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1 Democracia e Revolução: O socialismo de Mario Pedrosa no Vanguarda Socialista Marcelo Ribeiro Vasconcelos 1 Resumo: O trabalho tem como objetivo discutir a participação de Mario Pedrosa como diretor do jornal Vanguarda Socialista (1945-1948) a partir de sua atuação na promoção de uma concepção de socialismo de caráter democrático no Brasil. Pretendo discorrer sobre os posicionamentos assumidos pelo jornal ao longo de sua existência, que findou com a adesão do jornal e de parte do grupo ao recém criado Partido Socialista Brasileiro. A atuação de Pedrosa à frente do jornal será entendida principalmente a partir de uma série de experiências vividas durante o período de exílio passado na França e nos Estados Unidos (1937-1945), bem como por sua participação junto ao secretariado da IV Internacional. Sua atividade junto ao secretariado da IV Internacional teria lhe proporcionado a possibilidade de circular entre diversos grupos de intelectuais entre eles, surrealistas, militantes trotskistas, críticos de arte, artistas plásticos. Os vínculos estabelecidos por Mario Pedrosa neste período teriam se mantido após o seu retorno ao Brasil e acabaram por se fazer presentes nas páginas do Vanguarda Socialista. Palavras-Chaves: Mario Pedrosa; Vanguarda Socialista ; socialismo no Brasil ; intelectuais ; crítica de arte; exílio. 1- Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Sociologia e Antropologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (PPGSA/UFRJ)

Democracia e Revolução: O socialismo de Mario Pedrosa no ... · orientando-se por elas, se reúnam e se preparem para uma ação sistematizada e esclarecida sobre o que se chama

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Democracia e Revolução: O socialismo de Mario Pedrosa no Vanguarda Socialista

Marcelo Ribeiro Vasconcelos1

Resumo: O trabalho tem como objetivo discutir a participação de Mario Pedrosa como diretor do jornal Vanguarda Socialista (1945-1948) a partir de sua atuação na promoção de uma concepção de socialismo de caráter democrático no Brasil. Pretendo discorrer sobre os posicionamentos assumidos pelo jornal ao longo de sua existência, que findou com a adesão do jornal e de parte do grupo ao recém criado Partido Socialista Brasileiro. A atuação de Pedrosa à frente do jornal será entendida principalmente a partir de uma série de experiências vividas durante o período de exílio passado na França e nos Estados Unidos (1937-1945), bem como por sua participação junto ao secretariado da IV Internacional. Sua atividade junto ao secretariado da IV Internacional teria lhe proporcionado a possibilidade de circular entre diversos grupos de intelectuais entre eles, surrealistas, militantes trotskistas, críticos de arte, artistas plásticos. Os vínculos estabelecidos por Mario Pedrosa neste período teriam se mantido após o seu retorno ao Brasil e acabaram por se fazer presentes nas páginas do Vanguarda Socialista. Palavras-Chaves: Mario Pedrosa; Vanguarda Socialista ; socialismo no Brasil ; intelectuais ; crítica de arte; exílio.

1- Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Sociologia e Antropologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (PPGSA/UFRJ)

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Introdução

Os escritos sobre Mario Pedrosa, crítico de arte e militante político, que viveu de 1900

até 1981, sempre chamaram a atenção pela capacidade de Pedrosa em conciliar suas

atividades – a de militante político e a de crítico – que aparentemente estariam dissociadas.

Costuma-se perceber dois Mario Pedrosa: o crítico de arte, crucial na história da arte

brasileira; e o militante político sui generis, que introduziu e primeiro organizou o movimento

trotskista brasileiro.

No decorrer de sua trajetória política, Mario Pedrosa entrou para o Partido Comunista

do Brasil (PCB) em 1926. No ano seguinte foi enviado para a Escola Leninista de Moscou.

Ao saber da expulsão de Trotsky do Partido Comunista da União Soviética (PCUS), antes de

entrar na URSS, aderiu à Oposição de Esquerda, cujas idéias já conhecia no Brasil. Retornou

em 1929, quando fundou a Oposição no Brasil. Um dos principais dirigentes do trotskismo no

Brasil, Pedrosa participou da conferência de fundação da 4ª Internacional, na França, em

setembro de 1938, sendo eleito para o seu Comitê Executivo Internacional. Com os

prenúncios da 2ª Guerra transfere-se com seus companheiros de direção para Nova York,

onde se inicia seu processo de ruptura com a 4ª Internacional, que termina em 1940. Durante

a primeira metade da década de 1940, ainda nos Estados Unidos, participa ativamente dos

debates em torno do Socialismo democrático, até o seu retorno ao Brasil em 1945.

Em 1945, a militância política de Mario Pedrosa ganha novos contornos. Ao retornar

de seu exílio em Nova Iorque, Washington e Paris, Mario Pedrosa funda em companhia com

uma série de outros intelectuais de tendência marxista, como Nelson Veloso Borges, Hilcar

Leite, Edmundo Moniz e Geraldo Ferraz, do Rio de Janeiro; e Aristides Lobo, Fúlvio

Abramo, Febus Gikovate, Aziz Simão, Oliveiros S. Ferreira, de São Paulo, além de outros. A

participação de Mario Pedrosa como diretor do Vanguarda Socialista marca um novo

momento em seu pensamento político e dá início a um novo movimento na esquerda

brasileira, que recusa o modelo revolucionário soviético. Pedrosa funda este semanário com o

intuito de estabelecer no Brasil um posicionamento crítico na esquerda brasileira, que no ano

de 1945 era marcado por uma imensa popularidade do Partido Comunista Brasileiro, de

tendência stalinista. O jornal chega às ruas como um crítico contumaz das políticas do PCB e

do stalinismo.

O que proponho neste artigo é compreender as bases de uma nova proposta de

socialismo, de caráter democrático e oposta ao stalinismo, no Brasil. Esta nova proposta, que

estaria representada aqui neste artigo pela produção intelectual de Pedrosa presente no

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Vanguarda Socialista, será entendida a partir da trajetória intelectual de Pedrosa até o

momento de sua atuação como diretor e principal teórico do jornal. Este enfoque específico

sobre a trajetória de Mario Pedrosa se dará pela contraposição entre as diretrizes políticas

adotadas pelo Vanguarda Socialista e as experiências vívidas por Mario Pedrosa durante seu

exílio. Como hipótese central, acredito que a participação de Mario Pedrosa em círculos

sociais específicos, formado por intelectuais de esquerda, artistas surrealistas, críticos de arte

e militantes trotskistas dissidentes teria sido fundamental para suas proposições políticas

posteriores ao exílio. Desta forma, o objeto da minha pesquisa não se resume apenas ao

jornal. O jornal se torna parte integrante e fundamental do meu objeto na medida em que ele

torna possível compreender e delinear o pensamento político de Pedrosa neste momento

posterior ao seu exílio e mapear parte das relações que ele estabeleceu durante o mesmo,

assim como as idéias que procurou difundir pelo Brasil, que foram construídas a partir dessas

convivências estabelecidas durante o exílio.

Vanguarda Socialista (1945 – 1948)

Pela própria proposta inicial do jornal de ser uma “tribuna livre” aberta aos demais

militantes de esquerda contrários ao stalinismo, os posicionamentos do grupo formador do

Vanguarda Socialista2 muitas vezes ficam encobertas pelos diversos discursos ali presentes.

Apesar desta polifonia, a voz deste coletivo organizado por Mario Pedrosa pode ser

encontrada em uma série de editoriais, publicados na primeira página do jornal em ocasiões

específicas. É através destes editoriais que apresentarei os posicionamentos políticos

almejados pelo grupo formador do jornal3. Ao mesmo tempo, é necessário enfatizar que tais

2- É difícil definir exatamente quem eram os envolvidos no Vanguarda Socialista devido a sua abertura para militantes de outros grupos. Contudo é possível perceber que Mario Pedrosa, Nelson Veloso Borges e Hilcar Leite integraram o Vanguarda Socialista ao longo de toda a sua existência. Entre outros, fizeram também parte do grupo Geraldo Ferraz, Edmundo Moniz, Arnaldo Pedroso D’Horta, Aristides Lobo, Patrícia Galvão, Hugo Baldessarini, Azevedo Lima, Heitor Correa, Fúlvio Abramo, Febus Gikovate, Aziz Simão, Oliveiros S. Ferreira além de outros participantes mais eventuais. 3 - Não seria correto dizer que as posições do Vanguarda Socialista e as posições de Mario Pedrosa eram a mesma coisa. Porém, o fato de o Vanguarda Socialista ter sido um projeto de Pedrosa, formado por uma série de militantes que se alinhavam a ele desde os tempos de movimento trotskista e dirigido por ele até o fim da sua existência como um jornal independente, acredito que seja possível estabelecer uma correspondência entre as diretrizes mais gerais do jornal e os posicionamentos particulares de Pedrosa em política. Outro fato que embasa esta consonância entre os posicionamentos de Pedrosa e as diretrizes políticas adotadas pelo Vanguarda Socialistaé o fato de que sempre houveram críticas aos conteúdos dos editoriais mais propositivos do Vanguarda Socialista, foi Pedrosa que se portou como defensor das idéias expostas nos jornais, através de artigos pessoais. Um caso emblemático disto é a defesa feita por Pedrosa do artigo “Novos Rumos”. Além disso, mesmo com a falta de assinaturas nos editoriais, Isabel Loureiro afirma que Pedrosa era o “autor de praticamente todos os editoriais” (LOUREIRO,1984:26). Tal

