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Promotoria Especial de Proteção ao Patrimônio Público de Londrina ______________________________________________________________________________________________ Rua Capitão Pedro Rufino, nº. 605, Jardim Europa, CEP 86015-700 – Fone/fax (43) 3372-9200 – Londrina-PR EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA ____ª VARA CÍVEL DA COMARCA DE LONDRINA – ESTADO DO PARARÁ. MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ, por seus Promotores de Justiça que ao final assinam, em exercício na Promotoria Especializada de Proteção ao Patrimônio Público da Comarca de Londrina, no uso de suas atribuições legais, com fundamento nas disposições contidas nos artigos 129, inciso III, da Constituição da República, art. 120, inciso III, da Constituição do Estado do Paraná, art. 25, inciso IV, da Lei n.º 8.625/93, art. 1º, inciso IV, da Lei n.º 7.347/85, e na Lei n.º 8.429/92, vem, respeitosamente, perante Vossa Excelência, propor a presente AÇÃO CIVIL PÚBLICA, para a responsabilização por atos de Improbidade Administrativa, com pedido liminar de afastamento de cargo contra 1. HOMERO BARBOSA NETO, brasileiro, casado, jornalista/Prefeito Municipal, filho de Maria Tereza de Moura Barbosa, portador da cédula de identidade RG nº. 9526444/SSP-, inscrito no Cadastro de Pessoas Físicas – CPF sob o nº. 7640902835, natural de Santa Rita do Passa Quatro- SP, nascido no dia 19/09/1966, residente e domiciliado na Rua Santiago, nº. 833, Jd. Bela Suíça, nesta cidade. 2. BRUNO VALVERDE CHAHAIRA, brasileiro, solteiro, advogado inscrito na OAB/PR sob nº 52.860, filho de Alberto Chahaira Sobrinho, portador da cédula de identidade RG nº. 8.955.279-6/SSP-PR, inscrito no Cadastro de Pessoas Físicas – CPF sob nº. 046.576.669-24, natural de Londrina, nascido no dia 11/12/1985, residente e domiciliado na Rua Paranaguá, 600, apto. 1504, nesta cidade, 3. ANA LAURA LINO, brasileira, casada, advogada, filha de Ricardo José Martins Lima e Tereza Lino, portadora da cédula de identidade RG nº. 4028171355/SSP-RS, inscrita no Cadastro de Pessoas Físicas – CPF sob o nº. 631.446.620-2, natural de Porto Alegre-RS, nascido no dia 24/01/1970, residente e domiciliada na Rua Santiago, nº. 833, Jd. Bela Suíça, nesta cidade.

Denuncia MP - Operação Assepssia

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______________________________________________________________________________________________ Rua Capitão Pedro Rufino, nº. 605, Jardim Europa, CEP 86015-700 – Fone/fax (43) 3372-9200 – Londrina-PR

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA ___ _ª VARA

CÍVEL DA COMARCA DE LONDRINA – ESTADO DO PARARÁ.

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ, por seus Promotores de Justiça que ao final assinam, em exercício na Promotoria Especializada de Proteção ao Patrimônio Público da Comarca de Londrina, no uso de suas atribuições legais, com fundamento nas disposições contidas nos artigos 129, inciso III, da Constituição da República, art. 120, inciso III, da Constituição do Estado do Paraná, art. 25, inciso IV, da Lei n.º 8.625/93, art. 1º, inciso IV, da Lei n.º 7.347/85, e na Lei n.º 8.429/92, vem, respeitosamente, perante Vossa Excelência, propor a presente AÇÃO CIVIL PÚBLICA, para a responsabilização por atos de Impro bidade Administrativa, com pedido liminar de afastamento d e cargo contra

1. HOMERO BARBOSA NETO , brasileiro, casado, jornalista/Prefeito Municipal, filho de Maria Tereza de Moura Barbosa, portador da cédula de identidade RG nº. 9526444/SSP-, inscrito no Cadastro de Pessoas Físicas – CPF sob o nº. 7640902835, natural de Santa Rita do Passa Quatro-SP, nascido no dia 19/09/1966, residente e domiciliado na Rua Santiago, nº. 833, Jd. Bela Suíça, nesta cidade.

2. BRUNO VALVERDE CHAHAIRA , brasileiro, solteiro, advogado inscrito na OAB/PR sob nº 52.860, filho de Alberto Chahaira Sobrinho, portador da cédula de identidade RG nº. 8.955.279-6/SSP-PR, inscrito no Cadastro de Pessoas Físicas – CPF sob nº. 046.576.669-24, natural de Londrina, nascido no dia 11/12/1985, residente e domiciliado na Rua Paranaguá, 600, apto. 1504, nesta cidade, 3. ANA LAURA LINO , brasileira, casada, advogada, filha de Ricardo José Martins Lima e Tereza Lino, portadora da cédula de identidade RG nº. 4028171355/SSP-RS, inscrita no Cadastro de Pessoas Físicas – CPF sob o nº. 631.446.620-2, natural de Porto Alegre-RS, nascido no dia 24/01/1970, residente e domiciliada na Rua Santiago, nº. 833, Jd. Bela Suíça, nesta cidade.

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4. RUY NOGUEIRA NETTO, brasileiro, filho de Dilza Duarte Nogueira, inscrito no Cadastro de Pessoas Físicas – CPF sob o nº. 490.779.106-20, nascido no dia 30/12/1962, residente e domiciliado na Rua Piauí, nº. 1145, 10º andar, Higienópolis, São Paulo-SP, CEP 01241-000. 5. RICARDO JOSÉ DURANTE RAMIRES , brasileiro, filho de Ivani Durante Ramires, inscrito no Cadastro de Pessoas Físicas – CPF sob o nº. 822.362.329-34, nascido no dia 20/09/1971, residente e domiciliado na Rua Raposo Tavares, nº. 1140, apto 31 B, Centro, Londrina-Pr. 6. FÁBIO PASSOS DE GOES , brasileiro, solteiro, administrador de empresas, filho de José Diógenes Ribeiro e Giselda Passos de Goes, portador da cédula de identidade RG nº. 2.902.762-41/SSP-BA, inscrito no Cadastro de Pessoas Físicas – CPF sob o nº. 615.321.185-20, natural do Rio de Janeiro-RJ, nascido no dia 25/03/1969, residente e domiciliado na Rua Manoel Barbosa da Fonseca Filho, nº. 432, San Fernando, nesta cidade. 7. WILSON VIEIRA , brasileiro, casado, empresário, filho de Justino Vieira e Maria Pedrosa Vieira, portador da cédula de identidade RG nº. 1.164.488-0 SSP/PR, natural de Londrina-PR, nascido no dia 13/10/1955, residente e domiciliado na Rua Conde de Nova Friburgo, nº. 77, apto 1102, nesta cidade. 8. INSTITUTO ATLÂNTICO , pessoa jurídica de direito privado, sem fins lucrativos inscrita no Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas – CNPJ/MF sob o nº. 10.896.554/001-37, com sede administrativa na Av. Juscelino Kubitscheck, nº. 1977, Centro, Londrina-Pr, qualificada como Organização da Sociedade Civil de Interesse Público – OSCIP, na forma de seu estatuto, e representada por Bruno Valverde Chahaira, brasileiro, solteiro, advogado, filho de Alberto Chahaira Sobrinho, portador da cédula de identidade RG nº. 8.955.279-6/SSP-PR, inscrito no Cadastro de Pessoas Físicas – CPF sob o nº. 046.576.669-24, natural de Londrina-Pr, nascido no dia 11/12/1985, residente e domiciliado na Rua Paranaguá, nº. 600, apto. 1504, nesta cidade.

pelos fatos e fundamentos jurídicos a seguir

aduzidos:

I – ASPECTOS INTRODUTÓRIOS

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Por meio das investigações promovidas em conjunto pelo GAECO e Promotorias de Patrimônio Público, denominada “Operação Antissepsia”,1 apurou-se a existência de um grave esquema de corrupção e dilapidação de recursos públicos, envolvendo representantes e pessoas ligadas às OSCIPs, INSTITUTO GÁLATAS e INSTITUTO ATLÂNTICO. A prática dos atos ilícitos ocorriam mediante a apropriação indevida de recursos públicos destinados a saúde no Município de Londrina justificadas, artificiosamente, por intermédio de falsa contraprestação de serviços e da corrupção de agentes públicos, que receberam vantagens indevidas para auxiliar nessas práticas ilícitas (relatório policial nº 60/2011, DOC.01).2

Apurou-se que os Institutos GÁLATAS e o ATLÂNTICO, foram contratados, em regime emergencial, pelo MUNICÍPIO DE LONDRINA no final do ano de 2010, aproveitando-se da lacuna deixada pelo rompimento dos contratos entre o MUNICÍPIO DE LONDRINA e a OSCIP denominada CIAP, após escândalo que culminou na prisão de diversos envolvidos e que apurou amplo sistema de dilapidação de desvio e apropriação de recursos destinados à saúde.

Por meio dos termos de Parceria firmados com o Município de Londrina, os Institutos GÁLATAS e ATLÂNTICO passaram a receber milhões de reais por mês, para a execução de Programas na área da saúde, mediante prestação de contas que deveria ser feita por tais OSCIPs à Prefeitura.

Os elementos colhidos no curso das investigações, entretanto, revelaram que já a partir das tratativas iniciais entre representantes das OSCIPs com setores da administração pública, estabeleceu-se uma relação de troca de indevidas benesses, em que agentes públicos de diferentes setores e escalões da administração pública municipal, valendo-se de suas funções, passaram a exigir, aceitar e receber, valores para intermediar a contratação dos Institutos pelo Município de Londrina. Já os representantes das OSCIPs, prometeram, ofereceram e pagaram vantagens indevidas aos agentes públicos ou a terceiros, para firmar os termos de Parceria com o Município de Londrina, destinados ao desenvolvimento e aprimoramento de ações em diversos setores da área da saúde pública municipal.

Constatou-se, assim, que as OSCIPs, que por lei não podem possuir fins lucrativos, firmaram tais parcerias milionárias com o Município de forma que seus representantes e os agentes públicos e terceiros com eles conluiados, pudessem locupletar-se indevidamente de parte dos recursos destinados à saúde, utilizando-se de estratagemas para aumentarem o volume de despesas por meio de fraudes na obtenção de notas fiscais de fornecimento de equipamentos e serviços, com o fim de desviar parte dos valores que foram pagos mensalmente pelo MUNICÍPIO DE LONDRINA. 1 Cópia da decisão de compartilhamento das provas. DOC.06 2.DOC.01.

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Essas fraudes consistiam, tanto na obtenção de notas fiscais inteiramente falsas, referentes a prestação de serviços ou de equipamentos inexistentes, quanto ao “superfaturamento” dos valores constantes de notas fiscais referentes a serviços ou equipamentos efetivamente adquiridos por tais OSCIPs.

Verificou-se, ainda, que os representantes das Oscips, Instituto Gálatas e Instituto Atlântico, valeram-se dos mesmos expedientes ilícitos para conseguirem, por meio de oferta, promessa e pagamento de valores indevidos a agentes público e terceiros com poder de influência sobre estes, a contratação desses Institutos para a execução de ações na área da saúde.

Constatou-se, por outro lado, que embora os responsáveis pelos INSTITUTOS GÁLATAS E ATLÃNTICO não mantivessem relações entre si, utilizaram-se do mesmo sistema de arrecadação recursos públicos e que, a partir de determinado momento, os seus representantes passaram a manter, entre si, intenso relacionamento, inclusive valendo-se, em algumas circunstâncias, dos mesmos "aliados" para a obtenção e manutenção dos termos de parceria junto ao município de Londrina, além de se valerem dos mesmos métodos para auferir lucros ilícitos( exatamente no tocante à obtenção de notas fiscais fraudulentas).

As investigações demonstraram que não havia apenas um foco de corrupção conectado às OSCIPs, mas vários e em níveis diversos da Administração Pública Municipal, não havendo relação entre todos os agentes públicos que foram corrompidos pelas OSCIPs com o fim de manter o aventado sistema de arrecadação de recursos públicos. Observou-se que as OSCIPs cuidaram de cooptar agentes públicos variados, pagando-lhes, para auferir os benefícios sob investigação, sem que entre esses mesmos funcionários públicos houvesse, necessariamente, alguma vinculação.

Apurou-se, portanto, a existência de dois núcleos criminosos distintos, sendo um conectado ao INSTITUTO GÁLATAS e liderado por SÍLVIO LUZ RODRIGUES ALVES e GLÁUCIA CRISTINA CHIARARIA RODRIGUES ALVES, e outro relacionado ao INSTITUTO ATLÂNTICO, com a interferência de BRUNO VALVERDE CHAHAIRA.

A identificação desses dois núcleos criminosos, ensejou a separação das investigações.

No núcleo criminoso relacionado ao INSTITUTO ATLÂNTICO, liderado por BRUNO VALVERDE CHAHAIRA, identificou-se a ocorrência de graves atos de corrupção envolvendo o prefeito do Município de Londrina, HOMERO BARBOSA NETO e de sua mulher ANA LAURA LINO, além de outras pessoas.

De efeito, os elementos coligidos no curso da chamada operação “ANTISSEPSIA”, não só confirmaram o gravíssimo sistema de dilapidação do erário, como permitiram esclarecer amplamente as ações

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criminosas e, especialmente, revelaram fatos que evidenciam a prática de atos de improbidade administrativa do Prefeito BARBOSA NETO, em concurso com a sua mulher ANA LAURA LINO, além de outros terceiros, com o fim de favorecer o INSTITUTO ATLÂNTICO, do requerido BRUNO VALVERDE CHAHAIRA.

Dessa forma, constitui objeto desta ação os atos de improbidade administrativa praticados em concurso pelos requeridos HOMERO BARBOSA NETO, ANA LAURA LINO, RUY NOGUEIRA NETTO, RICARDO RAMIRES, FABIO GOES, WILSON VIEIRA e BRUNO VALVERDE CHAHAIRA e que ensejaram o enriquecimento ilícito de HOMERO BARBOSA NETO, ANA LAURA LINO, RUY NOGUEIRA NETTO e RICARDO RAMIRES e afrontaram os princípios que regem a atividade administrativa, consubstanciando atos de improbidade administrativa previstos nos artigos 9º e 11º da Lei 8.429/92. Por estas razões, propõe-se a presente ação civil pública, com vistas a: - liminarmente, ser deferido o afastamento do requerido HOMERO BARBOSA NETO do cargo de Prefeito do Município de Londrina e do requerido FABIO DE PASSOS GOES; - ao final, julgar-se procedente a presente pretensão, condenando os requeridos às sanções encartadas no art. 12, incisos I e III da Lei n.8429/92.

II. FATOS: II.1. PROMESSA DE PAGAMENTO DA IMPORTÂNCIA DE R$ 30 0.000,00 PARA VIABILIZAR A CONTRATAÇÃO DO INSTITUTO ATLÂNTIC O; Até o ano de 2010, o Município de Londrina mantinha Parcerias com a OSCIP denominada CIAP, para o desenvolvimento de Programas na área da Saúde.3 Em virtude da descoberta de vultosos desvios envolvendo o CIAP em vários Estados da Federação, que ensejou a Operação Parceria da Polícia Federal, por volta do mês de novembro de 2010 o Município de Londrina tomou a decisão administrativa de rescisão dos aludidos termos de parceria, definindo a celebração de novas parcerias em caráter emergencial, pelo prazo de seis meses, com outras entidades. Para tanto, a Administração Pública Municipal passou a divulgar que iria selecionar uma nova entidade (ou mais de uma entidade, posteriormente) para substituir o CIAP.

3 Cópias dos termos de Parceria DOC.02

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O requerido BRUNO VALVERDE CHAHAIRA, responsável pela OSCIP-Organização da Sociedade Civil de Interesse Público, denominada INSTITUTO ATLÂNTICO4, interessado em firmar essas Parcerias , sobretudo por perceber a oportunidade de auferir lucros nas parcerias que viessem a ser formalizadas com o Município de Londrina para prestação de serviços na área da saúde, decidiu estabelecer todos os contatos necessários para que o INSTITUTO ATLÂNTICO viesse a ser escolhido pela Administração Municipal para substituir o CIAP. BRUNO VALVERDE constatou, outrossim, que os meios para conseguir o próprio enriquecimento ilícito com as Parcerias estabelecidas com o Poder Público, dependeria de oferecer/prometer vantagens indevidas a agentes públicos e terceiros que pudessem auxiliar na escolha do INSTITUTO ATLÂNTICO (além, conforme apurou-se, de futuramente simular despesas vinculadas aos serviços a serem contratados, através, sobretudo, de falsas notas fiscais, que permitissem a apropriação de dinheiro público e, consequentemente, o repasse de parte dele para os comparsas que viessem a auxiliá-lo). Assim, em data não precisada, no mês de novembro de 2010, o requerido BRUNO VALVERDE CHAHAIRA procurou RICARDO JOSE DURANTE RAMIRES, conhecido por PIO, seu colega de faculdade, com a finalidade de que PIO o auxiliasse, colocando-o em contato com pessoas que pudessem viabilizar as parcerias. Apurou-se que o requerido BRUNO VALVERDE CHAHAIRA procurou ajuda junto a RICARDO RAMIRES, vulgo “PIO” em razão da amizade que PIO mantinha com o requerido RUY NOGUEIRA, publicitário residente na cidade de São Paulo e que trabalhou na campanha eleitoral do Prefeito HOMERO BARBOSA NETO, tornando-se, desde então, muito próximo de BARBOSA NETO e da sua mulher ANA LAURA LINO. RICARDO RAMIREZ, aderindo aos propósitos de BRUNO VALVERDE, entrou em contato com RUY NOGUEIRA que interessou-se pela proposta de BRUNO VALVERDE CHAHAIRA e RICARDO RAMIRES. Assim, após alguns contatos iniciais, RUY NOGUEIRA deslocou-se até Londrina, onde passou a reunir-se com BRUNO VALVERDE, estabelecendo-se que RUY NOGUEIRA, valendo-se de sua amizade e influência junto ao prefeito HOMERO BARBOSA NETO e sua mulher ANA LAURA LINO, interferiria em favor do INSTITUTO ATLÃNTICO nas Parcerias buscadas pelo Poder Público para o desenvolvimento de Programas na área da saúde. Registre-se que a influência de RUY NOGUEIRA sobre o casal BARBOSA NETTO ficou evidenciado ao longo das investigações.

4 Observe-se que o requerido BRUNO VALVERDE só assumiu, formalmente a direção do Instituto Atlântico, após a assinatura das Parcerias firmadas com o Município.

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Nesse sentido, as declarações de MárciaBounassar5, João Santini6, David Garcia7, João Paulo Riquetti 8e Marcos Ratto9, são

5 A própria MÁRCIA BOUNASSAR, que confessadamente nutre sentimentos negativos quanto a BRUNO VALVERDE, esclareceu a contratação de RUY NOGUEIRA: "..Que indagada se teve conhecimento de BRUNO VALVERDE ter feito algum contato para privilegiar o INSTITUTO ATLANTICO na aludida concorrência, respondeu que teve conhecimento de que BRUNO procurou a pessoa de RICARDO RAMIREZ, a fim de que este último intermediasse um contato com RUY NOGUEIRA NETTO, haja vista que RICARDO é sócio de RUY, acreditando de LEILA MANTOVANI tenha concorrido para tanto, tendo RICARDO efetivamente apresentado RUY para BRUNO; Que após a apresentação de BRUNO e RUY, a declarante teve conhecimento, através de comentários de BRUNO, que estariam ocorrendo tratativas entre os mesmos (BRUNO e RUY) no sentido de acertar eventual contratação do INSTITUTO ATLANTICO pela Prefeitura Municipal de Londrina; Que neste período, a declarante presenciou BRUNO dizendo que havia mandado uma flor à esposa do Prefeito Municipal BABORSA NETO, que teria custado cerca de R$ 250,00; DOC.10. "...Que a declarante tem ciência de que RUY NOGUEIRA ef etivamente conseguiu o contrato entre o INSTITUTO ATLANTICO e a Prefeitura Municipal de Londrina ao apresentar a pessoa de BRUNO para ANA LAURA; que me lhor esclarecendo, RUY afirmava conhecer bem ANA LAURA e BARBOSA NETO, inc lusive porque ajudou na campanha eleitoral deste último, sendo RUY quem abr iu as portas para o ATLÂNTICO na Prefeitura, visto que BRUNO VALVERDE não possuía co ntatos na Prefeitura antes de RUY interferir ; que RUY, mesmo depois, sempre se afirmou responsáve l pela contratação do ATLÂNTICO pela Prefeitura; que não viu RUY fazendo qualquer outro serviço, além da alteração do site; que RUY, nas conversas mais recentes, deixou claro que cobrava os R$ 300.000,00 por conta do sucesso pela contratação pela Prefeitura do INSTITUTO ATLÂNTICO, isto é, pela intermediação entre ATLÂNTICO e a Prefeitura, mais especificamente ANA LAURA (Termo de declarações de Márcia Bounassar. DOC.10) 6 Secundando o informado por MÁRCIA BOUNASSAR, no que pertine à atuação de RUY NOGUEIRA, o advogado JOÃO SANTINI esclarece o seguinte:"..que o declarante conhece Bruno Valverde há cerca de dois anos, razão pela qual foi convidado para compor a assessoria jurídica do Instituto Atlântico; que o declarante se recorda que no início de dezembro de 2010, Bruno Valverde convidou o declarante para participa r de um jantar, no restaurante Bourbon, oportunidade em que se faria presente Rui Nogueira, Bruno Valverde, o declarante, uma pessoa de um partido político que o declarante não se recorda, e Ricardo Ramires, vulgo Pio; que o assunto tratado na oportunidade dizia respeito à provável contratação do Instituto Atlântico pelo Município de Londrina, destinado a prestação de serviços na área de saúde; que na reunião, cujos detalhes o declarante não se recorda, pode afirmar que Rui Nogueira arvorou-se na condição de responsável pela indicação e futura contratação do Instituto Atlântico pelo Município d e Londrina, contratação esta que ainda não havia sido efetivada" ... "que Rui Nogueira gabava-se como sendo o responsável pela indicação e contratação do Instituto Atlântico, enf atizando que detinha influência política que legitimaria a contratação do Instituto Atlântic o pelo Município de Londrina; que após a assinatura do contrato com o Instituto Atlântico e o Município de Londrina, Rui Nogueira passou a coagir e mesmo ameaçar Bruno Valverde (não sabendo exatamente os termos, mas sabe-se que o pressionava), exigindo que lhe fosse repassado a quantia de R$300.000,00 reais, exatamente porque teria sido o responsável pela indicação e contratação do Instituto Atlântico pelo Município de Londrina"; (termo de Declarações de João Santini. DOC.16).

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7 Ainda esclarecendo a interferência decisiva de RUY NOGUEIRA junto a BARBOSA NETO e ANA LAURA LINO, o contador do INSTITUTO ATLÂNTICO, DAVID GARCIA, relatou que tal contratação foi exclusivamente motivada pelas ações de RUY NOGUEIRA junto ao prefeito e mulher: ..." que Ricardo Ramires apresentou Rui Nogueira a Bruno Valverde; que Ricardo Ramires era bastante amigo de Bruno Valverde, amizade esta proveniente também do curso de direito e também da “militância acadêmica”;..." Pio, então, percebendo a possibilidade e a necessidade de apresentação de uma pessoa influente , e que possuía especial contato pessoal com o Prefeito Barbosa Neto, apresentou Rui Nogueira a Bruno Valverde, a fim de que Rui possibilitasse a contratação do Institut o Atlântico pelo Município de Londrina; esclarece o declarante que Rui Nogueira possuía con tato com Barbosa Neto porque prestou serviços na campanha política para o cargo de Prefeito; que Rui Nogueira montou toda a estratégia de marketing e publicidade de Bar bosa Neto, sendo certo que Barbosa atribuía o sucesso da campanha ao trabalho realizad o por Rui Nogueira ".."; que Ricardo Ramires ligou para Rui Nogueira, questionando-lhe acerca da possibilidade de intermediar, junto ao Prefeito de Londrina Barbosa Neto, a contratação do Instituto Atlântico para prestação de serviços na área de saúde deste Município; que Rui Nogueira mostrou muito interesse, convidando Bruno Valverde e Ricardo Ramires para que viajasse até São Paulo e mantivessem uma conversa sobre o assunto; que nesta reunião, além de ser estabelecido os respectivos valores que deveriam ser pagos à Rui Nogueira, também ficou convencionado que a contraprestação de Rui limitava-se a “gestionar” junto À Barbosa Neto, a contratação do Instituto Atlântico para prestar serviços ao Município de Londrina; que após esta reunião, outras foram realizadas por Rui Nogueira, Bruno Valverde e “Pio” , a fim de estabelecer as diretrizes do compromisso assumido; que Pio enfatizava, constante mente, para o declarante, a influência e o poder que Rui Nogueira possuía junto ao Prefeito Barbosa Neto; que Pio tinha absoluta certeza de que o Instituto Atlântico seria contratado pelo Município; que esta certeza advinha das próprias palavras de Rui Nogueira;"..." que em uma das viagens de Rui Nogueira para Londrina, esteve na casa de Bruno Valverde, em companhia de Pio, para tratar da contratação do Instituto Atlântico p elo Município de Londrina, estando, no dia seguinte , agendado uma reunião com Barbosa Net o para exatamente estabelecer os termos da contratação do Atlântico pelo Município d e Londrina; que o declarante, em determinado momento, questionou Pio se Rui Nogueira , de fato, possuía liberdade para conversar com Barbosa Neto, sem prévio agendamento, sendo enfatizado por Pio, referindo-se a Rui Nogueira, o seguinte: “Cara, o R ui, aqui em Londrina, não pede. Manda.”; que todas estas informações repassadas por Pio ao declarante eram diretamente contadas por Rui Nogueira" .. (Termo de Declarações de David Garcia, DOC.17). 8 De igual forma, o então companheiro de BRUNO VALVERDE, JOÃO PAULO RIQUETI DA COSTA, esclareceu que, de fato, foi RUY NOGUEIRA quem estabeleceu o acordo para a contratação do ATLÃNTICO, inclusive através do pagamento de vantagens indevidas. E que RICARDO RAMIREZ, vulgo “PIO”, auxiliou nas atividades de RUY NOGUEIRA, sendo certo que este mantinha relações pessoais com BARBOSA NETO e ANA LAURA LINO: ..."que Rui Nogueira tinha um contato pessoal com Ana Laura e Barbosa Neto, já que se trata de publicitário e foi o responsável pela campanha eleitoral de Barbosa, para prefeito municipal; que Ricardo Ramirez tem contato pessoal com Rui Nogueira, sendo certo que já trabalharam juntos na campanha da Dilma; que, pelo que se recorda, Ricardo Ramirez, vulgo ‘’Piu’’, foi a pessoa que apresentou Bruno Valverde a Rui Nogueira; que Ricardo Ramirez foi responsável pela apresentação do Instituto Atlântico aos médicos de Londrina, já que possui contato com esta classe; que Ricardo Ramirez participava de algumas reuniões realizadas por Bruno, para estabelecer o modo de operação do grupo; que após a assinatura do contrato, firmado entre o Município de Londrina e o Instituto Atlântico, houve um reunião entre Bruno, Ana Laura e Rui Nogueira, sendo certo que nesta reunião a conversa estabelecida destinava-se a definir o valor

