da língua, edesenvolver a capacidade de discriminaçãoauditiva, demonstrando prazer em jogarcom as formas e sentidos das palavras

- aos 8 anos encontram-se numa faseideal para aprender uma L.E., pois devemdominar de forma consistente a leitura e aescrita em língua materna e desenvolveramjá alguma capacidade de memorização

- apropriar-se-ão da mesma de umaforma mais natural e interactiva, acabandopor atingir níveis de desempenho comu-nicativo mais elevado

- através do contacto com a L.E.aprendem a olhar a sua língua maternacomo um fenómeno e como um sistemaparticular entre muitos, tomando assimconsciência das suas operações linguísticas,assegurando enfim que o conhecimentoimplícito se torne consciencializado

- a L.E. desenvolve capacidades cogni-tivas de raciocínio lógico e de resolução deproblemas mais abstractos conducentes àsuperioridade na formação de conceitos

- o domínio de dois sistemas linguísticos

OPINIÃO

O 1º Ciclo e a Língua EstrangeiraJosé Orlando Strecht-Ribeiro (ESE de Lisboa)

O

JORNAL DA FENPROF 25ABRIL 2005

no alvoconcede-lhes maior diversidade de capa-cidades mentais, o que permite que aslínguas possam ser perspectivadas do pontode vista do desenvolvimento cognitivo: nãose aprende uma língua só para comunicar,mas o processo de aprendizagem desen-volvido é passível de transferência para aaprendizagem de outras línguas e de outrasdisciplinas.

Desenvolvimentode competências

Para tal o professor terá de recorrer auma metodologia que se coadune com osprincípios metodológicos previstos noPrograma do 1º Ciclo, articulando-os como processo de ensino-aprendizagem da L.E.,promovendo aprendizagens adequadas eestabelecendo a ligação da aprendizagemda L.E. com as de outras disciplinas econteúdos. A aceitação e necessidade datransversalidade da L.E. com as outras áreasdo currículo deriva do facto de os meca-nismos e processos de aprendizagem seremcomuns para todas as áreas do saber e de odesenvolvimento intelectual não sercompartimentado de acordo com asdisciplinas que integram o currículo,favorecendo antes uma visão holística dasquestões.

Uma formação multilíngue visa a

aquisição dos saberes linguísticos, odesenvolvimento de competências deaprender a aprender línguas, despertandoem quem aprende o gosto por uma actuali-zação permanente de conhecimentos e apromoção de atitudes e valores, para queos cidadãos de amanhã não se arrisquem aser deficientes da palavra, cristalizadosnuma educação unilingue, incapazes depassar do local ao global e de aceitar adiversidade; a escola deve assumir-se comoinstrumento indispensável na recuperaçãode atrasos e no desenvolvimento global deuma sociedade moderna cada vez maiscomplexa e exigente com os seus cidadãos.

Neste momento, estender essa opor-tunidade a todas as crianças que fre-quentam o 1º Ciclo do E. B. levantará algunsproblemas, atendendo à coexistência defactores que, dentro e fora do sistemaeducativo, têm inibido a sua aplicabilidade.Urgentemente, e dado o limitado númerode agentes educativos com habilitaçãoespecífica para prover à educação bilingueno 1º Ciclo, impõe-se definir uma estratégiade formação, pois sabe-se que umaformação adequada constitui condição sinequa non para a implementação destamedida de forma eficiente e eficaz, já queo que se preconiza é que a L.E. contribuapara uma pedagogia de inclusão e desucesso.

A FENPROF eos seus Sindi-catos promo-vem neste anode 2005, umaCampanha Na-cional em De-fesa da RedePública de Edu-cação Pré-Es-colar. Esta Cam-panha vem sen-

do preparada desde finais de 2004 e teveo seu momento de arranque no dia 1 deFevereiro de 2005, data em que secomemoraram os 28 anos de criação darede pública de jardins de infância.

Na preparação da Campanha aFENPROF reuniu com diversas enti-dades, às quais apresentou os objectivos

Campanha nacional em defesa da rede públicade educação pré-escolar

e destinatários da iniciativa. Como resul-tado dos contactos, constituíram-separceiros nesta importante Campanha,para além da FENPROF, a Associação deProfissionais de Educação de Infância(APEI), a CGTP-IN e o Movimento Demo-crático das Mulheres (MDM).

A Campanha visa alertar a opiniãopública, partidos políticos e órgãos desoberania para a importância da manutençãoe alargamento da rede pública de jardins deinfância. É fundamental e pertinente criarcondições para que todas as crianças dos 3aos 5 anos possam frequentar a educaçãopré-escolar, primeira etapa da educaçãobásica, num estabelecimento público,gratuito e de qualidade.

A vertente educativa, objectivo primeiroda educação pré-escolar, a vertente sócio-educativa, numa resposta social às famílias

com qualidade no atendimento às crian-ças e a formalização da obrigatoriedadede frequência da educação pré-escolarpara o grupo etário dos 5 anos, são trêsdos temas de abordagem desta Cam-panha, que terão visibilidade através defolhetos, cartazes, encontros de dis-cussão e reflexão com especialistas.

O primeiro folheto, está a ser envia-dos aos jardins de infância para serdistribuído aos Pais, explicita a funçãoeducativa da educação pré-escolar,destacando as bases do trabalho peda-gógico, assentes nas OrientaçõesCurriculares definidas para este sector.

Mas para além desta distribuição aospais, entre 6 e 16 de Abril a FENPROF eos seus Sindicatos promoveram acçõesde rua, com a distribuição à população,nas capitais de distrito.

Fórum Social Português

Em 14 de Maio próximo, em Évora, no quadro doFórum Social Português, decorrerá um encontrosubordinado ao tema Resistências e Alternativas.O Fórum Social Português, como os congénereseuropeu e mundial, é um espaço que acolhe asiniciativas das mulheres e dos homens que, a títuloindividual ou no quadro de organizações, lutamcontra as discriminações, a guerra e o neolibe-ralismo.Neste contexto, o encontro Resistências eAlternativas é um espaço aberto a quem queiracontribuir para a criação, difusão e socialização dealternativas à actual estrutura da sociedadenacional, europeia e internacional e constitui umaocasião privilegiada de identificar, sistematizar epartilhar um conjunto de práticas sociais que, emPortugal, anunciam e dão corpo à esperança numaoutra ordem económica, social, política e culturalglobal mais justa e solidária.O programa do encontro Resistências e Alterna-tivas é tripartido: de manhã será realizado umgrande debate conjunto subordinado ao tema doencontro; a tarde será reservada à livre iniciativadas organizações participantes; por fim, ummomento de convívio e de animação culturalencerrará os trabalhos.

Organizações proponentes da iniciativa RESISTÊNCIAS EALTERNATIVAS, inserida no processo do Fórum Social

Português

Encontro em Évora

26 JORNAL DA FENPROF ABRIL 2005

CONSTITUIÇÃO EUROPEIA, NON !

Foram mais de 60 mil traba-lhadores e sindicalistas euro-peus que no passado dia 19de Março se manifestaram emBruxelas, em defesa do em-prego, de uma Europa maissocial e contra a “directivaBolkestein”. A FENPROF estevepresente nessa manifestaçãocom uma delegação.

sta directiva, aprovada em 13 deJaneiro de 2004 pela ComissãoEuropeia, inscreve-se num processode reformas lançado na reunião doConselho Europeu de Lisboa de

Março de 2000, de que resultou umdocumento que veio a ficar conhecido como“Estratégia de Lisboa”, cuja ambição étransformar a União Europeia, até 2010, no“espaço económico mais dinâmico ecompetitivo do mundo”.

O texto da polémica directiva foi

redigido por Frederik Bolkestein, na alturacomissário europeu do Mercado Interno eex-director da Shell, ex-ministro holandêsdo Comércio, da Defesa e ex-presidente daInternacional Liberal. Trata-se de uma“directiva-quadro” com implicações nasáreas da indústria, da construção, docomércio, do abastecimento de água, dascomunicações, da administração pública, dasaúde, da assistência, da educação... É umdocumento que traduz uma obsessão liberal pela competição e implica uma sériaregressão nos direitos sociais.

A acção de protesto, convocada pelaConfederação Europeia de Sindicatos,constituiu não só uma rejeição dos cami-nhos que as elites de Bruxelas pretendemimpor para a Europa, mas também, paramuitos dos manifestantes, um claro NÃOao texto do “tratado que estabelece umaConstituição para a Europa”, adoptado pelos“vinte e cinco” a 18 de Junho de 2004 eassinado em Roma no passado dia 29 deOutubro.

