Author
guilherme-lewandowski
View
223
Download
1
Embed Size (px)
DESCRIPTION
medicina
117VOL. 27, N.o 1 JANEIRO/JUNHO 2009
Legislao
di
reito
da s
ade
Esta rubrica da responsabilidade de:Alexandra Pagar de Campos, assessorajurdica, do Gabinete Jurdico da ENSP/UNL.Paula Lobato de Faria, professora associadade Direito da Sade e Biodireito da EscolaNacional de Sade Pblica da UniversidadeNova de Lisboa (ENSP-UNL).
O novo Cdigo Deontolgicoda Ordem dos Mdicos
Pela importncia de que se reveste, estesemestre de destacar a publicao doCdigo Deontolgico da Ordem dosMdicos (Regulamento n.o 14/2009, daOrdem dos Mdicos, Dirio da Repblican.o 8, II Srie, de 11 de Janeiro de 2009),o qual transcrevemos na ntegra:
PREMBULO
Um Cdigo Deontolgico destinado a mdicos um conjunto de normas de comportamento,cuja prtica no s recomendvel como deveservir de orientao nos diferentes aspectos darelao humana que se estabelece no decursodo exerccio profissional.Nele se contm sempre dois tipos de normas:um primeiro, que diz respeito aos princpiosticos fundamentais, que so imutveis nostempos e nos lugares, encontrando-se fora eacima de conceitos ideolgicos ou polticos; so
exemplos bem marcantes o respeito pela vidahumana e pela sua dignidade essencial, o deverda no-discriminao, a proteco dos diminu-dos e dos mais fracos, o dever de segredomdico, o dever de solidariedade e o dever deentreajuda e respeito entre profissionais, bemcomo o de contribuir para o progresso da medi-cina. So igualmente exemplos as normas queresultem directamente da aplicao de princ-pios ticos fundamentais como o princpio dabeneficncia, da no maleficncia, da autono-mia e da justia.Existe um segundo tipo de normas, que sepodem designar parcialmente por acidentais,que, embora teis e mesmo necessrias, podemvariar no tempo e no lugar. Entre elas encontra-mos como exemplos a publicidade mdica e oshonorrios, as relaes com as administraespblicas, o exerccio da Medicina em institui-es de sade ou as relaes tcnicas comoutros profissionais. So normas que derivamdos usos e costumes, bem como da cultura pr-pria das comunidades onde se originam.Alm destes dois tipos de normas podem existirnovos factos que o progresso das cinciasobriga a tomar em considerao sob um pontode vista tico. A interveno gentica, de que omodelo mais falado foi a clonagem; os novosconceitos de avaliao da morte; e o desenvol-vimento das possibilidades e das tcnicas detransplantao so, entre outros, novos proble-mas que necessrio introduzir num CdigoDeontolgico.Igualmente alguns princpios, como o da defesaintransigente da vida, que imprescindvel
manter, devem ser abordados luz da reflexotica e cientfica, atento o facto incontornvelde no haver uma posio unnimesobre o momento do seu incio. Assume assim,nesta matria, uma importncia particular areflexo tica do mdico luz das suas convic-es, dos conhecimentos cientficos maisactuais e dos valores em presena.Em todas as circunstncias, as condutas que oCdigo postula esto condicionadas pela infor-mao cientfica disponvel, pelas recomenda-es da Ordem e pelo princpio tico geral daprudncia, sem prejuzo do direito objecode conscincia, inclusive em relao legisla-o em vigor.Um Cdigo Deontolgico , afinal, tal como atica Mdica que lhe d origem, algo em per-manente evoluo, actualizao e adaptao realidade. Por outro lado, inscrevendo-se oscdigos deontolgicos profissionais no acervojurdico de uma determinada sociedade, e reti-rando a sua fora vinculativa da autoregulaooutorgada organizao que o adoptou, inte-gram-se no quadro legislativo geral.Sem prejuzo de os tribunais, por aplicao daLei, poderem tornar ineficazes as decises dis-ciplinares que resultam da sua aplicao, nopode o Cdigo Deontolgico deixar de reflectira tica Mdica e s esta.Se aos mdicos e s a estes compete adaptar ealterar o seu Cdigo Deontolgico, esto osmdicos vinculados a dar testemunho de princ-pios ticos universais que estruturam e tornamsignificante a sua cultura e a sua existnciacomo profisso.
Direito da sade
118
Legislao
REVISTA PORTUGUESA DE SADE PBLICA
No texto normativo que se apresenta a seguirquiseram manter-se bem claras as regras deon-tolgicas fundamentais; procuraram actualizar-se aspectos relacionados com os conhecimentosactuais da cincia mdica; tenta-se uma maiorsimplificao, aliviando o texto de refernciasexaustivas de regras que esto consagradas nalegislao.Assim, em cumprimento do estabelecido na al-nea a) do artigo 6.o e ao abrigo das disposiesconjugadas da alnea b) do art.o 57.o, da alneaj) do artigo 64.o, com observncia do artigo 80.o,todos do Estatuto da Ordem dos Mdicos, apro-vado pelo Decreto-Lei n.o 282/77, de 5 de Julho,com as alteraes introduzidas pelos DecretosLei n.o 326/87, de 01 de Setembro e n.o 217/94,de 20 de Agosto foi aprovado o seguinte CdigoDeontolgico:
TTULO IDISPOSIES GERAIS
CAPTULO IPRINCPIOS GERAIS
Artigo 1.o
(Deontologia Mdica)
A Deontologia Mdica o conjunto de regras denatureza tica que, com carcter de permannciae a necessria adequao histrica na sua formu-lao, o mdico deve observar e em que se deveinspirar no exerccio da sua actividade profissio-nal, traduzindo assim a evoluo do pensamentomdico ao longo da histria e tem a sua primeiraformulao no cdigo hipocrtico.
Artigo 2.o
(mbito)
1. As disposies reguladoras da DeontologiaMdica so aplicveis a todos os mdicos noexerccio da sua profisso, independentementedo regime em que esta seja exercida.2. O disposto no nmero anterior no preju-dicado pelo facto de, num caso concreto, emface da legislao em vigor, no ser possvel asua aplicao ou sancionada a sua violao.3. Nas circunstncias do nmero anterior, asdisposies deste Cdigo mantm-se comcarcter indicativo tico, podendo ser alegadasdesignadamente para efeito de objeco deconscincia.
Artigo 3.o
(Independncia dos mdicos)
1. O mdico, no exerccio da sua profisso, tcnica e deontologicamente independente eresponsvel pelos seus actos.
2. Em caso algum o mdico pode ser subordi-nado orientao tcnica e deontolgica deestranhos profisso mdica no exerccio dasfunes clnicas.3. O disposto no nmero anterior no contra-ria a existncia de hierarquias tcnicas institu-cionais, legal ou contratualmente estabelecidas,no podendo, contudo, em nenhum caso, ummdico ser constrangido a praticar actos mdi-cos contra sua vontade, sem prejuzo do dis-posto no artigo 7.o e 41.o, nmero1.
Artigo 4.o
(Competncia exclusiva da Ordem dosMdicos)
1. O reconhecimento da responsabilidade dosmdicos emergente de infraces DeontologiaMdica uma competncia disciplinar exclu-siva da Ordem.2. Quando as violaes Deontologia Mdicase verifiquem em relao a mdicos que exer-am a sua profisso vinculados a entidadespblicas, cooperativas sociais ou privadasdevem estas entidades limitar-se a comunicar Ordem as presumveis infraces.3. Se a factualidade das infraces deontol-gicas e tcnicas preencher tambm os pressu-postos de uma infraco disciplinar includa nacompetncia legal daquelas entidades, as res-pectivas competncias devem ser exercidasseparadamente.
CAPTULO IIDEVERES DOS MDICOS
Artigo 5.o(Princpio geral)
1. O mdico deve exercer a sua profissocom o maior respeito pelo direito protecoda sade das pessoas e da comunidade.2. O mdico no deve considerar o exerccioda Medicina como uma actividade orientadapara fins lucrativos, sem prejuzo do seu direitoa uma justa remunerao.3. So condenveis todas as prticas no jus-tificadas pelo interesse do doente ou que pressu-ponham ou criem falsas necessidades de con-sumo.
4. O mdico, no exerccio da sua profisso,deve igualmente, e na medida que tal noconflitue com o interesse do seu doente, prote-ger a sociedade, garantindo um exerccio cons-ciente, procurando a maior eficcia e efi-cincia na gesto rigorosa dos recursosexistentes.5. So ainda deveres dos mdicos todos aque-les referidos no Estatuto da Ordem dos Mdi-cos, nomeadamente no seu artigo 13.o.
Artigo 6.o(Proibio de discriminao)
O mdico deve prestar a sua actividade profis-sional sem qualquer forma de discriminao.
Artigo 7.o
(Situao de urgncia)
O mdico deve, em qualquer lugar ou circuns-tncia, prestar tratamento de urgncia a pessoasque se encontrem em perigo imediato, indepen-dentemente da sua funo especfica ou da suaformao especializada.
Artigo 8.o
(Greve de mdicos)
1. Os mdicos so titulares do direito consti-tucional e legalmente regulamentado de fazergreve.2. O exerccio de tal direito no pode, con-tudo, violar os princpios de DeontologiaMdica, devendo os mdicos assegurar os cui-dados inadiveis aos doentes.3. Devem ser sempre garantidos os serviosmnimos, que, caso no se obtenha outra defini-o, se entende como os disponibilizados aosdomingos e feriados.
Artigo 9.o(Actualizao e preparao cientfica)
O mdico deve cuidar da permanente actuali-zao da sua cultura cientfica e da sua prepa-rao tcnica, sendo dever tico fundamental oexerccio profissional diligente e tecnicamenteadequado s regras da arte mdica (legesartis).
Artigo 10.o
(Dignidade)
Em todas as circunstncias deve o mdico tercomportamento pblico e profissional adequado dignidade da sua profisso, sem prejuzo dosseus direitos de cidadania e liberdade indivi-dual.
CAPTULO IIIPUBLICIDADE
Artigo 11.o
(Princpio geral)
Atenta a necessidade de credibilidade e de cor-respondncia com o n.o. 3 do artigo 5.o,na divulgao da sua actividade o mdicodeve abster-se de propaganda e de auto-promoo.
Direito da sade
119VOL. 27, N.o 1 JANEIRO/JUNHO 2009
Legislao
Artigo 12.o
(Proibies)
1. proibida ao mdico toda a espcie depublicidade que no seja meramente informati-va das condies de atendimento ao pblico eda sua competncia profissional, cujo ttuloesteja reconhecido pela Ordem.2. especialmente vedado aos mdicos:a) Promover, fomentar ou autorizar notcias
referentes a medicamentos, mtodos dediagnstico ou de teraputica, a resultadosdos cuidados que haja ministrado noexerccio da sua profisso, casos clnicosou outras questes profissionais a siconfiadas, ou de que tenha conheci-mento, com intuitos propagandsticos pr-prios ou de estabelecimento em que tra-balhe;
b) Promover ou de qualquer forma incentivara divulgao de agradecimentos pblicos,qualquer que seja o meio de comunicaoutilizado, relativos sua qualidade profis-sional ou ao resultado dos cuidados desade que haja ministrado.
3. particularmente grave a divulgao deinformao susceptvel de ser consideradacomo garantia de resultados ou que possa serconsiderada publicidade enganosa.
