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CÂMARA DOS DEPUTADOS DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E REDAÇÃO NÚCLEO DE REDAÇÃO FINAL EM COMISSÕES TEXTO COM REDAÇÃO FINAL COMISSÃO DE TRABALHO, DE ADMINISTRAÇÃO E SERVIÇO PÚBLICO EVENTO: Audiência Pública N°: 0549/08 DATA: 06/05/2008 INÍCIO: 14h30min TÉRMINO: 16h14min DURAÇÃO: 01h43min TEMPO DE GRAVAÇÃO: 01h43min PÁGINAS: 32 QUARTOS: 21 DEPOENTE/CONVIDADO - QUALIFICAÇÃO ISABEL GONÇALVES BEZERRA – Coordenadora do Movimento Nacional dos Artesãos. PATRÍCIA SALAMONI – Representante do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas – SEBRAE. MARIA DOROTÉA DE AGUIAR BARROS NADEO – Coordenadora do Programa de Artesanato Brasileiro, do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. IONE CARVALHO – Representante do Programa de Microcrédito, do Ministério do Trabalho e Emprego. LILIA TANNER DE ABREU GOMES – Representante do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Indústrias – SEBRAE. SUMÁRIO: Debate sobre o Projeto de Lei nº 3.926, de 2004, que institui o Estatuto do Artesão. OBSERVAÇÕES

DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E REDAÇÃO · música de Zé Ramalho, que diz: “Está vendo aquele edifício, moço?

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CÂMARA DOS DEPUTADOS

DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E REDAÇÃO

NÚCLEO DE REDAÇÃO FINAL EM COMISSÕES

TEXTO COM REDAÇÃO FINAL

COMISSÃO DE TRABALHO, DE ADMINISTRAÇÃO E SERVIÇO PÚBLICOEVENTO: Audiência Pública N°: 0549/08 DATA: 06/05/2008INÍCIO: 14h30min TÉRMINO: 16h14min DURAÇÃO: 01h43minTEMPO DE GRAVAÇÃO: 01h43min PÁGINAS: 32 QUARTOS: 21

DEPOENTE/CONVIDADO - QUALIFICAÇÃOISABEL GONÇALVES BEZERRA – Coordenadora do Movimento Nacional dos Artesãos.PATRÍCIA SALAMONI – Representante do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas – SEBRAE.MARIA DOROTÉA DE AGUIAR BARROS NADEO – Coordenadora do Programa de Artesanato Brasileiro, do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior.IONE CARVALHO – Representante do Programa de Microcrédito, do Ministério do Trabalho e Emprego.LILIA TANNER DE ABREU GOMES – Representante do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Indústrias – SEBRAE.

SUMÁRIO: Debate sobre o Projeto de Lei nº 3.926, de 2004, que institui o Estatuto do Artesão.

OBSERVAÇÕES

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Trabalho, de Administração e Serviço PúblicoNúmero: 0549/08 Data: 06/05/2008

O SR. PRESIDENTE (Deputado Pedro Fernandes) - Declaro aberta a

presente reunião de audiência pública, que atende ao Requerimento nº 162 de 2008,

de autoria da Deputada Elcione Barbalho, para debate do Projeto de Lei nº 3.926 de

2004, que institui o Estatuto do Artesão.

Convido para compor a mesa os convidados Sr. Marcos Ribeiro de Ribeiro,

representante do Ministério do Trabalho e Emprego; Sra. Lília Tanner de Abreu

Gomes, representante do Ministério do Turismo; Sra. Patrícia Salamoni,

representante do SEBRAE; Sra. Isabel Gonçalves Bezerra, Coordenadora do

Movimento Nacional dos Artesãos; Sra. Ione Carvalho, do Programa de Microcrédito

do Ministério do Trabalho e Emprego; e Sra. Maria Dorotéa de Aguiar Barros Nadeo.

Antes de passar a palavra aos convidados, esclareço que esta reunião está

sendo gravada, para posterior transcrição, por isso solicito a todos que falem ao

microfone, declinando o nome quando for o caso.

Para melhor ordenamento dos trabalhos, informo que adotaremos nesta

audiência pública os seguintes critérios: cada participante terá prazo de 5 minutos,

prorrogáveis por mais 5 minutos, para sua exposição inicial, só podendo ser

aparteados durante a prorrogação; somente após os participantes terminarem as

suas exposições é que passaremos ao debate com os Srs. Deputados, que também

terão prazo máximo de 5 minutos, exceto o autor do requerimento e o autor do

projeto, que terão prazo de 10 minutos; serão permitidas réplicas e tréplicas, pelo

prazo de 3 minutos, improrrogáveis; e para responder a cada interpelação os

participantes terão o mesmo tempo.

Passo a palavra à Sra. Isabel Gonçalves Bezerra, Coordenadora do

Movimento Nacional dos Artesãos.

A SRA. ISABEL GONÇALVES BEZERRA - Boa tarde a todos. Na pessoa do

Presidente, saúdo a Mesa.

Quero aqui registrar a satisfação minha e dos artesãos do Brasil por mim

representados e, mais uma vez, manifestar um voto de repúdio pela ausência dos

Parlamentares, por enquanto, neste plenário. Isso me deixa triste porque assim nós

sentimos, Deputada Elcione Barbalho, Relatora da matéria, o quanto o tema ainda

não abala a consciência dos Parlamentares.

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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Trabalho, de Administração e Serviço PúblicoNúmero: 0549/08 Data: 06/05/2008

A SRA. DEPUTADA ELCIONE BARBALHO - Quero pedir desculpa pelos

meus companheiros. O problema todo é que muitas audiências públicas são

realizadas simultaneamente, até mesmo lá na Amazônia — já estou ausente.

Quando nós convocamos esta audiência, nós pensamos em colher subsídios. O que

eu preciso é me fundamentar — acho que vocês poderão me ajudar bastante —

para a elaboração de um relatório que atenda às suas expectativas.

A SRA. ISABEL GONÇALVES BEZERRA - Eu deixo o meu voto de repúdio

porque aqui estão colegas do Pará, do Mato Grosso, que chegaram agora, do

Paraná, de Goiás, do Rio Grande do Norte, de Pernambuco, pessoas que tiveram de

sair de tão longe para prestigiar esta atividade.

Mas vemos o retrato de uma mulher guerreira assumir a relatoria desta

matéria e um Presidente tão sensível à causa e que, ao receber a comissão de

representantes dos artesãos, despendeu um bom tempo escutando os relatos

históricos da luta dos artesãos no Brasil.

Deixo desde já meus parabéns à minha amiga Patrícia Salamoni — eu e ela

estivemos no Uruguai, no Fórum Ibero-americano de Artesanato, ela como gestora e

eu como representante da categoria no Brasil — e também à representante do

Programa do Artesanato Brasileiro (PAB), Maria Dorotéa de Aguiar Barros Nadeo,

que recebeu semana retrasada uma comitiva dos artesãos que expôs ao PAB a

problemática que está nos incomodando.

Presidente, a categoria dos artesãos se sensibiliza ao ver no PL nº 3.926 a

oportunidade real de concretização de um marco histórico para a categoria, com a

implantação de políticas públicas. Nós queremos que o PL instrumentalize o Poder

Público, para que tenhamos os tão sonhados direitos constitucionais que toda

categoria profissional tem no Brasil.

Às vezes eu lamento que um Brasil tão grande, com uma diversidade tão

grande de artesanato, tenha um programa de âmbito institucional e governamental

tão pequeno.

Digo sempre à Dorotéa que não culpo quem está coordenando, mas culpo

quem faz a estrutura, quem vê a estrutura, a realidade do artesanato no Brasil.

O PL nº 3.926 de 2004, de autoria do Deputado Eduardo Valverde, contém

tópicos que já foram bastante discutidos com a categoria. Para a Relatoria da

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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Trabalho, de Administração e Serviço PúblicoNúmero: 0549/08 Data: 06/05/2008

Comissão de Educação e Cultura, quero informar que em outubro de 2005 foi

realizada a audiência pública e em novembro o fórum, com participação do SEBRAE

nacional, do PAB nacional... Depois de amplas discussões com os representantes

dos Estados, o fórum emitiu um relatório, que foi entregue à Comissão de Educação

e Cultura. Depois da aprovação, por unanimidade, na Comissão de Educação e

Cultura, continuamos discutindo o projeto, solicitando emendas aos colegas,

solicitando também ao Programa que se manifestasse em relação ao PL.

Algumas coordenações, eu acredito, podem até ter comentado o projeto

dentro do programa em seu Estado, mas a grande maioria, Dorotéa, não debateu

com os artesãos, desconheceu a questão, tornou até mesmo irrelevante o assunto,

que é de grande relevância, tendo em conta que, conforme dados do MDIC, trata-se

de 8,5 milhões de brasileiros e de 2,8% do PIB.

Sr. Presidente, semana passada li na revista do Brasil das lutas — nada se

conseguiu sem luta, e esta não será diferente — que o Brasil tem 8,5 milhões de

quilômetros quadrados e 8,5 milhões de artesãos, o que quer dizer, Sr. Presidente,

Srs. Deputados, que há 1 artesão por quilômetro quadrado no Brasil. Até que ponto

o Poder Público ficará inerte, cego à realidade em que se encontram os artesãos,

sem uma política de crédito específica, sem políticas públicas, apenas com um

programa muito pequeno? Tendo em vista o potencial do Brasil, o recurso destinado

hoje ao Programa do Artesanato é muito pequeno. Ano passado fizemos uma

mobilização séria com os Parlamentares, e este ano a Coordenadora já disse que o

recurso aumentou, mas ele ainda é irrisório.

