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1 Excelentíssimo(a) Sr.(a) Promotor(a) de Justiça da Promotoria de Defesa do Patrimônio Público da Comarca de Jaboatão dos Guararapes NOELIA LIMA BRIO, brasileira, solteira, advogada, residente e domiciliada na Rua Conde D’Eu, nº 93, ap. 502, Santo Amaro, Recife, Pernambuco, inscrita da OAB/Pe, sob o nº 16.261, vem, respeitosamente, perante Vossa Excelência, noticiar possíveis irregularidades em contratos celebrados entre a PREFEITURA DE JABOATÃO DOS GUARARAPES e a empresa ABPA MARKETING E PRODUÇÃO DE EVENTOS LTDA, pelas razões que ora passa a expor: De início, cumpre destacar que a denunciante tem conhecimento da celebração de pelo menos dois contratos entre a Prefeitura de Jaboatão dos Guararapes e a ABPA Marketing e Produção de Eventos Ltda., ambos assinados no ano de 2011, sendo o primeiro por Inexigibilidade de Licitação e o segundo por meio da Concorrência nº 1/2011. 1º CONTRATO - INEXIGIBILIDADE DE LICITAÇÃO Nº 003/2011 Por meio do processo nº 21/2011, a Secretaria de Cultura e Eventos de Jaboatão dos Guararapes, à época comandada por IVAN ROBERTO B. CONCEIÇÃO, de alcunha “IVAN LIMA”, contratou, por Inexigibilidade de Licitação, a empresa ABPA

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DENUNCIA AO MPPE SOBRE IRREGULARIDADES NOS CONTRATOS DA PREFEITURA DE JABOATAO COM A ABPA PARA REALIZAÇAO DE EVENTOS E CAPTAÇAO DE PATROCINIOS

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Excelentíssimo(a) Sr.(a) Promotor(a) de Justiça da Promotoria de

Defesa do Patrimônio Público da Comarca de Jaboatão dos

Guararapes

NOELIA LIMA BRIO, brasileira, solteira, advogada,

residente e domiciliada na Rua Conde D’Eu, nº 93, ap. 502, Santo

Amaro, Recife, Pernambuco, inscrita da OAB/Pe, sob o nº 16.261,

vem, respeitosamente, perante Vossa Excelência, noticiar possíveis

irregularidades em contratos celebrados entre a PREFEITURA DE

JABOATÃO DOS GUARARAPES e a empresa ABPA MARKETING E

PRODUÇÃO DE EVENTOS LTDA, pelas razões que ora passa a expor:

De início, cumpre destacar que a denunciante tem

conhecimento da celebração de pelo menos dois contratos entre a

Prefeitura de Jaboatão dos Guararapes e a ABPA Marketing e

Produção de Eventos Ltda., ambos assinados no ano de 2011, sendo

o primeiro por Inexigibilidade de Licitação e o segundo por meio da

Concorrência nº 1/2011.

1º CONTRATO - INEXIGIBILIDADE DE LICITAÇÃO Nº 003/2011

Por meio do processo nº 21/2011, a Secretaria de

Cultura e Eventos de Jaboatão dos Guararapes, à época comandada

por IVAN ROBERTO B. CONCEIÇÃO, de alcunha “IVAN LIMA”,

contratou, por Inexigibilidade de Licitação, a empresa ABPA

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MARKETING E PRODUÇÃO DE EVENTOS LTDA., para “Prestação de

serviços de assessoria especializada para negociação e agenciamento

de patrocínio, apoio financeiro, parcerias e/ou colaboração junto às

instituições privadas e órgãos integrantes da administração pública

destinados à realização dos eventos festivos e culturais do Município do

Jaboatão dos Guararapes.”

Por tal serviço, a empresa ABPA MARKETING E

PRODUÇÃO DE EVENTOS LTDA. passou a receber uma comissão

de 20% (vinte por cento) sobre todo e qualquer patrocínio

eventualmente captado junto a entidades privadas e órgãos

integrantes da administração pública destinados ao patrocínio dos

eventos festivos e culturais do Município de Jaboatão:

O art. 25, da Lei nº 8.666/93 prevê as hipóteses em

que a licitação se torna inexigível e já no seu caput estabelece que “É

inexigível a licitação quando houver inviabilidade de competição”.