Artigo 13.o
(Permisses)
So admitidas as seguintes formas de publici-dade:a) A afixao de tabuletas no exterior dos
consultrios;b) A utilizao de cartes-de-visita, papel
timbrado e de receitas;c) A publicao de anncios em jornais ou
revistas de carcter geral e listas telefni-cas, bem como na internet e noutros meiosde natureza anloga, em conformidadecom o disposto no artigo 16.o
Artigo 14.o
(Tabuletas)
As tabuletas afixadas no exterior dos consult-rios, residncia ou locais de actividade domdico, apenas podero conter:a) Nome ou nome clnico;b) Designao da qualidade de mdico, da
especialidade ou competncia cuja menoseja autorizada pela Ordem;
c) Ttulo profissional em conformidade com oartigo 18.o;
d) Local, nmero de telefone, fax, correioelectrnico e horrio de exerccio profissio-nal.
Artigo 15.o(Receitas mdicas)
1. Encontram-se abrangidos pelo nmero b)do artigo 13.o e so vlidos como receitas mdi-cas:
a) Impressos em uso nas unidades constituin-tes do Servio Nacional de Sade ou nou-tras entidades prestadoras de cuidados desade, desde que no violem as disposiesdeontolgicas;
b) Impressos legalmente obrigatrios paragrupos particulares de frmacos ou produ-tos de uso mdico;
c) Folhas de papel ou outro material quesuporte a escrita de dimenso igual ou infe-rior a A4 onde constem o nome, a moradae o nmero de inscrio na Ordem.
d) Podero ser vlidas como receitas, formasdesmaterializadas, nomeadamente as queresultem de transmisso electrnica,desde que garantam a confidencialidadee mediante prvia aprovao pelaOrdem.
2. As receitas mdicas podero conter asmenes constantes no artigo 14.o.3. No so vlidas como receitas as emitidasem papel timbrado de entidades comerciais,bem como as que contenham menes publici-trias ou informao promocional no referidano artigo 14.o.
Artigo 16.o(Publicao de anncios)
A publicao de anncios em jornais ou revistasde carcter geral, listas telefnicas gerais e clas-sificadas, bem como a divulgao de informa-es na internet, tem de revestir forma discretae prudente, com respeito pelo disposto nos arti-gos 12.o e 14.o.
Artigo 17.o
(Designao de especialidades)
permitido complementar a designao daespecialidade, subespecialidade ou competn-cia, para os efeitos dos artigos 14.o, 15.o e 16.o,por expresses mais correntes e perceptveispelos doentes, mediante autorizao prvia daOrdem.
Artigo 18.o
(Ttulos profissionais e acadmicos)
1. Para os efeitos dos artigos 14.o, 15.o e 16.o,no permitido aos mdicos a utilizao emreceitas, tabuletas, cartes-de-visita, ou emquaisquer impressos utilizados e destinados actividade clnica e acessveis aos doentes,
outros ttulos para alm dos adiante designadosque ficam expressamente permitidos:a) Mdico A todos os licenciados em
Medicina inscritos na Ordem;b) Interno do Internato Mdico de... A
todos os mdicos que frequentam o Inter-nato da respectiva especialidade;
c) Mdico Especialista (eventualmenteseguido da indicao da especialidade,subespecialidade ou competncia reconhe-cida pela Ordem) A todos os mdicosinscritos nos quadros dos Colgios deEspecialidade da Ordem e que possuamreconhecimento da subespecialidade oucompetncia mencionada;
d) Graus de Carreira Mdica A todos osmdicos especialistas que os tenham obtido;
e) Categorias, Graus e Ttulos Acadmicos A todos os mdicos cuja categoria, grau outtulo seja reconhecido por uma Universi-dade portuguesa e que exeram ou tenhamexercido de forma sustentada a docncia dadisciplina correspondente actividade cl-nica divulgada.
2. particularmente vedado aos mdicos uti-lizar na prtica clnica quaisquer ttulos oudesignaes derivados de provas, concursos ouformao nacional ou internacional que nocorrespondam rea especfica de especializa-o clnica e que no tenham obtido a prviaconcordncia da Ordem.
Artigo 19.o(Publicitao de estudos, investigaes ou
descobertas cientficas)
1. A publicitao de estudos, investigaes oudescobertas cientficas deve ser feita atravs derevistas ou de outras publicaes de carcterestritamente tcnico-cientfico, sendo vedada asua publicitao noutros meios de comunicaosocial com fins de autopromoo.2. obrigatria a meno de eventuais inte-resses em presena.
Artigo 20.o
(Colaborao com os meios de comunicaosocial)
1. Sem prejuzo das normas respeitantes aosegredo profissional, o mdico poder divulgarinformao de carcter clnico relevante para opblico, que deve ser feita de forma cientifica-mente correcta, facilmente perceptvel, contex-tualizada com as indicaes clnicas, resultadosobtidos e alternativas.2. O mdico no deve fomentar notcias refe-rentes sua pessoa que possam, de algumaforma, consubstanciar publicidade sua activi-dade profissional.
120
Legislao
REVISTA PORTUGUESA DE SADE PBLICA
Artigo 21.o
(Sociedades comerciais)
As sociedades comerciais que utilizam na suadenominao social o nome de um mdico ins-crito na Ordem consideram-se englobadas nasdisposies deste Cdigo, devendo os mdicosque nelas possuam participaes sociais zelarpelo cumprimento destes princpios.
CAPITULO IVCONSULTRIOS MDICOS
Artigo 22.o
(Consultrio mdico)
1. O consultrio mdico o local de trabalhoonde o mdico exerce, de um modo autnomo,actividade profissional liberal.2. dever do mdico comunicar Ordem, noprazo de sessenta dias a contar do incio daactividade, a localizao do seu consultrio.3. O mdico tem obrigao de comunicar Ordem a actividade que pretende realizar no seuconsultrio quando ela exceda o estrito mbitoda consulta e envolva qualquer espcie de trata-mento cirrgico ou endoscpico, sob anestesiageral ou interveno de risco equivalente.4. vedado o exerccio dos actos mdicosreferidos no nmero anterior sem que os rgosprprios da Ordem dos Mdicos procedam vistoria do consultrio e emisso de parecerfavorvel.
Artigo 23.o
(Instalaes e meios tcnicos)
1. O consultrio mdico deve ter instalaes emeios tcnicos adequados ao exerccio da pro-fisso.2. No devem ser realizadas actividades emcondies que possam comprometer a quali-dade dos actos mdicos e o respectivo segredo.
Artigo 24.o
(Localizao)
O consultrio mdico no deve situar-se nointerior de instalaes de entidades no mdicasdas reas dos cuidados de sade, nomeada-mente as que prossigam fins comerciais.
Artigo 25.o(Condies funcionais do consultrio)
O consultrio mdico deve ter condies quegarantam a independncia da profisso, nomea-damente:a) Possuir porta de acesso diferente daquela
pela qual se acede a qualquer entidade
dedicada a outros fins, nomeadamentequalquer entidade no mdica nos termosdo artigo 24.o, com excepo do consult-rio instalado em habitao do mdico,desde que o respectivo espao tenha exclu-sivamente esse fim;
b) Possuir equipamento adequado ao exerc-cio dos actos mdicos propostos, sendo omdico livre na sua utilizao, sem condi-cionantes para a realizao de quaisqueractos complementares por parte de even-tuais proprietrios do equipamento;
c) Possuir servios de apoio, nomeadamentesalas de espera e lavabos para utilizaodos doentes, sem que essa utilizao sejacondicionada pela frequncia de qualquerentidade a que se refere o artigo 24.o;
d) Possuir sistema de marcao de consultasque no obrigue o doente frequncia dequalquer entidade a que se refere o artigo24.o.
Artigo 26.o(Fiscalizao do consultrio)
1. A Ordem pode, atravs dos seus rgosprprios, proceder vistoria do consultrio paraverificao das condies exigidas nos artigos23.o a 25.o.2. Quando, na vistoria mencionada nonmero anterior, se verificar que o consultriono preenche as condies para o exerccio pro-fissional, a Ordem determinar a obrigao deas reunir no prazo de noventa dias ou, no casode desconformidade grave ou continuada, o seuencerramento.
Artigo 27.(Prescries mdicas)
As prescries fornecidas pelo mdico deveroser elaboradas de forma a poderem ser apre-sentadas em estabelecimento da escolha dodoente.
Artigo 28.o
(Proibio de substituio)
1. O mdico, temporria ou definitivamenteprivado do direito de exercer a profisso pordeciso judicial ou disciplinar, no pode fazer-se substituir no seu consultrio durante o cum-primento da pena, salvo determinao em con-trrio da prpria deciso.2. A proibio prevista no nmero anteriorno dispensa o mdico de tomar as medidasadequadas para assegurar a continuidade doscuidados mdicos aos doentes em tratamentoat ao incio da execuo da pena, devendocomunic-las Ordem dos Mdicos.
Artigo 29.o(Transmissibilidade de consultrio)
vedado aos mdicos que exercem a profissoem consultrio adquirido por transmisso utili-zar o nome ou designao do mdico anteriorem qualquer acto da sua actividade profissional,inclusive na identificao do prprio consult-rio.
Artigo 30.o
(Consultrios detidos por sociedades)
Os consultrios detidos por sociedades conside-ram-se abrangidos pelo estabelecido nesteCdigo, respondendo o seu director clnico pelocumprimento das suas disposies, independen-temente das responsabilidades individuais quecaibam a cada mdico.
TTULO IIO MDICO AO SERVIO DO DOENTE
CAPTULO IQUALIDADE DOS CUIDADOS MDICOS
Artigo 31.o
(Princpio geral)
O mdico que aceite o encargo ou tenha o deverde atender um doente obriga-se prestao dosmelhores cuidados ao seu alcance, agindo sem-pre com correco e delicadeza, no exclusivointuito de promover ou restituir a sade, conser-var a vida e a sua qualidade, suavizar os sofri-mentos, nomeadamente nos doentes sem espe-rana de cura ou em fase terminal, no plenorespeito pela dignidade do ser humano.
Artigo 32.o
(Iseno e liberdade profissionais)
1. O mdico s deve tomar decises ditadaspela cincia e pela sua conscincia.2. O mdico tem liberdade de escolha demeios de diagnstico e teraputica, devendo,porm, abster-se de prescrever desnecessaria-mente exames ou tratamentos onerosos ou derealizar actos mdicos suprfluos.
Artigo 33.o
(Condies de exerccio)
1. O mdico deve exercer a sua profisso emcondies que no prejudiquem a qualidade dosseus servios e a especificidade da sua aco,no aceitando situaes de interferncia externaque lhe cerceiem a liberdade de fazer juzosclnicos e ticos e de actuar em conformidadecom as leges artis.
Direito da sade
121VOL. 27, N.o 1 JANEIRO/JUNHO 2009
Legislao
2. O mdico tem o dever de comunicar Ordem todas as tentativas de condicionar aliberdade do seu exerccio ou de imposio decondies que prejudiquem os doentes.
Artigo 34.o
(Responsabilidade)
1. O mdico responsvel pelos seus actos epelos praticados por profissionais sob a suaorientao, desde que estes no se afastem dassuas instrues, nem excedam os limites da suacompetncia.2. Nas equipas multidisciplinares, a responsa-bilidade de cada mdico deve ser apreciadaindividualmente.
Artigo 35.o(Tratamentos vedados ou condicionados)
1. O mdico deve abster-se de quaisqueractos que no estejam de acordo com as legesartis.2. Exceptuam-se os actos no reconhecidospelas leges artis, mas sobre os quais se dispo-nha de dados promissores, em situaes em queno haja alternativa, desde que com consenti-mento do doente ou do seu representante legal,no caso daquele o no poder fazer, e ainda osactos que se integram em protocolos de inves-tigao, cumpridas as regras que condicionam aexperimentao em e com pessoas humanas.