E digo mais, Sras. e Srs. Deputados, vemos outro tratamento para setores da

economia como a pesca e a economia solidária. Há 15 dias, Pocins esteve nesta

Comissão discutindo sobre projeto que tramita aqui. Foi criada uma secretaria

específica para o setor. Hoje, através da Secretaria de Pesca do Ministério da

Agricultura, os pescadores artesanais do Brasil vislumbram novos horizontes, e

pescadores, se comparados com os artesãos, estão a muito menos tempo lutando

pela implantação de políticas para o setor.

Temos de aproveitar este período de um Governo popular para dar a essa

população significativa que trabalha com produção cultural através do artesanato

condições dignas de vida e inclusão social. Com as emendas necessárias, este

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projeto pode garantir esses direitos a todos nós, artesãos, a nós, que pagamos

nossos impostos, que somos outdoors ambulantes dos nossos Estados, das nossas

cidades. Sim, porque quando um artesão sai do seu Município e do seu Estado e vai

para uma feira ele não vende o nome nem de Isabel nem de Delnilda nem de Ana

Paula nem de Darlindo nem de Maria nem de João nem de Joana, ele vende o nome

do Estado de onde vem, vende o nome de Pernambuco, do Pará, do Goiás, do Rio

Grande do Norte, do Paraná, de Mato Grosso. Esses outdoors ambulantes estão

peregrinando e pedindo aos nobres Deputados política pública. Sem política pública,

Deputada, não seremos nada.

Isso tem de ser observado. O SEBRAE vai se posicionar bem acerca da

Secretaria Nacional. Tiramos das nossas emendas, que já foram encaminhadas à

Relatora, a questão do Serviço Nacional do Artesanato. Estamos pedindo aos

demais colegas no País, Deputada, que entrem em contato online com o seu

gabinete. Nós queremos que a sua relatoria seja um documento fidedigno do anseio

e do desejo da categoria no Brasil, e para isso temos de atrelar ao projeto tudo de

bom que a categoria necessita.

Estamos também na luta pela criação da Secretaria Nacional do Artesanato,

que está nas emendas apresentadas à Relatora. O MDIC sabe disso. Já

participamos de várias reuniões com eles. Temos documentadas as reuniões em

que pedimos pela criação da Secretaria Nacional do Artesanato.

Tenho o prazer de ver aqui representantes do Ministério do Trabalho, que já

nos recebeu várias vezes. Tudo que é dado ao artesão é atropelado. O artesão tem

direito a um carimbo do Ministério na carteira de trabalho, conforme determina o

Decreto nº 83.290, e até hoje não foi garantido esse seu direito.

Como transformar essa situação? Estivemos no MTE várias vezes. A colega

nos acompanhou e nos deu plena assessoria. O Ministério do Trabalho, que já teve

em sua pasta a responsabilidade de conduzir o artesanato no Brasil e hoje se

manifesta através do seu Ministro, Carlos Lupi, que, ao receber a comitiva dos

artesãos do Brasil juntamente com o Dr. Marcos, adjunto do Ministério, representada

por vários Estados, comprometeu-se a ser parceiro nessa luta dos artesãos.

Necessitamos de gestores comprometidos com essa lei, Deputada. O que

ficar no seu bojo precisa ser executado. Sabemos que muitas leis em nosso País

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são criadas para serem descumpridas. Mas o PL acordou essa categoria, depois de

14 anos. Tivemos movimentos históricos. Não me canso de mostrar um jornal — ele

já está ficando amarelinho — da década de 80, em que pedíamos a

regulamentação. Essa regulamentação não veio. A política pública também não

veio. Sabe o que veio? O esfacelamento de verba para todos os Ministérios. Todos

os Ministérios têm recursos para o artesanato, só não têm recursos para o artesão.

Quero fazer uma denúncia: todos os Ministérios estão atropelando o próprio

processo dos artesãos.

Hoje, o grande gargalo dos artesãos do Brasil se chama comercialização. O

programa, com uma verba ínfima, faz 3, 4 feiras ao ano. Não dá para comportar o

escoamento da produção artesanal do nosso País. Acontece que os Ministérios

financiam a maioria dessas feiras privadas. Ocorre a mesma coisa que vemos na

música de Zé Ramalho, que diz: “Está vendo aquele edifício, moço?” Não podemos

entrar lá. Está vendo aquela feira, moço? Nosso produto está lá, mas não podemos

entrar. Preços caríssimos são praticados pelo metro quadrado das feiras, o que é

financiado com recurso público, mas o artesão não tem condição de comprar.

Então, Sra. Dorotéa, o programa precisa ter a responsabilidade de

estabelecer regras para a realização de feiras de artesanato no Brasil.

Recursos públicos têm de ser tratados com seriedade e devem ser

direcionados para o artesão. O Deputado Edgar, de Pernambuco, meu conterrâneo,

sabe que nós temos lá a maior feira de artesanato do Brasil: a FENNEART. Inclusive

é uma das primeiras feiras que dá sinal verde para o PAB, porque ela tem

consistência, sem querer desmerecer as demais. Digo ao SEBRAE, que se faz

presente aqui — o SEBRAE, junto com o programa de artesanato —, que no futuro

terá de ser Secretaria Nacional do Artesanato.

As feiras devem ser realizadas com preço justo, em parceria com cada

Estado, com os Ministérios, que têm responsabilidade com o artesanato e com os

artesãos, porque são diferentes o produto e o criador. A sensibilidade e a alma estão

no produto, e essa alma vem do artesão. A verba para o artesanato, hoje, é retirada

por qualquer promotor de evento ou por meio de qualquer projeto que chega aos

Ministérios. Estou cansada de ver Ministério do Turismo, Ministério da Cultura,

Ministério disso, Ministério daquilo... E, quando o artesão vai entrar, não pode

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desembolsar menos de 3.000, 3.500 reais para pagar o espaço. Isso sem falar na

entrada, que é paga.

Então, esse projeto deve ter caráter conclusivo acerca da situação do

artesanato — Secretaria Nacional; crédito específico para a categoria; tipologias;

certificação.

A Carteira Nacional do Artesão está sendo trabalhada pelo MDIC. Porém, ela

não garante aos artesãos do Brasil o que estabelece o acordo de 1975, celebrado

pelo CONFAZ — os Estados se comprometeram a isentar a comercialização desses

produtos. Muitos Estados cobram impostos, como Minas Gerais, Mato Grosso do

Sul, Rio Grande do Sul.

Meu município e a associação a que pertenço — Associação das Tapeceiras

de Lagoa do Carro — foram punidos. A Sra. Dorotéa, de Lagoa do Carro, recebeu a

multa via fax. Nós estamos com a multa no Rio Grande do Sul.

Não estamos produzindo copo descartável, nem bandeja, nem sapato.

Estamos produzindo cultura. Esses outdoors ambulantes produzem a cultura de uma

cidade, de um Estado e, gratuitamente, repassam essa cultura de geração para

geração. Temos de garantir esse direito da isenção. O acordo do CONFAZ tem de

ser transformado e, se possível, garantido por lei para que os artesãos possam dar

continuidade ao repasse dessa cultura de geração em geração.

Temos o exemplo de Mestre Vitalino, de Alto do Moura, dessa cultura

repassada para seus netos. Isso não custou nada ao Estado. Foi o trabalho de um

artesão, que quis apenas mostrar que podemos perpetuar sem precisar ter segredo.

Não somos empresa, não temos segredo em nossa criação. Então, o Governo deve

ter responsabilidade conosco.

Parabenizo o Deputado Rodrigo Rollemberg pela realização, ontem, de um

seminário sobre a profissão do artesão.

Agradeço à Presidência da República por ter-nos repassado o seguinte:

Informo a V.Sa. que, por determinação do Senhor

Presidente da República, sua solicitação de audiência,

visando tratar de políticas públicas e regulamentação da

profissão, foi encaminhada ao Ministro do Trabalho e

Emprego.

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Sr. Presidente, precisamos atrelar todos. Foram 30 dias de sacrifício aqui em

Brasília. Queremos, agora, ter uma resposta positiva desses Parlamentares

comprometidos, que com certeza não nos esquecerão –– para lembrar os 4 anos.

Serão nossos parceiros para o resto da vida e poderão dizer que fizeram parte da

história de transformação do setor artesanal no Brasil.

Muito obrigada. (Palmas.)

O SR. PRESIDENTE (Deputado Pedro Fernandes) - Muito obrigado.

Demos um tempo razoável para a Sra. Isabel apresentar aqui toda sua luta,

com todo direito. Tenho certeza de que não esqueceremos os artesãos. Não

sabemos se nós seremos esquecidos por eles. Esse é um outro problema.

Antes de passar a palavra à Sra. Patrícia Salamoni, convido a Deputada

Elcione Barbalho para presidir os trabalhos, como autora do requerimento.

A SRA. PRESIDENTA (Deputado Elcione Barbalho) - Boa tarde.

Após ouvir a Sra. Isabel Bezerra, Coordenadora do Movimento Nacional dos

Artesãs, passo a palavra à Dra. Patrícia Salamoni, representante do SEBRAE.

A SRA. PATRÍCIA SALAMONI - Boa tarde a todos. Boa tarde aos presentes

à Mesa.

Agradeço à Deputada Elcione Barbalho o convite. Cumprimento a Sra. Isabel

Bezerra, nossa colega de luta; o Sr. Marcos Ribeiro, do Ministério do Trabalho e

Emprego; a Sra. Ione Carvalho, do Programa de Microcrédito do Ministério do

Trabalho e Emprego; a nossa parceira do artesanato, Sra. Dorotéa de Aguiar; a

nossa parceira do Ministério do Turismo, Sra. Lilia Tanner de Abreu; os senhores

artesãos.

