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CÂMARA DOS DEPUTADOS
DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E REDAÇÃO
NÚCLEO DE REDAÇÃO FINAL EM COMISSÕES
TEXTO COM REDAÇÃO FINAL
COMISSÃO ESPECIAL - REFORMA POLÍTICAEVENTO: Audiência Pública N°: 1203/03 DATA: 20/08/03INÍCIO: 15h02min TÉRMINO: 17h41min DURAÇÃO: 02h39minTEMPO DE GRAVAÇÃO: 2h39min. PÁGINAS: 50 QUARTOS: 32
DEPOENTE/CONVIDADO - QUALIFICAÇÃO
JORGE BORNHAUSEN - Senador e Presidente Nacional do PFL.MICHEL TEMER - Deputado Federal e Presidente Nacional do PMDB.ENÉAS - Deputado Federal e Presidente Nacional do PRONA.JOÃO ALMEIDA - Deputado Federal e representante do Presidente Nacional do PSDB,Deputado José Aníbal.
SUMÁRIO: Impressões dos presidentes de partidos sobre a reforma política.
OBSERVAÇÕES
Há oradores não identificados.Há intervenções inaudíveis.
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão Especial - Reforma PolíticaNúmero: 1203/03 Data: 20/08/03
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O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) - Declaro abertos os
trabalhos da presente reunião da Comissão Especial da Reforma Política.
Convido para compor a Mesa o Presidente do Partido da Frente Liberal,
Senador Jorge Bornhausen; o Presidente do PMDB, Deputado Michel Temer; o
representante do Presidente do PSDB, ex-companheiro José Aníbal, Deputado João
Almeida. Informo a V.Exas. que o Deputado Enéas já está se dirigindo à Casa.
Esta audiência pública destina-se ao colhimento de impressões dos
Presidentes de partido, visto que alguns membros da Comissão entendem que tais
pessoas possuem acúmulo de experiência sobre o tema em debate e suas opiniões
serão fundamentais para avanço do debate, a fim de concluirmos o parecer.
Adianto aos membros da Comissão que o cronograma inicial está sendo
cumprido. Logicamente, apresentamos posição contrária ao fato de a reforma
política não ter sido matéria da pauta da convocação extraordinária, mas a decisão
foi do Governo.
Na próxima semana, ouviremos mais 4 ou 5 Presidentes de partido, conforme
aqui acordado, para concluirmos o texto. O Relator submeterá à apreciação da
Comissão o parecer e abriremos o debate sobre o assunto.
Os pontos cobertos pelo relatório são: o fim das coligações, a federação de
partidos, a votação em lista e o financiamento público. Temos procurado avançar
nesses 4 itens, após a Comissão ter deliberado a alteração da data para o tempo de
televisão e a formação das Comissões. Para esta, não será considerada a data da
posse, mas o resultado da eleição. O prazo da primeira filiação ficou mantido em 1
ano e, da segunda filiação, estendemos para 2 anos. Tal matéria foi deliberada na
Comissão.
Colhemos as assinaturas para estabelecer a urgência. Assim que decidirmos
sobre os 4 pontos considerados prioritários pelos membros da Comissão,
avançaremos em outros assuntos a fim de apresentarmos o parecer ao Plenário.
Antes de passar a palavra ao Senador Jorge Bornhausen, registro que S.Exa.
tem trabalhado em prol do tema não só no Senado, mas principalmente do Brasil. O
Senador é uma das pessoas que têm estudado o assunto, contribuído para o avanço
da máxima de não ficarmos ao lado dos 4 únicos países do mundo que votam em
lista aberta. É surpresa para a ampla Maioria saber que o Brasil é igual ao Peru, ao
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Chile, à Polônia, à Finlândia. Quer dizer, dos 183 países que compõem a ONU,
apenas os 5 que acabei de citar votam dessa forma.
Senador Jorge Bornhausen, em nome da Comissão, agradeço a V.Exa. a
resposta positiva ao convite.
Vou pedir ao Relator, Deputado Ronaldo Caiado, para que, ao final das
exposições, faça as considerações que julgar necessário.
Com a palavra o Senador Jorge Bornhausen.
O SR. SENADOR JORGE BORNHAUSEN - Sr. Presidente, Deputado
Alexandre Cardoso; Sr. Relator, Deputado Ronaldo Caiado; Sr. Presidente do
PMDB, Deputado Michel Temer; Sr. Representante do PSDB, Deputado João
Almeida; Sras. e Srs. Deputados, desde 1995 o PFL elegeu como prioridade entre
as reformas a reforma política, e isso foi dito ao Presidente Fernando Henrique
Cardoso pelo Vice-Presidente Marco Maciel.
Entendemos que há necessidade de avançar na legislação e, sobretudo,
fortalecer os partidos políticos para que o eleitor tenha condições de fazer a
respectiva cobrança aos seus Parlamentares via partidos. Infelizmente, lutamos para
que essa reforma fosse colocada em pauta naquele primeiro período de governo do
Presidente Fernando Henrique Cardoso, o que não veio a ocorrer. Já na segunda
etapa do Governo do Presidente Fernando Henrique Cardoso, dentro também dos
acordos que fizemos para formação da coligação, definimos como prioridade maior
do País a reforma política.
No período de 1995 a 1998, o Senado Federal montou uma Comissão de
Estudos da Reforma Política, presidida, inicialmente, pelo Senador Humberto
Lucena, que faleceu no curso das ações da Comissão, e, depois, pelo Presidente
Francelino Pereira, e relatada pelo Senador Sérgio Machado. No início de 1995, o
PFL formou uma comissão que contava com a presença do Vice-Presidente Marco
Maciel e do Senador José Agripino, de cujos trabalhos eu também participei.
Resolvemos examinar aquilo que havia sido produzido em termos de
modificações, aperfeiçoamento, modernização pela Comissão do Senado.
Chegamos à conclusão de que qualquer modificação constitucional em termos de
aprimoramento político, partidário e eleitoral seria muito difícil de ser alcançada,
porque é evidente que a votação da reforma política implica também votação de
ordem pessoal das Sras. e Srs. Parlamentares.
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Por isso, mesmo preferindo o voto distrital misto, embora verificando que
haveria necessidade de uma modificação constitucional, decidimos deixar de discutir
sistema de governo e voto voluntário ou obrigatório, até porque neste País o voto é
voluntário, pois ninguém tem obrigação de votar. Basta explicar sua ausência pelos
Correios; nem tem multa porque depois vem a anistia. Então, na prática, o voto no
Brasil é voluntário. Uma discussão constitucional sobre esses temas certamente
levaria a nada e perder-se-ia a oportunidade de avançar naquilo que é possível
avançar, ou seja, nos dispositivos infraconstitucionais.
Passamos, então, a selecionar os pontos que entendíamos possível de serem
aprovados e adotamos uma posição junto com o então Senador Sérgio Machado de
fazer cada emenda separada da outra, para não juntar também os adversários de
uma com os adversários de outras e escolhemos um grupo de emendas, a começar
pelo engenhoso processo da fidelidade por filiação.
Essa iniciativa estava no documento do Senado, que propunha que a
segunda filiação tivesse um prazo de 3 anos para a candidatura. Entendemos que o
prazo era insuficiente e, por isso, o projeto apresentado propôs 4 anos para a
segunda filiação. Além disso, elaboramos um projeto para acabar com uma das
grandes distorções existentes no processo: tomar como base o dia do início da
legislatura para distribuição do tempo em rádio e televisão. Entendemos que a
manifestação do eleitor se dá na data da votação e, por isso mesmo, essa tem de
ser a data-base para distribuição de rádio, televisão, fundo partidário e também para
a distribuição das Comissões nas Casas Legislativas.
Posteriormente, apreciamos o fim da coligação na eleição proporcional, que
tem um sentido lógico para que não enganemos o eleitor por meio das coligações.
Muitas vezes, essas coligações são de ordem prática, para eleger determinadas
pessoas. Com isso, o eleitor vota num candidato de um partido e acaba elegendo o
candidato de outro partido, o que impede que ele cobre a atuação daquele
Parlamentar. O fim da coligação na eleição proporcional traz a vantagem de fazer
desaparecer os chamados caroneiros, aqueles que colocam um único candidato
numa legenda maior para poder elegê-lo, já que não teriam condições de atender ao
dispositivo do coeficiente necessário à eleição de um Parlamentar.
Quando da tramitação do projeto da coligação no Senado, tratamos também
do problema da federação. Essa idéia nasceu no curso do debate do fim da
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coligação e por causa da cláusula de desempenho, que, aliás, tem 2 nomes. Os que
são a favor falam em cláusula de desempenho; os que são contra falam em cláusula
de barreira. Prefiro cláusula de desempenho porque acho que foi uma avanço na
legislação eleitoral.
Como levantou-se a questão de partidos que têm história no Brasil, mas
possivelmente não têm condições de, em uma primeira eleição, atingir o coeficiente
de votos necessários de 5% para a Câmara dos Deputados e de 2% em pelo menos
9 Estados, surgiu a idéia da federação. Dois ou mais partidos poderiam se unir numa
federação para disputarem a eleição. Teriam representação nas Casas Legislativas
como se fossem um partido, o que permitiria o fim da coligação, mas daria aos
partidos condições de vencer em anos posteriores o obstáculo da cláusula de
demanda.
Finalmente, discutiu-se o financiamento público de campanha que,
evidentemente, deverá ser debatido com a sociedade em função dos números. É
necessário que se avance no tema, mas ele pressupõe fidelidade partidária, lista,
porque a responsabilidade de gerir esse fundo público do partido é muito grande.
Nenhum presidente de partido vai querer distribuir recursos a candidatos e ficar
responsável pela prestação de contas. Sem que haja um procedimento de lista e de
fidelidade partidária, avançar no financiamento público é correr um risco muito
grande, um risco para a sociedade e para os dirigentes partidários.
No Senado, não tivemos um projeto de lista pura. Foi aprovado um projeto do
Senador Roberto Requião de listas mistas, que também está na Câmara.
Esses projetos de fidelidade por filiação, de modificação da data para
distribuição do tempo de rádio e televisão, de financiamento público, de fim da
coligação e da federação foram aprovados no Senado entre 1998 e 2000. Insistimos
muito para que eles merecessem urgência na Câmara dos Deputados, antes da
eleição de 2002, porque entendíamos que essa eleição teria um resultado muito
mais positivo se esses instrumentos vigessem naquela eleição. Houve um
requerimento de urgência, que depois foi retirado, e não vimos a aprovação dos
projetos que foram aprovados no Senado Federal.
No dia 28 de outubro de 2002, o Presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva fez
um pronunciamento à Nação, e recebemos com muito agrado a inclusão da reforma
política como um dos compromissos de S.Exa. com o povo brasileiro. Começou o
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ano legislativo e, ao invés de se dar prioridade aos projetos que já estavam
aprovados no Senado, requerendo urgência sobre aquilo que não precisaria voltar
para aquela Casa, tivemos a formação de uma Comissão na Câmara dos
Deputados.
Com todo o respeito, acho que atrasamos os procedimentos necessários com
a formação da Comissão, embora reconheça o esforço do Presidente, do Relator e
dos seus membros. Eu mesmo por 2 vezes compareci à residência do Presidente da
Casa, Deputado João Paulo Cunha, para relatar aquilo que pensava e pensa o meu
partido sobre o assunto.
Em determinado momento, tive esperanças nesses avanços, porque entendo
que é necessário que ele se consolide para a eleição municipal. Sou um político do
meu Estado, ocasionalmente estou na Presidência nacional do partido, mas vejo a
minha província em primeiro lugar. O que vejo é um Vereador bater nas minhas
costas e dizer: “Vou continuar PFL de coração, mas a legenda do PFL é muito forte
e por ela não me elejo. Por isso, vou para a do PSL”. O outro faz a mesma coisa e,
assim, vamos perdendo tempo, enfraquecendo os partidos e também a democracia,
o que é grave, já que ele aumenta o processo de balcão, de comércio e desmoraliza
a classe política.
A classe política dia a dia perde credibilidade perante a sociedade brasileira
porque não providencia as mudanças necessárias para termos partidos políticos
fortes, a fim de que as discussões sejam institucionais ao invés de pessoais, para
que possamos discutir o País e não a necessidade individual deste ou daquele.
Depois de participar dessas 2 reuniões, que tiveram a presença do Presidente
da Câmara dos Deputados e do Ministro José Dirceu, a minha expectativa era de
que a reforma política pudesse avançar no período legislativo em que seriam
selecionados os projetos para discussão e aprovação. Todavia, minha frustração
nasceu na convocação extraordinária do Congresso Nacional, feita no mês de julho,
quando a reforma política não constou da sua agenda. Era a prova evidente de que
não havia interesse do Governo em avançar na direção da reforma política, que o
processo de cooptação iria continuar e que a desfiguração dos partidos ia se
acelerar.
Na Câmara, por iniciativa do Deputado Ronaldo Caiado, e no Senado, do
Senador José Agripino, fez-se um esforço para colher assinaturas para inclusão,
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para chamar atenção, para sacudir, para mostrar que o Congresso não estava
apático a uma modificação absolutamente necessária. E a minha surpresa foi ainda
maior quando houve pressão para a retirada das assinaturas na apresentação dos
requerimento e não se concretizou o debate e a aprovação que poderia ser possível
na Câmara dos Deputados dos itens essenciais à melhoria das condições dos
processos eleitoral e partidário.
Quero dizer que, entre as iniciativas que não saíram do Senado, louvo a de
listas partidárias. Tenho consciência de que esse é um avanço necessário. O
Presidente citou que apenas 4 países ainda utilizam o programa de listas abertas.
Tive a felicidade de, em um momento da minha vida, representar o Brasil
como Embaixador em Portugal. Cheguei exatamente no momento da revisão
constitucional, já que lá a Constituição prevê revisão de 5 em 5 anos. Para minha
surpresa, os grandes partidos se reuniram para traçar uma linha de reforma
constitucional. E a qualidade da classe política foi demonstrada num detalhe: houve
um acordo entre os 2 grandes partidos para diminuir o número de Parlamentares na
Assembléia da República. Isso não seria possível de forma alguma num processo de
listas abertas. Essa consciência não pode surgir a não ser institucionalmente por
partidos.
Tive outra experiência muito interessante. Fui para Portugal num momento
em que ainda estava bastante aceso o problema dos dentistas brasileiros.
Procuramos resolver o problema via Ministério de Negócios Estrangeiros, mas o que
foi acordado, infelizmente, não foi remetido para a Assembléia Nacional.