Artigo 36.o(Respeito por qualificaes
e competncias)
1. O mdico no deve ultrapassar os limitesdas suas qualificaes e competncias.2. As especialidades, subespecialidades, com-petncias e formaes reconhecidas pela Ordemdevem ser tidas em conta.3. Quando lhe parea indicado, deve pedir acolaborao de outro mdico ou indicar aodoente um colega que julgue mais qualificado.4. Quando delegar competncias noutros pro-fissionais de sade, mdicos ou no mdicosdevidamente habilitados, dever do mdico noultrapassar nesta delegao as competnciasdestes profissionais, sendo tambm responsvelpelos actos delegados nos termos do artigo 34.o.5. Excepto em situaes de emergncia emque no possa recorrer em tempo til a colegacompetente, o mdico no pode, em caso algum,praticar actos mdicos para os quais reconheano ser capaz ou no possuir a competncia tc-nica e capacidade fsica e mentais exigveis.6. No permitida a delegao de actosmdicos quando se transfira para no mdicosas competncias de estabelecimento do diag-
nstico, prescrio ou gesto clnica autnomade doentes.
Artigo 37.o
(Objeco de conscincia)
1. O mdico tem o direito de recusar a prticade acto da sua profisso quando tal prtica entreem conflito com a sua conscincia, ofendendoos seus princpios ticos, morais, religiosos, fi-losficos ou humanitrios.2. O exerccio da objeco de conscinciadever ser comunicado Ordem, emdocumento registado, sem prejuzo de dever serimediatamente comunicada ao doente ou aquem no seu lugar prestar o consentimento.3. A objeco de conscincia no pode serinvocada em situao urgente e que impliqueperigo de vida ou grave dano para a sade e seno houver outro mdico disponvel a quem odoente possa recorrer, nos termos do nmero 1do artigo 41.o.
Artigo 38.(Objeco tcnica)
A recusa de subordinao a ordens tcnicasoriundas de hierarquias institucionais, legal oucontratualmente estabelecidas, ou a normas deorientao adoptadas institucionalmente, spode ser usada quando o mdicose sentir constrangido a praticar ou deixar depraticar actos mdicos, contra a sua opiniotcnica, devendo, nesse caso, justificar-se deforma clara e por escrito.
Artigo 39.o(Dever de respeito)
1. O mdico deve sempre respeitar a pessoado doente.2. A idade, o sexo, as convices do doente,bem como a natureza da doena so elementosque devem ser tidos em considerao no exameclnico e tratamento do doente.3. A situao de vulnerabilidade que caracte-riza a pessoa doente, bem como a dependnciafsica e emocional que se pode estabelecer entreesta e o seu mdico, torna o assdio sexual umafalta particularmente grave quando praticadapelo mdico.4. O mdico tem o direito de exigir condiespara a prtica mdica que permitam o cumpri-mento deste artigo.
Artigo 40.o
(Livre escolha pelo doente)
1. O doente tem o direito de escolher livre-mente o seu mdico, nisso residindo um princ-
pio fundamental da relao entre o doente e omdico, que este deve respeitar e defender.2. O mdico assistente deve respeitar odireito do doente a mudar de mdico, devendomesmo antecipar-se, por dignidade profis-sional, menor suspeita de que tal vontadeexista.
Artigo 41.o
(Direito de recusa de assistncia)
1. O mdico pode recusar-se a prestar assis-tncia a um doente, excepto quando este seencontrar em perigo iminente de vida ou noexistir outro mdico de qualificao equivalentea quem o doente possa recorrer.2. O mdico pode recusar-se a continuar aprestar assistncia a um doente, quando se veri-fiquem cumulativamente os seguintes requisi-tos:a) No haja prejuzo para o doente, nomeada-
mente por lhe ser possvel assegurar assis-tncia por mdico de qualificao equiva-lente;
b) Tenha fornecido os esclarecimentos neces-srios para a regular continuidade do trata-mento;
c) Tenha advertido o doente ou a famlia coma antecedncia necessria a assegurar asubstituio.
3. A incapacidade para controlar a doenano justifica o abandono do doente.
Artigo 42.o
(Direito de recusa de acto ou exame)
O mdico pode recusar qualquer acto ou examecuja indicao clnica lhe parea mal funda-mentada.
Artigo 43.o
(Referenciao)
1. O mdico, ao referenciar o doente ou aoajud-lo na escolha de outro mdico, nomeada-mente especialista, deve guiar-se apenas peloseu conhecimento profissional e pelo interessedaquele.2. Nos termos do nmero anterior, o mdicopode livremente recomendar ao doente quais-quer estabelecimentos ou entidades prestado-ras de cuidados de Sade, seja qual for a suanatureza e independentemente do sector ouorganizao em que funcionalmente aqueles seintegrem, sem prejuzo do disposto no artigo24.o.3. considerada violao tica grave a parti-lha de honorrios (dicotomia), traduzida na per-cepo de vantagens financeiras, patrimoniaisou outras, pela referenciao do doente.
122
Legislao
REVISTA PORTUGUESA DE SADE PBLICA
Artigo 44.o
(Esclarecimento do mdico ao doente)
1. O doente tem o direito a receber e omdico o dever de prestar o esclarecimentosobre o diagnstico, a teraputica e o progns-tico da sua doena.2. O esclarecimento deve ser prestado previa-mente e incidir sobre os aspectos relevantes deactos e prticas, dos seus objectivos e conse-quncias funcionais, permitindo que o doentepossa consentir em conscincia.3. O esclarecimento deve ser prestado pelomdico com palavras adequadas, em termoscompreensveis, adaptados a cada doente, real-ando o que tem importncia ou o que, sendomenos importante, preocupa o doente.4. O esclarecimento deve ter em conta oestado emocional do doente, a sua capacidadede compreenso e o seu nvel cultural.5. O esclarecimento deve ser feito, sempreque possvel, em funo dos dadosprobabilsticos e dando ao doente as informa-es necessrias para que possa ter uma visoclara da situao clnica e optar com decisoconsciente.
Artigo 45.o(Consentimento do doente)
1. S vlido o consentimento do doente seeste tiver capacidade de decidir livremente, seestiver na posse da informao relevante e sefor dado na ausncia de coaces fsicas oumorais.2. Sempre que possvel, entre o esclareci-mento e o consentimento dever existir inter-valo de tempo que permita ao doente reflectir eaconselhar-se.3. O mdico deve aceitar e pode sugerir queo doente procure outra opinio mdica, parti-cularmente se a deciso envolver grandes riscosou graves consequncias.
Artigo 46.o(Doentes incapazes
de dar o consentimento)
1. No caso de menores ou de doentes comalteraes cognitivas que os torne incapazes,temporria ou definitivamente, de dar o seuconsentimento, este deve ser solicitado ao seurepresentante legal, se possvel.2. Se houver uma directiva escrita pelodoente exprimindo a sua vontade, o mdicodeve t-la em conta quando aplicvel situaoem causa.
3. A opinio dos menores deve ser tomadaem considerao, de acordo com a sua maturi-dade, mas o mdico no fica desobrigado de
pedir o consentimento aos representantes legaisdaqueles.4. A actuao dos mdicos deve ter semprecomo finalidade a defesa dos melhores interes-ses dos doentes, com especial cuidado relativa-mente aos doentes incapazes de comunicarem asua opinio, entendendo-se como melhor inte-resse do doente a deciso que este tomaria deforma livre e esclarecida caso o pudesse fazer.5. Os representantes legais ou os familiarespodem ajudar a esclarecer o que os doentesquereriam para eles prprios se pudessem mani-festar a sua vontade.6. Quando se considerar que as decises dosrepresentantes legais ou dos familiares so con-trrias aos melhores interesses do doente, osmdicos devem requerer o suprimento judicialde consentimento para salvaguardar os interes-ses e defender o doente.
Artigo 47.o
(Consentimento implcito)
O mdico deve presumir o consentimento dosdoentes nos seguintes casos:a) Em situaes de urgncia, quando no for
possvel obter o consentimento do doente edesde que no haja qualquer indicaosegura de que o doente recusaria a inter-veno se tivesse a possibilidade de mani-festar a sua vontade;
b) Quando s puder ser obtido com adiamentoque implique perigo para a vida ou perigograve para a sade;
c) Quando tiver sido dado para certa interven-o ou tratamento, tendo vindo a realizar-seoutro diferente, por se ter revelado impostocomo meio para evitar perigo para a vida ouperigo grave para a sade, na impossibili-dade de obter outro consentimento.
Artigo 48.o
(Formas de consentimento)
1. O consentimento pode assumir a formaoral ou escrita.2. O consentimento escrito e/ou testemu-nhado exigvel em casos expressamente deter-minados pela lei ou regulamento deontolgico.3. No caso de menores ou incapazes, o consen-timento ser dado pelos pais ou representanteslegais, mas o mdico no fica dispensado de ten-tar obter a concordncia do doente, nos termosdo nmero 3 e 6 do artigo 46.o e do artigo 52.o.
Artigo 49.(Recusa de exames e tratamentos)
1. Se o doente, a famlia ou o representantelegal, esgotadas todas as formas de esclareci-
mento adequadas, recusarem os exames ou tra-tamentos indicados pelo mdico, pode esterecusar-se a assisti-lo nos termos do artigo 41.o,sem prejuzo do disposto na parte final do n.o 6do artigo 46.o.2. Em caso de perigo de vida de doente comcapacidade para decidir, a recusa de tratamentoimediato que a situao imponha s pode serfeita pelo prprio doente, expressamente e semquaisquer coaces.
Artigo 50.o(Revelao de diagnstico e prognstico)
1. O diagnstico e o prognstico devem, porregra, ser sempre revelados ao doente, em res-peito pela sua dignidade e autonomia.2. A revelao exige prudncia e delicadeza,devendo ser efectuada em toda a extenso e noritmo requerido pelo doente, ponderados oseventuais danos que esta lhe possa causar.3. A revelao no pode ser imposta aodoente, pelo que no deve ser feita se este noa desejar.4. O diagnstico e prognstico s podem serdados a conhecer a terceiros, nomeadamentefamiliares, com o consentimento expresso dodoente, a menos que este seja menor ou cogni-tivamente incompetente, sem prejuzo do dis-posto no artigo 89.o deste Cdigo.
Artigo 51.o(Respeito pelas crenase interesses do doente)
1. O mdico deve respeitar as opes religio-sas, filosficas ou ideolgicas e os interesseslegtimos do doente.2. Todo o doente tem o direito a receber ou arecusar conforto moral e espiritual, nomeada-mente o auxlio de um membro qualificado dasua prpria religio.3. Se o doente ou, na incapacidade deste, osseus familiares ou representantes legais quise-rem chamar um ministro ou outro membro dequalquer culto, um notrio ou outra entidadelegalmente competente, o mdico tem o deverde o possibilitar no momento que consideremais oportuno.
Artigo 52.o(Menores, idosos e deficientes)
O mdico deve usar de particular solicitude ecuidado para com o menor, o idoso ou o defi-ciente, especialmente quando verificar que osseus familiares ou outros responsveis no sosuficientemente capazes ou cuidadosos paratratar da sua sade ou assegurar o seu bem--estar.
Direito da sade
123VOL. 27, N.o 1 JANEIRO/JUNHO 2009
Legislao
Artigo 53.o(Proteco de diminudos e incapazes)
Sempre que o mdico, chamado a tratar ummenor, um idoso, um deficiente ou um incapaz,verifique que estes so vtimas de sevcias,maus-tratos ou assdio, deve tomar providn-cias adequadas para os proteger, nomeadamentealertando as autoridades competentes.
