112
DEPARTAMENTO DE DIREITO MESTRADO EM DIREITO A SUCESSÃO HOMOAFETIVA UMA NOVA PERSPECTIVA NO DIREITO LUSO-BRASILEIRO Dissertação para a obtenção do grau de Mestre em Direito, Especialidade em Ciências Jurídicas. Autor: Shirlei Castro Menezes Mota Orientadora: Professora Doutora Stela Marcos de Almeida Neves Barbas Lisboa Julho de 2016

DEPARTAMENTO DE DIREITO - repositorio.ual.ptrepositorio.ual.pt/bitstream/11144/2990/1/Dissertação-Final... · 1 Primeira estrofe do poema Tabacaria, de Álvaro de Campos, heterônomo

  • Upload
    doque

  • View
    239

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: DEPARTAMENTO DE DIREITO - repositorio.ual.ptrepositorio.ual.pt/bitstream/11144/2990/1/Dissertação-Final... · 1 Primeira estrofe do poema Tabacaria, de Álvaro de Campos, heterônomo

DEPARTAMENTO DE DIREITO

MESTRADO EM DIREITO

A SUCESSÃO HOMOAFETIVA

UMA NOVA PERSPECTIVA NO DIREITO LUSO-BRASILEIRO

Dissertação para a obtenção do grau de Mestre em Direito,

Especialidade em Ciências Jurídicas.

Autor: Shirlei Castro Menezes Mota

Orientadora: Professora Doutora Stela Marcos de Almeida Neves Barbas

Lisboa

Julho de 2016

Page 2: DEPARTAMENTO DE DIREITO - repositorio.ual.ptrepositorio.ual.pt/bitstream/11144/2990/1/Dissertação-Final... · 1 Primeira estrofe do poema Tabacaria, de Álvaro de Campos, heterônomo

2

DEDICATÓRIA

Em memória de minha mãe, Lourdes, e de meu marido,

Celso Mota, sempre tão presentes.

Page 3: DEPARTAMENTO DE DIREITO - repositorio.ual.ptrepositorio.ual.pt/bitstream/11144/2990/1/Dissertação-Final... · 1 Primeira estrofe do poema Tabacaria, de Álvaro de Campos, heterônomo

3

AGRADECIMENTOS

A Deus, o Grande Mestre do Universo!

À minha mentora e orientadora, Professora Doutora Stela Barbas, que além da questão da

orientação, adequação e revisão deste trabalho, com observações sempre construtivas, estimo

todo o meu carinho, posto que fonte de aprendizado e inspiração. Afinal, “Não sou nada.

Nunca serei nada. Não posso querer ser nada. À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do

mundo.” 1

. E, para alcançar as estrelas, não há de ser fácil, mas tenho a certeza de que, se

necessário, terei em minha mestra alguém disposta a me ensinar a descobrir o melhor

caminho. Porque ninguém escolhe ser professor, mas alguns nascem com essa nobre missão:

a de estimular nos corações e mentes dos alunos todos os sonhos do mundo, e isto a nobre

professora o faz de maneira ímpar.

À coordenação, em especial Dra. Noémi Nóbrega.

Ao Professor Doutor Affonso Pernet Junior, Ordem dos Advogados do Brasil - Rio de Janeiro

– ESA – Escola Superior de Advocacia - Barra da Tijuca. Para mim, uma fonte inenarrável de

conhecimento.

Aos amigos que mudaram para melhor minha história profissional, em especial à Marselha De

Luca.

Ao Professor Mestre Manoel Pereira dos Santos Neto, por toda atenção dispensada no

processo de estruturação e revisão deste trabalho.

À Professora Flávia Vianna Martins Moura.

E à minha sobrinha Vanessa Menezes, pela formatação.

1 Primeira estrofe do poema Tabacaria, de Álvaro de Campos, heterônomo do poeta português Fernando

Pessoa.

Page 4: DEPARTAMENTO DE DIREITO - repositorio.ual.ptrepositorio.ual.pt/bitstream/11144/2990/1/Dissertação-Final... · 1 Primeira estrofe do poema Tabacaria, de Álvaro de Campos, heterônomo

4

RESUMO

Este trabalho tem a intenção de atualizar a comunidade jurídica e a sociedade luso-brasileira

sobre o andamento da aceitação do relacionamento homoafetivo entre pessoas do mesmo sexo

e seus direitos, em especial o sucessório. Trazendo uma visão atual do que, historicamente,

vem sendo modificado ao longo dos anos; as vitórias e também alguns retrocessos que a

sociedade mundial, e principalmente, luso-brasileira, tem conquistado e/ou sofrido. A ideia

principal é a de expor a situação vivenciada pela comunidade LGBT em suas uniões através

dos anos e reiterar que seus indivíduos não merecem menos respeito ou direitos que todos os

outros, inclusive quando do falecimento de um dos companheiros. A situação atual no mundo

indica uma abertura maior das pessoas no caminho de respeitar as diferenças e entender que

essas uniões sempre existiram, mas não tinham seus direitos garantidos, por isso eram

escondidas, não tinham visibilidade. Isso é o que está mudando. A sucessão dos parceiros

homoafetivos está, consequentemente, também mais justa e mais próxima da que se tem nas

uniões heterossexuais, mas ainda há um longo caminho a percorrer.

Palavras Chaves: Sucessão; Relação Homoafetiva; Companheiro; Direito Sucessório.

Page 5: DEPARTAMENTO DE DIREITO - repositorio.ual.ptrepositorio.ual.pt/bitstream/11144/2990/1/Dissertação-Final... · 1 Primeira estrofe do poema Tabacaria, de Álvaro de Campos, heterônomo

5

ABSTRACT

This work intends to update the Luso-Brazilian legal community and its society about the

progress of the acceptance of homoafetivo relationship between persons of the same sex and

their rights, in particular the succession duty. Bringing a current view of what historically has

been modified over the years; the victories and also some setbacks that the world society, and

mainly Portuguese-Brazilian, has conquered and/or suffered. The main idea is to expose the

situation experienced by the LGBT community in their marriages over the years and reiterate

that their people deserve no less respect or rights as all others, even when the death of one

partner. The current situation in the world indicates a greater openness of the people in the

way to respect differences and understand that these unions have always existed, but did not

have their rights guaranteed, so were hidden, they had no visibility. That is what is changing.

The succession of homosexual partners is thus also more fair and closer than it has in

heterosexual relationships, but there is still a long way to go.

Key words: Succession; Homosexual Relationship; Life partner; Succession Right.

Page 6: DEPARTAMENTO DE DIREITO - repositorio.ual.ptrepositorio.ual.pt/bitstream/11144/2990/1/Dissertação-Final... · 1 Primeira estrofe do poema Tabacaria, de Álvaro de Campos, heterônomo

6

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO................................................................................................................. 10

PRIMEIRO CAPÍTULO................................................................................................. 12

CAPÍTULO 1 – OS EFEITOS JURÍDICOS DA UNIÃO HOMOAFETIVA NO

DIREITO PORTUGUÊS, EM ESPECIAL OS SUCESSÓRIOS.................................

14

1.1 A UNIÃO DE FACTO.....................................................................,............................ 14

1.1.1 Impedimentos para atribuição de efeitos jurídicos às uniões de facto....................... 15

1.1.2 Mudanças na legislação.............................................................................................. 18

1.1.3 Efeitos da união de facto............................................................................................ 20

1.1.3.1 Efeitos pessoais....................................................................................................... 20

1.1.3.2 Efeitos patrimoniais................................................................................................. 21

1.2 OS EFEITOS JURÍDICOS DAS UNIÕES HOMOAFETIVAS EM PORTUGAL..... 26

1.2.1 Lei 135/1999, de 28 de Agosto............................................................................. 27

1.2.2 União de facto (Lei 7/2001, de 11 de Maio).............................................................. 28

1.2.3 Casamento na união homoafetiva (Lei 9/2010, de 31 de Maio)................................ 28

1.2.4 Os direitos e deveres do casal homoafetivo............................................................... 32

1.2.5 Adoção por casal homoafetivo (Lei 2/2016, de 29 de agosto)................................... 33

1.2.6 Reprodução assistida.................................................................................................. 36

1.3 SUCESSÃO NA RELAÇÃO HOMOAFETIVA.......................................................... 37

SEGUNDO CAPÍTULO................................................................................................... 40

CAPÍTULO 2 – OS EFEITOS JURÍDICOS DA UNIÃO HOMOAFETIVA NO

DIREITO BRASILEIRO, EM ESPECIAL OS SUCESSÓRIOS.................................

42

2.1 UNIÃO ESTÁVEL..................................................................................................... 42

2.1.1 União estável na Constituição Federal....................................................................... 47

2.2 OS EFEITOS JURÍDICOS DAS UNIÕES HOMOAFETIVAS NO BRASIL............ 51

2.2.1 Adoção........................................................................................................................ 55

2.2.2 Reprodução assistida.................................................................................................. 56

2.2.3 Relações homoafetivas e o Direito Previdenciário..................................................... 56

2.3 SUCESSÃO NA RELAÇÃO HOMOAFETIVA.......................................................... 60

2.3.1 Constitucionalidade da sucessão do companheiro supérstite..................................... 64

Page 7: DEPARTAMENTO DE DIREITO - repositorio.ual.ptrepositorio.ual.pt/bitstream/11144/2990/1/Dissertação-Final... · 1 Primeira estrofe do poema Tabacaria, de Álvaro de Campos, heterônomo

7

2.3.2 Sucessão do companheiro supérstite no Código Civil Brasileiro de 2002................. 65

2.3.2.1 Concorrência do companheiro supérstite com filhos comuns................................. 68

2.3.2.2 Concorrência do companheiro supérstite com filiação híbrida............................... 70

2.3.2.3 Concorrência do companheiro supérstite com descendentes do autor da herança.. 71

2.3.2.4 Concorrência do companheiro supérstite com outros parentes sucessíveis do

autor da herança...................................................................................................................

72

2.3.2.5 Direito do companheiro supérstite à totalidade da herança quando não há

parentes sucessíveis do autor da herança............................................................................

73

2.3.2.6 Meação.................................................................................................................... 74

2.3.2.7 Direito real de habitação do companheiro supérstite.............................................. 75

TERCEIRO CAPÍTULO................................................................................................. 80

CAPÍTULO 3 – OS EFEITOS JURÍDICOS DA UNIÃO HOMOAFETIVA EM

ORDENAMENTOS DIVERSOS DO LUSO-BRASILEIRO........................................

82

3.1 CASAMENTO HOMOAFETIVO: EVOLUÇÃO AO LONGO DO TEMPO............. 85

3.2 PAÍSES QUE TENHAM LEIS DE UNIÃO HOMOAFETIVA DIFERENTES DO

CASAMENTO....................................................................................................................

87

3.3 PAÍSES ONDE HOMOSSEXUALIDADE É PROIBIDA E PUNIDA....................... 89

3.4 A ADOÇÃO POR CASAIS HOMOSSEXUAIS NO MUNDO................................... 91

CONCLUSÃO.................................................................................................................... 92

REFERÊNCIAS................................................................................................................ 96

ANEXOS............................................................................................................................ 105

ANEXO A – Leis de proteção em 2016: orientação sexual............................................... 106

ANEXO B – Apoio à união homoafetiva até 2015............................................................. 107

ANEXO C – Crescem casamentos homoafetivos............................................................... 108

ANEXO D – Casamento e união homoafetiva de 2012 a 2015, no mundo........................ 109

ANEXO E – Países que proíbem homossexualismo.......................................................... 111

ANEXO F – Adoção por casais homoafetivos................................................................... 112

Page 8: DEPARTAMENTO DE DIREITO - repositorio.ual.ptrepositorio.ual.pt/bitstream/11144/2990/1/Dissertação-Final... · 1 Primeira estrofe do poema Tabacaria, de Álvaro de Campos, heterônomo

8

LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

Ac. da Rel. de Évora – Acórdão da relação de Évora

ACS - Acórdãos

ADI – Ação Direta de Inconstitucionalidade

ADN - Ácido Desoxirribonucléico

ADPF – Argüição de Descumprimento de Preceito Fundamental

ADSE - Assistência na Doença aos Servidores do Estado

ARP – Assembléia da República Portuguesa

ANS – Agência Nacional de Saúde Suplementar

CID – Catálogo Internacional de Doenças

CC – Código Civil

CCP – Código Civil Português

CF – Constituição Federal

CFB – Constituição Federal Brasileira

CGJ – Corregedoria Geral de Justiça

CID – Cadastro Internacional de Doenças

CNJ – Conselho Nacional de Justiça

CRP – Constituição da República Portuguesa

CP – Código Penal Brasileiro

DL – Decreto-lei

DNV – Declaração de Nascido Vivo

ECA – Estatuto da Criança de do Adolescente

IBDFAM - Instituto Brasileiro de Direito de Família

ILGA - Associação Internacional de Homossexuais

INSS – Instituto Nacional do Seguro Social

IRS - Imposto Sobre o Rendimento das Pessoas Singulares

LGBT – Lésbicas, Gays, Bissexuais, e Transgênicos

LINDB - Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro

LPMA – Lei de Procriação Medicamente Assistida

Page 9: DEPARTAMENTO DE DIREITO - repositorio.ual.ptrepositorio.ual.pt/bitstream/11144/2990/1/Dissertação-Final... · 1 Primeira estrofe do poema Tabacaria, de Álvaro de Campos, heterônomo

9

MP - Ministério Público

OAB – Ordem dos Advogados do Brasil

OMS – Organização Mundial de Saúde

ONG – Organização Não governamental

ONU – Organização das Nações Unidas

PACS - Pacte Civil de Solidarité

PL – Projeto de Lei

PMA – Procriação Medicamente Assistida

PROHABITA - Programa de Financiamento para Acesso à Habitação

RPPS - Regime Próprio de Previdência Social

STF – Supremo Tribunal Federal

STJ – Superior Tribunal de Justiça

TJ – Tribunal de Justiça

UF – Unidade Federativa

Page 10: DEPARTAMENTO DE DIREITO - repositorio.ual.ptrepositorio.ual.pt/bitstream/11144/2990/1/Dissertação-Final... · 1 Primeira estrofe do poema Tabacaria, de Álvaro de Campos, heterônomo

10

INTRODUÇÃO

Até que ponto se pode pensar a liberdade de forma literalmente livre? A ideia

conservadora insiste em atar as “asas” da liberdade na tentativa de impedir que seu conceito

se mova e se modifique, mesmo quando tudo ao redor não deixa de se movimentar. E,

consequentemente, de se alterar. Essa atitude foge a toda e qualquer fidelidade que essa

palavra possa ter em seu significado.

A força da liberdade para o indivíduo e para a sociedade é tamanha, que é considerada

em muitos ordenamentos jurídicos, como um direito fundamental, inalienável.

No entanto, os indivíduos homossexuais são, constantemente, privados de seus direitos

fundamentais de liberdade, de constituir família, de se expressar livremente sobre sua

sexualidade e felicidade e, inclusive, de ter seus direitos à parentalidade, à ajuda financeira, à

herança e a possíveis pensões.

Ao longo dos anos, a situação de preconceito em que essa - não pequena – parcela da

população e seus dependentes se encontravam, foi sendo enfrentada aos olhos da sociedade,

dos costumes e, finalmente, do Direito.

A luta para o reconhecimento dos direitos da população homossexual e suas relações

teve um ponto de partida tímido, mas, com o passar dos anos, foi se fortalecendo de forma

contínua. Principalmente após grande parte da população se identificar ou identificar a

situação de um ente querido que, por conviver dessa maneira, sabiam-se merecedores da

proteção do Estado, tanto quanto a dada a todos os outros indivíduos.

A população começou a olhar para essa realidade com outros olhos e a verificar,

através de inúmeros casos que vieram à tona, que a orientação sexual não definia o caráter de

uma pessoa. E, através de diversos exames e testes, comprovaram também que a

homossexualidade não era uma doença. Nesta época, a Organização Mundial de Saúde -

Page 11: DEPARTAMENTO DE DIREITO - repositorio.ual.ptrepositorio.ual.pt/bitstream/11144/2990/1/Dissertação-Final... · 1 Primeira estrofe do poema Tabacaria, de Álvaro de Campos, heterônomo

11

OMS2 a retirou do rol do Catálogo Internacional de Doenças - CID e a palavra

homossexualismo perdeu o sufixo “ismo” e passou a usar o prefixo “ade”, homossexualidade.

A batalha pelos direitos dos casais homoafetivos é uma constante e ainda precisa

vencer muitos obstáculos ao redor do mundo. Porém, o principal inimigo é a forma como

estes pares são vistos pela sociedade que, muitas vezes, obedece às leis sem entendê-las, e

sem incutir nos indivíduos o respeito às diferenças.

Neste trabalho, a intenção é a de trazer as ultimas conquistas da comunidade LGBT

(Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgêneros) na luta por seus direitos,

em especial os de sucessão, além de apresentar como eram vistos e tratados em um passado

não tão distante, e como se deu a trajetória que culminou com 23 países nos quais o

casamento homoafetivo é permitido. Sem, no entanto, deixar de apresentar, por outro lado, os

países onde a prática homossexual é punida muitas vezes com pena de morte. Em suma, fazer

uma análise do quanto o caminho para essa comunidade ter seus direitos juridicamente

reconhecidos ainda precisa ser percorrido no cenário mundial.

Notoriamente, houve um grande avanço nas leis de Portugal e do Brasil, que , dentre

outros, atualmente permitem o casamento civil entre pessoas do mesmo sexo, inclusive com

possibilidade de existir prole, sendo esta família, felizmente, reconhecida, o que era

impensável há alguns anos.

Hoje, há sob nossos olhos e sob nossos códigos, normas e decisões jurisprudenciais, a

família homoafetiva. Isso, entretanto, não pode nos deixar esquecer que a luta, a discussão, a

argumentação e a busca por legitimidade social não deve cair no comodismo do que já foi

conquistado até agora.

2 A OMS (Organização Mundial da Saúde) foi fundada em 7 de abril de 1948, como uma agência especializada

da ONU (Organização das Nações Unidas). Atualmente, tem 191 países-membros e mantém contato com 180

ONGs (Organizações Não-Governamentais), e mais de 1.200 agentes de saúde.

Page 12: DEPARTAMENTO DE DIREITO - repositorio.ual.ptrepositorio.ual.pt/bitstream/11144/2990/1/Dissertação-Final... · 1 Primeira estrofe do poema Tabacaria, de Álvaro de Campos, heterônomo

12

PRIMEIRO CAPÍTULO

Neste capítulo foi abordada a visão do direito português, não apenas sobre o tema da

sucessão de casais de mesmo sexo, mas também acerca de como a amplitude de direitos e

deveres da união homoafetiva é vista pela sociedade. Com destaque que para a mudança que

está ocorrendo no entendimento das pessoas, faz com que, em razão dela, há uma

transformação na visão da sociedade, logo se movimentam, consequentemente, novas linhas

de raciocínio e de interpretação, novas possibilidades de entendimento da realidade, novos

costumes, e novas jurisprudências e normas jurídicas.

Page 13: DEPARTAMENTO DE DIREITO - repositorio.ual.ptrepositorio.ual.pt/bitstream/11144/2990/1/Dissertação-Final... · 1 Primeira estrofe do poema Tabacaria, de Álvaro de Campos, heterônomo

13

“[...] É necessário que, a nível de toda e qualquer comunidade, esteja

regulada a substituição por outro do falecido proprietário de uma

determinada unidade econômica. E, precisamente, para resolver este

importante problema no mundo jurídico, têm sido seguidas,

historicamente, três tendências fundamentais, a saber: Tendência

Individualista; Tendência Familiar e Tendência Socialista.”

(José Antônio de França Pitão)3.

3 PITÃO, José Antônio de França, A posição do cônjuge sobrevivo no atual direito sucessório português. 4.

ed. Coimbra: Almedina, 2005, p.13.

Page 14: DEPARTAMENTO DE DIREITO - repositorio.ual.ptrepositorio.ual.pt/bitstream/11144/2990/1/Dissertação-Final... · 1 Primeira estrofe do poema Tabacaria, de Álvaro de Campos, heterônomo

14

CAPÍTULO 1 – OS EFEITOS JURÍDICOS DA UNIÃO HOMOAFETIVA NO

DIREITO PORTUGUÊS, EM ESPECIAL OS SUCESSÓRIOS

1.1 A UNIÃO DE FACTO

A expressão união de facto foi utilizada pela primeira vez na reforma de 1977, na

epigrafe do art. 2020º do Código Civil Português - CCP, para definir a situação de pessoas

que não eram casadas, mas viviam em matrimonio. Já no CC Português de 19664, falava-se

em “comunhão duradoura de vida em condições análogas às dos cônjuges”.

Na prática, a união de facto tem início assim que as partes passam a viver em

coabitação, mas o decorrer dos dois anos faz supor que a convivência em comum já adquiriu

alguma estabilidade, satisfazendo, portanto, as exigências da segurança jurídica.

Chamada de “união de facto”, a união estável era vista com reservas em Portugal e até

o ano de 1999 não existia nenhuma sistematização jurídica, apenas normas em diplomas

avulsos, que davam uns poucos direitos e muitas restrições aos casais em condições análogas

às dos cônjuges.

A Lei n.º 135/19995, de 28 de Agosto, introduziu a primeira regulamentação sistêmica

da matéria no direito português, caracterizando como união de facto a relação de pessoas de

sexo diferente, que viviam como marido e mulher, na mesma residência, compartilhando a

mesa e o leito por pelo menos dois anos, sem haver laço matrimonial. Posteriormente, a

Assembleia da República Portuguesa - ARP, no dia 15 de março de 2001, através do voto,

conseguiu ampliar a proteção a casais homoafetivos (exceto para adoção).

A Lei n.º 7/2001, de 11 de Maio, de proteção às uniões de facto, foi publicada no

Diário da República. Esta lei, atualmente em vigor, e suas alterações - leis 23/20106 e 2/2016

7

- equipararam os direitos na união de pessoas do mesmo sexo a pessoas de sexo diferente, e

reconheceram os direitos e deveres inerentes a esse regime.

4 Cf.: http://revistas.ufpr.br/direito/article/viewFile/7154/5105.

5 Lei n.º 135/1999, de 28 de Agosto. Este diploma foi expressamente revogado pela Lei n.º 7/2001, de 11 de

Maio. 6 Cf.: http://www.pgdlisboa.pt/leis/lei_mostra_articulado.php?nid=1262&tabela=leis.

7 Cf: http://www.pgdlisboa.pt/leis/lei_mostra_articulado.php?nid=2515&tabela=leis&nversao=.

Page 15: DEPARTAMENTO DE DIREITO - repositorio.ual.ptrepositorio.ual.pt/bitstream/11144/2990/1/Dissertação-Final... · 1 Primeira estrofe do poema Tabacaria, de Álvaro de Campos, heterônomo

15

Uma pessoa só pode viver em uma união de facto com uma única pessoa e, apesar

disso, como no casamento, a união não deixa de existir automaticamente caso um dos sujeitos

não seja fiel. A lei de união de facto (7/2001) hoje é definida em seu art. 1º, nº 2, como: “[...]a

situação jurídica de duas pessoas que, independentemente do sexo, vivam em condições

análogas às dos cônjuges há mais de dois anos”. Sendo que o art. 2º dessa lei foi modificado e

passou a ter a seguinte redação: “Na falta de disposição legal ou regulamentar que exija

prova documental específica, a união de faço prova-se por qualquer meio legalmente

admissível.” Em 2008, Mônica Isabel Ferreira Sequeira Lima destacava que:

“A Lei n.º 7/2001, de 11 de Maio, que revogou a Lei n.º 135/1999, e que adoptou

medidas de protecção das uniões de facto, não só, desta feita, para uniões entre

heterossexuais, mas também entre homossexuais, nos termos do seu art. 1: (...)

Art.1º n.º 1, ao regular a situação jurídica de duas pessoas, independentemente do

sexo, que vivam em união de facto há mais de dois anos. (...) Ao mesmo tempo,

surge um novo diploma que vem regular a protecção de pessoas que vivam em

economia comum há mais de dois anos, pela Lei 6/2001 de 11 de Maio.”8

Alguns doutrinadores ainda defendem que a união de facto deve ser entre casal de

sexo diferente, tendo em vista a intenção deste instituto em se assemelhar ao casamento e, até

mesmo, utilizar algum estatuto deste. Em contrapartida, e mais atualizada à realidade global,

uma parte da doutrina, mais precisamente, dos professores Gomes Canotilho e Vital Moreira,

defendem que o art. 36º n.º 1 da CRP prevê a união de facto. Os autores entendem que o

direito de constituir família provém de uma abertura constitucional que dá ênfase à união de

facto e partilham da opinião de que a união de facto é uma relação familiar, porém,

directamente, a Constituição Portuguesa não a aborda9.

1.1.1 Impedimentos para atribuição de efeitos jurídicos às uniões de facto

Através dessa pesquisa, se pôde notar que, no que concerne à atribuição de efeitos às

uniões de facto, os impedimentos não foram alterados. A Lei n.º 135/1999, de 28 de Agosto

(revogada) e a Lei n.º 7/2001, de 11 de Maio, inicialmente mantiveram seus impeditivos.

Posteriormente, a Lei 7/2001 sofreu algumas poucas alterações através das leis 23/2010 de 30

de Agosto, e 2/2016, de 29 de fevereiro, já citadas.

8 LIMA, Mônica Isabel Ferreira Sequeira. Evolução Histórica da União de Facto: da Sociedade Babilônica ao

Direito Português Contemporâneo. Trabalho apresentado à Universidade Autônoma de Lisboa. 2008. 9 CANOTILHO, J.J Gomes; MOREIRA, Vital. Constituição da República Portuguesa Anotada. 4. ed. revista,

vol. I. Coimbra: Coimbra, 2007, pp. 559-568.

Page 16: DEPARTAMENTO DE DIREITO - repositorio.ual.ptrepositorio.ual.pt/bitstream/11144/2990/1/Dissertação-Final... · 1 Primeira estrofe do poema Tabacaria, de Álvaro de Campos, heterônomo

16

Os impeditivos da produção de efeitos jurídicos previstos nestas leis continuam sendo

a idade (originalmente para menores de 16 anos, e atualmente, alterada pela Lei 23/2010, de

30 de Agosto, para menores de 18 anos); nos termos do art. 2 º, a saber:

“Impedem a atribuição de direitos ou benefícios, em vida ou por morte, fundados na

união de facto:

a) Idade inferior a 18 anos à data do reconhecimento da união de facto;

b) Demência notória, mesmo com intervalos lúcidos, e a interdição ou inabilitação

por anomalia psíquica, salvo se a demência se manifestar ou a anomalia se verificar

em momento posterior ao do início da união de facto;

c) Casamento não dissolvido, salvo se tiver sido decretada a separação de pessoas e

bens;

d) Parentesco na linha reta ou no 2.° grau da linha colateral ou afinidade na Lina

reta;

e) Condenação anterior de uma das pessoas como autor ou cúmplice por homicídio

doloso ainda que não consumado contra o cônjuge do outro.” 10

O art. 2° da lei de união de facto, trata de relações entre pessoas. Quando as pessoas

elencadas no art. 2º, na prática, resolvem se unir, não há como, legalmente, separá-las de

forma factual, porém essa união não está abrangida pelos direitos estipulados nesta lei. Os

seus sujeitos, mesmo vivendo há mais de 2 (dois) anos em união, não têm os direitos previstos

nos arts. 3º e 7º e na lei geral por remissão do art. 1º, n.º 2, todos constantes da Lei n.º7/2001,

de 11 de Maio e suas atualizações.

É importante lembrar que o art. 2º deve ser sujeito a uma interpretação restritiva. Seria

indesculpável tornar os unidos de facto isentos das responsabilidades e deveres decorrentes

dessa união, apesar de ser aceito que os direitos previstos na lei não sejam atribuídos.

Logo, aplica-se a Lei n.º 6/200111

, em seus arts. 1º, n.º 1 e n.º 3, de 11 de Maio, a todas

as uniões de fato não acolhidas pelo art. 2º da Lei n.º 7/2001, de 11 de Maio. No mais, são

aqui dipostos alguns pontos referentes aos impedimentos da (Lei n.º 7/2001):

1. Na versão original, a idade mínima era de 16, mas ao notar a união dos arts. 2º,

alínea a, e n.º 1 do art. 1º (há mais de dois anos) da Lei n.º 7/2001, de 11 de Maio,

é possível entender que o ordenamento jurídico reconhece direitos a uniões de

facto que se tenham iniciado com membros de 14 ou 15 anos, violando normas

imperativas da legislação e contrastando com o Código Penal, que aflige este tipo

de relações sexuais com pena de prisão. Com esta controvérsia, houve a

10

Lei n.º 7/2001, de 11 de Maio, com substituição pela Lei 23/2010, de 30 de Agosto. 11

Cf.: http://www.pgdlisboa.pt/leis/lei_mostra_articulado.php?nid=900&tabela=leis.

Page 17: DEPARTAMENTO DE DIREITO - repositorio.ual.ptrepositorio.ual.pt/bitstream/11144/2990/1/Dissertação-Final... · 1 Primeira estrofe do poema Tabacaria, de Álvaro de Campos, heterônomo

17

necessidade da alteração da idade mínima para 18 anos (feita pela Lei n.º 23/2010,

de 30 de Agosto - Artigo 2.º a).

2. Com relação à demência notória, mesmo nos intervalos lúcidos, encontramos

doutrinas que acreditam ser desnecessária esta referência, visto que para a união

de facto produzir efeitos a manifestação da vontade terá de ser contínua por mais

de dois anos e não há, como no casamento, um momento específico para haver

esse intervalo lúcido e o unido de facto possa manifestar a sua vontade de viver

em união.

Questão interessante é saber: quando um dos unidos se tornar demente interdito ou

inabilitado por anomalia psíquica seu companheiro goza dos direitos adquiridos, ou a união

deixa de produzir efeitos?

O Doutor França Pitão12

entende que a demência de um dos unidos não impede que a

união produza efeitos jurídicos, se estiverem assegurados os requisitos legais previstos no art.

1º, n.º 2, da Lei n.º 7/2001, de 11 de Maio. Isto é, a convivência em união de facto há mais de

dois anos.

Confirmando esse posicionamento, a Lei 23/2010, modificando a Lei 7/2001, vem

especificar que: “Art. 2º b – Demência notória, mesmo com intervalos lúcidos, e a interdição

ou inabilitação por anomalia psíquica, salvo se a demência se manifestar ou a anomalia se

verificar em momento posterior ao do início da união de facto.”.