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Assim, para que a Prefeitura de Jaboatão pudesse

contratar a empresa em questão por Inexigibilidade de Licitação, a

condição sine qua non era a de que a competição entre a ABPA e

outras empresas fosse inviável.

Segundo Hely Lopes Meirelles, somente é Inexigível a

Licitação, quando “há impossibilidade jurídica de competição entre

contratantes, quer pela natureza específica do negócio, quer pelos

objetivos sociais visados pela Administração.” Ainda segundo Hely

Lopes Meirelles, dá-se a inexigibilidade quando o fornecedor é

exclusivo ou quando o contratado é o único que reúne as condições

necessárias à plena satisfação do objeto do contrato. O autor adverte,

portanto, que “a licitação é inexigível em razão da impossibilidade

jurídica de se instaurar competição entre eventuais interessados, pois

não se pode pretender melhor proposta quando apenas um proprietário

do bem desejado pelo Poder Público ou reconhecidamente capaz de

atender às exigências da Administração no que concerne à realização do

objeto do contrato.”1

Ocorre, porém que a empresa ABPA está longe de ser a

única no mercado pernambucano e, muito menos, nordestino ou

brasileiro, a fornecer o serviço de captação de patrocínios junto a

empresas privadas e entidades da Administração Pública. Além disso,

o contrato foi firmado pelo valor máximo praticado no mercado por

esse tipo de empresa, qual seja, o percentual de 20% (vinte por cento)

a título de comissão, demonstrando claramente que além de ferir o

caráter competitivo do processo licitatório previsto na Lei de

Licitações, a contratação da ABPA, por inexigibilidade de licitação, foi

antieconômica por adotar percentual altíssimo de comissionamento,

que poderia perfeitamente ter sido reduzido, acaso precedido por

concorrência com outras empresas.

                                                                                                               1  MEIRELLES, Hely Lopes. In “Direito Administrativo Brasileiro”, 20ª ed., 1995.  

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A prova de que a contratação da ABPA por

Inexigibilidade de Licitação, feita pela Prefeitura de Jaboatão, é ilegal

está na própria realização poucos meses depois, da Concorrência nº

001/2011, da qual a ABPA se sagrou vencedora e que tem, no seu

objeto, entre outros serviços contratados, também a captação de

patrocínios para eventos tidos de alta complexidade no Município de

Jaboatão dos Guararapes e que sejam favorecidos pela Lei Rouanet.

Ora, se para eventos festivos e culturais de alta complexidade, porém

que tenham o benefício da Lei de Incentivo a Cultura, foi possível abrir

concorrência e até obter uma percentagem menor de comissão a ser

paga à vendedora, como é possível crer na inviabilidade de

concorrência para a primeira contratação?

Tem-se notícia de pelo menos uma captação de

patrocínio realizada pela ABPA por força do primeiro contrato e com

recebimento de 20% de comissão. Trata-se do patrocínio da

Cervejaria Skol, ao PEFOLIA de 2011. Mas evidentemente que a

partir das investigações levadas a efeito por esse nobre órgão do

Parquet, mais contratos poderão vir à tona, bem como o valor total que

resultou dessa captação. É que como o Portal da Transparência da

Prefeitura de Jaboatão existe apenas para constar, a denunciante não

conseguiu acessar o aplicativo onde deveriam estar disponíveis todos

os empenhos referentes aos pagamentos realizados aos fornecedores

da gestão, o que também é outra grave ilegalidade a ser apurada por

essa Promotoria.

Em razão da falta de Transparência do Portal respectivo

da prefeitura denunciada, não pode a denunciante fazer, como

gostaria, o levantamento de todos os pagamentos eventualmente

feitos, a título de comissão, no percentual de 20% (vinte por cento), à

ABPA, em razão do primeiro contrato assinado com a prefeitura de

Jaboatão, em razão de patrocínios captados, nem todos os patrocínios

que teriam sido captados por força deste contrato até o dia de hoje:

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A contratação de uma empresa privada para captar

patrocínios para o Poder Público é bastante questionada, ainda mais

quando esses patrocínios são obtidos junto a outros entes da

Administração Pública, como bancos e empresas estatais, por

exemplo.

