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DEMOGRAFIA, HISTÓRIA DA FAMÍLIA E DA POPULAÇÃO PORTUGUESA NA IDADE MÉDIA: ALGUMAS REFLEXÕES LUís Miguel Duarte Faculdade de Letras do Porto No primeiro encontro organizado pelo CEPFAM, em 19 e 20 de Dezembro de 1994 , a comunicação apresentada por Henrique David 1 fez um exercício que tem tanto de simples como de indispensável para o tema: repassar o que se escreveu sobre a demografia medieval, e submeter essa bibliografia a uma revisão crítica mínima. Com a sua invejável capacidade de síntese, Henrique David condensou o trabalho em poucas páginas. Que passaram a ser, desde a publicação das Actas do Encontro, um ponto de partida seguro para se voltar a pensar no tema. Estas breves reflexões remeterão constantemente para esse artigo; a ideia delas é, gsso modo, a seguinte: apresentando-se o panorama tal como ele o descreveu, vale a pena voltar à demografia medieval portuguesa nos próximos anos? se vale, para fazer o quê? 1. Na sequência do que essa síntese procurou fazer, parece-me indispensável proceder a uma crítica sistemática dos 'números clássicos ', pacificamente aceites, da população portuguesa; aqueles que se apoiam em dados ou interpretações provada- mente errados devem ser definitivamente rejeitados. Como aqueles, e não são poucos, que pura e simplesmente não se apoiam em qualquer tipo de dedução. Um exemplo: os 1 o.ooo habitantes que foram alvitrados para o Porto de finais de Quatrocentos. Qual é a base desta cifra? Por que cálculos, por que documentos, se chegou a ela? Debalde percorreremos os historiadores consagrados do Porto medieval 2. Terá sido uma intuição, uma estimativa aproximada? Não se sabe. Sabe-se é que, uma vez divulgada, é dificílimo, para não dizer impossível, pô-la de lado. "Cuidado com as autoridades, dizia - me uma vez o sábio Dom Abade da Colegiada de Santo Isidoro de Léon, ele próprio 'uma autoridade '; a partir do momento em que alguma autoridade 'cola ' uma data a um facto ou a um objecto, vemo-nos aflitos para a tirar de lá". Haveria que recapitular todos os números totais e parciais disponíveis e, quando depararmos com alguns que foram avançados sem qualquer razoabilidade, pura e simplesmente eliminá-los. Em lugar do raciocínio cómodo, que nos aconselha, à falta de melhor e mais seguro, a ficar com essas propostas, deveríamos talvez escolher outro caminho: entre valores arbitrários e o vazi o total, é sem dúvida preferível este último. Não engana ninguém e constitui um desafio mais sério para futuras investigações. Ao emitir esta opinião coloco-me na esteira do que afirmou Robert Fossier, num texto essencial de balanço e perspectivas da demografia medieval: "As estimativas avançadas por certos historiadores americanos, como Bennett ou Russel, sobre todo o milénio medieval, ou mesmo, como Ferdinand Lot, sobre os tempos carolíngios, são puros fantasmas; aliás essas estimativas variam, segundo os autores, em várias dezenas de milhões em toda a Europa" 3 . 2. De alguma forma na linha da opinião anterior, creio que haveria vantagem em repensar profundamente algumas das fontes que adquiriram incontestado 'direito de 185

demografia, história da família e da população portuguesa na idade

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D E MO G RAFIA, H ISTÓRIA DA FAM Í LIA E DA POPULAÇÃO P O RTUG UESA

NA I DADE MÉDIA: ALG UMAS REFLEXÕES

LUís Miguel Duarte Faculdade de Letras do Porto

No primeiro encontro organ izado pelo CEPFAM, em 1 9 e 20 de Dezembro de 1 994 , a comunicação a presentada por Henr ique David 1 fez um exercício que tem tanto de s imp les como d e i nd ispensável para o tema: repassa r o q u e se escreveu sobre a demografia medieva l , e submeter essa b ib l iografia a uma revisão crítica mínima. Com a sua i nvejável capacidade de síntese, Henr ique David condensou o traba lho e m poucas páginas. Que passa ram a ser, desde a publ icação das Actas do Encontro, um ponto de part ida segu ro para se volta r a pensar no tema. Estas breves reflexões remeterão constantemente para esse artigo; a ideia delas é, grosso modo, a seguinte: apresentando-se o panorama ta l como e le o descreveu , va le a pena vo lta r à demogra fia med ieva l portuguesa nos próximos anos? se va le , para fazer o quê?