Sou representante do SEBRAE, Coordenadora Nacional do Programa

SEBRAE de Artesanato.

Nesses últimos 10 anos, o Sistema SEBRAE vem trabalhando com a classe

dos artesãos. A instituição tem um foco em negócio, em empreendedorismo.

Estimulamos nas associações, nas cooperativas em que o SEBRAE tem projetos,

juntamente com parceiros locais, estaduais e federais, a organização desses

artesãos para que tenham voz ativa e possam ser representados aqui em Brasília.

Observamos que só dessa forma será possível conseguir algo com essa grande luta

deles, travada há muito tempo.

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Temos um trabalho mais técnico com essas comunidades em todo o País e

também de articulação. Articulamos parcerias nos 3 níveis de governo para trabalhar

esses projetos com o foco na tão sonhada sustentabilidade e comercialização, da

qual a Sra. Isabel tanto fala e pela qual os artesãos tanto lutam.

Estamos aqui para contribuir no que for necessário. Temos uma longa história

de 10 anos. Houve muitos casos de sucessos e muitos erros também —

aprendemos com esses erros.

Estamos à disposição de toda a Mesa e dos artesãos para o que se fizer

necessário.

Obrigada.

A SRA. PRESIDENTA (Deputado Elcione Barbalho) - Obrigada.

Passo a palavra à Dra. Maria Dorotéa de Aguiar Nadeo, Coordenadora do

Programa de Artesanato Brasileiro, do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e

Comércio.

A SRA. MARIA DOROTÉA DE AGUIAR BARROS NADEO - Boa tarde a

todos.

Agradecemos o convite para participar desta audiência pública. Esperamos

poder contribuir com essa luta. Como a Sra. Isabel bem disse, estamos resgatando,

hoje, todo o trabalho empreendido no País. Há pelos menos 30 anos os artesãos

lutam para que seja reconhecida sua profissão e para que sejam implantadas

políticas públicas.

Nos últimos 10 anos, vários órgãos implantaram programas de

desenvolvimento do artesanato, mas nós verificamos alguns problemas básicos,

inclusive para consolidar essas políticas. Um deles é exatamente a inexistência de

um marco legal. No artesanato, nas diversas interfaces que abrangem o programa

— a produção, a matéria-prima, a comercialização e a própria formalização das

unidades de produção —, a inexistência desse marco legal gera uma série de

problemas. Quando se fala em exportar o artesanato, não existe uma nomenclatura

para ele. Às vezes se mistura com a produção industrial. Geralmente, todo esse

parâmetro legal não está adequado para a própria natureza do fazer artesanal.

O que deve ser feito, quando se fala de público-alvo, hoje? Deve-se implantar

uma política de governo para o artesanato. Não existem dados precisos, mesmo no

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Ministério, há algum tempo. Estima-se que existam 8,5 milhões de artesãos no País.

Quem são eles? Onde está esse cadastro? Qual é o perfil deles?

Há uma preocupação com a lei, inclusive com o projeto, quando se fala em

regulamentar a profissão, porque o artesão não tem uma única atividade. O setor de

artesanato tem diversos ofícios. Não vou citá-los, porque se o fizer passarei uma

tarde inteira, talvez uma semana, falando dos ofícios existentes. Até para

estabelecer um paralelo e facilitar, informo que para cada setor industrial existe um

correspondente produtivo no artesanato. Acho que, historicamente, o próprio

desenvolvimento industrial em cada setor nasce numa oficina de artesanato. Só que,

com todo o processo de desenvolvimento, esse fazer artesanal não desapareceu.

Ele coexiste com os demais.

Verificamos que o Ministério implantou o Sistema de Informações Cadastrais

do Artesanato Brasileiro para fazermos esse cadastramento.

O que identificamos hoje, pela experiência, nos programas de artesanato

desenvolvidos no País? Nos municípios de menor densidade, onde não existe um

processo de industrialização, onde a agricultura de subsistência é a grande

referência, o artesanato constitui o segundo setor produtivo gerador de trabalho e

renda. Pretendemos transformar isso em dados estatísticos. Há pesquisas pontuais

que nos mostram isso. Observamos que, em alguns municípios onde há

predominância da economia primária, o artesanato, às vezes, se constitui no

principal setor produtivo. Então, ele é o maior gerador de trabalho e renda. E por que

há tantas dificuldades para promover essa política de inclusão? Exatamente pela

inexistência desse marco legal.

Observamos um outro problema no encaminhamento da lei, até resgatando a

fala da Sra. Isabel. Acho que houve alguma discussão sobre o projeto apresentado

em 2004, mas não um trabalho, uma consulta ampla. Mesmo que não haja uma

identificação ampla do artesão no território, esses programas conseguiram

organizar, em vários municípios, grupos de artesãos que têm condição, sim, de

opinar sobre sua real necessidade.

Nesses últimos 33 anos –– resgatamos em 1975 alguns documentos ––, a

maior preocupação do artesão é com a Previdência: como ele vai se aposentar? E o

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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Trabalho, de Administração e Serviço PúblicoNúmero: 0549/08 Data: 06/05/2008

projeto não faz nenhuma referência a esse dado. É uma preocupação nossa. Acho

que isso precisa ser contemplado nesse projeto de lei.

Uma outra preocupação, dentro do Programa do Artesanato Brasileiro, do

MDIC, é resgatar o Fórum do Artesanato, instituído em 2005, que teve como foco de

atuação a implantação do sistema de informações. Precisamos identificar quem é

esse público, onde ele está situado, qual o seu perfil, o perfil socioeconômico.

Há 2 caracterizações. Quando se fala em artesão, temos: índios, quilombolas,

jovens, vários segmentos sociais, inclusive gênero, que atuam com o artesanato. Da

forma como está definido, essas diferenças não são contempladas. Então, qual é a

política? Conceituar o artesanato de forma genérica, e também tratar o artesão de

forma genérica, pode gerar distorções depois, na implantação dessa lei e nas

políticas locais.

Estamos trabalhando outra ação: a base conceitual. Inexiste um marco legal e

falta uma base conceitual do setor. Há muita polêmica. O que precisamos fazer?

Nivelar essa base conceitual, definindo o que seja artesanato. Não existe um tipo só

de artesanato. Há várias categorias. Dependendo da localidade, do município, do

próprio fazer, da história daquele local, ele vai ter características distintas.

Uma política muito plana corre o risco de descaracterizar o setor artesanal, o

que garante o diferencial dele, ou seja, a identidade cultural. Como trabalhamos ao

mesmo tempo um marco legal, que vai consolidar o que já é histórico, há muita coisa

que precisa ser preservada. Então, nós tratamos o setor artesanal como econômico,

mas sem perder de vista que ele tem essa peculiaridade, que é justamente o maior

valor de mercado dele: suas características culturais, sua identidade, essa ligação

com a raiz, a história das comunidades. Os programas de governo, e mesmo a lei,

vão ter de ficar atentos a isso.

Uma preocupação nossa, quando vimos o texto e fizemos um quadro

comparativo — pretendemos agora ampliar a discussão —, foi que o projeto original

tem vários artigos que são cópias do Decreto-Lei nº 41, de 2001, de Portugal.

O que vimos? Alguns artigos não correspondem à realidade brasileira. Se os

senhores lerem a própria relação dos ofícios, verão que há ofícios que não existem

no Brasil. Então, do que precisamos? Em compensação, faltam ofícios brasileiros

naquela relação dos fazeres.

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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Trabalho, de Administração e Serviço PúblicoNúmero: 0549/08 Data: 06/05/2008

Há um parecer de um consultor parlamentar dizendo que, ao trazer essa

relação, esse anexo dos ofícios no corpo da lei, corremos o risco de engessá-lo. E

como vamos atualizar essa lista dos ofícios artesanais? Mesmo porque o fazer

artesanal é caracterizado pela criatividade. Permanentemente, os próprios ofícios

vão se recriando, na medida em que o mundo muda. Hoje nós temos amplo acesso

à tecnologia, e o artesão não está livre disso.

Outra confusão que costuma acontecer é que, quando se fala em

desenvolvimento do artesanato, há uma ala que diz que não se pode tocar no

artesanato, porque ele é um patrimônio cultural do País e não pode ser mexido. Só

que existem ofícios que precisam modernizar-se, devido ao próprio contexto de vida.

Por exemplo, um artesão que vive de fazer celas vai morrer de fome. Como ele

ajusta a técnica, o fazer, a sua própria produção à modernidade? Ele vai ter de

desenvolver novos produtos por questão de sobrevivência, de adaptação ao mundo.

Então, o fazer artesanal não pode ser estático. Quando se fala dos ofícios, é preciso

ter essa atenção.

Num outro ponto, o projeto de lei fala das unidades de produção artesanal,

das empresas individuais. O ordenamento jurídico não contempla essas empresas.

Elas não existem. Mas existem na Europa. Em Portugal elas existem. Então, o

projeto de lei precisa ser visto com maior cuidado. Ele precisa ajustar o olhar

brasileiro.

Eu estou atenta ao tempo. O assunto é longo.

