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CÂMARA DOS DEPUTADOS
DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E REDAÇÃO
NÚCLEO DE REDAÇÃO FINAL EM COMISSÕES
TEXTO COM REDAÇÃO FINAL
COMISSÃO ESPECIAL - REFORMA TRABALHISTAEVENTO: Audiência Pública N°: 2215/03 DATA: 14/11/03INÍCIO: 10h TÉRMINO: 13h45min DURAÇÃO: 3h45minTEMPO DE GRAVAÇÃO: 3h46min PÁGINAS: 68 QUARTOS: 45
DEPOENTE/CONVIDADO - QUALIFICAÇÃONIVALDO SANTANA - Deputado à Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo.HAMILTON PEREIRA - Deputado à Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo.JOÃO GUILHERME - Consultor Sindical.ALTAMIRO BORGES - Jornalista, editor da revista Debate Sindical.SÉRGIO MENDONÇA - Diretor-Técnico do DIEESE.ANTONIO CARLOS DOS REIS - Presidente da CGT.WAGNER GOMES - Vice-Presidente da CUT.ANTÔNIO NETO - Presidente da Central Geral dos Trabalhadores Brasileiros — CGTB.VANDERLEI - Representante do sindicato dos Frentistas do Estado de São Paulo.LINEU NEVES MAZANO - Presidente da Federação dos Sindicatos dos Servidores Públicos do
Estado de São Paulo.JEFERSON BARBOSA - Representante do Fórum Sindical dos Trabalhadores.PAULO SABÓIA - Representante da CGTB.JOÃO BOSCO - Representante do SINDALESP.HUMBERTO - Representante do Sindicato dos Servidores Públicos Municipais de Sorocaba,
Estado de São Paulo.FRANCISCO CALAZANS - Presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Hotéis, Bares e
Restaurantes.FRANCISCO SOARES DE SOUZA - Representante dos frentistas de Campinas e região.
SUMÁRIO: Debate sobre reforma trabalhista e sindical.
OBSERVAÇÕESReunião realizada na Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo.Há um orador não identificado.
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O SR. PRESIDENTE (Deputado Jamil Murad) - Dando início a esta audiência
pública, solicitamos à assessoria que chame o Dr. João Guilherme e o Dr. Altamiro
Borges, presentes na Comissão há mais de 1 hora, mas que foram tomar um
cafezinho. Solicitamos, então, que os sindicalistas tomem posição à Mesa. Pedimos
que convidem o Deputado Nivaldo Santana. Dentro de instantes, o Deputado
Pannunzio e eu nos apresentaremos. (Pausa.)
Companheiras e companheiros, bom dia. Convidamos o Deputado Nivaldo
Santana, que neste instante representa a Comissão de Relações de Trabalho e
Emprego da Assembléia Legislativa de São Paulo, para fazer parte da Mesa.
(Palmas.)
Temos a informação de que o Deputado Estadual e Presidente da Comissão
de Relações do Trabalho Hamilton Pereira está chegando de viagem e virá direto
para o nosso plenário.
A Comissão Especial da Reforma Trabalhista da Câmara dos Deputados de
Brasília designou-me, assim como o Deputado Antonio Carlos Pannunzio, do PSDB
de São Paulo, para coordenar a audiência pública sobre a reforma trabalhista e
sindical que está em debate no País.
Consideramos, companheiros, que existiu, nos últimos anos, uma intensa
guerra de opinião, que quis colocar no ombro do trabalhador, além da maior parte da
crise econômica, o desemprego, a precarização do trabalho. O motivo da crise, um
dos obstáculos ao desenvolvimento, ao crescimento econômico e à geração de
novos empregos era o direito do trabalhador. Por isso, houve uma guerra de opinião
para remover mais direitos.
Dizia-se que a organização sindical, isto é, a união dos trabalhadores,
prejudicava o desenvolvimento do Brasil, o crescimento econômico, a geração de
empregos. Em outras palavras, não era o modelo econômico que privilegiava o
capital financeiro; não eram os juros astronômicos que inibiam e bloqueavam a
atividade empresarial; não era a dívida pública; não eram os enormes recursos
drenados para o exterior; não era a interferência do Fundo Monetário Internacional
que inibia e muitas vezes proibia investimentos até mesmo de empresas que
fizessem investimento. Não eram esses os motivos da crise brasileira; eram, sim, os
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direitos do trabalhador, a união dos trabalhadores em torno de seus sindicatos,
federações, confederações, centrais sindicais.
O assunto veio à tona na forma de uma proposta de reforma trabalhista e
sindical. E qual é a reforma trabalhista e sindical? Uma reforma trabalhista e sindical
no bojo de um novo Governo, eleito com a proposta de mudar o rumo do Brasil, em
busca de desenvolvimento econômico, incentivo à produção, criação de emprego,
distribuição de renda, valorização do trabalho.
Então, se é essa a pauta, se é essa a agenda, se vamos seguir esse rumo,
nós, trabalhadores e representantes dos trabalhadores na Assembléia Legislativa,
como o Deputado Nivaldo Santana, e na Câmara dos Deputados, como o Deputado
Antonio Carlos Pannunzio e eu, queremos saber como vamos interferir nesse
processo para impedir que as forças adversas ao trabalho, à produção, à distribuição
de renda, ao crescimento do mercado interno e à remoção das desigualdades
sociais façam uma reforma contra nós, contra os trabalhadores. É para isso que esta
audiência pública está sendo realizada.
Audiências públicas estão sendo realizadas pelo Brasil afora para dinamizar o
debate, o esclarecimento, a conscientização e a união das lideranças sindicais, uma
vez que os direitos que serão garantidos ou removidos atingirão todas as categorias.
Por isso há necessidade de união, e a união faz a força.
Por isso estamos aqui. Esta audiência pública é para esclarecer, mobilizar,
contribuir para a união, para remover arestas, para nos unir em torno de uma
plataforma comum.
Notem que o Governo Lula deseja a participação dos trabalhadores nesse
processo. Então, formou-se o Fórum Nacional do Trabalho, que tem sindicalistas,
empresários, operadores do Direito e outros setores para debater e formular uma
proposta. No próprio Congresso Nacional existem inúmeros projetos de Deputados
para a reforma trabalhista ou para a reforma sindical. Nesta semana, ainda foi
debatido importante projeto de redução da jornada de trabalho, do Deputado Inácio
Arruda, do PCdoB, meu partido, e do Deputado Paulo Paim, do PT do Rio Grande
do Sul. Com isso, seriam criados 2 ou 3 milhões de empregos.
A reforma trabalhista nos favorecerá ou nos prejudicará? Se for para nos
prejudicar, já nos prejudicou muito. Está na hora de valorizar o trabalho. Esse é o
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novo rumo, foi para isso que elegemos o Governo. Temos confiança de que vamos
caminhar nesse sentido, desde que participemos, lutemos. Temos de formar uma
grande corrente para garantir a unicidade sindical, os meios de sobrevivência das
entidades sindicais; temos de garantir a redução da jornada de trabalho, a
legalização das centrais sindicais. Do tempo da ditadura para cá já e com a
Constituinte de 1988 foram feitas mudanças. Naquele tempo, para um trabalhador se
organizar em sindicato, ele tinha de pedir benção não sei para quantos bispos, não
sei para quantos papas de Brasília, Ministros, etc. Agora há mais liberdade. Fazer
greve era considerado um crime. Quantos, mesmo neste plenário, foram presos
porque estavam organizando seus companheiros para defender direitos?
Esse é o processo, e por isso estamos realizando esta audiência pública.
Convido para fazer parte da Mesa o Prof. João Guilherme, consultor sindical
de largo conhecimento da matéria, um homem respeitadíssimo no meio sindical
pelas suas posições lúcidas em defesa do progresso. (Palmas.) Convido ainda o
jornalista e dirigente do Centro de Estudos Sindicais, fundador e editor da revista
Debate Sindical, Altamiro Borges, que deu larga contribuição ao longo dos anos em
defesa dos trabalhadores do Movimento Sindical. (Palmas.)
Foi convidado também outro debatedor que até ontem à noite estava na
Argentina, mas já chegou, o Sr. Sérgio Mendonça, do DIEESE. (Palmas.) Agradeço
o esforço.
Nossa Mesa é qualificada, composta por pessoas que entendem do assunto,
que tratam do tema todos os dias, na teoria e na prática, e que certamente trarão até
nós opiniões e atualizações de grande valia para o movimento sindical, o que nos
permitirá tirar conclusões que levaremos para Brasília, assim como se fará a partir
de outros Estados.
Passo a palavra ao Deputado Antonio Carlos Pannunzio para suas
observações iniciais. S.Exa. apresentará as centrais sindicais já presentes.
Obrigado.
O SR. DEPUTADO ANTONIO CARLOS PANNUNZIO - Bom dia a todos.
Confesso que, agradavelmente surpreso, constato relação bastante
expressiva de organizações sindicais aqui presentes.
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Permitam-me os companheiros de Mesa citar e cumprimentar uma a uma:
Sindicato dos Empregados Vendedores e Vigilantes do Comércio do Estado de São
Paulo, Instituto Teotônio Vilela, Sindicato dos Trabalhadores do Setor de Elétrico e
Eletrônicos, Sindicato dos Metroviários, Sindicato dos Engenheiros, Sindicato dos
Autônomos, Sindicato dos Eletricistas, Sindicato dos Telefônicos, Associação dos
Servidores do Hospital das Clínicas, Sindicato dos Frentistas de São Paulo,
Sindicato dos Marceneiros, Sindicato dos Frentistas de São João da Boa Vista,
Liderança do PTB, CUT, Sindicato dos Frentistas de São José do Rio Preto,
SINTETEL, SINDESPORT de São Paulo, Sindicato dos Hoteleiros, SINDALESP,
Fórum Sindical dos Trabalhadores, Sindicato da Indústria de Laticínios, Comissão
Sindical do PCdoB, Federação dos Trabalhadores no Comércio de Minério,
Sindicato dos Despachantes Aduaneiros, Sindicato dos Servidores Públicos
Municipais, Sindicato das Indústrias de Produtos Alimentícios, Federação da
Agricultura do Estado de São Paulo, Sindicato dos Servidores Municipais de
Sorocaba, SINCRAPEL, Frentistas de Osasco, CGT, Sindicato dos Profissionais de
Educação em São Paulo e ainda o Sr. Vereador Amazonas, o Sr. Porcino,
Presidente da Federação Nacional dos Frentistas, o Sr. Paulo Sabóia, Presidente da
CGTB, e o Sr. Antônio Neto, Presidente da Central dos Trabalhadores do Brasil.
Não sei se deixei de mencionar alguma entidade aqui representada. Se o fiz,
por favor peço que se manifeste.
Em meu nome e em nome do Deputado Jamil Murad, agradeço a presença a
todos, razão de ser desta audiência pública.
Também agradecemos, e muito, a acolhida que tivemos da Assembléia
Legislativa do Estado de São Paulo, em especial a participação do Deputado
Nivaldo Santana, do PCdoB, que, juntamente com o Deputado Hamilton Pereira, que
deve estar chegando, são membros da Comissão de Relações do Trabalho.
Agradecemos, igualmente, ao Prof. João Guilherme, ao jornalista Altamiro
Borges e ao Sr. Sérgio Mendonça, do DIEESE, a presença.
De certa forma, V.Sas. ajudarão a expor as teses e a dar vida ao debate, que
é profundo e toca muito de perto as aspirações das várias categorias de
trabalhadores. Esperamos que aconteça o melhor para o Brasil e para o interesse
dos trabalhadores brasileiros.
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Os temas que deverão predominar nos debates — não estou sugerindo, mas
é a impressão que tenho — referem-se à questão da honestidade, da pluralidade
sindical, da contribuição sindical obrigatória ou não. Finalmente, outro tema que,
sem dúvida alguma, se a Comissão for levar a bom termo o objetivo para o qual foi
criada, será o debate em torno da CLT.
Desde já, até porque sou do PSDB — que agüentou uma barra muito pesada
no final do ano passado, por conta de uma proposta de alteração do art. 618 da CLT
—, quero deixar muito clara a minha posição, que entendo adequada e deva ser
debatida à exaustão, que é a flexibilização da forma de obtenção de direitos.
Faço questão de dizer que, para mim, é muito importante falar em uma
assembléia, em um encontro de trabalhadores e de representantes sindicais. Nós,
do PSDB, não defendemos em nenhum momento a supressão de qualquer direito
trabalhista. Até porque, como sabem bem as senhoras e os senhores aqui
presentes, lei ordinária não pode alterar o texto constitucional. Se todos os direitos
trabalhistas estão garantidos na Lei Maior, é evidente que não se pode ter a
pretensão de, no caso da flexibilização do art. 618 através de lei ordinária, se
proceder a qualquer tipo de supressão desses direitos.
Entendo que esses temas são candentes e não poderemos nos furtar a
debatê-los. Não quero dizer que iremos aprovar isso ou aquilo, mas o debate tem de
vir à tona, sob pena de a nossa audiência pública se tornar inócua.
Sou insuspeito para falar do Governo, porque sou claramente da Oposição,
como bem sabe o Deputado Jamil Murad. Somos muito amigos, mas ele é da base
do Governo e eu, da Oposição. Mas o Governo entende a necessidade de se
promover reformas na área trabalhista e sindical. O Governo entendeu, como havia
entendido o Governo anterior, a necessidade de se fazer alguma coisa.
Concordo com o que disse o Deputado Jamil Murad — aliás, S.Exa. é sempre
muito pertinente em suas colocações e quero evidenciar a sua coerência, sobretudo
—, ou seja, que não se pode fazer reformas às custas de trabalhadores. Esse é um
ponto muito importante. Os senhores podem ter absoluta certeza de que aqui
estamos unidos. Uma reforma em que somente um setor pague a conta —
normalmente o mais fraco — não será defendida por nós.
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Por outro lado, gostemos ou não, vivemos em um mundo globalizado. Não
adianta dizer que não gostamos e que seria melhor que o Brasil se fechasse. Não
existe essa perspectiva.
Comparo a globalização a um fenômeno da natureza, o El Niño, que afeta o
clima, muda o regime das chuvas, até mesmo das estações, e influi muito fortemente
nas Américas, de maneira geral, mas talvez mais fortemente na América do Sul. Não
adianta gostarmos ou não do El Niño. Ele existe, a cada 10 anos há um ciclo e ele é
sucedido pelo La Niña. O que teremos de fazer com isso? No Brasil, depois de se
perceber que o fenômeno existe, sabendo-se o que vai acontecer, deve-se tomar as
medidas de precaução ou se aproveitar dos efeitos positivos e tentar tirar alguma
vantagem dele. Para mim, a globalização é muito parecida com isso, pois está aí.
O Brasil abriu sua economia no começo da década de 90, e não poderia ter
sido diferente. Nunca estaria aqui elogiando o Governo Collor, que iniciou essa
abertura, mas não havia alternativa. Tinha de fazê-lo. Os países que se mantiveram
fechados praticamente sucumbiram. A China, um país de regime mais ortodoxo e
fechado, também abriu-se para o comércio internacional. A China é, hoje, um dos
grandes players do chamado comércio internacional. Assim, o Brasil não poderia ter
tido postura diferente.
Além da globalização, há outra questão muito próxima de acontecer ou não: a
ALCA. Esse é um tema delicado. Devemos nos preparar para isso. Primeiro,
devemos seguir negociando, com muita competência, na defesa dos interesses
nacionais. Isso não significa que ganharemos em tudo que for de interesse
brasileiro, mas teremos de ganhar na maioria. De forma que, no cômputo geral, o
Brasil terá vantagens, ou é melhor não celebrar acordo algum com a ALCA.
Espero que o Governo e nós, do Congresso Nacional, que daremos a última
palavra, tenhamos competência suficiente para não cair em erros e, eventualmente,
participar de um acordo internacional, multilateral, que acabe trazendo prejuízos
para o País. Isso é muito importante. Para que cheguemos a esse ponto, se é que
vamos celebrar esse acordo, é inquestionável que teremos de fazer algumas
mudanças no País.
Como bem disse o Deputado Jamil Murad, quanto aos juros, por exemplo, se
vamos estabelecer tarifas comuns na chamada Área de Livre Comércio das
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Américas, precisamos ver se as condições e parâmetros entre todos os países
guardam similaridade. Enquanto o Brasil estiver praticando juros reais de 19 ou 20%
ao ano e os outros países estiverem trabalhando na faixa de 1, 2 ou 3%, haverá
enorme desvantagem. Teremos de ajustar nossa economia e nossa política
monetária para que tenhamos patamares adequados de juros. Isso é fundamental.
O capital especulativo também precisa de tratamento adequado no País. O
Brasil, diferentemente do que muitos pensam ser “beneficiário” do capital
especulativo, tem sido seriamente prejudicado pelo capital chamado “dinheiro
esperto”, o smart money, o capital volátil que vem, fica horas no País, consegue
juros e benefícios fantásticos para investidores e desaparece no dia seguinte.
Vamos ter de enfrentar essa situação.
Tenho de deixar claro que eu, particularmente, esperava que o Governo
priorizasse menos o pagamento da dívida externa. Há as questões ligadas à dívida
interna, muito mais graves que as da dívida externa. Esperava que o Governo
priorizasse menos o chamado superávit primário para pagar o serviço da dívida e
investisse mais no desenvolvimento, na infra-estrutura. Só através de investimentos
haverá empregos. Não há nenhuma perspectiva de criarmos postos de trabalho que
não seja priorizando investimentos, setor produtivo, construção e reaparelhamento
da infra-estrutura do País.
Quanto à questão da dívida externa/superávit primário, entendo que o
Governo e o Congresso Nacional têm grande responsabilidade ao definir claramente
suas prioridades.
Neste primeiro ano — não estou aqui fazendo crítica ou acusando ninguém,
entendo que um jogo estava em andamento e também qualquer mudança poderia
trazer problemas —, já foi previsto, para o ano de 2004, na proposta de Lei
Orçamentária, a manutenção do superávit primário em 4.25. Parece-me um absurdo
isso.
No que se refere ao Custo Brasil, tenho de chegar a uma questão que
considero delicada para todos nós: o custo. Não vou chamar de salário, de
remuneração, mas de custo do trabalhador no Brasil. O trabalhador ganha mal e
custa caro, porque existe uma série de contribuições, de tributos, de efeitos
trabalhistas que acabam incidindo sobre a folha de pagamento. Isso não beneficia
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diretamente o trabalhador. Todo o sistema, por exemplo, é elevado. É muito bom
que existam, mas, ao incidir sobre a folha de pagamentos, acaba fazendo com que a
classe trabalhadora, que ganha pouco, custe caro por conta dessas coisas.
Então, teremos de repensar essas coisas que hoje estão embutidas nos
chamados encargos que oneram a criação de postos de trabalho e de empregos no
Brasil.
Esses são, enfim, os temas que deveremos debater com franqueza, com
vontade, para podermos apresentar uma proposta concreta — e até para ver se
teremos coragem de fazer uma proposta condizente com aquela de que o Brasil
precisa.