A palavra de ordem “Non, non à la Cons-titution de Bolkestein”, foi uma das maisouvidas no decurso da manifestação. Talficou a dever-se à presença de muitos

milhares de activistas sindicais provenientesde França, país onde o “não” à ConstituiçãoEuropeia tem vindo a ganhar cada vez maisadeptos e onde Durão Barroso tem vindo aprovocar cada vez maior irritação, emgrande parte graças à sua defesa da“directiva Bolkestein”, o que levou odeputado socialista francês, ArnaudMontebourg, a dizer: “Já não é directivaBolkestein, agora é a directiva Barroso”

Em Portugal seremos chamados apronunciar-nos sobre a ConstituiçãoEuropeia através de consulta popular. Háquem pretenda que tal consulta se faça namesma altura em que se irão realizar asEleições para as Autarquias Locais, o queconstitui uma má solução. Sabemos que “dájeito” ter muita gente a votar... Mas maisdo que o “jeito”, é importante que as pessoassaibam o que estão a votar. Em Portugal odebate sobre a Constituição Europeia estápor fazer. A tentação de levar os portugueses“a apoiarem posições que as organizaçõespolíticas ou sociais vão construindo nadiscussão dos seus órgãos de direcção, ouatravés da participação em debates institu-cionais” é uma tentação para os quepretendem levar os portugueses a decidir,

Henrique Borges (Direcção do SPN e Secretariado Nacional da FENPROF)

Euromanifestaçãode 19 de Março em Bruxelas

E

JORNAL DA FENPROF 27ABRIL 2005

sem terem consciência das implicações dasua decisão. Não só não é sério, como podevir a constituir um “erro histórico”, comoalertou a CGTP-IN em Novembro de 2004.

Confesso que tenho, mas não li, as 349páginas do “tratado que estabelece umaConstituição para a Europa”, completadaspor mais 503 páginas de anexos, protocolose declarações. São mais de 800 páginas!Confesso também que não acredito queZinedine Zidane, uma das vedetas do mundodo futebol contratada pelo primeiro-ministro de Espanha, J.L. Zapatero, para

A proposta de directiva comunitária,apresentada pela Comissão Europeia,sobre a criação de um mercado internode serviços (Directiva Bolkenstein, porter sido da iniciativa do antigo comissárioholandês Fritz Bolkenstein) é um dosmais graves atentados aos serviçospúblicos dos países da UE, bem comoaos direitos sociais da maioria dos seustrabalhadores.

Merecedora, hoje, de grande contes-tação por parte dos trabalhadores detoda a União Europeia, da generalidadedas organizações sindicais e de umgrande número de organizações emovimentos sociais, esta directiva, a seraprovada, traduzir-se-ia na ampliaçãodas privatizações a um maior número deáreas, serviços e funções.

Segundo a mesma, os serviços emqualquer país da UE poderiam serprestados por empresas com sede noestrangeiro, regendo-se pelas regras decontratação e pelos normativos sociaisdo respectivo país de origem. Estanorma rapidamente promoveria o “dum-ping social” e nivelaria por baixo asnormas de protecção social dos traba-lhadores dentro do espaço comunitário.É de realçar que apesar dos grandesprejuízos que uma directiva deste tipoacarretaria para os trabalhadoresportugueses, o Estado Português é umdos que a apoia, ao contrário de outrospaíses como a França, a Alemanha oua Suécia.

Este processo liberalizador e priva-

tizador, a concretizar-se levará, comoconsequência, a uma grande degradaçãoda qualidade dos serviços, ao aumento doscustos e à redução do seu carácter uni-versal.

A privatização dos serviços públicostraduz-se sempre no agravamento dasassimetrias e injustiças sociais, leva àexclusão de vastos sectores da população

Directiva Bolkenstein

A liberalização dos serviços públicosnão serve os trabalhadores

e constitui, de facto, um grave retro-cesso civilizacional.

Do Governo português exige-seuma mudança de posição, juntando asua voz à dos países que recusam aDirectiva, aos sindicatos europeus e àgeneralidade dos trabalhadores.

MN

propagandear o “sim”, o tenha feito.Não li sequer, neste caso porque a ela

não tive acesso, a brochura simplificadoradistribuída pelo Serviço de Publicações dasComunidades Europeias, mas quem a leu dizque consegue a proeza de “delibera-damente” subtrair à atenção dos cidadãos,322 dos 448 artigos de todo o documento- os que compõem a sua terceira parte,como se de uma doença vergonhosa setratasse... Há quem afirme que esta propostade Constituição Europeia mais se parececom um “copiar-colar” dos Estatutos do

Fundo Monetário Internacional (FMI) e daCarta da Organização Mundial do Comércio(OMC), enfeitada com uma saudação a Bushno tocante ao “terrorismo” e outra aoVaticano no tocante à “religião”.

Não é a Europa que está em causa comaprovação ou não deste “tratado queestabelece uma Constituição para aEuropa”. O ministro dos Negócios Es-trangeiros de Portugal, Freitas do Amaral,considera que “haverá outras maneiras deprogredir”. O que está em causa é o modelode Europa.

Vinciane Convenes www.solidaire.org

28 JORNAL DA FENPROF ABRIL 2005

oi publicada, no passado dia 9 deMarço, a Portaria nº 246/2005 queaprova o regulamento do financia-mento público dos cursos profissio-nais ministrados em escolas privadas

que funcionem em regiões não abrangidaspelos fundos comunitários, ou seja, no casoconcreto, a região de Lisboa e Vale do Tejo,que desde 2003 deixou de beneficiardaqueles fundos. O novo modelo de financia-mento entrará em vigor já no próximo anolectivo (2005-2006) e aplicar-se-á, com asdevidas adaptações, aos ciclos de formaçãoiniciados em 2003 e 2004.

Será atribuído um subsídio de formaçãopor curso, por turma, a definir anualmente peloMinistério da Educação e os cursos serãohierarquizados, para efeitos de financiamento,de acordo com uma identificação de áreasprioritárias e estratégicas para o desen-volvimento sócio-económico do país. Porregulamentar ainda, em legislação específica,estão as normas de acesso ao financiamentopor parte das escolas, bem como as condições,as modalidades e os montantes dos paga-mentos a efectuar pelo Estado às escolas quevierem a usufruir deste financiamento.

A alteração ao modelo de financiamentoque estava a ser aplicado às escolasprofissionais da região de Lisboa e Vale doTejo desde 2003/2004, em regime deexperiência, é uma medida de sentidopositivo e que veio dar razão às denúncias ereivindicações da FENPROF. De facto, desdea sua entrada em vigor que denunciámos queeste era um modelo que não iria funcionar eque iria agravar ainda mais a precáriasituação financeira das escolas profissionais,uma vez que as bolsas eram concedidas aosalunos e não às escolas. Além disso, odinheiro das bolsas estava muito aquém dosvalores reais das formações ministradas pelasescolas, sendo manifestamente insuficientepara o normal e básico funcionamento destasinstituições, como pudemos comprovaratravés de um estudo da situação feito naaltura e que, oportunamente, denunciámosjunto do Ministério da Educação. Resta agorasaber se os critérios e os montantes dofinanciamento do novo modelo irão respeitaros valores reais dos cursos profissionais e se

não colocarão em causa, uma vez mais, odesenvolvimento dos projectos educativosdas escolas e, mesmo, o seu funcionamento.

Por outro lado, não podemos esquecerque esta é uma medida que irá abranger, noimediato, apenas uma pequena parte dasescolas profissionais do nosso país, sendo porisso, uma medida parcelar e ainda insufi-ciente. As outras escolas (a maioria)continuam a ser financiadas através dosfundos comunitários, com um regime dereembolsos que não lhes permite fazer faceaos inúmeros compromissos que têm comformadores, alunos e fornecedores, uma vezque as escolas são reembolsadas muitosmeses depois das despesas efectuadas. Esteé um regime que está objectivamente a“estrangular” e a destruir estas escolas. É,por isso, cada vez mais necessário e urgentea tomada de medidas para alterar e agilizara aplicação dos fundos comunitários a estasescolas. Só assim, as medidas que irão seraplicadas às escolas da região de Lisboa eVale do Tejo, terão verdadeiramente sentido.

Só assim será possível implementar uma“estratégia correctiva” e reforçar a apostano ensino profissional, como diz pretenderfazer o Ministério da Educação. Também, sódessa forma, será possível criar as condiçõespara que os professores e formadores dasescolas profissionais tenham acesso a umacarreira digna e valorizada e a um contratode trabalho específico.

A verdadeira aposta no desenvolvimentoe valorização do ensino profissional passa,contudo, é fundamental não o esquecermos,pela crescente oferta pública de cursosprofissionais. Mais uma vez reafirmamos queo Estado e o Ministério da Educação não sepodem demitir das suas responsabilidadesnesta matéria, devendo assumir, de formainequívoca, a importância da formaçãoprofissional inicial para o desenvolvimentodo país, criando todas as condições efectivas,em termos financeiros, humanos e materiais,para que os cursos profissionais possam sergeneralizados, com qualidade e sucesso, nasescolas públicas.