A primeira coisa que quero ressaltar é que, no Ministério do Desenvolvimento,

tanto reconhecemos a importância do setor que em todo o trabalho houve uma

pactuação com o Ministério do Planejamento, a partir do sistema de informações

cadastrais, para a ampliação do orçamento. Só que essa ampliação está vinculada

ao seguinte: nós temos de comprovar essa demanda. Então, queremos de fato

comprovar se existem 8,5 milhões de artesãos no País — pode ser mais ou pode ser

menos. Mas é um sistema informatizado, via web. O Ministério, com os seus

representantes nos Estados, já iniciou esse processo de amplo cadastramento, de

identificação do artesão no local onde ele está. Os Governos Estaduais estão

organizando a sua logística para fazer esse cadastro. Então, nós o reconhecemos

principalmente como um setor econômico.

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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Trabalho, de Administração e Serviço PúblicoNúmero: 0549/08 Data: 06/05/2008

Foi instituído o fórum, que agora nós retomamos, inclusive com a

representação dos artesãos. Mesmo que a lei seja aprovada, entendemos que há

uma série de questões que precisam ser discutidas, como a implantação dos

programas e projetos. Acho que é necessário até um alinhamento no âmbito do

Governo Federal, junto com as instituições de fomento. Precisamos começar a

implantar ações coordenadas no País e otimizar a aplicação dos recursos, que é um

outro caminho. Para isso é necessário que haja uma instância de discussão.

Entendemos que, no projeto de lei, é preciso ver a questão da Carteira

Nacional do Artesão. Se essa carteira vai ser instituída, quais serão os seus

benefícios, que direitos e deveres ela vai gerar para o artesão?

A Sra. Isabel falou sobre o ICMS. Hoje, um dos grandes benefícios é

exatamente a isenção que os Estados oferecem à produção artesanal. O próprio

IPI... Muitas vezes o artesão vai participar de feiras, e as Receitas estaduais só não

vão multar o artesão que apresentar essa carteira. Hoje, a emissão é feita pelos

Governos Estaduais. Não existe um processo centralizado, às vezes, pelo Governo.

No caso de Santa Catarina, a emissão é oferecida pela Federação dos Artesãos.

Então, acho que precisamos também fazer esse alinhamento em nível federal.

Talvez a lei possa regulamentar isso.

Já falei sobre a caracterização dos beneficiários. É preciso definir o que seja

artesão. Talvez o projeto tenha de ampliar um pouco mais os ofícios. E já fiz

referência à questão da comercialização.

Talvez possamos falar também sobre o acesso à inovação e à tecnologia e o

próprio crédito. Devemos criar outras instâncias de discussão de cada um desses

pontos, que são fundamentais para o desenvolvimento e o reconhecimento do

artesanato. Vamos criar ou desenvolver esse marco legal.

Fizemos uma série de considerações. No debate talvez possamos apresentar

outras questões.

A SRA. PRESIDENTA (Deputada Elcione Barbalho) - Muito obrigada, Dra.

Dorotéa.

Passo a palavra ao Dr. Marcos Ribeiro de Ribeiro, representante do Ministério

do Trabalho e Emprego.

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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Trabalho, de Administração e Serviço PúblicoNúmero: 0549/08 Data: 06/05/2008

O SR. MARCOS RIBEIRO DE RIBEIRO - Uma boa tarde à digna Deputada,

aos Srs. Deputados, aos demais integrantes da Mesa.

Quero trazer, de início, o cumprimento do Ministro Carlos Lupi. S.Exa. está

com os olhos voltados para essa categoria de trabalhadores e trabalhadoras que se

desenvolve em todo o Brasil.

A visão do Sr. Ministro é no sentido de retirar do artesão a condição de

alguém que se dedica a uma arte, que faz uma atividade sem muita importância

para a economia e a renda do nosso País.

A preocupação do nosso Ministro e das pessoas que colaboram com ele é no

sentido de, respeitando sempre a relação de emprego, atuar para o seu equilíbrio.

Esse é o objetivo da pasta laboral.

Nesse sentido, o artesão aparece como uma das pessoas mais fragilizadas,

seja porque historicamente foi sempre colocado à margem de uma situação

equivalente à dos demais trabalhadores, seja por falta de mobilização dessa

categoria — não agora, com esses últimos acontecimentos, como bem demonstra a

representante dessa categoria, essa moça lutadora, a Sra. Isabel, a quem

recebemos no Ministério do Trabalho e de quem pudemos colher as melhores

impressões.

Mas dizia eu que há uma preocupação do Ministério do Trabalho no sentido

de atuar como moderador dessa relação de emprego. Ali sempre há alguém que

toma posição. E a posição que se toma é a favor do mais fraco. Pensamos que, no

momento em que retirarmos o artesão de uma situação quase que a latere da lei,

trazendo-o para a formalidade, estaremos dando dignidade a ele. O que mais

importa é a pessoa humana, é a dignidade vinda do trabalho. Parece-nos que esse é

o melhor aporte de contribuição democrática, dando-lhe condições para que ele se

desenvolva e possa mostrar todo o seu talento a serviço do nosso País.

Quando se fala “a serviço do nosso País”, é conveniente sinalizar que o

aporte da economia é muito maior do que se imagina. Daí o nosso aplauso por essa

iniciativa à Deputada Relatora, assim como ao seu autor.

Historicamente, esse assunto já vem sendo tratado pelo Ministério do

Trabalho. Em algumas instâncias anteriores à nossa gestão, houve algumas

manifestações, inclusive de inconstitucionalidade — particularmente, não concordo

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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Trabalho, de Administração e Serviço PúblicoNúmero: 0549/08 Data: 06/05/2008

com elas. Falo-lhes também como advogado que sou. Mas não me cabe aqui fazer

esse tipo de análise. Quero apenas registrar a oportunidade de desenvolvimento

desse projeto— é necessário que haja um marco legal — e principalmente de

desenvolvimento de políticas públicas a favor dessa categoria, que está em todo o

País.

Agradeço-lhes, em nome do Ministro. Informo que, representando também o

Ministério do Trabalho, me acompanham a Sra. Ione Carvalho, que é ligada ao

microcrédito, um setor intimamente ligado ao fomento dessa atividade artesanal; a

Sra. Roseli Zerbinato e a Sra. Cláudia Lima, que são do corpo técnico do Ministério

do Trabalho e nos dão a alegria de nos acompanhar.

Coloco-me à disposição dos senhores e espero contribuir com esse projeto,

que merece o nosso aplauso.

Obrigado. (Palmas.)

A SRA. PRESIDENTA (Deputada Elcione Barbalho) - Muito obrigada, Dr.

Marcos. Pedimos a sua ajuda em relação a esse questionamento jurídico que V.Sa.

mencionou. Na verdade, quero a ajuda de todos para que possamos elaborar um

relatório que atenda as expectativas.

Passo a palavra à Dra. Ione Carvalho, que também é do Ministério do

Trabalho, como foi dito pelo Dr. Marcos.

A SRA. IONE CARVALHO - Muito obrigada, Deputada.

Gostaria de cumprimentar a Mesa, que realmente demonstrou ter

conhecimento profundo do tema, o que esvazia um pouco o que eu havia pensado

em falar, e todos os presentes: os Srs. Deputados e as Sras. Deputadas; os nossos

companheiros artesãos, que estão lá atrás, a quem eu quero muito (palmas), a

galera amiga, querida; e os companheiros do Ministério.

Para mim é um grande prazer estar aqui. Fiquei 16 anos fora do Brasil. Fui

coordenadora do Programa Nacional de Desenvolvimento Artesanal, de 1985 a

janeiro de 1988.

Parece que, lá em cima, as coisas começam a se coordenar. Cheguei e

encontrei esta maravilha da Sra. Isabel, que é um furacão tropical, por enquanto;

mas, se não se moverem, não atenderem as suas reivindicações, ela certamente vai

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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Trabalho, de Administração e Serviço PúblicoNúmero: 0549/08 Data: 06/05/2008

virar um Katrina. Encontrei essa repercussão dentro da Casa do povo. Por isso, fico

muito feliz de ser recebida nesta Casa...

A SRA. PRESIDENTA (Deputada Elcione Barbalho) - Com todo prazer.

A SRA. IONE CARVALHO - ...pela Sra. Deputada, que tem um nome muito

parecido com o meu, não é verdade?

Eu trabalhei na Nicarágua, com Ernesto Cardenal, e ele dizia uma coisa que

sempre me vem à mente: nunca devemos tentar escrever nem falar o que os outros

já falaram.

Como muitos já falaram, fiquei pensando: “E agora, o que eu vou falar?”

Todas as colocações que foram feitas aqui são muito coerentes, adequadas,

pertinentes. Assino embaixo delas. Não conheço a Sra. Maria Dorotéa

pessoalmente, mas gostei muito da explicação que ela deu. Conhecemos o trabalho

que o SEBRAE faz há muitos anos no Brasil.

Mas eu gostaria de dizer que o artesanato fez uma marca definitiva no meu

coração. Eu coordenava o programa. Fiquei fora do Brasil 12 anos. Foi Ulysses

Guimarães que me fez voltar e me deu a coordenação do programa nacional. Na

época, éramos eu e uma secretária, ninguém mais. Havia um projeto que vinha

desde 1975, com a organização do primeiro encontro de artesãos, promovido pelo

Ministério do Trabalho.

O Ministério do Trabalho sempre foi um aliado dos artesãos. Era a casa onde

eles chegavam e se abrigavam. Eram escutados e tinham apoio — bem ou mal,

sempre tiveram.

Então, cheguei lá, assim como a Sra. Isabel, guerreira, só com a secretária,

sem dinheiro, sem nada. E o projeto foi crescendo, crescendo, crescendo. Quando

fui embora do Brasil, em janeiro de 1988, o nosso orçamento era quase o dobro do

orçamento do Ministério da Cultura. Nós conseguimos — e aqui temos

companheiras artesãs da minha época — organizar feiras em São Paulo. O

Ministério ajudava os artesãos.