A Câmara Federal, em parceria com Assembléias Legislativas, teve a
iniciativa de realizar audiências públicas nos diferentes Estados da Federação. Isso
é um sinal de transparência, de vontade de debater o tema, de respeito às opiniões
contraditórias que certamente aparecerão no contexto desses debates. Mas elas são
muito importantes para nós, mandatários no Congresso Nacional, para que
possamos formar a nossa opinião antes de votar determinado projeto de emenda
constitucional ou projeto de lei. Devemos levar em consideração aquilo que a
maioria entende ser o correto.
Agradeço a todos a participação. Vamos seguir nossos trabalhos para
chegarmos a bons resultados.
Muito obrigado. (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Deputado Jamil Murad) - Agradeço ao Deputado
Antonio Carlos Pannunzio a participação.
Os senhores viram que nossas opiniões têm nuanças, diferentes
interpretações, e é com esse processo que vamos trabalhar até o final.
Registro a presença do Sr. Antônio Neto, Presidente da Central Geral dos
Trabalhadores, do representante da Federação dos Servidores Públicos do Estado
de São Paulo; do Sr. Wagner Gomes, Vice-Presidente da CUT; do Sr. Antonio
Carlos dos Reis, Presidente da CGT; do Sr. Wagner Fajardo, Presidente da
Federação Nacional dos Metroviários; do representante do Sindicato dos Minérios e
Derivados do Petróleo do ABC e da Federação dos Minérios; do representante do
SINPRAFARMA, de São José dos Campos, do representante do SEBRAE, do
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representante do Sindicato dos Livreiros e do representante do Sindicato dos
Borracheiros, que chegaram neste instante.
Quero saudar o representante da Assembléia Legislativa de São Paulo nesta
audiência, o Deputado Nivaldo Santana, que foi várias vezes Presidente da
Comissão de Relações de Trabalho da Assembléia Legislativa, sendo, atualmente,
membro titular da mesma.
Esta audiência mostra o valor do Parlamento brasileiro, pois, ontem, em uma
cerimônia, presentes alguns membros do Congresso Nacional e das Assembléias
Legislativas dos Estados, comemorou-se 180 anos de funcionamento do Parlamento
brasileiro. Começou em 1823. Naquele tempo, companheiros, D. Pedro não estava
satisfeito com a atuação dos Deputados. Então, mandou cercar o Congresso e tirou
os Deputados, nomeando uma comissão para fazer a Constituição.
Portanto, estar aqui com os senhores, representantes do Parlamento Estadual
e Nacional, debatendo assunto do mais alto interesse, faz parte de uma longa
história. O trabalhador precisa ter voz e vez, para que o Brasil seja mais democrático
e soberano.
Com a palavra o Deputado Nivaldo Santana.
O SR. NIVALDO SANTANA - Bom dia aos representantes das centrais
sindicais, federações, sindicatos. Quero cumprimentar os Deputados Jamil Murad e
Antonio Carlos Pannunzio, membros da Comissão Especial da Reforma Trabalhista
da Câmara Federal, que será o fórum onde esta matéria será debatida e deliberada.
Quero cumprimentar também o Sr. Sérgio Mendonça, representante do DIEESE; o
Sr. João Guilherme, consultor sindical; e nosso amigo Altamiro Borges, editor da
revista Debate Sindical.
Em nome da Comissão de Relações do Trabalho da Assembléia Legislativa,
quero dar as boas-vindas a todos e desejar-lhes um bom debate. Acredito que a
reunião servirá de subsídio tanto para os coordenadores da Comissão, Deputados
Pannunzio e Murad, quanto para os representantes do movimento sindical e da
Comissão de Relações do Trabalho da Assembléia Legislativa.
Aqui cumprimos o papel de anfitriões. Portanto, serei bastante breve.
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Como estou vendo aproximar-se o Deputado Hamilton Pereira, Presidente da
Comissão de Relações do Trabalho, gostaria que S.Exa., com mais propriedade e
legitimidade, também falasse aqui em nome da Comissão. (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Deputado Jamil Murad) - Registro a presença do Sr.
Francisco Calazans, do Sindicato dos Trabalhadores em Hotéis, Bares e
Restaurantes. (Palmas.)
Deputado Hamilton Pereira, V.Exa. está com a palavra para fazer uma
saudação, como anfitrião, juntamente com o Deputado Nivaldo Santana.
O SR. HAMILTON PEREIRA - Bom dia a todos os companheiros e
companheiras. Peço aos senhores, encarecidamente, que sejam condescendentes
com este Deputado. Ora, anfitrião chegar atrasado é algo imperdoável.
Saúdo esses 2 brilhantes Deputados — inclusive é meu conterrâneo Antonio
Carlos Pannunzio. O Deputado Jamil Murad é companheiro de muita convivência e
de muita coisa boa de quando trabalhamos juntos nesta Casa — hoje é uma honra
tê-lo representando o Estado de São Paulo na Câmara Federal.
Por intermédio desses 2 Parlamentares, cumprimento todos os membros da
Mesa.
Agradeço a meu companheiro Nivaldo Santana, Vice-Presidente da Comissão
de Relações do Trabalho da Câmara, por ter feito as honras da Casa e aberto este
evento, dos mais importantes.
Cumprimento ainda todos os representantes de centrais sindicais, federações,
confederações e entidades patronais aqui presentes. É uma honra recebê-los nesta
Casa para este importante debate no qual a Assembléia Legislativa do Estado de
São Paulo não pode ter mero papel coadjuvante. Devemos e queremos participar.
Somos, na realidade, convidados da Comissão Especial da Câmara Federal,
de quem estamos à disposição. A Assembléia Legislativa sente-se honrada em
ceder este espaço — que, na verdade, é de toda a sociedade civil organizada —
para iniciarmos, no Estado de São Paulo, o presente debate.
Obrigado. (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Deputado Jamil Murad) - Obrigado, Deputado Hamilton
Pereira. Toda a infra-estrutura da Assembléia Legislativa está em funcionamento
para o bom resultado dos trabalhos, que estão sendo gravados, de modo que todas
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as opiniões serão registradas para, depois, em Brasília, servir de subsídio ao
processo de debate e votação da reforma trabalhista e sindical.
Passo, de imediato, a palavra ao primeiro debatedor, Sr. João Guilherme.
S.Exa. dispõe de 20 minutos.
Em seguida, falarão os Presidentes ou representantes das centrais sindicais.
O SR. JOÃO GUILHERME - Bom dia a todos. Começo fazendo reverência e
homenagem ao Poder Legislativo brasileiro. Levando-se em conta a atribulada vida
do Império e da República, o Parlamento tem grande período de continuidade. Do
ponto de vista da existência no Brasil do Poder Legislativo e dos Parlamentos, a
democracia no Brasil vem se construindo a partir desses elementos de modernidade
da vida civilizada. Portanto, minhas homenagens aos 180 anos de Parlamento no
Brasil.
É uma grande oportunidade discutirmos temas relacionados aos direitos dos
trabalhadores, às suas conquistas, à sua organicidade. Desse ponto de vista, antes
que comecemos a formular alguma coisa sobre o tema, quero precisar 2 idéias. A
primeira é que acredito que, em outubro do ano passado, o povo brasileiro começou
uma verdadeira revolução cultural ao fazer uma escolha, de tal forma que isso
significou a possibilidade de mudanças extremamente significativas na vida da
sociedade. Ao longo desse período, estivemos reaprendendo que o voto apenas não
basta, que é preciso, além de votar, mobilizar-se de maneira permanente para
garantir que a mudança que queremos venha a ser concretizada. Essa necessidade
da mobilização, da vigilância, do bom combate, a cada dia que passa é mais
sentida, mais visível.
Hoje, estamos, por exemplo, aparvalhados com o verdadeiro manifesto
lançado a público pelo Ministro da Fazenda. Chamo manifesto porque é um
documento pela cúpula e por personalidades do próprio Ministério. Esse manifesto
coincide com as determinações do Fundo Monetário Internacional e do Banco
Interamericano, o que é uma agressão a uma série de conquistas obtidas pela nossa
sociedade no que diz respeito aos procedimentos econômicos.
Acredito portanto que, tendo tido o voto da revolução cultural e a necessidade
permanente da mobilização, é dessa conjugação que algo positivo poderá emergir.
E os trabalhadores têm-se mobilizado. Tenho notado atualmente um duplo sentido
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na mobilização do conjunto dos trabalhadores, uma mobilização de baixo para cima.
Essa mobilização tem-se manifestado nas grandes campanhas salariais,
principalmente neste segundo semestre.
Há 10 anos, o DIEESE acompanha 149 negociações e dá conta daquelas
negociações que recompuseram as perdas que empataram com a inflação ou que a
superaram. Desde que o DIEESE construiu essa amostra, o primeiro semestre de
2003 foi o pior da série e começo a perceber que provavelmente o segundo
semestre de 2003 passará na série como um dos melhores, porque temos
conseguido avanços significativos em categorias maciças e importantes, embora
com poucos trabalhadores.
Essa mobilização também se descortina em todo o processo de luta que se
dá no campo brasileiro. Mesmo no âmbito do movimento sindical, fora das questões
de data-base, há elementos concretos, sérios, que indicam essa mobilização, de tal
forma que podemos caracterizar uma conjuntura de mobilização do movimento. Há
uma segunda direção dessa mobilização que é de cima para baixo e que se tem
dado em torno dos debates sobre as questões trabalhista e sindical. Essa
mobilização de cima para baixo tem o eixo, por exemplo, no Fórum Nacional do
Trabalho, promessa de campanha do Governo que está sendo cumprida nas
mobilizações do Fórum Sindical dos Trabalhadores. Calculo que hoje, no Brasil, a
cada dia 3, mil dirigentes ou ativistas sindicais reúnem-se para discutir esses temas
em reuniões parecidas com esta ou em reuniões com características diversas. Há,
portanto, um reacendimento da chama da preocupação com a melhora da
representação sindical e da garantia dos direitos trabalhistas.
Essa mobilização de cima para baixo não é atropelada e não deve ser
precipitada. Concordo com a posição tornada pública pelo Presidente da Câmara
dos Deputados a respeito da moderação nos prazos e no encaminhamento desses
temas, porque mais vale lento e bem feito do que apressado e mal feito. (Palmas.)
Esse tema que estamos discutindo não pode obedecer à máxima da cavalaria de
Napoleão: rápido e mal feito. Ora, a idéia do rápido e mal feito é, por definição, a
idéia do neoliberalismo, é a idéia de estuprar, roubar direito, tornar precário, quebrar
a espinha dorsal do nosso movimento sindical, que, diga-se de passagem, é o
movimento sindical dos trabalhadores. No meu entendimento, é o mais forte
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movimento social existente no Brasil e provavelmente, hoje, no concerto das nações,
um dos mais importantes movimentos sindicais existentes no mundo, com larga
experiência, tradição e, sobretudo, com suas estruturas.
Portanto, iniciamos a revolução cultural e estamos aprendendo que a mesma
pode frustar-se se não houver mobilização, vigilância, acompanhamento e exigência.
Chegamos então ao tema dessas reformas, que se justificam no sentido de avançar
a representatividade e a condição de Direito do Trabalho no Brasil.
A Revolução de 30 criou as condições para o Presidente e depois Ditador
Getúlio Vargas “passar a limpo” — entre aspas — a situação social e econômica do
País e criar a ossatura do nosso sistema de representação sindical, trabalhista, e a
ossatura dos direitos dos trabalhadores. Não foi uma coisa que caiu de cima para
baixo, não foi um raio em céu sereno. Toda a legislação trabalhista, incluída a
sindical, foi resultante, de um lado, da luta dos trabalhadores e, de outro, da
institucionalização, como é permanente na própria história do movimento sindical no
mundo inteiro.
O Presidente Lula está desafiado. Se a revolução cultural é verdadeira, está a
representar, perante essa fase que chamamos de Era Getulista, uma novidade. Qual
é a novidade? Passar a limpo o Brasil no sentido do avanço, do progresso, do
desenvolvimento, do crescimento com emprego e distribuição de renda. Esse é o
grande desafio. Esse desafio, no meu entendimento, tem de ser cumprido com base
nos fundamentos da nossa Constituição.
Passo a ler o que a Constituição considera como fundamentos:
“Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada
pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do
Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de
Direito e tem como fundamentos:
I - a soberania;
II - a cidadania;
III - a dignidade da pessoa humana;
IV - os valores sociais do trabalho e da livre
iniciativa
V - o pluralismo político”.
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Estou firmemente convencido de que a revolução cultural irá se concretizar se
a base desses fundamentos enfrentar pelo menos 3 ordens de problemas, 3 grandes
avenidas problemáticas. A primeira delas é a inclusão da massa de milhões de
trabalhadores, milhões de brasileiros e brasileiras excluídos do sistema econômico,
social e político. Precisamos resolver os mecanismos que podem incluir esses
milhões de trabalhadores no sistema. Esse é o grande desafio estratégico.
Como fazer isso é exatamente o grande problema, a grande questão, a
grande preocupação que deve orientar toda a nossa mente.
A segunda questão, a segunda grande avenida, é como melhorar as
condições de representação de direito dos trabalhadores incluídos no setor formal.
Essa é uma tarefa diferente da primeira, mas complementar a ela, porque, ao se
incluir, o incluído passará a fazer parte dessa segunda avenida.
A terceira tarefa — e quero falar claramente isso para os senhores — é o
fortalecimento e a novidade do papel do Ministério do Trabalho.
Quero precisar as questões nestas 3 direções: na direção mais ampla da
inclusão; na direção específica do incluído, portanto com ampliação de direitos de
representação; e na direção do fortalecimento do Ministério do Trabalho.
Se analisarmos a situação atual dos trabalhadores do Brasil, verificaremos
que há uma balança de 2 pratos extremamente desequilibrada. A balança, em
termos de pessoas, está mais ou menos equilibrada em número de incluídos e de
excluídos. Estou considerando excluído o desempregado, o subempregado, o
precarizado, o fora da cobertura; e incluído, o CLT. No entanto, em termos de
salários recebidos, a balança é inteiramente desequilibrada.
Apenas para termos uma noção do desequilíbrio, o DIEESE acaba de divulgar
as contas que fez a respeito de quanto o 13º vai aportar na economia. Se
prestarmos atenção aos números e considerarmos só o pessoal da ativa, a média
salarial será 900 reais; se considerarmos só o pessoal aposentado, a média salarial
será 400 reais; se considerarmos ambos, a média será 700 reais. Não consideramos
o excluído. Se considerarmos o excluído, a média provavelmente será o salário
mínimo, ou até um valor abaixo. “Se correr, o bicho pega; se ficar, o bicho come.”
Precisamos enfrentar essa situação.
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A indicação que a Constituição nos dá não é enfrentar no sentido de
precarizar, mas no sentido de melhorar as condições de trabalho, de saúde, de
salário, de proteção que essa massa de brasileiros tem. É um grande desafio,
porque implica realmente, para valer, mudar o modelo econômico, esse modelo de
exclusão, de elitização, de financialização, etc.
No que diz respeito ao incluído, precisamos garantir direitos e melhorar a
representação. Na questão da melhora da representação, a minha recomendação é
“cautela e caldo de galinha”, no seguinte sentido: a estrutura constitucional é
fundamentalmente correta. Essa discussão tem de ser enfrentada com seriedade.
Ela é fundamentalmente correta. Que ajustes, no sentido de sua melhoria, podem
ser feitos?
Sugiro 2 ajustes fundamentais: precisamos obter garantias legais de respeito
ao direito sindical no local de trabalho e precisamos constitucionalizar as centrais.
Pode parecer contraditório, mas imagino um processo de constitucionalização
das centrais por meio da criação de um conselho sindical de garantia e
fortalecimento dos sindicatos. Acho que esse procedimento daria um grande
estímulo, um grande fortalecimento ao que de positivo a nossa estrutura
constitucional e sindical tem. Combinado com o fortalecimento no local de trabalho,
teríamos um período em que testaríamos o próprio fortalecimento da nossa ação.
Diga-se, de maneira enfática, que nós mesmos faríamos a limpeza de casa que
fosse necessária. Nós mesmos faríamos o controle que fosse necessário, em termos
de sindicatos de faixada, em termos de renda de base sindical ou de qualquer
desvio que nós mesmos identificássemos. Refiro-me à representação. É essencial
não separar a representação da categoria. Desse ponto de vista, o projeto do
Senador Sibá Machado é extremamente negativo, porque contém apenas um artigo,
que diz que a entidade sindical só representa o associado. Isso, no meu
entendimento, é a morte, senão lenta, tumultuada, da nossa experiência sindical.
Como terceiro ponto, quero frisar o fortalecimento do Ministério do Trabalho.
Toda a cantilena do Estado mínimo não podia deixar de ter seu efeito na própria
estrutura e funcionamento do Ministério do Trabalho. Quero dizer, com clareza, que
não me estou referindo à interferência do Ministério do Trabalho na vida sindical.
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Não é isso que estou dizendo. Defendo 3 orientações novas, estratégicas, do
Ministério do Trabalho.
Primeira, o Ministério do Trabalho tem de deixar de ser subserviente da
política econômica e financeira. Não pode continuar a ser considerado como o irmão
caçula ou até mesmo o irmão doente da estrutura econômica e produtiva. Ele se
chama Ministério do Emprego e Trabalho. Se queremos crescimento com emprego e
distribuição de rendas, o Ministério do Trabalho tem de ir para o miolo da decisão,
para o centro estratégico da decisão. Ele não pode ser secundário em relação aos
formuladores de política econômica. Por quê? Sugiro ao Ministério do Trabalho uma
função pró-cíclica — termo chique muito usado pelos economistas.
Vamos falar do pessoal metroviário. Quando o trem sai da estação, a linha
desce, porque o trem tem de acelerar. Quando ele está chegando à outra estação, a
linha sobe, porque ele tem de frear. Então, o metrô é um sistema pró-cíclico. Quando
quer acelerar, o chão ajuda, porque o trem está descendo. Ao chegar à estação,
quando tem de frear, o chão também ajuda porque está subindo. O Ministério do
Trabalho tem de ser pró-cíclico. Tem de interferir na formulação das políticas para
não acontecer o que ia acontecendo com o projeto Primeiro Emprego.
Se o projeto do Palocci para o primeiro emprego tivesse passado, significaria
substituir o empregado por outro mais jovem. Seria bom substituir o antigo
empregado por um jovem sem preparo, como esmola, como favor?
É preciso que o Ministério do Trabalho participe como instituição do miolo da
decisão.
Não vou tomar decisão sobre juros, sobre aplicação, investimento e depois o
Ministério do Trabalho não resolver o problema. Ele tem de participar junto nessa
decisão. Necessita de poder.
O Ministério do Trabalho precisa urgentemente — talvez mais do que todos
os outros — requalificar-se, saindo das sombras do período do estado mínimo do
neoliberalismo.
Estou dizendo uma coisa séria, porque todos nós estamos pensando em
Judiciário, Receita Federal, Polícia Federal e Segurança. No assunto que nos
interessa, o Ministério que tem de se requalificar é o próprio Ministério do Trabalho.
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Reivindico de saída concurso imediato para contratação de 7.000 fiscais das
condições do trabalho. Treinaríamos esses novos funcionários numa perspectiva
nova, produtivista e ativa. Sem isso, não teremos condições de garantir aquele papel
pró-cíclico do Ministério.