1 . Na sequência do que essa s íntese procurou fazer, parece-me ind ispensável proceder a uma crítica sistemática dos 'números clássicos' , pacifi ca mente a ceites, da popu lação portuguesa; aqueles que se apo iam em dados ou i nterpretações provada­mente errados devem ser defin itivamente reje itados. Como aqueles, e não são poucos, que pura e s implesmente não se apoiam em qualquer tipo de dedução. Um exemplo: os 1 o .ooo habitantes que foram a lvitrados para o Porto de finais de Quatrocentos. Qua l é a base desta cifra? Por que cá lcu los, por que documentos, se chegou a e la? Debalde p e rcorreremos os h i stori a d o res consagrados d o Porto m e d i eva l 2 . Terá s i d o uma i ntuição, uma estimativa aproximada? Não se sabe. Sabe-se é que , uma vez divu lgada , é d i fi cí l imo, para não dizer i mpossível , pô-la de lado. "Cuidado com as autoridades, diz ia­me uma vez o sábio Dom Abade da Colegiada de Santo Is idoro de Léon , e le próprio 'uma autoridade' ; a part ir do momento em que a lguma autoridade 'cola ' uma data a um facto ou a um objecto, vemo-nos afl i tos para a t ira r de lá" .

Haveria que recapitu lar todos os números tota is e parcia is disponíveis e , quando depa ra rmos com a lguns que foram avançados sem qua lquer razoab i l i dade , p u ra e s implesmente e l iminá-los. Em lugar do raciocín io cómodo, que nos aconse lha , à fa lta de me lhor e ma is seguro, a fi ca r com essas propostas, deveríamos ta lvez esco lher outro caminho: entre va lores arbitrários e o vazio tota l , é sem dúvida preferível este ú lt imo. Não engana n inguém e constitu i um desafio mais sério para futuras i nvestigações. Ao emitir esta op in ião coloco-me na este i ra do que a fi rmou Robert Foss ier, num texto essencia l de balanço e perspectivas da demografia medieval : "As estimativas avançadas por certos historiadores americanos, como Bennett ou Russel , sobre todo o m i lén io medieva l , ou mesmo , como Ferd inand Lot, sobre os tempos carol íngios , são pu ros fantasmas; al iás essas estimativas variam, segundo os autores, em várias dezenas de mi lhões em toda a Europa" 3 .

2. De a lguma forma na l inha da opin ião anterior, cre io que haveria vantagem em repensar profundamente a lgumas das fontes que adqu i ri ram incontestado 'd i reito de

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cidade' na demografia med ieva: róis de beste i ros, ró is de tabel iães, l istas de igrejas. um bom começo seria dota r os investigadores de cuidadas ed ições d ip lomáticas que , se existem em alguns casos 4, seriam bem recebidas em outros, a começa r pe l a l ista das igrejas de 1 3 20- 1 3 2 1 s .

Quanto á uti l idade destes textos, sem contesta r a uti l ização que deles tem s ido fe ita e as representações grá ficas propostas, tenho sér ias dúv idas de que se possa constru i r, a partir de a lguns deles, ordens de grandeza na d istri bu ição da popu lação. Tomemos o rol dos besteiros de 1 422 6, por exemplo , e comparemos números de várias ci rcunscrições - pura e s implesmente não faz sentido: Arronches e Marvão ti nham tanta gente como Lagos? Setúbal t inha bastante mais do dobro de Lagos, Faro, S i lves e Tavira ? Gu imarães t inha 2 ,5 vezes a população do Porto? Há um sem número de outros factores q u e i nterfe rem na f ixação do conto dos bestei ros pa ra a l é m do q u a n titat ivo dos habitantes. Para os tabel iães e as igrejas colocam-se problemas específicos, mas que permitem levantar reservas semelhantes. Cre io que começa a ser pouco compensador o exercício i ntelectual de d iscutir coeficientes multip l icadores. Cada vez mais temos a sensação de que fazer equivaler um tabel ião, um besteiro ou uma igreja a x habitantes é uma operação tota lmente a l iatór ia , e eventua lmente i ncorrecta, a lgo ass im como somar batatas com cebolas.