3. Não dissolução de um possível casamento anterior, exceto em caso de uma

separação de bens e pessoas já decretada. O objectivo deste impedimento é o de

que o cônjuge separado de facto e que viva em união de facto regularize a

situação, através de um divórcio, ou por meio de separação judicial de pessoas e

patrimônios, com o intuito de evitar futuros conflitos de interesses como pensões.

4. O impedimento do parentesco de primeiro grau (ainda que por afinidade) ou,

em linha colateral, até segundo grau. As razões são notórias. Algumas de ordem

eugênica, outras de ordem moral ou social.

12

PITÃO. Op. cit.

Page 18: DEPARTAMENTO DE DIREITO - repositorio.ual.ptrepositorio.ual.pt/bitstream/11144/2990/1/Dissertação-Final... · 1 Primeira estrofe do poema Tabacaria, de Álvaro de Campos, heterônomo

18

No caso do grau de parentesco, o impedimento é para evitar o nascimento de crianças

com malformações e, também, porque a sociedade condena este gênero de relação. Na

afinidade, não há o motivo do risco de malformação de crianças, mas subsiste a questão

moral e social.

Neste item, o legislador não impediu os efeitos jurídicos da união de facto entre

adoptante e adoptados, mas as razões de ordem moral e sociais, acima referidas, existem

também nos casos de adopção.

5. O último dos impedimentos previstos é a condenação anterior de uma das

pessoas em união de facto, caso um dos envolvidos tenha sido anteriormente

condenado como autor ou cúmplice pelo homicídio doloso, ou mesmo pela

tentativa, do cônjuge do atual parceiro. A lei prevê o impedimento apenas se, no

momento em que as pessoas se unem de facto, existir uma condenação. A união

de facto iniciada após o trânsito em julgado da condenação é que cria o

impedimento.

O unido de facto deve ser condenado como autor ou cúmplice e terá de haver dolo

directo, necessário ou eventual (negligência não produz impedimento). Se a tentativa é

punível, não se exige a consumação do crime para que se figure o impedimento.

1.1.2 Mudanças na legislação

Ao longo das duas ultimas décadas, a união de facto está bem mais protegida, porém a

possibilidade de ser institucionalizada em um diploma legal, que regulamente seus requisitos

e efeitos, ainda é questão controversa.

Em Portugal, a união de facto foi, de certo modo, institucionalizada na Lei n.º

135/1999, de 28 de Agosto. Mais adiante, esta norma foi revogada pela Lei n.º 7/2001, de 11

de Maio, com atualizações (Leis 23/2010, de 30 de Agosto e Lei 2/2016, de 29 de fevereiro),

visando proteger, através de novas medidas, a união de facto. Embora na maioria dos países

não haja lei sobre esse tipo de relação, existem normas de proteção em algumas legislações

específicas, um grande equívoco que vem sendo mudado ao longo dos anos.

Page 19: DEPARTAMENTO DE DIREITO - repositorio.ual.ptrepositorio.ual.pt/bitstream/11144/2990/1/Dissertação-Final... · 1 Primeira estrofe do poema Tabacaria, de Álvaro de Campos, heterônomo

19

A lei traz à tona discussões que estavam necessitadas de uma nova análise e

enquadramento na situação real da sociedade atual, como em caso de morte do membro da

união de facto que seja o proprietário da casa de morada do casal. Sobre isso, a Lei n° 7/2001,

de 11 de Maio, concedeu ao membro sobrevivo direito real de habitação sobre a casa por

cinco anos e direito de uso do recheio. E, ao fim dos cinco anos, o companheiro sobrevivente

pode pleitear sua permanência no imóvel na condição de arrendatário.

A disposição dos n.º 3 e 4 do art. 4.º, não apenas confirmaram o decidido nos

Acórdãos ou ACS do Tribunal Constitucional n º 359/9113

e 1221/9614

como ainda ampliaram

tais decisões, permitindo que as soluções ali previstas possam valer, mesmo que não haja

filhos do casal. Por último, em matéria fiscal da Lei n º 7/2001, de facto, o regime do Imposto

sobre o Rendimento das Pessoas Singulares - IRS permite condições iguais aos dos sujeitos

que ainda estão casados e não possuem uma separação de pessoas e bens.

Conforme o art. 14.º do código do IRS publicado em anexo ao Decreto-lei n.º

1908/2001 de Julho, as pessoas que vivem em União de facto e preencham os requisitos da

respectiva lei podem optar pelo regime de tributação dos sujeitos passivos casados e não

separados de pessoas e bens que tiverem o mesmo domicílio fiscal durante o período

legalmente exigido.

Como visto, apesar de existirem algumas inovações, a mais significante é a permissão

da adopção conjunta de menores, independente de se tratar de casais heterossexuais ou

homossexuais, às pessoas que vivam em união de facto, nos termos da Lei n.° 2/2016, de 29

de Fevereiro, já referida.

Não podemos deixar de mencionar a conquista do casamento civil entre pessoas do

mesmo sexo, sobre o qual se tratará mais adiante, regulado pela Lei n.° 9/2010 de 31 de

Maio15

, um marco na luta contra a discriminação por orientação sexual, e que proibia aos

13

JURISPRUDÊNCIA: Declara a inconstitucionalidade, com força obrigatória geral, do assento do Supremo

Tribunal de Justiça de 23 de Abril de 1987, publicado no Diário da República, 1.ª série, de 28 de Maio de

1987, e não tem por verificada a inconstitucionalidade por omissão suscitada pelo requerente. (Corpo

emitente: Tribunal Constitucional. Fonte: Diário da República n.º 237/1991, Série I-A de 1991-10-15.

Data: 1991-10-15). Disponível em: http://publicos.pt/documento/id288649/acordao-359/91 14

JURISPRUDÊNCIA: Acórdão nº 1221/96. Cônjuges e o interesse dos filhos do casal. (Processo nº 278/94. 1ª

Secção Rel. Cons. Tavares da Costa. Acordam na 1ª Secção do Tribunal Constitucional). Disponível em:

http://www.pgdlisboa.pt/jurel/cst_busca_palavras.php?buscajur=ac%F3rd%E3o&ficha=9823&pagina=392&ex

acta=&nid=4968. 15

Cf.: http://www.pgdlisboa.pt/leis/lei_mostra_articulado.php?nid=1249&tabela=leis.

Page 20: DEPARTAMENTO DE DIREITO - repositorio.ual.ptrepositorio.ual.pt/bitstream/11144/2990/1/Dissertação-Final... · 1 Primeira estrofe do poema Tabacaria, de Álvaro de Campos, heterônomo

20

casais homossexuais o direito constitucional a que se refere o art. 36º da Constituição da

República Portuguesa - CRP16

.

1.1.3 Efeitos da união de facto

1.1.3.1 Efeitos pessoais

É notório que da união de facto nascem efeitos pessoais e que esta é ou será, por regra

e pela sua própria natureza, uma relação entre pessoas que querem construir um futuro e viver

um presente de afetos. Esta relação vai gerar efeitos pessoais, que devem ser protegidos

juridicamente, consagrando-se assim num conjunto de direitos, garantidos por lei. O direito,

portanto, não pode desconhecer a relação pessoal que liga os membros da união de facto um

ao outro.

A Lei n.° 37/198117

permite a aquisição da nacionalidade portuguesa a estrangeiro que

viva em união de facto com português há mais de três anos. Tal exigência não suscita

qualquer incongruência com o requisito de dois anos para o reconhecimento legal da união de

facto. Isto é, o prazo exigido pela Lei da Nacionalidade é o mesmo que se exige para o

casamento, equiparando-se os dois institutos18

.

Há ainda a possibilidade de quem vive em união de facto de ter a opção de marcar

férias em conjunto (art. 241°, n.° 7 do Código do Trabalho19

) e de se recusar a testemunhar

no caso de julgamento do(a) companheiro(a), segundo o art. 497° do Novo Código do

Processo Civil Português20

. Ou, quando a união de facto se constitui entre pessoas de sexo

16

CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA PORTUGUESA. 2. ed. Coimbra: Almedina, 2014. 17

Cf.: http://www.dgpj.mj.pt/sections/citius/livro-vii-leis-da/pdf2827/l-37-

1981/downloadFile/file/L_37_1981.pdf?nocache=1182328045.88. 18

O art. 3.°, n.° 3 da Lei da Nacionalidade ou Lei n.° 37/1981, de 3 Outubro, na redação dada ao art. 1.° da Lei

Orgânica n.° 2/2006 17 de abril e art. 14 n.°, 2, 4 e 5, e do Regulamento da nacionalidade, pelo Decreto-Lei

n.°, 237/2006, de 14 de Dezembro, tratam dessa equiparação. 19

Lei n.º 7/2009, de 12 de Fevereiro – Código do Trabalho. Subsecção: X Férias. 20

Cf.: Lei n.º 41/2013, de 26 de Junho – Novo Código de Processo Civil Português de 2013. Antigo artigo art.

618.° n.° 1.° al. d, sofreu alterações para o actual artigo 497.° NCPC

Page 21: DEPARTAMENTO DE DIREITO - repositorio.ual.ptrepositorio.ual.pt/bitstream/11144/2990/1/Dissertação-Final... · 1 Primeira estrofe do poema Tabacaria, de Álvaro de Campos, heterônomo

21

diferente, podem recorrer aos métodos de concepção assistida, ou à possibilidade de adotar

crianças (art. 6.°, n.° 1 da Lei n.° 17/2016- Procriação Medicamente Assistida21

).

1.1.3.2 Efeitos patrimoniais

Pitão22

comenta que “no código Civil de 1867, entendia-se que o regime de comunhão

geral de bens era o que melhor correspondia à essência do casamento, fazendo coincidir a

união de patrimônios com a união de pessoas”.

Os efeitos patrimoniais advindos da união de facto durante a vida da relação são

elencados no art. 3º da Lei n.° 7/2001, de 11 de Maio. Abaixo são explicadas e expostas as

questões, origens e os princípios que os rodeiam e os tornam necessários.

A) O "regime de bens do casamento" – Trata relações patrimoniais entre cônjuges

e entre estes e terceiros - previstas no código civil português na união de facto. Os

membros da União de facto, são vistos, em princípio, como estranhos um ao

outro, ficando suas relações patrimoniais sujeitas ao regime geral das relações

obrigacionais e reais. Segundo as regras do direito comum, cada um pode vender

bens móveis ou imóveis dar ou tomar de arrendamento, e também contrair

dívidas. Podem ainda os dois contratar um com outro; fazer contrato de compra e

venda de trabalho; locação; depósito; comodato e mútuo etc. O art. 1714° do

Código Civil –CC Português, que proíbe determinados contratos entre cônjuges,

não se aplica à união de facto.

A vida em economia comum, conhecida como "comunhão de mesa" é um dos aspectos

nos quais se baseia a união de facto, que pode durar muitos anos, durante os quais as pessoas

contraem dívidas, adquirem bens, movimentam contas bancárias, tudo com interferências nos

respectivos patrimônios. E, a partir disso, questiona-se se os membros da união de facto

poderão regular os aspectos patrimoniais da relação estabelecida em instrumento notorial,

inventariando os bens do casal, atribuindo presunções sobre a propriedade dos móveis e dos

valores depositados em contas bancárias, definindo a participação de cada um para as

despesas da casa, o pagamento das contas, por exemplo.

21

Cf.: Lei n.° 17/2016, de 20 de Junho- Procriação Medicamente Assistida- PMA (Versão Actualizada) da Lei

n.° 32/2006, de 26 de Julho). 22

PITÃO. Op. cit., p. 15.

Page 22: DEPARTAMENTO DE DIREITO - repositorio.ual.ptrepositorio.ual.pt/bitstream/11144/2990/1/Dissertação-Final... · 1 Primeira estrofe do poema Tabacaria, de Álvaro de Campos, heterônomo

22

Segundo as regras do direito comum, são válidas todas as cláusulas que podem ser

estipuladas por quaisquer pessoas nos seus contratos: um pacto de preferência, uma

convenção de indivisão pelo prazo fixado no art. 1412°, n.° 2, CC Português, um mandato,

uma prestação de garantia. O "contrato de coabitação" só pode regular os efeitos patrimoniais

da união de facto, não os efeitos pessoais. No entanto, a circunstância de vários atos jurídicos,

lícitos estarem reunidos em um só instrumento não invalida o "contrato de coabitação", mas é

impositivo que não exceda os limites da autonomia privada, violando disposições imperativas

da lei.

Desta forma, a cláusula em que os membros da união de facto se impõem obrigações

como a de fidelidade, prevista pelo art.1672° do CC, ou a que lhes proibem ruptura da união

de facto, sob pena de sanção, obviamente não seriam válidas. Dessa maneira não seria a

cláusula que, por morte de um dos companheiros da união de facto, atribuísse os seus bens ao

outro, como um pacto sucessório, proibida por lei (art. 2028°,n.°2 do CC).

Como visto, o "contrato de coabitação" não se confunde com a união de facto. O

"contrato de coabitação" é um contrato, ou melhor, uma união de contratos em que os

membros da união de facto reúnem, durante a vida da relação, e após a extinção desta, várias

espécies contratuais em vista da organização convencional nas suas relações patrimoniais.

B) As relações patrimoniais na união de facto se regem pelo direito comum das

relações obrigacionais e reais, podendo seus membros contratar com terceiros ou

entre si. Porém, o princípio geral comporta a excepção prevista na art. 953.° do

CC Português, que manda aplicar às doações, devidamente adaptado, o disposto

no art. 2196.° CC Português.

Uma das elucidações a fazer relaciona-se à falta de previsão da circunstância em que à

data da morte do doador o casamento já esteja dissolvido; a hipótese de ter sido decretada a

separação de pessoas e bens; ou até mesmo os cônjuges estarem separados de fato há mais de

seis anos.

Se válida, a doação produz imediatamente os seus efeitos como doação intervivos.

Porém, sendo nula, não pode ser validada por posterior ao divórcio ou à separação. Em face

ao disposto na al. a, do n.° 2 do art. 2196.° CC Português, notamos que o caso de dissolução

pode ser equiparado ao de anulação do casamento ou declaração de nulidade. Portanto, não

parece justa a exigência dos 6 (seis) anos de separação de facto, visto que a lei, atualmente, se

Page 23: DEPARTAMENTO DE DIREITO - repositorio.ual.ptrepositorio.ual.pt/bitstream/11144/2990/1/Dissertação-Final... · 1 Primeira estrofe do poema Tabacaria, de Álvaro de Campos, heterônomo

23

contenta com 3 (três) anos para poder ser pedido o divórcio litigioso (segundo a nova

redacção que lhe deu a Lei n.° 47/1998, de 10 de Agosto)23

.

Concluindo: É nula a doação à pessoa com quem o doador casado "cometeu

adultério".

Com a missão de proteger o cônjuge do doador, para que a doação seja nula, é

necessário ser o adultério anterior. Neste caso, a doação já feita e aceita pelo donatário antes

do adultério é plenamente válida. Entretanto, menos claro é saber quando o doador "cometeu

adultério". Tomada a disposição legal à letra, bastaria um acto isolado de adultério ou uma

relação acidental e esporádica para tornar nula a doação de um cônjuge adúltero ao seu

cúmplice, mas parece justificar-se uma interpretação restritiva do preceito, que só quer

abranger situações de união de facto ou concubinato duradouro.

Nota-se por último que o art. 953° do CC Português só fere de nulidade a doação

quando o doador for casado. Se for solteiro, viúvo ou divorciado, a doação feita é válida, não

podendo ser invalidada como "ofensiva dos bons costumes" nos termos do art. 280°, n.° 2 do

CC Português. Só não será assim, se a doação se destinar a pagar o estabelecimento de

relações sexuais, constituindo os bens ou valores doados, verdadeiramente, o prentium stupri.

Em certas circunstâncias, por exemplo, se a atribuição patrimonial for efetuada no termo de

uma longa vida em comum, em que o atribuído beneficiou largamente o atribuinte na sua vida

pessoal e profissional, a atribuição pode até configurar o cumprimento de uma obrigação

natural, quando, embora não inicialmente exigível, corresponda a um dever de Justiça (art.

402.° do CC). Tal qualificação terá relevância, não só para efeitos fiscais, mas também

porque, não se tratando de doação, a atribuição não poderá ser revogada por ingratidão do

donatário (art. 970° do CC) ou inoficiosidade (art. 2168° do CC) nem terá de ser restituída à

massa da herança para efeito de cálculo da legítima (art. 2162.° do CC).

A distinção já era feita pelo Doutor Manuel de Andrade24

, segundo quem, se a

liberdade foi destinada a criar ou a manter a relação concubinária e assim ficou entendido ou

acordado entre as partes, não se tratará verdadeiramente de uma doação, mas de um "contrato

bilateral inominado do tipo do ut facias", nulo por ilicitude da causa, dada a imoralidade do

23

Divórcio por mútuo consentimento e divórcio litigioso. Art. 17810

. Ruptura da vida em comum. São ainda

fundamento do divórcio litigioso: a) A separação de facto por três anos consecutivos. Cf.:

http://pglisboa.pt/leis/lei_mostra_articulado.php?nid=804&tabele=leis. 24

ANDRADE, Manuel A. de Domingues. Teoria geral da relação jurídica. Volume II. Coimbra: Almedina,

1960.

Page 24: DEPARTAMENTO DE DIREITO - repositorio.ual.ptrepositorio.ual.pt/bitstream/11144/2990/1/Dissertação-Final... · 1 Primeira estrofe do poema Tabacaria, de Álvaro de Campos, heterônomo

24

compromisso tomado pela pseudo-donataria, que constitui a causa da obrigação da outra parte

ou da transferência de bens que ela pretendeu realizar.25

C) Os membros da união de facto vivem em comunhão de leito mesa e habitação

como se fossem casados, o que cria uma aparência de vida matrimonial capaz de

suscitar a confiança de terceiros que contratem com os membros de relação, ou

com um deles.

Parece razoável estender à união de facto o art. 1691°, al. b, do CC Português,

entendendo que os sujeitos da relação são solidariamente responsáveis (art. 1695°, n.° 1) pelas

dívidas contraídas por qualquer deles para ocorrer aos encargos normais de uma vida em

comum.

D) Outra questão é saber se a pessoa que vive em união de facto com outra pode

exigir alimentos ao ex-cônjuge de quem se divorciou, se tiver necessidade, e tendo

o ex-cônjuge possibilidade de prestar-lhes; se a pessoa que estava a receber uma

pensão de sobrevivência por morte do cônjuge, ou uma pensão de alimentos do

ex-cônjuge de quem se divorciara, perde direito à pensão se passar a viver em

união de facto; ou se a pessoa que recebia pensão de alimentos da herança do

falecido, nos termos do art. 2020.° CC Português perde o direito à pensão se

passar a viver em outra união de facto (nos termos do art. 2019.°).

A questão aqui consiste em saber se a união de facto, por si só, impede a constituição

de um direito a alimentos, ou extingue a pensão ou direito existente.

No que se refere à obrigação alimentar entre os cônjuges ou ex-cônjuges, o art. 2019°

do CC Português dispõe que o direito a alimentos cessa se o beneficiário deixar de ser digno

do benefício por alguma atitude imoral ou amoral. Segundo o art. 47°, n.° 1, al, e) do Estatuto

das pensões de sobrevivência (Decreto-Lei n.° 142/1973, de 31 de março), com relação à

pensão de sobrevivência do funcionalismo público, a condição de pensionista extingue-se

"pela indignidade do pensionista resultante do seu comportamento moral, declarada por

sentença judicial em ação intentada por qualquer dos herdeiros hábeis", e o art. 41.°, al. b)

do Decreto-Lei n.° 322/1990, de 18 Outubro, remete para o art. 10° do mesmo diploma, que

extingue o direito à pensão de sobrevivência pelo “reconhecimento judicial de que o

pensionista se encontra nas situações previstas no art. 2034.° do CC Português ou necessita

25

ANDRADE (1960). Op. cit., p. 347.

Page 25: DEPARTAMENTO DE DIREITO - repositorio.ual.ptrepositorio.ual.pt/bitstream/11144/2990/1/Dissertação-Final... · 1 Primeira estrofe do poema Tabacaria, de Álvaro de Campos, heterônomo

25

de capacidade sucessória em razão de deserdação nos termos do art. 2166.° CC Português,

considerando-se autor da sucessão o beneficiário falecido”.

Na “indignidade” ou na “indignidade resultante do comportamento moral”, caberão,

por exempo, a prática da prostituição ou a exploração de uma casa de passe. Porém, a união

de facto não cabe, absolutamente, em quaisquer das formulações referidas. Viver em união de

facto não é uma indignidade. É a manifestação do direito ao livre desenvolvimento da

personalidade, ainda que o direito estabeleça diferenças entre casamento e união de facto,

dada à diversidade das situações. Devemos lembrar, entretanto, que, deste modo, a união de

facto é favorecida em relação ao casamento, o qual faz cessar o direito do credor de alimentos

ou o do pensionista, nos termos das referidas exposições.

O Acórdão do Tribunal da Relação de Coimbra, em 25 de Outubro de 2011 – processo

127/10.0 TBLSA.C126

- decidiu que a pessoa que vive em união de facto com outra, desde

que apresentados os requisitos legais para essa comprovação, pode reclamar pensão de

sobrevivência pela morte de seu atual companheiro, ainda que exista um ex-cônjuge anterior à

essa união de facto.

E) O art. 3°, al. d) da Lei n.° 7/2001, de 11 de Maio, torna aplicável aos membros

da união de facto o regime do imposto sobre o IRS (Rendimento das Pessoas

Singulares) em condições iguais às dos sujeitos casados e ainda não separados de

bens e pessoas.

F) De posse dos documentos requeridos para a prova da união de facto, que são:

documento feito pela Junta de Freguesia, onde se oficializa que uma das partes

mora com o titular beneficiário há mais de dois anos, apresentando documentação

declaratória dos envolvidos, parceiros da união de facto, que confirmam a união

há mais de dois anos.

Ou seja, o parceiro unido de facto com o beneficiário titular pode inscrever-se na

Assistência na Doença aos Servidores do Estado (ADSE) como beneficiário familiar, nos

26

JURISPRUDÊNCIA: JTRC. SÍLVIA PIRES. UNIÃO DE FACTO. PRESTAÇÃO SOCIAL. PENSÃO DE

SOBREVIVÊNCIA. REGIME APLICÁVEL. 25/10/2011. UNANIMIDADE. TRIBUNAL JUDICIAL DA

LOUSÃ. APELAÇÃO REVOGADA. DECRETO-LEI Nº 322/90, DE 18 DE OUTUBRO; DECRETO

REGULAMENTAR Nº 1/94, DE 18 DE JANEIRO; ALÍNEA E) DO ARTº 3, EX VI ARTº 6º, DA LEI Nº

7/2001, DE 11 DE MAIO; LEI N.º 23/2010, DE 30 DE AGOSTO. (Acórdão. Relação de Coimbra, 25-10-

2011, proc. n.° 127/10.0 TBLSA.C1). Disponível em:

http://www.dgsi.pt/jtrc.nsf/c3fb530030ea1c61802568d9005cd5bb/e3a31adee5b6d8f580257950003c03a8?Ope

nDocument.

Page 26: DEPARTAMENTO DE DIREITO - repositorio.ual.ptrepositorio.ual.pt/bitstream/11144/2990/1/Dissertação-Final... · 1 Primeira estrofe do poema Tabacaria, de Álvaro de Campos, heterônomo

26

termos do art. 7°, n.° 1, do Decreto-Lei n.° 118/1983, de 25 de fevereiro, na redação que lhe

deu o art. 1.° do Decreto-Lei n.° 234/2005, de 30 de Dezembro, e da portaria n.° 701/2006, de

13 de Julho. Note-se que o art. 8.°, n.° 3 , do Decreto-Lei n.° 118/1983 permite ainda, nos

termos previstos no n.° 2.° daquela Portaria, que o companheiro seja inscrito como

beneficiário familiar do beneficiário titular falecido.

1.2 OS EFEITOS JURIDICOS DAS UNIÕES HOMOAFETIVAS EM PORTUGAL

A Constituição da República Portuguesa em seu art. 13º, nº 2, veda a discriminação

por orientação sexual e, em seu art. 36º, consagra o direito fundamental de contrair

casamento. Com base nesse dispositivo, a questão já tinha o fundamento necessário para a

discussão e para os dispositivos do Código Civil Português serem considerados

inconstitucionais. Ocorre que essa sempre foi uma posição minoritária dos doutrinadores

portugueses.

Portugal vem avançando no âmbito do reconhecimento jurídico dos direitos da

homoafetividade nos últimos anos, porém ainda tem a sua legislação aquém do esperado e,

por diversas vezes, em contradição ao disposto na Constituição da República Portuguesa,

principalmente se comparado a países como Espanha, França e Bélgica.

A CR Portuguesa no art. 13°, n° 2 proíbe a discriminação por orientação sexual ao

vetar, de modo expresso, posturas discriminatórias e, dessa forma, sendo mais abrangente que

a legislação brasileira, que não tem tal referência explícita27

.

As relações e, consequentemente, a união de pessoas do mesmo sexo existe desde os

tempos mais remotos. As relações entre iguais começaram a se tornar alvo do preconceito

social a partir da sacralização do conceito de família pelas Religiões Ocidentais, o que

conferiu às relações sexuais uma finalidade exclusivamente procriativa. A completa falta de

visibilidade em que se encontram e/ou encontravam os vínculos afetivos - que têm como

único diferencial a homoafetividade - é a mais cruel consequência da exclusão no âmbito

jurídico.

27

CHAVES, Marianna; DIAS, Maria Berenice. [Em Linha] Porto Alegre, 2011. As Famílias Homoafetivas no

Brasil e em Portugal. [Consult. 27 Out. 2015]. Disponível em www.mariaberenice.com.br..

Page 27: DEPARTAMENTO DE DIREITO - repositorio.ual.ptrepositorio.ual.pt/bitstream/11144/2990/1/Dissertação-Final... · 1 Primeira estrofe do poema Tabacaria, de Álvaro de Campos, heterônomo

27

Para acompanhar os novos modelos de família, as lutas pelos direitos humanos e a

laicização dos Estados estão construindo novas sociedades no mudo atual, reconhecendo que

há uma necessidade urgente de reconhecer uniões entre pessoas como união de sentimentos,

que devem ser caracterizadas assim, mesmo entre as pessoas do mesmo sexo, por isso a

utilização da expressão homoafetividade. Assim, o estudo e o reconhecimento das uniões

homoafetivas e seus direitos decorrentes passaram a constar na pauta jurídica do mundo

ocidental.

Os efeitos da união estável são reduzidos, mormente no que tange o direito da

proteção da morada de família que, no caso do falecido ser dono do imóvel, dá o direito real

de habitação ao companheiro sobrevivente durante cinco anos. Passado esse prazo, é

concedida ao sobrevivente a faculdade de comprar o bem, a menos que exista disposição

testamentária em sentido contrário. Ressaltamos que esse direito não é reconhecido caso o

falecido tenha descendentes com menos de um ano, ou se o descendente tiver convivido por

mais de um ano com o genitor.

Homossexualidade nada mais é que afeto. Os sujeitos de Direito não podem ser a

origem ou a ferramenta de grandes injustiças. Enquanto a lei não acompanha a evolução do

conceito de moralidade da sociedade e a mudança de mentalidade, não temos o direito de

fechar os olhos e/ou assumir postura discriminatória, porque não queremos enxergar essa

nova realidade. É preciso que haja novas discussões e que os princípios e preconceitos sejam

sanados. Esta realidade demanda dos homens da lei uma proximidade maior à realidade

prática. Não nos cabe confundir questões jurídicas com as questões morais e religiosas.

1.2.1 Lei 135/1999, de 28 de Agosto

A lei em questão (posteriormente revogada pela Lei 7/2001, de 11 de Maio) não define

união de facto, limitando-se a delimitar o objecto que pretende regulamentar. Os efeitos

jurídicos da união de facto dependiam, assim, da verificação de dois requisitos:

heterossexualidade e um prazo mínimo de duração de dois anos. Pressupondo que essas

pessoas viviam em condições análogas às dos cônjuges. Este diploma limitou-se a

regulamentar os casos em que a legislação vigente era omissa ou de aplicação duvidosa.

Page 28: DEPARTAMENTO DE DIREITO - repositorio.ual.ptrepositorio.ual.pt/bitstream/11144/2990/1/Dissertação-Final... · 1 Primeira estrofe do poema Tabacaria, de Álvaro de Campos, heterônomo

28

1.2.2 União de facto (Lei 7/2001, de 11 de Maio)

A Lei 7/2001, de 11 de Maio, alterou substancialmente a lei anterior, embora o

legislador tenha continuado sem definir o que deve entender-se por união de facto. O art. 1.º

discorre que a união estável se trata da situação de duas pessoas que vivam juntas, em

comunhão de cama, mesa e habitação, independentemente da diversidade de sexo entre elas.

Mantém-se o requisito da exigência de durabilidade mínima de dois anos.

A primeira questão, a saber, é como se faz prova de que a relação existe de facto, e a

partir de quando podemos dizer estar a mesma constituída. A Lei 135/1999, de 28 de Agosto,

não definia as exigências formais para a comprovação ou para a cessação da união de facto.

Portanto, entendeu-se cabível a prova testemunhal e declaratória. No entanto, a Lei 23/2010

aditou o art. 2º-A à Lei 7/2001, que legisla sobre o tema e define que, salvo disposição legal

específica, se aceita como método comprobatório, qualquer meio legalmente admissível.

A Lei 7/2001 sofreu duas atualizações: A primeira em 30 de Agosto de 2010, com a

Lei 23/2010, e a segunda em 29 de fevereiro, com a Lei 2/2016.

1.2.3 Casamento na união homoafetiva (Lei 9/2010 de 31 de Maio)

A antiga redação do CC Português defendia no Art. 1577º “que o casamento é

contrato celebrado entre duas pessoas de sexo diferente que pretendem constituir família

mediante uma plena comunhão de vida”28

.

E, na intenção de extinguir qualquer possibilidade, o CC Português determinava: “Art.

1628º, al. “e”, que o casamento contraído por duas pessoas do mesmo sexo deveria ser tido

como inexistente”29

.

Esta questão que restringia o acesso ao casamento às pessoas de sexo distinto, já havia

sido trazida à tona algumas vezes na tentativa de alterar a legislação. Dois projetos de lei

foram derrubados na votação. Em 2010, foi aprovado pela Assembleia da República

Portuguesa, o Decreto que garantiu aos homossexuais o acesso ao instituto do casamento

civil, pela Lei nº 9/2010, de 31 de Maio.