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extremamente esclarecedoras. Ademais, pelas declarações de David Garcia, resta claro que, o Prefeito Barbosa Neto reuniu-se com RUY NOGUEIRA, para tratar da contratação do Instituto Atlântico, reforçando as assertivas de que a escolha desse Instituto para prestar serviços ao Município realmente decorreu da interferência de Barbosa Neto, mediante a promessa (e pagamento de propina), como adiante exposto (registre-se, outrossim, que a ocorrência dessa reunião é admitida por ANA LAURA LINO, em suas declarações-DOC. 19) Conforme ajustado entre RUY NOGUEIRA, RICARDO RAMIRES e BRUNO VALVERDE, o requerido RUY NOGUEIRA aproveitando-se da ligação e proximidade mantida com o Prefeito BARBOSA NETO e sua mulher ANA LAURA LINO, passou a estabelecer com estes, as

que seria pago à Ana Laura, a titulo de ‘’propina’’; que o declarante tem conhecimento que valores foram repassados para Ana Laura, não podendo indicar com precisão a quantidade desses valores, mas recorda-se que se vinculavam a um percentual do contrato firmado com município; que Bruno Valverde chamava Ana Laura de ‘’patroa’’;” (DOC18). 9 O conselheiro MARCOS RATTO, esclareceu que o INSTITUTO ATLÂNTICO foi imposto por ANA LAURA LINO, com a concordância de BARBOSA NETO. A descrição de MARCOS RATTO, é no sentido de que ANA LAURA tinha grande poder, claramente conferido por BARBOSA NETO, para interferir nas escolhas da Secretaria de Saúde, sendo certo que foi RUY NOGUEIRA quem fez a intermediação entre BRUNO VALVERDE e ANA LAURA e BARBOSA para a escolha do ATLÂNTICO: "...que na oportunidade, o declarante, Marcos Cito, Joel Tadeu, Dr. Agajan, Dr. Demétrius, então Procurador-Geral do Município, Ana Laura e o próprio Prefeito, foram convidados para comparecer até o gabinete do prefeito para estabelecer uma conversa a respeito das OSCIPs que estavam disputando a prestação de serviços na área de saúde do Município de Londrina; que referidas pessoas estavam no interior da sala d e Barbosa Neto, para reunião, reunião esta que foi a todo tempo com andada pela esposa do Prefeito, Ana Laura; que Ana Laura sempre deteve controle absolut o de todos os órgãos da Secretaria de Saúde ; que Ana Laura, em razão deste controle e influência na Secretaria de Saúde do Município, afirmou durante reunião que gostaria que participasse, na prestação dos serviços na área de saúde, do Instituto Atlântico e de outras duas OSCIPs de Curitiba; que o declarante recorda-se apenas de uma delas, sendo certo que é a Sodebrás, que recentemente foi alvo de escândalo na mídia nacional; que é importante frisar que o Instituto Atlântico f oi apresentado para Ana Laura por intermédio de seu am igo Rui Nogueira, razão pela qual Ana Laura manifestou, expressamente, interesse na p articipação desta OSCIP, junto à prestação de serviços deste Município; que, diante desta ligação, Ana Laura tinha um contato bastante próximo com Bruno Valverde, repres entante legal desta pessoa jurídica (observe que, na verdade, na oportunidade, Bruno Va lverde não poderia aparecer como integrante desta OSCIP, já que era assessor de Luiz Eduardo Cheida, então deputado estadual): que em várias ocasiões em que o declarante teve contato com Bruno, não apenas pessoal como por meio de Sílvio Rodrigues, presidente da Gálatas, percebeu o contato pessoal deste com Ana Laura, a tal ponto de, algumas vezes, mencioná-la como “patroa”; que, diante de um impasse ou problema a ser dirimido na área dos Institutos, Bruno ausentava-se dizendo “vou falar com a patroa e já volto”; que, em seguida, Bruno retornava à roda com o problema solucionado, cuja solução foi dada pela própria Ana Laura; (Termo de declarações de Marcos Ratto-DOC.19)

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tratativas destinadas a viabilizar a assinatura de Parcerias entre o Município de Londrina e o INSTITUTO ATLÂNTICO. Nessas tratativas entre os requeridos RUY NOGUEIRA, HOMERO BARBOSA NETO e ANA LAURA LINO estabeleceu-se que o aperfeiçoamento das Parcerias entre o Poder Público e o INSTITUTO ATLÂNTICO implicaria no pagamento de vantagem patrimonial indevida que reverteria em favor de RUY NOGUEIRA, RICARDO RAMIRES e a HOMERO BARBOSA NETO e ANA LAURA LINO. Assim, o requerido RUY NOGUEIRA reuniu-se novamente com BRUNO VALVERDE CHAHAIRA apresentou cálculos demonstrando os rendimentos que o INSTITUTO ATLÂNTICO poderia obter com as Parcerias firmadas com o Município de Londrina. Segundo as estimativas apresentadas por RUY NOGUEIRA, se o INSTITUTO ATLÂNTICO assumisse a execução dos Programas executados anteriormente pelo CIAP, poderia obter, de lucro, aproximadamente R$ 600.000,00 por mês. Com base nos cálculos apresentados por RUY NOGUEIRA, acabou convencionado que se RUY, conseguisse todos os termos de parceria que eram do CIAP para o ATLÂNTICO, BRUNO VALVERDE pagaria R$ 300.000,00, como vantagem patrimonial indevida, que seriam divididos entre o próprio RUY NOGUEIRA, RICARDO RAMIRES e ANA LAURA LINO, esposa de HOMERO BARBOSA NETO. As investigações demonstram, portanto, que em razão dos acordos entabulados entre os requeridos BRUNO VALVERDE CHAHAIRA, RUY NOGUEIRA, HOMERO BARBOSA NETO, ANA LAURA LINO e RICARDO RAMIRES, o requerido BRUNO VALVERDE, prometeu vantagem patrimonial indevida, consistente na entrega de valores para HOMERO BARBOSA NETO, ANA LAURA LINO, RUY NOGUEIRA RICARDO RAMIREZ, a fim de que RUY, utilizando-se de sua ligação pessoal e influencia junto ao Prefeito HOMERO BARBOSA NETO e sua mulher ANA LAURA LINO, interferisse em favor da contratação do INSTITUTO ATLÂNTICO. O requerido HOMERO BARBOSA NETO, por sua vez, agindo em conjunto com sua mulher, ANA LAURA LINO (a mulher do Prefeito, mesmo sem ocupar formalmente cargo público, interferia diretamente nos assuntos de interesse da administração pública municipal), interessados nos ganhos ilícitos prometidos por BRUNO VALVERDE, por intermédio de RUY NOGUEIRA, concordou em receber as vantagens indevidas que lhe estavam sendo prometidas (parte de R$ 300.000,00), para, utilizar-se de seu cargo público de Prefeito Municipal e do poder a ele inerente, para interferir em favor do INSTITUTO ATLÂNTICO no processo de escolha da(s) OSCIPs que iriam executar os Programas na área de Saúde. Registre-se, a propósito, as declarações do requerido BRUNO VALVERDE CHAHAIRA:

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...”que por volta de outubro de 2010 houve uma feijoada na Fábrica 1, local onde o declarante estava em companhia de LEILA MANTOVANI, do Deputado CHEIDA, RENATO MANTOVANI e outras pessoas; que sabendo que a Prefeitura estava em processo de contratação de OSCIPs para substituir o CIAP, o declarante perguntou aos presentes como estava essa situação; que LEILA MANTOVANI pediu para o declarante perguntar para WILSON VIEIRA, que é presidente da AREL; que WILSON recomendou que o declarante falasse com FÁBIO GÓES, secretário de planejamento ou chefe de gabinete da Prefeitura de Londrina; que WILSON manteve contato com FÁBIO e agendou uma reunião; que às seis horas da manhã de data que não se recorda, mas possivelmente em outubro de 2010, foi ao encontro ao de FÁBIO GÓES, na sala deste na Prefeitura; que nessa reunião, FÁBIO GÓES fez questionamentos a respeito do INSTITUTO ATLÂNTICO, procurando saber mais sobre tal OSCIP; que o declarante entregou um folder, um cartão e um dossiê do ATLÂNTICO para FÁBIO GÓES; que FÁBIO GÓES apenas disse que ia passar para as pessoas responsáveis examinarem a possibilidade de contratar o ATLÂNTICO; que nessa época a Secretaria de Saúde já estava coletando propostas de OSCIPs interessadas, mas o ATLÂNTICO não havia sido chamado para apresentar propostas; que o declarante sabia, nessa época, que RUI NOGUEIRA era uma pessoa que participou ativamente da campanha de BARBOSA NETO para prefeito, em 2008, sabendo que RUI era responsável por marketing na área da internet, tais como twiter, redes sociais e etc; que sabia que RUI NOGUEIRA tinha grande amizade com BARBOSA NETO e ANA LAURA LINO, razão pela qual procurou RICARDO RAMIREZ, que é biólogo e estava cursando Direito, porque RICARDO, vulgo PIO, tem amizade com RUI NOGUEIRA; que na verdade RICARDO e RUI são sócios numa empresa chamada NATURAE AMBIENTAL, a qual foi recentemente criada; que pediu para RICARDO RAMIREZ marcar uma conversa com RUI NOGUEIRA e então RUI NOGUEIRA, logo em seguida, veio para Londrina; que fez algumas reuniões com RUI NOGUEIRA com vistas a viabilizar a parceria do INSTITUTO ATLÂNTICO com a Prefeitura de Londrina; que nessas conversas com RUI NOGUEIRA, este já apresentava cálculos a respeito dos rendimentos que o INSTITUTO ATLÂNTICO poderia auferir se pegasse todos os serviços de saúde que anteriormente eram do CIAP; que RUI estimava que, caso não houvesse o recolhimento de encargos trabalhistas e tributos, esses termos de parceria que antes eram do CIAP poderiam render, de lucro, para o ATLÂNTICO, em torno de R$ 600.000,00 por mês; que RUI NOGUEIRA acrescentava que se conseguisse todos os termos de parceria que eram do CIAP par o ATLÂNTICO, o declarante teria que dar R$ 300.000,00 para algumas pessoas, em virtude da ajuda que tais pessoas iriam dar para a contratação do ATLÂNTICO; que RUI NOGUEIRA dizia que iria lutar pela contratação do ATLÂNTICO e que aproveitaria a amizade que tinha com BARBOSA NETO e ANA LAURA LINO, especialmente a proximidade com esta; que RUI NOGUEIRA que esses R$ 300.000,00 seriam divididos entre RICARDO RAMIREZ, ele próprio, RUI NOGUEIRA, e ANA LAURA LINO; que RUI NOGUEIRA não especificava a quantia que restaria para cada um, isto é, quanto ele, RUI, ganharia, e quanto RICARDO e ANA LAURA ganhariam; que RUI

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foi falar diversas vezes com ANA LAURA LINO e algumas com BARBOSA NETO nesse período; que RUI ficava hospedado nos hotéis BOURBON e BLUE TREE, sendo que a prova de sua presença em Londrina está juntada, pelo próprio RUI, na ação de cobrança que promove contra o ATLÂNTICO, na 5ª Vara Cível desta Comarca; que RUI NOGUEIRA voltava das conversas com ANA LAURA dizendo que estava evoluindo a possibilidade de contratação do ATLÂNTICO e que, depois de firmadas as parcerias, teria que ser pago aquele valor de R$ 300.000,00; que RUI dizia que ANA LAURA estava viabilizando tal contratação junto ao prefeito; que RUI NOGUEIRA chega a dizer, na ação que promove contra o ATLÂNTICO, que foi ele próprio quem conseguiu a contratação do ATLÂNTICO pela Prefeitura; que houve na sequência uma reunião da Conselho de Saúde a respeito da escolha das OSCIPs, em que MARCOS RATTO fez uma defesa enfática do GÁLATAS, fato que, segundo RUI NOGUEIRA, impediu que o ATLÂNTICO conseguisse todos os termos de parceria; que segundo o mesmo RUI, foi a influência de ANA LAURA LINO que fez com que parte dos termos de parceria fosse entregue ao ATLÂNTICO, porque senão tudo teria sido entregue ao GÁLATAS; que RUI NOGUEIRA dizia que, apesar de não ter conseguido todos os termos de parceria, o declarante devia R$ 300.000,00 para ele, para RICARDO RAMIREZ e ANA LAURA LINO; que RUI NOGUEIRA dizia que o pagamento desse valor devia ser feito em seis vezes de R$ 50.000,00, sendo que o declarante faria pagamentos para a empresa dele, SAPUCAHY, empresa de assessoria, cujo nome correto é RUI NOGUEIRA EPP; que esses pagamentos de R$ 50.000,00, por mês, seriam divididos entre RUI NOGUEIRA, RICARDO RAMIREZ e ANA LAURA LINO, em proporções que não sabe dizer; que RUI NOGUEIRA diz que presta serviços para muitos políticos; que finalmente foram firmados os termos de parceria e RUI NOGUEIRA passou a cobrar os pagamentos; que o declarante, entretanto, dizia para RUI NOGUEIRA dizia que o valor de R$ 300.000,00 era excessivo, porque se baseava na planilha do CIAP, o que não correspondia aos contratos conseguidos pelo ATLÂNTICO; que nessa época, logo após a assinatura das parcerias, ainda em dezembro de 2010, teve uma conversa com ANA LAURA LINO e, nessa conversa, ANA LAURA disse que RUI NOGUEIRA havia falado com ela sobre questões financeiras, ou seja, quantias que seriam entregues para ela, ANA LAURA; que ANA LAURA disse que tais pagamentos deveriam ser feitos mais para frente, isto é, na época de campanha eleitoral para prefeito, em que BARBOSA NETO concorreria a reeleição; que essa conversa ocorreu na sala de ANA LAURA, na sala que ela ocupa com a Prefeitura; que essa conversa foi motivada pelos primeiros problemas que surgiram, quanto aos valores das planilhas dos termos de parceria e quanto à liberação da primeira parcela, que não havia ocorrido conforme combinado; que era para a Prefeitura liberar a primeira parcela logo na assinatura dos termos de parceria, conforme normas respectivas; que essa conversa foi bem antes da conversa que teve com ANA LAURA sobre AGAJAN, que ocorreria mais tarde, em janeiro; que ANA LAURA disse que iria tentar resolver quanto ao valor dos salários de determinados cargos, que estavam fora das Convenções Coletivas respectivas, bem como conseguir a liberação da primeira parcela; que ANA LAURA disse que iria tentar resolver; que ANA

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LAURA enfatizou que não precisava receber valor algum naquele momento, como havia sido dito por RUI NOGUEIRA, e isso seria visto depois; que ANA LAURA disse que os tesoureiros da campanha eleitoral de BARBOSA NETO seriam ela, ANA, e ANDRÉ NADAI, registrando que esses pagamentos referidos por RUI NOGUEIRA seriam feitos a ela própria;(DOC.11).

O estabelecimento do pagamento de R$ 300.000,00, para que os requeridos RUY NOGUEIRA NETTO, auxiliado por RICARDO RAMIRES, HOMERO BARBOSA NETO e ANA LAURA LINO, cada qual utilizando-se de suas posições privilegiadas, seja de amizade, de parentesco ou a ocupação do cargo mais elevado no Poder Executivo Municipal, interferissem em favor da contratação do Instituto Atlântico é confirmado pelas declarações de MÁRCIA BOUNASSAR, JOÃO SANTINI, DAVID GARCIA, JOÃO PAULO RIQUETTI DA COSTA.

MÁRCIA BOUNASSAR que trabalhou no Instituto Atlântico e teve um contato privilegiado com esse fato por presenciar tratativas entre o próprio RUY NOGUEIRA e terceiros acerca dos R$ 300.000,00 cobrados do ATLÂNTICO, a título de “propina”, asseverou:

... “Que a declarante tem ciência de que RUY NOGUEIRA efetivamente conseguiu o contrato entre o INSTITUTO ATLANTICO e a Prefeitura Municipal de Londrina ao apresentar a pessoa de BRUNO para ANA LAURA; que melhor esclarecendo, RUY afirmava conhecer bem ANA LAURA e BARBOSA NETO, inclusive porque ajudou na campanha eleitoral deste último, sendo RUY quem abriu as portas para o ATLÂNTICO na Prefeitura, visto que BRUNO VALVERDE não possuía contatos na Prefeitura antes de RUY interferir; que RUY, mesmo depois, sempre se afirmou responsável pela contratação do ATLÂNTICO pela Prefeitura; que não viu RUY fazendo qualquer outro serviço, além da alteração do site; que RUY, nas conversas mais recentes, deixou claro que cobrava os R$ 300.000,00 por conta do sucesso pela contratação pela Prefeitura do INSTITUTO ATLÂNTICO, isto é, pela intermediação entre ATLÂNTICO e a Prefeitura, mais especificamente ANA LAURA”;... (termo de declarações DOC.10)

Secundando o informado por MÁRCIA BOUNASSAR o advogado JOÃO SANTINI, do Instituto Atlântico, esclareceu o seguinte:

...”que o declarante conhece Bruno Valverde há cerca de dois anos, razão pela qual foi convidado para compor a assessoria jurídica do Instituto Atlântico; que o declarante se recorda que no início de dezembro de 2010, Bruno Valverde convidou o declarante para participar de um jantar, no restaurante Bourbon, oportunidade em que se faria presente Rui Nogueira, Bruno Valverde, o declarante, uma pessoa de um partido político que o declarante não se recorda, e Ricardo Ramires, vulgo Pio; que o assunto tratado na oportunidade dizia respeito à provável contratação do Instituto Atlântico pelo Município de Londrina, destinado a prestação de serviços na área de saúde; que na reunião, cujos detalhes o declarante não se recorda, pode afirmar que Rui Nogueira arvorou-se na condição de responsável pela

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indicação e futura contratação do Instituto Atlântico pelo Município de Londrina, contratação esta que ainda não havia sido efetivada; que na oportunidade não se falou de valores que seriam cobrados por Rui Nogueira acerca desta intermediação;” .....”que Rui Nogueira gabava-se como sendo o responsável pela indicação e contratação do Instituto Atlântico, enfatizando que detinha influência política que legitimaria a contratação do Instituto Atlântico pelo Município de Londrina; que após a assinatura do contrato com o Instituto Atlântico e o Município de Londrina, Rui Nogueira passou a coagir e mesmo ameaçar Bruno Valverde (não sabendo exatamente os termos, mas sabe-se que o pressionava), exigindo que lhe fosse repassado a quantia de R$300.000,00 reais, exatamente porque teria sido o responsável pela indicação e contratação do Instituto Atlântico pelo Município de Londrina;”(DOC 16).

DAVID GARCIA, contador do Instituto Atlântico,

conhecedor de detalhes da operação de contratação do ATLÂNTICO, conduzida pelo lobista RUY NOGUEIRA, asseverou:

“...que a intermediação entre o Instituto Atlântico e o Prefeito Barbosa Neto, realizada por Rui Nogueira teve um preço; que o declarante tem conhecimento de que para fazer as apresentações entre o Prefeito Barbosa Neto e Bruno Valverde, Rui Nogueira estabeleceu um valor de R$300.000,00 reais; que, segundo Ricardo Ramires, o valor de R$300.000,00 reais exigidos por Rui Nogueira seriam rateados, sendo certo que parte menor (comissão) seria destinada a Ricardo Ramires, outra parte ao Prefeito Barbosa Neto (parte maior) e a outra ficaria para o próprio Rui Nogueira; que tem conhecimento de que esse valor deveria ser pago a partir do primeiro pagamento realizado pelo Município ao Instituto Atlântico; que, pelo que tem conhecimento, já no primeiro pagamento realizado pelo Município, o Instituto Atlântico deveria repassar a Rui Nogueira a importância inicial de R$50.000,00 reais, relativa a primeira parcela dos R$300.000,00 reais exigidos por Rui Nogueira para intermediar o Termo de Parceria entre o Instituto Atlântico e o Município de Londrina; que o compromisso assumido por Bruno Valverde de pagar a importância de R$300.000,00 reais exigida por Rui Nogueira foi documentada por meio de um termo de compromisso de confissão de dívida, em que constava como objeto a prestação de serviço de “assessoria e aconselhamento do processo licitatório e vitoriosa conquista da contratação em Londrina”;”...(DOC.17).

Observe-se que DAVID GARCIA DE ASSIS é um

espectador privilegiado desse fato, porquanto além de contador do ATLÂNTICO é grande amigo de RICARDO RAMIRES, vulgo “PIO”, que foi um dos grandes responsáveis, ao lado de RUY NOGUEIRA, pela intermediação feita com ANA LAURA LINO e BARBOSA NETO.

DAVID GARCIA deixa claro que o dinheiro, R$ 300.000,00 (trezentos mil reais), que posteriormente foi cobrado por RUY NOGUEIRA como “serviços” prestados ao ATLÂNTICO, foi o valor entabulado para ser dividido entre os agentes públicos e os intermediários em troca da escolha do ATLÂNTICO.

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Da mesma forma, o então companheiro de BRUNO VALVERDE, JOÃO PAULO RIQUETI DA COSTA,10 esclareceu que, de fato, foi RUY NOGUEIRA quem estabeleceu o acordo para a contratação do ATLÂNTICO, mediante o estabelecimento de vantagens indevidas e que RICARDO RAMIREZ, vulgo “PIO”, auxiliou nas atividades de RUY NOGUEIRA, destacando a relação pessoal entre RUY, BARBOSA NETO e ANA LAURA LINO.

Constata-se que MÁRCIA BOUNASSAR corrobora de maneira integral as afirmações de DAVID GARCIA, no que concerne à cobrança de R$ 300.000,00 como valor pela intermediação pela contratação do ATLÂNTICO. MÁRCIA deixa claro, igualmente, que RUY NOGUEIRA não prestou qualquer serviço que justificasse a cobrança desse valor, restando claro que tal importância é decorrente da vantagem indevida cobrada pela contratação do ATLÂNTICO. MÁRCIA acrescenta que RUY NOGUEIRA deixou claro que não houve meios de receber esse valor, prometido mas não pago por BRUNO VALVERDE, o que ensejou uma ação de cobrança, que tramita na 5ª Vara Cível desta Comarca (autos sob n. 9990/2011- DOC.05).

Com efeito, no curso das investigações, apurou-se que após o INSTITUTO ATLÂNTICO obter parte das Parcerias com o Município de Londrina, o requerido RUY NOGUEIRA passou a fazer insistentes cobranças do valor de R$ 300.000,00 prometido por BRUNO VALVERDE aos requeridos HOMERO BARBOSA NETO, ANA LAURA LINO, o próprio RUY NOGUEIRA e a RICARDO RAMIRES, ameaçando BRUNO, a todo momento, a valer-se de sua influência política para suspender as Parcerias entre o Atlântico e o Município.

BRUNO VALVERDE, no entanto, estava com dificuldades de levantar esse valor, em parte, porque o Município não estava repassando a integralidade das verbas mensais correspondentes à Parceria, em parte porque BRUNO VALVERDE entendia que o valor de R$ 300.000,00 era 10 “que Rui Nogueira tinha um contato pessoal com Ana Laura e Barbosa Neto, já que se trata de publicitário e foi o responsável pela campanha eleitoral de Barbosa, para prefeito municipal; que Ricardo Ramirez tem contato pessoal com Rui Nogueira, sendo certo que já trabalharam juntos na campanha da Dilma; que, pelo que se recorda, Ricardo Ramirez, vulgo ‘’Piu’’, foi a pessoa que apresentou Bruno Valverde a Rui Nogueira; que Ricardo Ramirez foi responsável pela apresentação do Instituto Atlântico aos médicos de Londrina, já que possui contato com esta classe; que Ricardo Ramirez participava de algumas reuniões realizadas por Bruno, para estabelecer o modo de operação do grupo; que após a assinatura do contrato, firmado entre o Município de Londrina e o Instituto Atlântico, houve um reunião entre Bruno, Ana Laura e Rui Nogueira, sendo certo que nesta reunião a conversa estabelecida destinava-se a definir o valor que seria pago à Ana Laura, a titulo de ‘’propina’’; que o declarante tem conhecimento que valores foram repassados para Ana Laura, não podendo indicar com precisão a quantidade desses valores, mas recorda-se que se vinculavam a um percentual do contrato firmado com município; que Bruno Valverde chamava Ana Laura de ‘’patroa’; (DOC.18).

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excessivo, já que o INSITUTO ATLÂNTICO não conseguira assinar todos os termos de parceria com o Município (parte dos serviços foi repassado ao Instituto Gálatas).

O requerido RUY NOGUEIRA, entretanto, após reiteradas cobranças do valor, exigiu que BRUNO VALVERDE assinasse um documento reconhecendo a existência da dívida e ajuizou Ação de Cobrança do valor de R$ 300.000,00 (trezentos mil reais).

A cópia dessa Ação (DOC.05) demonstra que RUY NOGUEIRA cobra por pretensos serviços prestados na área de “consultoria” e “recuperação de imagem”, sem, entretanto, efetuar qualquer descrição do que tenham sido esses serviços. A leitura da inicial é bastante sintomática, visto que não há absolutamente qualquer referência a serviços legítimos, mas uma vaga menção à “vitória” do ATLÂNTICO na parceria firmada com o MUNICÍPIO DE LONDRINA.

Outrossim, no documento subscrito por BRUNO VALVERDE a mando de RUY NOGUEIRA, datado de 25/01/2011 (fl. 13 do DOC.05), cuja assinatura foi exigida por RUY NOGUEIRA porque BRUNO VALVERDE não cumpriu sua obrigação ( isto é, não repassou o valor de R$ 300.000,00 prometido para RUY, ANA LAURA, BARBOSA NETO e RICARDO RAMIRES), RUY NOGUEIRA sequer teve o cuidado de fazer constar algum serviço que tivesse sido prestado, limitando-se a consignar expressões como “trabalhos profissionais, de assessoria e aconselha mento, especificamente em nossa vitoriosa disputa pelo con trato emergencial da saúde em Londrina” .

Na verdade, extraordinária e surpreendentemente, RUY NOGUEIRA judicializou a cobrança de propina. Como claramente referido por MÁRCIA BOUNASSAR, não houve a prestação de serviços por parte de RUY NOGUEIRA ou de sua empresa, a SAPUCAHY. Apenas a intermediação nefasta com ANA LAURA e BARBOSA NETO, para que o Instituto Atlântico obtivesse as Parcerias com o Poder Público.

Registre-se que a própria MÁRCIA BOUNASSAR foi instada a apresentar uma declaração com conteúdo falso, atestando que RUY NOGUEIRA havia prestado serviços inexistentes.11 MÁRCIA, orientada por 11 MÁRCIA BOUNASSAR, esclareceu a respeito:"...que houve uma reunião anterior, em Maringá, com a presença do Dr. FÁBIO, RUY e RICARDO RAMIREZ, os quais pediram para que tal reunião acontecesse em Maringá para que não fossem vistos conversando juntos; que nessa reunião, ocorrida por volta fevereiro ou março (consta de sua agenda apreendida), foi tratado de uma proposta de acordo feita por BRUNO VALVERDE; que segundo os demais presentes, BRUNO havia feito uma proposta de pagar os R$ 300.000,00, todavia de maneira parcelada; que os demais presentes disseram que iriam fechar o acordo; que entretanto, ao chegar em Londrina, BRUNO voltou atrás e não fez o acordo; que foi a partir daí que RUY, RICARDO e o Dr. FÁBIO passaram a pedir a declaração a ser assinada pela declarante; que nessa reunião ficou claro para a declarante que RUY NOGUEIRA queria receber esse valor porque “abriu as portas da Prefeitura”; que a declarante apenas se aproximou dessas pessoas por

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advogado, negou-se a participar deste fato delituoso (crime de falsidade ideológica).

O fracasso com Márcia Bounassar, entretanto, motivou RUY NOGUEIRA, em conluio com seu advogado, Fábio Martins, a engendrar a prática do delito de falsidade ideológica, destinada, a um só tempo, a encobrir a natureza delituosa da quantia exigida de Bruno Valverde, no valor de R$ 300.000,00 (pagamento de propina), como, sobretudo, alicerçar a propositura de uma ação de cobrança proposta em face do Instituto Atlântico ( judicializando, conforme enfatizado, a cobrança da propina).