Por outro lado , nu nca foi mu ito segu ida , em Portuga l , a perspectiva d e fazer projecções a pa rti r das á reas a m u ra l hadas 7 , na este i ra d e Torrez-Ba l bás . Cá l cu los desses, tentados pa ra Ób idos, d eram resu ltados sem qua lquer va l idade. As muralhas góticas do Porto, se objecto de um tratamento desse t ipo , produzi r iam um n ú mero disparatado.

Devemos fami l ia riza r-nos com os conceitos e métodos da demografia , mas usar de a lguma prudência no momento da sua ap l i cação ao nosso período crono lógico. Desde estudante nunca entendi bem as esperanças de vida em torno dos 30 a nos, ou i n fer iores, quando as fontes pareciam tra nsmit i r outra i magem; esse desconforto é , a l i ás , mot ivo d e fre q u e ntes perp lex idades e ntre os med ieva l i stas . Por i sso a c h e i esclarecedora a posição de Foss ier: " o s demógrafos profiss iona is ut i l iza m o a bsurdo cr ité r io d e "espera n ça d e v ida" que não tem rigorosa m ente n e n h u m va l o r n u m a sociedade e m q u e s e acotovelam numerosos nados-mortos e vigorosos anciãos. Está hoje bem estabelec ido que uma vez tra nsposta a a l ta barre i ra dos fa lec imentos da pr imeira idade , o ser humano ati nge, sem obstáculos, ci nquenta a sessenta a nos d e idade : as vidas d o s reis ou d o s pre lados mu ltip l icam o s exemplos d isso mesmo; na a lde ia , as a rbitragens e os compromissos apoiam-se sem d i ficu ldade nos testemunhos de numerosos septuagenários" s.

3 . Pod íamos cont i n u a r u m pouco ma i s a suger i r o q u e ta lvez n ã o s e d eva conti nuar a fazer. Passemos a um discurso mais afi rmativo. Não temos que ren unciar ao quantitativo: "contar não impl ica a todo o momento uma base de números, seguros ou não. Podemos contar a pa rti r de dados d ispersos, pontuais , ind i rectos . . . " 9 . Depois , cre io que os med ieva l istas devem pa rti r decid idamente do Numeramento de 1 5 2 7- 32 . Há e x c e l e ntes t ra ba l h o s m o n ográ f i cos o u ma is g l o b a i s s o b re este l e v a n ta m e n t o popu lac iona l 1 o Uti l izá - l os para cá lcu los de popu lação a lgumas décadas a ntes, ou mesmo um século antes, exigi ndo cuidados, é perfeitamente razoáve l . Mas, repito, é preciso estudar com a maior profund idade o numeramento; não chega dizer que como caste l o d e V ide , ce rca e a rra ba ldes i n c lu ídos , ti nha por a q u e l es a n o s 8 8 5 fogos, inc lu indo 205 viúvas e 22 c lérigos de missa , é de crer que rondasse, e m 1 450 , os x ha bitantes. o cruzamento de documentação vária permitiu a José Marques propostas s ó l i d a s s o b re a evo l u çã o d e m ográ f ica da a rq u i d i ocese de B ra ga , c o m m a rcos cronológicos bastante apertados: 1 477 , 1 493 , 1 506 , 1 5 1 4 , 1 52 7 1 1 .

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Devemos também continuar a precisa r os conceitos, quer aque les de que nos servimos hoje , quer os uti l izados nas fontes, na l i nha das páginas que João Alves D ias escreveu sobre fogos, vizinhos e moradores 1 2 .

4. Em segundo lugar, cre io ter ficado claro, a parti r do traba lho de Henrique David , q u e o s dois tipos de fontes mais fiáveis e q u e têm produzido propostas mais credíveis são as inquirições e os documentos de tipo fiscal. Nenhum deles foi ainda explorado até á exaustão. É um segundo caminho que merece uma aposta continuada. No caso dos l ivros de fintas ou outros impostos, há que aproveitar bem fontes do século XVI (estou a lembrar-me do Livro da Abertura da Rua das Flores , do Porto). Sobretudo , não se ju lgue, nunca se ju lgue, que está tudo descoberto. Como exemplo , cita ria a preciosa l i sta de fregueses da Corre lhã , datada de 1 3 de Novembro de 1 2 2 9 , d ivu lgada por Antón io Matos Re i s 1 3 Uma conjugação rigorosa das fontes pub l icadas e dos estudos conhecidos com a incorporação de a lguns dados novos de grande relevância permit iu a Maria Helena da Cruz Coe lho escrever recentemente um capítu lo fundamenta l para a h istória da população portuguesa 1 4 .