Diferentemente de um procedimento diplomático, resolvi procurar o presidente da
Comissão de Saúde para mostrar que o Governo português não havia cumprido
tudo aquilo a que havia se comprometido, e conversamos durante 2 horas.
Eu justifiquei que a minha presença, embora de Embaixador, se fazia porque
eu era um político, porque eu desejava mostrar que teria que haver sensibilidade. Na
ocasião ele me disse: “Nós vamos resolver esse problema. Vamos resolver sentando
os dentistas brasileiros e os dentistas portugueses para conversar, para acertar, nem
que precisemos ficar aqui durante toda uma semana”.
Eu aí tive uma curiosidade. Perguntei de onde ele era e qual a sua profissão.
Ele me respondeu que era de Coimbra e era professor catedrático da Faculdade de
Medicina da Universidade de Coimbra. Ou seja, ele é fruto da lista partidária, da
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preocupação de um partido político em buscar qualificação. Por fim, conseguimos
chegar ao nosso intento, aprovamos a lei e até nos tornamos amigos.
Estou dizendo isso porque há o mérito da inclusão da lista no procedimento
da Comissão. Se critico o fato de não avançarmos na votação, não posso deixar
também de consignar o mérito da Comissão em colocar a lista junto a esse
posicionamento já aprovado no Senado. Agora, evidentemente, temos um prazo
fatal: dia 2 de outubro. Nesse dia, os projetos têm de estar sancionados, caso
contrário, não valerão para a eleição do ano que vem. E se não valerem para a
eleição municipal, podem estar certos de que não vamos votar para as outras
eleições. Tem sido essa a regra: a de não enfrentar, de não avançar.
Fiz referência ao fato de que pedimos prioridade no Governo Fernando
Henrique, e não avançamos. Não estou dizendo que isso seja privilégio do atual
Governo. É que falta a visão do tempo, há só uma visão imediata. É preciso fazer
uma base sólida. Base sólida por cooptação é base fluida; base sólida é quando os
partidos tratam de forma institucional. Seria muito mais fácil tratar as reformas da
Previdência e tributária de forma institucional do que está ocorrendo agora.
Perdemos esse avanço porque não votamos a reforma política.
E o que posso fazer nesta Comissão, honrado que fui com esse convite, é
alertar para o fato de que se não votarmos nas 2 Casas — devo dizer que o fim da
coligação, a federação, o financiamento público, a data da eleição, a filiação, não,
porque é uma modificação para 2 anos —, se não votarmos na Câmara, sem projeto
novo, aproveitando projeto do Senado, não vamos fazer reforma política nesses 4
anos.
Este é o alerta que eu deixo, um alerta responsável de quem tem 36 anos de
vida pública, que sabe que sem partidos fortes a democracia não é forte.
E faço um apelo, para não ter que dizer que todos deveriam ler hoje o artigo
de um colunista político, talvez o mais antigo ainda no exercício das atividades no
Brasil, meu amigo Vilas Bôas Corrêa, que fala sobre a reforma esquecida, já que
neste fim de semana, com a grande promoção que teve o Presidente da República,
com as várias oportunidades que teve para tratar de todos os assuntos do Brasil,
nem uma letra, nem uma palavra saiu sobre a reforma política. O título do artigo é A
Reforma Esquecida. Eu diria que esse título deveria ser A Reforma Propositalmente
Esquecida.
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Muito obrigado. (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) - Obrigado, Senador
Jorge Bornhausen.
Convido o Presidente do PRONA, Deputado Enéas Carneiro, para fazer parte
da Mesa.
Regimentalmente, havendo número, declaro abertos os trabalhos da presente
reunião.
Informo aos Srs. Parlamentares que foi distribuída a cópia da ata da 15ª
Reunião Ordinária desta Comissão Especial, realizada no dia 13 de agosto.
Indago ao Plenário se há necessidade da leitura da mesma.
O SR. DEPUTADO LINCOLN PORTELA - Peço dispensa, Sr. Presidente.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) - Pedida a dispensa da
leitura da ata, coloco-a em discussão. (Pausa.)
Não havendo quem queira discuti-la, em votação.
Os Deputados que a aprovam permaneçam como estão. (Pausa.)
Está aprovada a ata.
Vou passar a palavra ao segundo palestrante, Deputado Michel Temer,
Presidente Nacional do PMDB. Antes, porém, Deputado, quero agradecer a V.Exa. a
presença nesta Comissão. Participamos, como disse o Senador Jorge Bornhausen,
de 2 reuniões, e a experiência de V.Exa. não só na vida pública, mas quando honrou
esta Casa na Presidência será uma grande contribuição a esta Comissão.
Tem V.Exa. a palavra.
O SR. DEPUTADO MICHEL TEMER - Presidente Alexandre Cardoso; Relator
Ronaldo Caiado; Presidente Jorge Bornhausen; Deputado João Almeida,
representando o PSDB; Deputado Enéas Carneiro; meus colegas Deputados e
Deputadas; senhoras e senhores; quero dizer, em primeiro lugar, que eu é quem
estou honrado pela oportunidade que me dá o convite desta Comissão.
Quero dizer também que creio que terei pouco a colaborar, especialmente em
face da presença e da fala do Senador Jorge Bornhausen e do Deputado João
Almeida que há muito tempo se dedicam ao estudo e ao debate da reforma política
no País.
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Vou, portanto, fazer algumas considerações. Creio que mais de na tureza
conceitual, e, portanto, talvez menos precisas do que aquelas feitas pelo Senador
Jorge Bornhausen.
Verifico com freqüência que se fala com muito entusiasmo do tema do
financiamento público de campanha, da fidelidade partidária e do voto distrital. São
temas, diria eu, recorrentes em matéria de reformulação política do País. Mas prefiro
começar por um conceito um pouco mais amplo.
Com o respeito que tenho por todos os partidos políticos que têm assento
nesta Casa, quero dizer que acho que esta reforma deveria começar pela
reformulação do quadro político-partidário no País. E falo conceitualmente. Todos
sabemos que a idéia de partido político é idéia de parcela da opinião pública. Aliás,
até o vocábulo “partido” vem de “parte”, e político vem de polis. Portanto, quem
integra um partido político pretende chegar aos Poderes Legislativo e Executivo para
administrar a polis. Esta é a idéia do partido político, ou seja, é um canal de
comunicação e um canal de chegada da vontade popular majoritária numa
determinada eleição ao poder, para administrar o Estado, a União, o Município,
enfim, a polis. Esta a idéia do partido político.
Se o partido político é um canal de expressão de parcelas da opinião pública
nacional, eu pergunto aos senhores, já que temos 38 siglas partidárias constituídas
no País — se não me engano 30 registradas no Tribunal e 8 constituídas civilmente:
será que temos no País 38 parcelas de opinião pública a justificar a existência de 38
agremiações partidárias?
Vejam os senhores e as senhoras que o Senador Jorge Bornhausen, com
bastante adequação, mencionou as reformas que tramitam pela Casa, dizendo que
elas seriam muito mais transitáveis se houvesse melhor adequação do quadro
partidário no País.
Recordei-me, quando o Senador Jorge Bornhausen assim se expressava, das
votações que eu presidia — hoje presididas pelo Presidente João Paulo —, das
reformas constitucionais. E eu imaginava um estrangeiro na galeria que assistisse a
uma votação. Ao assisti-la, sem conhecer o quadro jurídico político partidário do
País, ele diria: “Interessante, aqui no Brasil há 3 partidos políticos: um que vota,
digamos, a favor do Governo; outro que vota contra o Governo; e outro que vota
alternativamente, ora a favor, ora contra”.
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Quando ele fosse conhecer o quadro político partidário que acabou de votar,
verificaria que havia 6, 7 ou 8 partidos que votavam a favor; 5, 6 que votavam contra;
e 3 ou 4 que votavam alternativamente.
Essa situação, a meu modo de ver, foge à lógica da idéia do partido político.
Estou dizendo isto porque — razão por que comecei ressaltando o meu respeito a
todos os partidos políticos que têm assento nesta Casa e no País — a idéia de
fidelidade partidária está umbelicalmente ligada, imbricada mesmo, com a idéia da
fidelidade a um programa, a uma ideologia, a uma postura, a uma forma de ser, a
uma condução que se imagina a mais saudável para o País.
Não é incomum Vereadores, Deputados Estaduais, Deputados Federais
sairem de um partido para o outro sem, na verdade, modificar a sua postura
programática, sem mudar a sua conduta política. Peço desculpas por estar falando
conceitualmente, mas me parece uma coisa extremamente saudável e sabemos
que aqui no Brasil fazemos aquilo que é possível e não o que é ideal; eu
compreendo este fato. Quando faço essa conceituação, penso que a fidelidade
partidária estaria muito ligada à idéia de um partido que representasse a força de
uma parcela do pensamento nacional.
Faço essa afirmação com tranqüilidade, porque sou Presidente Nacional de
um partido. Entretanto, a idéia da modificação desse quadro partidário não poderia
ser radical. Teríamos de fazer uma transição, não sei se de 4 ou 8 anos, talvez 2
mandatos, para que chegássemos a esta concepção conceitual dos partidos
políticos.
Eu sei que até agora parece que estou falando de algo extraterreno, difícil de
viabilizarmos. Reconheço a dificuldade desta viabilização. Por isso mesmo, embora
expresse esses conceitos, opto pelas palavras do Senador Jorge Bornhausen. Faço
um parêntese: estou extremamente gratificado com a existência desta Comissão
presidida pelo Deputado Alexandre Cardoso e relatada pelo Deputado Ronaldo
Caiado.
Ao longo do tempo, nós todos já participamos de várias eleições, e sabemos
que o tema mais caro àqueles que se candidatam, portanto, durante a campanha
eleitoral, é a reforma política. E o tema mais rapidamente esquecido logo após a
eleição é exatamente a reforma política, porque ela mexe com interesses, para usar
a expressão do Senador Jorge Bornhausen, muitas vezes de grupos ou pessoais, e
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este é um fato mais do que natural. Via na Casa que era muito difícil fazer uma
reforma política perto das eleições da própria Casa, porque há dificuldades e
embaraços em função de desejos e aspirações, neste momento legítimas, de
partidos políticos.
O momento ideal é exatamente este, quando antecedemos às eleições
municipais. Eu folgaria muito, como também o Senador Jorge Bornhausen, se
pudéssemos aprovar tudo até 2 de outubro. Não me parece fácil, com toda
franqueza. Ainda estamos debatendo o assunto na Comissão e seria difícil que até 2
de outubro tivéssemos tudo aprovado na Câmara dos Deputados. No que for
possível, eu, como Presidente do partido, irei colaborar. Mas não acho fácil.
Estas minhas expressões podem eventualmente induzir à idéia de que eu
seja contra a fidelidade partidária. Não sou. A fidelidade é de qualquer maneira um
avanço, porque é claro que, embora estejamos invertendo um pouco o processo, a
não-inversão do processo seria a apuração do sistema político-partidário, em
primeiro lugar, mas de qualquer maneira, estabelecida a tese da fidelidade
partidária, já teríamos dado um passo, se estabelecêssemos o financiamento
público. Reconheço as preocupações do Senador Jorge Bornhausen.
No quadro atual, nenhum presidente nacional ou local de partido vai se
arriscar a prestar contas de verbas que venha a receber para esse efeito. Talvez
pudéssemos estabelecer uma forma de canalização desses recursos para os
próprios candidatos. Ou seja, a administração da entrega desses recursos poderia
ser do partido, mas a responsabilidade... E é claro, faço aqui um parênteses, isso
envolve uma equação, um cálculo matemático muito mais complicado, mais difícil,
do que a simples entrega de uma parcela de dinheiro para os partidos. Mas acho
que seria possível tentar encontrar um caminho para o financiamento público de
campanha.
Falo até desse tema com razoável entusiasmo, porque financiamento público
sabidamente fará com que se tente igualar, tornar mais isonômica a campanha
eleitoral entre aqueles que se habilitam num pleito municipal, estadual ou nacional.
Acho que se levarmos essa idéia adiante não tenho dúvida de que seria útil.
Gostaria de dar uma palavra também sobre — ressalto mais uma vez que são
meras conjecturas pessoais, não tenho dedicado meu tempo à questão da reforma
política como o fizeram o Senador Jorge Bornhausen, o Deputado João Almeida, os
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senhores aqui da Comissão — o voto distrital misto. Confesso que até hoje não
consegui alcançar o significado institucional da instituição do voto distrital no caso do
Deputado Federal.
Na verdade, a circunscrição para efeitos de eleição de Deputado Federal é o
Estado federado. Serve apenas — volto a dizer — como demarcação geográfica
para delimitação dos votos a serem recolhidos, porque Deputado não é Deputado do
Estado de São Paulo, ou do Estado do Ceará. Ele é Deputado do povo brasileiro
que está no Ceará ou em São Paulo, tanto que o número de Deputados poderá
variar de acordo com a população de cada Estado.
Então, aqui estamos como representantes do povo brasileiro. Ora, o voto
distrital, embora se saiba que a prática muitas vezes leva a isso — as pessoas
distritalizam seu voto — não vejo em que isso pode melhorar a instituição política
nacional. Veria isso com muito agrado — acho que poderíamos começar por aí — se
distritalizássemos o voto (creio que estou usando um neologismo, com a licença de
todos) no caso de Municípios, por exemplo, com mais de 200.000 habitantes, em
que o Vereador representaria bairros ou segmentos e no caso do Deputado
Estadual. Fui e muitos dos senhores foram Secretários em seus respectivos
Estados. Verificava, como os senhores devem ter verificado, a dificuldade muitas
vezes que alguns Prefeitos e Vereadores tinham de ter acesso ao Palácio do
Governo, aos Secretários Estaduais, porque não tinham uma representação local,
uma representação distrital, ou seja, o Deputado Estadual.
Então, a meu modo de ver, se estabelecêssemos o voto distrital para
Deputados Estaduais e Vereadores com Municípios de tantos habitantes, creio que
estaríamos dando um passo extremamente útil para a reforma. No caso da União,
confesso que até hoje — naturalmente, poderei ser convencido com argumentos
contrários — não vejo utilidade prática nessa distritalização. A idéia da distritalização
do voto federal parte da concepção de que o Deputado na Federação é
representante daquele Estado. Volto a dizer, não é representante daquele Estado,
mas representante do povo que episódica e circunstancialmente está localizado
naquele Estado. A distritalização leva à ultima conseqüência, ou às últimas
conseqüências, a idéia de que o sujeito é representante de uma parcela geográfica e
não de uma parcela populacional. Por isso, pessoalmente — e vejam que, mais uma
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vez, conceitualmente —, tenho dificuldade para aplaudir a idéia do voto distrital. Não
sei em que isso poderia melhorar o quadro político nacional.