O Ministério do Trabalho, mais do que qualquer outro, deveria urgentemente
desencadear campanhas institucionais de valorização da sindicalização. Não são
campanhas de uma central, de outra central, nem mesmo de centrais em geral, ou
de confederações, federações tal qual sindicatos. São campanhas genéricas que
valorizam na mente das pessoas a importância da sindicalização, do sindicato.
Essas campanhas institucionais podem até custar caro. Convidaríamos para
licitação grandes grifes da publicidade. Essa publicidade seria feita no sentido de, a
curto prazo, aumentar a taxa de sindicalização, pelo menos, para o dobro. Se isso
acontecesse, muitas das discussões a respeito da questão estrutural hoje seriam
vencidas, estariam evidentemente superadas por esse aporte, vamos dizer assim,
de sangue novo, por essa pressão natural das bases sobre nosso posicionamento.
Estas são idéias genéricas.
Defendo especificamente a manutenção da nossa estrutura constitucional
com aperfeiçoamentos compatíveis com a experiência que tivemos ao longo desses
anos no País.
Obrigado. (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Deputado Jamil Murad) - Mais uma vez, agradeço ao
João Guilherme a participação. Ele, como sempre, dá um banho de ensinamentos
com suas ilustrações.
Registro as presença do Luiz Tenório de Lima, o Tenorinho, que tem 63 anos
de vida sindical; do Dr. Rodrigues, que representa o Dr. Joseph Coury, do SIMPI —
Sindicato da Micro e Pequena Indústria do Estado de São Paulo; dos representantes
do Sindicato dos Camelôs Autônomos e do Sindicato das Secretárias. (Palmas.)
Passo a palavra ao próximo expositor, o jornalista Altamiro Borges, do Centro
de Estudos Sindicais e editor da revista Debate Sindical. (Palmas.)
O SR. ALTAMIRO BORGES - Bom dia a todos. Tenho muito prazer de estar
aqui para trocar idéias. Gostaria, primeiro, de elogiar os autores dessa iniciativa.
Estamos num momento de grande reflexão da sociedade brasileira e de enormes
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desafios. É um quadro totalmente novo na política brasileira. E nada melhor do que
espaços democráticos, plurais e respeitosos de debate de idéias como este. Assim,
elogio muito a iniciativa da Comissão Especial de Relações de Trabalho da Câmara
Federal pela idéia deste evento.
Temos aqui presenças de alta representatividade. Observo a presença dos
companheiros Wagner Gomes, Vice-Presidente da CUT; do Salim, Presidente da
CGT; do Porcino, do Sindicato dos Derivados, órgão filiado à força sindical; do Neto,
da CGTB; além de vários sindicalistas independentes não vinculados a nenhuma
central, como o Lineu, da Federação dos Servidores. Portanto, estamos num
ambiente muito propício para essa reflexão democrática, plural e respeitosa.
Vou fazer algumas observações, partindo da fala do João Guilherme com
suas proposições, as quais assino embaixo. Vou tentar levantar outras questões, já
que concordei com o que ele disse.
Neste debate sobre as reformas trabalhista e sindical, primeiro, precisamos
dimensionar direito o que é essa tal reforma e qual é seu impacto. Entendo que
reforma, na história da humanidade, sempre teve caráter progressista. Reforma é o
que avança no sentido da cidadania, dos direitos. Reforma trabalhista significa
abordar o problema da grave exclusão social, da precarização, da informalidade, do
desemprego. Reforma no sentido progressivo significa ver como superar, como
avançar na legislação trabalhista e não recuar, não retirar direitos. Reforma significa
ver como fortalecer a organização sindical, que é essencial para a democracia.
Temos hoje no mundo muita contra-reforma travestida de reforma. Ainda
existe muita regressão, retrocesso, volta ao passado. Logo, usam uma palavra
progressista para significar algo atrasado: retrocesso. São contra-reformas que
temos visto em várias partes do mundo e que têm justificado essa explosão de lutas
por todos os cantos. A mais recente é a que está acontecendo na Coréia do Sul em
função da reforma trabalhista, ou melhor, da contra-reforma: a retirada de direitos.
A globalização, no sentido de internacionalização da economia, é meio
inevitável, mas a neoliberal é outra coisa, ela travestiu palavras, tirou seu sentido e
as manipulou. Temos de tomar cuidado com isso.
Vamos falar sobre os limites e os parâmetros de uma reforma. Na próxima
semana, sai o exemplar número 48 da revista Debate Sindical, que conta com as
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contribuições dos colunistas João Guilherme, do Toninho do DIAP, do Márcio, do
Herval Pina Ribeiro, além da entrevista com o Sérgio Mendonça do DIEESE. Na
entrevista o Serginho faz um destaque sobre reforma. Pergunta ele: É ilusão? Tudo
bem. Estamos a caminho das reformas, mas queremos que elas sejam realmente
progressistas. É ilusão achar que reforma resolve problema de desemprego.
Precisamos ter essa dimensão. Muitas vezes ela vem embalada com o discurso, o
que é perigoso. Muito dizem; “Reforma é para resolver o problema do desemprego
no País, porque as relações do trabalho são muito engessadas. É preciso
modernizar...” E, quando se vê, vários países que flexibilizaram direitos — e o Brasil
foi um dos que flexibilizou direitos no último período — não aumentaram o número
de empregos, e não aumentaram emprego de boa qualidade. (Palmas.)
Se não tratarmos da reforma de forma adequada, em vez de ela dar emprego,
gera desemprego e precarização dos que estão empregados. O exemplo da
Argentina, nesse sentido, é dramático. Devia nos servir de lição. Foi muito elogiado
pelas relações — como dizia Menem — carnais com os Estados Unidos. Muito
tempo depois é que fui entender o que ele queria dizer com relações carnais. E
olhem no que deu: trinta e poucos tipos de contrato de trabalho.
Portanto, no meu entender, não é a reforma que vai resolver o problema do
desemprego no Brasil. O que soluciona o problema do desemprego, o que aquece
as empresas, o mercado interno, gera emprego e renda é o crescimento econômico.
(Palmas.) Para crescer, o Brasil tem de superar o modelo aplicado na década de 90
em vários cantos do mundo — não foi uma invenção brasileira —, um modelo
baseado no tripé: juros altos, superávit primário elevado e livre fluxo de capital, essa
especulação financeira medonha, esse capital volátil. Se não o superarmos, não
haverá crescimento econômico. O esforço produtivo nacional acaba escoando para
o capital financeiro, servindo ao capital financeiro, o que o jornalista Clóvis Rossi, do
jornal Folha de S.Paulo, chama de “ditadura da oligarquia financeira”.
Portanto, ou se muda esse modelo ou não se tem crescimento. Se não
houver crescimento econômico, não existirá milagre. Sem crescimento econômico,
não haverá geração de emprego e renda. Não devemos endeusar a idéia da reforma
para não darmos com os burros n’água. No debate da reforma trabalhista, de cara,
aparecem 2 extremos: o setor empresarial, principalmente o grande empresariado —
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não me refiro ao pequeno e médio, que são outra realidade que merecem mais
apoio e que são os maiores geradores de emprego —, já vem com um discurso
decorado, é mundial.
Esse discurso diz o seguinte: “precisamos flexibilizar direitos”. Em assim
agindo, reduzimos custo, aumentamos a produtividade, o que é igual a aumento de
lucratividade. Esse é o discurso que o grande empresariado faz. Além disso, ele faz
um discurso, no meu entender, manhoso de que o sindicato emperra as relações de
trabalho. Nesse sentido — eles não vão falar abertamente — é preciso enfraquecer
os sindicatos. Se possível, dividi-los, jogar um contra o outro, estimular o pluralismo,
asfixiar financeiramente os sindicatos, retirar acesso de sindicatos à Justiça do
Trabalho. É esse o discurso. (Palmas.)
No outro extremo, os trabalhadores vão dizer justamente o seguinte: “Já estão
querendo tirar o pouco que temos?” Queremos manter e ampliar direitos e fortalecer
os sindicatos. Há coisas para serem aperfeiçoadas? Há. Agora, cuidado, porque às
vezes remédio eqüivale a veneno. Então, tomem cuidado. É para aperfeiçoar no
nosso meio. Não venham dizer o que vamos fazer aqui.
Vai ser criada uma polarização. Ela, às vezes, acaba juntando, blocando de
forma artificial. Interessa-nos hoje, na defesa de um projeto de desenvolvimento no
Brasil de superação do tripé neoliberal, somar com o setor produtivo contra o capital
especulativo. Nessa luta, temos de ver quais as alianças — mantidas as diferenças,
os antagonismos de classe — que permitem desenterrar o Brasil, que está
empacado.
Essas foram as primeiras 2 observações.
A vitória eleitoral do ano passado significou um sinal do povo brasileiro.
Apesar de todo o preconceito que existe, de toda a pressão feita, o povo brasileiro
votou para mudar. E a eleição do ano passado cria a oportunidade histórica para
mudanças no País, uma segunda onda de regulação, de conquistas do trabalho que
abordem as mudanças que ocorrem no mundo do trabalho. Uma dessas mudanças
é o processo acelerado de desemprego, subemprego, de trabalho precário, informal.
A vitória sinalizou para isso. O povo quer isso. Foi isso que ele expressou por
intermédio do voto. O Governo Lula vai criar melhores condições para essas
mudanças. É um governo que tem, no meu entender, com todo o respeito, maior
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sensibilidade com a questão social, até porque veio do movimento social, das
nossas lutas; é um governo que reúne setores importantes da sociedade, do
movimento sindical, da luta pela terra, nas igrejas progressistas que estiveram na
luta nesse período. Nesse sentido, é um governo que tem muito mais condições de
promover essa revolução a que o João se referia. Creio que esse foi o sentido.
Quanto às medidas a serem adotadas na questão do trabalho — não estou
falando na política econômica nem em outras reformas —, o Governo Lula até agora
tem adotado boas posições.
As nuvens estão carregadas, mas as posições do Governo têm sido muito
positivas. Destacaria algumas. Penso, com todo o respeito, Deputado Antonio Carlos
Pannunzio, que a proposta de mexer na CLT, substituindo o legislado pelo
negociado, seria a favor dessa proposta se tivéssemos pleno emprego e sindicatos
mais fortes, organizados no local de trabalho. Aí, sim, valeria o negociado. Agora, na
situação de desemprego, de acuamento que os trabalhadores vivem, substituir o
legislado pelo negociado é mais ou menos a negociação da forca com o enforcado,
exatamente para retirar direitos. Não estou dizendo que essa fosse a intenção, mas
isso de fato ocorreria.
Uma das primeiras medidas do Governo Lula foi arquivar esse negócio. Esse
fato merece aplauso do movimento sindical. (Palmas.)
A segunda, aliás muito interessante, foi o pedido de arquivamento de um
projeto que ampliava a terceirização no tempo e no seu escopo. Tal atitude foi
extremamente positiva, porque a terceirização no Brasil não é algo progressista, não
visa otimizar trabalho, não focaliza nada. Ela é selvagem. O que visa à
terceirização? Reduzir salário, cortar direitos e deixar o trabalhador sem organização
sindical (Palmas.).
O Governo Lula pediu a retirada desse projeto. Disse-me o João que está
havendo certa resistência do Congresso em retirá-lo. Temos de pressioná-lo. Temos
de dizer ao Congresso que estamos com Lula, que queremos a retirada dessa
excrescência.
O Governo Lula adotou boa postura. Vejam bem, havia uma portaria do
Ministério do Trabalho que impedia o fiscal de autuar empresa. O fiscal apenas
comunicava a irregularidade ao empresário. Será que o grande empresário não
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sabia da irregularidade? Claro que sim. O Governo Lula fala em mudar essa portaria.
Positivo. Esse ponto também merece aplauso.
É digna de aplauso também a proposta do Plano de Primeiro Emprego,
porque vai nesse sentido e não no da precarização do trabalho juvenil que vai
estimular a rotatividade. Ela ainda é limitada a 260.000 jovens, mais vai no sentido
progressivo.
Está de parabéns o Presidente Luiz Inácio Lula da Silva pelo pronunciamento
corajoso em defesa da redução da jornada de trabalho. Isso fortalece nossa luta.
Até agora as medidas têm sido positivas. Não devemos, contudo, dormir em
berço esplêndido. Não podemos adotar comportamento passivo, como diz o Zé
Simão, o melhor colunista político da atualidade. Segundo ele, quem fica parado é
poste. Não podemos ter comportamento passivo. A ditadura do mercado é muito
violenta. É como disse o George Souros antes das eleições: “Se vocês pensam que
brasileiro vota, esqueçam. Os escravos romanos também não votavam, quem
manda é o mercado”.
A pressão vai ser muito forte. A pressão na questão da reforma trabalhista e
sindical vai ser violenta.
Tenho lido no último período alguns documentos do Fundo Monetário
Internacional. Esse que está para renovar o acordo, aproveitando a vulnerabilidade
existente no Brasil, tenta renovar o acordo. Peguei vários documentos do Fundo
Monetário Internacional. Para fazer empréstimo, assinar acordo, o FMI coloca ou
aberta ou enrustidamente várias medidas de flexibilização do trabalho. Chega a fixar
cronograma de flexibilização do trabalho, de precarização do trabalho, como uma
das condicionantes para o País poder saudar dívida.
Vejam que pressão está à nossa porta. O Banco Interamericano de
Desenvolvimento acabou de soltar documento defendendo a flexibilização do
trabalho, sua precarização, dizendo que as normas existentes são muito
intervencionistas do Estado e que é preciso haver estímulo ao mercado. Essa é a
linha.
Criou-se no País uma expressão ardilosa: Custo Brasil. Várias empresas
entram nessa história, para dizer que o salário brasileiro é muito alto, que os
encargos também. Se fizermos distinção entre pequena, média e grande empresa,
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veremos que não é bem isso. Ao contrário, o processo de tributação no Brasil, do
ponto de vista da grande empresa, é um dos mais baixos do mundo, tanto é que o
Brasil está se tronando um grande paraíso fiscal. Foi denunciado agora
recentemente pela ONU. É ótimo vir aqui, não há tributação para o grande,
banqueiro não paga, ou paga menos do que trabalhador em termos proporcionais.
Se um mendigo entrar num banheiro e utilizar o papel higiênico, ele paga 23% de
imposto indireto. Se o Presidente do City Bank entrar no mesmo banheiro e utilizar
papel higiênico, paga a mesma coisa. É justo isso? É justo esse imposto regressivo?
E aí vem o discurso Custo Brasil. Ou seja, o jogo de pressão será muito violento.
Se trabalhadores e a sociedade não se mobilizarem, poderemos ter surpresa.
Se o rumo tem sido positivo, poderemos ter surpresas negativas. O voto não basta.
Nessa mobilização existem as questões propriamente sindicais — e volto a dizer que
assino as sugestões apresentadas pelo Sr. João —, mas há outras.
Para encararmos com seriedade a questão trabalhista precisamos interferir na
grande política. Nesse sentido, temos bandeiras decisivas: a primeira, é a defesa da
soberania nacional. Não há país que consiga implementar política industrial e de
valorização do trabalho, se estiver submetido a grandes potências.
A ALCA é exatamente a tentativa de neocolonização do Continente e
principalmente de domínio do Brasil, no sentido da ampliação extraterritorial
econômica dos Estados Unidos. Por isso, precisamos ser altaneiros, altivos e ativos
na negociação da ALCA. Os trabalhadores precisam interferir nisso. Nossa
soberania é fundamental.
A segunda grande bandeira é o desenvolvimento. Não há geração de
emprego e renda sem desenvolvimento econômico.
A terceira, é interligar o desenvolvimento à valorização do trabalho. Já
tivemos na história momentos de crescimento econômico.
Lembro-me do seguinte discurso: “vamos esperar o bolo crescer para, depois,
dividi-lo”. Até hoje, contudo, estamos esperando a fatia do bolo. Se o
desenvolvimento não vier acompanhado de ativa política de valorização do trabalho,
não dará certo para a maioria da população.
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Sobre a valorização do trabalho, companheiros, precisamos rediscutir tudo o
que foi mudado na década de 90, quando o movimento visou a 3 situações: estancar
e destruir a regulação do trabalho quanto à contratação, à jornada e ao salário.
Quanto à contratação, saímos da Constituinte de 1988, que garantia trabalho
por tempo indeterminado, com a expansão da terceirização, do estrangeirismo e dos
contratos temporário e parcial. Realmente, precisamos rediscutir toda essa
desmontagem da contratação do trabalho
Quanto à jornada, saímos de uma Constituinte que representou grande
avanço: passamos de 48 para 44 horas semanais, que fixava o pagamento das
horas extras, e fomos para um banco de horas, em que o trabalho fica ao sabor do
mercado. Ou seja, trabalha-se a mais, mas não se recebe por isso. É o que
chamamos de flexibilização de jornada.
Em relação à renda, tivemos problemas. Há o processo de esvaziamento do
salário fixo e de valorização do salário variável, a famosa participação nos lucros e
resultados. Precisamos rediscutir essas mudanças. Esse é o grande desafio para
termos uma reforma no sentido progressivo.
Além dessas medidas, teríamos que discutir outras. O João já elencou várias,
mas destaco uma delas. Com o aumento da capacidade de produção, a redução da
jornada de trabalho está na ordem do dia, porque é importantíssima.
Por último, temos de fazer o debate sindical de forma cuidadosa. Não
podemos ter pressa. Para desenvolvermos as lutas, precisamos de sindicatos fortes,
representativos. O sindicalismo no Brasil é respeitado em todo o mundo. Alguns
dizem que ele tem pouca representatividade, tem pouca força, mas isso não é real.
Outros dizem que nosso sindicalismo tem pouca força política. Se assim fosse, não
teríamos eleito um ex-sindicalista para a Presidência da República, vários
Parlamentares e membros do Poder Executivo.
Há certamente problemas no movimento sindical, mas vamos discutir uma
forma de eliminá-los. O que não podemos é quebrar o movimento sindical ou
transformá-lo em caos.
Tramita na Câmara dos Deputados proposta para pôr fim na unicidade
sindical nas entidades de base, possibilitando o surgimento de sindicato por
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empresa, confissão religiosa e opção política. Isso, companheiros, seria um desastre
no Brasil. (Palmas.)
A idéia de fim do conceito de categoria profissional, de sindicato representar
sócio, é um atentado ao direito do trabalho, ao direito coletivo do trabalho. A idéia do
fim das contribuições compulsórias apenas vai asfixiar os sindicatos. Temos de
mudar para melhor, não para voltar a uma fase de liberalismo sindical que tira a
nossa força.
Eram estas as observações.
Obrigado. (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Deputado Jamil Murad) - Queria agradecer ao
jornalista, editor da revista Debate Sindical, Altamiro Borges, a excelente
participação.
Antes de passar a palavra ao Sérgio Mendonça, do DIEESE, gostaria de
registrar as presenças do Altair Lebre, que está com o peso de representar o Líder
do Governo Aldo Rebelo neste plenário e vai desempenhar importante papel em
toda essa votação; do Francisco Soares, conhecido como Chico pelos frentistas de
Campinas; do Lineu, da Federação dos Servidores Públicos.