28

CC Português. 29

Id.

Page 29: DEPARTAMENTO DE DIREITO - repositorio.ual.ptrepositorio.ual.pt/bitstream/11144/2990/1/Dissertação-Final... · 1 Primeira estrofe do poema Tabacaria, de Álvaro de Campos, heterônomo

29

A nova lei alterou os arts. 1577º do CC Português - Noção de casamento, 1591º -

Ineficácia da promessa de casamento, e 1690º- Legitimidade dos cônjuges para contrair

dívidas, e revogou a alínea “e” do art. 1628º que caracterizava o casamento entre pessoas do

mesmo sexo como inexistente. A partir de então, a única barreira a ser ultrapassada era o art.

3º do CC Português, que continuava proibindo a adoção por casais homossexuais.

Felizmente, essa discriminação foi eliminada na Lei n.° 2/2016, de 29 de Fevereiro,

que, com o seguinte texto do seu art. 1º, corrobora com mais uma suada vitória do amor entre

as pessoas como requisito de maior importância na formação de uma família: “A presente lei

elimina as discriminações no acesso à adoção, apadrinhamento civil e demais relações

jurídicas familiares (...)”.

A partir da liberação legal do casamento civil homoafetivo (Lei n.° 9/2010, de 31 de

Maio), é preciso acender as luzes em determinados tópicos e ressaltar que, a partir de então,

os contratos de casamentos entre pessoas do mesmo sexo terão que ter o mesmo olhar e

cuidado que os entre heterossexuais, inclusive com relação ao regime. Sobre isso, Miguel

Reis cita o art. 1594º 1 do CC Português, acerca da promessa de casamento, que diz:

“[...] se algum dos contraentes romper a promessa sem justo motivo ou, por culpa

sua, der lugar a que outro se retrate, deve indemnizar o esposado inocente, bem

como os pais deste ou terceiros que tenham agido em nome dos pais, quer das

despesas feitas, quer das obrigações contraídas na previsão do casamento.”30

É o caso de levarmos em consideração que alguém, apenas por brincadeira,

curiosidade ou com a intenção de submeter o outro a situação embaraçosa, promete, sem

nenhuma intenção de cumprir, casar com uma pessoa do mesmo sexo, e que, após atingir seu

objetivo, anuncia o rompimento.

Visto isso, não podemos também, deixar de discorrer sobre o regime de bens.

Como todo casamento, o casamento civil entre pessoas do mesmo sexo também tem

um regime matrimonial de bens. O regime de bens é, na prática, um conjunto de normas -

algumas negociáveis e outras impostas pela lei - que regulam a as relações carácter

patrimonial que tem relação com a vida familiar. O Art. 1698º estipula: “os esposos podem

30

REIS, Miguel. Guia prático do casamento entre pessoas do mesmo sexo em Portugal. [Em linha]. São

Paulo, agosto de 2010. [Consult. 27 Fev. 2016]. Disponível na Internet em: <URL

http://www.mreis.pt/resources/GUIA%20PR%C3%81TICO_resumo.pdf>.

Page 30: DEPARTAMENTO DE DIREITO - repositorio.ual.ptrepositorio.ual.pt/bitstream/11144/2990/1/Dissertação-Final... · 1 Primeira estrofe do poema Tabacaria, de Álvaro de Campos, heterônomo

30

fixar livremente, em convenção antenupcial, o regime de bens do casamento, quer escolhendo

um dos regimes previstos neste código quer estipulando o que a esse respeito lhes aprouver,

dentro dos limites da lei”.

De forma concreta e geral, o CC Português nos apresenta três tipos de regime:

1) Comunhão de adquiridos

De acordo com o CC Português, temos as seguintes orientações: “Art. 1717º - na falta

de convenção antenupcial, ou no caso de caducidade, invalidade ou ineficácia da convenção,

o casamento considera-se celebrado sob o regime da comunhão de adquiridos”.31

Os nubentes podem, assim, estipular, em convenção antenupcial, o regime de

comunhão de adquiridos, de acordo com o CC Português, sendo essa uma possibilidade desde

1966, como regime supletivo. Essa determinação decorreu da instabilidade verificada nas

uniões a partir desta década, ofertando uma solução mais adequada em momentos de crise32

.

Não havendo essa convenção, prevalece, no entanto, o determinado pelo art. 1717º deste

diploma, nas condições acima referidas de invalidade, caducidade ou ineficácia da convenção

prévia.

Dito isso, os arts. 1721 e seguintes do CC Português, regulamentam o regime e

apresentam, por exemplo, o rol de bens que são considerados como bens próprios de cada

cônjuge.

“Art. 1722º, 1 - são considerados bens próprios dos cônjuges: a) Os bens que cada

um deles tiver ao tempo da celebração do casamento; b) Os bens que lhes advierem

depois do casamento por sucessão ou doação; c) Os bens adquiridos na constância

do matrimonio por virtude de direito próprio anterior.” 33

Considerando ainda como bens adquiridos durante o matrimônio em direito próprio

anterior, temos os seguintes exemplos:

“Art. 1722º, 2 - a) Os bens adquiridos em consequência de direitos anteriores ao

casamento sobre patrimónios ilíquidos partilhados depois dele; b) Os bens

adquiridos por usucapião fundada em posse que tenha o seu início antes do

casamento; c) Os bens comprados antes do casamento com reserva de propriedade;

d) Os bens adquiridos no exercício de direito de preferência fundado em situação já

existente à data do casamento.” 34

31

CC Português. Op. cit. 32

CAMPOS, Diogo Leite de. Lições de Direitos da Família e das Sucessões. Coimbra: Almedina, 2013. 33

CC Português. Op. cit. 34

Id.

Page 31: DEPARTAMENTO DE DIREITO - repositorio.ual.ptrepositorio.ual.pt/bitstream/11144/2990/1/Dissertação-Final... · 1 Primeira estrofe do poema Tabacaria, de Álvaro de Campos, heterônomo

31

Segundo o CC Português, integram a comunhão, sendo por isso bens comuns, como

prevê o Art. 1724º: “a) O produto do trabalho dos cônjuges; b) Os bens adquiridos pelos

cônjuges na constância do matrimónio, que não sejam excetuados por lei”35

.

Na tentativa de diminuir ao máximo a dificuldade em diferenciar os bens próprios dos

bens comuns, o 1725º do CC Português deixa claro quais os bens comuns caso haja alguma

dúvida sobre a comunicabilidade dos bens móveis.

2) Comunhão de bens

No CC Português é explicado o regime da comunhão geral, que no Art. 1732º, advoga:

“patrimônio comum é constituído por todos os bens presentes e futuros dos cônjuges, que não

sejam excetuados por lei”36

.

O art. 1733º do CC Português, 1 define que são bens incomunicáveis os seguintes:

“a) Os bens doados ou deixados, ainda que por conta da legítima, com a cláusula de

incomunicabilidade; b) Os bens doados ou deixados com a cláusula de reversão ou

fideicomissária, a não ser que a cláusula tenha caducado; c) O usufruto, o uso ou

habitação, e demais direitos estritamente pessoais; d) As indemnizações devidas por

factos verificados contra a pessoa de cada um dos cônjuges ou contra os seus bens

próprios; e) Os seguros vencidos em favor da pessoa de cada um dos cônjuges ou

para cobertura de riscos sofridos por bens próprios; f) Os vestidos, roupas e outros

objetos de uso pessoal e exclusivo de cada um dos cônjuges, bem como os seus

diplomas e a sua correspondência; g) As recordações de família de diminuto valor

econômico.”37

Em seu número 2, o art. 1733° do CC Português deixa claro que a incomunicabilidade

dos bens não atua sobre os frutos nem o valor das benfeitorias úteis.

3) Separação de bens

Regulamentando o regime de separação de bens, o CC Português diz no Art. 1735º

que: “se o regime de bens imposto por lei ou adotado pelos esposados for o da separação,

cada um deles conserva o domínio e fruição de todos os seus bens presentes e futuros,

podendo dispor deles livremente”.

Os esposados estipulam, na convenção antenupcial, cláusulas de presunção sobre a

propriedade dos móveis. A eficácia desta presunção é extensiva a terceiros, mas não pode

35

CC Português. Op. cit. 36

Id. 37

Id.

Page 32: DEPARTAMENTO DE DIREITO - repositorio.ual.ptrepositorio.ual.pt/bitstream/11144/2990/1/Dissertação-Final... · 1 Primeira estrofe do poema Tabacaria, de Álvaro de Campos, heterônomo

32

prejudicar o contraditório. Se houver dúvidas sobre a quem pertence o bem, os bens móveis

serão de ambos os cônjuges.

No regime imperativo da separação de bens, fugindo à regra geral de liberdade, temos

os casos das alíneas a) e b) do nº1 do art.1720º do CC Português, referentes às uniões

celebradas sem precedência do processo preliminar de casamento e por quem tenha

completado 60 anos de idade. Nestes casos, a lei impõe aos nubentes o regime de separação

bens.

1.2.4 Os direitos e deveres do casal homoafetivo

A Lei 7/200138

, que teve como dito anteriormente, versão atualizada em 2016, tem aqui

destacados os pontos referentes a direitos e deveres do casal em relação homoafetiva,

conforme elencados:

“A) Caso cesse a união de facto, com a morte de um dos companheiros, o outro tem

direito de proteção da casa de moradia da família.

B) Os mesmos direitos dos cônjuges no que tange aos benefícios do regime

e licenças, faltas, férias e colocação prioritária os funcionários da Administração

Pública.

C) IRS equivalente aos cônjuges.

D) Aplicação do regime geral da segurança social e da lei em caso de falecimento do

titular.

E) Garantia de prestação quando houver morte por acidente de trabalho ou por

doença ligada à profissão.

F) Pensões em caso de prestação serviços excepcionais ao país.

G) IRS conjunta (desde 2002), que poderá servir como prova de união caso não haja

registro.

H) Direito a ADSE (Direcção Geral de Protecção Social aos Funcionários e Agentes

da Administração Pública).

I) A partir de 2006, iniciou-se a possibilidade dos funcionários do estado registrarem

seus companheiros (as) com equivalência aos cônjuges.

J) Nacionalidade portuguesa – Quando a união estável com um português durar mais

de 3 anos vivendo em território nacional.” 39

Algumas situações, além das retro descritas, são aplicáveis aos unidos de facto:

“A) Possibilidade de acesso ao perfil de ADN da pessoa com quem se vive em união

de facto (Lei n.º 5/2008 de 12 de Fevereiro);

B) Transmissão de Arrendamento Rural na Região Autónoma dos Açores (Decreto

Legislativo Regional n.º 29/2008/A);

C) Protecção nos encargos familiares como Abonos de Família e Subsídio de

Funeral (Decreto-Lei n.º 176/2003 de 2 de Agosto);

38

Lei 7/2001, de 11 de Maio. Protecção das uniões de facto (versão actualizada). Cf.:

<http://www.pgdlisboa.pt/leis/lei_mostra_articulado.php?nid=901&tabela=leis&so_miolo=> 39

Id.

Page 33: DEPARTAMENTO DE DIREITO - repositorio.ual.ptrepositorio.ual.pt/bitstream/11144/2990/1/Dissertação-Final... · 1 Primeira estrofe do poema Tabacaria, de Álvaro de Campos, heterônomo

33

D) Reconhecimento ao Direito ao Complemento Solidário para Idosos (Decreto

Regulamentar n.º 14/2007);

E) Usufruto das Casas de Função Atribuídas a Funcionários Públicos (Decreto-Lei

n.º 280/2007 de 7 de Agosto);

F)Concessão de visto para acompanhamento familiar (Decreto Regulamentar n.º

84/2007 de 5 de Novembro);

G) Aplicação do programa de apoio financeiro Porta 65 — Arrendamento por

Jovens (Decreto-Lei n.º 308/2007 de 3 de Setembro);

H)Aplicação do Programa de Financiamento para Acesso à Habitação

(PROHABITA) (Decreto-Lei n.o 54/2007 de 12 de Março).” 40

1.2.5 Adoção por casal homoafetivo (Lei 2/2016, de 29 de fevereiro)

A adoção é um instituto com um forte viés de ficção jurídica, que cria um vínculo

paterno/materno filial, que não corresponde à realidade biológica. É, portanto, a adoção uma

filiação fundamentalmente jurídica, sustentada no pressuposto de um liame não genético ou

biológico, mas afetivo41

.

Em Portugal, a adoção singular, individual ou monoparental, emergiu com a Reforma

de 1977 do CC Português e, com sua difusão, passou a ser a modalidade mais procurada por

pessoas solteiras, nutridas por um desejo, até então proibido, de exercer o seu direito à

parentalidade. Como também, pelas que, em vista da situação de facto vivida, desejavam

adotar o filho do cônjuge ou companheiro.

Houve a abertura para a adoção unilateral por um homossexual, pois foi facultado esse

tipo de adoção plena unilateral às pessoas com mais de 25 ou mais de 30 anos, nos casos em

que o adotando fosse filho do cônjuge do adotante. Porém, de acordo com o art. 1973º, nº 2 do

CC Português, devia existir um inquérito sobre a idoneidade do adotante para educar e criar o

adotando, assim como acerca da situação econômica e familiar antes de a sentença ser

proferida.

Para derrubar a pretensão de adoção por casais homossexuais, o art. 3º foi bem claro

ao dispor que, as alterações introduzidas pela Lei n° 9/2010, de 31 de Maio, não implicavam a

admissibilidade legal da adoção por pessoas que pertencessem ao mesmo sexo, em qualquer

das suas modalidades, ainda que unidas pelo vínculo matrimonial.

40

Lei 7/2001, de 11 de Maio. Op. cit. 41

DIAS, Maria Berenice. Manual de Direito de Famílias. 10. ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais,

2015, p.484.

Page 34: DEPARTAMENTO DE DIREITO - repositorio.ual.ptrepositorio.ual.pt/bitstream/11144/2990/1/Dissertação-Final... · 1 Primeira estrofe do poema Tabacaria, de Álvaro de Campos, heterônomo

34

É imperioso aqui afirmar que as vedações encontradas pelos companheiros ou

cônjuges homossexuais estavam maculadas por inconstitucionalidade na análise do casamento

civil, em virtude do disposto no n. 2 do art. 13º da Constituição da República Portuguesa42

.

Um dos fortes argumentos utilizados contra a adoção homoafetiva era a de que a

criança necessita, invariavelmente, de referências de pai e de mãe. Argumento facilmente

derrubável com a simples indicação de que, ao agarrar-se a essa lógica, indo de encontro à

norma legal43

, uma vez que, em assim sendo, estaríamos considerando as famílias

monoparentais como entidades familiares que também não poderiam ser abrangidas pela

norma legal.

Essa proibição ao pleito do casal homossexual fez com que um enorme número de

crianças perdesse o direito de sair da institucionalização, privando-as de experimentar o amor.

Fez, ainda, com que os casais deixassem de exercer o seu direito à parentalidade. Tudo em

nome de discriminações infundadas, atentatórias ao próprio conteúdo da Constituição da

República Portuguesa.

Felizmente, na contramão dessa privação de direitos infundada, a Assembleia da

República portuguesa aprovou, à época, por meio do Projeto de Lei nº 278/XII44

, a coadoção

por homossexuais. Dessa forma, o cônjuge, ou o membro de união de facto homoafetiva, está

autorizado a adotar a prole do seu par.

É importante relembrar que a adoção trata-se de uma situação de vida, de uma escolha,

uma opção, um ato de amor, mais do que uma questão meramente jurídica, prevalecendo a

necessidade de compreender o desejo puro de quem decide adotar uma criança e a

necessidade latente de quem espera ansiosamente a possibilidade de ser integrado a uma

família. Tais fatos e circunstâncias não dependem, em absoluto, da orientação sexual de todos

os envolvidos. Maria Berenice Dias postula:

“A homoafetividade vem adquirindo transparência e aos poucos obtendo aceitação

social. Cada vez mais gays e lésbicas estão assumindo sua orientação sexual e

buscando a realização do sonho de estruturar uma família com a presença de filhos.

Vã é a tentativa de negar ao par, o direito à convivência familiar ou deixar de

reconhecer a possibilidade de crianças viverem em lares homossexuais.”45

42

CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA PORTUGUESA. Op. cit. 43

Lei n.º 7/2001, de 11 de maio. Op. cit. 44

Cf.: https://www.parlamento.pt/ActividadeParlamentar/Paginas/DetalheIniciativa.aspx?BID=37202. 45

DIAS, Maria Berenice. União Homoafetiva. [Em linha]. Revista dos tribunais, [Consult. 03 Mar. 2016].

Disponível em http://www.mariaberenice.com.br.

Page 35: DEPARTAMENTO DE DIREITO - repositorio.ual.ptrepositorio.ual.pt/bitstream/11144/2990/1/Dissertação-Final... · 1 Primeira estrofe do poema Tabacaria, de Álvaro de Campos, heterônomo

35

Após árduas batalhas e manifestações, a adopção por casais do mesmo sexo foi

aprovada na especialidade no Parlamento pela Comissão de assuntos constitucionais, direitos,

liberdades e garantias, em 18 de Dezembro de 2015, mas sofreu o veto do presidente Aníbal

Cavaco Silva em 25 de janeiro de 2016 .46

Em nova análise, o parlamento aprovou com 137

votos a favor e 73 contra, o Decreto vetado pelo presidente. Decisão que, finalmente, deu

origem à Lei 2/2016, de 29 de Fevereiro.

O novo texto para a Lei 7/2001, de 11 de Maio, e da Lei 9/2010, 31de Maio, incluiu o

fim da discriminação dos casais de homossexuais ou lésbicas na adopção e também uma

medida proveniente de um projecto de lei que pede a alteração do Código do Registo Civil

"tendo em conta a adopção, a procriação medicamente assistida e o apadrinhamento civil

por casais do mesmo sexo".

A alteração feita pelo art. 3º da Lei 2/2016, de 29 de fevereiro, no art. 3º da Lei

9/2010, de 31 de maio, estabelece: “O regime introduzido pela presente lei implica a

admissibilidade legal de adoção, em qualquer das suas modalidades, por pessoas casadas

com cônjuge do mesmo sexo”.

A ausência de pais dos dois sexos não influencia o desenvolvimento da identidade

sexual e psicológica da prole. O modelo de identidade de referências femininas e masculinas

não resta prejudicado, tendo em vista poder ser exercitado pela presença de outros adultos na

vida do infante, como avós, tios, professores, amigos dos pais/mães. Até porque se assim não

fosse não existiriam homossexuais em famílias heterossexuais. Ou seja, a pessoa ser

homossexual independe da orientação sexual de seus pais. Neste mesmo sentido se manifesta

Maria Berenice Dias referindo-se à União homoafetiva47

.

1.2.6 Reprodução assistida

“O aspecto biológico é necessário, mas não é suficiente para criar a relação humana

autêntica; e a paternidade não deve corresponder a uma operação puramente fecundativa.

46

SILVA, Aníbal Cavaco. Veta adoção por casais do mesmo sexo e alterações à lei do aborto. [Em linha].

[Consult. 20 Out. 2015]. Disponível em http://www.dn.pt/portugal/interior/cavaco-silva-devolveu-ao-

parlamento-diploma-da-adocao-por-casais-do-mesmo-sexo-4997912.html. 47

DIAS, Maria Berenice. Manual de Direito de Famílias. 10ª ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais,

2015, pp. 168-169.

Page 36: DEPARTAMENTO DE DIREITO - repositorio.ual.ptrepositorio.ual.pt/bitstream/11144/2990/1/Dissertação-Final... · 1 Primeira estrofe do poema Tabacaria, de Álvaro de Campos, heterônomo

36

Não é a proveta sozinha que pode distribuir a paternidade em plenitude”, como argumenta

Stela Barbas. 48

Inicialmente, entretanto, o art. 6º da Lei n.° 32/2006, de 26 de Julho49

, definia

tacitamente quem poderia se beneficiar das técnicas de reprodução assistida: “pessoas

Maiores de idade, capazes, casadas, que não se encontrem separadas judicialmente de

pessoas e bens ou separadas de facto ou as que, sendo de sexo diferente, vivam em condições

análogas às dos cônjuges há, pelo menos, dois anos.”

E ainda apresentava as técnicas como “um método subsidiário e não alternativo de

procriação” e decidia que “a utilização de técnicas de PMA só pode verificar-se mediante

diagnóstico de infertilidade ou ainda, sendo caso disso, para tratamento de doença grave ou

do risco de transmissão de doenças de origem genética, infecciosa ou outras”50

.

Todas essas restrições não retratavam a necessidade real de grande parte da

população, principalmente depois que a Lei 9/2010, de 31 de Maio, liberou o casamento civil

homoafetivo.

Situações como as de casais homossexuais e de pessoas que queriam a parentalidade,

mas não buscavam um relacionamento afetivo-sexual, estavam totalmente fora do âmbito de

aplicação da norma reguladora das técnicas de PMA. Diante desses casos práticos, algumas

situações foram trazidas à discussão.

Casais de lésbicas, casais homossexuais e pessoas solteiras não faziam parte do

grupo restrito que tinham direito de acesso à PMA, apesar de formar uma grande parte da

população que queria e precisava dela, mas até então tinha que recorrer à autoinseminação, ou

à reprodução assistida em outros países.

A lei vedava a gravidez por substituição (art. 8º, n.° 1 da LPMA): "são nulos os

negócios jurídicos, gratuitos ou onerosos, de maternidade de substituição". Portanto, os

casais homoafetivos tinham maior dificuldade em alcançar seus objetivos, ainda que casados,

como exigia a lei, porém os casais de lésbicas, casadas no civil, poderiam ter uma

48

BARBAS, Stela Marcos de Almeida Neves. Direito ao Património Genético. Reimpressão da Edição de

1998. Coimbra: Almedina, 2006, p. 166. 49

Cf: Lei n.º 32/2006, de 26 de Julho. Procriação medicamente assistida. Disponivel em:

<http://www.pgdlisboa.pt/leis/lei_mostra_articulado.php?nid=903&tabela=lei_velhas&nversao=1&so_miolo=

>. 50

Lei n.º 32/2006, de 26 de Julho. Op. cit.

Page 37: DEPARTAMENTO DE DIREITO - repositorio.ual.ptrepositorio.ual.pt/bitstream/11144/2990/1/Dissertação-Final... · 1 Primeira estrofe do poema Tabacaria, de Álvaro de Campos, heterônomo

37

interpretação diferente, visto se tratar de casal unido pelo matrimônio, porém infértil,

exatamente como descrevia a Lei n.° 32/2006.

As possíveis interpretações, obviamente, eram controversas e geravam decisões com

fundamentações muito divergentes.

Em 13 de Maio de 2016, a Assembleia da República aprovou, dez anos após a

criação da Lei n.° 32/2006, de 26 de Julho, as alterações na Lei de Procriação Medicamente

Assistida (PMA)51

, permitindo que as mulheres pudessem utilizar das técnicas de reprodução

assistida para engravidar, independentemente de estarem casadas, unidas de facto, solteiras ou

em um relacionamento homoafetivo.

Com relação à gestação de substituição, a mudança foi mais branda. A partir de

agora, para solucionar problemas relacionados à saúde, as mulheres que não têm útero ou que

não podem ter filhos, podem recorrer a uma “barriga de aluguel” como uma substituição, mas

não como uma liberdade de escolha. Desta forma a situação das lésbicas e das mulheres

solteiras encontrou uma proteção legal, mas ainda não é o caso dos casais homossexuais e

homens solteiros.

1.3 SUCESSÃO NA RELAÇÃO HOMOAFETIVA

Nos itens e subitens anteriores deste capítulo foram sendo delineadas as situações no

ordenamento jurídico português que afetam os casais homoafetivos. Desde a possibilidade de

se unirem de facto, passando pelo casamento, adopção e, também, pelos direitos sucessórios

que lhes são aplicáveis. Porém, em razão do objetivo deste trabalho, achou-se por bem

destacar mais alguns pontos jurídicos que dizem respeito à sucessão entre casais homoafetivos

no Direito Português, o que será feito agora.

Atualmente, o legislador divide a sucessão na união de facto em três situações:

“A. Casa de moradia

[...] Com o falecimento do companheiro a quem pertence a casa, e a união durar

mais de 5 anos, o outro tem preferência na compra ou continuação do arrendamento

durante cinco anos ou período superior;

51

Lei n.º 17/2016, de 20/06. Procriação medicamente assistida (versão actualizada). Cf: <

http://www.pgdlisboa.pt/leis/lei_mostra_articulado.php?nid=903&tabela=leis&so_miolo=>.

Page 38: DEPARTAMENTO DE DIREITO - repositorio.ual.ptrepositorio.ual.pt/bitstream/11144/2990/1/Dissertação-Final... · 1 Primeira estrofe do poema Tabacaria, de Álvaro de Campos, heterônomo

38

[...] No caso de ruptura da união de facto, se a casa de morada de família é

arrendada, ambos podem requerer o imóvel, ainda que apenas um tenha arrendado;

Se a propriedade já for de uma dos companheiros, ela poderá ser atribuída ao outro,

desde que dentro dos moldes do art. 1793º do CC Português;

B. Alimentos

Entende-se por alimentos, segundo o CC Português, “art. 2003, nº1 tudo aquilo que

é indispensável ao sustento, habitação e vestuário”. O art. 2020º estabelece, de

forma residual, que apenas na falta ou na impossibilidade dos parentes “cônjuge, ex-

cônjuge, descententes, ascendentes ou irmãos” a pessoas que coabite, como casal,

com o falecido durante período superior a dois anos, tem o direito a requerer

alimentos da herança do falecido.

C. Capacidade testamentária

Os casos de indisponibilidades relativas a que se referem os arts. 2192º e seguintes

do CC Português, não discorrem sobre verdadeiras incapacidades e sim sobre a

proteção da vontade do testador e afastar qualquer suspeita sobre a espontaneidade

da declaração do mesmo.” 52

De acordo com o art.° 2196º n.º1 do CC Português “é nula a disposição a favor da

pessoa com que o testador casado cometeu adultério”. Porém, no n.º 2 do mesmo artigo há

algumas exceções para esta norma:

“.Se o casamento já estava dissolvido, ou os cônjuges estavam separados

judicialmente ou de facto há mais de três anos quando da abertura da sucessão –

Facto que obviamente asseguraria um estado civil de divorciado ou viúvo, visto que

o casamento pode se dissolver por morte de um dos cônjuges ou por divórcio,

portanto os testados já não seriam casados, como exige o nº1.

.Se a disposição se limitar a assegurar alimentos ao beneficiário.”

Já no casamento civil, são evidenciadas, segundo Inocêncio Galvão Telles53

, pelos

arts. 2132º, 2133º e 2157º do CC Português, a diferença entre a redacção de 1966, em que o

cônjuge ocupava a quarta posição nas classes sucessíveis, e a de 1977, onde o cônjuge é

herdeiro legítimo e legitimado, ocupando o posto cimeiro, à frente de todos os colaterais.

Atualmente, após a Lei 7/2001, de 11 de Maio (e sua atualização pela lei 23/2010), as

uniões de facto são protegidas juridicamente; a Lei 9/2010, de 31 de Maio, autoriza o

casamento civil homoafetivo; o PL 278/XII, instituiu a coadoção por casais do mesmo sexo;

52

União de Facto. Portugal: Atualizada em 28 de Julho de 2016. [Em linha]. [Consult. 27 Out. 2015]. Disponível

em: http://www.pgdlisboa.pt/leis/lei_mostra_articulado.php?nid=901&tabela=leis. 53

TELLES, Inocêncio Galvão. Sucessão Legítima e Sucessão Legitimária. Coimbra: Coimbra, 2004.

Page 39: DEPARTAMENTO DE DIREITO - repositorio.ual.ptrepositorio.ual.pt/bitstream/11144/2990/1/Dissertação-Final... · 1 Primeira estrofe do poema Tabacaria, de Álvaro de Campos, heterônomo

39

e, por fim, a Lei 2/2016, de 29 de Fevereiro, que permite a adoção por casais homossexuais.

Esse arcabouço legal alterou significativamente a situação anterior.

Com isso procura-se equiparar os deveres e direitos dos casais homossexuais aos dos

casais heterossexuais, para refletir de forma mais justa a realidade da sociedade, não apenas a

portuguesa, mas, cada vez mais, da sociedade mundial. São dados aos casais, independente de

sexo, e aos filhos, naturais ou adotados, os mesmos e devidos direitos. Assume-se que assim

também deva acontecer na questão da sucessão sem, obviamente, ferir os requisitos legais

exigidos, independente de serem casais de mesmo sexo ou de sexos diferentes.

Encerrado o capítulo que trata do Direito Português com relação à sucessão de casais

homoafetivos, no próximo capítulo tratar-se-á dessa mesma relação do ponto de vista do

Direito Brasileiro.

Page 40: DEPARTAMENTO DE DIREITO - repositorio.ual.ptrepositorio.ual.pt/bitstream/11144/2990/1/Dissertação-Final... · 1 Primeira estrofe do poema Tabacaria, de Álvaro de Campos, heterônomo

40

SEGUNDO CAPÍTULO

Neste segundo capítulo, nos aproximamos da realidade do tema no cenário brasileiro.

Trata-se da mudança na legislação da união estável e do direito homoafetivo, a partir do

Código Civil Brasileiro de 2002 e do polêmico art. 1790. A intenção foi a de trazer à baila o

intuito do legislador, visando entender as controvérsias criadas a partir do referido artigo e,

também, lançar uma luz para verificar como essa realidade jurídica afeta as relações

homoafetivas e seus efeitos na sucessão do(a) companheiro(a) supérstite.

Page 41: DEPARTAMENTO DE DIREITO - repositorio.ual.ptrepositorio.ual.pt/bitstream/11144/2990/1/Dissertação-Final... · 1 Primeira estrofe do poema Tabacaria, de Álvaro de Campos, heterônomo

41

“A existência de outras entidades familiares e a faculdade de

reconhecer filhos havidos fora do casamento operaram verdadeira

transformação na própria família. Assim, na busca do conceito de

entidade familiar, é necessário ter uma visão pluralista, que albergue

os mais diversos arranjos vivenciais. Era preciso achar o elemento que

autorizasse reconhecer a origem do relacionamento das pessoas. (...)

Como a lei não acompanhou as mudanças por que passou a família,

acabou nas mãos da doutrina e da jurisprudência a responsabilidade de

construir toda uma nova base doutrinária que atendesse aos reclamos

de uma sociedade sempre em ebulição. (...) O afeto foi reconhecido

como o ponto de identificação das estruturas de família. (...) É o

sentimento de amor, o elo afetivo que funde almas e confunde

patrimônios, fazendo gerar responsabilidades e comprometimentos

mútuos.”