Quanto às coligações partidárias também me ponho de acordo com o
Senador Jorge Bornhausen. Acho que isso evitaria aquilo que muito adequada e
expressivamente se denominou de caroneiros. Quer dizer, a idéia de não fazer a
coligação, de qualquer maneira, reforça a idéia do partido político como parcela de
opinião pública nacional. O sujeito é eleito por aquela parcela da opinião pública
nacional, não por força de uma aglomeração partidária — e muitas vezes os
senhores encontram isso — de nuanças ideológicas completamente diversas. Quer
dizer, é um arranjo eleitoral, naquele momento da eleição, que não tem nada a ver
com a idéia de partido político.
Por isso, o Senador Bornhausen propõe a chamada federação de partidos.
Mas, de qualquer maneira, se vier à luz como federação de partidos, deverá conter
uma regra que estabeleça programas idênticos, ou pelo menos extremamente
assemelhados, senão esta federação irá reunir secções da opinião pública
completamente diversas.
Então, se houver essa federação, ela deve trazer como obrigação legal a
identidade de programas partidários, o que, convenhamos, meus amigos, não é
difícil em face do atual quadro político-partidário do País. Quem examina programas
de 1, 2, 3, 4 partidos verifica às vezes não apenas coincidência de idéias, mas
coincidências até de frases, sentenças e palavras. Portanto, meus amigos, honrado
com o convite e pouco podendo colaborar — como podem perceber —, queria trazer
apenas essa espécie de conceituação a respeito da reforma política, o que significa,
em termos nacionais, uma certa ousadia.
Quer dizer, há momentos em que na vida pública, na vida política, haveremos
de ousar nas reformas constitucionais, na reforma política. Se fôssemos
extremamente ousados talvez chegássemos àqueles conceitos que inauguralmente
aqui acabei de expor sem deixar, entretanto, de revelar a necessidade de uma
transição, porque essas coisas não poderiam ser feitas radical e rapidamente. Elas
têm que ser maturadas para serem admitidas.
Portanto, mais uma vez, agradecendo o convite, esta é a pequena e modesta
colaboração que posso dar a esta Comissão. (Palmas)
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O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) - Deputado Michel
Temer, quero parabenizar V.Exa., mas temos um compromisso com o Senador
Bornhausen, por causa da Ordem do Dia no Senado, que tem uma rigorosidade
maior do que a da Câmara.
Deputado, queria saber a opinião de V.Exa. sobre a lista partidária. Este é um
dos temas pautados para ser debatido e votado nesta Comissão. A experiência que
V.Exa. tem no plano nacional, como ex-Presidente desta Casa, seria quase que
imperiosa a posição de V.Exa. na questão da lista. Assim que o V.Exa. emitir sua
opinião sobre a lista, vou agradecer ao Senador Bornhausen. Mas antes queria que
o Senador Bornhausen dispusesse seu e-mail para que qualquer um dos membros
da Casa que tenham dúvidas sobre sua exposição as encaminhasse por esse meio
para que S.Exa. também responder por e-mail. Vou pedir à assessoria para passar a
todos os membros da Comissão o e-mail do Senador Bornhausen, para que
qualquer um dos senhores que queiram conhecer os trabalhos, ou tenham dúvidas
possam se dirigir eletronicamente ao endereço do Senador.
Deputado Michel Temer, V.Exa. não pode deixar de emitir seu conceito sobre
as listas partidárias.
O SR. DEPUTADO MICHEL TEMER - Acho, Presidente Alexandre Cardoso,
que na questão das listas partidárias é preciso encontrar uma forma legal que possa
democratizá-las. Em um sistema político-partidário ainda pleno — digamos assim,
para usar uma expressão livre — de caciques partidários, de donos de partidos,
acho perigoso que se estabeleça a lista para que as pessoas sejam alocadas na
lista fechada, na posição 1, 2 ou 3, sem que haja meios de democratização da
formatação dessa lista.
Essa democratização naturalmente haveria de vir pela manifestação do
partido político. Quer dizer, se existem 18.000 filiados, 1 milhão de filiados em
determinado Estado, e a eleição é para Deputado Estadual ou Deputado Federal,
deveria haver uma espécie de pré-eleição porque, se deixarmos — estou falando
aqui, muito à vontade, como Presidente de partido — para uma Executiva ou
alguma coisa assim, o perigo que alguns correm, pessoas valorosas o mais das
vezes é muito grande; mas se houver uma prévia ou uma consulta popular interna
do partido, daí eu sou a favor.
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O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) - Obrigado, Deputado
Michel Temer. Quero adiantar ao Deputado Michel Temer e ao Senador Jorge
Bornhausen que o Deputado Ronaldo Caiado encaminhou projeto a esta Comissão,
no sentido de que haveria eleição dentro do partido — cada militante votaria 3 vezes
e a escolha seria pelo mais votado. Inclusive, Deputado Michel Temer, existe, para a
eleição de 2006, a garantia de localização da lista do resultado da última eleição.
Essa consulta foi feita informalmente ao TSE, e o Ministro Jobim confirmou a
constitucionalidade desta questão. Seria em lista, com os militantes votando e as
pessoas mais votadas seriam a primeira na lista, a segunda e assim
sucessivamente.
Senador Bornhausen, agradeço-lhe a participação, em nome da Comissão.
(Palmas.)
Passo a palavra ao Deputado Enéas, que tem grande experiência em obter
votos.
Quero registrar aqui a sua experiência de ter participado de algumas eleições,
cargos majoritários, bem como a contribuição que S.Exa. presta a esta Casa sobre a
construção do PRONA. Em meu nome e em nome dos membros da Comissão,
agradeço a S.Exa. a participação.
Conheci o Deputado Enéas quando ele era professor de um curso chamado
Gradiente, no Rio de Janeiro. Ele é muito didático.
Estamos discutindo o voto em lista, o financiamento público, o fim das
coligações e a federação de partidos.
Dificilmente se encontra um mecanismo para falar em financiamento público
sem lista. A experiência que houve na Itália levou ao início da Operação Mãos
Limpas, mas ninguém conseguiu o fim das coligações e da federação de partidos.
Quero registrar, primeiro, as desculpas por colocar esses pontos, mas
evidentemente como essas matérias estão sendo debatidas na Comissão,
gostaríamos que V.Exa., Deputado Enéas, avançasse mais nesses temas. Os outros
são matérias de emenda à Constituição e esta Comissão preferiu avançar em
matéria de lei ordinária.
Com a palavra o Deputado Enéas, Presidente Nacional do PRONA.
O SR. DEPUTADO ENÉAS - Muito obrigado pelo convite, Sr. Presidente, Sr.
Relator e demais colegas.
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Solicitado a me pronunciar, a primeira pergunta de V.Exa. foi sobre
experiência política.
Quero dizer que se há algo que me preocupa profundamente desde que me
lancei há 14 anos no processo é a fidelidade partidária. Cheguei, certa feita, em São
Paulo, a pedir às pessoas que escrevessem a palavra PRONA; 56.000 pessoas
escreveram a palavra PRONA. Eu tinha apenas 4 candidatos desconhecidos em
uma lista aberta; o mais votado foi uma senhora eleita com 1.000 votos, fato insólito
na história de São Paulo. Um mês depois, ela saiu do partido, porque absolutamente
não aceitava as determinações que partiam do comando nacional, fato que já vem
se repetindo.
Sem ter participado de nenhuma das reuniões, uma vez que não pertenço à
Comissão — estou sendo bem sintético —, e em sendo solicitado a me manifestar,
peço que cuidem bem disso. Quero crer que se trata de questão de importância
primacial, para que não permitamos, detentores que somos do comando de
estruturas político-partidárias, que alguém se aproxime de nós, nos jure amor eterno,
seja eleito pela força de uma legenda e logo depois se afaste.
Este é o meu pedido a V.Exas.
No que concerne à lista, o Deputado Michel Temer foi extremamente feliz
quando se pronunciou, uma vez que, considerando que o Presidente Nacional e os
outros membros da Executiva têm esse poder de fato, chega a ser proibitiva a
participação de outras pessoas que não sejam aquelas escolhidas.
Tenho exemplo recentíssimo, todos conhecem. Escolhi pessoas de meu
conhecimento, que ajudaram a fundar o partido; foram eleitas por mim. Viemos
juntos, se acertei ou errei só o tempo dirá, embora até agora tenha havido, pelo
menos, coerência nas votações.
Concordo, Deputado Michel Temer, com o exemplo que V.Exa. citou, que
deve haver uma eleição prévia; e talvez, pouco a pouco, em 2 ou 3 eleições, se
consiga peneirar o número mínimo de pessoas que satisfaçam aquelas condições
exigidas pelo partido.
Quero crer que a lista é a melhor solução, sem dúvida, para não ficarmos na
mesma situação anterior, isto é, que qualquer pessoa, sem vínculo nenhum com o
partido, filie-se 1 ano antes e seja eleito, devido ao seu poder econômico ou algo
parecido.
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Estou de acordo com essa restrição.
Financiamento público é uma questão complexa. Se o financiamento público
— não sei de que maneira, como disse no início, não participei das reuniões —
permitir que todos tenham acesso, estou perfeitamente de acordo. Nada melhor, no
meu ponto de vista, do que os fatos às claras.
O que eu fiz? Agora sou obrigado a falar da minha experiência. Como não
tinha recursos, escrevi um documento chamado Uma Cartilha. V.Exas. viram o
escândalo que isso causou. Nela eu pedia que as pessoas que se aproximassem de
mim adquirissem aqueles elementos cognitivos da doutrina partidária. Foi suficiente
que um indivíduo sem informação e sem caráter dissesse que estava sendo
cobrado, para causar um escândalo nacional. Estou com minhas contas todas
abertas sendo investigadas, porque está claro que os juízes não têm nenhum poder
econômico para isso. Mas financiamento público é algo, a meu ver, extremamente
respeitável.
Fim das coligações. Particularmente, jamais participei, mas isso não quer
dizer nada. Não participei porque, do meu ponto de vista, jamais precisei, jamais fui
a qualquer lugar ou a qualquer ponto do País pedir votos. Quando o fiz, foi em favor
de um colega. Digo pela televisão sempre que se há algo de que pudesse reclamar
seria sempre ter sido obrigado a falar em tempo exíguo, como verdadeira
metralhadora verbal. Se isso deu resultado ou não, os fatos estão aí para quem
quiser verificar. Com meio minuto para falar consegui 1 milhão de votos, mais do que
o segundo com toda a máquina do Governo atual que aí está.
V.Exa. pergunta sobre fim das coligações. Se as coligações fossem feitas
com a união de partidos que falassem a mesma língua, estaria de acordo, mas se
são feitas no último momento, visando apenas a um resultado que, na maioria das
vezes, não tem nada a ver com o que se dizia antes, ou seja, se as coligações visam
apenas a uma eleição, e por essa razão eu as vejo como espúrias, sou contra.
Minha posição é bem clara.
Finalmente, V.Exa. abordou o tema federação. Com sinceridade, não sei o
que é. Gostaria que V.Exa. me explicasse.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) - Deputado Enéas,
atualmente as coligações se fazem exclusivamente para o processo eleitoral. Após o
processo eleitoral, cada partido tem vida própria. A federação é um instrumento que
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faz com que o partido se una nacionalmente e mantenha seu vínculo durante toda a
legislatura, impedindo justamente o que V.Exa. disse, que as pessoas se unam sem
nenhum princípio nem vínculo, sem nenhuma estrutura estatutária, puramente para
a questão eleitoral. Portanto, uma das saídas para manter um conjunto de partidos,
na primeira ou na segunda eleição, seria o instrumento da federação. Esta seria o
instrumento que permitiria a existência de alguns partidos sem caráter nacional que
precisassem se coligar em alguns Estados, com a garantia de que essa coligação
seria regida por princípios, pois teria a obrigação de existir durante toda a legislatura.
Seria o princípio da federação, que não é hoje o princípio das coligações. É mais ou
menos isso.
O SR. DEPUTADO RONALDO CAIADO - Sr. Presidente, eu gostaria de
complementar.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) - Eu até tomei a palavra
do Relator porque já conversamos muito a esse respeito. Mas vou passar a palavra
para o Relator, porque, na verdade, S.Exa. trabalhou mais o tema. Eu apenas
sintetizei para avançar um pouco mais.
O SR. DEPUTADO RONALDO CAIADO - Sr. Presidente do PRONA,
Deputado Enéas, quero deixar claro que a legislação atual impõe que, em 2006,
para ter funcionamento parlamentar na Casa o partido deverá ter 5% dos votos
válidos em âmbito nacional e 2% em 9 Estados da Federação.
(Não identificado) - Cláusula de barreira.
O SR. DEPUTADO RONALDO CAIADO - Ou cláusula de desempenho, como
observou o Senador Jorge Bornhausen. Ou seja, a federação passa a ser uma
alternativa para que esses partidos, como foi abordado pelo Deputado Michel Temer,
com identidade na proposta apresentada hoje, dentro do seu programa, do seu
estatuto, realmente venham a configurar uma federação, que não pode desaparecer
no final do processo, devendo perdurar toda a legislatura. Com isso terá direito ao
funcionamento parlamentar na Casa. Com maior detalhe, a inclusão da cláusula de
desempenho ou de barreira.
Obrigado.
O SR. DEPUTADO ENÉAS - Entendi. Seria uma fórmula para corrigir o que aí
está. Quer dizer, esse impedimento que está sendo apresentado à continuidade da
existência de certas estruturas político-partidárias que não alcançaram esse mínimo.
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Haveria muito a discutir, Deputado Michel Temer. V.Exa. conhece bem mais
do que eu a questão no que concerne à constitucionalidade dessa tese, embora este
talvez nem seja o foro específico. É ou não constitucional o que está sendo
proposto? Fere ou não a Constituição? Independentemente de ter ou não passado
merece uma análise por um professor de Direito Constitucional. Não o sou, estudo o
assunto, mas não tenho esse título. Lembro também a V.Exa., Deputado Ronaldo
Caiado, que este também tem sido objeto de preocupação para mim. Tenho me
debruçado a pensar qual é o objetivo especifico. Por exemplo, quando no tempo de
uma eleição presidencial, V.Exa. foi meu colega em 1989, disputamos juntos a
Presidência da República, V.Exa. recorda que àquela época exigia-se, em se tendo
pelo menos um, que o tempo ao qual o candidato tinha direito era de 2 minutos e
meio, 2 vezes ao dia; se não existisse nenhum Deputado, o tempo seria de 15
segundos. V.Exa. foi agraciado com dois minutos e meio, eu fiquei com 15
segundos. A lei mudou 3 vezes.