De efeito, DANIELA RODRIGUES DE CARVALHO que na época estava com raiva de BRUNO VALVERDE, em razão de desentendimento profissional (já que foi demitida do Instituto Atlântico, por terceira pessoa), foi induzida a afirmar, por intermédio de uma declaração por instrumento público, que, de fato, havia presenciado uma série de serviços prestados ao INSTITUTO ATLÂNTICO, por RUY NOGUEIRA, o que obviamente não correspondia à verdade.

Ouvida pelo Ministério Público, atestou que, em verdade, limitou-se a assinar a minuta elaborada pelo Advogado de RUY NOGUEIRA, FABIO MARTINS, no sentido de que presenciou as prestações de serviços realizadas por Rui, ao Instituto Atlântico.12

uma conveniência de momento, exatamente porque estava magoada com BRUNO VALVERDE por não ter recebido, após ter prestado serviços relevantes para o ATLÂNTICO, e teoricamente os demais também se sentiam assim, nada obstante quem tenha trabalhado efetivamente tenha sido a interroganda; que havia um ponto em comum, que era a cobrança de BRUNO VALVERDE e a sua inadimplência (DOC.10). 12 Neste sentido, anote-se: "...que a declarante fez uma declaração, por instrumento público, a favor de Rui

Nogueira, no sentido de que esta pessoa prestava serviços para o Instituto Atlântico; que o conteúdo da declaração já estava pronto, no cartório, sendo elaborado pelo Dr. Fábio Martins; questionada a declarante para apontar, objetivamente, quais tarefas ou trabalhos foram desempenhados por Rui Nogueira, em favor do Instituto Atlântico, esclareceu que segundo a declarante a finalidade da prestação de serviços de Rui Nogueira “era tirar os concorrentes” da jogada, no sentido de melhorar a imagem do Instituto Atlântico e piorar a imagem dos concorrentes; que Rui Nogueira fez um dossiê das concorrentes, apontando todas as irregularidades e pontos negativos que contivessem, com o propósito de propiciar a escolha do Instituto Atlântico; acredita a declarante que este dossiê foi apresentado para Comissão de Avaliação escolhida pelo Município, com a finalidade de eleger a OSCIP ou as OSCIPs que prestariam os serviços na área de saúde; que Rui Nogueira, ainda, trouxe de São Paulo um funcionário, de nome Juninho, a fim de que reformulasse o site do Instituto Atlântico, melhorando seu aspecto visual; que, entretanto, não foi obtido êxito com esta suposta reformulação, tendo retornado ao aspecto visual anterior; que a suposta reformulação efetivada por Juninho perdurou durante três dias, sendo certo que, após este prazo, retornou-se a situação anterior, conforme já esclarecido; que a declarante coloca-se a disposição para comprovar o pagamento de sua motocicleta, de marca bis, de ano 2004, assim como de sua irmã, adquirida o ano passado, também de marca bis, que certamente deve ter gerado o comentário, já referido; questionada a declarante se, de fato, viu Rui Nogueira prestar serviços de assessoria de imprensa, esclareceu que nunca presenciou Rui Nogueira realizando qualquer assessoria de imprensa; que, entretanto, segundo noticiava Bruno Valverde, Rui Nogueira exercia a função de consultoria; que quando Bruno pedia para a declarante reservar passagens de avião para Rui Nogueira, a declarante era orientada pelo próprio Bruno a se referir a Rui Nogueira como consultor do Instituto Atlântico; questionada a

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Essa declaração, de conteúdo nitidamente falso, foi acostada à fl. 506 dos referidos autos de ação de cobrança (DOC.05), em que se visava demonstrar a existência de serviços de consultoria, assessoria de imprensa e diversos outros, absolutamente falsos.

RUY NOGUEIRA, assim como seu advogado FÁBIO MARTINS, estabeleceram um “interessante plano de ação”: para cobrarem a propina exigida por RUY NOGUEIRA, de BRUNO VALVERDE, criaram supostos serviços (inexistentes), realizados por RUY, em favor do INSTITUTO ATLÂNTICO. O valor exigido, de R$ 300.000,00, seria repassado a BARBOSA NETO, ANA LAURA e RICARDO RAMIRES, sendo a este cabível apenas uma pequena comissão.

A simples leitura das declarações de DANIELA demonstra que, em nenhum momento PRESENCIOU qualquer serviço prestado por RUY NOGUEIRA ao INSTITUTO ATLÂNTICO, mas, em caráter de exclusividade, limitou-se a atestar uma ínfima alteração do conteúdo do site do INSTITUTO ATLÂNTICO, efetivada por uma pessoa ligada a RUY NOGUEIRA.

Observa-se, assim, que RUY NOGUEIRA cobrou, judicialmente, propina combinada com BRUNO VALVERDE (AÇÃO DE COBRANÇA), fundamentando-a no documento antes aludido, assinado por BRUNO em data em que sequer estava no exercício formal da presidência do ATLÂNTICO, e em declarações com conteúdo falso (esses fatos serão objeto de responsabilização no âmbito penal)

declarante se tem conhecimento quais eram os serviços afetos à consultoria, esclareceu que não tem conhecimento, mas segundo Bruno Valverde, destinava-se a reformulação da imagem do Instituto Atlântico; esclarece a declarante que não tinha conhecimento de aferir as efetivas atuações de Rui Nogueira, já que sua sala era distinta da dele; que a sala de Bruno Valverde situava-se no mezanino, sendo a sala da declarante no piso térreo; questionada a declarante se tem conhecimento do nome da empresa de Rui Nogueira, afirmou que se esqueceu, mas tinha conhecimento anteriormente; questionada a declarante se Rui Nogueira prestou serviços de comunicação social, reafirmou que não tem conhecimento pessoal sobre os serviços por ele desempenhados, sobretudo porque,m conforme enfatizado, Rui Nogueira reunia-se com Bruno Valverde no mezanino, não possuindo a declarante acesso sobre sua atuação; que as informações a respeito dos serviços por ele prestados a declarante obteve por intermédio de Bruno Valverde; enfatiza, uma vez mais, que Juninho apenas contribuiu para a reformulação do site do Instituto Atlântico, não realizando qualquer outro serviço; que a declarante esclarece que, na verdade, não presenciou os serviços realizados por Rui, já que tinha conhecimento deles segundo as palavras de Bruno; que se limitou a contar o que sabia para o advogado Fábio Martins, tendo ele redigido a minuta da escritura pública pela declarante assinada junto ao Cartório Otávio Cesário, situado na Rua Belo Horizonte; que Fábio Martins entregou a minuta por ele redigida para a tabeliã, em pen drive, sendo assinada pela declarante; que entregue a declarante cópia da escritura pública de declaração acostada a fl. 506 dos autos sob nº. 9990/2011 da 5ª Vara Cível de Londrina, a declarante esclarece que de fato não se atentou para alguns termos da declaração, especialmente, que teria presenciado os serviços descritos em tal documento, visto que essencialmente tinha conhecimento das atividades de Rui Nogueira exclusivamente através de Bruno Valverde; que a declarante esclarece, ainda, que ao tempo em que prestou as declarações perante o cartório Otávio Cesário, estava bastante nervosa, contagiada pela emoção, sobretudo porque estava com raiva em razão de ter sido demitida do Instituto Atlântico por outra pessoa, que não Bruno Valverde, que contratou a declarante; (Termo de declarações de Daniela Rodrigues de Carvalho-DOC.21.)

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Como narrado, a propositura da aludida ação de cobrança é a mais clara comprovação de que não houve prestação de serviços. Os elementos probatórios demonstram que o valor de R$ 300.000,00, que BRUNO quase pagou, não passava de mera vantagem indevida ajustada por RUY NOGUEIRA com seus interlocutores, o prefeito BARBOSA NETO e sua mulher ANA LAURA LINO, BRUNO VALVERDE e RICARDO RAMIRES.

É fato, portanto, que RUI NOGUEIRA e o advogado FABIO MARTINS, dividiram as tarefas para cobrarem, de BRUNO VALVERDE, o pagamento da quantia referente a vantagem indevida “propina”, sendo assim estabelecido:

- RUY NOGUEIRA ameaçou, em diversas oportunidades, BRUNO VALVERDE, a confessar uma dívida inexistente, sob pena de utilizar seu poder político para destruí-lo e, sobretudo, providenciar a rescisão do contrato firmado com o Poder Público (é evidente que BRUNO VALVERDE não poderia deixar isto acontecer, já que o INSTITUTO ATLÂNTICO tratava-se de fundamental veículo/instrumento de desvio de dinheiro dos cofres públicos que alimentava os aludidos núcleos de corrupção Municipal);

- RUY NOGUEIRA, e seu ADVOGADO FÁBIO MARTINS, utilizaram a raiva e rancor que DANIELA, ex funcionária do INSTITUTO ATLÂNTICO, nutria por BRUNO VALVERDE, para determiná-la a realizar declarações com conteúdos nitidamente falsos, conteúdos estes que serviriam para encobrir a real natureza delituosa do valor de R$ 300.000,00 (trezentos mil reais) exigido por RUY NOGUEIRA e seus asseclas

Essas assertivas, além de provirem das declarações

de duas pessoas que não se relacionavam, MÁRCIA BOUNASSAR e DAVID GARCIA, foi devidamente corroborada por JOÃO SANTINI, nas declarações prestadas durante as investigações.

Todas essas afirmações, de pessoas absolutamente distintas entre si, as quais tiveram a oportunidade de observar os fatos de ângulos diferentes, convergem com os esclarecimentos de BRUNO VALVERDE a respeito dos fatos, o que confere idoneidade a suas declarações.

BRUNO VALVERDE (DOC.11), sobre os fatos,

detalhou que:

que RUI ficava hospedado nos hotéis BOURBON e BLUE TREE, sendo que a prova de sua presença em Londrina está juntada, pelo próprio RUI, na ação de cobrança que promove contra o ATLÂNTICO, na 5ª Vara Cível desta Comarca; que RUI NOGUEIRA voltava das conversas com ANA LAURA dizendo que estava evoluindo a possibilidade de contratação do ATLÂNTICO e que, depois de firmadas as parcerias, teria que ser pago aquele valor de R$ 300.000,00; que RUI dizia que ANA LAURA estava viabilizando tal contratação junto ao prefeito; que RUI NOGUEIRA chega a dizer, na ação que promove contra o ATLÂNTICO, que foi ele próprio quem

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conseguiu a contratação do ATLÂNTICO pela Prefeitura; que houve na sequência uma reunião da Conselho de Saúde a respeito da escolha das OSCIPs, em que MARCOS RATTO fez uma defesa enfática do GÁLATAS, fato que, segundo RUI NOGUEIRA, impediu que o ATLÂNTICO conseguisse todos os termos de parceria; que segundo o mesmo RUI, foi a influência de ANA LAURA LINO que fez com que parte dos termos de parceria fosse entregue ao ATLÂNTICO, porque senão tudo teria sido entregue ao GÁLATAS; que RUI NOGUEIRA dizia que, apesar de não ter conseguido todos os termos de parceria, o declarante devia R$ 300.000,00 para ele, para RICARDO RAMIREZ e ANA LAURA LINO; que RUI NOGUEIRA dizia que o pagamento desse valor devia ser feito em seis vezes de R$ 50.000,00, sendo que o declarante faria pagamentos para a empresa dele, SAPUCAHY, empresa de assessoria, cujo nome correto é RUI NOGUEIRA EPP; que esses pagamentos de R$ 50.000,00, por mês, seriam divididos entre RUI NOGUEIRA, RICARDO RAMIREZ e ANA LAURA LINO, em proporções que não sabe dizer; que RUI NOGUEIRA diz que presta serviços para muitos políticos; que finalmente foram firmados os termos de parceria e RUI NOGUEIRA passou a cobrar os pagamentos; que o declarante, entretanto, dizia para RUI NOGUEIRA dizia que o valor de R$ 300.000,00 era excessivo, porque se baseava na planilha do CIAP, o que não correspondia aos contratos conseguidos pelo ATLÂNTICO; que nessa época, logo após a assinatura das parcerias, ainda em dezembro de 2010, teve uma conversa com ANA LAURA LINO e, nessa conversa, ANA LAURA disse que RUI NOGUEIRA havia falado com ela sobre questões financeiras, ou seja, quantias que seriam entregues para ela, ANA LAURA; que ANA LAURA disse que tais pagamentos deveriam ser feitos mais para frente, isto é, na época de campanha eleitoral para prefeito, em que BARBOSA NETO concorreria a reeleição; que essa conversa ocorreu na sala de ANA LAURA, na sala que ela ocupa com a Prefeitura; que essa conversa foi motivada pelos primeiros problemas que surgiram, quanto aos valores das planilhas dos termos de parceria e quanto à liberação da primeira parcela, que não havia ocorrido conforme combinado; que era para a Prefeitura liberar a primeira parcela logo na assinatura dos termos de parceria, conforme normas respectivas; que essa conversa foi bem antes da conversa que teve com ANA LAURA sobre AGAJAN, que ocorreria mais tarde, em janeiro; que ANA LAURA disse que iria tentar resolver quanto ao valor dos salários de determinados cargos, que estavam fora das Convenções Coletivas respectivas, bem como conseguir a liberação da primeira parcela; que ANA LAURA disse que iria tentar resolver; que ANA LAURA enfatizou que não precisava receber valor algum naquele momento, como havia sido dito por RUI NOGUEIRA, e isso seria visto depois; que ANA LAURA disse que os tesoureiros da campanha eleitoral de BARBOSA NETO seriam ela, ANA, e ANDRÉ NADAI, registrando que esses pagamentos referidos por RUI NOGUEIRA seriam feitos a ela própria; que como o declarante não pagou nada do que havia sido solicitado por RUI, isto é, os R$ 300.000,00, RUI começou a cobrar o declarante incisivamente, inclusive contratando um advogado para cobrar o ATLÂNTICO; que em certa data, no mês de janeiro de 2011, RUI NOGUEIRA compareceu ao ATLÂNTICO, juntamente com RICARDO RAMIREZ, e intimidou severamente o declarante, exigindo a emissão de um documento, uma declaração no sentido de que o INSTITUTO ATLÂNTICO devia R$ 300.000,00 para ele, RUI NOGUEIRA, por força dos serviços prestados para intermediar a contratação do ATLÂNTICO pela Prefeitura; que o declarante ficou com medo e acabou assinando tal declaração; que RUI NOGUEIRA, nessa data, dizia que tinha gente cobrando ele, referindo-se a ANA LAURA, e exigia o pagamento; que o declarante não pagou e RUI ingressou com a ação de cobrança referida; que RICARDO RAMIREZ apoiou RUI nessa intimidação; que RUI e RICARDO diziam que o declarante poderia ter problemas inclusive físicos, caso não

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pagasse o devido; que esclarece que RUI NOGUEIRA não prestou quaisquer serviços de marketing ou de qualquer outra natureza, mas apenas fez esses contatos com ANA LAURA LINO e BARBOSA NETO;

Em suma, BRUNO VALVERDE deixa claro, o que é ratificado pelas demais pessoas citadas, que o valor de R$ 300.000,00 deveria ser dividido entre a primeira-dama, ANA LAURA LINO, o prefeito BARBOSA NETO, RICARDO RAMIREZ e RUY NOGUEIRA. Ou seja, o valor não se referia a qualquer prestação de serviços realizados por RUY NOGUEIRA, mas tão somente a propina destinada a permitir a entrada do ATLÂNTICO na prestação de serviços na saúde.

Além disso, BRUNO ratifica que ANA LAURA foi expressa no sentido de que o dinheiro era destinado a ela (e a BARBOSA NETO, com especial enfoque à futura campanha eleitoral deste). Não há dúvida, destarte, da destinação desses valores.

A descabida ação proposta por RUY NOGUEIRA é apenas um reforço na conclusão acima.

Não restam dúvidas, portanto, de que o requerido HOMERO BARBOSA NETO, Prefeito do Município de Londrina, na condição de agente público, no exercício e em razão de sua função pública, agindo em concurso com os terceiros ANA LAURA LINO, RUY NOGUEIRA NETTO, RICARDO RAMIRES, aceitou a oferta de BRUNO VALVERDE do pagamento de R$ 300.000,00, como vantagem patrimonial indevida, para que usando de seu poder político e administrativo, BARBOSA NETO, interferisse em favor do INSTITUTO ATLÂNTICO nas Parcerias buscadas pelo Município para a execução de ações na área de saúde, em clara afronta aos princípios que regem a administração pública, consubstanciando a hipótese de improbidade administrativa prevista no artigo 11 da Lei 8.429/92. II.2. PAGAMENTO DE VANTAGEM PATRIMONIAL INDEVIDA NO VALOR DE R$ 20.000,00 PARA HOEMRO BARBOSA NETO e ANA LAURA L INO

As investigações evidenciaram, outrossim, a existência de um grande esquema de corrupção articulado pelo requerido HOMERO BARBOSA NETO, e gerenciado diretamente, por sua mulher, ANA LAURA LINO e pelo Chefe de gabinete, FABIO GOES, destinado ao levantamento de recursos, tanto para a formação de caixa para a próxima campanha eleitoral, como para pagamento de vantagens indevidas a agentes públicos e terceiros13.

13 Este fato é confirmado tanto pelas declarações de Bruno Valverde como Wilson Vieira.

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Assim, paralelamente à promessa e respectiva aceitação de entrega do valor de R$ 300.000,00 para que o INSTITUTO ATLÂNTICO, em razão da interferência de HOMERO BARBOSA NETO, ANA LAURA LINO, RUY NOGUEIRA e RICARDO RAMIRES, conseguisse firmar os Termos de Parceria com o Município de Londrina, no final do mês de novembro de 2010, exatamente quando a campanha em prol da admissão do INSTITUTO Atlântico como Parceiro do Município estava em pleno curso, BRUNO VALVERDE recebeu um telefonema de RUY NOGUEIRA para que comparecesse na Prefeitura de Londrina.

Chegando ao prédio da Prefeitura, conforme orientado por RUY NOGUEIRA, BRUNO VALVERDE dirigiu-se até a sala do requerido FABIO GOES, Chefe de Gabinete do Prefeito HOMERO BARBOSA NETO, local em que já se encontravam os requeridos RUY NOGUEIRA, FÁBIO GOES, ANA LAURA LINO, além do empresário WILSON VIEIRA.

Nessa reunião, comandada por ANA LAURA LINO, FÁBIO GOES e RUY NOGUEIRA, cujo objetivo era o levantamento de determinada quantia em dinheiro, foi exposto a BRUNO VALVERDE CHAHAIRA que o INSTITUTO ATLÂNTICO teria que contribuir com o valor de R$ 20.000,00, para complementar uma importância destinada a saldar um compromisso assumido Por BARBOSA NETO.14 que precisaria ser pago, em caráter de urgência.

O requerido BRUNO VALVERDE CHAHAIRA, interessado na manutenção de uma boa relação com a primeira–dama ANA LAURA LINO, com o Chefe de Gabinete FÁBIO GOES e com RUY NOGUEIRA, já que dependia destes para conseguir as Parcerias almejadas com o Município de Londrina,concordou em pagar a importância de R$ 20.000,00, solicitada por ANA LAURA, RUY e FABIO GOES, como uma espécie de adiantamento pela contratação do ATLÂNTICO, que estava em vias de acontecer.

Ainda nessa reunião, WILSON VIEIRA, entregou ao requerido BRUNO VALVERDE, um cheque no valor de R$ 40.000.00, da conta da empresa TECNOCENTER, afirmando que após uma semana BRUNO deveria levar à compensação referido cheque e devolver a WILSON VIEIRA, a diferença de R$ 20.000,00.

Seguindo as orientações de ANA LAURA LINO, FÁBIO GOES, RUY NOGUEIRA e WILSON VIEIRA, BRUNO VALVERDE conseguiu levantar a importância de R$ 20.000,00 (vinte mil reais), inclusive mediante empréstimo da quantia junto a EGLODIR ELI ALIANO15 (como garantia, BRUNO entregou a EGLODIR, o cheque no valor de R$ 40.000,00, emitido pela empresa de WILSON VIEIRA), e a entregou, em espécie, a

14 Obviamente que o compromisso financeiro assumido por Barbosa Neto, não correspondia a negócios oficiais e de interesse direto da administração pública, já que para essa finalidade, os recursos estariam previstos no orçamento do Município, não sendo necessário levantá-los junto a terceiros. 15 Veja nesse sentido, as declarações de Eglodir que confirmam a transação. DOC 14

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WILSON VIEIRA e FÁBIO GÓES, para a destinação determinada por HOMERO BARBOSA NETO e ANA LAURA LINO.

Passados alguns dias, EGLODIR ELI ALIANO, depositou o cheque no valor de R$ 40.000,00 da empresa TECNOCENTER, de propriedade de WILSON VIEIRA, mas o cheque foi devolvido por falta de provisão de fundos.

A entrega da importância de R$ 20.000,00 e toda a negociação em torno do levantamento desse valor, é confirmada pelas declarações de várias pessoas.

A respeito desse fato, BRUNO VALVERDE explicou:

..."que perguntado a respeito das declarações prestadas por MÁRCIA BOUNASSAR, notadamente a respeito de um valor de R$ 20.000,00 sacado pelo declarante, esclarece que, em certa data, cerca de uma semana antes da assinatura dos termos de parceria entre o INSTITUTO e a Prefeitura de Londrina, o declarante recebeu uma ligação de RUY NOGUEIRA, de seu celular, afirmando que estava na Prefeitura e pedindo a presença do declarante no local, mais especificamente na sala de FÁBIO GÓES, chefe de gabinete; que chegando na sala de FÁBIO GÓES, deparou-se com o próprio FÁBIO, com ANA LAURA LINO, WILSON VEIEIRA, presidente da AREL, e RUY NOGUEIRA, os quais estavam em reunião; que sobre a mesa havia vários cheques, todos de emissão da empresa TECNOCENTER, de propriedade de WILSON VIEIRA, de uma agência do Banco do Brasil; que esses cheques eram de altos valores; que todos se mostravam apavorados e apressados e diziam que precisavam complementar uma determinada importância em dinheiro e que precisavam de ajuda; que ANA LAURA LINO disse ao declarante que precisava que o declarante arrumasse R$ 20.000,00 (vinte mil reais) em espécie, pois era a quantia que faltava aos presentes; que nem ANA LAURA, nem os demais, esclareceram exatamente o motivo e a destinação de tal dinheiro; que entretanto, ANA LAURA assumiu uma posição impositiva, determinando ao declarante que conseguisse imediatamente os vinte mil reais; que ANA LAURA também determinou ao declarante que, assim que conseguisse o dinheiro, naquele mesmo dia, que entregasse a importância diretamente para WILSON VIEIRA; que o comparecimento do declarante nessa reunião se deu por volta das 13h30min; que assim que ANA LAURA deu tal determinação, WILSON VIEIRA separou um dos cheques que estava na mesa, no valor de R$ 40.000,00, da conta da TECNOCENTER, e entregou ao declarante; que WILSON VIEIRA acrescentou que era para o declarante depositar o cheque de R$ 40.000,00 daí a uma semana e, assim que compensasse, era para o declarante entregar para WILSON a diferença, isto é, outros R$ 20.000,00; que ANA LAURA não esclareceu se o dinheiro que exigia naquele momento, R$ 20.000,00, dizia respeito a um empréstimo ou não; que ANA LAURA, RUY NOGUEIRA e os demais presentes deram a entender que aquele dinheiro estava sendo exigido porque o INSTITUTO ATLÂNTICO estava em vias de ser contratado pela Prefeitura para prestar serviços na área da saúde; que naqueles dias RUY NOGUEIRA estava com intensas tratativas com ANA LAURA a respeito da contratação do INSTITUTO ATLÂNTICO; que naqueles mesmos dias RUY NOGUEIRA dizia que “as coisas estavam se encaminhando muito bem, para a contratação do ATLÂNTICO”; que

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exatamente nesse período é que RUY NOGUEIRA fez a projeção sobre a planilha antiga do CIAP e dizia que haveria uma sobra de cerca de R$ 600.000,00 em todo o contrato, o que geraria a necessidade do declarante entregar R$ 300.000,00 para ele, RUY, para RICARDO RAMIREZ e para ANA LAURA, como forma de pagamento pela contratação do ATLÂNTICO; que o declarante logo interpretou que tal dinheiro se destinava a assegurar a contratação do ATLÂNTICO, inclusive pela maneira impositiva de ANA LAURA; que entretanto ninguém chegou a falar que se o declarante negasse a entrega dos R$ 20.000,00 o ATLÂNTICO não seria contratado, mas sentiu que isto poderia acontecer, diante da maneira incisiva de ANA LAURA; que RUY NOGUEIRA era muito íntimo de ANA LAURA; que por volta das 16h30min o declarante, após conseguir vinte mil reais em dinheiro, retornou até a Prefeitura e, na ruela dos fundos da Prefeitura, encontrou-se com WILSON VIEIRA e FÁBIO GÓES; que WILSON entrou no carro e o declarante entregou os vinte mil reais para WILSON; que o declarante conseguiu parte do dinheiro com EGLODIR ALIANO, dono do supermercado ALIANO, e outra parte o declarante sacou de sua própria conta, tendo ido pessoalmente à Caixa Econômica, agência da Madre Leonia, sacar tal dinheiro; que cerca de uma semana depois o declarante depositou o cheque da TECONOCENTER na conta de EGLODIR, mas o cheque foi devolvido por insuficiência de fundos; que esse fato aconteceu logo em seguida à assinatura dos termos de parceria do ATLÂNTICO com a Prefeitura de Londrina; que diante da devolução do cheque o declarante procurou WILSON VIEIRA no escritório deste, defronte à Receita Federal; que nesse local, WILSON VIEIRA disse textualmente que o valor de R$ 20.000,00 iria ficar “por conta do contrato do ATLÂNTICO” com a Prefeitura de Londrina; que WILSON chegou a dizer que tal valor devia ser diluído ao longo dos seis meses de duração dos termos de parceria; que WILSON VIEIRA deixou claro que tal valor era destinado a ANA LAURA LINO; que então o declarante foi até ANA LAURA e questionou quanto ao valor de R$ 20.000,00 e ANA LAURA apenas dizia que “tinha que ver com WILSON”, mas durante a conversa ficou claro que tal dinheiro não voltaria mais; que o declarante voltou a falar com WILSON e este repetiu que tal valor “era por conta do contrato do ATLÂNTICO”, reiterando que tal valor seria para ANA LAURA e que decorria de terem conseguido a contratação do ATLÂNTICO; que o declarante perguntou a RUY respeito desse dinheiro e RUY respondeu que aquela importância de R$ 20.000,00 era uma espécie de “garantia” quanto à contratação do ATLÂNTICO e que tal valor não seria descontado da quantia de R$ 300.000,00, insistindo que tal valor deveria ser pago conforme fossem pagas as parcelas pela Prefeitura, ao longo de seis meses; que WILSON VIEIRA até então defendia enfaticamente que a SANTA CASA DE LONDRINA assumisse o PSF e o SAMU; que WILSON VEIRA fornece câmaras bariátricas para a SANTA CASA, por intermédio de convênio com a Prefeitura pelo que sabe; que WILSON VIEIRA está sempre na Prefeitura com uma maleta preta, circulando por ali, tendo boa relação com ANA LAURA; que WILSON VIEIRA é muito amigo de RENATO MANTOVANI, o qual também fica na Prefeitura constantemente; ..................... que vai apresentar a este GAECO a documentação financeira correspondente ao saque do dinheiro entregue para WILSON VIEIRA e ANA LAURA; que RUY NOGUEIRA não contou, posteriormente, ao declarante do

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que se tratava aquele dinheiro que estava sendo levantado pelo grupo de ANA LAURA, WILSON VEIIRA e FÁBIO GÓES; ...................... que o declarante nunca recebeu de volta os R$ 20.000,00 dados a WILSON VIEIRA e ANA LAURA; que entretanto teve que devolver o cheque de R$ 40.000,00, já devolvido pelo Banco, para WILSON VIEIRA, o qual deixou claro mais uma vez que se tratava de valor decorrente da obtenção do contrato do ATLÂNTICO; que o declarante, tempos depois, devolveu o dinheiro emprestado por EGLODIR, não se recordando se o total emprestado por este foi de R$ 12.000,00 ou R$ 8.000,00 ou algum valor semelhante a este; que se recorda que em certa data o declarante pediu para SATIE ver o que conseguia fazer para conseguir dinheiro em espécie, mas não se recorda se isto foi na data em que entregou o dinheiro para WILSON e ANA LAURA; que perguntado, o declarante esclarece que estava claro que a importância de R$ 20.000,00 não se tratava de empréstimo a ANA LAURA e WILSON VIEIRA, não conseguindo entender bem porque WILSON VIEIRA lhe deu o cheque de R$ 40.000,00, o qual o declarante já supunha que não teria fundos; que a empresa de WILSON VIEIRA é uma espécie de consultoria também; que o declarante esclarece que tem medo de toda a s ituação atual e de revelar tudo o que sabe, razão pela qual até agora não havia confirmado que entregou os R$ 20.000,00 para ANA LA URA por intermédio de WILSON VIEIRA; que o declarante tem m uito medo de retaliação do pessoal da Prefeitura e do grupo liga do ao Prefeito; que também tem temor pelo fato de RUY NOGUEIRA está em liberdade, foragido ; "... (DOC.11).