5. A arqueologia e os estudos de urbanismo podem ajudar-nos, reconstitu i nd o malhas de ocupação, t ipos de ed i fícios, tamanho de a ldeias , etc. E temos já experiências i nteressantes: João Gouveia Monte i ro a ba lança-se a cálculos de efectivos m i l ita res a partir das horas de marcha de uma coluna ou das d imensões de cenários de bata lhas 1s.

É um terreno em que está quase tudo por fazer.

6. A existência de numerosas monografias de cidades e vi las medievas, e mesmo de ruas , deve ser acompanhada com toda a atenção. Por vezes, quando o objecto de estudo é ci rcunscrito, do ponto de vista espacia l , o i nvestigador consegue cruza r uma razoável quantidade e variedade de fontes e chegar a uma proposta vá l ida no que toca à popu lação.

I I

se no ca mpo dos números g loba is não vejo perspectivas an imadoras a cu rto prazo 1 6 , creio que está muito por fazer em outros domínios da h istória da população e da história da famí l ia: os vários tipos de famí l ia , as estratégias sucessórias 17 , as idades do homem e da mulher (sociais e b io lógicas), a relação, soc ia l e numérica, entre os do is sexos, o mercado matrimonia l . Podem ser reveladores temas como o dos órfãos, o das amas, o das legitimações 1 8 e o das perfilhações; ou as doenças e as ep idem ias , a h istória do corpo, a h istória da a l imentação, da in fância , da juventude , da ve lh ice . A mobi l idade das popu lações medievais merece maior atenção, no seguimento do estudo p ione i ro de I ria Gonça lves 1 9 . Há muitas e boas fontes para avança r nestes estudos, a lgumas menos conhecidas, outras menos aproveitadas 2o. Permito-me sub l inhar, de e ntre todas, as fon tes normativas. Em resposta a a lguma h i stór ia d o d i re i to q u e pretendeu, sem mais , deduzir a rea l idade das le is , desva lorizou-se em excesso esse t ipo de fontes. Ora por um lado os medieva l i stas portugueses d ispõem de u m conjunto de ordenações, d ispersas ou reunidas em colectâneas, verdade i ramente excepcional ; por outro, e essencia lmente, esses textos normativos são ind ispensáveis para i luminar uma situação anterior (o d i reito tenta muitas vezes fixar um estado de coisas passado) ou o que os legisladores gostavam que existisse. Pa ra a lém do d i reito h ispân ico e português, faço eco do conselho , repetido vezes sem conta , do meu saudoso amigo e professor Ca r los A lberto Ferre i ra de A lme ida : atenção ao d i re i to roma no , atenção ao d i re i to

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canón ico. Devemos continuar a tenta r situa r melhor a respectiva recepção 2 1 , mas é fo rçoso saber o q u e e l es p rescrev iam e m re lação a temas como o casa m ento , a adopção, a hera nça, a maior idade, etc. Há d i ficuldades evidentes: o latim, primei ro , e a pouca acessib i l idade dos textos 22; mas há também obras clássicas de h istoriadores que compend iam e comentam o que , sobre determinadas matérias , a que las co lecções preconizavam e que, à fa lta de recurso aos originais . podem fornecer u ma in formação satisfatória 23 _

Disc ip l i nas como a pa leoantropo logia , a pa leopato logia , a pa leoep idemologia , relativamente estabelecidas em outros países mas que, entre nós , só agora começam a dar os prime i ros passos, trarão, por certo, importantes revelações 24. Lembrando que o estu d o d o sangue pode permit i r aos b i ó l ogos, aos etnó logos e aos h istori a d o res determinar as ca racterísticas somáticas dos grupos humanos, Foss ier nota que se os medievistas não podem dispor de "sangue medieva l" , têm, em contra partida, ossos com fartura .