(Maria Berenice Dias54

).

54

DIAS (2015). Op. cit., p. 35.

Page 42: DEPARTAMENTO DE DIREITO - repositorio.ual.ptrepositorio.ual.pt/bitstream/11144/2990/1/Dissertação-Final... · 1 Primeira estrofe do poema Tabacaria, de Álvaro de Campos, heterônomo

42

CAPÍTULO 2 - OS EFEITOS JURÍDICOS DA UNIÃO HOMOAFETIVA NO

DIREITO BRASILEIRO, EM ESPECIAL OS SUCESSÓRIOS

2.1 UNIÃO ESTÁVEL

Viver isolado nunca foi da natureza humana e, por isso, a união das pessoas é anterior

ao casamento. A família surge naturalmente, em defesa da subsistência e são constituídas, a

princípio, pelo instinto sexual e pela conservação da prole. Com o tempo, surge a evolução

dos modelos de convívio e de interação das sociedades afetivas, até o advento do matrimônio

ao lado da união informal.

No Direito Romano, o matrimônio não era permitido entre patrícios e plebeus. As

uniões entre cidadãos e escravos não eram consideradas, pois seriam de classe inferior ao

casamento. Madaleno55

esclarece:

“De acordo com a Adahy e Lourenço Dias, o concubinato foi proibido no Oriente,

onde praticamente foi extinto, enquanto no Ocidente era permitido e tolerado pela

igreja, e diversos Papas, como Leão III e Alexandre VI, dentre bispos, padres e

leigos, eram acusados de manterem concubinas.”

No final do Século XV, surgem as medidas destinadas a preservar e fortalecer o poder

da Igreja. O Concílio de Trento, firmado em 1563, estabeleceu a obrigatoriedade da

celebração do matrimônio perante o pároco, em cerimônia pública, com testemunhas e criou

os registros paroquiais/casamentos controlados pelas autoridades eclesiásticas, proibindo o

casamento presumido.

Embora a jurisprudência tenha constituído ao longo dos anos, mecanismos de defesa

das relações de afeto, na França, o Código de Napoleão ignorou o concubinato, gerando forte

influência sobre as legislações dos países que o adotaram.

As dificuldades que vieram à tona durante a Primeira Guerra Mundial (1914- 1918)

envolvendo as relações entre soldados e suas companheiras foram um pontapé inicial para a

sanção de diversas leis no intuito de solucionar problemas cotidianos que essas relações

apresentavam ao serem desfeitas, ou no caso de morte de um dos conviventes.

55

MADALENO, Rolf. Curso de Direito de Família. 6. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2015.

Page 43: DEPARTAMENTO DE DIREITO - repositorio.ual.ptrepositorio.ual.pt/bitstream/11144/2990/1/Dissertação-Final... · 1 Primeira estrofe do poema Tabacaria, de Álvaro de Campos, heterônomo

43

Até a Constituição Federal de 198856

, o concubinato e a união estável eram

considerados sinônimos. De acordo com a antiga qualificação dos filhos, a prole advinda do

casamento tinha presumida a paternidade em razão do matrimônio e eram chamados

legítimos. De forma diferente, estavam os filhos oriundos de uniões livres, não incidindo essa

mesma presunção de paternidade na união estável. O que caracterizou um retrocesso no

tratamento nem tão igualitário da filiação.

A legislação brasileira também se apresentou em oposição ao concubinato, com

diversos dispositivos que sempre tiveram em mira a concubina de homem casado, em defesa

da família matrimonial, única expressão que era considerada, no Brasil, como legítima e

exclusiva de exteriorização de entidade familiar.

Como exemplo disto, o Código Civil Brasileiro de 191657

proíbia doações do cônjuge

adúltero ao seu cúmplice e outorgava à mulher casada a legitimidade processual para

reivindicar os bens comuns, doados ou transferidos pelo marido à concubina, assim como

impedia a instituição da concubina como beneficiária do contrato de seguro de vida.

O ordenamento legal de 1916 não aceitava as relações extramatrimoniais e, por

conseguinte, resolveu puni-las, ao vedar doações e a instituição de seguro de vida em favor da

concubina, que também não podia ser beneficiada por testamento. Tudo isto sob o discurso de

proteger a família constituída pelos sagrados laços do matrimônio. Sobre tal, destaca-se que a

dignidade da pessoa humana, elevada a fundamento da República, no art. 1º, inciso III, da

atual Carta Magna, conferiu conteúdo à proteção atribuída pelo Estado para a família, que:

“[...] é a pessoa humana, o desenvolvimento de sua personalidade, o elemento

finalístico da proteção estatal, para cuja realização devem convergir todas as normas

do direito positivo, em particular aquelas que disciplinam o direito de família,

regulando as relações mais íntimas e intensas do indivíduo no social.”58

Com o tempo, foram editadas leis concedendo tímidos direitos às companheiras

viúvas. O Decreto-Lei n.° 2.681, de 07 de Dezembro de 191259

, regulava a responsabilidade

civil nas estradas de ferro e reconhecia direitos à concubina na indenização decorrente da

56

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil . 35. ed. – Brasília: Câmara dos Deputados,

Edições Câmara, 2012. 57

Lei nº 3.071, de 1º de janeiro de 1916. Código Civil (1916). Disponível na Internet em: <URL

http://www2.camara.leg.br/legin/fed/lei/1910-1919/lei-3071-1-janeiro-1916-397989-publicacaooriginal-1-

pl.html>. 58

TEPEDINO; BARBOZA; MORAES apud NEVARES, Ana Luiza Maia. Os direitos Sucessórios do Cônjuge

e do Companheiro. Revista Brasileira de Direito de Família, n. 36, Ano VIII, (Jun/Julho) 2006, p. 157. 59

Cf.: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/D2681_1912.htm.

Page 44: DEPARTAMENTO DE DIREITO - repositorio.ual.ptrepositorio.ual.pt/bitstream/11144/2990/1/Dissertação-Final... · 1 Primeira estrofe do poema Tabacaria, de Álvaro de Campos, heterônomo

44

morte do companheiro em acidente ferroviários, estabelecendo, em seu art. 22, que no caso de

morte, a estrada de ferro responderia por todas as despesas e indenizaria, ao arbítrio do juiz,

todos aqueles aos quais a morte do viajante privasse de alimento, auxílio ou educação60

.

O Decreto-Lei n.° 4.737, de 24 de Setembro de 194261

, dispõs sobre o reconhecimento

de filhos naturais, mas só após o desquite do ascendente casado; sendo mais tarde estendidas

as hipóteses de reconhecimento de filhos extraconjugais, embora em primeiro estágio o

reconhecimento fosse somente para fins alimentares, quando o investigado era casado.62

Gradativamente, a lei começou a se modificar para atender a uma sociedade que vivia

na prática, situação de relações maritais mesmo sem o instituto do casamento, pois, ainda

assim, a situação dessas pessoas, merecia uma proteção legal63

. Citam-se aqui:

1944 - Decreto-Lei n.° 7.036. Alterou a lei de Acidentes do Trabalho.

1945 – Decreto-Lei n.° 18.809. Aprovou o regulamento para incluir a companheira da

vítima acidente do trabalho como beneficiária da indenização de vida por sua morte.

1963 - Lei n.° 4.297. Sobre aposentadoria e pensões de Institutos ou Caixas de

Aposentadoria e Pensões para Ex-combatentes e seus dependentes, incluiu a

companheira, desde que a convivência em comum ocorresse por prazo não inferior a 5

(cinco) anos e até a data do óbito do segurado

1965 - Lei n.° 4.862. Alterou a legislação do imposto de renda, admitindo como

dependente do contribuinte, pessoa com quem vivesse por 5 anos, no mínimo.

1967 - Lei n.° 5.316. Integrou o seguro de acidente do trabalho na Previdência Social.

1973 - Lei n.° 5.890. Alterou a Lei n° 3.807 de 1960, que dispõe sobre a Lei Orgânica

da Previdência Social, admitindo que o segurado designasse a companheira que vive

sob sua responsabilidade econômica, ainda que não fosse uma companheira exclusiva,

sob a condição de que a vida em comum ultrapassasse cinco anos de convivência,

devidamente comprovados. Atualmente, o Regime Geral da Previdência Social está

regulado pelo art. 201 da Constituição Federal, disciplinado pela Lei n.° 8.121/1991 do

60

MADALENO. Op. cit. 61

Cf.: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/1937-1946/Del4737.htm. 62

MADALENO. Op. cit. 63

Id.

Page 45: DEPARTAMENTO DE DIREITO - repositorio.ual.ptrepositorio.ual.pt/bitstream/11144/2990/1/Dissertação-Final... · 1 Primeira estrofe do poema Tabacaria, de Álvaro de Campos, heterônomo

45

plano de custeio64

– e Lei n.° 8.213/1991 do plano de benefícios65

, sendo ambas as leis

regulamentadas pelo Decreto-Lei n.° 3.048/ 199966

. Ainda em 1973, a Lei n.° 6.015 ou

Lei dos Registros Públicos permitiu o uso do patrimônio do companheiro pela

concubina, contando já vivessem maritalmente pelo menos há 5 (cinco) anos ou antes,

caso o relacionamento houvesse gerado filhos e o casamento não fosse legalmente

impedido.

1974 - Lei n.° 6.195. Atribuiu ao Fundo de Assistência ao Trabalhador Rural –

Funrural, a concessão de prestações por acidente de trabalho.

1975 – Decreto-lei n.° 76.022. Aprovou o regulamento de seguro de acidentes do

trabalho rural, que incluiu como beneficiária do seguro de acidente do trabalho rural, a

companheira mantida a mais de cinco anos.67

1977 - Lei n.° 6.515. Lei do divórcio. Permitiu o reconhecimento de filho fora do

casamento através de testamento cerrado e, desta forma irrevogável, alterando o art. 1°

da Lei n.° 883, dia 21 de Outubro de 1949.68

Até 1977, no Brasil não existia divórcio. O desquite, única modalidade de separação,

não dissolvia a sociedade conjugal e não permitia novo casamento. Mesmo com tantos

empecilhos, o surgimento de relações afetivas acontecia, ainda que sem amparo legal, como

necessidade inerente ao ser humano na busca por um companheiro, o que se sobrepunha ao

ordenamento jurídico existente.69

As uniões, surgidas fora do casamento, eram rotuladas como concubinato. Quando a

relação terminava, pela separação ou morte de um dos companheiros, as questões acerca dos

direitos dos envolvidos começaram a ser levantadas e, consequentemente, demandas

começaram a chegar ao judiciário. As primeiras decisões regravam apenas os efeitos

patrimoniais do relacionamento.70

64

Lei nº 8.212, de 24 de Julho de 1991. Dispõe sobre a organização da Seguridade Social, institui Plano de

Custeio, e dá outras providências. 65

Lei nº 8.213, de 24 de Julho de 1991. Dispõe sobre os Planos de Benefícios da Previdência Social e dá outras

providências. 66

Decreto nº 3.048, de 6 de Maio de 1999. Aprova o Regulamento da Previdência Social, e dá outras

providências. 67

MADALENO. Op. cit. 68

Id. 69

DIAS (2015). Op. cit. 70

Id.

Page 46: DEPARTAMENTO DE DIREITO - repositorio.ual.ptrepositorio.ual.pt/bitstream/11144/2990/1/Dissertação-Final... · 1 Primeira estrofe do poema Tabacaria, de Álvaro de Campos, heterônomo

46

Quando a mulher não tinha outra fonte de renda e não exercia atividade remunerada, o

Poder Judiciário Brasileiro passou a conceder alimentos com o nome de indenização por

serviços domésticos. O homem que se aproveitava do trabalho e da dedicação de uma mulher

não podia abandoná-la sem indenização, nem seus herdeiros podiam receber herança sem

desconto do que corresponderia ao ressarcimento, sob pena de ser considerado

enriquecimento ilícito. Talvez uma espécie de medida compensatória de serviços de cama e

mesa por ela prestados.71

Posteriormente, a justiça passou a reconhecer a existência de uma sociedade de fato,

onde os companheiros eram considerados sócios. O “lucro” era dividido no intuito de evitar

que o patrimônio construído durante a “sociedade” ficasse somente com uma das partes

envolvidas. Para que essa divisão ocorresse, havia necessidade da comprovação da real

contribuição financeira de cada um na constituição do patrimônio; evitando-se, com isso, o

enriquecimento injustificado de um dos companheiros, normalmente, da mulher. Porém, nada

mais era concedido - nem alimentos, nem direitos sucessórios.72

Com o passar do tempo e a aceitação maior da sociedade em relação às uniões

extramatrimoniais, alargou-se o conceito de família e a Constituição introduziu o termo

“entidade familiar”, o que fez com que relacionamentos extramatrimoniais passassem a

merecer um olhar mais cuidadoso do Estado. Assim, o concubinato deixou de ser

marginalizado pela lei. As uniões de fato entre um homem e uma mulher receberam o nome

de união estável e assim como os veículos monoparentais - formados por um dos pais com

seus filhos - foram reconhecidas como entidade familiar.73

A jurisprudência brasileira crescia e se fortificava em defesa das relações

extramatrimoniais que, depois de convertidas em união estável, ia tendo acolhidos seus

pedidos para não mais desamparar a companheira da união livre ou extramatrimonial.

Apesar desse avanço, há de se destacar que a organização judiciária pouco avançou no

trato dessas questões, vez que a união estável permaneceu no âmbito do direito das obrigações

e as demandas judiciais permaneceram nas varas cíveis. Nenhum avanço houve na concessão

71

DIAS (2015). Op. cit. 72

Id. 73

Id.

Page 47: DEPARTAMENTO DE DIREITO - repositorio.ual.ptrepositorio.ual.pt/bitstream/11144/2990/1/Dissertação-Final... · 1 Primeira estrofe do poema Tabacaria, de Álvaro de Campos, heterônomo

47

de direitos, além do que já vinha sendo deferido. A Súmula 38074

do Supremo Tribunal

Federal - STF (trata da partilha do patrimônio adquirido pelo esforço em comum na sociedade

de fato) continuou a ser invocada. Também em matéria sucessória não houve nenhuma

evolução. Persistiu a vedação de conceder herança ao companheiro sobrevivente e a negativa

de assegurar direito real de habitação ou usufruto de parte dos bens.75

Em 2013, o Conselho Nacional de Justiça editou a Resolução n.° 17576

, que versa

sobre habitação, casamento civil e conversão de união estável em casamento entre pessoas do

mesmo homoafetivas, o que determinou um verdadeiro salto de avanço no trato dessas

questões.77

2.1.1 União estável na Constituição Federal Brasileira

A Constituição citou algumas entidades familiares ao garantir especial proteção à

família, ocorrendo a equiparação entre elas. Ainda que a união estável não se confunda com o

casamento, as entidades familiares são merecedoras da mesma proteção. A Constituição não

revela qualquer preferência ou escala de prioridade, apenas limita-se a elencá-las, dentre elas

as uniões constituídas pelo vínculo de afetividade, classificada como uma entidade familiar.

Silvana Maria Carbonera concluiu que “o afeto ingressou no mundo jurídico, lá demarcando o

seu território”.78

Segundo o Doutor Paulo Lôbo79, o terceiro parágrafo do art. 226 da CF não permite a

exclusão, desde que preenchidos os requisitos de estabilidade, ostensibilidade e afetividade,

da proteção do Estado aos homens e mulheres unidos de facto. As interpretações restritivas do

texto constitucional vindas dos conservadores desigualam a união estável do casamento,

apesar das críticas.

74

“Comprovada a existência de sociedade de fato entre os concubinos, é cabível a sua dissolução judicial, com a

partilha do patrimônio dquirido pelo esfôrço comum”. Fonte: DJ de 08/05/1964, p. 1237; DJ de 11/05/1964, p.

1253; DJ de 12/05/1964, p. 1277. 75

DIAS (2015). Op. cit. 76

Cf.: http://www.cnj.jus.br/images/imprensa/resolu%C3%A7%C3%A3o_n_175.pdf. 77

MADALENO. Op. cit. 78

CARBONERA, Silvana Maria apud DIAS (2015). Op. cit., p. 240. 79

LÔBO, Paulo apud DIAS (2015). Op. cit.

Page 48: DEPARTAMENTO DE DIREITO - repositorio.ual.ptrepositorio.ual.pt/bitstream/11144/2990/1/Dissertação-Final... · 1 Primeira estrofe do poema Tabacaria, de Álvaro de Campos, heterônomo

48

Na contramão do conservadorismo, o matrimônio deixou de ser o único modo legítimo

de constituir família e a união estável e a família monoparental adquiriram o status de

entidade familiar.

Os paradigmas socioculturais brasileiros são alterados ao identificar o concubinato

como uma entidade familiar denominada como união estável, assemelhada ao casamento, e

retirá-lo do status de uma relação aventureira. Ao deixar de acolher com exclusividade apenas

a família instituída pelo casamento, amplia-se a proteção estatal para união estável

independente de orientação sexual da mesma, quer seja hétero ou homossexual.

De acordo com o Doutor Eduardo de Oliveira Leite: “nada autoriza equiparar a

união estável ao casamento, pois quando a Constituição refere em convertê-la em

matrimônio, é porque trata de institutos diferentes, pois, se fossem iguais, seria desnecessária

e inconcebível sua conversão” 80

.

A Constituição Federal definia a união estável como uma relação entre um homem e

uma mulher, o que restringiu bastante os direitos das uniões homoafetivas, que também eram,

na prática, entidades familiares e a quem foi negado, durante muito tempo, a proteção do

Estado, até que o Supremo Tribunal Federal proclamasse a existência dos mesmos direitos e

deveres às uniões heteroafetivas e homoafetivas.

Diversos tribunais brasileiros não admitiam a competência das varas de família para as

divergências surgidas das uniões estáveis, os processos deveriam ser distribuídos às Varas

Cíveis sendo reservados aos juízes familistas as soluções dos conflitos oriundos do

casamento. Até que o Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul fez editar a Súmula n.° 14,

para atribuir às Varas de Família, onde houvesse, a competência para as ações decorrentes da

união estável.

Surgiram, então, vários posicionamentos no sentido de proibir tratamento

discriminatório da união estável entre casais heterossexuais ou entre pessoas do mesmo sexo,

por se tratar de uma legítima entidade familiar, cujos direitos e obrigações devem ser

encontradas no Direito de Família.

80

LEITE, Eduardo de Oliveira apud MADALENO. Op. cit, p. 1151.

Page 49: DEPARTAMENTO DE DIREITO - repositorio.ual.ptrepositorio.ual.pt/bitstream/11144/2990/1/Dissertação-Final... · 1 Primeira estrofe do poema Tabacaria, de Álvaro de Campos, heterônomo

49

O Doutor Sérgio Gischkow Pereira81

foi um dos primeiros doutrinadores a defender a

união estável como entidade familiar e uma forma legítima de constituir família, Era então,

função do Estado-Juiz proteger a estável convivência, independente da lacuna legal que

durava quase seis anos, mesmo após a promulgação da Constituição Federal de 1988.

A Lei n.° 8.971/199482

, primeira destinada a regulamentar a união estável, assegurou o

direito a alimentos e a sucessão, mas só reconheceu como estáveis as relações existentes há

mais de 5 anos ou das quais houvesse nascido prole; assegurou ao companheiro vivo o

usufruto de alguns bens deixados pelo de cujus e em caso de não haver filhos ou ascendentes,

o companheiro é incluído na ordem de vocação hereditária como herdeiro legítimo, assim

como cônjuge sobrevivente.

Os tribunais brasileiros foram entendendo a união estável como entidade familiar.

Segundo Dias:

“Mesmo com o advento da norma constitucional, que reconheceu a união estável

como entidade familiar (CF 226§3º), a jurisprudência resistiu em conceder direito

sucessório aos companheiros. (...) Foi somente com o advento da legislação que

regulou a norma constitucional que a união estável foi admitida como família, com

direitos sucessórios iguais ao casamento (Lei n.° 8971/1994 e 9278/1996).” 83

A Lei n.° 8.971/1994 foi inspirada no Projeto de Lei n.° 37, de 1992, atendendo aos

que clamavam pela necessidade de edição de lei infraconstitucional para regulamentar a união

estável, e reconhecê-la como uma entidade familiar sujeita de direitos similares ao instituto do

matrimônio. Entretanto, sua ambigüidade e incompletude geraram mais controvérsias

doutrinárias e jurisprudenciais, ao excluir as uniões de pessoas separadas de fato da sua

atuação e ao firmar um tempo mínimo de 5 anos de convivência para a efetiva configuração

da união estável. Até porque a estabilidade do relacionamento não é contada pelos dias e

noites de coabitação e sim pela qualidade e pela intensidade da relação.

A Lei n.° 8.971/1994 permitiu que os tribunais divergissem acerca dos efeitos

materiais da união informal em caso de dissolução judicial. Para a consequência lógica da

isonomia entre a união estável e o casamento, uma corrente de juristas apoiava a aplicação

imediata de um regime legal de comunhão de bens à união estável por equiparação ao regime

de bens do casamento. Nessa direção, todos os bens adquiridos durante a constância da união

81

PEREIRA, Sérgio Gischkow apud MADALENO. Op. cit. 82

Lei 8.971/1994 (lei ordinária) 29/12/1994. 83

DIAS, Maria Berenice. Manual das Sucessões. 3. ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2013, p. 65.

Page 50: DEPARTAMENTO DE DIREITO - repositorio.ual.ptrepositorio.ual.pt/bitstream/11144/2990/1/Dissertação-Final... · 1 Primeira estrofe do poema Tabacaria, de Álvaro de Campos, heterônomo

50

estável deveriam ser partilhados em partes iguais pelos companheiros - a menos que houvesse

convenção distinta por contrato escrito - partindo do pressuposto de que a mulher, mesmo não

colaborando financeiramente para a formação do patrimônio do casal, contribuiu com seu

trabalho doméstico, administração do lar, educação e formação dos filhos e na estabilidade e

tranquilidade necessária para aquisição dos bens.84

A Lei n.° 9.278/1996, de 10 de Maio, veio com o objetivo de regulamentar o § 3° do

art. 226 da Constituição Federal85

. Não corrigiu todas as falhas da lei anterior, mas

reconheceu a existência da união estável, mesmo quando há anterior separação de fato de

convivente casado, pois há, desta forma, o desaparecimento do impedimento do casamento

pela separação de fato. A lei não qualificou prazo de convivência e admitiu as relações entre

pessoas separadas de fato. Além de fixar a competência das varas de família para o

julgamento dos litígios, reconheceu o direito real de habitação e a comunhão dos aquestos

para o casamento informal.86

O Projeto de Lei n.° 2.686/199687

, de iniciativa do Ministério da Justiça, pretendia

uniformizar um prazo mínimo de cinco anos de convivência como requisito da união estável,

existindo filhos ficava reduzido para 2 (dois) anos de convivência. Outro requisito era o da

coabitação sobre o mesmo teto, mas, apropriadamente, o Projeto de Lei n.° 2.686/1996 foi

vencido pela edição e a vigência do atual Código Civil (CC) Brasileiro.88

89

O CC Brasileiro (art.1.723) limitou-se a reproduzir a legislação que existia,

reconhecendo como estável a convivência de um homem e de uma mulher - com o objetivo de

constituição de família - duradoura, pública e continua. O legislador dá ideia de família para

os efeitos jurídicos à união estável, mas o tratamento não é igual ao do casamento. Há direitos

deferidos somente aos cônjuges, como o direito dos conviventes à adoção, condicionado à

aprovação da estabilidade da família (ECA art. 42 § 2.° e 197-A III), exigência que não é feita

aos casados.

Segundo o Doutor Zeno Veloso:

84

MADALENO. Op. cit. 85

Cf.: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9278.htm. 86

MADALENO. Op. cit. 87

Cf: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9394.htm. 88

Cf.: Código Civil - Lei 10406/2002, de 10 de janeiro. 89

MADALENO. Op. cit.

Page 51: DEPARTAMENTO DE DIREITO - repositorio.ual.ptrepositorio.ual.pt/bitstream/11144/2990/1/Dissertação-Final... · 1 Primeira estrofe do poema Tabacaria, de Álvaro de Campos, heterônomo

51

“Com o advento da Constituição de 1988, entrou em vigor o art. 226, § 3º (...) o

Estado reconhece a união estável heterossexual como família, devendo a lei facilitar

sua conversão em casamento (...). Em nível infraconstitucional, regulando e

explicitando o estatuído na Carta Magna, vigoraram no país duas leis: Lei nº 8971,

de 29 de Dezembro de 1994, e Lei nº 9278, de 10 de Maio de 1996. A primeira

tratou da sucessão entre companheiros; a segunda, em complemento, previu o direito

real de habitação.” 90

Aquém do nível constitucional, existiam duas leis que regulavam o que foi definido na

Carta Magna: Lei nº 8971/1994, de 29 de Dezembro, que tratou da sucessão entre

companheiros; e Lei nº 9278/1996, de 10 de Maio, que previa o direito real de habitação.

O casamento e união estável são merecedores da mesma especial tutela do Estado,

pois não existe hierarquia entre eles, ambos são fonte geradora de família de mesmo valor

jurídico.

2.2 OS EFEITOS JURÍDICOS DAS UNIÕES HOMOAFETIVAS NO BRASIL

A sexualidade é parte do âmbito privado da pessoa humana e seu desenvolvimento

sexual é parte do livre desenvolvimento da personalidade, que é uma manifestação de

liberdade garantida pela Constituição.

Historicamente a homossexualidade ocorre na humanidade desde as remotas épocas.

Na Grécia antiga, por exemplo, as relações sexuais entre homens, normalmente entre mais

velhos e mais jovens, eram aceitas como parte de um estágio em que o homem mais velho era

visto como fonte de ensinamento, vivência e modelo de bravura, e o homem jovem como seu

discípulo. Essa cultura grega foi ressaltada também na mitologia, mas com a ascensão do

cristianismo e a queda do império romano, as relações homossexuais foram condenadas.

Desde então, a comunidade homossexual vem sofrendo perseguições e sendo discriminada

por sua orientação sexual.91

Após essa fase inicial, a igreja iniciou um movimento, entre seus membros que

integravam o clã da medicina, que afirmava ser a homossexualidade – então conhecida como

homossexualismo - uma doença mental, uma perversão. Apenas em 1992, a OMS retirou esse

rótulo da homossexualidade e passou a não mais constar no CID.92

90

VELOSO, Zeno apud DIAS (2015). Op. cit., p. 236. 91

MADALENO. Op. cit. 92

Id.

Page 52: DEPARTAMENTO DE DIREITO - repositorio.ual.ptrepositorio.ual.pt/bitstream/11144/2990/1/Dissertação-Final... · 1 Primeira estrofe do poema Tabacaria, de Álvaro de Campos, heterônomo

52

Até hoje, a resistência às relações entre pessoas do mesmo sexo é baseada na

contrariedade à natureza, que segundo conservadores e religiosos, só admite relações entre

homens e mulheres.93

Legalmente, antes do posicionamento do STF, para haver uma união estável era

necessário haver a heterossexualidade; porém essa realidade mudou com o reconhecimento da

união estável homoafetiva como uma entidade familiar. Essa perseguição começou a diminuir

no campo jurídico, principalmente diante do efeito erga omnes da decisão do Supremo

Tribunal Federal. Para Guilherme Gama:

“A Constituição Federal de 1988 expressamente introduziu, ao reconhecer a ‘união

estável' como entidade familiar, o requisito objetivo de que somente a união entre

homem e a mulher pode configurar uma união fundada no companheirismo,

excluindo, portanto, a possibilidade de se reconhecer as uniões entre homossexuais,

mesmo que desimpedidos, convivendo com o lapso de tempo razoável, com o

objetivo de Constituição de família.” 94

Resumidamente, no Brasil teve o CC Brasileiro de 1916, no qual o casamento era

indissolúvel e não reconhecia nenhum direito aos que mantinham uma relação fora do

matrimônio. O PL 1.151/199595

admitia a União Civil entre pessoas do mesmo sexo, após ter

ficado muitos anos parado no Congresso Nacional, de modo que os direitos pretendidos se

tornaram obsoletos, e não correspondiam mais à realidade da necessidade da comunidade

homoafetiva, resultando em arquivamento96

. A isso, seguiram-se:

Lei Maria de Penha - Define a família como “uma relação íntima de afeto,

independente de orientação sexual”97

.

Estatuto da Juventude - Dá aos jovens garantia ao direito “à diversidade e à

igualdade e a não discriminação por motivos de orientação sexual”98

.

2002 – Código Civil Brasileiro: Regulamenta a união estável (art. 1723 e

seguintes) e a sucessão do companheiro (art.1790).

2004 - CGJ/RS – Regulamenta o registro civil de uniões entre pessoas do mesmo

sexo.

93

DIAS, Maria Berenice. Homoafetividade e os direitos LGBTI. 6.ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2014,

p. 168. 94

GAMA, Guilherme Calmon Nogueira da. Direito Civil: Família. São Paulo: Atlas, 2008, p. 155. 95

Cf.: http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=16329. 96

DIAS (2014). Op. cit. 97

Id 98

Id.

Page 53: DEPARTAMENTO DE DIREITO - repositorio.ual.ptrepositorio.ual.pt/bitstream/11144/2990/1/Dissertação-Final... · 1 Primeira estrofe do poema Tabacaria, de Álvaro de Campos, heterônomo

53

2011 - ADPF 132/RJ e ADI 4277/DF - Decisão do STF: Por unanimidade, as

relações homoafetivas passaram a ser reconhecidas como entidade familiar e os

companheiros passaram a ter os mesmos direitos e deveres das uniões estáveis

heterossexuais. Efeito erga omnes.

Segundo o ex-Ministro do STF Ayres Brito, “A preferência sexual de cada indivíduo

não pode ser utilizada como argumento para se aplicar leis e direitos referentes aos

cidadãos”99

, quando falou sobre o art. 1.723 do CC Brasileiro.

A partir das decisões anteriores, outras grandes decisões ajudaram a compor o quadro

de enormes melhorias nos direitos das relações homoafetivas no Brasil. No RS, através da

Quarta Turma do STJ, ao habilitar o casamento civil de duas mulheres; em São Paulo, na

comarca de Jacareí, em Junho de 2011, ao converter a união estável de dois homens em

casamento; em Brasília/DF, 4ª Vara de Família, também em Junho de 2011, ao converter a

união estável de mulheres em casamento.