Anabela Sotaia (Direcção do SPRCe Secretariado Nacional da FENPROF)

Novas regras de financiamentopara as escolas profissionaisde Lisboa e Vale do Tejo

ENSINO PROFISSIONAL

F Discussão pública de novalegislação para o ensinoprofissional nos Açores

O Ensino Profissional é uma reali-dade em crescendo na Região Autó-noma dos Açores. A comprovar estefacto estão as matrículas de cerca de2000 alunos nos 16 estabelecimentosde ensino/formação profissional exis-tentes no Arquipélago. Esta moda-lidade de ensino é tutelada e gerida pordiferentes organizações, nomeada-mente autarquias, instituições particu-lares de solidariedade social, organi-zações sindicais e patronais, cujaactividade é apoiada pela UniãoEuropeia, no quadro do Fundo SocialEuropeu e pelo Governo Regional.Apenas uma das escolas de EnsinoProfissional integra a rede pública deestabelecimentos de ensino.

Este segmento de ensino é regula-do pelo Decreto Lei nº 4/98 com asadaptações regionais introduzidas peloDecreto Legislativo Regional nº 30/2000/A de 11 de Agosto. Segundo a Tu-tela, Secretaria Regional da Educaçãoe Ciência, torna-se necessário reveresta legislação adequando-a ao pro-jecto de implementação de um sistemaeducativo regional! Sistema este quetem sido alvo de criticas pelo Sindicatode Professores da Região Açores.Assim, e para que a Região possualegislação específica relativa ao EnsinoProfissional, a SREC colocou emdiscussão pública uma proposta deDLR (documento de trabalho, versão1)que irá regular o regime de criação,organização e funcionamento deescolas profissionais na região Açores.

O SPRA oportunamente emitirá oseu parecer relativo à legislação emcausa acompanhando, com todo aatenção, as futuras intervençõeslegislativas que a Tutela propõe paraesta área de ensino.

Fernando Vicente

(Direcção do SPRA)

JORNAL DA FENPROF 29ABRIL 2005

A Conferência teve por objec-tivos discutir e aprovar reco-mendações para o trabalho daFENPROF no Ensino Superiore na Investigação, bem comopara o trabalho conjunto comos outros sectores de ensinono âmbito da Federação.

A Conferência abor-dou a situação na-cional e internacio-nal do Ensino Supe-rior e da Investigaçãosob o pano de fundoda “Estratégia deLisboa” e do “Pro-cesso de Bolonha”. A

Conferência visou ainda aperfeiçoar ereforçar o Departamento do Ensino Supe-rior, de modo a que este venha a estar nasmelhores condições para afirmar o sectorna sociedade e entre os colegas.

A fase de preparação da Conferência foibastante rica. Foram efectuadas váriasreuniões com sindicalizados e, pela primeiravez, foram realizadas 3 Audições a colegasdestacados, para o efeito convidados, querdo Ensino Superior Público (universitário epolitécnico), quer do Ensino Superior Par-ticular e Cooperativo (ESPC). As audiçõesabordaram questões relativas ao futuro doSistema do Ensino Superior, em particular,a autonomia e gestão, o financiamento, oacesso e o sucesso no Ensino Superior, oEnsino ao Longo da Vida, novos públicos, ainvestigação e a situação no ESPC. Váriasdas intervenções realizadas no âmbitodestas audições foram já publicadas nosuplemento ao JF destinado ao Ensino Su-perior. Foi ainda concretizado um Colóquiosobre o Processo de Bolonha.

A Conferência teve a participação decerca de uma centena de delegados, amaioria dos quais eleitos directamente pelos

associados do sector. O objectivo foiconseguir uma assembleia representativa.No entanto, a Conferência teve a parti-cipação de quem se quis inscrever, sindica-lizado ou não. Houve espaço para aapresentação de comunicações individuais,bem como para o debate e para a votaçãodos documentos de trabalho apresentadosà Conferência.

No primeiro dia da Conferência houvedois painéis: Um, reunindo alguns dos maisdestacados sócios do Ensino Superior daFENPROF, que abordou a problemáticanacional do ensino superior e da inves-tigação, em particular, no que se refere àaplicação do Processo de Bolonha, e, outro,sobre a situação sindical a nível inter-nacional, que teve a participação derepresentantes do SNESup de França, daFECCOO de Espanha e da DM da Dinamarca.

O segundo dia foi especialmentededicado ao debate de questões de organi-zação, tendo sido eleito um Conselho deDepartamento destinado a debater e aacompanhar a actividade reivindicativa daFENPROF, para o Ensino Superior e aInvestigação, e as políticas de ensino e deinvestigação. Foi ainda aprovada a consti-tuição de 6 grupos de trabalho para apoio

ENSINO SUPERIOR

O que se destacou da Conferência Nacionaldo Ensino Superior e da Investigação?

da reflexão e da acção do Departamento,que passou a ser designado por Departa-mento do Ensino Superior e da Investigação.

O Departamento saiu, deste modo,reforçado pela aprovação de documentosorientadores para a sua acção e peloalargamento do número de sindicalizados quepassam a participar na sua estrutura (Conselhode Departamento, Comissão Coordenadora eGrupos de Trabalho), responsabilizados paratal pela confiança que os associados que oselegeram neles depositaram.

Esta Conferência apetrechou melhoro Departamento para as actuais neces-sidades de intervenção no âmbito dasituação profissional dos docentes e dosinvestigadores, domínio em que foiaprovada uma”carta reivindicativa e umconjunto de princípios a observar noexercício das profissões de docente e deinvestigador, e no âmbito das mudançasnecessárias para o aumento da rele-vância social, da qualidade, da eficáciae eficiência do Sistema de Ensino Supe-rior e de Investigação do país, que fo-ram objecto de uma resolução e dodocumento sobre o Futuro do Ensino Su-perior e da Investigação aprovados pelaConferência.

João Cunha Serra (Direcção do SPGL e Secretariado Nacional da FENPROF)

30 JORNAL DA FENPROF ABRIL 2005

O prolongamento da esco-laridade obrigatória para 12anos é uma reivindicação queos sindicatos de professoresagrupados na FENPROF já vêmdefendendo há cerca de 10anos. As medidas dos doisúltimos governos do PSD e oseu diploma de Lei de Basesda Educação que o Presidenteda República vetou, tambémapontavam para esse objecti-vo, mas no quadro de umaclara elitização do 3.º ciclo doEnsino Básico (com exames no9.º ano) e do próprio EnsinoSecundário, que levaria a quenão passassem de medidastomadas no papel.

anúncio da inserção no programa doXVII Governo de José Sócrates deuma medida tendente a levar àfrequência da Escola todos osjovens até aos 18 anos, coloca a

questão de novo em toda a sua actualidade,mas exige que caracterizemos a actualsituação do Ensino Secundário e do finaldo Ensino Básico, que a Lei de Bases doSistema Educativo, de 1986, prolongou para9 anos.

O nosso actual Ensino Secundário éfrequentado por cerca de 385 mil alunos(1999/2000) e registou, relativamente aosvalores de 1970/71 (cerca de 25 mil alunosinscritos nos anos correspondentes ao nosso

actual Ensino Secundário), um acréscimo defrequência traduzido numa multiplicaçãopor 15 vezes mais. Contudo, a sua taxa defrequência é, actualmente (2001), de 65 emcada 100 dos jovens na respectiva faixaetária, e ainda é cerca de 20 pontos abaixoda média dos países da União Europeia. Istosignifica que, não obstante o esforço feitonos últimos 30 anos, ainda é necessárioaumentar significativamente essa fre-quência.

Contudo, para além de uma baixa taxade frequência , há igualmente uma distor-ção na procura dos cursos oferecidos poreste segmento de ensino, já que cerca de70% dos alunos se encontram matriculadosnos cursos gerais, aqueles que têm comoúnica saída o prosseguimento de estudos,

sendo que as restantes opções – cursostecnológicos, ensino artístico, ensinoprofissional – têm uma procura muito maisreduzida. Ou seja, o Ensino Secundário estáa funcionar quase exclusivamente comopreparação para o ingresso no Ensino Su-perior, não atraindo os jovens para saídasprofissionalizantes de qualificação inter-média, como seria desejável.

Saída precoce da Escola

A acrescentar a estes dois factorestemos ainda uma elevada taxa de aban-dono e de insucesso escolar que ultrapassaos 50% e que apresenta valores maiselevados nos próprios cursos tecnológicos,considerados uma segunda escolha pela

DEPOIMENTO

O nosso actual Ensino Secundárioe o prolongamento da escolaridadeobrigatória para 12 anos

Rolando Silva (Direcção do SPGL e Secretariado Nacional da FENPROF)

ORolando Silva intervindo na Conferência Nacional do Ensino Superior e da Investigação

JORNAL DA FENPROF 31ABRIL 2005

grande maioria dos alunos, bem como oensino profissional.

Não obstante uma melhoria significativaentre 1991 e 2001, a consequência destasituação é uma taxa de saída precoce daEscola dos jovens entre os 18 e os 24 anos,que registava um valor, em 2001, de 45%dos jovens dessa faixa etária que não tinhamconcluído o Ensino Secundário, nem seencontravam já matriculados em qualquerestabelecimento de ensino, valores que estãoincomensuravelmente distantes dos 19% dataxa média da União Europeia (dos 15).