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posições do grupo são em grande parte guiadas pelas diretrizes teóricas de Pedrosa. Estas

idéias presentes no jornal serão relacionadas com um conjunto de relações pessoais

estabelecidos por Pedrosa ainda durante seu exílio (1937-1945), que teriam proporcionado a

ele a possibilidade de entrar em contato com idéias ainda pouco difundidas mundialmente,

fomentadas em debates travados por intelectuais de diferentes origens, como surrealistas,

militantes trotskistas, críticos de arte, artistas plásticos. Acredito que a aproximação entre as

idéias políticas apresentadas por Pedrosa através do Vanguarda Socialista e as idéias

debatidas por ele nestes círculos sociais proporcionam importantes entendimentos acerca da

formalização de novas abordagens sobre o socialismo no pensamento político brasileiro.

No ano de 1945, Vanguarda Socialista foi lançado em meio a um turbilhão de eventos

que agitaram não somente o Brasil como todo o mundo, recém saído da 2ª Guerra Mundial.

No Brasil, o Estado Novo chegava ao seu fim, o que fazia a esperança na redemocratização

ressurgir. O cenário político nacional deste período também é marcado pelo retorno do

Partido Comunista Brasileiro e de seu líder Luis Carlos Prestes, agora livres da ilegalidade e

envoltos em um prestígio nunca antes obtidos nas fileiras da esquerda nacional. Neste

momento de decadência da direita totalitária Varguista e ascensão do comunismo no Brasil,

Vanguarda Socialista veio à tona lançando novas luzes sobre a esquerda brasileira, atuando

como aglutinador de uma série de posicionamentos contrários não apenas ao regime totalitário

de Getulio Vargas, mas, também, ao stalinismo do PCB, que seria encarado por alguns como

sendo de caráter totalitário. Edmundo Moniz, que participou ao lado de Mario Pedrosa do

Vanguarda Socialista, esclarece o que era pretendido com o jornal: “a Vanguarda Socialista procurou abrir um amplo debate doutrinário, tendo o marxismo como base, no campo econômico, social, político, científico, filosófico, literário e artístico. O principal objetivo era abrir um largo debate sobre o socialismo. Procurava não ter nada de reformista ou revisionista (...). Ao contrário, a Vanguarda queria discutir o marxismo sem a falsa ortodoxia que vinha sendo imposta pelo Partido Comunista, pelo stalinismo. Queríamos até mostrar que o marxismo era passível de novas aquisições (...). Nós queríamos ter e tínhamos uma interferência na vida política brasileira (...). Enfim, queríamos nos desprender das velhas fórmulas, trocando a letra morta pela realidade viva (...). Tínhamos a necessidade de rediscutir a clandestinidade a que nos obrigou o Estado Novo. (MONIZ,1985)

Na 1ª edição do jornal, dois editoriais exprimem de forma clara as pretensões políticas

do grupo formador do Vanguarda Socialista. No primeiro destes, intitulado “Diretivas”, o

grupo assume um socialismo independente, sem nenhuma sujeição partidária. O jornal seria

um trabalho coletivo de indivíduos “irmanados por um mesmo ideal”, cujo grupo seria “mais afirmação só pode ser feita a partir de depoimentos de antigos militantes socialistas, como Antonio Candido, Antonio Costa Correa, Febus Gikovate, Aziz Simão, Oliveiros S. Ferreira, além do depoimento do próprio Mario Pedrosa.

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ou menos estruturado pela mesma base cultural marxista”. O objetivo do grupo seria “fazer

propaganda da idéia socialista e preparar para, sem imediatismo ou tempo marcado, quadros

para o futuro”. Assim, o Vanguarda Socialista se define como “jornal de vanguarda” – o que

era raro, senão inédito, na imprensa de esquerda -, que pretendia “disseminar um corpo de

idéias para os indivíduos, os pequenos grupos a fim de que esses, organizando-se e

orientando-se por elas, se reúnam e se preparem para uma ação sistematizada e esclarecida

sobre o que se chama as largas massas”. O grupo formador do Vanguarda Socialista deixa

clara a sua insatisfação com os rumos da esquerda mundial ao afirmar a necessidade de se

“reorganizar o movimento socialista proletário nacional e internacionalmente sobre novas

bases, e começando tudo de novo”, que deveria desenvolver “um trabalho de crítica e de

construção relativamente ao passado movimento revolucionário ou reformista, comunista ou

socialista”, sem aceitar nenhum tipo de explicação oficial ou ideológica dos eventos onde tais

movimentos se envolveram. Os acontecimentos históricos devem ser analisados

objetivamente, e não com “olhos apologéticos”. (PEDROSA et alli,1945a)

Ainda em “Diretivas”, são dadas algumas coordenadas sobre o posicionamento do

grupo frente aos principais atores políticos mundiais: os movimentos fascistas e nazistas são

interpretados como uma “resultante orgânica da época contra-revolucionária que medeou

entre as duas grandes guerras”. O artigo defende ainda que o totalitarismo não teve seu fim

com a derrota dos países do eixo, pois este é um “fenômeno permanente do processo

econômico da nossa época”, de modo que capitalismo e totalitarismo estão sempre próximos.

Sobre Trotsky, reconhece-se o seu “esforço sobre-humano” para transportar para o ocidente

“a formidável experiência do bolchevismo russo”, mas entende-se que seu empreendimento

foi praticamente fracassado. A Internacional Comunista não restaurou o internacionalismo

proletário. Mesmo com o fracasso de suas idéias e com o isolamento da revolução Russa,

Trotsky morreu defendendo de forma intransigente a planificação econômica e a estatização

dos meios de produção, dois dos alicerces da economia soviética. Sobre os partidos

comunistas contemporâneos à Vanguarda Socialista, estes estariam “condenados à cisão em

fase das contradições sociais e políticas do mundo atual.”. Dentre estes partidos, “uma parte

se transformará, definitivamente, num instrumento totalitário da atual tendência à estatização

do capitalismo. A outra parte irá fundir-se às melhores forças proletárias que seguem hoje no

campo da II Internacional e constituirão, com outros grupos, os futuros partidos socialistas,

que serão a síntese do que melhor trouxe o bolchevismo russo”. Esta crença numa cisão

mostra que a esquerda acabará por ter que se decidir ou pela adesão ao stalinismo e o seu

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caráter capitalista ou pela união ao grupo de oposição de esquerda, mais amplo. Finalizando

“Diretivas”, exalta-se o caráter internacional deste levante socialista, já que por toda parte há

um processo de renovação do pensamento marxista que ressalta a necessidade de liberdade

para que o socialismo triunfe. Dentro das orientações apresentadas neste artigo, o jornal se diz

aberto a qualquer um que queira publicar seus escritos nas páginas de Vanguarda Socialista.

(PEDROSA et alli,1945a)

O segundo editorial da 1ª edição, denominado “Posição Política”, trata mais

diretamente da situação política brasileira, marcado pela volta do PCB a legalidade e pelo

prenúncio do fim do governo Vargas, devido à eleição presidencial que se anunciava. Com

relação ao pleito, o Vanguarda Socialista declara apoio ao candidato da UDN, Eduardo

Gomes. Tal apoio é explicado pelo fato de ele ser a melhor das opções, tendo em vista o

cenário político brasileiro. Para o Vanguarda Socialista, a divisão das forças de esquerda

tornou a defesa do candidato Eduardo Gomes a opção mais segura para se alcançar a volta à

democracia pelas vias eleitorais. O jornal afirma que o momento não era propício para a luta

por um governo revolucionário, principalmente devido à adoção de uma posição

“independente” pelo Partido Comunista Brasileiro no momento de organização da assembléia

constituinte, o que teria reanimado o já combalido governo Vargas e dividido as forças

democráticas de oposição. O grupo Vanguarda Socialista entende esta posição independente

do PCB, que teria enfraquecido a frente anti-ditatorial encabeçada por Eduardo Gomes, como

parte de um apoio velado do PCB ao atual presidente, tendo em vista a obtenção de posições

de poder no governo. Esta posição teria marcado a saída de Prestes e do PCB do campo

democrático, tornando-os adversários da luta contra o Estado Novo. Assim, o apoio ao

Brigadeiro Eduardo Gomes acaba se justificando pela sua defesa da democracia e da liberdade

de organização autônoma dos trabalhadores, condição indispensável para a realização do

socialismo:

“Sem a organização autônoma e independente das classes trabalhadoras, tanto no domínio econômico como no domínio político, no social como no cultural, nenhum movimento socialista é possível no Brasil. Logo, a democracia também não será possível. Nem a continuação de Getúlio, com Prestes ao lado ou não, nem o triunfo de Prestes com Getúlio ou sem ele, nem a subida do general Dutra, ou qualquer coisa de intermediário, como um governo militar abrirá caminho à democracia. Nós daqui da Vanguarda Socialista consideramos a democracia como o clima e a condição indispensável ao progresso e ao triunfo do socialismo no Brasil. Somos democratas, e nessa qualidade lutamos ao lado de Eduardo Gomes contra a ditadura; somos socialistas, e nessa qualidade levantamos com toda independência a nossa bandeira socialista onde está inscrito o lema imortal do velho manifesto comunista de 1848 – Proletários de todos os países, uni-vos!” (PEDROSA et alli,1945b)

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2ª fase do jornal.