Deixo a seguinte indagação para V.Exa.: é legítimo, num jogo de futebol, um
time jogar 10 minutos e o outro 40? Quero crer que não. Em se aceitando — é
apenas uma postulação, já que me foi dado o direito de falar — que A, B ou C sejam
candidatos à Presidência da República, a pergunta é: não seria racional que os
tempos fossem divididos de maneira equânime?
Aceitar os fatos não é manter o status quo, não é permitir sempre, se o
partido tem mais Deputados, que tenha mais tempo. É apenas uma pergunta a
V.Exa. No mais, estou de acordo com as teses, minha resposta já ficou clara.
Agradeço a V.Exa. a oportunidade. (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) - Obrigado, Deputado
Enéas. Parece-me que o PRONA não tem representante nesta Comissão.
O SR. DEPUTADO ENÉAS - Não tem porque não foi dado ao PRONA esse
direito.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) - Quero propor à
Presidência e à Relatoria uma reunião específica com a bancada do PRONA, para
que possamos explicar todo o projeto. Estamos tendo esse procedimento em todas
as bancadas. Basta entrar em contato com a assessoria da Comissão e marcar para
terça-feira, por volta das 15h30min, para que o Deputado Ronaldo Caiado possa
fazer uma exposição em linhas gerais do projeto que está sendo apresentado.
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O SR. DEPUTADO ENÉAS - Sr. Presidente, muito obrigado.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) - O Deputado José
Aníbal confirmou presença, mas por motivo de força maior não poderá comparecer e
pediu ao Deputado João Almeida que o represente. Ouvir o Deputado João Almeida
é um prazer e não preciso dizer que nesta matéria S.Exa. é uma das referências, um
estudioso, não nesta Casa, mas no Brasil. Em todas as Comissões da qual fiz parte,
S.Exa. sempre foi parte importante.
Nós tínhamos um acordo de que falaria exclusivamente os presidentes, mas,
em virtude do impedimento do Deputado José Aníbal, a Presidência tomou a
decisão que lhe cabe e vai conceder a palavra ao Deputado João Almeida pelo
respeito que todos nós lhe dedicamos.
Com a palavra o Deputado João Almeida, um dos maiores conhecedores da
matéria, representando o PSDB.
O SR. DEPUTADO JOÃO ALMEIDA - Obrigado, Sr. Presidente. Quero
cumprimentar V.Exa., os ilustres Presidentes Michel Temer e Enéas Carneiro, do
PMDB e PRONA, o nosso querido companheiro, Relator, Ronaldo Caiado, e os
demais companheiros. Vim cumprir missão que me determinou o Presidente José
Aníbal. S.Exa., por razões maiores, não pôde comparecer a esta reunião.
Preocupado com que as reuniões transcorram dentro do prazo ideal, recebi a
incumbência de representá-lo. Serei breve, porque quando falo sempre expresso, de
alguma forma, a opinião majoritária do nosso partido, embora não tivéssemos ainda
uma reunião de bancada, de concertação final.
Acrescento — além do que tenho dito aqui, as opiniões que todos
conhecem —, a pedido do Presidente José Aníbal, para cumprir esse caráter da
representação institucional, o seguinte: o compromisso de sempre do PSDB com a
reforma política vem entendendo isso como um processo necessário de
aperfeiçoamento do nosso sistema político partidário. Tivemos uma interrupção em
toda construção que vínhamos tendo pela ditadura, e a retomada da vida
institucional obriga que estejamos vivendo este tempo novo, procurando ser
contemporâneo do tempo e entender que o PSDB tem idéia clara e que também o
nosso sistema não é o pior, tem produzido bons resultados, mas, talvez, tenha
chegado neste momento a uma exaustão.
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Não é possível continuarmos assistindo a todos os assuntos tratados aqui e,
como abordou, de forma clara, o Senador Jorge Bornhausen e o Deputado Michel
Temer, há exigência desses aperfeiçoamentos. São muitos, mas a eleição feita pela
Comissão dos temas prioritários, entende o PSDB, atende ao momento. O
Presidente José Aníbal pede que eu expresse a vontade do partido, que sempre
será possível fazer valer para a próxima eleição, que façamos um esforço e ver se
poderíamos, por entendimento ou por acordo, dar um passo que seja valioso para a
próxima eleição, senão seria uma frustração.
Temos opiniões convergentes em relação a todo o processo que se
desenrolou até aqui, a participação do Executivo, do Governo, enfim, na linha da
abordagem do Senador Jorge Bornhausen. Está aí o muito que podemos fazer,
embora o tempo pareça exíguo.
Farei 2 considerações em defesa das propostas apresentadas, sobre as quais
pediu o Presidente que os partidos se manifestassem. Uma é a observação do
Deputado Michel Temer, muito própria, de que as listas trazem em si o perigo da
manipulação e dos caciques partidários. Não conseguimos alcançar a
modificação — nenhum de nós nem aqueles que se têm dedicado há mais tempo ao
assunto. É impossível prever como será a mudança da política partidária, da ação
dos políticos, do sistema de eleição de voto pessoal para voto em lista. Isso vai
produzir uma revolução completa na nossa ação do dia-a-dia, na organização dos
partidos, na modificação completa.
O sistema pelo qual nos elegemos impõe-nos atenção aos nossos eleitores.
O gabinete de um Deputado, de um Senador, sobretudo, vive esse trabalho
diuturnamente, porque não tem grande importância cuidar do partido, muda-se de
partido quando não há conveniência em ficar no que se estava. Os partidos não se
obrigam a procurar, como bem disse o Deputado Michel Temer, uma representação
de uma parte identificável a qualquer hora, com um pensamento, com uma idéia,
com formulação, com proposta para a condução dos interesses públicos. Partido
muda-se a qualquer hora. Vamos preservar os eleitores que nos elegem. No sistema
de lista é diferente, a ação do Parlamentar vai ser de atendimento amplo ao
programa estabelecido pelo partido; não há atenção para eleitores de organização
do seu partido e de enraizamento das idéias no partido, na população como um
todo. Isso altera completamente. Vai passar a ter importância organizar partido, ter
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idéias, discutir qual posição partidária, diferentemente de hoje que fazemos manter,
assistir e atender a eleitores que nos respondem pelos resultados das nossas
eleições.
O Deputado Enéas é o melhor exemplo de lista partidária, pois muitos
condenaram o PRONA, dizendo ser um absurdo. É perfeito. Ele foi capaz: percorreu
todos os caminhos que a legislação permitia, disputou, galgou posição, conseguiu
ter idéia-força e obter número de votos suficientes. Além dele, outros escolhidos por
ele e que podem representar aqui essa idéia-força. O nosso sistema, como
concebido, permite isso, o que é muito bom; é uma riqueza do nosso sistema
eleitoral.
Quando se fala em listas partidárias, deveria ser com os que falam a mesma
língua. Se falam a mesma língua, não há necessidade de 2, 3, 4 siglas. Para quê?
Para acomodar tensões regionais simplesmente, porque o partido deve ser
representação de uma parte para a condução dos interesses políticos, partidos
políticos. Então, se fala a mesma língua, teoricamente, não deveria existir tanto
partido, por quê? Por que precisa ter um cacique aqui, outro acolá? Ao colocar isso,
a coligação perde o sentido.
O PSDB concorda com essas idéias e entende que a federação de partidos
talvez seja o último estágio. É uma parte da transição reclamada pelo Presidente
Michel Temer. Faremos da situação de coligações uma situação futura de listas
partidárias, em que os partidos terão visibilidade, em termos de programas, de
propostas, de situação consolidada de disputa política, em que não seja necessário
nem admissível a introdução de outros partidos para garantir suas eleições.
Agradeço ao Presidente Alexandre a oportunidade que S.Exa. conferiu não
apenas a mim, que estou aqui todos os dias, mas ao Presidente José Aníbal, de
alguma forma expressar pela minha voz as posições partidárias que não teve
oportunidade de fazê-lo aqui. (Palmas)
O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) - Muito obrigado,
Deputado João Almeida. A maioria dos presidentes de partido, logicamente, não
fizeram debate dentro dos partidos para exporem suas posições sobre a
representação que o mandato de presidente do partido lhes confere. Tenho certeza
de que isso deve ter ocorrido com o Presidente Enéas, com o Presidente Michel
Temer, com o Senador Jorge Bornhausen e com o Deputado João Almeida. É quase
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impeditivo que se implante um debate para saber a opinião do partido, pois estamos
fazendo um trabalho de visita aos partidos.
A maioria dos Deputados não têm o domínio geral da matéria nem conhecem
o projeto. O Relator tem feito um enorme trabalho. Estamos com lista de inscrição,
mas estou impedido de colocar a matéria em debate, porque nenhum dos
Presidentes presentes têm posição firmada dos partidos sobre a matéria. Foi por
isso que tomamos a decisão de que não teria representante do Presidente. A minha
deliberação de permitir a participação do Deputado João Almeida foi por motivo de
saúde, de última hora, do Presidente José Aníbal.
Passarei para as considerações gerais do Relator e depois vou liberar os
Presidentes de partidos. Em seguida, faremos o debate. Um dos problemas que
enfrentamos é que o assunto não foi debatido internamente nos partidos. Não
haveria condição de os presidentes se manifestarem, a não ser em nome pessoal.
Concedo a palavra ao Relator.
O SR. DEPUTADO JOÃO PAULO GOMES DA SILVA - Sr. Presidente,
gostaria de fazer uma reclamação.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) - Permitirei a
reclamação, mas antes vou conceder a palavra ao Relator. Admitirei as reclamações
e as questões de ordem, a não ser que cada um dos Srs. Presidentes queiram se
manifestar. Sei que todos os Presidentes convidados não fecharam questão dentro
dos partidos.
O SR. DEPUTADO VICENTE ARRUDA - Sr. Presidente, vamos ouvir a
opinião deles como autoridades e como pessoas que participam da vida. Do
contrário, não tem sentido a convocação.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) - Ficou claro que nós
iríamos convocar Presidentes de partidos. Nenhum dos partidos fechou acordo
sobre esses assuntos.
Concedo a palavra ao Sr. Relator, em seguida iniciaremos o debate.
O SR. DEPUTADO RONALDO CAIADO - Sr. Presidente, Sras. e Srs.
Parlamentares que acompanham a Comissão Especial - Reforma Política, agradeço
ao Senador Jorge Bornhausen, que veio discutir o tema não só como conhecedor
profundo da matéria, pois no decorrer dos últimos anos vem se debruçando sobre
esses pontos da reforma política.
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Cumprimento o Presidente do PMDB, Michel Temer, por sua exposição,
coerência, conteúdo e conhecimento do tema; o Deputado Enéas, que, sem dúvida
nenhuma, com sua habilidade e vivência política soube, em curto espaço de tempo,
expor com bastante clareza sua posição e a de seu partido; e o Deputado João
Almeida — que falou em nome do Presidente do PSDB —, cujas posições nós bem
conhecemos, como também o seu amplo conhecimento desta matéria por ter
relatado em todas as Legislaturas anteriores e por fazer parte desta Comissão.
Todos os avanços que obtivemos na legislação se deve ao trabalho que o Deputado
João Almeida vem empreendendo na Casa.
Sr. Presidente, quero deixar claro que, quando V.Exa. ressalta que as
posições defendidas pelos Presidentes dos partidos não podem ser partidárias, é
porque, na verdade, esse tema não só é polêmico como também não foi debatido e
levado a cada um dos partidos. Tivemos a oportunidade de discutir com o PV, com o
PDT. Esta semana serão marcadas novas reuniões nas Lideranças dos partidos,
para que possamos levar dados, detalhes e sugestões ao projeto. O Presidente de
partido não pode assumir na Casa posição como se fosse a do partido. Sabemos
muito bem que até em matérias constitucionais, como estamos vendo nas últimas
votações, os partidos não têm votado de maneira uniforme, com raras e honrosas
exceções, como o PRONA.
A exposição feita mostrou a tendência de cada um dos partidos em relação ao
tema. A Comissão e seus membros, como a Relatoria e a Presidência, colocam-se
disponíveis para comparecer às reuniões partidárias.
Gostaria de apresentar ao Presidente Michel Temer, profundo conhecedor da
legislação e jurista conceituado, a proposta inicial da formulação, da formatação de
uma lista partidária ou de uma lista preordenada. Manteríamos o período das
convenções como está na legislação atual. No período de transição, ou seja, no
período de 2002 a 2006, os Deputados atuais iriam ocupar na lista em 2006 a
mesma posição que eles obtiveram na eleição de 2002.
A consulta foi feita por nós junto ao Ministro Nelson Jobim. Como temos hoje
candidaturas natas nos partidos é necessária apenas a homologação da
Convenção. Nos estudos feitos, posicionou-se não apenas favorável, mas disse que
os atuais Deputados Federais e Estaduais, se nós tivéssemos eleições de
Vereadores para o próximo ano, poderiam ser incluídos. Eles já poderiam ter as
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posições em 2006 de acordo com o resultado eleitoral de 2002. Lógico que isso
seria convalidado em convenção. Foi a única exigência que ele fez para que não
fosse descaracterizado o período de convenção.
Na eleição de 2010, o cidadão não votaria no Deputado A, B ou C. Votaria na
legenda. Em 2010, teríamos só os convencionais votando e decidindo do primeiro ao
último lugar das listas. Na transição, teríamos a manutenção dos atuais na lista, na
mesma posição. Os demais membros da lista — logicamente, se teremos 150% do
número de vagas de cada Estado ou de cada Município — serão homologados em
convenção regional pelo voto secreto dos convencionais, na ordem dos votos
obtidos. E cada convencional com direito a 3 votos. A sugestão é no sentido de
também estudar se esse voto poderá ser cumulativo — os 3 votos dados a um único
candidato.
A intenção inicial era de que esse convencional pudesse dar 3 votos a 3 pré-
candidatos apresentados à convenção, sem tirar a hipótese de o voto ser cumulativo
e de que seja mantido o número de 150 vagas, como na legislação atual — não com
a pretensão de nenhum partido fazer 100%. Já houve casos em que, em alguns
Estados do Norte, um único partido, se não me engano o de V.Exa., já conseguiu ter
a totalidade dos Deputados Federais. Com isso, qualquer problema que
acontecesse, não haveria o suplente.
