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Deolinda - Mundo Pequenino (Llibret)

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O contrabaixobate um tempo que habituaE o nosso pé encaixa bem o seu baterHá algo novoque o meu corpo insinuaTu, ao meu lado,ai agora é que vai ser

AiArreda a mesa e vem daíJá somos nós quem manda aquiVamos lá pôr isto a cantar

Ai E quem não canta e está praì a fazer tempo pra sair que nos dê espaço pra dançar

A melodialevantou muita suspeitamas entrou e ficou bem o seu dizerFelicidade é ver gente satisfeita e a saudade ainda está para nascer

Quem aqui passavê que a festa continuae cada um de nós tem algo a decidirEu, contigo, hei-de pôr isto na ruaque eu também sinto que o melhor está pra vir

Já a vozprocura outra poesiae até parece o soalho balançar Vamos láque ainda mal nasceu o diae nós ainda temos muito pra contar

Ai E quem não canta e está praìa fazer tempo pra sair que nos dê espaço pra dançar

AiArreda a mesa e vem daíJá somos nós quem manda aquiVamos lá pôr isto a cantar

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Eu sou um pronome,um pronome pessoalSou a primeira pessoa do sujeito, singularEle é um pronomeigualmente pessoale quer que eu me junte a elenuma relação plural

Mas onde está o meu substantivo?E que verbos posso ambicionar? Chamem-me nomes, maus adjectivos Se é pra pior eu não vou mudar

Mas eu não sou artigo indefinido nem um colectivo, nem um numeral Eu tenho nome e pra mim exijo mais concordância gramatical

Sou um sujeito,procuro um verboe um bom complemento directoQuero frasesafirmativase não viver em voz passiva

Somos sujeitos,queremos verbos,bons complementos directosQueremos frasesafirmativase emoções superlativas

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Tu já não gostas de mimde quem fui, de quem serei, quem sou agora Já não gostas do que fiz,e o que faço e o que farei, tu já não gostas

Tu não gostas do que vêsTu não gostas do que ouves nem no que tocasJá não gostas onde estáse quem tens à tua volta, tu não suportas

Tens muito gosto em ser assimmas a mim o que me choca e me revoltaé saber que é de tiperceber que é de tique tu não gostase por gostar tu já nem te esforças

Tu não gostas do que tense o que não tens é sempre pouco e não te empolgaE o que é bom é sempre aquém e o melhor é sempre o outro ou vem de fora

Tu não gostas de mudarporque o mundo é todo mau e tu adorasficar só a criticar e no fundo nada fazes nem melhoras

Tens muito gosto em ser assimmas a mim o que me choca e me revoltaé saber que é de tiperceber que é de tique tu não gostase por gostar tu já nem te esforçasE se eu não gostar de tiSe ninguém gostar de tié que tu gostasE eu gosto tanto de gente torta

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Tenho vontade de seguir uma outra via mas eu desisto Tenho vontade de mudar a minha vidamas não arriscoE deixo-me andardeixo-me andar aqui bem sentada braços cruzados, perna traçada, e eu deixo-me estarque esta vontade, um dia... há-de passar!

Tenho vontade de dizer aquilo que penso mas tenho medoTenho vontade de exigir o que mereço mas nem me atrevoE deixo-me andardeixo-me andar aqui bem sentada braços cruzados, perna traçada, e eu deixo-me estarque esta vontade, um dia... há-de passar!

Tenho vontade de que me levem mais a sério mas não consigo Tenho vontade de berrar um impropériomas só me sai istoE deixo-me andardeixo-me andar aqui bem sentada braços cruzados, perna traçada, e eu deixo-me estarque esta vontade, um dia... há-de passar!

Há-de passar, aqui bem sentada braços cruzados, perna traçada, e eu deixo-me andarE esta vontade, agora... já passou!