A partir da edição 56 (20/09/1946), há uma mudança nos posicionamentos adotados

até então. Nesta edição foi publicado o artigo intitulado “Novos Rumos”, que propunha o

debate de 18 teses. Segundo Mario Pedrosa, a proposição de tais teses era necessária para dar

maior homogeneidade política ao grupo. Pedrosa afirma ainda que a primeira fase do

Vanguarda Socialista, onde este era um “mero órgão livre de discussão” chegava ao fim.

Agora, o jornal deixava de ser uma “tribuna livre” para ser um jornal de “orientação

ideológica e política própria”. (PEDROSA et alli,1946c).

Sobre o conteúdo destas 18 teses de Novos Rumos, Gina Machado diz que elas: “sintetizavam as principais posições da ‘Vanguarda’ frente à conjuntura política do pós-guerra e refletem os problemas que se colocavam para esses socialistas independentes, tomando-se como parâmetro os avanços do socialismo. (...) Três temas se sobressaem nas teses, e representam o principal esforço de reflexão do jornal frente aos problemas do socialismo: a Revolução Russa e sua evolução através da história, o significado político e econômico da eleição do Partido Trabalhista na Inglaterra, e a questão do imperialismo”. (MACHADO apud MARI,2006)

Nestas teses, a Revolução Russa é entendida como uma tentativa de revolução

socialista que acabou como uma revolução democrática burguesa. Assim, a Rússia não é um

Estado proletário degenerado, como afirmava Trotski, mas sim um governo baseado em um

capitalismo de Estado, onde a burocracia estatal faria às vezes de “neo-burguesia”. As teses

enfatizam também o caráter fascista deste capitalismo de Estado, que subjuga todas as esferas

de vida dos sujeitos ao controle estatal. Este capitalismo de Estado teria surgido a partir do

isolamento da Revolução Russa e da derrota do proletariado durante a 1ª Guerra Mundial. As

teses colocam ainda que, em determinadas condições políticas e sociais, o capitalismo de

Estado poderia servir como ponte para o socialismo, mas o grupo entende que isto não teria

ocorrido na Rússia.

No que concerne a ascensão do Partido Trabalhista inglês, as teses acreditam numa

tendência à estatização da economia que poderia levar ao socialismo, caso esta fosse

conduzida pelo proletariado. Caso contrário, ela conduziria ao totalitarismo. A vitória do

Partido Trabalhista inglês apresenta-se como um exemplo de evolução democrática desta

estatização em diversos aspectos, mas também apresenta uma série de contradições e formas

totalitárias de exploração do proletariado, o que colocava o capitalismo de Estado inglês tanto

no caminho do socialismo como do totalitarismo.

Sobre o imperialismo, as teses afirmam que o mundo pós 2ª Guerra Mundial seria

marcado pela luta imperialista entre duas potências: Estados Unidos e Rússia. Este choque

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entre impérios não seria, como salienta o fim da última tese, “uma guerra nem pela vitória da

democracia (bandeira sob a qual os Estados Unidos irão para a guerra) nem pelo socialismo

(bandeira sob a qual os burocratas totalitários encobrirão seus egoístas interesses de classe)”,

mas sim uma guerra pela possibilidade da organização mundial da produção. Neste contexto,

o dever do socialista seria denunciar tal guerra.

Na edição 64 (15/11/1946), Pedrosa publica seu artigo “Em defesa de ‘Novos

Rumos’”, onde responde algumas críticas publicadas em edições anteriores. Neste, Pedrosa

reafirma o novo posicionamento do jornal: “’Vanguarda Socialista’ não é um partido nem propriamente uma organização partidária. Somos um órgão de discussão e de esclarecimento ideológico, um inimigo da confusão e das meias-noções. A tarefa principal é espantar a confusão, e para isto, nada como a diferenciação. Acresce ainda que não há nem nunca houve no Brasil um movimento socialista e muito menos um partido dessa ordem. E para chegarmos a lançar um movimento desses, a criar um autêntico partido socialista – há obstáculos que não se podem contornar, mas têm que ser galgados, vencidos, superados. O partido socialista por que todos aspiramos terá que ser novo, novíssimo, de idéias, de concepção, de objetivos, de programa. A noção de socialismo de nossos dias já não é a mesma de antes do advento do fascismo e da degenerescência da revolução russa. Ela é hoje muito mais precisa, concreta, universal e profunda do que a de Lenine, Trotsky, Stalin, Hitler e socialistas a la Blum ou Attle. Pelo próprio fato de não ter jamais existido socialismo nessa nossa atrasada província do mundo que é o Brasil, que o seu aparecimento, retardado em nossa terra, lhe dará, fatalmente – para que tenha vitalidade – um cunho ultra-moderno, sob muitos aspectos inédito e contrário as velhas tradições e rotina. O atraso com que terá vindo, a ausência de tradições, tenderão a fazer dele um instrumento político novo e, sob outros aspectos, mais adiantado, superior aos velhos partidos socialistas da Europa. Conseqüentemente, não poderá constituir-se sem uma atitude e sem uma noção precisa e concreta relativamente à experiência da Revolução Russa e a realidade atual do Estado Soviético.” (PEDROSA, 1946a).

Mesmo com a posição central de Pedrosa no grupo responsável pelo Vanguarda

Socialista4, destacada em quase toda a bibliografia que trata sobre a vida e obra de Mario

Pedrosa, ainda é possível questionar até que ponto tais posições políticas representam as

opiniões de Pedrosa. Contudo, acredito que tais dúvidas são esclarecidas quando percebemos

que os artigos pessoais de Pedrosa publicados no Vanguarda Socialista corroboram com o

posicionamento adotado pelo jornal e até mesmo servem de base para estas, como parece ser

o caso das 18 teses, que foram em grande parte formuladas a partir do grande estudo de

Pedrosa sobre a Revolução Russa, chamado “A Revolução Russa e a sua evolução até nossos

dias”, que foi publicado ao longo de 15 edições do Vanguarda Socialista (da edição 33 até a

47). Destacam-se ainda entre os textos de autoria de Pedrosa que corroborariam com as

posições gerais do grupo artigos como “Prestes e a guerra imperialista” (ed. 31, 29/03/1946)e

“Vanguardas, Partido e Socialismo” (ed. 50, 09/08/1946).

4 - Ver nota anterior.

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O estudo de Pedrosa intitulado “A Revolução Russa e a sua evolução até nossos dias”

foi publicado entre 12 de abril de 1946 e 19 de julho de 1946 e são na verdade as transcrições

de uma série de palestras proferidas por ele na sede do jornal Vanguarda Socialista.