O SR. DEPUTADO CEZAR SCHIRMER - Eu gostaria de um esclarecimento:
com relação ao item 2. Comporão a lista os atuais Deputados Federais e Estaduais,
de acordo com a classificação pelo número de votos?
O SR. DEPUTADO RONALDO CAIADO - Certo.
O SR. DEPUTADO CEZAR SCHIRMER - E se ele for eleito por outro partido?
O SR. DEPUTADO RONALDO CAIADO - Bem, essa observação já foi feita,
e também discutimos esse assunto com o Deputado Nelson Jobim. Depois de
exaustivas discussões e da busca de legislação, às vezes até de outros países, o
que ficou claro é que, nesse ponto, a convenção é soberana. Ao mudar de partido,
resta saber se o partido a que ele se filiou poderá aceitá-lo com aquele número de
votos que obteve na última eleição. Mas isso só se realmente a convenção assim o
decidir. Do contrário, aqueles eleitos pela sigla é que terão os seus lugares
garantidos na transição.
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O SR. DEPUTADO CEZAR SCHIRMER - Não seria possível haver outra
posição também de transição, no sentido de que os eleitos por outro partido
entrassem na ordem de classificação, atrás dos eleitos por aquele partido?
O SR. DEPUTADO RONALDO CAIADO - É uma sugestão que pode ser feita,
mas...
O SR. DEPUTADO CEZAR SCHIRMER - Ele entraria por outro partido,
porém atrás dos eleitos pelo partido ao qual se filiou.
O SR. DEPUTADO RONALDO CAIADO - Tudo bem. Pode ser uma posição
no sentido de que seja uma garantia.
O SR. DEPUTADO CEZAR SCHIRMER - Caso contrário, o novo partido pode
rejeitar a candidatura ou colocar em último lugar a candidatura de alguém que aderiu
ao partido por último.
O SR. DEPUTADO RONALDO CAIADO - Já que é o voto convencional,
poderemos discutir essa sugestão.
O SR. DEPUTADO CEZAR SCHIRMER - Estou falando apenas com
referência à regra de transição, na próxima eleição.
O SR. DEPUTADO RONALDO CAIADO - Muito obrigado.
Em relação ao que estamos sugerindo para constar do nosso projeto, quanto
a listas preordenadas ou fechadas, são esses os pontos que debatemos, aos quais
deve ser incluída essa proposta do Deputado Cezar Schirmer, a fim de que
ampliemos para esses que migraram e estão numa outra legenda, e ficariam
submetidos apenas aos convencionais. O Deputado sugere que esses que mudaram
de partido venham a assumir exatamente de acordo com os votos que obtiveram, os
números abaixo daqueles que já foram eleitos pela mesma legenda e, após essas
vagas, os demais, pelos votos dos convencionais. Não é isso, Deputado?
O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR - Deputado Ronaldo Caiado, ouvi o
Presidente Alexandre — posso ter entendido mal — mencionar a hipótese de, na
formação da lista, todo filiado à legenda poder opinar, uma primária de base.
O SR. DEPUTADO RONALDO CAIADO - Isso existe em alguns países, mas,
na proposta que está sendo apresentada por nós, até agora não colocamos todos os
filiados ao partido. A proposta inicial está sendo dada aos convencionais, que são o
diretório constituído e os delegados dos Municípios. Eles constituem os
convencionais num diretório regional. Portanto, a princípio, seria dada a esses
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convencionais, para não restringir, para ter apenas um voto para cada candidato.
Ampliamos para 3 votos, e a tese da cumulatividade desses votos foi apresentada
pelo Deputado Bonifácio, aqui na última sessão. Esse é o aspecto apresentado até
agora.
Alguns defenderam aqui a tese da ampliação para todos os filiados do partido.
Começou a discussão sobre se não teríamos o poder econômico funcionando como
uma prévia anterior. O financiamento de campanha ficaria quase que
descaracterizado se mantivéssemos aberto a todos os filiados do partido. Aquele
que tivesse maior poder econômico poderia fazer uma campanha de última hora e
filiar 1 milhão de pessoas ou 100 mil pessoas em um partido, em um Estado e,
talvez, alterar um pouco o resultado da convenção. O modelo convencional trata
mais daquele cidadão que já está há mais tempo no partido.
Já que estamos garantindo a manutenção dos Deputados Federais atuais na
transição, a partir de 2006 o Deputado Federal vai-se ocupar mais da vida partidária.
O mais votado, vai poder exigir o direito de participação na convenção, no diretório.
A partir de 2006, existirá maior participação na vida político-partidária. Haverá
estímulo e um prazo para os Parlamentares que hoje dizem que não podem entrar
na disputa da lista. Inclusive concordo com tal alegação, porque hoje, como disse o
Deputado Michel Temer, podem existir ali pessoas que se apoderam da estrutura
partidária. Com isso, teríamos um prazo de transição até 2010, para melhorarmos a
prática interna dos partidos.
Esses são os pontos que queria realçar.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) - Por deferência da
Mesa aos convidados, vou permitir outra interpretação. Então peço ao Relator para
concluir
O SR. DEPUTADO RONALDO CAIADO - O Deputado Enéas fez uma
observação quanto ao tempo no rádio e na televisão. Fizemos uma modificação. O
cálculo do tempo no rádio e na televisão não será mais feito no dia 1º de fevereiro,
na data da posse, mas sim pelo resultado das eleições. Estamos antecipando e
dando realmente um corte no momento certo, em respeito à vontade do eleitor que
elegeu o número de Deputados Federais e Estaduais.
A proposta do Deputado João Almeida que há poucos dias discutíamos diz
respeito ao inciso II do § 2º do art. 47 da Lei Eleitoral, que estipula dois terços
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proporcionalmente ao número de representantes na Câmara dos Deputados,
considerado, no caso de coligação, o resultado da soma do número de
representantes de todos os partidos que a integram. Esse é um assunto que nos
preocupa porque, nesse caso, existe um acúmulo de horário do partido que
consegue um número de coligação significativo, principalmente os partidos que
mantêm estrutura governamental nos Estados. Com isso, estamos tentando limitar
esse percentual. Por mais que se façam coligações, esse tempo poderá chegar ao
máximo de 50% ou 60% do tempo, e o restante será redistribuído com os outros
partidos. Essa também é uma proposta que está sendo pensada por nós nessa
mudança no tempo no rádio e televisão e que nos foi sugerida pelo Deputado João
Almeida.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) - Agradeço ao Sr.
Relator. A Mesa vai permitir que diversos Parlamentares expressem suas idéias,
evidentemente deixando claro que não é a opinião do partido, pois os partidos não
vieram para cá com a intenção de deliberar sobre a matéria. Provavelmente os
Deputados Michel Temer e Enéas não conheciam essa apresentação, porque não
são da Comissão. Mas sabemos que, quando a questão é apresentada às
bancadas, ela é reformulada. Na bancada do PDT, que possuiu 14 Deputados,
quando a questão foi apresentada, quase houve unanimidade. A continuar dessa
forma, a questão começa a mudar.
Quem quiser manter sua inscrição, se dirija à Mesa. Deixo claro que será a
opinião pessoal do Deputado, não a opinião do presidente do partido.
Concederei a palavra respeitando a ordem de inscrição e pedindo aos
Deputados inscritos que sejam breve. Ao Deputado Enéas e ao Deputado Michel
Temer, que tinham fixado preliminarmente um horário, vou conceder mais um tempo,
para que possamos aproveitar a experiência de ambos nessa questão.
Com a palavra o Deputado Lincoln Portela e, em seguida, os Deputado João
Paulo Gomes da Silva , José Divino e Luiz Carlos Santos.
O SR. DEPUTADO LINCOLN PORTELA - Sr. Presidente, Sr. Relator, Srs.
presidentes de partido, representante do PSDB, Deputado Michel Temer, do PMDB,
Deputado Enéas, do PRONA, é muito difícil discordar sem ser antipático.
Primeiramente, quero deixar meu protesto, porque foi definido na Comissão
que não teríamos representantes. Faço tal registro independentemente da presença
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do Deputado João Almeida, pessoa ímpar e a quem estimo muito. Na minha
avaliação, considero isso uma quebra de acordo. Não podermos responder, falar,
dialogar em uma audiência pública, fica um pouco difícil, e isso enfraquece a
Comissão. Quando um presidente de partido — como, por exemplo, José Aníbal —
não pudesse estar presente, seria bom que fosse adiada a reunião, porque é muito
importante ouvirmos uma pessoa abalizada. Seria bom que esse presidente de
partido estivesse presente, ou, de qualquer forma, que não se enviasse
representante. A presença do presidente de partido é muito importante para nós.
Anotei algumas coisas e vou tentar me ordenar para não perder o fio da
meada. Primeiramente, quero parabenizar o Partido da Frente Liberal. Lamento o
fato de o Senador Jorge Bornhausen não poder estar presente aqui agora. Fica
também o meu protesto porque ele é que tem se debruçado sobre a matéria,
trabalhado com afinco e dedicação para poder dialogar conosco. Assim dá uma
certa impressão de monólogo. Sinto a falta do Senador e da sua competência para
repartir e compartilhar conosco suas experiências e avaliações.
Anotei algumas coisas sobre a data da eleição, tempo de televisão, fundo
partidário. Na minha avaliação é mais do que correta a decisão desta Comissão.
Quanto ao fim das coligações, concordo plenamente porque penso que isso
fortalecerá os partidos, inclusive os pequenos. Ao mesmo tempo, e já disse isso na
reunião passado, penso que a federação de partidos para coligação é redundante.
Acaba sendo a mesma coisa. É incoerente, um paradoxo acabar com as coligações
e fazer uma federação para coligação. Realmente tenho certa dificuldade para
entender isso.
Na CCJ temos um projeto que fala dessa federação de partidos para alcançar
o funcionamento parlamentar a partir do momento em que os Deputados já se
encontram eleitos, nesta Casa. Aí sim, essa federação deveria funcionar. Não para
coligação, porque acabamos aqui com a coligação partidária, votamos contra ela.
Votar a favor da federação é mudar o rótulo mas continuar com a mesma essência.
Sobre a cláusula do desempenho, bem apresentada pelo Senador
Bornhausen, para mim não é avanço, mas um retrocesso, porque é fruto da Emenda
Constitucional nº 11 de 1978, da ditadura militar, feita exclusivamente para segurar o
funcionamento Parlamentar do PT, PDT, PTB e, se não me engano, do PP aqui
nesta Casa.
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Quanto ao fundo partidário com financiamento público de campanha para o
ano de 2003, creio que o tempo é muito curto para isso. A observação do Deputado
Michel Temer foi perfeita ao falar sobre a questão da transição. É preciso viver essa
questão da transição, porque o maior interessado nisso é o povo. Como é que nós
podemos chegar, da noite para ao dia, e dizer: “Essa mudança revolucionária vai
acontecer agora e vocês vão ter que beber esse cálice, vocês vão ter que engolir
isso aí”. Então eu tenho uma certa dificuldade em relação a esse caso.
Muito bem, sobre o fundo partidário com financiamento publico, o Fome Zero
gasta hoje, no ano de 2003, 600 milhões. Pelas nossas contas aqui, estaríamos
gastando aproximadamente 810 milhões. É claro que a democracia não tem preço,
mas eu tenho muita dificuldade em aceitar esse novo tributo, porque alguém vai
pagar, e por certo é o povo. Não sei como a sociedade civil reagiria sobre isso.
Penso inclusive que isso tira o eleitor das urnas.
Enfraquecimento dos partidos, fidelidade partidária. Lembro aqui, mais uma
vez, o Deputado Michel Temer. Fala-se muito em Deputados que trocam de partido.
Concordo plenamente com isso, sou favorável a que haja um ajuste nessas coisas,
mas não vejo Deputados do PT e do PCdoB trocando de partidos. Eu não vi os
Deputados do PRONA neste eleição, o PRONA já mais amadurecido, trocando de
partidos. Quem é infiel? O Deputado é infiel, o partido é infiel aos seus programas?
Estou colocando isso apenas por uma questão de avaliação. Não estamos
discutindo a questão de, por exemplo, 4 países usarem o voto proporcional e 4
outros países desenvolvidos adotarem o voto facultativo. Não estamos discutindo
isso. O que queremos é que a sociedade civil participe. E fica aqui a sugestão, Sr.
Relator: a sociedade precisa ser ouvida. A Comissão da reforma da Previdência fez
audiências públicas no Brasil todo. A sociedade precisa ser ouvida, precisamos fazer
audiências com a sociedade civil, o eleitor é o principal interessado.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) - Eu tenho o maior
interesse em atender a todos, mas nós temos um compromisso com os palestrantes.
Eu acabei pedindo às pessoas para antecipar. Não quero ser deselegante, mas nós
temos um combinado de 3 minutos.
O SR. DEPUTADO LINCOLN PORTELA - Desculpe, Sr. Presidente, eu já
encerro. Agradeço a sua atenção e deixo aqui este pensamento.
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O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) - Eu vou manter a minha
posição diante dos palestrantes, que falarão pelo tempo de 10 minutos, porque
infelizmente foi isso que nós acordamos. Chegamos um pouco mais tarde, mas eu
vou manter o acordo com os palestrantes.
Com a palavra o Deputado João Paulo.
O SR. DEPUTADO JOÃO PAULO GOMES DA SILVA - Obrigado,
Presidente. Cumprimento a Mesa, toda formada de companheiros, Deputados
Federais. Vou tentar ser mais objetivo, Sr. Presidente. Eu vim para esta Comissão
com o objetivo de contribuir para a formulação da reforma política, da reforma
partidária. Confesso que sonho ainda com a possibilidade de o Brasil se tornar um
Estado unitário, a exemplo da França, e do nosso, próximo de nós, Paraguai. Acho
que esta Federação brasileira está falida. Não percebo como ela pode ser
reconstituída em bases eqüitativas que possam realmente corresponder à
expectativa do cidadão brasileiro. O estado-membro hoje é um atravessador, não
responde à expectativa que sobre ele repousa. Ele usurpa dos Municípios e até da
União. Acho que o Estado unitário seria a melhor solução. Não sei como isso vai ser
possível, mas eu gostaria de que no seio desta Comissão nós travássemos um
debate dessa magnitude.
Uma outra proposta que gostaria de fazer à Comissão é que nós pudéssemos
discutir o parlamentarismo no Brasil. A população não foi satisfatoriamente
informada a respeito do parlamentarismo e eu percebo que nas malhas do
parlamentarismo é que os partidos políticos poderiam obter aquilo que tanto buscam
e que tanto reclamam, por não terem, exatamente o seu fortalecimento. O partido só
se fortalecerá no Brasil com a instituição do parlamentarismo, porque ele vai se
fortalecer e abraçar responsabilidades também. Eu não percebo quais são as
responsabilidades que os partidos políticos têm hoje perante a sociedade brasileira.