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Quando me queres incluire me pões a dormirnum bairro qualquer por aí

E a lição de bem-estar é não incomodar quem veja incómodo em mim

Por mais passos que eu dêmesmo sem querer irei sempre baterou esbarrar contra ti

É teu o meu espaçoe p´lo teu embaraçopelas portas d´aço eu já percebi:

Tens medo de mim Tens medo de mim Tens medo de mim

Quando me vens revistarsó porque dou arde não ser daqui nem dali

E para me proteger impões um poder que não olha a meios prò fim

Todo o gesto que eu faça é vil ameaçaque anulas e esmagase vejo assim

que a força que empregas é injusta e cega não vê em quem acertae acertas em mim

Tens medo de mim Tens medo de mim Tens medo de mim

Eu, mesmo inocente,sou sempre diferenteporque não sou igual a ti

Agora, não entendo, porquê este medo brutal e tão extremo que a ninguém faz crer

que estou na cadeia porque a tua carteira caiu, apanhei-a,e quis devolver

Tens medo de mim Tens medo de mim e eu medo de ti

Quando me culpas e prendes tudo porque entendesque isso é melhor para mim

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Está tudo morto, não não há motivaçãoNada aconteceEstá tudo à espera

Está tudo encerrado, nãonão há mais vibração Ninguém se mexeQue grande seca

Está tudo em ruínas, nãonão há renovação Ninguém s´inquietaTudo embrutece

Poisjá que a ninguém espanta ver que isto já não andapõe a musiquinha e abana essa anca Já que a ninguém espanta ver que isto não avança ouve a musiquinha e abana, abana, abana

Está tudo inquinado, pá Não temos salvação E esta conversajá me aborrece

E já que a ninguém espanta ver que isto já não andapõe a musiquinha e abana essa anca Já que a ninguém espanta ver que isto não avançaouve a musiquinha e abana, abana, abana

Abana quem pode, abana quem deve,abana quem sabe, abana quem esquece,abana quem pensa ou evita pensarabana-o bem até se pôr a abanar

Abana o pai, abana a mãeabana o velho e o novo tambémAbana por bem, abana por mal abana quem diz que abanar é banal Abana o da frente, abana o detrás abana os dali, abana os de cá Abana também e se me vires abrandarAbana-me bem para eu te abanar!

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Sentada no puffela relia Proust Ele fazia bluffno bridgeEla ouvia BachEle curtia The Clash Entre os dois não havia clique

Ela ia ao Luxe bebia uma flûte E ele, de Super Bock num strip Ela morava num loft Ele orientava um spot Entre os dois não havia clique

Ela fazia step Ele comia num snack Ela citava o Brecht Ele, nicles Ela vestia Dior Ele, uns ténis Reebok Entre os dois não havia clique

entre os dois houve carinhosamenteentre os dois houve apaixonadamente entre os dois houve apenas e somenteBUUUMMM!

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Nós havemos de nos ver os doisver no que isto dá ficar um pouco mais a conversarTer a eternidade para nós quem sabe, jantar,Se quiseres pode ser hoje Tem de acontecer, porque tem de sere o que tem de ser tem muita força E sei que vai ser, porque tem de ser Se é pra acontecer, pois que seja agora

Nós havemos ambos de encontrar um destino qualquer ou um banquinho bom para sentar Vai ser tão bonito descobrir que no futuro sóquem decide é a vontadeTem de acontecer, porque tem de sere o que tem de ser tem muita força E sei que vai ser, porque tem de ser Se é pra acontecer, pois que seja agora

Que seja agoraQue seja agoraSe é pra acontecerPois que seja agora!

Que seja agoraQue seja a horaSe é pra acontecerque seja agora!

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Sempre a mesma esplanada copo de água e caféSe o mundo me irritava ele dizia: ah, pois é Pois é, pois é,pois, pois, pois é

Entre o cigarro que fumava e a conversa habitual Se o país me indignava ele nem baixava o jornal Pois é Pois é, pois é,pois, pois, pois é

30 anos e eu tão farta Se lhe falava de mimele passava a mão na barba e lá me dizia assim: ah, pois é Pois é, pois é,pois, pois, pois é

E a rotina assim passava e acenava infeliz Se eu a vida criticava ele coçava o nariz Pois é Pois é, pois é,pois, pois, pois é

Um dia viu-me, espantado, acompanhada no caféPerguntou: é namorado?E eu respondi: pois é Ah, pois é Pois é, pois é,pois, pois, pois é...

