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CÂMARA DOS DEPUTADOS
DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E REDAÇÃO
NÚCLEO DE REDAÇÃO FINAL EM COMISSÕES
TEXTO COM REDAÇÃO FINAL
COMISSÃO ESPECIAL - PL 3.337/04 - AGÊNCIAS REGULADORASEVENTO: Audiência Pública N°: 0764/04 DATA: 7/6/2004INÍCIO: 14h56min TÉRMINO: 17h41min DURAÇÃO: 02h45minTEMPO DE GRAVAÇÃO: 2h43min. PÁGINAS: 57 QUARTOS: 33
DEPOENTE/CONVIDADO - QUALIFICAÇÃO
MARIA AUGUSTA FELDMAN - Presidenta da Associação Brasileira de Agências de Regulação— ABAR.LUIZ ALBERTO DOS SANTOS - Subchefe de Análise e Acompanhamento de PolíticasGovernamentais da Casa Civil da Presidência da República.
SUMÁRIO: Discussão sobre o Projeto de Lei nº 3.337, de 2004, que define novas diretrizes paraa operação e funcionamento das agências reguladoras.
OBSERVAÇÕES
Há oradores não identificados.Há intervenção inaudível.
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão Especial - PL 3.337/04 - Agências ReguladorasNúmero: 0764/04 Data: 7/6/2004
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O SR. PRESIDENTE (Deputado Henrique Fontana) - Havendo número
regimental, declaro abertos os trabalhos da 8ª reunião da Comissão Especial
destinada a apreciar o Projeto de Lei nº 3.337, que define novas diretrizes para a
operação e funcionamento das agências reguladoras.
Esta reunião foi convocada para ouvirmos as avaliações, preocupações e
sugestões da Sra. Maria Augusta Feldman, Presidente da Associação Brasileira de
Agências de Regulação, a quem convido para tomar assento à mesa.
Convido também para tomar assento à mesa o Sr. Luiz Alberto dos Santos,
titular da Subchefia de Análise e Acompanhamento de Políticas Governamentais da
Casa Civil. V.Sas. são muito bem-vindos.
Agradeço a presença aos Deputados que aqui se encontram. Mesmo
sabendo ser segunda-feira, um dia que não é fácil para a agenda parlamentar, esta
Presidência, solicitando a compreensão de todos, convocou a presente reunião para
que pudéssemos fazer frente ao projeto básico de debates e de oitivas nesta
Comissão para que nosso Relator possa apresentar seu parecer, como quer S.Exa.,
em torno dos dias 15, 16 ou 17 do corrente mês. Dessa forma, teremos um tempo
maior para debate e votar as emendas porventura apresentadas.
Comunico à Comissão que quanto a nossa reunião com o juristas, embora
ainda falte a confirmação da presença de um convidado, já estão confirmadas as
presenças do Sr. Alexandre Santos Aragão, Procurador do Estado do Rio de Janeiro
e especialista em regulação, e do Sr. Floriano de Azevedo Marques, Professor da
PUC, também pós-graduado em regulação, para a audiência pública prevista para
amanhã, às 14h30min.
Estamos tendo algumas dificuldades nas agendas dos Ministros que
priorizamos ouvir na terça-feira da semana que vem. Se S.Exas. não puderem vir na
terça-feira mas puderam vir na quarta-feira, na terça-feira abriríamos o debate em
torno da análise do projeto e das emendas apresentadas com os Deputados e na
quarta-feira faríamos a audiência pública com os Ministros. Ainda estamos
aguardando confirmações com o objetivo de na terça-feira contarmos com a
presença de pelo menos um Ministro da área econômica e um Ministro das áreas
fim, como chamamos. Nossa prioridade seria a Ministra Dilma Rousseff, de acordo
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com conversa que mantivemos com alguns Deputados na última semana, e o
Ministro Antonio Palocci ou o Ministro Guido Mantega.
Algum Deputado deseja algum esclarecimento? (Pausa.)
Passamos para a audiência pública.
Esclareço que cada convidado disporá de até 20 minutos para sua exposição
inicial. Em seguida, ouviremos os questionamentos dos Srs. Deputados e
devolveremos a palavra aos convidados.
Com a palavra a Sra. Maria Augusta Feldman, Presidente da Associação
Brasileira de Agências de Regulação.
A SRA. MARIA AUGUSTA FELDMAN - Boa-tarde. Nobre Deputado
Henrique Fontana, Presidente da Comissão Especial das Agências Reguladoras,
nobre Deputado Ricardo Barros, Coordenador da Frente Parlamentar em Defesa
das Agências, Deputado Alberto Goldman, que nos acompanha e é membro desta
Comissão, Sr. Luiz Alberto Santos, que comigo compõe esta Mesa, demais
integrantes da Comissão Especial das Agências Reguladoras, agentes, dirigentes de
agências reguladoras, assessores, autoridades, cidadãos em geral, minhas
saudações a todos.
Inicialmente, é importante ressaltar, em nome da Associação Brasileira de
Agências de Regulação — ABAR, a importância do papel desta Comissão na
democratização das discussões que visam o aperfeiçoamento do Projeto de Lei
3.337, de 2004.
Temos acompanhado, por competência, todas as discussões que envolvem a
regulação, sempre buscando contribuir com os debates que resultaram neste
projeto. Neste contexto, louvamos o trabalho capitaneado pela Frente Parlamentar
de Defesa das Agências Reguladoras — coordenada, com já disse, pelo Deputado
Ricardo Barros — e, hoje, por esta Comissão Especial, presidida pelo nobre
Deputado Henrique Fontana.
Ouvir de todos os setores envolvidos suas experiências acumuladas nestes 7
anos de regulação por meio da manifestação de usuários, investidores e
delegatários, dos Ministérios e dos reguladores comprova, nobre Deputado, o
comprometimento desta Comissão e de V.Exas. com a matéria em discussão.
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Ouvir pesquisadores e estudiosos indica o forte espírito técnico que deverá
balizar o relatório em fase de produção.
Cumprimentamos, portanto, a Comissão, na pessoa do Deputado Leonardo
Picciani, Relator, que daqui a pouco certamente estará presente.
Agradecemos a oportunidade do presente depoimento neste espaço
privilegiado.
Talvez seja importante firmar alguns conceitos que vão balizar nossa
intervenção.
Regulação — Objetivos.
Entre os objetivos da regulação, podemos citar:
- equilibrar as relações entre o Poder Público e o agente privado para
assegurar ao cidadão um serviço com qualidade, atualidade e modicidade tarifária.
- regular é, antes de tudo, mediar; é antecipar-se e/ou dirimir conflitos através
da aproximação das partes, numa constante busca de equilíbrio.
A Associação Brasileira de Agências de Regulação — ABAR surgiu, portanto,
da necessidade de socializar experiências e investir na qualificação dos reguladores.
Tem como objetivo contribuir para o avanço, o aprimoramento e a consolidação das
atividades de regulação em todo o Brasil. Para isso, tem-se reunido desde 1999
trocando experiências e conhecimentos.
Antecipando-nos a este debate, em maio de 2003, realizamos o III Congresso
Brasileiro de Regulação, na cidade de Gramado, no nosso Rio Grande do Sul,
Deputado Henrique Fontana. Lá, com a presença do Presidente desta Casa,
Deputado João Paulo Cunha, do Presidente do BID, Sr. Henrique Iglesias, da
Ministra Dilma Rousseff e do Ministro Nelson Jobim, hoje Presidente do Supremo
Tribunal Federal, entre outros convidados nacionais e internacionais dos diferentes
setores regulados, marcamos posições e nos preparamos para contribuir com este
debate que já se anunciava.
A ABAR, através de suas associadas, acumula experiência indispensável
para o processo de discussão acerca do modelo regulatório. Vivenciamos a
construção e a experiência do modelo.
Nosso objetivo tem sido o de contribuir, despidos de ideologias e a partir de
sólida fundamentação técnica.
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Entendemos que as leis não são imutáveis e que podem e devem ser
aprimoradas. Portanto, não somos contrários à idéia de aperfeiçoar o modelo
regulatório existente. Para o aperfeiçoamento real e necessário, somos parceiros.
O projeto de lei, ao se propor a ser uma Lei Geral das Agências de
Regulação, não contempla conceitos básicos acerca da atividade, o que torna o
próprio debate bastante difícil.
Nesse sentido, para contribuir, reportamo-nos a Antônio Carlos Cintra do
Amaral, nobre jurista, que bem classificou as agências reguladoras no artigo O
Anteprojeto de Lei sobre as Agências Reguladoras. Diz o Dr. Cintra do Amaral:
“...há três tipos de agências reguladoras estatais. A
cada uma delas corresponde uma função constitucional
específica. De acordo com a função que exercem, as
agências reguladoras podem ser classificadas em:
a) agências que regulam o exercício da
atividade econômica (...) (art. 174 da
Constituição);
b) agências que têm por função regular o
monopólio das atividades econômicas
referentes a petróleo, gás natural e
outros hidrocarbonetos fluidos (art. 177
(...) da Constituição); e
c) agências que regulam a prestação,
mediante concessão ou permissão, de
serviço público (art. 175 da
Constituição)”.
A atividade regulatória, senhores, interage com três atores, três pontas do
sistema: delegatários, poder concedente e usuários.
A conceituação de delegatários é de todos conhecida e dispensa, portanto,
comentários.
O poder concedente é previsto em artigo da Constituição. A Lei nº 10.848/04
retirou, por exemplo, da ANEEL, o poder concedente, não definindo claramente
quem exerce esse papel. Quanto ao PL, esta falha permanece — o que vem sendo
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sistematicamente apontado pelo nobre Deputado Eliseu Resende, membro desta
Comissão, em sucessivos debates que aqui se têm feito.
Quanto ao usuário: usuário ou consumidor?
O consumidor, se necessita ou simplesmente deseja, escolhe o produto, opta
pelo preço e pelo modelo, decide onde comprar e, assim, tem garantias frente ao
ente privado que produziu ou vendeu o objeto. A relação se dá, Srs. Deputados,
entre dois entes privados.
Já o usuário não tem opção, na maioria das vezes. A prestação do serviço é
essencial no seu dia-a-dia; seu uso é compulsório.
Estabelecer, pois, a conexão das agências de regulação com a sociedade civil
é um grande desafio para os reguladores.
Cintra do Amaral refere:
“A relação jurídica entre concessionária e usuário
não pode ser equiparada à existente entre duas pessoas
privadas,” — ou dois entes privados — “que atuam na
defesa de seus interesses específicos.”
“O art. 27 da Emenda Constitucional nº 19/88
determinou que o Congresso Nacional deverá elaborar ‘lei
de defesa do usuário de serviços públicos’. Isso equivale
ao reconhecimento implícito de que essa defesa é
juridicamente diversa da ‘defesa do consumidor’, já
regulada pela Lei nº 8.078/90.”
“A concessionária é obrigada a prestar o serviço
cujo exercício lhe foi atribuído, mas o poder concedente”
— Poder Público — “continua com o dever constitucional
de prestá-lo, embora escolha a opção de fazê-lo
indiretamente sob regime de concessão”.
Não temos dúvida de que o controle social deve ser estimulado e
aprofundado. Essa tarefa já é parte de nossas atividades, através de consultas e
audiências públicas, inclusive, senhores, interiorizadas.
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O projeto de lei avançou em alguns pontos, tais como a reafirmação de
mandato dos dirigentes das agências, que inicialmente foi questionada. Avança,
também, ao propor a obrigatoriedade da realização de consultas públicas.
Com o objetivo de assegurar a transparência tão necessária a todo órgão
público, não só às agências reguladoras, a ABAR propõe:
- que as sessões regulatórias do órgão superior colegiado sejam públicas —
avança em relação ao projeto, pois quer mais transparência do que ele
oferece;
- que as partes interessadas, de acordo com o regulamento específico,
possam manifestar-se em audiências públicas — também avançamos.
Vemos, portanto, como necessária a obrigatoriedade de respostas a
sugestões e contribuições às audiências e consultas públicas aos órgãos
reguladores, sim, mas a todos os órgãos de Governo que utilizarem essa estratégia
ou ação.
A realização de audiências públicas e consultas públicas, como garantia de
transparência de todos os atos regulatórios, sem dúvida, é um imperativo.
Autonomia e independência das agências de regulação.
As chamadas autarquias especiais têm, entre suas principais características,
a independência e a autonomia.
A independência do regulador é assegurada pelo mandato de seus dirigentes,
pela ausência de subordinação hierárquica e pela autonomia administrativa e
financeira.
O projeto de lei, ignorando tal preceito, não faz referência a estes vocábulos:
“autonomia” e “independência”.
Sem esses requisitos, a agência se tornará mais uma autarquia pública, mais
um departamento ministerial, mais um órgão comum para executar tarefas comuns.
Não é esse o seu papel. A concepção de entes autônomos e independentes surgiu
da necessidade de órgãos neutros e eqüidistantes, com a maior isenção política
possível, entes de Estado e não de Governo.
Os contratos de concessão, assim como as futuras PPPs, têm duração de
trinta, trinta e cinco, quarenta anos. Nesse período, passarão vários governos e um
número muito maior de Ministros no Executivo. As diretrizes políticas do País
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sofrerão inúmeras oscilações. Daí a necessidade de um órgão forte e estável, capaz
de garantir a manutenção dos parâmetros originalmente contratados e de avaliar,
sem paixões, as necessidades e a qualidade dos serviços prestados.
Vale referir o teor da Exposição de Motivos do próprio projeto de lei:
“O trabalho do grupo chegou à conclusão que o
modelo de agências independentes, não obstante a
necessidade de aprimoramentos do quadro atual, é
essencial para o bom funcionamento da maior parte dos
setores encarregados da provisão de serviços públicos,
com reflexos positivos no resto da economia. (...) As
discussões dentro do Governo levaram à conclusão que a
presença das agências reguladoras é indispensável para
a atração dos investimentos privados; para a redução do
chamado ‘risco de captura’ do processo regulatório por
grupos de interesse; e para a necessidade de fortalecer
as agências, (...)”
As agências, para exercitar essas funções, não poderão estar
hierarquicamente subordinadas. Suas decisões são a última instância administrativa,
e isto deve estar claro também no projeto de lei.
Também é fundamental que seja assegurada a autonomia financeira das
agências. Situações como a ocorrida em 2003 e neste ano, no que tange ao
contingenciamento das agências federais, afetaram a população como um todo e até
as agências estaduais, que, em virtude de convênios com a agência nacional,
sofreram forte impacto oriundo do contingenciamento. Reduziram, portanto, suas
atividades, tal qual as agências federais, realizando, portanto, menos fiscalização e,
conseqüentemente, desenvolvendo suas atividades com menor qualidade.
As taxas de fiscalização são pagas pelo usuário para garantir a atividade
regulatória e o serviço de qualidade. É direito dele a utilização deste recurso
exclusivamente na atividade regulatória.
Contingenciamentos, como os ocorridos com a ANP e ANEEL, inviabilizam a
atividade regulatória. A não-liberação de recursos, como os determinados à ANTT e
à ANTAQ, impossibilitam a manutenção da qualidade dos serviços públicos. Talvez
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a palavra independente assuste, mas, por certo, o conceito de independência aqui
ventilado, e se frise bem, tem os limites da lei. Evidentemente, que sim.
A independência é condição para que o regulador possa exercer suas
funções, mantendo a neutralidade e a eqüidistância em relação aos interesses dos
regulados, inclusive do próprio Poder Público.
Interação com os órgãos de defesa da concorrência.
Daniel Goldman, na última reunião desta Comissão, afirmou que os órgãos de
defesa da concorrência, assim como as Agências Reguladoras possuem funções
específicas e complementares, não havendo, portanto, razão de subordinação entre
as instituições.