Vamos passar ao terceiro expositor. Logo em seguida, vamos abrir a palavra
a quem dela desejar fazer uso. Já há Presidente de Central aqui inscrito. O Salim é o
primeiro inscrito.
Com a palavra o Sérgio Mendonça, do DIEESE, a quem agradecemos a
presença. Ele chegou de madrugada da Argentina, onde estava em viagem de
trabalho. Mesmo cansado, aqui está para contribuir conosco.
O SR. SÉRGIO MENDONÇA - Muito obrigado, Sr. Deputado Jamil Murad.
Além das razões políticas e institucionais, não me negaria de maneira alguma a aqui
comparecer. Tenho a maior admiração por V.Exa., pela sua presença política na luta
pelos trabalhadores. Então, fiz questão de vir a esta Comissão. Cheguei de
madrugada porque o vôo atrasou, era para chegar bem mais cedo, em horário
decente.
Queria cumprimentar o Deputado Federal Antonio Carlos Pannunzio, do
PSDB; os Deputados Estaduais Hamilton Pereira, Presidente da Comissão de
Relações de Trabalho da Assembléia Legislativa, e Nivaldo Santana, do PCdoB; o
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companheiro João Guilherme, com quem, como disse o Deputado Jamil Murad, a
gente sempre aprende, pois nos ilustra, nos dá mais cultura, o que abre a nossa
visão de mundo; o Miro, Altamiro Borges; todos os representantes das centrais
sindicais, das federações, confederações e dos sindicatos de trabalhadores e
também os representantes do setor patronal.
Minha fala, a convite do Deputado Jamil Murad, é menos direta em relação às
propostas, já que não cabe ao DIEESE formular as propostas do movimento sindical.
Cabe ao DIEESE ajudar a nelas pensar. Cabe-nos ajudar na reflexão, analisar e
mostrar os dados. É evidente que as centrais aqui presentes, os sindicatos e as
federações vão ter a sabedoria política de construir uma reforma que seja a possível,
que tenha o máximo de consenso, e que todos saiamos daqui com uma visão de
avanço em relação às reformas sindical e trabalhista no Brasil.
Queria dizer ao Deputado Jamil, coordenador deste evento, que estamos a
um dia da comemoração da Proclamação da República. Amanhã é 15 de novembro.
Temos de olhar as reformas sindical e trabalhista desse ponto de vista. A República
tem de ser a questão central da discussão sindical. Temos de sair do espaço privado
das fábricas, dos locais de trabalho, do autoritarismo da relação entre o capital e o
trabalho do Brasil e transformar esse espaço em público, onde haja respeito ao
direito dos trabalhadores, melhoria das condições de trabalho e de salário.
Temos, nobre Deputado Jamil, de sair desse legado histórico autoritário de
relações escravocratas, que se transferiram para as relações de trabalho no Brasil, e
transformar o local de trabalho num espaço público. A comemoração da
Proclamação da República tem muito a ver com nossa discussão de hoje. Vamos
tratar de vários temas relativos ao assunto. O João Guilherme e o Altamiro já
levantaram esses pontos, assim como V.Exa., Deputado Jamil Murad, e o Deputado
Antonio Carlos Pannunzio.
Concordo com o João Guilherme, quando diz que não dá para negar que a
eleição do Lula é uma coisa completamente diferente. Teria muito receio em colocar
em debate uma reforma sindical e trabalhista neste momento. Se olharmos para o
mundo, veremos um retrocesso nos direitos trabalhistas, na flexibilização. Muitos
acreditam que retirar direitos é o certo, que tirar o sindicato do debate do mercado
de trabalho é o que importa. É arriscado entrar nesse debate. O Governo Lula foi
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eleito com uma bandeira diferente. Dele esperamos uma aliança, sobretudo com os
trabalhadores. Dessa forma, encontraremos uma saída. Temos de promover uma
reforma que amplie os nossos direitos e o papel do movimento sindical na
sociedade.
Estive 2 dias na Argentina em debate patrocinado por várias instituições,
inclusive pelo BID. Senti que essas instituições estão procurando enxergar nossa
agenda. Se ganhou o Lula no Brasil; o Kirchner, na Argentina, é sinal de que a
política dos anos 90 — a de abertura e de globalização — não deu certo. O
desemprego e sua precarização aumentaram; e a distribuição de renda piorou em
todos os países da América Latina. Não há um exemplo bom, salvo o do Chile, que
fez sua reforma há 30 anos, aliás, feita na base da força e das armas da ditadura do
Pinochet. Não há outros exemplos. As próprias agências multilaterais como BID e o
Banco Mundial estão procurando olhar o que é essa novidade, o que é o Brasil, o
que é a Argentina com o Kirchner e o que isso pode significar do ponto de vista de
mudanças no sentido da inclusão de mais gente, de reduzir o desemprego, de trazer
os trabalhadores para maior proteção social. Aliás, isso foi dito aqui pelo João
Guilherme e pelo Miro.
Quais são as questões das reformas sindical e trabalhista, para ir mais
objetivamente ao ponto? Estamos voltando ao debate pré-1930. Por quê? Quando o
famoso economista John Maynard Keynes disse que a questão do emprego ou do
desemprego não se decidia no mercado de trabalho.
Os clássicos, os neoclássicos, revestidos de idéias neoliberais dizem: “O
mercado de trabalho está sempre em equilíbrio, quem não está trabalhando e está
desempregado é porque não aceita o salário que oferecem, portanto é um
desemprego voluntário”. Keynes dizia: “Não é nada disso. Isso é bobagem. O
problema é a macroeconomia, os investimentos, a política monetária e a taxa de
juros que gera emprego. E o sindicato é importante para a defesa dos direitos dos
trabalhadores”. Foi aquilo que se seguiu à 2ª Guerra Mundial e que durante 30 anos
se defendeu. O movimento sindical e o sindicato foram a peça chave da base
econômica e social das sociedades mais avançadas, sobretudo da Europa
Ocidental.
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Voltar ao debate de se retirar o sindicato e os direitos trabalhistas é voltar ao
período anterior à década de 30. É voltar 70 anos na História. É voltar à idéia de
máxima exploração do trabalho pelo capital. Trata-se de questão fundamental num
momento em que estamos em desvantagem. É arriscado — repito — entrar nesse
debate de reforma sindical e trabalhista. Considerando a revolução cultural da vitória
do Lula, podemos imaginar que temos uma janela de oportunidade para enfrentar o
debate.
Vamos, então, às questões mencionadas anteriormente.
O direito sindical, o papel do sindicato na sociedade tem de ser visto como
direito coletivo, humano, como a própria OIT reconhece. Ou seja, o direito sindical é
humano e é um direito que articula os direitos sociais e políticos. O papel do
sindicato é representar os interesses da coletividade. De um lado representa o
direito mais básico dos trabalhadores; de outro, permite que se vincule esse direito
básico individual aos direitos mais gerais, tanto sociais quanto políticos.
A questão que teremos de enfrentar no debate da reforma sindical e
trabalhista é a seguinte: o papel do sindicato na sociedade. Os jovens de hoje têm
uma filosofia individualista. O nosso debate tem de despertar essa grande massa de
trabalhadores jovens para a importância do sindicato na sociedade. Temos de ver a
reforma sindical e trabalhista como uma grande disputa que nos interessa, pois o
resultado desse debate pode ser o fortalecimento do papel da instituição sindicato
na sociedade.
Para isso queremos financiamento público compulsório. Não existe sindicato
que sobreviva com o trabalhador pagando carnê na sede. Isso não existe em lugar
algum do mundo. O que interessa é o financiamento público. Temos de estar aberto
— novamente voltando à República — para que nossas entidades sejam
escrutinadas publicamente. Vamos manipular dinheiro público, no bom sentido, e
estaremos de portas abertas para o TCU, TCE, TCN, tudo o que vier. Não tem
problema. Queremos gerir recurso público com a maior ética e responsabilidade
possíveis.
O ponto central para o setor empresarial — não para as pequenas e
microempresas, como bem lembrou o Miro, mas para as grandes empresas — é a
flexibilização dos direitos trabalhistas. Por isso, disse no início da minha fala que é
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preocupante começar o debate num momento em que estamos numa espécie de
contramão da história. Se tivermos sucesso na reforma trabalhista e sindical, o Brasil
se transformará numa referência para esse debate do movimento sindical no mundo.
E por quê se quer a flexibilização trabalhista? Primeiro, por uma razão
ideológica. Muitos acham que o sindicato tem de ser eliminado, que atrapalha o
funcionamento do mercado, fica fixando salário. Isso é uma desgraça. Deixa o
mercado ajustar isso — essa é a visão pré-clássica, pré-1930, que voltou com muita
força nos anos do neoliberalismo. A segunda razão é que supostamente se teria
uma redução do custo do trabalho.
Que redução do custo do trabalho é essa? Os salários médios no Brasil são
baixos. Seu valor é de 600 reais, como o João Guilherme estava falando, juntando
os formais e os informais. Seiscentos reais são 200 dólares. Essa quantia representa
um salário muito baixo. Na China, o salário é de 40 dólares. Não tem como reduzir o
custo do trabalho. O País vai sair de 200 dólares, que é um salário médio muito
baixo, e a nossa meta é chegar aos 40 dólares da China? É isso o que queremos
para o Brasil, que já é um dos países com pior distribuição de renda do mundo? É
claro que não.
Precisamos repensar o modelo de desenvolvimento. Não podemos concorrer
no mundo globalizado olhando para o padrão chinês. Temos de pensar em rever o
modelo de desenvolvimento econômico e social. E aí entra outra questão
fundamental para o debate da reforma sindical e trabalhista: como o sindicato pode
ser uma das peças, uma das engrenagens do novo modelo de desenvolvimento
econômico e social, olhando para a inclusão, para a melhoria dos salários e,
portanto, para a melhoria da distribuição de renda?
O Deputado Antonio Carlos Pannunzio tocou em um ponto importante. Não se
trata de olhar o custo do trabalho no Brasil como um custo alto, porque ele não é; ele
é baixo. A economia brasileira é de baixos salários. Isso não quer dizer que não
possamos discutir a questão dos encargos sobre o custo do trabalho. Precisamos
discutir os encargos sociais no bojo de uma reforma tributária mais ampla. É verdade
que, ao se ampliar a taxação sobre a folha de pagamento, se está em princípio
desestimulando a contratação. A retirada da taxação da folha de pagamento tem de
estar associada à não perda de direitos — como bem lembrou o Deputado — e ao
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refinanciamento da estrutura do Estado, por meio de outros impostos mais justos e
menos regressivos. Nesse sentido, é possível avançarmos neste debate.
Não é possível reduzirmos o custo do nosso trabalho ao padrão chinês,
tailandês ou malaio. O México, naquela região que paga baixíssimos salários, está
perdendo as maquiladoras para a China. A Malásia, que tem salários médios de 139
dólares — os nossos são, em média, de 200 dólares —, está perdendo fábricas para
o Vietnã, para a China que têm salários mais baixos. Por aí, estamos muito
prejudicados. Ou adotamos outro modelo de desenvolvimento, em que o mercado
interno brasileiro, a distribuição de renda passe a ser um motor de atração para o
investimento produtivo, geração de emprego e melhoria das condições de trabalho
de todos os brasileiros, ou, pela competição, apenas olhando pela competição do
custo do trabalho, não vai dar.
E insisto na questão keynesiana: não é a reforma do trabalho — e o Miro fez
menção a isso — que vai gerar emprego. Esqueçam! Isso não aconteceu em lugar
algum. Acabei de voltar da Argentina. Esse país fez uma Lei do Emprego em 1991.
A economia argentina estava crescendo. De 1991 a 1995, cresceu, depois do longo
período de estagnação de 1975 a 1990. O que aconteceu? A taxa de desemprego
na Argentina aumentou e a precarização do trabalho também, com uma Lei de
Emprego que dava contrato a tempo parcial, reduzia impostos, flexibilizava direitos.
Não aconteceu nada. E a economia não estava em recessão de 91 a 95, que foi o
período do auge da lei de convertibilidade.
Portanto, não nos iludamos — e eu disse isso naquela entrevista — com a
idéia de que a reforma sindical gera emprego. Não gera. Podem esquecer. Reforma
sindical pode ser boa para — e aí creio que são as questões que nos interessam —
aumentar a representatividade sindical. Queremos ampliar a taxa de sindicalização.
Tenho certeza de que não há uma pessoa nesta sala que não seja a favor de
ampliar a representatividade, ampliar a sindicalização, trazer a população jovem
trabalhadora para os sindicatos. O sindicato é um lugar bom. Quando éramos
jovens, acreditávamos nisso e viemos para essa luta. Precisamos atrair os
trabalhadores novamente.
O sindicato não pode ser espaço — como destaca uma parte da imprensa —
de banditismo e de corrupção. Noventa e nove por cento das entidades sindicais são
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sérias, honestas, decentes, assim como seus dirigentes. Essa é uma tarefa nossa na
reforma sindical e trabalhista.
Queremos representação no local de trabalho. Às vezes, sonho com isso. Por
quê nunca conseguimos implantar essa metodologia? O sindicato no Brasil trabalha
fora da fábrica. Temos algumas poucas experiências de representação no local de
trabalho, mas são pequenas em relação ao tamanho do movimento sindical
brasileiro. Esse talvez seja o grande avanço das reformas sindical e trabalhista:
transformar o espaço privado da empresa em público. A empresa não é dona dos
recursos naturais ou dos seus trabalhadores; ela é uma instituição que deve ser
respeitada, porque gera valor, lucro, emprego e renda.
Estamos trabalhando numa reforma no âmbito do capitalismo, mas o espaço
de dentro da fábrica não pode ser um domínio despótico do patrão. Tem de ser um
espaço onde tenhamos acesso à informação e haja possibilidade de representar os
trabalhadores. Então, a questão chave dessa reforma é a representação no local
trabalho.
Um tema antigo, que é o acesso às informações, também é algo com que
quase sonhamos, porque as empresas não dão acesso à informação alegando que
isso atrapalha a competição, a sua estratégia; enfim é aquela falação que todos nós
conhecemos.
Em relação ao financiamento, ele tem de ser compulsório. Não sei se será
imposto sindical ou outra coisa, mas ele tem de ser compulsório. Estamos dispostos
a disputar na sociedade a transparência da utilização desses recursos. Queremos,
sim, financiamento compulsório mas estamos dispostos a abrir as nossas contas. Se
trabalhamos com dinheiro público, temos de mostrar como o utilizamos. E vamos dar
um exemplo de condução nessa discussão de manipulação dos recursos públicos.
Para quê? Para fortalecer a negociação coletiva. Não faz sentido ter sindicato,
federação e confederação se eles não se sentam à mesa e negociam interesses. Se
for para ser sindicato que não se senta à mesa e não representa interesses, vira
ONG. As ONGs são extremamente respeitadas, mas elas não têm o papel de
negociar os interesses dos trabalhadores. Isso é papel do sindicato no mundo
inteiro.
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Qual é então nossa meta? Ter maior representatividade. Não sei se será por
categoria ou por ramo. O fato é que temos de ter muita sabedoria para encontrar
esse ponto de equilíbrio. Não caberia a mim, que sou do DIEESE, dizer isso.
Finalmente, o sindicato deve ser um instrumento de desenvolvimento
econômico e social. Temos de ganhar essa batalha na sociedade do ponto de vista
da melhoria da distribuição de renda, das condições de trabalho, da geração de
emprego. O Miro tocou num ponto chave quando disse que deveríamos sair dessa
reforma sindical e trabalhista com nova redução da jornada de trabalho. O avanço
tecnológico permite isso e politicamente é assim.
Quando o governo socialista francês disse que ia reduzir a jornada, disseram
que a França ia afundar. Reduziram a jornada e o país cresceu. Claro que há
pressão do empresariado, mas temos uma jornada longa no Brasil. Recentemente, o
escritório da OIT em Brasília divulgou dados mostrando que o Brasil é um dos
países que menos trabalha. Isso é mentira. O movimento sindical brasileiro já
contestou as afirmações na OIT. O Brasil é um dos países que mais trabalha no
mundo e em condições adversas, diga-se de passagem. Mesmo com jornada igual
— americano e brasileiro — as condições de trabalho e sua intensidade são muito
diferentes.
Não podemos tratar dessa reforma na disputa da luta dos incluídos versus
excluídos. Essa é uma armadilha dramática. Mais da metade dos trabalhadores
brasileiros não têm carteira de trabalho assinada. A maioria é de autônomos e de
empregados domésticos. Daqui a pouco vai aparecer uma horda de pessoas sem
nenhuma proteção social, sem previdência social. Protegê-las não pode ser o dilema
de Sofia da questão sindical, que não irá dar conta disso. Podemos pensar numa
reforma tributária que estimule a pequena e a microempresa a formalizar a
contratação de seus empregados.
Quem vai, contudo, incluir os excluídos? Se dependermos apenas da reforma
sindical não conseguiremos muita coisa. Se dependermos apenas dela, teremos de
rebaixar todos os padrões de direito trabalhista para trazer os 40 milhões de
brasileiros hoje fora do mercado de trabalho. É justíssimo trazê-los para a proteção
social; isso, porém, não pode ser feito no meio da armadilha sindical. Se for,
estamos fritos. E aí aparece novamente esse documento do Ministério da Fazenda,
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que é a lógica da focalização. Tudo bem, um país que não tem recurso tem de
focalizar, mas precisamos pensar como é que combinamos universalização de
direitos, que é o que nos interessa para esses 40 milhões de brasileiros que estão
fora do mercado formal de trabalho, com alguma focalização. É possível fazer
políticas focalizadas de eficiência, mas não a focalização como a lógica da política
social.
Não nos iludamos — e aqui encerro mesmo, nobre Deputado Jamil Murad —,
que a questão social não entra no debate econômico. Sou economista de formação
há muito tempo. Não somos formados para isso. A visão é: “Bom, deixa a coisa
andar, que o investimento vem, cresce a economia e aí o emprego aparece”. É
assim que pensamos. É muito difícil.
O João Guilherme tocou num ponto simbolicamente chave: o Ministério do
Trabalho tem de estar em todos os conselhos importantes da República. Nos
Ministérios da área social não pode haver decisão econômica fora da incorporação
da dimensão social e do emprego. Se houver, “Inês estará morta”. Não podem tomar
decisões sozinhos, dizer que a taxa de juros é assim ou assado, que a política
monetária é assim ou assado, e acabou. Aí depois vamos ver o que acontece sobre
emprego etc.
O Presidente Lula tem enorme contribuição a dar nesse campo, mesmo pela
sua origem sindical. Este Governo tem de trazer o Ministério do Trabalho, como bem
lembrou o João Guilherme, concordo com essa idéia, para o centro dos debates,
senão os Ministros do Trabalho ficam sendo os bombeiros que ficam lá, primeiro
emprego aqui, não sei o que ali, resolve um problema ali, uma greve acolá. É
evidente que a macroeconomia não vai bem.