Conforme posto por Isabel Loureiro, tais palestras teriam sido a base para a criação das 18

teses que serviriam como diretrizes políticas do grupo Vanguarda Socialista em sua 2ª fase

(LOUREIRO,1984). Nestes textos, Pedrosa faz um estudo que abrange desde a revolução

russa até o período da 2ª Guerra Mundial e tenta entender o surgimento da burocracia

soviética após a revolução russa. De modo resumido, é possível dizer que a tese central

defendida por Pedrosa no artigo é a seguinte: o Estado soviético pós-revolução russa ora

tendia para a classe campesina, ora para classe proletária. Esta oscilação ocorria a partir das

disputas no interior do partido. O crescimento da burocratização teria surgido com a vitória da

tendência de Stalin, que seria oriundo da burocracia partidária e desligado tanto dos interesses

do proletariado quanto dos interesses do campesinato. É com Stalin que ocorre uma

autonomização da classe burocrática das demais classes. Surge assim um capitalismo de

estado, onde a classe burocrática define o regime econômico sem que haja nenhum tipo de

controle por parte das massas: “O que explicaria essa inexistência de controle? (...) a falta de organizações autônomas e independentes das classes trabalhadoras e camponesas, de pequenos burgueses e massas consumidoras. Quer dizer: faltava às massas experiência socialista, consciência prática, capacidade de se dirigir e tomar em mãos a defesa de seus interesses e controlar os problemas da produção. Faltavam técnicos, faltavam condições objetivas favoráveis” (PEDROSA,1946b)

No texto “Prestes e a guerra imperialista”, Pedrosa enfatiza o caráter imperialista da

União Soviética e critica a defesa de Luis Carlos Prestes ao regime soviético, que estaria

tentando mascarar os interesses imperialistas da União Soviética através do argumento de que

esta estaria sim envolvida numa guerra por libertação: “Prestes e todos os seguidores de Staline se encontram assim diante dos frutos da política supernacionalista do generalíssimo. Para que possam, hoje, justificar a atitude de subserviência ao Kremlin, em caso de guerra entre este e os Estados Unidos e a Grã-Bretanha, sentem absoluta necessidade de voltar a ‘doutrina’ leniniana do imperialismo, afim de dar a essa subserviência uma nobreza desinteressada. Classificando, e com razão, uma nova guerra mundial de ‘imperialista’, eles esperam excluir, por altas razões cientificas e de princípio, a Rússia dessa classificação, apresentando o argumento de que sendo o imperialismo uma resultante do capital financeiro, e não havendo capital financeiro na Rússia, esta não pode, conseqüentemente, fazer uma política 'imperialista' (...) O Estado russo é hoje um estado de classe como outro qualquer: a burocracia dominante age como uma nova classe, e baseia seu domínio na monopolização, em seu benefício, do aparelho estatal, rigidamente limitado nas suas fronteiras e no seu controle dos grandes trustes nacionais. É precisamente esse caráter monopolista e totalitário do Estado soviético, e precisamente essa divisão em classes da sociedade russa que constituem a mola que leva o seu governo a uma expansão territorial e econômica tão furiosa quanto a dos jovens imperialistas do século dezenove” (PEDROSA, 1946c)

Já em “Vanguardas, Partido e socialismo”, Pedrosa defende a necessidade de uma

organização livre da classe trabalhadora, de modo que o socialismo não se resuma a uma mera

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tomada de poder. Para Pedrosa, o socialismo é uma luta por mudanças na relação dos

trabalhadores com o seu mundo. Assim, se torna crucial uma atuação de vanguarda. Tais

vanguardas se formariam dentro de cada campo de atividade social, estando sempre vinculada

à classe trabalhadora. Esta colocação de Pedrosa busca mostrar o socialismo como algo para

além de uma mera questão política, mas sim como uma busca por uma tomada de consciência

por parte da classe trabalhadora.

“A organização livre das classes trabalhadoras em todos os domínios fundamentais da vida é, assim, a condição mais indispensável e mais imediata para que o socialismo possa triunfar no mundo. O nível cultural ‘insuficiente’ não pode ser remediado apenas no dia seguinte à tomada de poder pelo partido revolucionário, que mandaria se abrirem classes por toda parte, escolas para que o proletariado pudesse rapidamente elevar sua cultura a fim de substituir no poder a sua ‘elite’ mais capaz. O socialismo não é um movimento de elite, mas um movimento do povo trabalhador. Não poderá jamais vir de cima para baixo, mas terá que subir das profundezas da exploração e da miséria para os cumes da liberdade e da consciência. (PEDROSA,1946d) Esta posição mais doutrinária do Vanguarda Socialista, representada por esta 2ª fase

do jornal, culmina com a entrega do jornal ao recém criado Partido Socialista Brasileiro, em

1948. Neste período, poucos eram os integrantes originais que permaneciam no jornal. Dentre

todos os nomes que passaram pelo jornal, onde muitos acabaram por se distanciar por

discordância com os posicionamentos do jornal ou pelo simples acaso, podemos ver em Mario

Pedrosa, Hilcar Leite e Pirajá (pseudônimo de Nelson Veloso Borges) o núcleo central do

grupo. Foram eles que conduziram todas as mudanças de rumos que levaram o jornal até as

fileiras do PSB.

Ao entregar o jornal ao PSB, Pedrosa deixou seu cargo de diretor do jornal,

entregando-o para Hermes Lima, um dos fundadores do PSB. Naquela ocasião, Pedrosa e os

demais membros do Vanguarda Socialista viram o PSB como a concretude de seus objetivos.

Mesmo depois do afastamento de Pedrosa da militância política mais direta para se voltar para

mais intensamente para a crítica de arte, ele manteve sua posição política em favor de um

socialismo anti-totalitário.

Outra faceta deste posicionamento político que pouco aparece nestes editoriais é a

crítica social a partir da crítica cultural. Durante grande parte da existência do Vanguarda

Socialista, houve uma enorme presença da crítica da produção nacional em literatura, música

e artes. Apesar de Pedrosa ter obtido fama internacional como crítico de arte alguns anos

depois do período de publicação de Vanguarda Socialista, nenhum dos artigos de Pedrosa

trata diretamente de questões artísticas. Mas isto não quer dizer que sua participação no jornal

nada tenha a ver com as discussões sobre arte lá presentes pelas mãos de outros colaboradores

do jornal. Suas opiniões aparecem de forma velada a partir de sua participação como diretor

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do jornal. Somente pelo fato de existir no jornal um espaço privilegiado para o debate de

questões estéticas e para o combate ao realismo socialista, posição adotada por ele também

em seus artigos sobre arte do mesmo período, já mostra que Pedrosa não era alheio aos

debates sobre arte presentes no Vanguarda Socialista. Seja quando o jornal publica uma nota

lamentando o falecimento de Modigliani (ed. 117), ou quando publica de forma pioneira o

manifesto de Breton e Trotski (ed.26), ou ainda quando abre espaço para a impressão de obras

como as de Goya, mostrando os terrores da guerra (ed. 32); e as de Portinari, que no auge de

suas experimentações estéticas eram confundidas por aleijões pelo alto escalão do PCB5

(ed.2), vemos que houve alguma participação de Pedrosa em favor de que tal espaço fosse

dado para a discussão cultural. A falta de uma participação direta de Pedrosa nos debate sobre

arte neste período pode ter alimentado a tese defendida por muitos de que haveria uma cisão

entre o chamado “Mario Pedrosa militante político” e o “Mario Pedrosa crítico de arte”, tese

esta que se torna vazia uma vez que a arte e as discussões culturais como um todo têm espaço

privilegiado em um semanário político, da mesma forma que seus escritos sobre arte estão

ligados diretamente às suas concepções revolucionárias.

Crítica cultural no Vanguarda Socialista

A crítica cultural no Vanguarda Socialista se deu em grande parte pelas mãos de

Patrícia Galvão, também conhecida como “Pagu”. A autora tinha como principal foco de suas

críticas o realismo socialista defendido por parte do PCB, reflexo da perspectiva stalinista que

adotava. Em entrevista dada ao CEMAP, Edmundo Moniz resume a crítica do Vanguarda

Socialista ao realismo socialista: “Combatíamos o realismo socialista pelo que ele tinha de mecânico, adulador de pretensos líderes e anti-revolucionário. A experiência na União Soviética bastava para nos mostrar o seu aspecto funesto na obra de escritores e artistas (...). O caso típico no Brasil são alguns livros de Jorge Amado, como Os subterrâneos da liberdade. Mas também São Jorge de Ilhéus e Terras do sem fim. (...). Outros autores também tentavam dar a seus livros um caráter típico, socialista e realista, mas dum socialismo semelhante ao que eles liam nos livros russo. (...) Ela [Patrícia Galvão] teve um papel muito importante porque enquanto nós estávamos preocupados com os problemas políticos e sociais, ela, no curto tempo de vida da Vanguarda pôde atuar na crítica de arte e literatura”. (MONIZ, 1985)

Dentre os textos de Pagu na Vanguarda Socialista, destaca-se “O Carinhoso Biógrafo

de Prestes” (ed.1, 31/08/1945), “A Sementeira da Revolução” (ed.6, 05/10/1945), “Em Defesa

da Pesquisa” (ed. 9, 26/10/1945), “Influência de uma revolução na literatura” (ed.11,

5- Apenas em 1949 Mario Pedrosa iria polemizar com Candido Portinari, a partir de uma crítica sua feita ao painel Tiradentes, devido ao seu caráter histórico e literário.