Em 2012, o TJ/SP reafirmou o direito ao casamento homoafetivo dando autorização ao

prosseguimento da conversão da união estável em casamento de pessoas do mesmo sexo.100

Já o ano de 2013, foi profícuo em decisões, às quais são aqui realçadas:

Resolução 175 CNJ: Proíbe qualquer autoridade competente de se recusar a habilitar

ou celebrar o casamento civil ou a conversão da união estável em casamento entre

casais de pessoas do mesmo sexo.

Projeto de Decreto Legislativo n.º 106/2013: Tem a finalidade de sustar a resolução

do CNJ n.º 175/2013. A autoria é do Senador Magno Malta. Há uma discussão sobre

competência onde o relator acredita que o CNJ “extrapolou os limites do Poder de

regulamentar e esclarecer a lei” e o Congresso Nacional, de acordo com o art. 49°

inciso V CF, é o responsável por sustar os atos que violem a separação dos Poderes,

por outro lado, o CNJ tem competência prevista para propor a ação direta de

inconstitucionalidade e a ação declaratória de constitucionalidade no art. 103 – B

Constituição Nacional.

99

AYRES BRITO apud MADALENO. Op. cit., p. 1166. 100

MADALENO. Op. cit.

Page 54: DEPARTAMENTO DE DIREITO - repositorio.ual.ptrepositorio.ual.pt/bitstream/11144/2990/1/Dissertação-Final... · 1 Primeira estrofe do poema Tabacaria, de Álvaro de Campos, heterônomo

54

PL do Senado n.º 470/2013: Dispõe sobre o Estatuto da Família que contempla a

família homoafetiva. Em tramitação. O PL teve voto favorável do Senador João

Capiberibe e pedido de vistas em 01/07/2015 pelo Senador Magno Malta, o mesmo

que está tentando, através do Projeto de Decreto Legislativo nº 106/2013, derrubar a

resolução do CNJ n.º 175/2013 e que requereu audiências públicas convidando, além

de vários representantes das igrejas evangélicas, o Pastor Silas Malafaia e como

psicóloga, a Doutora Elisete Malafaia, membros da bancada evangélica, que estão

lutando ferrenhamente para que todo e qualquer direito homoafetivo seja vetado.101

PL da Câmara n.º 6583/2013: Dispõe sobre o Estatuto da Família que exclui a

família homoafetiva. Em tramitação. Relator: Deputado Anderson Ferreira. Após, se

aprovado na Câmara dos Deputados, deverá ser votado no Senado Federal.

Na convivência, as relações homossexuais não têm nada de diferente das relações

heterossexuais, portanto não faz sentido serem tratadas de formas distintas. As relações

afetivas de nenhum tipo merecem estar fora da proteção constitucional a que têm direito e

pela CF 102

tem-se:

“Art.3º, inciso IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, cor,

idade e quaisquer outras formas de discriminação.”

“Art.5º, inciso XLI - sendo punida qualquer manifestação de discriminação

atentatória dos direitos e liberdades fundamentais.”

Mesmo após a Constituição dar proteção às uniões estáveis, a dificuldade em aceitá-

las como entidade familiar permaneceu por anos.

Segundo o Doutor José Antonio Souto Paz:

“[...] existe uma mentalidade que tende a considerar o matrimônio como uma

comunidade de vida entre um homem e uma mulher, que merece proteção jurídica,

social e econômica mesmo quando desvinculado da existência de prole, portanto,

por analogia, semelhante proteção deve ser atribuída às uniões homossexuais, pois

se uma comunidade de vida heterossexual sem filhos merece a proteção jurídica, o

que efetivamente justifica que uma comunidade de convivência homossexual não

mereça Idêntica proteção?” 103

101

MADALENO. Op. cit. 102

Constituição da República Federativa do Brasil. Op. cit. 103

PAZ, José Antonio Souto apud MADALENO. Op. cit., p. 1168.

Page 55: DEPARTAMENTO DE DIREITO - repositorio.ual.ptrepositorio.ual.pt/bitstream/11144/2990/1/Dissertação-Final... · 1 Primeira estrofe do poema Tabacaria, de Álvaro de Campos, heterônomo

55

Com a atualização também do novo Código de Processo Civil, de 16 de Março

2015104, a situação do companheiro está felizmente tipificada, considerando que o casal

homoafetivo já foi equiparado em direitos e deveres aos casais heterossexuais em união

estável. Este é um avanço lento, mas contínuo em direção à representatividade da sociedade

moderna e que está em constante modificação.

2.2.1 Adoção

Como atenta Berenice Dias:

“[...] adoção vem a ser o ato jurídico solene pelo qual, observados os requisitos

legais, alguém estabelece, independentemente de qualquer relação de parentesco

consangüíneo ou afim, um vínculo fictício de filiação, trazendo para sua família, na

condição de filho, pessoa que, geralmente, lhe é estranha.”105

Nosso ordenamento jurídico não nos contempla com leis sobre adoção por casais do

mesmo sexo. Mas apesar dessa lacuna, o direito à adoção por casais homoafetivos vem sendo

assegurado pela justiça. Em que pese o assunto ainda ser polêmico e de existirem muitas

opiniões divididas, juridicamente não existe obstáculo para que ocorra a adoção, visto ser

permitida a adoção monoparental.

Há muito, casais homoafetivos se candidatavam individualmente para adoção, e não

existia nenhum questionamento sobre o tipo de relacionamento que mantinham, pois esse

nunca foi um empecilho real para o instituto da adoção. Porém, desta forma, também não

existia uma análise social com o companheiro, para assegurar que são as melhores pessoas

para criarem aquela criança. Com isso, a habilitação se tornava deficiente e incompleta, não

atendendo aos interesses do adotando.

Dentro dessa logística, onde no papel o menor tinha apenas um pai ou uma mãe, mas

no cotidiano, tinha dois e sua situação documental não condizia com sua realidade, o principal

prejudicado era a criança, que era obrigada a ter uma ligação jurídica com apenas um, e ficava

sem nenhum amparo com relação ao outro, apesar de também manter um convívio de pai ou

mãe, mas que acabava por não ter os deveres que demanda uma entidade familiar.

104

Lei n.° 13105/2015, de 16 de Março – Novo Código do Processo Civil. 105

DIAS (2015). Op. cit, p. 484.

Page 56: DEPARTAMENTO DE DIREITO - repositorio.ual.ptrepositorio.ual.pt/bitstream/11144/2990/1/Dissertação-Final... · 1 Primeira estrofe do poema Tabacaria, de Álvaro de Campos, heterônomo

56

Pelo Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA: “Art. 43 - A adoção será deferida

quando apresentar reais vantagens para o adotando e fundar-se em motivos legítimos.”106

.

Essas são as exigências para que ocorra a adoção. São realmente as mais importantes e que

nada têm a ver com a orientação sexual dos possíveis pais ou mães.

Assim, após o STF reconhecer a união estável homoafetiva, foi concedida a adoção

aos casais homoafetivos. Admitindo, desde então, inúmeras decisões de dupla parentalidade

homoafetiva.107

2.2.2 Reprodução assistida

Em 15 de março de 2016, o Conselho Nacional de Justiça, através do Provimento n.º

52/2016108

, regulamentou o registro de certidão de nascimento de filhos advindos de

reprodução assistida. Entende-se por reprodução assistida a fertilização in vitro e a gestação

por substituição.

Sendo os pais casados ou vivendo em união estável, o registro pode ser feito apenas

por um deles, independente de ser um casal heterossexual ou homossexual. Neste último caso,

a certidão deverá ser adequada à realidade do casal e da criança, não havendo distinção de

ascendência materna ou paterna. Neste novo cenário, conhecer a ascendência biológica não

significa que haverá vínculo de parentesco entre ambos.

Caso a criança seja fruto de uma gestação por substituição, não será mais o nome da

gestante que constará na Declaração de Nascido Vivo - DNV. O provimento, inclusive, proíbe

as autoridades responsáveis de se negar a formalizar o registro das crianças, sob pena de

responder processo disciplinar.

2.2.3 Relações homoafetivas e o Direito Previdenciário

106

MENEZES, Alex Pereira. Adoção e o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). [Em linha].

Teresina, ano 19, n. 3976, 21 Maio 2014: Revista Jus Navigandi. [Consult. 03 Mar. 2016]. Disponível

em: <https://jus.com.br/artigos/28262>. 107

DIAS (2015). Op. cit., p. 502. 108

Cf.: https://www.legisweb.com.br/legislacao/?id=317508.

Page 57: DEPARTAMENTO DE DIREITO - repositorio.ual.ptrepositorio.ual.pt/bitstream/11144/2990/1/Dissertação-Final... · 1 Primeira estrofe do poema Tabacaria, de Álvaro de Campos, heterônomo

57

A sociedade homoafetiva e suas relações são decorrentes da vida em sociedade. São o

resultado de um fato social e gera um núcleo familiar já reconhecido socialmente e

juridicamente, portanto, seus direitos e sua proteção em caráter previdenciário precisa estar de

acordo com a sua atual e justa condição de entidade familiar.

No que tange à previdência pública, podemos trazer à baila a premissa constitucional

do princípio da dignidade da pessoa humana e o princípio da não discriminação. Nos direitos

sociais podemos nos fazer valer do direito à melhoria da condição social humana por meio da

aposentadoria e a proteção do Estado à família.

No contexto histórico, a legislação previdenciária foi modificada ao longo do tempo

na intenção de acompanhar a evolução dos fatos sociais em constante modificação, mas não

obteve êxito e, por isso, atualmente cabe aos nossos tribunais aplicar as normas sobre a

contextualização dos direitos fundamentais da sociedade homoafetiva.

1937 - O Decreto-Lei 1918 regulamentou o Instituto de aposentadoria e

pensões dos industriários, o qual informava que, na falta dos beneficiários,

qualquer pessoa especialmente designada poderia receber o benefício, abrindo

importante oportunidade para concessão de benefícios previdenciários.

1960 - Cria-se a possibilidade de o associado identificar qualquer pessoa como

beneficiário, a partir de uma relação de dependência Econômica, pois o Art 11,

§1.°, pontua: “o segurado poderá designar, para fins de percepção de prestações,

uma pessoa que vive sob sua dependência Econômica, Inclusive a filha ou irmã

Maior, solteira, viúva ou desquitada”. Porém, ressalta-se que o extinto Tribunal

Federal de recursos já previa possibilidade de instituir pensão por morte, mesmo

sem declaração de dependência.

1966 - Decreto-Lei n.° 66 - Não sendo o segurado civilmente casado,

considera-se tacitamente designada a pessoa com quem se tenha casado segundo o

rito religioso.

1973 - Lei n.° 5.890 - O legislador reconhece a companheira, que se

materializou, futuramente, nas relações estáveis, ao colocar: “Art. 11.

Considerando-se dependentes do segurado, para efeitos desta lei: I – a esposa, o

marido inválido, a companheira, mantida a mais de 5 anos, os filhos de qualquer

Page 58: DEPARTAMENTO DE DIREITO - repositorio.ual.ptrepositorio.ual.pt/bitstream/11144/2990/1/Dissertação-Final... · 1 Primeira estrofe do poema Tabacaria, de Álvaro de Campos, heterônomo

58

condição, menores de (...)”; “Art. 23. § 5.° A companheira designada concorrerá

com os filhos menores havido em comum com o segurado, salvo se houver

expressa manifestação em contrário.”

1991 - A Lei n.° 8.213 - Sobre o plano de benefício da Previdência Social, tem

previsão de benefício pago a dependente companheiro, sem qualquer menção

excludente a qualquer forma de união afetiva.

Pela ausência de específica previsão em lei, a comunidade homoafetiva está mais

necessitada do imperativo constitucional de proteção do Estado às entidades familiares contra

a exclusão dos benefícios previdenciários em razão de discriminação por orientação sexual.

As noções de casamento e amor vêm evoluindo ao longo da história, assumindo

formas de manifestação múltiplas que estão em movimento de mutação constante, o gênero já

não mais define com que você tem que se relacionar e constituir família, mas as puras trocas

afetivas e sexuais, além de distintas formas de identificação pessoal é o que estão e vão guiar

as relações. A situação das uniões homossexuais é um fenômeno mundial, que foi alargando o

conceito de família com a notificação do ordenamento jurídico, e de forma a abraçar

legalmente a união afetiva entre pessoas do mesmo sexo.

Uma vez reconhecida pela interpretação constitucional, a união entre homossexuais

como entidade familiar, a relação da previdência para com os casais do mesmo sexo deve

decorrer nos mesmos moldes das uniões estáveis entre heterossexuais. Ambos devem

apresentar as mesmas comprovações do vínculo afetivo e de dependência financeira

presumida entre os casais para o processamento dos pedidos de pensão por morte e auxílio-

reclusão. Para Dias:

“[...]Delineia a conduta homicida, mas não consegue impedir um sentimento de

Vingança. Determina visitas de um filho a seu pai separado, mas não consegue

impor o amor de um para o outro. O amor tem seu próprio caminho e a busca da

felicidade é seu incansável objetivo. O direito deve se alinhar a esta busca,

formatando, com o núcleo do sistema jurídico, a perspectiva de garantir Liberdade, e

não de impor limitações.”109

A falta de clareza sobre a norma previdenciária, ainda que não exclusiva, manteve a

sociedade homoafetiva na escuridão por praticamente uma década. Porém, o direito social

109

DIAS, Maria Berenice. Diversidade Sexual e Direito Homoafetivo. São Paulo: Editora Revista dos

tribunais, 2014, p. 518.

Page 59: DEPARTAMENTO DE DIREITO - repositorio.ual.ptrepositorio.ual.pt/bitstream/11144/2990/1/Dissertação-Final... · 1 Primeira estrofe do poema Tabacaria, de Álvaro de Campos, heterônomo

59

previdenciário, público e privado, deve incidir sobre todos que se coloquem sobre seu manto

protetor, não perdendo seu caráter social.

Dito isto, salientamos que os planos complementares privados de previdência estão

subordinados às regras genéricas do plano básico do Estado, que são desdobramentos do

sistema de Seguridade Social. Esses planos de previdência privada podem ser ampliados, mas

não restringir rol de beneficiários a serem designados pelos participantes.

2000 - Instrução Normativa INSS/DC 25/2000 (IN 25) - O Ministério Público

Federal do Rio Grande do Sul ingressou com ação civil pública para determinar

ao Instituto Nacional do Seguro Social - INSS pagar benefícios previdenciários

relacionados a relações homoafetivas e aos companheiros e companheiras de

beneficiários.

2001 - Lei n.° 3.334 - Disciplina o Regimento Próprio de Previdência e

Assistência dos Servidores Públicos do Município do Rio de Janeiro, e da outras

providências.

“(...)Art. 2º. Fica garantida aos servidores públicos estaduais para fins de benefícios

previdenciários averbação da condição de parceiros do mesmo sexo, junto à

autoridade competente com o objetivo de assegurar os direitos, evitar o desamparo e

a discriminação em virtude da orientação sexual já proibidos e penalizados pela Lei

n° 3406/2000.

(...)

§ 2.° considera-se igualmente dependente para efeito do disposto nesta lei, a pessoa

que mantenha união estável com outra pessoa do mesmo sexo, que seja Servidor ou

servidora do município.”

(grifos nossos)

2002 - Lei n.° 3.786 - art. 1º, fica acrescentado o §7º ao art. 29 da Lei n.°

285/1979, com o seguinte teor.

“(...) §7º. Equipara-se à condição de companheiro de que trata o inciso 1 deste art.,

os parceiros do mesmo sexo, que mantém relacionamento de união estável,

aplicando-se para configuração da união estável, no que couber, os preceitos legais

incidentes sobre a união estável entre parceiros de diferentes sexos.”

(grifos nossos)

2012-STF/STJ – O Estado brasileiro de Sergipe inadmite a coexistência de

duas unidades familiares com características de publicidade, continuidade e

durabilidade, objetivando o pagamento de pensão por morte.

Page 60: DEPARTAMENTO DE DIREITO - repositorio.ual.ptrepositorio.ual.pt/bitstream/11144/2990/1/Dissertação-Final... · 1 Primeira estrofe do poema Tabacaria, de Álvaro de Campos, heterônomo

60

Apesar da total falta de previsão normativa privada que cuidasse dos direitos básicos

da comunidade homoafetiva, diversos órgãos administrativos demonstravam interesse em

criar uma possibilidade de estabelecer ao menos alguns parâmetros previdenciários para as

pessoas em uniões estáveis homoafetivas.

2013 – CNPB 2013.0003-83 - Dos servidores públicos civis federais do Poder

Executivo. Faz menção aos beneficiários do novo regime, mas não prevê

expressamente as relações entre pessoas do mesmo sexo, apesar de não excluí-la.

“Art. 7º. São beneficiários do plano, os dependentes do participante para fins de

recebimento dos benefícios previstos neste regulamento, desde que sejam

reconhecidos como dependentes no RPPS ou, caso o participante não mais esteja

vinculado ao RPPS, atendam as condições de reconhecimento como dependentes no

RPPS.”

2013 - Resolução n.° 175, do Conselho Nacional de Justiça110

– Proíbe que as

autoridades competentes se recusem a habilitar ou celebrar o casamento civil

homoafetivo, inclusive a conversão de união estável em casamento (art. 1º).

2014 - Provimento n.° 37, do Conselho Nacional de Justiça - Faculta o registro

da união estável prevista nos arts. 1.723 a 1727 do Código Civil Brasileiro,

mantida entre o homem e a mulher, ou entre duas pessoas do mesmo sexo, no

Livro “E”.

2015 - REsp. n° 1.302.467/SP111

- Relatório do Ministro Luis Felipe Salomão,

em que a Quarta Turma do STJ reconhece o direito a alimentos do companheiro

do mesmo sexo que restou em situação financeira precária.

2.3 SUCESSÃO NA RELAÇÃO HOMOAFETIVA

A lei brasileira se omite completamente quanto à sucessão do companheiro

homoafetivo, mas o silêncio do legislador não significa inexistência de direito, apesar de que

essa omissão tem um efeito perverso e, na realidade, uma motivação preconceituosa, pois

devido a esta lacuna, alguns juízes optam por interpretar que a intenção do Estado é não

110

CNJ – Conselho Nacional de Justiça. 111

STJ – Superior Tribunal de Justiça. Cf.: http://stj.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/178708456/recurso-especial-

resp-1302467-sp-2012-0002671-4.

Page 61: DEPARTAMENTO DE DIREITO - repositorio.ual.ptrepositorio.ual.pt/bitstream/11144/2990/1/Dissertação-Final... · 1 Primeira estrofe do poema Tabacaria, de Álvaro de Campos, heterônomo

61

conceder direitos a essas relações e, dessa forma, deslancharam-se inumeras decisões

contraditórias e conflitantes ditadas pelos tribunais.

De fato, o judiciário resistiu muito em admitir as uniões homoafetivas como uma

família. As ações tramitavam nas varas cíveis sob a ótica do direito das obrigações e sob o

véu de uma “sociedade de fato”, que se definia por um negócio jurídico em que sócios têm a

intenção de gerar lucro que será partilhado entre eles. Como se pode perceber, a utilização da

conotação de “sociedade de fato” é notoriamente preconceituosa e incabível para definir uma

relação com componentes sexual e afetivo e intuito de formar família para dividir não apenas

o trabalho ou os lucros, mas a vida.

Sócios não são parentes, não tem direito à herança, portanto, além desses casais

lutarem diariamente para enfrentar o preconceito social ainda existente, para serem

reconhecidos e aceitos pelo que são, ainda terão que, em caso de morte de um deles, abrir mão

de quase tudo que construíram em prol de outras pessoas que, na maioria das vezes, os

discriminaram e os hostilizaram, apenas porque o “Estado” acredita que aquele determinado

tipo de família não tem direitos.

Segundo o Doutor Flávio Gonçalves Louzada:

“Não é cabível uma proteção diferenciada no que tange à partilha de bens, nos casos

de relações hetero e homoafetivas, uma vez que tratar as relações entre pessoas do

mesmo sexo como ‘sócias’, sem qualquer inferência à afetividade e ao amor, é

transformar o nosso mundo em um mundo cruel, injusto e desumano.” 112

A Súmula 380 do STF exige a comprovação da efetiva participação do parceiro

sobrevivente para deferir parte do patrimônio amealhado durante o período de convívio, como

se sócio fosse do falecido. Ainda assim, o direito à meação não se confunde com direito

hereditário, e reconhecer direito a metade dos bens comuns não é conferir ao companheiro

homossexual status de companheiro, e sim de sócio, mais uma vez maculando e diminuindo a

relação que existiu entre esses conviventes.

Para piorar a injustiça, quando o falecido não deixar parentes sucessíveis, os bens são

considerados herança vacante e vira bem público, o que faz com que parceiro sobrevivente, se

não conseguir comprovar participação econômica na construção do patrimônio, mesmo

depois de anos de convívio, fica sem nada.

112

LOUZADA, Flávio Gonçalves apud INÁCIO, Amanda Rodrigues. Direito Sucessório Decorrente da União

Estável Homoafetiva, 2012. Disponível em http://www.oab-sc.org.br/art.s/direito-sucessorio-decorrente-

uniao-estavel-homoafetiva/641.

Page 62: DEPARTAMENTO DE DIREITO - repositorio.ual.ptrepositorio.ual.pt/bitstream/11144/2990/1/Dissertação-Final... · 1 Primeira estrofe do poema Tabacaria, de Álvaro de Campos, heterônomo

62

A injustiça começou a ser reparada quando os vínculos homossexuais passaram a ser

de competência das varas da família. Em seguida, a legislação que regula a união estável

passou a ser usada nas relações homossexuais, assim como já era nas relações heterossexuais.

O que fez com que duas pessoas ligadas por um vínculo afetivo, que mantivessem relação

duradoura, pública e contínua, como se casados fossem, formassem o núcleo familiar à

semelhança do casamento, independente do sexo a que pertencem.

Mesmo sob o rótulo de “sociedade de fato”, essas relações afetivas tiveram alguns

direitos sucessórios, principalmente os de natureza previdenciária, reconhecidos pelos

tribunais, apesar de, tecnicamente, sócios não terem direitos hereditários.

Mais a frente, o STF, em decisão pioneira, garantiu a pensão por morte perante o INSS

ao parceiro homossexual e assegurou o direito de ser inscrito como dependente em plano de

assistência médica e a integrar o rol dos dependentes preferenciais dos segurados, no regime

geral e no regime complementar da previdência.

Em sede administrativa, o INSS, através de instrução normativa, concede auxílio por

morte; a superintendência de seguros privados defere ao parceiro o seguro por morte em

acidente rodoviário; e a Agência Nacional de Saúde Suplementar - ANS reconhece o

companheiro homossexual como dependente do titular de plano privado de assistência à

saúde.

Mas foi em 5 de Maio 2011, que o STF113

, por unanimidade, reconheceu as uniões

homoafetivas como entidades familiares, ao decidir acolher duas ações declaratórias de

inconstitucionalidade, e deu à elas os mesmos direitos e deveres das uniões estáveis. A

decisão foi histórica e sua desobediência dá ensejo a pedido de reclamação diretamente no

STF.

Gradativamente, a jurisprudência começou a deferir a conversão da união homoafetiva

em casamento, até que o STJ admitiu a habilitação direta para o casamento. Segundo a

Doutora Maria Berenice Dias: “A decisão do STJ retirou a homoafetividade do direito das

obrigações, em que era visto como simples negócio, como se o relacionamento tivesse

exclusivo objeto comercial e fins meramente lucrativos”.114

113

STF. 114

DIAS apud INÁCIO (2012). Op. cit,.

Page 63: DEPARTAMENTO DE DIREITO - repositorio.ual.ptrepositorio.ual.pt/bitstream/11144/2990/1/Dissertação-Final... · 1 Primeira estrofe do poema Tabacaria, de Álvaro de Campos, heterônomo

63

A Ordem dos Advogados do Brasil criou a comissão de diversidade sexual junto ao

conselho federal e em inúmeras seccionais estaduais e subseções, com a finalidade de

capacitar os advogados para atuarem nas demandas envolvendo os direitos da população

homoafetiva e elaborar um projeto de estatuto de diversidade sexual. Esse estatuto assegurará

o reconhecimento das uniões homoafetivas no âmbito do direito das famílias e sucessório.

Neste sentido, a OAB também elaborou a proposta de alteração de dispositivos que

deram origem a três propostas de emenda constitucional, pois:

“[...] haja vista o dever de proteção à família, incumbida ao Estado nos termos do

art. 226 da Constituição Federal, destaca-se a importância de atribuir os estáveis

efeitos sucessórios à união estável homossexual, de forma igualitária às uniões

homossexuais, tendo em vista a equiparação de ambas como entidade familiar.” 115

O posicionamento do STJ116

foi favorável aos efeitos jurídicos decorrentes da união

homoafetiva através dos dizeres da relatora do Superior Tribunal de Justiça, Ministra Nancy

Andrighi: “a ausência de previsão legal jamais pode servir de pretexto para decisões

omissas, ou ainda, calcadas em raciocínios preconceituosos, evitando, assim, que seja

negado o direito à felicidade”.

O companheiro sobrevivente tem legitimidade para requerer abertura do inventário,

assumir administração provisória e ser nomeado inventariante, mas para assegurar tais direitos

de forma mais fácil é melhor que o casal tenha casado, o que torna tais direitos

inquestionáveis. Porém, o reconhecimento da existência da união, por meio de contrato ou

escrituras públicas também assegura a concessão dos direitos, cabendo invocar o art. 1725 do

CC Brasileiro, para decidir sobre questões patrimoniais por meio de contrato escrito.

Ainda que os companheiros não tenham feito uma convenção escrita da união, se a

relação for reconhecida pelos parentes, não é necessário demanda declaratória da união

homoafetiva. É, então, cabível deferir ao companheiro sobrevivente a meação dos bens

adquiridos durante o período de convívio, mesmo sem ter prova de ter contribuído para sua

aquisição, além de também ter direitos sucessórios, que pode ser o direito de concorrência ou,

na inexistência de sucessores, a integralidade do patrimônio.

Caso a relação não seja reconhecida pelos parentes, e esses venham a contestá-la, a

controvérsia deve ser resolvida nas vias ordinárias e é possível a reserva de bens, se houver

115

INÁCIO. Op. cit. 116

STJ – SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA, 2011.

Page 64: DEPARTAMENTO DE DIREITO - repositorio.ual.ptrepositorio.ual.pt/bitstream/11144/2990/1/Dissertação-Final... · 1 Primeira estrofe do poema Tabacaria, de Álvaro de Campos, heterônomo

64

concorrência com herdeiros necessários, ainda que o inventário esteja em andamento. Mas se

o parceiro se apresenta como único herdeiro e busca a integralidade dos bens, o inventário é

suspenso.

2.3.1 Constitucionalidade da sucessão do companheiro supérstite

Para Berenice Dias é claro que:

“A união estável é reconhecida como entidade familiar pela Constituição Federal

(CF 226§ 3º), que não concedeu tratamento diferenciado a qualquer das formas de

constituição da família. Conforme Zeno Veloso, o art. 1790 merece censura e crítica

severa porque é deficiente e falho, em substancia. Significa um retrocesso evidente,

representa um verdadeiro equívoco.” 117

Em 2014, o STJ, em Corte Especial, iniciou a discussão sobre a forma de sucessão ou

herança nos casos de união estável e o Ministério Público arguiu a inconstitucionalidade do

art. 1.790 do CC Brasileiro de 2002, sobre as regras de direito sucessório na união estável,

visto que atualmente, o companheiro herda menos do que o cônjuge e essa condição estaria

ferindo a isonomia defendida na Constituição Federal. Ao compararmos as regras de sucessão

aplicadas ao casamento, podemos verificar claramente o tratamento arbitrário quando se trata

de sucessão na união estável.

Ocorre que apenas o STJ – Superior Tribunal de Justiça pode declarar que um

dispositivo legal é inconstitucional, por isso a Quarta Turma remeteu o recurso do Ministério

Publico à Corte Especial118.

A Doutora Giselda Hironaka, do IBDFAM (Instituto Brasileiro de Direito de

Família)119

, acredita que o art. 1.790 do CC Brasileiro carrega inúmeros problemas,

começando por só ter sido incluído no texto do CC Brasileiro através da Emenda n.º 358, que

deixa o companheiro fora da Sucessão Legítima, com sua escolha errônea do âmbito

legislativo para a sua inserção.

O IBDFAM também se põe favorável à necessidade da declaração de

inconstitucionalidade e consequente exclusão do art. 1790 do CC Brasileiro, ao regulamentar

117

DIAS (2013). Op. cit., p. 66. 118

INSTITUTO BRASILEIRO DE DIREITO DE FAMILIA - STJ Inicia Discussão sobre a

Constitucionalidade da Sucessão em casos de União Estável. [Em linha]. 2014, IBDFAM. 22 de Set. 2014 . 119

Id.

Page 65: DEPARTAMENTO DE DIREITO - repositorio.ual.ptrepositorio.ual.pt/bitstream/11144/2990/1/Dissertação-Final... · 1 Primeira estrofe do poema Tabacaria, de Álvaro de Campos, heterônomo

65

os direitos sucessórios do companheiro, e que este tema seja redirecionado para seu espaço de

direito dentro do Código Civil, que é o da sucessão da legítima, e que o companheiro passe a

fazer parte da vocação hereditária, ao lado de parentes do falecido e do cônjuge sobrevivo. De

acordo com a Doutora Giselda Hironaka, é neste espaço que deveria estar a sucessão do

companheiro sobrevivente. 120

2.3.2 Sucessão do companheiro supérstite no Código Civil Brasileiro de 2002

O CC Brasileiro de 2002 regulou a sucessão dos companheiros, estabelecendo a

participação nos bens adquiridos a título oneroso, na constância da união estável, na sucessão

do falecido. Gama diz:

“A maior crítica que deve ser feita ao referido art. 1829 é a de não ter incluído o

companheiro na ordem da vocação hereditária, deixando que a matéria fosse

disciplinada no art. 1790 do texto codificado, ou seja, em parte completamente

distinta daquela que envolve a ordem de chamamento dos herdeiros legítimos.”121

Seguindo a Lei n.° 9278/1996, que reconhece e regula a união estável como entidade

familiar, em seu art. 5º, afirma que os bens adquiridos por quaisquer dos companheiros

durante a união estável são considerados fruto do trabalho e pertencem a ambos, em partes

iguais, salvo contrato escrito em contrário.

Dito isto, antes de analisarmos a sucessão, é preciso saber qual o regime de bens

escolhido pelos conviventes e, dessa forma, fazer a divisão, primeiramente, da meação,

quando este for o caso: Regime de Comunhão Parcial de Bens e Regime de Comunhão

Universal de Bens. E, havendo meação, fazer a partilha dos bens entre os herdeiros,

necessários (legítima) e/ou não (quota disponível), dependendo de cada caso.