Contudo, se compararmos estes valorescom os da taxa de saída antecipada dosjovens na mesma faixa etária, em relaçãoao Ensino Básico, verificamos que oproblema começa logo no 3.º ciclo do EnsinoBásico, onde cerca de 25% dos jovens nãoconcluía, em 2001, o 9.º ano e já tinhadesistido da escola, o que na realidadesignifica o não cumprimento ainda dos 9anos de escolaridade obrigatória, tendocomo causa principal o insucesso e oabandono escolares. Não obstante, tambémaqui, uma nítida melhoria em relação aosvalores de 1991 (54%), verifica-se que oproblema tem raízes mais fundas quepassam por situações sociais de bastante

complexidade e em que a principal, segundoos mais recentes dados da UNICEF, pareceser a pobreza , que afecta cerca de 15% dasnossas crianças.

Todos estes dados implicam que sejanecessário tomar medidas para resolverestes problemas de frequência e de sucessoescolar das nossas crianças e jovens (e oconsequente combate ao abandono esco-lar), não só ao nível do sistema educativomas, também, com medidas sociais decombate à pobreza e ao desemprego amontante e durante a frequência escolardas crianças e dos jovens, pelo menos atéaos 18 anos.

Medidas que exigemcoragem política

Em relação ao nosso actual EnsinoSecundário, prolongar a escolaridade para12 anos de frequência obrigatória implica,assim, medidas que exigem coragempolítica, nomeadamente:

• a manutenção de um tronco comumde escolaridade básica até ao 9.º ano ,acompanhada de medidas de carácter so-cial e de apoio às famílias , como formade combater o abandono escolar e a saída

precoce da escola para o mundo dotrabalho;

• dar igual dignidade às várias opçõesdo Ensino Secundário , ao contrário dasactuais primeira, segunda e terceiraescolhas que hoje se verifica entre os cursosde prosseguimento de estudos e os cursostecnológicos e profissionais;

• reequilibrar a oferta dos cursos eorientar o Ensino Secundário para aqualificação de quadros intermédios, ouseja, colocar o objectivo da preparação parao mercado de trabalho em igualdade com oque hoje predomina, o da preparação parao Ensino Superior;

• analisar e reajustar as reformascurriculares ultimamente empreendidasaos dois objectivos anteriormente enun-ciados e optar por uma banda larga deformação , no que diz respeito aos cursostecnológicos;

• equipar as escolas e formar osdocentes necessários para levar a cabo umaverdadeira reforma do Ensino Secundário ,dado o evidente desequilíbrio existente (anível da área tecnológica) entre o equipa-mento instalado e a formação dos docentes,por um lado, e a vertente humanística ecientífica pura, pelo outro.

“O SPRC e os professores da regiãocentro continuarão a afirmar o seu sin-dicato como um pilar na defesa dosdireitos sócio-profissionais dos do-centes, na defesa de uma escolademocrática da mais alta qualidade euma força imprescindível para o desen-volvimento da democracia”, afirmouPaulo Sucena, na sessão de abertura do7º Congresso dos Professores do Centro.

O secretário-geral da FENPROF deixouem Aveiro uma vibrante saudação ao SPRCe a todos os educadores e professores daregião centro pela “determinação e comba-tividade” manifestadas ao longo “destaexaltante jornada de luta comum”.

O Secretário Geral reafirmou o empenha-mento dos educadores e professores naexigência das mudanças urgentes em defesada escola pública de qualidade, da esta-bilidade profissional e da dignidade pro-fissional, destacando as propostas objectivasque o Secretariado Nacional da FENPROFapresentou aos titulares da Educação e doEnsino Superior, Inovação e Ciência.

O VII Congresso dos Professores do

Paulo Sucena na sessão de abertura:

“O SPRC é uma força imprescindível”Centro aprovou três resoluções sobre ostemas de estudo (“necessidade de refor-çarmos a unidade dos professores”, “aorganização sindical” e “a acção sindical,decisiva para as mudanças que fazem faltaao País”) e uma resolução para a acçãoreivindicativa imediata que reclama:

— A revisão do Código de Trabalho;— O fim dos processos de privatização,

directa e indirecta dos serviços públicos;— A aprovação de medidas concretas

para uma reforma democrática da adminis-tração pública;

— A revogação da legislação, aprovadapela maioria de direita que governou o país,relativa à avaliação do desempenho;

— A revogação da legislação sobrecontratos individuais de trabalho e a vincu-lação dos trabalhadores da administraçãopública;

— A revogação da Lei relativa à alteraçãoàs regras para a aposentação dos trabalha-dores da administração pública.

O VII Congresso considerou preocu-pantes algumas opções do governo, expres-sas no seu programa, nomeadamente no que

se refere à “idade de reforma”, ao nivela-mento, pelo tratamento menos favorável,dos regimes da Segurança Social e CaixaGeral de Aposentações, ao restabe-lecimento de “prémios de honra e pecu-niários ao mérito e à excelência”, àmobilidade (...) e flexibilização dascondições de trabalho (...) através do re-gime de tempo parcial” e às “promoçõesextraordinárias por mérito”.

A Direcção do SPRC vai acompanharcrítica e atentamente estas matérias e nãohesitará em mobilizar os professores para asacções que tenham por objectivo contrariarquaisquer tentativas do governo legislar nestesentido.

7º Congresso dos Professores do Centro

32 JORNAL DA FENPROF ABRIL 2005

INTERNACIONAL

A FENPROF e a Federación deEnseñanza de las ComissionesObreras (FE CC.OO.), as duas maisimportantes e representativasorganizações sindicais de do-centes de Portugal e Espanha,reuniram-se em Madrid nos dias31 de Março e 1 de Abril. Nestareunião participaram, pelaFENPROF, o seu Secretário-Geral,Paulo Sucena, e os membros doSecretariado Nacional e Coorde-nadores dos SPN e SPRC, res-pectivamente, Abel Macedo eMário Nogueira.

s principais assuntos debatidos noencontro foram as condições detrabalho nas escolas, as carreirasdos docentes e a relação entreescola pública e escola privada.

Questões como a situação do pessoal nãodocente ou a formação de professores fo-ram aspectos também abordados numareunião que permitiu a cada delegação ummelhor conhecimento da realidade edu-cativa do país vizinho.

Os professores espanhóis, que actual-mente se envolvem num profundo debatesobre o futuro do ensino e da educação noseu país, pretendem, e essa é uma reivin-dicação assumida pela FE CC.OO., vernegociado e aprovado um estatuto dacarreira docente, considerando um bomexemplo e excelente ponto de partida paraa negociação o ECD dos professores eeducadores portugueses. Em Espanha,contudo, há dificuldades acrescidas quedecorrem da própria realidade nacional,complexa, com fortes autonomias assu-midas em cada região e que tornam difícil

qualquer uniformização consagrada por umquadro legal global.

No que concerne às questões salariais,confirmou-se, contrariamente ao quemuitas vezes é divulgado em Portugal porgovernantes e comunicação social, que osprofessores portugueses não são mais bempagos do que os seus vizinhos.

No início de carreira os docentesespanhóis usufruem de um salário muitosuperior aos portugueses, a meio da carreiraa vantagem mantém-se e no final, emborao vencimento ilíquido seja equivalente, acarga fiscal e os descontos sociais são muitomenores em Espanha o que permite umadiferença líquida superior a 300 euros.

No que respeita à carga fiscal, aos24,5% portugueses de IRS correspondemapenas 20% em Espanha. Quanto aosdescontos para a aposentação e assistênciamédica, aos mais de 300 euros de deduçãoem Portugal (situação de topo da carreira)correspondem 113 euros em Espanha...

Problema que preocupa muito os nossosvizinhos espanhóis é o grande peso do sec-tor privado. Naquele país a relação público-privado é de equivalência, situação queresulta da forte presença e poder da IgrejaCatólica. A excepção vai para o ensino su-

FENPROF e FE CC.OO. em defesados direitos dos docentes e da escola pública

Reunião em Madrid

O

perior onde o público é bastante maisrepresentativo. Portugal, apesar dos fortesataques à escola pública, consegue manteruma situação bem diferente com a próprialegislação vigente a considerar o ensinoprivado como supletivo. Por essa razão,apesar dos fortes apoios que têm bene-ficiado o privado, este queda-se pelos 10%das respostas educativas, o que prova quea luta em defesa da escola pública, no nossopaís, não tem sido em vão.

Na reunião foram ainda consideradasalgumas estratégias de intervenção sindicalcomum, designadamente a nível interna-cional (e particularmente no espaço comumeuropeu) tendo também sido consideradasalgumas linhas para a intervenção das duasorganizações no Fórum Social Ibérico.

A próxima reunião entre a FENPROF e aFE CC.OO. terá lugar no nosso país, aindaeste ano, em data a marcar. Nessa reunião,o debate centrar-se-á nas condições detrabalho e problemas mais complexos quese apresentam aos docentes e às escolas dasregiões fronteiriças de ambos os países.