As cartas de perdão régias, que estudei em pormenor, encerram dados de uma enorme r iqueza para o conhecimento dos agregados fa m i l i a res até a o 4º grau de p a r e n tesco 2 5 . U m tra ba l h o exaust ivo a pa rti r de las pode d a r- n o s i d e i a s m u i to a proximadas acerca do tamanho e da composição das famíl ias. Pode portanto fornecer os célebres índ ices multip l i cadores, desta vez credíveis; recordemos que fo i d evido à pro l i fe ração de í nd i ces a o gosto d e cada u m , sem qua lque r base concreta p a ra a rea l i d a d e p o rtuguesa . q u e a m a i o r i a d o s i nvest iga d o res fo i p rogress iva m e n t e a bandonando a pretensão d o s números a bsolutos, para se l im ita r a traba lha r c o m fogos.

Em conc l usão : penso q u e , a pós u m a cr ít ica ra d i c a l de todas as p ro postas existentes sobre números, parcia is ou globais , respeita ntes à popu lação portuguesa medieva , deveriam ser rejeitados todos aqueles, mesmo os mais a rreigados, que não a p resentem uma base c ientífica mín ima. E que, sempre atentos à busca d e outros números, os investigadores se deveriam voltar, nos tempos mais próximos, para os aspectos dominantemente qua l itativos da h istória da popu lação . Ta lvez , n o fim da viagem, se vejam premiados com novos dados que permitam volta r a fazer contas, regressar a quantidades, em bases desta vez mais credíveis. Como lembra Foss ier, "os l im ites da demografia medieval podem ser recuados; para isso, é necessário proceder a recensea mentos minuciosos, região por região , para conhecer exactamente a nossa bagagem" 26.

N OTAS

1 A População portuguesa na Idade Média: uma revisão bibliográfica (p. 8 7 -9 1 ) .

2 Nomes pelos qua is tenho o maior respeito cientí fico e até um carinho pessoa l , homens conhecedores que foram da h istória da terra onde v ivo e trabalho: António Cruz. Pinto Ferreira, Maga lhães Basto, Pedro Vitorino. Carlos Bastos, Horácio Marça l , etc.

3 Aperçus sur la démographie médiévale, ín Population et démographie ou Moyen Âge (Acres du 1 1 8e congrés national des sociétés historiques et scienti[iques, Pau, 25-29 oct. 1 993), d i r. de O l iv ier G uyotjeann in , Pa r is , Édit ions du CTHS, 1 995 , p. 1 5 .

4 Por exemplo, a l ista de tabel iães do fim do sécu lo X I I I , publ icada por A. H. de Ol iveira Marques (A População Portuguesa nos Fins do Século XIII, in Ensaios de História Medieval Portuguesa, 2' ed., Lisboa, Vega, 1 980, pp. 5 1 -92.) : os censuais de Braga por Avel ino de jesus da Costa (0 Bispo D. Pedro e a Organização da Diocese de

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DEMOGRAFIA, HISTÓRIA DA FAMÍLIA E DA POPULAÇÃO PORTUGUESA NA IDADE MÉDIA: ALGUMAS REFLEXÕES

Braga , 2 vols. , Coimbra, Fac. de Letras, 1 959) , etc. Pa ra uma l istagem comp leta das fontes e respectivas edições, veja-se A. H. de O l iveira Marques - Portugal na Crise das Séculos XIV e XV. Lisboa, Ed. Presença, 1 986 , pp. 15 e ss.

Ver A. H . de Ol iveira Marques - Portugal na Crise ... cit. , p. 1 5 , nota 2.

6 Ordenações A[onsinas, Lisboa, Fundação Calouste Gu lbenkian, [s.d.] , I , Tit. LXVI I I ! , pp. 438-447 .

Como n inguém se abalançou, e bem, a tentar projecções a partir das á reas das igrejas ou das mesquitas.