12

09/11/1945), “Sergio Milliet e o Papel do Intelectual” (ed. 15, 07/12/1945), “Um D.I. P

Internacional. Vem da Rússia a proposta contra a liberdade de expressão” (ed. 18,

28/12/1945) e “Parêntesis no Descaminhamento” (ed.36, 03/05/1946). Neles, Patrícia Galvão

deixa clara a sua defesa da liberdade de pesquisa e da liberdade de expressão artística e

intelectual como fatores para a emancipação humana:

“Indiferente, ou desinteressado, conscientemente ou não, o pensamento livre do escritor trabalha, entretanto alimentando a sementeira, prodigalizando com a eloqüência e a grandeza de suas insinuações vitalizadoras, elementos novos, forças fertilizantes das sementes perdidas, arrastadas pelas voragens das guerras, dos conflitos, da covardia e do temor, da opressão e do ódio... Os escritores revolucionários do passado e do presente não trabalham pelo imediatismo dos resultados efêmeros e passageiros. Eles estão muito adiante do esforço trivial, suas necessidades são muito profundas e suas sondagens estão esburacando os horizontes que cercam a visão dos contemporâneos. Como fazer pois que eles voltem atrás e se misturem com a turba para insuflar-lhes idéias por mais generosas que sejam as que lhe fervilham dentro do cérebro? (GALVÃO,1945)

A partir do Vanguarda Socialista, podemos encontrar alguns traços distintivos que

permitem a reconstituição do trajeto intelectual adotado por Pedrosa até ali. Um destes traços,

talvez o mais marcante, é a presença nas páginas do Vanguarda Socialista de espaço cativo,

destinado aos artigos provenientes de jornais socialistas estrangeiros, geralmente

contemporâneos ao Vanguarda Socialista. Dentre os artigos estrangeiros publicados no

Vanguarda Socialista, a maioria era proveniente de publicações dos Estados Unidos como

Partisan Review6, The New International7 e Politics8. Além destas, alguns poucos textos

também vinham de jornais de outros países.

6- Em “Cidades e intelectuais: os ‘nova-iorquinos’ da Partisan Review e os ‘paulistas’ de Clima entre 1930 e 1950”, Heloisa Pontes trata de uma série de proximidades e afastamentos entre o Grupo Clima e o grupo formador da Partisan Review. A autora faz uma apresentação mais pormenorizada dos membros da Partisan Review, assim como de suas sociabilidades e de suas trajetórias. Para fins informativos, cito aqui a relação dos colaboradores do Partisan Review feita por Pontes, enfatizando a proveniência étnica e origem familiar dos autores: “Entre os judeus desse círculo, que atingiram a vida adulta no final dos anos de 1920 ou começo de 1930, encontram-se: Philip Rahv (1908-1973), William Phillips (1907-), Clement Greenberg, (1909-1994), Lionel Trilling (1905-1975), Diane Trilling (1905-), Meyer Schapiro (1905-1996) Sidney Hook (1902-1989). Incluem-se também os nascidos na década de 1910, que atingiram a maturidade no final dos anos de 1930, como Lionel Abel (1910-), Alfred Kazin (1915-), Delmore Schwartz (1913-1966), Daniel Bell (1919-), e outros mais jovens, nascidos no decênio de 1920, como Irving Howe (1920-1993) e Nathan Glazer, entre outros. A eles juntaram-se os não judeus, Frederick Dupee (1904-1979), Wiliam Barrett (1913-), Dwight Macdonald (1906-), Mary McCarthy (1912-1989) – na condição de editores da Partisan Review – e colaboradores como Edmund Wilson (1895-1972), Elizabeth Hardwick (1916-), entre outros. Com exceção de Barrett, os demais provinham de famílias norte-americanas prósperas e protestantes. Por fim, cabe mencionar os europeus refugiados que chegaram nos Estados Unidos no início da Segunda Guerra Mundial e se integraram ao círculo: Nicolas Chiaramonte e Hannah Arendt (1906-1975) – da mesma etnia da maioria deles, com a diferença que seus pais eram judeus alemães, educados e de classe média alta.

7 -A New International era publicada pelo Partido Trabalhista Socialista (SWU) e foi fundada e editada por Max Shachtman e Martin Abern

13

Percebe-se que a maioria destes artigos é de autoria de uma nova geração de

intelectuais nova-iorquinos, que, à época, também estavam lutando pelo socialismo. Dentre os

integrantes destas revistas que depois viriam a ter seus artigos traduzidos e publicados no

Vanguarda Socialista estão Max Shachtman, que redigiu em conjunto com Pedrosa e outros

companheiros de IV Internacional uma carta de desacordo com a defesa incondicional ao

Estado Soviético defendida por Trotski que acabou por levar à saída de Pedrosa do

secretariado da IV Internacional (MARQUES NETO,1993); e Meyer Schapiro, historiador da

arte que viria a fundar em 1954 em conjunto com outros intelectuais desta geração a revista

Dissent. Além destes, Dwight Macdonald, James T. Farrel, Irving Howe, Heinrich Leder,

Daniel Bell, Jack Barbash, Willian Henry Chamberlin, Andre Martin, Karl Korsch, Lucien

Laurat, Ruth Fischer, Robert A. Alexander e diversos outros também estiveram presentes em

edições do Vanguarda Socialista através de seus artigos.

Mario Pedrosa no exílio: os círculos trotskistas parisienses e nova-iorquinos.

Para entendermos a adoção deste novo posicionamento político de Mario Pedrosa,

que toma forma principalmente pela sua participação no Vanguarda Socialista, devemos nos

voltar para um momento anterior de sua trajetória, vivida em exílio. Em novembro de 1937,

após o golpe de estado que institui o Estado Novo, tem início uma forte perseguição política

aos críticos do governo Vargas. Tal perseguição leva Pedrosa a se retirar do país rumo a

Paris9. Ele permanece em Paris até meados de 1938, trabalhando na fundação da IV

Internacional. Após o congresso de fundação, é decidido que o secretariado da IV

Internacional deveria ser sediado em Nova Iorque, devido aos anúncios da 2ª Guerra Mundial.

Mario Pedrosa, então membro do secretariado da IV Internacional, se muda para Nova Iorque,

permanecendo lá até 1940, quando acaba perdendo sua posição no secretariado devido a sua

8- Segundo Pontes (2003), Politics foi fundado em 1943 por Dwight Macdonald e outros ex-membros do Partisan Review que romperam com o grupo devido ao posicionamento da revista em relação a participação dos EUA na 2ª Guerra Mundial. Dentre os artigos de Politics publicados no Vanguarda Socialista destacam-se a série de textos intitulados “Novos Caminhos da Política”, publicados a partir da edição 27 (01/03/1946) até a edição 40 (24/05/1946). Segundo a nota que introduz o primeiro artigo, esta série tem o intuito de publicar “estudos e artigos de crítica à ideologia dominante no campo marxista de hoje, à luz das experiências mais recentes”. Ainda segundo esta nota, este espaço serviria como uma “tribuna aberta a novas ideias e contribuições para o problema do futuro do socialismo. O interesse da série também consiste em revelar no Brasil essas novas idéias que estão tendo curso não somente nos Estados Unidos como em outras partes do mundo.” 9- Sobre o episódio de sua saída do país, ver KAREPOVS,2001

14

adesão à ala crítica ao posicionamento de Trotski em relação à defesa da União Soviética10.

Após sua exclusão da IV Internacional, Pedrosa rompe com o bolchevismo e parte para

Washington, onde trabalha no Boletim da União Panamericana como redator. Após uma

tentativa frustrada de retorno ao Brasil, Pedrosa retorna para Nova Iorque em 1943, onde

permanece até 1945, quando retorna ao Brasil devido ao fim do Estado Novo.

Neste trânsito vivido por Pedrosa ao longo de cerca de oito anos, Pedrosa conviveu

com uma série de círculos sociais diversos. Durante sua estadia em Paris, ele possivelmente

restabeleceu seu contato com o grupo surrealista, que conhece desde os idos de 1928, quando

fora a Paris para o casamento de sua cunhada, Elsie Houston, com Benjamin Péret, poeta

surrealista11. Segundo Karepovs, foi Naville que apresentou, por carta, Mario Pedrosa a

Trotski, o que teria permitido o seu ingresso no secretariado da IV Internacional

(KAREPOVS,2001). Deste círculo surrealista, Pedrosa tinha maior proximidade com Pierre

Naville, André Breton, Louis Aragon e Yves Tanguy. Sobre o episódio onde conheceu os

surrealistas, diz Pedrosa:

“Conheci-o [Magritte] em Paris pelas cercanias da Place Blanche, neste ou naquele café da estação, em torno de Breton, Eluard, Aragon, Péret, por volta de 1928. Yves Tanguy, meu amigo pessoal, lá estava sempre, taciturno mas sorridente; André Masson, culto e brilhante, Miró, em plena glória recente e inocente. Man Ray, com seus ‘radiogramas fotográficos’, assinava o ponto. Arp, por vezes.” (PEDROSA,1975:183)

Esta aproximação é ainda mais compreensível se atentarmos para a inclinação

política do grupo surrealista, que desde o início dos anos 30 já se posicionavam de forma

contrária à linha do Partido Comunista Francês e da Internacional Comunista, principalmente

pela imposição de uma literatura proletária. Essa recusa aos desígnios partidários sobre a

literatura levou grande parte do grupo surrealista ao rompimento com o Partido Comunista

Francês e ao alinhamento com a posição trotskista.