BRUNO VALVERDE, portanto, é enfático ao

esclarecer que entregou a ANA LAURA, por intermédio de WILSON VIEIRA e FABIO GOES, a quantia R$ 20.000,00 (vinte mil reais), quando o processo de escolha das OSCIPs estava em pleno curso, no final do mês de novembro de 2010. Ou seja, ANA LAURA, agindo em nome de HOMERO BARBOSA NETO, lhe pediu a entrega desse valore e BRUNO VALVERDE o entregou, na perspectiva de assegurar a assinatura dos termos de parceria entre o ATLÂNTICO e o Município, fato que se consumou na seqüência.

Não há como negar que HOMERO BARBOSA NETO, embora não tenha participado da reunião em que foi acordada, entre os requeridos presentes (ANA LAURA,FÁBIO GOES, RUY e WILSON) a entrega do valor de R$ 20.000,00, comandou essa arrecadação de recursos destinados a atender a compromissos pessoais por ele (BARBOSA NETO) assumidos.

No interregno entre a manifestação de interesse do Instituto Atlântico em firmar Parcerias com o Município de Londrina (inclusive com a ajuda do lobista RUY), sobreveio o pedido de entrega de R$ 20.000,00 a ANA LAURA LINO, dentro da própria Prefeitura, na sala do Chefe de Gabinete FÁBIO GÓES, homem de confiança de BARBOSA NETO (FÁBIO GÓES é baiano e surgiu repentinamente no cenário político londrinense, pelas mãos de BARBOSA NETO), com a presença de RUY e WILSON VIEIRA, pessoas que

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conforme relatos mantinham relações muito próximas com BARBOSA NETO e ANA LAURA LINO.

Enfatize-se que várias pessoas confirmam a versão dada por BRUNO VALVERDE, conferindo idoneidade às suas informações.

Os próprios diretores do INSTITUTO GÁLATAS, SÍLVIO LUZ RODRIGUES ALVES e GLÁUCIA CHIARARIA, confirmaram ter ouvido de BRUNO que em determinada ocasião entregou a ANA LAURA LINO o valor de R$ 20.000,00 (vinte mil reais):

..."o declarante informa que, por volta de janeiro deste ano, GLÁUCIA e o declarante almoçaram com BRUNO VALVERDE no Restaurante Zanone, nesta cidade, local onde BRUNO afirmou que havia pago R$ 20.000,00 (vinte mil reais) a ANA LAURA, mulher do prefeito BARBOSA NETO, para que o INSTITUTO ATLÂNTICO fosse contratado pela Prefeitura de Londrina; que BRUNO VALVERDE não deu detalhes sobre esse fato, mas o declarante não acreditou; que entretanto BRUNO VALVERDE intitulava ANA LAURA como sua “patroa”; que reitera que o GÁLATAS, em princípio, era a única OSCIP que seria contratado pela Prefeitura e, somente nos últimos dias que antecederam à assinatura dos termos de parceria, é que surgiu o INSTITUTO ATLÂNTICO; que BRUNO VALVERDE também dizia que um tal RUI NOGUEIRA, pretensamente de São Paulo, o estava cobrando porque alegava ter intermediado a negociação para que o ATLÂNTICO firmasse parceria com a Prefeitura;" (Declarações de SÍLVIO LUZ RODRIGUES ALVES- doc. 09)

..."durante um almoço em que estavam presentes a declarante, SÍLVIO RODRIGUES ALVES e BRUNO VALVERDE, BRUNO comentou com a declarante e SÍLVIO que teria pago à ANA LAURA, esposa do Prefeito uma quantia de R$20.000,00 para que o INSTITUTO ATLÂNTICO pudesse fazer a Parceria com o Município de Londrina e executar os programas na área de Saúde; que em outras ocasiões BRUNO comentou com a declarante que já conhecia ANA LAURA e BARBOSA e tinha amizade com ambos; que em razão desses comentários de BRUNO em alguns contatos que a declarante fez com BRUNO VALVERDE, por telefone, para tratar dos problemas referente as liberações de recursos para os INSTITUTOS GÁLATAS e ATLÂNTICO a declarante perguntou a BRUNO se ele tinha conseguido falar “com a patroa dele”; que ao se refere a patroa de BRUNO, a declarante estava se referindo a ANA LAURA" ( Declarações de GLÁUCIA CHIARARIA-DOC.08)

Outrossim, MÁRCIA BOUNASSAR, que trabalhava

no ATLÂNTICO, presenciou parte dos fatos, especificamente o momento em que BRUNO VALVERDE tentava levantar os R$ 20.000,00 solicitados por ANA LAURA:

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"...Que a declarante ainda teve conhecimento de que, no início do contrato entre o INSTITUTO ATLANTICO e a Prefeitura de Londrina, antes do recebimento da primeira parcela, a pessoa de ANA LAURA pediu que BRUNO descontasse um cheque, de titularidade que não sabe mencionar, no valor de R$ 20.000,00 ou R$ 40.000,00, tendo BRUNO ficado agitado para conseguir descontar o cheque em questão, sabendo a declarante que BRUNO efetivamente descontou o referido cheque, não sabendo dizer se o cheque foi depositado em nome do INSTITUTO ATLANTICO ou na conta de outra empresa; Que a declarante tomou conhecimento de que BRUNO teria dado o valor de R$ 20.000,00 para ANA LAURA e que o cheque de R$ 20.000,00, dado por ANA LAURA para BRUNO, teria voltado por insuficiência de fundos, porém ele (BRUNO) não iria cobrar nem ANA LAURA e nem o titular do cheque, haja vista que o aludido cheque não era de titularidade de ANA LAURA, pois BRUNO não queria se queimar com ANA LAURA, não tendo certeza se tal fato se deu antes da assinatura do contrato entre o INSTITUTO ATLANTICO e a Prefeitura de Londrina ou no início da prestação da execução do contrato;" (DOC.10)

CRISTIANE SATIE HOSHINO, funcionária do INSTITUTO ATLÂNTICO, confirmou o fato da troca de cheques descrita por BRUNO VALVERDE16.

O próprio EGLODIR ELI ALIANO, que trocou o cheque de R$ 40.000,00 para BRUNO VALVERDE, confirma a narrativa deste último (termo de declarações agora acostado):

..."que em certa ocasião, há mais de quatro meses, não se recordando se neste ano no ano passado, BRUNO VALVERDE foi até a casa do declarante, durante o dia, e mostrou um cheque de R$ 40.000,00, emitido por uma firma que acha que seja da área de informática, e pediu que o declarante trocasse tal cheque; que BRUNO VALVERDE dizia que tal cheque era pré-datado para daí a sete dias; que o declarante disse que não tinha o dinheiro suficiente, mas acabou dizendo que arrumaria R$ 20.000,00; que o declarante foi ao Banco e conseguiu de sua própria conta, no HSBC de Cambé, em nome de sua empresa; que na verdade BRUNO pediu o dinheiro num dia, mas o declarante só conseguiu arrumar o dinheiro no Banco um ou dois dias depois, porque o gerente do HSBC afirmou que precisava de prazo para arrumar o dinheiro; que o declarante inclusive informou ao Gerente do HSBC, chamado FRANCISCO, que estava emprestando o dinheiro para BRUNO VALVERDE; que BRUNO não dizia para que se destinaria o dinheiro, mas se mostrava muito apressado para conseguir aquela importância; que acredita que o cheque estava nominal para BRUNO VALVERDE e BRUNO chegou a endossar tal cheque; que alguns dias depois depositou o cheque dado BRUNO, de R$ 40.000,00, mas o cheque voltou,

16"... que BRUNO, em data incerta, porém no início do contrato de parceria com a Prefeitura Municipal de Londrina solicitou para a declarante trocar um cheque de aproximadamente R$20.000,00, do Banco do Brasil, de uma pessoa jurídica a qual a declarante não sabe informar; que possivelmente este cheque tenha sido depositado e devolvido"; (DOC.15)

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acreditando que tenha sido por ter sido sustado; que BRUNO dizia que havia feito um serviço de consultoria para a empresa emitente do cheque, no valor de R$ 40.000,00; que quando o cheque foi devolvido o declarante procurou BRUNO várias vezes e avisou da devolução, entregando o cheque; que BRUNO pediu o cheque para entregar para o emitente, alegando que tal pessoa não era de sua proximidade; que BRUNO VALVERDE foi pagando o declarante aos poucos, em cerca de cinco vezes, através de cheques do INSTITUTO ATLÂNTICO;" (DOC.14)

De modo especial, porém, o requerido WILSON

VIEIRA, que tem ótimo relacionamento na Prefeitura, acabou, depois de alguma relutância, admitindo todos os fatos descritos por BRUNO VALVERDE. Como WILSON VIEIRA havia negado o que BRUNO narrara, foram submetidos a uma acareação, inclusive com o fim de verificar a idoneidade da versão do próprio BRUNO. Durante tal ato, WILSON retificou sua negativa e confirmou o que BRUNO havia dito:

...“Neste momento, o acareado WILSON VIEIRA manifestou o propósito de retificar as versões anteriormente prestadas, passando a narrar que foi solicitado por FABIO GOES que WILSON fosse até a Prefeitura para falar com o mesmo. Em tal ocasião, FABIO pediu a WILSON um cheque no valor de R$ 40.000,00, a fim de que fosse trocado com a pessoa de BRUNO VALVERDE, não tendo o acareado conhecimento das razões que motivavam essa troca. O acareado emitiu um cheque de sua empresa TECNOCENTER no valor de R$ 40.000,00, tendo FABIO GOES pedido para o acareado passar na Prefeitura de Londrina, na parte da tarde, para receber o dinheiro de BRUNO, tendo o acareado concordado e comparecido na sede da Prefeitura, mais especificamente, na entrada dos fundos, recebendo o dinheiro de BRUNO, que lá chegou em um veículo e buzinou, tendo o acareado ido ao encontro de BRUNO, apanhado o dinheiro e entregue para FABIO GOES. O acareado, em seguida, foi embora, não tendo entrado em qualquer sala da Prefeitura. Dias após, o aludido cheque foi depositado, tendo o acareado entrado em contato com FABIO GOES e explicado que isso poderia prejudicar o acareado, quando então FABIO alegou que iria resolver a situação. Posteriormente, o acareado pediu que LEILA MANTOVANI pegasse o cheque com BRUNO, quando então este último questionou sobre os R$ 20.000,00 que teria sido entregue à pessoa de WILSON, tendo LEILA dito a BRUNO que o acareado tinha somente emitido o cheque e que a dívida era com o “outro pessoal”, tendo LEILA apanhado o cheque e entregue ao acareado que veio a destruí-lo. O acareado alega que no momento em que FABIO GOES lhe solicitou o cheque, na sede da Prefeitura de Londrina, estava sozinho, informando, ainda, que tal encontro se deu no corredor da Prefeitura e não no interior da sala de FABIO. O acareado afirma que não viu ANA LAURA e RUY NOGUEIRA na ocasião em que compareceu à Prefeitura de Londrina solicitado por FABIO GOES e que entregou o referido cheque a este último. Em momento seguinte, o declarante manifesta o interesse de retificar parcialmente suas declarações prestadas até o presente momento. Indagado o que de fato ocorreu no dia em que FABIO GOES teria solicitado que o declarante comparecesse à Prefeitura, o declarante recorda-se que nesta

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ocasião, o referido encontro não ocorreu no corredor da Prefeitura como havia declarado anteriormente, mas sim que o declarante adentrou à sala de FABIO GOES, presenciando que no interior ocorria uma reunião entre as pessoas de ANA LAURA LINO BARBOSA, RUY NOGUEIRA, FABIO GOES e BRUNO VALVERDE, não tendo qualquer dúvida sobre a identidade das pessoas presentes. O acareado não participou dessa reunião, não sabendo o que estaria sendo tratado, limitando-se o acareado a simplesmente cumprimentar as pessoas presentes. Em seguida, FABIO lhe solicitou se poderia emprestar um cheque no valor de R$ 40.000,00, pois precisava resolver “um negócio”, tendo o declarante concordado e efetivamente preenchido e entregue o cheque a tal pessoa. Indagado se foram emitidos outros cheques além daquele emitido no valor de R$ 40.000,00, respondeu que somente emitiu um único cheque no valor de R$ 40.000,00. Após emitir o cheque, o acareado foi embora, tendo voltado na parte da tarde para apanhar o dinheiro com BRUNO e repassar a pessoa de FABIO que lhe acompanhava em tal ocasião.”(.DOC.13)

Mais tarde, WILSON VIEIRA tornou a ratificar suas

informações:

Que o declarante comparece a esta Promotoria de Justiça para prestar esclarecimentos complementares ratificando integralmente as declarações prestadas anteriormente sobretudo aquelas contidas no Termo de Acareação feito, nesta data, na Delegacia do GAECO, com BRUNO VALVERDE CHAHAIRA, retificando, ainda, o seguinte: que o declarante foi chamado a participar de uma reunião que aconteceu na Prefeitura de Londrina, em que estavam presentes RUI NOGUEIRA, ANA LAURA LINO, FÁBIO GOES e BRUNO VALVERDE; que nessa reunião ANA LAURA pediu que o declarante emitisse um cheque e repassasse a BRUNO VALVERDE; que o declarante, de fato, emitiu um cheque no valor de R$ 40.000,00 e entregou o cheque a ANA LAURA; que ANA LAURA então repassou o cheque a BRUNO VALVERDE; que o cheque emitido pelo declarante seria só uma garantia e BRUNO teria que arrumar o valor correspondente; que no mesmo dia, à tarde, BRUNO entregou o valor de R$ 20.000,00 em espécie ao declarante; que BRUNO explicou ao declarante que só teria conseguido levantar a quantia de R$ 20.000,00; que o declarante entregou esse dinheiro para o FÁBIO GOES; que ANA LAURA não explicou para qual finalidade seria utilizada o dinheiro arrecadado; que confirma que entregou apenas um cheque para ANA LAURA; que não sabe dizer se outros cheques foram entregues a ANA LAURA por outras pessoas; que essa reunião ocorreu entre os dias 20 e 30 de novembro de 2010; que o INSTITUTO ATLÂNTICO não havia sido contratado pelo Município; que BRUNO se mostrou solícito em arrumar o dinheiro para ANA LAURA; que o cheque emitido pelo declarante foi indevidamente depositado por BRUNO, já que o combinado por todos na reunião era a devolução do cheque ao declarante depois que BRUNO arrumasse o dinheiro; que BRUNO, entretanto, depositou o cheque que foi devolvido por falta de provisão de fundos no dia 29 de novembro de 2010; que depois disso BRUNO foi até o escritório do declarante, sendo que nessa ocasião o Instituto Atlântico já havia sido contratado pelo Município;(DOC.13)

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O testemunho de WILSON VIEIRA é inequívoco.

WILSON esteve presente à reunião entre ANA LAURA LINO, FÁBIO GÓES, RUY NOGUEIRA e BRUNO VALVERDE, na Prefeitura, dias antes da assinatura dos termos de parceria entre o ATLÂNTICO e o Município.

Trata-se de um elemento probatório extremamente importante, visto que confirma a confissão de BRUNO VALVERDE sobre os fatos e ratifica que RUY NOGUEIRA era íntimo de ANA LAURA LINO e de FÁBIO GÓES, sendo que todos, em conjunto, articulavam a contratação do INSTITUTO ATLÃNTICO.

Em seu depoimento, WILSON atesta que ANA LAURA LINO pediu que BRUNO VALVERDE conseguisse R$ 40.000,00, mas BRUNO VALVERDE só obteve R$ 20.000,00, entregando tal importância ao próprio WILSON, o qual a repassou a FÁBIO GÓES e, de consequência, a ANA LAURA. WILSON chegou a emitir o cheque, que teria apenas caráter de dissimulação e não devia ser depositado.

BRUNO, todavia, entregou o cheque de R$ 40.0000,00 a EGLODIR que acabou por depositá-lo, tendo este sido devolvido por insuficiência de fundos.

Em resumo, há provas inequívocas de que, sob o comando e orientação do Prefeito HOMERO BARBOSA NETO, os requeridos ANA LAURA LINO, FÁBIO GOES, RUY NOGUEIRA e WILSON VIEIRA, articularam e ajustaram com o requerido BRUNO VALVERDE, a entrega de R$ 20.000,00, para atender a interesses pessoais do Prefeito BARBOSA NETO e ANA LAURA LINO, evidenciando-se que o valor pago por BRUNO VALVERDE, a exemplo da quantia de R$ 300.000,00 antes prometida, tratava-se de verdadeiro "pedágio" "propina" paga para que o INSTITUTO ATLÂNTICO fosse admitido como parceiro do MUNICÍPIO DE LONDRINA na prestação de serviços de saúde Inegavelmente, os requeridos HOMERO BARBOSA NETO e FÁBIO GOES, na condição de agentes públicos, agindo com identidade de propósitos e em divisão de tarefas com os terceiros ANA LAURA LINO, RUY NOGUEIRA NETTO, BRUNO VALVERDE CHAHAIRA, e WILSON VIEIRA praticaram ato de improbidade administrativa que ensejou o enriquecimento ilícito do requerido HOMERO BARBOSA NETO e de ANA LAURA LINO, no valor de R$ 20.000,00 (vinte mil reais), violando os Princípios que regem a administração pública, consubstanciando as hipóteses de improbidade administrativa previstas nos artigos 9º “caput” e inciso I e 11º da Lei 8.429/92. II.3. INTERFERÊNCIA DO PREFEITO BARBOSA NETO POR ME IO DA ATUAÇÃO INTENSA DE ANA LAURA LINO E RUY NOGUEIRA PA RA QUE O

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INSTITUTO ATLÂNTICO FOSSE ESCOLHIDO PARA FIRMAR TER MOS DE PARCERIA COM O MUNICÍPIO DE LONDRINA. Necessário enfatizar, por fim, que a escolha do INSTITUTO ATLÂNTICO para executar parte dos programas de saúde do Município de Londrina, foi resultante da intensa atuação de ANA LAURA LINO e RUY NOGUEIRA NETO, em favor desse INSTITUTO, devidamente orientados pelo Prefeito HOMERO BARBOSA NETO. Da análise da sequência de fatos relacionados com o processo que culminou na escolha das OSCIPs, INSTITUTOS GÁLATAS e ATLÂNTICO, para executar parte das ações na área de saúde no Município de Londrina, resta evidente que os interesses dessas OSCIPs foram defendidos, indevida e veementemente, por agentes públicos e terceiros, em razão, conforme se apurou, das promessas e pagamentos de vantagens indevidas, para que tais INSTITUTOS firmassem as Parcerias milionárias com o Município de Londrina(registre-se que em razão da separação dos fatos das investigações, a corrupção relacionada à contratação do Instituto Gálatas e a prática de outros atos ilícitos relativos aos desvios de recursos públicos nas Parcerias estabelecidas com os Institutos Gálatas e Atlântico constituirão objeto de outras ações). A documentação colhida ao longo das investigações promovidas na “Operação Antissepsia” evidencia que durante o processo de escolha da (s) OSCIP(s) que iriam substituir o CIAP, defendia-se a contratação de entidades tradicionais da cidade, como a HUTEC e ISCAL, ligadas, respectivamente, à Universidade Estadual de Londrina e à Santa Casa de Londrina, fato registrado na Ata do Conselho Municipal de Saúde( DOC.03) 17

A cópia da ata do Conselho Municipal de Saúde, referente a reunião ocorrida em 29/11/2010, em que se discutiu a escolha das OSCIPs que iriam firmar parcerias com o Município de Londrina, deixa claro que o então Secretário Municipal de Saúde defendia a contratação de empresas 17 Observe-se que dias antes, em 20/11/2010, a “Comissão Técnica para avaliação das propostas ao contrato/convênio emergencial dos Programas PSF/SAMU/POLICLÍNICAS”, isto é, de avaliação da substituição do CIAP, composta por diversos integrantes da Secretaria Municipal de Saúde (inclusive sua atual secretaria, ANA OLYMPIA V. MARCONDES DORNELLAS), apresenta, após criteriosa análise, conclusões sobre as entidades que poderiam ser PARCEIRAS do MUNICÍPIO DE LONDRINA, constatando-se que a FUNDAÇÃO HUTEC e a IRMANDADE SANTA CASA DE LONDRINA (ISCAL) são referidas como entidades apropriadas, possuem tradição e são confiáveis para a prestação dos sensíveis serviços na área da saúde em Londrina. No mesmo parecer, as conclusões quanto às demais propostas que teriam sido recebidas de outras entidades, dentre elas os INSTITUTOS ATLÂNTICO e GÁLATAS, concluem que: “informamos que não nos é possível emitir parecer t écnico, uma vez que desconhecemos as instituições/OSCIPs, assim como as ações e proje tos por elas desenvolvidos” .

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tradicionais da cidade, como a HUTEC e ISCAL, ligadas ao Hospital Universitário e à Santa Casa de Londrina, respectivamente, para absorver os serviços até então prestados pelo CIAP. Acrescentava, ainda, o secretário, que seria feita a contratação emergencial, por seis meses, dessas empresas, até que fossem municipalizados os serviços.

Observa-se, outrossim, pela leitura da Ata, que 09 dias antes da referida reunião do Conselho Municipal de Saúde e 18 dias antes da assinatura dos termos de parceria com o GÁLATAS e com o ATLÂNTICO, estas duas OSCIPs não puderam sequer ser examinadas pela Comissão Técnica (ver rodapé 9 desta ação), obviamente por se tratarem de organizações nitidamente aventureiras e incapazes de gerenciar seriamente os serviços de saúde de uma cidade como Londrina.

Com essa manifestação da Comissão Técnica da Secretaria de Saúde, os interessados, proprietários das aludidas OSCIPs, começaram a se movimentar nos bastidores, buscando meios de viabilizar a sua escolha para a prestação dos serviços. Tal propósito, sob uma perspectiva técnica, constituiria missão absolutamente impossível, diante da absoluta inexperiência, falta de tradição e desconhecimento de tais OSCIPs.

Todavia, não foi o que ocorreu. Constatou-s que no interesse do Instituto Gálatas18

apenas quatro dias depois, em 24/11/2011, o Conselho Municipal de Saúde, por intermédio de alguns de seus membros, capitaneados por MARCOS ROGÉRIO RATTO e JOEL TADEU CORREA, apresentou a diversas Secretarias do Município de Londrina uma manifestação formal indicando o INSTITUTO GÁLATAS como uma empresa “com experiência comprovada para assumir os serviços já mencionados”.

Evidentemente, essa “defesa” tinha sua contraprestação. Alçar uma OSCIP sem a menor tradição, sem capacidade técnica demonstrada, sem estrutura própria para tanto, à candidata preferida do MUNICÍPIO foi um trabalho entabulado nos bastidores, certamente em troca de propinas que foram distribuídas posteriormente (ou até na própria ocasião).

A análise do restante da ata de 29/11 (DOC.03), deixa claro que o Conselho Municipal de Saúde desconhecia completamente o GÁLATAS. Mas havia um certo consenso de que os serviços não deveriam ser entregues a uma única entidade. Justamente neste momento é que surgiu a menção ao ATLÂNTICO, OSCIP que estava atuando de maneira acelerada nos bastidores para ser contratada pelo MUNICÍPIO DE LONDRINA.

De fato, nesse momento ocorreu a interferência de uma força político/administrativa muito superior aos presentes àquela reunião (secretários municipais ou conselheiros, dois deles defendendo a contratação do Gálatas). 18 Ver a respeito da corrupção envolvendo a contratação do Instituto Gálatas, as declarações de GLÁUCIA CHIARARIA e SILVIO RODRIGUES ALVES (DOC.09 e 09)

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A força política devia-se à interferência do Prefeito HOMERO BARBOSA NETO que comandava, nos bastidores, a ação de ANA LAURA LINO, RUY NOGUEIRA NETTO, auxiliado, ainda, por RICARDO RAMIRES, para que o INSTITUTO ATLÂNTICO fosse escolhido como Parceiro do Município na execução dos Programas de Saúde.

SÍLVIO RODRIGUES ALVES19, representante do INSTITUTO GÁLATAS, ao ser ouvido sobre os fatos, esclareceu que em razão dos ajustes (corrupção) anteriores com membros do Conselho Municipal de saúde (Marcos Ratto e Joel Tadeu Correa), o Instituto Gálatas apresentava-se como o provável sucessor do CIAP na execução das ações na área da saúde, quando surgiu o INSTITUTO ATLÂNTICO.

O surgimento do ATLÂNTICO decorreu de uma força mais poderosa, diversa daquela que defendia em 29/11/2011 a contratação do GÁLATAS. Nitidamente tal força não era representada pelo próprio secretário de saúde e nem tampouco pelos conselheiros. A narrativa de MÁRCIA BOUNASSAR (Doc.10), que trabalhou por certo período no CIAP e depois no INSTITUTO e de JOÃO SANTINI (Doc.16), advogado do Instituto, são bastantes esclarecedores. Como espectadora da reunião do Conselho Municipal de saúde, MÁRCIA testemunhou os fatos e constatou que o Instituto Atlântico não era conhecido dos Conselheiros e a sua admissão como parceiro não contava com a aprovação dos Conselheiros( ver termo de declarações DOC.10 –Observe-se, ainda, que apenas o Conselheiro Joel Tadeu Correa, faz rápida menção ao Instituto Atlântico).

Nada obstante, contrariando toda a lógica dos fatos, o INSTITUTO ATLANTICO foi escolhido como Parceiro do Município, em razão das articulações estabelecidas entre BRUNO VALVERDE e a mulher do prefeito, ANA LAURA LINO, por intermédio do lobista RUY NOGUEIRA e outros personagens.

Restou evidente, por um lado, que RUY NOGUEIRA teve intensa e decisiva atuação nos fatos ímprobos ora tratados, figurando como intermediário entre os interesses escusos estabelecidos entre o PREFEITO

19 “.... que o declarante e sua mulher, GLÁUCIA, constituíram a OSCIP denominada INSTITUTO GÁLATAS em 2008, tendo obtido a certificação em 2009; que em 2010 firmaram termos de parceria com o Município de Laranjal Paulista, na área cultural, de educação e de assistência social; que em novembro de 2010 receberam um e-mail da Prefeitura de Londrina, especificamente da Secretaria de Saúde, convocando para um chamamento emergencial para participar de um processo de escolha para prestação de serviços na área da saúde; que acabaram levando uma planilha com uma proposta de parceria; que em princípio as tratativas conduziam ao entendimento de que o GÁLATAS iria firmar os termos de parceria que eram do CIAP anteriormente; que entretanto, mais adiante surgiu o INSTITUTO ATL ÂNTICO e os dois INSTITUTOS firmaram vários termos parceria..”. (DOC.09)

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HOMERO BARBOSA NETO e sua mulher ANA LAURA LINO e o requerido BRUNO VALVERDE. Em razão da proximidade com os requeridos HOMERO BARBOSA NETO e ANA LAURA LINO e na confiança de que estes tinham o poder para interferir em favor do Instituto Atlântico no processo de escolha das OSCIPs que firmariam termos de Parceria com o Município, o requerido RUY NOGUEIRA apresentava-se absolutamente seguro dessa contratação, mesmo quando as circunstâncias pareciam completamente adversas aos interesses do Atlântico. Observa-se que JOÃO SANTINI e MÁRCIA BOUNASSAR após participarem da reunião do Conselho Municipal, realizada no 29/10/2011, tiveram conclusões negativas na reunião, ante à clara inclinação do Conselho e dos demais para a contratação do GÁLATAS.