A Sra. Isabel disse uma grande verdade. Os artesãos enfrentam dificuldades

enormes — é quase como um pequeno barquinho num mar revolto de ondas de 10

metros —, porque eles produzem geralmente em lugares mais afastados. Quanto

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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Trabalho, de Administração e Serviço PúblicoNúmero: 0549/08 Data: 06/05/2008

mais afastados, mais frágeis e mais vulneráveis eles se encontram, em relação aos

intermediários, que são os que mais ganham, os exploradores.

O Estado não deve dar nada de graça, porque isso cria dependência. A

função do Estado deve ser ajudar as pessoas a caminharem sozinhas.

Então, uma feira privada cobra 3 mil reais por um espaço. Esse artesão tem

de sair do seu local de trabalho e paga imposto cada vez que passa a divisa, como

se os Estados fossem países diferentes. Ele sai de um Estado e passa para o outro,

e passa para o outro, e passa para o outro. Já pagou o aluguel, o transporte, a

alimentação, a estada e os impostos. Depois, se ele não consegue vender, volta

com tudo isso, com toda essa carga. Além do mais, tem de pagar pela volta desse

material.

Realmente essas pessoas estão muito esquecidas, como os companheiros

disseram. Parecem pequenos problemas, mas não são. Os artesãos representam,

mais ou menos, 9 milhões de brasileiros. O que provocou a criação do Programa

Nacional de Desenvolvimento Artesanal — PNDA, em 1975, foi que as Nações

Unidas fizeram uma pesquisa e constataram que havia 1 milhão de artesãos no

Brasil. Hoje não temos uma pesquisa específica, mas se calcula que existem até

mais de 9 milhões de artesãos.

Devemos fazer uma comparação, porque vivemos numa sociedade

globalizada, não podemos isolar-nos do mundo. Sabemos que a Índia dá renda e

dignidade ao cidadão, por meio da produção artesanal. Milhares e milhares de

pessoas vivem da produção artesanal. Sabemos que a maior associação produtiva

da Itália é a dos microempresários artesãos. Ela é maior do que a dos industriais. É

a que tem o maior número de associados. Sabemos que na França o número de

artesãos é elevadíssimo. Isso significa renda, significa um PIB altíssimo. No Brasil,

nós temos de 2,5% a 3% do PIB nacional. Isso é dinheiro. Isso é produção.

Se pegarmos o mapa dos trabalhadores informais, veremos que a maioria

deles está concentrada na Região Nordeste. E nós sabemos que esses

trabalhadores são artesãos, na sua maioria mulheres, muitas vezes arrimo de

família. Essas mulheres trabalham para manter 10, 12, 15, 20 filhos. Eu vi isso,

ninguém me disse. Eu trabalhei para o Fundo de População das Nações Unidas e fiz

um projeto para o Nordeste. Então, tive de visitar as famílias. Entrei em casas na

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beira do mar, no Ceará, onde encontrei mulheres que disseram: “Tive 20 partos”.

Imaginem que coisa horrorosa! Eu perguntava: “Quantos filho você criou?”

Respondiam: “Dez, nove”. A mortalidade infantil é altíssima! São pessoas que estão

abandonadas neste País tão gigantesco.

Temos obrigação moral de unir nossos esforços, sem bandeiras partidárias.

Temos obrigação moral de ajudar esse povo, de unir todos os esforços, porque essa

gente é a força do nosso País. É a força cultural, sim, porque é uma tradição que se

passa de geração a geração. Mas também é preciso ver que, com muito pouco

dinheiro, se pode organizar cooperativas de produção artesanal em áreas que não

têm tradição. Fizemos isso na época do PNDA, com a Federação das Indústrias de

São Paulo. Procurávamos as regiões mais marginalizadas e, com o que sobrava das

fábricas vizinhas, colocávamos designers e criávamos produtos com aquilo que ia

para o lixo. Não eram os artesãos tradicionais, mas o povo que estava na rua

desempregado, mendigando, mas que tinha habilidade, podia produzir, podia viver

dignamente de seu trabalho.

Portanto, são perspectivas diferentes. O artesão tem de se modernizar, tem

de pensar em ser um microempresário, porque ele é um microempresário. Não deve

existir preconceito, porque o mundo está globalizado. E a sobrevivência dele

depende de sua atualização. O microempresário tem o INSS e pode contribuir como

autônomo. Ele tem uma série de coisas já montadas pela sociedade, pelos

Governos, durante todo esse tempo.

É preciso buscar alternativas que já existem e fortalecer a união dos artesãos

— estão presentes a nossa batalhadora e as companheiras representantes das

federações estaduais. Ninguém vai escutar ninguém se não houver união, se não

houver um só pensamento e um só coração. Portanto, unam-se, lutem, porque

vocês são grandes trabalhadores. Vocês não estão pedindo nada. Vocês só estão

pedindo reconhecimento pelo que já são.

Espero que esta Casa continue apoiando cada vez mais os artesãos, porque

historicamente eles são a força deste País.

Muito obrigada. (Palmas.)

A SRA. PRESIDENTA (Deputada Elcione Barbalho) - Passo a palavra à Dra.

Lilia Tanner de Abreu Gomes, representante do Ministério do Turismo.

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A SRA. LILIA TANNER DE ABREU GOMES - Deputada Elcione Barbalho,

Sras. e Srs. Deputados, integrantes da Mesa, artesãos, demais presentes, boa

tarde.

O Ministério do Turismo tem também uma brigada para a produção artesanal

brasileira. Essa brigada encontra morada na Secretaria Nacional de Programas de

Desenvolvimento do Turismo. Entendemos que essa é uma ação de governo

importante, voltada para a agregação de valor e para o diferencial competitivo,

porque o artesanato influencia no diferencial competitivo dos destinos turísticos

brasileiros.

Portanto, tem sido forte o investimento do turismo na área do artesanato,

desde a capacitação profissional, o estímulo à criação de associações e de

cooperativas, à preocupação com a retirada de matéria-prima do meio ambiente.

Preocupamo-nos ainda com a aprovação dos projetos, com a geração de renda para

o turismo, com a articulação para melhoria das condições de comercialização.

Por vezes, deparamo-nos com problemas em comunidades onde atuamos.

Algumas pessoas, como as bordadeiras do Piauí, estão ficando cegas pelo trabalho,

em função de uma forte claridade que existe na região. Então, já articulamos com o

Ministério de Minas e Energia para, por meio de um programa com a área de saúde,

buscar uma assistência para essas pessoas. Isso tem sido uma preocupação do

Ministério do Turismo. Temos buscado articulações que visem à melhoria da

condição de vida dessas comunidades.

Tem sido forte o impacto da atuação do Ministério, nestes 4 anos de vida,

especialmente na questão dos eventos e das feiras. Temos estimulado a

participação da produção artesanal e dos artesãos nas feiras de turismo. O Salão do

Turismo é um evento do Ministério ligado à política de promoção dos novos roteiros

e nele está presente uma grande área destinada à produção artesanal, com

representação das 27 Unidades Federativas. Assim, o artesão tem sido amparado

no sentido de levar não só o seu artesanato, mas o da sua associação. Imaginamos

que atrás de um único artesão, beneficiado com a participação numa feira, existem

10 outros. Portanto, tem sido forte esse investimento em feiras, como um canal de

comercialização, e nessa abertura de um novo canal de comercialização do

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artesanato, via turismo. O Deputado Rodrigo Rollemberg, que atua muito no turismo,

confirma o que eu digo.

A EMBRATUR, por meio das ações de promoção no exterior, tem também

trabalhado a associação da imagem dos destinos turísticos à produção artesanal, a

qual se faz presente em toda a ambientação dos espaços brasileiros no exterior. Em

relação ao saber fazer, temos estimulado também a presença do artesão, com a sua

técnica, e a interatividade com o público presente nas feiras. Então, o saber fazer

hoje está se tornando uma política, e temos estimulado os demais Ministérios a, nos

eventos que apóiam, levarem os artesãos para fazer in loco essa interatividade com

a população.

Queremos que melhore o entendimento da população em relação ao preço do

artesanato. Não podemos mais ouvir que o artesanato está caro. O artesanato não é

caro, ele tem por trás o sustento e a subsistência de famílias. Portanto, entendemos

que ele tem um tempo para ser confeccionado, que existe um custo de matéria-

prima. Isso tudo precisa começar a ser trabalhado no imaginário do público final.

Aquele comprador de artesanato tem que saber que ele está levando um produto

único, exclusivo, com forte agregação da cultura. Ele está impregnado de cultura e,

por isso, é importante levá-lo tanto para casa, no seu próprio País, como para fora.

Então, temos trabalhado essa questão.

Temos feito também forte investimento em infra-estrutura, com a implantação

de centros de comercialização, nos diversos Municípios brasileiros. Tem sido grande

a solicitação de recursos para infra-estrutura, que visa amparar esses grupos e

essas comunidades de artesãos nos Municípios.

Esta é uma síntese das preocupações que tem tido o Ministério. Colocamo-

nos à disposição de todos para colaborar no que for preciso.

Muito obrigada.

A SRA. PRESIDENTA (Deputada Elcione Barbalho ) - Agradeço à Sra. Lilia

Tanner de Abreu Gomes sua exposição.

Encerrando as considerações dos técnicos e dos representantes dos

Ministérios em seus segmentos, passo, agora, a palavra aos Srs. Deputados.

Primeiramente, passo a palavra ao Deputado Sebastião Bala Rocha,

conforme a lista de inscrição.