Na hipótese dos conviventes optarem por um regime de separação total de bens, no

falecimento de um deles não haverá meação. Os bens particulares (anteriores ao casamento)

serão herdados apenas pelos descendentes ou, se for o caso, ascendentes. Eles não se

comunicam com o companheiro sobrevivo, porém, o companheiro que sobreviveu é herdeiro

necessário na partilha dos bens comuns e receberá de acordo com o estipulado no art.1790 do

CC Brasileiro.

120

IBDFAM, 2014, op. cit. 121

GAMA, Guilherme Calmon Nogueira da. Concorrência sucessória à luz dos princípios norteadores do

Código Civil de 2002. Direito de Família, ano 7, n.° 29, abr./Maio 2005. p. 22.

Page 66: DEPARTAMENTO DE DIREITO - repositorio.ual.ptrepositorio.ual.pt/bitstream/11144/2990/1/Dissertação-Final... · 1 Primeira estrofe do poema Tabacaria, de Álvaro de Campos, heterônomo

66

Caso o regime escolhido tiver sido o de comunhão universal de bens, da totalidade dos

bens dos conviventes - particulares ou comuns – 50% será entregue ao companheiro

sobrevivo e os outros 50%, que seriam do de cujus, será partilhado entre os herdeiros

necessários, conforme estipulado no art. 1790 do CC Brasileiro.

Porém, se o regime de bens é o de comunhão parcial de bens (ou se não houver

nenhum regime especificado), há duas possibilidades:

Não há bens particulares - O companheiro sobrevivo é meeiro e os 50%, que seriam do

de cujus, será partilhado entre os descendentes.

Há bens particulares - O companheiro sobrevivo é meeiro dos bens comuns, os 50%,

que seriam do de cujus será partilhado entre os descendentes e os bens particulares

será partilhado segundo o art. 1790 do CC Brasileiro, entre os herdeiros necessários.

Dias esclarece que:

“O Código Civil, ao tratar do direito sucessório na união estável, ao menos em cinco

aspectos, trouxe inegável prejuízo ao companheiro sobrevivente: (a) não o

reconheceu como herdeiro necessário; (b) não lhe assegurou quota mínima; (c) o

inseriu no quarto lugar na ordem de vocação hereditária, depois dos colaterais; (d)

limitou o direito concorrente aos bens adquiridos onerosamente durante a união; e

(e) não lhe conferiu direito real de habitação.” 122

De acordo com o Código Civil Brasileiro:

“Art. 1.790 a participação do companheiro na sucessão do outro quanto aos bens

adquiridos onerosamente na vigência da união estável, nas condições seguintes:

I – Concorrendo com filhos comuns - uma quota equivalente à que por lei for

atribuída ao filho;

II – Concorrendo com filhos só de cujos - metade do que couber a cada um

daqueles;

III - Concorrendo com demais parentes sucessíveis - um terço da herança;

IV – Caso não haja parentes sucessíveis - totalidade da herança.” 123

É de suma importância lembrar que o contrato regulando a divisão do patrimônio não

tem força para excluir o companheiro sobrevivente de participar como herdeiro dos aquestos,

o que só poderá ser feito através de ato de disposição de última vontade.

No início do ano de 2003, iniciou-se a necessidade de enfrentar e resolver os

problemas resultantes da sucessão do companheiro estável. Desde então, as imperfeições do

art. 1.790 do CC Brasileiro passaram a ser ressaltadas124

:

122

DIAS (2013). Op. cit., p. 65. 123

CC Brasileiro, de 2002.

Page 67: DEPARTAMENTO DE DIREITO - repositorio.ual.ptrepositorio.ual.pt/bitstream/11144/2990/1/Dissertação-Final... · 1 Primeira estrofe do poema Tabacaria, de Álvaro de Campos, heterônomo

67

Péssima redação: A redação do único dispositivo que regula a sucessão do

companheiro estável é imprecisa e lacunosa;

Erro no aspecto topológico (equívoco quanto ao local em que está situada a norma): A

inserção da norma no capítulo atinente às disposições gerais do Direito das Sucessões,

e não no capítulo da ordem de vocação hereditária;

Lacuna em relação a situações extremamente previsíveis (comprometendo o princípio

da operabilidade da lei), como, por exemplo, a concorrência do companheiro com a

filiação híbrida, a condição de herdeiro necessário ou facultativo e o direito real de

habitação.

Incisos ultrapassando os limites estipulados pelo caput:

Inciso I, fazendo referência a filhos;

Inciso II, fazendo referência a descendentes, e ampliando o rol de possibilidades e

alterando de forma descabida o fechamento da questão;

Inciso III, que faz referência a uma quota de um terço "da herança" em favor do

companheiro sobrevivente: ou se confere preponderância à restrição colocada pelo

caput. Lendo esse inciso, percebe-se a limitação quanto aos bens sobre os quais haverá

a concorrência do companheiro, pois ou se interpreta o inciso em tela de acordo com

seus expressos termos, ou se dá ênfase à palavra "herança", o que obviamente significa

todo o patrimônio do morto, independentemente de como foi adquirido;

Inciso IV, escapa dos limites impostos pelo caput e goza inclusive de amparo legal,

pois o art. 1.844 do CC Brasileiro estabelece que a herança só será devolvida ao Poder

Público quando não sobreviver "cônjuge, ou companheiro, nem parente algum

sucessível, ou tendo eles renunciado a herança ".Isto é, havendo companheiro estável

vivo que aceite receber o patrimônio hereditário, nada passará ao domínio estatal.

Além disso, prevalece diferença substancial do tratamento conferido ao companheiro

sobrevivente (art. 1790 CC Brasileiro) se comparado ao cônjuge (art. 1829 CC Brasileiro)125

.

Na contramão da intenção, por mais controvertida que essa seja, de atingir a maior

isonomia possível entre as entidades familiares, a sucessão do cônjuge e do companheiro

perdeu a coerência quando a lei estipulou que o cônjuge tem direito sucessório sobre o

124

BOECKEL,Fabricio Dani De & ROSA, Karin Regina Rick Rosa. Direito Sucessório em Perspectiva

Interdisciplinar. São Paulo: Elsevier Acadêmico, 2011. 125

Id.

Page 68: DEPARTAMENTO DE DIREITO - repositorio.ual.ptrepositorio.ual.pt/bitstream/11144/2990/1/Dissertação-Final... · 1 Primeira estrofe do poema Tabacaria, de Álvaro de Campos, heterônomo

68

patrimônio particular do morto ao concorrer com descendentes, pois o cônjuge é tratado como

herdeiro necessário pelo art. 1.845 do CC Brasileiro e o companheiro, que não foi incluído no

rol de herdeiros necessários, não terá direito a parte da herança dos bens particulares,

concorrerá com os descendentes apenas na metade do que pertencia ao de cujus em relação

aos bens comuns.

Ocorre que tanto no casamento quanto na união estável, ou entendemos que é justa a

participação do supérstite sobre os bens particulares adquiridos pelo falecido, ou então se

estabelece que o adequado seja a concorrência apenas sobre os bens comuns.

Enfim, é notória a divergência de tratamento que o CC Brasileiro de 2002 traz no que

tange a sucessão do companheiro e a do cônjuge.

Outra colocação que trouxe muita discussão no art. 1.790 do CC Brasileiro é aquela

que emana dos incisos I e II, ao definir a participação sucessória do companheiro com base

nas origens dos descendentes com quem concorre. Mesmo não nos aprofundando no mérito

da distinção. É evidente que o critério legal escolhido complica e dificulta o entendimento da

norma e, consequentemente, reduz sua aplicabilidade de forma correta. Sem contar que o art.

não menciona a possibilidade de existirem filhos comuns e exclusivos na concorrência com o

companheiro.126

Por fim, outra lacuna do art. 1.790 do CC Brasileiro está na total falta de

regulamentação sobre o real direito de habitação vitalício do parceiro, caso não constitua nova

união ou casamento, em relação ao imóvel da família, que mesmo já tendo sido reconhecido

pela Lei n.° 9.278/1996, de 10 de Maio, foi totalmente esquecido pelo CC Brasileiro.

2.3.2.1 Concorrência do companheiro com filhos comuns

“Art. 1.790 CC (...) I - concorrer com filhos comuns, terá direito a uma quota

equivalente à que por lei for atribuída ao filho”. 127

Observando que o caput do artigo deixa clara a restrição do companheiro aos bens

comuns, a concorrência com os filhos comuns será apenas com relação a esses bens e o

126

GOMES, Orlando. Sucessões. 16. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2015. 127

CC Brasileiro.

Page 69: DEPARTAMENTO DE DIREITO - repositorio.ual.ptrepositorio.ual.pt/bitstream/11144/2990/1/Dissertação-Final... · 1 Primeira estrofe do poema Tabacaria, de Álvaro de Campos, heterônomo

69

companheiro terá direito a uma quota equivalente à do filho comum, nos bens adquiridos

onerosamente durante a união estável.128

Comparando essa regra com a norma concernente à concorrência do cônjuge com os

descendentes comuns, nota-se que não houve a reserva da quarta parte da herança ao

companheiro sobrevivo.

O legislador cometeu um erro notório ao empregar a palavra “filho” e não

“descendentes”, apesar de saber que a finalidade da norma é a de regular a concorrência do

companheiro com os “descendentes”, como visto no inciso II, onde foi corretamente

empregada.

Existem duas correntes129

que tentam solucionar a questão, uma delas acredita não ter

motivo lógico para a diferença no tratamento dispensado aos descendentes comuns, e por isso

defende que o inciso I do art. 1. 790 do CC Brasileiro abranja, através de uma interpretação

lógica, todos os descendentes comuns, competindo na sucessão com o companheiro

sobrevivente e não apenas os filhos. Durante a III Jornada de Direito Civil, promovida pelo

Conselho da Justiça Federal, foi aprovado o seguinte enunciado: “Aplica-se o inciso I do art.

1.790 do CC Brasileiro também na hipótese de concorrência do companheiro sobrevivente

com outros descendentes comuns e não apenas na concorrência com filhos comuns” 130

.

A segunda corrente defende que os descendentes comuns (que não são filhos) devem

concorrer com a companheira conforme o inciso III do art. 1.790 do CC Brasileiro, o que se

configura por reconhecê-los como “outros parentes sucessíveis”. Esta corrente preconiza que

se o legislador quis restringir o inciso I apenas aos filhos comuns, não podemos ampliar seu

alcance pela interpretação.

Enquanto as leis que disciplinaram a união estável caminham no sentido de igualar os

direitos do companheiro aos do cônjuge, o CC Brasileiro de 2002 tomou direção oposta ao

não incluir o companheiro como herdeiro necessário, ao lado dos descendentes, ascendentes e

cônjuge, e fazendo com que, caso não haja bens comuns, apenas particulares, o convivente

128

GOMES. Op. cit. 129

NOGUEIRA, Claudia de Almeida. Direito das Sucessões. 4. ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2012, p. 197. 130

Id. Os enunciados resultantes dessa jornada foram divulgados pelo STJ em dezembro de 2004.

Page 70: DEPARTAMENTO DE DIREITO - repositorio.ual.ptrepositorio.ual.pt/bitstream/11144/2990/1/Dissertação-Final... · 1 Primeira estrofe do poema Tabacaria, de Álvaro de Campos, heterônomo

70

sobrevivo não tenha direito a fazer parte da partilha, pois os bens particulares, na união

estável, são divididos apenas entre os descendentes131

.

2.3.2.2 Concorrência do companheiro supérstite com filiação hibrida

Como a lei não prevê solução para a hipótese em que os filhos têm origem híbrida, a

omissão dá ensejo à discussão, na qual se entrechocam três correntes:

A primeira vislumbra a possibilidade de partilhamento da herança considerando

todos os filhos como se fossem comuns, para atribuir ao companheiro quota igual

à que for destinada a cada filho – prevalência do inciso I do art. 1.790 do CC

Brasileiro.

A segunda restringe a quota do companheiro à metade do que aos filhos couber e

trata todos como filhos exclusivos – prevalência do inciso II do art. 1.790 do CC

Brasileiro.

A terceira propõe a realização de um cálculo proporcional do que caberia ao

companheiro, considerando a quota igualitária com relação aos filhos havidos em

comum e só metade do que coubesse aos demais - composição dos incisos I e II.

Segundo o Doutor Márcio Luiz Delgado Régis: “O privilégio assegurado aos

descendentes do companheiro falecido, de receberem o dobro do quinhão que couber ao

companheiro sobrevivente, só é assegurado, quando inexistirem descendentes comuns, sob

pena de se infringir o princípio constitucional da igualdade”132 .

O melhor e mais prático entendimento parece ser de acordo com o inciso I do art.

1.790 do CC Brasileiro, pois o inciso II exige que os descendentes sejam só do autor da

herança, exclusividade não imposta pelo inciso I.

131

NOGUEIRA. Op. cit., p. 198. 132

RÉGIS apud GONÇALVES. Op. cit., p. 169.

Page 71: DEPARTAMENTO DE DIREITO - repositorio.ual.ptrepositorio.ual.pt/bitstream/11144/2990/1/Dissertação-Final... · 1 Primeira estrofe do poema Tabacaria, de Álvaro de Campos, heterônomo

71

2.3.2.3 Concorrência do companheiro supérstite com descendente do autor da herança

Segundo o inciso II do art. 1.790 do CC Brasileiro, o companheiro sobrevivente herda

a metade do quinhão dos descendentes exclusivos do autor da herança quanto aos bens

comprados durante a união estável (bens comuns). Os demais bens (particulares) são

partilhados entre os descendentes. O companheiro sobrevivente não tem direito à

concorrência.133

O inciso repete a inoportuna distinção entre descendentes exclusivos e descendentes

comuns, tal qual previsto para o cônjuge no art. 1.832 do CC Brasileiro, mas piora a condição

do companheiro sobrevivente.

Não há previsão para o caso de concorrer o companheiro com descendentes comuns e

descendentes só do autor da herança. Não se pode aplicar a solução de cada situação para os

respectivos descendentes, pois haveria desigualdade de quinhões hereditários entre os filhos,

o que fere a regra constitucional.

Na prática, temos a seguinte hipótese para a situação do companheiro sobrevivente:

durante a união estável, o casal comprou uma casa onde a família sempre morou e ele herdou

uma loja. O marido tem 3 (três) filhos anteriores. A primeira metade da casa constitui a

meação da companheira. A outra metade da casa integra o espólio junto com a totalidade da

loja. A segunda metade da casa será dividida atribuindo-se duas partes para cada filho

exclusivo do morto e uma parte para a companheira. Dos bens comprados durante a união

estável, cabe à companheira metade do que couber a cada um deles.

Como havia apenas um único imóvel de natureza residencial e a família morava no

bem à época do óbito, a companheira tem direito real de habitação, conforme parágrafo único

do art. 7 da Lei n.° 9.278/1996, de 10 de Maio, apesar desse direito real de habitação gerar

divergência entre os doutrinadores, pois mesmo estando garantido na lei específica, o Código

Civil não o contempla.134

133

NOGUEIRA. Op. cit., p. 208. 134

GOMES. Op. cit.

Page 72: DEPARTAMENTO DE DIREITO - repositorio.ual.ptrepositorio.ual.pt/bitstream/11144/2990/1/Dissertação-Final... · 1 Primeira estrofe do poema Tabacaria, de Álvaro de Campos, heterônomo

72

Sabendo-se que herança é bem particular e, por isso, não se comunica no regime de

bens em questão, apenas os três filhos irão ter direito à loja, em igualdade de condições.135

2.3.2.4 Concorrência do companheiro supérstite com outros parentes sucessíveis do autor da

herança

O companheiro herda um terço dos bens e os colaterais os dois terços restantes quando

concorre com outros herdeiros sucessíveis. É um retrocesso inexplicável o imposto pelo art.

1.790 do CC Brasileiro, no qual os companheiros passam a concorrer com os colaterais até

quarto grau do falecido. Pelas leis especiais de união estável, os companheiros ficavam no

mesmo patamar da sucessão do cônjuge, mas com esse dispositivo, somente na falta destes

parentes, o companheiro irá suceder sozinho.

No tocante ao concurso com os ascendentes a regra não se mostra tão absurda, já que

destina ao companheiro quota igual à atribuída a cada um dos pais do de cujus, se ambos

forem sobrevivos. Sendo premorto um dos ascendentes, o sobrevivo terá a vantagem de ficar

com os dois terços da herança, cabendo ao companheiro sempre o mesmo terço restante.

Se ambos os genitores já forem falecidos, serão convocadas para a sucessão os avós

maternos e os avós paternos. Na hipótese de os quatro avós ainda estarem vivos, terão que

dividir entre eles os dois terços do acervo, uma vez que o inciso III do art. 1.790 do CC

Brasileiro, continua a determinar que o companheiro sobrevivente herde apenas a quantia fixa

de um terço do acervo sucessível.

Porém, se houver apenas um dos avós em uma das linhas e ambos os avós na outra

linha, cada uma das linhas receberá um terço do acervo hereditário, tocando a outra terça parte

ao companheiro sobrevivente.

Para o Doutor Zeno Veloso não há justificativa para:

“[...] colocar-se o companheiro sobrevivente numa posição tão acanhada e bisonha

na sucessão da pessoa com quem viveu pública, contínua e duradouramente,

constituindo uma família, que merece tanto reconhecimento e apreço, e que é tão

digna quanto a família fundada no casamento.”136

135

GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro – Direito das Sucessões. 7 ed. São Paulo: Saraiva,

2012, p. 168. 136

VELOSO apud GONÇALVES. Op. cit., p. 200.

Page 73: DEPARTAMENTO DE DIREITO - repositorio.ual.ptrepositorio.ual.pt/bitstream/11144/2990/1/Dissertação-Final... · 1 Primeira estrofe do poema Tabacaria, de Álvaro de Campos, heterônomo

73

Se não houver bens comuns, mas apenas bens particulares, na ausência de outros

parentes sucessíveis, os bens serão devolvidos ao Estado, conforme o disposto no art. 1.844

do Código Civil Brasileiro.

2.3.2.5 Direito do companheiro supérstite à totalidade da herança quando não há parentes

sucessíveis do autor da herança

Após as uniões estáveis serem elevadas ao patamar de entidade familiar através da

Constituição Federal de 1988, foram igualadas ao casamento, assim como a família

monoparental, que é constituída por um dos genitores, mas os direitos sucessórios dos

companheiros pendiam de legislação ordinária.

Em 1994, a Lei n.° 8.971, deu aos conviventes, a partir daquela data, o

reconhecimento do direito à sucessão da propriedade dos bens do falecido, quando não

houvesse herdeiros necessários (descendentes ou ascendentes).

Aos companheiros somente era dado o direito de pleitear, em sede processual própria,

o reconhecimento da sociedade de fato, visando à obtenção de parcela do patrimônio

adquirido onerosamente durante a união estável, na proporção do esforço de cada um.

Essa necessidade de comprovação do esforço em comum para aquisição do patrimônio

foi objeto da Súmula 380 do STF, que aqui se repete “comprovada existência de sociedade de

fato entre os concubinos, é cabível a sua dissolução judicial, como a partilha do patrimônio

adquirido pelo esforço comum”. 137

Separada a parte proporcional do sobrevivo, o patrimônio do morto era partilhado

entre os herdeiros necessários, em ordem. Na falta desses e de testamento válido beneficiando

o companheiro, considerava-se a herança jacente.

Através da Lei n.° 8.971/1994, de 29 de Dezembro, os conviventes passaram a ter

direito à sucessão legítima, em terceiro lugar e recebendo a totalidade dos bens, na falta de

herdeiros necessários e de testamento válido e eficaz beneficiando terceiro.

137

STF - Súmula 380, op. cit.

Page 74: DEPARTAMENTO DE DIREITO - repositorio.ual.ptrepositorio.ual.pt/bitstream/11144/2990/1/Dissertação-Final... · 1 Primeira estrofe do poema Tabacaria, de Álvaro de Campos, heterônomo

74

Quando em concurso com herdeiros necessários ou mesmo sozinho, o companheiro

tem que preencher certos requisitos.

a) Viver em união estável a época do óbito;

b) Falecimento de um deles;

c) Aquisição a título oneroso de bens durante a união estável;

d) comprovação em juízo da sua qualidade de companheiro do

sobrevivente;

O art. 1.790 do CC Brasileiro, em seu caput, restringe o direito do companheiro

apenas aos bens adquiridos a título oneroso durante união estável, mas seu inciso IV prevê

que não havendo herdeiros sucessíveis, o companheiro sobrevivente herda a totalidade dos

bens havidos a qualquer título, durante a união estável ou não. Segundo o disposto no art.

1.844 do CC Brasileiro, a herança somente é devolvida ao Estado se não houver cônjuge,

companheiro, nem parente algum sucessível.

Em comparação com a situação do cônjuge, o companheiro foi deixado de lado mais

uma vez pelo legislador, que, após esse dispositivo, retrocedeu muito na direção da isonomia

entre o casamento e a união estável o que muitas vezes deixa o companheiro em situação de

indubitável injustiça, visto que para que ele seja herdeiro do patrimônio que ajudou a

construir, tenha que, primeiramente, ceder o que deveria ser “o seu lugar” aos possíveis

parentes do de cujus até o colateral em 4º grau.

Não tendo sido o companheiro erigido à categoria de herdeiro necessário, pode o

testador excluí-lo da sucessão, se desejar por disposição de última vontade (art. 1.845 do CC

Brasileiro).

2.3.2.6 Meação

Sobre essa questão, cabe a colocação de Dias, que faz um breve resumo da situação ao

dizer que:

“Quando do falecimento de um deles, o outro tem direito à meação dos bens

comuns, chamados de aquestos. Ainda que a meação não integre o acervo

Page 75: DEPARTAMENTO DE DIREITO - repositorio.ual.ptrepositorio.ual.pt/bitstream/11144/2990/1/Dissertação-Final... · 1 Primeira estrofe do poema Tabacaria, de Álvaro de Campos, heterônomo

75

hereditário, necessariamente acaba arrolada no inventário, pois a separação dos bens

do parceiro sobrevivente ocorre quando da partilha (CPC 1023 II). Quando se pensa

na divisão da herança, é necessário antes excluir a meação do companheiro

sobrevivente, que se constitui da metade dos bens adquiridos onerosamente no

período de convivência. A outra metade é o acervo hereditário, integrado pela

meação do falecido, seus bens particulares e os recebidos por doação ou herança.

Aos herdeiros necessários é reservada a legítima, que corresponde à metade deste

patrimônio. A outra metade é a parte disponível que seu titular pode dispor por meio

de testamento. Como o companheiro não é herdeiro necessário – por

injustificadamente não ter sido inserido na ordem de vocação hereditária -, não tem

direito à legítima.”138

Os bens particulares que cada um tinha antes do início do relacionamento e os

recebidos por doação ou herança, pertencem ao seu titular; porém o acervo construído durante

a vida em comum é de ambos os companheiros, de forma igualitária. Ao falecer um deles, o

outro tem direito à meação dos aquestos, que apesar de não ser herança, acaba arrolada no

inventário, já que é no momento da partilha que é feita a separação dos bens do companheiro

sobrevivo, de acordo com o art. 651 como consta o Novo Código de Processo Civil Brasileiro,

de 16 de Março 2015139

.

O direito a meação, preexiste à morte do autor da herança, direito este assegurado aos

conviventes em união estável pelo art. 1.725 do CC Brasileiro, ao determinar que se aplique a

união estável o regime de comunhão parcial de bens, salvo estipulação contrária em contrato

escrito.

Ao pensar na divisão da herança, precisamos, antes de tudo excluir a meação do

companheiro sobrevivente dos bens comuns. A outra metade, junto com os bens particulares,

forma a herança. Desta herança, a metade, chamada de legítima, é reservada aos herdeiros

necessários e a outra metade é a quota disponível, que caso fosse a vontade do autor, poderia

disponibilizá-la a terceiros através de testamento. Como o companheiro não foi inserido como

herdeiro necessário, não tem direito à legítima.

O tipo de regime de bens pode impedir a meação, mas não o direito sucessório e ainda

que haja direito à meação, esta não invalida o direito sucessório do companheiro. O regime de

separação convencional de bens é, a princípio, o único que não há direito à meação, pois

inexiste a comunicação patrimonial, mas ainda assim a jurisprudência vem admitindo o

direito a partilha mediante prova de contribuição na construção do acervo patrimonial.

138

DIAS (2013). Op. cit., p. 68. 139

Lei n.° 13105/2015, de 16 de Março – Novo Código do Processo Civil.

Page 76: DEPARTAMENTO DE DIREITO - repositorio.ual.ptrepositorio.ual.pt/bitstream/11144/2990/1/Dissertação-Final... · 1 Primeira estrofe do poema Tabacaria, de Álvaro de Campos, heterônomo

76

Para reconhecer o direito à meação, não é necessário que a união estável permaneça

até o falecimento, basta ter existido e, durante sua constância, ter sido adquirido bem ou bens.

Isso ocorre porque a meação não é herança, pois se fosse teria extinguido com a separação de

fato, assim como todo o direito sucessório.

2.3.2.7 Direito real de habitação do companheiro supérstite

Direito real de habitação significa que é garantido ao cônjuge ou companheiro, o

direito de habitar a casa que serve como moradia para o casal após a morte do convivente que

é oficialmente dono do imóvel. Esse direito é previsto no art. 6, caput, da Constituição

Federal.

A Lei n.° 9.278/1996, de 10 de Maio, garantiu ao companheiro o direito real de

habitação, assim como já era garantido ao cônjuge, porém o Código Civil de 2002 se absteve

desse assunto ao regulamentar a sucessão do companheiro, ao mesmo tempo em que em seu

art. 1.831 do CC Brasileiro concede apenas ao cônjuge sobrevivente o direito real de

habitação140

:

“Art. 1.831: ao cônjuge sobrevivente, qualquer que seja o regime de bens, será

segurado, sem prejuízo da participação que lhe caiba na herança, o direito real de

habitação relativamente ao imóvel destinado à residência da família, desde que seja

o único daquela natureza a inventariar.”

“ [...] o direito real de habitação deve ser estendido ao companheiro, seja por não ter

sido revogado, precisão da Lei n.º 9278/1996, seja em razão da interpretação

analógica do art. 1.831, informado pelo art. 6º, caput, da CF/1988.”141

Levando em conta que o princípio de vedação ao retrocesso é uma espinha dorsal do

direito de família, a atribuição do direito real de habitação ao companheiro sobrevivente é

uma questão de absoluta lógica e justiça, já que esse direito tinha sido assegurado a estes pela

Lei n.° 9.278/1996, de 10 de Maio.

Visto que, na prática, cônjuges e companheiros exercem a mesma função e têm a

mesma importância na construção da convivência, na superação das dificuldades, na

constituição da família e na vida em comum, os mesmos direitos devem ser conferidos a

ambos, fazendo com que as diferenças seja apenas a forma social com que aquela família opta

140

GOMES. Op. cit. 141

DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro: Direito das Sucessões. v. 6. São Paulo: Saraiva,

2007, p. 148.

Page 77: DEPARTAMENTO DE DIREITO - repositorio.ual.ptrepositorio.ual.pt/bitstream/11144/2990/1/Dissertação-Final... · 1 Primeira estrofe do poema Tabacaria, de Álvaro de Campos, heterônomo

77

por se apresentar, o que não deve influenciar sobremaneira em seus direitos, pois são uma

entidade familiar.

Neste sentido decidiu o STJ142:

“Direito das sucessões. Recurso especial. Sucessão aberta na vigência do CC/2002.

Companheira sobrevivente. Direito real de habitação. art. 1831 do CC Brasileiro

2002.

1 - O novo Código Civil regulou inteiramente a sucessão do companheiro, ab-

rogando as leis da união estável, nos termos do art. 2. § 1.°, da Lei de Introdução às

Normas do Direito Brasileiro – LINDB.

2 – É bem verdade que o art. 1790 do CC Brasileiro de 2002, norma que inovou o

regime sucessório dos conviventes em união estável, não previu o direito real de

habitação aos companheiros. Tampouco a redação do art. 1831 do CC Brasileiro

2002 traz previsão expressa de direito real de habitação à companheira. Ocorre que a

interpretação literal das normas conduziria à conclusão de que o cônjuge estaria em

situação privilegiada em relação ao companheiro, o que deve ser rechaçado pelo

ordenamento jurídico.

3 – A parte final do § 3.° do art. 226 da Constituição Federal Brasileira consiste, em

verdade, tão somente em uma fórmula de facilitação da conversão da união estável

em casamento. Aquela não rende ensejo a um estado civil de passagem, como um

degrau inferior que, em menos ou mais tempo, cederá vez a este.

4 – No caso concreto, o fato de haver outros bens residenciais no espólio, um

utilizado pela esposa como domicílio, outro pela companheira, não resulta

automática exclusão do direito real de habitação desta, relativo ao imóvel da

Avenida Borges de Medeiros, Porto Alegre-RS, que lá residia desde 1991

juntamente com o companheiro Jorge Augusto Leveridge Patterson, hoje falecido.

5 – O direito real de habitação concede ao consorte supérstite a utilização do imóvel

que servia de residência ao casal com o fim de moradia, independentemente de

filhos exclusivos do de cujus, como é o caso.

6 - Recurso Especial não provido.”

(STJ, REsp 1.329.993/RS, 2010/0222236-3,j. 26/11/2013, rel. Luis Felipe Salomão).

“Direito civil. Sucessão. Direito real de habitação. Companheiro sobrevivente.

Possibilidade. Vigência do art. 7 da Lei n.° 9.278/1996. Recurso improvido.

1 – Direito real de habitação. Aplicação ao companheiro sobrevivente. Ausência de

disciplina no Código Civil. Silêncio não eloquente. Princípio da especialidade.

Vigência do art. 7. da Lei n.° 9.278/1996. Precedente: REsp 1.220.838/PR, 3.° T., j.

19/06/2012, rel.Min. Sidnei Beneti, DJe 27.06.2012.

2 – O Instituto de direito real de habitação possui por escopo garantir o direito

fundamental à moradia constitucionalmente protegido (art. 6, caput, da CFB).

Observância, ademais, ao postulado da dignidade da pessoa humana (art. 1, III, da

CFB).