Como narrado por MÁRCIA e JOÃO, saíram da reunião e foram ao encontro de BRUNO VALVERDE e RUY NOGUEIRA, em um jantar no Hotel Bourbon, momento em que relataram as poucas referências ao ATLÂNTICO (referencia do Conselheiro Joel Tadeu Correa). Em atitude típica de quem está previamente acertado com quem detém o poder, RUY NOGUEIRA desdenhou e disse que o contrato seria do ATLÂNTICO. SANTINI, corroborando o declarado por MÁRCIA BOUNASSAR, afirmou que..." na reunião do Conselho de Saúde, em que participou, em nenhum momento foi discutido eventual convite do Instituto Atlântico, limitando-se a indicar, como eventuais empresas a serem convidadas, a Galtec, Santa Casa e Gálatas; que o declarante repassou esta informação na reunião realizada no Hotel Bourbon, pelas pessoas já mencionadas; que embora o declarante tenha noticiado este fato, Rui Nogueira mostrou-se absolutamente in diferente ; que após estes fatos, conforme já enfatizado, o declarante teve notícia que o Instituto Atlântico foi convidado para prestação de serviços, culminando com a assinatura do contrato com o Município de Londrina no dia 08 de dezembro já mencionado; que Rui Nogueira gabava-se como sendo o responsável pela indicação e contratação do Instituto Atlântico, enfatizando que detinha influência política que legitimaria a contratação do Instituto Atlântico pelo Município de Londrina."(ver termos de declarações DOC.16)

Nitidamente, a reunião do Conselho Municipal de Saúde foi minimizada por quem tinha poder de mando, no caso o Prefeito. Tanto que seu amigo, o lobista RUY NOGUEIRA, mostrou-se tranqüilo para BRUNO VALVERDE e demais, afirmando que as parcerias seriam feitas pelo ATLÂNTICO.

Por outro lado, restou claro, no curso das investigações, que ANA LAURA LINO, que não ocupa e nem ocupou qualquer função pública na Administração, personificava o próprio marido, HOMERO BARBOSA NETO.

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O conselheiro MARCOS RATTO, esclareceu que o INSTITUTO ATLÂNTICO foi imposto por ANA LAURA LINO, com a concordância de BARBOSA NETO.

A descrição de MARCOS RATTO, é no sentido de

que ANA LAURA tinha grande poder, claramente conferido por BARBOSA NETO, para interferir nas escolhas da Secretaria de Saúde, sendo certo que foi RUY NOGUEIRA quem fez a intermediação entre BRUNO VALVERDE e ANA LAURA e BARBOSA para a escolha do ATLÂNTICO:

...”que na oportunidade, o declarante, Marcos Cito, Joel Tadeu, Dr. Agajan, Dr. Demétrius, então Procurador-Geral do Município, Ana Laura e o próprio Prefeito, foram convidados para comparecer até o gabinete do prefeito para estabelecer uma conversa a respeito das OSCIPs que estavam disputando a prestação de serviços na área de saúde do Município de Londrina; que referidas pessoas estavam no interior da sala de Ba rbosa Neto, para reunião, reunião esta que foi a todo tempo comandad a pela esposa do Prefeito, Ana Laura; que Ana Laura sempre deteve co ntrole absoluto de todos os órgãos da Secretaria de Saúde ; que Ana Laura, em razão deste controle e influência na Secretaria de Saúde do Mun icípio, afirmou durante reunião que gostaria que participasse, na p restação dos serviços na área de saúde, do Instituto Atlântico e de outras duas OSCIPs de Curitiba; que o declarante recorda-se apenas de uma delas, sendo certo que é a Sodebrás, que recentemente foi alvo de escândalo na mídia nacional; que é importante frisar que o Instituto Atlântico f oi apresentado para Ana Laura por intermédio de seu am igo Rui Nogueira, razão pela qual Ana Laura manifestou, expressamente , interesse na participação desta OSCIP, junto à prestação de serv iços deste Município; que, diante desta ligação, Ana Laura tin ha um contato bastante próximo com Bruno Valverde, representante legal desta pessoa jurídica (observe que, na verdade, na oportu nidade, Bruno Valverde não poderia aparecer como integrante desta OSCIP, já que era assessor de Luiz Eduardo Cheida, então deputado est adual): que em várias ocasiões em que o declarante teve contato com Bruno, não apenas pessoal como por meio de Sílvio Rodrigues, presidente da Gálatas, percebeu o contato pessoal deste com Ana Laura, a tal ponto de, algumas vezes, mencioná-la como “patroa”; que, diante de um impasse ou problema a ser dirimido na área dos Institutos, Bruno ausentava-se dizendo “vou falar com a patroa e já volto”; que, em seguida, Bruno retornava à roda com o problema solucionado, cuja solução foi dada pela própria Ana Laura;”...(DOC.19)

Resta evidente que o sistema implementado por

BARBOSA NETO era o de determinar a seus aliados e a sua mulher que agissem nos bastidores, estabelecendo relações espúrias com outros agentes públicos e particulares, com o fim de arrecadar valores destinados sobretudo à sua futura campanha para reeleição ou mesmo para seu próprio enriquecimento ilícito.

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A mulher de BARBOSA NETO é descrita por todos como sendo a pessoa mais influente na Administração Pública. São públicas as suas interferências Além disso, há evidências concretas que ANA LAURA LINO ocupe uma sala da Prefeitura de Londrina, desempenhando ativa participação nas decisões de seu marido. Essas declarações, colacionadas a esta Ação Civil Pública, podem e devem ser confrontadas com as declarações prestadas por ANA LAURA, junto ao GAECO, em que se observou a total convergência e, muitas vezes, até indireta confissão, quanto a importantes aspectos da imputação fática descrita nesta ação civil pública. Frise-se, a intervenção do Prefeito Municipal e de seu primeiro escalão, é aferido, por uma acurada análise probatória, cotejando declarações com documentos apreendidos, conversas cifradas, escutas autorizadas pela Justiça, e uma série de constatações que não podem passar desapercebidas pelos órgãos de persecução Estatais (Polícia; Ministério Público; Judiciário). Os estratagemas utilizados pelos exercentes do poder político corrupto devem ser devidamente decodificados, sob pena de não se descortinar de onde emanam as ordens para implementação do esquema ilícito estabelecido. Nessa perspectiva, por intermédio das declarações de BRUNO VALVERDE e de outros testemunhos carreados no caderno investigatório, verifica-se que ANA LAURA, tinha importante atuação junto à Administração de BARBOSA NETO, a tal ponto de participar de reuniões com secretários, diretores e assessores da área de saúde do Município de Londrina.20 ANA LAURA, no esquema ilícito engendrado, era a longa manus do prefeito Municipal BARBOSA NETO, seu órgão de execução e operacionalização, incumbindo-a a estabelecer os contatos e viabilizar a operacionalização do esquema ilícito montado.

Frise-se que ANA LAURA não exercia qualquer cargo na Administração Municipal, mas, estranhamente, mantinha uma sala contígua à Sala do Prefeito Municipal, seu marido BARBOSA NETO, segundo maciça prova testemunhal coligida na investigação.

Em suas declarações, ANA LAURA insistiu que não possuía qualquer relação com as escolhas das OSCIPS, instituto ATLÃNTICO e 20 Assim, conforme suas declarações no GAECO, destacou que, “...e, a declarante não possuía nenhum cargo e nem função pública na Prefeitura Municipal de Londrina, sendo certo que não prestava qualquer serviço par ao Município de Londrina e muito menos tinha qualquer sala no prédio da Prefeitura Municipal de Londrina; que a declarante participava de algumas reuniões na área de saúde...”. “...esclarece, outrossim, que nas reuniões realizadas na Secretaria de Saúde, muitas vezes, estavam presentes além do Secretário de Saúde, da Diretora Ana Olympia, e outros servidores correlatos...”. (DOC.12).

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GALATAS, embora tenha reconhecido participar de reunião em que se debateu quais OSCIPS seriam participantes do processo de escolha, para serem contratadas pelo Município de Londrina.21

A despeito das versões apresentadas por ANA LAURA LINO sobre os fatos, não há dúvidas de que BARBOSA NETO trouxe sua mulher para dentro da Administração Pública, compartilhando com ela as decisões estratégicas.

No caso da contratação das OSCIPs, inegavelmente o que se vislumbrou no núcleo da Administração – leia-se prefeito, sua mulher e asseclas principais – foi uma oportunidade de ganhar dinheiro.

De fato, apurou-se que a “surpreendente” escolha do INSTITUTO ATLÂNTICO como uma das OSCIPs encarregadas de prestar serviços na área da saúde pública em Londrina foi fruto de um ajuste entre BRUNO VALVERDE e a Administração Pública Municipal, sendo esta representada por BARBOSA NETO e sua mulher ANA LAURA LINO. O intermediador foi RUY NOGUEIRA, apoiado por RICARDO RAMIRES, vulgo “PIO”.

Destaque-se, novamente, que a despeito da força de ANA LAURA, a indicação do Instituto não pode ter sido determinada por ANA LAURA LINO. A mulher do prefeito não exerce e nunca exerceu cargo público, sendo que sua influência só se dá por conta das evidentes ordens que seu marido distribui, exatamente no sentido de que ANA LAURA seja a interlocutora das determinações do marido.

Por serem marido e mulher e, sobretudo, por BARBOSA NETO ser um prefeito claramente centralizador, que várias vezes já deu mostras públicas de que quem manda na Prefeitura é ele, não há dúvidas de que as atitudes de ANA LAURA nada mais são do que e extensão do próprio BARBOSA NETO, que por vezes se vale de sua própria mulher para emitir suas decisões.

Nessas circunstâncias, se ANA LAURA ajustou com BRUNO VALVERDE a contratação do ATLÂNTICO, não o fez por conta própria. Agiu em concurso com o marido, que, de fato e de direito, é quem manda na Prefeitura. E se ANA LAURA intermediou o recebimento de vantagem indevida para a escolha do ATLÂNTICO, inequivocamente não o fez em nome próprio, senão em nome de seu marido, que é quem tem o poder.

Nessa perspectiva, a constatação de que houve ao menos dois ajustes de vantagens indevidas, em grande parte coordenadas por ANA LAURA LINO, não permite outra conclusão que não seja a de que essas

21 Veja, portanto, trechos de sua declaração: “ ...recorda-se, a propósito, que esteve em uma reunião em que se debateu quais OSCIPs seriam participantes do processo de escolha, mas limitou-se a ouvir, não indicando qualquer empresa que pudesse se interessar na prestação dos serviços já mencionado...”. (DOC.12).

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vantagens se destinavam ao prefeito, que evidentemente teria concorrido para as ações ímprobas. Vantagens indevidas que fossem ajustadas por ANA LAURA, sem o conhecimento de BARBOSA NETO, de nada valeriam, porquanto o poder de mando daquela, sem a chancela dolosa de seu marido, seria equivalente a zero.

Assim, o panorama sob exame, em que se introduziu o INSTITUTO ATLÂNTICO, só se explica em decorrência de ajustes criminosos e ímprobos para a entrega de valores desviados das próprias verbas públicas a serem empregadas na saúde a quem definiu tal escolha, isto é, ANA LAURA LINO e BARBOSA NETO.

Essas avenças, de natureza ilícita, são multiplamente referidas durante a investigação, reforçando-se a conclusão de que a escolha do ATLÂNTICO decorreu do ajuste de pagamento de propinas e mediante a direta intervenção de ANA LAURA LINO e de RUY NOGUEIRA, pessoa com forte influência sobre HOMERO BARBOSA NETO e ANA LAURA LINO.

Os elementos contidos nestes autos evidenciam que em dois momentos distintos estabeleceu-se o pagamento de vantagens indevidas. O primeiro, exatamente nos dias antecedentes à assinatura dos termos de parceria do ATLÂNTICO, ocorrido em 08/12/2010, pelo qual restou combinado que BRUNO VALVERDE pagaria R$ 300.000,00, a serem divididos entre RUY NOGUEIRA, RICARDO RAMIRES, ANA LAURA LINO e HOMERO BARBOSA NETO.

O segundo, quando BRUNO VALVERDE atendeu à solicitação de ANA LAURA LINO e lhe entregou, por intermédio de WILSON VIEIRA e FÁBIO GÓES a importância de R$ 20.000,00. Demonstrou-se, ainda, que em razão dos ajustes estabelecidos com os demais requeridos, sobretudo diante da promessa de pagamento de vantagens indevidas e a respectiva aceitação de recebimento ilícito de valores, HOMERO BARBOSA NETO orientou ANA LAURA LINO que atuasse de forma a viabilizar a parcerias entre o INSTITUTO ATLÃNTICO e o Município de Londrina. Seguindo as orientações de HOMERO BARBOSA NETO, a requerida ANA LAURA LINO passou a agir intensamente em favor da contratação do INSTITUTO ATLÂNTICO.

Em razão do exitoso trabalho de bastidores comandado por HOMERO BARBOSA NETO, ANA LAURA LINO, RUY NOGUEIRA NETTO, auxiliado, ainda, por RICARDO RAMIRES, 09 dias depois da reunião do Conselho Municipal de Saúde, em que a Comissão Técnica deixou claro que não conhecia o ATLÂNTICO, sendo enfatizado pelo secretário de Saúde que era inviável a escolha dessa OSCIP, o ATLÂNTICO firmou com o MUNICÍPIO DE LONDRINA três termos de parceria, em valores milionários. Com efeito, após as diversas tratativas de natureza escusa, já narradas, no dia 08 de dezembro de 2010 o Município de Londrina,

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acabou por firmar com o Instituto Atlântico, os seguintes Termos de Parceria: Termo de Parceria nº. TE/SMGP 0003/2010 – Autarquia Municipal de Saúde e OSCIP Instituto Atlântico, valor: R$ 660.942,42;Termo de Parceria nº. TE/SMGP-0005/2010 – Autarquia Municipal de Saúde e OSCIP Instituto Atlântico; Valor: R$ 738.346,14;Termo de Parceria nº. TE/SMGP 0002/2010 – Autarquia Municipal de Saúde e OSCIP Instituto Atlântico,Valor: R$ 3.442.533,78.

III – DO DIREITO

III.1 – Atos de Improbidade Administrativa que impo rtam em

enriquecimento ilícito (art. 9º “caput” e inciso I da Lei 8.429/92).

Os fatos acima descritos evidenciam que o requerido HOMERO BARBOSA NETO, valendo-se da condição de Prefeito do Município de Londrina, no exercício do mandato que lhe foi outorgado, agindo em concurso com os terceiros, praticou atos de improbidade administrativa consistente na aceitação e obtenção de vantagens patrimoniais indevidas, para interferir em favor do INSTITUTO ATLÃNTICO, cujo representante, BRUNO VALVERDE, movido por razões escusas, almejava estabelecer Parcerias com o Município de Londrina, para a execução de Programas na área da saúde.

Há provas inequívocas nos autos de que, sob o comando e orientação do Prefeito HOMERO BARBOSA NETO, os requeridos ANA LAURA LINO, FÁBIO GOES, RUY NOGUEIRA e WILSON VIEIRA, articularam e ajustaram com o requerido BRUNO VALVERDE, a entrega de R$ 20.000,00, para atender a interesses pessoais do Prefeito BARBOSA NETO, evidenciando-se que o valor pago por BRUNO VALVERDE, trata-se de "propina" paga para que o INSTITUTO ATLÂNTICO fosse admitido como parceiro do MUNICÍPIO DE LONDRINA na prestação de serviços de saúde Portanto, os requeridos HOMERO BARBOSA NETO e FÁBIO GOES, na condição de agentes públicos, agindo com identidade de propósitos e em divisão de tarefas com os terceiros ANA LAURA LINO, RUY NOGUEIRA NETTO e WILSON VIEIRA praticaram ato de improbidade administrativa que ensejou o enriquecimento ilícito do requerido HOMERO BARBOSA NETO e ANA LAURA LINO no valor de R$ 20.000,00 (vinte mil reais).

O comportamento dos requeridos é expressamente vedado pelo ordenamento jurídico, consubstanciando ato de improbidade

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administrativa que importa em enriquecimento ilícito. Com efeito, prescreve a Lei n.º 8.429/92 que:

“Art. 9º. Constitui ato de improbidade administrativa importando enriquecimento ilícito auferir qualquer tipo de vantagem patrimonial indevida em razão do exercício de cargo, mandato, função, emprego ou atividade nas entidades mencionadas no art. 1º desta Lei, e notadamente:” I - receber, para si ou para outrem, dinheiro, bem móvel ou imóvel, ou qualquer outra vantagem econômica, direta ou indireta, a título de comissão, percentagem, gratificação ou presente de quem tenha interesse, direto ou indireto, que possa ser atingido ou amparado por ação ou omissão decorrente das atribuições do agente público;

.... Emerson Garcia22, ao comentar esta disposição legal, esclarece que:

“A análise desse preceito legal permite concluir que, afora o elemento volitivo do agente, o qual deve necessariamente se consubstanciar no dolo, são quatro os elementos formadores do enriquecimento ilícito sob a ótica da improbidade administrativa: a) o enriquecimento do agente; b) que se trate de agente que ocupe cargo, mandato, função, emprego ou atividade nas entidades elencadas no art. 1º, ou mesmo o extraneus que concorra para a prática do ato ou dele se beneficie (arts. 3º e 6º); c) a ausência de justa causa, devendo se tratar de vantagem indevida, sem qualquer correspondência com os subsídios ou vencimentos recebidos pelo agente público; d) relação de vantagem de causalidade entre a vantagem indevida e o exercício do cargo, pois a lei não deixa margem a dúvidas ao falar em “vantagem patrimonial indevida em razão do exercício de cargo...”.

22 Garcia, Emerson e Alves, Rogério Pacheco. Improbidade Administrativa, p. 251, 3ª ed. Livraria e Editora Lumen Juris LTDA. 2005.

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Mais adiante, complementa o autor23:

Violado o dever jurídico de não enriquecer ilicitamente, ter-se-á configurado o dolo, o que exige que a análise do elemento volitivo do agente não se mantenha adstrita unicamente à sua conduta, mas, primordialmente, ao fato de ter auferido vantagem não autorizada em lei.”

Os agentes públicos, HOMERO BARBOSA NETO e FABIO DE PASSOS GOES, no exercício de suas funções públicas de Prefeito e Chefe de gabinete do Prefeito, respectivamente, agiram com identidade de propósitos e divisão de tarefas com os requeridos ANA LAURA LINO, RUY NOGUEIRA NETTO e WILSON VIEIRA para a obtenção de vantagem patrimonial indevida, junto ao requerido BRUNO VALVERDE. Emerson Garcia, assevera que24:

”Em um primeiro plano, observa-se que, aqui, o enriquecimento será sempre fruto de uma ilicitude, já que ao agente público, no exercício de suas funções, somente é permitido auferir as vantagens previstas em lei. Inexistindo previsão legal, ilícito será o enriquecimento. No mais, diferentemente do que ocorre no âmbito privado, em raras ocasiões o enriquecimento do agente público importará no correlato empobrecimento patrimonial do sujeito passivo, o qual é prescindível à configuração da tipologia legal prevista no caput do art. 9º. A idéia de empobrecimento é substituída pela noção de vantagem patrimonial indevida, sendo considerado ilícito todo enriquecimento relacionado ao exercício da atividade pública e que não seja resultado da contraprestação paga ao agente, o que demonstra de forma insofismável a infringência dos princípios da legalidade e da moralidade, verdadeiros alicerces da atividade estatal.”.

Com efeito, os requeridos, em total desconsideração com a relevância de suas funções públicas, utilizaram-se dos seus cargos para auferirem vantagem patrimonial indevida, ao articularem e ajustarem com o 23 ob. cit., p. 251. 24 ob. cit., p.252.

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requerido BRUNO VALVERDE, a entrega de R$ 20.000,00, para atender a interesses pessoais do Prefeito BARBOSA NETO, ficando evidente que a propina foi paga por BRUNO VALVERDE, para que o INSTITUTO ATLÂNTICO fosse admitido como parceiro do MUNICÍPIO DE LONDRINA na prestação de serviços de saúde

Os elementos contidos nos autos evidenciam que

para atingir seus propósitos ilícitos, o requerido BARBOSA NETO, contou com a colaboração de pessoas de sua inteira confiança. De fato, apurou-se que os R$ 20.000,00 (vinte mil reais) pagos pelo requerido BRUNO VALVERDE, atendeu ao pedido da mulher do Prefeito BARBOSA NETO, a requerida ANA LAURA LINO, durante reunião realizada dentro do prédio da Prefeitura, na sala do Chefe de Gabinete do Prefeito, FABIO GOES, onde também encontravam-se presentes os requeridos RUY NOGUEIRA e WILSON VIEIRA, ambos muito próximos do casal BARBOSA NETO.

É certo que embora o Prefeito BARBOSA NETO, não tenha aparecido, diretamente, nas negociações envolvendo a promessa e aceitação de vantagens indevidas, as circunstâncias dos fatos, apuradas no decorrer das investigações não deixam dúvidas de que o Prefeito articulava e comandava essas ações ímprobas que eram executadas por pessoas de sua extrema confiança, dentre eles, seu Chefe de gabinete, seus amigos RUY NOGUEIRA e WILSON VIEIRA e sobretudo sua mulher ANA LAURA LINO.

Evidenciou-se que ANA LAURA tinha importante atuação junto à Administração de BARBOSA NETO, a tal ponto de participar de reuniões com secretários, diretores e assessores da área de saúde do Município.

ANA LAURA, ao ser ouvida no curso das investigações, e embora negando qualquer envolvimento com os fatos investigados, sobretudo aqueles relacionados à reiterada menção de seu nome e de sua intensa atuação a favor da contratação do Instituto Atlântico, diante da contundência dos fatos e do grande número de pessoas que presenciou sua participação nas reuniões na área de saúde do Município, confessou esta participação, nas declarações prestadas ao Delegado de Polícia do GAECO (DOC.12):

“...Que, a declarante não possuía nenhum cargo e nem função

pública na Prefeitura Municipal de Londrina, sendo certo que não prestava qualquer serviço par ao Município de Londrina e muito menos tinha qualquer sala no prédio da Prefeitura Municipal de Londrina; que a declarante participava de algumas reuniões na área de saúde...”.

“...esclarece, outrossim, que nas reuniões realizadas na

Secretaria de Saúde, muitas vezes, estavam presentes além do Secretário de Saúde, da Diretora Ana Olympia, e outros servidores correlatos...”.

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Frise-se que ANA LAURA não exercia qualquer cargo na Administração Municipal, mas, estranhamente, mantinha uma sala contígua à Sala do Prefeito Municipal, seu marido BARBOSA NETO, segundo prova testemunhal coligida na investigação.

Por outro lado, embora ANA LAURA insistisse que

não possuía qualquer relação com as escolhas das OSCIPS, instituto ATLÃNTICO e GALATAS, reconheceu que: ...

“ ...recorda-se, a propósito, que esteve em uma reunião em que

se debateu quais OSCIPs seriam participantes do processo de escolha, mas limitou-se a ouvir, não indicando qualquer empresa que pudesse se interessar na prestação dos serviços já mencionado...”.

Outrossim, ao ser questionada sobre o teor das

declarações de BRUNO VALVERDE no sentido de que RUY NOGUEIRA foi o responsável pela contratação do INSTITUTO ATLÂNTICO, pelo Município de Londrina, valendo-se de sua influência pessoal e política com o prefeito BARBOSA NETO ( e a própria Ana Laura), mediante o ajuste do pagamento de R$ 300.000,00 (trezentos mil reais) ANA LAURA não conseguiu dissimular as evidências da atuação de RUY NOGUEIRA e da própria atuação em favor da OSCIP Instituto Atlântico.

De fato, embora ANA LAURA, tenha afirmado, no início de suas declarações, que RUY NOGUEIRA esteve apenas uma vez em Londrina, indicado pelo PDT, para eventual participação da campanha de BARBOSA NETO, reconheceu, em momento seguinte, em suas declarações, que no final do ano passado (dezembro 2010), viu RUY NOGUEIRA, acompanhado de BRUNO VALVERDE, na ante-sala do gabinete do Prefeito, para tratar do INSTITUTO ATLÃNTICO, já que estavam com um portfólio desta OSCIP. Neste sentido, registre:

“...questionada a declarante se conhece a pessoa conhecida

como Rui Nogueira, esclareceu que sim, sendo certo que essa pessoa foi indicada pelo partido Democrático trabalhista, para que pudesse trabalhar na campanha eleitoral de Barbosa Neto, não sabendo a declarante precisar, exatamente, se foi esta eventual participação no primeiro ou no terceiro turno; é importante consignar, outrossim, que embora Rui Nogueira tenha sido enviado/indicado pelo PDT para participar da campanha eleitoral de Barbosa Neto, ficou apenas alguns dias discutindo os termos de sua contratação, mas é fato que não prestou qualquer serviço para a referida campanha, já que não houve “acordo” com a coordenação...”;

Ainda, “...que a declarante recorda-se, outrossim, de ter visto Rui

Nogueira uma outra vez para tratar de assunto que não estava relacionado a campanha; que nesta oportunidade, a declarante limitou-se a cumprimentar Rui Nogueira, que estava no prédio

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da Prefeitura, na ante-sala do gabinete do Prefeito Barbosa Neto junto com Bruno Valverde; questionada a declarante se tem conhecimento do motivo pelo qual Rui Nogueira e Bruno Valverde aguardavam para conversar com Barbosa Neto, informando que acredita que o assunto seria a respeito do Instituto Atlântico, já que estavam em mãos com o portfólio desta OSCIP; que este encontro no prédio da Prefeitura de Londrina deu-se no final do ano passado, um pouco antes da contratação do Instituto Atlântico pelo Município de Londrina...;

É estranho que ANA LAURA tenha afirmado que RUY

NOGUEIRA compareceu, em Londrina, apenas uma vez para tratar da campanha de BARBOSA NETO, não tendo, todavia, prestado qualquer serviço diante da falta de acordo com a coordenação da Campanha e ao mesmo tempo, reconheça que BARBOSA NETO, recebeu BRUNO VALVERDE e RUY NOGUEIRA, para tratar do “INSTITUTO ATLÂNTICO”. ANA LAURA, além de ser muito observadora (a tal ponto de se recordar que, neste dia, viu nas mãos de RUY ou BRUNO o portfólio do INSTITUTO ATLÂNTICO), não explicou a relação existente entre RUY e BRUNO VALVERDE.

Em outra ocasião, ainda em suas declarações, ANA LAURA limitou-se a afirmar que conheceu BRUNO VALVERDE, em uma das ocasiões em que o viu na prefeitura de Londrina. O interessante, todavia, é que esse encontro casual e formal, autorizou BRUNO VALVERDE, a ligar, em várias oportunidades, no telefone celular da PRIMEIRA DAMA, para, supostamente, fazer reclamações de falta de pagamento do INSTITUTO ATLÂNTICO.