O SR. DEPUTADO ALBERTO GOLDMAN - Esse é Goldberg, porque não é
parente meu, não.
A SRA. MARIA AUGUSTA FELDMAN - Ah, Goldberg. Desculpe-me,
Deputado.
O SR . DEPUTADO ALBERTO GOLDMAN - Se fosse, seria com muita
honra. Mas não é.
A SRA. MARIA AUGUSTA FELDMAN - É um rapaz extremamente inteligente
e competente.
Com certeza, estava pensando em V.Exa., Deputado.
O SR. ALBERTO GOLDMAN - O único parente meu é o sax.
A SRA. MARIA AUGUSTA FELDMAN - Mas de qualquer forma, o Sr. Daniel
Goldberg diz não haver razão de subordinação entre as instituições.
As Agências atuam previamente (definição da estrutura e regras de mercado)
e os órgãos de defesa da concorrência atuam de forma repressiva na conduta dos
agentes de mercado — segundo Daniel Goldberg.
É necessário, portanto, promover a devida articulação entre as Agências e os
órgãos de defesa da concorrência. Não há, contudo, nenhuma lógica ou razão para
que sejam esses a última instância de decisões regulatórias, até porque não é essa
a sua função.
Ouvidor.
O Ouvidor — e nos parece, extremamente, importante a criação do cargo de
Ouvidor em todas as Agências — é uma das formas, sem dúvida, de relação entre a
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sociedade e Agência. É a partir da Ouvidoria que se tem um retorno concreto acerca
da qualidade dos serviços públicos regulados.
Cabe ao Ouvidor:
1 - esclarecer aos usuários o papel da Agência, assim como seus direitos e
deveres em relação aos serviços regulados;
2 - promover a mediação dos casos em que é possível;
3 - dar andamento às reclamações e solicitações que dependem da avaliação
técnica mais aprofundada e de deliberação, inclusiva do órgão dirigente.
A mediação tem obtido êxito, solucionando quase a totalidade dos
atendimentos, abreviando a tramitação de expedientes administrativos e evitando
inclusive demandas judiciais. Isso já foi aqui amplamente citado pelos dirigentes das
Agências Reguladoras, inclusive a ANEEL. Contudo, seguramente, não é vontade
da população brasileira que tal sistema seja desvirtuado. Não é possível, conforme
diz o Dr. Gesner de Oliveira, em recente palestra proferida na FIESP — à qual
estiveram presentes os Deputados Ricardo Barros e Alberto Goldman —, que o
Ouvidor se transforme, desculpe, mas assim preciso dizer, em um bisbilhoteiro. Do
Ouvidor deve ser exigido conhecimento no setor regulado e ilibada conduta; critérios
de exigência de competência, critérios mais claros.
Controle.
A suposta ausência de controle dessas instituições tem sido um dos pontos
mais explorados tanto da mídia nacional quanto nos debates desta Comissão a
partir do próprio projeto.
As Agências Reguladoras, é preciso destacar, são controladas ampla e
exaustivamente:
- controle da gestão — feito pela Controladoria-Geral da União, pela
Secretaria Federal do Controle e pelo Tribunal de Contas da União;
- controle jurídico — feito pelo Ministério Público/Poder Judiciário. O
Ministério Público é assíduo na provocação, na solicitação de demandas,
ações e informações para a própria Agência, e o Poder Judiciário, quando
necessário;
- controle legislativo — por força constitucional, cabe ao Poder Legislativo
fiscalizar e, além disso, aprovar o orçamento das Agências Reguladoras.
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Quer maior controle que este? Porém, sem dúvida, é necessário avançar
mais; definir claramente nesta Casa legislativa, o espaço do Poder
Legislativo, que é o espaço do controle social, onde se dará esta
prestação de contas, apresentação dos relatórios das Agências
Reguladoras. É necessário definir claramente que comissão e de que
forma deve se dar esse controle.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Henrique Fontana) - Sra. Maria Augusta,
peço licença a V.Sa. para saudar o Relator e comunicar-lhe que o tempo de 20min
está esgotado. É evidente que queremos ouvir a conclusão do seu raciocínio.
A SRA. MARIA AUGUSTA FELDMAN - Muito obrigada.
Saúdo o nobre Relator.
Continuo. Em relação ao controle social, também já exercitamos por meio de
consultas públicas, de audiências públicas e da própria participação dos órgãos de
defesa dos usuários nessas deliberações. Mas é preciso avançar mais.
Cabe destacar que o Legislativo, com apoio do Tribunal de Contas, exerce
também o controle operacional das Agências Reguladoras, o que é salutar, é bom.
Todavia, a ABAR entende que é fundamental o aprimoramento dos
instrumentos de controle no processo regulatório.
Não apenas as Agências, mas todos os órgãos públicos devem estar sujeitos
ao controle da sociedade, que requer transparência. Justamente neste ponto, de
extrema importância, o projeto de lei nos parece tímido. Desde logo, a ABAR indicou
ao Executivo a vontade das Agências, no sentido de ampliar as formas de
participação de controle social. Inclusive, sugestões foram pessoalmente levadas ao
nobre Dr. Luiz Alberto dos Santos, aqui presente.
Quanto às disposições no sentido de apoio às organizações de usuário,
louvamos a proposição. Cabe considerar que são de extrema importância, quanto à
forma proposta, se legal, será preciso o estabelecimento de critérios de qualificação
da representação e ressarcimento mais rigorosos, a fim de que o beneficiário,
efetivamente, seja o usuário.
Quanto ao art. 4º, § 4º, do projeto de lei, deve separar, para ressarcimento, os
órgãos de defesa dos usuários e os órgãos de defesa da concorrência. Como
alternativa, cabe fomentar a participação das universidades, dos conselhos de
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contabilidade, das fundações, do DIEESE, que, por meio de uma relação, podem
nos auxiliar nesse controle social e na qualificação dos usuários para este debate.
O contrato de gestão não é uma forma de controle social, mas de
subordinação da Agência ao Ministério. O controle social é desejável e deve ser
exercitado por meio da transparência, da publicidade dos atos, das informações
atualizadas, da prestação de contas e do relatório de atividades ao Poder Legislativo
e de mecanismos de participação da própria sociedade no processo decisório.
O Relatório do Banco Mundial, O Fortalecimento da Estrutura Institucional e
Regulatória do Setor Elétrico Brasileiro, de dezembro de 2002, recomenda a
extinção do contrato de desempenho entre o Ministério de Minas e Energia e a
ANEEL.
Apenas a título ilustrativo, é preciso referir que, nos 6 anos de existência da
ANEEL, apenas um único contrato de gestão foi assinado, com o primeiro Ministro
do primeiro ano.
O contrato de gestão proposto no texto legal fere não somente os princípios
da regulação independente:
- fere a Constituição, em face do desvirtuamento da figura do contrato de
gestão previsto no art. 37, § 8º, da Constituição Federal, na medida em
que restringe e não amplia a autonomia da Agência;
- impõe a mensuração da qualidade do processo regulatório, o que é
impossível, em face da ausência de indicadores precisos, conforme
reconhecido pelo Grupo de Trabalho Interministerial sobre as Agências
Reguladoras;
- impede a estabilidade e integridade das decisões adotadas pelas
Agências Reguladoras, afastando investidores;
- acentua o risco de intervenção política na atividade regulatória;
- aponta para a possibilidade de ofensa aos mandatos dos dirigentes
estabelecidos em lei, no caso de descumprimento injustificado do contrato
de gestão, quando faz referência a colocar as sanções ou penalidades, ou
quando faz referência a um regulamento;
- contraria o princípio da legalidade, na medida em que não poderá um
contrato administrativo revogar competências e autonomias assegurados
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pelas leis de criação das Agências, que, convém ressaltar, não estão
sendo revogadas;
- legitima o contingenciamento quando condiciona recursos só para as
metas pactuadas. E as demais obrigações legais? Como se efetivarão? Se
não efetivadas, de quem será a responsabilidade? Dos reguladores?
Vejam bem. O Prof. Dr. Eros Roberto Grau, que há pouco tempo foi
sabatinado pelo Senado, indicado pelo Sr. Presidente a ocupar uma cadeira no
Supremo Tribunal Federal, em uma nota sobre o anteprojeto de lei atinente as
Agências, faz críticas veementes à função reguladora. Inclusive, aponta críticas
substanciais.
Portanto, não é um parceiro, não é um aliado dos reguladores no processo.
Mas é o próprio Dr. Eros Grau que afirma:
“O § 8º do art. 37 da Constituição do Brasil diz que
a autonomia gerencial, orçamentária e financeira dos
órgãos e entidades da administração direta e indireta
poderá ser ampliada mediante contrato.
As disposições do anteprojeto atinentes ao contrato
de gestão (arts. 8º e 13) não são adequadas ao preceito
constitucional.
Onde ocorreu a ampliação da autonomia?”
Pelo exposto, a ABAR sugere a supressão dos artigos que instituem o
contrato de gestão.
Sr. Deputados, o PL, ao pretender o caráter de lei geral das Agências, precisa
uniformizar conceitos e trazer definições claras do instituto, estabelecendo,
expressamente, a independência e autonomia das Agências (aí entendida a
autonomia financeira, administrativa e de gestão), a ausência de subordinação
hierárquica, a Agência como instância final, o conceito e papel das Agências
Reguladoras.
Nossas contribuições podem ser sintetizadas em:
- caracterização das Agências — definição de conceitos e uniformização de
nomenclatura (para começar, nós temos o Diretor-Geral, o Diretor Presidente e o
Presidente); papeis claros (implementação de políticas públicas estabelecidas em
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lei); estrutura organizacional mínima (conselho diretor...) comum a todas as
Agências;
- processo decisório — o Ministro Nelson Jobim, em recente discurso, por
ocasião de sua posse, referiu-se às necessidades do usuário do Poder Judiciário,
que servem também, em nossa visão, para a atividade regulatória: a acessibilidade,
a previsibilidade e a razoabilidade. Nesse sentido, estamos propondo a
acessibilidade (transparência e publicidade, reuniões públicas), a previsibilidade dos
atos (diminuir a discricionariedade do regulador), a razoabilidade de prazos (tempo
de execução compatível com a exigência da própria atividade regulatória), a
instância administrativa final (não cabe recurso ao Ministro. A Agência Reguladora é
a instância máxima administrativa) e a participação dos usuários (capacitação e
qualificação que precisam, sem dúvida, ser fomentadas);
- poder concedente — definição clara do delegatário da União para este
papel.
Há no projeto, em vários momentos, poder concedente sem explicitar quem o
é, reiterando, novamente, as preocupações já explicitadas nesta Comissão.
Pontos de adequação.
Interação com órgãos de defesa da concorrência através de convênios, como
atualmente praticados pela ANEEL, ANATEL e outras.
Descentralização.
Determinar essa prática, altamente salutar e boa para a atividade regulatória,
em todos os setores dos serviços públicos, o que beneficia o usuário.
Ouvidoria.
Ouvir os usuários quanto aos serviços prestados pelos concessionários. Um
diretor ou conselheiro que, sem dúvida, deve ter qualificação, ilibada conduta e ser
aprovado pelo Senado Federal.
Autonomia e independência.
Mandatos fixos dos conselheiros; ausência de subordinação hierárquica;
unidade orçamentária independente (isso é extremamente importante porque isenta
de contingenciamento); recursos humanos qualificados e bem remunerados.
Contrato de gestão.
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Entendemos não aplicável para a relação regulador versus Poder Executivo;
controle pelo Congresso Nacional, com apoio, como já ocorre, do Tribunal de Contas
da União; planos de trabalho e prestação de contas anuais como instrumentos de
controle.
Em que pese o teor do presente projeto de lei, que reflete claramente a
existência de divergências conhecidas no âmbito do Governo Federal, o Poder
Executivo já indicou reconhecer a necessidade de Agências Reguladoras
fortalecidas e independentes.
Estamos convictos de que, a partir dos debates que estão ocorrendo nesta
Comissão, tanto a Câmara dos Deputados, no seu coletivo, quanto o Senado
Federal saberão aprimorar o projeto de lei, contribuindo para o equilíbrio entre as
visões do Governo, dos consumidores — usuários — e dos investidores.
Apenas um marco regulatório consistente, resultante de processos
transparentes e suportados por Agências com quadro técnico especializado, terá a
solidez necessária à atração dos investimentos necessários aos setores de
infra-estrutura do País.
Sr. Presidente, Sr. Relator, Srs. Deputados, ao concluir, reafirmamos nossa
intenção de colaborar no aperfeiçoamento deste projeto, colocando-nos sempre à
disposição de V.Exas.
Obrigada.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Henrique Fontana) - Agradeço, mais uma
vez, em nome de todos nós, à Dra. Maria Augusta Feldman a participação, as
contribuições e avaliações a respeito do projeto que estamos debatendo.
Passo a palavra ao Sr. Luiz Alberto dos Santos, Subchefe da Subsecretaria
de Coordenação da Ação Governamental da Casa Civil da Presidência da
República.
O SR. LUIZ ALBERTO DOS SANTOS - Boa tarde.
Sr. Presidente, Deputado Henrique Fontana; Sr. Relator, Deputado Leonardo
Picciani; Srs. Deputados; Sra. Presidente da Associação Brasileira de Agências
Reguladoras, Sra. Maria Augusta Feldman; mais uma vez, é uma honra
participarmos de discussão deste tema, corolário de um processo que se
desenvolveu desde o início do ano passado, quando o Presidente da República
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solicitou à Casa Civil que coordenasse os trabalhos de um grupo técnico, com o
propósito, inicialmente, de diagnosticar a situação das Agências Reguladoras
federais e de elaborar um relatório com o objetivo de apontar as necessidades de
adequação do marco legal das Agências Reguladoras.
Esse trabalho conduziu-nos ao projeto de lei, encaminhado no mês de abril ao
Congresso Nacional, que, como toda obra humana, não é perfeita, não é acabada. É
uma proposta construída a partir de consulta a inúmeros interlocutores, tanto
especialistas no tema como pessoas que se vêm dedicando concretamente à
abordagem das Agências Reguladoras do País, e que, embora tenha passado por
várias etapas de elaboração, inclusive de consulta pública e de recolhimento de
sugestões, evidentemente, contém ainda imperfeições, que deverão — temos
segurança disso — ser superadas e corrigidas ao longo do processo legislativo na
Câmara dos Deputados e, posteriormente, no Senado Federal.
Assim como o projeto de lei tem deficiências, é forçoso reconhecer que também as
Agências têm deficiências. E exatamente para que essas deficiências sejam não
digo totalmente superadas mas reduzidas é que se procurou identificar os problemas
derivados da forma como as agências reguladoras foram implementadas no País,
para que se pudesse, nessa primeira abordagem do Governo do Presidente Luiz
Inácio Lula da Silva, corrigir aquilo que era evidentemente mais relevante, aquilo que
se destacava mais quanto às imperfeições do modelo adotado no País.
Preliminarmente, é importante registrarmos que o modelo de agências
reguladoras do País foi quase improvisado. Apesar das tentativas e dos esforços
feitos durante a tramitação dos projetos de lei que regularam os diversos setores,
instituindo as normas gerais na área de telecomunicações, na área de energia
elétrica, na área de transportes, os projetos que foram encaminhados ao Congresso
Nacional não tinham como foco principal e essencial a formatação das agências
reguladoras setoriais. Elas foram como um apêndice no contexto daquelas normas
jurídicas e, de certa forma, foram relegadas a segundo plano. Por exemplo, quando
as agências foram implantadas, não dispunham sequer de quadros de pessoal e de
regras que permitissem que se implantassem esses quadros em prazo adequado.