Acho que o parlamentarismo, sim, seria a chave, seria a solução para responder a
essa demanda dos partidos políticos. No regime presidencialista não é possível
outorgar-se mais poderes políticos. O partido de V.Exa. acaba de expulsar um
brilhante político, o Anthony Garotinho, e a sociedade não sabe por quê. A
informação, oficiosa, é de que ele teria entrado numa rota de colisão com o
Presidente do partido e não com os programas do partido. Quer dizer, isso poderia
ensejar a expulsão dele? Então, os partidos já promovem a expulsão, a intervenção,
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sonegam a legenda a ilustres personalidades que poderiam posar de candidatos, e
com uma felicidade muito grande, como por exemplo, o ex-Governador do meu
Estado, Itamar Franco, que tem uma série de questionamentos que envolvem a sua
figura pública, mas, sem dúvida nenhuma, seria um excelente a Presidente da
República. E em 2 oportunidades a legenda lhe foi sonegada. Eu pergunto: onde
está a fidelidade partidária nesse caso? Eu vejo a fidelidade partidária como sendo
um atributo que apenas o partido pode usar. Quando o cidadão se elege, não deve
mudar de legenda, não deve mudar de partido porque, inclusive, o mandato
pertence ao partido. Eu acho um exagero, porque o eleitor vota no candidato a
despeito do partido a que ele esteja filiado. Não vota no partido. A Constituição diz:
“Todo poder emana do povo”, e não do partido político. Eu já disse que sou
partidário de uma discussão que pretenda otimizar a cidadania do Brasil e fortalecer
o eleitor, e não o partido político, que, a meu juízo, já tem poder demais. Outros
partidos fizeram convenções e passaram por intervenções e o poder central do
partido, aqui em Brasília, acabou arrebatando candidatos.
Com relação à fidelidade partidária, eu gostaria de ver esse instrumento
debatido num cenário de bilateralidade, onde o Parlamentar tenha responsabilidade
perante o partido e o partido a tenha perante o Parlamentar e perante a si próprio
porque, no caso do PMDB, por exemplo, ele optou por um nome que nem do PMDB
era, o ex-Presidente Fernando Henrique Cardoso, do PSDB. Quer dizer, qual é a
fidelidade que o PMDB devotou a si próprio? Então é um questionamento que acho
da maior procedência e é fundamental que seja feito.
Sr. Presidente, eu vou concluir.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) - O problema é o tempo.
V.Exa. já está falando há 4 minutos, e 3 minutos foi o tempo que nós demos. Eu pedi
para todos adiantarem, tendo em vista o acordo que fizemos com os 2 palestrantes,
que ficariam mais 10 minutos. Eu não posso fugir ao acordo. Às vezes os senhores
não sabem a dificuldade de se estar sentado a esta mesa, controlando o tempo.
Quer dizer, o tempo é de 3 minutos, eu peço para a pessoa ser mais rápida, aí as
pessoas falam por 4 minutos. Como é que eu fico?
O SR. DEPUTADO JOÃO PAULO GOMES DA SILVA - Sr. Presidente, eu
vou encerrar. Com relação à lista fechada, além da inconstitucionalidade que isso
pode significar, porque arrebata do eleitor o direito de votar no candidato, o voto
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direto, questão que deve ser discutida, existe ainda a inconveniência clara. Nesse
primeiro momento haveria uma reeleição automática, uma prorrogação de mandato:
disputando-se uma eleição, ganha-se 2. Tem que combinar isso com o eleitor, com
os outros candidatos que não estão aqui dentro. Quer dizer, essa é uma proposta
corporativa que não vai ser bem digerida por ninguém que esteja fora daqui. Isso é
movido pelo questionamento de que o nosso principal adversário é do próprio
partido, e não é. Está sentado à mesa o Deputado Enéas e eu perguntaria aos 2
candidatos que se elegeram juntamente com ele se eles o consideram o principal
adversário. Não é, é o principal aliado. Obrigado.
O SR. DEPUTADO ENÉAS - Eu elegi 6 Deputados, Sr. Presidente.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) - Com a palavra o
Deputado José Divino.
O SR. DEPUTADO JOSÉ DIVINO - Sr. Presidente, Sr. Relator, demais
Deputados, primeiramente quero dar os parabéns ao Presidente do meu partido,
Deputado Michel Temer, brilhante pela sua exposição, e quero começar pelo meu
Presidente para que possamos discutir a questão no PMDB. Eu tenho 20 anos de
militância no partido, de filiação. O primeiro ato da minha vida depois do serviço
militar, foi filiar-me ao antigo MDB, que fez com que me apaixonasse, namorasse e
casasse. Ulysses Guimarães lutou pela redemocratização deste País e o PMDB não
pode faltar ao País.
Sr. Presidente, infelizmente, nesta Comissão, não estamos discutindo, pelas
cúpulas partidárias que se fazem presentes, aquilo que interessa ao País. Querem
discutir e votar a lista fechada, querem fechar a democracia no Brasil, querem criar
um sistema monocrático, onde o poder econômico possa interferir na indicação dos
candidatos. E o PMDB lutou contra a ditadura.O Brasil deve ao PMDB muitas das
suas conquistas: anistia, direito ao voto. O nosso partido precisa se posicionar,
porque eles querem fazer partido forte. Pergunto: o PMDB é partido fraco? Não. O
PFL é partido fraco? Não. Será que o PT é um partido fraco? Não, o PT governa o
País. Então, essa história, essa desculpa de que a fidelidade é que vai fazer o
partido forte não é verdade.
Será que querem um regime de Cuba no Brasil? Lá, o partido é forte, mas a
democracia inexistente.
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Será que querem o regime da China ou do Iraque no Brasil? Qual a
democracia nesses países? Lá o partido é forte.
O PMDB é forte. Começou como Movimento Democrático Brasileiro. Chegou
a governar praticamente todos os Estados da Federação, por meio do voto direto, e
o poder emanou do povo.
Sou de Campos, cidade do Governador Garotinho, que foi expulso de seu
partido. Qual o crime que ele cometeu? Obteve 16 milhões de votos. Uma vergonha!
Graças a Deus que o meu partido, o PMDB, que é democrático, o aceitou. Quero
parabenizar o Presidente do meu Partido, a Liderança do PMDB, Eunício Oliveira,
Renan Calheiros, o Presidente da Assembléia do Rio, Moreira Franco, por terem
aceito o nosso Governador Garotinho e a Governadora Rosinha Matheus.
O PMDB passou a ser, a partir de ontem, a segunda maior bancada desta
Casa. Que venha outros para o PMDB, que é um partido democrático!
Agora, estou preocupado, sim, meu Presidente, com os caminhos que estão
tomando nesta Comissão, porque não se está falando em voto facultativo, que
interessa à sociedade, ao povo, como acontece nos Estados Unidos. Não se está
falando em fazer com que o partido possa ser democrático, mas querem instituir
uma ditadura partidária, abortando o nascimento de novas lideranças políticas no
País.
O Presidente Lula foi um sindicalista que chegou ao poder. É lógico que isso
estremeceu oligarquias que comandavam este País há séculos, que leiloaram e
venderam o nosso País, ferindo e violando a soberania nacional.
Estou nesta Comissão, como membro do PMDB, para contribuir num
processo democrático, para que o meu País possa, no futuro, dizer: “O Brasil é
democrático, retrocesso não”. Como tivemos o movimento Diretas Já! Vamos ter o
movimento contrário a essas reformas, que ferem e violentam a democracia
brasileira.
Faço esse pedido ao Presidente para que possamos discutir isso no PMDB,
para contribuir melhor com esta Comissão.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) - Muito obrigado,
Deputado José Divino.
Em virtude das 3 intervenções, vou passar a palavra aos expositores.
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O Deputado Enéas terá uma reunião de líderes. Como não foi possível
cumprir o tempo acordado, vou manter a posição da Mesa e dispensar os
expositores.
Com a palavra o Deputado Enéas, para suas considerações finais.
O SR. DEPUTADO ENÉAS - Espero o convite que foi prometido para a
próxima terça-feira.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) - A assessoria de V.Exa.
marcará com a assessoria da Comissão.
O SR. DEPUTADO ENÉAS - Numa terça-feira.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) - Pode ser, inclusive,
nesta terça-feira.
O SR. DEPUTADO ENÉAS - Perfeito.
Após assenhorear-me de todas as questões, será infinitamente mais fácil
aduzir algum argumento.
Ouvi as teses e já manifestei a minha posição. E após V.Exa. fazer o
arrazoado ao Relator, eu me comprometo a voltar a esta Comissão, mas tendo me
assenhoreado de todas as questões.
Obrigado.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) - O Deputado Michel
Temer, Presidente do PMDB, está com a palavra.
O SR. DEPUTADO MICHEL TEMER - Caros colegas, o Presidente Alexandre
Cardoso foi muito próprio ao dizer que esta era uma opinião minha. Inclusive, não
expressei isso no início da minha exposição. Reitero o que disse o Presidente
Alexandre Cardoso. Realmente vamos ouvir o partido, quer dizer, a posição do
PMDB envolve, em primeiro lugar, a sua bancada. Já estou aprazando com o
Presidente Alexandre Cardoso. Depois conversaremos com o diretório do partido, a
partir daí teremos uma posição.
Confesso que vim a esta reunião com o objetivo de prestar uma mínima
colaboração, e verifiquei, pelas indagações e colocações que foram feitas, que
temos que nos organizar e nos reunir no PMDB para verificar qual é a nossa
posição, conforme solicitação do Deputado José Divino.
Fidelidade partidária. Deve haver fidelidade a programas e não a pessoas
nem a líderes — vi muita personalização nesta reunião. A minha idéia de fidelidade
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é a observância de preceitos programáticos do partido. Assim como no caso da
Federação, se me permitem a observação, talvez haja uma leve diferença com a
coligação, porque o que entendi na federação de partidos é que ela se mantém no
tempo. Na verdade, ela funciona como espécie de transição para o acoplamento de
siglas partidárias. Eis o motivo por que isso só pode ocorrer entre partidos que
tenham programas extremamente assemelhados. A federação não é um mal, é um
caminho para a junção de vários partidos.
Aliás, quase que intuitivamente ou instintivamente, o Regimento da Câmara
dos Deputados prevê hipótese dessa natureza, quando prevê o bloco partidário,
que funciona como se fosse um partido político.
Por que surge a idéia do bloco partidário, da Federação, da coligação?
Porque não temos partidos definidos programaticamente. E o caminho é exatamente
este.
Evocando o passado, autorizado ou não pelo regime vigente, havia 2 partidos.
O MDB lutava pela redemocratização. Essa era uma tese que mobilizava o espírito,
o corpo, a alma, a mente, o raciocínio de muitos brasileiros. Isso ensejava reuniões
de magistrados, de associações de advogados, da SBPC, (Sociedade Brasileira
para o Progresso da Ciência), de federações as mais variadas. Essa era a uma
idéia. O outro partido sustentava outra tese. Curiosamente aquilo era tido como uma
coisa autoritária, e era, porque impedia o nascimento de outras agremiações
partidárias.
Esta reforma, pelo que entendi, não vai impedir que haja isso. A idéia de
federações, de bloco, de coligações é exatamente pela preambular que levantei: não
temos ainda partidos solida e programaticamente constituídos.
Essa é a observação que faço com relação à federação.
Um colega abordou o Estado unitário. A preocupação dele tem assento na
realidade. Ele verifica como a formação federativa no Brasil se deu de maneira
centrífuga e não centrípeta. Nos Estados Unidos foi diferente, os Estados eram
soberanos e se uniram, aqui os Estados eram unitários e se dissociaram por força
de um instrumento jurídico, que foi o Decreto nº 1, de 15 de novembro de 1989, que
todos exaltam como proclamação da República, mas o fato político mais importante,
foi a decretação da Federação como forma de Estado.
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Por que ele traz essa preocupação? Porque verifica que a Federação no
Brasil nunca se consolidou. Houve sempre uma concentração de poder em torno da
União, que significa concentração de recursos, porque só há autonomia política para
entidades federadas se der recursos.
Estamos vivendo um grande momento, que é a reforma tributária, mas mais
uma vez não estamos ousando, porque o grande tema da reforma tributária seria a
repactuação federativa.
Quando V.Exas. recebem visitas de Prefeitos, de Governador, o que eles
postulam? Autonomia. E como postulam autonomia? Por meio de recursos, querem
redivisão de recursos tributários.
Quero cumprimentá-lo pela manifestação calcada na realidade e quero tomar
a liberdade de me opor, porque, na verdade, a Federação é um sistema de
participação de divisão do poder. Assim como nós temos a divisão orgânica dos
Poderes: Legislativo, Executivo e Judiciário, e isso toma por base a idéia da
proteção ao direito individual. Também a divisão por espaços territoriais do poder dá
maior fiscalização, maior participação. Então, o que tínhamos que fazer era
redistribuir recursos de maneira que Estados e Municípios pudessem cumprir suas
tarefas, com toda a fiscalização, independentemente da mendicância orçamentária.
Esse é o meu comentário final, reiterando os cumprimentos pela constatação
da realidade, mas tomando a liberdade de me opor a essa direção e propondo algo
mais concreto para o fortalecimento da Federação.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) - Quero agradecer aos
Deputados Michel Temer e Enéas a participação. Tínhamos nos compromissado
com relação à saída de ambos. Poderemos continuar o debate. (Palmas.)
Antes de passar a palavra ao próximo orador, quero dizer que fui citado 2
vezes. A decisão desta Presidência de chamar o Deputado João Almeida no lugar
do Deputado José Aníbal foi porque o Deputado José Aníbal não poderia participar
da reunião da semana que vem, que será a última, e eu entendo que o Deputado
João Almeida sintetiza um pouco o pensamento do PSDB. Eu liguei para os
Presidentes e todos foram muito éticos ao dizer que esse debate não foi ainda feito
de forma decisiva dentro do partido. A minha opinião pode ser de uma maioria, mas,
provavelmente, eu não falarei pela decisão do partido. Primeira questão.