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O SR. DEPUTADO SEBASTIÃO BALA ROCHA - Obrigada, Deputada

Elcione Barbalho. É um prazer muito grande estar presente. Cumprimento todos os

convidados que estão na Mesa, os Parlamentares presentes, o Deputado Pedro

Fernandes, Presidente da Comissão, a Sra. Isabel Gonçalves Bezerra,

representante deste importante segmento da nossa economia.

A minha presença aqui é para apoiar este projeto. Penso que estamos em

condições de agilizar a votação deste projeto, Deputada Elcione Barbalho, pela

importância que tem para este grande segmento que existe no País.

Coincidentemente, no sábado, tive uma reunião com os artesãos do meu

Estado, o Amapá, mas nem sabia que tínhamos esta audiência pública hoje.

Quando cheguei, pensei: “Vou lá ajudar no que puder”. Porque realmente vamos,

sem dúvida alguma, colaborar para o desenvolvimento econômico-social do nosso

País, dos nossos Estados, dos nossos Municípios, para a vida de milhares e

milhares de famílias Brasil afora.

A minha recomendação é no sentido de que façamos de tudo para aprovar

este projeto. É claro que me parece ainda necessário fazer alguns ajustes. Por isso

esta audiência faz-se necessária e é muito bem-vinda, Deputada Elcione Barbalho.

Fico um pouco em dúvida sobre se a lista deve constar do projeto de lei. Depois a

Isabel poderia falar o que acha disso. Existem alguns termos muito genéricos que

pode ser que incluam tudo, mas pode ser que não. Existe um artesanato feito no

Tocantins, por exemplo, que é o capim dourado. Não sei se ele está incluído em

algum tipo. Existem muitas particularidades. Sementes. Pode ser que estejam em

joalheria. No entanto, não existe nada específico sobre sementes. O segmento de

biojóias é muito forte no artesanato da Região Norte. O plástico está nos sintéticos?

Muita gente está fazendo artesanato de garrafa plástica, garrafa de refrigerante.

Pode ser que tudo isso esteja aí incluso, mas o projeto especifica um grande número

de produtos e deixa de especificar outros. Portanto, não sei se a saída seria jogar

isso para a regulamentação. Não conheço a experiência de vocês.

Gostaria de saber da Isabel sua opinião sobre a lista e o projeto; se ela está

de acordo com o substitutivo apresentado pela Comissão de Desenvolvimento

Indústria e Comércio, ou se seriam necessárias algumas mudanças importantes.

Cheguei na parte final da sua fala. Pode até ser que ela já tenha mencionado isso.

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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Trabalho, de Administração e Serviço PúblicoNúmero: 0549/08 Data: 06/05/2008

Se o fez, até dispenso essa observação, mas é importante a Comissão do Trabalho

saber se o segmento está de acordo com o substitutivo já aprovado na Comissão de

Desenvolvimento, Indústria e Comércio, a última Comissão.

A SRA. PRESIDENTA (Deputada Elcione Barbalho) - Obrigada, Deputado.

Realmente existe a preocupação de acrescentar outros detalhamentos, outras

coisas de grande importância para todos nós. Ocorre que não podemos nos deter a

algumas filigranas. Não que elas não sejam importantes, são de suma importância,

mas o que nos interessa, na verdade, é acelerar para que não encontremos alguns

problemas que venham atrapalhar a aprovação, com a maior brevidade possível, da

proposta final da nossa Relatoria.

Não se preocupe porque inclusive nós, do Pará, que temos muita semente,

que temos a questão indígena, enfim, que sabemos da riqueza do artesanato

marajoara, tapajônico, vamos olhar tudo isso com carinho, e com certeza vamos

pedir a assessoria de todos os presentes, porque para nós isso é muito importante.

(Palmas.)

Passo a palavra ao nobre Deputado Rodrigo Rollemberg. Ontem, quando

soube que V.Exa. estava reunindo pessoas que trabalham com artesanato aqui no

Distrito Federal, lamentei não poder participar, mas conte com o meu apoio.

O SR. DEPUTADO RODRIGO ROLLEMBERG - Boa tarde a todos.

Cumprimento a Deputada Elcione Barbalho pela iniciativa de realização desta

audiência pública, cumprimento a Isabel, Coordenadora Nacional do Movimento dos

Artesãos, e em seu nome saúdo todos os membros da Mesa e os Deputados

presentes.

Inicialmente, quero pedir desculpas, mas de fato as nossas atribuições aqui

na Casa são muitas. Não faço parte, infelizmente, desta Comissão e não sabia desta

audiência pública. Ontem, reunimos cerca de 70 lideranças de artesanato no Distrito

Federal para discutir o seu andamento, e aproveitamos a parte da tarde para discutir

este projeto, de autoria do Deputado Eduardo Valverde e da Deputada Perpétua

Almeida.

Sra. Relatora, o Congresso Nacional, os artesãos brasileiros e o Governo

Federal têm, neste momento, uma grande oportunidade, que eu dividiria em 2, uma

é a questão do marco legal. É muito importante que o Congresso dê a sua

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contribuição no sentido de avançar no marco legal, na definição da profissão de

artesão, na criação de um sistema nacional do artesanato. Ao mesmo tempo, que

esse debate possa se aprofundar, no sentido da contribuição o Congresso Nacional

pode dar ao Governo Federal para a implantação de uma política pública para o

artesanato brasileiro.

É inegável — e se percebe isso por onde se anda no Brasil — que as várias

iniciativas desenvolvidas pelo Governo Federal vêm dando resultados, estimulando

à produção artesanal no País, como nunca antes. Mas ainda se percebe que há uma

dispersão grande de recursos e esforços no sentido do apoio ao artesanato. Temos

o Ministério do Turismo, o Ministério do Desenvolvimento, o Ministério do Trabalho,

o Ministério da Ciência e Tecnologia e o Ministério da Cultura que tratam do

artesanato. Mas sinto falta de ter uma instituição, uma Secretaria do Governo

Federal, que articule todas as políticas nacionais do artesanato. (Palmas.) Acho que

seria uma contribuição importante, para que possa, de forma articulada, pensar e

propor políticas sobre vários aspectos que citarei rapidamente e que considero

absolutamente importantes para a produção artesanal.

A primeira é a questão da formalização. O projeto trata da formalização da

profissão do artesão individual e da empresa que trabalha o artesanato. Acho da

maior importância. Mas, se percebe que este é um problema grande. Tem muitos

artesãos que trabalham e sequer têm a carteira de artesão dado pelo Governo local,

aqui no caso, o Governo do Distrito Federal.

A outra questão — e aqui temos uma instituição que vem dando uma

contribuição enorme nesse sentido, que é o SEBRAE — é a qualificação. É claro

que cada vez mais o mercado consumidor exige isso. Se queremos exportar o

produto artesanal temos que investir muito na questão da qualidade. Agregado à

qualidade é fundamental o investimento no designer. Hoje cada vez mais o produto

artesanal precisa ter incorporado o conceito de designer porque isso é que agrega

valor a esse produto e vai fazer com que o rendimento desse trabalho seja mais

significativo para o artesão.

Temos a questão do crédito. Há uma evolução, mas ainda há dificuldade de

acesso a esse crédito. Uma burocracia muito grande, e essa questão tem de ser

tratada de forma adequada.

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Adequação tecnológica. A Lilia mencionou alguns problemas no Piauí. Aqui,

por exemplo, visitando grupos de mulheres que trabalham com aproveitamento do

lacre de latas, observamos que elas estavam lavando essas latas com solupam, que

é uma solução extremamente tóxica. Quer dizer, é a questão do desenvolvimento

tecnológico. É preciso desenvolver alternativas que possam produzir o mesmo efeito

sem o impacto na saúde das pessoas. Isso é absolutamente importante.

Existe uma questão que é o gargalo do artesanato. Muitas vezes se vê grupos

produzindo coisas belíssimas mas encontram dificuldade na comercialização. Mais

uma vez o SEBRAE tem grande experiência e contribui. Porém, é importante que o

apoio aos artesãos, no que se refere à comercialização, não se dê apenas na

participação em feiras, que muitas vezes acabam contribuindo mais com o produtor

do evento, porque o Governo termina pagando preços altíssimos para o artesão ter

um espaço, quando, na verdade, tínhamos que ter outras políticas e alternativas

para uma comercialização permanente, inclusive com vistas à exportação do

produto artesanal.

A Maria Dorotéa fala de uma questão que é absolutamente fundamental,

talvez a mais importante no que se refere ao artesão, que é pensar a questão da

Previdência para o artesão. São pessoas que muitas vezes ingressaram na

atividade artesanal com uma certa idade; são pessoas que não têm um histórico de

contribuição e que logo estarão precisando da Previdência. É fundamental que haja

preocupação com a construção de uma forma diferenciada de Previdência para os

artesãos.

Essa é uma atividade de importância inegável, sobretudo num País com as

características do Brasil, que tem uma diversidade cultural fantástica, e uma

atividade que incorpora pessoas que estão fora do mercado de trabalho formal, mas

que podem, através do empreendedorismo social, do associativismo e do

cooperativismo ter uma alternativa digna e rentável de remuneração, de renda

através do artesanato.

Aliaria a isso, Deputada Maria Helena, o fato de que grande parte dos

artesãos brasileiros , na verdade, são mulheres. Aprendi com o nosso Presidente

Miguel Arraes que quando se investe nas mulheres a capacidade de inclusão social

é muito maior, porque a mulher tende a utilizar o recurso que recebe no investimento

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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Trabalho, de Administração e Serviço PúblicoNúmero: 0549/08 Data: 06/05/2008

da família, produzindo resultados muito mais efetivos. Além do fato de empoderar as

mulheres na relação dentro de casa.