Mário Nogueira Membro do Secretariado Nacional

da FENPROF

Delegação sindicaldos Professoresda Sérvia em Portugal

A convite da FENPROF, deslo-cou-se ao nosso País umadelegação da organizaçãosindical dos Professores daSérvia Montenegro, dirigidapelo seu Presidente, BranislavPavlovic, e integrando tambémZorica Kitanovic, do ComitéExecutivo e Ivan Pavicevic,

secretário do Departamento Internacional Confederal. A delegação teve encontrosem Lisboa no dia 6 de Abril com dirigentes da FENPROF (Paulo Sucena, AbelMacedo, Mário Nogueira, José Filipe Estevéns, Helena Gonçalves, Manuel Griloe Francisco Almeida) e da CGTP-IN (Manuel Carvalho da Silva e Graciete Cruz) eparticipou em diversas visitas nas regiões centro e norte.

JORNAL DA FENPROF 33ABRIL 2005

assembleia anual da FederaçãoEuropeia de Jornalistas (FEJ),reunida em Bilbau nos passadosdias 3 e 4 de Abril, aprovou porunanimidade uma moção apresen-

tada pelo Sindicato dos Jornalistas (SJ) sobreo direito à informação, o pluralismo dosmédia e os direitos dos jornalistas.

A FEJ partilha as preocupações doSindicato dos Jornalistas (SJ) quanto ànecessidade de acautelar a nível europeu adefesa do pluralismo dos média, com-batendo a crescente tendência de con-centração que se regista no sector.

Nesse sentido, aprovou a moção do SJapelando ao empenhamento dos sindicatose outras organizações de jornalistas dospaíses membros do Conselho da Europa parapressionarem os respectivos governos nosentido “de adoptarem a Declaração deÉtica do Jornalismo (Resolução 1003 de1993) e promoverem a integração dos seusprincípios básicos nas legislações nacionais”.

A moção apela, também, “à ComissãoEuropeia que elabore uma directiva sobreconcentração dos média que garanta umquadro pluralista dos média na Europa”.

Campanha em defesado audiovisual público

Os cerca de 60 participantes na assem-bleia anual da FEJ, em representação de 32sindicatos, entre os quais o português, eorganizações de jornalistas de 25 países,aprovaram igualmente, por unanimidade,uma forte posição em defesa do serviçopúblico de Rádio e Televisão na Europa.

Tendo em consideração que o serviçopúblico audiovisual continua a enfrentaruma crise cada vez mais grave em toda aEuropa, como se comprova pelas situaçõesregistadas no Reino Unido - 3000 postosde trabalho estão ameaçados na BBC -,

França, Espanha, Portugal, Dinamarca, Itáliae Alemanha, foi decidido criar um grupo detrabalho que intensifique e reforce acampanha em defesa do serviço público deRádio e Televisão.

Esta medida constitui uma orientaçãoestratégica da FEJ, que se propõe levar acabo em 2005 uma intensa campanha con-tra os ataques ao serviço público audiovi-sual perpetrados pelas empresas de médiaprivados e para assegurar que os valores doserviço público voltarão a ter o seu lugarno centro da política em matéria deradiodifusão.

A assembleia da FEJ adoptou, ainda, umdocumento orientador para a acção dossindicatos de jornalistas europeus, deno-minado “Uma Agenda para a Mudança”, queabrange aspectos como os direitos e acontratação colectiva, as estratégiaseconómicas e o respeito pela diversidadecultural, os valores do serviço público e aqualidade do jornalismo para uma NovaEuropa.

Anabela Fino, da Direcção do SJ, em Bilbauwww.jornalistas.online.pt

4/04/2005

Um forte apelo ao reforçodo pluralismo e do direitoà informação

Federação Europeia de Jornalistasaprova Moção em Bilbau

A

Fórum Social Mundial

A construçãoda utopia

O Comité Internacional do Fó-rum Mundial de Educação reuniu a25 e 29 de Janeiro, em Porto Alegre(Brasil), no sentido de perspectivaro futuro em termos de metas emetodologias face ao próximoFórum Mundial em 2007, a realizarem África. Foi decidido acompanharo evento e editar um boletim electró-nico que aproxime as organizaçõesparticipantes, que a FENPROF,naturalmente, integra.

Em Porto Alegre, cerca de 155.000de entre os que acreditam num “outromundo possível” marcaram presença,reafirmando a vontade na construçãode uma plataforma mundial de luta(s)pela sustentabilidade política, social eeconómica do planeta. Do comérciojusto, a sessões sobre o ambiente,cidadania, educação e tantos outros,os cerca de 2.000 debates reuniramparticipantes de 135 países que emtendas sob um calor tórrido, ouviramoradores e especialistas de todo omundo, participando em seguida nosdebates.

Ratificámos a adesão à Carta dePrincípios do FSM e foi decidido ofortalecimento em 2005 e 2006, de“fora” locais e regionais, continentaise outros, que permitam que aPlataforma Mundial pela Educaçãoavance na luta mundial por “outraeducação possível”.

O debate sobre “Educação e omilénio” que moderámos, tendocomo oradores o Presidente daI.E. (Internacional de Educação) ea Presidente do Sindicato deTrabalhadores de Educação doBrasil (CNTE), abriu discussão en-tre os participantes de Espanha,Alemanha, Itália, Argentina, Chilee Colômbia, entre outros, além decolegas e estudantes brasileiros,dando uma panorâmica das lutasrespectivas pelo direito universala uma educação emancipatória.

Este Fórum Social Mundial foi,uma vez mais, pauta do hinoconjunto da humanidade, naconstrução de utopia(s).

Ana Gaspar

(Membro da Direcção do SPGL)

34 JORNAL DA FENPROF ABRIL 2005

Datas:13 de Maio de 2005 - 1ª turma3 de Junho de 2005 - 2ª turma

Resumo da acção:Conhecer locais ligados a MiguelTorga e à sua obra. Nesses locaise durante o percurso que a elesconduz, serão salientadascaracterísticas nomeadamenteda sua poesia, dos contos, daautobiografia romanceada, dodiário e de algumas cartas deAutor.

Responsável pelo apoiocientífico: Assunção MoraisMonteiro, professora catedráticada Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD).

Local de encontro para o inícioda viagem:Complexo pedagógico da UTADna Quinta de Prados, em Vila Realàs 9.30h

INICIATIVA

A FENPROF assegura transporte,de ida e volta, em autocarro apartir dos seguintes locais:

Coimbra - Praça da República - 7.00h

Porto - Praça Francisco SáCarneiro (ex Praça Velasques,junto ao Café Velasques) - 8.15h

Regresso a Vila Real:Cerca das 18h.

Trajecto: Vila Real – Mateus – S.Martinho de Anta – arredores – S.Leonardo de Galafura – Vila Real.

Almoço: Em S. Martinho de Antano restaurante onde Miguel Torgafazia as suas refeições.

Destinatários: Professores equaisquer outras pessoasinteressadas na obra de MiguelTorga, incluindo alunos.

Revisitar a obra de Miguel Torgae conhecer locais importantes da vida do escritor

34 JORNAL DA FENPROF ABRIL 2005

JORNAL DA FENPROF 35ABRIL 2005

António Fernando G. CorreiaPinto

Sócio do SPN n.º 6688

Exm.º SenhorDr. Paulo SucenaDirector do Jornal da FENPROF

Apesar de ser um leitor de sempre eem regra atento do Jornal da FENPROF,só no passado Sábado, depois de alertadopor alguns colegas com quem partilheialguns momentos de convívio, tivecuriosidade para procurar e ler na ediçãode Fevereiro/Março do Jornal da FENPROF,a crónica publicada pelo colega MárioDavid Soares, com o título“O Senhor Lino Ferreira”.

Confesso, que depois de ter ouvido oscomentários que os referidos amigosfizeram, tinha a minha curiosidadeaguçada, por várias razões: tinha, aindatenho e espero continuar a ter, umaopinião muito positiva sobre a pessoa esobre o dirigente sindical que foi e é ocolega Mário David Soares; tinha, aindatenho e estou certo de que vou continuara ter uma opinião globalmente positivasobre o percurso profissional do Dr. LinoFerreira.

Confesso, que depois de ter lido acrónica, fiquei sem perceber nada do quese estava a passar e, de duas uma, outenho andado distraído e estamos peranteuma crónica em dois episódios e este é osegundo e eu não li o primeiro, ou é oprimeiro e está para vir o próximo queirá ajudar a clarificar as dúvidas que eu,e pelos vistos muitos outros amigos comquem tenho falado, temos.

Não percebi e francamente não gosteido tom, impróprio do seu autor do seupercurso e da instituição que representae inadequado para o seu destinatário,nem percebi o conteúdo porque de facto,ele não existe para além da manifesta,permanente e insultuosa insinuação.