Artigo 54.o(Acompanhante do doente
e limitao de visitas)
1. O mdico respeitar o desejo do doente defazer-se acompanhar por algum da sua con-fiana, excepto quando tal possa interferir como normal desenvolvimento do acto mdico.2. O mdico pode limitar o horrio e a dura-o das visitas de terceiros aos doentes sob suaresponsabilidade, se entender necessrio sade do doente ou defesa dos direitos deterceiros, tendo em vista o normal funciona-mento dos servios.
CAPTULO IIO INCIO DA VIDA
Artigo 55.o(Princpio geral)
O mdico deve guardar respeito pela vidahumana desde o momento do seu incio.
Artigo 56.o(Interrupo da gravidez)
O disposto no artigo anterior no impede aadopo de teraputica que constitua o nicomeio capaz de preservar a vida da grvida ouresultar de teraputica imprescindvel institudaa fim de salvaguardar a sua vida.
CAPTULO IIIO FIM DA VIDA
Artigo 57.o(Princpio geral)
1. O mdico deve respeitar a dignidade dodoente no momento do fim da vida.2. Ao mdico vedada a ajuda ao suicdio, aeutansia e a distansia.
Artigo 58.o(Cuidados paliativos)
1. Nas situaes de doenas avanadas e pro-gressivas cujos tratamentos no permitem revertera sua evoluo natural, o mdico deve dirigir a sua
aco para o bem-estar dos doentes, evitando uti-lizar meios fteis de diagnstico e teraputica quepodem, por si prprios, induzir mais sofrimento,sem que da advenha qualquer benefcio.2. Os cuidados paliativos, com o objectivo deminimizar o sofrimento e melhorar, tantoquanto possvel, a qualidade de vida dos doen-tes, constituem o padro do tratamento nestassituaes e a forma mais condizente com a dig-nidade do ser humano.
Artigo 59.o(Morte)
1. O uso de meios de suporte artificial defunes vitais deve ser interrompido aps odiagnstico de morte do tronco cerebral, comexcepo das situaes em que se proceda colheita de rgos para transplante.2. Este diagnstico e correspondente declara-o devem ser verificados, processados e assu-midos de acordo com os critrios definidos pelaOrdem.3. O uso de meios extraordinrios de manu-teno de vida deve ser interrompido nos casosirrecuperveis de prognstico seguramente fatale prximo, quando da continuao de tais tera-puticas no resulte benefcio para o doente.4. O uso de meios extraordinrios de manu-teno da vida no deve ser iniciado ou conti-nuado contra a vontade do doente.5. No se consideram meios extraordinriosde manuteno da vida, mesmo que administra-dos por via artificial, a hidratao e a alimenta-o; nem a administrao por meios simples depequenos dbitos de oxignio suplementar.
CAPTULO IVTRANSPLANTE DE RGOS
E TECIDOS HUMANOS
Artigo 60.o(Colheita de rgos ou tecidos humanos
em pessoa viva)
1. A remoo de rgo ou tecidos a transplan-tar colhidos do corpo de pessoa viva no admitida se envolver necessariamente umadiminuio grave e permanente da integridadefsica do dador ou quando o fizer incorrer numaprobabilidade elevada de riscos graves.2. A remoo de rgos ou tecidos insubsti-tuveis e importantes na economia do orga-nismo, mas no indispensveis sua sobre-vivncia, apenas ser permitida apsesclarecimentos detalhados ao dador e ao recep-tor dos riscos envolvidos e consequncias acurto, mdio e longo prazo.3. Salvo em situao de urgncia, o esclareci-mento ao dador e ao receptor, desde que sejam
cognitivamente competentes e juridicamentecapazes, de acordo com o estabelecido nos ter-mos do artigo 50.o, deve ser facultado ao longode todo o perodo das diversas consultas prepa-ratrias, valorizando o risco do procedimento eas suas consequncias imediatas e futuras.4. Alm do esclarecimento referido nonmero anterior, aconselhvel que o dadorseja tambm esclarecido por mdicos que nointervenham no tratamento do receptor.5. A ddiva de rgos ou tecidos de menorescom capacidade de entendimento e com mani-festao de vontade, bem como de maioresincapazes por razes de anomalias psquicas,apenas admissvel atravs de prvio supri-mento judicial do consentimento.6. interdito ao mdico participar na colheitaou transplantao de rgos ou tecidos humanosobjecto de comercializao.
Artigo 61.o(Colheita de rgos ou tecidos
em cadveres humanos)
1. A colheita de rgos ou tecidos em cadvers pode efectuar-se aps o preenchimento detodas as regras cientficas e normas legais esta-belecidas.2. No caso previsto no nmero anterior, averificao da morte no deve ser feita pormdicos que integrem a equipa de transplante.3. Nos casos em que se preveja a colheita dergos para transplante permitida a manuten-o de meios artificiais de suporte de vida apso diagnstico de morte do tronco cerebral.
CAPTULO VPROCRIAO MEDICAMENTE
ASSISTIDA
Artigo 62.o(Princpio geral)
lcito o recurso a tcnicas de procriao medi-camente assistida, como forma de tratamento daesterilidade. Estas tcnicas devero ser utiliza-das como auxiliares da concretizao de umprojecto parental, o que implica a consideraono s do desejo dos candidatos a pais, massobretudo dos interesses do futuro ser humanoque vier a ser concebido atravs da procriaomedicamente assistida.
Artigo 63.o(Casos em que o mdico pode realizar
procriao medicamente assistida)
1. O mdico s pode realizar a procriaomedicamente assistida mediante diagnstico deinfertilidade ou excepcionalmente e por ponde-
124
Legislao
REVISTA PORTUGUESA DE SADE PBLICA
radas razes estritamente mdicas, decorrentesda preveno da transmisso de doenas gravesde origem gentica ou outra.2. O mdico s dever propor a tcnica deprocriao medicamente assistida que se afiguremais adequada quando outros tratamentos notenham sido bem sucedidos, no ofeream pers-pectivas de xito ou no se mostrem convenien-tes segundo o conhecimento mdico.3. A execuo das tcnicas de procriaomedicamente assistida deve ter sempre comoreferncia tica que a fecundao de ovcitosno deve conduzir sistematicamente ocorrn-cia de embries supranumerrios, caso em quedeve estar disponvel a possibilidade de criopre-servao para ulterior transferncia.4. A execuo de tcnicas de procriaomedicamente assistida deve procurar reduzir aincidncia de gravidez mltipla.5. A maternidade de substituio s pode serponderada em situaes da maior excepcionali-dade.6. aceitvel o recurso a doao de gmetasem casos especficos e a regulamentar.
Artigo 64.o(Casos em que o mdico
no pode realizar procriaomedicamente assistida)
1. O mdico no pode realizar a procriaomedicamente assistida com qualquer dos objec-tivos seguintes:a) Criar seres humanos geneticamente idnti-
cos;b) Criar embries humanos para investigao;c) Criar embries com o fim de melhorar
caractersticas, promover a escolha dosexo ou para originar hbridos ou qui-meras.
2. O mdico no pode, no mbito de um pro-cesso de procriao medicamente assistida,fazer a aplicao de diagnstico gentico pr--implantao em doenas multifactoriais emque o valor preditor do teste gentico seja muitobaixo.3. Exceptuam-se os casos em que haja ele-vado risco de doena gentica grave e de mauprognstico, para a qual no seja possvel adeteco por diagnstico pr-natal ou diagns-tico gentico pr-implantao.
Artigo 65.o(Esclarecimento do mdico
e consentimento dos doentes)
1. O esclarecimento do mdico aos doentesser feito nos termos do artigo 44.o, com asadaptaes para a procriao medicamente as-sistida.
2. O consentimento dos doentes dever serfeito, por escrito, nos termos dos artigos 45.o,46.o e 48.o, com as adaptaes para a procriaomedicamente assistida.
CAPTULO VIESTERILIZAO
Artigo 66.o(Laqueao tubria e vasectomia)
1. Os mtodos de esterilizao irreversvel,laqueao tubria e vasectomia s so passveisde ser permitidos a pedido do prprio e com oseu expresso e explcito consentimento pleno,aps esclarecimentos detalhados sobre os riscose sobre a irreversibilidade destes mtodos.2. Excepto em situaes urgentes com riscode vida, desejvel a existncia de um perodode reflexo entre esta prestao de esclareci-mentos e a tomada final da deciso.3. expressamente vedada aos mdicos aprtica de mtodos de esterilizao irrevers-veis por solicitao do Estado ou outras partesterceiras, ou de qualquer outra forma sem con-sentimento plenamente livre e informado dodoente, prestado nos termos do n.o 1 desteartigo.4. Em casos de menores ou incapazes, osmtodos de esterilizao irreversveis s devemser executados aps pedido devidamente funda-mentado no sentido de evitar graves riscos paraa sua vida ou sade dos seus filhos hipotticose, sempre, mediante prvio consentimento judi-cial.
CAPTULO VIIINTERVENES
NO GENOMA HUMANO
Artigo 67.o(Testes genticos)
A realizao de testes genotpicos de diagns-tico pr-sintomtico de doenas genticas e detestes de susceptibilidade deve apenas ter lugarpara fins mdicos ou de investigao mdica,visando o bem do indivduo em que forem rea-lizados, no podendo nunca servir propsitos deque decorra discriminao do indivduo.
Artigo 68.o(Teraputica gnica)
Qualquer interveno sobre o genoma humanovisando a sua modificao pode apenas terlugar para fins mdicos e, designadamente,teraputica gnica, estando excluda qualqueralterao em clulas germinais de que resultemodificao gentica da descendncia.
CAPTULO VIIITRANSEXUALIDADE
E DISFORIA DE GNERO
Artigo 69.o(Princpio geral)
proibida a cirurgia para transio do gneroem pessoas morfologicamente normais, salvonos casos clnicos adequadamente diagnostica-dos como transexualismo ou disforia do gnero.
Artigo 70.o
(Condies)
O doente sujeito a teraputica cirrgica deve serde maior idade, civil e cognitivamente capaz.
Artigo 71.o
(Avaliao e acompanhamento)
1. A avaliao pr-cirrgica dos casos detransexualismo ou disforia de gnero e seuacompanhamento deve ter carcter multidisci-plinar, sendo realizada por trs mdicos espe-cialistas, um em Cirurgia Plstica, Reconstru-tiva e Esttica, um em Endocrinologia e um emPsiquiatria, com reconhecida experincia namatria.2. O mdico deve:a) Acompanhar o doente antes da interveno
cirrgica, num perodo no inferior a doisanos;
b) Estudar o doente com a finalidade de lhepoder ser diagnosticado transexualismo oudisforia de gnero;
c) Assegurar-se de que o doente est isento dedistrbios mentais permanentes.
Artigo 72.o
(Esclarecimento do mdicoe consentimento do doente)
1. O esclarecimento do mdico deve ser dadonos termos do artigo 44.o, devendo realar-seque a cirurgia no garante a satisfao sexual,mas visa sobretudo contribuir para o equilbriopsicolgico do doente.2. O consentimento do doente, escrito e teste-munhado, deve ser dado nos termos do artigo 45.o
CAPTULO IXOS MDICOS E OS INDIVDUOS
PRIVADOS DE LIBERDADE
Artigo 73.o
(Princpio geral)
1. O mdico que preste, ainda que ocasional-mente, cuidados clnicos em instituies em que
Direito da sade
125VOL. 27, N.o 1 JANEIRO/JUNHO 2009
Legislao
o doente esteja, por fora da lei, privado da sualiberdade, tem o dever de respeitar sempre ointeresse do doente e a integridade da sua pes-soa, de acordo com os preceitos deontolgicos.2. Sempre que possvel, o mdico deve impe-dir ou denunciar Ordem qualquer acto lesivoda sade fsica ou psquica dos presos ou deti-dos, nomeadamente daqueles por cuja sade responsvel.