Quero aqui cumprimentar o Deputado Eduardo Valverde e a Deputada

Elcione, e, concluir, dizendo o seguinte: é muito importante que se procure

aperfeiçoar este projeto com todas essas contribuições dadas pelos diversos

Ministérios, pelos diversos Parlamentares, para que V.Exa. possa elaborar o seu

parecer, o seu substitutivo ao projeto. Mas é importante que não se interrompa, que

permaneçamos mobilizados com os artesãos, com o Governo Federal, para a

implementação dessa política pública, e com um órgão que centralize e coordene

tudo em âmbito nacional. Isso sem dúvida pode trazer um benefício muito grande,

não apenas aos artesãos, mas a todo o País. Muito obrigado.

A SRA. PRESIDENTA (Deputada Elcione Barbalho) - Obrigada, Deputado

Rodrigo Rollemberg.

Dando prosseguimento, já que o Deputado Daniel se ausentou, pediria

licença aos companheiros, para conceder a palavra à Deputada Maria Helena.

A SRA. DEPUTADA MARIA HELENA - Deputada Elcione Barbalho, em

primeiro lugar quero agradecer e cumprimentar V.Exa. por esta iniciativa tão

importante de realização desta audiência.

Peço desculpas, pois não pude assistir à exposição das nossas convidadas,

as quais cumprimento, uma vez que, autora de um requerimento para a realização

de audiência pública que acontece aqui ao lado, que trata de tráfico de crianças e

adolescentes, na nossa fronteira norte do País, precisei comparecer àquela

Comissão. A Deputada Elcione Barbalho também representa um Estado que sofre

esse problema, quando crianças e adolescentes passam para a Guiana Francesa,

em esquema organizado que infelizmente temos constatado e não temos tido essa

força política e institucional para reduzir estes crimes que acontecem no dia-a-dia

em nossos Estados.

Portanto, peço desculpas. Após minha breve fala tenho que me ausentar,

porque não posso deixar de acompanhar a audiência na Comissão da Amazônia.

Cumprimento todos os ilustres convidados que aqui representam os

Ministérios e os artesãos, e o faço na pessoa da Sra. Ione Carvalho, que aqui

representa o Programa de Microcrédito, do Ministério do Trabalho. Tive a

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oportunidade de trabalhar com ela, de ser sua assessora quando dirigia o Programa

Nacional de Desenvolvimento do Artesanato do Brasil.

Quero dizer, Ione, o quanto você me ensinou, tive muito orgulho de ser sua

assessora, pelo tanto que você fez pelo programa do artesanato do Brasil, pelos

artesão, quando tiveram realmente a oportunidade de mostrar para o Brasil e para o

mundo aquilo que produziam e pelos incentivos que receberam através do seu

trabalho no Programa Nacional do Artesanato.

E eu, quero aqui assinar embaixo de tudo que o Deputado Rodrigo

Rollemberg falou. Acho que S.Exa. não esqueceu nenhum ponto. Foi muito feliz na

sua fala, quando fala desde a institucionalização, passando pela necessidade de

termos um vínculo previdenciário para os nossos artesãos, até a questão do

emponderamento da mulher e da sua importância no trabalho artesanal.

Eu represento um Estado em que temos índias desenvolvendo um artesanato

precário, mas bonito, que poderia hoje estar sendo exportado se elas tivessem

incentivos para dar mais qualidade ao seu produto.

Mais uma vez, Deputada Elcione, quero cumprimentá-la por esta iniciativa de

estarmos aqui discutindo o estatuto do artesão e reforço aqui o que disse o

Deputado Rodrigo Rollemberg sobre a necessidade de trabalharmos para a criação

de um órgão nacional de desenvolvimento do artesanato no Brasil. Muito obrigada,

pela oportunidade, peço desculpas e o meu abraço a cada um. (Palmas.)

A SRA. PRESIDENTA (Deputada Elcione Barbalho) - Obrigada Deputada

Maria Helena.

Com a palavra à Deputada Perpétua Almeida.

A SRA. DEPUTADA PERPÉTUA ALMEIDA - Sra. Presidenta, Elcione

Barbalho, cumprimento esta mesa de mulheres, isso é uma prova de que o

artesanato no Brasil tem sido puxado, principalmente pelas mulheres. Acredito que

as mulheres encontraram no artesanato , em cada Estado, em cada Município, em

cada canto do Brasil, uma forma de compensar suas necessidades, uma forma de

resolver seus problemas familiares, uma forma de colocar comida na mesa, uma

forma de sustentar os filhos. É uma atividade no Brasil, puxada principalmente pelas

mulheres, e por conta disso merecem toda a nossa atenção

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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Trabalho, de Administração e Serviço PúblicoNúmero: 0549/08 Data: 06/05/2008

Estou aqui para reafirmar a importância dessa agenda, elogiar o Deputado

Eduardo Valverde e dizer que temos um projeto nesse sentido, que reconhece a

profissão do artesão, aprovado na Comissão de Educação. Inclusive o Dia Nacional

do Artesão coincide com o Dia de São José, porque é um Santo que sabemos que

fez artesanato na sua época.

Não entendi por que os 2 projetos não tramitaram juntos. Na verdade, não

vieram indicados pela Presidência, e estamos acompanhando para ver como

andam.

A SRA. PRESIDENTA (Deputada Elcione Barbalho) - Devem ficar

apensados, possivelmente. Posso verificar.

A SRA. DEPUTADA PERPÉTUA ALMEIDA - Acho que tem importância

grande, um completa o outro.

A SRA. PRESIDENTA (Deputada Elcione Barbalho) - Sem dúvida, com

certeza.

A SRA. DEPUTADA PERPÉTUA ALMEIDA - E, de repente, pode sair a

proposta de um projeto muito mais elaborado, muito mais pensado, aproveitando os

2 projetos.

Quero reafirmar aqui a importância de garantir a aprovação desses projetos,

porque são importantes para o Brasil. São animadores os dados nacionais de como

o artesanato mexe com as famílias brasileiras, o número de famílias que garante o

sustento a partir do artesanato, o que constrói a beleza da cultura brasileira, o que

reflete mais de perto o que é cultural em cada Estado, em cada região e no Brasil.

Uma das feiras mais visitadas na Capital Federal é a Feira da Torre, onde há

tudo e quase 100% tem a ver com o artesanato. Em qualquer região do País, em

qualquer Estado, quando chega um turista, um viajante, a primeira coisa que ele

quer saber é onde há um espaço para o artesanato. O artesanato tem a sua

importância.

Lá no Acre, além de ter tido a preocupação de apresentar o projeto,

colocamos emendas parlamentares para construção do espaço do artesão, porque o

artesanato é muito forte. Inclusive, lá estamos numa briga para proteger as

sementes da Amazônia, que são colhidas no Acre e em várias outras regiões

amazônicas. Os Estados — Acre, Rondônia, Amapá, Pará, Roraima — têm a

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preocupação de cuidar das nossas sementes, porque elas estão saindo

demasiadamente, sem controle, sem agregar valor ao trabalho. Essas sementes

estão saindo para outras regiões do País, que cobram preços absurdos pelos

artesanatos e biojóias. Tenho feito esse debate no Estado e acho bom expormos,

numa audiência pública como esta, como os Estados amazônidas têm a

preocupação de não deixar que suas sementes, seu tesouro, saiam in natura. A

partir do momento em que se criam as legislações estaduais proibindo isso, faz-se

com que seja gerado emprego naquela região, naquele Estado, e que os outros

Estados comprem dos Estados amazônicos os produtos já fabricados em nossas

regiões.

Lá no Acre houve momentos, não sei como está no Pará, no Amapá, em

Roraima, em Rondônia, em que faltou matéria-prima para que os artesãos

pudessem trabalhar. E, dessa forma, eu acho que não ajuda, se não frearmos esse

tipo de ação.

De toda forma, parabenizo os artesãos do Brasil e torço para que os nossos 2

projetos possam caminhar juntos e ser aprovados, porque só quem ganha com isso

é o artesanato brasileiro.

Muito obrigada. (Palmas.)

A SRA. PRESIDENTA (Deputada Elcione Barbalho) - Muito obrigada,

Deputada Perpétua Almeida.

Passarei a palavra ao nosso Presidente, Deputado Pedro Fernandes.

O SR. DEPUTADO PEDRO FERNANDES - Primeiro, eu queria parabenizar a

Deputada Elcione Barbalho pela iniciativa desta audiência pública, e, segundo,

elogiar a Mesa. Estou achando a Mesa bonita — mulheres e mulheres. Gostaria de

ver mais dessas Mesas aqui na Câmara. (Risos.) Acho que a participação da mulher

é cada vez maior. Inclusive, no Maranhão, no dia 31 de maio faremos uma grande

reunião política com as mulheres. Vamos discutir lá os direitos, uma série de

políticas públicas, a questão do aborto, a questão do câncer de útero, a questão do

câncer de mama. As mulheres são 52% do eleitorado brasileiro e a sua

representação ainda é muito fraca no Legislativo e também no Executivo.

Temos alguns projetos nesta Casa, como o projeto do artesão, com que a

Comissão tem obrigação. Tenho a certeza de que a Deputada Elcione vai dar conta

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desta missão, que é fazer sair desta Comissão um bom projeto. Vi hoje aqui que

todos têm interesse em prepararmos um bom trabalho.

Gostei muito da participação da Sra. Maria Dorotéa, que mostra alguns

problemas do projeto. Mas nós vamos consertar.