Os Deputados Jamil Murad e Antonio Carlos Pannunzio vão ter papel chave
nessa discussão. Infelizmente nossos Deputados e Senadores conhecem pouco a
discussão sindical e trabalhista. Há vários Deputados de origem sindical que têm
ligação histórica com o movimento do trabalho e que vão ter um papel estratégico
em convencer e esclarecer o conjunto do Congresso Nacional. Sou otimista,
considerando que o Governo é de Lula, em que se pode pensar, mesmo com uma
Oposição forte, como o PSDB, o PFL que têm interesses numa visão ampla para
essa discussão, para que saiamos disso com uma reforma boa, que avance o papel
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do sindicato na sociedade e que, sobretudo, ele seja visto como instrumento de
sabedoria.
O João Guilherme falou em prudência, cautela e caldo de galinha. Meu
filósofo de orientação é Paulinho da Viola: “Durante o nevoeiro, levo o barco
devagar". Concordo inteiramente com ele. Não adianta apressar a reforma, que,
apressada, não vai ser boa. Temos de ter uma boa reforma, mesmo que demore um
pouco mais.
Agradeço a todos o convite. Estou à disposição para os debates.
Muito obrigado. (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Deputado Jamil Murad) - Agradecemos ao Sérgio a
excelente contribuição. Estamos aqui para ouvir o Movimento Sindical.
Portanto, companheiros, o objetivo da audiência foi ouvir os expositores,
pessoas de grande prestígio, que se expressam em vários fóruns, escrevem para
revistas, jornais sindicais, submetem-se a entrevistas. É uma excelente, necessária
e indispensável contribuição.
Agora, como são 2 faces da mesma moeda, ouviremos os representantes dos
trabalhadores, dando preferência às primeiras inscrições das Centrais Sindicais e do
Fórum Sindical Trabalhista, cuja entidade principal é a CNTI. Outras lideranças
sindicais também estão inscritas.
Passo a palavra ao Deputado Antonio Carlos Pannunzio, que coordenará
essa fase do evento.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Antonio Carlos Pannunzio) - Antes de
chamar os inscritos, cumprimento os Srs. Sérgio, Altamiro e João Guilherme pelas
exposições consistentes e convictas a respeito daquilo que pensam. Sem dúvida, é
um momento importante para se abrir o debate. Essa é a melhor técnica para se
promover uma discussão de alto nível. As exposições exercem a função catalisadora
de uma reação química; são, no bom sentido, provocativas. A partir disso,
travaremos debates à altura da representação nesta audiência.
Anuncio a presença do Sr. Cláudio Lucchese, do Sindicato dos Práticos de
Farmácia de São Paulo.
Os inscritos para o debate são: Salim, da CGT; Wagner Gomes, da CUT;
Antonio Neto, da CGTB; Vanderlei, do Sindicato dos Frentistas; Lineu Neves, da
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Federação dos Servidores Públicos; Jeferson Barbosa, do Fórum Sindical dos
Trabalhadores, representante do Sindicato dos Servidores Públicos Municipais de
Sorocaba; Paulo Sabóia, da CGTB e João Bosco, do SINDALESP.
Há 10 inscrições aproximadamente. Se alguém mais quiser se inscrever, que
o faça agora.
Evidentemente adotaremos algumas regras. Permito-me — previamente
acordado com o Deputado Jamil Murad — estipular um tempo para cada um dos
manifestantes, caso contrário, o horário reservado à audiência vai se esvair e nem
todos terão oportunidade de falar. Determinamos o tempo de 3 minutos. Numa
circunstância ou outra, poderemos estendê-lo um pouco mais. Porém, vamos
observar esse período, a fim de democraticamente todos se expressarem.
Passo a palavra ao Sr. Antônio Carlos dos Reis, o Salim, da CGT. (Palmas.)
O SR. ANTONIO CARLOS DOS REIS - Companheiros e companheiras,
cumprimento o Deputado Federal Jamil Murad pela excelente idéia de realizar esse
debate. Saúdo a Câmara dos Deputados, o Congresso Nacional, por levar essa
discussão a todo o Brasil. Cumprimento o Deputado Federal Antonio Carlos
Pannunzio e os Deputados Estaduais Hamilton Pereira e Nivaldo Santana.
Participamos de 3 aulas ministradas pelos companheiros Altamiro, João
Guilherme e Sérgio, mas quero fazer um protesto: anotei inúmeros pontos a serem
discutidos. Três minutos é pouco, porém, faz parte do processo democrático.
Como o João Guilherme disse, estamos comemorando 180 anos do
Parlamento brasileiro e o Movimento Sindical se faz presente na história há muito
tempo. São os grandes pilares da democracia no Brasil e no mundo. É fantástico
estarmos aqui trabalhando em conjunto.
Quanto à flexibilização trabalhista, dizem que a CLT é arcaica. É uma grande
mentira. A CLT, quando instituída por Getúlio Vargas, na década de 40, tinha
aproximadamente 600 artigos. De lá para cá foram inseridos mais de 300 artigos,
alguns inclusive há 10 anos. Como ser arcaica se sofre modificações todos os anos?
É uma balela que não podemos admitir.
Uma outra falácia é a afirmação de que o movimento sindical deve sobreviver
só com a contribuição de seus associados. No Corinthians, por exemplo, está cheio
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de palmeirenses defendendo as cores do clube rival, assim como no São Paulo há
muitos corintianos.
Concordo que o movimento sindical deve ser fortalecido. Toda instituição
democrática tem que ser fortalecida a todo momento. Mas o movimento sindical
brasileiro é um dos mais fortes do mundo e aqui estamos vendo isso. Se não fosse
forte, não haveria tamanha representatividade neste debate. (Palmas.)
Defendo também a idéia de que precisamos ter representatividade. A CGT foi
uma das primeiras centrais sindicais e uma das primeiras instituições a falar sobre
medição da representatividade. Isso é verdade, precisamos medi-la, porque há
entidades que não têm a devida representatividade. Não podemos ser como aquele
clube de futebol, comandado à época pelo Sr. Vicente Mateus, que fazia e acontecia
e ninguém mandava em mais nada. Não pode ser assim. Devemos ser
democráticos.
Quanto à adequação salarial. Acho fantástica a pesquisa do DIEESE que
aponta para a média salarial de 200 dólares do trabalhador brasileiro, o que é muito
pouco. Sabem por que é muito pouco? Nesta sala, provavelmente, ninguém ganha
200 dólares, ganha mais.
Precisamos ir ao interior dos nossos Estados. Não falo sobre o interior dos
Estados que têm mais dificuldade, mas do interior de São Paulo. E os Deputados
aqui presentes sabem quanto ganha um cortador de cana na nossa indústria. Por
sinal, estamos com um grande potencial de exportação de cana.
Há poucos dias, inclusive, a OMC disse que os Estados Unidos têm que
receber o aço do mundo sem sobretaxá-lo. Mas aquele país já disse que não irá
obedecer. E o aço brasileiro é um dos mais baratos do mundo. Precisamos analisar
isso e se vamos ter que continuar vivendo com um salário de 1 dólar por dia, como
existe na China. É essa a preocupação do Governo, do Congresso e das
instituições? Não pode ser assim.
Precisamos de uma CLT adequada à nossa realidade. Deve haver um
debate, sim, mas um debate ponto por ponto, para sabermos o que pode ser
modificado, mas não um debate para simplesmente extinguir direitos. (Palmas.)
Quero parabenizar o Jamil pela faixa que elaborou: “Geração de emprego
com redução da jornada de trabalho”. Serginho, fique atento no DIEESE, por favor,
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pois não podemos permitir que a redução da jornada de trabalho seja uma barganha
para a flexibilização das leis trabalhistas e retirada de direitos dos trabalhadores. Na
realidade, dizer que não se extinguirá o 13º com a flexibilização é uma falácia. Quero
dizer aos companheiros que já trabalhei em empresa em que a hora extra já estava
computada no meu salário. Diziam que eu receberia 300 reais por mês, mas, na
realidade, já estava incluído o valor das 12 horas extras de trabalho, quando o
salário mínimo, na época, era de 278 cruzeiros.
Quer dizer, essa idéia de flexibilização negociada valer sobre o legislado
significa precarizar as relações de trabalho, é fazer com que o trabalhador tenha
embutido no salário o 13º, as férias e o fundo de garantia.
A carga tributária brasileira é muito alta. O produto brasileiro é muito caro.
Mas por que não desonerar a produção nessa reforma tributária? Ninguém falou
sobre isso. Querem fazer isso por intermédio da flexibilização das leis do trabalho,
para fazer com que o trabalhador ganhe menos, tenha menos direito, não tenha
férias, não tenha fundo de garantia; para evitar que as mulheres não tenham direito
à licença-maternidade.
Esteve aqui no Brasil recentemente uma representante da Finlândia. Naquele
país a licença-maternidade é de 11 meses, prorrogáveis por até 36 meses, conforme
a situação. Essa é a questão: buscar direitos sociais. E dizem que os direitos
trabalhistas do Brasil são muito amplos.
O Congresso Nacional é uma instituição democrática, participativa, abre
realmente o debate e sabe o que acontece.
Precisamos apoiar a posição do Presidente da Câmara, Deputado João Paulo
Cunha, de adiar essa reforma para 2005, para que possamos realmente fazer o que
o João Guilherme propôs: fazer bem feito, através do debate, ainda que demore.
(Palmas.)
Passaríamos o ano de 2004 discutindo esse assunto. O João disse que temos
que orar e vigiar. Cuidado trabalhadores e sindicalistas! Não vamos esmorecer na
luta! Vamos fazer uma moção de apoio ao Deputado João Paulo, para que essa
reforma possa ser discutida em 2005.
Digo sempre que o Lula realmente é sindicalista, trabalhador, mas o Miro
disse que as forças externas, do poder econômico, das multinacionais fazem lobby
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violentíssimo dentro do Congresso Nacional, do Palácio do Planalto e dos
Ministérios. Não podemos nos afastar dessa luta.
Ainda continuo dizendo uma coisa — e interpretem da melhor maneira
possível, companheiros Deputados Federais e Estaduais: precisamos nos organizar
para invadir o Congresso Nacional e, se for necessário, trazermos 20 ou 30 mil
sindicalistas para Brasília, a fim de mostrar a força de nossa oposição.
Companheiros, foi encaminhada uma carta a Brasília, debatida esta semana
no Fórum Sindical dos Trabalhadores, assinada por 16 confederações e por 4
centrais sindicais, dentre elas a que presido. É a posição de 90% do movimento
sindical e do trabalhador brasileiro. (Palmas.)
Não podemos deixar que 10% do movimento sindical brasileiro, que não
representa a maioria — como ensina a democracia —, imponha suas idéias a todos
que estão aqui e que querem realmente democratizar e fortalecer o sindicalismo,
mas, em especial, dar subsistência ao movimento que desempenhou papel
importante nas Diretas Já, no Fora Collor, enfim, em todos os momentos históricos
da política brasileira, inclusive na eleição do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Unidos, estaremos sempre presentes e com a vitória na mão. Um abraço a
todos. (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Deputado Antonio Carlos Pannunzio) - Agradeço ao
Antônio Carlos dos Reis, o Salim. Ele usou um pouco mais do tempo de 3 minutos,
mas expôs muito bem suas teses. Pedimos aos próximos companheiros que
procurem também respeitar o tempo.
Convido para fazer uso da palavra o Sr. Wagner Gomes, da CUT.
O SR. WAGNER GOMES - Bom dia a todos os companheiros da Mesa.
Vou falar sobre a importância do movimento sindical, mas antes quero
registrar que 3 Deputados aqui presentes são sindicalistas: Santana, Hamilton e o
Jamil. Não sei se o Deputado Antonio Carlos Pannunzio é sindicalista, mas sei que
os outros 3 são.
Estou de pleno acordo com os 3 pronunciamentos e acho que as reformas
sindical e trabalhista estão vinculadas.
Há o problema da unicidade sindical. Para se reduzir direitos, objetivo central
dos empresários, serão necessários acordos setorizados com as fábricas. Para isso
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terão que acabar com a unicidade sindical, exatamente para enfraquecer o
movimento sindical e fazer acordos pontuais.
Na correlação atual de forças, com 20% de desempregados, mesmo no
Governo Lula, uma reforma da CLT certamente reduzirá direitos. Não tenho dúvida
quanto a isso.
Somada a composição do Congresso aos 20% de desempregados no País,
na hora de se mudar a CLT o que vai pesar é a criação de empregos, pois os
empresários irão pedir a redução de direitos ou não gerarão empregos. Será o
principal problema.
O Governo que deixou o que chamamos de herança maldita já dizia que
precisava privatizar empresas nacionais para gerar emprego e arrecadar dinheiro
para investimento em infra-estrutura e transporte. O resultado é que hoje a maioria
das estatais, ou pelo menos as mais importantes, foram privatizadas e não houve a
propagandeada geração de emprego e nem dinheiro para infra-estrutura no País.
Estamos quebrados e sem estatais.
Quando ouvi que a reforma trabalhista vai ficar para 2005, sinceramente,
fiquei feliz, pois não há como, na situação atual, nos contrapormos a ela.
O Governo Lula foi eleito e agora todo mundo disputa com a cúpula do
Governo. É um Governo de frente ampla, e cada um tem o seu interesse. No
Governo há o setor mais avançado, que está inclusive nesta sala, representado pelo
movimento sindical e os partidos de esquerda, mas há também o outro lado, o do
empresário, este puxando para ver para que lado vai essa história.
Existe também a questão do imposto sindical. Dizem que é um recolhimento
para sustentar pelego. Pode até ser que sustente alguns, mas também sustenta a
maioria dos sindicatos combativos. (Palmas.)
Por exemplo, sou representante dos metroviários e nosso sindicato vive do
imposto sindical. Se acabar com o imposto sindical, pago pelo trabalhador, haverá o
imposto negocial. E como funcionará? O patrão, na hora de negociar, dirá para o
sindicalista o seguinte: “Ou você fecha acordo conosco ou não haverá taxa
negocial”. E haverá muito sindicato acabando com o direito do trabalhador para
poder ter o imposto negocial para sustentar o sindicato.
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O imposto sindical, apesar de seus problemas, é mais honesto e cristalino do
que os outros, porque não precisa vender os direitos para assinar um acordo para o
patrão concordar em ter um imposto negocial.
Em relação ao debate da estrutura sindical, dentro da CUT temos posições
diferentes. Hoje a proposta da CUT é pela manutenção da unicidade, mesmo não
sendo a proposta original, por isso ela está costurando acordos. (Palmas.)
O entendimento da CUT é de que haja um debate para vermos como se dará
a reforma sindical, mas que haja uma consciência entre todas as centrais.
Essa iniciativa dos Deputados Jamil Murad e Antonio Carlos Pannunzio é
extremamente importante, mas o movimento sindical tem de bater mais bumbo, caso
contrário,
pouco adianta esse esforço.
Quando há crise sempre se pensa em retirar direitos de alguém. E sobra
sempre para os palhaços, os trabalhadores. Por isso, acho que vai sobrar de novo e
temos que ficar espertos.
É imprescindível a manutenção da unicidade e da sustentação financeira
obrigatória. É o mais aconselhável hoje para o movimento sindical. (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Deputado Antonio Carlos Pannunzio) - Muito obrigado,
Wagner.
Passo a palavra ao Antônio Neto, da CGTB.
O SR. ANTÔNIO NETO - Bom dia, integrantes da Mesa, companheiros
Deputados, Serginho, Dr. Guilherme, companheiras e companheiros. Inicio as
minhas palavras com muita alegria, porque ouvi a posição da CUT em defesa da
unicidade e da sustentação financeira compulsória. Já estou com meio caminho
andado nessa luta. (Palmas.) É sinal que estamos ganhando mais aliados.
Tenho a mesma posição externada pelo Salim, quando falou sobre os direitos
da CLT na reforma trabalhista. A FIESP — e é bom termos isso bem claro —
cometeu um crime contra o Brasil quando adotou o Consenso de Washington,
acatando a tese do tal Custo Brasil, e fez, durante os anos 90, uma campanha de
enxugamento do Estado, privatização e precarização das relações trabalhista. O
resultado todos vimos.
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Felizmente, em outubro do ano passado, conseguimos estancar aquele
processo com a eleição do companheiro Lula para Presidente da República. Esse foi
o principal momento, porque a filosofia do Custo Brasil era a de que o trabalhador
brasileiro custava caro, mas esqueceram de compará-lo aos trabalhadores de países
como a Alemanha, onde o valor do salário é 20 vezes maior. Esqueceram também
do valor do salário mínimo no Brasil, que uma vez já esteve no patamar de 100
dólares. Mas houve uma série de atritos em razão dessa política.
Provoco o Serginho dizendo que eu queria ganhar 40 dólares, mas se vivesse
na China, país que fornece à população serviços gratuitos de educação, saúde e
outros. Não se pode comparar isso. Não se pode comparar o salário do Brasil com o
do Vietnã. Pode até ser que nos países capitalistas se possa dizer que há
precarização, mas nesses países tudo cresce, em média, 7 a 10%. Com isso se
garante à população um padrão de qualidade em educação e saúde, ainda assim
não se pode comparar aos 40 dólares da China, completamente diferentes dos 500
dólares do trabalhador brasileiro, que precisa comprar educação, saúde e uma série
de outras coisas.
Essa comparação nos preocupa, porque parece que estamos endossando o
que o capitalismo está dizendo, ou seja, que a China e o Vietnã são parâmetros para
percebermos a nossa perda de competitividade. Não é só isso. Se o Estado cumprir
o seu papel, ninguém vai brigar por uma salário mínimo de 600 ou mil dólares.
Vamos lutar para ter saúde e educação até o 3º grau gratuitos, aposentadoria digna,
habitação.
O ponto principal dessa briga é a mudança da estrutura sindical. Estão
dizendo que a panacéia para resolver o problema do Brasil é destruir o movimento
sindical. Inclusive isso foi citado em teses.
Vou parafrasear um artigo publicado pelo Salim há uns 4 anos. Ele
transcreveu parte do acordo firmado pelo Governo Fernando Henrique com o Fundo
Monetário Internacional, cujo texto preconizava o fim da estrutura sindical brasileira,
recomendando o pluralismo sindical.
O BIRD reconheceu há poucos dias que temos o sindicalismo mais bem
estruturado da América Latina. Disse isso há mais tempo. Hoje sou Vice-Presidente
da Federação Sindical Mundial, da qual fui Presidente por 4 anos. Viajei por vários
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países do mundo e não vi estrutura sindical e direitos trabalhistas como os nossos.
(Palmas.)
Aliás, participei de uma palestra na Universidade de Nova Iorque e causou
espécie aos universitários e às pessoas que lá compareceram a notícia de que
temos o direito à greve assegurado na nossa Constituição. Devemos ter idéia do que
temos em termos de direitos trabalhistas, porque às vezes não medimos a
densidade disso.
Somos defensores — e queremos reafirmar isso para esta Comissão Especial
— da unicidade sindical, da manutenção do sistema confederativo, do custeio
compulsório.
É bom não cairmos nessa história de taxa negocial aprovada em assembléia.
Compulsório para mim é aquele que define que o trabalhador deve pagar sua
contribuição, que seja descontada em folha e que se identifique para onde vai o
recurso: sindicato, federação ou confederação. Não podemos entrar nessa, porque
até 1972 não era assim e não chegava dinheiro à federação ou às confederações.