Não conheço completamente opercurso profissional do Dr. Lino Ferreira.No entanto, se alguma vez tivesse queridofalar do assunto de forma responsável eem público, teria certamente aprofun-dado o meu conhecimento.

Dessa forma, no mínimo, teria sabidoque o Dr. Lino Ferreira ainda antes de ter

iniciado funções técnicas nas construçõesescolares, desempenhou funções docentes,foi Presidente do Conselho Directivo de umaescola pública do distrito do Porto e adjuntodo Senhor Governador do território deMacau, entre outras funções, todas elas,obviamente e no mínimo, tão dignas comoas de dirigente sindical.

Por último, na minha qualidade de sóciodo sindicato, não posso deixar de memanifestar inconformado com a únicajustificação que se apresenta na crónica:pelos visto o Dr. Lino Ferreira meteu-se como Sindicato do colega Mário David Soares!

Ora, tendo em conta que o Sindicato docolega Mário David Soares é – também – osindicato onde me encontro inscrito comosócio desde a sua constituição, e, por isso,se é dele também é meu, entendo que meassiste a mim o direito de conhecer os factosque levaram à referida afirmação e ao autoro dever de clarificar de forma inequívocaos factos que justificaram a sua reacçãotraduzida nos termos da crónica.

De outra forma e mais uma vez, de duasuma: ou essa clarificação acontece e mesmonão concordando com o tom e com oconteúdo, pelo menos ficarei a compreendê--los, ou então, estaremos perante umasituação que, embora lamentável, tem paramim a compreensão que é devida àscrianças e aos jovens em algumas situaçõesde conflito, em que, quando questionadossobre as razões que justificaram uma suadeterminada atitude agressiva, se limitama responder que os outros os estavam agozar, mas nunca sendo capazes de explicaros factos concretos, porque eles simples-mente e em regra, não existem.

E já agora, se também como é certa-mente meu direito como membro dessagrande organização de profissionaisdocentes que é a FENPROF, me for permitidoser, ainda que por uma só vez, tambémcronista na tal JANELA ABERTA, gostaria deo fazer com a presente mensagem.

Fico a aguardar com grande expectativaa vossa mais do que certa anuência a estemeu pedido, e também os esclarecimentos domeu caro colega e amigo Mário David Soares.

Como disse, quero continuar a mantera sua imagem positiva.

Um abraço amigo e educativo do,Correia Pinto

CARTAS AO DIRECTOR

“O Senhor Lino Ferreira”

Preços:Especial para Sócios - 30 Euros(inclui almoço e transporte)

Para Não Sócios - 75 Euros

Para quem opte por se deslocarna véspera, a organização sugerealojamentos em:

Hotel Solar dos Canavarros –redução 50% (acordo FENPROF)Telef: 259930240

Hotel Miracorgo – Vila RealTelef: 259 325 001

Hotel Quality Inn – SabrosaTelef: 259 930 240

Quinta do Passo – Vila Real –Telef: 259 340 790

Inscrições:até ao dia 5 de Maio para:Centro de Formação do Sindicatodos Professores da Região CentroRua Lourenço Almeida deAzevedo, 21 - 3000-250 Coimbra

ABRIL 2005

36 JORNAL DA FENPROF ABRIL 2005

CARTAS AO DIRECTOR

meu amigo Correia Pinto entendeureagir à crónica do mês passadointitulada “O Senhor Lino Ferreira”.Com sinceridade lhe agradeço areacção porque ela prova duas

coisas para mim importantes, a saber:a) há quem leia e esteja atento ao que

eu escrevo;b) a crónica conseguiu atingir o

objectivo pretendido.Conheço o Correia Pinto há muitos anos

para saber que reagiu com sinceridade. Enão fosse a circunstância de me terinterpelado directamente eu não res-ponderia à sua carta. Não por descortesia,mas porque não gosto de ter a últimapalavra “inteligente” como no caso dosesclarecimentos que sempre acompanhamos protestos dos que se sentem ofendidospelos jornais e para lá escrevem.

Vamos então ao essencial. O senhor LinoFerreira é director regional do Norte. Praticaactos de gestão de acordo com o poderpolítico. O senhor Lino Ferreira tem, pois,responsabilidades políticas e, nessascircunstâncias, está sujeito à crítica política.Que pode ser politicamente correcta oupoliticamente incorrecta. A minha foipropositadamente politicamente incorrecta.Porque estou farto dos agentes tecno-cráticos que, escondidos atrás da tecno-cracia, se fartam de fazer política de acordocom os detentores do poder. E sempre dizemdepois “não fui eu, não fui eu...”

Ora eu pensava que todos os que seinteressam pela educação e vivem no Nortetêm seguido o que diz e faz o senhor LinoFerreira, mas como o meu colega e amigoCorreia Pinto não esteve muito atento aoque o seu e meu Sindicato disse e fez apropósito do que disse e fez o senhor LinoFerreira, eu lembro-lhe três factos:

a) aquando da constituição dos agru-pamentos de escolas, o senhor Lino Ferreira,mais papista que o papa (sendo que o “papa”fazia o discurso de que respeitaria a vontadedas escolas), entendeu que deveria imporàs escolas os agrupamentos que ele tinhafeito sozinho(?) no seu gabinete. O seu emeu Sindicato exigiu publicamente ademissão do senhor Lino Ferreira. Em maisde 20 anos de existência, foi a primeira vezque o SPN exigiu a demissão de um direc-

tor regional de educação. Na Conferênciade Imprensa realizada a 18 de Julho de2003, o SPN denunciou o comportamentodo director regional durante este processo,a “prepotência e desprezo pelas comu-nidades educativas”, o “desrespeito pela lei”e o “recurso à intimidação, ameaça einsulto” a professores, pais e autarcas,nomeadamente a membros de órgãos degestão das escolas que levantavam dúvidasou apenas ousavam lembrar ao DirectorRegional de Educação do Norte que, nestepaís, há leis que têm que ser cumpridas.Destas ameaças e insultos fez eco acomunicação social, em particular o jornalPúblico (Caderno Local do Minho, 17/7/2003). Durante todo este processo, o senhorLino Ferreira referiu-se publicamente, pordiversas vezes, ao SPN, criticando osprofessores que recorriam ou participavamem iniciativas promovidas pelo sindicato;

b) Mais recentemente, a propósito dadenúncia feita por vários professores daEscola EB 2/3 Leonardo Coimbra relativa-mente a agressões de alunos e indisciplinanas aulas, o SPN exigiu publicamente que aDREN tomasse medidas para garantir asegurança dos docentes. Mais uma vez, oDirector Regional criticou o sindicato pelofacto de se ter manifestado, lamentando“que as entidades que se pronunciaramtenham apenas realçado factos negativose por isso tenham prestado à escola e aosseus alunos um mau serviço”. (Jornal OComércio do Porto, 19/2/2005)

c) Finalmente, e ainda mais recente-mente, o senhor Lino Ferreira resolveuinterpretar a lei sindical que confere aosprofessores o direito a participarem emreuniões sindicais com prejuízo das activi-dades lectivas num máximo de 15 horaslectivas por ano e, através dessa excepcionalinterpretação, os professores podem agorareunir tantas quantas as vezes que quiseremfora das horas lectivas mais 15 horastambém fora das horas lectivas!!! O seu emeu Sindicato protestou energicamente efez sair um comunicado de imprensa de queo jornal “Público” se fez eco no dia 19 deFevereiro de 2005. Para acrescentar umanota séria sobre o que são 15 horas lectivaspor ano basta dizer que elas correspondema três dias - crédito que muitos professores

nem sequer utilizam (em parte ou natotalidade), não se compreendendo portantoque razões de força maior (do ponto de vistada legislação, do funcionamento dosserviços, do interesse dos alunos...) justi-ficam que se ponha agora em causa o direitode participação sindical, que é um direitofundamental de cidadania, exercido deforma pacífica ao longo de trinta anos dedemocracia.

Na minha crónica não quis estar commuitas explicações, pois interessava-memostrar que existem neste país muitossenhores linos ferreiras que julgam saberinterpretar a vontade do dono quando eleestá no poder ou quando dele se aproxima.E é assim que eu vejo este senhor LinoFerreira. O seu percurso profissional é comcerteza exemplar - o seu percurso políticotambém o é, mas, a meu ver, pelas pioresrazões. A sua honestidade não está, comonunca esteve, em causa - mas o seu modode actuar politicamente não abona muitoa seu favor. E quanto ao facto de o senhorLino Ferreira ter sido adjunto do “SenhorGovernador do território de Macau” tenhoa certeza de que o meu caro colega CorreiaPinto não se quis referir a nenhum hipo-tético lobby de Macau que alguns dizemexistir, mas de que eu desconheço aexistência.