8 O.c. , pp. 1 8- 1 9.

9 Robert Fossier - O.c. , p. 1 1 .

1 O Sobretudo João Alves Dias - Gentes e Espaços (em torno da população portuguesa na primeira metade do século XVI). dact., Lisboa, 1 992 (com publ icação dos textos para as comarcas do Entre Douro e M inho e do Entre Tejo e Guadiana); Jú l ia Costa Pere i ra Galego - A Comarca d'Amtre Tejo e Odiana no numeramento de 1 527- 1 532 , Lisboa, Centro de Estudos Geográficos - IN IC , 1 982; Idem e Suzanne Daveau - o Numeramento de 1 527- 1 532. Tratamento cartográfico. Lisboa, Centro de Estdos Geográficos, 1 986. Vejam-se os c inco artigos de Anse lmo Braamcamp Freire no "Archivo H istorico Portuguez": Povoação do Entre Doiro e Minho no XVI. seculo, 2 ( 1 905 ) , pp. 2 4 1 - 2 7 3 ; Povoação de Trás os Montes no XVI. seculo. 7 ( 1 909 ) , pp. 2 4 1 - 290 ; Povoação da Estremadura no XVI. seculo, 6( 1 908), pp. 2 4 1 -284; Povoação de Entre Tejo e Guadiana no XVI. seculo. 1 - Terras da coroa e do Ducado de Bragança, 4 ( 1 906), pp. 93 - 1 05 ; Povoação de Entre Tejo e Guadiana no XVI. seculo. 1 -Terras das Ordens Militares, 4( 1 906), pp. 330-363 ;

1 1 A Arquidiocese de Braga no século XV. Lisboa. Imprensa Nac iona l - casa da Moeda, 1 988 , pp. 267 e ss. Como o autor lembra, é errado comparar, sem mais, cifras do sécu lo XI I I e do numeramento, pois isso pode levar-nos a esquecer as dramáticas a lterações dos séculos XIV e XV, e a estar menos atentos aos pr imeiros sinais de recuperação, que ocorrem em momentos d i ferentes nas várias regiões e países.

1 2 Gentes e Espaços . . . , vol. 1 , pp. 25 -32 .

1 3 Entre Braga e Santiago de Compostela: a "vila corneliana" na primeira metade do século XIII (a pub l icar no próx imo número do "Arquivo de Ponte de L ima") . Inc lu i -se um número mu i to elevado de c lérigos, que constituíram a base para a futura colegiada . Do mesmo autor, consulte-se a inda Viana e m 1 5 1 7. Urbanismo, demografia e sociedade. Estudo da finta para a construção da ponte da Ajuda, sobre o Guadiana, Viana do Caste lo , 1 9 9 5 : Matos Re i s conta 1 2 7 8 fogos enca beçados por homens ( 86 dos q u a i s i sentos) e 2 5 0 encabeçados por mu lheres ( 7 2 isentos), n u m tota l de 1 5 2 8 fogos (p . 2 8) . Veja-se por fim o traba lho A fiscalidade em exercício: o pedido dos 60 milhões no almoxarifado de Loulé, de Maria Helena da Cruz Coelho e Luis Miguel Duarte "Revista da Faculdade de letras - História", 2." Série, 13 ( 1 996), pp. 205-229.

1 4 Os homens ao longo do tempo e do espaço, i n Portugal em definição de fronteiras. Do Condado Portucalense à Crise do século XIV, vai . III da Nova História Portugal, di r. por Joel Serrão e A. H. de Ol iveira Marques, Lisboa, Ed. Presença, 1 996, maxime pp. 1 66- 1 82 .

15 A Guerra em Portugal nos finais da Idade Média, Coimbra, dact., 1 997 , vol . l , pp. 1 76 e ss.

1 6 Fossier considera os números globais mu ito menos interessantes do que os parciais (0 c. , p. 1 5).