Temos também que deixar claro o que queremos: o custeio tem que ser
compulsório, com fonte e destinação definidas.
Quero fazer um alerta aos companheiros. A notícia de que a discussão será
adiada para 2005 é muito boa, mas é bom não passarmos a idéia de que o
movimento sindical não quer reformas. Não é verdade. Queremos reformas, sim.
Queremos uma Comissão Nacional de Registro Sindical que acabe com essa
anarquia que se estabeleceu no Ministério do Trabalho, com o Ministro Dornelles, de
que o sindicato faz uma assembléia, Deputado, no dia 24 de dezembro, às 18 horas,
sem a presença de um membro da categoria, mas, como cumpriu o edital, consegue
junto ao Ministério a carta sindical. Isso não queremos.
Queremos respeito à unicidade sindical, à organização e aos trabalhadores
para acabar com essa história de representação e representatividade. Para nós, o
movimento sindical brasileiro, que alcança a média de 26% de filiação — Serginho
pode comprovar isso melhor que eu —, quando na França está em torno de 7% e
nos Estados Unidos chega a 2%, já tem uma grande representatividade. E vêm dizer
que precisamos aumentar a nossa representatividade! Há categorias — talvez o
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Wagner possa citar o exemplo dos metroviários — que chegam a 40%, 50% ou 80%
de filiação.
Queremos também a elaboração de um Código Eleitoral Sindical para
democratizar as eleições sindicais, objeto das principais críticas que recebemos. A
sugestão de nossa central é colocar em votação o voto universal na categoria. Se o
trabalhador tiver carteira assinada, vota. Assim como pagamos imposto, também
votamos. Quem quiser ser candidato precisa pertencer ao sindicato, respeitar o
tempo de filiação.
Um Código Eleitoral Sindical não é novidade, a Venezuela já tem. Deve-se
respeitar o Tribunal Regional Eleitoral Sindical lá existente, que dita as regras. Mas
vamos criar um código ou então uma comissão de enquadramento sindical ou de
registro sindical.
A questão das centrais é a grande divergência do movimento sindical hoje.
Para sermos coerentes com o princípio da unicidade sindical — nós da Central Geral
dos Trabalhadores — devemos entender que não cabe mais de uma central no
sistema confederativo. Deve-se ter apenas uma, e que a lei decida como será o
processo eleitoral, a fim de que possamos recompor o que tentamos em 1980, por
ocasião da CONCLAT e das ENCLATs. Se optarem por mais de uma central, que
virem ONGs. Estou com você, Serginho: que virem ONGs. Hoje, infelizmente, somos
ONGs e não queremos que central sindical seja sindicatão, substituindo sindicatos
na assinatura de convênios e acordos, deles retirando a representatividade.
(Palmas.)
Temos que fortalecer os sindicatos. Este, sim, tem condição de enfrentamento
imediato, e não as cúpulas decidindo o que fazer.
São as teses que gostaríamos de apontar para esta audiência sobre reforma
trabalhista.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Antonio Carlos Pannunzio) - Muito obrigado,
Antônio Neto.
Antes de passar a palavra ao próximo orador, queria, com muita alegria,
registrar a presença entre nós da Deputada Estadual Ana Martins, do PCdoB.
(Palmas.)
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Na seqüência, chamamos o representante do Sindicato dos Frentistas,
Vanderlei.
O SR. VANDERLEI - Em primeiro lugar, quero parabenizar, em nome da
Federação dos Frentistas, todos os presentes pelo exemplo de cidadania que estão
dando aqui. Cumprimento o Deputado Jamil Murad, na pessoa de quem saúdo os
integrantes da Mesa por essa iniciativa, pois aqui a voz dos trabalhadores e de seus
representantes é efetivamente ouvida.
Gostaria de dizer objetivamente que não se pode curar a doença matando o
doente. Não vamos resolver o problema da saúde pública com hospitais cuja direção
tem problemas de corrupção etc., fechando-os. Não vamos resolver o problema do
nosso País fechando o Congresso Nacional, até porque estamos aqui rendendo
homenagens a este mesmo Congresso Nacional que comemora 180 anos. Não
vamos resolver o problema do sindicalismo aniquilando os sindicatos. Não vamos
resolver o problema do País fechando instituições. É uma forma covarde de se
resolver o problema. A forma corajosa é colocar o dedo na ferida, fazer o mea-culpa
e a autocrítica. Não são os outros que vão resolver os nossos problemas. (Palmas.)
Para isso precisamos ter disposição, nos organizar e, efetivamente, meter o dedo na
ferida.
Faço aqui uma denúncia, meu amigo e companheiro, Deputado Jamil Murad,
em relação ao que está acontecendo com a Súmula 666. Essa súmula é cabalística
— quem já viu o filme A profecia ou já estudou um pouco a Bíblia sabe que esse
número significa o fim do mundo. Quiseram fazer um trocadilho com o movimento
sindical, associando o fim do mundo ao fim do movimento sindical. Isso é muito
grave. Estou ouvindo comentarem agora — e já li a respeito — que a reforma vai
acontecer em 2005. Vamos ter um tempo para discuti-la e até queremos isso. Como
disseram os companheiros que nos antecederam, não somos contra a reforma, mas
a queremos consistente, democrática e que realmente chegue a um denominador
comum. Mas até 2005, ou antes, será que existirão sindicatos para combater as
idéias contrárias e defender o verdadeiro movimento sindical? Será que ainda
existirão sindicatos com a Súmula 666?
Faço outra denúncia clara do que está acontecendo com nossa categoria e
com outras representadas aqui. Falo com a moral de uma Federação de Frentistas
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que, no Estado de São Paulo, tem 80% da sua categoria associada e que não tem
medo de sobreviver apenas com a contribuição dos associados. Falamos com a
moral de quem elevou o salário mínimo pago pelos postos de gasolina no Estado de
São Paulo para R$ 800,00. Uma faxineira de um posto de gasolina ganha R$
800,00, R$ 575,00 de salário mais cesta básica e tíquetes, dentre outros benefícios.
É com essa moral que venho aqui dizer, meu caro amigo Deputado e senhores da
Mesa, que essa Súmula 666 quer quebrar os sindicatos.
Tive a felicidade de ouvir várias palestras do Sr. Sérgio Mendonça no PCDA,
uma grande escola para nós — e espero que seja para ele nessa discussão sobre
sindicalismo.
Mas a situação é de tal maneira grave que fomos a um posto de gasolina e o
dono nos disse que agora estávamos ferrados, pois havia chegado “a hora de a
onça beber água”. Ele nos disse que, se não rezássemos a cartilha direitinho,
nenhum funcionário do posto iria se associar, caso contrário, seriam mandados
embora, demitidos. A reação do dono do posto de gasolina é direta com o
empregado, não há chefe de setor, não há chefe de seção e nem chefe de
departamento pessoal. Se o sindicato for combativo, fizer a denúncia e defender o
trabalhador, será ele expurgado compulsoriamente, mercê do que prevê a Súmula
666.
Estou dando o exemplo de um posto de gasolina, mas acontece em todos os
setores aqui representados. Será que ficaremos entregues a isso?
Não temos medo de os trabalhadores serem ou não associados; porém, esse
esquema é diabólico: mata o trabalhador, fere sua direção e contamina o nefasto
projeto neoliberal. Não vamos concordar com isso.
Então, não podemos deixar para resolver o problema do associado em 2005.
Temos de resolvê-lo agora. E peço a V.Exa., meu caro Deputado Jamil Murad, que
faz parte da Comissão, juntamente com o Deputado Antonio Carlos Pannunzio e
outros, que toque nessa ferida. Porque estão querendo aniquilar o direito de
representação do trabalhador agora, e não em 2005. Isso é muito sério.
Outra proposta objetiva dos frentistas do Estado de São Paulo e de todo o
Brasil diz respeito à contribuição compulsória. A contribuição compulsória se justifica
pelo seguinte fato: se recebo um benefício e concordo com ele, pois me faz bem,
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tenho de pagar por essa assistência. Infelizmente, nosso povo não é politizado o
bastante. Foi-nos passada a informação de que tudo que não é pago é melhor. Ora,
se todos os trabalhadores são beneficiados por um dissídio ou convenção coletiva
que lhes garanta cesta básica, tíquete-refeição ou melhoria de salário, os
trabalhadores não têm o direito de dizer “não” à contribuição compulsória, do
contrário, terão eles de dizer “não” também ao aumento de salário, à cesta básica,
ao tíquete-refeição e a outros benefícios conseguidos pelo sindicato.
Os sindicatos devem ter relação transparente com os trabalhadores. Sou
dirigente sindical, luto pelo seu benefício, você é o beneficiado e tem de pagar.
Patrão não sustenta sindicato, quem sustenta sindicato é o trabalhador, porque ele é
quem se beneficia da instituição. Essa é a relação transparente com relação à
contribuição compulsória. Ou seja, dou o benefício e recebo alguma coisa em troca.
Não se trata de tirar nada de ninguém e nem de ser sustentado por terceiros. Até
porque, se há problemas na direção dos sindicatos, os trabalhadores têm todo o
direito de, democraticamente, lutar para resolvê-los; se for o caso, até tirando
diretores.
Quanto ao critério de unicidade, claro que ele tem de existir. Não podemos
permitir a pluralidade, o que seria uma panacéia. Tal recurso simplesmente
beneficiaria o capital estrangeiro, aventureiros interessados em dividir os
trabalhadores, enfraquecer sindicatos e aniquilar o direito do trabalhador. Então, a
unicidade se justifica por isso, o que não quer dizer que o poder tem de ficar com um
ou com outro. A unicidade significa que o poder tem de ser organizado. E ele só se
organiza dessa forma.
Para concluir, quero parabenizar os dirigentes sindicais representantes das
centrais. O companheiro Neto é um sindicalista verdadeiro. Em todas as reuniões
que vou, importantes como esta, sempre o encontro. O companheiro Salim, a
mesma coisa. Eles sempre estão presentes. A CUT também, apesar de algumas
vezes defender idéias contrárias. Parabéns às centrais e sindicatos verdadeiros, que
sabem da importância deste ato.
Muito obrigado, e desculpem-me a demora. (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Deputado Antonio Carlos Pannunzio) - Muito obrigado,
Sr. Vanderlei.
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Quero fazer um apelo aos próximos oradores no sentido de sermos um
pouquinho mais sucintos para que todos os inscritos tenham também oportunidade
de falar.
Na seqüência, concedo a palavra ao Sr. Lineu Neves Mazano, Presidente da
Federação dos Sindicatos dos Servidores Públicos do Estado de São Paulo.
O SR. LINEU NEVES MAZANO - Boa tarde a todos. Saúdo o Deputado
Antonio Carlos Pannunzio, que preside este debate, o Deputado Jamil Murad, e, na
pessoa do nosso mestre Hamilton Pereira, de muito prestígio, pelo qual temos muito
respeito, cumprimento todos os demais companheiros e companheiras.
Na verdade, este debate é bastante importante para refletirmos sobre a
questão dos servidores públicos. Muito se fala sobre reforma, mas nem sempre se
reconhece o serviço público como algo importante para a sociedade. Nós, servidores
públicos, que adquirimos o direito de sindicalização a partir da Constituição de 1988,
sequer somos representados de fato. Digo isso porque não temos negociação
coletiva, acordo coletivo, data-base. Não temos nada disso.
A legislação pública é complexa, confusa. Cito, por exemplo, a Lei de
Responsabilidade Fiscal. Como disse o Governador de São Paulo, quero ver como
ficarão as coisas caso a recessão continue e o Estado não tenha como aumentar
suas receitas. E estamos no limite imposto pela lei. Não entrando em detalhes,
ressalto também a questão da segurança, pleiteada por toda a sociedade. São
Paulo não tem como investir em segurança pública, pois a Lei de Responsabilidade
Fiscal limita tais investimentos. E é assim que funciona a administração pública.
Nesse contexto estão os servidores públicos. Desde a implantação do Real,
não temos revisão de salários, pelos menos a maioria. Em julho de 1994, um
trabalhador braçal no Estado de São Paulo ganhava R$ 44,47 de salário-base. Ele
ganha isso até hoje. Nada mudou. Parece até que serviço público é algo sem
importância.
Então, estamos sofrendo duras conseqüências decorrentes da falta de
vontade dos governantes, que não respeitam o sindicato. E faço aqui um
agradecimento pela nossa participação no Fórum Sindical dos Trabalhadores, que
está mexendo com essas questões e com certeza conseguirá prorrogar as
discussões para que nós, trabalhadores — porque servidor público é trabalhador —,
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possamos dar nossa contribuição. Sabemos quais reformas queremos e a melhor
forma de realizá-las. Inclusive acolhendo sugestões como as que nossos mestres
Altamiro e João Guilherme nos deram. Ambos estão sempre conosco nesses
debates.
Portanto, o debate de hoje é muito importante. Nossa Federação está lutando
junto ao Fórum Sindical dos Trabalhadores. Inclusive a bancada dos trabalhadores
na plenária realizada pela DRP, coordenada pelo Guiba, nos dias 27 e 28 de agosto
passado, apoiou documento encaminhado ao Fórum Nacional do Trabalho.
Vários pontos apresentados atendem aos interesses dos servidores públicos.
Houve consenso na bancada dos trabalhadores. Aproveito novamente para
agradecer a todos. Lá estavam 6 centrais e diversas federações e confederações.
Naquela oportunidade, criticamos, por exemplo, o fato de no serviço público,
principalmente nas Prefeituras, a pessoa ao assumir um cargo no sindicato perder
automaticamente sua função. Porque no serviço público os cargos são todos de
confiança. Não há carreira. Estão acabando com tudo isso. Então, é um desastre,
uma falta de respeito. Por isso, a bancada dos trabalhadores defende que o Brasil
ratifique a Convenção nº 151, muito importante para todos nós.
E lá defendemos também, Deputado Jamil Murad, que conhece bem nossa
situação geral e está conosco nessa luta, que no serviço público tem de haver
negociação coletiva. E para isso peço o apoio dos Deputados membros da
Comissão Especial. A Central dos Servidores Públicos está elaborando uma
proposta, que vem sendo discutida há 2 anos, e pretende apresentá-la ao
Congresso Nacional. Diz respeito à regulamentação das negociação dos servidores
públicos de uma forma geral. Ela vem sendo trabalhada por uma pessoa muito
importante, que todos respeitamos. Essa proposta deve estar sendo apresentada no
início do próximo ano. Muito em breve estaremos discutindo a respeito.
Pergunto: sem negociação coletiva, data-base, revisão salarial, temas
tratados pelo inciso X do art. 37, de que vale o sindicato dos servidores públicos? O
homem faz o que quer. A alegação é a de que o Governo está no limite da lei, que
nada pode fazer, porque a legislação não permite. E o servidor fica aí, como disse,
sem revisão salarial.
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Hoje, qual é o percentual de desemprego em São Paulo? Quantos milhões? E
todos precisam de serviço público. Cada vez mais cai o poder aquisitivo e aumenta a
responsabilidade de o Estado atender às necessidades do cidadão. Mas não está
havendo consideração alguma.
Portanto, nossa participação no debate é importante. Temos de lutar pelo
fortalecimento do Ministério do Trabalho, como disse o companheiro João
Guilherme. Tem de haver consideração com o serviço público. Nós, líderes sindicais,
defendemos um serviço público de qualidade. Apenas dessa maneira alcançaremos
a valorização do servidor. E o Governo não está cuidando disso. Então, este é o
momento.
Destaco aqui a posição do Presidente da Câmara, Deputado João Paulo
Cunha. Precisamos ficar de olho. S.Exa. é contra o acordo que o Presidente Lula e o
Ministro da Fazenda negociam com o FMI.
Então, exigimos que qualquer proposta de reforma trabalhista e sindical seja
amplamente debatida. E se ela realmente for necessária, que seja apresentada por
nós. Precisamos tratar dessas questões.
Quero dizer que mantemos nossa posição quanto à unicidade sindical. Claro,
precisamos definir também o sistema sindical dos servidores públicos. Defendemos
a comissão no enquadramento sindical para que tenhamos unicidade com regras.
Temos de ter código eleitoral. Precisamos moralizar muita coisa. Algumas batatas
podres vêm fazendo com que o saco todo seja rejeitado. Estamos juntos nessa luta.
Muito obrigado. (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Deputado Jamil Murad) - Muito obrigado, companheiro
Lineu.
Tenho aqui a relação dos inscritos: Jefferson Barbosa, do Fórum Sindical dos
Trabalhadores, cuja entidade principal é a CNTI; o representante dos Sindicatos dos
Servidores Municipais; Paulo Sabóia, da CGTB; João Bosco, do SINDALESP;
Calazans, Presidente do Sindicato dos Trabalhadores de Hotéis, Bares e
Restaurantes; e Francisco, representante dos frentistas de Campinas.
Quero fazer a seguinte ponderação: aqui ao lado já há um certo número de
assistentes sociais aguardando para ocupar este espaço. É que a Deputada Ana
Martins reservou o anfiteatro para fazer uma reunião com os assistentes sociais de
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todo o Estado. Mas como este seria o melhor lugar para fazermos nossa audiência,
combinamos de ajustar nossos horários. Então, S.Exa. quis colaborar e contribuir
conosco. Prometemos que, no mais tardar, às 13h30min, estaríamos fora da sala.
Então, no começo da reunião, propusemos 3 minutos para cada orador. Mas
esse tempo estava irreal. Proponho aos companheiros ouvirmos 3, 4 ou 5 inscritos,
no máximo, e encerrarmos. Depois os expositores terão novamente a palavra para
finalizar a audiência pública. Então, nosso prazo é até às 13h30min.
Retorno a palavra ao nosso Presidente, Deputado Antonio Carlos Pannunzio.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Antonio Carlos Pannunzio) - Com a palavra
agora Jeferson Barbosa, representante do Fórum Sindical dos Trabalhadores.
O SR. JEFERSON BARBOSA - É uma grande satisfação estar nesta Casa,
neste Auditório Franco Montoro, o ilustre ex-Governador do Estado de São Paulo de
cujo Governo tive a honra de participar. É gratificante estar aqui nesta data de
comemoração dos 180 Anos do Poder Legislativo, num evento que une a Câmara
dos Deputados e a Assembléia de São Paulo. E une exatamente pelo fato de esta
ser uma Comissão Especial que trata da reforma trabalhista, pauta que nós,
sindicalistas, vimos discutindo há muitos anos, mas de maneira especialmente cruel
nos últimos 8 anos do Governo FHC, com a ameaça, a pressão e o peso do
neoliberalismo comandado pela banca internacional via FMI, como todos sabemos.
Estou aqui para representar o Fórum Sindical dos Trabalhadores. Então,
primeiro, um esclarecimento: o Fórum Sindical dos Trabalhadores não é o Fórum
Nacional do Trabalho — FNT, mas também não é um fórum paralelo ao fórum oficial.
Paralelas nunca se encontram. E o nosso fórum pretende a grande convergência de
toda a classe trabalhadora, para que tenhamos força, poder de unidade e de luta
para enfrentarmos o que está posto aí na mesa, mas principalmente, como disseram
o Miro e o João Guilherme, o que vai vir em 2005 com a ALCA. Se vier este projeto,
não vai sobrar para ninguém, nem para a central, nem para a confederação e muito
menos para essa organização que nós, corajosamente, estamos defendendo há
tantos anos.