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Segunda, eu me limito às relações internas dentro do PSB. Só quero me
limitar a dizer que são relações internas, dentro dos seus quadros, e eu não gostaria
de polemizar como Presidente da Comissão a respeito de tal questão. Não houve
expulsão de nenhum dos quadros do PSB nos últimos 30 dias, mas é uma questão
interna. Eu gostaria de não polemizar e acho que todos os Deputados têm o direito
de criticar ou não a decisão do partido, mas eu, como Presidente, se tiver que
polemizar, vou polemizar no plenário ou em outro microfone. Como Presidente, me
sinto impedido de polemizar, mas devo dizer que não houve nenhuma expulsão do
PSB, pelo menos nos últimos 60 ou 90 dias de nenhum de seus quadros.
Quero dizer ao Deputado Lincoln Portela que havia um acordo aqui para que
somente presidente permanecesse. Eu já deixei claro que a minha decisão de
permitir que o Deputado João Almeida participasse foi porque, primeiro ele é um
membro desta Comissão e, segundo, ele sintetiza, mas não permitirei mais. É uma
decisão que V.Exa. me cobrou, e eu tenho que fazer com que nenhum outro
representante participe desta mesa. Acho que V.Exa. tem toda razão. Como se trata
de um partido importante — não é que os outros não sejam —, que tem uma grande
representação nesta Casa, eu acho que os membros da Comissão poderiam ter
idéia do que sintetiza um pouco o PSDB, mas, daqui para a próxima reunião, quem
não for presidente não participará do debate.
O SR. DEPUTADO JOÃO ALMEIDA - Sr. Presidente, quero pedir só um
minuto para um esclarecimento.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) - Pois não.
O SR. DEPUTADO JOÃO ALMEIDA - Eu, sinceramente, Presidente, não me
lembrava dessa decisão que tomamos aqui e não fui advertido dela por V.Exa.,
porque eu me negaria de participar. Eu não estive no dia ou, como ocorre, eu sou
meio burro e esquecido mesmo, posso ter esquecido dessa decisão, senão teria me
negado. Agora, limitei-me ao mínimo, estritamente o indispensável, para não cansar
a platéia e não ficar aqui em uma posição privilegiada em relação aos companheiros
que estão na luta todos os dias.
O SR. DEPUTADO LINCOLN PORTELA - Sr. Presidente, eu deixei bem clara
a minha posição em relação ao Deputado João Almeida, que é ímpar, como eu
mesmo disse, e nada pessoal.
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O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) - Houve um problema
com uma pessoa da família do Deputado José Aníbal, que confirmou imediatamente
sua disposição, por isso a minha posição liberal sobre a vinda do Deputado João
Almeida, porque o Presidente tem que decidir. O Deputado João Almeida tem, nesta
Casa, um acúmulo de atribuições, principalmente dentro do PSDB, mas concordo
com V.Exa. em que havia uma decisão de nenhum representante participar, e assim
será feito na próxima reunião.
Há 3 inscrições: Deputados Devanir Ribeiro, Cezar Schirmer e Valdenor
Guedes. Vou, logicamente, passar a palavra para os 3 inscritos.
O SR. DEPUTADO MAURO BENEVIDES - Sr. Presidente, pergunto a V.Exa.
se o nobre Deputado Luiz Carlos Santos cedeu-me ou não sua inscrição. Ele foi à
Mesa para fazer essa comunicação a V.Exa., mas pelo visto esqueceu de fazê-lo.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) - Deputado, não há
sessão de inscrição, mas, na verdade, vou fazer outra liberalidade, porque
trabalhamos nesse consenso. Assim sendo, V.Exa. está inscrito e é o primeiro a
falar.
O SR. DEPUTADO MAURO BENEVIDES - Sr. Presidente, talvez minha
intervenção fosse até para respaldar a decisão de V.Exa., ao delegar ao nosso
companheiro João Almeida a prerrogativa de representar o Presidente do PSDB,
ainda mais porque o requerimento que V.Exa. aprovou e este plenário chancelou diz
explicitamente: “Os Presidentes dos partidos ou quem formalmente os represente.”
V.Exa. talvez nem se recorde que sou signatário desse requerimento, mas como os
registros da ata são implacáveis, não são como os arquivos do João Konder, então
permito-me, neste instante, até para ir em auxílio a V.Exa., sem que moleste meu
companheiro e amigo Lincoln Portela...
O SR. DEPUTADO LINCOLN PORTELA - Um aparte, nobre Deputado. É só
para dizer que quando vi a ata, inclusive, nem quis questioná-la, porque já havia sido
aprovada, mas ela não retrata o que foi combinado. Ela diz exatamente o contrário.
Confirma a palavra do nobre Deputado Mauro Benevides.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) - Tenho absoluta
certeza. Posso pedir as notas taquigráficas. Houve um entendimento, não sei por
parte de quem, e votamos.
O SR. DEPUTADO LINCOLN PORTELA - Inclusive, levantei, Sr. Presidente.
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O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) - Pois é, lembro-me que
votamos e criamos as seguintes condições: de tempo, que seriam 2 quartas-feiras.
Mas, essa questão tem que ficar bem esclarecida, porque nosso trabalho é em cima
de entendimento. Na próxima reunião, estarão aqui os presidentes, e vou pedir aos
senhores para solicitar aos seus partidos que não encaminhem representantes de
presidentes. Espero que esteja acordado isso na Comissão.
O SR. DEPUTADO MAURO BENEVIDES - Sr. Presidente, V.Exa. deduz essa
sua intervenção do tempo que me era destinado?
O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) - Pensei que V.Exa.
tivesse concluído a intervenção.
O SR. DEPUTADO MAURO BENEVIDES - Não, não era só acerca disso que
queria falar.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) - Então, será o maior
prazer escutar V.Exa.
O SR. DEPUTADO MAURO BENEVIDES - Há uma tradição, Sr. Presidente,
que V.Exa. teima em não observar, a de que o autor do requerimento talvez tivesse
alguma prerrogativa a mais para expor seu ponto de vista. Mas, não quero invocar
em meu prol a circunstância de ter sido autor desse requerimento, de onde originou-
se a presença, neste plenário, dos presidentes de partido, dando, portanto, a essa
temática, uma expressão bem maior. Não é que nós, 31 integrantes deste órgão,
não sejamos suficientemente experimentados, com tirocínio e clarividência bastantes
para trazermos a esta Mesa aquilo que o desempenho da atividade político-
partidária, quer no desempenho de mandato ou na direção partidária, conferiu-nos
no momento.
Agora, o que temos que decidir, Presidente, é exatamente, primeiro: o marco
temporal para o término das nossas atividades e o oferecimento do nosso projeto ao
exame da Câmara dos Deputados. Até hoje, depois do episódio que se registrou em
relação à convocação extraordinária, remanesce no nosso espírito a dúvida sobre se
teremos ou não a apreciação dessa matéria ainda em tempo hábil de prevalecer
para a eleição de 2004.
V.Exa. mencionou — fazendo justiça — o trabalho desenvolvido pelo
companheiro Ronaldo Caiado. E eu acompanhei pari passu essas articulações,
ajudando até na subtração, na informação daquela operação genial que foi feita para
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão Especial - Reforma PolíticaNúmero: 1203/03 Data: 20/08/03
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retirar o número de signatários daquele requerimento. Os 95 retiraram o apoio ao
aditamento. Isso, eu fiz do plenário da Câmara, dando já como sugestão o
aditamento do edital de convocação, para que se inserisse realmente a reforma
política entre os itens que seriam apreciados. Mas, lamentavelmente, o nosso
esforço resultou frustrante, porque os nossos companheiros no Senado e na Câmara
resolveram retirar as suas respectivas assinaturas, portanto impedindo que até o
nosso apelo — e seria meramente apelo ao Presidente João Paulo Cunha e ao
Presidente José Sarney — fizesse com que isso pudesse vingar no edital de
convocação.
Ultrapassamos, portanto, a convocação extraordinária e estamos agora em
agosto. Então, nós teremos pelo menos de tentar estabelecer um marco temporal
próximo, que nos permita até dizer para os nossos companheiros de representação
política quando é que esta Comissão vai ter condições de levar esse projeto,
digamos, à Comissão de Constituição e Justiça e de Redação ou, se viermos a
invocar a urgência urgentíssima para o seu trâmite, qual é o marco temporal.
Nós estamos sentindo que as dificuldades todas vão ficar centralizadas,
Presidente, na questão da lista fechada. Sobre o resto, fidelidade partidária,
financiamento público de campanha, ficam algumas dúvidas, embora o Presidente
do PFL, Senador Jorge Bornhausen, tenha sido realmente defensor ardoroso dessa
tese, até entendendo que ela, se utilizada, escoimaria o processo dessas distorções
que até aqui se caracterizam.
Enfim, nós temos que saber qual vai ser o marco temporal para apreciação
dessa matéria, saindo desta Comissão Especial para a apreciação do Plenário da
Casa. Sem isso, Sr. Presidente, nós estaremos aqui praticamente limitando a nossa
ação e o nosso trabalho e tornando esse debate realmente acadêmico, louvável.
Estamos discutindo a doutrina política, a formulação de proposições legislativas
extremamente interessantes, e discutindo até casos já concretos, daqueles que
abandonam a sua respectiva legenda e vão para outra agremiação. Estamos vendo
qual seria a sua posição na chamada lista fechada. Todas essas alternativas têm
vindo a lume sem que nós saibamos neste momento qual vai ser, pelo menos, o
marco temporal do término dos nossos trabalhos para apreciação da matéria pela
Câmara dos Deputados.
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Tentei falar com a maior celeridade possível, Presidente, para me enquadrar
nos 3 minutos que V.Exa. estabeleceu para todos nós.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) - Muito obrigado,
Deputado Mauro Benevides.
Com a palavra o Deputado Devanir Ribeiro.
O SR. DEPUTADO DEVANIR RIBEIRO - Sr. Presidente, eu não sou membro
efetivo desta Comissão. De fato, tenho até contribuído pouco. Mas eu concordo com
o que foi exposto pelo Relator.
Tenho só algumas dúvidas com relação à lista. Há vários problemas. Na
Alemanha, há uma lista fechada. Só que há um outro critério. É que ela pode ser
substituída, dependendo do eleitor.
(Intervenção inaudível.)
O SR. DEPUTADO DEVANIR RIBEIRO - É. Ela abre a lista. Pode abrir a
lista.
Mas não vem ao caso. Eu estive lá, morei lá e sei que aquilo funciona
razoavelmente bem. Há lá um método, uma forma. Eu nunca votei, porque eu não
era eleitor lá.
Bem, estamos reformulando o calendário eleitoral, ou o código eleitoral. Há
um disparate criado por nós: a posse no dia 1º de janeiro. Olhem só, no nosso
Estado, São Paulo, tem um problema. O Governador toma posse dia 1º de janeiro, e
a Assembléia Legislativa toma posse dia 15 de março. O Governador, então, fica
trabalhando 2 meses e meio com a antiga Legislatura, o que é um disparate. Nós
aqui tomamos posse em fevereiro, e o Presidente toma posse em janeiro. Não sei se
isso poderia ser revisto.
Outra coisa que nos aflige em São Paulo é a proporcionalidade dos eleitores.
Somos favoráveis a que se defendam os partidos, a não ser que defendamos a
candidatura avulsa, como há nos Estados Unidos e outros lugares, mas não é o
caso. Gostaria de saber como poderíamos avançar nesta reforma na questão da
proporcionalidade. Não sei se isso seria avançar demais, ou pedir demais, ou querer
de mais. O fato é que há sérios problemas relativos à proporcionalidade, e alguns
Estados ficam prejudicados, como ficam prejudicados nas questões tributária e
eleitoral.
Obrigado.
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O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) - Com a palavra o
Deputado Cezar Schirmer.
O SR. DEPUTADO CEZAR SCHIRMER - Sr. Presidente, Sr. Relator, gostaria
de fazer algumas ponderações sobre a proposta que estamos discutindo. A primeira
diz respeito ao financiamento público da campanha, critério proposto na proporção
das bancadas federais.
Pela razão já exposta pelo colega que me antecedeu, pelo limitador tanto
mínimo quanto máximo, a representação parlamentar não é propriamente algo que
se possa chamar de retrato fiel do voto do eleitor, pois ela se desfigura no mínimo e
no máximo. Gostaria de sugerir a possibilidade de a troca da distribuição dos
recursos não ser por meio da representação na Câmara dos Deputado, mas sim
pelos votos para Deputado Federal dos partidos. Não sei se me faço entender, se é
diferente do que estamos discutindo.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) - Já está no projeto.
O SR. DEPUTADO CEZAR SCHIRMER - Mas não é o que está aqui no que
eu recebi.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) - Há as 2 opções que
vão ser oferecidas a esta Comissão.
O SR. DEPUTADO CEZAR SCHIRMER - Muito bem. Passo à segunda
questão, que é sobre a federação. Confesso que tenho algumas dúvidas sobre o
significado da federação, salvo como meio de transição. Agora, se esse é o espírito,
estamos legislando sobre federação para eleições proporcionais e majoritárias ou só
para eleições proporcionais?
(Intervenção inaudível.)
O SR. DEPUTADO CEZAR SCHIRMER - Sim, mas, por outro lado, quando o
legislador estabeleceu legislações de 2 turnos, estava presumindo — imagino — que
cada partido apresentasse seu candidato e, por conseqüência, suas idéias e suas
propostas. Hoje, o que se faz é coligação para eleição majoritária, mesmo quando
há 2 turnos, no caso da União, dos Estados e das cidades com mais de 200 mil
habitantes.
Pergunto também: a federação é nacional? Como se inserem as eleições
municipais — e breve as teremos — nesse processo? A federação é nacional e vale
para eleições municipais?
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O SR. DEPUTADO RONALDO CAIADO - A federação é nacional e registrada
no Tribunal Superior Eleitoral.
O SR. DEPUTADO CEZAR SCHIRMER - Mas o que vai acontecer nas
eleições municipais?
O SR. DEPUTADO RONALDO CAIADO - Os partidos poderão formar
federação nos Municípios e, então, se apresentarem como uma federação de
partidos...
O SR. DEPUTADO CEZAR SCHIRMER - A mesma federação nacional?
O SR. DEPUTADO RONALDO CAIADO - A mesma federação nacional.
O SR. DEPUTADO CEZAR SCHIRMER - Obrigatória?
O SR. DEPUTADO RONALDO CAIADO - Obrigatória. Se for uma decisão do
partido, ela tem de ser cumprida até em sua última instância.
O SR. DEPUTADO CEZAR SCHIRMER - Estamos engessando. Não seria
mais fácil proibir coligações nas eleições municipais?
O SR. DEPUTADO RONALDO CAIADO - Sim, é o que já existe. A federação
é também um alternativa.
O SR. DEPUTADO CEZAR SCHIRMER - Hoje não existe proibição de
coligações nos Municípios.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) - Infelizmente não posso
permitir esse debate.