Quero pedir à Mesa e a todos que estão participando que nos mobilizemos,

de modo a fazermos um bom trabalho. Que saia daqui um projeto redondo, porque

andará melhor nas outras Comissões, e, com certeza, passará no plenário.

Eu sou da Região Nordeste e tenho certeza de que os artesãos do Maranhão,

da minha terra, precisam muito desse projeto. Temos projetos bons em alguns

Municípios como São João dos Patos, Pastos Bons, onde o bordado é muito forte.

Temos projetos, inclusive na capital, de artesanato forte, mas falta o marco

regulatório. Tenho certeza de que vamos fazer um bom trabalho. Já entregamos

esta missão à Deputada Elcione Barbalho e vamos colher um bom fruto.

Quero dizer à Deputada Perpétua Almeida que não coloquei o projeto dela

com o mesmo relator porque, como não estava apensado, a Relatora teria de fazer 2

relatórios. Agora, se vier a ser apensado, fará um substitutivo. Mas o outro projeto

está muito bem entregue ao Deputado Eudes Xavier.

Todos perguntam por que o projeto não foi apensado. Há Deputados que não

gostam que seu projeto seja apensado, mas já que há disposição, Deputada

Perpétua Almeida, V.Exa. poderá fazer um requerimento à Mesa. O projeto será

apensado e virá para cá. De preferência, a nossa Relatora é a Deputada Elcione. O

Deputado Eudes Xavier, desta forma, perderá a relatoria do projeto. (Risos.)

Muito obrigado.

A SRA. PRESIDENTA (Deputada Elcione Barbalho) - Não me criem

problemas (Riso.)

Como Pernambuco não pode ficar sem falar, passo a palavra ao Deputado

Edgar Moury.

O SR. DEPUTADO EDGAR MOURY - Sra. Relatora, não há muita coisa a

acrescentar, mas deixo o registro da minha participação.

Estou aqui há pouco mais de 1 ano e esse é um dos projetos que reputo da

maior importância. Esta Comissão precisa correr com ele, para regulamentar tudo

isso que aqui foi dito.

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Quero externar o meu apoio à Deputada Elcione, Relatora da proposição, e

dizer que entendo os questionamentos postos com muita clareza, com muita

tranqüilidade, com muita transparência, pela Dra. Maria Dorotéa.

Ao finalizar, quero dizer que fiquei muito orgulhoso, muito feliz em ver aqui a

minha conterrânea, Isabel, guerreira como a mulher nordestina, mulher de garra

como é a mulher pernambucana, que está na história do Brasil como a mulher que

enxotou o invasor holandês nas terras de Goiana. Por isso, fico muito feliz, muito

satisfeito.

Quero declarar meu apoio total ao projeto que tramita aqui nesta Comissão e

dizer que a representação da Mesa só não foi melhor pela intromissão do Dr.

Marcos. (Risos.)

Muito obrigado. (Palmas.)

A SRA. PRESIDENTA (Deputada Elcione Barbalho) - (Risos.)

Pediria ao nosso Presidente que tomasse assento à Mesa. (Pausa.)

Antes de mais nada, gostaria de agradecer a todos que vieram enriquecer o

debate, trazendo subsídios, informações e alertas.

Ontem, por exemplo, entramos pela noite. Eu havia chegado de uma viagem

muito cansativa. Fiquei 24 horas no ar, mas a coisa me encantou. Realmente,

pudemos ter uma visão global do que representa o PL nº 3.926.

Agradeço ao Presidente por ter ouvido o apelo dos nossos artesãos. Talvez

eles até o tenha capitaneado, não só pela riqueza do artesanato do Pará, mas pelo

trabalho que nós desenvolvemos em nosso Estado, quando estivemos à frente da

Secretaria de Promoção Social. Demos todo o apoio. Inclusive, fomos até à briga

para manter esse espaço. Briga mesmo, de terçado, lá no Paracuri, área que

trabalha muito com argila, a cerâmica marajoara e a cerâmica tapajônica, que é mais

ligada a Santarém e ao baixo Amazonas. Quero deixar este meu agradecimento.

Tentaremos ser o mais objetiva possível. Lógico que há muita coisa aqui, até

como proposta de vocês, artesãos, que foge da nossa alçada, até mesmo porque

não podemos entrar naquilo que é de direito do Executivo. Mas tenham certeza de

que aprimoraremos o projeto da melhor forma possível.

Sinto-me honrada e feliz de termos aberto este debate, esta discussão com o

segmento. Acho que não se pode tomar nenhuma iniciativa, não se pode fazer um

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trabalho de qualidade se não for ouvido o segmento interessado na área. Acho que

isso é muito importante. Agradeço sinceramente o material que me foi encaminhado.

Poderemos fazer uma comparação com aquilo que foi colocado pelo Deputado

Valverde — ao qual parabenizo também —, pelo Deputado Paulo Rubem Santiago,

e pelo Deputado Osório Adriano, que encerra com uma visão mais ampla da

questão.

Com certeza, vamos tirar aquilo que for de maior interesse, que vier a somar,

para atender à reivindicação. Fiquem certos de que seremos da maior lisura

possível. Não creio que nossos colegas, nossos pares que fazem parte desta

Comissão criem qualquer impeditivo. Vocês têm de sair da clandestinidade, têm de

ser encarados como setor de importância econômica para a nossa Nação. Vocês

têm de ter números que possam subsidiar, se são 8 milhões, 1 milhão, enfim, porque

nada disso consta de verdadeiro, como dito aqui pela própria Dorotéa.

Outro fator é a questão previdenciária. Enfim, acho que são direitos que

cabem a vocês, que sustentam esse trabalho de interesse nacional.

Até brinquei com o Deputado Rodrigo Rollemberg, porque eu gostaria de ter

participado, mas não tomei conhecimento. Ele também questionou, disse que não

estava sabendo, até mesmo porque não faz parte desta Comissão. Mas não tem

nenhum problema. Eu o procurarei também, embora os questionamentos que ele

tenha feito já estejam levantadas pelo meu pessoal, pelo pessoal que trabalhou

ontem lá em casa. Nós fizemos uma série de questionamentos, item por item,

fizemos comparações. Enfim, se Deus quiser, vamos alcançar esse objetivo.

Vou conversar também com a Deputada Perpétua Almeida, porque acho que

seria muito interessante que pudéssemos apensar, para correr com a matéria, e

podermos aprová-la com a maior brevidade possível. Eu acho que vocês já

esperaram muito.

Quanto à questão da secretaria, por exemplo, que ontem discutimos, também

vamos propor, porque não podemos passar por cima daquilo que diz respeito à área

do Executivo. Mas tenho confiança na sensibilidade do Presidente Lula. Foi até dito

por você que o Presidente Lula é uma pessoa que tem se sensibilizado com a

questão social deste País como um todo. Tenho certeza de que S.Exa. nos dará

esse apoiamento.

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A questão da secretaria. São vários órgãos que têm ligação e, de repente,

não sabemos a quem reportar: se ao Turismo, se ao Trabalho. Enfim, há toda essa

variedade, que chega a complicar o bom andamento das questões relativas ao

artesão.

Quero agradecer a todos aqueles que fizeram parte desta audiência pública,

aos artesãos. Amanhã, vamos lançar a frente parlamentar, às 9h, aqui no 10º andar,

para o que convido todos. Esperamos, com isso, cada vez mais dar esse tipo de

pressão positiva, para alcançarmos esses objetivos.

Gostaria de agradecer ao nosso Presidente, Deputado Pedro Fernandes.

Agradeço aos representantes dos Ministérios a participação. Vou incomodá-los

novamente solicitando ajuda. Já conversei com a Dorotéa, que pode dar-nos uma

visão mais ampla, porque ela mexe no dia-a-dia com questões mais específicas.

Creio que seja de interesse de todos nós podermos caminhar, fazer um relatório final

e, com a maior brevidade possível, alcançar esses objetivos.

Agradeço ao Dr. Marcos. Foi bom a Deputada Maria Helena ter feito a

observação de ter trabalhado com o senhor. Tenho muito respeito e carinho pela

excelente Parlamentar que é a Deputada Maria Helena.

Isabel, parabéns pela sua determinação. Na verdade, as mulheres têm essa

característica. São muito determinadas, muitas vezes até afoitas. Acho que temos

que ousar na nossa vida. Considero a mulher um ser diferenciado, e é por isso que

fazemos a diferença. Na verdade, creio que esse tema é de interesse de homens e

mulheres. Vemos ali o nosso representante do Pará, que veio para cá conosco; é

um grande batalhador. (Palmas.) Vocês têm uma representação muito forte dentro

do nosso Estado. (Pausa.)

A Isabel está pedindo apoio para falar sobre o Congresso dos Artesãos no

Pará. Creio que podemos deixar para um outro momento.

A SRA. ISABEL GONÇALVES BEZERRA - Estou apenas pedindo o apoio

de V.Exas.

A SRA. PRESIDENTA (Deputada Elcione Barbalho) - Sem problema. Se

assumimos essa Relatoria, é porque já temos esse compromisso firmado. O que

queremos, na verdade, é melhorar, consultar os estudos que já foram feitos, as

pessoas envolvidas nessa questão, para que possamos realmente fazer algo que

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venha ao encontro desses nossos interesses, dessa proposta final, que é de

aprovação do Estatuto do Artesão.

Deixo aqui o meu abraço a todos vocês. Muito obrigada pela participação e

pela colaboração. Já fiz uma série de anotações, que vão nos ajudar bastante.

Muito obrigada. (Palmas.)

Dou por encerrada esta reunião.

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