Artigo 74.o
(Tortura)
1. O mdico no deve em circunstnciaalguma praticar, colaborar, consentir ou estarpresente em actos de violncia, tortura, ouquaisquer outras actuaes cruis, desumanasou degradantes, seja qual for o crime cometidoou imputado ao preso ou detido e nomeada-mente em estado de stio, de guerra ou de con-flito civil.2. O mdico deve recusar ceder instalaes,instrumentos ou frmacos, bem como recusarfornecer os seus conhecimentos cientficos parapermitir a prtica da tortura.3. O mdico deve denunciar junto da Ordemos actos referidos nos nmeros anteriores.
Artigo 75.o(Proibio de meios coercivos)
1. O mdico no pode impor coercivamenteaos presos ou detidos, capazes de exercer a suaautonomia, exames mdicos, tratamentos oualimentao.2. Em caso de perigo para a vida ou graveperigo para a sade de presos ou detidos, arecusa pelo doente dos actos referidos no n.o 1deste artigo, dever ser confirmada por mdicoestranho instituio.
CAPTULO XEXPERIMENTAO HUMANA
Artigo 76.o(Princpios gerais)
A experimentao humana de novas tcnicas ouensaios clnicos de medicamentos s pode serposta em prtica em estreita observncia dosseguintes princpios:a) O bem do indivduo deve prevalecer sobre
os interesses da cincia e da comunidade;b) O respeito pela integridade fsica e ps-
quica do indivduo envolvido deve serescrupulosamente reconhecido;
c) Os resultados obtidos na experimentaoanimal devem permitir concluir que os ris-cos para o indivduo a submeter ao ensaioso proporcionais aos benefcios que para
esse indivduo se apresentam como previs-veis;
d) A realizao da experimentao deve serfeita por mdico cientificamente qualifi-cado e com o objectivo de beneficiar oindivduo ou outros que possam vir a bene-ficiar do ensaio realizado;
e) O mdico que participe em qualquer expe-rimentao tem o dever de comunicar Ordem dos Mdicos todos os conflitos deinteresse que possam ser invocados,nomeadamente relacionamento actual oupassado com empresas produtoras de pro-dutos farmacuticos ou dispositivos mdi-cos;
f) A investigao de novos frmacos devesempre ser feita por comparao com tera-puticas eficazes conhecidas, s se acei-tando a realizao de experimentao con-tra placebo em casos excepcionais em quehaja um largo consenso cientfico sobre asua necessidade e com autorizao daOrdem dos Mdicos;
g) A todas as pessoas envolvidas na investiga-o deve ser assegurada a continuao deteraputica eficaz aps o fim da investiga-o.
Artigo 77.o
(Experimentao em indivduo saudvel)
A experimentao em indivduos saudveisdeve revestir-se de especiais cuidados, evi-tando-se qualquer risco previsvel para a suaintegridade fsica e psquica, e exigir um con-sentimento informado escrito.
Artigo 78.o
(Experimentao em casos especiais)
1. Em caso de doentes incurveis no estadoactual dos conhecimentos mdicos, inclusive nafase terminal da doena, o ensaio de novas tera-puticas mdico-cirrgicas deve apresentarrazoveis probabilidades de se revelar til e terem conta particularmente o bem-estar fsico emoral do doente, sem lhe impor sofrimento, des-conforto ou encargos desnecessrios ou despro-porcionados em face dos benefcios esperados.2. A experimentao em menores e incapazes eticamente admissvel, desde que directa-mente ditada pelo interesse dos mesmos.3. A experimentao em mulheres grvidass eticamente admissvel quando no possaser realizada noutras circunstncias e tenha inte-resse directo para a me ou para o filho e desdeque dela no possa resultar grave prejuzo paraa sade ou para a vida do outro.4. proibida a experimentao em indivduosprivados de liberdade.
Artigo 79.o(Ensaio de novos medicamentos)
O ensaio de novos medicamentos, especialmentecom utilizao do mtodo da dupla ocultao,no pode privar deliberadamente o doente de tra-tamento reconhecidamente eficaz, cuja omissofaa correr riscos desproporcionados.
Artigo 80.o
(Garantias ticas)
Qualquer investigao de diagnstico ou de tera-putica, mdica ou cirrgica, deve revestir-se degarantias ticas, apoiadas nas comisses de ticadas instituies de sade onde se realiza a inves-tigao, e apreciadas, sempre que tal se justifique,pelo Conselho Nacional de tica e DeontologiaMdicas da Ordem, como instncia de recurso.
Artigo 81.o
(Esclarecimento do mdico ao doente)
O esclarecimento por parte do mdico investiga-dor deve ser dado nos termos do artigo 44.o, comadaptaes, e ainda com meno dos riscos, con-sequncias e benefcios previsveis, bem comodos mtodos e objectivos prosseguidos.
Artigo 82.o
(Consentimento)
O consentimento deve ser dado nos termos doartigo 45.o e seguintes, com adaptaes, e ainda:a) Deve ser feito por escrito, de forma clara e
em termos compreensveis, devendo omdico disponibilizar-se para qualqueresclarecimento adicional que o doenteentender necessrio;
b) Deve salvaguardar a interrupo da experi-mentao a qualquer momento, sem qual-quer contrapartida por parte do sujeitodaquela e sem perda de direitos do doentea ser tratado da melhor forma.
Artigo 83.o
(Confidencialidade)
Todos aqueles que participem em experimenta-es ou, por qualquer modo, tiverem conheci-mento da sua realizao esto obrigados a norevelar quaisquer dados a que tenham acesso,excepto quando a manuteno do segredoponha em risco a sade do doente.
Artigo 84.o
(Independncia do mdico)
1. O mdico responsvel pela experimentaoou ensaio deve ter total independncia relativa-
126
Legislao
REVISTA PORTUGUESA DE SADE PBLICA
mente a qualquer entidade com interessecomercial na promoo de tratamentos ou tcni-cas.
2. O mdico responsvel deve assegurar-sedo rigor cientfico do ensaio e obter a garantiada publicao do universo dos resultados.
CAPTULO XISEGREDO MDICO
Artigo 85.o(Princpio geral)
O segredo mdico condio essencial ao rela-cionamento mdico-doente, assenta no interessemoral, social, profissional e tico, que pressu-pe e permite uma base de verdade e de mtuaconfiana.
Artigo 86.o(mbito do segredo mdico)
1. O segredo mdico impe-se em todas ascircunstncias dado que resulta de um direitoinalienvel de todos os doentes.2. O segredo abrange todos os factos quetenham chegado ao conhecimento do mdico noexerccio da sua profisso ou por causa dela ecompreende especialmente:a) Os factos revelados directamente pela pes-
soa, por outrem a seu pedido ou por ter-ceiro com quem tenha contactado durante aprestao de cuidados ou por causa dela;
b) Os factos apercebidos pelo mdico, prove-nientes ou no da observao clnica dodoente ou de terceiros;
c) Os factos resultantes do conhecimento dosmeios complementares de diagnstico eteraputica referentes ao doente;
d) Os factos comunicados por outro mdicoou profissional de sade, obrigado, quantoaos mesmos, a segredo.
3. A obrigao de segredo mdico existe,quer o servio solicitado tenha ou no sido pres-tado e quer seja ou no remunerado.4. O segredo mdico mantm-se aps a mortedo doente. expressamente proibido ao mdico enviardoentes para fins de diagnstico ou teraputicaa qualquer entidade no vinculada ao segredomdico.
Artigo 87.o
(Segredo mdico em unidadesde sade pblicas, sociais,cooperativas ou privadas)
1. Os mdicos que trabalhem em unidades desade esto obrigados, singular e colectiva-mente, a guardar segredo mdico quanto s
informaes que constem do processo indivi-dual do doente.2. Compete aos mdicos referidos no nmeroanterior a identificao dos elementos dos res-pectivos processos clnicos que, no estandoabrangidos pelo segredo mdico, podem sercomunicados a entidades, mesmo hierrquicas,que os hajam solicitado.3. O mdico responsvel por vedar s admi-nistraes das unidades de sade, pblicas ouprivadas, bem como a quaisquer superiores hie-rrquicos no mdicos, o conhecimento de ele-mentos clnicos que se integrem no mbito dosegredo mdico.4. Qualquer litgio suscitado entre mdicos eas entidades no-mdicas referidas nos doisnmeros anteriores, em que seja invocadosegredo mdico, decidido, no plano tico, peloPresidente da Ordem.5. A guarda, o arquivo e a superintendncianos processos clnicos dos doentes, organizadospelas unidades de sade, competem sempre aosmdicos referidos nos dois primeiros nmeros,quando se encontrem nos competentes serviosou, fora deste caso, ao mdico ou mdicos queexercem funes de direco clnica.
Artigo 88.o
(Escusa do segredo mdico)
Excluem o dever de segredo mdico:a) O consentimento do doente ou, em caso de
impedimento, do seu representante legal,quando a revelao no prejudique tercei-ras pessoas com interesse na manutenodo segredo mdico;
b) O que for absolutamente necessrio defesa da dignidade, da honra e dos legti-mos interesses do mdico ou do doente,no podendo em qualquer destes casos omdico revelar mais do que o necessrio,nem o podendo fazer sem prvia autoriza-o do Presidente da Ordem;
c) O que revele um nascimento ou um bito;d) As doenas de declarao obrigatria.
Artigo 89.o(Precaues que no violam
o segredo mdico)
1. A obrigao do segredo mdico noimpede que o mdico tome as precauesnecessrias, promova ou participe em medidasde defesa da sade, indispensveis salva-guarda da vida e sade de pessoas que possamcontactar com o doente, nomeadamente dosmembros da famlia e outros conviventes.2. Sendo a preservao da vida o valor funda-mental, dever o mdico, em circunstncia emque um doente tenha um comportamento que
traga um risco real e significativo para a vida deoutra pessoa, tentar persuadi-lo a modificar estecomportamento, nomeadamente declarando queir revelar a sua situao s pessoas interessa-das. Se o doente no modificar o seu comporta-mento, apesar de advertido, o mdico deveinformar as pessoas em risco, caso as conhea,aps comunicar ao doente que o vai fazer.
Artigo 90.o(Manuteno do segredo mdico
em cobrana de honorrios)
Na cobrana judicial ou extrajudicial de honor-rios, o mdico no pode quebrar o segredomdico a que est vinculado, salvo o dispostono artigo 88.o, a) e b) deste Cdigo.
Artigo 91.o(Intimao judicial)
1. O mdico que nessa qualidade seja devida-mente intimado como testemunha ou perito,dever comparecer no tribunal, mas no poderprestar declaraes ou produzir depoimentosobre matria de segredo mdico, a no ser como consentimento do doente, do seu represen-tante legal se houver incapacidade para consen-tir, ou do Presidente da Ordem.2. Quando um mdico alegue segredo mdicopara no prestar esclarecimentos pedidos porentidade pblica, deve solicitar Ordem decla-rao que ateste a natureza inviolvel dosegredo no pedido em causa.
Artigo 92.o(Dados mdicos informatizados)
1. Os ficheiros automatizados, as bases e ban-cos de dados mdicos, contendo informaesextradas de histrias clnicas sujeitas a segredomdico, devem ser equipados com sistemas, eutilizados com procedimentos de segurana, queimpeam a consulta, alterao ou destruio dedados por pessoa no autorizada a faz-lo e quepermitam detectar desvios de informao.2. Os ficheiros automatizados, as bases e ban-cos de dados mdicos so da responsabilidadede um mdico.3. Os responsveis pelos ficheiros automati-zados, as bases e bancos de dados mdicos,bem como as pessoas que, no exerccio das suasfunes, tenham conhecimento dos dados pes-soais nele registados, ficam obrigados a segredomdico, mesmo aps o termo de funes.4. Os ficheiros automatizados, as bases e ban-cos de dados mdicos no podem estarconectados com outro tipo de redes informti-cas, a menos que possam garantir-se as condi-es de segurana referidas no nmero 1.