3 – A disciplina geral promovida pelo Código Civil acerca do regime sucessório dos

companheiros não revogou as disposições constantes da Lei n.° 9.278/1996 nas

questões em que verificada a compatibilidade. A legislação especial, ao conferir

direito real de habitação ao companheiro sobrevivente, subsiste diante da omissão do

Código Civil Brasileiro em disciplinar tal direito àqueles que convivem em união

estável. Prevalência do princípio da especialidade.

4 – Recurso improvido ”

(STJ, REsp 1.156.744/MG, 2009/0175897-8, j. 09.10.2012, rel. Marco Buzzi).

142

DIAS (2014). Op.cit., pp. 477-479.

Page 78: DEPARTAMENTO DE DIREITO - repositorio.ual.ptrepositorio.ual.pt/bitstream/11144/2990/1/Dissertação-Final... · 1 Primeira estrofe do poema Tabacaria, de Álvaro de Campos, heterônomo

78

“Direito Civil. Sucessões. Direito real de habitação do cônjuge supérstite. Evolução

Legislativa. Situação jurídica mais vantajosa para o companheiro que para o

cônjuge. Equiparação da união estável.

1 - O Código Civil Brasileiro de 1916, com a redação que lhe foi dada pelo Estatuto

da Mulher Casada, conferia ao cônjuge sobrevivente direito real de habitação sobre

o imóvel, desde que casados sob o regime de comunhão universal de bens.

2 – A Lei n.° 9.278/1996, de 10 de Maio, conferiu direito equivalente aos

companheiros e o Código Civil Brasileiro de 2002 abandonou a postura restritiva do

anterior, estendendo o benefício a todos os cônjuges sobreviventes,

independentemente do regime de bens do casamento.

3 – A CFB (art. 226, § 3.°) ao incumbir o legislador de criar uma moldura normativa

isonômica entre união estável e casamento, conduz também o intérprete da norma a

concluir pela derrogação parcial do § 2. do art. 1611 do CC/1916, de modo a

equiparar a situação do cônjuge e do Companheiro no que respeita o direito real de

habitação, em antecipação ao que foi finalmente reconhecido pelo código civil de

2002.

4 – Recurso Especial improvido.”

(STJ, REsp 821.660/DF, 2006/0038097-2,j. 14.06.2011, rel. Sidnei Beneti).

Com relação à grande importância do direito real de habitação e sua natureza

sucessória, assim se pronunciou recentemente o STJ:

“(...)

1 - O Código Civil de 2002 regulou inteiramente a sucessão do companheiro, ab-

rogando, assim, as leis da união estável, nos termos do art. 2, § 1.° da lei de

introdução às normas do direito brasileiro – LINDB. Portanto, é descabido

considerar que houve exceção apenas quanto há um parágrafo.

2 - É bem verdade que o art. 1790 do Código Civil de 2002, norma que inovou o

regime sucessório dos conviventes em união estável, não previu o direito real de

habitação aos companheiros. Tampouco a redação do art. 1831 do CC/2002 traz

previsão expressa de direito real de habitação à companheira. Ocorre que a

interpretação literal das normas conduziria à conclusão de que o cônjuge estaria em

situação privilegiada em relação ao companheiro, o que não parece verdadeiro pela

regra da Constituição.

3 – A parte final do § 3.° do art. 226 da CF consiste, em verdade, tão somente em

uma fórmula de facilitação da conversão da união estável em casamento. Aquela não

rende ensejo a um estado civil de passagem, como um degrau inferior que, em

menos ou mais tempo, cederá vez a este.

4 – No caso concreto, o fato de a companheira ter adquirido outro imóvel residencial

com dinheiro recebido pelo seguro de vida do falecido não resulta exclusão de seu

direito real de habitação referente ao imóvel em que residia com o companheiro, ao

tempo da abertura da sucessão.

5 – Ademais, o imóvel em questão adquirido pela ora recorrente não faz parte dos

bens a inventariar.

6 – Recurso Especial provido.”

(STJ, REsp 1.249.227/SC, 2011/0084991-2,j. 26.11.2013, rel. Luis Felipe Salomão).

Com isso, não pairam dúvidas que, se estiverem em condições exigidas por lei –

como, por exemplo, tratar-se de imóvel único destinado à residência da família - o

companheiro homossexual sobrevivo também possui direito real de habitação. O direito real

de habitação recai em prédio residencial, contanto que seja um único imóvel inventariado.

Basta que se destinem a residência, donde se segue que, se nele não está morando, o gravame

não se institui.

Page 79: DEPARTAMENTO DE DIREITO - repositorio.ual.ptrepositorio.ual.pt/bitstream/11144/2990/1/Dissertação-Final... · 1 Primeira estrofe do poema Tabacaria, de Álvaro de Campos, heterônomo

79

Se a família reside em casa própria, mas o falecido era proprietário de outros bens

imóveis, o direito real não se constitui. GOMES coloca:

“Deve-se entender o requisito de exclusividade no sentido de inexistência de outros

imóveis residenciais, a isso autorizando a finalidade da Lei, que é, evidentemente,

impedir que a passagem do bem em plena propriedade à um herdeiro possa

determinar o deslocamento da família, ou simplesmente do outro cônjuge.”143

Atualmente, o imóvel é gravado sob direito real de habitação enquanto o cônjuge ou

companheiro sobreviver e não como anteriormente, quando o legislador definia que caso o

cônjuge constituísse nova união ou casamento perderia o direito.

Com isso, terminaram, neste trabalho, as abordagens, do ponto de vista do Direito

Português, no Primeiro Capítulo, e do ponto de vista do Direito Brasileiro, neste Segundo

Capítulo, quanto à situação jurídica da sucessão do casal homoafetivo nestes dois

ordenamentos. Neste tocante, observa-se, de plano, a diferenciação nos dois ordenamentos: no

ordenamento jurídico português, o tema aqui tratado já tem um manto legal muito maior; e no

ordenamento jurídico brasileiro, ainda é bem dependente do alvedrio de decisões

jurispridenciais de seus tribunais, em razão de existência de lacuna legal. No próximo

capítulo, abordar-se-á a situação do relacionamento homoafetivo perante outras legislações.

143

GOMES. Op. cit., p. 68.

Page 80: DEPARTAMENTO DE DIREITO - repositorio.ual.ptrepositorio.ual.pt/bitstream/11144/2990/1/Dissertação-Final... · 1 Primeira estrofe do poema Tabacaria, de Álvaro de Campos, heterônomo

80

TERCEIRO CAPÍTULO

No terceiro capítulo, procurar-se-á buscar entender a situação jurídica do

relacionamento homoafetivo, sua aceitação e evolução ao longo dos anos, perante os

ordenamentos jurídicos diversos do luso-brasileiro. A ideia central foi a de apresentar um

panorama do caminho trilhado e ajudar na busca incessante de situações mais justas e

condizentes com a realidade, não apenas de alguns poucos países e sim mundial, como será

visto por meio de mapas, quadros e gráficos, que consolidam o entendimento.

Page 81: DEPARTAMENTO DE DIREITO - repositorio.ual.ptrepositorio.ual.pt/bitstream/11144/2990/1/Dissertação-Final... · 1 Primeira estrofe do poema Tabacaria, de Álvaro de Campos, heterônomo

81

“Ninguém deve ser submetido à discriminação ou violência por causa

da orientação sexual. Esta resolução não busca impor certos valores

aos países, e sim iniciar o diálogo.”

(Jerry Matthews Matjila)144

.

“Cuida-se, enfim, a meu juízo, de uma entidade familiar que, embora

não esteja expressamente prevista no art. 226, precisa ter a sua

existência reconhecida pelo Direito, tendo em conta a existência de

uma lacuna legal que impede que o Estado, exercendo o indeclinável

papel de protetor dos grupos minoritários, coloque sob seu amparo as

relações afetivas públicas e duradouras que se formam entre pessoas

do mesmo sexo.”

(Ricardo Lewandowski)145

.

“A pessoa homossexual deve ser respeitada em sua dignidade e

acolhida com respeito, com o objetivo de evitar qualquer marca de

injusta discriminação e, particularmente, toda forma de agressão e

violência.”

(Papa Francisco)

“As palavras pronunciadas pelo Papa são muito importantes do ponto de

vista do estilo, porque, depois de tantos anos de insultos lançados pela

Igreja Católica, se reconhece que não devem discriminar ou marginalizar

essas pessoas.”

(Aurelio Mancuso)146

.

144

Representante da África do Sul na resolução apresentada na ONU. 145

Ministro do Supremo Tribunal Federal. -STF. 146

Presidente do Equality Italia, católico e representante do movimento homossexual italiano.

Page 82: DEPARTAMENTO DE DIREITO - repositorio.ual.ptrepositorio.ual.pt/bitstream/11144/2990/1/Dissertação-Final... · 1 Primeira estrofe do poema Tabacaria, de Álvaro de Campos, heterônomo

82

CAPÍTULO 3 – OS EFEITOS JURÍDICOS DA UNIÃO HOMOAFETIVA EM

ORDENAMENTOS DIVERSOS DO LUSO-BRASILEIRO

O sistema comparativo, no Direito, possibilita maior campo de visão para análise de

prováveis e improváveis consequências, diferentes formas e ideias para solucionar as questões

advindas dessas controvérsias ou dúvidas. E, inclusive, um maior número de casos que

favoreça, também, a análise social de como a questão é vista pela população mundial e o

acompanhamento da mudança da opinião pública quando esta existir. Sempre levando em

consideração o maior número de variáveis possíveis para que tenhamos um panorama mais

completo.

Para que esta intenção venha a se tornar realidade, não se pode restringir o estudo

apenas a países com características morais, econômicas e sociais parecidas, pois se corre o

risco de ter uma noção direcionada a um ou outro grupo de interesse. A união de diversas

culturas, povos, realidades sociais e econômicas nos traz uma visão mais próxima da

realidade, mesmo que não seja a mais conveniente.

A partir desta visão global e despida de qualquer conveniência, pode-se, então, fazer

comparações entre esses países e suas características em comum, de forma, talvez, a traçar um

subtópico dentro deste estudo. Uma possível linha estabelecendo entre eles uma explicação

comportamental ou moral que os una.

As leis de proteção às uniões e casamentos homossexuais vêm se espalhando pelo

mundo como consequência de novos pensamentos, nova visão e entendimento da situação

prática desses casais, como pode ser comprovado atualmente (Anexo A).

A falta de legislação não estava fazendo com que esse inicial “incômodo” social

diminuísse. As pessoas não deixaram de procurar sua felicidade, elas apenas estavam fora de

uma proteção estatal que deveria ser garantia fundamental a qualquer ser humano.

Neste entendimento, a população LGBT foi aumentando e se conscientizando de que

deveriam lutar para que seus direitos fossem garantidos e respeitados. Ao redor do mundo

comunidades inteiras, cada uma respeitando seu tempo de entendimento e de aceitação, foram

sendo orientadas ao respeito pelo que é diferente, ainda que esse não fosse entendido por

todos.

Page 83: DEPARTAMENTO DE DIREITO - repositorio.ual.ptrepositorio.ual.pt/bitstream/11144/2990/1/Dissertação-Final... · 1 Primeira estrofe do poema Tabacaria, de Álvaro de Campos, heterônomo

83

A realidade já existia, estava nas ruas, nas cidades, nos países e precisava ser

considerada e vista. Todos os desdobramentos oriundos das relações homoafetivas

precisavam ser protegidos e, principalmente, precisavam de uma organização, de protocolos,

tais quais os que existiam para organizar e regular as relações heterossexuais e suas

consequências.

As discussões se tornaram comuns, infindáveis e muitas vezes, divergentes. Tudo que

é novo e abala as estruturas conservadoras da sociedade enfrenta uma resistência enorme e

difícil que, em sua maioria, só é abrandada com muita discussão para esclarecimento das

várias nuances.

Tem-se, como exemplo dessas nuances, os filhos oriundos destas uniões, seus registros

civis, a situação do companheiro homossexual como herdeiro, a família com sua proteção

estatal, etc. Eram várias as dúvidas que, ao longo do tempo, foram sendo discutidas e sanadas.

A preocupação com os direitos humanos universais, a saúde mental dos envolvidos, o

direito de constituir família e principalmente a discriminação por orientação sexual, que é

vetada na grande maioria dos países atualmente, leva-se ao entendimento de que negar aos

casais do mesmo sexo o direito ao casamento e aos seus benefícios legais conexos representa

um retrocesso e uma afronta à evolução da sociedade e do respeito às diferenças, além de

estigmatizar e excluir esses casais.

De acordo com estudos e pesquisas telefônicas, eletrônicas e pessoais, feitas

periodicamente, desde o início da década de 90 até o ano de 2015, a aceitação popular ao

casamento homoafetivo vem crescendo de 10% para 60% proporcionalmente, e o

posicionamento contrário vem caindo. Mais de 70% de pessoas eram contrárias em 1990,

sendo que em 2015 tínhamos um percentual de menos de 40%, o que comprova uma

crescente humanização da sociedade em relação aos homossexuais e suas relações,

anteriormente não protegidas ou sequer reconhecidas. (Anexo B).

Após a aprovação do casamento entre pessoas do mesmo sexo em vários países, a

justiça, a facilidade e a formalidade ganharam força através de inúmeros casos de casamentos

efetivamente celebrados. (Anexo C).

A procura pelo direito de contraír matrimônio e pelo cumprimento das novas regras

que garantiam à comunidade LGBT vários direitos e reconhecimentos até então negados,

Page 84: DEPARTAMENTO DE DIREITO - repositorio.ual.ptrepositorio.ual.pt/bitstream/11144/2990/1/Dissertação-Final... · 1 Primeira estrofe do poema Tabacaria, de Álvaro de Campos, heterônomo

84

comprovam que o que os deixavava à margem era o preconceito social e a falta de legislação

que os incluísse. E não era, sob nenhuma hipótese, o caráter ‘furtivo, marginal e pervertido’

dos indivíduos dessa comunidade, como acreditava e difundiam os conservadores e

intolerantes, ideia que infelizmente ainda persiste nos dias de hoje, apesar de panoramas que

ilustram uma realidade diversa. (Anexo D).

Atualmente, 23 países permitem que pessoas do mesmo sexo se casem, como reporta

Aragão147

:

Holanda (2001) – Permite a adoção, o tratamento de fertilidade, participação na

herança, direito à pensão e o uso do sobrenome.

Bélgica (2003) - Permite a adoção, o tratamento de fertilidade, participação na

herança, direito à pensão e o uso do sobrenome.

Canadá (2005) - Permite a adoção, o tratamento de fertilidade, participação na

herança, direito à pensão e o uso do sobrenome.

Espanha (2005) - Permite a adoção, o tratamento de fertilidade, participação na

herança, direito à pensão e o uso do sobrenome.

África do Sul (2006) - Permite a adoção, o tratamento de fertilidade, participação na

herança, direito à pensão e o uso do sobrenome.

Noruega (2009) - Permite a adoção, o tratamento de fertilidade, participação na

herança, direito à pensão e o uso do sobrenome.

Suécia (2009) - Permite a adoção, o tratamento de fertilidade, participação na herança,

direito à pensão e o uso do sobrenome.

Argentina (2010) - Permite a adoção, o tratamento de fertilidade, participação na

herança, direito à pensão e o uso do sobrenome.

Islândia (2010) - Permite a adoção, o tratamento de fertilidade, participação na

herança, direito à pensão e o uso do sobrenome.

Portugal (2010) - Permite a adoção, o tratamento de fertilidade (exceto gestação por

substituição), participação na herança, direito à pensão e o uso do sobrenome.

Dinamarca (2012) - Permite a adoção, o tratamento de fertilidade, participação na

herança, direito à pensão e o uso do sobrenome.

Brasil (2013) - Permite a adoção, o tratamento de fertilidade, participação na herança,

direito à pensão e o uso do sobrenome.

147

ARAGÃO, Chico. União civil e casamento homoafetivo no mundo atual. [Em linha] 10 de Maio de 2011.

Page 85: DEPARTAMENTO DE DIREITO - repositorio.ual.ptrepositorio.ual.pt/bitstream/11144/2990/1/Dissertação-Final... · 1 Primeira estrofe do poema Tabacaria, de Álvaro de Campos, heterônomo

85

França (2013) – Não permite a adoção, não permite o tratamento de fertilidade,

permite participação na herança, permite o direito à pensão e não permite o uso do

sobrenome.

Nova Zelândia (2013) – Não permite a adoção, permite o tratamento de fertilidade, a

participação na herança, o direito à pensão e o uso do sobrenome.

Uruguai (2013) - Permite a adoção, participação na herança, direito à pensão e o uso

do sobrenome.

Escócia (2014) - Permite a adoção, o tratamento de fertilidade, participação na

herança, direito à pensão e o uso do sobrenome.

Inglaterra (2014) - Permite a adoção, o tratamento de fertilidade, participação na

herança, direito à pensão e o uso do sobrenome.

Luxemburgo (2014) - Não permite a adoção, não permite o tratamento de fertilidade,

permite participação na herança, permite o direito à pensão e não permite o uso do

sobrenome.

País de Gales (2014) - Permite a adoção, o tratamento de fertilidade, participação na

herança, direito à pensão e o uso do sobrenome.

Irlanda (2015) - Permite a adoção, o tratamento de fertilidade, participação na herança,

direito à pensão e não permite o uso do sobrenome.

Finlândia (2015) - Permite o tratamento de fertilidade, participação na herança, direito

à pensão e o uso do sobrenome.

Estados Unidos (2015) - Permite a adoção dependendo do estado, o tratamento de

fertilidade, participação na herança, direito à pensão e o uso do sobrenome.

Colômbia (2016) - Permite a adoção, o tratamento de fertilidade, participação na

herança, direito à pensão e o uso do sobrenome.148

3.1 CASAMENTO HOMOAFETIVO: EVOLUÇÃO AO LONGO DO TEMPO

Alguns países, mesmo antes de permitir o casamento civil entre pessoas do mesmo

sexo, já possuíam uma forma de regulamentar essas uniões e assegurar, minimamente, alguns

direitos aos indivíduos que conviviam em uma união homoafetiva. A seguir, pode-se verificar

alguns exemplos.

148

ARAGÃO (2011). Op. cit.

Page 86: DEPARTAMENTO DE DIREITO - repositorio.ual.ptrepositorio.ual.pt/bitstream/11144/2990/1/Dissertação-Final... · 1 Primeira estrofe do poema Tabacaria, de Álvaro de Campos, heterônomo

86

Holanda: Antes da liberação do casamento homossexual (2001), havia a lei de

parceria registrada, que poderia ser utilizada por todos os casais que não pudessem ou não

quisessem contrair matrimônio (casais de mesmo sexo ou de sexo diferentes). À época,

quando um dos companheiros homoafetivos tivesse um filho (natural ou adotivo), o outro

poderia adotá-lo e, então, seria responsável por alimentos caso o adotando necessitasse e este

seria herdeiro daquele em caso de falecimento, pois a lei de parceria não admitia a adoção

pelos casais homossexuais.

Noruega: A parceria registrada era aceita desde 1993 quando um dos parceiros era

norueguês, residente no país. Garantia, de forma geral, os mesmo direitos do matrimônio,

incluindo benefícios de segurança social, disposições fiscais, assistência mútua, herança e

pensão em caso de morte.

Suécia: Desde 1994 existe a Lei da Parceria Registrada não aberta para casais

heterossexuais. As obrigações e direitos são os mesmos do matrimônio.

Argentina: Antes de 2010, as uniões civis entre parceiros do mesmo sexo eram

reconhecidas anteriormente, em Buenos Aires, Província de Rio Negro e em Villa Carlos Paz

(Córdoba).

Islândia: A Lei de Parceria Registrada entrou em vigor em 1996. Para essa parceria,

exigia-se que pelo menos um dos companheiros possuísse cidadania islandesa e fosse

residente, ou que ambos morassem no país há mais de dois anos. O casal era obrigado ao

registro para convalidar a parceria e suas consequências se assemelhavam muito à lei

islandesa do casamento, em suas obrigações e direitos legais.

Dinamarca: Em 1989, o país foi pioneiro com a Danish Registered Partnership Act

for same-sex couples, regulada por vários instrumentos normativos dinamarqueses. Apesar de

vetar a adoção ou guarda conjunta e também o direito de casamento em igreja estatal, no

mais, a lei garantia os mesmos direitos do casamento e exigia as mesmas obrigações.

França: A união era feita através da PACS – Pacte Civil de Solidarité, desde 1999,

que exigia um registro e uma declaração e a escolha de um regime de bens, podendo ser

desfeita por uma declaração conjunta ou unilateral, porém com a ciência do parceiro.

Nova Zelândia: O país teve quatro propostas de lei para regularização de casais

homoafetivos em 2002. A 1ª garantia o mesmo regime de casais casados com relação à

Page 87: DEPARTAMENTO DE DIREITO - repositorio.ual.ptrepositorio.ual.pt/bitstream/11144/2990/1/Dissertação-Final... · 1 Primeira estrofe do poema Tabacaria, de Álvaro de Campos, heterônomo

87

propriedade, em caso de separação; a 2ª e a 3ª garantiam o direito sucessório análogo aos dos

cônjuges, se não houvesse testamento e a possibilidade de reclamar a herança do parceiro; e a

4ª assegurava alimentos em caso de separação.

Uruguai: A lei que regulamenta a união livre ou o concubinato homoafetivo existe

desde 2008 para casais do mesmo sexo que convivam há mais de 5 (cinco) anos. A lei versa,

em sua maior parte, sobre direitos previdenciários.

Luxemburgo: Homologou a Lei de Parcerias Civis Registradas, a partir de 2004. Os

direitos e deveres eram os mesmos dos casais unidos pelo casamento.

Reino Unido (Escócia, Inglaterra, País de Gales): Desde 2004 se guia pelo Civil

Partnership Act. Assegura quase todos os mesmos direitos do casamento, sem, no entanto,

equiparar-se a este: direitos de propriedade, seguridade social, visitas em hospital, isenção de

impostos sobre herança, pensões, etc.

Estados Unidos da América: A aceitação de uniões entre pessoas do mesmo sexo

eram feitas de acordo com a regulamentação de cada estado americano, como Califórnia,

Colorado, Distrito de Columbia, Illinois, Maine, Nova Jersey, Nevada, Oregon, Vermont,

Washington e Wisconsin.

3.2 PAÍSES QUE TENHAM LEIS DE UNIÃO HOMOAFETIVA DIFERENTES DO

CASAMENTO

Quadro 1 - Normas nos países que aceitam a união homossexual.

País Lei Ano Exige

registro?

Alguns detalhes sobre os

ordenamentos

Assegura Não Assegura

Alemanha Parceria de

Vida

2000/

2001

* Adotar sobrenome

do parceiro;

* Não tem

responsabilidade

parental

compartilhada;

* escolher o regime

de bens;

* Não tem dto a

adoção

conjunta;

* Separação do

casal;

* Não tem

acesso às

técnicas de

Page 88: DEPARTAMENTO DE DIREITO - repositorio.ual.ptrepositorio.ual.pt/bitstream/11144/2990/1/Dissertação-Final... · 1 Primeira estrofe do poema Tabacaria, de Álvaro de Campos, heterônomo

88

PMA;

*Suporte financeiro

mútuo;

*Não tem

benefícios

tributários

análogos aos do

matrimônio

* Alguns direitos

relacionados à

guarda e cuidados de

crianças dos

parceiros

Andorra Unió estable de

parella 2005 Sim.

* Os mesmos

direitos que os

cônjuges para efeitos

da lei,

responsabilidades

para com o outro,

alimentos,

separação, segurança

social e trabalhista,

Colômbia

2007/

2009

* Os mesmos

direitos que os casais

não casados.

Croácia

2003

* Os mesmos

direitos que os casais

não casados. (ex:

suporte mútuo, Dto à

propriedade conjunta

e Dto à herança)

Eslovênia Lei de parceria

registrada

2005/

2006 Sim

* Relações

patrimoniais entre os

parceiros;

* Alimentos após

ruptura, caso

necessário;

* Alguns direitos

sucessórios

* Não tem dtos

de Segurança

Social (pensões)

* Não tem dto

como

dependente em

seguros saúde;

* Não tem

qualificação

como parente

mais próximo

Finlândia Parcerias Civis 2001/

2002

Groelândia Lei de parceria

registrada 1994 Sim

* Lei de parceria

registrada da

Dinamarca foi

estendida à

Groelândia.

Page 89: DEPARTAMENTO DE DIREITO - repositorio.ual.ptrepositorio.ual.pt/bitstream/11144/2990/1/Dissertação-Final... · 1 Primeira estrofe do poema Tabacaria, de Álvaro de Campos, heterônomo

89

Hungria Lei de parceria

registrada 2009 Sim

* Relações

patrimoniais entre os

parceiros (as

mesmas do

casamento);

* Direitos

sucessórios iguais

aos do cônjuge;

* Regime de bens de

comunhão universal

– como no

matrimônio

*Não podem

utilizar o

sobrenome do

parceiro;

*Não têm

direito à adoção

conjunta;

*Não podem

adotar o filho do

parceiro.

Israel Reputed

Spouses Sim

* Relações

patrimoniais entre os

parceiros (as

mesmas do

casamento);

* Direitos

sucessórios iguais

aos do cônjuge;

* Regime de bens de

comunhão universal

– como no

matrimônio

*Questões de

casamento e divórcio

são de competência

do tribunal religioso,

que não reconhecem

uniões entre iguais.

*Não podem

utilizar o

sobrenome do

parceiro;

*Não têm

direito à adoção

conjunta;

*Não podem

adotar o filho do

parceiro.

*Não têm

direito de

registrar

parceria.

Luxemburgo Parcerias Civis

registradas 2004 Sim

* Direito análogos

aos do casamento

República

Tcheca

Lei de parceria

registrada 2006 Sim

* Direito análogos

aos do casamento,

como: Alimentos,

herança, visitação

em hospital.

Suíça

Lei de parceria

registrada

(LPart)

2007 Sim * Direito análogos

aos do casamento

Fonte: Elaborado pela autora (2016).

3.3 PAÍSES ONDE A HOMOSSEXUALIDADE É PROIBIDA E PUNIDA

Da mesma maneira que se pode ver a evolução incessante no sentido de tornar as

relações homoafetivas mais aceitas, compreendidas e respeitadas socialmente, aproximando-

se cada vez mais do ideal de não haver discriminação entre as relações homo e heterossexuais,

Page 90: DEPARTAMENTO DE DIREITO - repositorio.ual.ptrepositorio.ual.pt/bitstream/11144/2990/1/Dissertação-Final... · 1 Primeira estrofe do poema Tabacaria, de Álvaro de Campos, heterônomo

90

também há um rol de países com visão retrógrada, desrespeitosa e, pior, extremista no que

tange a homossexualidade. Caso dos Estados a seguir que, de alguma forma, punem os

indivíduos membros desta comunidade e suas relações. (Anexo E).

Atualmente são 15 os países mais intolerantes com os casais homossexuais, onde os

direitos são inexistentes e sua prática é punida:

Maldivas: Para os homens, as penas variam de 10 a 30 chicotadas até o exílio, que

pode durar de 9 (nove) meses a um ano; e para as mulheres, a pena é de prisão

domiciliar de 9 meses a 1 ano.

Tanzânia: Detenção de 30 anos à prisão perpétua para homens, e multa ou detenção

por 5 (cinco) anos para mulheres.

Qatar: Até 7 (sete) anos de detenção para homens que não sejam muçulmanos. Para

muçulmanos, execução.

São Cristóvão e Neves: Até 10 anos de trabalhos forçados.

Ilha Nauru: Até 14 anos de trabalhos forçados.

Nigéria: Pena de morte para homens, e chibatadas e/ou detenção para mulheres em 12

estados. No resto do país, até 14 anos de prisão.

Sudão: Chibatadas e prisão; caso reincida, prisão perpétua ou execução.

Serra Leoa: Prisão perpétua.

Emirados Árabes Unidos: Prisão, multas e/ou pena de morte.

Irã: Pena de morte para homens, e chibatadas para mulheres.

Somália: Morte por apedrejamento ao sul e até 3 anos de prisão no resto do país.

Mauritânia: Morte por apedrejamento para homens.

Arábia Saudita: Exílio, chibatadas ou morte por apedrejamento.

Iêmen: Até 7 anos de prisão, 100 chibatadas e/ou morte por apedrejamento.

Page 91: DEPARTAMENTO DE DIREITO - repositorio.ual.ptrepositorio.ual.pt/bitstream/11144/2990/1/Dissertação-Final... · 1 Primeira estrofe do poema Tabacaria, de Álvaro de Campos, heterônomo

91

Uganda: Prisão perpétua, tortura e execução.

3.4 A ADOÇÃO POR CASAIS HOMOSSEXUAIS NO MUNDO

Os países que consideram legal a adoção bilateral por casais homoafetivos são: Países

Baixos/Holanda, Suécia, Espanha, Andorra, Bélgica, França, a Nova Zelândia, Luxemburgo,

Malta, a Irlanda, Eslovênia, Islândia, a Noruega, a Dinamarca, a Inglaterra, o Reino Unido

(Inglaterra e País de Gales, Escócia e Irlanda do Norte), África do Sul, Israel, Uruguai,

Argentina, Colômbia, Brasil e Portugal. Estados Unidos, Canadá, México e Austrália

costumam analisar por região. (Anexo F).

Com este último capítulo, entende-se por terminado o estudo, onde se pretendeu

mostrar, do ponto de vista jurídico, os efeitos do instituto da sucessão nos ordenamentos

jurídicos luso-brasileiro (nos dois primeiros capítulos), assim como tentar traçar um panorama

mundial a respeito da situação legal dos relacionamentos homoafetivos (neste terceiro

capítulo).

Page 92: DEPARTAMENTO DE DIREITO - repositorio.ual.ptrepositorio.ual.pt/bitstream/11144/2990/1/Dissertação-Final... · 1 Primeira estrofe do poema Tabacaria, de Álvaro de Campos, heterônomo

92

CONCLUSÃO

A contínua batalha para aceitar, respeitar, reconhecer e legalizar a situação das

relações homoafetivas e suas consequências nos âmbitos jurídico, burocráticos e inclusive no

cotidiano dos sujeitos que compõem esta comunidade, teve inúmeros avanços.

Por isso mesmo, não se pode diminuir passos que demoraram décadas para serem

alcançados. Mesmo que a situação atual ainda não seja a ideal ou a almejada pelos casais

homossexuais, as vitórias foram reais e são motivo de orgulho e comemoração sem, no

entanto, ser possível deixar de lado o reconhecimento do que é justo e sua concretude nos

diplomas legais.

Como se viu no terceiro capítulo deste trabalho, há países que sempre comungaram de

um senso mais humano e justo na forma de encarar a união homoafetiva - seja como união

estável ou casamento civil – e seus desdobramentos e esperadas consequências jurídicas.