Em 1938 foi publicado o “Manifesto Por Uma Arte Revolucionária Independente”,

assinado por André Breton e Leon Trotski. O manifesto defende, em linhas gerais, a liberdade

de criação e a independência do artista frente a direcionamentos externos. Contudo, o 10 - Conforme explicado pelo próprio Pedrosa em uma nota introdutória a um artigo de Trotski, presente na edição 17 de Vanguarda Socialista, uma série de divergências teriam surgido no seio da IV Internacional devido a intransigente posição de Trotski na questão da defesa incondicional da União Soviética como Estado operário, mesmo depois dos posicionamentos de Stalin na 2ª Guerra Mundial, como a aliança entre União Soviética e a Alemanha Nazista e a Invasão russa à Finlândia. Tais divergências teriam levado a exclusão de uma minoria de membros discordantes de Trotski, no qual Pedrosa fazia parte. 11- ARANTES, 2004: 14

15

manifesto não estaria defendendo uma arte desinteressada, muito pelo contrário. O texto

afirma que a “tarefa suprema da arte em nossa época é participar conscientemente e

ativamente da preparação da revolução”, de modo que o artista só servirá a causa

revolucionária na medida em que estiver “compenetrado subjetivamente de seu conteúdo

social e individual, quando faz passar por seus nervos o sentido e o drama dessa luta e quando

procura livremente dar uma encarnação artística ao seu mundo interior” (BRETON e

TROTSKI, 1985). A adesão de Pedrosa ao manifesto contrário aos modelos pronto impostos

pela União soviética se torna evidente principalmente a partir de seu retorno ao Brasil, quando

passa a defender uma arte livre,que atenda apenas as inquietações interiores do artista frente

aos problemas postos pelas leis próprias do campo estético. Conforme Breton e Trotski, “a

verdadeira arte é incapaz de não ser revolucionária, de não aspirar a uma completa e radical

reconstrução da sociedade” (BRETON e TROTSKI, 1985). Essa adesão fica ainda mais

evidente a partir da tradução e publicação do manifesto na edição 26 da Vanguarda Socialista

(22/02/1946).

Este movimento contestatório encarnado no manifesto por uma arte revolucionária

independente iniciou-se com a reaproximação de Trotski ao tema da criação artística.

Conforme narrado por Gérard Roche (ROCHE,1985), em 1923, Trotski, que já havia escrito

“Literatura e Revolução”, decidiu revisitar suas elaborações sobre arte. Tal reformulação se

deu em 1938, a partir de sua colaboração com o jornal Partisan Review, revista marxista

estadunidense que era relançada após sua ruptura com o stalinismo. Dentre as colaborações

entre Trotski e a Partisan Review, destacam-se a série de artigos de Trotski sobre a política

cultural da URSS, que obriga seus artistas a se dobrarem aos cânones do “realismo socialista”

e a publicação da versão inglesa do manifesto de Breton e Trotski.

A revista foi um dos grandes centros de convergência destes “New York

Intellectuals”, segundo denominação de Alexander Bloom12. No final dos anos 30, a Partisan

Review reunia em torno de si vários dos intelectuais que movimentariam o campo intelectual

novaiorquino, fundando revistas como a Politics (fundada por Dwight Macdonald), Dissent

(fundada por Irving Howe13 e Meyer Schapiro) e outras14.

12- Em Prodigal Sons: New York Intellectuals and their world, Alexander Bloom, professor de história da Wheaton College, se volta para o pensamento radical norte-americano do período da década de 30 e 40, enfocando principalmente o grupo chamado por ele de “New York Intelectuals”, que seria formado principalmente por jovens imigrantes, em sua maioria de origem judia, que, em contato com a esquerda norte-americana, teriam estabelecido novos rumos para a o pensamento radical norte-americano, trazendo a tona uma maior preocupação com questões culturais. (BLOOM,1986) 13- Nos idos dos anos 50, Mario Pedrosa recebe em sua casa uma carta remetida por Irving Howe, que contém uma edição recém-lançada da revista Dissent.

16

A linha editorial da Partisan Review enfatizava tanto as questões políticas como a

produção artística, principalmente a literatura e as artes plásticas. Destacavam-se nesta dupla

atuação Clement Greenberg e Meyer Schapiro. Clement Greenberg (1909-1994) foi um dos

mais influentes críticos de arte do século XX. Seu primeiro publicado em 1939 pela Partisan

Review, teve grande repercussão à época. Sua atenção para as propriedades formais da arte –

cor, linha, espaço –, sua abordagem rigorosa da crítica e seu entendimento sobre o

desenvolvimento da arte moderna acabaram por influenciar gerações de críticos e

historiadores. Greenberg nasceu no Bronx. Seus pais – provenientes da primeira geração de

imigrantes lituanos judeus – viveram grande parte de suas vidas em Nova Iorque. Greenberg

se formou em Literatura Inglesa, pela Universidade de Syracuse, em 1930. Em meados da

década de 1930, Greenberg começou a estabelecer relações com vários críticos e escritores

que em sua maioria faziam parte do grupo de judeus trotskistas que seria conhecido como

“New York Intellectuals”. Foi a partir dessas relações que Greenberg iniciou sua carreira no

Partisan Review, onde publicou, em 1939, “A Vanguarda e o Kitsch”, onde ele fazia uma

ambiciosa análise das relações entre as artes modernas eruditas e a cultura popular

Meyer Schapiro (1904-1996) foi um renomado historiador da arte. Tendo passado a

maioria de sua carreira acadêmica na Universidade de Columbia, em Nova Iorque, Schapiro

foi um grande defensor da arte moderna, bem como um grande amigo e conselheiro de muitos

artistas, como De Kooning e Motherwell entre outros, que se beneficiaram do vasto

conhecimento de Schapiro sobre a história da arte e sobre suas teorias em estética e

perspectiva. Em 1928, antes de concluir sua dissertação e seu doutoramente, foi admitido

como lecturer em História da Arte na Universidade de Columbia. Em 1936, foi nomeado

professor assistente. No final de 1930, Schapiro ajudou a organizar um grupo socialista

dissidente chamado “American Artists' Congress”, que contou com artistas como seus

membros como Mark Rothko e Adolph Gottlieb. O congresso foi criado como um lugar para

que os artistas tivessem uma voz na luta contra o fascismo mundial. Como membro do corpo 14- Reproduzo aqui a nota de Pontes que indica as diferentes posições políticas dessas revistas: “As revistas culturais mais importantes de Nova York nos anos de 1940 e 1950 são uma das fontes privilegiadas para a apreensão das sucessivas transformações nas posições políticas desses intelectuais. Nesse sentido, destacam-se: Partisan Review, criada em 1937; Politics (1944-1949), editada por Dwight Macdonald que, em 1943, deixou o corpo editorial da Partisan, junto com Clement Greenberg; Commentary, fundada em 1945, editada por Eliot Cohen (até o seu suicídio em 1959) e depois por Norman Podhoretz, tinha entre os seus colaboradores o núcleo da intelligentsia norte-americana judaica; Dissent, lançada por Irving Howe e Lewis Coser, em 1950. No campo cultural da época, atravessado por uma série de clivagens de ordem política, enquanto a Partisan Review vai paulatinamente ocupando uma posição de centro, Politics e Dissent situam-se no pólo mais à esquerda e Commentary mantém-se mais à direita” (PONTES,2003:n.2)

17

docente da Universidade de Columbia, Schapiro começou a ganhar notoriedade por suas

teorias progressistas da história da arte, e em particular pela importância cultural atribuída a

arte abstrata moderna, algo que naquele momento ainda permanecia à margem do que era

popularmente considerado como arte verdadeira. Schapiro ajudou a transformar essa situação.

Quando as pinturas de alguns dos modernistas europeus - Braque, Picasso e Miró - chegaram

à Nova York para uma exposição no final de 1930, Schapiro trabalhou duro para promover

essas obras (ainda relativamente desconhecida em os EUA), citando-os como importantes

para a progressão da história da arte, e oferecendo suas próprias teorias sobre como esses

pintores modernos foram influenciados pelos grandes artistas como Van Gogh e Cézanne

(dois dos seus favoritos). Schapiro emprestou alguma validade ao movimento de arte moderna

e do movimento expressionista abstrato que se seguiram. Sua casa no Greenwich Village foi

durante os anos 40 e 50 um foco de atividade intelectual e artística. Nesta época Schapiro já

era famoso e frequentemente era procurada por suas tendências teóricas associadas ao

marxismo e ao socialismo15.