Duas últimas notas: espero que oCorreia Pinto não entenda que chamaruma pessoa pelo seu nome, antecedidodo respeitoso nome de “senhor” seja ofensivo.Pertenço hoje a uma prestigiada instituiçãoeuropeia, em representação da CGTP-IN,onde todos são tratados de senhor e muitossão professores catedráticos, médicos derenome, engenheiros, etc.; espero tambémque o Correia Pinto não tivesse lido na minhacrónica o que eu nunca disse, penso oualguma escrevi - que a função de dirigentesindical é mais meritória do que qualqueroutra. O que eu não aceito é que alguémjulgue que o é menos.

Quanto ao mais receba um abraço desteque sempre o considerará, apesar dasdivergências que teve, tem ou poderá vir ater consigo.

Mário David Soares(Membro do SN da FENPROF)

Resposta a Correia Pinto

O

JORNAL DA FENPROF 37ABRIL 2005

JANELA ABERTAMário David Soares (Membro do Secretariado Nacional da FENPROF)

PAprendizagens

ABRIL 2005

ara quem, como eu, não temformação económica e tem que darresposta à contínua afirmação deque é necessário baixar os saláriospara aumentar a produtividade vale

a pena reflectir sobre alguns factos do diaa dia e que são verdadeiras aprendizagensque desmentem aquela teoria.

Se fosse verdade que os países comsalários mais baixos são os mais competitivosentão esses deveriamtambém ser os mais ricos.Ora a vida demonstra-nosque os países que têm ossalários mais baixos sãotambém os mais pobres.E o contrário também éverdadeiro. Dir-me-ãoque isto é demasiadosimplista e eu concordo,apesar de ninguém podercontestar o que eu aquiafirmo.

Mas vamos a umexemplo concreto, o talquotidiano que tantonos ajuda a reflectir.

Quando alguém visi-ta pela primeira vezBruxelas é obrigatóriolevá-lo à Grande Place,lugar mítico da capitalda Bélgica. Os edifíciosque a configuram pelo seu estilo flamejanteconferem-lhe um brilho a que ninguém éindiferente. Na Grande Place reúnem-setodas as línguas quer faça chuva, neve ousol. E esse emaranhado do falar também lheconfere uma beleza especial. Ora, numdesses dias de sol levei um amigo a beberuma cerveja (claro, a melhor cerveja domundo…) à Grande Place. O sol em Bruxelassignifica logo cadeiras nas esplanadas egente como lagartos a aquecer o sangue. Otempo escorre lentamente em conversaspreguiçosas e a cerveja também.

A esplanada do «Roi d’Espagne» assimestava. Como se de repente o tempo parasse,fez-se um silêncio entre nós. Sem querereu estava absorvido a ver o trabalho dosempregados que nos serviam. Era umaesplanada que poderia ter umas 30 pessoas

e os empregados eram 5. Impecavelmentevestidos com o seu grande avental e quenão faziam esperar os clientes. Quemchegasse era servido em pouco mais de 5minutos e ninguém questionava se iriaocupar a mesa por muito ou pouco tempo.Serviço rápido, eficiente, agradável.

Recomeçámos a conversa.Quando chegou a altura de pagar, cada

cerveja ficou-me por 3,20 euros. Quer dizer,o preço da cerveja tinha aver com o lugar, com oordenado dos empregadosque nos serviam e com olucro do dono da espla-nada. Sabendo que o orde-nado mínimo na Bélgica é,sensivelmente, 1.100 eurosnaturalmente que a cer-veja numa esplanada nãopoderia ter outro preço. Eassim, cada cerveja deixa-va em Bruxelas o necessá-rio para que todos ganhas-sem. E todos aqui não querdizer apenas os que aliestavam: quer dizer asociedade porque ganhan-do bem pode-se ir aocomércio que, para espan-to de quem não conhece acidade, fervilha de gente.Os meus 3,20 euros de

cada cerveja serviram também para enri-quecer a Bélgica. Aqueles trabalhadoresdaquela esplanada foram muito produtivos.Não trabalharam mais do que o desgraçadodo empregado da esplanada de um café daGranja onde, ao Sábado, costumo tomar aminha bica e que tem que servir sozinhotodos os clientes que por lá passam;ganharam muito mais do que o Victor quecada vez tem menos gorjetas desde que oeuro tornou tudo muito mais caro; mas fo-ram muito mais produtivos.

Por isso, caríssimos colegas, nãoacreditem mais na ideia que nos estão avender a todo o momento sobre a produ-tividade e os salários dos trabalhadores: aprodutividade tem a ver com tudo menoscom salários baixos. E para ver isto bastater os olhos abertos.

Quando chegou a alturade pagar, cada cervejaficou-me por 3,20 euros.Quer dizer, o preço dacerveja tinha a ver como lugar, com o ordenadodos empregados que nosserviam e com o lucro dodono da esplanada

A FENPROF vai realizar em Lisboano próximo dia 6 de Maio, um En-contro Nacional de Docentes dasIPSS’s com o seguinte lema: “Reforçaros direitos, valorizar a profissão”.

Apesar da Lei Quadro da EducaçãoPré-Escolar e respectivo decreto regula-mentar terem sido publicados em 1997e posteriormente ter sido assinado oAcordo de Cooperação entre o Governo,a União das IPSS’s e a União dasMisericórdias no âmbito do Programa deExpansão e Desenvolvimento da Educa-ção Pré-Escolar, ainda estamos longe dasua total aplicação.

O Encontro tem como principaisobjectivos lutar pelo efectivo cum-primento e aplicação da Lei Quadro esua regulamentação, o respeito pelaautonomia profissional dos docentesdas IPSS’s, o direito à formação, asresponsabilidades e direitos doseducadores como docentes e pelaequiparação à carreira dos docentesdo Ensino Particular e Cooperativo.

Dentro desta perspectiva, vamosrealizar duas sessões distintas, uma decarácter mais formativa e pedagógica,onde abordaremos, a organização efuncionamento do Jardim de Infância,componente educativa e sócio-educativae as competências do Director Pedagógico.Para a dinamização deste tema foiconvidada a Drª Luísa Homem, professorana Escola Superior de Educação de Lisboa.

A outra sessão destina-se princi-palmente à acção reivindicativa eorganização sindical e será da respon-sabilidade dos dirigentes dos sindi-catos da FENPROF:

As inscrições devem ser enviadaspara o respectivo Sindicato.

Encontro Nacionalde Docentes das IPSS’s

38 JORNAL DA FENPROF ABRIL 2005

Ciência ArquitecturaTeatro de Marionetas

3º Ciclo de Colóquios"Despertar paraa Ciência" 2005

Bienal Internacional de Marionetas de Évora Trabalhos de Siza Vieiraem Serralves

I Festival de Cinema dos Países de LínguaPortuguesa marcado para Agosto

A primeira ediçãodo Festival de Ci-nema e Vídeo dosPaíses de LínguaPortuguesa vairealizar-se emAgosto, em CaboVerde, na sequên-cia de um pro-tocolo assinadorecentemente em

Lisboa entre as várias entidades participantes.O acordo, que prevê a realização anual de um

festival internacional a realizar numa cidade deum dos Estados-Membros da Comunidade dosPaíses de Língua Portuguesa, visa promover edivulgar a produção cinematográfica e audiovi-sual dos países de língua portuguesa.

O documento foi assinado no Palácio dasNecessidades, entre o Instituto de Cinema, Audiovi-sual e Multimédia (ICAM), o Instituto Camões (ICA),o Instituto Português de Apoio ao Desenvolvimento

e a Rádio e Televisão de Portugal (RTP).A primeira edição do evento conta com apoios

financeiros na ordem dos 55 mil euros, dos quaiso ICAM será responsável por 20 mil, o IPAD por30 mil e o restante será atribuído pelo ICA a títulode patrocínio do prémio Documentário.

O apoio da RTP consiste em promover ainiciativa nos diversos canais nacionais einternacionais da televisão e rádio públicas,produzir e difundir a gala/espectáculo de entregade prémios e atribuir o prémio revelação ao jovemrealizador vencedor do festival.

A estação pública será ainda responsável peladisponibilização de meios técnicos das delegaçõesda RTP África para a realização de uma curta-metragem ou documentário de pequena duração,mediante a apresentação de um projecto que serádepois analisado pela RTP.

Questionada sobre se o orçamento oficial docertame - 55.000 euros - é suficiente, a directorado festival, Teresa Nicolau, admitiu que a direcçãoestá "neste momento em negociações com

instituições privadas, porque a ideia é de quemetade do festival seja pago pelos privados".

O documento surge na sequência do trabalhoe do sucesso que o ciclo de "Imagens Lusófonas",realizado há cerca de três anos pela RDP África,Câmara Municipal de Lisboa e ICA, bem como noempenhamento que RTP, ICA e Videoteca Munici-pal de Lisboa têm mostrado em realizar um festi-val de importância internacional, adiantou à Lusao vice-presidente do ICAM.

Segundo referiu, o protocolo - que resultade um acordo existente entre o ICAM econgéneres dos países lusófonos assinado em2003 - define que o festival internacional irácontemplar duas secções - uma de com-petição e outra de secções paralelas outemáticas e será promovido pela Lx Filmes,Produção Audiovisual, que actuará sob aresponsabilidade do ICAM.