Direito da sade
127VOL. 27, N.o 1 JANEIRO/JUNHO 2009
Legislao
Artigo 93.o(Mdicos
com responsabilidades directivas)
Os mdicos com cargos de direco em orga-nismos prestadores de cuidados de sade soresponsveis pela adequao s normas deonto-lgicas dos servios sob sua tutela, devendonomeadamente:a) Estabelecer o controlo necessrio para que
no seja vulnervel a intimidade e a confi-dencialidade dos doentes, sob a sua respon-sabilidade;
b) Tratar as informaes a serem transmitidasaos meios de comunicao de um modoadequado e aps obteno do consenti-mento do doente ou do seu representantelegal;
c) Exigir dos seus colaboradores mdicos eno-mdicos, e ainda dos estudantes dasdiversas reas de sade, a preservao daintimidade e da confidencialidade das infor-maes clnicas, sujeitas a segredo mdico.
CAPTULO XIITELEMEDICINA
Artigo 94.o(Relao mdico-doente)
1. A telemedicina deve respeitar a relaomdico-doente, mantendo a confiana mtua, aindependncia de opinio do mdico, a autono-mia do doente e a confidencialidade.2. Quando o doente pede uma consulta deorientao, por telemedicina, esta no devesubstituir a relao mdico doente, e s serdada quando o mdico tiver uma ideia clara ejustificvel da situao clnica.3. O mdico que usa os meios da telemedicinae no observa presencialmente o doente, deveavaliar cuidadosamente a informao recebida,s podendo dar opinies, recomendaes outomar decises mdicas, se a qualidade da infor-mao recebida for suficiente e relevante.4. Na utilizao da telemedicina em situaesde urgncia, pode a opinio do mdico tele-con-sultado ser baseada numa informao incom-pleta, mas nesta situao excepcional o mdicoassistente responsvel pela deciso a tomar.
Artigo 95.o(Responsabilidade do mdico)
1. O mdico tem liberdade e completa inde-pendncia de decidir se utiliza ou recusa atelemedicina.2. O mdico que pede a opinio de um colega responsvel pelo tratamento e pelas decises erecomendaes por ele dadas ao doente.
3. O mdico tele-consultado no obrigado aemitir opinio se no tem conhecimentos ousuficiente informao do doente para emitir umparecer fundamentado, mas, caso a emita, res-ponsvel por ela.4. Quanto aos colaboradores no-mdicosparticipantes na transmisso ou recepo dedados, o mdico deve assegurar-se que a forma-o e a competncia destes profissionais sejaadequada, de modo a poder garantir uma utili-zao apropriada da telemedicina e a salva-guarda do segredo mdico.5. O mdico praticante da telemedicina escla-rece o doente e obtm o consentimento, nostermos dos artigos 44.o a 48.o deste Cdigo.6. O mdico deve assegurar a aplicao dasmedidas de segurana estabelecidas para prote-ger a confidencialidade do doente.
Artigo 96.o(Segurana)
1. O mdico s deve utilizar a telemedicinadepois de se certificar que a equipa encarregadada sua realizao garante um nvel de qualidadesuficientemente alto, que funcione de forma ade-quada e que cumpra com as normas estipuladas.2. O mdico deve dispor de sistemas desuporte e utilizar controlos de qualidade e proce-dimentos de avaliao para vigiar a preciso e aqualidade da informao recebida e transmitida.3. O mdico s deve utilizar a telemedicinadepois de se certificar que o sistema utilizado eos seus utilizadores garantem o segredo mdico,nomeadamente atravs da encriptao de nomese outros dados identificadores.
Artigo 97.o(Histria clnica)
1. O mdico que utilize a telemedicina deveregistar na ficha clnica os mtodos de identifi-cao do doente, as informaes pretendidas eas recebidas.2. O mdico tele-consultado deve registar emficha clnica as opinies que emitiu e tambm ainformao em que se baseou.3. Os mtodos informatizados de arquivamentoe transmisso dos dados do doente s devem serutilizados quando se tenham tomado medidas sufi-cientes para proteger a confidencialidade e a segu-rana da informao registada ou permutada.
CAPTULO XIIIATESTADOS MDICOS
Artigo 98.o(Atestados mdicos)
1. Por solicitao livre, e sem qualquer coac-o, do interessado ou seu legal representante, o
mdico tem o dever de atestar os estados desade ou doena que verificou durante a presta-o do acto mdico e os tenha registado.2. Os atestados mdicos, certificados, relat-rios ou declaraes so documentos particula-res, assinados pelo seu autor de forma reconhe-cvel e s so emitidos a pedido do interessado,ou do seu representante legal, deles devendoconstar a meno desse pedido.3. Os atestados de doena, alm da correctaidentificao do interessado, devem afirmar,sendo verdade, a existncia de doena, a data doseu incio, os impedimentos resultantes e otempo provvel de incapacidade que determine;no devem especificar o diagnstico de que odoente sofre, salvo por solicitao expressa dodoente, devendo o mdico, nesse caso, fazerconstar esse condicionalismo.4. Para prorrogao do prazo de incapacidadereferido no nmero anterior, deve proceder-se emisso de novo atestado mdico.5. O mdico no estando impedido de realizaractos mdicos sobre si prprio ou familiaresdirectos, igualmente no est impedido de ates-tar as suas observaes e respectivas conse-quncias.6. Dado o carcter pericial que a sociedadeindevidamente atribui ao atestado mdico, recomendvel evitar a sua emisso em situaesem que possa ser alegado conflito de interesses.
Artigo 99.o(Proibio de atestado de complacncia)
1. O mdico no pode emitir atestados decomplacncia ou relatrios tendenciosos sobre oestado de sade ou doena de qualquer pessoamesmo que esta lho solicite.2. Todos os factos atestados, bem como asrazes subjacentes s declaraes produzidas,devem constar de um registo na posse domdico ou da instituio prestadora.
CAPTULO XIVPROCESSOS CLNICOS
Artigo 100.o
(Processo clnico, ficha clnicae exames complementares)
1. O mdico, seja qual for o enquadramento dasua aco profissional, deve registar cuidadosa-mente os resultados que considere relevantes dasobservaes clnicas dos doentes a seu cargo, con-servando-os ao abrigo de qualquer indiscrio, deacordo com as normas do segredo mdico.2. A ficha clnica o registo dos dados clni-cos do doente e tem como finalidade a memriafutura e a comunicao entre os profissionaisque tratam ou viro a tratar o doente. Deve, por
128
Legislao
REVISTA PORTUGUESA DE SADE PBLICA
isso, ser suficientemente clara e detalhada paracumprir a sua finalidade.3. O mdico o detentor da propriedade inte-lectual dos registos que elabora, sem prejuzodos legtimos interesses dos doentes e da insti-tuio qual eventualmente preste os serviosclnicos a que correspondem tais registos.4. O doente tem direito a conhecer a informa-o registada no seu processo clnico, a qual lheser transmitida, se requerida, pelo prprio mdicoassistente ou, no caso de instituio de sade, pormdico designado pelo doente para este efeito.5. Os exames complementares de diagnsticoe teraputica devero ser-lhe facultados quandoeste os solicite, aceitando-se no entanto que omaterial a fornecer seja constitudo por cpiascorrespondentes aos elementos constantes doprocesso clnico.
Artigo 101.o
(Comunicaes)
Sempre que o interesse do doente o exija, omdico deve comunicar, sem demora, a qualqueroutro mdico assistente, os elementos do processoclnico necessrios continuidade dos cuidados.
Artigo 102.o
(Publicaes)
O mdico pode servir-se do processo clnicopara as suas publicaes, mas deve proceder demodo a que no seja possvel a identificaodos doentes, a menos que autorizado a tal pelosprprios doentes.
Artigo 103.o
(Destino dos processos clnicosem caso de transmisso de consultrio)
1. Quando o mdico cesse a sua actividadeprofissional, os seus processos clnicos devemser transmitidos ao mdico que lhe suceda, sal-vaguardada a vontade dos doentes interessadosem que a informao relevante seja transmitidaa outro mdico por si determinado.2. Na falta de mdico que lhe suceda, deve ofacto ser comunicado Ordem, por quem rece-ber o esplio do consultrio ou pelos mdicosque tenham conhecimento da situao, a qualdeterminar o destino a dar-lhes.
CAPTULO XVHONORRIOS
Artigo 104.o
(Princpio geral)
A prestao de cuidados mdicos aos doentes,no constituindo uma actividade comercial,
deve ser todavia compensada de modo a permi-tir a digna subsistncia do mdico, o que, noexerccio clnico liberal, garantido pelo rece-bimento dos respectivos honorrios.
Artigo 105.o(Fixao e cobrana de honorrios)
1. Na fixao de honorrios deve o mdicoproceder com justo critrio, atendendo impor-tncia do servio prestado, ao tempo habitual-mente despendido, sua diferenciao tcnica,ao valor dos equipamentos utilizados, aos gas-tos em material, capacidade econmica dodoente e aos usos e costumes da regio.2. O mdico deve expor, no seu local de exer-ccio, o prerio indicativo dos actos mdicosque pratica.3. A conta de honorrios deve ser apresentadaem papel ou suporte informtico, enumerando equantificando o valor dos servios prestados,assinada pelo mdico.4. O mdico tem a liberdade de, sempre queo entender, prestar gratuitamente os seus cuida-dos.5. O disposto no presente artigo no se aplicaao mdico que pratica os seus servios profis-sionais em empresa prestadora de cuidadosmdicos, a qual apresenta directamente a contade honorrios.
Artigo 106.o(Dever de gratuitidade)
1. O mdico deve tratar gratuitamente todosos colegas e os familiares que vivem a seucargo, podendo todavia fazer-se abonar dos gas-tos originados pelos actos mdicos. Tal deverprolonga-se, quando adequado, em caso demorte do colega.2. O mdico fica isento do dever degratuitidade se existir entidade que cubra oscustos da assistncia prestada.
Artigo 107.o
(Chamadas ao domiclio)
O mdico chamado ao domiclio do doente,tendo comparecido atempadamente, goza dodireito a honorrios mesmo que, por motivoalheio sua vontade, no chegue a prestar assis-tncia mdica.
Artigo 108.o
(Intervenes cirrgicas e em equipa)
1. O cirurgio tem o direito a escolher os aju-dantes e o anestesista.2. Nas intervenes cirrgicas e em equipa,cada um dos mdicos intervenientes deve pro-
curar uma relao mdico-doente personalizadae humana e cuidar de no ser apenas um meroexecutante de um acto tcnico.3. Um mdico pode recusar trabalhar numaequipa se, fundamentadamente, no tem con-fiana nas capacidades de outro elemento dessaequipa, ou se algum dentro dela no mantm anecessria comunicao e cordialidade de rela-es.4. A presena do mdico assistente numainterveno cirrgica, quando solicitada pelodoente ou pelos seus representantes, d direito ahonorrios prprios que podem ser apresentadospor nota colectiva e discriminada do cirurgioou, de preferncia, por nota autnoma.5. Na prestao de servios mdicos porequipa mdica ou multiprofissional, os honor-rios podem ser reclamados por cada um dosintervenientes ou por nota colectiva e discrimi-nada.