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Dorme bem, meu meninoFecha os olhos a sonharNo teu mundo pequeninonada te vai acordarnem a crise, nem os bancosnem as contas e os avisos Aproveita o meu balanço que dormir eu não consigo

Dorme bem, meu menino no embalo da mamã que há esperança no destinoe no dia de amanhã já sem crise, já sem bancosjá sem contas, nem avisosAproveita o meu balançoque dormir eu não consigo

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Ele diz que o corpo não é uma culpaé sim uma festa que se quer na ruaÉ doido!Ele diz que o corpo não se privatizae só com desejo é que se realizaÉ doido!Mas pouco a poucovou na cantigaque isto do corpo tem que se digaPor mais que eu tente recusar a sua forçavolta e meia eu fico... doida!

Ele diz que o corpo não é trabalhonão é um produto nem é um fardo É doido!Para ele o corpo é a divindadee em cada corpo cabe a eternidadeÉ doido!

Ele diz se o corpo não goza nada mais tarde ou mais cedo a cabeça é que paga É doido!Mas pouco a poucovou na cantigaque isto do corpo tem que se digaE porque corpo há só um e dura pouco vamos lá então ser... doidos!

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Diz que foi ele quem traiue agora está sóFica entre nóseu não disse nada

Parece que a relação já não andava bemEu não te conteinão ouviste nada

Parece que ela cismouque ele andava a trair com uma outra qualqueruma outra mulher que por vê-lo infeliz dele se apiedou É aquilo que se dizjá nem sei quem contouNão está cá quem falou

Parece que ele, coitado,até vai viajarSe alguém perguntar eu não disse nada

Por isso até vou com ele para ele não ir sóFica entre nósnão ouviste nada

Parece que ela cismouque ele andava a trair com uma outra qualqueruma outra mulher que por vê-lo infeliz dele se apiedou É aquilo que se dizjá nem sei quem contouNão está cá quem falou

Não está cá quem cantou

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Quem tenha pressaque vá andandoEsta viagemé uma vidaÉ uma vidae a minha urgênciaé gozar a vista e a companhia

Se me perguntas, eu respondoEu nem vou pelo destinoVou apenas pelo gozo que me dá este caminhoQue me dá este caminho e vá ele aonde forSe um dia vieres comigo, há-de ser muito melhor

E vou nas calmasdevagarinhoQue o gozo distoé ir andandoÉ ir andandocom um sorrisoQuem tenha pressaque vá andando

Há-de ser muito melhor, há-de em cada bocadinho haver espaço para nósna estreiteza do caminhoE cada passo será nosso e é início de outro caminho maior,sem um fim, sem um sentidoApenas ir ao sabor de estar contigo

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AgRADECiMENTOS

Família e amigos, Joana Sá,

Leonor Tenreiro, Maria João

Leitão, Jerry Boys, João

Bessa, Vasco Sacramento,

Márcia Costa, Inês Cristóvão,

Pedro Abrunhosa, António

Zambujo, Sérgio Nascimento,

António Serginho, Luís

André Ferreira, Rui Pedro

Silva, Daniel Schvetz, João

Fazenda, Vivóeusébio, Sérgio

Milhano, Ângelo Lourenço,

Fred Rompante, Sérgio

Pires, Gonçalo Rodrigues,

Universal, Boom Studios,

Sons em Trânsito, Silvina de

Sousa, Óscar Cardoso, Carlos

Jorge Pereira Rodrigues,

Paulo Marchã, Ricardo Preto,

Clementine Bunel, Magali

Berardo, Frank Abraham, Bill

Smith e Sinan Ufuk Nergis.

Distribuído em Portugal por Universal Music Portugal, S.A

Reservados todos os direitosπ 2013 Sons em Trânsito© 2013 Boom StudiosMade in the E.U.

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