Foram previstas normas transitórias para que, posteriormente, se abordasse esse
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problema. E disso derivaram diversos problemas no âmbito do funcionamento das
agências reguladoras.
Mas não apenas isso. A comparação entre as diferentes situações
contempladas na legislação demonstra que as agências foram tratadas de forma
diferenciada mesmo naquilo em que não deveria haver diferenciação.
Em muitos aspectos, as agências eram experiências isoladas, experiências
que não se realimentavam, não se retroalimentavam, ou seja, uma agência
constituída era testada, mas a sua experiência não contribuía, necessariamente,
para a sua própria reestruturação e revisão, muito menos para a reestruturação ou
revisão de outras agências reguladoras.
E essa falha conceitual do processo foi uma das que mais se evidenciou
quando, no início dos trabalhos do grupo que elaborou o anteprojeto, foi objeto de
abordagem.
Quando o Governo encaminhou o projeto ao Congresso Nacional, um dos
primeiros pressupostos foi o de procurar estabelecer uma lei geral ou algo
semelhante a uma lei geral das agências reguladoras que pudesse conferir a elas
um arcabouço jurídico comum que refletisse pelo menos as melhores práticas no
âmbito de cada uma delas, uniformizando aquilo que se tinha como positivo na
experiência já adotada nas 9 agências reguladoras federais, com o objetivo,
inclusive, de aperfeiçoar e consolidar essas práticas.
Outro aspecto relevante foi a constatação de que as agências reguladoras
foram constituídas de forma tal que, substituindo de certa forma a atuação dos
Ministérios, na prática, foram bem além do que emanava das suas leis de criação,
invadindo uma seara de competência executiva, que era dos próprios Ministérios.
Há pouco mais de 2 meses, o Senador Rodolpho Tourinho, do Partido da
Frente Liberal da Bahia, pronunciou no Senado Federal, durante a discussão da
Medida Provisória 134, discurso em que falava, em suas palavras, exatamente
dessa falha de concepção do modelo que resultou numa drástica redução da área
de atuação do Ministérios de Minas e Energia, que passou a não ter absolutamente
poder nenhum, passou a ter uma série de órgãos, mas especificamente perdeu o
poder e deixou de comandar o sistema, de forma muito clara e evidente. São as
palavras de um ex-Ministro que efetivamente não integra a base de sustentação do
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Governo, mas que revela a preocupação daqueles que tiveram a responsabilidade
de gerir uma política pública sem ter os instrumentos para fazê-lo e, o que é pior,
convivendo com uma situação em que uma instituição voltada às ações de
regulação e de fiscalização exercia, na prática, tarefas que iam muito além dessas
competências.
E uma das evidências, inclusive no plano legal, da exacerbação do poder das
agências reguladoras se deu na medida em que as leis de criação dessas agências
transferiram para elas as competências legais típicas de poder concedente, ou seja,
as agências passaram a ser, elas mesmas, o poder concedente, tarefa esta que
cabe efetivamente à União e deve ser exercida em vista das prioridades e das
diretrizes emanadas do Chefe do Poder Executivo.
Essa confusão de papéis reclamou solução no plano legislativo, e uma das
principais preocupações do projeto foi efetivamente esclarecer os papéis das
agências reguladores e dos Ministérios, restabelecendo, então, aos Ministérios e,
portanto, ao Poder Executivo, na figura máxima do Presidente da República, a
titularidade de conceder a exploração dos serviços públicos, não desconhecendo, no
entanto, a qualificação e a capacidade técnica que as agências, no exercício das
suas funções, necessariamente devem ter e exercer como contribuintes de um
processo de formulação e de decisão de políticas.
Reconhecemos que é absolutamente impossível separar, de forma cabal, a
atividade de formulação das políticas da atividade de execução ou de
implementação das políticas. Há um processo de retroalimentação. Nesse sentido, a
proposta assegura às agências um papel de subsidiar, de opinar previamente
quando o Poder Público vier a exercer a sua função de poder concedente.
Da mesma forma que se retorna ao órgão da administração direta o poder de
conceder, retorna-se também o poder de declarar extintas as concessões nas
situações em que a lei já estabelece. A Lei de Concessões é muito clara quanto a
situações em que se dá a extinção das concessões. No entanto, mesmo nesses
casos, reconhecendo mais uma vez a precedência técnica, a competência técnica
da agência, prevê-se a manifestação da agência reguladora antes da declaração de
extinção de um ato de concessão.
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Outro aspecto desse problema diz respeito à competência para processar as
licitações. Sendo a titularidade do Poder Executivo no âmbito da sua administração
direta, reconhece-se então que compete a este órgão, seja ele o Ministério ao qual a
agência estiver vinculada, seja, em última análise, o próprio Presidente da
República, a decisão de dar início aos processos de licitação que vão materializar a
concessão de serviços públicos. No entanto, também se reconhece, em função das
especificidades de cada área e da necessidade de procedimentos administrativos
complexos, que esses procedimentos licitatórios permaneçam sob a esfera das
agências reguladoras, sob a competência das agências reguladoras, ficando, no
entanto, a decisão de dar início a esse processo no âmbito do Ministério ao qual elas
se vinculam.
Essas são questões de caráter geral vinculadas a competências, à separação
legal que se deve fazer entre o que é atividade típica e exclusiva da agência
reguladora, no campo especificamente da regulação e da fiscalização, e o que são
as tarefas ou competências de natureza política que devem ser reconhecidas ao
Chefe do Poder Executivo e aos Ministros de Estado, que são exatamente aqueles
que têm, digamos, a legitimidade oriunda do voto popular para exercer as opções
que a sociedade lhes delega.
Mais do que isso, o projeto, no entanto, procurou uniformizar as regras
referentes aos processos de consulta pública e de audiência pública, dando a esses
processos um caráter universal, mas também assegurando, como inclusive ressaltou
a Presidente da ABAR como uma solução positiva do projeto, a paridade de meios
entre os agentes econômicos e as organizações que defendem os interesses dos
consumidores, dos usuários, e que atuam inclusive em defesa de um direito difuso,
que é a ordem econômica.
Essas instituições freqüentemente não têm meios para acompanhar
processos complexos de consulta e audiência pública, e por isso garantiu-se a elas,
nos processos de consultas públicas promovidos pelas agências, condições de
contar com assessoramento técnico qualificado, custeado pelas agências até um
determinado limite e que será evidentemente objeto de regulamentação, como a
proposta já esclarece ao remeter a esse regulamento os critérios, os limites e os
requisitos a serem observados, primeiro, para definir quais as instituições que vão
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poder indicar esses assessores ou consultores e quais serão os limites de gasto que
deverão ser desembolsados com essa tarefa.
Isso tem um efeito positivo significativo, que nos parece vai garantir, de certa
forma, que as instituições tenham acesso às informações e possam, com essas
informações, produzir posicionamentos consistentes em defesa desses interesses
coletivos, o que é realmente uma função que não pode ser ignorada no âmbito da
democracia, no âmbito de uma sociedade organizada.
É importante também que reconheçamos que esses instrumentos não são
suficientes, não são por si só exaustivos, não esgotam as possibilidades no âmbito
do controle social de instituições que têm, na sua origem, um profundo déficit
democrático, já que, para que se configure a autonomia dos entes reguladores, é
preciso que se confira como se mantém, se preserva e se amplia a prerrogativa de
seus dirigentes de, não sendo eleitos, terem mandato. Essa parcela de legitimidade
que é conferida aos dirigentes das agências por meio do mandato que lhes é
reconhecido pela lei e conferido no ato de nomeação após a aprovação pelo Senado
Federal, ao se projetar no tempo, exige também outros mecanismos que possam
contrabalançar. Como no sistema de freios e contrapesos, que coloca 3 Poderes,
Legislativo, Executivo e Judiciário, e, no âmbito do Legislativo, 2 Casas, uma
revisando o papel da outra, é preciso que se estabeleça, também em relação às
agências reguladoras, instrumentos que garantam à própria sociedade condições de
aferir se o trabalho delas está se dando efetivamente de acordo com o interesse da
sociedade, se não está se dando o famoso e famigerado processo de captura, seja
pelo próprio Governo, seja pelos agentes do setor privado. São 2 vertentes que
devem ser evitadas.
As fórmulas usualmente adotadas para isso evidentemente variam de país a
país. Alguns países, por exemplo, têm mais de uma agência para regular o mesmo
tipo de serviço, e elas competem entre si, de forma que estabelecem um contrapeso.
No Brasil, isso não é possível, entendemos que não é adequado que se tenha essa
superposição de competências, mas é preciso buscar mecanismos que dêem à
sociedade capacidade de crítica em relação àquilo que as agências fazem no
exercício das suas competências privativas. Para isso, procurou-se primeiro
uniformizar a figura do ouvidor, estabelecer o ouvidor como uma figura presente
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obrigatoriamente em todas as agências. E divirjo radicalmente da posição daqueles
que dizem que o ouvidor será um bisbilhoteiro, porque o próprio termo bisbilhoteiro
já revela um preconceito, alguém que está ali para defender o interesse dos
usuários, dos consumidores e talvez dos próprios agentes e que pede, por isso,
informações e acompanha lá dentro a atuação da própria direção da agência no que
se refere à solução de problemas não pode ser qualificado como um bisbilhoteiro.
Ele está exercendo uma função derivada da lei, no interesse maior daqueles que se
relacionam com essa agência. Por isso, o projeto prevê que sem subordinação
hierárquica aos diretores da agência, sem ser um membro da direção da agência,
caberá ao ouvidor zelar pela qualidade dos serviços prestados pela agência,
acompanhando o processo interno de apuração de denúncias e reclamações dos
usuários, tendo acesso a todas as informações necessárias e produzindo,
semestralmente ou quando julgar oportuno, relatórios sobre a atuação da agência
reguladora, que, como prevê a proposta, deverão ser encaminhados não apenas à
própria agência, ao seu conselho diretor, ao conselho consultivo, quando houver,
mas também ao Ministério, ao Ministério do Planejamento, à Casa Civil e ao
Congresso Nacional, às Comissões de Fiscalização e Controle da Câmara e do
Senado, dando a eles ampla publicidade.
Essa é uma forma de dar, portanto, ampla publicidade à atuação da agência
no que se refere à solução dos problemas, que o ouvidor estará acompanhando,
buscando acelerar a sua solução, mas sem ser ele mesmo o solucionador, porque
não tem e não pode ter competência executiva, ele não tem e não pode ter a
competência de decidir como vai ser resolvido tal ou qual problema, mas é papel
dele, sim, saber por que não foi resolvido e quando será resolvido.
Mais do que isso, o projeto previu a homogeneização, ou seja, como regra
geral para todas as agências, de uma figura jurídica de fato prevista no art. 37, § 8º,
da Constituição, mas que não surgiu na nossa legislação no art. 37, § 8º, da
Constituição. É o contrato de gestão.
O contrato de gestão já é previsto na legislação de 4 agências reguladoras
federais. Eu não saberia dizer quantas agências reguladoras estaduais já o utilizam
ou utilizaram. Mas esse é um projeto direcionado às agências reguladoras federais.
Nesse sentido, entendeu-se que a figura do contrato de gestão seria, sim, uma
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instrumentalização positiva na direção da garantia do interesse social, dando maior
transparência e legitimidade à atuação administrativa das agências.
Quando falamos em independência das agências reguladoras, é evidente que
há uma certa confusão conceitual, que os próprios especialistas reconhecem, como
de fato reconheceu o Prof. Alexandre Aragão no trabalho que realizou a pedido da
Associação Brasileira das Agências Reguladoras, no qual mais de uma vez chamou
atenção para o uso inapropriado da expressão “independência”.
Temos, isto sim, graus de autonomia conferidos por lei e que podem
efetivamente ser ampliados até um determinado limite por lei, mas também podem
ser ampliados por outras formas que não a lei, desde que compatíveis — como
prevê atualmente o § 8º do art. 37 — com contratos de gestão que estabeleçam as
obrigações de cada parte, as metas, os instrumentos de avaliação e, mais, a
remuneração dos dirigentes e servidores.
O § 8º do art. 37 diz exatamente que cabe à lei dispor sobre o prazo e
duração do contrato, os controles e critérios de avaliação de desempenho, direitos,
obrigações e responsabilidades dos dirigentes e a remuneração do pessoal.
Uma regra que regulamentasse de fato o que diz o § 8º do art. 37 poderia
delegar inclusive às agências reguladoras que firmassem contrato de gestão
flexibilidades que estão além das suas próprias leis de criação. Mas é óbvio que, por
terem essa diferenciação como autarquias especiais, elas já detêm por lei algumas
capacidades adicionais.
Essas capacidades, no entanto, não foram o bastante até o momento para
lhes conferir autonomia e legitimidade suficientes para, por exemplo, contornar os
problemas de ordem geral no âmbito da administração pública, tais como este do
contingenciamento, em que uma administração pública sofre problemas de toda
ordem em função da insuficiência de recursos.
Os Parlamentares hoje têm contatos com praticamente todos os órgãos da
administração pública, que são procurados a cada momento, seja na elaboração do
Orçamento, seja ao longo do ano, pelas assessorias parlamentares e pelos diversos
setores. V.Exas. sabem que a carência de recursos — inclusive recursos para
custeio e para pessoal — atinge a totalidade da administração pública. Isso não é
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privilégio nem desprivilégio de ninguém. É uma regra quase geral, derivada das
necessidades de financiamento do Estado.
Se as agências reguladoras dispõem em determinados casos — não em
todos — de receitas próprias, não é suficiente que haja uma taxa como receita
própria para que se coloquem acima do bem e do mal e de forma absolutamente
independente, vamos dizer assim, do contexto geral da administração pública. É
preciso que se dê razoabilidade às suas necessidades, assim como às suas
possibilidades, para que as receitas que elas arrecadam no exercício das suas
funções sejam evidentemente bem gastas e administradas de forma eficiente e
transparente.
E não é outra a função do contrato de gestão senão a de permitir que haja um
melhor acompanhamento da atuação administrativa das agências reguladoras, da
avaliação do seu desempenho, compatibilizando meios e fins. Não há nisso nenhum
absurdo. Hoje, algumas agências reguladoras já o fazem, já dispõem desse
instrumento. E isso tem se revelado, em alguns casos, bastante positivo, porque dá
às agências maior autoridade para exigir os recursos que as leis de criação já
estabelecem para o seu custeio, para o seu funcionamento.
Vejam os senhores que o § 4º do art. 9º do projeto diz que são objetivos do
contrato de gestão e desempenho aperfeiçoar o acompanhamento da gestão,
promovendo maior transparência e controle social, e aperfeiçoar as relações de
cooperação da agência reguladora com o Poder Público, em particular no
cumprimento das políticas públicas definidas em lei.
Não nos parece que haja nesses dispositivos qualquer tentativa,
diferentemente do que alguns afirmam, de desvio de finalidade ou de poder ou de
desvirtuamento daquilo que o art. 37, § 8º, da Constituição estabelece. Pelo
contrário, parece-nos que há perfeita compatibilidade entre o espírito do legislador
constituinte derivado no art. 37, § 8º, e aquilo que estamos propondo e defendendo.
Segundo o art. 10, o projeto prevê que os contratos deverão especificar metas
de desempenho administrativo e fiscalização; os prazos para consecução;
indicadores de desempenho; mecanismos de avaliação que permitam quantificar de
forma objetiva o seu alcance; a estimativa de recursos orçamentários e cronograma
de desembolso; as obrigações e as responsabilidades das partes; a sistemática de
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acompanhamento e avaliação, contendo critérios, parâmetros e prazos; as medidas
a serem adotadas em caso de descumprimento injustificado das metas e obrigações
pactuadas; o período de vigência e condições para revisão e renovação.