Artigo 109.o(Comparticipaes vedadas)
1. O mdico no pode praticar a dicotomia,assim como a sua oferta ou a sua exigncia,nomeadamente o recebimento de quaisquercomisses ou gratificaes por servios presta-dos por outros, tais como, anlises, radiografias,aplicaes de fisioterapia, consultas ou opera-es, bem como pelo encaminhamento de doen-tes para quaisquer outros prestadores de cuida-dos de sade;2. todavia autorizada a partilha de honor-rios entre mdicos, se corresponderem a efecti-vos servios prestados a doentes, quer nombito da medicina de grupo, quer no mbitode trabalho em equipa e nos termos do nmero5 artigo anterior.
TTULO IIIO MDICO AO SERVIO
DA COMUNIDADE
CAPTULO IRESPONSABILIDADES DO MDICO
PERANTE A COMUNIDADE
Artigo 110.o
(Princpio geral)
1. Seja qual for o seu estatuto profissional, omdico deve, com pleno respeito pelos precei-tos deontolgicos, colaborar e apoiar as entida-des prestadoras de cuidados de sade, oficiaisou no.2. Pode porm cessar a sua aco em caso degrave violao dos direitos, liberdades e garan-tias individuais das pessoas que lhe esto confi-adas, ou em caso de grave violao da digni-
Direito da sade
129VOL. 27, N.o 1 JANEIRO/JUNHO 2009
Legislao
dade, liberdade e independncia da sua acoprofissional.3. Pode tambm recusar-se a prestar essacolaborao usando o direito objeco deconscincia.
Artigo 111.o
(Responsabilidade)
1. O mdico deve ter em considerao as suasresponsabilidades sociais no exerccio do seudireito independncia na orientao dos cuida-dos e na escolha da teraputica, assumindo umaatitude responsvel perante os custos globais dasade.2. O mdico deve prestar os melhores cuida-dos possveis no condicionalismo financeiroexistente, mas no pode, em funo deste, rea-lizar ou prescrever o que considere deletriopara o doente.3. Em caso algum pode o mdico prescreverteraputicas ou solicitar exames complementa-res de diagnstico que no visem o interessedirecto do doente a seu cargo.4. indevida qualquer forma de prescrioque vise o interesse financeiro do prpriomdico ou de terceiros.5. O mdico tem obrigao de conhecer oscustos das teraputicas que prescreve, devendooptar pelos menos onerosos, desde que esta ati-tude no prejudique os interesses do doente.
Artigo 112.o
(Colaborao)
Sem prejuzo do segredo profissional, o mdicodeve colaborar com os servios de seguranasocial e equiparados, passando a documentaonecessria para que o doente possa reclamar osdireitos que lhe cabem.
Artigo 113.o
(Sade pblica)
No exerccio da sua profisso, deve o mdicocooperar para a defesa da sade pblica, com-petindo-lhe designadamente:a) Participar prontamente s respectivas auto-
ridades de sade os casos de doenas con-tagiosas de declarao obrigatria e oscasos de doenas contagiosas graves ou defcil difuso;
b) Prestar os seus servios profissionais emcaso de epidemia, sem abandonar os seusdoentes, pondo-se disposio das autori-dades de sade;
c) Prestar os seus servios profissionais emcaso de catstrofe, oferecendo os seus ser-vios s autoridades e actuando em coorde-nao com elas;
d) Cooperar com as autoridades na execuode medidas destinadas a evitar o uso ilcitode drogas;
e) Prestar informaes, no que seja do seuconhecimento, autoridade de sade, sobreos factos e circunstncias que possam res-peitar sade pblica e responder a qual-quer inqurito quando por elas solicitado;
f) Obedecer s determinaes das autoridadesde sade, sem prejuzo do cumprimentodas normas deontolgicas;
g) Desencadear os mecanismos adequados deajuda a colegas vtimas de doena fsica oupsquica quando estes no o reconheam.
Artigo 114.o
(Declarao, verificaoe certificado de bito)
1. A declarao de bito deve ser confirmadapelo certificado de bito, emitido gratuitamentepelo mdico que o verifique, em suporte oficial-mente aprovado.2. No certificado de bito de pessoa a que omdico tenha prestado assistncia mdica, estedeve indicar a doena causadora da morte, sedela tiver conhecimento. Para este efeito, consi-derar-se- como assistente o mdico que tenhapreceituado ou dirigido o tratamento da doenaat morte, ou que tenha visitado ou dado con-sulta extra-hospitalar ao doente dentro dasemana que tiver precedido o bito. Exclui-sedesta obrigao o mdico que tenha prestadoassistncia trabalhando em instituies oficiaisde sade, as quais devem fornecer ao mdicoassistente ou autoridade de sade as informa-es necessrias.3. Havendo indcios de morte violenta ou se omdico ignorar a causa da morte, este devecomunicar imediatamente o facto s autoridadescompetentes, a fim de estas promoverem asdiligncias necessrias averiguao da causada morte e das circunstncias em que esta tenhaocorrido.4. O mdico deve participar autoridadecompetente todos os casos de falecimento doindivduo a quem no tenha prestado assistnciamdica nos termos do nmero 2 e cujo bitotenha verificado.5. O mdico deve participar autoridade desade local os casos de bito por doenas con-tagiosas consideradas graves ou de fcil difu-so.6. O mdico deve indicar no certificado debito a necessidade de inumao fora do prazolegal, nomeadamente de inumao urgente, emcaso de epidemia ou doena contagiosa queassim o exija, ou de qualquer outra circunstn-cia que interesse sade pblica, devendo pre-ceituar, em caso de ausncia da respectiva auto-
ridade de sade, as condies de isolamento,transporte e inumao do cadver.
Artigo 115.o(Dever de iseno no exerccio
de actividade pblica)
O mdico que presta servio em estabeleci-mento oficial de sade no deve exercer essasfunes em proveito da sua clnica particular oude qualquer instituio de cuidados de sade.
Artigo 116.o(Dever de prevenir a Ordem)
dever imperioso do mdico comunicar Ordem, de forma rigorosa, objectiva e confi-dencial, as atitudes fraudulentas ou de incompe-tncia no exerccio da Medicina de que tenhaconhecimento, aceitando depor nos processosque, em consequncia, venham a ser instaura-dos.
Artigo 117.o
(Prescries)
1. As prescries de teraputicas e de examesde diagnstico devem obedecer, salvo disposi-o legal em contrrio, aos seguintes requisitosmnimos:a) Devem ser claras, redigidas de forma leg-
vel, conterem informao que permita ocontacto imediato do mdico em caso dedvida e devem apresentar de forma ine-quvoca o nome e o nmero da cdula pro-fissional do mdico prescritor;
b) Ser redigidas em lngua portuguesa, ma-nuscritas a tinta com letra bem legvel ouimpressas de forma bem perceptvel, semabreviaturas no consagradas e devida-mente datadas e validadas com assinaturamanuscrita idntica registada na Ordem;
2. As doses prescritas sero expressas de har-monia com o sistema decimal, devendo asdoses menos habituais serem convenientementeassinaladas, designadamente atravs da simult-nea meno por extenso e por algarismos, porsublinhado ou por qualquer outra forma julgadaadequada.3. Sempre que haja necessidade de usar umfrmaco prolongadamente, pode o mdico cal-cular e prescrever o total de doses para o tempoa decorrer at consulta seguinte.4. As receitas devem ser acompanhadas deinstrues claras sobre a dose, o horrio de admi-nistrao e a finalidade dos frmacos prescritos.5. Os relatrios mdicos, nomeadamente osreferentes a exames especializados, devem serredigidos com clareza e respeitar o estabelecidonas alneas a) e b) do nmero 1 deste artigo.
130
Legislao
REVISTA PORTUGUESA DE SADE PBLICA
CAPTULO IIO MDICO PERITO
Artigo 118.o
(Mdico perito)
1. O mdico encarregado de funes decarcter pericial nos tribunais, como perito departe ou como perito assessor do juiz, nas juntasmdicas, como mdico de companhias de segu-ros e como mdico do trabalho, em serviosbiomtricos, ou em qualquer outra funo peri-cial equiparvel, deve submeter-se aos preceitosdeste Cdigo, nomeadamente em matria desegredo profissional, no podendo aceitar queponham em causa esses preceitos.2. Todo o mdico tem o dever de prestarcolaborao como perito quando para tal forsolicitado ou indicado pela Ordem.
Artigo 119.o(Independncia)
O mdico encarregado de funes periciaisdeve assumir uma atitude de total independn-cia em face da entidade que o tiver mandatadoe das pessoas que tiver de examinar, recusando--se a examinar quaisquer pessoas com quemtenha relaes susceptveis de influir na liber-dade dos seus juzos, designadamente as men-cionadas nos nmeros 1 e 2 do artigo 120.o.
Artigo 120.o
(Incompatibilidades)
1. As funes de mdico assistente e mdicoperito so incompatveis, no devendo ser exer-cidas pela mesma pessoa.2. vedado ao mdico exercer funes peri-ciais em casos em que estejam envolvidas pes-soas a quem esteja ligado por casamento ouunio de facto, parentesco ou afinidade.3. Estas incompatibilidades podem ser ultrapas-sadas por disposio expressa da lei ou por ordemda autoridade legtima para o efeito, devendoneste caso serem declaradas previamente per-cia, e devendo este facto ficar assinalado no rela-trio da percia ou em documento equivalente.4. No so consideradas percias para efeitosdo presente artigo a emisso de declaraes ouatestados de doena ou sade, bem como quais-quer declaraes que resultem do normal exer-ccio mdico.
Artigo 121.o
(Limites)
1. O mdico encarregado de funo pericialdeve circunscrever a sua actuao funo quelhe tiver sido confiada.
2. Se no decurso de exame descobrir afecoinsuspeitada, um possvel erro de diagnsticoou um sintoma importante e til conduo dotratamento que possa no ter sido tomado emconsiderao pelo mdico assistente, devecomunic-lo a este, pela via que considere maisadequada.
Artigo 122.o
(Deveres)
Antes de intervir, o mdico perito deve certi-ficar-se de que a pessoa a examinar temconhecimento da sua qualidade, da misso deque est encarregado e da sua obrigao decomunicar entidade mandante os resultadosda mesma.
Artigo 123.o
(Consulta de processo clnico)
O mdico perito s pode consultar o processoclnico do examinando aps dar conhecimento aeste e ao seu mdico assistente, esclarecendoclara e inequivocamente a qualidade em queintervm.
Artigo 124.o
(Actuao)
1. O mdico perito deve utilizar sempre e sos meios de exame estritamente necessrios sua misso e no prejudiciais ao examinando,abstendo-se de realizar a percia sempre queeste se recuse formalmente a deixar-se exami-nar.
2. Em exame pericial, o mdico no podeutilizar mtodos ou substncias farmacodinmi-cas que tenham como efeito privar o exami-nando da faculdade de livre determinao.3. O relatrio final no deve incluir elementosalheios s questes postas pela entidade reque-rente.
Artigo 125.o(Percias colegiais)
1. A percia pode ser realizada por mais deum mdico, em moldes colegiais ou interdisci-plinares.2. Cada mdico membro de uma percia cole-gial est sujeito ao preceituado neste Cdigo,individual e colectivamente.3. O mdico, em percias colegiais que inte-grem no mdicos, deve assegurar uma claraseparao de funes e preservar os princpiosda tica mdica, nomeadamente os expressosneste Cdigo, restringindo o acesso a elementosclnicos e outros sujeitos a segredo mdico ape-nas aos mdicos.