O Fórum Sindical dos Trabalhadores, esclarecendo, ilustres Deputados, não é
paralelo, porque foi inspirado no próprio Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que
esteve aqui conosco, no Hilton Hotel, dia 26 de novembro, onde ele não disse:
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“Trabalhadores de todo o mundo, uni-vos”. Ele não disse isso. Ele disse:
“Companheiros, eu quero que vocês se organizem. E eu só acredito no poder da
mobilização. Portanto, se vocês se mobilizarem, nós vamos lutar juntos”. Então,
nosso Fórum não é paralelo, ele foi inspirado na própria proposta do Presidente Lula
aqui para nós, em São Paulo.
Este fórum reúne, hoje, 16 confederações e 4 centrais sindicais. No último dia
21 tivemos uma longa conversa com o Paulinho, da Força Sindical. Há um ajuste
muito grande de pauta, o que torna possível a gente trazer também a Força Sindical
para este fórum. Quero dizer aqui que a palavra do Wagner em relação à CUT é
muito verdadeira, porque hoje a CUT defende, sim, na prática, a unicidade sindical.
Tanto assim que ontem e hoje estão reunidos numa cidade próxima a Curitiba vários
juristas, para rever a posição até agora defendida pela articulação sindical da CUT.
E rever no sentido de crescer na linha do Fórum Sindical dos Trabalhadores.
A proposta do FST é a melhor, Srs. Deputados. Tanto é melhor que está
sendo melhor na prática, porque está unindo tudo e convergindo para uma grande
força. Mas quero resgatar ainda, só esclarecendo, que este fórum tem, como
lembrou o companheiro Lineu aqui, os servidores públicos, que não podem ficar à
margem. Estamos defendendo que o Governo comece a sinalizar a favor da reforma
trabalhista, regularizando a situação dos servidores públicos, que não são
reconhecidos e não têm data-base.
Então, o nosso fórum incorpora todo o movimento dos servidores públicos,
coisa que não foi feita até agora de maneira clara. Mas o nosso fórum também
incorpora os trabalhadores rurais, Srs. Deputados.
A CONTAG, nos dias 7 e 8, realizou um seminário nacional e resolveu o
grande impasse sobre se era a favor de uma tendência minoritária que defendia a
pluralidade sindical ou se era a favor daqueles 2 terços majoritários que defendiam a
unicidade. E fechou e convergiu para a posição do fórum também, o que foi
reafirmado ontem em Brasília.
Então, o nosso fórum é majoritário porque representa quase a unanimidade
da base sindical neste País. A mídia não solta uma linha sobre o nosso fórum. O
companheiro João, da Agência Sindical, solta e-mails e releases todos os dias, mas
não sai nada na Folha de S.Paulo, no O Estado de S.Paulo, na TV Globo, porque
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existe uma organização na grande mídia para boicotar as informações verdadeiras,
o que realmente acontece, aquilo que é fato e que o jornalismo deveria fazer
repercutir.
Ontem, tivemos uma longa reunião, de 6 horas, com o Secretário de Relações
de Trabalho, Sr. Oswaldo Bargas, representando o Governo. Naquela reunião foi
dito para S.Exa.: “Governo, pare de tentar fazer o jogo de aparências e caia na real”.
A verdade da discussão sobre a reforma trabalhista sindical não está no
Fórum Nacional do Trabalho, hoje bastante esvaziado e boicotado pelo patronato
que sempre entra para boicotar. O Fórum Sindical dos Trabalhadores está
crescendo. Começamos com 12 confederações, hoje estamos com 16.
Incorporamos, recentemente, a CNTEE, que reúne os trabalhadores em
estabelecimentos de ensino, e a corajosa e valorosa Confederação Nacional dos
Vigilantes, filiada à CUT, mas está incorporada ao fórum.
Vou encerrar, dizendo que o Governo, na medida em que começa a sinalizar
para o adiamento, com esse encerramento açodado do debate, sinaliza na direção
dos nossos termos. Queremos ter tempo, como disse o João Guilherme, para
discutir uma boa reforma, não uma reforma que interesse aos banqueiros e ao FMI.
Muito obrigado. (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Deputado Antonio Carlos Pannunzio) - Muito obrigado,
Dr. Jeferson Barbosa.
O Próximo inscrito é o representante do Sindicato dos Servidores Musicais de
Sorocaba. (Pausa.) O seu representante indica que vai passar a vez. Então vamos
passar para o próximo orador.
Concedo a palavra ao Sr. Paulo Sabóia, da CGTB. Pedimos ao Sr. Paulo que
seja breve.
O SR. PAULO SABÓIA - Serei breve. Agradeço a oportunidade de participar
deste evento, pela representatividade espetacular que os senhores conseguiram dar
ao mesmo.
Sempre tentamos discutir a reforma trabalhista e acabamos discutindo
organização sindical. Por quê? Se não tivéssemos um cabo forte, mesmo com
qualquer lei isso não iria ser defendido, não teria como ser mantido. É natural que
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assim ocorra. Mas vou tentar falar sobre isso e um pouco sobre a reforma
trabalhista.
Primeiro, acho que se não tivermos clareza do passado para construir o
futuro, fica difícil. Querer destruir coisas para depois construí-las é algo
desnecessário, porque temos hoje um avanço enorme no Brasil.
A CLT é um documento único e revolucionário no Brasil. Quando ela foi
implantada, fez uma verdadeira revolução. Ela foi implantada por líderes socialistas
como Joaquim Pimenta, que era um intelectual socialista, a quem se juntaram
Evaristo de Moraes, Arnaldo Süssekind, ainda vivo, e juristas, que fizeram o que
havia de mais avançado no mundo na época. Então, comparam-na com a Carta de
Lavouro, para denegri-la, para dizer que ela é fascista, e isso não é verdade. Pelo
que vi na história, a CLT redimiu o trabalhador e deu-lhe muitas condições. Tanto é
que a carteira assinada — quem tem cabelos brancos iguais aos meus também sabe
que documento era esse — era um documento sagrado para o trabalhador, pela
natureza de suas anotações. Agora houve uma política organizada para tentar
flexibilizar direitos. Junto com isso veio a terceirização, a questão dos contratos
temporários, tudo isso em ataque à CLT, uma destruição de tudo isso que havia sido
estruturado.
Acho que dá para avançar na CLT, sim, com a visão do que ela representa,
para inclusive pegar esses que estão sendo chamados que não estão incluídos. É
preciso dar uma boa analisada nisso, porque há um ambulante lá, há outros, mas há
uma boa margem de ilegalidade, e precisamos dar cidadania a esse pessoal. E aí o
Congresso tem a responsabilidade ímpar de fazer leis que canalizem para isso. É
um absurdo sabermos que há 60% de informais sem registro e ficarmos apenas
observando isso de longe. Isso está fraudando não só o Fisco, mas também a
cidadania e o Brasil. Temos que tirar esse pessoal da ilegalidade, e isso pode ser
feito na reforma. Da mesma forma, integrar o funcionário público, trabalhador que
hoje está à margem, porque não tem direito à convenção coletiva e a tudo a que os
demais trabalhadores têm. É uma discriminação odienta e absurda!
Como eu disse, não dá para não falar em organização sindical. Eu tenho um
grupo de organização sindical no Fórum Nacional do Trabalho. Lá, a discussão está
sendo feita, no mínimo, de forma atabalhoada e, o que é pior, distorcida. Isso é
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horrível! A discussão, que era para começar em julho, só começou no final de
agosto. Houve 4 reuniões gerais. Dias 24 e 25 vai acontecer a última reunião do
grupo de organização sindical, principal grupo, e acaba a discussão. E já vai ter que
sair um projeto para apresentar ao Governo. Essa questão não pode ser tratada
dessa maneira, com tergiversações, com manipulações que lá estão ocorrendo. Isso
é um crime! É um absurdo! Isso não pode acontecer!
Outra panacéia é a Convenção 87, da OIT, que tentam pressionar para que
seja assinada. Quem esteve na OIT e nos congressos realizados sabe o que é
aquilo: um calhamaço, um livro enorme, com as críticas de quem não cumpre as
normas da OIT, feitas pelos experts. Lá, há um grupo, o principal, chamado de grupo
de cumprimento de normas. A direção da Comissão de Organização escolhe os
países que vão ser criticados e, depois, apenados na ONU. Na última reunião, havia
26 países. Desses, sabem quantos eram os países ditos poderosos? Apenas o
Japão, que foi retirado daquele instituto no dia seguinte. Quer dizer, eles julgam a tal
Convenção 87 para pressionar Zimbabwe, Brasil, Venezuela. E o Brasil hoje está
assumindo papel internacional fortíssimo. Então, lembro aos Deputados que não
podemos entrar nesse canto de sereia que piora a legislação na hora em que a
fragmenta. Está na cara que dividir enfraquece. E o (ininteligível) mesmo disse, o
Banco Mundial reconhece um movimento sindical mais estruturado.
Podemos caminhar para melhorar essas questões. Em 1988, na promulgação
da Constituição, ocorreram alguns problemas. Quando a Comissão acabou
integralmente, surgiu um grave problema. Porque agora se propicia que os
sindicatos... Está havendo até corrupção lá dentro a três por quatro. Temos que
retomar aquilo, porque isso foi uma forma de quem não conseguiu mudar a lei, para
impor a criminalidade, atuar. O Governo usou aquilo, distribuindo cartas sindicais a
torto e a direito. Tem que se restituir aquela situação em que para ter cartas deveria
haver, primeiramente, uma associação e a associação tinha que dizer a que veio.
Por 2 anos, então, ela seria analisada para ver se viraria sindicato, se representava
realmente alguma coisa. E fortalecemos a democracia.
Em 1988, propiciaram-se mudanças nos estatutos, que se fizessem várias
coisas no sindicato, o que impede efetiva democracia no movimento sindical,
eleições livres, limpas etc. Temos que mudar isso, minha gente, para dar força a
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esse movimento, que já é bastante forte. E este é o momento certo, a chance única
de darmos a burilada necessária e deixarmos o movimento sindical em condições de
apoiar as profundas mudanças em defesa do nosso mercado e do nosso País,
porque o Governo que temos hoje é oriundo do movimento sindical como vários
Deputados aqui também o são.
Eu gostaria de dar um toque para o Sr. Murad, por ser o Relator da questão
da COFINS. Por exemplo, o setor de serviços. Num busilhão, estão aumentando a
COFINS para esse setor, está havendo a maior pressão. Quem paga sobre o lucro
presumido paga menos, as cooperativas também pagam menos quer dizer, na
questão do imposto , forçando o trabalhador a ir para a informalidade. Então,
temos que sentar e ver como se barra isso, como se garante a cidadania, como
fazer para que a estrutura de cobrança de imposto não desestruture a cidadania e
deixe o País a serviço do Fundo Monetário Internacional, que faz pressões a torto e
a direito, principalmente arrecadatórias. Estamos sendo pressionados a manter essa
estrutura arrecadatória. Podemos avançar muito para apoiar este Governo, que é de
mudança, e temos condições de fazer isso.
Muito obrigado.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Antonio Carlos Pannunzio) - Obrigado, caro
Sabóia, da CGTB. Tem a palavra o João Bosco, do SINDALESP.
O SR. JOÃO BOSCO - Gostaria de cumprimentar a Mesa, na pessoa do
Deputado Jamil Murad. Companheiros e companheiras, estou encaminhando à
Mesa documento que consubstancia a posição da entidade que represento, o
Sindicato dos Servidores Públicos do Poder Legislativo do Estado de São Paulo, que
congrega os funcionários desta Casa de leis e, também, os companheiros do
Tribunal de Contas do Estado de São Paulo.
Vou fazer a leitura da parte inicial do documento, para dar conhecimento aos
companheiros presentes.
O documento diz o seguinte:
“Srs. Deputados, o fortalecimento dos sindicatos
começa pelos seus princípios de unidade, liberdade e
autonomia sindical. Na Constituição cidadã de 1988, os
trabalhadores avançaram nessa conquista, rompendo
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com a estrutura ministerialista, com a carta sindical, o
estatuto padrão, assim como ampliaram os direitos
trabalhistas, estendendo-os aos trabalhadores do campo,
legalizando a organização sindical dos servidores públicos
e proibindo a intervenção do Estado nos sindicatos, mas
não conseguiram ainda garantir o pleno direito de
atividade sindical da organização sindical no local de
trabalho e do direito de greve.
Por isso, o objetivo da reforma sindical e
trabalhista, do ponto de vista dos trabalhadores das forças
progressistas, deve consistir em fortalecer os sindicatos,
manter e ampliar os direitos sociais e atualizá-los, tendo
em vista as transformações ocorridas nas relações de
trabalho no modo de produção capitalista.
A vitória de Lula e das forças democráticas e
populares criou um ambiente político para melhor. A
correlação de forças foi alterada em favor dos
trabalhadores, colocando na ordem do dia a luta por um
novo projeto de desenvolvimento nacional, democrático e
popular, que, em contraposição à ofensiva neoliberal, veja
na valorização da produção e do trabalho a fonte do
crescimento econômico com desenvolvimento do
mercado interno e a recomposição do papel do Estado.
A reforma sindical e trabalhista deve ser
compreendida como parte fundamental em separado
desse novo projeto”.
Vejam que nossa posição, em linhas gerais, coaduna-se com as posições
aqui expostas anteriormente seja pelos ilustres debatedores que compõem a Mesa,
seja pelos diferentes sindicalistas que ocuparam a tribuna.
Nós, servidores públicos, temos reivindicações específicas, muitas das quais
já foram aqui expostas pelo Presidente da nossa federação, o Lineu. Mas gostaria
de acrescentar a necessidade de o Brasil ratificar a Convenção 151, da Organização
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Internacional do Trabalho, que garante a sindicalização e a negociação no serviço
público. Da mesma forma, entendemos que qualquer mudança na legislação sindical
e trabalhista deve ser precedida, necessariamente, da revogação das medidas de
flexibilização e do entulho autoritário herdado da era FHC, de triste memória.
Entendemos que essas são medidas que precisam ser tomadas, de
preferência em caráter imediato e urgente, pelo Governo democrático e popular
instalado em nosso País.
Defendemos a unicidade sindical, a manutenção da estrutura confederativa e
a legalização das centrais sindicais. Entendemos, assim como os demais
companheiros, que temos de ver as associações sindicais como importante
instrumento de afirmação da democracia e da cidadania em nosso País.
Para encerrar, darei uma sugestão. Houve audiência pública na Comissão
que tratava da reforma previdenciária, da qual a TV Assembléia fez a transmissão na
íntegra, ao vivo e diretamente. Mas hoje notamos a ausência da TV Assembléia, o
que é lamentável. O companheiro do Fórum Sindical dos Trabalhadores registrou
que tem encaminhado à imprensa release e material informativo, mas a grande
mídia não dá a devida divulgação. Não podemos permitir que aconteça da mesma
forma nesta Casa de leis.
Ainda bem que faz parte desta Mesa o Deputado Hamilton Pereira, combativo
sindicalista e Presidente da Comissão de relações do trabalho desta Casa. Pedimos
a S.Exa. que, juntamente com os Deputados Antonio Carlos Pannunzio e Jamil
Murad, procure a direção da TV Assembléia logo após o encerramento dos trabalhos
e exija que ela entreviste pelo menos os 3 Deputados, representando todos nós. A
entrevista, que sintetizará a riqueza desta audiência pública, poderá ser transmitida
hoje ou em outra oportunidade. Temos que exigir da TV Assembléia que divulgue,
da melhor maneira possível, a realização deste evento. Afinal de contas, São Paulo
não é um Estado qualquer, já tem representatividade destacada.
Vou encaminhar nosso documento à apreciação da Mesa. (Palmas.)
Era o que tinha a dizer.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Antonio Carlos Pannunzio) - Obrigado ao Sr.
João Bosco.
Concedo a palavra ao Deputado Hamilton Pereira.
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O SR. HAMILTON PEREIRA - Quero prestar um esclarecimento com relação
à cobrança feita pelo Sr. João Bosco. Hoje está havendo, na Assembléia Legislativa,
o Parlamento Jovem, evento realizado anualmente. Dezenas de alunos, escolhidos
há algum tempo para representar suas escolas, aqui estão desde quinta-feira,
assessorados pelos técnicos da Casa e pelo Instituto do Parlamento Paulista, para
aprender as atividades desenvolvidas pelos Parlamentares. Os alunos assumem as
cadeiras dos Deputados e estão, neste momento, no Auditório Juscelino Kubitschek.
Portanto, a TV Assembléia está acompanhando esse evento.
É claro que procuraremos divulgar este fórum. Aqui estão presentes
assessores de comunicação, que farão a síntese dos importantes debates, visto que
a TV Assembléia agora está cobrindo o Parlamento Jovem, acontecimento que
conta, digamos assim, com o consenso de todos os 94 Parlamentares da Casa. Não
havia como deslustrarmos a relevância do Parlamento Jovem, embora esse fórum
seja também muito importante. Mas haverá oportunidade de a TV Assembléia dar
cobertura a outros encontros entre o movimento sindical e os Parlamentares tanto da
Câmara dos Deputados, quanto da Assembléia Legislativa.
(Não identificado) - Muito obrigado. Quero informar que procuramos trazer a
TV Câmara, mas não foi possível. Estou ficando frustrado, porque ninguém quis nos
filmar. (Risos.)
O SR. PRESIDENTE (Deputado Antonio Carlos Pannunzio) - Realmente, as
conjunturas não foram favoráveis. No entanto, tenho certeza de que o Deputado
Hamilton Pereira haverá de garantir um espaço na TV Assembléia.
Houve, no Congresso Nacional, em Brasília, uma série de audiências públicas
na Comissão Especial que trata dessa questão. Mas nenhuma delas teve a
magnitude deste evento ou fez análise tão profunda da atual conjuntura e
apresentou propostas tão relevantes como as que vimos aqui. Isso é motivo de
orgulho para nós, Deputados que representamos o povo paulista. Muito obrigado.
(Palmas.)
O representante do Sindicato dos Servidores Públicos Municipais de
Sorocaba já estava inscrito para falar. Peço-lhe que utilize sua capacidade de
síntese, porque temos mais 2 pessoas que também desejam usar da palavra. Além
do mais, queremos ouvir as considerações finais dos expositores.
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Então, convido a fazer uso da palavra o Humberto, representante do Sindicato
dos Servidores Públicos Municipais de Sorocaba. (Palmas.)
O SR. HUMBERTO - Na condição de representante dos servidores
municipais de Sorocaba e em nome dos demais servidores estaduais e federais,
quero ratificar as palavras de Lineu Neves Mazano, Presidente da FESSP-ESP, à
qual somos filiados. Também defendemos a unicidade, e fico contente de saber que
todos os presentes pensam da mesma forma, porque, no último fórum realizado na
Casa de Portugal, a CUT parecia ainda estar resistente à questão. Portanto, fiquei
feliz com a notícia passada pelo nosso Vice-Presidente.