Qual a influência que uma empresa privada pode ter

sobre uma entidade estatal para conseguir um patrocínio que a

própria municipalidade não obteria através de seu próprio esforço?

Fosse a captação obtida apenas junto à iniciativa privada, até seria

uma hipótese a se considerar e ainda assim, desde que contratada

com licitação, onde se buscariam as melhores condições para a

entidade pública contratante, mas pagar empresas privadas para

fazerem meio de campo entre prefeituras e empresas estatais não nos

parece muito republicano.

Para se ter uma ideia de como a captação de

patrocínios junto a entidades públicas feitas por essas entidades é

algo a ser tratado com a maior cautela, no final de 2009, quando a

prefeitura de Jaboatão já contratara a ABPA para fazer a captação de

patrocínios e quando fechava o segundo contrato com esta, em valor

superior a R$ 12,6 milhões, contrato este que será tratado mais

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adiante, o Ministério Público Federal, no Estado de São Paulo, por

intermédio da procuradora da República Luciana da Costa Pinto, por

meio da Portaria nº 229, de 23 de novembro de 2009, instaurou

Inquérito Civil para investigar possíveis irregularidades em repasses

de verbas federais relacionados à lei de incentivo ao esporte, a partir

de denúncias de suposta "fraude na obtenção de incentivo fiscal

por parte do Instituto Capella Áurea, da ABPA Marketing e

Produção de Eventos Ltda. e da Confederação de Futebol Sete

Society".

O jornalista Juca Kfoury chegou a noticiar o fato em

seu Blog, pois, além do Inquérito Civil, um Inquérito Policial

também foi instaurado por determinação de outra Procuradora da

República, por suspeitas de formação de quadrilha e estelionato,

crimes que teriam sido cometidos, segundo o jornalista, com a

utilização das empresas citadas, entre elas a ABPA Marketing e

Produção de Eventos Ltda. e de uma entidade esportiva fantasma:

Até no futebol soçaite…

juca kfouri

19/03/2010

Uma tal Confederação de Futebol Sete Society do Brasil

virou objeto de inquérito policial na Polícia Federal de

São Paulo por solicitação da Procuradora da República

Carolina Lourenção Brighenti.

Por eventuais crimes de formação de quadrilha e

estelionato.

São também alvos do inquérito o Instituto Cappella

Aurea, do ex-jogador de vôlei Sérgio Negrão, e a ABPA

Marketing e Produção de Eventos Ltda.

Tudo em função da organização de uma Copa João

Pessoa de Futebol Sete Society com dinheiro da Lei de

Incentivo ao Esporte.

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O Ministério do Esporte terá de explicar por que

respaldou um evento organizado por entidades quem

jamais tinham militado na área esportiva, estando

comprovado, no Ministério Público Federal, que a tal

Confederação é uma entidade fantasma e que se valeu de

assinaturas falsas para ter existência legal.

Sérgio Negrão, que foi técnico de vôlei do time feminino

do Flamengo, entre outros, filiou-se, em dezembro

passado ao PCdoB, o partido do ministro do Esporte,

Orlando Silva.

http://blogdojuca.uol.com.br/2010/03/ate-no-futebol-

socaite/

O caso, aliás, também está sob investigação sigilosa no

TCU, através do Processo nº 018/823/2013-0.

Em 2009, a Gerente da Secretaria do Patrimônio da

União, em São Paulo, chegou a permitir o uso de espaços nas praias

do Guarujá e de São Vicente pela ABPA e pelo Instituto Capella Aurea,

para promoção de eventos naquele Estado, o que demonstra o nível de

estreita ligação entre ambas.