Próximos ao trotskismo por uma questão de oposição ao comunismo norte-

americano, os intelectuais do Partisan Review rejeitavam a noção de que a política deveria

influenciar diretamente a crítica literária e artística, e tomavam como premissa nunca exigir

de seus colaboradores conformidade com nenhuma escola política. Segundo James Gilbert, a

preocupação central do grupo era a relação entre literatura e arte de vanguarda e radicalismo

político. (GILBERT,1967:169). Tal aproximação com o trotskismo, entretanto, nunca

decorreu sem conflitos. Apesar de contar com a revista norte-americana para a divulgação de

seus escritos sobre arte, Trotsky julgava a linha política da revista “hesitante e timorada”

(ROCHE,1985:17). Em carta à Dwight Macdonald, então editor da Partisan Review, Trotski

critica duramente a ênfase nas questões estéticas e a falta de uma posição política clara, o que

demonstraria a incapacidade do grupo de se impor politicamente à frente aos acontecimentos

históricos que se anunciavam, como a 2ª Guerra Mundial16.

Essa relação claudicante com o trotskismo se manteve até o início dos anos 1940,

quando há um desinteresse geral pela política. A partir deste momento, a revista se concentrou

na “importância do intelectual como um ser político e na interpretação de suas declarações

como se estas fossem atos políticos” (GILBERT,1967:172). Assim, o comprometimento com 15 - Estas informações sobre Greenberg e Schapiro foram retiradas de Bloom,1986 e do sítio ARTSTORY.ORG 16- TROTSKI, L. [Carta] 29 jan. 1938,[S.l.] [para]Macdonald,D., Nova Iorque. Disponível em: <http://www.marxists.org/archive/trotsky/1938/06/artpol.htm>. Acesso em: 28/10/2010

18

uma grande causa política acabou sendo substituído pelo anseio de participar do renascimento

de uma arte de vanguarda, o que por si só seria um ato revolucionário. Em 1944, devido a sua

oposição aos rumos adotados pela Partisan Review, Dwight Macdonald rompe com os demais

editores da Partisan Review para criar a revista Politics, revista voltada diretamente para os

eventos em torno da guerra mundial que se desenrolava. Macdonald manteve-se fiel ao

marxismo mais tempo que seus companheiros de Partisan Review, mas acabou desiludido

com as grandes causas já em 1946, ao fim da 2ª guerra mundial. Assim, esta geração

representada pela Partisan Review acabou por traçar um caminho em direção ao campo

estético. Não que isso representasse uma total negligência com o campo político. Havia sim

uma crença na necessidade de se manter um afastamento das ideologias políticas, o que não

significaria uma negação da política, já que esta crença, por outro lado, também afirmava que

a arte era, por ela mesma, subversiva e criativa. (GILBERT,1967).

Foi este contexto intelectual marcado pela ambivalência entre radicalismo político e

arte de vanguarda que Pedrosa encontrou ao chegar aos Estados Unidos. Já rompido com o

trotskismo, Pedrosa travou contato com diversos destes intelectuais nova-iorquinos. É digna

de destaque a relação que manteve com Meyer Schapiro e Clement Greenberg, autores de

forte repercussão no mundo artístico internacional e que muito provavelmente teve efeitos

sobre o projeto de Mario Pedrosa como crítico de arte. Isto porque ambos pensaram a relação

política e arte de maneira semelhante à pensada por Pedrosa. Tal relação fica ainda mais

evidente quando atentamos que o principal ponto de contato entre estes dois autores e Mario

Pedrosa – a valorização da arte abstrata como meio artístico de caráter revolucionário e

emancipatório – se desenvolveu após o surgimento do “Manifesto Por Uma arte

Revolucionária Independente”, a partir de um período prolongado de convivência e debate

destes três intelectuais em torno de uma concepção democrática de socialismo.

Circulação de idéias e sociabilidade: O retorno de Mario Pedrosa ao Brasil e suas

conseqüências.

A compreensão dos pontos de inflexão do pensamento de um autor a partir de sua

participação em diferentes círculos intelectuais e pelo seu contato com idéias ainda não

difundidas em seu contexto cotidiano não significa pressupor uma aceitação completa destas

novas idéias.

Em sua passagem por Paris, Pedrosa encontrou ressonância em sua crítica ao

trotskismo. Devido à atuação dentro da IV Internacional, junto a outros militantes contrários a

19

defesa incondicional da União Soviética como um Estado proletário degenerado, Pedrosa

acaba sendo afastado da IV internacional, o que o leva a reconsiderar sua ligação ao

movimento trotskista. Nos Estados Unidos, Pedrosa encontra um novo contexto intelectual,

que também se afasta do trotskismo, mas que mantém uma postura radical, anti-stalinista e

anticapitalista, e que vê na luta pela arte de vanguarda o fim último de suas pretensões

revolucionárias, uma vez que entendem qualquer tipo de interferência ideológica em questões

científicas, intelectuais e estéticas como algo negativo.

A questão que se impõe a partir desta exposição é como as relações estabelecidas

em um contexto intelectual diferente daquele de seu país interferiram na produção intelectual

posterior de Pedrosa, principalmente no que se refere ao socialismo democrático defendido

pelo Vanguarda Socialista? Edward Said, ao tratar da moderna cultura ocidental, fala da

importância da atuação dos emigrantes, dos exilados e dos refugiados para a formação desta

cultura. Muitas vezes sem qualquer possibilidade de escolha, estes sujeitos são postos em um

novo país, em uma nova cultura, o que põe o exilado em um Estado intermediário, já que ele

não consegue nem se integrar completamente ao novo lugar e nem se libertar totalmente do

seu local de origem. Para Said, esta situação marginal do exilado lhe garante uma “dupla

perspectiva”, onde uma idéia ou experiência vivida durante o exílio é sempre contraposta ao

que foi deixado no país de origem, fazendo com que tanto aquilo que é vivido no presente e

aquilo que foi vivido no passado apareçam sob uma nova luz. (SAID, 2003; 2005).

Com o retorno de Pedrosa ao Brasil, não é de admirar que ele tenha pensado em

novas formas de atuação política através de outras concepções de socialismo A primeira das

influências que pode ser percebida é o próprio meio escolhido como forma de disseminar

estas idéias no Brasil: um jornal, independente, organizado pelos seus próprios colaboradores

e voltado tanto para assuntos políticos e econômicos como para assuntos literários e artísticos.

O caráter de “tribuna livre” assumido pelo Vanguarda Socialista no seu primeiro evidencia a

aversão aos dogmatismos, o que é também presente no Partisan Review. Mas além destes

aspectos formais, as atitudes ideológicas podem ser pensadas a partir da recepção das idéias

com que se deparou durante seu exílio. A independência do jornal diante dos quadros

políticos já formados no Brasil se destaca como uma destas influências. Ao compreender que

Trotski e a IV Internacional haviam fracassado na tarefa de reorganizar o movimento

socialista internacional, se impunha uma separação da Vanguarda Socialista em relação aos

grupos brasileiros de caráter bolchevista, o que levou aos participantes do jornal a se

posicionarem como um movimento de esquerda independente, voltado principalmente para o

20

debate de idéias com estes outros grupos da esquerda, que eram convidados a expor suas

idéias.

Dentre as idéias veiculadas pelo jornal, muitas são apresentadas ao público

brasileiro através de textos destes intelectuais de esquerda norte-americanos. Um dos textos

estrangeiros que suscitaram debates tratava das chamadas “teses sobre o capitalismo de

estado”, que serviria de base para os “novos rumos” adotados em um segundo momento do

Vanguarda Socialista. Estas teses foram publicadas na edição 17 do VS e são acompanhadas

de uma nota onde Mario Pedrosa explica que foram formuladas por um “grupo de marxistas

que se reuniram em Nova York durante a última etapa da guerra”, com o intuito de “estudar

o desenvolvimento econômico e político que as novas formas criadas de economia capitalista,

no seu entrelaçamento cada vez maior com o estado, determinaram” (PEDROSA,1945). Em

resumo, estas teses tratam de um tipo de capitalismo que surgiu a partir da ditadura soviética,

e substituiu a concorrência econômica nacional por uma economia internamente planificada, o

que exigia uma expansão imperialista externa e a luta pela instauração de um domínio do trust

mundial17.

Assim, o socialismo democrático defendido por Pedrosa e por estes militantes

marxistas de Nova Iorque é estabelecido com base no diagnóstico presente nestas teses. Tanto

no Vanguarda Socialista como no Partisan Review, o socialismo democrático foi entendido

como a forma de levar adiante a revolução socialista após o fracasso da revolução

bolchevique. Estes defensores do socialismo democrático retornam principalmente às

formulações de Rosa Luxemburgo, que em 1918 já criticava a falta de democracia do regime

soviético18. Segundo Isabel Loureiro, “a noção de democracia em Rosa Luxemburgo está

intrinsecamente ligada às idéias de ação autônoma e de experiências das massas”.

(LOUREIRO,1997) A autora defende o que entendimento de Rosa Luxemburgo em torno da

consciência de classe se dá pela relação dialética entre ação espontânea das massas e a

educação pelo partido. Para Luxemburgo, a consciência brotaria da espontaneidade, indo, ao

mesmo tempo além dela, num processo de educação ininterrupta, por parte de uma vanguarda.