Como, por exemplo, o reconhecimento social dessa forma de família, a possibilidade e as

opções de se ter uma prole própria do casal, biológica ou adotada, ou mesmo a situação dessa

família em caso de falecimento de um dos companheiros ou cônjuge.

Essas questões não são apenas subitens que podem ser discutidos “em um outro

momento no futuro”; são a realidade diária de milhões de pessoas que precisam se preocupar

com sua dignidade humana e direitos básicos, como o direito à vida e identidade, dentre

outras coisas, para garantir sua existência social, familiar e legal.

Maria Berenice Dias149

divide os países, com base no tratamento e direitos concedidos

aos casais homoafetivos, em três grupos: o grupo de extrema repressão (proíbem e/ou

penalizam de alguma forma, até mesmo com a morte); grupo intermediário (não proíbem e/ou

concedem direitos relativos e/ou tratam de uma forma mais respeitosa, porém não igualitária

aos casais heterossexuais); e o grupo expandido (tratam da mesma forma que os casais

heterossexuais).

Felizmente, mais países estão deixando o grupo intermediário e passando para o

expandido. Porém, da mesma forma, existe o grupo dos países que exercem tremenda

repressão à prática homossexual e, consequentemente, não reconhece nenhum de seus

149

DIAS, Maria Berenice. União homossexual Aspectos sociais e jurídicos. [Em linha]. [Consult. 03 Mar.

2016]. Disponível em http://www.mariaberenice.com.br.

Page 93: DEPARTAMENTO DE DIREITO - repositorio.ual.ptrepositorio.ual.pt/bitstream/11144/2990/1/Dissertação-Final... · 1 Primeira estrofe do poema Tabacaria, de Álvaro de Campos, heterônomo

93

direitos, impondo penalizações, com prisão perpétua, chibatadas e até morte para pessoas que

pratiquem ou façam apologia ao homossexualismo.

Colocando em foco os países do grupo intermediário e do grupo expandido, percebe-

se a possibilidade atual de o processo de sucessão do companheiro homoafetivo ser muito

próximo, ou mesmo igual, ao dos cônjuges heterossexuais. Podendo dessa forma, em caso de

sucessão, o companheiro vir a concorrer com os filhos do parceiro, com os filhos em comum

ou com os ascendentes, dependendo do caso e dependendo do regime de bens adotado pelo

casal.

Os casais homoafetivos não requerem nada além do que os casais heterossexuais já

possuem desde antes do início da sociedade organizada: a liberdade de casar com a pessoa

que ama e constituir família.

Em Portugal, por exemplo, houve um avanço muito pertinente em relação ao

casamento homossexual, mas, por outro lado, a proibição da adoção e o silêncio sobre o

acesso aos métodos de reprodução assistida eram até pouco tempo um retrocesso

desnecessário e descabido que afastava ainda mais o país do princípio da Igualdade.

Deixar as crianças prioritariamente em orfanatos, muitas vezes longe de qualquer

noção de lar, de afeto, não parecia, nem de longe, ser a atitude mais benéfica àquelas crianças.

Nesse foco, o estudo e a análise não devem priorizar a orientação sexual dos pais, mas as

possibilidades abertas à criança em ter um lar e pais, independente de sua orientação sexual,

entre outros incontáveis benefícios.

Na continuidade de sua esperada evolução, pode-se dizer, afinal, que Portugal

consertou esses dois equívocos no ano de 2016, ao aprovar o instituto da adoção por casais do

mesmo sexo e também dar acesso aos métodos de reprodução assistida aos mesmos,

mantendo a restrição apenas ao tratar da gravidez por substituição. Essa deve ser feita apenas

nos casos em que haja um empecilho médico para que ocorra.

No Brasil, a questão dos relacionamentos homoafetivos e a constituição de família têm

sido resolvidas através de decisões judiciais as quais reconheceram a legalidade da adoção por

casais homoafetivos, dando-lhe legitimidade jurídica, antes mesmo de reconhecer o direito ao

casamento civil entre pessoas do mesmo sexo.

Page 94: DEPARTAMENTO DE DIREITO - repositorio.ual.ptrepositorio.ual.pt/bitstream/11144/2990/1/Dissertação-Final... · 1 Primeira estrofe do poema Tabacaria, de Álvaro de Campos, heterônomo

94

E, nessa linha, as decisões judiciais brasileiras, atualmente, têm seguido o caminho dos

países do grupo dos expandidos, ao unir o direito à adoção ao direito legítimo do casamento,

que ainda é tão importante para a configuração e aceitação como família na sociedade.

No que diz respeito aos direitos sucessórios dos casais homoafetivos, mais

especificamente, pode-se afirmar que o ordenamento jurídico português estaria à frente do

ordenamento jurídico brasileiro do ponto de vista da segurança jurídica, uma vez que existe

legislação própria que trata da questão sucessória para os casais homoafetivos, equiparando-

os aos casais heterossexuais. No Brasil, a legislação que trata de sucessão tem problemas de

redação e de interpretação até mesmo entre casais heterossexuais que estejam sob a legislação

que trata de união estável (ou união de facto como nominada em Portugal); tal situação, ao ser

aplicada, através de decisões jurisprudenciais, aos casais homossexuais, mesmo aos casados

civilmente (também por decisões jurisprudenciais), termina por mostrar sérias lacunas e

desigualdades em face dos casais heterossexuais, fazendo com que o companheiro

homoafetivo supérstite ainda não tenha seus direitos equiparados aos do companheiro

heterossexual supérstite.

Mas, de maneira geral, no mundo, há um movimento cada vez mais forte, mais intenso

e mais insistente na conquista dos direitos homossexuais, rompendo barreiras geográficas,

temporais, sociais e principalmente barreiras na consciência individual do cidadão, matéria

prima para a construção da consciência social como um todo.

Pode-se então finalizar este trabalho afirmando que se todos os seres humanos têm os

mesmos direitos, no mundo jurídico, por ter a pacificação social como base e justificativa para

a existência do Direito, não se pode aceitar o tratamento discriminatório em razão tão somente

da sexualidade da maioria ou de preconceito para com os casais homoafetivos. Veja que “O

reconhecimento da dignidade intrínseca e dos direitos iguais e inalienáveis de todos os

membros da família humana é o fundamento da liberdade, da justiça e da paz do mundo”150

.

Logo, isso, nada mais é do que o reconhecimento da igualdade tão prefalada nos “Direitos do

Homem e do Cidadão” da Revolução Francesa, cujo ideário foi abraçado e desenvolvido na

Declaração Universal dos Direitos Humanos da ONU151

:

“Artigo 1.º

150

DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS. [Em linha]. Brasil.[Consult. 03 Abr. 2016]

Disponível em http://www.dudh.org.br/declaracao/ 151

Id.

Page 95: DEPARTAMENTO DE DIREITO - repositorio.ual.ptrepositorio.ual.pt/bitstream/11144/2990/1/Dissertação-Final... · 1 Primeira estrofe do poema Tabacaria, de Álvaro de Campos, heterônomo

95

Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos. Dotados

de razão e de consciência, devem agir uns para com os outros em espírito de

fraternidade.

Artigo 2.º

Todos os seres humanos podem invocar os direitos e as liberdades proclamados na

presente Declaração, sem distinção alguma, nomeadamente de raça, cor, sexo,

língua, religião, opinião política ou outra, origem nacional ou social, fortuna,

nascimento ou outro estatuto.

Além disso, não será feita nenhuma distinção fundada no estatuto político, jurídico

ou internacional do país ou do território da naturalidade da pessoa, seja esse país ou

território independente, sob tutela, autónomo ou sujeito a alguma limitação de

soberania.

Artigo 3.º

Todas as pessoas têm direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal.

(...)

Artigo 6.º

Todos os indivíduos têm direito ao reconhecimento como pessoa perante a lei.

Artigo 7.º

Todos são iguais perante a lei e, sem qualquer discriminação, têm direito a igual

proteção da lei. Todos têm direito a proteção igual contra qualquer discriminação

que viole a presente Declaração e contra qualquer incitamento a tal discriminação.”

Page 96: DEPARTAMENTO DE DIREITO - repositorio.ual.ptrepositorio.ual.pt/bitstream/11144/2990/1/Dissertação-Final... · 1 Primeira estrofe do poema Tabacaria, de Álvaro de Campos, heterônomo

96

REFERÊNCIAS

FONTES LEGISLATIVAS

ONU

Declaração Universal dos Direitos Humanos

Portugal

Constituição da República Portuguesa

Lei n° 37/1981, de 3 Outubro

Lei n° 47/1998, de 10 de Agosto

Lei nº 135/1999, de 28 de agosto

Lei nº 6/2001

Lei nº 7/2001, de 11 de Maio

Lei Orgânica n.° 2/2006, de 17 de abril

Li nº 32/2006, de 26 de julho

Lei nº 7/2009, de 12 de Fevereiro - Código do Trabalho

Lei nº 23/2010, de 30 de Agosto

Lei nº 41/2013, de 26 de Junho – Novo Código de Processo Civil Português

Lei nº 2/2016, de 29 de Fevereiro

Lei n° 17/2016, de 20 de Junho- Procriação Medicamente Assistida- PMA

Page 97: DEPARTAMENTO DE DIREITO - repositorio.ual.ptrepositorio.ual.pt/bitstream/11144/2990/1/Dissertação-Final... · 1 Primeira estrofe do poema Tabacaria, de Álvaro de Campos, heterônomo

97

Decreto-Lei nº 47.344/1966, de 25 de novembro – Código Civil Português

Decreto-Lei n° 142/1973, de 31 de março

Decreto-Lei n° 322/1990, de 18 Outubro

Decreto-Lei nº 1908/2001

Decreto-Lei n°, 237/2006

Projeto de Lei nº 278/XII, de 2011

BRASIL

Constituição da República Federativa do Brasil de 1988

Decreto-Lei n.° 2.681/1912, de 07 de Dezembro

Decreto-Lei n.° 4.737/1942, de 24 de Setembro

Decreto nº 3.048/1999, de 6 de Maio

Lei nº 3.071/1916, de 1º de janeiro - Código Civil (1916)

Lei nº 8.212/1991, de 24 de Julho

Lei nº 8.213/1991, de 24 de Julho

Lei nº 8.971/1994, de 29 de Dezembro

Lei n° 9.278/1996, de 10 de Maio

Lei nº 10.406/2002, de 10 de janeiro – Código Civil (2002)

Lei n° 13.105/2015, de 16 de Março

Projeto de Lei nº 1.151/1995

Projeto de Lei n.° 2.686/1996

Page 98: DEPARTAMENTO DE DIREITO - repositorio.ual.ptrepositorio.ual.pt/bitstream/11144/2990/1/Dissertação-Final... · 1 Primeira estrofe do poema Tabacaria, de Álvaro de Campos, heterônomo

98

Provimento n.º 52/2016

FONTES BIBLIOGRÁFICAS

ALMEIDA, Susana; ASSIS, Zamira de. Parentalidade Sócio-Afectiva Portugal e Brasil.

Coimbra: Almedina, 2012. ISBN: 9789724045399.

ANDRADE, Manuel A. de Domingues. Teoria geral da relação jurídica. Volume II.

Coimbra: Almedina, 1960. ISBN: 9789724004266.

AREND, Silva Maria Fávero. Paradoxos do direito de família no Brasil (uma análise à

luz da história social da família). Florianópolis: Vox Legem, 2006. ISBN: 8598841048.

BARBAS, Stela Marcos de Almeida Neves. Direito ao Património Genético. Reimpressão

da Edição de 1998. Coimbra: Almedina, 2006. ISBN: 9789724011134.

_________. O Direito da Família Português: algumas características. In Jornadas de

Direito Comparado, Portugal/Marrocos, ISMAT/Faculté des Sciences Juridiques,

Economiques et Sociales d’Agadir. Portimão, 25 de Maio de 2013.

BOECKEL, Fabricio Dani de & ROSA, Karin Regina Rick Rosa. Direito Sucessório em

Perspectiva Interdisciplinar. São Paulo: Elsevier Acadêmico, 2011. ISBN: 8535242112.

CAHALI, Francisco José; HIRONAKA, Giselda Maria Fernandes Novaes. Curso avançado

de direito civil: direito das sucessões. 5. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2014. ISBN:

9788520350058.

CAMPOS, Diogo Leite de. Lições de direito da família e das sucessões. 2. ed. revisada e

atualizada de 1997. Coimbra: Almedina, 2013. ISBN: 9789724009933.

CANOTILHO, J.J Gomes; MOREIRA, Vital. Constituição da Republica Portuguesa

anotada, I. 4. ed. Coimbra: Almedina, 2007. ISBN: 9789723214628.

CID, Nuno de Salter. Sobre o direito de não contrair casamento. Coimbra: Wolters Kluwer

Portugal, 2010. ISBN: 9789723218268.

Page 99: DEPARTAMENTO DE DIREITO - repositorio.ual.ptrepositorio.ual.pt/bitstream/11144/2990/1/Dissertação-Final... · 1 Primeira estrofe do poema Tabacaria, de Álvaro de Campos, heterônomo

99

COSTA, Marta. Convivência more uxório na perspectiva de harmonização do direito da

família europeia uniões homossexuais. Coimbra: Coimbra, 2011. ISBN 9789723219333.

DEMOLOMBE, Charles. Cours de Code napoléon: traíte du maniuse et de La separation

de corps. V. 1. Paris: Cosse, Marchal et Billard, 1874. ISBN: 9781272050177.

DIAS, Cristina Araújo. Lições de Direito das Sucessões. 3. ed. Coimbra: Almedina, 2014.

ISBN: 9789724052953

DIAS, Maria Berenice. Diversidade sexual e direito homoafetivo. São Paulo: Revista dos

Tribunais, 2014. ISBN: 978852045973.

____. Manual das Sucessões. 3. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2013. ISBN:

97885203528732.

____. Homoafetividade e os Direitos LGBTI - União homoafetiva: o preconceito e a

justiça. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2014. ISBN: 9788520352892.

____. Manual de Direito das Famílias. 10. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2015.

ISBN: 9788520360019.

DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro: Direito das Sucessões. v. 6. São

Paulo: Saraiva, 2007. ISBN: 9788502189249.

FARIAS, Cristiano Chaves de; ROSENVALD; Nelson. Curso de Direito Civil 6: Famílias.

7. ed. São Paulo: Atlas, 2015. ISBN: 9788522495115

____. Curso de Direito Civil 7: Sucessões.. São Paulo: Atlas, 2015. ISBN: 9788522498535

FRAGA, Luís Alves. Metodologia da Investigação. Lisboa: Universidade Autónoma de

Lisboa, 2015.

GAMA, Guilherme Calmon Nogueira da. Direito civil: sucessões. 2. ed. São Paulo: Atlas,

2007. ISBN: 9788522446001.

____. Direito Civil: Família. São Paulo: Atlas, 2008. ISBN: 9788522446321.

____. Concorrência sucessória à luz dos princípios norteadores do Código Civil de 2002.

Direito de Família, ano 7, n.° 29, abr./Maio 2005. ISBN: 85224353546.

Page 100: DEPARTAMENTO DE DIREITO - repositorio.ual.ptrepositorio.ual.pt/bitstream/11144/2990/1/Dissertação-Final... · 1 Primeira estrofe do poema Tabacaria, de Álvaro de Campos, heterônomo

100

GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro: Direito das Sucessões 7. ed. São

Paulo: Saraiva, 2015. ISBN: 9785317795133.

GOMES, Orlando. Sucessões. 16. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2015. ISBN: 9788530956950.

GOUVEIA, Jorge Barcelar. Manual de Direito Constitucional. Volume II. 5. ed. Coimbra:

Almedina, 2013. ISBN: 9789724053943.

HORSTER, Heinrich Ewald. Evoluções legislativas no direito da família depois da

reforma de 1977. Coimbra: Coimbra, 2004. ISBN: 9723212560.

LEITE, Eduardo de Oliveira. Comentários ao novo código civil. V. XXI. Rio de Janeiro:

Forense, 2002. ISBN: 8530928598.

LIMA, Mônica Isabel Ferreira Sequeira. Evolução Histórica da União de Facto: da

Sociedade Babilônica ao Direito Português Contemporâneo. Trabalho apresentado à

Universidade Autônoma de Lisboa, 2008.

MADALENO, Rolf. Curso de Direito de Família. 6. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2015.

ISBN: 9785317795133

MOTA, Helena. O problema normativo da família – Breve reflexão a propósito das

medidas de protecção à união de facto adoptadas pela Lei n.º 135-99, de 28-8. Estudos em

Comemoração dos 5 anos da FDUP. 2001. ISBN: 9789723220278.

NEVARES, Ana Luiza Maia. Os direitos Sucessórios do Cônjuge e do Companheiro. Revista

Brasileira de Direito de Família, nº 36. Ano VIII, (Jun/Julho), 2006. ISBN: 8571474028.

NOGUEIRA, Claudia de Almeida. Direito das Sucessões. 4. ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris,

2012. ISBN 9789723215673.

OLIVEIRA, Guilherme de. Transformações do direito da família. Coimbra: Coimbra,

2004. ISBN: 9723212560.

PINHEIRO, Jorge Duarte. O direito da Família contemporânea. Lisboa: AAFDL, 2008.

ISBN: 9789726290476.

Page 101: DEPARTAMENTO DE DIREITO - repositorio.ual.ptrepositorio.ual.pt/bitstream/11144/2990/1/Dissertação-Final... · 1 Primeira estrofe do poema Tabacaria, de Álvaro de Campos, heterônomo

101

PINTO, Fernando Brandão Ferreira. Dicionário de direito da família e direito das

sucessões. Lisboa: Petrony, 2004. ISBN: 9726851033.

PITÃO, José António de França. Uniões de facto no direito português: a propósito da Lei

nᵒ 135/99, de 28/08, Coimbra: Almedina, 2000. ISBN: 9724013774.

____, A posição do cônjuge sobrevivo no atual direito sucessório português. 4. ed.

Coimbra: Almedina, 2005. ISBN: 8530928598.

RIZZARDO, Arnaldo. Direito das Sucessões. 7. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2013. ISBN:

9788530946425.

SOUSA, Rabindranath Capelo. As partes especiais dos direitos da família e das sucessões,

a parte geral e as outras partes especiais no código civil. Coimbra: Coimbra, 2004. ISBN:

9723212560.

TELLES, Inocêncio Galvão. Sucessão Legítima e Sucessão Legitimária. Coimbra:

Coimbra, 2004. ISBN: 9723212722.

TEPEDINO, Gustavo; BARBOZA, Heloisa Helena; MORAES, Maria Celina Bodin de.

Código Civil Interpretado – Conforme a Constituição da Republica. Volume IV, Rio de

Janeiro: Renovar, 2014. ISBN: 9788571478756.

TORRES GUTIÉRREZ, Alejandro. Evolución histórica del sistema matrimonial

português. Coimbra: Wolters Kluwer Portugal, 2010. ISBN: 9789723218268.

VENOSA, Silvio de Salvo. Direito Civil: Direito das Sucessões. 7. ed. São Paulo: Atlas,

2007. ISBN 9788522484706.

VIEIRA, Jair Lot. Código de Hamurabi. 3. ed. São Paulo: Edipro, 2011. ISBN:

9788572837552.

FONTES BIBLIOGRÁFICAS DA WEB

ARAGÃO, Chico. União civil e casamento homoafetivo no mundo atual. [Em linha]. 10 de

Maio de 2011. El Capeto. [Consult. 03 Mar. 2016] Disponível na Internet em:

Page 102: DEPARTAMENTO DE DIREITO - repositorio.ual.ptrepositorio.ual.pt/bitstream/11144/2990/1/Dissertação-Final... · 1 Primeira estrofe do poema Tabacaria, de Álvaro de Campos, heterônomo

102

URL<https://chcapet.wordpress.com/2011/05/10/uniao-civil-e-casamento-homoafetivo-no-

mundo-atual/>.

CHAVES, Marianna; DIAS, Maria Berenice. [Em Linha] Porto Alegre 2011. As Famílias

Homoafetivas no Brasil e em Portugal. [Consult. 27 Out. 2015]. Disponível na Internet em:

URL <www.mariaberenice.com.br>.

DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS. A Declaração Universal dos

Direitos Humanos. [Em linha]. Brasil.[Consult. 03 Abr. 2016] Disponível na Internet em:

URL< http://www.dudh.org.br/declaracao/>.

DIÁRIO DE NOTICIAS. Adoção por casais do mesmo sexo e alterações à lei do aborto. [Em

linha]. 2016, Portugal. 25 de Jan. 2016. [Consult. 10 Fev. 2016]. Disponível na Internet em:

URL< http://www.dn.pt/>.

DIAS, Maria Berenice. União Homoafetiva. [Em linha]. Revista dos tribunais, [Consult. 03

Mar. 2016]. Disponível na Internet em: URL< http://www.mariaberenice.com.br>.

_____, União homossexual Aspectos sociais e jurídicos. [Em linha]. [Consult. 03 Mar.

2016]. Disponível na Internet em: URL<http://www.mariaberenice.com.br>.

ILGA PORTUGAL. Adoção e Codação Confirmadas na AR. [Em linha]. 10 de Fev. 2016

[Consult. 20 Março 2016] Disponível na Internet em: URL<http://ilga-

portugal.pt/noticias/800.php>.

________________. [Em linha]. [Consult. 20 Março 2016] Disponível na Internet em: URL<

http://www.ilga-portugal.pt/ilga/index.php>.

INÁCIO, Amanda Rodrigues. Direito sucessório decorrente da união estável homoafetiva

[Em linha]. 2012, OAB. Santa Catarina. 22 Out. 2012 [ Consult. 12 Maio 2016]. Disponível

na Intenet em: URL<http://www.oab-sc.org.br/art.s/direito-sucessorio-decorrente-uniao-

estavel-homoafetiva/641>.

INSTITUTO BRASILEIRO DE DIREITO DE FAMILIA - STJ Inicia Discussão sobre a

Constitucionalidade da Sucessão em casos de União Estável. [Em linha]. 2014, IBDFAM.

22 de Set. 2014 .

Page 103: DEPARTAMENTO DE DIREITO - repositorio.ual.ptrepositorio.ual.pt/bitstream/11144/2990/1/Dissertação-Final... · 1 Primeira estrofe do poema Tabacaria, de Álvaro de Campos, heterônomo

103

MENEZES, Alex Pereira. Adoção e o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). [Em

linha]. Teresina, ano 19, n. 3976, 21 Maio 2014: Revista Jus Navigandi. [Consult. 03 Mar.

2016]. Disponível na Internet em: URL<https://jus.com.br/artigos/28262>.

MOTA, Helena; GUIMARÃES, Maria Raquel. O direito da família na União Europeia :

formação efeitos e crise da vida comum : relatório português. [Em linha]. FDUP - Art. em

Revista Científica Nacional. Portugal, 2006. [Consult. 20 de Novembro de 2014]. Disponível

na Internet em:URL<http://repositorio-aberto.up.pt/bitstream/10216/23883/2/12531.pdf>.

REIS, Miguel. Guia prático do casamento entre pessoas do mesmo sexo em Portugal. [Em

linha]. São Paulo Agosto de 2010, [Consult. 27 Fev. 2016]. Disponível na Internet em:

<URL http://www.mreis.pt/resources/GUIA%20PR%C3%81TICO_resumo.pdf>.

RIOS, Roger Raupp. Direitos Humanos - Direitos fundamentais e orientação sexual: O

direito brasileiro e a homossexualidade. [Em linha]. Revista CEJ V. 2 n. 6 set./dez. 1998.

[Consult. 27 Jan. 2016]. Disponível na Internet em:

URL<http://www.jf.jus.br/ojs2/index.php/revcej/article/viewArticle/160/248>.

ROWEDER, Rainner Jerônimo. União homoafetiva: uma realidade no ordenamento

jurídico brasileiro. In: Âmbito Jurídico . [Em linha]. Rio Grande, XV, n. 102, jul 2012.

[Consult 05 jun. 2015]. Disponível na Internet em: URL<http://www.ambito-

juridico.com.br/site/index.php/?n_link=revista_art.s_leitura&art._id=12029&revista_caderno

=14>.

SILVA, Aníbal Cavaco. Veta adoção por casais do mesmo sexo e alterações à lei do

aborto. [Em linha]. [Consult. 20 Out. 2015]. Disponível na Internet em

URL<http://www.dn.pt/portugal/interior/cavaco-silva-devolveu-ao-parlamento-diploma-da-

adocao-por-casais-do-mesmo-sexo-4997912.html>.

FONTES DOCUMENTAIS

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil .35. ed. – Brasília : Câmara dos

Deputados, Edições Câmara, 2012. 454 p. – (Série textos básicos ; n. 67) ISBN 978-85-736-

5934-4.

Page 104: DEPARTAMENTO DE DIREITO - repositorio.ual.ptrepositorio.ual.pt/bitstream/11144/2990/1/Dissertação-Final... · 1 Primeira estrofe do poema Tabacaria, de Álvaro de Campos, heterônomo

104

CÓDIGO CIVIL, Brasileiro. 7 ª ed. Brasília: Edições Câmara, 2015. ISBN 9788540202887

CÓDIGO CIVIL, Português. 16ª ed. Portugal: Quid Juris, 2015. ISBN: 9789727247066.

CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA PORTUGUESA. 2ª Ed. Coimbra: Almedina, 2014.

ISBN: 9789724053219.

SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL - SÚMULA 380

VADE MECUM. Obra coletiva de autoria da Editora Saraiva com a colaboração de Luiz

Roberto Cúria, Lívia Céspedes e Thais de Camargo Rodrigues. 15° ed. São Paulo: Saraiva,

2016. ISBN: 9788502636224

Acórdão. Relação de Lisboa, 21-01-1999, Col. de Jur. 1999.

Acórdão. Relação de Coimbra, 25-10-2011, proc. n.° 127/10.0 TBLSA.C1.

Acórdão. STJ, 21-11-1985, BMJ 351.

Page 105: DEPARTAMENTO DE DIREITO - repositorio.ual.ptrepositorio.ual.pt/bitstream/11144/2990/1/Dissertação-Final... · 1 Primeira estrofe do poema Tabacaria, de Álvaro de Campos, heterônomo

105

ANEXOS

Page 106: DEPARTAMENTO DE DIREITO - repositorio.ual.ptrepositorio.ual.pt/bitstream/11144/2990/1/Dissertação-Final... · 1 Primeira estrofe do poema Tabacaria, de Álvaro de Campos, heterônomo

106

ANEXO A – Leis de proteção em 2016: orientação sexual

Figura 1: Leis de proteção à orientação sexual no mundo.

Fonte: ILGA (2016). Disponível em: < http://www.ilga-portugal.pt/ilga/index.php

Page 107: DEPARTAMENTO DE DIREITO - repositorio.ual.ptrepositorio.ual.pt/bitstream/11144/2990/1/Dissertação-Final... · 1 Primeira estrofe do poema Tabacaria, de Álvaro de Campos, heterônomo

107

ANEXO B - Apoio a união homoafetiva até 2015

Gráfico 1 – Tendência de apoio ao casamento homoafetivo.

Fonte: Mercado Poppular (2015).

Disponível em: <http://mercadopopular.org/2015/06/por-que-tantas-empresas-estao-manifestando-apoio-ao-

casamento-gay/.>

Page 108: DEPARTAMENTO DE DIREITO - repositorio.ual.ptrepositorio.ual.pt/bitstream/11144/2990/1/Dissertação-Final... · 1 Primeira estrofe do poema Tabacaria, de Álvaro de Campos, heterônomo

108

ANEXO C – Crescem casamentos homoafetivos

Gráfico 2 – Taxa de crescimento do casamento homoafetivo.

Fonte: Jornal GGN

Disponível em: http://jornalggn.com.br/blog/gunter-zibell-sp/casamento-gay-uniao-homoafetiva-pequena-

retrospectiva.

Page 109: DEPARTAMENTO DE DIREITO - repositorio.ual.ptrepositorio.ual.pt/bitstream/11144/2990/1/Dissertação-Final... · 1 Primeira estrofe do poema Tabacaria, de Álvaro de Campos, heterônomo

109

ANEXO D – Casamento e união homoafetiva de 2012 a 2015, no mundo

Figura 2 – Situação do casamento e união homoafetiva no mundo em 2012.

Fonte: Opiinião&Notícia (2012).

Disponível em: <http://opiniaoenoticia.com.br/internacional/mundo-caminha-para-a-aceitacao-do-casamento-

gay/.

Figura 3 – Situação do casamento e união homoafetiva no mundo em 2013.

Fonte: CENBrasil (2013).

Disponível em: http://cenbrasil.blogspot.com.br/2013/04/mapa-mundi-da-uniao-gay.html.

Page 110: DEPARTAMENTO DE DIREITO - repositorio.ual.ptrepositorio.ual.pt/bitstream/11144/2990/1/Dissertação-Final... · 1 Primeira estrofe do poema Tabacaria, de Álvaro de Campos, heterônomo

110

Figura 4– Situação do casamento e união homoafetiva no mundo em 2014.

Casamento homoafetivo legalizado União do mesmo sexo Uniões reconhecidas

Uniões não reconhecidas ou criminalizadas Homossexualidade criminalizada

Pena de morte

Fonte: Map Interactive

Disponível em: http://createhtml5map.com/interactive-map-blog/tag/same-sex-marriage/

Figura 5 – Situação do casamento e união homoafetiva no mundo em 2015.

Fonte: TheJounal.ie

Disponível em:http://www.thejournal.ie/gay-rights/news/.

Page 111: DEPARTAMENTO DE DIREITO - repositorio.ual.ptrepositorio.ual.pt/bitstream/11144/2990/1/Dissertação-Final... · 1 Primeira estrofe do poema Tabacaria, de Álvaro de Campos, heterônomo

111

ANEXO E – Países que proibem o homossexualismo

Figura 8 – Países onde é proibido ser homossexual.

Fonte: ILGA (2016).

Disponível em: http://www.ilga-portugal.pt/ilga/index.php

Page 112: DEPARTAMENTO DE DIREITO - repositorio.ual.ptrepositorio.ual.pt/bitstream/11144/2990/1/Dissertação-Final... · 1 Primeira estrofe do poema Tabacaria, de Álvaro de Campos, heterônomo

112

ANEXO F - Adoção por casais homoafetivos

Figura 9 - Adoção por casais homoafetivos no mundo.

Fonte: Âmbito Jurírico/ILGA (2014).

http://ambito- uridico.com.br/site/?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=15914