1 7 Na esteira de estudos como os seguintes: Hermínia Vasconcelos Vilar - A Vivência da Morte na Estremadura Portuguesa ( 1 300- 1 500), Redondo, Patrimonia Historica, 1 995; Idem e Maria João Violante Branco Marques da Si lva - Morrer e Testar na Idade Média: alguns aspectos da testamentária dos séculos XIV e XV, "Lusitania Sacra " , 2 " Série, L isboa, 1 992 ; Manuela Santos Si lva - Contribuição para o estudo das oligarquias urbanas medievais: a instituição de capelas funerárias em Óbidos na Baixa Idade Média, i n A região de Óbidos na época medieval - estudos, [s. l . ] , Co l . P .H . - Estudos e Documentos, 1 994 , pp . 1 5 5 - 1 69 ; Fernando Car los Rodrigues Martins - A Colegiada de Santa cruz do castelo e a capela de D. Isabel de Sousa, dact., Porto, Fac. Letras, 1 996; Albertina C.M.S. Barbosa - Capelas e Aniversários do Mosteiro de S. Domingos do Porto no século XV, dact., Porto, 1 995; Maria Ângela Beirante - As Capelas de Évora, "A Cidade de Évora . Boletim Cultural da Câmara" , 65-66( 1 982-83), pp. 2 1 -50; Eugénio Andrea da Cunha e Feitas - As Capelas de S. Domingos do Porto, "Boletim Cultural da Câmara Mun icipal do Porto", 1 939, pp. 5 1 -68 e 1 8 7-209; Ivo Carneiro de Sousa - Legados Pios do Convento de S. Francisco do Porto. As Fundações de missas nos séculos XV e XVI, "Boletim do Arquivo Distrita l do Porto", 1 ( 1 982) , pp. 59- 1 1 9; Maria de Lurdes Rosa - o Morgadio em Portugal (sécs. XIV-XV). Lisboa, Ed. Estampa, 1 995 .

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1 8 como exemplo Caria Maria de Sousa Amorim Teixeira - Moralidade e costumes na Sociedade de Além-Douro: 1433- 1 5 2 1 (a partir das legitimações), Porto, dact., 1 996, e Sónia Maria de Sousa Amorim Teixe ira - A Vida privada Entre Douro e Tejo: estudo das legitimações ( 1 433- 1 52 1) , Porto, dact., 1 996.

19 Para o estudo da área de influência do Porto nos fins do século XIV, in Um olhar sobre a cidade medieval, casca is, Patri monia H istorica . 1 996 , pp. 1 38- 1 5 2 (pr imeira publ icação em 1 9 78). Veja-se o que sobre o tema afirma Robert Fossier (O.c. , pp. 1 9 e ss.). o colóqu io a que o seu texto serve de introdução tem uma secção, com quatro trabalhos, dedicada ás migrações.

20 Fontes normativas eclesiásticas ou la icas, fontes narrativas, textos l iterários, l ivros de l i nhagens, iconogra fia , toponímia e antroponímia , etc.

2 1 Se se processou essencialmente no século XII ou se, tendo começado por essa a ltura, aconteceu em Portuga l sign i ficativamente mais ta rde: "Depois de um período de lenta infi ltração nos séculos X I I I e XIV, assiste-se nos séculos XV e XVI a uma verdadeira recepção do d i reito romano como d i reito subsidiário na maior parte dos países da Eu ropa Ocidenta l . " Oohn G i l issen - In trodução Histórica ao Direito. L isboa, Fundação Ca louste Gu lbenkian, [ 1 988] . p. 24 1 ) .

2 2 Há edições a inda possíveis de obter do d i reito justin ianeu , mas no que toca ao Decreto e às Decretais é bem mais d i fíc i l consegui - los; creio que , em Portuga l , cada vez menos investigadores os conhecem e podem consultá-los.

2 3 Autores ccomo Brooke, Brundage, Gaudemet, Marongiu , Weigand, Garcia y Garcia, sánchez Herrero, Aznar G i l ou, entre nós, Isaías da Rosa Pereira e Pau lo Merea, entre muitos outros.

24 Veja -se. por todos. La Femme pendam /e Moyen Âge et 1 'Époque Moderne (Actes des Sixiémes )ournées Anthropologiques de Valbonne. 9- 1 1 juin 1 992), dir. de Luc Buchet, Pa ris, CNRS, 1 994 . Entre nós, é de destacar o trabalho do Centro de Investigação de Antropologia do Departamento de Antropologia da Faculdade de C iênc ias e Tecnologia da Un iversidade de Coimbra, e sobretudo a obra de Eugénia Mar ia Guedes P into Antunes da Cunha - Paleobiologia das populações medievais portuguesas: os casos de Fão e S. ]oão de A/medina. Coimbra , 1 994 .

25 o respectivo estudo constitui um projecto de médio prazo que in iciámos no âmbito do seminário sobre História da População e da Família na Idade Média (Mestrado de H istória Medieval da Faculdade de Letras do Porto).

26 O.c. , pp . 1 4- 1 5 .

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