Essas duas premissas básicas do pensamento estão presentes tanto na Vanguarda Socialista

como na Partisan Review, mas acabaram sendo desenvolvidas de maneiras particulares.

17- Pedrosa resumiu suas considerações sobre o capitalismo de estado na conferência intitulada “ Os socialistas e a III Guerra Mundial” , que depois viria a ser publicado em forma de livro. 18- Esta crítica se encontra no texto “Revolução Russa”. Este texto de Rosa Luxemburgo foi traduzido e publicado pela primeira vez no Vanguarda Socialista, tendo sua primeira parte publicada na edição 30 (22/03/1946) e sua última parte na edição 35 (26/04/1946).

21

Tanto os integrantes do Partisan Review como do Vanguarda Socialista

acreditavam no livre desenvolver da consciência de classe, na medida em que houvesse

liberdade para um aprendizado espontâneo das massas combinada a uma ação de vanguarda

que o teorizasse o desenvolvimento do capitalismo a partir dos acontecimentos históricos.

Seguindo tais preceitos, os dois grupos passaram a adotar uma atitude de vanguarda, voltada

para o exercício didático. Contudo o entendimento do papel desta vanguarda e do teor desta

educação foram entendidos de formas diversas. O Vanguarda Socialista, como já foi dito,

voltou-se para um debate tanto dos clássicos do marxismo como dos desenvolvimentos mais

recentes do marxismo, que reunia certo número de grupos políticos de variadas vertentes, que

tinham em comum a oposição ao modelo stalinista. O jornal visava um debate mais restrito,

voltado para organização de um movimento de oposição de esquerda ao stalinismo no Brasil,

de onde surgiria um partido socialista que atuaria como vanguarda política na agitação das

massas.

Já o modelo de vanguarda adotado pelo Partisan Review tomou caminhos que

afastaram o grupo dos movimentos políticos. A posição adotada pelos editores do Partisan

Review, principalmente Greenberg, foi a de estabelecer uma aproximação entre vanguarda

política e vanguarda artística, na medida em que entendiam o movimento de vanguarda como

um “movimento de emancipação cultural inserido na superestrutura do capitalismo tardio”,

cujo objetivo seria a “construção de uma cultura de alta qualidade anterior à chegada do

socialismo democrático”. Para Greenberg, o socialismo não se tratava de um simples

exercício de “obtenção e substituição do poder”, mas também de um “processo complexo de

construção e prefiguração prévia deste socialismo em favor da democracia e da humanidade”.

(HART,1988). Para os editores do Partisan Review, este híbrido entre vanguarda política e

vanguarda artística teria um caráter emancipatório na medida em que seus intelectuais –

críticos, artistas, escritores... - livres das influencias ideológicas, fossem capazes de produzir

obras que incorporassem as qualidades gerais das obras de artistas como Picasso, Braque,

Mondrian, Miró, Kandinsky, Brancusi, Klee, Matisse e Cezanne, porque é na obra destes

grandes artistas estão presentes os critérios verdadeiros de “julgamentos de qualidade” e de

“descriminação de valores”, que deverão ser disseminados pela cultura. Assim, a cultura

produzida pela vanguarda artística teria também um caráter educativo, na medida em que

estabelecia universalmente estes padrões de “julgamentos de qualidade” e de “descriminação

de valores”. (HART,1988:80)

22

Conclusão

Neste artigo, busquei apresentar alguns resultados parciais de meu projeto de

pesquisa sobre as posições políticas do jornal Vanguarda Socialista(1945-1948) através das

relações estabelecidas por Mario Pedrosa, seu diretor e principal colaborador, durante seu

exílio nos E.U.A e na França. A reconstituição da trajetória de Mario Pedrosa durante oito

anos vívidos na Europa e nos Estados Unidos ajuda a compreender parte do contexto

intelectual brasileiro no período do pós-guerra e do pós Estado Novo, que se constrói em

intenso diálogo com o contexto intelectual norte-americano e europeu. Pedrosa pode ser

entendido com portador social das concepções de socialismo democrático no Brasil, já que,

além de ter estado no centro dos debates onde tais idéias tomaram forma, também se dispôs a

estabelecer por iniciativa própria as bases para a circulação destas idéias no Brasil, primeiro

pela aglutinação do grupo que viria formar a Vanguarda Socialista, e depois pela própria ação

divulgadora do jornal.19. Assim, o exílio de Pedrosa se torna importante para formar uma nova

concepção de socialismo no Brasil na medida em que foi este exílio que possibilitou a

inserção de Pedrosa na IV Internacional. Já como membro da IV Internacional, Pedrosa se

aproximou de uma ala dissidente, que acabou sendo expulsa por Trotski. Esta participação de

Pedrosa neste grupo teria permitido a sua inserção em uma rede de intelectuais, dando a ele

um lugar privilegiado no debate mundial em torno dos novos rumos do socialismo. Nenhum

outro intelectual brasileiro esteve em contato com os círculos sociais por onde Pedrosa

circulou. Isto teria dado a ele uma possibilidade única de ter contato com idéias e formulações

sobre o socialismo ainda muito recentes, “criadas” à luz de fatos históricos ainda muito

próximos. Contudo como se deu exatamente tal contato ainda é nebuloso e precisará ser

analisado de forma mais pormenorizada em outro momento. Sem dúvida, a presença de

Pedrosa neste espaço privilegiado, seguida pela divulgação deste ideário lá obtido contribuiu

para a formação de um novo momento do socialismo brasileiro, mas ainda é preciso mapear

como tais idéias repercutiram dentro do campo intelectual brasileiro. Este artigo não pretende

dar conta deste problema.

Diante do contexto político encontrado no Brasil, marcado pela influência ainda

presente de Vargas, apesar de sua eminente saída do poder, e pela crescente notoriedade do

19-Esta aglutinação se deu pela centralidade de Pedrosa no movimento trotskista brasileiro. Conforme posto por Karepovs, Löwy e Marques Neto, a “1ª geração” de trotskistas no Brasil geralmente se organizou em torno dos posicionamentos de Pedrosa, inclusive nesta sua ruptura com o trotskismo. (KAREPOVS, LÖWY e MARQUES NETO, 1995:243-244)

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Partido Comunista Brasileira na política nacional, Pedrosa resignificou suas experiências de

exílio, adequando-as ao contexto brasileiro. De modo diferente daquilo que foi feito no

Partisan Review, Pedrosa optou por uma atuação ideológica, voltada para uma política

doutrinaria, representada principalmente pela 2ª fase do jornal Vanguarda Socialista. Mas tal

posicionamento não deve ser entendido como uma recusa completa ao caráter emancipador

das vanguardas artísticas e literárias, conforme o proposto pela Partisan Review, já que os

debates políticos dividiam lugar com textos voltados para a crítica das manifestações

culturais, de autoria de brasileiros e estrangeiros.

Contudo, é preciso ressaltar que a produção intelectual de Mario Pedrosa deste

período, demonstrada aqui a partir de sua participação no Vanguarda Socialista, não se

restringe ao campo da militância política, já que logo após seu retorno ao Brasil ele também

deu início ao momento mais profícuo de sua ampla trajetória como crítico de artes. É comum

que esta crítica de arte seja analisada de forma autônoma à produção política de Pedrosa,

como se houvesse uma cisão entre um “Mario Pedrosa militante político” e um “Mario

Pedrosa crítico de arte”, contudo, acredito que sua prática como crítico de arte tenha sido

motivada em grande parte pelo caráter político inserido em toda manifestação artística.

Assim, não seria surpreendente encontrar inferências entre as experiências de Pedrosa no

exílio e seus posicionamentos em estética ao longo da década de 1940. Neste período, os

posicionamentos de Pedrosa em artes também se voltaram para os critérios técnicos,

analisando a obra de arte a partir de composição formal, atentando principalmente para a

relação entre as linhas e cores, assim como a relação figura e fundo, tomando como

paradigma os pressupostos da psicologia da forma – ou Gestalt. De modo semelhante, os

críticos de arte vinculados ao Partisan Review também voltaram seus interesses para a arte

abstrata, sobretudo para o Expressionismo Abstrato, de Pollock e Kooning.

Contudo, as possíveis relações entre arte e política no pensamento de Mario Pedrosa

ainda são nebulosas e merecem maiores estudos. Equivocadamente, tentamos entender a

relação entre tais práticas a partir da pressuposição de que existe uma coerência anterior à

prática, como se o autor desta obra complexa tivesse a todo o momento a chave da

complementaridade entre arte e política estivesse encerrada em sua consciência desde seu

nascimento, como se fosse um plano traçado desde sempre. Contudo, para que se possa

compreender a relação entre a prática artística e a política de Mario Pedrosa, tão dispares e até

mesmo contraditórias, é preciso deixar de lado tais convicções, já que o próprio autor admitiu

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que este vínculo entre política e artes, central em seu pensamento, “não foi um romance sem

falhas” 20

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