Como se vê, a empresa contratada por milhões acumula

uma série de problemas com os órgãos de controle e é até

surpreendente que os dois contratos firmados com a Prefeitura de

Jaboatão ainda não estejam sendo auditados, tendo em vista não

apenas a exorbitância de seus valores, mas, também as ilegalidades

flagrantes que saltam aos olhos de quem deles toma conhecimentos.

Adiante se pode ler a Portaria que comprova o nível de

envolvimento da ABPA com o Instituto Capella Aurea, com o qual está

sendo alvo de investigações do Ministério Público de São Paulo:

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2º CONTRATO – CONCORRÊNCIA Nº 001/2011

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A contratação da cantora Cláudia Leitte para animar o

Reveillon da cidade de Jaboatão dos Guararapes, por um cachê de

quase meio milhão de reais, pela prefeitura de uma cidade cuja

população vem sofrendo, há anos, o descaso de sucessivas gestões

com suas necessidades básicas de educação, saúde e, em especial,

saneamento e infraestrutura, trouxe novamente à tona um debate que

já vem sendo travado há algum tempo sobre o que deve ou não ser

priorizado pelas gestões de cidades como Jaboatão, com tantas

carências a serem providas.

Não faz muito tempo, o prefeito Elias Gomes, o mesmo

que contratou Cláudia Leitte, por quase meio milhão de reais, para

cantar por apenas alguns minutos, numa virada de ano, justificou a

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venda de vários imóveis do Município pela necessidade de fazer caixa.

O prefeito afirma que conseguiu captar boa parte do custeio do show

junto à iniciativa privada, entretanto, o custo real do Réveillon,

segundo o próprio prefeito, vai muito além do meio milhão pago a

Cláudia Leite, chegando a R$ 1,3 milhão, para uma captação de

patrocínio de apenas R$ 700 mil. Isso, sem falar na verba de

divulgação em horário nobre da televisão que, sozinha, pode ter

superar todo esse custo. É necessário que o prefeito, por sua

secretaria de Imprensa esclareça quanto foi gasto em publicidade para

divulgação do evento em horário nobre da televisão, pois esse custo

pode ter superado os R$ 2 milhões.

O que causa espécie é o gasto exorbitante com esse tipo

de evento vir justamente de uma gestão que conseguiu autorização da

Câmara de Vereadores para vender a única quadra da região central

do município, a Quadra de Esportes Reginaldo Montenegro, em

Jaboatão Centro, além de vender os prédios da antiga Maternidade

Rita Barradas, também em Jaboatão Centro, a Policlínica Carneiro

Lins, em Prazeres, o prédio inacabado da Câmara dos Vereadores, em

Prazeres, um terreno da Agamenon Magalhães, em Cavaleiro e vários

galpões ao lado da Casa de Cultura, em Jaboatão Centro, sem falar no

antigo Matadouro Municipal e a Antiga Escola, em Engenho Velho. Ou

seja, a gestão que se desfaz do patrimônio público, do patrimônio do

povo de Jaboatão, que se desfaz de quadras esportivas, de escolas e

de policlínicas, com a cumplicidade de Câmara de Vereadores, é bom

que se diga, a pretexto de fazer caixa para obras de infraestrutura, é,

por incrível que pareça, a mesma que, perdulariamente, gasta milhões

com shows no Reveillon, pois o que não falta é artista com cachês bem

mais baratos e com o mesmo padrão de qualidade da artista em

questão, para animar a virada de ano em Jaboatão ou em qualquer

Município do País.

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O Blog de Jamildo chegou a divulgar que o contrato da

cantora Claudia Leitte seria de R$ 900 mil, o que foi rechaçado pela

secretaria de Cultura da Prefeitura, mediante a apresentação de dois

subempenhos vinculados a um contrato de prestação de serviços

assinado em 2011 com a empresa ABPA, decorrente da Concorrência

nº 001/2011 (Processo nº 077/2011). Após o pagamento de Claudia

Leitte observou-se que o saldo dos dois subempenhos seria de

aproximadamente R$ 311 mil, o que nos levou a crer que esse valor

fosse o que ainda restasse a ser pago à artista. Entretanto, a própria

prefeitura se apressou em informar que esse seria o saldo

orçamentário da Secretaria e que somente no ano de 2013, sob o

comando do secretário Isaac Luna, os gastos da secretaria de Cultura

da cidade de Jaboatão giraram em torno de R$ 4,6 milhões e todos

intermediados pela empresa ABPA, por força do contrato em questão.