O contrato é, evidentemente, bilateral. Ele vai prever obrigações para ambas
as partes. Ele vai prever obrigações tanto para o órgão supervisor como para a
própria agência e vai ter que prever que os meios necessários para o atingimento
daquelas metas deverão ser disponibilizados, observado seu cronograma, sob pena
— é claro que quem dá obrigação tem que dar os meios — de, se não der os meios,
as obrigações não poderem ser exigidas.
Essas proposições que os senhores terão aqui, e estão tendo já, a ocasião de
avaliar, escrutinar e aperfeiçoar, foram elaboradas com a preocupação maior de
assegurar o atendimento ao interesse público. Não é preocupação nem interesse do
Governo manietar, esvaziar agências reguladoras ou prejudicar o exercício das suas
funções. Fosse isso, não haveria, por parte do Governo, a disposição não apenas de
assegurar os mandatos dos dirigentes, mas também de estabelecer uma
prerrogativa até então inexistente, a de que o próprio presidente das agências
reguladoras seja escolhido para essa função e tenha mandato garantido, não
podendo, portanto, ser substituído por outro presidente no curso do seu mandato,
salvo, é claro, no caso de crime contra a administração pública ou ato de
improbidade, quando todos os agentes públicos estão sujeitos à perda do cargo.
Essa é uma premissa maior que orientou a construção dessa proposição.
Estamos convictos de que ela supera essa discussão sobre autonomia ou não
autonomia, independência ou não independência, na medida em que não se retira
das agências reguladoras nenhuma das suas prerrogativas no que se refere ao
exercício das suas competências de regulação e fiscalização e não se exclui, em
momento algum, qualquer capacidade de autonomia técnica de que as agências
necessitam para bem exercer as suas funções.
Essas são as preocupações que o Poder Executivo, o Presidente Luiz Inácio
Lula da Silva procurou materializar na proposição. Reconhecemos, com toda a
humildade, que uma proposição que vem a esta Casa não pode sair do jeito que
entrou. Ela tem que ser, evidentemente, aperfeiçoada. Para isso, há aqui 513
Parlamentares e mais 81 no Senado Federal.
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O Poder Executivo terá toda a boa vontade de discutir, por meio da sua
bancada, as alterações necessárias para que se tenha uma proposição melhor do
que a que foi encaminhada ao Congresso Nacional.
Muito obrigado.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Henrique Fontana) - Muito obrigado, Sr. Luiz
Alberto dos Santos. Agradecemos a sua contribuição.
Passo imediatamente à análise e ao debate dos Srs. Parlamentares e aos
questionamentos que porventura houver. Há um número menor de Parlamentares
inscritos hoje, portanto, talvez possamos dividir em 2 blocos. Temos 6 inscritos.
Podemos fazer 2 blocos de 3. Ou 1 bloco só. O Presidente percebe um forte apoio
dos Parlamentares para a segunda opção.
Passo a palavra ao primeiro inscrito, Deputado Ricardo Barros.
O SR. DEPUTADO RICARDO BARROS - Primeiro, agradeço o esforço que
foi feito até agora, e que continua sendo feito, tanto pela Sra. Maria Augusta
Feldman, da ABAR, quanto pelo Sr. Luiz Alberto dos Santos em relação a esse
projeto.
Temos conversado muito desde que instalamos a Frente Parlamentar e
procurado estabelecer diretrizes para a nossa atuação no sentido de nos somar para
o bom termo dessa iniciativa do Governo, que é dar mais clareza ao papel das
agências, suas atribuições e seus meios. Dentro desse objetivo, estivemos várias
vezes na Casa Civil, fomos recebidos pelo Sr. Luiz Alberto, trocamos idéias, eu e
vários companheiros da Frente Parlamentar, recebemos informações. Acredito que,
tecnicamente falando, não há divergências. Se nos situarmos apenas no campo da
boa técnica legislativa e da interpretação que se dá ao papel das agências e do
Estado, não há divergência. O que há é um viés ideológico que acabou sendo
inserido no projeto e que precisa ser corrigido, mas não consigo enxergar
divergências de convicção no papel das agências e do Estado entre todos nós que
estamos defendendo o aprimoramento do projeto.
Deixo isso claro porque, no fundo, nas manifestações, percebemos que esta é
a vontade de todos: definir o papel de cada um.
Nesse sentido, entreguei à Mesa — não temos mais prazo para emendas —
uma proposta de texto, porque o projeto não enfrenta a essência da questão. O
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projeto é, como disse o Luiz Alberto, uma lei geral das agências e tem que começar
dizendo o que é a agência e qual é seu papel, o que é o Estado e qual é o seu
papel. Portanto, propus aos companheiros desta Comissão texto que diz:
“Consideram-se agências reguladoras as
autarquias autônomas especiais criadas por lei com a
finalidade de defender o interesse público, mediante
regulação, normatização, fiscalização dos mercados
econômicos de bens e serviços. Cabe ao Poder
Executivo, por proposta do titular do Ministério ao qual a
agência reguladora estiver vinculada, encaminhar ao
Congresso Nacional projeto de lei dispondo sobre a
política nacional e as diretrizes a serem adotadas na área
de atuação do órgão regulador e, por decreto, aprovar
plano específico de outorgas de serviço ou regime público
e plano geral de metas para progressiva universalização
dos serviços prestados no regime público. Compete ao
Ministério, mediante proposta da agência reguladora,
elaborar a política nacional, as diretrizes, os planos de
outorgas e metas a que se referem os incisos I e II do § 1º
deste artigo. Às agências reguladoras cabe implementar
as políticas de diretrizes estabelecidas em lei e executar o
plano específico de outorgas e o plano geral de metas
que foram estabelecidos por decreto do Poder Executivo”.
Isso é apenas para tentar simplificar. Precisamos enfrentar o problema
essencial que é a definição do papel da agência e do poder concedente,
representado pelo Ministério, porque este poder é a União, portanto, não só o Poder
Executivo, inclui o Poder Legislativo. E por isso se diz “aprovadas por lei”. Desta
forma, entendemos que podemos progredir nesta discussão.
Depois de apresentar aos senhores esta posição inicial, quero fazer algumas
observações quanto ao que foi dito pela ABAR, às discussões que têm tomado
conta do nosso dia-a-dia e àqueles pontos que foram estabelecidos no debate sobre
o controle social, em relação aos quais estamos de acordo. Não há nenhuma
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divergência de que deve haver controle social. Apenas que o ouvidor deve
representar a sociedade, e não o Governo. Essa é a divergência. Não há dúvida de
que deve haver controle social, o ouvidor, mas este deve representar, repito, a
sociedade, e não o Governo. Essa é a diferença, mas penso que podemos modificar
o texto. Há emendas para que esse ponto fique claro no projeto.
Há ainda a questão do contrato de gestão. O próprio palestrante Luiz Alberto
dos Santos, quando propôs o trabalho “Avaliação de desempenho da ação
governamental no Brasil — problemas e perspectivas”, primeiro prêmio em Caracas,
em 2001, ao se referir à questão do contrato de gestão, conclui que, em ambos os
casos, no caso da ANEEL e da ANVISA, Agência Nacional de Vigilância Sanitária,
ele mostra-se de pouco proveito, dado que muito pouco restaria conceder a tais
entidades, além do que, por lei, já não lhes tenha sido assegurado em termos de
autonomia administrativa, financeira e constitucional. Por isso é que digo que a
discussão técnica é muito igual. Está todo o mundo falando e defendendo a mesma
coisa. O que é preciso é retirar o viés político estabelecido no projeto, não na
discussão do grupo interministerial, não na mensagem que envia o projeto, mas no
projeto em si. E há um determinado consenso sobre isso.
As perguntas que quero fazer referem-se às emendas. Para sermos mais
práticos e não ficarmos discutindo em tese, farei uma consulta sobre a Emenda nº
35, uma emenda que nós, da Frente Parlamentar, fizemos — essa fui eu que assinei
—, que diz que, no exercício de suas atribuições, incumbe às agências reguladoras
monitorar e acompanhar as práticas de mercado e os agentes de setores regulados,
articulando-se os códigos de defesa de concorrência, em observação à Lei nº 8.884.
Para tornar efetiva a articulação, serão feitos convênios entre a agência e os órgãos
reguladores. Penso que os representantes dos órgãos de concorrência, Luiz Alberto,
devem comparecer à audiência pública, que já é obrigatória. Por que eles têm que
ter uma consulta especial? Os órgãos de concorrência se manifestam na consulta
pública. Não há que se ter uma preliminar com os órgãos de concorrência, na minha
visão.
A Emenda nº 36 fala da consulta pública: “serão objeto de consulta pública as
minutas de propostas de alteração de normas legais, atos normativos, decisões de
diretoria colegiada e conselhos diretores que afetem interesses gerais dos agentes
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econômicos, dos consumidores ou usuários dos serviços prestados”. A consulta a
que se refere este artigo não substitui a audiência pública. Esta é uma emenda
minha, quer dizer, não estamos aqui discutindo transparência, mas propondo
transparência, porque precisamos realmente sair do viés ideológico para trabalhar
com mais clareza.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Henrique Fontana) - Peço ao Deputado
Ricardo Barros que conclua.
O SR. DEPUTADO RICARDO BARROS - Já concluo, Sr. Presidente.
A Emenda nº 40, do Deputado José Santana, fala que o controle externo das
agências reguladoras será exercido pelo Congresso Nacional com o auxílio do
Tribunal de Contas, sem caráter determinativo na apreciação das questões de
mérito técnico. É um posicionamento que diz respeito à questão do controle social.
Há ainda a questão do ouvidor, como lembrou o Deputado José Roberto
Arruda: “o ouvidor deve ser brasileiro, de reputação ilibada, formação universitária,
notório saber no setor regulado pela agência, indicado pelo Presidente da República
e por ele nomeado, após aprovação prévia do Senado Federal”. O Deputado
Fernando Coruja evoluiu para uma lista tríplice que seria feita pelo Congresso
Nacional. E, a partir dela, o Presidente escolheria o nome de um ouvidor que
representasse a sociedade, e não o Poder Executivo. Esta também é uma emenda
interessante sobre a qual gostaríamos de ouvir opiniões a respeito, porque elas
tratam exatamente dos assuntos mais polêmicos.
O controle externo é tratado na Emenda nº 72. Mas, na Emenda nº 121, do
Deputado Eliseu Resende, temos a questão da competência. Em caso de
centralização da execução das atividades sob responsabilidade da agência, parte da
receita correspondente por ela arrecadada, prevista em lei federal, poderá ser
repassada anualmente ao órgão regulador da unidade federativa, para custeio do
seu serviço. Ou seja, estamos propondo aqui que as agências nacionais façam
convênio com as agências estudais para fazer seu trabalho, de modo que, na
amplidão de toda a sua atribuição, ela possa contar com o auxílio das agências
estaduais, porque efetivamente é pouca estrutura para muita responsabilidade.
O Deputado Sandro Mabel apresentou várias Emendas, as de nºs 134, 135,
136, e todas elas estabelecem que o Conselho de Consumidores deve receber
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esses recursos eventualmente para fazer a fiscalização que se pretende e promover
a participação das organizações não-governamentais.
São essas as questões que gostaria de apresentar, porque, parece-me,
atendem à essência dos pontos divergentes de que estamos tratando.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Henrique Fontana) - Obrigado, Deputado
Ricardo Barros.
Com a palavra o Deputado Alberto Goldman.
O SR. DEPUTADO ALBERTO GOLDMAN - Sr. Presidente, Srs. Deputados,
senhores partícipes desta Mesa, Maria Augusta Feldman e Luiz Alberto, entendo
que, se conseguirmos superar uma questão de conceito que me parece ainda
confusa, não a mim, mas ao Poder Executivo, que elaborou o projeto, vamos ter
90% do caminho andado. Os outros 10% vão se restringir a algumas questões sobre
as quais não existe discordância, mas uma visão muito semelhante, muito
convergente, como, por exemplo, em relação ao ouvidor ou ao papel dos órgãos de
concorrência. Temos condições de chegar tranqüilamente a um consenso nessa
questão.
Quanto ao contrato de gestão, talvez eu ainda não tenha tido condições de
vislumbrar como o contrato de gestão pode estabelecer obrigações de administração
de uma agência. Nesse caso, talvez fosse fácil avançarmos, desde que
estabelecêssemos não metas quantitativas, porque não vejo como é possível se
fazer metas quantitativas, mas metas qualitativas e obrigações podem ser inseridas
em lei. Por que deixar um contrato de gestão? Elas podem ser inseridas em lei que
obriga os órgãos, tanto o Executivo quanto a agência propriamente... Por que digo
isso? Porque do jeito que está posto, se o Executivo quiser uma coisa e a agência
não quiser, não há contrato de gestão, porque ele é bilateral. Se a agência quiser
uma coisa e o Executivo não quiser, também não sai, porque é bilateral. Se é um
contrato de gestão entre partes, nada há a impor para que elas aceitem aquilo que é
determinado de um lado ou de outro. Portanto, o contrato de gestão, do jeito que
está posto, é nulo, não existe.
O que poderíamos colocar na lei? Quais os elementos qualitativos de
exigência em relação às agências e ao Poder Executivo, obrigações dos 2 lados que
não estariam num contrato de gestão, mas estariam na lei. Por que a lei não pode
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definir isso? Aí sim, nem a agência nem o Poder Executivo podem fugir, porque a lei
já determinou.
Além disso, não consigo ver como se pode fazer algo quantitativo, porque
nenhuma agência é produtora de bens e serviços. Ela não produz nada. Ela tem um
trabalho administrativo, e não vejo como se possam estabelecer metas quantitativas.
Qualitativamente dá para resolver através da própria lei.
A questão conceitual básica que acho está faltando resolver é essa questão
mais uma vez. E o interessante é que a questão está posta no inciso XI da
Exposição de Motivos. Ela foi repetida pelo Dr. Luiz Alberto agora há pouco.
O inciso XI, num certo momento, diz que ao Estado compete outorgar ou não
a terceiros o direito de explorar e prestar esses serviços ou de exercer atividade
econômica mediante concessão ou permissão. Assim a faculdade de celebração de
contratos de outorgas, atribuídas às agências em suas leis específicas, é vista como
mera liberalidade do legislador.
Ora, é como se a agência não fosse um órgão do Estado brasileiro. E acho
que o Dr. Luiz Alberto repetiu, num certo momento em sua intervenção, mais ou
menos a seguinte frase: “O poder concedente cabe à União e não à agência”.
Alguém tem alguma dúvida quanto ao fato de o poder concedente cabe à União?
Mas a União o exerce através de que instrumento efetivo? A União é uma somatória,
a União é o Poder Executivo, o Poder Legislativo, o Poder Judiciário, é uma
entidade, não vou chamar de abstrata, mas não tem uma representação a não ser
através desse Poderes. Ela não tem uma representação a não ser através de entes
concretos. Qual é o ente concreto que se definiu em lei? A agência. E por que se
definiu a agência? Ela sim é um ente da União com maior legitimidade do que um
órgão qualquer, mesmo um Ministério, porque ela provém de uma ação do Executivo
e do Legislativo.
Quando se fala que a atividade tem que ser do Poder Executivo porque o
Executivo é que é eleito, lembro que o Poder Executivo, assim como o Poder
Legislativo, também é eleito. O Poder Legislativo tem uma representação mais
complexa e muito mais universal do que a sociedade, porque é um processo de
representação proporcional e não um processo de representação majoritária.