Reitero o que disse o nosso colega frentista, que não podemos simplesmente
nos sentar e ficar tranqüilos, achando que nada vai acontecer. Então, temos que ter
cuidado quando dizemos que é bom esperar o ano de 2005, pois devemos, durante
esse período, preparar-nos e nos articular-nos melhor. Na verdade, como disse o
Neto, o sindicalismo brasileiro é um dos melhores do mundo, então, vamos defender
isso com unhas e dentes, para que continuemos a ser os melhores sempre.
Muito obrigado.(Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Deputado Antonio Carlos Pannunzio) - Agradeço ao
Humberto a exemplar capacidade de síntese que demonstrou.
Quero anunciar que também o Deputado Estadual Bispo Gê nos prestigia
com sua presença. Agradeço muito, Deputado. (Palmas.)
Na seqüência, chamo o Calazans, Presidente do Sindicato dos Trabalhadores
em Hotéis, Bares e Restaurantes, para quem apelo no sentido de que seja sucinto,
pois queremos encerrar com sucesso a audiência. (Palmas.)
O SR. FRANCISCO CALAZANS - Aproveitarei o tempo deixado pelo
companheiro que me antecedeu. (Risos.) Anotei alguns tópicos do que pretendo
abordar, pois é difícil falar em 3 minutos.
Primeiramente, quero fazer um pedido ao Deputado Jamil Murad e vou
dizer o porquê. O Deputado Aldo Rebelo, que muito admiramos e respeitamos,
desautorizou um pouco, segundo o jornal Folha de S.Paulo, o Deputado João Paulo.
Então, eu fiquei meio triste com S.Exa., a quem peço que nos ajude. Isso não
significa que o adiamento seja tudo. Ele apenas serve para aperfeiçoarmos o que
precisamos, para que possamos discutir a questão com a devida calma.
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Quero ressaltar algo que tenho dito sempre: o problema não é a ausência de
lei. Leis nós temos. O que existe é má vontade de interpretação, que pode ser
explicada. Nós estamos num capitalismo selvagem, nossa história é um tanto quanto
triste, da Velha República etc. Esses resquícios ainda estão presentes nos tribunais,
no Ministério Público, na Justiça, enfim.
Por exemplo, é cristalino o que está disposto no art. 513. Só para ressaltar,
vou falar do que disse o tribunal. Todos conhecemos esse artigo de cor e salteado,
mas vou ler as prerrogativas dos sindicatos. Vejam que clareza:
“Art. 513 - São prerrogativas dos Sindicatos:
..................................................................................
e) impor contribuições a todos aqueles que
participam das categorias econômicas ou profissionais ou
das profissões liberais representadas”.
A todos, todos. Isso está expresso na CLT. Já a Constituição Federal diz, no
seu art. 8º, que a contribuição deve ser fixada na assembléia. É como se dissesse
que o art. 513 dispõe que o sindicato tem a prerrogativa de fixar contribuição. Mas
de que forma? Decreto do Presidente do sindicato não pode. É a assembléia que
fixa a contribuição, o que é, de certa forma, um avanço. Isso significa recepcionar o
art. 513 da Constituição Federal.
Por que restringir? Existe um princípio que vem do Direito romano: onde há
lei, não se restringe, não cabe ao intérprete restringir. Mas se restringe porque não
se quer o fortalecimento do sindicato.
A reforma, como foi dito aqui pelo nobre palestrista, tem de ser para avançar.
Eu estava ao lado do companheiro Wagner, que disse que é exatamente isso.
Quando se reforma uma casa, é para ela ficar mais bonita, melhor e mais
confortável.
A nossa Constituição é avançada e cidadã? Sim. Seu art. 7º, inciso I, fala do
princípio de cidadania; de respeito por quem trabalha; de proibição da dispensa
arbitrária e da arrogância do empregador que joga, sem o menor escrúpulo ou
cerimônia alguma, um pai de família na rua. A nossa Constituição traz isso como
princípio básico. Por que não o regulamentamos? Por que nessa reforma não
incluímos a regulamentação do inciso I do art. 7º? Por que não se ratifica a 158?
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Em função disso, a decisão do Supremo Tribunal Federal foi a seguinte: a
contribuição confederativa só se aplica aos associados.
Quero falar sobre pluralidade versus pluralismo. Por questões semânticas, no
início, como se fosse o canto da sereia, os sindicalistas embarcaram no pluralismo,
que significa Estado Democrático de Direito. Isso está expresso na Constituição
Federal e é muito bonito. Mas pluralidade é outra coisa. Houve confusão entre
pluralismo e pluralidade. No momento em que todos começaram a constatar que
pluralidade é outra coisa e é nociva, passaram a repudiar esse conceito. A CUT e a
Força Sindical têm nos seus estatutos a pluralidade, mas estão reformulando a idéia,
porque é terrível para o sindicalismo.
Vanderlei, não é o empregado que se opõe, mas o patrão que faz o
empregado se opor.
Agradeço a todos a oportunidade de ter falado.
Obrigado. (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Deputado Antonio Carlos Pannunzio) - Obrigado ao
Calazans.
Conseguimos cumprir a agenda e concederemos alguns minutos para as
conclusões finais dos palestrantes.
Concedo a palavra ao Sr. Francisco Soares de Souza, representante dos
frentistas de Campinas e da região.
O SR. FRANCISCO SOARES DE SOUZA - Companheiros e companheiras,
nossa categoria é sofrida. Graças ao Deputado Jamil Murad, aqui presente,
conseguimos manter empregados 60 mil trabalhadores no Estado de São Paulo, em
decorrência de lei estadual de S.Exa. que proíbe a automatização dos postos.
(Palmas.)
Em Brasília, há uma lei nacional que proíbe a automatização em todos os
postos de serviço, de autoria do Deputado Aldo Rebelo. Se estivéssemos em outro
sistema confederativo, não sei se teríamos conseguido isso.
Tenho conversado com alguns companheiros e outras pessoas mais viajadas
que dizem que, pela primeira vez no mundo, o homem venceu a máquina. Há leis
que proíbem a automatização, o que garantiu a manutenção de 300 mil empregos
em todo o País.
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Viajo muito, tenho lutado muito e ido a todas as reuniões sobre reforma.
Somos uma federação com 300 mil trabalhadores, mas até hoje não conseguimos
proposta melhor do que o preexistente sistema confederativo. Não existe. A gente
vai, procura saber e descobrir, mas não tem uma proposta melhor. Se fôssemos à
(ininteligível), escreveríamos dezenas de palavras e propostas, mas não existe uma
proposta que venha substituir a contento o art. 8º da Constituição aprovada em
1988.
Dizem que hoje temos que mudar, porque há muitos sindicatos fantasmas.
Por que o Ministro do Trabalho, com um simples ato administrativo, não os fecha?
Não têm sede, não têm convenção, não têm nada. Então, se são fantasmas, um
simples ato do Ministro do Trabalho os fecharia.
Outra coisa que escuto muito é que a contribuição confederativa é para criar
pelego. Fico pensando em que a remuneração de um dia de trabalho é da seguinte
maneira distribuída: 60% vão para o sindicato, 5% para a confederação, 15% para a
federação e 20% para o Governo.
Deputado, ajude-me. Os trabalhadores contribuíram para o Governo com 20%
de seus salários durante longos anos, e quero saber para onde foi esse dinheiro.
Está na Terra, no céu ou no purgatório? (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Deputado Antonio Carlos Pannunzio) - Muito obrigado
ao Sr. Francisco Soares de Souza.
Graças à colaboração de todos, conseguimos ouvir todos aqueles que se
inscreveram.
Devolvo a condução dos trabalhos ao Deputado Jamil Murad, para que
proceda à etapa final desta audiência pública.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Jamil Murad) - Muito obrigado, Deputado
Antonio Carlos Pannunzio.
Queremos, na seqüência, ouvir o Sr. Sérgio Mendonça, do DIEESE, para
suas palavras finais.
O SR. SÉRGIO MENDONÇA - Quero agradecer mais uma vez, em nome do
DIEESE, o convite ao Deputado Jamil Murad e ao Deputado Antonio Carlos
Pannunzio, desta Comissão Especial da Reforma Trabalhista.
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Reafirmo minha convicção de que, se ainda há este espaço para se alongar o
debate, e aparentemente pode haver sensibilidade do Governo nessa direção, isso é
bastante positivo. É uma reforma muito complexa, que pode colocar em risco uma
série de conquistas históricas da classe trabalhadora do Brasil. Então, acho que isso
é positivo.
Quanto à menção que o Neto fez ao comentário, acho que tem toda a razão.
De fato, a intenção do meu comentário é em outra direção. É o argumento
empresarial de rebaixamento de custos, tendo sempre como comparação uma régua
mais baixa. Ele tem toda a razão, porque a qualidade de vida de cada nação
depende do seu custo de vida, das suas condições.
Sem dúvida, em economias como aquelas em que a moeda tem menos
importância e os serviços públicos são gratuitos, pode-se ganhar, embora menos
para o padrão internacional, e ter qualidade de vida até superior. Mas também quero
reafirmar que meu argumento é em outra direção. Não era em demérito daquela
situação.
Acho fundamental que essas audiências se multipliquem, porque, de fato, a
quantidade de argumentos que existe no debate é muito grande. Agora, a CLT deve
ser vista como algo ultrapassado, mas foi uma das grandes antevisões do País
quando, na década de 40, se conseguiu chegar décadas à frente. Pode ser que essa
reforma, em ambiente muito mais complexo internacionalmente, possa também ter
essa qualidade, talvez não com tanto tempo, já que esse hoje anda mais rápido.
É importante que isso se multiplique, para que os Deputados, os
Parlamentares tenham uma visão de conjunto das opiniões do movimento sindical
brasileiro.
Agradeço mais uma vez, em nome do DIEESE. (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Deputado Jamil Murad) - Obrigado, Sérgio.
Com a palavra o João Guilherme.
O SR. JOÃO GUILHERME - Agradeço o convite. Acho que nossa
participação, em geral, foi boa e confirmo isso. Na minha impressão, foi uma boa
reunião.
Só para terminar, quero ler uma notícia perdida no jornal do dia 7 de
novembro:
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“Pelo menos 21 trabalhadores de uma plantação de
chá e seus parentes morreram queimados ontem quando
um grupo de sindicalistas incendiou a casa de um líder de
uma central trabalhista rival no Estado de Bengala
Ocidental, leste da Índia. A disputa começou por causa da
incumbência dos dois sindicatos de contratar funcionários
administrativos para uma plantação de chá na localidade
bengali de Jalpaiguri”.
Isso é pluralidade sindical. (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Deputado Jamil Murad) - Muito obrigado, João
Guilherme. Vocês viram a qualidade do nosso expositor e debatedor.
Agora, o jornalista e companheiro Altamiro Borges, da revista Debate Sindical.
O SR. ALTAMIRO BORGES - Primeiro, quero agradecer o convite para trocar
idéias, ouvir opiniões. Parabenizo muito o Deputado Antonio Carlos Pannunzio e o
Deputado Jamil Murad por terem concedido este espaço. Eu acho que audiências
como esta têm que se reproduzir, como diz Serginho. Acho que o debate indicou
exatamente isto: a riqueza e a complexidade de tema que envolve relações
antagônicas de classe numa sociedade.
Diante de tema de tal dimensão estratégica, é preciso ter calma. Calma não
significa facilidade. É preciso cuidado, muito cuidado. O Serginho destacou, e eu
acho que ele está corretíssimo, que, se tivéssemos uma reforma progressista no
Brasil, estaríamos na contramão do que está vivendo o mundo hoje. Então, nós
temos que tomar muito cuidado com isso, seja na questão trabalhista, seja na
questão sindical.
Às vezes, tenho a impressão de haver certa pressa, o que pode até levar a
deslizes verbais — como dizer que é preciso fazer uma faxina na CLT. Isso é muito
pejorativo e não ajuda em nada. Eu concordo com o João, e o Márcio dizia muito
“bicho, este é o Ministério do Trabalho e do Emprego, prioriza a questão do
emprego, não fica discutindo o que nos divide”, para evitar inclusive deslizes do tipo
como esse da faxina.
Há muita mistificação nesse debate, e a gente tem que ir com tranqüilidade.
Falar que a CLT é anacrônica, em desuso... O problema da CLT é este: tem 922
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artigos que passaram por constante renovação. Quando se fala em reforma, não se
está falando só da CLT, está se falando da jovial Constituição brasileira, que foi fruto
do nosso avanço na década de 80. Então, o sindicalismo estava mais forte,
chegamos à Constituinte cidadã; desatrelamos o sindicato do Estado; acabamos
com o estatuto padrão; com intervenções em sindicatos; com a proibição de relações
horizontais; conquistamos a possibilidade das centrais sindicais; e até acabamos
com a proibição de utilizar o dinheiro das contribuições para a luta — antes, só era
permitido utilizá-lo em atividades assistencialistas.
A Constituição de 1988 possibilitou grandes avanços. Se a CLT significou
mudança no Brasil do ponto de vista de regulação do trabalho e da transformação
da grande fazenda que era o Brasil em grande pólo industrial, a Constituição
também representou um avanço no período. Querer desmontar isso sem cuidado
pode conduzir a grandes erros, no meu entender.
Por isso, um debate como este tem grande importância.
Parabéns a Antonio Carlos Pannunzio, a Jamil Murad e a todos os que
contribuíram.
Obrigado. (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Deputado Jamil Murad) - Nosso agradecimento a
Altamiro Borges e a todos os sindicalistas, que, com sua participação, mostraram o
compromisso que têm com os destinos do Brasil, com os trabalhadores e o povo
brasileiro.
Agradecemos também ao Deputado Antonio Carlos Pannunzio, que se
deslocou para cá, juntamente com o Deputado Hamilton Pereira. S.Exas. poderiam
estar na região de Sorocaba, mas vieram a esta audiência a fim de cumprir um
compromisso, como homens públicos que são.
Agradecemos também ao Deputado Nivaldo Santana, que aqui permaneceu
todo o tempo. Agora, ele teve de sair para um compromisso especial. O Deputado
Gê também veio prestigiar-nos.
Agradecemos particularmente aos 3 expositores — João Guilherme, Altamiro
Borges e Sérgio Mendonça, que, desde jovens, são estudiosos. Escolheram estudar
principalmente as questões do trabalho, como ajudar os trabalhadores a construir
uma sociedade melhor.
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Nós elegemos um governo. O Deputado Pannunzio e eu atuamos juntos em
muitas Comissões na Câmara dos Deputados, com espírito democrático, que os
senhores constataram e registraram. Todos sabem que este Governo tinha e tem o
compromisso de desenvolver o Brasil, criar emprego e valorizar o trabalho.
E daí surgiu o Presidente, como também as forças políticas centrais que o
apóiam, participam e sofrem quando vêem o problema. No caso da reforma da
Previdência, a maior dificuldade vem em cima de nós. Estamos em grande batalha,
em grande missão, em grande compromisso, para ajudar a mudar o Brasil como
nunca foi mudado, companheiros. Nos últimos 100 anos, nenhum dos governos
eleitos da América do Sul conseguiu alterar estruturalmente seus países, fazer
reforma agrária ou ter soberania para ditar sua própria política econômica. O
Presidente é assassinado, corrido e vai morar em outro país ou passa para o lado do
inimigo.
Vejam que situação difícil do Governo. Agora, como ajudá-lo a fazer as
mudanças, que são nossas? Não é propriedade do Lula querer desenvolver o Brasil,
criar emprego, ter mercado interno e inclusão social. Ele é apenas um porta-voz
desse sentimento da Nação. Por isso, quer que nossas empresas se fortaleçam, que
o mercado interno cresça. Só que ele não joga sozinho. No tabuleiro, há outros
jogadores e peças que se movem.
Eu estive na Organização Mundial do Comércio e vi a pressão sofrida pela
delegação oficial do Brasil. Os representantes do Governo americano não
concordaram com nada do que queríamos, como subsídio, porque eles vendem e
artificialmente baixam o preço da agricultura. Brasil, Argentina, China, Bolívia, países
africanos e asiáticos imploraram para eles ficarem sensíveis a isso, mas não. Junto
com eles estavam os europeus, que também não concordaram em mexer em nada.
Estão aí as dificuldades para transformar o País em benefício do povo. Transformar
o Brasil, realmente, num país desenvolvido e com direitos para os trabalhadores.
Então, o jeito de ajudar é conscientizar-se, mobilizar, pressionar. Eu achei
muito interessante a declaração do Rainha. Ele podia ter protestado e alegado ser
prisioneiro político do Governo Lula. Não foi isso. Ele disse que o Governo Lula era
aliado e que tinha sido preso por injustiça do nosso Judiciário, que interpreta
atendendo ao apelo do latifúndio. Mas nem por isso o MST e outros setores da
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sociedade deixam de se mobilizar, como estamos fazendo. E temos de fazer muita
pressão para não perder direitos. Pelo contrário, devemos fortalecer o sindicalismo,
manter a unicidade sindical, a contribuição necessária para sobrevivência do
sindicato e lutar para legalizar as centrais.
Temos que lutar por um Brasil onde os trabalhadores sejam os atores
principais, porque, quando os empresários foram os atores principais, eles tiveram
muito tempo, mas o País continua endividado, com muito problema. Agora é a nossa
vez. Nós temos de realizar a maior parte do processo e traçar os rumos que temos
que seguir.
Só que, como alguém disse, a opinião dos trabalhadores não é única. Há a
dos empresários, dos banqueiros, de outros setores, e temos de fazer nossa parte
para a reforma que, como disse o Miro, não é uma palavra para encobrir exatamente
o oposto. Reforma é algo para melhorar, para aprimorar. Tem que ter calma, como
disseram todos os debatedores. Não pode ser apressada.
Eu quero responder pelo Aldo Rebelo, altamente comprometido com os
trabalhadores. Existem jornais que fazem de tudo para deixar o Governo que
elegemos mal perante a opinião pública. Não só o Governo, como várias lideranças.
Então, acreditamos no processo, e é aqui, nesta audiência pública, que temos
esse papel. Aqui não é só a capital do capital, mas a capital do trabalho e também
onde há mais desempregados.
Esta tinha de ser uma audiência boa, que os senhores ajudaram a fazer,
porque aqui se tem de jogar o papel principal no processo, se tem de ter voz ativa, e
das mais fortes. Nessa questão, tem que ser de São Paulo, onde há mais
trabalhadores, mais desempregados e também mais trabalhadores desejosos de um
futuro melhor.
Agradeço imensamente a todos, aos expositores, ao Deputado Antonio Carlos
Pannunzio, pela dedicação em vir fortalecer esta audiência pública, ao Deputado
Hamilton Pereira. Essa luta vai continuar. Não foi tratada aqui a questão da Justiça
do Trabalho. Há outros temas.
A Comissão de Trabalho da Assembléia Legislativa, até mesmo pela
participação de Hamilton Pereira, Presidente, de Nivaldo Santana, Vice-Presidente,
do Deputado Bispo Gê, criou um ambiente que pode dar continuidade ao debate,
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porque São Paulo tem que ter o papel principal, com voz forte, para decidir que rumo
tem que tomar isso.
Muito obrigado.
Está encerrada a reunião. (Palmas.)