Peço ao Deputado Cezar Schirmer que termine sua exposição e comprometo-
me a tirar-lhe as dúvidas permitindo uma breve exposição ao Relator, Deputado
Ronaldo Caiado.
O SR. DEPUTADO CEZAR SCHIRMER - Muito bem. Outra questão sobre a
qual gostaria de ponderar é a da lista. O Uruguai tem um sistema de lista que são
listas múltiplas dentro do mesmo partido, o que evita o receio já aqui manifestado de
a lista ser manipulada pela nomenclatura partidária. Pergunto sobre a possibilidade
de haver, como alternativa, mais de uma lista dentro do mesmo partido, podendo o
eleitor escolher a que mais lhe aprouver.
A quarta questão é sobre a data da vigência. O esforço que o Relator e os
companheiros da Comissão estão fazendo é revelador da compreensão de que é
melhor tramitar algo em plenário, mesmo que seja apenas o possível, mesmo que
não seja o ideal. Considerando que votamos muitas vezes ao sabor das
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conveniências pessoais e partidárias, talvez pudéssemos contornar isso
considerando a data da vigência. Ainda que entrássemos em consenso sobre a
melhor proposta, caso ela fosse encontrar dificuldades de tramitar de modo a entrar
em vigor nas próximas eleições, por que não deixá-la para as eleições que não
sejam as imediatamente seguintes? Creio que seria uma forma de tramitar mais
facilmente.
Escolher agora o melhor para o País pode prejudicar partidos, Parlamentares
etc. Vamos deixar o ideal para entrar em vigor nas eleições subsequentes às
próximas. Talvez assim pudéssemos avançar mais rapidamente até no
estabelecimento de algum consenso aqui dentro.
Obrigado.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) - Com a palavra o
Deputado Valdenor Guedes.
O SR. DEPUTADO VALDENOR GUEDES - Sr. Presidente, Sras. e Srs.
Deputados, sempre fui favorável a reformas, inclusive, ano passado houve alguns
comentários o meio estudantil, universidades públicas e privadas.
Nosso pensamento em relação à reforma política é o mesmo que o em
relação à reforma da Previdência: o remédio é correto, mas o excesso pode ser
prejudicial — e acredito que de fato vai prejudicar alguns segmentos, como foi o
caso dos pobres coitados aposentados, da viúva, e que pagaram por isso. A mesma
coisa pode acontecer nesta reforma. Fala-se em muitos programas, mas o que é
programa: o que está escrito ou o que se fala?
Já fui considerado de ultraesquerda, desde 1991, quando aqui cheguei, mas
nunca fui simpatizante nem da Esquerda nem da Direita, e hoje sou frustrado com
relação a isto: programas e teorias.
Sr. Relator, preocupa-me muito o item 2: compor lista os atuais Deputados
Federais e Estaduais, de acordo com sua classificação pelo número de votos na
eleição anterior convalidados em convenção.
Se fizermos aqui o levantamento de Deputados que mudaram de partido, e
dos que ainda vão mudar — eu sou um que está querendo mudar, porque sempre
constatei nas pesquisas e na prática que 80% dos partidos têm dono. E mais: têm os
convencionais, que mandam, e têm as executivas, que mandam muito mais.
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Não acredito que um Parlamentar que tenha mudado de partido aprove o item
2 — seria brincar de fazer o haraquiri. É um complicador a mais, e esse assunto não
se resolve só nesta Casa ou nas Assembléias Estaduais. Eu, pelo menos, venho de
um segmento da Assembléia de Deus — e hoje temos um grupo de 21 — que tem
andado pelo Brasil, e é grande nossa preocupação. Pude conversar com vários
companheiros que me disseram que vão votar em mim, mas que não vão votar para
ajudar outros. “Você vai ficar atrás dessa sombra se não tiver cuidado”, dizem.
Então, nobre Relator, esta é nossa preocupação. Venho em nome do povo da
Assembléia de Deus, principalmente da nossa convenção — nós que temos peso
importante, falo da Assembléia de Deus, da nossa Convenção de Belém — em uma
missão. Essa é preocupação que já discutimos e isso traz conseqüências para nós.
Mas queria propor a V.Exa. que marcássemos reunião para que pudéssemos ouvi-lo
e receber algumas explicações. Faço parte do PP, sou suplente aqui e tenho certeza
de que V.Exa., assim como todos os Relatores da reforma tributária e da Previdência
sempre visitaram e conversaram com os partidos. Assim também V.Exa. vai sair
desse meio político e entrar em contato com vários segmentos, porque a
preocupação é grande. Aquele que está aqui fechado nessa ilha da fantasia não se
apercebe de que lá fora a preocupação é muito grande em relação à reforma
política. Precisamos, sim, atentar para esses partidos que apareceram durante anos
e anos, partidos de aluguel, que realmente prestaram um desserviço ao nosso País,
com negociações e outras coisas mais. Não falo de todos os partidos, tenho o maior
respeito pelo PCdoB, enfim, tenho o maior respeito por esses partidos.
Sr. Presidente, a responsabilidade de V.Exa. é muito grande. Tenho certeza
absoluta de que esses momentos que vamos passar aqui servirão para ajudar o
País com um verdadeiro programa. Por quê? Porque tenho acompanhado aqui,
desde 1991, quando aqui cheguei, a situação política. O verdadeiro programa é
aquele que permite ao partido abraçar o Governo de corpo e alma, assumir
Ministério, assumir cargo. Se o partido não acompanhar o Governo não recebe as
suas emendas. Enfim, essa é a nossa verdadeira realidade.
São tantos os itens, nobre Relator. Tenho certeza de que não prosperarão
esse item 2 e tantos outros que não têm o mínimo fundamento. Isso trará desgaste,
falta de credibilidade ao seu trabalho que é excelente, exemplar. Estamos aqui para
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contribuir, não receba isso como crítica, mas como contribuição positiva para o seu
trabalho e para verdadeira reforma política e partidária.
Muito obrigado, Presidente.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) - Não sei se o Relator
quer fazer alguma consideração.
O SR. DEPUTADO RONALDO CAIADO - Por favor, Sr. Presidente. Quero
agradecer a todos que estão aqui, já nesse avançado da hora. Infelizmente o
Deputado Cezar Schirmer já nos deixou, mas tive oportunidade de mostrar a S.Exa.
que as sugestões apresentadas tanto podem ser pelo número de Parlamentares na
bancada como podem ser pelo número de votos que a representação na Câmara
obteve na última eleição. Então, essas 2 posições vão ser discutidas, debatidas e
aprovadas na Comissão. O texto não pode ter essa redação, será uma delas; não
teria como colocar as 2.
O segundo ponto refere-se ao que o Deputado Valdenor Guedes expôs.
Quero tranqüilizá-lo, Deputado. Acho que V.Exa. viverá outro momento depois da
reforma política aprovada. Quanto à frustração de V.Exa., ao interesse talvez até de
mudar de partido, V.Exa. pode ficar tranqüilo de que ao aprovarmos essa reforma,
ao modificarmos essas regras do sistema eleitoral brasileiro, daremos oportunidade
para que todos estejam unidos numa tese — como V.Exa. que teve oportunidade até
de falar representando um segmento importante, o evangélico —, para que se
identifique exatamente as pessoas que participarão dessa lista sem de nenhuma
maneira prejudicar quem quer que seja. A transição é porque, como o Ministro do
Supremo Tribunal Federal deixou claro, numa transição de lista aberta para lista
fechada, se hoje temos as candidaturas natas, seria uma incoerência da nossa parte
não darmos oportunidade para o cidadão se firmar no seu partido e construir o seu
partido dentro daquilo que V.Exa. reclama neste momento. Com essa transição, será
dado a ele a chance de sair da posição que está hoje, na eleição que obteve em
2002 e ser incluído na lista de 2006 na mesma posição de 2002.
Com relação aos que mudaram de partido existe uma preocupação do
Relator, do Presidente, de todos os membros da Comissão: como achar uma
alternativa?
Hoje foi apresentada uma proposta pelo Deputado Cezar Schirmer, ou seja, o
partido no seu Estado, o PP elegeu, vamos dizer, 3 Deputados Federais. No
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decorrer dessa Legislatura agora, 2 Deputados filiaram-se ao PP. Então, temos 5
Deputados Federais.
A sugestão apresentada hoje é que os 3 primeiros que estão no partido
prevalecerão na posição de primeiro, segundo e terceiro lugar. Os outros 2 que se
filiaram ao partido no decorrer desta Legislatura ocuparão o quarto e o quinto
lugares, de acordo com o número de votos que obtiveram também na eleição de
2002. Isso tudo homologado em convenção.
São sugestões que estão sendo apresentadas. Agora mesmo solicitei a minha
assessoria que levantasse, dentro mais ou menos 70 Deputados Federais que já
migraram de siglas — e agora no caso específico do PMDB esse número aumentará
muito mais — se realmente ao se transferirem para outra sigla, se foram
prejudicados. Na maioria dos casos até não, mas quero trazer dados estatísticos
mostrando concretamente caso a caso, Estado a Estado, partido a partido, como
fizemos aqui exatamente nessa resposta que apresentamos ao Deputado Cezar
Schirmer, que não é suposição, não é idéia de “a” ou de “b”, são dados matemáticos
que mostram que se nós não considerarmos bancadas e eleitores, o PFL sai da
segunda posição e vai para a terceira, e o PSDB sobe para a segunda posição, isso
com dados.
Então, não queremos aqui criar nenhum ponto de discussão que não
tenhamos consistência para debatê-lo. O que estamos vendo, Deputado Valdenor
Guedes, é que muitas pessoas infelizmente não estão tendo oportunidade.
Estou à disposição. Já por várias vezes solicitei junto ao PP a oportunidade
de estarmos lá. Nunca nos abriram essa oportunidade em reunião de bancada.
Gostaria que V.Exa. trabalhasse para que isso acontecesse. Pedimos também ao
Deputado Montenegro.
Então, o que desejamos é uma coisa só: esclarecer. Porque, como disse o
Presidente, na reunião do PDT, no final, de 14 Deputados Federais apenas 1 está
aqui, o Deputado Severiano, que pode testemunhar o fato, e que fez oposição com
competência nesta Comissão. E depois levaremos levar essa discussão para o
partido para que tome conhecimento de tudo, porque se cria clima de terrorismo.
Estão satanizando o processo, como se falar em lista fosse realmente destruir a
oportunidade de o cidadão ser candidato, e ter-se apenas cacique mandando. Não
existe nada disso. É preciso que as coisas possam ser expostas com toda
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tranqüilidade e com toda clareza dentro da bancada. As dúvidas precisam ser
colocadas, para termos diálogo e debate mais longo, 3 horas, ou 4 horas, se
necessário, para que se possa dirimir todas essas dúvidas. Aí, sim, V.Exa. verá que
a resposta é extremamente positiva junto à bancada.
Muito obrigado pela oportunidade que V.Exa. nos concedeu.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) - Companheiros, só
quero fazer uma referência. Existe hoje certa cobrança de cronograma temporal.
Acho natural. Esta Presidência tem tido sensibilidade. Não vou exagerar, mas entre
70 a 80% dos Srs. Parlamentares desta Casa não conhecem a proposta de lista
fechada e não conhecem o ordenamento proposto pelo Relator. Aí, cria-se um
processo de ação, de luta contra a lista pelo princípio que ela significa.
Insisto em que os membros desta Comissão marquem com suas bancadas,
que vamos expor nas bancadas todo o projeto para que possamos ampliar o debate.
Sou muito franco. O Senador Jorge Bornhausen disse que essa votação já
seria para as eleições municipais. A experiência do Senador Jorge Bornhausen é
grande, mas acho quase impossível. A matéria não entrou na Ordem do Dia porque
o Governo evidentemente não quis, mas porque a reforma previdenciária e a
reforma tributária têm prazos muito mais definidos. Por exemplo, criaram 4
Comissões: a da Reforma Trabalhista, a da Reforma Previdenciária, a da Reforma
Tributária e da Reforma Política. A Comissão da Reforma Trabalhista não teve a
mesma velocidade da Previdenciária e da Tributária.
Não tenho dúvidas de que, se tivéssemos votado nesta Comissão e enviado
essa matéria ao plenário sem os devidos esclarecimentos, ela não teria nenhuma
chance de avançar no plenário. O Relator tem feito trabalho excepcional, e a
Comissão tem dado tempo de maturação.
Não é a primeira, nem a segunda, nem é a terceira Comissão que presido
nesta Casa. Sempre presidi com o objetivo de buscar o consenso, ajustar as
diferenças, porque antes de mais nada esta é uma Casa de consenso. Não mudarei
minha posição. Vou buscar o consenso, o entendimento. O nosso será o prazo que
dará a possibilidade de aprovar a reforma política. A única coisa de que tenho
absoluta certeza é de que esta Presidência vai contribuir para haver uma reforma
política de consenso na Câmara dos Deputados e no Congresso Nacional.
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Antes de encerrar, quero convocar os Srs. Parlamentares para uma reunião
no dia 27 de agosto, uma nova audiência pública, no Plenário nº 7. Fizemos acordo
de haver no máximo 5 presidentes, porque mais do que isso não daria para falar.
Então vou dar a prioridade às 5 primeiras confirmações.
O Deputado Valdemar Costa Neto tinha indicado o Deputado Bispo Rodrigues
para representá-lo. Vou abrir um espaço para o Bispo Rodrigues falar no plenário da
Comissão, se S.Exa. quiser. Vou confirmar: Deputado José Carlos Martinez,
Deputado Pedro Corrêa, José Genoíno, o Presidente do PMN, Oscar Noronha Filho,
e o Presidente do PSTU, José Maria de Almeida.
Então os 5 presidentes confirmados para dia 27 são: o Presidente do PTB,
Deputado José Carlos Martinez; o ex-Deputado José Genoíno, do PT; o Deputado
Oscar Noronha Filho; o Deputado Pedro Corrêa; e o Presidente do PSTU, José
Maria de Almeida. Procurarei pessoalmente o Deputado Bispo Rodrigues e darei a
palavra a S.Exa. no plenário da Comissão.
O SR. DEPUTADO RONALDO CAIADO - Sr. Presidente, desculpe, a palavra
a ser dada ao Deputado Bispo Rodrigues vai ser como a um Deputado comum da
Comissão?
O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) - Comum, da Comissão.
O SR. DEPUTADO RONALDO CAIADO - Certo. Obrigado.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Alexandre Cardoso) - Nada mais havendo a
tratar, declaro encerrada a reunião.