“...que o Prefeito Barbosa Neto nunca comentou com a

declarante se já conhecia Bruno Valverde antes da contratação do Instituto Atlântico, desconhecendo se efetivamente Barbosa conhecia tal indivíduo; que a declarante acredita que Bruno Valverde tenha sido assessor de um deputado, porém a declarante não sabe mencionar de qual, especificamente; que, melhor esclarecendo, a declarante recorda-se que conheceu Bruno Valverde em ocasião em que o viu na Prefeitura de Londrina, informando, ainda, que Bruno, após a contratação do Instituto Atlântico pela Prefeitura, contatou a declarante por três vezes alegando problemas para receber as parcelas referentes ao referido contrato, tendo a declarante, em uma das vezes, chamado Marcos Cito e solicitado atendimento; que, segundo a declarante “esse cidadão era muito estranho”, já que, nas três oportunidades em que telefonou, limitava-se a reclamar sempre a mesma coisa, ou seja, atraso nos pagamentos da OSCIP Instituto Atlântico; que, inclusive, Bruno Valverde enviou flores para a declarante, em sua residência...;

Esta relação legitimou BRUNO VALVERDE, ainda, a

enviar flores para ANA LAURA, flores que BRUNO, de fato, reconheceu ter enviado à primeira dama, no final do ano de 2010, em suas declarações prestadas ao GAECO. Este fato foi, inclusive, confirmado por Ana Laura.

Ademais, segundo testemunhas ouvidas na investigação, BRUNO referia-se à primeira dama, ANA LAURA, como PATROA, em notória demonstração de íntima relação, e subserviência.

Consigne, uma vez mais, que ANA LAURA confessa parcialmente os fatos ora descritos, ao declarar que em meados de fevereiro

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recebeu um telefonema de BRUNO VALVERDE, com urgência, a fim de estabelecer uma conversa com a “primeira dama”.

Ana Laura, como de costume, marcou a conversa em sua “sala”, na ante-sala do gabinete do Prefeito e esposo, BARBOSA NETO. Na referida reunião, BRUNO VALVERDE contou à ANA LAURA que estava sofrendo pressões de RUY, sendo certo que RUY estava utilizando o nome do prefeito BARBOSA NETO e da primeira dama ANA LAURA, para cobrar valores indevidos. Anote suas declarações: “...que, aproximadamente, em meados de fevereiro de 2011, recorda-se a declarante que Bruno Valverde ligou para a declarante, a fim de estabelecer uma conversa com certa urgência, sendo certo que esta conversa foi realizada na ante-sala do gabinete do Prefeito Barbosa Neto, oportunidade em que Bruno Valverde noticiou a declarante que estava sofrendo pressões de uma pessoa de nome Rui, porque, segundo Bruno, esta pessoa estava utilizando o nome do Prefeito e da declarante, Ana Laura para cobrar valores indevidos; que, ato contínuo, a declarante determinou que Bruno Valverde nunca mais a procurasse e que, se fosse verdade, deveria procurar imediatamente a polícia para prestar declaração; questionada a declarante se não se interessou em investigar ou mesmo questionar Bruno Valverde a respeito da pessoa em que usava “indevidamente” seu nome e de seu marido, esclareceu que não quis saber nada do assunto, sendo certo que imaginou que pudesse se tratar de Rui Nogueira, pensamento que, após o desenrolar dos acontecimentos e das notícias veiculadas pela mídia, se concretizou...”.

Pelas declarações de ANA LAURA, extrai-se que

embora soubesse, assim como o prefeito BARBOSA NETO, que RUY NOGUEIRA estava utilizando seus nomes, para cobrar propina (vantagem indevida – valores indevidos), de BRUNO VALVERDE, não se deram ao trabalho de noticiarem o fato à Polícia, ou mesmo expedir uma notificação à RUY NOGUEIRA ou a BRUNO VALVERDE para que prestassem esclarecimentos. Calaram-se, pelas razões ora demonstradas neste arrazoado (encobrir os fatos ímprobos ora relatados).

Quanto aos relatos relacionados à entrega do valor de R$ 20.000,00 durante reunião em que estavam presentes, ANA LAURA, WILSON VIEIRA, FÁBIO GOES, RUY NOGUEIRA e BRUNO VALVERDE, ANA LAURA, mais uma vez, confessou parcialmente, os fatos relatados pelos demais envolvidos nos fatos ímprobos, no sentido de que houve uma reunião na Sala de FÁBIO GOES, em que estavam presentes WILSON VEIRA, RUY NOGUEIRA E BRUNO VALVERDE. ANA LAURA recorda-se dessa reunião, embora se limite “lembrar” apenas do que interessava (em sua defesa). Anote:

“...indagada a declarante se participou de reunião na sala de

Fábio Góes, na Prefeitura de Londrina, com as pessoas de Wilson Vieira, Rui Nogueira e Bruno Valverde, dias antes da assinatura do contrato do Município de Londrina com as OSCIPs, respondeu que não participou de qualquer reunião com tais pessoas, porém afirma já ter visto Wilson Vieira na Prefeitura, inclusive, na sala de Fábio Góes, quando então apenas limitou-se a cumprimentá-los; que, nesta oportunidade, em que se encontrava Fábio Góes e Wilson Vieira na sala referida, não se recorda se também se fazia presente Rui Nogueira; que a declarante não

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tem conhecimento se Wilson Vieira, em alguma oportunidade, solicitou a Bruno Valverde que descontasse um cheque no valor de R$40.000,00 reais, da Tecnocenter; que a declarante não tem conhecimento de eventual entrega de R$20.000,00 reais, efetivada por Bruno Valverde a Wilson Vieira, relacionado ao desconto do cheque de R$40.000,00 reais, já referido...”.

De toda forma, as assertivas de BRUNO VALVERDE

CHAHAIRA, no sentido de que entregou R$ 20.000,00 a ANA LAURA LINO, foram confirmadas pelas declarações de DAVID GARCIA, MÁRCIA BOUNASSAR, WILSON VIEIRA, SÍLVIO LUZ RODRIGUES ALVES, GLÁUCIA CRISTINA CHIARARIA RODRIGUES ALVES, JOÃO SANTINI, JOÃO PAULO REQUETTI DE SOUZA, DANIELA RODRIGUES DE CARVALHO, EGLODIR ELI ALIANO, CRISTIANE SATIE HOSHINO.

Dessa forma, a confissão de BRUNO VALVERDE vem alicerçada em sólido conjunto probatório, que demonstra que a admissão INSTITUTO ATLÂNTICO como parceiro do MUNICÍPIO DE LONDRINA foi fruto de articulação delituosa conduzida por ANA LAURA LINO, atendendo aos comandos de seu marido, o prefeito HOMERO BARBOSA NETO, em troca do pagamento de vantagens indevidas a ambos.

Portanto, os requeridos HOMERO BARBOSA NETO e FÁBIO GOES, na condição de agentes públicos, agindo com identidade de propósitos e em divisão de tarefas com os terceiros ANA LAURA LINO, RUY NOGUEIRA NETTO, BRUNO VALVERDE e WILSON VIEIRA praticaram ato de improbidade administrativa que ensejou o enriquecimento ilícito do requerido HOMERO BARBOSA NETO e ANA LAURA LINO, no valor de R$ 20.000,00 (vinte mil reais), consubstanciando, consubstanciando as hipóteses de improbidade administrativa previstas nos artigos 9º “caput” e inciso I da Lei 8.429/92.

III. 2. Atos de Improbidade Administrativa que aten tam contra os Princípios da Administração Pública.

O comportamento dos agentes públicos HOMERO BARBOSA NETO e FABIO GOES e dos terceiros ANA LAURA LINO, RUY NOGUEIRA NETTO, RICARDO JOSE DURANTE RAMIRES, BRUNO VALVERDE CHAHAIRA WILSON VIEIRA e FABIO MARTINS PEREIRA, por outro lado, encontra-se em total dissonância com os Princípios que regem a administração pública, notadamente o da Moralidade, Legalidade, Impessoalidade e Lealdade às Instituições, consubstanciando ato de improbidade administrativa previsto no artigo 11 da Lei 8.429/92. A Constituição Federal estabelece, em seu artigo 37, que:

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“A Administração Pública direta, indireta ou fundacional, de qualquer dos poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios da legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e também ao seguinte:..”

Enfatize-se que os Princípios consagrados, expressa ou implicitamente, na Constituição Federal espraiam seus efeitos a todo o ordenamento jurídico, vinculando, a um só tempo, as funções legislativa, executiva e jurisdicional, de tal sorte que a interpretação, criação e execução de toda a legislação infraconstitucional devem conformar-se à Constituição Federal. Neste sentido leciona Emerson Garcia:

“Os princípios a exemplo das regras, carregam consigo acentuado grau de imperatividade, exigindo a necessária conformação de qualquer conduta aos seus ditames, o que denota o seu caráter normativo (dever ser). Sendo cogente a observância dos princípios, qualquer ato que deles destoe será inválido , conseqüência esta que representa a sanção para a inobservância de um padrão normativo cuja reverência é obrigatória”25.

Os princípios constitucionais consubstanciam intransponíveis barreiras ao exercício de qualquer função Estatal, servindo de diretivas valorativas para a interpretação (função judiciária), criação (função legislativa) e execução (função executiva) do Direito Positivo. A lei de Improbidade Administrativa, em consonância com a Constituição Federal, também estabeleceu limitações materiais ao exercício da atividade funcional, limitações estas que, uma vez violadas, importa em improbidade administrativa. Assim, dispõe o art. 11 da Lei n.º 8429/92:

“Artigo 11. Constitui ato de improbidade administrativa que atenta contra os princípios da administração pública qualquer ação ou omissão que viole os deveres de honestidade, imparcialidade, legalidade e lealdade às instituições e, notadamente”:..

25 Garcia, Emerson. Improbidade Administrativa. 3ª ed. Lúmen Juris. Rio de Janeiro: 2006, pág. 39.

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Este dispositivo legal deve ser interpretado em consonância com o artigo 4º da mesma lei, que dispõe:

“Artigo 4. Os agentes públicos de qualquer nível ou hierarquia são obrigados a velar pela observância dos princípios da legalidade, da impessoalidade, moralidade e publicidade no trato dos assuntos que lhe são afetos.”

Fábio Medina Osório, esclarece o sentido e alcance desta disposição legal:

“ O art. 4º da lei bem revela, modo explícito, que os princípios constitucionais da administração integram a tipicidade de todo e qualquer ato de improbidade administrativa. Não há que se cogitar, por exemplo, de que o art. 11 aparentemente não cuidaria do princípio da impessoalidade, eis que não o mencionou expressamente. Todos os tipos se integram, em primeiro lugar, ao art. 37, caput, da Carta de 1988 e a toda doutrina do desvio de poder, que fornece o substrato

teórico para a conceituação dos atos de improbidade.” 26

Há fartas evidências de que o requerido HOMERO

BARBOSA NETO, Prefeito do Município de Londrina, na condição de agente público, no exercício e em razão de sua função pública, agindo em concurso com os terceiros ANA LAURA LINO, RUY NOGUEIRA NETTO, RICARDO RAMIRES e BRUNO VALVERDE, aceitou a oferta de BRUNO VALVERDE do pagamento de R$ 300.000,00, como vantagem patrimonial indevida, para que usando de seu poder político/administrativo, interferisse em favor do INSTITUTO ATLÂNTICO nas Parcerias buscadas pelo Município para a execução de ações na área de saúde, em clara afronta aos princípios que regem a administração pública.

Outrossim, há provas inequívocas de que, sob o comando e orientação do Prefeito HOMERO BARBOSA NETO, os requeridos ANA LAURA LINO, FÁBIO GOES, RUY NOGUEIRA e WILSON VIEIRA, articularam e ajustaram com o requerido BRUNO VALVERDE, a entrega de R$ 20.000,00, para atender a interesses pessoais do Prefeito BARBOSA NETO, evidenciando-se que o valor pago por BRUNO VALVERDE, a exemplo da quantia de R$ 300.000,00 antes prometida, trata-se de verdadeiro "pedágio," "propina" paga para que o INSTITUTO ATLÂNTICO fosse admitido como parceiro do MUNICÍPIO DE LONDRINA na prestação de serviços de saúde

26 Improbidade Administrativa, Rio Grande do Sul: Síntese, 2ª ed., p. 120.

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Inegavelmente, os requeridos HOMERO BARBOSA NETO e FÁBIO GOES, na condição de agentes públicos, agindo com identidade de propósitos e em divisão de tarefas com os terceiros ANA LAURA LINO, RUY NOGUEIRA NETTO, BRUNO VALVERDE CHAHAIRA e WILSON VIEIRA praticaram ato de improbidade administrativa que ensejou o enriquecimento ilícito do requerido HOMERO BARBOSA NETTO, no valor de R$ 20.000,00 (vinte mil reais). Os fatos acima descritos evidenciam que os requeridos violaram, dolosamente, os princípios constitucionais regentes da atuação estatal, especialmente, os princípios da legalidade, moralidade e lealdade às instituições. Em relação aos princípios norteadores da Administração Pública, preleciona Celso Antônio Bandeira de Mello27:

"Violar um princípio é muito mais grave que transgredir uma norma qualquer. A desatenção ao princípio implica ofensa não apenas a um específico mandamento obrigatório, mas a todo o sistema de comandos. É a mais grave forma de ilegalidade ou de inconstitucionalidade, conforme o escalão do princípio atingido, porque representa insurgência contra todo o sistema, subversão de seus valores fundamentais, contumélia irremissível a seu arcabouço lógico e corrosão de sua estrutura mestra. Isso porque, com ofendê-lo, abatem-se as vigas que o sustêm e alui-se toda a estrutura nelas esforçada".

Os elementos contidos nestes autos evidenciam que

em dois momentos distintos estabeleceu-se o pagamento de vantagens indevidas. O primeiro nos dias antecedentes à assinatura dos termos de parceria do ATLÂNTICO, ocorrido em 08/12/2010, em que restou combinado que BRUNO VALVERDE pagaria R$ 300.000,00, a serem divididos entre RUY NOGUEIRA, RICARDO RAMIREZ, ANA LAURA LINO e HOMERO BARBOSA NETO.

O segundo, quando BRUNO VALVERDE atendeu à solicitação de ANA LAURA LINO (que por sua vez agia segundo as orientações de BARBOSA NETO) e lhe entregou, por intermédio de WILSON VIEIRA e FÁBIO GÓES a importância de R$ 20.000,00. Observa-se que os requeridos agiram com evidente violação da legalidade, sendo certo que os seus comportamentos, além de

27 Mello, Celso Antônio Bandeira de. Curso de Direito Administrativo, p. 451. 5ªed. Malheiros Editores, 1994.

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configurarem improbidade administrativa, tipificam crimes de corrupção ativa e passiva, além de outros também apurados nas investigações. Celso Antônio Bandeira de Mello28, emérito professor de Direito Administrativo, registra que:

"... o princípio da legalidade é o da completa submissão da Administração às leis. Esta deve tão somente obedecê-las, cumpri-las, pô-las em prática. Daí que a atividade de todos os seus agentes, desde o que lhe ocupa a cúspide, isto é, o Presidente da República, até o mais modesto dos servidores, só pode ser a de dóceis, reverentes, obsequiosos cumpridores das disposições gerais fixadas pelo Poder Legislativo, pois esta é a posição que lhes compete no direito brasileiro"

É induvidoso que a conduta de todo agente público29 , deve estribar-se nos termos e limites da lei. O particular pode fazer tudo o que a lei não proíbe; ao administrador, em sentido inverso, apenas é admitido fazer o que a lei expressamente autoriza. No caso vertente, os requeridos, ao contrário, praticaram atos expressamente proibidos por lei, violando os valores fundamentais protegidos pelo Direito Penal. Note-se, outrossim, que o requerido HOMERO BARBOSA NETO, ao se valer de sua função pública para obter vantagens patrimoniais indevidas, não apenas exorbitou suas funções, como, fundamentalmente, traiu a confiança que o eleitor lhe outorgou por intermédio do voto. Este comportamento ímprobo afrontou todos os ditames legais e subverteu os valores consagrados expressa e implicitamente na Constituição Federal que devem nortear toda a ação daqueles que desempenham funções públicas. Além dos comportamentos dos requeridos serem ilegais, também foram ostensivamente imorais, já que em total descompasso com o sentimento médio de justiça, de honestidade e de boa fé exigido pelo senso comum. Não se pode conceber como moral e ético a conduta dos requeridos de aceitarem e receberem, diretamente ou por intermédio de terceiros, vantagens indevidas.

28 Ob. cit., p. 48. 29 Conforme dispõe o art.2º da lei 8.429/92: “Reputa-se agente público para os efeitos desta Lei, todo aquele que exerce, ainda que transitoriamente ou sem remuneração, por eleição nomeação, designação contratação ou qualquer outra forma de investidura ou vínculo, mandato, cargo, emprego ou função nas entidades mencionadas no artigo anterior.”

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Enfatize-se que as assertivas de BRUNO VALVERDE CHAHAIRA, tanto no sentido de que combinou R$ 300.000,00 como pagamento pela contratação do ATLÂNTICO, como de que entregou R$ 20.000,00 a ANA LAURA LINO para permitir tal contratação, sempre intermediado por RUY NOGUEIRA, foram inteiramente corroboradas pelas provas coletadas, sobretudo pelas inquirições de DAVID GARCIA, MÁRCIA BOUNASSAR, WILSON VIEIRA, SÍLVIO LUZ RODRIGUES ALVES, GLÁUCIA CRISTINA CHIARARIA RODRIGUES ALVES, JOÃO SANTINI, JOÃO PAULO REQUETTI DE SOUZA, DANIELA RODRIGUES DE CARVALHO, EGLODIR ELI ALIANO, CRISTIANE SATIE HOSHINO e outros (em menor proporção), além, é claro, de convergir com as declarações de ANA LAURA, prestadas ao GAECO.

Dessa forma, a confissão de BRUNO VALVERDE vem alicerçada em sólido conjunto probatório, que demonstra que a admissão INSTITUTO ATLÂNTICO como parceiro do MUNICÍPIO DE LONDRINA foi fruto de articulação delituosa conduzida por ANA LAURA LINO, atendendo aos comandos de seu marido, o prefeito HOMERO BARBOSA NETO, em troca do pagamento de vantagens indevidas a ambos.

Destaque-se, por outro lado, que há pleno sentido no fato de que os agentes públicos encarregados da escolha do INSTITUTO ATLÂNTICO cobrassem vantagem indevida de BRUNO VALVERDE, visto que foi apurado que as OSCIPs arrecadavam vultosas quantias através da simulação de despesas inexistentes, gerando sobras muito significativas em seu caixa, o que permitia o pagamento de propinas.

Dessa forma, além da ausência do emprego correto das verbas destinadas à saúde pública, contribuindo para a caótica situação desta, o sistema permitia a arrecadação de elevadas somas que, em parte, se destinavam ao pagamento das vantagens solicitadas por agentes públicos para a contratação/pagamento do INSTITUTO ATLÂNTICO.

Tais comportamentos afrontam, inegavelmente, a moralidade administrativa. Emerson Garcia30 delimita, apropriadamente, o princípio da moralidade:

“O princípio da legalidade exige a adequação do ato à lei, enquanto que o da moralidade torna obrigatório que o móvel do agente e o objetivo visado estejam em harmonia com o dever de bem administrar.”

Nesse sentido, leciona Maria Sylvia Zanella Di Pietro31: 30 Ob. cit., p. 75 e 76. 31 Di Pietro, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo, p. 79, 12ª ed. São Paulo, Editora Atlas. 2000.

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“sempre que em matéria administrativa se verificar que o comportamento da Administração ou do administrado que com ela se relaciona juridicamente, embora em consonância com a lei, ofende a moral, os bons costumes, as regras de boa administração, os princípios de justiça e de eqüidade, a idéia comum de honestidade, estará havendo ofensa ao princípio da moralidade administrativa.”

Não se pode conceber como moral a conduta de quem se utiliza de cargo público para enriquecer ilicitamente. Os requeridos agiram conjuntamente, em total desamparo da boa fé e da honestidade que deve pautar, principalmente, o agente público na condução dos negócios da Administração Pública. Ressalte-se, outrossim, que o comportamento dos requeridos agentes públicos, auxiliados pelos terceiros, importou na violação do dever de lealdade à Instituição a que representam. De fato, os requeridos afrontaram os deveres de honestidade, legalidade e lealdade ao Município de Londrina O requerido HOMERO BARBOSA NETO, ainda traiu a confiança que lhe foi depositada pelos munícipes, quando o elegeram como gestor dos interesses públicos do Município de Londrina. Ao discorrer sobre o Princípio da Lealdade às Instituições, Emerson Garcia, ressalta que “O dever de lealdade em muito se aproxima da concepção de boa-fé, indicando a obrigação de o agente: a) trilhar os caminhos traçados pela norma para a consecução do interesse público e b) permanecer ao lado da administração em todas as intempéries.”.. Citando Pedro T Nevado-Batalha Moreno, prossegue o autor, esclarecendo que a lealdade às instituições abrange “... o dever de neutralidade e independência política no desenvolvimento do trabalho; o respeito à dignidade da administração; o respeito ao princípio da igualdade e da não-discriminação; e o respeito aos particulares no exercício de seus direitos e liberdades públicas.”32 Por fim, houve evidente violação do princípio da impessoalidade quando os requeridos favoreceram, indevidamente o INSTITUTO ATLÂNTICO, interferindo, ostensiva e indevidamente em favor dessa OSCIP, em razão das promessas e pagamento de vantagens indevidas estabelecidas entre os agentes públicos e os terceiros que figuram no pólo passivo desta ação. Restou demonstrado que os requeridos afrontaram o princípio da legalidade, da moralidade administrativa, impessoalidade, violando, também, o dever de lealdade ao ente público para o qual exercem suas funções,

32 Ob. cit., p. 291.

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o que consubstancia improbidade administrativa expressamente prevista no artigo 11, “caput” da lei 8.429/92. III.3. Conduta dos requeridos à luz das disposições da Lei nº 8.429/92.

Os requeridos HOMERO BARBOSA NETO, ANA LAURA LINO, FÁBIO PASSOS DE GOES, RUY NOGUEIRA NETTO, RICARDO JOSE DURANTERAMIRES, WILSON VIEIRA, BRUNO VALVERDE CHAHAIRA, além do INSTITUTO ATLÂNTICO, que figuram no pólo passivo desta ação, devem ser responsabilizados, naquilo que lhes couber, por terem contribuído, subjetiva e objetivamente, para a concretização dos atos de improbidade administrativa e deles se beneficiado. Os requeridos que não ocupam cargos púbicos sujeitam-se ás disposições da Lei de Improbidade Administrativa, nos termos do disposto no artigo 3º da Lei 8.429/92. Já o INSTITUTO ATLÂNTICO foi incluído no polo passivo por ter sido beneficiado pela prática de atos de improbidade administrativa descritos nesta ação. Os requeridos tiveram atuação efetiva na consecução dos atos de improbidade descritos nesta inicial. Já se descreveu como os fatos transcorreram. Contudo, visando imputação objetiva e separada a cada um dos requeridos, em resumo, passa-se à descrição de suas condutas da seguinte forma: HOMERO BARBOSA NETO , valendo-se da condição de Prefeito do Município de Londrina, no exercício do mandato que lhe foi outorgado, agindo dolosamente e em concurso com terceiros, praticou atos de improbidade administrativa consistente na aceitação e obtenção de vantagens patrimoniais indevidas, prometidas e pagas por BRUNO VALVERDE CHAHAIRA, para interferir em favor do INSTITUTO ATLÂNTICO.

Há fartas evidências de que o requerido HOMERO BARBOSA NETO, Prefeito do Município de Londrina, na condição de agente público, no exercício e em razão de sua função pública, agindo em concurso com os terceiros ANA LAURA LINO, RUY NOGUEIRA NETTO, RICARDO RAMIRES e BRUNO VALVERDE, aceitou a oferta de BRUNO VALVERDE do pagamento de R$ 300.000,00, como vantagem patrimonial indevida, para que usando de seu poder político administrativo, BARBOSA NETO, interferisse em favor do INSITUTO ATLÂNTICO nas Parcerias buscadas pelo Município para a execução de ações na área de saúde.

Ainda, sob o comando e orientação do Prefeito HOMERO BARBOSA NETO, os requeridos ANA LAURA LINO, FÁBIO GOES, RUY NOGUEIRA e WILSON VIEIRA, articularam e ajustaram com o requerido

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BRUNO VALVERDE, a entrega de R$ 20.000,00, para atender a interesses pessoais do Prefeito BARBOSA NETO, evidenciando-se que o valor pago por BRUNO VALVERDE, a exemplo da quantia de R$ 300.000,00 antes prometida, trata-se de "propina" paga para que o INSTITUTO ATLÂNTICO fosse admitido como parceiro do MUNICÍPIO DE LONDRINA na prestação de serviços de saúde Por tais comportamentos o requerido HOMERO BARBOSA NETO, praticou os atos de improbidade administrativa previstos nos artigos 9 “caput” e inciso I, e art. 11 da lei 8.429/92. ANA LAURA LINO, na condição de terceiro, valendo-se da sua posição privilegiada decorrente do fato de ser mulher do Prefeito Barbosa Neto, agindo dolosamente e em concurso com os demais requeridos, concorreu para a prática dos atos de improbidade administrativa descritos nesta ação, consistentes na aceitação e obtenção de vantagens patrimoniais indevidas em benefício de Barbosa Neto, de Ruy Nogueira, Ricardo Ramires e em seu próprio benefício, prometidas e pagas por BRUNO VALVERDE CHAHAIRA, para interferir em favor do INSTITUTO ATLÂNTICO.

ANA LAURA LINO, em razão da promessa feita por BRUNO VALVERDE CHAHAIRA, de pagamento de vantagem patrimonial indevida no valor de R$ 300.000,00, sob a orientação de Barbosa Neto, usou de toda a sua influência para que o INSTITUTO ATLÂNTICO fosse escolhido nas Parcerias buscadas pelo Município para a execução de ações na área de saúde.

Ainda, sob o comando e orientação do Prefeito HOMERO BARBOSA NETO, a requerida ANA LAURA LINO em conjunto com FÁBIO GOES, RUY NOGUEIRA e WILSON VIEIRA, articularam e ajustaram com o requerido BRUNO VALVERDE, a entrega de R$ 20.000,00, para atender a interesses pessoais do Prefeito BARBOSA NETO, evidenciando-se que o valor pago por BRUNO VALVERDE, a exemplo da quantia de R$ 300.000,00 antes prometida, trata-se de "propina" paga para que o INSTITUTO ATLÂNTICO fosse admitido como parceiro do MUNICÍPIO DE LONDRINA na prestação de serviços de saúde Com tais comportamentos, a requerida ANA LAURA LINO, praticou os atos de improbidade administrativa previstos nos artigos 9 “caput” e inciso I, e art. 11, combinados com art. 3, todos da Lei 8.429/92. RUY NOGUEIRA NETTO, na condição de terceiro, valendo-se da sua posição privilegiada decorrente do fato de ser amigo Prefeito Barbosa Neto e de sua mulher Ana Laura Lino, agindo dolosamente e em concurso com os demais requeridos, concorreu para a prática dos atos de improbidade administrativa descritos nesta ação, consistentes na aceitação e obtenção de vantagens patrimoniais indevidas em benefício de Barbosa Neto, de Ana Laura Lino, Ricardo Ramires e em seu próprio benefício, prometidas e

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pagas por BRUNO VALVERDE CHAHAIRA, para interferir em favor do INSTITUTO ATLÂNTICO.

RUY NOGUEIRA NETTO, em razão da promessa feita por BRUNO VALVERDE CHAHAIRA, de pagamento de vantagem patrimonial indevida no valor de R$ 300.000,00, sob a orientação de Barbosa Neto, atuou intensamente para que o INSITUTO ATLÃNTICO fosse escolhido nas Parcerias buscadas pelo Município para a execução de ações na área de saúde.