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No momento em que estabelecemos, na agência, essa conduta de
considerar Executivo e Legislativo responsáveis pela definição do órgão da União
que vai exercer o papel, delegamos por lei claramente a quem cabe fazer isso. É
muito melhor isso que está estabelecido em lei do que dizer que cabe ao Poder
Executivo — é aí também é genérico, sei lá o que é Poder Executivo nesse caso —
delegar a agência. Ora, se ele pode ou não delegar, por que a lei não define
claramente quem vai ser? Por que dar essa delegação ao Poder Executivo, a um
Ministério? A representação, no momento em que decidimos por lei, tem mais
legitimidade política do que a própria decisão do Executivo. A legitimidade política
está nessa conjugação de ações políticas dos Poderes Executivo e do Legislativo.
O Ministro Tourinho disse que o Ministério de Minas e Energia perdeu a ação,
mas não. Ele não perdeu a ação. Ele foi omisso e irresponsável. Não estou dizendo
isso hoje, porque no passado fui ao Presidente da República dizer que o Ministério
de Minas e Energia era incapaz de estabelecer um modelo no setor energético. É
pena que o Deputado Eliseu Resende não esteja presente. Criamos na legislação o
Conselho Nacional de Política Energética. Dr. Luiz Alberto, o Conselho Nacional de
Política Energética foi constituído? Se foi, eu não sei. Até agora não vi nenhuma
ação concreta do Conselho Nacional de Política Energética, que é o responsável por
estabelecer a política na área energética, não só energia gerada pelas hidrelétricas,
mas por todo o conjunto das fontes energéticas. Isso pode ser estabelecido em lei.
Tem razão o Dr. Luiz Alberto.
Quero, então, cumprimentar o Governo pelo caminho que trilhou nesse
processo. Acho que ele evoluiu bastante no sentido de aprofundar a discussão,
deixar esse espaço aberto. Evoluiu inclusive nos seus componentes diversos, em
cada momento que fomos discutindo. E ele tem razão quando diz que isso foi de
improviso. Foi de improviso porque cada lei é diferente da outra; cada agência é
diferente da outra cada; uma não tem correspondência com a outra, quando em
muitos casos deveria ter. Nem todos, porque não se pode estabelecer para a
Agência Nacional de Vigilância Sanitária as mesmas condições estabelecidas pela
Agência Nacional de Telecomunicações. A coisa é outra. Não se regulamenta um
setor dessa forma.
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A Lei Geral de Telecomunicações, em seu art. 18, definiu o papel político do
Executivo:
“Art. 18 - Cabe ao Poder Executivo, observadas as
disposições desta lei, por meio de decreto:
I - instituir ou eliminar a prestação de modalidade
de serviço no regime público, concomitantemente ou não
com sua prestação no regime privado;
II - aprovar o plano geral de outorgas de serviço
prestado no regime público;
III - aprovar o plano geral de metas para a
progressiva universalização de serviço prestado no
regime público.”
Esses dados todos foram estabelecidos. Inclusive, o que está criando agora
problema nas relações com o Mercado Comum Europeu é o parágrafo único, art. 18,
da Lei Geral das Telecomunicações, que diz que o Poder Executivo, levando em
conta os interesses do País no contexto de suas relações com os demais países,
poderá estabelecer limites à participação estrangeira no capital de prestadora de
serviços de telecomunicações. O Mercado Comum Europeu não está aceitando.
Está querendo que se modifique esse parágrafo único.
Mas aqui se estabeleceram quais são as políticas. Há necessidade de
acrescentar alguma coisa? Muito bem, acrescente-se, mas que se defina isso em lei,
que se defina aqui qual é o papel político com que todos nós concordamos. O papel
político é do Executivo, é do Governo eleito, em conjugação. A Lei Geral de
Telecomunicações diz que as políticas serão estabelecidas pelos Poderes Executivo
e Legislativo. Esse “e Legislativo” foi emenda nossa, da Casa. Ou seja, essas
políticas podem ser estabelecidas na lei, definir claramente o papel do Executivo e o
papel de implementação, que cabe à agência, e não fazer as políticas. Dá para fazer
isso na lei.
Na proposta do Governo para o art. 18 há o inciso V, que foi acrescentado. Aí
me parece grave. Isso, evidentemente, não devemos aceitar. O inciso V do art. 18
diz que cabe ao Poder Executivo expedir normas quanto à outorga dos serviços de
telecomunicações no regime público. Ora, se cabe ao Poder Executivo estabelecer...
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O SR. PRESIDENTE (Deputado Henrique Fontana) - Mas onde está isso,
Deputado Alberto Goldman?
O SR. DEPUTADO ALBERTO GOLDMAN - No inciso V do art. 18, da
mudança da Lei Geral de Telecomunicações, LGT.
É no art. 21 da lei, que se refere ao art. 18 da LGT. E no artigo seria
acrescentado o inciso V: “expedir normas quanto à outorga dos serviços de
telecomunicações no regime público”. Ora, se cabe ao Executivo expedir normas
quanto à outorga, a agência perde sua função fundamental. Cabe ao Poder
Executivo estabelecer as linhas políticas, os elementos políticos para a expedição
das normas, que devem ser feitas pela agência.
Se conseguirmos superar essa questão, deixar explícito o papel de cada um e
colocar isso na lei, definindo claramente que o poder de outorga é exercido pela
União através da agência, em função das definições políticas do Poder Executivo,
que o fará por decreto, por indicação, evidentemente, da sua assessoria, que é o
Ministério das Comunicações, ou de outro Ministério qualquer, acho que não só esse
projeto vai funcionar bem aqui, vai andar bem, como acredito que isso aqui será uma
enorme alavanca para incentivar os investimentos que queremos no País. Afinal de
contas, nosso desejo todo é esse. Todos estamos preocupados não só com o dia de
hoje, mas com os próximos anos. Isso vale para nós, para a Oposição e para a
Situação. Somos oposição hoje e podemos ser situação amanhã. Os senhores são
situação hoje e podem ser oposição amanhã. Acredito nisso, isso acontece na vida
democrática. Temos que pensar nesse sentido quando elaboramos uma lei.
Evidentemente, eu teria muito mais para falar, mas acho que, quando
discutirmos o projeto em si, vamos ter que discutir ponto a ponto, caso a caso, e não
uma exposição geral.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Henrique Fontana) - Muito obrigado,
Deputado Goldman.
O Presidente tem trabalhado com uma certa flexibilidade de tempo, porque os
assuntos são importantes e interessantes, e hoje é possível fazer isso, porque temos
um número menor de Parlamentares.
Passo a palavra ao Deputado Mauro Passos.
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O SR. DEPUTADO MAURO PASSOS - Sr. Presidente, gostaria de saudar os
membros da Mesa, de cumprimentar nossos convidados. Superado o episódio do
bisbilhoteiro, que pelo que entendi foi considerado uma questão preconceituosa e
imprópria, mas acho que o Brasil precisa de mais bisbilhoteiros. Temos poucos. Se
tivéssemos mais, talvez não tivéssemos cometido os desencontros a que tão
seguidamente somos submetidos, coisas espantosas. Nesse aspecto, estamos
começando a convergir, porque também sinto no ar um reconhecimento de que as
agências, como foram concebidas, como se movimentaram nesse período desde a
sua criação, foram algo bastante desastroso. Acho que o último episódio da Carta
Capital, do TCU em relação à ANEEL e tantos outros exemplos que poderíamos
citar aqui comprovam isso. Estamos avançando no sentido de compreender por que
elas foram desenhadas da forma como foram e que papel cumpriam quando foi feito
esse desenho.
Hoje, busca-se corrigir esse rumo. E todos estão colaborando nesse sentido.
Nas emendas citadas, que tive oportunidade de acompanhar, percebe-se
claramente uma correção de rumo, dando aos consumidores, àqueles que são
nossa preocupação, uma condição que até então não tiveram. Começamos a
caminhar no sentido de construir um outro projeto, ter um outro conceito sobre o que
seriam as agências, como elas deveriam funcionar, a abertura e a condição que elas
deveriam ter de dialogar com a sociedade.
Num primeiro momento causou uma resistência muito grande a figura do
ombudsman, ou outro nome que queiram dar. Mas ela passa também a ser
assimilada como uma coisa moderna e necessária. O ouvidor vem desempenhar um
papel que até então não tínhamos.
Com todo respeito ao trabalho da Dra. Maria Augusta, que tem as melhores
referências, as agências sempre estiveram distantes desse outro agente, que é o
consumidor. Não da sua parte, mas essa distância se dá na prática, no dia-a-dia.
Como Vereador, durante muito tempo trabalhei na área de defesa do consumidor, e
isso é algo que percebíamos. As coisas têm uma distância maior do que aquela que
gostaríamos. Nós, consumidores, somos sempre o elo mais fraco da corrente.
Então, tudo o que pudermos construir no sentido de que o consumidor seja
contemplado, protegido e valorizado, é positivo. Percebo, em todas as emendas que
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estão aqui apresentadas, que se caminha nesse sentido. Tenho certeza de que essa
era a idéia do Governo quando encaminhou esse projeto para cá.
Sr. Presidente, não tenho nenhuma indagação a fazer aos nossos
convidados. Vejo que, assim como o Deputado Alberto Goldman comentou, estamos
construindo uma outra condição de agência, necessária inclusive. Às vezes
imaginamos estar fazendo uma maravilha de legislação, mas, na prática, no dia-a-
dia, ela se mostra imprópria ou distante da realidade. A intenção de todos nós — e
as emendas comprovam isso — é de se encontrar essa condição, que até então
não se tinha, de se aproximar do consumidor. Acabei me esquecendo de trazer um
longo e-mail que recebi de um professor da Universidade Federal de Minas Gerais.
E ele comentava justamente isso: será que, no projeto, o consumidor vai ter o
mesmo espaço que teve o empreendedor no passado? Acho que estamos
começando a nos encontrar. Vejo aqui, com toda a franqueza, um disposição por
parte das pessoas de corrigirem aquilo que ficou perdido no tempo. Ou faltou até
cultura. Às vezes é uma questão cultural. E, se é uma questão cultural, também
cabe a nós, como Parlamentares, trabalhar no sentido de que o hábito de cobrar, de
bisbilhotar, no bom sentido, seja praticado e contribua para que as coisas venham a
funcionar.
Sr. Presidente, a rigor não tenho nenhuma indagação a fazer a nenhum dos 2
palestrantes. Quero apenas deixar este registro nesta audiência.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Henrique Fontana) - Muito obrigado,
Deputado Mauro Passos.
Passo a palavra ao Deputado Severiano Alves.
O SR. DEPUTADO SEVERIANO ALVES - Sr. Presidente, muito embora
tenha participado da elaboração dessas leis, não me sinto responsável por elas. De
1997 até 1999, participei da elaboração das leis que criaram a ANEEL, a ANP e a
ANVISA, já que entre este mandato e o de 1999 a 2000 eu estava fora do
Congresso.
Nem o próprio Presidente da República sabia — vou usar um termo até
grosseiro — da armadilha que estava sendo preparada para ele. Ele não tinha
poderes. Lembro-me de que, quando de uma viagem do Presidente Fernando
Henrique ao exterior, houve no Brasil um aumento nos preços dos combustíveis e
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houve também uma grita muito forte por parte da população. E S.Exa., do exterior,
pensando que poderia fazer isso, ordenou a suspensão do aumento. Aí disseram
que não, que o aumento havia sido autorizado pela Agência Nacional de Petróleo. O
Presidente não sabia, inclusive, que ele não tinha ingerência administrativa sobre a
agência. Esse aumento foi suspenso por alguns dias, mas depois valeu o aumento
que havia sido autorizado pela ANP.
Pois bem. Acho até que a proposta do Presidente da República é tímida
quanto aos poderes que ainda atribui às agências. Não posso conceber que um
setor público considerado até de terceiro escalão tenha tanto poder, até mais que o
Presidente da República. Não sei se isso é da política privatista ou da política liberal
demais. Não gosto muito desse termo, muito embora meu partido não seja da base
do Governo. E, na quarta-feira, votei contra o salário mínimo. Acredito que, a partir
de agora, o Presidente não veja o PDT ou alguns membros do Congresso como
seus aliados, já que votávamos, às vezes, em favor da Presidência da República.
Mas posso ainda votar, dependendo do projeto e do interesse público que nele
esteja contido.
Alivia um pouco no que diz respeito ao ouvidor, mas as agências deveriam ter
apenas o papel de órgão consultivo, e que seus atos fossem aprovados ou
homologados pelo Ministro de Estado a que a agência estiver vinculada. Não
consigo entender um órgão público exercer um papel fiscalizador, controlador, e não
ser censurado pelo poder maior, no caso o Presidente da República ou o Ministro de
Estado. As ações das agências deveriam ser censuradas, na escala hierárquica,
pelo Ministro de Estado e pelo Presidente da República. Mas ainda há muito poder,
e por isso considero tímida ainda a proposta da Presidência da República quando
tenta dar um controle público maior às ações das agências. Deveríamos dar muito
mais poder ao público, ao interesse público. Acredito que a única forma de interferir
nessas decisões seja a ouvidoria, que não está muito bem explicada também. Acho
que ela deveria ser um órgão até para subsidiar o Presidente da República quando
de uma decisão praticada pela agência.
Sendo órgão consultivo, acho até que seus membros deveriam ter alto
conhecimento técnico e que fosse evitado que fizessem parte dessa administração
membros do Legislativo, políticos. Deveria ser simplesmente um órgão técnico de
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consultoria e que seus atos fossem censurados, hierarquicamente, pelo Ministério a
que estiver vinculada ou pelo Presidente da República.
Não tenho perguntas. Quero parabenizar a Dra. Maria Augusta e o Dr. Luiz
Alberto, que foram precisos nas informações. Logicamente que a Dra. Maria
Augusta utilizou um tom muito mais de defesa das agências, inclusive pela
manutenção da lei anterior. O Dr. Luiz Alberto defendeu a proposta do Presidente e
prestou esclarecimentos no sentido de que precisaríamos mudar um pouco o poder
da agência.
Muito obrigado.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Ricardo Barros) - Obrigado, Deputado
Severiano Alves, pela sua contribuição e pela visão que tem desse processo. Vai ser
interessante em nossa reunião o debate sobre as emendas.
Passo a palavra ao Deputado Henrique Fontana, nosso Presidente, que
participará agora da reunião como debatedor.
O SR. DEPUTADO HENRIQUE FONTANA - Obrigado, Deputado Ricardo
Barros, Vice-Presidente da Comissão, agora em exercício na Presidência dos
trabalhos.
Quero cumprimentar o Relator, o Sr. Luiz Alberto e a Sra. Maria Augusta
Feldman pela contribuição.
Sou daqueles que pensam que, neste assunto, de fato não devemos cometer
2 erros. O primeiro seria a simplificação no sentido de que podemos fugir, como
alguns dizem, de qualquer viés ideológico, programático ou de posicionamento,
quando debatemos o assunto agências reguladoras e seu papel em assuntos de
interesse público.
Sou daqueles que acreditam que quase nenhum assunto consegue escapar
de um viés que seja uma posição, uma opinião que as pessoas têm sobre o conjunto
de idéias que norteiam sua visão de mundo, sua visão de sociedade e assim por
diante.
O segundo seria a visão de que, por exemplo, eu, como Deputado ligado à
base do Governo, neste momento presidindo a Comissão e buscando a necessária
isenção, nos limites do possível, para exercer esse papel, dissesse que tudo o que
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está escrito no projeto que veio do Governo é ótimo e todas as emendas são
péssimas. Porque estamos aqui tentando descobrir alguns caminhos.