O secretário, entretanto, questionado pelo Blog de Jamildo, recusou-

se a informar os gastos dos anos anteriores, em que o contrato já

estava em execução, ou seja, todo o ano de 2012 e o mês de dezembro

de 2011, quando esteve à frente da pasta o secretário IVAN

ROBERTO B. CONCEIÇÃO, de alcunha “IVAN LIMA”, responsável

pela assinatura do contrato:

Continua um mistério gastos da gestão Elias Gomes com produtora de eventos que trouxe Cláudia Leite POSTADO ÀS 18:34 EM 02 DE JANEIRO DE 2014 Na semana passada, o Blog de Jamildo perguntou ao secretário de Assuntos Jurídicos de Jaboatão dos Guararapes, Júlio César, qual o valor global do contrato da prefeitura municipal com a produtora de eventos ABPA, responsável pela contratação da cantora Cláudia Leite, na festa da virada de ano. O secretário informou inicialmente que seria cerca de R$ 2 milhões, mas depois recuou, alegando que não saberia o valor exato pago à empresa. O cachê milionário causou polêmica, depois que o Blog de Jamildo, na sexta-feira da semana passada, abordou o gasto. Na terça-feira, a procuradora do Recife Noelia Brito, no artigo semanal escrito para o blog, assegurou que o contrato entre as partes somava

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R$ 12 milhões. No mesmo dia, o prefeito tucano fez um tour pelas rádios locais criticando a advogada e reclamando dos questionamentos, algo que deveria ser natural em uma democracia. No evento desta quinta, o Blog de Jamildo voltou a pedir informações, sem sucesso. Continua o mistério.

http://jc3.uol.com.br/blogs/blogjamildo/canais/noticias/2014/01/02/continua_um_misterio_gastos_da_gestao_elias_gomes_com_produtora_de_eventos_que_trouxe_claudia_leite_164988.php

Ao se analisar o Extrato de Adjudicação do objeto da

Licitação a que se refere a Concorrência nº 001/2011, percebe-se que

a polêmica em torno do show da cantora Claudia Leitte foi apenas a

ponta do “iceberg” desse contrato milionário da prefeitura de Jaboatão

com a empresa ABPA Marketing e Produção de Eventos Ltda,

assinado em 02 de dezembro de 2011, ainda na primeira gestão do

prefeito Elias Gomes e pelo qual se terceirou a essa empresa todos

os contratos de alta complexidade da área cultural e os

relacionados com grandes eventos da cidade, de modo a autorizá-

la a contratar, em nome do município e, sem licitação,

prestadores de serviços que escolhesse a seu bel prazer e ainda

recebendo uma comissão de 11,40% sobre os valores pagos aos

subcontratados que escolhesse. Para tanto, a Prefeitura de

Jaboatão disponibilizou R$ 12.620.000,00 que foi o valor

contratado com a ABPA Marketing e Produção de Eventos Ltda.,

através da Concorrência nº 001/2011. Os dois subempenhos

utilizados para comprovar que o show da cantora Cláudia Leitte

custou o que o prefeito Elias Gomes chamou de “pechincha” são

oriundos desse contrato de R$ 12.620.000,00 com a ABPA e o saldo

de R$ 311.000,00, agora sabemos, pelas próprias declarações do

Secretário de Assuntos Jurídicos de Jaboatão, que são o que resta

dos R$ 12.620.000,00 empenhados quando da celebração desse

contrato. Reta saber, portanto, com o que foram gastos os R$ 12

milhões que ficaram à disposição da ABPA de dezembro de 2011 para

cá e mais, resta saber como é possível que uma prefeitura

entregue a subcontratação de serviços de mais de R$ 12 milhões

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a uma empresa privada para que escolha, sem licitação, seus

fornecedores e ainda receba comissão sobre o valor contratado, o

que, por si só, já gera dúvidas sobre a isenção quanto à busca do

menor preço, já que a Lei nº 8.666/93 determina que a licitação é

a regra e que o princípio da impessoalidade e da economicidade

devem reger os contratos públicos.