Ainda, sob o comando e orientação do Prefeito HOMERO BARBOSA NETO, o requerido RUY NOGUEIRA NETTO, em conjunto com FÁBIO GOES, ANA LAURA LINO e WILSON VIEIRA, articularam e ajustaram com o requerido BRUNO VALVERDE, a entrega de R$ 20.000,00, para atender a interesses pessoais do Prefeito BARBOSA NETO, evidenciando-se que o valor pago por BRUNO VALVERDE, a exemplo da quantia de R$ 300.000,00 antes prometida, trata-se de "propina" paga para que o INSTITUTO ATLÂNTICO fosse admitido como parceiro do MUNICÍPIO DE LONDRINA na prestação de serviços de saúde Com tais comportamentos, o requerido RUY NOGUEIRA NETTO, praticou os atos de improbidade administrativa previstos nos artigos 9º “caput” e inciso I, e art. 11, combinados com art. 3º, todos da Lei 8.429/92. BRUNO VALVERDE CHAHAIRA, na condição de terceiro, representando os interesses da OSCIP Instituto Atlântico, agindo dolosamente e em concurso com os demais requeridos, concorreu para a prática dos atos de improbidade administrativa descritos nesta ação, consistentes na aceitação e obtenção de vantagens patrimoniais indevidas em benefício de Barbosa Neto, de Ana Laura Lino, Ricardo Ramires e Ruy Nogueira Neto, ao prometer e efetivamente pagar vantagens indevidas a agente público e terceiros, para interferirem em favor do INSTITUTO ATLÃNTICO

O requerido BRUNO VALVERDE, em razão de ajustes estabelecidos com os demais requeridos HOMERO BARBOSA NETO, ANA LAURA LINO, RICARDO RAMIRES, RUY NOGUEIRA NETTO, FÁBIO GOES e WILSON VIEIRA, prometeu a entrega do valor de R$ 300.000,00 além de efetivamente pagar o valor de R$ 20.000,00, para atender a interesses pessoais do Prefeito BARBOSA NETO, evidenciando-se que o valor pago por BRUNO VALVERDE, a exemplo da quantia de R$ 300.000,00 antes prometida, trata-se de "propina" paga para que o INSTITUTO ATLÂNTICO fosse admitido como parceiro do MUNICÍPIO DE LONDRINA na prestação de serviços de saúde Com tais comportamentos, o requerido BRUNO VALVERDE CHAHAIRA, praticou os atos de improbidade administrativa

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previstos nos artigos 9º “caput” e inciso I, e art. 11, combinados com art. 3º, todos da Lei 8.429/92. FABIO PASSOS DE GOES, na condição de agente público, valendo-se da sua posição privilegiada de Chefe de gabinete do Prefeito Barbosa Neto, agindo dolosamente e em concurso com os demais requeridos, concorreu para a prática dos atos de improbidade administrativa descritos nesta ação, consistentes na aceitação e obtenção de vantagens patrimoniais indevidas em benefício de Barbosa Neto e de Ana Laura Lino paga por BRUNO VALVERDE CHAHAIRA, para interferir em favor do INSTITUTO ATLÂNTICO.

Sob o comando e orientação do Prefeito HOMERO BARBOSA NETO, o requerido FABIO GOES, em conjunto com RUY NOGUEIRA NETTO, ANA LAURA LINO e WILSON VIEIRA, articularam e ajustaram com o requerido BRUNO VALVERDE, a entrega de R$ 20.000,00, para atender a interesses pessoais do Prefeito BARBOSA NETO, evidenciando-se que o valor pago por BRUNO VALVERDE, a exemplo da quantia de R$ 300.000,00 antes prometida, trata-se de "propina" paga para que o INSTITUTO ATLÂNTICO fosse admitido como parceiro do MUNICÍPIO DE LONDRINA na prestação de serviços de saúde Com tais comportamentos, o requerido FABIO PASSOS DE GOES, praticou os atos de improbidade administrativa previstos nos artigos 9º “caput” e inciso I, e art. 11 da Lei 8.429/92. WILSON VIEIRA, na condição de terceiro, valendo-se da sua proximidade com o Prefeito Barbosa Neto e sua mulher Ana Laura Lino, agindo dolosamente e em concurso com os demais requeridos, concorreu para a prática dos atos de improbidade administrativa descritos nesta ação, consistentes na aceitação e obtenção de vantagens patrimoniais indevidas em benefício de Barbosa Neto e de Ana Laura Lino paga por BRUNO VALVERDE CHAHAIRA, para interferir em favor do INSTITUTO ATLÂNTICO.

Sob o comando e orientação do Prefeito HOMERO BARBOSA NETO, o requerido WILSON VIEIRA, em conjunto com RUY NOGUEIRA NETTO, ANA LAURA LINO e FABIO GOES, articularam e ajustaram com o requerido BRUNO VALVERDE, a entrega de R$ 20.000,00, para atender a interesses pessoais do Prefeito BARBOSA NETO, evidenciando-se que o valor pago por BRUNO VALVERDE, a exemplo da quantia de R$ 300.000,00 antes prometida, trata-se de "propina" paga para que o INSTITUTO ATLÂNTICO fosse admitido como parceiro do MUNICÍPIO DE LONDRINA na prestação de serviços de saúde Com tais comportamentos, o requerido WILSON VIEIRA, praticou os atos de improbidade administrativa previstos nos artigos 9

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“caput” e inciso I, e art. 11, combinados com art. 3,º todos da Lei 8.429/92. RICARDO JOSE DURANTE RAMIRES, na condição de terceiro, agindo dolosamente e em concurso com os demais requeridos, concorreu para a prática dos atos de improbidade administrativa descritos nesta ação, consistentes na aceitação de vantagens patrimoniais indevidas, mediante o pagamento de R$ 300.000,00, ofertados por BRUNO VALVERDE e que reverteriam em benefício de Barbosa Neto, Ana Laura Lino, Ruy Nogueira e do próprio Ricardo Ramires, prometidos por BRUNO VALVERDE CHAHAIRA, para interferir que os demais requeridos interviessem em favor do INSTITUTO ATLÂNTICO.

Com tais comportamentos, o requerido RICARDO JOSE DURANTE RAMIRES, praticou os atos de improbidade administrativa previstos no artigo art. 11, combinado com art. 3º, ambos da Lei 8.429/92. Impõe-se, por fim, a aplicação ao INSTITUTO ATLÂNTICO das sanções que lhe forem cabíveis, previstas nos artigos 12, incisos I e III, da Lei 8.429/92, em razão de ter sido beneficiado pelos atos de improbidade administrativa descritos nesta ação.

IV. PROVIDÊNCIAS CAUTELARES. AFASTAMENTO DO CARGO.

Há muito se discute no direito brasileiro a precariedade dos mecanismos jurídicos destinados a combater os “crimes de colarinho branco”, a corrupção nos altos escalões da Administração Pública e as organizações criminosas que produzem seus efeitos maléficos em todas as áreas de atuação humana onde haja interesse econômico . A sociedade brasileira parecia caminhar indiferente em busca de um futuro cada vez mais incerto, em face da generalizada sensação de disseminação da corrupção, do crime organizado, da violência social, do desemprego, da corrosão do princípio da autoridade, etc. Noções de cidadania, pátria, coisa pública, ética, respeito aos princípios de honestidade e moralidade são facilmente suplantados no cotidiano da vida política pelo ignominioso lema do “rouba, mas faz”. Apesar do absurdo, a mercancia do cargo e as exigências indevidas, para proveito pessoal do agente público, passaram a fazer parte de nosso cotidiano, chegando a ponto de a população ser “achacada”, por aqueles que deveriam, pelo poder que lhes foi outorgado através do voto, representar os interesses gerais da comunidade.

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Contudo, um novo alento tomou conta da sociedade brasileira com a edição da Lei 8.429/92, a qual cuidou de regulamentar as sanções aplicáveis aos agentes públicos nos casos de improbidade administrativa, dando concretude à norma constitucional (art. 37, § 4º, e 15, V da CF). Embora com falhas técnicas, sem dúvida alguma a Lei de Improbidade passou a tornar possível questionar, juridicamente, a atuação do Agente Público ímprobo, fornecendo, principalmente ao Ministério Público e ao Poder Judidiário, o instrumental necessário à promoção de medidas assecuratórias da tutela, tais como bloqueio de contas, indisponibilidade de bens, afastamento do cargo, etc. Após séculos de luta, inseriu-se no ordenamento jurídico princípios destinados a evitar a costumeira confusão entre os interesses particulares do detentor do poder e os interesses da sociedade, distinguindo a vontade da lei da vontade do “príncipe”. Portanto, exercer qualquer função pública passou a significar, acima de tudo, servir, administrar, dirigir ações, regular atividades sob a inspiração de um ordenamento jurídico democrático e, em última instância, sob a vontade do verdadeiro detentor do Poder, no caso, o povo. O exercício de qualquer função pública tornou-se atividade de quem não é senhor absoluto, transformando o administrado r em “curador de interesses coletivos” 33, sujeitando-o à sanções ou punições pelos abusos, erros ou omissões praticadas no exercício da função administrativa. Os fatos acima descritos evidenciam que o requerido HOMERO BARBOSA NETO, valendo-se da condição de Prefeito do Município de Londrina, no exercício do mandato que lhe foi outorgado, agindo em concurso com os terceiros, praticou atos de improbidade administrativa consistente na aceitação e obtenção de vantagens patrimoniais indevidas, para interferir em favor do INSTITUTO ATLÃNTICO, cujo representante, BRUNO VALVERDE, movido por razões escusas, almejava estabelecer Parcerias com o Município de Londrina, para a execução de Programas na área da saúde.

Há provas inequívocas nos autos de que, sob o comando e orientação do Prefeito HOMERO BARBOSA NETO, os requeridos ANA LAURA LINO, FÁBIO GOES, RUY NOGUEIRA e WILSON VIEIRA, articularam e ajustaram com o requerido BRUNO VALVERDE, a entrega de R$ 20.000,00, para atender a interesses pessoais do Prefeito BARBOSA NETO, evidenciando-se que o valor pago por BRUNO VALVERDE, trata-se de "propina"

33 Florivaldo Dutra de Araújo, Motivação e Controle do Ato Administrativo, p. 47, 1992.

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paga para que o INSTITUTO ATLÂNTICO fosse admitido como parceiro do MUNICÍPIO DE LONDRINA na prestação de serviços de saúde Portanto, os requeridos HOMERO BARBOSA NETO e FÁBIO GOES, na condição de agentes públicos, agindo com identidade de propósitos e em divisão de tarefas com os terceiros ANA LAURA LINO, RUY NOGUEIRA NETTO e WILSON VIEIRA praticaram ato de improbidade administrativa que ensejou o enriquecimento ilícito do requerido HOMERO BARBOSA NETTO, no valor de R$ 20.000,00 (vinte mil reais). O requerido HOMERO BARBOSA NETO, usou de seu cargo e o poder a ele inerente, para promover e possibilitar o seu próprio enriquecimento, por meio de conduta atentatória aos princípios que norteiam a administração pública, violando os deveres de honestidade, imparcialidade, de legalidade e de lealdade, agindo, na verdade, com o descarado propósito de utilizar o cargo que ocupavam para a obtenção de vantagem patrimonial indevida. Igual comportamento negativo foi praticado por FÁBIO GOES, no exercício de sua função de chefe de gabinete. De efeito, ao invés de praticar atos de ofício, para consecução de interesse público para o qual foi nomeado, realizou reuniões, acertos, no seu gabinete, para levantar valores ilícitos a favor de BARBOSA NETO, atendendo aos comandos da primeira dama, ANA LAURA. Certamente, o afastamento prefeito BARBOSA NETO deve, necessariamente, implicar no afastamento de FÁBIO GOES, já que se trata de seu homem de confiança do prefeito, certamente escolhido para praticar, em concurso com ANA LAURA e outras pessoas referidas nesta ação, atos de improbidade administrativa (e delituosos) descritos nesta ação. Sua manutenção no cargo de chefe de Gabinete, com outro agente público à frente da chefia do Município, certamente propiciará a BARBOSA NETO ambiente propício para manter sua influência negativa na Administração Pública Municipal. Por situações como essa, o atual legislador procurou modificar um histórico de absoluta impunidade em relação “aos grandes ladrões” que não roubam um homem, mas “roubam cidades e reinos”, isto é, os agentes públicos que se valem de seus cargos para enriquecimento pessoal, editando a Lei 8.429/92, que disciplina as sanções aplicáveis aos casos de IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. O Legislador ordinário, portanto, conferiu ao magistrado importante instrumento de operacionalidade do direito, ao admitir que o Órgão Jurisdicional determine o afastamento do agente público do exercício de seu cargo, sem prejuízo de sua remuneração, quando a medida se

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fizer necessária à instrução processual. Assim, dispõe o art. 20, parágrafo único, que:

Art. 20: “A autoridade judicial ou administrativa competente poderá determinar o afastamento do agente público do exercício do cargo, emprego ou função, sem prejuízo da remuneração, quando a medida se fizer necessária à instrução processual”34.

Este dispositivo de natureza cautelar exige a concorrência do fumus boni juris e o periculum in mora como pressupostos legais que condicionam o afastamento do agente do cargo público. Não se diga que não se deve permitir que um agente público receba remuneração sem a devida contraprestação, sobretudo porque é a própria coletividade que arca com este aparente prejuízo. Fala-se em prejuízo aparente porque o Estado, por intermédio de seus Órgãos/Funções (legislativa, executiva e jurisdicional), não pode permitir que qualquer funcionário desempenhe função pública quando há séria e fundada demonstração de que violaram, exatamente no exercício de seu cargo, os valores mais importantes que o direito visa tutelar. Há, em verdade e essência, verdadeiro lucro ao homem de bem, na exata medida em que poderá confiar nos agentes públicos e não ser traído por eles.

Na hipótese sub judice, há fartas evidências de que o

requerido HOMERO BARBOSA NETO, Prefeito do Município de Londrina, na condição de agente público, no exercício e em razão de sua função pública, agindo em concurso com os terceiros ANA LAURA LINO, RUY NOGUEIRA NETTO, RICARDO RAMIRES e BRUNO VALVERDE, aceitou a oferta de BRUNO VALVERDE do pagamento de R$ 300.000,00, como vantagem patrimonial indevida, para que usando de seu poder político/administrativo, BARBOSA NETO, interferisse em favor do INSITUTO ATLÃNTICO nas Parcerias buscadas pelo Município para a execução de ações na área de saúde, em clara afronta aos princípios que regem a administração pública.

Outrossim, há provas inequívocas de que, sob o comando e orientação do Prefeito HOMERO BARBOSA NETO, os requeridos ANA LAURA LINO, FÁBIO GOES, RUY NOGUEIRA e WILSON VIEIRA, articularam e ajustaram com o requerido BRUNO VALVERDE, a entrega de R$ 20.000,00, para atender a interesses pessoais do Prefeito BARBOSA NETO, evidenciando-se que o valor pago por BRUNO VALVERDE, a exemplo da quantia de R$ 300.000,00 antes prometida, tratava-se de "propina" paga para

34 Destaque nosso.

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que o INSTITUTO ATLÂNTICO fosse admitido como parceiro do MUNICÍPIO DE LONDRINA na prestação de serviços de saúde.

Enfatize-se que ao longo das investigações o requerido BRUNO VALVERDE CHAHAIRA admitiu todos os fatos ilícitos descritos nesta ação, sendo as suas assertivas tanto no sentido de que combinou R$ 300.000,00 como pagamento pela contratação do ATLÂNTICO, como de que entregou R$ 20.000,00 a ANA LAURA LINO para permitir tal contratação, sempre intermediado por RUY NOGUEIRA, foram inteiramente corroboradas pelas provas coletadas, sobretudo pelas inquirições de DAVID GARCIA, MÁRCIA BOUNASSAR, WILSON VIEIRA, SÍLVIO LUZ RODRIGUES ALVES, GLÁUCIA CRISTINA CHIARARIA RODRIGUES ALVES, JOÃO SANTINI, JOÃO PAULO REQUETTI DE SOUZA, DANIELA RODRIGUES DE CARVALHO, EGLODIR ELI ALIANO, CRISTIANE SATIE HOSHINO e outros (em menor proporção).

Dessa forma, a confissão de BRUNO VALVERDE vem alicerçada em sólido conjunto probatório, que demonstra que a admissão INSTITUTO ATLÂNTICO como parceiro do MUNICÍPIO DE LONDRINA foi fruto de articulação delituosa conduzida por ANA LAURA LINO, atendendo aos comandos de seu marido, o prefeito HOMERO BARBOSA NETO, em troca do pagamento de vantagens indevidas a ambos.

Destaque-se, por outro lado, que há pleno sentido no fato de que os agentes públicos encarregados da escolha do INSTITUTO ATLÂNTICO cobrassem vantagem indevida de BRUNO VALVERDE, visto que foi apurado que as OSCIPs arrecadavam vultosas quantias através da simulação de despesas inexistentes, gerando sobras muito significativas em seu caixa, o que permitia o pagamento de propinas.

Relembre-se, a propósito, que RUY NOGUEIRA, mesmo antes da contratação do ATLÂNTICO, já fazia projeções a respeito dos “lucros” que poderiam ser gerados com a parceria. Segundo BRUNO VALVERDE:

“... nessas conversas com RUI NOGUEIRA, este já apresentava cálculos a respeito dos rendimentos que o INSTITUTO ATLÂNTICO poderia auferir se pegasse todos os serviços de saúde que anteriormente eram do CIAP; que RUI estimava que, caso não houvesse o recolhimento de encargos trabalhistas e tributos, esses termos de parceria que antes eram do CIAP poderiam render, de lucro, para o ATLÂNTICO, em torno de R$ 600.000,00 por mês; que RUI NOGUEIRA acrescentava que se conseguisse todos os termos de parceria que eram do CIAP par o ATLÂNTICO, o declarante teria que dar R$ 300.000,00 para algumas pessoas, em virtude da ajuda que tais pessoas iriam dar para a contratação do ATLÂNTICO;

Concretamente, BRUNO VALVERDE levou adiante

toda a idealização de RUY NOGUEIRA e, de fato, fez com que “sobrassem” recursos em sua mão, através da simulação de despesas com base na

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obtenção de notas fiscais fraudulentas (referentes a serviços/equipamentos inexistentes ou superfaturados).

Assim, criou-se o círculo vicioso, cujos maiores danos

são evidentes: a saúde pública em Londrina tornou-se praticamente caótica. Isto porque os recursos públicos destinados aos serviços de saúde não eram adequadamente prestados, exatamente porque grande parte do dinheiro já era destinada a pagar vantagem indevida aos agentes públicos (além, é claro, do enriquecimento ilícito dos proprietários das OSCIPs).

Portanto, as propinas solicitadas por agentes públicos

para permitir a contratação e pagamento das OSCIPs criaram e estimularam a manutenção de um terrível sistema, por meio do qual o dinheiro público obrigatoriamente tinha que ser retirado de seu destino final – a saúde da população – a fim de alimentar a ânsia de enriquecimento ilícito.

O requerido HOMERO BARBOSA NETO, agindo em conluio e com a colaboração dos demais requeridos, notadamente sua mulher ANS LAURA LINO, ao ajustar que o INSTITUTO ATLÂNTICO deveria pagar (ao menos) as quantias de R$ 300.000,00 (trezentos mil reais) e R$ 20.000,00 (vinte mil reais), esta última efetivamente entregue, instantaneamente autorizou, tácita e obrigatoriamente que BRUNO VALVERDE se apropriasse de parte dos pagamentos repassados para os serviços de saúde com o fim de suportar o ônus de tais pagamentos. O comando impingido foi, inequivocamente, o seguinte: pague a nossa vantagem e retire do dinheiro a ser empregado na saúde.

Não fosse assim, por qual razão BRUNO VALVERDE pagaria propina? E de onde tiraria o dinheiro? Registre-se que os ajustes de pagamentos de vantagens patrimoniais indevidas a agentes públicos e terceiros descritos nesta ação, constituiu uma pequena parcela da rede de corrupção que os Institutos Gálatas e Atlântico, implantaram, nos poucos meses que atuaram na execução das Parcerias com o Poder Público.

Saliente-se, que as diligências encetadas no curso das investigações resultaram na prisão de mais de vinte pessoas, dentre os quais, o Procurador-Geral do Município de Londrina.

As OSCIPs que até hoje foram contratadas pelo MUNICÍPIO DE LONDRINA (incluindo o CIAP) sem dúvida constituem fonte geradora de corrupção e da corrosão dos serviços de saúde. Inexplicavelmente (ou melhor, bastante explicavelmente diante do quadro probatório) os administradores públicos abandonaram a opção de prestação direta pela municipalidade de tais serviços, encarecendo e piorando significativamente a saúde pública. E os órgãos de controle municipal simplesmente se curvaram a isso, sem a menor reação efetiva.

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Reitere-se que há inegável comprovação de simulação de despesas, valendo averbar alguns registros a respeito.

O próprio BRUNO VALVERDE CHAHAIRA confessou vários fatos de utilização de notas superfaturadas ou inteiramente forjadas para simular despesas, o que gerou a obtenção de recursos para seu próprio enriquecimento e para o pagamento das vantagens indevidas convencionadas com vários agentes públicos. Dentre elas, BRUNO refere notas fiscais das empresas SYSTEC, INJENOVAS, MEDWORk, BV CONSULTORIA, MARTINS ASSESSORIA EMPRESARIAL e outras:

O sistema de simulação de despesas para apropriação do dinheiro público, parcialmente confessado por BRUNO VALVERDE, é corroborado pelo testemunho da ex-secretária DANIELA RODRIGUES DE CARVALHO, THIAGO CESAR MARCELLO, EGLODIR ELI ALIANO, WAGNER CECÍLIO DA SILVA (DOC.11,14,15,21, 25 e 23.)

Tais declarações constituem mero exemplo, portanto,

de que o INSTITUTO ATLÂNTICO de fato arrecadava vultosas quantias mensalmente por meio do sistema de simulação de despesas, fundado em notas fiscais fraudulentas (seja por inexistência absoluta dos serviços/produtos constantes nas notas, seja pelo superfaturamento dos valores).

Dessa forma, além da ausência do emprego correto

das verbas destinadas à saúde pública, contribuindo para a caótica situação desta, o sistema permitia a arrecadação de elevadas somas que, em parte, se destinavam ao pagamento das vantagens solicitadas por agentes públicos para a contratação/pagamento do INSTITUTO ATLÂNTICO. Presente, assim, o fumus boni juris. Por outro lado, o periculum in mora também está evidenciado, na medida em que a permanência do requerido HOMERO BARBOSA NETO no cargo de Prefeito do Município de Londrina, representa sério risco aos interesses da população de Londrina e para a instrução processual. Por extensão, não é crível permitir a manutenção de seu “homem de confiança”, chefe de gabinete FABIO GOES, já que foi utilizado por BARBOSA NETO, e sua esposa, para participar ativamente da prática dos atos ímprobos descritos nesta ação. O processo, ao mesmo tempo em que se trata de instrumento apto a operacionalizar o direito material, conferindo ao indivíduo as garantias inerentes ao devido processo legal, tem que propiciar à coletividade um substrato de segurança, ainda que mínimo, de que o sujeito integrado no pólo passivo da relação jurídica processual não continuará a praticar idênticos fatos delituosos (e, também, ímprobos) que ensejaram sua sujeição ao processo.

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Estas considerações são ainda mais agravadas, quando o requerido é o agente público que ocupa o cargo mais elevado da administração pública municipal, e cuja missão funcional é a gestão de todos os interesses do Município de Londrina. A manutenção do requerido no cargo público representa real comprometimento para a instrução processual, à vista da notória influência que o poder da autoridade encerra: o metus publicae potestatis consubstancia-se no poder que emana da autoridade do cargo, cuja influência deita suas raízes sobre testemunhas, quer manipulando-as, quer molestando-as, aliada às facilidades advindas do livre acesso aos documentos necessários ao esclarecimento dos fatos, impedindo a lisura e celeridade na apuração das irregularidades perpetradas no exercício funcional. De outra banda, resta evidente que, em se tratando de fato que enseja sanções tão graves como as previstas na Lei de Improbidade Administrativa (na hipótese, pede-se a perda da função pública), independentemente das sanções penais, a segurança de eventuais testemunhas nesta ação encontra-se seriamente ameaçada, o que virá a prejudicar a instrução processual.

Registre-se que já durante já no curso das investigações, o requerido HOMERO BARBOSA NETO, tentou dissimular o seu envolvimento com os fatos, produzindo toda sorte de informações e contra-informações para afastar de si a responsabilidade da escolha do ATLÂNTICO, obviamente buscando evitar as responsabilidades daí decorrentes.

Sobretudo após a operação ANTISSEPSIA, em

10/05/2011, as preocupações de BARBOSA NETO cresceram muito, porquanto sabedor dos rastros deixados por sua mulher, ANA LAURA LINO, na negociação com o INSTITUTO ATLÂNTICO. A busca por atribuir aos conselheiros MARCOS RATTO e JOEL TADEU CORREA a escolha do ATLÂNTICO (o que é obviamente falso, já que tais conselheiros defendiam apenas o GÁLATAS e porque nem tinham qualquer poder de decisão), a instauração de sindicância e afastamento da servidora FLAIDA CRISTINA FAVARETTO DOS SANTOS e a negativa pública de qualquer ingerência de sua mulher (várias entrevistas afirmando tal fato), não passam, pelo que consta dos autos, de tentativa de evitar a elucidação de seu concurso para todos os fatos. Por outro lado, o afastamento, ainda que os requeridos não tivessem a propensão de “subornar” ou a ameaçar testemunhas, vítimas ou mesmo tumultuar o processo, é perfeitamente possível e recomendável, sobretudo pela importância do cargo que ocupa. A medida mostra-se perfeitamente cabível quando o agente público porta-se de tal modo que induz à presunção de que,

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permanecendo em seu cargo, poder-se-á acarretar novos danos ao ente público e à sociedade durante o processo, ainda que este esteja fartamente instruído. Se esses novos danos puderem ser enquadrados no objeto da demanda, “ vale dizer, consubstanciando reiteração de atos cuja repressão já se ambicionava no próprio processo, parece razoável sustentar que a instrução processual se estenderia a essa hipótese e, por conseguinte, também o alcance do art. 20, parágrafo único, da Lei número 8.429/92”35. A manutenção do representante do povo no exercício funcional, deslustrando as altas responsabilidades que lhe foram confiadas, gera na coletividade sentimentos de abandono e insegurança, de descrédito nas autoridades, de desorganização social e, em suma, de instabilidade de todas as instituições. A ninguém ocorreria negar, em casos tais, enorme e autêntico desapontamento da comunidade, frustrada em suas justas expectativas de possuir uma Câmara de Vereadores que antes de impor normas de conduta aos cidadãos, se pauta pelo estrito respeito à moralidade e à legalidade (CF, art. 37). Se é certo que o requerido alcançou por meio do sufrágio o cargo público de Prefeito do Município de Londrina, não é menos certo que a assunção a referidos cargos teve como condição necessária o seu exercício com honestidade, probidade, moralidade e responsabilidade. Daí porque inexiste qualquer direito adquirido ao exercício do cargo quando não observados pelo agente público ímprobo princípios intrínsecos ao desempenho de suas funções públicas.

Toda a sociedade pode assistir ao fato de que o CIAP havia desviado milhões de recursos públicos país afora, especialmente em Londrina. Há, inclusive, numerosos boatos de favorecimento a agentes públicos locais. A substituição do CIAP, tardiamente providenciada pela Administração de BARBOSA NETO, projetava a possibilidade de que fosse um importante canal de arrecadação de dinheiro público. Bastava colocar as pessoas certas no local certo.

Nada melhor, portanto, que um aventureiro como BRUNO VALVERDE CHAHAIRA, disposto a tudo para enriquecer rapidamente. Com uma OSCIP sem qualquer tradição, BRUNO VALVERDE surgiu como a possibilidade que ANA LAURA LINO e BARBOSA NETO esperavam para arrecadar.