Quando se fala na palavra autonomia, que é uma palavra que freqüenta
permanentemente este debate, sobre o conceito genérico de um certo grau de
autonomia, qual seja, como foi declarado pela nossa Presidente da ABAR, a visão
de que compreender essa autonomia como impedir que as agências percam sua
razão de ser, que é procurar equilibrar relações naturalmente conflitivas entre o
interesse privado que está atuando numa área, o interesse da sociedade, que tem
uma determinada demanda, e o Governo, que pode num dado momento ter uma
determinada posição, essa autonomia é boa.
Qual é nosso desafio? Como se dá essa autonomia? Essa autonomia não
deve significar uma posição que dê um poder tal a esse que poderíamos chamar
uma espécie de novo setor que passaria a ter um papel, dentro da gestão pública,
cujos mecanismos de limitação, controle e acompanhamento ficariam aquém dos
mecanismos de limitação, controle e acompanhamento que todos os Poderes têm.
Lógico que não é uma diferença pequena o fato de que nós, como Parlamentares,
estamos exercendo um poder por aquela que é a delegação, na minha opinião, mais
importante em relação a outras quaisquer, que é a delegação vinda da vontade
popular.
O Executivo e o Legislativo têm esse componente. Por mais imperfeita que
seja a democracia, por mais que o poder econômico possa decidir sobre ela e todos
os limites que conhecemos, é evidente que tem algo aqui que, no meu ponto de
vista, é quase sagrado: a delegação da vontade de maioria que ocorre a cada
momento num processo desse. Algumas vezes o Poder Judiciário tem sua
construção de estruturas de decisão em cima de um sistema de méritos, em outras,
nem tanto. Como todos sabemos, temos que ali também fazer aperfeiçoamentos.
Quando vamos debater sobre um assunto, sobre qual o papel das agências
no setor elétrico, por exemplo — e não vou comentar sobre todos os setores —, ou
sobre qual o papel do Poder Executivo nesse mesmo setor, não acho que isso seja
uma ciência exata. Se alguém tiver a pretensão de dizer: “Olha, os manuais das
ciências exatas da gestão pública dizem que o Executivo deve fazer isso, e a
agência deve fazer aquilo”.. Com isso, estou querendo dizer que é óbvio que existe
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aqui uma disputa em torno desse projeto. Não podemos fugir disso. Existia uma
concepção no Governo anterior de que, ao instituir agências, na minha opinião,
pendia para uma posição de esvaziamento do papel do Executivo enquanto
Governo, Ministérios, etc. e de ampliação do papel das agências em determinadas
funções.
Quem me diz se é certo ou errado o poder de regular uma outorga ser da
agência ou do Poder Executivo? Acho melhor que seja do Executivo e que a agência
regule aquela situação e fiscalize se as coisas estão andando de acordo com a
outorga definida.
Vamos ter mais engenheiros, qualidade técnica e capacidade de gestão
pública dentro das agências ou mais dentro do Executivo, do Ministério, no caso?
Evidentemente que isso é uma escolha política. Pode-se ampliar a estrutura das
agências de tal forma que elas passem a ter uma inteligência de gestão tal que se
chegue à conclusão de que a agência está mais preparada para fazer um sistema
de outorgas do que o próprio Governo.
Mas acho isso errado. Devemos dar estrutura ao Poder Executivo para que
ele tenha seus engenheiros de carreira, seus planejadores de carreira, aqueles que
podem, de fato, pensar a estrutura política de gestão como um todo, e procurar
garantir a necessária autonomia, para que a agência possa de fato garantir a
fiscalização e a regulação desse setor.
Por exemplo, eu sou um entusiasmado defensor da função do ouvidor. E
quanto mais nos a uniformizarmos para que a sociedade saiba como o ouvidor é
escolhido... Alguns jornais adotam a função do ombudsman — sempre gosto de usar
uma palavra para traduzir, mas para essa ainda não encontrei tradução. Vamos falar
com a Profª. Maria Augusta. Para essa palavra ainda não apareceu uma palavra
para garantir a nossa língua mãe. O ombudsman, de fato, é alguém que pode dar a
opinião que quiser, fazer o que quiser com esse grau de autonomia que existe.
Entendo que o ouvidor deve ter essa função dentro da agência: como vamos
fazer, se o Congresso deve aprovar, para haver um jogo de equilíbrio. Eu,
particularmente, estou aberto a aperfeiçoamentos para fechar minha posição quanto
a isso.
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Segunda questão. Quanto ao contrato de gestão — que é outro tema que tem
sido debatido —, há alguns pontos de dúvidas sobre como ele funcionaria. Temos
de procurar, se for o caso, definir ainda melhor na lei situações que garantam que
esse contrato de gestão, de fato, seja um mecanismo para atender ao interesse
público, que não seja um mecanismo de arbítrio de poder de uma das partes. Eu
também estou aberto a isso. Agora, a negativa do contrato de gestão me parece que
provoca uma piora da situação. É muito razoável termos preocupações sobre até
onde o contrato de gestão pode ir, como é a sua abrangência. Agora, a negativa de
um contrato de gestão parece-me que significa dar um passo atrás. E não gosto
muito dessa expressão, porque às vezes há muita coisa tida como moderna, mas
que não é bem assim. Às vezes um passo atrás também é importante em alguns
momentos para podermos dar 2 à frente depois. Mas, neste momento, vamos ficar
com o passo atrás.
É uma situação que limita a qualidade da gestão. É óbvio que não podemos
quantificar muitas coisas, como disse o Deputado Alberto Goldman, e concordo com
S.Exa. O contrato de gestão não pode ser uma lista. Tem que haver a fiscalização
de, no mínimo, 1.500 empresas a cada tantos dias. Isso seria um negócio
inadequado, mas há diversos critérios que podem ser importantes no contrato de
gestão e que poderiam estar na lei.
Nesse meio tempo em que estamos debatendo, podemos descobrir coisas
que talvez devam ser agregadas à lei e que, inclusive, garantam parte das
preocupações do contrato de gestão. Vamos supor que eu quisesse garantir que o
sistema de consulta pública tenha, no mínimo, mais garantias para defender o
interesse do consumidor e do usuário — e eu sempre insisto muito nisso sem medo,
porque, na minha opinião, o elo mais frágil desse processo é o consumidor —,
teríamos que garantir equilíbrio e haver ambiente adequado para o investidor. Agora,
é evidente que o consumidor tem sido o elo frágil desse processo.
Deixo essa minha avaliação sobre estes 2 temas: o ouvidor e o contrato de
gestão.
Quero aqui ressaltar — não estou aqui falando como Presidente — que
estamos caminhando num ambiente bastante positivo em nossa Comissão para
fazer um debate respeitoso sobre os pontos que tivermos divergências e
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encontrarmos os pontos de convergência para aperfeiçoar o projeto e que seja
vontade da maioria esse aperfeiçoamento.
Obrigado.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Ricardo Barros) - Obrigado, Deputado
Henrique Fontana.
Vamos passar a palavra ao Sr. Deputado Francisco Appio, último orador
inscrito. Depois, colheremos a opinião dos nossos palestrantes.
O SR. DEPUTADO FRANCISCO APPIO - Obrigado, Deputado Ricardo
Barros.
Quero cumprimentar o Presidente desta Comissão, Deputado Henrique
Fontana; o Vice-Presidente, Ricardo Barros; e o Relator, Deputado Leonardo
Picciani, pelo esforço de ouvir toda a sociedade.
Há ainda requerimentos a serem votados em nossas audiências — torço para
que haja tempo — de convite a pessoas que podem contribuir principalmente na
questão portuária. Essas Emendas de nsº 95 a 107 tratam exatamente de
aperfeiçoar o texto e foram elaboradas junto a uma das grandes autoridades nessa
área, o professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Juarez de Freitas,
que nos assessorou em boa hora. E gostaríamos que S.Sa. viesse a esta Comissão.
Cumprimento do Dr. Luiz Alberto dos Santos e a Profª Maria Augusta
Feldman. A professora estava conosco na Assembléia Legislativa, na época em que
eu era Deputado. Fazíamos parte daquele Parlamento quando há menos de 10 anos
nasceu aquilo que era uma criança e hoje é uma grande agência reguladora: a
AGERGS. Essa agência, no Rio Grande do Sul, patinou muito no começo,
enfrentou dificuldades, mas sei também que a sociedade gaúcha está satisfeita com
o esforço de corrigir seus defeitos.
É verdade, Deputada e hoje Presidenta da Associação, que, à época, naquela
reforma do Estado encetada pelo então Governador Antônio Brito, foram concedidos
à iniciativa privada serviços de pedágios em cerca de 3 mil quilômetros de rodovias,
o DETRAN do Rio Grande do Sul e houve privatizações nas áreas de comunicações
e energia elétrica. Foi uma profunda reforma que cortou fundo no Governo. Foi tão
forte que o Governador acabou perdendo a eleição.
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Mas lembro que uma das bandeiras do PT à época, com o então candidato
Olívio Dutra, referia-se exatamente às concessões rodoviárias que considerava o
Governador sócio dos pedágios; ele, Olívio, o caminho, e o Brito, o pedágio.
Pois vejam bem onde estão as dificuldades dos nossos usuários de rodovias.
Bastou Olívio Dutra assumir o Governo para que promovesse uma alteração do
contrato das concessionárias, a fim de que essas assumissem os perímetros
urbanos inclusive lá da sua terra, São Marcos, onde cruza a BR-116, Deputado
Henrique Fontana, o perímetro urbano não fazia parte das concessões. Para abrigar
o perímetro urbano, promoveu-se uma alteração do contrato, fazendo com que
houvesse cobrança também na ida e na volta.
É claro que o contribuinte ficou alijado do processo, não houve uma discussão
maior do contribuinte, mas isso em nada prejudica a AGERGS, do Rio Grande do
Sul, que é modelo para este País. Por isso enalteço, registro a sua presença nesta
Comissão, Deputada Maria Augusta, pela experiência que tem, pelas posições
firmes que defende, porque pode servir de contribuição para essa modelagem que
se está fazendo. Tenho absoluta certeza de que o Relator, Deputado Leonardo
Picciani, haverá de incorporar muito no texto das suas manifestações.
O objeto principal da preocupação deste Congresso deve ser o usuário, o
contribuinte, aquele que, em última análise, paga os serviços concedidos. Neste
particular, precisamos aumentar o nível e a reserva de preocupação e de proteção
do consumidor.
Há aqui mais de uma centena de emendas, na maioria delas trabalhando-se
nesta linha. Tenho, como todos nós, a expetativa de que possamos sair daqui com
esse projeto de lei com uma formatação capaz de atender aos anseios da
comunidade.
A Lei dos Portos precisa ser revista, não há dúvida, mas não precisamos
recuar ao ponto, por exemplo, de um projeto que tramitou aqui e que pretendia
eliminar os terminais privados. Deve-se corrigir e não acabar com os serviços.
Graças a Deus, a Comissão de Viação e Transportes conseguiu arquivar aquele
projeto. Avançamos no sentido do escoamento da nossa produção pelas rodovias, é
verdade, sucateadas, esburacadas e que precisam ser reparadas. Avançamos no
sentido de ampliar as nossas exportações por portos e por terminais que precisam
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evidentemente ser ampliados e melhorados, mas o que já temos é bom, convém não
recuar tanto assim para não estragar o que já foi feito. É preciso tratar de melhorar.
Esse é o registro ao par da satisfação de ver o Deputado Ricardo Barros, em
nome da bancada do Partido Progressista, defender os interesses deste partido
dentro desta Comissão, à qual nos juntamos no sentido de proteger o interesse do
nosso usuário.
Obrigado, meu caro Presidente. Faço-lhe um apelo para que envide esforços,
a fim de que os requerimentos de inclusão de novos convidados para as nossas
audiências sejam votados.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Henrique Fontana) - Votaremos os
requerimentos amanhã, Deputado Francisco Appio, com toda certeza. Ressalto as
dificuldades de agenda da Comissão, mas é importante porque muitas pessoas
serão convidadas por requerimentos aprovados, porque têm conhecimento na área
e é importante que elas tenham esta referência de que a Comissão aprovou esses
nomes para que eventualmente contribuam. De qualquer modo, imagino que
aqueles que não serão ouvidos aqui estão contribuindo por meio de seus contatos
com Deputados, com documentos escritos, avaliações e assim por diante.
Passo a palavra ao nosso Relator, antes de os nossos dois convidados
fazerem o encerramento da nossa audiência pública.
O SR. DEPUTADO LEONARDO PICCIANI - Sr. Presidente, Deputado
Henrique Fontana, Srs. Deputados, Dra. Maria Augusta, Dr. Luiz Alberto, de forma
rápida, cumprimento nossos dois convidados pela grande contribuição que trazem a
esta Comissão e até porque, sem dúvida alguma, esta foi a audiência em que o
debate esquentou mais nos pontos conceituais.
Não vou iniciar um debate, mas ressalto que alguns pontos apresentados são
bastante importantes. O Deputado Alberto Goldman falou de uma questão que me
parece ser, talvez, o ponto central e o principal desafio desse projeto, que é delimitar
onde estão as competências do poder concedente, e não tenho dúvida de que ele
deve ser exercido pelo Poder Executivo, e quais são os limites do poder regulatório,
das agências de regulação.
O Deputado Mauro Passos fez uma constatação importante: as agências
sempre estiveram afastadas do consumidor. Essa é uma contestação verdadeira,
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Deputado, e é desejável que esse quadro se modifique e que encontremos
caminhos para que também o usuário dos serviços concedidos — o motivo de haver
esse tipo de serviço — tenham uma relação mais igual na defesa dos seus direitos e
no acolhimento de suas reivindicações por parte das agências, que devem ser entes
de defesa da sociedade como um todo, que inclui os consumidores, aqueles que
recebem os serviços em concessão.
Parece ter sido consenso nas últimas audiências que os pontos polêmicos do
projeto são o contrato de gestão e a figura do ouvidor, que é extremamente
necessária. Cito como exemplo a afirmação do Secretário de Defesa Econômica do
Ministério da Justiça, de que a figura do ouvidor é desejável e necessária. E usou
S.Sa. um argumento muito lúcido: toda entidade num determinado momento é
corporativa e também pode estar sujeita às suas próprias patologias. A figura do
ouvidor pode ajudar na transparência, ainda que tenhamos de evoluir na sua forma,
que talvez não esteja ainda a mais adequada e se possa evoluir.
Quanto ao contrato de gestão, acho que se deve evoluir também na sua
forma, deve-se aprimorar esse instrumento. Deixo uma questão à Dra. Maria
Augusta: há realmente motivo para que haja essa grita toda em relação ao contrato
de gestão? Por que a necessidade premente da sua supressão?
Sr. Presidente, ouvi do Dr. Luiz Alberto que deve o Poder Executivo definir as
políticas públicas por estar legitimado pelo voto popular. Essa é uma afirmação
oportuna. Mas pergunto ao Dr. Luiz Alberto se considera que o poder concedido pelo
voto para representação da sociedade e para exercer atos de fiscalização não está
concedido ao Congresso Nacional.
Agradeço a todos a atenção.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Henrique Fontana) - Agradeço ao nosso
Relator, Deputado Leonardo Picciani. Concedo a palavra, para suas considerações
finais, por 10 minutos, à Sra. Maria Augusta Feldman.
A SRA. MARIA AUGUSTA FELDMAN - Mais uma vez, agradeço a
oportunidade do debate, que é extremamente salutar não tanto pelo que dissemos,
mas mais pelo que ouvimos. Isso é fundamental.
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As nossas posições são amplamente claras e divulgadas em manifestações.
Elas não são novas. Novo é ouvir de V.Exas. as manifestações, pelo menos para
nós que não convivemos no dia-a-dia nesta Casa.