4. Caso no seja possvel assegurar a separa-o de funes e respeito dos princpios da ticamdica referidos no nmero anterior, os mdi-cos devem recusar integrar estas percias cole-giais.5. A recusa mencionada no nmero anteriorpode ser ultrapassada por disposio expressada lei ou por ordem da autoridade legtima parao efeito, devendo neste caso ser expressa pre-viamente percia, e devendo este facto ficarassinalado no relatrio da percia ou documentoequivalente, nos termos do nmero 2 do artigo3.o.6. Se verificarem divergncias entre os mem-bros da percia colegial quanto aos meios doexame, s concluses ou a qualquer outroaspecto relevante para a percia, este facto deveficar registado no relatrio da percia ou emdocumento equivalente.
Artigo 126.o(Proibio)
O mdico perito no pode aproveitar-se dessasituao como forma directa ou indirecta depublicidade pessoal.
TTULO IVRELAES ENTRE MDICOS
Artigo 127.o
(Princpio geral)
Todos os mdicos tm direito a serem tratadoscom respeito e considerao pelos seus colegas,sem discriminao ou perseguio, nomeada-mente com base no sexo, origens raciais ounacionais, ou em opinies polticas, ideolgicasou religiosas.
Artigo 128.o
(Solidariedade entre mdicos)
1. A solidariedade entre mdicos constituidever fundamental do mdico e deve ser exer-cida com respeito mtuo e, bem assim, tendoem ateno os interesses dos doentes.2. O mdico no deve fazer declaraesdesprimorosas ou falsas sobre a competncia deum colega, as possibilidades dos tratamentospor este prescritos, os seus comportamentos ououtras caractersticas, e por essa forma tentarafectar a livre escolha do mdico pelo doente oua escolha de um empregador.3. O mdico no deve fazer afirmaes oudeclaraes pblicas contra colegas.4. No constitui falta ao dever de solidarie-dade, mas sim um dever tico, o facto de ummdico comunicar Ordem, de forma objectivae com a devida discrio, as infraces dos seus
Direito da sade
131VOL. 27, N.o 1 JANEIRO/JUNHO 2009
Legislao
colegas contra as regras da tcnica e tica mdi-cas.
Artigo 129.o(Conflitos ou diferenas de opinio)
1. Um mdico no deve criticar, perante odoente ou terceiros, a deciso de outro mdicorelativamente a um doente.2. Se um mdico considera que o diagnstico,tratamento ou qualquer deciso tcnica de umcolega incorrecta, tem a obrigao de lhe dara conhecer directamente a sua opinio e discutircom ele o assunto.3. Os conflitos ou as diferenas de opiniorelativos conduta entre mdicos que no pos-sam ser resolvidos devem ser comunicados Ordem dos Mdicos.4. Os deveres consagrados neste artigo subor-dinam-se sempre s necessidades de salvaguar-dar a vida e a integridade fsica do doente.
Artigo 130.o
(Dever de auxlio)
1. Em benefcio dos seus doentes, os mdicostm o dever de partilhar os seus conhecimentoscientficos, sem qualquer reserva.2. Se um mdico pede auxlio para o trata-mento de um doente, os colegas devem sempreprest-lo.
Artigo 131.o
(Pedido de segunda opinio)
1. O mdico deve encorajar o doente a pediruma segunda opinio caso o entenda til ou seaperceba de que essa a vontade do doente.2. Neste caso, o mdico deve fornecer todosos elementos relevantes que possam ser utiliza-dos por outros mdicos.
Artigo 132.o
(Interferncia com mdico assistente)
1. O mdico no dever interferir na assistn-cia que esteja a ser prestada por outro colega aum doente.2. No se considera haver interferncia nassituaes de urgncia ou de consulta livre porparte do doente a outro mdico; todavia estetem a obrigao de advertir o paciente do pre-juzo de existir uma assistncia mdica mlti-pla, no consensual.3. Sempre que um mdico tiver, ocasional-mente, acesso a informao clnica de que discor-de de forma relevante e que tenha potenciais con-sequncias para o doente, no se considera haverinterferncia constituindo um dever tico comuni-car a sua opinio ao mdico assistente do doente.
Artigo 133.o
(Mdico suspenso ou dispensado)
1. Nenhum mdico pode ser arbitrria e injus-tamente suspenso ou dispensado das suas fun-es em organismo pblico ou privado e, con-sequentemente, desligado do respectivo servio.Tal situao deve ser por si comunicada imedia-tamente Ordem.2. O mdico candidato a substituir colegasuspenso ou dispensado deve requerer Ordemautorizao para celebrar o contrato definitivopara o lugar que vagou.3. Considera-se aprovado o pedido de autori-zao que no for respondido no prazo denoventa dias.4. O mdico substituto pode celebrar, entre-tanto, um contrato provisrio, cuja cpia deverremeter Ordem, onde fique expressa a condi-o de o ocupar at obter a autorizao a que sereferem os nmeros 2 e 3 deste artigo.
Artigo 134.o
(Mdico incapacitado)
1. Se um mdico se tornar incapaz de trataros seus doentes, por doena ou qualquer outrarazo, dever dos colegas tomarem as medidasnecessrias para que de tal circunstncia noadvenha perigo ou dano para os doentes.2. Inicialmente devem os colegas discutir asituao com o mdico incapaz e oferecer a suaajuda para a resolver.3. Se estas medidas no resultarem, deve serinformada a Ordem, designadamente para efei-tos do artigo 12.o do Estatuto da Ordem dosMdicos.
Artigo 135.o(Exerccio em equipa)
1. O exerccio da medicina em equipa, sejaela integrada por mdicos das mesmas ou dife-rentes especialidades, subespecialidades oucompetncias, no prejudica a responsabilidadetcnica prpria da qualificao, nem a responsa-bilidade deontolgica, de cada mdico.2. A hierarquia na equipa assistencial deveser respeitada, mas no pode constituir instru-mento de domnio ou exaltao pessoal.3. O mdico que detiver a direco da equipadever aceitar a deciso de absteno de actuarquando invocada por algum dos seus elementosque opuser uma objeco cientfica fundamen-tada ou de conscincia.4. O mdico que detiver a direco da equipaprovidenciar para que exista um ambiente deexigncia tica e de tolerncia que proporcionea diversidade de opinies profissionais,podendo, contudo, definir padres tcnicos de
actuao, sem prejuzo do disposto no nmeroanterior.
Artigo 136.o(Mdico como superior hierrquico
ou formador)
1. O mdico como superior hierrquico ouformador, sem prejuzo das suas obrigaes decontrolo do trabalho dos mdicos seus subordi-nados ou seus formandos, deve actuar perantecondutas incorrectas que estes tenham nombito do procedimento mdico para com odoente, na orientao do diagnstico e da tera-putica, nas relaes com os familiares dosdoentes ou com quaisquer profissionais deSade. Assim fica obrigado a:a) Chamar prontamente esse seu subordinado
e confront-lo discretamente com o errocometido ou as dvidas que possui e opossam levar a concluir tal, em ordem acorrigir os erros;
b) Proceder correco pronta desse erro, nassituaes que ponham em risco a vida dodoente ou a sade do doente, e entrar emcontacto com o subordinado responsvel,to rapidamente quanto possvel, para oinformar da situao ocorrida.
2. Os deveres de respeito e de igualdadedevem tambm ser assumidos pelo superior hie-rrquico ou formador para com o formando.
Artigo 137.o
(Publicaes ou comunicaes)
1. Nas publicaes ou outras comunicaes,o mdico no deve anunciar qualquer resultadocomo sendo seu mrito exclusivo se o trabalhofor desenvolvido por uma equipa, com a utili-zao dos conhecimentos de outros especia-listas.2. vedado ao mdico ser autor ou co-autorde artigo ou comunicao para o qual no tenhacontribudo directamente ou com o qual noconcorde.
SECO IEXAMES E TERAPUTICAS
ESPECIALIZADOS
Artigo 138.o
(Dever de recomendao)
1. Quando o doente necessitar de exame outeraputica especializados que o mdico assis-tente considere ultrapassarem a sua competn-cia dever este, com o acordo do doente e coma celeridade possvel, sugerir-lhe o colega quejulgue competente para o caso, devendo preste ao corrente dos dados teis.
132
Legislao
REVISTA PORTUGUESA DE SADE PBLICA
2. A fim de assegurar a continuidade dos cui-dados mdicos, o mdico consultor devereenviar, logo que possvel, o doente ao mdicoassistente, remetendo, tambm, os resultados eas concluses do seu exame.
Artigo 139.o(Dever de informar o mdico assistente)
Se o doente consultou por sua iniciativa umoutro mdico, deve este, sempre que o consi-dere til ao doente ou este expressamente osolicite, fornecer ao mdico assistente, porescrito, as concluses do seu exame.
Artigo 140.o
(Princpio geral)
1. O mdico assistente que envie um doente aum hospital deve transmitir aos respectivos ser-vios mdicos os elementos necessrios con-tinuidade dos cuidados clnicos.2. Os mdicos responsveis pelo doente nodecurso do seu internamento hospitalar devemprestar ao mdico assistente todas as informa-es teis acerca do respectivo caso clnico,atravs de relatrio escrito.
TTULO VRELAES DOS MDICOS
COM TERCEIROS
CAPTULO IRELAES COM ESTABELECIMENTOS
DE CUIDADOS MDICOS
Artigo 141.o
(Regras gerais)
1. O exerccio da Medicina em qualquerorganizao, instituio ou entidade pblica,cooperativa, social ou privada, deve ser objectode contrato.2. O estatuto profissional do mdico nas orga-nizaes, instituies ou entidades previstas nonmero anterior no pode sobrepor-se s normasda deontologia profissional, nem aos deveres quepara ele resultam da relao mdico doente.
Artigo 142.o
(Liberdade de escolhados meios de diagnstico e tratamento)
1. A liberdade de escolha pelo mdico dosmeios de diagnstico e tratamento no pode serlimitada por disposio estatutria, contratualou regulamentar, ou por imposio da entidadede prestao de cuidados mdicos.2. O disposto no nmero anterior no impedeo controlo mdico hierarquizado do acto
mdico, o qual deve realizar-se sempre no inte-resse do doente.3. O disposto anteriormente no obsta existn-cia de orientaes, normas e protocolos respeitan-tes utilizao de meios complementares de diag-nstico e tratamento, desde de que aprovados poruma Direco Clnica, aps ampla discusso econsenso com os mdicos abrangidos.
Artigo 143.o
(Estruturas mdicas)
1. Na regulamentao de uma entidade pres-tadora de cuidados mdicos rejeita-se qualquerclusula que, para apreciao de litgios deordem deontolgica entre mdicos, reconheacompetncia a no-mdicos.2. O estatuto, contrato ou documento regula-dor das relaes entre mdicos e instituies,deve prever que o mdico manter supremaciahierrquica tcnica sobre o pessoal colaboradorem tudo o que respeite assistncia mdica.
Artigo 144.o
(Utilizao de instalaes ou material alheio)
O mdico que utilize instalaes ou materialalheio, para os quais no haja taxa de utilizaopaga por utente ou por terceiro, pode pagar aotitular uma contrapartida.
CAPTULO IIRELAES COM OUTROS
PROFISSIONAIS DE SADE
Artigo 145.o(Princpio geral)
O mdico, nas suas relaes com os outros pro-fissionais de sade, deve respeitar a sua inde-pendncia e dignidade.
Artigo 146.o(Dever de cooperao)
1. O mdico, nas relaes com os seus cola-boradores no mdicos, deve observar uma con-duta de perfeita cooperao, de mtuo respeitoe confiana, incutindo nos seus doentes idnti-cas atitudes.2. O mdico deve assumir a responsabilidadedos actos praticados pelos seus auxiliares desdeque ajam no exacto cumprimento das