Por seu turno, BRUNO VALVERDE espertamente buscou um interlocutor com forte influência sobre BARBOSA NETO, capaz de estabelecer negociação que levasse à contratação do ATLÂNTICO. Esse interlocutor é RUY NOGUEIRA NETO, publicitário (ou lobista) que atuou em parte da campanha de BARBOSA NETO à Prefeitura, que tinha forte aproximação com o próprio prefeito e com sua mulher ANA LAURA LINO.

35 Ob. Cit. Págs. 242/243.

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Residente em São Paulo, onde possui uma empresa sem nenhuma estrutura – a SAPUCAHY, RUY NOGUEIRA veio a Londrina com um único propósito: conseguir a contratação do ATLÂNTICO pelo Município de Londrina. As negociatas de RUY NOGUEIRA com ANA LAURA LINO e BARBOSA NETO surtiram efeito, tanto que, como visto acima, em pouquíssimos dias o INSTITUTO ATLÂNTICO, totalmente desconhecido e não recomendado até então (vide ata do Conselho, de 29/11/2010), obteve um contrato milionário com o MUNICÍPIO DE LONDRINA (assinado em 08/11/2010). O guardião da Constituição Federal é o Poder Judiciário, o qual, frise-se, tem se esmerado em decisões firmes, justas, imparciais e que visam o bem comum. A sociedade, por sua vez, está a exigir rigorosa e responsável punição dos agentes públicos contumazes na prática de atos de improbidade, notadamente aqueles vinculados à área policial. O Poder Judiciário, felizmente, tem-se mostrado sensível à inquietude popular. Nessa perspectiva, o que se espera, para a própria salvaguarda da Justiça e a credibilidade que os cidadãos nela depositam, assegurando a confiabilidade nas instituições e no sistema, é que o Prefeito HOMERO BARBOSA NETO, seja, imediatamente, afastado do cargo, assim como seu chefe de gabinete, FÁBIO GOES, eliminando os riscos antes expostos e sacramentando a total intolerância com a corrupção (termo ora usado em sentido lato) e com as infindáveis mazelas que dela resultam. Acrescente-se, ademais, outro fundamento não menos importante, para se deferir o afastamento liminar de BARBOSA NETO e FABIO GOES (periculum in mora). De efeito, uma série de documentos estão sendo analisados pela Controladoria Do Município, documentos estes que possibilitarão individualizar comportamentos de agentes públicos municipais, assim como aferir, objetivamente, a extensão do dano ocasionado aos cofres públicos, já que se conferiu ao setor competente do Município de Londrina (Controladoria), que efetivasse uma análise contábil de todas as prestações de contas efetivadas pelos INSTITUTOS GÁLATAS e ATLÂNTICO, o que propiciará, ao final, a aferição dos danos ocasionados aos cofres públicos Municipais, impondo-se, aos eventuais responsáveis, o dever de ressarcimento. Portanto, a manutenção do prefeito Municipal, BARBOSA NETO, assim como de sua longa manus – Chefe de Gabinete FÁBIO GOES, poderá ser absolutamente nefasta ao andamento célere e indepentedente, das conclusões a serem apresentadas pela Contoradoria Municipal. Ademais, a saúde de Londrina encontra-se em total caos36, quer por falta de médicos e atendentes no Município de Londrina, quer porque a dengue transformou-se em verdadeira epidemia, em que os órgãos de controle não conseguem, a um só tempo, combater as causas e minimizar seus

36 Observe-se as notícias a respeito, na mídia DOC..27

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efeitos, conforme demonstram as informações oriundas da Promotoria de Saúde Pública, que culminou inclusive com a expedição de recomendações administrativas (DOC.26). É induvidoso que, entre as causas deste caos na saúde pública do Município de Londrina, está a opção administrativa de BARBOSA NETO de insistir na terceirização da saúde, certamente porque lhe permite a manipulação das verbas, com o respectivo fomento dos fatos ora descritos nesta ação, para seu enriquecimento ilícito e de seus asseclas. Por todos esses elementos, resta clara a presença do fumus boni iuris e periculum in mora, que consistem, no dizer de Wilard de Castro Vilar, "no juízo de probabilidade e verossimilhança do direito cautelar a ser acertado e o provável perigo de dano possível ao direito pedido no processo principal".37 No caso em exame, não resta qualquer dúvida quanto a possibilidade ou probabilidade do direito alegado, pois a ilegalidade resta comprovada pela documentação apresentada. Sobre o periculum in mora, escreve Orlando Assis Corrêa que "a atividade cautelar foi preordenada para evitar que o dano oriundo da inobservância do direito fosse agravado pelo inevitável retardamento do remédio jurisdicional".38 O devido processo legal, garantindo a aplicação da lei, a par de garantia do réu, também representa garantia para a sociedade, no sentido de que, estando a lei ameaçada de não ser aplicada em razão da atuação do réu, o afastamento cautelar, previsto no ordenamento jurídico deve ser decretado. O Tribunal de Justiça já decidiu, em caso envolvendo o afastamento de servidor público - no caso fiscal da Receita Estadual - por ato administrativo, que não constitui o afastamento sanção antecipada e que visa “impedir que o funcionário afastado possa influir perturbadoramente na apuração dos fatos”39. Mutatis mutandis, a fundamentação utilizada é perfeitamente aplicável ao presente caso. Mesmo que o afastamento solicitado seja judicial - e não administrativo - a finalidade é a mesma, possibilitar a apuração dos fatos, garantir a instrução processual, com a agravante de que a influência que o Prefeito pode exercer na apuração dos fatos, no que tange à testemunha, manipulação de informações, pressão política, é muito maior que a possivelmente exercida por um fiscal da Receita Estadual. A jurisprudência, em inúmeras oportunidades, já se pronunciou favoravelmente ao afastamento provisório do agente público, in verbis:

37 In, Medidas Cautelares, RT, São Paulo, p. 59. 38 In, Processo Cautelar e Sustação de Protesto, Aide, 4ª ed., p. 16. 39 Ac. 1779 - 2º Gr. Câmara Cível, TJ/PR, Mand. Seg. nº 16.201-4, rel. Des. Oswaldo Espíndola.

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– AÇÃO CIVIL PÚBLICA – IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA – VEREADORES E SERVIDORES DE CÂMARA MUNICIPAL – LIMINAR – AFASTAMENTO DOS CARGOS E QUEBRA DOS SIGILOS BANCÁRIO E FISCAL – LEGALIDADE – AGRAVO DE INSTRUMENTO IMPROVIDO – Havendo fundadas suspeitas da existência de ilicitudes praticadas por vereador e servidores de Câmara Municipal, a caracterizar atos da improbidade administrativa, pode o juiz, se a instrução processual assim recomendar, afastá-los do exercício do cargo, com quebra de seus sigilos bancário e fiscal, sem que, com isso, haja esgarçamento aos princípios constitucionais insculpidos no art. 5º, LV e LVII. (TJMT – AI 11.195 – Classe II – 15 – Juína – 1ª C.Cív. – Rel. Des. Orlando de Almeida Perri – J. 08.05.2000)

AGRAVO DE INSTRUMENTO – AÇÃO CIVIL PÚBLICA – LIMINAR DE AFASTAMENTO DO PREFEITO MUNICIPAL DO CARGO E INDISPONIBILIDADE DE SEUS BENS – ARTS. 16 E 20, PARÁGRAFO ÚNICO, DA LEI Nº 8.429/92 E 12, DA LEI Nº 7.347/85 – INSTRUÇÃO PROCESSUAL – RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO PARA LIMITAR A RESTRIÇÃO PATRIMONIAL AO VALOR DO DESVIO QUE SE IMPUTA AO ALCAIDE – “para a condução imparcial da coleta de provas na instrução processual relativas a eventuais crimes de improbidade administrativa (Lei nº 8.429/92), é imperioso o afastamento do prefeito de suas funções, nos termos do art. 20 do referido diploma legal” (STJ, MC nº 1730, Rel. Min. Jorge Scartezzini). “a indisponibilidade patrimonial, na ação civil pública para ressarcimento de dano ao erário deve atingir bens na medida em que bastam à garantia da indenização” (STJ, RESP. Nº 226.863-0, Rel. Min. Humberto Gomes de barros). (TJSC – AI 00.008236-8 – 4ª C.Cív. – Rel. Des. Alcides Aguiar – J. 21.11.2000).

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AGRAVO DE INSTRUMENTO Nº 149.739-6, DE TELÊMACO BORBA VARA CÍVEL AGRAVANTE: NEZIAS TRINDADE DA SILVA AGRAVADO: MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ RELATORA: DESª REGINA AFONSO PORTES. AGRAVO DE INSTRUMENTO MEDIDA CAUTELAR DE NATUREZA PREPARATÓRIA PRÁTICA DE SUPOSTA IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA IMPUTADA A VEREADORES CONCESSÃO DE LIMINAR DE INDISPONIBILIDADE DE BENS, QUEBRA DO SIGILO BANCÁRIO E FISCAL, CUMULADA COM PEDIDO DE AFASTAMENTO DO CARGO POSSIBILIDADE PERICULUM IN MORA E FUMUS BONI JURIS CARACTERIZADOS INEXISTÊNCIA DE AFRONTA AOS PRINCÍPIOS DO CONTRADITÓRIO E DA AMPLA DEFESA DECISÃO MANTIDA RECURSO DESPROVIDO. ...É perfeitamente cabível a concessão de liminar em medida cautelar de natureza preparatória, ajuizada em face de Vereador do Município de Telêmaco Borba, visando a indisponibilidade de seus bens, a quebra do sigilo bancário e fiscal e o pedido de afastamento do cargo, com o intuito de garantir que o erário público venha a sofrer eventuais prejuízos, bem como a sonegação ou destruição de provas, em especial quando presentes os requisitos da verossimilhança e o perigo de difícil ou incerta reparação. ...Com relação ao afastamento do agravante do cargo de Vereador, tal medida se mostra de todo necessária, tendo-se em conta que, como bem ponderou a digna Juíza monocrática, caso não haja este afastamento, o agravante continuará a ter acesso pleno a todos os documentos e dados constantes do arquivo da Câmara de Vereadores, podendo impedir (e até mesmo impossibilitar) a produção de determinadas provas na ação civil pública a ser ajuizada. Assim, necessário ter-se em conta que tal ato não se mostra ilegal, principalmente porque o agravante não terá prejuízo de seus

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vencimentos durante o período em que ficar afastado.”

Ressalte-se, outrossim, que além dos fundamentos ora apresentados como sustentação do afastamento cautelar dos requeridos BARBOSA NETO e FÁBIO GOES, fundado no art. 20 da Lei de Improbidade Administrativa, há outro, não menos importante, que merece especial atenção deste juízo. Materializa-se no poder geral de cautela, inerente à função jurisdicional, que permite que o magistrado, à vista de determinados pressupostos, afastar o agente público de sua função, quando se constata uma notória afronta à ordem pública, comprometendo , de forma ampla, os supremos objetivos do Estado no “seu papel na preservação da le i pela obediência e restauração da le i por imposição coerci t iva40. É plenamente legítimo que o Poder Judiciário, dentro do espectro de competência conferida pelas disposições contidas no Código de Processo Civil (art. 798), além, é claro, do princípio da inafastabilidade da jurisdição garantido pelo art. 5º inciso XXXV da Constituição Federal, acolha o pedido de afastamento dos requeridos Esta orientação foi, de forma unânime, acolhida no XVIII Congresso Nacional do Ministério Público, realizado nos dias 25 a 28 de novembro de 2009, em Florianópolis, por intermédio da tese “Ato de improbidade Administrativa – afastamento do agente público – poder geral de cautela”, elaborada pelo Procurador de Justiça Antônio Winkert de Souza e Promotor de Justiça Mateus Eduardo Siqueira Nunes Bertoncini. Registre-se, a propósito, importantes trechos da tese sustentada pelos agentes do Ministério Público Paranaense:

“Evidentemente, em face de tão re levante tema, ao estabelecer os provimentos caute lares específ icos ( ind isponib i l idade de bens, ar t . 7º , sequest ro, ar t . 16 e afastamento, ar t . 20, parágrafo único) , a Lei da Improbidade Adminis t rat iva não afasta a viab i l idade de se manejar out ras medidas caute lares a f im de assegurar a efet iv idade do processo. A in f in idade de h ipóteses que podem ocorrer na prestação jur isd ic ional torna impossíve l a previsão exaust iva de todas as caute las. O caso concreto oferecerá os ingredientes permiss ivos ao manejo de caute lares out ras, não previs tas na Lei 8.429/92. O pr incíp io da inafastabi l idade da jur isd ição (ar t . 5º XXXV da Const i tu ição Federal ) há de acolher, por óbvio, eventual p le i to caute lar at íp ico.

40 FAGUNDES, Miguel SEABRA. In Direito Administrativa da Ordem Pública. Rio de Janeiro: Forense,1986, apresentação.

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Nos termos do ar t . 798 do Código de Processo Civi l , havendo, pois , o fundado receio de lesão grave e de d i f ic i l reparação, v iável será a concessão de medida caute lar . Não se desconhece, também, que as caute lares at íp icas são recomendadas em casos especia is . Na espécie sob exame, avul ta a necessidade de proteção a valores de ordem imater ia l : lesão à ordem públ ica sob o inf luxo de conduta que fere o pr incíp io da moral idade adminis t rat iva. Claro que a afer ição da lesão passa pelo ju ízo de valor que leva em conta e lementos de qual idade e extensão objet ivamente imensuráveis . O caso concreto, mercê de sua gravidade, da extensão do dano mater ia l (com repercussão no dano moral) , f rente à ind ignação da soc iedade, e lementos sól idos de prova mater ia l do desv io ou enr iquecimento i l íc i to e da autor ia da improbidade a l iado às regras da exper iênc ia comum(art . 335 do CPC) , e na medida da responsabi l idade de gestão de cada um, t raçará o quadro apto a just i f icar a medida” .

. . . . . “Cabe destacar , por oportuno, que “ também o “per icu lum in mora” pode refer i r -se não só a in teresses ou d i re i tos com conteúdo econômico, mas também àqueles sem essa conotação. A expressão é aber ta e comporta ampla margem de in terpretação”41

. . . “Lançando mão das regras da exper iênc ia comum, levando em conta o “modus operandi ” e ava l iando a repercussão maléf ica do ato ímprobo na soc iedade, poderá o Juiz, com a magna tarefa de s indicar os desmandos adminis t rat ivos, aqui la tar o per igo da lesão à ordem públ ica. Não raro, a manutenção do ímprobo d iante desse quadro, af ronta à ordem públ ica, infundindo no c idadão o descrédi to, a conf iança e propic iando ambiente propíc io ao desrespei to ao impér io da le i . A sua permanência, pois, na função, por suas pecul iar idades, u lcera o pr incíp io da moral idade, pr incíp io matr iz que deve reger a adminis t ração públ ica como um todo. Na verdade, sendo sua permanência uma imoral idade, s igni f ica d izer que, pelo menos, neste aspecto, perdura o i l íc i to . É de se ter em mente que o Min is tér io Públ ico, ou a ent idade públ ica lesada, ao ac ionar o Judic iár io busca,concomitante ao ressarc imento do dano causado, a imposição das demais sanções previs tas na Lei nº 8.429/92, e também, é c laro, à remoção completa do i l íc i to ( inc lu indo assepsia moral) . Ass im, se ja porque, em razão das c i rcunstâncias que cercam o contexto (bur la da conf iança e fa l ta de escrúpulo) , pers is te justo

41 José Roberto dos Santos Bedaque, in Improbidade Administrativa (questões polêmicas e atuais), Malheiros, 2003, pág.299.

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receio de que a prát ica possa ser re i terada ou seja porque perdura uma s i tuação de imoral idade com a permanência do agente na função públ ica,perfe i tamente just i f icável revela-se que ju lgador , u t i l izando-se do inest imável va lor do poder gera l de caute la (ar t . 798 do CPC c.c ar t . 12 da Lei nº 7347/65),que lhe fo i confer ido, possa determinar o afastamento prevent ivo daquele agente até u l ter ior del iberação”.

. . .

“Em paradigmát ico exemplo, tem-se, recentemente, o ju lgado profer ido em sede de Agravo de Inst rumento sob nº 446980-7, em t râmite na 5a. Câmara Cível desse E. Egrég io Tr ibunal , da re lator ia do Des. Ruy Fernando de Ol ive i ra, caso em que houve afastamento do Chefe da 18a. Ciret ran(Nova Esperança) , por f raude na emissão de carte i ras de habi l i tação. O Juiz “a quo” consignou expressamente na decisão que determinava o afastamento com base no ar t . 12 da Lei 7.347/85 (poder gera l de caute la em sede de ação c iv i l púb l ica) e não no ar t . 20 da Lei nº 8.429/92.

Ext ra i -se do r . acórdão:

“Quanto ao per icu lum in mora¸ asseverou o ju lgador ser impresc indível a adoção de ta is medidas, a f im de evi tar a sua inef icác ia, se concedida somente ao f ina l , d iante da gravidade e da complexidade dos fatos a legados, que necessi tam de ampla inst rução processual , o que certamente acarretará a morosidade do processo, até porque f iguram no pólo pass ivo vinte e seis réus, conclu indo, ao f ina l , que a Adminis t ração Públ ica e, em especia l , a soc iedade, não podem aguardar o ju lgamento f ina l da demanda para pôr f im às i legal idades que vêm sendo comet idas junto à 18ª CIRETRAN, inc lus ive porque envolve a habi l i tação de d iversas pessoas inaptas a conduzir ve ícu lo automotor pelas vias púb l icas, o que certamente pode ter conseqüências desast rosas e graves. ”

Prossegue o nobre re lator :

“O afastamento imediato do agravante da função de chefe da 18ª CIRETRAN fo i acertadamente determinado pelo ju iz e se revela medida de necessidade, d iante da gravidade dos atos i legais prat icados junto ao refer ido órgão estata l , que estava sob a sua in te i ra responsabi l idade, até porque há for tes indíc ios de seu envolv imento na prát ica destes e de sua conduta dolosa ou, no mínimo, cu lposa (neg l igência) , sendo cer to, a inda, que a medida visa evi tar que novas f raudes venham a ocorrer , em pre juízo de toda a colet iv idade, estando preenchidos, a um

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pr imeiro exame, os requis i tos exig ive is .Diga-se, a inda, que, consoante o d isposto no ar t . 20, parágrafo único, da Lei n. 8 .429/92 - Lei de Improbidade Adminis t rat iva - , o afastamento tem cabimento quando houver poss ib i l idade de vi r o agente públ ico a d i f icu l tar a inst rução processual , o que, na espécie, é fac i lmente constatável e presumíve l , po is a sua condição de chefe do órgão pode resul tar na omissão e manipulação de documentos que possam vi r a cor roborar as provas já produzidas, bem como no const rang imento de func ionár ios que lhe são subordinados para prestar depoimentos e esc larec imentos sobre a forma de atuação e prát ica de ta is atos, sendo cer to, a inda, que, segundo a lega o agravado, out ros tantos fatos a inda estão sendo invest igados em inquér i to pol ic ia l , a fora aqueles não audi tados(f ls. 178) .” Como depreende-se, os mot ivos ensejadores da caute lar de afastamento d izem respei to, sobretudo, à gravidade dos fatos, sua repercussão no seio da soc iedade, per igo de pers is t i rem as i legal idades e robustez da prova(exis tênc ia de prova inequívoca) pressupostos que, na essência, afetam a ordem públ ica e que, destarte, inserem-se no poder gera l de caute la comet ido ao ju lgador . O nobre Relator , é verdade, não obstante acolha como acer tada a caute lar , acrescenta mot ivos que just i f icar iam também o afastamento com base no ar t . 20 da Lei nº 8.429/92. Mas, substancia lmente, a dec isão compor ta questões at inentes ao poder gera l de caute la inser tos tanto no ar t . 12 da LACP, como no art . 798 do CPC. Nout ro apropr iado ju lgado, o Tr ibunal de Just iça do Estado de São Paulo, em sede de Agravo de Inst rumento,42 determinou o afastamento l iminar de vereador , com fundamento no art . 20, parágrafo único, da Lei nº 8.429/92, fazendo consignar também, razões fundamentais de fundo que se amoldam o poder gera l de caute la:

“É do in teresse públ ico que função tão re levante para gestão do munic íp io este ja indene de qualquer dúv ida no campo da improbidade. E, a lém, d isso, o afastamento, por ser meramente caute lar , não s igni f ica pre juízo pessoal i r reparável , sobretudo quando o Estatuto dos Serv idores Públ icos (Lei 8.112/90, ar t . 147) e a própr ia Lei de Improbidade (ar t . 20) admitem o afastamento do func ionár io até mesmo quando processados no âmbi to adminis t rat ivo.A medida encont ra amparo jur íd ico na faculdade que tem ju iz de, no âmbi to de seu poder gera l de caute la, dec id i r da forma que entende mais adequada para garant i r a regular inst rução do processo. ”

42 Brasil. TJSP. Agravo de Instrumento nº 386.846-5/5-00-Sertãozinho.

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. . . “Por f im, cabe reg is t rar , com toda ênfase, que o afastamento prevent ivo do agente públ ico não ignora a presunção de inocência (ar t . 5o, inc. LVI I , da CF) , já que o afastamento como garant ia da ordem públ ica há de dar-se também sem pre juízo de sua remuneração, ta l como ocorre na hipótese do ar t . 20, parág. único, da Lei nº 8.429/92. Ademais, o afastamento prevent ivo const i tu i -se num provimento caute lar parc ia l , vez que o provimento f ina l a lmejado (perda do cargo) somente se dará com a condenação com t râns i to em ju lgado. O agente f icará tão-somente afastado de suas funções, como medida de proteção do Estado, da soc iedade e dos pr incíp ios const i tuc ionais que governam a função adminis trat iva, com destaque para o pr incíp io da moral idade administ rat iva, mas permanecerá com o cargo e percebendo remuneração até u l ter ior del iberação. Nem se d iga que a medida atenta cont ra a vontade popular e o pr incíp io democrát ico, pois, mesmo nas h ipóteses de agentes pol í t icos e le i tos por suf rág io universal , a leg i t imidade do mandatár io é conformada pela vontade da Const i tu ição Federal, o que s ignif ica d izer que a manutenção dessa leg imit imação popular , impõe ao representante do povo o obsequioso cumpr imento de seus deveres const i tuc ionais e legais , in formados pelos vetores pr inc ip io lóg icos que ver tem do Texto Maior , dentre e les os pr incíp ios da moral idade e da probidade adminis t rat iva, sob pena de perda dessa leg i t imidade obt ida nas urnas. Não é cr íve l que no Bras i l do século XXI, a inda exis tam teses ut i l izando a vontade popular como escudo para a real ização de atos cr iminosos ou atos de improbidade adminis t rat iva, prat icados exatamente contra aqueles que confer i ram, por sua vontade suprema, o d i re i to de representá- los nos escalões super iores do Estado. Trata-se de sof isma a ser combat ido com a vontade popular concret izada na Const i tu ição de 1988, ou seja, nas normas-pr inc íp ios que a inspiram. Compor tamentos ímprobos gravíss imos por parte de agentes públ icos ou a sua re i teração, just i f icam o antec ipado afastamento do cargo, por respeito à ordem públ ica e em defesa dos fundamentais pr inc íp ios que regem a Adminis t ração Públ ica” .

Portanto, não restam dúvidas no sentido de que o Poder Judiciário, guardião máximo da Constituição Federal, dentro do espectro de competência conferida pelas disposições contidas no Código de Processo Civil (art. 798), além, é claro, do princípio da inafastabilidade da jurisdição garantido pelo art. 5º inciso XXXV da Constituição Federal, acolha o pedido de afastamento, ora requerido.

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V. DO PEDIDO

Em razão de todo o exposto, requer-se: a) com fundamento no art. 20, par. único, da Lei nº 8429/92, seja decretado o imediato afastamento cautelar, inaudita altera pars, do requerido HOMERO BARBOSA NETO do cargo de Prefeito do Município de Londrina, até o encerramento da instrução processual ou por prazo que se reputar conveniente para o alcance da mesma finalidade, sem prejuízo de seus vencimentos, b) com fundamento no art. 20, par. único, da Lei nº 8429/92, seja decretado o imediato afastamento cautelar, inaudita altera pars, do requerido FABIO GOES do cargo de chefe de Gabinete do Prefeito do Município de Londrina, até o encerramento da instrução processual ou por prazo que se reputar conveniente para o alcance da mesma finalidade, sem prejuízo de seus vencimentos, c) a notificação dos requeridos, nos termos do art. 17, § 7º, da Lei no. 8.429/92, com a redação dada pela Medida Provisória sob n.º 2088/2000 (e suas reedições subseqüentes); d) o recebimento da presente ação e a citação dos requeridos para se defenderem da imputação de prática de ato de improbidade administrativa e, querendo, apresentarem defesa no prazo legal, sob pena de revelia; e) a intimação do Município de Londrina para que se posicione acerca do gizado no art. 17, § 3º, da Lei n.º. 8.429/92. f) a produção de prova por todos os meios possíveis, principalmente documental, depoimentos pessoais dos réus, oitiva de testemunhas a serem oportunamente indicadas, juntada de novos documentos e exames periciais que se fizerem necessários à instrução da causa. g) o deferimento das prerrogativas estatuídas do art. 172, § 2º, do C.P.C., para cumprimento das medidas judiciais de notificação, citação e/ou intimação. h) a condenação do requeridos HOMERO BARBOSA NETO, FÁBIO PASSOS DE GOES, ANA LAURA LINO, BRUNO VALVERDE , RUY NOGUEIRA NETO e WILSON VIEIRA e INSITUTO ATLÂNTICO , nas sanções estipuladas no artigo

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12, I e III, da Lei nº 8.429/92 (quais sejam, a perda de R$ 20.000,00, acrescidos ilicitamente aos seus patrimônios, perda da função pública, a suspensão dos direitos políticos, pagamento de multa civil e proibição de contratar com o Poder Público), em razão da prática de atos de improbidade administrativa que importaram em enriquecimento ilícito e atentaram contra os princípios da Administração Pública, insculpidos nos artigos 9º, “caput” e inciso I, c/c art. 11, “caput”, da mesma lei; i) a condenação do requeridos HOMERO BARBOSA NETO, ANA LAURA LINO, BRUNO VALVERDE , RUY NOGUEIRA NETO e RICARDO JOSE DURANTE RAMIRES e INSITUTO ATLÂNTICO , nas sanções estipuladas no artigo 12, III, da Lei nº 8.429/92 (quais sejam, perda da função pública, a suspensão dos direitos políticos, pagamento de multa civil e proibição de contratar com o Poder Público), em razão da prática de atos de improbidade administrativa que atentaram contra os princípios da Administração Pública, insculpido no artigo 11, “caput”, da mesma lei; j) requer, por fim, seja determinada a quebra dos sigilos bancários de EGLODIR ELI ALIANO, (brasileiro, casado, comerciante, filho de Miguel Aliano e de Dorvilia Marques de Godoy, RG n. 1.417.010-3-Pr, CPF nº 330.877.339-20) e de WILSON VIEIRA (brasileiro, casado, empresário, filho de Justino Vieira e Maria Pedrosa Vieira, RG n. 1.164488-0-Pr, nascido no dia 13 de outubro de 1955), correspondentes aos meses de novembro e dezembro de 2010, e janeiro de 2011, a fim de se comprovar as operações financeiras envolvendo depósitos/saques, relativos aos quarenta mil reais e vinte mil reais, descritos no Fato II.2, desta ação. k) Atribui-se a causa o valor de R$ 20.000,00 (vinte mil reais), para fins de alçada.

Londrina, 06 de junho de 2011.

Leila Schimiti Voltarelli Renato de Lima Castro Promotora de Justiça Promotor de Justiça Cláudio Rubino Zuan Esteves Jorge Fernando Barreto da Costa Promotor de Justiça Promotor de Justiça