Quando o Deputado Francisco Appio dizia e lembrava do nosso tempo de
Assembléia Legislativa, recordava-me eu que votamos naquela ocasião vários
projetos polêmicos. Isso foi no momento em que a onda privatizante assolou o País
e lá se voltou o processo de privatização da CRT. No contexto dessas questões,
também foi encaminhado o projeto que criava a agência reguladora.
Dessa forma, o debate se deu muito claro e muito forte na questão da
privatização. Pouco se discutiu a lei que criava a agência reguladora. Felizmente,
tivemos, e apesar disso, uma lei que criou uma agência reguladora no Estado de
alta qualificação e amplamente democrática, o que nos possibilita, portanto, avançar
muito nas questões do controle social e da parte da integração com a própria
sociedade.
Quero dizer, inclusive, da busca, Deputado Henrique Fontana, e isso tem
pautado a minha manifestação de não ideologizar as discussões, porque se fosse
pensar no processo lembraria que votei taxativamente contra, naquela ocasião,
todos os projetos de lei que levavam às privatizações.
Lamento, no entanto, que tanto lá quanto aqui tenham ocorrido questões
inversas. Em vez de criarem os órgãos reguladores, privatizaram aqui e lá. E daí os
órgãos reguladores, Deputado, herdaram contratos firmados pelo Governo,
contratos esses que pautam –– já disse isso em outra audiência, com a presença do
Deputado Mauro Passos –– como se dá o cálculo tarifário. Ali diz qual a equação
econômica, qual o indexador, quando se dá o reajuste e em que período se dá a
revisão. Isso está no contrato.
Não cabe às agências –– isso precisa ser dito, até para clarificarmos as
questões, pois lembro-me bem que o Deputado Alberto Goldman ou o Deputado
Resende, não me recordo quem, mas fizeram brilhantes intervenções, perguntou
quem fixava a tarifa. Por exemplo, a ANP não fixa a tarifa do petróleo. Quem fixa a
tarifa de energia elétrica são os contratos que estão ali e que pautam como se dão
as regras e como devem ser.
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Dessa forma, podemos culpar as agências reguladoras talvez de não terem
ainda interagido com a sociedade...
(Não identificado) - No caso do petróleo, é a PETROBRAS.
A SRA. MARIA AUGUSTA FELDMAN - Pois é, não é a ANP. É isso que
estou dizendo. Assim como o da energia elétrica os contratos pautam. A agência
confere os cálculos e homologa ou fixa. Então, pode-se reclamar das agências, por
exemplo, que elas não estão interagindo com a sociedade, pode-se reclamar todas
as questões que são pontuadas e que parece claro. É preciso buscar um controle
social maior. Isso é necessário.
Não digam, porém, que as agências reguladoras, hoje, são culpadas pelo
abusivo percentual das tarifas no bolso do trabalhador. É bom conceituarmos isso
para ficar claro quais as nossas culpas, dos reguladores, e quais são as nossas
conseqüências, como reguladores.
Continuamos a reafirmar a nossa contribuição como dirigentes, vejam bem,
de agências reguladoras.
Contribuímos possivelmente para um momento em que não sejamos mais
reguladores, para um aperfeiçoamento, porque os nossos mandatos têm tempo e
prazo, e alguns se concluem este ano. Outros, no próximo ano e assim
sucessivamente. Contribuímos para uma discussão com o nosso compromisso de
cidadãos, com o nosso compromisso com a instituição pública. Não estamos aqui
para contribuir no sentido de assegurar privilégios ou benesses aos reguladores.
Gostaria de deixar claro, neste contexto, que esta é uma contribuição limpa,
de cidadãos que querem, pela experiência e pela vivência, ajudar nesse
aperfeiçoamento. Repito, somos favoráveis, sim, ao aperfeiçoamento do projeto e do
próprio modelo regulatório. As leis, repito, são votadas. Na sua vivência, na sua
prática é que se demonstram as correções que devem ser feitas, os ajustes que
devem ser feitos.
Deputado Henrique Fontana e Deputado Relator, estamos portanto com um
claro desejo de contribuir. Somos parceiros para o aperfeiçoamento e, digo, sem
paixões.
Tentando fugir, se possível, da questão da ideologização, cabe perguntar: se
assegurada a transparência por sessões públicas, na lei, se garantido, se efetivado
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um plano de trabalho definindo claramente, quais são as políticas do Executivo e
quais as aprovadas pelo Legislativo que deverão ser implementadas num processo
regulatório? Isso está claro ou está posto? Se está posto e está claro, à agência, por
lei, cabe regulá-las. Se o controle social for bem exercitado e bem definido, se a lei
que define, que estabelece os elementos qualitativos que o Deputado Alberto
Goldman pegou muito bem para as agências e para o Executivo estiver também
efetivada, por que um contrato de gestão?
O Dr. Luiz Alberto dos Santos, como já foi dito, inclusive pelo trabalho citado
pelo Deputado Ricardo Barros, diz claramente que o contrato de gestão mostrou
ineficácia. Então, não pode ser isso uma experiência positiva para pautar o projeto
de lei das agências reguladoras. O Dr. Eros Grau afirma a inconstitucionalidade.
Já respondendo, Deputado Leonardo Picciani, pelo que entendo, tudo isso
posto, a lei determina quais as competências do órgão regulador. Se o Poder
Executivo define, e é competência dele definir quais são as políticas públicas, e se a
lei nos pauta em relação às competências, o contrato de gestão não é uma
necessidade para a sociedade, não é uma necessidade para o regulador, ela é
simplesmente uma demarcação de uma posição política, e não mais que isso –– se
me permitem a franqueza que me é habitual.
O contrato de gestão é para quem? Por que não um controle efetivo? E mais:
por que a supressão, pergunta o Deputado Picciani? Primeiro, pela ineficácia já
comprovada e dita aqui. Quer dizer, o contrato de gestão tem 3 agências
reguladoras nacionais –– a ANVISA, a ANS e a ANEEL ––, sendo que a ANEEL
assinou uma única vez, o primeiro ano, e nunca mais, inclusive neste Governo. Para
que o contrato de gestão? Pela ineficácia, pela ausência de objetivos, já que a lei é
clara, e pela inconstitucionalidade. Não há sentido se não demarcarmos, porque a lei
está sendo aperfeiçoada nesta Casa, os pontos essenciais, e espero que assim
seja, e assim queremos todos. É só uma questão de demarcação de posição. E para
quê? Demarcar posição para quem? Com relação às agências reguladoras, cujos
mandatos dos novos reguladores estão findando, para quem?
Quanto ao déficit democrático apontado em alguns momentos, destaco que
não há dúvidas. Este é um País em que o déficit democrático, a relação com a
sociedade ainda deixa muito a desejar, o que precisa, sem dúvida, ser corrigido, e
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para todos, inclusive para todos os órgãos de Governo. Até hoje, por exemplo, a
ABAR não recebeu — e imagino que outros não tenham recebido ainda — as
considerações sobre as contribuições que foram encaminhadas por nós à consulta
pública. Quer dizer, o que foi aproveitado e por quê? E o que não foi aproveitado e
por quê?
Essa necessidade da motivação, da informação e da transparência deve
pautar todos os órgãos públicos.
Deputado Mauro Passos, achei V.Exa. extremamente espirituoso com a
questão do bisbilhoteiro, rebatendo as minhas colocações, a partir...
(Intervenção inaudível.)
A SRA. MARIA AUGUSTA FELDMAN - Acho que é muito interessante
realmente a bisbilhotice informal. Aquela que fazemos é muito interessante. Mas o
Brasil precisa de ouvidores, não de bisbilhoteiros; ouvidores que exijam
competência, que tenham definições claras de seu papel, que tenham a
responsabilidade de informar não apenas ao usuário, mas também à agência os
problemas que ocorrem.
É bem-vinda a criação do cargo de ouvidor, que auxilia nesse processo. Mas
é preciso também destacar que, numa agência de regulação, o ouvidor possui papel
diferenciado da relação com a empresa privada. Numa agência reguladora, o
ouvidor atua ao ouvir as demandas da sociedade para encaminhar as questões, mas
apenas quando essas questões não são resolvidas pela concessionária. Ele informa
ao usuário seus direitos e como deve proceder, e, se a concessionária não lhe der
abrigo, ele retorna à agência reguladora para buscar solução e mediação. É
necessário, sem dúvida, um ouvidor competente, com todas as relações que
definimos anteriormente.
A questão do controle é tão evidente, e foi citada pelo Deputado a questão do
TCU na ANEEL. Vejam V.Exas., há controle, porque, se não houvesse, não haveria
manifestação do TCU nesse sentido, que realiza auditorias operacionais
extremamente importantes. Isso inclusive possibilita o contraditório, possibilita à
ANEEL se explicar, posto que apresentou recurso e considerações.
Já me referi às contribuições e à questão de tarifa, assim como aos órgãos
consultivos.
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Deputado Henrique Fontana, V.Exa. pontuou bem a questão do fugir do viés
ideológico e sua dificuldade. A pergunta de V.Exa. foi fundamental. Defendemos,
sem dúvida, a autonomia. E como isso é feito? Com os limites das competências
determinados por lei, é claro. A independência e a autonomia têm limites legais. Mas
como se apresenta e como se garante? Essa é a grande questão. Tenho certeza de
que V.Exas., que têm aperfeiçoado e aprimorado diferentes projetos, encontrarão
esse caminho.
É importante também dizer que, até 1997, a regulação era exercida somente
pelos órgãos do Executivo. E nem por isso, naquela ocasião, havia tarifas maiores
ou menores. Elas ficavam, às vezes, ao viés da vontade política do governante, se
estava ou não numa época eleitoral, o que justamente dava insegurança aos
investidores. Portanto, temos de tratar desse assunto com muito carinho. Neste
momento, surgiram os reguladores e as agências reguladoras, o que, sem dúvida, é
um novo modelo. E, como todo novo modelo, precisa de aperfeiçoamento.
Concluindo minha intervenção, quando abrimos o Congresso de Regulação
no Sul, fiz uma introdução, que vou ler, mostrando a necessidade de institutos fortes:
“A história ensina que a grandeza das nações é o resultado do amadurecimento de
suas instituições e que todo processo de desenvolvimento social, cultural,
econômico e político passa necessariamente pela busca da consolidação
institucional”.
É essa a questão. As agências reguladoras têm 6 anos e começaram, como
bem disse o Dr. Luiz Alberto dos Santos, com dificuldades estruturais, de pessoal e
de recursos. Nessa caminhada, enfrentaram o desafio de tentar buscar e atender, da
melhor forma possível, a aliança que possui com os três setores, os três segmentos:
o usuário, os delegatários e o poder concedente. E essa consolidação só ocorre
efetivamente — esse é o desafio — com instituições fortes que necessitam ser
respeitadas, por meio de suas competências, e fortalecidas. As agências
reguladoras se fortalecem através dos instrumentos regulatórios e não através de
contrato de gestão. Elas se relacionam e se fortalecem através dessa relação com a
sociedade, que é o que vai legitimá-las.
Deputado, esse é também o desafio dos reguladores, é justamente a
legitimação na sociedade, que só se dará quando a regulação for do entendimento
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de todos, porque parece que as pessoas ainda não sabem o que é regulação e qual
o papel do regulador. Portanto, enquanto esse papel não for reconhecido, Deputado,
a própria interação com a sociedade se tornará difícil.
Para instrumentos regulatórios fortes, efetivos, para buscar essa interação
com a sociedade e para concluir e efetivar seu papel com qualidade, elas precisam,
sim, da garantia de recursos financeiros, dos seus recursos próprios. E essa é uma
outra questão à qual precisamos nos referir. Se as taxas de fiscalização são
elevadas ou sobram para a atividade regulatória — e acho que esse é o ponto que
precisamos destacar, Deputado —, são cobradas na tarifa que advém do serviço
prestado pelo usuário, grande parte delas. Se cobram 0,5% de tarifa, no caso da
ANEEL, por exemplo, que é a taxa de fiscalização, e isso não está sendo usado
para a atividade regulatória, que se reduzam essas tarifas, mas que o Poder Público
não sacrifique mais uma vez o usuário, argumentando que a tarifa será elevada se
não for feito esse reembolso ao usuário ou não diminuírem a tarifa, porque não há
sentido em a população pagar mais uma taxa que não será utilizada para regular,
para garantir a qualidade do serviço público.
Obrigada, Deputado Henrique Fontana, Sr. Relator.
Cumprimento o Dr. Luiz Alberto dos Santos e agradeço aos Srs. Deputados a
paciência.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Henrique Fontana) - Nós é que agradecemos
à Presidenta da Associação Brasileira de Agências Reguladoras, Sra. Maria Augusta
Feldman.
Concedo a palavra ao Sr. Luiz Alberto dos Santos.
O SR. LUIZ ALBERTO DOS SANTOS - Mais uma vez, agradeço a
oportunidade de estar aqui hoje contribuindo com os trabalhos da Comissão.
Registro o elevado nível da discussão, principalmente das contribuições feitas, em
especial as que partiram dos Srs. Deputados Ricardo Barros, Alberto Goldman e
Mauro Passos.
Quanto às primeiras ponderações feitas pelo Deputado Ricardo Barros em
relação às emendas, é óbvio que sua análise é uma tarefa que cabe ao Relator e à
Comissão, mas gostaria de externar rapidamente algumas considerações referentes
às emendas destacadas por S.Exa.
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Em primeiro lugar, em relação à Emenda nº 35, que trata da relação entre os
órgãos de defesa da concorrência e as agências reguladoras, parece, a princípio,
que a proposta não seria adequada, tendo em vista que as consultas e as
audiências públicas evidentemente são abertas a quaisquer interessados. Não
haveria necessidade alguma de convidar os órgãos do Sistema Brasileiro de Defesa
da Concorrência para se manifestarem ou para participarem de uma audiência ou de
uma consulta pública, as quais, por definição, repito, são abertas a quaisquer
interessados. Mas, no âmbito da administração pública, parece conveniente e
prudente, do ponto de vista do processo de formulação de uma norma, que os
órgãos de defesa da concorrência possam, sim, ser ouvidos previamente, até para
evitar que, por alguma impropriedade na formulação, venham a colocar em debate
ou em discussão norma com reduzida capacidade de implementação. Assim, creio
que a precaução do projeto é no sentido de se evitar processo de consulta ou de
audiência que, no fim, fira alguma questão realmente estratégica de fundo em
relação à defesa do consumidor ou defesa da concorrência.
Quanto à Emenda nº 36, que trata das consultas públicas, acredito que a
preocupação de V.Exa. ao destacá-la, embora nobre, não tem relevância ou
necessidade muito grande, porque, de fato, são situações distintas. As audiências e
consultas não se confundem, possuem finalidades específicas e, por isso, não
haveria substituição de uma pela outra. Pode haver casos em que a consulta é
suficiente, outros casos em que são necessárias a consulta e a audiência e outros
em que basta a audiência. Caberá à própria agência, no exercício da sua
competência, avaliar e realizar ambas ou apenas uma delas.
Quanto ao conteúdo da Emenda nº 40, de fato, já é competência do
Congresso Nacional e do Tribunal de Contas da União exercer as funções de
controle externo. Não me parece indispensável fazer previsão legal em relação a
isso. No entanto, não creio também haja prejuízo em que se explicite essa
obrigatoriedade. Lembro-me de que, ano passado, em certa ocasião, o
Ouvidor-Geral da Câmara dos Deputados, Deputado Luciano Zica, membro desta
Comissão, promoveu seminário internacional com a participação de outros países
para discutir o tema das agências reguladoras. E pareceu-me realmente
surpreendente que houvesse leitura por parte de alguns participantes de que as
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agências não estavam sujeitas ao controle externo do Tribunal de Contas da União,
quando isso é uma derivação óbvia do próprio texto constitucional. Embora não seja
indispensável, não haveria problemas de se trabalhar por uma definição legal nesse
sentido.