É fundamental que o Ministério Público investigue

todas as subcontratações feitas pela ABPA, durante a execução do

contrato decorrente da Concorrência nº 001/2011, pois foram feitas

burlando a Lei de Licitações, que é a regra. Nada menos que R$

12.620.000,00 do dinheiro do povo de Jaboatão foram postos a

disposição da empresa ABPA para que gastasse tais recursos a seu bel

prazer, sem licitação, sem impessoalidade e ainda recebendo comissão

de 11,40% sobre todas as despesas que custeasse com esses recursos,

o que é uma verdadeira imoralidade, um escândalo.

Todos os fornecedores desse contrato foram escolhidos

ao bel prazer da ABPA, como se fosse sócia da Prefeitura de Jaboatão

e sócia a quem cabia apenas os lucros, ficando a prefeitura somente

com os custos. A associação deste segundo contrato com o anterior

resulta que ao mesmo tempo em que fatura 20% de todo e qualquer

patrocínio captado para os eventos, ainda recebe 11,40% em cima de

todas as despesas feitas para custear esses eventos da prefeitura de

Jaboatão, transformando a ABPA numa espécie de arrendatária da

Secretaria de Cultura de Jaboatão dos Guararapes.

Para se ter uma ideia, se tomarmos o show da cantora

Claudia Leitte apenas como exemplo, considerando-se que seja

verdade que o custo total do réveillon foi mesmo o divulgado pela

prefeitura de Jaboatão de R$ 1,3 milhões, teremos que excluindo-se o

custo do cachê de R$ 470 mil, outros R$ 830 mil foram gastos com a

festa. Tais despesas, por certo, referiam-se à montagem do palco, dos

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camarotes, queimas de fogos, pagamentos de pessoal, etc., e que

deveriam ter sido necessariamente licitados, em respeito ao princípio

da economicidade e da impessoalidade, mas que não o foram porque

estavam terceirizados à empresa ABPA que ainda recebeu uma

comissão de 11,40% sobre o valor despendido com o gasto.

Quanto ao show de Cláudia Leitte, é preciso investigar

seu verdadeiro custo, pois tanto a empresa da cantora, quanto outros

shows da artista e cachês do mesmo valor têm sido objeto de ações do

Ministério Público por suspeitas de fraudes, conforme demonstram as

publicações adiante expostas:

http://www.bahianoticias.com.br/holofote/noticia/24534-superfaturamento-

ministerio-publico-investiga-show-de-claudia-leitte.html

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http://www.folhapolitica.org/2013/08/empresaria-denuncia-esquema-de-

claudia.html

DAS DENUNCIAS DE COAÇÃO A SERVIDORES PARA COMPRA DE

INGRESSOS E CAMAROTES PARA O SHOW DE CLAUDIA LEITTE

Vários Blogs do Estado receberam denúncias de que

ocupantes de cargos comissionados teriam sido coagidos por

integrantes do alto escalão da Prefeitura de Jaboatão a assinarem

autorizações de descontos em Folha de Pagamento para custeio da

compra de ingressos e camarotes que seriam vendidos pela prefeitura

de Jaboatão dos Guararapes. Essa denúncia é gravíssima, ainda mais

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quando sabemos que a empresa ABPA recebe 20% de toda e qualquer

venda de ingressos e camarotes desses eventos, que é considerada

“captação” de patrocínios e principalmente porque todos sabemos o

quanto é frágil a situação de ocupantes de cargos comissionados em

prefeituras. Tais denúncias, embora negadas pela prefeitura, merecem

apuração do Ministério Público, dada sua gravidade e a existência de

prova documental quanto à cobrança, que segue anexa s presente

denúncia, tendo sido, inclusive publicada no conceituado Blog do

jornalista Jamildo Melo:

Em Jaboatão, comissionados podem estar sendo obrigados a comprar ingressos do réveillon de Cláudia Leite POSTADO ÀS 11:30 EM 30 DE DEZEMBRO DE 2013 Na sexta-feira passada, em primeira mão, o Blog de Jamildo revelou que o show de Cláudia Leite poderia ter um custo de cerca de R$ 900 mil. Como era de se esperar, a notícia causou grande rebuliço, em função do valor bastante elevado e as carências do município. A gestão tucana negou a informação, informando que estaria pagando apenas R$ 427 mil. No entanto, os empenhos da contratação, documentos oficiais fornecidos pela própria prefeitura, mostram que o valor a ser pago pode realmente ser maior.

Nesta segunda-feira, sempre sob a condição do anonimato, servidores da prefeitura informaram ao Blog de Jamildo, que a Prefeitura de Jaboatão dos Guararapes estaria obrigando seus comissionados a comprar ingressos do réveillon de Cláudia Leite, depois que a ABPA Marketing e produção de eventos, a empresa contratada para o show, teria desistido de vender os camarotes. Abaixo veja o suposto texto do e-mail que os comissionados estariam recebendo da Secretária Executiva Mara Annunciato, seguindo orientação superior.

Prezados Secretários e Secretárias, AGORA É GUERRA! 1- Por determinação superior, TODOS os COMISSIONADOS, cuja remuneração seja superior a R$ 1.800,00 (mil e oitocentos reais) DEVERÃO comprar AMANHÃ no mínimo 1 ingresso para o Reveillon. Nossa meta amanhã é vender 2.200 ingressos. 2- Cada Secretário Municipal e Secretário Executivo repasse à sua equipe de Superintendentes, gerentes e Gerentes Regionais URGENTE e assuma a "cobrança" encaminhando os comissionados aos Pontos de Vendas (Market Place e Aeroporto) pontos principais, a fim de assinar a Declaração de

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"autorização de desconto em folha"; 3- Lembrar que deve-se ANEXAR A CÓPIA DE UM DOCUMENTO COM FOTO, no ato da compra do ingresso; 4- Quem não for, repasse o ingresso para um amigo, conhecido que queira ir; 5- O valor por pessoa é de R$ 100,00 (cem reais) para ser descontado em 2 vezes - duas de R$ 50,00 na Folha de Pagamento; 6- E ainda ver Claudia Leite no front stage - E a arrecadação vai para o Fundo Municipal da Criança! 7- Senhores, trata-se de um apelo do Prefeito e TODOS sem distinção devem contribuir; 8- Os secretários Municipais podem também determinar uma cota adicional de 20 ingressos por Secretaria Executiva para serem vendidos aos amigos dos servidores e que resultaria em 560 ingressos além dos nossos;9- Importante que essa ação ocorra amanhã (domingo), pois segunda-feira o Prefeito dará uma entrevista na imprensa e a noite, precisamos dos levantamentos dos números; Por fim, quero dizer que este assunto trata-se de uma APELO do Prefeito. Sei que nosso TIME responderá ao nosso desafio: vender amanhã 2.200 ingressos entre nós! Grata e vamos conversando......... Boa noite, começa agora a repicar este e-mail !! Abçs

http://jc3.uol.com.br/blogs/blogjamildo/canais/noticias/2013/12/30/em_jaboatao_comissionados_podem_estar_sendo_obrigados_a_comprar_ingressos_do_reveillon_de_claudia_leite_164862.php

Diante de todo o exposto, requer a instauração de

procedimento investigatório para apurar eventuais irregularidades nos

contratos acima mencionados, celebrados entre a PREFEITURA DE

JABOATÃO DOS GUARARAPES e a ABPA MARKETING E

PRODUÇÃO DE EVENTOS LTDA. e nas despesas decorrentes desses

contratos, ajuizando-se, se for o caso, a competente ação civil pública

destinada ao ressarcimento de eventuais danos causados pelos

responsáveis ao Erário de Jaboatão dos Guararapes.

Recife, 03 de janeiro de 2014.

N O E L I A B R I T O

OAB/PE 16.261