A CPLP é composta por Portugal, Brasil,Angola, Moçambique, Cabo Verde, Guiné-Bissau,S.Tomé e Príncipe e Timor-Leste. | Lusa

A Bienal Internacional deMarionetas de Évora (BIME),a realizar entre 31 de Maioe 05 de Junho, vai contarcom a participação de 22grupos, todos europeus.O certame, que este anoatinge a nona edição, estáa cargo do Centro Dramá-tico de Évora (CENDREV),companhia profissional de teatroresponsável pelos Bonecos deSanto Aleixo, marionetas tradicio-nais do Alentejo.De acordo com a mesma fonte, abienal deste ano conta com 21 gru-pos de marionetas oriundos de vá-rios países europeus e dos anfitriõesBonecos de Santo Aleixo, mani-pulados por actores do CENMDREV.Os "pícaros" e "atrevidos" bonecosalentejanos, que contam no seureportório com as peças "Auto doNascimento do Menino Jesus" e"Passo do Barbeiro", vão actuar nopróximo domingo em Sines, depoisde esta semana já se terem apre-sentado em Vila Nova de Paiva.Títeres de varão, manipulados porcima - à semelhança das grandesmarionetas do Sul de Itália e do

Norte da Europa, mas diminutos(de 20 a 40 centímetros) -, osBonecos de Santo Aleixo têmorigem numa aldeia alentejanaque lhes deu o nome.Os bonecos são manipulados poruma equipa, constituída pelosactores profissionais Ana Meira,Gil Salgueiro Nave, Isabel Bilou,José Russo e Vítor Zambujo,estando o acompanhamento mu-sical a cargo de Gil Salgueiro Nave.

Os bonecos realizaram mais de30 representações ao longo do anopassado em várias localidadesportuguesas e digressões emEspanha, Itália e Brasil.|Público online, 31/03/2005

Esta iniciativa prossegue na Fun-dação Calouste Gulbenkian (Av. deBerna, Lisboa) no próximo dia 18 deMaio com o tema “Verde é a Quí-mica!”. A sessão será dinamizada porManuel Nunes da Ponte, da Fa-culdade de Ciências e TecnologiaUnivers idade Nova de Lisboa(Auditório 2, 18h00)

Até 26 de Junho pode ser visitadano Museu de Serralves, no Porto(Rua D. João de Castro, 210) umaexposição com trabalhos do arqui-tecto Siza Vieira especialmentedestinados a museus e outrasestruturas para exposição. Ao todo,são 18 projectos (maquetas,fotografias, simulações em rea-lidade virtual, vídeos, etc), oito dosquais já construídos (ou em fasede construção), como sucede, porexemplo, com o Centro Galego deArte Contemporânea, na cidade deSantiago de Compostela ou com opróprio Museu de Serralves.O certame foi inaugurado a 8 deAbril. Pode agora ser visitado àsterças e quintas-feiras e aosdomingos e feriados das 10h00às 19h00 e às sextas e sábadosdas 10h00 às 22h00.

Os Bonecos de Santo Aleixo, marionetastradicionais do Alentejo, vão estar emdestaque

AGENDA CULTURAL

JORNAL DA FENPROF 39ABRIL 2005

”Challenges in Teaching &Learning in Higher Education”

Concerto Livros

Uma outra face de Brechtna Cornucópia

Teatro

Concerto pela Orquestra do Algarvena abertura oficial de FaroCapital Nacional da Cultura 2005

Festival para toda a família em Viseu”Mariposas e outros projectos”

A companhiado Teatro daCornucópia, nasua habituallinha de quali-

dade, rigor e criatividade, apresenta até 22 deMaio a peça "Um homem é um homem", deBertolt Brecht, com encenação de Luis MiguelSintra, cenário e figurinos de Cristina Reis,desenho de luzes de Daniel Worm d'Assumpçãoe colaboração musical de João Paulo Santos. Atradução do texto é da responsabilidade deAntónio Conde e José Maria Vieira Mendes. Empalco: Dinarte Branco, Duarte Guimarães,Cláudia Jardim, Henrique Cardador, João Lizardo,José Wallenstein, Luis Lima Barreto, Maria JoãoLuis, Nuno Lopes, Ricardo Aibéo e Tiago Matias.Pianista: Nuno Lopes. Espectáculos às 21h00 deterça a sábado e às 16h00 aos domingos, naRua Tenente Raul Cascais, 1, A, 1250 Lisboa(telef. 213961515). Preços especiais para jovens,estudantes e maiores de 65 anos.Uma excelente oportunidade para contactar umaoutra face do teatro brechtiano em três horasde boa disposição. A não perder. | JPO

No próximo dia 30 de Abril (sábado) decorrerá nogrande auditório da Universidade do Algarve(Gambelas, Faro), a partir das 18h00, um concertopela Orquestra do Algarve, dirigida pelo maestroÁlvaro Cassuto, com o seguinte programa:1ª Parte - W. A. Mozart (1756-1791) - "A FlautaMágica" (Abertura)Hoffmeister (1754-1812) - Concerto para Violae OrquestraI. AllegroII. AdagioIII. Rondo allegro2ªParte - L. Beethoven (1770-1827) - SinfoniaN.º 5I. Allegro con brioII. Andatte con motoIII. Scherzo AllegroIV. AllegroMaestro: Álvaro CassutoSolista (viola): Ana Bela Chaves

Hoffmeister MozartBethoven

“Asas do Destino”, pelo TeatroKá, com encenação de Judi-

te da Silva Gameiro, é oespectáculo teatral que nodia 7 (18h00, Rua For-mosa) e 8 de Maio (16h00,

Rossio) abre o festival“Mariposas e outros pro-

jectos”, anunciado pelo TeatroViriato/Centro Regional das Artes do Espectáculo dasBeiras, em Viseu.”Mariposas e outros trajectos”, que decorre até14 de Maio, pretende criar cumplicidades com acomunidade de Viseu, partilhando experiênciase proporcionando a criação em conjunto.“Estão previstos espectáculos, workshops, ate-liers, sessões de leitura e animação de espaçosque se dividem em cinco trajectos diferentes,espalhando pela cidade possibilidades de criação/experimentação: experimentar mover o corpo,experimentar fazer parte do som, experimentarser outra personagem, experimentar contar

histórias, experimentar (re)criar objec-tos”, sublinha a organização do festival. Maispormenores em: www.teatroviriato.com

Cantanhede prepara-se para receber asegunda edição do Dixieland Festival, arealizar entre 9 e 12 de Junho. Com: TitanicJazz Band (EUA), Dockside Jazz Band(Bélgica), Milano Jazz Gang (Itália), Jugget’sJazz Band (Holanda), Baked Beans Jazz’ers(Dinamarca), entre outros. Para mais infor-mações : 212336140 , 917320403 [email protected] e ainda on-line, emwww.cantanhededixiefest.com

Isabel Alarcão, Victor M. Gil e Hans Hooghoffcoordenaram“Challenges in Teaching & Learning inHigher Education” , um trabalho que vemao encontro da reflexão que decorre nasinstituições sobre os desafios e as mudançasno ensino e na aprendizagem no ensino su-perior. Colaboraram nesta edição daFundação J.J. Magalhães/Universidade deAveiro os seguintes investigadores: CraigMcInnis, Dick de Groot, Hans Hooghoff, Advan Hout, Jules Warps, David Boud, JohnCowan, Anette Kolmos, Lise Kofoed,Gudmundur Kristmundsson, Russell Edger-ton, James Butler, Mohammad R. SarkarArani, Jafar Alagamandan, Heidar Tourani,Graham Gibbs, Diana Eastcott, Stuart Brand,Nigel Wynne, Luke Millard, Hiroyuki Kuno ePeter Powell.

Segundo o comissário da Faro2005, António Rosa Mendes, estaexposição colectiva de artesplásticas conta com a participaçãode 36 artistas portugueses eestrangeiros. O Prémio Nobel daLiteratura Gunter Grass, o escultorJoão Cutileiro ou os pintores JúlioPomar, Alfredo Garcia Revuelta,René Bértholo, António Costa

Pinheiro, Manuel Baptista, José de Guimarães, Davidde Almeida, Saskia Bremer, Jean-Marie Boomputte,Carlos Gervásio, Rafael Canales e José Alves são apenasalguns dos artistas que participam na exposição. Amostra serve para prestar uma homenagem a VolkerHuber (1934-2004), o fundador do Centro Cultural deSão Lourenço, Almancil, Loulé, assim como recordar oempenho que Volker tinha pela arte. A exposição “ParaVolker” pode ser vista pelo público todos os dias(excepto à segunda-feira), das 10:00 às 19:00.| Lusa,5/04/2005

Iniciativa no âmbito da “Faro, CapitalNacional da Cultura”

Júlio Pomar e João Cutileironuma mostra em Almancilaté 12 de Maio

2º Festival Internacional DixielandCantanhede 2005