Quanto à questão do ouvidor, de que trata a Emenda nº 56, mas há várias
outras, manifestei previamente, num debate promovido pela TV Câmara, que não há
problema. Creio que nenhum representante do Governo que estivesse em meu lugar
diria que há problema em o mandato do ouvidor ser de 2, 3 ou 4 anos, ou que a
figura do ouvidor, para sua legitimação, devesse passar pelo processo de aferição
pelo Congresso Nacional ou por uma das Comissões da Câmara dos Deputados ou
do Senado Federal. É um aspecto que merece, sim, discussão no âmbito da
Comissão e que, se acolhido, também não fere e não atinge a intenção do Poder
Executivo. Pelo contrário, penso que contribui.
Em relação à Emenda nº 121, do Deputado Eliseu Resende, que trata da
transferência de receitas para agências que realizam convênios, parece-me que
essa previsão já está contemplada no projeto de lei. Não percebi, numa leitura
rápida que fiz, a necessidade de mais alguma previsão nesse sentido, porque me
parece que o texto do projeto prevê isso e coloca, é óbvio, como uma faculdade. Vai
depender desse instrumento de cooperação. Lembro, inclusive, que o Poder
Executivo está ultimando preparativos para encaminhar ao Congresso Nacional
projeto que dispõe sobre a figura do consórcio público, previsto no art. 241 da
Constituição. A gestão associada de serviços públicos certamente vai contribuir com
suas diretrizes para fomentar e fortalecer as relações de cooperação entre os entes
federativos.
Com relação ao contrato de gestão, V.Exa. se referiu a trabalho de minha
autoria, do qual muito me orgulho, pois foi um trabalho premiado internacionalmente.
Na ocasião, fiz uma análise da utilização de contratos de gestão no âmbito da
administração pública brasileira, a partir da experiência internacional, e constatei
exatamente que o contrato de gestão é positivo e importante, mas muito mal
empregado, muito mal colocado. A previsão legal dos contratos de gestão e a forma
como são regulamentados, tanto em decreto como nos próprios instrumentos que o
instituíam, era de que o contrato de gestão não era explorado em sua plenitude
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como forma de associar autonomia com desempenho. Era uma cortina de fumaça.
Eles diziam: “Dei autonomia e firmei um contrato de gestão, e pronto”. No caso das
agências reguladoras, parece que houve realmente um problema em relação à
formulação desses contratos de gestão inicialmente, tanto que acabaram, em alguns
casos, não tendo continuidade, embora a lei assim exija. Em outros casos não. É o
que a experiência tem demonstrado, não apenas no Brasil, como também nos
Estados Unidos, que utilizam contratos de gestão, inclusive para agências
reguladoras, como a Security Change Comission, que utiliza contratos regularmente
para várias instituições. Eles têm demonstrado, sim, grande utilidade e validade. É
uma experiência que o Brasil pode e deve ter. Não devemos nos envergonhar de
aprender a fazer contrato de gestão. Se ainda não sabemos fazer bons contratos de
gestão, não quer dizer que não possamos aprender, inclusive com nossa própria
experiência. E há situações do passado, como, por exemplo, na Vale do Rio Doce e
na PETROBRAS em que os contratos de gestão não foram bem utilizados, mas
temos a experiência francesa, riquíssima em relação a esses contratos, além das
próprias experiências britânica e americana. Na América Latina mesmo, temos
experiências de países que iniciam a realização de contratos de gestão com
agências reguladoras típicas. Não estou falando de agências executivas. Às vezes,
surgem certas confusões conceituais para dizer que o contrato de gestão pode,
desde que não seja em agência reguladora de serviço público, agência reguladora
típica.
É preciso superar esse déficit de experiência, aperfeiçoar o que sabemos
sobre contrato de gestão e explorar as potencialidades desse instrumento não
apenas para legitimar a relação entre a agência e o Executivo e a autonomia que a
lei concede, mas também para realmente dar maior transparência e maior eficiência
à sua atuação.
Quanto ao questionamento do Deputado Alberto Goldman sobre o poder
concedente, lembro a V.Exa. que a alteração feita no art. 18 da Lei Geral das
Telecomunicações é absolutamente compatível com a previsão de que a
competência de poder concedente seja restabelecida ao Ministério. Veja V.Exa. que
o art. 19 da lei em vigor, em seu inciso IV, diz que é competência da agência expedir
normas quanto à outorga, prestação e fruição de serviços de telecomunicações.
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Ora, a agência, ela mesma é hoje a concedente, ela mesma normatiza aquilo
que concede. Quando essa competência volta ao Poder Executivo na proposta de
projeto de lei, o poder concedente volta ao Poder Executivo, à administração direta,
é natural que a competência para expedir normas para outorga também volte. É
apenas uma questão de paralelismo. Permanece no texto do art. 19, inciso IV,
prestação e fruição de serviços de telecomunicações, que é exatamente o que cabe
à agência, ou seja, regular a prestação e a fruição dos serviços, já que entendemos
que o poder concedente deve ser restituído à administração direta.
Portanto, aquilo que parece, à primeira vista, ser absurdo quanto às normas,
refere-se à uma competência que entendemos ser da administração direta.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Henrique Fontana) - Dr. Luiz Alberto,
concede-me V.Sa. um aparte só para complementar a pergunta? Por que constam
as outorgas em regime público e não as em regime privado?
O SR. LUIZ ALBERTO DOS SANTOS - Essa foi uma discussão que nos foi
trazida, inclusive, por técnicos que atuam nessa área, lembrando que a
complexidade e a quantidade mesmo de atos de permissão, de autorização em
regime privado, é muito grande e não envolve, de fato, aquele caráter estratégico
político existente no regime público. Assim, concordamos em fazer essa separação
para evitar que o próprio Ministério ficasse assoberbado com centenas, talvez
milhares, de atos administrativos em que o interesse público não está tão
materializado, tão evidente em relação aos seus aspectos políticos quanto no caso
de uma outorga, de uma concessão de exploração de serviço público. Foi essa a
concepção que orientou a separação feita pelo projeto.
Quanto às considerações do Deputado Alberto Goldman em relação à
legitimidade política, sobre o que o Relator também questiona, de forma nenhuma é
nossa interpretação que o Legislativo não esteja legitimado politicamente. Muito pelo
contrário. A natureza do sistema de freios e contrapesos é exatamente essa: os
poderes têm a mesma legitimidade. Inclusive, o caso do Poder Judiciário, que não é
eleito. Ele tem a legitimidade derivada da própria Constituição. Mas entendemos que
cada Poder deve exercer as competências que lhe são específicas.
Hoje tramitam, no âmbito do Congresso Nacional, inúmeras proposições que
trabalham com a reconceituação das competências dos poderes. Há propostas de
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emenda constitucional, como a de nº 65 e outra de autoria do Deputado Fleury, se
não me engano, que propõe a transferência das agências reguladoras do Poder
Executivo para o Poder Legislativo. Nesse caso, parece-me estaria havendo certo
desvirtuamento da competência de cada poder.
Mas, enfim, são idéias e debates que estão ocorrendo simultaneamente e que
derivam, de certa forma, de alguns episódios da experiência internacional, portanto,
não é algo tão absurdo, embora, no caso da Constituição da República Federativa
do Brasil e do sistema por ela adotado, pareça-nos exorbitante atribuir competências
executivas ao Poder Legislativo, como, de certa forma, também é exorbitante,
embora previsto originariamente na Constituição, a competência legislativa atribuída
ao Poder Legislativo. Mas essas são opções do Poder Constituinte originário e que,
inclusive, foram objeto de reforma, exatamente para reduzir o espaço de legislação
do Poder Executivo.
O Deputado Mauro Passos fez considerações muito importantes, com as
quais concordo absolutamente. Lembro, inclusive, Deputado, que a experiência, não
apenas no Brasil, mas também em alguns outros países, demonstra que as
agências, exatamente por serem vulneráveis à captura, por vezes tendem a adotar
interpretações favoráveis ao setor que as captura, o que se reflete também na
adoção de interpretações quanto aos contratos, por exemplo, na política tarifária,
onde se reajusta o contrato, não com base na interpretação, digamos, tecnicamente
neutra, mas naquela que atende a determinado interesse. Assim, não nos podemos
iludir com a idéia da neutralidade técnica, porque ela sempre pode estar enviesada
ou ideologicamente ou por algum interesse econômico.
Portanto, controle social nunca será demais quando tivermos instrumentos de
tamanha envergadura e de tamanho poder derivados de lei, seja do Executivo, seja
das mãos de um Ministro, seja das mãos da própria agência.
O Deputado Henrique Fontana registrou a importância de não cometermos
alguns equívocos, a importância de fugirmos ou não ou de reconhecermos a
existência dessa questão ideológica.
Para salientar e encerrar minha rápida colocação, gostaria de dizer que o
Presidente da República evidentemente possui concepções ideológicas, como todos
nós, mas procuramos contornar as eventuais dificuldades oriundas de visões desse
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ou daquele tipo para formatar projeto de lei que deixe mais claro, mais transparente,
o interesse público e a necessidade de que as agências reguladoras cumpram
funções de Estado. Não é inovador, justamente porque a cada Presidente da
República compete escolher dirigentes, que a escolha dos dirigentes de certa forma
reflita o viés ideológico do Governo. Mas o fato de os mandatos não serem
coincidentes, de não terem cada um dos Presidentes da República a prerrogativa de
nomear todos os dirigentes das agências, garante a elas menor vulnerabilidade nas
injunções ideológicas. Porém, não nos podemos esquecer de que estamos numa
sociedade pluralista, em que a democracia se traduz exatamente nas diferentes
visões ideológicas e que, portanto, temos de conviver com elas e procurar evitar que
interfiram em nossa meta maior, sem também esconder e dizer que não existe
ideologia em tudo isso.
Agradeço a todos. Desculpem-me por não poder responder a todas as
questões, mas os debates certamente contribuirão muito mais do que minhas
ponderações.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Henrique Fontana) - O Presidente quer fazer
uma proposta que normalmente não é bem aceita pelos Srs. Parlamentares.
O SR. DEPUTADO ALBERTO GOLDMAN - Então não faça. (Risos.)
O SR. PRESIDENTE (Deputado Henrique Fontana) - (Risos.) Estou correndo
o risco da impopularidade, neste momento, como, às vezes, acontece.
É evidente que o assunto é apaixonante e interminável. Mas temos condições
de entrar num acordo e encerrar esta sessão sem o uso das réplicas por parte dos
Srs. Parlamentares.
O SR. DEPUTADO ALBERTO GOLDMAN - Sr. Presidente, não quero usar o
direito de réplica, mas gostaria de usar meio minuto.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Henrique Fontana) - O Presidente tem de
atender a uma demanda dessa.
O SR. DEPUTADO ALBERTO GOLDMAN - Dr. Luiz Alberto, entendo que a
competência de dar outorgas é do Executivo ou é da agência. A fórmula adotada é
que me parece absurda. A competência é do Executivo, mas ele pode delegá-la à
agência. Ou construímos nosso conhecimento nessa área no Ministério ou
construímos a agência. Não dá para fazer as duas coisas. Ou decidimos que é do
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Ministério e, assim, passamos tudo para o Ministério fazer, que é uma posição
política da qual discordo, embora seja compreensível, ou é da agência. Não dá para
continuar com essa posição tipo Frankenstein: pode dar, dá, mas quem pode decidir
é o Poder Executivo e não o Congresso. E, se der, pode tirar a qualquer momento.
Mas creio que isso não vai dar certo.
O SR. DEPUTADO RICARDO BARROS - Sr. Presidente, realmente o
diagnóstico é sempre o mesmo, o que muda é o remédio, por isso é que os
Governos se alternam. Todo mundo sabe quais são os problemas, alguns querem
resolvê-los de uma forma e outros de outra. Por essa razão, citamos sempre o viés
ideológico apresentado pela proposta e gostaríamos de diminuí-lo ao máximo para
podermos seguir em frente.
Agradeço também aos 2 convidados. Para uma audiência em que os
convidados apresentaram posições divergentes, até que chegamos a uma solução
tranqüila, sem deixar de respeitar as posições contrárias.
Muito obrigado, Sr. Presidente.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Henrique Fontana) - Como não podia deixar
de ser quando há 2 democratas debatendo um assunto.
Nobre Deputado Ricardo Barros, os 30 segundos do Presidente, neste
encerramento, não é questão de retirar o viés ideológico. Talvez o desejo do
Deputado Ricardo Barros seja o de aproximar o projeto de lei final do viés ideológico
que ele tem. Normalmente, quando retiramos, parece que um tem e o outro não, e,
na verdade, esse transita com o viés ideológico mais para lá ou mais para cá.
Com a palavra o Deputado Mauro Passos.
O SR. DEPUTADO MAURO PASSOS - Sr. Presidente, vou falar porque fui
citado algumas vezes, do contrário, ficaria prejudicado.
Vou aproveitar as palavras de V.Exa. Por que estamos discutindo e por que a
necessidade do remédio? Isso tem que ficar claro, porque, da forma como foram
concebidas, as agências não estavam funcionando. Quem reside no Rio Grande do
Sul não pode aceitar aquele pedágio a 12 quilômetros que alcança praticamente
dois terços. Quem vai a Uruguaiana paga pedágio, quem vai a Rio Grande paga
pedágio. Por que a ANEEL, que sabia que o problema de Florianópolis estava
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reduzido a uma ponte há muitos anos, depois soube aplicar a multa de 8 milhões?
No entanto, convivemos com o maior blecaute que uma capital do Brasil já teve.
O Presidente da ANEEL, que compareceu a um audiência pública nesta
Casa, quando se falou que não era possível um contrato de gestão, apresentou a
situação da AES, em São Paulo, que é o inverso de qualquer contrato de gestão, é a
falência de uma empresa atuando na maior metrópole da América do Sul.
Por que a Agência Nacional do Petróleo, na semana passada, reconheceu
que não estava identificando a verticalização dos postos, que a Esso e a Shell
estavam descumprindo a legislação e não agiu? Por que, se formos a Manaus
verificar a relação da El Paso com a empresa que hoje distribui energia em Manaus,
também não vamos verificar a ausência de agência lá? Se formos ao Nordeste,
vamos verificar que há 42 usinas térmicas paradas, custando-nos — e está na
conta de cada um — 2,4 bilhões por ano. Isso não tem relação com a agência?
Existe sim a necessidade de um novo remédio, Sr. Presidente.
O SR. DEPUTADO ALBERTO GOLDMAN - V.Exa. está misturando algumas
coisas.
O SR. DEPUTADO MAURO PASSOS - No detalhe, sim, mas no geral, não.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Henrique Fontana) - Obrigado, Deputado
Mauro Passos. Debate sempre é bom e construtivo. Uma boa-tarde e uma boa-noite
a todos.
Quero aproveitar para agradecer a presença a tantas pessoas interessadas
neste debate e convocar nova reunião para amanhã, às 14h30min, para que
continue esse belo debate entre os Deputados Alberto Goldman e Mauro Passos.
(Não identificado) - Sr. Presidente, esse horário de 14h30min é muito
complicado. Amanhã vai haver umas 4 ou 5 reuniões no mesmo horário. Sugiro a
V.Exa. que marque a reunião para mais cedo ou mais tarde.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Henrique Fontana) - Os nossos convidados
já estão confirmados para este horário. Esse tem sido o horário permanente e usual
das nossas reuniões. Então, amanhã, às 14h30min.
Está encerrada a reunião.